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20/06/2021 Exército alega 'informação pessoal' e impõe sigilo de até 100 anos a processo que absolveu Pazuello - 08/06/2021

08/06/2021 - Poder - Folha

Exército alega 'informação pessoal' e impõe sigilo de


até 100 anos a processo que absolveu Pazuello
Força, que conduziu o procedimento em segredo desde o início, afirma que
documentos não podem ser compartilhados

8.jun.2021 às 13h36
Atualizado: 8.jun.2021 às 19h51


EDIÇÃO IMPRESSA
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2021/06/09/)

Vinicius Sassine (https://www1.folha.uol.com.br/autores/vinicius-sassine.shtml)

BRASÍLIA O Exército decidiu impor um sigilo de até cem anos ao processo


disciplinar (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/ministro-da-defesa-se-reune-com-comandante-do-
exercito-e-pazuello-deve-se-explicar-por-escrito-apos-ato-politico.shtml) que resultou na absolvição do

general da ativa Eduardo Pazuello. A manifestação da Força a favor de deixar


o procedimento em segredo por até um século foi feita na segunda-feira (7).

O ex-ministro da Saúde participou de um ato político


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/bolsonaro-passeia-de-moto-e-gera-aglomeracao-no-rio-apos-dizer-que-teve-

no último dia 23: ele subiu a um palanque onde estava Jair


sintomas-de-covid-19.shtml)

Bolsonaro e fez um discurso exaltando o presidente, após um passeio de


moto com apoiadores no Rio de Janeiro.

Pazuello conseguiu se livrar (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/exercito-decide-nao-punir-


pazuello-por-participacao-em-ato-com-bolsonaro-no-rio.shtml) de qualquer punição, apesar das

evidências de transgressão disciplinar.

A vedação (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/entenda-possiveis-transgressoes-de-pazuello-ao-
regulamento-do-exercito-por-ato-com-bolsonaro.shtml) de participação em atos políticos,

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/exercito-alega-informacao-pessoal-e-impoe-sigilo-de-ate-100-anos-a-processo-que-absolveu-pazue… 1/6
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existente para militares da ativa, está prevista no regulamento disciplinar do


Exército, vigente por decreto desde 2002, e no Estatuto dos Militares, uma lei
em vigor desde 1980.

A decisão de não punir Pazuello foi do comandante do Exército, general


Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Ele cedeu à pressão de Bolsonaro, que agiu
para que o aliado não fosse punido.

O general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, discursa, ao lado de Bolsonaro, em


evento com aglomeração de pessoas, no Rio de Janeiro
- 23.mai.2021/Reuters

A costura da absolvição passou pelo gabinete do ministro da Defesa, general


Walter Braga Netto. Depois do episódio, Pazuello ganhou um cargo no
Palácio do Planalto.

Ele é desde o dia 1º secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de


Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República. O general da
ativa despacha no Planalto.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/exercito-alega-informacao-pessoal-e-impoe-sigilo-de-ate-100-anos-a-processo-que-absolveu-pazue… 2/6
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Por meio da Lei de Acesso à Informação, pedidos foram direcionados ao


comando do Exército para que fosse dada transparência tanto à defesa por
escrito de Pazuello quanto a andamentos do processo disciplinar instaurado
pelo comandante da Força.

Um dos pedidos foi formulado pelo jornal O Globo, que divulgou a


informação (https://oglobo.globo.com/brasil/exercito-impoe-100-anos-de-sigilo-para-processo-administrativo-de-
pazuello-1-25050551) .

O Exército decidiu negar o fornecimento dos documentos. “A documentação


solicitada é de acesso restrito aos agentes públicos legalmente autorizados e
à pessoa a que ela se referir”, afirmou.

A Força, então, argumentou que o caso se enquadra no trecho da Lei de


Acesso à Informação que trata de informações pessoais, mesmo tendo se
tratado de um evento político público, com farta divulgação nas redes sociais
do presidente da República.

O trecho mencionado é o que fala de respeito à intimidade e à vida privada


de pessoas envolvidas. Assim, “informações pessoais” terão acesso restrito,
“independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100
(cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente
autorizados e à pessoa a que elas se referirem”.

O inciso seguinte da lei afirma que a divulgação poderá ser autorizada, ou


terceiros podem ter acesso, caso exista previsão legal ou consentimento
expresso da pessoa envolvida –no caso, o general Pazuello. O inciso, porém,
não foi mencionado na negativa do Exército.

Ainda cabe recurso em relação à decisão que impôs o sigilo de até cem anos.
O recurso, com base nos instrumentos da Lei de Acesso à Informação, deve
ser direcionado à chefia do Estado-Maior do Exército.

Todo o processo envolvendo o general da ativa foi conduzido no mais


absoluto sigilo (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/defesa-e-exercito-completam-48-horas-de-silencio-
sobre-transgressao-de-pazuello-em-ato-politico-com-bolsonaro.shtml) pela Força. Não houve

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divulgação de nota com posicionamento da Força, como chegou a ser dito a


integrantes da cúpula militar que ocorreria.

O pedido de explicações, a explicação de Pazuello e o processamento da


decisão foram conduzidos em segredo. A decisão do comandante por não
punir foi comunicada em uma nota discreta, sem alarde, publicada sem
destaque no feriado de Corpus Christi (3) no site do Exército.

Nesta quarta (8), o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) ingressou na


Justiça Federal no DF com uma ação popular contra o comandante do
Exército. O parlamentar pede uma liminar que anule a decisão da Força que
estabeleceu um sigilo de até cem anos ao processo disciplinar de Pazuello.​​

A transgressão disciplinar (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/entenda-possiveis-


transgressoes-de-pazuello-ao-regulamento-do-exercito-por-ato-com-bolsonaro.shtml), levando em conta o

que está previsto em lei e o que avaliavam integrantes do Alto Comando,


teria ocorrido da seguinte forma:

O regulamento disciplinar do Exército, instituído por decreto em


2002, se aplica a militares da ativa, da reserva e a reformados
(aposentados). Um anexo lista 113 transgressões possíveis

A transgressão de número 57 é a que mais compromete Pazuello:


“Manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja
autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária.”
Não há informação, até o momento, de que Pazuello tivesse autorização
de seus superiores no Exército para a manifestação política a favor de
Bolsonaro

Outras transgressões listadas são “faltar à verdade ou omitir


deliberadamente informações que possam conduzir à apuração de
uma transgressão disciplinar”; “portar-se de maneira inconveniente ou
sem compostura”; e “frequentar lugares incompatíveis com o decoro da
sociedade ou da classe”

O comandante do Exército, a quem cabe aplicar a punição, pode


cometer uma transgressão disciplinar se deixar de punir o

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subordinado transgressor, segundo o mesmo regulamento

O propósito do regramento, conforme a lei, é preservar a disciplina


militar. Existe disciplina quando há “acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposições”;

Para julgar uma transgressão, são levados em conta aspectos como a


pessoa do transgressor, a causa, a natureza dos fatos e as
consequências. Se houver interesse do sossego público, legítima defesa,
ignorância ou atendimento a ordem superior, a transgressão pode ser
desconsiderada, o que não parece se enquadrar no caso de Pazuello

O acusado tem direito a defesa, manifestada por escrito. O bom


comportamento é um atenuante. As punições vão de advertência e
repreensão a prisão e exclusão dos quadros, “a bem da disciplina”

O caso de Pazuello pode se enquadrar ainda no Estatuto dos Militares,


uma lei em vigor desde 1980. O artigo 45 diz que “são proibidas
quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores
quanto as de caráter reivindicatório ou político”

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