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VERSÃO PROVISÓRIA

Análise do valor cultural e patrimonial do edifício sito na


Rua da Junqueira 343-345, em Lisboa

Relatório prévio executado ao abrigo do Decreto-Lei nº 140/2009, de 15 de Junho

Novembro de 2018
VERSÃO PROVISÓRIA

CONSERVATION PRACTICE
Consultoria em Património Histórico

Trabalho: Relatório Prévio


Edifício sito na Rua da Junqueira 343-345,
Objecto: tornejando para a Travessa do Cais da
Alfândega Velha 78, Lisboa
Versão: 05-2018
Autoria: Iola Filipe | José Maria Lobo de Carvalho |
Maria João Jacinto | Maria Luísa Jacquinet
| Marta Gonçalves
Revisão: José Maria Lobo de Carvalho
Data: 13 de Novembro de 2018

© 2018 Conservation Practice

José Maria Lobo de Carvalho (OA nº 8061)

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Análise do valor cultural e patrimonial do edifício sito


na Rua da Junqueira 343-345, em Lisboa

Relatório prévio executado ao abrigo


do Decreto-Lei nº 140/2009, de 15 de Junho

Novembro de 2018

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EQUIPA

A Conservation Practice é uma empresa de consultoria na área do património construído que apoia o
desenvolvimento de projetos patrimoniais desde o planeamento estratégico, à fase de conceção e execução.
Está especialmente vocacionada para o desenvolvimento de estudos técnicos e científicos, nomeadamente
relatórios prévios, diagnósticos, análises de impacto económico e social, viabilidade estratégica e financeira e
posicionamento de mercado de projetos e instituições.

José Maria Lobo de Carvalho


Arquitecto

Formado em Lisboa e Milão, com especialização em Conservação do Património (Master of


Arts in Conservation Studies) pelo Institute of Advanced Architectural Studies da
Universidade de York. É doutorado em Arquitectura pelo Instituto Superior Técnico onde
desenvolve atividade como Professor Convidado. Em 20 anos de percurso profissional
passou por algumas das mais importantes instituições patrimoniais nacionais (DGEMN e
Parques de Sintra - Monte da Lua) permitindo-lhe conhecer bem quer o sector público, quer
o mercado privado.
jmlc@conservationpractice.pt
Marta Luís Gonçalves
Arquitecta

Licenciada em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, em


2013. Ingressa posteriormente no Instituto Superior Técnico, obtendo o grau de Mestre em
Arquitectura direcionado à área do património cultural, em 2015, com a defesa da
dissertação intitulada “Eficiência energética em edifícios históricos”. Desde Outubro de 2015
é colaboradora da Conservation Practice tendo participado em vários estudos e projetos e
no desenvolvimento do Observatório do Património.
mg@conservationpractice.pt

Rui Moura Jerónimo


Arquitecto

Mestre em Arquitectura pelo Instituto Superior Técnico - Universidade de Lisboa, em 2016.


Realizou a sua dissertação ligada ao património arquitectónico e à reabilitação de imóveis
históricos, com a defesa da dissertação intitulada “A Casa do Governador da Torre de
Belém, Uma Tipologia Híbrida”. É colaborador da Conservation Practice desde Janeiro de
2018.

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Maria João Jacinto


Arqueóloga

Licenciada em História, variante em Arqueologia, pela Faculdade de Letras da


Universidade Clássica de Lisboa e Pós-graduada em Gestão de Projectos, pelo Instituto
Superior de Economia e Gestão. Exerceu funções de arqueóloga, nomeadamente em
projectos de Avaliação de Impacte Ambiental e geriu projectos e equipas multidisciplinares
no âmbito da salvaguarda de património arqueológico e tecnologias de informação. Desde
2015 que a sua área de actuação é o Turismo Cultural, com o foco na apresentação e
divulgação da cidade de Lisboa a visitantes.

Iola Filipe
Arqueóloga

Licenciada em História, variante em Arqueologia, e Mestre em Pré-história e Arqueologia


pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ao longo de 15 anos desenvolveu
perto de uma centena de trabalhos de arqueologia, abrangendo diferentes períodos
cronológicos, com especial enfoque em arqueologia urbana e em particular na cidade de
Lisboa. Em 2006 foi responsável pelas sondagens e posterior escavação arqueológica na
Casa do Governador da Torre de Belém, no âmbito da empresa Era Arqueologia, e que
posteriormente resultou no projecto de investigação da Casa do Governador, financiado
pela Fundação Ciência e Tecnologia, tendo integrado a equipa multidisciplinar liderada
pelo Professor Doutor Carlos Fabião. Actualmente desenvolve um projecto em que alia o
turismo e o património cultural, transmitindo a quem quer conhecer Lisboa de forma mais
aprofundada o seu conhecimento da cidade
.
Maria Luísa Jacquinet
Historiadora de Arte

Doutorada em História, especialidade de História da Arte, pela Faculdade de Letras da


Universidade de Coimbra, e Mestre em Estudos do Património, tem-se dedicado à
investigação e docência. É investigadora do Centro de Estudos de História Religiosa da
Universidade Católica Portuguesa e do Centro Interdisciplina “Cultura, Espaço e Memória”
da Universidade do Porto, bem como membro dos órgãos sociais da Associação
Portuguesa de Museologia (APOM). Entre os seus domínios de atividade e interesse,
contam-se: Direito do património cultural, Património monástico-conventual, Arquitetura e
urbanismo de Lisboa (séculos XVIII-XIX) e Musealização de objetos religiosos.

www.conservationpractice.pt

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ÍNDICE

1. CONTEXTUALIZAÇÃO 9
1.1. Enquadramento e objecto do estudo 9

2. ANÁLISE DO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO 11


2.1. Rua da Junqueira 11
2.2. Quadro de referência 12
2.3. Comentário às evidências arqueológicas e recomendações 16

3. ANÁLISE DO OBJECTO DE ESTUDO 17


3.1. Enquadramento histórico e urbanístico 17
3.2. Os números 343 a 345 da Rua da Junqueira 22
3.3. Património subsistente 28

4. CONDIÇÃO ACTUAL 30
4.1. Descrição actual do conjunto edificado 30

5. PROTECÇÃO LEGAL 43
5.1. Instrumentos de protecção patrimonial e de gestão urbanística 43

6. AVALIAÇÃO GERAL E INTERVENÇÃO PROPOSTA 44

7. SÍNTESE FINAL 49

8. FONTES CONSULTADAS 51
8.1. Arquivos Nacionais / Torre do Tombo 51
8.2. Arquivo Municipal de Lisboa (AML) 51
8.3. Arquivo Histórico do Tribunal de Contas 52
8.4. Fontes iconográficas e cartográficas 52
8.5. Bibliografia 52
8.6. Processos e arquivos arqueológicos 53
8.7. Legislação e notificações 54
8.8. Outras bases de dados e arquivos 54

9. ANEXOS 55
9.1. Processo de obra 55
9.2. Informação da Estrutura Consultiva Residente (CML) 61

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1. Enquadramento e objecto do estudo

Imóvel em estudo visto a partir da Rua da Junqueira (Conservation Practice, 2018).

O presente documento visa a análise patrimonial do edifício situado na Rua da Junqueira, números 343 a 345,
tornejando para a Travessa do Cais da Alfândega Velha, número 78, freguesia de Belém, em Lisboa. Trata-se
de um exemplar de arquitetura civil da segunda metade do século XVIII, de discreta feição aristocrática e
acentuado cunho pombalino (e, em particular, Mardeliano), revelando, tanto exterior quanto interiormente,
elementos de valia histórico-patrimonial que o seu atual mau estado de conservação e condição praticamente
devoluta não permitem valorizar.

Do ponto de vista arquitectónico, a avaliar pela iconografia e cartografia do primeiro quartel do século XVIII, o
núcleo mais antigo do edifício poderá ser datável ainda deste período, colocando-se a hipótese de o mesmo
preservar algumas pré-existências (no piso inferior) que poderão ter pertencido à Feitoria dos Ingleses
(implantada sensivelmente neste perímetro). Será apenas no terceiro quartel do mesmo século
(acompanhando a construção do complexo das Cavalariças Reais) que o Capitão António Rodrigues terá
edificado de raiz este imóvel (aproveitando, provavelmente, as pré-existências acima descritas), parte dele
para rendimento e, a parte sobrante, para sua habitação. Porém, é apenas por volta de 1775/76 que o imóvel
adquire a sua feição Pombalina pela qual hoje se caracteriza, em consequência de uma profunda campanha
de obras levada a cabo pelo Desembargador João Rodrigues Vilar, herdeiro do Capitão António Rodrigues,
reflectindo a confluência entre uma certa índole rural e a sintaxe típica do prédio urbano pombalino.

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Espaço no piso -1, que poderá corresponder a uma das pré-existências mais antigas do conjunto edificado
(Conservation Practice, 2018).

Assim, para além de testemunho da arquitetura setecentista, é, do ponto de vista urbano, testemunho da
história da evolução da zona de Belém, e, sobretudo, reflexo direto da dinâmica sócio-urbanística desenvolvida
em torno da antiga Quinta e Palácio Real de Belém entre os reinados de D. João V (1706-1750) e de D. Maria I
(1777-1815), de onde se destacam estruturas imediatamente contíguas ao edifício em análise como a Feitoria
dos Ingleses (no primeiro quartel do século XVIII) e as Reais Cavalariças (no segundo quartel do século XVIII).

Actualmente, pelo facto de integrar elementos de sucessivos momentos construtivos que se vão sobrepondo
entre si, revela inúmeras incongruências formais e estruturais. Incorpora, igualmente, elementos derivados de
aposições e alterações mais recentes, que lhe imprimem, em diversas zonas, uma acentuada desarmonia
morfológica e espacial. Parcialmente devoluto, está inserido na Zona Especial de Protecção do Palácio de
Belém e todo o conjunto intramuros (MN), ganhando visibilidade com a libertação das estruturas fabris (com as
quais confinava a Poente) e sua substituição pelo novo equipamento do Museu Nacional dos Coches.

Partindo da condição actual do imóvel, o presente estudo tem como objectivo a sua avaliação cultural e
arquitectónica, no sentido de informar e orientar os cenários de intervenção no âmbito do projecto de
reabilitação proposto pelo atelier Rebelo de Andrade \\ Architectural & Design Studio, ao abrigo da
obrigatoriedade da elaboração de um Relatório Prévio, de acordo com o Decreto-Lei nº 140/2009, de 15 de
Junho, que estabelece o regime jurídico dos estudos, projectos, relatórios, obras ou intervenções sobre bens
culturais classificados ou em vias de classificação.

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2. ANÁLISE DO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO

2.1. A Rua da Junqueira


A Rua da Junqueira situa-se nas actuais freguesias de Alcântara e Belém, onde, a nível arqueológico, é
possível recuar até à Pré-História, tendo como base os trabalhos arqueológicos de prospecção e escavação
da Estação arqueológica da Junqueira - publicados por George Zbyszewski, em 1947 – e cujo espólio
exumado remonta ao Mesolítico, Neolítico e Calcolítico1. Mais recentemente, intervenções arqueológicas de
diagnóstico realizadas nas proximidades da Rua da Junqueira – designadamente na Rua dos Quartéis,
Travessa das Dores e no Antigo Quartel do Rio Seco - vieram confirmar a existência de ocupação do Neolítico
final/Calcolítico, apontando, os autores, para a possibilidade da existência de um grande povoado pré-
histórico na área envolvente do Rio Seco2.

Atestando a presença romana em Belém, fora dos limites da cidade de Olisipo, encontra-se o grande
complexo fabril da “Casa do Governador da Torre de Belém” para a produção de preparados de peixe, que
terá laborado entre os séculos II e IV. Avançando até ao século XIII, esta área corresponderia a um juncal (ou
junqueira, um local onde crescem juncos) junto à frente ribeirinha.

No século XVII, é mandado erguer o Forte de São João da Junqueira por questões de defesa marítima, após a
Restauração da independência. No século seguinte, é criado um Porto Franco junto ao Forte. Ambos foram
desmantelados em pleno século XX, sendo, os seus vestígios arqueológicos, identificados aquando a
construção de um parque de estacionamento nas traseiras do Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL).
Ainda no século XVII, foram construídas uma muralha fluvial e um cais (junto ao Palácio da Praia, este datável
do século XVI), cujos vestígios foram registados durante os trabalhos de construção do Centro Cultural de
Belém.

Assim, a zona de Alcântara e Belém começa a adquirir um ambiente já não só rural (ligado às várias quintas,
palácios e outras propriedades - ali implantadas sobretudo a partir dos séculos XVII-XVIII - tornando-se um
luxuoso bairro) mas também um ambiente fluvial (com a construção de inúmeros cais e pequenos locais de
amarração). Como afirma António Nabais3, mais do que um grande porto, Lisboa possuía à época (entre os
séculos XVIII e XIX) “uma miríade de pequenos cais”.

É já no século XIX que esta fisionomia ribeirinha se vem alterar com a instalação de diversos complexos fabris
(como o de Xabregas, Beato ou Alcântara) e com a construção dos caminhos de ferro. A Junqueira era
descrita como uma rua muito extensa, caracterizada: a Sul, por uma banda de areal com árvores e um
“casarão muito comprido, pintado de amarelo” (cordoaria); e, a Norte, por uma banda de quintas, casas

1
Cf. VAULTIER, M., ZBYSZEWSKI, G., Estação Pré-Histórica da Junqueira. Lisboa e seu termo estudos e documentos, Vol. I,
Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1947.
2
Cf. BASÍLIO, A., PEREIRO, T., “Pedaços de um passado comum: ocupações do 4º e 3º milénios aC na zona do Rio
Seco/Boa hora (Ajuda, Lisboa)", Revista Apontamentos. Lisboa, Era-arqueologia, edição digital, 2017. NETO, N., REBELO,
P., CARDOSO, J. L., “O povoado do Neolítico Final e do Calcolítico da Travessa das Dores (Ajuda - Lisboa)”, Estudos
Arqueológicos de Oeiras, 2015.
3
NABAIS, A.J., RAMOS, P., 100 Anos do Porto de Lisboa, Administração do Porto de Lisboa, ed. comemorativa, 1987, p.60.

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apalaçadas e um chafariz (que ostentava as armas de Portugal sobre a esfera militar)4. Deste período, durante
trabalhos nos números 156 a 158 da Rua da Junqueira, foi posta a descoberto uma fábrica de curtumes
(preparação de peles) que, embora de dimensão considerável (82 tanques), apresentava características das
indústrias artesanais.

Nos últimos anos (com a vigorosa reabilitação urbana e consequente revalorização da zona junto ao Tejo), o
enquadramento arqueológico da Lisboa ribeirinha tem vindo a redesenhar-se, nomeadamente com o
aparecimento de inúmeras estruturas de cais e restos de embarcações, pelo que se considera que esta área
apresenta uma significativa importância no capítulo arqueológico.

2.2. Quadro de referência


Para a presente análise foram consultados os processos dos trabalhos arqueológicos realizados na área
circundante ao conjunto em estudo e que se encontram disponíveis nos arquivos da Direcção Geral de
Património Cultural, bem como referências bibliográficas da especialidade referentes à ocupação humana do
território em análise. Dado o reduzido número de entradas de trabalhos arqueológicos para esta zona, a área
de análise a seleccionar foi alargada, centrando-se assim nas freguesias de Alcântara e Belém.

LEGENDA

Intervenções arqueológicas

A Rua da Junqueira

Localização das intervenções arqueológicas analisadas na envolvente da Rua da Junqueira


(Conservation Practice, 2018).

Caso de estudo 1 – Rua da Junqueira


Na base de dados do IGESPAR, existe referência a um trabalho de prospecção e a outro de escavação,
efetuados por Georges Zbyzewsky junto à foz do Rio Seco, dos quais resultariam achados dos períodos
mesolítico, neolítico e calcolítico. Mais concretamente, foi encontrada ocupação humana (um provável
povoado aberto de ocupação sazonal e uma possível oficina de talhe de sílex) datável do Neolítico Final, com
material lítico e cerâmico compatível com as restantes estações arqueológicas encontradas na cidade e
datáveis do mesmo período5.

4
MACEDO, M., Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos. Edificação de Condomínio Privado no lote nº 156/156 (sic) da
Rua da Junqueira. Sondagens de diagnóstico, Poços geotécnicos, Escavação arqueológica e Acompanhamento
arqueológico (Fábrica de Curtumes). Rua da Junqueira, 156/158, Belém, Lisboa. Lisboa, Era-Arqueologia, 2016, p.13.
5
Cf. LEITÃO, E., DIDELET, C., CARDOSO, G., “Análise espacial da área do município de Lisboa durante a pré-história
recente”, Scientia Antiquitatis 1, 2017.

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Caso de estudo 2 – Escola Secundária Dom João de Castro


Durante as obras de extensão da rede de gás natural para as instalações escolares, foi detetada uma
concentração de ossos humanos (e que foi objeto de limpeza superficial); constatou-se que não se tratavam
de sepulturas organizadas, embora existissem conexões anatómicas e alguns vestígios de cal.

Na sequência destes trabalhos realizados pela equipa do IPA (actual DGPC), foram enviadas amostras para
datação por radiocarbono. As autoras6 defendem que “poderá tratar-se de uma área de enterramento coletivo,
em vala comum, de um grupo de indivíduos com estatuto socioeconómico baixo, justificando-se assim o tipo
de procedimento funerário adotado”. O motivo das mortes deverá ser de caráter coletivo (possivelmente
doença epidémica ou naufrágio), explicando-se, desta forma, a necessidade de adotar procedimentos
funerários sumários, em espaço aparentemente não religioso (uma situação incomum no período medieval).

Caso de estudo 3 – Antiga Feira Internacional de Lisboa (FIL)


Durante os trabalhos de acompanhamento arqueológico, em 2003, foram identificados vestígios do que restou
do antigo Porto Franco e de estruturas do Forte de S. João. Segundo a autora7, “através de um registo
cuidado, que incluiu o desenho das estruturas, fotografia e levantamento topográfico, foi possível salvaguardar
informações que de outro modo se perderiam. Ainda nesta fase, identificaram-se mais umas estruturas
adjacentes à face Este do Cais, cuja relação com este não foi possível aferir”. Sob esta estrutura apenas se
identificaram alguns restos de estacaria descontextualizados, que fariam parte do antigo porto franco.

Em 2003, o cais foi desmontado com a possibilidade de vir a integrar o parque de estacionamento.
Atualmente, encontram-se em curso alguns trabalhos de acompanhamento, dos quais ainda não é possível
consultar o relatório.

Caso de estudo 4 – Rua da Junqueira, números 156 a 158


A escavação arqueológica realizada neste lote permitiu identificar um edifício correspondente a uma “fábrica
de curtumes”8: um conjunto de elementos de planta retangular (dispostos pelo lado maior e formando um
corpo de padrão ortogonal reticular e de orientação NO/SE) definidos por muros de diferentes tipologias, que
materializam duas fases de construção deste complexo.

Estes trabalhos permitiram a identificação de 77,4% do total do espaço destinado ao processo de curtimenta
propriamente dito da “fábrica”, esta datável entre meados do século XIX e início do século XX. Segundo a
autora, a presença de cascas no registo arqueológico documenta o recurso a curtimento vegetal, muito
provavelmente moído no local [facto que é reforçado pelo achado do restante engenho de moer e de uma mó
(galga) em calcário].

6
BUGALHÃO, J., DUARTE, C., Intervenção de emergência na Escola Secundária Dom João de Castro. Lisboa, 2000.
7
PERDIGÃO, P., Relatório Final dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico do Parque de Estacionamento da Rua da
Junqueira. Geoarque, 2003.
8
MACEDO, M., Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos. Edificação de Condomínio Privado no lote nº 156/156 (sic) da
Rua da Junqueira. Sondagens de diagnóstico, Poços geotécnicos, Escavação arqueológica e Acompanhamento
arqueológico (Fábrica de Curtumes). Rua da Junqueira, 156/158, Belém, Lisboa. Lisboa, Era-Arqueologia, 2016.

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A planta de Fábrica de Curtumes “revela a existência de outras estruturas, em área anexa, infelizmente não
abrangida pela escavação arqueológica, como sejam as tinas da cal, do lixo e uma fonte de água (limpa)”. Isto
sugere a “existência de outras instalações para a realização dos ‘trabalhos de ribeira’, por exemplo, e que faria
parte de uma unidade de tratamento de peles, indiretamente documentadas no registo arqueológico: a
humana (lixo) e o pelam (com emprego de cal)”.

Caso de estudo 5 – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia - EDP


Nas várias fases de trabalhos, para a edificação do MAAT, foram identificadas diversas realidades
arqueológicas que vão desde a Pré-História ao período contemporâneo.

Construída sobre um nível de areias fluviais, foi registado um contexto arqueológico em madeira que os
autores interpretam como a Rampa “dos Escaleres Reais” da Cordoaria Nacional (mandada construir pelo
Marquês de Pombal e concluída no início do reinado de D. Maria I, no século XVIII)9.

Face ao achado de alguns elementos em pedra talhada, foram realizadas duas sondagens que “revelaram
duas estruturas tipo fossa escavadas e preenchidas por pedras de calcário e nódulos de sílex”: num dos
casos materiais líticos, de cronologia pré-histórica, misturados com alguns materiais modernos; no outro,
exclusivamente indústria lítica talhada, de cronologia pré-histórica10.

Na continuação dos trabalhos, foram também intervencionadas estruturas positivas, nomeadamente: um nível
de pavimento (provavelmente relacionado com o palácio do Marquês de Angeja) na área da ponte pedonal do
MAAT; e edificações de caráter industrial, relacionadas com o antigo complexo da Refinaria de Açúcar e com o
estabelecimento da Central Tejo (complexo de produção de eletricidade a carvão).

Caso de estudo 6 – Rua Bartolomeu Dias, números 156 a 158


Estes trabalhos evidenciaram a existência de materiais rolados de época romana (certamente associados à
ocupação da Casa do Governador da Torre de Belém) e da Pré-História recente (mais concretamente do Neo-
Calcolítico).

Os materiais pré-históricos deverão estar relacionados com a dispersão de um sítio localizado na envolvente
(talvez um acampamento sazonal) possivelmente junto a uma margem de rio pois, segundo os autores11 e “de
acordo com a informação cedida por arqueólogos do Centro de Arqueologia de Lisboa, no corrente ano foram
realizadas escavações arqueológicas na Rua de Pedrouços, a cerca de 300-400 metros para Oeste, onde se
identificou um sítio com cronologia do Neo-Calcolítico”. Foram ainda identificadas estruturas associadas a um
forno, desativadas e fechadas com betão aquando da demolição do edifício.

9
Cf. SARRAZOLA, A., Relatório final dos trabalhos arqueológicos. Centro de Artes e Tecnologia, Fundação EDP.
Acompanhamento arqueológico, Belém. Lisboa, Era-Arqueologia, 2014.
10
VALERA, A., Relatório final dos trabalhos arqueológicos, centro de arte da EDP, sondagens diagnóstico. Lisboa, Era-
Arqueologia, 2014, p.3.
11
MONTEIRO, M., PINTO, L., Trabalhos arqueológicos realizados no âmbito da empreitada de construção de edifício na Rua
Bartolomeu Dias, 158-158a. Lisboa, 2016.

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Caso de estudo 7 – Centro Cultural de Belém


O Palácio da Praia e respetiva quinta, inicialmente designado de Quinta do Conde de São Lourenço, foram
construídos no segundo quartel do século XVI. Junto a este conjunto edificaram-se, no final do século XVII,
uma muralha fluvial e diversos cais.

Os trabalhos arqueológicos iniciados no local onde viria a ser edificado o Centro Cultural de Belém, em 1988,
permitiram o reconhecimento dos alicerces das alas Nascente e Norte do palácio, posteriormente demolido no
âmbito dos preparativos para a Exposição do Mundo Português, em 1962. Foram definidas as plantas de
alguns compartimentos do rés-do-chão (zona de serviços) e da capela do palácio; adicionalmente, na zona
dos pátios, foi escavado um nível arqueológico do século XVII.

No âmbito do mesmo projeto foram ainda intervencionados a Muralha (onde se identificaram,


designadamente, diversas argolas de amarração em ferro e in situ e um dreno) e um Cais adossado, ambos
setecentistas.

Caso de estudo 8 – Casa do Governador da Torre de Belém


A escavação neste perímetro permitiu a identificação e caracterização de um complexo industrial, de produção
de preparados de peixe, de época romana. A cronologia desta fábrica deverá corresponder, de uma forma
genérica, às datações mais comuns apontadas para o atual território português, situadas entre os séculos I e
IV/V d. C. Sobre estas estruturas romanas encontrava-se edificado o Palácio da Casa do Governador da Torre
de Belém, este posterior a 1620.

Foi possível recuperar 2/3 da planta rectagular da fábrica, sendo que se identificaram: trinta e quatro
tanques/cetárias (de planta retangular e de dimensões variadas), quatro estruturas de planta circular/oval
(possivelmente relacionadas com a limpeza da área de circulação) e um muro e parte de um pavimento na
zona central (o que pressupõe a existência de um pátio). No interior de parte das cetárias registaram-se ainda
derrubes e restos de produção de garum. Recolheram-se ainda alguns materiais pré-históricos (peso de tear,
lâminas lamelas), todavia descontextualizados.

Caso de estudo 9 – Casa do Arco


Foram identificados vestígios de estruturas (muros) cuja análise e interpretação12 permitiu reconhecer e
documentar diferentes fases/edifícios existentes neste espaço, acrescentando e enriquecendo a história do
lugar da Casa do Arco da Torre.

A interpretação reside na análise detalhada das técnicas de construção aplicadas basicamente em três
estruturas presentes no mesmo espaço físico (sobrepondo-se em planta e em diferentes momentos de
reformulação): a primeira fase, correspondente apenas a sedimentos com materiais de época romana (devido
à proximidade para com a Casa do Governador da Torre de Belém); a segunda fase, que se relaciona com

12
Cf. PEREIRA, C., Acompanhamento arqueológico - relatório final. Projecto de sondagens prévias às demolição e
reconstrução do edifício do Arco do Bom Sucesso, na Rua do Arco. Lisboa, 2009.

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VERSÃO PROVISÓRIA

uma fase de construção entre 1780 e 1802/05; e, finalmente, uma terceira fase, que se refere a outra fase de
construção datada de 1814/18 ou 1824.

2.3. Comentário às evidências arqueológicas e recomendações


Como se pode aferir através da análise do Quadro de referência, trata-se de uma zona de parca informação
relativamente à sua ocupação humana no passado. Este desconhecimento deve-se, essencialmente, a dois
factores: ao tipo de ocupação e instalação de comunidades no local; mas também à ausência de trabalhos de
arqueologia que permitam diagnosticar, aferir e caracterizar a sua ocupação humana, ao longo da Pré-história
e dos períodos históricos subsequentes.

Nesse sentido, e visto que o projecto proposto prevê trabalhos de escavação no subsolo visando a
configuração de um piso de estacionamento (-2), recomenda-se a realização de trabalhos de
acompanhamento arqueológico em todas as acções de escavação, movimentação e/ou remoção de terras,
permitindo aferir a existência ou inexistência de valores patrimoniais. Tratando-se de uma área condicionada
de potencial valor arqueológico13, estes trabalhos de acompanhamento arqueológico terão de ser realizados,
desde uma fase inicial, por uma equipa de arqueólogos habilitada e devidamente autorizada pela DGPC.

A metodologia em que se baseia a sondagem arqueológica de diagnóstico, anterior ao início da obra, é uma
excelente ferramenta de planeamento, ainda que por amostragem, dado que permite defender a componente
patrimonial e, simultaneamente, defender o próprio projecto proposto (pois vai permitir, antecipadamente,
prever os riscos e constrangimentos que, se conhecidos à priori, poderão ser mitigados de forma concertada).

Concretamente, os resultados destes primeiros trabalhos prévios irão, nomeadamente, permitir: identificar a
ausência/presença de contextos arqueológicos na área de implementação do projecto (pelo menos nas áreas
escavadas); medir e avaliar a potência estratigráfica do local; registar, caracterizar e avaliar o grau de
conservação, o potencial e a importância científica de eventuais vestígios patrimoniais; e obter dados de
diagnóstico para propor e planear a implementação de medidas de minimização adicionais (ou a continuação
do acompanhamento ou a necessidade de realização de sondagens arqueológicas).

13
Do ponto de vista do Património arqueológico, o edifício situa-se na Área de nível arqueológico III em frente ribeirinha
(circunscrita na Planta de Qualificação do Espaço Urbano) onde, de acordo com o Regulamento do PDM de Lisboa (CML,
Aviso nº 5147/2013, Diário da República, 2ª Série, nº 74, de 16 de Abril de 2013, p. 70.): “(…) a Câmara Municipal,
mediante parecer técnico-científico, pode sujeitar as operações urbanísticas que tenham impacto ao nível do subsolo a
acompanhamento presencial da obra e à realização de ações ou trabalhos, com vista à identificação, registo ou
preservação de elementos de valor arqueológico eventualmente existentes no local.”

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VERSÃO PROVISÓRIA

3. ANÁLISE DO OBJECTO DE ESTUDO

3.1. Enquadramento histórico e urbanístico


O desenvolvimento urbanístico da zona de Belém e da vizinha Junqueira conheceu, ao longo dos séculos,
progressiva intensificação. O local - que só em centúrias mais recentes abandonou o caráter periférico ou
mesmo autónomo em relação à cidade de Lisboa - foi densificando o seu povoamento na estreita
dependência das atividades que a margem fluvial proporcionava. Ora mais para o interior, ora junto à linha da
costa, foi-se instalando algum casario disperso e, com ele, estruturas fortificadas. Os Descobrimentos
credenciaram a importância da zona e dotaram-na de estruturas arquitetónicas de relevo ímpar, como a Torre
de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos. Os séculos seguintes atestam o vagaroso enobrecimento do sítio, que,
no século XVIII, atrai vários aristocratas que aí edificam as suas quintas de recreio.

Quando, a partir do segundo quartel de Setecentos , D. João V adquire diversas quintas contíguas entre si
(designadamente as dos condes de Aveiras, da Calheta e de Óbidos), nas quais passava largas temporadas,
a atratividade do lugar e o seu cariz aristocrático acentua-se decisivamente. Por outro lado, ao transformar e
adaptar essas propriedades ao estatuto e dignidade real, vai alterar radicalmente a configuração urbanística
da zona, centralizando-a em torno da nova quinta e palácio e da sua dinâmica funcional e simbólica.

Planta geral do Palácio de Belém e suas dependências, aproximadamente em 1836


(Arquivo Nacional da Torre do Tombo).

17
VERSÃO PROVISÓRIA

A construção de um novo cais, para serventia da família real, implicou a regularização do terreno ribeirinho e a
demolição de parte do seu antigo edificado. Da mesma forma, o funcionamento do palácio determinou a
fixação, nas diretas imediações, de muitos dos que, nos seus diversos graus hierárquicos, se encontravam
agregados ao serviço régio, exercendo nomeadamente funções ou cargos ligados às propriedades que o
monarca detinha naquela zona. Na Rua Direita de Belém, na Rua Direita da Junqueira (também chamada Rua
Direita do Forte da Estrela), na Rua do Embaixador e noutras vias adjacentes, passaram a distribuir-se
inúmeras casas da Coroa destinadas a acolher, enquanto inquilinos, estes criados e funcionários.

A instalação das Reais Cavalariças, na primeira metade do século XVIII, a Sudeste do palácio (na área
actualmente ocupada pelo novo Museu dos Coches), deu origem a um fenómeno semelhante, tendo mesmo
resultado na definição do eixo viário que conduzia ao sítio da Junqueira (a “Rua Direita da Junqueira”) e na
autonomização do quarteirão compreendido entre esta e a zona ribeirinha (delimitado a Poente pelo novo cais
e, a Nascente, pelo Forte da Estrela). É nesta pequena área que se vai erguer a volumetria que hoje
corresponde aos atuais números 343 a 345 da Rua da Junqueira.

Planta do Palácio e Quinta de Belém, entre 1836 e 1910 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo).

18
VERSÃO PROVISÓRIA

A atentar nas fontes iconográficas, o local apresentaria, na primeira metade do século XVIII, uma ocupação
escassa e dispersa - formando um conjunto urbanisticamente irregular e pouco coeso – marcado, na área
Nascente, pela Casa do Despacho de Belém (também dita Casa da Saúde) e, na área Poente, pela Feitoria
dos Ingleses. Foi no perímetro correspondente à Feitoria dos Ingleses que, posteriormente, se estabeleceram
as ditas infraestruturas equestres, junto às quais, por entre ruelas e travessas, se erguiam armazéns e algum
casario simples. Deste período e contexto, é possível que o edifício em análise ainda preserve pré-existências
que o testemunhem, nomeadamente alguns espaços do piso -1 e o muro que delimita o lote a Sul (uma
hipotética reminiscência do antigo muro até onde vinha o Tejo, anteriormente ao aterro do final do século XIX).

Vista de Belém desde a Torre de S. Vicente até aos Jerónimos, entre 1707 e 1714, onde se observa a Feitoria dos
Ingleses (à esquerda) e a Casa da Saúde (à direita) (Lemprière, Museu da Cidade).

Planta topográfica da marinha das Cidades de Lisboa Ocidental e Oriental de 1727, onde se observa a Feitoria dos
Ingleses (à esquerda) e a Casa da Saúde (à direita) (Manuel da Maia, Museu da Cidade). Assinala-se em particular o
edificado que, junto à Feitoria dos ingleses, poderá corresponder às pré-existências do edifício em estudo.

19
VERSÃO PROVISÓRIA

Pormenor do projecto de Carlos Mardel (encomendado por D. João V) para o melhoramento da linha de costa, entre
1726 e 1750, onde se observam as Cavalariças (à esquerda), o Forte da Estrela (à direita) e a implantação a que
poderão corresponder as pré-existências do edifício em estudo (a vermelho) (Arquivo Fotográfico de Lisboa, CML).

Com o Terramoto de 1755, o desenvolvimento urbanístico de toda a zona de Belém e Ajuda viu-se favorecido,
seja porque, ao ter sido em grande parte poupada pelo cataclismo, passou naturalmente a constituir refúgio
para muita da população por ele afetada, seja porque, ao transferir a corte para Belém (tornando-se o centro
político do país), favoreceu a centralidade do lugar. É precisamente na sequência do sismo que D. José I
adquire uma série de propriedades nas imediações do palácio real para usufruto de alguns dos seus fiéis
servidores, nomeadamente daqueles a quem o sismo tinha arruinado as casas de habitação. Foi este o caso
de D. Pedro de Noronha, Marquês de Angeja, que veio a erguer o seu palácio da Junqueira em terrenos
comprados pelo rei junto ao Forte da Estrela.

A zona, com o tempo, foi mudando de caráter e configuração. A sua evolução espacial reflete, como seria de
esperar, as vicissitudes da história da monarquia portuguesa nas suas várias e, por vezes, divergentes
direções. O futuro palácio real viria a implantar-se na Ajuda em 1802, determinando a remodelação de toda a
área a Nascente da Calçada da Ajuda, por onde se estendiam as “Terras do Desembargador” (anteriormente
designadas “Terras da Vargem” ou “Várgea”).

É no contexto de um progressivo enfraquecimento da monarquia constitucional (e já sob a insinuação dos


ideais republicanos) que, nos termos de lei de 7 de abril 1877, se regista a autorização de venda, por parte do
Estado, das Reais cavalariças, cuja posse transita, a 14 de Dezembro de 1885, para o Ministério da Guerra. A
partir de então, o espaço terá conhecido consideráveis alterações que a documentação baliza essencialmente
entre finais do século XIX e os inícios do século XX.

20
VERSÃO PROVISÓRIA

Se por um lado, o aterro do Tejo nos anos 90 de Oitocentos, resultou no alargamento da área construída
(distanciado consideravelmente a margem original da margem actual), por outro, a reestruturação da Rua da
Junqueira, no início de Novecentos, implicou provavelmente ajustes em várias das propriedades. A principal
transformação, contudo, será devida a sucessivas adaptações funcionais. O local acolheu, em 1916, o Parque
Automóvel Militar (P.A.M.), e, depois da extinção deste em 1928, as Oficinas Gerais de Material de Engenharia
(OGME). Mais recentemente, aí serão também instalados serviços dependentes do Ministério da Cultura.

Ao longo da sua história, o tipo de atividade desenvolvidas - ligadas ao complexo alfandegário, às cavalariças
ou, mais tarde, ao Ministério da Guerra - imprimiram ao lugar um indelével caráter fabril e popular. Reflete-o, ao
nível do edificado, a presença de pavilhões e armazéns, depósitos e instalações afins, bem como de casas de
habitação diretamente associadas aos ofícios e ocupações aí praticados. Não obstante - mesmo com as
pontuais correções nos alinhamentos viários, verificadas entre finais do século XIX e início do século XX - o
quarteirão nunca deixou de exibir notória desorganização, como bem o expressa um parecer municipal de
1888, que denuncia a “irregularidade das construções que existem no referido local, sem subordinação a
qualquer alinhamento determinado, donde resulta uma infinidade de recantos”14.

O panorama descrito não conhece igual expressão na frente da antiga Rua Direita da Junqueira – desde o
século XIX, parte integrante da atual Rua da Junqueira -, caracterizada essencialmente pela sucessão quase
contínua das fachadas dos prédios urbanos, uns de cariz mais popular e outros de cariz mais aristocrático ,
que estruturavam a via pública de ambos os lados.

Planta com as áreas projectadas pela Câmara Municipal de Lisboa e pela 2ª Secção do Porto de Lisboa, de 1905,
onde se pode observar a marcação aproximada do lote em análise (a vermelho) (Arquivo Histórico de Lisboa, CML).

14
Actas das Sessões da Câmara Municipal de Lisboa no anno de 1888, Lisboa. Imprensa Democrática, 1888, pp. 77-78
[sessão de 1 de junho de 1888].

21
VERSÃO PROVISÓRIA

Atualmente, o quarteirão participa na agitada dinâmica urbana que, essencialmente pela sua riqueza
patrimonial e valências turísticas, caracteriza a zona de Belém. Historicamente indissociável da evolução desta
última, o edifício em estudo surge agora em situação de imprevista visibilidade face às alterações aportadas
pela recente construção do novo Museu dos Coches (que lhe expõe toda a fachada Poente e Sul), impondo-
lhe um tipo de enquadramento que desafia a sua original lógica construtiva .

3.2. Os números 343 a 345 da Rua da Junqueira


O edificado em apreço terá sido mandado construir (com a feição que hoje se conhece), enquanto casa de
campo, pelo desembargador João Rodrigues Vilar, no último quartel do século XVIII. A informação é dada em
primeira mão por José Dias Sanches, na sua obra "Belém e arredores através dos tempos", que
categoricamente afirma:
Na Junqueira, nos terrenos vizinhos às cavalariças da Casa Real, o desembargador João Rodriques Vilar mandara
construir o seu palácio (…), de modesta arquitectura setecentista, como agradável casa de campo. Esta casa hoje
forrada de mosaico grenat, de fisionomia exterior diferente daquela que possuiu nos seus primeiros anos, guarda
ainda adentro das suas paredes uma capela da época digna de ser vista.15
No entanto, a sua raiz será anterior já que terá sido uma das primeiras casas erguidas na Rua Direita da
Junqueira, na época em que o eixo viário ganhou definição por via da dinâmica urbana decorrente da
instalação das Reais Cavalariças, no segundo quartel do século XVIII , entre o novo cais de Belém e o Forte da
Estrela. Coloca-se ainda a hipótese de, como referido anteriormente, o edifício conter estruturas ainda mais
antigas, nomeadamente do primeiro quartel do século XVIII, que remontem ao período em que nesta área se
encontrava instalada a Feitoria dos Ingleses.

As fontes, no seu possível e necessário cruzamento, parecem dar crédito às referidas notas históricas. Antes
de mais, a presença e importância do Desembargador Vilar na zona de Belém, e a sua estreita relação à
Coroa, são questões que pouca dúvida suscitam. A própria toponímia dá disso testemunho, nas designações
de “Terras do Desembargador” e “Travessa do Desembargador”, com que batizou as propriedades detidas
pelo magistrado na proximidade ou adjacência da Quinta e Palácio de Belém.

Longínquo e profundo é o vínculo enunciado. O avô do Desembargador Vilar, António Rodrigues Vilar, era
feitor dos condes de Aveiras, proprietários da quinta do mesmo nome, em Belém; terá passado ao serviço da
Casa Real na sequência da aquisição régia, em 1726, da referida propriedade. Seu filho, Capitão António
Rodrigues, pai do “Desembargador”, sucedera-lhe no serviço régio, constando como “moço da prata de Sua
Majestade” e feitor das Quintas de Belém. Não tendo nascido em Belém, cedo aí terá fixado residência,
hipótese que se reforça pelo conhecimento de que a mulher, Domingas Maria, era natural do lugar, onde
deverá ter vivido desde sempre. Ao longo da sua vida, o capitão terá beneficiado de vários favores régios, de
que são exemplo o usufruto, concedido por D. José I, das já mencionadas Terras do Desembargador (então
designadas terras da “Vargea” ou “Vargem”), propriedades que, como o nome deixa entrever, terão passado
ao uso ou mesmo propriedade do filho.

15
José Dias SANCHES, Belém e arredores através dos tempos, Lisboa, Livraria Universal Editora, 1940, pp. 168-9.

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VERSÃO PROVISÓRIA

Proposta simplificada de evolução morfológica do imóvel em análise (Conservation Practice, 2018).


23
VERSÃO PROVISÓRIA

A consulta dos livros das Décimas da Cidade de Lisboa, respeitantes à freguesia de Nossa Senhora da Ajuda,
dá conta de que, pelo menos a partir do ano de 1762 (data em que os registos desta freguesia têm início),
António detinha várias propriedades em cada um dos lados da então Rua Direita da Junqueira, assim como na
vizinha Rua do Embaixador16.

João Rodrigues Vilar terá seguido, a vários títulos, os passos dos seus diretos ascendentes . Nascera já em
Belém, constando o seu registo de batismo de 1743. Foi, como o pai, “moço da prata” de Sua Majestade , e foi
ao serviço desta – sobretudo na pessoa de D. Maria I – que sempre esteve vinculado, através da assunção de
relevantes cargos e funções. Além de, sucessivamente, desembargador do Tribunal da Relação do Porto, da
Casa da Relação e da Casa da Suplicação, foi superintendente dos foros e rendas da Casa Real “nos sítios da
Ajuda, Belém e mais pertenças”, bem como superintendente e administrador do Real Palácio e Quinta de
Alcântara. Sucedeu ao pai no usufruto das “Terras da Vargem” (seguidamente, “Terras do Desembargador”) e
na propriedade dos edifícios que aquele detinha na Rua Direita da Junqueira e na Rua do Embaixador .

Os supramencionados livros de décimas permitem apurar que, entre os anos de 1762 e 1763, constam em
nome do capitão António Rodrigues: na Rua do Embaixador, uma “morada de casas” composta por “loja e
dois andares”; e, do lado esquerdo da então designada Rua Direita da Junqueira, uma “morada de casas”
constando de uma loja e três andares. Além disso, nos anos posteriores, do capitão Rodrigues registam-se
ainda uma loja (alocada ao serviço régio) e um andar (arrendado a um criado do monarca), situados na parte
direita da Rua Direita da Junqueira. Sendo que os atuais números 343 a 345 da Rua da Junqueira se situam
naquele que, para efeitos de assento das décimas, era considerado o lado esquerdo da Rua Direita da
Junqueira, é de crer que as propriedades que aí existiam como pertencentes ao Capitão António Rodrigues
constituam a direta origem do edifício em análise.

Em 1765, a propriedade situada no lado esquerdo da Rua Direita da Junqueira compor-se-ia de três “lojas” e
de uma “estância” de lenha e carvão, estando qualquer destas parcelas arrendada. De uma delas, descrita
como “loja com bebidas”, era inquilino José Rodrigues de Queiroga. Da segunda loja, Manel Francisco
Tendeiro. Da terceira, João Gomes da Silva, genro do proprietário, que nela tinha instalada uma taberna. A
estância de lenha e carvão, por fim, encontrava-se arrendada a Bento Álvares.

O registo desta propriedade mantém-se por anos sucessivos, embora a sua descrição revele a existência de
ligeiras alterações, algumas porventura somente aparentes. Assim, nos anos imediatamente posteriores, o
edificado surge como constando de quatro lojas (e já não de três) e de uma estância de lenha (já não de
“lenha e carvão”). O senhorio – capitão António Rodrigues – ocupa, ao longo de vários anos consecutivos, a
quarta loja (da mesma forma que ocupa parte ou o todo da propriedade que detém no lado direito da Rua
Direita da Junqueira).

A partir de 1772, a propriedade passa a corresponder a duas lojas e a uma estância de lenha. No ano
seguinte, 1773, surgem, em separado, duas propriedades (aparentemente contíguas) pertencendo ao mesmo

16
A Rua do Embaixador deve o seu nome à figura do Conde de Maceda, embaixador de Espanha em Portugal em 1757-
60.

24
VERSÃO PROVISÓRIA

António Rodrigues: duas lojas e uma estância de lenha, arrendadas; e uma outra propriedade, designada sob
diferente número, embora sequencial, ocupada pelo senhorio e avaliada em 96.000 réis. Esta última confinava
com propriedades do rei, compostas por “lojas” (arrendadas maioritariamente a oficiais ou empregados da
Casa Real) e pelas reais cavalariças do vizinho Palácio e Quinta de Belém. Designações como “fiel das
cavalariças”, “moço de cavalariça”, “cocheiro de Sua Majestade”, “alveitar das cavalariças” ou “criado do rei”,
tornam-se, portanto, comuns no registo dos inquilinos das imediações das casas do capitão.

Pouco mais tarde, em 1776, e na sequência provável da morte de António Rodrigues, as propriedades passam
a ser descritas como pertencentes a seus herdeiros. Constariam de duas lojas (uma arrendada e outra
devoluta) e de uma estância (arrendada) “no andar superior”. Registam-se ainda “casas nobres em que
assiste a mesma viúva e filhos” do capitão, avaliadas, tal como nos anos anteriores (quando ainda não
referidas como “casas nobres”), em 96.000 réis. Já no ano seguinte, 1777, a propriedade aparece unificada
para efeitos fiscais e pertencente apenas ao Desembargador João Rodrigues Vilar. Até 1782, data até à qual
incidiu a consulta, mantém-se a designação, a ocupação e o valor atribuído às várias parcelas.

Como é possível verificar, a análise da Décima da Cidade não permite retirar conclusões rigorosas acerca da
morfologia e ocupação do imóvel no terceiro quartel do século XVIII, sendo até contraditória de ano para ano
e, por isso, inconclusiva. Fica por esclarecer, por exemplo, onde é que efetivamente se localizavam as “lojas” e
a “estância de madeira e carvão” (se no piso -1 ou se no piso 0, à cota da Rua da Junqueira), em que parcela
do edifício terá morado o Capitão António Rodrigues (e, por consequência, qual seria a abrangência das ditas
“casas nobres”), quantos fogos existiam por piso (e como é que estes coexistiam com as lojas) ou o porquê
de, a dada altura, a propriedade surgir dividida em duas parcelas. Ficam as questões em aberto, na certeza,
porém, de que o edificado em análise não resulta de um só projeto ou campanha de obras.

Do cruzamento das várias fontes, parece razoável supor que as propriedades que estão na origem dos atuais
números 343 e 345 remontam a data anterior ao Terramoto de 1755, designadamente ao reinado de D. João
V; já que, por aproximação, poderão corresponder a estruturas graficamente contempladas em certas plantas
de “cheios e vazio” e gravuras, da primeira metade de Setecentos. Sem quaisquer certezas em relação à data
de construção de uma primeira estrutura, que possa avocar a si o estatuto de preexistência, não é, contudo,
descabido sublinhar a ideia de que a evolução da propriedade tenha seguido de perto as vicissitudes
urbanísticas e funcionais aportadas pela evolução dos empreendimentos régios da zona de Belém.

No que refere às estruturas de maior solidez e robustez construtiva que servem de base ao edifício , no piso em
cave, fica a ideia de que: a parcela paralela à Rua da Junqueira, parece anteceder temporalmente a
construção que sobre ela se ergue (configurando-se como preexistência, provavelmente do primeiro quartel do
século XVIII); e que, a parcela abobadada central, parece sugerir uma intervenção posterior (provavelmente do
último quartel do século XVIII), tendo como função sustentar um varandim (pelo qual, através de escada, se
estabelece comunicação direta entre o andar nobre e o pátio) e acolher várias divisões (provavelmente de
serviço) funcionando como elemento de ligação e organização funcional entre os vários núcleos.

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VERSÃO PROVISÓRIA

1807 | DUARTE FAVA

1856-8 | FILIPE FOLQUE

1911 | SILVA PINTO

1950 | CML

Evolução do lote na cartografia de Lisboa entre início do século XIX e final do século XX (Lisboa interativa, CML).

26
VERSÃO PROVISÓRIA

Planta das reais cavalariças e suas dependências de 1863: letra E, as cavalariças; letra G, o celeiro de serviço; número
13, propriedade de Francisco de Brito Vilar (herdeiro de António Rodrigues Vilar); número 14, propriedade de Miguel
d’Oliveira; número 15, propriedade de Luíza Vilar; número 44, propriedade do Desembargador Francisco de Brito Vilar
(Arquivo Nacional da Torre do Tombo).

27
VERSÃO PROVISÓRIA

Outra das hipóteses que se colocou foi a possibilidade de, a parcela em cave paralela à Rua da Junqueira,
poder ter feito parte do conjunto edificado das Cavalariças Reais. Visando esclarecer essa questão, uma
planta das Reais Cavalariças e suas dependências, datada de 1863, revela com pormenor a envolvente direta
da construção e esclarece inequivocamente a natureza da sua (não) relação com as cavalariças. As “casas
nobres” de Vilar confrontariam assim: a Norte, com a Rua da Junqueira; a Nascente, com edifício habitacional
de Miguel d’Oliveira; a Sul, com dependências das Cavalariças Reais (formando uma espécie de “U”, em torno
do pátio intramuros, ainda hoje existente); e, a Poente, com o “celeiro público”. Contíguo a este último, para
Poente, situavam-se as principais estruturas que, naquele quarteirão, formavam as Reais Cavalariças.
Curiosamente, o celeiro - cujos vestígios parecem hoje integrar o lote do imóvel em análise, e sobre o qual a
capela parece erguer-se - abria apenas para Sul, para um dos pavilhões das cavalariças, apresentando,
contudo, dois vãos de janela: um, para o interior do referido pátio, e do qual receberia luz; e, o outro, para a
Rua da Junqueira, por onde hipoteticamente seria abastecido.

Nota ainda para o facto de, a atentar numa planta de Lisboa, levantada em 1807 por Duarte Fava, constatar-se
ainda que a casa não seria adjacente ao atual número 341 da Rua da Junqueira. Nesse espaço, pelo contrário,
parecia rasgar-se uma travessa pela qual se faria o acesso ao pátio, situado a uma cota inferior em relação à
frente da Rua da Junqueira.

Além dos âmbitos acima descritos em períodos mais longínquos, a construção conheceu até à actualidade
outras intervenções menores. O Arquivo Municipal de Lisboa regista várias obras entre 1918 e 1994, grande
parte das quais ocorridas nas décadas de 60 e 70, e que se resumem à adição de elementos dissonantes na
área Sul do lote como marquises, terraços e chaminés. Das intervenções relevantes na fachada principal -
como a renovação do seu revestimento exterior (com a colocação de azulejos monocromático) ou a conversão
do vão de porta do número 343 em vão de janela - não consta qualquer registo documental.

3.3. Património subsistente


Ao nível do invólucro exterior, a construção mantém, na fachada principal, um caráter unitário e uma
legibilidade histórico-arquitetónica que a substituição do primitivo revestimento (em reboco pintado) dos seus
panos murários e a reconfiguração de um dos seus vãos principais não comprometeram. Embora
consentâneo, em volumetria e caráter histórico, com os prédios adjacentes, destaca-se pela discreta
imponência dada pelo cunho setecentista patente na cobertura em mansarda (tipicamente Mardeliana).

A zona posterior, ao invés, apresenta uma evidente irregularidade altimétrica e volumétrica, bem como
dissonâncias formais e cronológicas, no que respeita aos seus vários elementos arquitetónicos. A desarmonia
do conjunto denuncia a óbvia existência de estruturas díspares em configuração e hierarquia funcional, mas
também, do critério eminentemente pragmático (e pouco sensível) de algumas das alterações introduzidas. No
entanto, e apesar de mal articulados na sua expressão visível, os diferentes sistemas estruturais utilizados
testemunham a historicidade do imóvel.

28
VERSÃO PROVISÓRIA

Mais que o exterior, é o interior da construção que maiores alterações e desvirtuações revela já que, a
organização referente à grande campanha de obras do último quartel de Setecentos - a cave (enquanto
suposta zona de serviço), o andar nobre e, sobre este, o andar secundário -, terá dado lugar a uma
organização subordinada ao funcionamento de um prédio de rendimento (convertendo-se os dois andares
superiores em quatro fogos distintos, acessíveis pela via pública por uma só entrada).

No geral (e não obstante as alterações acima descritas e a dificuldade que o estado de conservação do
edifício interpõe à sua leitura), é ainda possível discernir o funcionamento da dita “casa de campo” (ou palácio
de recreio) e identificar-lhe elementos de valia histórico-patrimonial. Refiram-se, a título de exemplo:
- no exterior, ao nível do plano principal, a matriz setecentista, pombalina ou protopombalina,
evidenciada na cobertura em mansarda “Mardeliana” (patente também na não distante Casa Nobre de Lázaro
Leitão), na regularidade dos vãos de verga reta e nos vãos de ventilação da cave (protegidos por gradeamento
férreo);
- ao nível do piso térreo, ao qual se acede pela Travessa do Cais da Alfândega Velha, a estrutura de
alvenaria de pedra das quatro salas que confinam com a Rua da Junqueira (destacando-se dois grandes
pilares, tectos de madeira montados em sistema de saia e camisa e diversos revestimentos em cantaria), a
estrutura abobadada quadripartida de tijolo maciço (incluindo a arcada pela qual uma das áreas abobadadas
se abre), o pavimento dos pátios e de maior parte dos espaços interiores (com lajedos de pedra de
considerável dimensão) e, ainda, um elemento de secção circular patente no pavimento do pátio
(hipoteticamente correspondente a antigo poço ou cisterna);
- ao nível do piso nobre, os elementos alusivos à campanha de obras pombalina: paredes de frontal e
tabique, silhares de azulejos de padrão polícromo (decorando inferiormente as paredes das várias divisões),
portas com bandeira envidraçada, tectos de saia e camisa e soalho.
No entanto, o elemento que merece um maior destaque no âmbito decorativo e artístico é o teto da
Capela, com representação simbólica de Nossa Senhora (provavelmente sob invocação da Imaculada
Conceição). Deste teto, estucado com motivos ornamentais rococó, destaca-se o medalhão central, que -
encimado por coroa, sustentado lateralmente por anjos e elevado sobre crescente lunar com dragão enrolado
(e cuja cabeça é pisada por um dos anjos) - exibe interiormente o monograma de Maria. Adicionalmente
preenche cada um dos ângulos do teto, robustecendo a unidade simbólica e evocativa do conjunto, um
medalhão com simbologia mariana (a rosa, o sol, a lua e a estrela).

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VERSÃO PROVISÓRIA

4. CONDIÇÃO ACTUAL

4.1. Descrição actual do conjunto edificado


O edifício é acessível por um arruamento de considerável dimensão e importância histórica, a Rua da
Junqueira, que desemboca, a Poente, junto ao imóvel em estudo e a dois complexos edificados que marcam
esta parcela urbana: o Palácio de Belém e o Museu Nacional dos Coches. Porém, e apesar da presente
dinâmica de reabilitação na cidade de Lisboa, este arruamento apresenta ainda uma série de edifícios de
acompanhamento que se encontram devolutos e/ou em mau estado de conservação, situação que perturba e
torna heterogénea a imagem do perfil urbano, atendendo à sua forte afluência e preponderância no contexto
viário desta zona ribeirinha.

O imóvel em estudo e sua relação com o Museu Nacional dos Coches (Conservation Practice, 2018).

Neste âmbito, o edifício em estudo encontra-se hoje maioritariamente devoluto, sendo que apenas o piso à
cota da Rua da Junqueira (onde se localizam dois estabelecimentos comerciais e dois fogos habitacionais) e
as volumetrias a Sul (às quais não foi possível aceder, mas que deverão albergar fogos habitacionais e
armazéns) se encontram ainda ocupados, apresentando globalmente sinais de deterioração decorrentes da
ausência de operações de manutenção integradas e, consequentemente, o envelhecimento generalizado das
estruturas. Contudo, a anomalia de maior gravidade relaciona-se com a rede de esgotos que fora danificada
(rompimento de condutas) aquando a edificação do ainda recente Museu Nacional dos Coches e que,
aparentemente, pelo facto de não ter qualquer elemento a jusante da rede interna, descarrega directamente
numa das divisões do piso inferior.

A fachada principal, confinante com a Rua da Junqueira, parece apresentar ainda um elevado grau de
autenticidade histórica mantendo sensivelmente intacta a sua matriz pombalina (e Mardeliana), caracterizada

30
VERSÃO PROVISÓRIA

por um volume declaradamente longitudinal, com uma métrica de vãos regular, onde sobressaem grandes
mansardas ao nível do piso superior. Esta autenticidade é apenas perturbada ao nível do piso térreo, ainda
que de forma ligeira, onde uma porta foi transformada numa janela de peito, verificando-se ainda um resquício
dos primitivos degraus. Quanto à sua condição física, esta apresenta um mau estado de conservação
marcado por patologias associadas ao natural envelhecimento dos materiais (conduzindo, por exemplo, a
desagregações do revestimento da superfície em mosaico e a um mau estado das caixilharias de madeira
ainda existentes), à acumulação de sujidade (sobretudo nos elementos pétreos) e a uma manutenção
deficiente (levando, designadamente, a contaminações herbáceas especialmente nas cornijas e beirados).

Condição actual da fachada da Rua da Junqueira (Conservation Practice, 2018).

31
VERSÃO PROVISÓRIA

As restantes fachadas que confinam com a via pública – designadamente a fachada Poente, em contacto com
a Rua da Junqueira e com o recinto do Museu Nacional dos Coches, a fachada Sul, também em contacto com
o recinto do Museu Nacional dos Coches e, a fachada Nascente, em contacto com a Travessa da Alfândega
Velha – constituem uma realidade bem diferente da fachada principal . Os seus níveis de autenticidade são de
difícil avaliação face à ausência de provas documentais que atestem configurações passadas.

Condição actual da fachada Poente (Rua da Junqueira e Museu Nacional dos Coches), tornejando para Sul (Museu
Nacional dos Coches) e para Nascente (Travessa da Alfândega Velha) (Conservation Practice, 2018).

32
VERSÃO PROVISÓRIA

Porém - pelo facto de terem confinado com estruturas edificadas bastante mais densas e, certamente,
imponentes (como as Cocheiras Reais ou o Depósito Geral de Material do Exército) - é provável que terão tido,
desde a sua origem, uma composição arquitectónica e decorativa mais simples comparativamente à fachada
principal face ao seu caracter secundário, considerando-se assim que o seu desenho actual deverá estar
próximo da sua feição original. Não obstante, o arranjo da envolvente do Museu Nacional dos Coches veio
perturbar e adulterar a sua leitura de forma acentuada (assim como provocar assentamentos diferenciais na
sua estrutura), o que resulta hoje num conjunto, compositivamente, muito pouco coerente e qualificado. O seu
estado de conservação é, simultaneamente, desfavorável – em resultado da ausência de operações de
manutenção periódicas – mas encontram-se estruturalmente consolidadas.

Uma leitura muito semelhante poderá ser feita para as fachadas interiores que definem o saguão e o pátio do
imóvel. No entanto, nestes planos, coloca-se uma questão adicional que passa pela presença de volumetrias
dissonantes, acopladas aos planos de fachada principais, como marquises e retretes. O pátio e saguão,
propriamente ditos, apresentam níveis de conservação muito diminutos, fruto de uma ocupação totalmente
desqualificada, como a introdução de pequenos anexos abarracados e adulterações à estrutura inicial (como
o emparedamento de arcaria para criação de área habitacional adicional ou a negligenciação das
infraestruturas domésticas), resultando em índices de salubridade e habitabilidade praticamente nulos.

Condição actual das fachadas interiores, junto ao pátio e saguão (Conservation Practice, 2018).

33
VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual das fachadas interiores, junto ao pátio (Conservation Practice, 2018).

O conjunto das coberturas, de distintos períodos, encontra-se – segundo inspecção visual a partir do exterior e
dos tectos de saia e camisa do piso superior – em mau estado de preservação, já que a sua estrutura de
madeira aparenta estar em processo de apodrecimento (após um período continuado de deficiências no que
refere ao escoamento das águas pluviais). Enquanto conjunto apresenta uma configuração algo desconexa,
com três telhados diferentes dispostos a três cotas diferentes, dos quais se destaca a autenticidade do
telhado de duas águas paralelo à Rua da Junqueira e cujas mansardas apresentam uma feição Mardeliana.

34
VERSÃO PROVISÓRIA

No que refere ao espaço interior, perante a escassez de documentação gráfica encontrada no processo de
obra do imóvel torna-se difícil aferir as ocupações, e respectivas modernizações das condições de
habitabilidade, que terá sucessivamente recebido, conhecendo-se apenas o registo da construção das
diversas volumetrias dissonantes (como terraços e casas de banho) presentes na zona central do edifício (ver
anexos).

Por este facto, a avaliação dos seus níveis de autenticidade é de difícil análise, sendo que, através da
inspecção visual à ambiência dos espaços, poderá dizer-se que o mesmo apresenta ainda uma condição
bastante autêntica, testemunhando muitas das suas utilizações originais, através da preservação de um
espaço religioso, de um fogo de feição tipicamente pombalina e de uma cave ligada a usos pesados (como o
abrigo de animais e/ou armazenamento de produtos). No entanto, a maioria das áreas encontra-se em mau
estado de conservação pelo facto do edifício estar, há vários anos, parcialmente devoluto e,
consequentemente, sujeito a uma ausência continuada de operações de manutenção; contexto que resulta
actualmente numa relevante degradação material, agudizada por problemas estruturais generalizados (e que
deverão ser consequência da presença, prolongada e constante, de água na estrutura tridimensional do
imóvel).

Assim, o piso -1, bastante irregular no que concerne à sua circulação, encontra-se praticamente devoluto na
totalidade, à excepção do volume situado a Sul do lote que ainda se encontra ocupado por inquilinos e que,
por esse motivo, não foi possível visitar. No que refere às quatro salas que confinam com a Rua da Junqueira –
que deverão ter correspondido, originalmente, a cavalariças particulares ou armazéns/lojas -, estas são
aquelas que apresentam o estado de conservação mais preocupante de todo o imóvel . Encontram-se
totalmente insalubres e inabitáveis face às reduzidas condições de iluminação e ventilação , situação agravada
pela presença constante de água nestas estruturas (fruto de infiltrações de águas pluviais, ascensão de água
por capilaridade mas, sobretudo, devido a problemas graves na rede de esgotos). Estas circunstâncias
levaram ao aparecimento de patologias de gravidade acentuada como a sujidade generalizada dos elementos
pétreos (pilares, socos e lajedos de pavimento), a desagregação de reboco das paredes em alvenaria de
pedra e a deformação e apodrecimento de elementos de madeira dos tectos de saia e camisa. Pelo contrário,
apresenta níveis de autenticidade muito relevantes, conseguidos à custa da preservação de elementos
arquitectónicos distintos (alguns deles possivelmente anteriores ao Terramoto de 1755) como os tectos de saia
e camisa, os elementos pétreos de boa qualidade construtiva e a métrica dos vãos superiores que, da Rua da
Junqueira, iluminam estes espaços.

Quanto ao núcleo central do piso, que corresponde a uma área abobadada, este apresenta um estado de
conservação razoável onde a estrutura em abóbada se encontra inteiramente consolidada e estruturalmente
estável, não obstante o mau estado das suas superfícies em resultado do envelhecimento generalizado dos
rebocos e consequentes desagregações. O seu nível de autenticidade é aparentemente elevado, embora seja
uma estrutura dissonante e intrusiva na sua relação com as salas contíguas à Rua da Junqueira, onde o
“arranque” das abóbadas se sobrepõe à moldura das portas que lhes são intercomunicantes (levando a crer
que esta estrutura central abobadada é posterior à construção das salas iluminadas pelo dito arruamento).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual do piso -1: sala com pilares ao centro (Conservation Practice, 2018).

36
VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual do restante piso -1, à excepção da parcela Sul à qual não foi possível aceder
(Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

O piso térreo permanece ainda ocupado, segundo dois fogos e, cada um deles, com um estabelecimento
comercial: o fogo Nascente que, junto à Rua da Junqueira, alberga uma loja de velharias e, junto à fachada
posterior, a habitação desses mesmos inquilinos; e, o fogo Poente que, à semelhança do anterior, acolhe um
cabeleireiro junto à fachada contígua à Rua da Junqueira sendo que, para Sul, se desenvolve a habitação dos
respetivos inquilinos. Face a esta ocupação e vivência é o pavimento que se encontra em melhor estado de
conservação, apresentando, porém, inúmeras patologias (resultantes, fundamentalmente, da presença
continuada de água em toda a estrutura na forma de ascensão por capilaridade e infiltração de águas pluviais,
resultando em deformações na gaiola de madeira pombalina e em desagregações nas paredes em alvenaria
de pedra) que afectam a salubridade destas habitações e espaços comerciais. Esta questão é particularmente
visível no mau estado de conservação dos tectos de saia e camisa (nota para, no fogo Poente, muitos desses
tectos terem já sido ocultados por tectos falsos em pladur de forma a melhorar o aspecto dos espaços,
situação a conferir através de sondagem). No que refere aos níveis de autenticidade, estes aparentam ser,
num cômputo geral, satisfatórios, destacando-se particularmente, no fogo Nascente, a preservação da
ambiência habitacional de feição pombalina (nomeadamente, os tectos de saia e camisa, as portas com
bandeira envidraçada, os soalhos de madeira e a azulejaria) e, no fogo Poente, a antiga capela (marcada pelo
tecto de invocação mariana, assim como por vãos e azulejaria de padrão pombalino).

Condição actual da parcela Poente do piso térreo, nomeadamente a antiga capela (Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual da parcela Poente do piso térreo, designadamente a zona habitacional (Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual da parcela Nascente do piso térreo. Nas duas fotografias superiores pode observar-se a loja de
velharias ainda em funcionamento, com entrada pela Rua da Junqueira (Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Condição actual da parcela Nascente do piso térreo, designadamente o corredor da zona habitacional
(Conservation Practice, 2018).

É também neste piso à cota da Rua da Junqueira que, naturalmente, se localiza o átrio principal do imóvel que
conduz à escada de serviço. Esta escada de tiro, iluminada por uma janela de peito e que permite somente
aceder ao primeiro piso, encontra-se num avançado estado de deterioração e sem quaisquer valores
patrimoniais a destacar, pese embora pareça preservar a sua lógica original.

Condição actual da escada de serviço (Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Por sua vez, o primeiro piso – aquele que, comparativamente aos dois pisos inferiores, apresenta um interesse
tipológico e/ou decorativo mais reduzido – encontra-se igualmente dividido segundo dois fogos que,
presentemente, se encontram devolutos. Verifica-se uma condição bastante homogénea no que respeita aos
seus níveis de conservação - marcada por múltiplas anomalias, similares às descritas nos dois pavimentos
inferiores, decorrentes de uma ausência prolongada de manutenção e do envelhecimento de materiais -
salientando-se, neste particular, a instabilidade do pavimento e dos tectos de camisa e saia (e,
consequentemente, da estrutura da cobertura).

Condição actual do piso 1 (Conservation Practice, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

5. PROTECÇÃO LEGAL

5.1. Instrumentos de protecção patrimonial e de gestão urbanística


No âmbito dos instrumentos de protecção patrimonial, um bem imóvel de interesse cultural encontra-se
directamente protegido por lei quando está classificado segundo um dos três graus de protecção previstos:
Imóvel de Interesse Municipal, Imóvel de Interesse Público ou Monumento Nacional17. A lei prevê ainda um tipo
de protecção indirecta dos bens culturais de valor menor, através da sua inclusão dentro de Zonas Gerais de
Protecção (ZGP) de outros imóveis classificados, definidas por uma área automática de 50m em torno dos
mesmos. Todas as intervenções urbanas dentro destas áreas, que muitas vezes se sobrepõem
sucessivamente umas às outras criando uma extensa malha na cidade, estão sujeitas ao parecer prévio da
entidade nacional ou regional com a tutela dos bens culturais, no âmbito dos respectivos processos de
licenciamento. Neste enquadramento, verifica-se que o edifício em análise não possui qualquer tipo de
protecção patrimonial directa, já que não se encontra classificado; porém está protegido indirectamente pela
Zona Especial de Protecção do Palácio de Belém e todo o conjunto intramuros, classificado como Monumento
Nacional18.

No âmbito dos Instrumentos de gestão urbanística da cidade de Lisboa não há igualmente nenhum aspecto
relevante a assinalar, visto que nenhum Plano de Pormenor ou de Urbanização abrange o conjunto edificado
em análise19, o que se traduz na minimização de condicionantes à intervenção. No entanto, encontra-se
referenciado na Lista de Bens da Carta Municipal do Património Edificado e Paisagístico (PDM, Anexo III), na
categoria de Bens imóveis de interesse municipal e outros bens culturais imóveis, com a referência 32.95 e a
designação de Edifício de habitação plurifamiliar na Rua da Junqueira 343-345 20. Por fim, do ponto de vista do
Património arqueológico, o conjunto insere-se na Área de nível arqueológico III onde, de acordo com o
Regulamento do PDM de Lisboa:
“(…) a Câmara Municipal, mediante parecer técnico-científico, pode sujeitar as operações urbanísticas que tenham
impacto ao nível do subsolo a acompanhamento presencial da obra e à realização de acções ou trabalhos, com
vista à identificação, registo ou preservação de elementos de valor arqueológico eventualmente existentes no
local.21”

17
Cf. Decreto-Lei nº 309/2009, Diário da República, 1ª Série, nº 206, de 23 de Outubro de 2009, sobre os procedimentos de
classificação de bens culturais imóveis, o regime das zonas de protecção e o estabelecimento das regras para a
elaboração de planos de pormenor de salvaguarda.
18
Atlas do Património classificado e em vias de classificação online (DGPC).
19
Geodados – Plataforma de dados abertos georreferenciados (CML).
20
Cf. Aviso nº 11622/2012, Diário da República, 2ª Série, nº 168, de 30 de Agosto de 2012, p.30355.
21
Idem, p. 30284.

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VERSÃO PROVISÓRIA

6. AVALIAÇÃO GERAL E INTERVENÇÃO PROPOSTA

Fachada principal do edifício em análise, a partir da Rua da Junqueira, entre 1900 e 1958
(Eduardo Portugal, Arquivo Fotográfico de Lisboa, CML).

Do ponto de vista patrimonial, o edifício em análise destaca-se sob três pontos de vista: no plano urbanístico,
por constituir um testemunho da dinâmica sócio urbanística desenvolvida em torno da antiga Quinta e Palácio
Real de Belém entre os reinados de D. João V (1706-1750) e de D. Maria I (1777-1815); no plano
arquitectónico, por manter uma assinalável feição aristocrática e um acentuado cunho Pombalino e Mardeliano
típicos da segunda metade do século XVIII, embora integrando pré-existências da primeira metade do mesmo
século; e, por fim, no plano histórico, por ter pertencido, desde a sua origem, a elementos ligados ao serviço
da Casa Real, nomeadamente ao Capitão António Rodrigues e depois ao seu filho, João Rodrigues Vilar.
Considerando todos estes aspectos (abordados em pormenor nos capítulos anteriores), estabelece-se no
esquema seguinte, uma hierarquia de valor cultural, arquitectónico e urbano que pretende servir de referência
para a intervenção no edifício, com vista à salvaguarda das suas características e elementos notáveis.

A análise que se apresenta partiu de uma avaliação pormenorizada da evolução histórica e arquitectónica do
imóvel, assim como da sua observação directa, complementadas pela consulta dos principais arquivos
municipais, no sentido de apurar o seu actual valor patrimonial. Assim, entende-se que o projecto de
arquitectura proposto por Rebelo de Andrade \\ Architectural & Design Studio – que sugere um uso misto,
comercial e habitacional – respeita, no essencial, os valores patrimoniais em presença.

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VERSÃO PROVISÓRIA

Escala de valor do edifício em análise (Conservation Practice, 2018).

45
VERSÃO PROVISÓRIA

Importa referir que a presente proposta decorre já de uma Informação da Estrutura Consultiva Residente da
Câmara Municipal de Lisboa (Inf. 3654/EXP/2018) de 11 de Abril de 2018 (ver anexo), na qual se emitia um
parecer negativo face à proposta de projecto anterior. Considerava-se, pois, que esta “não interpretava, total e
correctamente, os valores morfológicos, construtivos, arquitectónicos e decorativos previamente identificados”
(quer nas versões provisórias deste relatório prévio, quer nas próprias directrizes dadas pelo grupo de trabalho
camarário em questão) do imóvel pré-existente. Por conseguinte, o referido documento requeria que fossem
considerados quatro pressupostos principais, os quais, de um modo geral, são respeitados no projecto que
agora se apresenta: a sua preservação interna e externa, do ponto de vista construtivo, arquitectónico e
decorativo; o ‘expurgamento’ de acrescentos e a reposição do pátios actualmente ocupados; a possibilidade
de demoliçao do volume Sudeste, com vista à proposição de uma nova volumetria e, por fim, a preservação
dos paredões inferiores (com vestígios de estruturas de suporte das antigas cavalariças reais), sendo que o
novo estacionamento, deveria também restringir-se à implantação do novo corpo.

Assim, ao nível do invólucro exterior, o projecto proposto prevê dois tipos de intervenção. O primeiro – a aplicar
no corpo adjacente à Rua da Junqueira – consiste na preservação e valorização da linguagem deste volume,
através: da reabilitação, reforço e consolidação da sua fachada principal (repondo, inclusivamente, uma porta
original que, num período recente, terá sido transformada em janela); do prolongamento do desenho da
fachada principal para a fachada Poente (uniformizando e valorizando a leitura do volume edificado, assim
como melhorando os índices de salubridade interior, essencialmente através da introdução de novos vãos, na
linha dos existentes); e da recuperação da cobertura de linguagem Mardeliana (que, dado o seu
apodrecimento em inúmeras zonas, face a uma presença constante e prolongada de água, deverá ser
reconstruída de acordo com o desenho existente). Essencialmente, consiste na consolidação da estrutura
resultante da grande campanha de obras de beneficiação e ampliação de João Rodrigues Vilar, datada do
último quartel do século XVIII.

O segundo tipo de intervenção – a aplicar na restante volumetria, designadamente na área Sul do lote - passa
pela concepção de um novo volume (o que irá implicar a demolição de toda a correspondente estrutura
edificada pré-existente), procurando qualificar a imagem do edifício na sua confrontação com o Museu
Nacional dos Coches. Trata-se de um volume de desenho contemporâneo, com uma grande fachada
envidraçada voltada a Sul, separado da volumetria pré-existente por um pátio em “U” (que se desenvolve em
diversos patamares a cotas distintas) pontoado por diversas escadas de tiro, para acesso aos vários fogos.

Apesar de o edifício apresentar globalmente um mau estado de conservação no que se refere aos seus
espaços interiores, entende-se que se justifica uma estratégia de intervenção assente na preservação e
valorização das pré-existências com relevância patrimonial (centradas, em particular, no volume contíguo à
Rua da Junqueira), integrando-as no novo programa a implementar, e de reformulação das volumetrias
dissonantes (localizadas a Sul). Tratando-se de adaptar um edifício com valor histórico a um novo programa
funcional, a solução arquitetónica passou pelo entendimento da evolução volumétrica do imóvel, tentando
propor a solução que melhor se adequasse às suas condicionantes patrimoniais que abarcam mais de três
séculos de história.

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VERSÃO PROVISÓRIA

Projecto proposto (Rebelo de Andrade \\ Architectural & Design Studio, 2018).

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VERSÃO PROVISÓRIA

Assim, o projecto prevê uma área de estacionamento no piso -2 (que, naturalmente, implicará movimentos de
terras e consequente acompanhamento arqueológico), acessível a partir de uma rampa, cuja entrada se fará
pela Travessa do Cais da Alfândega Velha. Quanto ao piso -1, está prevista a preservação dos elementos
identificados como de relevância patrimonial, designadamente os robustos elementos estruturais em alvenaria
de pedra (colunas e abóbadas). Ao nível programático, prevê-se uma ocupação maioritariamente habitacional,
com fogos de pequena dimensão (T0 e T1) e ainda um espaço comercial na zona Nascente (funcionando em
duplex com o piso 0). Nos pisos 0 e 1, a lógica programática mantém-se, verificando-se a sua adaptação a
tipologias habitacionais de maior dimensão (T2 e T3), destacando-se a salvaguarda da antiga capela
(azulejaria e estuques) e da escada de tiro original.

48
VERSÃO PROVISÓRIA

7. SÍNTESE FINAL

ARQUEOLOGIA
 Carácter e evolução da ocupação da Rua da Junqueira e zona envolvente: pré-história (existência de um povoado pré-
histórico na área envolvente ao Rio Seco, tendo como base os trabalhos arqueológicos da Estação arqueológica da
Junqueira e cujo espólio exumado remonta ao Mesolítico, Neolítico e Calcolítico), período romano (existência de um grande
complexo fabril), século XII (grande juncal na frente ribeirinha), séculos XVII e XVII (construção duma muralha fluvial, de um
cais, do Forte de São João da Junqueira e do Porto Franco, em virtude de questões relacionadas com a defesa marítima,
após a Restauração da independência; começa a adquirir um ambiente já não só rural - ligado às quintas e palácios ali
implantados - mas também fluvial - com a construção de inúmeros cais e pequenos locais de amarração); século XIX
(alteração da fisionomia ribeirinha com a instalação de diversos complexos fabris e a construção do caminho de ferro).
 Sítios arqueológicos nas proximidades: destaca-se a descoberta de um povoado pré-histórico, de um complexo industrial
de preparados de peixe de época romana e de uma fábrica de curtumes do século XIX.
 Protecção legal: de acordo com o PDM, situa-se numa Área de Nível Arqueológico III, de potencial valor arqueológico.
 Conclusões: zona de parca informação relativamente à sua ocupação humana no passado (devido ao tipo de
ocupação/instalação de comunidades no local e à ausência de trabalhos de arqueologia). No entanto, nos últimos anos
(com a vigorosa reabilitação urbana e consequente revalorização da zona junto ao Tejo), o enquadramento arqueológico
da Lisboa ribeirinha tem vindo a redesenhar-se, nomeadamente com o aparecimento de estruturas de cais e restos de
embarcações, pelo que se considera que esta área apresenta uma significativa importância no contexto arqueológico.
 Recomendações: dado que o projecto proposto prevê trabalhos de escavação no subsolo visando a configuração de um
piso de estacionamento, recomenda-se a realização de trabalhos de acompanhamento arqueológico em todas as acções
de escavação, movimentação e/ou remoção de terras, permitindo: identificar a ausência/presença de contextos
arqueológicos na área de implementação do projecto (pelo menos nas áreas escavadas); medir e avaliar a potência
estratigráfica do local; registar, caracterizar e avaliar o grau de conservação, o potencial e a importância científica de
eventuais vestígios patrimoniais; obter dados de diagnóstico para propor e planear a implementação de medidas de
minimização adicionais (ou a continuação do acompanhamento ou a necessidade de realização de sondagens
arqueológicas); e planear a obra.

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E URBANÍSTICO


 Até ao século XVIII: o desenvolvimento urbanístico de Belém conheceu, ao longo dos séculos, progressiva intensificação,
principalmente despoletada no período dos Descobrimentos. O local (que só em centúrias mais recentes abandonou o
caráter periférico ou mesmo autónomo em relação à cidade de Lisboa) foi densificando o seu povoamento na estreita
dependência das atividades fluviais, instalando gradualmente algum casario disperso e, com ele, estruturas fortificadas.
 Primeiro quartel do século XVIII: o local apresentaria uma ocupação escassa e dispersa marcada, na área Nascente, pela
Casa da Saúde e, na área Poente, pela Feitoria dos Ingleses.
 Segundo e terceiro quartéis do século XVIII: D. João V vai alterar radicalmente a configuração urbanística da zona,
centralizando-a em torno da sua nova quinta e palácio e da sua dinâmica funcional e simbólica. Pelo facto de aqui passar
largas temporadas, a atratividade do lugar e o seu cariz aristocrático acentua-se decisivamente, levando ao seu
enobrecimento (é disso exemplo, a construção de um novo cais, para sua serventia, implicando a regularização do terreno
ribeirinho e a demolição de parte do seu antigo edificado). Com particular interesse para o presente estudo é, neste
contexto, que se instalam as Reais Cavalariças (na área anteriormente ocupada pela Feitoria dos Ingleses e, actualmente,
pelo Museu Nacional dos Coches), resultando na definição da Rua da Junqueira e na autonomização do quarteirão
compreendido entre esta e o rio. Simultaneamente, determinou a fixação, nas diretas imediações, de muitos dos que, nos
seus diversos graus hierárquicos, se encontravam agregados ao serviço régio.
 Último quartel do século XVIII: com o Terramoto de 1755, o desenvolvimento urbanístico da zona viu-se favorecido por
esta ter sido poupada pelo cataclismo (constituindo refúgio para muita da população afetada) e por se ter tornado no
centro político do país (com a transferência da corte para Belém).
 Séculos XIX e XX: com o tempo, a zona foi mudando de caráter e configuração, sendo que sua evolução espacial vai
reflectir as vicissitudes da história da monarquia portuguesa. É no contexto de um progressivo enfraquecimento
monárquico que, em 1877, se regista a venda das Reais cavalariças, cuja posse transita, em 1885, para o Ministério da
Guerra. O local acolheu, em 1916, o Parque Automóvel Militar, em 1928, as Oficinas Gerais de Material de Engenharia e,
mais recentemente, serviços dependentes do Ministério da Cultura.
Este tipo de actividades imprimiram ao lugar um indelével caráter fabril e popular. Reflete-o, ao nível do edificado, a
presença de pavilhões e armazéns, depósitos e instalações afins, bem como de casas de habitação diretamente
associadas aos ofícios e ocupações aí praticados. A Rua da Junqueira fica caracterizada pela sucessão quase contínua
das fachadas dos prédios urbanos (uns de cariz mais popular e outros de cariz mais aristocrático) que estruturavam a via
pública de ambos os lados, enquanto que, o quarteirão em estudo, nunca deixou de exibir notória desorganização.

OS NÚMEROS 343 A 345 DA RUA DA JUNQUEIRA


1ª fase – edifício primitivo - segundo quartel do século XVIII: terá sido uma das primeiras casas erguidas na Rua da
Junqueira, na época em que o eixo viário ganhou definição em consequência da instalação das Reais Cavalariças. Coloca-

49
VERSÃO PROVISÓRIA

se, porém, a hipótese de o edifício conter estruturas do primeiro quartel do século XVIII (período em que, nesta área, se
encontrava instalada a Feitoria dos Ingleses), nomeadamente alguns espaços do piso -1 e o muro que delimita o lote a Sul
(uma hipotética reminiscência do antigo muro até onde vinha o Tejo, anteriormente ao aterro do final do século XIX).
Era proprietário o Capitão António Rodrigues, constando como “moço da prata de Sua Majestade” e feitor das Quintas de
Belém, condição que lhe terá permitido beneficiar desta propriedade tão próxima à Casa Real. Terá sido um edifício
destinado sobretudo a arrendamento (descrevendo, a Décima da Cidade, a presença contínua de várias lojas e de uma
estância de lenha e carvão), habitando o Capitão apenas uma pequena parcela do mesmo.
 2ª fase – grande campanha de obras de beneficiação e ampliação - último quartel do século XVIII: construção de uma
casa de campo/recreio de arquitectura setecentista.
Era proprietário o Desembargador João Rodrigues Vilar (filho de António Rodrigues, do qual herdou esta propriedade), o
qual terá assumido, à imagem do pai, relevantes cargos e funções na Casa Real.
 3ª fase – ampliação do conjunto – séculos XIX e XX: o Arquivo Municipal de Lisboa regista várias obras entre 1918 e
1994, e que se resumem à adição de elementos dissonantes na área Sul do lote como marquises, terraços e chaminés.
Das intervenções relevantes na fachada principal (como a renovação do seu revestimento exterior ou a conversão do vão
de porta em janela) ou da ampliação das volumetrias a Sul, não consta qualquer registo documental.
 Actualidade: o edifício surge em situação de imprevista visibilidade face às alterações aportadas pela recente construção
do Museu Nacional dos Coches (que lhe expõe toda a fachada Poente e Sul), impondo-lhe um tipo de enquadramento
que desafia a sua original lógica construtiva.

PATRIMÓNIO SUBSISTENTE
 Invólucro exterior: o volume em contacto com a Rua da Junqueira mantem um caráter unitário e uma legibilidade
histórico-arquitetónica assinaláveis, referentes ao período pombalino. A cobertura destaca-se pela discreta imponência
dada pelo cunho setecentista patente na mansarda, tipicamente Mardeliana.
Os volumes posteriores apresentam uma evidente irregularidade altimétrica e volumétrica, bem como dissonâncias formais
e cronológicas. No entanto, e apesar de mal articulados na sua expressão visível, os diferentes sistemas estruturais
utilizados testemunham a historicidade do imóvel.
 Piso térreo: destaca-se a estrutura das quatro salas que confinam com a Rua da Junqueira (sobretudo os dois grandes
pilares, tectos de madeira montados em sistema de saia e camisa e diversos revestimentos em cantaria), a estrutura
abobadada (incluindo a arcada pela qual uma das áreas abobadadas se abre), o pavimento dos pátios e de maior parte
dos espaços interiores (com lajedos de pedra de considerável dimensão) e, ainda, um elemento de secção circular patente
no pavimento do pátio (hipoteticamente correspondente a antigo poço ou cisterna).
 Piso nobre: destacam-se elementos que conformam a ambiência pombalina do espaço como as paredes de frontal e
tabique, silhares de azulejos de padrão polícromo (decorando inferiormente as paredes das várias divisões), tecto da
Capela, tectos de saia e camisa, portas com bandeira envidraçada e soalho.

CONDIÇÃO ACTUAL
 Exterior: as fachadas apresentam um mau estado de conservação (embora todas elas se encontrem estruturalmente
consolidadas) sendo que a fachada principal, confinante com a Rua da Junqueira, apresenta um elevado grau de
autenticidade histórica, enquanto que, as restantes fachadas secundárias, pelo contrário, apresentam um estado de
conservação muito frágil. O conjunto das coberturas, de distintos períodos, encontra-se em mau estado de preservação, já
que a sua estrutura de madeira aparenta estar em processo de apodrecimento; do seu conjunto algo desconexo, destaca-
se a autenticidade do telhado paralelo à Rua da Junqueira e cujas mansardas apresentam uma feição Mardeliana.
Interior: apresenta, globalmente, níveis de autenticidade relevantes e um mau estado de conservação.

PROTECÇÃO LEGAL
 Instrumentos de protecção patrimonial: o edifício não possui qualquer tipo de protecção patrimonial directa. No entanto,
encontra-se protegido indirectamente pela ZEP do Palácio de Belém e todo o conjunto intramuros (MN).
 Instrumentos de Gestão urbanística da cidade de Lisboa: no âmbito do PDM de Lisboa, encontra-se referenciado - na
Lista de Bens da Carta Municipal do Património Edificado e Paisagístico – na categoria de Bens imóveis de interesse
municipal e outros bens culturais imóveis, com a designação de Edifício de habitação plurifamiliar na Rua da Junqueira 343-
345 e referência nº 32.95. Não é abrangido por Plano de Pormenor ou Plano de Urbanização.

AVALIAÇÃO GERAL E INTERVENÇÃO PROPOSTA


 Valores patrimoniais em presença: salientam-se os elementos muito importantes (como a fachada que contacta com a
Rua da Junqueira e a capela) e os elementos importantes (como a maioria da estrutura do piso -1, o saguão e a escada de
serviço).
 Intervenção proposta: o projecto de arquitectura proposto pelo atelier Rebelo de Andrade \\ Architectural & Design
Studio respeita, no essencial, os valores patrimoniais em presença.

50
VERSÃO PROVISÓRIA

8. FONTES CONSULTADAS

8.1. Arquivos Nacionais/Torre do Tombo


Correspondência sobre as cavalarias e cocheiras reais, Ministério do Reino, mç. 279, cx. 372.

Diligência de habilitação de António Rodrigues, Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, António, mç. 116,
doc. 1994.

Diligência de habilitação para a Ordem de Cristo de João Rodrigues Vilar, Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para
a Ordem de Cristo, Letra J, mç. 57, n.º 2.

Escritura de venda de armazém e terreno em Belém, Casa Real, Núcleo Antigo, 324.

Planta das reais cavalariças e suas dependências, 1863, Ministério do Reino, Coleção de Plantas do ex-A.H.M.F., cx. 5281,
n.º 12.

Planta do Palácio e Quinta de Belém, 1836 a 1910, Casa Real, Plantas, Almoxarifado de Belém, pt. 3, doc. 137.

Planta do Real Palácio e Quinta de Belém, 1845, Casa Real, Plantas, Almoxarifado de Belém, pt. 3, doc. 131.

Planta geral do Palácio de Belém e suas dependências, c. 1836, Casa Real, Plantas, Almoxarifado de Belém, n.º 129.

8.2. Arquivo Municipal de Lisboa (AML)

8.2.1. AML/Núcleo do Arco do Cego


Alinhamento do pátio da Alfândega Velha, 1894-07-17 - 1917-05-22, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/01495.

Alinhamentos de ruas em Belém, 1890-06-25 - 1898-07-26, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/00780.

Colocação de cano na rua do Embaixador, 1890-12-05, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/02300.

Colocação de cano na rua do Embaixador, 1890-12-05, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/03751.

Melhoramentos na rua Cais de Alfândega Velha, 1888-06-01 - 1914-08-13, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/02881.

Obra na rua da Junqueira, 1902-11-12, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/02243.

Planta com as áreas projectadas pela Câmara Municipal de Lisboa e pela 2ª Secção do Porto de Lisboa; 1905,
PT/AMLSB/CMLSB/UROB-E/23/0650.Planta da zona da Junqueira, 1890-12-05, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/03751.

Planta da zona da Junqueira, 1894-07-17 - 1917-05-22, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/01495.

Planta da zona da Junqueira, 1902-11-12, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/02243.

Planta da zona de Belém/Junqueira, 1890-06-25 - 1898-07-26, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/00780.

Planta de melhoramentos, Francisco Valente Marrecas Ferreira (1913-…) (http://arquivomunicipal2.cm-


lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1098126&AplicacaoID=1).

Projetos com as áreas projectadas pela Câmara Municipal de Lisboa e pela 2ª Secção do Porto de Lisboa; 1891-06-17 -
1905-02-03, ref.ª: PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/00787.

8.2.2. AML/Núcleo Fotográfico


Casa Sebastião, edifício pombalino [entre 1900 e 1958], PT/AMLSB/POR/059789.

Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, vista para Nascente [c. 1903],
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LSM/000834.

Planta da alfândega velha de Belém, 1949, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/EDP/000967.

51
VERSÃO PROVISÓRIA

Projecto de Carlos Mardel para o melhoramento da linha de costa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MNV/000943

Prolongamento da calçada da Ajuda, 1905-12-05 - 1920-05-07, PT/AMLSB/CMLSBAH/PURB/002/01078

8.2.3. AML/Núcleo Histórico


Livro 1º de avisos de D. Maria I, f. 131 a 131v.
Livro 3º de consultas e decretos de D. Maria I, f. 417 a 427v.
Livro 8º de consultas e decretos de D. Maria I, f. 329 a 320v.
Livro 10º de consultas e decretos de D. Maria I, f. 206 a 225v.
Livro 3º de consultas e decretos de D. João V do Senado Ocidental, fl. 334.
Livro 5º de consulta e decretos de D. João V do Senado Ocidental, f. 141
Livro 6º de consultas e decretos de D. João V do Senado Ocidental, doc. 67, f. 114 a 115v.
Livro 11º de consultas e decretos de D. João V do Senado Ocidental, f. 112 a 113v.
Livro 19º de consultas e decretos de D. Pedro I, f. 377 a 378v.

8.2.4. AML/Núcleo Intermédio


Obra n.º 4554:
Processos nº:7066/1ªREP/PG/1918; 15418/SEC/PET/1934; 18325/SEC/PET/1934; 16507//PET/1951; 3796/DAG/PG/1961;
49624/DAG/PG/1963; 58132/DAG/PG/1963; 25097//PET/1974; 31111/DAG/PET/1969; 1958/DSO/I/1976;
46360/DAG/PG/1988 e 282/DCEOD/I/1994.

8.3. Arquivo Histórico do Tribunal de Contas


Décimas da cidade de Lisboa, Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda: anos de 1762 a 1782
Cotas: DC 1 PRU 1762-1763; DC 1 PP – 1764; DC 1 PP – 1765; DC 2 AR 1765; DC2 AR 1766; DC 3 AR 1767; DC 4 AR
1768; DC 4 AR 1769; DC 5 AR 1770; DC 5 AR 1771; DC 6 AR 1772; DC 7 AR 1773; DC 7 AR 1774; DC 8 AR 1775; DC 8 P
1775; DC 8 P 1776; DC 9 AR 1776; DC 9 AR – 1777; DC 10 AR 1778; DC 10 AR 1779; DC 11 AR 1780; DC 11 AR 1781; DC
12 AR 1782.

8.4. Fontes iconográficas e cartográficas


Acção da muralha do antigo cais da praia do Sucesso, lev. arquitectónico, Cagnardi et al., Gregotti Associatti, 1989.
Atlas da carta topográfica de Lisboa, Filipe Folque (1858-01).
Carta topographica de Lisboa e seus subúrbios, Duarte Fava (1807).
Levantamento altimétrico da cidade de Lisboa (1871).
Levantamento da planta de Lisboa, Silva Pinto (1904-11).
Planta da cidade de Lisboa, Cassiano Branco [19--].
Planta topográfica da marinha das Cidades de Lisboa Ocidental e Oriental (…), Manuel da Maia (atr.), 1727.
Projecto do Cais Novo de Belém ao Cais de Santarém, Carlos Mardel, c. 1733.
Vista de Belém desde a Torre de S. Vicente até aos Jerónimos, Lemprière, c. 1707-1714.

8.5. Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 6.

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, n.º IX, Lisboa, Parceria A.M. Pereira,1939.

BASÍLIO, A., PEREIRO, T., “Pedaços de um passado comum: ocupações do 4º e 3º milénios AC na zona do Rio Seco/Boa
hora (Ajuda, Lisboa)", Revista Apontamentos. Lisboa, Era-arqueologia, edição digital, 2017.

52
VERSÃO PROVISÓRIA

BUGALHÃO, J., “Lisboa "Sempre" Ribeirinha”, AlMadan 13, II Série, Almada, Centro de Arqueologia de Almada, 2005.
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA, Actas das Sessões da Câmara Municipal de Lisboa no anno de 1888, Lisboa, Imprensa
Democrática, 1888.

Catálogo do Depósito/Repartição das Reais Cavalariças, 2.ª edição, Lisboa, Tipografia da Editora, 1905.

FILIPE, I., Casa do Governador da Torre de Belém: o caso de uma unidade de produção de preparados de peixe no âmbito
da economia romana. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa - Universidade de Lisboa,
2011.

FREITAS, Eduardo de; CALADO, Maria; FERREIRA, Vítor Matias, Lisboa. Freguesia de Belém, Lisboa, Contexto Editora,
1993.

JARDIM, Maria do Rosário, “A Baixela Germain ao serviço da Corte no reinado de D. Maria I”, Artigos em Linha, n.º 6,
Lisboa, Palácio da Ajuda, Fevereiro de 2012.

JERÓNIMO, Rui José Pinto de Moura, A casa do governador da Torre de Belém. Uma tipologia híbrida, Vol. I, Dissertação
para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura pelo Instituto Superior Técnico, 2016 [edição eletrónica de acesso livre].

LEITÃO, E., DIDELET, C., CARDOSO, G., “Análise espacial da área do município de Lisboa durante a pré-história recente”,
Scientia Antiquitatis 1, 2017.

OSSWALD, Cristina, “A Imaculada Conceição na pintura e na escultura - contextualização histórico-hagiográfica; a


formação de um dogma”, in FRANCO, José Eduardo; ALVES, José Sanches, Santa Beatriz da Silva: uma estrela para novos
rumos, Lisboa, Principia, 2013, pp. 397-414.

NABAIS, A.J., RAMOS, P., 100 Anos do Porto de Lisboa, Administração do Porto de Lisboa, edição Comemorativa, 1987.

NETO, N., CARDOSO, J., “O sítio Neo-Calcolítico da Travessa das Dores (Ajuda-Lisboa)”, Actas do I Encontro de
Arqueologia de Lisboa, 2017.

NETO, N., REBELO, P., CARDOSO, J., “O povoado do Neolítico Final e do Calcolítico da Travessa das Dores (Ajuda -
Lisboa)”, Estudos Arqueológicos de Oeiras, 2015.

RIBEIRO, Mário de Sampayo, Do sítio do Restelo e das suas igrejas de Santa Maria de Belém, Academia Portuguesa da
História, 1949.

RIBEIRO, Mário de Sampayo, “As Quintas Reais do lugar de Belém”, Anais das Bibliotecas, Museus e Arquivo Histórico
Municipais, n.º 15, Lisboa, Janeiro - Março de 1935, pp. 10-21.

SANCHES, José Dias, Belém do passado e do presente, Lisboa, 1970, Separata do Jornal “Ecos de Belém”, s/d.

SANCHES, José Dias, Belém e arredores através dos tempos, Lisboa, Livraria Universal Editora, 1940.

SUBTIL, José, Dicionário dos Desembargadores (1640-1834), Lisboa, Ediual, 2010.

VASCONCELOS, J. Leite de, O Archeologo Português. Colecção ilustrada de materiais e notícias, Vol. XVIII, Lisboa,
Imprensa Nacional, 1913.

VAULTIER, M., ZBYSZEWSKI, G., Estação Pré-Histórica da Junqueira. Lisboa e seu termo estudos e documentos, Vol. I,
Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1947.

VVAA, Dicionário da história de Lisboa, direcção F. Santana e E. Sucena, Lisboa, edição Carlos Quintas e Associados,
1994.

8.6. Processos e arquivos arqueológicos


AMARO, C., Tapada da ajuda. Necrópole romana de inumação. Departamento de arqueologia do IPPC, 1984.

BUGALHÃO, J., DUARTE, C., Intervenção de emergência na Escola Secundária Dom João de Castro. Lisboa, 2000.

ENCARNAÇÃO, G., BATISTA, C., Alcântara-rio. Rua de Cascais 37 a 43. Relatório dos Trabalhos Arqueológicos realizados
de 30 de Julho a 26 de Outubro de 2004, 2004.

53
VERSÃO PROVISÓRIA

FONTES, T., Intervenção arqueológica Empreendimento Alcântara Rio, Rua de Cascais. Lisboa, Neoépica, 2007.

FREITAS, T., SARRAZOLA, A., PONCE, M., Relatório Final. Escavação Arqueológica da rampa da Cordoaria Nacional, Centro
de Arte e Tecnologia - EDP. Lisboa, Era-Arqueologia, 2014.

MACEDO, M., Relatório final dos trabalhos arqueológicos, Casa do Arco da Torre, Praia do Bom Sucesso, Restelo. Lisboa,
Era-Arqueologia, 2010.

MACEDO, M., Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos. Edificação de Condomínio Privado no lote nº 156/156 (sic) da Rua
da Junqueira. Sondagens de diagnóstico, Poços geotécnicos, Escavação arqueológica e Acompanhamento arqueológico
(Fábrica de Curtumes). Rua da Junqueira, 156/158, Belém, Lisboa. Lisboa, Era-Arqueologia, 2016.

MONTEIRO, M., PINTO, L., Trabalhos arqueológicos realizados no âmbito da empreitada de construção de edifício na Rua
Bartolomeu Dias, 158-158a. Lisboa, 2016.

PERDIGÃO, P., Relatório Final dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueológico do Parque de Estacionamento da Rua da
Junqueira. Geoarque, 2003.

PEREIRA, C., Acompanhamento arqueológico - relatório final. Projecto de sondagens prévias às demolição e reconstrução
do edifício do Arco do Bom Sucesso, na Rua do Arco. Lisboa, 2009.

PONCE, M., Relatório final dos trabalhos arqueológicos. Sondagem Arqueológica no encontro Norte da ponte pedonal do
MAAT, Belém. Lisboa, Era-Arqueologia, 2017.

SARRAZOLA, A., Relatório final dos trabalhos arqueológicos. Centro de Artes e Tecnologia, Fundação EDP.
Acompanhamento arqueológico. Belém. Lisboa, Era-Arqueologia, 2014a e 2014b.

VALERA, A., Relatório final dos trabalhos arqueológicos, centro de arte da EDP, sondagens diagnóstico. Lisboa, Era-
Arqueologia, 2014.

8.7. Legislação e notificações


Audiência aos interessados acerca da Rua da Junqueira 343-345:
Lisboa Ocidental, SRU, EM, S.A., Processo 43LO/EDI/2016, Referência S/256/2017, de 6 de Fevereiro de 2017.
Audiência aos interessados acerca da Rua da Junqueira 343-345:
Lisboa Ocidental, SRU, EM, S.A., Processo 43LO/EDI/2016, Referência S/1311/2017, de 31 de Julho de 2017.
Informação da Estrutura Consultiva Residente da Câmara Municipal de Lisboa acerca da Rua da Junqueira 343-345:
CML, Informação 3654/EXP/2018, de 11 de Abril de 2018 (ver anexo).
Regulamento Municipal de Urbanização e Edificação de Lisboa (PDM):
CML, Aviso nº 5147/2013, Diário da República, 2ª Série, nº 74, de 16 de Abril de 2013.
Regime jurídico relativo aos estudos, projectos, relatórios, obra ou intervenções sobre bens culturais classificados ou em
vias de classificação:
Decreto-Lei nº 140/2009, de 15 de Junho, Diário da República, 1ª série, Nº 113, de 15 de Junho de 2009.

8.8. Outras bases de dados e arquivos


Atlas do Património classificado e em vias de classificação online (DGPC).
Biblioteca Nacional de Portugal online.
Geodados – Plataforma de Dados Abertos Georeferenciados (CML).
Lisboa Interactiva (CML).
Portal do Arqueólogo (DGPC).

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9. ANEXOS

9.1. Processo de Obra

Colocação de cano na Rua do Embaixador, em 1890, onde se pode observar a marcação aproximada do lote em
análise (a vermelho) (Arquivo Histórico de Lisboa, CML).

Alinhamento do pátio da Alfândega Velha, em 1894, onde se pode observar a marcação aproximada do lote em
análise (a vermelho) (Arquivo Histórico de Lisboa, CML).

55
Planta da zona da Junqueira, em 1902, onde se pode observar a marcação aproximada do lote em análise
(a vermelho) (Arquivo Histórico de Lisboa, CML).

56
Projecto de um terraço. Obra 4554 – Processo 7066 – 1918 – Folha 3
(Arquivo Municipal de Lisboa, CML).

57
Projecto para a construção de uma chaminé e terraço. Obra 4554 – Processo 15418 – 1934 – Folha 2
(Arquivo Municipal de Lisboa, CML).

58
Projecto para a construção de uma chaminé e terraço. Obra 4554 – Processo 18325 – 1934 – Folha 2
(Arquivo Municipal de Lisboa, CML).

59
Planta da alfândega velha de Belém de 1949, onde se pode observar o largo por onde se acede à parcela posterior do
imóvel em estudo, aqui ainda denominado de “Largo das Reais Cavalariças” (Arquivo Fotográfico de Lisboa, CML).

60
9.2. Informação da Estrutura Consultiva Residente (CML) – Nº 3654/EXP/2018 de 11 de Abril

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CONSERVATION PRACTICE, Consultoria em Património Histórico
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