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Maria da Conceição Lopes Aleixo Fernandes

A cultura construtiva do adobe em


Portugal
Dissertação de Doutoramento em Arquitetura, especialidade Arquitetura e Construção,
apresentada ao Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia
(versão definitiva)

dezembro 2013
2
Orientação:

Prof. Doutor José António Bandeirinha l Universidade de Coimbra


Prof. Doutora Maria da Conceição Lopes l Universidade de Coimbra

Unidade de Acolhimento:

Financiamento:
IIIUC Instituto de Investigação Interdisciplinar

Cofinanciamento:

3
4
RESUMO

A tese sob o título “A cultura construtiva do adobe em Portugal” tem


como primeiro objetivo o colmatar de uma lacuna na história da arquitetura e da
construção em Portugal: o estudo da arquitetura, do material e dos sistemas
construtivos em adobe no território português e mais especificamente da
habitação construída com esse material. Pretendeu-se com este objetivo
responder onde, quando e como se construiu com adobe e que arquiteturas
resultaram dessa cultura construtiva no nosso país.

O segundo objetivo da investigação versou a atualidade da arquitetura


de adobe em Portugal, quer do ponto de vista do material construtivo quer da
conservação da arquitetura existente. Trata-se de uma investigação em
arquitetura especialidade arquitetura e construção que pretendeu aferir se
existe a possibilidade, onde e como, de produção mecanizada e industrial
deste material e se de facto a construção contemporânea em adobe tem lugar
no atual panorama arquitetónico e construtivo português. A investigação não se
limitou apenas ao problema produtivo e tecnológico da construção
contemporânea, mas essencialmente, à identificação e reflexão sobre a
importância e pertinência em conservar os edifícios existentes em adobe e
quais. Os objetivos enunciados apesar de se cingirem ao território português
são enquadrados e contextualizados num panorama histórico/geográfico
mundial enquanto a arquitetura, objetivo central da investigação é abordada
num âmbito mais vasto onde a paisagem, a geografia e a antropologia são
fatores determinantes para o seu entendimento.

A pesquisa fundamentou-se, essencialmente, na análise de fontes


documentais, orais e de registo recolhidas, enquanto o conteúdo se organizou
numa perspetiva temática, do geral para o particular e do passado para o
futuro. Esta estrutura que se organizou em quatro capítulos abordou desde as
arquiteturas de terra, às de adobe, da matéria-prima ao material, das técnicas

5
aos sistemas construtivos, dos edifícios históricos aos vernáculos e
planificados, até à mais recente produção arquitetónica construída em adobe.
A investigação filia-se nos estudos em arquitetura de terra, onde a
arquitetura vernácula e os materiais locais tem um papel decisivo e
indispensável na compreensão do território e na relação do habitat com o
ambiente, a agricultura e o solo em geral.

A pesquisa baseou-se por isso numa metodologia qualitativa e


quantitativa de dados obtidos a partir:
- pesquisa documental e bibliográfica;
- recolha e levantamento de campo;
- análise laboratorial.

Do confronto entre conhecimento empírico e científico, que sempre


marcaram a investigação da construção e dos materiais tradicionais em
Portugal, se concluiu da importância e do futuro da arquitetura de adobe no
nosso país.

6
ABSTRACT

This thesis about “Adobe construction in Portugal” has the main purpose
of filling a gap in the history of architecture and construction in Portugal: to
study adobe as a building material and a building technique. It particularly
focuses on adobe housing construction. The idea is to find out where, when and
how adobe was used and what type of architecture remains today using such
building technique.

Another aim of this research work is to study adobe architecture as a


means to ensure conservation of existing architecture. There has been an
attempt to find out if it is possible to produce adobe through a mechanized and
industrial process, and if there is room for adobe construction today. Apart from
considering technological difficulties facing adobe production today, this study
focuses essentially on the identification and reflection on the importance of
conservation of existing adobe construction. Even though the questions raised
are restricted to Portugal, they are based on a worldwide historical-geographical
context where landscape, geography and anthropology are essential for
understanding architecture.

This project was essentially based on the analysis of oral and


documentary sources of information, and its contents were organised by theme,
from a wider to a more specific perspective and from the past towards the
present. Its four chapters encompass earth and adobe architecture, from
historical buildings to more vernacular and design architecture, including more
recent building construction.

This research work is affiliated in earthen architecture studies and it’s


based on information from earth architecture projects where vernacular
architecture and local materials have an important role in understanding the
territory and the relationship between habitat on one side and the environment,
agriculture and the soil on the other.

7
The research methodology is based using qualitative and quantise
methods obtained from:
- bibliographic and documentary research;
- collection and field survey;
- laboratory analysis.

The importance and relevance of the adobe architecture in Portugal


emerged from the empirical and the scientific approaches, both characteristics
of the Portuguese investigations focus on the traditional construction and local
materials.

8
AGRADECIMENTOS

Um trabalho de investigação que levou anos e consumiu horas de


trabalho só foi possível graças à orientação científica dos professores Maria
Conceição Lopes e José António Bandeirinha, a quem agradeço todo apoio,
disponibilidade, sugestões e sobretudo a confiança e profunda amizade.
Durante toda a investigação foram extraordinariamente estimulantes e frutíferos
os encontros e a troca de conhecimentos no seio do CEAUCP, com os
investigadores da área temática da Arqueogeografia, assim como as reuniões,
apresentações e partilha de informações no grupo de doutorandos em
arquitetura do professor José António Bandeirinha. Sem este estimulante
convívio científico, dificilmente o desenvolvimento do trabalho teria ocorrido.

Agradeço ao Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade


Coimbra o apoio financeiro imprescindível para o desenvolvimento da
pesquisa, à extinta Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, na
pessoa do Engenheiro Vasco Martins Costa, pela dispensa de serviço que me
permitiu usufruir da bolsa, e finalmente, à Direção-Geral do Património Cultural,
na pessoa do arquiteto João Seabra Gomes, pela compreensão pela fadiga e
dispersão no trabalho nesta ultima etapa da escrita.

Agradeço ainda às inúmeras instituições e colaboradores que me


apoiaram na investigação:
- ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro,
especialmente aos Professores Humberto Varum, Ana Velosa e Romeu
Vicente, ao doutorando António Figueiredo, à investigadora de pós
doutoramento Slávka Andrejkduicǒvá, à Engenheira Maria Carlos Figueiredo e
ao técnico de laboratório Sr. Raul Barros pelo apoio e auxílio indispensáveis no
trabalho longo e extenuante de laboratório;
- ao Laboratório Hércules da Universidade de Évora, particularmente aos
professores José Mirão, António Candeias assim como ao investigador Luis
Silva pela análise e auxílio na última fase das tarefas de laboratório;

9
- à Ordem dos Arquitetos, sobretudo à arquiteta Ana Silva Dias, pelas
disponibilidade de documentos referente ao inquérito à arquitetura regional;
- à Câmara Municipal de Aveiro pela disponibilidade de acesso a
levantamentos arquitetónicos, processos de obras e recolha sobre adobeiros e
adobes, com especial atenção para a arquiteta Emília Lima e Dr.ª Margarida
Ribeiro da Divisão de Museus e Património Histórico, assim como às juntas de
freguesia de Requeixo, Oliveirinha, Esgueira, Glória e Cacia, nas pessoas dos
seus presidentes;
- à Câmara Municipal de Ílhavo e à junta de freguesia da Gafanha da Nazaré,
assim como ao Museu da Vista Alegre na pessoa da Dr.ª Filipa Quatorze pela
disponibilidade de documentação e acesso aos edifícios;
- à Biblioteca e Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, pela
possibilidade de consulta de documentos e pela partilha intensa de
informações com a bibliotecária Dr.ª Isabel Carneiro;
- à Biblioteca e Arquivo do Museu de Etnografia e Etnologia de Lisboa pela
consulta de documentos e fascinante acesso a bibliografia desconhecida;
- à Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural de Glória do
Ribatejo (Casa Museu), especialmente ao Dr. Roberto Caneira pelo apoio e
informações;
- à Associação Cultural e Recreativa do Seixo e ao Museu do Território da
Gândara em Mira, sobretudo à Dr.ª Brigitte Capelões, pela disponibilidade,
apoio incondicional e generosa colaboração na pesquisa;
- aos arquitetos Francisco Silva Dias, Samuel Rodrigues e Ana Ruivo, os dois
últimos da cooperativa Sítio assim como aos mestres Manuel Ribeiro, Mário de
Jesus Caetano e Manuel Evangelista Pereira Almeida, pelas entrevistas,
interessantíssimas, concedidas;
- à Manuela Rocha e ao João Martins, assim como à sua família pela ajuda
imprescindível no conhecimentos das Gafanhas;
- e por fim a todos os membros da Rede PROTerra, do ISCEAH e do CdT, pela
sua competência e gosto pelos assuntos das arquiteturas de terra, e com
quem, ao longo destes anos troquei assiduamente saberes e reflexões sobre o
tema em diversas matérias.

10
Nem vale a pena mencionar que as imperfeições que o trabalho possa
ter, e serão muitas, são da minha total responsabilidade.

Agradeço ainda aos inúmeros amigos e investigadores que de forma


desinteressada me ajudaram:
- ao Rui Mateus pela leitura e correção da escrita e sobretudo pelo humor que
imprimiu à tarefa;
- à minha irmã Maria João pela leitura atenta e rigorosa da dissertação e pelas
inúmeras sugestões de correção;
- à Ana Paula Amendoeira e ao Victor Mestre pela cumplicidade, partilha de
ideias, angústias e desabafos sem os quais dificilmente teria conseguido
finalizar a escrita,
- à Sandra Pinto e Célia Morais, pelo auxílio nos levantamentos, desenhos e
pela descoberta intensa sobre arquiteturas de adobe;
- à Deolinda Tavares e ao Raul Almeida, pelo acompanhamento e cooperação
estimulante de conhecimentos nos domínios da conservação, da formação e do
relacionamento com as comunidades locais;
- à Manuela Melo e à Carla Alves pelo companheirismo e ajuda, sobretudo, nas
imensas dúvidas e inseguranças do desafio que foi o trabalho inicial de
pesquisa;
- ao Nuno Ribeiro Lopes, pelo apoio e conselhos sobre arquitetura com “A”
grande;
- à Margarida Donas Botto e ao Ângelo Silveira pela profunda amizade e
solidariedade sem fim;
- aos inúmeros (as) amigos (as), que durante todo este tempo me enviaram
fotografias e mediram adobes por todo lado, e devo dizer que foram
muitíssimos, a todos eles agradeço o auxilio e a generosa colaboração, sem os
quais, definitivamente, esta investigação não teria chegado onde chegou. De
entre os muitos generosos fotógrafos e medidores de adobes, e espero
sinceramente não me esquecer de nenhum, agradeço especialmente a: Isa
Sequeira, Ricardo Costa, Conceição Lopes, Susana Sequeira, Vera

11
Schmidberger, Ricardo Cabral, Eduardo Carvalho, Ângelo Silveira, Margarida
Donas Botto, Goreti Margalha, Victor Mestre, Raul Almeida, Filipe Jorge, Pedro
Bexiga, Joana Maia, Luis Guerrero Baca, Inês Fonseca, Rafael Alfenim, Tony
Crosby, Dalila Peixe, Alexandre Braz Mimoso, José Eduardo Gama, Patricio
Arias Cortés e Natalia Jorquera Silva.

Por fim agradeço a toda a minha família, que mais uma vez me ouviu
falar horas a fio, e sem nunca ter protestado, de construções em terra.

12
ÍNDICE GERAL
Resumo .......................................................................................................... 005
Abstract .......................................................................................................... 007
Agradecimentos ............................................................................................ 009
Índice geral ..................................................................................................... 013

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 017


Dos objetivos ................................................................................................. 018
Da problemática ............................................................................................ 020
Da metodologia ............................................................................................. 020
Do conteúdo e da estrutura ........................................................................... 023
Das Normas e outras referências ................................................................... 024
Algumas reflexões finais ............................................................................... 025

Capítulo 1 – Arquiteturas de terra .............................................................. 027


1.1 – As técnicas, antigas e modernas .......................................................... 030
1.2 – Diversidade e universalidade ............................................................... 043
1.3 – História e tradição ................................................................................. 052
1.4 – O estado da investigação no domínio das arquiteturas de terra
O estado da arte ............................................................................................ 072

Capítulo 2 – Arquiteturas de terra em Portugal ........................................ 091


2.1 – Dos antecedentes da história e das referências ................................... 094
2.2 – Das técnicas, das arquiteturas e dos recursos naturais ........................ 119
2.3 – Das práticas, do ensino e da investigação ........................................... 132

Capítulo 3 – O adobe ................................................................................... 147


3.1 – O adobe no mundo ............................................................................... 149
3.2 – Dos primeiros adobes, da moldagem e da produção ........................... 161
3.3 – Dos manuais e da construção ............................................................... 172
3.4 – Dos projetos, da conservação e da arquitetura contemporânea .......... 182

13
Capítulo 4 – O adobe em Portugal ............................................................. 199
4.1 – A matéria-prima .................................................................................... 199
4.1.1 – Os solos e as terras ........................................................................... 201
4.1.2 – A água e a estabilização ................................................................... 215
4.2 – O material, a manufatura e a produção ................................................. 232
4.2.1 – Os adobes históricos e os contemporâneos ...................................... 241
4.3 – Da construção, das alvenarias e dos aparelhos ................................... 248
4.4 – As arquiteturas e o povoamento ........................................................... 261
4.4.1 – Arquitetura vernácula ........................................................................ 262
4.4.2 – Arquitetura planificada ....................................................................... 279
4.5 – As Gafanhas ......................................................................................... 287
4.5 – Da investigação sobre o adobe em Portugal ........................................ 294

CONCLUSÕES ............................................................................................. 301


Da conservação do património ...................................................................... 302
Da manufatura e da produção ....................................................................... 309
Da arquitetura contemporânea ...................................................................... 312
Das perspetivas futures ................................................................................. 313

Abreviaturas, Siglas e Acrónimos Utilizados ........................................... 317


Bibliografia ................................................................................................... 319
Fontes .......................................................................................................... 361
Glossário ...................................................................................................... 377

Índice de figuras ............................................................................................ 385


Índice de tabelas ........................................................................................... 399
Índice de anexos ........................................................................................... 401

ANEXOS ....................................................................................................... 401


Anexo A ......................................................................................................... 403
Anexo B ......................................................................................................... 427
Anexo C ......................................................................................................... 439

14
Anexo D ......................................................................................................... 445
Anexo E ......................................................................................................... 457
Anexo F ......................................................................................................... 463
Anexo G ........................................................................................................ 475
Anexo H ......................................................................................................... 489
Anexo I .......................................................................................................... 525
Anexo J ......................................................................................................... 529
Anexo L ......................................................................................................... 555

15
16
INTRODUÇÃO

Em 1945, quando a Europa e o mundo acabavam de sair de um enorme


conflito, Fernando Távora questionou pela primeira vez, no ensaio que publicou
sob o título - O problema da Casa Portuguesa1 - o papel do passado na
arquitetura e o da arquitetura vernácula na contemporaneidade. Hoje volvidos
mais de sessenta e cinco anos desse magnifico texto, vivemos num paradigma
arquitetónico/construtivo: por um lado, reconhecemos as vantagens de
conservar e continuar a habitar a arquitetura do passado, de a transformar para
“melhor” independentemente de a conservar2, assim como, desenvolver e
aplicar os materiais tradicionais na arquitetura contemporânea; por outro lado,
os recentes regulamentos construtivos, de que é exemplo o RCCTE
Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios3,
limitam drasticamente a sua aplicação e até mesmo a conservação e melhoria
desses edifícios sem grandes alterações4.

Os arqueólogos5 da arquitetura, como lhes chamou Fernando Távora


referindo-se aos defensores da “Casa à Antiga Portuguesa” terão dado lugar
aos tecnocratas da arquitetura? Será que um simples cálculo matemático pode
superar anos de experiência em construção e décadas de adaptação do habitat
ao meio ambiente? Ou serão os habitantes, os que desfrutam da arquitetura,
que ainda não consciencializaram que (…) uma Arquitectura tem qualquer
coisa de cada um porque ela representa todo (…) um espelho denunciador das
suas qualidades e defeitos? (…)6. Para responder a estas dúvidas é necessário

1
TÁVORA, Fernando – O problema da casa portuguesa, p. 13. O primeiro ensaio foi publicado no semanário ALÉO em
10 de Novembro de 1945 e posteriormente rescrito e ampliado pelo autor e publicado em 1947 ,na série de cadernos
de arquitetura da editorial Organizações Lda.
2
TÀVORA, Fernando – Da organização do espaço, pp. 73-75.
3
Decreto-Lei 80/2006 de 4 de Abril.
4
Sobre este paradigma e os efeitos nefastos dos regulamentos veja-se o manifesto internacional, habitar a terra -
manifesto pelo direito de construir em terra. Habiter la terre [em linha]. [Consult 2010-10-17]. Disponível em WWW:
<URL: http://www.manifesterre.net/index.php?petition=2>.
5
TÁVORA, Fernando – O problema da casa portuguesa, p. 6.
6
Idem, p. 10.

17
reler e refletir sobre a atualidade do ensaio de Fernando Távora e olhar para a
correlação que sempre existiu entre a arquitetura e a construção em Portugal.

A arquitetura construída com adobe em Portugal reflete de certa


maneira, esse espelho desconhecido, pese embora tenha sido relevante para o
habitat português do século XX. Completamente estranha aos arqueólogos da
arquitetura, insuficientemente estudada pelos etnólogos, agrónomos, arquitetos
e antropólogos no passado mas recentemente descoberta pelos engenheiros,
arquitetos, investigadores e conservadores do património, essa arquitetura foi
sem dúvida, proeminente para o desenvolvimento habitacional em Portugal.
Durante anos construiu-se com adobe no território nacional, de norte a sul, da
costa ao interior quer no meio rural quer urbano. Estes motivos seriam mais
que suficientes para que o estudo da habitação em Portugal abordasse a
história da construção em adobe, mas tal não aconteceu. A história da
construção portuguesa e especificamente a do adobe são ainda hoje
desconhecidas do panorama cultural e cientifico nacionais.

Dos objetivos
A investigação referente à cultura construtiva do adobe em Portugal tem
como primeiro objetivo o colmatar dessa lacuna na história da arquitetura e da
construção em Portugal: o estudo da arquitetura, do material e dos sistemas
construtivos em adobe no território português e mais especificamente da
habitação erigida com esse material. Pretende-se com este objetivo responder
onde, quando e como se construiu com adobe e que arquitetura ou arquiteturas
resultaram dessa cultura construtiva em Portugal.

O segundo objetivo versa a atualidade da arquitetura de adobe em


Portugal, quer do ponto de vista do material construtivo quer da conservação
da arquitetura existente. Trata-se de uma investigação em arquitetura, na
especialidade de arquitetura e construção, que pretende aferir se existe a
possibilidade, onde e como, de produção mecanizada e industrial deste
material, e se, de facto a construção contemporânea em adobe tem lugar no

18
atual panorama construtivo e territorial português. A investigação não se limita
apenas ao problema produtivo e tecnológico da construção mas também, à
identificação e reflexão sobre a importância e pertinência em conservar os
edifícios existentes em adobe e quais. Os objetivos enunciados apesar de se
cingirem ao território português são enquadrados e contextualizados num
panorama histórico/geográfico mundial enquanto a arquitetura, objetivo central
da investigação, é abordada num âmbito mais vasto onde a paisagem, a
geografia e a antropologia são fatores determinantes para o seu entendimento.

A pesquisa filia-se nos estudos em arquitetura de terra (ver anexo A) nos


quais a arquitetura vernácula e os materiais locais são objetos de estudo e
protagonistas de intervenção ao nível global em programas internacionais (ver
anexo A). Desses destacam-se o “Earthen Architecture Iniciative” do Instituto
Getty de Conservação (GCI)7, o “World Heritage Earthen Architectural
Programme - WHEAP 2007/2017”, do Centro do Património Mundial (WHC)8 e
a “Chaire UNESCO, Architectures de terre, cultures constructives et
développement durable”9, sediada no CRATerre. Qualquer um dos programas
e dos encontros internacionais mencionados abordam a conservação do
património e a construção contemporânea de forma complementar,
interdependentes e com investigação comum e experiências paralelas10.

7
A Iniciativa Arquitetura de Terra visa promover a conservação da arquitetura em terra, através de atividades
internacionais e parcerias institucionais. GCI - Earthen Architecture Iniciative [em linha]. [Consult. 2009-11-20].
Disponível em WWW:<URL:http://www.getty.edu/conservation/field_projects/earthen/index.html>.
8
Na sua 31 ª sessão (Nova Zelândia, 2007), o Comité do Património Mundial aprovou o início do Programa Integrado
do Património Mundial Arquitetónico de Terra (2007-2017) (decisão 31 21C COM, documento de trabalho 31 COM
21C) e convidou os Estados-membros a colaborarem financeiramente de forma a garantirem a implementação das
atividades previstas. WHC – World Heritage Earthen Architectural Programme WHEAP 2007-2017 [em linha].
[Consult.2009-11-20]. Disponível em: WWW: <URL: http://whc.unesco.org/uploads/activities/documents/activity-21-
3.pdf>.
9
O programa “Chaire UNESCO” é um plano de ação e uma dinâmica a favor da solidariedade internacional à escala
Mundial lançado pela UNESCO em 1991. Destina-se a reforçar a cooperação entre Universidades e particularmente a
sustentar o ensino superior nos países em vias de desenvolvimento. A “Chaire UNESCO/ Réseau en architecture de
terre. Cultures constructives et développement durable” foi criada em 1998, entre o Ministério da Cultura Francês/
Direcção de Arquitectura e a UNESCO. A sua sede é em Grenoble – França na “ École de Architecture de Grenoble”.
CRATerre - Chaire UNESCO [em linha]. [Consult.2010-11-20]. Disponível em: WWW: <URL:
http://craterre.org/enseignement:chaire-unesco/>. France: Chaire UNESCO [em linha]. [Consult.2010-11-20]. Disponível
em: WWW:<URL: http://www.unesco.org/fr/unitwin/access-by-region/europe-and-north-america/france/unesco-chair-
network-architecture-constructive-cultures-sustainable-development-90/
10
Sobretudo a partir do 5º encontro internacional em Roma, Itália, em 1987.

19
Da problemática
A controvérsia fundamental da investigação reside em saber se o
material foi abandonado porque a técnica não atingiu um nível tecnológico
como noutros países, ou se a perdeu como parecem comprovar alguns sítios
arqueológicos, ou ainda, se a construção como a conhecemos no século vinte
estava vinculada ao mundo rural e à agricultura desaparecendo quando esta
entrou em crise.

A comparação do adobe com outros materiais de construção, o tijolo por


exemplo, que também era produzido artesanalmente e que facilmente evoluiu
para níveis mecanizados e depois industriais, aparentemente comprovam, o
que será um processo evolutivo natural que podia ter ocorrido com o adobe.
Como se constata, tal não aconteceu e o adobe foi abandonado e cada vez
mais substituído pelo tijolo, primeiro o artesanal e depois o industrial.
Conhecendo-se, atualmente, a semelhança nos processos de produção do
material e as condições favoráveis existentes em Portugal, quer em termos de
matéria-prima, quer de solos, para que essa evolução ocorresse, importava
pois compreender os motivos do abandono e posterior desaparecimento deste
material de construção.

A problemática da investigação aponta sobretudo para a avaliação das


causas que estiveram na origem da descontinuidade construtiva em adobe no
território nacional, e do abandono deste material de construção que se verificou
a partir dos anos sessenta do século XX11.

Da metodologia
A pesquisa baseou-se numa metodologia de análise qualitativa e
quantitativa de dados obtidos a partir de:
- pesquisa documental e bibliográfica;

11
As últimas casas construídas em adobe encontram-se nas Gafanhas e datam de 1965. Muitas delas são já um
híbrido de construção em tijolo maciço e adobe.

20
- recolha e levantamento de campo;
- análise laboratorial.

À partida iniciou-se esta pesquisa com a ideia de executar um trabalho


de campo exaustivo, baseado em fichas de levantamento de edifícios, em
registo de sistemas construtivos, em entrevistas aos antigos mestres
adobeiros, em simultâneo com a investigação documental e bibliográfica e a
análise laboratorial de material recolhido. As informações resultantes desta
recolha constituiriam, a base científica suficiente para um estudo desta
natureza. Sucederam, no entanto, várias limitações e problemas ao longo do
trabalho que levaram a alterações na metodologia inicialmente preconizada.

As entrevistas, escassas, revelaram-se insuficientes na informação


recolhida – a maioria dos mestres adobeiros, ainda vivos, haviam já sido
entrevistados e não resultava eficaz novo interrogatório, pelo contrário. Por
esse motivo optou-se por realizar pequenas conversas com pessoas que
haviam manufaturado adobes, com moradores e proprietários de casas em
adobe, recolha de entrevistas já realizadas a mestres adobeiros em vários
concelhos e constantes noutros trabalhos de investigação congéneres ou fruto
de recolhas municipais, como ocorreu no concelho de Aveiro.

O registo e o levantamento de edifícios limitaram-se a casos


especificamente importantes ou relevantes. A recolha baseou-se muito em
levantamentos arquitetónicos já existentes tendo-se optado por registar, em
tabela, as dimensões das paredes exteriores em altura, espessura, respetivas
dimensões do adobe e o aparelho em que eram construídas. Esta informação
construtiva resultou mais eficaz e permitiu comparações e conclusões relativas
à diversidade de soluções em paredes e à riqueza da cultura construtiva em
adobe existente em Portugal.

O material construtivo recolhido para análise laboratorial, inicialmente


pensado apenas para adobes provenientes de paredes registadas, foi, no

21
entanto, alargado a solos, a adobes recentemente manufaturados e a adobes
de origem desconhecida, provenientes de paredes sobre as quais não existia
informação alguma. Esta alteração resultou da dificuldade que houve em
ensaiar amostras provenientes de adobes recolhidos em edifícios existentes12,
para além da exiguidade que a informação apenas colhida nesses casos
apresentava. Optou-se, assim, por diversificar a origem das amostras para
ensaios que revelaram, no final, um espetro de conclusões muito mais
diversificado que o inicialmente previsto. Esta alteração permitiu, ainda,
comparar os ensaios obtidos com outros já realizados em pesquisas análogas.
Outra alteração resultou da necessidade em ensaiar provetes de argamassas
em terra e cal. Esta carência resultou da descoberta, ao longo do trabalho, da
importância que a estabilização com cal significava na produção de muitos
adobes em Portugal. Também ao longo da pesquisa foi aferido, que as
argamassas de reboco para edifícios de adobe era manufaturada ao mesmo
tempo que as massas para a produção dos adobes. Por esse motivo se
ensaiaram traços de argamassas de terra com cal, conforme as informações
recolhidas entre a população que os produzia.

Por fim, a análise bibliográfica revelou-se muito mais exaustiva e


frutífera que o inicialmente previsto. A disponibilidade de fontes impressas e a
facilidade de acesso por via digital a um vasto conjunto de dados em muito
contribuíram para o enriquecimento do trabalho agora apresentado. Apesar de
todas estas circunstâncias, os âmbitos da pesquisa mantiveram-se em relação
à proposta de dissertação inicialmente apresentada, apenas foi acrescentado
mais um tópico referente a uma paisagem, as Gafanhas, a saber:
- o material de construção;
- os sistemas construtivos;
- a tipologia arquitetónica;
- as paisagens.

12
Muitos deles desfizeram-se completamente nos primeiros ensaios de compressão. Outro motivo foi o facto de a
recolha ser constituída na sua maioria, por adobes incompletos, o que resultou na impossibilidade de elaborar provetes
com qualidade para ensaios.

22
No âmbito desse novo tópico de investigação foi incluído um caso de
estudo em Portugal: as Gafanhas (concelhos de Ílhavo e Vagos). Ponderou-se
incluir um segundo caso de estudo no interior sul - o vale do Sorraia (concelhos
de Salvaterra de Magos, Benavente, Coruche, Mora, Ponte de Sôr e Avis). No
entanto toda essa região carateriza-se pelo uso diversificado de materiais de
construção, e não pela exclusividade do adobe. Por esse motivo se abandonou
o estudo dessa região. A opção pela abordagem de regiões ou paisagens
advém dos recentes desenvolvimentos levados a cabo pelo ICOMOS-
ISCEAH13, que indicam como relevante a contribuição do património
arquitetónico em terra nas paisagens culturais, para a conservação e
ordenamento do território, sobretudo no que respeita à sua relação com o
património imaterial e as tradições vivas.

Do conteúdo e da estrutura da dissertação


A investigação fundamenta-se essencialmente na análise de fontes
documentais, e em outros registos recolhidos, orais e desenhados, enquanto o
conteúdo se organiza numa perspetiva temática, do geral para o particular e do
passado para o futuro. Esta estrutura que se organiza em quatro capítulos
aborda desde as arquiteturas de terra, às de adobe, do material construtivo à
matéria-prima em grãos, assim como desde os edifícios históricos, aos
vernáculos e planificados até à mais recente produção arquitetónica construída
em adobe.

O primeiro e segundo capítulos, de certa maneira introdutórios à


temática, versam as arquiteturas em terra no mundo e em Portugal, com
incidência para o estado em que se encontra o conhecimento, a investigação e
o saber científico nesse domínio. Especial ênfase é colocada nas modificações
e na evolução dos sistemas construtivos em terra tal como nos aspetos atuais

13
Comité Científico Internacional, do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, para o Património Arquitetónico
em Terra. ICOMOS-ISCEAH – International Scientific Committee on Earthen Architectural Heritage [em linha] 2008.
[Consult. 2008-05-02]. Disponível em: WWW: <URL: http://isceah.icomos.org/>.

23
da globalização da construção que afetam e alteram a perspetiva da arquitetura
de terra em todo o mundo.

O terceiro e quartos capítulos são o cerne, o centro da investigação.


Neles o adobe é abordado enquanto material e matéria-prima, enquanto
técnica e método construtivo, enquanto arquitetura e conjunto urbano. As
questões iniciais de como, quando, onde e o que resta da cultura construtiva de
adobe em Portugal, contextualizadas no panorama mundial, são nestes
capítulos analisadas e respondidas. A análise laboratorial, a recolha oral e a
pesquisa documental reportam-se de importância fundamental nestes dois
capítulos: o adobe e o adobe em Portugal.

Por fim as conclusões, essencialmente dedicadas ao futuro, às


perspetivas que derivam do estudo ou do modo como contribuem os anteriores
capítulos para a produção e construção futura de adobe em Portugal. Trata-se
essencialmente de um momento de reflexão e desfecho onde a síntese das
conclusões anteriores constituem o fundamento primordial da escrita.

Os anexos que complementam a investigação são o resultado da


recolha efetuada, muito embora se tenham incluído no texto da dissertação o
máximo de quadros síntese possível remetendo para anexos as situações que
eram várias vezes citadas e de todo, impossíveis, dado o espaço que
ocupavam, de incluir no texto principal desta dissertação.

Das normas e outras referências


Para a escrita e recolha documental da dissertação assim como para as
análises e ensaios laboratoriais foram utilizadas as seguintes normas e
referências:
- NP 405-1 de 1995 para referências bibliográficas e documentos impressos,
NP 405-2 de 1998 para materiais não livro, NP 405-3 de 2000 documentos não
publicados e NP 405-4 de 2003 para documentos eletrónicos;

24
- LNEC 239 de 1970 e LNEC E 196 de 1966 para análise granulométrica por
peneiração e sedimentação de solos para amostras de terras provenientes de
adobes ou de solos;
- NP-143 de 1969 para os limites de consistência (liquidez, plasticidade e
retração), para ensaios de solos e amostras de terras provenientes de adobes;
- EN 1015-11 de 1999 para ensaio de resistência à flexão e compressão de
argamassas em produto endurecido;
- EN 13139 de 2002, análise granulométrica de agregados para argamassas;
- NP EN 12390-3 de 2009, para cálculo da resistência à compressão de
provetes de ensaio para betão endurecido, usada em provetes cúbicos e
carotes retirados de adobes.

Algumas reflexões finais


Ao longo de todo o trabalho de pesquisa vários foram os ensaios
realizados e as premissas teóricas que acabaram por ser abandonadas e
alteradas. No entanto, o estudo teve antecedentes e diversos motivos
pessoais, para além dos científicos já apontados, que levaram à condução e
termo do estudo aqui apresentado. Entre os antecedentes salientam-se três
que foram especialmente relevantes para o desenrolar da investigação,
respetivamente o programa Europeu “CORPUS”, o grupo temático científico do
CEAUCP e as dúvidas que os resultados dos inquéritos à arquitetura vernácula
em Portugal sempre suscitaram.

O programa CORPUS, “Architecture Traditionnelle Méditerranéenne”14,


um projeto onde pela primeira vez se efetuou a prospeção atual da arquitetura
vernácula de adobe em Portugal, o grupo científico Arqueogeografia15 da

14
Programa Euro-Mediterrâneo “Euromed Heritage – Meda – Corpus” financiado pela Comissão Europeia e que
decorreu de 1998 a 2000, coordenado pelas instituições “École d’Avignon”, “Collegi d’aparelladors i Arquitectes Tècnics
de Barcelona” e “École des arts et métiers traditionnels de Tétouan”. O programa foi prolongado por mais dois anos e
alargado aos países do Líbano e Síria. Architecture Traditionnelle Mediterranénne [em linha] 2000. [Consult. 2007-10-
20]. Disponível em WWW:<URL:http://www.meda-corpus.net/frn/index.asp>.
15
Grupo científico da unidade I&D 281 da FCT – Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e
Porto – cujo objetivo, entre outros, é o entendimento da dinâmica da paisagem histórica num sentido mais lato e
abrangente que envolve o ambiente, as políticas agrárias, as formas, as técnicas construtivas etc… CEAUCP –
Archeogeography [linha] 2008. [Consult. 2008-10-20]. Disponível em WWW:<URL:
http://www.uc.pt/uid/cea/investigacao/grupos/archaeogeography>.

25
unidade de acolhimento do CEAUCP onde se enquadrou a problemática da
construção e da arquitetura em domínios científicos novos e desconhecidos,
como a reutilização de estruturas históricas no território e a permanência de
formas percetíveis no solo, e, por fim, o papel atual da arquitetura vernácula no
território e das interseções entre a antropologia e a arquitetura, devidamente
salientadas nos Colóquios de Outono de 200916, na qual foram levantadas
novas premissas sobre a investigação da arquitetura vernácula em Portugal e
que ficaram por esclarecer nos inquéritos, sobretudo no inquérito à arquitetura
regional que decorreu entre 1955 a 196017, sob a responsabilidade do então
Sindicato Nacional dos Arquitetos Portugueses.

A partir do estudo das arquiteturas de adobe nos 13 países da área do


Mediterrâneo, da nova perspetiva arqueológico/geográfica do território e da sua
leitura da paisagem, assim como do que ainda faltava abordar na arquitetura
vernácula portuguesa se desenvolveu, moldou e principalmente se concluiu
esta dissertação – a cultura construtiva do adobe em Portugal.

16
Sobre o que ficou por aferir e levantar nos diferentes inquéritos e sobre o papel da arquitetura vernácula em Portugal
hoje foram importantes os colóquios de Outono 2009, organizados pela Reitoria da Universidade de Coimbra de 23 a
24 de Novembro, sobre título – Intersecções: antropologia e arquitetura, que contaram com os seguintes oradores
convidados: James Holston, da Universidade da Califórnia Berkeley, Georges Teyssot, da Universidade Laval-Quebec,
Sérgio Fernandez, da Universidade do Porto, e João Leal, da Universidade Nova de Lisboa. Um resumo e análise do
que foi discutido nesses colóquios encontram-se publicados nos seguintes artigos: MAGALHÃES, Ana – A urgência de
um diálogo interdisciplinar [em linha] 2010. [Consult. 2010-02-20]. Disponível em WWW:<URL:
http://www.uc.pt/rualarga/anteriores/27/27_23>; QUINTAIS, Nuno [et. al.] – Intersecções: antropologia e arquitectura.
Colóquios do Outono 2009 [em linha] 2010. [Consult. 2010-02-20]. Disponível em WWW:<URL:
http://www.uc.pt/rualarga/anteriores/27/27_22>, e BANDEIRINHA, José A. – Colóquios de Outono 2009 [em linha]
2009. [Consult. 2010-02-20]. Disponível em WWW:<URL: <http://www.uc.pt/rualarga/anteriores/26/26_03>. Todas as
comunicações foram posteriormente publicadas em: AAVV – Joelho 02, Interseções: antropologia a arquitetura (coord.
Paulo Providiência, Sandra Xavier e Luís Quintais). Revista de cultura arquitectónica, Série II, Abril, 2011. Coimbra: Co-
Edição Departamento de Arquitetura e Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e tecnologia da
Universidade de Coimbra, 2011, ISSN 0874-6168.
17
Comunicação do Doutor João Leal em 2009-11-24, no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra. Nessa
conferência o investigador referiu os conceitos de “velho” e “novo” popular, caracterizando este último como a recente
arquitetura sem arquiteto dos subúrbios, a reciclagem do popular construído pelas classes médias que designou de
hiper-popular e ainda os projetos assinados, que revelam novos diálogos com o popular do inquérito à arquitetura
regional portuguesa. AAVV – Arquitectura Popular em Portugal, 1 vol., prefácio à segunda edição, p. [s.n.]

26
Capítulo 1 – Arquiteturas de terra

Em Outubro de 1993, por ocasião da 7ª conferência internacional sobre


o estudo e conservação da arquitetura de terra, Terra 93, foi inaugurada em
Lisboa, no centro de arte moderna da Fundação Calouste Gulbenkian a
exposição “Arquiteturas de Terra ou o futuro de uma tradição milenar, Europa,
Terceiro Mundo, Estados Unidos”18. Na advertência inicial do catálogo
«construir em liberdade», o responsável, Jean Dethier, definia a obra como (…)
inteiramente consagrada às arquitecturas antigas e novas, edificadas por todo
o mundo em terra crua (…)19. Por “arquiteturas”, entendiam-se,
cumulativamente, o património construído e a arquitetura contemporânea; por
“terra crua”, todo o material que utilizava o recurso natural do solo – a terra -
apenas seca ao sol, sem outra alteração. A exposição obteve um impacto
enorme, já que esteve patente em vários países e foi percorrida por mais de
seis milhões de visitantes em apenas seis anos. Por outro lado, o catálogo,
traduzido em diversas línguas, depressa se converteu em referência mundial
na matéria, mantendo-se como tal durante vários anos20.

Para os tempos de então, recém-saídos da crise petrolífera dos anos 70,


a exibição da exposição “arquiteturas de terra” foi entendida como uma
esperança e um desafio para o insolúvel problema da construção em todo o
mundo21, demasiado dependente das energias fósseis. A apresentação do
“novo” e do “antigo” em paralelo, ambos elevados em terra e sem o auxílio de
outros materiais como se julgava imprescindível, questionou algumas certezas

18
A exposição “Des architectures de terre ou l’avenir d’une tradition millénaire”, apresentada ao público pela primeira
vez em 1981 no Centro Georges Pompidou em Paris, foi inaugurada em Lisboa a 23 de Outubro de 1993. A
conferência - Terra 93 - decorreu em Silves, de 24 a 30 de Outubro de 1993.
19
AA.VV (coord. Jean Dethier) – Arquitecturas de terra ou o futuro de uma tradição milenar, Europa, Terceiro Mundo,
Estados Unidos, p. 7.
20
A 10ª edição do catálogo (versão em língua portuguesa 1993) foi precedida de várias edições em língua francesa,
inglesa, alemã, castelhano e mesmo em português do Brasil. As maiorias das edições mencionadas foram ampliadas
com um capítulo dedicado às arquiteturas de terra no país respetivo casos do México, Venezuela, Alemanha e Brasil.
Conforme o resumo sobre as publicações na contra capa e a itinerância da exposição entre 1981-1986. AA.VV (coord.
Jean Dethier) – Arquitecturas de terra ou o futuro de uma tradição milenar, Europa, Terceiro Mundo, Estados Unidos,
pp. 66-67.
21
Veja-se a este propósito os comentários da imprensa publicados na edição portuguesa. Idem pp. 223-224.

27
absolutas, herdeiras do “international style”, como a globalização do betão
armado enquanto sistema e do cimento tipo Portland enquanto material de
construção adequado para todo o mundo. Para além do “internacional” que
passaria a “local” Jean Dethier acentuou ainda (…) a diferença - ao mesmo
tempo conceptual e material – entre o cru e o cozido (…)22, identificando as
grandes vantagens e um princípio, muito convincentes, para o uso da terra em
vez do cimento e da terra “cozida”, designadamente:
- energética, porque não se desperdiçavam recursos na transformação e
no transporte do material, visto que o mesmo poderia ser do próprio local;
- independência económica e política dos países designados do Terceiro
Mundo, porque os libertava das “armadilhas clássicas” (“holdings”, bancos,
etc.) e da sujeição exterior, em termos de materiais e equipamentos, para a
construção de cidades;
- autonomia cultural, económica e tecnológica do ato de construir,
completamente liberto de importações, um princípio fundamental para a
construção mundial dos anos 70 do século XX, após as referidas crises
petrolíferas.

A porta que então se abriu com a exposição e o movimento que se


gerou em prol das arquiteturas de terra por todo o mundo (…) a embriaguez da
terra (…)23, abrandaram substancialmente, quando confrontadas com a
incapacidade em superar as desvantagens que o material demonstrava e,
sobretudo, com os problemas de conservação que os sítios históricos
apresentavam (ver as recomendações internacionais de Yazd no Irão em 1972
e 1976, anexo A). A tecnologia e o conhecimento referente a este material, tão
ignorado, não estavam em 1981 no mesmo limiar de desenvolvimento que o
fascínio e a beleza que estas arquiteturas despertavam no público. Foram
precisos anos de investigação e experiências até que o deslumbramento e o
conhecimento científico e empírico se equilibrassem no domínio das
arquiteturas de terra. Apesar de todos os esforços mundiais, pode-se afirmar

22
Idem, p. 7.
23
Idem, p. 210.

28
que as vantagens superaram ligeiramente as desvantagens; no entanto,
constata-se ainda, que algumas das duas desvantagens identificadas no
passado foram ligeiramente ultrapassadas.

Presentemente, as arquiteturas de terra confrontam-se com novas


dificuldades24. Problemas recentes, como as alterações climáticas ou as
modificações nas práticas construtivas locais, afetam e destabilizam,
estruturalmente, cidades e edifícios25. A mecanização e a industrialização dos
sistemas e materiais em terra, presentemente uma realidade em franca
ascensão, confrontam-se, porém, com a descontinuidade construtiva nos
continentes africanos e asiáticos, impensável há trinta anos atrás26.

As expectativas idealizadas nos anos oitenta do século XX - energética,


independência e autonomia – foram parcialmente alcançadas no início do
século XXI, nomeadamente nos continentes Europeu, Americano e Oceânia.
Porém, as mesmas esperanças foram surpreendidas pela globalização cultural
construtiva, que interferiu nos locais menos acessíveis do globo,
particularmente nos continentes Africano e Asiático, onde até então a
continuidade construtiva em terra era inquestionável27. Face às novas ameaças
e problemas, as “arquiteturas de terra” cada dia mais “novas” procuram
responder aos novos reptos, agora estruturadas em organizações mundiais 28,
redes29 e programas, que retribuem positivamente ao que sempre se

24
Os efeitos catastróficos na arquitetura em terra são de tal modo importantes que os objetivos da conferência
internacional, Terra 2012, centraram-se nas consequências dos desastres naturais e das alterações climáticas neste
património e construção. Facultad de Ciencias e Ingeniería – Terra 2012, 11ª Conferencia Internacional en el estudio y
la conservación de la arquitectura de tierra [em linha], 2010. [Consult. 2010-10-06]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.pucp.edu.pe/terra2012/interna_esp.php?option=presentacion>
25
Sobre este tema veja-se o relatório do Comité do Património Mundial “Draft WHEAP inventory May 2010”. WHEAP -
Inventory and condition of properties built with earth [em linha], 2010. [Consult, 2010-09-10]. Disponível em WWW
<URL: http://whc.unesco.org/uploads/activities/documents/activity-21-4.pdf>, pp. 12-18.
26
Idem, pp. 20-53 e 106-183.
27
Sobre as alterações e vida nalgumas das cidades construídas em terra veja-se o documentário crítico. STEFAN, Tolz;
THOMAS, Wartmann – Adobe Towns (Djenné, Yazd, Shiban), [DVD] 2004.
28
Destaque para a organização alemã Dachverband Lehm e. V. – German Association for Building with earth [em
linha], 2010. [Consult. 2010-10-05]. Disponível em WWW: <URL: http://www.earthbuilding.info/index_gb.html>.
29
De que é exemplo, a rede Ibero-Americana, Proterra, um coletivo internacional e multilateral de cooperação técnica
que promove a investigação e o desenvolvimento da construção com terra nos sectores produtivos, académicos e
sociais; Red PROTERRA – Red Proterra, rede Ibero-Americana [em linha], 2008. [Consult. 2009-10-10]. Disponível em

29
ambicionou quando da exposição de 1981 – o da promoção e conservação de
uma tradição milenar.

1.1 – As técnicas, antigas e modernas.


Para melhor se compreender a construção com terra, desde os anos 70
do século XX existiu a preocupação em sistematizar as técnicas construtivas,
de forma que, em todas línguas, culturas e continentes, fosse possível um
léxico comum e, sobretudo, uma linguagem compreensível, que identificasse
as diferentes formas de usar a terra em construção. Será o grupo CRATerre 30,
a partir de 1973, a dar início a esta estruturação, desenvolvendo
posteriormente o que apelidou de “roue des techniques”31 (roda das técnicas).
Neste diagrama, as doze principais foram identificadas segundo os cinco
estados hídricos da terra, ou seja, segundo o comportamento da terra em
termos do seu manuseamento face à quantidade de água adicionada em
volume, a saber:
- seco (teor de água entre 0 a 5%), que inclui as técnicas de terra escavada,
terra em cobertura, terra de enchimento e blocos de terra
- húmido (teor de água entre 5 a 20%), técnicas de terra prensada onde se
incluem a taipa, os blocos de terra compactada (BTC), e os blocos apiloados;
- plástico (teor de água entre 15 a 30%), as de terra modelada, terra empilhada
e adobe, nestes incluindo o manual, o moldado e o mecânico;
- viscoso (teor de água entre 15 a 35%), terra extrudida, terra sobre engradado
e terra de reboco ou de revestimento;

WWW: <URL:http://redproterra.org/>. A rede Uni-terra, uma iniciativa da organização alemã Lehm Dachverband e. V.,
que consiste numa plataforma para a troca global de informações, experiências e “know-how” em arquitectura e
construção com terra ao nível académico; UNI-TERRA – Networking University Education in earth Building [em linha],
2007-2010. [Consult. 2010-10-11]. Disponível em WWW: <URL:http://www.uni-terra.org/>. A lista Arqui-terra, uma lista
que coloca em contacto, por e-mail e via internet, todos os interessados por arquitetura de terra nas áreas da
investigação e conservação, quer europeus quer latino-americanos; Listas.net – Arquitectura de tierra [em linha], 1999-
2008. [Consult. 2010-10-15]. Disponível em WWW: <URL: http://elistas.egrupos.net/lista/arqui-terra>.
30
Centro Internacional da Construção em Terra, sediado em Grenoble, França. O Centro nasceu, em 1973, a partir de
um grupo de estudantes da Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble (ENSAG). No entanto, foi a partir de
1979, com a criação do “Laboratoire Terre” na ENSAG, que o centro se desenvolveu. A sistematização das técnicas de
construção é publicada, pela primeira vez, em 1979, no livro “Construire en Terre”, que foi o primeiro título editado por
este grupo. DOAT, Patrice [et. al.] – Construire en terre, p.11.
31
Roda ou diagrama das técnicas. FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Bâtir en terre, pp. 26-27.

30
- líquido (teor de água superior a 35%), técnicas de terra plástica e terra
palha32.

As técnicas de terra escavada, terra em cobertura, terra de enchimento e


blocos de terra podem, cumulativamente, ser também incluídas no grupo
húmido; e o mesmo sucede com as técnicas de terra extrudida, terra sobre
engradado e terra de reboco ou de revestimento, que podem ser incluídas, no
grupo plástico. Esta dualidade é perfeitamente explicável, devido aos diferentes
comportamentos das argilas, como será desenvolvido no subcapítulo 4.1. A
organização neste diagrama das técnicas de construção antigas e modernas,
muito embora não exaustiva, permite ainda reagrupar as técnicas segundo
outros padrões, designadamente quanto:
- à forma como a matéria-prima é trabalhada, pelo que é necessário usar
um conceito como comprimir, empilhar, moldar, cortar, colar, revestir,
guarnecer, preencher, escavar, vazar e extrudir;
- à maneira como se constrói com terra se monolítica ou portante “in
situ”, se em alvenaria procedendo-se previamente à produção dos materiais e
depois à construção, se de revestimento ou enchimento considerando-se neste
caso a terra um material secundário que complementa outras estruturas, já
elevadas e não necessariamente em terra33.

Em termos conclusivos, as técnicas de construção em terra, muitas


vezes designadas de famílias de construção, foram devidamente organizadas
internacionalmente segundo os padrões hídricos e segundo as formas de
construir e manusear a matéria-prima. Ainda no domínio dos sistemas
construtivos em terra sobressaem outros trabalhos de índole intercontinental,
de que é exemplo a compilação levado a cabo pela rede temática “Habiterra”34

32
Ibidem.
33
GROUPE CRATerre – A construção e a arquitectura de terra, modos de utilização e técnicas. Arquitecturas de terra
ou o futuro de uma tradição milenar. Europa, Terceiro Mundo, Estados Unidos, p. 148. FERNANDES, Maria – Técnicas
de construção com terra. Terra forma de construir, 10ª. mesa redonda da primavera, p. 21.
34
Hoje rede “Proterra”.

31
do programa CYTED35. Este trabalho, um inventário exaustivo das técnicas
Ibero-americanas, publicado em 198936, não se limitou à junção de famílias
construtivas, desenvolveu fichas próprias, onde se registaram aspetos de
execução como o rendimento do trabalho, número de trabalhadores
necessários, ferramentas, dimensões e pormenores de cariz regional e local,
relacionados com as variantes existentes para cada técnica de construção em
terra. Esta compilação, bastante profunda, complementa, de forma eficaz para
a realidade ibero-americana, a síntese internacional da “roue des techniques”.

A divisão e o reagrupamento de técnicas nestes moldes internacionais


foram também acompanhados de um léxico, que estabeleceu, para os
diferentes casos, os nomes respetivos por prática. O adobe, por exemplo,
termo hoje aceite internacionalmente, era, no início e para a língua inglesa,
designado de “mud brick” (tijolos de lama). Este nome muito frequente na
literatura anglo-saxónica acabou por ser substituído pelo termo luso-castelhano
e Ibero-americano “adobe”, cuja génese provinha das designações, egípcia
“thobe” e árabe “ottob”37, em suma e merecidamente, a designação originária
das civilizações que mais contribuíram para o desenvolvimento desta técnica.

Os aspetos regionais e locais relacionados com a execução e


construção com terra, em todo o mundo, não foram esquecidos e menos ainda
descorados. Esforços nesse sentido foram levados a cabo por diversas
instituições com resultados visíveis e acessíveis, de que são exemplos a
terminologia da rede “Proterra”38, o “thesarus” da GCI39 e o “tesauro, saberes e

35
CYTED - Programa Ibero-americano de Ciencia y Tecnologia para el Desarollo; HABYTED subprograma XIV
Tecnologia para Viviendas de Interés Social.
36
VIÑUALES, Graciela [e al] – Arquitecturas de tierra en Iberoamérica, pp. 7-79.
37
DOAT, Patrice [e al] – Construire en terre, p. 106.
38
Red PROTERRA – Terminologia [em linha], 2008. [Consult. 2009-10-10]. Disponível em WWW:
<URL:http://redproterra.org/index.php?option=com_glossary&Itemid=18>.
39
GCI – Thesaurus [em linha]. [Consult. 2010-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.getty.edu/research/conducting_research/vocabularies/aat/>.

32
saber fazer”, do SIPA - IHRU40. Estes dois últimos, apesar de não serem
inteiramente dedicados à construção em terra, desenvolveram um considerável
glossário de termos e significados sobre o assunto. Sobre este tema, destaque
ainda para o “Vocabulario tradicional de construcción con tierra”, publicado no
seio dos “Cuadernos del Instituto Juan Herrera” da Escola de Arquitetura de
Madrid, no qual se reuniram termos eruditos do Dicionário da Real Academia
Espanhola do século XVIII, com designações e termos populares41.
Recentemente verifica-se a tendência para a publicação de glossários
multilinguísticos, em edições sobre arquitetura de terra e construção tradicional
em geral. Sobre esta matéria, há que realçar os glossários constantes nas
publicações em língua portuguesa: “Arquitetura de terra em Portugal/ Earth
Architecture in Portugal”, “Materiais, sistemas e técnicas de construção
tradicional”, “Diálogos de edificação” e “Manual do arquiteto descalço”42.
Globalmente, os estudos subordinados às técnicas de construção em terra têm
respondido, desde as recomendações internacionais de 1977 (anexo A), ao
registo e análise do significado e dos procedimentos construtivos. Os
investigadores, cientes da importância que os termos e as práticas locais
desempenham na materialização dos objetos arquitetónicos, têm relacionado
esse facto com o bom desempenho da construção existente. Os segredos, as
indicações e as soluções encontram-se muitas vezes na aferição das práticas,
percetíveis apenas quando se domina a linguagem e os léxicos empregues.

No panorama atual e internacional das técnicas de construção em terra,


que se pode hoje clarificar ou antecipar? Houve alterações ao diagrama?
Existe algum desenvolvimento no que se refere ao aparecimento de novas
técnicas? Ou, pelo contrário, retrocesso no que respeita às técnicas antigas?
(ver Tabela 1).

40
O SIPA, Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, criado pela extinta Direcção-Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais e hoje integrado no IHRU. IHRU – SIPA [em linha], 2001-2010. [Consult. 2007-06-24].
Disponível em WWW: <URL:http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B.aspx>.
41
RAMOS, Luis Maldonado; COSSÍO, Fernando Vela – Vocabulario tradicional de construcción con tierra, pp. 5-28.
42
Respetivamente: AA.VV – Arquitectura de terra em Portugal, pp. 298-299; RIBEIRO, Victor [e al.] – Materiais,
sistemas e técnicas de construção tradicional, pp. 226-229; TEIXEIRA, Gabriela; BELÉM, Margarida – Diálogos de
edificação, pp. 186-188; LENGEN, Johan – Manual do arquiteto descalço, pp. 699-701.

33
Tabela 1 – Sinopse das tendências, evolução e conhecimento das técnicas de construção em terra.
Quadro elaborado segundo o diagrama dos métodos de construção em terra do grupo CRATerre. Ordem numérica
43
conforme os estados hídricos e divisão conforme construção .
Nº TÉCNICAS Tendências Evolução Conhecimento
Monolíticas
1 Terra Escavada Exploração ainda pouco Uso futuro com técnicas Têm-se identificado novos
expressiva em termos auxiliares não exclusivas em sítios, uns arqueológicos e
contemporâneos. Técnica terra. outros ainda habitados.
confinada à conservação, Casos na Líbia (figuras 1
com poucos casos de e 2) e China.
continuidade.
2 Terra Plástica Preconiza-se um uso Preconizam-se resultados a Avanços em termos do
futuro desta técnica curto e médio prazo com o controle da retração e
conhecida hoje como uso futuro da técnica. desempenho mecânico da
betão de terra. O terra. Investigação
procedimento empregue é avançada em termos de
exatamente igual ao aditivos à terra.
utilizado para o betão
3 Terra Empilhada Abandono generalizado Terá sido substituída pela Avanços na Alemanha
em virtude dos custos de taipa, na Alemanha pós II provaram o elevado nível
mão-de-obra. Técnica guerra mundial. tecnológico da técnica que
confinada à conservação, durou até meados do
apenas em uso nos século XX e a existência
continentes Asiático e de um património
Africano. desconhecido.
4 Terra Modelada Continuidade. Técnica Sem evolução aparente. Avanço nos
viva sobretudo no procedimentos devido a
continente Africano. programas internacionais.
5 Terra Prensada Tendência generalizada Experiências com painéis Avanços tecnológicos no
taipa para a mecanização de moldados têm sido desempenho mecânico da
forma a diminuir os aplicadas com sucesso no taipa.
custos. Técnica continente Europeu, de que
preferencial da arquitetura são exemplo os produzidos
contemporânea de autor por Martin Rauch,
nos Estados Unidos,
Austrália, Europa etc.
Alvenaria
5 Blocos Abandono generalizado, Sem evolução aparente, Não se conhece grande
apiloados técnica confinada à contínua artesanal. desenvolvimento apenas
conservação e como foram identificados locais
sistema secundário. onde a técnica perdura.
5 Blocos Expansão, globalização e Propensão para a Conhecimento exaustivo
prensados industrialização do normalização em resultado das características,
BTC sistema. Aparecimento de da industrialização e venda comportamento e
novos equipamentos. crescentes. aplicações.

43
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Bâtir en terre, pp.26-27.

34
Nº TÉCNICAS Tendências Evolução Conhecimento
6 Blocos Cortados Propensão tímida para a Sem evolução aparente. Progresso nas
mecanização da extração características e
de forma a diminuir os desempenho deste
custos. Caso da laterite na material considerado
Índia. pétreo no passado.
6 Torrões de Terra Abandono generalizado e Sem evolução aparente. Pouco conhecido e
substituição por outras. investigado.
7 Terra Extrudida Expansão e Adaptação da indústria Conhecimento bastante
industrialização. cerâmica de tijolo para a avançado e em
produção destes materiais. desenvolvimento.
8 Adobe Manual - abandono Em termos de sismo- Manual – novas
Manual, generalizado. resistência, a construção em descobertas no que se
Moldado e Moldado - continuidade. adobe moldado e refere à continuidade no
Mecanizado Mecanizado - expansão. mecanizado tem evoluído seu uso hoje em dia.
positivamente para um Moldado – investigação
melhor desempenho e crescente, com a
resistência. proliferação de manuais
em todo o mundo.
Mecanizado – avanços em
termos da produção.
Enchimento ou
Revestimento
9 Terra de Pré fabricação e produção Substituição da terra por A diversidade desta
Revestimento de painéis de isolamento. outros ligantes. Grande técnica resultou num
Designação generalizada evolução nos rebocos em avanço considerável das
de técnicas mistas. terra para revestimentos. variantes possíveis.
9 Terra sobre Pré-fabricação ainda Inovação tecnológica com a A diversidade desta
Engradado pouco expressiva. substituição da madeira por técnica resultou num
Continuidade nos materiais metálicos. avanço considerável da
continentes Africano e pesquisa em termos das
Latino-americano. variantes
Propensão crescente para
o uso de bambu.
10 Terra Palha Abandono generalizado. Técnica a ser substituída Avanços consideráveis na
Verificam-se algumas pelo uso de fardos de palha identificação e
experiências em paredes monolíticas e investigação da palha e
contemporâneas ditas pela pré-fabricação de outros vegetais secos
ecológicas. blocos prensados com alto enquanto aditivos da terra.
teor de palha, mais eficazes.
11 Terra de Uso em isolamentos de Propensão para a utilização Sem avanços
Enchimento paredes. sobre a forma de granulado consideráveis.
mais eficaz.
12 Terra de Continuidade. Exploração Uso futuro com técnicas Progressos em termos de
Cobertura ainda pouco expressiva auxiliares não exclusivas em aplicação e características
em termos terra. nas coberturas
contemporâneo ajardinadas.

35
Figuras 1 e 2 - Casas escavadas na Líbia, em Garyan na região da Tripolitana. Exemplos de uma
habitação abandonada praticamente destruída e outra de mero interesse turístico. Créditos Maria
Fernandes 2009.

Em síntese, pode-se afirmar que houve progresso tecnológico, muito


embora desigual e não generalizado, que apenas algumas técnicas evoluíram
tecnologicamente e que outras, apenas obtiveram avanços em termos de
conhecimento. Dos desenvolvimentos apurados na família das técnicas
monolíticas, constata-se um progresso considerável nas obras em taipa
(Tabela 1 nº 5). Pode-se afirmar que a taipa, de certo modo, acabou por ser a
eleita pelos arquitetos para obras contemporâneas. Não são estranhas a esta
primazia os efeitos estéticos e plásticos que a compactação mecanizada da
terra, permite. De entre os autores e criadores desta “nova” arquitetura
salientam-se Rick Joy, nos Estados Unidos da América, sobretudo com as
realizações no Arizona44, Martin Rauch, na Áustria45, com obras em toda a
Europa central46 e Gheun-Shik Shin na Coreia do Sul47. Ainda neste domínio
das obras contemporâneas em taipa é de mencionar um projeto referência: a
capela da Reconciliação em Berlim, construída entre 1999-200048. O projeto

44
JOY, Rick Joy – Rick Joy architects [em linha], 2006. [Consult. 2007-01-20]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.rickjoy.com/projets.html>.
45
Sobre o método e forma de trabalhar deste construtor veja-se BAYON, François – Les noveaux habitats de la terre.
Paris: Lieurac productions/ Nanook, [DVD]. 2004.
46
RAUCH, Martin – Lehm Ton Erde [em linha], 2007. [Consult. 2009-10-15]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.lehmtonerde.at/english/martinrauch.html>.
47
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain - Op. Cit., p. 56. O arquiteto coreano faleceu recentemente em 13 de Junho
de 2011.
48
A história da capela pré-existente junto ao muro, a sua demolição e posterior projeto e construção da nova capela da
Reconciliação que incluiu os destroços da igreja demolida está disponível: DIE VERSÖHNUNGSGEMEINDE – From
the church of Recociliation [em linha], 2010. [Consult. 2010-03-11]. Disponível em WWW: <URL: http://www.kirche-
versoehnung.de/englisch/history%20e.htm>.

36
concebido em 1997 estava integrado nos planos de renovação de Berlim
unificada, pelo que foi inicialmente preconizado como construção em betão. O
seu traçado coube aos arquitetos Reitermann & Sassenroth, vencedores do
concurso público. A discórdia que o sistema construtivo escolhido pelos
projetistas gerou, no seio da população próxima, que tinha vivido afronte de um
muro em betão (o “Berliner Mauer” foi construído em 1961 e só integralmente
derrubado em1989), levou à revisão do projeto inicial e à consequente
substituição do betão por taipa. A alteração do projeto contou com a
colaboração dos engenheiros Dierks e Cristof Ziegert, para além do construtor
Martin Rauch49. A modificação do sistema construtivo das paredes portantes da
capela teve ainda a novidade de permitir incluir os destroços da primitiva igreja,
ainda existentes no local; de facto estes vestígios foram, depois de moídos,
compactados em conjunto com a terra usada para execução da taipa. Esta
opção teve consequências imediatas na forma como se passou a encarar esta
arquitetura, já que a sua construção, para além de usar a terra permitia ainda
reciclar materiais de edifícios demolidos. Surgia, então, uma nova vantagem
ainda não explorada nestas “arquiteturas”. De certa forma era como se a
“antiga” capela estivesse dentro da “nova”, no que poderíamos designar por
persistência memorialista ou filiação simbólica. O resultado final constituiu um
sucesso arquitetónico. Atualmente, a capela é extremamente visitada e o
edifício - que acabou também por ser do agrado da população - transformou-
se num ícone da arquitetura contemporânea em terra.

Outro sistema “monolítico” incluído no grupo da “terra prensada” e que


merece alguma atenção é o solo-cimento. Neste caso está a verificar-se
verifica-se um certo recuo, quer no uso quer na aplicação. Esta técnica com
origem na construção de estradas e utilizada para compactar solos e traçar
vias, foi desde os anos 30 do século XX, largamente empregue, sobretudo no
Brasil e em toda a América-latina. O solo-cimento foi aplicado, sensivelmente, a
partir dos anos 40, na execução de fundações, paredes monolíticas e, mais

49
DACHVERBAND LEHM e.V. – Lembau projekte. Kapelle der Versönuno, Berlin [em linha], 2010. [Consult. 2010-10-
05]. Disponível em WWW: <URL:http://www.dachverband-lehm.de/projekte/DVL_lehmbau-projekte_kapelle_berlin.pdf>.

37
tarde, na produção de BTC e de painéis monolíticos. Mas, segundo Célia
Neves (…) muitos empreendimentos atualmente realizados em diversos países
(…) adotam o uso empírico deste material, sem os devidos métodos de
dosagem e controle50. Esta prática incorreta causou alguns dissabores,
nomeadamente no que se refere às consequências na desigual, resistência à
compressão do material e no elevado agravamento do custo, devido à incorreta
mistura do cimento com a terra; como ela refere, verificava-se um (…) consumo
exagerado de cimento devido à falta de um procedimento de dosagem, que
acarreta em maior custo da obra, e a ausência de um controle de execução,
que compromete a durabilidade51. Nalguns casos as dosagens (completamente
alteradas) e a compactação díspar motivaram desagregações indesejáveis no
material. Os motivos que estão na origem do abandono do material prendem-
se, ainda, com a vontade de diminuir o volume global de dióxido de carbono,
(C02), inerente ao processo de fabrico do cimento. Esta poluição, considerada
desaconselhável, a par dos efeitos nefastos da utilização empírica e incorreta
da técnica, levaram efetivamente à diminuição no uso do solo-cimento. Apesar
das desvantagens, o solo-cimento é, no entanto, indicado para a construção de
fundações e produção de BTC. Os valores de compressão razoáveis que se
atingem muito rapidamente, usando apenas uma pequena percentagem de
cimento, são inalcançáveis com outros aditivos, como por exemplo, a cal52.
Para além da resistência mecânica saliente-se ainda a resistência à humidade,
pelo que a sua utilização é também aconselhável em regiões de pluviosidade
elevada. Prevê-se por isso a continuação da técnica, não tão generalizada em
paredes monolíticas como nos anos 70, mas possivelmente confinada às
fundações e, seguramente, à larga produção de BTC “in situ”.

No que se refere à família de alvenaria, veja-se o exemplo dos BTC -


uma técnica nova no panorama das arquiteturas de terra (Tabela 1 nº 5). A

50
NEVES, Célia – Solo-cimento: dosagem e técnicas construtivas. Terra em seminário 2007, p.86.
51
Idem, p.87.
52
Para painéis monolíticos indica-se o traço de 1:15 (cimento: terra) que atinge os 2,0 MPa em poucos dias e apenas
20% de absorção de água. Idem, p. 88.

38
evolução que medeia entre a produção do bloco prensado numa simples
máquina Cinva-Ran (desenvolvida na Colômbia em 1952 pelo arquiteto Raul
Ramirez), e a produção industrial que se verifica atualmente é enorme. A
realização de blocos por dia elevou-se dos iniciais 300-800 unidades/dia para
50.000. Se quiserem mencionar uma técnica de sucesso no século XXI, ela
seria certamente o BTC. No entanto, a industrialização crescente, sobretudo
em unidades integradas, conheceu, nos últimos anos, um certo recuo, devido à
logística de produção/ transporte e respetivos preços. Analisados os
custos/benefícios, constatou-se ser mais económico, o uso de prensas
manuais e a produção de blocos no local da obra, com terra própria do sítio, do
que a aquisição de blocos de origem industrial53.

No grupo em que a terra é considerada um material secundário, de


enchimento e revestimento, verificaram-se grandes inovações nos últimos dez
anos. As técnicas em terra de revestimento e sobre engradado (Tabela 1 nºs 9
e 10), completamente artesanais em meados do século XX, tornaram-se
sistemas pré-moldados, facilmente exequíveis em painéis e passíveis de serem
adquiridos em comércios. Refira-se a título de exemplo os produtos “Fachwerk-
Sanierung” da Claytec54, perfeitamente realizáveis em autoconstrução. Na
família das técnicas mistas, sobressaem claramente duas novidades a:
“quincha metálica”55 e o “tecnobarro” (figuras 3 e 4). Estas duas técnicas,
variantes de terra sobre engradado e terra de enchimento/revestimento, são
executadas com estrutura metálica em vez das tradicionais madeiras e bambu.
Marcelo Cortés56,o arquiteto chileno responsável por esta inovação
experimentou, em novas estruturas metálicas sismo-resistentes, enchimentos
com terra e palha, baseando-se no excelente comportamento que os arames

53
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Op. Cit., pp. 82-83.
54
Paredes em taipa de rodízio (Neuasfachungen), taipa de fasquio (Gefachreparatur) e os tetos falsos (Stakendecke),
produtos da Claytec, baustoffe aus lehm fundada em 1975. CLAYTEC –Fachwerksanierung [em linha], 2010. [Consult.
2010-10-21]. Disponível em WWW: <URL: http://www.claytec.de/produkte/bautechniken/fachwerksanierung.html>.
55
ÁLVAREZ, Marcelo Cortés – Sistema estrutural quincha metálica. Terra em seminário 2007, pp. 246-247 e CORTÉS,
Patricio Arias – Innovación tecnológica de construcción en tierra. Terra em seminário 2010, pp. 228-229.
56
Arquiteto fundador do gabinete “SurTierraArquitectura, projectos, tecnologia, pré fabricação e património”, áreas em
que o gabinete atua. CORTÉS, Marcelo – SurtierraArquitectura [em linha], 2007. [Consult. 2008-05-30]. Disponível em
WWW: <URL: http://www.marcelocortes.cl/>.

39
de amarração em paredes de terra apresentavam nos edifícios históricos do
seu país. A revolução tecnológica neste tipo de técnicas, onde os materiais de
origem vegetal se julgavam indissociáveis da terra, permitiu novas arquiteturas
com materiais que se julgavam completamente incompatíveis.

Figuras 3 e 4 – Técnica de “Tecnobarrro”. Créditos Patricio Arias Cortés, 2009.

Os materiais e as técnicas mencionadas centram-se sobretudo na


elevação de paredes e no enchimento e proteção de estruturas. Outros
sistemas podem ainda ser construídos com terra, coberturas por exemplo.
Constata-se que o BTC e o adobe têm sido largamente utilizados, praticamente
em exclusividade, no traçado de abóbadas e cúpulas, sem cimbres. Estas
coberturas em arco, conhecidas historicamente no Irão, Iraque, Síria e Egipto,
foram divulgadas e recuperadas para a arquitetura contemporânea em meados
do século XX, por Hassan Fathy57. Após esta redescoberta Egípcia, as cúpulas
e abóbadas acabaram por ser adotadas e construídas em todo o mundo. Estes
sistemas em arco, que no Egito em meados do século XX - já que estavam
praticamente mortos - apenas existiam em edifícios históricos e sítios
arqueológicos, acabaram por ser usados, e até mesmo por ser a imagem de
marca da arquitetura de Hassan Fathy a partir de 194258. A relevância do
trabalho deste arquiteto traduziu-se num enorme feito internacional,

57
Hassan Fathy (1900-1989) arquiteto egípcio, responsável pela recuperação do adobe enquanto material de
construção e dos métodos construtivos de cúpulas e abóbadas “núbias” nesse material. Autor de várias publicações e
do livro “Gourna, a tale of two villages” editado em 1969 e na versão portuguesa FATHY, Hassan- Arquitectura para os
pobres, uma experiência no Egipto rural. Lisboa: Argumentum/Dinalivro, 2009.
58
A data refere-se à casa modelo Ezbet el-Basry Hassan, próxima do Cairo. FATHY, Hassan - Arquitectura para os
pobres, uma experiência no Egipto rural, pp. 20-27.

40
inimaginável na primeira metade do século XX. Hoje constroem-se cúpulas e
abóbadas em adobe sem cimbres59, como as que foram elevadas inicialmente
na antiga Mesopotâmia no período Uruk (3700-2900 a.C.)60 e, posteriormente,
no império médio do antigo Egipto durante a XII dinastia (2000 a.C. – 1570
a.C.), e acerca das quais Hassan Fathy comentou (…) a técnica de construção
de abóbadas e cúpulas em tijolos de terra era perfeitamente familiar aos
egípcios (…)61.

No passado a influência e a contaminação de sistemas construtivos em


terra, entre regiões e civilizações estava limitada a territórios, e o que hoje se
designa, na América-latina, de transferência tecnológica e “capacitación” não
deixa de mostrar diferenças quer de conceito quer de tecnologia. Transferência
tecnológica reporta à pura importação ou exportação de técnicas; em geral,
surge sempre associada à formação e à disseminação das técnicas tal como
elas são. No passado, a expansão e a influência de técnicas construtivas,
conforme atestam os trabalhos de história e de arqueologia, acabaram sempre
por incluir uma adaptação das mesmas às culturas locais, verificando-se
processos de hibridação e modificação, evoluindo ou progredindo de acordo
com as necessidades específicas daquelas regiões62.

O conceito “nível tecnológico” caracteriza a influência das técnicas de


construção em terra. Por esse motivo, constata-se, ainda hoje, nos diferentes
continentes, a existência de culturas construtivas de adobe em perfeita
continuidade, mas distintas. Nalguns casos, o adobe foi utilizado em arcos e
sistemas de coberturas complexos; noutros, o seu uso ficou restrito às paredes;

59
Veja-se o caso do centro de formação de Auroville na Índia, que se especializou neste tipo de sistemas. AUROVILLE
– A universal city in the making of south-india [em linha], 2010. [Consult. 2010-10-18]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.auroville.org/>. Saliente-se ainda os cursos de Gernot Minke no Instituto de construção experimental da
Universidade de Kassel na Alemanha e a arquitetura com cúpulas da autoria deste arquiteto em todo o mundo. MINKE,
Gernot – Cúpulas de adobe, nuevas técnicas, nuevas aplicaciones. Terra em seminário 2007, pp. 186-187.
60
Segundo o autor, é nos sítios arqueológicos deste período que aparecem os primeiros vestígios de cúpulas elevadas
em adobe. SAUVAGE, Martin – L’architecture de brique crue en Mesopotanie. Exchanges Transdisciplinaires sur les
constructions en terre crue. Les cultures constructivesde la brique crue, vol. 3, pp. 93.
61
FATHY, Hassan – Op. Cit., p. 20.
62
Sobre este assunto vejam-se os mapas publicados no tratado de construção em terra. HOUBEN, Hugo; GUILLAUD,
Hubert – Traité de construction en terre, pp.103 e 106.

41
e noutros ainda à manufatura manual do material sem evolução para moldado.
Em síntese, a mesma técnica e material persistiram em diversos continentes e
países, no mesmo período histórico, mas com níveis de desenvolvimento
tecnológico distintos.

A recente transferência tecnológica e o investimento na capacitação têm


como objetivo o ensino, a permuta, a deslocação de técnicas e o conhecimento
do saber-fazer (ou know-how como é usualmente designado). Em face desta,
nova, perspetiva e práticas, as técnicas tendem a ser semelhantes. Exemplos
disso são as cúpulas e as abóbadas redescobertas por Hassan Fathy e hoje
construídas em BTC no Instituto Auroville na Índia, ou as elevadas em adobe
nas casas de Lak’a, na Bolívia63 (figuras 5 e 6), e ainda, as construídas em
BTC e adobe por Gernot Minke na Alemanha e no Brasil. Para os casos das
cúpulas e abóbadas em adobe que ainda se constroem em termos locais e
artesanais na Síria e no Irão, pode-se concluir que se trata de uma
continuidade construtiva, de sistemas de coberturas em arco, cuja origem
remonta, há muitos séculos naquela região.

Figuras 5 e 6 – Abóbadas em adobe e cúpulas em BTC. Respetivamente, Lak’a UTA, Bolívia, casas com
abóbadas de adobe e “Auroville Earth Institute”, Estado Tâmil Nadu, Índia, a construção de uma cúpula
em BTC. Créditos DIHSS e Auroville.

63
Projeto de construção de habitações com as comunidades locais (1997-2001), promovido pelas ONGs “Danish
International Human Settlement Service” e a SAHB “Servicios de Asentamientos Sostenibles em Bolívia”. DIHSS - The
Lak'a Uta Project on the Bolivian plateau [em linha], 2004. [Consult. 2010-10-17]. Disponível em WWW:
<URL:http://www.dib.dk/Default.aspx?ID=127>.

42
O estudo e o progresso sobre a hibridação de técnicas, sobre a
transferência tecnológica, assim como, a continuidade e descontinuidade no
uso da terra, para além das questões de produção, manufatura, degradação e
conservação dos materiais e sistemas são objeto do trabalho realizado pelo
ICOMOS-ISCEAH64. No seio desta organização, constitui-se, enquanto tema
científico de pesquisa, a cooperação no processo de compreensão histórico ou
tradicional das técnicas de construção em terra, através da investigação dos
materiais e dos impactos na construção, de forma a incentivar e promover
novos materiais e a apoiar a pesquisa sobre patologias e degradação dos
sistemas construtivos em terra65.

Em conclusão, constata-se que as técnicas de construção em terra,


inicialmente confinadas territorialmente e identificadas com culturas
construtivas específicas, sofreram processos de expansão, retorno, evolução e
exportação ao longo da história das civilizações encontrando-se algumas delas
hoje, num tempo que podemos designar de globalização construtiva, com forte
tendência para a mecanização e industrialização, e outras, pese embora as
ameaças de que são alvo, num processo de continuidade construtiva aos quais
não são estranhos certos fenómenos de mutação e transformação.

1.2 – Diversidade e Universalidade


No panorama mundial atual, verifica-se a existência de arquiteturas de
terra em todos os continentes (figura 7), inclusive em regiões onde há partida
não seriam esperadas, como sucede nas zonas de maior risco sísmico (figura
8), e de ocorrência frequente de desastres naturais.

64
ICOMOS-ISCEAH – Scientif themes [em linha], 2008. [Consult. 2010-12-27]. Disponível em WWW: <URL:
http://isceah.icomos.org/index.php?option=com_content&task=view&id=4&Itemid=8>.
65
Tema científico três. ICOMOS-ISCEAH - Cooperating in the process of understanding the historic/traditional
techniques of earthen structures through research into materiality, including its impact on new earthen construction and
encouraging / promoting / supporting additional research into the decay pathology of earth building systems [em linha],
2008. [Consult. 2010-03-10]. Disponível em WWW: URL:
<http://isceah.icomos.org/index.php?option=com_content&task=view&id=4&Itemid=5>.

43
66
Figura 7 – Arquitetura em terra no mundo. Mapa elaborado pelo CRATerre. Mapa gráfico sem escala .

Figura 8 – Mapa de epicentros sísmicos no mundo entre 1963 – 1998. Elaborado pela NASA “National
67
Aeronautics and Space Administration”. Mapa gráfico sem escala .

Refira-se, como breve exemplo, os casos existentes nas costas do Pacífico,


Mediterrâneo, Médio Oriente, Caribe e do Índico. Em geral a ideia de
construções sismo-resistentes é associada a estruturas de madeira ou de
betão. Desse ponto de vista, os mapas (figuras 7 e 8), contrariam essa ideia ou
mostram como ela parte do desconhecimento da realidade.

No que se refere às técnicas e arquiteturas de terra, é possível afirmar


que não se verifica uma relação direta entre a tecnologia construtiva e as
formas arquitetónicas. As limitações e condições na execução da construção

66
CRATerre – Architecture de terre dans le monde [em linha], 2010. [Consult. 2010-10-17], Disponível em WWW:
<URL: http://craterre.org/accueil:galerie-des-images/default/gallery/38/gallery_view/Gallery>.
67
NASA – Premilary Determination of epicenters 358,241 events, 1963-1998 [em linha] 2003. [Consult. 2010-10-17].
Disponível em WWW: <URL: http://denali.gsfc.nasa.gov/dtam/seismic/>.

44
com terra poderiam determinar à partida, formas e soluções construtivas
semelhantes; no entanto, constata-se que uma determinada maneira de
construir com terra está na origem de inúmeras formas, soluções de espaços,
tipos e edificações distintas. Por exemplo, no caso da técnica terra empilhada,
como se sabe monolítica e extremamente tectónica, existem diferenças em
termos formais e de espaço entre os “cottages” do Reino-Unido construídos em
“cob”68, as habitações alemãs elevadas em “lehmwellerbau”69 e as casas-torre
construídas em “zabur”70 , no Iémen (figuras 9 e 10). Os tipos mencionados,
cujas paredes são elevadas em variantes de terra empilhada, são, no entanto,
edifícios de planta e linhas ortogonais que contêm soluções espaciais e
estéticas desiguais, próprias das culturas arquitetónicas dos países de origem.
Poderiam referir-se outros exemplos, como os casos dos “Kasbah”
marroquinos e as habitações coletivas chinesas de Hakka, na província de
Fujian.

Figuras 9 e 10 – Casa em Steigra, na região de Leipzig, Alemanha e casas torre em Khirab, Iémen.
Créditos Maria Fernandes, 2004 e Fernando Varanda, 1982.

Estes tipos de habitações fortificadas e construídas em taipa são


diferentes em forma e espaço. No caso marroquino, as habitações unifamiliares
desenvolvem-se a partir de um pátio interior em planta ortogonal, simétrica e
pontuados por quatro torres nos cunhais; no caso chinês, são habitações

68
KEEFE, Larry ; CHILD, Peter – Devon and Cornwall. Terra Britannica, pp. 34-35.
69
ZIEGERT, Cristof – The conservation and building of monolithic earthen construction. LEHMN 2004, 4th International
Conference on Building with Earth, pp. 203-205.
70
VARANDA, Fernando – Art of building in Yemen, pp. 254-259.

45
coletivas que também se desenvolvem a partir de um pátio central de
distribuição mas em planta circular (por vezes ortogonal) e sempre
assimétrica71. A taipa, uma técnica monolítica de construção em cofragem,
esteve na origem de construções circulares e ortogonais com soluções
espaciais distintas, mais uma vez adaptadas e em consonância com as
culturas arquitetónico/construtivas locais. Nas situações urbanas a diversidade
de soluções é ainda maior. Veja-se, a esse propósito, as disparidades
existentes nos aglomerados onde a taipa predomina, caso dos “Ksar”
marroquinos e de qualquer cidade ou vila histórica fortificada do Alentejo
português ou da Estremadura espanhola. As soluções em taipa militar no
perímetro exterior, embora semelhantes, encerram no entanto e no seu interior,
traçados urbanos e soluções construtivo/arquitetónicas em taipa, totalmente
distintas quer em escala quer em modelos ou tipos arquitetónicos.

A forma e o modo do habitar em terra são também diversos em todos os


continentes. A arquitetura habitacional em terra reveste-se de especial
interesse antropológico, arquitetónico e construtivo pela genialidade de
soluções e adaptação a todas as culturas e religiões. Trata-se de habitações
onde a funcionalidade é maximizada assim como o desempenho estrutural,
muitas das vezes resultante de autoconstrução. Nas palavras de Gaston
Bachelard (…) todo o espaço realmente habitado traz a essência da noção de
casa (…)72 e o habitat em terra é fértil em símbolos que caracterizam
identidades, que registam e são o veículo de valores para etnias, comunidades,
culturas e sociedades díspares e ricas. Viver e habitar em terra está e esteve
na origem de uma diferenciada coleção de tipos habitacionais, desde a casa
mais modesta e elementar à mais requintada e complexa torre. As técnicas
construtivas em terra, aparentemente consideradas frágeis, efémeras e pouco
resistentes não foram decididamente limites para o desenvolvimento de
arquiteturas distintas e complexas em todo o mundo. No quadro da tipologia

71
ZERHOUNI, Selma; GUILLAUD, Hubert – Architecture de terre au Marroc, pp. 36-54.
72
Apud. MOTA, Nelson – A arquitectura do quotidiano público e privado no espaço doméstico da burguesia portuense
no final do século XIX, p. 19.

46
habitacional mundial em terra é possível identificar e agrupar tipos
habitacionais idênticos construídos em técnicas diferentes e soluções espaciais
análogas com sistemas construtivos completamente distintos (tabela 2).

Segundo Edward Hall (…) os edifícios de construção humana são um


exemplo de organização fixa (…)73 enquanto o agrupamento das construções e
a divisão interna das habitações refletem o modo de vida e variam em termos
da história e das características culturais. O mesmo autor, na análise
antropológica/ sensorial que faz do espaço e da arquitetura, refere que o modo
de organização pode distinguir-se em três aspetos, conforme se apresenta:
- organização rígida, a construção;
- organização semirrígida, a relação do mobiliário com a construção;
- organização informal, que remete para as distâncias público e privadas
do relacionamento entre os indivíduos.

Desse ponto de vista e examinando alguns dos tipos habitacionais74 em


terra, verifica-se, para as casas enterradas, uma diferença clara no modo
coletivo chinês e na forma unifamiliar do norte de África, onde uma cova
corresponde a uma família apenas. A mesma observação poderá ser feita para
os casos fortificados coletivos – Ksar e Hakka – onde, no primeiro, o pátio é
inacessível, funcionando as estreitas ruas do aglomerado como meros
distribuidores, enquanto o pátio em Fujian é, ao mesmo tempo, distribuidor,
largo de convívio e centro de encontro, não existindo quaisquer áreas
semelhantes, no aglomerado e no espaço exterior destas habitações coletivas
fortificadas. O aspeto informal do espaço de Hall, presente nestes exemplos,
denota as diferenças de distância pública e privada entre as civilizações
oriental e mediterrânea, opondo claramente dois modos de habitar em terra,
distintos, construídos, no entanto, em técnicas análogas.

73
HALL, Edward – A dimensão oculta, pp. 121.
74
Tipo, estereótipo e tipologia, conceitos definidos por CARLO, Giancarlo De - Note sulla incontinente ascesa della
tipologia. Casabella 509-510, revista internazionale di architettura, pp.46-48.

47
Tabela 2 – Alguns tipos habitacionais em terra e a sua relação técnico/ construtiva. Tipos arquitetónicos,
conforme a designação no programa CORPUS, Architecture Traditionnelle Méditerranéenne.
Nº TIPOS DESIGNAÇÃO - REGIÃO ou PAÍS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM
TERRA
MULTIFAMILIAR/ coletiva
1 Casa (s) enterradas “Caves” ou Trogloditas - Gansu, Shanxi e Terra escavada
75
Henan, China
2 Casa (s) Fortificada Casa Hakka – Fujian, China Taipa
Ksar - Marrocos Taipa e adobe
3 Casa (s) em recinto “Rugo” - Burundi76 Terra de enchimento e revestimento
77
ou com pátio “Habitat Gourounsi” – Burkina Faso Terra empilhada
UNIFAMILIAR/ família alargada
1 Casa Casa do Oasis Siwa - Egipto78 Terra escavada
Troglodita/enterrada Casa em Garyan – Líbia Terra escavada
Casa Matmata - Tunísia Terra escavada
2 Casa fortificada ou Casa-torre rural “Bordj” – Sfax, Tunísia79 Taipa e adobe
casa torre Kasbah - Marrocos Taipa e adobe
Casa-torre - Iémen80 Terra empilhada e adobe
UNIFAMILIAR/ família alargada (continuação)
3 Casa em recinto e “Casa”Obus Mousgoums” - Camarões81 Terra modelada
82
ou Casa “Dogon”, Mali (figura 8) Terra modelada e adobe
Casa-pátio Casa-pátio, Estado de Goa, Índia83 Blocos cortados (laterite) e taipa
4 Casa jardim/quintal Casas urbanas das regiões de Raqqa e Taipa e adobe
Hassakeh, - Síria84
“Vivienda rural Altamira”, região Terra de revestimento, “Bajareque”
Tamaulipas - México85
5 Casa elementar Casa “D’Ouarse” - Argélia86 Terra empilhada
Casa “Chipaya” - Bolívia87 Torrões de terra
88
Casa “Masai”, Quénia e Tanzânia Terra de enchimento e revestimento

75
QINGXI, Lou – Traditional Architecture Culture of China, pp. 267-268.
76
ACQUIER, Jean-Louis – Le Burundi, pp. 78-79, 80-81, 86-87 e 98-99.
77
CRATerre/EAG – Étude sur les savoirs constructifs au Burkina Faso, pp. 43-44.
78
RUDOFSKY, Bernard – Architecture without architects, p. 22.
79
NOURISSIER, Gilles [et. al.] – Architecture Traditionnelle Méditerranéenne, pp. 61
80
DOAT, Patrice [et. al.] – Construire en terre, pp. 98-100.
81
ELOUNDOU, Lazare – La conservation traditionnelle de la case obus des Mousgoums. Les pratiques de
conservation traditionnelles en Afrique, pp. 81-89.
82
OLIVER, Paul – Dwellings, pp. 180-181.
83
SILVEIRA, Ângelo – Casa-pátio de Goa, pp. 107-115.
84
BENDAKIR, Mahmoud – Architectures de terre en Syrie, pp. 50-51.
85
GUTIÉREZ, Rubén; MÚJICA, José – La vivienda rural en Altamira, Tamaulipas. Patrimonio construído con tierra,
pp.153-166.
86
NOURISSIER, Gilles [et. al.] – Op. Cit., p. 56.
87
ZEROA, Jorge; CALLA, Alberto – Técnica de construcción Chipaya. Habiterra, exposición Iberoamericana de
construcciones de tierra, pp. 60-63.
88
OLIVER, Paul – Op. Cit, p. 78.

48
6 Casa bloco Casa “Swahili” - Burundi89 Adobe/Terra de revestimento
“Cottage”, Reino Unido90 Terra empilhada, “cob”, blocos
apiloados e terra de revestimento
Casa tipo “Swahili” - Moçambique91 “wattle and daub”
Casa Bandeirista, Estado S. Paulo - Terra de revestimento (pau a pique)
Brasil92 Taipa
93
7 Casa evolutiva Casa em Safsafat - Marrocos Taipa
8 Casa corredor “Casonas”, Lima - Peru94 Adobe e terra de revestimento
“Maison séc. XIX/XX” – regiões Isére e “quincha”
Rhônes-Alpes, França95 Taipa, “pisé”
Casa rural da região da Anatolia -
Turquia96 Terra de enchimento e/ou
revestimento

Outra característica que distingue alguns destes tipos habitacionais em


terra é, sem dúvida, a separação sexual e etária, que se verifica quer nos
aglomerados, quer nas habitações. Comum a muitos conjuntos ou recintos
africanos e asiáticos são as divisões/separações espaciais entre mulheres e
homens, anciões e crianças. Essa situação verifica-se nos recintos Gourouns
onde a separação se organiza em células, nas casas Dogon ou Mousgoum em
que a cisão ocorre em compartimentos e volumes a partir de um pátio comum
(figura 13). Na casa-torre iemenita, a separação sexual e entre adultos e
crianças ocorre em altura, por piso e no mesmo edifício. Os exemplos
mencionados são elevados em técnicas tão diversas como da monolítica à de
enchimento/revestimento, com exemplos também nas técnicas em alvenaria.
As diversas facetas construtivas e “modus operandi” das arquiteturas de terra
possibilitam a materialização de habitações complexas, ainda hoje habitadas e
extremamente divididas e fracionadas como se verificam nas culturas
africo/subsarianas e do médio oriente.

89
ACQUIER, Jean-Louis – Op. Cit., pp.114-119.
90
HARRISON, Ray – Earth building. Earth, the conservation and repair of Bowhill, Exeter: working with Cob, p.10.
91
BRUSCHI, Sandro [et. al.] – Era uma vez uma palhota. História da casa moçambicana, pp.33-39.
92
MAYUMI, Lia – Taipa. Canela-preta e concreto. Estudo sobre o restauro de casas Bandeiristas, pp. 54-55.
93
NOURISSIER, Gilles [et. al.] – Op. Cit., p. 62.
94
OTTAZI, Gianfranco – Casonas de adobe y quincha. Habiterra, exposición Iberoamericana de construcciones de
tierra, p. 108.
95
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Op. Cit. pp. 34-37.
96
OLIVER, Paul – Op. Cit., p. 163.

49
Continuando a seguir o esquema de organização do espaço de Edward Hall, e
relativamente à caraterística semirrígida, veja-se a situação da casa-pátio
Goesa na Índia, um tipo comum às casas hindus e cristãs, mas diferente quer
na simbólica dos espaços quer no entendimento e funcionalidade dos mesmos.
A casa hindu é muito menos compartimentada que a cristã-católica97, sendo o
mobiliário praticamente ausente, por um lado, o espaço da cozinha é comum a
todos os hóspedes e o de refeições sempre comprido, dado a prática de se
comer em fila e em hierarquia etária98. Apesar das divergências em termos de
compartimentação (que no tipo cristão-católico é totalmente definida, separada
e muito mobilada) são outros os aspetos que as diferenciam notoriamente.
Refira-se a relação da casa com o exterior, no tipo cristão-católico através de
alpendre semipúblico, exuberante e decorado, assim como na presença do
jardim na frente ou no pátio/traseiras que contrasta com a singela fachada
hindu sem espaços intermédios e com uso agrícola/produtivo no pátio. As
funções e a simbólica do pátio, embora semelhantes morfologicamente, são
diferentes na sua essência religiosa - de sagrado no caso hindu a distributivo e
de lazer no tipo cristão-católico99. No que se refere à construção é de realçar
que a cultura construtiva em laterite local conviveu, pós colonização portuguesa
a partir do século XVI, com a cultura construtiva em taipa, exportada nesse
período e estranha ao território Goês. Apesar da construção em taipa ter sido
abandonada em meados do século XX, observa-se, ainda hoje, a presença
destas duas técnicas em terra na arquitetura vernácula, hindu e cristã, sem
distinção alguma (figuras 11 e 12). Em termos arquitetónicos é notória a
adaptação de um tipo habitacional local a dois modos de vidas distintos, e, em
termos construtivos, a apropriação regional de uma técnica de construção
importada.

97
MESTRE, Victor – Arquitectura tradicional de Goa. Terra em seminário 2007 (V ATP ,TERRA BRASIL 2006), p. 26.
98
SILVEIRA, Ângelo Costa – A Casa-Pátio de Goa, p. 107-108.
99
Idem, pp. 147-151.

50
Figuras 11 e 12 – Casas em taipa, respetivamente de famílias hindu e católica em Pernem - Hassapur e
Borim - Pondá, no Estado de Goa, Índia. Créditos Victor Mestre, 2007.

Dentro do universo das arquiteturas de terra é de referir, ainda, um


fenómeno curioso - a expansão e a evolução de tipos habitacionais em
territórios diferenciados. Refira-se a casa “Swhali”, originalmente uma casa
ortogonal elevada em alvenaria de pedra coralina junto às quais existiam outras
mais modestas (…) que imitavam a forma retangular da casa árabe (…)
substituindo a cobertura plana (…) com uma cobertura inclinada em materiais
vegetais (…) mista árabe-africana (…) de construção em pau a pique (…) e
que sobreviveu durante toda a época colonial até hoje (…)100.
Os Swahalis, que apareceram na costa setentrional africana antes dos
portugueses, progrediram para o interior do território ao mesmo tempo que o
mercado de escravos se desenvolvia na costa101. Este híbrido que se expande
em África102 esteve, mais tarde, na origem das casas coloniais, fruto de um
processo onde (…) a casa retangular com telhado em quatro águas substituiu
completamente os tipos autóctones preexistentes (…) e no qual a varanda que
circunda a construção (…) herdada da antiga casa cilíndrica (…) diferencia a
casa do interior da casa da costa onde existe um simples beiral do telhado
limitado à frente (…)103 . Este exemplo bem mais complexo, que a partir da
construção em alvenaria de pedra evolui e se expandiu por fenómenos de

100
BRUSCHI, Sandro [e al.] – Op. Cit., p. 29.
101
Ibidem.
102
MATVEIEV, Victor – A civilização Swahili [em linha] 2008. [Consult. 2011-07-19]. Disponível em WWW: <URL:
http://pt.scribd.com/doc/19752176/A-Civilizacao-Swahili e http://afrologia.blogspot.com/2008/03/civilizao-swahili.html.
103
BRUSCHI, Sandro [e al.] – Op. Cit., p. 29.

51
contaminação e hibridação em técnicas de terra, esteve na origem de casas
coloniais, urbanas e rurais, primeiro em terra (figura 14) e, depois, noutros
materiais mais recentes como o tijolo.

Figuras 13 e 14 – Casas “Dogon” em Shanga, Bandiagara, Mali e casa tipo “Swahali” em Pemba,
Moçambique. Créditos Maria Fernandes, 2008 e Margarida Donas Botto, 2009.

Em termos conclusivos, é possível afirmar que a tipologia habitacional


em terra é um vasto campo de pesquisa em desenvolvimento, que pode e deve
auxiliar no reordenamento e promoção habitacional em diversos territórios. Não
são estranhas a esse contributo, as capacidades de adaptação e evolução que
as casas em terra apresentam nas mais díspares regiões, a que se somam as
características intrínsecas de maleabilidade construtiva e de diversidade
espacial, que este material possibilita. As arquiteturas de terra, que segundo
vários investigadores constituem cerca de 50% do habitat mundial nas zonas
rurais e 20% nas zonas urbanas e suburbanas104 são um campo fértil onde o
património arquitetónico e a construção contemporânea, aliadas ao
conhecimento técnico e ao saber local, podem e devem contribuir, para a
melhoria do ambiente e da qualidade de vida em todo o mundo.

1.3 – História e tradição


A história das arquiteturas de terra, uma disciplina recente na história da
arquitetura e da construção, depara-se na sua estrutura, com dois paradigmas:
- o da continuidade construtiva, designado muitas vezes de tradição;

104
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Op. Cit., pp. 14-15.

52
-o da modernidade ou contemporaneidade, em geral associado a
ruturas, descontinuidades e só excecionalmente entendida enquanto evolução
da tradição, dado que remete para a redescoberta e melhoria de técnicas
ancestrais.

Esta nova disciplina encontra nos edifícios construídos em terra as


fontes de informação dum passado muitas vezes desconhecido e a
materialização efetiva de como as civilizações se relacionaram com a natureza
e dela fizeram uso para a construção. Os edifícios históricos em terra foram
abordados durante séculos, marcadamente sob o ponto de vista factual e
cronológico, nos quais a terra, enquanto material construtivo, era ignorada ou
não figurava nas descrições que essas análises implicavam. As referencias
históricas da arquitetura em terra são hoje os sítios, os edifícios e as paisagens
edificados, parcial ou totalmente, com terra apenas seca ao ar - quer estejam
habitados, abandonados ou que constituam meros vestígios arqueológicos.
Dificilmente se pode analisar essa arquitetura sem considerar a sua
construção, face à interdependência e correlação entre ambas. Refira-se ainda
o papel da natureza e a ação do homem sobre a mesma, na transformação da
paisagem, no desenvolvimento e modificação da agricultura, e a sua relevância
para o estudo e sobretudo para as alterações e modificações das arquiteturas
de terra, devido ao carácter tectónico, local e autóctone da sua construção.

Em termos históricos distinguem-se seis momentos decisivos e que


constituem marcos, ou revoluções, no desenvolvimento da arquitetura em terra
no mundo105, designadamente:
1 - o período Calcolítico (2500 – 1800 a.C. ), com destaque para as
idades do Bronze e Ferro, com o desenvolvimento de cidades elevadas em

105
Neste capítulo utilizou-se a reflexão e a pesquisa efetuadas por Hubert Guillaud no seu estudo “Pour une histoire
des architectures de terre”, onde cronologicamente foram sistematizados em cinco tabelas referentes às regiões do
Mediterrâneo, Europa, Próximo Oriente, América Latina e América do Norte/ África e Oriente, os sítios, as técnicas de
construção, os respetivos enquadramentos histórico – culturais e as referências bibliográficas mais relevantes.
GUILLAUD, Hubert - Pour une histoire des architectures de terre, pp.243-272, 309-343 e 381-456.

53
terra no norte de África e Mediterrâneo (Egipto), Sudoeste Asiático (Iraque,
Síria), Ásia Meridional (Irão) e Ásia Oriental (norte da China)106;
2 – a antiguidade clássica (VII a.C. – V d.C.), incluindo os impérios
Greco-Romanos107, na região do Mediterrâneo, África e Europa, com a
produção de literatura, textos e descrições de cidades e edifícios construídos
em terra e, sobretudo, pelo tratado de arquitetura De Architectura, Decem
Libri” (século I a. C.) de Marco Vitrúvio Polião;
3 – os séculos XVI-VVII, com a expansão e a colonização europeias108 -
responsáveis pela globalização de técnicas de construção em terra que
acabaram por ser exportadas e importadas intensamente nesse período, entre
os continentes europeu, asiático, africano e americano;
4 – os séculos XVIII-XIX, com a publicação dos “Cahiers d’ école
d’architecture rurale” de François Cointeraux (1740-1830), traduzidos em
diversas línguas, usados em todo o mundo, fundamentais para a
sistematização de técnicas como a taipa, acompanhados da edição de diversos
catálogos de inúmeros projetos-modelo de arquitetura em terra;
5 – no século XX, a obra de Hassan Fathy (1900-1989)109 considerada a
primeira reflexão clara sobre como a arquitetura contemporânea poderia ser
materializada em técnicas ancestrais de terra;
6 – no século XX, com a exposição “Des architectures de terre ou
l’avenir d’une tradition millénaire” em 1981, ano a partir do qual a construção
em terra passou a ser encarada como uma alternativa para o futuro.

As civilizações, os fatos e os personagens que constituem os marcos


anteriormente referidos foram importantes: na inovação e alteração dos
materiais de construção; no surgimento de novos sistemas construtivos; na
disseminação das arquiteturas e técnicas construtivas e na concretização de

106
A primeira incluída nos Estados Árabes e as restantes na região Ásia - Pacífico.
107
Estados Árabes, Europa - América do Norte, África.
108
Que irá afetar as cinco regiões do mundo conforme o Centro do Património Mundial: América Latina - Caraíbas,
Europa - América do Norte, Estados Árabes, África, Ásia - Pacífico.
109
Quer os manuais de construção de François Cointeraux quer as obras, livros e textos de Hassan Fathy alteraram,
em todo o mundo, o panorama da construção com terra.

54
documentos escritos, como manuais de construção e outros relevantes para o
desenvolvimento da construção e da arquitetura em terra. Ao longo da história
das civilizações o tema conheceu, por isso, momentos cuja importância foi
decisiva para que ainda hoje:
- cerca de 30% da população mundial habite e trabalhe em edifícios total
ou parcialmente construídos com terra110;
- o património mundial em terra constitua cerca de 16% da totalidade dos
bens inscritos na lista da UNESCO111;
- dos bens incluídos na lista do Património Mundial em Risco, 57%
sejam construídos em terra112;
- dos cerca de 100 bens incluídos na lista do “World Monuments Fund
Watch”, 16 são construídos total ou parcialmente em terra113.

Os valores anteriormente referidos refletem a dimensão, a importância e


a apreensão pela conservação do património em terra. Apesar do número
excedível de construções existentes em todos os continentes, as arquiteturas
de terra são frágeis do ponto de vista da sua continuidade no tempo. O carácter
tectónico e a ligação direta ao solo colocam estas arquiteturas em perigo
constante. As transformações e os desequilíbrios que o clima, o uso da terra e
os conflitos provocam nos diferentes territórios são imediatamente traduzidos
em destruições e alterações, muitas vezes irreversíveis, para o património em
terra. Refira-se, a título de exemplo, as chuvas intensas que se manifestam em
sítios anteriormente secos, como no Iémen114, os projetos de irrigação
agrícolas benéficos, mas nocivos para o património, como sucedeu em

110
EARTH ARCHITECTURE [em linha] 2012. [Consult. 2012-06-28]. Disponível em WWW:
<URL:http://www.eartharchitecture.org/>. Estima-se que cerca de 50% da população mundial rural e 20% da urbana e
suburbana habitem em edifícios construídos em terra. HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Traité de construction en
terre, p.16.
111
WHC - World Heritage Earthen Architecture Programme (WHEAP) [em linha] 2010. [Consult. 2012-06-28]. Disponível
em WWW: <URL:http://whc.unesco.org/en/earthen-architecture/>
112
CRATerre-ENSAG - Inventory of Earthen Architecture, 2012.
113
Idem.
114
JEROME, Pamela – After the flood; devastation of the traditional earthen architecture landscape in the Hadhramaut
Valley of Yemen; can mud brick buildings be made more resistant to clima change? Terra em Seminário 2010 (6º ATP
9º SIACOT), p. 53-55.

55
Tomaval no Perú115 e os conflitos devastadores no Mali, Líbia e Síria que, por
ação direta do homem puseram em risco e foram responsáveis pela destruição
de sítios em terra que são património da humanidade116.

O uso do solo está, e sempre esteve, no centro da dinâmica das


arquiteturas de terra. A agricultura e a sedentarização humana foram
essenciais no processo que se iniciou no período Neolítico, que esteve na
origem dos sítios habitados em terra e no desenvolvimento das técnicas de
construção com o mesmo material. Dos sítios arqueológicos considerados
referência deste início, mencionam-se alguns:
- Çatal Höyük117, na Anatólia, Turquia
- Jericó, na Palestina118 (junto ao rio Jordão);
- Fayoum e Mérimdé, no Egipto (ambos junto ao rio Nilo).

Çatal Höyük, um sítio arqueológico do Neolítico, 7400-6200 a.C., com


ocupação posterior foi descoberto nos finais dos anos 50 do século XX, e
escavado no início da década seguinte por James Mellaart (1925-2012).
Rapidamente se transformou num sítio arqueológico da maior importância
científica e histórica, quer pela dimensão quer pela densidade de ocupação
(figura 15).

115
HOYLE, Ana [et al] – Conservation of the Tomaval Castle. Terra 93, 7ª Conferência Internacional sobre o Estudo e
Conservação da Arquitectura de Terra, p.222-223.
116
WHC - Le Comité du patrimoine mondial appelle à cesser les destructions du patrimoine malien et adopte une
décision afin de protéger ce patrimoine [em linha] 2012. [Consult. 2012-07-03]. Disponível em WWW:
<URL:http://whc.unesco.org/fr/actualites/907; WHC - La Directrice générale préoccupée par les attaques portées au site
du Patrimoine mondial de Ghadamès (Libye) [em linha] 2012. [Consult. 2012-05-22]. Disponível em WWW: < URL:
http://whc.unesco.org/fr/actualites/875; WHC - La Directrice générale de l’UNESCO lance un appel en faveur de la
protection du patrimoine culturel syrien [em linha] 2012. [Consult. 2012-03-30]. Disponível em WWW: <URL:
http://whc.unesco.org/fr/actualites/862>.
117 .
Recentemente inscrito na Lista do Património Mundial. WHC - Vingt-six nouveaux sites inscrits sur la Liste du
patrimoine mondial de l’UNESCO cette année [em linha] 2012. [Consult. 2012-07-02]. Disponível em
WWW:<URLhttp://whc.unesco.org/fr/actualites/903>.
118
A designação de Palestina refere os territórios reconhecidos pela ONU, sob administração da AP, Autoridade
Palestiniana. A área que correspondia à Palestina até 1948 encontra-se hoje dividida em três: uma integra o Estado de
Israel e as outras duas, Faixa de Gaza e Cisjordânia, territórios ocupados por Israel desde 1967. Jericó situa-se na
Cisjordânia. Em 2011 a UNESCO reconheceu o Estado da Palestina e em 2012, foi incluído na Lista do Património
Mundial o primeiro Bem Cultural deste Estado.

56
Figura 15 – Çatal Höyük, planta elaborada por James Mellart, onde é possível verificar a densa ocupação
119
do sítio .

Desde 1993 que uma equipa internacional de arqueólogos provenientes


das universidades de Cambridge e Londres (Reino Unido), Stanford e Berkeley
(Estados Unidos), Tessalónica (Grécia), Poznan (Polónia), Istambul e Selkut
(Turquia), sob a coordenação do Professor Ian Hodder, da Universidade de
Stanford tem vindo a revelar novos dados sobre o urbanismo, o habitat e a
construção. Dessas descobertas destacam-se as habitações em terra
escavada e adobe, utilizando ainda entramados de madeira e com acesso a
partir das coberturas. Estas casas contem ainda testemunhos da vida
quotidiana expressos em pinturas e relevos policromados em terra, com figuras
humanas e animais120, inscritos nos acabamentos decorativos dos paramentos
das habitações.

Jericó ou Tell es-Sulta é um sítio arqueológico, com origem em 8300-


7300 a. C., talvez até anterior, mas com um desenvolvimento urbano intenso
no período Calcolítico (figura 16). Trata-se de um “Tell”, com 2,5 ha de área,
cuja construção em plataformas, quer das habitações quer das muralhas, foi
preferencialmente, executada em adobe manual e moldado.

119
Idem.
120
O sítio arqueológico é habitado desde há 9000 anos, numa área em cerca de 13,6 ha, nele tendo vivido cerca de
5000 a 10 000 habitantes. ÇATAL HÖYÜK - Managent plan [em linha] 2012. [Consult. 2012-07-08]. Disponível em
WWW: <URLhttp://www.catalhoyuk.com/smp/>.

57
Figuras 16 e 17 – “Tel es-Sultan”, Jericó, vista aérea e estratigrafia da autoria de Kathleen Kenyon e
121
referente ao período do Calcolítico .

A importância do local reside no facto, de nos permitir entender como se


processou a formação de uma cidade rural no III Milénio a.C., a partir de uma
pré-existência Neolítica do V Milénio a.C. As escavações levadas a cabo pelos
britânicos John Garstang e Kathleen Kenyon, entre 1930-1936 e 1952-1958
respetivamente (figura 10), e na atualidade conduzidas, desde 1997 por uma
equipa de arqueólogos da Universidade “La Sapienza” de Roma, Itália,
centraram-se, desde sempre, sobretudo no período do bronze final122.

Mérimdé Beni-Salam é, também, um sítio arqueológico, que se localiza a


cerca de 60km a noroeste do Cairo. O local foi descoberto e escavado entre
1927-28 por Herman Junker, e, mais tarde, a partir dos anos 70, pelo Instituto
Arqueológico Alemão. Datado de 5890-5590 a 4400-4500 a.C., é um complexo
que se desenvolveu durante o V Milénio a.C., onde se encontraram habitações
de forma oval, construídas em técnicas de terra modelada com vestígios do
emprego de material vegetal na sua composição. Fayoum é um oásis com
vestígios de presença humana desde o Neolítico, mas cujo desenvolvimento
ocorreu sobretudo durante o período Calcolítico. Fayoum foi escavado na
margem norte do lago Moeris, entre 1924-26, por Gertrude Caton-Thompson e
Eva W. Gardner. Neste local foram postos a descoberto vestígios das primeiras

121
JERICHO ARCHAELOGY [em linha] 2010. [Consult. 2012-07-08]. Disponível em WWW: <URL:.http://www.israel-a-
history-of.com/jericho-archaeology.html>.
122
NIGRO, Lorenzo - Tell es-Sultan/Jericho and the Origins of Urbanization in the Lower Jordan Valley: Results of
Recent Archaeological Researches. 6º. ICAANE (Paolo Matthiae et al.). p. 460 [em linha] 2010. [Consult. 2012-07-08].
Disponível em WWW: <URL:. http://www.lasapienzatojericho.it/articles.htm>.

58
colónias agrícolas na região, edificadas em técnicas de terra moldada e
técnicas mistas em terra com elementos vegetais123.

Estes sítios do período Neolítico apenas indiciavam o que veio mais


tarde a ser, uma grande civilização urbana construída em terra. A partir do III
Milénio a.C. com o urbanismo em terra, dá-se o que se considera o primeiro
grande momento histórico das arquiteturas de terra. Como referido
anteriormente, foi no período do Calcolítico que o desenvolvimento urbano em
Jericó e Çatal Höyük teve lugar. No entanto, terá sido na região da
Mesopotâmia - um planalto de origem vulcânica entre os vales dos rios Tigres e
Eufrates - que, entre o III e o I Milénio a.C., as grandes cidades conhecidas em
terra foram efetivamente construídas. Destaque para Ur (Iraque), Tell Beydar e
Mari, ambos na Síria, só para citar algumas. Em qualquer um dos locais
mencionados foram a construção de edifícios monumentais em terra, a
articulação e organização das cidades, assim como a relação com o meio
ambiente e com água enquanto recurso, que fizeram a diferença para o
período anterior. O caso de Ur, Tell es-Muqayyar, a cidade-porto junto ao rio
Eufrates, atualmente um sítio arqueológico no Iraque, é um cabal exemplo
dessa complexidade urbana. Neste local, os vestígios dos edifícios que foram
desenterrados, demonstraram que estes tinham atingido dois pisos de altura, e
que o zigurate, exposto e restaurado, fazia parte de um conjunto de templos
que servia cumulativamente de centro administrativo e santuário. Segundo
Martin Sauvage, terá sido no final do período Uruk, com o aparecimento das
primeiras cidades, que o material de construção, neste caso o adobe, é
diferenciado consoante o uso. Refere o autor as diferenças existentes, em
dimensão e componentes, entre os materiais usados nas canalizações à qual
era adicionado betume natural; bem como a dimensão variável consoante
serviam para a construção de plataformas ou paredes de casas, e ainda a
forma, no caso dos adobes empregues no traçado de abóbadas e arcos124. A

123
NARMER - Archéologie des colones et des cultures. Egypte Ancienne. Histoire et chronologie [em linha], 2000-2011.
[Consult. 2012-07-08]. Disponível em WWW: <URL: http://www.narmer.pl/indexfr.htm>.
124
SAUVAGE, Martin - L’architecture de brique crue en Mesopotamie. Op. Cit. p. 93.

59
sofisticação da construção nesta região é também visível em Tell Beydar, com
a elevação das fortificações, a divisão entre cidade alta e a cidade baixa 125,
assim como em Mari, uma cidade nova, desenhada e concebida como centro
de atividades, com um canal de irrigação e navegação a partir da margem
direita do Eufrates que garantia cumulativamente, a autonomia agrícola e o
controle do transporte marítimo entre as regiões da Anatólia e o norte/sul da
Mesopotâmia126. A região e os sítios mencionados, embora representativos,
não são exclusivos deste momento histórico. Locais como Mohenjo Daro
(Paquistão)127 na margem do rio Indo128, Tebas (Egito) na margem do rio Nilo,
Caral (Peru) na margem esquerda do rio Supe129 e os sítios de Zhengzhou e
Anyang (China) nas margens do rio Amarelo130 são entre muitos exemplos,
vestígios de cidades edificadas em terra.

Figuras 18 e 19 – Síria, estruturas arqueológicas em Tel-Beydar. Peru, pirâmide no sítio arqueológico de


Caral. Créditos Ricardo Cabral, 2009 e Maria Conceição Lopes, 2012.

Numa breve síntese, pode-se afirmar, que entre os períodos Neolítico e


Calcolítico, se verifica uma evolução depois, uma continuidade de técnicas, de
que são exemplo o adobe manual e moldado, transitando-se de menos lugares

125
VAZ, Ana; TOMÉ, André; CABRAL, Ricardo; COSTA, Tiago – Espaços e arquiteturas em Tell Beydar: campanha de
escavações de 2009. TERRA em Seminário 2010 (6 ATP e 9 SIACOT), p. 17.
126
BENDAKIR, Mahomud – Les vestiges de Mari. La préservation d’une architecture millénaire en terre, p.31.
127
Centro de Documentação ICOMOS-UNESCO: Mohenjo Daro 6157/138
128
KENOYDER, Jonathan – Mohenjo-Daro, introduction to the site [em linha], 2005-2008. [Consult. 2012-07-12].
Disponível em WWW: <URL: http://www.mohenjodaro.net/mohenjodarointroduction.html>.
129
CARALPERU – Zona Arqueologica de Caral . Historia [em linha], 2012. [Consult. 2012-07-12]. Disponível em:
WWW: <URL: http://www.caralperu.gob.pe/sobre_nosotros/ppersonal.html>
130
GUILLAUD, Hubert - Pour une histoire des architectures de terre, pp. 479,495 e 502.

60
edificados em técnicas mistas de vegetal e terra, ou de terra modelada, para
sofisticados edifícios e complexas cidades já construídas em terra compactada,
empilhada e em adobes moldados. Para este período verifica-se um grande
predomínio das fontes materiais como base do novo conhecimento
relativamente aos materiais e processos então utilizados. Mesmo o relevo que
certas fontes escritas podem ter, nas quais se destacam o livros do Genesis e
Êxodo do Antigo testamento bíblico, ele assume maior expressão na medida
em que muitas vezes, e até de forma simbólica, remetem para vestígios de
cidades cuja (re)descoberta arqueológica é, ela sim da mais elevada
importância cientifica e técnica.

O segundo momento histórico das arquiteturas de terra é, sem dúvida,


aquele a que pertencem os escritos, as descrições e as indicações construtivas
que proliferam durante a Antiguidade Clássica (VIII a.C – V d.C.). Neste vasto
período, as fontes documentais são numerosas e por via da arqueologia o
conhecimento sobre as arquiteturas de terra evoluiu consideravelmente.
Autores como Herodoto (484-425 a.C.) Dicearco (347-285 a.C.), Varrón (116-
27 a.C.), Estrabón (63 a.C. – 19 d.C), Plínio, o Velho (23 a.C-79 d.C) e Vitrúvio,
na sua obra De Architectura, aludem em moldes mais ou menos exatos e
descritivos, os modos de construção com terra, as casas e as cidades em terra,
assim como são inúmeras as referências aos povos que usavam a terra como
material de construção. Trata-se por isso de um vasto conjunto de literatura
descritiva que espelha a realidade de então, mencionando sítios e relatando
ainda acontecimentos relacionados com a construção e o seu progresso.
Heródoto, por exemplo, refere os habitantes da região entre o rio Niger e o
Mediterrâneo que usavam a terra na construção das suas casas; Dicearco,
discípulo de Aristóteles, descreve as casas em adobe na cidade de Atenas;
Varrão na sua obra “Res Rusticae, Livro I, 14 e 4”, menciona os muros em terra
compactada que encontra na “Hispania” e os compartimentos em adobe que
executam os Sabinos; Estrabón no tomo III um dos 19 livros da “Geographia”
dedicado à região da Iberia refere as habitações em adobe e Plínio, na obra
“Naturae Historiarum L. XXXV, 48”, embora não refira a técnica específica de

61
compactação da terra, menciona os muros ou fortificações de cidades
construídos em terra vertida para cofragens de grandes dimensões e de como
as mesmas eram resistentes a ventos, chuvas e incêndios131. No entanto será
Vitrúvio quem referirá mais detalhadamente vários edifícios filiados nestas
técnicas e material. Em “De Architectura, Livro II, 8”, o autor lamenta o uso de
ramagens em vegetal com terra na construção de habitações e os incêndios
que tal sistema favorece. O adobe, por exemplo, é referido quer nas
dimensões, quer na espessura das paredes (figuras 20 e 21). Em “De
Architectura Livro II, 3 e 8”, refere ainda que o adobe foi o material utilizado na
edificação de diversos imóveis como os Palácios de Creso em Sardes, do
Mausoleo em Halicarnaso e, ainda, de como eram construídas em terra as
Muralhas de Atenas, junto ao Monte Hymeto e as de Marselha132.

A Antiguidade Clássica deixou-nos, efetivamente, como legado nas


arquiteturas de terra os documentos escritos que permitiram identificar,
conhecer e, ainda hoje, compreender como eram vistos os edifícios e as
cidades construídas em terra existentes naquele período histórico.

Figuras 20 e 21 – Líbia, região da Tripolitana. Villa Sillin, vila romana do séc. II, edificada em adobe
conforme Vitrúvio. Créditos Maria Fernandes, 2008.

131
ARELLANO, Juana Font – La arquitectura en tierra en el mundo clássico. Terra: forma de construir. Arquitectura,
Antropologia, Arqueologia, p.112 e 113.
132
VITRÚVIO – Tratado de arquitectura (tradução do latim, introdução e notas por Justino Maciel).p.75, 76, 86, 87 e 89.
Ainda a este respeito ver SANTIAGO, Cybéle C. – Estudo dos materiais de construção de Vitrúvio até ao século XVIII.
Uma visão critico-interpretativa à luz da ciência contemporânea.

62
O terceiro momento histórico das arquiteturas de terra diz respeito à
colonização europeia que teve início em 1420 com a descoberta da ilha da
Madeira pelos Portugueses, no Oceano Atlântico133. O que resulta deste
massivo processo de colonização mundial foi essencialmente a importação e
exportação de arquiteturas e métodos de construção em terra quer vernáculos
quer eruditos, entre todos os continentes. No que se refere à influência
portuguesa, a diáspora foi particularmente importante e fez-se sentir logo a
partir de África. Só para citar dois exemplos vejam-se os casos de Azamor134 e
Mazagão135, onde a terra foi utilizada enquanto enchimento nas fortificações.
Os casos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, ambos inabitados
aquando da chegada dos Portugueses, casos que constituem exemplos de
veículos rápidos de intercâmbios de arquiteturas e técnicas entre Europa,
África e América. O espaço que intermeia o seu povoamento e a rápida
emigração para o Brasil dos seus habitantes, a partir do séc. XVI, foram factos
que aceleraram a exportação de métodos de construção como a taipa de pilão,
o torrão e as argamassas e rebocos em terra empregues nas alvenarias 136. O
adobe, assim como a maioria das técnicas mistas, em madeira, vegetal e terra,
tiveram possivelmente influência africana. Também o comércio de escravos,
entre os séculos XVI e XIX, possibilitará a troca de técnicas entre os
continentes, africano e americano (figuras 22 e 23). Considera-se, a título de
exemplo, as construções em pau a pique e adobe no Estado de Minas Gerais e

133 Sobre este tema ver a obra em três volumes: AA.VV (coord. José Matoso, Mafalda Soares da Cunha, Maria
Fernanda Matias) – Património de Origem Portuguesa no Mundo ; e consultar a base de dados: FUNDAÇÃO
CALOUSTE GULBENKIAN – Património de Influência Portuguesa, Portal [em linha], 2011. [Consult 2012-05-16].
Disponível em WWW: <URL: http://www.hpip.org/Default/pt/Homepage>
134
CORREIA, Jorge – Azemmour (Azamor). Norte de África Marrocos [em linha], 2011 [Consult. 2012-07-08].
Disponível em WWW: <URL: http://www.hpip.org/def/pt/Conteudos/Navegacao/
NavegacaoGeograficaToponimica/Localidade?a=561>
135
MATOS, João Barros – El Jadida (Mazagão). Norte de África Marrocos [em linha] 2011. [Consult. 2012-07-08].
Disponível em WWW: <URL:
http://www.hpip.org/def/pt/Conteudos/Navegacao/NavegacaoGeograficaToponimica/Localidade?a=563>.
136
AZEVEDO, Paulo Ormindo de - Salvador. Bahia, Brasil [em linha] 2011. [Consult. 2012-07-08]. Disponível em
WWW: <URL:
http://www.hpip.org/Default/pt/Conteudos/Navegacao/NavegacaoGeograficaToponimica/Localidade?a=75> e
PESSÔA, José Simões Belmont – Ilha de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil [em linha], 2011. [Consult. 2012-07-
08] Disponível em WWW:<URL:
http://www.hpip.org/Default/pt/Conteudos/Navegacao/NavegacaoGeograficaToponimica/Localidade?a=112>;
PESSOA, José Simões - Vila de Ribeirão da Ilha (Florianópolis) Santa Catarina, Brasil [em linha], 2011. [Consult.
2012-07-08] Disponível em WWW:<URL: http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=1263 > e ainda OLIVEIRA,
Mário Mendonça de – As Fortificações Portuguesas de Salvador, quando cabeça do Brasil, pp.146-149.

63
137
no Piauí no Brasil . No Estado de Goa, Índia, a técnica local de construção
de casas comuns, em blocos de laterite conhecerá novas arquiteturas em
igrejas, edifícios públicos e fortificações, de que são exemplo a Basílica do
Bom Jesus, a Sé, a igreja de Nossa Senhora do Rosário e a igreja de Santo
Agostinho em Velha Goa (esta atualmente em ruínas)138.

Na arquitetura vernácula, serão os novos métodos de construção, como


a taipa, e os novos traçados arquitetónicos adaptados às condições locais, os
frutos dessa troca entre a Europa e as diferentes religiões da Ásia139.

Figuras 22 e 23 – Casas em pau a pique, Paraguaçu, Estado da Bahia, Brasil e Ilha Inhaca (frente a
Maputo), Moçambique. Créditos Maria Conceição Lopes, 2005 e Margarida Donas Botto, 2009.

Poder-se-iam citar muito mais exemplos, como os das habitações designadas


de Brasileiras na região Iorubá, no Benim e Nigéria. Construídas após o século
XIX, depois da libertação e retorno de alguns dos escravos ao continente
africano, estas habitações são o resultado da miscigenação afro-brasileira,
muitas delas construídas em técnicas de adobe e taipas de fasquio 140. Assim,
em síntese, poder-se-á afirmar que, para além da continuidade construtiva local
que perdurou, a colonização europeia partilhou com o mundo quase todas as

137
TEOBALDO, Izabela; REZENDE, Marco Antônio – Levantamento do patrimônio edificado em arquitectura de terra
no Estado de Minas Gerais. Terra em Seminário 2007 (V ATP e Terra Brasil 2006), pp. 173-177 e LOPES, Wilza
Gomes; ALEXANDRIA, Sandra – Estudo de edificações rurais executadas com adobe na comunidade Sítio Velho,
Estado Piauí, Brasil. Terra em Seminário 2005 (IV SIACOT e III ATP), pp. 160-163.
138
ICOMOS-India (aut. Achala Moulik) – Monuments and sites. India, pp.139-146.
139
MESTRE, Victor – Arquitectura tradicional de Goa. Terra em Seminário 2007 (V ATP e Terra Brasil 2006), pp. 24-27.
140
FERNANDES, José Manuel – Habitação, Lagos Benim [em linha] 2011. [Consult. 2012-07-08]. Disponível em
WWW: <URL: http://www.hpip.org/Default/pt/Homepage/Pesquisa>

64
técnicas de construção em terra que possuía e, sobretudo, exportou
arquiteturas, que evoluíram posteriormente em todos os continentes.

O quarto momento histórico das arquiteturas de terra é, sem dúvida, o


século XVIII, que resulta da globalização mundial dos “Cahiers d’architecture
rurale” (1790-1791) ” do “maçon francês Lyonais” François Cointeraux (1740-
1830). Estes manuais, publicados sobre a forma de 72 fascículos141 e, depois
reunidos em cadernos foram traduzidos e adaptados para diversas línguas, tais
como a inglesa por Henry Holland (e posteriormente adaptados por William
Barber Nicholson e Abraham Rees que os difundem nos Estados Unidos da
América); a germânica, por Wilhelm Tappe, Christian Ludwig Seebass e Jacob
Wimpf, entre outros; para a língua dinamarquesa, por Seidelin e italiana por
Giuseppe del Rosso. Nas regiões da atual Suíça os manuais foram adaptados
e divulgados por Louis Raymond, e em Espanha há que referir as adaptações
dos “cahiers” por Juan de Villanueva em “arte de albañileria”, obra publicado no
ano de 1827. A obra de Cointeraux reverteu totalmente a tendência da
construção em terra, que de certa forma já se encontrava em decadência,
alterando o sistema tradicional confinado apenas a algumas regiões e de
precária construção, para uma execução sistematizada e organizada em
edifícios públicos, religiosos e habitacionais de qualquer extrato social. Esta
evolução construtiva, que emerge da Revolução Francesa modificou por
completo a construção em “pisé” na Europa e noutros continentes. Os métodos
de construção em taipa “Lyonnaise” e “Bugey”, respetivamente com e sem
juntas, e com e sem agulhas para apoio dos taipais, assim como o método
“Auvergnate” para a compactação das camadas de terra entre taipais com
diferentes maços e a recomendação para o uso de cal em juntas oblíquas e
horizontais, são alguns dos avanços tecnológicos mais significativos
desenhados e descritos por Cointeraux nos seus “cahiers”142. Em termos
tipológicos, estes manuais estiveram ainda na origem de novos tipos

141
Os documentos originais encontram-se na Biblioteca Nacional Francesa, muitos deles acessíveis [em linha] através
do “Conservatoire Numérique des Arts et Métiers, CNAM” disponível em WWW: <URL: http://cnum.cnam.fr> e todos
disponíveis em fotocópias e micro-filmes no centro de documentação do CRATerre em Villefontaine, France
142
DOAT, Patrice [et al.] – Construire en terre, 3éme edition, pp. 21-25.

65
arquitetónicos como: as “maisons-bloc en hauteur”, das regiões de Drôme,
Isère e Rhône, as casas de quinta com estábulos em zonas de cultura
intensiva; as “maisons-cour” comuns nas grandes propriedades com culturas
extensivas cerealíferas e vinícolas, onde se observa a existência de anexos,
dotados de autonomia em termos de conjunto e funcionamento; o “châteaux”,
casa apalaçada rural; e, por fim, as casas burguesas urbanas com mais de um
piso (figura 24). Para além destas habitações, são ainda novidade as escolas e
outros edifícios públicos urbanos com cerca de três pisos, bem como fábricas,
adegas e inúmeras construções rurais muitas vezes sem qualquer reboco de
proteção143. Em Itália ainda hoje existem as construções rurais em taipa nas
regiões da Toscana e Piemonte. Existem ainda, tipos arquitetónicos simples de
casas compactas em altura, nas planícies de Marengo, e casas longitudinais de
um piso, na Toscana, que são exemplos de arquitetura rural144, associada aos
extratos mais baixos da sociedade, onde casas burguesas e urbanas em taipa,
como as existentes em França, não são conhecidas.

Figura 24 e 25 – Casas burguesas urbanas em Dolomieu, região de Isére, França (séc. XIX-XX) e
moradias elevadas pós II Guerra Mundial (anos 50 séc. XX), Müncheln, Leipzig, Alemanha. Nos dois
casos são visíveis as influências dos manuais de Cointeraux. Créditos Maria Fernandes, 2010 e 2004.

A Alemanha aderiu à construção em taipa sobretudo a partir do século


XVIII, nas regiões da Schleswig-Holstein e Baixa-Saxónia, processo
impulsionado pelos manuais franceses e pelas vantagens em termos de risco

143
GUILLAUD, Hubert – Les architectures de terre dans le monde. L’architecture de terre au Maroc, pp. 25-27.
144
BERTAGNIN, Mauro Bertagnin – De Cointeraux a Del Rosso: de la difussion de la pensée technologie a la
recherche des derniers temoignages d’architecture en pisé de Toscane. Terra 93, 7ª Conferência Internacional sobre o
Estudo e a Conservação da Arquitectura de Terra, pp. 154-7.

66
de incêndio que os edifícios em taipa apresentavam. Este sistema viria a ser
recuperado no século XX, após a segunda guerra mundial sobretudo na
Alemanha de Leste145 para a construção de habitações destinadas a
realojamento (figura 25). Muitos países europeus só conheceram a construção
em taipa após a tradução e importação dos manuais oitocentistas de François
Cointeraux, como parecem ter sido os casos do Reino Unido, da Alemanha146,
da Polónia, Dinamarca, Suécia, e Hungria147.

A construção em taipa na Austrália, onde tradicionalmente se utilizava a


terra com estruturas mistas, em madeira e vegetal, só foi implementada após a
tradução dos “cahiers” por Henry Holland (publicadosem 1832 na Gazeta de
Sidney). Esta divulgação coincidiu com a fundação do povoamento colonial de
Bathurst, onde inúmeros imigrantes, aderindo a este novo sistema
extremamente eficaz, construíram as suas casas em taipa na Nova Zelândia
terá sido o arquiteto Lionês (ou natural de Lyon) Louis Peret quem, de certa
forma, introduziu este sistema construtivo naquela ilha, ao projetar em taipa a
missão a missão católica em Kororareka, que veio a ser construída entre 1841-
1842. Certo é que na segunda metade do século XIX, a taipa se torna numa
técnica extremamente popular em inúmeras regiões da Austrália, como Vitória,
Nova Gales do Sul e Adelaide. Em Melbourne, o uso deste sistema foi
introduzido pelo construtor William Kelly a partir de 1853, e posteriormente
melhorado por Charles Mayes e pela “Victorian Industrial Society”148. Em
Portugal, os “cahiers” de Cointeraux não foram traduzidos muito embora
tenham chegado à Casa do Risco. Dessa obra, existem dois volumes, na
Biblioteca e Arquivo do Ministério das Obras Públicas: “Second Cahier” de
1791 e “Architecture périodique” de 1792149.

145
RATH, Richard – Earthen building in the former soviet occupied zone and the former GDR 1945-1989. LEHM 2004,
pp. 115-7.
146
Idem, p. 153-4.
147
TEYSSOT, Georges – François Cointeraux o primeiro pioneiro e teórico da arquitectura moderna em terra, 1740-
1830. Arquitecturas de terra, ou o futuro de uma tradição milenar, pp. 49-50 e Homenagem a François Cointeraux.
Arquitecturas de terra, ou o futuro de uma tradição milenar, pp. 157.
148
Hubert Guillaud – Ob. Cit., pp. 37-8.
149
BAOP - Architecture périodique ou notice des travaux et approvisionnemens [sic,approvisionnements] que chacun
peut faire, à peu de frais, chaque mois et chaque année, soit pour améliorer ses fonds, soit pour construire toutes

67
O quinto momento histórico das arquiteturas de terra é marcado pela
obra do arquiteto egípcio Hassan Fathy (1900-1989). Cointeraux esteve para
arquitetura em terra na Europa no século XIX, como Hassan Fathy para África
no século XX150. Ambos foram pioneiros. Tinham em comum o Mediterrâneo e
a civilização que os levou a olhar para a história dos seus países e para os
recursos locais de uma forma inteligente e positiva. O resultado em ambos os
casos foi o modo criativo com que traçaram arquiteturas, adaptando de forma
estruturada a construção e os materiais tradicionais. No primeiro caso, a taipa,
no segundo o adobe moldado. François Cointeraux foi, no entanto, mais bem-
sucedido que Hassan Fathy, já que teve seguidores e os seus manuais são
ainda usados e continuamente revistos151. O mesmo não aconteceu com
Hassan Fathy, e a falha parece ter estado na maneira como divulgou as suas
ideias; efetivamente a arquitetura é também um discurso, uma ideologia,
principalmente quando se pretende, de uma forma tão estreita, associá-la à
construção. Em “Arquitetura para os pobres, uma experiência no Egipto rural”,
livro publicado pela primeira vez no Cairo em 1969, sob o título “Gourna, a Tale
of two villages”, Hassan Fathy enunciou os princípios fundamentais da sua
teoria e prática arquitetónicas:
- a supremacia dos valores humanos na arquitetura;
- a importância de uma visão universal, e não limitada, da construção e da
arquitetura;
- o uso da tecnologia adequada;
- a necessidade de orientação social – o cooperativismo na construção;
- o restabelecimento do orgulho na cultura construtiva nacional152.

sortes de bâtisses, soit pour multiplier les engrais par François Cointeraux, 1792” e “Ecole d'architecture rurale. Second
cahier, dans lequel on traite : 1- de l'art du pisé ou de la massivation, 2- des qualités des terres propres au pisé, 3- des
détails de la mains d'oeuvre, 4- du prix de la toise, 5- des enduits, 6- des peintures. Ouvrage dédié aux français, et utile
à tous ceux qui veulent user d'économie par François Cointeraux 1791”.
150
Homenagem a Hassan Fathy. Arquitecturas de Terra, p.184.
151
Veja-se a título de exemplo a recente conferência internacional dedicada a este construtor: François Cointeraux
(1740-1830), pioneer of modern earthen architecture. Theory, Teaching and Dissemination of a Vernacular Technique.
International Conference, Lyon, France, 10-12 May 2012.
152
IRFAN, Hwaa – Hassan Fathy: The barefoot architect [em linha], 2004. [Consult. 2012-07-10]. Disponível em WWW:
<URL: http://arabianjewel.weebly.com/ll-the-barefoot-architect.html>

68
Para formular estes princípios Hassan Fathy procurou, na arquitetura rural
e erudita egípcia, assim como nos sítios arqueológicos e nas aldeias, a filosofia
subjacente ao habitar. Designadamente a relação entre a construção e o
construtor, o projeto e a conceção espacial, a origem dos materiais e as
técnicas utilizadas, o modo de vida e o simbolismo dos edifícios e dos
diferentes espaços numa habitação. Para esse efeito, o arquiteto pesquisou
sobretudo o mundo rural, para Hassan Fathy as cidades eram aldeias em ponto
grande, uma diminuição que não teve como base a mesma atenção e busca
que o mundo rural teve. Do ponto de vista dos princípios, este autor refere no
seu livro que a supremacia dos valores humanos na arquitetura se baseou na
pesquisa antropológica da arquitetura egípcia. É notável como, utilizando os
métodos antropológicos, analisa um por um os diferentes equipamentos e
habitações do seu país153. A arquitetura de Hassan Fathy não se baseou em
cópias ou “pastiches” populares, os imóveis são modernos mas construídos
com materiais locais154. Em relação à habitação, fez muito mais do que isso, os
compartimentos da casa urbana e rural egípcia foram analisados, um por um
quer do ponto de vista do uso, ou do carácter íntimo feminino ou masculino,
das relações sociais, etc. No entanto, e segundo o autor, o que expressa a
essência da casa egípcia tem as suas raízes na passagem dos egípcios de
nómadas a sedentários. Segundo Hassan Fathy, a relação do egípcio com a
terra resulta do céu, espaço comum de observação entre os nómadas do
deserto e os sedentários das aldeias. O pátio, e os corredores em espaço
aberto entre os pátios, eram os espaços da casa que mantinham essa relação
entre as caravanas e a cidade. Para este arquiteto egípcio, esses eram os
espaços mais importantes que uma rua ou uma praça155, no sentido ocidental
do termo, desempenhavam em termos de convívio ou de encontro. O uso da
tecnologia adequada respeita à estrita relação entre a construção e a
arquitetura, mais uma vez, no contexto egípcio. Na conceção do autor, jamais a

153
No livro o autor caracteriza os diferentes edifícios públicos de Nova Gourna, o teatro, a mesquita, o mercado, as
escolas, os balneários e o telheiro de fabrico de adobes. Entre as páginas 102 e 117, Hassan Fathy descreve
minuciosamente o habitar urbano e rural.
154
FATHY, Hassan – Op. Cit. p. 54.
155
FATHY, Hassan – Op. Cit., p.62.

69
arquitetura poderia ser pensada sem a construção, e neste domínio haveria
que encontrar a tecnologia adequada para arquitetura humanista que
preconizava ou pretendia156. Desse ponto de vista, o arquiteto era muito
coerente, um projeto em aço moderno deveria ser construído de acordo com a
tecnologia própria no país onde o material existisse, nunca e em qualquer
circunstância a tecnologia ou a arquitetura deveriam ser importadas, não
fazendo ainda qualquer sentido uma arquitetura de betão construída em adobe
ou uma casa tradicional construída em vidro. Baseando-se na análise histórica
e na avaliação da arquitetura egípcia, Hassan Fathy chega à conclusão que,
para o Egito, o material adequado era o adobe moldado, e consequentemente,
os sistemas construtivos a ele associados. Tal como ele aferiu nos sítios
arqueológicos que estudou e analisou, nos casos particulares dos celeiros de
Ramesseum ou da necrópole de Assuão, havia sido sempre desse modo que
se havia construído no Egito. Sobre este princípio fundamental, em “Arquitetura
para os pobres” o autor dedica praticamente um subcapítulo ao estudo e
caracterização das condições físicas e climáticas do Egito157. O resultado
dessa investigação foi a criação de soluções arquitetónicas sem recurso a
sistemas mecânicos, de forma a resolver a ventilação natural, o controle de
humidade nos edifícios tirando partido da inércia térmica e, sobretudo, da
temperatura no interior das habitações. Hassan Fathy concebeu a sua obra
com soluções modernas de arquitetura solar passiva. O restabelecimento do
orgulho na cultura construtiva nacional era também extremamente grato a este
autor. Este último princípio, muito valorizado após a conclusão do estudo da
arquitetura egípcia, baseava-se na existência dos construtores núbios, ainda
ativos e que, segundo o autor, eram descendentes dos mais nobres e
(tecnologicamente falando), dos mais habilidosos construtores da antiguidade.
Ao redescobrir a riqueza da construção do seu país e ao deparar-se com a
possibilidade de recuperar a mão-de-obra e as técnicas construtivas que
estavam praticamente esquecidas, Hassan Fathy explorou todos esses aspetos
e recursos. Dessa forma, possibilitou que, usando a história do Egito, os seus

156
Idem, p. 36.
157
Idem, clima e arquitetura, pp. 54-58.

70
conterrâneos se orgulhassem da sua arquitetura e principalmente da sua
construção158. Os valores subjacentes na teoria arquitetónica de Hassan Fathy
são, por isso, extremamente humanistas e nacionalistas. Para este arquiteto a
prioridade residia nas ações estava nas pessoas comuns. E tendo em
consideração que o Egito sofria na altura de um grave problema de identidade,
estrangulado, entre a influência estrangeira e a perda ou decadência cultural, a
arquitetura surgia como um desígnio nacional. No período em que Hassan
Fathy viveu, o betão era, então, considerado o promissor material de
construção universal. Os tempos de então não lhe foram, de facto, favoráveis e
as suas ideias não foram totalmente compreendidas, porquanto projetava em
moldes modernos mas construía em moldes tradicionais. Pode-se afirmar que
o seu discurso nos tempos atuais, seria encarado como pertinente e teria
muitos seguidores. Este aspeto foi demasiado avançado para o seu tempo, só
agora é admirado e a sua obra estudada e protegida. Longe da perspetiva
isolada em que viveu, Hassan Fathy é atualmente uma referência do
pensamento arquitetónico.

O quinto momento histórico (e último até hoje) foi em 1981, com a


exposição “Des architectures de terre ou l’avenir d’une tradition millénaire” no
Centro George Pompidou e os efeitos em todo o mundo, após a sua exibição.
Os motivos para tal sucesso já foram expostos no início deste capítulo, mas
acresce que desde essa altura, e em gradual ascensão, os progressos nesse
campo foram notáveis ao nível do que se conhecia relativamente ao património
em terra, às possibilidades dos materiais, à industrialização e prefabricação
dos sistemas construtivos, à universalidade, à diversidade, à fragilidade e à
resistência desta arquitetura que se julgava só do interesse de alguns. Esta
exposição constituiu um marco a partir do qual todas as atividades atualmente
consideradas habituais começaram a desenvolver-se, nomeadamente: os
congressos, as associações, a promoção da construção, a divulgação dos
conhecimentos novos resultado das linhas de investigação referente ao

158
Idem, 16-18.

71
material e seu comportamento, arquitetura em terra e sua relação com a
paisagem e território, a formação de profissionais para a construção, a
mecanização da execução em obra, o ensino, o projeto e a defesa do
património em terra. Nos dias de hoje as expetativas são grandes e espera-se
que muitos destes ensinamentos do passado, de Cointeraux a Fathy, tenham
efetivamente projeção futura.

1.4 – A investigação no domínio das arquiteturas de terra – O estado da


Arte
Tal como a história das arquiteturas de terra se depara com dois
paradigmas, o da tradição e o da contemporaneidade, a pesquisa e os estudos
sobre os materiais, os métodos de construção e a arquitetura refletem essa
tendência verificando-se dois grandes domínios de investigação: o da
conservação patrimonial e o da construção contemporânea. A investigação tem
evoluído satisfatoriamente nos últimos anos, sobretudo em dissertações de
mestrado, doutoramento e outros estudos não académicos quer nas áreas de
arquitetura, engenharia civil, arqueologia, quer, embora ainda pouco
expressivos, na do ambiente. No intento de disponibilizar informação relativa a
esta temática, de uma forma ágil e prática, foi criada em 2011, por Célia
Macedo e Paul Jaquin, a base de dados “research terra”159, uma página
internet onde se encontram todos os trabalhos de investigação produzidos em
curso relativos a esta área do conhecimento.

No domínio da conservação do património em terra, refira-se o papel


impulsionador que as comunicações apresentadas nas conferências
internacionais “TERRA” desempenharam. Desde Yazd no Irão em 1972 a Lima
no Peru em 2012, os assuntos progrediram do simples reenterrar de estruturas
arqueológicas após escavação, ao envolvimento das populações na
conservação do património em terra (ver anexo A). Ainda no âmbito da
conservação, há que referir o trabalho centralizador e polarizador do comité

159
RESEARCH TERRA [em linha], 2011. [Consult. 2012-07-20] Disponível em WWW:<URL:
https://sites.google.com/site/researchterra/>

72
científico do ICOMOS, para o património arquitetónico em terra 160, que
começou a funcionar desde meados dos anos 70, e a criação do programa de
formação avançado em conservação do património em terra - os cursos PAT
“Preservation d’Architecture de Terre”, no CRATerre-EAG161. Entre as
conferências internacionais e os programas de formação, os diferentes temas
que afetam o património e a construção em terra acabaram por ser tratados de
forma específica, evoluindo também de forma diferenciada. Uma das temáticas
mais desenvolvidas é, sem dúvida, o problema dos sismos, que inclui, como é
evidente, os estudos sobre o comportamento sísmico das construções em
terra, quer na perspetiva da reparação/consolidação após desastres naturais,
quer na prevenção, orientada para a construção de edifícios sismo-resistentes.
Neste campo são as universidades Americanas como a “PUCP, Pontificia
Universidad Católica del Peru” e a “Stanford University”, a trabalhar em
programas como “GSAP, Getty Seismic Adobe Project”162 e em colaboração
com outras universidades e centros de investigação, que têm centralizado
muito do trabalho desenvolvido neste campo. Os objetivos do GSAP centram-
se:
- na adequação sísmica das construções;
- na preservação da construção histórica163.

Também neste âmbito destacam-se os manuais produzidos, como por


exemplo, os editados no Peru: “Construcción de casas saludables y
sismorresistentes de adobe reforzado com geomallas”164 da responsabilidade

160
O comité científico internacional para o estudo e conservação da arquitetura em terra, designação que passa a ter a
partir de 1987 nasce a partir do comité científico internacional para a arquitetura vernácula em meados dos anos 70 do
século XX, após a conferência em Yazd. Até 1987 funciona com caráter provisório, constituindo-se, a partir dessa data
e até 2001, ano em que passa a designar-se de ISCEAH, comité cientifico internacional para o património arquitetónico
em terra.
161
BALDERAMA, Alejandro Alva – Conservation of earthen architecture. The GCI Newsletter, vol. 16, number 1, pp. 5-
9.
162
Sobre este programa vejam-se as comunicações apresentadas no encontro: Proceedings of the Getty Seismic
Adobe Projet 2006 Colloquium (ed. Mary Hardy, Claudia Cancino, Gail Ostergren), Getty Center, Los Angeles, April 11-
13, 2006. Los Angeles: The Getty Conservation Institute, 2006.
163
TOLLES, Leroy [e. al.] – Guias de planeamento e ingenieria para la estabilización sismoresistente de estruturas
históricas de adobe, p. xi.
164
NEUMANN, Julio Vargas [et al.] – Construcción de casas saludables y sismorresistentes de adobe reforzado com
geomallas (zona de la costa) y (zona de la sierra). Lima: Fondo Editorial/PUCP, 2007.

73
de equipas da PUCP em 2007. Estes manuais, de simples consulta e muito
ilustrados, visam, de uma forma muito eficaz, ensinar as populações a
reconstruir casas sismicamente adequadas e mais resistentes. No Perú e
noutras regiões sísmicas da América Latina era frequente repetirem-se os
mesmos erros e problemas após sismos. Frequentemente após a ocorrência
de sismos, as habitações eram incorretamente reconstruidas e voltavam a
derrocar quando se verificava um novo sismo. Os problemas eram demasiado
chocantes e de difícil resolução, pois esta cultura construtiva estava demasiada
entranhada na tradicional forma de reconstruir e de proporcionar rapidamente
um abrigo. Esta situação catastrófica contribuía para a perda de vidas e,
sobretudo, para a descrença na construção em terra, fator apontado como o
principal culpado. A publicação destes manuais acessíveis e de fácil aplicação
pretendiam justamente acabar com o ciclo: destruição, incorreta reconstrução,
nova destruição. No entanto, o objeto de estudo destes manuais versou
essencialmente as casas térreas, simples, com poucos compartimentos e
direcionadas para um determinado extrato da população, os de mais baixos
recursos financeiros. Toda a filosofia de intervenção dos manuais se baseou
em tornar sismo-resistentes pequenas habitações rurais, quer da costa litoral
quer da montanha, a um preço extremamente baixo e com materiais
acessíveis. Apoiando-se numa metodologia de ensaios, onde, à escala natural,
construções em terra foram testadas em simuladores sísmicos laboratoriais165,
centrou-se, sobretudo, nos pontos mais frágeis dos edifícios. Por esse motivo,
os manuais focam essencialmente a boa execução de fundações, a correta
manufatura dos materiais, a construção de elementos horizontais de ligação
em madeira e em todo o perímetro da construção e o reforço de paredes em
adobe, exteriores e interiores com “geomalhas”, ligadas e fixas com elementos
vegetais devidamente apertados166. Os efeitos destes manuais começam a ser

165
BLONDET, Marcial [et al] – La tierra armada: 35 años de investigación en la PUCP. Terra em Seminário 2005 (IV
SIACOT e III ATP), p. 241.
166
D’ÁVILA, Daniel [et al.] – Las geomallas como refuerzo sísmico de vivendas de tierra. Terra em Seminário 2010 (6º
ATP, 9º SIACOT), p.181.

74
visíveis, sobretudo nos recentes sismos do Peru167, mas ainda sem a
expressão nacional desejada. Esta experiência foi também conduzida por
outros países com manuais similares e complementares de que são exemplos:
“Adobe: guía de construción parasísmica” publicado pelo CRATerre168, e o
recente “manual de terreno” chileno169. Na área da preservação pós sismo, de
edifícios históricos em terra, a situação tem sido mais difícil de resolver. Ao
analisar-se a evolução neste campo, nota-se uma alteração quase vertiginosa
na forma de atuar. Inicialmente, partindo do princípio que os materiais em terra
não ofereciam qualquer resistência sísmica, a tendência era no sentido de
reforçar as paredes com elementos estruturais, verticais e horizontais, como
pilares e vigas em madeira e betão assim como estruturas vegetais.
Frequentemente, eram introduzidos nas paredes existentes os elementos
verticais e horizontais e quando se construía de novo havia o cuidado de
introduzir de imediato elementos verticais em madeira, bambu e outros
materiais170. Os efeitos foram ainda mais destruidores. Sobre a ação das ondas
sísmicas os novos elementos verticais destruíam as paredes em terra, restando
apenas da construção os elementos que haviam sido introduzidos. Esta
situação era ainda mais gravosa quando ocorriam sismos de maior intensidade
e epicentro continental, como sucede, com alguma frequência, em toda a costa
do oceano Pacífico171. A pesquisa e a investigação vieram a provar que se
deveria atuar nas zonas de maior fragilidade das construções, e não ao
contrário, partindo do principio que um edifício em terra desde que bem
amarrado e ligado funcionaria e seria resistente a sismos. Por esse motivo e
tendencialmente os edifícios passaram a ser encarados como uma unidade

167
VERVAECK, Armand; DANIEL, James - Peru earthquakes list – Lista de sismos Peru [em linha], 2012. [Consult.
2012-07-08] Disponível em WWW:<URL:
http://earthquake-report.com/2012/01/03/peru-combined-earthquakes-list-lista-sismos-peru/>.
168
AEDO, Wilfredo – Adobe: Guía de construción parasismica. Villefontaine: CRATerre/Fundasal/ Misereor, Abril 2002.
169
Manual dedicado ao levantamento e diagnóstico das construções, com fichas incorporadas. MANUAL DE
TERRENO. Evaluación de daños y soluciones para construciones en tierra cruda, Documentos técnicos nº 32.
Santiago de Chile: CDT, Corporación de desarollo tecnológico, Mayo 2012, ISBN 978-956-7911-21-9. [em linha] 2012.
[Consult. 2012-07-21]. Disponível em WWW: <URL:
http://xa.yimg.com/kq/groups/11091614/885990626/name/Manual_Tierra_Cruda.pdf>.
170
NEUMAN, Julio [et al.] – La intervención del património edificado en tierra en áreas sísmicas y las cartas de
conservación. Terra em Seminário 2010 (6º ATP, 9º SIACOT), pp. 97-99.
171
WEBSTER, Fred [et. al] – Evolution of seismic retrofit techniques for historic and older adobes in California. Terra 93,
7ª Conferência Internacional sobre o Estudo e a Conservação da Arquitectura de Terra, p.523.

75
sem adição de elementos que não fossem os horizontais de amarração
superior e sempre com materiais compatíveis e leves como a madeira ou as
“geomallas” para a fixação no caso das técnicas em alvenaria. Os reforços
seriam aplicados apenas nos cunhais ligando as paredes nessas zonas, nos
socos (ou seja, na ligação entre a fundação e a parede), onde se verifica o
designado efeito de corte e, finalmente, na zona dos vãos, sobretudo tendo em
consideração a sua dimensão e a sua construção, fortalecendo ombreiras,
soleiras, peitoris e padieiras ou vergas em materiais mais resistentes e
compatíveis com a terra. Os reforços verticais, em bambu (material que possui
maior flexibilidade) passaram a ser aplicados fora das paredes, quer no exterior
quer no interior, e sendo ligados entre si evitam as fissuras e derrocadas
parciais nessas áreas172. No entanto, e apesar de todos estes
desenvolvimentos é, na generalidade aceite, embora ainda não desenvolvido,
que em termos de património em terra terá que se considerar sempre duas
situações que implicam filosofias e ações muito distintas: património em zonas
sísmicas e património em zonas de probabilidade sísmica menor. A pesquisa
referente às construções sismo-resistentes tem-se centrado mais no grupo das
técnicas de alvenaria, do que nas monolíticas ou mistas, dado que estas
últimas, são em geral, resistentes a sismos. Porventura, muitas destas zonas
sísmicas situam-se justamente em locais onde a construção em adobe é
predominante, como é o caso da costa do pacífico. No entanto, os sismos são
extremamente frequentes noutras regiões como a Ásia e o Mediterrâneo (figura
9) onde as técnicas monolíticas de terra empilhada e taipa são as mais
expressivas. Por essa razão, pesquisas nesse sentido têm igualmente sido
desenvolvidas nesses territórios. Sobre o estudo da taipa sismo-resistente a
PUCP foi também pioneira, ensaiando, desde os anos 90, séc. XX, paredes em
escala reduzida à compressão diagonal. Desses estudos resultaram
conclusões interessantes de entre as quais a de que a taipa era mais resistente
em cerca de 40% que as alvenarias de adobe ou blocos. Para esta técnica
conclui-se também que o facto de se adicionar palha à terra não alterava a

172
BLONDET, Marcial – Op. Cit. pp. 240-241.

76
resistência, exceto se a quantidade fosse demasiada e interferisse com a
compactação do material, dos mesmos ensaios resultaram ainda, como
variáveis importantes a granulometria da terra, os níveis de compactação, o
tipo de juntas assim como o teor de humidade, diminuindo a resistência
drasticamente com o agravamento desta173. Outra linha de investigação
respeitante à sismo-resistência tem sido o estudo da arquitetura vernácula e
histórica em terra existente nas zonas sísmicas. As soluções locais, técnicas de
construção e pequenos reforços que se encontram nessas arquiteturas tem
sido objeto de estudo no sentido de comprovar a sua eficácia quando sob ação
sísmica. Sobre esta temática, veja-se o recente artigo sobre a relação entre as
fendas estruturais e a ausência de reforços tradicionais em bambu, existentes
nas casas de Hakka Toulou na China. Estes estudos basearam-se em análises
“in situ” de fendas estruturais causadas por sismos, com análises de material
em laboratório e estudos teóricos, baseados em modelos finitos das
construções, sob ações de tração e corte174. Os mais recentes
desenvolvimentos de investigação, no entanto, concentram-se muito nas obras
de emergência imediatas, de forma a suster os imóveis para evitar destruições
em réplicas sísmicas e para assegurar o património logo após o impacto das
ondas sísmicas. Esta metodologia foi bastante aplicada e com sucesso em
recentes terramotos, o que permitiu salvar muitos edifícios a seguir ao sismo no
Chile, em 2010175. No caso iraniano, a investigação e posteriores práticas de
intervenção têm focado sobretudo as técnicas de conservação/restauro
aplicadas nos edifícios em terra. Um dos problemas no sismo de 2003, em
Arg-e Bam, foram os comportamentos distintos verificados entre as diferentes
técnicas de construção dos imóveis, na sua maioria em terra empilhada, e as
técnicas usadas em restauro, maioritariamente em alvenaria de adobe.
Verificou-se, após o sismo, que esses restauros acabaram por ser projetados e

173
NEWMAN, Julio Vargas, Op. Cit., p. 507.
174
LIANG, Ruifeng [et. al.] – Strutural responses of Hakka rammed earth buildings under eartquake loads. International
Workshop on Rammed Earth Materials and Sustainable Structures, p. 4 -10.
175
FAÚNDEZ, Mauricio Sanchéz – Criterios de intervención y obras de emergência de los monumentos nacionales de
Chile dañados por el terramoto de 2010. Terra 2012, XI Conferencia Internacional sobre el Estudio y Conservación del
Patrimonio Arquitectónico de Tierra, pp. 5-6.

77
destruídos, concluindo-se que as técnicas aplicadas, embora funcionassem
esteticamente em termos sísmicos foram um desastre176. Outro problema foi o
comportamento das estruturas arqueológicas, uma arquitetura incompleta e
desequilibrada, que não ofereceu qualquer resistência ao sismo. O trabalho
que tem sido levado a cabo em Arg-e Bam, um verdadeiro caso de estudo para
a sismo-resistência, tem permitido chegar à conclusão que se deve, em caso
de desastre natural adotar metodologias baseadas em análises concretas por
edifício para aferir das causas da sua destruição e só posteriormente escolher
as técnicas mais indicadas para o seu restauro177. De certa forma inverteu-se a
tendência de generalizar o problema e aplicar as mesmas soluções em casos
semelhantes, conforme se afere nas recomendações das conferências
internacionais TERRA (ver anexo A, Terra 93, Terra 2000 e Terra 2008). Muitas
das soluções aplicadas em conservação tem-se baseado nas técnicas locais
empíricas, que em muitos casos se mostraram sismo-resistentes178. Apesar
dos desenvolvimentos ao nível da conservação, a temática da sismo-
resistência está longe de obter resultados ainda satisfatórios. A investigação
continua e bem a insistir em estudos de caraterização e vulnerabilidade
sísmicas, dada a complexidade dos problemas e as consequências destes
desastres naturais179. Esta área do conhecimento, importantíssima para a
construção em terra, faz parte dos cinco temas científicos a que se dedica o
ICOMOS-ISCEAH180. No seio desta organização, e dentro deste tema, têm
participado inúmeros investigadores que se encontravam na redação das
recomendações da última conferência internacional Terra 2012. Nesse

176
Diversas decisões foram tomadas neste sítio e expressas no documento: ICOMOS - BAM Declaration [em linha],
2005. [Consult 2012-05-16]. Disponível em: WWW: <URL: http://www.international.icomos.org/xian2005/bam-
declaration.pdf>.
177
RAVANKHAH, Mohammad - Protection of Heritage Properties against Earthquake: Risk Management for Arg-e Bam,
Iran. TERRA 2012, XI Conferencia Internacional sobre el Estudio y Conservación del Patrimonio Arquitectónico de
Tierra, p.7 e 9.
178
CORTÉS, Patricio Arias Cortés [et. al.] – Terremoto Chile 2010. Reconstrucción de poblados patrimoniales:
processo de validación de la tierra como material vigente. El caso del poblado de Guacarhue. TERRA 2012, XI
Conferencia Internacional sobre el Estudio y Conservación del Patrimonio Arquitectónico de Tierra,p. 6-10
179
SILVA, Natalia Jorquera – Culturas constructivas en tierra y riesgo sismico. El caso de la arquitectura tradicional
Chilena y la evaluación de su vulnerabilidade frente a la acción sísmica. TERRA 2012, XI Conferencia Internacional
sobre el Estudio y Conservacion del Património Arquitectónico de Tierra, p.2-9.
180
ICOMOS-ISCEAH – International Scientific Committee on Earthen Architectural Heritage [em linha], 2008. [Consult
2012-05-16]. Disponível em: WWW: <URL:
http://isceah.icomos.org/index.php?option=com_content&task=view&id=6&Itemid=7>

78
encontro foi acentuada a necessidade de se desenvolver una cultura preventiva
e de gestão de riscos, conforme apresentado pelo ICOMOS-Peru (ver anexo A,
TERRA 2012). Em certa medida, estas recomendações foram um pouco
diferentes das anteriores, como sucedeu nas congéneres TERRA 93 ou
TERRA 2008, onde, respetivamente se indicava a necessidade de códigos e
normas de construção, hoje comprovadamente e apenas aplicáveis à
construção e reconstrução não à conservação, e de técnicas de estabilização
em vez de reforço estrutural, também atualmente postas em causa, pois
depende a sua eficácia do tipo danos e da intensidade sísmica que se houver
verificado. Atualmente verifica-se a necessidade de proceder com intervenções
mais profundas e intrusivas ao nível da conservação patrimonial, quando os
danos e a perda patrimonial foram muito acentuados como sucedeu nalguns
casos do Chile181. Toda esta problemática dos sismos em edificações em terra
começou a ser construída e encarada de forma científica a partir dos estudos
de Bernard Feilden (1919-2008), com a publicação da sua obra, em 1987,
“Betwen two earthquakes”182, na qual, numa perspetiva alargada sobre
património construído as questões que antecedem, medeiam e procedem
sismos, foram visivelmente expostas e debatidas pela primeira vez. Por este
motivo não seria justo concluir-se este tema sem mencionar o trabalho deste
arquiteto e investigador, a quem devemos a forma clara e concertada com que
explicou a necessidade de levantamentos arquitetónicos e as técnicas
possíveis para a sua concretização, os perigos que ocorrem após sismos,
como os incêndios, quais as ações a empreender nesses casos, as categorias
de edifícios, os efeitos da escala de Mercali nas construções, as ações de
emergência e de prevenção a ter em consideração, a formação necessária
para atuar de imediato pós sismo e as resoluções que, nessa eventualidade
são indispensáveis para proteger o património183.

181
FUENTES, Daniela Díaz – Criterios de intervención de los monumentos nacionales de Chile dañados por el
terramoto de Junio de 2005. Terra 2012, XI Conferencia Internacional sobre el Estudio y Conservación del Patrimonio
Arquitectónico de Tierra, p. 3-5.
182
FEILDEN, Bernard - Between two earthquakes. Rome: ICCROM/GCI, 1987.
183
Idem, p. 105. No contexto Italiano é tão simples como: informar a administração local da necessidade de
estabelecer planos de emergência: encorajar a cooperação entre os serviços responsáveis pelo património,
administração local e militares para exercícios de simulação; indicar coordenadores nacionais para a salvaguarda do

79
No que respeita a outros desastres naturais, como as alterações
climáticas ou inundações, a investigação está ainda no princípio. Os estudos
que referem especificamente as arquiteturas de terra encontram-se em fase
embrionária e incidem apenas nos efeitos que tais catástrofes provocam no
património em terra. São, por isso, ainda escassos os estudos que apontam
soluções de conservação. Neste domínio destaca-se o artigo publicado na atas
de TERRA 2008 “Impact of Climate Change on Earthen Buildings”184 onde se
elencaram os diferentes problemas derivados do sobreaquecimento, dos
efeitos de abrasão nas construções devido aos temporais ou ventos intensos,
assim como a ação das chuvas torrenciais sobre as construções em terra. O
Iémen tem sido abordado como caso de estudo dos efeitos das alterações
climáticas devido às chuvas torrenciais que se têm verificado em áreas
tradicionalmente secas cujas consequências em património histórico foram
expostos por Pamela Jerome em “Terra em Seminário 2010”185. Qualquer uma
destas áreas do conhecimento científico, com exceção dos sismos que se
encontram numa fase mais desenvolvida, são campos de investigação que
carecem de maior atenção e investimento, como aliás foi realçado nas
recomendações oficiais da conferência Terra 2012 (ver anexo A, pontos 3 e 7).

Outra área do conhecimento científico sobre as arquiteturas de terra é a


presença de património construído no mundo. Naturalmente, pretende-se com
a investigação saber de que tipo de legado se trata, onde se encontra e como é
construído. Salientam-se neste domínio os estudos realizados por Paul Oliver a
respeito de arquitetura vernácula em todo mundo. Antes da arquitetura de terra
se individualizar enquanto disciplina de estudo, muitas das referências a esse
tipo de construções e materiais surgiam em pesquisas como as de Paul Oliver

património cultural após ocorrência de sismo; indicar os responsáveis ao secretariado do ICCROM e, por fim, autorizar
o ICCROM a organizar simpósios nesse sentido com os coordenadores.
184
BRIMBLECOMBE, Peter [et. al.] - Impact of Climate Change on Earthen Buildings. Terra 2008, 10th International
Conference on the Study and Conservation of Earthen Architecture, p.280-281.
185
JEROME, Pamela – After the flood; devastation of the traditional earthen architecture landscape in the Hadhramaut
valley of Yemen; can mud brick buildings be made more resistant to clima change?. Terra em Seminário 2010 (6º ATP,
9º SIACOT), pp. 53-55.

80
onde os recursos locais e a necessidade de construir abrigos nas mais hostis
circunstâncias eram evidenciados. Sem estes primeiros levantamentos
mundiais e a sua publicação, seguramente nunca se teria evoluído para a
individualização e autonomia das arquiteturas de terra enquanto área de
investigação e conhecimento186. As pesquisas neste domínio procuram
conhecer profundamente o património existente para, posteriormente, atuar ao
nível da salvaguarda e preservação do mesmo. Partindo do princípio que não
se conserva o que não se conhece, têm sido, de facto, desenvolvidos esforços,
ao nível universitário e institucional, no sentido de se inventariarem em todo o
mundo, os métodos de construção e as arquiteturas de terra. Inicialmente estes
trabalhos começaram a ser elaborados por países, como sucedeu na América
Latina e na Europa187. Atualmente a investigação alargou-se e alterou-se, muito
devido, em parte, às possibilidades das tecnologias informáticas e a programas
de financiamento que as proporcionam. Neste campo, inclusivamente, já se
perspetiva a elaboração de um atlas sobre a arquitetura em terra188. As
pesquisas, que começaram por ser nacionais ou regionais, acabaram por ser
conhecidas apenas nos países de origem, por vezes apresentadas em
conferências internacionais e, algumas vezes, constantes em bases de dados
patrimoniais189, sem perspetiva comparativa. No seio de redes como a
Proterra190 e programas financiados pela União Europeia, como o “Euromed
Heritage” e “Culture”191, a informação dispersa começou finalmente a ser

186
Refiram-se, especificamente, três obras fundamentais: OLIVER, Paul – Dwellings. The vernacular house worldwide.
London: Phaidon, 2003, ISBN 0 7148 4202 8; OLIVER, Paul – Built to meet needs. Cultural issues in vernacular
architecture. Oxford: Architectural Press, 2006; e VELLINGA, Marcel; OLIVER, Paul; BRIDGE, Alexander – Atlas of
vernacular architecture of the world. London: Routledge, Taylor & Francis Group, 2007.
187
Só para citar alguns exemplos veja-se o caso do Reino Unido com a publicação AA.VV – Terra Britannica. A
celebration of earthen structures in Great Britain and Ireland (ed. John Hurd, Bem Gourley; Síria com a publicação
BENDAKIR, Mahomud – Architectures de terre en Syrie. Une tradition de onze millénaires; no México com AA.VV
(coord. Luis Guerrero) – Patrimonio construído con tierra ; e Portugal AA.VV (coord. Maria Fernandes, Mariana Correia)
– Arquitectura de terra em Portugal.
188
Esta decisão foi tomada na reunião do ICOMOS-ISCEAH que teve lugar em Paris, em 2 de Dezembro de 2011, no
âmbito da XVII Assembleia-Geral do ICOMOS.
189
Caso do SIPA em Portugal.
190
De que são exemplos as publicações: VIÑUALES, Graciela [et. al.] – Arquitecturas de Tierra en Iberoamérica;
AA.VV (coord. Hugo Pereira Gigogne) – Habiterra, exposición Iberoamericana de construcciones con tierra.
191
Só para citar alguns exemplos: NOURRISIER, Gilles [et. al.] – Traditional Mediterranean Architecture; AA.VV (ed.
Mariana Correia, Letizia Dispasquale, Saverio Meca) – Terra Europae. Earthen architecture in the European Union;
AA.VV (coord. Hubert Guillaud) – Terra incógnita, préserver une Europe des architectures de terre e AA.VV (coord.
Xavier Casanovas) – Méthode Rehabimed. Architecture Tradicionelle Méditerranéenne, vols. I y II.

81
sistematizada e divulgada, transformando-se progressivamente em
conhecimento extremamente relevante para o desenvolvimento de ações de
sensibilização e de conservação do património em terra no mundo. De entre os
estudos mencionados refira-se o mapeamento das técnicas de construção em
terra na Europa192 e as fichas de conservação publicadas nos manuais de
conservação e decorrentes do programa “Euromed Heritage”193.

Outro domínio do conhecimento científico no que se refere às


arquiteturas de terra são os materiais e os sistemas construtivos em terra.
Neste campo têm sido os cursos de engenharia civil e de materiais os mais
frutíferos. A tendência de prefabricação e produção industrial de materiais de
materiais em terra levou à execução de normas e manuais de utilização em
obra e, inevitavelmente, à incrementação de investigação científica que
sustentasse a premência desta produção e construção. De entre a investigação
realizada, destaque para “A Review of Rammed Earth Construction”, publicado
em 2003, pela Universidade de Bath no Reino Unido194. Neste estudo foram
analisados as diferentes normas existentes até à data para a construção em
taipa, as indicações preconizadas por diversos autores para sua boa execução,
assim como as características, as granulometrias e a estabilização de terras,
os ensaios de laboratório e de campo. Igualmente foram facultadas indicações
construtivas para fundações, paredes e, sobretudo, o desenho arquitetónico
adequado ou melhor, as indicações mínimas a ter em atenção para projetar
uma construção desta natureza. Este estudo, uma referência no domínio da
construção em taipa, comparou diversas pesquisas e constituiu um manual de
boas práticas construtivas, indispensável para construir nesse sistema
monolítico, em terra compactada. Tal como nos anteriores temas de pesquisa
apontados, as sínteses da investigação têm sido apresentada nas conferências

192
TERRA INCOGNITA. Earthen architecture in Europe [em linha], 2012 [Consult. 2012-07-19]. Disponível em
WWW:<URL: http://culture-terra-
incognita.org/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=70&lang=en>
193
Manuel pour l’entretien et la réhabilitation de l’architecture traditionnelle syrien [em linha], 2012 [Consult. 2012-07-
19]. Disponível em WWW:<URL: http://www.rehabimed.net/?page_id=2603&lang=fr>.
194
MANIATIDIS, Vasilios; WALKER, Pete - A Review of Rammed Earth Construction [em linha] 2003. [Consult. 2008-
11-26]. Disponível em WWW: <URL: http://people.bath.ac.uk/abspw/rammedearth/review.pdf>.

82
internacionais “TERRA”, o local privilegiado para a discussão e a comparação
de resultados. São as atas destes seminários e de outras conferências sobre a
temática que mais se têm destacado na divulgação do conhecimento e no que
tem sido produzido no âmbito da investigação em terra195. Veja-se, a título de
exemplo, o conhecimento histórico e de tipos de taipa em Espanha que foram
apresentados recentemente na conferência RESTAPIA 2012, e que se
encontram publicados em “Rammed earth conservation”196. Sobre a pesquisa
direcionada para materiais e sistemas construtivos veja-se também, e a título
de exemplo: “Review and experimental comparison of erosion tests for earth
blocks” e “Analysis of material, construction and damage in historical cob
buildings in central German”, publicados nas atas de TERRA 2000197. Os
artigos versam investigações sobre um material contemporâneo e um material
histórico. No primeiro estudo é apresentada uma síntese das investigações em
laboratório sobre BTC, sobre os quais os autores concluíram existirem na
generalidade métodos e resultados confusos, motivo que os levou a proporem
um programa experimental e sistemático, aplicável em todo mundo, usando
simplesmente a norma neozelandesa para a produção e testes em BTC; no
segundo caso, a investigação versa uma outra técnica monolítica, a terra
empilhada e, partindo da recolha de amostras em edifícios históricos na
Alemanha comparou os resultados laboratoriais com o estado e
comportamento dessas mesmas construções. Este último estudo revelou
interessantes conclusões sobre o que se observava nos edifícios e o que se
obtinha em termos laboratoriais das amostras recolhidas nesses mesmos

195
Só para citar as últimas: 8th INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE STUDY AND CONSERVATION OF
EARTHEN ARCHITECTURE, 1 e 2, Torquay, Devon, UK, May 2000 – TERRA 2000, preprints and post prints; 9th
INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE STUDY AND CONSERVATION OF EARTHEN ARCHITECTURE, 1, Yazd,
Iran, November-December 2003 – TERRA 2003, pre-print papers; 10th INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE
STUDY AND CONSERVATION OF EARTHEN ARCHITECTURE, TERRA 2008 (Ed. Leslie Rainer, Angelyn Bass
Rivera, David Gandreau),Bamako, Mali, 1-5 February 2008, proceedings; XI CONFERENCIA INTERNACIONAL
SOBRE EL ESTUDIO Y LA CONSERVACIÓN DEL PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO DE TIERRA, TERRA 2012 (XII
SIACOT, Seminário Ibero-americano de Arquitectura y Construción com Tierra/ SismoAdobe 2012), atas, Lima, Peru,
22-27 abril, 2012 [CD].
196
A conferência teve lugar em Valencia na Universidade Politécnica de 21 a 23 de Junho de 2012. AA.VV – Rammed
earth conservation (ed. Camila Mileto, Fernando Vegas, Valentina Cristini). London: CRC Press/Balkema, 2012, ISBN
978-0-415-62125-0.
197
WALKER, Pete – Review and experimental comparison of erosion tests for earth blocks. Terra 2000, 8th International
Conference on the study and conservation of earthen architecture, pp. 176-181; ZIEGERT, Cristof - Analysis of
material, construction and damage in historical cob buildings in central German. Terra 2000, 8th International
Conference on the study and conservation of earthen architecture, pp. 182-186.

83
imóveis. Estas duas linhas de investigação, entre o aperfeiçoamento de
ensaios laboratoriais e a comparação com materiais e edifícios existentes
passaram a ser uma constante nas pesquisas que se têm levado a cabo.

As reparações em edifícios de terra degradados são também


objeto de investigação, quer ao nível do material quer ao nível dos sistemas
construtivos. Nesta área tem-se verificado algum desenvolvimento. Desde a
aplicação de novos materiais, como as recentes caldas de injeção, e o retorno
às técnicas tradicionais de reparação, o percurso nesta temática tem sido
grande. Referências neste domínio foram os trabalhos de John Warren, quer
ao nível teórico quer ao nível prático. Destacam-se, na sua obra, os casos de
estudo em que trabalhou como arquiteto-conservador e como vice-presidente
do comité científico do ICOMOS para o estudo e conservação da arquitetura de
terra198, de que são exemplo o Palácio Sauds na Arábia Saudita, a casa em
Resafa no Iraque, o edifício Lavant em Sussex no Reino Unido199, o palácio
Omari em Turaif e a casa pátio al-‘Udhaibat na Arábia Saudita200.
Meticulosamente, o autor diagnostica, problematiza e intervém, explicando o
método e as soluções preconizadas de uma forma extremamente clara e
simples. O contributo de John Warren é, sobretudo, prático, já que este autor
descreve as soluções exemplificando, mencionando a particularidade de cada
caso e resolve, efetivamente difíceis problemas de conservação em património
arquitetónico de terra. Algumas dessas soluções encontram-se no capítulo que
dedica a intervenções em “Conservation of earth structures”, de que são
exemplos diversas soluções de proteção em coberturas, paredes,
preenchimento de lacunas, reforço em socos de edificações, resolução de
proliferação biológica em superfícies e fissuras estruturais em paredes201.

198
WARREN, John – Conservation of earth structures, 1996; WARREN, John - Earthen architecture. ICOMOS,
Scientific committe, 1993; e WARREN, John – Forma, significado y propuesta: objetivos éticos y estéticos en la
conservación de la arquitectura de tierra. Revista Loggia, arquitectura & restauració, ano IV, nº 12, pp.10-19.
199
WARREN, John - Earthen architecture. ICOMOS, Scientific committe,pp. 99-113.
200
WARREN, John – Conservation of earth structures, pp. 171-186.
201
WARREN, John – Idem, pp. 143 -164.

84
Os materiais e os consolidantes empregues na reparação das
construções em terra são também um tema de investigação que tem conhecido
desenvolvimentos profundos nos últimos dez anos. Refira-se a esse propósito,
os estudos coordenados por Giacomo Chiari com a aplicação do silicato de
etílico na consolidação de pinturas e materiais em terra. Em ADOBE 90, o ciclo
de ação química deste consolidante inorgânico foi apresentado como vantajoso
porque os resultados, no final da reação química, não apresentavam
praticamente resíduo nenhum. Em síntese, o silicato de etílico atuava ao nível
da coesão das partículas e não apresentava consequências para o material
terra202. Esta caraterística promissora era bastante útil quando comparada com
as resinas sintéticas cujas consequências práticas da sua aplicação,
começavam a ser conhecidas e visíveis sobretudo em estruturas arqueológicas
expostas às intempéries. Com esses consolidantes, verificava-se que devido
aos problemas de evaporação dos solventes e retração das resinas, se criavam
zonas e camadas diferenciadas no material terra, provocando desequilíbrios.
Na conferência TERRA 93, o mesmo autor apresentava os problemas
decorrentes da aplicação do silicato de etílico quando em presença de
humidade. Três anos após o uso deste consolidante o autor detalhou os
cuidados que se deveriam ter na sua aplicação, ou, mais especificamente, os
limites que existiam para a sua utilização com resultados positivos 203. Os
materiais em terra são extremamente porosos e muito frágeis, em presença de
água. Os efeitos são essencialmente de dissolução nos componentes finos e
consequente perda de coesão para os restantes. O uso de consolidantes
químicos foi encorajado, e generalizou-se a partir dos anos setenta sobretudo
nos sítios arqueológicos em terra onde se pretendia, proteger e consolidar o
que restava de arquiteturas desaparecidas (ver anexo A, Yazd 1972).

Um outro aspeto também levado em conta na investigação


contemporânea relaciona-se, como o facto do património em terra quando

202
CHIARI, Giacomo – Chemical surface treatments and capping techniques on earthen structures: a long term
evaluation. Adobe, 90, 6th International Conference on the Conservation of Earthen Architecture, pp. 268-269.
203
CHIARI, Giacomo - Ethyl silicates treatments and humidity. Terra 93, 7ª Conferência Internacional sobre Estudo e
Conservação da Arquitectura de Terra, pp. 423-425.

85
abandonado, sem uso ou incorretamente mantido, apresentar, na generalidade,
dois gravíssimos problemas de conservação:
- a enorme deformação das estruturas;
- a perda irreversível de volumes, com grande lacunas.

A investigação sobre este processo e as reparações efetuadas versaram


sempre a resolução destes dois problemas, a que se somava a alteração dos
componentes da terra que se apresentavam substancialmente diferentes, em
percentagem, aos originalmente utilizados. No que se refere ao estudo e
conservação dos materiais porosos há que salientar uma figura incontornável
na investigação: Giorgio Torraca (1927-2010), engenheiro químico, cuja
contribuição para o entendimento do comportamento dos materiais em terra foi
extremamente relevante204. Salientam-se duas obras deste autor: “Matériaux
de construction poreux, science des matériaux pour la construction
architectural” e “Lectures on materials science for architectural conservation”205.
Nas duas publicações, o material terra foi tratado com especial atenção,
evidenciando-se os fenómenos químicos de alteração, o comportamento dos
minerais argilosos, a degradação das construções e as soluções de
consolidação possíveis. Sem os estudos de Giorgio Torraca, não teríamos
alcançado o nível de conhecimento sobre o comportamento da terra enquanto
material de construção que conduziu a posteriores investigações sobre o seu
tratamento, alteração e uso em construção. Nesta linha de conhecimento são
notórias as investigações, teóricas e práticas, sobre as camadas de proteção
quer em rebocos quer em “cappings”, das construções em terra. Sobre este
assunto a evolução infletiu no sentido dos materiais tradicionais, com maior
manutenção, mas com melhores efeitos no que respeita a compatibilidade e
durabilidade dos materiais subjacentes. Na conferência de Yazd, em 1977, os

204
Recentemente foi criada uma iniciativa internacional “Giorgio Torraca, cultura e criativitá nella conservazione”, que
decorreu em 3 de fevereiro de 2012, considerando a importância mundial da sua obra para a conservação no mundo.
GIORGIO TORRACA, cultura e creativitá nella conservazione [em linha], 2012. [Consult 2012-07-20]. Disponível em
WWW: <URL: http://www.giorgiotorraca.com/it/home>.
205
TORRACA, Giorgio – Matériaux de construction poreux, science des matériaux pour la construction architectural,
1986 sobretudo as pp. 97-105; TORRACA, Giorgio – Lectures on Materials science for architectural conservation [em
linha], 2009. [Consult. 2010-01-11]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.getty.edu/conservation/publications/pdf_publications/torraca.pdf>, sobretudo as pp. 38-42.

86
tratamentos químicos eram indicados, verificando-se, a partir de TERRA 2008
o contrário (ver anexo A). Sobre esta matéria foram contributos importantes, os
resultados obtidos nos dois laboratórios experimentais, com paredes
construídas em terra e expostas às intempéries, quer em Fort Selden, no
Estado do Novo México nos Estados Unidos da América206; quer no CSTB em
Grenoble, França207. Nestes laboratórios foram construídos muros em BTC,
adobe e taipa e sobre os mesmos testados diversos consolidantes e rebocos
protetores. Os resultados e as consequências dos seus comportamentos foram
esclarecedores e levaram à opção, nalguns sítios, por materiais semelhantes
aos subjacentes, em prol dos sintéticos ou distintos em relação ao suporte, no
que se refere a comportamento físico/químico, como nos casos dos rebocos
em cal, cimento, cal/terra e cal/cimento. Neste domínio, as experiências “in situ”
e sobre estruturas históricas foram também esclarecedoras. Chan Chan, um
sítio arqueológico no Peru, foi palco de inúmeras experiências desta natureza e
os resultados, alguns deles com efeitos destruidores sobre os suportes,
levaram à escolha das argamassas em terra quer para capeamentos de
estruturas, quer para rebocos de sacrifício208 para a manutenção dos vestígios
arqueológicos. No capítulo das caldas de injeção em paredes existentes de
terra, a investigação dirigida por Frank Matero tem também evoluído
satisfatoriamente. Desde o artigo “Design and evaluation of hidraulic lime
grouts for the reattachment of lime plasters on earthen walls”209, onde apenas
se estudavam colagem de rebocos, até às recentes investigações, conduzidas
no seio do programa da GCI “Injection grouts for the conservation of
architectural surfaces: research and evaluation”210, onde se evolui para

206
TAYLOR, Michael – An evaluation of the New Mexico State Monuments. Adobe test walls at Fort Selden. Adobe
90,6th International Conference on the Conservation of Earthen Architecture, pp. 383-389.
207
DAYRE, Michel ; KENMOGNE, Emanuel – Comportement des diferentes systémes de protection superficielle de
constructions en terre : resultats d’une champagne d’observation sur murets. Terra 93, 7ª Conferência Internacional
sobre o Estudo e a Conservação da Arquitectura de Terra, pp. 475-479.
208
Sobre este assunto GAMARRA, Ricardo Morales – La conservación de estruturas y decoraciones de adobe en Chan
Chan. El adobe, Simposio internacional y curso-taller sobre conservación del adobe. PAT 96, Documentación.
209
MATERO, Frank; BASS, Angelyn – Design and evaluation of hidraulic lime grouts for the reattachement of lime
plasters on earthen walls. Conservation and management of archaeological sites,, pp. 98-101.
210
GETTY CONSERVATION INSTITUTE - Injection Grouts for the Conservation of Architectural Surfaces: Research
and Evaluation [em linha] 2008 [Consult 2012-07-20]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.getty.edu/conservation/our_projects/field_projects/grouts/index.html>.

87
aplicação direta em fissuras nas paredes de monumentos históricos em terra, o
progresso pode considerar-se de facto, notável. A esse respeito vejam-se os
artigos: “The consolidation of earthen surface finishes: developing a protocol for
treatment evaluation at Mesa Verde National Park”211 e “ Assessment of
grounting for cracks & large-scale detachment repairs. Casa Grande National
Monument”212. A investigação neste domínio conduzida e coordenada por
Frank Matero, e aplicada no património em terra, tem sido desenvolvida a partir
de pesquisas de laboratório muitas vezes em dissertações de mestrados e
doutoramento na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América
integrados no “Graduate Program in Historic Preservation”213.

A investigação sobre as arquiteturas de terra acentua-se e verifica-se a


tendência de trabalhos em grupo, multidisciplinares, em redes e programas
que emergem por todo o mundo, no entanto, uma avaliação crítica das
publicações e resultados apenas foi feita em 2008 com a publicação “Terra
Literature Review. An Overview of Research in Earthen Architecture
Conservation”214. Esta publicação, extremamente relevante para o
conhecimento, juntou, sintetizou e analisou tematicamente, o que existia ao
nível de estudos e publicações os assuntos relativos à conservação do
património em terra desde a matéria-prima, passando pelos materiais e seu
comportamento, às patologias e intervenções.

A investigadora Mariana Correia, recentemente na sua tese


“Conservation intervention in earthen heritage: assessment and significance of

211
FERRON, Amila; MATERO, Frank - The Consolidation of Earthen Surface Finishes: Developing a Protocol for
Treatment Evaluation at Mesa Verde National Park. Terra 2008, 10th International Conference on the Study and
Conservation of Earthen Architecture, pp. 214-221.
212
CANCINO, Claudia; MATERO, Frank – Assessment of grounting methods for cracks & large-sacale detachment
repairs, Casa Grande National Monument. TERRA 2003, 9th International conference on the study and conservation of
earthen architecture, pp. 395-414.
213
Sobre esta matéria, e no mesmo programa, foi pioneiro o trabalho: BEAS, Maria Isabel – Traditional architectural
renders on earthen surfaces. Master of science, 1991.
214
AVRAMI, Erica; GUILLAUD, Hubert; HARDY, Mary - Terra Literature Review. An Overview of Research in Earthen
Architecture Conservation [em linha], 2008. [Consult. 2010-10-18]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.getty.edu/conservation/publications_resources/pdf_publications/terra_lit_review.pdf>.

88
failure, criteria, conservation theory and strategies “215 defendeu a necessidade
de se conjugar com maior eficácia o que designa de “antropological aproach” e
scientific aproach”, referindo-se ao conhecimento empírico, dos saberes-fazer,
da tradição oral e local; conjugado com a pesquisa científica, de laboratório, de
ensaio, de análise e em moldes científicos e/ou académicos216. Neste campo,
pode-se afirmar que a investigação decorre a velocidade progressiva porém
(…) a falta de definição de linhas problemáticas leva a uma redundância em
temas de investigação por falta de informação [o que constitui], um desperdício
de recursos, energia e tempo. No entanto, é necessário definir as lacunas do
conhecimento, facilitar o acesso direto à informação científica e incentivar a
investigação aplicada aos contextos regionais (…)217 . A conseguir-se tal
definição, a investigação neste domínio poderá ver aumentar, ainda mais, os
seus relevantes resultados para a conservação, divulgação e proteção deste
material construtivo.

215
CORREIA, Mariana Rita Alberto Rosado - Conservation intervention in earthen heritage: assessment and
significance of failure, criteria, conservation theory and strategies.PhD thesis. Oxford Brookes University, 2009, United
Kingdon. Texto policopiado, não publicado.
216
CORREIA, Mariana – Which course of action for earthen architectural heritage preservation?. Rammed earth
conservation, p.14.
217
Conforme as recentes conclusões e recomendações da conferência TERRA 2012, ponto 7 (anexo A).

89
90
Capítulo 2 – Arquiteturas de terra em Portugal

O uso do solo, da terra, para a construção é referido em diversos


manuais portugueses de agricultura, e de construção militar e civil,
principalmente a partir do século XVII218. Na historiografia portuguesa a
habitação, e especificamente o habitat construído em terra tem, igualmente
despertado o interesse dos historiadores, principalmente a partir do período da
idade média219, época em que fronteira portuguesa se define e, por
consequência se intensifica o povoamento220. No entanto, o problema da casa,
e particularmente o da habitação em terra no território nacional, persiste no
século XXI. Sobre esse tema, os três tópicos que Fernando Távora
preconizava para o estudo e trabalho (…) sério, conciso, bem orientado e
221
realista (…) da casa portuguesa, constituem ainda hoje temas para a
pesquisa sobre arquitetura de terra em Portugal, a saber:
- o meio português;
- o da arquitetura existente;
- o da arquitetura e das possibilidades da construção moderna.

Ao revisitar os textos de Távora apercebemo-nos que as temáticas do


passado, do presente e do futuro da arquitetura no território português são
premissas para o conhecimento do património existente e do contributo dessa
herança para a arquitetura no futuro. Dentro dessa linha do saber, a arquitetura
vernácula em Portugal foi objeto de diversos inquéritos e levantamentos
durante o século XX. Embora não de ordem histórica, mas sim focando aspetos
económicos, antropológicos, geográficos e arquitetónicos, esses estudos

218
Segundo João Mascarenhas Mateus foram identificados no século XVIII, quatro grupos principais de obras
dedicadas à construção: os tratados de arquitetura e construção, os cursos e resumos de Escolas e Academias, as
obram especializadas dedicadas às técnicas, os Dicionários e as Enciclopédias. MATEUS, João Mascarenhas –
Técnicas tradicionais de construção de alvenarias. Lisboa: Livros Horizonte, p. 34.
219
Veja-se a este propósito os artigos referentes à “casa” e publicados em: AA.VV - História da Vida Privada em
Portugal (Dir. José Matoso), vols. 1, 2, 3 e 4. Lisboa: Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010-2011.
220
ROSSA, Walter [et al.] – Raia e Cidade. Revista Monumentos 28, Dezembro 2008, pp. 6-8.
221
Fernando TÁVORA - Ob. Cit. p. 10.

91
proporcionaram um conhecimento primordial para a investigação do habitat em
terra no território. Das pesquisas mencionadas, destacam-se as seguintes:
- o inquérito à arquitetura rural, cuja responsabilidade coube aos agrónomos da
Universidade Técnica de Lisboa222;
- os estudos em geografia humana e física centrados, sobretudo, nas
Universidades de Lisboa e Coimbra223;
- os estudos de etnografia e antropologia cujo o centro veio mais tarde a ser o
Museu de Etnografia e Etnologia em Lisboa224;
- o inquérito à arquitetura regional da responsabilidade do Sindicado Nacional
dos Arquitetos Portugueses225 (figuras 26 e 27).

Os estudos de “arquitetura tradicional”, “arquitetura popular” e


“arquitetura regional” versaram sobretudo a “arquitetura feita pelo povo”, como
muito bem a caraterizou Paul Oliver, conceito que na tradição anglo-saxónica
significa arquitetura vernácula226.

222
O inquérito à habitação rural, promovido pelo senado universitário, foi coordenado pelo professor Henrique de
Barros e decorreu de 1942 a 1946. Este inquérito tinha como objetivo principal conhecer as condições económicas e de
salubridade em que viviam as famílias camponesas em Portugal. Deste inquérito apenas o 1º e o 2º volume foram
publicados na altura. O 3º volume de 1943 e dedicado ao Ribatejo, Estremadura, Alto e Baixo Alentejo assim como ao
Algarve, acabou por ser publicado apenas em 2012, sem no entanto abordar o Algarve.
223
Os estudos em geografia física e humana foram iniciados pelos geógrafos Amorim Girão (1895-1960) e Orlando
Ribeiro (1911-1997), a partir de meados do século XX. As diferentes linhas de investigação em geografia marcaram
toda uma geração de geógrafos e mais tarde de urbanistas e profissionais do planeamento territorial português. Nos
últimos anos o tema da vida no campo e sobretudo o mundo rural no atual contexto português tem conhecido novos
desenvolvimentos com as publicações do geógrafo Álvaro Domingues.
224
Os estudos de etnologia e etnografia com inícios no século XIX e desenvolvidos por José Leite de Vasconcelos
(1858-1941) no princípio do século XX analisaram a habitação e a vida quotidiana das populações, com uma
metodologia própria e singular. Estes estudos decorrem sensivelmente a partir dos anos vinte e mais tarde com o
geógrafo Jorge Dias (1907-1973), e os etnógrafos e antropólogos Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1973), Fernando
Galhano (1904-1995) e Benjamim Pereira nos anos cinquenta até meados dos anos setenta do século XX.
225
O inquérito à arquitetura regional portuguesa foi uma iniciativa do Sindicado Nacional dos Arquitetos Portugueses
que decorreu entre 1955-1960. O levantamento tinha como objetivo contrariar as tendências nacionais e
governamentais da “casa portuguesa”. Os arquitetos pretendiam demonstrar que em Portugal não existia uma
“arquitetura” mas sim várias e diversificadas arquiteturas, com laços comuns com o Mediterrâneo e outras regiões. O
levantamento da arquitetura vernácula e erudita patente neste inquérito provou a sua enorme adaptação aos sítios, a
intrínseca relação com os materiais locais, demonstrando ainda a complexidade das diferentes culturas construtivas no
território português, fruto de inúmeras influências. O inquérito surge a partir da ideia original de Francisco Keil do
Amaral e nela participaram inúmeros arquitetos dos quais se destacam, para a zona centro (Beiras, Estremadura e
Ribatejo), Francisco Keil do Amaral, José H. Lobo, João Malato, Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e
Francisco Silva Dias.
226
(…) were built either by occupants themselves or by members of their communities, without external professional
intervention. These dwellings, the houses of, and by, the people, are the subject…(…). OLIVER, Paul – Dwellings, the
vernacular house worldwide, p.15.

92
Figuras 26 e 27 – IARP, Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, imagens disponíveis em OAPIX,
Ordem dos Arquitetos, Portal de Imagens. Empena em taipa, Malpica, Castelo Branco e casa em taipa,
Sant’Ana, Portel, Évora. Créditos Ordem dos Arquitetos, respetivamente PT-AO-IARP-EVR-PRL06-007 de
1955 e PT-AO-IARP-CTB13-022 de 1955.

Os levantamentos e os inquéritos mencionados, que versavam toda a


arquitetura e não apenas a de terra, são distintos e desenvolveram-se ao longo
do século XX, em períodos díspares, sensivelmente até aos anos 60 e 70.
Essas diferenças em tempo e métodos permitiram uma visão abrangente da
realidade habitacional e do modo de vida portugueses, sobretudo os rurais. Os
estudos mencionados foram ainda complementados por monografias que
particularizaram muitas das características das arquiteturas locais, e, mais
tarde, comparados e analisados em programas específicos que enquadravam o
caso Português noutros contextos, como o do Mediterrâneo e o Europeu 227.
Contudo será a partir de 2005, com a publicação do livro “Arquitetura de Terra
em Portugal”, que a temática se desenvolve em território nacional 228.
Atualmente a tendência, no domínio dos estudos em arquitetura de terra,
divide-se entre a promoção de arquitetura contemporânea229 e a
230
conservação/reabilitação do património construído em terra . O interesse
pelas arquiteturas de terra em Portugal surgiu, assim, a partir dos estudos que

227
Nomeadamente a participação portuguesa nos programas financiados pela União Europeia, já mencionados no
capítulo anterior.
228
AAVV (coord. Maria Fernandes, Mariana Correia) – Arquitectura de terra em Portugal.
229
BEIRÃO, Teresa – Taipa na arquitectura contemporânea. Arquitectura de terra em Portugal, p.35-38.
230
Por conservação entenda-se toda as ações que prolongam a vida de uma determinada edificação e por reabilitação
as ações que introduzem qualidade ao edificado, inexistente aquando da sua construção. Conceitos definidos por:
HENRIQUES, Fernando - A Conservação do Património Histórico Edificado. Lisboa: LNEC, 1991, pp. 2-3. Ver também
a tabela 3.

93
versavam a arquitetura vernácula em geral, acabando por renascer em novas
arquiteturas estimuladas pelos princípios de Fernando Távora231 e pela
problemática relançada no inquérito de que a arquitetura popular era
extremamente moderna232.

2.1 – Dos antecedentes, da história e das referências


Uma das primeiras alusões publicadas em Portugal sobre como construir
com terra surge num texto de agricultura do século XIX233 (ver anexo C). No
“Diccionario de Agricultura”, onde a influência do “second cahier” de François
Cointeraux234 é notória, a técnica de construir em taipa é devidamente
explicada, desde a qualidade das terras a selecionar, aos instrumentos a
utilizar, à proteção das paredes e até mesmo aos entulhos, ou terras,
provenientes da demolição de construções e que tinham reaproveitamento
agrícola. Também no século XIX, a engenharia militar, no seu “curso elementar
de construções”, descreve a construção em taipa e adobe235. Neste manual, a
taipa é a técnica que merece mais atenção muito embora as indicações sejam
diminutas e com algumas incorreções. O autor, Luiz Augusto Leitão, limita-se a
dar informações superficiais sobre a forma dos maços para compactar a terra,
os taipais, as camadas de compactação (que deveriam ter cerca de 0,10m de
altura) e também sobre o uso de terras argilosas com poucas pedras para a
construção em taipa. No entanto, é na literatura relativa à construção militar e
em obras eruditas sobre fortificações dos séculos XVII-XVIII, que as mais
relevantes referências ao uso da terra na edificação têm lugar. Segundo refere
Cybéle Santiago, no levantamento que efetuou sobre o uso da terra nos

231
(…) a casa popular fornecer-nos-á grandes lições quando devidamente estudada, pois ela é a mais funcional e a
menos fantasiosa, numa palavra, aquela que está mais de acordo com as novas intenções (…). TÁVORA, Fernando –
O problema da casa portuguesa, p.11.
232
Veja-se sobre este assunto o texto de Nuno Teotónio Pereira no prefácio à terceira edição (…) confrontados por um
lado pela estreiteza censória do portuguesismo estadonovista, e por outro pelo radicalismo sem fronteiras do
international style, sentiram a necessidade de procurar raízes na arquitectura mais vernácula (…) deixando-se
deslumbrar pela economia das formas depuradas (…) pela adequação aos diferentes meios naturais. AA.VV –
Arquitectura Popular em Portugal, 1 vol., (3ª edição).
233
FRANCO, Francisco Soares – Diccionario de Agricultura, extrahido em grande parte do cours D’agriculture de
Rosier, com muitas mudanças principalmente relativas à Theoria, e ao clima de Portugal e oferecido a sua Alteza Real
o Principe Regente.Tomo IV.Coimbra: Na Real Imprensa da Universidade, 1806, pp. 381-383 (anexo C).
234
COINTERAUX, François - Ecole d'architecture rurale. Second cahier…, pp.22-24, 40-43 e 59-61.
235
LEITÃO, Luiz Augusto – Curso elementar de construções, 1896, pp. 242-243.

94
manuais de construção, o “formigão” (…) variante de taipa feita com solo de
boa qualidade misturado com pedregulhos de diversas granulometrias e/ou
cal236 era usado em obras militares de acordo com os textos dos engenheiros
militares portugueses Manuel de Azevedo Fortes (1660-1749) e José Manuel
Carvalho Negreiros (1750-1815), respetivamente em “O Engenheiro Português”
e “Método Lusitânico”. Segundo a mesma autora, Azevedo Fortes, descreveu
inclusivamente como executar parapeitos ou plataformas de tiro em taipa 237
enquanto Luís Serrão Pimentel (1613-1679) recomendou o uso da terra nas
fortificações porque, ao contrário da pedra e dos cerâmicos (…) absorvia o
impacto dos tiros sem estilhaços238. Num outro estudo, “Da cidade e
fortificação”, Margarida Tavares da Conceição refere a existência de
manuscritos anónimos portugueses, do período Sebástico, onde se encontra
num capítulo “da fortificação da terra”239. De acordo com esta investigação, os
manuscritos forneciam indicações relativas ao revestimento vegetal nas
fortificações em terra, métodos e maneiras de cravar estacaria para a
construção de paramentos em terra, tendo sempre o cuidado de escolher as
árvores e a época em que deviam ser cortadas para que as fortificações
fossem resistentes ao fogo240. Estes manuscritos davam ainda indicações
sobre o tempo e época em que se devia e como, preparar a terra para a
construção dos fortes em terra241.

As fortificações existentes em Portugal comprovam, de facto, que a


engenharia militar utilizou, essencialmente, dois tipos de técnicas em terra para
a construção das obras fortificadas:

236
SANTIAGO, Cybéle Celeste – A terra nos tratados e nos manuais de arquitectura e construção. Arquitectura de terra
em Portugal, p. 249.
237
Apud SANTIAGO, Cybéle Celeste – Idem, p.250.
238
Apud SANTIAGO, Cybéle Celeste – Ibidem.
239
CONCEIÇÃO, Maria Margarida S. Tavares – Da Cidade e Fortificação em textos portugueses, pp. 356-361.
240
Idem, p. 357.
241
Idem, p. 360.

95
- técnicas monolíticas em paramentos, entre as quais se destacam a
taipa, a terra empilhada e a terra modelada242;
- terra de enchimento, entre paramentos de alvenaria de pedra e taipa
(tabela 3).

Muitos destas técnicas acabaram por ser identificadas e confirmadas no


decurso de obras de reparação (figuras 28 e 29) e nalguns casos de
“valorização”, como sucedeu nas “Linhas de Torres” em 2007-2011. Este
sistema de defesa territorial, constituído por 152 obras militares construídas
entre 1809-1812, e executadas em diversos concelhos limítrofes de Lisboa243,
apresenta, sobretudo, na segunda linha defensiva, diversas obras fortificadas
em terra dissimuladas na paisagem.

Figuras 28 e 29 – Fortaleza de Juromenha, Alandroal; derrocada de plataforma de tiro em taipa e terra de


enchimento em paramentos. Castelo de Noudar, Barrancos, derrocada de alvenaria de pedra e taipa de
enchimento. Créditos SIPA, respetivamente foto 00213064 de 1995 e foto 00192906 de 1999.

De entre as técnicas em terra usadas sobressaem a terra modelada com


estacaria, terra escavada e a terra compactada sem cofragem.

242
A técnica de terra empilhada foi identificada nas fortificações fronteiriças norte, entre Portugal e Espanha (Galiza).
MARTINS, Ana Tavares; CORREIA, Mariana – Arquitetura militar em terra no norte de Portugal. Terra em Seminário
2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), p. 37.
243
Como Loures, Odivelas, Arruda dos Vinhos, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras, Vila Franca de Xira e
Almada.

96
Tabela 3 – Sinopse das tendências, evolução e conhecimento das técnicas de construção em terra no
território português. Elaborada a partir dos métodos construtivos do CRATerre, com ordem numérica
conforme os estados hídricos e divisão conforme o modo de construção.
Nº TÉCNICAS Tendências Evolução Conhecimento
Monolíticas
1 Terra Escavada Sem tendência Nunca evoluiu. Conhece-se o seu uso
apenas em vestígios
arqueológicos, fornos e
sistemas fortificados como
nas Linhas de Torres.
2 Terra Plástica Sem tendência Sem evolução Não se conhece a sua
presença no território
3 Terra Empilhada Sem tendência Sem evolução A presença limita-se ao uso
em fortificações e sítios
arqueológicos.
4 Terra Modelada Sem tendência conhecida O uso tecnologicamente Conhece-se o seu uso em
avançado desta técnica tem sítios arqueológicos e
sido detetado nas sistemas fortificados.
fortificações sobretudo nas
dos séculos XVIII/ XIX.
5 Terra Prensada Em expansão. Foram feitos progressos no Diversos trabalhos
Taipa Recuperada a partir dos desenho de cofragens para monográficos assim como
anos 80, do século XX rentabilizar o trabalho e no académicos têm contribuído
tem vindo a ser usada em uso de maços pneumáticos para o seu conhecimento.
conservação e sobretudo para melhor compactação Acresce ainda a
em arquitetura da terra. participação portuguesa em
contemporânea. programas internacionais,
caso do RESTAPIA.
Alvenaria
5 Blocos apiloados Abandonado desde os A evolução verificou-se Diversos trabalhos
anos 70 do século XX. entre o uso de terra com monográficos e trabalhos
Apenas reativada em palha e terra com cal. Os académicos têm contribuído
reconstituições históricas. blocos apiloados são para o conhecimento desta
designados de adobes técnica em Portugal.
5 Blocos prensados Em expansão. Uso Verificou-se alguma Começam a aparecer
BTC generalizado e cada dia evolução e apareceu estudos académicos na
mais frequente. Produção inclusive uma firma que Universidade do Minho e
sobretudo com prensas, produziu até 2012, BTC de Aveiro que visam o seu
manuais. forma mecanizada244. conhecimento.
6 Blocos Cortados Abandonado, conhece-se Sem evolução Conhecimento pouco
um uso muito pontual na expressivo carece de
região centro do país em investigação.
Leiria e Santarém.

244
A firma Terracrua, que desde 2003 produzia e construía com BTC, na Carrapateira, concelho de Alzejur foi
recentemente desativada a produção, em 2012. QUINTINO, Guilherme – Blocos de terra compactada. Arquitectura de
terra em Portugal, pp. 53-56.

97
Nº TÉCNICAS Tendências Evolução Conhecimento
6 Torrões de Terra Abandonado, só Sem evolução. Tem vindo a ser estudado
excecionalmente usado na Universidade de Aveiro,
para conservação. devido ao seu uso nas
marinhas de sal.245
7 Terra Extrudida Inexistente Perspetivas de adaptar as Conhecimento escasso
indústrias de cerâmica para carece de investigação.
a produção de adobe
extrudido. Em estudo.
8 Adobe Adobe manual Adobe manual só de Existem estudos
Manual, Moldado e abandonado; adobe conhece em vestígios monográficos e
Mecanizado moldado usado em arqueológicos. Adobe etnográficos. Dissertações
conservação e nalgumas moldado sem evolução, uso científicas na Universidade
experiências precário, experimental e de Aveiro têm contribuído
contemporâneas; adobe artesanal em arquitetura para um conhecimento
mecanizado algumas contemporânea e alargado do material e da
tentativas falhadas. conservação. Sem construção.
evolução.
Enchimento ou Revestimento
9 Terra de Abandonado. Sem evolução. Conhecimento escasso,
Revestimento alguma investigação tem
sido feito ao nível de
rebocos, carece de maior
pesquisa.
9 Terra sobre Abandonado. Só Sem evolução aparente, a Investigação tem sido
Engradado. Inclui-se excecionalmente usado técnica contínua artesanal, realizada e desenvolvida na
neste caso as em conservação e apesar dos avanços Universidade de Trás-os-
técnicas de taipa de nalgumas experiências tecnológicos no que respeita Montes e Alto Douro, com
fasquio e rodízio contemporâneas. às estruturas de madeira. êxito.
10 Terra Palha Verifica-se o uso desta Sem evolução. Carece investigação e
técnica em experiências prática, exemplos ainda
contemporâneas. pouco expressivos em
arquitetura contemporânea
11 Terra de Abandonado, embora se Sem evolução. Conhece-se o uso em
Enchimento perspetive o uso como fortificações do século IX e
isolamento entre paredes. vestígios arqueológicos.
12 Terra de Cobertura Abandonado. Sem evolução. Os recentes Identificados os tetos de
de terraços ajardinados em salão na ilha de Porto
arquitetura contemporânea Santo, Madeira e o uso de
não de terra recuperaram o terra nas falsas abóbadas
conceito mas não a técnica de pedra no continente.

245
PEREIRA, Mafalda Isabel da Cunha – Op. Cit., e PEREIRA, Carla; e COELHO, Carlos – Muros das Marinhas do
Salgado de Aveiro. Terra em seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), pp. 108-111.

98
Esse sistema defensivo, durante anos abandonado e quase
desaparecido no terreno, devido ao avançado estado de degradação, foi objeto
de obras de conservação e valorização, onde, cuidados especiais na limpeza
do coberto vegetal e no estudo das espécies vegetais autóctones, que
contribuíssem para a estabilização das estruturas em terra foram,
determinantes246. As diferenças construtivas e materiais, sobretudo no que
respeita aos paramentos em alvenaria de pedra e taipa das fortificações de
fronteira em Portugal, foram também devidamente registadas, em 1509, no
levantamento de Duarte de Armas efetuou. No “Livro das Fortalezas”, nas
vistas de Mértola (figuras 30 e 31), Noudar, Serpa, Alandroal, Alcoutim e
Olivença, só para citar algumas, foram desenhados os paramentos em taipa
distintamente dos paramentos em alvenaria de pedra, evidenciando, também,
as alterações no sistema fortificado. Nesse registo as torres cilíndricas
adossadas aos paramentos ortogonais foram devidamente desenhadas assim
como o casario existente.

Figuras 30 e 31 – Mértola, vista do livro das fortalezas de Duarte Darmas e vista atual. Fonte: ARMAS,
Duarte de - Livro das Fortalezas e Maria Fernandes, 2003.

246
SOUSA, Ana Catarina; GOMES, João Seabra; MIRANDA, Marta – Rota histórica das Linhas de Torres. Métodos e
práticas das intervenções nas obras situadas em Mafra. Anuário do património. Boas práticas de conservação e
restauro, pp. 187, 188 e 191.

99
Este levantamento muito preciso e exato da situação à época existente é o
primeiro que se conhece, em Portugal, onde os paramentos em terra são
representados com relevância247.

Outras alusões portuguesas sobre a arquitetura em terra não fortificada


podem ser encontradas na obra de João Emílio dos Santos Segurado de 1904.
Na publicação “Alvenaria e Cantaria”, da Biblioteca de Instrução Profissional, a
taipa é incluída no capítulo das paredes em alvenaria de aglomerados e a sua
execução meticulosamente descrita e desenhada (figura 32). O autor refere
então que (…) a taipa é constituída por terra húmida comprimida entre taipais
móveis de madeira formando (…) paredes ou muros homogéneos e
monolíticos (…) prepara-se a terra destorrando-a e passando-a à ciranda (…)
as camadas de terra deixam-se inclinadas superiormente, bem como nos seus
extremos ou juntas (…) as paredes de taipa são quási sempre rebocadas com
argamassas de cal ordinária (…) antes (…) convém deixar secar (…) cerca de
quatro meses (…) para reforçar a taipa usa-se às vezes fazer um pequeno
esqueleto de madeira interiormente248. Em 1955, na “Enciclopédia Prática da
Construção Civil”, diversas técnicas como a taipa, os pavimentos em terra, o
adobe e os tabiques em madeira são mencionadas. O seu autor, Pereira da
Costa refere no entanto muito pouco a taipa (…) terra mais ou menos argilosa
bem amassada e mal seca, tem o seu emprego nas edificações de pouca
249
monta . No entanto, este manual descreve como são feitos os adobes,
expondo que as alvenarias são semelhantes às de tijolo, e narra a execução
dos pavimentos em “barro” (…) bate-se convenientemente o terreno (…) e
estende-se sobre ele, depois de molhado, a massa de barro (…) diluída (…)
calcado a pés e quando começa a sezonar-se serrafa-se totalmente com uma

247
O Livro das Fortalezas é um manuscrito quinhentista da autoria de Duarte de Armas, constituído por vistas, plantas
e descrições das cidades fortificadas de fronteira do reino de Portugal. Trata-se de um levantamento efetuado
sensivelmente entre 1509-1510, por solicitação do Rei D. Manuel I. O original encontra-se na Torre do Tombo, em
Lisboa. ARMAS, Duarte de - Livro das Fortalezas. Fac-simile do Manuscrito da Casa Forte do Arquivo Nacional da
Torre do Tombo (2ª ed.). Lisboa: Edições Inapa, 1997.
248
SEGURADO, João Emílio dos Santos – Alvenaria e Cantaria, 4ª edição, pp. 100-103.
249
COSTA, F. Pereira da – Enciclopédia Prática da Construção Civil, caderno 13, p. 5.

100
régua250. Na mesma obra, Pereira da Costa dedica ainda várias páginas ao tipo
de estruturas de madeira para paredes referindo apenas os preenchimentos
com argamassas de cal e areia251. De fato, é notória a ausência da terra
enquanto enchimento ou revestimento das estruturas de madeira praticamente
em todos os manuais de construção portugueses. O termo “taipa de pau a
pique” não aparece mencionado nos manuais e a designação “tabique” é usada
para estruturas de madeiras, revestidas com tabuado ou preenchidas com
argamassas de cal, areia, saibro e estuque, sem incluir a terra. Exemplo desta
situação é o manuscrito de 1887-1888 “Architectura Civil” de Pina Vidal, onde
no capítulo dos muros são descritas e desenhadas todas as paredes em
estrutura de madeira sem referir o preenchimento com terra252.

Figuras 32 e 33 – Desenhos de taipa e “alvenaria a taipal” respetivamente por Jorge Segurado e José da
Paz Branco.

Muitas das indicações referentes aos tabiques, constantes no


manuscrito e na “Enciclopédia Prática da Construção Civil” voltam a ser
referidas, e até mesmo repetidas, por Paz Branco, no “Manual do Pedreiro”, em
1981. Nesse manual porém, os aspetos referentes à construção com terra e,
sobretudo, o preenchimento dos tabiques com essa matéria-prima são um
pouco mais desenvolvidos. Relativamente à taipa refere que (…) a terra (…)

250
Idem, caderno 18, p. 7.
251
Idem, caderno 26, pp. 1 a 6.
252
VIDAL, Adriano Augusto da Pina – Architectura Civil. Apontamentos do curso. Escola do Exército, 7ª cadeira, 1ª
parte, 1887-1888, pp. 118-123.

101
deve manter-se em repouso durante pelo menos uma semana (…) quando se
pretenda produzir uma taipa com resistência à acção das chuvas poderá cobrir-
se cada camada de terra com cal em pó em capas de 0,05m de espessura,
antes das regas253 (…) e no que respeita às técnicas de taipa de fasquio e
taipa de rodízio, ou técnicas mistas de madeira e terra, o autor refere que a (…)
estrutura de madeira para reforço de paredes e fixação de portas (…)
enchimento de malha de madeira com taipa, na construção Pombalina
chamaram-lhe “alvenaria a taipal” 254 (figura 33).

As poucas alusões às técnicas mistas de madeira e terra, ou de


estrutura de madeira com enchimento em terra, muitas vezes em adobe,
parecem estar na natural evolução da técnica de “pau a pique” ou “alvenaria a
taipal”, da zona rural para urbana onde a terra evidentemente escasseia. Será
só mais tarde e no livro “Diálogos de Edificação”, publicado em 1998, que as
técnicas de “taipa de fasquio” e “taipa de rodízio” (figuras 35 e 36), são
devidamente descritas com uma subtil referência à terra enquanto enchimento
(…) uma técnica de construção em que os barrotes de madeira são empregues
para realizar uma estrutura reticular cujos vãos são cheios de tijolo de burro e
argamassa ou barro255.

Em termos conclusivos pode afirmar-se que, na generalidade, os


manuais de construção, os dicionários de agricultura, os cursos e tratados de
arquitetura e construção, assim como os de fortificação, incidiram e
desenvolveram muito mais a construção em taipa que qualquer outra técnica
de terra, e mesmo nesse prisma, as construções em alvenaria de pedra ou em
madeira mereceram muito mais a atenção dos autores nessas edições
portuguesas que as estruturas em terra. Com exceção das fortificações, a
construção em terra parece emergir da agricultura, como mais uma atividade
proveniente do solo do que propriamente da construção, onde os recursos

253
BRANCO, J. Paz – Manual do pedreiro, pp. 65-66.
254
Idem, pp. 66-67.
255
TEIXEIRA, Gabriela de Barbosa; BELÉM, Margarida da Cunha – Diálogos de edificação,1998, p. 63.

102
naturais eram sujeitos a transformações prévias antes da utilização em obra. A
arquitetura em terra em Portugal, pese embora os desenvolvimentos distintos
nas diferentes técnicas, encontrou-se sempre muito mais ligada ao mundo rural
e à agricultura em geral do que à construção civil ou à arquitetura, em
particular.

Figuras 34, 35 e 36 – Parede interior em taipa numa casa de dois pisos no bairro da Mouraria em Lisboa,
possivelmente do século XVI, parede exterior em taipa de rodizio em Quelho, Salzedas do mesmo
período e parede exterior em taipa de fasquio em Lamego. Créditos respetivamente: Maria Fernandes
2009, SIPA foto 0015025,1987 e José Eduardo Gama, 2006.

No domínio da historiografia habitacional, e apesar das lacunas das


fontes, apenas documentais e iconográficas, os tipos arquitetónicos e os
materiais mais frequentes na arquitetura vernácula à época da reconquista
(séc. XIII) seriam (…) a casa elementar, simples e com custos mínimos (…)
casa térrea pequena, à qual por vezes se acoplava um ou outro anexo. Sem
compartimentação interior, ou com uma divisória precaríssima separando a
cozinha de uma pequena alcova (…) Era construída fácil e rapidamente, com
recurso a materiais disponíveis (…) A terra e a madeira muito mais do que a
pedra seca eram os elementos essenciais (…) coberto habitualmente com
elementos vegetais, como o colmo, a madeira, a giesta ou simples ramos (…)
O maior problema que suscitava era o risco de incêndio (…) Transposta para o
meio urbano a casa elementar evoluiu em relação à sua matriz rural. A principal
mudança resultava da relação com a rua (…) adição linear de módulos (…)
criava um verso e um reverso (…) a fachada (…) uma função cenográfica

103
(…)256. O investigador Sílvio Conde, na síntese que fez da casa na idade
média, refere que, entre as técnicas construtivas mais frequentes, a taipa, o
adobe e o tabique de taipa eram empregues em paredes exteriores e interiores
mencionando ainda que, na situação urbana, as coberturas devido aos riscos
de incêndio passaram de colmo a telhas e os fornos de cozinha se localizavam
no “reverso” ou quintal, pelos mesmos motivos257. O mesmo autor refere
também que a transposição para o meio urbano levou à elevação em pisos e à
necessidade de construir as paredes, sobretudo no piso térreo em alvenaria de
pedra: (…) a solidez das casas altas apelava para a petrificação das paredes
portantes258.

No período moderno, a casa, sobretudo a urbana, adquire uma certa


complexidade. Segundo Fernanda Olival (…) até ao século XVIII, no interior
das moradias e andares, a polivalência seria a nota dominante (…) a moradia
crescia por agregação de mais uma casa ao núcleo inicial (…) eram ocupados
por agregados familiares diferentes, sobretudo nas cidades (…) a repartição
das casas numa área de mulheres e noutra de homens teve algum eco (…) na
construção corrente o corredor começaria a impor-se perto do ultimo quartel de
setecentos259 quando anteriormente (…) passava-se de uma divisão à outra260.
A mesma autora refere ainda a presença do oratório num dos compartimentos,
comum nas casas populares e nas intermédias, a manutenção do lote
retangular alongado, a fachada estreita de tradição medieval, mas agora
dispensando o quintal, com loja ou outra função no piso térreo e com mais de
um agregado familiar por edifício261. No respeitante às técnicas de construção,
a mesma autora refere apenas que (…) permitia-se em muitos centros urbanos
que os imóveis ocupassem até um terço da rua, fosse para fazer balcão,

256
CONDE, Sílvio – A casa. História da vida privada em Portugal, vol 1. A idade Média, pp. 57-58.
257
Idem, pp.59 e 62.
258
Idem, p. 59.
259
OLIVAL, Fernanda – Os lugares e espaços do privado nos grupos populares e intermédios. História da vida privada
em Portugal, vol. 2. A idade Moderna, pp. 252, 253 e 254.
260
Idem, p. 254.
261
Idem, p. 251.

104
escadas, alpendres ou outros arranjos (…) 262 o que nos leva a concluir que os
materiais em madeira e terra se mantinham sobretudo nos pisos superiores. A
investigadora Luísa Trindade refere, no respeitante aos materiais construtivos,
que a casa (…) carateriza-se pela junção de materiais diversos sem que
nenhum detenha a exclusividade (…)263, apesar de tudo, e na sistematização
dos materiais construtivos por concelhos que efetuou verifica-se a
predominância da taipa nos concelhos do Alentejo, o adobe nalguns concelhos
da Beira Litoral e a madeira praticamente em todo o território.

Muitas das caraterísticas referidas pelos historiadores, no que respeita à


casa rural e urbana, durante o período medieval e moderno, foram
posteriormente identificadas nos levantamentos da arquitetura vernácula, que
se encontrava em uso, nos inquéritos e estudos que decorreram durante o
século XX (figuras 34,35 e 36). Os arquitetos, os agrónomos, os etnógrafos e
os geógrafos registaram muitas destas ocorrências na arquitetura dita corrente,
respetivamente no inquérito à arquitetura regional portuguesa, no inquérito à
arquitetura rural e nos estudos etnográficos de arquitetura tradicional e de
geografia humana. A etnografia portuguesa em 1896 com Adolfo Coelho (1847-
1919) previu (…) com destaque o estudo da habitação rural, tanto nos seus
elementos morfológicos como no processo de construção264. Essa
investigação, porém, só teve lugar mais tarde e, no começo, muito
discretamente. Em 1904, Rocha Peixoto (1866-1909) inicia uma série de
alusões às causas e efeitos da presença do adobe, da taipa e dos tabiques na
construção, referindo que a mesma se devia a escassez do material pétreo ou
dos meios económicos para a sua aquisição265. Para os etnógrafos no final do
século XIX e inícios do século XX, a habitação rural é encarada como um
produto extremamente condicionado pelas circunstâncias económicas e
materiais do sítio, enquanto a terra, como recurso disponível para a construção,

262
Idem, p.250.
263
TRINDADE, Luísa – A casa corrente em Coimbra. Dos finais da idade Média aos inícios da época Moderna, pp. 79-
80.
264
Apud PRISTA, Pedro – Taipa e adobe na etnografia portuguesa. Arquitetura de terra em Portugal, p. 109.
265
Ibidem.

105
era um material alternativo à pedra, francamente prioritário para esse efeito.
Etnógrafos como João Barreira (1866-1961) e Leite de Vasconcelos (1858-
1941) referem a historicidade de alguns materiais em terra, como o adobe e a
presença de algumas técnicas construtivas em terra na habitação rural, de que
eram exemplo as alvenarias em blocos cortados (o torrão), e os pavimentos em
terra e cal (o formigão)266. O fator económico e o reflexo da pobreza na
construção ficaram definitivamente associados à arquitetura de terra em
Portugal devido à análise dos etnógrafos nos inícios do século XX. Leite de
Vasconcelos, em 1920, na alusão que fez dos pavimentos em terra batida no
Alentejo, cita o polimento dos mesmos devido aos pés descalços dos seus
utentes, e, mais tarde, Francisco Arruda, em meados do século XX, afirma
mesmo que a taipa é “recurso de miséria verdadeira”267. Sensivelmente a partir
dos anos trinta serão os escritores neorrealistas a acentuar este caráter
“miserabilista” da arquitetura em terra. Alves Redol (1911-1969) em “Glória,
uma aldeia do ribatejo. Ensaio etnográfico” afirmou mesmo que (…) a falta de
pedra na região não permite fantasias arquitectónicas (…) por dificuldades de
outros materiais, e ainda por causa económica, as casas são construídas de
taipa ou adobe (…)268.

Figuras 37 e 38 – Desenho de taipal no livro: REDOL, Alves – Glória uma aldeia do Ribatejo (3ª edição),
p. 82 e imagem de casa em Glória construída em taipa e adobe. Respetivamente desenho de José
Serrão, 1938 e créditos Maria Fernandes, 2012.

266
Ibidem.
267
Idem, p.110.
268
REDOL, Alves – Glória, uma aldeia do Ribatejo. Ensaio etnográfico, p. 82

106
As casas deste aglomerado rural são minuciosamente descritas nesse
livro, compartimento por compartimento, assim como o sistema construtivo em
taipa e os materiais empregues (figuras 37 e 38). O escritor descreveu assim o
processo construtivo de uma casa em taipa na aldeia de Glória: (…) Depois do
alicerce surgir à superfície do solo, põem-lhe em cima, e a toda a volta, uma
cinta de seixo e barro de salão – terra grossa – armando nela o taipal (…)
constituído por dois taipais com 1,62m de comprido, encostado a seis costeiros
que pousam sobre três agulhas, pelas quais se marca a espessura da parede.
A agulha é uma peça de ferro com três furações para larguras de 0,40m, 0,50m
e 0,60m, e onde penetra o extremo que finda em bico (…) De taipal a taipal
colocam dois paus, os escantilhões que permitem aos pedreiros verificar se o
trajeto está em boas condições (…) entretanto os serventes foram amassando
a terra e o seixo, e com a fanga vão transportando a argamassa para dentro
dos taipais. Depois de se deitarem quatro fangas ao correr do trajeto, dois
pedreiros, que estão dentro dele espalham a argamassa e batem-na com os
maços, para que a compressão aumente a consistência das paredes (…)269.
Nesta visão critica, etnográfica e literária teve a particularidade ainda de referir
o número de trabalhadores envolvidos, as designações locais dos instrumentos
utilizados na construção, bem assim como as matérias-primas envolvidas no
processo.

Mais tarde, e no âmbito da etnografia, será com Jorge Dias (1907-1973),


Fernando Galhano (1904-1995), Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1973) e
Benjamim Pereira que se inicia um novo ciclo do conhecimento nesta matéria.
A partir dos estudos conduzidos por estes investigadores, a casa em terra não
se limita ao mundo rural interior, como nas pesquisas anteriores, mas aos
meios urbano e litoral. Graças a estes autores foram identificados novos tipos
arquitetónicos em terra e clarificadas algumas das relações existentes entre o
espaço arquitetónico, os sistemas construtivos e o modo de vida das

269
Idem, pp. 82-83.

107
comunidades. Esta equipa, que se forma a partir de 1948, reuniu elementos
que foi publicando em estudos parcelares270 sobre construções e habitações,
onde a particularidade morfológica é identificada nas suas variantes locais.
Será a partir destes estudos, e desta nova escola, que o “carater miserabilista”
se desvanece e a persistência e evolução da habitação vernácula passa a ser
explicada, em primeiro lugar, pelos materiais locais, e, em segundo, pelas
razões sociais de determinado mundo rural. Nesse período era já notório um
certo abandono das habitações, devido ao êxodo rural em curso; mas apesar
disso, a habitação vernácula fazia todo o sentido no contexto local, e a
realidade que esteve na origem da sua construção era ainda equilibrada e
perfeitamente atual naquela época. Os etnógrafos referiam-se muitas vezes às
formas arquitetónicas, às plantas e proporções das casas assim como à
organização e apetrechamento do seu interior271. O habitat e os materiais já
não eram justificados devido a limitações socioeconómicas, mas sim por
motivos estritamente locais e contextos culturais próprios, extremamente
relacionados com a agricultura e com o modo de vida dos sítios onde se
inseriam, que não seriam necessariamente pobres. Será com esta nova visão
etnográfica, que João Leal sintetizou ao designar “a casa como instrumento
produtivo”272, que a relação entre a construção e a arquitetura se renova de
forma estreita e praticamente indissociável. As técnicas construtivas, e
especificamente as que envolvem a terra, são descritas por estes etnógrafos
sempre numa relação direta com o tipo arquitetónico e com o meio ambiente. A
título de exemplo, os tabiques em terra são, assim, relatados como (…)
paredes construídas com madeira e materiais leves de argamassa (…) feito de
tábuas grosseiras (…) com cerca de 3 cm de espessura, postas ao alto,
pregadas aí e em baixo aos barrotes do soalho (…) usa-se em paredes

270
Refira-se os estudos referentes à casa Gandaresa, à casa das Gafanhas, à casa da Murtosa, aos abrigos e outras
construções rurais reunidos e publicados em: OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO Fernando – Arquitectura
Tradicional em Portugal; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO Fernando; PEREIRA, Benjamim – Construções
Primitivas em Portugal e DIAS, Jorge; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Espigueiros Portugueses.
271
Apud, PRISTA, Pedro Op. Cit. pp. 111-112.
272
LEAL, João – Arquitetos, engenheiros, antropólogos: estudos sobre arquitetura popular no século XX português.
Conferência arquitecto Marques da Silva, 2008. Porto [em linha], 2009. [Consult. 2012-07-12]. Disponível em WWW:
<URL: http://fims.up.pt/ficheiros/LivroFinalConferencias.pdf>
p. 51.

108
exteriores (…) e no revestimento de varandas fechadas das áreas rurais
nortenhas; nas paredes de corpos altos características da casa do Médio e Alto
Douro (…) nas cidades as trapeiras, varandins, andares suplementares, ou
outros acréscimos (…) são geralmente também em tabique, com reboco da cal
á vista, ou recoberto de telha a prumo, lousa em escama, chapa zincada ou
outros materiais273. Os mesmos autores referem três designações distintas
para esta técnica e suas variantes, que designam de “tabique” nas regiões de
Trás-os-Montes, Médio e Baixo Douro; “taipa” referindo-se às “taipas de fasquio
e rodízio” nalgumas zonas da Beira Alta e Beira Baixa; e “enxaimel” no centro
litoral ao sul do rio Mondego274. A visão dos etnógrafos e antropólogos sobre as
arquiteturas de terra é, de fato, notável e evoluiu com profundidade ao longo do
século XX. No entanto, e segundo Pedro Prista, (…) algo parece ter escapado
à sensibilidade etnográfica quanto ao interesse da taipa e do adobe 275. Estas
técnicas, que estavam perfeitamente ativas no período em que decorreram os
levantamentos etnográficos, com uma diversidade no interior do país, bem
mais difusa que o identificado pelos etnógrafos, ultrapassava o atavismo
cultural e a capacidade de mera produção artesanal apenas conformável a
contingências locais. Aos etnógrafos escapou a direta influência da arquitetura
erudita, nomeadamente das fortificações na arquitetura vernácula, da produção
em série de adobes, assim como o seu uso em modelos arquitetónicos
importados276 e na arquitetura planificada e desenhada. Esta ausência não
ocorre apenas com os levantamentos etnográficos, tal como se analisará neste
capítulo, ocorreu também com os arquitetos, no citado inquérito à arquitetura
regional de meados do século XX277.

273
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim – Construções primitivas em Portugal, p.
314.
274
Idem, p. 315.
275
PRISTA, Pedro – Op. Cit. p. 112.
276
FERNANDES, Maria - As casas dos Brasileiros na Beira Litoral Portuguesa. Terra em Seminário 2007 (V ATP,
Terra Brasil 2006), p. 239 e RUANO, Alice [et al.] – A fase de transição do sistema construtivo contemporâneo do
Movimento Moderno. Terra em Seminário 2010 (6º ATP , 9º SIACOT), p. 223.
277
Ver a entrevista a Francisco Siva Dias, anexo C.

109
Os agrónomos entre 1942-1946 procederam ao “Inquérito à habitação
rural”, um vasto trabalho de levantamento de campo no qual se incluía um
inquérito minucioso às famílias. Os objetivos principais deste inquérito
centravam-se em:
- conhecer as condições económicas e higiénicas dos alojamentos dos
trabalhadores agrícolas e dos pequenos proprietários;
- indagar ou determinar as condições de habitação rural;
- estudar a forma de melhorar essas condições dentro das possibilidades
dessas famílias;
- tomar medidas para modificar essas condições dentro das
possibilidades financeiras da agricultura e do Estado278.

Segundo Carlos Silva, o 3º volume deste inquérito apenas referia os


materiais empregues na construção e nunca o seu processo construtivo 279. No
entanto, a sua publicação tardia permitiu verificar que as casas estudadas são
extremamente descritas e no caso da Estremadura com maior detalhe que nos
anteriores volumes280. O 2º volume deste inquérito descreve com algum
pormenor as casas existentes em diversos lugares dos concelhos das Beiras,
com esquema em planta, mencionando sempre os materiais de construção e,
com enorme ênfase, as condições de salubridade e uso dos diferentes
compartimentos das habitações. Este volume destaca ainda, com detalhe o
recheio das habitações, para além, do rendimento e despesas da família, assim
como, dos gastos em iluminação e aquecimento. Estes dois últimos aspetos,
revestiam-se de especial importância dado que eram obtidos à base de
petróleo e carvão, recursos escassos durante o período em que decorreu o
inquérito e que coincide sensivelmente com a 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
A título de exemplo, veja-se o caso de uma habitação em adobe na povoação

278
AAVV (coord. Henrique de Barros) – Inquérito à habitação Rural, 2º vol., p.11. Deste inquérito apenas o 1º e o 2º
volume foram publicados na altura, o 3º volume concluído em 1943 e dedicado ao Ribatejo, Estremadura, Alto e Baixo
Alentejo acabou por ser publicado apenas em 2012, faltando no entanto a região do Algarve.
279
Apud. PRISTA, Pedro – Op. Cit. p. 110.
280
De que são exemplo as casas elevadas em adobe nas Caldas da Rainha e as casas de taipa em Coruche e
Salvaterra de Magos. AAVV – Inquérito à habitação rural, 3º vol., pp. 116-117; 190 e 195-196.

110
de Lavandeira, freguesia de Recardões, concelho de Águeda, distrito de
Aveiro. Neste exemplo, o nº 4 deste 2º volume, a família é descrita começando
pelo chefe, quer em termos da idade, quer do ofício, seguindo-se a
caraterização da casa onde cada compartimento é relatado e quantificado em
área, assim como, os anexos agrícolas, sempre com a particularidade de
mencionar a idade da construção. A esta caraterização do patriarca e da
arquitetura segue-se a descrição minuciosa de todo o recheio da casa, desde
os móveis aos utensílios, louças, roupas, todos devidamente quantificados e
avaliados, terminando com a descrição das despesas em termos de
aquecimento e iluminação281. Este 2º volume dedicado à região das Beiras e
subdividido em: Beira Litoral, Beira Alta e Beira Baixa foi coordenado por
Eugénio Castro Caldas e levantado por um vasto grupo de inquiridores, todos
agrónomos ou estudantes de agronomia. No início da publicação, a região das
Beiras é devidamente contextualizada, quer em termos do meio físico, quer das
culturas, do povoamento rural, da propriedade assim como da exploração da
terra. O ambiente e o contexto das Beiras foram ainda devidamente
enquadrados para a época e contribuem extraordinariamente para o
entendimento das casas levantadas, que se encontram desenhadas e descritas
nos exemplos que procedem o texto de inicial de enquadramento. O inquérito à
habitação rural, pese embora as vicissitudes da sua publicação, focou-se em
aspetos de certa forma insignificantes, como as despesas e rendimentos da
família, o valor dos bens móveis, como se sabe extremamente variável e que
rapidamente se desatualizaram. Mas teve, contudo, a enorme valia de
quantificar, desenhar e descrever as habitações, mencionando sempre o seu
estado de conservação e, por vezes com algum detalhe, os materiais em que
eram construídas. Para o conhecimento da arquitetura de terra em Portugal,
este inquérito constitui uma referência importante e indispensável para o
conhecimento da habitação rural e da sua relação com a agricultura e as
atividades agrícolas dos seus moradores na primeira metade do século XX.

281
AAVV (coord. Henrique de Barros) – Inquérito à habitação rural, 2º vol., pp. 95-100.

111
Também os geógrafos se interessaram, desde cedo, pela habitação rural
em Portugal. Em 1938, Orlando Ribeiro (1911-1997), enunciou os objetivos que
deveriam orientar o inquérito ao habitat rural, na perspetiva geográfica e que,
ao contrário dos agrónomos, pretendiam que considerasse:
- o estudo do povoamento ou a forma como se distribuía a população
dos campos, distinguindo o habitat rural do urbano;
- a identificação dos aspetos morfológicos e de génese ou origem do
habitat;
- a elaboração de uma carta do tipos de habitat rural em Portugal;
- a explicação para os diferentes tipos de habitat rural, se por causas
naturais, históricas ou outras;
-o estudo da casa, indissociável do povoamento e das suas
dependências agrícolas282.

Segundo o mesmo autor, o inquérito enquadrava-se nos estudos de


geografia humana e dividia-se em três capítulos distintos: a habitação rural
(casa, usos, materiais e sistemas construtivos), o habitat (povoamento, região)
e a propriedade e exploração da terra (dimensões, culturas, população). Estas
considerações preliminares, que apenas terão desenvolvimento anos mais
tarde com a publicação incompleta da “Aglomeração e dispersão do
povoamento rural em Portugal”283, acabaram por orientar estudos posteriores
sobre o povoamento e a habitação, numa visão muito particular dos geógrafos,
focada na perspetiva do território e da relação entre a população e a paisagem.
Pretendiam os geógrafos saber as causas e a génese da habitação rural e não
apenas as características económicas e de salubridade que norteou
fundamentalmente o inquérito dos agrónomos. Os trabalhos de geografia foram
percursores na forma como abordaram o território, por eles considerado como
um todo extraordinariamente diversificado, e pela visão global do país que
acabaram por demonstrar, ao contrário dos seus antecessores, agrónomos e

282
RIBEIRO, Orlando – Inquérito do Habitat Rural, pp. 5-9.
283
RIBEIRO, Orlando - Aglomeração e dispersão do povoamento rural em Portugal. Miscelânea Científica e Literária
dedicada ao Doutor J. Leite de Vasconcellos. Lisboa, 1939, em separata, 20 p.

112
etnógrafos, que ao subdividirem os estudos em regiões e ao particularizarem
tendencialmente sítios, perderam a visão global do território.

De entre os estudos de geografia, deve ainda ser dado destaque à


existência de duas linhas opostas, que, de certa forma, expressam duas visões
distintas do território. Por um lado, Amorim Girão (1895-1960), com a sua visão
“naturalista” e física do território; por outro, Orlando Ribeiro (1911-1997), de
espirito “humanista”, com a introdução do fator humano, que o torna o elemento
central à compreensão geográfica entendida como síntese de muitas
realidades. Para o primeiro a casa (…) se amolda à paisagem física que a
rodeia (…) sempre influenciada pelas condições naturais (…) a casa aldeã,
como centro da vida rural, é sobretudo um facto de economia agrícola (…) mais
ainda que os seus materiais e à sua forma (…) como nela se relacionam e
combinam as dependências destinadas aos homens, aos animais e às coisas
284
. Foi com base nos estudos do geógrafo Amorim Girão que a divisão
administrativa do território em 11 províncias se efetivou a partir de 1936; e tal
como a ideia de Portugal se inspirou nas 13 regiões “naturais ou físicas”
defendidas por este geógrafo, as casas acabaram reduzidas a pequenos
modelos, variando entre a casa elementar e a casa complexa, onde a
economia e a função predominavam enquanto valores categóricos (figuras 39 e
40).

Figuras 39 e 40 – Os tipos de casa de pescador no litoral Algarvio e a casa Algarvia segundo Amorim
Girão. GIRÃO, Amorim – Geografia de Portugal, pp. 250 e 256.

Para Orlando Ribeiro, o território era bem mais complexo e diversificado.


Da mesma forma que o seu estudo preliminar de 1938 “Inquérito ao habitat

284
GIRÃO, Amorim – Geografia de Portugal, p. 255.

113
rural”, já enunciava uma série de princípios, a sua visão humanista incidiu
sobretudo na morfologia, na origem e nas características históricas, físicas e
culturais do habitat e sempre na sua relação com o povoamento e os seus
habitantes. Será com Orlando Ribeiro que os contrastes, a variedade e a
unidade de Portugal são explicados e sintetizados nas 23 unidades de
paisagem, e nas duas grandes divisões geográficas: o norte Atlântico e o sul
Mediterrâneo285. Segundo este geógrafo, a fronteira entre estas duas
realidades situa-se sensivelmente junto ao rio Mondego e as diferenças entre
as casas do Sul e do Norte, entre o habitat Atlântico e o Mediterrâneo
encontravam-se sobretudo na relação do povoamento, tradicionalmente
disperso a Norte e concentrado a Sul, e na relação entre o modo de habitar
humano e o alojamento para os animais. No tipo do Norte ambos se situavam
no mesmo volume, muito embora independentes (…) dois pisos, uma loja
térrea destinada aos gados e à guarda de alfaias e produtos agrícolas e um
sobrado ou andar para habitação (…)286, e no tipo do sul completamente
separados caraterizando-se ainda pela (…) forma mais simples como pela
função especializada construção de um só piso, destinada apenas à
habitação287. Esta subtil diferença é ainda acentuada, respetivamente pela (…)
escada exterior de pedra (…) as paredes de blocos, mais ou menos regulares,
apenas sobrepostos, sem argamassa288 (…) em contraste com a casa do sul
(…) as paredes rebocadas e caiadas, às vezes ornadas de barras de cores
vivas289.

Para as arquiteturas de terra, estas duas linhas da geografia


contribuíram essencialmente para relacionar os materiais de construção locais
e as condições económicas e produtivas dos sítios, como no caso de Amorim
Girão, e para a explicar e interrelacionar o modo de habitar com o meio

285
RIBEIRO, Orlando – Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, pp.188-9.
286
Idem, p. 92
287
Idem, p.93.
288
Ibidem.
289
Ibidem.

114
ambiente, e com as influências culturais que estavam na origem das duas
grandes realidades portuguesas: o norte e o sul, como defendia Orlando
Ribeiro. Será mais tarde, com os contributos de uma nova área do
conhecimento, a arquitetura paisagista, e com o geógrafo Jorge Gaspar, que o
tema da arquitetura vernácula ganha novo impulso com o que designou de
novos «olhares» sobre a paisagem: (…) uma diferença grande na paisagem
olfactiva das aldeias do Norte e do Sul (…) Nas Beiras, Trás-os-Montes e
Minho, é forte o cheiro do fumo das lareiras e, embora menos que noutros
tempos, o cheiro do gado bovino (…) povoa a atmosfera (…).Já no Alentejo, as
aldeias não só são mais «limpas», como são quase inodoras – nalgumas
épocas (…) destaca-se apenas o odor da flor de laranjeira, quando as ruas
estão arborizadas290. Para os arquitetos paisagistas, como Alexandre Cancela
D’Abreu, a paisagem é considerada (…) um sistema complexo, dinâmico, onde
vários factores naturais e culturais se influenciam mutuamente e se modificam
(…) e a sua compreensão implica (…) o conhecimento de factores como (…) o
uso do solo e todas as outras expressões da actividade humana ao longo do
tempo (…)291. Nesta área do conhecimento as arquiteturas de terra
desempenham um papel fundamental, primeiro, porque fazem parte das
expressões da atividade humana no território, segundo, porque qualquer
modificação nos fatores naturais e culturais da paisagem é traduzida
diretamente nessa arquitetura e, por fim, sendo a paisagem um sistema
complexo e a arquitetura em terra um tipo de construção que usa a “terra”
enquanto matéria-prima e enquanto sítio ou local para a sua edificação é
natural que a sua materialização modifique a paisagem e que se traduza numa
relação indissociável com o uso do solo. As arquiteturas de terra, no ponto vista
paisagístico, pelo seu carater autóctone são extremamente ligadas à superfície
e às unidades de paisagem onde se inserem. Porém, se analisarmos as
paisagens portuguesas nestes últimos 50 anos, é visível que elas se
modificaram profundamente e que o Portugal dos inquéritos e dos estudos dos

290
GASPAR, Jorge – O retorno da paisagem à geografia. Apontamentos místicos. Finisterra nº 72, 2001, p. 89.
291
D’Abreu, Alexandre Cancela [et al.] – Identificação de unidades de paisagem. Metodologia aplicada a Portugal
Continental. Finisterra nº 72, 2001, p. 197.

115
etnógrafos e dos geógrafos, já não é exatamente o mesmo. Na recente obra “A
vida no campo” o geógrafo Álvaro Domingues, a propósito do mundo rural e da
arquitetura vernácula portuguesa que carateriza como (…) mitologias do ultimo
país rural da Europa (…) refere de forma radical que se trata de (…) imagens
bucólicas (…) destroços desse mundo perdido (…) variando entre calamidades
e incêndios, resorts para todos os gostos com muita relva e espaço verde,
turismo rural, desertificação ou, ao contrário, estradas e casas por todo o lado
(…)292. Apesar desta visão irónica e derrotista da paisagem, outros aspetos da
paisagem atual, como (…) a captação do espírito (…) por definição invisível
(…) a paisagem nua e os pormenores em que se torna patente a marca de um
tempo secular (...) testemunha da continuidade (…)293 são apontados na obra
“Portugal, o sabor da terra”, onde a paisagem é captada pela fotografia,
registado os seus valores estéticos, igualmente explicados em termos
histórico/geográficos. Nessa publicação são enaltecidos pormenores da
memória dos locais, que sempre ali estiveram, e que, apesar da “desordem”
apontada por Álvaro Domingues, ainda permanecem nos locais. No panorama
das arquiteturas de terra em Portugal é frequente encontrarem-se ainda
paisagens onde as construções e as arquiteturas pouco se alteram, como são
os exemplos de Mértola e Serpa no Alentejo, onde a taipa prevalece (figura42).

Figuras 41 e 42 – Serpa nos desenhos do arquiteto Lúcio Costa na viagem que efetuou a Portugal em
1952. Fotografia a partir da exposição que esteve patente de 21 de fevereiro a 24 de Abril de 2013, no
espaço Portugal-Brasil, Lx Factory em Lisboa. Casa em taipa no centro histórico de Serpa. Créditos: Casa
Lúcio Costa, 1952 e Maria Fernandes, 2012.

292
DOMINGUES, Álvaro – Vida no campo, p.62.
293
MATTOSO, José [e al.] – Portugal. O sabor da terra. Um retrato histórico e geográfico por regiões, p. 9.

116
Na década de 50, os arquitetos portugueses também procederam, a um
inquérito à arquitetura regional portuguesa. O trabalho de campo levado a cabo
por estes profissionais, em todo território continental, baseou-se numa
metodologia onde equipas constituídas pelo menos por três arquitetos (sendo
que um deles era coordenador) foram direcionadas para seis zonas distintas. O
conhecimento que resultou deste levantamento é, ainda hoje, uma referência
para as arquiteturas de terra em Portugal, sobretudo nas zonas 4
(Estremadura), 5 (Alentejo) e 6 (Algarve). No decurso do inquérito, as técnicas
construtivas em terra estavam perfeitamente ativas, com maior preponderância
para a taipa e o adobe, dado que as técnicas mistas em madeira e terra são
pouco referenciadas neste trabalho294. A construção de paredes em taipa é
descrita e fotografada com detalhe, por exemplo na povoação de Alfundão, em
Ferreira do Alentejo, na zona 5, Alentejo295; e no monte das Pitas em S.
Bartolomeu de Messines, Silves, na zona 6, Algarve 296. O adobe, enquanto
material de construção de paredes, é referido em construções secundárias no
Alentejo (…) na região de transição para a charneca ribatejana (…) com
coberturas em mato (…)297 e com algum detalhe, mas sempre enquanto
material secundário, no Algarve298. O adobe é analisado e registado com maior
evidência na zona 4, da Estremadura299, quer ao nível do material quer da
arquitetura. Como já foi mencionado anteriormente, todas as equipas
realizaram um mapa tipológico para as respetivas zonas, com exceção do
Alentejo (zona 5)300, muito embora diversos edifícios em taipa sejam
desenhados e descritos, sem contudo figurarem como tipos arquitetónicos,

294
Paredes de entrançados de varas e barro são mencionados nas povoações de Rio de Onor e Guadramil em Trás-
os-Montes, na zona 2. AA.VV – Arquitectura Popular em Portugal (3ª edição), vol1, p.150. Os arquitetos responsáveis
pela zona 2 – Trás-os-Montes, foram: Octávio Filgueiras, Arnaldo Araújo e Carlos Carvalho Dias.
295
AAVV – Arquitectura Popular em Portugal (3ª edição), vol. 3, pp.34-36. A equipa de arquitetos, responsável pela
zona 5 -Alentejo, era constituída por Frederico George, António Azevedo Gomes e Alfredo Mata Antunes.
296
Idem, pp. 176-177.A equipa de arquitetos responsável pela zona 6 – Algarve, era constituída por Artur Pires Martins,
Celestino de Castro e Fernando Torres.
297
Idem, p.53.
298
Idem, p.176.
299
AAVV- Arquitectura Popular em Portugal (3ª edição), vol. 3,pp. 121 a 223. A equipa responsável por esta zona 4, da
Estremadura, era constituída por: Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de Freitas e Francisco Silva Dias.
300
Segundo Francisco Silva Dias foi propositado. Os arquitetos dessa região queriam evitar cópias futuras de modelos
mal interpretados (anexo D).

117
casos dos montes em Moura e Barrancos e as casas de vila em Peroguarda,
Monsaraz e Juromenha 301. Ficaram de fora deste inquérito os arquipélagos da
Madeira e dos Açores, levantamentos que só mais tarde vieram a ser
concretizados, respetivamente pelo arquiteto Victor Mestre302, fruto de uma
investigação académica em 1988, e pela Associação dos Arquitetos, através de
equipas que realizaram o trabalho de campo entre 1982 e 1983, concluído e
revisto em 1996, sob a coordenação de João Vieira Caldas303. Nesses
levantamentos, destaque-se a identificação, na ilha de Porto Santo, na
Madeira, de mais uma técnica de construção em terra, os “tetos de salão” 304.
Segundo Victor Mestre, (…) consistem em estender barro ou terra amassada
com outros elementos aglutinadores, sobre uma estrutura complexa de
madeira, quer para telhados com pendentes quer para telhados rasos tipo
açoteia (…)305. Com a extensão aos arquipélagos da Madeira e dos Açores,
encerrou-se o ciclo dos inquéritos em território nacional sobre a arquitetura
vernácula. Restando às monografias locais e às investigações de âmbitos
restritos em território e temáticas, o detalhe, o pormenor, e a atualização desta
realidade nos nossos dias306. Dentro dessas abordagens as arquiteturas de
terra carecem ainda de pesquisa e levantamento, pois os inquéritos não
esgotaram o que em terra se construiu no território português. Para além do
que ficou de fora dos inquéritos e que o antropólogo João Leal, ao exemplificar
designou de (…) arte nova popular (…) importações “despersonalizadoras” da
arquitetura citadina (…) sinais do “progresso mal assimilado” (…) casas que
sendo populares não tinham devido ao seu aspeto miserável (…) casas sem

301
AAVV – op. Cit. vol. 3, pp. 114-115, 117, 104,
302
MESTRE, Victor – Arquitectura Popular da Madeira. Lisboa: Argumentum, 2002, ISBN 972-8479-13-1.
303
AAVV – Arquitectura Popular dos Açores (2ª edição). Lisboa: Ordem dos Arquitectos/ Governo Regional dos Açores,
2007.
304
MESTRE, Victor – Relações entre as construções da ilha de Porto Santo e das ilhas Canárias. Jornal Arquitectos,
publicação mensal, Ano 3, Maio 85. Lisboa: Edição Associação dos Arquitectos Portugueses/ Secção Regional Sul,
1985, p. 5.
305
Ibidem.
306
Sobre este tema veja-se por exemplo o trabalho levado a cabo pelo GTAA, Gabinete Técnico de Apoio às Aldeias
do Sotavento (2001-2007) e publicado em RIBEIRO, Vitor [e al.] – Materiais, sistemas e técnicas de construção
tradicional. Porto: Ed. Afrontamento, 2008.

118
nada a assinalar, ordinárias (…)307 onde seguramente as técnicas de terra
tiveram um importante papel construtivo.

No entanto, todos os contributos anteriormente descritos levantam ainda


questões, algumas delas pela ausência de análise comparativa entre a história
da construção e as restantes pesquisas. De entre elas, sobressaem algumas
dúvidas a arquitetura vernácula em terra é herdeira dos sistemas construtivos
históricos? Como no caso das fortificações? E de que forma a arquitetura
erudita e extraordinária contribuiu para a construção em terra presente nas
arquiteturas ditas ordinárias e não extraordinárias? Dos dados analisados a
partir dos citados estudos, pode-se concluir que a arquitetura vernácula é a
síntese de todas elas, ordinárias e extraordinárias, que nela se conjugaram
influências de todos os parâmetros e nela se perpetuaram, num processo lento
de continuidade histórico-construtivo ao longo do tempo, técnicas, materiais,
sistemas construtivos e formas de viver em terra diferentes e com origens
diversificadas.

2.2 – Das técnicas, das arquiteturas e dos recursos naturais


Da síntese que é a arquitetura vernácula portuguesa e conhecendo-se a
variedade de solos308, água 309
e madeira310 disponíveis, no território
continental, para a construção em terra foi possível mapear alguns dos
métodos construtivos existentes (figuras 43, 44, 45 e 46). Numa análise
comparativa breve entre os mapas das técnicas construtivas em terra e as
cartas de Portugal continental respeitante a solos, hidrografia, geologia e
arvoredo, é possível relacionar:

307
LEAL, João – Entre o vernáculo e hibrido: a partir do inquérito à Arquitectura Popular em Portugal. Joelho 02,
Revista de Cultura Arquitetónica. Interseções em Antropologia e Arquitectura. Abril 2011,p. 72.
308
BRITO, Raquel Soeiro de – Clima e sua influências. Os solos. Atlas de Portugal. Um país de área repartida. [em
linha] s/d [Consult. 2013-03-04]. Disponível em: WWW: <URL:http://www.igeo.pt/atlas/cap1/Cap1d_6.html>.
309
BRITO, Raquel Soeiro de – Clima e as suas influências. A rede hidrográfica. Atlas de Portugal. Um país de área
repartida. [em linha] s/d [Consult. 2013-03-04]. Disponível em: WWW: <URL:
http://www.igeo.pt/atlas/Cap1/Cap1d_5.html>.
310
RIBEIRO, Orlando – Mapas III, arvoredos. Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, pp.182-183; BRITO, Raquel Soeiro
de – Clima e as suas influências. A vegetação natural. Atlas de Portugal. Um país de área repartida. [em linha] s/d
[Consult. 2013-03-04]. Disponível em: WWW: <URL: http://www.igeo.pt/atlas/Cap1/Cap1d_7.html>

119
- a existência de adobe nas situações em que solos argilosos/arenosos
são predominantes e a água está facilmente acessível;
- a existência de taipas de fasquio e rodízio, ou tabiques em terra, onde
a presença de árvores de folha caduca e pinheiros são igualmente
predominantes;
- e por fim, a taipa, nas regiões onde a escassez de água é frequente.
As situações mais excecionais de blocos cortados e torrões ocorrem em zonas
pontuais de Luvissolos (solos argilosos) e Solonchacks (toalhas de água
salgada)311.

A escassa existência de métodos construtivos em terra nas situações em que


predominam Litossolos (pedregosos pouco evoluídos), Cambissolos (produtos
de complexos rochosos antigos), e onde, na carta geológica, os afloramentos
rochosos são manifestamente predominantes312. Pese embora as influências
culturais no território, as técnicas construtivas de terra em Portugal
desenvolveram-se e evoluíram graças à disponibilidade dos recursos naturais
existentes nas diferentes regiões, como solos adequados, água e madeira.

311
Designações e características conforme a carta de solos de Portugal continental.
312
BRITO, Raquel Soeiro de – A terra que habitamos. Evolução geológica do Oeste peninsular. Carta geológica de
Portugal continental. Atlas de Portugal. Um país de área repartida. [em linha] s/d [Consult. 2013-03-04]. Disponível em:
WWW: <URL: http://www.igeo.pt/atlas/Cap1/Cap1c_p39_image.html>.

120
Figuras 43, 44. 45 e 46 – Mapas da localização das principais técnicas de construção em terra em
Portugal: taipa, adobe moldado ou blocos apiloados, taipa de rodízio/fasquio e blocos cortados ou torrões
de terra. Os mapas referem-se apenas à arquitetura vernácula (ordinária) excluindo-se as fortificações e
outras arquiteturas (extraordinárias). Créditos Maria Fernandes e Mariana Correia. Mapa em permanente
atualização desde a publicação em 2005, AAVV - Arquitectura de Terra em Portugal, p. 21.

121
A taipa é a técnica construtiva de paredes em terra predominante na
região do Alentejo, quer em situação rural quer urbana (tabela 3, nº. 6). As
diferenças entre esta região e as restantes313, onde a sua presença é menos
pronunciada, encontram-se:
- no uso em ambas as paredes quer interior quer exteriores, exclusivo no
Alentejo (figura 43);
- nas dimensões do bloco de taipa, superiores em espessura e comprimento no
Alentejo314, e em altura na Estremadura/ Beira Litoral (figura 47) e com
dimensões inferiores em altura e espessura no Ribatejo (figura 48);
- na diversidade do uso, em muros de vedação315, construções agrícolas,
moinhos316 etc. enquanto nas restantes regiões, com exceção do Algarve,
limitam-se às paredes de habitações;
- uso também em arquitetura extraordinária como cineteatros, igrejas, edifícios
públicos e não apenas em habitação e arquitetura vernácula317.

313
Como sucede no Algarve (concelho de Silves, Faro), no Ribatejo (concelhos da Chamusca, Coruche), na Beira
Litoral / Estremadura (concelho de Pombal e Leiria), na Beira Baixa (concelho de Idanha a Velha) e pontualmente no
Minho (concelho de Viana do Castelo), só para citar alguns concelhos.
314
GOMES, Ruy; FOLQUE, José – O uso da terra como material de construção. Circular de informação técnica, CIT nº
9, série D-L. Lisboa: LNEC/MOP, Fevereiro de 1953, pp. 4 e 7. Os autores referindo-se especificamente às taipas
encontradas em Castro Verde e na Chamusca mencionam os comprimentos de 1.45m em média para espessuras e
alturas que variam entre 0.90m no primeiro e 0.45m no segundo. CORREIA, Mariana – Taipa na arquitectura
tradicional. Arquitectura de terra em Portugal, p.33.A autora refere comprimentos superiores variando entre 1.60m,
1.70m, 1.90m até 2.00m nos concelhos de Reguengos de Monsaraz, Redondo, Mourão, Moura, Ourique e Alcácer do
Sal. Na zona de Pombal os blocos de taipa chegam a atingir os 0.90 m de altura.
315
VARANDA, Fernando – Muros de propriedades rurais em Mértola. Gramáticas da pedra. Levantamento de tipologias
de construção murária, pp. 266-271.
316
Bexiga, Pedro – Moinhos de taipa, caracterização dos processos construtivos e identificação dos fenómenos de
deterioração. Arquitectura de terra em Portugal, pp. 243-247.
317
Os cineteatros de Alvito e Borba foram construídos em paredes de taipa assim como diversas igrejas e outros
imóveis no concelho de Avis.

122
Figuras 47 e 48 – Casa em taipa, Assenhada da Paz, Louriçal, Pombal (Estremadura/ Beira Litoral) e
casa em taipa com paredes interiores em adobe, Chamusca (Ribatejo). Créditos Maria Fernandes, 2007.

De entre os tipos arquitetónicos, construídos em taipa e mais


proeminentes, no Alentejo destacam-se ao nível urbano318 (figura 49):
- a casa de dois pisos e chaminé na fachada, cuja construção se desenvolve
em profundidade no lote com quintal no fundo, perpendicular à rua, em banda e
integrada em quarteirão319;
- a casa de um piso, com desenvolvimento paralelo à rua e escasso quintal na
fachada oposta quando existente320;
e ao nível rural:
- o monte, habitação ou conjunto de habitações e instalações agrícolas 321,
agrupadas ou isoladas, com desenvolvimento construtivo na longitudinal, por
sucessão de compartimentos, englobando três variantes fundamentais;
- o monte isolado em geral associado a uma habitação; o monte conjunto, com
duplicação da construção em simetria contrária ao da fachada de acesso e
correspondendo a mais que uma habitação;

318
Ver ainda para as restantes zonas o artigo, MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria - Portugal Mediterrâneo versus
Portugal Atlântico, tipologias arquitectónicas em terra. Terra em Seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), pp. 238-
241
319
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor Maison en bande sur deux niveaux. [em linha] 2001 [Consult.2013-03-06].
Disponível em: WWW: <URL: http://www.meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265>.
320
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor Maison en bande sur un niveau. [em linha] 2001 [Consult.2013-03-06].
Disponível em: WWW: <URL: http://www.meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265>.
321
PICÃO, José da Silva – Através dos Campos. Usos e costumes agrícola-alentejanos (concelho de Elvas) (2ª
edição), p. 11.

123
- por fim, o monte aglomerado, que tal como o nome indica corresponde a um
conjunto de habitações e outros edifícios, com desenvolvimento em rua ou
pátio e complexo em termos de funções e usos322.

O uso de técnicas mistas em madeira com preenchimento e


revestimento em terra, taipas de fasquio e rodízio, vulgarmente designadas de
tabiques em terra, foram durante anos a solução construtiva para as paredes
exteriores e interiores em pisos superiores, de edifícios construídos em
alvenaria de granito ou xisto (figura 49 e tabela 3 nº. 9).

Figuras 50, 51 e 52 – Tabiques interiores com enchimento em argamassas de cal e saibro no centro
histórico de Guimarães e cal e terra e adobes no antigo Hospital/ capela do Espirito Santo em Góis,
concelho de Coimbra. Tabique interior com enchimento em adobes, no Casal em Caldas da Rainha.
Créditos Maria Fernandes, respetivamente 2007, 2005 e 2006.

O tipo de casa Atlântica, ou do norte, com loja no piso térreo para


animais ou armazém, e habitação, nos pisos superiores (tabela 4, nº.6),
corresponde ao tipo arquitetónico mais frequente e predominante nas regiões
de Trás-os-Montes e Beira Alta (Alto Douro)323. Apesar de preponderante este
tipo contém inúmeras variantes. Neste caso, é importante referir que a técnica
sofreu alguma evolução nas situações urbanas, como sucedeu nas cidades de
Guimarães (Minho) e do Porto.

322
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor Monte. [em linha] 2001 [Consult.2013-03-06]. Disponível em: WWW: <URL:
http://www.meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265>. Vejam-se ainda os exemplos registados em: FONSECA,
Inês Filipe da – Arquitectura de terra no concelho de Avis. Bases para a sua salvaguarda como património cultural
(versão provisória). Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico;
Universidade de Évora, Évora, 2006. Texto policopiado, não publicado; e CORREIA, Mariana – Taipa no Alentejo.
Lisboa: Argumentum, 2007.
323
MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria – Op. Cit., p.228.

124
Figura 49 – Mapa dos principais tipos arquitetónicos existentes em Portugal e construídos, total
ou parcialmente, com técnicas de terra. O mapa refere-se apenas à arquitetura vernácula e baseia-se no
mapa desenvolvido para o programa MEDA-CORPUS, Architecture Traditionnelle Méditerranéenne
(tabela 4 e figuras 43, 44, 45 3 46)

125
A escassez de terra disponível levou à substituição deste enchimento por
argamassas em cal, gesso, com areia ou saibro e nas situações de taipa de
rodizio com enchimentos em alvenarias de tijolo ou alvenarias de pedra
argamassada. Outros exemplos de tabiques, com cal, terra e enchimentos
diversos com cerâmicos e materiais pétreos e com elementos vegetais, como o
caniço ou tojo, foram também usados em situações pontuais de tabiques
interiores e noutras regiões de Portugal continental, de que são exemplo a
Estremadura, Beira Baixa, Ribatejo, Alentejo e até mesmo no Algarve (figuras
50, 51 e 52). Nestas soluções construtivas, é de destacar que quer os materiais
cerâmicos, quer os pétreos, são de reduzida dimensão.

Ainda no grupo das técnicas construtivas de enchimento e revestimento


há que salientar o uso de rebocos e argamassas, com especial relevância para
as paredes em alvenaria de granito e xisto324. Os motivos que estão na origem
das argamassas em terra nestas regiões estão relacionados com a inexistência
de outros ligantes, como a cal, e na dificuldade em aceder aos mesmos por
motivos económicos ou outros (figura 53). Para além dos métodos de
construção mencionados, tem ainda sido identificado, noutras circunstâncias o
uso de argamassas em terra para assentamentos de alvenarias de pedra,
como sucede com as alvenarias em calcário, granito e xisto. A título de
exemplo, podem citar-se os vestígios encontrados no Convento de Cristo em
Tomar, em recentes escavações arqueológicas próximas ao claustro das
Lavagens, e junto à fachada nascente com a descoberta do Alambor (figura
54).

324
FERNANDES, Maria - Earth mortars and earth-lime renders. Conservar Património nº 8, pp. 22-23.

126
Figuras 53 e 54 – Mozinhos, Penedono, Viseu, rebocos exteriores em terra sobre alvenaria de xisto
posteriormente caiados e Convento de Cristo em Tomar, vestígios de Alambor, sistema defensivo oblíquo
ao pano de muralha e construído em alvenaria argamassada de calcário “pregada” com terra. Créditos
Maria Fernandes, 2007 e José Fernando Canas 2012.

Dentro da temática, pouco conhecida e praticamente nada estudada na


atualidade, das argamassas em terra para uso em alvenarias de pedra,
saliente-se ainda o exemplo das “falsas abóbadas em pedra”, utilizadas em
construções rurais para abrigo pastoril. Segundo Victor Mestre (…) a terra que
se coloca sobre a cúpula permite a uniformização da cobertura. Esta, após
escolha criteriosa, quase sempre rica em talisca (pedra mole) ou solos
argilosos com mistura de pequenas pedras que seguram a terra face às
bátegas violentas provocadas pelas trovoadas (…)325 serviam para proteger a
cobertura e preencher as juntas das alvenarias. Estas construções designadas
de Safurdão e Chafurdão existentes em zona rural e principalmente na raia
Portuguesa da Beira Baixa, Alentejo e Algarve, relacionadas com a
transumância, encontram-se hoje em ruína, dado o abandono destas práticas
agrícolas e pecuárias326.

O uso da técnica construtiva em blocos cortados ou torrão é pontual no


território continental e pouco expressiva em termos arquitetónicos (figura 46).
(…) O torrão é um paralelepípedo de terra argilosa endurecida com uma face
de cerca de 20 por 20 centímetros e com profundidade igual ao tamanho da

325
MESTRE, Victor – Terra de cobertura. Construções circulares com cobertura de terra (Alentejo) e coberturas de
salão do Porto Santo (Madeira). Arquitectura de terra em Portugal, pp. 63-64.
326
Idem, p. 64.

127
lâmina de uma enxada, usada para retirar o torrão do chão das marinhas de
junco, local onde são produzidos (…) uma argila orgânica devido ao seu
327
elevado teor em junco (…) . A técnica de cortar blocos diretamente a partir
de solos com uma enorme coesão, usados sobretudo em alvenarias de
construções e, excecionalmente, de habitações (figuras 55 e 56), assim como
com blocos cortados nos Sapais do rio Vouga, para o uso em muros de
vedações ou de recintos com água salgada (figura 57), são algumas das
utilizações desta técnica em Portugal. Qualquer um destes casos é ainda
pouco estudado, e carece, urgentemente, de investigação para o seu
conhecimento e aplicação futura na construção. Os blocos de terra cortados e
utilizados na região de Santarém e Benedita eram usados, na construção, em
simultâneo com os designados tufos ou blocos calcários (figura 55). Exemplos
dessa situação foram identificados pelos agrónomos no inquérito à habitação
rural numa casa em Várzea, Santarém que (…) tem paredes exteriores e
interiores de adobos especiais, cortados dos calcários existentes na região e
empregados naturalmente, fazendo alvenaria (…)328 .

Figuras 55, 56 e 57 – Várzea, Santarém, paredes em blocos de tufo (calcário) e blocos cortados em terra;
Chãos de Alcobertas, Serra de Candeeiros, Benedita, alvenaria em blocos cortados em terra e Aveiro,
marinhas de sal em torrão. Créditos Maria Fernandes, 2011, Eduardo Carvalho, 2007, António Vieira,
329
2008

327
PEREIRA, Mafalda Isabel da Cunha – Op. Cit., pp. 8, 86, 89 e 90.
328
AAVV (coord. E. A. Lima Basto, António Faria da Costa e Carlos Silva) - Inquérito à habitação rural, 3º volume, pp.
178-179.
329
Marinhas de sal [em linha] 2008 [Consult.2013-03-06]. Disponível em:
WWW:URL:http://www.tovieira.com/Portugal/Aveiro-distrito/Marinhas-de-Sal-Aveiro-18-de/i-VGvWLtv/0/L/Aveiro%20-
%20Marinhas%20de%20Sal%2020080819-1552-L.jpg.>

128
O torrão, constituído por terras finas e junco da ria (figura 57), é um dos
exemplos mencionados que têm despertado interesse científico nos últimos
anos, e que tem sido objeto de pesquisas que visam, sobretudo, a sua
conservação e compatibilidade com outros materiais330.

Em relação ao uso da técnica construtiva do adobe em Portugal o tema


será desenvolvido no capítulo 4.

Os métodos de construção existentes em Portugal são um vasto campo


para investigação quer nas temáticas da arquitetura quer da construção e
materiais. No que se refere à arquitetura há que salientar ainda que as
pesquisas deveriam orientar-se quer para a arquitetura ordinária (vernácula,
espontânea, local) quer para arquitetura extraordinária (projetada, planificada,
monumental). No primeiro caso sobressaem a intensa relação com o meio
ambiente, a vida rural e as atividades agrícolas; no segundo, as orientações
dos manuais de construção, dos ofícios especializados e dos projetos
previamente traçados (tabela nº3).

As arquiteturas em terra quer, vernácula quer extraordinária estão por


isso, na origem da arquitetura contemporânea em terra que se vêm afirmando
no território continental português desde finais do século XX 331 (tabela nº4 e
figura 49). Em síntese pode-se afirmar que os tipos habitacionais construídos
em técnicas de terra acabaram por ser identificados nos diferentes inquéritos e
estudos que versavam a arquitetura vernácula em Portugal.

330
Sobre as características e comportamento deste material veja-se a investigação de: PEREIRA, Mafalda Isabel da
Cunha - Muros da Ria de Aveiro: novas tecnologias versus solução tradicional. Dissertação de Mestrado em
Engenharia Civil; Universidade de Aveiro, Aveiro, 2010 [em linha] 2010 [Consult.2013-03-06]. Disponível em: WWW:
<URL: http://ria.ua.pt/handle/10773/3940>.
331
Ver os artigos: BASTOS, Alexandre – A arquitectura contemporânea na Costa Alentejana; SCHRECK, Henrique –
Da planta livre à liberdade da planta; MOURA, Pedro Carneiro de – Projecto de três habitações e uma biblioteca em
Silves; todos publicados em: AAVV (coord. Maria Fernandes, Mariana Correia) - Arquitectura de terra em Portugal.
Lisboa: Ed. Argumentum, 2005, ISBN 972-8479-36-0, respetivamente pp. 154-161, pp. 162-165; pp. 166-169.

129
Tabela 4 – Alguns tipos habitacionais em terra e a sua relação técnico/ construtiva, no território
português. Tipos arquitetónicos, conforme a designação no programa MEDA-CORPUS “ Architecture
Traditionnelle Méditerranéenne” (localização nas figuras 49 e técnicas nas figuras 43, 44, 45 e 46)
Nº TIPOS DESIGNAÇÃO TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM TERRA
MULTIFAMILIAR/ coletiva
1 Casa (s) enterradas Inexistente ___________
2 Casa (s) Fortificada Todos os exemplos conhecidos são ___________
elevados em alvenaria de pedra
3 Casa (s) em recinto ou Monte (variante aglomerado)332 Taipa
com pátio Monte (variante conjunto)333 Taipa e adobe

UNIFAMILIAR/ família alargada


1 Casa Inexistente ___________
Troglodita/enterrada
2 Casa fortificada ou casa Todos os exemplos conhecidos são ___________
torre elevados em alvenaria de pedra.
3 Casa em recinto e ou Casa Gafanhoa334 Adobe
335
Casa-pátio Casa Gandaresa Adobe
4 Casa jardim/quintal Casa urbana de dois pisos e chaminé na Taipa
fachada336

5 Casa elementar Casa Foreira337 Adobe e tabique em terra no interior


338
Casa urbana em banda de 1 piso Taipa
339
Casa da serra Algarvia Taipa e alvenaria de pedra
Casa térra e paredes interiores de adobe340 Alvenaria de pedra e adobe no interior
Monte (variante isolado) Taipa

332
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor – Monte [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16]. Disponível em WWW:
<URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
333
Idem.
334
Identificada pelos agrónomos e mais tarde pelos etnógrafos. AAVV – Inquérito á habitação rural, 2º. Vol.,, pp 69.
335
Identificada eplos etnógrafos/antropólogos. GALHANO, Fernando; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – Arquitectura
tradicional portuguesa (2ª edição), pp. 193-4.
336
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor – Maison en bande sur dex niveaux [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16].
Disponível em WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
337
Idenficada pelos arquitetos. AAVV – Arquitectura popular em Portugal (3ª edição), vol. 2, pp. 222-223.
338
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor – Maison en bande sur un niveau [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16].
Disponível em WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
339
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor – Maison de la Serra [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16]. Disponível em
WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
340
Identificada pela autora.

130
Nº TIPOS DESIGNAÇÃO TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM TERRA
UNIFAMILIAR/ família alargada (continuação)

6 Casa bloco Casa de dois pisos com loja341 Alvenaria de pedra no piso térreo e taipa
de rodizio e fasquio no piso superior.
342
Casa de tufo e blocos de terra Blocos cortados e alvenaria de pedra
343
Casa da Murtosa Adobe
344
Casa do Baixo Mondego Adobe taipa de fasquio no interior
345
Casa de alpendre integrado Adobe
346
Casa da Serra de Grândola Taipa e taipa de fasquio no interior
347
Casa do Barrocal Taipa, alvenaria de pedra
348
Casa do Baixo Algarve Taipa, alvenaria de pedra

7 Casa evolutiva Casa do Ribatejo349 Adobe, taipa e taipa de fasquio no interior


Casa do Sorraia350 Adobe e taipa
351
8 Casa corredor Casa do Pego Taipa e taipa de fasquio.
352
Casa com Açoteia Taipa, alvenaria de pedra e adobe

No entanto, há que ressalvar que pesquisas e registos mais


aprofundados sobre o tema têm surgido nas investigações de âmbito
monográfico, ou local353, onde os tipos de uma forma geral aqui mencionados

341
Identificada pelos etnógrafos/antropólogos e pelos geógrafos. GALHANO, Fernando; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de –
Arquitectura tradicional portuguesa (2ª edição), pp. 138-146 e RIBEIRO, Orlando – Portugal o Mediterrâneo e o
Atlântico (5ª edição), pp. 188-189.
342
Identificada pelos agrónomos e mais tarde pelos arquitetos. AAVV – Inquérito à habitação rural, 3º vol., pp. 178.
AAVV – Arquitetura popular em Portugal (3ª edição), vol.2, p. 175.
343
Identificada pelos etnógrafos/antropólogos. GALHANO, Fernando; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – Arquitectura
tradicional portuguesa (2ª edição), pp. 205-216.
344
Identificada pelos etnógrafos/antropólogos. GALHANO, Fernando; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – Arquitectura
tradicional portuguesa (2ª edição), pp. 223-227.
345
Identificada pelos etnógrafos/antropólogos. GALHANO, Fernando; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – Arquitectura
tradicional portuguesa (2ª edição), pp. 218-223; e também pelos arquitetos AAVV – Arquitectura popular em Portugal
(3ª edição), vol. 2, pp. 212-213 e 216-217.
346
Identificada pelos arquitetos AAVV – Arquitectura popular em Portugal (3ª edição), vol. 3, pp. 226-227.
347
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor Maison du Barrocal [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16]. Disponível em
WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
348
Identificada pelos arquitetos AAVV – Arquitectura popular em Portugal (3ª edição), vol. 3, pp. 226-227.
349
Identificada pelos arquitetos. AAVV – Arquitectura popular em Portugal (3ª edição), vol. 2, pp. 220-221.
350
Identificada pela autora.
351
FERNANDES, Maria ; MESTRE, Victor Maison du Pego [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16]. Disponível em
WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.
352
Identificada pelos arquitetos. AAVV – Arquitectura popular em Portugal (3ª edição), vol. 3, pp. 226-227.
353
Sobre este assunto e só para citar algumas: COSTA, Miguel Reimão Lopes da - Casas e montes da Serra entre as
extremas do Alentejo e do Algarve - Forma, processo e escala no estudo da arquitectura vernacular. Dissertação de
Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura, Universidade do Porto, Porto, 2009. Texto policopiado, não
publicado; CALDAS, João Rosa Vieira – A arquitectura rural do antigo regime no Algarve. Dissertação de
Doutoramento em Arquitectura, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa,2007. Texto

131
acabaram por ser aprofundados nas suas diferentes variantes, evolução e
transformação, para além da contaminação e relação com outras arquiteturas,
e que resultaram nos híbridos arquitetónicos, designados de arquitetura
tradicional e que resultam da interinfluência entre as arquiteturas em terra e
outros materiais tradicionais.

2.3 – Das práticas, do ensino e da investigação


Quando se menciona a redescoberta da arquitetura de terra em Portugal
é inevitável referir as escavações levadas a cabo, a partir de 1978, pelo Campo
Arqueológico de Mértola (CAM)354. O trabalho de recuperação do núcleo
histórico da mesma localidade, de que se encarregaram os alunos de
arquitetura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ESBAL, no ano letivo
de 1981-82355 e o Encontro com os Mestres Construtores realizado em 1984356.
Nessas escavações da alcáçova do castelo de Mértola, foram colocadas a
descoberto vestígios de paredes construídas em taipa pertencentes a um bairro
islâmico da Baixa Idade Média. Não era comum em Portugal este tipo de
prática arqueológica, na generalidade destruíam-se estas evidências islâmicas
para se chegar ao nível subjacente, ou anterior do ponto de vista histórico. A
ideologia predominante levava sempre à busca das “pedras” Romanas mesmo
que nada pudesse garantir das vantagens cientificas de destruir épocas mais
recentes, só para as atingir. Independentemente da importância arqueológica
dos achados, há que referir o interesse pela evolução arquitetónico/urbana do
bairro, expresso na análise feita pelos arqueólogos do CAM, e para as técnicas
construtivas encontradas que consistiam na (…) inexistência de fundações (…)

policopiado, não publicado; SALAVESSA, Maria Eunice da Costa – A construção vernácula do Alvão. Caracterização,
reabilitação, proposta. Dissertação de doutoramento em Ciências exactas, naturais e tecnológicas. Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2001; FONSECA, Inês Filipe da – Arquitectura de terra no concelho de Avis.
Bases para a sua salvaguarda como património cultural. Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património
Arquitectónico e Paisagístico; Universidade de Évora, Évora, 2006. Texto policopiado, não publicado.
354
O CAM é uma associação cultural e científica sem fins lucrativos; foi declarada instituição de utilidade pública em
1995. Desde da sua criação em 1978, o CAM tem como objetivo fomentar o levantamento, estudo e pesquisa dos bens
arqueológicos, etnográficos e artísticos da região de Mértola e proceder à sua conservação e salvaguarda. CAM -
Campo Arqueológico de Mértola [em linha] s/d [Consult. 2013-03-09].Disponível em: WWW: <URL:
http://www.camertola.pt/>.
355
VARANDA, Fernando - Mértola uma experiência de recuperação arquitectónica e urbana. Arquitectura. Revista de
arquitectura, planeamento, design, construção, equipamento, Ano VI, 4ª série, Setembro/ Outubro 1984, pp.28-29.
356
Os encontros com os mestres construtores em Noudar decorreram entre 27 e 29 de Abril de 1984. AAVV (coord.
Miguel Rego, Rui Mateus) – Encontros com Barrancos. Barrancos: Ed. Câmara Municipal de Barrancos, 1993.

132
as paredes (…) assentavam sobre um pequeno alicerce (…) até uma altura de
50 cm (…) construídos com blocos de pedra unidos com uma argamassa de
barro (…) sobre esta estrutura erguia-se o resto da casa, construída em taipa
(…)357. A atenção que os vestígios arqueológicos despertaram nos arqueólogos
e estudantes de história foi igualmente sentida pelos arquitetos e estudantes de
arquitetura nos levantamentos e projetos de recuperação que efetuaram no
núcleo histórico de Mértola, onde a maioria dos edifícios são construídos em
taipa358. Estes projetos inovadores, fruto de acordos entre o município e
diversas instituições universitárias (Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa e ESBAL), coincidem com uma época em que os Gabinetes de Apoio
Local, GAT359 recrutavam jovens arquitetos e intensificavam o seu trabalho no
interior de Portugal. Esse movimento acaba por despertar na jovem geração de
arquitetos o interesse pela arquitetura popular portuguesa. Fernando Távora já
tinha referido nos seus ensaios estar (…) por escrever a história da
organização do espaço português (…) essa história, que iria desde a
consideração do espaço natural do país ao modo como os portugueses o
organizaram ao longo do tempo (…) com as suas actividades agrícolas, com a
sua arquitectura (…)360. Os arquitetos desta nova geração, impulsionados pelos
desafios de Fernando Távora, assim como, pelo inquérito à arquitetura regional
e pelas recentes descobertas histórico-arqueológicas, acabaram por interessar-
se por outras arquiteturas e por refletir sobre esse conhecimento em artigos
relativos à arquitetura em terra, por exemplo, no Jornal da Associação dos
Arquitetos Portugueses361. No entanto, este início discreto só se desenvolve

357
MACIAS, Santiago – Mértola, o último porto do Mediterrâneo, vol 1. Mértola: Ed. Campo Arqueológico de Mértola,
2005. ISBN 972-9375-25-9, pp. 381-382
358
Veja-se os projetos das diferentes equipas na experiência de recuperação arquitectónica de Mértola: Ana Tostões/
Nuno Barcelos; José Carlos Lopes Morgado e Armindo Neves Pombo e os comentários dos professores José Manuel
Fernandes e Manuel Taínha. AAVV – Arquitectura. Revista bimestral de arquitectura, planeamento, design, construção,
equipamento, Ano VI, 4ª série, Setembro/ Outubro 1984, respetivamente pp. 31-39; 45-51; 52-53 e 29-30. Os trabalhos
foram objeto de uma exposição que esteve patente no final do ano letivo no Departamento de Arquitetura da ESBAL,
359
Os GATs criados juridicamente a partir do DL nº 58/79 de 29 de março, já existiam enquanto estruturas locais
dependentes da administração central do Estado desde o DL nº 58/76 de 23-01, por necessidade de fornecer às
autarquias locais apoio técnico e administrativo indispensáveis ao desempenho das suas atribuições munidos de
instrumentos jurídicos e meios técnicos adequados a esse tipo de tarefas.
360
TÁVORA, Fernando – Da organização do espaço, p. 47.
361
Veja-se sobre este assunto os artigos PAULA, Frederico Mendes de – Construção em terra. Jornal dos Arquitectos,
publicação mensal, nº. 45, ano 5, Março 86. Lisboa: Ed. Associação dos Arquitectos Portugueses/ Secção Regional
Sul,, 1986, p.8 ( com continuação no nºs 47/48 p. 5) e MESTRE, Victor – Arquitectura de terra, a taipa. Jornal dos

133
em ações posteriores e, sobretudo, depois do “Encontro de Noudar”362. Nessa
ocorrência, também de iniciativa do CAM, estudantes, investigadores,
arquitetos, arqueólogos e construtores locais praticaram em conjunto técnicas
de construção em terra, em tarefas de proteção e conservação de ruínas.
Numa região como é a margem esquerda do rio Guadiana e da Raia
Alentejana, as técnicas tradicionais de construção, apesar de pouco utilizadas,
eram ainda do conhecimento dos construtores locais, que esporadicamente as
usavam. Durante o encontro foram construídas, no castelo de Noudar, diversas
paredes em taipa, coberturas em caniço e telha, uma abóbada sem cimbre e
uma Safurdão, todas elas sobre vestígios de construções existentes363. No
entanto, estas experiências de práticas reconstrutivo-protetoras, muito
marcantes para os que nelas participaram, foram sobretudo um início, e até
mesmo um estímulo, que teve os seus frutos mais tarde. Na verdade, alguns
dos jovens arquitetos que participaram no “Encontro de Noudar”, vieram
posteriormente a projetar e a construir edifícios contemporâneos em taipa364.
Numa primeira fase esses projetos eram ainda muito dependentes das técnicas
construtivas tradicionais, aspetos que os arquitetos acabaram por melhorar,
sistematizar e rentabilizar em termos de mão-de-obra, desenhando por
exemplo taipais, mais fáceis de armar e mais adequados em termos de
dimensões e acessórios365. Porém, esta primeira fase teve a virtude de
ressuscitar uma arte de construir que estava condenada a desaparecer
completamente. As primeiras obras acabam por surgir sensivelmente a partir
de finais dos anos 80 do século XX, tendo-se afirmado definitivamente nos
anos 90. Da aprendizagem com os mestres construtores, às experiências
universitárias e arqueológicas, acaba por despontar no litoral Alentejano uma
arquitetura contemporânea em terra que embora, numa primeira fase, ainda

Arquitectos, publicação mensal, nº. 42, ano 5, Dezembro 85. Lisboa: Ed. Associação dos Arquitectos Portugueses/
Seccão Regional Sul, 1985, p.4
362
Encontro com os Mestres Construtores, uma iniciativa do CAM e da Câmara Municipal de Barrancos que teve lugar
de 27 a 29 de Abril de 1984.
363
AAVV (coord. Miguel Rego, Rui Mateus) – Encontros com Barrancos. Barrancos: Ed. Câmara Municipal de
Barrancos, 1993 pp. s/n.
364
Teresa Beirão, Alexandre Bastos, Victor Mestre entre outros.
365
BEIRÃO, Teresa; BASTOS, Alexandre – Continuity of tradition: new earth building in the Southern, Alentejo,
Portugal. TERRA 2008, 8th International conference on the study and conservation of earthen architecture, pp 279-282.

134
muito dependente da construção artesanal e muito influenciada pela arquitetura
vernácula numa primeira fase, criou novas alternativas às tendências
arquitetónicas de então, muito marcadas ainda pela construção universal em
betão. As primeiras novas obras arquitetónicas em terra [ou com terra] surgem
assim na Costa Vicentina incentivadas pelas condições iniciais geradas pela
instituição do parque natural366. Mas este movimento em prol da arquitetura em
terra seria impulsionado com outros acontecimentos, como a realização da 7ª
Conferência Internacional sobre o estudo e conservação da arquitetura em
terra, Terra 93, que teve lugar em Outubro na cidade de Silves, e também na
mesma data, pela exposição internacional do Centro Pompidou “Arquiteturas
de Terra”, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em
Lisboa. Estes dois acontecimentos deram a Portugal a projeção internacional
necessária para que, em parceria com outras instituições como o ICOMOS, o
ICCROM e o CRATerre, pudesse participar e tomar decisões respeitantes à
defesa, conservação e promoção da arquitetura em terra no mundo. Pela
primeira vez, foram apresentadas comunicações portuguesas numa
conferência internacional sobre a temática e, consequentemente, reconhecido
o património em terra português e de origem portuguesa no mundo, e isto face
ao número ainda mais elevado de comunicações de países lusófonos. A
conferência Terra 93 revestiu-se, por isso, de uma enorme importância quer
nacional quer internacional. No entanto, apesar dos esforços institucionais, que
ao mesmo tempo se concretizavam em Portugal, como a constituição do curso
de mestre construtor tradicional na Escola de Artes e Ofícios Tradicionais de
Serpa367 e o concurso de ideias para a construção de 3 habitações e, uma
biblioteca em terra na cidade de Silves368, as iniciativas em prol da arquitetura

366
Esta arquitetura em taipa foi no início muito incentivada pela gestão do Parque Natural da Costa Vicentina que via
nestas construções, quando comparadas com as restantes, condições muito favoráveis para o ambiente. Numa
primeira fase era permitida mais área de construção desde que o edifício fosse construído em terra.
367
Curso constituído em 1993, no âmbito do Programa de Artes e Ofícios, vocacionado para o ensino profissional e
promovido pelo Ministério da Educação. O programa das disciplinas de tecnologias, equipamentos e matérias-primas,
assim como oficina tecnológica foi elaborado pelo CRATerre/ ICCROM e DGEMN. O curso conferia um grau de
equivalência ao 12º ano de escolaridade (via profissionalizante) e um diploma profissional de nível III da União
Europeia. O curso, apoiado desde inicio pela DGEMN, começou por funcionar na Escola de Artes e Ofícios
Tradicionais de Serpa, transitando posteriormente para a Escola de Desenvolvimento Rural de Serpa, e terminou em
2006.
368
Concurso de ideias promovido pela DGEMN e Câmara Municipal de Silves, em 1991, para a construção na encosta
nascente do castelo de Silves.

135
em terra acabou por se desvanecer lentamente após este impulso dinâmico,
inicial, talvez devido à exagerada atividade em tão curto espaço de tempo.
Apesar deste hiato de cerca de uma década no qual, apenas tiveram lugar
algumas iniciativas esporádicas369 o movimento em torno da arquitetura em
terra, conheceu novos rumos. Esses desenvolvimentos começaram a ter maior
relevo a partir de 2003, com o primeiro seminário “Arquitetura de Terra em
Portugal,” ATP370, que decorre, no mesmo ano em paralelo com as reuniões
para a constituição de uma associação vocacionada para esta temática371. e
com a publicação coletiva em 2005, dedicada à arquitetura de terra em
Portugal372. Os anos de 1993 e 2003 acabaram, assim, por marcar a adesão de
Portugal aos movimentos que se vinham concretizando em várias partes do
mundo, visando a defesa, conservação e sobretudo, a promoção da construção
e da arquitetura em terra.

Ao mesmo tempo que exposições, seminários, palestras e oficinas


práticas373 começam a ter lugar, sobretudo estas últimas promovidas pelo CdT,
a arquitetura contemporânea de terra em Portugal começa a afastar-se das
influências iniciais vernáculas. Sensivelmente, a partir do ano 2000, começam

369
Das quais se destacam o ciclo de conferências “ conversas á volta da terra”, uma iniciativa da associação MARCA,
em março de 1997 na cidade de Montemor-o-Novo e o encontro internacional “Arquitectura de terra: tradição, restauro,
actualidade”, que teve lugar em julho de 1999 na ESG, em Vila Nova da Cerveira.
370
Os seminários ATP, Arquitetura de Terra em Portugal são uma iniciativa conjunta da Escola Superior Gallaecia,
ESG e da Fundação Convento da Orada, FCO. O primeiro seminário, sob o lema “Divulgação, investigação,
contemporaneidade e formação”, teve lugar em 27 de Setembro, na sede da Fundação em Lisboa. Até a data tiveram
lugar 6 seminários a maioria deles em coorganização com outras instituições e alguns associados a outros seminários,
casos dos SIACOT; Simpósio Ibero-Americano de arquitetura e construção com terra. O 2º ATP, sob o lema
investigação, produção, construção e legislação” teve igualmente lugar em Lisboa na sede da FCO em 2004; o 3º ATP
associado ao 4º SIACOT sob o título Terra, teve lugar em Monsaraz no Convento da Orada em 2005, o 4º ATP
associado ao 1º seminário arquitetura e construção com terra no Brasil, sob o lema “Terra Brasil” teve lugar em Ouro
Preto no Brasil em 2006; o 5º ATP teve lugar na Universidade Aveiro em 2007 – Terra 2007”, o 6º ATP associado de
novo ao 9º SIACOT teve lugar na Universidade de Coimbra em 2010 - Terra 2010 - e o próximo 7º ATP associado ao
13º CIAV (comité internacional do ICOMOS para a arquitetura vernácula), terá lugar em Vila Nova da Cerveira na ESG
de 16 a 20 de Outubro de 2013.
371
A Associação Centro da Terra, CdT, associação para o estudo, documentação e difusão da construção em terra,
constituída em Novembro de 2003, com sede na antiga Escola primária da Cova do Gato, Abela em Santiago do
Cacém (distrito de Setúbal); conta atualmente com cerca de 80 sócios. Centro da Terra [em linha] s/d [Consult.2011-
10-02]. Disponível em: WWW: <URL: http://www.centrodaterra.org/pt/apresentacao/objectivos/index.html>
372
AAVV (coord. Maria Fernandes, Mariana Correia) – Arquitectura de terra em Portugal. Lisboa: Argumentum, 2005,
ISBN 972-8479-36-0.
373
A Associação Centro da Terra iniciou a partir de 2005 um ciclo de oficinas ou “workshops”, em geral duas por ano,
que passou a designar de oficina da Primavera e oficina de Outono. Estas práticas de iniciação às técnicas de
construção em terra, tem evoluído desde então e destinam-se a um público diversificado que esteja interessado em
conhecer as características e potencialidades dos materiais em terra, e ao mesmo tempo pretenda “meter as mãos na
terra” para experimentar.

136
a surgir experiências arquitetónicas diferentes374, construídas em técnicas
distintas das locais, mais mecanizadas e definitivamente mais influenciadas
pelas novas correntes Europeias375. A arquitetura de autor em terra acaba por
suplantar a arquitetura contemporânea de influência vernácula, com projetos de
arquitetos e obras de construtores portugueses noutros países376.

A par desta dinâmica arquitetónica, as Universidades portuguesas,


aderem também, em termos de investigação e experimentação, aos temas da
conservação do património e do comportamento dos materiais e sistemas
construtivos em terra. Destas instituições universitárias destacam-se duas377:
- a Universidade de Aveiro, UA;
- a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douto, UTAD378.

Estas duas instituições universitárias, através, respetivamente, do


departamento de engenharia civil e do departamento de engenharias, lideram a
investigação sobre construção em terra ao nível de experimentação, ensaios
de laboratório e avaliação comportamental de sistemas construtivos em terra.
Para além desse trabalho, destacam-se ainda pela produção em termos de
trabalhos académicos muito direcionados para as técnicas e materiais em terra
existentes nas respetivas regiões, de que são exemplo os tabiques em terra na

374
Caso das experiências do Plano B [em linha] s/d [Consult. 2013-03-09].Disponível em: WWW: <URL:
http://www.planob.com/planob.html>.
375
São exemplos as obras do arquiteto José Aberto Alegria em BTC ALEGRIA, José Alberto – Da paixão …da
terra…da arquitetura. Albufeira: Ed. Darquiterra, 2003. ISBN 972-98555-0-1; a produção mecanizada de BTC pela firma
TerraCrua (recentemente desativada), a obra em taipa mais atual do arquiteto Alexandre Bastos em Monte dos
Troviscais, Odemira e a casa ateliê de artistas em Salvada, Beja do arquiteto Bartolomeu Costa Cabral;
Dwelling in Beja [em linha] 2011 [Consult. 2013-03-09].Disponível em: WWW:
<URL:http://www.eartharchitecture.org/index.php?/archives/1131-Dwelling-in-Beja.html>.
376
Veja-se a título de exemplo a firma Betão e Taipa [em linha] s/d [Consult. 2013-03-09].Disponível em: WWW: <URL:
http://www.betaoetaipa.pt/obras.php>.
377
Sobre o trabalho nestas duas Universidades veja-se os documentários MÁQUINA DO TEMPO (Paulo Bastos,
produtor; António Candeias e Dora Teixeira coordenadores científicos). Episódios 3 e 4, Terra Nostra e Construção
Sensual. Lisboa: TVI24 programas televisivos emitidos em 23 e 30 de março de 2013.
378
Dois recentes documentários televisos sintetizaram em grande medida a investigação neste domínio nestas duas
Universidades. MÁQUINA DO TEMPO (Paulo Bastos, produtor; António Candeias e Dora Teixeira coordenadores).
Episódios 3 e 4, Terra Nostra e Construção Sensual. Lisboa: TVI24, programas televisivos emitidos em 23 e 30 de
março de 2013 [em linha] 2013 [Consult.2013-04-01]. Disponível em: WWW: <URL:
http://www.tvi.iol.pt/videos/13833389 e http://www.tvi.iol.pt/videos/13835727>.

137
UTAD379 e o adobe na UA. Para além destas duas Universidades realce ainda
para outra instituição universitária privada - a Escola Superior Gallaecia, ESG.
Esta Escola tem direcionado o seu trabalho de investigação para a arquitetura
vernácula em programas financiados pela União Europeia, de parceria com
outras Universidades e Instituições380. Para além dessa participação, deve
salientar-se ainda o currículo académico na ESG, que tem a particularidade de
lecionar matérias específicas sobre construção e arquitetura em terra nos
diferentes cursos381.

Para além destes casos universitários, que envolvem sobretudo ensaios


de laboratório, destacam-se também, ao nível da produção académica,
dissertações de mestrado, de doutoramento e trabalhos em projetos de
investigação e cursos de Estudos Avançados ou de pós graduação. Outros
exemplos ainda podem incluir: a Universidade do Minho através do
departamento de engenharia civil e do ISESE, “Institute for Sustainability and
Innovation in Structural Engineering”; a Universidade Técnica de Lisboa através
do departamento de engenharia civil, arquitetura e georecursos do Instituto
Superior Técnico em Lisboa382 e da Faculdade de Arquitetura; assim como da
Universidade do Porto através da Faculdade de Arquitetura. Para além do
ensino, as universidades mencionadas tem participado em diversos projetos de
investigação e desenvolvimento (I&D), onde direta ou indiretamente a
construção e os materiais em terra são objeto de estudo. Nesse domínio,

379
CEPEDA, Armando [et al] – Estudo do material terra aplicado na construção de tabique no Alto Tâmega. Terra em
seminário 2010 (6º ATP, 9º SIACOT), pp. 160-162; SILVA, Bruno [et al] – Aprender a construir com terra através da
andorinha-dos-beirais.Revista digitAR - Revista Digital de Arqueologia, Arquitectura e Artes, nº1, 2013, actas do 6º ATP
l 9º SIACOT [em linha] 2013 [Consult. 2013-03-26].Disponível em: WWW:
<URL:http://iduc.uc.pt/index.php/digitar/article/view/1423/871>.
380
Destaque para as publicações que tem sido produzidas no âmbito desses projetos: AAVV – Terra Europae, earthen
architecture in the European Union. Pisa: Edizione ETS l Cultural Lab Editions, 2008, ISBN 978-88-467-2957-6 l ISBN
978-2-9600527-9-4; AAVV – TERRA incógnita, sécouvrir & preserver une Europe des architectures de terre, 2 vols.
Lisboa: Argumentum/ Cultural Lab Editions, 2008, ISBN 978-972-8479-52-7 l ISBN 978-2-9600527-3-2 e para o recente
projeto europeu coordenado pela ESG, VERSUS, Vernacular Heritage Sustainable Architecture [em linha] 2013
[Consult.2013-07-13]. Disponível em: WWW: <URL: http://www.esg.pt/versus/>.
381
CORREIA, Mariana [et al.] – Research and education at Escola Superior Gallaecia. TerraEducation 2010,
communications, lectures, ponencias; pp.167-175.
382
São exemplo dessa produção académica as dissertações: PARREIRA, Daniel José dos Santos – Análise sísmica de
uma construção em taipa. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, Universidade
Técnica de Lisboa, Lisboa, 2007; NEVES, Sara da Cunha Correia das – Estudo da aplicabilidade de sistemas
construtivos no desempenho da sustentabilidade na engenharia civil. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil,
Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2011

138
relevo ainda para os projetos de investigação em coordenação ou em parceria,
do departamento de engenharia civil da Universidade Nova de Lisboa.

No departamento de engenharias da UTAD, os tabiques em terra ou


taipas de fasquio e de rodizio têm constituído o centro das investigações.
Dentro dessa linha de pesquisa, os investigadores da UTAD têm levado a cabo
um vasto trabalho de levantamento e registo das arquiteturas em tabique e dos
tipos de tabiques existentes na região e sub regiões. Paralelamente procedem,
também, a diversos ensaios de laboratório para a análise das características e
comportamento das argamassas em terra que constituem o enchimento dos
tabiques, assim como das melhorias possíveis que podem ser introduzidas
adicionando outros materiais compatíveis, como ligantes aéreos e hidráulicos.
Esta investigação laboratorial é ainda complementada com a análise das
madeiras que constituem a estrutura de madeira suporte dessas argamassas
em terra. Nesse campo, destaque para o registo dos tipos de madeiras
tradicionalmente utilizadas, suas características e, sobretudo, das melhorias ao
nível estrutural que podem ser introduzidas na construção, de forma a
responderem melhor em termos de resistência e conservação383. Para além
destes estudos, mais de âmbito arquitetónico/construtivo/laboratorial têm
aparecido outros casos, como os de análise comparativa entre edifícios
construídos com materiais naturais (madeira e terra), e materiais
contemporâneos384 ou os de diagnóstico e reparação de edifícios construídos
em técnicas tradicionais385. A investigação na UTAD tem, de fato, colmatado
uma enorme lacuna no conhecimento das arquiteturas de terra, ao interessar-
se por uma técnica construtiva que se encontra abandonada há anos e cujas

383
Casos, por exemplo, das dissertações de: GONÇALVES, Carla Patrícia Barbosa – Construção de tabique da
Associação de Municípios da Terra Quente (AMTQT). Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Escola de
Ciências e Tecnologia (ECT), Departamento de Engenharias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real,
2010 e MARTINHO, José Manuel Gonçalves – Construção de tabique na Associação de Municípios da Terra Fria do
Nordeste Transmontano (AMTFNT). Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Escola de Ciências e Tecnologia
(ECT), Departamento de Engenharias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2010.
384
MURTA, António Alberto - Benefícios inerentes à opção de um edifício de habitação unifamiliar de materiais de
construção naturais. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Escola de Ciências e Tecnologia (ECT),
Departamento de Engenharias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2010.
385
GUIMARÃES, João Pedro Pinto – Técnicas tradicionais de construção, anomalias e técnicas de intervenção em
fachadas e coberturas de edifícios antigos. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro, Vila Real, 2007.

139
arquiteturas têm desaparecido a uma velocidade progressiva no panorama
arquitetónico português. Deste esforço esperam-se resultados, quer no sentido
da conservação do património existente, quer no da promoção de sistemas em
madeira e terra na arquitetura contemporânea. Apesar dos esforços esses
resultados ainda não são visíveis, muito embora já seja percetível o interesse
das populações por um sistema e por arquiteturas anteriormente desprezadas
e que acabavam sendo abandonadas e destruídas.

A investigação sobre o adobe, quer na perspetiva arquitetónica quer


sobre o comportamento do material e dos sistemas construtivos serão
desenvolvidos no capítulo 4. A Universidade de Aveiro, através dos
departamentos de engenharia civil, Decivil, e Ciências da Terra, tem
direcionado a sua investigação e experimentação também, para outros
sistemas construtivos em terra para além do adobe. A título de exemplo veja-se
o concurso internacional onde participaram com o ateliê Plano b, para o
desenvolvimento de estruturas em bambu e terra. Essa participação, que
decorreu no âmbito do projeto “Engineering Gone Natural” em 2007 para o
concurso de ideias “Bamboo competition”386, levou ao desenvolvimento de
diversos ensaios no laboratório DECivil de protótipos à escala natural, de
pavimentos e paredes portantes de bambu com enchimento em terra e ainda
de pesquisas direcionadas nesse sentido387. Embora já mencionadas, foram
desenvolvidas igualmente as investigações referentes à técnica do “torrão” ou
bloco cortado em terra, na região do rio Vouga de que são ainda exemplo
outros trabalhos que visam o futuro e a conservação de vários tipos de
construção nesse material, nomeadamente, as salinas, as pisciculturas e os
canais388. No entanto, a Universidade tem ainda direcionado pesquisas para a

386
CARVALHO, Eduardo, FREIRE, Francisco, GAMA, Luís – Terra e bambu estruturais, um desafio de projeto. Terra
em seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), pp. 16-19.
387
AMBRÓSIO, Joaquim Carlos – Técnicas construtivas sustentáveis: lajes de terra armada com bambu. Dissertação
de Mestrado em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, 2012. Texto policopiado
[em linha] 2012 [Consult.2013-03-06]. Disponível em: WWW: <URL:
http://ria.ua.pt/bitstream/10773/9782/1/TESE_AMBROSIO_CARLOS.pdf>.
388
SILVA, Mónica Sandra Borges da – O Salgado de Aveiro: Importância conservacionista e perspetivas de uso futuro.
Dissertação de Mestrado em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas. Universidade de Aveiro, 2007. Texto
policopiado [em linha] 2007 [Consult.2013-04-19]. Disponível em: WWW: <URL:
http://ria.ua.pt/bitstream/10773/743/1/2008000944.pdf >

140
reutilização de técnicas de terra em arquitetura contemporânea, caso das
designadas “coberturas verdes”389 ou para estudos que incidam sobre a
proteção de construções em terra, caso das argamassas e revestimentos a
aplicar sobre suportes em terra390, ou em temas muito específicos, como o
comportamento das argilas e suas aplicações na construção391.

Noutros domínios, entre os quais podemos referir, a prefabricação, o


estudo do comportamento e caraterização de materiais como o BTC ou a taipa,
o desenvolvimento de argamassas de reparação para aplicação em taipa e a
certificação para a formação e ofícios de construtor em terra, o departamento
de engenharia civil da Universidade Nova de Lisboa tem desenvolvido
conhecimento e participado em diversos programas de investigação. Sob a
coordenação da professora Paulina Faria encontram-se em curso diversos
estudos para o projeto Europeu PIRATE, cujo objetivo é estabelecer e
sistematizar normas e certificados para a formação profissional em vários
níveis de construtores em terra392, e o desenvolvimento de ensaios para o
projeto “Parede Eco estrutural”393, financiado pelo Quadro de Referência
Estratégia Nacional (QREN) cujo desígnio é otimizar painéis prefabricados de
terra, “in situ”, para posterior aplicação em edifícios de pequeno porte
construídos em BTC394. Para além destes projetos o departamento tem

389
As coberturas em terra são um tipo de revestimento utilizado tradicionalmente em terraços ou pendentes de
construção em madeira revestidos em terra e camada vegetal, considerada uma técnica de construção em terra
(Tabela 1, nº12). AZEVEDO, Pedro Micael – Montagem de laboratório para estudo experimental de coberturas verdes.
Dissertação de mestrado em Engenharia do Ambiente, Universidade de Aveiro, 2011. Texto policopiado [em linha]
2011
[Consult.2013-04-19]. Disponível em: WWW: <URL: http://ria.ua.pt/bitstream/10773/8615/1/248414.pdf>
390
Sobretudo os que se referem á aplicação de rebocos em cal. MATOS, Maria João – Desempenho de argamassas
de cal e metaculino em suportes de adobe. Dissertação de mestrado em engenharia civil, Universidade de Aveiro,
2012. Texto policopiado [em linha] 2012 [Consult.2013-04-19]. Disponível em: WWW: <URL:
http://ria.ua.pt/bitstream/10773/9703/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf>.
391
GOMES, João da Silva Celso – Propriedades relevantes da betonite utilizada no revestimento da cobertura da típica
casa de salão do Porto Santo (arquipélago da Madeira). Terra em Seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006). Lisboa:
Argumentum, 2007, pp.61-65.
392
PIRATE – Provide Instructions and Resources for Asseassent and Training in Europe [em linha] 2013 [Consult.2013-
04-22]. Disponível em: WWW: <URL:
http://pirate.greenbuildingtraining.eu/public/?doing_wp_cron=1366612843.0595469474792480468750>.
393
LOPES, Tânia; AMADO, Miguel P. – Parede Eco-estrutural – Solução modular para a construção de habitação
sustentável. 2º. CIHEL, Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, 12 pp.
394
FARIA, Paulina; SILVA, Vítor; ABREU, Cátia; PEREIRA, Catarina – Caracterização de betão com terra para
aplicação em construção modular prefabricada. 2º. CIHEL, Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono,
11 pp.

141
também efetuado trabalho de laboratório na área dos rebocos para suportes
em terra, de argamassas para reparação de alvenarias em terra (sobretudo no
âmbito das características e compatibilidade física e química)395 e, com menos
expressão, ensaios de caraterização e comportamento de técnicas e materiais
em terra como a taipa396 os BTC e alguns estudos sobre o comportamento
térmico das construções em terra, sob o prisma da legislação atual portuguesa
e que visam a alteração da mesma.

No campo universitário há que mencionar ainda a investigação


desenvolvida na Universidade do Minho no domínio das alvenarias, reforço
sísmico e consolidação de construções e materiais, através do departamento
de engenharia civil e do ISISE, “Institute for Sustainability and Innovation in
Structural Engineering”. Sobre a orientação dos professores Paulo Lourenço,
Daniel Oliveira e Said Jalali, e nas diferentes temáticas mencionadas as
construções em terra, sobretudo as de taipa, BTC e taipas de rodizio e fasquio
têm sido consideradas nos projetos de investigação, nos ensaios de laboratório
e objeto de trabalhos académicos. No campo do reforço sísmico destaque para
o ISISE, e a participação no projeto Europeu NIKER, “New Integrated
Knowledge Based Approaches to the Protection of Cultural Heritage from
Eartquake-Induced Risk”397. Muito embora não seja um projeto dirigido
exclusivamente para as construções em terra, os ensaios, e os métodos de
consolidação398 e melhoria estrutural, preconizados neste projeto399 aplicam-se

395
GOMES, Maria Idália; GONÇALVES, Teresa Diaz; FARIA, Paulina – Earth based repair mortars: experimental
analysis with diferente binders and natural fibers. Rammed Earth Conservation, pp. 661-668. RODRIGUES, Paulina
Faria – Argamassas de cal aérea para construções em terra. Terra em seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), pp.
66 -70.
396
FARIA, Paulina; SILVA, Vítor; PEREIRA, Catarina; ROCHA, Miguel - The monitorig of rammed earth experimental
walls and characterization of rammmed earth samples. Rammed Earth Conservation, pp. 91-97.
397
NIKER- New Integrated Knowledge Based Approaches to the Protection of Cultural Heritage from Eartquake-Induced
Risk [em linha] 2009 [Consult. 2013-07-13].Disponível em: WWW: <URL: http://www.niker.eu/>.
398
OLIVEIRA, Daniel – Os ensaios experimentais realizados na Universidade do Minho no âmbito do projeto Niker.
Seminário Património Arquitetónico face ao Risco Sísmico, Museu de Etnologia e Etnografia, Lisboa, 16 de maio, 2013
[em linha] 2013 [Consult. 2013-07-13].Disponível em: WWW: <URL:
http://www.gecorpa.pt/Upload/Documentos/Noticias/SeminSismosPatrim_DanielOliveira.pdf>.
399
LOURENÇO, Paulo B. - A situação dos monumentos portugueses face ao risco sísmico e a sua estabilidade
estrutural. Seminário Património Arquitetónico face ao Risco Sísmico, Museu de Etnologia e Etnografia, Lisboa, 16 de
maio, 2013 [em linha] 2013 [Consult. 2013-07-13].Disponível em: WWW: <URL:
http://www.gecorpa.pt/Upload/Documentos/Noticias/SeminSismosPatrim_PauloLourenco.pdf>.

142
aos imóveis construídos em técnicas de taipa de fasquio, rodízio, assim como
em alvenarias de adobe e taipa. No campo da consolidação de alvenarias em
taipa, a UM tem desde há vários anos dedicado diversos ensaios e investido no
estudo das caldas de injeção em técnicas monolíticas, das quais a taipa tem
sido objeto prioritário400. Nessas pesquisas o objetivo em termos estruturais
tem sido o de devolver a unidade monolítica às paredes, para aumentar o seu
desempenho sísmico e estrutural, pelo que os ensaios visam sobretudo, a
compatibilidade física e química das injeções e caldas a aplicar401. Para além
destes estudos a Universidade do Minho, através do departamento de
engenharia civil tem também procedido a ensaios e investigação na área da
melhoria e caraterização de materiais em terra, sobretudo os BTC. Nesse
domínio refira-se a adição de polímeros à terra402 e a estabilização da terra
com metacaulino em BTC403, entre outros404.

A arqueologia tem participado pouco no campo da investigação relativo


às arquiteturas de terra. No entanto, e sobretudo nos últimos anos, têm sido
inúmeras as escavações, pesquisas e investigações que, indiretamente, têm
contribuído para o conhecimento neste domínio. Tem-se constatado que,
progressivamente, a arqueologia procura identificar, caraterizar e contextualizar
historicamente diversas estruturas e vestígios de construções em terra405.
Sobre este assunto destaque para a dissertação da investigadora Carla
Patrícia Bruno406, um dos primeiros estudos académicos direcionado para a

400
LUSO, Eduarda; LOURENÇO, Paulo B., FERREIRA, Rui – Injeções para consolidação de construções em terra.
Revisão do conhecimento e métodos de ensaio. Terra em Seminário 2007 (VATP ,TerraBrasil 2006), pp. 165-169.
401 SILVA, Rui; SCHUEREMANS, Luc; OLIVEIRA, Daniel – Grouting as a mean for reparing earth constructions. Terra
em Seminário 2010 (6º ATP, 9º SIACOT), pp. 82-86.
402
EIRES, Rute; CAMÕES, Aires; JALALI, Said – Optmização do desempenho de construção em terra com recurso a
bio-polímeros. Terra em Seminário 2010 (6º ATP, 9º SIACOT), pp. 168-171.
403
EIRES, Rute; CAMÕES, Aires; JALALI, Said – Compressed earth blocks using metakaolin and lime with
antifungicide additions. MEDITERRA 2009, 1ª Conferenza Mediterra sull’Architettura in Terra Cruda, pp. 461-466.
404
As investigações em curso nesta universidade sobre os materiais em terra centram-se muito na melhoria da
resistência e durabilidade para a sua aplicação em construção atual. TORGAL, Fernando, JALALI, Said – Ensaios de
avaliação da durabilidade das construções em terra. Terra em Seminário 2010 (6º ATP, 9º SIACOT), pp. 138-141.
405
De que são exemplo os artigos de: CARVALHO, Pedro C. – Construções em terra da Época Augustna na capital da
Civitas Igaeditanorum (Idanha- a -Velha, Idanha- a Nova, Portugal).
406
BRUNO, Carla Patricia de Abreu – Arquitecturas de terra nos espaços domésticos Pré-históricos do sul de Portugal.
Sítios, estruturas, tecnologias e materiais. Dissertação de Doutoramento em História, Pré-História, Faculdade de
Letras, Universidade de Lisboa, 2009.

143
arqueologia em terra. Para além da pesquisa mencionada, que versava
sobretudo a presença dos materiais em terra nos sítios arqueológicos da Pré–
História, os estudos arqueológicos que identificaram estruturas em terra
iniciaram-se, porém, com investigações que envolveram escavações e estudos
de fortificações do período Islâmico e da baixa idade média, dos quais se
destacam as publicações relativas a Silves, alcáçova e núcleo urbano407,
Paderne, Salir408 e também de Mértola409. Ainda neste domínio, refira-se a
participação do CEAUCP no projeto de investigação “Espaços e Arquiteturas
em Tell Beydar” inserido numa rede internacional de investigação (ECUMS),
que visa o estudo e compreensão dos níveis arqueológicos helenísticos de Tell
Beydar, um sítio arqueológico construído em adobe, na região da Alta
Mesopotâmia, na Síria410. Apesar de progressivamente a arqueologia se
interessar por técnicas de construção em terra, existe ainda alguma dificuldade
por parte dos arqueólogos, em enquadrarem-se em termos de linguagem,
terminologia e nos métodos de construção em terra, definidos
internacionalmente, pela arquitetura e construção.

Nas restantes Universidades, como o Instituto Superior Técnico, FAUTL


e FAUP, a investigação tem evoluído desde 2005411, ano em que se listaram
todos os trabalhos académicos até à data existentes. Porém e desde essa
data, verificam-se as mesmas tendências de então, e o conhecimento
resultante da investigação académica continua a dividir-se entre o património
arquitetónico e o comportamento dos sistemas e materiais de construção em
terra412.

407
GOMES, Rosa Varela – Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus: a Alcáçova.Trabalhos de arqueologia nº 35.
Lisboa: IPA, 2003. GOMES, Rosa Varela – Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus: o núcleo urbano.Trabalhos
de arqueologia nº 44. Lisboa: IPA, 2003.
408
CATARINO, Helena – Arquitetura de taipa no Algarve islâmico. As escavações nos castelos de Salir (Loulé) e de
Paderne (Albufeira). Arquitectura de Terra em Portugal, pp. 138-143. Lisboa: Argumentum, 2005.
409
MACIAS, Santiago – Mértola, o último porto do Mediterrâneo, 3 vols. Mértola: Ed. Campo Arqueológico de Mértola,
2005.
410
Espaços e arquitecturas em Tell Beydar [em linha] S/D [Consult.2013-04-22]. Disponível em: WWW: <URL:
http://tellbeydar.com.pt/Site/Inicio.html>.
411
Sobre este assunto, FERNANDES, Maria – Ensino pós-universitário. Arquitetura de Terra em Portugal, pp. 284-287.
412
Só para citar alguns: SILVA, Maria Elenora Bicas da – A Construção em taipa na aldeia da Trindade. Dissertação de
mestrado em arquitetura, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2009. ABRAÚL, Fabiana –

144
Exceção a esta regra tem sido o aparecimento de dissertações na área
da conservação e restauro, ou por conservadores-restauradores noutras áreas,
Na generalidade constituem investigações muito vocacionados para a
compatibilidade química e física de materiais assim como para a caraterização
dos materiais. Dos casos recentes destacam-se as dissertações no domínio da
pintura mural, relativos aos pigmentos provenientes de terras413, e os
revestimentos arquitetónicos414. Em toda a investigação em Portugal, sobre as
arquiteturas de terra, nota-se ainda a carência e falta de contributos,
imprescindíveis, para desenvolvimento do conhecimento nesta área, os
contributos da arqueologia, como já citado e, sobretudo, da arquitetura
paisagística, da agronomia e da geografia. Estas duas últimas ciências,
inexplicavelmente, tem-se afastado nos últimos anos desta temática.

Arquitetura de terra em Portugal. Viabilidade económica. Dissertação de Mestrado em arquitetura, Faculdade de


Arquitetura da Universidade do Porto, 2010. MAIA, Joana – A construção em adobe na freguesia de Requeixo, em
Aveiro. Orientações para a sua preservação enquanto património cultural (versão final). Dissertação de Mestrado em
Metodologias de Intervenção no Património Arquitectónico; Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2009.
MATEUS, Luis Pedro Monteiro Simões - Caracterização de revestimentos usados em construções de taipa no
barlavento algarvio. Dissertação de mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de
Lisboa, 2006.
413
GIL, Milene - A Conservação e Restauro da pintura mural nas fachadas alentejanas: estudo científico dos materiais
e tecnologias antigas da cor. Dissertação de Doutoramento em Conservação e Restauro na especialidade de Teoria,
História e Técnicas da Produção Artística, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte
da Caparica, 2009.
414
TAVARES, Martha Lins – A conservação e o restauro de revestimentos exteriores de edifícios antigos. Uma
metodologia de estudo e reparação. Tese elaborada no Laboratório de Engenharia Civil em 2009 para obtenção do
grau de Doutor em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa.

145
146
Capítulo 3 – O adobe

O adobe, designação que refere o material construtivo e


simultaneamente a técnica construtiva, consiste basicamente em moldar, com
as mãos, terra no estado plástico, para posterior secagem ao ar e consequente
utilização em obra. Neste grupo ou método de construção estão agregados três
variantes:
- o adobe manual, manufaturado apenas com as mãos;
- o adobe moldado, frequentemente, designado de bloco de lama ou adobo,
manufaturado em molde;
- o adobe mecânico ou extrudido, que consiste em moldar, e extrudir a terra por
processos mecânicos e industriais.

Muito embora o bloco apiloado seja considerado um método distinto do


adobe (tabela 1 nº 5), porque envolve a compactação com um pequeno maço
dentro de um molde, na verdade este procedimento é muitas vezes utilizado na
moldagem do adobe; devido ao facto de se adicionar cal à terra, o que
inviabiliza a moldagem manual. Nessa situação, considera-se o bloco apiloado
como sendo um adobe, considerando que a compactação é mínima e
semelhante à manual.

O adobe, material construtivo, tem a particularidade de ser utilizado quer


em paredes, quer em tetos e coberturas. Por esse motivo, a designação
internacional de adobe, envolve, simultaneamente, o material e a técnica
construtiva. O uso em paredes implica a construção em alvenaria, com
aparelhos diferenciados, muitas vezes complexos, sobretudo quando se utiliza
adobe manual. O adobe pode ainda ser utilizado em pilares e colunas,
adaptando-se a forma das unidades ao diâmetro da coluna415 e ainda em arcos
para a construção de sistemas de coberturas ou tetos.

415
Segundo o arqueólogo Jean-Claude Margueron é sobretudo na arquitetura do IIIº Milénio a. C. na região Sírio-
Mesopotâmica que a coluna em adobe passa a ser uma solução arquitetónica recorrente, dando como exemplo os
vestígios dos palácios no sítio arqueológico de Kish. O mesmo autor refere ainda que os primeiros exemplos de
colunas surgiram no IV Milénio a.C. nos vestígios arqueológicos de Uruk. MAGUERON, Jean-Claude – Colonnes,

147
Adobe, designação que foi adotada internacionalmente, a partir da
conferência internacional “Adobe 90” (anexo A), terá tido origem na escrita
demótica egípcia “sekh shat” do termo “tyb” ou “tob” que significava tijolo416, e
que via escrita Copta “τωωβε” evolui para a escrita arábica como “Al-ţŭb” ou
“Ottob”, sempre com o mesmo significado. Só mais tarde, durante o período
islâmico na Península Ibérica, o termo árabe terá evoluído para adobe e “Toub”
em França417.

As representações históricas são férteis no que respeita à sacralização


do uso da terra como material de construção, enquanto símbolo da vida e da
proteção divina.

Porventura, a mais expressiva é a da divindade egípcia Meskhenet418,


representada como um adobe com cabeça de mulher (figura 58). Essa
representação está relacionada com a prática egípcia de dar à luz, em posição
de cóqueras e com os pés assentes sobre adobes. Ritual comum na região da
Mesopotâmia e do Antigo Egito era o costume dos sacerdotes enterrarem um
adobe, juntamente com o respetivo molde, nas fundações de templos e
palácios. Essa prática destinava-se a proteger as futuras construções de
adversidades futuras, como incêndios ou destruições419. Inúmeras cerimónias e
ritos são ainda hoje usados na construção de edifícios em adobe. Só para citar
um exemplo, veja-se o costume maliniano em Djenné, de espalhar diversas
sementes e frutos secos nas fundações das casas em adobe,
simultaneamente, com uma oração convicta ao Deus Cri Cri, para proteção
futura do edifício e Boaventura dos seus moradores420.No entanto, a

piliers et salles hypostyles dans l’architecture de terre (domaine syro-mésopotamien). Échanges transdisciplinaires sur
les constructions en terre crue, vol 3. Les cultures constructives de la brique crue, pp.101-120.
416
WILFORD, John Noble – Traducen nuevas palabras del demótico. Un antíguo idima de Egipto. Ideas [em linha]
9/10/2012 [Consult.2013-03-26]. Disponível em: WWW: <URL: http://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Traducen-
nuevas-palabras-del-demotico-un-antiguo-idioma-de-egipto_0_788921322.html>
417
DOAT, Patrick [et al]. Construire en terre pp. 106-7.
418
ARELLANO, Juana Font – L’adobe dans les textes hispaniques: Péninsule ibérique et provinces américaines.
Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue, vol 3. Les cultures construtives de la brique crue, p.71.
419
Ibidem.
420
STEFAN, Tolz; THOMAS, Wartmann – Djenné. City on the Edge of the desert. Adobe Towns [DVD].

148
representação mais conhecida, e que, definitivamente consagrou este material
ao mais alto nível foi a que Hassan Fathy eternizou no seu livro: o da rainha
egípcia Hatshepsut moldando um adobe no século XV a.C. (figura 59) 421.

Figuras 58 e 59 – A divindade egípcia Meskhenet e a rainha Hatshepsut. Imagens provenientes


respetivamente do Papiro D’Ani [em linha], s/d [Consult. 2013-07-13]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.egyptologica.be/papyrus_ani/pix_ani/ani_pl3.jpg>; e do túmulo da rainha em Tebas publicado
em: FATHY, Hassan – Arquitetura para os pobres. Uma experiência no Egipto rural, p. 8.

Entre a simbologia do passado e as crenças atuais, a arquitetura em


adobe no mundo existe deste cerca de 9 000 a.C.422 e encontra-se em
expansão nos dias de hoje, prevendo-se que o futuro reserve um papel
decisivo, para esta técnica e material no panorama da arquitetura mundial.

3.1 – O adobe no mundo


A presença do adobe no mundo tem vindo a ser mapeada em diversos
projetos e programas internacionais, como o CORPUS (figura 60) e o TERRA
INCOGNITA (figura 61). O conhecimento referente a este material e técnica
tem contribuído para o saber, referente às arquiteturas de adobe no mundo.
Esse conhecimento tem-se demonstrado frutífero, no que respeita à
continuidade e transformação desta técnica ancestral. Principalmente para a

421
FATHY, Hassan – Arquitetura para os pobres. Uma experiência no Egipto rural, p. 8.
422
SAUVAGE, Martin – Op. Cit., p. 89.

149
resolução e materialização de construções eficazes, de baixo custo, em
situações de conflitos e desastres naturais. São os exemplos dos abrigos
construídos em adobe nos campos de refugiados no Sudão e as habitações no
Haiti, após o sismo que ocorreu em 2010, só para citar alguns423.

Os vestígios do adobe perdem-se no tempo e observam-se em todos os


continentes. Por esse motivo, progressivamente, as informações são
atualizadas, aparecendo mais exemplos e práticas em lugares anteriormente
desconhecidos. Nas palavras de Hubert Guillaud (…) Se 30% da humanidade
ainda vive, nos nossos dias numa casa em terra (…) a parte que respeita ao
adobe parece maioritário em comparação aos outros métodos de construção
em terra, que são o tabique em terra, a terra empilhada e a taipa424.

Figura 60 – A presença do adobe (corrente e excecional) na região do Mediterrâneo. CORPUS -


Architecture Traditionelle Méditerranéenne [em linha] 2002 [Consult. 2013-07-13]. Disponível em WWW:
<URL: http://www.meda-corpus.net/eng/gates/PDF/F2/A07_MED.PDF>

Na lista do Património Mundial, os Bens, culturais e mistos, construídos


em terra, especificamente, em adobe425 são, de facto, uma amostra desta

423
Sobre a atualidade destas construções o assunto será desenvolvido ainda neste capítulo em arquitetura
contemporânea.
424
(…) Sur les plus de 30% de l’humanité vivant encore de nos jours dans un habitat de terre (…) la part de la brique
crue semble majoritaire par rapport à d’autres modes de mise en œuvre du matériau terre que sont le torchis, la bauge
ou le pisé. GUILLAUD, Hubert – De traces en repères choisis: éloge terrestre de la brique crue. Échanges
transdisciplinaires sur les constructions en terre crue. Les cultures constructives de la brique crue, Volume 3, p. 35.
425
CRATerre-ENSAG (edit. David Gandreau, Letizia Delboy, Thierry Joffroy) – Patrimoine Mondial. Inventaire de
l’architecture de terre. Programme du Patrimoine Mondial pour l’architecture de terre, WHEAP. [CD]: CRATerre-
ENSAG/ WHEAP, avril, 2012.

150
presença maioritária em todo o mundo (anexo B). Nas cinco regiões
delimitadas pela UNESCO verifica-se que na primeira, em África, a construção
em adobe é praticamente corrente em todos os países (Figura 7), apenas com
algumas lacunas nos países do centro sul de África. Nesta região, o adobe
partilha a supremacia com as técnicas mistas, em madeira, vegetal com
rebocos e enchimentos de terra, as taipas de fasquio e rodizio. Programas
internacionais financiados pela UNESCO e outras instituições, de que foi
exemplo: ÁFRICA 2009426 acabaram sendo primordiais para o conhecimento
das práticas construtivas e para o registo, que permitiu listar diversos sítios
edificados em adobe na Lista do Património Mundial427. A rede que se formou
após a conclusão deste programa permitiu, ainda, que diversas atividades
tivessem continuidade, como os cursos de formação vocacionados para a
conservação arquitetónica e, sobretudo, fomentar a inter-relação e os contatos
entre os países que têm em comum um vasto património arquitetónico em
terra. De entre os países africanos, refira-se o Burkina Faso, onde a cultura
construtiva em adobe é notável, pela beleza das formas, simplicidade
construtiva e superfícies arquitetónicas decoradas428. As técnicas de
construção de paredes mais utilizadas são em adobe e terra empilhada, quer
para habitações quer para mesquitas ou outros edifícios. Não existem
diferenças nos processos, apenas escalas das construções distintas. Neste
país as paredes de adobe são construídas praticamente sem fundações,
extremamente protegidas por camadas de reboco em relevo, que facilitam a
escorrência das águas das chuvas, sem danificar os suportes. As paredes em
adobe são apenas exteriores. No interior, as coberturas em terraço construídas
em estrutura de madeira com camadas intercaladas de vegetal e terra, são
apoiadas por pilares em troncos de madeira, que no topo em forma de V

426
AFRICA 2009 [em linha] 2010 [Consult. 2013-08-03]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.africa2009.net/english/programme/index.shtm>
427
Sobre as atividades do programa AFRICA 2009 ver a publicação AAVV (rédac. Thierry Joffroy) – Les pratiques de
conservation traditionnelles en Afrique. Rome: ICCROM, 2005.
428
Sobre os tipos arquitetónicos neste país foram publicadas fichas extremamente detalhadas assim como projetos de
construção contemporânea de adobe para escolas. Em: AA.VV – Étude sur les savoirs construtifs au Burkina Faso.
Grenoble: CRATerre – EAG, 1991.

151
sustentam as vigas ou toros da cobertura429. No caso das mesquitas e edifícios
de maior escala, os toros em madeira são substituídos por pilares de adobe. As
proteções das paredes exteriores, com superfícies decoradas em policromia,
são, no entanto, mais exuberantes nas construções em terra empilhada. No
caso das de adobe, o que marca esteticamente a arquitetura são os rebocos
exteriores, com os seus efeitos em alto-relevo, muito diversificados, por vezes
com a marcação dos vãos em reboco liso e policromado.

Na segunda região, dos Estados Árabes, a presença do adobe é


também generalizada e pode dizer-se, maioritária, a que se seguem as
técnicas monolíticas, como a terra empilhada e, com menos expressão, a
taipa430. Na zona do Mediterrâneo sul, por exemplo, é notório o uso de adobe,
mas subalterno à taipa (Figura 60). Marrocos é um dos países onde as
alvenarias de adobe são, simultaneamente, construtivas e decorativas. Um dos
exemplos patrimoniais marroquinos mais expressivos são as habitações
fortificadas, os Kasbah, construídas em técnicas de taipa nos primeiros pisos e
adobe nos últimos (tabela 1). Esta diferença de técnicas, que inclui a
diminuição em altura da espessura das paredes, permite a fácil construção de
pisos em madeira e o remate superior com alvenarias em aparelhos
diversificados de adobe. Nessas alvenarias de topo, os diferentes aparelhos,
perfazendo motivos geométricos e criando jogos de cheios e vazios são a única
decoração da arquitetura. Este remate arquitetónico apenas é protegido, e
complementado por vezes, com rebocos em terra, que acentuam ainda mais os
efeitos dos aparelhos de adobe, como sucede com os motivos em arcos
geométricos431. Relevante para esta região foi o Programa ATHAR,

429
Idem, pp. 12-13, 17, 34-36, 40-41, 46-47
430
Sobre este assunto veja-se o documento produzido sobre os Estados Árabes no âmbito do programa WHEAP.
Consultation Meeting on the Implementation of the World Heritage Earthen Architecture Programme (WHEAP)
in the Arab States – Strategies and Approaches; 11 January, 2010, UNESCO Headquarters, Meeting Report [em
linha] 2010 [Consult. 2013-08-03]. Disponível em WWW:
<URL:http://whc.unesco.org/uploads/activities/documents/activity-21-17.pdf>.
431
BOUSSALH, Mohamed – Le décor architectural en terre crue du Sud-Est du Marroc: entre technique, esthétique et
symbolisme. Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue. Les cultures constructives de la brique
crue, Volume 3, pp. 404-406. O autor sistematizou e elencou os principais motivos decorativos construídos em
alvenaria de adobe: fiadas de losangos, ângulos, triângulos, quadrados, arcos geométricos em fundo, arcos
geométricos em escada, arcos geométricos em banda, triângulos e arcos geométricos rendilhados.

152
“Conservation of Cultural Heritage in the Arab Region”, coordenado pelo
ICCROM. Embora não seja um programa totalmente vocacionado para o
Património em terra foi, no entanto, extremamente importante pelos cursos de
conservação direcionados para esse património que organizou, em 2009, nos
Emiratos Árabes Unidos, e os inúmeros “workshops” que promoveu sobre
gestão e registo de sítios na Síria (em 2005), na Jordânia (em 2006) e na
Turquia (em 2007), só para citar alguns exemplos432.

Na terceira região, da Ásia Pacífico, apesar de mais uma vez o adobe


ser um material em uso generalizado no território, reparte a supremacia com as
técnicas mistas, de madeira, vegetal e terra, e também, com técnicas
monolíticas em taipa e terra empilhada. O programa WHEAP do Centro do
Património Mundial incluiu a Ásia, na segunda (2009-2011) e terceira fases
(2012-2013) do seu desenvolvimento, em conjunto, respetivamente, com as
regiões de África e da América Latina. Esta inclusão destinou-se a conhecer
melhor o património em terra nesse continente, o que se veio a verificar. O
saber e a descoberta de arquiteturas de terra completamente desconhecidas,
na região da Ásia Pacífico, foram enormes433. De situações muito particulares
em países onde se conheciam, apenas, alguns monumentos e sítios
arqueológicos em terra, de que são exemplo o Paquistão, o Japão ou o Irão,
passaram a conhecer-se os edifícios fortificados e de enormes dimensões em
taipa na China assim como a arquitetura vernácula de adobe praticamente
desconhecida nesse país. O programa permitiu ainda descobrir os
monumentais vestígios arqueológicos em Merv na República do Turquestão,
assim como a continuidade construtiva434 em adobe nesse país, para além de
terem sido descobertos outros sítios e arquiteturas de adobe na República do
Uzbequistão. Refira-se que foi no âmbito deste programa que a atualidade e

432
ICCROM - ATHAR, courses and workshops [em linha] 2013 [Consult. 2013-08-03]. Disponível em WWW: <URL
http://www.iccrom.org/eng/prog_en/05athar_en/courses_en.shtml>
433 Sobre esta temática veja-se as comunicações da conferência: TerraAsia 2011, INTERNATIONAL CONFERENCE
ON EARTHEN ARCHITECTURE. Mokpo, Republic of Corea, 11th to 14th, 2011, Proceedings [em linha], 2012. [Consult
2013-08-16] Disponível em: WWW: <URL: http://craterre.org/diffusion:ouvrages-
telechargeables/view/id/0e6aefb8d47844446f3adf95f225ef16>
434
COOKE, Louise – Earthen building materials and techniques at Merv,Turkenistan. Lehm 2004, 4th International
Conference on Building with Earth, pp. 53-62.

153
contemporaneidade das arquiteturas em taipa na Coreia do Sul acabaram por
ser conhecidas internacionalmente.

Destaque-se de novo, o sítio arqueológico de Merv, um local de grande


importância no contexto da construção de adobe neste continente. Merv é um
oásis que incorpora uma série de cidades com vestígios de enormes
construções em adobe muito destruídas, devido à reutilização do seu material
em novas construções. Sensivelmente, a partir de 1884, quando ocorre a
anexação deste território à Rússia, e consequentemente, o êxodo de
populações, estes sítios passaram a ser os fornecedores de adobes para as
muitas novas construções necessárias, dada a escassez de materiais
existentes naquela região. Essa destruição recente dificulta muito a
interpretação do sítio e, sobretudo, dada a enorme escala dos vestígios
arquitetónicos encontrados é um enorme desafio arqueológico, que tem vindo a
interessar conservadores-restauradores, arquitetos, historiadores e
arqueólogos, que tem trabalhado neste sítio. O adobe foi utilizado neste lugar
em complexas alvenarias, constituídas por paredes com colunas e pilares
incorporados, e ainda em abóbadas435. Segundo Louise Cooke436 terá sido só a
partir do período medieval, que os tijolos são introduzidos, sempre com
dificuldade e em situações muito excecionais, dado que as condições do oásis
nunca facilitaram a sua produção. No entanto, a invulgaridade do local é
reconhecida pela continuidade construtiva em adobe, sobretudo o seu uso na
arquitetura vernácula, que do ponto vista antropológico merece alguma
atenção. Nessas construções, ainda hoje, toda a família é envolvida na sua
edificação, cabendo ao setor feminino o revestimento e a decoração interiores.
A grande quantidade de água necessária para a manufatura dos adobes é
superada com o apoio de um complexo sistema de canais adutores, de origem
ancestral e ainda ativos. Os ofícios e a construção em adobe, com organização
comunitária permanecem e são hoje utilizados, também para a manutenção

435
Idem, pp. 53-54.
436
Ibidem.

154
das zonas arqueológicas da região, constituindo um bom exemplo de
participação comunitária na conservação do sítio437.

Na quarta região, a Europa e a América do Norte, o adobe destaca-se


enquanto material e técnica nos Estados Unidos da América, quer pelo
património arquitetónico existente, quer pela dinâmica e ascendente arquitetura
contemporânea. Construir em adobe é, neste país, uma excentricidade cara
porque, como refere Quentin Wilson é um “premium material”438, mas não pelo
custo real do material - que apenas representa 7% do total da construção -
mas sim pela especulação que os construtores, sobretudo os do Estado do
Novo México preconizaram, chegando a construir casas em alvenaria de tijolo
e estrutura corrente metálica ou em betão, imitando as de adobe. Segundo o
mesmo autor o resultado desta corrente são as casas em “adobemimetic”439,
de custo elevado e que, estranhamente, tem um enorme sucesso neste Estado
Americano. Para além do Novo México, também no Colorado, Arizona,
Califórnia e Texas, se verificam construções em adobe, mas com menor
expressão. Os Estados Unidos foram, de certa forma, o país percursor da
arquitetura contemporânea em adobe, com os trabalhos arquitetónicos de
Antoine Predock, realizados a partir de meados dos anos 60 do século XX440, e
já direcionados para uma habitação de elevado estatuto social, no que
contrastava com as construções vernáculas e humildes existentes naquele
Estado. Antoine Predock ter-se-á inspirado no material existente no património

437
Desde 2001, o CRATerre tem sido uma das instituições que tem participado em projetos locais de conservação das
estruturas arqueológicas em Merv, no âmbito de projetos financiados pelo Centro do Património Mundial. CRATerre -
Merv Turkmenistan. Summary of activites, 2001-2007. [em linha] 2002 [Consult. 2013-08-11].
Disponível em WWW: <URL: http://craterre.org/accueil:galerie-des-
images/default/gallery/79/gallery_view/Gallery?year=0&month=0&day=0&page=1>.
438
WILSON, Quentin – Analysis of construction cost for modern adobe homes. Terra em seminário 2007 (V ATP, Terra
Brasil 2006), pp.124.
439
Este movimento terá tido a sua origem na divulgação de algumas casas, de americanos famosos, construídas em
adobe, de que são exemplo o Rancho de Ronald Reagan no Novo México ou a casa da atriz Julia Roberts em Taos,
também neste estado norte americano.
440
Estados Unidos [s.a] Arquitecturas de terra ou o futuro de uma tradição milenar, pp. 201-208. O empreendimento
mais conhecido de Antoine Predock, “La Luz”, de 1967 em Albuquerque, carateriza-se pela alta qualidade da
construção e pelo elevado nível social dos seus moradores. Frank Lloyd Wright terá também desenhado uma casa em
adobe, em 1942 (Pottery House) só construída em 1985. Entre outros arquitetos que construíram em adobe nos anos
70, William Lumpkins, George Yakashima e mais recentemente David Wright e Simone Swan. BARDOU, Patrick;
ARZOUMANIAN, Varoujan – Arquitecturas de adobe (3ª edicion). Mexico. D.F: Ediciones Gustavo Gili, 1986.
DOLLENS, Dennis – Simone Swan, adobe buildings. Santa Fé: Sites Books, 2005.

155
arquitetónico de origem indígena e colonial, praticamente, todo de adobe.
Embora tal facto nunca tivesse mencionado, é possível que o seu trabalho,
enquanto arquiteto, tenha sido mais tarde impulsionado e influenciado pelas
obras de Hassan Fathy neste país, sobretudo, com a construção da mesquita,
em “Chama River Valley” no Estado do Novo México. Este projeto, que Hassan
Fathy levou a cabo nos Estados Unidos, em 1980, fazia parte de uma cidade
planificada, parcialmente construída para o mesmo local, e cuja materialização,
graças à mão-de-obra que Hassan Fathy levou do Egito para o Estado do Novo
México, os “mallen” núbios441, terminou sendo uma referência, uma escola de
formação prática, que influenciou toda uma geração de arquitetos
americanos442.

O caso Europeu é distinto, devido ao adobe não ser o material em terra


mais utilizado (figura 61). O continente europeu caracteriza-se pela enorme
diversidade de técnicas e materiais em terra. Efetivamente, o adobe está
presente em muitos países e, com maior incidência, na República Checa e nos
países do sul, como Portugal, Itália, Espanha, Chipre, Grécia e em França,
muito embora neste último em menor expressão443. No panorama europeu até
agora conhecido, aguardam-se informações sobre os inventários arquitetónicos
em países como a Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Eslóvenia, Macedónia
e Montenegro, para que o quadro do património e da arquitetura
contemporânea fique completo. No entanto, e até ao momento, este é o
continente onde melhor se conhece a arquitetura em terra. Para concluir, na
situação europeia, destaca-se o caso da Itália, especificamente, a ilha da
Sardenha, onde na região de vale ao sul, o adobe foi e continua a ser um
importante material de construção. No âmbito da conservação arquitetónica há
que referir as publicações: “I manuale temático della terra cruda” e “Architettura

441
STELLE, James – An architecture for people. The complete works of Hassan Fathy, pp. 150-153.
442
RAEL, Ronald – A counter history of modern architecture in the American southwest. Lehm 2004, 4th International
Conference on Building with Earthpp.67-73.
443
Sobre a arquitetura de terra na Europa ver o trabalho de síntese publicado em: AAVV (ed. Mariana Correia, Letizia
Pasquale and Saverio Mecca) – Terra Europae. Earthen architecture in the European Union. Pisa: Edizioni ETS /
Cultural Lab Editions, 2011.

156
in terra cruda dei Campinani, del Cixerri e del Sarrabus”444, ambas dedicadas à
arquitetura de adobe.

Figura 61 – Mapa do património em terra na União Europeia. A presença do adobe encontra-se marcada
em trama castanho-escuro. TERRA INCOGNITA - Earthen Architecture in Europe [em linha] 2011
[Consult. 2013-07-13]. Disponível em WWW: <URL:http://culture-terra-incognita.org/images/pdf/map.pdf>

Nessas duas publicações, o adobe é analisado e caraterizado quer em termos


territoriais e históricos, quer enquanto material de construção. O mais relevante
porém, diz respeito às estratégias de intervenção para os centros históricos
construídos, maioritariamente, em adobe e à apresentação de casos
exemplares, consideradas boas práticas de intervenção em arquitetura de
adobe. As duas publicações são extremamente importantes para a intervenção
física em edifícios de adobe e deveriam servir de modelos, para outras regiões
na Europa. Na Sardenha, as casas históricas e a arquitetura vernácula de
adobe encontram-se ainda habitadas e em uso, motivo pelo qual os esforços
locais são direcionados para a manutenção e conservação desse património

444
AAVV (a cura di Maddalena Achenza, Ulrico Sanna) – Il manuali del recupero dei centri storici della Sardegna, il
manuale tematico della terra cruda, vol I, 2. Roma: DEI/ITACA, 2008, ISBN 978.88.496.2471.7. AAVV (a cura di
Antonello Sanna, Carlo Atzeni) – I manuali del recupero dei centri storici della Sardegna, Architettura in terra cruda, dei
Campidani, del Cixerri e del Sarrabus, vol I, 1. Roma: DEI/ITACA, 2008, ISBN 978.88.496.2441.0.

157
(figuras nºs 62 e 63). No entanto e desde os anos 80 do século XX, verificou-se
um movimento na geração mais jovem de arquitetos locais, para a construção
em adobe de edifícios contemporâneos445. Hoje, passados cerca de 30 anos, a
arquitetura contemporânea de adobe é uma realidade perfeitamente
implementada com sucesso da qual fazem parte empresas construtoras, ateliês
de arquitetura e produtores organizados do material446.

Figuras 62 e 63 – Casa de adobe em aglomerado próximo de Cagliari e adobes empilhados e molde na


mesma zona, Sardenha, Itália. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Na quinta e última região delimitada pelo Centro do Património Mundial,


a América Latina e as Caraíbas, pode-se afirmar que o adobe domina em todo
o território, apenas rivalizando com as técnicas mistas em madeira, terra e
vegetal, que recebem neste continente inúmeras designações, como taipa de
sopapo ou taipa de mão no Brasil, “quincha” na Argentina, Uruguai, Chile e
“bahareque” no México e Venezuela. Neste continente existem, de facto,
inúmeras variantes destas técnicas mistas, muitas delas incorporando adobes
de reduzidas dimensões no seu interior. A variedade é de tal forma importante,
que tem sido objeto de estudo desde os anos oitenta, com a sistematização

445
De entre os arquitetos (as) sardos, Ignazio Garau, Antonnello Sanna, Madalena Achenza, Rosella Sanna e Maura
Falchi só para citar alguns que se dedicam à arquitetura contemporânea e á conservação do património de adobe
nessa ilha. GARAU, Ignazio – Earthen house in Sardinia betwen recovery and innovation. Terra 93, 7ª Conferência
Internacional sobre o Estudo e a Conservação da Arquitectura de Terra, pp. 335-340.
446
ATZENI, Cirillo [et al] – An industrial experience on ladiri production in Sardinia. Mediterra 2009, 1ª Conferenza
Mediterranea Sull’Architettura in Terra Cruda, pp. 399-404.

158
dos tipos existentes e publicação de manuais construtivos447. Inclusive, uma
das primeiras tentativas para mapear as técnicas de construção por
continentes, foi realizada na América Latina e publicada em “Arquiteturas de
tierra en Ibero America”448. Essa publicação, porém, não contém um mapa
global, como os que foram concluídos para a região do Mediterrâneo em 2001
e para a União Europeia em 2011 (figuras 60 e 61). No caso da América Latina,
as técnicas foram mapeadas por país449, acompanhadas de fichas onde se
descreviam os procedimentos construtivos assim como a terminologia
associada.

Figura 64 – Mapa recente da presença do adobe no México. O material/ técnicaconstrutiva encontra-se


marcado em trama castanha e disperso por todo o país. Mapa inédito, sem escala, gentilmente cedido por
Luis F. Guerrero Baca.

No entanto, todo o trabalho existente, e de certa forma já registado por regiões,


constitui uma primeira base que, apesar de estar em atualização constante por
país (figura 64), se prevê, venha a fazer parte de outros desígnios mais
ambiciosos. Dos projetos em curso, refira-se o Atlas do património
arquitetónico em terra, que se encontra em preparação no seio do ICOMOS-
ISCEAH, e também o mapeamento das técnicas, das arquiteturas vernácula e

447
Dessas publicações relevo para as seguinte: HAYS, Alain; MATUK, Silvia, VITOUX, François – Tecnicas mixtas de
construccion com tierra. Villefontaine: CRATerre, 1986; GÁRZON, Lucia Esperanza – Tecnicas Mixtas. Técnicas de
construção com terra, pp. 62-71.
448
VIÑUALES, Graciela; NEVES, Célia; FLORES, Mario; RÍOS, Luiz – Arquitecturas de Tierra en Iberoamérica. Buenos
Aires: CYTED, programa de Ciencia y Tecnologia para el desarrollo, 1994, pp41-63.
449
No mesmo conjunto do adobe foi incluído o BTC.

159
contemporânea para o espaço Ibero-americano, em preparação na rede
PROTERRA. Estes novos projetos, numa fase mais avançada em relação aos
mapeamentos existentes, irão complementar e contribuir para o
desenvolvimento da informação existente, dado que, até ao momento, os
mapas referiam apenas o património em terra e a arquitetura vernácula. Sobre
esta matéria e a forma como a pesquisa pode levar a conclusões noutros
domínios, veja-se o caso do Chile e o recente trabalho de Natalia Jorquera
Silva. Esta investigadora optou por mapear as culturas construtivas tradicionais
em terra (figura 65), relacionando as suas características e comportamento
com a sismo-resistência450. Neste país a técnica construtiva em adobe
predomina e a experiência local desenvolveu diversos sistemas engenhosos e
construtivos, que superaram a fraca resistência do adobe face aos sismos.
Algumas dessas soluções, já foram mencionadas no capítulo primeiro, e
consistiam em aramar as alvenarias de adobe, ou seja, em aplicar amarrações
simples em arame, em pontos estratégicos das alvenarias.

Figura 65 – Mapa das culturas construtivas em terra no Chile, mapa sem escala, gentilmente cedida por
Natalia Jorquera Silva.

450
SILVA Natalia Jorquera - Culture costruttive in terra e rischio sismico. Conoscenza delle architetture tradizionali
cilene e valutazione della loro vulnerabilità al sisma. Tesis para optar al grado de Doctor en Tecnología de la
Arquitectura, Universidad de Florencia, Italia, 2012.

160
Segundo a mesma autora, as zonas onde predomina a arquitetura em terra,
sobretudo em adobe, vai desde a região "Arica y Parinacota" a norte (latitude
17º, 56' sul), até à região do Bío-bío a sul (latitude 36º sul), ou seja, onde
prevalece o clima árido, temperado e coincidentemente com a zona de
colonização espanhola451. A autora identificou, para cada uma das culturas
mapeadas, as técnicas e tipos arquitetónicos mais frequentes, relacionando,
posteriormente, essa informação com as soluções sismo-resistentes adaptadas
(figura 65). Quando são conhecidas as técnicas construtivas e os tipos
arquitetónicos, é possível estabelecer relações desta natureza, perspetivar
melhorias na conservação arquitetónica e na planificação de arquitetura
contemporânea em terra.

Apesar dos estudos atuais serem dispersos, eles permitem de facto


aferir que o material em terra mais utilizado no mundo é, indubitavelmente, o
adobe; e que o mesmo se encontra em pleno uso, nas mais diversas formas,
apesar de continuamente serem descobertos novos locais e sítios construídos
em adobe, o que tem contribuído em larga escala para perspetivar novos
desempenhos e soluções construtivas, onde o adobe possa ainda ser utilizado.

3.2 – Dos primeiros adobes, da moldagem e da produção.


O adobe, material e técnica construtiva, compreende três variantes:
- adobe manual;
- adobe moldado;
- adobe mecânico e industrial.
Na última variante inclui-se o designado adobe extrudido (tabela 1, nº 7).

A presença do adobe manual no mundo é essencialmente arqueológica,


embora ainda se verifiquem situações de persistência e continuidade
construtiva em zonas muito restritas, designadamente, no continente Africano

451
SILVA, Natalia Jorquera - Culturas constructivas en tierra y riesgo sísmico. El caso de la arquitectura tradicional
chilena y la evaluación de su vulnerabilidad frente a la acción sísmica. TERRA 2012, XI Conferencia Internacional
sobre el Estudio y la Conservación del Patrimonio Arquitectónico de Tierra , 11 p.

161
(tabela 1 nº 8). No grupo das persistências/continuidades é exemplo, no Mali, o
adobe de forma cilíndrica, designado “djenné ferey”452; e os adobes de forma
cónica designados “tubali”, ainda hoje manufaturados no Niger e no norte da
Nigéria453. No entanto, é ao nível arqueológico que este material e as diferentes
alvenarias resultantes da sua construção são impressionantes. Num quadro
síntese para a região da Mesopotâmia, o arqueólogo Martin Sauvage
sintetizou, em termos cronológicos e evolutivos, a existência de adobes
manuais, moldados assim como outras técnicas de terra, existentes em
diversos sítios arqueológicos (tabela 5).

454
Tabela 5 - Cronologia simplificada dos materiais em terra na Mesopotâmia, segundo Martin Sauvage .
Neolítico pré-cerâmico – 10000-7000 a. C. (Khiamien, Mureybetien).
Primeiros abrigos perenes e adobe manual.
Neolítico cerâmico: 7000-5300 a. C. (Samarra, Hassuna, Halaf, Obeid).
Culturas construtivas diferenciadas: adobe manual, terra empilhada, pequenas placas ou lajetas de terra
argilosa, adobes moldados de grandes dimensões.
Obeid recente: 5300-3700 a. C. (Obeid).
Emerge a arquitetura monumental, com plano pré concebido, aparelhos de alvenarias complexos e
decoração.
Uruk: 3700-2900 a.C.
Primeiras cidades, adobes moldados com dimensões distintas, primeiros tijolos.
Proto dinastia: 2900-2340 - Império d’ Akkad: 2340-2200.
Expansão do fenómeno urbano. Emerge o Estado e o poder Real: adobe manual plano-convexo
aparelhos ao cutelo sobre a forma de escama de peixe – “arrête poison”.
Época néo-Sumériana 2200-2000 a.C. (Guti, Lagash, IIIª dinastia d’Ur).
Construção de complexos religiosos, Zigurates, gestão burocrática e construção estandardizada em
adobe moldado nos edifícios públicos (unidades de medida, jornadas dos operários).
Período paleo-Babilóneo 1570-1030 a.C.: (Isin-Larsa e Iª dinastia da Babilónia).
Decoração em semi-colunas torcidas com motivos de tronco de palmeira em material de terra.
Período meso-Babilónio 1570-1030 a.C.: (dinastia Kassite, IIª dinastia d’Isin).
Primeiras decorações, superfícies arquitetónicas em relevo construídas em tijolo.
Período neo-Assirio: 911-626 a.C. período neo-Babilóneo -626-539 a. C. período Achemide 539-311 a.
C. Superfícies arquitetónicas em relevo construídas em tijolo vidrado.

452
Sobre este material e técnica: BRUNET-JAILY, Joseph; SCHERRER, Olivier – Un savouir faire en grand danger de
disparition: la construction en djenné ferey au Mali. Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue. Les
cultures constructives de la brique crue, Volume 3, pp. 417-429.
453
GUILLAUD, Hubert – De traces en repéres choisis: éloge terrestre de la brique crue. Échanges transdisciplinaires
sur les constructions en terre crue. Les cultures constructives de la brique crue, Volume 3 pp. 44-45.
454
SAUVAGE, Martin – Op. Cit., p. 98.

162
Ainda sobre esta temática do adobe moldado, há que referir os termos e
as designações internacionais, usados especificamente para o adobe manual e
compiladas pelo arqueólogo Olivier Aurenche: “balle” na língua alemã; “lump”
ou “bal” na língua inglesa; “kolukh” em persa (farsi) e “kalo” em linguagem
curda. Segundo o mesmo autor, os restantes termos existentes designam,
cumulativamente, adobe manual e moldado455, como são o caso de “ziegel” na
língua alemã e “cheiropoiètè plinthos” em grego moderno.

Segundo os mesmos arqueólogos, o adobe manual terá sido o primeiro


a ser utilizado. As primeiras formas conhecidas, muito variáveis, eram em feitio
de pão comprido, como as encontradas em Jericó (figura 66), e redondas
achatadas, conforme os vestígios de Munhata, sítios que apenas distam 100
km entre si (figura 67). Alguns dos adobes mencionados apresentavam ainda
as impressões digitais dos seus manufatores, decalcadas à superfície (figura
66). Numa primeira abordagem a estas construções, julgava-se e chegou
mesmo a teorizar-se que o adobe manual teria evoluído e passado por diversas
formas, até atingir a configuração quadrada e retangular do adobe moldado456.
Atualmente, com a evolução dos estudos em arqueologia e a descoberta de
mais sítios arqueológicos, com vestígios de construções em terra, apenas se
pode concluir que as primeiras formas conhecidas de adobes são manuais, e
conforme aos tipos encontrados em Jericó (figuras 66 e 67). Na mesma linha
de investigação aferiu-se, que o adobe moldado surge mais tarde, e que no
mesmo período histórico em diversos locais, as duas formas de adobe tiveram
lugar e foram utilizados em simultâneo na construção (tabela 5).

455
AURENCHE, Olivier [et al.] – Essai de classification des modalités de mise en oeuvre de la terre crue en parois
verticales et de leur nomenclature. Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue, Volume 3. Les
cultures constructives de la brique crue, p. 25.
456
DOAT, Patrice [et al] – Op. Cit., p. 107. Os autores referiam-se à teoria e pesquisa desenvolvidas pelo arqueólogo
José Imbelloni onde o adobe teria tido inicialmente a forma cónica e sucessivamente piriforme, hemisférica, dentiforme
e plano convexa. Enquanto, por seu lado, os aparelhos teriam evoluído da fiada com os adobes colocados na
horizontal, para a fiada com adobes na vertical terminando em escama de peixe para o caso dos adobes plano-
convexos.

163
Figuras 66 e 67 – Desenho sem escala, dos adobes de Jericó, cujas dimensões aproximadas eram de
0,26x0,10x0,10m, CAMPELL, James W. P.; PRYCE, Will – História universal do tijolo, p. 26; e mapa
segundo Martin Sauvage, com a localização dos primeiros sítios arqueológicos onde se verifica a
presença de construções em terra. SAUVAGE, Martin – Op. Cit. p. 90.

Os primeiros adobes moldados retangulares conhecidos parecem ter


surgido na região centro e norte do rio Eufrates (figura 64), em Damascene
(com dimensões entre 0,50m-0,90mx0,25m-0,35mx0,07m-0,08m), também nos
sítios de Çatal Höyük, Gritille, El-Kowm, Qdeir, Damishliya e Bourqras (7500-
6500 a.C.). Mais tarde, igualmente de grandes dimensões, na Mesopotâmia
central em Tell Es-Sawan (6500-5500 a.C.) com cerca de 0,80m de
comprimento. Segundo Martin Sauvage, é a partir do período Calcolítico
(período Obeid 5500-3500 a. C., cultura Samarra) que se produzem grandes
transformações na construção em adobe. Nesse época, verifica-se a
diminuição do tamanho dos adobes, variando o comprimento entre 0,30m a
0,50m, a largura em geral metade da medida do comprimento e altura variável
oscilando entre 0,06m a 0,15m. A diminuição de dimensões é acompanhada na
construção de alvenarias mais rigorosas, com recurso a contrafortes, travagem
em cunhais e aparelhos complexos e diversificados457 (tabela 5). No entanto,
as primeiras grandes cidades em adobe surgem a partir de 3 000 a. C. (período
d’Uruk) e com estas, despontam inovações ao nível da arquitetura. Pela
primeira vez, as dimensões dos adobes são associados à sua posição na
construção, o betume é usado como aditivo nos adobes, para a construção de

457
SAUVAGE, Martin – Op. Cit., p.92-93.

164
canalizações, obras hidráulicas e aparecem os primeiros tijolos em
decoração458. No final do III Milénio, no decurso da dinastia D’Ur (2200-2000
a.C.), são edificados os grandes complexos religiosos, Templos e Zigurates,
que eram genericamente, torres com plataformas, que careciam para a sua
elevação, da produção de inúmeras unidades de adobes e tijolos. Para a
concretização são necessárias inovações ao nível da engenharia construtiva
como: aparelhos complexos e terraços de travamento; generalizou-se o tijolo
vidrado como revestimento exterior com funções decorativas de alvenarias;
assim como, a utilização de estruturas em vegetal e madeira horizontais,
intercaladas nas fiadas das alvenarias para travamentos e sistemas de
drenagem sofisticados, com canais e gárgulas para evacuação de águas
pluviais. Este período caracteriza-se pela imposição do poder real na
normalização das unidades e das medidas empregues na construção 459, na
definição e sistematização do trabalho de construção. O serviço passa a ser
faseado segundo um ciclo de produção e os escribas passaram a definir as
rações alimentares, assim como o cálculo de salário, quando existente, faz-se
a partir dessa organização, muito embora o trabalho da construção fosse
maioritariamente escravo.

A representação mais antiga que se conhece do ciclo de produção e


construção em adobe é a pintura mural existente no túmulo de Rekmire, em
Tebas no Egito (figura 68): nela é possível verificar todas as fases do processo,
inclusive o tipo de operários, muitos deles núbios e judeus, dada
expressividade da representação.

458
Idem, pp. 93-94.
459
Idem, pp 95. O autor publica inclusive uma tabela dos adobes empregues e a sua relação matemática em termos de
dimensões.

165
Figura 68 – Pintura mural, do ciclo de manufatura/produção e construção em adobe, existente no túmulo
de Rekmire (1450 a.C.) em Tebas, Luxor, Egito. CAMPELL, James W. P.; PRYCE, Will – História
Universal do tijolo, p. 28-29.

A última fase da história e evolução da construção em adobe, ainda


segundo Martin Sauvage, respeita ao II e I Milénio, em que as inovações dizem
mais respeito às superfícies arquitetónicas, ao uso de revestimentos
decorativos, sem haver ao nível construtivo grandes transformações (tabela 5).

Ao nível arqueológico, ainda hoje, não existe para os períodos


subsequentes uma explicação razoável e lógica para o uso dos adobes
quadrados, sobretudo, na antiguidade clássica e para o seu abandono,
subsequente com a retoma dos adobes retangulares como se verificava em
períodos anteriores. Ao nível do conhecimento são notórias as informações
que, respeitam desde 10 000 a.C. até ao I Milénio inclusive. Os dados e
informações relativos à construção em adobe, para períodos subsequentes são
mais escassos, dispersos e ainda não permitem sínteses como a apresentada
na tabela 5. Aguardam-se, por isso, novos desenvolvimentos neste domínio.

166
O ciclo de manufatura/produção e construção em adobe pressupõe as
seguintes fases:
1- extração da terra;
2- preparação da terra
3- adição de estabilizador (que pode ser a seco ou húmido e, nesse caso,
executado durante a fase seguinte);
4- mistura da terra com água;
5- manufatura manual ou moldagem
6- secagem;
7- acondicionamento/ armazém;
8- construção460.

Os adobes manuais encontrados em Jericó, segundo a versão arqueológica,


terão sido manuseados diretamente com terras extraídas nas margens do rio,
que já continham vegetal incorporado, e posteriormente secos ao sol. Os
adobes manuais, ainda hoje existentes, são restícios de uma prática em vias
de desaparecimento ou meros vestígios em construções arqueológicos (figuras
69 e 70).

Figuras 69 e 70 – Alvenarias em adobe manual, do tipo “djenne ferrey” em Djenné e no sítio arqueológico
461
de Djenne-Djeno, Mali. Créditos J. Brunet-Jailly 2001 e Maria Fernandes, 2008

460
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op.Cit, 208. Muito embora as fases descritas não estejam exatamente como
no ciclo de produção do adobe constante no “Traité de construction en terre”, foi de facto nessa edição a primeira vez
que o mesmo foi sistematizado e explicado de forma generalizada.
461
BRUNET-JAILY, Joseph; SCHERRER, Olivier – Un savouir faire en grand danger de disparition: la construction en
djenné ferey au Mali. Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue. Les cultures constructives de la
brique crue, Volume 3, p. 423.

167
Por esse motivo, o conhecimento sobre a sua manufatura e construção é
diminuta e escassa, o que não permite retirar grandes conclusões sobre
quando, onde e como se processava e que arquiteturas produziu. No que
respeita ao adobe moldado, ainda hoje se verifica uma uniformidade
praticamente universal, na sua manufatura e produção, variando as dimensões
e unidades de lavra, mas pouco o tipo de moldes e procedimentos (figuras 71,
72, 73, 74, 75, 76 e 77).

Figuras 71 e 72 – A preparação da terra e a moldagem de adobes em Bichinho, Estado de Minas Gerais


Brasil. Créditos Maria Fernandes 2006.

Figuras 73, 74 e 75 – A moldagem e secagem de adobes em Dogon, Mali; Yanchuan, Shanxi, China e no
462
Novo México, Estados Unidos da América. Créditos Maria Fernandes 2008, Caroline Bodelec, 2006 e
463
Fernando Vegas 2012 .

462
BODOLEC, Caroline – La brique moulée en Chine: panorama historique et usages contemporains. Échanges
transdisciplinaires sur les constructions en terre crue. Les cultures constructives de la brique crue, Volume 3, pp. 143.
463
ADOBE IN NEW MEXICO [em linha] 2012 [Consult. 2013-08-03]. Disponível em WWW:
<URL:https://www.facebook.com/fernando.vegas.393>

168
Figuras 76 e 77 – A secagem de adobes em Nampula, Moçambique; e na estrada de Luanda - Mbanza
Congo (próximo desta última) em Angola. Créditos respetivamente Alexandre Braz Mimoso, 2012 e
Conceição Lopes 2010.

Figuras 78 e 79 – A construção de casa de adobe em Lamayuru, India e abrigo em alvenaria de adobe e


pedra em Bandiagara no Mali. Créditos Ângelo Silveira, 2012 e Maria Fernandes, 2008.

Para além da manufatura do adobe moldado, também a construção de


paredes, em alvenaria, atualmente, não é muito variável (figuras 78 e 79). A
complexidade dos aparelhos das alvenarias de adobe, registada nos vestígios
arqueológicos, não é hoje uma realidade. Maioritariamente, os aparelhos são a
meia vez (adobe colocado no sentido do comprimento e da fiada da parede),
uma vez (adobe colocado no sentido perpendicular ao desenvolvimento da
fiada), e só, excecionalmente, a vez e meia, quando os adobes têm dimensões
menores em comprimento. As diferenças residem apenas nas juntas e nos
tipos de argamassas utilizadas para o assentamento dos adobes.

As diferenças, na produção, só se acentuam quando os procedimentos


passam a ser mecanizados ou industrializados, ou seja, quando no trabalho
estritamente manual são acrescentadas novas ferramentas e instrumentos.

169
Para o adobe mecanizado, a simples introdução de uma misturadora de terras
permite juntar numa só fase, as de preparação e mistura com estabilizador,
sendo que muitas vezes é possível, ainda, juntar a água, o que significa
464
eliminar mais uma fase . Se adicionarmos a este equipamento outras
melhorias, como a introdução de moldes múltiplos e móveis, a secagem em
área generosa, mais mão-de-obra, as diferenças resultam num aumento
considerável em termos de rendimento e produção (tabela 6).

465
Tabela 6 – Produção de adobes moldados e rendimento por dia, segundo o CRATerre
Tipo de manufatura ou produção Produção por dia, unidades Número de trabalhadores
Moldagem simples 500 4-5
Moldagem sistematizada 2 500 4-5
Semi-mecanizada 10 000 5-6
Mecanizada 20 000 5-6

A título de exemplo, vejam-se os casos das firmas “Hans Sumph” na Califórnia,


“New Mexico Earth” e “The Adobe Man” no Estado do Novo México, nos
Estados Unidos da América, e também, os casos da “Bioarch” na Sardenha em
Itália e a “Claytec” na Alemanha. A firma “Hans Sumpf” que iniciou a produção
de adobes nos anos 30 do século XX, desenvolveu uma máquina - “egg layers
block machine” - conseguindo produzir 20 000 adobes por dia. Os adobes
moldados e produzidos por esta máquina, com as dimensões 4”x10”x14”, foram
concebidos para se aproximarem dos existentes nas construções do Novo
México. Estas máquinas têm sido usadas, essencialmente, na produção de
blocos de cimento e são constituídas por uma misturadora acoplada a uma
segunda máquina móvel, que preenche moldes múltiplos com terra em série,
deixando os adobes a secar em posição horizontal. A “New Mexico Earth”,
sediada em Albuquerque, usa apenas um destorroador para preparar e
misturar a terra a seco que, posteriormente, verte e ao qual adiciona água, em
local próprio de forma mecânica; este composto, após 24 horas, é despejado
em moldes de adobe posicionados na eira de secagem. Esta firma consegue,

464
Algumas misturadoras apenas permitem trabalhar a terra a seco sem adição de água.
465
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p.208. Para a produção industrial veja-se ainda o exemplo da firma
“Asphadobe”, também nos Estados Unidos da América, que produz adobes estabilizados com betume. Idem,p. 235.

170
com algumas melhorias e poucos gastos energéticos, produzir cerca de 4 000
adobes por dia. Numa dimensão inferior, a firma “The Adobe Man” produz
cerca 1 000 adobes por dia, apenas com a introdução de uma misturadora,
sendo os restantes procedimentos todos manuais e com moldes de apenas
quatro formatos de adobe466.

A “Bioarch” nasceu a partir do interesse e da necessidade, que as


administrações locais das comunidades de Samassi, Nurachi, Serramanna,
Serrenti e San Sperate na Sardenha tinham em obter adobes, para a reparação
de edifícios. A produção baseou-se sempre, no princípio que os materiais
deveriam ser certificados e com dimensões adequadas aos requisitos locais. A
fabricação, está estruturada numa linha de montagem, que se inicia com a
misturadora rotativa, à qual se segue o preenchimento de moldes múltiplos em
eira, com o auxílio de máquinas transportadoras de terra, onde finalmente
secam. A média anual por dia é de 400 adobes, considerando ainda o facto de
nos meses de inverno estes não se produzem. Este valor poderia aumentar se
a fábrica recorresse a ensecadeiras controladas, o que prossupunha maior
área, mais edifícios e custos adicionais, não necessários, dado que a produção
se destina à reparação local de edifícios467.

Para completar o ciclo da produção de adobe, falta apenas mencionar a


terra extrudida, um procedimento industrial mais complexo e que se situa entre
o BTC e o adobe, dependendo do grau de compactação aplicado e da
percentagem de água usada. Embora desconhecendo os detalhes do processo
de produção, é esse o método utilizado pela “Claytec”, para os materiais
designados “Leichtlehmsteine 1200 NF e 700 2 DF”, dois tipos de adobe/bloco
extrudido com terra e palha468. Na extrusão o material terra é crivado
industrialmente, até se obter a granulometria pretendida; posteriormente, de

466
WILSON, Quentin – Manufacturing sun-cured adobe bricks in the USA. Lehm 2008, 5th International Conference on
Building with Earth, pp. 99-101.
467
ATZENI, Cirillo [et al] – Op. Cit, pp. 400-402.
468
CLAYTEC - Leichtlehmsteine [em linha] 2010 [Consult. 2013-08-11]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.claytec.de/produkte/baustoffe/stampflehm-und-mauerwerk/leichtlehmsteine-anwendungsklasse-i.html>

171
forma controlada é adicionado a seco o estabilizador pretendido, cal, cimento
ou palha. A partir dessa mistura é adicionada água, e a terra em estado
húmido/plástico é submetida por pressão, a frio e direto, sendo forçada a
passar por uma matriz, de modo a adquirir uma secção transversal, a que se
segue o corte e a secagem em locais fechados, com controlo de humidade e
temperatura. Este processo é utilizado na produção do tijolo, antes do material
ser submetido à transformação por temperatura elevada. Pelo processo de
extrusão horizontal de adobes, em equipamentos móveis, a produção de
adobes pode atingir cerca de 2 000 a 3 000 adobes por hora469.

Face à atual disponibilidade no mercado de diferentes máquinas que vão


desde a simples crivagem, destoragem de terras, passando pela misturadora,
aos moldes móveis, até às máquinas de extrusão vertical, horizontal e móveis,
que permitem agilizar a manufatura (embora ao mesmo tempo encarecendo o
custo por unidade do adobe), é perfeitamente acessível aos produtores de
materiais, planear com custos controlados unidades de produção de adobe.

Como conclusão pode afirmar-se que a prática de construir em adobe no


mundo tem a particularidade, ainda hoje, de ser manual, muito embora em vias
de desaparecimento. A hipótese de vir a ser um material comercializado em
moldes industriais, dadas as perspetivas futuras de produção mecanizada e
industrial, diminuem quantitativamente os custos de mão-de-obra e permitem,
ampliar a sua produção. Estas realidades e possibilidades contribuem
favoravelmente para a sustentabilidade do planeta ao favorecerem o
desenvolvimento de um material ecologicamente apetecível, barato e pouco
dispendioso, no que se refere a gastos de energia necessários para a sua
produção. Por esse motivo, entre outros, o adobe progressivamente acabou
sendo um material extremamente concorrente, comparado com outros que são
energeticamente dispendiosos e, sobretudo, pouco amigos do ambiente.

469
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD Hubert – Op. Cit., p.215. Segundo os mesmos autores a produção mecanizada de
adobe pode incluir séries de moldes móveis, onde a terra é vertida e posteriormente com a remoção mecânica dos
moldes, resulta numa melhoria considerável na secagem e, consequentemente , na produção dos mesmos.

172
Refira-se, a este propósito, a atual crise de recursos naturais, e as emissões
prejudiciais de C02 para o ambiente, pelas quais o setor da construção civil é
um dos principais responsáveis470. Se compararmos os danos nocivos que a
produção dos materiais de construção provocam nestes dois sectores, de que
são exemplos os materiais cerâmicos, os polímeros, os metálicos (apesar de
recicláveis) e, sobretudo, os ligantes hidráulicos artificiais (dos quais o cimento
é o mais nefasto), concluímos que o adobe tem enormes possibilidades futuras
enquanto material e técnica construtiva.

3.3 – Dos manuais e da construção.


Para a construção em adobe, apesar da universalidade do material e
das técnicas construtivas a ele associadas, são necessários os seguintes
requisitos mínimos para a sua manufatura:
- terra com alguma percentagem de argila, sensivelmente entre 15% a 18%
em volume471;
- água numa proporção em volume da ordem de 1 para 5, ou seja 1m 3 de água
para 5m3 de terra472.

A falta de terra adequada, em termos granulométricos, pode ser


compensada pela adição de estabilizador como sucede com as terras
arenosas, em que a adição de ligantes, cal ou cimento, podem suplantar a falta
de argila; ou, ao contrário, caso se verifique um excesso de argila ou a
presença de argilas muito ativas473, a terra pode ser corrigida com adição de
areias ou material vegetal. Já no caso da água, a situação é incontornável: sem
o volume mínimo de água mencionado, a terra não adquire o estado plástico

470
SCHMIDBERGER, E. Vera – A responsabilidade do sector da construção perante o aquecimento global. Terra em
Seminário 2007 (V ATP , Terra Brasil 2006), p.45.
471
DOAT, Patrice [et al.] – Op. Cit., p. 111. Estes valores são médios variando consoante a atividade das argilas em
presença.
472
AEDO, Wilfredo Carazas; DOULINE, Alexandre – Adobe, manual de produção. Publicações Misereor IHR Hilfswerk
[em linha] 2013 [Consult. 2013-08-11]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.misereor.org/fileadmin/redaktion/Adobe_Producao_port.pdf>. Também neste caso o valor é médio e varia
em função da atividade das argilas.
473
Por atividade de argilas entenda-se o seu comportamento face à presença de água. Se absorvem e perdem muita
água durante os ciclos de molhagem-secagem e se retém a água durante muito tempo.

173
que permite a sua moldagem. Para a produção de adobe em escala, é
necessária disponibilidade de grandes quantidades de água, motivo pelo qual
as cidades que se conhecem edificadas em adobe eram, e continuam a ser,
próximas de rios, canais, lagos, barragens ou outros depósitos de água. Apesar
do processo de moldar ser aparentemente fácil e universal, assim como a
construção com esse material, ambos requerem conhecimentos práticos sobre
o comportamento das terras e muita experiência em termos construtivos, dado
que muito do conhecimento é empírico. Por esse motivo, os manuais de
produção e construção revestem-se de especial importância para o adobe.
Segundo a investigadora Juana Font Arellano, será a partir do período
medieval, sensivelmente, no século XII, com os textos redigidos em árabe, que
a manufatura e construção em adobe são apresentadas em termos
verdadeiramente construtivos, citando para o efeito a obra de Ibn Abdun,
“Traité de Hisba”474, documento que terá sido muito utilizado no “Al-Andalus”475.
Nesta obra é descrita como devem ser os adobes, onde deverão ser colocados
os seus moldes na mesquita de Aljama, como devem ser manufaturados, a
espessura que deveriam ter e o modo como deveriam ser transportados, de
forma a não serem danificados476. A mesma autora refere ainda que, foram as
traduções a partir da língua árabe dos textos clássicos, elaboradas durante
esse período, que facilitaram o acesso ao processo construtivo em adobe,
referindo-se especificamente a Isidoro de Sevilha (565-636)477, como um dos
responsáveis por essa tarefa. Na obra deste tradutor, que foi particularmente
importante para a Península Ibérica, é referido como são aclaradas as
diferenças entre o adobe e o tijolo, como se identificam determinados
componentes, nomeadamente, a argila, igualmente a mesma contém a
descrição que efetua dos solos na Síria, que continham betume natural e em

474
ARELLANO, Juana Font – L’adobe dans les textes hispaniques: Péninsule Ibérique et Provinces américaines.
Échanges transdisciplinaires sur les constructions en terre crue, volume 3. Les cultures constructives de la brique crue,
pp. 71, 72 e 73. A autora não menospreza os textos anteriores pese embora refira que são mais descritivos que
construtivos e realça a importância das traduções durante este período, já que permitiram aceder aos manuais
construtivos anteriores e divulgar as suas práticas.
475
Península Ibérica.
476
Ibidem. A autora refere os pontos 71, 73, 151 e 180, desta obra mencionando no entanto que o mesmo se aplicou
às telhas e tijolos a serem usados na mesma construção.
477
Idem p. 72.

174
que tipos de adobes eram usados; descreve ainda outros materiais igualmente
usados nas construções em adobe como a cal, o gesso (para além dos
rebocos em terra e palha), assim como os instrumentos a serem utlizados para
o seu manuseamento478.

Terá sido no século XVI, que o rei de Portugal D. João III (1502-1557)
terá encomendado a tradução do Tratado de Arquitetura “Decem Libri” do
engenheiro romano Marco Vitrúvio Polião ao matemático português Pedro
Nunes (1502-1578). Segundo Paulo Varela Gomes (…) consciente da
importância do tratado de Vitrúvio para a renovação da cultura portuguesa da
construção (…) a ter sido feito – nunca foi publicado479. Será nas traduções da
obra de Vitrúvio, todas elas produzidas a partir do século XVI, que se
conhecem as instruções para a construção em adobe. No seu livro II, capítulo
III, o autor revela quais as terras mais indicadas para manufaturar o adobe, as
épocas do ano em que deveriam ser feitos (a seu ver entre a primavera e o
outono), a forma como deveria secar para que resultassem uniformes, quando
deveriam ser usados (aconselhando que só dois anos depois), para além da
descrição dos tipos de adobe normalizados: “lydion”, “pentadoron” e
“tetradoron”, referindo as respetivas medidas e os edifícios onde utilizados.
Vitrúvio termina este capítulo descrevendo a construção de paredes de adobe,
mencionando os casos dos adobes resistentes à água e existentes na região
da “Hispânia”480.

A investigadora Juana Font Arellano refere ainda outros autores do


período moderno, que terão escrito manuais tais como Juan de Caramuel y
Labkowiz (1606-1682) e Benito Bails (1703-1797). No entanto, e segundo a
autora, trata-se de obras mais descritivas, que replicam muitas vezes os
ensinamentos de Vitrúvio e que não se cingem a aspetos práticos construtivos.

478
Ibidem, a autora refere particularmente os livros XV “De Etymologies”, XVI “De Lapiddibus e Metalis” e XIX “De
Navibus, Aedificis e Vestibus”.
479
VITRÚVIO – Tratado de arquitectura (tradução do latim, introdução e notas por Justino Maciel), p. 7, no prefácio de
Paulo Varela Gomes.
480
Idem, pp. 75, 76 e 100.

175
A particularidade de algumas das obras destes autores é a relação que fazem
de edifícios históricos em adobe, como a torre de Nemrod na Babilónia,
construída com oito níveis sobrepostos de adobe, como a mítica Torre de
Babel, referindo ainda, os escritos e as cartas dos colonizadores e missionários
espanhóis, que descreveram com exatidão os processos construtivos em
adobe no continente americano481.

Será, no entanto, com François Cointeraux (1740-1830), já referido no


capítulo 1, que surge o primeiro manual de construção em terra. Em “École
d’architecture rurale cahier quatriéme”, François Cointeraux desenvolveu um
método para produção de blocos apiloados em série, diminuindo as
desvantagens da taipa (que apenas permitia construir quando não chovesse) e
as do adobe (apenas possível onde existisse muita água disponível).
Infelizmente, este construtor não desenvolveu, nem descreveu exaustivamente
o adobe como fez com a taipa, mas preconizou um material entre estas duas
técnicas, que segundo a sua opinião, permitiria construir em alvenaria como a
pedra talhada, traçar arcos e construir abóbadas com as vantagens
incombustíveis da taipa (Anexo E). François Cointeraux experimentou em
pequenos moldes de madeira apisoar terra, de maneira semelhante ao que se
fazia para a taipa. Ao verificar que obtinha módulos em terra resistentes e
equilibrados, desenvolveu esta ideia e chegou mesmo a projetar unidades de
produção em série de blocos apiloados, que incluíam moldes múltiplos e vários
trabalhadores a apisoar terra simultaneamente (Anexo E). Este construtor
francês de Lyon modificou a forma como se poderia manufaturar o bloco
apiloado, até então apenas unitária e artesanal. Pela primeira vez, preconizou e
projetou unidades de fabrico em larga escala, pré-industrial, e que inspirou um
século depois a produção do adobe mecanizado e com algumas diferenças, o
surgimento do BTC. Como já referido no capítulo 1, os “cahiers” de François
Cointeraux foram traduzidos em diversas línguas e os seus métodos aplicados

481
ARELLANO, Juna Font – Op. Cit., pp. 73 – 84, de entre os autores citados refere, entre outros: Hernán Cortés
(1485-1547), López de Gamarra (1511-1566), Garcilaso L’Inca (1539-1616), Reginaldo de Lizárra (1560-1602), Diego
Ocaña (1565-1608), e Antonio de Ulloa (1716-1795).

176
ao longo dos séculos XIX e XX, em vários continentes. O adobe só volta a
ressurgir no século XX, enquanto material e técnica construtiva, com o
arquiteto Hassan Fathy. No entanto, este ressurgimento não é acompanhado
de manual construtivo, mas tão só preconizando que a arquitetura planificada e
desenhada, pudesse ser construída de adobe em moldes empíricos e
artesanais482. Hassan Fathy apoiava-se no saber local e na cultura construtiva
egípcia, que pretendia redirecionar para a arquitetura contemporânea, e assim
perpetuar o material e os sistemas construtivos ancestrais naquela região.

Os manuais de construção em terra só surgem em meados do século


XX, e só alguns se dedicam exclusivamente ao adobe. De entre os mais
relevantes sobressaem as seguintes publicações europeias: “Construire en
Terre”483, “Traité de Construction en Terre”484, as americanas “Adobe
Manual”485, “Manual del arquitecto descalzo”486 e a Ibero-americana “Técnicas
de construcción con tierra”487. As publicações mencionadas são desiguais e
tratam a manufatura e construção em adobe de forma distinta. No caso das
europeias o “Traité” é verdadeiramente um manual de construção, onde o
adobe é focado desde o ponto de vista da escolha, parâmetros da matéria-
prima, das correções possíveis da terra, dos aditivos, da manufatura, dos
moldes, do ciclo de produção, da construção em paredes, sistemas de
abóbadas e cúpulas, para além das regras a seguir em zonas sísmicas e dos
cuidados a ter em conservação. Trata-se por isso de um manual prático, com
fichas muito ilustradas e extremamente pedagógicas do ponto de vista

482
FATHY, Hassan – Op. Cit, pp. 20 – 25. Hassan Fathy nunca pretendeu transformar o adobe ou modernizá-lo em
termos produtivos e construtivos, mas sim, utilizar os sistemas construtivos tradicionais de abóbadas e alvenarias em
adobes, nos projetos contemporâneos de arquitetura.
483
DOAT, Patrice [et al] – Chapitre 3 L’adobe. Construire en terre (3 éme edition), pp. 106-136. A primeira edição
Francesa de 1979 foi da responsabilidade do CRATerre.
484
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Traité de constrution en terr e(1 éme edition), pp. 120-121; 208-215; 254-262 e
284-291. Ver os seguintes capitulos : Tables: 504 Covenances des terres, adobe; 910-913 Procédés de constrution,
adobe; 1007-1011 Élements de construtions, murs e 1022-1026 Vôutes, coupoles.. Edição francesa de 1989.
485
SCHULTZ, Karl V. – Adobe manual. Ver os seguintes capítulos: Part II adobe basics and Part III updating tradicional
adobe; pp. 17-34, edição norte americana de 1997.
486
LENGHEN, Johan Van – Manual do arquitecto descalço (1ª edição portuguesa), pp. 298-315 e 252-254. Ver os
capítulos: Materiais, terra; Trópicos secos, coberturas construção de abóbadas sem cimbres.. A primeira edição foi
Mexicana e surgiu em 1981.
487
ROTONDARO, Rodolfo – Adobe. Técnicas de construcción con tierra, pp. 16-25.

177
construtivo/consultivo. A diferença entre este e o seu antecessor “Construire en
terre” reside na menor informação técnica, que o segundo proporcionou,
embora, os exemplos de construção descritos, desenhados e ilustrados
patentes em “Construire en terre” sejam extremamente úteis e didáticos para
quem quisesse construir com adobe488. Nas duas edições americanas, o
“Adobe manual (how to make it, test it, mold it)”, exclusivo deste material é, ao
mesmo tempo, muito superficial, pouquíssimo ilustrado, nada esclarecedor,
incompleto no que se refere aos aditivos a juntar à terra, para melhorar a
resistência dos adobes e omisso no que se refere à construção489. O “Manual
del arquitecto descalzo” é sobretudo ilustrativo e muitíssimo prático. O adobe é
incluído no conjunto de outras técnicas em terra e materiais vegetais, que,
segundo os objetivos da publicação se encontram disponíveis na natureza e
podem ser utilizados facilmente, de modo simplificado, para a construção de
abrigos e habitações490. Enquanto os anteriores manuais são universais, isto é,
poderão ser aplicados em qualquer lugar do mundo, o “Manual del arquitecto
descalzo” é direcionado para a região dos trópicos (secos e húmidos) e para as
zonas de clima temperado, embora, neste último caso, menos detalhado.
Desse ponto de vista existe o cuidado de indicar soluções arquitetónicas
consoante as zonas para onde são construídas, como sucede, por exemplo
com as torres de ventilação e as abóbadas em adobe sem cimbres. As torres
de ventilação tradicionalmente construídas em adobe e usadas na arquitetura
persa caraterizam-se pela enorme eficácia no arrefecimento das casas e pela
expressão arquitetónica, no que constituem uma das imagens mais marcantes
da arquitetura de Yazd no Irão491. Essa solução foi adaptada pelo “Manual del
arquitecto descalzo”492 para climas tropicais secos. As torres preconizadas no

488
DOAT, Patrice [et al] – Op. Cit., pp. 129-136.
489
SCHULTZ, Karl V. – Op. Cit., pp. 28-33, em termos de aditivos apenas são mencionados o betume, o cimento e os
polímeros. Este manual dedica um capítulo ao tratamento exterior de jardins e a outras artes pouco relevantes para o
material.
490
LENGHEN, Johan Van – Introdução. Manual do arquitecto descalço (1ª edição portuguesa), [sp].
491
Sobre a eficácia deste sistema de ventilação por convecção, que faz parte do ensino nas escolas de arquitetura do
Irão veja-se o documentário crítico: TOLZ, Stefan; WARTMANN, Thomas – Yazd, earthen city of the deserts. Adobe
towns. A three part film series [DVD], e ainda o artigo JAYHANI, Hamid R.; EMRANI, Seyed M. – From the hiddem
(spirit) of adobe to the essence of earthem structuresin Persian architecture. Lehm 2004, 4th Internacional Conference
on Building with Earth, pp.32-43.
492
Idem, 234-238.

178
manual desenvolvem os princípios de funcionamento da ventilação; no entanto,
em soluções construtivas de estruturas mistas de bambu, terra, têxtil para além
do adobe distintas das congéneres históricas iranianas. O método para a
construção das abóbadas, extremamente simplificado neste manual, é
exatamente o mesmo que Hassan Fathy recuperou e aplicou, pelo que o autor
Johan Van Lenghen indica este tipo de cobertura apenas para climas tropicais
secos493. A simplicidade que se verifica na construção das abóbadas inclui
também a escolha, da matéria-prima, pese embora esta seja mais detalhada na
seleção das terras a usar na manufatura de adobes, recorrendo apenas a três
testes de campo: para a preparação da terra e as quantidades de água a usar
em volume, terra argilosa e areias, para a construção dos moldes, para o modo
mais eficaz de manufaturar, secar e testar, no final, o material produzido, antes
da sua aplicação em obra. O manual conclui ainda o tema do adobe com
indicações relativas à construção de paredes, e paredes com reforço vertical
para zonas sísmicas494. O manual Ibero-americano “Técnicas de construción
con tierra”495, o mais recente de todos, dedica um capítulo ao adobe no qual
privilegia aspetos extremamente práticos, para quem pretenda manufaturar o
material de forma correta. Neste manual os aspetos construtivos de paredes e
outros sistemas como coberturas em adobe, são praticamente omissos.

Podemos assim afirmar que o “Manual del arquitecto descalzo” é, em


termos conclusivos, o mais fácil e o mais simples, de entre os manuais
referidos, guias importantes para quem pretenda manufaturar e construir com
este material. Os manuais construtivos não se esgotam nas publicações
mencionadas. Atualmente verifica-se a tendência para a edição de pequenos
manuais locais, práticos e direcionados para a realidade regional, fenómeno
facilmente explicável, dado que as terras e as práticas construtivas variam
bastante, apesar de alguma semelhança no ciclo de manufatura do adobe
moldado. Desses manuais destacam-se os casos já mencionados no capítulo

493
Idem, p. 252-254.
494
Idem, pp. 298-309.
495
ROTONDARO, Rodolfo – Adobe. Técnicas de construcción con tierra, pp. 16-25.

179
1, para as construções em zonas sísmicas496, como são os manuais peruanos,
que contém especificações diferentes consoante as regiões, serra ou costa. Na
mesma temática e na sequência dos sismos constantes em regiões onde existe
construção em adobe, como tem sucedido na Nova Zelândia, no Irão ou na
China, só para citar alguns, foram publicados outros manuais, também
vocacionados para a reconstrução de habitações sismo-resistentes em adobe à
semelhança dos manuais peruanos. Sobre a égide de organizações como a
MISEREOR497 refira-se a edição do “Adobe, guía de construción
parasísmica”498, e outros mais direcionados para a reparação pós-sismo de
casas em adobe, tais como “Rehabilitación, guía para la construción
parasísmica”499 e para a congénere anterior “Como arreglar nuestra casa” 500.
Os manuais de reconstrução e reparação pós-sismo das construções em
adobe revestem-se de especial importância e tem-se verificado uma evolução
importante quer nas técnicas de reforço, quer nas de reparação aplicadas,
cada dia mais compatíveis do ponto de vista físico, químico e estrutural. No que
respeita à construção sismo-resistentes de adobe, tem-se assistido ao
abandono sucessivo da introdução de materiais incompatíveis, como os ainda
mencionados na edição “Como arreglar nuestra casa”, e das soluções de
reforço estrutural com recurso a elementos verticais rígidos nas alvenarias,
também indicados no “Manual del arquitecto descalzo”501. A tendência atual
insiste mais na introdução de elementos horizontais de reforço estrutural, em

496 NEUMANN, Julio Vargas; BLONDET, Marcial; TORREALVA, Daniel – Construcción de casas saludables y
sismorresistentes de adobe reforzado com geomallas (zona de la costa) e NEUMANN, Julio Vargas; BLONDET,
Marcial; TORREALVA, Daniel – Construcción de casas saludables y sismorresistentes de adobe reforzado com
geomallas (zona de la sierra).Todos edições de 2007.
497
MISEREOR - “German Catholic Bishops’ Organisation for Development Cooperation”.
498
AEDO, Wilfredo Carazas – Guía de construcción parasísmica. Grenoble: Misereor/Fundasal/Craterre-EAG, abril
2002. Disponíveis em inglês e francês [em linha] 2013 [Consult. 2013-08-11]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.misereor.org/fileadmin/redaktion/Adobe%20-%20Guide%20de%20construction%20parasismique.pdf>
499
AEDO, Wilfredo Carazas; OLMOS, Alba Rivero – Rehabilitación, guía para la construcción parasísmica. Grenoble:
Misereor/Fundasal/Craterre-EAG, abril 2002.Disponíveis em Francês, Inglês e Espanhol [em linha] 2013 [Consult.
2013-08-11]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.misereor.org/fileadmin/redaktion/Construccion_parasismica_Rehabilitacion_esp.pdf>
500
AAVV (coord. Oscar Barahona) – Como areglar nuestra casa.Yanapaca Ricra. Proyeto de vivienda rural de interés
social com tecnologia apropriada, ECU-86-004, Centro de Naciones Unidas para Asentamentos Humanos, CNUAH-
HABITAT, Departamento de Vivienda Rural de La Junta nacional de la Vivienda, Marzo, 1987, não publicado.
501
LENGHEN, Johan Van – Op. Cit., p.308.

180
materiais compatíveis como a madeira502, à produção e construção com
adobes estabilizados e uniformes503 e em situações limite, como sucede no
Peru, à armação das alvenarias com redes plásticas 504.

505 506
Figuras 80 e 81 – A construção de abóbada e cúpula , sem cimbre, tipo “Núbias”. Créditos: SKAT,
1988 e CRATerre, 1981.

Todos os manuais e guias de construção mencionados têm a virtude de serem


extremamente ilustrados, privilegiando mais as explicações desenhadas que as
escritas. No entanto, dentro da globalização dos sistemas construtivos em
adobe, há que referir a construção das abóbadas e cúpulas, sem cimbres
(figuras 80 e 81). Sobre a construção destes sistemas de coberturas em arco
têm sido inúmeros os manuais que ensinam a construir passo a passo, quer
abóbadas quer cúpulas. De entre os manuais refira-se: “Construire en terre”
(abóbadas e cúpulas)507, “Appropriate Building Materials” (cúpulas)508, “Manual
del Arquitecto Descalzo” (abóbadas)509, “Building With Arches, Vaults and
Cupolas” (abóbadas e cúpulas)510, “Building with earth, design and technology

502
AEDO, Wilfredo Carazas – Guía de construcción parasísmica, p. 28
503
Idem, pp. 11-19
504
NEUMANN, Julio Vargas; BLONDET, Marcial; TORREALVA, Daniel – Construcción de casas saludables y
sismorresistentes de adobe reforzado com geomallas (zona de la sierra), pp. 20-29.
505
STULZ, Roland; MUKERJΪ, Kiran – Op. Cit., p.12.
506
DOAT, Patrice [et al.] – Op. Cit., p. 235.
507
DOAT, Patrice [et al.] – Op. Cit., pp. 229-235.
508
STULZ, Roland; MUKERJΪ, Kiran – Appropriate building materials, a catalogue of potential solutions (2ª revised
edition), pp.12-13.
509
LENGHEN, Johan Van – Op. Cit., pp. 252-254.
510
JOFFROY, Thierry; GUILLAUD, Hubert – Building with arches, vaults and cupolas. St. Gallen: SKAT-Bookshop,
1994 [em linha], [sd] [Consult. 2012-07-10]. Disponível em WWW: <URL:http://craterre.org/diffusion:ouvrages-
telechargeables/view/id/09a0552d057072ad46c6934ecb0af00d>

181
of a sustainable architecture” (abóbadas e cúpulas)511 . A construção de
abóbadas e cúpulas em adobe implica um domínio no traçado dos arcos, o uso
de ferramentas adequadas e técnicas de execução apropriadas. Por todos
esses motivos, a construção desses sistemas em arco requere experiência e
conhecimentos. O adobe sem qualquer estabilização é um material que tem
uma razoável-fraca resistência à compressão e quase nula à tração512. No
entanto, os valores à compressão, apesar de tudo, são suficientes para que o
adobe possa ser utilizado em arcos de catenária e, a partir daí, em abóbadas e
cúpulas, desde que o material esteja sempre à compressão.

No conjunto das cúpulas e abóbadas de terra edificadas têm-se


verificado, nos últimos anos, alguns desenvolvimentos. Para além dos sistemas
construídos em adobe, refira-se as preconizadas, construídas noutras técnicas
como o “superadobe”, que apesar da designação abusiva, são construídas em
terra ensacada e colocada à fiada. Gernot Minke tem sido um dos arquitetos
que maiores inovações têm feito nas cúpulas de terra, sendo também um
divulgador, por toda a América Latina, sobretudo, no Brasil, das cúpulas sem
cimbre em adobe, BTC e “superadobe”513.

Figuras 82 e 83 – Casas com paredes e cúpulas ortogonais construídas em BTC. Local a cerca de 10 km
de Nampula, Moçambique. Créditos Raul Almeida, 2011.

511
MINKE, Gernot – Building with earth, design and technology of a sustainable architecture, pp. 117-130.
512
Segundo o CRATerre, os valores médios ,após 28 dias de secagem, são, respetivamente: 2 Mpa e entre 0 Mpa a
0,5 Mpa. HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., 148-149.
513
Minke, Gernot _ Cúpulas de adobe, nuevas técnicas, nuevas aplicaciones. Terra em Seminário 2007 (V ATP ,
TerraBrasil 2006), pp. 186-187.

182
Atualmente, tem-se assistido ao desenvolvimento de outras abóbadas em terra.
Refira-se a adaptação de abóbadas, tradicionalmente, construídas em tijolo
maciço e que passaram a ser em terra. No entanto, dadas as limitações em
termos de resistência mecânica, do adobe, as abóbadas de terra mexicanas514
têm sido construídas em BTC, em virtude da maior resistência mecânica deste
material, o que permite, nesta circunstância, que os BTC possam trabalhar à
flexão515. Esta adaptação é, de facto, uma inovação nas técnicas de construção
em terra. Mas ao mesmo tempo que o BTC tem vindo a substituir o adobe,
porque a sua produção é mais rápida e a resistência do material mais elevada,
espera-se, contudo, que essas vantagens não conduzam ao abandono
sucessivo do adobe, devido à morosidade da sua produção, fraca resistência e
limites construtivos, sobretudo, em sistemas de coberturas em arco.

3.4 – Dos projetos, da conservação e da arquitetura contemporânea.


O adobe apesar de todo o seu historial construtivo, dos inúmeros sítios
inscritos na lista do Património Mundial e construídos em adobe, para além, da
persistência da construção hoje em dia, continua a ser um material que
surpreende devido às novas descobertas de sítios e práticas construtivas
desconhecidas. Apesar das desvantagens face a outros materiais em terra,
como o BTC, o desafio hoje em dia reside em saber, para que é necessário
ainda construir em adobe? E que desafios nos reserva a construção
contemporânea de adobe?

De entre os projetos recentes e que envolvem a construção em adobe


evidenciam-se os promovidos por organizações não-governamentais (ONG’s),
essencialmente, direcionadas para o apoio e resolução de abrigos em
situações extremas e difíceis de vida. De entre os grupos conhecidos, refira-se:
a construção em campos de refugiados, aproveitando a mão-de-obra e
autoconstrução disponíveis; os projetos que surgem espontaneamente em
associações de moradores ou comunitários com o propósito de igualmente

514
Sobre esta adaptação: AGUIRRE, Ramón – Bóveda de tierra. Técnicas de construcción con tierra, pp. 26-34.
515
Ibidem, resistência à compressão entre 2-5 Mpa e tração entre 1-2 Mpa.

183
resolverem situações de habitação; e finalmente os projetos de equipamentos
construídos em regiões carenciadas, desenhados em ateliê e materializados
nos sítios com a colaboração das populações.

Figuras 84 e 85 – Corte do projeto e fotografia da habitação/abrigo em adobe para refugiados afegãos no


Irão. Créditos Rai Studio 2011.

Dos projetos mencionados referia o caso dos abrigos projetados e construídos


em adobe, no campo de refugiados afegãos de Kernam no Irão (figuras 84 e
85). A iniciativa partiu do arquiteto iraniano Pouya Khazaeli (Rai Studio) com
promoção simultânea da associação “architecture for humanity” e do conselho
norueguês para os refugiados516.Trata-se de uma construção extremamente
simples, com 100m2 de área, e que necessitou, para a sua materialização, de
mão-de-obra, 6 000 adobes, conhecimentos e domínio das técnicas em adobe
de alvenaria e cúpula sem cimbre.

Para resolução, igualmente, de problemas de habitações, mas neste


caso promovido por uma associação de mulheres mexicanas, destaque para o
projeto “adobe for women” (figuras 86 e 87), criado em 2011, e, que se inspirou
no trabalho do arquiteto mexicano Juan Jose Santibañez produzido há cerca de
20 anos atrás. Esse arquiteto auxiliou 20 mulheres de Oaxaca, que viviam em
condições miseráveis a construírem a sua própria casa.

516
Afghan refugee housing [em linha], [sd] [Consult. 2013-08-15]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.eartharchitecture.org/index.php?/archives/1191-Afghan-Refugee-Housing.html>

184
Figuras 86 e 87 – Produção de adobes e a construção de casa em San Juan Mixtepe em Oaxaca no
México. Créditos Blaanc bordelless/ Caeiro Capuso, 2011.

Os ateliês de arquitetura Blaanc Bordeless e Caeiro Capurso, respetivamente


português e mexicano, a partir dessa referida experiência mexicana, projetaram
20 casas em adobe para a povoação de San Juan Mixtepe, em Oaxaca, e, em
conjunto com a associação fundada com a comunidade local têm promovido a
angariação de fundos para a sua concretização. O projeto, sob o título “20
casas, 20 mulheres”, baseia-se na manufatura dos adobes pela comunidade,
na construção com voluntários e com os futuros habitantes. O projeto das
habitações, que vai muito mais além da construção em adobe (incluindo,
também, o apetrechamento de infraestruturas como coletores de águas
pluviais, filtros de drenagem de águas residuais domésticas, fogão em estufa
Lorena e horta), tem como principal objetivo ser totalmente autossuficiente e
custar apenas 3 830,84 euros por habitação517.

No mesmo contexto, dos projetos desenhados e construídos localmente


em regiões desfavorecidas e carenciadas, há que referir o trabalho da
Fundação Aga Khan, no financiamento e promoção de diversos tipos de
escolas em adobe e outras técnicas tradicionais, na região de Cabo Delgado,
no noroeste de Moçambique (figuras 88 e 89).

517
Adobe for women [em linha], 2011 [Consult. 2013-08-15]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.adobeforwomen.pt/>

185
Figuras 88 e 89 – Escola em Cabo Delgado, Moçambique. Créditos; Ziegert, Roswag, Seiler Architekten
518
Ingenieure, 2010 .

O projeto de arquitetura, para 11 escolas, foi concebido pelo ateliê alemão


Ziegert, Roswag, Seiler Architekten Ingenieure, entre 2008 e 2010, e construído
mais uma vez localmente em materiais e técnicas tradicionais519.

Para além dos exemplos de arquitetura contemporânea em adobe,


noutros países, já referidos neste capítulo, como os Estados Unidos da
América, na América Latina em geral, verifica-se a tendência internacional
arquitetónica para os projetos desenhados em países distintos daqueles onde
virão a ser construídos localmente com as comunidades. Dir-se-ia que a ideia
inicial de Hassan Fathy acabou por vingar: a arquitetura contemporânea de
adobe construída em moldes tradicionais. Porém, Hassan Fathy edificou
sempre com os mesmos construtores, quer nos Estados Unidos, quer noutros
países para onde projetou. A tendência que se verifica atualmente é, de certa
forma, um pouco diferente. Progressivamente assiste-se à internacionalização,
dos projetos, fora dos sítios onde são construídos, mas extremamente
adaptados às realidades locais; assim como à regionalização cada vez maior
da sua construção, com técnicas locais melhoradas e com a participação dos
futuros utilizadores e construtores locais. A presença dos projetistas em todo o
processo é também uma constante e, na generalidade, acompanham todo o

518
Habitat Cabo Delgado [em linha], 2011 [Consult. 2013-08-15]. Disponível em WWW:
<URL:http://eartharchitecture.org/index.php?/archives/1153-Habitat-Cabo-Delgado.html>
519
Cabo Delgado, Mozambique. Habitat iniciative [em linha], 2010 [Consult. 2013-08-15]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.architectureindevelopment.org/project.php?id=85>

186
processo construtivo. Os arquitetos e os engenheiros que, nos dias de hoje,
projetam em terra, olham para a arquitetura e para a construção local de forma
inovadora, contribuindo com os seus conhecimentos para a melhoria do espaço
e da construção. Nessa linha de projetar, poder-se-á afirmar que a arquitetura
contemporânea em adobe está inequivocamente ligada e aproxima-se cada
vez mais da construção vernácula. A arquitetura contemporânea de adobe
afasta-se, assim, das atuais linhas de conceção e desenho sem sítio nem
materiais construtivos, ou seja da arquitetura conceptual.

A conservação do património arquitetónico e arqueológico construído em


adobe foi, durante anos, uma realidade prática e extremamente
520
experimental . A dificuldade em conservar os sítios arqueológicos construídos
em adobe foi o principal motivo para a realização das primeiras conferências
internacionais sobre o estudo e a conservação da arquitetura em terra (anexo
A, recomendações de 1972 e 1976)). Desde a degradação progressiva dos
sítios arqueológicos em adobe, que preocupava os participantes na conferência
de Yazd, no Irão, em 1972, até aos efeitos dos sismos, desastres naturais e
alterações climáticas em Lima, no Peru, em 2012, tem-se assistido a uma
evolução positiva em todo mundo, com a edição de vários manuais de
construção/conservação, com a implementação de praticas, projetos e casos
práticos de estudo, quer em sítios arqueológicos, quer em edifícios521. Como já
referido neste capítulo, o conhecimento sobre o património em terra tem
crescido nos últimos anos, a para da evolução da ciência aplicada à
conservação. Nesse campo são notáveis os avanços no conhecimento dos
materiais, sobretudo, dos seus aspetos físico-químicos, assim como dos
produtos a aplicar, e do saber relativo ao comportamento das estruturas
construídas em adobe.

520
Sobre a evolução e os desenvolvimentos quer das conferências quer da conservação da arquitetura em terra:
BALDERAMA, Alejandro Alva – The conservation of earthen architecture. Conservation. The GCI Newsletter, Volume
16, number 1, Spring 2001, pp. 4-11 [em linha], 2000 [Consult. 2012-07-24]. Disponível em WWW:
<URL:http://www.getty.edu/conservation/publications_resources/newsletters/16_1/feature.html>
521
Sobre o mesmo tema e incidindo, ainda, na realidade portuguesa: FERNANDES, Maria - A conservação da
arquitectura em terra. Arquitectura de terra em Portugal. Lisboa: Argumentum, 2005, pp. 204-212.

187
Como último aspeto, e quase em conclusão, há que referir ainda o papel
de organizações nacionais, na promoção da construção em adobe. Veja-se,
por exemplo, o caso de “Associazone Nazionalle Cittá della Terra Cruda”, na
Sardenha522: esta associação, da qual fazem parte uma série de instituições
universitárias, administrativas e outras, presta inúmeros serviços de apoio e
assistência para quem pretenda construir em adobe ou noutra técnica em terra,
apoiando igualmente os diferentes municípios da região - sobretudo, na
reabilitação do património de adobe – que se tem demonstrado ser de uma
ajuda imprescindível. Neste domínio, das associações e organizações
regionais, poder-se-á afirmar que a experiência italiana é exemplar. Veja-se o
caso de “Case di Terra” da província de Chieti, essencialmente, uma
organização de municípios, onde, entre outras funções, certifica a venda e
produção de adobes naquela região523; ou a associação “Terrae Onnus de
Casalicontrata”, que se dedica mais à organização de seminários e pequenos
cursos de formação524.

Na abordagem do tema da conservação, refira-se a publicação de quatro


edições particularmente importantes nesta temática. A primeira, “Adobe
conservation, a preservation hanbook”525, um manual de terreno,
americano/mexicano, muitíssimo prático, no qual são elencados todos os
problemas das construções em adobe e as soluções práticas para a sua
minimização. Trata-se de um manual muito ilustrado, cujo objetivo principal é
disponibilizar ferramentas e instruções de boas práticas de conservação aos
seus utilizadores. A segunda publicação é a recente edição chilena “Tierra
cruda, manual de terreno”526. Trata-se, igualmente, de uma edição de aplicação

522
Associazione Nazionale Cittá della Terra Cruda [em linha] [sd] [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.terracruda.org/articolo/servizi-e-attivit>
523
Case di terra [em linha] [sd] [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.casediterra.it/legislazione.htm>.
524
Terrae Onnus [em linha], [sd] [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.casediterra.it/terrae.htm>
525
CORNERSTONES COMUNITY PARTNERSHIPS (Ilustrations Francisco Uviña Contreras) - Adobe conservation, a
preservation handbook. Santa Fe: Sunstone Press, 2006.
526
AAVV – Tierra cruda, manual de terreno. Evaluación de daños y soluciones para construciones.Documentos
técnicosnº 32. Corporación de desarollo tecnológico. Santiago de Chile: Ediciones Raizfutura, 2012.

188
prática, embora com um desenvolvimento superior ao nível das patologias nas
construções e suas possíveis origens. As soluções de reparação constam em
fichas de intervenção tipo, muito menos ilustradas que o exemplo anterior. Este
manual incide mais no diagnóstico, que na ilustração das ações de reparação.
A terceira publicação é Mexicana, refere cumulativamente a construção
contemporânea em adobe, as formas mais corretas de evitar problemas
intrínsecos e extrínsecos do material, da construção e da reparação de
construções existentes. A obra da arquiteta Berenice Aguillar, que dedica parte
da sua carreira à arquitetura contemporânea de adobe527, intitula-se “Construir
con adobe”528. A quarta e última edição é um trabalho já publicado há uns
anos, e de forte características antropológicas: “Seguir construyendo com
tierra”529, um trabalho relevante para a temática do adobe, que constitui um
levantamento exaustivo da cultura construtiva andina, com entrevistas aos
habitantes, referenciando quer a construção, quer a manutenção das casas,
para além de conter ainda, uma análise crítica das modificações construtivas,
da continuidade construtiva em adobe, que naquela altura era ainda uma
realidade viva, na região dos andes.

Os casos proeminentes de intervenção em património construído de


adobe no mundo são vários, praticamente, em todos os continentes, e em
comum têm envolvido equipas multinacionais coordenadas pelas próprias
instituições dos países. De entre os muitos exemplos, veja-se o caso de
Timbuktu no Mali. A cidade, centro do Islão em toda a África subsariana, é
construída em adobe com rebocos de grande espessura em terra, cujo material
recebe a designação local de “banco”. Ameaçada há vários anos pela
desertificação e pelo avanço progressivo das areias do deserto da Mauritânia,
como consequência das alterações climáticas segundo as instituições

527
PRIETO, Berenice Aguilar – Construir com adobe. Fundamentos, reparación de daños y diseño contemporâneo.
México: Trillas, 2008.
528
PRIETO, Berenice Aguilar – Mexican contemporary earthen architecture. Mediterra 2009, 1ª conferenza
Mediterranea sull’architettura in terra cruda, pp. 549-559. Neste artigo a arquiteta refere as ultimas obras
contemporâneas mais relevantes e construídas em adobe neste país. Na sua maioria equipamentos.
529
VILDOSO, Abelardo [et. al.] – Seguir construyendo com tierra (1ª edición). Lima: edición Craterre Peru, 1984.

189
internacionais530, Tombuctu recebeu fundos e foi palco de ações em prol da
defesa e conservação do sítio, desde meados dos anos oitenta do século XX,
quando o Mali iniciou esforços no sentido de inscrever o sítio na Lista em
Perigo do Património Mundial531. Terá sido entre 1995 e 1996 que com os
apoios financeiros e as ações concertadas do Centro do Património Mundial, foi
possível intervir nas mesquitas de Djingarey e Sankoré (figuras 90 e 91). O
trabalho foi organizado pelo Íman e o chefe das corporações de construtores
locais, que escolherem 4 jovens mestres para coordenarem os trabalhos de
reparação das estruturas e, sobretudo, dos rebocos exteriores. As diferentes
tarefas envolveram toda a comunidade, na recolha de terras, nas ações de
manufatura de adobes e aplicação de rebocos em terra, onde todos
participaram e para o qual contribuíram532.

Figuras 90 e 91 – A reparação de Mesquitas em Tombuctu, Mali. Créditos UNESCO, 2005.

Trabalho exemplar no envolvimento das populações e na recriação do ciclo de


manutenção de casas e edifícios religiosos, que estava de certa forma a
caminhar para o abandono, foi, porém interrompido em 2012, devido aos
conflitos militares e religiosos. Atualmente, Tombuctu encontra-se na Lista do

530
WHC - Changement climatique et patrimoine mondiale: réunion d’experts [em linha] 2006 [Consult. 2013-08-23].
Disponível em WWW: <URL: http://whc.unesco.org/fr/evenements/301>
531
WHC - Tombouctou [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://whc.unesco.org/fr/list/119>
532
SIDI, Ali Ould; JOFFROY, Thierry – La conservation des grands mosquées de Tombouctou. Les pratiques de
conservation traditionnelles en Afrique, pp. 23-29.

190
Património Mundial em Perigo, devido aos danos infligidos no sítio e à
instabilidade ainda patente. No entanto, a importância da cidade e os esforços
levados a cabo durante anos, permanecem enquanto bases para o recomeço
de um trabalho que se vislumbra vir a ser iniciado de novo.

Outro exemplo, mas que envolveu ações de reabilitação (com introdução


de infraestruturas, melhores condições arquitetónicas e consolidação
estrutural), é o da casa Tabayi, no centro histórico de Ardakan no Irão533. A
estratégia neste caso foi a de criar um caso exemplar, que pudesse ser
seguido enquanto modelo de intervenção, para outros casos no centro
histórico. A casa escolhida, uma casa-pátio com a tradicional torre de
ventilação, encontrava-se em avançado estado de degradação, praticamente,
em ruína. O projeto e as ações foram executados pelas autoridades locais em
parceria com o CRATerre, no âmbito do projeto: “Towards Community based
natural disaster risk reduction in Iran”. O caso referenciado constituiu um
exemplo de sucesso no local, as ações preconizadas tiveram o grande mérito
de serem pouco intrusivas e muito eficazes do ponto de vista construtivo. De
entre as tarefas a cumprir, destacava-se o fabrico de adobes estáveis,
uniformes, adequados à construção, a correta preparação e aplicação de
rebocos, assim a introdução de instalações sanitárias e cozinha, sem danificar
as estruturas de adobe, para além das reparações em estruturas de coberturas
em terraço com madeira, vegetal, terra e abóbadas em terra. O exemplo
desencadeou um processo de reabilitação de outras casas na mesma
localidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, e sobretudo,
para a segurança dos seus habitantes.

533
Sobre este caso foi elaborado um manual em inglês e traduzido em farsi com todas as etapas de intervenção
explicadas e descritas com fotografias e em fichas facilmente percetíveis: MORISET, Sebastien – Iran, Conservation
and disaster risk reduction in Ardakan. Tabayi house experience, july 2010. Grenoble: ed. Craterre. [em linha] 2010
[Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL: http://craterre.org/diffusion:ouvrages-
telechargeables/?type=&perpage=&page=2>

191
Outro caso exemplar, mas ao nível da reabilitação urbana e
arquitetónica, foi o da cidade histórica de Shibam, no Iémen534. O projeto
financiado pela Fundação Aga Khan envolveu ações integradas, como o
restabelecimento dos sistemas urbanos e rurais de água, parcialmente
destruídos e desativados (figuras 92 e 93), o reforço e implementação da
agricultura local, o apoio imprescindível de todas as atividades ligadas à
construção civil, como a produção da cal, a aplicação de rebocos em cal e terra
nos edifícios, e o apoio às oficinas de carpintaria locais, que embora artesanais
eram e sempre foram a garantia da conservação dos edifícios em Shibam535.
Os edifícios nesta cidade são construídos em duas técnicas: terra empilhada
nos primeiros pisos e adobe nos últimos. Essencialmente, são casas-torre que
carecem de manutenção cíclica face à hostilidade do clima, extremamente
ventoso e seco. Eram mundialmente conhecidos os problemas deste país,
após a sua unificação nos anos setenta do século XX, com o abandono de
certas cidades e o fim das rotas tradicionais do comércio536.

Figuras 92 e 93 – A reparação de edifícios com rebocos em terra e a reabilitação dos canais


adutores de água em Shibam, Iémen. Créditos Aga Khan Architecture, 2007.

534
Rehabilitation of the old city [em linha] 2007 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW:
<URL:http://www.akdn.org/architecture/project.asp?id=2942>
535
Urban development projet [em linha] 2007 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW:
<URL:http://www.akdn.org/architecture/pdf/2942_Yem.pdf>
536
Sobre a situação desta cidade em 2004 veja-se o documentário crítico; Shibam the Manhattan of the desert TOLZ,
Stefan; WARTMANN, Thomas – Yazd, earthen city of the deserts. Adobe towns. A three part film series [DVD].

192
Shibam foi particularmente afetada e sofreu de um desamparo progressivo, ao
mesmo tempo que as rotas se alteraram, a nacionalização dos imóveis
progrediu e os estrangeiros começaram a chegar ao país. Nos últimos anos,
agravou-se com as chuvas intensas que se fizeram sentir, que afetou
gravemente os edifícios, preparados apenas para clima seco e quente537.

De entre os sítios arqueológicos construídos em adobe, que foram


objeto de diversos programas ao nível de conservação, destacam-se dois: Mari
na Síria538 e Chan Chan no Perú539. Mari, sítio junto ao rio Eufrates, foi, desde
os anos 30 do século XX, objeto de escavações, sem programa algum de
conservação. A manutenção do local e as preocupações com a sua
conservação são relativamente recentes, apenas a partir de 1997 e culminando
em 2009, com a preparação de dossiê de inscrição na Lista do Património
Mundial. Os problemas de degradação, das estruturas escavadas e expostas
às intempéries são essencialmente de erosão, provocada pela capilaridade e a
manifestação de sais na base das paredes em adobe. Todos os edifícios de
Mari eram afetados por humidade capilar, com efeitos desastrosos de
secagem-molhagem, e salinidade absolutamente destrutiva nas paredes. Para
além da base, refira-se também o topo das paredes, que ao serem colocadas a
descoberto acabavam por deformar-se, apresentando enormes lacunas e
perdas de volume consideráveis. Mari foi, a partir de 2004, objeto de diversas
missões, entre as quais uma missão arqueológica francesa, para lá de diversas
parcerias financeiras, sempre coordenadas pela Direção Geral das
540
Antiguidades e dos Museus do Ministério da Cultura sírio . Todos os esforços
e desenvolvimentos em Mari foram reconhecidos internacionalmente, e o sítio
estava nos últimos anos perfeitamente preparado para ser aberto ao público e

537
JEROME, Pamela – After the flood; devastation of the traditional earthen architecture landscape in the Hadhramaut
valley of Yemen; can mud brick buildings be made more resistant to clima change? Terra em Seminário 2010 (6º ATP,
9º SIACOT), pp. 53-55.
538
Sobre o sítio arqueológico, desde o relato da sua descoberta, escavação e conservação, ver publicação:
BENDAKIR, Mahomud – Les Vestiges de Mari. La preservation d’une architecture millénaire en terre. Paris: Ed. La
Villete, 2009.
539
WHC - Zone archéologique de Chan Chan [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW:
<URL: http://whc.unesco.org/fr/list/366/assistance/>
540
Idem, cronologia das intervenções, pp. 162-163.

193
considerado um exemplo ao nível de conservação arqueológica. No entanto,
todo este processo acabou por ser interrompido, face aos conflitos militares e á
guerra que se instalou no país, a partir de finais de 2011. Atualmente, com o
agravamento do conflito sírio, e apesar dos apelos internacionais, todos os
Bens sírios, inscritos entraram na Lista em Perigo do Património Mundial, com
graves destruições para os construídos em terra.

A ocorrência, a partir de 2011, de conflitos armados nesta região do


planeta, tem sido de tal forma grave e tem destruído de tal modo o património
em terra, que o Centro do Património Mundial se viu obrigado a organizar um
encontro internacional no final de 2012 (de 17 a 18 de Dezembro)541, no qual
pela primeira vez feito um ponto da situação sobre:
- a arquitetura de terra em situação de conflito e pós-conflito;
- a arquitetura de terra face às catástrofes naturais;
- a arquitetura de terra contemporânea e a herança de Hassan Fathy.

Nesse encontro e reunião foram redigidos diversos documentos, relacionados


com estas ameaças, sobretudo, porque na última conferência TERRA 2012,
em Lima, no Peru, tinham sido apenas focados os problemas e os efeitos dos
desastres naturais, como os sismos e outros em todo o património em terra
(anexo A). Dos documentos redigidos, no âmbito desta reunião em 2012, nota-
se que, apesar dos temas preconizados para o encontro, as apresentações
efetuadas não focaram, por ausência, possivelmente, de informações, a grave
situação que se vivia nas zonas onde ocorriam conflitos armados, do Mali,
Síria, Líbia e Egito. Apenas a situação da cidade de Nova Gouna em Luxor no
Egito, obra arquitetónica de Hassan Fathy, foi focada com alguma relevância
quer do ponto de vista da sua descaracterização, quer da nova ameaça em
termos de conflitos na região, que acentuam os problemas já existentes e
desaceleram os esforços internacionais que têm vindo a ser feitos para a sua
conservação (figuras 94 e 95).

541
WHC - Colloque sur l’architecture de terre du Patrimoine Mondiale [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23].
Disponível em WWW: <URL: http://whc.unesco.org/fr/evenements/964/>

194
Figuras 94 e 95 – Nova Gourna, Luxor, Egito. Casa de Hassan Fathy em avançado estado de degradação
e descaraterização da cidade. Créditos Anthony Crosby, 2006.

A discrepância entre os temas e as apresentações da reunião levou a que


fossem elencadas ideias generalistas e pouco esclarecedoras de como
proceder em situação de conflito542. O apelo internacional que acabou por sair
dessa conferência replicou as ideias das apresentações543 e refira-se que
apenas as duas entrevistas, quer a de Lazare Elondou Assomo, responsável
da UNESCO para a região de África, quer a de Erica Avrami da organização do
“World Monuments Fund”, acabaram por focar as modificações, os problemas e
a importância dos Bens em terra inscritos na Lista do Património Mundial544.

Para finalizar, os casos exemplares de conservação, refira-se o sítio


arqueológico de Chan Chan, no Peru. Apesar de ainda se encontrar na Lista do
Património Mundial em Perigo, este Bem construído em adobe tem
concentrado as atenções internacionais e transformou-se nos anos 90 do
século XX, no principal centro de formação em conservação relativo ao adobe.
Particularmente, atingido pelos desastres naturais, sismos e inundações, Chan
Chan é um sítio arqueológico com cerca de 20 km2 (dos quais apenas se
conservam 14) construído durante o domínio da civilização Chimú,

542
WHC - Idées principales exprimées lors des présentations [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23]. Disponível
em WWW: <URL: http://whc.unesco.org/uploads/events/documents/event-964-7.pdf>
543
WHC - Appeal [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://whc.unesco.org/uploads/events/documents/event-964-5.pdf>
544
WHC - Colloque sur l’architecture de terre du Patrimoine Mondiale [em linha] 1992-2013 [Consult. 2013-08-23].
Disponível em WWW: <URL: http://whc.unesco.org/fr/evenements/964/>

195
(cronologicamente situado entre os séculos IX e XV) e constituído por 9
palácios, 32 residências, 12 pirâmides, com praças e outros espaços urbanos
de enorme escala e construção.

Figuras 96 e 97 – Exercícios durante o curso PAT 96 no sítio de Chan Chan, Trujillo, Perú. Créditos Maria
Fernandes, 1996.

Os vestígios arqueológicos são sobretudo afetados pela presença de sais nas


estruturas, devidos à sua implantação frente ao oceano Pacífico; pela erosão
eólica nas paredes, devida à presença constante de ventos; pela ação
destruidora humana devido à ocupação clandestina do espaço e à presença de
humidade, por capilaridade e infiltração, agravadas nos últimos anos devido às
alterações climáticas, que provocaram o aumento do nível freático. O sítio foi
palco de dois cursos internacionais PAT, “Conservación y Manejo del
Patrimonio Arquitectónico Histórico-Arqueológico de Tierra”, em 1996 e 1999,
organizados pelo CRATerre-EAG, ICCROM, GCI e INC-Peru, Instituto Nacional
de Cultura do Perú (figuras 96 e 97). Nestes cursos foram delineadas as bases
do plano de conservação e gestão do sítio, documento obrigatório e exigido
pelo Centro do Património Mundial para Bens inscritos na Lista. A conservação
deste Bem envolveu o Estado Peruano, através das instituições do INC em
Trujillo, na Região de La Libertad e do Museu do Sítio. O esforço institucional,
universitário e local foi de tal envergadura, que o “Plan Maestro para la
conservación y el Manejo del Complejo Arqueológico de Chan Chan” acabou
concluído em 1999 e aprovado por Decreto Supremo nº 003-2000-Ed em
2000545. Apesar da implementação parcial do plano, e das alterações positivas

545
HOYLE, Ana Maria; CASTELLANOS, Carolina – Plan Maestro para la conservación y manejo del complejo
arqueológico. INC, Peru [CD] 2000.

196
que acabou por sofrer (sobretudo, com ampliação da área de proteção)546, as
medidas de minimização e manutenção em curso, têm sido, segundo os
relatórios do Centro do Património Mundial, manifestamente insuficientes547,
para a sua salvaguarda, para além do agravamento da ocupação clandestina e
destruição humana, e, por isso, o sítio permanece na Lista do Património
Mundial em Perigo548.

No que respeita a arquitetura contemporânea em adobe, assiste-se na


generalidade dos continentes, à prevalência da continuidade construtiva, por
vezes com melhorias quer na produção do material, quer na construção. Essa
continuidade é, essencialmente, artesanal, assistindo-se também à
globalização de alguns sistemas construtivos em adobe, como cúpulas,
abóbadas e torres de ventilação, com adaptação a outros materiais e ao
desenvolvimento cada vez maior de projetos internacionais com construção
local. Exceção a esta tendência é o caso dos Estados Unidos da América, onde
a arquitetura de adobe é manifestamente contemporânea, em termos de
traçado, desenho e a produção do material continua a desenvolver-se
tendencialmente mecanizado e industrial.

Em jeito de conclusão, pode-se por isso afirmar que a conservação do


património arquitetónico e arqueológico de adobe continua a dominar o
interesse internacional, com a implementação a cada dia mais intensa de casos
de estudo em situações urbanas, centro históricos e zonas rurais, ao invés do
passado, onde se verificava um interesse e investimento quase exclusivo em
zonas arqueológicas, dos estudos relacionados com o material e as suas
técnicas. De certa forma, pode-se dizer que o adobe está vivo, é necessário, é
uma tradição com futuro.

546
COLOSI, Francesca; ORAZI, Roberto – New Technologies for the conservation of the Archaeological Park of Chan
Chan. Lehm 2004, 4th International Conference on building with earth, pp. 162-369.
547
Centro de Documentação do ICOMOS-UNESCO, Chan Chan Perou 366. Relatórios e decisões desde a inscrição,
em 2009 na Lista em perigo.
548
Sobre a evolução e atual situação de Chan Chan veja-se: CORREIA, Mariana Rita Alberto Rosado - Conservation
intervention in earthen heritage: assessment and significance of failure, criteria, conservation theory and strategies.PhD
thesis, pp. 129-148.

197
198
Capítulo 4 – O adobe em Portugal

A partir das perspetivas que cada ciência faz deste recurso existem
diversas leituras possíveis da terra, enquanto matéria-prima. Para a agronomia,
os aspetos físicos e produtivos da terra são, definitivamente, os mais
importantes; para a arquitetura paisagista serão a qualidade estética e a
capacidade para moldar e transformar a superfície do solo; para os
arqueólogos serão as possibilidades, em termos de subsolo e da leitura
superficial, que potenciem a descoberta de vestígios do passado, e, finalmente,
para os arquitetos e engenheiros civis serão as potencialidades da matéria-
prima, que após ser extraída e transformada, poderá ser usada na produção de
materiais e na construção. Estas diferentes perspetivas dividem-se
essencialmente em dois grupos: os que encaram a terra enquanto suporte “in
situ”; e os que a usam fora do seu suporte, envolvendo o seu transporte, e para
atividades completamente exteriores ao local de onde ela provém. Esta última
leitura é a que importa para a abordagem do papel desta matéria-prima na
construção e na arquitetura.

4.1. – A matéria-prima
A matéria-prima, terra, constitui um recurso que pode ser utilizado para
construir, desde que estejam reunidas características indispensáveis e
propriedades fundamentais que permitam, entre outras ações, escavar,
empilhar, modelar, prensar, comprimir, cortar, extrudir e revestir. A terra usada
na construção encontra-se à superfície da crosta terrestre, entre a designada
camada arável, usada para fins agrícolas, e a rocha ou afloramento rochoso
que lhe deu origem. Na maioria das vezes, para extrair terra apropriada à
construção não é necessário grande profundidade de escavação, e existem
mesmo casos em que a terra de superfície é perfeitamente adequada para
construir. No entanto, na situação portuguesa, a terra para a construção
encontra-se no subsolo, na maioria das vezes a poucos centímetros da
superfície.

199
No que respeita aos vários tipos de terra empregues na construção,
numa visão macro do território, constatem-se as conclusões que se podem
obter cruzando dados a partir das cartas hidrográfica e dos solos, com o mapa
da presença do adobe em Portugal (figuras 98, 99 e 100).

Figuras 98, 99 e 100 – Portugal continental, carta de solos, mapa com a marcação da presença de
549
arquitetura de adobe no território e carta das bacias hidrográficas . Créditos Atlas do Ambiente e Maria
Fernandes.

Da análise efetuada, rapidamente se afere que a presença do adobe é


manifestamente superior na região da bacia hidrográfica do rio Tejo,

549
BRITO, Raquel Soeiro de – Clima e as suas influências. A rede hidrográfica, bacias hidrográficas. Atlas de Portugal.
Um país de área repartida [em linha] s/d [Consult. 2013-03-04]. Disponível em: WWW: <URL:
http://www.igeo.pt/atlas/Cap1/Cap1d_p62_image.html>

200
desaparecendo esta a construção de adobe quando os Litossolos (pedregosos
e pouco evoluídos) passam a dominar na paisagem. Logo em seguida, é nas
bacias hidrográficas do Vouga e do Mondego, que se verificam mais
construções em adobe. Esta modalidade construtiva desaparece, quando os
Cambissolos (rochosos antigos, móveis) passam a ser preponderantes. De
certo modo pode referir-se que o aparecimento do adobe está mais relacionado
com a disponibilidade de água em grande quantidade, do que com a presença
de determinados solos. Nos solos onde os afloramentos rochosos são
constantes a informação obtida é mais precisa, e exclui totalmente a
construção em adobe. Nessas situações, a escassez de terra apenas permite,
fracos, fins agrícolas e as construções em alvenaria de pedra são as mais
vulgares. Pese embora esta análise muito generalista, é possível concluir que
as construções em adobe aparecem, sobretudo, nas regiões de Regossolos
(rocha-mãe moles), e são frequentes na costa e junto às margens dos rios;
igualmente nas de Fluviossolos (depósitos fluviais) existentes nas margens dos
rios; nas de Podzoisolos (ácidos e de mineralização lenta) um tipo frequente
nas bacias hidrográficas do Tejo e do Mondego; e nas de Luviossolos
(argilosos). No entanto, e para este último caso, comprova-se que a presença
destes solos noutras regiões onde a água escasseia, as construções em adobe
não existem, ou pelo menos não são predominantes. Para o estudo do adobe é
mais indicado analisarem-se os solos ao nível regional. Mesmo nessa situação,
que se aproxima mais da realidade, as caraterísticas das terras são de tal
modo distintas que, para a análise da matéria-prima e para um conhecimento
exato ou aproximado das terras em questão, são necessários ensaios de
terreno e de laboratório.

4.1.1 - Os solos e as terras


Por solo entende-se todo o produto resultante das alterações à
superfície da crosta terrestre, ou seja, da designada rocha-mãe. No processo
de formação dos solos, pedogénese, são diversos os fatores que intervém na
alteração do afloramento rochoso, que conferem, desse modo, aos solos
caraterísticas ilimitadas e diversificadas. Para o caso da produção de adobes,

201
importa sobretudo reconhecer os que contêm propriedades que permitam
moldar a terra e em que nível, do horizonte no perfil do terreno, se localizam.
Na generalidade, a extração ocorre no horizonte B, entre os horizontes A e C,
onde se encontram fragmentos da matéria rochosa original, e o horizonte A ou
solo de superfície, em geral solo arável e com grandes quantidades de matéria-
orgânica. No que respeita à sua natureza ou constituição, os solos são
constituídos por ar, água e elementos sólidos, ou seja, matéria mineral e
matéria orgânica. Este tipo de constituinte sólido deverá ser evitado ou
minimizado, nos usos para a construção civil, admitindo-se um limite máximo
em volume até 5%. Solos onde estes valores sejam superiores, em especial na
camada superficial, devem ser usados para fins agrícolas; e procura-se no
subsolo a matéria adequada à produção de materiais de construção. Exceção a
esta regra, são as situações em que o solo superficial não tem utilização
agrícola e não contém muita percentagem de matéria orgânica. Exemplos
desses casos são os solos existentes no continente africano (figuras 73, 76 e
77), onde a terra para fins construtivos, pode ser extraída à superfície.

Sobre os constituintes gasosos do solo é frequente, para além do ar, a


presença de outros elementos (como o azoto ou o carbono), provenientes da
decomposição de matérias orgânicas. No que se refere aos constituintes
líquidos do solo, neste encontra-se a água que contém em geral outros
elementos solúveis, como sais, ácidos provenientes das chuvas, ou das
condições atmosféricas e, sobretudo, da decomposição das rochas.

Os constituintes sólidos do solo que interessam, e que devem estar


presentes na terra a extrair e a utilizar na construção, são os de origem
mineral. Os elementos minerais da terra classificam-se conforme a sua textura
ou composição granulométrica. Segundo os franceses, essa caraterística
recebe a designação de “grains des bâtiseurs”550 ou seja, os grãos dos

550
ANGER, Roman; FONTAINE, Laeticia – Grains des Bâtiseurs.La matiére en grains, de la geólogie à l’architecture.
[em linha] [sd] [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:http://craterre.org/diffusion:ouvrages-
telechargeables/view/id/c3320b1c2a4a96101782b11dd70dfeea>

202
construtores ou dos mestres taipeiros. Os grãos são por isso fragmentos (…)
partículas de formas e dimensões extraordinariamente variáveis desde pedras
e cascalho até materiais finos que apresentam propriedade coloidais (…)551. Os
coloides ou minerais alterados são os que resultam da alteração química dos
minerais da rocha, marcados pela extrema redução, em termos de dimensão.
Estas partículas podem separar-se consoante os diâmetros (figuras 101 e 102),
passando a designar-se de godos ou pedregulhos (entre 60,0 e 2,0mm), areias
(2,0 a 0,06mm), siltes (entre 0,06 e 0,002mm), argilas (inferior a 0,002mm)552.

Figuras 101 e 102 – Separação dos grãos, através de crivos ou peneiração. Respetivamente de terra
recolhida em adobes de casa junto à barragem do Maranhão (Avis) e terra recolhida em rebocos de terra
de casa em adobe no aglomerado de Carvalho de Figueiredos, Tomar. Laboratório Decivil na
Universidade de Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009.

As argilas são consideradas coloides e alteram-se substancialmente em


presença da água, formando uma pasta ou cola aglomerante553. Por oposição,
os restantes elementos não se alteram em presença da água, mas que devido
às forças de ligação eletrostáticas e provocadas pela presença da água, são
conduzidos à aproximação ou dispersão dos grãos que os constituem 554. Por
esse motivo, dividem-se as partículas ou elementos sólidos da terra em
instáveis e estáveis, consoante se alteram, ou não, em presença da água.

551
COSTA, Joaquim Botelho da – Caracterização e constituição do solo (6ª. edição), p.15.
552
Segundo a Norma Brasileira de 1995 NBR 6502/95, Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT. NEVES,
Célia; FARIA, Obede Borges; ROTONDARO, Rodolfo; CEVALLOS, Patricio S; HOFFMANN, Márcio. Seleção de solos
e métodos de controle na construção com terra – práticas de campo, pp. 6 a 8.
553
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p. 34.
554
Discussão atual na mecânica de solos é saber se os siltes ou limos contêm propriedades coloidais, pois alguns
alteram-se em presença de água. Esse facto ainda não foi comprovado, nem é consensual.

203
Por outro lado, o ar e a água presentes na terra (...) ocupam os espaços
intersticiais existentes entre as partículas (…)555, completando assim os
elementos constituintes de um solo ou de uma determinada terra. As
propriedades fundamentais da terra para a construção resultam dos grãos das
partículas, da água e do ar existentes nessa matéria-prima. Para a sua
utilização na construção, importa conhecer as suas propriedades fundamentais,
a saber:
- textura ou granulometria, ou seja a quantidade ou percentagem em volume
dos diferentes componentes sólidos existentes;
- plasticidade, aptidão que a terra apresenta para ser modelada;
-compressibilidade, potencial que a terra tem para reduzir os espaços vazios ou
maximizar a sua porosidade;
- coesão, propriedade que as partículas sólidas da terra têm para ficar
agregadas556.

Para o reconhecimento do tipo de terras existentes nos adobes


portugueses e de alguns solos que, segundo a tradição oral local, eram usados
para manufaturar adobes, procedeu-se à recolha de amostras, à realização de
testes de terreno e de laboratório. Pretendeu-se com estas análises determinar
algumas das propriedades fundamentais da matéria-prima utilizada. A recolha
de campo efetuada, sensivelmente entre 2006 a 2009, tinha como objetivo
obter o máximo de informação possível sobre o material e técnica construtiva
em adobe. Por esse motivo, recorreu-se à recolha de adobes e rebocos em
casas parcialmente destruídas, de terras e ao registo e medição de alvenarias,
para além de adobes descontextualizados e existentes no Laboratório Decivil
na UA. Essa alteração destinava-se a complementar o universo das amostras
que deveriam ser sujeitas a diversos ensaios. No que se refere aos testes de
laboratório, procedeu-se à análise granulométrica e à aferição dos limites de

555
COSTA, Joaquim Botelho da – Op. Cit, p.15.
556
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p. 41.

204
Atterberg: liquidez e plasticidade557. Nalguns casos procedeu-se também à
análise química, difração DRX, ED-XRF, espectrometria de fluorescência de
raios-X por dispersão de energia (energy dispersion X-ray fluorescence) e
MEV-EDX, (microscopia eletrónica de varrimento), associada a microanálise de
raios-X, por dispersão de energia. A análise por dispersão, difração e
observação microscópica foram realizadas no Laboratório Hércules, da
Universidade de Évora, em 2010.

Figuras 103 e 104 – Frascos e pastilhas, agrupados por terras de origem em análise comparativa
por investigadores da UA. Frasco e pastilha correspondente a terra proveniente de adobes de Cabeção,
Mora. Laboratório Decivil, Universidade de Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009.

No que respeita aos ensaios de terreno558, o procedimento constou dos testes


do frasco (sedimentação rápida) e pastilha559 com um maior número de
amostras possível (figuras 103 e 104). Os dados obtidos foram posteriormente
comparados de acordo com os procedimentos do CRATerre-Perú (anexo I)

557
Foram utilizadas os procedimentos constantes no “Traité de Constrution en Terre”, HOUBEN, Hugo; GUILLAUD,
Hubert – Op. Cit., pp. 62 a 67 e as normas e instruções constantes nos documentos LNEC 239 de 1970 e LNEC E 196
de 1966 para análise granulométrica por peneiração e sedimentação de solos e NP-143 de 1969 para os limites de
consistência (liquidez, plasticidade e retração). A sedimentação de solos foi substituída pelo método sedigraph, para
análise de partículas, em virtude de este ser o utilizado no Laboratório Decivil da UA. A opção por essa alteração no
procedimentos do LNEC justifica-se com a facilidade em poder comparar os resultados com os já existentes nessa
Universidade para materiais do mesmo tipo e também porque esse foi o procedimento constante e prática corrente
para análise de textura e granulometria de rebocos em terra, também utilizado na UA.
Sobre o método SediGraph ver: UCL Department of Geography. Phisical Geography Laboratory - SediGraph particle
size analysis [em linha] [sd] [Consult. 2013-08-26]. Disponível em WWW: <URL: http://www.geog.ucl.ac.uk/about-the-
department/support-services/laboratory/files/sedigraph_sop.pdf >
558
Para a obtenção dos resultados recorreu-se ao auxílio de investigadores e professores do Decivil da UA: Maria
Carlos Figueiredo, António Figueiredo, Romeu Vicente, Ana Velosa, para além da própria. A média das observações
permitiu a elaboração da tabela final nº 7.
559
NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges; ROTONDARO, Rodolfo; CEVALLOS, Patrício S; HOFFMANN, Márcio. Op.
Cit., pp. 19 a 23.Este manual para seleção de solos prevê o mesmo tipo de ensaios simples, testo do vidro e da
pastilha, no entanto não compara os resultados destes dois como os procedimentos do CRATerre.

205
Para a análise granulométrica foram utilizadas terras provenientes dos
adobes retirados de habitações em ruínas, caso das amostras de560 Carvalho
de Figueiredos (Tomar), Maranhão (Avis), Martingança (Alcobaça); Chamusca,
Cabeção (Mora), Murtosa e Louriçal (Pombal); assim como terras provenientes
de adobes manufaturados no ano de 2008, casos das amostras de Almodôvar
e de Angueira (Miranda do Douro). Para que o espetro de amostras ficasse
completo, foram ainda analisadas terras provenientes de barreiras, onde
usualmente se extraía matéria-prima para manufaturar adobes, de que são
exemplo Travasô, Piedade e ainda das margens da Pateira de Fermentelos.
Todas as amostras foram devidamente preparadas, para que as partículas
ficassem totalmente soltas e desagregadas. Casos houve em que a peneiração
teve que ser antecedida de lavagem, devido à presença de argilas ativas, que
não permitiam a separação total de partículas a seco (anexo H).

Figura 105 – Curvas granulométricas resultantes dos ensaios em laboratório das terras provenientes de
adobes (Carvalho de Figueiredos em Tomar, Maranhão em Avis, Almodôvar, Martingança em Alcobaça,
Chamusca, Cabeção em Mora, Murtosa, Angueira em Miranda do Douro e Louriçal em Pombal) e de
solos usados na manufatura de adobes (Piedade, Travassô e Pateira de Fermentelos no concelho de
Águeda).

560
A designação da amostra remete de imediato para o local onde foi retirada.

206
Da análise das diferentes texturas é possível concluir que existem
semelhanças nas curvas granulométricas, com exceção dos casos de Pateira,
Piedade, Travasô e Murtosa (figura 105). As amostras provenientes de adobes
são semelhantes, no que respeita à percentagem dos componentes sólidos,
enquanto as amostras com origem em depósitos de terras díspares e bastante
diferentes. A exceção é o exemplo da Murtosa, um adobe estabilizado com
grande quantidade de matéria vegetal e muito semelhante, em termos de curva
granulométrica, ao da Pateira. Quanto aos casos provenientes dos depósitos
de terras, claramente mais arenosos, como Piedade e Travasô, procedeu-se à
seleção dos mesmos porque, de acordo com as informações locais, eram
depósitos de terras usados para manufaturar adobes de cal, ou seja, terra
estabilizada com cal561. Em conclusão, os casos díspares em termos de
granulometria eram terras que careciam de estabilização ou correção, com
adição de fibras vegetais e ligante aéreo. As amostras com origem em adobes
são extremamente semelhantes em termos percentuais de componentes.
Resta a dúvida, apenas esclarecida nalgumas das entrevistas, se as terras de
origem não seriam sempre corrigidas, com prévia crivagem e posterior adição
de areias (finas, médias ou grossas), para que a matéria-prima se aproximasse
ou estivesse dentro dos limites admissíveis da curva granulométrica ideal para
a manufatura de adobes562.

Os resultados obtidos a partir dos ensaios simples e comparativos da


pastilha e do frasco são díspares, e estranhamente resultam mais favoráveis,
quando a percentagem de areia é superior, e menos quando a areia não está
presente (tabela 7).

561
Informação do presidente de Junta de Requeixo, Aveiro, Sesnando Alves dos Reis. As terras recolhidas na Pateira,
Travassô e Piedade no concelho de Águeda foram em locais indicados e na companhia do Sr. Presidente de Junta.
562
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p.118. Textura ideal de terras para adobe. Prática corrente na
manufatura de adobes era crivar a terra a seco para obter maior quantidade percentual de argila e posteriormente
misturá-la com areias para controle da granulometria pretendida.

207
Tabela 7 – Análise comparativa dos resultados obtidos a partir dos ensaios simples do frasco,
sedimentação rápida e da pastilha, segundo os procedimentos do CRATerre-Peru (Anexo H).
TERRAS PASTILHA FRASCO ÁGUA QUALIDADE
Almodôvar Resistência Média Argila, Silte e - Areia Pouco turva Terra Débil
Cabeção (Mora) Resistência Média Areia, Silte, Argila Turva Terra Boa
Carregueira (Abrantes) Resistência Alta Areia, Silte, Argila Pouco turva Terra Muito Boa
Carvalho de Figueiredos Resistência Média Argila, Silte e - Areia Pouco turva Terra Débil
(Tomar)
Carregueira (Chamusca) Resistência Média Areia, Silte, Argila Limpa Terra Boa
Fajarda (Coruche) Resistência Média Areia, Silte, Argila Pouco turva Terra Boa
Louriçal 2 (Pombal) Resistência Média + Argila, Silte e - Areia Pouco turva Terra Regular
Maranhão (Avis) Resistência Média Argila, Silte e - Areia Limpa Terra Débil
Martingança Resistência Média Areia, Silte, Argila Limpa Terra Boa
(Alcobaça)
Murtosa Resistência Média - Argila, Silte e - Areia Turva Terra Fraca
Pateira (Águeda) Resistência Alta Sem Areia Turva à Terra Fraca
superfície
Piedade (Águeda) Resistência Baixa Maioria Areia Limpa Terra Regular
Travassô (Águeda) Resistência Média - Maioria Areia Limpa Terra Regular

Estes ensaios de campo são complementados para a construção


específica em adobe, com o ensaio do cordão (figura 106). Ou seja, utilizava-se
o frasco e a pastilha para rejeitar de imediato as terras menos favoráveis e o
ensaio do cordão para escolher a terra mais benéfica para a construção. Essa
escolha recaía na terra que, ao formar um cordão com cerca de 3 mm de
diâmetro, só se partia entre os 5 e os 15 cm563. O ensaio do cordão é muito
utilizado ainda, para reverificar o ponto ideal de percentagem e comportamento
de argila, quando se crivam terras e se adicionam areias, para equilibrar ou
corrigir a mistura, de forma a poder manufaturar o adobe. No entanto, se
comparamos as curvas granulométricas e as percentagens ideais de
componentes, conclui-se que, de facto, são de areia, com diferentes
dimensões, de fina a grossa, as partículas que maioritariamente fazem parte
das terras usadas para os adobes, entre 55% a 75% do total do volume564.

563
NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges; ROTONDARO, Rodolfo; CEVALLOS, Patrício S; HOFFMANN, Márcio. Op.
Cit., pp. 20.
564
Ibidem.

208
565
Figura 106 – Teste do cordão ou do cigarro, segundo o CRATerre .

Os ensaios de terreno são muito utlizados nos locais, onde se


manufatura e se constrói em adobe, quando não existe a possibilidade de
aceder a laboratórios. Os testes mencionados são os mais utilizados para
rápida e eficazmente se escolher, à partida, as terras mais indicadas para a
manufatura de adobe. Verifica-se igualmente, uma semelhança nos resultados
das amostras extraídas de adobes e uma disparidade nos casos dos depósitos
de terras. No entanto, apesar dessa semelhança, há que referir que se
obtiveram diferenças, na dificuldade em partir a pastilha, o que nos permite
concluir da coesão da terra. Quanto maior for a dificuldade em partir a pastilha,
maior é a coesão de partículas, como ocorreu com as amostras de
Carregueira, Louriçal 2 e Pateira (tabela 7).

Outros indicadores são ainda possíveis de obter, a partir da observação


dos frascos. Os resultados com água totalmente limpa indicam que as argilas
sedimentam facilmente e são pouco ativas. No caso oposto, se a água fica
turva, resulta da presença de argilas do tipo floculantes ou dispersantes, e que
não sedimentam no fundo do frasco (figuras 107 e 108). Trata-se por isso de
argilas que, independentemente, da percentagem granulométrica, retém a água
durante muito tempo e alteram-se em presença da mesma. Essa observação
foi notória em Murtosa, Pateira, Cabeção e menos pronunciada nos casos de
Carregueira, Carvalho de Figueiredos, Fajarda e Louriçal 2 (tabela 7).

565
DOAT, Patrice [et al] – Op. Cit., p. 111

209
Figuras 107 e 108 – Frascos de Travassô e Cabeção, respetivamente água limpa e turva. Laboratório
Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

No que se refere aos limites de liquidez e plasticidade 566, os resultados


complementaram e corrigiram as informações já fornecidas pelas curvas
granulométricas, pelos testes dos frascos e da pastilha, ao salientarem quais
as terras que necessitavam mais de água para serem moldadas, casos de
Cabeção, Pateira, Murtosa e Angueira. Inversamente, as que menos
necessitavam foram as de Fajarda, Carvalhos de Figueiredo e Martingança
(tabela 8). Também neste caso ficou claro que as terras de Pateira e Murtosa
careciam de correção, devido à atividade das argilas, assim como as de
Piedade e Travasô, por menor percentagem de argilas. O índice de
plasticidade comprovou que se estava na presença de terras com fraca e
média plasticidade.

Se compararmos estes resultados com outros obtidos a partir de terras


em investigações similares, na região da Beira Litoral567 verifica-se a mesma
tendência para solos demasiado arenosos e de plasticidade reduzida.

566
Foi utilizada a Norma NP-143 de 1969 para os limites de liquidez, plasticidade e os procedimentos constante em:
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p. 66-67.
567
Neste estudo foram recolhidas terras apenas de depósitos e não de materiais nos concelhos de: Ílhavo (Vista
Alegre, Gafanha da Boa Vista e Vale de Ílhavo), Aveiro (Esgueira e Caião) Vagos (Ouca e Cabeças Verdes) e Mira
(Seixo) e o resultado foi indicativo da existência de solos com plasticidade reduzida ou seja demasiado arenosos.
SANTIAGO, Luís Fernando Ferreira Branco – A casa Gandaresa do distrito de Aveiro. Contributo para a sua
reabilitação como património cultural. Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e
Paisagístico; Universidade de Évora, Évora, 2007, p.159-160.

210
Tabela 8 – Limites de liquidez, plasticidade e índice de plasticidade de terras provenientes de adobes e
568
solos . Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2010.
LIMITE DE LIMITE DE ÍNDICE DE
TERRAS LIQUIDEZ PLASTICIDADE PLASTICIDADE CONCLUSÃO
% % %
Almodôvar 20 17,87 2,13 Arenosa
Angueira 38,32 33,56 4,76 Siltosa-Arenosa
Cabeção (Mora) 15,45 14,78 c) 0,67 Arenosa
Carregueira (Chamusca) 13,7 b) - Arenosa
Carvalho de Figueiredos 21,37 15,06 6,31 Siltosa-Arenosa
(Tomar)
Fajarda (Coruche) 18,06 15,09 2,97 Arenosa
Martingança (Alcobaça) 13,85 12,77 1,08 Arenosa
Maranhão (Avis) 26,53 17,46 9,07 Siltosa-Arenosa
Murtosa 50,86 42,44 8,42 Argilosa
Pateira (Águeda) 48,58 42,91 5,67 Argilosa-Arenosa
Piedade (Águeda) a) b) - -
Sarilhos Grandes (Montijo) 16,64 15,23 1,41 Arenosa
Travassô (Águeda) 30,02 22,07 7,95 Siltosa-Arenosa
a) Não se conseguiu ultrapassar os 7 golpes na concha CasaGrande
b) Não se conseguiu fazer o rolo
c) Valor não considerado, díspar.

Noutra investigação semelhante, desta vez no concelho de Avis, nos resultados


obtidos a partir de amostras provenientes de terras de adobes, concluiu-se que
apesar da média atividade das argilas, as terras correspondiam aos níveis
granulométricos próximos das percentagens ideais569. Outros resultados
distintos, de novo a partir de amostras provenientes de adobes, foram obtidos
numa investigação similar para o Barlavento Algarvio 570. Os limites de liquidez

568
Conclusões conforme a tabela constante em NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges; ROTONDARO, Rodolfo;
CEVALLOS, Patrício S; HOFFMANN, Márcio. Op. Cit., pp. 9-10.
569
Neste estudo foram utilizadas amostras provenientes de Maranhão, Valado, Aldeia Velha e Valongo tendo sido os
dados obtidos comparados com os valores de amostras de terras retiradas de taipas. Frequente no concelho de Avis
era também habitual a adição de cal para estabilizar as terras a usar na manufatura do adobe. FONSECA, Inês Filipe
da – Arquitectura de terra no concelho de Avis. Bases para a sua salvaguarda como património cultural (versão
provisória). Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico; Universidade de
Évora, Évora, 2006, pp.85-88.
570
As amostras recolhidas nos concelhos de Aljezur, Silves Monchique e Vila do Bispo. SEQUEIRA, Isa Maria Landeiro
– O adobe na arquitectura do Barlavento Algarvio. Um estudo para a sua recuperação como material de construção.
Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico; Universidade de Évora, Évora,
2004, pp. 106-107. Os ensaios demonstraram ainda que as terras continham elevados níveis de retração. Por esse
motivo, os adobes eram nesta região, tradicionalmente corrigidos com fibras vegetais.

211
e plasticidade indicaram que se tratavam de terras na generalidade com
plasticidade média e forte, pese embora a granulometria estar próxima dos
valores aconselhados para a composição ideal deste material construtivo.

Os limites de liquidez e plasticidade revestem-se de especial


importância, porque indicam o estado físico em que se encontra a terra, o
volume de água necessário para que seja moldada corretamente (ou seja, para
que esteja no estado plástico). Quando se atinge o estado líquido, a partir do
teor de água indicado no limite de liquidez, a terra é moldada, mas com
deformação, o que significa que se está em presença de água em demasia e a
terra passou ao estado líquido. No caso do limite plástico, a terra, por
ultrapassar esse teor de humidade, o que significa que contêm água em
volume insuficiente, passa ao estado sólido. Nessa situação, a terra pode ser
compactada, mas não moldada.

Figuras 109 e 110 – Ensaio de plasticidade e liquidez para terra de Martingança. Laboratório Decivil, UA.
Créditos Maria Fernandes, 2010.

Em virtude das diversidades de matéria-prima em regiões próximas e


mesmo afastadas, também a recolha das terras era distinta e procurava
adaptar-se às dificuldades ou facilidades, para encontrar as terras mais
favoráveis. Na região do rio Vouga, a terra era recolhida nas margens das
ribeiras de Cértima, do Águeda e do rio Vouga, assim como nas proximidades
da Pateira de Fermentelos (figuras 111, 112 e 115). Com estas terras e outras
similares, do tipo argilosas e recolhidas nas margens dos canais, eram
produzidos os adobes de gramão e de palhão. Os adobes de lodo já continham

212
raízes ou fibras vegetais. Os adobes de palhão eram manufaturados com terras
argiloso-arenosas de grão fino, às quais era adicionado junco seco (figura 116),
ou a palha (ver glossário).

Figuras 111 e 112 – Recolha de terras nas margens da ribeira do Cértima. Respetivamente terra com
gramão (raízes e outras fibras vegetais) e terra para adicionar palha. Preparação da reconstituição
histórica em Requeixo, Aveiro. Créditos Joana Maia, 2008.

Figuras 113 e 114 – Recolha de terras em depósitos, sabreiras e barreiras, nos locais de Piedade e
Travassô em Águeda. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 115 e 116 – Recolha de terra na Pateira, freguesia de Requeixo, e junco existente na mesma e
que era adicionado à terra para a manufatura de adobe. Créditos Maria Fernandes, 2009.

213
Para os adobos de cal, também na região da Beira Litoral, a terra era extraída
de barreiras localizadas no interior do território, fora das zonas húmidas e em
profundidades distintas (figuras 113 e 114). Nos casos de Travasô e Piedade,
no concelho de Águeda, as terras eram recolhidas a cerca de meio metro de
profundidade, um metro no caso da região da Gândara, e no concelho de Mira,
ainda a maior profundidade, sensivelmente entre 3 a 4 metros (ver entrevista
anexo G). Na zona das Gafanhas, Esgueira e Vagos, a profundidade das terras
recolhidas variava entre um metro e dois metros de profundidade571. Segundo
informação oral, a terra teria de ter “goma” suficiente o que significava alguma
percentagem de argila, razão pela qual, no caso das terras arenosas, a
profundidade variava. Noutra região, o Algarve, mais especificamente junto à
ribeira de Odeleite (margem direita do rio Guadiana na Serra do Caldeirão) a
terra para a manufatura de adobe era recolhida sensivelmente à superfície, e
de dois tipos: “barro branco” e “barro vermelho”572. Outro exemplo, muito
particular, foi o que ocorreu durante anos em Trás-os-Montes, junto à povoação
de Fonte de Aldeia, no concelho de Miranda do Douro. Segundo a tradição
oral573, o adobe era utilizado apenas em paredes interiores, e manufaturado em
“baixas”, pequenos vales entre os afloramentos rochosos, onde se concentrava
algum volume de terra argilosa e onde, “in situ”, eram manufaturados os
adobes em terra e palha para a construção.

Em termos conclusivos, o que se verificou durante anos no território


português, foi a extração de terras, para a produção de adobes, quer em zonas
húmidas, próximas de água (terras argilosas-arenosas), quer em zonas secas
do interior (terras siltosas-arenosas). A fase de preparação da terra era, em
geral, precedida de correção da matéria-prima, em termos de percentagem dos
“grãos”, ou seja, da granulometria necessária, que assim melhor

571
SANTIAGO, Luis Fernando ferreira Branco – Op. Cit., p. 146 e anexo B.
572
RIBEIRO, Vítor [et al.] – Materiais, sistemas e técnicas de construção tradicional. Contributo para o estudo da
arquitectura vernácula da região oriental da serra do Caldeirão, pp.74-76.
573
Não se encontrou nestas povoações ninguém que tivesse manufaturado adobe, os idosos com cerca de 90 anos
apenas se recordam de ver os familiares a fazerem os adobes dessa forma.

214
correspondesse à boa manufatura e comportamento dos adobes produzidos,
para esta atividade económica.

4.1.2 – A água e a estabilização


Como já foi anteriormente referido, as terras podem, mesmo em zonas
muito próximas, apresentar propriedades e caraterísticas muito diferentes (…)
Qualquer solo, exceto os altamente orgânicos ou com presença predominante
de argilas expansivas, caso da montmorillonita, pode ser utilizado como
material de construção. Todavia, existem limitações ao uso de determinados
solos por razões da capacidade de trabalho e outras características não
desejáveis ao uso proposto: terras muito argilosas, por exemplo, são difíceis de
serem misturadas e compactadas, devido à retração elevada produzem
superfícies mal acabadas (…)574.Manipular a matéria-prima para manufaturar
adobe, era por isso, uma prática corrente em Portugal. O procedimento
consistia em crivar inicialmente a terra, obtendo assim uma percentagem
maioritária de componentes finos, a que se seguia a adição de areias para
correção granulométrica e controle da retração. Apenas nos casos em que, a
terra era recolhida nas margens dos rios e possuía demasiada argila, o
procedimento variava. Nessa situação eram adicionados à terra, que não era
previamente crivada, fibras vegetais e só ocasionalmente areias. Nas situações
em que a terra era recolhida em depósitos, sendo demasiado arenosa ou
siltosa, a correção consistia em adicionar um ligante aéreo, cal, para conseguir
coesão e aglutinar os componentes na fase de secagem. A água, para além de
provocar a expansão e retração das argilas, tem ainda a função de provocar a
coesão das areias. No entanto, essa propriedade apenas se atinge em
presença de alguma humidade. Neste caso é costume apontar-se o exemplo
das areias na praia, das diferenças entre a areia molhada e a areia seca,
respetivamente, com coesão e sem coesão alguma. No respeitante às argilas,
o comportamento é exatamente o inverso. As argilas tendem a perder coesão
em presença de água, dispersando totalmente quando saturadas. Na situação

574
NEVES, Célia; FARIA, Obede Borges; ROTONDARO, Rodolfo; CEVALLOS, Patrício S; HOFFMANN, Márcio. Op.
Cit.,p.12.

215
inversa, as argilas tendem a ganhar coesão, quando o teor de humidade
diminui575. Sem estes comportamentos díspares, seria difícil conseguir
trabalhar a terra e construir com esse material apenas adicionando água.

A água tem, por isso, várias funções e influencia de diversas maneiras o


comportamento das partículas existentes na terra. A areia contém forças de
contato e de fricção, e a água de coesão. Em conjunto, formam um sólido
coerente, por isso são complementares. Por outras palavras, a água cria forças
de atração entre os grãos, ou seja, força a adesão das superfícies dos grãos de
areia, enquanto o ar existente nos vazios entre as partículas permanece
mínimo, ou diminuto576. Para a construção em terra são preferencialmente,
escolhidas as areias de grão liso e redondo, comparativamente, às areias
angulosas e rugosas. Estas últimas tendem a formar “arcos”, que bloqueiam ou
inviabilizam a compactação das terras, enquanto as areias lisas e redondas,
facilitam a compactação e diminuem o ar existente entre as mesmas577.

A estabilização ou correção de terras tem como objetivos:


- reduzir os vazios entre as partículas (porosidade);
- preencher os vazios existentes entre as partículas (permeabilidade)
- criar ligações e melhorar as conexões entre as partículas (resistência
mecânica)578.

A redução e o preenchimento de vazios nas terras para produção de


adobes era habitualmente executada, com o prévio crivo de terra e posterior
adição de areias, de grão liso e redondo, conforme já foi referido. No entanto,
quando se adiciona palha cortada ou qualquer outro tipo de fibras vegetais
secas à terra, para além de se preencherem e diminuirem os vazios entre as
partículas, controlava-se a retração das argilas e introduzia-se ainda uma

575
DOAT, Patrice [et al]- Op. Cit., p. 189.
576
FONTAINE, Laeticia; ANGER, Romain – Bâtir en terre, p. 146.
577
Idem, p. 128.
578
DOAT, Patrice [et al] – Op. Cit., p.189.

216
estrutura na massa, facto que produzia melhorias ao nível da resistência
mecânica do adobe, sem atuar quimicamente, evitando reações com os
componentes minerais em presença(tabela 9).

Tabela 9 – Amostras provenientes de adobes estabilizados com fibras vegetais. Relação entre o peso da
579
terra e a fibra vegetal adicionada .
ADOBES Peso da amostra Peso da fibra % da fibra vegetal
gr gr
Angueira 170 10,6 6,23
Fonte de Aldeia 140 2,80 2,00
Murtosa 146 2,6 1,78

A melhoria das ligações entre as partículas, que constituem as terras e,


consequentemente, o acréscimo da resistência mecânica dos adobes, era
tradicionalmente feita com a adição de cal aérea à terra. Esta rotina foi
detetada, sobretudo, nas bacias hidrográficas dos rios Vouga e Mondego, com
menor incidência no rio Tejo. Usualmente, a cal de tipo hidratada seria
adicionada a seco, em percentagens que rondariam os 6% a 12% em
volume580. No entanto, após alguns anos de pesquisa e persistência junto dos
mestres adobeiros581, nos distritos de Aveiro e Coimbra, aferiu-se que o
método correto para estabilizar terra com ligante, era fazê-lo diretamente com a
terra, usando cal viva, extinta ou apagada, com a terra diretamente. Os adobos
de cal, na região da Beira Litoral eram materiais produzidos com terra arenosa,
mas que continha um mínimo de argila, “goma”, à qual era adicionada cal viva,
monóxido de cálcio e água, transformando-se em hidróxido de cálcio,

579
Apenas os adobes de Angueira foram recentemente produzidos, em 2009, para aplicação numa obra de
reabilitação. As amostras de Fonte de Aldeia, concelho de Miranda do Douro e Murtosa, foram retirados de habitações
existentes. Os adobes de gramão e palhão são já muito raros no distrito de Aveiro, foram ao longo dos anos reciclados
nas construções. Por esse motivo, recolher amostras destrutivas para análise é uma tarefa difícil. Para a determinação
do peso, foram decantadas amostras secas das terras, retiradas dos adobes e seca a matéria orgânica removida à
superfície.
580
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p. 94.
581
Frequentemente, os mestres adobeiros não referiam o processo corretamente. Apenas mencionavam os tipos de cal
usados e onde as adquiriam. Quando inquiridos apenas referiam que adicionavam a cal à terra e misturavam. Estas
respostas são frequentes nas entrevistas conduzidas pela Dra. Margarida Ribeiro do Museu de Aveiro, nos inquéritos
constantes na dissertação de Joana Filipa da Silva Ramísio da Maia, nas informações recolhidas por Luís Fernando
Ferreira Branco Santiago, mas a adição foi corretamente descrita por Manuel Ribeiro (anexo G) e pelo Sr. Adelino de
Eirol em 2003. MAIA, Joana Filipa da Silva Ramísio da - A construção em adobe na freguesia de Requeixo, em Aveiro.
Orientações para a sua preservação enquanto património cultural. Dissertação de Mestrado em Metodologias de
Intervenção no Património Arquitectónico; Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Porto, 2009, p. 123-
129.

217
juntamente com a terra. Segundo a tradição oral da região, a cal era extinta
com a terra e a água, em proporções de volume que variavam entre o 1 volume
de cal para 3 ou 4 de terra. A massa obtida era cumulativamente usada, para
manufaturar adobes, para rebocar paredes de adobe, na maioria das vezes,
em habitações que ainda não tinham a sua fachada principal protegida e
decorada, já que as restantes fachadas eram mantidas em tosco, sem reboco
algum. À mistura de terra e cal obtida adicionava-se, em geral, mais areia para
os rebocos, consoante as necessidades582.

A cal utilizada para estabilizar as terras, na região centro litoral


portuguesa, era produzida em fornos tradicionais e nos concelhos onde o
calcário era a rocha mais abundante. As cais provinham de diversos fornos na
região, que hoje se encontram totalmente desativados, com exceção dos de
Cadima, no concelho de Cantanhede, que continuam ativos, mas muito
alterados, assim como a cal que produzem583. Dos fornos que existiam, refira-
se os exemplos de Avelãs (Anadia), Pedral (Cantanhede), Travassô
(Águeda)584, Zambujal, Covões e Malaposta (Cantanhede), Souselas
585
(Coimbra) , Portunhos e Barracão em Febres (Cantanhede), o núcleo de 10
fornos que existia em Outil (Cantanhede)586 e os que ficavam próximos da
estação em Cantanhede (figuras 117 e 118). Nestes fornos produziam-se dois
tipos de cais: cálcica e dolomítica. Esta última era conhecida como “cal churra”,
devido à cor cinza que apresentava (ver glossário). Para além da cor, as cais
cálcica, branca e com pouca resistência continham ainda uma proporção de

582
FERNANDES, Maria [et al]- Estabilización de tierra com cal, ventajas y desvantajas. Terra 2012, XI Conferencia
internacional sobre el estudio y conservación del patrimonio arquitectónico de tierra [CD].
583
As alterações são essencialmente na temperatura de queima e no tipo de fornos que alteram as caraterísticas da cal
produzida, maioritariamente caliça. MARGALHA, Maria Goreti. - Ligantes aéreos minerais. Processos de extinção e o
factor tempo na sua qualidade. Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em engenharia civil, Instituto Superior
Técnico/Universidade Técnica de Lisboa, 2010, p. 21.
584
Todos mencionados pelos mestres em: MAIA, Joana Filipa da Silva Ramísio da – Op. Cit., anexo I, produção e
aplicação de adobes.
585
Fornos mencionados nas entrevistas realizadas por Margarida Ribeiro do Museu da Cidade de Aveiro.
586
SANTIAGO, Luís Fernando Ferreira Branco – Op. Cit., p. 169-175.

218
magnésio inferior a 5%; enquanto as cais dolomíticas, cinzentas, continham
uma proporção de magnésio, superior a 5%587.

Figuras 117 e 118 – Fornos desativados e telheiro de acondicionamento de adobes em


Cantanhede, próximo da estação de caminho-de-ferro. Créditos Maria Fernandes, 2008.

As diferenças entre as cais, cálcica e dolomítica estão: na pedra de


origem; na temperatura necessária para a reação; quando transformadas em
monóxido de cálcio; na forma como eram utilizadas para a construção;
finalmente no comportamento posterior quando aplicadas em obra.

Tabela 10 – Composição química das amostras de terras provenientes de Pateira, Piedade e Travassô.
Departamento Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

SiO2 Al2O3 Fe2O3T MnO MgO CaO Na2O K2O TiO2 P2O5 L.O.I.

(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
PATEIRA 57,72 19,44 4,26 0,02 0,82 0,35 0,09 3,00 0,62 0,10 13,58
PIEDADE 95,61 3,02 0,26 nd nd 0,01 nd 0,23 0,05 0,02 1,15
TRAVASSO 81,00 11,49 2,74 0,01 nd 0,06 nd 0,22 0,15 0,05 4,70

O desaparecimento da cal, de produção artesanal em fornos, na região


da Beira Litoral, com a necessidade de verificar o efeito das melhorias
produzidas nas terras que eram usadas nos adobos de cal, e as discrepâncias
das informações recolhidas na tradição oral, levaram à realização de ensaios
de laboratório, com argamassas de terra e cal produzidas noutros locais. As
cais (cálcica e dolomítica) foram assim obtidas nos fornos tradicionais da

587
ROJAS, Ignacio Garate (2002). Artes de la cal (2ª edición ampliada), p. 104.

219
povoação de Barro Branco (Borba), que ainda laboram de forma artesanal e
semelhantes às que eram produzidas na região da Beira Litoral. As terras
escolhidas foram recolhidas em Piedade e Travassô (Águeda), e provêm de
saibreiras ou barreiras, tradicionalmente, utilizadas na produção de adobes de
cal. As proporções utilizadas cingiram-se aos dois traços mais mencionados
pelos mestres adobeiros 1:3 e 1:4 (anexo H).

Os fornos tradicionais de Borba produzem em simultâneo os dois tipos


de cal: cálcica e dolomítica (figuras 119, 120, 121 e 122). O acondicionamento
das pedras no interior do forno permite que a transformação se realize em
diferentes temperaturas: dolomítica entre 400º a 480ºC e a cálcica entre los
800º a 1000ºC588. O calcário “Montes Claros - branca”, que está na origem da
cal cálcica, é acondicionado no centro do forno, onde a temperatura é mais
alta. O calcário “Montes Claros, castanho - olho-de-mocho”, que está na origem
da cal dolomítica, é arrumado nos limites do forno, onde a temperatura
permanece mais baixa. Esta transformação designa-se de calcinação:
CaCO3 (s) + calor → CaO (s) + CO2 (g) (cálcica)
CaMg(CO3)2 (s) + calor → CaO (s) + MgO (s) + 2CO2 (g) (dolomítica)

Figuras 119 e 120 – Vista superior do forno com os diferentes calcários no exterior , montagem do forno
tradicional para produção de cal cálcica e dolomítica. Barro Branco, Montes Claros, Borba. Créditos Maria
Fernandes, 2007.

588
MARGALHA, Maria Goreti B. – Op. Cit., p. 32-33

220
Figuras 121 e 122 – A desmontagem do forno tradicional de produção de cal e as duas cais obtidas. Barro
Branco, Montes Claros, Borba. Créditos Maria Fernandes, 2007.

A cal viva é um material muito instável e carente de água. Para que seja
utilizada, é necessário apagá-la ou extingui-la com água. Esse processo
designa-se de hidratação e resulta da reação exotérmica:
CaO (s) + H2O (l) → Ca(OH)2 (s )+ calor (cálcica)
CaO (s) + MgO (s) + 2H2O (l) → Ca(OH)2 (s)+ Mg(OH)2 (s) + calor (dolomítica).

Tabela 11 – Composição mineralógica e química dos calcários e das cais produzidas nos fornos de Barro
589
Branco, Montes Claros em Borba .
Amostras de CaC CaMg( Ca(O Mg(O CaO MgO Outr
pedras O3 CO3)2 H)2 H)2 os
Montes Claros,
Branca 25,0 n.d 70,0 n.d n.d n.d 4,0
Montes Claros,
Castanha “Olho 22,8 vestigi 42,8 17,6 n.d n.d 17,0
de Mocho” os
Amostras de cais CaO SiO2 Al2O3 Fe2O3 SO3 MgO Cl- R.I K2O Na2 P.R
O
Montes Claros,
Branca 95,8 0,3 0,2 0,04 0,2 n.d n.d n.d n.d n.d 3,5
Cálcica
Montes Claros,
Castanha “Olho 66,4 1,2 1,0 2,3 0,3 27,4 n.d n.d n.d n.d 1,4
de Mocho”
Dolomítica
Nota: P.R – perdido, R.I – resíduo, n.d, não detetado.

589
MARGALHA, Maria Goreti B. – Op. Cit., p. 165.

221
Tradicionalmente, a cal cálcica era hidratada com água, transformada em pasta
e aplicada meses depois, em argamassas de cal e areia, em superfícies
arquitetónicas, rebocos, estuques e caiações. A cal dolomítica, ao contrário,
era rapidamente hidratada com água e areia ao mesmo tempo e aplicada de
imediato em argamassas de assentamento de alvenarias, telhas e rebocos
exteriores, sobretudo as primeiras camadas de emboço e esboço. Na
generalidade, a cal dolomítica era aplicada em toscos e a cálcica em
acabamentos.

A terra de Piedade é muito arenosa e possui apenas uma percentagem


diminuta de argila (tabelas 7 e 8 e figura 105). Na análise comparativa entre
frasco e pastilha, era percetível uma grande quantidade de areia média e as
pastilhas rompiam-se facilmente. Ao inverso, a terra de Travassô apresentava
uma maior diversidade de areias, grossa, média, fina e uma percentagem de
argila superior. No que respeita às pastilhas, também não se destruíam
facilmente.

A pertinência de avançar para estes ensaios de laboratório justificava-se


na medida em que, numa determinada barreira, a diversidade granulométrica
das terras, é uma constante. As características dos adobes de cal existentes,
também não facilitavam conclusões, sobre as vantagens e desvantagens da
estabilização com cal, porque não se tinham valores antes da sua adição. O
que realmente se conheci era apenas que os adobes de cal eram produzidos a
partir de terra arenosa, com alguma percentagem de argila. A cal utilizada era
de dois tipos: branca e churra, produzidas em forno tradicional. Observou-se
também que os traços de mistura terra-areia eram variáveis e chegavam a
atingir o 1:6 (areia:cal). Os adobes de cal, quando produzidos
comunitariamente, eram manufaturados e armazenados, entre maio e
setembro, sendo apenas utilizados na construção um ano depois590. Esta
prática permitia que a carbonatação da cal estivesse completa e o adobe

590
SANTIAGO, Luís Fernando ferreira Branco Santiago – Op, Cit., 209.

222
suficientemente resistente, para a construção de alvenarias. No entanto, os
rebocos eram de imediato aplicados. A argamassa para os rebocos era
produzida, simultaneamente, com a manufatura dos adobes de cal. Por esse
motivo, as argamassas eram aplicadas de imediato em construções de
alvenarias, que estavam a decorrer, e em rebocos de habitações, que se
encontravam em tosco e careciam de proteção. Ao mesmo tempo que se
produziam adobes de cal, construíam-se edifícios com adobes produzidos no
ano anterior e rebocavam-se exteriormente habitações.

É comum observar-se nos adobes de cal, quer nas construções, quer


dos provenientes de demolições e que se encontravam depositados no
laboratório Decivil da UA, vestígios de cal cálcica, ou seja, a presença de grãos
brancos na sua pasta e correspondentes a cal não totalmente extinta. Por sua
vez, nos adobes com mais de 50 anos, os vestígios de cal dolomítica são
difíceis de encontrar. Senão fossem os vestígios de cal cálcica, apenas se
poderia aferir a presença de estabilização de terra com cal, utilizando métodos
de laboratório591, dado que a maioria das terras na região são de origem
calcária e o carbonato de cálcio é corrente nos componentes sólidos das
mesmas (ver anexo J, exemplo do adobe MSM).

Desde 2005 que o departamento de engenharia civil da Universidade de


Aveiro vem desenvolvendo investigação na área da caraterização e
comportamento de adobes da região. Os ensaios mecânicos, de compressão e
tensão, aplicados a mais de 100 provetes cilíndricos retirados de adobes
maioritariamente estabilizados com cal, provenientes de muros rurais, casas e
outras construções, resultaram em valores à compressão que variavam entre
0,32Mpa e 2,46 MPa. Nos ensaios à tensão os valores são inferiores em cerca
de 20% dos de compressão. Nos mesmos ensaios também se verificou que os

591
Para aferir da presença de carbonato de cálcio, pode utilizar-se - a dissolução em ácido acético. FONSECA, Inês
Filipe da - Op. Cit, anexo 5.

223
adobes de granulometria mais fina, apresentavam valores à compressão e
tensão, superiores em relação aos de granulometria média592.

Com base nas informações recolhidas e nos dados já obtidos em


laboratório, a partir dos ensaios dos adobes de cal procedeu-se de forma
inversa: extinguiu-se terra, de Piedade e Travasô, com cal dolomítica e cálcica,
aos traços 1:3 e 1:4. Posteriormente ensaiaram-se os provetes à compressão e
flexão com 28 e 40 dias de cura (em ambiente controlado). Pretendia-se, com
estes ensaios, comparar os resultados com os obtidos para os adobes de cal
pelo Decivil (anexo H)593.

A extinção da cal dolomítica fez-se rapidamente e no mesmo dia


moldaram-se os provetes594. Ao inverso, para a cal cálcica, extinguiu-se
durante mais tempo, no interior do volume de terra, aplicando-se água
faseadamente, em pequenas quantidades durante 36 horas. Por fim, misturou-
se com a terra e moldaram-se os provetes. Observou-se de imediato que a cal
cálcica necessitava de maior quantidade de água que a dolomítica, numa
proporção em volume respetivamente de 65% e 40%. A reação exotérmica da
hidratação da cal era superior na cal cálcica e apesar das 36 horas para a
extinção, observavam-se, na mistura final da terra inúmeros grãos brancos de
cal, por extinguir. Outro aspeto importante foi a facilidade em manusear a terra
com a cal dolomítica, face à dificuldade em manusear a mistura com cal
cálcica, mas em ambas as situações foi notório que a terra perdia plasticidade
e era difícil de moldar, quando comparadas com uma mistura simples de terra e
água. Em ambas as situações houve que proteger as mãos com luvas, assim
como as vias respiratórias com máscara.

592
VARUM, Humberto [et al] – Study of the structural behavior of tradicional adobe constructions. Terra 2008, 10th
International Conference on the Study and Conservation of Earthen Architecture, pp. 308-309.
593
Foram utilizadas as seguintes Normas:- EN 1015-11 de 1999 para ensaio de resistência à flexão, compressão de
argamassas em produto endurecido e EN 13139 de 2002, análise granulométrica de agregados para argamassas.
594
Conforme as indicações do Sr. Adelino de Eirol, que fez o procedimento com areia e cal, “in situ”, para explicar como
se deveria juntar a cal à terra e, por fim, a água. Segundo o mestre adobeiro, assim como também, maioritariamente os
outros entrevistados, referiam que o procedimento era igual para ambas as cais. Opinião divergente tinha o Sr. Manuel
Ribeiro, que referiu oito dias, para extinguir a cal sob a terra, adicionando água em pequenas quantidades durante todo
esse tempo (anexo G).

224
Figuras 123 e 124 – A extinção de cal respetivamente dolomítica e cálcica, com terra de Piedade e
Travassô. Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 125 e 126 – Provetes e ensaios: os números correspondem ao traço, as letras D (Dolimítica) C
(Cálcica). Cor branca e cinza clara correspondem a Piedade, cor de rosa ou vermelho claro a Travassô.
Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

As discrepâncias de volume de água, não pareceram tão importantes quanto a


reação exotérmica e a dificuldade em apagar as cais, que eram relevantes e
sempre superiores para a cal cálcica. Os ensaios foram executados com
provetes, após 28 e 40 dias de cura, em ambiente de temperatura e humidade
constantes. Os resultados indicaram valores superiores para resistência à
compressão com cal dolomítica e terra de Travassô. Exatamente a terra que
contém maior percentagem de argila e diversidade granulométrica. No que
respeita à flexão os valores são semelhantes para ambas as terras, mas, de
novo, ligeiramente superiores para a cal dolomítica. Para a terra de Piedade
obtiveram-se valores superiores, para o traço de 1:4, ou seja, para menor
quantidade de cal (tabela 12).

225
Tabela 12 – Resultados dos ensaios de resistência mecânica (compressão e flexão) para provetes de
terra-cal aos traços 1:3 e 1:4, em volume, a 28 e 40 dias de cura. Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria
Fernandes, 2009.
VALORES MÈDIOS À COMPRESÃO E FLEXÃO
(28 dias)
CAL:TERRA Tipos de Cal
CÁLCICA DOLOMITICA
COMPRESSÃO (MPa)
1:3 PIEDADE 0,58 0,93
1:3 TRAVASSÕ 0,79 2,54
1:4 PIEDADE 0,42 1,55
1:4 TRAVASSÔ 0,85 1,31
FLEXÃO (MPa)
1:3 PIEDADE 0,23 0,36
1:3 TRAVASSÕ 0,19 0,49
1:4 PIEDADE 0,19 0,54
1:4 TRAVASSÔ 0,20 0,34
VALORES MÈDIOS À COMPRESÃO E FLEXÃO
(40 dias)
COMPRESSÃO (MPa)
1:3 PIEDADE - 1,23
1:3 TRAVASSÕ - 3,00
1:4 PIEDADE 0,41 1,86
1:4 TRAVASSÔ 0,52 1,52
FLEXÃO (MPa)
1:3 PIEDADE - 0,76
1:3 TRAVASSÕ - 0,50
1:4 PIEDADE 0,24 0,61
1:4 TRAVASSÔ 0,14 0,35
Nota: - Não foi possível realizar o ensaio.

Para os 40 dias obteve-se uma ligeira melhoria nos valores da resistência para
a terra estabilizada com cal cálcica, mas com pouca expressão (anexo H). Os
valores obtidos nestes ensaios são semelhantes aos resultados dos ensaios
realizados pelos investigadores do Decivil da UA, a partir de adobes de cal. Os
resultados provam, efetivamente, que adicionando cal à terra nos traços
mencionados, as melhorias em termos de resistência são rápidas e tendem a
aumentar com o tempo.

226
Quando se adiciona à terra, cal viva e água, observam-se as seguintes
reações:
- absorção de água, devido à hidratação da cal;
- troca imediata de catiões de cálcio (presentes na cal), os iões de cálcio são
substituídos por catiões de magnésio, sódio, potássio, hidrogéneo, que se
encontram presentes na terra;
- floculação e aglomeração provocada pela troca de catiões, aumento da
quantidade de eletrólitos na água intersticial, verificando-se que as partículas
da terra floculam e aglutinam-se. A textura e estrutura alteram-se.
- carbonatação, a cal junto com a terra reage ao dióxido carbono do ar e forma
carbonato de cálcio. Esta reação consome uma parte da cal disponível;
- reação pozolânica, dissolução dos minerais argilosos num ambiente alcalino
produzido pela cal e a recombinação da sílica, alumina com o cálcio, para
formação dos silicatos complexos de alumina e cálcio que forçam a coesão e
aglomeração dos grãos da terra595.

Figuras 127 e 128 – Preparação e observação das amostras de terra-cal, Piedade e Travassô com cal
cálcica e dolomítica para observação em MEV. Laboratório Hércules, Universidade de Évora. Operador
engenheiro Luís Dias, investigador do laboratório. Créditos Maria Fernandes, 2010.

A análise química, mineralógica e por DRX – difração de raio X


identificou a presença de moscovite e caulinite pouco cristalizadas nas duas
terras das amostras, “goethite” e “gibsite”, para além de hidróxidos de ferro em
Travassô (que justificam a cor avermelhada). Observa-se ainda uma maior

595
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., 94.

227
percentagem de dióxido de silício (sílica) na amostra de Piedade e dióxido de
alumínio (alumina) em Travassô.

Quando se apaga a cal diretamente com a terra, utiliza-se a reação


exotérmica resultante da hidratação da cal para conectar melhor os
componentes da terra. Simultaneamente, a cal ocupa os vazios que existem
entre os componentes da terra, atuando assim ao nível da porosidade e
permeabilidade. A resistência mecânica só melhora com o tempo, na medida
em que ocorrem as reações físico-química das argilas com a cal596. As argilas
em presença da cal adquirem uma estrutura flocular, ao mesmo tempo que os
iões de cálcio estabelecem ligações estáveis entre as partículas. Esta reação
permite a formação de novos elementos cristalinos, que intervêm na agregação
– coesão dos componentes da terra597.

Existem diferenças entre as vantagens de estabilizar com cal viva e


maior quantidade de água, como sucede para os adobes, do que estabilizar
com cal hidratada e menos quantidade de água, como sucede com a taipa.
Para este último caso, as melhorias em termos de resistência mecânica são
mais lentas, devido à espessura das paredes, que não facilita a carbonatação
da cal, e também, porque não se utilizam as vantagens que advém da reação
exotérmica da hidratação.

Um ano após os ensaios dos provetes, observaram-se ao microscópio


as amostras de terra-cal para os diferentes traços de 1:3 e 1:4. As amostras
realizadas com terra de Piedade apresentavam uma porosidade maior quando
comparadas com as de Travassô. Para a situação de cal dolomítica, com terra
Piedade ao traço 1:4, a magnesite e a calcite apareciam separadas. No caso
de Travassô era superior a presença de magnesite. Em ambas as situações, o
hidróxido de magnésio desapareceu completamente e não se formou, como
seria de esperar, o óxido de magnésio ao finalizar-se a reação química e como

596
Idem,80.
597
SANTIAGO, Luís Fernando Ferreira Branco – Op. Cit., p. 184.

228
ocorreu para o carbonato de cálcio. A magnesite aparece separada e, por esse
motivo, nunca se consegue saber se a terra de um determinado adobe foi
estabilizado com cal dolomítica.

Figuras 129 e 130 - Resultados do MEV, microscópio eletrónico de varrimento: Cálcica/Piedade 1:3;
Dolomítica/Travassô 1:3. Laboratório Hércules, Universidade de Évora. Créditos Maria Fernandes, 2010.

Os diferentes valores, em termos de resistência mecânica, e os resultados da


observação em microscópio MEV, forneceram algumas pistas relacionadas
com a reação entre as argilas e a cal. Esta foi mais expressiva para a cal
dolomítica do que para a cálcica; e também foi mais usual para a terra de
Travassô do que a de Piedade (figuras 129 e 130).

Terras demasiado arenosas e exíguas em argila, não servem para


produzir adobes de cal. Para melhorias equilibradas, no comportamento dos
adobes de cal, há que escolher terras com uma percentagem de argila não
inferior a 5%. Da recolha oral que fez parte desta investigação, concluiu-se que
as descrições deveriam abordar apenas a cal dolomítica e não a cálcica. A
descrição do Sr. Manuel Ribeiro referia-se, exclusivamente, à cal cálcica, por
isso mencionou a extinção da cal, obtida colocando pelo menos durante uma
semana, a terra sobre esse material (anexo G). As quantidades também são
exageradas, não é necessário tanta percentagem de cal. De facto as
informações que referem os traços 1:7598 e 1:6599 seriam mais adequadas e os

598
SANTIAGO, Luís Fernando Ferreira Branco – Op. Cit., p.195.
599
MAIA, Joana Filipa da Silva Ramísio da – Op. Cit., Anexo I, inquérito 2, sr. Sesnando Reis.

229
resultados muito semelhantes. A percentagem de cal aumenta, em proporção,
quando diminui a quantidade de argila. Para terras como as de Travassô onde
a percentagem de argila se aproxima ou é ligeiramente superior a 5%, mas
inferior a 15% e 18%, a quantidade de cal viva adicionada á mistura deveria
corresponder entre 3% a 6% do volume total da terra. Os resultados que se
obtêm adicionando cal hidratada são inferiores com a prudente indicação para
valores próximos de 8% a 10% do total volume de terra 600.

Em termos de vantagens, os adobes de cal quando comparados, com os


adobes de terra, adquirem maior resistência aos efeitos de abrasão e erosão,
com perdas de material inferiores a 3%. Verifica-se um melhoramento no
comportamento face aos efeitos da humidade, com perdas de material inferior
a 10%, e melhorias ao nível da retração em cerca de 8% a 10%. Para a
situação dos efeitos nefastos de seco-molhado e gelo-degelo no material, as
perdas são inferiores a 10%601.

No que respeita a desvantagens, nota-se um aumento de peso


considerável dos adobes de cal, que em média pesam cerca de 30 a 35Kg,
comparativamente, aos estabilizados com fibras vegetais muito mais leves,
com cerca de 20 a 25kg (tabela 13). O peso dos adobes, obviamente, dificulta
a construção. Tradicionalmente, essa desvantagem era ultrapassada
diminuindo as dimensões dos adobes de cal. Por exemplo, o adobe de cal do
produtor MSM, de Aveiro, media cerca de 0,42x0,22x0,10m, e o adobe de terra
e palha da Murtosa 0,50x0,30x0,15m. Outra enorme desvantagem é a
diminuição da plasticidade da terra, com dificuldades acrescidas na sua
moldagem, primordial para a manufatura dos adobes. Não se podem utilizar
nem as mãos, nem os pés, mas sim diversos instrumentos, como a enxada, a
pá e mesmo misturadoras, o que torna a operação muito mais complexa. Para
além dessa limitação, acresce ainda a retenção da água imediata, quer pelas
argilas quer pela cal, devido à reação física que reduz, substancialmente a

600
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., 128.
601
Ibidem.

230
plasticidade e ativa a floculação das argilas. Todas estas reações dificultam a
mistura da terra com a cal e a água necessárias para moldar os adobes. Com a
cal cálcica a perda de plasticidade é ainda superior, verificando-se uma
retenção inicial de água considerável. Essa dificuldade pode ter consequências
nefastas e pode provocar a adição excessiva de água à mistura, dadas as
dificuldades em manuseá-la.

As vantagens mencionadas podem ainda ser melhoradas, se todo o


processo de produção dos adobes for industrial e se o material tiver dimensões
inferiores, de forma a facilitar a construção. Para processos semi-mecanizados
ou até mesmo mecanizados, de manufatura de adobe, é preferível optar pelos
adobes de terra sem cal, eventualmente com adição de fibras vegetais, mais
leves e de maiores dimensões. Para a secagem dos materiais, em ambas as
situações é sempre aconselhável o uso de ensecadeiras, em estruturas
protegidas, de forma que a cura dos adobes se processe lentamente, em
condições de temperatura e humidade constantes. Todas estas propostas
abandonam definitivamente as hipóteses da constituição dos “Barreiros”, do
“Tendal” e das “Eiras”, que caraterizavam os espaços destinados à produção
comunitária e organizada de adobes, nas zonas peri-urbanas das povoações
portuguesas na Beira Litoral e no Vale do Tejo. A tradição dos adobes de cal
na Beira Litoral portuguesa atingiu um nível de sofisticação e tecnologia
apurada, que bem poderia ser recuperada para a produção, em moldes atuais
e industriais, deste material com o objetivo de serem comercializados como
qualquer outro. Os adobes são bastante resistentes e perfeitamente aplicáveis,
com vantagens na construção atual.

4.2 – O material, a manufatura e a produção


A manufatura do adobe em Portugal processava-se em geral, de três
formas distintas:

231
- auto manufatura, de cariz familiar ou individual cuja produção se destinava à
autoconstrução ou para venda a terceiros: o Tendal602;
- produção comunitária, quando os habitantes de uma povoação se
organizavam sazonalmente para esse efeito: o Barreiro e a Eira (figuras 131 e
132);
- produção comercial, da responsabilidade de fabricantes que organizavam
também a venda; produção em série e organizada com trabalhadores
contratados, trabalho em geral feito por encomenda, em qualquer altura do
ano, através de uma firma ou comércio que laborava noutras áreas da
construção, como por exemplo, na extração e venda de areias, na
comercialização da cal, na produção e venda de telhas etc.: as Olarias e o
Areal603.

Figuras 131 e 132 – Eira e Barreiro. Respetivamente em Montinho (Cantanhede, Coimbra) e Oliveirinha
(Aveiro). Créditos Maria Fernandes, 2004 e 2007.

Segundo as fontes manuscritas do Museu da Cidade de Aveiro604, o


ciclo de extração e produção do adobe de lodo processava-se do seguinte
modo (figuras 111, 112, 133 e 134): (…) retirava-se o lodo da Pateira para
dentro de uma Boteira enchia-se (…) e descarregava-se depois na margem.

602
O sr. Manuel de Oliveira Silva da povoação de Requeixo, abandonou o ofício porque se destinava apenas a
consumo próprio. De acordo com a entrevista ao Sr. Aristides Ferreira, filho de adobeira, a mãe produzia adobes quer
de lodo quer de cal, cerca de 100 por dia que vendia por troca de alimentos a lavradores da região. Fontes manuscritas
do Museu da Cidade de Aveiro.
603
Segundo o Sr. Manuel Madaleno o pai vendia cal churra, adobes de areia, cal, chancas e tamancos de madeira.
Fontes manuscritas do Museu da Cidade de Aveiro. Segundo o mesmo informante eram produzidos cerca de 300
adobes por dia desde que estivessem a trabalhar cerca de 2 a 3 pessoas. Os adobes eram vendidos para a Murtosa,
S. Jacinto e Esgueira. Um adobe pesava cerca de 20 a 25 quilos.
604
As entrevistas conduzidas e as notas descritivas recolhidas na região pela técnica superior, Dr.ª. Margarida Ribeiro
em 2007. As informações foram fornecidas essencialmente pelo Sr. Manuel de Oliveira Silva de Requeixo.

232
Num Barreiro amassava-se a lama com os pés. Havia dois homens a calcar e
um a acatar lama com o carro de mão e outro no adobeiro onde a massa era
alisada com as mãos. A lama era arrancada de onde havia gramão. No fabrico
usava-se a enchada, a forquilha, o carro de mão para carregar a lama para as
Boteiras. Os adobos ficavam a secar durante 20 a 30 dias, postos ao alto.
Depois de empilhados eram transportados em carros de bois. Estes adobos
eram vendidos a 5 tostões a unidade (…)605.

Figuras 133 e 134 – A preparação da terra, a manufatura de adobe de lodo ou gramão e reboco de
alvenaria, com argamassa semelhante. Respetivamente, Oliveirinha e Requeixo (Aveiro). Créditos Maria
Fernandes, 2007 e Joana Maia 2008.

Figuras 135 e 136 – A preparação da terra e a manufatura de adobe de palhão. Oliveirinha, Aveiro.
Créditos Maria Fernandes, 2007.

No que se refere aos adobes de cal, segundo as mesmas fontes, eram


produzidos de forma distinta e da seguinte maneira (figuras 137, 138, 139 e
140): (…) arrancava-se a areia com enchada e baldeava-se para uma rede que
tinha 2 a 3 metros de largo por 4 de profundidade (…) num Canteiro ou

605
Ibidem

233
Mosseiro era espalhada a cal churra que se queimava de seguida com água
suficiente. A cal era a goma que apertava o adobo. Depois esta era
argamassada e e baldeada. O Mosseiro ou Canteiro era feito sobre a
argamassa. A dimensão do Tendal variava com a necessidade dos adobos a
produzir. O Canteiro era regado com água e senão fosse suficiente regava-se
com regador. No masseiro trabalhavam 4 homens. A argamassa era
transportada em carro de mão para o adobeiro ou forma (…) com um chaço(…)
era colocada a massa no molde com uma colher na mão direita alisava-se.
Depois de lisa a massa o molde retirava-se o molde (…). Com arame forte e
fundo com madeira onde constavam as iniciais do fabricante fazia-se o carimbo
quando o adobo estava “verde” (…). O dia acabou quando acabou a massa
(…). Os adobes ficavam a secar um mês a dois. O fabrico era sazonal de julho
a setembro. Depois eram empilhados (…)606.

Figuras 137 e 138 – A preparação da terra com a cal e a manufatura de adobes de cal. Oliveirinha
(Aveiro). Créditos Maria Fernandes, 2007.

Apesar do ciclo de produção variar ligeiramente de região para região,


pode-se afirmar que a manufatura dos adobes em terra e dos adobes
corrigidos com areias ou estabilizados com fibras vegetais e cal, processavam-
se conforme as duas descrições mencionadas. Veja-se ainda o exemplo da
produção de adobes na freguesia do Louriçal, no concelho de Pombal. A
atividade que durou, em Matas do Louriçal, até meados dos anos sessenta do
século XX, organizava-se de forma comunitária, em dois ou três fins-de-
semana no verão e envolvia todos os habitantes. Produziam-se cerca de 1 500

606
Ibidem.

234
adobes de cal por dia607 em moldes duplos, com as dimensões de
0,42x0,27x0,15m, triplos com 0,37x0,21x0,15 e quádruplos com
0,37x0,17x0,15m. Os materiais secavam durante trinta dias em posições
distintas ao longo de cada quinze dias.

Figuras 139 e 140 – A preparação da terra com a cal e a construção de reboco sobre alvenaria com
argamassa de terra estabilizada com cal. Oliveirinha (Aveiro). Créditos Maria Fernandes, 2007.

Conforme o registo, recolha e identificação de adobes, relativos a


Portugal, complementados com as informações obtidas a partir de fontes orais,
manuscritas e bibliográficas, foram identificados genericamente quatro tipos
distintos (tabela 13):
- adobes de terra, manufaturados com terra e água, à qual era adicionada
apenas areia para correção;
- adobe de palhão, manufaturado com terra à qual era adicionado fibra vegetal
seca e cortada como o junco, palha ou outra (figuras 133 e 134);
- adobe de lodo ou de gramão, manufaturado com terra, que continha raízes e
outras fibras vegetais (figuras 135 e 136);
- adobe de cal, manufaturado com terra e cal. A extinção do ligante era feita
diretamente com a terra e a água.

607
FERREIRA, Mariana – Produção de adobe nas Matas do Louriçal. Arquitectura de terra em Portugal, p. 263.

235
608
Tabela 13 – Comparação entre a dimensão, o peso e o tipo de adobe
ADOBE DIMENSÃO PESO TIPO
Localidade (Concelho - Distrito) Comp.xLarg.xEspes. m Kg
Adobo do produtor 0,43x0,24x0,12 43 Adobe de cal
JMO (Aveiro) 0,43x0,12x0,12 (meio adobe) 21
Adobo do produtor 0,42x0,22x0,10 34 Adobe de cal609
Produtor MSM
Almodôvar (Beja) O,28x0,15x0,12 20 Adobe de terra
Angueira 0,24x0,10x0,10 28 Adobe de terra e fibra
(Miranda do Douro-Bragança) vegetal
Cabeção (Mora - Évora) 0,42x0,24x0,10 21 Adobe de terra
Caldas da Rainha (Santarém) 0,40x0,30x0,10 S.I Adobe de terra
Carvalhos de Figueiredo (Tomar-Santarém) 0,24x0,20x0,14 27 Adobe de terra
Carregueira (Chamusca-Santarém) 0,34x0,22x0,12 N.P Adobe de terra e cal
Fajarda (Salvaterra de Magos – Santarém) 0,23x0,16x0,14 22 Adobe de terra
Fonte de Aldeia 0,30x0,24x0,15 11 Adobe de terra e fibra
(Miranda do Douro - Bragança) vegetal
Louriçal 1 (Pombal –Leiria) 0,39x0,28x0,12 N.P. Adobe de terra e cal
Vale da Cabra Louriçal 2 0,40x0,20x0,14 48 Adobe de terra
(Pombal - Leiria) possivelmente com
cimento
Manique do Intendente (Azambuja-Lisboa) 0,34x0,14xo,14 S.I Adobe de terra
Maranhão (Avis–Portalegre) 0,29x0,16x0,15 29 Adobe de terra
Martingança (Leiria) 0,40x0,29x0,12 28 Adobe de terra
Montalvo (Ponte de Sor –Portalegre) 0,40x0,10x0,10 S.I Adobe de terra
Murtosa (Aveiro) 0,50x0,30x0,15 22 Adobe de gramão
Painça (Soure – Coimbra) 0,32x0,42x0,12 S.I Adobe de terra e cal
Pinhal Novo (Setúbal) 0,50x0,35x0,10 S.I Adobe de terra
Sanguinheira (Cantanhede – Coimbra) 0,42-0,24x0,12 S.I Adobe de cal
Sarilhos Grandes (Setúbal) 0.40x0,25x0.11 30 Adobe de terra
Vales- Paião (Figueira da Foz-Coimbra) 0,40x0,30x0,14 S.I Adobe de terra e cal
Vilamar (Cantanhede-Coimbra) 0,45x0,29x0,10 S.I Adobe de cal
S.I. sem informação, medidos na alvenaria
N.P. não pesado
Nota: Foram diferenciados os adobes de cal, produzidos com terra arenosa e cal viva, dos adobes de
terra e que tinham cal adicionada em menor quantidade. Essa identificação foi feita a partir de observação
visual com identificação de grãos brancos de cal na massa.

608
O Sr. Manuel Ribeiro refere que os adobes de cal pesavam em média cerca de 20 a 25 kg. No entanto os adobes
que foram pesados, ultrapassavam esse valor: variavam entre 25 a 30 kg e alguns mais (anexo G). O Sr. Manuel
Madaleno, referiu o peso de 20 a 25 kg para os adobes de cal. Fonte: Museu da Cidade de Aveiro.
609
O material deste adobe foi sujeito a difração DRX, e acusou cabornato de cálcio em proporsão elevada (anexo J).

236
Na pesquisa, verificaram-se algumas discrepâncias entre as informações
orais, escritas e as amostras recolhidas. Designadamente em relação ao peso,
que era superior nos adobes recolhidos; na variedade dos materiais em
povoações próximas, com similitudes na manufatura, sobretudo, na diversidade
de formas e dimensões, variando de achatados e compridos a pequenos e de
seção quadrada (tabela 13). Sobre a forma dos adobes conferiu-se que, nas
regiões de risco sísmico610, os adobes diminuíam de tamanho e passavam a
seção quadrada. São exemplos dessas formas reduzidas, com seção
quadrada, os adobes de Manique, Maranhão e Fajarda. No entanto, nenhum
adobe da zona foreira na margem sul do rio Tejo, zona também considerada de
risco sísmico, onde os adobes são achatados e compridos, como os
assinalados em Pinhal Novo e Sarilhos Grandes (tabela 13).

Utilizando o mesmo método de ensaio laboratorial do Decivil UA,


fizeram-se ensaios apenas à compressão de provetes cilíndricos e prismáticos,
retirados de adobes (anexo L). Nos ensaios realizados, privilegiaram-se as
amostras provenientes de adobes em terra e apenas se utilizou um adobe de
cal para comparação (tabela 14).

Tabela 14 – Valores de ensaios á compressão em provetes retirados de adobes.


PROVETES DE ADOBES VALORES À COMPRESSÃO
MPa
Almodôvar 0,06
Angueira 0,03
Cabeção 0,05
Carvalhos de Figueiredo 0,18
Fajarda 0,10
Maranhão 0,04
MSM adobo de cal 0,31

610
SOUSA, Maria Luísa – Regiões de maior risco sísmico de Portugal continental. Pedra & Cal, revista de conservação
e reabilitaçãonº 53, 2º semester. Julho-Dezembro, pp. 30-31.

237
Os ensaios realizados não revelaram valores semelhantes aos que os
investigadores do Decivil da UA611 tinham obtido. Como se observa na tabela
14, são bastante inferiores e aquém dos obtidos com os provetes de terra-cal
(tabela 12). Analisados os procedimentos e os problemas que existiram na
remoção dos provetes, aferiu-se que, possivelmente, os mesmos não estavam
totalmente secos quando foram ensaiados, motivo que esteve possivelmente
na origem dos diminutos valores obtidos612.

Na generalidade, as dimensões dos adobes da Beira Litoral são


superiores aos das restantes regiões, sobretudo, do Algarve613. Na região do
Algarve, o adobe era manufaturado ou produzido em telheiro, de forma
sistemática e para venda a terceiros.

Figuras 141 e 142 – A preparação de provetes cilíndricos e ensaios à compressão de provetes


prismáticos de Martingança. Laboratório Decivil UA. Créditos Maria Fernandes 2009.

No concelho de Alcoutim, mestres como o Senhores: Arnaldo Manuel,


José Palma e Manuel Custódio produziam adobes de modo artesanal para a
construção de paredes interiores, onde eram mais aplicados614. Os exemplos

611
VARUM, Humberto [et al] – Study of the structural behavior of traditional adobe constructions. Terra 2008, 10th
International Conference on the Study and Conservation of Earthen Architecture, pp. 308.
612
Os ensaios decorreram no inverno e os provetes não foram secos em ambiente de temperatura e humidade
constantes, por falta de espaço na ocasião. E foram deixados no interior das instalações do laboratório.
613
SEQUEIRA, Isa Maria Landeiro – Op. Cit., p.134. os valores médios de comprimento variam entre 0,35m a 0,23m e
de largura entre 0,18m a 0,12m.
614
RIBEIRO, Vítor [et al.] – Materiais, sistemas e técnicas de construção tradicional. Contributo para o estudo da
arquitectura vernácula da região oriental da Serra do Caldeirão, p.75.

238
de edifícios, em todo o Algarve, em que as paredes exteriores são também
construídas em adobe, constituem situações excecionais.

Figuras 143, 144 e 145 – Exemplos de adobes. Meio adobe JMO, Angueira e Martingança (parcial).
Laboratório Decivil UA, 2009.

Figuras 146 e 147 – Alguns exemplos de moldes recolhidos em Glória e Almodôvar. Créditos Maria
Fernandes 2012 e 2008

No Barlavento Algarvio, a existência de “telheiros”, pequenas unidades de


produção de adobe, remonta ao século XVIII. Os telheiros estiveram ativos até
meados de 2001, encerrando os últimos nessa altura, por vários motivos, como
sucedeu com os telheiros do Barão de São Miguel em Alzejur e do Barão de
São João em Lagos615. A produção nestes telheiros decorriam de junho a
setembro, e nelas apenas trabalhavam o proprietário e mais dois operários.
Tratava-se de firmas familiares que encerraram devido à falta de procura do
material e à falta de interesse das gerações mais novas em continuar com o
ofício. Por ser sistematizada, a manufatura de adobes atingia em média as

615
SEQUEIRA, Isa – Adobe artesanal no Barlavento Algarvio. Arquitetura de Terra em Portugal, p.264.

239
1 500 unidades por dia. Em todo o Algarve era frequente as terras para os
adobes serem estabilizadas com palha e a terra corrigida granulométicamente,
com adição de areias616. No Barlavento, acabou mesmo por surgir em 1995,
uma unidade de produção mecanizada de adobe. Os proprietários de origem
alemã617 conhecedores das experiências de Gernot Minke, aconselhados pela
firma “Claytec” acabaram por produzir adobes, muito semelhantes aos
existentes nos telheiros da região. Esta unidade de produção mecanizada, a
“Construdobe”, caraterizava-se pela introdução, no telheiro, de algumas
máquinas no sistema artesanal de fabrico de adobe618. Para rentabilizar a mão-
de-obra e produção, a “Construdobe” introduziu a misturadora de terras, os
moldes múltiplos facilmente transportáveis e as escavadoras, para facilitar o
manuseamento de terras a partir da barreira. A firma produziu, essencialmente,
adobes de duas dimensões: 0,24 x 0,12 x 0,11m e 0,24 x 0,12 x 0,7m. Apesar
de ter tido sucesso no início, com os adobes estabilizados com palha que
foram muito utilizados na construção de empreendimentos de turismo, na
Costa Vicentina e no Algarve619.

4.2.1 – Os adobes históricos e os contemporâneos


A presença do adobe em Portugal remonta ao período Calcolítico (cerca
de 4000 a 2000 a.C.). Exemplos de construções desse período são os
vestígios encontrados nas paredes de habitações dos sítios arqueológicos no
Monte da Tumba (Torrão, Alcácer do Sal, Setúbal), no Alto do Outeiro
(Baleizão, Beja)620 e nas ruínas de casas com planta circular ou ovalada do
povoado de Zambujal em Torres Vedras621. No Monte da Tumba (…) o adobe
foi utilizado em fiadas superiores da segunda linha de muralha (…) na

616
Idem, 264-265.
617
A firma designava-se de Construdobe, sociedade de construção ecológica lda. Encontrava-se sediada em Lagos e
acabou por encerrar em 2006. Proprietários: Juergen Sandeck e Constantin Van Humbolt.
618
Toda a informação sobre esta firma: Construdobe [em linha] 2002 [Consult. 2006-08-26]. Disponível em WWW:
<URL: http://www.construdobe.com/pt/index.htm>
619
SANDECK, Juergen; HUMBOLDT Constantin Van – Adobe mecânico. Arquitectura de terra em Portugal,p.50-52.
620
BRUNO, Patricia – Arquitectura de terra na Pré-História. Vestígios de estruturas habitacionais, do VI ao II Milénio
a.C., no sul de Portugal. Terra em seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil 2006), p.151.
621
GOMES, Mário Varela – Arqueologia da arquitectura de terra em Portugal. Arquitectura de Terra em Portugal, p.
128.

240
construção de uma casa (…) sobre o embasamento as paredes seriam
constituídas por alvenaria de adobe, tendo em conta os derrubes de adobes
queimados por incêndio encontrados sobre o piso interior (…)622, enquanto no
sítio do Alto do Outeiro (…) os fragmentos de adobes encontrado localizavam-
se sobre e lateralmente, a um embasamento pétreo adajacente a um dos
fossos do povoado, sendo provável que estes tivessem pertencido a uma
estrutura (…) muro ou muralha de alvenaria de adobes construída junto do
fosso (…)623. Paredes em adobe e de maior complexidade foram identificados
no sítio arqueológico de Abul, também na península de Setúbal. Trata-se de
um palácio-feitoria de fundação Fenícia, situado na margem direita do rio Sado,
que remonta aos séculos VII e VI a.C.624. Apesar da destruição das paredes,
devido às condições hostis do sítio e superficialidade dos vestígios, o edifício,
ou o que resta dele, constitui um dos melhores exemplos de arquitetura colonial
mediterrânica, construída em adobe, existentes em Portugal. Em Abul, os
problemas de conservação e degradação dos vestígios obrigaram à remoção
dos adobes ainda existentes. Do palácio-feitoria restam as fundações e o
embasamento construídos em alvenaria de pedra e rebocados em terra. Nas
escavações arqueológicas que se realizaram no interior do castelo de Alcácer
do Sal, apareceram igualmente vestígios de adobes. Trata-se de um exemplo
em contexto urbano, que remonta aos séculos VIII e VII a.C.. Nesta alcáçova
foram registados dois muros perpendiculares, com cerca de 0,60m de
espessura em alvenaria de pedra argamassada, (…) sobre os quais
assentavam adobes, encontrados fragmentados e caídos, sobre o solo do
compartimento625.

Os sítios da pré-história onde apareceram vestígios de construções em


adobe são escassos no território português. No entanto, as localizações
parecem cingir-se a estuários de rios e a povoações de ocupação humana

622
BRUNO, Patrícia – Op. Cit., p. 151.
623
Ibidem.
624
GOMES, Mário Varela – Arquitectura de terra na Proto-História do sul de Portugal. Terra: forma de construir. 10ª
Mesa-Redonda de Primavera, p. 61.
625
Idem,p.62.

241
prolongada. Apesar de tudo, os vestígios de adobes em situações urbanas
parecem ter-se mantido ou foram reutilizadas, mesmo após as destruições e
construções posteriores. Exemplo dessa situação é a Alcáçova de Santarém,
onde foram descobertas paredes construídas em adobe que remontam ao
século VIII a.C.626. Os vestígios referem-se apenas a paredes interiores, com
cerca de 0,40 a 0,60m de espessura, que definiam compartimentos, cujas
alturas e áreas não se conseguiu aferir. Outro exemplo, mas em situação de
estuário é o povoado de Santa Olaia, em Santana, no concelho de Figueira da
Foz. Segundo os (…) trabalhos arqueológicos realizados por Santos Rocha no
início do século XX, e os que tiveram lugar nos anos 90, revelaram uma intensa
ocupação da Idade do Ferro (…) as estruturas habitacionais apresentam
plantas rectangulares, algumas das quais divididas em compartimentos (…)
Trata-se de compartimentos cujo comprimento varia entre os 3,75 m e os 3,25
m e cuja largura nunca excede os 2,25 m. Os muros eram constituídos por
paredes de adobe (…)627. O sítio identificado como dos séculos VII e V a.C.,
continha muralha limítrofe e o uso de terra não se cingia aos adobes mas
também às argamassas de assentamento de alvenarias em pedra, aos rebocos
e aos pavimentos. Apesar dos problemas que afetam seriamente a
conservação deste importante sítio arqueológico, como as destruições
provocadas pelo ambiente hostil e pelas obras de construção rodoviária nas
proximidades, uma parcela relevante dos vestígios da Idade do Ferro em Santa
Olaia resistem, apesar das ocupações posteriores, quer as do período Romano
quer do período Medieval.

Nos períodos posteriores à Idade do Ferro verifica-se a continuidade da


construção de adobe em Portugal, concluindo-se ter sido este um material
muito utilizado. Exemplos dessa continuidade são os vestígios encontrados nas
escavações arqueológicas do período pré-Romano. Em Conímbriga foram

626
Escavações dirigidas pelas professoras Ana Margarida Arruda e Catarina Viegas. Santarém. Os Fenícios em
Portugal. Centro de Estudios Fenicios y Punicos [em linha] [s.d] [Consult. 2013-08-26]. Disponível em WWW: <URL:
http://santaremfenicio.blogspot.pt/>
627
Escavações da responsabilidade da arqueóloga Isabel Pereira. Santa Olaia. Os Fenícios em Portugal. Centro de
Estudios Fenicios y Punicos [em linha] [s.d] [Consult. 2013-08-26]. Disponível em WWW: <URL:
http://solallafenicia.blogspot.com.es/>

242
postas a descoberto estruturas construídas em adobe e noutras técnicas de
terra, no designado bairro índigena, que remonta sensivelmente a 136 a.C.. No
entanto esta técnica não havia de perdurar: o investigador Virgílio Hipólito
Correia referiu no entanto que (…) a romanização implicou uma radical
transformação dos métodos construtivos em Conimbriga, que abandonaram o
adobe sobre base de pedra solta para adoptarem decididamente e desde muito
628
cedo a pedra ligada por argamassa (…) . Apesar desta constatação,
inúmeros adobes foram identificados noutros sítios arqueológicos romanos do
século I, do que se conclui que este material, continuou a ser aplicado, tal
como se verificou em Idanha-a-Velha, a antiga “Capital da Civitas
Igaeditanorum”629. Nesta escavação, em contexto rural-urbano, os adobes
(encontrados também em situação de parede interior derrubada) mediam cerca
0,36x0,36x0,14m630. Outro exemplo é o caso dos fragmentos de adobe
encontrados nas escavações da Vila de São João em Arrentela, Seixal 631.

Figuras 148 e 149 – Vestígios de adobes encontrados na Vila de S. João, Arrentela, Seixal. Fotografias
gentilmente cedidas por Jorge Raposo, 2007.

Trata-se de vestígios sensivelmente do mesmo período mas em contexto


urbano-fluvial (figuras 148 e 149).

628
CORREIA, Virgílio Nuno Hipólito - A Arquitectura Doméstica de Conimbriga e as Estruturas Económicas e Sociais
da Cidade Romana. Tese de doutoramento em História (Arqueologia) apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. 2010 [em linha] [s.d] [Consult. 2013-08-26]. Disponível em WWW: <URL:
http://hdl.handle.net/10316/18134>, pp. 147.
629
CARVALHO, Pedro – Construções em terra da Época Augustana da Civitas Igaeditanorum (Idanha-a-Velha, Idanha-
a-Nova, Portugal. DigitAR - Revista Digital de Arqueologia, Arquitectura e Artes, n. 1 (2013): Actas do 6º ATP | 9º
SIACOT [em linha] 2013. [Consult. 2012-07-12]. Disponível em WWW:<URL:
http://iduc.uc.pt/index.php/digitar/article/view/1429/877>, pp. 138-146.
630
Idem, 143.
631
Raposo, Jorge – Presença Romana na Quinta de S. João, Arrentela, Seixal: breve síntese de novos dados. Al-
Madan, revista periódica de arqueologia, património e história local, IIª série, nº12, Dezembro 2003. Almada: Centro de
Arqueologia de Almada, 2003, ISSN 0871066X, pp. 184-185.

243
A partir do período medieval islâmico em termos arqueológicos, verificam-se
alterações para melhor, no conhecimento possível do uso deste material,
devido essencialmente ao estado de conservação em que as estruturas se
encontraram após as escavações. Foi assim possível uma melhor identificação,
através do conhecimento histórico, em relação ao uso do material nas
construções. Refira-se, a título de exemplo, o bairro islâmico da Alcáçova de
Mértola, cuja construção terá tido início no final do século XII632, sobre
estruturas pré-existentes Bizantino-Romanos. Segundo Santiago Macias (…)
os adobes tinham no período islâmico, uma clara marca de austeridade ou
mesmo de uma certa pobreza. Conta-se que Abü (…) Muhammad al-Aglab
subiu ao poder em 289-902, inaugurou uma administração justa benéfica e
liberal, não tendo querido morar no alcácer de seu pai. Comprou para sua
morada uma casa construída com adobe (…)633. Nas escavações
arqueológicas dirigidas pelo CAM, no bairro da Alcáçova de Mértola, que se
supõe terá sido um bairro ocupado até, sensivelmente, meados do século XIII,
apareceram dois tipos de paredes: estruturais e exteriores em alvenaria de
taipa e divisórias interiores em adobe (0,15x0,15x0,06m)634. Refira-se que, em
termos arqueológicos, a taipa e a alvenaria de pedra passaram a ser, a partir
do período medieval, os sistemas construtivos predominantes em paredes de
habitações; conforme se verificou noutras escavações arqueológicas de que
são exemplo os castelos algarvios de Silves635, Paderne e Salir636.

O adobe acaba por ser mais tarde, utilizado em edifícios que chegaram
aos nossos dias, sobretudo como enchimento de paredes em tabiques de
madeira. Exemplos de taipas de fasquio em terra e adobe foram encontradas

632
MACIAS, Santiago – Bairro islâmico. Discover Islamic Art. Museum With No Frontiers [em linha] 2013. [Consult.
2013-08-12]. Disponível em
WWW:<URL:http://www.discoverislamicart.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;9;pt>
633
MACIAS, Santiago – Mértola, o último porto do Mediterrâneo, vol. I, p. 382.
634
TORRES, Claúdio – O adobe e a taipa. Dar futuro ao passado, p. 271.
635
GOMES, Rosa Varela – Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus: a Alcáçova.Trabalhos de arqueologia nº 35.
636
CATARINO, Helena – Arquitetura de taipa no Algarve islâmico. As escavações nos castelos de Salir (Loulé) e de
Paderne (Albufeira). Arquitectura de Terra em Portugal, pp. 138-143

244
nas paredes interiores dum imóvel datado do século XVI-XVII (figura 51), o
antigo Hospital e Capela do Espírito Santo em Góis, no distrito de Coimbra637.
O adobe em paredes exteriores só surge mais tarde, nos vestígios encontrados
em edifícios da cidade de Aveiro, possivelmente de meados do século XIX.
Exemplos dessas ocorrências foram as estruturas encontradas nas escavações
do logradouro, no Museu de Santa Joana de Aveiro, durante as obras de
remodelação do edifício em 2006 (figuras 150 e 151). As paredes construídas
em adobe de cal, pertenceram possivelmente a anexos do extinto Mosteiro.

Figuras 150 e 151 – Escavações arqueológicas no Museu de Aveiro e vestígios de paredes em adobe de
cal. Créditos Maria Fernandes, 2006.

Os adobes produzidos atualmente em Portugal, para a construção


contemporânea ou para a reabilitação de edifícios existentes são moldados de
forma manual e mecânica. Em ambas as situações, existe pouca ou nenhuma
relação com os adobes existentes na arquitetura vernácula da região.
A título de exemplo, veja-se o caso da reabilitação de um edifício em Angueira,
no distrito de Bragança638. Os adobes com as dimensões de 0,24x0,24x0,10m,
produzidos para a construção de paredes interiores, são diferentes em forma e
dimensões dos utilizados na mesma região, de que podem ser referidos como
exemplo os existentes em Fonte da Aldeia, com as dimensões de
0,30x0,24x0,15m (figuras 152, 153, 154, 155, 156 e 157).

637
Antigo hospital de Góis. [em linha] [s.d] [Consult. 2013-08-12]. Disponível em http://www.cm-
gois.pt/content/index.php?action=detailfo&rec=344&t=Antigo-Hospital-de-Gois>
638
Projeto da arquiteta Vera Schmidberger.

245
Figuras 152 e 153 – A manufatura de adobes para reabilitação de habitação em Angueira (Bragança).
Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 154 e 155 – Fonte da Aldeia (Bragança). Casas em alvenaria de granito com paredes interiores
em adobe. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 156 e 157 – Angueira (Bragança). Reabilitação de habitação construída em alvenaria de granito
com paredes interiores em adobe. Créditos respetivamente Maria Fernandes, 2009 e Vera Schmidberger,
2010.

Outro exemplo destas diferenças são os materiais produzidos pela firma


“Construdobe” em Lagos. O adobe, apesar de igual em dimensões e

246
componentes aos produzidos nos telheiros tradicionais da região, que eram
exclusivamente utilizados na construção de paredes interiores, foram aplicados
em paredes exteriores com isolamento. Essa utilização ocorreu em edifícios do
empreendimento turístico Alma Verde em 2001, no concelho de Lagos 639. Este
exemplo, que cumpriu rigorosamente com o RCCTE640, revelou, no entanto,
graves problemas de incompatibilidade física entre os materiais aplicados, com
efeitos nefastos para o adobe. Trata-se de um exemplo em que os materiais,
produzidos para um uso específico, foram usados em situação e condições
completamente distintas, com consequências negativas para o comportamento
do adobe em obra. O adobe, como todos os materiais em terra, necessita que
as trocas de evaporação e absorção de água se processem livremente entre as
superfícies das paredes. Dessa troca sem obstáculos, resulta o seu equilíbrio
físico e bom comportamento em obra. Nesta situação, ao isolar-se
completamente o material pelo exterior, o adobe acabou por degradar-se,
devido às condensações que se geraram entre o isolamento térmico e a parede
de alvenaria de adobe. A inércia térmica dos materiais em terra é suficiente
para resolver as condições ambientais de conforto dentro de uma habitação641.
No entanto os valores de transmissão térmica linear Ψ são elevados no
RCCTE, o que implica coeficientes de transmissão térmica elevados. Por esse
motivo, quando se aplica esse cálculo para paredes construídas em adobe642
elas necessitam de isolamentos térmicos que na prática degradam e
prejudicam os materiais que constituem a alvenaria.

639
SEQUEIRA, Isa Maria Landeiro – O Adobe na arquitectura do Barlavento Algarvio, pp. 159-164.
640
Refira-se o RCCTE de 1990. O atual em vigor pelo DL nº 80/2006 de 4 de abril, está a ser revisto justamente pela
sua inadequação a paredes construídas com materiais tradicionais. Sobre este assunto e a propósito de a terra não ter
sido contemplada enquanto material com a massa volúmica condutibilidade aparente térmica de 1600-2020 kg/m3 e
0,7 a 1,4 W/mk conforme proposto pelo grupo de trabalho do RCTTE leia-se o artigo: SIMÕES, Fausto – A qualidade
térmica da terra e o desafio da regulamentação energética. Houses and cities built with earth, pp. 52-54.
641
Segundo Célia Neves, o atraso térmico para paredes de terra com 0,40m de espessura é da ordem das dez horas e
a diminuição cerca de 10% da amplitude da temperatura.No que se refere à densidade, quanto maior a massa
específica e a espessura, maior é a sua capacidade térmica. NEVES, Célia – O desempenho térmico da edificação de
terra. Arquitectura de terra em Portugal, p. 186.
642
Segundo o CRATerre, as características físicas para o adobe em termos de calor específico e coeficiente de
condução são respetivamente de 0,85 KJ/Kg e 0,46 a 0,81 W/mºC. HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., p.
154.

247
Os adobes históricos identificados nas escavações arqueológicas em
Portugal são maioritariamente de forma quadrada e achatados, apesar de a
sua utilização variar entre paredes exteriores estruturais e interiores divisórias.
Em relação aos pouquíssimos exemplos de adobes em arquitetura
contemporânea, o resultado é ainda insuficiente para se concluir sobre a sua
tendência e perspetiva futura.

4.3 – Da construção, das alvenarias e dos aparelhos


O adobe em Portugal apenas foi apenas utilizado na construção de
paredes. Na arquitetura vernácula, as alvenarias são na generalidade
argamassadas, e só nalguns casos se verificam juntas verticais secas ou com
escassilhos em pedra, em substituição de argamassa (figuras 158 e 159).
Apesar da variedade de dimensões dos adobes, os aparelhos são, no entanto,
simples e pouco diversificados, predominando “meia vez” nas situações de
adobes de maior largura e “uma vez”, nos casos de largura diminuta (tabela
15).

Figuras 158 e 159 – Alvenarias em Bunheiro (Murtosa) e S.Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz).
Créditos Maria Fernandes 2006 e Rafael Alfenim 2009.

Para comparar e analisar as relações existentes entre o material e a


construção, procedeu-se a diversos levantamentos que incluíram a medição da
fachada em altura643, a medida da espessura das paredes exteriores 644 e o
registo do tipo de aparelho (tabela 15).

643
Na fachada pública de acesso, entre a base do soco e sob o beirado.
644
Incluindo rebocos.

248
Tabela 15 – Relação entre a dimensão do adobe, altura da fachada, espessura da parede e aparelhos.
ADOBE DIMENSÃO ALTURA DA ESPESSURA ALVENARIA
Localidade Comp.xLarg.xEsp. FACHADA PAREDE APARELHO
(Concelho - Distrito) m m m
Adobo de Cal 0,43x0,24x0,12 a) a)
produtor JMO (Aveiro) 0,43x0,12x0,12 a)
(meio adobe)
Adobo de cal 0,42x0,22x0,10 a) a) a)
Produtor MSM
Almodôvar (Beja) O,28x0,15x0,12 a) a) a)
Angueira (Miranda do Douro- 0,24x0,10x0,10 a) a) a)
Bragança)
Cabeção (Mora - Évora) 0,42x0,24x0,10 2,68 0,45 Uma vez exterior
Meia vez interior
Caldas da Rainha (Santarém) 0,40x0,30x0,10 Não medido 0,50 Uma vez
Carvalhos de Figueiredo 0,24x0,20x0,14 3,55 0,55 Uma vez
(Tomar-Santarém) Parede interior
tabique
Carregueira (Chamusca- 0,34x0,22x0,12 2,60 0,42 Uma vez
Santarém)
Fajarda (Salvaterra de Magos – 0,23x0,16x0,14 3,00 0,40 Vez e meia
Santarém)
Fonte de Aldeia (Miranda do 0,30x0,24x0,15 b) 0,24 Meia vez
Douro - Bragança)
Louriçal 1 (Pombal –Leiria) 0,39x0,28x0,12 2,75 0,42 Uma vez
Vale da Cabra Louriçal 2 0,40x0,20x0,14 2,95 0,16 Meia vez
(Pombal - Leiria)
Manique do Intendente 0,34x0,14x0,14 3,60 0,55 Vez e meia
(Azambuja-Lisboa)
Maranhão (Avis–Portalegre) 0,29x0,16x0,15 3,03 0,32 Uma vez
Martingança (Leiria) 0,40x0,29x0,12 2,10 0,42 Uma vez
Montalvo (Ponte de Sor – 0,40x0,10x0,10 -- --- Meia vez
Portalegre)
Murtosa (Aveiro) 0,50x0,30x0,15 a) a) a)
Painça (Soure – Coimbra) 0,42x0,32x0,12 3,20 0,37 Uma vez
Pinhal Novo (Setubal) 0,50x0,35x0,10 2,20 0,40 Meia vez
Parede interior
tabique
Sanguinheira (Cantanhede – 0,42x0,24x0,12 3,40 0,35 Meia Vez
Coimbra)
Sarilhos Grandes (Setúbal) 0.40x0,25x0.11 2,35 0,30 Uma vez
Parede interior
tabique
Vales- Paião (Figueira da Foz- 0,40x0,30x0,14 2,65 0,45 Uma vez
Coimbra)
Vilamar (Cantanhede-Coimbra) 0,45x0,29x0,10 4,00 0,50 Meia vez
a)Adobes descontextualizados b) Parede interior

249
A partir do levantamento e valores obtidos conclui-se que:
- paredes mais elevadas correspondem a maior espessura de alvenarias,
variando os aparelhos em função das dimensões e o tipo de adobe, ou seja,
para adobes em terra de menores dimensões, aparelhos a uma vez (Carvalhos
de Figueiredo e Maranhão), para adobes estabilizados com cal e de maiores
dimensões, correspondem aparelhos a meia vez (Sanguinheira e Vilamar);
- a relação média entre a altura e a espessura da parede exterior é
sensivelmente de 14,48%, isto é, a espessura atinge em média cerca de 14,5%
da altura da parede.

645
Figuras 160 e 161 – Soluções de aparelho a uma vez e vez e meia segundo o CRATerre .

646
Figuras 162 – Soluções de aparelho a uma vez para adobe de forma quadrada, segundo o CRATerre .

645
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., 257.
646
DOAT, Patrice [et al] – Op. Cit., p. 125.

250
Tabela 16 – Relação entre a altura da fachada e a dimensão de adobe.
Créditos Maria Fernandes 2007 a 2012
LOCALIDADE FACHADAS PAREDES
(Concelho - Distrito) Alvenaria Adobe
Altura da fachada m
Dimensão do adobe m

Cabeção
(Mora - Évora)
2,68
0,42x0,24x0,10

Carvalhos de Figueiredo
(Tomar-Santarém)
3,55
0,24x0,20x0,14

Carregueira
(Chamusca-Santarém)
0,34x0,22x0,12

Fajarda
(Salvaterra de Magos – Santarém)
3,00
0,23x0,16x0,14

Louriçal 1
(Pombal –Leiria)
2,75
0,39x0,28x0,12

251
Tabela 16 (continuação) – Relação entre a altura da fachada e a dimensão de adobe.
Créditos Maria Fernandes 2007 a 2012

LOCALIDADE
(Concelho - Distrito) FACHADAS PAREDES
Altura da fachada m Alvenaria Adobe
Dimensão do adobe m

Vale da Cabra Louriçal 2


(Pombal - Leiria)
2,95
0,40x0,20x0,14

Manique do Intendente
(Azambuja-Lisboa)
3,60
0,34x0,14x0,14

Maranhão
(Avis–Portalegre)
3,03
0,29x0,16x0,15

Martingança
(Leiria)
2,10
0,40x0,29x0,12

Painça
(Soure – Coimbra)
3,20
0,42x0,32x0,12

Pinhal Novo
(Setubal)
2,20
0,50x0,35x0,11

252
Tabela 16 (continuação) – Relação entre a altura da fachada e a dimensão de adobe.
Créditos Maria Fernandes 2007 a 2012
LOCALIDADE
(Concelho - Distrito) FACHADAS PAREDES
Altura da fachada m Alvenaria Adobe
Dimensão do adobe m

Sanguinheira
(Cantanhede – Coimbra)
3,40
0.42x0.24x0,12

Sarilhos Grandes
(Setúbal)
2,35
0,40x0,25x0,11

Vales- Paião
(Figueira da Foz-Coimbra)
2,65
0,40x0,30x0,11

Vilamar
(Cantanhede-Coimbra)
4,00m
0,45x0,29x0,10

As paredes das habitações em adobe são rebocadas no exterior,


variando o tratamento no interior de simples reboco a estuque decorado. As
superfícies arquitetónicas na construção em adobe, não diferem muito das
restantes, embora a fraca resistência do adobe, face à abrasão e humidade 647,
tenha obrigado a que as construções fossem sempre protegidas. Nas
construções em adobe as funções das superfícies arquitetónicas são,

647
Segundo o CRATerre o adobe exposto às intempéries sem proteção apresenta uma fraca resistência. No entanto se
for estabilizado com ligante poderá atingir resistência média-boa. No que diz respeito à suscetibilidade ao gelo esta
varia entre o muito sensível a pouco, se estiver igualmente estabilizado com ligante. O adobe apresenta ainda uma
média resistência ao fogo. HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, HUBERT – Op. Cit., pp. 148-155.

253
essencialmente, de proteção dos suportes e estéticas, com recurso a
decoração que variava de região para região.

À semelhança do que ocorreu para o adobe, procedeu-se à recolha,


registo e análise dos diferentes tratamentos exteriores presentes na arquitetura
vernácula de adobe (anexos H e J). Entretanto, optou-se por escolher apenas
alguns exemplos, que fossem expressivos do tipo de rebocos encontrados,
como sucedeu com os da região da Beira Litoral (Vilamar), Ribatejo (Carvalhos
de Figueiredos), Estremadura (Martingança) e Cabeção (Alentejo).

Excluiu-se desta seleção as os tratamentos exteriores na arquitetura


planificada, que, no geral, variavam entre o reboco simples caiado, de que é
exemplo o Maranhão, e as decorações exuberantes em materiais cerâmicos e
pétreos, de que são exemplos as casas dos Bacalhoeiros, ou Brasileiros em
Ílhavo648. Interessava, sobretudo, avaliar se eram utilizadas nas camadas de
proteção, argamassas com terra e de que forma elas se comportavam, com os
suportes (tabela 17). Esta solução era mais corrente na arquitetura vernácula
que na planificada.

Os rebocos de Martingança e Cabeção diferenciavam-se claramente dos


de Carvalho de Figueiredos e Vilamar. Essas duas superfícies arquitetónicas
eram mais simples, apenas com duas camadas em argamassa de cal, sendo
posteriormente caiados (apresentando várias camadas de cal branca). Alguns
destes estratos de caiação continham pigmento e eram coloridos. As duas
camadas A e B, de emboço e reboco, aparentavam ter sensivelmente a mesma
espessura, cerca de 12 mm cada. No que se refere à granulometria das
camadas existe alguma diferença, mas pouco expressiva entre a camada A
(emboço) e a camada B (reboco), com grão superior na camada A (anexo H).
Ambas as superfícies tinham problemas de adesão aos suportes. No entanto, o
reboco de Martingança estava completamente solto do suporte, apesar dos
escassilhos em pedra nas juntas da alvenaria, o que deveria ter funcionado

648
Tratados um pouco mais à frente no texto, subcapítulo 4.4.

254
como ancoragem dos rebocos aplicados. No exemplo de Cabeção, as juntas
da alvenaria em argamassa de cal e areia funcionaram melhor para a
aderência dos rebocos (tabela 16).

Tabela 16 – Superfícies arquitetónicas exteriores. Amostras e camadas.


AMOSTRAS CAMADAS FOTOGRAFIAS

2
Cabeção Camada A – Emboço
(Mora- Évora) Camada B - Reboco
Camada C – Caiações
(várias camadas)

3
Carvalho de Figueiredos Camada A - Esboço
(Tomar-Santarém) Camada B - Reboco
Camada C -Barramento

3
Martingança Camada A - Esboço
(Alcobaça – Leiria) Camada B - Reboco
Camada – Caiações
(várias camadas)

2
Vilamar Camada A - Reboco
(Cantanhede-Coimbra) monocamada
Camada B -
“Stuco” ou Barramento

As superfícies arquitetónicas de Carvalhos Figueiredos e Vilamar


apresentavam maior complexidade, quer nos rebocos, quer na decoração.

255
Trata-se de rebocos que continham terra adicionada, rebocos em terra-cal
(anexo J)649. As primeiras camadas A (emboço) e B (reboco) em Carvalho de
Figueiredos apresentavam uma espessura, respetivamente, de 20 e 10mm
sensivelmente. Em Vilamar, a monocamada continha cerca de 40 a 45 mm.
Sobre esta monocamada eram posteriormente executadas decorações em
barramentos coloridos e “stucos” brancos, ambos fabricados em argamassas
de cal em pasta e areia com granulometria muito fina. A cal branca que,
segundo os mestres locais referiram ser muito mais cara que a cal churra650,
destinava-se sobretudo aos trabalhos “finos” de reboco e estuque, como os
decorativos que se observam em quase todas as habitações, que se situam
entre os rios Vouga e Mondego (figuras 168, 169 e 170). A cal churra, muito
mais barata, seria utilizada para estabilizar a terra, ou destinada à manufatura
de adobe, e às argamassas de assentamento, de alvenarias e emboço de
paredes. Em termos de granulometria observa-se uma diferença mais
acentuada nas camadas A e B de Carvalhos de Figueiredos, quando
comparada com as anteriores de Martingança e Cabeção.

Figuras 163 e 164 - Resultados da observação em MEV, microscópio eletrónico de varrimento: Camada A
de Carvalho de Figueiredos e Camada A de Vilamar. Laboratório Hércules, Universidade de Évora.
Créditos Maria Fernandes, 2010.

Nas amostras de Carvalhos de Figueiredos, a presença de calcite, magnesite e


sílica é constante, enquanto nas amostras de Vilamar predomina a calcite e a
sílica (anexo J). Observam-se semelhanças entre os rebocos de Carvalho de

649
Sobre este assunto veja-se o artigo: FERNANDES, Maria – Earth mortars and earth-lime renders. Conservar
património, nº 8, Dezembro 2008, pp. 21-28.
650
Museu da cidade de Aveiro. Entrevistas de 2007.

256
Figueiredos, as amostras de terra de Travassô e cal dolomítica. Por exemplo, a
magnesite e calcite aparecem separadas e não se forma, como seria de
esperar, o óxido de magnésio. Para o exemplo de Vilamar, as semelhanças
com os resultados das amostras de terra de Piedade, com cal cálcica,
aproximam-se mais. Por exemplo, a existência de carbonado de cálcio e o
óxido de cálcio no produto final. Existem também diferenças em termos de
porosidade, observando-se maiores vazios nas de Carvalho de Figueiredos,
quando comparada com a monocamada de Vilamar, de grão mais fino e
compacta (figuras 163 e 164).

Figuras 165, 166 e 167 – A execução de rebocos sobre suportes em alvenaria de adobe. A primeira em
reboco de terra da pateira sobre adobes de gramão, a segundo e terceira em reboco de terra arenosa-cal
sobre adobos de cal-terra. Requeixo e Oliveirinha. Créditos respetivamente Joana Maia, 2008 e Maria
Fernandes 2007.

Os rebocos de Carvalho de Figueiredos terão sido executados com cal


dolomítica e terra, conforme os resultados do MEV e Difração; enquanto os de
Vilamar foram, possivelmente, executados com terra arenosa e cal cálcica,
segundo os procedimentos já descritos anteriormente (anexo H).

A decoração arquitetónica é muitas vezes, nos sistemas de identificação


das diferentes culturas, o veículo de transmissão de valores, o guia de
comunicação e herança, de símbolos e códigos651.

651
FERNANDES. Maria – Superfícies policromadas em terra. Conservar património, nº 9, junho 2009, p.41.

257
Figuras 168, 169 e 170 – Rebocos decorados em Motinhos, Vilamar e Gafanha da Nazaré (ílhavo).
Créditos Maria Fernandes 2004 e 2009.

Figuras 170, 171 e 172 – Rebocos simples e caiados em Caneira (Coruche), Glória (em taipa e adobe) e
Portimão (em adobe e tijolo maciço). Créditos Maria Fernandes 2008, 2012 e Isa Sequeira 2012.

As superfícies arquitetónicas na construção de adobe em Portugal, incluem-se


dentro dos três grandes grupos, referentes às pinturas, rebocos e
guarnecimentos, definidos por José Aguiar (…) (i) utilização arquitetónica muito
erudita da pintura, recorrendo a técnicas de “trompe l’oeil” e dos fingimentos
(…) (ii) uma pratica de pintura que reflete uma arte popular; de códigos mais
simples e imediatistas (…) projetos de cor, muitas vezes resultantes de projetos
“de reabilitação urbana”(…)652. Nos casos ainda não intervencionados da Beira
Litoral, sobretudo na Gândara, nas Gafanhas, na zona Gandaresa, Bairrada,
nas cidades de Aveiro e Ílhavo encontram-se vários exemplos que se poderiam
enquadrar no primeiro grupo. Alguns deles têm clara influência dos manuais de

652
AGUIAR, José – Cor e cidade histórica, p. 279.

258
François Cointeraux653. Trata-se, em geral de rebocos decorados, exclusivos
na fachada pública ou de acesso, sempre com a mesma solução de
enquadramento clássico: embasamento, coroamento e marcação dos limites
laterais da fachada em “stuco” ou alto-relevo em massa. Os motivos variam
entre os temas clássicos, com colunas nos limites, cornijas e rendilhados no
coroamento e fingidos, com simulações de revestimento pétreo nas guarnições
dos vãos e socos. Algumas destas soluções apresentam motivos geométricos,
sobretudo, de influência “Arte Nova” e “Déco”, com platibandas e socos
pronunciados, muitas vezes com azulejos de motivos florais em
preenchimentos. As restantes fachadas são na generalidade deixadas com a
alvenaria de adobe à vista, em tosco ou com rebocos lisos e caiados (figuras
168, 169 e 170). As superfícies arquitetónicas do segundo grupo encontram-se
na arquitetura vernácula de adobe, em todo o país. Entre os motivos aplicados,
sobressaem os de contraste de cor, por vezes com guarnições de vãos e socos
em “stuco” ou alto-relevo em massa de cal (figuras 170, 171 e 172). Por fim,
infelizmente, com tendência a aumentar, o terceiro grupo também se verifica,
não por projetos de reabilitação urbana, mas por intervenções individuais de
reparação, que na maioria das vezes subverte a estética decorativa (figuras
173, 174 e 175).

Figuras 173, 174 e 175 – Intervenções em rebocos de casas de adobe. Gafanha da Nazaré, Aveiro e
Gafanha do Carmo (Vagos). Créditos Maria Fernandes 2009.

653
COINTERAUX, François - L’art de preinte a fresque sur le pisé avec la découverte de l’auteur pour rendre durable
cette peinture, ensemble les enduits, les tapisseries et l’épreuve du canon dans le pisé, pp. 48 a 67. Centro de
documentation CRATerre. Nesta obra notável o autor descreve em forma de diálogo entre o suporte e o revestimento
as formas e os temas possíveis para decorar um edifício de construção em terra.

259
4.4 – As arquiteturas e o povoamento
A construção vernácula de adobe é do ponto de vista arquitetónico,
extremamente rica, com tipos diversificados, com soluções interessantes em
termos de espaços, sendo extremamente funcional (figuras 176 e 177);
enquanto a arquitetura planificada, desenhada ou por cópia de modelos
importados é exuberante na decoração e fraca na conceção dos espaços,
primando pela solução generalizada da casa-corredor (figuras 178 e 179).

654
Figuras 176 e 177 – Arquitetura vernácula. Planta de casa na Gafanha da Encarnação (Ílhavo) e
exemplo, parcialmente destruído e sem o telheiro na mesma Gafanha. Fonte: Inquérito à habitação rural,
Instituto de Agronomia 1947 e créditos: Maria Fernandes, 2010.

Figuras 178 e 179 – Arquitetura planificada. Projeto de casa/posto de polícia da Ria de Aveiro que inclui
655
materiais e orçamento . Exemplo desse modelo construído na Gafanha da Boavista em Ílhavo. Fonte:
Francisco Regalla, 1888 e créditos: Maria Fernandes, 2010.

654
AAVV (coord. Henrique de Barros) – Inquérito à habitação rural, vol. 2. A habitação rural nas províncias da Beira,
1947, p.72.
655
REGALLA, Francisco Augusto da Fonseca - A ria de Aveiro e as suas indústrias,1888, BAMOP.

260
4.4.1 Arquitetura vernácula
No que respeita à arquitetura vernácula, em termos muitos gerais, optou-se por
mapear os principais tipos arquitetónicos construídos em adobe, ou seja, os
que incluíam paredes exteriores e interiores em adobe (figura 180 e tabela 18).
Num outro mapa registaram-se os tipos arquitetónicos onde o adobe está
maioritariamente presente, em paredes interiores a par com outros sistemas de
construção de paredes (figura 181 e tabela 19). Estes últimos, como é
evidente, não constituem tipos arquitetónicos de construção em adobe.

A análise apresentada baseou-se em pesquisa documental e de campo,


com levantamentos, estudo da evolução e transformação dos tipos
656
arquitetónicos desde que foram identificadas nos inquéritos . Optou-se por
designar os tipos de acordo com as regiões ou povoações, onde foram
reconhecidos. O geógrafo Orlando Ribeiro em “a civilização do barro no sul de
Portugal” salienta a diversidade existente, dentro da unidade territorial
portuguesa e refere a existência de uma cultura construtiva em adobe, muito
associada à cultura da casa térrea do sul: (…) o adobe é o barro amassado
juntamente com a areia ou palha cortada, moldado em forma de tijolo e seco ao
sol. Usa-se na construção de muros e paredes sobreposto em fiadas com as
juntas desencontradas (…)657. A casa construída em adobe é térrea, com
alguma variedade de tipos arquitetónicos e um grande leque de variantes.

Do registo e análise dos principais tipos arquitetónicos de adobe,


destacam-se 4 grupos (figura 181 e tabela 18), a saber:
- casa-bloco;
- casa-pátio;
- casa evolutiva;
- casa elementar.

656
Conforme mencionado no capítulo 2, muitos foram identificados pelos agrónomos outros pelos etnógrafos e outros
ainda pelos arquitetos.
657
RIBEIRO, Orlando - Geografia e civilização, temas portugueses (2ª edição), pp. 32-34.

261
Figura 180 – Arquitetura vernácula. Tipos arquitetónicos em adobe.
Tabela 18 – Tipos arquitetónicos em adobe. Características.
Casa térrea, de proprietários ou agricultores. Isolada no meio rural em
povoamento disperso. Implantada em terreno plano, com níveis
freáticos elevados e rodeada de canais da ria onde predomina a
cultura do milho. Casa bloco, compacta.
Casa térrea de proprietários ou agricultores. Isolada ou em banda.
Implantada maioritariamente em aglomerado rural de desenvolvimento
linear, ao longo das estradas. Casa-pátio.

Casa térrea de trabalhadores rurais. Isolada ou em banda em situação


urbana ou rural. De altimetria baixa vive essencialmente do alpendre,
espaço semipúblico, extensão da sala. Casa bloco.
Casa térrea, bifuncional, habitação e comércio. Isolada em situação
rural ou aglomerado de povoamento disperso. Casa de pequenos
proprietários e comerciantes. Casa bloco, compacta.
Casa térrea, de trabalhadores rurais. Isolada em povoamento disperso
e excecionalmente em banda nos aglomerados. Implantada no meio
do foro em terreno plano. Casa elementar.
Casa térrea de pequenos proprietários e agricultores. Isolada em
situação rural ou em banda em aglomerados de desenvolvimento
linear ao longo de estradas. Casa evolutiva

Casa térrea, de trabalhadores rurais. Isolada ou em banda em


aglomerados concentrados. Casa evolutiva.

262
Figura 181 – Arquitetura vernácula. Tipos arquitetónicos mistos em adobe e outras técnicas.
Tabela 19 – Tipos arquitetónicos mistos, de adobe e outras técnicas. Características.
Casa térrea em alvenaria de pedra, multifuncional. Habitação de
agricultores, com estábulo e outras arrecadações agrícolas por vezes
com comunicação. Paredes de granito e interiores em adobe. Casa
em aglomerado urbano, concentrado. Casa bloco.
Casa térrea urbana isolada, em aglomerados de desenvolvimento
linear e em quarteirão de povoamento concentrado. Paredes
exteriores de taipa, alvenaria de pedra e por vezes de adobe. Casa
elementar a evolutiva.
Casa térrea, multificional. Habitação de agricultores, com estábulo.
Isolada e rural. Paredes interiores por vezes em adobe. Casa bloco.

Casa térrea. Implantada em zona de relevo. Casa de agricultores.


Planta praticamente quadrada apenas com uma pendente em
cobertura. Paredes interiores por vezes de adobe. Casa elementar.
Casa térrea, retangular, habitação de proprietários e agricultores.
Isolada e implantada em zona de encosta. Paredes em alvenaria de
pedra e taipa, interiores por vezes em adobe. Casa bloco, complexa.
Casa de dois pisos e terraço, açoteia. Habitação de pescadores e
agricultores. Rural isolada, e, urbana em correnteza. Planta
praticamente quadrada. Paredes em alvenaria de pedra, tijolo e
adobe. Casa bloco, compacta.

263
No grupo das casas bloco, compactas e complexas interiormente, sobressaem
a casa da Murtosa, a casa de alpendre integrado e a casa do Baixo Mondego
(tabela 18). Nos tipos arquitetónicos, em que o adobe surge associado a outros
materiais e técnicas construtivas, refira-se a casa térrea em alvenaria de pedra
com paredes interiores de adobe658, a casa do Baixo Algarve659, a casa do
Barrocal e a casa com açoteia660 (tabela 19). No âmbito da pesquisa
interessam apenas considerados os tipos arquitetónicos em adobe.

A casa da Murtosa surge, essencialmente, na região norte do rio


Vouga661. A escala da construção e a riqueza da arquitetura variam de acordo
com o estatuto social e económico do seu proprietário: entre a casa modesta
com alpendre, em estrutura de madeira e altimetria baixa, à casa com alpendre
de grandes dimensões, com colunas em pedra, compartimentos em área e
altura consideráveis. Os etnógrafos, durante os anos 50 do século XX,
identificaram três variantes deste tipo, que refletem essa complexidade662.
Espaço primordial nesta habitação é o alpendre, que desempenha diversas
funções agrícolas, como eira, por exemplo, para além de ser o acesso à
habitação. Diversos autores referem que a casa da Murtosa foi o modelo que
esteve na origem das casas Bandeiristas, em S. Paulo no Brasil663. Para além
do alpendre, o espaço central da casa é subdividido entre a vasta sala e a
despensa, sendo os restantes compartimentos quartos e uma cozinha com
forno na traseira. A fachada alpendrada e as restantes são rebocadas e
caiadas sem diferenciação.

658
Já referenciadas neste capítulo e existentes em Fonte de Aldeia no concelho de Miranda do Douro, distrito de
Bragança.
659
Identificada pelos arquitetos em AAVV – Arquitectura Popular em Portugal, 3º vol. (3ª edição), p.226-227
660
Sobre as casas do Barrocal e casa com açoteia veja-se MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria – Portugal Atlântico
versus Portugal Mediterrâneo. Tipologias arquitetónicas em terra. Terra em Seminário 2007 (V ATP, Terra Brasil
2006), p. 228.
661
MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria - Maison Murtosa [em linha] 2001 [Consult. 2011-08-11]. Disponível em
WWW: <URL:http://www.meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265>
662
Casa típica [em linha] 2013 [Consult. 2013-08-21]. Disponível em WWW: <URL: http://www.cm-
murtosa.pt/Templates/GenericDetails.aspx?id_object=2484&divName=661s706&id_class=706>
663
MAYUMI, Lia – Taipa. Canela-preta e concreto. Estudo sobre o restauro das casas Bandeiristas, pp. 32-35.

264
Figuras 182 e 183 – Casa da Murtosa. Desenho sem escala, cedido gentilmente por Victor Mestre e casa
em Bunheiro (Murtosa). Créditos Victor Mestre, 1999 e Maria Fernandes, 2006.

A casa construída em paredes de alvenaria de adobe, com fundações frágeis e


superficiais, contém pilares no mesmo material, salientes nas fachadas e
travados pela estrutura de coberturas em madeira, de quatro pendentes e
contra ventada (figuras 182 e 183). A base das paredes constitui a maior
fragilidade da casa que, apesar de bem construída, apresenta quase sempre
problemas de assentamento diferenciado de fundações, associados a
humidade por ascensão capilar. Poucos são os casos bem conservados664. No
entanto, e apesar das isenções de taxas estipuladas pela autarquia, com o
objetivo de incentivar a preservação destas casas, os exemplos são escassos
na região. No presente, os casos registados pelos etnógrafos no passado
acabaram demolidos e substituídos por construções descontextualizadas.
Porém, nos últimos anos têm aparecido construções recentes, que copiam
exteriormente este tipo. Essas construções, algo desconexas e fora de escala
distorcem negativamente a casa da Murtosa e pouco contribuem para a sua
conservação. O edifício da Junta de Freguesia da Murtosa é um exemplo
dessa tendência distorcida e atual.

A casa com alpendre integrado, apesar das semelhanças com a anterior,


é distinta. Na generalidade é uma casa modesta, de autoconstrução, pouco
cuidada e com adobes manufaturados de terra ou gramão. As variantes a este

664
Ibidem.

265
tipo, segundo os etnógrafos, surgiam em função da posição do alpendre,
variável nas fachadas, dado que a casa apenas continha sala, cozinha e
alcova/ quartos665. O alpendre neste caso é uma extensão da sala, onde se
juntava toda a família, como aliás ficou registado no “Inquérito à habitação
popular”666. Não se verifica diferenças na escala na construção em função do
estatuto social do seu morador. Em geral são todas de altimetria baixa e
dimensão reduzida, com graves problemas de conservação devido à fraca
construção (figuras 184, 185, 186 e 187).

Figuras 184 - Planta de casa com alpendre integrado na zona 4. Fonte: Arquivo IARP, Inquérito à
Arquitetura Regional Portuguesa, desenho 3.2.

Figuras 185 e 186 - Exemplos de casa com alpendre integrado em Granja, Monte Real e Martingança
(Leiria). Créditos Maria Fernandes, 2008.

665
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa, pp. 218-222.
666
AAVV – Arquitetura popular em Portugal, vol. 2 (3ª edição), pp. 216-217.

266
Este tipo de casa, muito característica da zona litoral-interior da Estremadura,
sobretudo no distrito de Leiria, é hoje um caso de abandono completo e total667.
Os poucos exemplos que ainda persistem em Urtigosa, Martingança, Vieira de
Leiria e Monte Real são escassos, estão devolutos e com tendência a
desaparecer. Não são estranhas a este abandono as deficiências intrínsecas
desta arquitetura, que continha diminutas condições de salubridade, ventilação
e segurança estrutural668.

Figuras 187 – Exemplo de corte transversal em casa com alpendre na Martingança. Fonte: Arquivo IARP,
Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, folha 33.

A casa do Baixo Mondego é um tipo bifuncional com habitação,


comércio ou outra atividade. Esta segunda atividade anexa ao volume da casa
é completamente autónomo e sem comunicação. Este tipo arquitetónico era
muito comum na margem sul do rio Mondego, no interior do distrito de Coimbra
em zona plana ou de relevo pouco acentuado. Trata-se de uma casa com
planta retangular, desenvolvimento horizontal, com cobertura de duas
pendentes e paralela ao arruamento. Praticamente, não existe diferenciação
nas duas fachadas de maior desenvolvimento, a de acesso e traseira, apenas

667
MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria – Portugal Atlântico versus Portugal mediterrâneo. Tipologias arquitetónicas
em terra. Terra em seminário 2007 (V ATP , Terra Brasil 2006), p. 226.
668
MESTRE, Victor; FERNANDES, Maria - Maison avec porche integrée [em linha] 2001 [Consult 2012-05-16].
Disponível em WWW: <URL:meda-corpus.net/frn/index.asp?op=40201265.pdf>.

267
uma subtil diferença de cor. As restantes fachadas são empenas. Este tipo
arquitetónico apenas foi identificado pelos etnógrafos669, e são poucos os
exemplares que persistem na região, onde quase todos foram destruídos
(figuras 188 e 189).

Figuras 188 e 189 – Casa do Baixo Mondego em S. Paio de Leirosa, Figueira da Foz, segundo desenho
dos etnógrafos. Exemplo em Painça no concelho de Soure. Fonte: GALHANO, Fernando; OLIVEIRA,
Ernesto Veiga - Arquitetura tradicional portuguesa, p. 223 e créditos Maria Fernandes 2008.

Um dos exemplos encontrados, e ainda, identificável foi a casa – fábrica de


bebidas (pirolitos) no sítio de Painça (figura 189). O proprietário deste edifício,
Sr. Tiago Nogueira, emigrou para o Brasil há cerca de 50 anos e não
regressou, conforme informação dos vizinhos, que resolveram entretanto
ocupar o edifício. A casa, apesar de tudo, permanece e inclusive contém, a
maquinaria do fabrico artesanal de bebidas.

Uma variante desta casa encontra-se um pouco mais a sul no concelho de


Ourém. Entre estas duas casas existem diferenças muito subtis e referem-se,
essencialmente, à comunicação que existe entre o comércio (casa de fora) e a
habitação, permanecendo autónoma a segunda atividade da habitação – a
adega (figuras 190 e 191).

669
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de – Op. Cit., p. 223-227.

268
Figuras 190 e 191 – Desenhos, de casa casa bifuncional, habitação e adega contígua, em Laranjeiras
concelho de Ourém; e molde para adobe usado naquele concelho. Desenhos gentilmente cedidos por
Ricardo Costa, 2008.

No grupo da casa-pátio de construção em adobe a casa Gandaresa é o


único caso, e situa-se na região, entre o rio Mondego e o rio Vouga (Figura 180
e tabela 18). Tipo arquitetónico extremamente interessante, foi identificado pela
primeira vez na sub-região da Gândara670. Esta casa contém diversas
variantes, a mais relevante das quais é a casa Gafanhoa671. À semelhança da
casa da Murtosa, a casa Gandaresa abrange, igualmente, um leque variado de
soluções em escala e dimensão, desde a mais modesta à mais elaborada e
decorada (figuras 192, 193, 194 e 195). Trata-se de uma casa complexa, com
acesso pela fachada confinante e paralela à rua, donde se acede ao pátio e à
sala intima, com funções múltiplas672. O pátio é o elemento central e
distribuidor de toda a habitação, já que nele se situa o alpendre por onde se
acede aos diferentes compartimentos. O pátio é o espaço mais importante da
casa onde toda a vida decorre, ao invés da sala, que só excecionalmente era
utilizada como espaço cerimonial.

670
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando – Op. Cit., pp. 193-194.
671
Que será objeto de análise no subcapítulo seguinte dedicado às Gafanhas.
672
Entre outras é também o compartimento onde ficava o altar, oratório, que durante os festejos religiosos da Páscoa
circulava de casa em casa.

269
Figuras 192 e 193 – Casa Gandaresa. Desenho sem escala, cedido gentilmente por Victor Mestre e casa
em Corticeiro de Cima (Cantanhede). Créditos Victor Mestre, 1999 e Maria Fernandes, 2008.

Figuras 194 e 195 – Casa Gandaresa em situação de aglomerado Seixo (Mira) e Febres (Cantanhede).
Créditos Maria Fernandes, 2004 e 2008.

Nas casas Gandaresas, é comum a existência de duas cozinhas, uma de


preparação das refeições, e outra de sala de jantar. São ínfimos os exemplos
que apenas dispõem de uma cozinha. Esta casa tem a particularidade de
comunicar diretamente para a propriedade rural associada através do pátio,
onde também se situa o poço e diversos anexos de apoio. A casa Gandaresa,
ao contrário das anteriores, persiste no território, apesar das destruições,
substituições e intervenções destruidores de que tem sido objeto. A área
abrangente deste tipo arquitetónico é vasta e com muitos exemplos ainda. A
generosidade das áreas associada à funcionalidade do espaço e a quase
perfeita construção, fizeram com que este tipo arquitetónico, ainda hoje,
permaneça habitado na região.

270
No grupo das casas elementares, destaca-se a casa foreira (Figura 180 e
tabela 18). A habitação de reduzida área é construída com paredes de adobe,
nem sempre na totalidade e encontra-se associada a povoamento disperso e
regulamentado, que esteve na origem das pequenas propriedades agrícolas673
(figuras 196 e 197). A margem sul do rio Tejo, em particular, península de
Setúbal, foi sujeita a processos de aforamento, primeiro por iniciativa privada e
posteriormente estatal. A partir de finais do século XIX, à estrutura latifundiária
que caracterizava a propriedade existente, sobrepõem-se os foros, subdivisões
que tinham como objetivo o arrendamento rural. O período em que mais
ocorreu esta subdivisão foi a partir de 1910, com a República, quando (…) se
promulgou legislação, em especial a partir do agravamento dos problemas de
abastecimento, surgidos com a guerra de 1914-18, que conduziu à partilha e
venda de largos milhares de baldios (…)674.

Figuras 196 e 197 – Desenho de casa foreira e exemplo em Rosário (Moita). Desenho e fotografia
gentilmente cedidas por Victor Mestre, 2001.

A maioria dos foros tinha uma área de 10 000 a 15 000m2, ou seja, de 1 a 1,5
ha, e a legislação posteriormente promulgada não permitia que a subdivisão

673
FERNANDES, Maria – Os colonos e a arquitetura de adobe em Portugal. Terra Brasil 2008 (VII SIACOT e II Terra
Brasil), p. 5-7.
674
BAPTISTA, Fernando Oliveira - A política agrária do Estado Novo, pp 25. Decretos nºs. 4812 de 1918; 7933 de
1921, 9843 de 1924 e10 552 de 1925. Os baldios eram terrenos comunitários cultivados e geridos pelas populações.
Após a guerra civil em 1834 a Coroa Portuguesa entrega a propriedade da quase totalidade dos baldios aos
Municípios. Este movimento volta a ser retomado pela República em 1910.

271
fosse superior a 3 ha. Os foros situados nas faixas limite das grandes
propriedades funcionavam como uma garantia de mão-de-obra mais barata
para a agricultura. A ínfima área do foro não permitia que o trabalhador
subsistisse autonomamente, motivo pelo qual tinha de trabalhar nas grandes
propriedades. A não exclusividade do seu trabalho era pretexto para um salário
menor e, num período em que a emigração começava a ganhar contornos
preocupantes em Portugal, a “colonização interna” fixava e garantia a mão-de-
obra sazonal nas propriedades agrícolas a sul do rio Tejo. Em Aceiro dos
Serrados, no Pinhal Novo (Palmela), existem dois foros com a dimensão de 50
000m2 no total, cujo colono era Justino Costa da Silva. As casas foreiras ali
existentes estão abandonadas, enquanto uma nova habitação,
descontextualizada, foi construída no meio dos terrenos. Esta é, aliás, uma
prática corrente naquela paisagem, onde a maioria das casas foreiras se
encontram abandonadas e novos edifícios de habitação surgem na paisagem.
A diminuta área habitável da casa foreira, com cerca de 20 a 30 m2, e a sua
frágil construção, muito contribuiu para que tal sucedesse. O interior destas
casas variava entre os dois compartimentos e os três, com paredes exteriores
de adobe e interiores em tabique, que não atingiam sequer a cobertura (figura
198, 199 e 200).

Figuras 198 e 199 - Levantamento arquitetónico de casa foreira constante no inquérito à habitação
regional , casa foreira em Sarilhos Grandes (Palmela). Fonte AAVV – Arquitetura Popular em Portugal,
vol.2 (3ª edição), p. 222 e Créditos Maria Fernandes, 2007.

272
Só nalguns casos as habitações são construídas totalmente em adobe. Por
esse motivo, a falta de manutenção, aliada à erosão física, acabou por destruir,
progressivamente, os exemplares que ainda subsistiam na região. A zona
foreira sofreu enormes transformações, com a abertura da circulação rodoviária
em larga escala, permitida pela construção da ponte 25 de Abril (então Salazar)
em 1966 e a paisagem que esteve na origem desta casa térrea alterou-se,
irreversivelmente, de rural para suburbana.

No grupo das casas evolutivas em adobe salientam-se duas: a casa do


Ribatejo e a casa do Vale de Sorraia (figura 180 e tabela 18). A casa do
Ribatejo é um tipo arquitetónico que, se verifica quer na margem sul, quer na
margem norte do rio do Tejo (figura 180). Trata-se de uma habitação evolutiva,
de compartimentos subsequentes, cuja ampliação decorre da adição de mais
um compartimento à série na longitudinal.

Figuras 200 e 201 – Casa do Ribatejo em Carregueira (Abrantes) e Caneira (Coruche). Créditos Maria
Fernandes, 2008.

Figura 202 – Planta de casa do Ribatejo em Mendiga (Porto de Mós). Fonte: Arquivo IARP, Inquérito à
Arquitetura Regional Portuguesa, desenho 7.

273
A casa térrea encontra-se em aglomerados de desenvolvimento linear, ao
longo das estradas, em que a fachada de acesso acompanha esse paralelismo
(figura 200). Porém, esta habitação tem a particularidade de se implantar em
meio rural, isolada sem qualquer relação com os acessos ou caminhos (figura
201). A casa do Ribatejo, também identificada pelos arquitetos no “Inquérito”
(figuras 202 e 203), é, ainda hoje, um tipo arquitetónico habitado na região. A
maleabilidade e a facilidade de adaptação dos espaços, assim como, a
possibilidade de ampliação têm permitido a sua sobrevivência.

Figuras 203 – Levantamento de casa do Ribatejo em Portela das Padeiras (Santarém). Fonte: AAVV –
Arquitetura Popular em Portugal, vol. 2,p.220.

A casa do Sorraia é outro exemplo evolutivo, que se verifica quer em


meio rural, quer em aglomerado. Trata-se de um tipo arquitetónico que evolui a
partir de um módulo constituído por dois compartimentos contíguos, que se
desenvolvem na profundidade do terreno (figura 204). A casa quer urbana,
quer rural é constituída, apenas por sala/cozinha e quarto. Pela fachada de
acesso público entra-se na sala, enquanto pela fachada do quintal se acede ao
quarto. Na situação urbana, frequentemente, estas habitações implantam-se
em banda (figuras 205 e 206).

274
Figura 204 – Levantamento arquitetónico de casa do Vale de Sorraia, em Cabeção (Mora).
Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 205 e 206 – Casa do Vale do Sorraia em Glória do Ribatejo, “Casa Tradicional de Glória do
Ribatejo”. Vistas do exterior e interior. Créditos Maria Fernandes, 2012.

São inúmeros os exemplos ainda existentes nesta região, e os mais frequentes


são as casas de 4 compartimentos. O vale do Sorraia, que engloba os
municípios de Avis, Ponte de Sor, Coruche, Mora, Benavente e Salvaterra de
Magos675, respeita à área hidrográfica resultante do plano de irrigação de
meados do século XX. Desse plano fizeram parte a construção das barragens
de Magos (1933), Maranhão (1957) e Montargil (1958), para além do canal de
rega. As alterações paisagísticas e agrícolas tiveram um impato enorme nesta
região, onde o povoamento remonta ao período Neolítico676. A sua arquitetura

675
O Sorraia é um “rio” que se forma a partir da junção das ribeiras do Sor e do Raia, na freguesia do Couço em
Coruche.
676
De que é exemplo o sítio de Casas Novas. GONÇALVES, Vítor S. – Um sítio do neolítico antigo no Vale do Sorraia:
Casas Novas (Coruche). Revista Portuguesa de Arqueologia, vol. 12, nº 2, 2009, pp. 5-30 [em linha] 2009 [Consult.
2013-08-21]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.igespar.pt/media/uploads/revistaportuguesadearqueologia/12_2/005_030.pdf>

275
carateriza-se pela diversidade de materiais usados na construção, onde se
encontram paredes em taipa, alvenaria de pedra, tijolo maciço e adobe. No
entanto, o vale do Sorraia é atualmente uma paisagem extremamente
humanizada, com culturas de regadio derivadas desse plano de irrigação então
posto em marcha, que em alguma medida alteraram o modo de vida das
populações, para além da agricultura. A disponibilidade de água permanente, a
partir da construção das barragens e açudes, assim como os surtos
migratórios, sobretudo da Beira Litoral, devidos às necessidades do trabalho
sazonal, acabaram por estar na origem do desenvolvimento da arquitetura de
adobe nesta região677.

Figuras 207 e 208 – Montalvo (Montargil) paredes em taipa e adobe e Glória do Ribatejo (Salvaterra de
Magos) parede em taipa e adobe. Créditos Maria Fernandes, 2008 e 2012.

Em todos os concelhos deste vale é frequente observar-se, na


arquitetura vernácula, o convívio entre as técnicas de construção em terra,
taipa e adobe (figuras 207 e 208), sucedendo a uma fase em que a taipa era a
técnica mais utilizada. Toda a região do vale do Sorraia é considerada de risco
sísmico elevado678 e na memória local os efeitos destruidores do sismo de
1909 estão ainda muito presentes como se constatou neste testemunho: (…)
n’essa ocasião reparei para o lado da povoação e vi perfeitamente a egreja a
desabar (…) a mesma sorte da egreja tiveram, como vê, quasi todas as casas

677
FONSECA, Inês – Arquitectura de Terra em Avis, p. 45. A autora menciona as referências histórico-documentais da
construção em taipa nesse concelho e as possíveis influências do desenvolvimento da construção em adobe no
concelho, a partir de meados do século XX, coexistindo as duas técnicas.
678
VIEIRA, Rui Santos - Do terramoto de 23 de Abril de 1909 à reconstrução da vila de Benavente – um processo de
reformulação e expansão urbana, pp. 38-39.

276
de terra, e este desabamento, por assim dizer geral, produziu tão intensa
nuvem de poeira que, por algum tempo, perdi as casas de vista (…) 679. Após o
sismo de 1909, que teve efeitos devastadores em toda a arquitetura do vale,
sobretudo nas casas de taipa e adobe, foram implementadas medidas
corretivas para a sua reconstrução, como sejam:(…) a utilização de tijolos
cozidos tornar-se-ia substanciamente mais corrente, bem como muitas seriam
as obras a fazer uso de “esticadores” – cabos ou barras de ferro, em tensão,
que atravessavam a casa em toda a sua extensão (…)680.

Figuras 209 e 210 – Benavente casas em taipa e adobe com platibanda e casa foreira com esticadores
em Sarilhos Grandes, Palmela. Créditos Maria Fernandes, 2013 e 2008.

Outras soluções construtivas foram também promovidas na reconstrução


de habitações, como o uso de armação de madeira em paredes, tipo taipa de
rodízio, nos bairros reedificados para realojamento das populações, e a
platibanda de remate nas fachadas, que obrigava ao coroamento superior das
paredes exteriores, com vigas de madeira ou em alvenaria de tijolo. Estas
soluções de esticadores e platibandas acabaram sendo implementadas mesmo
nas casas foreiras que tinham sobrevivido ou foram construídas pós-sismo
(figuras 209 e 210).
Em termos conclusivos pode-se afirmar que a diversidade e riqueza dos
tipos arquitetónicos construídos em adobe, mesmo nas situações em que o

679
Descrição do sucedido por popular em Benavente no Diário de Notícias de 26 de abril de 1909, apud. VIEIRA, Rui
Santos – Op. Cit,, p.17.
680
Idem, p. 281.

277
adobe não é exclusivo (figura 182 e tabela 19), representa um enorme
potencial para a conservação arquitetónica, salientando-se que, a maioria das
casas são perfeitamente funcionais e adaptáveis às exigências atuais681, com
exceção apenas dos exemplos da casa foreira e da casa com alpendre
integrado, que apresentam problemas estruturais e de salubridade, resultantes
da conceção arquitetónica. Todos os restantes tipos são passiveis de ser
reabilitados e de assim, permanecerem habitados de futuro. No entanto, a
inexistência de uma estratégia para a reabilitação de arquitetura vernácula têm
contribuído, para o seu desinteresse que se verifica nessa consciencialização,
assim como, têm dificultado as intervenções muito esporádicas de conservação
(figura 211), e, de certa forma, ao invés do que deveria ser feito, promovido a
destruição e substituição destas habitações (figura 210).

Figuras 210 e 211 – Casa destruída em Serredale (Cantanhede) e exemplo de manutenção de casa
habitada em Seixo (Mira). Créditos Maria Fernandes, 2008 e 2004.

4.4.2 Arquitetura planificada.


Partindo do conceito que arquitetura vernácula é toda aquela que foi
construída pelos utentes ou por membros das suas comunidades, sem
interferência de profissionais externos682, a arquitetura planificada é por
oposição aquela que é pensada, projetada e construída por sujeitos ou
organizações externas às comunidades, que concebem como determinados

681
Inês Fonseca na pesquisa que realizou para o concelho de Avis, propôs diversas soluções tipo, de reabilitação em
termos de espaço para a arquitetura vernácula, após análise das necessidades mais prementes e que resultavam
frequentemente em ações desastrosas de intervenção nos edifícios de construção em terra. FONSECA, Inês –
Arquitectura de terra em Avis, pp.123-137.
682
Conceito definido por OLIVER, Paul - Dwellings, the vernacular house worldwide, p. 15.

278
grupos deverão habitar determinadas construções. Entre a arquitetura
planificada há ainda que distinguir a arquitetura de autor (concebida e
desenhada por arquiteto, cuja autoria da obra é muito identificável), e a
arquitetura incógnita, em geral promovida por organizações estatais, privadas
(cuja autoria é remetida para segundo plano), por vezes, ignorando-se quem foi
o autor ou autores da obra. A arquitetura planificada de adobe em Portugal
carateriza-se justamente por essa não autoria, muito marcada por iniciativas
privadas e ministeriais, baseada em modelos arquitetónicos provenientes de
outras experiências, não necessariamente de adobe, materializada sobretudo
em bairros de caráter social, ou em modelos individuais com conotação social,
de que são exemplo as casas dos Brasileiros, dos Bacalhoeiros ou das Villas.
Esses exemplos proliferam sobretudo na região da Beira Litoral, onde até
meados dos anos sessenta do século XX, o único material de construção era o
adobe. Os concelhos de Aveiro, Murtosa e Ílhavo, embora diferentes no que se
refere à sua história e desenvolvimento, foram no entanto, extraordinariamente,
afetados pela proibição da apanha do moliço na ria de Aveiro. Esse e outros
fatores contribuíram para a emigração destas populações em direção ao Brasil,
sobretudo entre 1851-1930, período em que mais se verificou o regresso de
emigrantes brasileiros e a construção das respetivas casas na região da Beira
(figura 212). No final do século XIX, muitos brasileiros regressaram a Portugal e
o retorno refletiu-se na arquitetura, no urbanismo e na industrialização do país,
provocando a aceleração da atividade comercial.

Figuras 212 e 213 – Vila Cecílio (casa de Bacalhoeiro) em ruína e casa de Brasileiro, ambas construídas
em adobe (Ílhavo). Créditos Maria Fernandes, 2006.

279
Um pouco mais a sul nas sub-regiões da Gândara, Bairrada e Baixo Mondego
a emigração para o Brasil também se fez sentir pelo “desajustamento entre o
crescimento económico e o surto de crescimento demográfico, processado a
partir do século XVIII, provocou uma ruptura entre o território e a população.
Deste facto resultará uma importante mobilidade populacional que levou alguns
milhares de gandareses a abandonar o seu local de origem”. 683

Dessa confluência dos “torna viagem” surgiram as “casas dos


brasileiros”684 reconhecíveis pelas coberturas demasiado inclinadas, pela
preponderância de varandas em estrutura de ferro forjado, pelos interiores
intensamente decorados, pelos azulejos nas fachadas e sobretudo pelas
paredes em adobe, devidamente rebocadas e escondidas, não fosse o material
local denunciar as origens humildes dos seus habitantes (…) A arquitectura do
brasileiro gravita em torno de formas sincréticas (…) os trópicos se fazem
presentes na arquitectura de Portugal (…)685. As inovações arquitetónicas da
casa do Brasileiro (figura 213) representam na maior parte dos casos uma
reprodução “desfocada” de soluções formais, de uma arquitetura que se
pretendia “elegante”, adotada da residência brasileira, a partir de oitocentos,
por via de arquitetos e companhias de construção europeias. A casa do
brasileiro é um modelo onde pontuam influências da casa colonial Vitoriana,
soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz
italiano. Estes modelos aplicam-se também às designadas “casas dos
Bacalhoeiros” (figura 212) e “Vilas”, todos de importação. No entanto verificou-
se que são mais os exemplos da casa “à moda de brasileiro” que as de
brasileiro original (figura 214). Nesta região proliferam muito mais exemplos
cujos proprietários nunca estiveram no Brasil, do que os de emigrantes que
regressaram ao território português. Inúmeros construtores locais renderam-se

683
CRAVIDÃO, Fernanda – A população e o povoamento da Gândara, p. 222.
684
Exemplo na região é a casa de Francisco Lopes de Almeida, em Bunheiro na Murtosa, construída em 1904 e ainda
hoje existente.
685
CESAR, Guilhermino – O retorno na cultura e na economia Portuguesa. [em linha] [s.d] [Consult. 20-07-
2006]Disponível em WWW: <URL:http//www.museu-emigrantes.org/Retorno_Cultura_Portuguesa.html>.

280
às “casas importadas” que acabaram por construir em toda a região (figura
214).

Figuras 214 e 215 – Esgueira (Aveiro), casa construída em 1900, à maneira dos Brasileiros por Mariano
Ludgero, produtor e construtor de adobe. Fachadas do teatro municipal na Murtosa, construído por
associação formada maioritariamente por “Brasileiros”. Créditos Maria Fernandes, 2006 e 2008.

Figuras 216 e 217 – Vila Papoila Cruz, Ílhavo e Villa Alves Filipe na Gafanha Aquém (Aquém). Créditos
Maria Fernandes, 2006 e 2012.

Os modelos arquitetónicos construídos em adobe são na sua maioria, casas


corredor. Exemplos destes encontram-se em “casas dos Brasileiros”,
“Bacalhoeiros” e “Vilas” (figura 216 e 217) e igualmente, muito frequente em
todos os bairros planificados de iniciativa privada ou estatal. Todas essas
habitações caraterizam-se pelo corredor de distribuição em profundidade, nem
sempre simétrico e com compartimentos de ambos os lados686. Algumas
destas plantas provinham catálogos e revistas, e foram adaptadas localmente
com decorações exuberantes nas fachadas públicas, como sucede nas “Vilas”

686
CASTRO, Alice Maria Tavares Alves da Costa Ruano de – O sistema construtivo tradicional em período de transição
de linguagens arquitetónicas, pp. 41-56.

281
(figuras 216 e 217) e nas “casas dos Brasileiros”687. Esta arquitetura, pouco
interessante do ponto vista arquitetónico mas muito importante do ponto de
vista decorativo, marcou na Beira Litoral, a arquitetura em adobe de importação
não sendo modelos exclusivos de adobe, e menos ainda desta região. No caso
dos bairros planificados, como o do complexo industrial da Vista Alegre (figuras
218, 219, 220 e 221) o bairro dos pescadores em Ílhavo, assim como o de
Alboi (figuras 222 e 223) e o da Misericórdia em Aveiro, os valores são outros.

Figuras 218, 219, 220 e 221 – Complexo industrial da Vista Alegre, plantas de casas operárias, sem
escala; respetivamente de 1924, 1939 e fotografias das mesmas. Fonte: SENOS, Sofia - Vista Alegre, um
espaço urbano industrial. Créditos Maria Fernandes, 2010.

Estes bairros caraterizam-se pela homogeneidade urbana e pelo conjunto,


cada casa por separado têm uma importância diminuta. A casa-corredor,
caraterística desta arquitetura de bairros, estive mais tarde na origem de uma
certa arquitetura híbrida, entre o vernáculo e o planificado. Trata-se de uma

687
FERNANDES, Maria – A casa dos Brasileiros na Beira Litoral portuguesa. Terra em Seminário, 2007 (V ATP, Terra
Brasil 2006), p.238-240.

282
arquitetura que continua a ser construída pelos próprios utentes, mas que tem
como base um desenho externo, uma cópia de um modelo que substitui o tipo
arquitetónico local, cuja lógica construtivo-material assim como de estruturação
dos espaços decorria dos usos, das funções e do tipo de vida local.

Figuras 222 e 223 – Bairro Alboi (1906), Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009.

De entre os exemplos mencionados, há que referir duas grandes


diferenças em termos de conservação arquitetónica. A arquitetura planificada
dos bairros tem um enorme valor urbano e, por isso, as operações de
reabilitação deveriam impor transformações em conjunto e não isoladamente,
casa a casa, como tem sido habitual (figura 223).

Figuras 224, 225, 226 e 227 – Exemplo de intervenção em edifício de adobe. Casa, Major Pessoa, em
Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2006 e 2010.

No caso da arquitetura vernácula, e dos exemplos de modelos, como os


das “casas dos Brasileiros” ou das “Vilas”, a reabilitação deve ser, e
usualmente é, uma intervenção individual, embora se verifiquem más práticas

283
de reabilitação. As intervenções não respeitam e desconhecem, vulgarmente,
as potencialidades e fragilidades do objeto arquitetónico. Nesses casos é
comum as intervenções serem extremamente profundas e a tendência aponta,
para grandes alterações em altimetria e volumes, que acabam por
desidentificar totalmente a casa inicial688.

Apesar do riquíssimo património arquitetónico de adobe em Portugal,


não se verifica, ainda, um renascimento da arquitetura contemporânea nesse
material. Os motivos parecem estar no facto de ter desaparecido, há mais de
50 anos, a produção comunitária e artesanal do material, sem contudo ter
ressurgido industrialmente. Esse abandono tem limitado qualquer experiência
arquitetónica à prévia produção artesanal do material construtivo, sem que
exista mão-de-obra já qualificada disponível. Porém, e apesar disso, esse tem
sido o método levado a cabo pela cooperativa “Sítio” a partir de oficinas,
“workshops” e pequenas construções em adobe (anexo F). Os dois arquitetos
portugueses responsáveis por esta cooperativa, Samuel Rodrigues e Ana
Ruivo, cuja formação no Instituto Tibá - Tecnologias Intuitivas e Bio-
Arquitectura - no Brasil foi decisiva, acabaram por implementar em Mangualde
o método experimental deste Instituto em Portugal. Tibá, um instituto sob a
orientação de Johan Van Leghen e sua família, baseia-se na construção de
uma forma universal, utilizando diversas soluções, que adaptam a locais e
sítios distintos dos originais. Dentro dessa filosofia, os arquitetos da
cooperativa Sítio produzem e constroem com adobe, utilizando moldes, adobes
e formas arquitetónicas, como as abóbadas sem cimbres, retiradas dos
ensinamentos do “Manual do Arquitecto Descalzo”. Assim, desde que existam
terra e água disponíveis, a cooperativa “Sítio” constrói em adobe, edifícios sem
qualquer relação com a arquitetura vernácula. Nesta linha arquitetónica e
dentro desta mesma filosofia de autoconstrução sem relação com as tradições

688
Um desses exemplos foi a intervenção na casa Major Pessoa em Aveiro. Apesar da análise histórica e
arquitetónico-construtiva irrepreensível do ponto de vista científico, a solução final porém preconizou a remoção total
dos pisos e a sua substituição por lajes em betão e ainda a completa alteração dos materiais e cores pertencentes às
superfícies arquitetónicas do imóvel. Projeto da autarquia que muito fez o edifício perder identidade. Sobre este projeto
e obra ver a obra: DIAS, Mário Sarabando – O mistério da casa Major Pessoa. Aveiro: Ed. Câmara Municipal de Aveiro,
2006.

284
locais, outros arquitetos têm esporadicamente construído com adobe em
Portugal. A título de exemplo, veja-se o caso do ateliê de arquitetura Plano B, e
da experiência em Ourém, com a construção de um pavilhão de apoio a piscina
realizado em 2001-2002689. Este edifício, construído pelos próprios projetistas e
colaboradores, possui uma estrutura de betão e paredes de adobe e ocupa
uma área de 80m2, tendo sido edificado com adobes de 0,40x0,25x0,11m
manufaturados “in situ” (figuras 228, 229, 230 e 231).

Figuras 228, 229, 230, 231 – Pavilhão em piscina de Ourém. Fotografias gentilmente cedidas por Eduardo
Carvalho, do Plano B arquitetura, 2000.

Os exemplos mencionados, que emergem no contexto nacional filiam-se


claramente na tendência internacional, de utilização das técnicas e sistemas
em adobe, com desenho de autor, portanto desfasada da arquitetura vernácula
e das técnicas locais. Esta arquitetura contemporânea utiliza apenas o solo, o
conhecimento e o domínio da construção para a materialização da arquitetura.

689
PLANO B arquitectura - Building for a swimming pool [em linha], [s.d] [Consult. 2013-07-01]. Disponível em
WWW:<URL: http://www.planob.com/eng/planob.html>.

285
4.5 As Gafanhas.
Como em todos os processos de ordenamento territorial, as colónias
planificadas foram antecedidas de processos de povoamento espontâneo
também designados de colonização690. O povoamento das Gafanhas691 iniciou-
se em meados do século XIX, e foi apenas possível após o fecho da barra de
Aveiro em finais do século XVIII. Essa alteração física da paisagem permitiu a
secagem de terrenos anteriormente alagados e insalubres daquela região. A
ocupação desse território fez-se de sul para norte, de Vagos para Aveiro
(figuras 232 e 233) e o tipo arquitetónico da casa Gafanhoa, nasce a partir da
Gandaresa oriunda de Vagos.

Figuras 232 e 233 – As Gafanhas vista aérea, de Sul para Norte. Gafanha da Boa Hora, Vagos. Créditos
Filipe Jorge [s.d] e Maria Fernandes 2010.

Os primeiros colonos vieram justamente desse concelho, e com sucesso


transformaram terrenos incultos em produtivos, à custa de adubarem o solo
com o moliço da ria. A divisão do território foi feita por iniciativa privada e já se
encontra referenciada, em documentos, a partir de meados do século XVII. No
entanto, terá sido a partir dos séculos XVIII e XIX, que os aforamentos por

690
Por colonização entenda-se todo o povoamento ou repovoamento em áreas anteriormente não habitadas. Esse
povoamento pressuponha a chegada de habitantes vindos do exterior ou de outras regiões – os colonos.
691
Designa-se de Gafanha toda a região arenosa pertencente aos concelhos de Vagos e Ílhavo, com cerca de 25 km
de comprimento por 5Km de largura, compreendida entre os afluentes da ria de Aveiro: Mira (a poente) e Boco (a
nascente).

286
jeiras e leiras se terão intensificado692. As primeiras habitações destes colonos
foram elevadas com adobe de barro, com terra argilosa recolhida nas margens
da ria, misturado com conchas de berbigão, ostra, com felgas ou junco, vegetal
característico das margens (…) eram designados por – adobos de palhão. Oito
dias depois de construídos eram gastos em obra. As paredes das casas
construídas com estes adobos de palhão eram vedadas durante o Inverno mas
no verão eram atravessadas por grandes fendas abertas entre os adobos
mirrados (…)693. Esta descrição dá-nos ideia da fragilidade das primitivas
construções e dos problemas de retração intrínsecos à matéria-prima usada na
manufatura do adobe. Atualmente os adobes de palhão são difíceis de
encontrar, dado que era prática na região reutilizá-los posteriormente em
edifícios construídos em adobe de cal (figuras 234 e 235).

Figura 234 e 235 – Exemplo de parede interior elevada em adobe de palhão no Museu Etnográfico de
Requeixo, Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009 e 2008.

(…) Os adobos deixaram há muito de ser construídos de barro amassado na


eira, para o serem de cal e areia, mas tão brandos que os cortam com serra
quando isso se torna necessário para a sua justa adaptação nos
assentamentos das paredes. São por isso tão inconsistentes estas construções

692
Quintas, Morgadios e propriedades de maiores dimensões são assim subdivididas, em pequenas áreas não
inferiores a 0,5ha e arrendadas, em foros e outros contratos por 5, 10, 20 ou mais anos, mediante um pagamento
anual. Esta subdivisão só foi possível devido há existência de água nesses terrenos, o que permitiu, após a
recuperação do solo a exploração agrícola intensiva.
693
REZENDE, João Vieira - Monografia da Gafanha, p. 70.

287
que os seus donos são obrigados a apertar a casa em tôda a volta com dois
fios de arame grosso (…)694

Figuras 236 e 237 – Mapa do plano Hidrográfico da barra e porto de Aveiro em 1887, com a Gafanha
marcada e Mapa das Gafanhas da Boa Hora e Vagueira (Vagos); ambas com escala gráfica. Fonte:
Biblioteca Nacional Digital cota: cc-137; e Google Maps, 2010,

Para além dos terrenos aforados por iniciativa privada, verificou-se ainda
na região a concessão por parte da Coroa Portuguesa, de baldios695 às
Câmaras Municipais de Vagos e Ílhavo (figuras 236 e 237). Esta concessão
permitiu a entrada dos baldios no regime florestal, dando origem à Mata
Municipal de pinheiros e, mais tarde, à construção das colónias agrícolas
nesses terrenos, promovidas pelo Estado em meados do século XX. O colono
da Gafanha é agricultor e pescador em simultâneo. Na maioria das vezes é
proprietário de uma parcela de terreno, que explora com a família, e trabalha
na faina do mar por conta dos proprietários das embarcações de pesca, em
geral bacalhoeiros. As casas da Gafanha (figura 238) são uma variante das
casas Gandaresas, da casa-pátio que se encontra na região, entre o Vouga e o
Mondego, entre Aveiro e a Figueira da Foz696. O povoamento linear, esse foi
surgindo ao longo das estradas paralelas à costa, mais concentrado a norte
junto ao porto dos bacalhoeiros (Gafanha da Nazaré), nos aglomerados pré-

694
Idem, pp 230.
695
Os baldios eram terrenos comunitários cultivados e geridos pelas populações. Após a guerra civil em 1834 a Coroa
portuguesa entrega a propriedade da quase totalidade dos baldios aos Municípios. Este movimento volta a ser
retomado pela República em 1910.
696
No que respeita à casa Gandaresa e suas variantes consultar os trabalhos de etnografia: OLIVEIRA, Ernesto Veiga
de Oliveira; GALHANO Fernando - Arquitectura tradicional Portuguesa, pp. 182-205.

288
existentes, como Ílhavo e Aveiro, mais disperso a sul junto a Vagos (figuras
232 e 233). Segundo os etnógrafos e os agrónomos portugueses a construção
de uma casa na Gafanha obedecia a um ritual muito específico: (…) Contam
que, antigamente, quando dois jovens concordavam em casar, não os
preocupava de momento a questão da casa onde viriam a abrigar-se…os
parentes e amigos ocupavam-se a sobrepor os tejolos da casa e armar o
telhado (…)697

Figura 238 – Levantamento arquitetónico da casa Gafanhoa – Museu Etnográfico.


Fonte: Câmara Municipal de Ílhavo.

A proteção das paredes na fachada pública era executada em reboco e muitas


vezes com azulejo (figuras 239 e 240), e a decoração interior em estuques,
pinturas e fingidos; para além do mobiliário, essas etapas eram obrigações dos
noivos. A casa era-lhes entregue totalmente em tosco, pelos familiares e
amigos.

697
Henrique de Barros [et al], Inquérito à habitação rural, 2º vol, pp. 70. Entregar a «casa fechada» conforme a
designação local era entregá-la já telhada, com janelas, portas e, às vezes com a cozinha e um quarto pavimentados e
forrados. O resto ficava a cargo dos novos esposos. REZENDE, João Viera - Monografia da Gafanha, p. 231.

289
Figuras 239 e 240 – Exemplos de fachadas em azulejo em casas na Gafanha da Nazaré, Ílhavo. Créditos
Maria Fernandes, 2009 e 2010.

A Gafanha, considerada uma região de povoamento recente no contexto


português, sempre se caracterizou pela renovação construtiva e arquitetónica.
Durante os duzentos anos da sua existência, enquanto freguesia (s), as
Gafanhas sofreram ao longo do tempo, mutações que incluíram a substituição
constante dos edifícios, mantendo-se porém a estrutura dos lotes primitivos,
muitas vezes subdivididos, onde são ainda percetíveis os muros limítrofes e o
poço, ambos construídos em adobe.

Figuras 241, 242 e 243 – Desenhos de projetos de ampliação e transformação de uma casa na Gafanha
da Nazaré em pensão e padaria (no piso térreo). Fonte: arquivo pessoal de João Martins.

290
Figuras 244 e 245 – Igreja da Gafanha da Nazaré. Exemplo, de como uma construção em adobe foi
alterado em volumetria e espaço, com técnicas construtivas recentes. O resultado é inevitavelmente a
descaraterização total do edifício. Créditos Maria Fernandes, 2003.

De facto, o uso do adobe, não se limitou apenas, à arquitetura vernácula e


planificada. Em adobe, foram materializadas muitas outras construções, de que
são exemplo os poços, os sistemas de hidráulicos de rega, muito comuns nas
Gafanhas e em toda a zona da Beira Litoral. Conforme as fontes manuscritas e
as entrevistas, vários foram os mestres que mencionaram a percentagem
elevada de cal, que alguns adobes apresentavam, nomeadamente, os que
eram utilizados em fundações de edifícios e na construção dos poços (figuras
246 e 247). Para a construção destes poços, eram muitas vezes
manufaturados adobes com moldes ligeiramente curvos, de forma a vencerem
o diâmetro da abertura (anexo G)698.

Figuras 246 e 247 – Poços construídos em adobe em Motinhos e Pocariça (Cantanhede). Créditos Maria
Fernandes, 2003.

698
O Sr. Manuel Ribeiro descreveu todas as fases da construção de um poço e referiu que a maioria deles era
construída com adobes paralelepipédicos e não ligeiramente curvos.

291
A investigadora Inês Fonseca refere a presença de poços e outros sistemas
hidráulicos semelhantes no concelho de Avis. Esses poços terão sido
construídos por via da migração e influência de habitantes oriundos da região
da Beira Litoral, que se estabeleceram no Alentejo699. Também neste concelho
eram usados moldes curvos, para a manufatura de adobes usados na
construção de poços700.

Outra prática corrente era a utilização do adobe para a construção de


muros, limites de propriedade rural e urbana (lotes). A construção fazia-se em
em alvenaria a meia vez, com diferentes remates no topo (figuras 248, 249 e
250).

Figuras 248, 249 e 250 – Muros de limite de propriedade rural em Pocariça (Cantanhede) e de lotes
urbanos em Mira, muro com adobe de galga e na Gafanha da Nazaré. Créditos Maria Fernandes, 2003,
2013 e 2009.

O adobe, sendo praticamente o único material de construção na região


da Beira Litoral, em virtude da pedra ser escassa e de frágil qualidade originou
que, praticamente, todos os edifícios fossem construídos, com esse material,
como sucedeu com igrejas (figuras 244 e 245), escolas, edifícios públicos 701,
currais e outras instalações agrícolas.

699
FONSECA, Inês – Arquitectura de terra em Avis, p. 80-81
700
Idem, 47.
701
O hospital de Aveiro , assim como, a antiga escola primária de Mira onde hoje funciona o Museu, ea igreja da
Gafanha da Nazaré muitos outros edifícios são construídos em adobe. É vulgar encontrarem-se armazéns e currais
abandonadas na região de que são exemplo os existentes na Varziela e em Cantanhede.

292
Na Gafanha da Nazaré, muitas dessas primeiras casas estão hoje
modificadas e outras desapareceram. A dinâmica urbana junto ao porto dos
bacalhoeiros levou, inevitavelmente, à substituição de muitas casas, mantendo-
se, porém, o mesmo material de construção. Como seria de esperar, as
Gafanhas mais próximas de Aveiro sofreram num curto espaço de tempo,
renovações arquitetónicas derivadas da própria dinâmica local (figuras 241,
242 e 242). No entanto, a descaracterização arquitetónico-urbana só se verifica
nos anos setenta do século XX (figuras 244 e 245), quando o adobe deixou de
ser o material de construção. O desordenamento arquitetónico e a falta de
meios de planeamento eficazes transformaram a zona rural que, se urbanizou
em subúrbio incaraterístico e desequilibrado, onde prédios de vários pisos
convivem com casas térreas e de dois pisos em adobe, com graves
consequências para o equilíbrio da zona702.

Apesar de tudo, em toda esta zona costeira e balnear, tem-se verificado


alguns esforços de forma a adaptar as casas da Gafanha em casas de férias,
exilando o absoluto desaparecimento e descaracterização.

As Gafanhas que se repartem entre os dois concelhos de Ílhavo


(Gafanhas da Nazaré, Encarnação, Carmo, Boa Vista, Aquém) e Vagos
(Gafanha da Vagueira e da Boa Hora), pese embora as diferenças, que
decorreram da sua natural evolução urbana, constituem uma unidade de
paisagem rural-urbana de construção quase exclusiva em adobe, cuja
reabilitação deveria ser equacionada em conjunto.

4.6 – Da investigação sobre o adobe em Portugal.


Como já foi anteriormente referido, o adobe e a construção em adobe
tem vindo a ser objeto de pesquisa e investigação na Universidade de Aveiro,
através do Departamento de Engenharia Civil. A investigação baseia-se,

702
Refira-se a subida do nível freático devido à construção descontrolada de caves.

293
sobretudo, em ensaios de laboratório, associados a levantamentos
arquitetónicos e à recolha documental histórica referente à construção e à
produção do material nesta região. Desde 2005 que diversos trabalhos têm
vindo a ser publicados, e redigidas um conjunto de dissertações de âmbito
universitário. Atualmente, o conhecimento sobre este material e do seu uso na
construção é vasto, mas iniciou-se apenas com duas vertentes:
- a determinação das características do adobe enquanto material703;
- o estudo e análise dos rebocos compatíveis com as alvenarias de
adobe704.

A partir das caraterísticas do material, a investigação nesta Universidade


acabou por evoluir na direção do comportamento das alvenarias. A este nível,
as investigações incidiram em ensaios de laboratório, para os quais foram
construídas paredes à escala natural, realizados ensaios “in situ”705 em
edifícios abandonados706 ou através de estudo comparativo, utilizando para tal
modelos tridimensionais que possibilitam diversas simulações para obtenção
de cálculos automáticos707. Para além destas pesquisas, destaca-se ainda
colaboração existente entre o Decivil/Aveiro e outros Departamentos
congéneres em Universidades no Brasil e Angola. Dessa colaboração tem
resultado um maior conhecimento sobre construções em adobe noutros
contextos e países, de que são exemplo os estudos de “Soluções para a
construção de habitação em adobe a custos controlados”708 e a
“Caracterização do adobe produzido com solos de Camabatela e Huambo

703
VARUM, Humberto; MARTINS, Tiago; VELOSA, Ana – Caracterização do adobe em construções existentes na
região de Aveiro. Terra em Seminário 2005 (IV SIACOT e III ATP), pp. 233-235.
704
VELOSA, Ana Luísa; VEIGA, Rosário – Argamassas de conservação para edifícios em adobe. Terra em Seminário
2007 (V ATP , Terra Brasil 2006), pp. 142-144.
705
RUFO, Rafael José Gonçalves - Ensaios de caracterização mecânica das alvenarias de adobe: flat-jack testing.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade de Aveiro, 2011.
706
MARTINS, Hermano Tiago Teixeira - Caracterização mecânica e patológica das alvenarias de adobe de Aveiro.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade de Aveiro, 2009.
707
ALMEIDA, Hugo Daniel Rodrigues de Araújo – Análise do comportamento de estruturas em alvenaria de adobe.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade de Aveiro, 2011.
708
CARVALHO, Ricardo Marinho de - Soluções para a construção de habitação em adobe a custos controlados.
Dissertação de doutoramento em Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, 2012.

294
Angola “709. A linha de investigação em Aveiro acabou por se alargar a outros
países e, com isso aplicar, noutros contextos a mesma metodologia de ensaios
e abordagem sobre o mesmo material, reforçando a sua validade científica e
técnica. Das vertentes iniciais, a investigação acabou por se alargar:
- ao comportamento de edifícios;
- à construção contemporânea em adobe.
Os ensaios têm também sido dirigidos a outros aspetos da construção, de que
são exemplos os estudos que visam o comportamento térmico dos edifícios de
adobe, que poderão ser uma excelente contribuição para a revisão do RCCTE
que se encontra em curso710. Este último trabalho, que derivou em duas
dissertações de mestrado711, revestiu-se de enorme importância, por ser único
do género. Trata-se de uma análise a partir dos resultados de campanha
experimental, realizada durante vários meses de verão, em três células de
teste de adobe, com diferentes caraterísticas, à escala 0,25 do real.

O Decivil/Aveiro tem ainda colaborado com outras Universidades e


Instituições, em trabalhos relacionados com a elaboração de Normas e
Regulamentos para a construção em adobe, sobretudo ao nível da sismo-
resistência de construções em adobe, em parceria e colaboração com a
“Pontificia Universad Catolica del Peru”.

Até ao momento estão apenas em prática as seguintes normas:


- as normas da Nova Zelândia que, além da taipa, adobe e BTC, diz respeito
ainda à técnica de terra com enchimento “New Zealand Standards – Materials
and workmanship for earth buildings. Wellington: Standard New Zealand, 1998.
NZS 4298:1998”.

709
CHISSAMA, Kapila Silvino Sopa - Caracterização do adobe produzido com solos de Camabatela e Huambo Angola.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2009.
710
PARRACHO, Carlos Emanuel Jesus Madalena - Estudo do comportamento térmico de construções em alvenaria de
adobe. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2011.
711
MENESES, Tiago André da Fonseca - Estudo do comportamento térmico das construções em alvenaria de adobe.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2010.

295
- as normas peruanas “COBE – Adobe estabilizado. Lima: Ministerio de
Vivienda y Construcción. Oficina de Investigación y Normalización. 1977” e
“ITINTEC 331.201; 331.202; 331.203. Elementos de suelo sin cocer: adobe
estabilizado con asfalto para muros: Requisitos, métodos de ensayo, muestra y
recepción. Lima: Instituto de Investigación Tecnológica y de Normas Técnicas.
1978”;
- o código alemão “Lehmbau Regeln da Dachverband Lehm e. V”, uma
associação não-governamental para a construção de terra, e que constitui o
primeiro código publicado na União Europeia “Volhard F., Röhlen U. – Der
Lehmbau Regeln. Dachverband Lehm e.V. Weimar. 2009”; e as recentes
Normas de 2013 “DIN 18945:2013-08 Lehmsteine – Begriffe, Anforderungen,
Prüfverfahren (Earth blocks – Terms and definations, requirements, test
methods); DIN 18946:2013-08 Lehmmauermörtel – Begriffe, Anforderungen,
Prüfverfahren (Earth masonry mortar – Terms and definations, requirements,
test methods) e DIN 18947:2013-08 Lehmputzmörtel – Begriffe, Anforderungen,
Prüfverfahren (Earth plasters – Terms and definations, requirements, test
methods”;
- a norma do Zimbabué “Code of Practice for Rammed Earth” apenas para a
taipa “Standards Association of Zimbabwe. Standard Code of Practice for
Rammed Earth Structures. Harare: Standards. Association of Zimbabwe, 2001.
SAZS 724:2001”;
- o manual da Standards Australia, “The Australian Earth Building Handbook”,
sobre adobe, taipa, BTC e terra de enchimento “;
- o codigo do Estado do Novo México “Earthen Buildings Materials Code”,
sobre taipa, adobe e BTC, “New México Earthen Building Materials Code.
Santa Fé, New Mexico: Construction Industries Division (CID) of the Regulation
and Licensing Department, 2006. Code 14.7.4.2003”;
- o manual espanhol “Bases Para el Disenõ y Construcción con Tapial do
Ministerio de Obras Públicas e Transportes”, sobre taipa e adobe sob a
designação de “Bases Para el Disenõ y Construcción con Taipial. Madrid,
Spain, Centro de Publicaciones, Secretaría General Técnica, Ministerio de
Obras Públicas y Transportes. 1992”.

296
- e as normas Peruanas e Chilenas para a construção em terra sismo-
resistente “Norma Peruana NTP E-080 adobe Lima: SENCICO, 2000” que
engloba os princípios de conservação sismo-resistente do património em terra
e a “Norma Chilena de Intervención Estructural de Construcciones
Patrimoniales de Tierra”712.

Nos ensaios realizados pelos investigadores do Decivil/Aveiro têm sido


utilizadas as normas da Nova Zelândia, assim como os procedimentos
publicados no manual do PROTERRA “Técnicas de construcción con tierra”713.
Assim, existe à partida uma preocupação em internacionalizar os resultados de
forma a poderem ser comparados, com outros congéneres em qualquer parte
do mundo. Professores deste departamento fazem parte de grupos de trabalho
sobre Normas específicas, para a construção em terra como sucede com o
professor Humberto Varum, que é membro do:
- “Working Commission 114 - Earthquake Engineering and Buildings - of the
CIB - International Council for Research and Innovation in Building and
Construction (CIB-W114)”;
- “Group TG75 - Engineering Studies on Traditional Constructions - do CIB,
International Council for Research and Innovation in Building and Construction”.

As participações nestes em grupos de trabalho e em outros (dedicados aos


mais variados aspetos desta temática) garantem à partida a formação de um
um corpo técnico-científico preparado para trabalhar conjuntamente com o
LNEC e outras instituições, por exemplo na preparação de futuras Normas
portuguesas, que visem a produção e construção de adobe em Portugal.

Nos últimos anos, tem-se vindo a assistir à intensificação na área de


investigação em arquitetura, não apenas na colaboração prática em
diagnóstico de edifícios construídos em adobe, como ocorre com a Câmara

712
NEWMAN, Julio Vargas - Normatividad para la Conservación y Recuperación del Patrimonio en Tierra. Terra 2012
XI Conferencia sobre el Estudio y Conservación del Patrimonio Arquitectónico de Tierra [CD], 10 pp.
713
ROTONDARO, Rodolfo – Adobe. Técnicas de construção com terra, pp. 16-25.

297
Municipal de Aveiro e Murtosa, mas também em dissertações académicas,
aliando a visão arquitetónica da construção com os conhecimentos gerados
nesta Universidade. De entre as dissertações, realce para “Estratégia para a
caracterização do edificado em adobe em Aveiro”714; e sobretudo para os
artigos científicos, de que são exemplo os seguintes: “Caracterização das
técnicas construtivas em terra edificadas no século XVIII e XIX no centro
histórico de São Luís (MA, Brasil)”715, “Estudo do ganho energético associado à
construção de uma habitação unifamiliar com recurso a materiais naturais no
contexto português”716 e “Levantamento e caracterização do parque edificado
em adobe na cidade de Aveiro”717

A participação em artigos internacionais, com investigadores de outros


países, de que são exemplo o Peru, o Paquistão e a Itália, refiro a “GEM
Foundation em Pavia” e a investigadora Helen Crowley, tem de certa forma,
alargado o interesse nos últimos anos, pela investigação do adobe nas
questões da:
- sismo-resistência;
- comportamento dos materiais e construções;.

Dos artigos científicos recentemente publicados (e em colaboração) destacam-


se: em 2012 “Estimation of losses for adobe buildings in Pakistan”718, e em

714
NETO, Célia Andreia Borges dos Santos - Estratégia para a caracterização do edificado em adobe em Aveiro.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Aveiro, Aveiro, 2008.
715
Figueiredo, Margareth Gomes [et. al] - Caracterização das técnicas construtivas em terra edificadas no século XVIII
e XIX no centro histórico de São Luís (MA, Brasil). Arquitetura revista, Vol. 7, n. 1, jan/jun 2011. São Leopoldo:
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2011, ISSN 1808-5741, pp. 81-93.
716
MURTA, António [et al] - Estudo do ganho energético associado à construção de uma habitação unifamiliar com
recurso a materiais naturais no contexto português. VIII Seminario Iberoamericano de Construcción con Tierra (VIII
SIACOT) / II Seminario Argentino de Arquitectura y Construcción con Tierra (II SAACT), 8-13 junho, 2009, San Miguel
de Tucumán, Argentina [em linha] 2010 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: <URL:
http://hdl.handle.net/10773/8062>
717
SILVEIRA, Dora [et al] – Levantamento e caraterização do parque edificado na cidade de Aveiro. DigitAR - Revista
Digital de Arqueologia, Arquitectura e Artes n. 1,(2013, Actas do 6º ATP | 9º SIACOT [em linha] 2013 [Consult. 2013-
08-23]. Disponível em WWW: <URL: http://iduc.uc.pt/index.php/digitar/article/view/1424/872>
718
RAFI, M. M. [et al] - Estimation of losses for adobe buildings in Pakistan. 15th WCEE, World Conference on
Earthquake Engineering. 24-28 setembro, 2012, Lisboa, Portugal [em linha] 2012 [Consult. 2013-08-21]. Disponível em
WWW: <URL: http://hdl.handle.net/10773/9950>

298
719
2010 “Numerical modelling of in-plane behaviour of adobe walls” , “Seismic
capacity of adobe dwellings”720 “Structural properties of adobe dwellings in
Cusco for seismic risk assessment”721. Muito embora a região de Aveiro não
seja considerada de risco sísmico e os edifícios não tenham sido construídos
com cuidados especiais desse ponto de vista, a Universidade de Aveiro através
deste departamento tem trabalhado, intensamente, e em colaboração com
outras universidades, sobre a temática da sismo-resistência dos edifícios
construídos em adobe.

Para além da Universidade de Aveiro, praticamente a arquitetura e o material


adobe não tem sido objeto de pesquisa e investigação, com exceção das
dissertações e trabalhos já mencionados, elaborados no âmbito do “Mestrado
em Recuperação do Património Arquitetónico e Paisagístico”, da Universidade
de Évora, “Mestrado em Construções”, do Instituto Superior Técnico de Lisboa,
“Mestrado em Metodologias de Intervenção no Património Arquitetónico”, da
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. No entanto e à
semelhança do que já foi referido no capítulo 2, sobre a investigação no âmbito
das arquiteturas de terra em Portugal, a arquitetura de adobe necessita de
mais contributos, com ênfase para a antropologia, arqueologia, geografia,
arquitetura paisagística e agronomia; para que o conhecimento sobre esta
forma de habitar construir e trabalhar possa ser desenvolvida.

Nesse sentido, esta dissertação remete para estudos monográficos, o


desenvolvimento da investigação no domínio da arquitetura vernácula e da sua
relação com os recursos locais, sobretudo com as caraterísticas dos solos, as

719
TARQUE, Nicola [et al] - Numerical modelling of in-plane behaviour of adobe walls. Sísmica 2010: 8º Congresso
Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, 20-23 outubro, Aveiro, Portugal [em linha] 2010 [Consult. 2013-08-23].
Disponível em WWW: <URL: http://sismica2010.web.ua.pt/>
720
TARQUE, Nicola [et al] - Seismic capacity of adobe dwellings. 14 ECEE: 14th European Conference on Earthquake
Engineering. 30 agosto -3 setembro, 2010, Ohrid, República da Macedónia [em linha] 2010 [Consult. 2013-08-23].
Disponível em WWW: http://hdl.handle.net/10773/7059>
721
TARQUE, Nicola [et al] - Structural properties of adobe dwellings in Cusco for seismic risk assessment. 14th
European Conference on Earthquake Engineering. 30 agosto -3 setembro, 2010, Ohrid, República da Macedónia [em
linha] 2010 [Consult. 2013-08-23]. Disponível em WWW: http://hdl.handle.net/10773/6870>

299
variantes aos tipos arquitetónicos e à arquitetura planificada nesses locais.
Sugere-se, ainda, que os ensaios “in situ” sejam elaborados em estudos de
âmbito local e que outras temáticas, como as superfícies arquitetónicas sobre
suportes em adobe, a construção sismo-resistente em adobe, assim como as
caraterísticas térmicas e acústicas da arquitetura em adobe, sejam objeto, e
por separado, de futuras pesquisas.

300
CONCLUSÕES

O adobe em Portugal subsiste enquanto material de construção até


meados dos anos 60, do século XX. O adobe foi sempre um material
extremamente regional e com localização muito precisa, utilizado apenas
nalgumas regiões portuguesas. Posteriormente, o adobe foi substituído pelo
tijolo maciço, verificando-se na arquitetura, e durante mais alguns anos, até
sensivelmente 1965, a construção de uma arquitetura híbrida em tijolo e adobe,
mantendo-se em uso nas diferentes regiões os tipos arquitetónicos em adobe.
No entanto, esta realidade não é exatamente a mesma em todas as zonas do
país. Por exemplo, na zona foreira e no Alentejo, essa substituição ocorreu
mais cedo, devido à disponibilidade do tijolo artesanal, também porque nessas
regiões a construção sempre se caraterizou pelo uso diversificado de materiais
e não pela exclusividade do adobe. Os surtos migratórios e intensa construção
que se verificou na zona foreira tiveram igualmente um papel decisivo, na
substituição do adobe, tradicionalmente auto manufaturado, pelo tijolo. Nas
zonas rurais do Algarve, Alentejo (vale do Guadiana) e nalgumas zonas do
Ribatejo (margem sul), o adobe permaneceu, sensivelmente, até mais tarde
(cerca de finais dos anos 60), devido à permanência da construção em moldes
tradicionais, mantendo-se a taipa como técnica principal e o adobe em paredes
interiores. No Barlavento algarvio, a existência dos “telheiros”, onde o adobe
era produzido em série e para venda, contribuíram para a permanência desse
tipo de construção na região.

Na Beira Litoral a situação foi diferente. A manufatura do adobe acabou


por evoluir para sistemas organizados, de que são exemplo as “olarias” e os
“areais” vocacionadas para a produção e venda de adobes de cal. Na região,
os sistemas de manufatura comunitários e os de produção comerciais,
conviveram em simultâneo. A única evolução que se operou na produção do
material adobe foi a modificação do adobe de terra para adobe de cal. O adobe
de terra foi sempre artesanal e era usado em autoconstrução. O adobe de cal

301
permitiu separar a produção da construção, dado que era possível encomendá-
los para uma determinada obra.

Em síntese, a não evolução do adobe para modelos de produção


industrial, como ocorreu com o tijolo, levaram à clara substituição deste
material pelo segundo, que passou a ser mais acessível, transportável e
disponível, embora, e numa primeira fase, não fosse mais económico.

A escassez do adobe, que era comercialmente pouco apetecível, teve


implicações diretas na transformação da arquitetura. Essa evolução ao longo
de quase 70 anos é muito visível no complexo industrial da Vista Alegre, onde
os edifícios construídos originalmente com adobes de cal, ao longo da sua
evolução de vários anos, terminaram, a partir dos anos 40 do século XX, em
híbridos de construção em tijolo, adobe de cal e elementos estruturais em
betão armado722.

Da conservação do património arquitetónico


Um dos motivos que leva à sistemática destruição da arquitetura vernácula de
adobe em Portugal é a ideia errada, de que se trata de uma arquitetura pobre e
para pobres. O preconceito é ainda agravado por razões culturais, que se
prendem com a intensa renovação arquitetónica de algumas regiões, devido ao
surto migratória e à ideia enraizada que a casa deve morrer com o
proprietário723. Na região da Beira Litoral e da Estremadura Setentrional, este
preconceito é ainda exacerbado pelas caraterísticas de povoamento urbano.
Os lotes para construção são usualmente estreitos e profundos, com acesso às
infraestruturas apenas a partir da rua da frente, facto que impossibilita a
permanência de duas habitações. Na generalidade, a casa original está
implantada na frente de rua e a construção de outra habitação implica o
sacrifício da casa vernácula, porque não existe espaço suficiente para as duas.

722
CASTRO, Alice Maria Tavares Alves da Costa Ruano – Op. Cit., pp. 66-75. A autora analisa os sistemas
construtivos introduzidos quer nas habitações quer nos equipamentos.
723
Vários foram os habitantes de Esgueira em Aveiro e na Gafanhas em geral, que repetidamente o afirmaram. A casa
não é considerada herança, mas sim um Bem com tempo limitado de vida.

302
Em síntese poderíamos então resumir as causas de destruição em
quatro grupos fundamentais:
- culturais (rejeição da arquitetura e fatores de emigração);
- uso (acesso a infraestruturas e falta das mesmas na casa inicial);
- económicos (casas rurais quando a agricultura praticamente desapareceu),
- desconhecimento (das qualidades das casas vernáculas e das suas
potencialidades enquanto habitação, assim como dos procedimentos relativos
à sua reabilitação).

Quanto à arquitetura planificada dos bairros ou dos modelos, os motivos


que estão na origem da sua destruição e descaracterização são outros. Os
bairros mencionados são identificáveis pelo seu valor urbano, de conjunto,
onde uma simples habitação não é importante quando separada das restantes.
Esta diferença é evidente ao comparar-se com a arquitetura vernácula, cujo
valor arquitetónico individual é mais significativo. No grupo da arquitetura
planificada em bairro, o problema reside, essencialmente, nos planos de
ordenamento e nos licenciamentos municipais, que permitem as alterações
individuais, sem respeito pelo conjunto homogéneo do bairro. Nestes casos é
frequente que a habitação seja encarada como um imóvel isolado, que pode
ser ampliado e transformado, mesmo que as alterações descaracterizem por
completo uma parte do conjunto, e consequentemente, todo o grupo de
habitações.

As transformações mais frequentes nas arquiteturas de adobe são as de


ordem formal, patentes nos volumes, nos vãos, nas texturas e nos
revestimentos. Outras modificações são também importantes quer sejam a
demolição parcial do existente ou as transformações de ordem funcional
referentes à compartimentação e à estrutura. Do ponto de vista das
transformações na arquitetura em adobe, pode-se afirmar que, embora existam
arquiteturas distintas, vernácula e planificada, com origens e valores diferentes,
os efeitos das alterações no construído são semelhantes. Globalmente pode-se

303
afirmar que as alterações e destruições estão maioritariamente associadas a
causas humanas, por ação direta do homem no construído. No entanto, muitas
dessas modificações ocorrem por tentativas sucessivas de minimizar os efeitos
físicos da degradação. No domínio das patologias existentes em construções
de adobe são sobretudo as avaliações incorretas da causa-efeito e da
anomalia-reparação, que explicam muitas das deficiências encontradas. O
objetivo fundamental da conservação de um edifício de adobe reside sobretudo
na preservação da sua função estrutural. No entanto, todas as ações de
consolidação devem também satisfazer as funções de uso e estética. As
intervenções devem ser viáveis economicamente, duráveis, eficazes, explícitas
e respeitar os valores históricos, sem diminuir a autenticidade do imóvel724.

No que se refere à origem das anomalias mais frequentes, destacam-se dois


grupos:
- as de ordem intrínseca, diretamente, relacionadas com fatores internos à
construção, como a matéria-prima ser grosseira; a execução defeituosa de
materiais, e mesmo a incorreta construção;
- as de ordem extrínseca, diretamente, arroladas com fatores externos como o
clima, agentes naturais, ação humana ou animal, em síntese, causas exteriores
à construção725.

As patologias de ordem extrínseca podem ainda ser reunidas em dois grupos


coincidentes com as maiores fragilidades das construções em terra:
- humidade726 ;
- estrutural727.

724
WARREN, John – Forma, significado y propuesta: objetivos éticos y estéticos en la conservación de la arquitectura
de tierra, Revista LOGGIA nº 12, 2001, p.11.
725
PRIETO, Bernice Aguillar – Construir com adobe. Fundamentos, reparación de daños y diseño contemporáneo, p.
59-65.
726
CORNERSTONES COMMUNITY PARTNERSHIPS – Adobe conservation. A preservation handbook, pp. 54-55.
727
HOUBEN, Hugo; GUILLAUD, Hubert – Op. Cit., pp. 244-245.

304
As patologias provocadas pela humidade, nas suas mais diversificadas
formam, capilaridade, condensação e infiltração, assim como as de ordem
estrutural, visíveis em fendas na alvenaria, nos assentamentos diferenciados
de fundações e nas derrocadas parciais de paredes, resultam da fraca
resistência da terra em presença de água, quando sob ação de cargas
excessivas ou esforços mecânicos. Sem qualquer sintoma de alteração ou
modificação devido a causa humana, uma pequena infiltração de água numa
construção em adobe, se não for devidamente minimizada, poderá derivar em
patologia grave de humidade, com consequências ao nível estrutural.

A arquitetura de adobe, para além das fragilidades apontadas, apresenta


ainda graves problemas estéticos, quando sob ação de patologias de humidade
e estrutural, a saber:
- deformação da estrutura com diminuição acentuada e diferenciada de
volumes;
- perda de coesão generalizada do material.

As deformações, sempre presentes na construção e diretamente


relacionadas com a perda diferenciada de volume, ocorrem em geral devido à
dissolução dos componentes finos da terra em presença da água. Essas
deformações são frequentes no topo e na base das paredes. A falta de coesão,
generalizada nas construções em adobe, manifesta-se pela pulverização dos
componentes da terra à superfície e, por vezes, quando outros fatores ocorrem,
provocam uma desagregação acentuada do material. As situações
mencionadas são muitas vezes irreversíveis, particularmente quando as
construções já se encontram num estado de ruína ou de degradação
avançada. Ao proceder-se à análise da arquitetura de adobe, verifica-se de
imediato que são raras as situações em que a degradação da construção foi
devidamente corrigida ou minimizada. Por sua vez situações em que se
mantém o bom estado de conservação ocorrem quando os procedimentos e os
materiais tradicionais usados não se alteraram.

305
Os problemas que são mais frequentes após intervenções de
conservação/ reabilitação são:
- incompatibilidade química e física de materiais usados nas reparações;
- proteção excessiva com impermeabilização de rebocos exteriores, coberturas
e vãos;
- reforço estrutural exagerado da construção728.

Estas incorretas reparações, que primam pelo exagero, ocorrem


sobretudo pelo medo que as fragilidades das construções imprimem aos seus
moradores. Por esse motivo, os residentes recorrem à impermeabilização
porque as construções apresentam quase sempre problemas de humidade.
Recorrem igualmente ao reforço exagerado da estrutura, porque se julga que o
edifício carece de maior resistência face aos sismos e às cargas. As
construções de adobe são frequentemente subvalorizadas, no que respeita ao
seu comportamento, nessas situações. Por vezes, a análise dos problemas é
correta, como a deteção de humidade ou o aparecimento de fendas nas
paredes, mas a correção é quase sempre defeituosa, provocando na maioria
das situações um agravamento da patologia. Noutros casos, o resultado final
deriva da incapacidade total em reabilitar estas habitações. A qualidade do
espaço interior deste habitat, nem sempre compreendido, permite uma
adaptação do fogo, às solicitações actuais de habitação. No entanto, são
poucos os casos em que a introdução de infrestruturas, como a instalação
elétrica ou a construção de uma instalação sanitária, não tenham destruído as
paredes, ou provocado novos danos em pavimentos, revestimentos ou
inviabilizado uma série de espaços.

Em face da realidade e do desaparecimento quase sistemático desta


arquitetura no contexto português, sugere-se alguma reflexão sobre os
problemas apontados anteriormente, como campo de desenvolvimento da
investigação relacionada com este tema.

728
FERNANDES, Maria – Arquitectura vernácula de adobe em Portugal. Estratégia para a sua conservação futura.
Terra em Seminário 2010 (6º ATP , 9º SIACOT), pp. 115-119.

306
Analisem-se, em primeiro lugar, os aspetos culturais de desconhecimento e
preconceito face a esta arquitetura. A estratégia, neste aspeto tem sido a
implementação de investigação e estudos, a maioria monográficos, referentes
ao património arquitetónico, assim como ao comportamento das construções
de adobe. Nesse âmbito, o preconceito “casa de pobres para pobres” tem sido
vagamente ultrapassado, mas ultimamente substituído pela ideia de “casa do
passado”. Este novo problema, de algo que já não se constrói ou que já não
existe, deverá ser contrariado com exemplos de arquitetura contemporânea em
adobe, para reforçar a ideia de casa resistente, não pobre e com futuro. Neste
campo dos exemplos, cabe ainda uma segunda sugestão: não se recuperam
casas vernáculas numa determinada região sem a realização de mão-de-obra
qualificada para o efeito. Os casos de sucesso referidos como modelares,
poderiam ainda ser utilizados para a formação profissional nas diferentes
regiões. Apesar deste ensino, que deveria ser contínuo, prático e com vários
níveis de especialização, que contemplasse desde projetistas, executores e
promotores, estas intervenções carecem ainda de outros complementos, tais
como manuais de boas práticas e medidas legais. Os regulamentos e ações no
domínio legislativo deviam premiar os que optassem por reabilitar a casa em
vez de a destruir. Assim sendo, a implementação de taxas municipais
favoráveis à reabilitação, por oposição às de demolição e nova construção,
poderiam incentivar essa modalidade. Os munícipes portugueses são muito
sensíveis aos impostos, dado o peso que representam atualmente na
economia doméstica. Ações nesse campo podiam ainda ser complementadas
por incentivos governamentais, sob a forma de programas financeiros
vocacionados para a reabilitação da arquitetura vernácula, que seguramente
fariam a diferença no panorama atual.

Em termos de estratégia nacional, seriam então necessários:


- incentivos fiscais;
- programas governamentais/municipais de financiamento para a reabilitação
da arquitetura vernácula;

307
- manuais de reabilitação, práticos e acessíveis;
- cursos de formação.

Para os bairros de arquitetura planificada, a estratégia terá de ser


distinta. Neste caso, as modificações deverão passar por pequenos planos,
que resolvam os problemas sem descaraterizar o conjunto. Por exemplo, no
mesmo bairro poderiam ser estudadas soluções de ampliação de volume
uniformes, que viabilizassem a transformação dos fogos, sem alterar o
conjunto. Sugerem-se ainda regras claras dos limites das intervenções,
mencionando soluções e não proibições. Como a maioria dos bairros albergam
população de baixos recursos económicos, será de prever que os municípios
estudem projetos-tipo, sem encargos, de forma a fornecer aos moradores,
quando pretendam modificar a sua habitação. Estes conjuntos não poderão ser
encarados sem uma ação direta do governo (para o caso dos bairros do
Estado) ou sem uma ação direta do município, para o caso dos bairros de
arrendamento ou antigos empreendimentos de obra social privada. As
modificações numa casa existente num bairro desta natureza devem ser
limitadas. A arquitetura neste contexto não é infinita, e não deve ser sujeita a
demolição ou alterações que descaraterizem o edificado.

Em conservação, as políticas a aplicar dependem do grau de urgência,


da natureza das patologias, do tipo de ameaças e do destino do edifício. Por
outro lado, as decisões, no que respeita ao projeto de conservação,
caracterizam-se por uma série de princípios fundamentais, relacionados com
as ações a aplicar. Um princípio elementar reside na intervenção mínima
associada à reversibilidade da ação, ou seja, o ideal será intervir na construção
o mínimo possível, de maneira que seja possível regressar ao estado antes da
operação729. No caso dos bairros mencionados e da arquitetura vernácula, o
que se verifica é justamente o oposto, com a realização de ações irreversíveis
devido à profundidade e maximização efetuadas.

729
WARREN, John – Forma, significado y propuesta: objetivos éticos y estéticos en la conservación de la arquitectura
de tierra, Revista LOGGIA nº 12, p. 15

308
No campo dos conceitos e da intervenção urbana, a reabilitação tem
como objetivo principal a melhoria do território urbano, satisfazendo as
necessidades básicas da população, especialmente nas áreas degradadas ou
em declínio. Dentro dos quatro princípios que fundamentam a reabilitação
urbana como: garantir a conservação integrada do património cultural, garantir
o acesso a uma habitação satisfatória, promover a coesão territorial e contribuir
para o desenvolvimento das cidades730, os bairros em adobe revestem-se
ainda de características especiais, relacionadas com a especificidade da sua
construção, que devem ser atendidas nas ações de reabilitação a levar a cabo.
No que se refere às intervenções em património histórico, as recomendações
resultantes das conferências TERRA devem ser aplicadas e tidas em conta
quer nos projetos, quer na execução (anexo A).

Da manufatura e da produção
As principais vantagens que o material adobe oferece enquanto material são as
seguintes:
- fácil de fabricar, secar e empilhar;
- material com considerável capacidade isolante devido a sua porosidade;
- permite a diversidade de formas e dimensões;
- é 100% reciclável;
- a manufatura e construção não requerem mão-de-obra especializada e o
equipamento artesanal, o molde, é muito económico;
- serve para construir paredes, arcos, abóbadas e cúpulas;
- a matéria-prima para a sua manufatura é abundante.

Como desvantagens, podem ser apontadas:


- a baixa resistência à tração e à flexão em relação a outras alvenarias como o
as de BTC ou tijolo;

730
PAIVA, José Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO, Ana – Guia técnico de reabilitação habitacional, vol 1, pp. 105-
107.

309
- a manufatura requer mão-de-obra considerável e área ampla e arejada para a
secagem;
- carece de muita água para fabrico;
- a dificuldade em obter as dimensões regulares dos adobes após secagem;
- a qualidade do adobe está condicionada à mistura e ao repouso de alguns
dias da mistura da terra com água ("dormir" o barro);
- nas zonas afetadas por sismos, a cobertura em cúpula não é inconveniente,
enquanto a abóbada é, pelo que especiais cuidados deverão ser seguidos para
construção de alvenarias, como reforços com contrafortes apropriados, socos
na base das construções, esticadores, redes etc...
- em termos hídricos, é um material que absorve muita água, devido a sua
porosidade731.
- as construções necessitam de alguma manutenção inicial e a durabilidade da
construção depende dessa manutenção.

Apesar da existência de matéria-prima disponível, e das indústrias


cerâmicas em crise, possivelmente sem futuro, ainda não se concretizou a
produção mecanizada e industrial do adobe em Portugal. No entanto, o
desfasamento existente entre a arquitetura atual e as poucas experiências de
construção em adobe não garante que o renascimento da arquitetura
contemporânea, à semelhança do que ocorre em muitos países, possa
acontecer em Portugal. No entanto, e com vista a alcançar este objetivo, poder-
se-ia estudar a hipótese de adaptar as indústrias cerâmicas de tijolo para
produção de adobe extrudido e aguardar que a disponibilização do material
estimulasse a criação arquitetónica.

Em Portugal não se conhece qualquer evolução no material após a


modificação e implementação, na produção e construção, do adobe de cal. Por
esse motivo, acabou por desaparecer nessa última versão. No Barlavento
algarvio, a única experiência de adobe semi-mecanizado acabou por falhar

731
ROTONDARO, Rudolfo – Op. Cit., pp. 17-18.

310
devido à descontinuidade entre o material e a construção. Em termos
conclusivos, é notório que o material e a construção deverão coexistir, em
paralelo e devem estar em sintonia para que arquitetura de adobe seja de
qualidade, com desenho adaptado e com construção exímia. Uma falha no
processo tem repercussões extraordinariamente negativas na arquitetura de
adobe, pelo que as fases seguintes deverão ser controladas e acauteladas
desde a:
- manufatura do material;
- conceção e projeto
- construção e manutenção.
Qualquer erro numa destas fases destrói, a possibilidade futura de uma
arquitetura de adobe com sucesso.

No que respeita à manufatura e produção, as recriações históricas do


fabrico de adobe e do barreiro, como as que tiveram lugar em Seixo (2001),
Oliveirinha (2007) e Requeixo (2008) são importantes, quer do ponto de vista
pedagógico quer da preservação e auto estima local. Essas iniciativas
deveriam ser estimuladas, enquadradas e desenvolvidas, no âmbito das
“oficinas da associação Centro da Terra” ou dos “workshops” promovidos pela
cooperativa “Sítio”, para que a participação possa ser alargada e o
conhecimento oral e local transmitido pela prática a interessados e
profissionais, que queiram aprender a arte de manufaturar adobe. Recorde-se
que foi nos anos 80 do século XX, que, por iniciativa do Campo Arqueológico
de Mértola se iniciou, no castelo de Noudar, todo o processo de arquitetura
contemporânea em taipa, que hoje se conhece, enquanto realidade no Alentejo
e perfeitamente paralela ao que ocorre noutros países do mundo.

Em Portugal ainda não estão reunidas as condições para que a


produção de adobe seja contínua, aliada a um mercado de construção com
sucesso. Igualmente, a perspetiva de Normas para a sua produção e
implementação estão também mais distantes e não fazem ainda sentido no
contexto nacional. A conservação do património arquitetónico constitui a

311
possibilidade mais próxima e plausível. Possivelmente, em termos estratégicos
seria aconselhável optar por soluções de produção de adobe semelhantes às
italianas, com o fim de conservar património arquitetónico edificado neste
material. No campo da reabilitação são necessárias e urgentes melhores
experiências de intervenção e maior divulgação de boas práticas. As
existentes, principalmente as de manutenção para os edifícios em adobe, são,
na sua maioria, maus exemplos de intervenção. Ao nível municipal deveriam
ser executados, com urgência, bons exemplos que constituíssem referências a
seguir pelas populações e proprietários. O velho ditado português de “ver para
crer” é mais eficaz que muitas sessões de esclarecimento, guias e manuais.

Da arquitetura contemporânea
A arquitetura vernácula de adobe em Portugal é extremamente regional
e situa-se nos locais onde a água e o solo arenoso-argiloso eram recursos
acessíveis. A arquitetura planificada acompanha em paralelo esta localização
sobretudo, na região da Beira Litoral, e pode-se mesmo afirmar que as duas
arquiteturas, vernácula e planificada, usaram a produção local do adobe para a
sua construção até meados do século XX. Trata-se, por isso, de um património
arquitetónico de inquestionável valor, que identifica locais, povoações,
comunidades e formas de vida que, apesar de não serem exatamente iguais às
que existiam à época da sua construção, são, pelo valor arquitetónico
intrínseco, perfeitamente, atuais e adaptáveis às exigências de conforto da vida
contemporânea.

Ao nível da arquitetura contemporânea, os exemplos existentes são


ainda pouco expressivos e escassos. Na maioria, trata-se de experiências
arquitetónicas que se filiam, na tendência internacional de utilização das
técnicas e sistemas em adobe, com desenho de autor, desfasadas da
arquitetura vernácula e das técnicas locais. Esta arquitetura contemporânea
utiliza apenas a terra, o conhecimento e o domínio da construção para a
materialização da arquitetura. Porém, este movimento em Portugal poderá
aproximar-se de uma segunda tendência internacional, que explora exatamente

312
as técnicas locais, para a conceção contemporânea de edifícios – a linha
arquitetónica de Hassan Fathy - que tem em Anna Heringer uma das melhores
seguidoras (muito embora tenha construído maioritariamente com outras
técnicas de terra como a taipa entre outras)732. Nas palavras desta arquiteta
(…) Architecture is a tool to improve lives. The vision behind, and motivation for
my work is to explore and use architecture as a medium to strengthen cultural
and individual confidence, to support local economies and to foster the
ecological balance. Joyful living is a creative and active process and I am
deeply interested in the sustainable development of our society and our built
environment (…)733. A obra desta arquiteta baseia-se na construção em
técnicas tradicionais melhoradas, sempre com os habitantes locais, mas com
projetos de desenho contemporâneo de grande qualidade. De entre os projetos
já executados, destacam-se os do Bangladesh (“Meti School”, “Home made”,
“Desi School”, “Rudrapur village study”) e em Marrocos (“Teaching Centre”)734.

A arquitetura de adobe em Portugal encontra-se ainda numa fase


embrionária, onde inúmeros estudos e investigações contribuem para o
conhecimento da arquitetura vernácula e do património arquitetónico, assim
como das potencialidades da sua construção. Como primeiro desígnio, surge a
conservação do património arquitetónico, porque despoletou todo o interesse
por essa construção e material. A destruição irreversível do património afasta a
possibilidade de retomar de novo em Portugal, forma descontínua, a
construção em adobe. São necessários mais exemplos de arquitetura
contemporânea neste material, à semelhança do que ocorreu com a arquitetura
contemporânea em taipa. Deveriam surgir vários e diversos projetos em adobe,
e não apenas, experiências como têm ocorrido.

732
Sobre as obras desta arquiteta e o seu percurso pessoal ao nível da arquitetura consultar: SARANO, Florence –
Tisser des trajetoires possibles, bâtir pour agir. L’architecture d’aujourd’hui, nº 381, jan.Fev 2011, pp. 41-48.
733
Anna Heringer [em linha] [s.d] [Consult. 2013-08-10]. Disponível em WWW: <URL:http://www.anna-
heringer.com/index.php?id=9>. (…) Arquitetura é um instrumento para melhorar a qualidade de vida. A visão e a
motivação para o meu trabalho é explorar e usar a arquitetura como um meio para fortalecer a confiança, cultural e
individual, que auxilie as economias locais e promova o equilíbrio ecológico. A alegria de viver é um processo ativo e
criativo e eu estou muito interessada no desenvolvimento sustentável da nossa sociedade e no ambiente construído
(…).
734
Ibidem.

313
Das perspetivas futuras
Em termos futuros exige-se à arquitetura de adobe:
- durabilidade e tecnologia construtiva adequada sem, no entanto, inviabilizar
as experiências de autoconstrução;
- promover e instituir boas práticas construtivas de conservação e construção,
investindo em formação, onde se deverá aliar o conhecimento local com o
institucional ou académico;
- estimular a forte identidade regional, para a salvaguarda e para a manutenção
correta dos imóveis construídos em adobe;
- implementar profissionalismo e formação nas tarefas práticas de intervenção,
ao nível de arquitetura, engenharia e construção.735

Para alcançar esses objetivos será necessário que, ao nível da conservação


arquitetónica e da arquitetura contemporânea, sejam implementadas:
- atividades multidisplinares nas localidades e sítios;
- avaliados os impactos económicos e sociais;
- envolvimento político;
- produção de materiais didáticos a vários níveis;
- currículos e disciplinas que visem a arquitetura em adobe;
- inovação e criatividade, com uso de tecnologia apropriada em projetos
contemporâneos;
- projetos piloto ao nível da conservação e de arquitetura contemporânea, que
poderiam ser escolas ou outros equipamentos.736

A conservação do património arquitetónico em terra teve sempre um


parceiro natural: a arquitetura contemporânea em terra737. O discurso atual

735
AVRAMI, Erica – The Leapfrog potential of earthen architecture. TerraEducation 2010, communications, pp. 52-55.
736
Algumas destas indicações foram retiradas de AAVV – Experts Workshop. Study and conservation of earthen
architecture in the Mediterranean region, pp. 9-17.
737
AVRAMI, Erica – Earthen architecture, sustainability, and social justice. Terra 2008, 10th International Conference on
the Study and Conservation of Earthen Architecture, p. 328-331.

314
sobre sustentabilidade738 apresenta novas oportunidades para o
desenvolvimento de relações fortes entre a conservação e a construção
contemporânea de adobe. As origens e os problemas atuais derivados das
alterações climáticas, da crise de recursos, dos gastos em termos energéticos,
em que o setor da construção é um dos maiores responsáveis, assim como a
problemática deslocação de populações, em termos mundiais e a emergente
necessidade de construir habitações em pouco tempo, têm colocado a
arquitetura de terra e a de adobe em primeiro lugar, enquanto soluções de
arquiteturas sustentáveis, isto é, que não colocam em perigo, nem põem em
causa, os recursos necessários para as gerações futuras.

No entanto, o discurso da conservação patrimonial e o da arquitetura


vernácula, nesta sua relação com a arquitetura contemporânea, é por vezes só
controvérsio: (…) O desejo de transformar a realidade cruzava-se com a
vontade paradoxal de receber a produção cultural internacional sem perder a
identidade nacional (…) aos arquitetos pedia-se agora uma intervenção política
através da prática disciplinar e da reflexão sobre o seu significado. Estabelecer
um novo tipo de relação entre os homens, preservando a sua identidade
(…)739.

Em Portugal existe espaço e lugar para a arquitetura contemporânea em


adobe. O material e a construção aliados em qualidade e projeto, podem e
devem desempenhar um papel importante no contexto arquitetónico português.

738
Idem, p. 328. Sustentabilidade, conceito definido por WCED em 1987: o desenvolvimento terá de atender as
necessidades do presente sem comprometer as capacidades futuras das gerações para atenderem as suas
necessidades.
739
COSTA, Alexandre Alves; MOTA, Nelson – Nem Neogarrettianos nem vencidos da vida. Uma pastoral
transmontana. Revista Monumentos nº 32, pp. 156-157.

315
316
ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS UTILIZADOS

AAP – Associação dos Arquitetos Portugueses


AINSI – American National Standarts Institute
ASTM – American Society for Testing and Materials
CAM – Campo Arqueológico de Mértola
CD-ROM – Compact Disc Read – Only Memory
CdT – Centro da Terra, Associação para o estudo, documentação e difusão da
construção com terra
CEAUCP – Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto
CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
CRATerre – Centre International de la Construction en Terre
DG – Diário de Governo
DL – Decreto-Lei
DGEMN – Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
DGPC – Direção-Geral do Património Cultural
DR – Diário da República
DRX - Difração de raios-X
DVD - Digital Versatile Disk
ED-XRF - Espectrometria de fluorescência de raios-X por dispersão de energia
(energy dispersion X-ray fluorescence).
ENSAG – École National Supérieur D’Architecture de Grenoble
ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa
FAUTL – Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa
FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia
GCI – Getty Conservation Institute
HTML – Hyper Text Markup Language
HTTP – Hyper Text Transport Protocol
ICOMOS – International Council of Monuments and Sites/ Conselho Internacional dos
Monumentos e Sítios
ICCROM – International Centre for the Study and the Preservation of Cultural Property
IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana
III – Instituto de Investigação Interdisciplinar
INIC – Instituto Nacional de Investigação Científica

317
IPAAR – Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico
IPPC – Instituto Português do Património Cultural
ISCHEA – International Scientific Committee for Earthen Architectural Heritage/ Comité
Científico Internacional do ICOMOS para o Património Arquitetónico em Terra
ISBN – Número internacional normalizado do livro (sigla de língua inglesa)
ISSN – Número internacional normalizado da publicação em série (sigla da língua
inglesa)
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil
MN – Monumento Nacional
MEV-EDX - Microscopia eletrónica de varrimento, associada a microanálise de raios-X
por dispersão de energia
MO – Microscopia ótica
NASA – National Aeronautics and Space Administration
OA – Ordem dos Arquitetos
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
PALOPS – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PROTerra - Rede Ibero-Americana, um coletivo internacional e multilateral de
cooperação técnica que promove a investigação e desenvolvimento da construção
com terra nos sectores produtivos, académicos e sociais da região.
SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico
SNA – Sindicato Nacional dos Arquitetos
UA – Universidade de Aveiro
UC – Universidade de Coimbra
UE – Universidade de Évora
UM – Universidade do Minho
UP – Universidade do Porto
UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization /
Organização da Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
WD-XRF - Espectrometria de fluorescência de raios-X por dispersão em comprimento
de onda (wavelength dispersion X-ray fluorescence).
WHC – World Heritage Center/ Centro do Património Mundial
WHOP – Património Mundial de Origem/Influência Portuguesa
ZEP – Zona Especial de Proteção a imóvel classificado

318
BIBLIOGRAFIA

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Lisboa: Argumentum, 2005, ISBN 972-8479-36-0.

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milenar. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/ Centro de Arte Moderna, 1993, ISBN
2-85850-326-5.

AAVV (eds. Jean-Nicolas Lefilleul, Adília Alarcão, António J. Cardoso) – Arquitecturas


de terra. Trunfos e potencialidades, materiais e tecnologia, lógica do restauro,
actualidade e futuro. Coimbra: Comissão de Coordenação da Região Centro / Alliance
Française/ Museu Monográfico de Conímbriga, 1992, ISBN 972-569-034-6.

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932367-3-X.

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Arquitectos Portugueses, 1988.

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Lisboa: Ordem dos Arquitectos/ Governo Regional dos Açores, 2007. ISBN 978-972-
8897-23-9.

AAVV – Arquitectura. Revista bimestral de arquitectura, planeamento, design,


construção, equipamento,nº 153, Ano VI, 4ª série, Setembro/ Outubro 1984. Lisboa:
Casa Viva, Editora Lda., 1984.

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linha], 2002 [Consult. 2004-03-20]. Disponível em WWW:<URL: http://www.meda-
corpus.net/frn/index.asp?op=203000>.

319
AAVV – Conservation 16. The GCI Newsletter, vol. 16, number 1, Spring 2001 [em
linha], 2009. [Consult. 2010-02-20]. Disponível em WWW:<URL:
http://www.getty.edu/conservation/publications_resources/newsletters/16_1/>

AAVV – Étude sur les savoirs constructifs au Burkina Faso. Grenoble: CRATerre –
EAG, 1991, ISBN 2-906901-06-7.

AAVV – Experts Workshop. Study and conservation of earthen architecture in the


Mediterranean region. Villanovaforru, Sardegna, 17-18 March, 2009 [em linha], 2009.
[Consult. 2010-02-20]. Disponível em WWW:<URL:
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AAVV (coord. Hugo Pereira Gigogne) – Habiterra, exposición Iberoamericana de


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AAVV (ed. Maddalena Achenza, Mariana Correia, Marco Cadinu, Amadeo Serra) –
Houses and cities built with earth. Conservation, significance and urban quality. Lisboa:
Argumentum, 2006, ISBN 972-8479-41-7.

AAVV (coord. Henrique de Barros) – Inquérito à habitação rural, vol. 2. A habitação


rural nas províncias da Beira. Lisboa: Ed. Universidade Técnica de Lisboa, 1947.

AAVV (coord. E.A. Lima Basto; António Faria e Silva, Carlos Silva) – Inquérito à
habitação rural, vol. 3. A habitação rural nas províncias da Estremadura, Ribatejo, Alto
Alentejo e Baixo Alentejo. Lisboa: Imprensa Nacional casa da Moeda, 2012, ISBN 978-
972-27-2122-6.

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COINTERAUX, François - Ecole d'architecture rurale. Premier cahier dans lequel on


apprendra soi-même à bâtir les maisons de plusieurs étages avec la terre seule ;
ouvrage dédié aux français en 1790, revue et corrigé par l'Auteur, l'an 2me de la
République Française, une et indivisible, dans le mois de Floréal [em linha] 2009
[Consult.2010-11-20].
Disponível em: WWW: <URL: http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_2>.
- Nouvelle manière d'éteindre les incendies, approuvée par la
Société royale d'agriculture, le 15 décembre 1791 [em linha] 2009 [Consult.2010-11-
20]. Disponível em: WWW: <URL: http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_3>

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- Ecole d'architecture rurale. Second cahier, dans lequel on
traite : 1- de l'art du pisé ou de la massivation, 2- des qualités des terres propres au
pisé, 3- des détails de la mains d'oeuvre, 4- du prix de la toise, 5- des enduits, 6- des
peintures. Ouvrage dédié aux français, et utile à tous ceux qui veulent user d'économie
par François Cointeraux 1791 [em linha] 2009 [Consult.2010-11-20]. Disponível em:
WWW: <URL: http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_4>
- Ecole d'architecture rurale. Quatrième cahier, dans lequel
on traite du nouveau pisé inventé par l'auteur ; de la construction de ses outils, etc.
Ouvrage dédié aux français, et utile aux autres nations par François Cointreaux, 1791
[em linha] 2009 [Consult.2010-11-20]. Disponível em: WWW: <URL:
http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_5>.
- Architecture périodique, ou notice des travaux et
approvisionnemens [sic,approvisionnements] que chacun peut faire, à peu de frais,
chaque mois et chaque année, soit pour améliorer ses fonds, soit pour construire
toutes sortes de bâtisses, soit pour multiplier les engrais par François Cointeraux, 1792
[em linha] 2009 [Consult.2010-11-20]. Disponível em: WWW: <URL:
http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_6>
- Traité sur la construction des manufactures et des maisons
de campagne. Ouvrage utile aux fabricants, et à tous ceux qui veulent élever des
fabriques ou des manufactures, ainsi qu'aux propriétaires, fermiers, hommes d'affaires,
architectes, entrepreneurs, 1791 [em linha] 2009 [Consult.2010-11-20]. Disponível em:
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BAMOP – Biblioteca e Arquivo do Ministério das Obras Públicas:


COINTERAUX, François - Architecture périodique, ou notice des travaux et
approvisionnemens [sic,approvisionnements] que chacun peut faire, à peu de frais,
chaque mois et chaque année, soit pour améliorer ses fonds, soit pour construire
toutes sortes de bâtisses, soit pour multiplier les engrais, par François Cointeraux,
professeur d’architecture rurale.Ouvrage in-8º., rel. avec deux planches graves. 1 Liv.,
16 fols. A Paris, au bureau de l’école d’Architecture Rurale, rue du Fauxbourg S.
Honoré nº 28, 1792. 41 pages.

COINTERAUX, François - Maison de terre ou de pisé decoré. Ecole d'architecture


rurale. Second cahier, dans lequel on traite : 1- de l'art du pisé ou de la massivation, 2-
des qualités des terres propres au pisé, 3- des détails de la mains d'oeuvre, 4- du prix
de la toise, 5- des enduits, 6- des peintures. Ouvrage dédié aux français, et utile à tous
ceux qui veulent user d'économie, para François Cointeraux, professeur d’architecture
rurale. A paris, chez l’auteur, grand rue Verte, Faubourg Saint Honoré nº. 1130, et
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COINTERAUX, François – L’art de preinte a fresque sur le pisé avec la découverte de
l’auteur pour rendre durable cette peinture, ensemble les enduits, les tapisseries et
l’épreuve du canon dans le pisé. École D’architecture Rurale, sur le chemin de Paris à
Vincennes, prés de la barriére du Trone, vis-a-vis Saint-Mandé, publié de rechef en
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do Exército, 7ª cadeira, 1ª parte, 1887-1888.

MCA – Museu da Cidade de Aveiro:


Conjunto, de dez entrevistas realizadas por Margarida Ribeiro, técnica superior da
Câmara Municipal de Aveiro, em Julho de 2007, a produtores de adobes, mestres
adobeiros, pessoas que manufaturaram adobes e nalguns casos descendentes dos
mesmos. Entrevistados: Aristides Marques Ferreira (92 anos), Manuel Oliveira da Silva

374
(86 anos), Manuel Madaleno (63 anos), Altino Martins da Cruz (79 anos), Mário da
Costa Santos (54 anos), Joaquim Simões dos Reis (89 anos), David da Cruz Lopes
(não referiu a idade), Georgina Gonçalves dos Santos (84 anos), Maria do Rosário
Dias Rodrigues branco (79 anos) e Amadeu Dias Neto (62 anos). Os entrevistados
eram todos da região e provenientes de Requeixo, Esgueira, Eirol, Carcavelos (Eirol) e
Aveiro.

FONTES AUDIOVISUAIS e MULTIMEDIA


Vídeos, DVD, Filmes:
BAYON, François – Les noveaux habitats de la terre. Paris: Lieurac productions/
Nanook, [DVD]. 2004.
– Les révolutions de la terre. Paris: Lieurac productions/ Nanook,
[DVD]. 2004.

ENCONTROS COM O PATRIMÓNIO (Manuel Vilas-Boas, Jornalista) – Arquitetura de


Terra. Lisboa: TSF, programas de tádio emitido em 28 de janeiro de 2012 [em linha]
2010 [Consult.2013-04-01]. Disponível: WWW: <URL:
http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=918070&audio_id=2268755>.
Programas resultantes da parceria entre a TSF e a DGPC (ex IGESPAR).

MÁQUINA DO TEMPO (Paulo Bastos, produtor; António Candeias e Dora Teixeira


coordenadores científicos). Episódios 3 e 4, Terra Nostra e Construção Sensual.
Lisboa: TVI24 programas televisivos emitidos em 23 e 30 de março de 2013 [em linha]
2013 [Consult.2013-04-01]. Disponível em: WWW: <URL:
http://www.tvi.iol.pt/videos/13833389 e http://www.tvi.iol.pt/videos/13835727>.
Dois documentários, exclusivos da arquitetura em terra, que fazem parte do conjunto
de 15 no total, produzidos no âmbito do projeto “Olhar de perto o Património” (FEDER-
16906-SAESCTN/2010), promovido pelo Programa Operacional Fatores de
Competitividade COMPETE referente a projetos de promoção da cultura científica e
tecnológica e produção de conteúdos para divulgação científica e tecnológica na
média. As entidades promotoras coordenadoras do projeto são o Laboratório
HERCULES – Herança Cultural Estudos e Salvaguarda da Universidade de Évora e a
DGPC, Direção-geral do Património Cultural através do Laboratório de Conservação e
Restauro José de Figueiredo.

375
STEFAN, Tolz; THOMAS, Wartmann – Adobe Towns (Djenné, Yazd, Shiban). Munich:
Film Quadrat, Germany, [DVD]. 2004.

FONTES ORAIS
Entrevistas:
- Entrevista ao arquiteto Francisco Silva Dias, em 30 de Julho de 2012, no ateliê
SILVA DIAS-Arquitetos, em Lisboa na Rua Gomes Leal nº18 (anexo D)

- Inquérito à Cooperativa Sítio, através do seu site em 19 de Julho de 2012 e


respondido via e-mail em 18 de Agosto de 2012 (anexo F).

- À conversa com Manuel Ribeiro (83 anos), Mário de Jesus Caetanos Rua (72 anos) e
Manuel Evangelista Pereira Almeida (57 anos). Entrevista/conversa conduzida por
Maria Fernandes e Brigite Capelões no Museu do território e da Gândara em Mira, no
dia 9 de Julho de 2013 (anexo G).

376
GLOSSÁRIO

Adobe ou Adobo – material de construção em terra seco ao sol ou ao ar, cuja


manufatura consiste em moldar sem compactar, módulos ou unidades em terra no seu
estado plástico, com molde (adobe moldado) ou sem molde (adobe manual).

Adobe de areia e cal churra – bloco apiloado executado a partir de terra arenosa
estabilizada com cal. Designação da Beira Litoral.

Adobe de casa – designação de adobe utilizado em paredes exteriores de habitações


com medidas aproximadas de 0,45x0,30x0,15m, geralmente manufaturados em
moldes de um ou dois espaços ou formas. Designação da Beira Litoral.

Adobes de fora – designação para adobes comprados a produtores de adobe.


Estes adobes eram utilizados na construção de casas e recebiam esta designação
para se diferenciarem dos adobes manufaturados pelos proprietários. Termo utilizado
nas Gafanhas (Ílhavo).

Adobe de muro – designação de adobe utilizado em paredes interiores de casas,


muros de vedação, muros de currais e outras dependências agrícolas, com as
medidas aproximadas de 0,45x0,21x0,15m, geralmente manufaturados em moldes de
dois espaços ou formas. Designação da Beira Litoral.

Adobe de lodo – designação de adobe produzido com lodo da Pateira, terra


compactada com gramão, recolhida nas margens do Cértima. Designação do concelho
de Aveiro, freguesia de Requeixo.

Adobe de palhão – adobe em terra ao qual foi adicionada palha, junco do rio ou felgas.
O teor argiloso da terra obrigava à estabilização com material vegetal, que equilibrava
a mistura controlando a retração na secagem e conferindo ao adobe maior resistência
mecânica. Termo utilizado para um determinado tipo de adobe utilizado na fase inicial
de construção das Gafanhas, concelho de Ílhavo. O adobe de palhão procede aos
adobes de terra, adobes de barro amassado na areia e adobes de berbigão ou de
ostra. O mesmo adobe precede o adobe de cal, ou terra estabilizada com cal.
Designação da Beira Litoral: Gafanhas, ria de Aveiro.

377
Adobe de três quartos – designação de adobe utilizado em construções mais
económicas, com as medidas aproximadas de 0,45x0,25x0,15m, geralmente
manufaturados em moldes de um espaço ou forma. Designação da Beira Litoral.

Adobe de zorrão – adobe em terra compactada com raízes, da zona do Campo Largo,
da margem direita do Águeda. Em alternativa às raízes usava-se a palha de arroz e na
falta da palha, utilizava-se o junco da ria. Designação do concelho de Aveiro e
Águeda.

Adobeiro (a) – mestre produtor de adobes ou que manufatura adobes. Designação


para pessoa que no “Areal” “Eira” ou “Tendal” apenas moldava, isto é aplicava a
forma.

Adobeira ou forma – molde em madeira para fazer adobes.

Adufe ou cova de adufe – Buraco que era aberto para extrair terra do subsolo a fim de
produzir adobes. Designação da Gândara.

Agulha – peça em madeira ou ferro que serve de apoio e amarração do taipal.

Alcofa e ou Alcova – cesto para transportar a terra. Por vezes designa também o
compartimento escuro e diminuto de dormir, nas habitações.

Alvenaria – toda a parede construída com módulos ou unidades (pedras ou pedras


artificiais), exemplos: alvenaria de adobe, alvenaria de BTC, alvenaria de tijolo etc.

Amassadeira – zona do telheiro, areal ou olaria onde se amassava ou misturava a


terra com a cal e água.

Aparelho – modo como as peças ou módulos são colocados na construção da parede.


Aparelho irregular ou regular; aparelho a uma vez ou a meia vez, etc.

Archete – designação para verga ou padieira construída em adobe. São conhecidas


três soluções: simples (adobe ao cutelo), asa de cesto (dois adobes colocados em
triângulo e ao cutelo) e redondo (adobes colocados em arco e ao cutelo). Designação
utilizada na zona da Beira Litoral.

Areal, telheiro, olaria ou barreiro – designação para a zona onde se preparava a terra
e se produziam os adobes. Na generalidade situavam-se em zonas peri-urbanas. O

378
termo barreiro também era utilizado para designar a jornada ou tardada prestada pela
comunidade ou jovens da mesma para a produção de adobe.

Areeiros ou barreiras – zonas onde se extraia a terra ou areia para a produção de


adobes. Designação também utilizada, por vezes, para o local onde se produziam
adobes.

Balseiro – Armação em madeira de fundação para os poços construídos em adobe.


Designação da Gândara.

Banqueta – Designação que se usava para os solcalcos que eram abertos nos locais
de extração de terra, nas barreiras, para facilitar a remoção da terra.

Barreiro – Designação para a tarefa e organização comunitária de produção de


adobes. Quando num determinado lugar a população se juntava e organizava para
produzir adobes chamava-se “constituir um barreiro”. Designação da Gândara.

Barro de salão – Terra argilosa à qual se adicionava água, que servia para produzir
adobe e construir pavimentos de terra. Designação da vila de Glória, Salvaterra de
Magos, designação também empregue para a terra utilizada nas coberturas da ilha de
Porto Santo no arquipélago da madeira.

Blocos apiloados – material de construção em terra seca ao sol, cuja manufatura


consiste em compactar terra, no estado plástico ou seco húmido, dentro de um molde
com um pequeno maço. Em Portugal são designados de adobes.

Blocos prensados ou compactados - material de construção em terra, cuja produção


consiste em prensar ou comprimir terra, no estado seco/ húmido, dentro de uma
máquina, a prensa de BTC (blocos de terra compactada).

Blocos cortados – material de construção em terra que consiste em blocos ou


unidades obtidos por corte de solo superficial, de características minerais ou orgânicas
que apresentem boa coesão. Caso dos blocos de laterite na Índia.

Boteira – Barco usado para transportar a terra de gramão, extraída nas pateiras e nas
margens dos canais do rio Vouga.

Cal – ligante utilizado na construção, que resulta da transformação através de


temperatura do carbonato de cálcio, a calcite das rochas calcárias, em monóxido de

379
cálcio. Esse processo químico designa-se de calcinação. A cal pode ser produzida a
partir de calcário, mármore, conchas e coral.

Cal aérea – tipo de cal que faz presa com o ar.

Cal churra, parda ou preta – cal dolomítica ou magnésica, produzida a partir de rochas
onde estão presentes conjuntamente compostos de carbonato de cálcio e de
magnésio. A temperatura de calcinação é mais baixa na ordem dos 400ºC e a cal
produzida embora aérea contém características hidráulicas e deve ser hidratada e
aplicada rapidamente após a sua produção. Esta cal, dadas as suas características de
endurecimento rápido é utilizada em trabalhos toscos do tipo assentamento de
alvenaria, aplicação de telhas e esboço ou primeira camada de reboco. A designação
de cal churra surge na Beira Litoral enquanto as designações de cal parda e preta são
originárias da região do Alentejo.

Cal hidráulica – tipo de cal que faz presa com o ar, água ou em ambiente húmido.

Carbonatação da cal – processo químico, que transforma a cal hidratada (hidróxido de


cálcio) em carbonato de cálcio. Esta alteração resulta da evaporação da água e do
contacto da cal hidratada com o dióxido de carbono e o ar conferindo ao material
rigidez e consistência.

Comporta ou Frontal – peça que faz parte da cofragem do taipal para a execução da
taipa. Consiste numa peça desmontável em madeira, que encaixa nos taipais laterais,
de dimensão quase quadrada com cerca de 0,50x0,50m. No primeiro bloco são
necessárias duas para formar com os taipais a cofragem e apenas uma nos blocos
subsequentes.

Costeiro – peça que faz parte do taipal. Consiste em prumos de madeira, de seção
quadrada, colocados na vertical e fixos nas agulhas, em baixo, e nas cordas em cima,
permitindo a colocação dos taipais laterais em posição vertical alinhada. Num taipal é
frequente serem usados seis no total, em pares laterais.

Côvado – medida islâmica que equivale aproximadamente ao comprimento de 0,40 a


0,46 m. Termo também utilizado para designar a peça estreita, em ferro ou madeira,
que se coloca perpendicularmente e no topo superior entre taipais, de forma a informar
o mestre taipeiro que os taipais permanecem perpendicularidades e paralelos. Na vila
de Glória, Salvaterra de Magos esta peça é designada de escantilhão.

380
Coxo – pá em madeira, que servia para transportar e encher o molde do adobe com a
mistura de terra e cal. O coxo tinha na generalidade o mesmo comprimento do molde,
abas laterais nas faces exceto numa onde vertia e ainda uma pega. Designação da
Beira Litoral.

Endentando – forma ou maneira de travar a alvenaria de adobe nos cunhais. Consiste


em alternar as fiadas em direções opostas, à meia vez ou a uma vez dependendo do
aparelho. Designação da Beira Litoral.

Fanga – Peça em madeira, tipo pá sem cabo, mas com abas, pegas laterais e de
maiores dimensões que servia para transportar a terra para dentro dos taipais.
Designação da Vila de Glória, Salvaterra de Magos.

Formiga – Trabalhador com enxada, que executava os trabalhos mais duros de


acarretar, escavar em terra. Trabalhar em formiga significa vários trabalhadores em fila
a trabalhar com enxada a remover terra em escavação. Designação da Gândara.

Formigão – argamassa pobre em cal, à qual por vezes era adicionada terra, com
inertes diversos desde pequenas pedras, areias e outros, utilizada em enchimento de
estruturas e empregue em pavimentos.

Galga – nome dado aos adobes de grande superfície mas de espessura semelhante
aos outros, que se colocavam ao cutelo no topo dos muros construídos em adobe,
para remate. Designação da Beira Litoral.

Hidratação da cal – processo químico que transforma a cal viva (monóxido de cálcio),
em cal apagada ou hidratada (hidróxido de cal). A hidratação resulta da adição de
água à cal viva. Este processo é vulgarmente designado de apagar a cal e extinguir a
cal ou matar a cal.

Masseiro, Canteiro – Local na Eira onde se misturava a terra com a cal e por vezes
onde se moldava o adobe. Designação da Gândara.

Mendão – designação de adobe utilizado em paredes interiores, em geral


manufaturado em molde, de duas ou quatro formas ou espaços. Designação da Beira
Litoral.

Olaria – Local onde se produziam, vendiam e encomendavam adobes para a


construção. Designação da Gândara.

381
Oleiro – Patrão, dono da olaria. Designação da Gândara.

Padial – Peça em madeira, padieira (verga) de vão. Designação da Gândara.

Padiola – pequeno carrinho de mão construído em madeira e apenas com uma roda
que servia de transporte para a terra entre a zona da amassadeira e o tendal.
Designação da Beira Litoral.

Pateira - pequena lagoa, antigo pântano ou charco onde se caçavam patos.


Designação da Beira Litoral: ria de Aveiro.

Pateira de Fermentelos – lagoa existente no triângulo dos concelhos de Aveiro,


Águeda e Oliveira do Bairro, junta á confluência do rio Cértima com o rio Águeda. A
recolha do moliço para fertilizar as terras permitia a manutenção de uma significativa
superfície livre de água, impedindo o avanço do pântano. Nas margens desta pateira
recolhia-se terra para a produção de adobes na região. Este equilíbrio altera-se nos
anos 60 com a redução da apanha do moliço e a descarga de efluentes orgânicos e
industriais.

Sapal – Terra alagadiça e não cultivável, tipo pântano, situada à beira rio onde se
cortavam torrões, ou blocos de terra para a construção. Designação da Beira Litoral:
ria de Aveiro.

Semóssegas – rebaixo efetuado nos costeiros em madeira, nos quais passam ou se


fixam as cordas de amarração do taipal. Designação da vila de Glória, Salvaterra de
Magos).

Tabique – parede exterior ou interior, com uma armação em madeira, ou estrutura de


madeira fasquiada, revestida em madeira, ou com enchimento e revestimento em
argamassa de terra, cal ou gesso. Este termo é utilizado em paredes divisórias
interiores construídas em madeira.

Taipa – Técnica construtiva monolítica de paredes, que consiste em comprimir terra,


no estado húmido, com maço ou pilão entre taipais. No Brasil é designado de taipa de
Pilão.

Taipa de fasquio – técnica construtiva de paredes, em geral interiores que consiste


numa estrutura de madeira ligeira, com fasquias ou ripas de madeira, rebocada e
preenchida com terra.

382
Taipa de pau a pique – técnica construtiva em armação de madeira que consiste em
paredes construídas com prumos ou tábuas grosseiras de madeira, em geral pinho,
com cerca de 3 cm de espessura, postas ao alto e às quais se pregam finas réguas,
mal aparelhadas, outrora de seção retangular hoje trapezoidal com cerca de 3 cm de
largura, dispostas em filas paralelas distanciadas cerca de 5 cm e preenchidas com
massas de terra, muitas vezes misturadas com palha cortada. Essas massas são
chapadas contra essa armação e ao secarem ficam presas entre as réguas de fasquio
servindo de suporte a outros revestimentos em argamassas de cal ou gesso.
Designação portuguesa muito frequente e corrente no Brasil, Angola e Moçambique.
Diversas variantes deste sistema recebem a designação no Brasil de taipa de sopapo
ou taipa de mão.

Taipa de rodízio – técnica de construção de paredes interiores e exteriores, que


consiste numa estrutura em madeira, muitas das vezes Pombalina ou em cruz de
Santo André, cujo interior é preenchido com adobes, tijolo ou terra de enchimento.

Taipal – conjunto de peças que fazem parte da cofragem para a realização da taipa.

Taipal lateral - prancha longitudinal, desmontável em madeira, ou noutro material, com


as dimensões aproximadas de 2,00x0,50m. No mínimo são necessários dois taipais
laterais colocados paralelamente para a constituição de um taipal.

Taipeiro – mestre construtor de taipa.

Tendal – zona do telheiro, areal ou olaria onde se moldava e se colocavam a secar os


adobes. Designação da Beira Litoral.

Terra escavada – técnica de construção em terra monolítica, que consiste em escavar


na espessura da crosta terrestre. É um tipo de construção negativa, que remove a
terra esculpindo construções. Conhecem-se de dois tipos, horizontal e vertical.

Terra plástica – técnica de construção em terra, no estado líquido que pode ser
utilizada como betão magro, vertida em cofragens para a elevação de paredes ou
moldes para a construção de pavimentos.

Terra empilhada – técnica construtiva monolítica de elevação de paredes, que consiste


em empilhar em fiadas, molhes de terra em geral misturada com vegetal, palha ou
outro. Cob em inglês, bauge em francês.

383
Terra modelada – técnica construtiva monolítica de paredes, que consiste em moldar
terra no seu estado plástico à fiada.

Terra prensada – técnica construtiva de paredes, tetos e pavimentos que consiste em


comprimir, ou prensar, camadas de terra no seu estado quase seca, dentro de uma
cofragem ou em área confinada.

Torrão, Torrões de terra – material de construção em terra que consiste no corte de


blocos ou unidades em depósitos superficiais de terra vegetal coerente, que depois de
secos são empregueis na elevação de paredes. Blocos de terra argilosa, ou lama dos
sapais, endurecida e cortados em cubos de 20 cm, contendo raízes de plantas; que
eram utilizados na construção das Marinhas de sal da ria de Aveiro.

Torroeira – Zona do sapal donde se extraía o torrão.

Vasa – Terra argilosa ou lama extremamente plástica que reveste ou forra o fundo da
ria de Aveiro.

OUTRAS DESIGNAÇÕES:

ABRIR BESSA – Processo de extrair e construir com torrão que consiste em:

1º Marcar no sapal com a enxada um sulco retilíneo que serve de linha orientadora ou
marcação para o corte correto do torrão;

2º abrir um sulco na fundação, onde se assenta o torrão quando se constrói ou repara


um muro das Marinhas de sal na ria de Aveiro.

384
ÍNDICE de FIGURAS

Figuras da capa – Da esquerda para a direita, de cima para baixo: casa em adobe na
Gafanha da Nazaré (Ílhavo-Aveiro), a produção de adobes em Angueira (Miranda do
Douro-Bragança), muro em adobe de cal em Montinho (Cantanhede-Coimbra) e
moldar adobe em Almodôvar (Beja). Créditos Maria Fernandes, respetivamente 2007,
2010, 2004 e 2008.

Figuras 1 e 2 - Casas escavadas na Líbia, em Garyan na região da Tripolitana.


Exemplos de uma habitação abandonada praticamente destruída e outra de mero
interesse turístico. Créditos Maria Fernandes 2009.

Figuras 3 e 4 – Técnica de “Tenobarrro”. Créditos Patricio Arias Cortés, 2009.

Figuras 5 e 6 – Abóbadas em adobe e cúpulas em BTC. Lak’a UTA, Bolívia, casas


com abóbadas em adobe e a construção de uma cúpula em BTC no “Auroville Earth
Institute”, Estado Tâmil Nadu, Índia. Créditos DIHSS e Auroville.

Figura 7 – Arquitetura em terra no mundo. Mapa elaborado pelo CRATerre. Mapa


gráfico sem escala.

Figura 8 – Mapa de epicentros sísmicos no mundo entre 1963 – 1998. Elaborado pela
NASA “National Aeronautics and Space Administration”. Mapa gráfico sem escala.

Figuras 9 e 10 – Casa em Steigra, na região de Leipzig, Alemanha e casas torre em


Khirab, Iémen. Créditos Maria Fernandes, 2004 e Fernando Varanda.

Figuras 11 e 12 – Casas em taipa, respetivamente de famílias hindu e católica em


Pernem - Hassapur e Borim - Pondá, no Estado de Goa, Índia. Créditos Victor Mestre,
2007.

Figuras 13 e 14 – Casas Dogon em Shanga, Bandiagara, Mali e casa tipo Swahali em


Pemba, Moçambique. Créditos Maria Fernandes, 2008 e Margarida Donas Botto,
2009.

Figura 15 – Çatal Höyük, planta elaborada por James Mellart, onde é possível verificar
a densa ocupação.

Figuras 16 e 17 – Tel es-Sultan, Jericó, vista aérea e estratigrafia da autoria de


Kathleen Kenyon e referente ao período do Calcolítico.

385
Figuras 18 e 19 – Síria, estruturas arqueológicas em Tel-Beydar. Peru, Pirâmide no
sítio arqueológico de Caral. Créditos Ricardo Cabral, 2009 e Maria Conceição Lopes,
2012.

Figuras 20 e 21 – Líbia, região da Tripolitana. Villa Sillin, vila romana do séc. II,
elevada em adobe conforme Vitrúvio. Créditos Maria Fernandes, 2008.

Figuras 22 e 23 – Casas em pau a pique, Paraguaçu, Estado da Bahia, Brasil e Ilha


Inhaca (frente a Maputo), Moçambique. Créditos Maria Conceição Lopes, 2005 e
Margarida Donas Botto, 2009.

Figura 24 e 25 – Casas burguesas urbanas em Dolomieu, região de Isére, França


(séc. XIX-XX) e moradias elevadas pós II Guerra Mundial (anos 50 séc. XX),
Müncheln, região de Leipzig, Alemanha. Nos dois casos são visíveis as influências dos
manuais de Cointeraux. Créditos Maria Fernandes, 2010 e 2004.

Figuras 26 e 27 – IARP, Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, imagens


disponíveis em OAPIX, Ordem dos Arquitetos, Portal de Imagens. Empena em taipa,
Malpica, Castelo Branco e casa em taipa, Sant’ Ana-Portel, Évora. Créditos Ordem
dos Arquitetos, respetivamente PT-AO-IARP-CTB13-022 de 1955 e PT-AO-IARP-
EVR-PRL06-007 de 1955.

Figuras 28 e 29 – Fortaleza de Juromenha, Alandroal; derrocada de plataforma de tiro


em taipa e terra de enchimento em paramentos. Castelo de Noudar, Barrancos,
derrocada de alvenaria de pedra e taipa de enchimento. Créditos SIPA, 1995 e 1999.

Figuras 30 e 31 – Mértola, vista do livro das fortalezas de Duarte Darmas e vista atual.
Créditos Livro das Fortalezas, 1509 e Maria Fernandes, 2003.

Figuras 32 e 33 – Desenhos de taipa e “alvenaria a taipal” respetivamente por Jorge


Segurado e José da Paz Branco.

Figuras 34, 35 e 36 – Parede interior em taipa numa casa de dois pisos do bairro da
Mouraria em Lisboa, possivelmente do século XVI, parede em taipa de rodizio em
Quelho, Salzedas do mesmo período e parede em taipa de fasquio em Lamego.
Créditos Maria Fernandes, SIPA e José Eduardo Gama, respetivamente 2009, 1987 e
2006.

386
Figuras 37 e 38 – Desenhos de taipal no livro: REDOL, Alves – Glória uma aldeia do
Ribatejo (3ª edição), p. 82 e imagem de casa em Glória em taipa e adobe. Desenho de
José Serrão, 1938 e créditos Maria Fernandes, 2012.

Figuras 39 e 40 – Os tipos de casa de pescador no litoral Algarvio e a casa Algarvia


segundo Amorim Girão.

Figuras 41 e 42 – Serpa nos desenhos do arquiteto Lúcio Costa na viagem que


efetuou a Portugal em 1952. Fotografias a partir da exposição patente de 21 de
fevereiro a 24 de Abril de 2013, no espaço Portugal-Brasil, Lx Factory em Lisboa.
Créditos: Casa Lúcio Costa, 1952.

Figuras 43, 44. 45 e 46 – Mapas da localização das principais técnicas de construção


em terra em Portugal: taipa, adobe moldado ou blocos apiloados, taipa de
rodízio/fasquio e blocos cortados ou torrões de terra. Os mapas referem-se apenas à
arquitetura vernácula (ordinária) excluindo-se as fortificações e outras arquiteturas
(extraordinárias).

Figuras 47 e 48 – Casa em taipa, Assenhada da Paz, Louriçal, Pombal (Estremadura/


Beira Litoral) e casa em taipa com paredes interiores em adobe, Chamusca (Ribatejo).
Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figura 49 – Mapa dos principais tipos arquitetónicos existentes em Portugal e


construídos, total ou parcialmente com técnicas de construção em terra.

Figuras 50, 51 e 52 – Tabiques interiores com enchimento em argamassas de cal e


saibro no centro histórico de Guimarães e no antigo Hospital/ capela do Espirito Santo
em Góis, concelho de Coimbra. Tabique interior com enchimento em adobes, no Casal
em Caldas da Rainha. Créditos Maria Fernandes,2007 e 2006.

Figuras 53 e 54 – Mozinhos, Penedono, Viseu, rebocos exteriores em terra sobre


alvenaria de xisto posteriormente caiados e Convento de Cristo em Tomar, vestígios
de Alambor, sistema defensivo oblíquo ao pano de muralha e construído em alvenaria
argamassada de calcário “pregada” com terra. Créditos Maria Fernandes, 2007 e José
Fernando Canas 2012.

Figuras 55, 56 e 57 – Várzea, Santarém, paredes em blocos de tufo (calcário) e blocos


cortados em terra; Chãos de Alcobertas, Serra de Candeeiros, Benedita, alvenaria em

387
blocos cortados em terra e Aveiro, marinhas de sal em torrão. Créditos Maria
Fernandes, 2011, Eduardo Carvalho, 2007, António Vieira, 2008.

Figuras 58 e 59 – A divindade egípcia Meskhenet e a rainha Hatshepsut. Imagens


provenientes respetivamente do Papiro D’Ani [em linha], S/D [Consult. 2013-07-13].
Disponível em WWW: <URL:
http://www.egyptologica.be/papyrus_ani/pix_ani/ani_pl3.jpg>; e do túmulo da rainha
em Tebas publicado em: FATHY, Hassan – Arquitetura para os pobres. Uma
experiência no Egipto rural, p. 8.

Figura 60 – A presença do adobe. Architecture Traditionelle Méditerranéenne.


CORPUS, Euromed Heritage [em linha] 2002 [Consult. 2013-07-13]. Disponível em
WWW: <URL: http://www.meda-corpus.net/eng/gates/PDF/F2/A07_MED.PDF>

Figura 61 – Mapa do património em terra na União Europeia. A presença do adobe


encontra-se marcada em castanho-escuro. Terra Incognita, Earthen Architecture in
Europe [em linha] 2011 [Consult. 2013-07-13]. Disponível em WWW:
<URL:http://culture-terra-incognita.org/images/pdf/map.pdf>

Figuras 62 e 63 – Casa em adobe e molde e adobes empilhados na Sardenha.


Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figura 64 – Mapa recente da presença de adobe no México. O material/ técnica


encontra-se marcado em trama castanha-escuro. Mapa inédito, sem escala, e
gentilmente cedido por Luis Fernando Guerrero Baca.

Figura 65 – Mapa das culturas tradicionais em terra no Chile, sem escala, gentilmente
cedida por Natalia Jorquera Silva.

Figuras 66 e 67 – Desenho sem escala, dos adobes de Jericó, cujas dimensões


aproximadas eram de 26x10x10cm, CAMPELL, James W. P.; PRYCE, Will – História
universal do tijolo, p. 26; e mapa segundo Martin Sauvage, com a localização dos
primeiros sítios arqueológicos onde se verifica a presença de construções em terra.
SAUVAGE, Martin – Op. Cit. p. 90.

Figura 68 – Pintura mural, do ciclo de manufatura/produção e construção em adobe,


existente no túmulo de Rekmire (1450 a.C.) em Tebas, Luxor, Egito. CAMPELL,
James W. P.; PRYCE, Will – História universal do tijolo, p. 28-29.

388
Figuras 69 e 70 – Alvenarias em adobe manual, do tipo Djenne Ferrey em Djenné e no
Sítio Arqueológico de Djenne-Djeno, Mali. Créditos J. Brunet-Jailly 2001 e Maria
Fernandes, 2008

Figuras 71 e 72 – A preparação da terra para adobes e moldagem no local de


Bichinho, Estado de Minas Gerais Brasil. Créditos Maria Fernandes 2006.

Figuras 73 e 74 – A moldagem e secagem de adobe em Dogon, Mali e moldagem de


adobe em Yanchuan, Shanxi, China. Créditos Maria Fernandes 2008 e Caroline
Bodelec, 2006.

Figuras 75 e 76 – A secagem de adobes em Nampula, Moçambique; e na estrada de


Luanda - Mbanza Congo (próximo desta última) em Angola. Créditos respetivamente
Alexandre Braz Mimoso, 2012 e Conceição Lopes 2010.

Figuras 77 e 78 – A construção de casa em adobe em Lamayuru, India e em alvenaria


de pedra e adobe em Dogon no Mali. Créditos Ângelo Silveira, 2012 e a Maria
Fernandes, 2008.

Figuras 78 e 79 – A construção de casa de adobe em Lamayuru, India e abrigo em


alvenaria de adobe e pedra em Bandiagara no Mali. Créditos Ângelo Silveira, 2012 e
Maria Fernandes, 2008.

Figuras 80 e 81 – A construção de abóbada e cúpula, sem cimbre, tipo “Núbias”.


Créditos: SKAT, 1988; CRATerre, 1981.

Figuras 82 e 83 – Casas com paredes e cúpulas ortogonais construídas em BTC a


cerca de 10 km de Nampula, Moçambique. Créditos Raul Almeida, 2011.

Figuras 84 e 85 – Corte do projeto e fotografia da habitação/abrigo em adobe para


refugiados afegãos no Irão. Créditos Rai Studio 2011.

Figuras 86 e 87 – Produção de adobes e a construção de casa em San Juan Mixtepe


em Oaxaca no México. Créditos Blaanc bordelless/ Caeiro Capuso, 2011.

Figuras 88 e 89 – Escola em Cabo Delgado, Moçambique. Créditos; Ziegert, Roswag,


Seiler Architekten Ingenieure, 2010.

Figuras 90 e 91 – A reparação de Mesquitas em Tombuctu, Mali. Créditos UNESCO,


2005.

389
Figuras 92 e 93 – A reparação de edifícios com rebocos em terra e a reabilitação dos
canais adutores de água em Shibam, Iémen. Créditos Aga Khan Architecture, 2007.

Figuras 94 e 95 – Nova Gourna, Luxor, Egito. Casa de Hassan Fathy em avançado


estado de degradação e descaraterização da cidade. Créditos Anthony Crosby, 2006.

Figuras 96 e 97 – Exercícios durante o curso PAT 96 no sítio de Chan Chan, Trujillo,


Perú. Créditos Maria Fernandes, 1996.

Figuras 98, 99 e 100 – Portugal continental, carta de solos, mapa com a marcação da
presença de arquitetura de adobe e carta das bacias hidrográficas. Créditos Atlas do
Ambiente e Maria Fernandes.

Figuras 101 e 102 – Separação dos grãos, através de crivos ou peneiração.


Respetivamente terra recolhida em adobes do Maranhão (Avis) e terra recolhida em
rebocos de terra de casas em adobe no aglomerado de Carvalho de Figueiredos,
Tomar. Laboratório Decivil na Universidade de Aveiro. Créditos Maria Fernandes,
2009.

Figuras 103 e 104 – Frascos e pastilhas, agrupados por terras de origem em análise
comparativa por investigadores da UA. Frasco e pastilha correspondente a terra
proveniente de adobes de Cabeção, Mora. Laboratório Decivil, Universidade de
Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figura 105 – Curvas granulométricas resultantes dos ensaios em laboratório das terras
provenientes de adobes (Carvalho de Figueiredos em Tomar, Maranhão em Avis,
Almodôvar, Martingança em Alcobaça, Chamusca, Cabeção em Mora, Murtosa,
Angueira em Miranda do Douro e Louriçal em Pombal) e de solos usados na
manufatura de adobes (Piedade, Travassô e Pateira de Fermentelos no concelho de
Águeda).

Figura 106 – Teste do cordão ou do cigarro, segundo o CRATerre.

Figuras 107 e 108 – Frascos de Travassô e Cabeção, respetivamente água limpa e


turva. Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

390
Figuras 109 e 110 – Ensaio de plasticidade e liquidez para terra de Martingança.
Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2010.

Figuras 113 e 114 – Recolha de terras em depósitos nos locais de Piedade e Travassô
em Águeda. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 115 e 116 – Recolha de terra na Pateira de Fermentelos e junco existente na


mesma que era adicionado à terra para a manufatura de adobe. Créditos Maria
Fernandes, 2009.

Figuras 117 e 118 – Fornos desativados e telheiro de acondicionamento de adobes


em Cantanhede, próximo da estação de caminho-de-ferro. Créditos Maria Fernandes,
2008.

Figuras 119 e 120 – Vista superior do forno com os diferentes calcários e montagem
do forno tradicional para produção de cal caliça e dolomítica. Barro Branco, Montes
Claros, Borba. Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figuras 121 e 122 – A desmontagem do forno tradicional de produção de cal e as duas


caes obtidas. Barro Branco, Montes Claros, Borba. Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figuras 123 e 124 – A extinção de cal respetivamente dolomítica e caliça com terra de
Piedade e Travassô. Laboratorio Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 125 e 126 – Provetes e ensaios, os números correspondem ao traço, as letras


D (Dolomítica) C (Cálcica). Cor branca e cinza clara correspondente a Piedade e rosa
ou vermelho claro a Travassô. Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes,
2009

Figuras 127 e 128 – Preparação e observação das amostras de terra-cal, Piedade e


Travassô com cal cálcica e dolomítica para observação em MEV. Laboratório
Hércules, Universidade de Évora. Operador investigador Luís Dias. Créditos Maria
Fernandes, 2010.

391
Figuras 129 e 130 - Resultados do MEV, microscópio eletrónico de varrimento:
Cálcica/Piedade 1:3; Dolomítica/Travassô 1:3. Laboratório Hércules, Universidade de
Évora. Créditos Maria Fernandes, 2010.

Figuras 131 e 132 – Eira e Barreiro. Respetivamente em Montinho (Cantanhede,


Coimbra) e Oliveirinha (Aveiro). Créditos Maria Fernandes, 2004 e 2007.

Figuras 133 e 134 – A preparação da terra e a manufatura de adobe de palhão.


Oliveirinha, Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figuras 135 e 136 – A preparação da terra, a manufatura de adobe de lodo ou gramão


e reboco em alvenaria com argamassa semelhante. Respetivamente Oliveirinha e
Requeixo, Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2007 e Joana Maia 2008.

Figuras 137 e 138 – A preparação da terra com a cal e a manufatura de adobos de cal.
Oliveirinha (Aveiro). Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figuras 139 e 140 – A preparação da terra com a cal e a construção e reboco de


alvenaria com argamassa de terra estabilizada com cal. Oliveirinha (Aveiro). Créditos
Maria Fernandes, 2007.

Figuras 141 e 142 – A preparação de provetes cilíndricos e ensaios à compressão de


provetes prismáticos de Martingança. Laboratório Decivil UA. Créditos Maria
Fernandes 2009.

Figuras 143, 144 e 145 – Exemplos de adobes. Meio adobe JMO, Angueira e
Martingança (parcial). Laboratório Decivil UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 146 e 147 – Alguns exemplos de moldes recolhidos em Glória e Almodôvar.


Créditos Maria Fernandes 2012 e 2008.

Figuras 148 e 149 – Vestígios de adobes encontrados na Vila de S. João, Arrentela,


Seixal. Fotografias gentilmente cedidas por Jorge Raposo, 2007.

392
Figuras 150 e 151 – Escavações arqueológicas no Museu de Aveiro e vestígios de
paredes em adobe de cal. Créditos Maria Fernandes, 2006.

Figuras 152 e 153 – A manufatura de adobes para reabilitação de habitação em


Angueira (Bragança). Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 154 e 155 – Fonte da Aldeia (Bragança). Casas em alvenaria de granito com
paredes interiores em adobe. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 156 e 157 – Angueira (Bragança). Reabilitação de habitação construída em


alvenaria de granito com paredes interiores em adobe. Créditos respetivamente Maria
Fernandes, 2009 e Vera Schmidberger, 2010.

Figuras 158 e 159 – Alvenarias em Bunheiro (Murtosa) e Figueira Vales, Paião


(Figueira da Foz). Créditos Maria Fernandes 2006 e 2009.

Figuras 160 e 161 – Soluções de aparelho a uma vez, e, vez e meia segundo o
CRATerre.

Figuras 162 – Soluções de aparelho a uma vez para adobe de forma quadrada,
segundo o CRATerre.

Figuras 163 e 164 - Resultados da observação em MEV, microscópio eletrónico de


varrimento: Camada A de Carvalho de Figueiredos e Camada A de Vilamar.
Laboratório Hércules, Universidade de Évora. Créditos Maria Fernandes, 2010

Figuras 165, 166 e 167 – A execução de rebocos sobre suportes em alvenaria de


adobe. A primeira em reboco de terra da pateira sobre adobes de gramão, a segundo
e terceira em reboco de terra arenosa-cal sobre adobos de cal-terra. Requeixo e
Oliveirinha. Créditos respetivamente Joana Maia, 2008 e Maria Fernandes 2007.

Figuras 168, 169 e 170 – Rebocos decorados em Motinhos, Vilamar e Gafanha da


Nazaré (ílhavo). Créditos Maria Fernandes 2004 e 2009.

393
Figuras 170, 171 e 172 – Rebocos simples e caiados em Caneira (Coruche), Glória
(em taipa e adobe) e Portimão (em adobe e tijolo maciço). Créditos Maria Fernandes
2008, 2012 e Isa Sequeira 2012.

Figuras 173, 174 e 175 – Intervenções em rebocos de casas de adobe. Gafanha da


Nazaré, Aveiro e Gafanha do Carmo (Vagos). Créditos Maria Fernandes 2009.

Figuras 176 e 177 – Arquitetura planificada. Projeto de casa/posto de polícia da Ria de


Aveiro que inclui materiais e orçamento. Exemplo desse modelo construído na
Gafanha da Boavista em Ílhavo. Fonte: Francisco Regalla, 1888, e créditos: Maria
Fernandes, 2010.

Figura 180 – Arquitetura vernácula. Tipos arquitetónicos em adobe.

Figura 181 – Arquitetura vernácula. Tipos arquitetónicos mistos em adobe e outras


técnicas.

Figuras 182 e 183 – Casa da Murtosa. Desenho sem escala, cedido gentilmente por
Victor Mestre e casa em Bunheiro (Murtosa). Créditos Victor Mestre, 1999 e Maria
Fernandes, 2006.

Figuras 184 - Planta de casa com alpendre integrado na zona 4. Fonte: arquivo
inquérito à habitação regional, Ordem dos Arquitetos.

Figuras 185 e 186 - Exemplos de casa com alpendre integrado em Granja, Monte Real
(Leiria). Créditos Maria Fernandes, 2008.

Figuras 187 - Exemplo de corte transversal em casa com alpendre na Martingança.


Fonte: Arquivo IARP, Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, folha 33.

Figuras 188 e 189 – Casa do Baixo Mondego em São Paio de Leirosa, Figueira da
Foz, segundo os etnógrafos. Exemplo em Painça no concelho de Soure. Fonte
arquitetura tradicional portuguesa e créditos Maria Fernandes 2008.

394
Figuras 190 e 191 – Desenhos, de casa casa bifuncional, habitação e adega contígua,
em Laranjeiras concelho de Ourém; e molde para adobe usado naquele concelho.
Desenhos gentilmente cedidos por Ricardo Costa, 2008.

Figuras 192 e 193 – Casa Gandaresa. Desenho sem escala, cedido gentilmente por
Victor Mestre e casa em Corticeiro de Cima (Cantanhede). Créditos Victor Mestre,
1999 e Maria Fernandes, 2008.

Figuras 194 e 195 – Casa Gandaresa em situação de aglomerado Seixo (Mira) e


Febres (Cantanhede). Créditos Maria Fernandes, 2004 e 2008.

Figuras 196 e 197 – Desenho de casa foreira e exemplo em Rosário (Moita). Desenho
e fotografia gentilmente cedidas por Victor Mestre, 2001.

Figuras 198 e 199 - Levantamento arquitetónico de casa foreira constante no inquérito


á habitação regional casa foreira em Sarilhos Grandes (Palmela). Fonte AAVV –
Arquitetura Popular em Portugal, 2 volume, p. 222 e Créditos Maria Fernandes, 2007.

Figuras 200 e 201 – Casa do Ribatejo em Carregueira (Abrantes) e Caneira (Coruche).


Créditos Maria Fernandes, 2008.

Figura 202 – Planta de casa do Ribatejo em Mendiga (Porto de Mós). Fonte: Arquivo
IARP, Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, desenho 7.

Figura 203 – Levantamento de casa do Ribatejo em Portela das Padeiras (Santarém).


Fonte: AAVV – Arquitetura Popular em Portugal, vol. 2,p.220.

Figura 204 – Levantamento arquitetónico de casa do Vale de Sorraia, em Cabeção


(Mora).Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 205 e 206 – Casa do Vale do Sorraia em Glória do Ribatejo, “Casa Tradicional
de Glória do Ribatejo”. Vistas do exterior e interior. Créditos Maria Fernandes, 2012.

395
Figuras 207 e 208 – Montalvo (Montargil) paredes em taipa e adobe e Glória do
Ribatejo (Salvaterra de Magos) parede em taipa e adobe. Créditos Maria Fernandes,
2008 e 2012.

Figuras 209 e 210 – Benavente casas em taipa e adobe com platibanda e casa foreira
com esticadores em Sarilhos Grandes, Palmela. Créditos Maria Fernandes, 2013 e
2008.

Figuras 210 e 211 – Casa destruída em Serredale (Cantanhede) e exemplo de


manutenção de casa habitada em Seixo (Mira). Créditos Maria Fernandes, 2008 e
2004.

Figuras 212 e 213 – Vila Cecílio (casa de Bacalhoeiro) em ruína e casa de Brasileiro,
ambas construídas em adobe (Ílhavo). Créditos Maria Fernandes, 2006.

Figuras 214 e 215 – Esgueira (Aveiro), casa construída em 1900, à maneira dos
Brasileiros por Mariano Ludgero, produtor e construtor de adobe. Fachadas do teatro
municipal na Murtosa, construído por associação formada maioritariamente por
“Brasileiros”. Créditos Maria Fernandes, 2006 e 2008.

Figuras 216 e 217 – Vila Papoila Cruz, Ílhavo e Vila Alves Filipe na Gafanha Aquém
(Aquém). Créditos Maria Fernandes, 2006 e 2012.

Figuras 218, 219, 220 e 221 – Complexo industrial da Vista Alegre, plantas de casas
operárias, sem escala; respetivamente de 1924, 1939 e fotografias das mesmas.
Fonte: SENOS, Sofia - Vista Alegre, um espaço urbano industrial. Créditos Maria
Fernandes, 2010.

Figuras 222 e 223 – Bairro Alboi (1906), Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Figuras 224, 225, 226 e 227 – Exemplos de intervenção em edifícios de adobe. Casa,
Major Pessoa, em Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2006 e 2010.

Figuras 228, 229, 230, 231 – Pavilhão em piscina de Ourém. Fotografias gentilmente
cedidas por Eduardo Carvalho, do Plano B arquitetura, 2000.

396
Figuras 232 e 233 – As Gafanhas vista aérea, de Sul para Norte. Gafanha da Boa
Hora, Vagos. Créditos Filipe Jorge [s.d] e Maria Fernandes 2010.

Figura 234 e 235 – Exemplo de parede interior elevada em adobe de palhão no Museu
Etnográfico de Requeixo, Aveiro. Créditos Maria Fernandes, 2009 e 2008.

Figuras 236 e 237 – Mapa do plano Hidrográfico da barra e porto de Aveiro em 1887,
com a Gafanha marcada e Mapa das Gafanhas da Boa Hora e Vagueira (Vagos);
ambas com escala gráfica. Fonte: Biblioteca Nacional Digital cota: cc-137; e Google
Maps, 2010,

Figura 238 – Levantamento arquitetónico da casa Gafanhoa – Museu Etnográfico.


Fonte: Câmara Municipal de Ílhavo.

Figuras 239 e 240 – Exemplos de fachadas em azulejo em casas na Gafanha da


Nazaré, Ílhavo. Créditos Maria Fernandes, 2009 e 2010.

Figuras 241, 242 e 243 – Desenhos de projetos de ampliação e transformação de uma


casa na Gafanha da Nazaré em pensão e padaria no piso térreo. Fonte: arquivo
pessoal de João Martins.

Figuras 244 e 245 – Igreja da Gafanha. Exemplo, de como uma construção em adobe
foi alterado em volumetria e espaço, com técnicas construtivas recentes. O resultado é
inevitavelmente a descaraterização total do edifício. Créditos Maria Fernandes, 2003.

Figuras 246 e 247 – Poços construídos em adobe em Motinhos e Pocariça


(Cantanhede). Créditos Maria Fernandes, 2003.

Figuras 248, 249 e 250 – Muros de limite de propriedade rural em Pocariça


(Cantanhede) e de lotes urbanos em Mira, muro com adobe de galga e na Gafanha da
Nazaré. Créditos Maria Fernandes, 2003, 2013 e 2009.

397
398
ÍNDICE de TABELAS

Tabela 1 – Sinopse das tendências, evolução e conhecimento referente às técnicas de


construção em terra.

Tabela 2 – Alguns tipos habitacionais em terra e a sua relação técnico/construtiva.

Tabela 3 – Sinopse das tendências, evolução e conhecimento das técnicas de


construção em terra no território português. Tabela a partir dos métodos construtivos
do CRATerre. Ordem numérica conforme os estados hídricos e divisão conforme
construção.

Tabela 4 – Alguns tipos habitacionais em terra e a sua relação técnico/ construtiva, no


território português. Tipos arquitetónicos, conforme a designação no programa MEDA/
CORPUS “Architecture Traditionnelle Méditerranéenne”.

Tabela 5 - Cronologia simplificada dos materiais em terra na Mesopotâmia, segundo


Martin Sauvage.

Tabela 6 – Produção de adobes moldados e rendimento por dia, segundo o CRATerre.

Tabela 7 – Análise comparativa dos resultados obtidos a partir dos ensaios simples do
frasco, sedimentação rápida e da pastilha, segundo o CRATerre-Peru. Laboratorio
Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Tabela 8 – Limites de liquidez, plasticidade e índice de plasticidade de terras


provenientes de adobes e solos. Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes,
2009.

Tabela 10 – Composição química das amostras de terras provenientes de Pateira,


Piedade e Travassô. Departamento Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Tabela 9 – Amostras provenientes de adobes estabilizados com fibras vegetais.


Relação entre o peso da terra e a fibra vegetal adicionada. Laboratorio Decivil, UA.
Créditos Maria Fernandes, 2009

399
Tabela 11 – Composição minerológica y química dos calcários e das caes produzidas
nos fornos de Barro Branco, Montes Claros em Borba. Créditos Maria Goreti Margalha,
2010.

Tabela 12 – Resultados dos ensaios de resistência mecânica (compressão e flexão)


para provetes de terra-cal aos traços 1:3 e 1:4, em volume, a 28 e 40 dias de cura.
Laboratório Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Tabela 13 – Comparação entre a dimensão, o peso e o tipo de adobe.

Tabela 14 – Valores de ensaios à compressão em provetes retirados de adobes.


Laboratorio Decivil, UA. Créditos Maria Fernandes, 2009.

Tabela 15 – Relação entre a dimensão do adobe, altura da fachada, espessura da


parede e aparelhos das alvenarias.

Tabela 16 – Relação entre a altura da fachada e a dimensão de adobe.


Créditos Maria Fernandes 2007 a 2012

Tabela 17 – Superficies arquitetónicas exteriores. Amostras e camadas. Créditos Maria


Fernandes 2008 a 2010.

Tabela 18 – Tipos arquitetónicos em adobe. Carateristicas.

Tabela 19 – Tipos arquitetónicos mistos, de adobe e outras técnicas. Carateristicas.

400
ÍNDICE ANEXOS

Anexo A – Recomendações internacionais referentes à conservação do Património e


construção em terra, traduzidas em português.

Anexo B – Lista dos Bens construídos, total ou parcialmente em terra, inscritos na lista
do Património Mundial.

Anexo C – Extrato em fotocópia do: Diccionario de Agricultura, extrahido em grande


parte do cours D’agriculture de Rosier, com muitas mudanças principalmente relativas
à Theoria, e ao clima de Portugal e oferecido a sua Alteza Real o Principe Regente,
Nosso Senhor por Francisco Soares Franco.Tomo IV.Coimbra: Na Real Imprensa da
Universidade, 1806. Páginas 381, 382 e 383.

Anexo D – Entrevista ao arquiteto Francisco Silva Dias, em 30 de Julho de 2012, no


ateliê SILVA DIAS-Arquitetos, em Lisboa na Rua Gomes Leal nº18.

Anexo E – Tradução de partes do “Quarto caderno” de François Cointeraux. Escola de


arquitetura rural, Quatro caderno no qual se trata da nova taipa inventada pelo autor;
da sua construção e ferramentas, etc. Obra dedicada aos franceses, e útil às outras
nações por François Cointreaux. 1791.

Anexo F - Inquérito à Sítio, através do seu site enviado em 19 de Julho de 2012 e


respondido via e-mail em 18 de Agosto de 2012.

Anexo G - À conversa com Manuel Ribeiro (83 anos), Mário de Jesus Caetanos Rua
(72 anos) e Manuel Evangelista Pereira Almeida (57 anos). Entrevista-conversa
conduzida por Maria Fernandes e Brigite Capelões no Museu do território e da
Gândara em Mira, no dia 9 de Julho de 2013.

Anexo H – Análises de laboratório. Granulometria e análise química. Terras


provenientes de adobes, solos e rebocos.

401
Anexo I – Testes da pastilha e do frasco de terras provenientes de adobes e de solos
para a manufatura de adobes. Laboratório do Departamento de Engenharia Civil da
Universidade de Aveiro.

Anexo J – Análises de laboratório. Difração DRX, ED-XRF, espectrometria de


fluorescência de raios-X por dispersão de energia (energy dispersion X-ray
fluorescence) e MEV-EDX, (microscopia eletrónica de varrimento, associada a
microanálise de raios-X por dispersão de energia). Laboratório Hércules, Universidade
de Évora, Dezembro, 2010.

Anexo L – Ensaios à compressão de provetes cilíndricos e cúbicos em terra, retirados


de adobes. Laboratório do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de
Aveiro, Decivil UA, novembro a dezembro de 2009.

402
Anexo A – Recomendações internacionais referentes à conservação do Património e
construção em terra, traduzidas em português.

403
ANEXO A

RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS referentes à CONSERVAÇÃO do


PATRIMÓNIO e à CONSTRUÇÃO e ARQUITECTURA em TERRA

Realizaram-se ao todo 12 conferências internacionais entre 1972 e 2012. As


recomendações e conclusões em anexo referem-se aos encontros que tiveram lugar
em: Yazd no Irão, em1972 e 1976; Santa Fé nos Estados Unidos da América em
1977; Ankara na Turquia em 1980; Lima no Peru em 1983; Roma, Itália em 1987; Las
Cruces nos Estados Unidos da América em 1990; Torquay no Reino Unido em 2000;
Yazd no Irão em 2003; Bamako no Mali em 2008 e Lima no Peru em 2012.

YAZD-IRÃO-1972
- As escavações devem incluir simultaneamente operações de conservação;
- Soterrar todas as estruturas que não apresentem um interesse científico ou turístico.
- Se necessário, recurso a uma estabilização estrutural que complete a estrutura.
- Proteção das superfícies horizontais por meio de uma cobertura ou “capping”.
- Manutenção dos revestimentos existentes sobre as superfícies verticais.
- Aplicação de revestimentos, quando estes não existirem.
- Tratamento de superfícies com materiais resistentes à água: revestimento de terra
estabilizado com cimento, resinas epoxídicas diluídas, silicatos de etilo, betumes.
- Rotina de manutenção dos edifícios ainda em uso. Os pontos críticos são:
coberturas, revestimentos, sistemas de drenagem.
- Utilização de materiais compatíveis.

404
YAZD-IRÃO-1976
- No orçamento das escavações devem estar incluídas as intervenções de
preservação.
- Soterrar, após uma documentação exaustiva, com levantamentos fotogramétricos.
- Intervenções rápidas e aceleradas.
- Resguardos ligeiros e “capping” como proteção temporária.
- Tratamento químico das superfícies verticais.
- Pesquisa em laboratório: comportamento mecânico do material, composição,
consolidação, produtos de tratamento.
- Definição de projetos-piloto de pesquisa em locais específicos.
- Criação de um banco de dados para centralizar e difundir os resultados da pesquisa;
- Inspeção regular e manutenção;
- Arranjo das instalações em edifícios em bom estado: equipamento sanitário,
eletricidade, aquecimento.

SANTA FÉ - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA -1977


- Pesquisa sobre: técnicas de construção; compatibilidades do material;
comportamento sísmico; métodos não destrutivos para determinar o teor de água,
localização e migração; deformação plástica; migração e cristalização de sais; barreira
anti capilar; drenagem superficial e subterrânea; argamassas tradicionais e
aperfeiçoadas para “capping” e materiais de preenchimento; tratamento de superfície
química para elementos decorativos; métodos de reforço e consolidação de estruturas.
- Desenvolvimento de um glossário de técnicas de construção.
- Nomeação de um comité internacional com vista à estandardização dos ensaios em
campo e de laboratório.
- Projetos-piloto coordenados em campo e desenvolvimento de um sistema
internacional de trocas de informação.

405
ANKARA-TURQUIA-1980
- Introdução do termo “arquitetura de terra” no léxico da preservação; definição do
termo.
- Encoraja a utilização de métodos e materiais tradicionais, baseados em
considerações de contabilidade e utilização contínua.
- Sublinha a necessidade de uma proteção temporária durante as escavações.
- Especificação das características e exigências das estruturas de proteção.
- Pesquisa sobre sistemas modulares para resguardos, a experimentar em projetos-
piloto.
- Desenvolvimento de normas para os ensaios em laboratório e procedimentos em
campo.
- Recomendações específicas para as estruturas em terra em parte queimadas.

LIMA-PERU-1983
-Reitera a necessidade urgente de desenvolvimento de uma rede para a preservação
das arquiteturas de terra.
- Inventário sistemático dos sítios em terra; estudos avançados sobre as técnicas de
construção.
- Formação intensiva em centros específicos.
- Formação específica em preservação de pinturas murais com suporte em terra.

406
- Considerações gerais relacionadas com a reabilitação e aperfeiçoamento da
arquitetura em terra.

ROMA-ITÁLIA-1987
- Chamada de atenção para a responsabilidade na execução das recomendações
internacionais.
- Substituição do nome do Comité Internacional do ICOMOS (…conservação da
arquitetura em terra).
- Promove o papel centralizador do Comité na coordenação e difusão da informação e,
na preparação de uma bibliografia analítica “Conservation Information Network”
- Criação de um programa de formação específica sobre o estudo e conservação da
arquitetura de terra, com sede no CRATerre-EAG, em Grenoble.
- Estabelecimento de laços com laboratórios industriais de pesquisa industrial.
- Criação de comités nacionais.
- Afirmação da necessidade urgente de criação de um inventário detalhado.
- Lançamento de projetos-piloto.
- Relatório multidisciplinar sobre o estado atual da arquitetura de terra.

407
LAS CRUCES- ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA -1990
(Adobe 90)
- Não foram redigidas conclusões/recomendações.
(Apenas foi indicado, que se cumpram as recomendações dos anteriores encontros)

SILVES-PORTUGAL-1993 (Terra 93)


Recomendações gerais
- A conservação do património arquitetónico de terra não deverá limitar-se apenas à
preservação dos edifícios, mas também, ter em consideração as tradições
construtivas, ainda hoje vivas, e o saber de experiência feiro. Nesta ótica, é uma das
prioridades, a formação e a atualização no campo das práticas construtivas e das
tecnologias da terra.
- Deverá desenvolver-se a pesquisa do saber tradicional. Tal deverá conduzir ao
estabelecimento de normas para uma prática correta que tenha em consideração, não
só o material em si, mas também os sistemas construtivos da arquitetura de terra.
- A terminologia deverá ser fixada, com a realização de um glossário multilinguístico de
termos relativos à arquitetura de terra.
- Linhas de orientação e material didático, obedecendo a uma metodologia uniforme,
deverão ser preparados e largamente difundidos, a fim de fornecer aos técnicos da

408
arquitetura de terra o material teórico e prático necessário. Este material deverá ser
elaborado em várias línguas.
- A conservação do património arquitetónico deverá ser encarada num contexto mais
vasto, de desenvolvimento, habitat, ambiente e qualidade de vida. As questões
técnicas não podem ser dissociadas das condições sociais, económicas, políticas e
culturais.
- Deverão ser realizados esforços de cooperação entre instituições especializadas e
outros intervenientes para reforçar o projeto e construção dos edifícios de terra,
através do desenvolvimento de estratégias de tecnologias de construção viáveis e
ambientalmente integradas.
- O grau de compromisso nacional, regional e local deverá ser reforçado, no que diz
respeito à conservação e uso da arquitetura de terra.
- Deverá ser encorajado o recurso mais eficaz aos meios de comunicação,
promovendo-se uma maior consciencialização sobre as questões da conservação e do
uso da arquitetura de terra.
- Deverão ser estabelecidas normas internacionais para o inventário do património
arquitetónico de terra.
- Deverá ser encorajada a criação de Comités Nacionais do ICOMOS para a
arquitetura de terra, de forma a ajudar na divulgação da informação no que respeita à
conservação do património construído em terra.
- A informação audiovisual (sobretudo os vídeos), relacionada com a conservação do
património arquitetónico de terra, deverá ser colocada à disposição de instituições
educacionais, do ensino básico ao universitário. Esta informação deverá ser incluída
em programas de educação visual ou, em disciplinas opcionais relacionadas com o
assunto em causa.

Recomendações específicas
O problema dos sismos
- Os governos deverão incentivar a criação de uma legislação de prevenção da
destruição dos edifícios afetados por sismos, antes de ser definido, oficialmente, um
projeto de emergência.
- A pesquisa e os ensaios técnicos deverão ser redigidos, preferencialmente; às
técnicas de estabilização e não às técnicas de reforço.
- Sempre que possível, deverão realizados testes dinâmicos, à escala natural ou à
escala mais próxima do real, até ao colapso dos modelos utilizados.

409
- Para além da pesquisa em laboratório é importante estudar as técnicas tradicionais
de construção e a resistência real dos edifícios históricos em zonas sísmicas. Deverá
ser feita uma tentativa para catalogar e caracterizar os danos causados por
perturbações sísmicas.
- A pesquisa deverá ser efetuada por equipas pluridisciplinares.

Metodologias e prática de conservação


- Deverão ser encorajados esquemas de cooperação que envolvam apoio industrial,
público, nacional e internacional. A colaboração interdisciplinar é fundamental para o
sucesso da prática de conservação.
- Deverá ser criado um glossário, que contenha um sistema standard terminológico e
gráfico.
- Para que sejam fixados padrões internacionais, deverão ser efetuados registos
antes, durante e depois da conservação ou restauro. A monitorização deverá ser tida
em consideração sempre que necessário. Nas publicações, as medidas terão de ser
apresentadas de acordo com o padrão estabelecido.
- A conservação da arquitetura de terra, deverá ser incluída nos esquemas gerais de
planeamento, contando com o apoio político e financeiro. Será importante criar um
documento de orientação que apoie os planos estratégicos de desenvolvimento.
Pesquisa
- A pesquisa deverá ser conduzida e relacionada com a prática de campo e os
fenómenos observados. Os resultados analíticos deverão ser relacionados com as
consequências observadas em campo.
- As bibliografias e referências bibliográficas deverão ser incluídas em todos os
relatórios para publicação.
- Não deverão ser realizados ensaios experimentais em edifícios históricos com
materiais irreversíveis ou que não tenham sido sujeitos a testes.
- Na investigação, deverá ser prestada maior atenção às análises estatísticas. Os
erros deverão ser incluídos na discussão de resultados.
- Deverão ser estabelecidos padrões para procedimento analítico, que permitam a
comparação de dados.
- Deverão ser estabelecidos padrões para a avaliação de resultados e intervenções.
Esta tarefa deverá ser realizada por uma comissão de especialistas, oriundos de
laboratórios e instituições de pesquisa.

410
Desenvolvimento tecnológico e perspetivas industriais
- Os grupos de pesquisa académica e os grupos de desenvolvimento deverão ser
encorajados a porem fim à sua atividade isolada, podendo desta forma atender
eficazmente às necessidades reais que surgem em campo.
- Deverão ser sintetizados os desenvolvimentos tecnológicos para que as técnicas
possam tornar-se imediatamente operacionais.
- A pesquisa e o estudo deverão ser encorajados para diversificar o uso da terra como
material de construção, em diversas áreas como, por exemplo, em construções
agrícolas. A terra, juntamente com outros materiais locais é essencial para uma
construção agrícola apropriada e de baixo custo.
- O desenvolvimento industrial, incluindo a estandardização, deverá ser orientado para
responder às verdadeiras necessidades sociais.

Nota: As recomendações apresentadas e referentes aos encontros internacionais que


tiveram lugar desde Yazd/Irão em 1972 a Silves/Portugal em 1993 encontram-se
publicadas nas atas da 7ª conferência internacional sobre o estudo e conservação da
arquitetura de terra, Terra 93, vol II. Lisboa: Edição DGEMN, 1993, pp. 87-91.

TORQUAY/DEVON-UK-2000 (Terra 2000)


1.0 Recomendações gerais
1.1 Temos de continuar a desenvolver e a praticar abordagens de conjunto em temas
de conservação, onde os assuntos técnicos não estejam divorciados das realidades
sociais, politicas, culturais e económicas. Isto significa que as comunidades locais
devem participar nas decisões de conservação que afetam os lugares que elas
habitam e usam.

411
1.2 A conservação da arquitetura em terra não deve ser apenas dirigida para a
preservação dos edifícios, mas também para a preservação das tradições e saber -
fazer locais.
1.3 Requerem-se uma forte e dinâmica liderança ao nível internacional, nacional e
local, no que respeita à conservação, assim como à continuidade e uso da arquitetura
em terra.
1.4 Devem ser feitos esforços, no sentido de estabelecer inventários e registos dos
tipos arquitetónicos e dos sistemas construtivos em terra.
1.5a O termo “geo-arquitetura” deve ser adotada apenas, para designar de uma forma
mais precisa o ambiente e a envolvente da arquitetura em terra.
1.5b O termo “arquitetura em terra”, não deve ser alterado para “geo-arquitetura”, já
que este confunde a circunscrição.

2.0 Formação e Educação


2.1 Deverão desenvolver-se atividades educativas que despertem o interesse do
público para o valor da arquitetura em terra e que demonstrem, que a conservação e o
uso dos materiais tradicionais não é antitético nem opositor para o desenvolvimento.
2.2 Existe ainda a necessidade de treinar e atualizar a formação de pessoas em
tecnologias de construção com terra, assim como em métodos práticos de
conservação em terra. Devem ser feitos esforços de modo a incorporar estratégias e
materiais didáticos em programas universitários de arquitetura, arqueologia e
conservação.
2.3 Devem ser estabelecidos “conservatórios de sítio”, como locais vocacionados para
a conservação e desenvolvimento, isto é para a formação em conservação, para o
desenvolvimento de práticas em conservação e para a promoção do património
construído em terra.

3.0 Comunicação e Informação


3.1 O acesso à informação é um fator crítico. Deverão ser desenvolvidos esforços de
forma a assegurar que os conhecimentos transcendam fronteiras geográficas,
linguísticas, técnicas e económicas. Isso supõe o envolvimento na produção e
transmissão de informação de várias formas: escrita, digital, visual e em muitas
linguagens, para que nenhum meio de comunicação ou língua sejam privilegiados. É

412
importante, para o desenvolvimento e disseminação contínuo os glossários
multilinguísticos.
3.2 Existe a necessidade de estabelecer e fortalecer os centros regionais, a fim de
disseminar a informação relativa à conservação e à continuidade do uso da arquitetura
em terra. Esta regionalização de esforços irá garantir a diversidade de tradições, para
além de permitir a transmissão de conhecimentos.
3.3 Devem usar-se melhor os “media” meios de comunicação, para promover e
desenvolver o conhecimento e compreensão referentes à arquitetura em terra.
3.4 Devemos melhorar a nossa representação em acontecimentos, eventos e comités
internacionais, em termos disciplinares e geográficos, mas também com o objetivo de
dar a conhecer o valor, a conservação e o uso contínuo da arquitetura em terra.

4.0 Materiais, investigação e prática


4.1 Testes e análises laboratoriais devem correlacionar-se com provas, testes de
campo e práticas ou experiências dos sítios.
4.2 As análises devem ser levadas a cabo em reconhecidos standards de forma aos
resultados poderem ser comparáveis.
4.3 Devemos ser inovadores no uso de tecnologias analíticas para melhor
compreendermos os materiais em terra mas também sensíveis, perante a necessidade
de realizar provas de campo simples e empíricas.
4.4 Deverão ser estabelecidos standards para avaliar os resultados dos tratamentos.
4.5 Deverá prestar-se mais atenção à avaliação, aferição, monitorização de anteriores
tratamentos aplicados, assim como ao desenvolvimento de soluções de conservação
apropriadas e sustentáveis.
4.6 O comportamento sísmico das estruturas é uma questão de vida ou morte. É
necessária mais investigação, para o desenvolvimento de técnicas baseadas na
estabilidade e com o mínimo de atualização, para que possam ser amplamente
difundidas.
4.7 Documentação adequada e estudos de análise são indispensáveis para o
processo de conservação, para além de constituírem ferramentas para o diagnóstico,
avaliação de riscos e gestão. Deve-se aproveitar as oportunidades oferecidas pelas
novas tecnologias e avanços tecnológicos (levantamentos digital, SIG, deteção
remota) e seguir conscientes, da necessidade em saber interpretar
multidisciplinarmente os resultados. Adicionalmente é necessário ainda realizar

413
trabalho no sentido de desenvolver nomenclatura própria e standard para o
mapeamento de patologias.
4.8 Investigação e trabalho de campo deverão ser publicados em edições avaliadas e
revistas da especialidade.

5.0 Normalização/Standards
5.1 Deverão ser estabelecidas normas e “standards” para a construção
contemporânea em terra. Isso será necessário se queremos que a terra seja um
material aceite, válido enquanto material de construção, mas deve prestar-se atenção
ao facto de que os “standards” satisfazem necessidades reais e protegem a
diversidade.
5.2 Deverão realizar-se esforços no desenvolvimento de melhores ferramentas legais,
quer no sentido de proteger o património monumental/ arqueológico em terra, quer no
desenvolvimento para continuar a usar e habitar edifícios construídos em terra.
5.3 É necessário rever e corrigir as atuais orientações, diretrizes e “standards”
referentes à conservação da arquitetura vernácula.
Nota: As recomendações referentes à conferência TERRA 2000 foram traduzidas a
partir das versões em inglês e espanhol publicadas em TERRA 2000 Postprints, 8 th
International conference on the study and conservation of earthen architecture.
London: James and James (Science Publishers), 2000, pp. 57-61.

YAZD-IRÃO-2003 (Terra 2003)


Foram preparadas e redigidas conclusões/recomendações no decorrer da conferência.
No entanto, ficaram suspensas devido ao sismo que devastou o sítio e a cidade de
Arg-e Ban no Irão e que teve lugar em 26 de Dezembro de 2003, poucas semanas
após a conferência (9 th International conference on the study and conservation of
earthen architecture, Terra 2003, Yazd-Iran 29 November to 2 December 2003).

414
BAMAKO-MALI (Terra 2008)
Arquitetura de Terra no Mali
Conclusões
- A arquitetura de terra no Mali é objeto de mutações, reflexo da evolução da própria
sociedade, da influência exterior, da utilização de novos materiais etc.
- O comprometimento das comunidades locais e dos profissionais da habitação e do
urbanismo são a garantia de uma boa conservação da arquitetura em terra no Mali.
Recomendações
- Continuar com o inventário e documentação relativo à arquitetura em terra no Mali
pois valorizam o conhecimento e o saber – fazer locais;
- Encorajar a difusão dos conhecimentos através da gestão participativa, da maior
participação das mulheres e do ensino das novas gerações,
- Tratar o problema da conservação da arquitetura em terra no seu conjunto, tendo em
conta os diferentes aspetos;
- Os estudos de impacto ambiental deverão ser integrados em programas de gestão e
conservação de arquitetura em terra.

A conservação de Sítios Habitados


Conclusões
- Existe uma enorme variedade de sítios em terra ainda habitados que contribuem
fortemente para a diversidade cultural mundial;
- Cada sítio património construído em terra deve ser observado especificamente. Quer
do ponto de vista ambiental, social e físico assim como do forte impacto na paisagem;
- Alguns sítios património em terra são flexíveis por natureza e modificam-se ao longo
do tempo. As modificações devem ser olhadas como valores intrínsecos do sítio e
devem ser consideradas quando se discutem princípios como autenticidade e
necessidades de conservação;
- Alguns tipos arquitetónicos são designados tendo em consideração a actual
capacidade dos seus proprietários, da comunidade, das capacidades construtivas
assim como da responsabilidade em mantê-los em bom estado. Outros meios deverão
merecer menos atenção constante;

415
- Deverá ser encontrado um equilíbrio entre as necessidades de conservação e
desenvolvimento. Quando as expectativas de desenvolvimento não são tidas em
consideração existe a tendência generalizada para a rejeição da construção em terra e
sua substituição por outros métodos de construção quer pelas populações locais quer
pelos decisores – executores;
- Alguns sítios património habitados têm a capacidade para mudar e readaptar-se com
relativa facilidade. Outros há, cujos valores patrimoniais em causa exigem abordagens
e implicam precauções de maior cuidado;
- Os projetos de conservação, mesmo aqueles que por vezes têm resultados
espetaculares, não asseguram nem devem confiar que a conservação se encontra
garantida a longo prazo. Existe a necessidade premente de continuar a aferir os
resultados, a monitorizar, a manter e a reparar ao longo do tempo;
- As cidades históricas construídas em terra têm problemas específicos de
conservação, de manutenção, de normas construtivas, infraestruturas e regras para
novas construções. Existe a necessidade de desenvolver planos integrados e
mecanismos que assegurem que estes casos de cidades especiais podem manter o
seus valores patrimoniais e melhorar ao mesmo tempo a qualidade de vida dos seus
habitantes.
Recomendações
- Os aspetos relativos aos sítios património em terra devem ser tidos em consideração
no planeamento de intervenções de conservação. Isso inclui aspetos relativos aos
materiais de construção, métodos de construção relacionados com sistemas sociais e
turismo, para além de outros aspetos de desenvolvimento respeitantes à legislação e
instrumentos de planeamento;
- Aspetos intangíveis relativos ao património e à evolução da sua dinâmica social
deverão ser estudados e tidos em conta antes de qualquer intervenção de
conservação. Deverão ser ainda considerados os aspetos relacionados com crenças,
simbolismos, regras de uso, práticas construtivas e mecanismos de conservação.
Particular atenção deve ser prestada à transmissão de informação, aptidão e
conhecimentos às próximas gerações;
- A perspetiva da paisagem cultural poderá ser uma ferramenta extremamente útil
como orientação nas decisões respeitantes à conservação de sítios património em
terra;
- Existe a necessidade, não apenas no que respeita aos conhecimentos relativos à
construção em terra mas também, da promoção do património em terra. Deverão ser

416
feitos esforços no sentido de adaptar os sítios património em terra à vida
contemporânea sem comprometer os seus valores patrimoniais;
- Nas intervenções de conservação deverão ser prioritárias as ações que facilitem e
criem as condições para que os proprietários, as comunidades e todos aqueles que
detém os conhecimentos construtivos tradicionais e as responsabilidades as possam
implementar.
Recomendações gerais
- Deverão ser feitos apelos de auxílio ao programa de arquitetura em terra do
património mundial de forma a torná-lo operacional.

Conhecimentos Locais e Aspetos Imateriais ou Intangíveis


Conclusões
- A arquitetura histórica em terra é um reportório de conhecimentos locais no que
respeita à forma, ao espaço, à estrutura, aos serviços e detalhes ou pormenores.
Apesar de tudo verifica-se uma alta incidência de perda no conhecimento local;
- Conservadores - restauradores, técnicos de planeamento e desenvolvimento e outros
necessitam de ter pleno conhecimento e entendimento do sistema de valores
presentes na arquitetura vernácula em terra local. Manifestações simbólicas são
importantes para as populações locais. A perspetiva mundial e as crenças são
refletidas claramente na arquitetura vernácula tradicional em terra, a componente
imaterial ou intangível é percetível na forma construída, no pormenor e persiste ao
longo do tempo nas construções;
- A conservação da arquitetura vernácula em terra deve ser incluída no domínio do
intangível, assim como na tradição oral – pelo que métodos e conhecimentos
apropriados devem ser aplicados para a sua identificação, inventariação de forma a
inclui-los nas estratégias de conservação e nos planos de conservação de forma a
melhor compreender as mudanças que se operam;
- Quando o equilíbrio social se encontre ameaçado é necessário trabalhar e incluir a
estrutura social de forma equilibrada no projeto.

Recomendações
- A inclusão deste tópico é vital nas próximas conferências TERRA;
- É vital a ligação com trabalhos de grupo como os do ICOMOS e ISC no que respeita
ao património intangível ou imaterial;

417
- Qualquer trabalho de conservação deve ter conhecimento dos sistemas de
conhecimento importantes para a conservação, nenhum trabalho de conservação deve
ser precedido e deve incluir os conhecimentos e sistemas tradicionais de forma a fazer
perdurar os valores tangíveis e intangíveis do património;
- Os parâmetros e a relação entre o património intangível e a arquitetura em terra
deverão ser definidos a fundo;
- Deverão ser desenvolvidos os métodos para recuperar os conhecimentos locais
referentes ao património tangível e intangível, de forma a serem integrados e a
fazerem parte das estratégias, planos de gestão e conservação;
- É necessária a sensibilização, a todos os níveis quer pela importância dos
conhecimentos e sistemas tradicionais, locais quer pela conservação do património
imaterial;
- Nenhuma intervenção de conservação em património histórico -arquitetónico em
terra deve ser executada sem a participação e bênção dos anciãos locais;
- As dimensões sociais e as técnicas de conservação devem ser integradas;
- A dimensão técnica da conservação deve ser subserviente da dimensão social;
- O resultado dos diferentes impactos sociais, culturais, da globalização, e do turismo
etc., deve ser conhecido e direcionado em qualquer processo de gestão patrimonial.

Conservação e Gestão de Sítios Arqueológicos


Conclusões
Planos de gestão:
- Os planos de gestão participados começaram a incluir e a incorporar os aspetos
tangíveis e intangíveis dos sítios arqueológicos em terra.
Tendências em conservação:
- Em muitos sítios arqueológicos em terra a tendência é abandonar o uso de materiais
modernos e regressar ao uso dos materiais e sistemas tradicionais quer em meios
locais e quer em novos meios.

Formação e sustentabilidade:
- Em muitos sítios arqueológicos os projetos foram oportunidades para os mestres
treinarem novas gerações de pessoas envolvidas com a preservação de sítios. Isso
levou à constituição de uma base de conhecimentos que foram muitas vezes aplicados

418
e disponibilizados localmente, trazendo em conjunto especialização local, integral e
sustentável para a conservação e gestão de sítios em terra.
Lições a retirar:
- Em muitos sítios arqueológicos em terra, conservadores - restauradores alteraram as
estratégias de tratamento em resposta ao que aprenderam em alguns casos,
revertendo os antigos e velhos regulamentos, e noutros, respondendo simplesmente
às condições únicas do sítio e aos materiais de construção.
Recomendações
Planos de gestão:
- Os valores universais do património em terra são e tem como principal tarefa
assegurar e conseguir o financiamento para os sítios. Recomenda-se, em alternativa
que os valores locais e regionais do sítio sejam também tidos em consideração,
especialmente quando o resultado das ações beneficia as comunidades vizinhas e
locais;
- Deverá assegurar-se a avaliação positiva e pública pelos locais do desenvolvimento
dos planos de gestão dos sítios arqueológicos, enquanto exemplos para o
desenvolvimento de outros planos de gestão a aplicar noutros sítios. Estas
ferramentas podem ser disponibilizadas em Websites como o ALUKA;
- Arqueólogos, conservadores - restauradores e gestores de sítios estão em posições
de defender melhor legislação de proteção para o património arqueológico a vários
níveis. Deverão desenvolver-se e facilitar uma série de ferramentas regulamentares de
modo a serem distribuídos por estes profissionais.
Tendências de conservação:
- Para melhorar a difusão e informação relativa à investigação e conservação de sítios
arqueológicos existe a necessidade de coordenar os profissionais que realizem
trabalho semelhante em sítios parecidos. O programa do Património Mundial, Earthen
Architecture 2007/2017 poderá ser um fórum para essa coordenação.
Formação e sustentabilidade:
- Deverão ser adaptados programas e materiais didáticos de gestão e planeamento de
conservação, já existentes, para os sítios arqueológicos.
Lições a retirar:
- Deverão ser utilizadas as tendências e experiências anteriores de escavação
arqueológica sem conservação, considerando as interpretações alternativas e os
esquemas de forma a auxiliarem e a minimizarem o impacto das escavações
arqueológicas nos sítios; considerando ainda que a ideia errada de que se devem

419
expor todas as estruturas visíveis não é um método de conservação válido para sítios
arqueológicos.

Avanços em Investigação
Conclusões/ Recomendações
- Deverão desenvolver-se a monitorização, os modelos de ferramentas e os
procedimentos para aceder às condições e intervenções que podem ser usados na
prevenção de condições ao longo do tempo;
- As vantagens da construção em terra devem ser promovidas através de
documentação científica;
- Deve-se melhorar a difusão e divulgação da investigação através de redes,
publicações periódicas avaliadas e outros meios (comités internacionais, sítios internet
etc.) para captar igualmente audiência não académica;
- A investigação científica deverá prioritariamente concentrar-se nas necessidades
para a construção e conservação e enfatizar as decisões informadas de forma a criar
soluções;
- É necessária mais investigação referente à melhoria das características e
propriedades dos materiais (como a resistência à humidade, durabilidade). Por
exemplo para as coberturas.

Sismos e Outros Fenómenos Naturais


- O problema dos sismos tornou-se num tópico crítico de investigação, projetos, etc., e
conheceu uma enorme expansão passados alguns anos até aos mais recentes e
dramáticos acontecimentos;
- Porém o material terra não é um material de construção dúctil e não estamos
preparados para introduzir essa ductilidade nas estruturas construídas em terra;
- A construção em terra tem a capacidade de dissipar rapidamente a energia de fricção
provocada por sismos e deve ser considerada aceitável;
- As abordagens referentes ao património construído e construção contemporânea
devem ser diferentes mas complementares;
- A arquitetura vernácula encerra um enorme conhecimento e um engenho intuitivo
face á construção sismo-resistentes;
- O material não é inerentemente mau mas pode conter limites para a sua aplicação
em zonas sísmicas;

420
Recomendações
- A investigação relativa aos temas sísmicos deve ser encorajada e deve continuar,
especialmente ao nível académico admitindo no entanto que na prática deve ser mais
pró-ativa do que reativa;
- São necessárias abordagens multidisciplinares na aquisição de conhecimentos de
forma a aportar complementaridade no sentido de resolver novos e complexos
problemas na prática;
- Devem ser feitos esforços no sentido de identificar, avaliar e difundir os sistemas
vernáculos sismo-resistentes entre as diferentes culturas construtivas;
- Devem-se angariar clientes e público em geral para a compreensão e entendimento
do contexto entre dois sismos;
- Os códigos de construção devem ser atualizados para reconhecimento das
diferenças existentes entre as novas construções em regiões sísmicas.

Conservação e Desenvolvimento
Conclusões
- Na conservação da arquitetura em terra, temas como a economia específica, o
ambiente e os aspetos sociais devem ter lugar, ser indissociáveis e devem ainda ser
considerados de forma abrangente e estrutural. Devem ser feitos esforços no sentido
da conservação quer dos aspetos tangíveis querem intangíveis:
- Aglomerados e edifícios estão investidos de significado histórico, político, cultural e
socioeconómico. Em muitos locais a arquitetura em terra está associada à pobreza e
subdesenvolvimento. A visibilidade dos bons exemplos e das boas práticas são
cruciais para gerar a valorização local da arquitectura em terra.
Recomendações
- Esforços de conservação no sentido de incorporarem uma abordagem “etnográfica”
devem ser encorajados. Ver e ouvir antes de intervir. É imperativo que nas estruturas
sociais, dentro das quais se pratica a construção em terra as mesmas sejam
compreendidas de forma a obter resultados sustentáveis.
- O desenvolvimento deve ser o centro o coração dos esforços para a conservação.
Os benefícios para a comunidade serão claros e estabelecidos de forma a incluírem
oportunidades, de modo a ganharem e a atingirem conhecimentos técnicos e
capacidades, estatuto profissional para creditação do sistema, aquisição de emprego e
respetiva renumeração financeira para trabalhos relacionados com projetos;

421
- Os projetos de conservação deverão incluir flexibilidade no sentido de responderem
às alterações necessárias, aspirações e estilos de vida ou escolhas da comunidade. A
conservação de aglomerados e edifícios não deverá apenas apontar para o passado,
mas também versar as potencialidades futuras, o significado e as necessidades
comuns da comunidade.

Normas e Standards
Conclusões e Recomendações
- A construção de edifícios em terra nos centros urbanos em muitas partes do mundo é
ilegal;
- Normas para a construção contemporânea continuam a ser limitadas e praticamente
inexistentes;
- As normas ou standards necessitam de responder à diversidade de temas regionais
e às necessidades específicas das sociedades atuais;
Normas ou standards são ferramentas essenciais para:
- auxiliar na credibilidade da terra enquanto material de construção;
- garantir a qualidade e segurança da vida humana;
- liderar o desenvolvimento político e regulamentar da construção e conservação com
terra.

Formação e Educação
Conclusões:
A importância da integração:
- teoria e prática;
- construção com conservação;
- meios formais e informais de ensino.
A importância da multidisciplinaridade.
- ciência e humanidades.
A importância de apreender com quem constrói:
- os mestres construtores (pedreiros e associações de construtores) são a base para
se conseguir elevada qualidade em conservação.
Recomendações:
- Deverão institucionalizar-se de forma mais coerente os métodos de ensino referentes
à arquitetura em terra;

422
- Difundir e obter das conclusões, resultados científicos e soluções técnicas de forma a
criar meios de ensino para diferentes grupos de pessoas;
- Criar efetivamente mais redes entre os que praticam e os que ensinam.
Nota: As conclusões e recomendações por temas e referentes à conferência “Terra
2008” foram traduzidas a partir das que foram apresentadas, parcialmente em inglês e
francês, no final da referida conferência. As mesmas encontram-se disponíveis na
versão provisória em: http://terre.grenoble.archi.fr/colloques.php.
Versão definitiva, traduzida diretamente a partir da publicação em língua francesa:
Conclusões e recomendações gerais

A partir de cada sessão da conferência, os relatores devolveram os pontos essenciais


e as mais importantes recomendações das apresentações e discussões de cada tema.
Eles foram agrupados e desenvolvidos para conduzir às conclusões e recomendações
gerais da conferência aqui resumidos.
- O Mali oferece um dos mais extraordinários patrimónios em terra do mundo, assim
como a permanência de uma tradição do trabalho na terra. Era conveniente o seu
reconhecimento internacional, nacional e local devido ao imenso valor que este
representa para a comunidade mundial.
- O estudo da arquitetura em terra tornou-se (ou torna-se rapidamente) uma disciplina
autónoma, com terminologia específica, conhecimento bem definido e pedagogia
própria.
- A arquitetura de terra reúne uma quantidade notável de conhecimentos intuitivos de
engenharia que fornecem indicações úteis que garantem a manutenção permanente e
as novas construções.
- Os esforços de conservação devem visar a integrar os aspetos materiais e imateriais
deste património, e a respeitar a estrutura social nos quais se inscrevem as práticas de
construção.
- As iniciativas de conservação devem incluir a população local. Ela é essencial para
assegurar a durabilidade dos esforços, a valorização e a manutenção a longo prazo
deste património.
- Existem diferentes formas e fontes de conhecimento. O conhecimento tradicional, a
investigação científica e a prática profissional, todos tem um papel a desenvolver na
conservação assim como na conceção de construções em terra.
- A conservação e o desenvolvimento não são contraditórios mas pertencem ao
mesmo processo contínuo. A arquitetura em terra não é apenas um vestígio do

423
passado; é um componente vivo da existência contemporânea. Este último é
particularmente importante no mundo atual, frágil onde a noção de durabilidade em
matéria de ambiente e social reveste-se cada dia de maior importância.
- A arquitetura em terra nos centros urbanos implica certas questões que convém
resolver pelos esforços integrados de planificação e de políticas de desenvolvimento
apropriadas.
- A continuidade e a manutenção são essenciais para a permanência do património
em terra, qualquer que ele seja e quem sejam os responsáveis pela sua manutenção.
- È conveniente acionar um mecanismo de difusão mais eficaz e inovador com o
propósito de divulgar as inovações técnicas e os resultados da investigação para os
que precisam.
- É igualmente importante respeitar e preservar os sistemas tradicionais de
transmissão locais.
- A formação deverá integrar teoria e prática e ter em conta as diversas formas de
ensino.
- É conveniente garantir não só a preservação das técnicas e práticas de construção
tradicional, mas também o modo de aprendizagem e de transmissão de
conhecimentos.
- É necessário um esforço - ao nível local, a par da colaboração internacional – a fim
de assegurar a manutenção do extraordinário património arquitetónico em terra do
mundo, assim como dos conhecimentos, que eles representam para as gerações
vindouras.

Nota: A versão definitiva foi publicada em 2011 nas atas da conferencia, em língua inglesa e
francesa e referem apenas doze itens dos 39 apresentados na conferencia.
10th INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE STUDY AND CONSERVATION OF
EARTHEN ARCHITECTURE, TERRA 2008 (Ed. Leslie Rainer, Angelyn Bass Rivera, David
Gandreau), Bamako, Mali, 1-5 February 2008, proceedings. Los Angeles: Getty Publications,
2011, ISBN 978-1-60606-043-8, pp. 389-391.

424
LIMA-PERU (Terra 2012)
Na quinta-feira 26 de abril teve lugar na seção de clausura da “ XI Conferencia
Internacional sobre el Estudio y Conservación del Patrimonio Arquitectónico de Tierra,
Terra 2012”, que contou com a participação ativa de delegações de todos os
continentes. No evento foi apresentado uma versão provisória do documento final,
alusivo às conclusões e recomendações resultantes da conferência Terra 2012.
O impacto das conferências Terra:
Apesar das recomendações gerais das anteriores conferências Terra, poderem ser
uteis se tivessem sido adaptadas aos contextos locais e sociais, e às condições
culturais e naturais, a experiência demonstrou que existem dificuldades para a sua
integração e aplicação. Cada participante deve converter-se em agente de
transmissão destas recomendações nas redes onde participa e nas instituições com
que contata.

Mudanças e inovação:
Observam-se mudanças à velocidade e complexidade dos desafios atual. A
arquitetura de terra deve-se integrar com outras disciplinas, na abordagem de temas
como os materiais, a inovação tecnológica, o desenho e a conservação do património
vinculado ao desenvolvimento local.

Desastres naturais:
Em várias regiões do mundo, existem condições onde a conservação da arquitetura de
terra é vital devido à vulnerabilidade frente aos desastres naturais e humanos que
aceleram o seu desaparecimento. Há que desenvolver una cultura preventiva e de
gestão de riscos baseados em princípios propostos pelo ICOMOS-Perú nesta
conferência.

Academia e sociedade:
Para além da formação e da investigação, o mundo académico intervém de forma
cada vez más ativa em resposta às necessidades sociais. Os atores ligados à
arquitetura terra têm a responsabilidade de gerar políticas de atuação adequadas a
nível regional e local.

425
Continuidade:
Existe um risco latente de se perder a continuidade nas culturas arquitetónica e
construtiva em terra. Essa perda terá repercussões direta na sobrevivência do
património. Para facilitar esta continuidade, é necessário explorar e inovar outras
direções em desenho contemporâneo; a interdisciplinaridade é fundamental para obter
uma visão global.

Formação e transferência:
Subsiste a desvalorização da área disciplinar da arquitetura em terra, tanto nos
programas de ensino como nos de formação. É necessário integrá-la com as restantes
áreas e facilitar processos pedagógicos que tomem a experiência enquanto conceito
fundamental do conhecimento.
Investigação:
A falta de definição de linhas problemáticas leva a uma redundância em temas de
investigação por falta de informação, para o qual contribui um desperdício de recursos,
energia e tempo. No entanto, é necessário definir as lacunas do conhecimento, facilitar
o acesso direto à informação científica e incentivar a investigação aplicada aos
contextos regionais.

Comunicação:
Constata-se a existência de diferentes grupos, redes e associações nacionais e
internacionais dedicados à investigação da arquitetura em terra. É necessário
promover atividades em colaboração e a criação de um observatório internacional para
definir prioridades e estratégias de investigação.

Nota: As conclusões e recomendações da conferência “Terra 2012” foram traduzidas a


partir da versão em língua castelhana apresentada no final do encontro. As mesmas
encontram-se disponíveis na versão provisória em:
http://puntoedu.pucp.edu.pe/noticias/conclusiones-terra-
2012/#.T7kAUAH5a9E.facebook

426
Anexo B – Lista dos Bens construídos, na totalidade ou parcialmente em terra e
inscritos na lista do Património Mundial.

427
ANEXO B

LISTA dos BENS PATRIMONIAIS, parcial ou totalmente construídos


em TERRA e INSCRITOS na LISTA do PATRIMÓNIO MUNDIAL

A lista do Património Mundial inclui 981 Bens, da qual fazem parte os Bens Culturais e
Naturais, que o Centro do Património Mundial considerou possuírem valor universal.
Dos Bens incluídos na Lista 759 são bens Culturais, 193 Bens Naturais e 29 Mistos
(cultural e natural). O Património Mundial em terra representa cerca de 16% do total
dos Bens Culturais e Mistos. Cerca sensivelmente de 135 Bens. Em Agosto de 2013,
190 Estados tinham ratificado a Convenção do Património Mundial.

1 - ÁFRICA:
BENIM
1985 - Palácios Reais de Abomey

BURKINA FASO
As ruínas de Loropéni

ETIÓPIA
1978 - Igrejas talhadas na rocha, Lalibela (aldeias na região)
2006 - Cidade fortificada de Harar Jugol

GANA
1979 - Fortes e Castelos de Volta, Greater Accra e das regiões do Centro e Oeste *
1980 - Edifícios tradicionais de Asante

MADAGASCÁR
2001 - Real Colina de Ambohimanga

MALI
1988 - Cidade velha de Djenné
1988 - Tombuctu
1989 - Bandiagara Território Dogon

428
2004 - Túmulo de Askia

MOÇAMBIQUE
1991 - Ilha de Moçambique (construções em pau-a-pique)*

NIGÉRIA
2005 - Floresta sagrada d’Osun-Oshogbo (construções em terra empilhada)
1999 – Paisagem cultural de Sukur (construções em terra empilhada e uso de rebocos
e argamassas de terra em alvenarias de pedra)

SENEGAL
1978 - Ilha de Gorée*

TOGO
2004 - Koutammakou, e país dos Batammariba (construções em terra empilhada e
terraços em terra)

UGANDA
2001 - Túmulos dos Reis do Buganda em Kasubi (construções em terra e palha)

2 - ESTADOS ÁRABES :
ARÁBIA SAUDITA
2010 – At-Turaif em ad-Dir’iyad (cidadela e sítio arqueológico)

ARGÉLIA
1982 - Vale de M’Zab
1992 - Kasbah de Argel

BARAIN
2005-2008 - Qal’at al-Bahrain – Antiga capital de Dilmun

EGITO
1979 – Antiga Tebas e Necrópole (diversos sítios em adobe na zona tampão)

429
1979 – Memphis e a sua Necrópole a zona das pirâmides de Gizé a Dahchour
(pirâmides em adobe revestidas em alvenaria de pedra)

EMIRATOS ÁRABES UNIDOS


Sítios d’Al Aïn: Hafit, Hili, Bidaa Bint Saud e o Oásis (construções em adobe)

IÉMEN
1982 - Cidade Velha Muralhada de Shibam (terra empilhada e adobe)
1986 - Cidade Velha de Sana’a
1993 - Cidade Histórica de Zabid

IRAQUE
1985 – Hatra (construções em adobe)
2003 - Sítio Arqueológico de Ashur (Qal'at Sherqat)
2007 - Sítio Arqueológico de Samarra (adobe)

LÍBIA (RÉPUBLICA ÁRABE JAMAHIRYA)


1988 - Cidade velha de Gadamés

MAURITÂNIA
1996 – Antigos ksour de Ouadane, Chinguetti, Tichitt et Oualata (construções em
pedra, terra e madeira)

MARROCOS
1981 - Medina de Fez
1985 - Medina de Marraqueche
1987 - Ksar Ait-Ben Haddou
1996 - A Cidade Histórica de Mecknés
1997 - O Sítio Arqueológico de Volubilis (vestígios de casas em adobe)
2004 - A Cidade Portuguesa de Mazagão* (terra de enchimento nas fortificações e
argamassas de terra nas construções)

OMÃN
1987 - Forte de Bahla

430
SÍRIA
1979 – Cidade antiga de Damasco (casas em taipa)

SUDÃO
2003 - Gabal Barkal e sítios na região de Napatan

TÚNISIA
1979 – Sítio de Cartago (vestígios arqueológicos de casas em terra na colina de
Byrsa)
1985 - Medina de Tunes (arquitectura vernácula em terra)
1985 – Cidade Púnica de Kerkuane e a sua Necrópole (vestígios arqueológicos de
habitações vernáculasem terra)
1988 – Medina de Sousse (arquitectura vernácula em terra)

3 - ÁSIA-PACÍFICO:
AFEGANISTÃO
2003 - Paisagem Cultural e Vestígios Arqueológicos do Vale de Bamiyan
2002 - Minarete e vestígios arqueológicos de Jam

CAMBOJA
1992 – Angkor (argamassas em terra)

CHINA
1987 - Caves de Mogao
1987 - Mausoléu do primeiro Imperador Qin (paredes em taipa)
1987 - A Muralha da China (diversos troços em taipa)
1994-2000-2001 - Conjunto histórico do Palácio de Potala em Lhasa (taipa e adobe)
1997 – A velha cidade de Lijiang
2005 - Centro histórico de Macau (vestígios arqueológicos em taipa)*
2006 - Yin Xu
2008 - Fujian Toulou (casas fortificadas em taipa)
2009 – Monte Wutai

431
ÍNDIA
1986 - Igrejas e Conventos de Goa (construções em Laterite) *

IRÃO (REPÚBLICA ISLÃMICA)


1979 – Persepolis (vestígios de muros de adobe)
1979 - Sítio arqueológico de Tchogha Zanbil
1979 – Meidan Emam, Ispahan (muros de enchimento em adobe)
2003 - Takht-e Sulaiman (muros de adobe)
2004 e 2007 - A cidade e a paisagem cultural de Bam (terra empilhada e adobe)
2009 - Shushtar Sistema Hidráulico Histórico (muitos dos canais adutores no subsolo
foram construídos em sistemas de terra escavada)
2009 – Soltaniyeh (muros de enchimento em adobe)
2010 – Bazar Histórico de Tabriz
2010 – Conjunto de Ardabil e praça Sheikh al-din Khãnegãh
2011 – Jardim Persa (muros de adobe)

JAPÃO
1993 - Monumentos Budistas da Área Horyou-ji
1993 - Himeji-jo
1994 - Monumentos históricos da antiga Kyoto (cidades de Kyoto, Uji e Otsu)
1995 - Cidades históricas de Shirakawa-go e Gokayama
1996 – Santuário de Itsukushima Shinto Shrine
1998 - Monumentos históricos da antiga Nara
1999 – Santuários e templos de Nikko (estrutura em madeira com preenchimento em
terra)

NEPAL
1979 – Vale de Kathmandu (construções em adobe e uso de argamassas de terra em
alvenaria)

PAQUISTÃO
1980 - Ruínas Arqueológicas de Moenjodaro (adobe)

432
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DA COREA
1995 – Templo de Haeinsa Janggyeong Panjeon, depósitos de plataformas Tripitaka
Koreana (rebocos em terra)

REPÚBLICA DA COREA
1995 – Gruta de Seokguram et templo de Bulguksa (estruturas em madeira e terra)
1995 - Sanctuaire de Jongmyo (estruturas de madeira e terra)
1997 – Conjunto dos Palácios de Changdeokgung (estruturas de madeira e
enchimento e reboco com terra)
2000 – Zonas históricas de Gyeongjum (rebocos em terra)
2004 - Túmulos de Kogurvo
2010 – Vilas históricas de Coreia: Hahoe et Yangdong (construções em taipa, terra
empilhada, técnicas mistas)
2009 - Túmulos Reais da Dinastia Joseon

SRI LANKA
1988 – Cidade velha de Galle e as suas fortificações*

TAILÂNDIA
1991 – Cidade histórica de Sukhothaï e cidades históricas associadas (construções
em terra modelada)

TAJIQUISTÃO
2010 – Sítio proto-urbano de Sarazm

TURQUEMENISTÃO
1999 - Estado Histórico e cultural do Antigo Merv
1999 - Kunya-Urgench (fortificações em adobe)
2007 –A Fortaleza Parthian de Nisa

UZBEQUISTÃO
1990 - Itchan Kala
1993 - Centro Histórico de Bukhara
2000 - Centro Histórico de Shakhrisyabz (casas vernáculas em terra)
2001 - Samarcanda – Cruzamento de culturas (casas vernáculas em terra)

433
4 - EUROPA E AMÉRICA DO NORTE
AZERBEIJÃO
2000 - A cidade intramuros de Baku, o palácio de Shirvanshah e Torre (habitações e
muralhas)

ALEMANHA
2010 – Minas de Rammelsberg, cidade histórica de Goslar e Sistema hidráulico do
Upper Harz (sistema construtivo das casas em Goslar em taipa de rodízio)

ESPANHA
1984 – Centro histórico de Córdova
1984 - O Alhambra, Generalife e Albayzin, Granada (construções em taipa)
1986 – Cidade velha de Cáceres (construções em taipa)
1987 – Catedral, Alcazar e Arquivo das Índias em Sevilha (algumas paredes em taipa)

FRANÇA
1996 - Canal do Midi (habitações em taipa na região)
1998 - Sítio histórico de Lyon (casas em taipa na Croix-Rousse)
2001 - Vila medieval de Provins
2008 - Fortificações Vauban (técnicas de construção em terra)

ISRAEL
2005 - Lugares Bíblicos – Megiddo, Hazor, Beer Sheba

PALESTINA
2012 – Igreja da Natividade e Rota de Peregrinação

PORTUGAL
1986 - Centro histórico de Évora (casas em taipa no bairro da Mouraria)
1996 – Centro histórico do Porto (casa em taipa de fasquio, pontualmente)
2001 – Centro histórico de Guimarães (casas em taipa de rodízio e fasquio)
2012 – Cidade de guarnição fronteiriça de Elvas e suas muralhas (casas e fortificações
em taipa)

434
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
1978 - Parque Nacional de Mesa Verde
1982 – Sítio Histórico de Cahokia Mounds State
1987 – Região da Cultura Chaco
1992 - Pueblo Taos

REINO UNIDO, IRLANDA DO NORTE e ALEMANHA


1987, 2005 e 2008 – Fronteiras do Império Romano (Muralha de Adriano)

TURQUIA
1994 - Cidade de Safranbolu (estruturas de madeira e adobe)
2012 – Sítio Neolítico de Çatal Höyük

5 - AMÉRICA LATINA E CARAÍBAS


BOLÍVIA
1987 - Cidade de Potosi (casas em adobe)
1991 - Cidade histórica de Sucre (casas em adobe)

BRASIL
1980 - Cidade histórica de Ouro Preto*
1982 - Centro histórico da cidade de Olinda*
1985 - Centro histórico de Salvador da Baía (vestígios arqueológicos) *
1985 – Santuário do Bom Jesus de Congonhas (arquitetura vernácula em terra na
zona envolvente) *
1997 - Centro histórico de São Luís*
1999 - Centro histórico da cidade de Diamantina*
2001 - Centro histórico da cidade de Goiás*

CHILE
2000 – Igrejas de Chiloé.
2003 - Bairro histórico do porto da cidade de Valparaíso (sistemas construtivos em
madeira e adobe).
2006 - Cidade de Sewell Mining

435
COLÔMBIA
1984 - Porto, Fortificações e conjunto de monumentos, Cartagena (paredes em adobe
protegidas por alvenaria em pedra)
1995 - Centro histórico de Santa Cruz de Mompox (habitações em adobe)
1995 - Parque arqueológico Nacional Tierradentro (túmulos escavados)
2011 – Paisagem cultural do café da Colômbia (construções em taipa e estrutura de
madeira e terra)

CUBA
1982 - Antiga Havana e fortificações
1988 - Trinidad e o Vale dos Engenhos (construções em madeira e terra)
1999 – Vale dos Viñales (construções tradicionais em terra)
2005 - Centro histórico urbano de Cienfuegos
2008 - Centro histórico de Camaguey

EQUADOR
1978 – Cidade de Quito
1999 - Centro histórico de Santa Ana de los Ríos de Cuenca

EL SALVADOR
1993 – Sítio Arqueológico de Joya de Céren

GUATEMALA
1979 - Antiga Guatemala

MÉXICO
1987 - Centro histórico da cidade do México e Xochimilco (casos isolados de
habitações em adobe)
1987 - Centro histórico de Oaxaca e sítio arqueológico do Monte Albán
1987 - Centro histórico de Puebla (casos isolados de habitações em adobe)
1987 – Cidade pré-hispânica de Teotihuacan (adobes e argamassas de terra de
enchimento)
1988 - Cidade histórica de Guanajuato e Minas próximas (casos isolados de
habitações em adobe)
1991 - Centro histórico de Morelia (habitações em adobe)

436
1993 - Centro histórico de Zacatecas (casos isolados de habitações em adobe)
1998 - Zona arqueológica de Paquimé, Casas Grandes
2008 - Cidade protegida de S. Miguel e Santuário de Jesus Nazareno

NICARÁGUA
2000 – Ruínas de Léon Viejo (paredes em taipa)
2011 – Catedral de León (algumas paredes são de terra)

PERU
1986 – Sítio Arqueológico de Chan Chan
1988 e1991 - Centro Histórico de Lima (casa em adobe e pau-a-pique)
2009 - A Cidade Sagrada de Caral-Supe (argamassas e rebocos de terra assim como
vestígios de paredes em vegetal e terra)

URUGUAY
1995 – Bairro histórico da cidade de Colonia do Sacramento* (argamassas e rebocos
em terra)

VENEZUELA (REPÚBLICA BOLIVARIANA DA)


1993 - Coro e o seu Porto

Nota: * WHPO – Património Mundial de Origem/ Influência Portuguesa


Documento elaborado com base na Lista do Património Mundial disponível em
http://whc.unesco.org/en/list

Lista do património mundial em terra do CRATerre [Consult.2011-04-19]. Disponível


em: WWW: <URL:http.//terre.grenoble.archi.fr/patrimoine/listepatrimoine2007.pdf

CRATerre-ENSAG (edit. David Gandreau, Letizia Delboy, Thierry Joffroy) – Patrimoine


Mondial. Inventaire de l’architecture de terre. Programme du Patrimoine Mondial pour
l’architecture de terre, WHEAP. [CD]: CRATerre-ENSAG/ WHEAP, avril, 2012, ISBN
978-2-906901-69-8.

Sites du Patrimoine Mondial [em linha] 1992-2013 [Consult.2013-08-23].Disponível em:


WWW: <URL: http://whc.unesco.org/fr/architecture-de-terre/>.

437
438
Anexo C – Extrato em fotocópia do: Diccionario de Agricultura, extrahido em grande
parte do cours D’agriculture de Rosier, com muitas mudanças principalmente relativas
à Theoria, e ao clima de Portugal e oferecido a sua Alteza Real o Principe Regente,
Nosso Senhor por Francisco Soares Franco.Tomo IV.Coimbra: Na Real Imprensa da
Universidade, 1806. Páginas 381, 382 e 383.

439
440
441
442
443
444
Anexo D – Entrevista ao arquiteto Francisco Silva Dias, em 30 de Julho de 2012, no
ateliê SILVA DIAS-Arquitetos, em Lisboa na Rua Gomes Leal nº18.

445
ANEXO D

ENTREVISTA AO ARQUITETO FRANCISCO SILVA DIAS.


EM 30 DE JULHO DE 2012, NO ATELIÊ SILVA DIAS-ARQUITETOS, EM LISBOA
NA RUA GOMES LEAL Nº18.

Francisco David Silva Dias nasceu em 1930, diplomou-se em arquitetura na ESBAL, Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa em 1957 e Doutorou-se em Arquitetura, especialidade
Planeamento Urbanístico, em 2000 na FAUTL, Faculdade de Arquitetura da Universidade
Técnica de Lisboa. Colaborou no inquérito à arquitetura regional portuguesa em 1958 fazendo
parte da equipa que levantou a zona 4 (área limitada pela costa e uma linha quebrada, de
vértices em Setúbal, Abrantes, Coimbra e a Praia de Mira; abrangendo as províncias da
Estremadura, Ribatejo e parte da Beira Litoral). Em 1963 foi eleito para a direção do Sindicato
Nacional dos Arquitetos, mas impedido de tomar posse e entre 1990-1992 foi presidente da
AAP, Associação dos Arquitetos Portugueses. Entre 2006-2011 desempenhou o cargo de
Provedor da Arquitetura na OA, Ordem dos Arquitetos. Desde 1960 trabalhou como arquiteto
na CML, Câmara Municipal de Lisboa no Gabinete Técnico de Habitação e foi docente no
Departamento de Arquitetura da ESBAL e mais tarde até 2000, na FAUTL.

- A propósito do inquérito à arquitetura regional portuguesa, onde o arquiteto


participou e fez parte da equipa que levantou a zona 4, com outros três
arquitetos, a pergunta que lhe fazia era se os três andaram na zona inteira ou se
dividiram entre vós esta área?
Andámos todos, essa zona teve uma certa vicissitude. Ela começou por ser com o
Teotónio Pereira, o chefe. A organização do inquérito, não sei se poderei dizer assim,
era piramidal, existiam os chefes de zona: o Távora, o Guerreiro, o Keil do Amaral, o
Teotónio Pereira, o Frederico George e o Pires Martins e depois cada um tinham dois
arquitetos, mais jovens ou estagiários. O Sindicato na altura divulgou e abriu
inscrições para esse efeito e inicialmente da zona 4, faziam parte o Teotónio Pereira
que era o chefe, o António Freitas e o Galhós. Este último era um arquiteto muito
pouco conhecido. Toda a área era percorrida de lambreta e eles acabaram por te um
acidente. O Galhós era vegetariano só se alimentava da sua comida e como dizia o
Freitas a lambreta ia demasiado carregada de garrafões porque ele só bebia água de
determinados locais e acabaram por cair e o Galhós partiu um braço e isso
traumatizou-o muito. Porque foi assistido em Torres Vedras disseram-lhe para não
mexer o braço e ele acabou por desistir. Então o Teotónio Pereira que eu conhecia por

446
causa de uma cooperativa, que ele tinha sido dirigente e que eu tinha estado ligado
convidou-me para ir substituir o Galhós. Foi uma entrevista muito interessante com o
Teotónio Pereira, o rigor dele, a olhar para mim – sabe que vai substituir o Galhós
porque ele partiu um braço gosta de fotografia? Que máquina é que tem? Que
fotografia é que faz? – Ainda hoje me lembro do rigor com que ele me engajou. Pois
eu e o António Freitas íamos na lambreta e o Teotónio Pereira que tinha um
Wolksvagem, ia de quinze em quinze dias, ou quando achava que era oportuno dava
uma volta connosco. O processo de investigação foi um pouco, foi um pouco como é
que hei-de dizer, quase aleatório, quer dizer nós havia um livro de cabeceira que pelo
menos eu tinha de cabeceira. Já não me recordo se por indicação do Teotónio Pereira
se do meu irmão agrónomo que me tinha oferecido “Portugal o Mediterrâneo e o
Atlântico” do Orlando Ribeiro. Foi, digamos, pelo menos para mim, o livro de cabeceira
e o que eu acho de muito interessante nesta zona 4, na zona central é que nos
permitiu, conjugar o Mediterrâneo com o Atlântico e até com um pecadinho da
interioridade. E também tem uma história interessante esta da zona 4 porque quando
foi da distribuição das zonas, evidentemente havia, cada um dos “chefes” tinha
ligações a uma zona do país. O Távora ao Minho o Felgueiras a Trás-os-Montes, o
Keil na Beira obviamente, o Frederico George também estava ligado à Vidigueira, a
mulher dele era da Vidigueira e o Pires Martins ao Algarve e ninguém queria ficar com
a zona 4. Porque pensavam que estava infetada pela cidade, por Lisboa, e o Teotónio
com aquele seu sentido de missão disse que não senhor que ficava ele e foi realmente
uma revelação. Essa zona, quer pela diversidade, a península de Setúbal, o Vale do
Tejo o maciço Estremenho a Costa Baixa o Oeste, essa coisa que o Orlando Ribeiro
se referia e que eu achava muito interessante, que é estarmos aqui na capital e
olhávamos para sul e tínhamos o Mediterrâneo e olhamos para norte e temos Sintra,
não é, aqui a sessenta quilómetros uma da outra nem tanto, numa vê-se a outra e
temos aí esses dois grandes personagens da vida portuguesa, não é. De modo que
pois temos aqui a ocupação dos foros, o baixo Tejo, aqui a zona precisamente dos
adobes, de modo que foi assim a história da zona 4. E temos pescadores, temos enfim
é uma zona riquíssima, possivelmente se falar com os membros das outras zonas
dizem o mesmo (…risos). Foi realmente uma paixão, pelos saloios e a relação com
Lisboa foi realmente uma aventura extraordinária.

- Por princípio nenhum tinha uma relação pessoal com esta zona e andaram
todos por todo o sítio, não é verdade?

447
Sim eramos todos Lisboetas mas eramos todos urbanos, quer dizer eu, enfim a minha
família é da beira Baixa aqui de Proença-a-Nova, Cardins, e evidente até aos meus
dezoito anos fui sempre passar as férias lá a Proença-a-Nova. E houve um ano até
antes de ir, nos meus seis anos que me marcaram muito. Quando fui engajado para o
inquérito levei umas fotografias que tinha tirado, já estava interessado no problema
das arquiteturas regionais de uma aldeia perto de Proença-a-Nova da terra dos meus
avós e que contribuiu para o Teotónio se convencer que eu gostava de fotografia e
tinha uma máquina (risos…) foram realmente episódios extraordinários.

- E diga-me, iam para os locais e ficavam durante uma semana inteira…quatro


dias portanto era mesmo…
Sim, quer dizer, aí está quanto a mim, aquilo que podia ser uma fragilidade do
inquérito mas que ao mesmo tempo foi uma grande riqueza quando se começou o
inquérito houve algumas pessoas, até arquitetos, que disseram que devia ser uma
equipa pluridisciplinar com sociólogos, com geógrafos e o Keil respondeu, recordo-me
muito bem dessa reunião, isto é a visão dos arquitetos, pode ser anedótica, foi esse o
termo que ele usou, mas é a nossa visão e realmente assim foi. Com certa, digamos
ingenuidade científica que nós íamos pelos caminhos fora, e olha aqui, começa haver
essa persistência e sim realmente aqui as casas tem todas a varanda recuada ou tem
todas, um rés-do-chão para os animais e isso deu origem ao quadro tipológico que
está mais adiante e que também foi um aspeto de celeuma. De forma, enfim, muito
esquemática. No fundo o Governo pagou o inquérito, que é quem diz para ter uma
base histórica científica, que disséssemos qual era a arquitetura nacional portuguesa.
À semelhança da arquitetura do Franco em Espanha do Hitler na Alemanha do
Mussolini do Estaline. E a resposta foi dada inclusivamente, cara a cara com o
Salazar, que mostrou o desejo de ver o inquérito. E o que lhe disseram foi que
realmente não havia uma arquitetura nacional, mas que havia era uma relação muito
intensa da população com o sítio e que variava às vezes de cem metros o tipo de
casa, se era de xisto ou se era de granito ou se era daqueles calhaus rolados da zona
do Keil, aquelas casas do Paul que são de calhaus rolados partidos que é de fato três
aldeias acima, no entanto aqueles paramentos são caraterizados imediatamente ou
aqui assim os…

448
- Os Palheiros…
Os palheiros e depois os Avieiros que vieram daqui para aqui (apontava no livro da
arquitetura popular no mapa tipológico), e encontraram-se com condições
semelhantes, era o sítio sobretudo o sítio é que mandava, o sítio e as pessoas.
Realmente, sermos capazes de dizer nesta povoação são todos assalariados, nesta
são pequenos proprietários…
- Exatamente
Realidades, que levaram ao confronto uns anos mais tarde com o Pedro Vieira de
Almeida e com o Raul Lino, e se o Raul Lino entendeu o inquérito, ou se enfim, aquela
polémica interessante também mas o nosso receio, o receio de alguns era esse receio
enfim, politicamente mais desenvolvido, à vais fazer o favor ao Governo, vais dizer o
que é que é a arquitetura popular ficaram realmente, o que era a arquitetura racional.
E só a presença do Keil do Teotónio do Taínha do Martins e sobretudo também do
Távora e por sua vez conhecia o Mendes é que deram garantias que realmente não
era bem assim. Mas foi um drama zinho que me, à eles vão lá e querem é que vocês
façam projetos tipo para os Correios, para a Guarda-Fiscal, para a Guarda
Republicana para as Cadeias para…enfim…isso…mas interessante que estes
quadros (tipológicos) foram muito discutidos precisamente nessa base se nós vamos
dizer que aqui as casas são assim, depois a Câmara, ou o Governo é capaz agora aí
só se pode fazer assim. Tanto que o Alentejo não tem este quadro…

- Pois não
Não sei se houve uma posição política aí se foi uma pressão de inércia ou não terem
tido tempo porque isto teve um parto muito difícil. Não sei, não perguntei isso ao
Frederico George e do Alentejo só o Mata Antunes agora é que está vivo.

- Ainda uma pergunta agora a propósito dos tipos arquitetónicos, claro, essa era
uma pergunta que eu tinha mas de fato já respondeu a dificuldade que teve em
elaborar e os problemas que poderiam derivar do fato de se mapear…
Exatamente

- Uma arquitetura desta natureza mas, ao fim e ao cabo, acabou por fazer e ainda
bem porque hoje em dia isto serviu de base. Outra era ao mesmo tempo que
andavam os arquitetos no terreno andava também os etnógrafos, isso é curioso
quando falou que o arquiteto Keil do Amaral disse – isto é a visão dos arquitetos

449
- e hoje em dia nós podemos comparar com o outro trabalho paralelo e de fato
eles complementam-se em muitíssimas coisas, porque eles viram outras
situações que os arquitetos não viram, e os arquitetos viram muitas outras que
eles não viram também, portanto
Pois

- E hoje podemos ver isto. Mas estes trabalhos também têm alguns antecedentes
e eu recordei-me
Hum

- Ou lembrei-me também, e queria saber isso consigo, se me sabe responder,


que existiam por exemplo os escritos do Alves Redol, por exemplo sobre a
Glória
Sim

- Que andou nos anos trinta nesta região


Sim

- E existiam também ainda trabalhos de etnografia anteriores de fato ainda feitos


pelo Leite de Vasconcelos
Claro

- Enfim, uma visão mais etnográfica da situação


Pois era

- E a pergunta que eu fazia era quando foram para o terreno se conheciam esses
trabalhos todos. Já me disse que de fato usava como livro de bolso, o do
Orlando Ribeiro, uma outra visão, mas se estavam a par ao corrente …
O Alves Redol tinha lido e uma das fotografias que eu gosto mais aqui do livro é uma
fotografia de umas mulheres

- Em Glória não é?
Em Glória e portanto não há dúvida nenhuma que o Alves Redol esteve presente
quando tirei essa fotografia e como digo é das que eu mais gosto e se me dissessem
escolhe cinco fotografias que mais gostas essa era uma delas, talvez a primeira.

450
Houve talvez uma, como é que eu hei-de dizer, uma paixão tão grande por o “Portugal,
o Mediterrâneo e o Atlântico”, tanto que continuou. O meu Doutoramento foi
precisamente sobre o inquérito mas agora levado para os aglomerados que era uma
das lacunas do inquérito trata só praticamente dos aspetos rurais, é certo que no
Minho o Távora faz uma incursão pelos solares. E portanto há outra lacuna, que eu
tenho seguido e que eu encontro aqui no inquérito é que ligámos pouco ou não nos
surgiu os aspetos proto industriais. Atacámos os moinhos de maré mas não os
estudámos minimamente e agora tenho noção de coisas interessantíssimas como a
neve aqui do maciço Estremenho, todo o processo…

- As fábricas de gelo?
As fábricas de gelo, as serrações hidráulicas aqui do Vale do Zêzere e isso foi pouco,
esse aspeto da economia, detetámos as salinas de Rio Maior mas é uma parte é pena
não termos, quer dizer é pena penso que isto já foi muito não é mas …há e o inquérito
depois tivemos um período de desinteresse que seguiu-se à publicação do livro e só
agora com o vosso trabalho com o trabalho do Romero é que o inquérito volta a ser
discutido até com óticas muito interessantes, mais políticas mas… houve assim um
abatimento, houve um receio. A seguir à publicação do livro houve um movimento que
era todas as pessoas queriam saber se a terra dele sua casa estava lá, isto é um
inquérito à escala 1/ 10 000 e tal e nós não sabemos. E depois houve, isso era o
Pedro Vieira de Almeida, com aquele seu feitio ácido – ah isto é a Bíblia de bairro vais
ver os ingleses vão comprar disto aos quilos (risos) para ver como é que se fazem as
casas no Alentejo. E realmente houve esse movimento muito dos arquitetos - ah vou
fazer uma casa para tal sítio e como é que é – nós tivemos de dizer – olha, nós
fizemos o inquérito e que diz pouco - foi preciso, uma certa, como é que hei-de dizer,
uma certa didática para que isto realmente não fosse…

- Não se transformasse…
Não fosse um catálogo e isso não sucedeu, efetivamente porque a lição é que existe
uma grande coerência entre o que se faz e o sentido e a vida portanto…

- Essa era a lição


Essa é a lição máxima, foi essa relação das…há três, agora nestes novas reflexões
sobre o inquérito há três personalidades que deram resposta, pessoalmente, às

451
angústias com que fui para o inquérito. Uma é aquelas palavras do Keil, que estão na
introdução da primeira

- Da primeira edição…
Da primeira edição, quando ele diz que isto não há relação entre uma casa do Alentejo
e uma casa das ilhas Gregas e que entre a uma casa do Algarve e uma casa do Minho
não existem tantas relações e depois a pergunta que lhe fizeram que – então não
existe nada de genuinamente português no seu território? – ele responde - há que é a
superação das bases materiais. Com materiais muito pobres conseguir edifícios
também eles formalmente pobres mas que estabelecem depois conjuntos de grandes
beleza e qualidade. Eu lembro-me sempre de um episódio em Fernão Ferro, duma
casa dum foreiro que tinha um pavimento lindo, nunca encontrei pavimento mais
amável, digamos assim, que era vermelho, era muito fofinho, que se adivinhava fosse
fresco no verão e quentinho no inverno e que a mulher do foreiro dissolvia barro num
lavatório todos os dias ou quando ela entendia e regava o chão, aplicava sucessivas
camadas de barro. Era muito perecível e durava só um dia (risos) mas eles também
andavam descalços de modo que …há dias falei com o Pitum740, ele encontrou, não
sei se foi em Moimenta um pavimento de bosta mas que depois tinha umas pedras e
eles andavam por cima das pedras e menos perecível que este do Fernão Ferro, mas
exemplifica muito. Outro foi o do Frederico George, eu era, eu e o Freitas e quase
todos, eramos fundamentalistas, causa efeito (risos) e não era preciso discutir mais
nada. Sedutor à vista sinceridade dos materiais enfim o léxico do modernismo sabia
todo de cor e salteado. Uma vez no ateliê que era o nosso ateliê, meu e da minha
mulher mas que depois nós servimos para fazer o trabalho de gabinete741 e eu estava
a dizer-lhe – olhe aqui é assim porque aqui por exemplo, há muito vento e há areia de
modo que as casas estão em pilares eles depois metem-se por baixo e depois as
casas mais para cima e assim por baixo e tal, aqui isto aqui é o maciço Estremenho
chove muito, mas o terreno é muito permeável e portanto é preciso abrir uma cisterna
aqui é porque são foreiros e ora… e ele Frederico George, com aquele ar britânico
dele disse assim - então e os aspetos emotivos? – Amor e da arte? - Eu fiquei (risos)
…é uma lição para toda a vida, e ainda não se falava no pós-modernismo …que durou
dois ou três segundos mas que… e o outro foi o Teotónio do Pereira, mestre e amigo,

740
Arquiteto, filho de Francisco Keil do Amaral.
741
Francisco Silva Dias refere-se ao trabalho de coordenação e organização do levantamento do inquérito.

452
de ninguém querer a zona 4 e ele depois ter demostrado o que realmente era uma
grande riqueza. Estas foram assim as lições pessoais do inquérito e depois é a paixão
que fica com todas estas coisas e pelo Mediterrâneo.

- Hoje passados já uma série de anos sobre o inquérito não é, cinquenta e o


que falhou, as falhas do inquérito, como os povoamentos, os aglomerados não
serem tão focados e ser mais a área rural. Hoje com esta distância mesmo para
aquela altura, havia uma grande diferença entre aquilo que era a arquitetura rural
ou aquilo que era enfim, uma arquitetura que existia nos aglomerados estamos
ou estamos de fato a falar de um Portugal rural onde os aglomerados tinham
alguma especificidade que depois no rural disperso isso não era tanto assim ou
há mais semelhanças ou grandes diferenças?
Há grandes diferenças. Primeiro é preciso ver que o inquérito era a arquitetura
regional o livro chama-se arquitetura popular, isso foi uma decisão à porta da tipografia
que o Keil não aceitou muito bem, não terá sido consultado, não sei.
Quem é que terá a certa altura mudado o título mas lembro-me que o Keil torceu o
nariz quando viu portanto era regional a relação era mesmo entre a terra e as
instalações humanas. Portanto que é menos evidente, obviamente, nos aglomerados
não é?

- Exatamente, sim.
As influências nos aglomerados são mais exógenas do que ali naquela relação direta,
o material do pé da porta o que se cultiva etc. Por outro lado o fenómeno do estudo do
urbanismo é relativamente recente e não foi digamos muito bem visto pelos arquitetos,
aqueles que se dedicavam ao urbanismo eram um bocadinho, por vezes era uma
chatice (risos) porque era-nos apresentado de uma forma muito chata, com índices,
densidades e não sei quê…

- E números?
Números. Eu tive a sorte de começar a trabalhar com o José Rafael Botelho que me
deu uma visão realmente política e humanística da cidade. Havia dois campos nos
anos 50 e 60 que eram desgostosos para os arquitetos: o urbanismo e a recuperação.
E eram os monumentos nacionais que eram velhotes (risos) eram uma coisa já, o
Teotónio já me permite dizer isto mas ninguém queria ir para… havia …o Peres
Fernandes mas eram apontados assim como uns …

453
- Exceção…
Uma exceção, os portugueses e os monumentos o moderno era um mau parente, é
uma injustiça que se fez ao moderno, um mau parente, um desprezo pelo passado nos
eramos modernos era só o que o Corbusier dizia e só o que o CIAM dizia, em relação
mesmo ao inquérito havia dúvidas, não era, se isto não era uma ratoeira…

- Isso deve ter causado muitas angústias…dúvidas


Muitas dúvidas, sobretudo, naqueles que tinham sido mais politizados. Enfim a minha
família era politizada mas o meu pai era um velho Republicano, bem que a diferença
era só entre ser do Bernardino Machado ou doutro qualquer, não é, portanto não
havia. O Freitas era mais politizado, digamos, tínhamos o Teotónio como referência
mas essas angústias eram entre colegas – estás a fazer a pantufa a eles (risos) …que
se usava naquela altura como se estivéssemos a fazer um favor.

- E quando apresentaram politicamente o trabalho no sentido de que não isto


não existe a casa portuguesa, existem casas muitas e uma diversidade enorme,
qual é que foi a reação do lado do poder? Que pretendia com este trabalho uma
outra visão.
Como disse houve o desejo do Salazar de ver o inquérito. Houve uma reunião do
Sindicato na Sociedade das Belas Artes, em que o Keil e o Távora disseram que não
havia uma arquitetura nacionalista havia era uma relação... O Salazar parece ter
entendido mas o Ministro das Obras Públicas que tinha pago teve uma reação, logo ali
mesmo, como é que hei-de dizer, fez teve má cara quando dissemos isto…

- Não gostou?
Não gostou. As recordações que há desse encontro são um bocado diferentes. Há
dias estive a ler um depoimento do Távora, em que ele diz que o Salazar terá dito – há
isto é muito mais bonito que o betão e que o Távora terá dito não o betão também tem
a sua poesia. A ideia que eu tive, mas é claro era puto, eu estava cá atrás (risos) eles
é que…

- Eles é que enfrentavam…


Eles é que enfrentavam. Mas foi que ele gostou e devia entender…

454
- No que respeita ao adobe perguntava-lhe se durante o trabalho viu as pessoas
a fazerem adobes, se viu era um trabalho comunitário no intervalo das tarefas
rurais ou de auto manufatura e também se os viu construir?
Tal como vê aqui no livro, no exemplo de Costa de Lavos, vimos os adobes a serem
produzidos pelas famílias, um grupo de poucas pessoas e depois construíam da
mesma forma. Portanto preparavam a terra, crivada, faziam assim monte de terra
onde abriam um buraco ao centro e despejavam água para posteriormente
misturarem. Muito semelhante à preparação de argamassas. Por vezes adicionavam
palha cortada à mistura da terra. Por fim utilizavam os moldes, adobeiras, que
mergulhavam em água e num terreno plano preparavam uma bola de terra, atiravam
com força para dentro da adobeira e compactavam a terra no molde com as mãos,
regularizavam e removiam a adobeira deixando a secar ao sol os adobes.

- Para terminar gostaria de comentar apenas e ainda a propósito dos tipos


arquitetónicos desta região que as casas foreiras estão praticamente
abandonadas, funcionando algumas como armazéns, as casas de alpendre
integrado a maioria já desapareceu, estão em ruínas e abandonadas e
curiosamente as que designam de casas de adobe, tufo ou tijolo de duas águas
estão habitadas e muitas sem grandes alterações. Será que estas últimas
resistem devido ao fato de poderem evoluir e de terem mais qualidade
construtiva? E as outras irão acabar por desaparecer devido à sua da fragilidade
arquitetónica, construtiva de casa elementar e bloco, a paisagem que as rodeava
já não existir mais?
Essa terá sido outras das falhas do inquérito, como disse a elaboração do quadro
tipológico foi difícil mas a análise dos tipos da casa elementar da casa bloco e da casa
evolutiva não foi feita pelo que hoje este revisitar do inquérito permite outro tipo de
conclusões que na altura não havia nem estávamos preparados para o fazer.

- Obrigado arquiteto foi um prazer.

455
456
Anexo E – Tradução parcial do “Quarto caderno” de François Cointeraux. Escola de
arquitetura rural, Quatro caderno no qual se trata da nova taipa inventada pelo autor;
da sua construção e ferramentas, etc. Obra dedicada aos franceses, e útil às outras
nações por François Cointreaux. 1791.

457
ANEXO E

ECOLE D'ARCHITECTURE RURALE. QUATRIEME CAHIER, DANS LEQUEL ON


TRAITE DU NOUVEAU PISE INVENTE PAR L'AUTEUR; DE LA CONSTRUCTION
DE SES OUTILS, ETC. OUVRAGE DEDIE AUX FRANÇAIS, ET UTILE AUX
AUTRES NATIONS PAR FRANÇOIS COINTREAUX

ESCOLA DE ARQUITETURA RURAL. QUARTO CADERNO, NO QUAL SE TRATA


DA NOVA TAIPA INVENTADA PELO AUTOR; DA SUA CONSTRUÇÃO E
FERRAMENTAS, ETC. OBRA DEDICADA AOS FRANCESES, E ÚTIL ÀS OUTRAS
NAÇÕES POR FRANÇOIS COINTREAUX. 1791.

Nota: Apenas algumas páginas do documento original foram traduzidas, o documento frisa
essencialmente o desenvolvimento do bloco apiloado, a que Cointeraux chamava de
“nouveaux pisé” e que na terminologia portuguesa se designa de “adobe”. Esta técnica
substituía a taipa, segundo o autor e permitia construir com pequenos blocos em alvenaria
mesmo que nevasse e as condições atmosféricas fossem hostis.

Cointeraux, François - Ecole d'architecture rurale. Quatrième cahier, dans lequel on


traite du nouveau pisé inventé par l'auteur ; de la construction de ses outils, etc.
Ouvrage dédié aux français, et utile aux autres nations par François Cointreaux, 1791

458
[em linha] 2009 [Consult.2010-11-20]. Disponível em: WWW: <URL:
http://cnum.cnam.fr/redir?8LA18_5>.

O quarto caderno impresso que indica um novo método de fazer a taipa, inventado
pelo autor, e que explica os meios e a facilidade que passaremos a ter com a terra,
sobretudo de executar a taipa no inverno, mesmo com neve e grandes frios ou geadas
… o senhor Cointeraux acabou de construir, com a escala de um pé, modelos em
madeira da nova taipa: para facilitar a todo o mundo, o autor disponibilizará os dois
modelos da velha e da nova taipa.

Em 1784, os incêndios continuam a varrer a Picardie: o alarme é contínuo e paira em


faísca sobre as cidades, durante toda a noite (p.1) …todas as memórias conhecidas
eram insuficientes para construir habitações rurais incombustíveis (p.2).

O meu apelo à prática era convincente…a necessidade absoluta de experiências,


tanto para reconhecer as qualidades e o uso de materiais os mais comum possiveis
com preço em módica quantia, que assegurem a confiança, densidade e durabilidade
de modo e com sucesso em operações simples e diferentes (p.3) que exijam mão-de-
obra e economia mesmo na forma das construções; estou seguro que é indispensável
fazer experiências, não em pequeno, mas em grande; numa palavra construir modelos
de casas, granjas…para habitar ou alojar animais (p.4)

Encontrar ao mesmo tempo o meio de evitar o inconveniente de ter de proteger os


taipais, assim como o perigo de os remover e de os substituir constantemente o que
consome uma grande mão-de-obra sobretudo os que trabalham nas zonas mais altas
das paredes. As vantagens de excluir o uso da cal e de a misturar com a terra, a
proteção necessária dos taipais e de produzir de uma forma mais económica (p. 8).

Fez-me descobrir um outro procedimento, entre duas tábuas de madeira comprimi


terra..e como pedras talhadas…poderei fazê-los em terra e assim alcancei as minhas
esperanças (p.14).

Para certificar-me da minha descoberta, decidi fazer um novo bloco entre molde de
madeira, mas infinitamente mais ligeiro que o primeiro …me permitisse construir uma
abóbada (p. 15).

459
Eu próprio fiz módulos em terra de todas as formas, ortogonais, que juntei umas às
outras, e em frente ao meu ateliê, resultaram em dois pilares com dez pés de altura,
extraordinários e que multiplicaram as minhas ideias ao infinito (p. 19).

Eu acreditei e não me enganei que esta nova forma de construir em “taipa” tem mil
vantagens para contentar as fantasias dos homens mais afortunados, como para
satisfazer os mais pobres.

As “tijoleiras” e pequenos prismas de terra em forma de cubos ou paralélipedos podem


ser utilizadas na construção de muros ortogonais, pilares, pilastras, peças para
enchimento de tetos direitos, chaminés, contrafortes e para proteger ou rematar vãos
de janelas e portas assim para todas as construções de linhas ortogonais. Outras
formas de terra podem servir para construir abóbadas, colunas, pirâmides, pilares de
todas as formas, polígonos e outros, de seção redonda e oval, nichos, fornos, etc… e
de todas as outras obras decorativas, o supérfulo mas necessárias às construções dos
agricultores (p. 20).

Figura 1. Molde múltiplo entre três peças de madeira móveis. Figura 2. Terra
amontoada que um proprietário decidiu proteger debaixo de teto para ter provisão em
caso de chuva ou outos fatores impróprios aos trabalhos de agricultura. Figura 3.
Porção de terra que um trabalhador colocu em forma de pirâmide e que retirou da terra
armazenada. Nota: as duas figuras seguintes representam a elevação do molde
múltiplo e os trabalham, espalhando terra sobre os moldes. Figura 4. Molde visto em
perspetiva sob o teto com os trabalhadores que compatam a terra. Figura 5. Moldes
múltiplos removidos e acondicionados ao fundo do hangar, para apanhar ar (p.59).

5 - Maneira de desmontar o molde

Assim que os trabalhadores, mesmo os mais diligentes terminem de apisoar a terra


em todos os orifícios do molde, eles começam a ratificar o trabalho com a remoção da
terra em excesso dos bordos de cada molde…(p.59).

A mão-de-obra poderá beneficiar de preparação da terra com dias de avanço…o que


faria sem parar apiloar molde por molde na medida que cada trabalhador pudesse
terminar a palete de moldes e iniciar outra (p. 63)

Como é fácil procurar materiais no campo! Num molde de madeira podemos produzir
em poucos minutos módulos de terra como pedra talhada … (p. 64)

460
Este novo método de fazer “taipa” muito mais cómodo para os habitantes do campo,
que os executam como a “velha taipa”, sem água: de maneira que não gelam memso
que sejam feitos durante o tempo frio. É necessário a provisão de terra seca e
protege-las das chuvas e da neve sobre uma cobertura, possibilita mesmo que sejam
feitos durante o inverno… desde que a terra seja extraída antes e conveniente para
ser apiloada…em barreiras sem adição adição de água (p.67).

Figuras 1, 2, 3 e 4.

461
Anexa-se ainda os desenhos que François Cointeraux fez de moldes para adobe e
bloco apiloado e que publicou em:

COINTERAUX, François - Architecture périodique, ou notice des travaux et


approvisionnemens [sic,approvisionnements] que chacun peut faire, à peu de frais,
chaque mois et chaque année, soit pour améliorer ses fonds, soit pour construire
toutes sortes de bâtisses, soit pour multiplier les engrais, par François Cointeraux,
professeur d’architecture rurale.Ouvrage in-8º., rel. avec deux planches graves. 1 Liv.,
16 fols. A Paris, au bureau de l’école d’Architecture Rurale, rue du Fauxbourg S.
Honoré nº 28, 1792. 41 pages.

Pag. 83.

462
Anexo F - Inquérito à Sítio, através do seu site em 19 de Julho de 2012 e respondido
via e-mail em 18 de Agosto de 2012.

463
ANEXO F

INQUÉRITO À SÍTIO, ATRAVÉS DO SEU SITE EM 19 DE JULHO DE 2012 E


RESPONDIDO VIA E-MAIL EM 18 DE AGOSTO DE 2012.

Sitiocoop [em linha], [S.D] [Consult. 2012-07-19]. Disponível em WWW:<URL:


http://www.sitiocoop.com/>.

A cooperativa Sítio está sedeada em Portugal, na casa Darei, s/n, 3530-107


Mangualde. De entre os seus cooperantes destaque para os dois cofundadores,
monitores dos workshops levados a cabo pela Sítio: Samuel Rodrigues e Ana Ruivo,
arquitetos pela ESAP em 2008 e com formação de um ano no Brasil no Instituto Tibá,
Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitectura.

- O que é a Sítio? Que tipo de organização se trata, a que se dedicam e quantas


pessoas estão envolvidas ou fazem parte da vossa organização?
O Sítio é uma cooperativa com o objetivo estratégico de contribuir para a dinamização
de economias locais por acreditarmos que estas se constituem como uma resposta de
organização social mais justa e compatível com o ecossistema que habitamos. Na
perspetiva de contribuir para que os indivíduos mas principalmente as comunidades,
possam gerir de forma livre, resiliente e abundante a realidade que habitam, temos
como objetivo trabalhar em soluções enquadradas nas tecnologias apropriáveis
(tecnologias simples, facilmente transmissíveis e que podem ser realizadas sem um
grau elevado de especialização da mão de obra) e na agroecologia (forma de
planeamento do território em que se procura a integração perfeita entre os sistemas de
produção agrícola com os sistemas naturais).
No médio/longo prazo trabalhamos para a criação de um centro de formação,
investigação e documentação deste tipo de soluções. Neste momento organizamos
workshops e ações de formação de curta duração, transmitindo soluções técnicas
específicas. Estamos também a trabalhar para que o Sítio se consolide como uma
entidade com capacidade de conceção e construção de edifícios que sejam
tecnicamente eficientes, ecologicamente corretos, socialmente justos e culturalmente
ricos. Procuramos estabelecer com os clientes relações profundas, por exemplo,
incorporando nos trabalhos de construção momentos de formação e sensibilização
para as soluções que exploramos.

464
O Sítio constitui-se como uma rede, flexível e dinâmica, de pessoas organizadas em
torno de um núcleo de 5 elementos fixos.

- Dentro das vossas atividades porque escolheram o material adobe? E na vossa


perspetiva porque se deve construir em adobe?
Um dos materiais de construção a que dedicamos mais os nossos esforços é, sem
dúvida a terra crua, sendo que entre as várias técnicas construtivas que existem, como
o pau-a-pique ou a taipa pilão, o adobe é a que utilizamos com mais frequência. A
terra crua é um notável material de construção. Mesmo sendo um dos mais velhos
materiais, a terra continua a ser objeto de estudo e inovação técnica. Rigorosos testes
realizados em laboratório fornecem-nos, atualmente, um entendimento extenso e
profundo deste material. Assim sabe-se que a terra tem grandes benefícios para o
conforto ambiental dos edifícios:
- a terra regula a humidade interior , por realizarem trocas de vapor de água
diretamente com o ar, as paredes de terra promovem níveis constantes de humidade
ideais para a saúde humana, prevenindo e reduzindo a incidência de doenças
respiratórias. Por manterem tais níveis relativamente baixos, estas paredes previnem
também a formação de fungos;
- a terra tem uma grande massa térmica, este material tem a capacidade de
armazenar e de libertar lentamente o calor do sol, mantendo uma temperatura interior
constante e confortável. Esta característica é ideal para climas com grande amplitude
térmica do dia para a noite;
- a terra filtra a radiação eletromagnética, dentro de um edifício de terra os valores de
radiações produzidas por antenas de telemóvel e cabos de alta tensão são
praticamente nulos.
Mas o que torna a terra realmente excecional, até de um ponto de vista filosófico, é o
facto de materializar valores que a tornam apropriável e democrática.
- a terra é um material local, (quase) todos os solos são passíveis de se tornarem num
material de construção e como podem ser obtidos no próprio local da obra evitam
transportes com custos e gastos energéticos elevados;
- a terra tem muito pouca energia incorporada, ao ser usada crua, a terra evita a
utilização de tecnologias pesadas consumidoras de energia e recursos, como é o caso
dos fornos de queima;

465
- a terra é 100% reciclável e biodegradável, em todas as suas técnicas, a terra crua
pode ser reutilizada sem qualquer limitação e, na medida em que não produz resíduos
nem contaminantes, é um material realmente ecológico.
- a terra tem um baixo custo, ao ser adquirida virtualmente sem custos, a terra tem a
vantagem de ser um material de construção extremamente barato, sobretudo quando
utilizada na autoconstrução;
- a construção com terra é uma técnica de mão-de-obra intensiva, esta técnica requer
mais mão-de-obra do que a construção com cimento ou tijolo queimado mas, quando
analisada em conjunto com a anterior (baixo custo), esta característica acaba por
representar uma oportunidade de distribuição mais equitativa da riqueza, em benefício
da população local.
- a terra é um material apropriável, pela sua grande versatilidade e simplicidade, esta
técnica permite que qualquer pessoa ou comunidade realize trabalhos de construção,
mesmo que não possua conhecimentos técnicos aprofundados. Todos os métodos de
construção com terra são facilmente transmissíveis e apropriados, podendo constituir
eficazes ferramentas de autoconstrução, ao serviço de indivíduos, grupos e/ou
comunidades.
Para além destas vantagens, comparativamente comoutras técnicas
construtivas em terra crua, o adobe incorpora as seguintes vantagens e características
técnicas:
- tem um bom desempenho estrutural, a capacidade de resistência à compressão que
os adobes apresentam permitem que estes sejam utilizados na obra enquanto
estrutura. Isto evita a utilização de outros materiais como a madeira, o metal ou o
betão para resolver as questões de estática do edifício.
- é um material pré fabricado, a produção dos adobes pode ser faseada e permite uma
maior independência entre os vários trabalhos na obra. Esta característica permite
também que o estaleiro seja organizado de forma segura para que mão-de-obra não
especializada ou em formação possa participar na produção sem problemas.
- permite uma grande versatilidade formal, por serem elementos modulares de
pequenas dimensões, os adobes permitem a construção de uma grande variedade de
formas. Esta característica é especialmente importante para a nossa procura de uma
arquitetura de compressão, baseada em formas curvas que conduzem todas as forças
ao longo da estrutura.

466
- é de uma grande simplicidade técnica, a produção de adobes e o seu assentamento
é extremamente simples e evita a utilização de materiais e maquinaria perigosos o
que, de novo, permite a integração de todos no processo construtivo.

- Para o material adobe refiram as atividades que desenvolvem, formação,


construção divulgação etc… e procurem enumerar um historial do que já
desenvolveram até hoje.
O nosso trabalho consiste essencialmente na pesquisa técnica, desenvolvimento de
material pedagógico e formação para além de consultoria, conceção e construção.
Estas várias atividades complementam-se e misturam-se consoante as
especificidades de cada projeto.

Alguns momentos importantes no nosso percurso são:


- Cúpula em adobe estrutural no Tibá (RJ, Brasil) com o Professor Gernot Minke,
produção de adobes e trabalho de construção da obra;
- Centro de Educação Ambiental no instituto Baleia Jubarte (BA, Brasil) com Tibá.
Edifício com estrutura de madeira e enchimento de paredes em adobe. Gestão de
obra incluindo produção de adobes e construção de paredes;
- Complexo Termal em Nhafuba (Moçambique) com Tibá. Edifico com paredes
estruturais em adobe – Conceção do projeto e gestão de obra incluindo produção de
adobes;
- Banco de sementes em Darei (Mangualde, Portugal). Edifício em abóbada construída
com adobes estruturais – Conceção do projeto, organização e participação como
formadores num workshop de construção com terra, gestão de obra;
- Habitação Social em Guadalupe (São Tomé e Príncipe) com Baixo Impacto
Arquitetura – Capacitação de mão-de-obra e Consultoria técnica em construção com
terra (adobe, pau-a-pique e revestimentos naturais);
- Workshop de construção de uma abóbada núbia em adobes (Almada, Portugal) com
Associação Centro da Terra, participação como formadores.

- Na manufatura do material que tipos de adobes produzem?


Os adobes que produzimos são sempre realizados com matéria-prima existente no
local da obra e produzidos no próprio estaleiro. Para que os adobes produzidos na
obra tenham qualidade construtiva, a composição da terra que os compõe deve ter um
bom equilíbrio entre argila e areia, uma vez que a argila retrai bastante durante o

467
processo de secagem e a areia é suscetível a erosão. Na maioria dos casos o solo do
local da obra deve ser corrigido, de forma a aumentar a resistência dos adobes à
compressão e diminuir a sua retração, evitando as fissuras estruturais provocadas
pelo processo de secagem. Esta correção é geralmente feita através da adição de
areia, esterco de vaca ou cavalo, palha, serradura de madeira ou outras fibras
vegetais. A adição de fibras vegetais tem também a vantagem de potenciar o
isolamento térmico da parede. Sempre que possível, utilizamos preferencialmente o
esterco de cavalo como aditivo à mistura, uma vez que para além das microfibras
vegetais importantes para o desempenho estrutural, contém também caseína animal.
Quanto à forma dos adobes, depende das exigências e das especificidades de cada
obra. A título de exemplo, já produzimos adobes acústicos com uma face semicircular
para a construção de uma cúpula, adobes trapezoidais (ou adobes africanos) em
paredes com os adobes à vista e ainda adobes com uma espessura reduzida para a
realização de uma abóbada nubiana, uma vez que era necessário que fossem
extremamente leves.

- Em termos de construção em adobe que tipos de sistemas usam? Paredes,


arcos abóbadas, cúpulas? De que tipo e porquê?
Atualmente, um dos nossos principais interesses é a arquitetura de compressão. Isto
significa que procuramos conceber edifícios cuja forma permita a condução de todas
as forças ao longo dos elementos estruturais apenas sob a forma de compressão e
portanto perfeitamente adaptados à construção com adobes. As abóbadas de secção
catenária e a cúpula que construímos são exemplos disto. Hoje, o desenvolvimento
tecnológico, nomeadamente o desenvolvimento de software de análise estrutural
permitem o desenho de edifícios com estruturas mais complexas e livres e sempre
compatíveis com o trabalho da terra crua.
Para além da qualidade espacial resultante, reconhecemos várias vantagens neste
tipo de construção:
- baixo custo, sendo realizadas com recurso a um único material (adobes) estas
estruturas evitam a utilização de outros materiais e de pormenores complexos e
custosos.
- qualidade ambiental, tratando-se, normalmente de estruturas laminares contínuas
pode evitar-se de forma simples a existência de pontes térmicas criando um
“envelope” continuo e homogéneo.

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- Dentro da vossa experiência que resultados e respostas, por parte de clientes e
população têm obtido para a construção em adobe?
A construção com terra suscita normalmente, junto dos clientes e população uma
pequena resistência inicial que se deve principalmente a algum desconhecimento das
características deste material. No entanto, a nossa experiencia (tanto em termos
comerciais como em termos de formação) é de uma grande aceitação e interesse logo
que ultrapassado o contacto inicial. Em Portugal construímos apenas um pequeno
edifício em adobes mas que tem suscitado reações muito positivas junto da população
local e dos visitantes.

- Acham que seria possível produzir adobe extrudido e/ou mecanizar a produção
de adobe em Portugal? Ou pelo contrário defendem que deveria ser apenas
artesanal e local?
A produção de blocos extrudidos sem queima (green bricks) é já uma prática comum
em países como a França e a Alemanha e é algo relativamente simples de
implementar em qualquer fábrica de cerâmica estrutural em Portugal. Embora possa
acelerar o processo de fabricação dos blocos esta abordagem não resolve alguns dos
problemas presentes nos materiais de construção modernos; continuam a depender
de maquinaria que necessita da concentração de capital, de mão-de-obra
especializada e concentrada, da extração sistemática da matéria-prima num mesmo
lugar, do transporte do local de produção para o de construção, etc.
Neste momento centramo-nos na pesquisa de um equilíbrio entre a centralização
mecanizada e a produção local e artesanal. Procuramos criar linhas de produção na
obra mas com a mecanização de algumas etapas do processo produtivo (como a
crivagem da terra, mistura da massa e aplicação nos moldes) através de máquinas
simples e acessíveis. Este esforço tem como preocupação principal a diminuição do
custo deste material de construção, importante quando desenvolvemos obras
totalmente integradas numa lógica de mercado convencional.

- Como encaram a conservação do património em adobe em Portugal? Possível,


impossível? Porquê?
Possível e recomendável. Embora não tenha sido o foco da nossa atuação a
reabilitação do património construído em adobe tem uma grande importância, não só
para a manutenção dos conhecimentos tradicionais como para o desenvolvimento de
novas técnicas e formas de produção.

469
- Parece-vos viável a construção em adobe em Portugal? E na perspetiva
mundial o que acham do adobe como material de futuro?
A terra crua é um notável material de construção. É utilizada pelo Homem há pelo
menos 9000 anos. Foi a solução construtiva usada para situações distintas, desde
pequenas cabanas de habitação até à Muralha da China passando pelas pirâmides
Mayas no México. A comprovar as suas características existem ainda edifícios
construídos com terra que, com mais de 3000 anos, continuam de pé. Esta técnica
construtiva está presente em praticamente todos os tipos de clima no planeta e
calcula-se que, hoje, mais de um terço da população mundial habita edifícios de terra.
Mesmo sendo um dos mais velhos materiais, a terra continua a ser objeto de estudo e
inovação técnica. Rigorosos testes realizados em laboratório fornecem-nos,
atualmente, um entendimento extenso e profundo deste material.
Os espaços construídos são uma parte crucial da nossa vida. Tal como está
organizada hoje, a construção de edifícios exige a acumulação de riqueza material
para ser levada a cabo – para a aquisição dos materiais de construção e para
assegurar mão-de-obra qualificada. A construção com terra inscreve-se noutra ordem
de prioridades. Porque pode ser realizada por grupos de pessoas não especialistas
com ferramentas simples e em momentos de partilha, a construção de casas ou
qualquer outro edifício em terra potencia desenvolvimento de laços com outros e a
transmissão dos saberes. Como material de construção, a terra é compatível com
valores de solidariedade e partilha tão importantes para contrariar a lógica
individualista e competitiva que domina a sociedade contemporânea e fragiliza tanto
os grupos como os indivíduos.

- Obrigado.

Em anexo: imagens da Sitio, Cooperativa.

470
Figuras 1 e 2 - Crivo rotativo e misturadora para terras e esquema de telheiro para
produção de adobes, Mangualde, Portugal.

Figuras 3 e 4 – Produção de adobes e construção de cúpula em adobe com Gernot


Minke, em Tibá Brasil.

Figuras 5, 6 e 7 – Construção de edifício de adobe em abóbada Núbia em Darei,


Mangualde, Portugal. Construção de cimbre e vista interior da abóbada.

471
Figuras 8,9, e 10 – Produção de adobes, construção de parede em adobe e edifício
concluído. Pequeno complexo de Águas Termais em Nhafuba, Moçambique em
colaboração com Instituto Tibá.

Figuras 12 e 13 – Construção de edifício de adobe em abóbada Núbia, Darei,


Mangualde, Portugal. Projeto.

472
Figuras 14, 15, 16, 17, 18 e 19 - Workshop adobe e construção de abóbada Núbia na
Universidade Nova de Lisboa em Almada, formação coorganizada com a Associação
Centro da Terra, CdT, em maio de 2012.

473
474
Anexo G - À conversa com Manuel Ribeiro (83 anos), Mário de Jesus Caetanos Rua
(72 anos) e Manuel Evangelista Pereira Almeida (57 anos). Entrevista-conversa.

475
ANEXO G

ENTREVISTA – CONVERSA COM MANUEL RIBEIRO (83 ANOS DE CABEÇAS


VERDES – SEIXO - MIRA), MÁRIO DE JESUS CAETANO RUA (72 ANOS DE
PORTOMAR - MIRA), MANUEL EVANGELISTA PEREIRA ALMEIDA (57 ANOS DE
CABEÇAS VERDES, SEIXO, MIRA) EM 9 DE JULHO DE 2012 NO MUSEU DO
TERITÓRIO E DA GÂNDARA EM MIRA.

O Museu da Gândara e do Território é um edifício construído em adobe, uma escola


primária, projeto dos inícios do século XX do arquiteto Adão Bermudes, conhecidas
como escolas Conde Ferreira. O modelo é simétrico com uma sala feminina, outra
masculina e ao centro no piso superior, antigo alojamento da professora. O imóvel foi
adaptado a museu e consiste essencialmente numa sala sobre o território e outra
dedicada á manufatura e construção em adobe na região, onde para além da
museografia explicativa dos processos inclui dois filmes um sobre a construção da
igreja em adobe nos inícios do século XX e outro sobre a reconstituição do “Barreiro”
que ocorreu em 2001.

Figuras 1 e 2 - Da esquerda para a direita: Mário de Jesus Caetano Rua, Manuel


Ribeiro, Manuel Evangelista Pereira Almeida e Brigite Capelões. Mário de Jesus
Caetano Rua e Manuel Ribeiro. Entrevista conduzida por Maria Fernandes e Brigite
Capelões.

- Ora bem aqui uma conversa com estes senhores. Então vamos começar, como
é que faziam para extrair a terra onde é que iam buscar a terra?
Manuel Ribeiro (MR) – Ao adufe tirava-se a terra para cima e depois ia-se
esgravatando.

476
Brigitte Capelões (BC) – Mas nem todas as terras davam para fazer a cova dos adufes
vocês iam…
MR – Esse sistema era o melhor
BC – Qual é que era a melhor
MR – Escolhia-se aquela, que tinha mais mais aquela goma, a goma branca, vinha
aquela terra, vinha aquela goma a gente até ficava com os pés pareciam cal também
aquela cal branca
- Ficavam brancos…
MR – Tão brancos os pés até volta para cima, volta para cima;
Manuel Evangelista Pereira Almeida (MEPA) – Mas havia zonas específicas com essa
terra…
MR – Mas havia outras que já não valiam…
- E essas eram como é que seriam?
MR – E essas eram pedregulhos já maiores, mais forte e já com menos já não tinha e
com uma partinha ali de barro uma areia já mais simples …
Mário de Jesus Caetano (MJC) – Eram todas aqui no campo
MR – E para os Solho a casa era a mesma coisa também, eram as casas de dentro as
casas de barro…
MEPA – Essa areia encontrava-se a que profundidade? A que profundidade é que ela
estava?
MR – Ali para o Solho estava a uma profundidade de dois metros e meio, três metros
tinha logo o barro perto
MEPA – E nas olarias?
MR - Nas olarias era aí de quatro metros
MEPA – Está bem e depois começava a aparecer essa areia boa?
MR – A areia era logo tirava-se aquela parte de cima
MEPA – E a parte de cima tinha era para aí quê quinze centímetros?
MR – Era mais era para aí meio metro
MEPA – E depois é que começava a aprecer essa areia boa
MR - E depois é que começava tirava-se essa parte de cima
MEPA – E essas covas de areia quais eram as dimensões com que vocês as faziam?
MR – Para fazer os adobes e botar-lhe a areia por cima …
BC – O tamanho.
MEPA – Qual era a dimensão do buraco?

477
MR - O buraco era quadrado era para aí quatro ou cinco metros ou seis metros era
conforme ia-se tirando
MJC – Ia-se tirando
MEPA – depois ia-se para o fundo até quanto era?
MR – Laborava-se ia saindo mas havia aquelas barreiras que arreavam para baixo,
aquelas em que a gente andava infelizmente na altura, não tanto mas destas de Nela
lá em baixo a gente andava e depois íamos depois lá acima daquela, assim se pode
dizer atrás daquilo que é melhor lá se ia atrás furava-se aquele buraco e ia-se até lá à
frente lá vinha aquela barreira e brum para baixo caía toda
- Caía toda?
MR - Só havia olhinhos para não se ficar lá espetado
MEPA – E depois vinha suja e limpa e depois tinha que se limpar?
MR – Depois arredava-se e lá se ia buscar o resto, lá o resto e então em baixo
aqueles que tinham olhinhos lá andavam, um agarrado ao outro com a enchada, outro
agarrado ao cabo, e depois havia uma banqueta faz de conta que é esta mesa, aquele
dali botava para aqui e daqui botava para acolá…
MEPA – Era só um por cada banqueta?
MR – Eram um em dois
BC – Eram degraus que eles próprios faziam na própria terra para irem retirando a
terra;
MEPA – Porque ninguém ia passar a areia cá de baixo com a pá atirar lá para cima.
MR – atirava-se lá para cima por isso faziam-se aquelas banquetas,
- Era o princípio quase das pedreiras, não é?
MEPA – Às vezes duas banquetas a profundidade era tanta que havia duas…
MJC – Só uma não chegava, esse sistema era usado também para fazer os poços.
MR – E depois cá em cima também já havia uma pessoa um homem ou dois, uma
mulher fosse o que fosse cá em cima a arredar a terra, puxar sempre a terra para o
largo, para fazer o rolo o monte da terra, para fazer o monte para depois por a cal para
depois apagar para depois começar a fazer …
MEPA – E regar e tudo
MJC – Que tempo é que voçês demoravam a tirar essa areia dessa cova?
MR – Aquilo era dois, três dias, um era para cavar, dois, três dias
MEPA – E depois quantos adobes é que vocês faziam nesse monte?
- Não mas espere lá, e depois de tirarem a terra deixavam-na pousar ou
começavam logo a…

478
MR – Não aquilo tiravasse e depois tinha que se compor
- Era isso…
MR – Compor, fazer aquilo depressa era isto era isto fazer aquele quadrado, não é
aquele quadrado
- Começavam logo a compor quando a tiravam
MR – Com as coisas altas, com as bandas assim paredes altas, para depois meter a
cal no meio.
- Já percebi.
MJC – E depois regar
MR - Depois de meter a cal, já falei, depois de meter a cal, água para cima e depois
levava a areia para cima pela cal, daí a oito dias a cal era mexida até apagar a cal
MEPA – Em cima da areia e tudo
- Ainda regavam por cima.
MR – Ainda se rega às vezes ainda se ia por cal e água por cima da cal.
- E essa cal onde é que a iam buscar?
MR – Ao Barracal
- E era branca?
MR – Barracal, era branca, cal branca cal boa;
- Partiam-na aos bocadinhos?
MR – Ela vinha cozida
MEPA – Vinha em pedra
MR – Ela vinha em pedra ali de Cantanhede, das pedreiras de Cantanhede mas nem
todas davam para tudo tinha que as escolher, escolhíamos mesmo e pronto a fraca
aquela mais preta mais coisa ficava para trás havia aquele escuro;
MEPA – Nas Nogueiras também havia fornos;
MR – E a que lustrava ficava para trás, escolhiam naqueles
- Escolhiam só a branquinha, branquinha?
Mr – E vinha a branca também vinha da lustrosa porque depois botava-se a cal em
cima da areia e havia muita pedra que não morria. Vinha mal cozida, vinha mal cozida.
- E essa não servia
MR – E essa já não servia
- Por isso é que vocês a escolhiam…
MR – Havia duas qualidades de pedra. Havia uma especial e havia outra mais normal
a tal era para os adobes. E essa especial até dava para fazer para rebocar uma casa.

479
Comprava-se um quilo dessa pedra, um quilo ou dois quilos dessa cal botava-se a
derreter no bidom, lá no fundo
- Com água
MR – Com água botava-se ali e depois mexia-se e ela assentava no fundo e depois
com um pincel a casa ficava mais branca
- Caiava
MR – Mais branca que esta parede que está aqui ainda
MEPA – Mas também podia ir buscar a cal aos fornos, ao Zambujal
MR – Eu para aí lá para o Zambujal, para os lados de Cantanhede,
MEPA – Para as Nogueiras?
MR - Também havia cal da Nogueira…
MEPA – Ouvi dizer que a cal das Nogueiras estalava mais é verdade?
MR – Estalava mas depois era mais fraca. A última mesmo a própria própria era aqui
do Barracão
- Era a melhor?
MR – Era a melhor que havia
MJC – Depois vinham os carros dos bois carregados
MR – E por vezes não haviam camionetas para as trazer iam-se lá…
MEPA – Era tudo a peso
MR – Era tudo a peso e eram os carros de bois que as traziam e levavam, tanto metro
de cal disto tanto metro de cal daquilo
- Compravam ao volume não é aos metros cúbicos?
MEPA – Mas o Barracão só tinha fornos não tinha pedra lá…
MR – Ia agora lá a Cantanhede lá às pedreiras lá a Cantanhede não sei onde eles as
iam buscar
- E transformavam-nas nos fornos?
MR – Depois botavam-nas nos fornos e iam-na buscar em bruto assim em bruto;
MJC – Haviam as pessoas particulares que às vezes tinham terrenos com esta areia e
faziam para as próprias obras deles, eles é que faziam os adobes e os adobes eram
feitos mas levavam aquela quantidade boa de cal e eram os adobes que enrijavam
mais e depois quando a parede ia abaixo para fazer tal e nos apareciam adobes
desses feitos pelos próprios quem é que os recusava. Porque quando eram para
venda …
BC - Eram comprados tinham menos cal (risos)
MR - Tinham e como as coisas agora, tinham…

480
MJC – A gente faz um picão num adobe daqueles
BC – Quando eram comprados tinham pouca cal quando eram feitos pelos dono é que
eram para aguentar tempo
MEPA - Não necessariamente
MR – Naquele tempo a gente fazia os poços, como ainda agora a gente falava, não é
faziam-se os poços de rega não é? os furos, faziam-se com adobe não havia outro
material não havia nada.
BC – Os dos poços eram iguais aos outros?
MR – Levavam cortes…
BC - Mas levavam a mesma quantidade de cal que os da casa?
MR – Pois aí é que é. Os nossos pais iam encomendar os adobes a um oleiro,
encomendavam-se uns adobes, olha quero adobes com tanta cal quero assim é para
um poço onde a água bate isto tudo aquilo, pronto. E ele em lugar de fazer a coisa
normal rija não fazia ali duas ou três fiadas de adobe a dar a volta e o resto para cima
já vinha a cantar o “Macareno” (risos). Já não era a metade dos que estavam lá em
baixo é em cima …
BC – Os de baixo é que tinham de ser
MR – Ali três o contra fiadas que era o metro quatro fiadas,
MEPA – nem todas as áreas tinham essa…
MR – Tinha que ser, naquele tempo, agora há motores mas naquele tempo era andar
com os bois e com as vacas de roda dos poços numa roda
- Uma nora
MJC e MEPA – Um engenho
MR – E a àgua batia sempre na parede do poço. Batia sempre na parede do poço e
lavava muito a parede do poço ora o poço ao fim de dez ou quinze dias já estava cheio
de buracosmas depois levava um cimento, já naquele tempo um cimento e não sei o
que aquilo era…
MEPA – Cal hidráulica
- Lá em baixo?
MR – Havia um senhor qualquer que fosse habilidoso e rebocava lá em baixo
- Mas diga-me uma coisa a proporção quanto é que punha de cal para a areia ou
terra?
BC – Como é que vocé sabia quanta quantidade de cal é que havia de pôr?
MR – Aquilo vinha avulso não posso dizer, não fixei…

481
- Imagine que tinha hoje de fazer uns adobes para um poço mais ou menos
colocava quanto?
MR – Mais rijo mais rijo, punha aí uns dez, quinze quilos de pedra para por a terra por
cima….Naquele tempo a gente encomendava ao oleiro, dono das Olaria….preciso de
cento ou dois centos de adobe para um poço e tufaz-me adobes em condições,eu vou
fazer um poço e quero adobe em condições….fica descansado que eu faço…

Figuras 3 e 4 – O barreiro na região da Gândara em Seixo (Mira). Imagens de arquivo da primeira metade
do século XX do Museu da Gândara e do Território em Mira.

MEPA – Eram todos bons?


……………
- Disse-me que depois de 8 dias, depois de passar a cal com a areia com a cal e
às vezes que ainda passava com o regador depois já começavam a misturar e
quando começavam a mirsturar levavam o quê um dia?
MR – Ás vezes vezes durava três e quadro dias….e a levantar a reia com a cal lá na
canteira às vezes tinha de se sair de lá por causa do pó da cal
- Pois, aquilo continuava … a cal fervia, era perigoso?
MR – Ia morrendo quem andava lá no monte a caldear e a baldear, naquele tempo a
cal era me pedra e fervia mesmo
MJC – Essa cal colocada na água e ela fervia e servia para caiações além da cal
íamos buscar outros ingrediente á drogaria para cor, o amarelo ou o vermelho
misturado com o branco a cal, também servia para sulfato para por nas laranjeiras a
tal cal da Bordalesa a cal tinha utilidade quase em tudo…após fazer os adobes a
maior parte ia buscar cal para amassar e fazer a obra, aquela cal com areia em maior
quantidade servi para fazer as linhas ….argamassa de assentamento e eles
misturavam mais cal Há medida que se vai amssando a gente vai vendo com a colher,
se está gordo ou se não está …para ver se temos de meter mais cal ou mais areia

482
MEPA – Sobre o quantidade e o tempo que andavam a amassar o “barreiro”,
normalmente ia-se caldeando à maneira que se ia consumindo, cavava-se, caldeava-
se à maneira com que se ia gastando;
MR – Tinha que se baldear de baixo para cima o monte da areia e cal ficava às vezes
com dois metros e meio de altura,
- Tem a noção de quanta água usavam?
MR – Conforme a reia…
MEPA – Ás vezes era difícil senão existiam poços por perto…
- Qual era a areia que comia mais água?
MR – era aquela mais grossa…tinha aquela goma
- Explique-me agora como faziam o “Tendal”? como punham a massa a “render”
dentro das formas?
MR – faz de conta que é esta carreira andavam os esquerdos e os direitos uns para ali
outros para aqui (Exemplificava com gestos), não andavam uns atrás dos outros , uns
três para aqui outros três para alie cada um tinah de carregar o seu carro de massa o
carro de mão de madeira…um peso…e levavam …
- O carrinho não levava muita massa?
MR – levava aí três, quatro formas…formas de casa e aqueles três quartos eram de
seis formas;
- Uns moldes são de dois outros são de três adobes.
ME – E depois havia os de muro…era conforme;
MJC – Normalmente o amassar caldear era em conjunto, e depois cada qual levava a
sua carrada o seu carro…
MEPA – O laizar que se faz com régua na forma era feita com a costa enchada;
- Nunca usavam a colher de pedreiro?
MEPA, MJC, MR – Não nunca…
MR – Havia os cantos das formas com o bico da enchada calcava-se os cantos das
formasdepois de calcar ainda de “varria” e passava a enchda depois ao levantar a
forma “tender”a agarrer a forma para a forma vir sem trazer massa…
- O que faziam molhavam a forma em água?
MR – por vezes limpavam, batia-se e lavave-se, era a forma mais correta;
MJC – Por vezes untavam-se as formas com óleo queimado
- Eram feitas de pinho?
MR – Pinho;
BC – mandavam fazer ou cada um fazia as suas?

483
MR - mandavam fazer as formas aos oleiros;
BC – Tinham em geral as mesmas medidas….
MR – Só levavamos a enchada e a pá as formas eram do oleiro.
- Trabalhavam então para as olarias?
MR – sim mas também íamos trabalhar ao Alentejo para o arroz
…………………
- O trabalho adobe era sazonal então? e quando faziam?
MR – de março em diante até agosto- setembro,
MEPA – quando havia chuva era difícil estragava os adobes já não podiam;
- Quanto tempo levava a secar?
MR – aquilo eram quatro semanasestando o tempo bem não estando o tempo bom até
levavam mais
- Quando é que os voltavam na vertical?
MR – Era aí uns quinze dias…ao fim de quinze dias íamos experimentar e se
estivessem bons…limpávamos e depois de seco empilhavam-se
- Utilizavam-nos no ano seguinte?
MR e MEPA – Dependiam às vezes vendiam-nos logo mas estavam “verdes” partiam-
se muito…pesavam mais…
- Agora contem da construção como se fazia a construção de uma casa?
MJC – Faziamos os alicerces e como não havia ferro nem cimento, acertavmos a casa
fazíamos os alicerces com adobos de casa,
- Como fazia o alicerce?
MJC – Abria a cova fazia-se o alicerce à enchada e tirava a terra com pá e eram
metidos adobes mas mauitas das vezes haviam patrões que queriam o adobe de
atravessado em lugar de ser ao comprido, para afazer mais largo…
- Esses adobes não tinham mais cal?
MJC – Não
MR – Era como aos poços…ia-se ao oleiro encomendava-se e conforme a espessura
a largura…do poço…um poço podia levar 20 adobes em volta…faz-me aí tantos
adobes…quero com cal forte,
- Mas voltemos à casa depois do alicerce…
MJC – Regra geral as pessoas queriam até ao nível do soalho, adobe de casa,
ficavam um dente e começávamos com adobes de três quartos e enssa diferença
eram onde se ia assentar os barrotes do soalho se fosse tudo com adobes de casa
depois tínhamos de furar…assim não ali apoiava diretamente e depois era calçado

484
eram 8 por 6 umas traves para o soalho calçados ao meio com muros ao meio, depois
seguiamos em três quartos e à volta por dentro já era adobe de muro,
- Esses compartimentos não tinham alicerce?
MJC – Os alicerces quando se faziam eram em geral a casa estava dividida porque
era para assentar o soalho em toda a casa daí para cima uns é que levavam os três
quartos e outros os adobe de muro,;
- As medidas?
MJC – o adobe de casa uma média de 35cm por 40cm altura à volta de 10cm, os de
três quartos o comprimento é o mesmo mas tinham 30cm de largura e a mesma altura,
Os de muro era 20cm por 40cm…os de chaminé 12cm por 40cm a altura era a mesma
as “galgas” é que tinha espessuras diferentes als “galgas” em baixo tinham uma
espessura e em cima outra…
- São os de remate de muro
MR – Em cima tinha 5 cm às vezes nem isso…
- Pensava que era assim por degradação..a medida do adobe era?
MJC – A mesma 40cm por 40cm a espessura é que era diferente, em baixo e em
cima…
MR – Por aí uns 30cm…
- Como fazia as padieiras das portas as ombreiras…
MMJC – Em alguns pontos havia quem fizesse o archete, um arco onde não se fazia
isso e leva um pouco mais de tempo era um padial em madeira …
_ Sim é o que tenho encontrado mais por aí e os casos em pedra eram só
nalgumas casas?
MJC e MR – Isso sim era só nalgumas casas em cantaria de pedra …
MJC – O normal er ao padial depois em chegando ao cimo, em cima uma obra
chegava ao raso a gente para depois fazer o telhado de quatro águas ou duas levava
um frechal em toda a volta um barrote e depois o barrote pregava em cima e depois
punha-se as ripas e a telha …faziam-se as terças…
- O trabalho era todo feito pela mesma pessoa ou chamavam outra pessoa para
fazer a cobertura?
MEPA- o mesmtre era o mestre
MJC – o trabalho era todo feito epla mesma pessoa,
- O mestre fazia as paredes e acobertura?
MJC – Tudo, nós eramos pedreiros, carpinteiros, pintores;
- Portanto a decoração e o reboco da casa também era o senhor que fazia?

485
MJC – Tudo
- Como é que rebocava a casa? Esperava um ano?
MJC – Não aquilo depende das necessidades das pessoas, uns queriam mais rápido
outras não havia que fizesse reboco direto e havia quem fizesso o reboco com esta
areia dos adobes, tirava-se a pedra, rebocava-se passava-se a régua e depois era
estuqueado, com cal fina uma pasta de cal em meio centímetro,
- Tenho visto nas casa o reboco é quase uma monocamada?
MJC – Sim, e a última camada é feita só com cal, não levava mais nada e às vezes
caiado, havia quem metesse areia e já não ficava tão perfeito,
- Então e aqueles trabalhos que eu vejo em massa com desenhos isso erapela
mesma pessoa?
MJC – Isso era já feito com gesso…gesso estuque….cal misturada com gesso isso já
não fazia eram estucadores esses trabalhos técnicos de fazer flores era em geral
feitos pelos “quiqlheiross” que eram aqui da zona de Quiaios (Figueira da Foz), que
trabalkhavam muito a pedra e eram muito artistas e nesse dois trabalhos cantarias e
estuques, cheguei a trabalhar com eles em pedra…
- Encomendavam e eles faziam…
MJC – Sim a decoração era feita mais tarde já depois da casa feita ….
- Tenho visto trabalhos de cantaria iguais aos de estuque isso explica
porquê…mas os estuques são mais bonitos…
MJC – Chamava-se “queimar o teto” é o mesmo termo, isto é passar à costa da colher
e depois entravam os “decoradores”,
- Queimar ou estanhar isto é deixar liso…
MJC – Uma caraterística dos mestres é que eles tinahm a planta da casa na cabeça, o
mestre chega marca a planta num determinado terreno, quando começaram a medir
para meter à câmara um projeto rebentarm…
- Chegavam ao terreno mediam o terreno marcavam?
MJC – Sabiam perfeitamente a dimensão dos quartos mediam o terreno e marcava de
acordo, um esquema em baixo só e depois para cima as paredes,
- Como calculavam o número de adobes que precisavam?
MJC – Era conforme, media e calculava mas sobravam sempre nunca faltavam …
- Uma casa quantos adobes levava?
MJC – Quando se fala de casa Gandaresa não é só a casa são os anexos, currais..
- Quantos? Só a casa…
MJC – Não posso prcisar mas para aí 9 000mil adobes.

486
- Agora o senhor (Manuel Ribeiro) vai-me descrever como faziam um poço?
MR – Primeiro fazia-se a escavação, andava cinco a seis pessoas um dia a fazer a
escavação…depois falava-se ao mestre para fazer o “balseiro”…
- A madeira?
MR – Tinha a madeira cerrada e era em pinho, o balseiro levava dois dias..
- Mas cravavam?
MEPA – Não;
MR – Não levava a cambota de baixo (a desrição é de uma armação), fazia o círculo
todo ele toda furada levava tornos de madeira despois disso levava as cruzetas que
ficavam entre a cambota de cima e ade baixo, da parte de fora levava aquelas ripas
para a areia não entrar para dentro do poço, depois ficava ali oito dias depois
lavávamos a balsa para baixo, era tudo feito à enchada, a botar terra para cima aquilo
à “formiga” (trabalhadores em fila a carregar terra desde de baixo para cima), quando
eram aqueles de barro daquela pedra (barro duro), cavavam eram aí uns quatro
“formigas” havia lá uma banqueta e eles acarretavam e conforme a gente ia tirando do
meio a “balsa” (armação de madeira) ia indo para baixo descendo, lá se tirava
chegava-se a um certo ponto já havia naquele tempo os que tinham motores para tirar
a àgua senão era uma formiga que tirava lá de baixo, Depois havia um homem que
era o Tio Ribeiro, o homem dos poços e das cabanas, ele andava em cima do
“balseiro” a vigiar,
MEPA – Quando o “balseiro” começava a ficar torto punham os adobes em cima…
- Quando o balseiro começava a ficar?
MR – Quando o “balseiro” começava a ficar na água…assente na água…
MEPA – O “balseiro” com duas ou três fiadas ficava estável sobre a água…
MR – tinha de ficar direito e chagavasse lá a uma certa altura o Tio Ribeiro dizia está
feito lá se começava a fazer as fiadas do muro das paredes…
- O “balseiro” ficava totalmente dentro de água?
MR – Totalmente debaixo de água, quando já estava cá em cima forrava-se as
paredes do pço com massa;
MEPA – Trabalhava-se em cima das paredes do poço, não havia andaimes, era há
medida que se subia
MR – Trabalhei nos poços eramos quatro com máquinas sem máquinas eramos
quinze, un dia era necessário para construir o poço.
- Até quando contruiram em adobe?
MR – até há 40 anos atrás…

487
MEPA e MJC – 50 anos…naquela casa em Portomar foi a última
BC – Nessa casa não colocaram a data na fachada sobre a padieira?
MJC – Não mas sensívelemnte até meados de 1960…
MEPA – Eu diria até cerca de de 1970.
- Porquê? Porque o adobe foi substituído pelo tijolo?
MJC – Sim era mais barato…
MR – Cheguei a fazer poços com blocos de cimento…
…………………………………
- Agradeço a todos, muito obrigado…

488
Anexo H – Análises de laboratório. Granulometria e análise química. Terras
provenientes de adobes, solos e rebocos. Laboratório do Departamento de Engenharia
Civil, Decivil, da Universidade de Aveiro.

489
ANEXO H
Análises de laboratório. Granulometria e análise química. Terras
provenientes de adobes, solos e rebocos.

FOLHA DE ANÁLISE
CÁLCULO GRANULOMÉTRICA

LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil

490
FOLHA DE REGISTO

toma de
Ref. análise amostra < 75 m aspecto DRX FRX SEDIGRAPH
Piedade S/ lavagem 300 0,7% arenoso √ √ √
Travassô S/ lavagem 500 2,9% arenoso √ √ √
Carvalho S/ lavagem 200 3,1% arenoso A√, B√, C√ A√, B√, C√ √
Maranhão S/ lavagem 300 17% silte √
Almodovar S/ lavagem 500 11% silte √
Almodovar S/ lavagem 200 11% silte √
Pateira C/ lavagem 235 95% lama √ √ √
Martingança C/ lavagem 500 43% argiloso √
Chamusca C/ lavagem 500 23% argiloso √
Cabeção C/ lavagem 500 19% argiloso A√, B√, C√ A√, B√, C√ √
Murtosa C/ lavagem 500 92% lama √
Angueira C/ lavagem 500 35% silte √
Lourical 2 C/ lavagem 500 24% silte √

Análise Química:
11-01-2010
11:06
Universidade Aveiro
Results quantitative - MAIORES

Fe2O3
SiO2 Al2O3 T MnO MgO CaO Na2O K2O TiO2 P2O5 L.O.I.
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
PATEIRA 57,72 19,44 4,26 0,02 0,82 0,35 0,09 3,00 0,62 0,10 13,58
PIEDADE 95,61 3,02 0,26 nd nd 0,01 nd 0,23 0,05 0,02 1,15
TRAVASSO 81,00 11,49 2,74 0,01 nd 0,06 nd 0,22 0,15 0,05 4,70

491
RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO
28 dias
LabCIVIL - Laboratório de Engenharia
Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade de
carga: 10 kN carga: 1 mm/min

Distância
Calib. do inter-apoios,
Anel. y= 0,008x+0,031 l: 100 mm
Fcompressão Fcompressão
Ref. m (g) b (mm) d (mm) (div) (N) fcomp.(N/mm2) fcomp.(N/mm2)
1:3 C 399,84 39,95 39,90 128 1055 0,66 média
Piedade 113 935 0,58 0,58
1:3 C 396,91 39,60 39,35 126 1039 0,65 desvpad
Piedade 117 967 0,60 0,07
1:3 C 327,23 34,70 36,85 98 815 0,51 cv (%)
Piedade 96 799 0,50 11,6
1:3 C 353,01 38,48 39,68 153 1255 0,78 média
Travassô 151 1239 0,77 0,79
1:3 C 412,88 39,98 40,10 154 1263 0,79 desvpad
Travassô 142 1167 0,73 0,08
1:3 C 413,94 40,50 40,60 158 1295 0,81 cv (%)
Travassô 113 935 0,58 10,5
1:4 C 409,94 39,53 39,35 97 807 0,50 média
Piedade 80 671 0,42 0,42
1:4 C 412,07 39,55 39,15 84 703 0,44 desvpad
Piedade 73 615 0,38 0,06
1:4 C 403,91 39,40 39,90 61 519 0,32 cv (%)
Piedade 78 655 0,41 14,1
1:4 C 438,00 39,90 39,70 205 1671 1,04 média
Travassô 185 1511 0,94 0,85
1:4 C 427,08 40,25 40,63 143 1175 0,73 desvpad
Travassô 167 1367 0,85 0,14
1:4 C 413,12 40,00 39,75 151 1239 0,77 cv (%)
Travassô 130 1071 0,67 16,4

492
FOLHA DE REGISTO

RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO
40 dias
LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade de
carga: 10 kN carga: 1 mm/min

Calib. do Distância inter-


Anel. y= 0,008x+0,031 apoios, l: 100 mm

Fcompressão
Ref. m (g) b (mm) d (mm) Fcompressão (div) (N) fcomp.(N/mm2) fcomp.(N/mm2)
1:4 C 421,02 40,00 39,03 62 527 0,33 média
Piedade 58 495 0,31 0,41
1:4 C 424,63 39,80 40,10 89 743 0,46 desvpad
Piedade 110 911 0,57 0,10
1:4 C 413,55 40,00 39,50 71 599 0,37 cv (%)
Piedade 79 663 0,41 23,5
1:4 C 413,29 39,90 41,00 75 631 0,39 média
Travassô 137 1127 0,70 0,52
1:4 C 441,86 39,60 41,10 132 1087 0,68 desvpad
Travassô 151 1239 0,77 0,15
1:4 C 408,89 39,50 41,10 95 791 0,49 cv (%)
Travassô 95 791 0,49 28,6
31 0,02 média
31 0,02 0,02
31 0,02 desvpad
31 0,02 0,00
31 0,02 cv (%)
31 0,02 0,00
31 0,02 desvpad
0,00 0,011
31 0,02 cv (%)
0,00 54,77

493
FOLHA DE REGISTO

RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO
28 dias
LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade de
carga: 10 kN carga: 1 mm/min

Calib. do Distância inter-


Anel. y= 0,008x+0,031 apoios, l: 100 mm

Fcompressão
Ref. m (g) b (mm) d (mm) Fcompressão (div) (N) fcomp.(N/mm2) fcomp.(N/mm2)
1:3 C 399,84 40,20 40,00 183 1495 0,93 média
Piedade 167 1367 0,85 0,93
1:3 C 396,91 40,20 38,50 199 1623 1,01 desvpad
Piedade 212 1727 1,08 0,10
1:3 C 327,23 40,00 39,00 167 1367 0,85 cv (%)
Piedade 165 1351 0,84 10,6
1:3 C 353,01 38,48 39,68 573 4615 2,88 média
Travassô 546 4399 2,75 2,54
1:3 C 412,88 39,98 40,10 455 3671 2,29 desvpad
Travassô 400 3231 2,02 0,44
1:3 C 413,94 40,50 40,60 484 3903 2,44 cv (%)
Travassô 339 2743 1,71 17,3
1:4 C 409,94 39,53 39,35 321 2599 1,62 média
Piedade 331 2679 1,67 1,55
1:4 C 412,07 39,55 39,15 319 2583 1,61 desvpad
Piedade 316 2559 1,60 0,11
1:4 C 403,91 39,40 39,90 281 2279 1,42 cv (%)
Piedade 280 2271 1,42 7,04
1:4 C 438,00 39,90 39,70 312 2527 1,58 média
Travassô 397 3207 2,00 1,31
1:4 C 427,08 40,25 40,63 230 1871 1,17 desvpad
Travassô 210 1711 1,07 0,39
1:4 C 413,12 40,00 39,75 235 1911 1,19 cv (%)
Travassô 195 1591 0,99 29,3

494
FOLHA DE REGISTO

RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO
40 dias
LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade de
carga: 10 kN carga: 1 mm/min

Calib. do Distância
Anel. y= 0,008x+0,031 inter-apoios, l: 100 mm

Fcompressão
Ref. m (g) b (mm) d (mm) Fcompressão (div) (N) fcomp.(N/mm2) fcomp.(N/mm2)
1:3 D 436,19 35,80 25,95 263 2135 1,33 média
Piedade 282 2287 1,43 1,23
1:3 D 430,81 35,91 35,98 223 1815 1,13 desvpad
Piedade 210 1711 1,07 0,13
1:3 D 435,65 35,94 40,00 240 1951 1,22 cv (%)
Piedade 235 1911 1,19 10,7
1:3 D 457,00 42,02 40,00 567 4567 2,85 média
Travassô 385 3111 1,94 3,00
1:3 D 432,74 39,03 40,00 575 4631 2,89 desvpad
Travassô 574 4623 2,89 0,59
1:3 D 443,34 40,00 39,09 648 5215 3,26 cv (%)
Travassô 743 5975 3,73 19,6
1:4 D 458,40 39,90 40,00 360 2911 1,82 média
Piedade 440 3551 2,22 1,86
1:4 D 442,75 39,80 38,60 335 2711 1,69 desvpad
Piedade 347 2807 1,75 0,20
1:4 D 452,92 40,00 39,50 410 3311 2,07 cv (%)
Piedade 373 3015 1,88 10,76
1:4 D 448,63 40,20 40,00 270 2191 1,37 média
Travassô 225 1831 1,14 1,52
1:4 D 443,57 38,90 39,60 345 2791 1,74 desvpad
Travassô 278 2255 1,41 0,20
1:4 D 436,02 39,80 40,30 288 2335 1,46 cv (%)
Travassô 260 2111 1,32 12,9

495
FOLHA DE
REGISTO
Flexão 28 dias
LabCIVIL - Laboratório de Engenharia
EN 1015-11
Civil

Anel de
10 kN Velocidade de carga: 1 mm/min
carga:

Calib. do Distância inter-


y= 0,008x+0,031 100 mm
Anel. apoios, l:

Fflexão fflexão(N/mm
Ref. m (g) b (mm) d (mm) Fflexão (div) 2
fflexão(N/mm2)
(N) )
1:3 D 437,34 39,90 44,01 20 191 0,37 média
Piedade 0,364
1:3 D 447,17 39,70 40,80 15 151 0,34 desvpad
Piedade 0,019
1:3 D 434,36 40,05 39,65 16 159 0,38 cv (%)
Piedade 5,20
1:3 D 436,01 40,50 40,50 26 239 0,54 média
Travassô 0,489
1:3 D 417,32 39,80 41,00 22 207 0,46 desvpad
Travassô 0,044
1:3 D 415,11 39,60 40,30 21 199 0,46 cv (%)
Travassô 8,91
1:4 D 450,75 39,80 40,00 25 231 0,54 média
Piedade 0,537
1:4 D 444,12 39,90 40,00 25 231 0,54 desvpad
Piedade 0,011
1:4 D 430,60 39,80 40,00 24 223 0,53 cv (%)
Piedade 1,96
1:4 D 457,23 39,90 40,20 15 151 0,35 média
Travassô 0,342
1:4 D 429,36 40,00 39,80 15 151 0,36 desvpad
Travassô 0,021
1:4 D 442,69 39,80 40,00 13 135 0,32 cv (%)
Travassô 6,20

496
FOLHA DE
REGISTO

RESISTÊNCIA À
FLEXÃO
40 dias
LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade
carga: 10 kN de carga: 1 mm/min

Distância
Calib. do inter-
Anel. y= 0,008x+0,031 apoios, l: 100 mm

d Fflexão
Ref. m (g) b (mm) (mm) Fflexão (div) (N) fflexão(N/mm2) fflexão(N/mm2)
1:3 C 399,84 40,20 40,00 10 111 0,26 média
Piedade 0,258
1:3 C 396,91 40,20 38,50 10 111 0,2794 desvpad
Piedade 0,023
1:3 C 327,23 40,00 39,00 8 95 0,23 cv (%)
Piedade 8,79
1:3 C 353,01 38,48 39,68 6 79 0,20 média
Travassô 0,192
1:3 C 412,88 39,98 40,10 5 71 0,17 desvpad
Travassô 0,024
1:3 C 413,94 40,50 40,60 8 95 0,21 cv (%)
Travassô 12,60
1:4 C 409,94 39,53 39,35 7 87 0,21 média
Piedade 0,193
1:4 C 412,07 39,55 39,15 6 79 0,20 desvpad
Piedade 0,022
1:4 C 403,91 39,40 39,90 5 71 0,17 cv (%)
Piedade 11,33
1:4 C 438,00 39,90 39,70 7 87 0,21 média
Travassô 0,203
1:4 C 427,08 40,25 40,63 8 95 0,21 desvpad
Travassô 0,014
1:4 C 413,12 40,00 39,75 6 79 0,19 cv (%)
Travassô 6,90

497
FOLHA DE
REGISTO

RESISTÊNCIA À
FLEXÃO
40 dias
LabCIVIL - Laboratório de Engenharia
Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade de
carga: 10 kN carga: 1 mm/min

Calib. do Distância inter-


Anel. y= 0,008x+0,031 apoios, l: 100 mm

Ref. m (g) b (mm) d (mm) Fflexão (div) Fflexão (N) fflexão(N/mm2) fflexão(N/mm2)

1:4 C 421,02 40,00 39,03 12 127 0,31 média


Piedade 0,242

1:4 C 424,63 39,80 40,10 8 95 0,22 desvpad


Piedade 0,064

1:4 C 413,55 40,00 39,50 6 79 0,19 cv (%)


Piedade 26,30

1:4 C 413,29 39,90 41,00 4 63 0,14 média


Travassô 0,141

1:4 C 441,86 39,60 41,10 5 71 0,16 desvpad


Travassô 0,018

1:4 C 408,89 39,50 41,10 3 55 0,12 cv (%)


Travassô 12,59

498
FOLHA DE REGISTO

RESISTÊNCIA À
FLEXÃO
28 dias
LabCIVIL - Laboratório de
Engenharia Civil EN 1015-11

Anel de Velocidade
carga: 10 kN de carga: 1 mm/min

Distância
Calib. do y= inter-
Anel. 0,008x+0,031 apoios, l: 100 mm

b d Fflexão
Ref. m (g) (mm) (mm) Fflexão (div) (N) fflexão(N/mm2) fflexão(N/mm2)
1:3 C 399,84 39,95 39,90 5 71 0,17 média
Piedade 0,228
1:3 C 396,91 39,60 39,35 7 87 0,21 desvpad
Piedade 0,069
1:3 C 327,23 34,70 36,85 8 95 0,30 cv (%)
Piedade 30,18
1:3 C 353,01 38,48 39,68 6 79 0,20 média
Travassô 0,192
1:3 C 412,88 39,98 40,10 5 71 0,17 desvpad
Travassô 0,024
1:3 C 413,94 40,50 40,60 8 95 0,21 cv (%)
Travassô 12,60
1:4 C 409,94 39,53 39,35 7 87 0,21 média
Piedade 0,193
1:4 C 412,07 39,55 39,15 6 79 0,20 desvpad
Piedade 0,022
1:4 C 403,91 39,40 39,90 5 71 0,17 cv (%)
Piedade 11,33
1:4 C 438,00 39,90 39,70 7 87 0,21 média
Travassô 0,203
1:4 C 427,08 40,25 40,63 8 95 0,21 desvpad
Travassô 0,014
1:4 C 413,12 40,00 39,75 6 79 0,19 cv (%)
Travassô 6,90

499
FOLHA DE
FOLHA de CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO
A SECO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Reboco Cabeção - preencher células a


Ref.:
Camada A verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 256,07

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 0,56 0,2 0,2 99,8 0,2
8 2,38 7,21 2,8 3,0 97,0 3,0
16 1,19 40,03 15,6 18,7 81,3 18,4
30 0,595 70,47 27,5 46,2 53,8 43,2
50 0,297 63,29 24,7 70,9 29,1 52,2
100 0,149 35,24 13,8 84,7 15,3 38,5
200 0,075 15,47 6,0 90,7 9,3 19,8
- Fundo 22,0 8,6 99,3 0,7 14,6
Soma
de
controlo 254,3

500
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi 0,70 < 1% OK

501
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil

Ref.: Reboco Cabeção - Camada A

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 9,29 -
0,0600 60 0,00 9,29
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

502
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO A
SECO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia
Civil

Reboco Cabeção - Camada preencher células a


Ref.:
B verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 300,63

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 0,64 0,2 0,2 99,8 0,2
8 2,38 12,57 4,2 4,4 95,6 4,4
?? 16 1,19 55,52 18,5 22,9 77,1 22,6
30 0,595 80,90 26,9 49,8 50,2 45,4
50 0,297 71,72 23,9 73,6 26,4 50,8
100 0,149 38,73 12,9 86,5 13,5 36,7
200 0,075 53,35 17,7 104,3 -4,3 30,6
- Fundo 24,2 8,0 112,3 -12,3 25,8
Soma
de
controlo 337,6

503
Validação dos resultados:

%
relativa repete
a Mi -12,29 < 1% ensaio

504
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Ref.: Reboco Cabeção - Camada B

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 -4,26 -
0,0600 60 0,00 -4,26
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

505
FOLHA DE
CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO
A SECO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Reboco Carvalhos preencher células a


Ref.:
Figueiredo - Camada A verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 500

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 6,50 1,3 1,3 98,7 1,3
4 4,76 16,59 3,3 4,6 95,4 4,6
8 2,38 55,66 11,1 15,8 84,3 14,5
16 1,19 123,15 24,6 40,4 59,6 35,8
30 0,595 112,15 22,4 62,8 37,2 47,1
50 0,297 65,95 13,2 76,0 24,0 35,6
100 0,149 36,56 7,3 83,3 16,7 20,5
200 0,075 30,14 6,0 89,3 10,7 13,3
- Fundo 71,3 14,3 103,6 -3,6 20,3
Soma
de
controlo 518,0

506
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi -3,61 < 1% repete ensaio

507
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA POR SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Reboco Carvalhos
Ref.:
Figueiredo - Camada A

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 10,66 -
0,0600 60 0,00 10,66
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

508
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO
A SECO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Reboco Carvalhos preencher células a


Ref.:
Figueiredo - Camada B verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 250,03

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 1,37 0,5 0,5 99,5 0,5
8 2,38 20,80 8,3 8,9 91,1 8,9
16 1,19 98,27 39,3 48,2 51,8 47,6
30 0,595 59,24 23,7 71,9 28,1 63,0
50 0,297 41,49 16,6 88,5 11,5 40,3
100 0,149 26,59 10,6 99,1 0,9 27,2
200 0,075 8,22 3,3 102,4 -2,4 13,9
- Fundo 13,1 5,2 107,6 -7,6 8,5
Soma
de
controlo 269,0

509
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi -7,60 < 1% repete ensaio

510
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil

Reboco Carvalhos Figueiredo - Camada


Ref.:
B

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 -2,38 -
0,0600 60 0,00 -2,38
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

511
FOLHA DE CÁLCULO
GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO A SECO
LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil
Reboco Martingança - preencher células a
Ref.:
Camada A verde
células com cálculos e
protegidas
massa inicial da
amostra 500

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos

76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -


50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,60 0,1 0,1 99,9 0,1
4 4,76 12,00 2,4 2,5 97,5 2,5
8 2,38 24,00 4,8 7,3 92,7 7,2
16 1,19 35,20 7,0 14,4 85,6 11,8
30 0,595 57,50 11,5 25,9 74,1 18,5
50 0,297 243,70 48,7 74,6 25,4 60,2
100 0,149 90,10 18,0 92,6 7,4 66,8
200 0,075 29,00 5,8 98,4 1,6 23,8
- Fundo 8,0 1,6 100,0 0,0 7,4
Soma
de
controlo 500,1

512
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi -0,02 < 1% OK

513
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil

Ref.: Reboco Martingança - Camada A

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 1,58 -

0,0600 60 0,00 1,58


0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

514
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO A
SECO

LabCIVIL -
Laboratório
de Engenharia
Civil

Reboco Martingança - preencher células a


Ref.:
Camada B verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 500

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 10,80 2,2 2,2 97,8 2,2
8 2,38 47,00 9,4 11,6 88,4 11,6
16 1,19 47,30 9,5 21,0 79,0 18,9
30 0,595 62,40 12,5 33,5 66,5 21,9
50 0,297 230,10 46,0 79,5 20,5 58,5
100 0,149 73,10 14,6 94,1 5,9 60,6
200 0,075 24,00 4,8 98,9 1,1 19,4
- Fundo 4,8 1,0 99,9 0,1 5,8
Soma
de
controlo 499,5

515
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi 0,10 < 1% OK

516
LabCIVIL - Laboratório
de Engenharia Civil

Ref.: Reboco Martingança - Camada B

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 1,06 -
0,0600 60 0,00 1,06
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

517
LabCIVIL -
aboratório de
Engenharia
Civil

Reboco Vilamar 1 - preencher células a


Ref.:
Camada A - Monocamada verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 500

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 35,20 7,0 7,0 93,0 7,0
8 2,38 95,70 19,1 26,2 73,8 26,2
16 1,19 107,20 21,4 47,6 52,4 40,6
30 0,595 36,60 7,3 54,9 45,1 28,8
50 0,297 29,90 6,0 60,9 39,1 13,3
100 0,149 121,20 24,2 85,2 14,8 30,2
200 0,075 60,90 12,2 97,3 2,7 36,4
- Fundo 12,8 2,6 99,9 0,1 14,7
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi 0,10 < 1% OK

518
GRANULOMETRIA
POR SEDIMENTAÇÃO

FOLHA DE CÁLCULO
LabCIVIL - Laboratório
de Engenharia Civil

Reboco Vilamar 1 -
Ref.:
Camada A Monocamada

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 2,66 -
0,0600 60 0,00 2,66
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

519
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR PENEIRAÇÃO A
SECO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil
Reboco Vilamar 2 - preencher células a
Ref.:
Camada A - STUCO verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 500

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 5,90 1,2 1,2 98,8 1,2
4 4,76 16,20 3,2 4,4 95,6 4,4
8 2,38 46,60 9,3 13,7 86,3 12,6
16 1,19 60,60 12,1 25,9 74,1 21,4
30 0,595 149,10 29,8 55,7 44,3 41,9
50 0,297 148,60 29,7 85,4 14,6 59,5
100 0,149 50,60 10,1 95,5 4,5 39,8
200 0,075 20,20 4,0 99,6 0,4 14,2
- Fundo 1,50 0,3 99,9 0,1 4,3
Soma
de
controlo 499,3
Validação dos resultados:

%
relativa
a Mi 0,14 < 1% OK

520
FOLHA DE
CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil

Reboco Vilamar 2 -
Ref.:
Camada A - Stuco

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 0,44 -
0,0600 60 0,00 0,44
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

521
FOLHA DE CÁLCULO

GRANULOMETRIA POR
PENEIRAÇÃO A SECO

LabCIVIL -
Laboratório
de
Engenharia
Civil
Reboco Vilamar 2 - preencher células a
Ref.:
Camada B barramento verde
células com cálculos
e protegidas
massa inicial da
amostra 250

Mat.retido % % % Mat. % Por


n.º mm (g) Mat.retido Acumulada Passado Intervalos
76,1 0,00 0,0 0,0 100,0 -
50,8 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
38,1 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
1'' 25,4 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/4'' 19,0 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
3/8'' 9,51 0,00 0,0 0,0 100,0 0,0
4 4,76 1,50 0,6 0,6 99,4 0,6
8 2,38 17,50 7,0 7,6 92,4 7,6
16 1,19 34,70 13,9 21,5 78,5 20,9
30 0,595 41,30 16,5 38,0 62,0 30,4
50 0,297 102,50 41,0 79,0 21,0 57,5
100 0,149 39,70 15,9 94,9 5,1 56,9
200 0,075 8,00 3,2 98,1 1,9 19,1
- Fundo 2,90 1,2 99,2 0,8 4,4
Soma
de
controlo 248,1
Validação dos resultados:
%
relativa
a Mi 0,76 < 1% OK

522
FOLHA DE
CÁLCULO

GRANULOMETRIA
POR
SEDIMENTAÇÃO

LabCIVIL -
Laboratório de
Engenharia Civil

Reboco Vilamar 2 -
Ref.:
Camada B barramento

% % % Por
mm µm Acum.Sedig. Acum.Real Intervalos
0,0750 75 0,0 1,92 -
0,0600 60 0,00 1,92
0,0500 50 0,00 0,00
0,0400 40 0,00 0,00
0,0300 30 0,00 0,00
0,0250 25 0,00 0,00
0,0200 20 0,00 0,00
0,0150 15 0,00 0,00
0,0100 10 0,00 0,00
0,0080 8,0 0,00 0,00
0,0060 6,0 0,00 0,00
0,0050 5,0 0,00 0,00
0,0040 4,0 0,00 0,00
0,0030 3,0 0,00 0,00
0,0020 2,0 0,00 0,00
0,0015 1,5 0,00 0,00
0,0010 1,0 0,00 0,00
0,0008 0,8 0,00 0,00
0,0006 0,6 0,00 0,00
0,0005 0,5 0,00 0,00
0,0004 0,4 0,00 0,00
0,0003 0,3 0,00 0,00
0,0002 0,2 0,00 0,00
0,0001 0,1 0,00 0,00

523
524
Anexo I – Testes da pastilha e do frasco de terras provenientes de adobes e de solos
para a manufatura de adobes. Laboratório do Departamento de Engenharia Civil da
Universidade de Aveiro, 2009.

525
ANEXO I
MODELO para ENSAIO SIMPLES
para reconhecimento de terras (ensaio de sedimentação rápida e pastilha)

Designação da amostra: _________________________________________________

SEDIMENTAÇÃO RÁPIDA PASTILHA

□ inexistência de Areia

□ mais Argila e Silte que Areia □ Alta Resistência

□ Argila, Silte e Areia em igual proporção □ Média Resistência

□ maioria de Areia □ Baixa Resistência

□ Existência de matéria orgânica _______________________________________

Data: ______________ Nome: _________________________________________


Local: Universidade de Aveiro, Laboratório do Departamento de Engenharia Civil.

526
MODELO para PROCEDIMENTO e ANÁLISE de RESULTADOS

527
528
Anexo J – Análises de laboratório. Difração DRX, ED-XRF, espectrometria de
fluorescência de raios-X por dispersão de energia (energy dispersion X-ray
fluorescence) e MEV-EDX, microscopia eletrónica de varrimento, associada a
microanálise de raios-X por dispersão de energia. Laboratório Hércules, Universidade
de Évora, Dezembro de 2010.

529
ANEXO J

530
531
532
533
534
535
536
537
538
539
540
541
542
543
544
545
546
547
548
549
550
PATEIRA

Counts
pateira

1600

400

0
10 20 30 40 50 60
Position [°2Theta]

Visible Ref. Code Score Compound Displacemen Scale Factor Chemical


Name t [°2Th.] Formula
* 01-085-0795 77 Quartz 0,000 0,791 Si O2
* 00-001-1098 18 Muscovite 0,000 0,109 H2 K Al3 ( Si
O4 )3
* 01-075-0938 8 Kaolinite 0,000 0,037 Al2 Si2 O5 (
2\ITM\RG O H )4
* 00-008-0048 16 Orthoclase 0,000 0,079 K ( Al , Fe )
Si2 O8

551
PIEDADE

Counts
piedade
10000

2500

0
10 20 30 40 50 60
Position [°2Theta]

Visible Ref. Code Score Compound Displaceme Scale Chemical


Name nt [°2Th.] Factor Formula
* 01-085- 83 Quartz 0,000 0,852 Si O2
0796
* 00-001- Unmatched Muscovite 0,000 0,153 H2 K Al3 (
1098 Strong Pouco Si O4 )3
cristalizado
* 00-001- Unmatched Kaolinite 0,000 0,012 Al2 Si2 O5
0527 Strong Pouco ( O H )4
cristalizado

552
TRAVASSÔ

Counts
6400 travasso

3600

1600

400

0
10 20 30 40 50 60
Position [°2Theta]

Visi Ref. Code Score Compound Displaceme Scale Chemical


ble Name nt [°2Th.] Factor Formula
* 01-085-0795 78 Quartz 0,000 0,638 Si O2
* 01-080-0885 5 Kaolinite 0,000 0,014 Al2 ( Si2
1\ITA\RG O5 ) ( O H
Pouco )4
Cristalizado
* 00-001-0401 3 Goethite 0,000 0,024 Fe2 O3 !
Possivel H2 O
* 00-007-0324 17 Gibbsite 0,000 0,019 Al ( O H )3
Justifia a
concentraç
ão de
Al2O3
* 00-002-0055 Unmatched Muscovite 0,000 0,460 H2 K Al3
Strong Pouco Si3 O12
cristalizado

553
ADOBO MSM

Counts
msm

900

400

100

0
10 20 30 40 50 60
Position [°2Theta]

Visible Ref. Code Score Compound Displacemen Scale Factor Chemical


Name t [°2Th.] Formula
01-086-2334 63 Calcite 0,000 0,927 Ca ( C O3 )
01-086-1560 54 Quartz low 0,000 0,928 Si O2
01-074-1909 18 Magnetite 0,000 0,046 Fe3 O4
00-024-0030 23 Vaterite, syn 0,000 0,037 Ca C O3

554
Anexo L – Ensaios à compressão de provetes cilíndricos e cúbicos em terra, retirados
de adobes. Laboratório do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de
Aveiro, Decivil UA, novembro a dezembro de 2009.

555
ANEXO L
Ensaios à compressão de provetes cilíndricos e cúbicos em terra,
retirados de adobes.

Provetes cilíndricos:
Máquina regulação 10 KgN e velocidade 5mm/minuto
Amostra nome Diâmetro Comprimento Peso Rotura
mm mm gr tensão
Almodôvar1 90,0 100,0 390
Almodôvar2 90,0 85,0 450
Almodôvar3 90,0 95,0 630
Almodôvar4 90,0 110,0 650
Almodôvar5 93,1 75,8 917,6 185
Maranhão1 90,0 140,0 520
Maranhão2 93,8 95,5 1 272,3 140
Maranhão3 95,5 95,5 1 168,6 255
Fajarda1 90,5 129,2 550
Fajarda2 90,5 107,4 870
Fajarda3 92,7 108,8 812
Fajarda4 90,8 95,2 920
Fajarda5 91,5 171,2 655
Fajarda6 91,1 95,3 1 093,2 257
MSM1 81,2 210,0 2 411,4 1750
MSM2 89,3 220,0 2 508,6 2185
MSM3 90,3 210,0 2 418,2 1810
MSM4 90,5 205,0 2 573,9 1275
MSM5 90,2 205,0 2 366,5 1600
MSM6 91,9 215,0 2 581,6 2830
Carvalhos Figueiredo1 92,7 172,0 2 225,3 1200
Carvalhos Figueiredo2 88,8 200,0 2 688,4 1040
Carvalhos Figueiredo3 93,2 170,0 2 576,4 1325
Carvalhos Figueiredo4 89,6 150,0 2 292,0 1175

556
Provetes cilíndricos (continuação):
Máquina regulação 50 KgN (MUDÁMOS DE ANEL) e velocidade 5mm/minuto
Amostra nome Diâmetro Comprimento Peso Rotura
mm mm gr tensão
Louriçal1 94,0 190,0 2 466,4 700
Louriçal2 93,0 190,0 2 525,6 850
Louriçal3 93,0 188,0 2 462,1 980
Louriçal4 86,0 190,0 1 800,8 140
Louriçal5 86,0 187,0 2 008,6 250
Louriçal6 86,0 131,0 1 364,0 245

Provetes prismáticos com base quadrada:


Máquina regulação 10 KgN e velocidade 5mm/minuto
Amostra nome Dimensões base Comprimento Peso Rotura
mm mm gr tensão
Angueira1 85x85 100 1 611,8 265
Angueira2 85x85 100 1 511,6 285
Angueira3 85x85 100 1 591,2 165
Angueira4 85x85 100 1 542,4 470
Cabeção1 80x80 100 2 097,3 448
Cabeção2 80x80 100 1 904,1 430
Cabeção3 80x80 100 1 773,4 380

RESULTADOS:
Capacidade máquina
[kN]: 10

Provete Diâmetro Comprimento (L) Factor Área Massa Fmax


L/D fc [MPa]
cilíndrico (D) [mm] [mm] correctivo [mm2] [kg] [N]

Almodôvar1 90 100 1,11 0,90 6362 … 390 0,055

Almodôvar2 90 85 0,94 0,86 6362 … 450 0,061

Almodôvar3 90 95 1,06 0,88 6362 … 630 0,087

Almodôvar4 90 110 1,22 0,92 6362 … 650 0,094

Almodôvar5 93,1 75,8 0,81 0,83 6808 0,918 185 0,022

Média: 91 93 … … 6451 … 461 0,064

Desv. Padrão: 1,4 13 … … 199 … 191 0,029


Coef. Variação
2 14 … … 3 … 41 45
(%):

557
Maranhão1 90 140 1,56 0,96 6362 … 520 0,079

Maranhão2 93,8 95,5 1,02 0,87 6910 1,272 140 0,018

Maranhão3 95,5 95,5 1,00 0,87 7163 1,169 255 0,031

Média: 93 110 … … 6812 1,220 305 0,043

Desv. Padrão: 2,8 25,7 … … 410 0,073 195 0,032


Coef. Variação
3 23 … … 6 6 64 76
(%):
Fajarda1 90,5 129,2 1,43 0,95 6433 … 550 0,081

Fajarda2 90,5 107,4 1,19 0,91 6433 … 870 0,124

Fajarda3 92,7 108,8 1,17 0,91 6749 … 812 0,110

Fajarda4 90,8 95,2 1,05 0,88 6475 … 920 0,125

Fajarda5 91,5 171,2 1,87 0,99 6576 … 655 0,099

Fajarda6 91,1 95,3 1,05 0,88 6518 1,093 257 0,035

Média: 91 118 … … 6531 … 677 0,096

Desv. Padrão: 0,8 29 … … 120 … 248 0,034


Coef. Variação
1 25 … … 2 … 37 36
(%):
MSM1 81,2 210 2,59 1 5178 2,411 1750 0,338
MSM2 89,3 220 2,46 1 6263 2,509 2185 0,349
MSM3 90,3 210 2,33 1 6404 2,418 1810 0,283
MSM4 90,5 205 2,27 1 6433 2,574 1275 0,198
MSM5 90,2 205 2,27 1 6390 2,367 1600 0,250
MSM6 91,9 215 2,34 1 6633 2,582 2830 0,427

Média: 89 211 … … 6217 2,477 1908 0,307

Desv. Padrão: 3,9 6 … … 523 0,091 540 0,081


Coef. Variação
4 3 … … 8 4 28 26
(%):
Carvalhos
92,7 172 1,86 0,99 6749 2,225 1200 0,176
Figueiredo1
Carvalhos
88,8 200 2,25 1 6193 2,688 1040 0,168
Figueiredo2
Carvalhos
93,2 170 1,82 0,99 6822 2,576 1325 0,191
Figueiredo3
Carvalhos
89,6 150 1,67 0,97 6305 2,292 1175 0,181
Figueiredo4

Média: 91 173 … … 6517 2,446 1185 0,179

Desv. Padrão: 2,2 21 … … 314 0,222 117 0,010


Coef. Variação
2 12 … … 5 9 10 6
(%):

Capacidade máquina [kN]: 50

558
Provete Diâmetro Comprimento (L) Factor Área Massa Fmax
L/D 2
fc [MPa]
cilíndrico (D) [mm] [mm] correctivo [mm ] [kg] [N]

Louriçal1 94 190 2,02 1 6940 2,466 700 0,101

Louriçal2 93 190 2,04 1 6793 2,526 850 0,125

Louriçal3 93 188 2,02 1 6793 2,462 980 0,144

Louriçal4 86 190 2,21 1 5809 1,801 140 0,024

Louriçal5 86 187 2,17 1 5809 2,009 250 0,043

Louriçal6 86 131 1,52 0,96 5809 1,364 245 0,041

Média: 90 179 … … 6325 2,105 528 0,080

Desv. Padrão: 4,0 24 … … 568 0,466 359 0,050


Coef. Variação
4 13 … … 9 22 68 63
(%):

Capacidade máquina [kN]: 10

Provete Espessura Altura (H) Factor Área Massa Fmax


H/t 2
fc [MPa]
prismático (t) [mm] [mm] correctivo [mm ] [kg] [N]
Angueira1 85 100 1,18 0,72 7225 1,612 265 0,026
Angueira2 85 100 1,18 0,72 7225 1,512 285 0,028
Angueira3 85 100 1,18 0,72 7225 1,591 165 0,016
Angueira4 85 100 1,18 0,72 7225 1,542 470 0,047
Média: 85 100 … … 7225 1,564 296 0,029

Desv. Padrão: 0 0 … … 0 0,046 127 0,013


Coef. Variação
0 0 … … 0 3 43 43
(%):
Cabeção1 80 100 1,25 0,73 6400 2,097 448 0,051
Cabeção2 80 100 1,25 0,73 6400 1,904 430 0,049
Cabeção3 80 100 1,25 0,73 6400 1,773 380 0,043
Média: 80 100 … … 6400 1,925 419 0,048

Desv. Padrão: 0 0 … … 0 0,163 35 0,004


Coef. Variação
0 0 … … 0 8 8 8
(%):

559
560

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