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UNIVERSIDADE DE LISBOA

Faculdade de Letras

Os Palácios da “Representação Nacional”.


Identidade e Poder nos edifícios do Governo no Estado Novo

Ana Mehnert Pascoal

Orientadores: Prof. Doutora Maria João Quintas Lopes Baptista Neto


Prof. Doutor João Paulo do Rosário Martins

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de Doutor em História da Arte,


especialidade em Arte, Património e Restauro

2023
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Letras

Os Palácios da “Representação Nacional”.


Identidade e Poder nos edifícios do Governo no Estado Novo

Ana Mehnert Pascoal

Orientadores: Prof. Doutora Maria João Quintas Lopes Baptista Neto


Prof. Doutor João Paulo do Rosário Martins

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de Doutor em História da Arte, especialidade
em Arte, Património e Restauro

Júri:
Presidente: Doutor Hermenegildo Nuno Goinhas Fernandes, Professor Catedrático e Diretor da Área
de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Vogais:
- Doutora Joana Rita da Costa Brites, Professora Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra (1.ª Arguente)
- Doutor Ricardo Manuel Costa Agarez, Investigador Integrado do Centro de Estudos sobre a
Mudança Socioeconómica e o Território (ECSH) do ISCTE-IUL (2.º Arguente)
- Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão, Professor Catedrático da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa (Vogal)
- Doutor Ernesto Saturnino Dá Mesquita Castro Leal, Professor Associado com Agregação da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Vogal)
- Doutora Clara Maria Martins de Moura Soares, Professora Auxiliar com Agregação da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Vogal)
- Doutora Maria João Quintas Lopes Baptista Neto, Professora Associada com Agregação da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Coorientadora)

Fundação para a Ciência e a Tecnologia, IP (FCT), Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/139172/2018

2023
A presente investigação foi financiada através da Fundação para Ciência e Tecnologia, IP
(FCT), pelo Fundo Social Europeu (FSE) e por fundos nacionais do MCTES, no âmbito da
Bolsa de Doutoramento com a referência SFRH/BD/139172/2018.
Em memória da Bia,
companheira de todas as horas.
“Vestidos de rigor de luto, os cortesãos esperavam horas diante da estátua, de
chapéu na mão. Aquele Imperador de bronze recordava-lhes o jovem doutor
camponês, Modéstia e Autoridade, que viera do nada para assombrar os
mestres. Olhava para longe, erecto como um promontório.
Certos visitantes tocavam-lhe com o dedo: tinham à frente deles o Chefe!, o
irmão-irmão, o gémeo; o que ficaria para os séculos, Saber e Autoridade,
como um vasto eco de panteão à meia-luz. Sentiam um sossego de passado e
de viagem naquela figura esverdeada, qualquer coisa de emissário do velho
Império, de passageiro de galeão, representando na imponência da capa e das
borlas de doutor que eram as mesmas dos nobres de há trezentos anos; as suas
próprias feições, raspadas a aço de Albacete, tinham a secura sobranceira de
quem viu o mundo e não conta.
[...]
Nenhum deles, retirantes em desordem, pôde resistir a uma tão súbita presença
e principalmente à soberania que comandava aquela figura de bronze, apesar
de já amarrada de pés e mãos pelas ervas trepadeiras, apesar dos lacraus que se
passeavam por cima e da merda dos morcegos.”

José Cardoso Pires, Dinossauro Excelentíssimo, 1979


Resumo

O Estado Novo português (1933-1974) ocupou, sobretudo, espaços para os seus órgãos de
soberania que já possuíam anteriormente essa função, remodelando-os consoante o seu
entendimento estético. Quando justificado, planeou novos imóveis. A presente investigação
assenta na análise dos edifícios representativos do poder central – Presidência do Conselho e
Assembleia Nacional (Palácio de São Bento) e Ministérios (Praça do Comércio), em Lisboa,
fundamentada na inexistência de uma abordagem global das intervenções arquitetónicas e
artísticas efetuadas nesses espaços, impondo-se, portanto, colmatar uma lacuna na
historiografia da arte deste período. São abarcados programas, planos e projetos tanto
concretizados, como não materializados, e considera-se a estrutura burocrática dominante e os
diversos agentes envolvidos, da esfera política e decisória aos domínios de planeamento
urbano, produção arquitetónica e criação artística.
Pretende-se contribuir para a compreensão dos processos de veiculação de uma imagem
representativa do regime político e de estabelecimento de uma identidade coletiva, quer pela
atuação sobre edifícios com marcado simbolismo e valor patrimonial atribuído, quer pela
construção de raiz, incluindo os vários elementos de encenação espacial, concretamente obras
de arte e mobiliário. A análise é enquadrada nas políticas de fomento de obras públicas
estrangeiras coevas.
O estudo adquire relevância no contexto atual de valorização do património edificado,
particularmente enquanto recurso económico no quadro de uma recente conjuntura de
reconversão de alguns espaços outrora ocupados pelos organismos do Governo. Desta forma,
atenta-se em questões de utilização continuada desde a revolução de 1974, e de manutenção e
alteração de funções. Reflete-se acerca da “patrimonialização” do legado imóvel do Estado
Novo, alvo de adaptações várias, atentando no conceito de difficult heritage e na necessidade
de implementar práticas de memória crítica perante um legado que se revela quotidianamente
invisível.

Palavras-chave
Arquitetura; Estado Novo; Identidade nacional; Património; Poder

i
ii
Abstract

The government bodies of the Portuguese Estado Novo (New State, 1933-1974) were mainly
housed in buildings that previously had this function and were adapted according to sanctioned
aesthetic taste. When justified, new buildings were constructed. This research is based on the
analysis of representative buildings for the central power – Presidency of the Council of
Ministers and National Assembly (Palace of São Bento) and Ministries (Praça do Comércio),
in Lisbon –, as it is necessary to fill in a gap in the historiography of this period given the lack
of a global approach on the architectural and artistic interventions carried out in these spaces.
It encompasses programs, plans, and projects, both built and not built, and considers the
dominant bureaucratic structure and the various agents involved, from the political and
decision-making sphere to the domains of urban planning, architectural production, and artistic
creation.
The research aims to contribute to the understanding of the processes used to propagate a
representative image of the political regime and to establish a collective identity, either by
acting on buildings with evident symbolism and ascribed heritage value, or by building from
scratch, including the various elements applied for spatial enactment, specifically works of art
and furniture. The analysis takes contemporary foreign public works policies into account.
The study becomes relevant in the present-day context of valorisation of built heritage,
particularly as an economic asset within recent reconversions of some spaces formerly
occupied by Government bodies. Therefore, attention is paid to issues of continued use since
the 1974 democratic revolution, as well as of maintenance and change of functions. Reflection
on the “heritagization” of the built legacy from the Estado Novo, which has been subject to
several adaptations, contemplates the concept of difficult heritage considering the need to
implement critical memory practices in the face of a legacy that reveals itself to be invisible
daily.

Keywords
Architecture; Estado Novo; National identity; Heritage; Power

iii
iv
Agradecimentos

A solidão implicada num trabalho de investigação desta envergadura foi extremada pela
conjuntura pandémica, que marcou uma percentagem significativa do seu desenvolvimento. A
colaboração de um conjunto de pessoas e instituições permitiu concretizá-lo.
Devo à Fundação para a Ciência e Tecnologia a concessão de uma bolsa de doutoramento
(SFRH/BD/139172/2018), que possibilitou o financiamento e a dedicação exclusiva à
investigação.
O primeiro reconhecimento cabe aos orientadores científicos, Professora Doutora Maria João
Neto e Professor Doutor João Paulo Martins, que com ânimo aceitaram acompanhar o projeto.
Agradeço o enriquecimento profissional e pessoal que proporcionaram, através de empenho e
disponibilidade, demonstrados com generosas partilhas, lançamento de pistas e de questões
pertinentes ao longo do trabalho, e sinceras palavras de encorajamento.
Estendo o agradecimento aos professores que acompanharam a componente letiva do programa
doutoral: Professor Doutor Vítor Serrão, Professora Doutora Clara Moura Soares, Professor
Doutor Pedro Lapa, Doutor David Santos.
No domínio institucional, cabe-me agradecer o acolhimento presencial na Assembleia da
República (Dr. Miguel Sousa Lara), Ministério da Administração Interna (Dra. Cidália
Ferreira, Dra. Telma Rodrigues), Ministério da Agricultura (Dra. Ana Filipe de Morais, Dra.
Maria João Monteiro, Arq. Joana Costa), Ministério da Economia e Transição Digital:
Gabinete de Estudos e Estratégia (Dr. Gonçalo Botelho, Arq. António Baeta), Ministério das
Finanças (Dra. Filomena Pedroso, Dr. João Luís), Ministério da Justiça (Dra. Alexandra
Louro), Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Dra. Teresa Carvalho),
Pousada de Lisboa (Dr. João Rocha Neves). Acrescento um agradecimento pela
disponibilidade para diálogo, via e-mail, da Arq. Marta Rosado Fonseca (Ministério das
Finanças) e do Arq. Jaime Morais (Dueto Arquitetos).
A investigação teria sido impossível sem acesso a um conjunto de acervos documentais.
Agradeço especialmente à Doutora Ana Paula Figueiredo a possibilidade de desenvolver
pesquisa de forma sistemática no Forte de Sacavém (DGPC/SIPA), estendendo os meus
agradecimentos a Dra. Paula Noé, Dra. Cátia Martins e Dr. João Nuno Reis. Assinalo também
a colaboração prestável no Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças (Dr. João
Sabino), Arquivo Histórico do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Dra.
Teresa Carvalho), Arquivo Histórico Parlamentar, Arquivo Histórico da Secretaria-Geral da

v
Educação e Ciência (Dra. Paula Pimentel), Arquivo Histórico Ultramarino (Doutora Ana
Canas, Dra. Maria Teresa Neves), Arquivo do Instituto Camões (Dra. Rafaela Rodrigues, Dra.
Liliane Videira), Arquivo Municipal de Lisboa (Dra. Alexandra Nunes, Dra. Estela
Casanovas), Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Dr. Paulo Tremoceiro), Arquivo do Porto
de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, Biblioteca e Arquivo Histórico da Economia (Dra. Paula Ucha,
Dr. Vitor Gens), Centre d’Archives d’Architecture Contemporaine (Dr. Simon Vaillant),
Centro de Artes das Caldas da Rainha (Dra. Rita Sáez), Fundação António Quadros (Dra.
Mafalda Ferro), Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca de Arte e Arquivos, Ibero-
Amerikanisches Institut (Dr. Gregor Wolff), Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu
do Chiado (Dr. António Chaparreiro), Museu Nacional Grão Vasco (Dra. Graça Marcelino),
Museu de Lisboa (Dra. Rita Fragoso de Almeida), Palácio Nacional da Ajuda (Dra. Gabriela
Cordeiro). Agradeço a permissão para reprodução de imagens a Arquivo Histórico
Parlamentar, Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo do
Porto de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, Biblioteca e Arquivo Histórico da Economia, Direção-
Geral do Património Cultural, Fundação António Quadros, Fundação Calouste Gulbenkian –
Biblioteca de Arte e Arquivos, bem como às respetivas instituições para uso das imagens
captadas durante as visitas aos edifícios.
Cumpre-me expressar especial gratidão ao Doutor José Perez, e ao Arquiteto Bernardo
Pimentel e à esposa, Madalena Pimentel, pela possibilidade de consulta dos espólios,
respetivamente, de Adriano Sousa Lopes e de Raul Lino, e pela generosidade com que me
receberam.
Aos colegas de doutoramento – António Cota, Mateus Nunes, Carlos Filipe – deixo um abraço
pela amizade que construímos nesta jornada. No ARTIS-Instituto de História da Arte, agradeço
as conversas a Vera Mariz, Rosário Salema de Carvalho, Lúcia Marinho e Inês Leitão.
Agradeço as presenças, partilhas e dicas aos colegas-amigos Joana Brites, Carlos Silveira, José
Avelãs Nunes, Raquel Seixas, Sofia Diniz, João Alves da Cunha. Devo a Ana Pinto e a Catarina
Teixeira a companhia amiga intensificada nos últimos anos. Não esqueço os que habitam foram
da esfera académica: convivas balanceiros, malta dos cães, meninas do croché d’arrasto,
amigos do MUHNAC, Inês Monteiro, Filipa Vieira, Sérgio Rafael e Vera Pinto.
As palavras de maior gratidão são para a minha família, em especial para a minha irmã e para
os meus pais, pelo apoio constante.
Ao Duarte, que me acompanha e ampara nesta caminhada, devo toda a força e amor. Enfim,
este percurso teria sido bastante penoso sem os companheiros omnipresentes, Bia e Kobi,
mestres na arte da persistência e da fidelidade, e supervisores da concretização desta etapa.

vi
Índice

Resumo / Palavras-chave.............................................................................................. i
Abstract / Keywords..................................................................................................... iii
Agradecimentos............................................................................................................. v
Abreviaturas, acrónimos e siglas................................................................................. x
Índice de imagens.......................................................................................................... xiii

Introdução...................................................................................................................... 1
O tema: pertinência e objetivos.................................................................................. 1
Estado da Arte............................................................................................................ 4
Metodologia............................................................................................................... 12
Estrutura da tese......................................................................................................... 14
Nota............................................................................................................................ 16

Capítulo I. Obras Públicas: poder e identidade.......................................................... 17


1. Estado Novo e promoção de obras públicas em contexto: edifícios
representativos do poder perante o panorama internacional....................................... 19
2. Edifícios públicos para o Governo: função e representação.................................... 43

Capítulo II. As sedes dos órgãos de poder.................................................................... 49


1. A organização do poder político no Estado Novo................................................... 51
2. O Palácio da Assembleia Nacional......................................................................... 64
2.1. Palácio de São Bento, o “palácio da representação nacional”: reconfiguração
e manutenção simbólica......................................................................................... 64
2.2. A estrutura organizativa das obras.................................................................. 72
2.3. Remodelações no exterior e estudo da zona de proteção................................. 82
2.4. A residência oficial do Presidente do Conselho.............................................. 99
2.5. Estátuas para a escadaria monumental............................................................ 122
2.6. Adaptação dos espaços interiores................................................................... 134
2.6.1. Ascensão ao andar nobre: escadaria de honra e decoração artística...... 135
2.7. O andar nobre.................................................................................................. 158

vii
2.7.1. Remodelação de gabinetes como marco de uma estética oficialmente
sancionada...................................................................................................... 163
2.7.1.2. Gabinete do Presidente do Conselho........................................ 166
2.7.1.3. Gabinete do Presidente da Assembleia
Nacional................................................................................................ 176
2.7.1.4. Gabinete do Presidente da Câmara
Corporativa........................................................................................... 180
2.7.1.5. Sala [de reuniões] do Governo................................................. 184
2.8. O Salão Nobre................................................................................................. 187
2.9. Remodelações a partir da década de 1950....................................................... 203
2.10. O pós-revolução............................................................................................ 215
2.11. Algumas reflexões........................................................................................ 216
3. Os Ministérios........................................................................................................ 220
3.1. De Terreiro do Paço a Praça do Comércio: um centro centenário do poder..... 220
3.2. Iniciativas de revitalização nas décadas de 1930 e 1940: a Praça do
Comércio como eixo aglutinador do poder central................................................ 228
3.3. O primeiro projeto para incremento de instalações ministeriais: o Ministério
das Finanças.......................................................................................................... 235
3.4. Propostas de urbanização e de arranjo da praça na década de 1940................. 246
3.5. Um estudo gorado para remodelação do Ministério da Justiça........................ 253
3.6. Valorização artística da praça e dos edifícios ministeriais no pós-guerra........ 259
3.7. A centralização da remodelação dos edifícios ministeriais............................. 264
3.8. Estudos de distribuição dos ministérios e planos de urbanização.................... 268
3.9. Critérios de adaptação dos edifícios e o papel de Raul Lino na valorização
estética da Praça do Comércio............................................................................... 287
3.10. A concretização do edifício do Ministério das Finanças............................... 294
3.11. A remodelação do Ministério do Interior...................................................... 333
3.12. A materialização dos arranjos da ala norte para o Ministério da Justiça........ 346
3.13. Novos blocos a poente da Praça do Comércio: Ministérios das Obras
Públicas e das Comunicações e sede da AGPL...................................................... 357
3.14. Da Praça do Comércio para a Praça de Londres: o Ministério das
Corporações e Previdência Social.......................................................................... 377
3.15. A ala ocidental: conglomeração de serviços e pretensões de ocupação......... 393

viii
3.16. Transformações na praça na sequência imediata do 25 de abril de 1974....... 409
3.17. Algumas considerações................................................................................ 413

Capítulo III. O património do poder: a permanência hodierna das obras públicas


estado-novistas............................................................................................................... 419
1. Atitudes internacionais perante o legado material do passado ditatorial................. 421
2. A memória do Estado Novo, entre o silenciamento e o debate................................ 428
3. A reminiscência do Estado Novo no património do poder político......................... 432
3.1. O Palácio de São Bento................................................................................... 437
3.2. A Praça do Comércio...................................................................................... 442
4. Património difícil ou invisível?............................................................................... 451

Considerações finais...................................................................................................... 455

Referências..................................................................................................................... 465
Fontes......................................................................................................................... 465
I. Fontes arquivísticas........................................................................................ 465
II. Legislação...................................................................................................... 472
III. Hemerografia................................................................................................. 473
IV. Fontes impressas............................................................................................ 474
Bibliografia................................................................................................................ 476
Dissertações e trabalhos académicos.......................................................................... 499
Internet....................................................................................................................... 503

Anexos............................................................................................................................ 507
I. Cronologia: propostas e intervenções durante o Estado Novo............................ 509
II. Intervenientes: notas biográficas........................................................................ 518
III. Ficha de caso de estudo: Palácio de São Bento................................................... 548
Ficha de caso de estudo: Praça do Comércio – Ministérios................................. 552
IV. Desenhos de Martins Barata, relativos aos estudos para os trípticos do Palácio
de São Bento, vendidos ao Estado em 1944........................................................ 557

ix
Abreviaturas, acrónimos e siglas
ACMF: Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças
AFRL: Arquivo da Família de Raul Lino
AGPL: Administração Geral do Porto de Lisboa
AGU: Agência Geral do Ultramar
AHP: Arquivo Histórico Parlamentar
AHSGEC: Arquivo Histórico da Secretaria-Geral da Educação e Ciência
AHSGMTSSS: Arquivo Histórico da Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social
AHU: Arquivo Histórico Ultramarino
AIC: Arquivo do Instituto Camões
AML: Arquivo Municipal de Lisboa
ANBA: Academia Nacional de Belas-Artes
ANTT: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
APL: Administração do Porto de Lisboa
arq.: arquiteto
BAHE: Biblioteca e Arquivo Histórico da Economia
CAAC: Centre d’Archives d’Architecture Contemporaine
CACR: Comissão Administrativa do Congresso da República
CACR-AMAD: Centro de Artes das Caldas da Rainha – Atelier Museu António Duarte
CAM: Comissão para Aquisição de Mobiliário
CCMAA: Comissão Consultiva Municipal de Arte e Arqueologia
CGDCP: Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência
Cit.: Citado
CML: Câmara Municipal de Lisboa
CNIMCPS: Comissão das Novas Instalações do Ministério das Corporações e Previdência
Social
colab.: colaboração
CPAE: Conselho Permanente de Ação Educativa
CSBA: Conselho Superior de Belas-Artes
CSOP: Conselho Superior de Obras Públicas
CSTT: Conselho Superior dos Transportes Terrestres

CTT: Correios, Telégrafos e Telefones


cx.: caixa
DEL: Direção de Edifícios de Lisboa
DGA: Direção-Geral das Alfândegas

x
DGAC: Direção-Geral da Aeronáutica Civil
DGEMN: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
DGESBA: Direção-Geral do Ensino Superior e Belas-Artes
DGFP: Direção-Geral da Fazenda Pública
DGPC/SIPA: Direção-Geral do Património Cultural / Sistema de Inventário do Património
Arquitetónico
DGS: Direção-Geral da Saúde
DGSU: Direção-Geral dos Serviços de Urbanização
DGTT: Direção-Geral dos Transportes Terrestres
DNISP: Delegação para as Novas Instalações dos Serviços Públicos
DSC: Direção dos Serviços de Conservação
DSMN: Direção dos Serviços de Monumentos Nacionais
DSUO: Direção dos Serviços de Urbanização e Obras
eng.: engenheiro
EGAP: Exposição Geral de Artes Plásticas
ESBAL: Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa
ESBAP: Escola Superior de Belas-Artes do Porto
esc.: escultor
FCG-BAA: Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca de Arte e Arquivos
fl., fls.: fólio, fólios
FNAF: Fundo Nacional do Abono de Família
FNAT: Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho
FRES: Fundação Ricardo Espírito Santo
GUU: Gabinete de Urbanização do Ultramar
inaug.: inaugurado
inv.: inventário
IPPC: Instituto Português do Património Cultural
IST: Instituto Superior Técnico
JAE: Junta Autónoma de Estradas
JNE: Junta Nacional de Educação
LNEC: Laboratório Nacional de Engenharia Civil
MC: Ministério das Comunicações
MCPS: Ministério das Corporações e Previdência Social
MNAA: Museu Nacional de Arte Antiga
MNAC: Museu Nacional de Arte Contemporânea
MOP: Ministério das Obras Públicas
MOPC: Ministério das Obras Públicas e Comunicações
PDUL: Plano Diretor de Urbanização de Lisboa

xi
P. ex.: por exemplo
PIDE: Polícia Internacional e de Defesa do Estado
PMPL: Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa
PNA: Palácio Nacional da Ajuda
pt.: pasta
PVDE: Polícia de Vigilância e Defesa do Estado
REE: Repartição de Estudos de Edifícios
REOE: Repartição de Estudos e Obras de Edifícios
REOM: Repartição de Estudo e Obras de Monumentos
SECPS: Subsecretariado de Estado das Corporações e Previdência Social
SNA: Sindicato Nacional dos Arquitetos
SNBA: Sociedade Nacional de Belas-Artes
SNI: Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo
SPN: Secretariado de Propaganda Nacional
S.d.: Sem data
S.l.: Sem local
S.n.: Sem nome
Vol.: Volume

xii
Índice de imagens
Fig. 1 Pormenor do baixo-relevo de Henrique Bettencourt, exposto no Pavilhão de Portugal na
Exposição Internacional de Paris.
Fotografia Estúdio Mário Novais, 1937.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.101049 p. 52

Fig. 2 Palácio de São Bento: fachada principal.


Fotografia de Francesco Rocchini, s.d. [1873-93].
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/ROC/000080 p. 67

Fig. 3 Fachada principal do Palácio de São Bento. Fotografia de autor deconhecido, s.d.
Fonte: Guia oficial da Exposição Portuguesa em Sevilha (Lisboa: Comissariado Geral
da Exposição Portuguesa em Sevilha, 1929), 21. p. 67

Fig. 4 Palácio de São Bento: entrada principal. Fotografia Casa Fotográfica Garcia Nunes, [c.
1941].
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/NUN/000427 p. 72

Fig. 5 Aspeto das obras na fachada principal do Palácio de São Bento.


Fotografia de autor desconhecido, 23.11.1935.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00046. p. 76

Fig. 6 Últimos trabalhos na fachada do Palácio de São Bento.


Fotografia do jornal Diário de Notícias, 05.11.1938.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00111 p. 76

Fig. 7 Salazar com o engenheiro Leal de Faria.


Fotografia de Salazar Dinis, [19--].
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00004 p. 81

Fig. 8 Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Estudo
para a remodelação e embelezamento do edifício onde se encontra instalado o Instituto
Superior de Ciências Económicas e Financeiras – Convento do Quelhas – e
ajardinamento dos terrenos anexos, 26.05.1946.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 51.24 p. 86

Fig. 9 Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Projecto
do jardim a localizar no lado sul do Palácio junto da Calçada da Estrela (variante),
25.05.1947.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.122 p. 87

Fig. 10 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: variante
do projecto, planta das expropriações, 22.12.1937.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.109 p. 89

Fig. 11 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: variante,
16.04.1943.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.113 p. 89

Fig. 12 Obras de pavimentação no local onde existiu o mercado de São Bento (fachada nordeste
do palácio, Praça de S. Bento).
Fotografia de Eduardo Portugal, 06.1943.
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/EDP/000622 p. 90

Fig. 13 Luís Cristino da Silva, Projecto da zona de protecção do Palácio da Assembleia


Nacional: escadaria - alçado, 19.09.1936.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.57 p. 91

xiii
Fig. 14 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: estudo da
iluminação da escadaria, 26.11.1938.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.83 p. 91

Fig. 15 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: projecto
da escadaria e jardins a situar junto da fachada posterior, 25.08.1938. Espólio Luís
Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.64 p. 93

Fig. 16 Leopoldo de Almeida, Esfinge no topo da escadaria do jardim posterior.


Fotografia da autora, 2020. p. 93

Fig. 17 Estátua de autor não identificado: Justiça.


Fotografia de Paulo Baptista, 2001.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, AF 00155/2001. p. 94

Fig. 18 Estátua de autor não identificado: Força.


Fotografia de João Silveira, 2004.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00822. p. 94

Fig. 19 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: projecto
do arranjo arquitectónico do ângulo sudoeste da Praça de S. Bento – planta de conjunto,
27.05.1939.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.96 p. 96

Fig. 20 Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Praça de
S. Bento, rectificação ao primeiro projecto – alçado do conjunto, 02.06.1941.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 51.85 p. 96

Fig. 21 Residência oficial do Presidente do Conselho.


Fotografia de autor não identificado, s.d.
DGPC/SIPA: FOTO.00926223 p. 100

Fig. 22 Planta geral do parque e residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: rede de


canalizações, 1937.
DGPC/SIPA: DES.00013015 p. 102

Fig. 23 Residência do Presidente do Conselho: planta do 1.º andar, [1938].


Imagem cedida pelo ANTT, Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 15 p. 103

Fig. 24 António Lino, Parque da residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: capoeiras, s.d.
DGPC/SIPA: DES.00013011 p. 109

Fig. 25 António Lino, Parque da residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: lavadouro, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00013014 p. 110

Fig. 26 Jardim da residência oficial do Presidente do Conselho: estátua Meditação.


Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.7439 p. 112

Fig. 27 Salazar no seu gabinete de trabalho na residência oficial.


Fotografia de Santos e Almeida, s.d. [década de 1960].
Imagem cedida pelo ANTT, Fundo Secretariado Nacional de Informação, Arquivo
Fotográfico, Documental, II-5, doc. 13297. p. 117

Fig. 28 A chegada do Chefe do Estado ao Palácio da Assembleia Nacional, no dia do seu


compromisso de honra relativo ao segundo período presidencial. Fotografia de O Século,
26.04.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0034/0642J p. 122

xiv
Fig. 29 Exterior do Palácio após a sessão solene de abertura da Assembleia Nacional.
Fotografia de autor desconhecido, 11.01.1935.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00029 p. 126

Fig. 30 Modelo para a estátua dedicada ao Império Colonial Português, por Costa Mota
(Sobrinho).
Fotografia de O Século, 06.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0031J p. 127

Fig. 31 António da Costa dando os últimos retoques na estátua representando o Estado


Corporativo.
Fonte: Diário de Notícias, n.º 24759, 08.01.1935, p. 1. p. 127

Fig. 32 Palácio de São Bento: escadaria principal com estátuas em gesso (da esq. p/ dta.:
Prudência, Justiça, Império Colonial, Força, Temperança).
Fotografia Estúdio Mário Novais, [1935].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.517891 p. 128

Fig. 33 Palácio de São Bento: escadaria principal com estátuas em gesso.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1935].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.51785 p. 129

Fig. 34 Estátua Prudência (gesso), Raul Xavier.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1935] [pormenor].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.517891 p. 133

Fig. 35 Estátua Prudência, Raul Xavier.


Fotografia de João Silveira Ramos, 2004.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00814 p. 133

Fig. 36 Maximiano Alves no atelier junto do modelo para a estátua Justiça. [c.1935].
Fonte: Américo Lopes de Oliveira, Maximiano Alves (Braga: Liv. Pax, 1972), s.p. p. 133

Fig. 37 Estátua Justiça, Maximiano Alves.


Fotografia de João Silveira Ramos, 2004.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00817 p. 133

Fig. 38 Estátua Fortaleza (gesso), Ruy Roque Gameiro.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1935] [pormenor].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.110024 p. 134

Fig. 39 Estátua Força, António Costa Mota (Sobrinho).


Fotografia de João Silveira Ramos, 2004.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00818 p. 134

Fig. 40 Estátua Temperança (gesso), Salvador Barata Feyo.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1935] [pormenor].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.110027 p. 134

Fig. 41 Estátua Temperança, Salvador Barata Feyo.


Fotografia de João Silveira Ramos, 2004.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00819 p. 134

Fig. 42 Lustre no centro da escadaria nobre.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [após 1943].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.70955 p. 136

Fig. 43 Candelabro no topo da escadaria nobre.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [após 1943].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.70957 p. 136

xv
Fig. 44 Coroamento das portas da autoria de Leopoldo de Almeida na escadaria nobre do Palácio
de São Bento.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1999.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 202 p. 138

Fig. 45 Estudos de Abel Manta: 1.º prémio (Defesa da Pátria, à esq.) e 2.º prémio (Prosperidade
da Nação, à dta.).
Fotografia de O Século, 21.12.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2280J p. 142

Fig. 46 Abel Manta, D. Sebastião (1.º prémio).


Fotografia de O Século, 21.12.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2278J p. 142

Fig. 47 Estudos de Dordio Gomes: 1.º premio (Prosperidade da Nação, à esq.) e 2.º prémio
(Defesa da Pátria, à dta.).
Fotografia de O Século, 21.12.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2282J p. 143

Fig. 48 Dordio Gomes, A Família (1.º prémio).


Fotografia de O Século, 21.12.1935.
ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2279J p. 143

Fig. 49 Estudos de Dordio Gomes, Prosperidade da Nação (1.º prémio).


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério da Agricultura. p. 144

Fig. 50 Estudos de Dordio Gomes, Defesa da Pátria (2.º prémios).


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério da Agricultura. p. 144

Fig. 51 Estudos de Lino António, Prosperidade da Nação (3.º prémio).


Fotografia de O Século, 21.12.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2281J p. 145

Fig. 52 Lino António, Ceifeiros (3.º prémio).


Fotografia de O Século, 21.12.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0038/2277J p. 145

Fig. 53 Estudos de Lino António, Prosperidade da Nação (3.º prémio).


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério da Agricultura. p. 146

Fig. 54 Estudos de Lino António, Defesa da Pátria (3.º prémio).


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério da Agricultura. p. 146

Fig. 55 Escadaria Nobre: tríptico de Martins Barata no acesso à Câmara Corporativa.


Fonte: Joaquim Leitão, O Palácio de São Bento (Lisboa: Bertrand, 1945), 62. p. 155

Fig. 56 Exposição do Mundo Português: Sala de Honra, Pavilhão de Honra e de Lisboa, tríptico
de Martins Barata referente a D. João, mestre de Avis.
Fotografia Estúdio Mário Novais, 1940.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.201929 p. 156

Fig. 57 Painel do tríptico “As Cortes de Leiria” da autoria de Martins Barata, na escadaria nobre
do Palácio de São Bento.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1999.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00118 p. 157

xvi
Fig. 58 Painel do tríptico “Alegoria às forças produtivas da Nação” da autoria de Martins Barata,
na escadaria nobre do Palácio de São Bento.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1999.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 00120A p. 157

Fig. 59 I Sessão do terceiro período da III Legislatura: o Presidente do Conselho discursando no


salão nobre da biblioteca [Salazar junto ao seu busto, da autoria de Francisco Franco, à
dta.].
Fotografia do jornal O Século, 25.11.1947.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00299 p. 159

Fig. 60 Um aspeto do Salão Nobre do Museu Histórico-Bibliográfico antes da inauguração.


Fotografia do jornal O Século, 21.04.1945.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00219 p. 160

Fig. 61 Vista do gabinete do Presidente do Conselho.


Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00525320 p. 167

Fig. 62 Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente do Conselho.
Fotografia de [Bertrand & Irmãos, Lda], [194-]
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00758 p. 167

Fig. 63 Salazar no seu gabinete.


Fotografia de Salazar Dinis, [19--].
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00001 p. 168

Fig. 64 Reprodução da pintura de António Soares para o gabinete do Presidente do Conselho,


no Palácio de São Bento.
Fonte: Comissão Executiva da Exposição de Obras Públicas (ed.), Quinze Anos de Obras
Públicas. 1932–1947, vol. I: Livro de Ouro (Lisboa: Imprensa Nacional, 1948), 36. p. 170

Fig. 65 Pintura de António Soares para o Pavilhão de Portugal da Exposição Internacional de


Paris de 1937.
Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.102277 p. 170

Fig. 66 Vista do gabinete do Presidente do Conselho.


Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.101328 p. 171

Fig. 67 Vista do gabinete do Presidente do Conselho.


Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.101331 p. 171

Fig. 68 O Presidente do Governo no seu gabinete no Palácio de São Bento.


Fotografia de autor desconhecido, 14.02.1935.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00031 p. 172

Fig. 69 Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do
Conselho, 1959.
Imagem cedida pelo ANTT, Arquivo Salazar, PC-64, cx.638, pt. 1, fl. 19 p. 173

Fig. 70 Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do
Conselho, 1959.
Imagem cedida pelo ANTT, Arquivo Salazar, PC-64, cx.638, pt. 1, fl. 20 p. 174

Fig. 71 Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do
Conselho, 1959.
Imagem cedida pelo ANTT, Arquivo Salazar, PC-64, cx.638, pt. 1, fl. 21 p. 174

xvii
Fig. 72 Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente da Assembleia
Nacional.
Fotografia de [Bertrand & Irmãos, Lda], [194-]
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00756 p. 177

Fig. 73 Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente da Assembleia
Nacional. Foto de [Bertrand & Irmãos, Lda], [194-]
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00757 p. 177

Fig. 74 Estudo de Lino António para o gabinete do Presidente da Assembleia Nacional: Infante
D. Henrique.
Fotografia de O Século, 05.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0019J p. 179

Fig. 75 Estudo de Lino António para o gabinete do Presidente da Assembleia Nacional:


levantamento do primeiro padrão no Brasil.
Fotografia de O Século, 05.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0020J p. 179

Fig. 76 Decoração escultórica para relógio destinado ao gabinete do Presidente da Câmara


Corporativa, por Maximiano Alves.
Fotografia de O Século, 07.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0035J p. 181

Fig. 77 Raul Lino, Esboços para a decroação da sala do Presidente da Câmara Corporativa,
[1934].
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLDA 351.9 p. 181

Fig. 78 Vista do gabinete do Presidente da Câmara Corporativa.


Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.101329 p. 183

Fig. 79 Pormenor do gabinete do Presidente da Câmara Corporativa: pintura de António Soares


referente aos Ofícios e mobiliário.
Fotografia Estúdio Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.102280 p. 183

Fig. 80 Pintura de Sousa Lopes: Vindimas.


Fotografia de O Século, 06.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0028J p. 186

Fig. 81 Pintura de Sousa Lopes: Lagar de azeite.


Fotografia de O Século, 06.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0029J p. 186

Fig. 82 Pintura de Sousa Lopes: Pesca.


Fotografia de O Século, 06.01.1935.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0033/0030J p. 186

Fig. 83 Raul Lino, Projeto do mobiliário para a Sala do Governo, [1934].


Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLDA 351.13 p. 186

Fig. 84 Raul Lino, Projeto do mobiliário para a Sala do Governo, [1934].


Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLDA 351.14 p. 187

Fig. 85 Sousa Lopes trabalhando nas pinturas para o Salão Nobre: painel de Vasco da Gama.
1937.
Coleção particular. Cortesia dos herdeiros de Sousa Lopes p. 194

xviii
Fig. 86 Sousa Lopes trabalhando nas pinturas para o Salão Nobre: painel de Pedro Álvares
Cabral. 1937.
Fonte: Manuel Farinha dos Santos, Sousa Lopes (s.l.: s.n., 1962), 55 p. 194

Fig. 87 Sousa Lopes com a segunda mulher, Adalgisa da Costa Serra e Moura, no atelier na Casa
do Regalo, c. 1940. Observam-se, pousados no chão, diversos estudos de figuras para os
painéis do Salão Nobre (alguns encontram-se no espólio particular, tendo um deles sido
detetado em leilão), e nos cantos da imagem encontram-se estudos para os painéis do
Infante D. Henrique e de Vasco da Gama (hoje em depósito na Escola Naval).
Coleção particular. Cortesia dos herdeiros de Sousa Lopes. p. 195

Fig. 88 Sousa Lopes junto da pintura para o Instituto Ibero-Americano de Berlim, vislumbrando-
se estudos para os painéis do Salão Nobre.
Fotografia Estúdio Mário Novais, [c. 1940]
Col. Estúdio Mário Novais | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.103113 p. 196

Fig. 89 O Chefe de Estado ouvindo ler o ato de posse, ladeado pelos Presidentes do Conselho,
Câmara Corporativa e Assembleia Nacional.
Fotografia de autor desconhecido, 15.04.1942.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00310 p. 199

Fig. 90 O Chefe de Estado retribui os cumprimentos de Ano Novo no Salão Nobre.


Fotografia de autor desconhecido, 01.01.1954.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, EN 00388 p. 199

Fig. 91 Salão Nobre do Palácio de São Bento.


Fotografia de João Grisantes, 2018.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 02518 p. 201

Fig. 92 Salão Nobre do Palácio de São Bento.


Fotografia de João Grisantes, 2018.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, DE 02515 p. 201

Fig. 93 Gabinete do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros.


Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00525343 p. 205

Fig. 94 O Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, no seu gabinete, acompanhado por


membros do Governo.
Fotografia de O Século, 01.10.1968.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0184/4763AT p. 214

Fig. 95 Leonel Gaia, Ministério do Comércio e Comunicações: projeto de modificação do


vestíbulo e escada, 05.03.1921.
DGPC/SIPA, DES.00029022 p. 223

Fig. 96 Propostas de ligação entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, sobrepostas à planta
da zona em 1941: em cima, de Alfred Agache (1935?), em baixo de Jean-Claude
Forestier (1927).
Fonte: Augusto Vieira da Silva, “Ligação costeira da Baixa com a parte ocidental da
cidade. Projectos e Sugestões apresentadas. Notícia histórica”, Revista Municipal 8/9
(1941): 11. p. 224

Fig. 97 José António Passos, Planta topográfica de Lisboa (11E), 1925: a poente da Praça do
Comércio observa-se o estado do Arsenal de Marinha, e a nascente encontra-se a
alfândega. Denote-se a ausência de uma avenida marginal de circulação, idealizada em
diversos planos.
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/05/06/31 p. 225

xix
Fig. 98 O primeiro Conselho de Ministros da presidência de Oliveira Salazar (ao centro),
realizado no Ministério do Interior.
Fotografia de O Século, 08.07.1932.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0023/0590G p. 228

Fig. 99 Vista aérea da Praça do Comércio.


Fotografia de autor não identificado, 1930.
DGPC/SIPA, FOTO.00514297 p. 229

Fig. 100 Gabinete do Ministro do Comércio e Indústria: posse da federação de vinicultores.


Fotografia de O Século, 30.11.1933.
ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0027/1430H p. 229

Fig. 101 Aniversário da revolução de 28 de maio de 1926.


Fotografia Diário de Notícias, 28.05.1939.
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JDN/000005 p. 233

Fig. 102 Colunas do cais do Terreiro do Paço, com palavras de Carmona e Salazar gravadas,
perpetuando as viagens do chefe do Estado ao Império colonial português.
Arquivo Fotográfico da Companhia de Moçambique, 1939.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/CMZ-AF-GT/E/29/4/156 p. 233

Fig. 103 O Chefe do Governo, da janela do seu ministério, recebe as ovações do povo de Lisboa.
Fotografia de O Século, 27.04.1934.
Imagem cedida pelo ANTT, PT/TT/EPJS/SF/001-001/0029/0668I p. 234

Fig. 104 Salazar discursando do gabinete no Ministério das Finanças.


Fotografia Horácio Novais, s.d.
Col. Estúdio Horácio Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT164.794 p. 234

Fig. 105 Parada militar na Praça do Comércio.


Fotografia de Vaz Martins, 1954.
DGPC/SIPA, FOTO.00512471 p. 235

Fig. 106 Visita da Rainha Isabel II. Fotografia de Amadeu Ferrari, 18.02.1957.
Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/FER/002572 p. 235

Fig. 107 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: fachada sul, [1937?].
DGPC/SIPA, DES.00044681 p. 239

Fig. 108 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças – novas instalações: ala sul, [1937?].
DGPC/SIPA, DES.00025835 p. 239

Fig. 109 António Ferro entrevistando o Ministro das Finanças no seu gabinete, localizado na ala
ocidental da Praça do Comércio.
Fotografia de autor desconhecido, 04.12.1932.
Acervo da Fundação António Quadros, PT/FAQ/AFC/06/001/00435. p. 243

Fig. 110 Modelo em barro do busto de Salazar por Francisco Franco.


Fotografia Estúdio Mário Novais, 1941.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.50519 p. 244

Fig. 111 Gabinete do Ministro das Finanças, com retrato por Ortigão Burnay no fundo.
Fotografia Estúdio Horácio Novais, [pós-1940].
Col. Estúdio Horácio Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT164.790 p. 245

Fig. 112 Pátio da Galé ocupado pelos CTT. Fotografia de Eduardo Portugal, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00512459 p. 246

xx
Fig. 113 Fotografia aérea destacando o Arsenal de Marinha.
Fotografia de autor não identificado, [1930-1932].
Arquivo Municipal de Lisboa, MBM000010 p. 247

Fig. 114 Proposta da AGPL de ligação entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, sobreposta
à planta da zona em 1941.
Fonte: Augusto Vieira da Silva, “Ligação costeira da Baixa com a parte ocidental da
cidade. Projectos e Sugestões apresentadas. Notícia histórica”, Revista Municipal 8/9
(1941): 13. p. 249

Fig. 115 Paulo Cunha, Fernando Silva / AGPL, Plano de melhoramentos do porto entre Alcântara
e Terreiro do Paço [pormenor], 20.04.1942.
BAHE, PT/AHMOP/CAPOPI/Engenharia 1/7, cx. 08. p. 250

Fig. 116 Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa – margem norte do rio Tejo, 1946.
Fonte: MOPC, Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1946). p. 250

Fig. 117 Porfírio Pardal Monteiro, Avenida de ligação do Cais do Sodré à Praça do Comercio,
[1946].
Fonte: João Pardal Monteiro, Para o Projeto Global - Nove Décadas de Obra. Arte,
Design e Técnica na Arquitetura do atelier Pardal Monteiro, vol. 2. (2015) p. 251

Fig. 118 Raul Tojal, Ministério da Justiça: projeto das novas instalações – corte por EF, [1946].
DGPC/SIPA, DES.00026244 p. 255

Fig. 119 Raul Tojal, Ministério da Justiça – projeto das novas instalações: planta do 2.º andar,
acabamentos, 05.08.1946.
DGPC/SIPA, DES.00026249 p. 255

Fig. 120 Raul Tojal, Ministério da Justiça: pormenor da planta – gabinete do ministro,
05.08.1946.
DGPC/SIPA, DES.00025930 p. 257

Fig. 121 Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado A, 05.08.1946.
DGPC/SIPA: DES.00025925 p. 257

Fig. 122 Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado C, 05.08.1946.
DGPC/SIPA, DES.00025927 p. 258

Fig. 123 Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado D, 05.08.1946.
DGPC/SIPA, DES.00025929 p. 258

Fig. 124 Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: contador, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00012523 p. 263

Fig. 125 Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: cadeiras, s.d.
SIPA/DGPC, DES.00012548 p. 264

Fig. 126 [CAM], Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: mesa para
telefone “Renascença”, s.d. p. 264
SIPA/DGPC, DES.00012543

Fig. 127 [CAM], Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: candelabro, s.d.
SIPA/DGPC, DES.00012551 p. 264

Fig. 128 Estudo de distribuição dos ministérios (1948), elaborado sobre planta do estudo de
ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio de Faria Costa de 1947.
DGPC/SIPA, DES.0066373 p. 270

xxi
Fig. 129 Planta da secção ribeirinha entre a Praça Duque da Terceira e a Praça do Comércio:
sobreposição da proposta da Sociedade Propaganda de Portugal (1910, a vermelho) à
planta do existente em 1941.
Fonte: Silva, “Ligação costeira da Baixa com a parte ocidental da cidade [...]”, 9. p. 271

Fig. 130 Fotografia da planta de apresentação do estudo de ligação da Avenida 24 de Julho à


Praça do Comércio do arq. Faria da Costa, 1947.
Fotografia Mário Novais, s.d.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.29167 p. 271

Fig. 131 Vista aérea da Praça do Comércio à Doca de Alcântara. Fotografia de autor
desconhecido, maio 1952.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, PT/APLSS/PL/02-03/01/11-36-006 p. 272

Fig. 132 Faria da Costa, Plano de Remodelação da Baixa: planta de apresentação, 1950.
Arquivo Municipal de Lisboa, FPP000028 p. 274

Fig. 133 Estudo da ligação da Avenida 24 de Julho e Praça do Comércio, com implantação
prevista dos equipamentos ministeriais, [c. 1951].
DGPC/SIPA, DES.00060575 p. 276

Fig. 134 Sugestão de Augusto Vieira da Silva para preservação da Sala do Risco.
Fonte: Augusto Vieira da Silva, “A Sala do Risco”, Revista Municipal 42 (1949): 44 p. 277

Fig. 135 Costa Martins/DNISP, Ministério da Saúde: perspetiva, [1960].


DGPC/SIPA, DES.00066277 p. 282

Fig. 136 Costa Martins/DNISP, Ministério da Saúde: estudo de novas instalações – planta,
[1960].
DGPC/SIPA, DES.00066276 p. 282

Fig. 137 MOP, Estudo da zona marginal: Praça do Comércio – Cais do Sodré, planta geral, s.d.
Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, PT/APLSS/PL/11-03/01/05056 p. 283

Fig. 138 Estacionamento na Praça do Comércio.


Fotografia de Cabrita Henriques, 1950.
DGPC/SIPA, FOTO.00512450 p. 290

Fig. 139 Estacionamento na Praça do Comércio.


Fotografia de Vaz Martins, 1963.
DGPC/SIPA, FOTO.00513969 p. 290

Fig. 140 Ministério das Finanças – novas instalações: alçado sul, 05.11.1953.
DGPC/SIPA, DES.00064360 p. 295

Fig. 141 Ministério das Finanças: planta do 2.º pavimento, 17.12.1950.


DGPC/SIPA, DES.00147714 p. 295

Fig. 142 Exposição histórica do Ministério das Finanças, átrio: coche que pertenceu aos Condes
de Valadares.
Fotografia Estúdio Mário Novais, 1952.
Col. Estúdio Horácio Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.122478 p. 296

Fig. 143 Exposição histórica do Ministério das Finanças: sala com retrato de Salazar.
Fotografia Estúdio Mário Novais, 1952.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.122472 p. 296

Fig. 144 Exposição histórica do Ministério das Finanças: vista de uma das salas.
Fotografia Estúdio Mário Novais, 1952.
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.122466 p. 297

xxii
Fig. 145 Salazar observando uma das reproduções das Tapeçarias de Pastrana.
Fotografia de Manuel Alves de San Payo, 1953(?).
Arquivo de Documentação Fotográfica, DGPC: José Paulo Ruas, 2016, Inv.
SP.0194.07052 p. 297

Fig. 146 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: corte por AB, [1937].
SIPA/DGPC, DES.00025831. p. 298

Fig. 147 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: corte por ‘E-F’: pormenor da
decoração na escadaria nobre, [1937].
DGPC/SIPA, DES.00025829 p. 299

Fig. 148 Baixo-relevo de Barata Feyo no patamar superior da escadaria nobre do Ministério das
Finanças: D. Afonso III.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 302

Fig. 149 Baixo-relevo de Barata Feyo no patamar superior da escadaria nobre do Ministério das
Finanças: D. Fernando.
Fotografia da autora, 2021. p. 303
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças

Fig. 150 Baixo-relevo de Leopoldo de Almeida no átrio de acesso à escadaria nobre do Ministério
das Finanças: D. Manuel.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 303

Fig. 151 Baixo-relevo de Leopoldo de Almeida no átrio de acesso à escadaria nobre do Ministério
das Finanças: D. João I.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 304

Fig. 152 Estudo de Álvaro de Brée para a estátua Fomento.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1952].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.60906 p. 305

Fig. 153 Estudo de Álvaro de Brée para a estátua Sabedoria.


Fotografia Estúdio Mário Novais, [1952].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.12185 p. 306

Fig. 154 Perspetiva da escadaria nobre do Ministério das Finanças, observando-se os vitrais, as
estátuas de Álvaro de Brée e um dos relevos de Barata Feyo.
Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.005411480 p.306

Fig. 155 Busto de Salazar na escadaria nobre.


Fotografia Estúdio Mário Novais [1952].
Col. Estúdio Mário Novais | FCG – Biblioteca de Arte e Arquivos, CFT003.122450 p. 308

Fig. 156 Tríptico de Joaquim Rebocho na escadaria nobre do Ministério das Finanças.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 308

Fig. 157 Tapeçaria de Guilherme Camarinha para o gabinete do Ministro das Finanças (1953).
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 315

Fig. 158 CAM, Esboço de distribuição de mobiliário no gabinete do Ministro das Finanças, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00091140 p. 317

xxiii
Fig. 159 Tapeçaria Verdure adquirida para o gabinete do Ministro das Finanças, atualmente na
entrada do salão nobre.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 317

Fig. 160 Claustro do Ministério das Finanças em construção.


Fotografia de Eduardo Portugal, 1952.
DGPC/SIPA, FOTO.00512428 p. 318

Fig. 161 Claustro do Ministério das Finanças concluído.


Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00541854 p. 320

Fig. 162 Porfírio Pardal Monteiro, Tribunal de Contas: salão da biblioteca, corte A-B, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064393 p. 322

Fig. 163 Tribunal de Contas: salão nobre. Fotografia de autor desconhecido, [c.1956].
DGPC/SIPA, FOTO.00134014 p. 325

Fig. 164 Tribunal de Contas: torreão – esquema do teto do 1.º andar, e planta do 3.º andar, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00025863 p. 326

Fig. 165 Joaquim Areal e Silva, Tribunal de Contas: porta para o salão nobre – face externa,
[1956].
DGPC/SIPA, DES.00025868 p. 326

Fig. 166 Joaquim Areal e Silva, Tribunal de Contas: corredores – planta dos pavimentos em
mármore, [1956].
DGPC/SIPA, DES.00044663 p. 326

Fig. 167 Pinturas de Martins Barata no salão nobre do Tribunal de Contas.


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 329

Fig. 168 Pintura de Almada Negreiros no salão nobre do Tribunal de Contas.


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 330

Fig. 169 Pintura de Joaquim Rebocho no salão nobre do Tribunal de Contas.


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 330

Fig. 170 Porta de acesso ao salão nobre do Tribunal de Contas.


Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 351

Fig. 171 Motivo decorativo cerâmico de Jorge Barradas numa sobreporta do salão nobre do
Tribunal de Contas.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 331

Fig. 172 Esquema do tipo de vitrais para os corredores do Tribunal de Contas, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00044650 p. 331

Fig. 173 Vitrais no corredor de acesso ao Tribunal de Contas.


Fotografia da autora, 2021. Cortesia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças p. 331

Fig. 174 Ministério das Finanças em construção.


Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00134023 p. 332

xxiv
Fig. 175 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - anteprojeto da remodelação: planta do
3.º pavimento, [1948].
DGPC/SIPA, DES.00301146 p. 334

Fig. 176 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - anteprojeto da remodelação: corte por
AB, [1948].
DGPC/SIPA, DES.00301148 p. 334

Fig. 177 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - 3.º pavimento: gabinete de S. Exc. o
Ministro / vestiário / WC, [1948].
DGPC/SIPA, DES.00064487 p. 335

Fig. 178 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - remodelação: corte por AB, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064563 p. 336

Fig. 179 Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - remodelação: planta do 3.º pavimento,
s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064558 p. 337

Fig. 180 Praça do Comércio: Hipótese de acrescentamento de um andar, desenhado por Joaquim
da Costa, 1949.
DGPC/SIPA, DES.00060520 p. 340

Fig. 181 Vitral segundo cartão de Joaquim Rebocho, escadaria do antigo Ministério do Interior.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia de Pestana Pousadas de Portugal, Monument & Historic Hotels p. 343

Fig. 182 Costa Martins/DNISP, Ministério do Interior: projeto – trabalhos complementares:


planta do R/C, [1968].
DGPC/SIPA, DES.00064786 p. 345

Fig. 183 Costa Martins/DNISP, Ministério do Interior: projeto – trabalhos complementares:


planta do 1.º andar, [1968].
DGPC/SIPA, DES.00064787 p. 346

Fig. 184 Ministério da Justiça: obras no átrio de entrada.


Fotografia de Analide Óscar, 1960.
DGPC/SIPA, FOTO.00513950 p. 352

Fig. 185 Ministério da Justiça: salão nobre.


Fotografia de Analide Óscar, 1960.
DGPC/SIPA, FOTO.00513952 p. 352

Fig. 186 Ministério da Justiça: obras de remodelação.


Fotografia de autor desconhecido, [1960s].
DGPC/SIPA, FOTO.00134061 p. 353

Fig. 187 Ministério da Justiça: obras de remodelação.


Fotografia de autor desconhecido, [1960s].
DGPC/SIPA, FOTO.00134062 p. 353

Fig. 188 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação – corte 1,
s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064680 p. 354

Fig. 189 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação –planta do
1.º andar, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064605. p. 354

xxv
Fig. 190 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação –
implantação do mobiliário (estudo prévio) – 1.º andar, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00064613 p. 355

Fig. 191 Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: estudo dos ingressos diferenciados,
planta do R/C, 21.01.1952.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 46.96 p. 360

Fig. 192 Luís Cristino da Silva e António Lino, Anteprojeto do MOPC: perspetiva de conjunto,
solução D -variante, [1953].
DGPC/SIPA, DES.00070868 p. 362

Fig. 193 Planta indicativa do novo arranjo da zona ribeirinha entre a Praça do Comércio e o Cais
do Sodré. 1956.
Fonte: S. Gomes Branco, “O grandioso arranjo da Avenida da Ribeira das Naus com
imponentes edifícios públicos vai valorizar extraordinariamente aquela zona de Lisboa”,
Diário da Manhã, n.º 9033, 31.07.1956, 3 p. 365

Fig. 194 Maquete dos projetos dos MOP/MC/AGPL e da ligação entre a Avenida 24 de Julho e a
Praça do Comércio.
Fotografia de autor desconhecido, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00539581 p. 365

Fig. 195 DNISP, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações e AGPL: planta de
fundações sobre estacas, 1955.
DGPC/SIPA, DES.00067029 p. 366

Fig. 196 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações: projeto definitivo – planta de conjunto do edifício, 195
DGPC/SIPA, DES.00099766 p. 367

Fig. 197 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações: projeto definitivo - fachada principal sul, 30.05.1956.
DGPC/SIPA, DES.00066998 p. 368

Fig. 198 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações: projeto definitivo – corte AB, 1956.
DGPC/SIPA, DES.00066983 p. 368

Fig. 199 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações: projeto definitivo - pormenores diversos, 1956.
DGPC/SIPA, DES.00099735 p. 369

Fig. 200 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministério das Comunicações: projeto definitivo
– alçado sul, corpo da entrada principal.
DGPC/SIPA, DES.0099481 p. 369

Fig. 201 Luís Cristino da Silva, Ministério das Comunicações: fachada posterior, s.d.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 46.48 p. 369

Fig. 202 Luís Cristino da Silva, Estudos das estátuas para o Ministério das Comunicações, s.d
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 46.63 p. 369

Fig. 203 Luís Cristino da Silva, Perspetiva do gabinete de trabalho do Ministro, s.d.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 46.43 p. 370

Fig. 204 Luís Cristino da Silva, Perspetiva do gabinete do Ministro – último estudo, s.d.
Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSA 46.39 p. 370

xxvi
Fig. 205 Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações: projeto definitivo – planta da zona marginal, 1956.
DGPC/SIPA, DES.00099730 p. 371

Fig. 206 José Espinho/Olaio, MOP: mesa baixa estilo “Renascença” para o gabinete do Senhor
Ministro, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00090217 p. 372

Fig. 207 José Espinho/Olaio, MOP: móvel estilo “Renascença” para o gabinete do Senhor
Ministro, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00090216 p. 372

Fig. 208 Gabinete do Ministro das Obras Públicas.


Fotografia de Analide Óscar, 1959.
DGPC/SIPA, FOTO.00513944 p. 372

Fig. 209 Gabinete do Ministro das Obras Públicas.


Fotografia de Analide Óscar, 1959.
DGPC/SIPA, FOTO.00513943 p. 372

Fig. 210 Ministério das Obras Públicas.


Fotografia de autor não identificado, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00536305 p. 373

Fig. 211 Ministério das Obras Públicas.


Fotografia de autor não identificado, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00536301 p. 373

Fig. 212 Praça do Comércio: corpo nordeste.


Fotografia de autor não identificado, s.d.
DGPC/SIPA, FOTO.00134004 p. 373

Fig. 213 António Duarte, Maqueta para a estátua do MOP, gesso (1971): CACR/AMAD, Inv.
AD-ESC-0204.
Fotografia da autora, 2022. p. 374

Fig. 214 Estátua para o MOP no atelier do escultor António Duarte.


Fotografia de autor desconhecido, s.d. [c. 1971].
DGPC/SIPA, FOTO.00505488 p. 375

Fig. 215 Desenho de Guilherme Camarinha para a tapeçaria destinada à sala do Conselho de
Obras Públicas: Marquês de Pombal, [1974]
DGPC/SIPA, DES.00090382 p. 376

Fig. 216 Desenho de Guilherme Camarinha para a tapeçaria destinada à sala do Conselho de
Obras Públicas: Fontes Pereira de Melo, [1974].
DGPC/SIPA, DES.00090383 p. 376

Fig. 217 Manuel Costa Martins/DNISP, Implantação do Ministério das Corporações e


Previdência Social, [1953].
DGPC/SIPA, DES.00067301 p. 379

Fig. 218 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social:
anteprojeto – alçado norte, 2.ª hipótese, [1953].
DGPC/SIPA, DES.00067309 p. 380

Fig. 219 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social:
anteprojeto – alçado sul, 3.ª hipótese, [1953].
DGPC/SIPA, DES.00067311 p. 380

xxvii
Fig. 220 Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social:
anteprojeto – alçado poente, 2.ª hipótese, [1953].
DGPC/SIPA, DES.00067312 p. 380

Fig. 221 Edifício do MCPS em construção.


Fotografia Artur Goulão, 1966.
Arquivo Municipal de Lisboa,
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/AJG/003785 p. 384

Fig. 222 Salazar de visita ao gabinete do Ministro das Corporações e Previdência Social.
Fonte: XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional (Lisboa: Ministério das
Corporações e Previdência Social, 1966) p. 387

Fig. 223 Gonçalves Proença e Salazar em audiência concedida no gabinete do Ministro ao


Ministro espanhol José Solis, junto da tapeçaria de Renato Torres.
Fonte: XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional (Lisboa: Ministério das
Corporações e Previdência Social, 1966) p. 387

Fig. 224 Painel de mosaico de António Lino Pedras, no átrio de entrada do MCPS.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social p. 388

Fig. 225 Painel de mosaico de António Lino Pedras, no átrio de entrada do MCPS.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social p. 389

Fig. 226 Inauguração do edifício do MCPS. 23.09.1966.


Fonte: XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional (Lisboa: Ministério das
Corporações e Previdência Social, 1966) p. 392

Fig. 227 DNISP, Praça do Comércio: ala ocidental e seu prolongamento, planta do 1.º andar
(distribuição de serviços ministeriais), s.d.
DGPC/SIPA, DES.00067364. p. 394

Fig. 228 José Matias/DNISP, Planta da ala ocidental: 1.º andar (serviços do Ministério da
Economia e do Subsecretariado das Corporações), 1949.
DGPC/SIPA, DES.00060517 p. 395

Fig. 229 João António de Aguiar, Projeto do edifício que os Cofres de Trabalho da Repartição
das Províncias Ultramarinas de Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique,
pretendem mandar construir na encosta do Restelo, no terreno de gaveto formado pelas
ruas CG e GJ: alçado sul, escala 1:100, novembro 1960.
Imagem cedida por PT, AHU, OP08415 - A1/Cx138 DSUH p. 398

Fig. 230 João António de Aguiar, Projeto do edifício que os Cofres de Trabalho da Repartição
das Províncias Ultramarinas de Cabo verde, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique,
pretendem mandar construir na encosta do Restelo, no terreno de gaveto formado pelas
ruas CG e GJ: planta do 1.º piso, escala 1:100, novembro 1960.
Imagem cedida por PT, AHU, OP08111 - A1/Cx100 DSUH p. 399

Fig. 231 Edifício do Ministério do Ultramar. Fotografia de Henrique Cayolla, 1971.


Arquivo Municipal de Lisboa, PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/HCA/000036 p. 400

Fig. 232 DNISP, Ministérios do Exército e da Marinha: novas instalações na área que pertencia
ao M.º do Ultramar – planta de alterações, s.d.
DGPC/SIPA, DES.00067347 p. 401

Fig. 233 DNISP, Hipótese de distribuição dos ministérios, sobre planta do estudo de ligação da
Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio, década de 1960.
DGPC/SIPA, DES.0066375 p. 403

xxviii
Fig. 234 DNISP, Hipótese de distribuição dos ministérios, sobre planta do estudo de ligação da
Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio, década de 1960.
DGPC/SIPA, DES.0066376 p. 403

Fig. 235 Pinturas da Sala Lisboa ou Sala Lino António da autoria de Lino António: Marquês de
Pombal e a Reconstrução de Lisboa; Infante D. Henrique e os Descobrimentos.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1999.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, MUS 00128 p. 439

Fig. 236 Salão Nobre do Palácio de São Bento.


Fotografia de Miguel Saavedra, 2011.
© Arquivo Fotográfico da Assembleia da República, AF 01071/2011 p. 440

Fig. 237 Receção da Pousada de Lisboa. 2015.


Fotografia cortesia de Pestana Pousadas de Portugal, Monument & Historic Hotels p. 447

Fig. 238 Identificação pintada em sala outrora ocupada pela Direção-Geral da Contabilidade
Pública, em instalações na ala ocidental hoje ocupadas pelo Ministério da Agricultura.
Fotografia da autora, 2021.
Cortesia do Ministério da Agricultura p. 449

xxix
xxx
Introdução

O tema: pertinência e objetivos

As relações entre poder político e arquitetura no período do Estado Novo têm sido alvo de
investigação académica sob variadas perspetivas. De trabalhos pioneiros como os de Nuno
Portas1, Nuno Teotónio Pereira e José Manuel Fernandes2, e Pedro Vieira de Almeida3, às mais
recentes análises de casos de estudo focando tipologias de edifícios, atores e entidades
envolvidas, aos quais se juntam os estudos concernindo artistas que colaboraram na decoração
de novas construções, tanto públicas como privadas.
Contudo, as sedes do poder político estão relativamente ausentes deste corpus bibliográfico.
Dos órgãos de soberania instituídos pela Constituição de 19334 – Chefe de Estado, Assembleia
Nacional, Governo e Tribunais –, somente dois foram abordados do ponto de vista das Histórias
da Arquitetura e da Arte. As sucessivas remodelações da residência do Presidente da República,
no Palácio de Belém, foram estudadas por Pedro Vaz na sua tese de doutoramento 5. António
Manuel Nunes tem-se dedicado ao estudo do desenvolvimento do parque judiciário nacional
durante o regime estado-novista6. Embora haja referências pontuais aos edifícios que
albergaram a Assembleia Nacional, a Presidência do Conselho e os Ministérios, a constatação
da ausência de uma visão de conjunto abrangente, atentando na componente arquitetónica em
articulação com a decoração artística e o design de interiores, com vista à compreensão dos
mecanismos de encenação do poder político, justifica a seleção do tema da tese de
doutoramento. De uma forma generalizada, estes “palácios da representação nacional”,
expressão utilizada por figuras como os arquitetos Adolfo Marques da Silva e Luís Cristino da
Silva como referência enaltecedora ao Palácio da Assembleia Nacional, de que nos

1
Nuno Portas, “A evolução da arquitectura moderna em Portugal: uma interpretação”, in História da Arquitectura
Moderna, 2.º vol., Bruno Zevi (Lisboa: Editora Arcádia, 1973), 687-774.
2
Nuno Teotónio Pereira, José Manuel Fernandes, “A arquitectura do Estado Novo de 1926 a 1959”, in O Estado
Novo: das origens ao fim da autarcia, 1929-1959, vol. 2 (Lisboa: Editorial Fragmentos, 1987), 323-357.
3
Pedro Vieira de Almeida, “O ‘arrabalde’ do céu”, in História da Arte em Portugal, vol. 14: A Arquitetura
Moderna, ed. P. V. Almeida, J. M. Fernandes, (Lisboa: Publicações Alfa, 1993), 105-145; Idem, A Arquitectura
no Estado Novo: uma leitura crítica. Os Concursos de Sagres (Lisboa: Livros Horizonte, 2002).
4
Decreto n.º 22241, Diário do Governo, I série, nº 43, 22.02.1933: parte II, título I, art.º 71.º.
5
Pedro Vaz, Conservação do Património e funções de Estado. A Presidência no Palácio de Belém. 4 vols.
(Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa, 2016).
6
António Manuel Nunes, Sob o olhar de Témis: quadros da história do Supremo Tribunal de Justiça (Lisboa:
Supremo Tribunal de Justiça, 2000); Idem, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo: Templos da Justiça e
Arte Judiciária (Coimbra: Minerva, 2003); Idem, Justiça e Arte: Tribunais Portugueses (Lisboa: Secretaria-Geral
do Ministério da Justiça, 2003).

1
apropriamos no título da tese por se prestar à qualificação dos nossos casos de estudo, estavam
relativamente fora do radar dos estudos sobre as obras públicas neste período. A presente
investigação enquadra-se na linha dos trabalhos que temos vindo a desenvolver desde a
dissertação de mestrado, dedicada aos edifícios de Porfírio Pardal Monteiro para a Cidade
Universitária de Lisboa7.
Através de uma análise das intervenções arquitetónicas e artísticas efetuadas no Palácio de São
Bento, em Lisboa, sede da Assembleia Nacional, e nos edifícios ministeriais maioritariamente
concentrados na Praça do Comércio, considerando instituições e atores (entidades oficiais de
encomenda e de supervisão, figuras políticas, arquitetos, artistas), programas, planos e projetos
– concretizados e não materializados –, pretende-se colmatar uma lacuna na historiografia
artística deste período. Ao contrário de uma parte considerável dos estudos que se debruçam
sobre as ligações entre poder político e arquitetura, que versam sobre novas edificações, o
presente trabalho concerne primordialmente edifícios preexistentes, com valores patrimonial e
simbólico atribuídos e vincados, cuja função política anterior foi mantida pelo regime. Não
obstante, observam-se igualmente edifícios ministeriais planeados de raiz.
Almeja-se contribuir para a discussão em torno das práticas de fomento de obras públicas
durante o Estado Novo, alargando o leque para edifícios e acoplados planos urbanos e
programas decorativos integrados que, tendo servido a atividade governamental do regime e
espelhado as suas aspirações, têm sido descurados pela historiografia. Considerando a
arquitetura enquanto instrumento mediador de práticas sociais de poder, pretende-se examinar
os métodos de veiculação de uma imagem representativa do regime, idealmente passível de
gerar identificação com a ideologia oficial. Se no plano exterior tais intenções abarcam o grosso
da população que contacta com os edifícios – tanto de forma direta, como através de
reproduções fotográficas e publicações –, ao nível interior visava, sobretudo, os principais
usuários destes equipamentos, os funcionários públicos nos diferentes graus hierárquicos.
Atenta-se nas ações de adaptação e de construção dos imóveis e de urbanização das
envolventes, incluindo na análise diversos planos não realizados, por forma a explorar os meios
empregues para representação do poder e de inculcação identitária através da arquitetura e da
imagética associada. Na linha de estudos que procuram compreender as relações entre o poder
político e os atores da esfera arquitetónica e artística, nomeadamente ao nível da imposição de
uma estética oficial do regime, avaliam-se as formas de atuação dos mecanismos oficiais no

7
Ana Mehnert Pascoal, A Cidade do Saber. O património artístico integrado nos edifícios de Pardal Monteiro
para a Cidade Universitária de Lisboa (1934-1961) (Lisboa: Universidade de Lisboa/Tinta-da-china, 2012).

2
que concerne à encomenda e ao controlo, através de diretrizes (formais, iconográficas, etc.)
tanto para novos programas como para a conservação do existente, concursos, nomeações
diretas de intervenientes, e avaliações por entidades capacitadas. Neste quadro, salienta-se a
participação relativamente constante de um conjunto de figuras, direta ou indiretamente
relacionadas com o Ministério das Obras Públicas e Comunicações, como Raul Lino, Luís
Cristino da Silva, Porfírio Pardal Monteiro, irmãos Rebelo de Andrade, João Faria da Costa,
Leopoldo de Almeida, Jaime Martins Barata ou Joaquim Rebocho. Paralelamente, questiona-
se a existência de uma estratégia de remodelação de edifícios preexistentes associados ao poder
político, em confronto com a realidade internacional coeva, bem como se observam, no
contexto generalizado de democratização do pós-II Guerra Mundial, os desafios aliados à
necessidade de novas construções colocados pelas remodelações ministeriais.
O grau de novidade do trabalho, para além da temática e da abordagem adotada, é sustentado
por uma aturada pesquisa de fontes documentais, que permitiu identificar processos de
encomenda pública e sua inspeção, projetos desconhecidos, bem como obras de arte e
mobiliário “invisíveis” que permanecem hoje no domínio público, completando aspetos
biográficos dos intervenientes. No âmbito internacional, para o período cronológico coetâneo,
existem estudos nesta linha, embora sem a abrangência que propomos, estando geralmente
circunscritos a um edifício, ou recorrendo a determinados casos, como a recorrente Neue
Reichskanzlei (nova Chancelaria do Reich) erigida em Berlim sob Hitler, como exemplos no
seio de estudos mais alargados.
Em adição, intenta complementar-se o ponto de vista historiográfico dominante através de uma
reflexão sobre a permanência e (re)utilização deste tipo de edifícios nos dias de hoje, e suas
implicações memoriais e identitárias, na linha do que se tem vindo a debater no domínio
internacional, sobretudo nos campos da História e da Sociologia. Em Portugal, a historiografia
artística e arquitetónica tem ponderado pouco sobre questões acopladas à presença física do
passado ditatorial, embora seja um assunto que tem vindo periodicamente a debate público.
Estes edifícios envolvem relações memoriais complexas: são compostos por camadas distintas
acumuladas ao longo do tempo, e a intervenção do período do Estado Novo tende a ser
desconsiderada ou neutralizada.

O foco do nosso estudo incide, portanto, sobre o poder central. Numa primeira instância, o
projeto de tese ponderou incluir como contraponto uma análise do património edificado do
poder local, concretamente os Paços do Concelho – considerados por alguns autores como
tipologia arquitetónica significativa no contexto da construção pública encetada pelo Estado

3
Novo8 –, por forma a avaliar o processo da encomenda e associados mecanismos de
condicionamento estético ao nível municipal. No quadro de uma organização administrativa
que dividiu o país em concelhos9, integrados em distritos e províncias, as câmaras municipais
constituíram um suporte à estrutura central: o Governo detinha a competência de superintender
e fiscalizar os corpos administrativos, num regime centralizador que incrementou a
dependência direta total das autarquias à administração central, anulando a autonomia dos
municípios10. Realizámos uma seleção de um conjunto de edifícios considerado representativo
da atividade de construção ou adaptação sob o Estado Novo, a partir de um mapeamento destas
estruturas no território nacional. No entanto, a integração desta pesquisa na tese revelou-se
incomportável, tendo-se decidido não incluir esta componente: por um lado, a dimensão de
informação arquivística identificada para os casos do poder central ultrapassou em larga escala
o inicialmente expectado; por outro, a conjuntura provocada pela pandemia por SARS-Cov-2,
coincidente com os anos fulcrais para a etapa de levantamento arquivístico, impediu o
progresso do trabalho dedicado ao poder local, particularmente ao nível da pesquisa presencial
em arquivos localizados em diversos pontos do país, e muitas vezes por tratar. Os
levantamentos efetuados poderão servir como ponto de partida para estudos futuros mais
alargados concernindo equipamentos da administração pública, englobando, por exemplo,
edifícios ocupados pelos Governos Civis e pelas Juntas Distritais.

Estado da Arte

Conforme foi atrás mencionado, do ponto de vista da historiografia da arte e da arquitetura,


está ausente uma análise transversal e integral dos edifícios ocupados pelos órgãos do poder
central do Estado Novo português que nos propomos estudar, a Assembleia Nacional e o
Governo.

8
José Manuel Fernandes, Português Suave: Arquitecturas do Estado Novo (Lisboa: IPPAR, 2003), 112-113;
Carlos Caetano, As Casas da Câmara dos Concelhos Portugueses e a Monumentalização do Poder Local (Séculos
XIV a XVIII), vol. 1. (Dissertação de Doutoramento, Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. 2011), 336.
9
Segundo a Constituição de 1933, o território continental dividia-se em concelhos, agrupados nos mais
abrangentes distritos e províncias, e formados por freguesias. As câmaras municipais constituíam os primeiros
corpos administrativos. Decreto n.º 22241, Diário do Governo, I série, nº 43, 22.02.1933: parte II, título VI, arts.º
124.º e 125.º. Já os distritos, ao contrário dos concelhos, não possuíam, até 1959, qualidade de autarquia, e, apesar
da manutenção de funções administrativas relevantes pelos Governadores Civis, constituíam apenas
circunscrições administrativas.
10
César Oliveira, “O Estado Novo e os municípios corporativos”, in História dos Municípios e do Poder Local:
dos finais da Idade Média à União Europeia, ed. César Oliveira (Lisboa: Círculo de Leitores, 1996), 285-341.

4
No quadro internacional, para além de publicações de caráter mais amplo acerca das relações
entre arquitetura e poder político11, os trabalhos de Charles Goodsell12 e Lawrence Vale13,
apesar de versarem sobre cronologias e contextos distintos do nosso, constituem referências
nos estudos sobre edifícios representativos do poder político, nomeadamente parlamentos, por
questionarem a imposição da autoridade política e a construção de narrativas identitárias
nacionalistas através da arquitetura, incluindo nas suas análises a implantação urbana e os
espaços interiores. Estudos mais circunscritos, concretamente sobre edifícios ministeriais
projetados em contexto ditatorial no século XX14, contribuem para uma perceção desta
realidade no domínio internacional.

Diversos autores examinaram a apropriação, pelo Estado Novo, da arquitetura e das artes
plásticas enquanto veículos do poder político e de identidade nacional15. Porém, dos vários
estudos acerca das tipologias arquitetónicas promovidas pela política de obras públicas,
nenhum se dedica especificamente ao caso das sedes do poder político.
Dos nossos casos de estudo, somente o Palácio de São Bento foi alvo de monografias. A
primeira, da pena de Joaquim Leitão, secretário da Assembleia Nacional, data de 194516.

11
Kim Dovey, Framing Places. Mediating power in built form (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2002); Idem,
Becoming Places. Urbanism/Architecture/Identity/Power (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2010); Lisa Findley,
Building Change: Architecture, Politics and Cultural Agency (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2005); Peter
Blundell Jones, Architecture and Ritual. How buildings shape society (Londres: Bloomsbury Publishing, 2016).
12
Charles T. Goodsell, “The Architecture of Parliaments: Legislative Houses and Political Culture”, British
Journal of Political Science 18, 3 (1988): 287-302; Idem, The Social Meaning of Civic Space: Studying Political
Authority through Architecture (Lawrence-Kansas: University of Kansas Press, 1988).
13
Lawrence J. Vale, Architecture, Power and National Identity (New Haven: Yale University Press, 1992).
14
Lauro Cavalcanti, As preocupações do belo (Rio de Janeiro: Taurus Editora, 1995); Matthew Philpotts,
“Cultural-Political Palimpsests: The Reich Aviation Ministry and the Multiple Temporalities of Dictatorship”,
New German Critique 117 (2012): 207–230; Jens van de Maele, Johan Lagae, “‘The Congo must have a presence
on Belgian soil.’ The concept of representation in governmental discourses on the architecture of the Ministry of
Colonies in Brussels, 1908–1960”, The Journal of Architecture, 22, 7 (2017): 1178-1201; Emmanuel Pénicaut,
“Un ministère en quête d’identité? Une histoire du ministère de la Défense par ses bâtiments, des années trente à
nos jours”, InSitu, 34 (2018): em linha.
15
Entre vários outros: Artur Portela, Salazarismo e Artes Plásticas (Amadora: Bertrand, 1987); Margarida
Acciauioli, Os Anos 40 em Portugal: O País, o Regime, e as Artes. “Restauração” e “Celebração” (Dissertação
de Doutoramento. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1991); Nuno
Rosmaninho, O Poder da Arte. O Estado Novo e a Cidade Universitária de Coimbra (Coimbra: Imprensa da
Universidade, 2006); Sandra Vaz Costa, O País a Régua e Esquadro. Urbanismo, Arquitetura e Memória na Obra
Pública de Duarte Pacheco (Lisboa: IST Press, 2012); Joana Brites, “Power and Architecture in Portuguese
Fascism: Political and Artistic Control and Resistance”, Journalism and Mass Communication 5, 7 (2015): 360-
371; Annarita Gori, “Historia de una obra nunca realizada. El monumento al Infante Dom Henrique y la auto
representación del Estado Novo”, Revista Historia Contemporánea 52 (2016): 271-307; Teresa Neto, Arquiteturas
Expositivas e Identidade Nacional. Pavilhões de Portugal em Exposições Internacionais 1915-1970 (Lisboa:
Caleidoscópio, 2017); Rita Almeida de Carvalho, “Ideology and Architecture in the Portuguese ‘Estado Novo’:
Cultural Innovation within a Para-Fascist State (1932-1945)”, Fascism 7, 2 (2018): 141-174; Joana Brites, Luís
Miguel Correia (coord.), Obras Públicas no Estado Novo (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra,
2020).
16
Joaquim Leitão, O Palácio de São Bento (Lisboa: Bertrand, 1945).

5
Assume um tom encomiástico, destacando a imponência das obras realizadas no período
salazarista. Na revista Olisipo identificam-se dois artigos relativos ao palácio: o primeiro
assinado por Jaime Martins Barata (1899-1970) e Domingos Rebelo (1891-1975), descrevendo
o trabalho nas pinturas executadas, respetivamente, para a escadaria nobre e para o Salão
Nobre17; o segundo, datando do dealbar da década de 1980, corresponde a uma apresentação
histórica do edifício, através da descrição dos seus espaços18. Mais recentemente, destaca-se o
livro da autoria de José-Augusto França19. Dedicado à história do palácio desde as suas origens
conventuais, inclui referências, com graus de detalhe desiguais, a determinados aspetos das
campanhas de remodelação decorridas durante o Estado Novo, como a conclusão da fachada
principal sob orientação do arquiteto Adolfo Marques da Silva e a respetiva decoração
escultórica, as pinturas ornando a escadaria principal e o Salão Nobre, e a remodelação de
gabinetes. Apenas um ministério, que não é analisado de forma exaustiva na presente tese,
recebeu uma monografia: trata-se do Palácio das Necessidades, sede do Ministério dos
Negócios Estrangeiros desde 192620. O volume dedicado à história do Ministério da
Administração Interna, referente à baliza cronológica entre 1736 e 2012, é omisso quanto aos
edifícios ocupados pela pasta21.
Não obstante, detetam-se referências a aspetos particulares dos casos de estudo, tanto a projetos
arquitetónicos como a obras de arte, em trabalhos académicos e estudos monográficos sobre
arquitetos e artistas, incluindo catálogos associados a exposições.
Na exposição retrospetiva da obra de Raul Lino (1879-1974), decorrida em 1970 na Fundação
Calouste Gulbenkian, assinalaram-se os estudos do arquiteto para três salas no então designado
Palácio do Congresso (1933-34)22, bem como se aludiu a um projeto para o Ministério da
Marinha na ala ocidental do Terreiro do Paço23 – que, na realidade, como veremos adiante,

17
Jaime Martins Barata, Domingos Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, Olisipo. Boletim do
Grupo “Amigos de Lisboa” 50 (1950): 62-67.
18
Direcção de Serviços de Divulgação, “O Palácio de S. Bento (Assembleia da República)”, Olisipo. Boletim do
Grupo “Amigos de Lisboa” 142-143 (1979/1980): 206-214.
19
José-Augusto França, O Palácio de São Bento (Lisboa: Assembleia da República, 1999).
Em 2021, um artigo no jornal Público mencionou a publicação para breve de um novo volume sobre o edifício,
integrando um artigo de Cátia Mourão sobre a intervenção estado-novista no Salão Nobre. Até à data da entrega
da tese, este volume não foi publicado. Cf. Lucinda Canelas, “O que fazer com estas pinturas que temos na sala
de visitas da Assembleia da República?”, Público, 09.10.2021. Acessível em:
https://www.publico.pt/2021/10/09/culturaipsilon/noticia/pinturas-sala-visitas-assembleia-republica-1980421
(acesso a 17.11.2021).
20
Manuel Côrte-Real, O Palácio das Necessidades (Lisboa: Chaves Ferreira, 2001).
21
Pedro Tavares de Almeida, Paulo Silveira e Sousa (orgs.), Do Reino à Administração Interna. História de um
Ministério (1736-2012) (Lisboa: INCM/MAI, 2015).
22
Fundação Calouste Gulbenkian (ed.), Raul Lino: Exposição Retrospectiva da sua Obra (Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1970), 47, 204.
23
Ibid., 42.

6
corresponde a uma proposta para um novo corpo destinado ao recente Ministério das
Corporações e Previdência Social. No que respeita a Raul Lino, importa mencionar a tese de
doutoramento de Marta Rocha Moreira24, pois constitui um contributo decisivo para apreciar a
atividade do arquiteto no panorama nacional, não apenas na esfera da elaboração de projetos,
mas particularmente a sua atividade avaliativa ao serviço de variadas instâncias oficiais, como
a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) e a Junta Nacional de
Educação (JNE), uma vez que a autora identificou a totalidade da documentação existente no
Arquivo da Família de Raul Lino. Tal permitiu-nos localizar um conjunto significativo de
material complementar à informação colhida nos arquivos institucionais que, de outra forma,
possivelmente ficaria fora do nosso radar.
No catálogo decorrente da exposição sobre Luís Cristino da Silva (1896-1976), no Centro de
Arte Moderna (1998), surgem os estudos para a transformação de parte da Praça do Comércio
através dos nunca concretizados planos para construção de edifícios para os Ministérios das
Obras Públicas e das Comunicações (1950-59), realizados em colaboração com o arquiteto
António Lino (1909-1961), bem como menções aos estudos para o Palácio da Assembleia
Nacional25. As referências a estes projetos multiplicam-se: mencionem-se o livro monográfico
de João de Sousa Rodolfo26 – que também considera os estudos do arquiteto para o arranjo da
zona de proteção circundante ao Palácio de São Bento (1935-46)27 –, a indicação na publicação
aquando do 70.º aniversário da DGEMN28, e a recente divulgação na exposição A Lisboa que
teria sido (Museu de Lisboa-Palácio Pimenta, 2017)29. Também João Paulo Martins mencionou
este assunto no contexto de diversos planos ensaiados para a modernização da Baixa
pombalina, num artigo inserido na revista Monumentos, no qual também aludiu à remodelação
do Ministério das Finanças30.
Na sua dissertação de doutoramento sobre o atelier Pardal Monteiro, João Pardal Monteiro
elenca as encomendas para as remodelações dos Ministérios das Finanças e do Interior, e do

24
Marta Rocha Moreira, O Valor do Tempo. O Programa Intelectual e Arquitectónico de Raul Lino (Tese de
Doutoramento, Faculdade de Arquitectura, Universidade do Porto, 2015).
25
José Manuel Fernandes (coord.), Luís Cristino da Silva, Arquitecto (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian -
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, 1998), 21, 27, 44, 50-54
26
João de Sousa Rodolfo, Luís Cristino da Silva e a Arquitectura Moderna em Portugal (Lisboa: Dom Quixote,
2002), 154.
27
Ibid., 184-188.
28
Margarida Alçada, Maria Inácia Teles Grilo (ed.), Caminhos do Património (1929-1999) (Lisboa:
DGEMN/Livros Horizonte, 1999), 62-63.
29
Rita Fragoso Almeida, “Frente ribeirinha. O futuro em altura”, in A Lisboa que teria sido, coord. António
Miranda, Raquel Henriques da Silva (Lisboa: EGEAC/Museu de Lisboa, 2017), 28-41.
30
João Paulo Martins, “Arquitectura Contemporânea na Baixa de Pombal”, Monumentos 21 (2004): 142-151.

7
Salão Nobre da Assembleia Nacional, sem as aprofundar como casos de estudo31. A mais-valia
desta dissertação prende-se com a publicação de documentação inédita – e de outra forma
relativamente inacessível –, como, por exemplo, o caso de uma carta de Porfírio Pardal
Monteiro (1897-1957) que permite esclarecer o percurso de encomenda de obras como o
Ministério das Finanças, ou de várias memórias descritivas que suportam o pensamento e a
ação do arquiteto.
A intervenção de Luís Benavente (1902-1993) ao serviço da DGEMN no Palácio de São Bento,
na competência de conceção de interiores, é referenciada no catálogo organizado por ocasião
da doação do seu espólio à Torre do Tombo32. O projeto de investigação Móveis Modernos. A
actividade da Comissão de Aquisição de Mobiliário no âmbito da Direcção-Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais. 1940-1974 deu a conhecer o trabalho da Comissão para
Aquisição de Mobiliário, que Benavente integrou. No âmbito do mobiliário, concretamente
abordando a produção da fábrica Olaio, João Paulo Martins e Sofia Diniz mencionam os
projetos para o gabinete do Presidente do Conselho e para a sala de reuniões do Governo no
Palácio de São Bento, respetivamente da autoria de Guilherme Rebelo de Andrade e de Raul
Lino, como exemplos de revivalismo histórico e sua interpretação contemporânea33.
Abordando a atividade do Gabinete de Urbanização Colonial na “capital do Império”, Filipa
Fiúza observou sumariamente a iniciativa de construção do Ministério do Ultramar nos inícios
da década de 1960, no Restelo, segundo projeto do arquiteto João António de Aguiar (1906-
1974), revelando a localização de algumas fontes documentais gráficas34. João Aguiar foi
também autor de um plano urbanístico da área marginal ocidental de Lisboa (1963), entre o
Terreiro do Paço e Algés, referenciado na tese de doutoramento de Joana Bastos Malheiro35. A
autora elenca, também, o edifício do Ministério do Ultramar na cronologia da obra do arquiteto,
indicando, sem menção de fontes, de que se tratou de uma obra solicitada pelo Ministro
Adriano Moreira36. Patrícia Bento d’Almeida, na sua dissertação de doutoramento sobre a
evolução urbanística e arquitetónica da zona do Restelo, enuncia a construção do edifício do

31
João Pardal Monteiro, Para o Projeto Global - Nove Décadas de Obra. Arte, Design e Técnica na Arquitetura
do Atelier Pardal Monteiro, 2 vols. (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Arquitectura, Universidade
Técnica de Lisboa, 2012).
32
Instituto dos Arquivos Nacionais-Torre do Tombo (org.). Luís Benavente. Arquitecto (Lisboa: IAN-TT, 1997).
33
João Paulo Martins, Sofia Diniz, “Edifícios Públicos e os Móveis Olaio”, in Móveis Olaio 1886-1998, ed. Carlos
Luís (Loures: Câmara Municipal de Loures, 2017), 218-219.
34
Filipa Fiúza, “Os edifícios institucionais do Ministério do Ultramar na Metrópole”, in Palcos da Arquitetura,
vol. II, coord. Maria Conceição Trigueiros (Lisboa: Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo de Língua
Portuguesa, 2012), 236-242.
35
Joana Bastos Malheiro, A Cidade no Estado Novo. O Desenho Urbano na Obra de João António Aguiar (Tese
de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura, Universidade de Lisboa, 2018), 176-178.
36
Ibid., 222.

8
Ministério do Ultramar e da adjacente edificação de habitações em altura, embora sem
aprofundar o processo por se tratar de um edifício público extravasando a sua esfera de
análise37. A autora cita, igualmente, o estudo de ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça
do Comércio (1947), assinado pelo arquiteto urbanista Faria da Costa (1906-1971)38. Esta
proposta é igualmente referida num artigo de Silvia Salvatore acerca do percurso desse
urbanista ao serviço da CML39.
A obra de alguns arquitetos intervenientes nos casos de estudo carece, ainda, de análises de
conjunto. Se para os irmãos Carlos (1887-1971) e Guilherme Rebelo de Andrade (1891-1969)
é possível assinalar o livro de Luís Soares Carneiro40 – embora não mencione nenhum dos
projetos para edifícios públicos associados ao exercício do poder em que participaram, para
arquitetos como António Lino a bibliografia é bastante escassa.
Ainda no que à arquitetura e ao urbanismo diz respeito, importa salientar os números da revista
Monumentos consagrados, respetivamente, à Praça do Comércio41 e à Baixa Pombalina42.
Nestes, sobressai o texto de Joana Cunha Leal43, que sublinha o pioneirismo de Porfírio Pardal
Monteiro na defesa da modernidade do programa pombalino, entendido como precursor das
práticas coevas (apesar da diminuta repercussão imediata desta conceção), bem como refere a
valorização do carácter singular do Terreiro do Paço por Paulino Montês (1897-1988). Alguns
anos depois, Ana Tostões explorou a modernidade do plano da Baixa lisboeta de 1758, o seu
reconhecimento por figuras como Pardal Monteiro, Carlos Ramos e Étienne de Gröer (1882-
1952), e a influência exercida sobre propostas arquitetónicas e urbanísticas novecentistas44;
concernindo o nosso objeto de estudo, menciona os planos de ligação do Cais do Sodré à Praça
do Comércio e os supracitados projetos de Cristino da Silva e António Lino para os
Ministérios45.

37
Patrícia Bento d’Almeida, Bairro(s) do Restelo. Panorama Urbanístico e Arquitectónico, vol.1. (Dissertação
de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2013), 441.
38
Ibid., 33.
39
Silvia di Salvatore, “Towards a Modern Lisbon through the work of João Guilherme Faria da Costa for the
Lisbon City Council (1938-1948)”, Docomomo Journal 55 (2016): 8-15.
40
Luís Soares Carneiro, Casas Ermas. A Arquitectura dos Irmãos Rebelo de Andrade e os Discursos do Moderno
(Porto: Fundação Marques da Silva, 2016).
41
Monumentos 1 (1994).
42
Monumentos 21 (2004).
43
Joana Cunha Leal, “Legitimação artística e patrimonial da Baixa pombalina. Um percurso pela crítica e pela
história da arte portuguesas”, Monumentos 21 (2004): 6-17.
44
Ana Tostões, “Precursores do urbanismo e da arquitectura modernos”, in Lisboa 1758. O Plano da Baixa Hoje,
coord. Ana Tostões, Walter Rossa (Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 2008): 169-229.
45
Ibid., 215.

9
No que respeita ao trabalho de artistas plásticos, já Diogo de Macedo, por ocasião da Exposição
de Obras Públicas de 1948, salientara as decorações pictóricas e escultóricas para o Palácio da
Assembleia Nacional como exemplos destacados da colaboração dos artistas na arquitetura
pública46. A incontornável síntese de Artur Portela menciona, igualmente, o papel dos
escultores nas “obras de monumentalização da Assembleia Nacional”, e ainda as estátuas de
Álvaro de Brée (1903-1962) para o Ministério das Finanças47. José-Augusto França, no volume
fundamental A Arte em Portugal no século XX, alude, entre outras, às pinturas de António
Soares (1894-1978) para o Palácio de São Bento48.
Na sua tese de doutoramento sobre a escultura em Portugal no período entre 1910 e 1969, Lúcia
Almeida Matos cita o caso das estátuas para a escadaria de São Bento como exemplo de um
resultado pouco coeso resultante da distribuição do trabalho por diversos artistas, para além de
elencar individualmente a participação de cada escultor49. Helena Elias, explorando
mecanismos de encomenda de arte pública pela administração central e local, com foco em
Lisboa, observa igualmente, de forma sucinta, o processo de execução das estátuas da escadaria
exterior do Palácio de São Bento50, e o arranjo da zona envolvente do edifício. Em adição,
contextualiza a criação da Delegação para as Novas Instalações dos Serviços Públicos (DNISP)
na DGEMN, referindo o seu papel na encomenda de estatuária51.
Maria Catarina Figueiredo, propondo um roteiro pela pintura mural produzida durante o Estado
Novo em Lisboa, apresenta sumariamente os painéis concebidos por Adriano de Sousa Lopes
(1879-1944) para o Salão Nobre do Palácio de São Bento e o tríptico pintado por Joaquim
Rebocho (1912-2003) no Ministério das Finanças, não acrescentando quaisquer dados
arquivísticos às fontes bibliográficas e digitais elencadas52. Pelo contrário, Carlos Silveira, na
sua dissertação de doutoramento dedicada à atividade de Sousa Lopes enquanto pintor de
guerra, não deixa de referir a obra derradeira do artista no Palácio de São Bento, lançando pistas

46
Diogo de Macedo, “A pintura e a escultura nas obras públicas”, in Quinze Anos de Obras Públicas. 1932–1947,
vol. I – Livro de Ouro, ed. Comissão Executiva da Exposição de Obras Públicas (Lisboa: Imprensa Nacional,
1948), 31-34
47
Portela, Salazarismo e Artes Plásticas, 90- 95, 113.
48
José-Augusto França, A Arte em Portugal no século XX, 3.ª ed. (Venda Nova: Bertrand Editora, 1991), 160.
49
Lúcia Almeida Matos, Escultura em Portugal no século XX (1910-1969) (Lisboa: FCG/FCT, 2007), 300-301,
329, 334-335.
50
Helena Elias, Arte Pública e Instituições do Estado Novo. Arte Pública das Administrações Central e Local do
Estado Novo em Lisboa: Sistemas de Encomenda da CML e do MOPC/MOP (1938-1960) (Tese de Doutoramento,
Facultat de Belles Artes, Universitat de Barcelona, 2006), 136, 378-384.
51
Ibid., 122-124.
52
Maria Catarina Valente Figueiredo, Patrimonializar as pinturas murais da cidade de Lisboa na época do Estado
Novo (Tese de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração, Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia, 2017), 327-336, 352-357.

10
para a análise dessas pinturas murais53. No catálogo acoplado à exposição dedicada ao pintor
decorrida no Museu do Chiado em 2015, Maria Aires da Silveira54 e Fernando Rosa Dias55
também tecem algumas considerações sobre estas pinturas. O catálogo sobre Lino António
(1898-1974), coordenado por Sandra Leandro, considera a intervenção do pintor na decoração
pictórica do gabinete do presidente da Assembleia Nacional, no Palácio de São Bento,
analisando o programa iconográfico56. Um livro recente dedicado ao pintor Dordio Gomes
(1890-1976), assinado por Laura Castro, aborda os estudos para os trípticos realizados no
âmbito do concurso para decoração da escadaria nobre deste palácio, e reproduz um dos
primeiros esboços57.
O estudo biográfico focando a obra escultórica de Leopoldo de Almeida (1898-1975), efetuado
por Rita Mega na sua dissertação de doutoramento58, integra menções a diversas peças, com
respetivos esboços desenhados, maquetas prévias e citação de documentação textual: os grupos
escultóricos realizados para as sobreportas no topo da escadaria interior do Palácio de São
Bento, a estátua O Pensador e outros motivos integrados no jardim da residência oficial do
Presidente do Conselho, e os baixos-relevos para a escadaria do Ministério das Finanças. A
este estudo, acrescente-se o catálogo editado pelo então designado Museu da Cidade, intitulado
O atelier de Leopoldo de Almeida, apresentando algumas peças pertencentes ao espólio à sua
guarda59.
Num artigo sobre o papel do escultor Francisco Franco (1885-1955) no estabelecimento de
uma imagem do salazarismo através das artes plásticas, Teresa Campos dos Santos considera
as peças escultóricas que o artista executou retratando o Presidente do Conselho e as suas
finalidades propagandísticas, assinalando a inauguração do busto no Ministério das Finanças,
então na ala ocidental da Praça do Comércio, em 194160.

53
Carlos Silveira, Adriano de Sousa Lopes: Um Pintor na Grande Guerra (Lisboa: Edições 70, 2018), 64-66.
54
Maria de Aires Silveira, “Na serena paz dos nossos campos. Do espetáculo da vida humilde aos episódios da
História de Portugal nos frescos da Assembleia da República”, in Adriano de Sousa Lopes (1879-1944). Efeitos
de luz, ed. Carlos Silveira, Maria de Aires Silveira (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2015), 190-195.
55
Fernando Rosa Dias. “Tempos de Retrato”. In Adriano de Sousa Lopes (1879-1944) in Adriano de Sousa Lopes
(1879-1944). Efeitos de luz, ed. Carlos Silveira, Maria de Aires Silveira (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
Moeda, 2015), 138.
56
Sandra Leandro (coord.), Lino António (1898-1974) (Leiria: Câmara Municipal de Leiria, 1998), 28, 120, 125-
128.
57
Laura Castro (ed.), Dordio Gomes (Porto: Árvore – Cooperativa Artística, 2021), 138-139.
58
Rita Mega, Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), 2 vols. (Dissertação de Doutoramento.
Faculdade de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, 2012).
59
Ana Cristina Leite (coord.), O Atelier de Leopoldo de Almeida (Lisboa: CML, 1998).
60
Teresa Campos dos Santos, “O escultor Francisco Franco: entre o modernismo e a construção da imagem da
ditadura de António Oliveira Salazar”, Revista de História da Arte e Arqueologia 16 (2011): 91-112.

11
O então Museu da Cidade publicou um catálogo dedicado a Jaime Martins Barata (1899-1970),
autor dos dois trípticos que decoram o topo da escadaria interior do Palácio de São Bento,
reproduzindo um conjunto de estudos de pormenor e de figuras elaborados para esta
encomenda, e de três pinturas para o Tribunal de Contas, no âmbito da remodelação do
Ministério das Finanças61. Para o Tribunal de Contas, distingue-se também o trabalho de
Almada Negreiros (1893-1970), que criou tapeçarias murais e pinturas sobre tela, apenas
brevemente elencadas na cronologia incluída no último catálogo que lhe foi dedicado,
decorrente da exposição na Fundação Calouste Gulbenkian (2017)62. A publicação de Luís
Trabucho de Campos acerca da tapeçaria O Número (1958) comenta os elementos geométricos
e matemáticos integrados, contribuindo para a compreensão da simbologia da composição em
articulação com o espaço para a qual foi criada63. A participação de Jorge Barradas (1894-1971)
nos corredores do Tribunal de Contas através de baixos-relevos cerâmicos para as sobreportas
é somente elencada António Rodrigues na tabela cronológica que acompanha o texto do seu
estudo sobre o artista64. Os diversos cartões para tapeçarias elaborados por Guilherme
Camarinha (1912-1994), para o Ministério das Finanças, Tribunal de Contas e Palácio de São
Bento, são referenciados no catálogo resultante da exposição realizada no Museu Nacional
Soares dos Reis, em 200365.

Metodologia

À vasta bibliografia que tem vindo a ser produzida no âmbito da historiografia portuguesa
acerca da produção arquitetónica e artística patrocinada pelo Estado Novo, aludida no ponto
anterior, acresce como suporte teórico um conjunto de autores que refletiram sobre conexões
entre poder político e arquitetura (explorados no ponto 2 do capítulo I), não exclusivamente
abarcando o domínio dos regimes ditatoriais europeus de entre guerras. O contexto político-
social, concretamente as práticas de poder, as políticas estatais e a organização hierárquica do
regime, em relação com questões como o desejado acatamento tácito da ordem estabelecida e

61
Museu da Cidade, Martins Barata: Retrospectiva da Obra do Pintor (Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa,
1988). Diversos estudos e textos do artista encontram-se disponíveis online: http://tribop.pt/TPd/18 (acesso a
20.07.2022).
62
Fundação Calouste Gulbenkian (ed.), José de Almada Negreiros. Uma maneira de ser moderno (Lisboa: Museu
Calouste Gulbenkian, 2017).
63
Luís Trabucho de Campos, O Número. A emblemática tapeçaria que Almada Negreiros concebeu para o
Tribunal de Contas (Lisboa: Tribunal de Contas, 2019).
64
António Rodrigues, Jorge Barradas (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1995), 212.
65
Renato Soeiro, Luís Branco (ed.), Guilherme Camarinha. 1912-1994 (Lisboa: Instituto Português de Museus,
2002), 25, 29, 32, 101, 169, 216-217.

12
o controlo da subversão, incorrem para considerar aspetos como a possibilidade do edificado
mediar e coagir práticas sociais – revelada, por exemplo, nas soluções espaciais adotadas – ,
como para avaliar o papel das instâncias decisórias, incluindo a figura do ditador, no
condicionamento estético das sedes do poder central, visando alcançar uma representação
idealizada do regime.

Com vista a cruzar a análise dos casos de estudo com o contexto histórico-político e a
componente humana e burocrática que informa os processos construtivos, buscando uma
reflexão crítica, a investigação assentou nos seguintes eixos: a) cotejo de bibliografia
secundária (artigos e dissertações académicas, livros, catálogos); b) pesquisa de fontes
primárias impressas – como periódicos, relatórios, discursos, catálogos, legislação – e
documentais (textuais e gráficas: correspondência, memórias descritivas, pareceres, desenhos
arquitetónicos, fotografias, entre outros); c) trabalho de campo com visitas aos imóveis66,
incluindo entrevistas informais com os interlocutores.
Em termos práticos, a pesquisa e a sistematização de informação decorreram em etapas
interdependentes que se foram desenrolando em paralelo, em virtude de dois fatores. Por um
lado, os seminários da componente letiva do programa doutoral permitiram a realização de
trabalhos para avaliação que contemplaram aspetos relacionados com a nossa temática. Por
outro, o condicionamento de acesso a arquivos, não apenas decorrente dos períodos de
confinamento em 2020 e 2021 relacionados com a pandemia de SARS-Cov-2, mas também de
problemas técnicos como sucedeu durante largos meses com o Sistema de Informação para o
Património Arquitetónico (SIPA) no Forte de Sacavém, levou à adoção de uma estratégia de
confluência de tarefas. Importa salientar a importância do acesso a recursos on-line
disponibilizados pela Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sobretudo
nos períodos de confinamento – tendo-se igualmente beneficiado do acesso a diversas palestras
e conferências internacionais em formato de videoconferência –, bem como a disponibilidade
para obtenção remota de documentos por parte de algumas instituições. As visitas aos edifícios
em estudo decorreram, sobretudo, durante o ano de 2021: apesar da permissão para visitar a
maioria dos edifícios em análise, destacando-se o cuidado acolhimento presencial por parte das
respetivas instituições, assinale-se o facto de não nos ter sido possibilitada a observação dos

66
Assembleia da República; Ministério das Finanças; Ministério da Administração Interna; Ministério da Justiça;
Ministério da Agricultura; Ministério da Economia e Transição Digital: Gabinete de Estudos e Estratégia; Pousada
de Lisboa; Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

13
gabinetes ministeriais, elementos fundamentais do estudo, o que enfraqueceu as ilações acerca
da vivência atual dos espaços.
A tarefa de recolha de bibliografia decorreu, essencialmente, na Biblioteca Nacional de
Portugal, em bibliotecas da Universidade de Lisboa (Faculdade de Belas-Artes, Faculdade de
Letras, Instituto de Ciências Sociais), Biblioteca de Arte e Arquivos da Fundação Calouste
Gulbenkian, e repositórios institucionais nacionais e internacionais. A obtenção de fontes
documentais assentou na consulta de diversos espólios arquivísticos, sendo o fundo central do
nosso estudo o que se encontra à guarda do SIPA67, correspondente à atividade da DGEMN,
cujas facilidades de acesso possibilitadas pela Doutora Ana Paula Figueiredo em muito
auxiliaram o trabalho. Em adição, esta tarefa implicou a consulta dos seguintes arquivos e
instituições: Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças (e documentação sob
custódia da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças); Arquivo Histórico do Ministério do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; Arquivo Histórico Parlamentar; Arquivo
Histórico da Secretaria-Geral da Educação e Ciência; Arquivo Histórico Ultramarino; Arquivo
do Instituto Camões; Arquivo Municipal de Lisboa; Arquivo Nacional da Torre do Tombo;
Arquivo do Porto de Lisboa, Setúbal e Sesimbra; Biblioteca e Arquivo Histórico da Economia
(Acervo Infraestruturas, Transportes e Comunicações); Centre d’Archives d’Architecture
Contemporaine/Paris; Centro de Artes das Caldas da Rainha; Fundação António Quadros;
Fundação Calouste Gulbenkian - Biblioteca de Arte e Arquivos; Biblioteca digital da OASRS;
Hemeroteca digital; Ibero-Amerikanisches Institut/Berlim; Museu Nacional de Arte
Contemporânea – Museu do Chiado; Palácio Nacional da Ajuda; arquivos privados de Raul
Lino, Adriano de Sousa Lopes, Jaime Martins Barata e Almada Negreiros68.
Em complemento da redação da tese, o trabalho incluiu a submissão de propostas para
publicação de artigos em revistas científicas e para participação em conferências
internacionais, bem como o convite para participação num ciclo de seminários.

Estrutura da tese

O núcleo principal da tese divide-se em três capítulos. A narrativa está inserida na estipulada
estrutura de um trabalho académico desta natureza, estando precedida de introdução e rematada

67
Assinale-se, contudo, a dificuldade acrescida de cruzamento de documentos existentes na base de dados de
documentação digitalizada do SIPA, uma vez que os documentos textuais e gráficos não se encontram
relacionados.
68
Parte dos espólios de Martins Barata e de Almada Negreiros encontram-se disponíveis on-line, respetivamente
acessíveis em: http://www.tribop.pt/TPd/18/2 e https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros

14
por um conjunto de reflexões finais. Para além das imagens que ilustram o texto, um conjunto
de anexos complementa a leitura, incluindo uma cronologia geral, notas biográficas dos
intervenientes, fichas de síntese relativas aos casos de estudo e um documento. Optou-se por
não integrar transcrições de documentos, uma vez que se privilegiou a sua análise detalhada no
texto, complementada por citações relevantes.
O primeiro capítulo contextualiza o panorama das obras públicas no período do Estado Novo,
procurando enquadrá-las no cenário internacional contemporâneo. Considerando a estrutura
hierárquica que moldou o funcionamento do ministério e, particularmente, da Direção-Geral
dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), atenta-se no programa modernizador de
implementação de novas infraestruturas no território nacional, bem como se salienta a atenção
conferida ao restauro de monumentos e à adaptação de edifícios históricos para novos fins. São
abordadas questões como a relação entre o Estado, arquitetos e artistas, a apropriação
ideológica da arquitetura e das artes plásticas pelo regime e preferências estéticas, e o processo
de encomenda pública, salientando figuras-chave. No segundo ponto, aborda-se a
especificidade de edifícios associados ao poder político e da instrumentalização da arquitetura
enquanto veículo de comunicação e representação visando finalidades ideológicas, através de
um breve enquadramento teórico.
O segundo capítulo é iniciado com a apresentação da organização do poder político no quadro
do regime estado-novista. De seguida, são analisados, em pontos independentes, os dois casos
de estudo, numa perspetiva diacrónica. Em primeiro lugar, o Palácio de São Bento: após uma
abordagem dos antecedentes de reconversão do mosteiro em sede parlamentar, contextualiza-
se a organização da comissão que orientou as obras de adaptação sob alçada da DGEMN.
Seguidamente, atenta-se em diversos aspetos dessa intervenção de forma individualizada, tanto
ao nível da reformulação urbana e de exterior, incluindo a residência para o Presidente do
Conselho, como de destacados espaços internos, sem perder de vista os processos de seleção
de intervenientes externos e de supervisão por parte das entidades competentes e, ainda, da
presença atenta de Salazar. A análise engloba as reformulações que se impuseram nas décadas
de 1950 e 1960. O segundo caso de estudo centra-se na Praça do Comércio, concretamente nos
edifícios utilizados como sedes ministeriais. Após uma síntese do seu uso centenário enquanto
centro do poder político, atenta-se na apropriação simbólica que o regime salazarista fez do
lugar. Observam-se propostas goradas de transformação urbana da envolvente, sobretudo nos
anos de 1940, paralelas a projetos de remodelação para o Ministério das Finanças e da Justiça.
Avalia-se a centralização das obras associadas aos edifícios ministeriais no pós-II Guerra
Mundial, com a criação da Delegação para as Novas Instalações dos Serviços Públicos

15
(DNISP), aprofundando a valorização da praça enquanto elemento patrimonial e os critérios
estéticos que prevaleceram nas adaptações. Assim, destacam-se intervenções nas três alas da
praça, com destaque para o Ministério das Finanças pelo seu rico programa decorativo, bem
como dos debates que informaram as soluções escolhidas. O planeamento de novos blocos de
estética afastada do cânone pombalino, e a saída de pastas como o Ultramar e as Corporações
para novos edifícios noutros pontos da cidade, são igualmente considerados. Em ambos os
casos, aflora-se a utilização continuada dos edifícios imediatamente após a revolução de 1974.
O terceiro capítulo explora a permanência do legado material do Estado Novo nos dias de hoje.
Referencia-se a investigação realizada no domínio internacional acerca da memória dos
passados ditatoriais europeus, focando a questão do património imóvel e artístico, que tem
vindo a ser analisada sob o prisma dos conceitos de difficult heritage e dissonant heritage, e
das estratégias empregues para a convivência ou a rutura. Observa-se o panorama português
no que respeita a políticas de memória relativas ao regime estado-novista, por forma a
compreender os modos como se têm vindo a manter em uso os edifícios de que nos ocupamos.
Finalmente, reflete-se sobre a especificidade deste património, complexo pela sua dimensão de
intervenção sobre preexistências de elevado simbolismo; sugere-se que seja entendido à luz da
sua relativa invisibilidade hodierna.

Nota

Importa assinalar que, por razões práticas que se prendem com a revisão de texto, foi adotado
o Acordo Ortográfico de 1990, mantendo-se a grafia original nas transcrições e nas referências
bibliográficas e documentais. Como norma de citação empregou-se o Chicago Manual of Style,
aplicando suas especificidades na citação em rodapé e nas referências finais. Os créditos
completos das imagens (incluindo autoria, data e proveniência), inseridas no seio do texto por
forma a facilitar a ilustração, estão elencados em listagem específica, com vista a não
sobrecarregar a legenda acoplada.

16
Capítulo I
Obras Públicas: poder e identidade

“Los grandes espacios de esta arquitectura no se deben únicamente a


necesidades prácticas, sino a las simbólicas de la representación del poder,
pues, los edificios, como los objectos, son para las masas más reales que el
pensamiento: están ahí, frente a ellas, con una presencia que no se puede
evitar.”69

69
Ángel Llorente Hernández, Arte e Ideología en la España de la Postguerra (1939-1951) (Dissertação de
Doutoramento, Facultad de Geografía e Historia, Universidad Computense de Madrid, 1991).

17
18
1. Estado Novo e promoção de obras públicas em contexto: edifícios representativos do
poder perante o panorama internacional

O investimento em obras públicas constituiu um dos pilares da ação modernizadora e da


política económica do Estado Novo70, centralizado no Ministério das Obras Públicas e
Comunicações (MOPC), criado em 193271. A atuação do ministério, baseada num plano
metódico e realizada em diferentes escalas – nacional, regional, e local –, visou dotar o
território de infraestruturas e equipamentos imprescindíveis para o desenvolvimento
económico do país, suportado por um sistema de financiamento que promovia a absorção do
desemprego, simultaneamente contribuindo para construir uma imagem empreendedora do
regime em consonância com o seu ideário de ressurgimento nacional72. A instituição do
Comissariado de Desemprego junto do ministério73, ancorado num fundo de contribuição
obrigatória que, a par das verbas inscritas no orçamento de Estado, sustentaria a concretização
de diversas obras e melhoramentos, aproximou-se das estratégias estatais de desenvolvimento
implementadas na sequência da crise de 1929 em Itália, na Alemanha e nos E.U.A. 74, cujos
ecos se sentiram também, por exemplo, na Argentina75.
A realidade estrangeira nesta matéria não era desconhecida. No âmbito da discussão da lei de
reconstituição económica, em 1935, Fátima Moura Ferreira sinalizou a intervenção do
deputado à Assembleia Nacional, José Franco Frazão76. O deputado elencou exemplos de
programas coevos de reconstrução, apoiados no combate ao desemprego e na edificação de
infraestruturas e equipamentos públicos, em locais como U.R.S.S., E.U.A. e Itália, e ainda
Inglaterra, França, Canadá, México e Japão, alertando tanto para a dificuldade de sustentar
económica e socialmente tais planos, como para a necessária preparação técnica dos
trabalhadores77. As tendências internacionais permitiam explanar e defender o plano que se

70
Ana Nunes, José Brandão de Brito, “Política Económica, Industrialização e Crescimento”, in Nova História de
Portugal, vol. XII: Portugal e o Estado Novo (1930-1960), coord. Fernando Rosas (Lisboa: Editorial Presença,
1992), 317.
71 Decreto-lei n.º 21454, Diário do Governo, I série, n.º 157, 07.07.1932, 1403-1404.
72
Sobre este assunto, ver Costa, O País a Régua e Esquadro, 97-117.
73 Decreto n.º 21699, Diário do Governo, I série, n.º 230, 30.09.1932, 1975-1986.
74
Wolfgang Schivelbusch, Three New Deals: Reflections on Roosevelt’s America, Mussolini’s Italy, and Hitler’s
Germany (Nova Iorque: Picador, 2006).
75
Anahi Ballent, “El Estado como problema: el Ministerio de Obras Publicas y el centro de Buenos Aires durante
la presidencia de Agustín P. Justo, 1932-1938”, Estudios del Habitat 14, 2 (2016), e005, em linha:
https://revistas.unlp.edu.ar/Habitat/article/view/e005
76
Fátima Moura Ferreira, “O Estado Novo através do País: obras públicas e imagética discursiva, entre a
perenidade e a hibridez”, in Representações do Poder do Estado em Portugal e no Império, 1950-1974, ed. F. M.
Ferreira e Eduardo Fernandes (Porto: Circo de Ideias, 2019), 26 [nota 4].
77
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 20, 27.02.1935, 400-402. Acessível em:
https://debates.parlamento.pt/catalogo/r2/dan/01/01/01/020/1935-02-26 (acesso a 30.03.2022).

19
gizava para Portugal. A lei de reconstituição económica, a aplicar num período de 15 anos,
previa a execução de obras no domínio das comunicações e transportes, como caminhos-de-
ferro, estradas ou redes telefónica e elétrica, de edifícios para escolas e serviços públicos,
urbanização e reparações extraordinárias nos monumentos nacionais, com fiscalização e
cooperação estatal, embora se assumisse também a execução por entidades privadas 78. Franco
Frazão sublinhou a falta de condições nas instalações ocupadas pela maioria dos serviços do
Estado, que certamente afetavam o seu bom funcionamento.
De facto, na esteira das reconversões de edifícios iniciadas com as desamortizações ocorridas
a partir da extinção das ordens religiosas em 1834, e intensificadas pela disponibilização de
imóveis para usos seculares com a nacionalização fomentada pelo regime republicano79,
mantinham-se serviços públicos em antigos conventos e palacetes, pouco vocacionados para
tais fins. Uma opinião publicada em 1923 exemplifica-o:

“Lisboa, que se jacta de ter dominado o mundo inteiro, quase não possui monumentos.
Muitas igrejas de mau gosto, muitos conventos sem gosto nem bom nem mau, e eis tudo.
Os conventos, então, constituíram o grande, o inesgotável recurso quando a cidade tratou
de pôr os frades na rua e de arranjar uma toilette moderna. Não há Palácio de Justiça:
está instalado num velho convento. Não há Palácio da Biblioteca: adaptou-se para tal fim
outro convento antigo. Os quartéis são conventos, os museus, conventos, e só não são
conventos os Ministérios porque Deus escreve direito por linhas tortas e o terremoto de
1755 gerou um Marquês pouco artista mas muito construtor”80.

Também o arquiteto Cottinelli Telmo (1897-1948) enfatizou a utilização continuada de


conventos e palácios para serviços públicos na capital, ressalvando o estado devoluto de muitos
deles81. Insurgindo-se contra a falta de visão estratégica do planeamento urbano, acusou
constrangimentos na demolição de edifícios sem recuperação possível e as expropriações no
centro da cidade, num momento em que urgia expandi-la para a periferia. Seria necessário
considerar, numa visão de conjunto, as efetivas necessidades dos serviços públicos do novo
regime. Impunha-se analisar a localização em edifícios continuadamente adaptados e averiguar
a sua adequação às funções dos serviços, considerando “factores materiais e sentimentais”82.

78 Lei n.º 1914, Diário do Governo, I série, n.º 118, 24.05.1935, 731-732.
79
António Martins Silva, Nacionalizações e Privatizações em Portugal. A Desamortização Oitocentista,
(Coimbra: Minerva, 1997); Maria João Neto, “A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a
intervenção no património arquitectónico em Portugal. 1929-1999”, in Caminhos do Património (1929-1999), 23-
43; Idem, Memória, Propaganda e Poder. O Restauro dos Monumentos Nacionais (1929-1960) (Porto: FAUP
Edições, 2001), 85-104; Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo, 35-38.
80
Hermano Neves, “Crónicas Solitárias: O frontão do Congresso”, A Capital, 01.10.1923. Recorte em AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
81
José Ângelo Cottinelli Telmo, Os Novos Edifícios Públicos (Lisboa: S. Industriais da CML, 1936).
82
Ibid., 15.

20
Alertou que, em muitos casos, as sucessivas adaptações implicavam maior dispêndio financeiro
do que a simples demolição e construção de novos equipamentos no mesmo lugar.
A prática de reutilização foi transversal a outros países europeus, independentemente do regime
político: a ocupação e a adaptação progressiva de edifícios preexistentes, palácios ou de outro
tipo, para organismos governamentais ocorreram desde Oitocentos, em paralelo à edificação
de novos e destacados edifícios parlamentares e ministeriais na Europa e nos E.U.A.83. O hábito
de reconversão funcional de edifícios ficou patente numa opinião do arquiteto espanhol Luis
Moya Blanco (1904-1990) acerca do projeto para o novo Ministerio del Aire, em Madrid (arq.
Luis Gutiérrez Soto, 1940-51): louvou a sua distribuição, equiparável em flexibilidade aos
conventos espanhóis, que considerava perfeitos por serem aproveitáveis “para cualquier uso
imprevisto, pues los hemos visto convertidos en cuartel, en instituto, en universidad, en hospital
y en colegio, y están siempre bien de circulaciones, de luz y de todo”84. Neste quadro, saliente-
se a questão adjacente da preservação patrimonial, bem como o implícito simbolismo de
dignidade e prestígio atribuído a determinados edifícios, que poderia ser instrumentalizado para
legitimação de uma nova autoridade política, confluindo com o fator económico para evitar a
destruição. Os regimes ditatoriais que ascenderam após a I Guerra Mundial, apesar de
revelarem ímpetos de construir equipamentos representativos de um novo momento político –
como sucedeu nos ministérios dedicados à aeronáutica erigidos em Berlim
(Reichsluftfahrtministerium, arq. Ernst Sagebiel, 1936), Roma (Ministero dell’Aeronautica,
arq. Roberto Marino, 1931) e Madrid, destacando-se, também, os planos para uma inovadora
Cité de l’Aire em Paris na década de 193085 –, mantiveram o funcionamento de serviços
públicos em locais já anteriormente utilizados para tais fins. São exemplos as obras de
adaptação no oitocentista Palacio de Santa Cruz em Madrid, utilizado pelo Ministerio de
Asuntos Exteriores franquista, alvo de ampliações na década de 1940, através do acrescento de
edifícios emulando a estética do palácio86, ou a utilização continuada do tardo-setecentista
Hôtel de Flandre, em Bruxelas, como sede do Ministério das Colónias belga entre 1924 e 1960,

83
Nikolaus Pevsner, A History of Building Types (Londres: Thames & Hudson, 1976), 35-52; Jean-Michel
Leniaud, “Noir sur blanc”, Livraisons d’histoire de l’architecture 8 (2004): 5-6; Markus Dauss, “Architectures
gouvernementales de l'Empire allemand et de la Troisième République: essai d'iconologie politique et comparée”,
Livraisons d’histoire de l’architecture 8 (2004): 9-22; Lorraine Deciéty, “Le Ministère des Colonies”, Livraisons
d’histoire de l’architecture 8 (2004): 23-39; G. Alex Bremner, “Nation and Empire in the Government
Architecture of Mid-Victorian London: The Foreign and India Office Reconsidered”, The Historical Journal 48,
3 (2005): 703-742; Maele, Lagae, “‘The Congo must have a presence on Belgian soil.’ [...]”.
84
Luis Moya, “Intervenciones”, Revista Nacional de Arquitectura 112 (1951): 42.
85
Georges Houard, “La Cité de l’Air est édifiée”, Les Ailes: jornal hebdomadaire de la locomotion aérienne, n.º
656, 11.01.1934, 9-10; Pénicaut, “Un ministère en quête d’identité? [...]”.
86
Anónimo, “Ampliacion del Ministerio de Asuntos Exteriores”, Revista Nacional de Arquitectura 10/11 (1941):
44-47.

21
com serviços dispersos pela cidade, perante a falha dos planos para construção de um novo
complexo centralizado87.
Um artigo publicado na revista A Arquitectura Portuguesa, em 1936, sugeria que para
solucionar o problema dos edifícios públicos se deveria atentar no exemplo estrangeiro,
categorizando-os de forma hierárquica em três tipos: Palácios do Estado, que “pela sua natureza
transcendente, ou pelo simbolismo que lhes anda adscrito, demandam [...] um ambiente
monumental”88, como o parlamento e os ministérios (de que nos ocuparemos neste estudo);
edifícios autónomos de ampla frequência, por exemplo, liceus; edifícios albergando serviços
estatais de menor dimensão, como repartições, escolas primárias, entre outros, que em larga
medida aproveitavam velhos conventos, despendendo-se avultadas somas em reparações
medíocres ou em rendas em prédios descaracterizados. Num decrescendo, os primeiros
deveriam adotar uma expressão monumental, caminhando-se para a modéstia nos últimos, que
ao invés de ocuparem extintos conventos adaptados deveriam ocupar prédios simples,
construídos de raiz, à imagem da École Speciale des Travaux Publics, du Bâtiment e de
l’Industrie (arqs. J. Chollet, J. B. Mathan, 1936), erigida em Paris.
Alguns anos depois, a revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui dedicou um número a
novos edifícios públicos construídos de raiz89, incluindo exemplos de França, Turquia, Itália,
Alemanha, U.R.S.S., Bélgica, Portugal, Inglaterra, Suécia, Holanda e Argélia, e ainda
embaixadas francesas em cidades como Belgrado e Otava. Tipologicamente, abarcou projetos
destinados a assembleias políticas como parlamentos e sedes partidárias, ao governo (o
Ministério dos Correios, Telégrafos e Telefones em Paris), mas também edifícios culturais e
religiosos como museus, bibliotecas e igrejas90, e ainda equipamentos municipais e cívicos,
como câmaras municipais, serviços postais, mercados e centros sociais. No que respeita aos
edifícios com funções políticas, ressalta o marco do concurso para o Palácio da Sociedade das
Nações, em Genebra (1926-27), representativo de uma estética de inspiração neoclássica com
escala monumental difundida no período de entre guerras91. Tratou-se, porém, de um concurso
envolto em polémica, implicando o resultado a construção de um equipamento (1929-37) cujo
projeto conjugou cinco concorrentes de pendor académico – Henri-Paul Nénot, Julien

87
Maele, Lagae, “‘The Congo must have a presence on Belgian soil.’ [...]”.
88 Anónimo, “O problema dos edifícios públicos. Para a sua solução utilíssimo seria seguirmos o exemplo
estrangeiro”, A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação (reunidas) 13-14 (1936): 39.
89
L’Architecture d’Aujourd’hui, 5 (1939).
90
Trata-se da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Lisboa, projetada pelo arquiteto Porfírio Pardal
Monteiro, correspondente da revista.
91
Sobre o predomínio do gosto monumental incorporando elementos clássicos na arquitetura institucional deste
período, ver, p. ex., Franco Borsi, The Monumental Era: European Architecture and Design, 1929-1939 (Londres:
Lund Humphries, 1987).

22
Flegenheimer, Carlo Broggi, Camille Lefèvre e Joseph Vago – que, segundo o arquiteto Pierre
Vago, resultou na “défiguration malheureuse d’une noble idée”92.

Num balanço sobre 25 anos de administração pública, em 1953, o Ministro das Obras Públicas,
José Frederico Ulrich (1905-1982), relatou que a dotação de serviços públicos com instalações
satisfatórias constituíra um dos investimentos centrais do ministério, tanto através da
construção como da adaptação de edifícios93. Nessa ocasião, reforçou a orientação direta e
interessada do Presidente do Conselho quanto à política de obras públicas, não olvidando a
referência à ação do ministro Duarte Pacheco (1900-1943) para a bem-sucedida realização.
Salazar definira essa política centralizadora, “fixando directrizes, seriando as realizações”94, na
sequência de uma avaliação das necessidades do país e do estabelecimento de planos consoante
as prioridades e as possibilidades financeiras. Ulrich mencionou, inclusivamente, a
originalidade desta política centralizadora concentrada na pasta da sua tutela,

“pois nos outros países adoptava-se ao tempo o [sistema] da dispersão das obras pelos
diversos Ministérios a que elas se destinavam – o Ministério da Educação construía as
suas escolas, o do Interior ou da Saúde os hospitais, o das Comunicações as estradas, etc.,
sem subordinação a um organismo coordenador”95.

Não cita fontes nem explicita a que países se refere, alegando que somente nesse momento de
reconstrução no pós-guerra várias nações haviam criado ministérios específicos dedicados ao
urbanismo. Porém, ao contrário do afirmado pelo ministro, essa suposta “surpreendente
antevisão” de Salazar não foi única no contexto europeu. Em Itália, com Mussolini, logo em
1922 fora criado o Ministero dei Lavori Pubblici: o ministro Gabriello Carnazza reuniu nessa
pasta atribuições que estavam dispersas por outros ministérios, como as infraestruturas
hidráulicas, até então competência do Ministero di Agricoltora, e os edifícios públicos e
aquedutos sob orientação do Ministero dell’Interno, contrariando a fragmentação de
competências através de uma orgânica unificada96. Tal não significou, no entanto, que certos

92
Pierre Vago, “Le Palais de la Societé des Nations”, L’Architecture d’Aujourd’hui, 5 (1939): 5.
93
Presidência do Conselho, 25 Anos de Administração Pública. Ministério das Obras Públicas (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1953), 52.
94
Ibid, 13.
95
Ibid, 14.
96
Giuseppe Barone, “Politica economica i istituzioni. Il Ministero del Lavori Publicci. 1922-1925”, Italia
Contemporanea 151/152 (1983): 5-40.

23
equipamentos não passassem novamente para a alçada de outros ministérios, como no caso dos
edifícios dos correios, sob orientação do Ministero delle Comunicazione desde 192497.

No quadro do MOPC, salienta-se o papel da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos


Nacionais (DGEMN), criada em 1929. Por um lado, a sua atuação debruçou-se sobre a
preservação e o restauro de monumentos e edifícios históricos98, como igrejas e castelos,
contribuindo para cimentar valores nacionalistas ao materializar uma imagem encenada do
país, baseada nas suas raízes ancestrais mitificadas, cuja influência se repercutia na
contemporaneidade. A História foi entendida como um instrumento capaz de forjar uma
identidade nacional unitária e uma memória coletiva – portanto, narrativas construídas e
impostas –, contribuindo para organizar e controlar a sociedade99. A propaganda salazarista
assumiu uma perspetiva teleológica para legitimação e empoderamento do novo regime através
de um passado tido como glorioso, elegendo três momentos-chave decisivos100: a fundação
medieval e a consolidação das fronteiras portuguesas, a época de ouro da expansão marítima
quinhentista, e a restauração da independência em 1640 após sessenta anos de união ibérica,
progressivamente refletidos na ação de restauro monumental. Refira-se que a ritualização da
História, através de comemorações públicas e evocação de figuras emblemáticas, não constituía
uma novidade, estando presente desde a emergência de movimentos nacionalistas em
Oitocentos101. O Estado Novo – à semelhança da Alemanha e de Itália102 – apropriou-se desses

97
Elisa Pegorin, Arquitectura e Regime em Itália e Portugal. Obras Públicas no Fascismo e no Estado Novo
(1928-1948) (Tese de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura, Universidade do Porto, 2018), 479.
98
Neto, Memória, Propaganda e Poder; Miguel Tomé, Património e Restauro em Portugal (1920-1995) (Porto:
FAUP Edições, 2002); Luís Miguel Correia, Monumentos, Território e Identidade no Estado Novo. Da Definição
de um Projecto à Memorização de um Legado. 2 vols. (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Universidade de Coimbra, 2015).
99 Sobre o uso da História para consolidação de uma memória coletiva, ver, p. ex., Stefan Berger, Chris Lorenz,

“Introduction. National History Writing in Europe in a Global Age”, in The Contested Nation. Ethnicity, Class,
Religion, and Gender in National Histories, ed. Stefan Berger, Chris Lorenz (Londres: Palgrave Macmillan,
2008), 1-23.
100 José Amado Mendes, “Caminhos e problemas da historiografia portuguesa”, in História da História em

Portugal, séculos XIX-XX, vol. II, ed. Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga (Lisboa: Temas
e Debates, 1998), 40.
101 Fernando Catroga, “Ritualizações da História”, in História da História em Portugal, séculos XIX-XX, vol. II,

ed. Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga (Lisboa: Temas e Debates, 1998), 221-261; Sérgio
Campos Matos, “Continuidades e rupturas historiográficas: o caso português num contexto peninsular (c.1834-
c.1940)”, in Historiografia e Res Publica nos dois últimos séculos, ed. Sérgio Campos Matos, Maria Isabel João,
(Lisboa: CHUL/CEMRI-UA, 2017), 131-158.
102
George L. Mosse, The Nationalization of the Masses. Political symbolism and mass movements in Germany
from the Napoleonic Wars though the Third Reich (Ithaca/Londres: Cornell University Press, 1975); Emilio
Gentile, The Sacralization of Politics in Fascist Italy (Cambridge: Harvard University Press, 1996); Roger Griffin,
Modernism and Fascism. The Sense of a Beginning under Mussolini and Hitler (Londres/Nova Iorque: Palgrave
Macmillan, 2007).

24
episódios marcantes e converteu-os em mitos de suporte ao discurso oficial103, não com o
intuito de retorno real ao passado, mas procurando retomá-lo e incorporá-lo num projeto
regenerativo104 de continuidade no presente, como garante de um futuro próspero no contexto
de uma ideologia providencial105. Salazar expôs estas ideias em 1935: “não temos o encargo
de salvar uma sociedade que apodrece, mas de lançar, aproveitando os sãos vigamentos antigos,
a nova sociedade do futuro”106. A História foi, portanto, considerada de um modo parcial,
distorcido e controlado, com propósitos de doutrinação e de consenso social.
Embora não tivessem sido impostas normas estritas de restauro para a DGEMN e somente,
como explicitou Maria João Neto, “enunciados certos preceitos de acção em textos dispersos,
editados pelos serviços”107 e definidos por alguma contradição quanto a critérios de
intervenção, registou-se uma tendência para a aplicação prevalente, embora não exclusiva, da
teoria de unidade de estilo de Eugène Viollet-le-Duc108. Ressalve-se que, para Viollet-le-Duc,
o processo extravasava a simples conservação, uma vez que se pretendia uma remodelação que
tornasse os monumentos significativos na vida moderna, que fossem revividos – isto é, não se
tratava de mera evocação, mas de reativação do passado109. A tentativa de recuperar a alegada
autenticidade dos edifícios, realçando um determinado momento histórico, serviria para
justificar práticas de alteração e adaptação que incluíram eliminação de camadas subsequentes
e desimpedimento de zonas envolventes – assim se processava a apropriação com base em
reorganização. Ao peso simbólico da identificação com episódios marcantes destacados pela
ideologia oficial, acresceu o pragmatismo económico e a utilidade social que sustentaram o uso
continuado de edifícios preexistentes, reconvertidos para fins tão distintos como administração
estatal, assistência hospitalar ou turismo.

103
Na linha das “tradições inventadas” definidas por Eric Hobsbawm, assistiu-se a uma apropriação e reinvenção
do passado, forjando mitos baseados em factos históricos selecionados com vista a responder a necessidades
contemporâneas, simultaneamente contribuindo para uma estruturação social. Eric Hobsbawm, “Introduction:
Inventing Traditions”, in The Invention of Tradition, ed. Eric Hobsbawm, Terence Ranger (Cambridge:
Cambridge University Press, 1983), 1-14.
104
A demanda por regeneração não era novidade, remontando aos revolucionários liberais vintistas. Embora essa
demanda tenha sido disseminada pelos republicanos, a ideia de uma regeneração coletiva e de dimensão nacional
ganhou expressão sob Salazar. Nuno G. Monteiro, António Costa Pinto, “Cultural Myths and Portuguese National
Identity”, in Contemporary Portugal: Politics, Society and Culture, 2.ª ed., ed. António Costa Pinto (Nova Iorque:
Columbia University Press, 2011), 55-72.
105
Luís Cunha, A Nação nas Malhas da sua Identidade: o Estado Novo e a Construção da Identidade Nacional,
(Provas de Aptidão Pedagógica, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 1994), 8.
106 António Oliveira Salazar, “Na ordem, pelo trabalho, em prol de Portugal!” (01.05.1935), in Discursos e Notas

Políticas. 1928 a 1966 (Coimbra: Coimbra Editora, 2015), 209.


107
Neto, “A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a intervenção no património arquitectónico
em Portugal. 1929-1999”, 31.
108
Tomé, Património e Restauro em Portugal (1920-1995), 36-40.
109
Giulio Carl Argan, “El Revival”, in El Pasado en el Presente. El revival en las artes plásticas, la arquitectura,
el cine y el teatro, ed. Giulio Carl Argan (Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1977), 19.

25
Importa salientar que a ação depurativa da DGEMN não estava isolada no contexto europeu.
Em Itália, sob Mussolini, difundiu-se uma conduta de encenação de monumentos recorrendo a
preservação seletiva e isolamento, bem como de transformação e reordenamento do tecido
urbano histórico – incluindo demolições e reconfigurações (os designados sventramenti) –,
com propósitos ideológicos e identitários de conectar o presente com o passado imperial,
valorizando permanência e continuidade110. Estas ações decorreram, por exemplo, na esteira
das ideias de Gustavo Giovannoni, que compreendeu a articulação entre as condições de
monumento patrimonial e de tecido vivo que definem a cidade antiga, advogando práticas de
diradamento – intervenções minimalistas – que preservassem a morfologia urbana perante as
necessidades de expansão111. Aristotle Kallis salientou esta transformação ativa, envolvendo
subtrações e reordenamento espacial, como um ato criativo assertivo, que, para além de
fomentar novos significados e experiências, deixou a marca da intervenção fascista para a
posteridade – tal como sucedeu em Portugal. A atitude de deferência para com os monumentos
históricos estava indelevelmente aliada a um desígnio de posse sobre o passado. Ademais, no
regime franquista espanhol, saído da guerra civil e vendo-se a braços com a necessidade de
reconstrução de diversas regiões, nas quais uma percentagem considerável de património
edificado havia sido alvo de danos, preponderou uma prática similar à DGEMN no que respeita
à preservação monumental: o alicerce na história nacional como suporte ideológico e
propagandístico, característico do primeiro franquismo, levou ao emprego de critérios de
unidade estilística na recuperação de monumentos de elevado cariz simbólico e memorial,
sobretudo em associação à Idade Média, à reconquista e à fé católica; paralelamente, assistiu-
se à reutilização de castelos ou conventos como alojamento hoteleiro, tornando-se o turismo
num motor significativo para a recuperação patrimonial nos anos do desarrolismo112.

110
Tim Benton, “Rome reclaims its empire”, in Art and Power. Europe under the dictators, 1930-45, ed. Dawn
Ades et al (Londres: Thames & Hudson, 1995), 120-128; Aristotle Kallis, “The ‘Third Rome’ of Fascism:
Demolitions and the Search for a New Urban Syntax”, The Journal of Modern History 84, 1 (2012): 40-79;
Correia, Monumentos, Território e Identidade no Estado Novo, vol. I, 41-47; Carmen M. Enss, Luigi Monzo,
“Editing Cities in Interwar Italy”, in Townscapes in Transition. Transformation and Reorganization of Italian
Cities and their Architecture in the Interwar Period, ed. Carmen M. Enss, Luigi Monzo (Bielefeld: Transcript
Verlag, 2019), 9-44,
111
Françoise Choay, A Alegoria do Património (Lisboa: Edições 70, 2006), 171-174. Não obstante, Giovannoni
integrou um grupo que apresentou um plano urbanístico para Roma em 1929, no qual a demolição de determinados
monumentos, para construção de novas artérias, não era posta de parte. Cf. Kallis “The ‘Third Rome’ of Fascism
[...]”, 59-60.
112
José Ignacio Casar Pinazo, Julián Esteban Chapapría (coord.), Bajo el signo de la victoria. La conservación
del patrimonio durante el primer franquismo (1936-1958) (Valencia: Pentagraf Editorial, 2008); María Pilar
García Cuetos, María Esther Almarcha Núñez-Herrador, Ascensión Hernández Martínez (coord.), Historia,
restauración y reconstrucción monumental en la posguerra española (Madrid: Abada, 2012); María Pilar García
Cuetos, “Heritage and Ideology. Monumental Restoration and Francoist Sites of Memory”, in Heritage in
Conflict. Memory, history, architecture, ed. María Pilar García Cuetos, Claudio Varagnoli (Ariccia: Aracne
Editrice, 2015), 75-106; Jesús Nicolás Torres Camacho, “Intervenir para promocionar”, in Spain is Different. La

26
Apesar do posicionamento do arquiteto Raul Lino (1879-1974) quanto à valorização do edifício
enquanto documento não só da época de origem, mas da passagem do tempo atestada nas
diversas camadas que comporta113, será sobretudo a partir dos anos de 1960 que se verificou
uma progressiva abertura da DGEMN e dos seus técnicos às conceções de preservação do
património edificado que se vinham desenvolvendo no âmbito internacional114, com gradual
afastamento do radicalismo das intervenções de restauro das décadas anteriores, visando
atitudes de conservação com respeito pela existência integral dos edifícios, seus contextos e
envolventes, conforme ficou preconizado na designada Carta de Veneza (1964).

Por outro lado, através da criação de comissões administrativas, juntas e delegações de obras
específicas reunindo técnicos especializados, a DGEMN foi responsável por um conjunto de
melhoramentos urbanos ao nível local, que passaram pela construção de novos equipamentos
de diversas tipologias, tendencialmente tipificadas – de instalações para o exército, postos
fronteiriços e construções prisionais, a escolas e estações dos CTT – e que deveriam concorrer
para a almejada modernização do território. Conforme referiu João Paulo Martins, os novos
edifícios públicos

“vieram colocar os arquitectos, e os poderes públicos, face a novos desafios – em termos


de programa funcional, da sua articulação à escala do território nacional, de expressão
coordenada e intencional duma imagem de Estado, de poder político, de sociedade – que
exigiram também a procura de respostas novas, não pré-concebidas ainda”115.

restauración monumental durante el segundo franquismo, ed. Maria Esther Almarcha Nuñez-Herrador, María
Pilar García Cuetos, Rafael Villena Espinosa (Santander: Genueve Ediciones, 2019), 293-313.
113
Miguel Tomé, “Arquitectura: conservação e restauro no Estado Novo”, in 100 Anos de Património. Memória
e Identidade, 2.ª ed., coord. Jorge Custódio (Lisboa: IGESPAR, 2011), 172.
114
Neto, “A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a intervenção [...]”, 37-39; Vera Félix Mariz,
“De Atenas a Veneza: O percurso do arquitecto Luís Benavente”, in Actas do Simpósio Património em construção.
Contextos para a sua preservação (Lisboa: LNEC/IHA-FLUL), 2011, 49-56.
115 João Paulo Martins, “Portuguesismo: nacionalismos e regionalismos na acção da DGEMN. Complexidade e

algumas contradições na arquitectura portuguesa”, in Caminhos do Património (1929-1999), 122.

27
À semelhança do que sucedeu em Itália116, na Alemanha117, em Espanha118, e também no
Brasil119, não se assistiu em Portugal a uma imposição decretada de diretrizes estilísticas para
edifícios públicos. O pluralismo de linguagens evidenciava a dicotomia entre tradição e
modernidade que definiu a busca por um “reaportuguesamento” da expressão arquitetónica,
idealmente adequada ao território e à época, sendo de notar que confrontos entre herança
cultural e avanço tecnológico, aliados à busca por uma identidade nacional, se faziam sentir
desde o século anterior120. Para Roger Griffin, observando o exemplo alemão, trata-se de um
fenómeno cultural que identificou como “rooted modernism”121, uma revitalização de valores
intemporais colhidos no passado para transformação do futuro, aliando a tecnologia moderna
do presente a evocações estéticas de outrora. Assim, estes regimes definiam-se pelo desejo de
implementar uma nova sociedade, que se transporia para a eternidade num sentido de
continuação de um passado mítico – ou seja, uma modernidade alternativa.
Conforme explanou Joana Brites122, a variedade estilística refletia a lógica inclusiva de
compromisso e de prevenção assumida pelo Estado de, na fase de afirmação do regime, integrar
arquitetos recém-formados e, progressivamente, também captar resistentes politizados, por
forma a facilitar o seu controlo, evitar radicalização subversiva e gerar consenso. Esta prática
de cooptação verificou-se, por exemplo, nos anos de afirmação do fascismo italiano, num
fenómeno de permissividade controlada designado por Marla Stone como “hegemonic
pluralism”123. João Paulo Delgado considerou que a intenção de manter elementos

116
Marla Stone, The Patron State: Culture & Politics in Fascist Italy (Princeton: Princeton University Press,
1998).
117
Barbara Miller Lane, Architecture and Politics in Germany, 1918-1945 (Cambrigde: Harvard University Press,
1968).
118
Angel Llorente Hernández, Arte e Ideología en el Franquismo, 1936-1951 (Madrid: Visor, 1995); Carlos
Sambricio, “On Urbanism in the early years of Francoism”, in Urbanism and Dictatorship, A European
Perspective, ed. Harald Bodenschatz, Piero Sassi, Max Welch Guerra (Berlim: Birkhäuser, 2015), 117-134;
Daniel Domenech, “The National Revolution Architecture: Rooted Modernism in the Spanish New State”,
Fascism 7, 2 (2018): 213-240.
119
Cavalcanti, As Preocupações do Belo; Francisco Sales Trajano Filho, “Arquiteturas e Estado no Brasil de
Vargas (1930-1945)”, Registros. Revista de Investigación Histórica 14, 2 (2018): 71-87.
120
Rute Figueiredo, Arquitectura e Discurso Crítico em Portugal (1893-1918) (Lisboa: Colibri/IHA-FCSH-UNL,
2007); Nuno Rosmaninho, A Deriva Nacional da Arte. Portugal, séculos XIX-XXI (Vila Nova de Famalicão:
Edições Húmus, 2018).
121 Roger Griffin, “Building the Visible Immortality of the Nation: The Centrality of ‘Rooted Modernism’ to the

Third Reich’s Architectural New Order”, Fascism 7, 2 (2018): 9-44.


122
Brites, “Power and Architecture in Portuguese Fascism [...]”; Joana Brites, “Estado Novo, Arquitetura e
‘Renascimento Nacional’”, Risco. Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo 15, 1, (2017): 100-113.
123 Marla Stone, “The State as Patron: Making Official Culture in Fascist Italy”, in Fascist Visions. Art and

Ideology in France and Italy, ed. Matthew Affron, Mark Antliff (Princeton: Princeton University Press, 1997),
206.

28
contraditórios, conquanto acarretasse a “possibilidade de criar várias aporias internas”124,
constituía uma garantia e uma imposição da permanência destes regimes. Salazar, em conversa
com a jornalista francesa Christine Garnier, já em 1951, revelou-se preocupado com a ausência
de pintores ou arquitetos “que tenham feito escola”, acentuando a prática inclusiva ao
acrescentar que “Num país tão desprovido como o nosso, não temos o direito de perder um só
artista desse nome. Portanto, é nosso dever proteger os homens de talento, ainda que sejam
inimigos do regime!”125.
Embora não fosse implementada legislação que ditasse concretamente normas estilísticas a
seguir nas obras públicas, a quantidade de reuniões individuais que o Presidente do Conselho
teve com o ministro Duarte Pacheco – 285 entre os anos de 1933 e 1939126, – atesta a especial
atenção que dedicou aos assuntos desta pasta. Rita Almeida de Carvalho notou que Duarte
Pacheco não demonstrava fascínio pela estética contemporânea, evitando opinar nessa matéria
e delegando tais assuntos aos arquitetos da sua confiança127. Ademais, Salazar transmitiu a
referida atenção a António Ferro, em 1938: “Este problema da arquitectura preocupa-me
bastante, quando me lembro das verbas inscritas no orçamento destes anos para as obras
públicas: muitas dezenas, ao fim centenas de milhares de contos! Não seria uma ocasião
excelente para dar uma certa unidade à arquitectura oficial?”, ressalvando, logo de seguida, que
não possuía “a pretensão ridícula de criar um estilo ou de inspirar um estilo”128. Porém, dez
anos mais tarde, afirmou:

“seria porém lamentável que não legássemos, não digo orgulhosamente um estilo, mas
uma maneira bem portuguesa e bem actual, isto é, que através do imenso volume de obras
que realizámos não ficasse bem vincado, contrastando com a ameaça materialista, o
centro duma época e duma geração de sacrifício e trabalho intenso, impregnado de
nacionalismo, de solidariedade humana e de espiritualidade”129.

124 João Paulo Delgado, Uma concepção totalitária – “Ars Arquitectos”. Cultura, ideologia e tecnologia
construtiva na década de 1930 em Portugal (Tese de Doutoramento, Instituto Superior de Ciências do Trabalho
e da Empresa, Instituto Universitário de Lisboa, 2015), 383.
125 Christine Garnier, Férias com Salazar (Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1952), 191.
126
Destas, 105 reuniões ocorreram em 1938, ano de divulgação das comemorações do duplo centenário de 1940.
A pasta das Obras Públicas e Comunicações foi suplantada, em termos de reuniões nesse período, apenas pelas
do Interior e do Comércio e Indústria. A título de comparação, refira-se que Salazar reuniu, entre 1933 e 1939,
131 vezes com António Ferro, então à frente do SPN. Dados colhidos em: Filipa Raimundo, Nuno Estêvão
Ferreira, Rita Almeida de Carvalho, “Political decision-making in the Portuguese New State (1933-39): The
dictator, the council of ministers and the inner-circle”, Portuguese Journal of Social Science 8, 1 (2009): 85-101.
127
Carvalho, “Ideology and Architecture in the Portuguese ‘Estado Novo’ [...]”, 152-153.
128
António Ferro, “6.ª Entrevista. Depois da Conferência de Londres [1938]”, Entrevistas a Salazar (Lisboa:
Parceria A. M. Pereira, 2007), 134-135.
129 António de Oliveira Salazar, “No encerramento da Exposição de Obras Públicas” (07.11.1948), in Discursos e

Notas Políticas. 1928 a 1966 (Coimbra: Coimbra Editora, 2015), 636.

29
Assinale-se, também, no quadro da busca por uma expressão plástica que conjugasse valores
nacionais e modernos – o “reaportuguesamento” da arquitetura –, o contacto estabelecido por
arquitetos com Salazar na fase de afirmação do novo regime. Raul Lino enviou-lhe o seu livro
Casas Portuguesas em 1933, alertando para os perigos de “desnacionalização” na adoção do
estilo internacional utilitarista, que acarretaria perda do caráter tradicional, indicando o caso
italiano como exemplo favorável por se encontrar alicerçado num espírito de remodelação que
não suprimia a sua alma multissecular130. Em adição, o arquiteto advertiu para a necessidade
de conservação de monumentos na capital, incluindo a dignificação das envolventes. Após as
entrevistas conduzidas por António Ferro, Raul Lino congratulou Salazar pela tomada de
posição relativamente à arquitetura oficial, transmitindo a sua opinião:

“Querer aplicar aqui, à viva força, para qualquer edifício público, a fisionomia utilitarista,
maquinal de um estilo que corresponde ao triunfo do materialismo em países estranhos e
distantes, quando não serve a propaganda comunista, revela pelo menos grande fraqueza
de intelecto e lamentável ausência de consciência nacional”131.

Também Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) escreveu ao Presidente do Conselho,


felicitando o seu intento de impulsionar novos edifícios públicos de feição nacional e coeva132.
Expôs o caso italiano e o que assimilara ao participar no XIII Congresso Internacional dos
Arquitetos em Roma (1935), focando o discurso de Mussolini em prol da arquitetura moderna
e funcional que, sem descurar o respeito pelo passado, espelharia o espírito do regime e do
país. Pardal Monteiro demonstrou-se avesso a um pastiche acrítico de estilos de outrora,
característicos de costumes e servindo propósitos políticos e morais específicos, e, portanto,
inadequados para corresponder à ideologia nacionalista do presente, do “Portugal que
renasce”133. Tal não significava, no entanto, que não defendesse o emprego de materiais e
processos construtivos típicos, adequando os edifícios aos seus fins e ao clima nacional.
Aponte-se, ainda, uma situação mais pública, que assumiu um tom de manifesto: a
representação endereçada a Salazar após o primeiro concurso para o monumento ao Infante D.
Henrique a erigir em Sagres, em 1935. Com redação anónima e assinada por 44 subscritores –

130
Ofício de Raul Lino para António de Oliveira Salazar, 07.03.1933. ANTT: Arquivo Salazar, CP-156, 4.3.7/21,
fls. 136-138. [Rita Almeida de Carvalho assinalou esta documentação. Cf. Carvalho, “Ideology and Architecture
in the Portuguese ‘Estado Novo’ [...]”, 162].
131
Ofício de Raul Lino para António de Oliveira Salazar, 23.08.1933. ANTT: Arquivo Salazar, CP-156, 4.3.7/21,
fls. 140-141.
132
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para António de Oliveira Salazar, 08.09.1936. ANTT: Arquivo Salazar,
CP-184, pt. 5.2.9/6, fls. 81-116.
133
Ibid, p. 35 [f. 114].

30
entre os quais se contavam oito arquitetos134 –, assumiu a defesa de uma arquitetura moderna
e portuguesa, que integrasse “um grande estilo, simples, sólido, clássico [...] anti-académico e
anti-alegórico, na linha das grandes tradições da arquitectura [...] mas anti-tradicionalista no
sentido de repetição ou submissão às grandes obras do passado”135. O desejo de
intervencionismo estatal em matéria artística já fora, de resto, manifestada em 1933 pela
Comissão de Defesa dos Interesses dos Artistas, através de carta dirigida ao Presidente do
Conselho, defendendo o interesse da cooperação entre artistas e Estado 136. Porém, mais tarde,
Salazar questionou a legitimidade de intervenção completa do Estado em matéria artística e
consequente transformação de artistas em funcionários públicos, tornando a arte numa
obrigação, o que culminaria numa proibição de criar137.

Em paralelo, o MOPC foi responsável pelo desenvolvimento de uma rede infraestrutural,


complementada pelo estabelecimento de planos gerais de urbanização sob Duarte Pacheco138,
à frente da pasta das Obras Públicas e Comunicações nos períodos entre 1932-1936 e 1938-
1943, e presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) no intervalo139. O controlo férreo
que o ministro exerceu – a sua aprovação direta tornou-se necessária para novos projetos e
reconstruções em edifícios estatais, e para intervenções realizadas em zonas de proteção –
aliou-se à estratégia de expropriações por utilidade pública em larga escala que
implementou140. Apoiado numa equipa especializada de técnicos, composta por engenheiros e
alguns arquitetos, a prática centralizada do MOPC pautou-se pelo reconhecimento da realidade
do país, uniformizando critérios de intervenção, e atentando nos modelos internacionais através
da realização de missões de estudo. O conhecimento da realidade além-fronteiras era

134 Ernesto e Camilo Korrodi, Carlos Dias, Ferreira da Costa, António Lino, António Martins, José Bermudes
França, Francisco Cunha.
135 Representação a sua Excelência o Presidente do Ministério Doutor António de Oliveira Salazar para que seja

construído em Sagres o monumento digno dos Descobrimentos e do Infante (Lisboa: Empresa Nacional de
Publicidade, 1935), s.p. [p. 5].
136
Margarida Acciaiuoli, Exposições do Estado Novo 1934-1940 (Lisboa: Livros Horizonte, 1998), 30; Andreia
Galvão, O Caminho da Modernidade: A Travessia Portuguesa, ou o caso da obra de Jorge Segurado como um
exemplo de complexidade e contradição na Arquitectura, 1920-1940, vol. I (Tese de Doutoramento, Universidade
Lusíada, 2003), 246-247.
137 António Ferro, “7.ª Entrevista. Salazar princípio e fim [1938]”, Entrevistas a Salazar (Lisboa: Parceria A. M.

Pereira, 2007), 156.


138
Margarida Souza Lôbo, Planos de Urbanização: a Época de Duarte Pacheco (Porto: FAUP Publicações,
1995).
139
Sobre Duarte Pacheco, ver Costa, O País a Régua e Esquadro.
140 Carvalho, “Ideology and Architecture in the Portuguese ‘Estado Novo’ [...]”, 150.

31
complementado pela consulta de bibliografia141 e de periódicos estrangeiros142 e divulgação de
casos nas revistas especializadas nacionais143; pelos contactos profissionais estabelecidos
através da participação em congressos internacionais e envolvimento em associações, e pela
vinda de profissionais estrangeiros para trabalhar no país; e por exposições de divulgação
realizadas em Portugal, como a exposição propagandística Moderna Arquitetura Alemã144
(SNBA, 1941). Assim se alicerçava a almejada renovação do país, ancorada em valores de
identidade local e nacional, centralmente controlada, para estabelecer um presente que deveria
suplantar o aparente caos e a inércia do prévio regime republicano. A arquitetura pública
revelou-se um meio privilegiado para exprimir as convicções do poder político e como suporte
ao ideário de ressurgimento nacional.

No caso das obras públicas portuguesas, Joana Brites demonstrou como a estrutura burocrática
centralizada e hierarquizada que enquadrava as encomendas do MOPC, com os vários
intervenientes e as etapas decisórias de apreciação e aprovação, foi responsável pelo
condicionamento formal e estético do resultado145. Embora Pedro Vieira de Almeida tenha
fundamentado que a existência uma arquitetura oficial do Estado Novo “como imposição
burocrática e ideologicamente centralizada”146 se revelou, acima de tudo, como uma
mistificação póstuma pelos arquitetos que, numa atitude de vitimização, dela se procuraram

141
Seguindo os levantamentos de bibliotecas particulares feitos para os casos dos arquitetos Carlos Ramos,
Adelino Nunes, António de Brito (1845-1946) e Pardal Monteiro, descortina-se que esta classe tinha acesso,
também através de livrarias nacionais, a bibliografia estrangeira bastante atualizada. Ver, respetivamente: Bárbara
Coutinho, Carlos Ramos (1897-1969). Obra, Pensamento e Acção: A procura de um compromisso entre o
Modernismo e a Tradição (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
Nova de Lisboa, 2001), 194-198; Michel Touissant, Da Arquitectura à Teoria e o Universo da Teoria da
Arquitectura em Portugal na primeira metade do século XX (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de
Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa, 2009), 282; Delgado, Uma concepção totalitária – “Ars
Arquitectos”, 195-199; Carvalho “Ideology and Architecture in the Portuguese ‘Estado Novo’ [...]”, 88.
142
Para uma lista elaborada dos periódicos permutados e consultados, ver: Paula André, Arquitectura Moderna e
Portuguesa: Lisboa 1938-1948 (Dissertação de Doutoramento, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa, Instituto Universitário de Lisboa, 2010), 121-123; Rita Almeida de Carvalho, “Travelling modernisms:
The tours and acquaintances of Portuguese architects”, in Southern Modernisms: critical stances through regional
appropriations. Conference Proceedings, ed. Joana Cunha Leal, Maria Helena Maia, Begoña Farré (Lisboa:
CEAA/ESAP-CESAP, IHA/FCSH-UNL, 2015), 93-94.
143
Sobre a reprodução de exemplos estrangeiros nos periódicos A Construção Moderna, A Arquitectura
Portuguesa e Cerâmica e Edificação (Reunidas), e Arquitectos, ver: José-Augusto França, A Arte em Portugal no
século XIX, vol. II, 3.ª ed. (Venda Nova: Bertrand, 1990), 184; Paulo Tormenta Pinto, Cassiano Branco (1897-
1970). Arquitectura e Artifício (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2015), 78; Carvalho, “Travelling modernisms
[...]”, 95.
144
Ulrike Zech, Die nationalsozialistische Wanderausstellung Neue Deutsche Baukunst und ihre Rezeption in
Portugal (1941) (Dissertação de Mestrado, Technische Universität Berlin, 2005); Cláudia Ninhos, Portugal e os
Nazis. Histórias e Segredos de uma Aliança (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2017), 222-228.
145
Joana Brites, O Capital da Arquitectura. Estado Novo, Arquitectos e Caixa Geral de Depósitos, 1929-1970
(Lisboa: Prosafeita, 2014).
146
Pedro Vieira de Almeida, “A noção de ‘passado’ na arquitectura das décadas difíceis. O caso de Lisboa” [1994],
in António Ferro: um projecto e dois ensaios (Porto: CEAA, 2014), 49.

32
distanciar, e tenha defendido que o regime não definiu nem impôs uma arquitetura dita
salazarista de tendência globalizante, assumiu, também, a existência de “imposições diversas,
com diversa orientação”147. A máquina burocrática das obras públicas contribuiu para
estabelecer uma produção arquitetónica do regime: o Estado não foi apenas cliente, mas
produtor, definindo, através da sua hierarquia e dos seus intervenientes, os critérios que lhe
convinham e, assim, dirigindo os autores e refreando a sua liberdade criativa, mesmo sem
legislação concreta em termos estilísticos. De resto, a iniciativa municipal e privada, que não
foram erradicadas neste período, também se relacionaram com o poder central, e foram
permeadas pelo confronto entre opções estilísticas, como a investigação de Ricardo Agarez
comprova148.
A estrutura do ministério concorreu para a burocratização do processo construtivo e, em última
instância, para um controlo minudente de todas as etapas implicadas. Joana Brites
pormenorizou as várias fases pelas quais passava a elaboração de uma obra pública, da ideia e
seleção do(s) autor(es), aos processos envolvendo elaboração de cadernos de encargos,
memórias descritivas e desenhos, e seu escrutínio pelas instâncias envolvidas na avaliação,
como a Comissão de Revisão da DGEMN149 e o Conselho Superior de Obras Públicas150
(CSOP), e a Junta Nacional de Educação151 (JNE) no caso de edifícios classificados ou da
integração de elementos artísticos, sem descurar a opinião das municipalidades para onde
estava prevista. No extremo, a decisão final acerca da formulação do contrato passaria por
Salazar, atendendo a que a dispensa de verbas do orçamento de Estado teria impreterivelmente
de ser aprovada pelo Presidente do Conselho. Ou seja, mesmo que não ditasse imposições
formais ou se envolvesse no processo, Salazar estava a par do universo de obras em curso ou
em projeto.

147
Pedro Vieira de Almeida, “Arquitectura e Poder: Representação nacional” [1997], in António Ferro: um
projecto e dois ensaios, 57-63, Porto: CEAA, 2014, 61.
148
Ricardo Agarez, Algarve Building. Modernism, Regionalism and Architecture in the South of Portugal, 1925-
1965 (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2016); Idem, “Obras Públicas e ‘Melhoramentos’ Locais: entre Lisboa e
o País (real)”, in Obras Públicas no Estado Novo, coord. Joana Brites, Luís Miguel Correia (Coimbra: Imprensa
da Universidade de Coimbra, 2020), 141-170.
149 Instituída como estrutura de apreciação técnica dos projetos financiados, de forma total ou parcial, pelo Estado.
150 Criado em 1852, o CSOP foi reorganizado em 1931 (Decreto n.º 19880). Dois anos depois, foi promulgada a

sua reorganização atendendo às alterações ocorridas no seio do ministério, devendo o conselho emitir pareceres
fundamentados no domínio das obras públicas, por forma a coadjuvar o Governo (Decreto-lei n.º 23398, Diário
do Governo, I série, n.º 293, 23.12.1933). Houve nova reformulação, com independência da Secretaria-Geral do
MOP, aumento do número de inspetores superiores e nova organização as seções constituintes, em 1948 (Decreto-
lei n.º 37015, Diário do Governo, I série, n.º 190, 16.08.1948).
151
A JNE inseriu-se no quadro do renovado Ministério da Educação Nacional, composta por sete secções (Lei n.º
1941, Diário do Governo, I série, n.º 84, 11.04.1936).

33
A dispensa de concurso público para eleição do arquiteto e a nomeação direta, que constituía
uma cláusula de exceção152, aparenta ter sido regra em grande parte dos projetos153,
considerando o diminuto número de concursos realizados durante a vigência do regime após
uma fase inicial, na qual se destacaram os concursos para os liceus no início da década 1930154
e para o Monumento ao Infante D. Henrique destinado a Sagres, nunca concretizado155. A
inscrição dos arquitetos no Sindicato Nacional dos Arquitetos (SNA), apesar de somente se
tornar obrigatória em 1954 para projetar obras públicas156, foi sendo encorajada, o que poderá
explicar a participação habitual de um conjunto de figuras que assumiram papéis de destaque
no sindicato, como Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo, Cristino da Silva ou Carlos Ramos.
Embora de difícil avaliação objetiva, nos casos de convite a arquitetos externos aos quadros do
ministério são de contabilizar os contactos e as relações estabelecidas entre os autores e os
decisores – não obstante ter moldado o Governo em conformidade aos seus objetivos, Salazar
revelou oposição ao nepotismo em entrevista a Ferro: “Há que regular a máquina do Estado
com tal precisão que os ministros estejam impossibilitados, pela própria natureza das leis, de
fazer favores aos seus conhecidos e amigos”157. O amplamente citado caso de “adjudicação
direta” do projeto do Instituto Superior Técnico por Duarte Pacheco a Porfírio Pardal
Monteiro158 é consubstanciado na ação dos sucessores: refira-se, a título de exemplo, o caso do
projeto de remodelação da Faculdade de Ciências de Lisboa na década de 1950, despachando
o ministro Ulrich que, na impossibilidade de resolver o problema a nível interno, se contratasse
o arquiteto Jorge Segurado – que, de resto, desempenhara já funções na DGEMN159. Não só os
ministros detinham tal autoridade, conforme atesta a sugestão de escolha de Guilherme Rebelo
de Andrade (1891-1969) para ampliação do MNAA, feita ainda em 1929 pelo diretor da
instituição, José de Figueiredo (1871-1937)160. A ausência de concursos e a rede informal de
contactos contribuiu, igualmente, para a seleção de jovens arquitetos para dar continuidade a

152 Decreto-Lei n.º 27563, Diário do Governo, I série, n.º 60, 13.03.1937.
153 Brites, O Capital da Arquitectura, 104.
154
Assinalados por Michel Touissant como “palco para a afirmação da geração dita “modernista”, no seu estilo
mais contemporâneo (pois praticavam outros)” (Touissant, Da Arquitectura à Teoria [...], 131).
155 Almeida, A Arquitectura no Estado Novo; Gori, “Historia de una obra nunca realizada”.
156
Decreto-lei n.º 39847, Diário do Governo, I série, n.º 224, 08.10.1954.
157 António Ferro, “1.ª Entrevista. Notas à margem do discurso de 23 de Novembro [1932]”, Entrevistas a Salazar,

26.
158
Ana Tostões, Pardal Monteiro (Lisboa: Círculo de Leitores, 2009), 55.
159 Catarina Teixeira, Ana Mehnert Pascoal, “Das ideias aos projectos: Os museus ensaiados para a Faculdade de

Ciências de Lisboa, 1911-1965”, in Ciência, Tecnologia e Medicina na Construção de Portugal, vol. 4: Inovação
e Contestação - Séc. XX, ed. Maria Paula Diogo, Cristina Luís, M. Luísa Sousa (Lisboa: Tinta-da-china, 2021),
202.
160 Joana Baião, José de Figueiredo, 1871-1937. Ação e contributos no panorama historiográfico, museológico e

patrimonialista em Portugal (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,


Universidade Nova de Lisboa, 2014), 433.

34
trabalhos iniciados pela geração anterior: cite-se o caso de Raul Rodrigues Lima (1909-1979),
sugerido por Cottinelli Telmo para seu substituto na Comissão de Construções Prisionais, em
1939161.
Por outro lado, a seleção de artistas para participar em obras públicas implicou, em diversos
casos, a designação ou sugestão por parte do ministro ou dos responsáveis pelo projeto, como
veremos. Houve, inclusive, intercessão por parte das altas instâncias para adjudicação de
trabalho a artistas, conforme atesta o pedido do presidente da Junta de Energia Nuclear, José
Frederico Ulrich, endereçado ao seu sucessor na pasta das Obras Públicas, Eduardo Arantes e
Oliveira (1907-1982), para que confiasse trabalho ao pintor Joaquim Rebocho quando surgisse
oportunidade162. De resto, essa prática de convites diretos a artistas já se verificara nas
exposições propagandísticas coordenadas pelo SPN. Tal levou, por exemplo, a que o pintor
Eduardo Malta (1900-1967), em virtude de não ter sido inicialmente selecionado para participar
como decorador do pavilhão português na Exposição Internacional de Paris de 1937, tenha
intercedido junto do Presidente do Conselho, rogando a que se implementasse um sistema de
concursos ao invés da escolha decorrente de amizades pessoais163.
As figuras envolvidas na elaboração de pareceres sobre estudos e projetos foram apelidadas
por Rita Almeida de Carvalho como “little dictators”164, assumindo um peso significativo na
definição formal e aprovação final. Cite-se o caso de José de Figueiredo, vice-presidente do
Conselho Superior de Belas-Artes (CSBA), que, em 1935, criticou a falta de orientação e
fiscalização artística por parte da DGEMN e, não obtendo resultados práticos da exposição
feita à DGESBA sobre a necessidade de reorganizar os serviços do CSBA, se dirigiu
diretamente ao presidente do Conselho, contornando o processo burocrático habitual165. Com
a criação da JNE, José de Figueiredo foi integrado na 6.ª secção, dedicada às Belas-Artes, cujos
objetivos passavam por definir diretrizes para “sistematização do desenvolvimento estético,
arqueológico, histórico e bibliográfico da Nação”166, assumindo a presidência por inerência,
dado que presidia também à ANBA, assim ampliando as funções que ocupava no CSBA. Já na
década de 1970, recordando a sua vida profissional em entrevista, o arquiteto Luís Cristino da

161 Ricardo Pinto, Raul Rodrigues Lima, un architecto del Estado Novo. La architectura penitenciaria (Dissertação
de Doutoramento, Universidad Politecnica de Madrid, 2009), 443.
162
Cartão manuscrito do Gabinete do Presidente da Junta Energia Nuclear, 19.12.1957. BAHE: Arquivo Particular
do Ministro Arantes e Oliveira, Correspondência Particular, cx. 59, capilha ‘A a L’.
163
Rita Duro, “O Museu Nacional de Arte Contemporânea sob a direção de Eduardo Malta”, MIDAS 6 (2016),
em linha.
164
Apropriando-se de uma expressão de Pedro Vieira de Almeida (Carvalho, “Ideology and Architecture in the
Portuguese ‘Estado Novo’ [...]”, 165).
165
Baião, José de Figueiredo, 261.
166
Art.º 21.º do Decreto-lei n.º 26611, Diário do Governo, I série, n.º 116, 19.05.1936, 541.

35
Silva (1896-1976) lamentou as sanções oficiais dos conselhos de Estado, “de muitos doutores
que não percebem nada do assunto mas vão dar a sua opinião e regra geral estragam as
intenções iniciais”167.
A extensão do poder de decisão ao nível local, emulando a hierarquia do regime, patenteia-se
tanto na atividade da Comissão de Estética da Cidade de Lisboa, como na alusão de Pardal
Monteiro, no I Congresso Nacional de Arquitetura (1948), às “caprichosas e quase tirânicas
exigências municipais”168. Veremos nos capítulos seguintes como figuras como Raul Lino
assumiram preponderância na apreciação de projetos de grande envergadura e sua adequação
às exigências do poder político169, acumulando funções em entidades distintas170 e sobrepondo-
se ao trabalho junto das comissões de obras. Importa também referir que outros arquitetos
integraram o CSOP – maioritariamente composto por engenheiros171 – e a JNE, estando por
avaliar de forma sistemática o impacto destes projetistas simultaneamente supervisores e
avaliadores na definição da arquitetura pública.

O pós-guerra ficou marcado por pressões políticas internas devido à reorganização da oposição,
resultando num reforço do aparelho repressivo, que se estendeu à esfera cultural – para além
da apreensão de pinturas na II Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP, 1947)172, mencione-
se que determinados arquitetos foram proibidos de lecionar nas Escolas de Belas-Artes173. O
discurso oficial afirmava que nem o conflito bélico travara – embora tivesse condicionado – o
prosseguimento da “era de engrandecimento” profetizada por Salazar em 1936174. A dimensão
e o alcance dessas realizações foram apresentados na exposição Quinze Anos de Obras

167
Mário Cardoso, “Entrevista com o Prof. Arq. Cristino da Silva”, Arquitectura 119 (1971): 6.
168
Porfírio Pardal Monteiro, “A Arquitectura no plano nacional”, in 1.º Congresso Nacional de Arquitectura.
Relatório da Comissão Executiva, Teses, Conclusões e Votos do Congresso (Porto: Tip. E. Guedes, 1948), 5.
169
Ana Isabel Ribeiro, Arquitectos Portugueses: 90 anos de vida associativa. 1863-1953, vol. I (Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1993), 182.
170
Raul Lino esteve ao serviço da DGEMN entre 1934 e 1949, passando pelo Serviço de Construção de Casas
Económicas e pela na Repartição de Estudos de Obras e Monumentos (destacando-se o Arranjo dos Palácios
Nacionais), ascendendo à Direção do Serviço de Monumentos Nacionais pouco antes de atingir o limite de idade,
permanecendo como colaborador até 1974 (Neto, Memória, Propaganda e Poder, 224-225). Integrou, também, o
CSOP e a 1.ª subsecção da 6.ª secção da JNE. No quadro da DGEMN, salientem-se três vertentes da sua atuação:
preservação patrimonial, superintendência dos Palácios Nacionais e construção de obras públicas de raiz.
171 Na composição instituída em 1933, contrastavam dois arquitetos com os 23 engenheiros enumerados (não

contabilizando os diretores e presidentes dos organismos integrantes do MOPC, também na sua maioria com
formação em ramos da Engenharia).
172
França, A Arte em Portugal no século XX, 362.
173
Brites, “Power and Architecture in Portuguese Fascism [...]”, 367.
174
Ministério das Obras Públicas, Obras inauguradas em comemoração do dia 28 de Maio de 1949 (Lisboa:
MOP, 1949), s.p.

36
Públicas (1948), continuadas e assinaladas através de inaugurações comemorativas anuais175.
Após o desaparecimento de Duarte Pacheco, assistiu-se à divisão do MOPC em duas pastas
distintas176. A atividade do MOP, que depois da direção pouco concretizadora de Augusto
Cancela de Abreu (1944-47) seria encabeçada por figuras como José Frederico Ulrich (1947-
54) e Eduardo Arantes e Oliveira (1954-67), inseriu-se num contexto de legitimação do regime
e de restrições das despesas públicas177. Seria, a breve trecho, complementada por planos de
fomento económico, mas afetada pela condução de recursos para a guerra em África.
Reconheceram-se as necessidades do país para uma aposta em melhoramentos regionais
(incluindo aspetos como abastecimento de água, esgotos ou aproveitamentos hidroelétricos),
assinalando-se as visitas dos ministros para incitar a iniciativa local – embora não se viessem
a atenuar as disparidades registadas entre as zonas rurais e urbanas 178. A DGEMN, dando
continuidade à conservação de imóveis classificados e à prossecução de projetos anteriormente
lançados através das direções de serviços específicas, manteve a atuação através de comissões
e delegações dedicadas a equipamentos para diversos serviços públicos e de cariz social,
nomeadamente no âmbito de ensino, habitação e assistência. No quadro da reorganização e
reunião de serviços, assinale-se a criação da Delegação das Novas Instalações para os Serviços
Públicos (DNISP) afeta à DGEMN, com vista à planificação da “instalação definitiva dos
serviços centrais dos Ministérios”179, de que nos ocuparemos em pormenor adiante. Se neste
período se pugnou por uma atualização formal atentando nas práticas vernáculas, patente na
dinamização do Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa (1955-61), bem como na
integração no contexto ambiental, para os equipamentos públicos não desapareceu o desejo de
destaque representativo na imagem territorial através de uma expressiva retórica
monumental180.

Nos relatórios relativos à atividade do MOP focou-se a colaboração dos artistas plásticos nas
obras públicas e a possibilidade de trabalho que estas constituíam, citando as verbas

175
Vejam-se as publicações do MOP, editadas a partir de 1949, intituladas Melhoramentos inaugurados
oficialmente em (...) para comemorar as datas de 27 de Abril e 28 de Maio.
176
Decreto-Lei n.º 36061, Diário do Governo, série I, n.º 295, 27.12.1946.
177
Aureliano Felismino, “Direcção-Geral da Contabilidade Pública: O Ministério nos orçamentos e nas contas
Públicas”, in Relatório da Actividade do Ministério no triénio de 1947 a 1949 (Lisboa: MOP, 1950), 52.
178
Ferreira, “O Estado Novo através do País [...]”.
179
MOP, Relatório da Actividade do Ministério no triénio de 1947 a 1949 (Lisboa, MOP: 1950), 16.
180
Ana Tostões, Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos anos 50, 2.ª ed. (Porto: FAUP Publicações,
1997), 94; Idem, “Monumentalidade, obras públicas e afirmação da arquitectura do Movimento Moderno: o
protagonismo da DGEMN na construção dos grandes equipamentos nacionais”, in Caminhos do Património
(1929-1999), 142-143.

37
despendidas com a decoração de construções estatais em diferentes momentos desde 1947181.
O estabelecimento do Secretariado de Propaganda Nacional182 (SPN, 1933), diretamente sob a
Presidência do Conselho e dirigido por António Ferro (1895-1956), admirador de Mussolini
que integrou a Comissão de Defesa dos Interesses dos Artistas (1931) e se colocara do lado dos
artistas modernos nas querelas surgidas em 1921 na Sociedade Nacional de Belas-Artes
(SNBA)183, permitiu a instrumentalização das artes plásticas ao serviço da ideologia oficial. A
arte foi encarada na sua componente funcional, à semelhança do que ocorreu noutros regimes
autoritários coevos184, sendo utilizada como reforço da noção de ressurgimento nacional e da
difusão do poder político do novo regime. Em demanda por uma “política do espírito” que
estruturasse o bom gosto e emanasse o prestígio nacional, e como resposta ao pedido de
intervencionismo estatal transmitido pelos artistas que assumiam a missão educativa e social
da arte, o SPN promoveu a criação artística através de exposições no seu estúdio, concessão de
prémios, e participação em exposições nacionais e internacionais, atribuindo aos artistas o
papel de decoradores de pavilhões efémeros185. Os artistas foram encorajados a conceber uma
fachada moderna para o novo regime – embora a maioria não se enquadrasse já nas faixas
etárias jovens, visto que faziam parte da geração de Ferro, e haviam maioritariamente integrado
o grupo dos artistas Independentes, avessos ao academismo. Foi-se estabelecendo uma equipa
de colaboradores habituais, assistindo-se, progressivamente, à normalização da vanguarda186.
Como António Ferro terá afirmado, para “defender as ideias modernas é preciso estar de acordo
com Salazar”187. A estética predileta para a representação oficial revelou-se, essencialmente,
como o produto de uma escolha consciente de artistas – os “novos” que haviam sido recusados

181
MOP, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1951 (Lisboa, MOP: 1952), 30-31; MOP, Relatório da
Actividade do Ministério no ano de 1956 (Lisboa, MOP: 1957), 8-9; MOP, Relatório da Actividade do Ministério
nos anos de 1957 e 1958 (Lisboa, MOP: 1959), 12-13.
182
Decreto-lei n.º 23054, Diário do Governo, I série, n.º 218, 25.09.1933. Em 1944, o SPN foi convertido em
Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI) (Decreto-lei n.º 33545, Diário do
Governo, I série, n.º 37, 23.02.1944).
183
Cristina Azevedo Tavares, Naturalismo e Naturalismos na pintura portuguesa do séc. XX e a Sociedade
Nacional de Belas-Artes, vol. I (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Universidade Nova de Lisboa, 1999), 150, 169-170.
184
Ver, p.ex.: Igor Golomstock, Totalitarian Art in the Soviet Union, the Third Reich, Fascist Italy, and the
People’s Republic of China (Nova Iorque/Londres: Overlook Duckworth, 2011 [1990]); Dawn Ades et al (ed.),
Art and Power. Europe under the Dictators, 1930-45 (Londres: Thames & Hudson, 1995); Matthew Affron, Mark
Antliff, Fascist Visions: Art and Ideology in France and Italy (Princeton: Princeton University Press, 1997); Hans-
Jorg Czech, Nikolla Doll (ed.), Kunst und Propaganda im Streit der Nationen 1930-1945 (Dresden: Sandstein
Verlag, 2007).
185
Sobre a ação do secretariado sob António Ferro, ver Jorge Ramos do Ó, Os anos de Ferro: o dispositivo cultural
durante a “Política do Espírito”. 1933-1949 (Lisboa: Editorial Estampa, 1999).
186
Ibid., 115.
187
Cit. in Filomena Serra, O Retrato na encruzilhada da Pintura em Portugal (1911-1949) (Tese de
Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2012), 398.

38
pela SNBA nos anos 20 –, em clara oposição ao naturalismo academizado oficializado pela I
República188.
Em adição, à semelhança do domínio da arquitetura, implementou-se um burocrático sistema
de avaliação, que contribuiu para a regulamentação da arte patrocinada pelo Estado, incluindo
organismos como o CSBA189 (1932) e a atrás mencionada JNE (1936), no seio do Ministério
da Educação Nacional. A arte adquiriu propósitos pedagógicos e normativos, e aos artistas foi
adscrito um papel de responsabilidade moral perante a sociedade, afastando-se a prática da
“arte pela arte”. O repúdio de Salazar pela criatividade espontânea e pelo individualismo, e a
necessidade de estabelecer limites à criação artística – mesmo que tal não implicasse a
legislação de regras estéticas –, assim justificando a prática da censura, ficaram patentes nas
palavras proferidas aquando da primeira atribuição dos prémios literários do SPN (1935),
ocasião em que parafraseou o prefácio que redigira para a publicação dos seus discursos:

“Os princípios morais e patrióticos que estão na base deste movimento reformador
impõem à actividade mental e às produções da inteligência e sensibilidade dos
Portugueses certas limitações, e suponho deverem mesmo traçar-lhes algumas
directrizes”190.

Valorizaram-se os aspetos artesanal e oficinal da prática artística, coadunados com a lógica de


estruturação corporativa da sociedade, com a inspiração no período quinhentista, e com a tónica
nas relações entre artista e mecenas, sendo o Estado o maior e mais constante encomendador.
Até ao advento do novo regime, as aquisições para museus ou as encomendas oficiais foram
irregulares, e o mercado de arte não dava garantias de sobrevivência apenas com base no
trabalho artístico, daí que o envolvimento com o Estado se tornaria crucial e ansiado, como
comprova a citada carta dirigida a Salazar em 1933. Nesse ano, o pintor Adriano de Sousa
Lopes (1879-1944) afirmaria, quando interrogado sobre a hipotética oferta à nação, a título
gracioso, de uma estátua retratando o Infante D. Henrique que defendia faltar em Sagres: “Pode
oferecê-la! Mas não abusemos dos artistas. Pede-se-lhes tudo, e nada se lhes dá! De que vivem
eles? Da sua arte! A crise é enorme. O país pode muito bem reparar essa dívida secular à
memória do Infante sem sacrificar ninguém”191.

188
Patrícia Esquível, Teoria e Crítica de Arte em Portugal (1920-1940) (Lisboa: Colibri/IHA-Nova, 2007), 74.
189
Decreto n.º 20985, Diário do Governo, I série, n.º 56, 07.03.1932.
190
António de Oliveira Salazar, “Para servir de prefácio” (17.02.1935), in Discursos e Notas Políticas. 1928 a
1966, 25.
191
Anónimo, “Uma dívida que é preciso pagar. O sr. Sousa Lopes aplaude a ideia de se erigir em Sagres o
monumento ao Infante D. Henrique”, Diário de Lisboa, n.º 3661, 21.01.1933, 8.

39
A modernidade apregoada por Ferro revelou-se como superficial e encenada, um alibi
controlado que conjugava uma tendência figurativa com valores académicos e etnográficos.
Um fenómeno similar de “restauro dos códigos visuais de reconhecimento”192 e de retoma da
figuração foi sublinhado por Benjamin Buchloh ao nível europeu: num clima de
desencantamento e de sentimentos nacionalistas que grassou após a Grande Guerra, figuras dos
movimentos de vanguarda, como Picasso, Picabia ou Malevitch, atentaram na tradição, nos
grandes mestres e nos valores do classicismo, adaptando-os à contemporaneidade. Esta atitude
de superação das vanguardas para inversão do caos do presente, com apropriação do passado
nacional e procurando legitimação nos mestres de outrora, considerando referências clássicas
e especificidades rurais/regionais, concorreu para o ambiente cultural de “retorno à ordem”
emergente no período de entre guerras193. A valorização do passado e das tradições,
concomitante a movimentos de fortalecimento das identidades nacionais, plasmou-se,
igualmente, na decoração de interiores e no desenho de mobiliário194.
Contudo, não se descure que, em Portugal, o naturalismo não fora afastado do gosto dominante.
Ao Estado Novo, o caráter realista e uma estética de cariz sintético e alegórico, proporcionando
reconhecimento imediato, serviriam as intenções ideológicas de envolvimento do observador.
Alegorias195, temas históricos e tradições populares foram fixados através de uma iconografia
inspirada na tida como a época áurea de Portugal – as viagens de expansão marítima –, com
especial enfoque na originalidade de uma suposta escola de pintura portuguesa em torno dos
designados “Primitivos Portugueses”196, tornada no cânone da arte promovida pelo regime,

192
Tradução da autora da frase “restoration of the visual codes of recognizability” (p. 39). Benjamin Buchloh,
“Figures of authority, ciphers of regression. Notes on the return of representation in European painting”, October
16 (1981): 39-68.
193
Sobre este assunto, ver, por exemplo: AAVV, Les Realismes, 1918-1939 (Paris: Centre Georges Pompidou,
1980; Mark Antliff, “Fascism, Modernism, and Modernity”, The Art Bulletin 84, 1 (2002): 148-169; Kenneth E.
Silver, “A more durable self”, in Chaos & Classicism. Art in France, Italy, and Germany, 1918-1936 (Nova
Iorque: Guggenheim Museum, 2011).
Romy Golan sublinha a posição de Devin Fore sobre o foco no realismo neste período (notando que o autor não
analisou a pintura enquanto médium), que não o entende como um verdadeiro retorno à arte do passado, mas como
um “return to the non-same”. Romy Golan, “Is Fascist realism a magic realism?”, Res. Anthropology and
Aestehtics 73-74, (2020): 221-237.
194
Jonathan M. Woodham, Twentieth Century Design (Oxford: Oxford University Press, 1997), 87-109.
195
Schmid explanou a preferência pelo uso de alegorias, empregando temas mitológicos e sublinhando o cunho
heróico, para ilustração das aspirações de criar uma nova realidade social por parte dos regimes fascista e nazi, e
para representação do Estado, por definição impalpável. Ulrich Schmid, “Style versus ideology: Towards a
conceptualisation of fascist aesthetics”, Totalitarian Movements and Political Religions 6, 1 (2005): 127-140.
196
A atribuição da autoria dos Painéis de S. Vicente a Nuno Gonçalves por José de Figueiredo, na sequência do
restauro, e a primeira exibição pública em 1910, levaram à integração do políptico no Museu de Arte Antiga. Tal
despoletou um projeto de disseminação da ideia de existência de uma escola portuguesa de pintura, distinta dos
contemporâneos pintores flamengos e italianos. Estas ideias identitárias foram divulgadas por Reinaldo dos Santos
durante o regime do Estado Novo, com particular destaque na exposição dedicada aos “Primitivos Portugueses”
no referido museu, em 1940, que organizou em colaboração com João Couto e Adriano de Sousa Lopes, no âmbito
das comemorações centenárias. Sobre este assunto, ver: José Alberto Seabra, “A invenção de uma identidade para

40
particularmente evidente na estatuária197. A pretensa prossecução dos ensinamentos dos
mestres quinhentistas coadunava-se com a ideologia salazarista, bem como com a rejeição e
superação de um gosto naturalista predominante durante a I República. Por outro lado, como
referiu Nuno Rosmaninho, assistiu-se à sobreposição de uma originalidade coletiva à
criatividade individual198. Em adição, conforme explanou Buchloh, este tipo de prática
representativa servia para confirmar o hieratismo do domínio ideológico199. Os níveis que Paulo
Cunha indicou como característicos do imaginário estado-novista200, e que importava difundir
e naturalizar nas práticas quotidianas para sustentáculo de uma memória coletiva – história
exemplar destacando santos e heróis201, fascínio imperial, e valores populares – ficaram
patentes nas artes plásticas com patrocínio oficial.

No âmbito das obras públicas, para além da integração de escultura sob diferentes formas
(sobretudo, baixos-relevos e estatuária), assistiu-se à recuperação de técnicas como pintura
mural202, tapeçaria mural203 ou vitral. Refira-se que o revivalismo do mural (pintado, tecido,
cerâmico) enquanto instrumento discursivo acompanhando a defesa de valores nacionalistas,
considerando a recuperação de uma suposta originalidade criativa, foi transversal a outros
países, nomeadamente Itália, França ou os E.U.A.204. Romy Golan evidenciou a centralidade

os Primitivos Portugueses”, in Primitivos Portugueses, 1450-1500. O Século de Nuno Gonçalves, ed. Ana de
Castro Henriques (Lisboa: MNAA/Athena, 2010), 28-41; Baião, José de Figueiredo, 171-213.
197
Portela, Salazarismo e Artes Plásticas; Acciaiuoli, Os Anos 40 em Portugal.
198
Rosmaninho, A Deriva Nacional da Arte. Portugal, séculos XIX-XXI, 257.
199
Buchloh, “Figures of authority, ciphers of regression”, 60.
200
Cunha, A Nação nas Malhas da sua Identidade, 13, 22.
201
Arlindo Manuel Caldeira, “Poder e memória nacional. Heróis e vilões na mitologia salazarista”, Penélope.
Revista de História e Ciências Sociais 15 (1995): 121-142.
202 Na década de 1930, a vontade de implementar tanto um salão de pintura mural, como uma cadeira de pintura

mural na EBAL, a ser lecionada por Henrique Franco e Sousa Lopes, não foram bem-sucedidas. Cf. Esquível,
Teoria e Crítica de Arte em Portugal (1920-1940), 119-120.
203
A tapeçaria mural, que se converteu num elemento praticamente obrigatório nos gabinetes destacados dos
edifícios públicos, contribuindo como objeto decorativo sem olvidar a transmissão da ideologia dominante, foi
particularmente impulsionada pela Manufatura de Tapeçarias de Portalegre, criada em 1946. A encomenda oficial
de tapeçarias ganhou peso na sequência da exposição de tapeçaria francesa patente no MNAA em 1952 e do
convite a altas figuras, incluindo Salazar, da cena política para visitar uma mostra das tapeçarias portalegrenses.
Elsa Fino, “A arte da tapeçaria / The art of tapestry”, in 50 Anos de Tapeçaria em Portugal. Manufactura de
Tapeçarias de Portalegre (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996).
Note-se que a renovação desta técnica em França foi mitificada no pós-guerra como símbolo da resistência e
assumida como bastião no discurso comunista, e que as primeiras tapeçarias executadas em Portalegre
reproduziram sobretudo cartões de artistas ligados ao MUD – ou seja, é interessante que o Governo tenha admitido
esta técnica, conotada com a oposição, como preferencial para os edifícios oficiais, quiçá na linha da referida
lógica inclusiva.
204
Romy Golan, Modernity and Nostalgia. Art and Politics in France between the wars (New Haven/Londres:
Yale University Press, 1995); Idem, Muralnomad: The Paradox of Wall Painting, Europe 1927-1957 (New
Haven: Yale University Press, 2009); Idem, “Monumental fairytales: mural images during the Ventennio”, in Post
Zang Tumb Tuuum. Art Life Politics Italia, 1918-1945, ed. Germano Celant, 330-335 (Milão: Prada Foundation,

41
da pintura mural como veículo ideológico na Europa entre as décadas de 1920 e 1950, na senda
de um desejo por estabilidade artística e encomendas públicas205. Em Portugal, os murais, nas
suas diversas variantes materiais, teriam expressão amplificada em equipamentos públicos
como, por exemplo, estações dos correios, universidades e tribunais. A decoração artística in
situ, para além da componente de doutrinação e do acoplado valor cultual, aliava-se a desejos
de perenidade, também impressos na arquitetura.
Perante a dissidência e a politização de artistas, particularmente na sequência da II Guerra
Mundial, e o afastamento de António Ferro em 1949 após a transformação do SPN no mais
fiscalizador e coercivo Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo
(SNI)206, a estratégia oficial aparenta ter mantido fórmulas de sucesso comprovado e conformes
aos ditames salazaristas207, sem verdadeira aposta nas novas gerações como ocorrera nas
décadas anteriores. Apesar disso, a necessidade de alinhamento com a nova realidade
geopolítica mundial levou a alguma abertura e promoção da arte portuguesa no estrangeiro208,
bem como à adoção de algum compromisso através da referida lógica inclusiva de integração
de artistas avessos ao regime na decoração de equipamentos públicos. Rui Mário Gonçalves
assinalou a “oscilação de critérios” estéticos que, na década de 1950, levou o SNI tanto a enviar
pinturas naturalistas para a Bienal de S. Paulo, como a incorporar artistas como Fernando
Lanhas, Lima de Freitas, Júlio Pomar ou Vespeira em exposições oficiais 209. A abertura não
significou uma acentuada mudança nos valores estéticos e temas sancionados – patenteada, por
exemplo, na anulação do terceiro concurso para o monumento ao Infante D. Henrique em
Sagres (1954-57) e na construção definitiva do Padrão dos Descobrimentos, em Belém, por
ocasião das comemorações henriquinas (1960) –, permanecendo uma imagem relativamente
afastada das artes plásticas integradas em novos edifícios emblemáticos de intenções
democratizantes que emergiam no palco internacional, como a sede da UNESCO em Paris
(1958, arqs. Bernard Zehrfuss, Marceul Breuer, Pier Luigi Nervi).

2018); Sergio Cortesini, “Depicting National Identities in New Deal America and Fascist Italy: Government
Sponsored Murals”, in Kunst und Propaganda im Streit der Nationen 1930-1945, 36-47.
205
Romy Golan, “From Monument to Muralnomad: The Mural in Modern European Architecture”, in The Built
Surface. Volume 2: Architecture and the pictorial arts from Romanticism to the twenty-first century, ed. Karen
Koehler (Burlington: Ashgate, 2002), 186-208.
206
Ó, Os anos de Ferro, 197-225.
207
Portela, Salazarismo e Artes Plásticas, 111-112.
208
Leonor de Oliveira, “Anos 50: Portuguesismo, modernidade e aspirações à internacionalização. A apresentação
das artes plásticas portuguesas em feiras e exposições internacionais”, in Working Papers: Nacionalidade,
Identidade, Mobilidade: Geopolítica e Exposições de Arte, coord. A.P. Louro (Lisboa: IHA/FCSH/UNL, 2016),
91-108.
209
Rui Mário Gonçalves, “A década de silêncio. 1951-1960”, in Arte Portuguesa nos Anos 50, ed. Fundação
Calouste Gulbenkian/Câmara Municipal de Beja (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian), 87.

42
Refira-se que os artistas não se encontravam organizados profissionalmente de forma
regulamentada, e apesar de se terem manifestado à CML no sentido de fixar verbas para
decoração artística em edifícios – à imagem do que sucedeu em Itália sob Mussolini e nos
E.U.A. sob Roosevelt210, ou da legislação em França na década de 1950211 –, somente em 1969
o Ministro das Obras Públicas, Silva Abranches (1919-2009), despachou, com vista ao
incentivo dos artistas e consequente enriquecimento do património nacional, que nos edifícios
construídos pelo ministério prevendo “um certo nível arquitectónico” e com orçamento
superior a 5.000 contos fossem incluídos “programas de obras de arte” – atitude “de larga
visão” louvada pelo arquiteto diretor da Direção dos Serviços de Monumentos Nacionais
(DSMN), atendendo ao clima de crise em que os artistas plásticos viviam “em face de um
mercado privado desprovido de poder de aquisição, por um lado, e de sensibilidade, por
outro”212. Evidentemente, as propostas estariam sujeitas a escrutínio para “uma correcta
escolha da expressão plástica mais adequada em ordem à desejável valorização estética dos
edifícios dela merecedores”213; no caso da DGEMN, o seu Conselho Consultivo assumiria tal
função.

2. Edifícios públicos para o Governo: função e representação

Do ponto anterior infere-se a apropriação, pelos regimes autoritários emergentes no período


entre guerras mundiais, da arquitetura enquanto meio de comunicação e de representação –
quer se trate de construções de raiz, quer de reutilização e intervenção em preexistências. Na
linha da perspetiva semiótica de Umberto Eco214, entende-se que a arquitetura comunica a
função primária que possibilita, e que simultaneamente assume funções simbólicas, com
significados apreendidos com recurso a códigos interpretativos comuns. O simbolismo – isto
é, as ideias transmitidas através de signos – não é diminuído em peso face à função primária,
uma vez que pode aludir a aspetos como organização social ou convenções. Os edifícios são

210
Cortesini, “Depicting National Identities in New Deal America and Fascist Italy [...]”, 36.
211
Golan, Muralnomad, 185.
212
Ofício do arquiteto diretor da DSMN, 26.11.1969. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1353,
TXT.00447687.
213
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 03.11.1969, p. 2. AHSGME: Pasta ‘Processo 35-1-1-: Motivos
decorativos – Generalidades’ [Direção-Geral das Construções Escolares - Gabinete de Estudos e Planeamento].
214
Umberto Eco, “Function and sign: the semiotics of architecture” [1973], in Rethinking Architecture. A reader
in cultural theory, ed. Neil Leach (Londres/ Nova Iorque: Routledge, 1997).

43
objetos sociais, transmitindo significados sociais de forma literal ou indireta 215 através dos
aspetos formal, funcional e espacial, apreensíveis no caso de o interlocutor dominar o
vocabulário216. Mas, como é percetível pelo ponto anterior, para além da análise formal importa
ter em conta o contexto histórico-social e o impacto dos grupos dominantes e dos projetistas
na conceção arquitetónica217.
David Summers assinalou que representação – algo que é colocado em determinadas condições
em lugar de outra coisa – é sobretudo comunicação, e não tanto expressão de imagens ou
significados privados218. A arquitetura representativa incentivada pelos mencionados regimes
visava, sobretudo, explorar a sua capacidade comunicativa, tendo sido particularmente
valorizada enquanto veículo mediador de práticas de poder – faceta, de resto, transversal a
distintas cronologias e geografias, servindo vários quadrantes políticos. A demonstração das
relações de poder é um dos fatores para atribuição de peso político à arquitetura219. A
construção de edifícios imponentes, como palácios ou sedes governamentais, aliciou os
detentores de poder desde tempos remotos na sua senda por domínio espacial, sendo que tais
edifícios preservam as suas aspirações e a organização política para lá do seu tempo de vida220.
O uso instrumental da arquitetura revela-se, particularmente, ao nível da escala (idealmente,
monumental), dos materiais empregues e pelas relações estabelecidas com a envolvente, bem
como pelas possibilidades de controlo do espaço físico e social, e de imposição de práticas
sociais221. A organização interna espelha relações de poder, hierarquias e estruturas
burocráticas, por exemplo, através da distinção de acessos e circulações entre visitantes
ocasionais, funcionários e chefia, da localização e decoração interna dos gabinetes das figuras
mais elevadas na hierarquia, ou da possibilidade de supervisão dos serviços. A inscrição urbana
e a relação com a envolvente, em articulação com os edifícios existentes ou isolando o
equipamento para distinção, cumpre igualmente função de domínio e de transmissão de
mensagens, particularmente do modo como os governos desejam ser apreendidos222. Enquanto
encomendadores, os Estados autoritários definiram o programa funcional dos edifícios que

215
Seja recorrendo a exemplos, analogias ou alusões. Nelson Goodman, “How Buildings Mean”, Critical Inquiry
11, 4 (1985): 642-653.
216
Thomas Markus, Buildings & Power: Freedom and Control in the Origin of Modern Building Types, 2.ª ed.
(Londres/Nova Iorque: Routledge, 2004), xix, 5.
217
Ibid., 12.
218
David Summers, “Representation”, in Critical Terms for Art History, ed. Robert S. Nelson, Richard Shiff
(Chicago/Londres: The University of Chicago Press, 1996), 14.
219
Martin Warnke, Politische Architektur in Europa vom Mittelalter bis heute - Repräsentation und Gemeinschaft,
(Colónia: Dumont, 1984), 7-18.
220
Findley, Building Change, 2-4.
221
Ibid.; Dovey, Framing Places.
222
Vale, Architecture, Power and National Identity, 9.

44
promoveram e determinaram, mesmo que dissimuladamente, a versão construída e a sua
configuração espacial, controlando os intervenientes e os futuros habitantes. Como referiu
Thomas Markus, os edifícios corporizam sistemas conceptuais devido à capacidade de
organizar pessoas, coisas e ideias no espaço223. Embora mais facilitadas sob regimes políticos
coercivos, as pretensões dos grupos dominantes em definir os usos e monitorizar o
comportamento dos utilizadores nos edifícios são difíceis de alcançar na íntegra. Por outro
lado, a incorporação praticamente invisível de práticas de poder baseadas em hierarquização e
segregação leva à sua normalização rotineira e consequente falta de questionação – o que Pierre
Bourdieu referiu como o “silêncio cúmplice” que permite o sucesso da ideologia dominante224.

Edifícios para funcionamento dos órgãos governativos – no caso do presente estudo, edifícios
parlamentares e ministeriais – são, por excelência, manifestações e suporte do poder do regime
político vigente. Em termos simbólicos, congregam representação política e institucional,
patente no formulário estético e na organização espacial. Estes edifícios são, acima de tudo,
símbolos do Estado, e não meras instalações para os representantes do Governo, contribuindo
para compreender o regime político que os dinamizou225. Apesar das intenções de construção
de novos edifícios para estas funções por parte de regimes como o nacional-socialista e o
fascista, observou-se que uma percentagem considerável destes órgãos se manteve em
funcionamento em edifícios preexistentes. Tal não se deveu somente a razões económicas, mas
também de recuperação e apropriação do simbolismo associado: veja-se o caso da ocupação
do Palazzo Venezia por Mussolini, edifício vinculado ao poder papal e imperial, no qual Il
Duce imprimiu a sua marca, por exemplo através da inclusão de símbolos fascistas no chão de
mosaico do seu gabinete na Sala del Mappamondo226.
Recorde-se a consideração de Roland Barthes, refletindo sobre o franquismo, acerca dos
monumentos (e, extrapolamos, dos edifícios históricos) como instrumentos para a elaboração
de novos mitos, através da apropriação da sua materialidade, imagética e história, constituindo

223
Markus, Buildings & Power, 19.
224
Cit. in Dovey, Framing Places, 19.
225
Vale, Architecture, Power and National Identity, 3.
226
Sylvia Diebner, “Romanità fascista im Palazzo Venezia in Rom. Inszenierung der macht im arbeits- und
repräsentationssaal von Mussolini”, Rivista dell'Istituto Nazionale d'Archeologia e Storia dell'Arte 39, 71 (2016):
323-406; The History of Palazzo Venezia in Nine Acts, acessível em: https://vive.beniculturali.it/en/palazzo-
venezia/history (acesso a 23.02.2022).
A sala foi reproduzida na primeira página da edição de 08.01.1935 do jornal O Século, ilustrando uma notícia
acerca da assinatura de acordos franco-italianos.

45
o “essencial do país” enquadrado por uma população idealizada aí posta em cena 227. A
reutilização – ou utilização continuada, no caso da manutenção de funções idênticas às
imediatamente anteriores – de preexistências pode ser encarada como uma forma de
instrumentalização da arquitetura do poder herdada, legitimando o regime que dela se apropria.
O discurso identitário de ancoragem no passado que definiu regimes como o Estado Novo
reveste-se, simultaneamente, de uma faceta de sobreposição e de suplantação dessa herança,
que está patente na atitude de ocupação e adaptação de edifícios destacados para fins
governamentais. A intervenção sobre edifícios, implicando reordenamento, confere uma nova
e distinta camada, embora, em muitos casos, não implique um corte na permanência das formas
e do espaço. Novos significados são geralmente gerados pela alteração funcional, que promove
novas práticas e relações sociais, que, não obstante, se podem alicerçar na preexistência como
reforço do presente. Porém, mesmo que as funções sejam idênticas às anteriores, como no caso
dos edifícios que constituem o cerne deste estudo, a nova organização política e a modificação
dos espaços associa-se, igualmente, a significados novos e identificados com esse momento.
A arquitetura sustenta a noção de que a identidade tanto pode constituir um recurso de poder
(isto é, contribuir para a criação de poder), como um instrumento ao serviço do poder
dominante228. Nos contextos ditatoriais, o planeamento e a decisão são circunscritos a um leque
restrito de atores, sem intervenção de determinadas camadas da sociedade. O desejo que a
arquitetura espelhe uma identidade nacional, tida como autêntica e representativa da totalidade
da população, não passa, realmente, da intenção229, dado que essa pretensa identidade nacional
é maioritariamente forjada e imposta.
Aponte-se, ainda, o caráter de ponto de referência que determinados edifícios, nomeadamente
os de escala monumental, assumem na imagem da cidade e na perceção por parte dos seus
habitantes, conforme explorou Kevin Lynch230. Este potencial enquanto ‘dispositivos de
identificação’, seguindo a definição de Aldo Van Eyck231, acrescido de valores históricos e
patrimoniais, terá peso na atitude de utilização continuada de determinados edifícios para fins
associados ao governo central. Assim, a par da construção de raiz, o restauro arquitetónico

227
Roland Barthes, Mitologias (Lisboa: Edições 70, 2020), 185. (Referência apontada por Cuetos, “Heritage and
Ideology [...]”, 83).
228
Denis Sindic, Manuela Barreto, Rui Costa-Lopes, “Power and Identity. The multiple facets of a complex
relationship”, in Power and Identity, ed. Denis Sindic, Manuela Barreto, Rui Costa-Lopes (Londres/Nova Iorque:
Psychology Press Taylor Francis Group, 2015), 1-12.
229
Vale, Architecture, Power and National Identity, 48.
230
Kevin Lynch, The Image of the City (Cambridge: MIT Press, 1960).
231
Cit. in João Paulo Martins, “Uma cidade deve ser como uma casa grande para ser uma verdadeira cidade”, in
Arquitectura de Serviços Públicos em Portugal: Os Internatos na Justiça de Menores (1871-1978), ed. Direcção-
Geral de Reinserção Social (Lisboa: IHRU, 2009), 29.

46
também se assume como manifestação de poder e de organização social. Em adição, este tipo
de intervenção também pode ser compreendido como produção de património para a
posteridade, mesmo que, por vezes, se torne difícil discernir esse grau de intervenção na
atualidade, o que também pode ser motivado pela convivência habituada e inquestionada.
Os parlamentos, entendidos por Charles Goodsell como palcos para a performance de rituais
políticos232, refletem a organização governamental. Para o autor, estes edifícios preservam
valores do passado, articulam atitudes do presente, e podem, eventualmente, influir na cultura
política futura. Estas características poderão, a par do pragmatismo económico, ter contribuído
para a sua manutenção nos regimes ditatoriais de que nos ocupámos, mesmo que o papel dessas
instituições tenha sido diminuído, mantidas como fachada. Por outro lado, um conjunto
considerável de parlamentos erigidos no século XIX, de cariz neoclássico, incorporam valores
como solidez, imponência e dignidade, que esses governos desejavam sublinhar e acomodar,
expressados através de elementos como pórticos suportados por colunata e encimados por
frontões, que simbolicamente justificariam a ligação ao passado e a permanência no futuro. No
que respeita aos ministérios, serviços burocráticos que se pretendiam eficientes, dignos e
simultaneamente representativos da ordem política, os ímpetos construtivos ganharam peso,
embora não fosse erradicada a ocupação e eventual adaptação de edifícios já anteriormente
servindo tais funções, e que, por seu turno, já haviam alterado o seu uso residencial original.
Veremos como, durante o Estado Novo, coexistiram projetos de adaptação, com distintos níveis
de intervenção e de apropriação espacial, e planos para novos equipamentos destinados a
albergar, na capital, estes órgãos do Governo intimamente ligados ao poder central, e de que
forma se materializaram novas narrativas apoiando a ideologia oficial, recorrendo a tais
mecanismos.

232
Goodsell, “The Architecture of Parliaments [...]”.

47
48
Capítulo II
As sedes dos órgãos de poder

“Destaca-se a Assembleia Nacional, salutar pelo novo ambiente, causado


pela profunda remodelação que lhe foi feita, tendo-se introduzido nos seus
interiores motivos e verdadeiras obras de arte.
[...]
As finanças, base de toda a reconstituição nacional, não poderiam ser
esquecidas; e as suas instalações, dentro da obra monumental de Pombal,
junto do Terreiro do Paço, constitui um exemplo vivo da centralização dos
serviços, a par de uma obra de engenharia de grande envergadura e de
óptimas soluções arquitectónicas.”233

233
Henrique Gomes da Silva, “Edifícios e Monumentos Nacionais”, in Quinze Anos de Obras Públicas. 1932–
1947, vol. I – Livro de Ouro, ed. Comissão Executiva da Exposição de Obras Públicas (Lisboa: Imprensa
Nacional, 1948), 53-54.

49
50
1. A organização do poder político no Estado Novo

O percurso de António de Oliveira Salazar (1889-1970) desde a primeira nomeação como


Ministro das Finanças, em 1926, permitiu que firmasse a sua imprescindibilidade na esfera
política, lançando as bases de um Estado centralizado, no qual a regulamentação da vida
económica assumiu um papel fundamental. Valores nacionalistas e uma organização
corporativa sustentariam a concentração de poderes para estabelecimento de um Estado forte e
antidemocrático, que se pretendia autoritário e intervencionista, implicando a eliminação do
parlamentarismo e do partidarismo. Salazar conduziu, segundo o seu sucessor Marcelo Caetano
(1906-1980), um “presidencialismo de primeiro-ministro”234, e a Constituição funcionou como
um instrumento para conservação do seu poder. Outros fatores têm sido apontados para a longa
duração do seu posto, nomeadamente o apoio nas Forças Armadas e na Igreja Católica, a
organização corporativa, o exercício de violência preventiva e punitiva e a inculcação
ideológica235, bem como o esforço diplomático exercido para manutenção do estatuto de
neutralidade durante a II Guerra Mundial e as concessões militares a Inglaterra e aos E.U.A, e
o posterior posicionamento internacional de Portugal no contexto da Guerra Fria236.
Não sendo objetivo deste estudo caracterizar a natureza do regime, importa assinalar a falta de
consenso interpretativo sobre este assunto entre os investigadores237. A definição do Estado
Novo como um regime fascista de tendências totalitárias238 – mesmo que um “fascismo à
portuguesa”239 –, suportado por mecanismos de controlo e repressão como a polícia política e
a censura e pela conformação por meio de organismos de inculcação ideológica e de
propaganda, recorrendo a um “partido monopolista”240 e a um sistema corporativo, contrasta
com a classificação como regime autoritário conservador241, intervencionista e apoiado na

234
Marcelo Caetano. Constituições Portuguesas, 7.ª ed. (Lisboa: Verbo, 1994), 116.
235
Fernando Rosas, Salazar e o Poder. A Arte de Saber Durar (Lisboa: Tinta-da-China, 2013), 185-352.
236
Goffredo Adinolfi, António Costa Pinto, “Salazar’s ‘New State’: The Paradoxes of Hybridization in the Fascist
Era”, in Rethinking Fascism and Dictatorship in Europe, ed. António Costa Pinto, Aristotle Kallis (Hampshire:
Palgrave Macmillan, 2014), 170.
237
Luís Reis Torgal, Estados Novos, Estado Novo. Ensaios de História Política e Cultural, vol. 1 (Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009), 54.
238
João Paulo Avelãs Nunes, “Tipologías de Regimes Políticos: para uma Leitura Neomoderna do Estado Novo
e do Nuevo Estado”, Revista Portuguesa de História 34 (2000): 319; Fernando Rosas, “O Salazarismo e o Homem
Novo: Ensaio sobre o Estado Novo e a Questão do Totalitarismo”, Análise Social XXXV, 157 (2001): 1031-1054;
Manuel Loff, O Nosso Século é Fascista! O Mundo Visto por Salazar e Franco (1936-1945) (Porto: Campo das
Letras, 2008); Torgal, Estados Novos, Estado Novo, 284-289.
239
Torgal, Estados Novos, Estado Novo, 364.
240
Ibid., 284.
241
Manuel Braga da Cruz, “Notas para uma Caracterização Política do Salazarismo”, Análise Social, XVIII, 72-
73-74 (1982): 773-794; Idem, O Partido e o Estado no Salazarismo (Lisboa: Editorial Presença, 1988); António
Costa Pinto, O Salazarismo e o Fascismo Europeu. Problemas de Interpretação nas Ciências Sociais (Lisboa:

51
burocracia administrativa, também categorizado como “pseudofascismo”242 ou “para-
fascista”243, assim entendido por, embora adotando elementos dos regimes fascistas244, não ter
emergido da tomada de poder por um partido único mobilizador de massas ou do ímpeto
revolucionário totalitarista de criar uma nova sociedade abolindo as hierarquias existentes. As
caracterizações desenvolvidas pelos salazaristas sustentaram, essencialmente, que se tratava de
um regime distinto do fascismo245. Aliás, como sublinhou Luís Reis Torgal, o próprio Salazar
encarregou-se de explicitar, em discursos e quando entrevistado por António Ferro, para além
de certas afinidades, a suposta originalidade do sistema político português face ao fascismo
italiano, enfatizando também a oposição ao totalitarismo, assim legando material para debate
à posteridade246.

Fig. 1. Pormenor do baixo-relevo de Henrique Bettencourt, exposto no Pavilhão de Portugal na Exposição


Internacional de Paris. 1937.

Editorial Estampa, 1992), 95-96, 114-134; António Costa Pinto, The Nature of Fascism Revisited (Nova Iorque:
Columbia University Press, 2012), 21.
242
João Medina, Salazar, Hitler e Franco. Estudos sobre Salazar e a Ditadura (Lisboa: Livros Horizonte, 2000),
42.
243
Roger Griffin, The Nature of Fascism (Londres: Routledge, 1993), 120-124.
244
Aristotle Kallis define esta apropriação como fascistização do governo autoritário, considerando que o caso
português recorreu a uma fascistização preventiva. Aristotle Kallis, “‘Fascism’, ‘Para-fascism’ and
‘Fascistization’: On the Similarities of Three Conceptual Categories”, European History Quarterly 33, 2 (2003):
219-249.
245
Medina, Salazar, Hitler e Franco, 105-126; Torgal, Estados Novos, Estado Novo, 59-62.
246
Torgal, Estados Novos, Estado Novo, 56-59, 256-261.

52
O baixo-relevo de Henrique Bettencourt (1905-1962), exposto na Sala do Estado do pavilhão
português da Exposição Internacional de Paris de 1937, sintetizou a organização política do
Estado Novo, recorrendo, segundo Margarida Acciaiuoli, a uma construção minuciosa e
iconograficamente inovadora247, através de alegorias e figuras estilizadas e elementos
identificativos. No topo, há alusão ao chefe apenas através de legenda, como se de uma
divindade incorpórea e omnipresente se tratasse, sob o qual se posicionavam hierarquicamente
os órgãos de soberania – Assembleia Nacional, Governo ao centro, e Tribunais – e, no registo
imediatamente abaixo, figurava a Câmara Corporativa, representante dos interesses
administrativos, económicos, culturais e morais. A riqueza gerada pelo trabalho, de harmonia
com o capital, sobrepunha-se ao registo retratando o núcleo basilar do regime e cerne das
freguesias, a família.
A formulação da Constituição de 1933, cuja preparação fora coordenada por Salazar enquanto
ministro das Finanças248, revestiu-se, na sua versão final, de um carácter de compromisso,
prevendo Salazar que viria a ser ajustada posteriormente. A soberania residia na Nação, o que
espelhava a conceção supra-individual do regime, uma vez que esta não era entendida como o
somatório dos indivíduos que compunham a população, mas como uma entidade social abstrata
que os precedia e que formava um todo com o Estado249. A Constituição estabeleceu como
órgãos de soberania o Chefe do Estado – o Presidente da República –, a Assembleia Nacional,
o Governo e os Tribunais250. Foi eliminada a referência explícita à divisão tripartida de poderes
– Legislativo, Executivo, Judicial –, que haviam sido considerados como órgãos da soberania
nacional no anteprojeto base do texto constitucional251. Refira-se que as posteriores revisões
constitucionais, num total de oito252, incidiram sobre as competências dos órgãos de soberania
e sobre a organização e o funcionamento dos poderes, assuntos dominantes nos projetos de lei
previamente discutidos253. Conforme focou José Castilho, apesar do carácter autoritário, o
regime do Estado Novo “assumiu as instituições típicas de um estado de direito”254. O novo

247
Acciaiuoli, Exposições do Estado Novo 1934-1940, 56-57.
248
Nuno Estêvão Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência
(Tese de Doutoramento, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, 2009), 13-17.
249
José Manuel Tavares Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974) (Tese de Doutoramento, Instituto Superior
de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2007), 105.
250
Decreto n.º 22241, Diário do Governo, I série, n.º 43, 22.02.1933, art.º 71.º.
251
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo, 18.
252
Lei n.º 1885, 23.03.1935; Lei n.º 1945, 21.12.1936; Lei n.º 1963, 18.12.1937; Lei n.º 1966, 23.04.1938; Lei n.º
2009, 17.09.1945; Lei n.º 2048, 11.06.1951; Lei n.º 2100, 29.08.1959; Lei n.º 3/71, 16.08.1971.
253
Paula Borges Santos, “Outros pulsares do Estado autoritário em Portugal: argumentando e negociando nas
revisões constitucionais, 1935-1971”, Ler História 75 (2019): 41-63.
254
José Manuel Tavares Castilho, “A Assembleia Nacional, 1934-1974: Esboço de caracterização”, Penélope 24
(2001): 65.

53
sistema político entrou em funcionamento em 1935, decorrendo a primeira reunião da
Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa a 10 de janeiro desse ano, no Palácio de São
Bento.

O Presidente da República, representante máximo da Nação que se sobrepunha ao Governo e


à Assembleia Nacional, era eleito por um período de sete anos, com possibilidade de reeleição.
Competia-lhe dirigir a política externa do Estado e intervir sobre a ação do Executivo, por deter
a prerrogativa de promulgar leis, decretos e regulamentações propostos, respetivamente, pela
Assembleia Nacional e pelo Governo. Junto do Presidente da República funcionava o Conselho
de Estado255, um órgão de apoio cujos membros eram nomeados a título vitalício, composto
pelo Presidente do Conselho de Ministros, pelos presidentes da Assembleia Nacional, da
Câmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, e pelo Procurador-Geral da República.
A breve trecho, assistiu-se a uma diminuição das funções do Presidente da República, que
passou a assumir uma postura sobretudo representativa. A manutenção do “presidencialismo”
(ou “ditadura pessoal”256) de Salazar dependeu das relações que estabeleceu com o Presidente
da República, responsável pela nomeação e demissão do Presidente do Conselho, que, por sua
vez, sugeria os Ministros e restantes membros do Governo, também indigitados pelo Chefe de
Estado. Desde a tomada de poder de Salazar até ao ocaso do regime, o país teve três Presidentes
da República, todos militares: Óscar Carmona (1869-1951), Craveiro Lopes (1894-1964) e
Américo Tomás (1894-1987). Carmona, que ocupava o cargo desde 1926, foi um aliado na
implementação do novo regime e manteve Salazar no poder após tentativas de afastamento,
apesar das tensões entre ambos sobretudo no tocante às forças armadas, e particularmente após
1945257. Apesar de Craveiro Lopes ter parecido a Salazar o candidato ideal para suceder a
Carmona após a morte deste, pelo seu perfil exímio aos níveis militar e administrativo,
enquanto Presidente da República evidenciou não aceitar uma subalternização face ao
Presidente do Conselho258. Não vendo as suas exigências cumpridas, aproximou-se

255
Segundo Lawrence S. Graham, houve uma ativação do Conselho de Estado enquanto mecanismo de decisão
coletiva com a assunção da presidência do Conselho de Ministros por Marcelo Caetano, que não concentrou o
poder decisório como o fez Salazar, dando lugar a um pluralismo limitado. Lawrence S. Graham, “Administração
pública central e local: continuidade e mudança”, Análise Social XXI, 87-88-89 (1985): 909.
256
Cruz, O Partido e o Estado no Salazarismo, 102.
257
José Ribeiro Costa, “CARMONA, António Óscar de Fragoso”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol.
I, dir. Fernando Rosas, José Maria Brandão de Brito (Venda Nova: Bertrand Editora, 1996), 123-125; Nuno
Estêvão Ferreira, Rita Almeida de Carvalho, António Costa Pinto, “The ‘empire of the professor’: Salazar’s
ministerial elite, 1932-44”, in Ruling Elites and Decision-making in Fascist-era Dictatorships, ed. António Costa
Pinto (Nova Iorque: Boulder, 2009), 121.
258
Maria Conceição Ribeiro, “LOPES, Francisco Higino Craveiro”, in Dicionário de História do Estado Novo,
vol. I, dir. Fernando Rosas, José Maria Brandão de Brito (Venda Nova: Bertrand Editora, 1996), 524-525.

54
gradualmente do marcelismo, o que levou Salazar a acautelar-se e preferir Américo Tomás
aquando das últimas eleições presidenciais do Estado Novo por sufrágio direto, em 1958.
Nessas eleições, atestaram-se o grau de controlo e a influência exercida pelo Presidente do
Conselho, nos episódios que levaram ao afastamento do candidato apoiado pelas fações da
oposição, Humberto Delgado (1906-1965), através da alteração da lei eleitoral. O último
Presidente da República do regime revelou a sua lealdade para com Salazar ao combater uma
tentativa de afastamento do Presidente do Conselho em 1961. Américo Tomás sancionou a
substituição de Salazar por Marcelo Caetano, embora suspeitasse dos seus planos,
deteriorando-se as relações entre ambos progressivamente259.

A Assembleia Nacional possuía competências legislativas e de fiscalização dos atos do


Governo, nomeadamente na área financeira. Cabiam-lhe, entre outros aspetos, a organização
da defesa nacional e dos tribunais, a criação e supressão de serviços públicos e a criação de
bancos260. A câmara era composta por deputados selecionados das listas da União Nacional,
preparadas com empenho pessoal de Salazar261, presidente vitalício da Comissão Central da
organização, por forma a incluir figuras próximas e da sua confiança, particularmente durante
as primeiras legislaturas. Não obstante algumas situações pontuais de desvio à ordem política
estabelecida, a Assembleia Nacional foi, sobretudo, um instrumento e “uma câmara de eco do
regime”262, possuindo um “núcleo duro de deputados cooptados entre os mais fiéis seguidores
do Regime”263, que visava assegurar o controlo da câmara por Salazar. Na realidade, o
Presidente do Conselho supervisionou de forma constante a atividade da assembleia, intervindo
através de mecanismos informais, como, por exemplo, o controlo de votações através da figura
do orientador, para que não se contrariasse a sua vontade quanto aos assuntos em discussão264.
Inicialmente composta por 90 deputados com mandato de quatro anos, a dimensão da
Assembleia Nacional variou ao longo do tempo, chegando aos 150 elementos em 1973-74265.
Para além da afetação de todos os deputados à União Nacional, refira-se que a maioria possuía
profundas ligações ao regime, através de vínculos às organizações políticas, à organização

259
João Bonifácio Serra, “TOMÁS, Américo Deus Rodrigues”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol.
II, dir. Fernando Rosas, José Maria Brandão de Brito (Venda Nova: Bertrand Editora, 1996), 976-977.
260
Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974), 125.
261
Ibid., 232-233, 247; Rita Almeida de Carvalho, “A Elite Parlamentar no Pós-Guerra (1945-1949)”, Penélope
24 (2001): 7-30.
262
Castilho, “A Assembleia Nacional, 1934-1974: Esboço de caracterização”, 65.
263
Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974), 244.
264
Paula Borges Santos, “A organização parlamentar no salazarismo no período entre guerras”, Faces de Clio.
Revista discente do programa de pós-graduação em História – UFJF 1, 2 (2015): 15.
265
Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974), 141.

55
corporativa ou aos diferentes sectores da administração pública, integrando uma rede com
elevada dependência do poder central. Rita Almeida de Carvalho acrescenta que as “relações
entre dirigentes do Estado Novo parecem assentar também em laços e cumplicidades de
natureza pessoal”266. No período marcelista, salienta-se a emergência de um novo agrupamento
oposicionista identificado como Ala Liberal, que visava uma gradual transformação para um
regime democrático267.
A Assembleia Nacional era dirigida pela Mesa e composta pelo Presidente, três Vice-
presidentes e dois secretários268. As sessões decorriam na Sala das Sessões do Palácio de São
Bento, com formato em hemiciclo. Durante a vigência do Estado Novo, quatro figuras
exerceram o cargo de presidente, ocupando um gabinete particular no edifício: José Alberto
dos Reis (1935-46), Albino Soares Pinto dos Reis Junior (1945-61), Mário de Figueiredo
(1961-69) e Carlos do Amaral Neto (1969-73). Revelou-se que os presidentes não detinham
real autonomia face ao Presidente do Conselho no exercício do cargo. A Assembleia Nacional
funcionava por sessões plenárias públicas, com duração de três meses, organizando-se em
comissões permanentes e podendo, pontualmente, constituir comissões eventuais. Na prática,
a Assembleia Nacional foi subjugada ao poder executivo e possuía poderes legislativos
restritos269: a revisão constitucional de 1945, por exemplo, embora posteriormente
reformulada, equiparou o poder de iniciativa legislativa do Governo ao da câmara 270. Salazar
veio a afirmar o seu papel como fiscalizador e auxiliar do Governo271. Com as revisões
constitucionais da década de 1950 e de 1971, a competência legislativa da Assembleia Nacional
foi reforçada, adquirindo possibilidade de maior interpelação com o Governo272.

A Câmara Corporativa funcionava junto da Assembleia Nacional, integrando “representantes


de autarquias locais e dos interesses sociais [...] de ordem administrativa, moral, cultural e
económica”273. Como notou Marcelo Caetano, o Estado corporativo não ultrapassou o estádio
das intenções: os organismos primários, como grémios e casas do povo, foram, principalmente,

266
Carvalho, “A Elite Parlamentar no Pós-Guerra (1945-1949)”, 27.
267
Tiago Fernandes, “A Ala Liberal da Assembleia Nacional (1969-1973). Um Perfil Sociológico”, Penélope 24
(2001): 35-64.
268
Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974), 146.
269
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência, 72.
270
Lei n.º 2009, Diário do Governo, I série, n.º 208, 17.09.1945, art.º 97.º.
271
Santos, “A organização parlamentar no salazarismo no período entre guerras”, 9.
272
Ibid., 8.
273
Decreto n.º 22241, art.º 102.º.

56
transmissores dos desígnios do Governo274, e as corporações, apenas instituídas a partir de
1956, não teriam as vastas funções e a autonomia idealizadas pelos teóricos275. A Câmara
Corporativa não constituía um dos órgãos de soberania nacional, dado ser subalterna à
Assembleia Nacional, possuindo funções estritamente consultivas. Estava incumbida de dar
pareceres sem carácter vinculativo sobre as propostas de projetos de lei da Assembleia
Nacional e de diplomas do Governo, através de comissões especializadas que reuniam em
privado, apesar de também se realizarem sessões plenárias. Como esclarecem José Luís
Cardoso e Nuno Estevão Ferreira, alguns pareceres revelam elevados graus de experiência
técnica e de profissionalismo por parte dos procuradores276. A Câmara Corporativa funcionava
por secções especializadas, desdobradas em subsecções desde 1951 – existiam 24 em 1935 e
52 em 1974277 –, acompanhando o período de três meses estipulado para funcionamento das
sessões legislativas.
A determinação da orgânica da Câmara Corporativa foi, igualmente, supervisionada pelo
Presidente do Conselho278 – que, de resto, também escrutinou pareceres e determinou a agenda
da câmara279. Num total de 1047 membros em funções nesta câmara durante o Estado Novo,
Nuno Estêvão Ferreira identificou 197 procuradores, sete presidentes e 183 relatores 280. A
organização e composição das secções teve intervenção do Conselho Corporativo, um restrito
grupo composto pelo Presidente do Conselho e pelos ministros da Justiça, Obras Públicas e
Comunicações, Comércio e Indústria, e Agricultura, pelo subsecretário de Estado das
Corporações e Previdência Social e por dois professores de Direito Corporativo, desaparecendo
estes últimos na reformulação de 1955281. Um número significativo de procuradores era
nomeado através do Conselho Corporativo, segundo critérios de confiança técnica e política.
Outros métodos de designação correspondiam a eleição e a designação por parte de entidades
ou organismos corporativos, incluindo casos como a inerência por ocupação de determinados
cargos282. O presidente da câmara, designado pelo Conselho Corporativo ou diretamente por
Salazar, era responsável pela distribuição das propostas legislativas pelas secções e

274
José Luís Cardoso, Nuno Estêvão Ferreira, “A Câmara Corporativa (1935-1974) e as políticas públicas do
Estado Novo”, Ler História 64 (2013): 31-54.
275
Dulce Freire, Nuno Estêvão Ferreira, “Construção do sistema corporativo em Portugal”, in Organizar o País
de Alto a Baixo. Políticas de Edificação Corporativa no Estado Novo Português, coord. Fátima Moura Ferreira,
Francisco Azevedo Mendes, Joge Mano Torres (Coimbra: Edições Tenacitas, 2016), 38, 40.
276
Cardoso, Ferreira, “A Câmara Corporativa (1935-1974) e as políticas públicas do Estado Novo”.
277
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência, 85.
278
Ibid., 92-93.
279
Santos, “A organização parlamentar no salazarismo no período entre guerras”, 16-17.
280
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência, 323.
281
Ibid., 83-84.
282
Ibid., 124-126.

57
acompanhava os trabalhos prévios à redação dos pareceres. Os presidentes das secções,
nomeados por afinidade política, garantiam o controlo centralizado das atividades283 e a
conformação aos intentos do Governo. Os relatores dos pareceres detinham, igualmente,
elevada ligação direta ao regime284. A aprovação de pareceres ocorria em composições
circunscritas.

O Governo era composto pelo Presidente do Conselho e pelos Ministros285, bem como pelos
Secretários e Subsecretários de Estado286. Ao primeiro incumbia primeiro coordenar e dirigir a
atividade dos segundos. A nomeação e demissão de ambos competia ao Presidente da
República287. Na prática, Salazar concentrou nas suas mãos a seleção dos membros do
Governo, apresentando propostas ao Chefe de Estado. Conforme assinalou Maria Alcina dos
Santos, os colaborantes pupilos de Salazar “da Faculdade de Direito passaram por grande parte
do elenco governamental do Estado Novo, transitando de umas para outras pastas, como se
fossem cariátides do regime”288. Ademais, particularmente no período até 1945, o Presidente
do Conselho centralizou o processo de decisão política, acumulando pastas em momentos
decisivos289 e superando a autoridade formal do Conselho de Ministros290. António Costa Pinto
caracterizou Salazar como ditador forte no que respeita ao exercício do poder, isto é,
considerando o “grau e extensão da decisão política e governamental” 291 em que intervinha.
Apoiou-se num círculo restrito de conselheiros, que, tendo variado ao longo do tempo, integrou
em permanência figuras que lhe eram próximas, como Bissaya Barreto, Mário de Figueiredo,
Manuel Rodrigues, Albino dos Reis, José Alberto dos Reis, José Nosolini e Mário Pais de
Sousa. O grupo integrava os presidentes da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, os
Ministros da Presidência e do Interior, o presidente da Comissão Executiva da União Nacional
e o líder da Assembleia. Este conselho coadjuvou nos processos de consulta de nomes que
antecederam as remodelações ministeriais; embora com menor peso, também teve influência

283
Castilho, A Assembleia Nacional (1934-1974), 153.
284
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência, 415.
285
Decreto n.º 22241, art.º 106.º.
286
As Secretarias de Estado foram somente criadas com a revisão constitucional de 1959. Lei n.º 2100, art.º 23.º.
287
Decreto-Lei n.º 22466, Diário do Governo, I série, n.º 83, 11.04.1933, art.º 2.º.
288
Maria Alcina dos Santos, Elites Salazaristas Transmontanas no Estado Novo: o caso de Artur Águedo de
Oliveira (1894-1978) (Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, 2011), 178.
289
Salazar dirigiu as seguintes pastas, algumas na qualidade de ministro interino: Finanças (1928-40), Colónias
(1930), Negócios Estrangeiros (1936-47), Guerra/Exército (1936-44), Defesa Nacional (1961-62).
290
António Costa Pinto, “O Império do Professor: Salazar e a Elite Ministerial do Estado Novo (1933-1945)”,
Análise Social XXXV, 157 (2000): 1058-1059.
291
Ibid.: 1056.

58
na seleção de candidatos à Assembleia Nacional292. Refira-se que, na escolha de representantes
das pastas militares, houve influências de Óscar Carmona293.
Salazar manteve-se distante dos seus ministros, supervisionando minuciosamente todas as
deliberações legislativas e acedendo a informações que ultrapassavam a esfera ministerial 294,
assim reduzindo o poder de atuação dos governantes, apesar das suas comprovadas
competências. Porém, alguns ministros, como Manuel Rodrigues Júnior (1889-1946) e Duarte
Pacheco, que ocuparam, respetivamente, as pastas da Justiça (1932-40) e das Obras Públicas e
Comunicações (1932-43), detiveram um maior grau de autonomia decisória, presumivelmente
decorrente da confiança pessoal e técnica que Salazar neles depositava295. No cômputo geral,
Salazar considerava os ministros não como elementos do Governo, mas como um grupo de
especialistas disponíveis para consulta do Presidente do Conselho296. Em adição, mencione-se
que todos os Ministérios se subordinavam à deliberação do Ministério das Finanças,
responsável pelo controlo das despesas. Por seu turno, Marcelo Caetano terá estado mais
dependente dos seus ministros, revelando-se as nomeações ministeriais “um indicador da
hierarquia de autoridade que procurou instituir”297.

Ao contrário de outras ditaduras europeias emergente no período de entre guerras, o partido


único português não funcionou como aparelho político paralelo298. O controlo político em
Portugal apoiou-se, sobretudo, na centralização administrativa, na polícia política, na censura
e na organização corporativa299, ficando as organizações como a Mocidade Portuguesa ou a
Legião Portuguesa, e também a PVDE/PIDE/DGS, sob responsabilidade ministerial300. A
criação da Presidência do Conselho de Ministros ocorreu em 1938, visando conferir apoio
direto a Salazar na coordenação do Governo. No entanto, um ministro para a pasta apenas foi
indigitado após 12 anos, e o estatuto do cargo foi sendo gradualmente diminuído301.

292
Ibid.: 1068.
293
Ferreira, Carvalho, Pinto, “The ‘empire of the professor’ [...]”: 132-133.
294
Ibid.: 121-122.
295
Ibid. 122-123.
296
Raimundo, Ferreira, Carvalho, “Political decision-making in the Portuguese New State (1933-39) [...]”: 90.
297
Graham, “Administração pública central e local: continuidade e mudança”, 910.
298
António Costa Pinto procedeu a uma comparação das relações entre ditador e elites governamentais entre o
caso português e os casos espanhol, italiano e alemão. Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999 [...]”: 1069-1076.
299
Pedro Tavares de Almeida, António Costa Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999: Social Background and
Paths to Power”, South European Society and Politics 7, 2 (2002): 12.
300
Ferreira, Carvalho, Pinto, “The ‘empire of the professor’ [...]”: 124.
301
Almeida, Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999 [...]”: 13.

59
A reunião do Conselho de Ministros ocorreria sempre que o Presidente do Conselho ou o Chefe
de Estado a julgassem indispensável302. Salazar diminuiu a ocorrência das reuniões deste
organismo, substituindo-as por encontros individuais com os ministros303 ou por reuniões com
pequenos grupos de ministros para discussão de assuntos concretos304. Atentando em dados
recolhidos por Filipa Alves Raimundo, Nuno Estêvão Ferreira e Rita Almeida de Carvalho, no
período 1933-39, o conselho foi convocado 94 vezes, e as reuniões não ocorreram de forma
sistemática305. O Conselho de Ministros assemelhava-se a um comité com carácter suplementar
para resolução de assuntos prementes, procurando Salazar diminuir o seu poder decisório. A
única referência ao Conselho de Ministros na Constituição de 1933 consiste, de facto, na sua
competência de nomeação dos governadores das colónias306.
Competia ao Governo, segundo a Constituição, referendar os atos do Presidente da República,
elaborar decretos-leis no uso de autorizações legislativas ou casos urgentes, elaborar decretos,
regulamentos e instruções para correta execução das leis, e superintender o conjunto da
administração pública307. Para Salazar, residia no Governo “o grande centro propulsor da vida
do Estado”308. A revisão constitucional de 1945 converteu o Governo em órgão legislativo
regular, concretizando as aspirações do Presidente do Conselho, que cedo defendera que a
função legislativa deveria ser competência do Governo309. Conforme expôs Pedro Coutinho
Magalhães, uma vez que

“o parlamento [...] assumia uma mera função de rubber-stamp, o Executivo assumiu a


tarefa de produção de uma miríade de decretos e outros instrumentos reguladores, que
astuciosamente tomavam partido de uma disposição constitucional para anular os
princípios constitucionais gerais, justificando essa acção pela natureza «provisória» e
«especial» desses diplomas”310.

Em 1933, integravam o Governo as seguintes pastas ministeriais: Interior, Justiça, Finanças,


Guerra, Marinha, Negócios Estrangeiros, Obras Públicas e Comunicações, Colónias, Instrução

302
Decreto n.º 22241, art.º 110.º.
303
Almeida, Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999 [...]”: 12-13; Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999 [...]”:
1059.
304
Raimundo, Ferreira, Carvalho, “Political decision-making in the Portuguese New State (1933-39) [...]”: 95-96.
305
Ibid., 90-91.
306
Decreto n.º 22241, art.º 108.º, § 4.º.
307
Decreto n.º 22241, art.º 108.º.
308
António de Oliveira Salazar, “A Constituição das Câmaras na Evolução da Política Portuguesa” (09.12.1934),
Discursos e Notas Políticas. 1928 a 1966 (Coimbra: Coimbra Editora, 2015), 182.
309
Ferreira, A Câmara Corporativa no Estado Novo: Composição, Funcionamento e Influência, 66.
310
Pedro Coutinho Magalhães, “Democratização e Independência Judicial em Portugal”, Análise Social XXX,
130 (1995): 54.

60
Pública – convertido em Educação Nacional em 1936311 –, Comércio e Indústria, e Agricultura
– os dois últimos separados poucos meses após a publicação da Constituição. Assinalam-se
algumas alterações ao longo do tempo. Os Ministérios do Comércio e Indústria e da Agricultura
são fundidos em 1940 sob a designação de Economia312, que pouco antes da queda do regime
se desdobrou nos Ministérios da Agricultura e Comércio e da Indústria e Energia313. Nessa
remodelação de 1974, é acrescentado o epíteto de Coordenação Económica ao Ministério das
Finanças. Em 1946, o Ministério das Obras Públicas e Comunicações é dividido por duas
pastas314. Volvidos quatro anos, Guerra passa a Exército, e são implementados o Ministério das
Corporações e Previdência Social (em substituição do Subsecretariado de Estado instituído em
1933) e, diretamente sob a Presidência do Conselho, os cargos de Ministro da Presidência315 e
da Defesa Nacional316. As alterações constitucionais de 1951 implicam a renomeação do
Ministério das Colónias como Ministério do Ultramar317. A pasta da Saúde e Assistência surge
em 1958318, transformada em Ministério da Saúde em 1973, num momento em que o Ministério
das Corporações e Previdência Social é reformulado como Corporações e Segurança Social319.
Entre 1933 e 1974, alguns indivíduos ocuparam o cargo de ministro em diversas pastas e por
mais do que um mandato, incluindo o exercício interino. As remodelações governamentais
ocorreram “quase sempre em consonância com momentos importantes da vida do regime”320.
No que respeita ao perfil dos ministros, denota-se o recrutamento por canais informais e uma
ascensão privilegiada por via da ocupação de cargos superiores da administração, como
secretário ou subsecretário de Estado, ou integração da Assembleia Nacional e da Câmara
Corporativa321. Apesar de flutuações ao longo do regime, para além da formação militar,
predominou a formação em Direito, seguida de Engenharia a partir da década de 1950322,
assinalando-se uma percentagem significativa de professores universitários entre os ministros.

311
Lei n.º 1941, 11.04.1936.
312
Decreto-Lei n.º 30692, Diário do Governo, I série, n.º 199, 1.º suplemento, 27.08.1940.
313
Decreto-Lei n.º 108/74, Diário do Governo, I série, n.º 63/1974, 15.03.1974.
314
Decreto-Lei n.º 36061, 27.12.1946.
315
Extinto em 1961, sendo o cargo substituído pelo de Ministro de Estado adjunto do Presidente do Conselho,
sem pasta. Decreto-Lei n.º 43748, Diário do Governo, I série, n.º 143, 22.06.1961.
316
Decreto-Lei n.º 37909, Diário do Governo, I série, n.º 152, 01.08.1950.
317
Decreto-Lei n.º 38300, Diário do Governo, I série, n.º 121, 15.06.1951.
318
Decreto-Lei n.º 41825, Diário do Governo, I série, n.º 177, 19.08.1958.
319
Decreto-Lei n.º 584/73, Diário do Governo, I série, n.º 259, 1.º suplemento, 07.11.1973.
320
Assinalam-se as seguintes remodelações: 11.04.1933, 18.01.1936, 28.08.1940, 06.09.1944, 04.02.1947,
02.08.1950, 07.07.1955, 14.08.1958, 13.01.1961, 13 e 14.04.1961, 04.05.1961, 22.06.1961, 04.12.1961,
19.08.1968, 27.09.1968, 27.03.1969, 15.01.1970, 09.08.1972, 07.11.1973, 15.03.1974. Fernando Rosas,
“Governo/Presidência do Conselho de Ministros”, in Dicionário de História do Estado Novo, vol. II, dir. Fernando
Rosas, José Maria Brandão de Brito (Venda Nova: Bertrand Editora, 1996), 393.
321
Almeida, Pinto, “Portuguese Ministers, 1851-1999 [...]”: 33.
322
Ibid.: 22-23.

61
Na maioria dos casos, a ocupação das pastas foi longa. No marcelismo, relativamente ao
Governo precedente, mantiveram-se alguns ministros e denota-se continuidade nos seus perfis
em termos de estrutura etária, origem geográfica predominantemente urbana e percurso
político323. Porém, menos governantes detinham o grau de doutor, sendo o número de
professores universitários menor face aos antecessores, com aumento do peso de funcionários
corporativos e funcionários públicos superiores. Predominava a formação jurídica e, face aos
períodos anteriores, perdeu expressão a formação militar. Na remodelação ministerial de 1969
atestou-se a ascensão de “jovens reformadores tecnocratas”324 nas pastas económicas, e na
reformulação seguinte foram eliminados os ministros salazaristas que haviam permanecido em
funções. Em termos de critérios de escolha para os cargos, Carvalho e Fernandes referem a
importância das especializações técnica e profissional nesta fase325.

A função judicial concentrava-se no último órgão de soberania enunciado na Constituição de


1933, os Tribunais. Nuno José Lopes notou uma continuidade dos pressupostos anteriores do
poder judicial, devido à ausência de um discurso inovador e transformador no texto
constitucional, que se revelou parco na definição desta função326. Distinguia-se entre tribunais
ordinários – Supremo Tribunal de Justiça, tribunais de 2.ª instância nos distritos judiciais
(incluindo territórios coloniais) e tribunais de 1.ª instância nas comarcas metropolitanas –, nos
quais o cargo de juiz era vitalício e inamovível, e tribunais especiais327, como os tribunais
plenários, criados em 1945. O Supremo Tribunal de Justiça, com sede na Praça do Comércio,
tinha jurisdição sobre todo o território nacional. Continente e arquipélagos dividiam-se em
Distritos Judiciais/Relações, por seu turno divididos em Comarcas e Julgados Municipais,
sendo que as Comarcas podiam subdividir-se em Julgados de Paz328. Assistiu-se a uma
“redução da área de jurisdição dos tribunais”329, sendo certos tribunais diretamente tutelados
pelo Governo, como, entre outros, nos casos dos tribunais fiscais e administrativos,
respetivamente integrados no Ministério das Finanças e na Presidência do Conselho330. Em

323
Rita Almeida de Carvalho, Tiago Fernandes, “A Elite Política do Marcelismo. Ministros,
Secretários/Subsecretários de Estado e Deputados (1968-1974)”, in Elites, Sociedade e Mudança Política, org.
António Costa Pinto, André Freire (Oeiras: Celta, 2003), 67-96.
324
Rosas, “Governo/Presidência do Conselho de Ministros”, 397.
325
Carvalho, Fernandes, “A Elite Política do Marcelismo [...]”, 90.
326
Nuno José Lopes, Disciplina e Controlo da Magistratura Judicial entre a República e o Estado Novo (1910-
1945) (Tese de Doutoramento, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 2011), 137, 139.
327 Decreto n.º 22241, Diário do Governo, I série, n.º 43, 22.02.1933, art.º 115.º.
328 Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo. Templos da Justiça e Arte Judiciária, 53.
329
Lopes, Disciplina e Controlo da Magistratura Judicial entre a República e o Estado Novo (1910-1945), 143.
330
Magalhães, “Democratização e Independência Judicial em Portugal”, 56.

62
adição, o processo criminal saiu da dependência da jurisdição judicial, passando para a Polícia
Judiciária, e para a PIDE no caso de crimes contra o Estado.
A esfera judicial foi subjugada ao poder executivo. O Conselho Superior Judiciário (CSJ), cujos
vogais eram determinados pelo Ministro da Justiça, deteve competências decisórias sobre a
colocação e avaliação dos magistrados até 1945. Nessa altura, o ministro, que era informado
sobre a idoneidade política dos magistrados através de governadores civis, administradores do
Conselho, comissões da União Nacional e da polícia política331, passou a concentrar as
decisões. Na prática, assistiu-se ao afastamento da intervenção política dos magistrados e ao
seu controlo, progressivamente despromovidos como agentes passivos e meros executantes da
lei, sem autonomia para questionar os legisladores, condição particularmente acentuada com o
Estatuto Judiciário promulgado em 1944332. Os juízes eram sujeitos a exames de recrutamento
dirigidos pelo CSJ e por juristas selecionados pelo ministro, e os funcionários de justiça
avaliados em concurso público.

331
Lopes, Disciplina e Controlo da Magistratura Judicial entre a República e o Estado Novo (1910-1945), 97,
167-173.
332
Ibid., 143-144, 166-167.

63
2. O Palácio da Assembleia Nacional

2.1. Palácio de São Bento, o “palácio da representação nacional”333: reconfiguração e


manutenção simbólica

O seiscentista Mosteiro de São Bento da Saúde, em Lisboa, foi adaptado para albergar a sede
do poder legislativo a partir de 1833, ano em que foi extinto. O local sucedeu à realização das
Cortes na Livraria do Convento das Necessidades desde 1820, e às reuniões da Câmara dos
Deputados na Casa da Suplicação, na Praça do Comércio, e da Câmara dos Pares do Reino no
Palácio da Regência, no Rossio334. O edifício alojava, ainda, o Real Arquivo da Torre do
Tombo desde 1755. Ao longo de Oitocentos assinalam-se diversas campanhas de
remodelação335: das primeiras adaptações pontuais sob alçada da Repartição de Obras Públicas,
a breve trecho substituídas pela ação do arquiteto Possidónio da Silva (1834) – incluindo
estudos de remodelação dos espaços exteriores –, aos projetos de Jean-François Colson (1856)
e intervenções artísticas de suporte à simbologia dos espaços. Na sequência de um incêndio
que parcialmente destruiu o edifício em 1895, o arquiteto Miguel Ventura Terra (1866-1919)
foi convidado a apresentar uma proposta de recuperação336, cuja execução estava incompleta à
data da inauguração da Sala das Sessões, em 1903. Os projetos de Ventura Terra
contemplavam, para além das fachadas e da organização espacial interna, um programa
decorativo com retratos pintados e esculpidos e estátuas alegóricas. A sua conclusão prolongar-
se-ia após a implantação da República e o falecimento do arquiteto, em 1919.
Adolfo Marques da Silva (1876-1939) foi incumbido de dar continuidade à concretização das
ideias de Ventura Terra, dirigindo tecnicamente as obras desde 1922337, altura em que
apresentou memórias descritivas para as obras necessárias. Nesse ano, foram transferidas
verbas do Ministério das Finanças para que a conclusão das obras ficasse sob superintendência

333
Expressão que figura em “O mestre pintor Sousa Lopes executou, a fresco, para o Palácio da Representação
Nacional, três painéis cantando o louvor da pesca, do vinho e do azeite portugueses”, O Século, 07.01.1935, p.1.
Formulação também empregue pelo arquiteto Luís Cristino da Silva: ofício de Luís Cristino da Silva para Diretor-
Geral da DGEMN, 09.10.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3215/02, TXT.04539828.
334
Paulo Jorge Fernandes, “O Parlamento: espaço e iconografia”, in Res publica: cidadania e representação
política em Portugal, 1820-1926, ed. Fernando Catroga, Pedro Tavares de Almeida, António Manuel Hespanha
(Lisboa: Assembleia da República, 2010), 156-177.
335
Sobre este assunto: Ibid.; Simonetta Luz Afonso (coord.), Os espaços do Parlamento: da Livraria das
Necessidades ao andar nobre do palácio (1821-1903) (Lisboa: Assembleia da República, 2003).
336
Fernandes, “O Parlamento: espaço e iconografia”, 167-169.
337
Ofício de Marques da Silva para Presidente da Junta Administrativa do Congresso da República, 05.06.1926.
AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 9.

64
direta da Comissão Administrativa do Congresso338. A organização da “secção de obras
(construção e conservação) do Palácio do Congresso da República”339 foi fixada em 1924,
congregando um arquiteto equiparado a chefe de secção – Marques da Silva, e um apontador
– João de Carvalho Farte, ambos requisitados ao Ministério do Comércio e das Comunicações,
e ainda diversos operários.

Neste período, refira-se, a título de exemplo, a reconstrução do andar nobre, compreendendo


novos gabinetes para o Presidente da Câmara do Congresso da República e respetivos
secretários, bem como vestíbulos e salas para representantes da imprensa e para a estação
telegráfica, um projeto que se regia pelas necessidades de instalação indicadas pela Comissão
Administrativa do Congresso340. Na proposta de obras de 1922, o arquiteto justificou que
somente se iriam demolir as abóbadas das paredes inferiores “com o fim de lhes destruir o
aspeto antigo conventual, e dar-lhes toda a altura do seu pé direito, como aliás exige o carácter
e o destino que tem atualmente este velho edifício, hoje transformado em Palácio da
Representação Nacional”341. Não obstante, já em 1929, o CSOP exigia que se justificasse a
substituição das abóbadas por lajes de betão armado342, ao que Marques da Silva reforçou a
necessidade pela diferença de nível entre os pisos antigos e os que então se projetavam,
afirmando que a nova distribuição dos compartimentos divergia bastante da primitiva343. O
CSOP relembrava que os materiais e a qualidade dos trabalhos se tinham de “manter à altura
da importância do Edifício, dado o fim a que é destinado”344. A relevância e o simbolismo deste
edifício na vida política foram constantemente reforçados.

338
Ofício do Diretor dos Serviços da 8.ª Repartição da Direção-Geral Contabilidade Pública para o Administrador
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 22.06.1922. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3320/02,
TXT.04544320.
339
Adolfo Marques da Silva, Elementos para a organização da secção de obras (construção e conservação) do
Palácio do Congresso da República, 30.04.1924. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt.
9.
340
Adolfo Marques da Silva, Memória descritiva e justificativa do projecto e orçamento para reconstrução do
andar nobre da ala sul do Palácio do Congresso, 23.01.1922. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3212/01, TXT.4356191-TXT.04536195. Neste projeto, visava-se uma adequação aos sistemas de construção e de
decoração adotados nas obras anteriormente realizadas, prevendo-se, por exemplo, a conservação da estrutura de
madeira dos tetos.
341
Ibid., [p.2].
342
Parecer do CSOP, 16.05.1929, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537113.
343
Parecer do CSOP, 11.07.1929, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537118.
344
Parecer do CSOP, 16.05.1929, p.1v. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537116.

65
Na década de 1920, concretizou-se um conjunto de intervenções decorativas345. Citem-se a
pintura de Veloso Salgado retratando o ato fundacional das Cortes Constituintes de 1821 (1923)
para a Sala das Sessões, que conta também com diversas alegorias da autoria de Artur Alves
Cardoso (1924); as telas para os Passos Perdidos por Columbano Bordalo Pinheiro, retratando
vultos da história portuguesa do século XIII ao XIX (1925), e por Benvindo Ceia, que fixou
Viriato enquanto personagem mítica e várias alegorias (1921-1922), entre outros; ou a
decoração pictórica parietal que Acácio Lino concebeu para a sala de receção do Presidente da
Câmara dos Deputados, integrando momentos como a batalha de S. Mamede (1922), a
conspiração de 1640 (1923) e a reconstrução de Lisboa encetada pelo Marquês de Pombal
(1924). Foram, então, também iniciadas algumas obras de arte apenas terminadas na década
seguinte, como sucedeu com o frontão do corpo central da fachada principal, da autoria de José
Simões de Almeida, Sobrinho (1880-1950), que viria a encimar a varanda do Salão Nobre.

345
Um caso de decoração que parece não ter tido repercussão respeita a duas estátuas que se previa serem
executadas em mármore, pelo escultor José Moreira Rato, para decorar os cunhais “por debaixo do frontão do
corpo central da fachada posterior”(1), que deveriam representar as eleições legislativas (deputados e
senadores)(2). Após imposição de convite de mais artistas para apresentação de propostas e definição do
programa, e apesar de ter sido elaborado um contrato com Moreira Rato em 1922, após apreciação da CAA da 1.ª
circunscrição, para execução dos modelos em gesso, em metade do tamanho natural e então representando a Paz
e o Trabalho(3), um parecer posterior do CSOP considerava estes elementos como desnecessária “obra de luxo”
perante as condições económicas do país, levando-se apenas a cabo tal tipo de decoração “em casos muito
extraordinários”, e, portanto, não concedendo verba para a sua concretização (4). No entanto, cedendo ao facto
apontado pelo arquiteto de estarem as maquetes em gesso em vias de conclusão, o CSOP acedeu a pagar esse
trabalho ao escultor(4).
(1) Ofício de Adolfo Marques da Silva para Baltasar d’Almeida Teixeira, secretário da Comissão Administrativa
do Congresso da República, 12.09.1922. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 9.
(2) Cópia de ofício de Adolfo Marques da Silva par Diretor dos EMN Sul, 09.11.1921, p.1. PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3320/02, TXT.04544280.
(3) Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais Sul, Diversas obras no edifício do Congresso - Contrato n.º
1, 21.03.1922. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 11.
(4) Parecer do CSOP exarado em sessão de 25.07.1922 [cópia]. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção
XI-D, cx. 1, pt. 10.

66
Fig. 2. Palácio de São Bento: fachada principal. [1873-93]

Fig. 3. Fachada principal do Palácio de São Bento. S.d. [década 1920?]

67
Num momento em que se ultimava a conclusão das duas alas confinantes da fachada principal
do edifício “reconstruídas em mármore nacional e com arquitetura classico-moderna(sic)”346,
em março de 1923, o corpo central ainda se encontrava “no seu estado primitivo de arquitetura
conventual e incaracterística para este Palácio”347 e, assim, segundo Marques da Silva, destoava
das citadas alas. Perante supostas críticas estéticas de nacionais e estrangeiros, urgia terminar
essa secção da fachada principal, cujo projeto definitivo era estudado com base no projeto
primitivo de Ventura Terra. Adicionalmente, a urgência justificava-se pela necessidade do
normal funcionamento das duas câmaras, cuja entrada se fazia habitualmente por aí e que as
obras obrigariam a transferir, por um período mínimo de três anos, para as traseiras do edifício.
Neste contexto, importava considerar a execução do frontão destinado a encimar o corpo
central, comportando escultura em alto-relevo com “cerca de 16 estátuas”348.
O arquiteto apresentou uma proposta de programa para concurso limitado para execução de
uma maquete em gesso, sem imposição temática349, considerando restringi-lo a três escultores,
nomeados como sugestão: Francisco dos Santos (1878-1930), José Moreira Rato (1860-1937)
e José Simões d’Almeida, Sobrinho350. Justificava estes nomes pela experiência, pelo
reconhecimento através de prémios da SNBA, e pelo facto de terem sido pensionistas no
estrangeiro. O estudo do programa do concurso foi acometido a uma comissão constituída pelo
Diretor dos Edifícios e Monumentos Nacionais Sul e pelos funcionários engenheiro Mariano
Sousa Pires (1887-?) e arquitetos Leonel Gaia (1871-1941), Adolfo Marques da Silva e
António do Couto Abreu (1874-1946)351. A Comissão Administrativa do Congresso da
República (CACR) deliberou que o concurso deveria ser aberto a “todos os escultores nacionais
que desejem concorrer, com residência em Lisboa”352, prevendo a execução da peça definitiva
em mármore de Pêro Pinheiro. Porém, o programa aprovado aconselhava que apenas

346
Ofício de Adolfo Marques da Silva para Comissão Administrativa do Congresso da República, 20.03.1923,
[p.1]. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
347
Ofício de Adolfo Marques da Silva para Comissão Administrativa do Congresso da República, 20.03.1923,
[p.1]. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
348
Ibid., [p.3]
349
Eduardo Duarte, Rita Mega, “Frontões e tímpanos dos séculos XIX e XX em Lisboa”, Arte Teoria 11 (2008):
172.
350
Já em fins de 1922, Simões de Almeida (Sobrinho) fora convidado pela CACR “em circunstâncias especiais
de confiança” a indicar o preço e o prazo de execução do modelo definitivo em gesso do frontão, que o artista
calculou com base no estudo realizado por Anatole Calmels para o frontão da Câmara Municipal de Lisboa. Ofício
de Simões de Almeida, Sobrinho, para Baltasar Teixeira, 10.12.1922, [p.1]. AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
351
Cópia do ofício de Carvalho da Silva (Administrador Geral dos EMN) para Diretor Geral dos EMN Sul,
05.08.1921, p.1. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3320/02, TXT.04544277.
352
Programa do concurso para a execução da “maquette” em gesso, do frontão do corpo central da fachada
principal do Palácio do Congresso da República, 21.05.1923: base I. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12:
Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.

68
concorressem artistas “especializados neste género de escultura”, com “idoneidade
sobejamente comprovada por trabalhos publicamente executados e de mérito artístico
consagrados”353. A escolha do tema era deixada ao critério do artista, mediante devida
fundamentação em memória descritiva. A deliberação sobre os trabalhos apresentados caberia
à mencionada comissão administrativa e ao arquiteto diretor das obras de reconstrução do
edifício. Em adição, solicitou-se a integração de um escultor no painel, a ser indicado pelo
Conselho de Arte e Arqueologia354 – pedido recusado por este organismo e pelo escultor
disponível, António Augusto da Costa Mota (Tio) (1862-1930)355, alegando que o concurso
não fora organizado segundo a lei356. Como alternativa, fizeram parte do júri vogais indicados
pela SNBA357 a pedido da CACR – arquiteto Alfredo da Ascensão Machado (1857-1926),
escultor Tomás Costa (1861-1932) e pintor Carlos Bonvalot (1893-1934)358.
A escolha para o primeiro lugar recaiu sobre a proposta de Simões de Almeida (Sobrinho), sob
a divisa “Pátria”, cabendo o segundo e terceiro lugares, respetivamente, a Anjos Teixeira e
Moreira Rato, tendo-se atribuído adicionalmente um prémio ao trabalho de Francisco dos
Santos. A avaliação exarada pelos artistas da SNBA359 assentou em quatro princípios:
composição do conjunto dentro do formato triangular e sua relação com a arquitetura; harmonia
dos grupos escultóricos, suas atitudes e expressão; equilíbrio de volumes; definição de linhas
ou manchas expressivas360. Foram, portanto, contemplados os três artistas inicialmente
nomeados pelo arquiteto Marques da Silva – não havendo forma de comprovar
documentalmente alguma eventual manipulação dos resultados, no sentido de os favorecer em
detrimento de outros. Na realidade, este assunto gerou controvérsia noticiada na imprensa,
alegando ilegalidades na abertura do concurso, como a ausência de publicação do programa
nos principais jornais, ou a exigência de uma maquete de dimensões exageradas, cujo custo

353
Ibid., base IX.
354
Nota manuscrita, assinada por Baltasar Teixeira, 05.09.1923, inserida em Programa do concurso para a
execução da “maquette” em gesso, do frontão do corpo central da fachada principal do Palácio do Congresso da
República, 21.05.1923. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
355
Ofício de António Augusto da Costa Mota para Luciano Freire, Vice-Presidente do CAA da 1.ª circunscrição,
12.09.1923 [cópia]. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
356
Aparentemente, não teria sido respeitado o decreto com força de lei de 26.05.1911. “O frontão do Palácio do
Congresso”, O Século, 11.10.1923 [recorte]. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
357
Que também demonstrava não concordar em absoluto com as cláusulas do programa do concurso, e
inicialmente nomeara José Malhoa, Tomás Costa e Alfredo Ascensão Machado. Ofício de José Nunes Ribeiro
Junior (pelo Presidente da SNBA) para Secretário da CACR, 31.10.1923. O nome de Carlos Bonvalot apenas
surge em novembro. Ofício de José Nunes Ribeiro Junior para Baltasar Teixeira, 15.11.1923. AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
358
Nota decorrente da sessão da CACR, 28.11.1923. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1,
pt. 11.
359
Sobre este assunto, ver Duarte, Mega, “Frontões e tímpanos dos séculos XIX e XX em Lisboa”, 173-174.
360
Alfredo Ascensão Machado, Tomás Costa, Carlos Bonvalot, Parecer, 24.11.1923, p.1-2. AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.

69
não poderia ser comportado por todos os escultores que desejavam concorrer361. As quatro
maquetes apresentadas foram expostas nos Passos Perdidos do Palácio, e apreciadas
negativamente por alguns críticos362. Aparentemente, não houve notícia oficial do resultado do
concurso, tratando os jornais de fornecer informações recebidas, segundo Aquilino Ribeiro,
com espanto e incompreensão por quem as observara e pelo público que se habituara a ver
figurar os nomes de Francisco dos Santos e de Moreira Rato no primeiro plano363.
Simões de Almeida, que na memória descritiva da peça mencionara o Congresso da República
como “santuário de todo o fulcro da vida nacional”, assinou, em 1924, o contrato para execução
no período de doze meses364. Anos mais tarde, o escultor, encarregue de elaborar as condições
do concurso para passagem à pedra, advogou que “tratando-se de um trabalho de excecional
importância e responsabilidade, é de conveniência que o concurso seja limitado a fazer-se entre
industriais idóneos com oficina de Canteiro”365, indicando casas que considerava
corresponderem às exigências. Teófilo Leal de Faria (1888-1952), engenheiro delegado da
DGEMN para as obras no palácio desde 1933, abriu um concurso restrito aos nomes sugeridos,
sendo a comissão de avaliação constituída por Simões de Almeida, Marques da Silva (em
representação de Leal de Faria, como presidente) e Jorge Diniz Farinha, como secretário366.
Em junho de 1934, Simões de Almeida submeteu proposta para dirigir a pauteação em pedra
das estátuas do frontão367, aprovada.

Num tom de louvor à capacidade de ação do Presidente do Conselho, em setembro de 1934 foi
relatado no Diário de Lisboa que, em visita às obras do edifício, Salazar se deparara com
fragmentos de gesso revelando figuras monumentais. Tendo sido esclarecido de que se tratava
do modelo para o frontão, terá prontamente empreendido a dispensa da verba de dez mil contos

361
“O frontão do Congresso. Um escultor dirige uma carta ao Século”, s.d. Recorte em AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
362
Uma nota manuscrita incompleta, não assinada e não datada, dilacera as quatro maquetes, diminuindo-as em
valor plástico e estético, e criticando ferozmente o método de avaliação, uma vez que o júri era composto pela
Comissão Administrativa e um técnico “que percebe tanto de arte arquitetónica como de lagares de azeite”, e não
de especialistas habilitados em matéria artística. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt.
11.
363
Aquilino Ribeiro, “Haja bom senso! O frontão do Parlamento ou a crise do bom gosto”, Diário de Lisboa,
17.12.1923, p. 3.
364
Adolfo Marques da Silva, Condições indispensáveis para a celebração do contrato com o cidadão José Simões
d’Almeida, para a execução do modelo para o frontão do Palácio, 10.01.1924. AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
365
Cópia de ofício de Simões de Almeida, Sobrinho para Leal de Faria, 11.12.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537760.
366
Comunicação n.º 145, Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.12.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537761.
367
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.06.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04538111.

70
em falta para que o trabalho avançasse celeremente368. Porém, o frontão foi apenas assente em
1938, tendo, pouco antes, sido alterada a legenda da maquete. Da inicial inscrição
“Constituição” passou-se à legenda latina “Omnia Pro Patria” (Tudo pela pátria) – uma
determinação de Duarte Pacheco369, republicano –, tendo-se ponderado, no entretanto,
conforme proposta em parecer de Raul Lino, na inserção da palavra “Pátria” de forma espaçada,
para garantir imponência370.
O tímpano integra uma figura central entronizada, a Pátria segurando na Constituição, ladeada
por 18 figuras alegóricas que ocupam o espaço disponível. Na memória descritiva apresentada
a concurso, o escultor elencara alegorias: Lei, Justiça, Patriotismo, Eloquência, Legislação,
História, Ciência, Literatura e Filosofia, e, para os ângulos, Abundância e Riqueza371. Eduardo
Duarte e Rita Mega, numa análise iconológica do frontão, identificam figuras como Amor à
Pátria ostentando a bandeira e Minerva guerreira junto da personagem central, nos ângulos
Indústria e Comércio, alegorias a Arquitetura, Desenho, Escultura e Poesia, e ainda dois grupos
compostos, respetivamente, por figuras escrevendo ou lendo, acompanhadas de crianças e de
uma figura de pé, que os autores designam como Doutrina e Conhecimento372.

368
Anónimo, “As obras do Congresso: Seis grandes estátuas vão decorar a entrada do edifício”, Diário de Lisboa,
n.º 4243, 07.09.1924, p. 7.
369
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 04.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3217/02, TXT.04541649.
370
Raul Lino, Parecer: Substituição da palavra Constituição no frontão do Palácio da Assembleia Nacional,
23.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431413.
371
José Simões de Almeida, Sobrinho, Memória Descritiva do projecto ‘Pátria’, 22.08.1923. AHP: PT-
AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx. 1, pt. 11.
372
Duarte, Mega, “Frontões e tímpanos dos séculos XIX e XX em Lisboa”, 176-177.

71
Fig. 4. Palácio de São Bento: entrada principal. S.d. [c. 1941]

2.2. A estrutura organizativa das obras

A 23 de julho de 1926, a orientação da conclusão das obras no edifício foi outorgada à Direção
de Obras dos Edifícios Nacionais Sul, integrada no Ministério do Comércio e Comunicações373.
O Congresso da República foi encerrado nesse ano, como consequência do golpe que a 28 de
maio instaurou a ditadura militar no país. Na sequência, o edifício foi ocupado durante um ano
pelo general Óscar Carmona374, empossado como Presidente da República no local a

373
Ofício de J. Abecassis, administrador geral das Obras de Edifícios Nacionais, para o Presidente da Junta
Administrativa do Congresso da República, 23.07.1926. AHP: PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-D, cx.
1, pt. 10.
374
Ofício do Presidente da Junta Administrativa do Congresso para o Ministro das Finanças, 01.02.1927. AHP:
PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12: Secção XI-B, cx. 29, pt. 12.

72
30.11.1926. Paralelamente, foi instalada a Secretaria da Presidência do Ministério375, a partir
de 27 de Novembro de 1926376.
Em 1929, foi apresentada ao CSOP uma memória descritiva e justificativa contendo o
orçamento previsto para a conclusão das obras interiores, que se encontravam em estado
avançado377. Até então, as obras haviam estado a cargo de uma comissão especial, atestando
esse documento a passagem para a Administração Geral das Obras dos Edifícios Nacionais, no
seio da DGEMN378. Marques da Silva apenas foi definitivamente nomeado para “dirigir e
orientar a extinta secção de obras do Palácio do Congresso”379 a 14.02.1933, então abolida,
pois em 1926 regressara à Direção de Edifícios Nacionais Sul como efeito da transferência das
obras para a Administração Geral das Obras e Edifícios Públicos, do MOPC380.
O engenheiro Teófilo Leal de Faria assumiu a direção das obras como engenheiro-delegado
das Obras do Palácio da Assembleia Nacional381, volvidos quatro meses da nomeação de
Marques da Silva. Leal de Faria, major de engenharia, foi também contratado para apoio na
adaptação do edifício da Alfândega de Lisboa a Ministério das Finanças, e para estudo e
elaboração do anteprojeto do edifício para o Museu de Arte Contemporânea, a localizar no
local do antigo Convento das Francesinhas; ademais, integrava a Junta das Construções para o
Ensino Técnico e Secundário. O engenheiro fora nomeado como delegado das obras dos
palácios nacionais, o que incluía supervisão de obras, sobretudo de conservação e reparação,
nos palácios da Ajuda, Necessidades, Belém, Cascais, Sintra, Pena e Queluz382, cargos dos
quais pediu exoneração para dedicação exclusiva ao Palácio de São Bento. Apesar de estar apto

375
AHP: Secção XI B, cx. 29, n.º 12 (diversos documentos, entre 1927 e 1931).
O ofício do Presidente da Junta Administrativa do Congresso da República para Diretor dos Serviços da 2.ª
Repartição da Contabilidade Pública, 31.08.1928, p. 8, refere que “Todo o país teve conhecimento que sua
Excelência [Carmona] esteve instalado no Palácio do Congresso, durante mais de um ano, sem que fosse da
competência desta Junta intervir neste assunto senão para obtemperar a ordens e a indicações superiores que
recebeu”.
376
Ofício da Direcção Geral da Secretaria do Congresso da República para Diretor dos Serviços da 2.ª Repartição
da Contabilidade Pública do Ministério das Finanças, 11.12.1931, p.1. AHP: Secção XI B, cx. 29, n.º 12.
377
Esta Memória Descritiva elenca a compartimentação interior então estipulada. Alexandrino dos Santos Ramos,
Memória Descritiva e Justificativa, 23.04.1929. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01,
TXT.04537102- TXT.04537106.
378
Parecer do CSOP, 16.05.1929, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537115.
379
Ofício de Marques da Silva para Diretor-Geral da DGEMN, 02.08.1933, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537616.
380
Decreto n.º 11932, Diário do Governo, I série, n.º 158, 22.07.1926, p. 844-845.
381
Leal de Faria foi nomeado delegado da DGEMN nas obras do Palácio da Assembleia Nacional por despacho
ministerial de 11.06.1933 (publicado em Diário do Governo): Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de
Faria, 04.12.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02, TXT.04538699. O primeiro ofício
assinado por Leal de Faria que se identificou data de 09.06.1933, relativo a uma proposta de fornecimento de
mobiliário da casa Olaio. O engenheiro refere-se à sua recente entrada em funções no início de junho de 1933
noutro ofício, datado de 21.06.1933, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/01, TXT.04537587.
382
Ofício n.º 364 de Henrique Gomes da Silva para Leal de Faria, 22.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REOM-
0024/01, TXT.07517505.

73
a tomar um conjunto de decisões, o que, como veremos, por vezes gerou celeumas, Leal de
Faria integrava-se na estrutura hierárquica da DGEMN, não possuindo, por exemplo,
autorização para se corresponder diretamente com a subsecção de Belas-Artes da JNE383,
responsável pela emissão de diversos pareceres.
O arquiteto António Lino384 (1909-1961) acompanhou a comissão na supervisão das obras385
a partir de 19 de junho de 1933386, tendo já estado anteriormente envolvido na conceção da
escadaria de honra. Marques da Silva, após mais de 30 anos de trabalho nas obras no palácio,
pedira a aposentação em 1935, recusada pela junta médica387, retomando o pedido dois anos
depois. Em 1938, perante a necessidade premente de concluir as obras no edifício e na
residência do Presidente do Conselho, e por motivo de doença do engenheiro Ruy Cabral
Moncada Casal Ribeiro de Carvalho, que integrava a comissão, Leal de Faria rogou que se
pudesse contratar um engenheiro durante esse período e que, sempre que indispensável, o
arquiteto António Lino pudesse ser auxiliado pontualmente por um ou mais arquitetos, como
já havia ocorrido388. Considerando o papel de relevo de António Lino na direção arquitetónica
das obras e as provas de empenho e capacidade de execução que vinha dando, Leal de Faria
sugeria, ainda, que o arquiteto passasse a ser contratado como arquiteto de 2.ª classe, deixando
a condição de assalariado, o que veio a ser posto à consideração superior do ministro389.
Outra figura com destaque na conceção estética da remodelação deste edifício foi Raul Lino,
arquiteto chefe da Repartição de Estudo e Obras de Monumentos (REOM) da DGEMN390
(1936-49), e, a partir de 1939, superintendente artístico dos Palácios Nacionais 391. Emitiu
diversos pareceres enquanto vogal da 1.ª subsecção da 6.ª secção da JNE, sobretudo relativos

383
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.12.1938, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536698.
384
António de Brito Macieira Lino da Silva, sobrinho do arquiteto Raul Lino, formou-se na ESBAL (1936).
Participou nos concursos para o Monumento ao Infante D. Henrique (1936, 1954), trabalhando em estudos com
o tio e com Luís Cristino da Silva. Em 1939, foi autorizado a acumular as funções que desempenhava nas obras
do Palácio da Assembleia Nacional com a colaboração na Exposição do Mundo Português, para a qual foi
convidado (Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.02.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0036/02, TXT.12040821-TXT.12040820). Cf. Pedreirinho, Dicionário dos
Arquitetos activos em Portugal do século I à actualidade, 281.
385
Norberto de Araújo, Inventário de Lisboa, fascículo 3 (Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1946), 32.
386
Informação de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 23.06.1933. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
PESSOAL-0036/02, TXT.12040781.
387
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 06.07.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
PESSOAL-0571/03, TXT.12481180-TXT.12481179.
388
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 31.03.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
PESSOAL-0036/02, TXT.12040790-TXT.12040788.
389
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 19.04.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0036/02, TXT.12040792.
390
Moreira, O valor do tempo, 132.
391
Ofício do Diretor-Geral da DGFP para Presidente da JNE, 18.11.1939. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 323, proc.
132.

74
à aquisição e ao restauro de mobiliário, e trocou amiúde impressões com António Lino, que
procurava o seu conselho para a resolução de determinados assuntos, como a substituição dos
plintos das estátuas da escadaria exterior392. Em adição, Raul Lino foi responsável pelo projeto
decorativo de algumas salas. Sublinhe-se a sua opinião acerca do espírito harmonioso que
deveria presidir à reorganização interna do edifício. Admitindo diferenças decorativas
consoante o destino específico de cada sala, pugnava pela manutenção de

“certa unidade de estilo em todo o Palácio [...] porque [...] nas pessoas que o frequentam
não deve ser prejudicada a noção de significado representativo desta casa para que nunca
possam imaginar que estão visitando exposição de artes decorativas ou armazém de
venda de móveis «para todos os gostos»”393.

A defesa de um caráter harmónico, adotando um estilo relativamente uniforme para um


edifício, veio a ser fixada por Raul Lino num parecer que antecedeu o plano que apresentou
para arranjo e decoração artística dos Palácios Nacionais. Nesse documento, o arquiteto
advogava pela valorização arquitetónica de cada palácio conforme “o seu carácter especial”394
e almejando uma unidade, o que justificaria a circulação de peças entre os diversos edifícios
para melhor alcançar essa finalidade.

392
Ofício de Raul Lino (arquiteto chefe da REOM) para Diretor-Geral da DGEMN, 13.05.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536733.
393
Raul Lino, Estudo para a decoração de duas salas no Palácio do Congresso da República, 27.02.1934, [p.1].
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0
394
Raul Lino, Parecer, 24.08.1938. Transcrito em: Moreira, O valor do tempo, 353.

75
Fig. 5. Aspeto das obras na fachada principal do Palácio de São Bento. 1935.

Fig. 6. Últimos trabalhos na fachada do Palácio de São Bento. 1938.

76
O doravante designado Palácio da Assembleia Nacional foi reaberto a 11.01.1935. Contudo, as
obras que o novo regime procurou prosseguir arrastaram-se durante três anos adicionais,
celebrando-se a inauguração solene com presença do Chefe de Estado em 23.11.1938.
Entretanto, por ocasião de uma conferência proferida em 1934, numa altura em que as obras
ainda não estavam concluídas, Cottinelli Telmo referiu que “a marca fradesca” não estava
apagada do edifício395. O arquiteto desvalorizou algumas opções que então se tomavam,
nomeadamente as discussões sobre os terrenos no entorno do edifício e o facto de a majestosa
escadaria de acesso em construção ter início numa rua estreita, classificando o local como
inadequado pela ausência do espaço envolvente necessário para a destacada função consignada
ao edifício.
A delegação das obras do palácio foi extinta no final de dezembro de 1941, não havendo
inscrição de verbas para o ano seguinte. Porém, ficavam por concluir o arranjo do Largo de S.
Bento, os leões esculpidos por Raul Xavier para a escadaria exterior, as telas para a escadaria
nobre e as pinturas murais do Salão Nobre396. Os trabalhos terminaram a 31.03.1942397. Os
arquivos da delegação deveriam ser entregues à Repartição de Estudos de Edifícios (REE) da
DGEMN, e o mobiliário que utilizara deveria ser discriminado numa lista para facilitar a sua
distribuição pelos serviços interessados398. O relatório elaborado por Leal de Faria acerca das
obras no Palácio da Assembleia Nacional foi então enviado ao Ministro das Obras Públicas,
ocasião que Henrique Gomes da Silva aproveitou para propor que o engenheiro fosse louvado
pelo zelo e dedicação com que se empenhara na direção desses trabalhos399.

A urgência em completar as obras determinou o aligeiramento de certos procedimentos


burocráticos do processo construtivo, como a realização de tarefas por ajuste particular quando
não era ultrapassado determinado valor estipulado400, ou o prolongamento do trabalho por

395
Telmo, Os Novos Edifícios Públicos, 9.
396
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 27.12.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/03, TXT.04543867-TXT.04543868.
397
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 31.03.1942. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/03, TXT.04543959.
398
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 30.12.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/03, TXT.04543869.
399
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 11.04.1942. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/01, TXT.04543995.
400
No último quartel de 1934, terá sido enviada uma circular pela DGEMN acerca da obrigatoriedade de realizar
concurso público para todas as obras a executar sob esse organismo. No entanto, perante a imprescindibilidade de
terminar com rapidez os trabalhos no edifício, foi concedido que a comissão de obras do Palácio da Assembleia
Nacional continuasse a operar no regime de ajuste particular que vinha empregando. Ofício de Leal de Faria para
Diretor-Geral da DGEMN, 02.11.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02, TXT.04538541.

77
horas extraordinárias e aos domingos401. Se em 1929 foram realizados concursos públicos para
as diferentes fases e empreitadas, a partir de 1933 regista-se o convite direto por parte de Leal
de Faria a um número restrito de tarefeiros reconhecidos para que apresentassem propostas,
sendo geralmente selecionada a menos dispendiosa. Em janeiro de 1934, por exemplo,
submeteu o resultado decorrente do convite a um conjunto de vinte empresas para apresentação
de proposta para fornecimento e assentamento de mosaicos de mármore para os pavimentos da
escada da fachada sudoeste402. O engenheiro procurava recorrer repetidamente a empresas e
empreiteiros que já haviam dado provas do seu trabalho, justificando dessa forma perante a
DGEMN a sua atuação: em 1938, por ocasião de construção da última laje de betão armado do
corpo central da fachada principal do edifício, propôs a contratação do engenheiro Ricardo
Teixeira Duarte, que estudara e executara os trabalhos de fundações e pilares 403, resultando
num trabalho realizado de forma adequada, dentro dos prazos e orçamentado como o mais
económico perante os restantes concorrentes404. Leal de Faria também demonstrou
preocupação com os operários que trabalhavam por administração direta, chegando a solicitar
ao Diretor-Geral da DGEMN que lhes obtivesse colocação noutras obras perante o eminente
término do palácio e o menor rendimento de trabalho daí decorrente405. A tentativa de agilizar
e tornar os processos de obras producentes levou, inclusive, a que a Comissão Nacional dos
Centenários, encarregada das comemorações de 1940, solicitasse à DGEMN uma relação dos
empreiteiros aos quais se haviam adjudicado as diferentes tarefas nas obras do Palácio da
Assembleia Nacional e que melhor vinham cumprindo prazos e execução técnica406.
Visando a uniformização da orientação técnica e administrativa das obras, tais assuntos
deveriam, a partir de julho de 1939, ser tratados com a Repartição de Estudos e Obras de
Edifícios (REOE) da DGEMN, emissora de pareceres sobre estudos, projetos e orçamentos
concretizados para o Palácio da Assembleia Nacional407. A estrutura burocrática de aprovação
dos estudos envolvia não só a DGEMN e o CSOP, mas, sobretudo nos anos iniciais, o CSBA,

401
Solicitado por diversas vezes no final de novembro de 1934, estando a abertura das atividades iminente.
402
Comunicação n.º 4, de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 04.01.1934. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537797-TXT.04537798.
403
Será também Teixeira Duarte a concretizar a estrutura do novo corpo central da fachada principal, em betão
armado.
404
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 13.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536679.
405
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 02.11.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3217/01, TXT.4541150-TXT.4541151.
406
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 24.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432051.
407
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 01.07.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432200.

78
que julgava ser da sua responsabilidade o acompanhamento tanto da decoração artística, como
dos planos urbanísticos e das remodelações arquitetónicas.

A interferência de instâncias superiores, mormente do Ministro das Obras Públicas, Duarte


Pacheco, atesta-se, por exemplo, na aprovação do anteprojeto do arranjo da fachada posterior
da ala nordeste, que englobava a Torre do Tombo, observando que “talvez conviesse melhorar
o aspecto da fachada da face A”408. Apesar da aceitação de cadernos de encargos, a visita às
obras por parte do ministro podia suscitar alterações ao acordado, como sucedeu no caso do
arranjo do terreno fronteiro ao edifício, por ocasião da sessão solene de abertura da Assembleia
Nacional, em 1938. Tendo observado as obras praticamente na fase de conclusão, Pacheco
ordenou que se demolisse o muro existente, ao qual se previra apenas retirar alguma altura,
alteração que implicou atuação imediata e levou a que apenas posteriormente à execução se
apresentassem as propostas de orçamento409.
A intromissão do Presidente do Conselho na prossecução das obras e na sua orientação estética
é comprovável num episódio ocorrido durante uma visita ao edifício no final de 1937, na qual
Salazar considerou que o cunhal poente da fachada sobre o Largo de S. Bento, que permanecia
da estrutura original, não deveria ser transformado410. Manifestou, também, opinião contrária
à de Duarte Pacheco quanto às obras a executar na fachada respeitante à ala nordeste. A
resolução afigurou-se complicada, na medida em que seria necessário obedecer aos projetos
aprovados e às construções já efetuadas sem comprometer a harmonia e a preponderância da
fachada principal. Em adição, Salazar deu ordens para a realização de um estudo dos acessos
ao edifício, que levou a que Leal de Faria lhe escrevesse diretamente411. As propostas do
engenheiro demonstram uma clara separação consoante a categoria da pessoa e o propósito da
visita, salvaguardando a privacidade da residência do Presidente do Conselho. As portas da
fachada principal concederiam acesso a deputados, procuradores da Câmara Corporativa e
corpo diplomático, funcionários da Assembleia Nacional, e pessoas dirigindo-se à Presidência
do Conselho, estipulando-se caminhos distintos para cada um destes grupos. A escadaria nobre
seria preferentemente utilizada por membros da Assembleia Nacional, Câmara Corporativa e

408
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 01.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432001.
409
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 17.12.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/02, TXT.04542152-TXT.04542151.
410
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 20.12.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536674-TXT.04536676.
411
Ofício de Leal de Faria para o Presidente do Conselho, 29.01.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3217/01, TXT.4541325-TXT.4541331.

79
Corpo Diplomático. Visitantes e público deveriam entrar pelo Largo de S. Bento, prevendo-se
o encerramento de determinadas portas e a vedação de espaços reservados com portões de ferro.
A porta na fachada sul, sobre a Calçada da Estrela, constituiria a entrada privativa da
Presidência do Conselho, que poderia ser utilizada por ministros e funcionários. Impedir-se-ia
a passagem para o recinto nas traseiras do palácio. O engenheiro propunha ainda que se
transferissem as garagens de estacionamento para outro local, levando a que as habitações dos
motoristas desaparecessem; deputados e procuradores que se deslocassem de automóvel
passariam a estacionar na rua defronte do edifício ou no Largo de S. Bento. Nas imediações do
palácio, refira-se ocorrência de expropriações e demolições para reserva do local para os órgãos
de soberania. O Presidente do Conselho também se manifestou quanto à necessidade de
modificações de aspetos que se poderiam considerar menores, como a troca de lustres412 ou a
pintura e a limpeza de salas413. Assuntos aparentemente triviais, como manchas de óleo de
automóvel no pavimento de uma das entradas traseiras, foram comentados por Salazar e
levaram a que se ponderasse a construção de uma garagem junto da fachada para
estacionamento das viaturas que habitualmente aí permaneciam414 – hipótese inviável segundo
a REE, equacionando-se a construção de uma garagem central para uso de todos os ministérios
ou de um edifício junto do Convento das Trinas, onde já funcionava um estacionamento do
MOP415.

412
Ofício de Joaquim Leitão (Secretário da Assembleia Nacional) para o Diretor Geral da DGEMN, 22.02.1938.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3217/01, TXT.4541370.
413
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 08.03.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3217/01, TXT.4541391-TXT.4541392.
414
Ofício do Secretário da Assembleia Nacional para a DGFP, 10.04.1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH/005/125-3220/01, TXT.04544145.
415
Ofício de Maçãs Fernandes para Diretor-Geral da DGEMN, 13.05.1944. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH/005/125-3220/01, TXT.04544147-TXT.04544146.

80
Fig. 7. Salazar com o engenheiro Leal de Faria. S.d.

Para além dos funcionários da DGEMN, as remodelações e decorações de gabinetes e salas


destacadas no edifício foram acometidas a arquitetos e artistas contratados para o efeito, como
se constatará. Denote-se, desde já, que um conjunto dessas figuras incorporara a Comissão de
Defesa dos Interesses dos Artistas criada na SNBA416 (1931), da qual também fez parte António
Ferro, que, desde a controvérsia ocorrida em 1921 na SNBA, se posicionara do lado dos artistas
modernos417. Integraram a comissão, a par de outros, o arquiteto Cristino da Silva, os escultores
Francisco Franco, Ruy Roque Gameiro (1906-1935) e Maximiano Alves (1888-1954), e os
pintores Lino António e Martins Barata. Em 1933, a comissão dirigiu-se a Salazar através de
carta, assinada por Diogo de Macedo, Jorge Segurado e Luís Teixeira: pugnavam por

416
Acciaiuoli, Exposições do Estado Novo 1934-1940, 30; Matos, Escultura em Portugal no século XX (1910-
1969), 202-203; Tavares, Naturalismo e Naturalismos na pintura portuguesa do séc. XX e a Sociedade Nacional
de Belas-Artes, vol. I, 54, 155 (nota 39).
417
Cristina Azevedo Tavares refere que a nomeação de Ferro para o SPN respondeu, em parte, “a solicitações do
meio artístico, dirigidas ao Estado”, através da citada comissão instituída em 1931. Tavares, Naturalismo e
Naturalismos na pintura portuguesa do séc. XX e a Sociedade Nacional de Belas-Artes, vol. I, 150, 170.

81
intervencionismo e cooperação entre artistas e Estado, atestando a capacidade dos primeiros de
apoiar o programa propagandístico e educativo do novo regime, incitando à criação de um
subsecretariado de Belas-Artes, a uma aposta no ensino artístico, à promoção da decoração de
edifícios públicos e à aquisição de obras para os museus nacionais418. Conforme Jorge
Segurado anotou na sua cópia do documento, houve proveito desta ação419. Importa ressalvar,
também, que vários dos intervenientes no Palácio de São Bento haviam participado nas
representações portuguesas em exposições internacionais, como a Exposição Ibero-Americana
de Sevilha420 (1929) e a Exposição Colonial de Paris421 (1931), vieram a expor nos salões do
SPN422 e na Exposição do Ano X da Revolução Nacional423 (1936), e vinham sendo elogiados
nas páginas d’O Notícias Ilustrado424, por exemplo. A escolha dos artistas para decoração do
“palácio da representação nacional” não correspondeu, na maior parte das situações, à vitória
em concursos públicos, mas ao convite direto, conforme se constatará.

2.3. Remodelações no exterior e estudo da zona de proteção

O arranjo das fachadas partiu das propostas de Ventura Terra e preservou as linhas gerais dos
seus estudos425. O CSBA, através dos vogais José de Figueiredo, Raul Lino e Paulino Montês,
foi chamado a dar parecer sobre os anteprojetos das obras. Recomendavam o estudo do
preenchimento dos espaços no intercolúnio, na fachada principal. Para a fachada norte,
advogavam a supressão da platibanda marcando o corpo central, dispensando o sótão existente,
e que esse troço fosse realçado por via de um acrotério colocado ligeiramente acima da
balaustrada. Como solução para a escadaria, sugeria-se a opção sem arcarias em torno da parte

418
Documento reproduzido em: Galvão, O Caminho da Modernidade, vol. III, anexo documental n.º 11, capítulo
5, s.p..
419
Ibid. (Documento integrado no espólio do arq. Jorge Segurado, à guarda da ANBA).
420
Martins Barata, Abel Manta, Lino António, Ruy Roque Gameiro, Maximiano Alves, António da Costa, Carlos
e Guilherme Rebelo de Andrade.
421
Lino António, Abel Manta, António Soares, Dordio Gomes, Ruy Roque Gameiro, Francisco Franco, Costa
Mota (Sobrinho), Guilherme Rebelo de Andrade, Raul Lino.
422
Dordio Gomes, António Soares, Abel Manta, Lino António, Francisco Franco, António Duarte, Barata Feyo,
Leopoldo de Almeida.
423
António Soares, Lino António, Maximiano Alves, Raul Xavier, Barata Feyo.
424
Joana Leitão de Barros, Ana Mantero, Leitão de Barros – A biografia roubada (Lisboa: Editorial Bizâncio,
2019), 84.
425
Cópia de Parecer, s.d. [ant. 27.02.1934]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02,
TXT.04537940- TXT.04537941.

82
central, tornando-a mais desafogada e “porventura de efeito mais grandioso”426, bem como
algumas reduções de espessura nos degraus cujo lanço partia dos Passos Perdidos.
Os estudos de Marques da Silva para a fachada principal insistiram na inclusão de gradeamento
nas portas de entrada427. Anos mais tarde, Raul Lino questionou a proposta então apresentada
para o modelo de grade destinado a separar o átrio de entrada da escadaria de acesso às galerias
das salas das sessões, acusando a falta de ritmo uniforme dos vãos, a espessura das grades e o
seu afastamento estético dos estudos de Ventura Terra, estranhando a inclusão de barras
torcidas428. Das hipóteses apresentadas na sequência, elogiadas pelo arquiteto pela adequação
ao estilo do edifício, propôs a adoção de segunda429. Os engenheiros-chefes das repartições da
REE não consideravam imprescindível a solicitação do secretário da Assembleia Nacional de
colocar portões de ferro nos cinco vãos de acesso ao vestíbulo principal, opinião que obteve
concordância do ministro430. As razões de segurança alegadas pelo secretário, particularmente
no caso de motins, estariam acauteladas pela existência de portas resistentes que vedavam a
entrada, e pelo facto de o edifício estar sob vigilância permanente431.
O cuidado com pormenores evidencia-se, por exemplo, na atenção conferida aos estudos das
guaritas para os guardas. Raul Lino alertou para os perigos de disfarçar a estrutura de madeira
por forma a confundir-se com o material da fachada, correndo o risco de parecer uma obra
provisória ou pouco calculada, certamente inaceitável para um edifício com tamanha
relevância. Deveria assumir-se a função militar ou policial das guaritas através do aspeto e da
pintura, como autênticas “casotas blindadas”432. Favorável à solução apresentada, sugeriu que
as guaritas fossem pintadas de cinza claro433.

O plano de urbanização dos terrenos contíguos ao palácio coube ao arquiteto Luís Cristino da
Silva, devendo, juntamente com a comissão de obras, articular-se com a Câmara Municipal de
Lisboa para evitar conflitos. Tal ficou explicitado, por exemplo, aquando da aprovação do

426
Cópia de Parecer, s.d. [ant. 27.02.1934], p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02,
TXT.04537940.
427
França, O Palácio de São Bento, 111.
428
Raul Lino, Parecer de 04.11.1938, transcrito em ofício do Conselho Central da DGEMN, 05.11.1938.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431407-TXT.07431406.
429
Raul Lino, Parecer, 14.01.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431426.
430
REE, Parecer, 07.12.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431465.
431
REE, Parecer: obras no Palácio da Assembleia Nacional, 18.11.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431462.
432
Raul Lino, Guarita para a guarda do Palácio da Assembleia Nacional, 04.01.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431421.
433
Raul Lino, Palácio da Assembleia Nacional: Projecto de guarita, 31.03.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431429.

83
anteprojeto, sendo imprescindível a explanação de todos os pormenores ao município434. Os
seus estudos demonstram preocupação com a questão da monumentalidade e necessária
simetria exigidas para o empreendimento435. Nesta altura, Cristino da Silva projetara, por
exemplo, os icónicos cineteatro Capitólio (1928, Lisboa) e Liceu de Beja (1930-34). Em termos
urbanísticos, estivera envolvido nos estudos de urbanização de Fátima (1929, colaboração com
Ernesto Korrodi), e apresentara planos não executados, como os para o Parque Eduardo VII e
prolongamento da Avenida da Liberdade (1930-61), em Lisboa, e para o arranjo da zona de
proteção da Biblioteca de Braga (1935).
O Conselho de Arte e Arquitetura da CML apreciou e aprovou o anteprojeto de transformação
do largo fronteiriço ao Palácio de São Bento436, iniciando-se pouco tempo depois as demolições
necessárias e as terraplanagens para a vasta transformação, que modificaria a configuração do
desnível entre o edifício e as ruas na cota abaixo através de uma imponente escadaria de acesso
à entrada principal, obrigando a remodelar a organização viária da zona. Porém, após início
dos trabalhos, sequente à aprovação por parte do Ministro das Obras Públicas, da DGEMN e
da CML, o CSBA – pelos vogais José de Figueiredo, Pardal Monteiro e Paulino Montês –
pronunciou-se contra o projeto de alteração desse largo437, procurando a DGEMN que não
houvesse delongas na execução. Em junho de 1936, Leal de Faria submeteu a estimativa de
orçamento para a transformação, elaborada com colaboração de Cristino da Silva, que então
ainda estudava o projeto438. As obras implicariam, para além de terraplanagens, fundações ou
ajardinamento, a instalação de candeeiros monumentais eletrificados e a remoção do arco de
São Bento. Cristino da Silva previra também a execução de duas estátuas equestres em bronze,
ainda sem pormenores, embora o arquiteto tivesse já, em conversa com o escultor Francisco
Franco, estimado o custo em 700.000$00439. Estas estátuas não seriam concretizadas.

Após uma hipótese de colocar o arco de São Bento junto do largo fronteiriço, o arquiteto previu
que fosse reconstruído junto à face poente do Largo de S. Bento, na zona contígua à área

434
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 14.11.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04539845.
435
Rodolfo, Luís Cristino da Silva e a Arquitectura Moderna em Portugal, 184.
436
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.05.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04538055.
437
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 28.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536652-TXT.04536656.
438
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.06.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3238/04, TXT.04553614-TXT.04553617.
439
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.06.1936, p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3238/04, TXT.04553614.

84
ocupada pela Torre do Tombo, bem como planeava a introdução de uma escadaria nesse
local440. O arco marcaria de forma monumental a entrada no parque contíguo ao Palácio da
Assembleia Nacional, caso os terrenos fossem expropriados441. Leal de Faria interrogava se
deveria ser mantido e recuperado, ou simplesmente demolido, o aqueduto que passava sobre o
arco, e que o assunto deveria ser analisado pela CML – responsável, também, pela execução
da pavimentação do largo – e pela Companhia das Águas.
Já em meados de 1945, a pedido da CML, o engenheiro Eduardo Simões Fonseca, da REE,
verificou que no recinto onde havia decorrido a exposição Lisboa Antiga, junto do palácio, se
encontravam armazenadas as cantarias do arco removidas após a sua demolição em 1938 442 e
duas colunas aptas a servir de pedestal para esculturas443. Devido à desistência da ideia de
recolocar o arco nas proximidades, propôs-se a venda das cantarias ou o seu aproveitamento
em obras camarárias, após averiguar o seu valor artístico444, devendo o município armazená-
las em depósito próprio445. As colunas poderiam ser utilizadas para bustos que se viessem a
equacionar para decoração de edifícios públicos. Não obstante, por ocasião do planeamento da
construção de um jardim público em terrenos perto da fachada sul do palácio, junto da Calçada
da Estrela, igualmente a cargo do arquiteto Cristino da Silva, o Ministro das Obras Públicas
sugeriu a reconstrução do arco no local como elemento decorativo446.

440
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 20.03.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3238/04, TXT.04553642-TXT.04553645.
441
Luís Cristino da Silva, Ante-projecto da Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional - Memória
Descritiva, 05.03.1936, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04, TXT.04553691.
442
Apesar de a demolição já ter sido adjudicada em 1935, não se concretizou, retomando-se o assunto em 1938,
com despacho ministerial para que se procedesse imediatamente ao assunto. Ofício de Leal de Faria para Diretor-
Geral da DGEMN, 22.09.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3218/01, TXT.04542219.
443
Ofício de Eduardo Simões Fonseca, 01.06.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431870.
444
Ofício de Raul Maçãs Fernandes para Diretor-Geral da DGEMN, 11.06.1945. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431871.
445
Ofício de Raul Maçãs Fernandes para Diretor-Geral da DGEMN, 10.07.1945. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431872.
446
Luís Cristino da Silva, Memória Descritiva da Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional. Projecto
definitivo do jardim a localizar junto da fachada sul do palácio, 06.05.1946, p. 3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/02, TXT.04553474.

85
Fig. 8. Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Estudo para a remodelação
e embelezamento do edifício onde se encontra instalado o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras
– Convento do Quelhas – e ajardinamento dos terrenos anexos, 26.05.1946.

86
Fig. 9. Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Projecto do jardim a
localizar no lado sul do Palácio junto da Calçada da Estrela (variante), 25.05.1947.

O arquiteto propôs que, apesar da inserção necessária de novas pedras originalmente


inexistentes, as cantarias mantivessem um aspeto de ruína, reforçado pela inclusão de plantas
trepadeiras, colocando-se o arco no fundo do terrapleno central, antecedendo uma escadaria de
ligação entre as duas secções do jardim. Porém, concluiu-se que o dispêndio seria elevado, e
Cristino da Silva apresentou uma variante do projeto do jardim omitindo o arco, dado que em
conversa com o ministro se ponderara a desistência da reconstrução447. Sem efeito prático, a
CML recuperou a hipótese de reconstrução do arco noutra zona da cidade em 1954, numa altura
em que as cantarias permaneciam armazenadas no Parque Sanitário da Direção-Geral da Saúde
(DGS), junto da Calçada da Estrela448. Aí se mantinham ainda em 1970, ocupando c. 600 m2,
apesar de insistências da DGS, que equacionava retirar os serviços da delegação de saúde do
local449. Assim, a DSMN considerou oportuno que se apresentasse uma solução condigna para
a reconstrução do arco, dado ser um elemento memorizando o sistema abastecedor de água da
capital setecentista, voltando a surgir a ideia de colocação no largo ajardinado à ilharga do
Palácio de São Bento. A proposta de reconstruí-lo numa propriedade da Companhia das Águas
de Lisboa também foi infecunda, sugerindo o Diretor-Geral da DGEMN, após conversações
com o presidente do conselho de administração daquela companhia, que fosse colocado no

447
Ofício de Luís Cristino da Silva para Henrique Gomes da Silva, 23.06.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3239/08, TXT.04554294-TXT.04554293.
448
Ofício de Luís Benavente (diretor da DSMN) para Diretor-Geral da DGEMN, 25.08.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512395.
449
Ofício do arquiteto diretor da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 21.12.1970. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1506/2, TXT.00513104-TXT.00513102.

87
“largo ajardinado, sito à ilharga do Palácio de S. Bento”450. A CML, nessa altura, entregara o
estudo do assunto a um grupo de técnicos451, retomando o contacto com a DGEMN dois anos
depois, quando as pedras do arco se encontravam alojadas no estaleiro da direção-geral no
Palácio da Ajuda452.

No processo de urbanização na década de 1930, Luís Cristino da Silva foi incumbido pela
DGEMN de estudar o plano da zona de proteção do Palácio da Assembleia Nacional. Importava
delimitar esse perímetro devido à necessidade de expropriação de prédios circundantes para
conclusão das obras previstas. A zona de proteção foi fixada em agosto de 1937, assim
estabelecendo a área interdita a novas construções, na qual era permitido remover habitações
indesejadas, que pela natureza e finalidade aviltavam “o valor monumental” do palácio 453. Dez
anos depois, foram introduzidas algumas disposições454, nomeadamente respeitantes a
cedências de terreno entre a Direção-Geral da Fazenda Pública (DGFP) e a CML para execução
de arruamentos.
No anteprojeto da zona de proteção, datado de março de 1936, o arquiteto explicitou a
pretensão de valorizar o conjunto de forma harmoniosa, integrando áreas ajardinadas alinhadas
ordenadamente segundo os eixos principais do edifício e uma enorme escadaria de acesso à
entrada principal terminando, na base, numa praça pública455. Em frente desta praça, o trânsito
seria modificado através da abertura de duas imprescindíveis largas artérias, o que implicaria
demolição de edifícios particulares nas ruas aí existentes e do mercado da Praça de São Bento.
Também no lado da Calçada da Estrela estava previsto um jardim, envolvendo expropriação
de imóveis. No local então ocupado pela DGS, Cristino da Silva equacionava que poderia,
posteriormente, ser construído o Museu de Arte Contemporânea456.

450
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 14.01.1971. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1506/2, TXT.00513105.
451
Ofício do Presidente da CML para o Diretor-Geral da DGEMN, 23.03.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-
001/011-1506/2, TXT.00513107.
452
Ofício do arquiteto Diretor da DSMN para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.03.1973. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1506/2, TXT.00513111-TXT.00513112.
453
Decreto-lei n.º 27921, Diário do Governo, I série, n.º 180, 04.08.1937, p. 789-790.
454
Decreto-lei n.º 28216, Diário do Governo, I série, n.º 274, 24.11.1947, p. 1314.
455
Luís Cristino da Silva, Ante-projecto da Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional - Memória
Descritiva, 05.03.1936, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04, TXT.04553692.
456
Luís Cristino da Silva, Ante-projecto da Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional - Memória
Descritiva, 05.03.1936, p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04, TXT.04553690.

88
Fig. 10. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: variante do projecto, planta
das expropriações, 22.12.1937.

Fig. 11. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: variante, 16.04.1943.

89
Fig. 12. Obras de pavimentação no local onde existiu o mercado de São Bento (fachada nordeste do palácio, Praça
de S. Bento). 1943.

O anteprojeto foi apresentado à 1.ª subsecção da 4.ª secção do CSOP, dedicada à urbanização,
que considerou imperiosa a valorização do palácio através de uma zona de proteção, devendo
ficar desafogado das habitações circundantes457. Houve necessidade de empreender algumas
retificações para menor custo, prevendo-se a distribuição das expropriações por fases,
conforme o avanço das obras458. Leal de Faria instava em janeiro de 1938 para que a variante
proposta fosse aprovada, por forma a poder executar os trabalhos correspondentes ao
ajardinamento da fachada principal até novembro, altura em que se previa a reabertura solene
da Assembleia Nacional459. A variante pretendia menor dispêndio na execução do projeto,
mantendo os seus traços gerais – a maior diferença residiu na alteração do formato da praça
antecedendo a escadaria principal, que passou de retangular a semicircular, paralelamente

457
Ofício de Raul da Costa Couvreur (presidente da 1.ª subsecção da 4.ª secção do CSOP) para o Ministro das
Obras Públicas e Comunicações, 24.07.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04,
TXT.04553700-TXT.04553701.
458
Ofício de Luís Cristino da Silva para o Diretor-Geral da DGEMN, 12.01.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04, TXT.04553724.
459
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 25.01.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3238/04, TXT.04553730- TXT.04553731.

90
poupando gastos com expropriações460. O CSOP deu o seu aval positivo dois meses depois461.
Do estudo de Cristino da Silva, Duarte Pacheco não aprovou a colocação de dois mastros de
grandes dimensões ladeando a base da escadaria principal, privilegiando a introdução de quatro
candeeiros no local462.

Fig. 13. Luís Cristino da Silva, Projecto da zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: escadaria -
alçado, 19.09.1936.

Fig. 14. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: estudo da iluminação da
escadaria, 26.11.1938.

460
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional - Memória Descritiva da Variante
do projecto apresentado em 19 de Setembro de 1936, 05.01.1938, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3237/01, TXT.04553398.
461
Ofício de Raul da Costa Couvreur para o Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 08.03.1938.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04, TXT.04553747-TXT.04553751.
462
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 06.09.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/01, TXT.04543325-TXT.04543326.

91
Por sugestão de Leal de Faria463, os estudos de Cristino da Silva englobaram também a área
posterior do edifício, que separava essa zona do parque da residência oficial do Presidente do
Conselho464. Para a fachada posterior do palácio, propôs uma solução englobando o
ajardinamento da faixa de terreno junto do muro de suporte e a inclusão de uma escadaria
amplamente ornamentada, procurando resolver o desnível entre o parque e o muro.
Imprimindo-lhe um “acentuado carácter decorativo, sóbrio e monumental, baseando-se as suas
linhas gerais nos bons princípios clássicos”465, a escadaria desenvolver-se-ia por quatro lanços.
O muro, comportando nichos, seria completado por elementos decorativos como vasos, fontes
e bancos, e a escadaria seria rematada por duas esculturas de grandes dimensões colocadas
sobre pedestais. Essas esculturas representam esfinges com acentuada musculatura,
acompanhadas de um escudo nacional com as cinco quinas, da autoria de Leopoldo de Almeida
(1898-1975)466. Rita Mega identifica-as esteticamente com os leões egípcios da romana Piazza
del Campidoglio, que o escultor terá observado na sua viagem por Itália467. Raul Lino
considerou a proposta adequada por harmonizar com a arquitetura do palácio, julgando que os
panos do muro em torno dos nichos não deveriam levar forro de cantaria por preferir o seu
guarnecimento com trepadeiras floridas468.

463
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 07.08.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3238/04, TXT.04553707.
464
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: projecto de decoração do muro
de suporte e escadaria monumental situada junto da fachada posterior do Palácio, 02.09.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3237/02, TXT.04553434.
465
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Memória Descritiva do ante-
projecto de uma escadaria e jardins a situar junto da fachada posterior do Palácio, 05.01.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3282/03, TXT.04581565.
466
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 20.05.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.04732147.
467
Rita Mega, Vida e obra do escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), Tese de Doutoramento, Faculdade de
Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2011, 63.
468
Raul Lino, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Anteprojecto da escadaria, jardim e muralha
do lado ocidental, 18.02.1938. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 1.º vol., 180.

92
Fig. 15. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: projecto da escadaria e
jardins a situar junto da fachada posterior, 25.08.1938.

Fig. 16. Leopoldo de Almeida, Esfinge no topo da escadaria do jardim posterior. 2020.

A composição ajardinada, de inspiração francesa, integrava duas estátuas de lioz, percetíveis


nos desenhos do arquiteto. Do lado direito, uma alegoria à Justiça, cuja autoria é atribuída pelo

93
Museu da Assembleia da República a Maximiano Alves469: uma figura sentada de expressão
clássica, com dois pratos da balança pendendo sobre uma das pernas e uma espada, danificada.
Para a escadaria principal, o escultor fora também incumbido de conceber uma estátua
representativa da Justiça, que, porém, difere esteticamente da peça que se encontra no jardim e
da proposta inicial, que foi alvo de alterações. Não se conseguiu apurar se esta estátua foi
propositadamente encomendada para o jardim. Do lado oposto, foi colocada uma estátua
retratando a Força, formalmente similar à figura da Justiça, sem identificação de autoria.
Aparenta inspirar-se em Minerva, envergando couraça, capa, elmo e sandálias, tendo sido
fixada no ato de desembainhar uma espada. Paulo Simões Nunes atribui estas duas estátuas a
Leopoldo de Almeida, nomeando-as como Guerreiro e Justiça470 – no entanto, não
identificámos referências no aludido estudo de Rita Mega ou no espólio do escultor.

Fig. 17. Estátua de autor não identificado: Fig. 18. Estátua de autor não identificado: Força. 2004.
Justiça. 2001.

469
Museu da Assembleia da República: A Força, n.º inventário MAR 2050. Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/MatrizWebAR/DetalhesObra?id=2486&tipo=OBJ (acesso a 30.08.2021).
Temos dúvidas sobre esta atribuição de autoria, dado que a estátua diverge da expressão plástica habitual de
Maximiano Alves, aproximando-se da outra estátua do jardim. Norberto de Araújo, na sua descrição do edifício,
não identifica o autor das estátuas, referindo-as como “uma estátua de um guerreiro e outra representando a
«Justiça», meramente ornamentais” (Araújo, Inventário de Lisboa, 34).
470
Paulo Simões Nunes, “ALMEIDA, Leopoldo Neves de”, in Dicionário de Escultura Portuguesa, coord. José
Fernandes Pereira (Lisboa: Editorial Caminho, 2005), 32.

94
Aquando do arranjo, o Diário de Lisboa deu conta de que o plano englobaria ainda como
decoração “azulejos polícromos (...) que ficará com um lindo aspecto de jardim da
renascença”471 – nenhuma informação foi, no entanto, detetada quanto à colocação de
azulejaria no muro. Durante as escavações para executar a pavimentação da área entre a
fachada posterior e o jardim, foi encontrado o extradorso de uma abóbada de uma capela que
aí existira472. Optou-se pela demolição desse vestígio, cobrindo a capela com entulho,
prevendo-se a salvaguarda de três fechos brasonados no Museu do Carmo473. Porém, o
Secretário da Assembleia Nacional manifestou interesse em manter os fechos de abóbada no
museu existente no edifício, decisão sobre a qual Duarte Pacheco despachou não poder
solucionar nos termos postos474.
Já em 1960, o arquiteto João Filipe Vaz Martins (1910-1988), diretor da DSMN, deu conta de
que o jardim localizado entre o palácio e a residência do Presidente do Conselho fora replantado
há quatro anos, mas a falta de verbas impedira o tratamento dos restantes espaços ajardinados,
que o Diretor-Geral da DGEMN considerava ser imperioso que se encontrassem sempre em
perfeito estado475.

471
Anónimo, “Lisboa alinda-se: Nas traseiras da Assembleia Nacional vai ser construída uma grade monumental
com nichos e estátuas num jardim Renascença”, Diário de Lisboa, n.º 5742, 14.11.1938, p. 4.
472
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 30.08.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/01, TXT.04543359-TXT.04543360.
473
Ofício do arquiteto-chefe da 1.ª secção da Direção dos Monumentos Nacionais para arquiteto Diretor dos
Monumentos Nacionais, 24.09.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3219/01, TXT.04543361.
474
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 07.10.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/01, TXT.04543383.
475
Ofício de João Vaz Martins para Diretor-Geral da DGEMN, 01.02.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3882/01, TXT.04946052-TXT.04946051.

95
Fig. 19. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: projecto do arranjo
arquitectónico do ângulo sudoeste da Praça de S. Bento – planta de conjunto, 27.05.1939.

Fig. 20. Luís Cristino da Silva, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Praça de S. Bento,
rectificação ao primeiro projecto – alçado do conjunto, 02.06.1941.

96
O arranjo arquitetónico do ângulo sudoeste da Praça de S. Bento, também projetado por
Cristino da Silva, correspondia ao trecho da zona de proteção englobando um terreno
acidentado localizado entre a ala noroeste do edifício, o parque da residência do Presidente do
Conselho, a Praça de S. Bento e algumas habitações, que era necessário expropriar e demolir,
tal como alguns muros e escadas aí existentes476. Embora inicialmente houvesse ponderado
uma solução menos dispendiosa que não implicaria a destruição dos prédios, o arquiteto
justificou a opção de eliminação com a monumentalidade do local. Recorde-se que o arranjo
urbanístico da zona do palácio integrava o programa de obras e melhoramentos das
comemorações centenárias de 1940, que declarava as indispensáveis aquisições e
expropriações como de utilidade pública477.
O plano incluía o ajardinamento da área em três plataformas distintas, cada uma com
tratamento específico478. A primeira estava ao nível da Praça de S. Bento e seria totalmente
coberta com relvado e coroada por dois arbustos nas extremidades. A segunda parcela seria
mais elaborada, desenvolvendo-se num terreno inclinado: definida por traçados geométricos
obtidos pelo uso de arbustos de diferentes tonalidades, destacar-se-iam três motivos circulares
guarnecidos com seixos coloridos, para além de um conjunto de arbustos podados para obter
vários formatos. A terceira plataforma correspondia à zona mais elevada, compondo-se de
arcos ornados de plantas alternados com arbustos, encimando toda a composição ajardinada e
confinando com o arruamento através de um espaço relvado decorado com flores. Este projeto
previa também uma construção anexa com três pisos, “destinada a dessimular(sic) o topo das
construções particulares e os respectivos quintais” 479, que permitiria um acesso privado ao
parque da Presidência do Conselho e equacionava integrar uma casa para o guarda no último
piso. As fachadas harmonizar-se-iam com as linhas arquitetónicas do palácio. Foi aprovada a
variante B do arranjo do ângulo sudoeste da Praça de São Bento, por se tratar de proposta
interessante em termos arquitetónicos480.

476
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Projecto do arranjo
arquitectónico do Sudoeste da Praça de S. Bento. Memória Descritiva, 30.05.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3282/01, TXT.04581486-TXT.04581487.
477
Decreto-lei n.º 28797, Diário do Governo, I série, n.º 150, 01.07.1938, art.º 1.º g).
478
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Projecto do arranjo
arquitectónico do Sudoeste da Praça de S. Bento – Jardins. Memória Descritiva, 27.05.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3282/01, TXT.04581471-TXT.04581472.
479
Luís Cristino da Silva, Zona de Protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Projecto do arranjo
arquitectónico do Sudoeste da Praça de S. Bento. Memória Descritiva, 30.05.1939, p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3282/01, TXT.04581486.
480
Parecer do Conselho Central, 09.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431427.

97
Volvidos alguns anos, Luís Cristino da Silva foi convidado pela CML para elaborar estudos
prévios para elaboração de um plano de remodelação do Bairro Alto e das suas ligações com a
cidade481. A proposta do arquiteto, sem concretização, previa a abertura de uma avenida de
ligação direta entre uma rotunda com miradouro a inserir na zona de S. Pedro de Alcântara e o
Palácio da Assembleia Nacional, continuando pela Avenida D. Carlos I para aceder à Avenida
24 de Julho482.

Perante um estudo para reconstrução de edifícios particulares na Rua de São Bento, junto do
parque privativo da Presidência do Conselho, apresentado em 1961, a Direção dos Serviços de
Conservação (DSC) chamou a atenção para a “valorização e enquadramento do edifício da
Assembleia Nacional”483. A zona de proteção que se encontrava em vigor não abarcava uma
zona de proteção para a residência do Presidente do Conselho. Julgando-se indispensável que,
tratando-se de um elemento relevante na futura Praça de S. Bento, o conjunto fosse libertado
no seu entorno de qualquer construção privada que o ocultasse, o diretor interino dos serviços,
engenheiro Jorge Manuel Viana (n.1943), propôs que se estudasse a aquisição de terrenos e
prédios que delimitavam a área para desafogar o seu enquadramento – portanto, opondo-se à
solicitada reconstrução. O ministro Arantes e Oliveira acedeu à proposta. A DSC pretendia
destacar o Palácio de São Bento como “o elemento dominante daquela zona da cidade”484,
realçando o seu carácter arquitetónico e representativo, considerando na planificação os
estudos de arranjo dos arruamentos circundando o palácio elaborados pelo Gabinete de Estudos
e Urbanização da CML485. Esta preocupação da singularização espacial de edifícios
emblemáticos – neste caso, sem classificação como monumento histórico –, libertando-os de
elementos em redor que prejudicassem a sua leitura individualizada, coaduna-se com as noções
de valorização das envolventes dos monumentos patentes na Carta de Atenas (1931), e que a
Carta de Veneza (1964) viria a reformular através da necessidade de conservação do
enquadramento tradicional sem “permissão de construções novas, demolições ou quaisquer

481
Luís Cristino da Silva, Estudo parcial de urbanização de Lisboa. Remodelação do Bairro Alto e das suas
principais ligações com a cidade. Estudos prévios para a organização futura de um ante-plano – Memória
Descritiva, 26.11.1952, p. 1. Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS 73.8.1.
482
Cf. Planta de Luís Cristino da Silva, Estudo parcial de urbanização – remodelação do Bairro Alto e das suas
principais ligações com a cidade. Estudos prévios para a organização futura de um ante-plano na escala de 1:2500,
18.11.1952. Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 73.29.
483
Ofício de Jorge Manuel Viana (diretor interino da DSC) para o Diretor-Geral da DGEMN, 28.03.1961, p.1.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3881/02, TXT.04945944.
484
DGEMN/Direção dos Serviços de Conservação, Zona de protecção do Palácio da Assembleia Nacional: Nota
explicativa, 16.05.1961. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3881/02, TXT.04945947.
485
Ofício de Jorge Manuel Viana (diretor da DSC) para o Diretor-Geral da DGEMN, 08.05.1962. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3881/02, TXT.04945953.

98
arranjos susceptíveis de alterar as relações de volume e cor”486. No caso do Palácio de São
Bento, procurava-se destacar um edifício adaptado há poucas décadas, mas que detinha um
papel fulcral na organização política e enquanto marco representativo do poder.

2.4. A residência oficial do Presidente do Conselho

Em 1935, Óscar Carmona promulgou uma lei reconhecendo o direito de o Presidente do


Conselho e o Ministro dos Negócios Estrangeiros habitarem, com a respetiva família, numa
propriedade estatal, a efetivar mediante intervenção do Ministro das Obras Públicas487.
Aquando do fracassado atentado ocorrido a 04.07.1937, Salazar residia na Rua Bernardo Lima
n.º 64, em Lisboa, que ocupara aquando da tomada de posse como Presidente do Conselho488.
O próprio recordou, em conversa com a jornalista francesa Christine Garnier, no verão de 1951,
que esse acontecimento despoletou a mudança para uma nova residência, referindo a aflição
de quem o rodeava, apressando-o “a instalar-me aqui [junto do Palácio da Assembleia
Nacional]. Garantiam que seria maior a minha segurança”489.

Para residência oficial do Presidente do Conselho foi adquirido um palacete oitocentista, que
havia em tempos sido arrendado por Joaquim Sottomayor490 e que à data era ocupado por
freiras, então temporariamente transferidas para edificações no novo manicómio de Lisboa491.
A aquisição, que pretendia isolar o edifício no jardim que comunicava com o palácio, implicou
a expropriação de terrenos envolventes, situação que levou alguns proprietários a manifestar,
em cartas a Salazar, o desagrado relativamente aos baixos valores de compensação, aquém das
necessidades de sustento futuro492. O Presidente do Conselho despachou acerca da inscrição de
uma verba no orçamento do MOPC para este tipo de expropriações, bem como de uma verba

486
ICOMOS, Carta de Veneza sobre a conservação e o restauro de monumentos e sítios, 1964: Art.º 6.º.
487
Lei n.º 1912, Diário do Governo, I série, n.º 117, 23.05.1935, p. 727.
488
Após 1974, o edifício foi ocupado como sede da União Democrática Popular (UDP). Em 2014, encontrava-se
devoluto e foi colocado à venda, aparentemente sem comprador uma vez que atualmente permanece, apenas, a
fachada principal. Agência Lusa, “Casa onde Salazar viveu e que foi sede da UDP à venda por cinco milhões de
euros”, Observador, 27.07.2014: https://www.publico.pt/2014/07/27/sociedade/noticia/casa-onde-viveu-salazar-
a-venda-por-cinco-milhoes-de-euros-1664461 (acesso a 05.08.2021).
489
Garnier, Férias com Salazar, 62.
490
França, O Palácio de São Bento, 181.
491
Ofício do Diretor-Geral da Saúde para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.08.1937. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01, TXT.04949219-TXT.04949220.
492
Carta de Maria Sancha da Silva Cayres para o Presidente do Conselho, 06.08.1937, ANTT: Arquivo Salazar,
OP-1, cx. 476, pt. 10, fls. 248-250.

99
destinada às obras de adaptação e reparação da sua residência oficial; despesas com obras
externas à residência, a realizar na casa do motorista ou no parque, seriam pagas pela verba
destinada às obras do Palácio da Assembleia Nacional493. Denota-se, portanto, a importância
adscrita ao empreendimento.
O estudo das obras necessárias no palacete e sua envolvente decorreu em 1937, sob alçada da
delegação dirigida por Leal de Faria, com orientação direta e atenta de Salazar, que lhe expunha
as suas opiniões e necessidades494. As obras iniciaram-se a 16 de agosto desse ano, numa altura
em que a pasta das Obras Públicas e Comunicações era ocupada pelo major de engenharia
Joaquim Silva Abranches (1888-1939), e terminaram a 8 de junho seguinte495. O ministro
apelara para que se atentasse no caráter de urgência que detinham, instando a que apenas
fossem empegados trabalhadores “de absoluta confiança”496.

Fig. 21. Residência oficial do Presidente do Conselho. S.d.

493
Despacho de António de Oliveira Salazar, 17.08.1937 [dactilografado]. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx.
476, pt. 10, fls. 255.
494
Leal de Faria referiu por diversas vezes as conversas que tinham sobre as obras na residência. Cf., p.ex., Ofício
de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 10.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3889/02, TXT.04949722-TXT.04949723.
495
Teófilo Leal de Faria, Relatório das obras e diversos trabalhos realizados na residência oficial do Prof. Doutor
A. de Oliveira Salazar, em S. Bento, 1938, p. 1. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 15, fl. 399.
496
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 27.08.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/01, TXT.04949202.

100
O Presidente do Conselho delineou diretrizes para cada divisão dos quatro pisos que
compunham o edifício (cave, rés-do-chão, 1.º piso e sótão), indicando aspetos como
aproveitamento de mobiliário que já possuía noutros escritórios e aquele que era necessário
adquirir, bem como sua localização espacial, abertura de vãos e portas, cuidados a ter com a
escolha da cor das paredes e materiais para iluminação de salas com fraca incidência de luz
natural, a decoração a integrar conforme a finalidade da sala, ou detalhes das instalações de
aquecimento e água497. Leitão de Barros registou que, por vezes, ao domingo à tarde, Salazar
visitava de forma minuciosa o palacete para ficar a par da evolução das obras: “inspecciona,
corrige, orienta, aconselha ele próprio todos os pormenores da sua residência, na parte utilitária
que interessa ao «inquilino»”498.
Segundo as notas de Salazar, foi seguido o critério de aproveitamento máximo do existente,
não alterando o traçado e a divisão interna499. A cave integrava a cozinha, copa com elevador
para transporte de refeições e dispensa, áreas para arrecadação, engomadoria e instalação da
caldeira, três compartimentos aptos para depósito de livros ou arquivo e um vestíbulo. As
dependências no rés-do-chão e no primeiro piso encontravam-se distribuídas em torno de um
corredor central. A entrada no palacete fazia-se através da fachada sul, dando para um
vestíbulo. No lado nascente do rés-do-chão, localizava-se um escritório de trabalho
vocacionado para receção, uma biblioteca (também designada como “sala de fumo”500) e a sala
de jantar, separada pelo corredor da copa, já do lado oposto e junto de uma pequena sala de
costura e do vão da escada principal, perto de outra entrada e de uma casa de banho; desse lado
poente, com acesso direto através do vestíbulo de entrada, existia ainda uma sala de receber,
que ficou conhecida como “sala das pretas”. O primeiro andar comportava uma secção de
trabalho, com uma sala prevista para a realização eventual de reuniões do Conselho de
Ministros, conforme necessidade, ou outras reuniões de trabalho, e um gabinete de trabalho
particular para Salazar, e a zona mais privada da residência, com quarto, divisões de banho e
wc e sala de jantar privativa do presidente do Conselho, bem como quarto e sala de estar para
hóspedes com quarto de banho próprio, e ainda um pequeno quarto de cama. O Presidente do
Conselho possuía um oratório particular, tendo Salazar reclamado com o estado gasto, sujo, e,

497
Notas de António de Oliveira Salazar: sem data; 16.08.1937; 03.03.1938 [datilografadas]. ANTT: Arquivo
Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 9, fl. 165-205; 206-222; 223-229.
498
Leitão de Barros, “Como vive e trabalha o Sr. Dr. Salazar”, O Século, n.º 20177, 21.05.1938, p. 3.
499
Notas de António de Oliveira Salazar, sem data [datilografada]. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 9,
fl. 196-205.
500
Teófilo Leal de Faria, Relatório das obras e diversos trabalhos realizados na residência oficial do Prof. Doutor
A. de Oliveira Salazar, em S. Bento, 1938: planta do rés-do-chão. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 15.

101
portanto, inadmissível, de grande parte dos paramentos que o compunham501, procedendo-se à
cedência de peças de coleções estatais através da DGFP502. Finalmente, no sótão, Salazar
indicara a conservação da casa-de-banho existente, detetando-se nas plantas, adicionalmente,
dez compartimentos destinados a quartos, arrecadações e espaço para engomar, para os criados
ao serviço desta habitação. Para além dos necessários arranjos interiores, incluindo tarefas
como melhoria dos pavimentos, pinturas e estucagem de paredes, e execução e compra de
mobiliário, realizaram-se obras de reparação exterior, como substituição das guardas das
escadas e das grades das janelas, arranjo de telhados, pintura das fachadas, e construção do
terraço e de uma escadaria na fachada posterior, por exemplo503. Alguns meses após a mudança
para a residência, planeou-se a integração de um elevador, que implicava a remoção de uma
escada em caracol que ligava a cave ao rés-do-chão504.

Fig. 22. Planta geral do parque e residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: rede de canalizações. 1937.

501
[António de Oliveira Salazar], Nota, 07.08.1938. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1 cx. 476, pt. 14, fl. 381.
502
[António de Oliveira Salazar], Despacho [manuscrito], 17.08.1938. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1 cx. 476, pt.
14, fl. 382-390.
503
Obra da residência de S. Ex.ª o Senhor Presidente do Conselho, s.d. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476,
pt. 9, fl. 233-246.
504
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.11.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/02, TXT.04949868.

102
Fig. 23. Residência do Presidente do Conselho: planta do 1.º andar. [1938].

O arranjo da sala de jantar, gabinete de trabalho, gabinete do secretário, sala de receção e sala
do Conselho coube, como a restante habitação, ao arquiteto António Lino, cujo projeto foi
apreciado pela 1.ª subsecção da 6.ª secção da JNE. No parecer de aprovação assinado pelo
vogal Tertuliano de Lacerda Marques, apesar de pontuais sugestões de modificação, salientou-
se a distribuição lógica e equilibrada, o agradável aspeto e a generalizada simplicidade dos
elementos do projeto, que lidou com uma edificação preexistente com caráter acentuadamente
oitocentista505.
No final da intervenção, Leal de Faria elaborou um relatório detalhado, com o qual procurou
demonstrar como empregara as facilidades e a confiança que lhe haviam sido consignadas para
o empreendimento: referindo que, durante o processo, por diversas vezes Duarte Pacheco
apresentara relutância em assinar portarias para dotações, encarava o relatório como evidência
da sua reta conduta, e no caso de o ministro manter essa atitude, decidira apresentar a demissão
imediata por não desejar continuar a dirigir a delegação sem a sua completa confiança506. Leal
de Faria anteciparia assim a demissão, que iria requerer em novembro, por não considerar

505
Cópia do parecer da JNE, 17.11.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01, TXT.04949369-
TXT.04949370.
506
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 11.08.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948544-TXT.04948541.

103
adequado que se continuasse a despender o salário de um engenheiro enquanto a Direção de
Edifícios de Lisboa (DEL) poderia encarregar um dos seus funcionários para essa tarefa.
Mencionou que já em março de 1935 pedira rescisão de contrato e exoneração de todos os
cargos que então ocupava no MOPC, como na Junta de Construções para o Ensino Técnico e
Secundário ou na direção de obras em outros palácios nacionais, o que lhe foi concedido à
exceção da direção das obras em São Bento. Embora não se ultrapasse a esfera da especulação,
intuem-se conflitos entre o jovem ministro que rapidamente ascendera de professor de
Engenharia Eletrotécnica a diretor do IST, renovador do ramo das obras públicas como suporte
do programa ideológico do regime em ascensão, e o major de engenharia e lente da Escola
Militar, que durante as obras no Palácio da Assembleia Nacional foi demonstrando o seu gosto
de pendor tradicionalista. Não obstante, Leal de Faria permaneceria à frente da delegação até
1943507.
O relatório permite averiguar que foram empregues materiais de construção e objetos utilitários
“da melhor qualidade que se encontrou no mercado”508. O engenheiro justificou o facto de não
terem sido abertos concursos para fornecimento de mobiliário e decoração pela urgência
envolvida na conclusão da obra, tendo encarregado diretamente diversas firmas após os estudos
das peças necessárias. Refira-se, a título de exemplo, as empresas Móveis Olaio, Companhia
dos Grandes Armazéns Alcobia e Barbosa & Costa, que colaboraram regularmente nos
interiores de equipamentos públicos promovidos pelo regime. Integraram-se, adicionalmente,
peças do Museu de Arte Antiga, do Palácio Nacional de Sintra e do Ministério do Interior,
como uma cómoda em estilo Luís XVI para o quarto de hóspedes ou uma papeleira D. João V
para o vestíbulo de entrada. Em termos estilísticos, predomina a tendência de integrar peças de
cariz historicista, como garante da solenidade exigida para uma residência oficial, e na
continuidade de um gosto previamente fixado: na habitação de Salazar na Rua Bernardo Lima
já existiam mobília de estilo Luís XVI e peças com forros de veludo509.

No que respeita à decoração, deteta-se o recurso a obras de arte – particularmente pinturas –


provenientes de museus e palácios nacionais em regime de empréstimo, que decoravam tanto
as salas e os gabinetes de trabalho, como os corredores e os quartos, quer do Presidente do

507
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Chefe da Secção das Finanças do 2.º Bairro, 18.05.1943.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0015/09, TXT.1205708.
508
Teófilo Leal de Faria, Relatório das obras e diversos trabalhos realizados na residência oficial do Prof. Doutor
A. de Oliveira Salazar, em S. Bento, 1938, p. 21-22. ANTT: Arquivo Salazar, OP-1, cx. 476, pt. 15, fl. 418-419.
509
Barros, “Como vive e trabalha o Sr. Dr. Salazar”, p.2.

104
Conselho, quer dos empregados510. Uma percentagem foi alvo de restauro prévio.
Predominavam telas dos séculos XVII, XVIII e XIX, representando tanto temas históricos,
como a Guerra Peninsular, como religiosos e mitológicos, bem como cenas de caça, naturezas-
mortas e paisagens, tanto nacionais como italianas. No quarto de cama de Salazar foram
colocadas cinco pinturas sobre cobre, também do MNAA, figurando temas bíblicos:
Anunciação, Fuga para o Egipto, Natividade, Adoração dos Magos, e Virgem com o Menino,
enquanto no seu gabinete de estudo privativo constavam duas telas retratando ruínas e uma
representação do interior da catedral de Milão. Previamente, Leal de Faria visitara o Palácio da
Ajuda com António Lino e Guilherme Possolo (1889-1973)511, por forma a verificar a
existência de quadros passíveis de decorar a residência, tendo selecionado 12 das galerias e
cinco telas de Silva Porto de uma das salas do palácio, que o engenheiro categorizava como
“quadros modernos”512 – evidência de um gosto conservador, pautado pela estética naturalista,
considerando que Silva Porto falecera nos finais do século XIX. Nessa visita, o grupo observara
também um conjunto de utensílios de prata que julgou conveniente para recheio da residência.
Para escolha de peças para a sala de receção, vestíbulo de entrada e patim da escada principal,
o engenheiro esteve também no Museu de Arte Antiga com o seu diretor, João Couto, e
Guilherme Possolo, e no Palácio da Ajuda com o último, local onde identificaram um tapete
persa adequado para o chão da receção, embora carecendo de restauro513. Possolo indicou ainda
a existência de três tapeçarias do tipo Gobelins e três cómodas – uma delas de estilo Luís XVI
– no Palácio Nacional de Sintra, sem inconveniente de serem retiradas por se encontrarem em
corredores. Perante essas incursões, Henrique Gomes da Silva alertou Leal de Faria de que não
competia à DGEMN a transferência de peças de palácios e museus, e uma vez que figuras como
Possolo não faziam parte dessas instituições, seria prudente que os verdadeiros responsáveis
elencassem o que consideravam adequado para apreciação direta do Presidente do Conselho514.
O engenheiro teve necessidade de justificar a sua conduta, referindo que o conteúdo da

510
Do conjunto de 33 telas cedidas pelo PNA e pelo MNAA, identificou-se que quatro regressaram entre 1990 e
2017 ao PNA (Inv. PNA 54994(a), 58429, 58428, 58432), e que duas estão atualmente a decorar gabinetes no
Palácio de São Bento (Inv. PNA 58875 e 58876).
511
Guilherme Possolo, formado em Direito, tornou-se num reputado connaisseur de artes decorativas no meio
português, privando com antiquários e colecionadores, particularmente com Ricardo do Espírito Santo Silva. Cf.
Hugo Xavier, “O modelo decorativo para o gabinete do governador do BNU: reconstituição de uma encomenda
especial”, in Nacional e Ultramarino: o BNU e a arquitectura do poder: entre o antigo e o moderno, coord.
Bárbara Coutinho, Conceição Amaral (Lisboa: CML/MUDE, 2012), 102.
512
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 09.04.1938, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01, TXT.04949672.
513
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 06.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3890/03, TXT.04950160.
514
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 10.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3890/03, TXT.04950161.

105
residência se encontrava igualmente a seu cargo: recorrera a especialistas, nomeadamente Raul
Lino, delegado da JNE, para o acompanhar em visitas a antiquários lisboetas, e a outros peritos
para observar os espólios museológicos nacionais, por forma a estipular uma relação de
mobiliário a submeter ao escrutínio da 6.ª secção da JNE, cuja consulta era obrigatória515.
Contou ainda com o auxílio de Fiel Viterbo516 (1873-1954) para a aquisição de mobiliário,
como camas D. Maria I, cadeiras e cortinas, em antiquários e outros fornecedores517.
O processo de decoração da residência foi apreciado pela Conselho Permanente de Ação
Educativa (CPAE) e pela JNE. O parecer assinado por Reinaldo dos Santos apoiou-se na
informação prestada por João Couto relativa ao pedido que fora endereçado por Leal de Faria.
João Couto advogava que o palacete deveria ser decorado com “a máxima dignidade,
procurando-se a maior harmonia entre a decoração mural das salas e o mobiliário e adornos”518.
Revelou que para a sala de visitas se pretendeu um estilo francês, solicitando-se o empréstimo
de uma cómoda Regência, uma credência Luís XIV, quatro cadeiras e uma bèrgere, um tapete
persa, três quadros e algumas peças da China. Sugeriu-se a cedência de uma cómoda que
decorava a sala da baixela Germain e de uma credência que integrava o arranjo da sala Luís
Fernandes, alertando-se para o facto de os tapetes persas atingirem elevados valores no
mercado e não se prestarem a serem colocados no chão e, consequentemente, pisados, devendo
ser resguardados. Adicionalmente, acedia ao empréstimo de algumas peças de porcelana
chinesa e de duas pinturas atribuídas a Pietro Longhi, adquiridas no leilão Burnay de 1934519,
cujo retorno seria imperioso aquando da abertura das salas do novo anexo do museu. Alertava
que o museu tinha poucas peças decorativas relevantes de grandes dimensões, como móveis,
tapeçarias e porcelanas, o que condicionava o empréstimo e constituía um problema, dada a
ampla extensão das salas do novo anexo. Reinaldo dos Santos mostrou-se favorável à cedência

515
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 14.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3890/03, TXT.04950180-TXT.04950182.
516
Fiel da Fonseca Viterbo destacou-se na decoração de interiores e na reestruturação de espaços, particularmente
de edifícios portuenses. Maria de São José Pinto Leite, “O edifício do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto
(1933-1937). Percurso da renovação decorativa dos seus interiores”, Revista de Artes Decorativas 6 (2012-2014):
227-228.
Fiel Viterbo viria também a propor a aquisição de quatro gravuras para adorno de salas no Palácio de São Bento.
Ofício do Secretário da Assembleia Nacional para o Presidente da JNE, 09.05.1939. AHSGEC:
PT/MESG/AAC/JNE/G-A/02531 – Fundo JNE, cx. 323, proc. 44.
517
Fiel Viterbo, Proposta, 14.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/03, TXT.04950289.
518
Cópia da informação do Director dos Museus Nacionais de Arte Antiga [João Couto, 17.05.1938]. AHSGEC:
Fundo JNE, cx. 249, proc. 74.
519
No catálogo do leilão surgem discriminadas, com o n.º 359 e provenientes da sala amarela do palácio na
Junqueira, duas pinturas atribuídas a Pietro Longhi / Escola Veneziana, do século XVIII, retratando cenas
interiores com diversas personagens. Catálogo dos quadros, objectos de arte, porcelanas e mobiliário que
pertenceram aos 1.os Condes de Burnay e a cujo leilão de procederá no Palácio da Junqueira em 1934 (Lisboa:
Oficina Gráfica, 1934), 49-50.

106
das quatro cadeiras e dos quadros atribuídos a Longhi, e que o diretor do museu selecionasse
as peças de porcelana com outros membros da comissão; porém, indicou que tanto o tapete
persa do PNA como a cómoda e a credência do MNAA, aí em exposição, não deveriam ser
“desviados do papel que estão representando”520.
A aquisição de outros objetos, como um lustre antigo de vidro para a sala de receção, que Leal
de Faria identificara no antiquário lisboeta Salão de Arte Antiga, também passou pelo crivo da
junta521. Pouco antes da instalação do Presidente do Conselho na residência, o mobiliário
selecionado para a sala de receção e para o vestíbulo foi aí reunido para ser examinado pela
JNE522. Raul Lino, em comunicação verbal, considerou que o conjunto possuía a dignidade
necessária para as funções que viria a desempenhar523. Ricardo do Espírito Santo Silva
forneceu peças de mobiliário para a residência que considerava necessitarem de avaliação por
peritos, por forma a estabelecer o preço de aquisição pelo Estado. Dado que as verbas para esse
edifício se encontravam esgotadas, Leal de Faria propôs, como meio de agilizar e acelerar o
processo e os pagamentos, que o lote fosse adquirido por dotação especial “a exemplo do que
foi feito quando o Estado adquiriu mobiliário diverso e objectos d’arte no leilão do recheio da
casa do falecido Conde de Burnay”, cujas peças se destinavam aos palácios nacionais,
insistindo que a residência do Presidente do Conselho também era “incontestavelmente, um
Palácio Nacional”524. Numa apreciação do gosto decorativo da residência, José-Augusto
França classificou-o como “luxo solene e banal que competia à função”525.

A sala destinada a reuniões do Conselho de Ministros foi apetrechada com cartografia. Refira-
se, a título de exemplo, que a Livraria Sá da Costa forneceu dois atlas, um mapa de Portugal e
uma carta roteiro de Angola526, e ainda dois mapas assinados por João Soares, referentes ao
Império colonial e discriminando, respetivamente, os territórios no ocidente e no oriente527. A
firma Castello Branco forneceu material cartográfico publicado pela editora Justus Perthes:
cartas da Europa, Austrália, América do Norte, América do Sul, do mundo, da Europa de 1815

520
Cópia de Parecer da 6.ª Secção da JNE, 26.05.1938. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 74.
521
Vários ofícios, maio 1938. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 74.
522
Ofício de Leal de Faria para o Presidente da JNE, 30.05.1938. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 74.
523
Ofício do Presidente da JNE para Leal de Faria, 01.06.1938. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 74.
524
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3890/03, TXT.04950258.
525
1999, 154.
526
Livraria Sá da Costa, Proposta, 06.11.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01,
TXT.04949336.
527
Livraria Sá da Costa, Fatura, 09.07.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/02,
TXT.04949766.

107
a 1914, da divisão de África antes de 1914 e da divisão colonial do mundo nesse ano, e uma
referente às raças europeias528.

Um dos assuntos que preocupou Salazar respeitava as ligações de acesso entre a residência e o
exterior, como anteriormente referido, nomeadamente para entradas do pessoal ou de externos
para entregas, que não deveria ser feito pelo portão da Rua da Imprensa, por forma a não utilizar
a entrada principal e evitar o cruzamento direto com figuras como ministros529. Analisou
também a necessidade de dispositivos elétricos como campainhas e de policiamento. Junto do
referido portão de entrada encontrava-se um compartimento para o piquete da PVDE, que
recebeu, em 1943, algumas modificações para obtenção de privacidade na zona destinada às
chamadas telefónicas530. Atendendo a desejos do Presidente do Conselho531, Leal de Faria
apresentou também um estudo para uma comunicação privativa subterrânea entre a residência
e o Palácio da Assembleia Nacional, prevendo uma passagem partindo do torreão junto da
Calçada da Estrela até à zona do corredor da fachada sul do palácio, incluindo um elevador que
estabeleceria ligação do exterior com a antecâmara do gabinete da Presidência do Conselho532.
Porém, Duarte Pacheco entendeu que tais trabalhos, nos moldes propostos, não eram
essenciais533.

Para além da residência, os jardins integravam a habitação do motorista, a garagem, o


alojamento do guarda e algumas dependências de suporte. Salazar planeou integrar nesse
parque o seu ideal ligado à vida rural, baseado na autossubsistência como garante de uma
existência moralmente sã, que expôs em entrevista a António Ferro enquanto caminhavam por
um dos bairros de casas de renda económica promovidos pelo Governo534. António Lino
projetou dependências para animais (capoeiras, coelheiras, pombal) e lavadouro com tanque

528
Firma Castello Branco, Proposta, s.d. [1937]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01,
TXT.04949549.
529
[António de Oliveira Salazar], Casa de S. Bento: Ligações da casa com o exterior, 03.03.1938. ANTT: Arquivo
Salazar, OP-1 cx. 476, pt. 12, fl. 351-353.
530
Ofício de A. Luiz Gomes (Diretor-Geral da DGFP) para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.08.1943.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/02, TXT.04950008.
531
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 10.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/02, TXT.04949722-TXT.04949723.
532
Estudo da ligação reservada entre o jardim da futura residência de Sua Ex.ª o Senhor Presidente do Conselho
e o Palácio da Assembleia Nacional, 09.05.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/02,
TXT.04949744- TXT.04949746.
533
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 08.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/02, TXT.049497478.
534
Ferro, “7.ª Entrevista. Salazar princípio e fim [1938]”, Entrevistas a Salazar, 169-170.

108
para roupa, que coexistiam com uma horta e um pequeno pomar535. Também para outras
edificações integradas no parque, como a casa do motorista, Salazar expusera diretrizes para
uma reta conduta promovendo ordem e sossego, expondo a divisão da habitação e ordenando
que esta deveria “ser mantida no maior estado de limpeza e bem arrumada. A vida na casa não
pode ser barulhenta e desordenada”536. Como se constata através de documentação relativa a
empreitadas de arranjo de largos fronteiriços e arruamentos do parque, o Presidente do
Conselho tinha por hábito diário dar passeios pelos jardins da residência537.

Fig. 24. António Lino, Parque da residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: capoeiras, s.d.

535
António de Oliveira Salazar, Planta do parque – Estendedouro de roupa, horta e pequeno pomar – Sugestões,
02.03.1938. ANTT Arquivo Salazar, OP-1 cx. 476, pt. 13, fl. 357-363.
536
[António de Oliveira Salazar], Indicações para a casa do motorista, 13.10.1938, p. 2 [sublinhado original].
ANTT: Arquivo Salazar, OP-1 cx. 476, pt. 12, fl. 356.
537
Eduardo Fonseca (REE), Informação n.º 74, 31.08.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0088/07,
TXT.07382556.

109
Fig. 25. António Lino, Parque da residência de S. Ex.ª o Presidente do Conselho: lavadouro, s.d.

O projeto de ajardinamento e arborização coube a Jacinto de Matos, horticultor paisagista


portuense indicado ao delegado das obras pelo Presidente do Conselho 538. Aguardava ainda
aprovação superior em setembro de 1938, altura em que Leal de Faria assinalou a necessidade
de prever um conjunto de encarregados pela conservação do parque após o término das
obras539. Duarte Pacheco julgou oportuno que a DGEMN estudasse o assunto para apresentar
sugestões à Presidência do Conselho, a quem caberia a regulamentação540, competindo a
enumeração dos trabalhadores propostos a Leal de Faria541. Refira-se que, tal como sucedia no
caso dos projetos de decoração artística, o plano de trabalhos a executar no parque foi apreciado

538
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.03.1938, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01, TXT.04949642.
539
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 28.09.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948594.
540
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 17.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948597.
541
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 15.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948615-TXT.04948620.

110
por um engenheiro silvicultor nomeado pela Direção Geral dos Serviços Florestais e
Aquícolas542.
A conservação dos jardins da residência competia à Repartição de Jardins da CML, que em
1951 indicou a necessidade de algumas modificações, como a melhoria dos canteiros e a
alteração dos perfis de dois arruamentos na zona de maior declive para evitar quedas, tendo
obtido a concordância do Presidente do Conselho e do Ministro das Obras Públicas543.
Anteriormente, essa repartição fora responsável pela plantação de árvores de grande porte em
substituição das clareiras, para providenciar maior segurança544.

Cristino da Silva projetou um tanque de pedra para os jardins da residência, tendo previsto o
seu adorno com uma estátua, cuja maquete, executada por Leopoldo de Almeida, foi enviada
por Leal de Faria para apreciação pelo Presidente do Conselho e pelo Ministro das Obras
Públicas545. Duarte Pacheco aprovou a encomenda da estátua, intitulada Meditação, pelo valor
de 40.000$00546, a ser realizada em mármore branco de Estremoz em regime de tarefa de ajuste
particular547. Leopoldo de Almeida também assinou os quatro golfinhos em lioz que decoram
os cantos de outro tanque, localizado junto da fachada norte da residência548, possivelmente
inspirados em motivos observados na fonte do Tritão, na Praça Barberini em Roma, e no Museu
Bargello, em Florença549.

542
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 08.10.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/01, TXT.04949270.
543
Ofício de José Pena da Silva (Eng. Diretor da DEL) para o Diretor-Geral da DGEMN, 28.02.1951.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/12, TXT.04950664.
544
Eduardo Fonseca (Engenheiro Civil da REE), Informação n.º 14, 15.01.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-
0088/07, TXT.07382465.
545
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 27.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948549.
546
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 17.08.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3888/01, TXT.04948551.
547
Leopoldo de Almeida, Proposta, 30.08.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3888/01,
TXT.04948688.
548
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 27.11.1939. DGPC/SIPA PT/DGEMN/REE-0176/01,
TXT.07432310.
549
Rita Mega identifica dois desenhos do escultor que poderão ter servido como motivo para estas figuras. Mega,
Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), 75; ficha de inventário n.º 150.

111
Fig. 26. Jardim da residência oficial do Presidente do Conselho: estátua Meditação. S.d.

Na sua tese de doutoramento sobre a obra do escultor, Rita Mega também se interroga sobre a
definição temática para a estátua Meditação550, que não conseguimos apurar através da
documentação consultada. A autora conjetura se a atribuição do Prémio Soares dos Reis à peça,
em 1940, terá influenciado a aquisição, o que não se afigura plausível, considerando que a
encomenda o precedeu em dois anos. Indica semelhanças formais com O Pensador de Rodin e
com O Desterrado de Soares dos Reis, possíveis fontes de inspiração, apresentando um
presumível desenho prévio e realçando o caráter introspetivo e melancólico da figura, coberta
apenas por um panejamento sobre a cintura, enquadrada pela vegetação circundante551. Outros
elementos decorativos da área consistiam, por exemplo, em vasos de diferentes cores com
motivos de fauna, emulando estilos dos séculos XVII e XVIII e adquiridos à fábrica Cerâmica
Constância552.
Na segunda metade da década de 1940, outra peça de Leopoldo de Almeida veio a decorar a
zona, no jardim exterior na Rua da Imprensa. Designada de As mulheres portuguesas gratas a

550
Mega, Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), 72.
551
Ibid., 74-75; fichas de inventário n.º 148-149.
552
Proposta da Fábrica Cerâmica Constância, 24.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3888/01,
TXT.04948606.

112
Salazar (1946), a estátua foi inaugurada em janeiro de 1948, tendo sido realizada por iniciativa
de um grupo de senhoras como agradecimento ao Presidente do Conselho pela condução
política durante a II Guerra Mundial. Trata-se de uma figura feminina de pé, com flores no
regaço, deixando a cabeça pender ligeiramente para trás, direcionando o olhar para cima. Após
a revolução de 1974, a estátua foi decapitada e retirada do local553.

Ao longo do tempo, tornaram-se necessárias obras de conservação e reparações, quer no


edifício e ao nível das instalações e equipamentos, quer dos elementos decorativos. Logo no
Inverno de 1939, por exemplo, verificou-se a necessidade de remodelar o telhado devido às
infiltrações que ocorriam, resultantes do facto de aquando das obras apenas ter sido
pontualmente reparado e não refeito554. Salazar manifestava-se quando algum pormenor
requeria atenção: por exemplo, referiu ao Ministro das Obras Públicas que as portas da
Assembleia Nacional que faziam ligação ao terraço da sua residência se encontravam
deterioradas, carecendo de reparação555.
A necessidade de beneficiação das dependências, considerada indispensável para “servirem
condignamente ao fim a que estão adstritas”556, evidenciou-se na década de 1940 e acentuou-
se na seguinte. As reparações, a cargo da REE e da DEL em diferentes fases, envolveram
trabalhos de profundidade variada, das coberturas e fachadas às escadarias, pavimentos,
paredes e instalações elétricas557. O plano implicou também a substituição de mobiliário – de
colchões e sofás a abat-jours –, cortinas e reposteiros, tapetes e objetos de adorno, tarefa a cargo
da CAM, considerando o desgaste pelo uso de mais de uma década558. Na sala de jantar, por
exemplo, planeou-se uma renovação integral do mobiliário, e no que toca a decoração, a CAM
elencou a aquisição de gravuras e potes. Refira-se que da dotação orçamental da DGEMN para
1950, 792.585$00 foram alocados para a residência559. Este valor superava amplamente as

553
Mega, Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), 99-100; ficha de inventário n.º 232.
554
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 04.05.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3889/02, TXT.04949962-TXT.04949964.
555
Nota manuscrita do Ministro das Obras Públicas (José Frederico Ulrich) para o Diretor-Geral da DGEMN,
26.10.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/13, TXT.04950669.
556
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Chefe da 8.ª repartição da Direção Geral da Contabilidade Pública,
07.11.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04, TXT.04535675-TXT.04535676.
557
DEL [engenheiro civil, assinatura ilegível], Memória Descritiva e Justificativa: Reparações e Beneficiações na
Residência Oficial de Sua Excelência o Snr. Presidente do Conselho, 10.05.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/01, TXT.04950080-TXT.04950086.
558
Luís Benavente (CAM), Mobiliário e decoração da residência de Sua Excelência o Presidente do Conselho,
14.10.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04, TXT.04535677-TXT.04535686.
559
MOP/DGEMN – Repartição dos Serviços Administrativos, Secção de Contabilidade, Mapa de saldos das
dotações inscritas no Plano de Obras, 30.11.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04,
TXT.04535692-TXT.04535695.

113
outras intervenções listadas, à exceção da obra da escola do magistério primário de Viseu
(900.00$00): para a reparação de fachadas de prédios do Estado, a dotação correspondia a
438.671$00, e para a colocação de estores nos edifícios no Terreiro do Paço e intervenção na
Casa Pia de Lisboa foram concedidos, respetivamente, 400.000$00. Determinadas obras
obtinham verbas na esfera das centenas de milhar, como pousadas, esquadras de polícia ou
alguns institutos e laboratórios, contudo, nenhuma se aproximava do dispêndio dedicado à
residência oficial do Presidente do Conselho. Era imperioso que a residência e os jardins
apresentassem, de forma constante, “um aspeto irrepreensível, bem justificado pela categoria
das pessoas que habitam e visitam o Palácio com frequência”560.

Perante a vontade de Salazar de ficar pormenorizadamente inteirado acerca das necessidades


de aquisição de mobiliário para a residência, o arquiteto Luís Benavente (1902-1993) foi
instado a apresentar um relatório561. Para completar a remodelação das instalações, Benavente
atentou em referências feitas sobre os quadros que decoravam as salas, considerados
inadequados para uma habitação daquele nível, contactando com os diretores do MNAC e do
MNAA para fornecimento de pinturas que substituíssem as existentes. Convidando-os a visitar
o edifício, expôs o percurso de “quem é recebido por aquele Insigne Homem de Estado”562 para
sublinhar a importância de um ambiente apropriado, que impressionasse os visitantes. Salazar
acedera a que se promovesse uma renovação regular de obras de arte na residência. O arquiteto
julgou também necessário trocar e adquirir outras peças decorativas e simultaneamente
utilitárias, como um armário de género holandês, um banco comprido em couro, duas cadeiras
de espaldar, dois potes chineses e duas grandes gravuras563, com destino ao corredor de entrada.
O ministro Ulrich determinou que deveria ser contactado Cayola Zagalo (1904-1970),
conservador do PNA e vogal da CAM, por forma a verificar a existência de peças adequadas
nos palácios nacionais para cedência, antes de se proceder a qualquer aquisição564. O
conservador deu conta das intenções de Benavente para a zona de entrada: colocar um armário

560
Ofício de Maçãs Fernandes (Engenheiro chefe da REE) para o Diretor-Geral da DGEMN, 15.09.1945.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0088/07, TXT.07382557.
561
Henrique Gomes da Silva, Ordem de Serviço n.º 686, 22.02.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/02,
TXT.07150503.
562
Luís Benavente, Acerca da Residência Oficial de Sua Excelência o Presidente do Conselho, 25.02.1951, p. 1.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/02, TXT.07150519.
563
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 16.02.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04, TXT.04535727.
564
Despacho do Ministro das Obras Públicas de 07.03.1951, manuscrito sobre ofício de Mariano Pires (CAM)
para o Diretor-Geral da DGEMN, 27.02.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04,
TXT.04535729.

114
do séc. XVII para chapéus e abafos em substituição da prateleira e cabides existentes, decorado
com peças de cerâmica e rodeado por duas cadeiras de espaldar, bem como um banco, uma
tapeçaria para uma das paredes e um pote chinês para colocar chapéus de chuva565. Zagalo não
considerava adequado quer o armário-bengaleiro – não existindo qualquer exemplar
seiscentista adaptável nas coleções estatais –, quer o uso do pote como depósito de chapéus de
chuva, sugerindo o aproveitamento do compartimento junto da entrada como vestiário e
sanitários, já aí existentes. Propunha ainda colocar as pinturas com motivos militares do
vestíbulo no corredor adjacente, substituindo as que aí se encontravam, que julgava “menos
agradáveis do ponto de vista artístico”566, e colocar duas consolas de canto no patamar da
escada ao invés de um pote de grandes dimensões. O diretor do MNAA acedera ao empréstimo
de duas cadeiras, uma mesa, uma tapeçaria e um quadro, e eventualmente ainda um banco e
algumas peças decorativas. Para agradar a Salazar – que, segundo Zagalo, apreciaria o facto de
se empregarem móveis de origem nacional – e averiguar da qualidade estética do proposto,
seria necessário realizar uma experiência no local. De resto, o Presidente do Conselho mantinha
o aval na escolha das peças para a residência: veja-se o caso da escolha de um candeeiro de pé
alto, em latão bronzeado com abat-jour, destinado a ficar junto do sofá do hall onde
habitualmente permanecia567, que aprovou568. Em adição, Benavente havia dado indicações
para outros compartimentos da habitação, como a troca de quadros do corredor do rés-do-chão
e do primeiro piso, a cobertura de radiadores, a colocação de potes da Companhia das Índias
para ladear um sofá do séc. XVIII existente no patamar da escada, a substituição do lustre do
gabinete de trabalho de Salazar ou a integração de um ou dois painéis de temática religiosa, da
autoria de “Primitivos Portugueses”, no gabinete do 1.º piso dotado de oratório, no qual se
celebrava a missa569.
Em finais de 1951, Cayola Zagalo referiu-se novamente ao já antigo projeto de decorar
condignamente o vestíbulo da residência, tendo reunido um conjunto de objetos com o auxílio
dos diretores dos museus nacionais de Arte Antiga e de Arte Contemporânea, aos quais seria
necessário acrescentar a aquisição de três lustres e mesas, para harmonizar o corredor adjacente

565
Manuel Zagalo (vogal da CAM), Relatório, 26.03.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3211/04, TXT.04535731-TXT.04535733.
566
Manuel Zagalo (vogal da CAM), Relatório, 26.03.1951, p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3211/04, TXT.04535731.
567
Luís Benavente, Informação, 12.11.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/02, TXT.07150533.
568
Ofício de Mariano Pires para Diretor-Geral da DGEMN, 14.11.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3211/04, TXT.04535737.
569
Luís Benavente, Acerca da Residência Oficial de Sua Excelência o Presidente do Conselho, 25.02.1951, p. 3-
4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/02, TXT.07150517- TXT.07150516.

115
com o vestíbulo, por não existirem exemplares adequados nos museus ou palácios nacionais570.
Do MNAA, foram cedidas três pinturas – representando flores, um presépio e a adoração dos
magos –, e mobiliário em pau santo: uma mesa estilo D. José, duas cadeiras e um sofá do séc.
XVIII571. O MNAC cedeu duas telas de paisagens, uma da autoria de Silva Porto e outra de
Júlio Ramos. Das coleções do PNA, a residência recebeu uma tapeçaria figurando a história de
Tobias, dois apliques em metal dourado com motivos de folhagens, e um pote de faiança
polícromo com tampa, atribuído a Rocha Soares.
O plano de obras para o ano de 1952 indicava a inscrição de verba para adquirir duas mesas e
três lustres para a residência, a cargo da CAM. Não detetando nas casas especializadas peças
que se assemelhassem ao desejado “explendido(sic) espécime em pau santo que existe no
MNAA”572, demasiado largo para o local em vista, a CAM contactou a firma Ideal –
Compradora de Campo de Ourique, que já efetuara trabalhos semelhantes para o referido
museu, para execução das mesas, e a Antiquária de Portugal, Lda., para compra dos lustres573.
Salazar demonstrou-se desagradado com a fraca iluminação do seu gabinete de trabalho, em
janeiro de 1954, referindo ao ministro que Luís Benavente, então arquiteto diretor da DSMN,
há muito se comprometera a estudar o assunto574. Benavente verificou que apenas na secretária
havia facilidade de leitura, propondo a colocação de um lustre de cristal e de quatro apliques
condizentes para incrementar a iluminação, que deveriam conjugar-se de forma harmónica com
o mobiliário existente575. Dada a inexistência de dotação orçamental para o efeito no plano de
trabalhos desse ano, o problema apenas foi resolvido no seguinte576.
Christine Garnier registou as impressões da sua visita a Salazar na residência, em 1951.
Considerou o ambiente rígido e solene, relatando ter entrado para uma “vasta sala de ricas
tonalidades de ‘grenat’ e oiro”577 na qual aguardou pela chegada do Presidente do Conselho.
Havia duas esculturas de “negros do melhor rococó” perto da entrada e, na sala, tapetes
Aubusson, biombos Coromandel, lustres de Veneza, um relógio com arabescos dourados e um

570
Ofício de Manuel Carlos de Almeida Zagalo para o Diretor-Geral da DGEMN, 26.12.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT.04535562-TXT.04535564.
571
Com indicação dos números de inventário, respetivamente: pinturas – 362, 463, 464; mobiliário – 1183, 827,
828, 128.
572
CAM, Parecer, 27.10.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM/0221/03, TXT.07150556.
573
CAM, Parecer, 27.10.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/04, TXT.04535744-
TXT.04535745.
574
Nota manuscrita do Ministro das Obras Públicas para o Diretor-Geral da DGEMN, 21.01.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT. 04535600.
575
Ofício de Luís Benavente para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.10.1954. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-
001/011-1505, TXT.00512398.
576
Ofício de Luís Benavente para o Diretor-Geral da DGEMN, 09.05.1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3211/01, TXT. 04535602.
577
Garnier, Férias com Salazar, 59.

116
pote chinês, com orquídeas frescas, que estava colocado sobre uma mesa com embutidos.
Salazar desvalorizava a riqueza da decoração, advogando que não escolhera as peças,
propriedade estatal que não lhe pertencia, sendo essa a residência de um funcionário, “um
magnífico hotel, uma moradia de passagem”, onde apenas arranjara “duas ou três divisões mais
íntimas”578. Para manter a sua imagem de simplicidade espartana, omitia o facto de, apesar de
não ter selecionado pessoalmente os elementos decorativos, ter supervisionado essa escolha e
dado o seu aval para que integrassem a habitação.

Fig. 27. Salazar no seu gabinete de trabalho na residência oficial. S.d. [década 1960].

Em 1960, por altura da remodelação do gabinete do Presidente do Conselho no Palácio de São


Bento, há indicação de que Salazar não considerava oportuno que fosse instalada aparelhagem
de ar condicionado na residência579, presumivelmente devido à sua “extrema sensibilidade [...]
às correntes de ar frio”580. Fotografias da época retratando Salazar neste gabinete comprovam
que recorria a uma escalfeta sob os pés para aquecimento. De facto, a instalação de um sistema

578
Ibid.
579
Ofício de João Vaz Martins para o Diretor-Geral da DGEMN, 01.02.1960. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3882/01, TXT.04946052-TXT.04946051.
580
Ofício do Engenheiro chefe da Repartição de Electrónica e Mecânica (REM) para o Diretor-Geral da DGEMN,
05.11.1963, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/02, TXT.04987634.

117
de condicionamento de ar adjudicada três anos antes não avançou por ordens formais de
Salazar, transferindo-se a aparelhagem para a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa581. Em
1963, estudou-se a integração de ar condicionado somente em dois quartos de dormir e em três
salas – de trabalho, de jantar e de espera582.

Com a assunção da Presidência do Conselho por parte de Marcelo Caetano, tornou-se


necessário proceder a remodelações na residência oficial. O arranjo, sob orientação da DEL,
foi acometido ao arquiteto José de Almeida Segurado (1913-1988), que apresentou um
anteprojeto em setembro de 1970, do qual constavam duas opções: adaptação ou
remodelação583. Segurado considerava que o palacete, embora detivesse dignidade pela
sobriedade e falta de pretensiosismo das fachadas, não possuía interesse arquitetónico
significativo por datar “duma época incaracterística”584. Apesar das beneficiações na década
de 1930, as dependências não obedeciam a uma organização funcional e, assim, não se
adequavam à finalidade de residência oficial de tão alta figura de Estado.
Tendo recebido indicação de que deveria aproveitar o máximo possível da construção existente,
o programa para o edifício implicava inclusão de zonas de receção, gabinete de trabalho do
Presidente do Conselho, dois gabinetes para secretários, sala de conselho de ministros, e
apartamento com sala de estar, quarto, casa de banho ligada ao gabinete de trabalho, e os
restantes serviços e equipamentos indispensáveis ao bom funcionamento. A opção de
adaptação revelava-se mais restrita, criando um hall sob a escada e remodelando
completamente os acessos verticais, tanto a escada como o elevador. O acesso poente receberia
a escada da fachada sul, cuja entrada seria transformada em varanda junto de uma sala de
espera. As obras seriam pouco significativas na cave, andar superior e sótão. O arquiteto
preferia a solução prevendo uma remodelação profunda, que visava colocar a entrada principal
na fachada sul. No rés-do-chão, um corredor de distribuição e de estar, no eixo central e do
qual sairia a escada principal, faria ligação a um salão no lugar da existente sala de jantar, bem
como à sala de jantar a implantar na área da copa e escada adjacente e a uma sala de estar com
copa. No primeiro piso, também um corredor de distribuição daria acesso à antecâmara do

581
Ofício de Engenheiro mecânico da REM (assinatura ilegível) para o Engenheiro chefe da REM, 22.05.1964,
p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/02, TXT.04987642.
582
Ofício do Engenheiro chefe da REM para o Diretor-Geral da DGEMN, 05.11.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/02, TXT.04987633-TXT.04987634.
583
José de Almeida Segurado, Residência Oficial de Sua Excelência o Presidente do Conselho – Anteprojecto de
arranjo: Memória Descritiva, 24.09.1970. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0534/07, TXT.02489134-
TXT.02489142.
584
Ibid., p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0534/07, TXT.02489140.

118
gabinete do Presidente do Conselho e ao seu apartamento, seguindo-se a sala de reunião do
Conselho de Ministros, a sala de espera, os gabinetes dos secretários e o elevador junto da
escada de serviço, sendo que todas as dependências, excetuando os gabinetes dos secretários,
teriam maiores dimensões do que as então ocupadas. A cave seria, igualmente, alvo de
melhoramentos na distribuição dos serviços.
O projeto, datado de fevereiro de 1971, apresentava algumas alterações ao anteprojeto: o sótão
seria convertido em piso, com quartos, casas de banho, copa e sala de estar para os
trabalhadores da residência, transformando-se também a escada principal por forma a dar
acesso a esse novo piso, bem como elevadores e escadas de serviço585. De resto, o arquiteto
Segurado manteve praticamente intactas as ideias que delineara para a opção de remodelação
no anteprojeto, em consonância com o espírito do edifício existente. Aquando do envio do
projeto de construção civil à DSC, o engenheiro diretor da DEL assinalou o facto de as
sondagens feitas ao edifício ao nível de paredes, coberturas e pavimentos terem revelado o mau
estado das estruturas e a fraca qualidade de determinados materiais empregues, implicando
demolições e reconstrução, assim justificando a necessidade de substituir também canalizações
e instalações elétricas586. Elementos como balaustradas e lambris seriam reassentes pelo seu
valor artístico.

A vertente de mobiliário e decoração da residência coube ao arquiteto Nuno de Morais Beirão


(1924-?), funcionário da DGEMN, em colaboração com a CAM587. O seu estudo foi
apresentado a Marcelo Caetano, que, após contactos para obtenção de informações, concordou
com o anteprojeto588. A remodelação deste edifício “de grande nível”589 conduziu,
naturalmente, à substituição de equipamentos e utensílios, como faqueiros e máquinas de
cozinha, e à troca de mobiliário e têxteis já evidenciando uso continuado 590. Manteve-se uma
estética decorativa privilegiando mobiliário antigo, permanecendo em uso, por exemplo,

585
José de Almeida Segurado/DEL, Memória: Residência Oficial de Sua Excelência o Presidente do Conselho –
projecto de remodelação, fevereiro 1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1057, TXT.08031871-
TXT.08031872.
586
Ofício do Diretor da DEL para o Diretor dos Serviços de Conservação, 03.12.1970. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/01, TXT.04987423-TXT.04987424.
587
Nuno Beirão, Fornecimento de mobiliário e decoração destinado à Residência Oficial de Sua Excelência o
Senhor Presidente do Conselho, 25.05.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0402/14, TXT.07255853-
TXT.07255855.
588
Ofício do Secretário-Geral da Presidência do Conselho para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.11.1970.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1025/03, TXT.03117797.
589
Nuno Beirão, Memória Descritiva: Residência Oficial de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho –
Mobiliário e Decoração, 10.04.1972, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3886/04, TXT.04948263.
590
CAM, Fornecimento de roupas para a Residência Oficial de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho,
s.d. [1972]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0436/25, TXT.07279948.

119
cómodas de estilo D. João V, camas estilo D. Maria I e um contador italiano do séc. XVII, a
par da aquisição de outro tipo mobiliário mais funcional e despojado, sobretudo para
dependências utilitárias, como armários do modelo Lundia da fábrica Olaio591, mesa e
secretária de linhas simples da Companhia dos Grandes Armazéns Alcobia para o contínuo592,
ou mobiliário de escritório metálico com pormenores em madeira como complemento do
existente no arquivo, encomendado à FOC - Fábrica Jerónimo Osório de Castro593. O rés-do-
chão correspondia à área mais representativa, com a permanência de mobiliário de estilo já
existente, alterando-se as peças sobretudo nos pisos superiores594.
Dada a natureza especial do fornecimento de mobiliário, a CAM propôs a realização de um
concurso limitado, com consulta das empresas Joachim Mitnitzky, Jalco e Grandes Armazéns
Alcobia595, autorizado pelo Secretário de Estado das Obras Públicas596, José Adolfo Pinto
Eliseu (1916-2018). Tendo apenas as duas primeiras firmas apresentado propostas, somente a
de Joachim Mitnitzky correspondeu generalizadamente ao caderno de encargos. Nuno Beirão
analisou a proposta, anuindo à ideia de criar “ambientes sóbrios e dignos – mas não faustosos”,
visto que a residência “não deve ter um carácter palaciano, apresentando preferivelmente as
características de uma confortável residência particular de muito bom nível” 597. Assume-se,
portanto, uma mudança face ao entendimento de Leal de Faria décadas antes, que encarara este
edifício como um palácio nacional. O mobiliário apresentado como complemento do existente
também mereceu, no geral, aprovação, pela capacidade de integração harmónica com os
móveis de estilo, sugerindo pontuais alterações de madeira ou esquema de cores para
determinada sala. Para o gabinete do Presidente do Conselho no 1.º andar, por exemplo, referiu
que a empresa planeou sofá, fauteuils e cortinados de desenho neutro que se contraporiam de

591
CAM, Memória: Fornecimento de três armários-roupeiros, modelo “Lundia”, destinados às instalações
remodeladas da Residência Oficial de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, 03.10.1972. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0418/04, TXT07264942.
592
CAM, Proposta n.º 275: Fornecimento de mobiliário, destinado ao contínuo da Residência Oficial de Sua
Excelência o Senhor Presidente do Conselho, 25.08.1972. PT/DGEMN/CAM-0418/11, TXT.07265084-
TXT.07265085.
593
CAM, Parecer n.º 3/73: Fornecimento de mobiliário metálico, com aplicações de madeira, destinado às
instalações remodeladas da Residência Oficial de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, 22.01.1973.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0437/04, TXT.07280241.
594
Nuno Beirão, Memória Descritiva: Residência Oficial de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho –
Mobiliário e Decoração, 10.04.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3886/04, TXT.04948263-
TXT.04948262.
595
Ofício do Presidente da CAM para o Diretor-Geral da DGEMN, 13.04.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-
0418/01, TXT.07264886.
596
DGEMN/Repartição de Serviços Administrativos, Ordem de Serviço n.º 774, 20.04.1972. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0418/01, TXT.07264888.
597
Nuno Beirão (CAM), Fornecimento de mobiliário e decoração destinado à Residência Oficial de Sua
Excelência o Senhor Presidente do Conselho: Relatório, 25.05.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0402/14,
TXT.07255853-TXT.07255855.

120
forma agradável à exuberância do mobiliário de estilo Império aí existente598. A proposta
integrava o fornecimento de móveis e elementos decorativos antigos – também adaptados,
como dois tocheiros transformados em candeeiros eletrificados para o salão –, e de materiais
para arranjo de peças existentes na residência, como tecidos para forrar cadeirões599.
Depreende-se, portanto, a manutenção de um gosto de tipo conservador, valorizando peças
antigas já existentes, procurando sobriedade representativa, com conforto, nas salas de
convívio e nas dependências privadas, e eficiência nos espaços de trabalho. A relação
enumerando mobiliário e elementos decorativos é elucidativa dessa estética: cite-se, a título de
exemplo, que no rés-do-chão, a par da referida cómoda em pau santo de estilo D. João V e do
contador seiscentista italiano, existia uma gravura designada como “Sopa de Arroios”600,
diversos tapetes persas, figuras de serafins dourados do séc. XVII e uma poncheira de porcelana
chinesa do período Kangxi601.

Em 1973, a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho alertou para a necessidade de algumas


intervenções, nomeadamente adaptações no telhado para a limpeza periódica da chaminé,
construção de um telheiro para a torre de refrigeração do ar condicionado que se localizava no
exterior do edifício, e arranjos no parque e nas instalações dos jardineiros602. Também se
pretendia ocupar a devoluta residência do motorista que vinha funcionando como
arrecadação603, com duas residências para funcionários sem alteração da traça. Já após o 25 de
abril, assinale-se a recuperação de uma dependência da cave para reconversão em gabinete de
trabalho604.

598
Nuno Beirão (CAM), Fornecimento de mobiliário e decoração destinado à Residência Oficial de Sua
Excelência o Senhor Presidente do Conselho: Relatório, 25.05.1972, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-
0402/14, TXT.07255854.
599
Ofício de Joachim Mitnitzky – Decorações, Lda. para a CAM, 12.05.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-
0418/17, TXT.07265218- TXT.07265233.
600
Talvez uma gravura segundo o desenho de Domingos António de Sequeira com o mesmo nome (1810), que
integra as coleções do MNAA (N.º inv. 2232 Des). Existe uma gravura na Biblioteca Nacional de Portugal, datada
de 1813, acessível em: https://purl.pt/13953/3/ (acesso a 23.07.2021).
601
CAM, Fornecimento de decoração e mobiliário destinados às instalações remodeladas da Residência Oficial
de Sua Excelência o Presidente do Conselho: Relação, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0373/03,
TXT.07237695-TXT.07237694.
602
Ofício do Secretário-Geral da Presidência do Conselho para o Diretor-Geral da DGEMN, 23.11.1973.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1056, TXT.08031542-TXT.08031545.
603
Ofício do Secretário-Geral da Presidência do Conselho para o Diretor-Geral da DGEMN, 23.11.1973.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1056, TXT.08031548.
604
António de Amorim Carvalho Guerra (Diretor da DEL), Proposta n.º 2564, 21.12.1974. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1056, TXT.08031600.

121
2.5. Estátuas para a escadaria monumental

Dando sequência às ideias planeadas por Ventura Terra605, considerou-se, em 1934, a inclusão
de seis estátuas no topo da escadaria da fachada principal do edifício – quatro frontais e duas
colocadas nas laterais da arcaria do corpo central, composta por pilastras suportando arcos de
volta perfeita. O anteprojeto estudado por Marques da Silva fora selecionado, entre os três
apresentados, pelos delegados do CSBA, José de Figueiredo, Raul Lino e Paulino Montês606.
Considerava-se, então, que a inclusão das estátuas comporia de forma harmónica o corpo
central pelo qual se projetava a entrada, para o qual se idealizavam, também, elementos
ornamentais em cantaria. Uma vez que se previa o funcionamento da Câmara Corporativa e da
Assembleia Nacional em janeiro de 1935, havia que dar andamento à execução das esculturas,
idealizadas para uma dimensão de c. 3 metros de altura.

Fig. 28. A chegada do Chefe do Estado ao Palácio da Assembleia Nacional, no dia do seu compromisso de honra
relativo ao segundo período presidencial. 26.04.1935.

605
França, O Palácio de São Bento, 133-134.
606
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 20.09.1938, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536686.

122
Leal de Faria solicitara, sem compromisso de concretização definitiva, a realização de
maquetes em escala reduzida aos escultores Maximiano Alves – que já realizara uma estátua
alegórica à Diplomacia para o Hemiciclo (1921) –, J. Netto607 e Raul Xavier (1894-1964), por
forma a avaliar o custo das peças e concretizar o trabalho atempadamente608. As maquetes
fixavam representações da Constituição, Comércio e Indústria, Agricultura, Lei, Instrução, e
Justiça, que Leal de Faria considerava constituírem “o que realmente convém para as estátuas
a colocar na frontaria deste Palácio”609. Desconhece-se quem terá estipulado tais temáticas.
Pedindo anuência para a concretização das estátuas nos moldes apresentados – i.e., mantendo
temáticas e autores –, Leal de Faria considerou que o trabalho deveria ser acometido a
diferentes escultores, mas de sensibilidade técnica idêntica, não se afigurando nesse sentido
razoável que se abrisse um concurso público. Aliás, pedira colaboração a Maximiano Alves,
que indicara os outros dois nomes para execução das maquetes, que deveriam ser apreciadas
pela comissão que se deslocaria a breve trecho ao local para observação dos estudos para as
decorações das salas do andar nobre. Recebeu aval da DGEMN para todas as solicitações610.

Em janeiro de 1934, Domingos Barros apresentou uma proposta para passar a gesso os modelos
das estátuas confiadas a Maximiano Alves, Raul Xavier e Ruy Roque Gameiro, então
concluídas; Leal de Faria mencionou ser apenas necessário uma maquete em gesso para cada
ao invés das duas estipuladas, pois “depois de 10 de janeiro já não há necessidade de ela se
manter neste Palácio, podendo por isso ir para o canteiro que terá de a passar a pedra”611.
Após visita a 10 de maio, a comissão responsável pela apreciação das maquetes612 definiu, em
alternativa, as seguintes temáticas: Colónias, Navegação, Indústria, Agricultura, Comércio e
Instrução613 – pilares da economia nacional. Considerou-se que as peças observadas careciam
de harmonia e unidade, decidindo-se, por sugestão do CSBA, convidar o escultor Francisco

607
Presume-se tratar-se de José Netto (1875-1960), que realizou, para o Palácio de São Bento, os leões em gesso
patinado colocados sobre as portas na sala dos Passos Perdidos.
608
Comunicação n.º 135, de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 28.03.1934, p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537993.
609
Comunicação n.º 135, de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 28.03.1934, p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537993.
610
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 13.04.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04537995.
611
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 02.01.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/03, TXT.0453821.
612
Comissão composta pelo engenheiro-diretor da DGEMN, Teófilo Leal de Faria, e Marques da Silva, e pelos
membros do CSOP, José de Figueiredo, Paulino Montês, Diogo de Macedo e Varela Aldemira. Ofício de Leal de
Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 15.01.1935, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15,
TXT.04536649.
613
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 12.06.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538208-TXT.04538209.

123
Franco para estudar a “maquette do conjunto das seis estátuas”614. Perante a ausência do
escultor da capital por essa altura, Leal de Faria previa ser impossível terminar o trabalho até à
prevista abertura do edifício615. Recorde-se que Francisco Franco granjeara proeminência com
a estátua de Gonçalves Zarco (1928), que firmou o cânone para a estatuária fomentada
oficialmente, inspirado no espírito quatrocentista de Nuno Gonçalves.
A execução das estátuas seria acometida aos outros escultores, não obstante a supervisão
constante do autor do conjunto para obtenção da indispensável coerência estética – Francisco
Franco escusou-se da realização de qualquer estátua, tendo somente aceitado dirigir a execução
das peças616. Seis escultores foram convidados a apresentar propostas617 – Salvador Barata
Feyo (1899-1990), António da Costa Mota (Sobrinho) (1877-1956), António da Costa (1899-
1970), Maximiano Alves, Ruy Roque Gameiro e Raul Xavier –, aprovadas por despacho
ministerial618. Excetuando Costa Mota, representante da permanência de um gosto naturalista,
os escultores constituíam o grupo de habituais expositores nos salões, tanto do SPN como da
SNBA, também colaboradores nas exposições internacionais e obras públicas oficiais.
Pretendia-se que as peças definitivas estivessem completadas no final de 1934. Porém, na
impossibilidade de estarem

“prontas e colocadas nos respetivos lugares, no dia em que se fizer a abertura da


Assembleia Nacional, serão colocados os modelos em gesso e será da maior conveniência
que se não substituam pelas de pedra senão depois de concluído o frontão, para evitar um
desastre qualquer na sua montagem, causando a ruína de uma ou mais estátuas”619.

Quanto aos temas, Francisco Franco contrapôs ser preferível optar por figurações de carácter
alegórico, atemporais e de valores perenes, dado que a estatuária auxiliava a “ideia
orientadora”, o que sempre a “caracterizou nas grandes épocas construtivas” 620. A escultura
não deveria ser relegada à mera função decorativa, mas alcançar “a sua verdadeira missão

614
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 15.01.1935, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536649.
615
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 31.05.1934, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04537680.
616
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 12.06.1934, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538208.
617
Na sua proposta, Barata Feyo menciona apresentá-la “anuindo ao convite do escultor Exmo. Sr. Franco e ao
ofício de Sua Ex.ª n.º 725”. Salvador Barata Feyo, Proposta às obras do Palácio da Assembleia Nacional,
22.11.1935 [ms.]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536704.
618
Manuscrito e assinado, sobre ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 29.06.1934, p.1.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536714.
619
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 29.06.1934, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536714.
620
Ofício de Francisco Franco para Leal de Faria, 13.06.1934, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3214/01, TXT.04538211.

124
espiritual que a sensível renovação mental que hoje já solicita”621. Assim, o escultor sugeriu
que se elaborassem estátuas focando os ideais de Prudência, Justiça, Trabalho, Paz, Fortaleza
e Temperança. Esta proposta foi secundada por Leal de Faria, que lhe reconheceu maior
unidade do que nos temas anteriormente determinados, bem como a vantagem de tais alegorias
possuírem atributos convencionados: “para uma estátua que represente as colónias que atributo
se lhes dará? Não existem ainda, têm de ser inventados. Ter-se-á fatalmente de se recorrer à
legenda para se compreender o que ela quer simbolizar”622. A escolha dos temas teria
magnitude tal, que o engenheiro assumiu ser indispensável haver opinião do Governo, devendo
a resolução ser aprovada em Conselho de Ministros. Após conversações prolongadas, Franco
propôs a substituição das estátuas representando o Trabalho e a Paz por figuras simbolizando
o Império Colonial e o Estado Corporativo623, aprovada por Duarte Pacheco624. Na sequência,
os seis escultores selecionados receberam maquetes realizadas por Franco625 – cujas dimensões
originalmente previstas necessitaram de aumento626 –, por forma a iniciarem o trabalho dos
modelos em gesso. As duas esculturas a colocar em posição central teriam uma dimensão
consideravelmente maior às demais.
Como estímulo para acelerar a concretização, propunha-se aceder à solicitação de António
Ferro a Francisco Franco acerca da presença das estátuas na exposição de arte moderna do SPN
em planeamento, que Leal de Faria considerava da maior conveniência “tanto para o Estado
como para a Arte”627. Não foi possível completar a execução definitiva das estátuas até à data
de abertura do Palácio da Assembleia Nacional, a 10.01.1935, pelo que Leal de Faria
determinou que se expusessem os modelos em gesso – contrariado, como argumentou
posteriormente em sua defesa, por não ter sido consultado o escultor encarregado da
supervisão, então ausente de Lisboa628.

621
Ibid.
622
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 27.06.1934. pp.1-2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538212- TXT.04538213.
623
Ofício de Francisco Franco para Leal de Faria, s.d. [junho 1934]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3214/01, TXT.04538214.
624
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 23.07.1934. DGPC/SIPA PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538216.
625
Para execução das seis maquetes, o escultor terá mandado realizar uma maquete do corpo central do edifício
em madeira. Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 20.09.1938, p.2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536691.
626
Inicialmente, previam-se estátuas com c.2,5m de altura. Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN,
18.09.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538385.
627
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 29.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/02, TXT.04538547.
628
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 15.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536648.

125
Fig. 29. Exterior do Palácio após a sessão solene de abertura da Assembleia Nacional. 11.01.1935.

Por essa altura, solicitava o parecer do CSBA aquando da presença de Francisco Franco, por
não poder assumir a responsabilidade da passagem à pedra sem consentimento do escultor. Em
resposta, José de Figueiredo, vice-presidente daquele organismo, denotou incómodo com o
facto de não ter sido requerido acompanhamento do conselho desde o início dos estudos, tendo
permanecido afastado do estabelecimento das bases do concurso e da seleção dos artistas629,
bem como da aprovação das maquetes de Franco e dos gessos então expostos sem “proporção
e volumes convenientes, não se integrando por isso no conjunto”630. O exame detalhado pelos
elementos do CSBA631, acompanhados pelo arquiteto Marques da Silva e pelo engenheiro Ruy
Casal Ribeiro, decorreu no final de janeiro de 1935, antes do regresso de Francisco Franco a
Lisboa, considerando-se, previamente à emissão do parecer, que tal implicaria por certo que se
alterassem profundamente as “duas estátuas centrais”. Nessa altura, estavam apenas no local

629
Facto que reforça também ter sucedido nas decorações pictóricas dos espaços internos. Ofício de Leal de Faria
para Diretor-Geral da DGEMN, 15.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15,
TXT.04536647-TXT.04536649.
630
Ofício de José de Figueiredo para Diretor-Geral da DGEMN, 18.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536651.
631
José de Figueiredo, Raul Lino, Pardal Monteiro, Paulino Montês, Diogo de Macedo, Varela Aldemira. Ofício
de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 28.01.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3212/15, TXT.04536652- TXT.04536656.

126
cinco estátuas. A peça de António da Costa, subordinada ao tema do Estado Corporativo 632,
ficara danificada pela falta de capacidade de suporte da armação de ferro, que se dobrou e
propiciou a queda do barro633, não tendo sido restituída até à data da visita. Antecedendo a
sessão inaugural de janeiro de 1935, O Século noticiara que essa estátua seria colocada no local
nos inícios de fevereiro634.

Fig. 30. Modelo para a estátua dedicada ao Império Fig. 31. António da Costa dando os últimos
Colonial Português, por Costa Mota (Sobrinho). retoques na estátua representando o Estado
Corporativo.

O parecer foi assinado por José de Figueiredo, Pardal Monteiro, Diogo de Macedo e Raul
Lino635. Dias antes, surgira uma nota de opinião no Diário de Lisboa, sem identificação de
autoria, afirmando o “contrassenso que presidiu aos trabalhos decorativos” do edifício636.
Acusou-se a falta de harmonia entre os modelos expostos, e destes face ao conjunto

632
Também designada como alusiva ao Estado Novo. Cópia do parecer de 09.02.1935, incluso no ofício de José
de Figueiredo (Vice-Presidente do CSBA) para Diretor-Geral da DGEMN, 13.02.1935, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536663.
633
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.12.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/02, TXT.04538763.
634
Anónimo, “No palácio das Cortes procedem-se aos últimos preparativos para a solenidade de amanhã, em que
na presença do Chefe do Estado, Governo, Corpo Diplomático, etc., se inaugurarão a Assembleia Nacional e a
Câmara Corporativa”, O Século, n.º 18973, 09.01.1935, p.1.
635
Cópia do parecer de 09.02.1935, incluso no ofício de José de Figueiredo para Diretor-Geral da DGEMN,
13.02.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536661-TXT.04536663.
636
Anónimo, “As obras do Parlamento e o contrasenso(sic) que presidiu aos trabalhos decorativos”, Diário de
Lisboa, n.º 4388, 04.02.1935, p. 4.

127
arquitetónico, “amálgama de estilos e de proporções”637, condenando os gastos estatais num
empreendimento considerado mesquinho face “ao espírito artístico da nossa época” e que
deveria espelhar grandiosidade e dignidade. Não tendo a intenção de apontar culpados, o autor
roga que se refaçam as estátuas. Leal de Faria sentiu-se impelido a responder no jornal,
contrapondo que não fora contactado por qualquer colaborador do mesmo para
esclarecimento638. Considerou as acusações injustas face à evolução de acontecimentos que
levara à apresentação pública dos modelos, mencionando que pedira intercessão atempada do
CSBA para avaliação das maquetes em gesso que não estavam concluídas. Em réplica, o autor
desvalorizou os argumentos de Leal de Faria, remetendo o assunto para as esferas artística e
estética, que já inicialmente sublinhara.

Fig. 32. Palácio de São Bento: escadaria principal com estátuas em gesso (da esq. p/ dta.: Prudência, Justiça,
Império Colonial, Força, Temperança). [1935].

637
Ibid.
638
Anónimo, “Os trabalhos de decoração do Parlamento. Uma carta do engenheiro Leal de Faria que dirige as
obras”, Diário de Lisboa, n.º 4390, 06.02.1935, p. 4.

128
Fig. 33. Palácio de São Bento: escadaria principal com estátuas em gesso. [1935].

O parecer do CSBA, assinado por José de Figueiredo, Pardal Monteiro, Diogo de Macedo e
Raul Lino, questionou o programa iconográfico e lamentou a inexistência de uma diretriz geral,
que deveria ter sido exarada pelo arquiteto dirigente das obras com auxílio de um escultor639.
Acusou, paralelamente, a falta de adequação dos modelos ao espírito arquitetónico, sem
uniformidade quanto ao seu volume e expressão, mesmo que se concedessem naturais
individualidades artísticas a cada interveniente e a inserção no gosto estético coevo. Como se
sublinhou:

“Seria violência desnecessária e inútil obrigar os artistas a trabalharem rigorosamente no


espírito duma geração vencida já pelo próprio tempo e que tinha por ideal quase sempre
a antítese do que hoje se venera. Mas é lógico que não se podem antepor a uma frontaria
quaisquer estátuas que pela conceção estilística briguem com a sua arquitetura”640.

639
Cópia do parecer de 09.02.1935, incluso no ofício de José de Figueiredo para Diretor-Geral da DGEMN,
13.02.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536661-TXT.04536663.
640
Ibid., p.2. PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536662.

129
No fundo, haveria margem para estátuas de gosto atualizado, moderno, embora sem se sobrepor
ao contexto arquitetónico, dentro do “indispensável equilíbrio”641 que António Ferro advogava.
O parecer apontou a escala desmesurada das figuras centrais – Império Colonial (juntamente
com o Estado Corporativo, a única figura masculina do conjunto) e Fortaleza – face às restantes
e ao espaço, e a incongruência do atributo da coluna na segunda, considerada desequilibrada
perante as demais642. O conselho referiu a estátua da Prudência como a mais bem conseguida
e aconselhou como material definitivo o lioz para conformação com a fachada. Na sequência,
o autor da estátua do Império Colonial, Costa Mota (Sobrinho), manifestou-se, alegando o curto
espaço de tempo para concretização e a ausência da escultura que lhe serviria de contraponto,
desequilibrando o conjunto643. Porém, volvido pouco tempo, apresentou a proposta de
orçamento para realização do novo modelo em gesso644, aprovada no final de 1935. Nesse ano,
Salvador Barata Feyo, responsável pela estátua da Temperança, substituiu Ruy Roque Gameiro
aquando do seu falecimento, por sugestão de Francisco Franco645 – não obstante, será Costa
Mota, cuja estátua não terá lugar na composição final, que tratará de executar a estátua da
Fortaleza, originalmente idealizada por Gameiro646.
A execução das versões finais arrastar-se-ia pelos anos seguintes. Leal de Faria deu conta, nos
inícios de 1936, da necessidade de observação da maquete em gesso de uma das estátuas, não
identificada, modificada em virtude do parecer anterior647. Em setembro de 1938, a 1.ª

641
António Ferro, “A Política de Espírito e a arte moderna portuguesa”, in Arte Moderna. Discursos pronunciados
em 23 de Maio de 1935 e 6 de Maio de 1949 (Lisboa: Edições SNI, 1949), 17.
642
As duas figuras não são enunciadas no parecer. No entanto, através de fotografias do espólio de Mário Novais
correspondentes ao momento, é possível identificá-las. Atentando na documentação, somos induzidos a considerar
que, possivelmente para uma apresentação harmónica sem espaçamentos, a figura da Fortaleza foi colocada em
posição central, pois Costa Mota refere em ofício que a peça que faria pendant com a sua escultura do Império
Colonial seria a relativa ao Estado Corporativo, que não ficou concluída por altura da exposição de gessos na
frontaria.
643
Cópia de ofício de Costa Mota Sobrinho para Leal de Faria, 11.04.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536666.
644
António Augusto da Costa Mota Sobrinho, Proposta, 06.05.1935. DGPC/SIPA: DSARH-005/125-3218/01,
TXT.04542244.
645
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.11.1935, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536706.
646
Constata-se que a estátua final de Costa Mota se assemelha, em termos plásticos, à figura da Justiça (1921) que
criara para decoração do hemiciclo, bastante díspar da proposta de Roque Gameiro, influenciado pela figura de
Atena guerreira.
647
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 17.01.1936, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04540061.

130
subsecção da 6.ª secção da JNE exarou um parecer648, assinado por Raul Lino649, sugerindo a
supressão das duas estátuas laterais, num momento em que apenas a estátua representando a
Prudência, por Raul Xavier, se encontrava terminada e aprovada. Esta sugestão teria aval do
arquiteto que dirigia a obra, argumentando os vogais que a projeção das duas estátuas laterais
face às janelas da fachada que antecediam seria pouco conseguida, não equilibravam o conjunto
em relação à composição arquitetónica, e os plintos rompiam “de maneira inusitada a série de
degraus que circundam o peristilo”650. Através da versão inicial do parecer, compreende-se que
as figuras de Feyo (Temperança) e Alves (Justiça) seriam suscetíveis de melhoria técnica, e
que a Costa Mota, privado de encomenda pela anulação da sua estátua, se poderia encomendar
outra estátua (Fortaleza), assim perfazendo o conjunto almejado de quatro estátuas651. O
trabalho deveria ser acompanhado por uma delegação daquela subsecção da JNE, juntamente
com Francisco Franco e António Lino.
Replicando, o engenheiro, nitidamente exasperado com as constantes alterações – apesar de
concordar que a supressão simplificaria o problema que “há já três anos (...) se arrasta”652 –, e
por forma a não acalentar equívocos adicionais, rogou que fosse esclarecido o destino a dar aos
plintos das estátuas então suprimidas. Em dezembro desse ano, insistiu na rápida resolução
devido à aproximação das “comemorações solenes anunciadas para 1939-1940”653, obtendo
resposta do parecer que solicitara em janeiro de 1939. O relator, Raul Lino, propôs que o
assunto fosse resolvido pelo arquiteto diretor das obras, sugerindo como uma das soluções
possíveis a inclusão, no lugar do plinto, de um ressalto de largura análoga, com eventual
elemento arquitetónico no topo654, aprovando Duarte Pacheco o prosseguimento através da

648
Cópia do Parecer da 6.ª Secção - 1.ª Sub-Secção da Junta Nacional de Educação: Estátuas destinadas à frontaria
do Palácio da Assembleia Nacional [cópia autorizada a 02.09.1938]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.004536684-TXT.004536686. No espólio de Diogo de Macedo conserva-se uma versão
inicial do parecer manuscrito, rasurado e alterado, que permite acompanhar o processo de decisão dos relatores.
Espólio Diogo de Macedo | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, DM 375/26.
649
Parecer elaborado pelos membros da comissão que haviam apresentado parecer em representação do então
extinto CSBA a 09.02.1935: Raul Lino, Pardal Monteiro, Paulino Montês e Diogo de Macedo, aos quais se juntou
Francisco Franco.
650
Cópia do Parecer da 6.ª Secção - 1.ª Subsecção da Junta Nacional de Educação: Estátuas destinadas à frontaria
do Palácio da Assembleia Nacional [cópia autorizada a 02.09.1938], p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.004536684.
651
Parecer: Estátuas destinadas à frontaria do Palácio da Assembleia Nacional, s.d. [ms.]. Espólio Diogo de
Macedo | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, DM 375/26.
652
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 20.09.1938, p. 2-3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536690- TXT.04536691.
653
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.12.1938, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536699.
654
Raul Lino (JNE), Corpo central da frontaria do Palácio da Assembleia Nacional: Parecer, 12.01.1939. AFRL:
Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 2.º vol., 263. [Parecer transcrito no ofício do Diretor-
Geral interino da DGESBA para o Diretor-Geral da DGEMN, 20.01.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536717.]

131
apresentação de um anteprojeto pela delegação655. Tal estudo propôs a demolição dos plintos
e dos degraus próximos, substituídos por uma moldura656.
Por essa altura, requisitava-se a aprovação ministerial da proposta de orçamento para execução
das estátuas657 e a realização do pagamento aos escultores “com dispensa de concurso público
e contrato escrito”658. Leal de Faria instava para que se desse andamento às três estátuas em
falta, para que ornamentassem a fachada principal em maio de 1940659. Os delegados da JNE
exigiram que cada artista realizasse uma maquete, tendo todas sido aprovadas660.
Em janeiro de 1940, comunicou-se que não fora possível a execução integral dos trabalhos no
ano transato661. No mês seguinte, os membros da JNE incumbidos de acompanhar todas as
fases de estudo e execução das estátuas – Raul Lino, Francisco Franco, Diogo de Macedo,
Paulino Montês e Pardal Monteiro – consideraram que as maquetes então apresentados
correspondiam “às condições arquitetónicas a que tinham de obedecer, e que os escultores [...]
deram provas do seu esforço e boa vontade na interpretação do tema que foram chamados a
desenvolver”662. Rapidamente se consentiu a passagem a gesso para posterior execução
definitiva em pedra663, autorizada, porém, somente em inícios de 1941664.
Por fim, em março de 1941, foram colocadas as quatro estátuas em pedra no local de destino:
Prudência de Raul Xavier, Fortaleza de Costa Mota (Sobrinho), Justiça de Maximiano Alves e
Temperança de Barata Feyo665. Após tamanhas perturbações ao prosseguimento desta etapa,

655
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Engenheiro Delegado nas Obras do Palácio da Assembleia
Nacional, 02.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536719.
656
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 27.03.1939, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536723.
657
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 28.01.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536703. Nesta altura, aprovavam-se o modelo em gesso da
estátua do Império Colonial, de Costa Mota Sobrinho, e da versão pétrea da estátua de Barata Feyo. Ofícios do
Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 28.01.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07431993, TXT.07431995.
658
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536720.
659
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 27.03.1939, p.2. DGPC/SIPA PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536722. Os pagamentos seriam autorizados pelo Tribunal de Contas a 08.11.1939.
660
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.09.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536751.
661
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 12.01.1940. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536765.
662
Cópia do parecer da 1.ª Subsecção da 6.ª Secção da Junta Nacional de Educação, 19.02.1940. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536785.
663
Despacho de Duarte Pacheco de 23.03.1940, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas, 19.03.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536795.
664
Despacho de Duarte Pacheco de 11.01.1941, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas, 11.01.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536800.
665
No entanto, a conclusão dos trabalhos de colocação da última estátua e retirada dos andaimes foi somente
noticiada como tendo ocorrido no final do mês de julho. Anónimo, “Terminaram os trabalhos de colocação de
estátuas no Palácio da Assembleia Nacional”, O Século, n.º 21319, 27.07.1941, p.1.

132
não deixa de ser curioso ter sido o engenheiro Leal de Faria a questionar esteticamente uma
das estátuas, concretamente a de Barata Feyo, por apresentar “o aparelho das ‘carnes’”666 díspar
das demais. Uma vez que o escultor não concordou com a apreciação, e se opôs a repetir a
peça, embora tenha acedido a trabalhar ligeiramente a estátua, o engenheiro pediu intercessão
da comissão da JNE encarregue da avaliação667 – facto que encerrou definitivamente o assunto,
por aquele conjunto de relatores entender que não se impunha alterar qualquer uma das estátuas
do conjunto668.
Comparando as fotografias das maquetes em gesso tiradas em 1935 com as versões definitivas
colocadas no topo da escadaria, verificam-se, excetuando a estátua de Raul Xavier, diferenças
consideráveis nas soluções estéticas e nos pormenores, adaptados pelos autores para
corresponder às críticas das avaliações, na tentativa de obter alguma uniformidade plástica.

Fig. 34. Estátua Prudência (gesso), Raul Xavier. Fig. 35. Estátua Prudência, Raul Xavier. 2004.
[1935]

Fig. 36. Maximiano Alves no atelier junto do modelo Fig. 37. Estátua Justiça, Maximiano Alves. 2004.
para a estátua Justiça. [c. 1935]

666
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 21.03.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/15, TXT.04536812.
667
Assinaram o parecer Pardal Monteiro, Raul Lino, António Lino e Francisco Franco.
668
Nota acerca da reunião da comissão com o engenheiro delegado das obras decorrida a 09.08.1941.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15, TXT.04536823.

133
Fig. 38. Estátua Fortaleza (gesso), Ruy Roque Fig. 39. Estátua Força, António Costa Mota
Gameiro. [1935] (Sobrinho). 2004.

Fig. 40. Estátua Temperança (gesso), Salvador Fig. 41. Estátua Temperança, Salvador Barata Feyo.
Barata Feyo. [1935] 2004

Em junho de 1942, foram montados os dois leões em pedra lioz, concebidos por Raul Xavier
para a base da escadaria principal669. O artista comprometera-se à realização da tarefa por ajuste
particular em março de 1941, após apresentação da primeira maquete em barro670.

2.6. Adaptação dos espaços interiores

Considerando a estrutura dos órgãos que teriam assento no Palácio de São Bento – Assembleia
Nacional e Câmara Corporativa, a par da Presidência do Conselho –, tornou-se necessário
adaptar os interiores às suas funções e à respetiva distribuição hierárquica. O andar nobre sofreu

669
Eduardo Augusto Simões Fonseca (REE), Informação n.º 71, 18.06.1942. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431555.
670
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 07.03.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/ DSARH-
005/125-3219/02, TXT.04543577.

134
modificações, sendo ocupado pelas salas de sessões de cada órgão – que não foram
substancialmente transformadas pela delegação: a Assembleia Nacional reunia no hemiciclo
(proj. Ventura Terra, inaug. 1903) e a Câmara Corporativa na anterior sala do Senado (proj.
Jean-François Colson, inaug. 1867) –, gabinetes dos seus presidentes e respetivos secretários e
chefes de gabinete, passos perdidos e corredores, sala do Presidente da República671, salão
nobre, sala de conferências672, biblioteca e Torre do Tombo.

No piso térreo, foram seguidos os planos de Ventura Terra. O átrio, que correspondia ao local
outrora ocupado pela igreja conventual, da qual se conservou o pavimento de mármore branco
e rosa, compunha-se de três corpos ligados por “dupla ordem de arcarias assentes, em parte,
em pilastras primitivas”673. Através da entrada principal acedia-se a um corredor, cujas paredes
se definiam por arcos cegos sobre pilastras, formando nichos onde se foram colocando “bustos
de figuras representativas do constitucionalismo”674. O modelo para as lanternas de ferro
forjado integradas nesta área foi desenhado por António Lino675. No final do corredor, abria-
se uma passagem para o jardim traseiro delineado por Cristino da Silva. Tomando, da entrada,
o corredor na direção da ala sul, chegava-se ao claustro interior, então recuperado, tendo sido
calcetado e ajardinado, possuindo uma fonte ao centro. Mencione-se, ainda, que a partir deste
piso se tinha acesso à Torre do Tombo, localizada na ala norte, sobre o Largo de S. Bento,
ocupando instalações da cave à sobreloja.

2.6.1. Ascensão ao andar nobre: escadaria de honra e decoração artística

Acedendo pelo mencionado corredor que parte da entrada principal, é possível ascender ao
andar nobre através da escadaria localizada a meio do átrio, à esquerda do visitante. As
demolições para construção desta escadaria de honra começaram a ser estudadas e adjudicadas
em fevereiro de 1934. Tal tarefa requeria cautela, pois a escada então existente, constituída por
blocos de cantaria, teria como destino a reconstrução “no edifício destinado a Museu de Arte

671
Correspondente ao gabinete atualmente designado como Sala Acácio Lino. Durante o Estado Novo, serviu
como sala para o Presidente da República aquando das suas deslocações ao edifício e, posteriormente, foi utilizada
como sala de visitas do Presidente da Assembleia Nacional (França, O Palácio de São Bento, 154).
672
Delineada no final de Oitocentos, com estuques decorativos e pintura de mármore fingido nas paredes, é hoje
identificada como Sala D. Maria II (França, O Palácio de São Bento, 157-158).
673
Araújo, Inventário de Lisboa, 32.
674
Ibid., 35.
675
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 01.10.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04539687.

135
Antiga”676. José-Augusto França refere que António Lino adaptara esteticamente a escadaria
traçada por Ventura Terra677. Trata-se de uma imponente escadaria, com balaústres nas
guardas, cujos lanços convergem para um patamar central, do qual partem lanços desdobrados
em direção ao andar nobre. Dão acesso a duas galerias opostas, comunicando, respetivamente,
com as salas das sessões da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa. No seu relato
acerca do palácio, Joaquim Leitão, secretário da Assembleia Nacional, enfatizou o aspeto
majestático dos “largos degraus”, substitutos do “lamentável espectáculo com que, durante
anos, gerações sucessivas, topavam”678, dado que escadaria de serviço ao fundo do átrio
constituía o único acesso ao piso superior.

Fig. 42. Lustre no centro da escadaria nobre. [após Fig. 43. Candelabro no topo da escadaria nobre.
1943]. [após 1943].

Após a colocação do candelabro, desenhado por António Lino, sobre o centro da escadaria, em
1938, Duarte Pacheco manifestou-se a favor da sua modificação, pois não o considerava

676
Comunicação n.º 49, de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 06.02.1934, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537835. Não se corroborou esta ideia nos estudos e projetos para
o MNAA do arquiteto Guilherme Rebelo de Andrade. Cf. Vitor Manaças, Museu Nacional de Arte Antiga. Uma
leitura da sua história, 1911-1962, 3 vols. (Dissertação de Mestrado em História da Arte, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1991).
677
França, O Palácio de São Bento, 36-37.
678
Leitão, O Palácio de São Bento, 16.

136
adequado. Para desfazer equívocos ocorridos com o arquiteto e o engenheiro delegado,
determinou que os arquitetos Raul Lino (chefe da REOM), Carlos Ramos, Cotinelli Telmo e
António Lino estudassem o assunto679. Na reunião que os arquitetos tiveram com Leal de Faria,
definiu-se a substituição do candelabro existente por um lustre de bronze, pendendo do teto de
estuque680. Depois de conversações com a Fábrica de Material de Guerra, que executara os
candelabros e vasos de bronze ornando a escadaria, com vista a diminuir o peso previsto do
lustre de quatro a cinco toneladas para 1500 quilogramas, o ministro concordou com o
dispêndio de 92.000$ para sua realização681. Um modelo em gesso do lustre foi encomendado
ao escultor Pedro Anjos Teixeira682.
Décadas mais tarde, três degraus da escadaria ficaram danificados pela remoção de materiais
utilizados nas cerimónias fúnebres de Óscar Carmona, decorridas no edifício a 20 e 21 de abril
de 1951683, sendo necessária a substituição completa por não se considerar aconselhável uma
mera reparação.

Para decoração das sobreportas nos patamares de acesso às salas das sessões, Leopoldo de
Almeida concebeu dois grupos escultóricos em alto-relevo, colocados sobre frontões
triangulares, que se repetem oito vezes no total684. Representam a Pesca e a Agricultura,
respetivamente através de uma figura feminina e uma masculina sentadas, de traços clássicos,
com musculatura definida e apenas cobertas por panejamentos drapeados, acompanhadas de
atributos identificativos – redes de pesca e peixes no caso do primeiro grupo, e espigas e parras
no segundo685. Ao centro, entre cada um dos grupos de figuras, situa-se um brasão relativo uma
das oito províncias portuguesas de então, onde se haviam reunido as Cortes: Trás-os-Montes,
Minho, Beira Litoral, Estremadura, Beira Alta, Beira Baixa, Alentejo, Algarve. Os relevos
coadunam-se com as funções do edifício, remetendo para duas atividades de sustento do país e

679
Despacho de Duarte Pacheco de 23.10.1938, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 04.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/04,
TXT.04544642-TXT.04544643.
680
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.06.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3220/04, TXT.04544705-TXT.04544706.
681
Despacho de Duarte Pacheco de 12.08.1939, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 11.08.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/04,
TXT.04544725.
682
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 28.09.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432262.
683
Ofício de Costa Brochado (secretário da Assembleia Nacional) para João Paulo Nazaré de Oliveira (chefe de
gabinete do MOP), 09.05.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/06, TXT.04546870.
684
Rita Mega, Vida e Obra do Escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), 63.
685
O Museu Leopoldo de Almeida, que integra o Centro de Artes das Caldas da Rainha, possui no espólio à sua
guarda duas maquetes em gesso, datadas de 1937 (n.º inventário LA-ESC-0147 e LA-ESC-0148).

137
para a questão da representatividade local na câmara corporativa – embora, como foi assinalado
em subcapítulo anterior, este órgão apenas detivesse um papel consultivo.

Fig. 44. Coroamento das portas da autoria de Leopoldo de Almeida na escadaria nobre do Palácio de São Bento.
1999.

Para dignificação dos patamares, idealizou-se decorar pictoricamente as paredes,


desejavelmente com término simultâneo à conclusão da escadaria nobre686. Para integrar a
comissão responsável pela redação das normas do concurso para essas pinturas, da qual fazia
parte Leal de Faria, foram nomeadas figuras de diferentes serviços: pelo CSBA, os vogais
Diogo de Macedo e Pardal Monteiro, o arquiteto João António Piloto como representante da

686
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 28.03.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546425.

138
Escola de Belas-Artes de Lisboa (EBAL), e o pintor Veloso Salgado representando a Academia
Nacional de Belas-Artes (ANBA), assumindo o papel de presidente687. As condições foram
concluídas em maio de 1935, ficando o concurso “aberto entre os artistas pintores
portugueses”688. Pretendia-se a execução de dois trípticos, tendo os concorrentes de apresentar
esbocetos que evidenciassem o que se pretendia alcançar na versão final. Os temas a representar
seriam A defesa da Pátria e A prosperidade da Nação. Compreende-se o interesse dos artistas
neste tipo de concurso, visto que, nas duas fases que comportava, eram atribuídos prémios
monetários aos três primeiros classificados. À bonificação adicionava-se a possibilidade de
participar numa obra pública de considerável envergadura e visibilidade, com remuneração
independente dos prémios anteriores.
Estabeleceu-se que o júri do concurso deveria ser composto por Leal de Faria e António Lino,
bem como por delegados do CSBA, da ANBA, da EBAL, da SNBA (Armando de Lucena) e
“dois pintores eleitos pelos concorrentes”689. Por altura da seleção dos membros, e estando
iminente o término do prazo de entrega dos esbocetos, o presidente da ANBA, José de
Figueiredo, intercedeu por considerar que o programa do concurso “não oferece as garantias
que a Academia julga indispensáveis em concursos desta ordem”690 – o que é digno de nota,
uma vez que o presidente da comissão responsável, Veloso Salgado, representava,
precisamente, a ANBA. Por outro lado, na mesma data, José de Figueiredo indicou, enquanto
vice-presidente do CSBA, o nome de Luís Varela Aldemira para representar aquele
organismo691. A documentação identificada não permitiu averiguar acerca da resposta
ministerial a este episódio. O certo é que, a 19.08.1935, o júri reuniu pela primeira vez,
integrando Leal de Faria e António Lino, Henrique Franco (EBAL), Varela Aldemira (CSBA),
Frederico Aires (SNBA), e Emérico Nunes e Bernardo Marques por designação dos
concorrentes692. A justificação para a intercessão de José de Figueiredo pela ANBA está,

687
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 17.04.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546431.
688
Condições do concurso público para a obra de pintura decorativa para a escadaria nobre do Palácio da
Assembleia Nacional, 25.05.1935, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546436.
689
Ofício de Veloso Salgado para Diretor-Geral da DGEMN, 24.05.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546437.
690
Ofício de José de Figueiredo (Presidente da ANBA) para Diretor-Geral da DGEMN, 15.08.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546466.
691
Ofício de José de Figueiredo (Vice-presidente do CSBA) para Diretor-Geral da DGEMN, 15.08.1935.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546468.
692
Não estiveram presentes Varela Aldemira e Bernardo Marques. Concurso para as pinturas decorativas da
escadaria nobre do Palácio da Assembleia Nacional - acta n.º 1, 19.08.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546490.

139
porém, patente na declaração prestada por Varela Aldemira na segunda reunião, decorrida no
final desse mês:

“Num concurso de carácter oficial e promovido pelo Estado devem proteger-se em


primeiro lugar os indivíduos que frequentaram e se diplomaram nos Estabelecimentos do
Estado. Se num concurso de arquitectura só arquitectos de direito podem concorrer e num
concurso de engenharia só engenheiros reconhecidos como tal podem tomar parte; numa
obra de tamanha importância como sejam as pinturas decorativas da Escadaria Nobre do
Palácio da Assembleia Nacional, só entre pintores diplomados pelas Escolas de Belas-
Artes do País se deveria abrir o respetivo concurso”693.

Para valorizar o ensino oficial e evitar a presença de autodidatas (ou, quiçá, de estrangeiros), a
admissão ao concurso de pintores portugueses afigurava-se como formulação demasiado vaga.

Na primeira fase, entre 16 provas (i.e., 32 estudos), foram escolhidos os trabalhos de Dordio
Gomes, Abel Manta (1888-1982) e Lino António (1898-1974)694. A segunda fase do concurso
decorreu em dezembro de 1935, com exposição das provas na SNBA695, por falta de espaço no
gabinete disponível no palácio. O primeiro prémio foi atribuído aos trípticos Defesa da Pátria,
de Abel Manta, e Prosperidade da Nação, de Dordio Gomes, cabendo o segundo às outras duas
obras dos mesmos pintores, e o terceiro às pinturas de Lino António696. Os vencedores
deveriam laborar com vista a obter trípticos, pintados a óleo, que harmonizassem entre si, e
que correspondessem aos esbocetos apresentados no concurso.
Numa nota para o Diário de Notícias antecedendo os resultados do último concurso, Diogo de
Macedo ressaltou que concorriam três pintores consagrados pela crítica e pelo público, cuja
seleção garantia o valor artístico da obra final, que “constituirá uma representação certa das

693
Concurso para as pinturas decorativas da escadaria nobre do Palácio da Assembleia Nacional - acta n.º 2,
30.08.1935, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546488.
694
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 23.12.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546473.
695
Nos inícios de 1936, tendo sido ponderado o envio das provas – pertencentes ao Estado, segundo o programa
do concurso – para o Museu de Arte Contemporânea, foram armazenadas no Palácio Nacional da Ajuda, onde
funcionava a DGFP. Ofício de Luís Gomes (Diretor da DGFP) para Diretor-Geral da DGEMN, 11.01.1936.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546478.
Atualmente, o PNA conserva dois estudos de Dordio Gomes e quatro de Abel Manta. Quatro provas (duas de
Dordio Gomes e duas de Lino António) encontram-se decorando as instalações do Ministério da Agricultura na
Praça do Comércio. Uma das telas de pormenor de Dordio Gomes, retratando a família (2.º prémio), foi
identificada no gabinete ministerial do edifício do atual Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social,
sito na Praça de Londres.
696
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 23.12.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546473.

140
possibilidades e do nível da pintura portuguesa dos nossos dias”697. À data, Abel Manta contava
com 47 anos e Dordio Gomes com 45. Tinham travado amizade durante estadias em Paris, na
década de 1920, e ambos vieram a ser ambiguamente classificados pela crítica da época, ora
de modernos, ora de tradicionalistas698. Ambos haviam captado inspiração em viagens a Itália
no que respeita à atenção à pintura mural, de escala ampliada699. O incentivo dos novos artistas
defendido por António Ferro como dever do Estado, ao entrevistar Salazar poucos anos antes,
não se refletia, neste caso, na juventude – foram premiados pintores que haviam dado provas
das suas capacidades artísticas e que colaboravam habitualmente com instâncias oficiais.
Noutra nota publicada, embora não se referindo a esses artistas, Diogo de Macedo assinalou a
diferença de gerações dos artistas que decoraram o palácio, sendo que os de mais idade não
poderiam estar aptos a concorrer para a necessária renovação do edifício, compassada ao
espírito inovador do regime do Estado Novo700.
No domínio da encomenda para edifícios públicos, neste período, salientem-se, de Dordio
Gomes, os painéis realizados para os Paços do Concelho de Arraiolos (1927-32), o cartão que
executou para um painel de azulejos destinado ao Liceu de Beja (1936) e o painel a óleo para
a Caixa Geral de Depósitos de Portalegre (1939), todos com temáticas dedicadas ao Alentejo,
sobretudo à vida e ao trabalho nos campos, com alguns apontamentos históricos. De Abel
Manta, destaca-se o cartão para o vitral do Instituto Nacional de Estatística, em Lisboa (1933),
com iconografia de pendor nacionalista. Em adição, refira-se a presença de ambos na
Exposição Colonial de Paris (1931), que também contou com participação do terceiro
premiado, Lino António701.

Os títulos designados para os trípticos transparecem o tom nacionalista que se pretendia, ao


qual os artistas responderam com recurso a alegorias à pátria, referências à defesa militar e ao
território, figuras históricas como Luís de Camões, D. Nuno Álvares Pereira ou o Mestre de

697
Diogo de Macedo, “Artes plásticas. Mais um grande concurso de pintura aberto pelo Estado”, Diário de
Notícias, s.d. [manuscrito]. Espólio Diogo de Macedo | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, DM 375/6.
698
França, A Arte em Portugal no século XX, 171, 174.
699
Em 1934, Abel Manta realizou uma viagem por Itália durante um mês como bolseiro da JEN, que considerou
de extrema importância para que pudesse sair bem-sucedido nos concursos para o Palácio da Assembleia
Nacional. Cf. Cartão de visita manuscrito de Abel Manta, janeiro 1936. (AIC: Proc. 1360, cx. 1215/23). Também
o terceiro premiado, Lino António, fizera um pedido à JEN para concessão de uma bolsa de estudo para viajar
pelos museus italianos e belgas com o fim de, entre outros aspectos, estudar pintura mural. Cf. requerimento e
curriculum vitae de Lino António, 1933-1934. (AIC: Proc. 1218).
700
Diogo de Macedo, “Os Artistas na Assembleia Nacional”, s.d.. Espólio Diogo de Macedo | FCG - Biblioteca
de Arte e Arquivos, DM 375/8.
701
As propostas de Lino António para os trípticos aproximam-se de telas que apresentou na Exposição do Ano X
da Revolução Nacional, em 1936, dedicadas aos temas do combate ao desemprego e ao trabalho nacional. Veja-
se fotografias das duas pinturas reproduzidas em Diário de Notícias, n.º 25255, 28.05.1936, p. 11.

141
Avis, bem como salientando o povo na construção do novo regime através de alusões ao
trabalho braçal nos campos, nas fábricas e na construção de obras públicas, e o papel do labor
intelectual, da ciência e da educação.

Fig. 45. Estudos de Abel Manta: 1.º prémio (Defesa da Pátria, à dta.) e 2.º prémio (Prosperidade da Nação, à
esq.). 21.12.1935.

Fig. 46. Abel Manta, D. Nuno Álvares Pereira (1.º prémio). 21.12.1935.

142
Fig. 47. Estudos de Dordio Gomes: 1.º premio (Prosperidade da Nação, à esq.) e 2.º prémio (Defesa da Pátria,
à dta.). 21.12.1935.

Fig. 48. Dordio Gomes, A Família (1.º prémio). 21.12.1935.

143
Fig. 49. Estudos de Dordio Gomes, Prosperidade da Nação (1.º prémio).

Fig. 50. Estudos de Dordio Gomes, Defesa da Pátria (2.º prémio).

144
Fig. 51. Estudos de Lino António, Prosperidade da Nação (3.º prémio). 21.12.1935.

Fig. 52. Lino António, Ceifeiros (3.º prémio). 21.12.1935.

145
Fig. 53. Estudos de Lino António, Prosperidade da Nação (3.º prémio).

Fig. 54. Estudos de Lino António, Defesa da Pátria (3.º prémio).

146
A decisão final não foi pacífica. António Lino, Frederico Ayres e Leal de Faria opuseram-se à
atribuição dos prémios, pois, apesar de reconhecerem mérito aos artistas e acreditarem na sua
capacidade de executar o trabalho proposto, consideraram que as maquetes apresentadas não
se coadunavam com os esbocetos selecionados na primeira fase do concurso, e que não se
compatibilizavam entre si para formar uma composição equilibrada702. O delegado das obras
insistiu, nos meses seguintes, nesta posição, reafirmando que as maquetes não se encontravam
“em condições de serem executada em definitivo”703, ressalvando o direito de o Governo não
adjudicar o trabalho. Em alternativa, sugeriu três possibilidades, das quais se afigurava como
mais aconselhável o convite aos dois vencedores, Abel Manta e Dordio Gomes, para
elaborarem novas propostas definitivas que harmonizassem, sem direito a remuneração, o que
não obrigaria à anulação do concurso anterior. Previamente, o júri – ao qual propunha
acrescerem dois vogais, idealmente críticos de arte reconhecidos – deveria reunir para
estabelecimento das condições destas novas provas. Tanto Henrique Gomes da Silva, Diretor-
Geral da DGEMN, como o ministro, concordaram com esta solução.
Dos membros do júri704, somente António Lino, Frederico Ayres, Varela Aldemira e Leal de
Faria compareceram à reunião estipulada para 22.02.1936705; não obstante, deliberou-se
consoante a proposta de Leal de Faria atrás enunciada, corroborada por despacho ministerial.
A falta de comparência sucedeu novamente na reunião seguinte, agendada para 21.07.1936,
cuja ordem de trabalhos se prendia com a escolha dos dois vogais adicionais. De facto, os
membros do júri anterior consideravam não ter obrigação de integrar esta nova fase, uma vez
que tinham dado por terminada a missão de que haviam sido incumbidos. Assim, o assunto
seria exposto para resolução pela JNE, que nomeou para o efeito os vogais Paulino Montês,
Varela Aldemira e Tenente Miguel Artur Guedes da Silveira706. Entretanto, os artistas
apresentaram as novas maquetes707.

702
Concurso para as Pinturas decorativas da Escadaria Nobre do PAN - acta n.º 4, 20.12.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546479-TXT.04546482.
703
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.02.1936, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546505.
704
Henrique Franco, Varela Aldemira, Frederico Ayres, Bernardo Marques, Emérico Nunes, António Lino e Leal
de Faria.
705
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 23.07.1936, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546512.
706
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para Diretor-Geral da DGEMN, 21.09.1936. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546517.
707
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.11.1937, p.3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546538.

147
Volveu mais de um ano até à emissão de um parecer pelo CPAE708. O documento relatava os
incidentes até à data, apontando as incongruências e a falta de adoção das normas geralmente
aplicadas, como a dissolução do júri anterior para nomeação de um novo ou a anulação do
concurso anterior e respetiva classificação. Urgia para resolução do assunto e apreciação das
novas provas, perante o prejuízo dos concorrentes – cuja competência não se questionava, e da
conclusão da obra, e eventuais desconfianças por parte da opinião pública quanto à
classificação e ao júri em face da demora. A análise seria outorgada ao júri anteriormente em
funções, que deveria reunir de imediato, com supervisão da JNE em caso de incompatibilidade,
e não poderia o engenheiro delegado das obras do edifício adjudicar o trabalho sem ordens
superiores709. Leal de Faria considerava, não obstante, ser preferível a apreciação das maquetes
pelo novo júri710, e os membros do primeiro júri partilhavam dessa posição, voltando a não
comparecer à reunião agendada para 18.12.1937711.
Por forma a dar resolução ao assunto, que não caberia ao júri, mas às entidades que dirigiam
as obras, o CPAE emitiu um parecer favorável à adjudicação das pinturas aos artistas em causa,
então professores e consagrados pintores712. Mais reforçava o relator não serem fundamentados
os receios perante a falta de harmonização entre os dois trípticos, que os pintores haviam já
procurado resolver em termos de disposição de figuras, formas e cores nas novas maquetes, e
porquanto “destinam-se ao mesmo local, é certo, mas não figuram um ao lado do outro; são
para colocar em paredes fronteiras. Quer dizer: quando o espectador observa um dos painéis,
está de costas voltadas para o outro”713. Por despacho do ministro foram, então, adjudicadas as
pinturas decorativas da escadaria de honra a Abel Manta e Dordio Gomes714. Leal de Faria,
mais uma vez, não se coibiu de prestar contas, assumindo que, embora aceitasse que o trabalho
fosse acometido aos dois pintores – cuja obra pictórica afirmava desconhecer –, caso

708
MEN/JNE/CPAE: Parecer, 08.10.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12,
TXT.04546528-TXT.04546530.
709
Leal de Faria, melindrado com as afirmações constantes do parecer, dirigiu-se ao seu superior hierárquico,
acusando o relator de, para descrição dos acontecimentos, se ter baseado num apontamento particular que
fornecera a José de Figueiredo para ponderação na 6.ª secção da JNE, e, consequentemente, enumerar factos
incorretos. Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.11.1937, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546540.
710
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.11.1937, p.5. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546526.
711
MEN/JNE/CPAE, sem ass., Parecer [autor: Luís Varela Aldemira], 05.01.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546545.
712
MEN/JNE/CPAE, sem ass., Parecer [autor: Luís Varela Aldemira], 05.01.1938, p.2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546544.
713
MEN/JNE/CPAE, sem ass., Parecer [autor: Luís Varela Aldemira], 05.01.1938, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12, TXT.04546545.
714
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 10.12.1938, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04536699.

148
anteriormente o júri tivesse reunido, teria rejeitado as novas propostas, por não concordar com
a sua execução definitiva715.
Mediante os festejos centenários que se avizinhavam, após publicação da nota oficiosa
emanada pelo Presidente do Conselho aludindo às obras que se previam terminar716, solicitou-
se aos pintores a conclusão e colocação das pinturas no local de destino em 1939. Acederam
ao propósito, demonstrando reverência à ideia e entusiasmo patriótico; porém, ao contrário de
Dordio Gomes, Abel Manta não dispunha do mesmo tempo para execução do trabalho por
lecionar numa escola industrial, pondo à consideração que fosse requisitado pelo Estado para
evitar prejuízos para ambas as partes717.
Dado que as pinturas não estariam terminadas por ocasião da inauguração da escadaria nobre,
agendada para 25.11.1938, foi aprovada a proposta de Leal de Faria de forrar provisoriamente
os vãos a que se destinavam com veludo vermelho-escuro718, que se decidiu manter até à
colocação das telas719. Perante a insistência do ministro em averiguar o estado das pinturas, e
como circunstâncias decorrentes das deliberações do júri do concurso impossibilitavam Leal
de Faria de intervir na sua execução, a DGEMN intercedeu para que a JNE acedesse ao pedido
ministerial720. Em fevereiro de 1939, foi deliberada a suspensão dos pagamentos aos pintores
“até que o assunto seja devidamente esclarecido”721.
No mês seguinte, Henrique Gomes da Silva tornava a insistir com Leal de Faria para vistoriar
os trabalhos, para se prestarem informações ao ministro722. Da visita que fez aos respetivos
ateliers723, o engenheiro relatou que o trabalho de Dordio Gomes se encontrava atrasado face
ao de Abel Manta. O primeiro apenas tinha esboçado os painéis a carvão, de forma incompleta,
tendo o segundo iniciado a coloração de uma das pinturas, assegurando ambos que terminariam

715
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.02.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3223/12, TXT.04546549-TXT.04546552.
716
Anónimo, “Oito séculos de nacionalidade. A fundação de Portugal e a restauração da independência serão
comemoradas com o maior relevo em 1939 e 1940”, Diário de Lisboa, n.º 5512, 27.03.1938, p.1.
717
Cópia de ofícios de Abel Manta e Dordio Gomes, 04.04.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3212/12, TXT.04546560.
718
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 31.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3220/04, TXT.04544649.
719
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 02.12.1938.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/04, TXT.04544667.
720
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para DGESBA/JNE, 14.12.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546564.
721
Despacho de Duarte Pacheco de 04.02.1939, transcrito em ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de
Faria, 09.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01, TXT.07432023.
722
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 02.03.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432065.
723
O atelier de Abel Manta localizava-se em Santo Amaro de Oeiras, e o de Dordio Gomes no Porto, que terá
utilizado um espaço no Palácio de Cristal para trabalhar, considerando a dimensão do trabalho. (Castro, Dordio
Gomes, 138).

149
o trabalho no prazo estipulado, até ao final do ano724. Leal de Faria sumariou, novamente, o
ocorrido desde o concurso inicial em 1935, por forma a escusar-se à tarefa de inspeção, que
deveria caber à JNE – como, de resto, sucedia para as outras obras de arte que se executavam
para o edifício. É ilustrativa da sua posição em matéria artística, que se adivinha
tendencialmente conservadora e de gosto naturalista, a afirmação:

“Se tivesse sido eu, apenas, a pessoa encarregada de decidir sobre as obras de arte que
haviam de figurar neste Palácio, não existiriam nele alguns dos trabalhos de pintura que
hoje o ornamentam, e assim estaria este Palácio privado de obras que tenho ouvido a
artistas consagrados classificar de verdadeiras obras primas(sic)”725.

Leal de Faria parece confundir a tarefa de constatar o estado de avanço do trabalho com uma
apreciação estética e técnica, para a qual assegura não ter capacidade de se pronunciar. Por
outro lado, a constante necessidade de justificação e de reafirmação dos factos, patente em
diversas situações nas obras de adaptação, transparece que o engenheiro possivelmente se
sentia injustiçado, ou até diminuído, enquanto responsável pelas obras do edifício em
representação da DGEMN.
Na sequência, Duarte Pacheco deliberou que a fiscalização dos trabalhos dos pintores ficasse
a cargo da JNE, e somente após parecer favorável se daria autorização dos pagamentos 726.
Foram, assim, nomeados os vogais Varela Aldemira e Vasco Valente727. Vasco Valente
examinou o trabalho de Dordio Gomes, atestando o seu estado avançado e considerando-o em
condições de prossecução728. Varela Aldemira visitou a oficina de Abel Manta, localizada no
Palácio da Assembleia Nacional, confirmando a próxima conclusão do tríptico e a sua
adequação aos fins considerados, encorajando o término das telas729. A deslocação separada
dos vogais foi acusada por Leal de Faria, que entendia que ambos deveriam observar os dois

724
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 21.03.1939, p. 3-4. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546579-TXT.04546580.
725
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 21.03.1939, p.5. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546576.
726
Ofício de Duarte Pacheco para Ministro da Educação Nacional, 11.05.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546583-TXT.04546584.
727
Ofício de Gustavo Cordeiro Ramos (MEN) para Duarte Pacheco, 02.10.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546585.
728
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 07.11.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432291.
729
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 15.11.1939. DGPC/SIPA PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432301.

150
trípticos para averiguar da sua coesão730. Os representantes da JNE colmataram esta denúncia
ao apresentar um parecer favorável para o conjunto731.
Em resposta ao pedido de desbloqueio dos pagamentos, o ministro impôs que as telas fossem
reunidas no palácio, ao qual Dordio Gomes se opôs devido à dificuldade de transporte a partir
do Porto, que poderia comprometer a estabilidade das pinturas que ainda não estavam
concluídas, desistindo do abono que lhe competia nesta fase732. Duarte Pacheco mantinha-se
determinado na sua decisão, não consentindo a “colocação das telas se não tiver ocasião de as
apreciar em conjunto antes de concluídas”733. A deslocação das pinturas, ainda por terminar,
ocorreu em junho de 1940.
Em agosto foi emitido um parecer pela JNE, assinado por Reinaldo dos Santos, acerca das
pinturas de Dordio Gomes (Prosperidade da Nação) e de Abel Manta (Defesa da Pátria),
ambas em fase final de execução, provisoriamente colocadas no topo da escadaria principal,
assim permitindo uma avaliação no espaço arquitetónico. Nenhum dos trípticos foi considerado
aceitável, pois para além de não ser habitual a atribuição a dois artistas distintos de decorações
deste tipo, com tamanha relevância734 – uma opinião que contraria a prática habitual nas
exposições propagandísticas do regime –, não evidenciavam habilidade plástica satisfatória,
não correspondendo “à aspiração evocativa e decorativa que determinou a encomenda nem à
dignidade dos assuntos”735. No tríptico de Abel Manta foi criticado o facto de as personagens
– de Nuno Álvares, Camões e Infante D. Henrique, a Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama
e João das Regras – não possuírem a dignidade necessária, considerando as composições
plástica e tonal fracassadas. Idênticas notas se emitem sobre o outro tríptico, embora se ressalve
possuir alguns aspetos decorativos interessantes. A aparente disparidade estética entre as
pinturas, e o facto de combinarem personagens alegóricas com a evocação de figuras e
momentos históricos de forma díspar, terão pesado sobre a provável qualidade das pinturas.
O assunto foi encerrado com a anulação do despacho ministerial que aprovava as propostas736.
Recorde-se que a anulação de concursos em momentos avançados, já com seleção de

730
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 15.11.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546597.
731
Cópia do parecer, 14.12.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546600.
732
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 29.02.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546611-TXT.04546612
733
Despacho de 05.03.1940, transcrito em ofício de Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 08.03.1940.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546614.
734
Versão inicial do parecer, s.d. AHSGEC: Fundo JNE, cx.326, proc.106.
735
Parecer, 02.08.1940, p.1. AHSGEC: Fundo JNE, cx.326, proc.106.
736
Despacho Duarte Pacheco de 03.09.1940, manuscrito sobre ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da
DGEMN, 29.02.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546625.

151
vencedores e início dos trabalhos, em grande parte decorrente de interesses e intrigas, foi
relativamente comum nos inícios da década de 1930, como o desfecho do episódio relacionado
com os concursos para padrões de Luanda e Lourenço Marques (1929-31), ganho por Able
Pascoal e Barata Feyo, elucida737.
Os pintores, que se haviam visto privados de colaborar noutras obras durante dois anos,
nomeadamente na Exposição do Mundo Português, pelo compromisso assumido na execução
destas pinturas, não foram obrigados a restituir os pagamentos já recebidos738. Foram, ainda,
após terem intercedido, recompensados com uma indemnização, cujo valor de 10.000$00 foi
estipulado por Adriano de Sousa Lopes enquanto vogal da 1.ª subsecção da 6.ª secção da JNE,
artista que laborava paralelamente no Salão Nobre do edifício, e que lamentava o improfícuo
esforço dos artistas envolvidos em demoras “provocadas pela engrenagem burocrática”739.
José-Augusto França refere que as telas de Abel Manta foram destruídas pelo próprio pintor
por não terem sido aprovadas740 – segundo o autor, em consequência das suas convicções
republicanas avessas aos intentos oficiais, não fazendo, ademais, qualquer menção à
participação de Dordio Gomes. Porém, sabe-se que Abel Manta pediu que pudesse retirar as
pinturas que apresentara, então em depósito no Palácio Nacional da Ajuda, por estarem
montadas em chassis metálicos que lhe poderiam vir a ser úteis de futuro, atendendo à
conjuntura de escassez de material741. Esta solicitação foi acedida, embora o delegado das obras
tenha ressalvado que, conforme o programa, tais obras integrariam a posse estatal. Sabe-se
também que, anteriormente, em 1940, foram feitos diversos pedidos aos concorrentes para que
retirassem do local as provas apresentadas no primeiro concurso de 1935 – total de 18 estudos
–, visto que a delegação das obras seria extinta a breve trecho742. No final de 1940, listaram-se
14 cartões e telas das provas para as pinturas da escadaria de honra, sem mais especificação,
conjuntamente com oito quadros do anteprojeto de Ventura Terra, numa relação dos móveis
então transferidos para o armazém da Alfândega, na Praça do Comércio743. Detetou-se que hoje
se conservam quatro estudos de Abel Manta e dois de Dordio Gomes nas coleções do Palácio

737
José Maria da Silva Lopes, “FEYO, Salvador Barata”, in Dicionário de Escultura Portuguesa, coord. José
Fernandes Pereira (Lisboa: Editorial Caminho, 2005), 291.
738
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 12.09.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546629-TXT.04546630.
739
Parecer, s.d. [maio 1942?]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546676.
740
França, O Palácio de São Bento, 145.
741
Ofício de Abel Manta para Diretor-Geral da DGEMN, 18.03.1942. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546674.
742
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 12.10.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546632.
743
Cópia de ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 29.11.1940, p. XI. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0201/11, TXT.07446472.

152
Nacional da Ajuda744; nas instalações do Ministério da Agricultura existem dois estudos de
Dordio Gomes e dois de Lino António, e um dos estudos de detalhe da autoria de Dordio Gomes
decora um gabinete no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Importava dar solução condigna à decoração pictural da escadaria. Desta forma, pouco após a
rescisão do concurso anterior, foi endereçado um convite a Jaime Martins Barata (1899-1970),
por iniciativa do ministro Duarte Pacheco745. O pintor requereu a indicação dos temas e das
condições do trabalho, propondo que não executaria versões definitivas sem a prévia aprovação
da maquete final746. Para que as pinturas fossem executadas o mais rapidamente possível,
solicitar-se-ia a requisição do pintor ao Ministério da Educação Nacional para que se ocupasse
exclusivamente desta incumbência747.
No que respeita à temática, foram aparentemente seguidos os dois assuntos impostos pelo
concurso inicial – Defesa da Pátria e Prosperidade da Nação –, conquanto, segundo o artista,
não lhe tenham sido feitas imposições artísticas ou iconográficas 748. Atentando na localização
prevista para as telas – um conjunto na parede que separa a escadaria da sala da Assembleia
Nacional, o outro na que separa a escadaria da sala da Câmara Corporativa, Martins Barata
sugeriu conteúdos ao ministro. Para um dos trípticos propôs uma evocação das primeiras
Cortes, convocadas em Leiria por D. Afonso III (1254), inovando pela presença de
representantes do povo. Para o outro, definindo o acesso à Câmara Corporativa, idealizou “uma
alegoria às atividades nacionais, representadas no século XV”749.
Em junho de 1941, um considerável número de estudos do pintor fora já observado pelos
Ministro das Obras Públicas e Comunicações e Subsecretário de Estado da Educação Nacional,
sendo então conveniente que se desse andamento à adjudicação, com dispensa de concurso

744
Respetivamente, números de inventário PNA 54095, 54096, 68178, 68179, 66662, 66663.
745
Cópia de ofício de Jaime Martins Barata para Leal de Faria, 19.09.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546634.
O pintor também recordou este convite aquando da exposição que apresentou as pinturas e os respetivos estudos.
Jaime Martins Barata, Exposição das decorações da escadaria nobre do Palácio da Assembleia Nacional e dos
respectivos estudos - na Galeria dos Passos Perdidos da Câmara Corporativa. Abril de 1944 (Lisboa:
Neogravura, 1944).
746
Cópia de ofício de Jaime Martins Barata para Leal de Faria, 19.09.1940. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546634.
747
O que veio a ser concedido por dois meses, a partir de 05.05.1941, sendo Martins Barata equiparado a bolseiro
do IAC, estatuto que foi sendo sucessivamente prolongado para conclusão do trabalho. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546653; Ofício do Ministro das Obras Públicas para Ministro da
Educação Nacional, 03.10.1942. AIC: Proc. 2720.
748
Barata, Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, 62.
749
Ibid., 64.

153
público750; o contrato foi fixado nessa altura, pelo valor de 110.000$00751. Martins Barata
terminou a realização das pinturas em dezembro de 1943, propondo como método de fixação
na parede a colagem sobre pranchas de madeira, cujo custo acrescido justificava com
bibliografia alemã e pela possibilidade de fácil remoção752, sendo a sugestão aceite753. Os
trípticos foram apreciados e aprovados por Raul Lino e pelo engenheiro Raul Maçãs Fernandes.
Estes funcionários da DGEMN enalteceram os painéis pelo interesse e pela harmonia das
composições, focando a “sobriedade e correção do desenho” e declarando que enriqueciam
“consideravelmente o património artístico da Nação”754. Como valorização do espaço,
sugeriram a elevação do lustre que encimava a escadaria e que os vasos metálicos fossem
retirados dos pedestais, bem como que fosse alterada a cor da passadeira da escadaria, de
vermelho para uma tonalidade mais discreta.

Jaime Martins Barata enunciou como sustentáculos das composições pictóricas que criou os
conceitos de harmonia, solenidade e perdurabilidade, descartando a perseguição de “modas
transitórias”755. A escolha de tonalidades neutras e brandas prendia-se, para além da solenidade
inerente às pinturas e da necessidade de integração no espaço arquitetónico, com o conflito
suscitado pelo espaço, em que o cinza pétreo dominante desde o exterior contrastava com os
materiais “quentes” – madeira, mármore, veludo, etc. –, empregues no piso nobre; o pintor
decidiu compor as pinturas atendendo ao observador que se aproxima vindo do exterior do
edifício756. Outra dificuldade consistiu na localização das pinturas, apenas observáveis no seu
todo a partir das galerias, obrigando a soluções que abrangessem tanto uma observação
aproximada, com devida pormenorização das figuras, como a partir de uma distância
considerável, impondo-se uma feição cenográfica, de contraste entre as representações, mas

750
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 18.06.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3212/12, TXT.04546657.
751
Eduardo Augusto Simões Fonseca, Informação n.º 79, 22.06.1943. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01,
TXT.07431718.
752
“A fixação dos painéis pode ser feita de duas formas: ou as telas se colam directamente na parede, e fazem
parte dela, ou se colam em pranchetas de madeira, que por sua vez se fixam na parede, ficando, porém, amovíveis.
Esta segunda hipótese oferece uma dupla vantagem: garantia de melhor acondicionamento para as telas (segundo
a opinião do Intituto Doerner, de Munich, expressa no livro ‘Malmaterial und seine Verwendung im Bild’, de
Max Doerner) e possibilidade de remoção dos painéis, numa emergência.” [Martins Barata consultara este livro
na biblioteca do Museu das Janelas Verdes]. Ofício de Jaime Martins Barata para Diretor-Geral da DGEMN,
06.12.1943. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT.04546693.
753
Transcrição de ordem de serviços em nota de Maçãs Fernandes para Simões Fonseca, 18.12.1943.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0174/01, TXT.07431760.
754
Parecer, 17.12.1943. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/12, TXT. 04546696.
755
Jaime Martins Barata, Memória Descritiva dos projectos para as decorações murais da escadaria nobre do
Palácio da Assembleia Nacional, Lisboa, s.d. Acessível em: http://tribop.pt/TPd/18/2/2/3/2/1 (acesso 04.12.2019)
756
Barata, Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, 62-63.

154
com pouca diferença de dimensão das figuras para evitar variações perspéticas acentuadas757.
O artista apontou esta solução compositiva, que procurava encobrir a linha do horizonte, como
gótica, portanto adequada ao espírito estético impresso aos personagens. A verticalidade das
paredes obrigou a que as composições acompanhassem essa configuração, enquadrando os
trípticos para que não se impusessem como elementos estranhos ao espaço758. A arquitetura
terá influenciado, também, a escala das figuras e o aspeto decorativo das cenas.

Fig. 55. Escadaria Nobre: tríptico de Martins Barata no acesso à Câmara Corporativa. 1945.

Em termos estilísticos, Martins Barata defendeu uma conceção de aproximação à realidade,


sem atingir um carácter fotográfico, que considerava “resistir melhor à análise crítica
futura”759. Evitando fixar as figuras absortas em atividade ou em movimento, o pintor
privilegiou o estatismo como modo de lhes conferir a dignidade considerada adequada ao

757
Barata, Memória Descritiva dos projectos para as decorações murais da escadaria nobre do Palácio da
Assembleia Nacional.
758
Barata, Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, 65.
759
Barata, Memória Descritiva dos projectos para as decorações murais da escadaria nobre do Palácio da
Assembleia Nacional.

155
edifício: “São os donos da Casa a receberem quem chega. Sabem que os olham”760. Houve,
portante, uma teatralidade intencional, embora apenas de forma extremamente pontual as
personagens interpelem diretamente o observador. A solução compositiva, já fora, de resto,
empregue por Martins Barata nos trípticos realizados para a Sala de Honra no Pavilhão de
Lisboa da Exposição do Mundo Português, fixando cenas da História da capital do Império: o
cerco de Lisboa por D. Afonso Henriques (1147) e a defesa de Lisboa do cerco castelhano por
D. João, mestre de Avis (1384). Nos trípticos do palácio, há manifesta afinidade estética com
os painéis de S. Vicente, então em voga no quadro da valorização da pintura primitiva
portuguesa. O caráter medievo que o pintor lhes imprimiu jogava com a linguagem pictórica
oficialmente preferida e enquadrava-se no tom ideológico das recentes comemorações
centenárias.

Fig. 56. Exposição do Mundo Português: Sala de Honra, Pavilhão de Honra e de Lisboa, tríptico de Martins Barata
referente a D. João, mestre de Avis. 1940.

Como fontes, Martins Barata enumerou um rol extenso de autores reconhecidos, como
Alexandre Herculano, Fortunato de Almeida e Leite de Vasconcelos ou Viollet-le-Duc e

760
Barata, Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, 66.

156
Antolín Villanueva, a par do rigoroso auxílio prestado por ilustres personalidades suas
contemporâneas, como Gustavo de Matos Sequeira, João Couto e Afonso de Dornelas, entre
outras. Em adição, mencionou notas tiradas em exposições organizadas por ocasião das
comemorações dos centenários761, e a consulta de elementos colhidos do estrangeiro, como
documentação textual e gráfica relativa a corporações belgas e francesas.

Fig. 57. Painel do tríptico “As Cortes de Leiria” da Fig. 58. Painel do tríptico “Alegoria às forças
autoria de Martins Barata, na escadaria nobre do Palácio produtivas da Nação” da autoria de Martins Barata,
de São Bento. 1999. na escadaria nobre do Palácio de São Bento. 1999.

O tríptico relativo às Cortes de Leiria integra, ao centro, um painel dedicado ao rei, entronizado
e acompanhado de funcionários e procuradores dos conselhos, e, nas laterais, representações
do clero e da nobreza, com elementos arquitetónicos identificativos como o castelo de Leiria e
a capela de S. Pedro. Os painéis do lado oposto – que Norberto de Araújo afirmou
representarem as corporações762 – fixam diversas atividades: à esquerda, figuras relacionadas
com a prática agrícola e pecuária; ao centro, com uma estatueta de Santo António, a bandeira
de Lisboa e estandartes no topo, foram retratadas profissões ligadas à indústria e às artes e

761
Barata, Memória Descritiva dos projectos para as decorações murais da escadaria nobre do Palácio da
Assembleia Nacional.
762
Araújo, Inventário de Lisboa, 36.

157
letras; à direita, encontra-se um painel dedicado à atividade mercantil, perante o cenário de um
porto com embarcações. Inaugurados em 1944 com presença do Presidente da República e de
um conjunto de figuras das esferas política e cultural, incluindo uma mostra dos desenhos de
estudo763, foram amplamente louvados na imprensa764.

2.7. O andar nobre

Do andar nobre deveriam ser eliminados “todos os serviços burocráticos e habitações de


pessoal”765. Seria necessário substituir o pavimento desse piso, idealmente por lajes de betão
armado, uma vez que as abóbadas de suporte do pavimento da sobreloja não apresentavam
condições de segurança, bem como mudar a deteriorada cobertura. Leal de Faria comunicou
que já existia um plano de Marques da Silva para a transferência da biblioteca da Assembleia
Nacional durante as obras de remodelação da ala nordeste766, que era também ocupada pela
Torre do Tombo767. As abóbadas foram, de facto, demolidas para construção de pavimento em
betão768. Também a cobertura, considerada pelo arquiteto Cristino da Silva como aspeto de
extrema importância, carecia de atenção pelo seu estado decaído e inadequado ao “edifício de
maior representação Nacional”769.
Em 1938, antecedendo em alguns meses a sessão solene inaugural da nova legislatura, sentiu-
se necessidade de completar decorativamente o andar nobre, conferindo-lhe “se não
sumptuosidade pelo menos a nobreza correspondente ao Palácio”770 através de uma escolha

763
Em 1944, Martins Barata vendeu 145 estudos desenhados ao Estado, que ficaram à guarda da DGFP. Diversos
desenhos foram, ao longo das décadas seguintes, distribuídos por museus nacionais e cedidos para decoração de
gabinetes em diversas instituições oficiais (cf. Anexo IV). ACMF: PT/ACMF/DGFP/RP/MIVJMB/035.
764
Cf., p. ex.,“O Chefe do Estado admirou ontem os trípticos de Martins Barata no Palácio do Congresso”, Diário
da Manhã, 04.04.1944, p. 1, 8; “O Chefe do Estado inaugurou ontem os painéis da escadaria da Assembleia
Nacional”, O Jornal do Comércio, 04.04.1944, p. 1; “Os painéis de Martins Barata na Assembleia Nacional foram
ontem solenemente inaugurados”, A Voz, p. 1, 6, “O senhor Presidente da República inaugurou solenemente a
obra de Martins Barata”, Novidades, p. 1, 4.
765
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 04.08.1933. DGPC/SIPA: DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3234/15, TXT.04552877.
766
Comunicação n.º 77, de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 28.06.1933, p.3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3234/15, TXT.04552874.
767
Comunicação n.º 77, de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 28.06.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3234/15, TXT.04552871-TXT.04552876.
768
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.09.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04539619- TXT.04539620.
769
Ofício de Luís Cristino da Silva para Diretor-Geral da DGEMN, 09.10.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3215/02, TXT.04539828.
770
Ofício de Joaquim Leitão para Diretor-Geral da DGEMN, 31.03.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/02, TXT.04544856.

158
harmoniosa de tapetes e têxteis vários, iluminação e mobiliário. Esta tarefa seria acometida a
Luís Cristino da Silva771, que em junho trabalhava no projeto772. Não obstante, por deliberação
de Duarte Pacheco, suspenderam-se os trabalhos773, sem qualquer explicação adicional.

Por ocasião do primeiro centenário da Biblioteca das Cortes, em dezembro de 1936, foi
inaugurado um busto de Salazar, da autoria de Francisco Franco, na sala de leitura da
biblioteca774.

Fig. 59. I Sessão do terceiro período da III Legislatura: o Presidente do Conselho discursando no salão nobre da
biblioteca [Salazar junto ao seu busto, da autoria de Francisco Franco, à dta.]. 25.11.1947.

As necessidades dos serviços foram sendo apreendidas com a entrada em funcionamento. Por
exemplo, estando delineado que a sala de leitura não receberia prateleiras, Joaquim Leitão

771
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 05.04.1938; ofício do Diretor-Geral da DGEMN para
Cristino da Silva, 13.04.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/02, TXT.04544858,
TXT.04544860.
772
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 11.06.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/02, TXT. 04544862.
773
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Cristino da Silva, 11.07.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/02, TXT.04544869.
774
Museu da Assembleia da República: Busto de António de Oliveira Salazar (n.º inv. MAR 1680). Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/MatrizWebAR/DetalhesObra?id=2192&tipo=OBJ (acesso a 02.09.2021).

159
intercedeu junto de Leal de Faria para que essa sala fosse revestida a estantes elevadas, devido
à falta de espaço para arrumação que já se fazia sentir775. O engenheiro esclareceu que essa
biblioteca era composta por três salas forradas a estantes em toda a dimensão das paredes, e
que a inclusão de estantes semelhantes na sala de leitura levaria a um encarecimento da obra,
que nessa sala apenas contemplara trabalhos de construção civil776. Duarte Pacheco não acedeu
ao pedido do secretário, legando o assunto para reavaliação futura777.

Fig. 60. Um aspeto do Salão Nobre do Museu Histórico-Bibliográfico antes da inauguração. 21.04.1945.

As preocupações de monumentalidade transpostas para as salas ocupadas pelo Museu


Histórico-Bibliográfico da Assembleia Nacional, inaugurado em 1945 e contíguo à biblioteca,
foram questionadas por Joaquim Leitão778. A comunicação aberta entre as salas resultara na

775
Cópia de ofício do Secretário da Assembleia Nacional para Leal de Faria, 03.11.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3218/01, TXT.04542080.
776
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 05.11.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3218/01, TXT.04542082-TXT.04542081.
777
Despacho manuscrito de Duarte Pacheco, 25.11.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3218/01,
TXT.04542083.
778
Ofício de Joaquim Leitão, 25.11.1943, transcrito em ofício do Diretor-Geral da Fazenda Pública para o Diretor-
Geral da DGEMN, 06.12.1943. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH/005/125-3220/01, TXT.04544115.

160
falta de paredes, consideradas imprescindíveis num museu, e diminuía a escala do mobiliário
e dos objetos em exposição, que assim perdiam presença e centralidade. O secretário pedia que
se diminuíssem as aberturas para maior equilíbrio dos espaços. O engenheiro-chefe da REE,
Maçãs Fernandes, visitou o local com Raul Lino, representante da REOM, acedendo ambos a
que se satisfizesse o pedido, utilizando as verbas da secretaria da Assembleia Nacional779.

Na sala das sessões da Assembleia Nacional, planeou-se demolir uma escada de acesso, tendo
o CSBA, em visita, proposto que se registassem fotograficamente os seus painéis de azulejo,
como meio de documentação e fonte para futura reconstrução780. Para a tarefa de remoção, Leal
de Faria solicitou que José de Figueiredo indicasse um azulejador competente, considerando o
valor artístico dos azulejos781. Durante obras para alargamento da zona envidraçada do teto da
sala, Duarte Pacheco foi de opinião de que a bancada ministerial da sala deveria ser retirada,
mandando estudar como alternativa a inclusão de cadeirões, que vieram a ser acometidos à
Casa Barbosa & Costa; planeou-se, ainda, o estudo de uma mesa, de estilo Renascença, em
madeira dourada, para utilização pelo Presidente do Conselho quando participasse nas
sessões782.
Em adição, devido à aparência desagradável, decidiu-se alterar o paredão do hemiciclo783,
observado por Raul Lino. O arquiteto preferiu a segunda hipótese proposta, por ter vantagens
de realização com maior economia e de ter aparência “de mais cuidado acabamento”784, opinião
partilhada pelo Conselho Central por ser uma remodelação que beneficiava o exterior do
edifício785. Também Duarte Pacheco aprovou esse projeto786. Em paralelo, seria reparado o
paredão da sala das sessões da Câmara Corporativa. Nessa sala, houve restauro dos estuques e
das pinturas do teto, com alargamento da claraboia para melhoria da iluminação natural. O

779
Ofício de Maçãs Fernandes para Diretor-Geral da DGEMN, 11.12.1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH/005/125-3220/01, TXT.04544116.
780
Comunicação n.º 160, de Leal de Faria para Eng. Diretor-Geral da DGEMN, 21.12.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537779.
781
Comunicação n.º 164, de Leal de Faria para Eng. Diretor-Geral da DGEMN, 26.12.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537786-TXT.04537787. Não se detetou informação sobre a
efetivação da tarefa.
782
Ofício em nome de Leal de Faria (assinatura ilegível) para Diretor-Geral da DGEMN, 18.10.1935.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3215/02, TXT.04539742.
783
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Vogal Secretário do Conselho Central da DGEMN, 22.12.1938.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/01, TXT.04544827.
784
Raul Lino, Empena da sala das sessões da Assembleia Nacional, 18.01.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/01, TXT.04544828.
785
Conselho Central da DGEMN, Parecer, 18.01.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/01,
TXT.04544830.
786
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 02.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/01, TXT.04544832.

161
ministro, em visita às obras, considerou necessário colocar um motivo decorativo – tela pintada
ou baixo-relevo – no local outrora ocupado pelo retrato de D. Carlos. Afigurando-se mais
simples a colocação de uma tela, Leal de Faria indagou “um dos nossos mestres da pintura”,
Carlos Reis (1863-1940), sobre a realização de uma pintura que “deveria ter um simbolismo
adequado à sala”787, aguardando indicações por parte do Governo sobre os motivos a incluir.
O ministro concordou, conquanto o pintor apresentasse um plano esboçado do que pretendia
realizar788. A tela, datada de 1935, comporta uma composição inspirada na antiguidade
clássica: uma alegoria à Pátria, entronizada ao centro, de toga e coroa de louros sobre a cabeça
e envergando o escudo nacional e um ramo de oliveira, incitando à paz e harmonia789. À sua
volta, dispõem-se quatro figuras femininas ostentando palmas – duas de pé e duas junto aos
degraus que conduzem ao trono –, das quais a Pátria recebe homenagens: à data, foram
interpretadas como representando Agricultura, Indústria e Comércio790, ou, ainda, as Artes, as
Ciências, o Comércio e a Indústria791. A pintura foi colocada atrás do assento do Presidente da
Câmara Corporativa, por ocasião da abertura da Assembleia Nacional em janeiro de 1935.
Volvidos alguns anos, aquando do cadastro dos objetos artísticos existentes no palácio, Raul
Lino indicou a permanência do busto da República em mármore, assinado por Tomás da Costa
(1861-1932), nesta sala792, onde se localizava desse 1921793.

As obras no interior incluíram a adaptação da galeria de honra junto dos Passos Perdidos, de
acesso ao Salão Nobre, com a preocupação de não implicar um processo complexo e de se
aplicarem somente materiais de primeira qualidade794. António Lino almejava eliminar o
aspeto desagradável desse corredor, alterando, por exemplo, a disposição e retirando elementos

787
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/02, TXT.04538450.
788
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 16.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/02, TXT.04538452.
789
Museu da Assembleia da República, n.º inventário MAR 1631. Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/MatrizWebAR/DetalhesObra?id=2193&tipo=OBJ (acesso a 30.08.2021).
790
Anónimo, “Fazem-se preparativos para a inauguração, no dia 10, da Assembleia Nacional”, O Século, n.º
18968, 05.01.1935, p.1.
791
Anónimo, “A abertura da Assembleia Nacional. Na formatura geral das tropas tomarão parte 6.000 homens”,
Diário de Notícias, n.º 24759, 08.01.1935, p.1.
792
Raul Lino, Nota dos objectos de arte (pinturas e esculturas) que se encontram no Palácio da Assembleia
Nacional, 05.08.1939, p.1. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 2.º vol., 313.
793
Museu da Assembleia da República, n.º inv. MAR 1702. Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/DetalhesObra?id=2237&tipo=OBJ (acesso a 27.01.2022).
794
António Lino, Caderno de Encargos das obras de adaptação da galeria de honra no andar nobre do Palácio da
Assembleia Nacional, 06.06.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/02, TXT.04546740-
TXT.04546744.

162
como portas, rebaixando sancas e melhorando o pavimento795, e integrando reposteiros e sofás
de veludo796. Em maio de 1939, foram retirados dois guarda-ventos localizados junto das portas
comunicantes com a escadaria de honra e o elevador da Câmara Corporativa797.
Foi também equacionada a instalação da Academia Portuguesa de História no edifício798,
nomeadamente de um gabinete de fotografia e de uma sala de trabalho no piso térreo799, numa
altura em que a sua secretaria funcionava provisoriamente nas dependências da Torre do
Tombo. Apesar de Duarte Pacheco considerar a solução imprópria e permanecer inflexível
nessa posição800, terá havido instalação da secretaria, o que em 1940 acarretou problemas para
as dependências entregues à Assembleia Nacional, que foi necessário resolver.

2.7.1. Remodelação de gabinetes como marco de uma estética oficialmente sancionada

Em fevereiro de 1934, seguindo uma resolução do Ministro das Obras Públicas, Leal de Faria
convidou um conjunto de arquitetos a apresentar anteprojetos para a decoração das salas do
Presidente da República, do Corpo Diplomático, e da Presidência da Assembleia Nacional e da
Câmara Corporativa. Endereçou convite a Porfírio Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo, Carlos
Ramos, Raul Lino, Vasco Regaleira, Carlos e Guilherme Rebelo de Andrade, António Lino,
Cristino da Silva, Paulino Montês, e, ainda, Almada Negreiros801. Adicionalmente, o pintor
José Amaro Júnior requereu a possibilidade de concorrer, tendo apresentado uma proposta para
quatro salas com o arquiteto António Varela. Foram, ainda, recebidas propostas de Raul Lino
para três salas, e de António Lino, irmãos Rebelo de Andrade, Vasco Regaleira e Cristino da
Silva, para uma sala apenas. Para apreciação destes estudos, foi pedido parecer ao CSBA, a ser
emitido por José de Figueiredo, Paulino Montês, Varela Aldemira e Diogo de Macedo,

795
António Lino, Memória Descritiva do arranjo da galeria do andar nobre do Palácio da Assembleia Nacional,
19.03.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3219/02, TXT.04543579.
796
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 01.11.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/03, TXT.04543815-TXT.04543816.
797
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 25.05.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE/0176/01,
TXT.07432154.
798
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para Diretor-Geral da DGEMN, 07.03.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/05, TXT.04544779.
799
Ofício de Afonso de Dornelas (secretário da APH) para Leal de Faria, 19.10.1938. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/05, TXT.04544780.
800
Ofícios do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 18.11.1938 e 13.03.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/05, TXT.04544784, TXT.04544803.
801
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 27.03.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.0453979-TXT.0453980.

163
acompanhado por Leal de Faria e Marques da Silva802. O anteprojeto de decoração de Cristino
da Silva803 para uma das salas da ala sudoeste – não identificada – seria aprovado em julho804.
No entanto, não se detetou qualquer informação que corroborasse a sua execução.
Em agosto desse ano, há menção de projetos decorativos para quatro salas: salas dos
Presidentes da Câmara Corporativa e da Assembleia Nacional, sala do Governo e sala do Corpo
Diplomático805. Entretanto, fora decidido incluir a Presidência do Conselho no edifício, o que
obrigou a equacionar uma nova distribuição espacial no andar nobre, e, consequentemente,
adaptar os estudos já submetidos. A proposta de António Lino, por exemplo, concebida para a
designada Sala do Corpo Diplomático, seria a partir de então destinada ao gabinete do
Presidente da Assembleia Nacional, cuja configuração apresentava uma área maior. Visto que
as propostas dos vários arquitetos excediam ligeiramente a verba estipulada, Leal de Faria
rogava que se acedesse a tal diferença de custos, por forma a não “empobrecer as decorações
das salas mais importantes do Palácio”, que deviam “ser bela e ricamente decoradas”806. Após
entrega maquetes das “pinturas de arte”807 destinadas a integrar os espaços com projetos
decorativos dos irmãos Rebelo de Andrade (gabinetes do Presidente do Conselho e do
Presidente da Câmara Corporativa) e de Lino António (gabinete do Presidente da Assembleia
Nacional), afigurou-se complicado reunir os membros da comissão encarregue de apreciá-las.
Apenas José de Figueiredo compareceu à vistoria, aprovando a execução das pinturas808.
A decoração das salas ficaria a cargo dos arquitetos responsáveis, um facto criticado por autor
anónimo no Diário de Lisboa, avesso à inexistência de concurso:

“É absolutamente estranho que os arquitetos das salas tivessem escolhido os decoradores.


Esta opinião não é só partilhada por muitos artistas, mas até por entidades oficiais. Se
tivesse havido concurso já não se podia dizer que o mestre falhara e o jovem tal não
correspondeu”809.

802
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para José de Figueiredo, 05.04.1934; ofício de José de Figueiredo para
Diretor-Geral da DGEMN, 17.05.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04538981;
TXT.04538982.
803
Luís Cristino da Silva, Proposta, 04.07.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01,
TXT.04538180.
804
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 07.07.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538182.
805
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.08.1934, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538315.
806
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.08.1934, p.2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538314.
807
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 17.08.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538304.
808
Não se apresentaram Diogo de Macedo, Varela Aldemira e Paulino Montês.
809
Anónimo, “As obras do Parlamento e o contrassenso(sic) que presidiu aos trabalhos decorativos”, p. 4.

164
Considerava a maioria dos painéis interiores fracos – sem especificar decorações, deduz-se que
se referisse às mencionadas salas por remodelar –, o que poderia ter sido evitado através da
realização de um concurso ao invés do convite direto de determinados artistas810. Os arquitetos
Guilherme e Carlos Rebelo de Andrade não tardaram em ripostar com espanto: “Quem, antes
do arquiteto, legítimo chefe da obra, sem confusão de direitos, teria melhor qualidade para
escolher os seus colaboradores?”811. A seleção ou sugestão de colaboradores para a
componente decorativa por parte dos arquitetos revelou-se prática comum no âmbito das obras
públicas, fruto de redes de contacto profissionais e informais.

Não existia mobiliário suficiente e em estado de conservação adequado para ser utilizado nas
salas que então se remodelavam: Comissões da Câmara Corporativa, instalações da Presidência
do Governo e biblioteca, Corpo Diplomático, salas de visita para os presidentes das duas
câmaras, Passos Perdidos, entre outras, tendo Leal de Faria averiguado da possibilidade de
cedência de mobiliário de outros palácios e obtido resposta negativa812. Como resolução,
procedeu a uma estimativa das necessidades de execução e de restauro, determinando o
desenho de um modelo de mesas, cadeiras e armários, em madeira de carvalho, “simples mas
harmónico com as salas a que são destinados”813, ficando o mobiliário das quatro salas
acometidas a arquitetos externos sob a responsabilidade dos mesmos. Seguidamente, encetou-
se um concurso limitado para os trabalhos. As reparações do mobiliário existente, passível de
ser reutilizado para as salas do Corpo Diplomático e Passos Perdidos, foram outorgadas à
Companhia dos Grandes Armazéns Alcobia814. Posteriormente, procedeu-se, por exemplo, ao
restauro de um conjunto de mobiliário existente no edifício com destino à sala de visitas dos
deputados, sugerindo-se aproveitar o tecido usado para forrar as paredes como material para
forrar os estofos815. Mobília adquirida foi também alvo de restauro, como sucedeu com cópias
oitocentistas de peças de estilo Luís XVI em mau estado de conservação, que se pretendeu
harmonizar com o salão de destino através do tecido dos estofos e de pintura da madeira,

810
Anónimo, “Os trabalhos de decoração do Parlamento. Uma carta do engenheiro Leal de Faria que dirige as
obras”, 4.
811
Irmãos Rebelo de Andrade, “As obras do Parlamento”, Diário de Lisboa, n.º 4391, 07.02.1935, p. 3.
812
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral DGEMN, 04.08.1934, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.0453858.
813
Incluindo também mobiliário para as duas salas da biblioteca. Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral
DGEMN, 04.08.1934, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.0453857.
814
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral DGEMN, 19.10.1934, e proposta anexa. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538517-TXT.04538519.
815
Ofício de Joaquim Leitão para Leal de Faria, 25.09.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3215/02, TXT.04539664.

165
empreendimento autorizado por não terem “valor de museu”816. Os materiais enunciados
seriam sempre da mais elevada qualidade, atendendo ao destino funcional e representativo que
cabia ao palácio, o que deveria ser justificação suficiente para qualquer aumento face a
orçamentos prévios817.
António Lino supervisionou o estudo de candeeiros e de outros elementos de iluminação e
decoração para zonas de circulação (por exemplo, cinzeiros para os Passos Perdidos), bem
como de mobiliário para o bufete818. Por não se terem encontrado no mercado exemplares
adequados, o arquiteto também desenhou dois candeeiros para a biblioteca, que Duarte Pacheco
não aprovou, instando para que se arranjasse uma solução mais simples e menos dispendiosa.
Leal de Faria, propondo a execução desses modelos em madeira, alertava que, ainda assim, o
valor ultrapassaria o desejado. Porém, seria praticamente impossível projetar “uns candeeiros
que fiquem em harmonia com a grandiosidade das salas a que são destinados”819.

2.7.1.2. Gabinete do Presidente do Conselho

O gabinete do Presidente do Conselho foi projetado pelo arquiteto Guilherme Rebelo de


Andrade820. O gabinete possuía um pé direito elevado, com 5,70 metros de altura, embora com
dimensão relativamente modesta (6,20 x 7,80 m). O autor planeou um ambiente
necessariamente calmo para este local de trabalho, com elementos ornamentais de materiais
sumptuosos, como mármore, carvalho e tecidos adamascados, distinguindo a posição
hierárquica do ocupante do gabinete. O mobiliário, de linhas simples e maioritariamente em
pau santo, foi fornecido pelo construtor civil Ernesto Augusto Costa, envolvido na remodelação
dos espaços821. Incluía, entre outros, uma secretária com tampo em cristal, dois armários-
estante, poltronas e sofá de veludo de tom verde-esmeralda, um biombo forrado a couro com

816
Raul Lino, Parecer: Reparação de uma mobília no Palácio da Assembleia Nacional, [maio 1938]. AHSGEC:
Fundo JNE, cx. 249, proc. 52.
817
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/02, TXT.04538512.
818
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 04.10.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04539691-TXT.04539692.
819
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 11.11.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04539831.
820
Guilherme Rebelo de Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidente do Conselho”, Revista Oficial
do Sindicato Nacional dos Arquitectos, 5 (1938): 138-139.
821
Ernesto Augusto Costa, Proposta, 04.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02,
TXT.04538505-TXT.04538507.

166
pregos de latão dourado e um tapete de Beiriz. Um lustre de cristal completava o conjunto822.
Após conclusão dos trabalhos, em 1936, foi ainda necessário fazer algumas reparações no
pavimento, antecedendo a ocupação pelo Presidente do Conselho. Apesar da inclusão de
elementos de destaque, como o lustre ou o biombo, o mobiliário do gabinete de Salazar pautava-
se pela sobriedade, com as pinturas de António Soares conferindo algum dinamismo à
decoração. Esta sala distinguia-se, por exemplo, do aparato ritual que envolvia o acesso ao
sumptuoso e descomunal gabinete de Adolf Hitler na nova chancelaria do Reich 823, que
procurava atemorizar e diminuir, num confronto desigual, quem nele entrasse824.

Fig. 61. Vista do gabinete do Presidente do Conselho. [c. 1935]

Fig. 62. Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente do Conselho.

822
O lustre encontra-se atualmente nas coleções do Museu da Assembleia da República (n.º inv. MAR3256).
823
Edifício projetado pelo arquiteto Albert Speer (1905-1981) a partir de 1938, tendo a conceção interior do
gabinete do Führer ficado a cargo do arquiteto Cäsar Pinnau (1906-1988).
https://shmh.de/de/hamburgwissen/dossiers/caesar-pinnau-page (acesso a 02.09.2021).
824
Dovey, Framing Places, 61-64.

167
Fig. 63. Salazar no seu gabinete. Década de 1940.

As quatro pinturas da autoria de António Soares ocupariam, no total, cerca de 24 m2825, tendo
as paredes sido revestidas a tecido adamascado. As composições representavam,
respetivamente, “a família, a instrução, a casa e o trabalho”826. A primeira foi colocada por
detrás da secretária do Presidente do Conselho, entre as janelas, distinguindo-se das três
localizadas nas sobreportas pela dimensão e pela composição. Leal de Faria solicitou que a
apreciação da decoração fosse realizada pelos membros do CSBA encarregados da avaliação
das estátuas da escadaria exterior, por uma questão de conveniência e, certamente, para acelerar
o processo827. No mês seguinte, apesar do pedido formalizado pelo Diretor-Geral da DGEMN
ao CSBA, o exame ainda não havia sido realizado828.

825
Ofício de Ernesto Augusto Costa (construtor civil) para Leal de Faria, 24.08.1934, p.2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538338.
826
Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidente do Conselho”, 139.
827
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 17.01.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04540060-TXT.04540061.
828
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.02.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3215/02, TXT.04540090.

168
A grande pintura, entre as janelas ocupando praticamente a totalidade do pé direito da sala,
colocada atrás da secretária de Salazar, integrava uma cena representando os valores da família.
Sobre um fundo composto por uma paisagem campestre, no horizonte da qual se identifica um
boi puxando um arado manobrado por um homem curvado, encimada por nuvens de onde
descendem raios de sol – quiçá alusão à iluminação divina –, encontram-se diversas figuras.
Ao centro, no primeiro plano, uma mulher segura num bebé que interpela o observador com o
olhar, rodeada por figuras maioritariamente de costas – duas femininas e duas masculinas, as
últimas de tronco desnudo –, acompanhadas de elementos como cestos, flores, e o que aparenta
ser uma ovelha. Trata-se, afinal, de uma apologia não só da família como pilar do regime, mas
da vida rural, do trabalho no campo e da simplicidade, que Salazar defendeu. Em termos
compositivos e estéticos, esta tela aproxima-se do painel alusivo a Lisboa que o artista executou
para figurar no pavilhão português da Exposição Internacional de Paris de 1937, pela qual
obteve o grand prix de pintura829. No que respeita à colaboração de António Soares com os
irmãos Rebelo de Andrade, mencione-se que o pintor integrara a comissão encarregada de
elaborar as bases do concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique, em 1933, cuja
votação da primeira edição selecionou a proposta dos irmãos Rebelo de Andrade como
vencedora830.

829
Acciaiuoli, Exposições do Estado Novo. 1934-1940, 67.
830
Almeida, A Arquitectura no Estado Novo: uma leitura crítica, 51, 56.

169
Fig. 64. Reprodução da pintura de António Fig. 65. Pintura de António Soares para o Pavilhão de Portugal
Soares para o gabinete do Presidente do da Exposição Internacional de Paris de 1937.
Conselho, no Palácio de São Bento.

As três pinturas das sobreportas integravam alegorias831, todas sobre um fundo de tonalidades
claras, comportando nuvens como elemento de suporte às personagens: sobre cada uma das
duas portas laterais está uma figura masculina desnuda com musculatura acentuada,
envergando objetos que aparentam ser, respetivamente, remos e um balde (alusão ao trabalho),
e uma vara e uma chave (referência à casa); a alegoria central à instrução é representada através
de uma figura feminina de costas voltadas para o observador, de vestido escuro, segurando
num livro com o braço estendido sobre o nível da cabeça, tendo a seu lado uma criança nua
envergando uma esfera armilar. Apesar da exaltação de aspetos decisivos para o regime, estas
três pinturas possivelmente não se coadunariam com o gosto do Presidente do Conselho –
embora António Soares fosse um artista que, então, já contava com uma variada carreira de

831
O paradeiro atual destas pinturas é desconhecido.

170
duas décadas, iniciada no Salão dos Humoristas de 1913832. Estas pinturas apresentam
semelhanças com a peça que o pintor criou para figurar na Exposição do Ano X da Revolução
Nacional, intitulada Terra Portuguesa833, na qual uma figura feminina vestida de negro
acompanha uma criança desnuda que segura num livro, perante um fundo dominado por nuvens
encimado por dois putti.

Fig. 66. Vista do gabinete do Presidente do Conselho. [c. 1935] Fig. 67. Vista do gabinete do
Presidente do Conselho. [c. 1935]

Volvidos alguns anos, Raul Lino, enquanto vogal da JNE, concordou com a aquisição de uma
gravura do século XVI representando uma conhecida vista de Lisboa para o gabinete de
trabalho do Presidente do Conselho834.

Num artigo publicado n’O Século, Leitão de Barros deu conta de que, na realidade, o Presidente
do Conselho possuía dois gabinetes, um para receção e outro para trabalho:

“o grande gabinete oficial, solene, exterior, protocolar, rico, o das decorações de António
Soares, e o gabinete onde, na realidade, entre papéis, mapas, plantas, projectos, sem
‘mise-en-scène’ nem preocupações de elegância, o Presidente do Conselho cumpre, por
forma exaustiva, as últimas horas da sua tarde de violento trabalho”835.

Presume-se que o de trabalho seja o localizado na residência oficial do Presidente do Conselho.

832
França, A Arte em Portugal no século XX, 3, 154.
833
Pintura reproduzida em Diário de Notícias, n.º 25255, 28.05.1936, p. 1.
834
Raul Lino, Parecer, novembro-dezembro 1939. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 323, proc. 106.
835
Barros, “Como vive e trabalha o Sr. Dr. Salazar”, 2.

171
Fig. 68. O Presidente do Governo no seu gabinete no Palácio de São Bento. 14.02.1935.

Nos inícios da década de 1950, Luís Benavente, arquiteto diretor da DSMN, foi chamado a
resolver um problema no forro das paredes do gabinete, onde se detetaram manchas836. Não
identificou humidade no local, mas verificou que o tecido fora colocado sem a habitual base
de flanela, acreditando que por essa razão aparecessem manchas em alguns pontos, devido ao
contacto direto do tecido com zonas de interação entre o reboco e cal mal apagada na parede837.
Após um estudo mais aprofundado, por insistência do ministro Ulrich, Benavente propôs a
substituição do tecido, já queimado pela incidência do sol e aparentemente de fraca qualidade;
mencionou que as manchas poderiam ter origem em humidade ou no uso de algum líquido para
remoção de nódoas, dado o seu aspeto gorduroso838.

836
Ordem de serviço n.º 3913 dirigida ao arquiteto diretor da DSMN, 18.06.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT.04535582.
837
Ofício de Luís Benavente (DSMN) para o Diretor-Geral da DGEMN, 22.06.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT.04535583.
838
Ofício de Luís Benavente (DSMN) para o Diretor-Geral da DGEMN, 17.09.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT.04535585.

172
Em 1957, o arquiteto Nuno Beirão, da 1.ª secção da Repartição Técnica da DSMN, assinou
uma proposta de arranjo do gabinete do Presidente do Conselho, com vertente arquitetónica e
decorativa839. Comportava o rebaixamento do teto para a tornar a sala mais agradável e
possibilitar a integração de ar condicionado, a remoção tanto das pilastras de mármore
guarnecendo portas e janelas, como do rodapé de mármore enquadrando o parquê (a substituir
por madeira), e a construção de sancas. Como consequência da eliminação das pilastras, retirar-
se-iam as pinturas de António Soares, que seriam devidamente encaixotadas e preservadas840.
Ao nível decorativo, assumia três componentes: paredes forradas a tecido ou pintadas; portas
e janelas enquadradas por reposteiros; restauro e limpeza do mobiliário existente, com
substituição de alguns elementos considerados antiquados, como os pés das estantes e os
tecidos dos sofás. Em complemento, não se deveriam olvidar elementos decorativos como uma
tapeçaria, a colocar entre as duas janelas, e bibelots. Em pouco tempo, Salazar dava o seu aval
positivo ao plano841.

Fig. 69. Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do Conselho, 1959.

839
Nuno Beirão, Arranjo do Gabinete de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, no Palácio da
Assembleia Nacional, 06.11.1957. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512466-
TXT.00512467.
840
Memória e orçamento da 1.ª repartição técnica da DSMN, 18.06.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3230/09, TXT.04551694-TXT.04551706.
841
Ofício do arquiteto diretor da DSMN para Diretor Geral da DGEMN, 07.01.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512498.

173
Fig. 70. Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do Conselho, 1959.

Fig. 71. Nuno Beirão, Estudo para remodelação do gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente do Conselho, 1959.

174
Porém, meses depois, o Diretor-Geral da DGEMN indagava acerca da previsão do término das
urgentes obras842, voltando a ser apresentada para aprovação a proposta anterior, desta feita
assinada por João Vaz Martins e Manuel Carlos de Almeida Cayolla, acompanhado de
fotografias atuais do gabinete843. Em 1959, intercedia-se para inscrição de dotações para
realizar o trabalho planificado844, apresentando-se um estudo de Nuno Beirão similar ao
anterior, incluindo arranjo da antecâmara e instalações sanitárias adjacentes845. No ano
seguinte, submeteu-se uma simplificação dos trabalhos do plano decorativo, privilegiando a
beneficiação ao invés da substituição, valorizando a reparação de materiais danificados846.
A remoção das telas de António Soares é digna de nota, atentando na carga simbólica
congregada sobretudo na composição alusiva à família. Não obstante, o Presidente do Conselho
terá afirmado ao Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, que não lhe agradavam,
sendo oportuno substituí-las “por outros [quadros] a fornecer pelo M.[inistério] da E.[ducação]
Nac.[ional]”847. Apesar de o caderno de encargos prever o acondicionamento e armazenamento
das telas no Palácio da Assembleia Nacional848, a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho
viria a entregá-los à DGFP849, então funcionando no Palácio da Ajuda. Encontravam-se no
depósito da DGFP em junho de 1961, altura em que esse organismo contactou a DGEMN
devido à necessidade de lhes dar um destino útil, visto que as instalações não ofereciam
condições para conservação conveniente850. O Presidente da CAM, presumivelmente chamado
a opinar sobre a solicitação, afirmou conhecer as telas e, por não estar a par de algum espaço
que pudessem decorar, sugeriu que ficassem guardadas nas arrecadações do Museu de Arte
Contemporânea851. Desconhece-se o paradeiro atual das telas852.

842
Diretor-Geral da DGEMN, Ordem de Serviço n.º 7511, 15.05.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512468.
843
Relatório, 27.05.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512470-TXT.00512471.
844
Despacho de Arantes e Oliveira, 28.01.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512499.
845
Nuno Beirão, Memória: Presidência do Conselho – Remodelação do Gabinete de S. Ex.ª o Senhor Presidente
do Conselho, 06.07.1959. ANTT: Arquivo Salazar, PC-64, cx.638, pt. 1, fl. 4-6.
846
1.ª repartição técnica da DSMN (arq. Elísio Summavielle e agente técnico de engenharia – assinatura ilegível),
Memória: arranjo do gabinete do Presidente do Conselho, 01.04.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3230/01, TXT.04551163.
847
Nota manuscrita de Arantes e Oliveira, 17.05.1961. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3230/01,
TXT.04551244.
848
Ofício do arquiteto chefe da 1.ª secção da Repartição Técnica da DSMN para arquiteto chefe dessa Repartição,
18.04.1961. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512484.
849
Ofício do arquiteto diretor da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 25.05.1961. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512492.
850
Cópia de ofício da Repartição de Património da DGFP para Diretor-Geral da DGEMN, 19.06.1961.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM/0102/20, TXT.07069454.
851
Ofício do Presidente da CAM para Diretor-Geral da DGEMN, 15.07.1961. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM/0102/20, TXT.07069456.
852
José-Augusto França confunde a decoração deste gabinete com a sala de reuniões do Governo, assumindo que,
durante a remodelação de final da década de 1950, do gabinete terão desaparecido “as pinturas murais a fresco de

175
2.7.1.3. Gabinete do Presidente da Assembleia Nacional

A sala que ficou destinada ao Presidente da Assembleia Nacional853 foi, de início, pensada
como Sala do Corpo Diplomático. Para o arranjo desta sala, Raul Lino apresentou uma
proposta: previa forro “de fazenda rica” em toda a extensão das paredes e “pequena arquitectura
de mármores de Estremoz”, tendo como elementos artísticos uma estátua da República-
Minerva e um baixo-relevo representando “qualquer episódio da gloriosa Sociedade das
Nações que interesse especialmente a Portugal”854. Equacionava a inclusão de retratos de
diplomatas pintados a óleo como complemento decorativo. Os vãos terminariam em caixilhos
dourados com espelhos fumados. O mobiliário, nomeadamente otomanas e cadeiras, seriam
forradas a brocado de cor marfim. O teto, do qual penderia um lustre de cristal, teria como
decoração uma coroa de louros.

Em agosto de 1934, o nome de António Lino surgiu como autor do projeto decorativo855. De
facto, o arquiteto submetera também uma proposta, na qual expôs os materiais a utilizar na sala
destinada ao Presidente da Assembleia Nacional, como diversos mármores (de Montes Claros
para as pilastras e o fogão, com detalhes em preto de Mem Martins, e branco de Estremoz para
uma faixa em redor do pavimento) e madeira de carvalho.

Sousa Lopes que o Inventário de Lisboa, de Norberto de Araújo, registou, cerca de 1945” – que, na realidade,
foram executadas para a citada sala de reuniões. (França, O Palácio de São Bento, 153).
853
Atual Sala Lisboa (ou sala Lino António).
854
Raul Lino, Estudo para a decoração de duas salas no Palácio do Congresso da República, 27.02.1934, [p.1].
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.
855
Ofício de Leal de Faria para o Diretor-Geral da DGEMN, 02.08.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538315.

176
Fig. 72. Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente da Assembleia Nacional.

Fig. 74. Espaços do Palácio de S. Bento nos Anos 40, Gabinete do Presidente da Assembleia Nacional.

177
Para o espaço entre as vigas, idealizava pinturas a óleo sobre tela, acometidas ao pintor Lino
António856 – que concorrera para execução dos trípticos do topo da escadaria nobre –,
“representando os factos culminantes da História Pátria”857: da fundação da nacionalidade com
D. Afonso Henriques, e da ação de D. Dinis de promoção do ensino universitário e do
incremento agrícola – com figuras de ceifeiros idênticos aos que o pintor apresentara no
concurso para os trípticos da escadaria nobre, no qual ficou classificado em terceiro lugar –,
como preparação para o desenvolvimento da marinha e da “ação expansiva dos Portugueses no
período das Descobertas” sob a tutela do Infante D. Henrique, finalizando a narrativa na figura
do Marquês de Pombal, cujas reformas progressivas terão aberto caminho para o “levantamento
da Nação”858. Trata-se de uma provável alusão ao momento particular que então se vivia, de
afirmação de um regime que procurava elevar o país e investir na recuperação e na
autossuficiência. O intento ideológico é claro e compassado ao discurso oficial, tendo o
arquiteto reforçado que critério de seleção da iconografia se baseou nos motivos “mais capazes
de recordar a todos os que os virem as maiores grandezas da Pátria”. Tratando-se de um
gabinete de trabalho do presidente de um órgão representativo da soberania, a presença e a
circulação de determinadas figuras para reuniões era certa, e as imagens contribuíam para
reforçar e tornar presentes os momentos históricos valorizados pelo regime.

As maquetes para as pinturas deram entrada no edifício em agosto de 1934, sendo solicitada a
reunião dos membros do CSBA para sua avaliação859. Fotografias publicadas n’O Século860
permitem averiguar que, numa versão inicial, o artista propusera que as figuras que erguem o
padrão no Brasil estivessem desnudas, o que não se verifica na versão definitiva colocada na
sala – possivelmente, um aspeto que foi alvo de crítica pelos examinadores.

856
Tendo participado em exposições internacionais, o pintor foi nesta altura responsável por decoração afresco
na Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1938), em Lisboa. As encomendas para edifícios públicos – civis e
religiosos – ganharam peso a partir da década de 1940. Leandro, Lino António (1898-1974), 120-121.
857
António Lino, Proposta, 31.07.1934, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01,
TXT.04538335.
858
Ibid., p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538334.
859
Ofício de Leal de Faria para Henrique Gomes da Silva, 07.08.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538437.
860
Anónimo, “Um decreto ontem publicado ocupa-se da verificação dos poderes dos deputados à Assembleia
Nacional e procuradores à Câmara Corporativa”, O Século, n.º 18970, 06.01.1935, p.1.

178
Fig. 74. Estudo de Lino António para o gabinete do Fig. 75. Estudo de Lino António para o gabinete do
Presidente da Assembleia Nacional: Infante D. Presidente da Assembleia Nacional: levantamento do
Henrique. 05.01.1935. primeiro padrão no Brasil. 05.01.1935.

No que respeita ao mobiliário, o arquiteto António Lino submeteu uma detalhada proposta de
fornecimento, que incluía reposteiros e cortinados, tapetes de Beiriz “de primeira qualidade”861,
elementos de iluminação e decoração, e ligações elétricas. Os móveis seriam executados em
contraplacado em armação de casquinha, com diferentes tonalidades de envernizamento nos
pormenores e ferragens em metal cromado prateado. Abrangiam uma secretária com tampo de
cristal, uma cadeira de braços, cesto de papéis, dois maples e dois sofás, uma mesa de um pé,
três cómodas, quatro cadeiras com forro de veludo vermelho-escuro idêntico às restantes peças,
reposteiros de veludo, cortinados, dois tapetes com desenho especialmente concebido (um
quadrangular e um redondo), oito placas luminosas e um candeeiro com quebra-luz em
pergaminho com motivos decorativos. José-Augusto França classificou o mobiliário de “estilo
moderno, à francesa, de anos 30-40”862. As peças evidenciam, de facto, linhas simples e mais
compassadas com a época, afastando-se do gosto de cariz mais historicista predominante
noutras salas.
Em 1962, o secretário da Assembleia Nacional alertou para o estado de deterioração em que se
encontravam as pinturas de Lino António, pedindo intervenção da DGEMN, dado que a
secretaria não possuía as verbas necessárias na sua dotação orçamental 863. Após contacto com
o autor, que se comprometeu a prestar auxílio técnico a título gracioso à oficina de restauro da

861
António Lino, proposta, 09.10.1934, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02,
TXT.04538509.
862
França, O Palácio de São Bento, 154.
863
Ofício do Secretário da Assembleia Nacional para o Diretor-Geral da DGEMN, 20.07.1962. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/13, TXT.04550305.

179
JNE contactada pela DSMN864, ficou decidido que a intervenção se seguiria às obras no
gabinete, pois seria necessário retirar as telas pela falta de andaimes para realizá-la in loco865.

2.7.1.4. Gabinete do Presidente da Câmara Corporativa

Em janeiro de 1934, foram apresentadas maquetes, com respetivas memórias descritivas, para
arranjo e decoração da sala do Presidente da Câmara Corporativa, pelos arquitetos Raul Lino e
Vasco Regaleira (1897-1968), e pintor Carlos Bonvalot (1893-1934)866. Para avaliação, Leal
de Faria alvitrava o CSBA ou uma comissão nomeada por Henrique Gomes da Silva, que Leal
de Faria e Adolfo Marques da Silva deveriam integrar867.
O estudo de Raul Lino revelou as proporções “ingratas” da sala, cujo pé direito seria demasiado
elevado em função da dimensão total do espaço, facto que procurou atenuar através da
integração de pilastras caneladas nas paredes, idealmente em mármore de Estremoz868. O
arquiteto equacionou uma guarnição em brecha polida no intervalo das janelas, que serviria de
suporte ao baixo-relevo emoldurando o relógio, simbolizando “uma alegoria da noite e do
dia”869, da autoria de Maximiano Alves. No espaço sobranceiro ao radiador de aquecimento,
Raul Lino idealizava um mural representando a República; como complemento pictórico para
decoração das sobreportas, sugeria frescos de “apologia ao trabalho” com íntima ligação às
atividades e à geografia do país, as fainas vinícola e marítima, e ainda “uma composição alusiva
ao trabalho produtivo do espírito na sua função directiva da economia geral”870. De resto, para
não sobrecarregar a diminuta sala, as paredes deveriam ser revestidas a tinta ou telas adequadas,
o teto ficar ausente de decoração, e ser colocado um tapete condizente com os estofos do
mobiliário. Embora esta proposta de Raul Lino não tenha sido aceite para o gabinete do

864
Ofício de João Vaz Martins (Diretor da DSMN) para o Diretor-Geral da DGEMN, 08.04.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/13, TXT.04550310.
865
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para o Diretor-Geral da DGEMN, 17.06.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/13, TXT.04550312.
866
Comunicação n.º 16, de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 17.01.1934. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537885.
867
Leal de Faria considera, inclusive, que mesmo sendo atendido ao CSBA, deveria ser tida em conta a sua opinião
dada as funções de direção das obras.
868
Raul Lino, Sala destinada ao Presidente da Câmara Corporativa, 02.01.1934. Espólio Raul Lino | FCG -
Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.
869
Raul Lino, Sala destinada ao Presidente da Câmara Corporativa, 02.01.1934, [p.1]. Espólio Raul Lino | FCG -
Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.
870
Raul Lino, Sala destinada ao Presidente da Câmara Corporativa, 02.01.1934, [p.1]. Espólio Raul Lino | FCG -
Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.

180
Presidente da Câmara Corporativa, viria a ser concretizada na designada Sala Dourada871, para
reuniões do Governo, referida adiante.

Fig. 76. Decoração escultórica para relógio destinado ao gabinete do Presidente da Câmara Corporativa, por
Maximiano Alves.

Fig. 77. Raul Lino, Esboços para a decoração da sala do Presidente da Câmara Corporativa, [1934].

871
Fotografias da Sala Dourada, datadas de 1951 e 1958, onde se realizaram, por exemplo, tomadas de posse,
permitem vislumbrar o relógio e parte da pintura figurando a República:
https://ahfweb.parlamento.pt/Detalhe/?pesq=ps&t=13&id=7184&tx=sala+dourada;
https://ahfweb.parlamento.pt/Detalhe/?pesq=ps&t=13&id=6972&tx=sala+dourada. Não se conseguiu identificar
a que sala corresponde na atualidade.

181
Volvidos dois meses, o Diretor-Geral da DGEMN indicou de que se deveria aguardar para
resolução do assunto872, possivelmente atendendo ao falecimento súbito de Carlos Bonvalot873,
num momento em que o pintor se preparava para assumir a direção da oficina de restauro do
MNAA. Na sequência, surgiu uma proposta de decoração remetida pelo arquiteto Vasco
Pereira de Lacerda Marques (1907-1972)874, aprovada875, mas sem continuidade prática.

O arranjo do gabinete foi, no entanto, acometido ao arquiteto Carlos Rebelo de Andrade (1887-
1971)876. Em termos de decoração artística, destacavam-se duas telas de grandes dimensões,
“como se fossem duas tapeçarias”877, da autoria de António Soares, com carácter alegórico
alusivo “à finalidade da sala”878: uma referente aos ofícios, outra às Artes, Letras e Ciências879.
Ou seja, as pinturas aludem à organização corporativa almejada pelo regime. Ambas integram
um conjunto de figuras numa disposição piramidal, sobre fundos definidos por nuvens. A
primeira, para além de um cavalo branco no plano central, semiocultado por um pastor, inclui
figuras que remetem para as vindimas e a vida campestre e, do lado oposto, encontram-se um
campino e um garimpeiro. A composição da outra tela possui uma figura masculina vestida de
branco ao centro, com um livro aberto perto da mão, e nos planos abaixo situam-se,
predominantemente, figuras femininas envoltas em panejamentos drapeados – excetuando duas
figuras masculinas na base, do lado esquerdo do observador, das quais se destaca a personagem
de tronco nu com a cabeça coberta. Como notou José-Augusto França, estas pinturas são afins,

872
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 12.03.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04537886.
873
No dia 7 de março, discutia-se o valor da remuneração dos cartões aguarelados que apresentara para a sala.
Nota, assinada por Francisco Franco(?), Luís Cristino da Silva e Tertuliano de Lacerda Marques, 07.03.1934.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02, TXT.04537894.
874
Filho de Tertuliano de Lacerda Marques, com ele projetou o edifício do Rádio Clube Português (1934). O
arquiteto delineou, ainda, o plano de urbanização da Praça Vasco da Gama, em Belém (1939) e a Porta da
Restauração (Exposição do Mundo Português), e o balneário das termas de Monfortinho (1940).
875
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 21.03.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3213/02, TXT.04537919.
876
Carlos Rebelo de Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidentde da Câmara Corporativa”, Revista
Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos 5 (1938): 135-137.
O arquiteto integrava o quadro da DGEMN, o que poderá explicar que fizesse parte da supracitada lista de
arquitetos aos quais Leal de Faria endereçou convite. Em 1932, Carlos Rebelo de Andrade foi encarregue do
estudo técnico de projetos para escolas primárias, tendo-se planeado a instalação desses serviços no Palácio de
São Bento, por falta de espaço no edifício do ministério. Ofício de Mariano Pires (Diretor dos Edifícios Nacionais
Sul) para Diretor-Geral da DGEMN, 07.05.1932. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0002/04,
TXT.12014195-TXT.12014196.
877
Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidentde da Câmara Corporativa”, 136.
878
Ofício de Ernesto Augusto Costa (construtor civil) para Leal de Faria, 24.08.1934, p.3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538337.
879
Atualmente, estas duas pinturas encontram-se expostas num dos corredores do edifício, e integram as coleções
do Museu da Assembleia da República (n.º inventário MAR279, MAR280).

182
no teor e na solução compositiva e plástica, ao acima mencionado painel para a Exposição
Internacional de Paris de 1937880.

Fig. 78. Vista do gabinete do Presidente da Câmara Corporativa. S.d. Fig. 79. Pormenor do gabinete do
Presidente da Câmara Corporativa:
pintura de António Soares referente aos
Ofícios e mobiliário. S.d.

Adicionalmente, sobre um armário colocado entre duas portas, foi colocado um motivo
esculpido em baixo-relevo concebido por Maximiano Alves, congregando dois putti segurando
no escudo nacional com cinco quinas e, idealmente, com inscrição do ano de criação da Câmara
Corporativa, de estafe pintado a dourado, que deveria ter 1,80m de altura881. Os tecidos “cor
de palha”882 para cobertura das paredes foram escolhidos de acordo com as tonalidades das
pinturas de António Soares e da restante decoração883; molduras de madeira e faixas de pedra
polida, idêntica ao rodapé, completavam as paredes. A estrutura da sala destacava-se das
restantes pela configuração do teto, com sancas em forma de concha, incorporando iluminação
indireta. O mobiliário, na maioria em madeira de sicupira polida, foi acometido à Casa Olaio884.
Incluía uma secretária com tampo de cristal semicircular aconchegada por dois biombos

880
França, A Arte em Portugal no século XX, 160.
881
Ofício de Ernesto Augusto Costa (construtor civil) para Leal de Faria, 24.08.1934, p.3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538337.
Esta peça integra hoje o Museu da Assembleia da República, tendo sido alvo de restauro, e decorando uma
escadaria lateral interna do edifício (n.º inv. MAR2044). Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/MatrizWebAR/DetalhesObra?id=6598&tipo=OBJ (acesso a 30.08.2021).
882
Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidentde da Câmara Corporativa”, 136.
883
Ofício de Ernesto Augusto Costa (construtor civil) para Leal de Faria, 24.08.1934, p.3. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01, TXT.04538337.
884
Conserva-se no Museu da Assembleia da República.

183
forrados a veludo acastanhado, duas credências em talha dourada com tampo de mármore negro
e pernas de felino dispondo “serpentinas de cristal da Boémia”885, uma mesa com tampo
redondo, e um conjunto de poltronas e cadeiras para os procuradores da Câmara Corporativa,
forrados a tecido com decoração vegetalista de tonalidades verde, rosa e azul sobre fundo
branco. No chão, um tapete de Beiriz de tonalidade lisa idêntica aos biombos.

A partir de 1952, este gabinete sofreu obras de adaptação para se converter na sala de reunião
do Conselho de Ministros do Comércio Externo (também designada como sala de pequenos
Conselhos), o que implicou reconstruir teto e sancas, remodelar a instalação de iluminação
elétrica, desmontar e acondicionar os painéis e molduras, alterar um vão de comunicação com
a sala de espera e reparar paramentos, elementos em madeira e pavimento886.

2.7.1.5. Sala [de reuniões] do Governo

Em Fevereiro de 1934, Raul Lino enunciou sugestões para a Sala do Governo887, um gabinete
de uso diário para reuniões do Conselho de Ministros, cuja finalidade de reunião e discussão
exaltada “na luta política”888 implicava um ambiente calmo, confortável e de menor solenidade
do que os restantes gabinetes. Assim, as paredes seriam completamente revestidas a madeira,
de carvalho ou nogueira, com vãos em mármore vermelho de Pêro Pinheiro – ideia que não
prevaleceu. Nas sobreportas, “painéis pintados a óleo com, por exemplo, episódios dos
Lusíadas – assunto eternamente acima das questões de partido e dos mais próprios para exaltar
o amor pátrio dos governantes”889. O arquiteto apresentou uma proposta mais concreta em julho
desse ano, para conceção, por tarefa de ajuste particular, da decoração da Sala do Congresso,
que ficaria conhecida como Sala Dourada.
Para além do parquê em carvalho, o estuque em sanca tripla e a inclusão de pilastras caneladas
em mármore – material também a ser aplicado nos vãos de portas e janelas e no fogão –,
eliminando-se a cobertura das paredes em madeira, merecem referência as quatro pinturas
murais equacionadas, a atribuir a Adriano de Sousa Lopes. Os temas reportar-se-iam a várias

885
Andrade, “Assembleia Nacional, Gabinete do Presidente da Câmara Corporativa”, 137.
886
Repartição Técnica da DSMN (1.ª Secção), Memória Descritiva: Obras de adaptação do antigo gabinete do
Presidente da Câmara Corporativa a sala da reunião do Conselho de Ministros do Comércio Externo, 20.11.1952.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1500, TXT.00509335-TXT.00509336.
887
Presume tratar-se da atual sala de visitas da Presidência da Assembleia da República.
888
Raul Lino, Estudo para a decoração de duas salas no Palácio do Congresso da República, 27.02.1934, [p.2].
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.
889
Raul Lino, Estudo para a decoração de duas salas no Palácio do Congresso da República, 27.02.1934, [p.2].
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.0.

184
facetas de Portugal: as serras, os campos e as fainas, e a representação da Pátria,
presumivelmente através de uma figura alegórica, conforme se depreende dos desenhos
esquematizados de Raul Lino890. Na realidade, trata-se da recuperação da ideia que o arquiteto
tivera para o gabinete do Presidente da Câmara Corporativa. Esta nova proposta foi autorizada
por Duarte Pacheco ainda nesse mês de julho891. Em ofício ao pintor, Raul Lino comunicou a
incumbência oficial do projeto, bem como a encomenda das grades necessárias à execução das
pinturas892. Estava convencido de que a sala seria sóbria e digna, adequada para emoldurar as
composições pictóricas.
Nessa altura, Sousa Lopes encontrava-se em Itália, a estudar os “frescantes primitivos”893, para
aperfeiçoamento da pintura mural, como inspiração para as encomendas que então tinha em
mãos. O jornal O Século noticiou a execução de três “frescos” pelo artista, reproduzidos
fotograficamente894, representando as vindimas, a pesca e o lagar de azeite, destinadas às
sobreportas da sala895. Cada pintura incluía uma parelha de figuras erguendo, ao centro, o
produto respetivo, numa lógica decorativa que as relacionava no espaço. Na listagem do
património artístico do palácio que fez em 1939, Raul Lino identificou a existência destas três
pinturas na sala, bem como da pintura representando a República, todas da autoria de Adriano
de Sousa Lopes896.

890
Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLDA 351.9.
891
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 25.07.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3214/01, TXT.04538225.
892
Ofício de Raul Lino, 23.08.1934, [p.1]. Espólio Raul Lino | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, RLA 351.1.
893
Ibid.
894
Anónimo, “O mestre pintor Sousa Lopes executou, a fresco, para o Palácio da Representação Nacional [...]”,
p.1.
895
O paradeiro atual destas pinturas é desconhecido: aparentemente, terão sido cobertas com tinta e
irreversivelmente danificadas, em data incerta (informação prestada por Miguel Sousa Lara em visita ao Palácio
de São Bento, 28.01.2020). Os herdeiros do pintor terão em sua posse os desenhos picotados, que serviram para
passagem ao mural definitivo (Maria Felisa Perez, Adriano de Sousa Lopes, Director do Museu Nacional de Arte
Contemporânea: entre a continuidade e a mudança (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2012), 36). Um dos desenhos dedicado às vindimas foi incluído num
lote a leiloar pela Cabral Moncada Leilões, em 2008, mas removido da licitação
(https://www.cml.pt/leiloes/2008/100-leilao/sessao-unica/lote-194/vindimas-no-douro). Em 2018, a Galeria
Phillipe Mendes expôs na Feira de Antiguidades de Lisboa um desenho para o painel da pesca.
Fotografias da sala de 1936 e 1938 demonstram a existência do painel relativo ao lagar de azeite numa das
sobreportas da sala: https://ahfweb.parlamento.pt/Detalhe/?pesq=ps&t=13&id=6436&tx=sala;
https://ahfweb.parlamento.pt/Detalhe/?pesq=ps&t=13&id=6489&tx=sala.
896
Raul Lino, Nota dos objectos de arte (pinturas e esculturas) que se encontram no Palácio da Assembleia
Nacional, 05.08.1939, p.1. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 2.º vol., 313.

185
Fig. 80. Pintura de Sousa Lopes: Fig. 81. Pintura de Sousa Lopes: Fig. 82. Pintura de Sousa Lopes:
Vindimas. 06.01.1935. Lagar do azeite. 06.01.1935. Pesca. 06.01.1935.

O arquiteto desenhara também o mobiliário, que não fora ainda contemplado. Da proposta de
execução e fornecimento897 constavam artigos em madeiras exóticas, douradas – uma
secretária, uma mesa, uma mesinha para telefone, uma mesa com pé central e tampo redondo,
um armário, uma cadeira de braços, oito cadeiras, três poltronas e um sofá com socos e pés
entalhados, dois candelabros com taças de mármore, bem como um biombo forrado a tecido,
reposteiros para as três portas, cortinados e estores, e dois tapetes de Beiriz de dimensões
distintas. O mobiliário proposto veio a ser posteriormente executado pela casa Olaio, estando
preservado ainda atualmente no edifício, através do Museu da Assembleia da República.

Fig. 83. Raul Lino, Projeto do mobiliário para a Sala do Governo, [1934].

897
Raul Lino, Proposta, 15.10.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02, TXT.04538510.

186
Fig. 84. Raul Lino, Projeto do mobiliário para a Sala do Governo, [1934].

Pouco após a entrada em funcionamento, em 1935, chegou-se à conclusão de que seria


necessário proceder a alterações nas portas desta sala, uma vez que no exterior era possível
escutar as conversas tidas na sala durante as reuniões do Conselho de Ministros. Devido à
decoração colocada nas paredes, o problema foi solucionado com o reposicionamento das
portas no lado externo da parede do corredor e inclusão de reposteiros, conforme proposta de
Raul Lino, com tecido idêntico ao utilizado para as cortinas e os estofos de cadeiras e sofás898.

2.8. O Salão Nobre

O projeto para arranjo do Salão Nobre, destinado a atos, receções e cerimónias solenes,
localizado sobre a entrada principal num espaço outrora ocupado pelo coro-alto da igreja
conventual, foi acometido a Porfírio Pardal Monteiro. O arquiteto terá acedido por vontade do
pintor Sousa Lopes899, incumbido da decoração pictórica do espaço através de pintura mural

898
Ofício em nome de Leal de Faria (assinatura ilegível) para Diretor-Geral da DGEMN, 16.10.1935.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3215/02, TXT.04539715.
899
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Leal de Faria, 25.08.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548805-TXT.04548806.

187
afresco, após uma visita ao edifício na companhia do ministro Duarte Pacheco900. Depois de
um primeiro estudo, rejeitado pela elevada dimensão conferida à superfície destinada a receber
pintura e pela configuração “demasiadamente moderna”901 da componente arquitetónica, foi
apresentada uma nova proposta de anteprojeto, em 1936. O ministro Joaquim Abranches
considerou-a merecedora de aprovação902.
O anteprojeto encarava a arquitetura enquanto enquadramento da decoração artística, que
definiria o espaço. É relevante atentar nas considerações de Pardal Monteiro tecidas na
respetiva memória descritiva, elevando a pintura mural como elemento centralizador, sem,
porém, afirmar que a arquitetura se subordina à pintura. Considerando os planos de Ventura
Terra, do qual fora discípulo e pela memória do qual mantinha “o mais fervoroso culto”903,
Pardal Monteiro afirma respeitá-los, mantendo o espírito clássico e equilibrado previsto para o
edifício, sem trair a sua própria interpretação e a época em que se entrava. Toda a composição
e pormenores arquitetónicos destinavam-se a valorizar a ideia principal, “um dos grandes
princípios da arquitetura clássica”904. Discorreu sobre a relação que deveria preponderar entre
arquitetura e decoração artística, que nunca assumiria um estatuto de submissão total da
primeira perante a segunda. No momento então vivido, definido por uma reintegração da
pintura e da escultura, até aí independentes, no espaço arquitetónico e de acordo com as regras
de harmonia e da composição arquitetónica, o arquiteto encarava o presente desafio como

“talvez, a primeira grande tentativa, pelo menos entre nós, no sentido de demonstrar que
uma grande obra de pintura predominantemente dentro duma composição arquitetural
pode em absoluto integrar-se no espírito arquitetónico da composição, sem cair nos
perigos duma indisciplina artística, semelhante à de todos os períodos de decadência”905.

Aproveitou para mencionar a colaboração perdida entre arquitetos e artistas, que


paulatinamente se voltava a reconhecer como essencial, e que se apresentava como
“oportunidade excecional” para ser impulsionada pelo Governo. Nesta altura, o arquiteto fora
responsável por projetos em Lisboa como o Instituto Superior Técnico, o Instituto Nacional de

900
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 30.04.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548696.
901
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 30.04.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548696.
902
Despacho de Joaquim Abranches de 04.05.1936, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas, 04.05.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548697.
903
Porfírio Pardal Monteiro, Palácio da Assembleia Nacional - Decoração do Salão Nobre: Memória e orçamento
descritivo dos trabalhos, maio 1936, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08,
TXT.045487023.
904
Ibid., p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.045487022.
905
Ibid., pp. 3-4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.045487022-TXT.045487021.

188
Estatística e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, encontrando-se a estudar gares marítimas e
edifícios para uma cidade universitária.
Em adição, Pardal Monteiro refletiu sobre a importância das inovações ao nível da eletricidade,
e a distribuição de iluminação para valorização do espaço e incremento das condições de
apreciação das pinturas. Apresentou diversos elementos relativos à construção, fazendo notar
a previsão de fixar motivos de heráldica nacional executados em metal prateado. Volvido
algum tempo, e antes de qualquer resolução superior ou apreciação pela JNE, Sousa Lopes
comunicou que continuou os estudos com Pardal Monteiro para que a obra não se atrasasse,
apresentando uma nova solução para a iluminação no teto proposta pelo arquiteto906.

Em abril de 1937, foi comunicada a aprovação das pinturas de Sousa Lopes907. Não se fazia
referência à componente arquitetónica, o que levou a insistências de Leal de Faria para que se
pudesse dar andamento ao empreendimento, uma vez que seria impossível iniciar as pinturas
sem aprovação do anteprojeto de Pardal Monteiro908.
Tertuliano de Lacerda Marques assinou um parecer em nome da JNE acerca da componente
arquitetónica909, tendo-lhe sido providenciado um documento emitido por Veloso Salgado,
Raul Lino, Varela Aldemira e José de Figueiredo relativamente à avaliação da decoração
pictórica910. O arquiteto examinou o material escrito e desenhado e visitou o local. Considerou
que o autor integrou o estudo em moldes clássicos agradáveis, apesar de propositadamente se
afastar deles, sendo a solução preferida a que integrava elementos aludindo a caixotões no teto.
Podendo ser melhorada a composição do teto para uma integração mais harmónica na ala,
duvidou da utilização de um formato semicircular num salão nobre, não obstante ser de
“arquitetura franca e monumental”911, e compreender a exigência e responsabilidade de propor
alterações num estudo de tal minúcia. Pardal Monteiro expusera, na memória descritiva, que a
forma proposta para o teto surgira como solução para conveniente distribuição da luz,
recordando “um sistema clássico de cobertura”912. Lacerda Marques não se opôs ao grau de

906
Ofício de Adriano de Sousa Lopes para Engenheiro Director das Obras do Palácio do Congresso, 28.11.1936.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548757.
907
Ofício de Gustavo Cordeiro Ramos (presidente da JNE) para Diretor-Geral da DGEMN, 15.04. 1937.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548761.
908
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 22.04.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548763.
909
Cópia de parecer, 25.07.1937. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 60.
910
Documento que, surgindo enunciado na correspondência, não foi encontrado nos arquivos possíveis
(DGPC/SIPA e AHSGEC).
911
Cópia de parecer, 25.07.1937, p.3. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 249, proc. 60.
912
Porfírio Pardal Monteiro, Palácio da Assembleia Nacional (...), p. 7. PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08,
TXT.045487018.

189
iluminação natural obtido na sala, uma vez que se pretendia um “ambiente suave, calmo, e [...]
solene”913, mas discordou do emprego de alguns materiais, como aplicações de metal polido,
supérfluos e descompassados com o carácter do espaço. Os motivos heráldicos que se
idealizavam nesse material poderiam, ao invés, ser executados em madeira marchetada.
Elencou outros aspetos, como a altura dos lambris, rematando com a indispensável vigilância
e fiscalização do decorrer da obra.
Em resposta, Pardal Monteiro – que somente aceitou o trabalho por desejo de Sousa Lopes,
uma vez que este tipo de trabalhos se prolongava devido ao demorado processo de aprovação,
implicando repetidas reformulações, o que embargava outros projetos em curso no seu atelier914
–, apresentou nova memória descritiva, justificando as suas escolhas. Dirigindo-se ao arquiteto
Lacerda Marques, cuja opinião e trabalho respeitava, sublinhou a impossibilidade de outra
solução construtiva para a cobertura para alcançar a monumentalidade exigida para a sala.
Reforçou o emprego do teto semicircular através da enumeração de um conjunto de salões de
receção – portanto, de finalidade idêntica à do Salão Nobre – de edifícios italianos e franceses,
nos quais se poderia ter inspirado pela proximidade da solução, como, entre outros, nos
romanos palácios Farnese e Barberini, ou em diversas galerias e salas em Versailles e no
Louvre. Quanto aos elementos decorativos metálicos, não se opôs a modificar tais
pormenores915.
Na sequência, Raul Lino, pela JNE, exarou um parecer sobre o anteprojeto, aludindo ao facto
de o autor ter respeitado a sugestão anterior do organismo para alterar a disposição
arquitetónica da abóbada de berço, conferindo-lhe um sentido classicista que valorizará a
sala916. Numa nota de gosto pessoal, reforçou a sua hesitação face aos motivos heráldicos nas
portas. A aprovação ministerial tardou em ser acedida, atrasando a intenção oficial de o Salão
Nobre estar concluído por ocasião das celebrações centenárias de 1940. Duarte Pacheco alegou
que não lhe havia sido remetido o processo com as respetivas plantas917. Recorde-se que, nesta
altura, a relação de amizade entre o ministro e o arquiteto Pardal Monteiro refreara. Após instar

913
Cópia de parecer, 25.07.1937, p.3. AHSGEC: JNE, cx. 249, proc. 60.
914
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Leal de Faria, 25.08.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548805.
915
No espólio de Pardal Monteiro depositado no Forte de Sacavém existem alguns desenhos do arquiteto
referentes a estes elementos decorativos, que serviram de base aos que foram executados e colocados, em
repetição, entre as pilastras do salão. DGPC/SIPA: Espólio Porfírio Pardal Monteiro, PPM-DES.02387 a PPM-
DES.02394.
916
Parecer: projecto de decoração do Salão Nobre da Assembleia Nacional, 30.04.1938. AHSGEC: Fundo JNE,
cx. 249, proc. 60.
917
Despacho de Duarte Pacheco de 04.10.1938, manuscrito sobre ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o
Ministro das Obras Públicas, 04.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548807.

190
que se elaborasse um orçamento detalhado da obra, Pacheco exigiu que o valor apresentado
pelos construtores consultados fosse diminuído, apesar dos custos associados ao emprego de
materiais nobres, como madeira de pau-santo ou ornatos em bronze. Em fevereiro de 1939,
Diamantino Tojal – o construtor selecionado no concurso limitado, que estudara a adaptação
aos valores desejados para o orçamento em conjunto com o arquiteto –, estimava um período
de sete a dez meses para desfecho das obras918. O certo é que os trabalhos tardaram em ser
concluídos, havendo pedido de urgência nesta matéria em junho de 1941.

O programa iconográfico para os doze painéis que integravam a decoração foi exposto por
Sousa Lopes, presumivelmente ainda em 1935-36, acompanhado de esquissos a carvão.
Reportava-se aos “feitos culminantes da nossa Epopeia Marítima e dos Descobrimentos
Portugueses”919, facto que levou o pintor a sugerir que se alterasse a designação da sala para
Sala do Infante ou dos Navegadores. O cunho apoteótico de exaltação da pátria ficou patente
na descrição de Sousa Lopes, que considerava a “importância mundial” do assunto, que teria
definido a “fisionomia da nossa Nacionalidade”920. A autoria da determinação da temática
permanece por averiguar, embora seja plausível que tenha resultado do próprio artista.
Coadunava-se com a importância que vinha sendo concedida pela ideologia oficial ao período
da expansão marítima enquanto época de ouro, refletida em termos artísticos, por exemplo, nos
concursos para um monumento ao Infante D. Henrique, a erigir em Sagres. Carlos Silveira, na
sua tese de doutoramento dedicada à obra de Sousa Lopes no quadro da Grande Guerra, lança
também outras pistas, nomeadamente a influência d’Os Lusíadas como fonte literária921 – de
facto, os painéis respeitam a viagem descrita por Camões, com início na partida das caravelas
e terminando na chegada à Índia. Já aquando da Exposição Colonial de Paris (1931), o pintor
demonstrara entusiasmo pelo brilhantismo do poema camoniano e da arte dos séculos XV e
XVI922.
Sousa Lopes enumerou como proposta os conteúdos, que, de modo sintético, mas significativo,
ilustrariam a dimensão da expansão marítima portuguesa: Indicações do Infante D. Henrique
aos capitães, em Lagos, precedendo a largada das caravelas; chegada a Calecute comandada

918
Ofício de Diamantino Tojal para Leal de Faria, 06.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3226/08, TXT.04548849-TXT.045488450.
919
Adriano de Sousa Lopes, Descrição do projecto para a decoração pictorial do Salão Nobre do Palácio do
Congresso, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548693.
920
Ibid. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548693.
921
Silveira, Adriano de Sousa Lopes: um Pintor na Grande Guerra, 66.
922
Anónimo, “A arte portuguesa em Paris. Sousa Lopes fala-nos do êxito alcançado na exposição”, Diário de
Lisboa, 16.11.1931, p. 5.

191
por Vasco da Gama, firmando o caminho marítimo para a Índia; conquista de Ceuta como
início das “conquistas coloniais”923, sob auspício da cruz, símbolo do ideal religioso que
norteou as viagens de expansão; estabelecimento do padrão na foz do rio Congo por Diogo
Cão; passagem do cabo das Tormentas em viagem liderada por Bartolomeu Dias; implantação
da cruz em território brasileiro, após chegada da armada de Pedro Álvares Cabral; tomada de
Malaca por Afonso de Albuquerque. As pinturas que rodeariam as janelas teriam um carácter
ornamental, preenchidas por motivos de flora e fauna do Brasil, África e Ásia. Para as
composições laterais, Sousa Lopes equacionara representar “os Portugueses no Japão
mostrando o funcionamento de uma espingarda” e “a construção da Fortaleza de S. Jorge da
Mina, ou talvez Melgueiro navegando pelos mares do Norte”924, embora pudesse ser necessário
alterá-las consoante o desenvolvimento das restantes pinturas. De facto, a ideia não foi
concretizada. Um esboço do salão, manuscrito pelo pintor e datado de 30.11.1935925, sugere
que a listagem citada constituía uma simplificação de ideias anteriores: em adição aos temas
mencionados, Sousa Lopes indicava D. João II na Ribeira das Naus, a construção do Forte de
Mazagão, Japão e os Jesuítas, e inscrevera os nomes de Fontoura da Costa (1869-1940) e
Quirino da Fonseca (1863-1939), membros da Marinha que se dedicavam ao estudo da
expansão portuguesa, possivelmente como nota para incluí-los nas suas leituras. Como motivo
constante e unificador entre as pinturas principais, foram incorporados o mar e as caravelas. O
pintor tencionava que as composições obedecessem a uma construção arquitetónica e simétrica,
desenvolvendo predominantemente o primeiro plano, para tal elevando a linha do horizonte e,
assim, evitando “os longes, sempre desfavoráveis à pintura mural”926.
Compreendendo o tempo que iria despender no estudo e preparação desta tarefa, na ordem dos
cinco anos, Sousa Lopes mencionava já que contava com colaboradores, apesar de não os
nomear, particularmente para auxílio nos demorados “trabalhos materiais e nas investigações
sobre arqueologia naval e indumentária”927. Mediante esta situação, foi dispensada a realização
de concurso público e contrato escrito para o estudo da decoração pictórica928.

923
Adriano de Sousa Lopes, Descrição do projecto para a decoração pictorial do Salão Nobre do Palácio do
Congresso, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548692.
924
Ibid. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548691.
925
Documento partilhado por Carlos Silveira, com autorização dos herdeiros de Sousa Lopes.
926
Adriano de Sousa Lopes, Descrição do projecto para a decoração pictorial do Salão Nobre do Palácio do
Congresso, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548691.
927
Ibid. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548692.
928
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 28.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0176/01,
TXT.07432059.

192
Em paralelo, Sousa Lopes dedicava-se à encomenda para decoração do Museu Militar de
Lisboa (1920-36)929. Refira-se que o seu interesse pela pintura mural emergira na década de
1920, tendo estudado aspetos práticos através de experimentação baseada em livros técnicos930
e de contacto com artífices, químicos e engenheiros931. Dedicou uma exposição à técnica do
afresco no seu atelier em 1934932. Dois anos depois, convidou Salazar a visitar o atelier na Casa
do Regalo, na Tapada das Necessidades, desejando apresentar sete composições decorativas de
grande escala para execução afresco, realizadas a carvão, honrando a “apoteose dos
«Descobrimentos Portugueses»”933. Da mais próxima à mais longínqua viagem, os estudos
representavam o Infante D. Henrique, Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Pedro Álvares Cabral,
Vasco da Gama, e as conquistas de Ceuta e de Malaca. Tratava-se, provavelmente, dos estudos
para o Salão Nobre. Não se identificou documentação que corrobore a realização desta visita.
Em agosto de 1937, no período de preparação das pinturas, Sousa Lopes, então diretor do
Museu Nacional de Arte Contemporânea, viajou para Itália para incrementar os seus estudos
no domínio da pintura mural afresco934. Nessa altura, escreveu a Leal de Faria, comunicando
que trabalhava nos cartões para o Salão Nobre, enviando fotografias e explicitando o processo
de trabalho para as pinturas de maior dimensão, executadas em duas partes devido à falta de
altura necessária do atelier em que trabalhava em Roma935.

929
Silveira, Adriano de Sousa Lopes: um Pintor na Grande Guerra, 319-344.
930
Sousa Lopes possuía um manual cobrindo diversas técnicas de pintura mural assinado por Giuseppe Ronchetti,
datado de 1927. Ibid., 64.
931
Manuel Farinha dos Santos, Sousa Lopes (s.l.: s.n., 1962), 50.
932
Catálogo da exposição de pintura a fresco de Sousa Lopes com prefácio de Afonso Lopes Vieira e Reynaldo
dos Santos, Maio 1934 (Lisboa: Imprensa Libânio da Silva, 1934).
933
Carta de Adriano de Sousa Lopes para António de Oliveira Salazar, 04.04.1936. ANTT: Arquivo Salazar, CP-
156, 4.3.8/9.
934
Apesar de alguns autores (Santos, Sousa Lopes, 52; Silveira, Adriano de Sousa Lopes, 64) afirmarem que o
pintor viajou em 1937 equiparado a bolseiro da IAC, o confronto com a documentação proveniente desta
instituição, hoje à guarda do Instituto Camões, apenas permitiu identificar o patrocínio de uma viagem a Sousa
Lopes em 1938, enquanto diretor do MNAC e equiparando-o a bolseiro do IAC, com destino a França, Itália,
Bélgica e Holanda, no âmbito da organização da reinstalação das coleções do museu. (AIC: proc. 2776,
cx.1432/2.). Felisa Perez afirmou que a viagem de 1938 permitiu o incremento de conhecimentos acerca da técnica
de pintura afresco (Perez, Adriano de Sousa Lopes, Director do Museu Nacional de Arte Contemporânea, 69, 81).
935
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 14.08.1937. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/008, TXT.04548769.

193
Fig. 85. Sousa Lopes trabalhando nas pinturas para Fig. 86. Sousa Lopes trabalhando nas pinturas para o Salão
o Salão Nobre: painel de Vasco da Gama. 1937. Nobre: painel de Pedro Álvares Cabral. 1937.

O Instituto para a Alta Cultura (IAC) solicitou, em 1939, o empréstimo dos estudos de Sousa
Lopes para as pinturas da “Sala dos Navegadores” (adotando a designação sugerida pelo
pintor), para que figurassem na Exposição do Livro Português em Berlim - Portugal no passado
e no presente936, a realizar na Staatsbibliothek em abril937, tendo sido autorizado pelo Ministro
das Obras Públicas. Sousa Lopes mostrara-se favorável ao pedido, valorizando a exibição dos
esquissos no estrangeiro. Os desenhos foram apresentados na secção dedicada aos
Descobrimentos, tendo sido considerados pela historiadora de arte alemã Gertrud Richert, do
Instituto Ibero-Americano, como testemunho de uma arte livre e poderosamente masculina938.

936
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Leal de Faria, 23.02.1939. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0176/01,
TXT.07432048.
937
Ninhos, Portugal e os Nazis, 170-174.
938
Gertrud Richert, “‘Portugal in Vergangenheit und Gegenwart’ Austellung in der Staatsbibliothek Berlin April
1939”, Ibero-amerikanisches Archiv 13, 1 (1939): 15.

194
Fig. 87. Sousa Lopes com a segunda mulher, Adalgisa da Costa Serra e Moura, no atelier na Casa do Regalo.
Observam-se, pousados no chão, diversos estudos de figuras para os painéis do Salão Nobre (alguns encontram-
se no espólio particular, tendo um deles sido detetado em leilão939), e nos cantos da imagem encontram-se estudos
para os painéis do Infante D. Henrique e de Vasco da Gama (hoje em depósito na Escola Naval). [c. 1940]

No ano seguinte, o pintor exibiu no seu atelier diversos estudos de figuras humanas e esquemas
cromáticos para o Salão Nobre, a par de uma tela a óleo representando o Infante D. Henrique
junto dos capitães da armada, no interior de um edifício, vendo-se o mar através de uma janela
como pano de fundo, encomendada para o Instituto Ibero-Americano de Berlim940.

939
Leilão de 26.01.2013, Oportunity Leilões. Acessível em: https://oportunityleiloes.auctionserver.net/view-
auctions/catalog/id/272/lot/78454/ (acesso a 06.01.2020).
940
Anónimo, “A História e a Arte. A epopeia marítima e o Infante D. Henrique na obra de Adriano Sousa Lopes”,
Diário de Lisboa, 10.12.1940, p. 4; Santos, Sousa Lopes, 52, 54.
A pintura figurou numa exposição de artistas portugueses patente em Berlim em 1942, e nessa ocasião foi ofertada
pelo IAC e pelo SPN ao Instituto Ibero-Americano. (Gertrud Richert, “Kleine Mitteilung aus dem Arbeitsgebiet
des Instituts. Spanische und Portugiesische Kunst in Berlin”, Ibero-amerikanisches Archiv 16, 1-2 (1942): 59-60).
Ao contrário das suposições de vários autores de que esta pintura havia sido provavelmente destruída durante a II
Guerra Mundial (Santos, Sousa Lopes, 54; Perez, Adriano de Sousa Lopes, Director do Museu Nacional de Arte
Contemporânea, 37; Carlos Silveira, “A epopeia do quotidiano: obras desaparecidas”, in Adriano de Sousa Lopes
(1879-1944). Efeitos de luz, ed. Carlos Silveira, Maria de Aires Silveira (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
Moeda, 2015), 212), a nossa investigação permitiu identificar a sua localização atual nas instalações do Instituto
Ibero-Americano em Berlim, no átrio da sala Símon Bolívar.

195
Fig. 88. Sousa Lopes junto da pintura para o Instituto Ibero-Americano de Berlim, vislumbrando-se estudos para
os painéis do Salão Nobre. [c. 1940].

Em novembro de 1941, Sousa Lopes solicitou que lhe fosse facultado o empréstimo de alguns
trajes utilizados no cortejo histórico realizado em Belém por ocasião das celebrações de 1940,
então à guarda do SPN, para servirem de modelo para as figuras destinadas aos painéis do Salão
Nobre941, o que foi prontamente acedido. Nas suas notas manuscritas, o pintor identificou
outras fontes de inspiração, como camisolas utilizadas no Teatro Nacional, um barrete
triangular de uma pintura em S. Roque como modelo para o barrete de Pedro Álvares Cabral
ou as botas altas da tela retratando um “cavaleiro de Santiago a cavalo”, existente no MNAA942.
Por outro lado, o discurso nacionalista associado às pinturas também ficou patente pelo recurso
a figuras do povo como modelos fisionómicos para as personagens, como pescadores da Nazaré
ou da Trafaria943.

941
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 08.11.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/08, TXT.04548930.
942
[Adriano de Sousa Lopes], notas manuscritas, s.d. [Documento partilhado por Carlos Silveira, com autorização
dos herdeiros de Sousa Lopes]
943
Augusto de Castro, Homens e paisagens que eu conheci (Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1941), 230-231.

196
Em 1943, perante pedidos de Sousa Lopes para prorrogar o prazo da garantia bancária sobre o
pagamento a receber pelas pinturas, o artista foi solicitado a informar “quando julga ter
concluído o seu trabalho para se apresentar superiormente o caso devidamente esclarecido”944.
Nesse ano, o estado de saúde do pintor encontrava-se agravado, impedindo-o de dar a
continuidade desejada às pinturas murais, e nessa altura idealizava terminá-las em dois anos
atendendo às melhorias que vinha sentindo945. Este prazo não se afigurava digno de ser aceite,
uma vez que a garantia bancária apenas fora concedida até final de 1943 946. Sem capacidade
física para realizar as pinturas murais, Sousa Lopes encarregou os pintores Joaquim Rebocho
e Domingos Rebelo como colaboradores, que trataram de aperfeiçoar os cartões para uma mais
eficiente passagem à parede. O mestre viria a sugerir que a verba que lhe cabia receber como
vencimento fosse repartida pelos três947. No final de 1943, verificou-se que o prazo demorado
para conclusão não seria excessivo atendendo ao patamar em que então se encontravam os
trabalhos948, uma vez que Rebocho e Rebelo laboravam com minúcia nos pormenores dos
cartões para facilitar a transposição para a superfície definitiva. Caberia a Raul Lino, enquanto
chefe da REOM, dar parecer sobre o trabalho.
Por circunstância do falecimento de Sousa Lopes, em abril de 1944, Henrique Gomes da Silva
solicitou ao ministro que as pinturas fossem continuadas pelos discípulos949, ao qual a JNE
acedeu mediante a nomeação de uma comissão que supervisionasse o trabalho no espírito da
obra já iniciada950. Segundo relato fixado no Diário de Lisboa aquando da notícia das suas
exéquias fúnebres, Sousa Lopes terá ainda dado indicações sobre o trabalho aos discípulos duas
horas antes de falecer951. Domingos Rebelo, em retrospetiva, recordou que poucos meses antes
do falecimento de Sousa Lopes “preparámos, sob a direção do mestre, Joaquim Rebocho e eu,
os estudos a fresco e o acabamento de alguns cartões, numa ânsia febril de darmos início à
realização desta obra, que seria, quase que pressentíamos, a sua última e grande criação. Coube-

944
Engenheiros chefes das Repartições de Estudos e de Obras de Edifícios/DGEMN, Parecer - Palácio da
Assembleia Nacional, 16.04.1943. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548942.
945
Ofício de Adriano de Sousa Lopes para Diretor-Geral da DGEMN, 11.05.1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08, TXT.04548952.
946
Ofício de Raul Maçãs Fernandes (REE) para Diretor-Geral da DGEMN, 19.07.1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0174/01, TXT.07431718.
947
Ofício de Raul Lino (REOM) para Diretor-Geral da DGEMN, 22.01.1944. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512328.
948
Ofício de Raul Maçãs Fernandes para Diretor-Geral da DGEMN, 24.12.1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/09, TXT.04548972.
949
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 29.04.1944.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/09, TXT.04548989.
950
Comissão constituída pelos vogais Diogo de Macedo, Luís Varela Aldemira e Raul Lino. Parecer manuscrito,
aprovado em sessão de 12.05.1944. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 237, proc. 4.
951
Silveira, Adriano de Sousa Lopes, 67.

197
nos, a nós, a honra de a executar”952. Rebelo e Rebocho procuraram seguir as diretrizes e
intenções de Sousa Lopes. Conforme explanou Domingos Rebelo, os temas “foram escolhidos
pelo mestre dentro da época maravilhosa das descobertas”. Sendo um trabalho de término da
obra delineada pelo mestre, não havendo espaço para alterações ou inovações de cariz pessoal,
não deixa de ser notório que Domingos Rebelo tenha assinado três painéis com a inscrição “D.
Rebelo pintou”. Rebelo terá sido responsável por concluir os painéis históricos, e Rebocho953
as pinturas decorativas contornando as portas da varanda954.
Os discípulos receberam materiais, utensílios e estudos do pintor necessários para término das
pinturas, a devolver à família de Sousa Lopes955. Os estudos do mestre viriam, após a
conclusão, a ser recolhidos pelo irmão, Tito de Sousa Lopes956. Em março de 1945, uma parte
da decoração pictórica encontrava-se realizada, incitando os pintores a que a comissão
procedesse a uma visita para apreciação957. A parte incumbida a Rebelo encontrava-se mais
adiantada, cabendo-lhe nessa fase maior remuneração, visto que Rebocho não conseguira
executar na íntegra o que estudara958. O trabalho obrigara a morosos estudos de dados históricos
e de pormenores relacionados com a indumentária das personagens e elementos de arquitetura
naval, o que consumiu alguns meses959. No seu parecer, Raul Lino referiu este estudo exaustivo
que englobara diversos esboços de cabeças960, figuras e indumentária, reforçando que Sousa
Lopes não deixara os conteúdos totalmente pormenorizados961. Em meados de 1946, perante a

952
Barata, Rebelo, “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”, 66.
953
Em 1947, Rebocho ganhou um concurso promovido pela Companhia Colonial de Navegação para decoração
artística do paquete Império. A proposta para um mural alegórico incluía figuras como o Infante D. Henrique e
povos indígenas de África e Ásia. Anónimo, “Foi adjudicado aos artistas Joaquim Rebocho e Aires de Carvalho
a execução dos ‘panneaux’ para os paquetes ‘Pátria’ e ‘Império’”, Diário de Lisboa, 11.03.1947, p. 4-5.
954
Carlos Silveira, “Cronologia biográfica”, in Adriano de Sousa Lopes (1879-1944). Efeitos de luz, 231.
955
Auto de entrega, 29.07.1944. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0174/01, TXT.07431824-TXT.07431825.
956
Nessa altura, Tito de Sousa Lopes considerou que os estudos necessitavam de tratamento para conservação,
solicitando apoio ao Estado, e inquirindo acerca da eventualidade de integrá-los em coleções públicas. A DGFP
averiguou junto do Museu da Assembleia Nacional e do MNAC acerca de possível interesse, sendo que os
diretores de ambos julgavam que a sua instituição seria a mais indicada para os preservar. Foi autorizada a sua
recepção em depósito na DGFP caso a família assim o entendesse: a única transferência documentada para o
Palácio da Ajuda respeita ao estudo colorido do painel do Infante, permanecendo os restantes na Casa do Regalo,
até que todos foram depositados na Escola Naval, em Almada, onde ainda hoje se encontram. Correspondência
sobre este assunto acessível no ACMF: PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/015.
957
Ofício de Domingos Rebelo para Diretor-Geral da DGEMN, 06.03.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/09, TXT.04549025.
958
Parecer da JNE (Raul Lino, Diogo de Macedo, Luís Varela Aldemira) enviado ao Diretor-Geral da DGEMN,
14.03.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0174/01, TXT.07431854.
959
Ofício de Domingos Rebelo para Diretor-Geral da DGEMN, 25.07.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/09, TXT.04549030-TXT.04549031.
960
Um dos estudos de figura para o painel de Pedro Álvares Cabral, desenhado por Joaquim Rebocho e datado de
1945, foi detetado num leilão online da Artbid decorrido em 2017. Acessível em: https://artbid.pt/en/lot/59981-
joaquim-rebocho-tecnica-mista-sobre-papel (acesso a 23.03.2020).
961
Ofício de Raul Lino para Raul Maçãs Fernandes, 08.08.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0174/01,
TXT.07431873.

198
conclusão próxima das pinturas indicada pelos artistas962, insistia-se para que sua a execução
fosse acompanhada pela comissão indicada pela JNE, para estabelecimento dos valores que
competia atribuir a cada pintor pelo trabalho963. A proposta sobre o valor da remuneração final,
de 15.000$00 a cada um dos pintores, somente em dezembro desse ano foi enviada para
consideração superior no MOPC964, evidenciando a morosidade dos processos: seis meses após
a conclusão do trabalho, os pintores ainda aguardavam pelo pagamento.
Os murais ficaram concluídos em 1947965. Não obstante, a sala fora utilizada, entretanto, para
cerimónias oficias, como o demonstram registos fotográficos da tomada de posse de Óscar
Carmona como Presidente da República em 1942. É plausível que as pinturas que se observam
nas paredes correspondam às maquetes, dadas as diferenças visíveis face às versões finais.

Fig. 89. O Chefe de Estado ouvindo ler o ato de posse, Fig. 90. O Chefe de Estado retribui os cumprimentos
ladeado pelos Presidentes do Conselho, Câmara de Ano Novo no Salão Nobre. 01.01.1954.
Corporativa e Assembleia Nacional. 15.04.1942.

Em termos estéticos, vários autores apontaram semelhanças com os Painéis de S. Vicente,


considerando a composição, a fisionomia das personagens e o hieratismo das suas poses966. Em
adição, Carlos Silveira sugeriu como base iconográfica as tapeçarias de Pastrana, que haviam
sido exibidas nas exposições de Sevilha (1929) e Paris (1931)967. Recorde-se que Sousa Lopes
acompanhara o movimento de recuperação da pintura antiga portuguesa e colhia inspiração nos

962
Ofício de Domingos Rebelo para Diretor-Geral da DGEMN, 13.07.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3226/09, TXT.04549039-TXT.0459040.
963
Ordem de Serviço n.º 6722, emitida pelo Diretor-Geral da DGEMN, 29.07.1946. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0174/02-TXT.07431916.
964
Ofício de Henrique Gomes da Silva para o Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 02.12.1946.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/09, TXT.04549050.
965
Ofício de Tito de Sousa Lopes para o Diretor-Geral da DGFP, 25.02.1947. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/015.
966
Castro, Homens e paisagens que eu conheci; Dias, “Tempos de Retrato”; Silveira, Adriano de Sousa Lopes.
967
Silveira, Adriano de Sousa Lopes, 66.

199
mestres do Quattrocento, tendo feito parte da Comissão das Comemorações Centenárias, que
organizou a Exposição do Mundo Português e a exposição sobre os “Primitivos Portugueses”.
O pintor fora, de resto, organizador, em conjunto com José de Figueiredo, da exposição L’Art
Portugais de l’Époque des Grandes Découvertes au XX Siècle no Musée Jeu de Paume, por
ocasião da citada Exposição Colonial de Paris968.

Cinco das pinturas localizam-se na parede interna do salão, em face da varanda, e duas de
maiores dimensões encontram-se nas laterais. Observando a narrativa, iniciada na partida das
caravelas sob direção do Infante D. Henrique – considerado por Sousa Lopes como “o criador
do mundo novo [...] a quem se deve a dilatação de Portugal”969 –, passando pela conquista de
Ceuta, o padrão no rio Congo por Diogo Cão, a passagem do Cabo das Tormentas, a primeira
missa no Brasil e Afonso de Albuquerque na conquista de Malaca, terminando na chegada a
Calecute sob Vasco da Gama, compreende-se que se trata de uma ilustração do projeto colonial
português. Há uma nítida manifestação de poder identificada com o regime e com a missão
civilizadora que era adscrita à presença nas colónias, verificando-se duas atitudes distintas em
relação à representação do “outro”: confronto beligerante, como nos casos das conquistas de
Ceuta e de Malaca vencendo muçulmanos, e encontro pacífico, sublinhando a reverência e o
exotismo primitivo dos indígenas, patente nas representações no Brasil e no Congo – na linha
dos valores assimilacionistas do discurso luso-tropicalista, que o regime viria a defender como
direito histórico sobretudo a partir da década de 1950970.

968
Baião, José de Figueiredo, 340-374.
969
Anónimo, “Uma dívida que é preciso pagar. O sr. Sousa Lopes aplaude a ideia de se erigir em Sagres o
monumento ao Infante D. Henrique”, p. 8.
970
Cláudia Castelo, “‘Novos Brasis em África’. Desenvolvimento e colonialismo português tardio”, Varia
Historia 30, 53 (2014): 507-532.

200
Fig. 91. Salão Nobre do Palácio de São Bento. 2018.

Fig. 92. Salão Nobre do Palácio de São Bento. 2018.

201
Após a conclusão das pinturas, o espaço foi alvo de trabalhos de engenharia civil, como
reparações de pavimento, caixilhos de madeira das janelas, lambris, fendas, entre outros971,
necessários para utilização do salão. Era também urgente mobilá-lo, devido à sua importância
“para a vida de representação política que necessariamente tem de fazer-se no Palácio da
Assembleia Nacional” e para “satisfazer os objectivos que justificaram a sua construção”972.
Em junho de 1947, mediante a necessidade de mobilar o salão para a próxima cerimónia de
tomada de posse do Presidente da República, a CAM sugeriu que tal tarefa, que “deverá ser
cuidadosamente estudada por um técnico especializado” por se tratar de um espaço
magnificente, fosse acometida a Raul Lino973. Na impossibilidade de o arquiteto intervir nesta
sala, a CAM procurou saber a opinião dos secretários da Assembleia Nacional, Joaquim Leitão
e Costa Brochado, acerca das necessidades de mobiliário para a referida sala, que se revelaram
de dimensão reduzida974. Ainda em setembro de 1948, a comissão rogava a Costa Brochado
que fornecesse os elementos necessários a este assunto975, que, entretanto, o submetera à
Presidência do Conselho, revelando que ao longo dos anos tentara resolvê-lo em vão por meios
próprios976. O secretário-geral da Assembleia Nacional comunicou o que se pretendia para o
salão, que deveria permanecer amplo dado que funcionava para receções com vasto público:
três tapetes (um central de maiores dimensões e dois para as cabeceiras da sala), bancos
compridos “a marfim e oiro, com estofo de carmezim (sic)”977, eventualmente uma mesa
central em talha dourada com tampo de mármore, devendo ser ponderada a inclusão de sofás
ou de credencias douradas e espelhos nos recantos, para além de reposteiros de veludo
vermelho, gelosias e velários para as janelas. Salazar despachou que esta informação deveria
ser posta à consideração do Ministro das Obras Públicas.
Luís Benavente esteve envolvido no processo de conclusão da sala, em 1949, após solicitação
do ministro978. O arquiteto deu conta das necessidades em falta, tanto no que respeita a

971
Relatório de engenheiro civil [assinatura ilegível], 02.11.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0180/08.
TXT.07433502-TXT.07433503
972
Ofício do Chefe de Gabinete da Presidência do Conselho para o Chefe de Gabinete do MOP, 09.05.1946.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH.005/125-3224/03, TXT.04546783.
973
Ofício da CAM [autor: Luís Benavente?] para do Diretor-Geral da DGEMN, 02.06.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0221/10, TXT.07150476.
974
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Presidente da CAM, 13.06.1947; Ofício da CAM para do Diretor-
Geral da DGEMN, 21.06.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/10, TXT.07150477; TXT.07150478.
975
Ofício de Raul Lino (pela CAM) para Secretário Geral da Assembleia Nacional, 08.09.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0221/10, TXT.07150450.
976
Ofício de Costa Brochado para Chefe de Gabinete da Presidência do Conselho, 26.08.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/04, TXT.04546797.
977
Ofício de Costa Brochado para Chefe do Gabinete do MOP, 05.02.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3224/04, TXT.04546800.
978
Luís Benavente, Informação, 18.02.1949, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/07, TXT.07150664.

202
acabamentos como reparação de caixilhos, pintura de paredes, enceramento do pavimento ou
remoção de entulho, como à dotação de mobiliário. Importava que o mobiliário fosse estudado
considerando as funções da sala, nomeadamente “cerimónias de cumprimentos, densas
receções, além de ser o ponto de passagem para a varanda de intercolúnio onde é feita a
proclamação do Chefe de Estado”979. Deste modo, os sofás que pertenciam ao Salão Nobre,
deslocados para execução das pinturas murais, não se coadunavam ao espaço devido às suas
“dimensões, desenho do tecido e expressão de comodidade”980. As três credências a integrar
não deveriam possuir alçado para servirem de base a relógios de bronze, candelabros e objetos
decorativos. Ao conjunto adicionava, ainda, dois bancos compridos estofados a veludo,
cortinas e reposteiros de cor verde, doze cadeiras e três tapetes de composição clássica.
Benavente punha de lado a opção de utilizar mobiliário existente nos palácios nacionais, por
assegurar que seria possível que o trabalho ficasse concluído dentro do prazo pretendido, por
ocasião da cerimónia de tomada de posse do Presidente da República, Óscar Carmona, a
20.04.1949. Tal previsão foi cumprida, tendo a execução do mobiliário e dos cortinados sido
adjudicada à fábrica Olaio. Para espaços adjacentes que fizeram parte do percurso da
cerimónia, Luís Benavente solicitara a realização de pinturas e pequenos arranjos, por forma a
que não houvesse defeitos a apontar981. Refira-se que, no início da década de 1940, o arranjo
da antecâmara do salão fora estudado por Cristino da Silva, recebendo sofás e reposteiros da
Casa Jalco e placas de cristal para iluminação nas paredes982. Os “esforço, boa vontade,
inteligência e zelo” com que o arquiteto Benavente conduziu os trabalhos foram elogiados por
Costa Brochado, congratulando-o por contribuir para o “brilhantismo daquele acto solene”983.

2.9. Remodelações a partir da década de 1950

A delegação das obras foi extinta com o término dos trabalhos e a entrada em funcionamento,
de forma regular, da Assembleia Nacional. Não obstante, e apesar de não se tratar de um
edifício classificado, enquadrava-se numa zona especial de proteção e correspondia a um dos

979
Ibid.
980
Ibid.
981
Luís Benavente, Informação, 11.04.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/07, TXT.07150691.
982
Ofício de Leal de Faria para Diretor-Geral da DGEMN, 19.12.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3219/03, TXT.04543863-TXT.04543864.
983
Ofício de Costa Brochado (Secretário-Geral da Assembleia Nacional) para Chefe do Gabinete do Ministro das
Obras Públicas, 23.04.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/09, TXT.04549002.

203
imóveis oficiais de proa do regime, pelo que o acompanhamento de obras e transformações
pela DGEMN nos anos sequentes foi natural.

Em 1950, ano de remodelação governamental, o escultor Maximiano Alves recebeu um convite


do MOP para executar dois bustos em bronze para o palácio, representando os deputados e
ministros António Cândido (1852-1922) e Hintze Ribeiro (1849-1907). A escolha recaiu sobre
o artista pelas provas que já dera da sua competência – recorde-se que executara peças para o
palácio em diferentes momentos984 –, uma vez que se tornava imprescindível encarregar um
“escultor de reconhecida competência e idoneidade”985 para um trabalho exigindo minúcia e
dedicação. Ademais, a proposta de orçamento apresentada afigurou-se aceitável, pelo que,
como vinha sendo habitual, se prescindiu do concurso público. As versões em barro 986 foram
aprovadas por Raul Lino para passagem a bronze, que as observou no atelier do artista,
localizado na Avenida da Igreja, em Lisboa987. As peças estavam concluídas em dezembro
desse ano, sendo colocadas no átrio de entrada do edifício.

A designação, pela primeira vez, do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, em


1950 – cargo atribuído a João Pinto da Costa Leite (Lumbrales) (1905-1975), anteriormente
Ministro das Finanças – implicou reestruturações no edifício, com vista a dotar o ministro de
um gabinete condigno. O arranjo, que também considerou o gabinete do respetivo secretário,
a sala de reuniões e o corredor, ficou a cargo de Luís Benavente, presidente da CAM,
acarretando beneficiações como colocação de tecidos de cor uniforme nas paredes – aspeto que
não agradou ao ministro Ulrich, que preferia que se optasse pela pintura988, desejo ao qual se
acabaria por aceder989 –, eliminação de lambris por forma a melhorar as proporções do gabinete
do ministro ou abertura de portas990. O mobiliário e os elementos decorativos foram

984
Nomeadamente a escultura da Diplomacia (1921) que decora o hemiciclo, a estátua da Justiça (1938) no topo
da escadaria da fachada principal, e o motivo decorativo com putti para o gabinete do Presidente da Câmara
Corporativa (1935).
985
Ofício do Diretor Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 27.07.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/06, TXT.04545153.
986
A versão em barro de António Cândido terá sido depositada no Museu Municipal de Amarante, após pedido
dessa instituição consentido pelo MOP. Troca de ofícios em 1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3221/06, TXT.04545199, TXT.04545207, TXT.04545210-TXT.04545211.
987
Parecer de Raul Lino (em papel timbrado da DNISP), [Outubro 1950]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-3221/06, TXT.04545186.
988
Despacho do Ministro das Obras Públicas de 26.10.1950, transcrito em ofício do Diretor-Geral da DGEMN
para o Presidente da CAM, 01.11.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150597.
989
Ofício de Luís Benavente (DSMN) para o Diretor-Geral da DGEMN, 22.06.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01, TXT.04535583.
990
Luís Benavente, Memória Descritiva: Ministério da Presidência – Arranjo do Gabinete do Ministro,
09.10.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150591-TXT.07150596.

204
selecionados com vista a completar o ambiente, referindo-se a incorporação de peças como
uma secretária para o ministro interpretando uma peça antiga com ferragens e trabalho de talha
“idênticos aos dos modelos existentes no Museu das Janelas Verdes”991, de uma “mesa tipo
Renascença”992 para a sala de reuniões, ou de um fauteuil “forrado com veludo da melhor
qualidade e aprovado pela fiscalização, tipo Chippendale rico”993, prevalecendo, portanto, o
gosto de cariz conservador por móveis históricos, numa manutenção dos ambientes definidos
há duas décadas.

Fig. 93. Gabinete do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros. S.d.

Para além da aprovação pelo Ministro das Obras Públicas, era imprescindível que o Ministro
da Presidência desse o seu aval positivo. Após convite a diversas empresas para apresentação
de propostas de orçamento para o mobiliário, Lumbrales indicou a escolha de algumas peças à
firma Móveis Serrano, das Caldas da Rainha, com a qual a secretaria da Presidência não tinha

991
Condições para o fornecimento de mobiliário para o gabinete do Ministro da Presidência, [1950]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150584.
992
Luís Benavente, Memória Descritiva: Ministério da Presidência – Arranjo do Gabinete do Ministro,
09.10.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150594.
993
Condições para o fornecimento de mobiliário para o gabinete do Ministro da Presidência, [1950]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150584.

205
experiência994. De facto, verificaram-se alguns defeitos de fabrico nesse mobiliário, devido ao
uso de madeira verde, o que implicou a sua substituição pela empresa995.
Em 1954, há indicação de terem sido transferidos móveis e objetos decorativos do gabinete do
Ministro das Finanças, que então transitava para o novo edifício na ala oriental da Praça do
Comércio, para o gabinete do ministro da Presidência, incluindo jarras de porcelana chinesa,
armários, mesa e cadeiras em pau santo, duas pinturas, um relógio de sala e um par de
castiçais996.

Em 1952, procedeu-se à remodelação da sala ocupada pela Academia de Ciências, localizada


no andar nobre no ângulo norte-poente, destinada a servir de sala de reuniões da Câmara
Corporativa, sendo alcatifada e modificando-se o lustre de madeira para duplicação da
capacidade de iluminação997. Nesse ano, Luís Benavente foi encarregue de estudar a
remodelação, sem inclusão de mobiliário, da sala da Assembleia Nacional contígua à sala onde
nessa altura reunia o Conselho de Ministros, destinada a sala de espera dos membros do
Governo998. Nesta altura, executou-se a adaptação do gabinete do Presidente da Câmara
Corporativa a sala de reuniões do Conselho de Ministros para o Comércio Externo999. José
Frederico Ulrich visitou a sala reconvertida para pequenas reuniões ministeriais na companhia
do Ministro da Presidência, chegando ambos à conclusão de ser necessário alcatifá-la devido à
irregularidade do soalho1000.

Em meados de 1950, organizou-se a ala da biblioteca, com encomenda de mobiliário e


equipamentos a empreiteiros e a firmas estabelecidas no mercado, assunto que passava pela 1.ª
secção da Repartição Técnica da DSMN1001. À data, o arquiteto João Vaz Martins era diretor

994
Ofício do Chefe da Secretaria da Presidência do Conselho para Diretor Geral da DGEMN, 06.01.1951.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150635.
995
Luís Benavente, Informação, 18.02.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/06, TXT.07150643.
996
Relação dos móveis transferidos do gabinete de Sua Excelência o Ministro das Finanças para o de Sua
Excelência o Ministro da Presidência, 30.03.1954. ACMF: Fundo SGMF, 323/66.
997
Vários ofícios. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0221/08 e PT/DGEMN/CAM-0221/09.
998
Nota do Ministro das Obras Públicas para o Diretor-Geral da DGEMN, 24.10.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/05, TXT.04545138.
999
Este grupo foi criado em 1936 para “defesa da economia portuguesa nas difíceis circunstâncias da concorrência
internacional presente”, devendo reunir uma vez por semana (Decreto-lei n.º 26782, 13.07.1936). A sua
composição foi modificada após oito anos, passando as reuniões a ser quinzenais (Decreto-lei n.º 36967,
14.07.1948).
1000
Cópia do ofício do Ministro das Obras públicas para o Diretor-Geral da DGEMN, 29.09.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1500, TXT.00509379.
1001
P. ex., ofícios e memórias descritivas relativas à execução e aquisição de estantes metálicas para o depósito
da biblioteca, 1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1501.

206
interino dos serviços, e Fernando Peres de Guimarães ocupava o cargo de arquiteto chefe da
repartição técnica.
Outras zonas que vinham sendo desocupadas, como o antigo arquivo, necessitavam de
intervenções de fundo, neste caso para receção dos serviços da secretaria da Presidência do
Conselho, que viria a ocupar a parte nascente-sul do edifício1002: não só arranjos e reparações
pontuais, mas construção de instalações sanitárias ou de tetos1003. Pretendeu-se, nesta
campanha, tornar cada departamento independente, integrando divisórias e guarda-ventos e
arranjando corredores1004. Os serviços da referida secretaria foram transferidos antes do
término das obras, com escadaria de acesso em mau estado e alguns elementos, como o
ascensor, não haviam sequer sido iniciados, o que motivou queixas por parte do secretário da
Assembleia Nacional1005. Até então, essa secretaria havia estado distribuída por zonas distintas
do edifício: havia dependências perto do gabinete do secretário, no andar nobre, e
compartimentos na ala poente, ocupando também compartimentos para arquivo1006. Acusara-
se a falta de condições – já notada anos antes1007 – e de espaço nessa organização dispersa dos
funcionários, bem como a carência de mobiliário adequado. Considerando a recente integração
de novos serviços na orgânica da Presidência do Conselho, como por exemplo o almoxarifado,
que permanecia na área afeta à secretaria, e mesmo que nem todos se localizassem no edifício,
o Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, então Marcelo Caetano, julgava
conveniente um melhor aproveitamento dos espaços e a expansão dos serviços sob sua alçada.
Sugeriu transferir o arquivo da Assembleia Nacional para as traseiras do edifício, expandir os
serviços da Presidência do Conselho para salas que se encontravam desocupadas, e concentrar
os serviços da secretaria da Assembleia numa área maior, o que implicava algumas
beneficiações e adaptações pontuais. Considerando que a sala ocupada pela estação telefónica

1002
A ala direita destinava-se aos serviços da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa.
1003
Memória Descritiva: Assembleia Nacional - Diversas obras - instalação dos serviços da secretaria, 1.ª fase,
31.05.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1501, TXT.00510228.
1004
Ofício do Eng. José Ferreira da Cunha (Dir. Edifícios de Lisboa) para Diretor-Geral da DGEMN, 21.01.1958.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/04, TXT.04548403-TXT.04548404.
1005
Cópia do ofício do Secretário da Assembleia Nacional para Eng. Ferreira da Cunha (Diretor da Repartição
dos Edifícios e Monumentos Nacionais), 17.04.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1501,
TXT.00510308.
1006
Ofício do Ministro da Presidência para o Ministro das Obras Públicas, 23.12.1957, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/04, TXT.04548416.
1007
Ofício do Ministro da Presidência para o Ministro das Obras Públicas, 28.07.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1500, TXT.00509502.

207
seria adequada para receber serviços da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho1008,
transferiram-se os serviços telefónicos para o local do refeitório do pessoal no piso térreo1009.

Tornou-se necessário valorizar o átrio de entrada na zona ocupada pela Presidência do


Conselho, junto da entrada principal da Assembleia Nacional, por se revelar desconfortável.
Não concordando com a colocação de uma passadeira de borracha ou tecido no átrio, o
arquiteto Nuno Beirão sugeriu que o pavimento pétreo fosse mantido à vista e elevado1010. Em
adição, ponderou algumas beneficiações para o vestíbulo dos ascensores, deslocando-os e
aumentando o vão do átrio; assim, poder-se-ia remover a porta de madeira existente, alargando
o espaço. O arquiteto considerava os elevadores inestéticos e antiquados, comprometendo a
melhoria dos acessos à Presidência do Conselho1011. Também sugeriu a colocação de um
guarda-vento na porta de acesso ao claustro, criando uma antecâmara, e o melhoramento da
iluminação no vestíbulo do porteiro, para além do necessário arranjo com mobiliário e
elementos decorativos adequados ao local. O mobiliário, predominantemente em madeira de
carvalho, foi adjudicado à firma de Joachim Mitnitzky, que possuía peças mais apropriadas à
finalidade, incluindo armário, mesa com gavetas, cadeirões e cadeiras forrados a pele e
pendentes de veludo para os vãos1012.

Também os jardins do palácio careciam de remodelação profunda por volta de 1955, sendo
levados a cabo trabalhos faseados, incluindo remoção de entulhos, drenagem de canteiros,
calcetamento de pavimentos e disposição de terras, entre outros, nas várias zonas ajardinadas
– das traseiras e do claustro ao exterior defronte dos edifícios1013. O pormenorizado plano
partira do secretário da Presidência do Conselho, que ficara responsável pelos jardins em
janeiro desse ano1014, e recebera o aval de Marcelo Caetano1015. O próprio Salazar dera nota de

1008
Ofício do Arquiteto Diretor da DSMN para para Diretor-Geral da DGEMN, 22.05.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512462-TXT.00512463.
1009
Ofício de João Vaz Martins (DSMN) para Diretor-Geral da DGEMN, 29.04.1959. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/04, TXT.04548429.
1010
Ofício do arquiteto chefe da 1.ª secção da Repartição Técnica da DSMN para arquiteto chefe da Repartição
Técnica da DSMN, 25.03.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512515-
TXT.00512517.
1011
Nuno Beirão, Memória, 02.01.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3230/06, TXT.04551612-
TXT.04551614.
1012
CAM, Parecer: Fornecimento do mobiliário e decoração para o átrio de entrada da Presidência do Conselho,
01.03.1961. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0102/12, TXT.07069238.
1013
Diversos ofícios da DSMN/DGEMN, 1955 e anos seguintes. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1501.
1014
Através do Decreto-Lei n.º 39889, 05.11.1954.
1015
Cópia do ofício do Secretário da Presidência do Conselho, 23.12.1955. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512417-TXT.00512419.

208
que o tabuleiro de buxo sobre o lago, nas traseiras, se encontrava em mau estado, levando a
que Arantes e Oliveira, Ministro das Obras Públicas, solicitasse examinação e resolução do
assunto1016. A falta de verbas impediu, até inícios de 1959, que se realizassem os trabalhos
relativos à Praça de S. Bento e à frente do edifício1017; os restantes, relativos ao claustro e aos
jardins da fachada posterior, encontravam-se terminados.

As sessões da Câmara Corporativa realizavam-se, desde a sua criação, na sala anteriormente


utilizada para realização das sessões da Câmara do Senado. As 86 carteiras existentes vinham-
se revelando, em todas as legislaturas, insuficientes para o número de procuradores da câmara,
particularmente nas sessões solenes, apontando-se tal falha em 1958 perante a iminência do
constante aumento1018. Foi pedido, após consentimento de Marcelo Caetano, que se estudasse
o arranjo da sala. Elísio Summavielle, então arquiteto chefe da 1.ª secção da Repartição Técnica
da DSMN, propôs a concretização de um anteprojeto que solucionasse o problema, encarando
a necessidade de substituir integralmente o mobiliário existente e rearranjando a disposição da
sala. Outro problema relacionava-se com as correntes de ar que se faziam sentir no edifício,
sobretudo durante o Inverno, e com expressão acentuada na sala das sessões da Assembleia
Nacional, intercedendo-se para que se resolvesse a situação através da colocação de um guarda-
vento envidraçado junto dos elevadores dos Passos Perdidos, que estariam na origem da
circulação de ar1019.

Em 1963, foi autorizada a cedência de uma pintura do Museu Nacional de Arte Antiga,
intitulada Virgem em Glória e Anjos, para decoração do gabinete do Subsecretário de Estado
da Presidência do Conselho, então em remodelação1020. A sala de espera junto do gabinete do
Presidente do Conselho e o gabinete do seu secretário foram remodelados em 1964, incluindo
novo arranjo de mobiliário, a cargo da CAM. Se para a sala de espera se considerou que seria
suficiente a reparação dos estofos dos móveis de assento, no gabinete entendeu-se reformular

1016
Cópia de despacho de Arantes e Oliveira, 28.01.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.
TXT.00512443.
1017
Ofício do arquiteto chefe da 1.ª secção da Rep. Técnica da DSMN para arquiteto chefe da repartição,
05.02.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512503.
1018
Cópia de ofício de Costa Brochado (Secretário da Assembleia Nacional) para o Ministro da Presidência,
05.03.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512451.
1019
Ofício do Secretário da Presidência do Conselho para Diretor-Geral da DGEMN, 26.01.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/07, TXT.04546948-TXT.04546949.
1020
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para o Diretor-Geral da DGEMN, 29.05.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1505, TXT.00512916.

209
o mobiliário existente para lhe conferir um aspeto diferente1021. Foi selecionada como mais
adequada a proposta da Casa de Decorações Joachim Mitnitzky1022, cujo mobiliário de estética
atual e de conforto elevado incorporava elementos que estilisticamente se aproximavam “da
época deste edifício”1023, preferindo-se a opção em mogno polido com sugestão de algumas
peças em carvalho. A CAM delineava algumas alterações, como o aproveitamento do tapete
existente na sala e do armário de estilo Renascença que aí teria estado, a substituição de 15
fauteuils de braços por cadeiras simples, a aquisição de um lustre de latão dourado de estilo
Luís XV ou Luís XVI, e, ainda, o empréstimo de duas telas pertencentes a museu ou palácio
nacional para decoração parietal. Essa sugestão de cedência de pinturas fora sugerida pelo
Centro Fornecedor de Móveis1024 e pela Companhia de Grandes Armazéns Alcobia nas
propostas de fornecimento de mobiliário, a última concretizando as coleções do MNAA e
mencionando tratar-se de prática comum por parte das entidades oficiais, logo legítima dado
que esta sala também constituía património nacional, e assim se atenuariam as finanças do
Estado1025. Arantes e Oliveira reforçou que, antes de qualquer decisão, era imprescindível que
o arquiteto diretor da DSMN e o presidente da CAM consultassem a opinião de Salazar, através
de diligência direta junto do seu gabinete1026, o que atesta a permanente vigilância do Presidente
do Conselho nestas matérias.

As obras de melhoramento perduraram na década de 1960, com arranjos nos corredores do


andar nobre e em gabinetes, como os do Ministro de Estado adjunto da Presidência do Conselho
(que substituiu o Ministro da Presidência) e do Subsecretário de Estado1027. O cargo de Ministro
de Estado era então ocupado por José Gonçalo Correia de Oliveira (1921-1976), tendo sido
pedido um estudo para arranjo do seu gabinete no tocante a mobiliário e decoração que lhe
imprimisse um carácter digno e sóbrio1028, ponto considerado como o mais urgente, levado a

1021
Ofício do Diretor da Direcção dos Edifícios de Lisboa para Diretor dos Serviços de Conservação, 19.06.1964.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0322/04, TXT.07206448.
1022
Joachim Mitnitzky, Proposta, 21.08.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0322/04, TXT.07206470-
TXT.07206475.
1023
CAM, Parecer n.º 79/64: Arranjo da sala de espera anexa ao gabinete de Sua Excelência o Senhor Presidente
do Conselho de Ministros, 06.10.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3882/01, TXT.04946084.
1024
Centro Fornecedor de Móveis, Proposta, 10.08.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0322/04,
TXT.07206483.
1025
Companhia de Grandes Armazéns Alcobia, Proposta, 10.08.1964, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN-CAM-
0322/04, TXT.07206478.
1026
Despacho manuscrito de Arantes e Oliveira sobre Parecer n.º 79/64 da CAM, 07.10.1964. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3882/01, TXT.04946084.
1027
Vários documentos. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1504.
1028
Ofício de João Vaz Martins para Diretor Geral da DGEMN, 11.07.1961, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3255/04, TXT.04565023.

210
cabo pelo arquiteto João Vaz Martins1029. As obras de transformação, englobando
rebaixamento de teto e modificação de duas janelas, apontadas pelo arquiteto, ficariam para
uma fase de intervenção posterior1030. A encomenda de mobiliário foi feita à Casa Joachim
Mitnitzky, que já provara a sua competência; foi a única concorrente, apesar de ter sido feito
convite a mais empresas. A empreitada incluía mobiliário diverso, de secretárias, estantes e
mesas de telefone em nogueira a candeeiros, sofás e cadeiras com pés torneados e guarnecidas
com pregos de latão1031. Sem indicações de cariz estético, referia-se utilização de materiais de
primeira qualidade, presumindo-se que, na linha das remodelações anteriores, se privilegiasse
uma linha que harmonizasse com o carácter do edifício. Da visita prévia ao espaço, Vaz Martins
mencionou que o mobiliário existente conjugava uma mistura de estilos sem coerência ou
unidade e que não se coadunava com os lambris de carvalho, sendo que algumas peças não
haviam sido executadas especificamente para a sala1032. Completava-se o gabinete com
utensílios e objetos decorativos, como cinzeiros de cristal, um cavalo de cerâmica e jarras de
flores1033. Foram, também, feitos pedidos ao MNAA e ao MNAC para cedência de pinturas ou
gravuras para decoração do gabinete, sabendo-se que o primeiro museu não acedeu por não
possuir peças adequadas1034.

A restruturação de serviços determinava, evidentemente, que se reformulasse a sua distribuição


de forma eficiente e se adequassem as instalações aos novos fins, tarefa nem sempre de fácil
resolução. Nos finais da década de 1960, após conversas com o Ministro de Estado acerca das
necessidades do seu gabinete e da sala de reuniões do Conselho de Ministros, o arquiteto Nuno
Beirão, como vimos responsável pela remodelação do gabinete do Presidente do Conselho,
apresentou o estudo de remodelação do gabinete e sala de espera do ministro, do gabinete dos
seus secretários, e a criação de um novo salão para o conselho aproveitando a existente Sala

1029
Cópia de ofício de João Vaz Martins para Diretor Geral da DGEMN, 16.11.1961. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0102/14, TXT.07069362.
1030
Despacho manuscrito de Arantes e Oliveira de 26.07.1961, inscrito no ofício de João Vaz Martins para Diretor
Geral da DGEMN, 11.07.1961, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3255/04, TXT.04565023.
1031
Joachim Mitnitzky Decorações, Lda., Orçamento - Mobiliário destinado ao gabinete de S.Exa. o Ministro de
Estado, 19.01.1962. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0102/14, TXT.07069366-TXT.07069367.
1032
Ofício de João Vaz Martins para Diretor Geral da DGEMN, 11.07.1961, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3255/04, TXT.04565023.
1033
Ofício de João Vaz Martins para Presidente da CAM, 22.06.1962. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0102/14,
TXT.07069386.
1034
Ofício de José Pena Pereira da Silva (Diretor Geral da DGEMN) para Diretor do MNAC, 03.08.1962.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3255/04, TXT.04565093.

211
Dourada e respetiva galeria, bem como a integração de uma sala de menores dimensões para
reuniões de cariz mais restrito e anexa sala de espera1035.
Em termos estilísticos, procurar-se-ia harmonizar os materiais e soluções decorativas com o
restante edifício, incluindo reposteiros de veludo, uma tapeçaria parietal e mobiliário sóbrio e
moderno, em madeira de mogno, passível de diferentes arranjos, e ainda elementos como um
ecrã para projeções e um quadro para anotações e esquemas. O mobiliário planeado para a
anexa sala de espera, onde o ministro recebia visitas oficiais, substituiu as peças em estilo
Império, consideradas um “perfeito absurdo como gabinete de um Ministro dos nossos dias,
forçado a um dinamismo que a solução dos problemas actuais exige”1036. Essas peças, que
também o Secretário-Geral da Assembleia Nacional, Costa Brochado, considerava impróprias
pela sua antiguidade “com cinco ou seis dezenas de anos”1037, deveriam ser empregues na
decoração de salas de algum palácio nacional, como Queluz, Necessidades ou Ajuda1038.
Porém, acabaram por ser armazenadas nos depósitos da DGFP, no Palácio da Ajuda1039. Nuno
Beirão salientava, aliás, a importância de estabelecer um “garde-meuble nacional”1040 na
DGFP, com avaliação por parte da CAM do mobiliário devolvido à repartição do património
dessa Direção Geral que fosse digno de integrar o depósito, evitando a dispersão ou venda de
peças com utilidade futura para o Estado. Não obstante, o arquiteto considerou que alguns
móveis da sala adjacente eram passíveis de aproveitamento com adaptações. Para a sala de
reuniões tornou-se necessário fornecer uma mesa em U, em madeira de carvalho com tampo
em pele e pormenores dourados1041, e 21 fauteuils correspondentes1042.

1035
Nuno Beirão, Memória Descritiva: Remodelação das instalações na Presidência do Conselho, 24.02.1969.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID/001/011-1506/2, TXT.00513092-TXT.00513090.
1036
Arquiteto de 2.ª classe da DSMN (assinatura ilegível), Memória: Palácio da Assembleia Nacional -
Remodelação do gabinete do Ministro de Estado, 09.04.1969, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3255/04, TXT.04565191.
1037
Ofício do Secretário Geral da Assembleia Nacional para o Diretor Geral da DGEMN, 01.04.1971.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02, TXT.04566472.
1038
Já na remodelação anterior deste gabinete haviam sido retiradas lanternas, que se equacionaram enviar para o
Palácio de Queluz para integração da Casa de Chá, então em obras. Ofício do Diretor Geral da DGEMN para a
DGFP, 13.03.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/09, TXT.04550256.
1039
Nuno Beirão, Remodelação da sala anexa ao gabinete do Presidente da Assembleia Nacional, no Palácio de
S. Bento, 14.06.1971, p. 2. PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02, TXT.04566471.
1040
Ibid.
1041
Propostas de fornecimento de diversas firmas, 18.11.1969. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0183/13,
TXT.07125107-TXT.07125108.
1042
CAM, Fornecimento de mobiliário de madeira e outros artigos para o Gabinete de Sua Excelência o Ministro
de Estado, no Palácio da Assembleia Nacional (Relação), [novembro 1969]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-
0183/20, TXT.07125241.

212
A remodelação dos elementos decorativos do gabinete e sala de espera do ministro, como as
molduras da sanca, ficou a cargo da Fundação Ricardo Espírito Santo (FRES)1043. No gabinete,
realça-se a remoção das pilastras de cantaria e do fogão de mármore com relógio, bem como
dos tecidos decorativos das paredes, e o rebaixamento do teto. No fundo, a pretensão do
ministro passava por tornar o gabinete num espaço de trabalho funcional apto a reuniões
pequenas, com mesas e elementos de apoio para diverso tipo de documentos, ultrapassando o
mero cariz de “requintada sala de visitas”1044 com sofás e banquetas para descanso enquadrados
por reposteiros drapeados com borlas. O ministro congratulou o MOP e a DGEMN após a
conclusão dos trabalhos pela rapidez e rigor, destacando o profissionalismo do arquiteto Nuno
Beirão1045. Num período em que Marcelo Caetano tomara a dianteira do Governo, denota-se,
através deste exemplo, que se procurava coadunar a organização e a decoração dos espaços
com o espírito de rigor e trabalho que se almejava para os cargos de decisão política. Neste
sentido, é de estranhar a nota laudatória no Diário Popular acerca do trabalho da FRES no
edifício, uma vez que indica que tanto o gabinete do ministro como a sala de receções e a sala
de reuniões do Conselho seriam restituídas “à época de construção do edifício”1046, respeitando
o mobiliário e decorações existentes nessa altura.
Digna de menção é, ainda, a opinião de Costa Brochado, que durante o processo expressara ao
arquiteto que o arranjo de gabinetes dos organismos estatais deveria pautar-se unicamente pelo
“critério da entidade responsável e nunca ao sabor do gosto pessoal dos respectivos
utentes”1047. Na realidade, e conforme ainda sucede nos dias de hoje, os funcionários da
administração pública, independentemente do lugar ocupado na hierarquia, tendiam a
manifestar-se e a adaptar os espaços que ocupam às suas preferências pessoais, ultrapassando
o facto de que o cargo em desempenho possuir um limite temporal finito e de se encontrarem
em representação de uma instituição.

1043
Ofício da DSC para o Diretor Geral da DGEMN, 21.01.1967. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3255/04, TXT.04565141-TXT.04565138.
1044
Arquiteto de 2.ª classe da DSMN (assinatura ilegível), Memória: Palácio da Assembleia Nacional -
Remodelação do gabinete do Ministro de Estado, 09.04.1969, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
3255/04, TXT.04565191.
1045
Ofício do Ministro de Estado para o Ministro das Obras Públicas, 19.09.1969. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02, TXT.04566337.
1046
“A Fundação e o Palácio de S. Bento”, Diário Popular, 29.11.1968 [recorte]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID/001/011-1506/2, TXT.00513084.
1047
Informação de Nuno Beirão, 11.09.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02,
TXT.04566485.

213
Fig. 94. O Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, no seu gabinete, acompanhado por membros do Governo.
01.10.1968.

Dois anos volvidos sobre esta intervenção, a DSC e a CAM recuperaram a proposta constante
do estudo de Nuno Beirão de integrar uma tapeçaria mural na sala de Conselhos de
Ministros1048, entendida como motivo decorativo central capaz de conferir significado e
dignidade à sala1049. Sugeriu-se encarregar Guilherme Camarinha do cartão, dada a sua longa
experiência, enviando-se em conjunto um estudo prévio do artista. Tanto a Secretaria-Geral da
Presidência do Conselho, como o Diretor-Geral da DGEMN e o Ministro das Obras Públicas
concordaram com a sugestão. O trabalho foi executado, como habitual, na Manufatura de
Tapeçarias de Portalegre, estando a tapeçaria assinada e datada de 1973. Atualmente exposta
no corredor junto da entrada lateral do edifício1050, a tapeçaria constava ainda da sala aquando
da primeira reunião do Conselho de Ministros do I Governo Provisório pós-25 de abril.
Intitulada A Pátria1051, a profusa composição desenvolve-se sobre um fundo de tonalidade
vermelha, a partir de uma rosa dos ventos localizada no canto superior esquerdo, contendo o
mapa de Portugal ao centro, disposta sobre um fundo recortado no qual se dispuseram, sobre
uma representação esquemática dos oceanos, os territórios das colónias portuguesas. Da rosa
dos ventos parte uma espiral ascendente, definida por folhagem de acanto e de carvalho e cujo
término ilumina o canto superior direito. Junto da espiral integram-se as figuras de maior
dimensão desta composição, junto da bandeira nacional. Trata-se de figuras alegóricas

1048
Atualmente, esta sala é utilizada como sala de visitas do Presidente da Assembleia da República.
1049
Ofício do Diretor dos Serviços de Conservação ao Diretor Geral da DGEMN, 25.02.1971. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02, TXT.04566422.
1050
Nos inícios de 2020, a tapeçaria foi recolocada no corredor junto da entrada lateral do edifício, após uma
intervenção de limpeza. Informação prestada por Miguel Sousa Lara aquando da visita ao edifício, realizada em
28.02.2020.
1051
Peça do mês do MAR, Maio 2013. Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/MatrizWebAR/DetalhesObra?id=6523&tipo=OBJ (acesso a 15.07.2021).

214
acompanhadas de atributos, desnudas ou apenas cobertas por panejamentos simples,
simbolizando, respetivamente, o trabalho braçal e o pensamento intelectual, através de duas
figuras masculinas introspetivas e concentrada, a defesa da pátria (ou justiça?) com uma figura
masculina de pé apoiando-se numa espada, e os valores da família através de uma figura
feminina segurando num bebé. O entorno é povoado por cenas que se encadeiam relativas à
aspetos marcantes da História de Portugal, desde o canto inferior esquerdo e desenvolvendo-
se no sentido dos ponteiros do relógio: da fundação da nacionalidade, passando pela
reconquista e pelas viagens de exploração marítima, à restauração da independência, à
colonização de territórios extraeuropeus e à oposição às invasões francesas. O intuito
ideológico é claro, visto que a composição reforça o poder e a suposta legitimidade de Portugal
no contexto das guerras coloniais, recorrendo à justificação baseada nos antecedentes
históricos, apresentados de forma mitificada e gloriosa, suportando os valores de um regime
em queda.

2.10. O pós-revolução

Após a revolução de 1974, a nova realidade política originou “novos hábitos de ocupação e
uma nova dinâmica de trabalho”1052, não apenas pela emergência de novos partidos políticos,
acompanhando a evolução tecnológica e implicando modificações no imóvel para melhor
aproveitamento das instalações, perante o crescente número de pessoas aí trabalhando
diariamente. No final da década de 1970, por determinação do Secretário de Estado das Obras
Públicas, empreendeu-se um estudo de reordenamento do Palácio de São Bento para correto
funcionamento e uso de áreas que ficariam em breve desocupadas, como sucederia com a
planeada saída da Torre do Tombo. A DSC nomeou um grupo de trabalho para o efeito,
constituído pelo arquiteto José de Almeida Oliveira, engenheiro Joel Ricardo Nunes Vaz e
adjunto técnico José de Oliveira, que deveria trabalhar em colaboração com o Diretor-Geral da
Assembleia da República1053. Na correspondência, denota-se a valorização do edifício dada a
sua “elevada representatividade”1054 e pelo facto de se tratar de um imóvel classificado com

1052
Informação de José de Almeida Oliveira (arquiteto-chefe da DSC), 09.09.1987, p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02, TXT.03118855.
1053
Ordem de Serviço do Diretor dos Serviços de Conservação, 30.10.1978. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-1026/02, TXT.03118610-TXT.03118611.
1054
Ofício de José F. Mendes Barata (Diretor da DSC) para Diretor Geral da DGEMN, 14.03.1979. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02, TXT.03118620.

215
zona de proteção definida – o que não correspondia inteiramente à realidade, visto que o
edifício somente foi classificado como Monumento Nacional em 20021055, apesar de o primeiro
passo para uma classificação ter sido dado em 1983 pelo presidente do IPPC1056. Discutiram-
se, então, as possibilidades de construção de um novo edifício para ampliação espacial
conforme a orgânica dos serviços1057, embora se verificasse dificuldade em obter um programa
preliminar das necessidades por parte da Assembleia da República, e os técnicos da DSC
estranhassem a intromissão de alguns deputados, sem competências técnicas, na apresentação
de soluções1058. Ademais, o Diretor dos Serviços de Conservação desaconselhou a que se
abrisse concurso público para elaborar os respetivos estudos, que deveriam permanecer sob
alçada do supracitado grupo, visto que não houvera ainda exemplos positivos resultantes desse
tipo de concurso – o que não implicava, porém, que a execução ficasse a seu cargo, por envolver
longa ocupação dos serviços1059.
Refira-se, ainda, que o arquiteto José de Almeida Oliveira, em 1987, considerava que, apesar
das boas intenções, as adaptações das décadas anteriores apresentavam deficiências e
revelavam indisciplina na sua concretização1060. A ocupação pós-revolução levou sobretudo à
expansão de zonas em torno do hemiciclo, e não alterara as salas que detinham decoração
artística relevante, apesar dos inconvenientes como dimensões exageradas e elevados pés-
direitos. O arquiteto identificava que as necessárias modificações levariam a que se perdesse
esse património, demonstrando já consciência sobre o carácter histórico desse legado,
preferindo a procura de soluções de ampliação externas, como edifícios anexos e utilização de
imóveis das imediações.

2.11. Algumas reflexões

Observando ditaduras europeias coevas, destrinça-se que a utilização continuada de imóveis


anteriormente ocupados por parlamentos não foi exclusiva do caso português. Em Itália, foi

1055
Decreto n.º 5/2002, Diário da República, série I-B, n.º 42/2002, 19.02.2002.
1056
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/en/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-
patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70140 (acesso a 15.07.2021).
1057
Ofício de José de Almeida Oliveira (arquiteto-chefe da DSC) para Diretor Geral da DGEMN, 02.03.1979.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02, TXT.03118629-TXT.03118631.
1058
Ofício de António Manuel Ribeiro (Diretor da DSC) para Diretor Geral da DGEMN, 03.04.1979.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02, TXT.03118636-TXT.03118639.
1059
Ibid., pp. 3-4.
1060
Informação de José de Almeida Oliveira (arquiteto-chefe da DSC), 09.09.1987. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02, TXT.03118852-TXT.03118856.

216
mantida a estrutura parlamentar assente na Câmara dos Deputados e no Senado, que perderam
o poder de intervenção e a independência detidos até à ascensão de Mussolini: a primeira reunia
no Palazzo Montecitorio, em Roma, de origem setecentista, mas reconstruído em inícios do
século XX, e o Senado tinha, desde 1871, assento no Palazzo Madama, cujas origens
quinhentistas foram alvo de remodelações nas centúrias seguintes. Na Espanha franquista, a
instituição da lei de criação das Cortes, em 19421061, coincidiu com o regresso ao edifício do
Congreso de los Diputados, um antigo convento remodelado em meados de Oitocentos, no
qual tinham assento os membros das Cortes. A Alemanha nacional-socialista distinguiu-se
deste cenário: o Reichstag, a sede do parlamento em Berlim, foi alvo de um incêndio em 1933,
servindo de pretexto ao recém-empossado regime para anular os direitos constitucionais de
Weimar e extinguir o parlamento. O edifício ficou desocupado até ao término da II Guerra
Mundial1062, tendo a nova colossal Reichskanzlei (sede da Chancelaria do Reich, inaug. 1939),
projetada pelo arquiteto Albert Speer (1905-1981), assumido um papel central no palco
político.

Por ocasião da exposição Quinze Anos de Obras Públicas, decorrida em 1948 no IST, Diogo
de Macedo refletiu acerca do fomento da decoração artística nas obras públicas empreendido
pelo regime. Um dos exemplos a que conferiu maior destaque foi o Palácio da Assembleia
Nacional, aludindo à responsabilidade da intervenção dos novos artistas perante a existente
“tradição artística com a representação de notáveis pintores do começo deste século” 1063. De
facto, o projeto de conclusão do edifício constituiu um dos primeiros investimentos do Estado
Novo no domínio das obras públicas, assumindo um caráter simbólico também por representar
o término de uma obra que a conturbada I República não conseguira concluir1064. O número
especial do jornal O Século dedicado às comemorações centenárias de 1940 elencou, como
uma das grandes obras do regime, o Palácio da Assembleia Nacional, ao lado dos modernos e
despojados edifícios da Escola Naval do Alfeite, do IST e dos Liceus de Beja e Filipa de

1061
Lei de 17.07.1942 (criação das Cortes de Estado), disponível em:
http://www.congreso.es/docu/PHist/docs/8fran/ley_creacion_cortes_espanolas1972.pdf (acesso a 14.06.2019).
1062
Andreas Kaernbach, Geschichte des Reichtagsgebäudes, disponível em:
https://www.bundestag.de/besuche/architektur/reichstag/geschichte/verlauf-246958 (acesso a 13.06.2019).
1063
Macedo, “A pintura e a escultura nas Obras Públicas”, 32.
1064
No programa televisivo ‘Visita Guiada’ alusivo ao edifício, transmitido na RTP2 a 05.10.2020, Guilherme de
Oliveira Martins referiu que o empenho de Duarte Pacheco para a concretização foi decisivo, dado que o ministro
fora republicano convicto.
De facto, no período em que ocupou a presidência do município de Lisboa em 1938, Duarte Pacheco impulsionou
o estabelecimento da zona de proteção e a demolição do mercado de S. Bento, por exemplo.

217
Lencastre, em Lisboa1065. Havia, portanto, uma valorização das intervenções de adaptação e de
restauro, que pretendeu coadunar-se às necessidades presentes do poder político. No número
da Revista Municipal, editada pela CML, de homenagem a Duarte Pacheco no ano sequente à
sua morte, a transformação do palácio e o arranjo da sua envolvente surgiram destacados como
melhoramentos da capital levados a cabo sob alçada do falecido ministro1066.
No orçamento geral do Estado para 1933-1934 haviam sido inscritas verbas que aumentaram
em “dezenas de milhares de contos”1067 as dotações para conservação e reparação de edifícios,
monumentos e palácios, destinando-se também quantias para a decoração artística de imóveis
estatais construídos ou por construir, assim providenciando o enquadramento legal para a
realização de empreendimentos como o do Palácio de São Bento. Tamanho investimento na
sua remodelação poderá ser explicado pelo facto de, tendo outrora sido a sede da instituição
parlamentar, eliminada pelo Estado Novo, ter havido necessidade de demarcar a diferença face
ao regime anterior e demonstrar a capacidade de completar obras iniciadas há décadas,
adaptando os projetos à nova realidade política. Assim, mesmo que as duas câmaras não
tenham detido poder verdadeiramente independente devido ao controlo estratégico pelo
Presidente do Conselho, torna-se evidente a necessidade de conferir instalações condignas para
estes órgãos. O peso do local aumentou com a integração de um gabinete para Salazar e com a
transferência da sua residência para as imediações do palácio, como que marcando a sua
omnipresença. A apropriação simbólica implicou remodelação da envolvente, com recurso a
expropriações, demolição de habitações e execução de novos acessos. Ao nível do edifício,
embora se tenha procurado dar sequência a um projeto prévio, houve notória vontade de marcar
o presente através de justaposição, emulando um espírito histórico que, na realidade, não fazia
parte do passado conventual ou parlamentar, bem como concebendo novos espaços áulicos.
A estabilidade e a importância que se procurou conferir aos órgãos do Governo materializou-
se num gosto eclético, de cariz mais tradicionalista e conservador, bastante afastado das
aventuras modernas dos novos edifícios que em simultâneo se construíram. Este ambiente
estético no palácio sofreu poucas alterações ao longo do Estado Novo, apesar das renovações
necessárias consoante as mudanças orgânicas, sobretudo, na década de 1960. A remodelação
deste edifício não deixou de ter paralelos com a reconversão dos palácios nacionais que então
se empreendeu sob coordenação de Raul Lino – uma figura relevante neste projeto –,

1065
“As grandes obras do Estado Novo”, O Século: Número Extraordinário Comemorativo do Duplo Centenário
da Nacionalidade, junho 1940, p. 39.
1066
Revista Municipal, n.º especial, Lisboa (janeiro 1944), p. 80-81.
1067
Decreto-lei n.º 22789, Diário do Governo, I série, n.º 145, 30.06.1933, p. 1225.

218
fomentando-se a aquisição e o empréstimo de mobiliário de estilo e peças decorativas em
antiquários e museus nacionais para obtenção de um conjunto harmonioso, conquanto tenham
sido contratados arquitetos e artistas de renome que contribuíram para imprimir uma marca
coeva, embora superiormente direcionada para uma imagem estética desejada. A reverência ao
ideário nacionalista atesta-se, por exemplo, na determinação dos temas iconográficos, com
supremacia de momentos históricos glorificados como legitimação do regime, para os quais os
artistas revelaram um aturado estudo apoiado em especialistas e fontes bibliográficas e
artísticas. Porém, no exterior, a estatuária selecionada espelha valores de maior perenidade e
cariz intemporal, aptos a guiar o governo da nação sem alusão concreta ao Estado Novo. A
adaptação do palácio integrou-se no esquema burocrático de aprovação comum à concretização
de obras públicas, observando-se uma evolução da realização de concursos para a determinação
direta dos convidados, justificada pela necessidade de rapidez na concretização.

219
3. Os Ministérios

3.1. De Terreiro do Paço a Praça do Comércio: um centro centenário do poder

O local ocupado pela atual Praça do Comércio consolidou-se como um espaço simbólico
relacionado com o poder político desde o século XVI1068. Proporcionando acesso privilegiado
a Lisboa por via fluvial, adquiriu carácter de representação e de destaque. Embora a destruição
do Paço da Ribeira, decorrente do terramoto de 1755, tenha levado à transferência da sede do
poder real para outra área da capital, e a reconstrução pombalina almejasse transformar o
Terreiro do Paço em Praça do Comércio – portanto, num centro comercial, administrativo e
judicial –, a presença da coroa não foi desvaneceu da praça1069. Essa presença materializou-se,
por exemplo, na estátua equestre de D. José executada pelo escultor Machado de Castro,
inaugurada em 1775, e nos torreões concebidos como remate dos novos edifícios, evocando o
torreão do Paço da Ribeira concebido no período filipino por Filipe Terzi1070, porém sem a
cobertura em cúpula. O desejo de uma nova cidade não inviabilizou a manutenção de ligações
ao passado, observável em aspetos como balaustradas nas empenas e frontões coroando as
janelas. A intenção, no reinado de D. Maria I, de construir um novo palácio real na praça não
teve seguimento, apesar das estadias da monarca nos aposentos existentes e da utilização
frequente da praça para eventos da corte1071.
A aspiração de uma rápida e económica modernização do tecido urbano envolvente não se
concretizou na construção da nova praça, que perduraria pelo século XIX. O último elemento,
o arco da Rua Augusta, ficou concluído em 1875. Distinta pelas suas funções dos prédios de
rendimento erigidos na Baixa, a praça recebeu tratamento destacado, mas não deixou de estar
marcada pelo espírito de racionalidade e despojamento formal que definiu a reformulação
urbana. Comportava a bolsa do comércio, a alfândega, o arsenal naval, tribunais e
departamentos administrativos estatais. Apesar da vontade do Marquês de Pombal de
concentrar as Secretarias de Estado – antecessoras dos ministérios – na praça, somente com o

1068
Nuno Senos, O Paço da Ribeira, 1501-1581 (Lisboa: Notícias Editorial, 2002); Miguel Figueira de Faria (ed.),
Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio. História de um Espaço Urbano (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 2012).
1069
Walter Rossa, “Dissertação sobre a reforma e a renovação na cultura do território do pombalismo”, in Fomos
Condenados à Cidade: Uma Década de Estudos sobre Património Urbanístico (Coimbra: Imprensa da
Universidade de Coimbra, 2015), 374.
1070
José-Augusto França, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, 3.ª ed. (Venda Nova: Bertrand, 1983), 120.
1071
Raquel Henriques da Silva, Lisboa Romântica. Urbanismo e Arquitectura, 1777-1874 (Dissertação de
Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1997), 165-168.

220
impulso da revolução liberal se caminhou nesse sentido1072. Em 1867, estavam situadas, na ala
ocidental, as Secretarias de Estado dos Negócios Estrangeiros, dos Negócios da Fazenda, dos
Negócios da Marinha e do Ultramar, e dos Negócios da Guerra; dos Negócios Eclesiásticos e
da Justiça na secção ocidental da ala norte; e, no topo norte da ala oriental, a Secretaria de
Estado dos Negócios do Reino. Conforme refere Joana Estorninho de Almeida, a localização
destes organismos na Praça do Comércio não foi consensual durante a primeira metade do
século XIX, apesar das possibilidades espaciais e de expansão dos serviços e da simplificação
da comunicação governamental. Refira-se, também, a depreciação da Lisboa pombalina por
diversas figuras que incluíram a Praça do Comércio nas suas críticas, evocando aspetos como
monotonia, economia de meios, ausência de focos de originalidade e predomínio do espírito
burocrático da administração1073.
Na década de 1860, note-se a arborização da praça1074. No entanto, não se levaram a cabo as
ideias de uma avenida marginal adjacente arborizada, já proposta no século anterior por Carlos
Mardel e então recuperada, vindo a ser novamente idealizada nos inícios de Novecentos1075.
Na segunda metade do século XIX surgiram diversos planos, tanto de iniciativa do poder
central como camarária e privada, para desenvolvimento de infraestruturas de circulação e
comunicação circundantes à zona ribeirinha, propondo desenvolver portos, caminhos-de-ferro
e estradas1076. Estes projetos foram sucessivamente adiados e a efetivação da renovação
urbanística na área foi diminuta, atitude que se manteve sob vigência da I República,
maioritariamente por falta de interesse governamental.

Em 1910, dois anos após o regicídio de D. Carlos I e de D. Luís Filipe, ocorrido na esquina
noroeste da praça, a Praça do Comércio foi classificada como Monumento Nacional1077 sob o
novo regime republicano. A praça foi, assim, enaltecida de forma singularizada,
descontextualizada do mais vasto plano de reconstrução da Baixa de 1758, no qual fora
estruturada. Joana Cunha Leal aponta que, nessa altura, o papel dos engenheiros militares
responsáveis pela planificação urbana pós-terramoto, nomeadamente Manuel da Maia e

1072
Joana Estorninho de Almeida, A Cultura Burocrática Ministerial. Repartições, Empregados e Quotidiano nas
Secretarias de Estado na Primeira Metade do Século XIX (Tese de Doutoramento, Instituto de Ciências Sociais,
Universidade de Lisboa, 2008), 267-287.
1073
Leal, “Legitimação Artística e Patrimonial da Baixa Pombalina [...]”.
1074
Silva, Lisboa Romântica, 408.
1075
Ana Barata, Lisboa “caes da Europa”. Realidades, desejos e ficções para a cidade (1860-1930) (Lisboa:
Edições Colibri/IHA-Estudos de Arte Contemporânea, 2010), 100.
1076
Cf. Barata, Lisboa “caes da Europa”.
1077
Decreto de 16.06.1910, Diário do Governo, I série, n.º 136, 23.06.1910.

221
Eugénio dos Santos, foi valorizado, o que terá contribuído para a classificação 1078. Por outro
lado, certos projetos para incremento infraestrutural então propostos, como a união das estações
de caminhos-de-ferro de Cascais a Santa Apolónia, apresentada pela Sociedade Propaganda de
Portugal, implicariam alterações na fisionomia de “uma das mais belas praças europeias”1079,
nas palavras do arquiteto Ventura Terra. A classificação da praça poderia contribuir, também,
para evitar esse tipo de modificações, embora não viesse a impedir a integração de novos
equipamentos nas imediações, como sucederia com a estação fluvial Sul e Sueste, como
veremos.

Mencione-se o incêndio na ala oriental, em 1919, então ocupada pela Direção-Geral das
Alfândegas, pela Repartição das Encomendas Postais e pelo arquivo do Tribunal do Comércio.
O acontecimento levou à reconstrução dessa parte do edifício, planeada por Leonel Gaia (1871-
1941), arquiteto-chefe da 1.ª secção da Direção de Edifícios e Monumentos do Sul, e pelo
engenheiro Augusto Vieira da Silva (1869-1951), com supervisão de uma comissão
especialmente organizada para o efeito. Nesse edifício previa-se a instalação do Ministério do
Trabalho. Questionou-se a reconstrução das abóbadas demolidas em tijolo e o aproveitamento
das que ainda subsistiam, apesar dos estudos e cálculos de Vieira da Silva para sua substituição
e integração de pavimentos planos em betão armado1080. O estudo reformulado por Leonel Gaia
veio a ser aceite pelo facto de respeitar, tanto interna como externamente, a expressão histórica
e primitiva do edifício monumental1081. A reconstrução prolongou-se por alguns anos, o que,
já em 1931, foi apontado como uma das razões para não se guarnecer o edifício com uma lápide
alusiva a essas obras; outra das justificações respeitava ao facto de se tratar de um trabalho que
correspondeu meramente ao cumprimento das funções dos respetivos serviços envolvidos e
não a uma obra de carácter excecional1082.

1078
Leal, “Legitimação Artística e Patrimonial da Baixa Pombalina [...]”, 10.
1079
Cit. in Barata, Lisboa “caes da Europa”, 109.
1080
Comissão encarregada de estudar o ante-projecto da obra de reconstrução da ala oriental da Praça do
Comércio: resumo das actas, 28.11.1925. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/15, TXT.04973828-
TXT.04973831.
1081
Ibid., p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/15, TXT.04973828.
1082
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Chefe de Gabinete do Ministro do Comércio e Comunicações,
09.06.1931. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/17, TXT.04973860.

222
Fig. 95. Leonel Gaia, Ministério do Comércio e Comunicações: projeto de modificação do vestíbulo e escada,
05.03.1921.

Em paralelo a esta reconstrução, foi apresentado um arranjo ajardinado junto ao rio, de ligação
entre a Praça do Duque da Terceira e a Praça do Comércio, que previa a remoção do Arsenal
de Marinha, estudado pelo paisagista francês Jean-Claude Forestier (1861-1930), embora sem
concretização, no âmbito do plano de melhoramentos da capital (1927)1083. Esse plano fora
incumbido a uma comissão integrada, entre outras figuras, por Augusto Vieira da Silva1084. No
final da década de 1920, importa ainda mencionar a recuperação do Cais das Colunas e da sua
plataforma central, que levou à eliminação da arborização e dos quiosques da praça1085.
Neste período, a praça foi palco de alguns confrontos: mencione-se a ocupação e os
assassinatos na “noite sangrenta” de 19.10.1921 para deposição do Governo de António
Granjo, e, já durante a ditadura militar, uma tentativa de revolta que deu origem a ocupação da
ala poente e do Arsenal de Marinha, a 07.02.1927, e a combate por dois dias em diferentes
pontos da cidade, resultando em destruições significativas na praça1086.

1083
Lôbo, Planos de Urbanização: a Época de Duarte Pacheco, 28.
1084
Barata, Lisboa “caes da Europa”, 245.
1085
Walter Rossa, “No 1.º Plano”, in Fomos Condenados à Cidade: Uma Década de Estudos sobre Património
Urbanístico (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015), 390.
1086
Fernando Rosas, Lisboa Revolucionária, 1908-1975 (Lisboa: Tinta-da-china, 2010), 72-74, 81-86, 121-125.

223
Fig. 96. Propostas de ligação entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, sobrepostas à planta da zona em 1941:
em cima, de Alfred Agache (1935?), em baixo de Jean-Claude Forestier (1927).

224
Fig. 97. José António Passos, Planta topográfica de Lisboa (11E), 1925: a poente da Praça do Comércio observa-
se o estado do Arsenal de Marinha, e a nascente encontra-se a alfândega. Denote-se a ausência de uma avenida
marginal de circulação, idealizada em diversos planos.

Nos primeiros anos da década de 1930, a construção da estação fluvial Sul e Sueste junto da
Praça do Comércio, com projeto do arquiteto Cottinelli Telmo, provocou desagrado ao
Conselho de Arte e Arqueologia. Os seus membros manifestaram-se contra a disposição das
linhas de caminho-de-ferro e o gradeamento de vedação ao edifício da Alfândega1087. Alegaram
que a estação deveria ser construída “pelo menos duzentos metros mais para nascente”1088 por
desvalorizar a praça, e, particularmente, o torreão oriental, que assim perdia o horizonte fluvial
como pano de fundo. O conselho manifestava, pois, o seu melindre por não ter sido previamente
consultado acerca deste empreendimento, visto que se tratava da alteração estética de um
conjunto classificado como Monumento Nacional. A desarticulação física da estação com a
praça terá sido também um fator de peso para esta atitude, visto que Cottinelli Telmo se
posicionara esteticamente contra “a mentira de uma máscara no estilo do Terreiro do Paço”1089.

1087
Cópia de ofício da 1.ª Circunscrição do Conselho de Arte e Arqueologia (assinado por Luciano Freire) para o
Diretor-Geral dos Caminhos de Ferro, 19.05.1931. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/06,
TXT.04973674.
1088
Cópia de ofício da 1.ª Circunscrição do Conselho de Arte e Arqueologia para o Presidente da Comissão
Administrativa da CML, 18.05.1931, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/06,
TXT.04973676.
1089
Cit. in João Paulo Martins, Cottinelli Telmo (1897-1948): a Obra do Arquitecto, vol. I (Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1995), 147.

225
Não obstante, o regime associou-se de forma significativa à inauguração da estação, utilizando-
a como exemplo do empenho no movimento de ressurgimento nacional.
Nesta altura, a praça era reconhecida pelo “seu admirável conjunto arquitectural” e pela sua
localização, constituindo “um dos monumentos que mais se impõe à admiração dos
estrangeiros”1090 – impunha-se, portanto, que ostentasse um aspeto cuidado e agradável,
pugnando-se, por exemplo, pela retirada dos variados cartazes que cobriam os pilares das
arcadas.

No que respeita a edifícios ministeriais, assinala-se, em 1930, a saída do Ministério da Instrução


Pública1091 do corpo noroeste, passando a ser ocupado pelo Ministério do Interior. Impunham-
se obras de reparação, por exemplo, para acomodação de diversos serviços no 3.º piso, como o
Conselho Nacional do Ar e a Direção-Geral da Saúde1092, sendo a intervenção mais urgente a
de instalação do gabinete da Presidência do Conselho no 2.º piso, voltado para a praça1093.
Apesar destas necessidades prementes de arranjo do andar nobre, incluindo o gabinete do
ministro e dependências anexas, e também da escadaria, volvidos três anos, o ministro Duarte
Pacheco referiu a inexistência de verba suficiente no orçamento para dar andamento às
obras1094. Contudo, determinou que fossem executadas obras no seu próprio gabinete e anexos,
localizados na ala oriental, solicitando que a orientação dos trabalhos fosse acometida ao
arquiteto Guilherme Rebelo de Andrade. Aprovou o plano de obras apresentado pelo arquiteto,
indicando que o mobiliário, cuja estética se desconhece pelo facto de não se terem identificado
desenhos para estes estudos, deveria ser executado pela portuense Casa Nascimento – seleção
que não inviabilizava a apresentação de proposta prévia1095. Rebelo de Andrade deveria
acumular este trabalho com as tarefas que desempenhava no restauro do Palácio de Queluz1096.
Após a morte de Duarte Pacheco, Cottinelli Telmo, referindo-se a um episódio ocorrido

1090
Memória (assinatura ilegível), 30.06.1933. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0361/10, TXT.02438872.
1091
Este ministério foi instalado num palácio setecentista adquirido pelo Estado em 1928 e então adaptado para
sua acomodação. Outrora pertencente ao médico Silva Amado, o edifício localizava-se junto do edifício Faculdade
de Medicina, ao Campo Santana. Margarida Acciaiuoli, 1977: A Nova Medical School | Faculdade de Ciências
Médicas - Uma História do seu passado e da construção do seu futuro (Lisboa: Nova Medical School-Faculdade
de Ciências Médicas, 2018), 70-71.
1092
Ofício do Secretário-geral do Ministério do Interior para Engenheiro Administrador geral da DGEMN,
13.09.1930. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4174/24, TXT.05102442-TXT.05102441.
1093
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para a Secretaria-Geral do Ministério do Interior, 25.03.1930.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4175/01, TXT.05102445.
1094
Ofício do Ministro das Obras Públicas para Ministro do Interior, 10.02.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4396/05, TXT.05232496.
1095
Ofício da DGEMN para o Diretor dos Edifícios Nacionais Sul, 31.08.1933. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03, TXT.04974225.
1096
Ordem de serviço n.º 4456, 31.08.1933. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03,
TXT.04974226.

226
aquando do regresso da viagem de estudo no âmbito da Comissão de Construções Prisionais
na década de 1930, recordou o caráter antiquado do gabinete do ministro forrado com panos
de veludo, aludindo à dificuldade de sair da sala devido à demorada procura da porta ocultada
por reposteiros1097. Em adição, Rebelo de Andrade foi incumbido de opinar acerca do arranjo
e da ligação dos salões nobres – sala de reuniões do Conselho de Estado e Supremo Tribunal
Administrativo – do Ministério do Interior1098, e há indicação de que o arquiteto terá sido
responsável, nesta altura, pela elaboração de plantas de arrumação dos serviços dos Ministérios
das Finanças, Interior, Presidência do Conselho e Subsecretariado das Corporações1099.

Se durante o período da Ditadura Militar se denotou algum empenho em valorizar a Praça do


Comércio, a implementação do regime do Estado Novo, em 1933, trouxe impulso para que se
desenvolvessem planos urbanísticos e de adaptação dos edifícios que serviam como sedes
ministeriais, intentando-se uma definição dessa área tão significativa e simbólica como eixo
decisivo do poder político. Aos valores artístico e monumental, consagrados através da
classificação que a distinguia com um cunho de excecionalidade do restante tecido urbano da
Baixa, somava-se o caráter representativo, tornando-se num palco privilegiado para eventos de
cunho ideológico, como discursos, comemorações e receções. Ademais, a conotação de
expansão marítima atribuída ao local suportava a afirmação de Lisboa enquanto capital do
império colonial.

1097
Cottinelli Telmo, “Duarte Pacheco”, s.d. [manuscrito não concluído]. Transcrito em: Martins, Cottinelli Telmo
(1897-1948), vol. II, 254.
1098
Ofício do Diretor dos Edifícios Nacionais Sul para Diretor-geral da DGEMN, 28.06.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4395/01, TXT.05231851.
1099
Guilherme Rebelo de Andrade, Nota dos serviços desempenhados e de trabalhos executados e que dirigiu,
18.01.1934. [Processo pessoal do arq. Guilherme Rebelo de Andrade]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
PESSOAL-0034/01, TXT.12038986.

227
Fig. 98. O primeiro Conselho de Ministros da presidência de Oliveira Salazar (ao centro), realizado no Ministério
do Interior. 08.07.1932.

3.2. Iniciativas de revitalização nas décadas de 1930 e 1940: a Praça do Comércio como
eixo aglutinador do poder central

Aquando da promulgação da Constituição de 1933, os seguintes serviços públicos


encontravam-se localizados na Praça do Comércio: na ala ocidental, Ministérios do Comércio
e Indústria, Agricultura, Finanças, Colónias, e Marinha, e ainda serviços dos correios,
encontrando-se adjacentes o Arsenal da Marinha, o Tribunal da Relação e o Tribunal de Contas;
Ministério do Interior funcionando no corpo noroeste; na ala norte, Ministério da Justiça,
Supremo Tribunal de Justiça e Procuradoria Geral da República; a ala oriental era ocupada pelo
Ministério das Obras Públicas e Comunicações, Bolsa do Comércio, e Alfândega.

228
Fig. 99. Vista aérea da Praça do Comércio. 1930.

Fig. 100. Gabinete do Ministro do Comércio e Indústria: posse da federação de vinicultores. 30.11.1933.

229
Nesse ano de 1933, há informação de um orçamento elaborado para a remoção de cartazes
revestindo os pilares da Praça do Comércio e lavagem e arranjo das juntas das cantarias, visto
que este conjunto arquitetónico constituía “um dos monumentos que mais se impõe à
admiração dos estrangeiros” e se tornava imprescindível que perdesse o aspeto “desagradável
e indecoroso”1100. As limpezas e pinturas estender-se-iam a todas as fachadas dos edifícios da
praça, vista como “um motivo de orgulho para os portugueses, pela sua elegância, justas
proporções e beleza monumental”1101. A necessidade de empreender arranjos coordenados na
zona da Baixa ficou patente no concurso para melhoramento estético do Rossio, conduzido
pelo Comissão de Estética Citadina em 1934 e sem efeitos práticos imediatos, demonstrando a
limitação do entendimento dos valores do urbanismo pombalino por parte da maioria dos
arquitetos concorrentes1102.

Em sessão pública no salão nobre da CML, a 02.02.1935, o arquiteto Paulino Montês debruçou-
se sobre o tema da estética citadina da capital, pugnando pela necessidade de planificação
urbana detalhada. Reportou-se à Praça do Comércio, pátio de honra de Lisboa aberto ao Tejo,
considerada “das mais belas de todo o mundo”1103 e sem rival no plano arquitetónico graças à
ação férrea de reconstrução do Marquês de Pombal, lamentando que nos traçados mais recentes
não se tenham colhido os ensinamentos desse tempo. Votada ao abandono durante anos,
assinalou o renovado interesse pelas entidades oficiais após o incêndio de 1929, que levou à
conclusão da ala oriental, à retirada de quiosques e árvores que tinham desvalorizado a praça e
ao incremento da iluminação, ao conserto do cais, e à substituição da estação Sul e Sueste. No
entanto, tais iniciativas fizeram-se acompanhar de intervenções sem critério estético adequado
à majestade da praça e carecendo de parecer de entidades responsáveis pela conservação
patrimonial, como o retirar de bancos para aí propositadamente concebidos e sua colocação em
Belém, a transformação descuidada de alguns vãos das arcadas, ou a vedação colocada entre o
edifício da Alfândega e a nova estação Sul e Sueste.
Nesse mesmo ano, o arquiteto Carlos Ramos categorizou o Terreiro do Paço – designação que
não mais se arredaria do vocabulário dos lisboetas – como “antecâmara de Lisboa”1104, isto é,

1100
[Assinatura ilegível], Memória, 30.06.1933. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0361/10, TXT.02438872.
1101
Ofício do Engenheiro-chefe da Secção de Estudos (assinatura ilegível) para Diretor-Geral da DGEMN,
17.09.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2500/11, TXT.04088762.
1102
Sobre este assunto, veja-se, p. ex.: Paulo Varela Gomes, “O paradoxo do Rossio”, A Cultura Arquitectónica
e Artística em Portugal no século XVIII (Lisboa: Caminho, 1988), 115-136; Martins, Cottinelli Telmo (1897-
1948), vol. I, 205-215.
1103
Paulino Montês, A Estética de Lisboa: da urbanização da cidade (Lisboa: Soc. Ind. de Tipografia, 1935), 24.
1104
Carlos Ramos, O Terreiro do Paço. Antecâmara de Lisboa, 1935. Reproduzido em: Coutinho, Carlos Ramos
(1897-1969, vol. 2, s.p.

230
a zona de receção da capital. O arquiteto também lamentou a remoção dos bancos e a solução
de iluminação escolhida para a praça. Defendeu que cabia ao município, com auxílio da
DGEMN, a conservação premente dos edifícios da praça, instando à contratação de um artista
capacitado para estudar o assunto.
À semelhança de Montês e Ramos, Cottinelli Telmo enalteceu a beleza ímpar da praça e do
seu conjunto arquitetónico1105. O arquiteto considerava os edifícios da Praça do Comércio
como os mais adequados em Lisboa para alojar condignamente os ministérios, apesar de
possuírem alguns problemas, como as plantas labirínticas e a míngua de espaço e de iluminação
natural. O facto de valorizar dos ensinamentos da reconstrução pós-terramoto não o impedia
de defender que os seus contemporâneos deveriam deixar como marca uma expressão
arquitetónica do século XX, não incorrendo no risco de os arqueólogos do futuro julgarem que
se trataria de edifícios setecentistas – e, assim, fundamentava também o propósito da estética
distinta assumida na estação fluvial recentemente inaugurada junto da praça.
Refira-se ainda, conforme foi apontado por vários investigadores1106, o pioneirismo do
arquiteto Pardal Monteiro num conjunto de alocuções feitas após a II Guerra Mundial quanto
ao reconhecimento do valor e da modernidade da reconstrução urbana pombalina e das suas
afinidades com a arquitetura contemporânea, paralelamente ao destaque do papel dos principais
protagonistas, os engenheiros militares, exaltando Eugénio dos Santos1107. Ao contrário de
outros críticos, enalteceu aspetos como simplicidade, estandardização e repetição de partidos e
formas, que haviam sido alvo de depreciação, mas se justificavam pela escassez de verbas em
cenários de necessidade reconstrutiva célere de um conjunto elevado de equipamentos. Pardal
Monteiro considerou que a Praça do Comércio, sede dos grandes serviços públicos, exprimia a
dignidade estatal através das suas proporções e moldura.

No que respeita aos edifícios da praça, para além das reparações internas e do arranjo geral das
fachadas a que se procedeu na década de 19301108, importa assinalar o acontecimento dos
ataques bombistas encetados pelo Comité da Ação da Frente Popular Portuguesa que, em 20 e
21 de janeiro de 1937, afetaram, entre “departamentos governamentais e [...] instituições

1105
Telmo, Os Novos Edifícios Públicos.
1106
Leal, “Legitimação artística e patrimonial da Baixa pombalina. Um percurso pela crítica e pela história da arte
portuguesas”; Tostões, “Precursores do urbanismo e da arquitectura modernos”; Rossa,“No 1.º Plano”.
1107
Porfírio Pardal Monteiro, Os portugueses precursores da arquitectura moderna e do urbanismo (Porto:
Círculo Dr. José de Figueiredo, 1949); Idem, Eugénio dos Santos precursor do urbanismo e da arquitectura
moderna (Lisboa: CML, 1950).
1108
Raul Lino (Arquiteto-chefe da REOM) e José Simões da Silva (chefe dos trabalhos), Memória Descritiva –
orçamento, 26.10.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0367/05, TXT.02441086.

231
ligadas a interesses espanhóis em Portugal”1109, as instalações dos ministérios da Guerra e do
Interior, despoletando reparação de estragos1110. Em 1940, a necessidade de elaborar um
cadastro comportando os edifícios em posse do Estado e os que, sendo de propriedade
particular, eram ocupados por serviços públicos, levou a DGEMN a solicitar informações aos
respetivos organismos, visando também o planeamento de eventuais obras e intervenções de
manutenção1111.

A praça serviu como espaço de representação política por excelência, assinalando-se a


realização de manifestações e paradas militares e a declamação de discursos por Salazar. Serviu
como marco simbólico enquanto centro do império colonial, assinalando a partida de Óscar
Carmona nas viagens de 1939 rumo a territórios africanos, através da gravação de citações do
Chefe de Estado e do Presidente do Conselho nas duas colunas do cais1112. Concomitantemente,
foi palco para a receção de ilustres convidados estrangeiros, como o general Francisco Franco
(1949) ou o presidente brasileiro Café Filho (1955), e, ainda, para festividades no âmbito de
celebrações nacionais e municipais.

1109
António Araújo, Matar o Salazar. O atentando de julho de 1937 (Lisboa: Tinta-da-china, 2017), 12.
1110
Ofício do Ministro das Colónias para Ministro das Obras Públicas, 23.01.1937. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3798/14, TXT.04900505.
1111
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Secretário-Geral do MOPC, 01.07.1940. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3944/05, TXT.04982598-TXT.04982599.
1112
Ofício de Raul Lino (Chefe da REOM) para Diretor-Geral da DGEMN, setembro 1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSMN-0367/05, TXT.02441092-TXT.02441094.

232
Fig. 101. Aniversário da revolução de 28 de maio de 1926. 28.05.1939.

Fig. 102. Colunas do cais do Terreiro do Paço, com palavras de Carmona e Salazar gravadas, perpetuando as
viagens do chefe do Estado ao Império colonial português. 1939.

233
Fig. 103. O Chefe do Governo, da janela do seu ministério, recebe as ovações do povo de Lisboa. 27.04.1934.

Fig. 104. Salazar discursando do gabinete no Ministério das Finanças. S.d.

234
Fig. 105. Parada militar na Praça do Comércio. 1954. Fig. 106. Visita da Rainha Isabel II. 18.02.1957.

3.3. O primeiro projeto para incremento de instalações ministeriais: o Ministério das


Finanças

Com o novo regime e sob direção do ministro Duarte Pacheco, houve empenho em remodelar
os edifícios da praça para instalação condigna dos ministérios. Deu-se atenção à ala oriental,
idealizada como localização para o Ministério das Finanças, que à data ocupava salas na ala
ocidental. Esta transferência relaciona-se com a acumulação da pasta das Finanças pelo novo
Presidente do Conselho, importando dignificar a sede de trabalho do “mago das finanças”,
infatigável labutador que fora capaz de ordeiramente encaminhar o país em direção oposta à
crise. Embora não fosse o único organismo ministerial a carecer de melhoria ao nível das
instalações, iniciar o investimento na obra do Ministério das Finanças reveste-se de evidente
simbolismo. Como viria a ser posteriormente exposto pelo arquiteto Pardal Monteiro, no
decorrer dos estudos, Duarte Pacheco terá afirmado que esse ministério conduzido pelo
Presidente do Conselho não poderia ter instalações piores do que os restantes ministérios1113.
O major de engenharia Eduardo Rodrigues de Carvalho (1891-1970), requisitado pelo
Ministério das Obras Públicas e Comunicações em comissão de serviço ao Ministério da
Guerra, foi encarregue de dirigir as obras a executar na ala oriental para instalação dos
ministérios, sendo também incumbido de supervisionar os trabalhos no edifício da

1113
Porfírio Pardal Monteiro, Resumo sobre o estado dos trabalhos referentes a encomendas que me foram feitas,
março 1940, p. 4. ANTT: Arquivo Salazar, CP-184, pt. 5.2.9/6, fl. 127.

235
Alfândega1114, inicialmente acometidos ao engenheiro Leal de Faria1115, mas que rapidamente
se viu absorvido pelas obras no Palácio de São Bento, como atrás constatámos. A acumulação
de competências pretendia, também, evitar confrontos entre as duas tarefas. Simultaneamente,
Rodrigues de Carvalho laborava para as obras das gares marítimas e do novo corpo do Museu
de Arte Antiga, acompanhando, respetivamente, os arquitetos Pardal Monteiro e Rebelo de
Andrade1116. Em 1935, ano em que foi nomeado chefe da Repartição de Estudos de Edifícios e
presidente da Comissão Administrativa das Obras do Estádio de Lisboa, Rodrigues de Carvalho
propôs a contratação do tenente de engenharia Eduardo Arantes e Oliveira para auxílio nas
obras que tinha a seu cargo1117. Arantes e Oliveira estava em vias de ser proposto para lente
adjunto da Escola Militar e, vinte anos mais tarde, presidiria à pasta das Obras Públicas. Refira-
se que Rodrigues de Carvalho foi uma figura próxima de Duarte Pacheco: foi chefe de gabinete
do ministro, sendo nomeado dirigente dos e substituindo-o na presidência do município
aquando do retorno à pasta das Obras Públicas, de 1938 a 19441118. Portanto, em teoria, estavam
reunidas as condições para uma eficaz condução do plano de remodelação dos edifícios na
Praça do Comércio.
A delegação das obras foi instalada em parte do piso térreo do edifício da Alfândega, que
necessitou de algumas beneficiações para responder adequadamente a esse fim 1119. Impôs-se,
naturalmente, estudar a transferência da Alfândega: após verificação de que a deslocação para
o extinto Convento de Santos-o-Novo, perto da estação de Santa Apolónia, se tornava
complicada devido à impossibilidade de adaptação, propondo Rodrigues de Carvalho que se

1114
Ordem de serviço n.º 985, 24.02.1934. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03,
TXT.04974299.
1115
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 22.01.1934. BAHE, Acervo
Infraestruturas, Transportes e Comunicações: MOP, Processo Individual de Eduardo Rodrigues de Carvalho,
1933-1954, PI-Cx 33.
1116
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 08.11.1933.
Em 1934, foi proposto que se alargassem as incumbências do major de engenharia para incremento das obras do
Teatro de S. Carlos e dos edifícios da Administração Geral do Porto de Lisboa. Ofício do Diretor-Geral da
DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 11.07.1934. BAHE, Acervo Infraestruturas, Transportes e
Comunicações: MOP, Processo Individual de Eduardo Rodrigues de Carvalho, 1933-1954, PI-Cx 33.
1117
Ofício de Eduardo Rodrigues de Carvalho para o Diretor-Geral da DGEMN, 03.01.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE/0207/01, TXT.07449640.
1118
Nesse período, assumiu também a direção dos Serviços de Urbanização e Obras da CML. Integrou a Comissão
de Revisão de Projetos da DGEMN, e, entre outros cargos que desempenhou, foi Inspetor do CSOP. Presidiu,
ainda, à comissão responsável pela organização da exposição Quinze Anos de Obras Públicas (1948). Em adição
ao citado Processo Individual, cf. Filipa Ribeiro Silva, “Carvalho, Eduardo Rodrigues de”, in Dicionário
Biográfico Parlamentar. 1935-1974, vol. I, dir. Manuel Braga da Cruz, António Costa Pinto (Lisboa: Imprensa
de Ciências Sociais/Assembleia da República, 2004), 365-366.
1119
Ofícios de Eduardo Rodrigues de Carvalho para Diretor-Geral da DGEMN, 08.06.1935 e 01.07.1935.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03, TXT.04974419-TXT.04974418 e TXT.04974427.

236
construísse um novo edifício para o efeito1120, decidiu-se pela adaptação de um edifício
existente no Terreiro do Trigo, ainda em preparação em 19381121. As demoras na saída dos
serviços da Alfândega contribuíram para o atraso do arranque da obra do Ministério das
Finanças, apesar de se fazerem algumas demolições em 1937. O planeamento dessas
intervenções no edifício ficou a cargo da REE1122, sendo necessário que um dos corpos
permanecesse em uso até à transferência completa dos serviços para outras instalações. A ala
norte serviu esse propósito, e, em 1939 rogava-se que fossem desocupadas todas as salas para
efetuar a sua demolição1123.

Nos inícios de 1934, Henrique Gomes da Silva, Diretor-Geral da DGEMN, escrevera a Duarte
Pacheco dada a necessidade de iniciar a adaptação da Alfândega para o Ministério das
Finanças, requerendo a contratação do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro1124. Do projeto a
apresentar pelo arquiteto deveriam constar plantas, alçados e cortes, notas sobre aspetos como
iluminação e distribuição de águas, desenhos de mobiliário e instruções para a decoração
artística. Foram-lhe facultadas plantas dos pavimentos e cortes do edifício da Alfândega para
desenvolvimento do projeto1125. Para os estudos, o arquiteto necessitou também de analisar os
elementos dos edifícios da praça, implicando, por exemplo, cópia dos “perfis das cimalhas,
guarnições das janelas e cornijas”1126, o que obrigou à construção de andaimes. Pardal Monteiro
entregou o anteprojeto, elaborado com acompanhamento do ministro, em abril de 19351127, e,
em agosto desse ano, foram enviados do seu atelier oito desenhos da adaptação ao Ministério
das Finanças e 13 para a gare marítima da Rocha do Conde de Óbidos, embora os projetos não

1120
Relatório de Eduardo Rodrigues de Carvalho, delegado da DGEMN, 24.04.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446357-TXT.00446328.
1121
Ofício de Fernando Jácome de Castro (em nome do chefe da REE) para Diretor-Geral da DGEMN,
21.03.1938. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0207/02, TXT.07450011.
1122
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Chefe da REE, 29.01.1936. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-
0207/02, TXT.07449883.
1123
Ofício de Raul Maçãs Fernandes (Chefe da REE) para Diretor-Geral da DGEMN, 11.04.1939. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-001/125-0143/03, TXT.05694436.
1124
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 23.01.1934. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0207/01, TXT.07449459.
1125
Ofício de Eduardo Rodrigues de Carvalho para Porfírio Pardal Monteiro, 17.08.1934. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0207/01, TXT.07449530.
1126
Ofício de Eduardo Rodrigues de Carvalho para Diretor-Geral da DGEMN, 19.07.1935. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03, TXT.04974442.
1127
Porfírio Pardal Monteiro, Resumo sobre o estado dos trabalhos referentes a encomendas que me foram feitas,
março 1940, p. 2. ANTT: Arquivo Salazar, CP-184, pt. 5.2.9/6, fl. 125.

237
estivessem ainda terminados1128. O projeto definitivo foi entregue em final de agosto de
19371129.
Na memória descritiva do projeto de 1937, Pardal Monteiro assinalou o facto de o Governo ter
decidido aproveitar as edificações a leste do corpo dos ministérios para “instalar mais
condignamente os serviços”1130 do Ministério das Finanças. O arquiteto justificou a preparação
demorada do projeto decorrente da complexidade envolvida, visto que as diretrizes impunham
o máximo aproveitamento possível das estruturas existentes, predominantemente em mau
estado de conservação, e sua eficaz adaptação ao programa do ministério. Esta exigência de
preservação, que condicionou o projeto, regia-se por razões económicas, pugnando-se pelo
aproveitamento de estruturas estáveis como as fundações pombalinas, e também morais,
antecipando-se possíveis críticas negativas e injustas que, segundo o arquiteto, amiúde surgiam
na opinião pública e poderiam “desvirtuar as verdadeiras intenções do Governo”1131. Para além
do fator económico, certamente a questão estética e de respeito pelo edificado pombalino,
destacado pela sua classificação, tiveram peso – recorde-se a contestação que a feição Art Déco
da estação Sul e Sueste despoletara anos antes.
Considerando preferível a construção de raiz de um equipamento desta natureza, num terreno
desafogado, por si só complexa pelas exigências e amplitude do programa, Pardal Monteiro
apresentou a melhor solução possível – e não a solução perfeita, como desejaria –, integrando
as sugestões superiores relativamente aos estudos anteriormente apresentados em anteprojeto.
Apontou como aspetos de adaptação menos favoráveis as amplas áreas internas da Alfândega,
que pouco se prestavam aos serviços ministeriais, a manutenção de paredes espessas impedindo
um aproveitamento útil do espaço, e a dificuldade de transformação da planta para facilitar
acessos entre serviços, tornando-se a sua organização num dos maiores desafios do projeto.
Foi, naturalmente, necessário proceder a algumas demolições e alterações, como o nivelamento
das fachadas. Planeou-se a inserção de um piso adicional ao existente, dividindo o rés-do-chão
para comportar sobreloja, e a construção de um novo pátio interior no local do existente,
permitindo maior iluminação e criação de uma galeria sobre o claustro no piso térreo. Em
termos de materiais, a inclusão de lajes e vigas em betão armado, por exemplo, marcariam uma
distinção clara face à preexistência.

1128
Ofício de Raul Rodrigues Lima (em nome de Porfírio Pardal Monteiro) para Eduardo Rodrigues de Carvalho,
16.08.1935. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0207/01, TXT.07449777.
1129
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Engenheiro Diretor Delegado da DNISP, 14.07.1949, p. 2.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0119/01/3, TXT.09164898.
1130
Porfírio Pardal Monteiro, Memória Descritiva do projecto para as instalações do Ministério das Finanças,
agosto 1937, [p. 1]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0377/01, TXT.07486350.
1131
Ibid., [p. 6]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0377/01, TXT.07486347.

238
A entrada principal ficaria virada para o rio Tejo, na sequência da Praça do Comércio, com
melhor acessibilidade do que as restantes fachadas, num corpo pronunciado. A partir dessa
entrada aceder-se-ia ao vestíbulo (prevendo-se três entradas no total, permitindo a
diferenciação nos acessos), comunicando com uma das galerias do claustro, a escadaria de
honra, serviços da Junta de Crédito Público – sendo que os serviços exigindo maior contacto
com público se localizariam sobretudo no piso térreo –, e outras galerias internas. A sobreloja
comportaria os arquivos e serviços adjacentes, estação telefónica e instalações para pessoal
menor. O primeiro piso constituiria o andar nobre, com instalação dos gabinetes do ministro e
subsecretário, chefe de gabinete, secretário e instalações anexas, e outros serviços como a
Secretaria-Geral e a Inspeção Geral das Finanças. O segundo piso comportaria os restantes
serviços, incluindo biblioteca e vários refeitórios diferenciados hierarquicamente.

Fig. 107. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: fachada sul, [1937?].

Fig. 108. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças – novas instalações: ala sul, [1937?].

Em termos estéticos, foi seguido o padrão pombalino que definia a zona, para evitar perturbar
o conjunto central da Praça do Comércio. Assim, o edifício do Ministério das Finanças seria
pautado pela sobriedade, sem integrar elementos distintivos da praça como as arcadas. Pardal
Monteiro afirmou basear os motivos das fachadas em modelos da época da reconstrução pós-
terramoto; ao nível interno, para além de se inspirar nessas linhas, seguiu um harmónico
“partido de expressão clássica”1132. Nos elementos mais relevantes, como o vestíbulo principal
e a escadaria de honra, o arquiteto procurou imprimir um cunho monumental, sem olvidar o

1132
Ibid., [p. 11]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0377/01, TXT.07486340.

239
espírito de simplicidade da arquitetura coeva “para não deixar de assinalar a época da realização
das obras”1133.

Pardal Monteiro defendeu a necessidade de imprimir a marca do presente na arquitetura noutros


testemunhos escritos, coerentes com a posição que o texto supracitado reflete. Em carta ao
Presidente do Conselho datada de 1936, congratulou a intenção de Salazar de legislar sobre
arquitetura “no sentido de se imprimir cunho nacional nos edifícios públicos”1134, por forma a
marcar o “período brilhante”1135 em que se encontravam. O arquiteto defendeu novas formas
em concordância com o momento político que se vivia, imbuído de um espírito renovador em
reação ao sistema prévio, acreditando na possibilidade de encontrar uma “expressão plástica
nacional da nova arquitetura”1136. O passado e a tradição moral surgem como influências que
não devem ser acriticamente copiadas, embora aponte a preservação dos testemunhos de outras
épocas como material privilegiado de aprendizagem. Deveria predominar o espírito clássico,
de simplificação e de articulação entre formas e materiais, que, a par do progresso técnico e da
estabilidade económica, contribuiriam para o desenvolvimento de um estilo de feição
acentuadamente nacional, sem risco de reprodução cega do que então se projetava no
estrangeiro. Na memória descritiva do anteprojeto do novo edifício do Banco de Portugal1137,
planeado nessa altura para as imediações da Praça do Comércio, mas que não seria executado,
o arquiteto sublinhou a necessidade de evitar cópias de tipo arqueológico de períodos históricos
prévios – nomeadamente do espírito pombalino envolvente –, marcando a identificação com o
presente, assim evidenciando que se trataria de uma “obra dos homens da época de Salazar”1138.
Embora a historiografia sublinhe o carácter apolítico de Pardal Monteiro e a apetência de
separação entre arte e política, a par do inevitável comprometimento para obtenção de
encomendas estatais1139 – João Vieira Caldas afirmou que foi dos arquitetos “da sua geração
[...] que menos acreditava numa arquitectura nacionalista”1140, isto é, de reformulação

1133
Ibid.
1134
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para o Presidente do Conselho, 08.09.1936, p. 1. ANTT: Arquivo Salazar,
CP-184, pt. 5.2.9/6, fl. 81.
1135
Ibid.
1136
Ibid., p. 17 [fl. 98].
1137
O documento reproduzido na tese de doutoramento de João Pardal Monteiro não se encontra datado, e o autor
refere que se trata de um documento de 1935 (cf. nota seguinte). Este dado não nos parece correto, visto que
Porfírio Pardal Monteiro menciona, no texto, uma exposição que fez a 7 de janeiro de 1937.
1138
Porfírio Pardal Monteiro, Banco de Portugal: Memória descritiva e justificativa das soluções adoptadas e
definidas no ante-projecto de edificação, [1937?], p. 25. Reproduzido em: Monteiro, Para o projeto global – Nove
décadas de obra, vol. 2, 135.
1139
João Vieira Caldas, Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto (Lisboa: AAP, 1997), 17; Tostões, Pardal
Monteiro, 87; Monteiro, Para o projeto global – Nove décadas de obra, vol. 1, 73.
1140
Caldas, Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto, 98.

240
tradicionalista de estilos do passado –, nos seus textos transparece uma identificação com a
ideologia de ressurgimento nacional propagada pelo regime na década de 1930. Pardal
Monteiro parece, pelo menos, ter aproveitado o momento para elevação do estatuto da
arquitetura e dos seus profissionais, realçando publicamente a orientação de Salazar, por
exemplo no jantar de homenagem prestada ao arquiteto pelos colegas em 19381141, e, também,
interpelando o Presidente do Conselho através ofícios, confessando-lhe a sua admiração1142.
Sabe-se, de resto, que Pardal Monteiro era próximo de outra personalidade relevante, Duarte
Pacheco.
Refira-se que esta atitude de defesa da construção de acordo com o presente, sem depreciar
imponentes marcos do passado, foi comum a outros arquitetos contemporâneos de Pardal
Monteiro. Cottinelli Telmo, por exemplo, na conferência sobre edifícios públicos atrás citada,
defendeu precisamente, a par da valorização de antigos edifícios destacados, o
acompanhamento do progresso para que as futuras gerações não julgassem que então se vivia
no século XVIII1143 – assim, admirava tanto adaptações como as que sucediam no Palácio das
Necessidades para instalação do Ministério dos Negócios Estrangeiros, como não se coibia de
apregoar a demolição de edifícios menos propensos a reconversões.

Apesar do envio do projeto ministerial às instâncias superiores, as obras do Ministério das


Finanças protelaram-se. Entretanto, Duarte Pacheco retornou à direção das Obras Públicas, mas
Eduardo Rodrigues de Carvalho, que ascendera à chefia da REE, substituiu Pacheco na CML,
o que poderá também ter contribuído para a falta de andamento.
Em março de 1940, Pardal Monteiro escreveu a Salazar, relatando a complicada situação
profissional em que se encontrava, que o levava a ponderar o encerramento do atelier1144.
Embora tivesse sido incumbido de um conjunto de obras promovidas pelo MOPC nos anos
anteriores – para além da adaptação do edifício da Alfândega para o Ministério das Finanças,
mencionem-se, por exemplo, o Monumento a D. João IV para Vila Viçosa, os edifícios
universitários de Lisboa e a urbanização da Doca de Alcântara –, estas encontravam-se paradas
e sem previsão de retoma. Confessando a longa hesitação que antecedeu a missiva, o arquiteto
dirigiu-se a Salazar como último recurso numa situação que não especifica no ofício, mas que

1141
Porfírio Pardal Monteiro, Discurso proferido por ocasião da sessão de homenagem, 1938. Reproduzido em:
Monteiro, Para o projeto global – Nove décadas de obra, vol. 2, 192-208.
1142
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para o Presidente do Conselho, 08.09.1936. ANTT: Arquivo Salazar, CP-
184, pt. 5.2.9/6, fl. 81-116.
1143
Telmo, Os Novos Edifícios Públicos, 25.
1144
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para o Presidente do Conselho, 01.03.1940. ANTT: Arquivo Salazar, CP-
184, pt. 5.2.9/6, fl. 117-123.

241
dirá respeito ao sobejamente conhecido desentendimento com Duarte Pacheco e a intrigas de
que terá sido alvo1145. A interrupção dos projetos, para além de fatores económicos, escassez
de materiais, e da primazia conferida às comemorações de 1940, foi condicionada pelo Ministro
das Obras Públicas, que terá ficado melindrado com o facto de o arquiteto ter apresentado os
desenhos para o pedestal da estátua para Vila Viçosa emoldurados, o que impossibilitava a
inscrição de comentários ou emendas1146. Desde então, dissiparam-se os laços de amizade e de
trabalho de anos.
Num relatório apenso ao referido ofício, Pardal Monteiro indicou a sucessão de etapas relativas
ao projeto para o Ministério das Finanças1147. A saída de Pacheco da pasta das Obras Públicas
(1936-38) originou a suspensão dos estudos. Anteriormente, o arquiteto terá apresentado
propostas, sugerindo como solução mais viável, particularmente em termos económicos, a
demolição do existente, nunca aceite pelo ministro, que terá acedido ao facto de a adaptação
implicar um dispêndio duplicado das verbas disponibilizadas. Em 1939, após a submissão do
projeto atrás comentado, o ministro comunicou como condição sine qua non o máximo
aproveitamento do edifício da Alfândega, o que deitava por terra as propostas e os anos de
trabalho investidos nos estudos. Para que não fosse incumbido outro arquiteto, Pardal Monteiro
sujeitou-se às orientações, entregando novas plantas em outubro desse ano, não tendo obtido
resposta até à data em que escrevia a Salazar, tendo sido já obrigado a despedir pessoal que
alocara a esta obra. Em 1939, prevendo a próxima transferência de um conjunto de serviços do
Ministério das Finanças para as novas instalações, incluindo o gabinete ministerial, apenas se
realizaram pontuais e necessários trabalhos de conservação e reparação nos espaços ocupados
na ala ocidental1148. Sete anos depois, o ministério ainda se debatia com instalações
inadequadas nessa ala1149. Apesar de algumas demolições se concretizarem, foi necessário
aguardar pelo pós-guerra para que as obras do ministério recebessem novo impulso. Em 1949,
aquando da passagem das obras para alçada da Delegação para as Novas Instalações dos
Serviços Públicos, conforme veremos adiante, o arquiteto indicou que o elevado orçamento

1145
Tostões, Pardal Monteiro, 133-134.
1146
Caldas, Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto, 73.
1147
Porfírio Pardal Monteiro, Resumo sobre o estado dos trabalhos referentes a encomendas que me foram feitas,
março 1940. ANTT: Arquivo Salazar, CP-184, pt. 5.2.9/6, fl. 124-138.
1148
Arq. E. Moreira Santos(?), eng F. L. de Almeida Garrett (Dir. Edifícios Lisboa, ? Secção), 06.07.1935.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4116/04, TXT.05070513-TXT.05070512.
1149
Ofício do Secretário da Inspeção dos Seguros para o Inspetor-Chefe dos Seguros do MF, 16.09.1946.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3839/05, TXT.049218904-TXT.049218903.

242
elaborado para a execução do seu projeto de 1937 foi o pretexto para que o Governo não desse
andamento1150, omitindo qualquer referência à atuação do falecido ministro.

No período em que Pardal Monteiro planeava as novas instalações para a pasta das Finanças,
verificam-se propósitos de incrementar decorativamente os espaços ocupados na ala ocidental.
Em 1939, a DGFP solicitou ao segundo conservador do PNA que se pronunciasse sobre os
quadros que decoravam o gabinete do Ministro das Finanças, sendo proposto o empréstimo de
duas pinturas representando paisagens, respetivamente de José Malhoa e de Higino de
Mendonça1151. Em adição, o conservador sugeriu que se transferisse uma pintura de temática
religiosa existente na sala do chefe de gabinete para um dos palácios nacionais, considerando
o seu valor artístico e histórico e a iconografia fixada. Poucos anos antes, António Ferro dera
conta, nas entrevistas que o Diário de Notícias publicou, do gabinete “desanuviado, claro,
nítido”1152 ocupado por Salazar, reportando que a ampla secretária com tampo de vidro era tão
arrumada e limpa quanto os orçamentos gerais do Estado que o ministro controlava.

Fig. 109. António Ferro entrevistando o Ministro das Finanças no seu gabinete, localizado na ala ocidental da
Praça do Comércio. 04.12.1932.

1150
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Engenheiro Diretor Delegado da DNISP, 14.07.1949, p. 2.
DGPC/SIPA: P//DGEMN/DNISP-001-0119/01/3, TXT.09164898.
1151
Ofício de A. Luiz Gomes (Diretor-Geral da DGFP) para Raul Lino (Superintendente Artístico dos Palácios
Nacionais), 14.11.1939. AFRL: Armário B, maço Superintendência Artística dos Palácios Nacionais.
1152
António Ferro, “3.ª Entrevista. A Ditadura e o seu contacto com a Nação [1932]”, Entrevistas a Salazar, 49.

243
Por ocasião do 12.º aniversário de Salazar à frente da pasta das Finanças, em 1940, o Secretário-
Geral desse Ministério, António Luís Gomes (1898-1981), propôs que momento fosse marcado
através de uma manifestação estética, em jeito de homenagem ao inexcedível e incansável
“organizador, ordenador e construtor”1153. Considerava adequada a encomenda de um retrato a
óleo de Salazar para o gabinete do Ministro das Finanças, a acometer ao pintor Luís de Ortigão
Burnay (1884-1951), e de um busto para o átrio de entrada do ministério, que propunha ser
executado pelo escultor Francisco Franco e pelo arquiteto Carlos Ramos.
A pintura de Ortigão Burnay foi apresentada no salão anual da SNBA em 1941, sendo
enaltecida no Diário de Lisboa como “uma tela histórica, com simbolismo, que deve ter lugar
numa galeria oficial”1154. Retrata Salazar sentado à secretária de trabalho, vislumbrando-se a
Praça do Comércio atrás de uma cortina – como que em alusão ao retrato do Marquês de
Pombal, pintado por Louis-Michel Van Loo e Claude-Joseph Vernet (1767), embora
apresentando Salazar de modo mais discreto e austero, frisando o empenho no governo do país.
A peça de Francisco Franco reproduz a cabeça do Presidente do Conselho, com semblante
pensativo, sem qualquer atributo.

Fig. 110. Modelo em barro do busto de Salazar por Francisco Franco. 1941.

1153
Ofício do Secretário-Geral do Ministério das Finanças para o Diretor-Geral da DGFP, s.d. [dezembro 1940].
ACMF: PT/ACMF/DGFP/RT/PES/0412.
1154
Anónimo, “A exposição anual da Sociedade de Belas Artes é muito superior áquelas que se têm realizado
ultimamente”, Diário de Lisboa, n.º 6617, 25.04.1941, p. 4. Referido em: Tavares, Naturalismo e Naturalismos
na pintura portuguesa do séc. XX [...], vol. I, 89.

244
Fig. 111. Gabinete do Ministro das Finanças, com retrato por Ortigão Burnay no fundo. [pós-1940]

Refira-se, durante estes anos, o pedido de obras de beneficiação diversa para outros ministérios
localizados na praça, como nas dependências dos Subsecretariados de Estado da Agricultura1155
e das Colónias1156 na ala ocidental, ou nas instalações do Ministério da Justiça na ala norte1157.
Também os CTT funcionavam na ala ocidental, ocupando o Pátio da Galé como área de
descargas. Tal levou à solicitação de alterações na disposição do pátio e das gárgulas e de
construção de um alpendre envidraçado, intenções às quais Raul Lino se opôs, propondo
soluções menos intrusivas para resolver o problema da acumulação de água no local1158,
embora viesse a concordar com a introdução de elementos provisórios que facilitassem o
funcionamento dos serviços, conquanto não deixassem marcas posteriores1159.

1155
Arquivo do Ministério das Finanças: pasta 2/LFC/E/40 - Edifício da Praça do Comércio. Pedido de Obras da
Direção-Geral dos Serviços Agrícolas; DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3839/05;
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4515/12.
1156
Ofício do Subsecretário de Estado das Colónias para Ministro das Obras Públicas, 12.09.1940. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3798/06, TXT.04900370.
1157
Correspondência diversa, 1940-1944. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4424/15.
1158
Ofícios de Raul Lino, 25.09.1940 e 01.04.1941. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351,
TXT.00446385 e TXT.00446390.
1159
Ofício de Raul Lino (chefe da REOM) para Raul Maçãs Fernandes (chefe da REE), 08.07.1944. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0025/02, TXT.07355450.

245
Fig. 112. Pátio da Galé ocupado pelos CTT. S.d.

3.4. Propostas de urbanização e de arranjo da praça na década de 1940

Constatámos como, até à década de 1930, surgiram diversas propostas para arranjo da zona
ribeirinha, no troço de ligação entre a estação do Cais do Sodré e a Praça do Comércio,
integrados num movimento mais amplo de melhoramentos na capital. Porém, nenhuma das
propostas foi concretizada, não se verificando mudanças na fisionomia das estruturas do
Arsenal de Marinha que impediam a inserção de uma via marginal.

246
Fig. 113. Fotografia aérea destacando o Arsenal de Marinha. [1930-1932].

É com a assunção da pasta das Obras Públicas e Comunicações por Duarte Pacheco, em 1932,
que se começa a delinear um plano metódico de transformação do território nacional, com
aposta numa urbanização centralmente orientada1160. É de assinalar o Plano de Urbanização da
Costa do Sol (1933-35), outorgado ao urbanista francês Donat-Alfred Agache (1875-1959),
que entendeu a Praça do Comércio como um dos centros funcionais de Lisboa e propôs, entre
outros aspetos, uma via de ligação entre a praça e a Avenida 24 de Julho1161. Este plano seria
retomado (1938-46) sob orientação de Étienne de Gröer (1882-1959), que também foi
responsável pelo Plano Diretor de Urbanização de Lisboa (PDUL, 1938-48)1162, para o qual
contou com colaboração do arquiteto urbanista João Guilherme Faria da Costa1163. Saliente-se

1160
Costa, O País a Régua e Esquadro, 97-117, 161.
1161
Ibid., 165.
1162
Que, conquanto aprovado pela CML, não recebeu aprovação do Governo.
1163
Formado na ESBAL, estudou Urbanismo no Institut d’Urbanisme de Paris (1935-37). Integrou, na sequência
e até 1948, os quadros da CML como arquiteto-urbanista de 1.ª classe, concretamente a recém-criada Direção-
Geral dos Serviços de Urbanização e Obras (DGSUO). Delineou planos como o de urbanização da Encosta da
Ajuda e do Areeiro (1938) e do bairro de Alvalade (1945-48). Elaborou, também, diversos planos de urbanização
no território nacional em colaboração com o MOP: Figueira da Foz, Portalegre, Amadora, Costa da Caparica,
entre outros. Foi, ainda, autor de projetos de construção e adaptação de diversos edifícios e habitações. Informação
recolhida em: Almeida, Bairro(s) do Restelo, vol. I, , 30-32; Salvatore, “Towards a Modern Lisbon through [...]”,
8-15; http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/Entity.aspx?id=a34edeeb-1d22-4f8b-ae46-
368811ee28df (acesso a 05.07.2022).

247
que o PDUL previa, entre outros aspetos, incrementar as circulações entre pontos cruciais
através de túneis subterrâneos, por exemplo entre a Praça do Corpo Santo, a oeste do Arsenal
da Marinha, e o Largo Terreiro do Trigo.

O desenvolvimento portuário constituía uma preocupação desde o século XIX, e apesar da


realização de alguns melhoramentos nas primeiras décadas da centúria seguinte, como o
assentamento de linhas ferroviárias e a construção de armazéns e docas, a concretização de um
conjunto de infraestruturas de forma programada coube ao regime do Estado Novo. Para além
da transferência da base naval da Marinha para o novo arsenal na margem sul do Tejo, refira-
se a construção de equipamentos de suporte ao transporte de passageiros e ao comércio, como
as gares marítimas de Alcântara (arq. Pardal Monteiro, 1934-43) e da Rocha do Conde de
Óbidos (arq. Pardal Monteiro, 1934-48) e o armazém frigorífico para armazenamento de
bacalhau (arq. João Simões, 1938-42), sob orientação da Administração Geral do Porto de
Lisboa1164 (AGPL), um organismo dependente do MOPC.
Duarte Pacheco nomeou uma comissão para elaborar um plano de melhoramentos do porto de
Lisboa logo em 19331165, chegando a ser elaborado um estudo nesse sentido pelo arquiteto
Pardal Monteiro, visando a área entre as docas de Alcântara e de Santos (1936)1166. A oposição
do engenheiro Cid Perestrelo, vogal do CSOP, à construção das duas gares, por defender a
integração de uma gare central junto do Cais do Sodré, poderá explicar a existência de outros
estudos elaborados pela AGPL. Identificaram-se dois desenhos que antecederam o lançamento
do Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa (PMPL), em 1946, a executar em dez anos1167.
O primeiro foi publicado por Augusto Vieira da Silva, partilhado pela AGPL (1941)1168:
circunscreve-se à zona entre a Praça do Duque da Terceira e a Praça do Comércio, propondo
uma avenida marginal sobre o rio acompanhada do prolongamento dos caminhos-de-ferro e de
uma estação fluvial. A norte dessa avenida, na zona ocupada pelas estruturas do Arsenal de
Marinha, propõe-se um conjunto edificado em malha ortogonal, possivelmente para instalação
de serviços públicos.

1164
Decreto-lei n.º 24208, Diário do Governo, I série, n.º 171, 23.07.1934.
1165
Costa, O País a Régua e Esquadro, 184.
1166
Caldas, Porfírio Pardal Monteiro – Arquitecto, 64; Costa, O País a Régua e Esquadro, 171, 189.
1167
Decreto-lei n.º 35716, Diário do Governo, I série, n.º 138, 24.06.1946.
1168
Augusto Vieira da Silva, “Ligação costeira da Baixa com a parte ocidental da cidade. Projectos e Sugestões
apresentadas. Notícia histórica”, Revista Municipal 8/9 (1941): 3-14.

248
Fig. 114. Proposta da AGPL de ligação entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, sobreposta à planta da zona
em 1941.

O segundo desenho corresponde a uma planta, assinada pelo arquiteto Paulo de Carvalho
Cunha (1908-?)1169 e pelo engenheiro Fernando Santos Silva (?-?), dos Serviços de Engenharia
da AGPL, datada de 20.04.1942. Trata-se do plano de melhoramentos do porto entre Alcântara
e Terreiro do Paço, que, abarcando as docas de Alcântara e de Santos, integra a gare marítima
de Alcântara e uma estação marítima no Cais do Sodré, conforme advogara Cid Perestrelo.
Entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, planeia uma avenida marginal, ladeada por uma
secção ajardinada; nesta secção, a distribuição de edifícios é idêntica ao desenho reproduzido
por Vieira da Silva. No que respeita aos edifícios ministeriais da praça, verifica-se modificação
na ala ocidental: a eliminação do arsenal leva à proposta de encerrar o corpo a sul, criando
pátios interiores, surgindo identificado apenas como destinado a ministérios. A nascente da ala
oriental observa-se a inclusão de um edifício identificado como Ministério da Marinha, numa
plausível hipótese de retirar esses serviços da ala ocidental. Este desenho corresponde à
primeira secção da margem norte do Tejo contemplada no PMPL. Impunha-se de forma

1169
Formado na ESBAL, estagiou com o arq. Carlos Ramos e ingressou na AGPL em 1939. Foi um dos membros
fundadores do ICAT e foi secretário-geral do I Congresso Nacional de Arquitetura. Autor de um conjunto de
projetos para equipamentos portuários como o aeroporto marítimo de Lisboa (1940, com eng. Fernando Santos
Silva), e, a partir de 1942, de planos gerais de urbanização para localidades costeiras em diversos pontos do
território. Cf. Carlos Vieira de Faria, “Industrialização – Urbanização: que relações? O caso do (ante)plano de
urbanização da vila do Barreiro (1957)”, in Actas do Colóquio Internacional Industrialização em Portugal no
século XX: o caso do Barreiro, coord. Miguel Figueira de Faria, José Amado Mendes (Lisboa: EDIUAL, 2010),
347-364

249
urgente, segundo o decreto legislador, a execução das obras de maior vulto nesse troço entre
Santos e o Terreiro do Paço, implicando a construção de muros-cais exteriores e terraplenos1170.

Fig. 115. Paulo Cunha, Fernando Silva / AGPL, Plano de melhoramentos do porto entre Alcântara e Terreiro do
Paço [pormenor], 20.04.1942.

Fig. 116. Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa – margem norte do rio Tejo, 1946.

Paralelamente, Pardal Monteiro apresentou uma proposta para estudo de ligação entre a
Avenida 24 de Julho e o Terreiro do Paço, datada de maio de 19451171, elaborada como resposta
a uma incumbência verbal que recebera do Subsecretário de Estado das Obras Públicas1172.
Recorde-se que o arquiteto fora responsável pelo projeto da estação do Cais do Sodré (1928) e
pelo atrás referido estudo de urbanização da doca de Alcântara (1936), e, para além dos projetos
das gares marítimas, cedera espaço no seu atelier a Alfred Agache durante o trabalho do Plano
de Urbanização da Costa do Sol, estando, portanto, familiarizado com a envolvente e os seus
problemas de acessos.

1170
Decreto-lei n.º 35716, Base I.
1171
Porfírio Pardal Monteiro, Memória Descritiva do estudo para a ligação da Avenida 24 de Julho ao Terreiro do
Paço, maio de 1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435798-TXT.05435803.
1172
Cópia de ofício não assinado [Porfírio Pardal Monteiro] para Diretor-Geral da DGEMN, 29.05.1945.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/040, TXT.01435515.

250
A memória descritiva elucida tratar-se somente de um estudo preliminar que carecia de maior
pormenorização, dado que o arquiteto não dispunha de alguns elementos indispensáveis, como
os programas dos ministérios a instalar na área. Um dos objetivos, para além de servir de base
aos projetos para novos edifícios ministeriais, consistiu na previsão antecipada de um
arruamento que permitisse a serventia das obras dos edifícios a construir a poente da praça,
enquanto não estava definitivamente regularizada a urbanização da zona1173. Intentava-se
facilitar as ligações entre os dois pontos sem dispêndios exagerados: para tal, propunha
soluções como desviar o nó de ligação central do Cais do Sodré, aí estabelecendo uma zona de
estacionamento, e criar uma praça com monumento entre a avenida marginal e a Avenida 24
de Julho. Apresentava também hipóteses de implementar túneis de ligação e ajardinar as áreas
junto ao rio, conforme Forestier propusera décadas antes. No que respeita à instalação e
concentração dos ministérios, o estudo destinava-lhes os corpos adjacentes à ala ocidental, cuja
composição definiria os arruamentos a projetar, e a zona oriental seria ocupada pelos
Ministérios das Finanças e da Marinha – à semelhança do estudo da AGPL. Após indicação
para que contactasse com os serviços da CML e a AGPL, por forma a conciliar os planos, o
arquiteto entregou dois estudos sugerindo a referida ligação, com prolongamento para a zona
oriental da Praça do Comércio1174.

Fig. 117. Porfírio Pardal Monteiro, Avenida de ligação do Cais do Sodré à Praça do Comércio, [1946].

1173
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor-Geral da DGEMN, 15.12.1945. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435816.
1174
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor-Geral da DGEMN, 06.11.1945. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435812.

251
Este estudo de ligação enquadrava-se na tarefa entretanto incumbida a Porfírio Pardal Monteiro
de “estudar e projectar a instalação dos serviços públicos na zona do Terreiro do Paço” 1175, o
que incluía construção de novas alas e transformação das existentes, acarretando
redistribuições de organismos. Previa-se a instalação, nessa zona, dos Ministérios do Interior,
da Justiça, da Guerra, das Obras Públicas, das Colónias, da Educação Nacional, da Economia
e do Subsecretariado das Corporações; os Ministérios das Finanças e da Marinha já haviam
sido considerados à parte, não sendo incluídos neste estudo apesar de também figurarem na
zona. A DGEMN solicitara informações aos diversos serviços relativamente às necessidades e
ao programa a seguir, recebendo Pardal Monteiro uma credencial que lhe permitiria contactar
diretamente com os respetivos Secretários-Gerais e funcionários dirigentes, por forma a dar
avanço aos estudos.
Em abril de 1946, o arquiteto enviou as plantas relativas às obras a efetuar no Ministério das
Colónias, sito na ala ocidental1176, e, volvidos seis meses, foi solicitado pela DGEMN que desse
conta da posição dos estudos de arranjo da Praça do Comércio 1177. Recorde-se que no final
desse ano ocorreu uma remodelação ministerial que separou a pasta das Obras Públicas da das
Comunicações. Outros aspetos que protelaram a elaboração dos estudos prendiam-se com a
demora quer na receção das instruções e programas para os serviços1178, quer na aprovação do
plano de urbanização1179. Somente em 1948 a CML dava conta de estar a proceder à execução
da rua marginal provisória entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço1180.

Neste período, em que o PDUL se encontrava em elaboração, o município equacionou alterar


a placa central da Praça do Comércio para albergar um parque de estacionamento para 200
automóveis, submetendo dois esbocetos à apreciação da JNE – um elaborado pelos seus
Serviços Técnicos e outro pelo arquiteto Luís Cristino da Silva, que fora convidado pelo Diretor
da Direção dos Serviços de Urbanização e Obras (DSUO), Eduardo de Arantes e Oliveira1181.

1175
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 23.03.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-
0097/059, TXT.01436536.
1176
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor-Geral da DGEMN, 20.04.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/059, TXT.01436566
1177
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Porfírio Pardal Monteiro, 24.10.1946. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/059, TXT.01436603.
1178
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor-Geral da DGEMN, 06.11.1945. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435812.
1179
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor-Geral da DGEMN, 18.06.1946. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435820.
1180
Ofício do Presidente da CML para Diretor-Geral da DGEMN, 23.04.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435824.
1181
Ofício de Eduardo de Arantes e Oliveira para Luís Cristino da Silva, 19.11.1946. Espólio Luís Cristino da
Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS 43.0.1.

252
Henrique Gomes da Silva redigiu um parecer como vogal da JNE, apontando que os dois
estudos visavam modificar a praça para enquadrar o maior número possível de viaturas sem
considerar o seu arranjo, o que em muito prejudicaria o “admirável equilíbrio”1182 dessa digna
praça. Terá juntado um esboceto elaborado pela DGEMN (não identificado nos arquivos) para
resolução do problema, no qual os automóveis eram também arranjados em torno da placa
central. Acrescentou outros aspetos a contabilizar: substituição dos candeeiros por postes altos
semelhantes aos da Praça do Império e iluminação das arcadas, pavimentação decorativa da
placa central em lajes com desenhos em lioz e basalto, e inclusão de faixas de árvores nos lados
oriental e ocidental. Apesar do despacho ministerial para estudo dos pormenores de iluminação
e de arborização da praça, a autorização para uso da placa central como parque de
estacionamento era provisória e somente efetiva até final de 19471183. No entanto, tal diretiva
não impediu que automóveis continuassem a estacionar na placa central: já em 1960, repetiam-
se queixas sobre a afronta que constituía tal prática, tanto para a praça como para a cidade,
urgindo-se pela retoma e concretização dos anteriores estudos de arranjo1184. Entretanto, em
1955, decidira-se apenas realizar a reparação do pavimento, em estado deplorável, deixando
para outra ocasião os planos dispendiosos, visto que se previa proximamente a retirada dos
carros elétricos, a remodelação da orla da praça no âmbito do Plano de Melhoramentos do Porto
de Lisboa, e a construção de novos edifícios ministeriais entre a praça e o Cais do Sodré1185.

3.5. Um estudo gorado para remodelação do Ministério da Justiça

Em 1945, o Diretor-Geral da DGEMN submeteu ao ministro documentos existentes sobre um


estudo de alteração das instalações do Ministério da Justiça, na ala norte, propondo que se

1182
Henrique Gomes da Silva, Parecer, [10.01.1947], p. 2. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 288, proc. 2.
1183
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Arquiteto Diretor da DSMN, 08.03.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446432.
1184
Ofício do Arquiteto Diretor da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 01.02.1960. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1352, TXT.00447076- TXT.00447075.
1185
Nota manuscrita do Ministro das Obras Públicas, 30.05.1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-002-
0312/22, TXT.07770958-TXT.07770956.

253
incumbisse o projeto correspondente ao arquiteto Raul Tojal1186 (1900-1969)1187. O primeiro
estudo de remodelação, considerando critérios económicos e de preservação das estruturas e
dos acessos principais pela escadaria original1188, recebeu reparos do Subsecretário de Estado
das Obras Públicas, José Frederico Ulrich, no tocante à distribuição dos serviços e à
necessidade de incluir um elevador na secção poente1189, resultando na execução de um
segundo estudo com melhoramentos na organização interna, incluindo circulações e sua
iluminação1190.
O anteprojeto, seguindo programa imposto pelo Ministro da Justiça, foi aprovado pelo já
ministro Ulrich1191. Os serviços centrais a manter no edifício incluíam o gabinete ministerial, a
Direção-Geral da Justiça e a Direção-Geral dos Serviços Jurisdicionais de Menores, a 4.ª
Repartição da Direção-Geral da Contabilidade Pública, e o Conselho Superior Judiciário.
Motivos de saúde, dificuldades em obter elementos essenciais para realização de trabalhos
preparatórios, e atrasos na elaboração dos cálculos de estabilidade e no estudo da instalação
elétrica levaram o arquiteto prorrogar a entrega do projeto até final de agosto de 19461192.
Houve também dificuldades na execução do projeto de construção civil, baseado no projeto
arquitetónico1193, para manutenção de princípios de economia, devido a problemas nas
estruturas, sucessivas alterações e materiais a empregar perante a necessidade de respeitar o
edifício antigo1194.

1186
Raul Francisco Tojal, formado em Arquitetura na EBAL (1926), participou na I Exposição dos Independentes
(1930). Assinou um conjunto diversificado de projetos, da piscina do Clube de Algés e Dafundo (1932) e
complexo de piscinas da Praia das Maçãs (1955, colaboração com arq. Faria da Costa), várias habitações,
remodelações do café Palladium (1932) e do Cinema Condes (1952), em Lisboa, projeto do Hotel Algarve na
Praia da Rocha (1967), e arranjo do Forte de São Julião da Barra e do Conservatório Nacional de Lisboa, entre
outros. (França, A Arte em Portugal no século XX, 226, 235, 239; Pedreirinho, Dicionário dos Arquitetos [...],
313).
1187
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Ministro das Obras Públicas e Comunicações, 25.04.1945.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4424/02, TXT.05251943.
1188
Raul Tojal, Estudo para o projecto das obras de remodelação do Ministério da Justiça – Memória Descritiva,
20.09.1945. DGPC/SIPA: DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4424/02, TXT.05251950-
TXT.05251952.
1189
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Diretor da DEL, 06.10.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4424/02, TXT.05251947.
1190
Raul Tojal, Estudo para o projecto das novas instalações do Ministério da Justiça – 2.º estudo: Memória
Descritiva, 05.11.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/1, TXT.09111044-TXT.09111045.
1191
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 02.01.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/1,
TXT.09111047.
1192
Ofício de Raul Tojal para Diretor-Geral da DGEMN, 11.04.1946; Ofício de Raul Tojal para Diretor-Geral da
DGEMN, 30.07.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/1, TXT.09111067, TXT.09111069.
1193
Raul Tojal, Projecto das novas instalações do Ministério da Justiça – Memória Justificativa, 31.08.1946.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125/4214/02, TXT.05122517-TXT.05122522.
1194
Eng. Paulo de Paiva Ricou, Alterações no edifício do Ministério da Justiça, na Praça do Comércio, em Lisboa
– Projeto de Construção Civil – Memórias Descritiva, julho 1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0081/06,
TXT.07380401-TXT.07380400.

254
Fig. 118. Raul Tojal, Ministério da Justiça: projeto das novas instalações – corte por EF, [1946].

Fig. 119. Raul Tojal, Ministério da Justiça – projeto das novas instalações: planta do 2.º andar, acabamentos,
05.08.1946.

255
O Ministro das Obras Públicas encarregou Henrique Gomes da Silva, Raul Lino e Mariano
Pires, em representação da REE, de rever urgentemente o projeto após a entrega1195. O relatório
seria encaminhado para o CSOP. Apesar dos critérios de economia e de limitação de
demolições ao indispensável com aproveitamento de materiais, os relatores denotam o
dispêndio avultado evidente no orçamento incluso e o volume considerável “de alvenarias
condenado a desaparecer”1196, que implicaria demolição de um conjunto de abóbadas de
suporte. Porém, louvaram a resolução da atual distribuição labiríntica de serviços e de acessos
através de uma nova disposição ampla e coerente, e consideraram que o projeto se adequava às
necessidades dos serviços e às condições do local.

O parecer do CSOP também deu aval positivo ao projeto1197. Compreendendo as vantagens das
demolições planeadas, indicou a necessidade premente de estudar a instalação de aquecimento
e da rede telefónica, e apontou a falta de orçamento para ascensores. O ministro, incitando ao
avanço do processo de concurso, não teve objeções à exceção do facto de as obras apenas se
poderem iniciar quando o edifício se encontrasse devoluto, isto é, assim que todos os serviços
e dependências tivessem sido transferidos, por forma a facilitar o trabalho célere pelos
empreiteiros1198. Para além de repartições e direções-gerais do Ministério da Justiça, o edifício
comportava a Junta de Crédito Público e uma secção da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e
Previdência (CGDCP), afetas ao Ministério das Finanças. Também o Ministro da Justiça
informou que somente desejava deslocar os seus serviços quando fosse possível desocupar todo
o edifício, e que as obras de remodelação deveriam ser iniciadas pela zona do seu futuro
gabinete1199. Os estudos desenhados de Raul Tojal evidenciam que se planeava um gabinete
sóbrio, com mobiliário de cariz histórico e decoração artística nas paredes.

1195
Despacho do Ministro das Obras Púbicas, 30.09.1946. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/1,
TXT.09111070.
1196
DGEMN/REE (H. Gomes da Silva, Raul Lino, Mariano Pires), Parecer: Ministério da Justiça – Projecto das
novas instalações, 17.12.1946. DGPC/SIPA: DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/1,
TXT.09111082- TXT.09111083.
1197
CSOP, Parecer n.º 1827, 11.07.1947. BAHE: Fundo CSOP, P1827.
1198
Cópia de despacho do Ministro das Obras públicas de 08.09.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0182/03,
TXT.07434502-TXT.07434501.
1199
Ofício do eng. Almeida Garrett para o Diretor dos Serviços de Construção, 04.10.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0182/03, TXT.07434507-TXT.07434504.

256
Fig. 120. Raul Tojal, Ministério da Justiça: pormenor da planta – gabinete do ministro, 05.08.1946.

Fig. 121. Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado A, 05.08.1946

257
Fig. 122. Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado C, 05.08.1946.

Fig. 123. Raul Tojal, Ministério da Justiça: gabinete do ministro – alçado D, 05.08.1946.

Aquando da implementação da DNISP, o seu diretor deu conta da existência de um projeto já


aprovado – presumivelmente, o estudo assinado por Raul Tojal –, o que levou a que se
estudasse a instalação provisória dos serviços da Justiça durante as obras; a CGDCP constituía
o único entrave, por não fazer parte das incumbências da delegação1200.

1200
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 09.12.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4425/08, TXT.05252603-TXT.05252602

258
Data desta altura a encomenda do Ministério da Justiça de uma estátua em mármore de
Estremoz ao escultor Júlio Vaz Júnior (1877-1963), figurando a Justiça, para integrar o salão
nobre do Supremo Tribunal de Justiça1201, analisada positivamente por Raul Lino quanto à
adequação ao local1202.

3.6. Valorização artística da praça e dos edifícios ministeriais no pós-guerra

Após o término da II Guerra Mundial, em paralelo aos estudos de arranjo da Praça do Comércio
para instalação dos ministérios acometidos a Pardal Monteiro, a DSMN apresentou uma
proposta de planta delimitando a zona de proteção da praça, devido à sua classificação como
Monumento Nacional desde 19101203. Esta circunscrição fixava uma zona interdita à
modificação futura de fachadas, embora ressalvasse a possibilidade de intervenção em fachadas
já alteradas para reposição da feição da época da reconstrução pombalina. Em adição aos
edifícios circundando diretamente a praça, incluindo a zona do arsenal, esta proposta englobava
alguns edifícios limítrofes, como a Câmara Municipal de Lisboa e os quarteirões antecedendo
a Rua da Conceição.

Para valorização estética da praça surgiu a ideia de guarnecer os nichos vazios das fachadas. Já
em 1935, o arquiteto Carlos Ramos aludira à sugestão de abertura de concurso para colocação
de estátuas nos nichos, que considerava não possuírem proporções para integrar estatuária1204.
A retoma desta ideia parece ter partido do ministro Ulrich, que, em abril de 1947, expressou
vontade de colocar essa questão à JNE, ponderando a colocação de estátuas alegóricas aos
ministérios1205.
Pardal Monteiro, ao serviço da JNE, e possivelmente na sequência da ordem ministerial, exarou
um parecer favorável à colocação de estátuas nos 13 nichos1206. Afirmando que, apesar da
inexistência de documentação histórica que comprovasse um projeto artístico para esses
espaços, a integração de esculturas decorativas teria sido uma intenção lógica em comparação

1201
Nunes, Sob o olhar de Témis.
1202
Ofício de Raul Lino (DSMN) para Diretor-Geral da DGEMN, 02.06.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3979/06, TXT.04998824.
1203
Arquiteto-chefe da 1.ª secção da DSMN (João Vaz Martins), Planta da Zona de Protecção: Memória
Justificativa, 30.09.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0347/03, TXT.02434168.
1204
Ramos, O Terreiro do Paço. Antecâmara de Lisboa.
1205
Nota do Ministro das Obras Públicas para Diretor-Geral da DGEMN, 23.04.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/046, TXT.01436059.
1206
Porfírio Pardal Monteiro, Parecer, s.d. [1947?] (cópia). AHSGEC: Fundo JNE, cx. 288, proc. 2.

259
com outros casos, que não especifica. Defendeu a incumbência de um arquiteto para estudar o
assunto e coordenar os trabalhos e os escultores que viessem a ser contratados para o efeito.
Notou a importância de, entre as figuras a homenagear, não se olvidarem os colaboradores do
Marquês de Pombal na reconstrução de Lisboa – recorde-se o elogio público do papel
desempenhado pelos engenheiros militares nessa tarefa que Pardal Monteiro fez por esta
altura1207.
Subsequentemente, Raul Lino e Baltazar de Castro (1891-1967) pronunciaram-se sobre a
escolha dos elementos escultóricos para os nichos, afirmando ser de difícil resolução a sugestão
da homenagem aos colaboradores de Pombal1208. Tal decisão acarretaria duas hipóteses
consideradas inaceitáveis: incluir apenas figuras do período pombalino, o que se revelava
redutor, ou integrar personagens históricas com maior peso do que Eugénio dos Santos e
Machado de Castro, ou mesmo alegorias. Assim, respeitando o espírito utilitário e pragmático
da reconstrução, sugeriram buscar inspiração nessa época através da inclusão de estátuas
alegóricas representativas das atividades desenroladas em torno da praça, símbolo nacional
evocativo do poder executivo. Enunciaram alegorias ao Comércio (padroeira da praça), à
Indústria, à Agricultura, à Navegação, à Pescaria, à Colonização, às Ciências, às Artes, ao
Direito, à Tradição, à Prudência, à Fortidão (isto é, a força no sentido espiritual, geralmente
representada por uma coluna, e não no sentido militar), e à Ordem “eterna que tem por mais
alto e infinito padrão a harmonia do cosmos”1209, a localizar no ângulo noroeste. Previa-se que
as estátuas, contabilizando o soco, medissem 2,45 m de altura, devendo ser proporcionais ao
formato semicircular dos nichos; na face do soco seria inscrita a designação da alegoria. Os
artistas teriam liberdade de interpretação e de conceção, conquanto obedecessem a “uma
inspiração sincera a que não falte gosto, nobreza, um mínimo de clareza e a necessária
eloquência”1210, e respeitassem a arquitetura setecentista. Os arquitetos elaboraram as
condições de execução das estátuas, incluindo as dimensões a respeitar e o faseamento dos
pagamentos conforme às etapas de avaliação dos estudos e esculturas definitivas1211.

1207
Monteiro 1949; 1950.
1208
Raul Lino, Baltazar de Castro, Escolha dos elementos escultóricos que hão de guarnecer os nichos existentes
no Terreiro do Paço, 30.07.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446407-
TXT.00446404.
1209
Ibid., p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446405.
1210
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446404.
1211
Raul Lino, Baltazar de Castro, Condições de execução do trabalho, 12.09.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446399-TXT.00446397.

260
Identificou-se um segundo documento assinado pelos autores, que aparenta corresponder a uma
versão definitiva e aperfeiçoada da proposta atrás descrita1212. Enuncia a inclusão de alegorias
glorificando as atividades nacionais, representativas e justificativas dos ministérios
funcionando em torno da praça, bem como de figurações de caráter mais transcendente para
inspiração dos que se viriam a encarregar de conduzir as pastas do Governo. A única alteração
regista-se na alegoria às Artes, que passou a Artes e Ofícios. Em adição às descrições feitas
anteriormente para as figuras da Fortitude e da Ordem, enuncia o que se compreendia por
Tradição – a continuidade pacífica, garante da educação moral e cívica. As estátuas já não
serviam apenas para inspirar os governantes, mas para “infundir sentimentos de calma e
respeito por todos os que por ali hão-de ter que passar”1213, parecendo-nos que a escolha das
alegorias assumiu intentos ideológicos. Os autores referiram-se, ainda, aos nichos das
escadarias localizados nos interiores dos edifícios, para os quais aceitavam a colocação de
efígies de figuras decisivas da época pombalina, particularmente as ligadas à reconstrução.
Armando de Lucena, vogal da JNE, pronunciou-se quanto à proposta de decoração dos
nichos1214. Concordava com a ideia, mais conforme à estética setecentista – recordando, como
exemplos posteriores, o Palácio da Ajuda e a Basílica da Estrela – e passível de evitar melindres
quanto à escolha de personagens históricas. Embora, por vezes, este tipo de nichos não tivesse
função de albergar figuras, concordou com o preenchimento na Praça do Comércio, que poderia
contribuir para elevá-la ao nível da Praça da Concórdia, em Paris, ou da Praça de S. Pedro, no
Vaticano. O único reparo consistiu na pertinência de integrar uma alegoria às Belas-Artes,
distintas das “menores” Artes e Ofícios, com sacrifício de outra alegoria que não fosse
representativa da atividade nacional no tempo da reconstrução pós-terramoto.

O Ministro das Obras Públicas concordou com as sugestões de Raul Lino e Baltazar de Castro,
solicitando indicação dos escultores a consultar, que deveriam ficar sob orientação superior de
um arquiteto, também a designar1215. Foram sugeridos os seguintes escultores: Leopoldo de
Almeida, Diogo de Macedo, Simões de Almeida (Sobrinho), Barata Feyo, António Duarte,
Martins Correia, João Fragoso, Álvaro de Brée, Euclides Vaz, António da Rocha Correia,
António de Azevedo, Luiz Fernandes e Henrique Moreira, constando ainda Raul Xavier desta

1212
Raul Lino, Baltazar de Castro, Encomenda dos elementos escultóricos que hão de guarnecer os nichos
existentes no Terreiro do Paço, 12.09.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446421-
TXT.00446414.
1213
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446417.
1214
Armando de Lucena, Parecer, 03.07.1948. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 288, proc. 2.
1215
Cópia de despacho do Ministro das Obras Públicas, 15.08.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-
1351, TXT.00446411.

261
lista1216. Alguns meses mais tarde, Duarte Angélico teve conhecimento do projeto e solicitou
admissão ao provável concurso1217. Também João Couto, Diretor do MNAA, recomendou a
Baltazar de Castro dois candidatos que com ele trabalhavam, os escultores Carlos Sant’Ana de
Bragança e Francisco Xavier da Costa1218. O ministro ordenara, entretanto, que se consultassem
os artistas sugeridos, imaginando que a atribuição de cada alegoria se pudesse fazer por sorteio.
Foram, de seguida, apresentadas propostas de orçamento pelos escultores para execução das
estátuas em lioz1219, calculando-se aproximadamente 90.000$00 para cada peça. Porém, nesse
ano, apenas estava disponível uma verba de 100.000$00 para execução deste plano1220,
presumindo-se que esta tenha sido uma razão de peso para não se avançar com os estudos. Não
obstante insistências posteriores sobre o assunto, o facto de, atualmente, não existirem estátuas
nos nichos, é elucidativo do desfecho desta ideia. Já em 1960, aquando da avaliação da proposta
de remodelação do Ministério da Justiça, o CSOP apontou a ausência de elementos decorativos
apropriados nos nichos como uma das falhas no arranjo da praça1221.

Às intenções de enaltecimento estético nas fachadas acresceram os pedidos de decoração para


gabinetes diversos nos ministérios. Destaquem-se solicitações feitas nesse sentido ao
conservador do PNA, Cayola Zagalo, em 1947, que comprovam a manutenção de uma estética
de cariz historicista, com mobiliário de estilo e obras de arte ostentando iconografia alusiva ao
passado. Por um lado, foi convidado a propor alguns quadros a ceder ao gabinete do Ministro
das Comunicações e salas anexas. Nesse ano, o edifício do canto nordeste da praça foi alvo de
obras para instalar a sede da pasta das Comunicações1222. O conservador considerou que para
o gabinete ministerial seriam adequadas “gravuras com assuntos alusivos à especialidade
daquele Ministério e com molduras de pau santo”1223, a adquirir no mercado, e para as restantes
salas enumerou um conjunto quatro de estudos desenhados por Jaime Martins Barata para os

1216
Nome manuscrito em acréscimo aos datilografados. Raul Lino, Baltazar de Castro, Parecer, 13.09.1947.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446422.
1217
Proposta de Afonso Alexandre Duarte Angélico, 17.02.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-
1351, TXT.00446453.
1218
Ofício manuscrito de João Couto (destinatário não identificado), 01.02.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446823.
1219
Ofício do Diretor da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 29.01.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-
001/011-1351, TXT.00446426.
1220
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 09.02.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-
0097/046, TXT.01436082.
1221
CSOP, Parecer n.º 2973, 07.04.1960, p. 21. BAHE: Fundo CSOP, P2973.
1222
João da Cunha e Silva (agente técnico de engenharia), Edifício da Praça do Comércio, canto nordeste: obras
para a instalação do Ministério das Comunicações, 11.03.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
4732/01, TXT.05439763-TXT.05439759.
1223
Ofício de Manuel Cayola Zagalo para Chefe da Repartição do Património/DGFP, 02.05.1947. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/042.

262
trípticos do Palácio da Assembleia Nacional1224, adquiridos pelo Estado em 1944, e sugeriu a
cedência de duas pinturas de Sousa Lopes1225. As peças de Martins Barata e Sousa Lopes seriam
cedidas para decoração do gabinete do Secretário-Geral do ministério e da respetiva ante-
câmara1226. Porém, após um curto período de experiência, julgou-se que não se adaptavam ao
ambiente dos gabinetes, regressando ao depósito da DGFP no PNA1227.
Zagalo foi, também, incumbido de estudar o arranjo do gabinete de trabalho do Ministro da
Economia, necessitado de uma transformação completa1228. Nas paredes, impunha-se alterar o
forro de tecido lavrado emoldurado por tiras de veludo vermelho por tecido liso de tom marfim.
Faltava um lustre adequado, e a carpete em mau estado de conservação deveria ser substituída
por um tapete de maiores dimensões. Por forma a aproveitar o contador e o relógio existente,
propunha incorporar mobiliário do século XVIII que harmonizasse com as citadas peças,
incluindo secretária, bufete, um contador ou dois armários, cadeiras e mesa pé de galo; apenas
se aproveitaria, do existente, sofá, maples e dois biombos, todos a serem forrados de tecido
idêntico. A decoração ficaria completa com alguns quadros e objetos decorativos para os
contadores. Seria necessário inscrever a verba necessária ao arranjo quando possível, uma vez
que não existiam peças em depósito adequadas.

Fig. 124. Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: contador, s.d.

1224
Houve também intenção de decorar o gabinete do Subsecretário de Estado das Obras Públicas com dois destes
desenhos de Martins Barata. Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Raul Lino (arquiteto-chefe da REOM),
07.05.1945. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0363/04, TXT.02439810.
1225
Tratava-se dos desenhos de Martins Barata listados com os números 70, 73, 76, 78 (cf. Anexo IV), e, de Sousa
Lopes, de pinturas a óleo sobre tela retratando, respetivamente, uma fonte com arvoredo (n.º 97), e um cortejo
numa aldeia (n.º 276) – este último encontrava-se a decorar o gabinete do Diretor-Geral da DGFP.
1226
Ofício do Chefe da Repartição do Património para Manuel Cayola Zagalo, 19.06.1947. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/042.
1227
Ofício do Chefe da Repartição do Património para Manuel Cayola Zagalo, 17.01.1948. ACMF
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/042.
1228
Manuel Cayola Zagalo, Relatório, 02.03.1947. ACMF: PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/036.

263
Fig. 125. Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro da Economia: cadeiras, s.d.

Fig. 126. [CAM], Estudo de mobiliário para o gabinete do Ministro Fig. 127. [CAM], Estudo de mobiliário para o
da Economia: mesa para telefone “Renascença”, s.d. gabinete do Ministro da Economia: candelabro.

3.7. A centralização da remodelação dos edifícios ministeriais

Numa conjuntura de pós-guerra em que o regime do Estado Novo procurou reforçar a sua
legitimidade nos quadros nacional e internacional, perante convulsões internas patentes em
movimentos de oposição e na tomada de posição pública de artistas e arquitetos em eventos
como as EGAP e o I Congresso Nacional de Arquitetura, foi criada, em 1948, a Delegação para

264
as Novas Instalações dos Serviços Públicos (DNISP), no seio da DGEMN1229. Esse ano ficou
marcado pela realização da exposição Quinze Anos de Obras Públicas, decorrida no Instituto
Superior Técnico, em Lisboa, que constituiu um exemplo de demonstração da obra encetada
pelo regime, apresentando uma panóplia de edifícios e infraestruturas como justificação da
manutenção do status quo, por forma a dar continuidade ao empreendimento de obras públicas
iniciado sob batuta de Salazar.
Assumiu-se, então, a imprescindibilidade de dotar os organismos públicos de instalações
condignas, centralizando-se os investimentos e a planificação para efetivação desse propósito.
O decreto de criação demonstra que a evolução dos ministérios levou à dispersão de serviços
por edifícios distintos na capital, e que a despesa com aquisição e arrendamento de prédios
impróprios se revelava incomportável, sendo a reunião dos serviços num centro delimitado – a
zona da Praça do Comércio – vista como a medida mais eficaz. Também os organismos sem
espaço nessa zona seriam alvo de estudos para acomodação adequada. Já em 1945, aquando da
discussão das contas gerais do Estado na Assembleia Nacional, se alertara para os
inconvenientes da disseminação dos serviços públicos, nomeadamente a dificuldade de
fiscalização, os gastos com o arrendamento e os prejuízos para o público, expondo as mais-
valias de urbanização condigna da zona da Praça do Comércio 1230. Apesar de também se
defender a premência de outros equipamentos, o arranjo da praça e dos edifícios públicos não
deixou de ser visto como uma forma de “manter o nível espiritual da Nação”1231. Mais tarde,
na Câmara Corporativa, vincou-se que a instalação condigna dos ministérios interessava “à
própria dignidade do Poder e à grandeza da cidade”1232, o que demonstra o peso simbólico que
a praça acarretava.

A DNISP daria início aos trabalhos com estudos prévios para estabelecimento dos programas
dos ministérios, estruturando “esquemas-tipo para instalação de direcções-gerais, repartições e
outras divisões dos serviços”1233, assim permitindo o esboço do plano de distribuição dos
ministérios e posterior realização de anteprojetos e obras de adaptação. O plano e os programas
seriam alvo de aprovação do Presidente do Conselho após consulta dos ministros respetivos.
A DNISP seria composta por um engenheiro (que ocuparia o cargo de diretor-delegado), um
arquiteto e um contabilista. O restante pessoal seria contratado para o efeito, prevendo-se a

1229
Decreto-lei n.º 36818, Diário do Governo, I série, n.º 78, 05.04.1948.
1230
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, suplemento ao n.º 140, 17.02.1945, 44-45.
1231
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 66, 16.12.1946, 182.
1232
Actas da Câmara Corporativa, n.º 1, 02.01.1954, 57.
1233
Decreto-lei n.º 36818, p. 262.

265
possibilidade de elaborar projetos em regime de prestação de serviços. A direção da DNISP
coube ao engenheiro civil Artur Bonneville Franco (1911-1966), que tirocinara nas obras da
Casa da Moeda (1935) e integrava os quadros da DGEMN desde 19351234. O arquiteto
tirocinante Manuel Ramos da Costa Martins (1922-1996) foi contratado para executar, de
acordo com as indicações de Raul Lino – o arquiteto membro da delegação –, a parte
arquitetónica dos estudos preliminares para a instalação dos serviços centrais dos ministérios
na Praça do Comércio1235. O engenheiro Francisco Anjos Diniz (?-?), que integrava a Junta
Autónoma dos Portos do Ministério das Comunicações1236, propôs-se executar “os trabalhos
de organização dos estudos preliminares para a instalação dos Ministérios das Colónias e da
Economia e dos Subsecretariados das Corporações e da Agricultura na Ala Ocidental da Praça
do Comércio”1237.

As obras na zona da Praça do Comércio encontravam-se, até então, a cargo da DEL e da DSC,
prestando-se nessa altura informações à DNISP sobre os trabalhos em curso, nomeadamente
quanto às instalações do MOP na ala oriental. Indicou-se que não se laborava nos Ministérios
da Guerra e da Marinha, e que os CTT haviam erguido uma parede num depósito cedido pela
Marinha1238. Aguardava-se que a estação central dos correios fosse transferida para um novo
edifício em construção na Praça D. Luís, o que levaria à desocupação de dependências nos 4.º
e 5.º piso da ala ocidental, indispensáveis para albergar outros organismos1239. A DNISP
solicitara o envio de plantas atualizadas dos edifícios na praça, incluindo do novo Ministério
das Finanças, bem como do edifício da antiga Escola Médico-Cirúrgica e do Ministério da
Educação Nacional1240. Neste contexto, o Ministro das Obras Públicas deu ordens para
informar as secretarias gerais dos diversos ministérios da obrigatoriedade de comunicar à
DNISP qualquer intenção de realizar obras nas suas instalações, visto que a delegação
necessitava de possuir constantemente plantas atualizadas para concretizar as suas

1234
Formado no IST, o engenheiro tirocinou nas obras da Casa da Moeda. Após frequência do curso de oficiais
milicianos, foi contratado como engenheiro de 3.ª classe para a Secção de Orientação e Fiscalização de Obras da
DGEMN (1935). Durante a década de 1930, prestou sobretudo assistência técnica em obras nos liceus e nos
Hospitais Civis de Lisboa. Cf. processo individual de Artur Bonneville Franco. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0026/07; PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0017/01.
1235
Proposta, 03.09.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/041, TXT.01435536.
1236
Processo individual de Francisco Anjos Diniz. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0217/02.
1237
Proposta, 31.08.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/041, TXT.01435537.
1238
Informação do Engenheiro adjunto para os Serviços de Obras da DNISP, 01.08.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/09, TXT.09174744.
1239
Ofício de Duarte Calheiros (Administrador adjunto dos CTT) para Diretor-Geral da DGEMN, 28.09.1948.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/041, TXT.01435541-TXT.01435540.
1240
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.07.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/059, TXT.01436644.

266
incumbências, e deveria permanecer vigilante sobre este aspeto1241. Um ofício de Bonneville
Franco, já de 1957, denuncia a falta de comunicação entre as direções e as delegações sob
alçada da DGEMN, uma vez que o engenheiro solicitou que fossem transmitidas à DNISP
todas as alterações realizadas na Praça do Comércio, dadas as suas incumbências no local e à
necessidade de corresponder ao plano superiormente aprovado1242. Praticamente dez anos após
a sua implementação, o papel da DNISP na condução de obras parecia ainda não ter sido
apreendido pelos serviços instalados na praça.

Ponderou-se acerca do método de atribuição dos estudos para os ministérios, concretamente


para os casos da Marinha, Obras Públicas, Comunicações e da sede da AGPL, assinalando-se
a vantagem do concurso limitado por convite sobre a designação direta de um arquiteto
específico1243. O concurso público não seria contemplado pelas complexas formalidades
envolvidas e pela maior garantia de êxito ao direcionar o convite a arquitetos cujo trabalho se
coadunava com os fins em vista – ou seja, orientava-se previamente o desfecho do assunto. O
concurso limitado, integrando no máximo cinco arquitetos e implicando apresentação de um
anteprojeto esquemático, evitaria possíveis melindres e promoveria, segundo a DNISP, uma
salutar concorrência que estimularia a elaboração de propostas de mérito, dando trabalho a
mais profissionais do que a designação direta. Relativamente às fases de execução dos projetos,
com vista a agilizar o processo, a DNISP compilara uma lista de fabricantes e fornecedores
considerados idóneos, aptos a serem consultadas aquando da realização de concursos limitados
para diversos produtos1244.

Por forma a documentar as construções antecedentes e avaliar as fundações nos locais para
onde se planeou construir novos edifícios para os Ministérios da Marinha (a leste da ala
oriental) e das Obras Públicas (a oeste da ala ocidental), Bonneville Franco solicitou a cedência
dos volumes da obra Lisboa Antiga de Júlio de Castilho1245, editados pela CML na década

1241
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 24.08.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/09, TXT.09174752.
1242
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 25.05.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168130.
1243
[Raul Lino], Nota sobre a escolha dos arquitectos que elaborarão os projectos dos novos edifícios públicos,
abril 1949. AFRL: Armário B, Arquivador de relatórios, Artigos e pareceres, 3.º vol., 537.
1244
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 19.01.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0120/02/2/, TXT.0916654.
1245
Ofício de Artur Bonneville Franco para a Direção dos Serviços de Urbanização e Obras da CML, 04.02.1949.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/11, TXT.09174763.

267
anterior com anotações de Augusto Vieira da Silva1246, bem como o envio de plantas históricas
que tinham sido expostas na exposição de obras públicas no IST1247. Em adição, sugeriu a
contratação do bibliotecário-arquivista do Ministério das Finanças, Manuel Santos Estevens
(1913-2001), que coordenara a secção de retrospetiva histórica na atrás mencionada
exposição1248, para recolha de todos os materiais existentes e dispersos relativos à história do
Terreiro do Paço – proposta considerada descabida pelo ministro Ulrich atendendo aos
problemas financeiros que se viviam1249.

3.8. Estudos de distribuição dos ministérios e planos de urbanização

Uma das primeiras tarefas da DNISP consistiu em estudos preliminares da distribuição dos
organismos ministeriais pelos edifícios em torno da Praça do Comércio.
Sendo necessário contemplar a eventual integração dos Ministérios da Economia, das Colónias
e dos Subsecretariados da Agricultura e das Corporações na ala ocidental, Bonneville Franco
requereu informações sobre as instalações que continuariam em uso pela Agência Geral dos
CTT após a sua transição para o edifício na Praça D. Luís I1250, cujo término se veio a arrastar
– a inauguração decorreu em 1953. Na realidade, os serviços dos correios permaneceriam no
local muito após a queda do regime. Refira-se que o gabinete do Ministro da Economia, tal
como o do Ministro das Obras Públicas, se localizava então na ala oriental – de resto, os
serviços centrais da pasta da Economia encontravam-se dispersos pela cidade, funcionando em
edifícios arrendados pelo Estado1251. O estudo das instalações definitivas desse ministério foi
entregue ao arquiteto Pardal Monteiro – encontrando-se ainda em elaboração em 1953 –, e do
qual dependia a organização e beneficiação da zona da ala ocidental destinada ao Ministério
do Ultramar1252.

1246
Acessível em: https://purl.pt/30262/4/ (acesso a 13.12.2021).
1247
Ofício de Artur Bonneville Franco para a Direção-Geral da Fazenda Pública, 05.02.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/11, TXT.09174773-TXT.09174772.
1248
Cf. Ana Mehnert Pascoal, “Encenação do Estado Novo na exposição Quinze Anos de Obras Públicas (Lisboa,
1948)”, MIDAS 12 (2020), em linha.
1249
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 20.07.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/11, TXT.09174787- TXT.09174788.
1250
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 03.09.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234045.
1251
Ofício da Secretaria-Geral do Ministério da Economia para o Chefe do Gabinete do Ministro da Economia,
13.06.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0131/01, TXT.09175357- TXT.09175353.
1252
Artur Bonneville Franco, Informação, 08.04.1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0208/01/1,
TXT.09235048-TXT.09235047.

268
Seis meses após ser implementada, a DNISP apresentou uma proposta de distribuição dos
ministérios na zona abrangida entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus1253. A ala oriental
ficaria adscrita ao Ministério das Finanças, prevendo futuras necessidades de expansão. A
nascente desta ala, no Campo das Cebolas, previa-se um novo edifício para o Ministério da
Marinha, à semelhança do que surgira no plano do arquiteto Paulo Cunha para AGPL de 1942.
A ala norte comportaria, na secção ocidental, zonas de reserva para instalação de serviços
aquando das obras de remodelação, prevendo-se a saída do Supremo Tribunal de Justiça e da
Procuradoria-Geral da República para o futuro Palácio da Justiça da capital. A secção para
oeste do arco seria ocupada apelo Ministério da Justiça, e o núcleo adjacente pelo Ministério
do Interior. A ala ocidental, incluindo os edifícios do Arsenal de Marinha, comportaria
instalações dos Ministérios da Guerra – que, eventualmente, poderia integrar o novo edifício
previsto para o Ministério da Marinha –, das Colónias e da Economia, e do Subsecretariado
das Corporações. A poente dessa ala, planeava-se a construção de novos corpos para instalar
os Ministérios das Obras Públicas (excetuando o LNEC) e das Comunicações, junto de um
novo edifício planeado para a AGPL. Os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação
Nacional manter-se-iam fora desta zona, conforme especificado no decreto-lei que criara a
DNISP, não fazendo parte deste plano: o primeiro ocuparia o Palácio das Necessidades, em
remodelação1254, e o segundo permaneceria num edifício no Campo Santana recentemente
beneficiado, prevendo-se também que ocupasse o edifício da Faculdade de Medicina após a
sua saída para o novo Hospital Escolar em construção.

1253
Artur Bonneville Franco, Plano geral de distribuição dos Ministérios na zona do Terreiro do Paço – Ribeira
das Naus, 15.10.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234077-TXT.09234072.
1254
Raul Lino, enquanto chefe da REOM e superintendente artístico dos palácios nacionais, fora incumbido do
estudo de arranjo do Palácio das Necessidades para acomodação do ministério – serviços na zona do convento e
habitação do ministro em parte do palácio – em 1940, numa altura em que Salazar presidia interinamente à pasta.
Defendeu uma adaptação que não desvirtuasse a construção antiga. Cf. Ofício de Raul Lino para Diretor-geral da
DGEMN, 22.08.1940; Raul Lino, Adaptação do Palácio Nacional das Necessidades (antigo convento) para
instalação do Ministério dos Negócios Estrangeiros: Memória Descritiva e Justificativa, abril 1943. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REOM-0024/02, TXT.07518042, TXT.07518703-TXT.07518716.

269
Fig. 128. Estudo de distribuição dos ministérios (1948), elaborado sobre planta do estudo de ligação da Avenida
24 de Julho à Praça do Comércio de Faria Costa de 1947.

Paralelamente aos estudos da DNISP, a DGEMN contratou o arquiteto Faria da Costa, formado
em Urbanismo em Paris e colaborador no PDUL, para elaborar um plano de ligação entre a
Avenida 24 de Julho e a Praça do Comércio, incluindo estudos de organização do trânsito, de
utilização face aos novos condicionamentos, de localização de novos edifícios ministeriais, e
de apetrechamento urbano como parques de estacionamento e abrigos1255. Nos desenhos que
apresentou com o plano, Faria da Costa revelou inspiração no estudo da Sociedade Propaganda
de Portugal, de 19101256 – que, de resto, se denotou também noutras propostas que entretanto
haviam surgido e que observámos anteriormente: idealizava um passeio marginal ajardinado
de separação entre o rio e a avenida de ligação que projetava no eixo da Avenida Infante D.
Henrique, permitindo conexão com o Corpo Santo e o Cais Sodré através de uma praça que
procurava resolver os problemas de trânsito. Vimos atrás como, alguns anos antes, duas
propostas equacionaram essa ligação por via de uma estrada marginal através da conquista de
terrenos ao Tejo. A proposta gráfica de Faria da Costa aproxima-se do Plano de Melhoramentos
do Porto de Lisboa de 1946, nomeadamente quanto à solução da avenida marginal entre o Cais
do Sodré e o limite da ala oriental da Praça do Comércio, sendo o bloco a nascente do
Ministério das Finanças idêntico ao anteriormente sugerido para albergar o Ministério da

1255
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 19.10.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13, TXT.05435828.
1256
Artur Bonneville Franco, Informação, 07.11.1949, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234087.

270
Marinha (ideia recuperada pela DNISP, como se constatou). O estudo de Faria da Costa foi
reprovado pela JNE, “que não concordou com o tratamento proposto para a Praça do
Comércio”1257. Não obstante, o esquema gráfico serviu de base às primeiras propostas de
distribuição ministerial da DNISP atrás elencadas.

Fig. 129. Planta da secção ribeirinha entre a Praça Duque da Terceira e a Praça do Comércio: sobreposição da
proposta da Sociedade Propaganda de Portugal (1910, a vermelho) à planta do existente em 1941.

Fig. 130. Fotografia da planta de apresentação do estudo de ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio
do arq. Faria da Costa, 1947.

1257
CSOP / Carlos Guilherme Craveiro Lopes Couvreur, Parecer n.º 3810, 21.11.1972, p. 7. BAHE: Fundo CSOP,
P3810.

271
Nesse ano de 1948, foi aberta a Avenida Ribeira das Naus, com caráter provisório, e previa-se
para breve a construção da Avenida Marginal Oriental, que incluía um troço entre a Praça do
Comércio e a Rua do Instituto Virgílio Machado, que viria a tornar a praça num decisivo “nó
de comunicação da zona sul da cidade”1258. Posteriormente, a CML construiu o troço a Avenida
Infante D. Henrique entre o Ministério das Finanças e o Campo das Cebolas, para onde se
planeava um novo edifício para Marinha: perante estas obras, que não seguiam os estudos de
Faria da Costa, impunha-se uma alteração do contorno desse idealizado novo edifício1259.

Fig. 131. Vista aérea da Praça do Comércio à Doca de Alcântara. Maio 1952.

1258
Ofício do eng. Francisco de Mello F. d’Aguiar (CML) para Chefe do Gabinete do Ministro das Obras Públicas,
10.08.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/6, TXT.09085242.
1259
Ofício de Artur Bonneville Franco para Faria da Costa, 24.01.1951. DGPC/SIPA: DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/6, TXT.09085308.

272
Refira-se que, neste período, Faria da Costa elaborou o Plano de Remodelação da Baixa (1949-
1950)1260, por incumbência DSUO da CML. Pretendia-se resolver os problemas de circulação
viária e de salubridade, visando a transferência de habitantes para novos bairros em construção,
dado que se impunha a destruição de edifícios considerados inadequados e a implantação de
novos edifícios comerciais1261. Para além da proposta de artérias circulares em túnel para
facilitar a circulação rodoviária e pedonal, como na ligação entre as praças de D. João I (até
então, Praça da Figueira) e dos Restauradores, entre a Rua da Palma e o Campo das Cebolas,
ou uma galeria sob o Rossio em ligação ao metropolitano, e o alargamento de determinadas
ruas através da inserção de arcadas sob os prédios, interessa sublinhar que a planta de conjunto
incluiu a proposta do analisado estudo de ligação que o arquiteto elaborara para a DGEMN em
1947, com modificações fisionómicas minimais ao nível dos edifícios adjacentes à praça. O
plano de remodelação da Baixa foi criticado pela Comissão de Revisão da DGSU por se tratar
de um estudo parcial e por não possuir fundamentação com base em inquéritos concretos1262,
embora integrasse aspetos merecedores de aprovação segundo o CSOP. Como veremos, este
plano será alvo de revisão volvidos alguns anos, quando os estudos para os ministérios a
edificar a poente da Praça do Comércio estavam em desenvolvimento.

1260
AML: PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/10/432. Acessível em: https://arquivomunicipal3.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1146129&AplicacaoID=1&Value=75c09e4
b14ed0c1c34066d42ea652f4b0c6689e434082aaf&view=1 (acesso a 05.07.2022).
1261
Jorge Carvalho de Mesquita, Plano de Remodelação da Baixa. Praça da Figueira, Rossio, Rua da Palma e S.
Lázaro (Lisboa: s.n., 1950).
1262
Parecer n.º 2732 da 1.ª Subsecção da 3.º Secção do CSOP, 12.02.1957, p. 2 AML:
PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/10/291, Pasta 216-A/DMPGU. Acessível em: https://arquivomunicipal3.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=1116299&AplicacaoID=1&Pagina=5
8 (acesso a 05.07.2022).

273
Fig. 132. Faria da Costa, Plano de Remodelação da Baixa: planta de apresentação, 1950.

No Arquivo Municipal de Lisboa identificaram-se dez desenhos com título remetendo para o
Plano de Remodelação da Baixa, sem data ou autoria, focando o descongestionamento da Rua
do Arsenal1263. Presume-se que se trate de material de apoio à realização do plano de
remodelação: detetou-se que quatro das plantas dizem respeito a propostas anteriores para a
zona entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, concretamente de Forestier (1927), Agache
(1935?), Cunha e Silva (1942) e Faria da Costa (1947)1264; não se conseguiu identificar a fonte
ou a natureza das restantes1265. Afere-se que a resolução deste problema teve em conta o que
anteriormente se idealizara para o local.
É digno de menção, neste contexto, o estudo de urbanização proposto por Luís Cristino da Silva
para remodelação do Bairro Alto e das suas ligações com a cidade (1951-52). Já mencionámos
que introduziu a ideia de unir o Palácio de São Bento e a Praça de S. Pedro de Alcântara. No
cruzamento, previa a implantação de uma avenida de ligação à Praça Luís de Camões,

1263
Informação partilhada pelo Professor Doutor João Paulo Martins.
1264
Trata-se das seguintes cotas do AML: Forestier: FPP000055; Agache: FPP000054; Cunha e Silva:
FPP000046; Faria da Costa: FPP000049.
1265
Cotas do AML: FPP000047 (idêntica a FPP000051), FPP000048, FPP000050, FPP000052, FPP000053.

274
continuando até ao Cais do Sodré. Uma das plantas evidencia os intentos de transformação a
poente da ala ocidental da Praça do Comércio, com esboço de um corpo de grande dimensão
enquadrando a marginal e a Praça D. João II1266 – numa altura em que o arquiteto já estudava
os novos edifícios para os Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações, a implantar
nesse local.

Uma versão melhorada do plano de distribuição dos ministérios da DNISP, após cálculos mais
precisos sobre as necessidades de instalação dos diversos serviços, data de fevereiro de
19511267. As diferenças face ao plano anterior não são substanciais, permanecendo as mesmas
propostas para a maioria dos ministérios. O Ministério das Comunicações não integraria alguns
serviços comerciais da Direcção-Geral de Aeronáutica Civil, e para os serviços laboratoriais
geológicos do Ministério da Economia previa-se a construção de um novo edifício, longe do
centro da cidade, na linha das novas instalações do LNEC. O Ministério da Guerra ficava
adstrito à secção no torreão ocidental, e o da Marinha ao novo edifício planeado para a zona a
nascente do Ministério das Finanças. Equacionava-se a integração, neste plano, da construção
do novo edifício da sede da AGPL, que estava afeta ao PMPL1268. O plano da DNISP, que
permitia iniciar os estudos para cada um dos núcleos, embora detivesse caráter provisório por
ser passível de alterações e ajustes, foi aprovado pelo Presidente do Conselho1269.

1266
Luís Cristino da Silva, Estudo parcial de urbanização – remodelação do Bairro Alto e das suas principais
ligações com a cidade. Estudos prévios para a organização futura de um ante-plano na escala 1:2500 – Variante,
18.11.1951. Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCSDA 73.32
1267
Identificaram-se duas versões, não assinadas e datadas de 19.02.1951, com ligeiras diferenças de formulação
em algumas frases.
1268
Decreto-Lei n.º 35716, 24.06.1946.
1269
Despacho de António de Oliveira Salazar de 05.03.1951, sobre ofício do Ministro das Obras Públicas para o
Presidente do Conselho, 26.02.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-0310/07, TXT.02410106.

275
Fig. 133. Estudo da ligação da Avenida 24 de Julho e Praça do Comércio, com implantação prevista dos
equipamentos ministeriais, [c. 1951].

Mencione-se que as demolições envolvidas nos planos de distribuição dos ministérios e de


adaptação dos edifícios receberam críticas, como ficou patente no caso do Ministério da
Marinha. Tornava-se vantajoso arrasar edifícios do antigo Arsenal da Marinha, a poente da ala
ocidental, designados como Casa do Comodoro e garagem anexa, para facilitar os estudos de
implantação dos novos edifícios e arruamentos a construir1270. Porém, e apesar de já terem sido
inauguradas as instalações do Arsenal do Alfeite na margem sul do Tejo, o Ministério da
Marinha não previa a desocupação de qualquer instalação por necessitar de mais espaço para
transferir os seus serviços1271. Em adição, particularmente a destruição da antiga Sala do Risco,
localizada num corpo do arsenal, levou a protestos do olissipógrafo Augusto Vieira da Silva –
que, como se verificou, estivera ligado a obras de reconstrução e de planificação de
melhoramentos para esta área da cidade –, apoiado pelo Grupo de Amigos de Lisboa. Vieira
da Silva elencou uma cronologia de festejos e cerimónias realizadas na Sala do Risco desde
1821, incluindo o famoso discurso de Salazar de 28.05.1930 contra a desordem, intitulado

1270
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 17.06.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/14, TXT.09174861.
1271
Ofício de Joaquim José Teixeira (Chefe de Gabinete do Ministério da Marinha; Capitão-tenente) para o
Diretor-Geral da DGEMN, 08.09.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/14, TXT.09174869.

276
“Ditadura administrativa e revolução política”, e as formações dos oficiais de Marinha, para
ilustrar a sua utilização centenária1272. Aceitando a necessidade de construção de edifícios
ministeriais em detrimento dos recintos ajardinados, argumentou a favor da conservação da
Sala do Risco, apta pela sua dimensão para diversos fins – de salão de festas e jogos a sala de
exposições e conferências –, de modo a evitar um arraso completo de elementos históricos.
Sugeriu modificações nos blocos projetados para os Ministérios das Obras Publicas e das
Comunicações, e introdução de elementos como pracetas no caso de se alterar o traçado urbano.
Como argumento para preservação dessa sala, que considerava património citadino e nacional,
invocou a Carta de Atenas, que aconselhava o desvio de traçados, a construção de passagens
subterrâneas ou o transplante de centros de atividade urbana para outras áreas a fim de
salvaguardar monumentos.

Fig. 134. Sugestão de Augusto Vieira da Silva para preservação da Sala do Risco. 1949.

A Sala do Risco, originalmente uma ampla divisão que serviu como aula de construção e
desenho naval, sofrera um incêndio destrutivo em 19161273. Em 1949, o seu interior estava

1272
Cópia de exposição de Augusto Vieira da Silva, julho 1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0002/01/6, TXT.09085275- TXT.09085281.
1273
Augusto Vieira da Silva, “A Sala do Risco”, Revista Municipal 42 (1949): 36.

277
descaracterizado e em mau estado de conservação, servindo como depósito do que restava da
Central Elétrica do Arsenal, reduzida a um posto de transformação1274. Portanto, mais do que
manter um espaço destacado e ímpar, Bonneville Franco compreendeu que, para Vieira da
Silva, importava “salvar o nome e a obliquidade(sic) do local construído”1275. O engenheiro da
DNISP, seguindo um parecer de Raul Lino1276, salientou que a realização de solenidades e
festas na sala não constituía razão suficiente para preservação, apesar das propostas de
utilização apontadas pelo olissipógrafo. Mais sentido faria conservar parte do corpo limitando
a Rua do Arsenal, ocupado pela Casa do Marinheiro da Armada, onde se mantinham, nos
pilares das abóbadas, referências às espécies de madeira armazenadas para a construção naval.
A sugestão de Vieira da Silva para uma ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça do
Comércio, que poupava a Sala do Risco, afastava-se do plano apresentado por Faria da Costa,
inspirado no estudo de 1910 do agrado de Vieira da Silva, e que também preservava a sala1277.
Finalmente, Bonneville Franco não se coibiu de ressalvar que os novos edifícios previstos para
o local – Ministérios das Obras Públicas, das Comunicações e da Marinha e sede da AGPL –
detinham elevada importância e teriam arquitetura adequada à imponência da praça, não se
tratando de “meros organismos burocráticos”1278. Ressalvando o interesse dos exemplos
estrangeiros dados por Vieira da Silva – a descoberta de edificações romanas em Londres e em
Madrid, mantidas e acessíveis –, Bonneville Franco salientou que eram casos distintos da Sala
do Risco. Foi ordenado que os estudos prosseguissem conforme o plano de arranjo de Faria da
Costa, também validado pela CML1279.

A delimitação de zonas de reserva, a manter desocupadas para instalação provisória de


ministérios aguardando remodelação das suas instalações definitivas, foi sofrendo alterações,
consoante o avanço e a demora na transferência de serviços1280. Catorze anos após a
implementação da DNISP, em face do agravamento de problemas financeiros e do aumento de

1274
Artur Bonneville Franco, Informação, 07.11.1949, p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234086.
1275
Ibid, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234088.
1276
Raul Lino, Sala do Risco, 16.10.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/6, TXT.09085284-
TXT.09085286.
1277
Cópia de exposição de Augusto Vieira da Silva, julho 1949, p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0002/01/6, TXT.09085279.
1278
Artur Bonneville Franco, Informação, 07.11.1949, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234087.
1279
Artur Bonneville Franco, Nota elaborada em harmonia com o adjunto ofício relativa aos Estudos, Ofícios e
Despachos que interessam ao Estudo da ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio, s.d. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/6, TXT.09085365-TXT.09085367.
1280
DNISP, Informação sobre as instalações dos edifícios da Praça do Comércio desocupadas e a desocupar,
02.07.1954. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234112-TXT.09234122.

278
tráfego na área, o plano inicial estava ultrapassado: ponderou-se submeter a aprovação superior
uma proposta para manter apenas “os Ministérios de maior tradição” na Praça do Comércio,
realizando construções mínimas para regularização e enquadramento adequados, e criar uma
outra zona na cidade para instalação dos restantes ministérios1281.

Importa ressalvar que ocorreu um aumento nas tarefas da DNISP em 1954: para além da
instalação dos serviços centrais dos ministérios, a delegação poderia ser incumbida de projetar
e construir instalações para outros serviços públicos1282. A partir de então, a DNISP acumulou
um conjunto de estudos, sobretudo na área de Lisboa, para organismos dependentes dos
ministérios, como o Instituto de Medicina Tropical, o Museu de Marinha, a Estação
Agronómica Nacional ou a Biblioteca Nacional. Porém, a incumbência de obras fora da Praça
do Comércio já se verificara anteriormente à remodelação legislativa, conforme comprova a
intervenção da delegação no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (1952)1283.
Após dez anos de atividade, em 1959, Bonneville Franco considerou que as medidas
enunciadas no decreto fundador da DNISP apenas careciam de diminutos ajustes, sem se
proceder a alterações da orientação geral1284. O seu texto permite aferir como vinham evoluindo
os estudos e as concretizações de instalação dos ministérios. Nesse período, para além da
elaboração dos programas para os organismos ministeriais e da sede da AGPL, a DNISP
concluíra as obras do Ministério das Finanças e Tribunal de Contas, e dera início à remodelação
do Ministério do Interior e à construção de equipamentos fora da Praça do Comércio,
nomeadamente o LNEC, a BN e o IMT. O projeto das instalações do Ministério da Justiça
também estava finalizado, e ponderava-se para breve o início da primeira fase de construção
dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações. Importava ter em conta a
indispensável remodelação da ala ocidental, em mau estado de conservação e carecendo de
conforto e dignidade. No caso de se decidir sobre a permanência do Ministério da Marinha nas
atuais instalações, o engenheiro propunha que se aproveitasse o edifício designado para esse
ministério, a nascente das Finanças, para instalação do Ministério das Corporações. Quanto a
novas questões, impunha-se estudar instalações para o recém-criado Ministério da Saúde,
idealmente a enquadrar no edifício da antiga Escola Médico-Cirúrgica ao Campo Santana, e

1281
DNISP, Informação, s.d. [1962], p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234179.
1282
Decreto-Lei n.º 39733, Diário do Governo, I série, n.º 158, 21.07.1954.
1283
Ministério das Obras Públicas, Relatório de Actividade do Ministério no ano de 1951, 102.
1284
Artur Bonneville Franco, Informação, 30.01.1959, p. 5. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234159.

279
rever o programa do Ministério da Economia perante modificações da sua estrutura, mantendo
somente os serviços centrais na Praça do Comércio.
O Ministro das Obras Públicas Arantes e Oliveira emitiu, na sequência, um despacho1285. Por
um lado, ponderou sobre instalações para o Ministério da Educação Nacional, cuja falta de
espaço no imóvel ao Torel levara à ponderação de ocupar o edifício deixado vago pela
Faculdade de Medicina, então julgado conveniente para alojar o recém-criado Ministério da
Saúde e Assistência – uma ideia que fora veiculada pelo Ministro da Saúde poucos meses após
a sua criação, visto que o espaço cedido no edifício do Ministério do Interior se revelava
insuficiente para incorporar os serviços dispersos1286. Assim, a DNISP deveria estudar as
possibilidades de ampliação do edifício do Ministério da Educação Nacional, com eventual
anexação do Palácio do Torel, outrora ocupado pela Polícia Judiciária. Arantes e Oliveira
considerava inviável planear um edifício novo para o Ministério da Economia, apontando como
exemplo de protelamento a execução dos projetos dos Ministérios das Obras Públicas e da
Educação. Solicitou um esboceto para instalação do Ministério das Corporações, então
encalacrado na ala oriental junto da DGEMN, em áreas do Ministério da Marinha na Rua do
Arsenal, nessa altura ocupadas provisoriamente pelo Ministério da Justiça devido às obras na
ala norte. Finalmente, urgia na redação do programa para as Secretarias de Estado da
Agricultura, do Comércio, e da Indústria, sob alçada do Ministério da Economia na ala
ocidental, concordando com a DNISP quanto à impossibilidade de instalar os serviços
laboratoriais da Secretaria de Estado da Agricultura na Praça do Comércio1287.
As obras para as referidas Secretarias de Estado do Ministério da Economia foram realizadas
nesse ano de 1959, incluindo mobiliário novo1288 e guarnecimento com decoração para
obtenção do “decoro e conforto [...] exigidos pela categoria das funções que ali se exercem”1289,
nomeadamente um pedido de cedência de pinturas das coleções do MNAC, sobretudo
paisagens de artistas como Carlos Reis, Falcão Trigoso, Abel Manta e Silva Porto, entre outros

1285
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 17.03.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234174-TXT.09234164.
1286
Ofício do Ministro da Saúde para Ministro das Obras Públicas, 10.12.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158706-TXT.05158707.
1287
Dois meses antes, esta Secretaria de Estado expusera as instalações precárias e dispersas em que funcionavam
os seus serviços, pedindo que se considerasse a sua concentração centralizada. Ofício do Secretário de Estado da
Agricultura para Ministro das Obras Públicas, 08.01.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234149-TXT.09234150.
1288
Nota de Artur Bonneville Franco para Ministro das Obras Públicas, 07.03.1959, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0131/01, TXT.09175406.
1289
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 01.09.1959, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0132/01/1, TXT.09176669.

280
para os gabinetes representativos e salas de espera1290. Ao referir as obras de restauro do
Tribunal da Relação de Lisboa (inaug. 1948), no Arsenal de Marinha, e a decoração com telas
a óleo de Alves de Sá e João Reis provenientes do MNAC, António Manuel Nunes menciona
tratar-se de uma prática rentabilizando “uma ideia lançada por Mussolini, que pretendia
enriquecer os edifícios públicos com colecções museológicas”1291.

Em 1960, a DNISP apresentou uma estimativa de custos para remodelação do edifício da


Faculdade de Medicina no Campo Santana para a instalar o Ministério da Saúde e
Assistência1292, onde, até à data, funcionavam alguns serviços do Ministério da Educação. O
estudo incluía um esboceto elaborado pelo arquiteto Costa Martins e comportava, para além
das obras de adaptação do imóvel, a construção de um corpo novo nas traseiras com ligação ao
antigo edifício, com oito pisos, planta em forma de estrela de três braços cruzados, e de estética
destacada1293. Foi apreciado por uma comissão do Ministério da Saúde e Assistência, que
elencou algumas necessidades a considerar, como o incremento de compartimentos, alertando
para uma possível reorganização dos serviços, o que colocaria em causa as soluções
propostas1294. Paralelamente, planeou-se a ampliação em altura do Ministério da Educação
Nacional, também no Torel. Embora o ministro dessa pasta não se opusesse à ocupação do
edifício da Faculdade de Medicina pela pasta da Saúde, que carecia de obras relevantes pelo
seu estado de conservação, imperava que se construíssem de antemão novas instalações para
os serviços da Educação Nacional que aí funcionavam1295. Na sequência, surgiu a hipótese de
adquirir alguns prédios na zona aptos a resolver a questão1296. A proposta de Costa Martins,
que ocuparia as traseiras do edifício histórico da Escola Médico-Cirúrgica, não teve
seguimento.

1290
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretaria-geral do Ministério da Economia, 29.06.1959.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0131/01, TXT.09175423-TXT.09175422.
1291
Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo, 103.
1292
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 07.09.1960 DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158722-TXT.05158724.
1293
Costa Martins, Ministério da Saúde – Estudo das Novas Instalações: Memória Descritiva, s.d. [1960].
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/08, TXT.05158917-TXT.05158936.
1294
III relatório da comissão para a instalação do Ministério da Saúde e Assistência no antigo edifício da Faculdade
de Medicina de Lisboa, 15.12.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158730-
TXT.05158734.
1295
Ofício do Ministro da Educação Nacional para Ministro das Obras Públicas, 25.01.1961. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158740-TXT.05158742.
1296
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, s.d. [fevereiro 1961]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158743-TXT.05158746.

281
Fig. 135. Costa Martins/DNISP, Ministério da Saúde: perspetiva, [1960].

Fig. 136. Costa Martins/DNISP, Ministério da Saúde: estudo de novas instalações – planta, [1960].

Em simultâneo aos estudos de distribuição da DNISP, foi retomada a questão da necessária


urbanização. Volvidos dez anos do primeiro plano, Faria da Costa apresentou, em 1958, uma
revisão ao arranjo da zona marginal entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, elaborada
com colaboração do Gabinete de Estudos de Urbanização da CML, do engenheiro Bonneville
Franco e do engenheiro Santos Silva da AGPL, com pretensão de solucionar os problemas de

282
trânsito nas praças do Comércio, D. João II e do Cais do Sodré1297. O estudo incluía uma
esplanada ajardinada junto do Tejo, compreendendo a zona entre o Cais do Sodré e o pilone
planeado para junto do torreão poente, elevada face à zona de acostagem dos barcos e
permitindo usufruir de uma secção para passeios. Foram planeados dois pilones para
delimitação da Praça do Comércio, sugerindo formalmente uma nau, inspirados em elementos
marítimos para simbolizar as viagens de expansão portuguesas, como estrelas de múltiplas
pontas e “cartulanos” (presumivelmente, o arquiteto quis referir-se aos mapas portulanos),
incluindo nas bases grupos escultóricos com marinheiros, soldados e capitães quinhentistas.
Pela descrição e considerando a maqueta executada para a área, comportando os novos blocos
para os Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações a poente da praça, estes pilones
evocariam, de forma esquemática, o Padrão dos Descobrimentos em Belém – que, em breve,
seria fixado com materiais perenes por ocasião das comemorações henriquinas de 1960. A
última sugestão decorativa dizia respeito ao monumento a D. João II, a localizar no seguimento
da Ribeira das Naus numa secção ajardinada, planeando-se um enquadramento arquitetónico
em cantaria de lioz sugerindo um nicho, um plinto com incrustação do pelicano real e outros
motivos de inspiração nas viagens marítimas, para suporte da estátua do monarca, da autoria
de Francisco Franco.

Fig. 137. MOP, Estudo da zona marginal: Praça do Comércio – Cais do Sodré, planta geral, s.d.
[Presume-se que esta seja a representação gráfica da revisão do arranjo de Faria da Costa de 1958].

Este plano de ligação foi avaliado pela DSMN. O arquiteto-chefe da 1.ª secção, Elísio
Summaviele, considerando o estudo merecedor de aprovação no cômputo geral, apontou os
pilones de enquadramento como aspeto a abandonar, e recordou que já existia um estudo de

Faria da Costa, Estudo da ligação Avenida 24 de Julho – Terreiro do Paço / Revisão do arranjo da zona
1297

marginal Terreiro do Paço – Cais do Sodré: Memória Descritiva e Justificativa, julho 1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0715/01, TXT.02920488-TXT.02920484.

283
arranjo da praça1298. Porém, o arquiteto chefe da Repartição Técnica da DSMN, João Vaz
Martins, transmitiu ao Diretor-Geral que o estudo de ligação não era digno de aprovação na
secção dedicada à Praça do Comércio, Monumento Nacional cuja dignidade arquitetónica seria
desconsiderada caso se efetivassem as soluções de tráfego rodoviário apresentadas1299. Algum
tempo depois, Bonneville Franco enviou uma nota a Vaz Martins, esclarecendo que a
implantação dos pilones era igual à do plano de 1948, tratando-se de uma imposição da AGPL
para marcar a transição entre as zonas de acostagem de navios e a frente da Praça do Comércio,
cuja alteração não era viável, apesar da eventual mudança no aspeto estético1300. Em adição,
estava em crer que Faria da Costa reproduzira as soluções da CML no tocante ao ordenamento
do trânsito. As dificuldades de realização do plano de arranjo da marginal, nomeadamente o
avanço do terrapleno para instalação de novos edifícios, o prolongamento da Avenida Infante
D. Henrique e a inclusão de túneis para distribuição do trânsito partindo do Campo das Cebolas
e do Corpo Santo – devido a obstáculos como a espessura do lodo e a existência de antigas
docas, e adjacentes custos elevados – evidenciaram, em 1962, que o estudo estava
ultrapassado1301.

Nesta altura, o arquiteto Faria da Costa procedera igualmente à revisão do Plano de


Remodelação da Baixa, de que fora incumbido pela CML, focando a melhoria da circulação e
do estacionamento1302. Mais uma vez, a DGSU e o CSOP, apresentando algumas sugestões de
melhoria, sublinharam a imprescindibilidade de que um plano desta natureza, parcial, se
articulasse com um plano regional, a elaborar1303. Esse plano regional deveria providenciar
alicerces para o Plano Diretor Municipal, instrumento de orientação deste tipo de planos
parcelares.

1298
Ofício do Arquiteto-Chefe da 1.ª Secção da DSMN para Arquiteto-Chefe da Repartição Técnica da DSMN,
04.08.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446974-TXT.00446973.
1299
Ofício do Arquiteto-Chefe da Repartição Técnica da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 19.08.1958.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446975.
1300
Nota de Artur Bonneville Franco para João Vaz Martins, 25.10.1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0002/01/6, TXT.09085360-TXT.09085361.
1301
DNISP, Informação, s.d. [1962]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234178-
TXT.09234181.
1302
Faria da Costa, Plano de “remodelação da Baixa” – 1.ª parte, julho 1956. AML: PT/AMLSB/CMLSB/UROB-
PU/10/291, Pasta 216-A/DMPGU. Acessível em: https://arquivomunicipal3.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1116299&AplicacaoID=1 (acesso a
05.07.2022).
1303
Parecer n.º 2732 da 1.ª Subsecção da 3.º Secção do CSOP, 12.02.1957. AML: PT/AMLSB/CMLSB/UROB-
PU/10/291, Pasta 216-A/DMPGU. Acessível em: https://arquivomunicipal3.cm-
lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/PaginaDocumento.aspx?DocumentoID=1116299&AplicacaoID=1&Pagina=5
8 (acesso a 05.07.2022).

284
No seguimento, assinala-se ainda a elaboração de dois estudos de urbanização. Um deles,
assinado pelo arquiteto Paulo Cunha (1964), pretendia solucionar a expansão do porto de
Lisboa para a faixa a nascente do Cais do Sodré, eliminando a Ribeira das Naus – proposta
repudiada pela CSOP, visto que essa área deveria “ser destinada a zona de fruição do rio pela
população de Lisboa”1304. Em paralelo, o arquiteto João António de Aguiar, que integrara as
equipas de Forestier, Agache e de Gröer que estudaram planos abrangendo a área e possuía
vasta experiência na definição de Planos Gerais de Urbanização1305, fora incumbido pela CML
de elaborar um estudo de modificação das Avenidas da Índia e 24 de Julho até ao Cais do
Sodré, estendido até à Praça do Comércio1306. Este estudo diferenciava-se dos planos de Faria
da Costa de 1958: a nova Avenida da Ribeira das Naus não se encontrava no prolongamento
do eixo da Avenida Infante D. Henrique, sendo a área a conquistar ao rio bastante menor, o
que comprometeria a planeada implantação dos edifícios para os Ministérios das Obras
Públicas e das Comunicações e a AGPL. O plano não chegou a ser sujeito a apreciação superior,
sendo abandonado1307.

Perante a excessiva concentração de tráfego registada tanto na Praça do Comércio como no


Cais do Sodré, o engenheiro Bonneville Franco apresentou uma solução inédita de deslocar os
ministérios “para um novo Centro Administrativo no Norte da Cidade”1308, o que não foi
validado por Arantes e Oliveira, que classificou a ideia como extemporânea. Porém, em 1965,
contemplando as despesas do Estado com o arrendamento de prédios e a tendência da
complexificação dos seus serviços, o deputado Pinto de Meneses defendeu a criação de uma
“cidade dos serviços públicos ou, mais brevemente, a cidade do Governo”1309, sem especificar
localização – ideia que, para além dos benefícios económicos e de aumento da produtividade
com a melhoria das comunicações entre organismos, teria repercussões no problema
habitacional da cidade. Três anos depois, o deputado voltou a reforçar esta sugestão1310. Não
sabemos se havia conhecimento de ideias similares desenvolvidas noutros países, como a cité

1304
CSOPT, Parecer n.º 3810, 21.11.1972, p. 7. BAHE: Fundo CSOP, P3810.
1305
Malheiro, A cidade no Estado Novo.
1306
Relatório de Artur Bonneville Franco [incompleto], 21.12.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0206/02/9, TXT.09234194-TXT.09234193.
Sobre os estudos de Aguiar para revisão da orla marginal, cf. Malheiro, A cidade no Estado Novo, 176-178.
1307
Ofício do Chefe da Divisão de Estudos e Projetos da Direção dos Serviços de Construção da DGEMN para
Diretor dos Serviços de Construção, 02.11.1971, p.2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3304/02,
TXT.04595026.
1308
Relatório de Artur Bonneville Franco [incompleto], 21.12.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0206/02/9, TXT.09234194-TXT.09234193.
1309
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 4, 10.12.1965, p. 33.
1310
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 154, 13.12.1968, p. 2813.

285
administrative em Bruxelas, que, idealizada nos finais dos anos 30 e retomada em meados dos
anos 50, foi completada na década seguinte, procurando centralizar os serviços ministeriais
para maior eficiência administrativa1311, ou os planos da década de 1960, em grande parte sem
concretização, para demolição dos edifícios apalaçados de Whitehall, o histórico bairro do
governo em Londres, para dar lugar a uma nova estrutura adequada à era tecnológica1312.
Mencione-se que, no âmbito da elaboração do III Plano de Fomento (1968-73), foi instituído,
no seio da Comissão Interministerial de Planeamento e Integração Económica, um grupo de
trabalho dedicado à reforma administrativa e à sua relação com o desenvolvimento económico
e social1313. Bonneville Franco integrou o grupo como especialista em problemas de instalação
e equipamentos para serviços públicos. O Ministro das Obras Públicas recomendou ao
engenheiro que a justificação do investimento na melhoria do património imobiliário afeto ao
Estado não deveria apenas passar por questões relacionadas com a comodidade dos
funcionários ou a valorização estética dos equipamentos, mas pela demonstração das vantagens
económicas dessa ação1314. Assim, importava comprovar que um plano de construção para
instalação dos serviços públicos era economicamente mais favorável do que os gastos estatais
com o pagamento de rendas a privados, um problema que se arrastava há décadas.
A extinção da DNISP em 19701315 fez transitar as suas tarefas para a Direção dos Serviços de
Construção. Ainda antes da revolução de 1974 se continuou a advogar pela remoção deliberada
dos ministérios da praça, transformando-a num espaço comercial, cultural e de lazer1316.

No contexto de planos malogrados e impedimento do desejado arranjo para as imediações da


mais destacada praça da capital, classificada como Monumento Nacional e para a qual se
definira uma zona de proteção, importa assinalar a organização do processo de classificação de
parte da Baixa pombalina como Imóvel de Interesse Público, pelo arquiteto Paulino Montês
enquanto vogal da JNE, em 19541317. O arquiteto assumiu a importância nacional do conjunto

1311
Guido Jan Bral, La Cité administrative de l’État (Bruxelas: Ministère de la Region de Bruxelles-Capital,
2007); Jens van de Maele, “An 'architecture of bureaucracy': Technocratic planning of government architecture
in Belgium in the 1930s”, in Industries of Architecture, ed. Katie Lloyd Thomas, Tilo Amhoff, Nick Beech
(Abingdon/Nova Iorque: Routledge, 2016), 271-281; Maele, Lagae, “‘The Congo must have a presence on
Belgian soil.’ [...]”.
1312
Adam Sharr, Stephen Thornton, Demolishing Whitehall. Leslie Martin, Harold Wilson and the Architecture
of White Heat (Londres: Routledge, 2013).
1313
Sobre a reforma da administração pública, ver, p. ex., Ana Carina Azevedo, “Reformar a Administração
Pública ao sabor das prioridades do Estado Novo”, Portuguese Studies Review 26, 2 (2018): 177-198.
1314
Nota manuscrita do Ministro das Obras Públicas para Artur Bonneville Franco, 17.05.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0201/01/1, TXT.09228523-TXT.09228520.
1315
Decreto-lei n.º 144/70, Diário do Governo, I série, n.º 83, 09.04.1970.
1316 Ofício do chefe da Divisão de Estudos e Projetos da DSC para o Diretor da DSC, 01.11.1971. DGPC/SIPA:

PT/DGEMN/DSARH-005/125-3304/02, TXT.04595023-TXT.04595027.
1317
Tomé, Património e Restauro em Portugal (1920-1995), 163-164, 292-297.

286
urbano, destacado dos elementos já classificados, sublinhando que a sua salvaguarda competia
ao Governo, com coadjuvação da CML no tocante à vigilância e proteção. O facto de se
realizarem obras na zona com orientação tanto da autarquia como do Ministério da Educação
Nacional gerara confusões, que se refletiram na contestação do município perante a iminente
perda de decisão sobre o crescimento e transformação citadinos para os organismos do poder
central, concretamente a JNE, alegando a capacidade técnica da câmara para garantir a
necessária proteção.

3.9. Critérios de adaptação dos edifícios e o papel de Raul Lino na valorização estética da
Praça do Comércio

“É o Terreiro do Paço, na totalidade da sua imensa área, a residência tradicional de


numerosas actividades governativas do que resulta poder considerar-se um mero
conjunto de repartições públicas que, como tal, terá que obedecer a uma estruturação
puramente funcional, como local exclusivo de trabalho. [...] na sua localização,
composição arquitectónica e como remate de uma realização urbanística ímpar em
Portugal e na Europa, verdadeiro átrio de recepção do país, é o Terreiro do Paço a peça
mais valiosa, vasta e representativa do génio português”1318.

Estas considerações, extraídas de um relatório da DSC, comprovam o elevado peso histórico,


tanto simbólico como arquitetónico, que detinham os edifícios em redor da Praça do Comércio,
acrescido pela sua classificação como Monumento Nacional. Qualquer intervenção
ultrapassava o mero exercício de organização funcional e de estruturação de acordo com as
necessidades dos serviços públicos, implicando estudos criteriosos.
A ocupação dos edifícios da Praça do Comércio pelos serviços ministeriais do regime implicou,
naturalmente, adaptações. Atentando num ofício do diretor da DNISP, perante as remodelações
previstas para o Ministério do Interior, no canto noroeste, equacionaram-se duas possibilidades.
Por um lado, existia a solução de “reconstrução interna” aplicada no Ministério das Finanças,
“um edifício moderno dentro das fachadas pombalinas”1319 que apenas manteve paredes
mestras, paredes com função de resistência e parte das abóbadas, introduzindo pavimentos e
estrutura da cobertura em betão armado. Por outro, particularmente em edifícios que
conservavam elementos decorativos e estruturas primitivas em estado favorável, impunha-se

1318
DSC, Parecer: Ministério das Finanças – Expansão dos serviços no rés do chão da ala oriental do Terreiro do
Paço, 24.11.1954, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1199/06, TXT.03245544.
1319
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 18.11.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234067-TXT.09234064.

287
preservar a configuração ao máximo, apesar dos riscos acrescidos de incêndio. De facto, como
se constatará, o segundo critério, com as suas aparentes vantagens económicas, predominou
como norma nos projetos e obras de adaptação supervisionadas pela DNISP.

Previamente à constituição da DNISP, o arquiteto Raul Lino elaborou um documento no qual


refletiu sobre o tipo de arquitetura “que deverá prevalecer nas Novas Instalações dos Serviços
Públicos”1320. As reflexões são fiéis às ideias de enquadramento no espaço e no tempo que o
arquiteto vinha defendendo para a arquitetura nacional. Prevalece uma conceção de que se
construam edifícios cuja linguagem evidencie o presente, permitindo às futuras gerações
identificar “o espírito da comunidade que concebeu”, sem olvidar a integração dos ministérios
num conjunto existente e “representativo desde há muito de diversas actividades da governação
do país”1321. Ademais, transparece a necessidade de conformidade ao contexto nacional e ao
devir histórico, repudiando a cópia cega de modelos estrangeiros ou de estilos de outros
períodos. Raul Lino condenava o lançamento de grandes obras extremamente inovadoras
manifestando valores subjetivos, em jeito de tábua rasa face ao período antecedente, referindo
que muitas vezes tal atitude não resultara em edifícios de melhor qualidade. Compreende-se,
portanto, a atitude de reverência pelo complexo pombalino e pela adaptação ponderada para as
necessidades presentes dos serviços públicos que prevalecerá.

O papel de Raul Lino na defesa e no delineamento das intervenções na Praça do Comércio foi
preponderante. A sua posição quanto às funções representativas atribuídas a essa área ficou
patente, por exemplo, num parecer relativo a uma proposta da transformação da praça como
centro de atração turística, apresentada pelos Serviços de Propaganda e Turismo da AGPL1322.
A proposta fora enviada para apreciação pelo município de Lisboa, que a encaminhou para o
Ministério das Obras Públicas para obter opinião governamental1323. O chefe dos citados
Serviços de Propaganda e Turismo encarava o Terreiro do Paço como “Cartaz do Império e
Chave do Empório”1324: defendia a valorização da praça através de animação noturna e de
feiras com produtos nacionais e ultramarinos que cativassem os visitantes na zona das arcadas,

1320
Raul Lino, Parecer, [1947]. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 3.º vol., 473
A, 521.
1321
Ibid.
1322
Ofício do Diretor da DSMN (Raul Lino) para Diretor-Geral da DGEMN, 14.03.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446464-TXT.00446458.
1323
Ofício do Presidente da CML (Álvaro Salvação Barreto) para Ministro das Obras Públicas, 27.01.1949.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/087, TXT.01437288.
1324
Ibid.

288
propondo que se implantasse um cais com alfândega para cruzeiros de luxo. Raul Lino
posicionou-se totalmente contra tais ideias. O arquiteto defendia a praça como símbolo
nacional, com significado transcendente que se estendia ao Império, dificilmente alterável. Não
considerava viável retirar da zona os serviços públicos, símbolos do Governo e, portanto,
legitimadores do caráter monumental, acentuando a comparação, que dizia ser frequente, entre
o Terreiro do Paço e “a Sublime Porta, o Kremlin, Downing, a Casa Branca, o Elysée ou o
Itamarati”1325. Assim, julgava adequado que se continuasse a utilizar pontualmente a praça
como espaço de representação, para festejos e grandes solenidades, bem como receções a altas
figuras, empregando decorações efémeras aparatosas como tribunas, arcos de triunfo e
bandeiras. Não concordava com a alteração de funções de uma praça de existência centenária
apenas por comparação com tradições de outros países, embora não se opusesse a incorporação,
exclusivamente pela demonstrada necessidade, de um restaurante e um ou dois botequins –
recorde-se que, na praça, somente existia o famoso Martinho da Arcada, localizado no núcleo
nordeste, e que por esta altura foi alvo de um estudo de remodelação 1326. Assim, a Praça do
Comércio deveria manter o seu caráter digno e desafogado, permitindo à população um
contacto desobstruído com o Tejo. Raul Lino recordou, no parecer, a urgência de certas obras
de beneficiação, como a necessidade de lajear a placa central, remodelar a iluminação, erigir
dois mastros de bandeira monumentais junto dos torrões, e resolver o problema do
estacionamento automóvel.

Para a questão da iluminação pública, Raul Lino elaborou um estudo concernindo os candeeiros
da praça1327, submetido a aprovação ministerial em 19501328. Advogando uma iluminação
discreta e cingida ao período noturno, e a inclusão de apenas dois mastros para bandeiras, o
arquiteto apresentou cinco hipóteses de modelo para candeeiros, em materiais e formatos
distintos. Tanto equacionou estruturas em betão e em cantaria, como em bronze ou lioz,
apresentando como preferível a solução em pedra, com pilar quadrado e lanterna dourada, na
escala monumental dos edifícios e aparência consentânea ao seu espírito histórico. O ministro
Ulrich considerou que, para este assunto, se deveria atentar nas sugestões do parecer de

1325
Ofício do Diretor da DSMN (Raul Lino) para Diretor-Geral da DGEMN, 14.03.1949, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351, TXT.00446464.
1326
Presume-se que a avaliação deste estudo tenha cabido a Raul Lino. Cf. Remodelação do café-restaurante
Martinho da Arcada, 17.12.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0141/05, TXT.07409279-TXT.07409277.
1327
Raul Lino, Estudo de candeeiros de iluminação pública para o Terreiro do Paço, s.d. [Outubro 1949]
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/01, TXT.09174123-TXT.09174121.
1328
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 09.05.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/032, TXT.01435136.

289
Henrique Gomes da Silva, de 1947, acerca do estacionamento da placa central, introduzindo-
se quatro postes elevados idênticos aos da Praça do Império e dispositivos de iluminação nas
arcadas, bem como seria necessário estudar a viabilidade de inclusão de projetores para
iluminação das fachadas adjacentes à praça e de dispositivos de som para as emissões
radiofónicas e afins aquando de eventos1329.

Fig. 138. Estacionamento na Praça do Comércio. 1950. Fig. 139. Estacionamento na Praça do
Comércio. 1963.

Outro aspeto que se impunha respeitava a reparações externas e pinturas nos edifícios, que
levou à discussão da coloração das fachadas. Após sugestão da CML de pintar os edifícios “de
ocre nas fachadas, verde lusitano nos aros, portas e gelosias, verde escuro nas grades de ferro
e branco nos caixilhos”1330, Raul Lino, então Diretor dos Serviços dos Monumentos Nacionais,
dirigiu-se à JNE com a proposta de alterar a cor do “amarelo já bastante banalizado na
cidade”1331 para verde, de tom de azebre obtido por um processo especial e pouco divulgado
que permitiria longa durabilidade. O arquiteto salientou a valorização dos edifícios através
dessa tonalidade, comprovável nas edificações do outrora Arsenal da Marinha viradas para o
rio. À exceção de Paulino Montês, que reservou o seu voto por considerar que o assunto
merecia prévia discussão em sessão, e de Albano de Almeida Coutinho, pintor e diretor do
Museu Regional Grão Vasco, todos os vogais consultados concordaram com a sugestão1332.
Almeida Coutinho expôs a sua oposição por escrito, argumentando com razões de ordem

1329
Despacho do Ministro das Obras Públicas de 11.05.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-
0097/032, TXT.01435136.
1330
Daniela Chagas, Cor e Conservação. As Intervenções Cromáticas no Terreiro do Paço (Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa, 2010), 98.
1331
Cópia de nota de Raul Lino (DSMN), s.d. [14.10.1949]. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 251, proc. 78.
1332
Diogo de Macedo, Rui Vaz, Pardal Monteiro, Varela Aldemira, António Ferro, Francisco Franco, Henrique
Tavares, Armando de Lucena, Manuel Gonçalves da Silveira Azevedo e Castro, Vasco Valente e João Couto.

290
estética e pictórica, apesar de também defender a manutenção do espírito original do conjunto.
Assim, alegou a harmonização do amarelo, mesmo que gasto pelo tempo, com o azul
atmosférico, recorrendo aos princípios de enriquecimento cromático por emprego de cores
complementares, estabelecidos por Helmholtz e Chevreuil e aplicados sistematicamente por
Seurat1333. O verde, não sendo cor complementar do azul, não seria, portanto, apropriado para
um destaque enriquecedor dos edifícios que se impunha.
Na sequência da decisão favorável sobre a pintura de cor verde, a aplicar após limpeza e
reparação das fachadas, a executar pela DSMN visto tratar-se de um conjunto classificado1334,
Raul Lino emitiu um parecer em nome da JNE quanto à pintura de gelosias, aros das janelas,
portas e grades1335: amarelo torrado para gelosias, aros dos caixilhos e corrimãos da varanda;
branco para a caixilharia; verde bronze escuro nas grades de ferro; portas na tonalidade da
madeira, envernizada, ou pintadas no tom das gelosias em caso de ser madeira de fraca
qualidade ou em mau estado. Ou seja, simultaneamente à apresentação de sugestões para
intervenção, o arquiteto integrava de forma ativa os mecanismos de aprovação.
A aplicação do tom verde restringiu-se às fachadas viradas para a praça, e pouco após a pintura
concluiu-se que conferia distinção e se destacava face ao anterior tom amarelo, que se
confundia monotonamente com as cantarias de lioz1336. Justificou-se a delimitação da pintura
e a desistência do prolongamento para os edifícios adjacentes pelo facto de alguns já terem sido
deturpados da sua traça original, sugerindo, por exemplo, caiar de cor da pedra as fachadas de
prolongamento do Ministério do Interior para a Rua do Arsenal para omitir o troço amarelo.
Na parte interna das arcadas optou-se pela cor da cantaria nas paredes e por branco para as
abóbadas. Os processos de intervenção seguidos pela DGEMN levaram a que em breve se
desenvolvessem eflorescências e criptoeflorescências salinas, o que implicou recuperação das
fachadas1337.

A cobertura dos edifícios constituiu outro ponto de discórdia na década de 1960, durante as
obras na ala norte. Raul Lino deu opinião negativa quanto à substituição de telhas verdes por

1333
Ofício de Albano de Almeida Coutinho para Presidente da 1.ª Subsecção da 6.ª Secção da JNE, 25.03.1949.
AHSGEC: Fundo JNE, cx. 251, proc. 78.
1334
Despacho do Diretor-Geral da DGEMN, 02.04.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/019,
TXT.01434603.
1335
Raul Lino, Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas solicita parecer sobre a cor que se deve aplicar às
frontarias do Terreiro do Paço, não só quanto às paredes, como no que se refere às gelosias, aros das janelas,
portas e grades: Parecer, s.d. [outubro 1949]. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 251, proc. 78.
1336
Henrique Gomes da Silva, Raul Lino e ? (assinatura ilegível), s.d. [c. 1950]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/034, TXT.01435317.
1337
Chagas, Cor e Conservação, 100.

291
castanhas, indicando que a tonalidade se alterava consoante a posição do observador e a
incidência da luz solar, e que o modelo de telha seria assimétrico e irregular, sugerindo,
portanto, selecionar telhas de tonalidade bronze por ser um material nobre capaz de conferir
dignidade ao local1338.
O arquiteto deu, também, resposta às críticas apresentadas pelo arquiteto Vasco Regaleira,
vereador da CML, em reuniões da edilidade em 19651339. Regaleira manifestara-se
relativamente ao tom das fachadas, ao observar a pintura do Arsenal em tons de vermelho
contrastando com as tradicionais fachadas brancas ou ocres, e às telhas empregues nas
coberturas, cuja tonalidade verde lhes conferia “uma nota de modernidade”1340 incongruente
com o cariz histórico dos edifícios. Assim, Raul Lino explanou que as cores não foram
determinadas pela DGESBA. Quanto às fachadas, decidira-se há anos pela tentativa de
reprodução de verde peruviano, tradicionalmente aplicado nos edifícios do Arsenal da Marinha,
embora admitisse que as tintas sucessivamente empregues não possuíam a mesma vitalidade e
durabilidade da original. Em adição, salientando que o gosto se alterava conforme a passagem
do tempo, admitiu a introdução do uso de amarelo nas fachadas de residências e de edifícios
estatais na época pombalina, e ressalvou que, aquando da pintura de verde na Praça do
Comércio, o outrora presidente da Academia de Belas-Artes de Roma, Professor Federzoni1341,
louvara a cor como elegante. A telha fora aprovada pelo Ministro das Obras Públicas, não se
tratando de telha verde como a utilizada em edifícios recentes, mas de uma cobertura com tom
bronze patinado, apresentando aspeto nobre e sendo de aplicação e conservação económicas.
O engenheiro Bonneville Franco acrescentou a estas considerações a informação de que a telha
usada no Ministério do Interior, denominada Campos, seria do mesmo tipo da aplicada no
Ministério das Finanças, diferindo apenas na tonalidade – verde acastanhado com coloração
patinada no caso do primeiro edifício, e vermelho no segundo1342. Acusou, ainda, Vasco

1338
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 21.01.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234205-TXT.09234206.
1339
Raul Lino, resposta às observações do vereador Sr. Arqt.º Vasco Regaleira, 12.01.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234200-TXT.09234203.
1340
Ofício do Presidente da CML (António Vitorino França Borges) para Ministro das Obras Públicas, 01.06.1965.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1352, TXT.00447571.
1341
Não se conseguiu identificar um presidente com este nome na mencionada academia. Eventualmente, poderá
tratar-se de Luigi Federzoni (1878-1967), Ministro das Colónias e do Interior sob Mussolini, que ocupou o cargo
de Presidente da Accademia d’Italia e do Instituto de Cultura Italiana em Portugal. Porém, sabe-se que Federzoni
esteve em Portugal em 1940, altura em que as fachadas ainda não possuíam o tom verde. Cf. Jorge Pais de Sousa,
Uma biblioteca fascista em Portugal. Publicações do período fascista existentes no Instituto de Estudos Italianos
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007),
25-28.
1342
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 27.01.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234210-TXT.09234211.

292
Regaleira de não basear as suas sugestões em estudos aprofundados, tal como sucedera quando
o arquiteto foi membro do Conselho Consultivo da DGEMN (1952-58), o que levou a que
nessa altura não se adotassem os seus conselhos.

Finalmente, uma referência à questão da organização interna dos edifícios, que tinha em conta
inquéritos feitos aos serviços ministeriais, por forma a adequar os planos arquitetónicos às suas
necessidades. Mencione-se que Oliveira Rocha assinalou que, durante o Estado Novo, a
administração pública se tornou num sistema autoritário-burocrático, encarando-se como poder
público e suportando a posição cimeira de Salazar1343. Um aspeto crucial respeitava ao
estabelecimento de hierarquia consoante a orgânica dos serviços, com o gabinete ministerial
no topo da escala e, portanto, dotado do espaço mais realçado no edifício, por norma no andar
nobre e com acesso privilegiado. Serviços como arquivos tendiam a ficar nos sótãos ou
sobrelojas, e atendimentos ao público nos pisos térreos. Outra questão reportava à supervisão
e à disciplina que deveriam imperar na administração estatal, exemplificada num pedido de
organização da Direção-Geral do Comércio, sob alçada do Ministério da Economia, relativo à
necessidade de destacar a posição e autoridade de um chefe de serviço quanto aos funcionários,
simultaneamente permitindo manter a vigilância que lhe competia, assim solicitando-se a
integração de uma divisória envidraçada que possibilitasse concomitantemente isolamento e
controlo1344. Denota-se valorização da hierarquia e da organização das funções administrativas,
consideradas por Max Weber como aspetos integrantes do Estado burocrático racional1345. A
ordenação do espaço revelava-se fundamental para manutenção das relações de poder
estabelecidas, embora mais de forma sugestiva do que coerciva. Na prática, as preocupações
com controlo e eficiência das tarefas rotineiras esbarraram muitas vezes com entraves
decorrentes de sucessivas adaptações dos espaços, somando-se queixas de desorganização, de
excesso de divisórias dificultando cooperação, ou do problema da dispersão geográfica dos
serviços.

Não deixa de ser digno de nota que, em 1971, a Comissão de Revisão da DGEMN considerou
que as adaptações que se vinham fazendo nos edifícios do Terreiro do Paço, nomeadamente
nos ministérios das Finanças, Interior e Justiça, tinham adulterado profundamente o carácter

1343
J. A. Oliveira Rocha, Gestão Pública e Modernização Administrativa, Lisboa: INA, 2001, 94.
1344
Ofício da Direção-Geral do Comércio para DGEMN, 20.07.1967. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3514/01,
TXT.11955268-TXT.11955267
1345
Almeida, A Cultura Burocrática Ministerial, 19, 161.

293
pombalino dos interiores e não satisfaziam as necessidades dos serviços1346, atentando no facto
de se tratar de um organismo pelo qual o crivo dos projetos forçosamente passava.

3.10. A concretização do edifício do Ministério das Finanças

Das responsabilidades da DNISP fazia parte a fiscalização da conclusão das obras no edifício
outrora ocupado pela Alfândega, projetado por Pardal Monteiro. A delegação contactou os
serviços que integravam o Ministério das Finanças para averiguar quais as necessidades
prementes por forma a estudá-las convenientemente1347.
O tosco do corpo principal, localizado a sul e virado para o Tejo, fora iniciado com base no
projeto de 1937 e pretendia-se, em 1949, o seu término para a dar continuidade à obra1348.
Nessa altura, dada a insistência do Ministro das Finanças, João Pinto da Costa Leite
(Lumbrales) (1905-1975), para ocupação das novas instalações, o arquiteto foi instado a
apresentar os desenhos para a zona principal do edifício, constituída pelo gabinete ministerial
e pela escadaria principal1349. No orçamento que apresentou para esta secção, alojando as
“dependências mais representativas da importância da instituição”1350 e que deveriam exprimir
sobriedade e dignidade, Pardal Monteiro referiu que se tratava de “um dos mais importantes
dos novos edifícios públicos”1351 – mantinha-se, portanto, o entendimento do simbolismo e do
peso político associado a este empreendimento. O arquiteto foi contratado para dar assistência
técnica às obras a levar a cabo pela DNISP1352.

1346
Comissão de Revisão da DGEMN, Parecer sobre o “Estudo urbanístico de integração das zonas adjacentes à
Praça do Comércio” e “Programa definitivo do Ministério da Marinha, s.d., p. 14. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1354, TXT.00448114.
1347
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Diretor-Geral da Contabilidade Pública, 16.04.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0127/02/2, TXT.09172244.
1348
Porfírio Pardal Monteiro, Memória Descritiva, 22.09.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0121/01/1, TXT.09166714- TXT.09166712
1349
Ofício de Artur Bonneville Franco para Porfírio Pardal Monteiro, 30.08.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09166910.
1350
Porfírio Pardal Monteiro, Obras do Novo Ministério das Finanças: Corpo Principal – Orçamento descritivo,
Fevereiro 1949, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09166928.
1351
Ibid., p. 5. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09166925.
1352
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Diretor-Geral da DGEMN, 12.12.1949. DGPC/SIPA: DNISP-001-
0119/01/3, TXT.09164905.

294
Fig. 140. Ministério das Finanças – novas instalações: alçado sul, 05.11.1953.

Fig. 141. Ministério das Finanças: planta do 2.º pavimento, 17.12.1950.

Numa altura em que ainda decorriam as obras de adaptação no edifício, a Secretaria-Geral do


Ministério das Finanças organizou uma exposição sobre a história da instituição por ocasião
do seu 150.º aniversário, inaugurada a 05.07.1952 para coincidir com os vinte anos da
indigitação de Salazar como Presidente do Conselho1353. Perante um pedido feito à DNISP pela
referida Secretaria-Geral um mês antes do evento, o Ministro Ulrich tomou conhecimento da

António Luiz Gomes, “O Ministério das Finanças e a História”, in Exposição Histórica do Ministério das
1353

Finanças (Lisboa: Oficinas Gráficas de Ramos, Afonso & Moita, 1952), IX-XIII.

295
exposição, que até então ignorava1354. Não se opondo à cedência de salas para o efeito, exigiu
informações concretas sobre o evento para tomar providências quanto aos trabalhos de
decoração que estavam em curso. A exposição, com o objetivo de “fixar [...] o reflexo da
importância do Ministério das Finanças entre as actividades principais da vida da Nação”1355,
ocupou diversas salas e também o gabinete ministerial. Remontando cronologicamente ao
século XVI, apresentou uma síntese apoiada em documentação, legislação e bibliografia,
complementada por gráficos, mapas e objetos institucionais como medalhas, selos e moedas, e
ainda máquinas, balanças e padrões de pesos e medidas, bem como modelos de embarcações e
armaduras, cujo peso se procurou amenizar através de peças de arte provenientes de coleções
nacionais e privadas – de pintura, incluindo vistas de Lisboa e retratos de estadistas e figuras
várias ligadas à pasta da Fazenda, a gravuras, um coche, tapeçarias, objetos em porcelana e
mobiliário, entre outros. Como sucedeu noutras exposições encomiásticas, numa das salas
foram reproduzidas citações de Salazar relativas à administração financeira. Tratou-se não só
de uma comemoração da história do organismo, mas de uma demonstração laudatória da
atividade do governo sob Salazar, procurando também firmar a permanência do regime nessa
época.

Fig. 142. Exposição histórica do Ministério das Finanças, Fig. 143. Exposição histórica do Ministério das
átrio: coche que pertenceu aos Condes de Valadares. Finanças: sala com retrato de Salazar. 1952.

1354
Despacho manuscrito do Ministro das Obras Públicas, 02.06.1952, inscrito sobre ofício do Secretário-Geral
do Ministério das Finanças (A. Luís Gomes) para Artur Bonneville Franco, 30.05.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167136.
1355
Gomes, “O Ministério das Finanças e a História”, XI.

296
Fig. 144. Exposição histórica do Ministério das Finanças: Fig. 145. Salazar observando uma das reproduções
vista de uma das salas. 1952. das Tapeçarias de Pastrana. [1953?]

Apesar de as paredes terem sido revestidas a tecido, verificaram-se algumas nódoas e pancadas
decorrentes da desmontagem da exposição, que obrigaram a retoques na pintura antes de
proceder à transferência dos serviços destinados para esses espaços1356. Em 1953, foram
expostas no edifício as quatro reproduções das quatrocentistas Tapeçarias de Pastrana,
executadas pela Real Fábrica de Tapices, em Madrid, e adquiridas pelo Governo1357, para o que
se tornou necessário proceder a novas reparações nas paredes e tetos1358.

No que respeita à decoração da diferenciada zona nobre, refira-se uma sugestão de Raul Lino
para inclusão de azulejos na antecâmara ou em alguma sala junto do gabinete ministerial: o
arquiteto visitara alguns antigos conventos, identificando no extinto Convento de Santa Joana,
num vestiário ocupado pela esquadra de polícia, “um soco policrómico de almofadados da
época pombalina”1359, e, ainda, um conjunto de azulejos de figura avulsa adequados para uma
passagem secundária do edifício. Não se detetou documentação acerca da receção da ideia ou
sua continuidade, mas a inexistência de azulejos no local atesta que não terá tido andamento.
A integração de elementos decorativos antigos, da época da reconstrução pós-terramoto,
afastava-se das premissas de Pardal Monteiro. Porém, como veremos, não seria totalmente
evitada no processo de ornamentação dos espaços.

1356
DNISP, Informação sobre a transferência do Gabinete de Sua Ex.ª o Ministro das Finanças para as instalações
definitivas, 03.12.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167148-TXT.09167147.
1357
Sobre o processo de aquisição destas reproduções confirmada pela JNE em 1951, cf. AHSGEC: Fundo JNE,
cx. 232. Proc. 18.
1358
Ofício de A. Luiz Gomes (Secretário-geral do Ministério das Finanças) para Delegado da DNISP, 27.02.1953.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0128/01/07, TXT.09172983.
1359
Raul Lino, Nota, 19.08.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167054.

297
A escadaria central constituía um foco de ascensão ao andar nobre. Optou-se pela inclusão de
janelões nas paredes laterais da escadaria, ocupando toda a sua altura para beneficiar da
iluminação natural. As paredes deveriam corresponder à parede que viria a receber pinturas
murais, através da inclusão de pilastras com intervalos apainelados. Os janelões conferiam
“certo ar mais monumental”1360 à escadaria, cuja simplicidade se coadunava com a época
vivida. Pretendendo uma solução mais económica e que não abafasse os murais, decidiu-se
pela inserção de envidraçados decorativos esquemáticos ao invés de vitrais alegóricos. As
peças foram encomendadas a Ricardo Leone1361, que colaborara em edifícios projetados por
Pardal Monteiro, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e o Instituto Nacional
de Estatística.

Fig. 146. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: corte por ‘AB’, [1937].

1360
[Raul Lino], Parecer sobre a alteração dos vãos de janela da escadaria nobre do Ministério das Finanças, s.d.
[1950]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/2/3, TXT.09175238-TXT.09175237.
1361
Ofício de Artur Bonneville Franco para Sociedade de Construções Civis, Lda., 09.02.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0120/02/1/3, TXT.09166412.

298
Fig. 147. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério das Finanças: corte por ‘E-F’: pormenor da decoração na escadaria
nobre, [1937].

Pardal Monteiro julgou indispensável dignificar a escadaria com elementos decorativos,


conforme já delineara em 1937, nomeadamente duas estátuas com c. 2,5 m de altura no patamar
da escada e baixos-relevos para as sobreportas (duas em cada piso; c. 2,30 x 1,40 m), para além
do tríptico mural que já havia previsto para a parede fundeira1362. Analisando o estudo para
decoração dessa zona, o Ministro das Obras Públicas concordou com a proposta, incumbindo
Raul Lino de elaborar uma estimativa orçamental para tais encomendas 1363. Ulrich sugeriu
alguns nomes a ter em conta para esses trabalhos: Jaime Martins Barata para os murais, Ernesto
Canto da Maia e Álvaro de Brée para as estátuas, e Salvador Barata Feyo e Maximiano Alves
para os baixos-relevos.

1362
[Raul Lino?], Escadaria Nobre e Gabinete do Ministro: Parecer, [1950]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-
001-0130/02/2/3, TXT.09175243- TXT.09175242.
1363
Despacho manuscrito do Ministro das Obras Públicas de 06.05.1950, inscrito sobre ofício do Diretor-Geral
da DGEMN para o Delegado da DNISP, 08.05.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1,
TXT.09174977.

299
Raul Lino contactou os artistas para dar andamento ao assunto1364. Uma vez que Martins Barata
se iria ausentar para Roma por um período mínimo de três meses, em virtude da decoração da
capela na Igreja de Santo Eugénio em Roma, o arquiteto sugeriu que se passasse o trabalho a
Joaquim Rebocho, um artista de confiança que dera já provas da sua competência. Quanto às
esculturas, não conseguira contactar com Canto da Maia, também no estrangeiro. Recordando
os desaires ocorridos com a estatuária da escadaria exterior do Palácio da Assembleia Nacional,
Lino ponderou sobre a atribuição das duas esculturas a apenas um artista, visto que ficariam
localizadas a pouca distância e teriam imprescindivelmente de harmonizar entre si, sendo que
Pardal Monteiro concordava com essa sugestão. Tanto Barata Feyo como Maximiano Alves
estavam dispostos a executar duas peças cada, destinadas às sobreportas. Passado algum tempo,
Raul Lino prestou novas informações sobre o assunto – já tendo contactado com Canto da Maia
–, nomeadamente quanto aos valores e aos tempos de execução apresentados pelos artistas, aos
quais o ministro acedeu1365.
Ulrich decidiu que a decoração deveria ser adjudicada de seguinte forma, com orientação dos
trabalhos pelos arquitetos Raul Lino e Pardal Monteiro: painéis murais a Joaquim Rebocho;
estátuas a Álvaro de Brée; dois baixos-relevos a Barata Feyo e dois a Leopoldo de Almeida,
eliminando a participação de Maximiano Alves, que então realizava dois bustos para o Palácio
de São Bento e que viria a receber em breve “a incumbência de 2 estátuas, para a
Estatística”1366. Não obstante, identificou-se uma memória descritiva assinada por Maximiano
Alves relativa a dois baixos-relevos, datada do dia sequente ao despacho ministerial,
possivelmente resultante da troca de impressões que tivera com a DNISP1367. As peças, de
vincado cunho nacionalista afim ao regime, representariam o “esforço colectivo realizado sob
a direcção de um Ministro previdente, desejoso de mobilizar a Nação para um Futuro de maior
grandeza”1368: enaltecendo a administração que encabeçou as mudanças, uma exaltaria o papel
da grei no encaminhamento dos recursos financeiros para a “grande obra realizada”, e a outra
sublinharia o esforço que originou o prestígio alcançado por Portugal no contexto internacional.
Temas pouco específicos e de provável feição alegórica, distintos da iconografia de caráter
histórico plasmada nos relevos executados pelos outros escultores. Assistiu-se, portanto, à

1364
Raul Lino, Informação, s.d.. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09174979.
1365
Raul Lino, II.ª Informação, 04.07.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09174989-
TXT.09174987.
1366
Despacho manuscrito do Ministro das Obras Públicas, 22.08.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0130/02/1, TXT.09175020.
1367
Informação de Artur Bonneville Franco, 24.10.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1,
TXT.09175076.
1368
Maximiano Alves, Memória Descritiva dos motivos dos dois baixo-relevos do átrio inferior da escadaria do
novo Ministério das Finanças, 23.08.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175025.

300
escolha específica de determinados artistas, habituais colaboradores na decoração de edifícios
públicos, dispensando-se a realização de concursos públicos.

Barata Feyo demorou no envio das fotografias dos primeiros desenhos de estudo para os
baixos-relevos por ter assumido temporariamente a direção do Museu Nacional Soares dos
Reis1369, cargo que acumulou com o de professor na ESBAP. Nesta altura, depois de terminadas
as estátuas de Alexandre Herculano e Almeida Garrett na Avenida da Liberdade, em Lisboa
(1945) ou a estátua da Engenharia para a exposição Quinze Anos de Obras Públicas (1948), o
escultor tinha em mãos projetos oficiais como as estátuas para o exterior da Faculdade de Letras
de Coimbra (1951). Raul Lino e Pardal Monteiro visitaram o seu atelier para observar os
estudos já adiantados, decidindo-se que os motivos poderiam ser desdobrados em quatro
baixos-relevos1370. Leopoldo de Almeida encontrava-se doente, pelo que os seus estudos
estavam atrasados. Em setembro de 1951, Barata Feyo passara os estudos a gesso1371,
remetendo fotografias para apreciação, já examinadas por Pardal Monteiro e Raul Lino, ambos
satisfeitos com o trabalho1372. Os baixos-relevos representavam, respetivamente, a criação das
Bolsas da Agricultura, Navegação e Comércio no reinado de D. Fernando, e D. Afonso III
recebendo parte do tesouro particular do Clero e da Nobreza como oferta para evitar a quebra
da moeda. Receberam aval positivo com aprovação pelo vogal da JNE, Diogo de Macedo, que,
enaltecendo as capacidades artísticas do autor, os considerou “excelentes obras a enriquecerem
o ambiente arquitectónico a que se destinam”1373.
Leopoldo de Almeida apresentou modelos em gesso1374 em maio de 1952, nos quais figuravam,
respetivamente, D. Manuel I e referência à Casa dos Vinte e Quatro, e D. João I aludindo à
Casa da Índia e às medidas de fortalecimento da moeda1375. Anteriormente, os estudos haviam
sido examinados no seu atelier pelos vogais da JNE, Diogo de Macedo e João Couto, que

1369
Ofícios de Salvador Barata Feyo para Artur Bonneville Franco, 14.11.1950 e 20.11.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175066, TXT.09175067.
1370
Artur Bonneville Franco, Nota sobre as obras de arte destinadas à escadaria nobre do Ministério das Finanças,
08.02.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175072-TXT.09175071.
1371
O Museu Barata Feyo, no Centro de Artes das Caldas da Rainha, integra no seu espólio dois estudos em gesso
relativos a estes baixos-relevos (n.º inv. BF-ESC-0193 e BF-ESC-0194).
1372
Informação de Artur Bonneville Franco, 11.09.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1,
TXT.09175088.
1373
Diogo de Macedo, Baixos-relevos para a Escadaria Nobre do Ministério das Finanças: Parecer, 14.09.1951.
AHSGEC: Fundo JNE, cx. 232, proc. 16.
1374
O Museu Leopoldo de Almeida, no Centro de Artes das Caldas da Rainha, possui desenhos preparatórios para
estes baixos-relevos (n.º inv.: LA-DES-0747, LA-DES-0748, LA-DES-0749, LA-DES-0750), e o acervo do
Museu de Lisboa integra dois gessos, presumivelmente as maquetas observadas pela JNE (n.º inv.: MC.ESC.189,
MC.ESC.190).
1375
Ofício de Leopoldo de Almeida para Artur Bonneville Franco, 21.05.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175131.

301
elogiaram as composições, consideradas meritórias no respeitante à técnica e ao fundamento
histórico1376. Leopoldo de Almeida comunicou que teria as peças concluídas no final de julho
para poderem ser apreciadas pelo ministro, justificando a demora com o facto de ter tido um
acréscimo nas obrigações enquanto professor1377. Em adição, o escultor contava com diversas
encomendas públicas, como, entre outras, as estátuas de D. Afonso Henriques e D. João I para
os Paços do Concelho de Lisboa (1950) e as peças para a capela na Igreja de Santo Eugénio
em Roma (1951) e Igreja de São João de Deus, Lisboa (1953).
O conjunto dos baixos-relevos incorpora uma fórmula, consagrada para as obras com mecenato
estatal, de representação de temas históricos como reforço e legitimação do momento político
vigente. Assim, os referentes históricos aludem, indiretamente, ao equilíbrio financeiro
conseguido por ação de Salazar e ao patrocínio e regulamentação das atividades sustentando a
economia nacional através do sistema corporativo, assinalando a hierarquia na organização
social. Em termos formais, todos integram a figura do monarca ao centro, entronizado, rodeado
de figuras ostentando atributos identificativos.

Fig. 148. Baixo-relevo de Barata Feyo no patamar superior da escadaria nobre do Ministério das Finanças: D.
Afonso III. 2021.

1376
Diogo de Macedo e João Couto, Dois alto-relevos esculpidos por Leopoldo de Almeida, destinados à escadaria
do Ministério das Finanças, 09.02.1952. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 234, proc. 9.
1377
Ofício de Leopoldo de Almeida para Artur Bonneville Franco, 02.07.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175082.

302
Fig. 149. Baixo-relevo de Barata Feyo no patamar superior da escadaria nobre do Ministério das Finanças: D.
Fernando. 2021.

Fig. 150. Baixo-relevo de Leopoldo de Almeida no átrio de acesso à escadaria nobre do Ministério das Finanças: D.
Manuel. 2021.

303
Fig. 151. Baixo-relevo de Leopoldo de Almeida no átrio de acesso à escadaria nobre do Ministério das Finanças:
D. João I. 2021.

As maquetas de Álvaro de Brée para as estátuas somente foram aprovadas por Pardal Monteiro
em janeiro de 1951, altura em que teve oportunidade de visitar o atelier do escultor1378.
Representavam, segundo informação de Bonneville Franco, “o pensamento criador” e “o
resultado obtido”1379, desejando o escultor que o Ministro das Obras Públicas as observasse
também.

1378
Ofício de Álvaro de Brée para Artur Bonneville Franco, 29.01.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0130/02/1, TXT.09175068.
1379
Artur Bonneville Franco, Nota sobre as obras de arte destinadas à escadaria nobre do Ministério das Finanças,
08.02.1951, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175072.

304
Fig. 152. Estudo de Álvaro de Brée para a estátua Fig. 153. Estudo de Álvaro de Brée para a estátua
Fomento. [1952] Sabedoria. [1952]

Foram submetidas a avaliação da 1.ª subsecção da 6.ª secção da JNE1380, cujo parecer, assinado
por Diogo de Macedo e João Couto, aprovou o modelo em barro da estátua que de forma clara
representava “as iniciativas de fomento e proteção à agricultura em Portugal, e bem assim
referente às realizações de Obras Públicas”1381, avaliação com a qual MOP concordou. Os
relatores valorizaram o facto de, para além das funções decorativas, a estátua possuir
significado identificado com “uma ideia geradora de actividades do Estado”1382. Portanto, o
emprego de alegorias detinha um simbolismo intrínseco, mesmo que não apreensível numa
primeira observação desatenta. Em adição, elogiaram o estilo do escultor, de um
neoclassicismo particular e de simplificação formal que conferiam às peças um sabor moderno.
A segunda estátua foi igualmente aprovada pelos mencionados vogais da JNE, que somente
sugeriram ao escultor pequenas alterações estéticas1383. As estátuas constituem alegorias ao

1380
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Presidente da JNE, 08.08.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-
001-0130/02/1, TXT.09175083.
1381
Diogo de Macedo e João Couto, Parecer, s.d. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 232, proc. 55.
1382
Ibid.
1383
João Couto e Diogo de Macedo, Estátua decorativa para a escadaria do Ministério das Finanças, da autoria de
Álvaro de Brée: Parecer, 26.01.1952. Espólio Diogo de Macedo | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, DM
073/55.

305
fomento, integrando como atributos uma árvore e um conjunto de edifícios em miniatura, e à
sabedoria, ostentando uma lucerna alumiada; ambas possuem, também, um pergaminho.
Formalmente, de carácter relativamente estilizado, aproximam-se da escultura retratando a
Arquitetura1384 que de Brée realizou para assinalar o I Congresso Nacional de Arquitetura, no
IST (1948).

Fig. 154. Perspetiva da escadaria nobre do Ministério das Finanças, observando-se os vitrais, as estátuas de Álvaro
de Brée e um dos relevos de Barata Feyo. S.d.

A todos os escultores envolvidos na decoração da escadaria foi concedida prorrogação do prazo


de entrega dos trabalhos definitivos, executados em mármore de Estremoz, que decorreu
durante o ano de 1952. A utilização desta pedra nobre, ao invés do lioz acordado no contrato,
trouxe contratempos a Álvaro de Brée. O Ministro das Obras Públicas julgou que as suas
estátuas deveriam ser substituídas após tê-las observado no local, devido aos laivos escuros
evidentes em determinados pontos, o que o escultor conseguiu remediar em grande medida ao
empregar uma técnica de acabamento designada por penteado, visto que seria praticamente

1384
Esta estátua encontra-se atualmente na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.

306
impossível encontrar um bloco de mármore nas dimensões e condições desejadas 1385. A
comissão encarregada da observação na sequência desse tratamento, constituída por Henrique
Gomes da Silva, Raul Lino e Luís Benavente, considerou-as conforme aos modelos e
adequadas ao espaço1386.

Joaquim Rebocho concluía dois estudos para os painéis em 1951, aguardando por visita
ministerial. O pintor viria a demorar na conclusão dos estudos definitivos, o que protelou o
início da pintura no local e a escolha da tonalidade a aplicar nas paredes em redor1387.
Previamente à passagem das composições para as paredes, seria necessário apreciar os
desenhos em tamanho natural, que Rebocho preparava numa sala no rés-do-chão do Ministério
das Finanças, junto do átrio, e que deveriam ser observados pela JNE1388. O pintor recebeu o
parecer positivo em outubro de 1952 – assinado pelos pintores Varela Aldemira e Armando de
Lucena, que classificaram os desenhos como “muito valiosos e expressivos”1389 –, o que, em
conjugação com a grande dimensão e a dificuldade do trabalho, levou a que fosse necessário
prolongar a execução pelo ano seguinte1390. A orientação técnica e artística dos murais passou,
então, a estar a cargo da DSMN1391. O painel central foi terminado em maio de 1953, ficando
a faltar apenas a execução de um dos painéis1392. Sob o tríptico foi colocado o busto de Salazar,
da autoria de Francisco Franco, proveniente das anteriores instalações e transferido em
19501393.

1385
Ofício de Álvaro de Brée para Artur Bonneville Franco, 21.08.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0130/02/1, TXT.09175151.
1386
Parecer, 20.09.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175157.
1387
Ofício de Artur Bonneville Franco para Joaquim Rebocho, s.d. [1951?]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-
001-0130/02/1, TXT.09175078.
1388
Ofício de Artur Bonneville Franco par Diretor-Geral da DGEMN, 21.08.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175148.
1389
Varela Aldemira e Armando de Lucena, parecer, 09.10.1952. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 234, proc. 13.
1390
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 09.12.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175164.
1391
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 18.12.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1, TXT.09175166.
1392
Ofício do Diretor da DSMN para Diretor-Geral da DGEMN, 18.05.1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-
001/011-1351, TXT.00446776
1393
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Secretário-Geral da DGFP, 14.03.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0001/04, TXT.09084510.

307
Fig. 155. Busto de Salazar na escadaria nobre. [1952].

Fig. 156. Tríptico de Joaquim Rebocho na escadaria nobre do Ministério das Finanças. 2021.

308
O tríptico de Rebocho incorpora composições aludindo às atividades laborais sustentando as
finanças portuguesas, através de figuras masculinas com torsos desnudos evidenciando
musculatura acentuada e de figuras femininas também suportando o trabalho físico, assim
enaltecendo o trabalho conjunto da comunidade em prol de um objetivo comum. No painel da
esquerda salienta-se sobretudo o trabalho agrícola, e no painel oposto destaca-se a faina
marítima, havendo alusão ao desenvolvimento infraestrutural como pano de fundo,
nomeadamente através da inclusão de barragens e estruturas portuárias. O painel central
incorpora, na base, a família, pilar da sociedade nacional, retratada desnuda, como que
evocando a Sagrada Família. Em seu redor, representantes de diversas profissões: do pescador
e da ceifeira ao médico e ao jurista. A evocação das finanças é completada pela representação
do fabrico da moeda, sendo a composição presidida por uma figura feminina que, pairando,
ilumina as engrenagens da máquina que move o regime.
O tríptico não deixa de ter um sabor algo extemporâneo nessa década de 1950, embora se
coadune com a mensagem de enaltecimento propagandístico da ação estatal que então norteou
eventos como a exposição retrospetiva 30 Anos de Cultura Portuguesa (SNI, 1956). Por um
lado, a estética é afim ao trabalho de Rebocho, por exemplo no mural da Faculdade de Letras
de Coimbra (1951), em termos de disposição e tratamento plástico das personagens, embora a
composição lisboeta evidencie maior dinamismo e fluidez. Os idealizados homens musculados
com rostos idênticos, executando árduas tarefas físicas sem aparência de esforço, afastam-se,
também, do tom crítico de denúncia das condições trabalho e de vida adotado pelos artistas
ligados ao neorrealismo, mais se aproximando fisionomicamente de vigorosas figuras
idealizadas de peças propagandísticas destacadas pelo regime nacional-socialista, como a
pintura Wassersport (Desportos aquáticos, 1936) do austríaco Albert Janesch (1889-1973).
Outro aspeto digno de nota é a incorporação de varinas descalças caminhando sobre tábuas no
painel dedicado ao trabalho pesqueiro, remetendo de algum modo para as mulheres carregando
carvão do painel de Almada Negreiros da Gare Marítima de Alcântara (1945), cujas
intenções1394 se afastam dos encómios fixados por Rebocho. De resto, a controvérsia criada
pelos murais de Almada nas gares marítimas, que chegou a pôr em causa a sua permanência1395,
poderá ter justificado a escolha de um artista como Rebocho para o ministério, onde não houve

1394
Ellen W. Sapega, Consensus and debate in Salazar’s Portugal: visual and literary negotiations of the national
text, 1933-1948 (Pennsylvania: Pennsylvania State University Press), 2008, 47-85; Mariana Pinto dos Santos,
“State-commission in Modern Times. Realism and Modernism in the Mural Paintings of the Artist Almada
Negreiros (1893-1970)”, in Realisms of the Avant-Garde, eds. Moritz Baßler et al. (Berlim: De Gruyter, 2020).
1395
Paula Ribeiro Lobo, “Almada and the maritime stations: the portrait of Portugal that the dictatorship wanted
to erase”, Revista de História da Arte – série W 2 (2014): 342-352.

309
espaço para ambiguidades ou para compactuar com uma lógica inclusiva. O facto de não se ter
identificado documentação mais específica acerca da encomenda, mormente no que concerne
à delimitação temática, não permite ir para além da extrapolação. Cremos tratar-se de um dos
murais encomendados para equipamentos públicos que mais abertamente empregou um tom
de enaltecimento laudatório dos feitos do passado recente – não num momento de
consolidação, mas de reafirmação do regime –, visto que a maioria, executada para estações
dos CTT, tribunais e instituições como a Casa da Moeda, o Instituto Português de Oncologia
ou a Universidade de Coimbra (e excluindo edifícios religiosos e de promoção privada, como
cinemas), se serviu de temáticas históricas ou de composições alegóricas para a transmissão de
mensagens. Vimos como, no caso dos trípticos para o Palácio de São Bento, a materialização
evidente destas ideias de valorização do trabalho e da população contemporânea para
engrandecimento e construção do novo regime, patentes nas propostas apresentadas a concurso
por Dordio Gomes e Abel Manta, ficou sem efeito, estando apenas presente nas pinturas de
Lino António, embora de forma diminuta, concorrendo para fortalecer os momentos históricos.

A iluminação da zona nobre foi estudada por Pardal Monteiro, incluindo um grande lustre para
o topo da escadaria e candeeiros (florões) para o teto dos passos perdidos. Raul Lino mencionou
que os desenhos do arquiteto obedeciam “a um gosto pessoal que, não desprezando de todo a
tradição, procura encontrar novas formas”1396 adaptadas aos interiores, sugerindo alguns
ajustes na solução do lustre, concretamente nos cilindros de vidro previstos. O assunto teve
resolução demorada, mesmo após a realização de uma maquete em gesso do lustre, considerado
inadequado, mas cuja reformulação sequente de Pardal Monteiro não satisfez, havendo
inclusive propostas da CAM de modificar completamente o tipo de iluminação a empregar,
incluindo projetores e sancas1397. O arquiteto acabaria por aceder à colocação de sancas no teto
e de apliques nas paredes dos passos perdidos, omitindo-se a colocação do lustre central1398.
Numa visita à escadaria, o Ministro das Finanças referiu ao Ministro das Obras Públicas um
modelo de candeeiro decorativo que apreciara na sala de jantar de um hotel em Roma, onde
estivera alojado, que poderia inspirar os candeeiros para o átrio do novo edifício1399.

1396
Raul Lino, Escadaria nobre do Ministério das Finanças: Candeeiros, 20.04.1951. DGPC /SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/2/2, TXT.09175202.
1397
Informação de Artur Bonneville Franco, 25.09.1952, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0130/02/2/2, TXT.09175223.
1398
Porfirio Pardal Monteiro, Iluminação da escada do Ministério das finanças, 13.11.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4126/08, TXT.05075307-TXT.05075308.
1399
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Chefe de Gabinete do Ministro das Finanças, 31.05.1954.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/2/6, TXT.09175302

310
O gabinete ministerial foi alvo de especial cuidado, tendo o ministro Ulrich atempadamente
reforçado a necessidade de se ouvir o Ministro das Finanças sobre o assunto1400. Possuía
pavimento com tacos de madeira de elevada qualidade e paredes com lambris também
folheados a madeira em toda a extensão1401. Pardal Monteiro equacionou forrar as paredes com
tapeçaria decorativa, “como as que representam frondes de um bosque”, que tornaria o gabinete
mais aconchegado e enriquecido, e colocar por trás da mesa do ministro uma tapeçaria
“executada nos teares da nova indústria artística nacional”, isto é, na Manufatura de Portalegre,
de cariz figurativo com temática histórica ou alegórica1402. A ideia de forrar as paredes a
tapeçaria foi rejeitada em 1951 devido à opção de aplicar apenas pintura a óleo1403. No entanto,
dois anos depois, comunicando que os trabalhos no gabinete estavam concluídos há muito,
Bonneville Franco retomou a dúvida sobre a decisão de revestir as paredes estucadas com
tapeçarias, bem como acerca da colocação de almofadas em cabedal nas portas, aspetos que
foram incumbidos à CAM1404. A exposição histórica realizada em 1952 utilizara o gabinete e
salas adjacentes, cuja colocação de painéis, revestimentos e instalações elétricas provisórias
provocou danos em paredes, portas e tetos. As necessárias limpezas deveriam, segundo
Bonneville Franco, seguir-se à inserção de um indispensável candeeiro central; o engenheiro
recordava, também, o plano de colocar uma tapeçaria mural de Portalegre nos painéis
estucados, o que facilitava o arranjo1405.
O estudo de mobiliário para o gabinete e instalações anexas foi acometido à CAM, que atendeu
ao facto de que esses espaços deveriam “estar à altura da imponência da obra realizada”1406. Já
em 1946, a CAM fora incumbida de indagar acerca das necessidades de mobiliário dos diversos
serviços do Ministério das Finanças, calculando o que poderia ser aproveitado do existente e o
que seria necessário adquirir1407 – no caso de se impor a aquisição de mobiliário como

1400
Despacho manuscrito do Ministro das Obras Públicas de 06.05.1950, inscrito sobre ofício do Diretor-Geral
da DGEMN para o Delegado da DNISP, 08.05.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/1,
TXT.09174977.
1401
Porfírio Pardal Monteiro, Memória Descritiva, 22.09.1953, p. 11. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0121/01/1, TXT.09166721.
1402
[Raul Lino?], Escadaria Nobre e Gabinete do Ministro: Parecer, [1950]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-
001-0130/02/2/3, TXT.09175243- TXT.09175242.
1403
Ofício de Artur Bonneville Franco para o empreiteiro José Pedro Rodrigues Dias, 09.04.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167104.
1404
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 28.10.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167548.
1405
Informação de Artur Bonneville Franco, 25.09.1952, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0130/02/2/2, TXT.09175224.
1406
CAM, Novas instalações do Ministério das Finanças: Memória Descritiva e Justificativa, 07.04.1952.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092707-TXT.04092703.
1407
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Presidente da CAM, 23.08.1946. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/05, TXT.04093200.

311
complemento, deveria estar de acordo com o estilo e qualidade do existente. Propunha-se uma
descentralização da aquisição e reparação de mobiliário pelos respetivos serviços, ficando a
comissão responsável pelo modelo uniformizado que fosse aprovado.
Apesar das intenções planeadas por Pardal Monteiro – com o qual a CAM parece não ter
trocado impressões sobre as propostas que elencou –, para gabinetes sóbrios e modernos, o
Ministro das Finanças, Artur Águedo de Oliveira1408 (1894-1978), impôs o seu gosto pessoal
no que toca ao mobiliário, que deveria ser da época de D. José ou de estilo inglês equivalente,
o que acabaria por condicionar os restantes gabinetes. Como o arranjo do seu gabinete não se
coadunaria com o mobiliário desejado, particularmente as madeiras nas paredes, a CAM
sugeriu que esses painéis fossem pintados e guarnecidos de molduras, que as restantes paredes
recebessem forro de tecido, e que se encomendasse a alguns dos mais destacados pintores
retratos de personalidades para decoração de todos os gabinetes em estudo. Para o gabinete
ministerial, a CAM indicou inserção de reproduções de retratos de Oliveira Martins e de
Anselmo de Andrade1409 – que, numa estimativa orçamental sequente, foram substituídos por
uma cópia de um retrato do Conde da Ericeira1410. Para além de mobiliário de estilo pombalino,
detetou-se, para gabinetes adjacentes, a intenção de integrar “cadeiras renascença” 1411, e
lampiões idênticos aos de Mafra (numa presumível referência ao palácio) para os corredores.
Em adição, planeava-se a transferência de mobiliário dos séculos XVII a XIX existente nas
instalações até então ocupadas, bem como o aproveitamento de elementos decorativos, como
telas dos pintores Malhoa e Condeixa existentes no gabinete do Subsecretário do
Orçamento1412, e o retrato de Salazar pintado por Ortigão Burnay1413.
O arquiteto Raul Lino exarou um parecer sobre as sugestões da CAM, não compreendendo o
propósito de alterar o ambiente confortável, discreto e neutro delineado por Pardal

1408
Águedo de Oliveira estava próximo do Presidente do Conselho, tendo sido aluno de Salazar na Universidade
de Coimbra, que foi também seu arguente nas provas de doutoramento. Aí se estabeleceram afinidades políticas
e ideológicas, e o discípulo revelou seguir as lições do mestre, tornando-se num colaborador da “renovação
financeira” do país. Águedo de Oliveira ocupou o cargo de Subsecretário de Estado das Finanças (1931-34), após
ter sido nomeado Vice-Presidente do Tribunal de Contas (1930-34/1934-48), assumindo a presidência dessa
instituição entre 1948 e 1964. À data da assunção da pasta das Finanças, comprovara já o seu valor enquanto
economista. Vide Santos, Elites Salazaristas Transmontanas no Estado Novo.
1409
Lista de mobiliário da CAM, s.d., p. 2, apensa a cópia de ofício do Ministro das Finanças para o Ministro das
Obras Públicas, 22.10.1952. ACMF: Fundo SGMF, Pasta ‘Comissão para Aquisição de Mobiliário’.
1410
CAM, Mobiliário e decoração dos gabinetes ministeriais e outras dependências anexas das novas instalações
do Ministério das Finanças, s.d. ACMF: Fundo SGMF, Pasta ‘Comissão para Aquisição de Mobiliário’.
1411
Lista de mobiliário da CAM, s.d., p. 1, apensa a cópia de ofício do Ministro das Finanças para o Ministro das
Obras Públicas, 22.10.1952. ACMF: Fundo SGMF, Pasta ‘Comissão para Aquisição de Mobiliário’.
1412
DNISP, Ministério das Finanças: Mobiliário – Resenha das principais peças que se reputam necessárias para
o arranjo da Ala do Gabinete do Ministro, s.d. [abril 1952], p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0129/01/4, TXT.09173394.
1413
DNISP, Mobiliário – Principais peças existentes que merecem ser aproveitadas s.d. [abril 1952]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0129/01/4, TXT.09173389.

312
Monteiro1414. Em relação à vontade do ministro de integrar mobiliário setecentista no seu
gabinete, Raul Lino ponderou não ser esse espírito incompatível com a divisão, advertindo que
Águedo de Oliveira não teria tido em mente uma reconstituição histórica à semelhança de um
museu, mas desejaria evitar “o modernismo, para não dizer a extravagância, do género que
ilustra as revistas modernas”1415. O arquiteto idealizava mobiliário simples, de boa qualidade,
inspirado na época de D. José I, relembrando que se tratava de adornar um gabinete ministerial
num edifício recentemente construído. Perante tais observações, o ministro Ulrich equacionou
convidar Pardal Monteiro para projetar o recheio do gabinete em conjunto com Luís Benavente,
devendo o estudo ser acompanhado pela DNISP. Porém, tal tarefa veio a ser acometida ao
arquiteto Costa Martins, especificamente cedido pela DNISP1416, uma vez que Benavente
alegou estar assoberbado de trabalho com as obras no Palácio de Belém, que o
impossibilitavam de prosseguir nos estudos para o Ministério das Finanças1417.

No entretanto, o Ministro das Finanças pronunciou-se sobre o estudo apresentado pela CAM,
cuja estimativa de custos considerou excessiva para “dependências afectas a serviços que
devem ter como timbre dar a todos exemplo de moderação”1418. Para além da existência de
móveis aptos a serem reutilizados, alegou que os serviços públicos não deveriam incluir sofás
em excesso, e que se deveria apostar na aquisição de peças já fabricadas e disponíveis no
mercado ao invés de desenhar mobiliário específico, faseando o processo de compra para maior
celeridade na receção. A impossibilidade de reutilizar todo o mobiliário existente ficou
evidente no caso da Junta de Crédito Público, que alegou que em determinados serviços estava
a uso mobiliário com 80 anos, já extremamente deteriorado, aguardando pela transferência para
o novo edifício para que o problema fosse resolvido1419.
Com vista a definir o programa de aquisição de mobiliário para a totalidade do edifício, a
realizar durante o ano de 1953, o Ministro das Obras Públicas solicitou que o Ministro das
Finanças nomeasse um delegado que assistisse a CAM nesta tarefa, tendo sido indicado

1414
Ofício de Artur Bonneville Franco para Chefe do Gabinete do MOP, 28.04.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092711-TXT.04092709.
1415
Ibid., p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092710.
1416
Ofício de Luís Benavente para Diretor-Geral da DGEMN, 09.09.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-2509/02, TXT.04092717
1417
Raul Lino, Informação: Mobiliário para o gabinete de S. Ex.ª o Ministro das Finanças, 19.08.1952.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0129/01/4, TXT.09173434-TXT.09173435.
1418
Ofício do Ministro das Finanças para o Ministro das Obras Públicas, 22.10.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092725.
1419
Ofício do Presidente da Junta de Crédito público para o Ministro das Finanças [cópia], 19.12.1952.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/02/5, TXT.09167623-TXT.09167621

313
António Ventura Porfírio (1908-1998), conservador do Palácio Nacional de Queluz1420. Com a
transição dos serviços para as novas instalações, verificou-se que o aproveitamento do
mobiliário existente resultou num conjunto díspar, sendo necessário adquirir algumas peças
para obter um ambiente mais harmónico1421. Viria a ser comprado mobiliário adicional aos
Grandes Armazéns Alcobia e à firma Viúva de João Ferreira & Filhos1422.

Durante o processo de decoração, o Ministro das Finanças mandou encomendar uma tapeçaria
com c. 10 m2 à Manufatura de Portalegre, sem contactar a DNISP ou a CAM – recordemos que
Pardal Monteiro idealizara uma tapeçaria mural para o gabinete. O ministro concedera uma
audiência a Guy Fino, por não ter tido possibilidade de visitar a exposição das tapeçarias
destinadas à Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, na sede do SNI, para a qual fora
convidado, pedindo informações sobre o preço de execução de uma tapeçaria1423. Em
continuação, a escolha do artista para “pintar o motivo decorativo dum tapete alusivo às
navegações portuguesas”1424 recaiu sobre Guilherme Camarinha, após ponderação entre este
artista e Manuel Lapa, ambos com experiência na técnica1425. Camarinha teve liberdade para
conceber o cartão para a tapeçaria1426, que viria a medir aproximadamente 2,90 x 2,90 m. O
cartão definitivo foi apresentado ao ministro e aprovado em setembro de 19531427, e a peça
ficou terminada no ano seguinte. Também identificada como Valorização do Mundo1428, a
composição, sobre fundo escuro, integra duas figuras masculinas musculadas ao centro junto
de um cavalo alado, sob uma cartela com a inscrição “VALORIZAÇÃO PELO
PENSAMENTO E PELO BRAÇO”. Motivos relativos ao território português e seus recursos
terrestres e marítimos completam a cena. A encomenda incluiu ainda um tapete para chão, com

1420
Ofício do Ministro das Finanças para o Ministro das Obras Públicas, 08.01.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092733.
1421
Ofício da CAM (assinatura ilegível) para o Diretor-Geral da DGEMN, 07.12.1953, p. 1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092777.
1422
CAM, Parecer, 05.05.1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092746.
1423
Ofício de Guy Fino (Gerente da Tapetes de Portalegre, Lda.) para Ministro das Finanças, 21.08.1952. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424.
1424
Ofício do Chefe da Repartição do Tesouro para Gerente da Tapetes de Portalegre, Lda., 08.09.1952. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424.
1425
Aparentemente, seguindo o despacho do Diretor-Geral da DGFP, que despachou que se entrasse em contacto
com Camarinha. Cf. ofício de João Couto (Diretor do MNAA) para o Diretor-Geral da DGFP, 23.09.1952. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424.
1426
Ofício do Diretor-geral da DGFP para Gerente da Fábrica de Tapetes de Portalegre, 28.01.1953. ACMF:
PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424.
1427
Ofício de Guy Fino (Gerente da Tapetes de Portalegre, Lda.) para 4.ª Secção da Repartição de Património,
15.10.1953. ACMF: PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424.
1428
Soeiro, Branco, Guilherme Camarinha. 1912-1994, 24, 213.

314
motivos decorativos, não se dando execução à ideia de Guy Fino de colocar tapetes cobrindo
as paredes entre as portas.

Fig. 157. Tapeçaria de Guilherme Camarinha para o gabinete do Ministro das Finanças (1953). 2021.

O Diretor-Geral da DGEMN manifestou surpresa ao Diretor-Geral da Fazenda Pública ao ser


informado desta encomenda, relembrando que o estudo de apetrechamento de edifícios
públicos competia à comissão especificamente criada no MOP, sendo indispensável manter
uma unidade equilibrada no gabinete1429. Dado que a tapeçaria condicionaria a estética do
conjunto, seria necessário obter informações sobre o cartão por forma a prosseguir nos estudos
para o recheio1430. Parece ter havido alguma tensão por parte do Ministro das Finanças, quiçá
melindrado pelo facto de ainda não se ter completado a execução da decoração dos espaços,
num momento em que já se encontrava “legalmente na posse de todo o edifício”1431.

1429
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Diretor-Geral da DGFP, 08.01.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092810-TXT.04092809.
1430
Ofício da CAM (assinatura ilegível) para o Diretor-Geral da DGEMN, 07.12.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092777- TXT.04092776.
1431
Ofício do Chefe de Gabinete do Ministro das Finanças para o Chefe de Gabinete do Ministro das Obras
Públicas, 24.08.1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04092811.

315
No decorrer da década de 1950, o gabinete do ministro1432 foi ainda guarnecido com peças
adquiridas em firmas e antiquários, como no caso do lustre antigo com 12 braços em cristal de
Bacarat, aprovado por Pardal Monteiro e Raul Lino1433, ou dos potes chineses e quadros do
século XVIII1434. As compras justificavam-se por não terem sido identificadas peças adequadas
nos depósitos dos museus nacionais. O ministro recebeu também, conforme almejara,
mobiliário de estilo D. José, em pau santo e nogueira, integrando secretária, poltronas, cadeiras
de braços, mesa e armários1435. Pelas dificuldades envolvidas na resolução do processo
decorativo, este acabou por ser conduzido por Manuel Cayola Zagalo, vogal da CAM,
reconhecido pelo trabalho competente realizado na residência do Presidente do Conselho, no
gabinete do Presidente da República e no arranjo do Palácio de Queluz para a visita da Rainha
Isabel II1436.
A proposta que Zagalo assinou em conjunto com outros membros da CAM mencionava que a
dependência não seria exclusivamente um gabinete de trabalho, mas uma sala nobre para
receções e reuniões, servindo também como sala de espera para visitas. Conjugavam-se móveis
do século XVIII – com desenhos de modelos em anexo – com sofás de estilo contemporâneo,
um lustre metálico de estilo holandês e tapetes persas, e planeava-se o forro das paredes com
tecido para receberem uma tapeçaria Verdure antiga1437 e “dois quadros alegóricos à
administração financeira e progresso do País”1438 que seria encomendado a um artista ainda
por selecionar – a sua concretização é desconhecida.

1432
Veja-se uma fotografia de época do gabinete em: Soeiro, Branco, Guilherme Camarinha. 1912-1994, 31.
1433
Informação (sem assinatura), 29.03.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0121/01/2, TXT.09167124.
1434
Ofício de João Vaz Martins (CAM) para Diretor-Geral da DGEMN, 12.12.1959. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04093078
1435
Diversos pareceres da CAM, 1958. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02.
1436
Ofício do presidente da CAM para Diretor-Geral da DGEMN, 21.12.1959. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02, TXT.04093084-TXT.04093079.
1437
A tapeçaria encontra-se, atualmente, na zona que antecede a entrada da antiga sala das sessões do Tribunal de
Contas, hoje designada como salão nobre.
1438
CAM, Mobiliário e decoração do gabinete nobre de recepção de Sua Excelência o Ministro das Finanças,
10.05.1958, p. 2. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH/005/125-2509/02, TXT.04092940.

316
Fig. 158. CAM, Esboço de distribuição de mobiliário no gabinete do Ministro das Finanças, s.d.

Fig. 159. Tapeçaria Verdure adquirida para o gabinete do Ministro das Finanças, atualmente na entrada do salão
nobre.

317
O claustro constituía outro ponto de destaque no novo edifício. Bonneville Franco apresentou
algumas modificações ao anteprojeto de arranjo, baseadas em opiniões de Raul Lino1439. O
arquiteto louvara as reminiscências pombalinas observáveis na fonte, elemento central do
claustro, mas propunha, para que apresentasse um aspeto menos severo, a transformação do
perfil do obelisco para incluir uma curva côncava, permitindo que as adjacentes caudas dos
golfinhos ficassem como que suspensas, e a substituição das esferas da borda por vasos com
plantas1440. Sugeria, também, alterações no pavimento e a inclusão de árvores nos cantos, por
forma a amenizar a simplicidade arquitetónica do claustro. O estudo foi apreciado e
encaminhado para o ministro, com apontamentos considerando satisfatória a proporção da
fonte que, tal como sucedia no claustro do Convento de Cristo em Tomar, não diminuía a
composição arquitetónica em redor1441.

Fig. 160. Claustro do Ministério das Finanças em construção. 1952.

1439
Raul Lino, Ministério das Finanças: Projecto de Decoração do Claustro, 23.10.1949. AFRL: Armário B,
Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 3.º vol., 565.
1440
Ofício de Artur Bonneville Franco para Porfírio Pardal Monteiro, 29.10.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/1, TXT.09164997.
1441
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Ministro das Obras Públicas, 20.03.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/1, TXT.09165004.

318
A execução da fonte correspondeu à segunda fase de trabalhos no espaço. Em 1950, o escultor
Maximiano Alves apresentou uma proposta para realização, em pedra ou em bronze – o projeto
de Pardal Monteiro previa pedra1442 –, de quatro golfinhos e quatro esferas com sardões
ornamentando a fonte, trabalhados para deitarem água1443. Os golfinhos constituíam um
símbolo das atividades marítimas que “sempre acompanharam a vida Nacional”
proporcionadas pela proximidade ao Atlântico, sendo que as esferas representariam força e
grandeza, suportando sardões “simbolizando o carácter dinâmico, a persistência, a
continuidade fecunda e construtiva da Nação”1444. Portanto, os motivos de aparência
meramente decorativa revestiam-se de significado nacionalista, ancorado na centenária
vocação marítima de Portugal. No ano sequente, Bonneville Franco, “sem de qualquer forma
pretender interferir na escolha dos Artistas que podem ser incumbidos de executar obras de arte
para os Edifícios do Estado” 1445, propôs a contratação de Maximiano Alves para essas peças.
Justificou a sugestão pelo facto de o escultor ter estado indigitado para realizar dois baixos-
relevos para a escadaria nobre que foram acometidos a Leopoldo de Almeida – embora
Maximiano Alves tenha, inclusive, trocado impressões com a DNISP sobre o trabalho,
aguardava nessa altura encomendas para o Palácio da Assembleia Nacional e para o Instituto
Nacional de Estatística, acabando apenas por realizar a primeira. O ministro Ulrich acedeu à
encomenda sugerida, ressalvando que não houvera qualquer compromisso com o escultor para
o edifício do INE, não sendo a eventual falta de rendimento decorrente dessa ausência de
trabalho fundamentação para o contrato1446. O estudo de ajardinamento decorativo do claustro
foi entregue a Raul Lino, dado que se pretendia o seu enquadramento não só com o edifício,
mas também relativamente ao conjunto pombalino1447.

1442
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 02.07.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/3, TXT.09165048.
1443
Ofício de Maximiano Alves para Engenheiro Delegado da DNISP, 17.10.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/3, TXT.09165043-TXT.09165044.
1444
Ofício de Maximiano Alves para Engenheiro Delegado da DNISP, 30.07.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/3, TXT.09165063.
1445
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 15.06.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/3, TXT.09165046-TXT.09165045
1446
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 19.06.1951 [manuscrito]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0119/02/3, TXT.09165062.
1447
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 27.03.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0119/02/4, TXT.09165186.

319
Fig. 161. Claustro do Ministério das Finanças concluído. S.d.

A DNISP deu conta a Pardal Monteiro da necessidade de introduzir alterações no projeto, como
a instalação de arquivos junto das repartições e de gabinetes para chefes de repartição da Junta
de Crédito Público, que ocupava o 1.º piso da ala sul, a inserção de uma parede divisória na
Inspeção Geral das Finanças, a localizar no 2.º piso do canto oeste da ala sul, e a distribuição
de serviços do Tribunal de Contas1448. Neste último, a localização prevista não correspondia às
necessidades espaciais e à condignidade das funções1449. Assim, optou-se pela ocupação do
torreão, correspondendo ao extremo oeste da ala sul do edifício, excetuando o primeiro piso,
no qual funcionava a Bolsa de Lisboa1450. Esta ala havia sido reconstruída após um incêndio
nas Encomendas Postais, nos inícios da década de 19301451.
A exequibilidade destas alterações foi avaliada pela DNISP, que verificou que, devido a
constrangimentos técnicos da construção, seria impraticável integrar o futuro serviço de

1448
Ofício de Artur Bonneville Franco para Porfírio Pardal Monteiro, 17.02.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167809-TXT.09167808.
1449
DNISP, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167802-TXT.09167800.
1450
A Bolsa de Lisboa continuava a funcionar no local em 1958, em condições precárias por não ter sofrido obras
de adaptação. Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 09.10.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1199/06, TXT.03245429-TXT.03245428.
1451
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 17.05.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167834-TXT.09167834.

320
Cadastro Civil nas áreas disponíveis e instalar o arquivo no último piso do torreão, bem como
seria imprescindível obter uma entrada adequada e independente para os serviços mais
representativos do tribunal. Assim, previa-se um incremento da solução arquitetónica planeada
por Pardal Monteiro. O arquiteto apresentou a memória descritiva do anteprojeto, confirmando
modificações nas instalações adjacentes ao torreão para adaptação ao Tribunal de Contas1452.
Considerou que devia ser mantido e melhorado o grande salão do andar nobre do torreão, tendo
estudado ligações internas e acessos adaptados à compartimentação existente, permitindo a
expansão futura dos serviços, e simultaneamente substituindo a escada pouco funcional.
Bonneville Franco avaliou a proposta como clara e exequível, embora julgasse que não deveria
ser afetado o 2.º piso, no qual se localizava a DGEMN, sem condições de prescindir das
instalações1453. Ao submeter o projeto às instâncias superiores, o engenheiro elucidou que
Pardal Monteiro tivera como base um programa elaborado pela DNISP, que integrava
elementos pormenorizados pelo à data Presidente do Tribunal de Contas, Águedo de
Oliveira1454, então Ministro das Finanças1455. Mais especificou que o salão do andar nobre se
destinava a sala de reuniões e biblioteca do tribunal, com planos de restauro e decoração que o
tornariam adequado para eventos como receções e tomadas de posse. O Ministro das Obras
Públicas julgou tratar-se de um estudo bem equacionado, mas requeria a opinião do Ministro
das Finanças.
Noutra memória descritiva relativa aos trabalhos de acabamento das instalações do Tribunal
de Contas é reafirmada a diretiva de aproveitamento máximo da estrutura e da
compartimentação existente, conciliando o programa para o organismo com a obra pombalina,
sucessivamente reformulada. No piso térreo previa-se a manutenção das instalações existentes
e alteração das escadas; o 1.º piso concentraria os gabinetes dos altos magistrados e o salão
nobre, ao qual se restituiria “a grandeza e a dignidade das suas primitivas proporções”1456; os
restantes pisos seriam ocupados pelos serviços do tribunal. Quanto ao estudo relativo ao salão
nobre e biblioteca, realizado à parte, foi considerado adequado pelo Conselho Consultivo da

1452
Porfírio Pardal Monteiro, Novas instalações para o Tribunal de Contas: Memória Descritiva dos estudos do
Ante-Projecto, maio 1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167910-TXT.09167909.
1453
Artur Bonneville Franco, Tribunal de Contas, 13.06.1950. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1,
TXT.09167914.
1454
Artur Águedo de Oliveira presidiu ao Tribunal de Contas de 18.11.1948 até à assunção da pasta das Finanças,
a 02.08.1950.
1455
DNISP, Informação, 08.08.1951. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167934-
TXT.09167933.
1456
Memória Descritiva e Orçamento Descritivo: Tribunal de Contas a instalar na zona que confina com o
designado Torreão da Bolsa, no Terreiro do Paço, 1953, p. 2 DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/02/2,
TXT.09168470.

321
DGEMN1457. O salão não deveria sofrer divisões internas, mantendo a sua estrutura1458. Em
representação da DNISP, Raul Lino avaliara as propostas de Pardal Monteiro, valorizando “a
sobriedade das linhas e um certo apreço pelos bons materiais”1459, característicos do autor.
Apreciou a solução do massivo teto com dois níveis distintos e dissertou sobre a manutenção
das pilastras, sem finalidade estrutural de suporte do teto, mas de evidente valor. Porém, julgou
que Pardal Monteiro se afastara da fisionomia arquitetónica da praça, não havendo qualquer
referencial ao torreão histórico. Lino recordou que “os velhos países da Europa olham o
presente através do passado”1460, embora não olvidassem a atualidade – possivelmente, uma
crítica à feição moderna do salão.

Fig. 162. Porfírio Pardal Monteiro, Tribunal de Contas: salão da biblioteca, corte A-B, s.d.

Perante as decisões acerca das áreas a ocupar pelo Tribunal de Contas, foi necessário estudar a
reinstalação da Direção Geral de Minas (virada para a Praça do Comércio), idealmente para a
ala ocidental, acompanhando a transferência do gabinete do Ministro da Economia para o
antigo gabinete do Ministro das Finanças, sendo também urgente um gabinete condigno para

1457
Conselho Consultivo DGEMN, Parecer, 27.08.1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0123/01,
TXT.09169146.
1458
Ofício de Artur Bonneville Franco para Porfírio Pardal Monteiro, 30.08.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0131/03/01, TXT.09175820.
1459
Raul Lino, Tribunal de Contas: Salão da Biblioteca, 24.04.1953. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios,
Artigos e pareceres, 4.º vol., 686.
1460
Ibid.

322
o recentemente criado Ministério das Corporações1461. Por outro lado, os Ministérios da
Marinha e do Ultramar, localizados na ala ocidental, pretendiam melhorar as suas acanhadas
instalações através da ocupação dos espaços anteriormente ocupados pelo Tribunal de Contas,
inquirindo se haveria reparações nesse local1462. Já em 1947, o então Ministério das Colónias
demonstrara intenções de congregar todos os seus serviços, dispersos por vários edifícios
arrendados, num único local, excetuando o Jardim Colonial, o Hospital Colonial e a Escola
Superior Colonial1463, o que não havia sido atendido até então.
A Direção-Geral das Alfândegas (DGA) ocupou as suas novas instalações em 1949, notando a
breve trecho a falta de espaço necessário para arrumação dos seus serviços, o que gerou
tentativas de resolução do assunto a nível interno do ministério1464. Outros serviços já haviam
transitado em 1947, enquanto ainda decorriam obras no edifício, o que prejudicava o
funcionamento1465. A Junta de Crédito Público foi transferida para o imóvel em 1954, já em
posse do novo mobiliário indispensável, mas dois anos depois ainda havia questões que
desejava ver realizadas, nomeadamente o arranjo decorativo da sala das sessões e inclusão de
um medalhão retratando a efígie do Presidente do Conselho, e o arquivo-museu1466. Mencione-
se que a Junta pretendia transportar da ala oriental os apainelados de madeira com elementos
decorativos que integravam a sua sala de sessões, o que se revelou impraticável; concordou
com arranjo apropriado nas novas instalações que tivesse em conta a sua “categoria e
tradição”1467, e que integrasse um quadro representando Nossa Senhora, na posse do organismo
há um século. Uma vez mais, o gosto dos ocupantes e a reverência pela ancestralidade
sobrepunham-se aos intentos de criar equipamentos de expressão contemporânea.

1461
Ofício de Artur Bonneville Franco para Direção-Geral da Fazenda Pública, 24.10.1950. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167926.
1462
Ofício de José Pedro Fernandes (Diretor-Geral da DGFP) para Delegado da DNISP, 03.02.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0130/01/03/04, TXT.09174244.
1463
Ofício do Secretário-Geral do Cartório Ultramarino para o Chefe de Gabinete do Ministério das Obras
Públicas, 30.08.1947. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1, TXT.09259119.
1464
Cf. Pasta ‘Direcção-Geral das Alfândegas: Pedido de alargamento das instalações’. ACMF: Fundo SGMF,
317/04.
1465
Cf. Pasta ‘Novas instalações (mudança)’. ACMF: PT/ACMF/DGFP/RT/PES/0311.
1466
Ofício da Direção-Geral dos Serviços da JCP para o Diretor-Geral da DGEMN, 05.12.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/02/9, TXT.09167784.
1467
Ofício de Aníbal Viegas (Diretor-Geral da JCP) para Diretor-Geral da DGEMN, 17.11.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0121/02/5, TXT.09167686.

323
Também se previra o término das instalações do Tribunal de Contas para 1954, equacionando-
se a transferência empregando mobiliário existente, a ser substituído mediante a entrega dos
novos móveis1468. A obra foi entregue em final de 19551469.
Aquando dos estudos para o Tribunal de Contas, a DNISP e Pardal Monteiro identificaram no
salão nobre a existência de um baixo-relevo em gesso, pintado de dourado e de temática
alegórica não especificada, da autoria de Francisco Franco1470. Presumiram que se tratasse de
uma obra de início de carreira. Tendo sido comunicado às instâncias superiores, afigurou-se
impossível preservá-la, visto que a desmontagem, envolvendo oito homens, danificou
irremediavelmente o gesso1471.

Numa visita feita ao salão nobre do Tribunal de Contas no início de 1956, o arquiteto Luís
Benavente, Diretor da DSMN, verificou que se havia integrado, para realização das sessões,
uma mesa com cadeiras “de expressão mais ou menos pombalina ou semelhante”1472 que
destoavam do ambiente da dependência. Sugeriu que essas reuniões se realizassem noutra sala
exclusiva para tal finalidade, com arranjo adequado, ficando o salão destinado a biblioteca,
com mobiliário específico.

1468
Nota do Ministro das Obras Públicas para DNISP, 20.01.1954, p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0122/01/1, TXT.09167960.
1469
Judite Cavaleiro Paixão, Cristina Cardoso, “Os Espaços: percurso duma instituição”, Revista do Tribunal de
Contas 32 (1999): 449.
1470
DNISP, Informação sobre o baixo-relevo existente no Antigo Salão do Tribunal do Comércio, 20.07.1954.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1, TXT.09167983-TXT.09167982.
1471
Poderá tratar-se do baixo-relevo A Lusitânia (1931), que Francisco Franco realizou para o topo da sala do
Tribunal do Comércio (localizado no torreão), que tem sido referido como destruído após a morte do escultor. Cf.
Paulo Simões Nunes, “FRANCO, Francisco”, in Dicionário de Escultura Portuguesa, coord. José Fernandes
Pereira, 313 (Lisboa: Editorial Caminho, 2005).
1472
Ofício de Luís Benavente (DSMN) para Diretor-Geral da DGEMN, 12.01.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1347, TXT.00444180.

324
Fig. 163. Tribunal de Contas: salão nobre. [c.1956].

Data de abril desse ano um estudo de decoração e arranjo dos corredores do Tribunal de Contas,
assinado, a título oficioso, pelo arquiteto Joaquim Areal e Silva (1907-?), da Direção dos
Serviços de Construção1473. Trata-se de alterações aos planos de Pardal Monteiro, alegando
melhoramento dos materiais e de execução dos elementos arquitetónicos: os tetos passariam a
incluir molduras, formando caixotões em estafe; nos pavimentos previa introduzir tonalidades
diversificadas nas distintas secções, criando desenhos decorativos recorrendo a placas de
mármore; as portas, consideradas demasiado modestas, seriam refeitas em madeira de elevada
qualidade para se coadunarem com o espírito e a função do organismo, recebendo molduras
em mármore e motivos decorativos em cerâmica e bronze no centro das almofadas, conforme
a localização da porta; introduzir-se-iam guarda-ventos, envolvendo alargamento dos vãos
existentes; idealizou vitrais segundo cartão de um artista especializado, “sem pretensão de
simbolismo ou representação”1474, para as janelas viradas para o claustro e o pátio; alteração
da instalação elétrica para integração de lustres e candeeiros de parede especialmente

1473
Joaquim Areal e Silva, Tribunal de Contas: Corredores, 09.04.1956. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0122/01/5, TXT.09168087-TXT.09168084.
1474
Ibid., p. 3. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168085.

325
desenhados; inclusão de mobiliário, nomeadamente mesas móveis de apoio em madeira com
tampos de mármore e cadeiras de braço estofadas; aquisição de peças escultóricas e pinturas
para os móveis de apoio e de dois tapetes de grande dimensão para as zonas dos corredores
destinadas a servir de sala de espera.

Fig. 164. Tribunal de Contas: torreão – esquema do teto do 1.º andar, e planta do 3.º andar. S.d.

Fig. 165. Joaquim Areal e Silva, Tribunal de Contas: Fig. 166. Joaquim Areal e Silva, Tribunal de Contas:
porta para o salão nobre – face externa, [1956]. corredores – planta dos pavimentos em mármore, [1956].

326
Arantes e Oliveira espantou-se com a despesa envolvida nesta proposta, inquirindo a DGEMN
se fora consultado o autor dos projetos do edifício, Pardal Monteiro1475. Revelou-se que o
pedido de modificações teve origem nos altos representantes do Tribunal de Contas: por
exemplo, os Conselheiros haviam reclamado com as carpetes dos seus gabinetes, exigindo
novas, que fossem previamente submetidas à sua apreciação1476. Almejando um cunho mais
condigno para as instalações, os trabalhos deveriam ser realizados pela DGEMN, mas
custeados por dotações do orçamento do Tribunal de Contas a transferir para a DGEMN1477.
O ministro não ficou convencido com os argumentos para despender tão avultadas verbas em
instalações recentemente terminadas, exigindo que se consultasse a DNISP e Pardal Monteiro.
O último, também surpreso e desagradado pela falta de contacto quanto ao assunto, ressalvou
que obedecera ao programa e a diretivas superiores que haviam determinado a contenção de
custos, recordando que já então lamentara junto do engenheiro Bonneville Franco a
impossibilidade de executar um trabalho mais elaborado e de acordo com as altas funções do
Tribunal de Contas, limitando-se a um arranjo simples das paredes e da pavimentação 1478. O
arquiteto foi convidado a apreciar o estudo supracitado, sobre o qual teceu algumas
considerações por julgar que as modificações deveriam ser de maior envergadura, receando
que Areal e Silva “não tenha podido criar uma obra com a expressão que se ajuste ao local e
com o desenvolvimento artístico que agora se pretende, talvez em consequência de sugestões
que não teria podido evitar”1479 – isto é, acreditava que Areal e Silva terá estado sujeito aos
caprichos dos futuros ocupantes das instalações, condenando o facto de terem sido
encomendadas peças artísticas sem um coeso plano de conjunto. Pardal Monteiro não se coibiu
de criticar a intervenção dos membros do Tribunal de Contas, que dificultavam a elaboração
de um projeto adequado, impondo-se a definição “dos limites da liberdade de intervenção das
entidades que superintendem nos Serviços do Tribunal de Contas na encomenda de acessórios
decorativos”1480. Lamentou o facto de, para o salão no torreão, terem sido encomendados
painéis a artistas de expressão estética distinta, o que certamente prejudicaria a unidade

1475
Arantes e Oliveira, Despacho urgente, 12.06.1956. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5,
TXT.09168092.
1476
Ofício de Joaquim Delgado (1.ª Repartição da 1.ª Secção do Tribunal de Contas) para Diretor-Geral da
DGEMN, 14.06.1956. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168093.
1477
Cópia de ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Ministro das Obras Públicas, 20.06.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168094.
1478
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor Delegado da DNISP, 13.07.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168100- TXT.09168098.
1479
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor Delegado da DNISP, 07.09.1956, p. 6. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168114.
1480
Ibid., p. 7. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/5, TXT.09168113.

327
compositiva e, consequentemente, o património artístico nacional, pese embora a qualidade
comprovada dos artistas. Adicionalmente, julgou lastimável a colocação de valioso mobiliário
setecentista nesse salão, totalmente desproporcionado e incompatível com o partido
arquitetónico – estas modificações, posteriores e à sua revelia, muito provavelmente o terão
incomodado de sobremaneira, por desrespeitarem as intenções de um harmonioso espírito
clássico, enquadrado na produção contemporânea.

O Tribunal de Contas contactara, de facto, com artistas renomeados, designadamente Jaime


Martins Barata, Almada Negreiros e Joaquim Rebocho. O primeiro, em sintonia com a crítica
de Pardal Monteiro acima referida, terá aconselhado Águedo de Oliveira a acometer a
decoração do salão a apenas um artista para não comprometer a unidade estética do espaço –
sugestão que não foi atendida para que a execução não se prolongasse, incorrendo-se no risco
de perder a verba disponível para esse ano de 19551481. Ademais, o Presidente do Tribunal de
Contas alegou que a execução por um único artista retirar-lhe-ia a competência sobre a
encomenda e a supervisão do decurso dos trabalhos (incluindo a apreciação das propostas
prévias), que transitaria para o Conselho de Ministros. Assim, Martins Barata recebeu
incumbência de três painéis, Almada de dois e Rebocho de um. Não se tendo identificado
documentação relativa à encomenda, não foi possível determinar a autoria das temáticas
históricas retratadas nos painéis. Porém, sabe-se que Águedo de Oliveira seguiu atentamente
os estudos dos artistas, consultando João Couto e Augusto Cardoso Pinto, do MNAA, sobre a
correção das figuras nas peças de Martins Barata1482, pelo que se intui o seu papel e presença
– se não na definição temática, pelo menos na concretização estética.

1481
Paixão, Cardoso, “Os Espaços: percurso duma instituição”, 453.
1482
Ibid., 456.

328
Fig. 167. Pinturas de Martins Barata no salão nobre do Tribunal de Contas.

Martins Barata executou três pinturas1483, entregues apenas em 1960, representando temas
históricos: D. João I, entronizado, concedendo a quitação por perdão verbal a um responsável,
que jura, sobre os Santos Evangelhos, acerca da veracidade da sua responsabilidade por se
terem perdido os documentos da conta; liquidação de contas, em torno de uma mesa, na Casa
dos Contos no reinado de D. Afonso V; o trabalho de um funcionário isolado na Casa dos
Contos aquando do abandono da corte de D. Sebastião de Lisboa por motivo da peste, cujos
efeitos se observam pela janela. Para além da estética de sabor historicista, salienta-se a
inclusão de elementos como o escudo nacional. O painel de Rebocho, também entregue em
1960, retrata a última Condessa de Atouguia, Mariana Bernarda de Távora e Ataíde (1722-
1780?) entregando a boceta, seu último pertence, a um conjunto de homens que executavam a
ordem de arresto de bens emitida pelo Marquês de Pombal, em 1759, na sequência da acusação
do envolvimento dos seus familiares no atentado contra D. José, que a levaria a ser

1483
Reprodução dos estudos acessível em: http://www.roquegameiro.org/18/2/2/3/5 (acesso 27.12.2021).

329
encarcerada1484. Este conjunto de painéis integra, portanto, alusões ao controlo das finanças e
seu equilíbrio pelo poder político, bem como à execução da justiça levada a cabo pelo tribunal.
Almada Negreiros assinou peças relativas à história do organismo, nomeadamente um painel
representando D. Maria II, junto ao trono, recebendo do Duque de Ávila e Bolama, Ministro
da Fazenda, o decreto fundador do primeiro Tribunal de Contas, em 1849, e outro painel
referente à refundação do Tribunal de Contas em 1930, encerrando a reprodução do cabeçalho
do Diário do Governo e do decreto n.º 18962, sobre um fundo definido pelo escudo nacional
envolto em coroa de louros. Almada foi também autor do ex-libris para o Tribunal de Contas e
de dois cartões para tapeçarias murais1485, executadas na Manufatura de Tapeçarias de
Portalegre, intituladas O Contador (1957) e O Número (1958)1486.

Fig. 168. Pintura de Almada Negreiros no salão nobre Fig. 169. Pintura de Joaquim Rebocho no salão nobre
do Tribunal de Contas. 2021. do Tribunal de Contas. 2021.

O tribunal encomendou, ainda, uma tapeçaria mural segundo cartão de Guilherme Camarinha,
entregue em 1958, que em vários registos retrata atividades ligadas aos valores do regime:
desporto, pecuária, agricultura, faina marítima, ensino, belas-artes, obras públicas, indústria e
assistência, com uma figura feminina central simbolizando a justiça, através de atributos como
a espada e a balança, envolta numa cartela com a legenda extraída do Código Justiniano
“SUUM QUIQUE TRIBUERE” (a cada um o que é seu) e iluminada pelo sol1487. Os vitrais do

1484
Zulmira C. Santos, “Entre Malagrida e Pombal: as «Memórias» da última Condessa de Atouguia”, Península.
Revista de Estudos Ibéricos 2 (2005): 401-416.
1485
Estas tapeçarias encontram-se, atualmente, na sede do Tribunal de Contas na Avenida da República, em
Lisboa, para onde o organismo transitou em 1989. Hugo Amaral, “Da Casa dos Contos ao Tribunal de Contas. Os
números, por Almada Negreiros”, Eco – Economia Online, 08.08.2021. Acessível em:
https://eco.sapo.pt/especiais/da-casa-dos-contos-ao-tribunal-de-contas-os-numeros-por-almada-negreiros/
(acesso a 27.12.2021).
1486
Campos, O Número, 23-26.
1487
Soeiro, Branco, Guilherme Camarinha. 1912-1994, 169.

330
teto do salão nobre são da autoria de Carlos Calvet (1928-2014), representando uma balança
equilibrada por uma espada com chamas, com a legenda, correspondente à sigla do tribunal,
“EXACTIDÃO DE CONTAS CERTAS POR DIREITO CERTO”, sobre um padrão composto
por triângulos. Os vitrais na escadaria de acesso a esta sala, os relevos em bronze na sobreporta
da entrada lateral, e os motivos decorativos em bronze, todos aludindo à Justiça e à atividade
do tribunal, foram desenhados pelo pintor e arquiteto1488. Os restantes vitrais nos corredores,
já idealizados por Pardal Monteiro e integrando igualmente símbolos da Justiça, foram
concebidos por Guilherme Camarinha1489. Finalmente, refira-se os quatro relevos polícromos
em cerâmica da autoria de Jorge Barradas, colocados nas sobreportas do corredor de acesso ao
salão nobre, conforme Areal e Silva preconizara. Incorporam ornatos e símbolos referentes à
justiça e às contas, aludindo à atividade do organismo.

Fig. 170. Porta de acesso ao salão nobre do Tribunal Fig. 171. Motivo decorativo cerâmico de Jorge
de Contas. 2021. Barradas numa sobreporta do salão nobre do Tribunal
de Contas. 2021.

Fig. 172. Esquema do tipo de vitrais para os corredores Fig. 173. Vitrais no corredor de acesso ao Tribunal
do Tribunal de Contas. S.d. de Contas. 2021.

1488
Paixão, Cardoso, “Os Espaços: percurso duma instituição”, 465-466.
1489
Ibid., 468.

331
Os trabalhos no salão nobre foram supervisionados por Areal e Silva, uma vez que Pardal
Monteiro faleceu em 1957. Estas instalações foram inauguradas em 1960, coincidindo com o
30.º aniversário da refundação do Tribunal de Contas, assim atestando a sua importância no
quadro do regime.

Fig. 174. Ministério das Finanças em construção. Fotografia de autor desconhecido, s.d.

As obras do edifício do Ministério das Finanças ficaram concluídas em fevereiro de 1955. Em


retrospetiva, Artur Bonneville Franco avaliou os cerca de cinco anos de trabalho após assumir
a direção do empreendimento, recordando que então apenas se encontravam instaladas, nas
alas norte e poente do edifício, a DGFP, a Direção-Geral das Contribuições e Impostos e a das
Alfândegas. O trabalho envolveu um conjunto de trabalhos de vulto, como a execução de tosco
em todas as alas excetuando a ala sul, do claustro e da escadaria nobre, a definição das
instalações do Tribunal de Contas e da Junta de Crédito Público, recuperação do revestimento
das fachadas atacadas por salitre, e o arranjo de canalizações e instalações elétricas 1490.

1490
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretário-Geral do Ministério das Finanças, 15.02.1955.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0119/01/1, TXT.09164872- TXT.09164873.

332
Para as imediações do edifício, a leste, planeava-se a construção de um novo imóvel para
albergar o Ministério da Marinha, pelo que se impunha que a CML arranjasse o pavimento
dessa zona, habitualmente utilizada como estacionamento para automóveis, bem como
retificasse a Avenida Infante D. Henrique mediante as previsões de expropriação e derrube de
barracões aí existentes1491. No final da década de 1950, poucos anos após a conclusão das obras,
identificaram-se variados problemas no edifício, como infiltrações, deterioração de rodapés,
apodrecimento de madeiras nas janelas ou necessidades de ampliação para acomodar serviços
entretanto criados1492. Durante a apreciação das contas públicas na Assembleia Nacional,
lamentou-se o facto de terem sido necessárias reparações no edifício após a conclusão da obra,
sendo de evitar tais situações – sugeriu-se, inclusivamente, que se seguissem exemplos
estrangeiros para aproveitamento dos espaços disponíveis e previsão de expansão dos serviços
através de divisórias internas amovíveis1493.
Por outro lado, com a previsão da saída dos serviços dos Ministérios das Obras Públicas e das
Corporações, conforme veremos adiante, considerou-se a atribuição da ala oriental
exclusivamente ao Ministério das Finanças; porém, em 1966 ainda se calculava uma larga
dezena de anos para a concretização desses desígnios1494.

3.11. A remodelação do Ministério do Interior

No início de 1948, antecedendo a implementação da DNISP, a DGEMN realizou o contrato


com o arquiteto Porfírio Pardal Monteiro para execução do projeto de remodelação do
Ministério do Interior1495. O arquiteto submeteu o anteprojeto, elaborado de acordo com
sugestões fornecidas pelo gabinete do Ministro do Interior, em setembro desse ano1496.

1491
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor dos Serviços de Urbanização e Obras da CML, 20.11.1955.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0129/01/7, TXT.09173575-TXT.09173574.
1492
Pasta ‘Obras no edifício-sede do Ministério, 3.º volume’, 1957-161. ACMF: Fundo SGMF, 362/17.
1493
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, suplemento ao n.º 144, 28.03.1952, 71-72.
1494
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN (José Pena Pereira da Silva) para Secretário-Geral do Ministério das
Finanças, 03.02.1966. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1199/06, TXT.03245550.
1495
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Porfírio Pardal Monteiro, 12.12.1947. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0139/11, TXT.07408267.
1496
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Diretor Delegado da DNISP, 24.09.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208140.

333
Fig. 175. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - anteprojeto da remodelação: planta do 3.º pavimento,
[1948].

Fig. 176. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - anteprojeto da remodelação: corte por AB, [1948].

334
Fig. 177. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - 3.º pavimento: gabinete de S. Exc. o Ministro / vestiário
/ WC. [1948].

O estudo foi observado pela DNISP, concretamente por Raul Lino e Bonneville Franco, que
não tinham conhecimento do programa, o que impossibilitou avaliar a adequação do
anteprojeto quanto a essas exigências1497. Consideraram favorável a preservação da escadaria
central como acesso ao piso nobre e a inclusão de uma escadaria adicional e de um ascensor,
bem como a utilização de zonas com menor iluminação para arquivos e arrecadações. Apesar
de salientarem a demolição do grande salão do andar nobre, os relatores compreenderam que
não possuía uso fixo até então, e que a supressão permitiria uma melhor instalação dos
gabinetes do ministro e do subsecretário de Estado. De facto, previu-se, como mais tarde foi
noticiado no Diário de Lisboa, a subdivisão da “ampla sala onde antigamente se reunia o
conselho de ministros, teatro de grandes acontecimentos da história política das últimas
décadas, [...] em três gabinetes destinados ao ministro do Interior, ao subsecretário da
Assistência e aos respectivos secretários”1498. No exterior não seriam feitas alterações à
fisionomia do edifício.
A opinião dos dois relatores assemelha-se a um parecer emitido por Raul Lino sobre a
remodelação do ministério datado de agosto de 1947, do qual foram identificadas duas
versões1499. O arquiteto focara a clareza da arrumação e compreendera a necessidade das
demolições e transferências de elementos. As duas versões diferem quanto à supressão do
grande salão para instalar gabinetes para o ministro e o subsecretário de Estado. Numa delas,
duvida dessa ação, questionando a possível utilidade futura do salão e as alternativas para

1497
DNISP, Ministério do Interior: Parecer sobre o ante-projecto da remodelação da autoria do arquitecto Pardal
Monteiro, 18.10.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208142-TXT.09208141.
1498
Anónimo, “Nas obras do Ministério do Interior conta-se com a futura construção de mais um andar com que
serão aumentados os edifícios do Terreiro do Paço”, Diário de Lisboa, n.º 11567, 16.02.1955, p. 1.
1499
Raul Lino, Ministério do Interior: Remodelação, 27.08.1947. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios,
Artigos e Pareceres, 3.º vol., 482 e 504.

335
condigna acomodação dos gabinetes1500. Em adição, sugere, como resolução da necessidade de
expansão do edifício, a inclusão de um corpo sobreposto no lado sobre a Rua Henriques
Nogueira – ou seja, a fachada virada para o edifício da CML. A outra versão, que se crê ter
sido a que prevaleceu, assume a dificuldade em obter espaço noutros pontos do imóvel e com
idêntico destaque para acomodar os citados gabinetes, e afirma não ter obtido provas de que o
amplo e cuidadosamente decorado salão não fosse continuadamente utilizado1501.

Fig. 178. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - remodelação: corte por AB, s.d. DGPC/SIPA,
DES.00064563

1500
Raul Lino, Ministério do Interior: Remodelação, 27.08.1947. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios,
Artigos e Pareceres, 3.º vol., 504.
1501
Raul Lino, Ministério do Interior: Remodelação, 27.08.1947. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios,
Artigos e Pareceres, 3.º vol., 482.

336
Fig. 179. Porfírio Pardal Monteiro, Ministério do Interior - remodelação: planta do 3.º pavimento, s.d.

O Ministro das Obras Públicas conferiu aval positivo ao parecer da DNISP para
prosseguimento dos estudos e execução do projeto, apontando que seria necessário esclarecer
a orientação face à manutenção de divisórias e à hipótese de construção de uma mansarda no

337
conjunto dos edifícios da praça1502. No entanto, só em 1954 há referência da existência de verba
para dar início à remodelação do edifício1503: o orçamento do MOP incluiu verbas destinadas
ao início das obras de remodelação dos Ministérios do Interior e da Justiça, decidindo-se dar
prioridade ao primeiro na impossibilidade de realojar temporariamente ambos os órgãos1504.

Durante a remodelação, os serviços do Interior passaram para as instalações até então ocupadas
pelo Tribunal de Contas, no corpo da Rua do Arsenal, e para salas no 2.º piso da ala
ocidental1505. Como era prática habitual, os diversos serviços do ministério estiveram
envolvidos na definição da distribuição de serviços, fazendo observações ao planeado
conforme as suas necessidades1506.
O projeto de remodelação de Pardal Monteiro, praticamente idêntico ao anteprojeto de
19481507, enquadrou “dentro da carcaça pombalina uma compartimentação funcional adaptada
à nossa época”1508, mantendo as paredes resistentes primitivas e eliminando os tabiques e
divisórias posteriores que ao longo do tempo foram acrescentados. Impunha-se obter uma
compartimentação adequada, incrementar circulações verticais e horizontais, incluir estruturas
incombustíveis eliminando pavimentos e paredes de madeira, e dotar o último piso de teto que
pudesse servir de pavimento para o previsto piso amansardado, caso viesse a ser inserido nos
edifícios.

No âmbito deste projeto de remodelação, que propunha a inclusão de uma mansarda nos
edifícios contornando a praça1509, surgiu a hipótese de acrescentamento de um piso nos
edifícios das três alas, bem como de remodelação da cobertura. O estudo de adição de um andar
foi elaborado por Raul Lino, enquanto vogal da DNISP, justificando-se a necessidade dessa

1502
Ofício do Diretor-geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 29.10.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208146.
1503
Cópia de notas do Ministro das Obras Públicas, 20.01.1954. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0174/01/1, TXT.09208178-TXT.09208177.
1504
Nota do Ministro das Obras Públicas, 20.01.1954. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0122/01/1,
TXT.09167960-TXT.09167959.
1505
DNISP, Plano de transferência do Ministério do Interior, 15.01.1954. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0174/01/1, TXT.09208182.
1506
P. ex., Secretaria-geral do Ministério do Interior, Observações e sugestões sobre o projecto de remodelação
do Ministério do Interior, 1954; Comissão da DGS, Parecer, 21.01.1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0174/01/1, TXT.09208181-TXT.09208180; TXT.09208231-TXT.09208228.
1507
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 30.07.1954. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/01, TXT.05207366-TXT.05207370.
1508
DNISP, Memória Descritiva: Ministério do Interior – Remodelação geral do edifício, agosto 1954, p. 1.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0174/02, TXT.090209118.
1509
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.05.1960, p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1597/01, TXT.03547676.

338
alteração com a complexificação dos serviços e da interdependência entre ministérios,
acompanhados do aumento de funcionários, e fomentando a centralização no que era o “núcleo
urbano mais representativo da governação do país”1510 ao invés da sua dispersão pela cidade.
Não se pretendia alterar a fisionomia dos edifícios nem a essência da praça. Tratava-se de uma
intervenção discreta em que se levantariam paredes o mais recuado possível, sob o nível da
cimalha dos plintos das estátuas mais abaixo no arco, com cobertura rematada por beiral
português, telhas idênticas às do Teatro Nacional D. Maria II, e janelas correspondentes às
existentes. O arquiteto refletiu sobre a alteração de monumentos consagrados, distinguindo
entre os intangíveis, como o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, e os outros, capazes
de albergar funções para além do caráter monumental. Para os últimos, nos quais enquadrava
a Praça do Comércio, encarava a manutenção eficiente de funções nos edifícios como um
elevado sinal de respeito, em nada comparável com a desvalorização causada pelo tráfego e
estacionamento automóvel que se vinha concentrando no local.
Ao enviar estes estudos para o Diretor-Geral da DGEMN, Bonneville Franco apresentou
sugestões para efetuar a obra em caso de aprovação, sem prejudicar o funcionamento dos
serviços e a harmonia estética da praça1511. Aquando das obras de remodelação, substituir-se-
iam os tetos dos segundos pisos por lajes de betão com estruturas metálicas para a cobertura;
as paredes do novo piso seriam também em betão armado. Idealizava a construção simultânea
do novo piso em todos os edifícios. O Ministro das Obras Públicas julgou este esquema de
concretização complicada, favorecendo uma realização faseada conforme as obras a realizar
nas diferentes alas1512.

1510
Raul Lino, Hipótese de acrescentamento de um andar secundário nos edifícios do Terreiro do Paço – Memória
Justificativa, s.d. [outubro/novembro 1948], p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234063.
1511
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 18.11.1948. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234067-TXT.09234064.
1512
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 07.12.1948. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-
0097/088, TXT.01437313.

339
Fig. 180. Praça do Comércio: Hipótese de acrescentamento de um andar, desenhado por Joaquim da Costa, 1949.

O arquiteto Paulino Montês, vogal da JNE, emitiu um parecer acerca da ideia de adição de um
piso aos edifícios1513. Apesar de louvar a correção e a clareza dos estudos e da memória
descritiva acima analisada, não concordou com o acrescento, particularmente nos moldes em
que o autor o justificou. Tratava-se de um aumento em c. 1,5 metros acima do parapeito da
balaustrada, recuado face às fachadas, sem pretensões de alterar a fisionomia da praça por
forma a manter os seus valores artístico e histórico, mas que Paulino Montês julgou que viria
a modificar as proporções do conjunto monumental. Uma intervenção deste tipo deveria
valorizar artisticamente o existente, assumindo o caráter nobre e monumental da praça, e não
se cingir a uma inclusão discreta e despretensiosa. Acrescentou que, conforme os
procedimentos de preservação de monumentos, não se excluía a alteração das suas proporções
originais, o que o levava a concordar com intervenções na área como os melhoramentos na
placa central, o aproveitamento dos nichos ou o enriquecimento da iluminação e do cais.
Também ao serviço da JNE, Pardal Monteiro pronunciou-se, considerando os estudos como
“primeira tentativa para a solução do problema da remodelação da cobertura dos edifícios do
Terreiro do Paço”1514, sendo necessário proceder a estudos mais aprofundados e adequados à
composição das fachadas para ser possível emitir uma opinião definitiva. Ao ser informado
sobre esta questão, o ministro Ulrich ponderou a possível demora na decisão, ordenando que
nos planos em estudo se contabilizaria a cobertura dos últimos pisos como pavimento de um
futuro novo piso1515.
Nos jornais foram publicadas notícias erróneas acerca da adulteração da fisionomia da Praça
do Comércio através da introdução de um piso adicional nos edifícios, confundindo o que se

1513
Paulino Montês, Parecer, s.d. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 251, proc. 78.
1514
Porfírio Pardal Monteiro, Parecer, 11.02.1949. AHSGEC: Fundo JNE, cx. 251, proc. 78.
1515
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 28.03.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234071.

340
projetou para o Ministério do Interior – a inserção de um sótão incombustível com armação
metálica para instalação de arquivos – com o plano, nunca concretizado, de acrescentamento
de um piso, apresentado anos antes1516. A reprovação veemente do acrescento de um piso
chegou, inclusive, às discussões na Assembleia Nacional, pela intervenção do deputado
Américo Cortês Pinto, que longamente justificou que não se interferisse nos volumes dos
edifícios, e como solução aconselhou que se transferissem os serviços em excesso – ou seja,
advogava a dispersão1517. A DNISP, em resposta aos jornais, recordava a necessidade de
desafogar os andares nobres dos edifícios, pois a falta de espaço obrigara a criar divisórias
prejudicando os vastos salões com tetos setecentistas e decoração como estuques e azulejos.
A reboque desta discussão emergiu o problema da diferença das telhas ao nível da cobertura,
particularmente detetado com o início das obras de remodelação do Ministério do Interior, em
1955: determinadas alas possuíam telhas à portuguesa mouriscada, e outras possuíam telha de
marselha vulgar. Na renovada cobertura do edifício do canto noroeste, ocupado pela pasta do
Interior, aplicou-se telha de canudo tipo Campos de tonalidade escura, que a DNISP planeou,
mais tarde, também aplicar na ala norte ocupada pelo Ministério da Justiça e Supremo Tribunal
de Justiça1518. A telha já teria sido aplicada no Ministério das Finanças e foi aprovada por Pardal
Monteiro e por Raul Lino1519 – não obstante, Luís Benavente afirmou que tal modelo nunca
fora empregue na praça1520.

Refira-se que a criação do Ministério da Saúde e Assistência, evolução da anterior Direção-


Geral da Saúde, em agosto de 1958 – portanto, num momento em que ainda decorriam as obras
de remodelação –, implicou a sua localização no edifício do Ministério do Interior, no qual já
se haviam planeado as instalações dessa direção-geral. O gabinete ministerial e outros serviços
funcionavam em salas cedidas1521. Em adição, o edifício incorporava, no piso térreo, uma
esquadra de polícia e instalações da CGDCP.

1516
DNISP (sem assinatura), Obras nos edifícios da Praça do Comércio, 06.03.1955. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234140-TXT.09234142.
1517
Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 89, 02.04.1955, 750-755.
1518
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.05.1960, p. 6-7. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1597/01, TXT.03547671-TXT.03547672.
1519
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 01.08.1955. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208280-TXT.09208279.
1520
Ofício de Luís Benavente para Diretor-Geral da DGEMN, 19.07.1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4353/01, TXT.05207424.
1521
Ofício do Ministro da Saúde para Ministro das Obras Públicas, 10.12.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01, TXT.05158706-TXT.05158707.

341
Pardal Monteiro insistiu numa remodelação total do salão nobre, utilizado para reuniões do
Conselho de Estado e com ligação à antecâmara do gabinete do ministro (que deixou de estar
localizado no cunhal do edifício, como fora previsto nos estudos da década anterior), por
considerar que a sua decoração não tinha “a dignidade que conviria a uma dependência de tão
grande importância”1522, categorizando-a como sendo de “baixo nível artístico”1523. Porém, o
ministro e a DGEMN não concordaram, instando pela preservação do salão1524. Valorizou-se
a beneficiação do salão “no estilo da época constitucional”, exaltando-se as proporções e a
decoração1525.

O planeamento do mobiliário necessário, considerando que um conjunto significativo de peças


não possuía dignidade, não se prestava à ordem e eficiência necessária ao trabalho, ou estava
em condições insatisfatórias1526, foi acometido à CAM, designando-se o arquiteto Benavente
para a tarefa1527. A Secretaria-Geral do ministério foi incumbida de acompanhar o processo e
providenciar informações sobre as necessidades indispensáveis de cada serviço. Os gabinetes
do ministro e do subsecretário de Estado mantiveram mobiliário antigo 1528, embora a DNISP
opinasse a favor de retirar o mobiliário dourado existente1529. Estas salas e adjacentes gabinetes
de secretários foram alcatifados e receberam reposteiros combinando com as paredes. Outros
serviços, como a 3.ª repartição da Direção-Geral da Contabilidade Pública, também
mantiveram algum mobiliário existente, em bom estado, como “secretárias, armários e estantes
próprias, de modelo especial, em madeira de carvalho polido”1530. Para maior eficiência
energética e rendimento dos funcionários, ao invés da iluminação única das salas através dos
globos no teto, solicitou-se a aquisição de vários candeeiros para secretária, de um modelo da

1522
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Artur Bonneville Franco, 18.05.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208303.
1523
Ofício de Porfírio Pardal Monteiro para Artur Bonneville Franco, 29.05.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208308.
1524
Ofício de Artur Bonneville Franco para Porfírio Pardal Monteiro, s.d. [maio 1956]. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208304.
1525
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 23.04.1957, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-125/005-4400/08, TXT.05235241.
1526
Ofício de António Pires de Lima (Secretário-Geral do Ministério do Interior) para Presidente da DNISP,
13.04.1956. ANTT: Ministério do Interior, Incorporação de 2003, NT 548 – capilha ‘Liv.41-n.º 25/2; cx. 548’.
1527
Luís Benavente (CAM), Informação, 12.10.1956. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0036/09, TXT.0702587.
1528
Cópia de ofício do Presidente da CAM para Diretor-Geral da DGEMN, 19.06.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208362.
1529
DNISP, Ministério do Interior, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0178/03/5, TXT.0921048-
TXT.09212045.
1530
Ofício do Chefe da 3.ª repartição da Direção-Geral da Contabilidade Pública para Secretário-Geral do
Ministério do Interior, 17.07.1957, p. 2. ANTT: Ministério do Interior, Incorporação de 2003, NT 548 – capilha
‘Liv.41-n.º 25/2; cx. 548’.

342
empresa Kaiser Idell, com braço e quebra-luz móveis1531. Na primeira metade da década de
1970, verificou-se necessidade de reformulação e aquisição de mobiliário para diversas
dependências1532. De facto, já aquando da transferência nos finais dos anos 50, vários serviços
haviam indicado a fraca qualidade do mobiliário adquirido, apresentando defeitos diversos e
até elementos partidos1533.

Para decoração, para além da preservação de relógios antigos, foram incluídas tapeçarias
encomendadas e pinturas provenientes de museus nacionais, sobretudo paisagens de nomes
como Domingos Rebelo, Ventura Porfírio e Celestino Alves1534.

Fig. 181. Vitral segundo cartão de Joaquim Rebocho, escadaria do antigo Ministério do Interior. 2021

1531
Ofício do Chefe da 2.ª Repartição para Diretor-Geral da Administração Política e Civil do Ministério do
Interior, 09.12.1957. ANTT: Ministério do Interior, Incorporação de 2003, NT 548 – capilha ‘Liv.41-n.º 25/2; cx.
548’. Hoje em dia, ainda é possível identificar vários exemplares de candeeiros deste fabricante em diversas
dependências ocupadas pelos atuais ministérios do Governo.
1532
Correspondência diversa da CAM, 1971-1974. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0412/12.
1533
Correspondência diversa, 1957-1958. ANTT: Ministério do Interior, Incorporação de 2003, NT 548 – capilha
‘Liv.41-n.º 25/2; cx. 548’.
1534
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretário-Geral do Ministério do Interior (António Pires de Lima),
03.04.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0174/01/1, TXT.09208445-TXT.09208443.

343
Como elemento decorativo destacado, Pardal Monteiro idealizou a inclusão de um vitral
decorativo para o topo da escadaria principal1535, adjudicado a Joaquim Rebocho1536, autor do
tríptico do Ministério das Finanças. O cartão foi apreciado no ateliê do pintor por Raul Lino,
em representação da JNE, sendo a composição considerada adequada ao ministério, um
“edifício de linhas arquitectónicas académicas”1537; somente sugeriu uma alteração diminuta
na bordadura, de imediato retificada pelo artista. O vitral incorpora os brasões das capitais de
distrito portuguesas sobre um fundo composto por um padrão de triângulos azuis e brancos,
encimados por duas pombas brancas em torno de uma estrela, e a bordadura inclui vinhas e
elementos marinhos como conchas e cavalos-marinhos, em referência às valências do país. Na
base consta como legenda a divisa de D. João II, “POLA LEY / POLA GREY”, talvez como
reforço legitimador da mensagem de centralização do poder político. A composição evidencia
a organização política do território e simboliza o controlo administrativo por parte do
ministério.

As obras ainda decorriam no início de 1957, implicando a retirada de tapumes nas arcadas por
ocasião do arranjo da praça para a visita da Rainha Isabel II, a decorrer em fevereiro1538.
Recorde-se que a monarca britânica, entrando pelo Tejo a bordo de um bergantim
(propositadamente restaurado, com participação de Luís Benavente), foi recebida no Cais das
Colunas pelo Presidente Craveiro Lopes – à semelhança do que sucedera com outros monarcas,
aí recebidos por D. Carlos1539 –, estando a Praça do Comércio engalanada e provida de uma
tribuna para assistir ao desfile militar1540. O término das obras no ministério ocorreu em
setembro desse ano, sendo urgente a instalação dos serviços pela necessidade de desocupação
das dependências nas quais se havia instalado provisoriamente na Rua do Arsenal, para dar
início à remodelação do Ministério da Justiça. Não se procedeu, então, à reformulação das

1535
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 09.11.1956. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0175/02/1, TXT.090209473- TXT.090209468.
1536
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.02.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0178/03/1, TXT.09211918.
1537
Raul Lino, Desenho de um vitral para o janelão da escadaria nobre do Ministério do Interior: Parecer,
02.08.1957. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol., 803.
1538
Cópia de ofício do SNI para Diretor-Geral da DGEMN, 30.01.1957. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0174/01/1, TXT.09208335.
1539
Alexandra de Carvalho Antunes, “O Cais da Praça do Comércio e as suas Colunas”, Rossio. Estudos de Lisboa
3 (2014): 128-143.
1540
Diário da Manhã, número especial comemorativo da visita de S. M. A Rainha Isabel II de Inglaterra,
23.02.1957. Acessível em: http://hemerotecadigital.cm-
lisboa.pt/Periodicos/DiariodaManha_IsabelII/DiariodaManha_IsabelII_master/DiariodaManha_IsabelII.pdf
(acesso a 01.02.2022).

344
dependências da CGDCP no piso térreo, por esta não ter saído do local 1541. A desocupação só
se deu nos primeiros anos da década de 1960, arrastando-se a concretização da remodelação
dessa zona1542, que comportava também a esquadra da Polícia de Segurança Pública.

A partir de 1968, procedeu-se a novas obras de beneficiação e adaptação no ministério,


remodelado há uma década. O estudo, assinado pelo arquiteto Costa Martins, indicava, para
além de necessárias pinturas e modificação de elementos como iluminação e canalização,
alteração na compartimentação no andar nobre e nos pisos térreos e sobreloja, inserção de um
novo acesso principal, e planeamento das instalações da polícia1543. Ademais, impunha-se
completar o fornecimento de mobiliário que não fora efetuado aquando das anteriores obras,
passando o assunto integralmente para alçada da CAM em resultado da extinção da DNISP1544.

Fig. 182. Costa Martins/DNISP, Ministério do Interior: projeto – trabalhos complementares: planta do R/C, [1968]

1541
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretário-Geral do Ministério do Interior, 18.09.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0178/03/4, TXT.09212015.
1542
Ofício do Secretário-Geral do Ministério do Interior para Diretor-Geral da DGEMN, 09.05.1966.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/01, TXT.05207505.
1543
DNISP, trabalhos complementares para a conclusão das obras de remodelação executadas pela empreitada de
1968. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0175/02/2/4, TXT.09209856-TXT.09209855.
1544
Ofício do Diretor dos Serviços de Construção para Diretor-Geral da DGEMN, 22.12.1970. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/03, TXT.05207862.

345
Fig. 183. Costa Martins/DNISP, Ministério do Interior: projeto – trabalhos complementares: planta do 1.º andar,
[1968].

3.12. A materialização dos arranjos da ala norte para o Ministério da Justiça

Vimos como os estudos do arquiteto Raul Tojal para melhoramento do Ministério da Justiça,
apresentados em 1945, não tiveram andamento. A questão foi retomada na década seguinte,
sucedendo à prioridade conferida ao Ministério do Interior, sendo que toda a ala norte deveria
ser alvo de obras profundas. A demora no início dos estudos também se prendeu com a
necessidade de obter instalações definitivas para serviços a sair da Praça do Comércio, como a
Conservatória de Registo Automóvel, a Direção-Geral dos Serviços Prisionais ou a Cruz
Vermelha1545. Dado o planeamento do novo Palácio da Justiça na zona de Campolide,

1545
Francisco Anjos Diniz, Informação ao Diretor Delegado da DNISP, 27.02.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0037/01, TXT.09109433-TXT.09109436.

346
equacionava-se que albergasse um conjunto de serviços do ministério. A falta de atenção dada
ao edifício e a necessidade de beneficiações ficou patente numa comunicação do Secretário-
Geral do Ministério da Justiça, referindo, em 1954, que se procedera à limpeza integral de
determinadas zonas empregando de uma brigada de vinte reclusos durante mais de uma
semana, sendo que tal tipo de limpeza não se efetuava há mais de 26 anos1546.

O primeiro projeto de remodelação do Ministério da Justiça foi submetido pela DNISP em final
de 19591547. Tratou-se de um estudo complexo com condicionantes no tocante ao
aproveitamento da estrutura interna. No entanto, concluiu-se que a organização do edifício não
se adequava aos fins previstos pelos serviços ministeriais e que as compactas paredes
dificultavam a adaptação. Considerou-se que o estado de conservação era, no geral, deficitário,
o que justificou uma proposta de remodelação praticamente total da compartimentação interna,
circulações e acessos, para que se tornassem mais simples e claros. Para além das vantagens
destas melhorias, incrementando a área útil e as condições de iluminação, higiene e segurança,
a proposta constituía uma opção económica. O programa previa integração do gabinete do
ministro, Direções-Gerais da Justiça, de Menores, e do Notariado, e Repartições dos Cofres e
da Direção-Geral da Contabilidade Pública, divididos pelos pisos de acordo com a hierarquia
e com as necessidades de contacto com o público (serviços a localizar nos pisos inferiores); o
último piso ficava destinado a arquivos e zona de reserva para ampliação futura. Em termos
estéticos, procurar-se-ia seguir o carácter pombalino da arquitetura, reproduzindo modelos
existentes e reaproveitando peças.

Antes de seguir para apreciação pelo CSOP, foi analisado por uma comissão da DNISP
constituída por Raul Lino, Anjos Diniz e Bonneville Franco1548. Avaliou as soluções
arquitetónica e estrutural, coadunadas com as orientações tomadas para os Ministérios das
Finanças e do Interior de manter o exterior pombalino intacto e preservar ao nível interno tudo
o que se adequasse aos serviços1549. Embora se lamentasse a perda dos pilares e abóbadas no
átrio, a comissão compreendia a mais-valia para incremento da compartimentação e arranjo da

1546
Cópia de ofício do Secretário-Geral do Ministério da Justiça para Diretor-Geral da DGEMN, s.d. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0178/02/01, TXT.09211483.
1547
DNISP, Ministério da Justiça – Projecto de remodelação: Memória Descritiva e Justificativa, s.d.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4221/05, TXT.0525868-TXT.0525883.
1548
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.07.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.09115056-TXT.09115055.
1549
DNISP, Ministério da Justiça - Projeto de remodelação: parecer, s.d.. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0037/01, TXT.09109524-TXT.09109526.

347
escadaria nobre, acedendo às propostas de demolição para cumprimento das necessidades
funcionais.
O facto de o estudo não ser submetido à Comissão de Revisão da DGEMN levou os membros
do CSOP a incitar que se cumprisse essa formalidade legal1550. As normas de apreciação e
aprovação de projetos de obras públicas ditavam que obras cujo orçamento ultrapassasse os
100.00$00 implicavam a emissão de um parecer por uma “comissão constituída pelo director
geral ou chefe dos serviços respectivos e por dois engenheiros ou por um engenheiro e um
arquitecto dos mesmos serviços que não tenham interferido na elaboração do projecto”1551,
requisitos cumpridos pela Comissão de Revisão da DGEMN.

O CSOP reprovou o estudo por implicar alterações profundas num monumento nacional de
categoria mundial1552. Apesar de notar a complexidade envolvida neste caso e o cuidado
empregue no estudo, considerou que a remodelação apenas resolveria as necessidades de
funcionamento do ministério de forma parcial e temporária, e implicava demolições
significativas que desvirtuariam o edifício histórico, amputando-o de elementos distintivos
como as escadarias, a sala abobadada com colunas ou o madeiramento de tetos no primeiro
piso, e, ainda, alterando parte da traça exterior. Por outro lado, julgou-se que os serviços a
instalar eram excessivos para a capacidade do edifício. A preservação de património nacional
para as gerações futuras era assinalada como uma obrigação, mesmo que impusesse
condicionamentos no aproveitamento para os serviços coevos. De facto, o parecer transparece
uma conceção de preservação patrimonial baseada na manutenção, a todo o custo, de elementos
de cariz histórico que identificassem o edifício com a sua ancestralidade – refere-se que a
conservação obrigava a acatar condicionamentos distintos quanto à resolução do programa dos
que se estabeleciam para novas construções. Impunha-se que fossem definidos critérios por
entidades idóneas para atuação na Praça do Comércio. As obras já executadas noutros edifícios
do conjunto, de pendor mais radical, não poderiam servir de justificação para enveredar por
esse tipo de abordagem. Em adição, o CSOP enumerou um conjunto de aspetos a melhorar,
tanto ao nível arquitetónico como estrutural, ressalvando que o projeto tentara dar satisfação
ao programa estabelecido.

1550
Acta n.º 170 – sessão da 2.ª subsecção da 3.ª secção do CSOP, 07.04.1960, p. 170-171. BAHE: CSOP, Livro
de Actas n.º 91.
1551
Decreto-Lei n.º 36353, Diário do Governo, I série, n.º 137, 17.06.1947, p. 537.
1552
CSOP, Parecer n.º 2973, 07.04.1960. BAHE: Fundo CSOP, P2973.

348
A DSMN foi de opinião idêntica e aconselhou a revisão completa do estudo, notando que, por
se tratar de uma parte de um conjunto classificado, era imperioso conservar a estrutura na
medida do possível1553. Também o Ministro das Obras Públicas considerou que o projeto
necessitava de ser revisto, seguindo o princípio de conservação dos “elementos essenciais da
edificação original”1554. O estudo do novo anteprojeto deveria ser acompanhado por uma
comissão que integraria a DSMN, o Inspetor Superior de Obras Públicas arquiteto Eugénio
Correia1555 (1897-1985) – relator do mencionado parecer do CSOP – e o Diretor Delegado da
DNISP.

Os novos estudos integraram soluções de compromisso para responder às imposições


superiores de conservação máxima da construção primitiva. A DNISP ressalvou a condição
essencial de “se manterem as funções que são inerentes ao próprio monumento, não só
materialmente como nos seus valores simbólicos ou representativos”1556, alertando que
restauros com cariz arqueológico poderiam contribuir para uma diminuição do valor
representativo e do significado mais destacado do edifício. Às já elaboradas soluções A e B
foram acrescentadas as soluções C e D. Todas mantinham a cobertura projetada, idêntica à
executada no Ministério do Interior. O ponto diferenciador residia nas opções quanto às
escadarias. A solução A, dispendiosa, mantinha e recuava os lanços principais e eliminava os
secundários nas laterais, e previa demolição de grande parte da estrutura primitiva. A solução
B pretendia aumentar a área útil através da supressão total das escadas existentes, construindo
um novo lanço no átrio, e também procedia a um “esmiolamento radical”1557 como a solução
anterior. Na solução C apenas se suprimiam os lanços secundários, sem necessidade funcional,
prevendo-se preservação da maior percentagem possível de elementos primitivos (abóbadas,
paredes mestras, etc.), o que a tornava na hipótese mais vantajosa em termos económicos. A

1553
Ofício do Diretor da DSMN para Diretor dos Serviços de Construção, 29.03.1960. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSID-001/011-1352, TXT.00447109- TXT.00447108.
1554
Despacho do MOP de 17.04.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.09115056-
TXT.09115055.
1555
Formado pela EBAL, Eugénio Correia colaborara com o arquiteto Paulino Montês em diversos concursos,
assinalando-se como projeto conjunto concretizado o Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha. Ao serviço da
DGEMN, esteve ligado às construções escolares e foi responsável pela adaptação do Palácio Silva Amado a
Ministério da Instrução Pública. Foi autor, entre outros, de bairros de casas económicas em Olhão (1938; 1950),
e da igreja e escola da Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões (1952), nos quais valorizou a estandardização
de tradições construtivas vernaculares. Foi membro da SNBA e, desde 1955, Inspetor Superior do CSOP.
Informação recolhida em: Agarez, Algarve Building; Pedreirinho Dicionário dos Arquitetos [...], 94; DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0041/05.
1556
DNISP, Projecto de remodelação do edifício do Ministério da Justiça, s.d., p. 2. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/3, TXT.09111253.
1557
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/3, TXT.09111255.

349
última solução, identificada pela letra D, constituía uma variante da solução B, com demolição
da escadaria para construção de uma nova permitindo maior aproveitamento de espaço, mas
preservando parte significativa da estrutura por razões económicas. As novas soluções tiveram
em conta reparos anteriores, que condenaram a destruição da escadaria nobre e da sala das
colunas no rés-do-chão e sugeriram um melhor aproveitamento dos espaços internos1558.

Nas reuniões da supracitada comissão, Eugénio Correia apresentou as premissas que


considerava essenciais para resolução do projeto: elaboração de um esboço das supostas plantas
primitivas dos vários pavimentos para alcançar uma solução concordante com as diretrizes de
respeito pelos elementos primitivos do edifício e de adequação ao programa 1559. Avaliando as
quatro soluções, debruçou-se apenas sobre a designada solução C, considerando as restantes
idênticas e já debatidas pela comissão. Essa solução seria a que mais se aproximava das
imposições de apreço pela traça primitiva do edifício, embora carecesse de reformulações e
não estivesse ainda apta para aprovação: criticou a supressão de dois lanços de escadas que
deveriam ser conservados em virtude da sua ancestralidade e de fazerem parte de um conjunto
classificado. Julgou que as restantes soluções apenas respondiam às necessidades do programa
sem atentar na preservação dos elementos primitivos.
Após conhecimento da opinião do Inspetor Superior de Obras Públicas, os representantes da
DGEMN – Henrique Gomes da Silva, Bonneville Franco e João Vaz Martins1560 –
pronunciaram-se1561. Denota-se uma diferença de posições quanto à forma ideal de proceder à
remodelação. Os relatores apontaram que, embora concordassem com a manutenção de
elementos construtivos destacados que valorizam o edifício, não partilhavam da conceção do
Inspetor do CSOP de “reintegrar o edifício na sua traça primitiva”1562 como se de um museu
pombalino se tratasse. Para além da finalidade de instalar os serviços ministeriais da melhor

1558
DSMN, Parecer sobre o projeto de remodelação do Ministério da Justiça, 14.03.1960. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0182/03, TXT.07434542-TXT.07434550.
1559
Cópia de ofício de Eugénio Correia para Diretor-Geral da DGEMN, 12.11.1960. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0039/01/1/3, TXT.09111249-TXT.09111251.
1560
Vaz Martins, arquiteto Diretor da DSMN desde 1961 (interinamente desde 1959), esteve presente com Pena
Pereira da Silva e Benavente no II Congresso Internacional dos Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos,
que culminaria na redação da Carta de Veneza (1964). Apesar de o seu papel na salvaguarda e revitalização de
monumentos ter ficado marcado por algumas incoerências no que respeita aos critérios seguidos, o seu trabalho
definiu-se por uma “revisão dos procedimentos e premissas teóricas ao nível do restauro” e pela orientação da
“DGEMN essencialmente para a realização de obras de conservação simples” com base no rigor metodológico e
documental. Susana Flor, “João Filipe Vaz Martins (1910-1988)”, in 100 Anos de Património: Memória e
Identidade. Portugal 1910-2010, 2.ª ed., coord. Jorge Custódio (Lisboa: IGESPAR, 2011), 210-211.
1561
DNISP, Informação, 13.12.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.091152206-
TXT.09115204.
1562
Ibid., p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.091152206.

350
forma possível, referiram a dificuldade de identificar o que dataria da construção original ou
como teria sido a disposição interna no período pombalino – condenando uma reconstituição
imaginada –, e que a classificação da praça como Monumento Nacional se reportava
essencialmente às fachadas, o que justificou a modificação interior profunda em certas alas.
Indicaram a solução C como a mais adequada e económica. No fundo, esta troca de
correspondência ilustra um debate de opiniões acerca das práticas de restauro patrimonial, num
momento em que o assunto estava na ordem do dia no panorama internacional.
Em resposta, Eugénio Correia expôs as suas razões para discordar: alegando que os relatores
contrariavam as disposições do despacho ministerial e procuravam impor doutrina sobre os
preceitos a seguir na recuperação patrimonial, afirmou que nenhuma das soluções apresentadas
para apreciação respondia capazmente ao problema1563. Defendeu-se dos ataques, declarando
que não pretendia reconstituir os interiores na sua traça primitiva, mas somente respeitar o
existente. A análise atenta de plantas e cortes atuais permitia destrinçar a estrutura primitiva e
elementos como escadarias, abóbadas, paredes principais ou sala das colunas; o conjunto, e
não apenas o aspeto exterior, possibilitava a compreensão da arquitetura de determinada época.
Por fim, marcou a sua posição sancionando a falta de sensibilidade demonstrada em
intervenções de restauro impiedosas e adulterantes no património edificado nacional: “Não se
compreende que se esteja gastando somas importantes com o desenvolvimento turístico do
país, que se procure atrair estrangeiros à nossa Terra, e se esteja a reduzir o que de bom temos
para lhes mostrar”1564. Não obstante, o ministro Arantes e Oliveira considerou que a solução C
estava dentro dos limites do razoável quanto às possibilidades de intervenção, e julgava injusta
a opinião do Inspetor quanto à valorização dos monumentos nacionais que vinha sendo
empreendida pela DGEMN.

A Comissão de Revisão da DGEMN pronunciou-se, na sequência, quanto a um estudo


comparativo de duas soluções equacionadas para o projeto de remodelação do Ministério da
Justiça1565. Perante a obrigatoriedade de manter os serviços da Conservatória dos Registos
Centrais, a localizar no rés-do-chão, a DNISP apresentara uma reformulação dos estudos,
apesar de considerar a solução inconveniente por impossibilitar a inclusão de espaços
reservados para expansão futura, e por manter na zona um serviço de amplo contacto com

1563
Ofício de Eugénio Correia para o Ministro das Obras Públicas, 23.01.1961. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.091152211-TXT.09115207.
1564
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.091152208.
1565
Comissão de Revisão da DGEMN, Parecer n.º 1036, 06.07.1962. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0044/01/1/1, TXT.09115218-TXT.09115212.

351
público numa altura em que se considerava eliminar esse tipo de funções da Praça do Comércio.
Estas ressalvas não impediram a comissão de julgar tal solução como a mais adequada.
Concordou também com a supressão dos lanços laterais de escadas para obtenção de mais área
para instalar serviços, e enumerou algumas mudanças a aplicar – constatando serem algumas
de complicada resolução –, como incrementar a iluminação e ventilação nas zonas de
circulação, trocar a localização de determinados serviços, ou abrir vãos de janela na fachada
posterior.
Após a reformulação dos estudos, houve novo parecer da comissão de revisão. Na
generalidade, a nova proposta assemelhava-se ao estudo anterior no tocante às plantas, com
integração de alguns reparos anteriormente apontados, deliberando a comissão a favor da
aprovação. Esteticamente, considerou os arranjos “equilibrados e compatíveis com a dignidade
que compete à instalação de serviços desta natureza”1566. No entanto, a comissão reforçou a
necessidade de atender a determinados aspetos, como as condições de iluminação das
circulações, corrigir a configuração da porta entre a entrada do ministro e a escadaria da direita,
e a abertura de vãos de janela na fachada poente. Importava também que a fachada sobre a Rua
do Ouro fosse remodelada para se equiparar à zona correspondente do ministério.

Fig. 184. Ministério da Justiça: obras no átrio de entrada. Fig. 185. Ministério da Justiça: salão nobre. 1960.
1960.

1566
Comissão de Revisão da DGEMN, Parecer n.º 1124, 31.07.1963. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0044/01/1/1, TXT.09115225-TXT.09115219.

352
Fig. 186. Ministério da Justiça: obras de remodelação. Fig. 187. Ministério da Justiça: obras de remodelação.
[1960s] [1960s]

O projeto de remodelação foi elaborado pelo arquiteto Manuel Costa Martins e pelo engenheiro
Francisco Anjos Diniz, da DNISP, seguindo as diretrizes de manutenção dos “elementos
internos mais significativos da actual edificação”1567. Preservavam-se os lanços de escadas
independentes de acesso ao andar nobre e as abóbadas da entrada, e aumentava-se a área útil
na sobreloja e no andar nobre através da eliminação dos lanços secundários. No átrio
estabeleciam-se aberturas para comunicação com os lanços de escadas. Por razões económicas,
procurou conservar-se, quando possível, a organização interna, aproveitando o espaço e
estabelecendo circulações claras. A elevada sala das colunas, no eixo do edifício entre as
escadarias principais, não seria modificada apesar das necessárias beneficiações. O piso térreo
comportaria serviços de contacto com público. O andar nobre integraria, em posição destacada,
as salas do gabinete ministerial, e ainda instalações da Direção-Geral da Justiça e a biblioteca
do Ministério. Os restantes pisos seriam ocupados por serviços e arquivos. Assim, embora
mantendo elementos pombalinos destacados que não tivessem sido adulterados ao longo do
tempo, foi possível um maior aproveitamento de área útil através da substituição das espessas

1567
Manuel Costa Martins, Francisco Anjos Diniz, Ministério da Justiça: projeto de remodelação, s.d. [1966], p.
1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0043/01/1/1, TXT.09114449.

353
paredes existentes por estruturas de betão armado, e pelo aproveitamento do último piso para
gabinetes1568.

Fig. 188. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação – corte 1, s.d.

Fig. 189. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação –planta do 1.º andar, s.d.

1568
Artur Bonneville Franco, Remodelação do Ministério da Justiça, 17.02.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0037/01, TXT.09109816.

354
Dado que os encargos com as obras se revelaram maiores do que o inicialmente previsto, pela
exigência de trabalhos adicionais, a DNISP recebeu um subsídio através do Cofre Geral dos
Tribunais para rápido término1569. Durante a remodelação, os serviços do ministério foram
transferidos para a ala da Marinha junto da Rua do Arsenal, incluindo a capela de S. Roque.
Anteriormente, planeara-se que ficassem temporariamente alojados nos dois corpos a nascente
do arco da Rua Augusta, respetivamente ocupados pelo Supremo Tribunal de Justiça e
Procuradoria-Geral da República, e pelo Ministério das Comunicações, visto que se planeava
a saída dos primeiros organismos para o novo Palácio da Justiça de Lisboa, e do ministério
para o novo edifício a construir a poente da ala ocidental da praça1570. O fim das obras deu-se
em julho de 1966, com necessidade de pequenos retoques e limpezas1571.

Fig. 190. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério da Justiça: projeto de remodelação – implantação do
mobiliário (estudo prévio) – 1.º andar, s.d.

O plano para o mobiliário englobou quatro grupos distintos1572: peças novas metálicas, de série
industrial (secretárias e cadeiras, cestos de papéis, mesas para telefones, armários para livros,

1569
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 26.04.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0043/02/1/5, TXT.09115039-TXT.09115038.
1570
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretário-Geral do Ministério da Justiça, 28.11.[1960?].
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0037/01, TXT.09109406-TXT.09109405.
1571
Ofício da Sociedade de Construções Fernando Pires Coelho, Lda. para Diretor Delegado da DNISP,
25.07.1966. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0044/01/1/1, TXT.09115374.
1572
Costa Martins, Concurso para arrematação da empreitada de fornecimento e assentamento de mobiliário para
o edifício do Ministério da Justiça, junho 1965. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0049/02/1/1,
TXT.09119688- TXT.09119656

355
etc.); móveis novos em madeira para gabinetes de chefes de repartição ou inspetores sem
mobiliário adequado (secretárias, cadeiras de braços, armário com vestiário, mesas para
telefone, entre outros); móveis de madeira novos, mas idênticos aos existentes que seriam
aproveitados (secretárias e cadeiras); estantes metálicas para arquivo. A CAM, assoberbada
com fornecimentos urgentes para diversos edifícios com inaugurações a breve trecho, solicitou
que a DNISP se ocupasse do assunto, o que foi acedido1573. O mobiliário metálico foi
adjudicado à Fábrica Portugal e à Metalúrgica da Longra, e o mobiliário de madeira coube à
FOC1574 e aos Grandes Armazéns Alcobia1575. Impunha-se aproveitar mobiliário existente em
boas condições, com o qual as novas peças deveriam harmonizar – no fundo, seguia-se o
critério de manutenção das estruturas existentes que fora aplicado no edifício. Para o gabinete
do ministro, por exemplo, foi integrada uma estante Renascença, estética que dominou nessa
sala1576. O arranjo incluiu também aspetos como beneficiação do forro das paredes – a madeira
na sala de reuniões – e de tetos, inclusão de lustres ou alcatifas para os pavimentos. As
propostas de mobiliário e decoração passavam, antes da adjudicação, pelo crivo do “critério
pessoal”1577 do Ministro da Justiça.

Quanto a decoração artística, assinala-se a incumbência, por indicação do Ministro das Obras
Públicas, ao pintor de “categoria e idoneidade”1578 Henrique Medina de executar um retrato a
óleo de Manuel Rodrigues Junior (1889-1946), primeiro Ministro da Justiça do regime, para
figurar no remodelado gabinete ministerial1579. Também para esse espaço se verificou a
aquisição de uma tapeçaria similar à concebida por Guilherme Camarinha para o Ministério
das Finanças1580: de composição e temática idêntica, integrando Pégaso e duas figuras

1573
Ofício de João Vaz Martins (CAM) para Diretor-Geral da DGEMN, 23.05.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0049/02/1/2/1, TXT.09119881.
1574
Ofício de Artur Bonneville Franco para Secretário-Geral do Ministério da Justiça, 12.09.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0049/02/1/2/2, TXT.09119942-TXT.09119941.
1575
Vaz Martins (CAM), Parecer n.º 3/66, 25.03.1966. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0050/01/1/2,
TXT.09120218.
1576
DNISP, Ministério da Justiça - Guarnecimento dos gabinetes e salas que foram remodeladas nas obras deste
Ministério, com mobiliário apropriado e os necessários adereços: Memória Descritiva, s.d.. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0050/01/1/1, TXT.09120111-TXT.09120108.
1577
Vaz Martins (CAM), Parecer n.º 3/66, 25.03.1966. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0050/01/1/2,
TXT.09120218.
1578
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 05.11.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0045/01/01, TXT.09115689.
1579
Diretor-Geral da DGEMN, Ordem de serviço n.º 10526, 16.08.1957. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0045/01/01, TXT.09115678.
1580
Tratar-se-á de uma reformulação do cartão do Ministério das Finanças. Informação prestada aquando da visita
ao Ministério da Justiça, 13.05.2021. Não nos foi permitido aceder ao gabinete ministerial para observar a
tapeçaria, sendo-nos facultada uma imagem impressa com baixa resolução. A peça data de 1953, tal como sucede

356
masculinas desnudas ao centro junto da cartela com a legenda “VALORIZAÇÃO PELO
PENSAMENTO E PELO BRAÇO”, denotam-se pequenas diferenças quanto ao tratamento de
alguns elementos, como a folhagem da árvore, as nuvens no topo e os sólidos geométricos aos
pés das figuras.

3.13. Novos blocos a poente da Praça do Comércio: Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações e sede da AGPL

Como vimos, o plano de distribuição dos ministérios previra a inclusão de novos edifícios na
secção a poente da ala ocidental da Praça do Comércio, destinados aos Ministérios das Obras
Públicas e das Comunicações e à sede da AGPL. A construção desses novos blocos, na zona
outrora ocupada pelo Arsenal de Marinha, implicou análise tanto dos terrenos para
implantação, como dos estudos em execução para a AGPL entre essa área e Santos. Seguindo
as propostas de urbanização de Faria da Costa de final da década de 1940, viria a ser necessário
conquistar terrenos ao Tejo1581. Como solução, a DNISP propôs três hipóteses, preferindo a
que incluía a construção faseada dos edifícios nos limites do terrapleno existente, com desvio
parcial da Avenida da Ribeira das Naus, também indicada como a mais económica1582. Esta
solução permitiria dar início ao bloco destinado à pasta das Comunicações e ao prolongamento
da ala junto à Rua do Arsenal; já o bloco das Obras Públicas viu-se condicionado pelas obras
de aterro para avanço da margem sobre o rio, a realizar pela AGPL.
Recorde-se que as pastas das Obras Públicas e das Comunicações haviam sido separadas em
1946, o que justificava que então se planeassem dois blocos independentes, mas contíguos.
Apesar da importância do marco do centenário do Ministério das Obras Públicas em 1952,
recuando à criação do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria liderado por Fontes
Pereira de Melo, este evento não foi suficiente para acelerar a efetivação dos projetos.

O programa provisório, com previsão de áreas, foi submetido ao Ministro das Obras Públicas,
que fez algumas observações, embora o considerasse na generalidade adequado e bem

no caso de Finanças. Esta peça não está identificada no já citado catálogo da exposição da obra de Camarinha,
realizada em 2003 no Museu Nacional Soares dos Reis.
1581
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 04.03.1949. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/14, TXT.05435880.
1582
F. Santos Silva (DNISP), Informação, 09.05.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234084-TXT.09234079.

357
concebido, constituindo uma base de trabalho indispensável para quem viesse a ser incumbido
do projeto1583. Foi aprovado pelo Presidente do Conselho, especificando o ministro aquando
da submissão que os dois organismos receberam o necessário tratamento independente, apesar
da concentração dos serviços sociais e a biblioteca1584. Salazar autorizara também a realização
do contrato, dispensando concurso público, com os arquitetos Luís Cristino da Silva e António
Lino para elaboração da parte arquitetónica do estudo1585. Nesta altura, Cristino da Silva
planeava outros equipamentos para a frente ribeirinha lisboeta, como o Palácio do Ultramar na
zona de Belém (1951-60).

Excluindo os hospitais escolares de Lisboa e Porto, então em fase de construção, este seria o
primeiro projeto de escala monumental a concretizar no país1586. O programa ditava que a
planta do edifício “terá de obedecer aos requisitos mais modernos da arte de construir, deve,
na sua expressão plástica, corresponder a uma feição nova, e bem equilibrada, de arquitectura
tradicional dominante na zona onde ficará englobado”1587 – impunha-se que o novo bloco,
compassado com a época, complementasse e harmonizasse com o conjunto pombalino.
Em termos técnicos, foram tidos em conta exemplos estrangeiros. Uma viagem de estudo da
DNISP a Madrid1588 permitiu observar os imponentes edifícios do Ministerio de Obras
Publicas – integrado no conjunto dos Nuevos Ministerios, iniciado em 1932 e terminado após
a guerra civil1589 – e do recente Ministerio del Aire1590. Ambos têm sido interpretados como

1583
Despacho do MOP, 09.07.1949. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04946997-
TXT.04946996.
1584
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 12.03.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947005-TXT.04947003.
Esta ideia centralizadora foi advogada pelo bibliotecário-arquivista do MOP, Manuel Santos Estevens,
fundamentada com o que observara numa missão de estudo que passou por bibliotecas ministeriais em Londres,
Bruxelas e Paris, e com o exemplo de outros ministérios nacionais. Manuel Santos Estevens, Programa das
instalações da biblioteca dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações no novo edifício, 31.07.1950.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0001/01, TXT.09084427-TXT.09084434.
1585
Ofício do Ministro das Obras Públicas para Presidente do Conselho, 19.02.1951. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947099.
1586
Ibid.
1587
DNISP, Programa para o novo edifício do Ministério das Obras Públicas e do Ministério das Comunicações,
26.01.1950, p.1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/ DNISP-001-0001/01, TXT.09084449.
1588
Cujo relatório foi submetido ao Diretor-Geral da DGEMN com algum atraso, devido à demora na entrega de
fotografias para ilustração. Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 12.07.1949.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04946994.
1589
Projeto do arquiteto Zuazo Ugalde, exilado durante a guerra civil, e terminado pelo conjunto de arquitetos
integrando Guillermo Díaz, José Gómez Mesa, José Rodríguez Cano, e Miguel Ángel García Lomas, nos inícios
dos anos de 1940. Antonio Pizza, Guía de la arquitectura del siglo XX: España (S.l.: Electa, 1997), 302.
1590
Projeto do arquiteto Luis Gutiérrez Soto (1940-51), que para o estudo viajou para Itália e Alemanha. Visitou
o Ministério de Aviação de Berlim e contactou com os arquitetos alemães Ernst Sagebiel e Paul Bonatz, que se
deslocaram a Madrid para acompanhar a organização do projeto. Luis Gutierrez Soto, “Intervenciones”, Revista
Nacional de Arquitectura 112 (1951): 40-42; Francisco José Portela Sandoval, “El eco del Escorial en la

358
colhendo referentes no mosteiro quinhentista de San Lorenzo del Escorial, embora o arquiteto
Guiterrez Soto tenha referido que não pretendeu propositadamente que o Ministerio del Aire
se assemelhasse ao mosteiro1591. Estes equipamentos madrilenos influenciaram o sistema de
estrutura que se pretendia para Lisboa, também aplicado em edifícios de envergadura similar
noutros países, bem como a distribuição das plantas1592. Em adição, tomou-se o valor norte-
americano como referência para cálculo da área base necessária por funcionário administrativo
de acordo com a ventilação natural, os pés direitos e o mobiliário necessário, que serviu para
cálculo das restantes áreas, tanto funcionais como representativas. Previa-se um corpo de cinco
pisos com pátio interior para a pasta das Obras Públicas, e para as Comunicações
acrescentavam-se três pisos num dos corpos, ficando com oito no total.

Os arquitetos Cristino da Silva e António Lino apresentaram o trabalho em duas fases,


separando entre esboceto e estudos concluídos. Seguiram o programa fornecido pela DNISP e
o critério de distribuição dos serviços por pavimentos1593. Assumiram as dificuldades da tarefa
em termos plástico, funcional e técnico, às quais acrescia a necessária harmonização com o
conjunto arquitetónico da Praça do Comércio1594. Afirmaram que a obediência ao contexto
envolvente não impedia a adoção de linhas arquitetónicas respeitando modernos requisitos
construtivos e evidenciando a articulação funcional interna.
Planeavam dois edifícios independentes para distribuição das pastas. O bloco das Obras
Públicas, mais perto da ala ocidental da praça, possuía quatro corpos longitudinais
perpendiculares ao corpo principal orientado a sul, paralelo ao Tejo, distribuindo-se por seis
pavimentos, com o 7.º piso parcialmente recuado. O bloco das Comunicações implantar-se-ia
paralelamente a um bloco idêntico destinado aos serviços da AGPL, comportando cada um 13
pisos, constituindo um “fundo de proporções monumentais”1595 que não prejudicaria a zona.

arquitectura española de los siglos XIX y XX”, in El Monasterio del Escorial y la arquitectura: Actas del
simposium (Madrid: Ediciones Escurialenses, 2002), 352-353.
1591
Soto, “Intervenciones”, 41.
1592
Francisco Anjos Diniz, Posição actual da ocupação dos edifícios da ala ocidental da Praça do Comércio e das
pretensões de vários Ministérios a essa ocupação, 16.03.1968, p. 12. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0206/02/9, TXT.09234239.
1593
Luís Cristino da Silva e António Lino, Ante-projecto do edifício para as novas instalações dos Ministérios das
Obras Públicas e das Comunicações a construir na zona marginal do Tejo, entre a Praça do Comércio e o Largo
do Corpo Santo: Memória Descritiva, 31.07.1953, p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3933/01,
TXT.04976976.
1594
Luís Cristino da Silva, António Lino, Esboceto do edifício para as novas instalações dos Ministérios das Obras
Públicas e Comunicações a construir na zona marginal do Tejo, entre a Praça do Comércio e o Largo do Corpo
Santo: Memória Descritiva, 29.08.1952, p. 6. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4465/01,
TXT.05280197.
1595
Luís Cristino da Silva, Memória Descritiva relativa ao Ministério das Comunicações, 27.08.1952, p. 4.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-4465/03, TXT.05280213.

359
Haveria ligação entre os edifícios ao nível do piso térreo, com passagem para o pátio. Todos
receberiam um pórtico com pé direito duplo como entrada principal, e os gabinetes ministeriais
localizar-se-iam no andar nobre nos corpos sul. Uma das soluções de eficiência e centralização
consistia na reunião das bibliotecas dos dois ministérios numa biblioteca comum.

Fig. 191. Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: estudo dos ingressos diferenciados, planta do R/C,
21.01.1952.

O primeiro esboceto, datado de 1952, comportou três soluções de alçados (uma delas com duas
variantes) que se diferenciavam particularmente quanto aos graus de harmonia, sobriedade e
nobreza alcançados. Os arquitetos consideravam a variante 2 da solução A como a mais
representativa, na qual as fachadas do Ministério das Obras Públicas, excetuando a fachada
norte e as voltadas para os pátios interiores, se destacavam pela inclusão de pilares salientes
ritmados nos quatro pisos inferiores. Para o Ministério das Comunicações, previam-se pilares
salientes contínuos ocupando toda a altura das fachadas nascente e poente – quase como pilotis,
empregues no icónico Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro (inaug. 1945) –,
destacando-se a fachada sul (a principal) através de cintas correspondentes aos pavimentos
como elementos de transição, quebrando a monotonia da verticalidade.

360
A opinião de Raul Lino sobre o esboceto foi favorável1596, servindo de suporte à apreciação da
DNISP1597. Valorizou a expressão plástica exprimindo uma feição contemporânea e
equilibrada da arquitetura tradicional, bem como o respeito pela altura do conjunto da praça.
Salientou a ordenação hierárquica de serviços e o destaque conferido aos espaços destinados
aos mais elevados cargos, nomeadamente a alteração do ritmo das fachadas nos troços
correspondentes aos gabinetes ministeriais, ficando por estudar os materiais a empregar. Tal
como os autores do esboço, demonstrou preferência pela proposta A2.
O ministro acompanhou a evolução dos estudos, fazendo considerações por exemplo quanto à
quantidade de portas ou à resolução dos alçados, e delineando que a apreciação deveria passar
também pelo Conselho Consultivo da DGEMN e pela 6.ª secção da JNE1598. O Conselho
Consultivo pronunciou-se em fevereiro de 19531599, congratulando o espírito crítico dos
autores. O partido da planta foi considerado adequado ao local e aos fins, constituindo “uma
massa de construção de sentido monumental pouco corrente nos nossos dias”1600 capaz de
coabitar com a Praça do Comércio e de se tornar num padrão arquitetónico de idêntico valor,
como marco do presente. Os relatores consideraram a 3.ª variante da solução D como a mais
interessante em termos de proporções e monumentalidade – houve, como se depreende, outras
soluções entretanto apresentadas. No parecer favorável da JNE, essa também foi a solução
preferida, considerada a mais suscetível de “valorizar a monumentalidade do conjunto”1601. Na
sequência, o ministro aprovou o anteprojeto1602.

1596
Raul Lino, Esboceto para o novo edifício do Ministério das Obras Públicas e Comunicações. Aspectos
exteriores, 09.09.1952 [manuscrito]. AFRL: Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol.,
668.
1597
DNISP, Esbocetos do edifício dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: programa e previsão
de áreas, 06.10.1952. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947061-TXT.04947055.
1598
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 22.10.1952. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947063-TXT.04947062.
1599
Participaram na sessão: engenheiro Henrique Gomes da Silva, arquitetos Leonardo Rey Colaço de Castro
Freire, Luís Benavente, Porfírio Pardal Monteiro, Vasco Regaleira, escultor Diogo de Macedo e dr. António
Pinheiro Pinto Basto.
1600
Ofício do Conselho Consultivo da DGEMN para Ministro das Obras Públicas, 11.02.1953, p.1. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947073-TXT.04947072.
1601
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para Diretor-Geral da DGEMN, 18.03.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947081-TXT.04947079.
1602
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 11.08.1953. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947099.

361
Fig. 192. Luís Cristino da Silva e António Lino, Anteprojeto do MOPC: perspetiva de conjunto, solução D -
variante, [1953].

O anteprojeto definitivo seguiu-se às apreciações1603. O bloco do Ministério das Obras Públicas


surgiu com cinco pisos até à cornija principal, comportando mais dois, estando o último
recuado e apenas sobre os dois corpos centrais como remate, correspondendo aos telhados dos
edifícios pombalinos. Mantinha-se o formato da planta anteriormente enunciado, formando três
pátios abertos e comunicantes entre os quatro corpos paralelos, que permitiam melhor
aproveitamento da iluminação solar e obter zonas para estacionamento. Os edifícios das
Comunicações e da AGPL constituiriam o pano de fundo da futura Praça D. João II, sendo cada
um dotado de 14 pisos.
Em termos de distribuição de serviços, no Ministério das Obras Públicas, os pisos inferiores
(rés-do-chão e sobreloja) destinavam-se às comissões e delegações de carácter transitório,
como a Comissão de Construções Hospitalares ou Comissão Administrativa das Novas
Instalações para o Exército, bem como de serviços de contabilidade pública, polícia e
bombeiros; o andar nobre comportava o gabinete ministerial e seus anexos, o CSOP, e ainda
parte dos serviços da JAE, DGSU, DGEMN e DGSH, que se estendiam pelos restantes pisos.
No Ministério das Comunicações, o piso térreo integrava serviços de informações e pagadoria,
e montras para propaganda dos transportes terrestres e aéreos, e a sobreloja a repartição de
contabilidade pública e a secretaria geral. O gabinete do ministro ocupava o andar nobre, a par

1603
Luís Cristino da Silva e António Lino, Ante-projecto do edifício para as novas instalações dos Ministérios das
Obras Públicas e das Comunicações a construir na zona marginal do Tejo, entre a Praça do Comércio e o Largo
do Corpo Santo: Memória Descritiva, 31.07.1953, p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3933/01,
TXT.04976976.

362
do CSTT; os restantes pisos eram ocupados, respetivamente, pelas DGTT, DGAC e pelo
Serviço Meteorológico Nacional, havendo em cada um espaço contabilizado para expansão.
No respeitante aos alçados, os arquitetos deram conta da seleção superior da 3.ª variante da
solução D. As fachadas nascente, sul e poente do MOP possuíam um elevado embasamento de
cantaria correspondente ao rés-do-chão e à sobreloja, com sistema estrutural composto por uma
série de pilares contínuos; este embasamento não existiria no pátio de honra, onde se integrava
uma galeria de passagem ao nível dos dois primeiros pisos. Também no lado norte se limitariam
os pátios por passagens de ligação superiores. Nas zonas de pé direito duplo, como no gabinete
ministerial, o vão da estrutura não seria subdividido como nas restantes, formando pórticos de
entrada de proporções monumentais. No bloco das Comunicações, as fachadas nascente, sul e
poente constituíam-se por “um sistema estrutural aparente, tendo os pisos acusados
exteriormente e sobrepondo-se aos elementos verticais, a fim de atenuar a monotonia da
verticalidade”. Também possuía embasamento, que a sul e poente formava uma galeria pública
ao nível da existente no MOP. O bloco terminava com um andar recuado e um pequeno corpo
sobre o terraço, e possuía na fachada norte uma escadaria. Raul Lino teceu algumas
considerações sobre os materiais a empregar nas fachadas, congratulando a escolha da cantaria
pelas suas qualidades de conservação e enobrecimento, mas duvidando da diversidade de
padrões numa mesma fachada1604.

Aquando da sua vinda a Lisboa em 1955, o arquiteto Jacques Carlu (1890-1976) observou as
propostas de Cristino da Silva para os edifícios ministeriais e terá dado algumas sugestões1605.
Os arquitetos, amigos de longa data, colaboravam então nos estudos para o arranjo urbanístico
da zona ribeirinha de Belém e para o Palácio do Ultramar, o que trouxe Carlu a Portugal a
convite da DNISP1606. Denote-se a afinidade estética destes projetos com edifícios que o
arquiteto francês, autor do Palais de Chaillot (1937), então planeava, concretamente a sede da
NATO em Paris (1951-60; hoje Université Paris-Dauphine): valores clássicos, escala
acentuada, vãos ritmados. A presença de um arquiteto estrangeiro renomeado, que revelava
afinidades formais aos projetos de Cristino da Silva, seria, possivelmente, um fator de

1604
Raul Lino, [Projecto dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações], 19.05.1954. AFRL: Armário
B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol., 717.
1605
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 06.05.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0017/01, TXT.12027359-TXT.12027358.
No espólio de Jacques Carlu identificou-se um conjunto de fotografias da maqueta e um desenho da perspetiva de
conjunto uma das soluções do anteprojeto para os edifícios ministeriais. CAAC: Fond Jacques Carlu, CARJA-D-
58-2, Dossier 010 Ifa 304/08.
1606
Ofício de Artur Bonneville Franco para Jacques Carlu, 01.06.1955. CAAC: Fond Jacques Carlu, CARJA-D-
58-2, Dossier 010 Ifa 304/08.

363
validação para a concretização destes equipamentos públicos monumentais em Lisboa. A
evidente semelhança formal, originada na formação de ambos, revela a permeabilidade dos
valores atribuídos à arquitetura: num regime ditatorial parecia ser possível edificar um
equipamento que ombreava com o que paralelamente se projetava como marco da
democracia1607. Particularmente na proposta para os blocos do Ministério das Comunicações e
da AGPL, com previsão de pilotis ao nível dos pisos inferiores, outra fonte de inspiração, não
comprovada, poderá ter sido o edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro
(arqs. Lúcio Costa, Afonso Reidy, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Ernâni Vasconcelos
e Oscar Niemeyer, 1936-45), embora o tratamento das fachadas se revele díspar. Não se olvide,
ademais, que os exemplos madrilenos se revelaram importantes para as soluções estruturais do
conjunto, podendo também ter ditado o espírito formal que se almejava para os novos blocos.
Durante a sua estadia, Jacques Carlu apreciou a originalidade das modificações urbanas
recentes que observou, congratulando a adaptação da arquitetura ao meio e ao clima e o respeito
pelo tecido histórico, demonstrando assim afinidade ao espírito que se procurava impregnar
nas obras públicas oficiais portuguesas1608. Em entrevista, revelou que a arquitetura devia
adaptar-se ao ritmo da vida moderna sem paralisá-la, revelando-se avesso aos projetos
audaciosos de Le Corbusier para a Índia. Alguns anos mais tarde, Bonneville Franco realizou
uma missão de estudo a França, visitando exposições de materiais, congressos e portos de
pesca, e reunindo com Jacques Carlu.

O Diário da Manhã divulgara os planos para a zona a poente da Praça do Comércio,


reproduzindo fotografias de maquetes, nas quais se vislumbram os edifícios para os ministérios
e a ligação subterrânea entre a Avenida 24 de Julho e a Ribeira das Naus, e uma planta com a
proposta de arranjo urbano da zona entre o Cais do Sodré e a Avenida 24 de Julho 1609. Para
além de indicação dos terrenos a conquistar ao Tejo, do novo traçado da Avenida Ribeira das
Naus como prolongamento da Avenida Infante D. Henrique e do avanço do Cais das Colunas,
assinala-se a ideia do túnel para circulação automóvel e regulação do trânsito, que estava
patente no plano de arranjo de Faria da Costa de 1958. Quanto a construções, surgem os novos

1607
Esta ambiguidade, que se prende com a classificação da arquitetura como democrática ou ditatorial, está
patente num outro complexo erigido nesta época, os edifícios da sede da Food and Agriculture Organization
(FAO) da NATO, em Roma, com origem num edifício da década de 1930 destinado a um ministério fascista.
FAO, Inside FAO – A truly global forum, 2019, acessível em: https://www.fao.org/3/ca4716en/ca4716en.pdf.
1608
Anónimo, “Na arquitectura portuguesa moderna há uma originalidade que me encanta – declara o arquitecto
Jacques Carlu”, Diário de Notícias, n.º 32104, 10.07.1955, p. 1, 4.
1609
S. Gomes Branco, “O grandioso arranjo da Avenida da Ribeira das Naus com imponentes edifícios públicos
vai valorizar extraordinariamente aquela zona de Lisboa”, Diário da Manhã, n.º 9033, 31.07.1956, p. 1, 3.
Recorte acessível em DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/6, TXT.09085348-TXT.09085349.

364
edifícios para os Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações e a AGPL, um
prolongamento anexo ao torreão ocidental, e um novo edifício substituindo a existente sede da
AGPL para uso de organismos corporativos ligados aos serviços das Bolsas ou da pesca,
havendo no texto referência ao desaparecimento da Sala do Risco para erguer as instalações do
Ministério das Corporações. A transferência dos ministérios para os novos edifícios era
apresentada como solução para congregar os restantes serviços ministeriais espalhados pela
cidade no complexo da Praça do Comércio.

Fig. 193. Planta indicativa do novo arranjo da zona ribeirinha entre a Praça do Comércio e o Cais do Sodré. 1956.

Fig. 194. Maquete dos projetos dos MOP/MC/AGPL e da ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça do
Comércio. S.d.

365
Como mencionado, problemas com a concretização de aterros e fundações relacionados com
as características dos terrenos, o adiamento da imprescindível demolição da Sala do Risco –
cujo corpo comportava um conjunto de serviços da Marinha e de modelos e material do Museu
de Marinha1610 –, bem como a necessidade de desviar arruamentos, levaram ao atraso das
obras1611. Nos inícios de 1955, previa-se a possibilidade de iniciar os trabalhos de fundações
no 2.º semestre desse ano, o que implicava que o projeto estivesse concluído no final de
junho1612. Uma avaliação do CSOP evidenciou que a heterogeneidade dos solos e as condições
sísmicas da zona condicionaram a solução a adotar para as fundações, sendo ideal reduzir a
altura dos edifícios1613.

Fig. 195. DNISP, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações e AGPL: planta de fundações sobre estacas,
1955.

1610
Artur Bonneville Franco, Informação a Sua Ex.ª o Ministro: Problemas ligados à demolição da Sala do Risco,
20.04.1955. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/8, TXT.09085401-TXT.09085404.
1611
Artur Bonneville Franco, Informação a Sua Ex.ª o Ministro: Desvio da Avenida Ribeira das Naus, 28.04.1955.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0002/01/1, TXT.09084885-TXT.09084886.
1612
Ofício de Artur Bonneville Franco para Luís Cristino da Silva, 10.02.1955. Espólio Luís Cristino da Silva |
FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS 46.4.14.
1613
João Alberto Barbosa Carmona (Inspetor Superior do CSOP), Estudo do projecto do edifício destinado aos
Ministérios das Obras Públicas e Comunicações e respectivas fundações, 16.06.1956. BAHE: Fundo CSOP,
PI0012.

366
Fig. 196. Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: projeto
definitivo – planta de conjunto do edifício, 1956.

Os projetos arquitetónicos foram submetidos para apreciação superior em final de 1956,


considerados notáveis em termos de minúcia pelo engenheiro Bonneville Franco 1614. A
memória descritiva revela-se similar às apresentadas para as etapas anteriores dos estudos1615.
Decidiu-se pela integração de oito pisos no MOP, sendo que cinco apenas se desenvolviam até
à cornija principal, e pela distribuição do MC e da AGPL por 14 pisos, adicionando-se em
todos um piso na cave em virtude da solução adotada para as fundações.

O projeto incluiu a previsão de obras artísticas a encomendar para a decoração, na linha


iconográfica que se tornara habitual nos edifícios de promoção pública. Quanto ao MOP,
equacionavam-se duas estátuas alegóricas para o pórtico principal, representando a Engenharia
e a Arquitetura; seis baixos-relevos para os vãos das janelas da fachada principal aludindo às
principais atividades do ministério, e para a fachada oposta, sobre o pátio de honra, o escudo
nacional em alto-relevo; no interior, a escadaria do vestíbulo principal receberia dois painéis

1614
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 31.07.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947216.
1615
Luís Cristino da Silva, António Lino, Projecto definitivo do edifício dos Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações, a construir na zona marginal do Tejo, entre a Praça do Comércio e o Largo do Corpo Santo:
Memória Descritiva, 29.11.1956. Espólio Luís Cristino da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS
46.2.6.

367
afresco ou de mosaico, e o salão de receção junto do gabinete do ministro incluiria duas
pinturas murais. Também para o pórtico de entrada das Comunicações se previam duas
estátuas, relativas aos Transportes e à Aeronáutica, e cinco baixos-relevos com temática das
principais atividades do ministério para os vãos das janelas do gabinete ministerial; o pátio de
honra integraria um grupo escultório dedicado às Comunicações; a parede fundeira da
escadaria de honra seria decorada com um mural, pintado ou de mosaico; também os espaços
comuns aos dois ministérios receberiam decoração – o topo da sala de leitura da biblioteca
geral com dois painéis afresco, e dois motivos decorativos a têmpera para o refeitório dos
funcionários.

Fig. 197. Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: projeto
definitivo - fachada principal sul, 30.05.1956.

Fig. 198. Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: projeto
definitivo – corte AB, 1956. DGPC/SIPA, DES.00066983

368
Fig. 199. Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Fig. 200. Luís Cristino da Silva e António
Públicas e das Comunicações: projeto definitivo - pormenores diversos, Lino, Ministério das Comunicações:
1956. projeto definitivo – alçado sul, corpo da
entrada principal.

Fig. 201. Luís Cristino da Silva, Ministério das Comunicações: fachada Fig. 202. Luís Cristino da Silva, Estudos
posterior, s.d. das estátuas para o Ministério das
Comunicações, s.d.

369
Fig. 203. Luís Cristino da Silva, Perspetiva do gabinete de Fig. 204. Luís Cristino da Silva, Perspetiva do gabinete do
trabalho do Ministro, s.d. Ministro – último estudo, s.d.

A JNE, que apreciou os estudos após despacho ministerial congratulando os autores pela
perfeição1616, considerou serem merecedores de aprovação1617. Porém, houve necessidade de
suprimir os três últimos pisos do Ministério das Comunicações e do edifício idêntico da
AGPL1618, sugestão sancionada por Arantes e Oliveira para tornar o conjunto mais
equilibrado1619. A Comissão de Revisão da DGEMN esclareceu que a modificação dos
programas iniciais para o MC e a AGPL levara a essa redução de áreas, e louvou a diminuição
dos pisos, que assim não afetaria tão visivelmente a monumentalidade e a fisionomia da Praça
do Comércio1620. Considerou que as plantas dos projetos estavam em condições de ter
seguimento, e que os estudos demonstravam preocupações funcionais e atenção às exigências
dos serviços, que haviam colaborado com os arquitetos.

1616
Ofício de Artur Bonneville Franco para Luís Cristino da Silva, 30.01.1957. Espólio Luís Cristino da Silva |
FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS 46.4.20.
1617
Ofício do Diretor-Geral da DGESBA para Diretor-Geral da DGEMN, 31.07.1957. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947247-TXT.04947246
1618
Ofício de Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 20.07.1958. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01, TXT.04947253-TXT.04947252.
1619
Informação de Artur Bonneville Franco para Ministro das Obras Públicas, 25.01.1958. Espólio Luís Cristino
da Silva | FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos, LCS 46.4.22.1-2.
1620
Projecto definitivo dos novos edifícios dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: Parecer da
Comissão de Revisão, 02.07.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0141/36, TXT.07409955-TXT.07409952.

370
Fig. 205. Luís Cristino da Silva e António Lino, Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: projeto
definitivo – planta da zona marginal, 1956.

A não realização destes imponentes edifícios ter-se-á prendido com fatores económicos,
particularmente perante o início da guerra em África, e técnicos, considerando a estrutura dos
terrenos. Em simultâneo, terá sido relevante a questão das demolições implicadas, que lesariam
os interesses do Ministério da Marinha no local, e que haviam já anteriormente levantado
protestos relacionados com a preservação patrimonial do conjunto, nomeadamente da Sala do
Risco, como vimos através das intervenções de Augusto Vieira da Silva. José Manuel
Fernandes referiu como razões para o abandono da edificação o estilo obsoleto e a “perda de
sentido político-social” do projeto – a par de outros da autoria de Cristino da Silva – no quadro
da modernização que o regime custosamente desejava alcançar, citando um ministro não
identificado, que se terá interrogado “Tenho aqui este projecto... que lhe hei-de fazer?”1621. Não
cremos que essa tenha sido uma das razões mais significativas, como as pretensões sobre as
instalações na ala ocidental, adiante abordadas, demonstram.

Dado que a concretização das novas instalações se protelava, houve necessidade de arranjar o
gabinete do Ministro das Obras Públicas na ala oriental. O plano incluía beneficiações como
pintura de paredes e entaipamento de uma porta de acesso ao gabinete dos secretários,
substituição de cortinados e abat-jours, conserto de cadeiras, construção de mesas de apoio e
aquisição de móveis, como sofás de estilo inglês, e de objetos decorativos1622. José Espinho,
laborando para os Móveis Olaio – onde era projetista e consultor –, desenhou mobiliário de

1621
José Manuel Fernandes, “Luís Cristino da Silva, a obra: enquadramento e síntese”, in Luís Cristino da Silva.
Arquitecto, 56.
1622
João Vaz Martins (DSMN), Arranjo do gabinete de Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas, 22.12.1959.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2506/28, TXT.04091145-TXT.04091144.

371
estilo renascença. Foram também comprados elementos decorativos destinados ao gabinete
ministerial, nomeadamente uma gravura setecentista representando uma vista de Lisboa,
assinada por Matthäus Seutter de Augsburg1623, e um retrato do Presidente do Conselho da
autoria de João Reis (1899-1982)1624.

Fig. 206. José Espinho/Olaio, MOP: mesa baixa estilo Fig. 207. José Espinho/Olaio, MOP: móvel estilo
“Renascença” para o gabinete do Senhor Ministro, s.d. “Renascença” para o gabinete do Senhor Ministro, s.d.

Fig. 208. Gabinete do Ministro das Obras Públicas. 1959. Fig. 209. Gabinete do Ministro das Obras Públicas. 1959.

1623
CAM, Parecer: aquisição de uma gravura de Lisboa para o gabinete de Sua Excelência o Ministro das Obras
Públicas, 22.10.1957. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-2498/16, TXT.04087811.
1624
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Ministro das Obras Públicas, 15.06.1962. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2506/11, TXT.04091059.
Poderá tratar-se do retrato de Salazar assinado por João Reis, datado de 1962, atualmente integrando as coleções
do Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea (n.º inv. 3267).

372
Fig. 210. Ministério das Obras Públicas. S.d. Fig. 211. Ministério das Obras Públicas. S.d.

Por essa altura, também o Ministério das Comunicações, instalado no edifício no ângulo
nordeste da praça, carecia de incrementos pela sua aparência imprópria, orçamentando-se uma
intervenção de limpeza e beneficiação, sem proceder a alterações da divisão interna à exceção
da retirada de alguns tabiques1625. A falta de espaço e o aspeto degradado do edifício eram
razões de queixa do ministério, num momento em que o Ministério da Justiça ocupava
provisoriamente os 3.º e 4.º pisos1626. Os trabalhos ficariam a cargo da DEL, incluindo as
dependências do gabinete ministerial1627.

Fig. 212. Praça do Comércio: corpo nordeste. S.d.

1625
Comissão de Revisão da DGEMN, Parecer: Ministério das Comunicações – obras de reparação, adaptação e
beneficiação, incluindo instalação de ar condicionado, 12.06.1959. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
4731/03, TXT.05439191-TXT.05439197.
1626
Ofício do Gabinete do Ministro das Comunicações, 25.01.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4731/03, TXT.0543914-TXT.0543915.
1627
Despacho do Ministro das Obras Públicas de 30.03.1960. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-
4731/03, TXT.05439224.

373
Já nos inícios da década de 1970, quando a concretização dos novos blocos estava
definitivamente afastada, foi incluída dotação no plano da DSMN para uma estátua com destino
à entrada do MOP, na ala oriental1628. Essa direção considerou que a estátua deveria integrar
uma figura metálica com 2,80 m, simbolizando de forma genérica as atividades desenvolvidas
no organismo, para ser colocada no nembo entre dois arcos no átrio. Dos nomes sugeridos –
Barata Feyo, António Duarte, António Paiva, Hélder Baptista, Martins Correia e Leopoldo de
Almeida –, o ministro determinou que se contactasse o escultor António Duarte1629. O MOP
visitou o atelier do escultor em janeiro de 1972 para apreciar a maqueta, dando aval positivo
para continuação do trabalho1630.

Fig. 213. António Duarte, Maqueta para a estátua do MOP, gesso (1971). CACR-AMAD, Inv. AD-ESC-0204.

1628
Ofício do Diretor da DMSN para Diretor-Geral da DGEMN, 01.02.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-
001-0096/01/4, TXT.02248709-TXT.02248708.
1629
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Diretor da DMSN, 15.02.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-
001-0096/01/4, TXT.02248709-TXT.02248708.
1630
Ofício do Diretor da DMSN para António Duarte, 07.02.1972. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSMN-001-
0095/02/7, TXT.02248587.

374
Fig. 214. Estátua para o MOP no atelier do escultor António Duarte. [c. 1971].

Após concordância do Secretário de Estado das Obras Públicas1631 , Guilherme Camarinha foi
consultado para conceber cartões para duas tapeçarias, com as dimensões de 3,16 x 3,95 m,
destinadas aos painéis centrais das paredes da sala das sessões do MOP1632, cuja remodelação
se planeava. Tratava-se de um trabalho urgente, autorizado em março de 1974, submetendo o
artista os cartões para apreciação após quatro meses – isto é, após a queda do Estado Novo,
numa altura em que a sala integrava as instalações do Ministério do Equipamento Social e do
Ambiente. A CAM julgou que as maquetas permitiam antever a qualidade das tapeçarias,
apesar da necessidade de pequenas correções formais, e que as temáticas representadas se
coadunavam com a sala: uma referia-se à reconstrução de Lisboa no pós-terramoto sob
orientação do Marquês de Pombal, e outra fixava o impulso de reestruturação por Fontes
Pereira de Melo “em ordem à [...] integração num contexto europeu”1633. Não obstante, perante
a conjuntura do país, afigurava-se que esta não seria uma despesa premente para funcionamento
da sala, embora pudesse vir a valorizá-la, suspendendo-se a concretização do trabalho.

1631
Presidente da CAM, Execução de dois cartões para as tapeçarias destinadas à sala das sessões do Ministério
das Obras Públicas, 16.03.1974. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0431/12, TXT.07275667- TXT.07275668.
1632
Ofício de Guilherme Camarinha para DGEMN, 13.04.1974. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/CAM-0431/12,
TXT.07275666.
1633
Ofício do presidente da CAM para o Diretor-Geral da DGEMN, 01.10.1974. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/CAM-0431/12, TXT.07275679-TXT.07275680.

375
Fig. 215. Desenho de Guilherme Camarinha para a tapeçaria destinada à sala do Conselho de Obras Públicas:
Marquês de Pombal, [1974]

Fig. 216. Desenho de Guilherme Camarinha para a tapeçaria destinada à sala do Conselho de Obras Públicas:
Fontes Pereira de Melo, [1974].

376
3.14. Da Praça do Comércio para a Praça de Londres: o Ministério das Corporações e
Previdência Social

O Subsecretariado de Estado das Corporações e Previdência Social (SECPS), implementado


em 1933 sob dependência direta da Presidência do Conselho, foi transformado em Ministério
das Corporações e Previdência Social (MCPS) em 19501634. Criticado por “corporativistas
genuínos”, o organismo deveria liderar a “cruzada corporativa” que, segundo Salazar, faltava
empreender1635. O Presidente do Conselho considerava o corporativismo como garante da
ordem estabelecida pelo regime, pois impedia a “luta de classes no campo social e da tendência
para o partidarismo no terreno político”1636. O ministério integrava, em 1951, para além do
gabinete do ministro e da Secretaria-Geral, os Serviços de Ação Social, o Instituto Nacional do
Trabalho e Previdência e suas delegações, a magistratura do trabalho, a Direção Geral do
Trabalho e Corporações, a Direção Geral de Previdência e Habitações Económicas e o
Conselho Superior de Previdência Social1637.
Em 1948, o engenheiro Francisco Anjos Diniz apresentou uma proposta de orçamento para
organizar estudos preliminares de instalação de diversos organismos na ala ocidental, entre os
quais o SECPS1638, cujo desfecho não se identificou. Perante a criação do ministério, surgiu a
necessidade urgente de instalações condignas para o gabinete do novo ministro, havendo
espaço nas salas deixadas vagas pela saída do gabinete do Ministro da Economia da ala oriental,
então deslocado para a zona do antigo gabinete do Ministro das Finanças na ala ocidental 1639.
Os serviços ficavam dispersos pela cidade: a Direção Geral da Previdência e Habitações
Económicas funcionava na Rua da Junqueira, por exemplo. Sabe-se que, em inícios de 1952,
o gabinete do Ministro das Corporações e Previdência Social, à data José Soares da Fonseca
(1908-1969), foi provisoriamente transferido para as antigas instalações do gabinete do
Ministro da Economia, na ala ocidental, sofrendo adaptações para divisão do espaço em vários

1634
Decreto-Lei n.º 37909. Em 1973, a designação foi alterada para Ministério das Corporações e Segurança
Social. Decreto-Lei n.º 584/73, art.º 1.º.
1635
José Carlos Valente, “Ministério das Corporações (Subsecretariado de Estado)”, in Dicionário de História do
Estado Novo, vol. II, 577.
1636
António de Oliveira Salazar, “Os problemas Políticos e o Próximo Acto Eleitoral” (10.07.1953), Discursos e
Notas Políticas. 1928 a 1966, 780.
1637
Decreto-Lei n.º 38152, Diário do Governo, I série, n.º 12, 17.01.1951.
1638
Proposta de Francisco Anjos Diniz apresentada à DNISP, 31.08.1948. PT/DGEMN/DSARH-010/125-
0097/041, TXT.01435537.
1639
Ofício de Artur Bonneville Franco para a DGFP, 24.10.1950. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DNISP-001-
0122/01/1, TXT.09167926.

377
compartimentos1640. Outros serviços, por consequência das obras de demolição do corpo
saliente do claustro do Ministério das Finanças, foram instalados temporariamente em salas do
antigo Tribunal do Comércio, no torreão da ala oriental1641.

O plano de distribuição dos ministérios destinou ao MCPS “a Ala Pombalina confinante com
a Rua do Arsenal, para poente da Porta do Antigo Arsenal da Marinha, limitado [...] pelo corpo
da Antiga Sala do Risco”1642. O anteprojeto para os novos edifícios dos Ministérios das Obras
Públics e das Comunicações previa a demolição desse corpo, planeando-se o seu
prolongamento para ocupação pelo MCPS, assim distribuído pelo corpo já existente na Rua do
Arsenal e pelo novo edifício que se previa estender-se até ao Largo do Corpo Santo. O
programa calculou a inclusão de diversos serviços e do gabinete ministerial, não se
equacionando refeitório pela exiguidade do espaço e por se imaginar que os funcionários
poderiam usufruir do restaurante planeado para o MOP/MC. No corpo existente, procurar-se-
ia manter as compartimentações para preservação do ritmo das fachadas pombalinas, apesar da
necessidade de recuar a fachada sul para melhor distribuição, propondo-se a inclusão de uma
arcada com terraço ao nível do 1.º piso à semelhança da solução no claustro do Ministério das
Finanças. Também se deveria aproveitar a estrutura resistente do corpo pombalino. Haveria,
naturalmente, maior flexibilidade de adaptação dos espaços no novo corpo, eventualmente
passível de ampliação em altura. Este corpo destinava-se a albergar as zonas de maior
representação, concretamente o gabinete do ministro e serviços adjacentes, a Secretaria-Geral
e os gabinetes dos diretores gerais. Denota-se preocupação em separar os acessos e a circulação
de público e de funcionários, em minimizar os percursos entre serviços – cuja separação deveria
ser efetiva e a comunicação no interior de cada serviço deveria ser simples – e em facilitar as
circulações horizontais e verticais.
Considerando a proximidade com os novos edifícios da autoria de Cristino da Silva e António
Lino, de traça “francamente moderna”1643, sugeria-se que o novo corpo do MCPS tivesse
caráter atual, satisfizesse as necessidades funcionais dos serviços e harmonizasse com a

1640
Ofício pelo Secretário-Geral do MCPS para a DGEMN, 01.02.1952. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4099/04, TXT.05062058.
1641
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor Geral da DGEMN, 08.02.1952. SIPA/DGPC:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4099/04, TXT.05062060
1642
Engenheiro Adjunto para os Serviços de Estudos da DNISP (Francisco Aguiar?), Ministério das Corporações
e Previdência Social: Programa e previsão de áreas, 07.10.1953, p.1. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4099/01, TXT.05062001.
1643
Engenheiro Adjunto para os Serviços de Estudos da DNISP (Francisco Aguiar?), Ministério das Corporações
e Previdência Social: Programa e previsão de áreas, 07.10.1953, p.2. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-4099/01, TXT.05062000.

378
envolvente. Os estudos gráficos correspondentes, assinados pelo arquiteto Costa Martins da
DNISP, incluem três hipóteses distintas1644. Todas implicavam a adoção de cobertura em
terraço no edifício construído de raiz, que ascenderia a cinco pisos (contabilizando a sobreloja)
e integraria um piso subterrâneo, sendo o último piso recuado. No que respeita à ligação entre
os dois corpos, alvitrava-se uma passagem entre ambos ao nível dos pisos superiores, suportada
por uma estrutura em arco de volta perfeita ou apenas retilínea. Nas fachadas, as diferenças
prendiam-se, sobretudo, com o emprego ou não de pilastras no entorno da entrada principal e
da janela correspondente do lado oposto, e com a hipótese de aplicação de varandins no terceiro
piso numa das soluções, que também preconizava a integração de uma varanda sobre a entrada
principal, correspondente ao gabinete do ministro.

Fig. 217. Manuel Costa Martins/DNISP, Implantação do Ministério das Corporações e Previdência Social, [1953].

1644
Estes desenhos têm sido erradamente atribuídos ao arquiteto Raul Lino, indicados como concernentes ao
Ministério da Marinha (FCG, Raul Lino, 42; Almeida, “Frente ribeirinha”, 36; Harald Bodenschatz, Max Welch
Guerra (ed.), Städtebau unter Salazar. Diktatorische Modernisierung des portugiesischen Imperiums 1926-1960
(Berlim: DOM publishers, 2019, 100), possivelmente por se encontrarem desenhos no espólio de Raul Lino à
guarda da FCG-BAA, com indicações de se tratar de alçados sobre a Ribeira das Naus (cotas RLDA 559.1, RLDA
559.2) e sobre a Rua do Arsenal (cotas RLDA 559.3, RLDA 559.4), sem assinatura e datados de novembro 1953.
O arquiteto possivelmente guardou os desenhos por se ter pronunciado sobre eles e por integrar a DNISP. O
confronto com desenhos à guarda da DGPC no Forte de Sacavém e com documentação textual existente no AFRL
permitiu retificar este assunto.

379
Fig. 218. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social: anteprojeto – alçado
norte, 2.ª hipótese, [1953].

Fig. 219. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social: anteprojeto – alçado
sul, 3.ª hipótese, [1953].

Fig. 220. Manuel Costa Martins/DNISP, Ministério das Corporações e Previdência Social: anteprojeto – alçado
poente, 2.ª hipótese, [1953].

380
Os estudos foram enviados para apreciação no final de 1953, não se tendo detetado o despacho
do Ministro das Obras Públicas a que se refere um ofício enviado para a DNISP1645.
Raul Lino observou conscienciosamente os estudos, aproveitando para marcar a sua posição
no tocante à prática arquitetónica1646. Ponderou acerca da complexidade envolvida na
construção junto da digna e nobre Praça do Comércio, sendo difícil atingir o espírito e a
qualidade desses edifícios, particularmente devido às coetâneas limitações económicas.
Realçou que o respeito pelo existente não consistia numa cópia cega desses estilos passados,
mas na busca pelo equilíbrio e pela categoria artística. Confessou que as soluções encontradas
para o MCPS, dada a impraticabilidade de relação com o bloco do Ministério das
Comunicações, se revelaram de compromisso; a segunda hipótese revelava-se mais conforme
ao idioma dos edifícios da praça, apesar de não descurar o imprescindível sentido funcional.
Raul Lino aproveitou para reafirmar a sua convicção numa arquitetura adequada ao contexto
nacional, repudiando a adoção sem critérios de modelos estrangeiros desenvolvidos em países
industrializados para responder a situações concretas como a reconstrução por motivos de
guerra e associadas mudanças sociais: “Quem se sente forte, não precisa de copiar o que se
passa na casa dos outros”1647. Uma vez que a “pequena casa lusitana” fora poupada às
atrocidades em virtude de uma governação firme, não se impunha um corte com as camadas
de outrora. Importava corresponder às necessidades e ao espírito da população para manter
uma arquitetura viva, e, no caso do MCPS, o caráter de representatividade inerente não deveria
ser abafado por soluções de ordem estritamente funcional e económica. Noutro documento em
que reflete sobre o assunto, Raul Lino é mais direto na sua oposição ao carácter utilitarista dos
estudos e ao afastamento dos valores humanistas europeus, apontando “a frieza do seu carácter
maquinal” e que, com imaginação, “podemos facilmente fazer de conta por uns momentos que
estaríamos, não nas margens do Tejo, mas na Libéria ou em Nyassalândia”1648.

Entre 1955 e 1958, os relatórios de atividades do MOP dão conta de que se aguardava tomada
de decisão por parte do MCPS quanto aos programas e esboços da DNISP para a transformação
do edifício pombalino da Rua do Arsenal e para a construção de um novo corpo1649. As ideias

1645
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para Artur Bonneville Franco, 03.12.1952. SIPA/DGPC:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4099/02, TXT.05062014.
1646
Raul Lino, Ministério das Corporações e Previdência Social, dezembro 1953. AFRL: Armário B, Arquivador
de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol., 703, 703A.
1647
Raul Lino, Ministério das Corporações e Previdência Social, dezembro 1953, p.2. AFRL: Armário B,
Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol., 703.
1648
Raul Lino, [Ministério das Corporações e Previdência Social], janeiro 1954, p. 7. AFRL: Armário B,
Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres, 4.º vol., 703A.
1649
Relatórios de Atividades do MOP, anos 1955 (p. 129), 1956 (p. 141), 1957-1958 (p. 200).

381
não tiveram, porém, andamento. Em 1959, o ministério ocupava instalações na ala oriental,
junto do MOP, que se debatia com problemas de falta de espaço para os seus serviços. Nesse
sentido, o ministro Arantes e Oliveira julgava oportuno transferir o MCPS para a zona prevista
na Rua do Arsenal – então provisoriamente ocupada pelo Ministério da Justiça, em virtude das
obras na ala norte–, tentando resolver a situação com a saída dos serviços do Ministério da
Marinha aí localizados para as instalações da Cordoaria, em Belém1650. Porém, os interesses da
Marinha em permanecer no Terreiro do Paço impediram qualquer alteração.

No ano seguinte, foi comunicada a aquisição de um edifício fora da zona da Praça do Comércio
para instalação dos serviços dispersos do MCPS, havendo necessidade de realizar estudos de
adaptação1651. Tratava-se de um edifício localizado na Praça de Londres, “em pleno centro da
Lisboa moderna”1652, cuja construção havia sido iniciada em 1958. O edifício foi projetado
pelo arquiteto Sérgio Botelho de Andrade Gomes1653 (1915-2002?) para albergar o Hotel Vera
Cruz, com 19 pisos. Perante a impossibilidade de expansão dos serviços do MCPS, dispersos
por vários edifícios, a Direção Geral do Trabalho e Corporações e a Direção Geral da
Previdência e Habitações Económicas fizeram diligências para encontrar novas instalações que
permitissem a localização conjunta. Não se tendo encontrado terrenos disponíveis para a
construção de um novo edifício1654, surgira a oportunidade de aquisição do referido imóvel,
que corresponderia às necessidades calculadas e permitiria congregar os serviços centrais do
ministério1655.

1650
Despacho de Eduardo Arantes e Oliveira, 19.03.1959, p.3. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DNISP-001-0131/01,
TXT.09175407.
1651
Ofício do Diretor Geral da Previdência e Habitações Económicas, 29.03.1960. SIPA/DGPC:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0678/13, TXT.02898726.
1652
Mário Rodrigues (Sociedade Industrial de Construções, Lda.), Proposta para a venda do imóvel que a
Sociedade Industrial de Construções, Lda. está a concluir com destino a um hotel no gaveto da Praça de Londres
com a Av. Roma e Av. Marconi, 09.11.1959, p. 5. AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente
(pasta “Imóvel – 4026 – Praça de Londres, 2”).
1653
Professor no IST, foi autor de diversos projetos de edifícios de habitação de promoção privada nas zonas de
Alvalade e Restelo, em Lisboa, na década de 1950. Ao nível de encomendas oficiais, cite-se o estudo da cadeia
comarcã de Abrantes (1963, não concretizado) e do tribunal de Benavente (proj. anterior a 1974, inaug. 1982).
Cf. Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo, 382; Inês Andrade Marques, Arte e Habitação em
Lisboa, 1946-1965. Cruzamentos entre Desenho Urbano, Arquitetura e Arte Pública (Tese de Doutoramento,
Universitat de Barcelona, 2012), 102, 156, 159, 160; Almeida, Bairro(s) do Restelo, vol. II, 400.
1654
“Alocução do Engenheiro Rafael Santos Costa, Presidente da Comissão das Novas Instalações do Ministério
das Corporações e Previdência Social”, in XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional (Lisboa:
Ministério das Corporações e Previdência Social, 1966), 63.
1655
Nota do Diretor Geral da Previdência e Habitações Económicas (assinatura ilegível), 18.11.1959.
AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente (pasta “Imóvel – 4026 – Praça de Londres, 2”).

382
A proposta de venda da Sociedade Industrial de Construções, responsável pela construção do
edifício, indicava o estado em que se encontrava a obra em novembro de 1959, e que seria
entregue pronto para receber decoração e mobiliário: fundações e estrutura estavam completas
com 13.000 m2 construídos (incluindo a maior parte das paredes divisórias), estando concluídos
isolamentos acústicos e térmicos, canalizações dos sanitários, elevador de serviço e montagem
das condutas e torre de refrigeração do sistema de ar condicionado, encontrando-se em
execução a instalação elétrica e a cantaria das fachadas. A urgência de realizar a venda prendia-
se com os prazos de execução do edifício para os seus fins originais de utilidade turística, que
não poderiam ser protelados, dado o atraso na encomenda de materiais e equipamento hoteleiro
– que, de resto, seriam inadequados caso se alterasse a função1656. A aquisição pelo MCPS
implicaria, naturalmente, adaptações. Previamente a qualquer decisão, o Ministro das
Corporações, Henrique Veiga de Macedo (1914-2005), solicitou um relatório de avaliação ao
Ministério das Finanças, que considerou o negócio favorável. Na sequência, a 14.01.1960, o
ministro visitou o edifício na companhia do Diretor Geral da Previdência e Habitações
Económicas, dos engenheiros Rafael dos Santos Costa, Vice-Presidente das Habitações
Económicas/Federação de Caixas de Previdência, e Pessoa (cargo não identificado), e do
engenheiro Mário Rodrigues, da firma vendedora1657. Acordou-se a compra através do Fundo
Nacional do Abono de Família (FNAF), tendo a escritura sido realizada 25.02.1960. Em 1961,
o Secretário-Geral do MOP deu conta das pretensões de transferência do MCPS, que ocupava
dependências outrora do MOP, num período de um ou dois anos para o novo edifício na Praça
de Londres, embora não tivesse confirmação de que o gabinete do ministro acompanharia a
mudança1658.

1656
Mário Rodrigues (Sociedade Industrial de Construções, Lda.), Proposta para a venda do imóvel que a
Sociedade Industrial de Construções, Lda. está a concluir com destino a um hotel no gaveto da Praça de Londres
com a Av. Roma e Av. Marconi, 09.11.1959. AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente (pasta
“Imóvel – 4026 – Praça de Londres, 2”).
1657
Informação do Diretor Geral da Previdência e Habitações Económicas (assinatura ilegível), 05.02.1960, p. 2.
AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente (pasta “Imóvel – 4026 – Praça de Londres, 2”).
1658
Informação do Secretário-Geral do MOP, 19.10.1961. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0678/11,
TXT.02898671.

383
Fig. 221. Edifício do MCPS em construção. 1966.

Após a escritura, o estudo da adaptação foi acometido a uma comissão nomeada por portaria
ministerial1659, designada como Comissão das Novas Instalações do Ministério das
Corporações e Previdência Social (CNIMCPS), e constituída por Rafael dos Santos Costa (na
qualidade de presidente), Fernando Ferreira Martins de Brito e Gastão Rico. Os trabalhos foram
iniciados em outubro de 19611660, divididos em duas fases de empreitadas1661, estando o
edifício terminado volvidos cinco anos. A adaptação para os serviços do ministério coube ao
arquiteto Sérgio Gomes, com projeto de estruturas coordenado pelo engenheiro Eduardo

1659
“Alocução do Engenheiro Rafael Santos Costa, Presidente da Comissão das Novas Instalações do Ministério
das Corporações e Previdência Social”, 61.
1660
Anónimo, “O sistema corporativo português conseguiu ao fim de trinta e três anos a organização integral da
comunidade – afirmou hoje o prof. Gonçalves de Proença no novo edifício no Ministério das Corporações”, Diário
de Lisboa, n.º 15722, 23.09.1967, p. 10.
1661
Relatório da CNIMCPS, 30.11.1967, p. 3. AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente (pasta
“Ed17 - Imóveis – Imóvel da Praça de Londres – Relatório e Contas”).

384
Cansado de Carvalho. O processo foi acidentado e terá apresentado várias dificuldades,
agravadas pelo facto de o programa ter sofrido alterações durante a construção em virtude da
criação de novos serviços, facto que foi depreciado pelos autores da revista Binário, como
veremos. A CNIMCPS mencionou, aliás, que apesar do estudo pormenorizado para a maior
eficiência possível do edifício, foi necessário aguardar pela instalação dos serviços para
confirmar se não seriam necessárias alterações adicionais1662. Por outro lado, estando o edifício
localizado na zona de proteção do aeroporto, houve necessidade de aguardar pelo parecer da
Direção Geral de Aeronáutica Civil para dar início às obras 1663. Note-se que neste período se
realizaram reparações no gabinete do ministro na Praça do Comércio, cuja despesa foi incluída
nas verbas despendidas na adaptação do edifício da Praça de Londres1664. Dada a iminência de
transitar para novas instalações, não deixa de ser uma atitude pouco habitual. No entanto, em
1968, essas instalações ainda não haviam sido entregues à DNISP “não se sabe bem porquê,
para serem adaptadas à instalação de Serviços de outros Ministérios”1665.
O edifício foi inaugurado com 21 pisos no total, com terraço no topo e envolto por painéis de
vidro em toda a sua extensão. Já em 1964, por altura de uma visita do ministro Gonçalves de
Proença (1924-2012), era noticiado como o mais alto edifício da capital 1666. A construção em
altura era encarada como consequência difícil de travar perante a expansão crescente da
cidade1667. Outro agravamento envolveria o aumento do tráfego automóvel devido à
concentração dos aproximadamente mil funcionários que se calculava virem a trabalhar no
edifício1668. A cave e subcave destinavam-se às instalações especiais, como postos de
transformação e centrais de ar condicionado, e arquivo. O piso térreo albergava os acessos
principais, o serviço informativo geral e um serviço da Direção Geral do Trabalho e
Corporações com atendimento ao público. No 1.º piso destacava-se a Sala de Posses e
Conferências1669 e a biblioteca com sala de leitura. Os diversos departamentos do ministério
distribuíam-se por salas até ao 16.º piso, ocupado pelo gabinete do ministro e serviços anexos.

1662
Ibid., p. 1.
1663
Anónimo, “O novo edifício do Ministério das Corporações será inaugurado em 1965”, Diário de Notícias,
13.02.1964.
1664
Relatório da CNIMCPS, 30.11.1967, p. 15.
1665
[Francisco Anjos Diniz?], Posição actual da ocupação dos edifícios da Ala Ocidental da PC e das pretensões
de vários Ministérios a essa ocupação, 16.03.1968, p. 3. SIPA/DGPC: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0706/05,
TXT.02919259.
1666
Anónimo, “O sistema corporativo português conseguiu ao fim de trinta e três anos a organização integral da
comunidade [...]”, pp. 10-11.
1667
Anónimo, “Construções em altura”, Jornal do Comércio, 13.02.1964.
1668
Anónimo, “Com 23 pisos o Palácio das Corporações (onde vão trabalhar 1000 funcionários) não dispõe de
parque de estacionamento”, Diário Popular, 11.11.1964, p. 9.
1669
Atualmente, esta sala é designada de Salão Nobre, mantendo as funções como espaço de conferências e
reuniões.

385
O piso acima foi dotado de refeitório em regime de self-service, com cozinha e zona de
convívio para os funcionários. As deslocações internas faziam-se através de cinco elevadores
e duas escadarias.

Os espaços nobres no piso ministerial receberam especial atenção no que respeita à decoração
de interiores, com projeto de mobiliário coordenado pelo arquiteto Frederico George (1915-
1994) e colaboração de Daciano da Costa. O gabinete do ministro, alcatifado, recebeu painéis
de madeira nas paredes. O mobiliário evidencia inspiração escandinava, de linhas simples e
utilizando materiais como madeira e pele. Não obstante, possivelmente até por influência do
próprio ministro, o espaço integrou também mobiliário de estilo distinto, como um aparador
com embutidos em chinoiserie e um biombo com motivos decorativos ornamentais, cuja
proveniência (e paradeiro atual) se desconhece.
O gabinete do ministro recebeu, também, uma tapeçaria mural segundo cartão de Renato
Torres1670 (1913-1974) executada na Manufatura de Tapeçarias de Portalegre, “que mãos
portuguesas teceram para constante memória de quem governa”1671. A composição, dominada
por tonalidades de azul, encerra, ao centro, referência ao tema do “bom governo” através da
instituição da Casa dos Vinte e Quatro por D. João I (1384) que, entronizado e coroado,
concede audiência a quatro figuras masculinas com trajes medievais. Assim, busca-se
legitimação histórica para a organização corporativa “justa e esclarecida” 1672, enaltecendo
simultaneamente a participação da população – que, na realidade, foi imposta de forma
compulsiva e controlada1673. A cena é emoldurada pelos brasões de armas das corporações
criadas pelo Estado Novo1674. O entorno foi completado por atividades económicas

1670
Pintor e professor do ensino técnico, concebeu cartões para várias tapeçarias executadas na Manufatura de
Portalegre, como a destinada ao Tribunal da Figueira da Foz (1961). Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no
Estado Novo, 405.
1671
“Discurso proferido pelo Ministro das Corporações e Previdência Social, Prof. Doutor José João Gonçalves
de Proença, na sessão solene comemorativa do XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional, da criação
das novas Corporações das Ciências, Letras e Artes, da Educação Física e Desportos e da Assistência e da
inauguração das novas instalações do Ministério das Corporações e Previdência Social, realizada sob a Presidência
do Chefe de Estado, Almirante Américo Deus Rodrigues Thomaz, em 23 de Setembro de 1966”, in XXXIII
Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional, 35.
1672
Anónimo, “Edifício na Praça de Londres, Lisboa”, Binário, 101 (1967), 417.
1673
Dulce Freire, Nuno Estevão Ferreira, Ana Margarida Rodrigues, Corporativismo e Estado Novo. Contributo
para um roteiro de arquivos das instituições corporativas (1933-1974) (Lisboa: ICS, 2014), 11.
1674
A FNAT foi designada para ordenar a simbologia corporativa, criando-se para o efeito o Gabinete de Heráldica
Corporativa, um centro de estudos dotado de arquivo histórico e museu didático. Os emblemas representavam
determinada profissão e não um organismo específico. (Gabinete de Heráldica, Regulamento da Simbologia
Corporativa (Lisboa: FNAT, 1944), 5-6.) As regras para estudo, ordenamento e aprovação do brasão de armas
das corporações foram estipuladas em 1960: cabia ao ministro aprovar os modelos para brasões de armas,
estandarte, bandeira e selos, com base na opinião do Gabinete de Heráldica da FNAT (Decreto-Lei n.º 42955,
27.04.1960).

386
materializadas nas primeiras corporações instituídas pelo regime, numa valorização harmónica
dos campos e do mar, e do desenvolvimento futuro do país: um navio num porto e aviões em
movimento para os transportes; chaminés, engrenagens e operários numa linha de montagem
para a indústria; um pescador no barco aludindo à pesca; agricultores e um trator mencionado
a lavoura.

Fig. 222. Salazar de visita ao gabinete do Ministro das Fig. 223. Gonçalves Proença e Salazar em audiência
Corporações e Previdência Social. 1966. concedida no gabinete do Ministro ao Ministro espanhol José
Solis, junto da tapeçaria de Renato Torres. 1966.

No átrio de entrada foram colocados dois painéis de mosaico de António Lino Pedras (1914-
1996), técnica que aprendera numa estadia em Veneza na década de 19501675 e que aplicou
noutros edifícios públicos, como a Reitoria da Universidade de Lisboa (1960) e, entre outros,
os Palácios de Justiça da Figueira da Foz (1961), de Aveiro (1962) e de Olhão (1963), e também
na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Águas, Penamacor (1957) e na Igreja do Sagrado
Coração de Jesus em Vale Covo, Bombarral (1967)1676. Os painéis do MCPS aludem ao Estado
corporativo, através de composições com diversas figuras encadeadas, acompanhadas de
ambientes e atributos identificativos. Para além de remeter para as origens medievais como
validação do sistema corporativo, a composição integrou as corporações de implementação
mais recente – Ciências, Artes e Letras; Desporto; Assistência –, celebrada por ocasião da
inauguração deste edifício, num ato de encómio da atuação oficial.

1675
Sara Cristina Silva, António Lino: 1914-1996 (Odivelas: Câmara Municipal, 2000).
1676
Cf. Ana Mehnert Pascoal, “António-Lino e a decoração artística para edifícios públicos”, Boletim de
Trabalhos Históricos. Guimarães série III, VII (2018): 10-33.

387
Fig. 224. Painel de mosaico de António Lino Pedras, no átrio de entrada do MCPS. 2021.

O painel colocado no lado esquerdo do átrio fixa a ancestralidade da representação corporativa,


que Gonçalves de Proença recuava em seis séculos, notando o papel de toda a sociedade na
constituição da nacionalidade sob auspícios da lei e da justiça: “ao lado da Igreja e da Nobreza,
o povo não deixou nunca de ter expressão legítima através das suas associações de mesteres ou
Corporações de Artes e Ofícios”1677. Sobre um fundo pautado por estruturas muralhadas em
torno de um aglomerado urbano com bandeiras ilustrativas das corporações, sucedem-se
grupos de figuras: um bispo de mitra e báculo junto de dois frades, três cavaleiros envergando
armadura completa e espada junto da bandeira implementada sob D. Sancho I, três mesteirais,
respetivamente envergando um machado, uma pá e uma foice, e também ramos de oliveira,
junto de bandeiras, e, sob a legenda “o bom governo”, um rei segura num orbe azul encimado
pela Cruz de Cristo, estando acompanhado por figuras femininas representando a justiça,
através de uma espada, e a lei com tábuas. A composição termina com uma mudança do
cenário, integrando colunas. fragmentos e estruturas com arco de volta perfeita. Este ambiente
enquadra três figuras femininas acompanhadas da legenda “CIÊNCIAS / ARTES / LETRAS”
inscrita junto de três penas e dos símbolos alfa, ómega e infinito, segurando, respetivamente,
num cubo, numa rosa e num livro. No topo, junto de uma bandeira com três penas, identifica-

1677
“Discurso proferido pelo Ministro das Corporações e Previdência Social, Prof. Doutor José João Gonçalves
de Proença, na sessão solene comemorativa do XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional [...]”, 38.

388
se um avião e a lua, corroborando tratar-se de uma cena distinta, de cariz alegórico remetendo
para “o trabalho intelectual [...] como base da continuidade, de tradição e progresso, passado e
futuro”1678.

Fig. 225. Painel de mosaico de António Lino Pedras, no átrio de entrada do MCPS. 2021.

O painel oposto mescla o mundo contemporâneo com figuras de sabor simbólico, com vestes
estilizadas. Trata-se de um retrato das corporações, identificadas através de legendas e
atributos. Tal como o outro painel, o segundo plano é ocupado por casario e estruturas
arquitetónicas, e referências às atividades piscatórias e portuárias através de um barco e de
guindastes; deteta-se, inclusivamente, a representação do novo edifício do MCPS. O primeiro
grupo respeita a “INDÚSTRIA / AGRICULTURA / COMÉRCIO”, figurado por quatro
personagens masculinas e duas femininas, junto de elementos como um ramo de espigas, uma
balança, um pote, uma bigorna com martelo e uma planta. Segue-se o núcleo celular do regime
e da sociedade, a família, representada por um casal com um filho desnudo nos braços. Sobre
a legenda “CRÉDITO”, quatro figuras junto de uma rede de pesca representam a atividade,
seguindo-se uma cena alusiva à “PREVIDÊNCIA”, na qual parece ser firmado um contrato
entre três homens com um aperto de mão. Um dos homens enverga um fato, os outros remetem
para o mundo rural pela forquilha, pá e vegetação, sendo o ato alumiado por uma figura

1678
Anónimo, “Edifício na Praça de Londres, Lisboa”, 417.

389
encapuçada que segura num castiçal. O próximo conjunto refere-se a “IMPRENSA /
ESPECTÁCULOS / TRANSPORTES”: uma figura enverga corneta e pergaminho, outra
refere-se ao teatro com uma máscara, um cetro com ponta estrelada e sapatos de ponta
arredondada, e as duas últimas figuras possuem uma miniatura de uma embarcação, um girassol
e, aos pés, uma cornucópia. Três desportistas apenas envergando calções, com bola de voleibol,
disco, peso para arremesso e remo, remetem para a corporação desportiva. Por fim, uma cena
sobre a assistência e a proteção social, que congrega uma fiandeira e um grupo de duas figuras
de bata branca amparando uma criança e um idoso.

Também no átrio de entrada, do lado direito, existiu um medalhão em bronze com a efígie de
Salazar, encomendada a José Farinha1679 (1912-1979), cujo paradeiro atual se desconhece e do
qual não se identificou qualquer fotografia de época. Possivelmente, seria semelhante à efígie
integrada na medalha comemorativa da inauguração do edifício, também da autoria do escultor.
José Farinha recordou em entrevista que, tendo sido convidado para executar o medalhão, o
ministro sugeriu que fosse também encarregue das medalhas comemorativas da
inauguração1680. Gonçalves de Proença louvou a simplicidade, a exatidão do perfil e a síntese
expressiva do medalhão que, segundo a sua opinião, condensava a essência daquele que
encarnou a máxima do “bom governo”1681.
Segundo o citado relatório de contas da CNIMCPS, houve, ainda, outra encomenda a um
escultor, Joaquim Martins Correia (1910-1999), que recebeu pagamento para a execução de
um grupo alegórico à previdência e ao trabalho1682. Porém, o discurso do Ministro das
Corporações e as notícias da inauguração nos jornais não fazem menção a essa peça, não
havendo qualquer registo fotográfico que comprove a sua colocação. Em adição, a bibliografia
sobre o artista não possui referências à sua realização.

1679
O escultor, que cultivava uma predileção pelo retrato, executou bustos de diversas personalidades e medalhas,
colaborou com arquitetos na capital realizando figuras epitetadas por Keil do Amaral como “mulheres entaladas”
para um conjunto de prédios de habitação, e concebeu peças escultóricas (elementos decorativos e estátuas) para,
entre outros locais, o Hotel Ritz, o parque de campismo de Lisboa, o Seminário dos Olivais e a Reitoria da
Universidade de Lisboa, e também para as antigas colónias. Teresa Sancha Pereira, José Farinha. 1912-1979.
Escultor (Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa / Comissão Municipal de Toponímia, 2004).
1680
Pereira, José Farinha. 1912-1979, 6.
1681
“Discurso proferido pelo Ministro das Corporações e Previdência Social [...]”, 36.
1682
Relatório da CNIMCPS, 30.11.1967: mapa n.º 9, conta dos trabalhos relativos à colaboração artística.
AHSGMTSSS: documentação não tratada arquivisticamente (pasta “Ed17 - Imóveis – Imóvel da Praça de Londres
– Relatório e Contas”).

390
A inauguração do “Palácio das Corporações” decorreu, como era hábito, numa data simbólica:
23.09.1966, marcando o 33.º aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional, no âmbito das
comemorações dos 40 anos do 28 de maio de 19261683. Nessa data, decorreu também a
institucionalização corporativa das atividades culturais e morais – Ciências, Letras e Artes;
Educação Física e Desportos; Assistência – e entrou em vigor o diploma regulador do contrato
individual de trabalho. A cerimónia, precedida de uma missa na Igreja de S. João de Deus,
localizada nas imediações do edifício, contou com a presença do Chefe de Estado, Américo
Tomás, e de uma série de individualidades, destacando-se, em representação do Governo
espanhol, José Solís Ruis (1913-1990), ministro-secretário geral do Movimiento Nacional
franquista, e o embaixador de Espanha. Para além do ministro da pasta, participaram antigos
ministros e subsecretários de Estado das Corporações e Previdência Social, o presidente da
Câmara Corporativa, os ministros do Interior, do Ultramar e da Saúde, o governador civil e o
presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e um conjunto de dirigentes de organismos
corporativos, civis e militares. No cerimonial não faltaram a simbólica bênção do edifício com
entoação do hino nacional pelo coro da FNAT, uma visita ao edifício e uma sessão solene com
discursos proferidos na Sala de Posses e Conferências, localizada no 1.º piso, mantendo-se
rituais emblemáticos que vinham servindo para legitimação do regime desde a sua emergência.
O discurso de Rafael Santos Costa elucidou que, perante a dificuldade em obter um terreno
para construção de um novo edifício para o ministério, cuja necessidade era premente devido
ao constante aumento de departamentos e serviços e sua dispersão pela cidade, foi considerada
adequada a compra do edifício que então se inaugurava. De notar que, apesar de congratular
todos os envolvidos na obra, dos engenheiros e artistas aos trabalhadores, somente técnicos e
operários foram condecorados com a Medalha do Mérito Corporativo e do Trabalho1684,
menorizando-se o contributo de arquitetos e artistas.

1683
Anónimo, “O sistema corporativo português conseguiu ao fim de trinta e três anos a organização integral da
comunidade – afirmou hoje o prof. Gonçalves de Proença no novo edifício no Ministério das Corporações”, Diário
de Lisboa, n.º 15722, 23.09.1967, pp. 10-11, 14.
1684
Anónimo, “O sistema corporativo português conseguiu ao fim de trinta e três anos a organização integral da
comunidade [...]”, p. 14.

391
Fig. 226. Inauguração do edifício do MCPS. 23.09.1966.

O ministro Gonçalves de Proença sublinhou a importância da centralização de serviços para


maior eficiência e controlo, bem como a valorização progressiva do imóvel e a rentabilização
em breve prazo do investimento feito. Uma das suas afirmações lança algumas dúvidas sobre
as intenções de ocupação efetiva, ao referir que

“a instalação dos serviços do Ministério no novo imóvel apenas se manterá durante o


tempo (que se espera não seja muito longo) necessário para a resolução definitiva das
suas instalações, à semelhança do que está a suceder com outros Ministérios,

392
designadamente o Ministério das Finanças e o da Justiça. Logo que essa situação seja
alcançada, o imóvel transitará para as Instituições de Previdência, a quem pertence, que
começam igualmente a carecer de instalação condigna à sua importância, grandeza e
complexidade”1685.

Haveria propósitos de manter os serviços centrais, como o gabinete ministerial, na zona da


Praça do Comércio, apesar da existência de um piso específico para esta finalidade no novo
edifício? O facto de não se terem desocupado as instalações em 1968 parece atestá-lo.

Nas páginas da revista Binário, então dirigida pelo engenheiro Aníbal Vieira, o tom foi
distinto1686. Criticava-se a demora na concretização do edifício e associada modificação da sua
finalidade inicial, passando de hotel residencial a hotel em regime de pensão completa antes de
ser adquirido para o ministério, bem como a falta de programa detalhado desde o início das
obras, levando a alterações constantes durante o processo de construção. Lamentava-se que o
aspeto exterior não espelhava de forma clara a nova função do edifício, embora não se
condenassem os autores dos projetos, que eram felicitados pelo esforço. Considerava-se que,
apesar da falta de metodologia na planificação, se tratava de um edifício agradável, com
elementos decorativos dignos de nota, e “infinitamente superior à ‘pombalinice’ que está do
outro lado da Avenida de Roma”, um imóvel de habitação que conjuga elementos de sabor
tradicionalista, também promovido pela Sociedade Industrial de Construções, da autoria do
arquiteto Cassiano Branco (1951). Porém, questionava-se se não teria sido mais vantajoso, em
termos económicos, ter projetado um edifício de raiz noutro local, não acarretando problemas
como o uso de elevadores concebidos para um hotel por um número crescente de funcionários.
Para José Carlos Valente, a inauguração do novo edifício do MCPS representou a “consagração
de um corporativismo subordinado, económico e de Estado”1687, suplantando a conceção
idealizada de que o corporativismo seria inerente à organização social portuguesa.

3.15. A ala ocidental: conglomeração de serviços e pretensões de ocupação

O destino da Praça do Comércio era alvo de discussão pública. O Diário Popular publicara,
em 1963, sugestões para transferência dos serviços, considerada do interesse de todos os

1685
“Discurso proferido pelo Ministro das Corporações e Previdência Social [...]”, 36-37
1686
Anónimo, “Edifício na Praça de Londres, Lisboa”: 414-417.
1687
Valente, “Ministério das Corporações (Subsecretariado de Estado)”, 578.

393
lisboetas, dirigindo também um questionário à DGEMN. O jornal instava à apresentação de
propostas para realizar a mudança, criticava o uso da imponente e singular praça como parque
de automóveis e urgia ao seu aproveitamento enquanto atrativo turístico, paralelamente
sugerindo a arborização da área, eventualmente com palmeiras, pouco utilizadas no país1688.
Em resposta, a DGEMN concordou que o problema do estacionamento era grave, mas não se
previa a eliminação total, e que embora o facto de os ministérios se localizarem na praça
impedisse um total aproveitamento turístico, aceitava a presença atividades como “salões de
exposição permanente de artigos regionais”1689. Não se considerava a reintegração da
arborização, pois apesar de ser documentável historicamente, inviabilizava uma fruição
completa do conjunto arquitetónico; as palmeiras, típicas do clima africano, deveriam cingir-
se a jardins botânicos e não desvirtuar ambientes classificados.

Fig. 227. DNISP, Praça do Comércio: ala ocidental e seu prolongamento, planta do 1.º andar (distribuição de
serviços ministeriais), s.d.

1688
Ofício do Diário Popular para o Diretor-Geral da DGEMN, 07.08.1963. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
002/0312/22, TXT.07770986-TXT.07770985.
1689
Documento sem emissor ou recetor, 1963. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1352, TXT.00447423.

394
Fig. 228. José Matias/DNISP, Planta da ala ocidental: 1.º andar (serviços do Ministério da Economia e do
Subsecretariado das Corporações), 1949.

Vimos como a ala ocidental foi incorporando um conjunto de serviços ministeriais desde a
implementação do regime. Nas décadas de 1950 e 1960 funcionavam nessa secção serviços da
Marinha, Exército, Ultramar, Economia e Corporações, e ainda a Administração Central dos
CTT e áreas de reserva para instalação provisória de serviços – contrastando com as Finanças,
que ocupava um edifício praticamente equivalente na ala oposta –, havendo pretensões de
diversos organismos dispersos de serem integrados no local. O Ministério da Saúde e
Assistência, por exemplo, não tendo transitado para o Campo Santana, solicitou que a área de
reserva na Rua do Arsenal, ocupada pelo Ministério da Justiça durante as obras de
remodelação, lhe fosse destinada para instalação do gabinete ministerial e dos serviços centrais,
o que colidia com pretensões do Ministério da Marinha de recuperar esses espaços1690.

1690
Ofício do Ministro das Obras Públicas para Diretor-Geral da DGEMN, 23.11.1966. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434440-TXT.05434439.

395
Em 1963, o Ministério da Marinha alegava considerável falta de espaço nas instalações centrais
na praça, situação que se tornara insustentável perante o incremento recente dos seus
serviços1691. Apresentou uma proposta de aproveitamento das instalações do Ministério do
Ultramar na ala ocidental, dado que em breve estaria concluído o novo edifício no Restelo para
onde se viria a transferir, bem como para recuperação dos espaços então ocupados
provisoriamente pelo Tribunal da Relação, no corpo adjacente à ala ocidental, uma vez que o
edifício planeado em 1948 para a Marinha, com implantação a poente do Ministério das
Finanças, não teria, certamente, concretização. Na sequência, a DNISP comunicou estar
incumbida de elaborar um estudo preliminar para instalação da Marinha, com o Ministério do
Exército, nas referidas zonas a desocupar pelos Ministérios do Ultramar e da Justiça, ao qual
se seguiria um estudo pormenorizado equacionando a ocupação da ala ocidental por esses dois
organismos aquando da futura saída do Ministério da Economia1692. De facto, o Ministro da
Economia demonstrara ambição de concentrar os serviços sob sua alçada, “admitindo a
construção de um novo edifício em local onde existissem possibilidades para tal e cujo terreno
pertencesse ao Património do Estado ou fosse susceptível de ser objecto de troca com a Câmara
Municipal de Lisboa”1693.

A construção do novo edifício para o Ministério do Ultramar no Restelo terá sido concretizada
sem informação adequada à DNISP ou ao Conselho de Ministros, uma vez que, em inícios de
1964, o Presidente do Conselho afirmou ter sido há pouco informado pelo próprio Ministro do
Ultramar dessa construção1694. Segundo Filipa Fiúza, o processo de construção terá sido
acelerado pelo ministro Adriano Moreira (1922-2022) em virtude do início da Guerra
Colonial1695. Salazar terá, inclusive, lido nos jornais que, com a transferência dos serviços desse
ministério, se procedia à instalação da Agência Geral do Ultramar (AGU) e de uma delegação
comercial nas instalações deixadas vagas na Praça do Comércio, tendo avisado o Ministro do
Ultramar de que não poderia proceder dessa forma, pois as instalações libertadas deveriam ser
entregues à Presidência do Conselho ou ao Ministério das Finanças, cabendo ao Ministério das
Obras Públicas o estudo das obras necessárias aos organismos ministeriais. De resto, esses

1691
Ofício do Ministro da Marinha para o Ministro das Obras Públicas, 24.05.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234183-TXT.09234182.
1692
Ofício de Artur Bonneville Franco para o Ministro da Marinha, 25.06.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234187.
1693
DNISP, Informação, s.d. [1962?], p. 1. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234185.
1694
Manuscrito do Presidente do Conselho [cópia], 10.01.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0206/02/9, TXT.09234189-TXT.09234188.
1695
Fiúza, “Os edifícios institucionais do Ministério do Ultramar na Metrópole”, 236-242.

396
espaços, no extremo sul da ala ocidental na Praça do Comércio, estavam destinados aos
Ministérios do Exército e da Marinha1696, cujo estudo de aproveitamento cabia à DNISP1697,
que também alegou desconhecer os propósitos e projetos do Ministério do Ultramar1698.
De facto, a instalação da AGU na praça seria provisória, mas previa-se que outros serviços,
como o Conselho Superior Ultramarino e a Comissão de Coordenação dos Serviços Provinciais
de Planeamento e Integração Económica, aí permanecessem pela impossibilidade de
alojamento no novo edifício1699, o que impossibilitaria a concretização do despacho do
Presidente do Conselho. Salazar julgava que o Conselho Superior Ultramarino funcionava no
Palácio Burnay, à Junqueira, e considerava que a outra comissão não poderia funcionar
separadamente dos serviços centrais e gabinete ministerial do Ultramar1700 – isto é, importava
que todo o ministério fosse transferido para o Restelo. O Ministério do Ultramar, entretanto,
dera conta de que rescindira o arrendamento de prédios particulares onde estavam instalados
esses organismos para dar resposta ao plano económico que suportara a construção do edifício
no Restelo, pertencente a uma Caixa Económica do ministério, assim obtendo juro para o
capital investido na construção1701. Refira-se que, desde os inícios da década de 1950, o
ministério solicitava obras de remodelação nas instalações da Praça do Comércio –
reivindicando sobre a zona outrora ocupada pelo Ministério das Finanças, destinada a reserva
para instalação provisória de serviços no âmbito das remodelações a cargo da DNISP – e
ponderava acerca da melhor forma de solucionar a dispersão dos seus serviços pela cidade,
conjeturando inclusivamente acerca de arrendamento ou aquisição de um edifício em
construção como resposta ao problema, envolvendo técnicos do Gabinete de Urbanização do
Ultramar (GUU), nomeadamente o arquiteto Lucínio Cruz (1914-1999), e da DNISP1702.

A DGFP pronunciou-se sobre o caso, dando preferência à saída dos serviços do Ultramar,
mesmo que eventualmente obrigasse ao arrendamento de edifícios nas imediações das novas

1696
Artur Bonneville Franco, Informação a Sua Excelência o Subsecretário de Estado das Obras Públicas,
03.03.1965. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0131/01, TXT.09175435.
1697
Despacho do Ministro das Obras Públicas, 16.01.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09,
TXT.05434399.
1698
Ofício de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 18.04.1963. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434422.
1699
Informação confidencial de Artur Bonneville Franco, 12.02.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005-
4716/09, TXT.05434402-TXT.05434401.
1700
Ofício do Ministro das Obras Públicas para Ministro do Ultramar, 13.04.1964. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434418.
1701
Informação de Artur Bonneville Franco para Diretor-Geral da DGEMN, 04.06.1964. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1, TXT.09259321-TXT.09259323.
1702
Correspondência diversa, 1950-1953. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0208/01/1;
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3738/11.

397
instalações. Reforçou a ideia, que já anteriormente expusera, de criação de uma comissão
permanente, incluindo representantes da Presidência do Conselho, dos Ministérios das
Finanças e das Obras Públicas, e dos organismos interessados nas instalações em causa,
propondo uma comissão deste tipo ad hoc para resolução do problema em mãos1703.

Fig. 229. João António de Aguiar, Projeto do edifício que os Cofres de Trabalho da Repartição das Províncias
Ultramarinas de Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, pretendem mandar construir na encosta
do Restelo, no terreno de gaveto formado pelas ruas CG e GJ: alçado sul, escala 1:100, novembro 1960.

1703
Nota do Chefe da Repartição de Património da DGFP, 18.03.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005-
4716/09, TXT.05434431-TXT.05434429.

398
Fig. 230. João António de Aguiar, Projeto do edifício que os Cofres de Trabalho da Repartição das Províncias
Ultramarinas de Cabo verde, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, pretendem mandar construir na encosta
do Restelo, no terreno de gaveto formado pelas ruas CG e GJ: planta do 1.º piso, escala 1:100, novembro 1960.

Dada a possibilidade de expansão do edifício no Restelo, da autoria do arquiteto Inspetor


Ultramarino João Aguiar, essa opção foi explorada pelo Ministério do Ultramar1704. A DNISP
fora encarregue de colaborar. No entanto, Bonneville Franco apresentou reservas e ressalvou
que a construção fora realizada sem qualquer contacto com a delegação, cuja incumbência
central consistia na remodelação e construção de edifícios para os organismos ministeriais e
que realizara trabalhos de alteração nas instalações do ministério no Terreiro do Paço, com
projeto arquitetónico e decorativo do arquiteto Luís Possolo, da Direção-Geral de Obras
Públicas e Comunicações do Ultramar1705. Note-se que Salazar considerara estranho que
tivesse sido construído um novo edifício sem dimensão para albergar todos os serviços do
ministério, sugerindo averiguar a possibilidade de obras complementares ao invés de distribuir

1704
Ofício do Secretário-Geral do Ministério do Ultramar para o Chefe de Gabinete do Ministro das Obras
Públicas, 02.06.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1, TXT.09259327-TXT.09259328.
1705
Informação de Artur Bonneville Franco, 18.06.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1,
TXT.09259325.

399
os serviços pela cidade, e, em caso negativo, dever-se-ia contabilizar a localização do Conselho
Superior Ultramarino e da Comissão de Coordenação dos Serviços Provinciais de Planeamento
e Integração Económica na Praça do Comércio1706.

Fig. 231. Edifício do Ministério do Ultramar. 1971.

Com a saída de determinados serviços centrais dos ministérios da praça, admitiu-se a


necessidade de rever o plano de distribuição ministerial aprovado em 19511707. A ligação da
nova ponte sobre o Tejo à via marginal provocara, também, constrangimentos, tornando-se
necessário descongestionar o trânsito e evitar concentração excessiva pela construção de
grandes edifícios públicos.
Correspondência dos anos de 1967 e 1968 evidencia a dificuldade de resolução da ocupação
das instalações da ala ocidental devido à falta de entendimento entre as pastas da Marinha e do
Exército, com apresentação de programas em separado e sobreposição de interesses, bem como
à permanência do Ministério do Ultramar nas instalações1708 e às pretensões do gabinete do

1706
Ofício do Chefe de Gabinete do Ministro das Obras Públicas para Secretário-Geral do Ministério do Ultramar,
23.06.1964. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1, TXT.09259343-TXT.09259345.
1707
Artur Bonneville Franco, Informação, 23.10.1967. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234218-TXT.09234219.
1708
DNISP, Informação, 06.06.1967. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434467-
TXT.05434471.

400
Ministério da Saúde e Assistência, o que explica que o Ministro das Obras Públicas, Rui
Sanches (1919-2009), aguardasse longamente pelo estudo a ser enviado pela DNISP1709. O
Ministério da Marinha reforçou as suas reivindicações devido à expansão de serviços e pessoal,
particularmente com o aumento da intervenção militar no continente africano, não concordando
com a cedência de instalações ao Ministério da Saúde e Assistência1710 equacionada numa
proposta de distribuição da DNISP1711. Essa área, no corpo sobre a Rua do Arsenal, deveria,
segundo a DNISP, ser mantida como zona de reserva para instalação temporária de serviços
aquando de obras, não devendo ser cedida definitivamente a qualquer ministério1712. As obras
de adaptação, consistindo sobretudo em limpeza e beneficiações, realizaram-se em 1969, com
estudos da DNISP.

Fig. 232. DNISP, Ministérios do Exército e da Marinha: novas instalações na área que pertencia ao M.º do
Ultramar – planta de alterações, s.d.

1709
Nota manuscrita do Ministro das Obras Públicas para a DGEMN, 07.03.1968. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434517.
1710
Comissão de Estudo das Instalações do Ministério da Marinha, Informação n.º 38, 20.03.1967.
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434473-TXT.05434476.
1711
Ofício de Francisco Anjos Diniz para Diretor-Geral da DGEMN, 27.01.1967. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434444-TXT.05434443.
1712
Gabinete do Ministro, Memorial: Instalações do Ministério da Marinha na Praça do Comércio, 15.06.1967.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09, TXT.05434483-TXT.05434484.

401
Um relatório assinado por Francisco Anjos Diniz, que, entretanto, substituíra Bonneville
Franco na direção da DNISP, revela a ocupação das várias alas e propostas para organização
dos ministérios remanescentes durante os anos 601713. Registara-se a saída do Ultramar e das
Corporações, que mantinha o gabinete do ministro na praça. A Marinha insistia na ocupação
da ala ocidental, destacando o engenheiro que tanto essas instalações como o antigo arsenal
careciam de obras de conservação e “reintegração da sua traça primitiva”1714, também
internamente. Perante a desistência da construção dos projetos de novos edifícios para as Obras
Públicas e as Comunicações, importava selecionar uma nova localização: a área a nascente do
Ministério das Finanças, outrora equacionada para um novo bloco da Marinha, afigurava-se
como opção, embora a dimensão dos serviços implicasse a construção de uma elevada torre
que provavelmente não seria aceite, visto que ocultaria a Sé e o Castelo de S. Jorge. Esta ideia
surgira após um primeiro estudo em 1964, que previra um novo edifício nesse local para
albergar o Ministério da Economia – solução, nessa altura, contestada inclusive pelas
necessidades de expansão que se faziam sentir no Ministério das Finanças. Parte da ala
ocidental e o seu torreão destinar-se-iam à pasta do Exército, e as restantes instalações,
incluindo dois corpos novos (um prolongando o torreão ante a Ribeira das Naus e outro como
remate da Sala do Risco), ficariam sob alçada da Marinha. Outra variante ponderava atribuir a
construção a erigir na sequência da Sala do Risco ao Ministério da Saúde e Assistência, embora
a área se revelasse insuficiente. Em adição, a secção norte ocupada pelo Supremo Tribunal de
Justiça e Procuradoria-Geral da República destinar-se-ia a zona de reserva. Os estudos, como
observámos anteriormente, não tiveram concretização. Mais tarde, Anjos Diniz pôs à
consideração como localizações para um novo edifício do MOP a zona do Palácio de Justiça
de Lisboa ou a área adjacente ao prolongamento da Avenida da Liberdade, zona representativa
e de comunicações fáceis, alertando pela vantagem de construir um edifício centralizado ao
invés de separar os serviços pela cidade1715.

1713
Francisco Anjos Diniz, Posição actual da ocupação dos edifícios da ala ocidental da Praça do Comércio e das
pretensões de vários Ministérios a essa ocupação, 16.03.1968. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234234-TXT.09234250.
1714
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9, TXT.09234247
1715
Francisco Anjos Diniz, Informação, 01.07.1968. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9,
TXT.09234272-TXT.09234275.

402
Fig. 233. DNISP, Hipótese de distribuição dos ministérios, sobre planta do estudo de ligação da Avenida 24 de
Julho à Praça do Comércio, década de 1960.

Fig. 234. DNISP, Hipótese de distribuição dos ministérios, sobre planta do estudo de ligação da Avenida 24 de
Julho à Praça do Comércio, década de 1960.

Na sequência de um incêndio na Sala do Risco, ocupada pelo Instituto Hidrográfico, ocorrido


a 18.02.1969, afigurou-se necessário estudar a distribuição do Ministério da Marinha nos
espaços existentes e, de forma mais completa, um arranjo urbanístico que englobasse o
conjunto entre a Ribeira das Naus e o Largo do Corpo Santo. O Instituto Hidrográfico

403
transitaria para Paço de Arcos, junto da Escola Náutica Infante D. Henrique. Nesta altura,
estava posta de parte a opção de construir os blocos dos ministérios a poente da ala ocidental,
tornando-se necessário definir o arranjo urbanístico da zona perante as pretensões do Ministério
da Marinha e da AGPL.
O CSOP alertou para os inconvenientes de concentrar serviços na zona da Ribeira das Naus, e
reforçou a importância de selecionar um arquiteto urbanista para o imprescindível plano
urbanístico, sugerindo os nomes de Rafael Botelho ou Brito e Cunha. Os problemas teriam de
ser considerados à luz do Plano Diretor aprovado para essa zona da cidade, e também dos
estudos atrás referidos dos arquitetos João Aguiar e Paulo Cunha, que, apesar de não terem
sido aprovados, providenciavam ideias1716. Nesta altura, a AGPL demonstrava intenções de
retomar o projeto para construção da sua sede, iniciado pelos arquitetos Carlos Ramos, João
Simões e Carlos Manuel Ramos na década de 1950. Acrescente-se que dada a elevada afluência
de peões e a concentração de tráfego automóvel, a CML instou pelo alargamento do arruamento
a sul da Praça do Comércio, junto do torreão oriental, julgando que também seria vantajoso
construir uma passagem de peões subterrânea1717.

Em reunião do Ministro das Obras Públicas com o Diretor-Geral da DGEMN1718, ficou


decidido que seria endereçado um convite para concretizar essas tarefas de arranjo urbanístico
e instalações da Marinha ao arquiteto Sebastião Formosinho Sanchez1719 (1922-2004).
O arquiteto coordenou uma equipa da firma CANON – Centro de Estudos e Projetos, Lda., da
qual era sócio-gerente, que elaborou o estudo urbanístico de integração das zonas adjacentes
da Praça do Comércio e o programa definitivo do Ministério da Marinha, acompanhados pela
DNISP e submetidos para apreciação em 1970. Durante a execução dos estudos, a DNISP
sugeriu que se incluíssem também as necessidades do Ministério do Exército na ala ocidental,
com instalações superlotadas e cuja ocupação do piso térreo não seria digno1720. Os estudos,
contendo secções concernindo a evolução urbana da cidade do ponto de vista histórico e a sua

1716
Francisco Anjos Diniz, Informação, 25.02.1969. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0199/01/01,
TXT.09226116-TXT.09226112.
1717
Ofício do Presidente da CML (Fernando de Santos e Castro) para o Ministro das Obras Públicas, 25.05.1970.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-1418/10, TXT.03415605-TXT.03415604
1718
Cópia de despacho do Ministro das Obras Públicas, 16.04.1969. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0199/01/01, TXT.09226124.
1719
No momento da encomenda lecionava na EBAL, onde se havia formado. Em Lisboa, destaca-se o conjunto
habitacional do Bairro das Estacas, em colaboração com o arquiteto Ruy Athouguia. Dedicou-se à construção
hospitalar, sobre a qual também teorizou, assinalando-se, por exemplo, o Hospital Termal das Caldas e Monchique
e o Centro de Reabilitação de Alcoitão. Cf. Pedreirinho, Dicionário dos Arquitetos [...], 271-272.
1720
Ofício de Francisco Anjos Diniz para Diretor-Geral da DGEMN, 08.04.1970. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0701/06, TXT.02915315.

404
ocupação durante o século XX, tiveram em conta o Plano Diretor de Lisboa, o Plano Regional
e o sistema de comunicações que servia a capital. Nesta altura, o Plano Geral de Urbanização
elaborado sob orientação do arquiteto Georges Meier-Heyne (1905-1984), datado de 1967,
ainda não se encontrava publicado, pelo que se depreende que os documentos de suporte seriam
o PDUL de 1959 (elaborado pelo Gabinete de Estudos de Urbanização da CML) e o Plano
Diretor da Região de Lisboa (1959-64). Em todo o caso, a equipa deparou com antagonismos
entre a CML e a AGPL quanto à ocupação das áreas portuárias e vias de ligação, que
dificultaram o planeamento de alguns aspetos, e que poderiam vir a impedir a execução prática
das propostas1721.
Quanto ao estudo urbanístico1722, dividiu as propostas por quatro núcleos geográficos: a área
entre o Cais do Sodré e a ala ocidental da praça do Comércio; Praça do Comércio e edifícios
anexos; zona ocupada pela Doca da Marinha e Campo das Cebolas; zona alta da Baixa.
Considerando que a capital se compunha de diversos núcleos, impunha-se requalificar a zona
da Baixa e Terreiro do Paço enquanto centro principal de uma cidade polinucleada, numa
posição cimeira enquanto polo ordenador das demais áreas, simultaneamente procurando
restabelecer o contacto urbano com o rio. A expansão da cidade para norte e a saída das zonas
residenciais da área da Baixa levara à perda dessa vocação centralizadora.
Como resolução do problema de tráfego e ordenação das comunicações, propunha-se um centro
subterrâneo de permutação de transportes no Cais do Sodré, para comutação dos passageiros
da ligação fluvial à margem sul do Tejo, dos caminhos-de-ferro da linha do Estoril (com
enterramento da linha até Algés), do metropolitano e dos transportes urbanos de superfície. A
partir deste centro idealizava-se uma macroestrutura arquitetónica, apenas vagamente
esboçada, que permitisse conexão com o Chiado. Em adição, sugeria-se a construção de um
túnel marginal entre o Campo das Cebolas e o Cais Sodré para desobstrução do trânsito, o
alargamento dos passeios marginais, e a construção de parques de estacionamento
subterrâneos. Recorde-se que as soluções de regulação de trânsito através de túneis e de
estacionamento subterrâneo não eram novidade, estando patentes, por exemplo, no PDUL de
1948.
Por forma a desimpedir o que se consideravam serem barreiras de fruição do Tejo, pretendia-
se eliminar progressivamente os serviços da administração pública da Praça do Comércio, por

1721
Ofício de Francisco Anjos Diniz para Diretor-Geral da DGEMN, 08.01.1970. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/01, TXT.02917039-TXT.02917045.
1722
Estudo de integração urbana das zonas adjacentes à Praça do Comércio. Programa de intervenção urbana:
relatório, outubro 1970. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0708/01, TXT.0291899-TXT.2920017.

405
não se considerarem como função específica do centro principal de uma cidade. Os edifícios
deviam ser utilizados para fins culturais, turísticos e comerciais, propondo-se a integração de
museus (de história da cidade e de arte moderna), estabelecimentos hoteleiros e armazéns
comerciais. A criação de percursos pedonais, abarcando as arcadas, propiciaria o uso dos pátios
da Galé e do Ministério das Finanças, e previa-se a reconstrução do pavimento da praça.
Também a estação Sul e Sueste deveria ser desafetada das funções de transporte e revitalizada
para fins culturais, com sala para exposições temporárias e centro de convívio.

No estudo relativo ao Ministério da Marinha1723, ponderou-se que não havia obrigatoriedade


de permanência junto ao rio ou na Praça do Comércio, considerando a proposta de progressiva
saída dos ministérios da zona. No entanto, sugeria-se que o ministério se instalasse num novo
edifício, de estética contemporânea e adequada à paisagem, na Doca da Marinha, entre a
Avenida Infante D. Henrique e o Campo das Cebolas. Este estudo baseara-se em pesquisa
aturada e demorada, analisando a progressão dos serviços ao longo da sua existência e
projetando os desenvolvimentos futuros quanto a necessidades de instalação e aumento de
funcionários. Porém, conforme seria apontado pelo Conselho Consultivo da DGEMN e pelo
CSOP, essa análise apenas se reportou de forma mais pormenorizada ao Estado Maior da
Armada, um dos organismos do Ministério da Marinha, e carecia de dados específicos sobre a
ocupação espacial interna e a localização concreta do edifício para o ministério, não
correspondendo ao total estipulado no contrato.

Os estudos foram apreciados pela Comissão de Revisão e pelo Conselho Consultivo da


DGEMN1724 antes de serem submetidos ao CSOP. Ressalvando que as condições do caderno
de encargos que servira de base ao contrato com o arquiteto Formosinho Sanchez não foram
integralmente ponderadas, os estudos foram, na sua generalidade, considerados como
competentes, pormenorizados e coerentemente fundamentados, sendo a informação de cariz
histórico uma mais-valia relevante para questões de preservação patrimonial1725. O Conselho
Consultivo reuniu quatro vezes1726, baseando-se no parecer emitido pela Comissão de

1723
Programa funcional do Ministério da Marinha: relatório, Outubro 1970. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-
005/125-0710/01, TXT.02920140-TXT.0290276.
1724
As atas das reuniões e os pareceres individuais dos vogais do Conselho Consultivo encontram-se em
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1354 e PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/02.
1725
Ofício do Diretor da DSMN para Diretor da DSC, 28.12.1970. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-
1354, TXT.00448070- TXT.00448069.
1726
A comissão era composta pelos seguintes membros: eng. José Pena Pereira da Silva (DGEMN), eng. Jaime
Pereira Gomes (DS Conservação/DGEMN), eng. José Mendes Barata (DS Construção/DGEMN), arq. Fernando
Peres Guimarães (DSMN/DGEMN), arq. Manuel Tainha (escolhido pelo MOP), esc. António Duarte (escolhido

406
Revisão1727. Apesar da divergência entre vogais em certos aspetos, a maioria concordou quanto
à necessidade de empreender estudos mais aprofundados, nomeadamente quanto ao túnel e ao
centro permutador de transportes1728, para o qual faltavam dados estatísticos e de estabilidade
dos terrenos. Também se notou a falta de esquemas gráficos. Não se julgou viável a edificação
da estrutura de ligação entre esse ponto e o Chiado, bem como se votou contra a construção de
um edifício para a Marinha na Doca da Marinha. De facto, as propostas da equipa de
Formosinho Sanchez iam contra as pretensões da AGPL de manter zonas portuárias a poente
da Ribeira das Naus. Também não se concordou com a eliminação das funções administrativas
da Praça do Comércio – embora quase todos os vogais acedessem à recuperação dos pisos
térreos para atividades de cariz comercial e cultural –, nem com a reconversão da Estação Sul
e Sueste em polo cultural.
Registe-se, ainda, a opinião emitida pelo arquiteto Manuel Tainha (1922-2012), vogal
escolhido pelo Ministro das Obras Públicas1729. Refletindo sobre a constante regeneração do
tecido urbano, salientou que o estudo procedia ao zonamento funcional da cidade, com
hierarquização impositiva a partir de um centro, o que poderia originar segregação, noção em
clara oposição à complexidade da vida urbana que Formosinho Sanchez também defendera na
introdução da proposta. Duvidava, igualmente, que a simples desobstrução da ligação ao Tejo
e a reconversão da Praça do Comércio como espaço comercial alterasse hábitos que há décadas
se vinham enraizando na população.

Entretanto, houve um imbróglio entre a DGEMN e o Formosinho Sanchez, que planeou sessões
de trabalho para apresentação dos estudos de integração urbana das zonas adjacentes à praça
do Comércio aos seus alunos do curso de Arquitetura da ESBAL1730. Uma notícia publicada
no Diário de Lisboa1731 originou a celeuma, por indicar que se planeavam sessões de
apresentação desses projetos – propriedade do Estado e ainda em fase de apreciação e, portanto,

pelo MOP), eng. Alfredo Fernandes (DGSU/DGEMN), dr. João Manuel Bairrão Oleiro (JNE), arq. Raul Chorão
Ramalho (SNA), dr. João Strecht Ribeiro (SEIT).
1727
Comissão de Revisão da DGEMN, Parecer sobre o “Estudo urbanístico de integração das zonas adjacentes à
Praça do Comércio” e “Programa definitivo do Ministério da Marinha, s.d. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-
001/011-1354, TXT.00448107-TXT.00448127.
1728
O escultor António Duarte foi veemente contra esta ideia, sugerindo como alternativas, por exemplo, a criação
de um transporte elétrico entre Lisboa e Almada, que circulasse abaixo da superfície das águas do Tejo. António
Duarte, Parecer, s.d.. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/02, TXT.02917291.
1729
Manuel Tainha, Parecer, 18.07.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/02, TXT.02917295-
TXT.02917302.
1730
Ofício de Formosinho Sanchez para Diretor dos Serviços de Conservação da DGEMN, 13.01.1971.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-0199/01/01, TXT.09226323-TXT.09226324.
1731
Anónimo, “Zonas adjacentes ao Terreiro do Paço: foi suspensa a exposição urbana marcada para a E.S.B.A.”,
Diário de Lisboa, n.º 17624, 14.01.1971, p. 8.

407
de teor confidencial –, embora Formosinho Sanchez negasse ter tido qualquer contacto com a
imprensa. O arquiteto demonstrou-se incomodado com a reprimenda da DGEMN, por
considerar ser apanágio de um professor universitário a partilha de trabalhos que julgue
deterem interesse pedagógico e formativo. Já aquando da entrega dos estudos à DGEMN,
previamente à apreciação superior, terá manifestado intenções de divulgação, que a DSC
insistiu não ser realizada1732. Ao ter conhecimento da notícia no jornal, essa direção contactou
o arquiteto, visto ter informação de que também teriam sido convidadas personalidades
externas ao meio académico para assistir às sessões. O Ministro das Obras Públicas concordou
com a DGEMN, afirmando ser necessário consentimento expresso do ministério para a
divulgação do trabalho ainda em fase de avaliação1733.

O parecer do CSOP data de final de 19721734, uma vez que se julgou necessário aguardar pela
discussão do Plano Diretor de Lisboa, cujos relatores eram Costa Lobo (substituído por Paulo
Cunha) e Vaz Martins. Com considerações que, em grande parte, se coadunavam com as
emanadas pelo Conselho Consultivo da DGEMN, e apontando em diversos aspetos a
pertinência de estudos técnicos e económicos mais profundos para justificação da viabilidade
das soluções apresentadas, assinale-se que o CSOP também considerou a administração pública
como uma função característica das zonas centrais das cidades, embora concordasse com os
autores dos estudos quanto à necessidade de reordenar a atividade bancária no tecido urbano e
de revitalizar a Praça do Comércio – noutros moldes, focando-se na oferta de produtos
nacionais especializados e no fomento do turismo nos pisos térreos –, reduzida ultimamente a
“um nó rodoviário e um estacionamento de automóveis!”1735. Quanto aos órgãos ministeriais,
apenas os gabinetes principais e as secretarias gerais deveriam manter-se na zona, com
programação lógica para reinstalação dos seus serviços técnicos e burocráticos. O CSOP
indicou que nessa altura estava a ser elaborado, na DGEMN, o plano das instalações dos
Serviços Públicos em Lisboa. Sabe-se que, em 1973, com o intuito de averiguar as instalações
dos serviços públicos, em muitos casos funcionando em andares ou edifícios alugados pelo
Estado a particulares, provocando dificuldades diversas, o Ministro das Obras Públicas
ordenou que a DGEMN mandasse elaborar um inquérito sobre o assunto, incluindo os órgãos

1732
Ofício do Diretor dos Serviços de Conservação para o Diretor-Geral da DGEMN, 19.01.1971. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DNISP-001-0199/01/01, TXT.09226329-TXT.09226331.
1733
Cópia de despacho do Ministro das Obras Públicas de 27.01.1971. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DNISP-001-
0199/01/01, TXT.09226334.
1734
CSOP / Carlos Guilherme Craveiro Lopes Couvreur, Parecer n.º 3810, 21.11.1972. BAHE: Fundo CSOP,
P3810.
1735
Ibid. p. 233. BAHE: Fundo CSOP, P3810.

408
administrativos centrais na análise1736. O CSOP considerou que, encarando as observações
apontadas, os estudos estavam aptos a servir de base ao seu desenvolvimento, concordando o
Ministro das Obras Públicas com as opiniões formuladas pelo conselho1737.
Já após a revolução de abril, o Ministério das Obras Públicas designou a empresa Profabril para
dar continuidade ao estudo das instalações do Ministério da Marinha1738, mas as alterações na
organização dos serviços ditaram que o desenvolvimento de estudos não fosse entendido como
oportuno1739.

3.16. Transformações na praça na sequência imediata do 25 de abril de 1974

Poucos meses após o 25 de abril, surgiram notícias nos jornais acerca do perigo que a Praça do
Comércio – um dos palcos desse evento decisivo para a democratização1740 – corria. No
Expresso, recordando a inclusão no PDUL da proposta de Formosinho Sanches de inserção de
túneis para atravessamento automóvel, expôs-se o travamento da ideia de construir um túnel
subterrâneo para passagem de peões na parte sul da ala oriental, que implicaria modificação da
praça pela introdução de três faixas de rodagem na direção do rio, o que terá recebido aval
negativo da DGEMN1741. O Diário de Notícias deu voz a Formosinho Sanchez, que aludiu aos
planos do centro de comutação subterrâneo para transportes que apresentara, perante os
projetos de expansão da rede do metropolitano até à estação do Cais do Sodré1742. O problema
dos automóveis na praça continuou com a adaptação, pela CML, da placa central a parque de
estacionamento, sem concordância da DGEMN ou consulta prévia do Ministério da Educação
e Cultura1743. Decisão lamentada por figuras como o Subsecretário de Estado do Ambiente,
Gonçalo Ribeiro Telles, escusando-se a câmara com a justificação de que o parque fora

1736
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN (José Pena Pereira da Silva) para Secretário-Geral do Ministério das
Finanças, [1973]. ACMF: Fundo SGMF, 462/13.
1737
Ofício do Ministro das Obras Públicas para CSOP, 27.10.1973. BAHE: Fundo CSOP, P3810.
1738
Direção dos Serviços de Construção, Ministério da Marinha – Remodelação das Instalações, 02.08.1974.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSC-0054/05, TXT.08769884-TXT.08769885.
1739
Despacho do Secretário de Estado das Obras Públicas, 24.02.1975. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSC-0054/05,
TXT.08769880-TXT.08769881.
1740
Rosas, Lisboa Revolucionária, 1908-1975, 101-106, 122.
1741
“Terreiro do Paço em perigo”, Expresso, 27.07.1974 [recorte]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSC-0054/05,
TXT.08769872.
1742
“Conhece a empresa do Metropolitano um estudo já feito para o aproveitamento da Ribeira das Naus?”, Diário
de Notícias, 31.07.1974 [recorte]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSC-0054/05, TXT.08769872.
1743
Ofício do Diretor da DSMN (Fernando Peres Guimarães) para Diretor-Geral da DGEMN, 09.06.1975.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143, TXT.01440556- TXT.01440555.

409
estabelecido sob orientação do Secretário de Estado das Comunicações1744. A DGEMN
considerou que as sucessivas intervenções em torno do estacionamento, envolvendo colocação
de cancelas, vedações, grades e construções para controle do parque, em tudo desvalorizavam
a praça1745. Apesar de sucessivas discussões e da contemplação de construir um parque de
estacionamento subterrâneo no local1746, teria de se esperar até 1996 para ser eliminado, de
forma definitiva, o estacionamento automóvel da placa.

Outro aspeto que gerou discórdia neste período respeita a coloração das fachadas. As fachadas
necessitavam de reparação, sobretudo devido à deterioração dos rebocos, implicando que se
refletisse sobre a cor a aplicar, visto que o tom verde já não era considerado adequado pela
DGEMN. Para além de tornar a praça fria, o verde não contrastava com o rio nem com a estátua
de D. José, que ganhara patina e não mais se destacava1747. Realizaram-se ensaios aplicando as
cores ocre e rosa, ambas observadas em gravuras antigas. Apesar de a DGEMN reconhecer a
necessidade de realizar um estudo amplo que integrasse as zonas envolventes quanto à cromia
a aplicar nas fachadas, a urgência de resolução impediu que se fizesse tal análise,
circunscrevendo-se o assunto aos edifícios em torno da Praça do Comércio. Os vogais da 4.ª
subsecção da 2.ª secção da JNE1748 chegaram a consenso através de votação, selecionando o
tom rosa-tijolo. Na realidade, enquanto alguns vogais preferiam o ocre e outros o rosa, outros
houve que julgaram que a austeridade da praça obrigava a tons diluídos como “o branco sujo,
ou ligeiramente esverdeado, o tijolo muito claro, ou o cinzento dourado”1749. Refira-se que já
em meados da década de 1960, aquando da intervenção de Vasco Regaleira sobre as telhas e
as tonalidades das fachadas, a Direção de Edifícios de Lisboa fora incumbida de beneficiar as
fachadas da Rua do Arsenal – as que se encontravam em pior estado desde a intervenção de
19491750 –, estipulando-se então que a cor verde não se adequava nem valorizava a praça, e

1744
Ofício do Vice-Presidente da CML para Diretor-Geral da DGEMN, 31.12.1974. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143, TXT.01440562.
1745
Ofício do Diretor da DSMN (Fernando Peres Guimarães) para Diretor-Geral da DGEMN, 20.02.1976.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143, TXT.01440583.
1746
Correspondência diversa, 1974-1983. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3320/01; PT/DGEMN/DREL-
3324/02; PT/DGEMN/DREL-3325/03; PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037.
1747
Ofício do Diretor-Geral da DGEMN para o Diretor-Geral do Património Cultural, 03.05.1976. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037, TXT.01435350-TXT.01435349.
1748
Manteve-se, após a revolução, a legislação sobre o património, que obrigava o Ministério da Educação e
Investigação Científica a pronunciar-se após ouvir a JNE sobre imóveis classificados.
1749
Parecer da 4.ª subsecção da 2.ª secção da JNE, s.d. [maio? 1976]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-
1354, TXT.00448188- TXT.00448187.
1750
Repartição Técnica da DSMN, Memória: Praça do Comércio – Limpeza de fachadas, 24.03.1962.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/018, TXT.01434464-TXT.01434463.

410
indicando que uma futura pintura seria em tom rosa velho1751. Também a Comissão Consultiva
Municipal de Arte e Arqueologia (CCMAA) emitiu um parecer sobre o assunto, preferindo a
aplicação de um tom neutro dada a escala monumental da praça, conforme ao do lado nascente,
semelhante à tonalidade da cantaria dos torreões1752.
O historiador e crítico de arte José-Augusto França, que defendera recentemente a tese de
doutoramento em Paris acerca da reconstrução pombalina, publicou no Diário de Lisboa a sua
opinião sobre a cor das fachadas dos edifícios da Praça do Comércio1753. Opondo-se à escolha,
advogava o ocre como cor original aplicada à praça, e criticou as decisões que, sem consulta
de especialistas, desrespeitavam a identidade histórica e atentavam contra a preservação do
património nacional. Em resposta, o arquiteto Fernando Peres Guimarães, da DSMN, fez
alguns esclarecimentos acerca do processo de seleção, acima elucidado1754. Corrigiu também
o historiador de arte sobre a apontada (e depreciada) consulta da população, que na realidade
não ocorrera devido à conjuntura do país, por forma a não exacerbar antagonismos político-
sociais. Peres Guimarães aproveitou, ainda, para criticar a pulverização dos serviços, bem
como a falta de estrutura e indefinição geral da política cultural. Na sequência, foi estabelecido
um grupo de trabalho para reflexão sobre as tonalidades das fachadas dos edifícios adjacentes
à praça, incluindo membros da JNE, DGEMN e CCMAA, do qual resultou um detalhado
relatório com propostas1755. A tonalidade das fachadas na praça retornaria ao amarelo a partir
de 1994.

A valorização patrimonial da Baixa pombalina foi decretada através da sua classificação, em


1978, como Imóvel de Interesse Público1756 – considerando que a categoria de conjunto apenas
seria instituída legalmente em 1985 –, somando-se à classificação isolada que a Praça do
Comércio detinha desde 1910.
Nesta altura, a DGEMN foi incumbida, após decisão do Conselho de Ministros, de se
pronunciar sobre o aproveitamento dos edifícios classificados do Terreiro do Paço e a

1751
Ofício do Diretor da DEL para o Diretor da DS Conservação, 06.01.1965. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-4716/03, TXT.05434084-TXT.05434083.
1752
Ofício do Presidente da CML para Diretor-Geral da DGEMN, 20.05.1976. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037, TXT.01435355.
1753
José-Augusto França, “A Praça do Comércio em rosa velho”, Diário de Lisboa, n.º 19107, 20.07.1976, p. 3.
1754
Nota de Fernando Peres Guimarães, s.d. [julho 1976]. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSID-001/011-1354,
TXT.00448191-TXT.00448195.
1755
Chagas, Cor e Conservação, 102-104.
1756
Decreto-Lei n.º 95/78 – após uma primeira proposta de classificação de 1966. Em 2012, esta classificação foi
alterada para Conjunto de Interesse Público, com ampliação da área compreendida na proteção (Portaria 740-
DV/2012).

411
revalorização da Baixa, seguindo critérios superiormente estabelecidos1757. Importava diminuir
a carga urbana sobre a área e dignificá-la consoante o seu valor “de sedimento histórico e de
cultura de valor universal”, tendo em conta a relação com o Tejo e os princípios arquitetónicos
dos projetos setecentistas. Tal implicava descongestionamento e redistribuição dos transportes
de acesso, respeitar o conjunto arquitetónico e o seu programa decorativo nas intervenções de
restauro através do uso de materiais adequados, bem como estudar a melhor forma de manter
nos edifícios pastas ministeriais que justificassem a sua presença histórica no local, como
Fazenda, Justiça ou Obras Públicas, entre outras.
O Secretário de Estado das Obras Públicas concordava com a manutenção da Marinha na área
e com a reserva dos edifícios para gabinetes de nível ministerial e órgãos superiores
representativos, sendo imperioso selecionar quais deveriam permanecer e estudar os respetivos
programas, atendendo aos valores de interesse público, histórico e cultural que pautavam o
conjunto1758. Assim, considerando ser prejudicial a proliferação de serviços na área, bem como
de terminais de transportes diversos (que importava transferir para outras zonas), tornava-se
inoperante o programa elaborado pela Profabril para a DGEMN. Elencaram-se como
ministérios com tradição, e, portanto, aptos a permanecer, as pastas da Marinha, Fazenda e
Obras Públicas, prevendo-se restauros internos e externos e a inclusão de uma “Câmara das
Comunidades espalhadas pelo mundo”1759, cujo impacto seria ocasional. Estas ideias
coadunavam-se com uma agenda almejando uma descentralização administrativa
autonomizante. Adicionalmente, propuseram-se várias hipóteses para melhoria dos acessos e
transportes públicos na zona. Outros aspetos aflorados reportam-se à necessidade de completar
os torreões com cúpulas, à ausência de esculturas nos nichos, às propostas de integrar a fragata
D. Fernando na antiga doca seca, e à constatação de que o tom rosa velho nas fachadas reduzia
as proporções da praça, embora o ocre e o branco se considerassem excessivamente luminosos
durante o verão. Apesar da manutenção do Governo na praça, a vida da cidade mudara:

“Por fora as fachadas do Terreiro do Paço ainda são apalaçadas mas por dentro a
burocracia substitui a vida. O marulhar da Ribeira já se não ouve porque a população
empurrada para as Avenidas Novas, abandonou o mar, e, a Sé, onde o Bispo
ocasionalmente vai, está vazia no meio do casario do povo entre o Terreiro do Paço e a
Ruína do Castelo, que guardava a cidade.”1760.

1757
Informação do Gabinete do Secretário de Estado das Obras Públicas, 02.01.1978. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037, TXT.01435453-TXT.01435452.
1758
Informação do Gabinete do Secretário de Estado das Obras Públicas, 08.09.1978. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/REE-0062/04, TXT.07370916-TXT.07370928.
1759
Ibid., p. 4. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0062/04, TXT.07370925.
1760
Ibid., p. 10. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/REE-0062/04, TXT.07370919.

412
Aproximando-se de planos que ganham fôlego no final da década de 1980, refira-se que, já em
1971, se preconizara a saída dos ministérios da praça para substituição por “actividades de
carácter comercial, cultural e de recreio”1761.

3.17. Algumas considerações

O regime do Estado Novo recorreu ao simbolismo histórico e arquitetónico da Praça do


Comércio para afirmar e encenar o seu poder político. Servindo-se da praça como espaço de
excelência para concentrações do mais variado tipo – de manifestações de apoio a Salazar, que
aí discursou por diversas vezes, à receção de ilustres visitantes, também manteve as sedes
ministeriais nos edifícios, firmando a presença física do Governo na cidade. Embora nos anos
de afirmação se tivesse impulsionado a construção de um conjunto de equipamentos públicos
de feição moderna na capital, arrasar o complexo pombalino nunca foi uma opção, um pouco
à semelhança do que sucedeu com o Palácio de São Bento. Ao prestígio da tradição, sublinhado
pela classificação da praça como Monumento Nacional, acresceu o fator económico como
justificação. Noutros regimes autoritários contemporâneos, a reutilização de edifícios já
anteriormente usados por ministérios foi igualmente uma realidade. O caso paradigmático do
ímpeto demolidor de Hitler, manifestado, por exemplo, na construção do colossal Ministério
da Aviação do Reich, poderá induzir em erro: de facto, também em Berlim se aproveitou um
conjunto de edifícios preexistentes para funcionamento dos ministérios – incluindo a prática
de acrescento de novos corpos adjacentes –, sobretudo localizados na Wilhelmstraße, eleita no
século XIX como centro do governo prussiano1762. A coexistência de construções de raiz com
edifícios restaurados verificou-se no âmbito dos equipamentos públicos noutros países sob
distintos regimes políticos, distinguindo-se o caso português de outras ditaduras coevas pelo
prolongamento no tempo, apenas realizando os seus planos após o término da II Guerra
Mundial.

A concentração dos ministérios num local delimitado compreendia intenções de controlo – à


imagem das noções de centralização advogadas por Salazar – e de organização e

1761
Ofício do chefe da Divisão de Estudos e Projetos da DSC para o Diretor da DSC, 01.11.1971, p. 3.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-3304/02, TXT.04595025.
1762
Laurenz Demps, Berlin-Wilhemstraße. Eine Topographie preußisch-deutscher Macht (Berlim: Ch. Links
Verlag, 1994).

413
funcionamento eficiente dos serviços públicos, ideias que eram transversais a regimes como o
liderado por Getúlio Vargas, transparecendo nos novos edifícios para os ministérios no Rio de
Janeiro construídos na década de 1930 e inícios da seguinte1763. Porém, em Lisboa, desde início
que tal desígnio esteve condenado ao malogro, visto que duas pastas – Negócios Estrangeiros
e Educação Nacional – funcionavam fora da praça e não mais haveria propósito de integrá-las
nesse centro administrativo. Por outro lado, os edifícios na praça eram insuficientes para dar
resposta às necessidades dos serviços ministeriais, em constante evolução, mantendo-se ao
longo do tempo a prática, depreciada, de arrendamento de prédios espalhados pela cidade.
Apesar da posição oficial de manter a Praça do Comércio como centro representativo do poder
político, emergiram sugestões para vitalizá-la através de atividades comerciais e turísticas,
culminando em propostas de transferência do Governo para outra área da cidade.

A manutenção dos edifícios pombalinos, para além da ancestralidade, do caráter magnificente


e do peso patrimonial, envolvia, também, uma identificação com o seu contexto de origem,
concretamente com a noção de reconstrução, que se poderia ligar à ideologia de renascimento
nacional estado-novista, e com os valores de simplicidade e dignidade transmitidos pela
arquitetura. Porém, as intenções de planeamento urbano e de remodelação de edifícios
históricos, extravasando pontuais intervenções de conservação, apenas teriam materialização
num momento de necessária reafirmação do regime após 1945, com a criação de uma delegação
de obras específica no seio de um ministério recentemente individualizado. Passara o afã do
restauro de monumentos sobretudo medievais, associado às comemorações centenárias de
1940, todavia a atividade da DGEMN continuou a passar pela conservação e adaptação de
património edificado. Embora fosse concretizado o projeto do Ministério das Finanças, que,
para o ministro Duarte Pacheco, nos anos 30, importava dotar de instalações condignas
considerando o alto detentor da pasta, verificou-se que a maioria dos edifícios foi adaptado de
forma a preservar os ambientes setecentistas. Intervenções que poderiam integrar modificações
fisionómicas, como o acrescento de um piso, foram encaradas com repúdio pela opinião
pública. A circunscrição de modificações ao estritamente necessário coadunava-se com as
linhas de ação valorizando contenção e respeito que a DGEMN passou a empregar no período
em torno da publicação da Carta de Veneza. Acrescente-se que, em termos simbólicos, o facto
de não se executarem remodelações audaciosas que descaracterizassem os interiores se adequa

Daryle Williams, “Civicscape and Memoryscape: The First Vargas Regime and Rio de Janeiro”, in Vargas
1763

and Brazil: New Perspectives, ed. Jens R. Hentschke (Hampshire: Palgrave Macmillan, 2006), 55-82.

414
à postura de Salazar face aos seus subalternizados ministros, supervisionando constantemente
a sua ação. Apesar da tentativa de organizar o espaço interno de forma a espelhar a hierarquia
orgânica dos serviços ministeriais, com localização dos gabinetes das altas figuras nas zonas
nobres e criação de circulações específicas, as preexistências condicionaram a distribuição, e,
à exceção do caso do Ministério das Finanças, não se constatam acessos aparatosamente
encenados de modo a demonstrar a inacessibilidade dos ministros, como sucedeu no caso
alemão.
A presença de Salazar na praça foi permanecendo uma constante – os retratos obrigatórios nos
serviços foram apenas uma das formas dessa omnipresença. Em adição aos discursos proferidos
e à aparição nas varandas, e à participação no Conselho de Ministros (que nem sempre decorreu
no Ministério do Interior, também se realizando na Presidência da República ou no Palácio de
São Bento, por exemplo), recorde-se que Salazar, para além da pasta das Finanças (1928-40),
ocupou outras pastas a nível interino1764. Não obstante, os seus gabinetes de trabalho
localizavam-se em São Bento – no palácio e na residência. Se excetuarmos o projeto para um
novo edifício para o Ministério das Finanças encomendado logo na década de 1930 e o caso
do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que não examinámos, não se constatou que a direção
de determinadas pastas por parte de Salazar tivesse implicado planos de remodelação para os
edifícios que ocupavam. Com a implementação da DNISP, os estudos foram priorizados
consoante as necessidades, e verificou-se que a criação de novos ministérios nesse período
levou ao planeamento de novas instalações.

Um conjunto de planos para remodelação urbana da zona, particularmente no que concerne à


ligação entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, não foi materializado ao longo do período
em análise, e evidencia as dificuldades de coordenação das diferentes instituições dos poderes
central e local envolvidas. Os planos delineados pela DNISP de construção de novos edifícios
que viriam a alterar consideravelmente a zona ficaram, igualmente, sem concretização –
estudos como os de Cristino da Silva e António Lino para os monumentais blocos dos
Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações não passariam de “projectos-
cadáveres”1765. Nuno Portas, autor desta expressão, apontou que a década de 1940 assistiu à
consolidação do centralismo administrativo e ao desaparecimento de cena de figuras centrais
como Duarte Pacheco, substituído por funcionários que, apesar de intervirem “nos rumos da

1764
Colónias (1930), Negócios Estrangeiros (1936-47), Guerra/Exército (1936-44), Defesa Nacional (1961-62).
Nuno Portas, “Arquitectura e Urbanística na Década de 40” [1982], in Arquitectura(s). História e Crítica,
1765

Ensino e Profissão (Porto: FAUP Publicações, 2005), 293.

415
arquitetura e do urbanismo”1766, se viram vergados à burocracia e a orçamentos restritos. Não
obstante, verificámos que o empenho de ministros como Ulrich e Arantes e Oliveira permitiu
levar a cabo um conjunto de remodelações arquitetónicas e de arranjo urbanístico na Praça do
Comércio. Os atrasos na concretização prenderam-se, em grande parte, com a demora na
desocupação das instalações, bem como com os empreiteiros e alegadas faltas de materiais.
Outro fator a assinalar respeita ao alargamento de competências da DNISP, também
responsável pela construção de novos edifícios públicos de envergadura considerável na
capital. No cômputo geral, as dotações da DGEMN eram mais expressivas no que compete à
construção do que à conservação, apesar das referências nos relatórios do MOP relativamente
à importância da atividade de conservação do património nacional. A criação de novas pastas,
como a das Corporações e Previdência Social em 1950, acarretou exigências que impediam o
funcionamento nas instalações disponíveis, levando à procura de soluções noutras zonas da
cidade, sem supervisão da DNISP, quando as propostas para adaptação na praça não foram
atendidas. Quanto à não concretização de projetos na década de 1960 na Praça do Comércio,
em adição à morfologia dos terrenos e a questões técnicas, importa não perder de vista a
canalização de verbas e de esforços para a guerra colonial, que contribuiria para conferir um
caráter sombrio `Praça do Comércio pela proximidade dos pontos de embarque para os
territórios africanos, e que a manifestação de apoio à política ultramarina na praça em 1963
não logrou inverter. Apesar de resistências, a saída dos serviços centrais de determinados
ministérios revelou-se, porém, inevitável.

Se foi possível corroborar o papel dos ministros das Obras Públicas na seleção de arquitetos e
de artistas plásticos, e dos vogais de organismos consultivos no delineamento das adaptações
– com notória sobreposição de funções, como no caso de Raul Lino, simultaneamente
laborando para a DNISP e emitindo pareceres a cargo da JNE –, também se constatou o peso e
a intercessão dos ministros das respetivas pastas na definição estética dos interiores, com
prevalência de gostos pessoais e de imposições de ordem económica. Nos gabinetes
ministeriais, predominou a escolha de decoração de cariz historicista, alegando a sua
capacidade de criar ambientes solenes e adequados ao caráter representativo, conjugados com
quadros de pendor naturalista provenientes das coleções museológicas nacionais ou peças
decorativas como porcelanas e tapeçarias antigas adquiridas a particulares. Não deixa de ser
notória a proximidade deste ecletismo com o programa de interiores aplicado na nova

1766
Ibid., 297.

416
Reichskanzlei hitleriana, congregando mobiliário de estilo e tapeçarias parietais setecentistas
retiradas da Kunstkammer vienense1767. Aliás, constatámos que, apesar de se fomentar a
colaboração de artistas coevos, em parte se seguiu uma linha semelhante na decoração de
interiores do Palácio de São Bento e, particularmente, na residência do Presidente do Conselho.
Para os serviços ministeriais, aplicou-se a máxima do funcionalismo e da eficiência com
mobiliário correspondente, adaptada à hierarquia da estrutura orgânica e às tarefas dos
funcionários, com aproveitamento máximo de espaços. Esta ideia ficou patente num relatório
da CAM, no qual se defende que num serviço público “deve respirar-se e sentir-se a austeridade
que ali se guarda e o respeito e a disciplina que a todos se impõe”1768.
De facto, a integração de obras de arte propositadamente encomendadas a artistas que
habitualmente colaboravam na decoração de equipamentos públicos cingiu-se, na praça, aos
projetos de Pardal Monteiro para as Finanças e o Interior. Sem surpresas, os temas históricos e
as alegorias predominaram. Embora fossem edifícios públicos, a circulação em determinadas
áreas restringia-se aos funcionários, pelo que os programas decorativos, mais do que assumir
um cunho propagandístico de educação popular, se prestavam à doutrinação do funcionalismo
público, espelhando os valores ideológicos e a estrutura administrativa hierárquica do regime.
Ademais, as pretensões de instalação dos ministérios na Praça do Comércio ditaram a evolução
do planeamento, com um conjunto de projetos sem execução, como sucedeu com os casos da
Marinha e das Corporações e Previdência Social, cujo novo edifício inaugurou, a par do novo
edifício para o Ultramar, a saída dos serviços centrais dos ministérios da frente ribeirinha e se
revelou, também, sintomático da predileção estética e iconográfica oficial.

1767
Benedikt Douglas, Die Geschichte der Präsentation der Kunstkammer im Kunsthistorischen Museum von
1891 bis 2013 (Dissertação de Mestrado, Universität Wien, 2013), 68-70.
1768
Cit. in João Paulo Martins, “Móveis Modernos. A atividade da Comissão para Aquisição de Mobiliário no
âmbito da Direção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais de Portugal, 1940-1980”, in Móveis Modernos –
Mobiliário para Edifícios Públicos em Portugal 1934-1974 (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2014), 14.

417
418
Capítulo III
O património do poder: a permanência hodierna
das obras públicas estado-novistas

“While power shifts and spreads, the physical constructs and spatial practices
left behind by previous regimes remain as more permanent marks on the
landscape. These spatial wounds are not neutral. They were made using
strategies to embody particular attitudes, cultural practices and ideologies.
They are specifically designed to support and encourage these practices.
Rearranging or erasing these spaces to reflect a new set of ideas, constituents
and power relations is a long-term endeavor necessary to complete any
political, cultural, and social transformation.”1769

“Um elemento inerte e aparentemente insignificante para a cultura presente


só se conserva na medida em que ele continua ligado, directa ou
indirectamente, a homens desaparecidos que, de certa forma, nos apresentam
sempre o espelho do nosso próprio destino.”1770

1769
Findley, Building Change, 5.
1770
Marc Guillaume, A Política do Património (Porto: Campo das Letras, 2003), 90.

419
420
1. Atitudes internacionais perante o legado material do passado ditatorial

A queda de regimes autoritários na Europa, sucedendo em diferentes conjunturas, envolveu


manifestações de rutura e adoção de estratégias para lidar com as transformações e com o peso
do passado imediato. Momentos carregados de tensão levaram a reações como o derrube de
estátuas e a eliminação de símbolos relacionados com os regimes antecedentes e os seus
ditadores, acompanhados de atos de criminalização de perpetradores, em contextos que
implicavam reconstruções aos níveis material e moral. A vontade de cisão não impediu, nos
anos que se seguiram, o desenvolvimento de posições de silenciamento e de negação do
passado, de vitimização e de revisionismo histórico – a mudança política não implica
necessariamente um rápido confronto com o passado –, culminando, volvidas décadas de
processamento, em atos expiatórios como a assunção de culpa e de arrependimento coletivo,
homenagens a vítimas ou reparações económicas e simbólicas1771.
Um estudo sobre a memória do nazismo e da II Guerra Mundial até ao presente, considerando
sete países – Áustria, França, Alemanha, Itália, Polónia, Suíça e Rússia – numa perspetiva
comparada, identificou algumas estratégias adotadas, nomeadamente o entendimento do
período autoritário como exceção anómala na trajetória da nação, reprimindo-o sem
questionamento por forma a atenuar conflitos internos, e a ênfase nos atos de resistência,
elevando-os à categoria de esforço nacional, para diminuir o peso do colaboracionismo1772.
Nesta análise, os autores detetaram, em alguns países, o papel das gerações que se sucederam
no desafio das políticas de memória institucionalizadas pelos sobreviventes, concretamente no
período entre finais da década de 1960 e meados da de 1980, ao passo que noutros, como Itália
ou Polónia, as sociedades foram marcadas por um discurso de continuidade histórica
ininterrupta, com persistência de paradigmas e reapropriação de narrativas prévias, o que
retardou a indagação e se prestou a revisionismo. A interrogação do passado e o seu eco na
opinião pública expressou-se de formas diversas, do debate entre académicos amplificado na
imprensa às séries documentais televisivas, peças de teatro e exposições.
Não obstante, a gestão do processo de transição para regimes democráticos nem sempre
implicou reações como purgas políticas ou reflexões de iniciativa estatal. Cite-se o caso
espanhol, onde, após a morte de Franco, a justiça de transição esteve ausente devido a uma

1771
Elizabeth Jelin, “Memoria y democracia. Una relación incierta”, Revista Mexicana de Ciências Políticas y
Sociales 221 (2014): 225-242.
1772
Richard Ned Lebow, Wulf Kantsteiner, Claudio Fogu, The Politics of Memory in Postwar Europe,
(Durham/Londres: Duke University Press, 2006).

421
rutura envolvendo um pacto de esquecimento: para além de não ter sido implementada uma
política de remoção de símbolos franquistas, a lei de amnistia de 1977, num espírito
reconciliador, implementou o perdão de crimes políticos e de figuras ligadas ao regime sem
questionamento, levando ao silenciamento de memórias de teor repressivo1773. A ausência de
discussão pública perdurou até à década de 1990, levando à promulgação das leis de memória
histórica (2007) e de memória democrática (2020). Na última década, a ascensão de partidos
de populistas de extrema-direita na Europa tem acarretado discursos de normalização e de
desvalorização do peso dos passados ditatoriais, o que também se tem verificado em Espanha
e Portugal, embora a distinta natureza da transição para a democracia se tenha refletido de
forma diferente no que respeita às políticas de memória1774.

A forma como atualmente se encaram os vestígios materiais dos regimes autoritários europeus
emergentes no período entre-guerras, concretamente os edifícios que construíram ou
adaptaram, deriva do modo como este legado tem sido considerado desde o momento da
alteração política. Ao contrário do que as atitudes iconoclastas de expurgo, que despontaram
muitas vezes como reações espontâneas de euforia popular, poderiam fazer prever – desde
assaltos a locais identificados com o governo deposto, à remoção danosa de símbolos e de
retratos1775 e à reformulação de toponímia –, e embora a demolição fosse um assunto debatido
no âmbito de locais carecendo de reconstrução, constrangimentos financeiros e políticos nos
períodos que se seguiram levaram à reutilização de imóveis, incluindo os de maior conotação
ideológica. O uso continuado, sustentado por questões de ordem prática, não se cingiu a
habitações, abarcando também marcos do poder destituído, como sedes do partido, ministérios,
tribunais, estádios, aeroportos, tribunais ou estâncias balneares1776 – inclusive implicando, por

1773
Andrea Hepworth, “From suvivor to fourth-generation memory: liteal and discursive sites of memory in post-
dictatorship Germany and Spain”, Journal of Contemporary History 54, 1 (2019): 153-154; Alfredo González-
Ruibal, “Topography of terror or cultural heritage? The monuments of Franco’s Spain”, in Europe’s Deadly
Century. Perspectives on 20th century conflict heritage, ed. Neil Forbes et al. (Swindon: English Heritage, 2009).
1774
Luca Manucci, “The shadow of the authoritarian past in the Iberian Peninsula: failures and success of radical
right populist parties”, Relações Internacionais Special Issue (2020): 45-59.
1775
Sobre este assunto, ver, p. ex., Dario Gamboni, The Destruction of Art. Iconoclasm and Vandalism since the
French Revolution (Londres: Reaktion Books, 2012), 51-90.
1776
Cite-se, p. ex.: Gavriel D. Rosenfeld, Munich and Memory. Architecture, Monuments, and the Legacy of the
Third Reich (Berkeley/Los Angeles: University of California Press, 2000); Sharon Macdonald, Difficult Heritage.
Negotiating the Nazi past in Nuremberg and beyond (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2009); Matthew Philpotts,
“The ruins of dictatorship: Prora and other spaces”, Central Europe 12, 1 (2014): 47-61; Joshua Arthurs, “’Voleva
essere Cesare, morì Vespasiano’: the Afterlives of Mussolini’s Rome”, Civiltà Romana. Rivista pluridisciplinare
di studi su Roma antica e le sue interpretazioni 1 (2014): 283-302; Hannah Malone, “Legacies of Fascism:
architecture, heritage and memory in contemporary Italy”, Modern Italy 4, 22 (2017): 445-470; Julie Deschepper,
“’Soviet heritage’ from the USSR to Putin’s Russia”, Vingtième Siècle. Revue d’Histoire 137, 1 (2018): 77-98;
Kay Bea Jones, Stephanie Pilat (eds.), The Routledge Companion to Italian Fascist Architecture: Reception and
Legacy (Abingdon: Routledge, 2020); Clare Copley, Nazi Buildings, Cold War Traces and Governmentality in

422
vezes, reconstruções devido aos estragos provocados durante a guerra. Citem-se, como
exemplo, o Reichsluftfahrtministerium1777, em Berlim, hoje sede do Ministério das Finanças
alemão, reparado durante o período de ocupação soviética para albergar órgãos governativos e
servindo na R.D.A. como “casa dos ministérios” (Haus der Ministerien), e algumas Case del
Fascio preservadas em Milão1778, que durante a ocupação nazi (1943-45) serviram
necessidades paramilitares e na sequência serviram de apoio ao comité de libertação nacional,
vendo-se ocupadas para fins tão diversos como habitação, estações de rádio e organizações
políticas, e foram sendo gradualmente transformadas em sedes militares e da polícia. A
ocupação contínua podia significar memória seletiva e negligência do passado autoritário, pela
banalização associada aos usos relativamente triviais que se seguiram. Uma das justificações
no pós-guerra, que acompanhou atitudes de repressão e marginalização do passado, consistiu
em encarar a refuncionalização e a apropriação de imóveis enquanto um corte suficiente e de
amparo à superação do legado autoritário, fundamentando assim a convivência com vestígios
de um passado difícil, mas concluído. O vasto recinto do Campo de Congressos do Partido
Nacional-Socialista (Reichsparteitagsgelände) em Nuremberga1779, palco de comícios
inflamados e tendo incluído um campo para prisioneiros no período nazi, é ilustrativo: aquando
da presença norte-americana desde 1945, serviu o Tribunal Militar Internacional para
exercícios militares, como depósito de armamento, e também como espaço para recreação;
entre as décadas de 1950 e 1970, recebeu edifícios habitacionais e equipamentos modernos,
nomeadamente pavilhões para congressos. Depois de atitudes de desconsideração envolvendo
usos banais, servindo tanto para arrecadação como para atividades de lazer desportivo, e
debates sobre um eventual restauro, a consciencialização histórica e a oposição à permanência
acrítica ganharam peso nos anos 80, abrindo caminho à concretização de um centro de
documentação e interpretação. A promoção de exposições de contextualização tem sido vista
como uma forma de neutralizar a carga negativa associada aos edifícios e de ultrapassar
identificações inapropriadas, contribuindo para a dessacralização dos edifícios, conforme
atesta o Monumento à Vitória em Bolzano (1928), um símbolo fascista erigido em
comemoração dos soldados italianos caídos na I Guerra Mundial, que desde 2014 alberga uma

Post-Unification Berlin (Londres/Nova Iorque: Bloomsbury, 2020); Flaminia Bartolini, “Fascism on display: the
afterlife of material legacies of the dictatorship”, EX NOVO Journal of Archaeology 5 (2020): 19-32.
1777
Philpotts, “Cultural-Political Palimpsests; Copley, Nazi Buildings, Cold War Traces and Governmentality in
Post-Unification Berlin, 41-77.
1778
Lucy M. Maulsby, “Drinking from the River Lethe: Case del Fascio and the Legacy of Fascism in Postwar
Italy”, Future Anterior: Journal of Historic Preservation, History, Theory, and Criticism 11, 2 (2014): 19-39.
1779
Macdonald, Difficult Heritage; Paul B. Jaskot, “The Nuremberg Party Rally Grounds and local politics. The
historicized pepetrator”, in The Nazi Perpetrator. Postwar German Art and the Politics of the Right (Minneapolis:
University of Minnesota Press, 2012), 167-204.

423
exposição interpretativa1780. No caso italiano, a ausência de estratégias nacionais consistentes
de remoção de símbolos fascistas, aliada a razões financeiras e de conservação, e ao
progressivo desinteresse dos partidos políticos dominantes após a retirada dos Aliados, elucida
a permanência de elementos decorativos e a reutilização pragmática de edifícios1781. Ademais,
apesar do olvido do culto ao Duce e da arte que promoveu, as carreiras de artistas e arquitetos
ativos sob o fascismo não terão sofrido penalizações de monta na nova conjuntura política – à
semelhança do rápido abandono de planos para saneamento de funcionários públicos como
medida de pacificação –, mantendo-se em atividade1782.
Evidentemente, nem todas as estruturas relacionadas com regimes autoritários se prestaram à
reutilização prática nos moldes salientados. Se locais intrinsecamente associados a atos de
atrocidade, como campos de concentração e de extermínio, cedo receberam memoriais e foram
convertidos em museus e centros de documentação pela perceção do desconforto associado e
da imperiosa denúncia, outros, relacionados com a memória cristalizada dos ditadores, que
Xosé Nuñes Seixas designou como lugares del dictador1783 – habitações natais, residências
oficiais (e estruturas complementares, como gabinetes e bunkers), sepulturas privadas,
mausoléus, locais de culto póstumos em espaços religiosos –, foram sendo alvo de debates e
gestão contraditórios. Muitas vezes sob propriedade privada e fora da alçada estatal, carregam
o peso da trivialização e constituem, em alguns casos, lugares de veneração e de peregrinação,
tida como indevida no panorama democrático, apesar dos esforços de contextualização e de
atribuição de novos significados, particularmente no quadro do turismo, e de potencialmente
ampliar a memória negativa para o nível transnacional.

Estes legados materiais dos regimes ditatoriais europeus, numa primeira instância
percecionados como indesejados1784 e gradualmente assumidos como opostos aos valores
democráticos hodiernos, espelham as tensões e a discordância inerentes ao património,

1780
Håkan Hökerberg, “The Monument to Victory in Bolzano: desacralisation of a fascist relic”, International
Journal of Heritage Studies 23, 8 (2017): 759-774.
1781
Joshua Arthurs, “Fascism as ‘Heritage’ in Contemporary Italy”, in Italy Today: The Sick Man of Europe, ed.
Andrea Mammone, Giuseppe A. Veltri (Londres/Nova Iorque: Routledge, 2010), 114-128,; Arthurs “’Voleva
essere Cesare, morì Vespasiano’ […]”; Malone, “Legacies of Fascism [...]”.
1782
Nick Carter, Simon Martin, “The management and memory of fascist monumental art in postwar and
contemporary Italy: the case of Luigi Montanarini’s Apotheosis of Fascism”, Journal of Modern Italian Studies
22, 3 (2017): 345.
1783
Xosé M. Nuñes Seixas, Guaridas del Lobo. Memorias de la Europa Autoritaria, 1945-2020 (Barcelona:
Crítica, 2021), 19-22.
1784
Sharon Macdonald, “Undesirable Heritage: Fascist Material Cultural and Historical Consciousness in
Nuremberg”, International Journal of Heritage Studies 12, 1, (2006): 9-28.

424
identificadas por Tunbridge e Ashworth e expressas no conceito dissonant heritage1785.
Segundo os autores, o património é uma narrativa construída de acordo com as necessidades
culturais do presente, um recurso (cultural, político, económico) que implica seleção e
interpretação do passado. A sua natureza é intrinsecamente dissonante, na medida em que o
legado pertence a determinada comunidade e não a outra, o que gera exclusão e conflitos,
também pelos seus usos e pela mudança dos significados imputados entre comunidades e ao
longo do tempo. Não se descure que os valores memoriais atribuídos ao património não são
imutáveis, alterando-se em virtude das relações estabelecidas com o contexto social. A
dissonância manifesta-se de forma extrema em patrimónios relacionados com atrocidades,
autênticos lugares de dor e vergonha1786, pelos acoplados antagonismos entre vítimas,
perpetradores, colaboradores e respetivos descendentes, bem como entre as mensagens
veiculadas e as experiências dos visitantes.
O património material destas ditaduras tem sido analisado, nas últimas duas décadas, à luz da
noção de difficult heritage, cunhada por Sharon Macdonald para designar um passado
reconhecido como significativo no presente, mas simultaneamente contestado pela
complexidade que uma reconciliação pública envolve no quadro de uma identidade
contemporânea positiva e autoafirmativa1787. Neste conceito enquadram-se tanto locais
relembrando atrocidades, como edifícios simbolizando a ideologia dominante e o poder
decisório do aparelho repressor, mesmo que não se trate dos sítios onde tais torturas ocorreram.
Este tipo de património acarreta dilemas, pois embora contribua para a construção de
identidade no presente, envolve um passado que implica vontade de distanciamento. Referimos
atrás diferentes estratégias utilizadas para lidar com tais dilemas, da destruição à preservação,
variando entre a mudança de funções, vista como ultrapassagem da ditadura acarretando
esquecimento e banalização, a preservação acrítica devido à acessibilidade condicionada, e a
interpretação e junção de novas camadas arquitetónicas para incitar debate. Acresce a
extrapolação do contexto local ou nacional – por exemplo, através de candidaturas à listagem
da UNESCO – como forma de consciencialização com paralelo impacto económico.
A musealização, embora se mova por intenções pedagógicas, de oposição ao olvido e de corte
com o passado, envolvendo transformação num “património distinto, devidamente contido

1785
J. E. Tunbridge, G. J. Ashworth, Dissonant Heritage. The Management of the Past as a Resource in Conflict,
(Chichester: John Wiley, 1996).
1786
William Logan, Keir Reeves, Places of Pain and Shame. Dealing with ‘Difficult heritage’ (Oxon: Routledge,
2009).
1787
Macdonald, Difficult Heritage, 1.

425
espacial e temporalmente”1788 com intenções de produzir efeitos positivos, pode acarretar
problemas, nomeadamente a legitimação indevida do regime e decorrente construção de
memórias benignas, que tem sido um ponto de discussão frequente. Tem sido evidenciado que
o facto de se contextualizarem locais e imóveis com placas informativas não elimina
associações indesejadas, e que tais dispositivos tendem a não ser apreendidos e mesmo
ignorados pelos transeuntes, impondo-se reflexões sobre soluções alternativas1789. A rota
cultural ATRIUM (Architecture of Totalitarian Regimes of the 20th Century in Europe’s
Urban Memory)1790, dedicada à arquitetura dos regimes totalitários europeus do século XX,
procura ultrapassar estes constrangimentos: trata-se de um projeto transnacional, certificado
pelo Conselho da Europa, que aposta em abordagens envolvendo diversos públicos, realizando
tanto visitas guiadas e exposições, como promovendo formas de envolvimento como
performances por membros das comunidades e intervenções artísticas. A rota integra uma
multiplicidade de casos em Itália, Bulgária, Croácia e Roménia, de complexos urbanos,
monumentos e edifícios como sedes dos partidos e câmaras municipais, a edifícios
aparentemente menos conotados ideologicamente, como fábricas, sanatórios, escolas e
habitações, atentando no abandono e nas práticas de recuperação e reutilização.
Importa ter em conta que a valorização de determinados imóveis associados aos regimes
ditatoriais europeus, mormente através de classificações patrimoniais pelos Estados, tem
encoberto as conotações negativas, devido à ênfase nas características estéticas e artísticas, na
técnica, modernidade e associados progressos, ou até em figuras como arquitetos e artistas de
forma desligada do contexto sociopolítico em que trabalharam. Com o enaltecimento do
interesse cultural que possuem enquanto objetos históricos, são desvinculados do papel e do
significado político que os definiu na origem – o que autores como Joshua Arthurs defendem
constituir uma normalização do passado negativo1791. Entraram na esfera da preservação
arquitetónica e no espetro da curiosidade turística, integrando a paisagem urbana. De facto,
apesar da emergência dos Critical Heritage Studies no final do século XX1792, aparenta ainda

1788
Sharon Macdonald, “Heranças difíceis. Identidades e relíquias nazis na Alemanha”, in Identidade e
Património. Ficções Contemporâneas, ed. Elsa Peralta, Marta Anico (Oeiras: Celta Editora, 2006), 104.
1789
Helen Roche, Flaminia Bartolini, Timothy J. Schmalz, “Editorial Introduction: Fascist and National Socialist
Antiquities and Materialities from the Interwar Era to the Present Day”, Fascism 8 (2019), 121-126.
1790
Patrick Leech, “The anxieties of dissonant heritage: ATRIUM and the architectural legacy of regimes in local
and European perspectives”, in Architecture as Propaganda in Twentieth-century Totalitarian Regimes, ed.
Håkan Hökerberg (Florença: Edizione Polistampa, 2018), 245-260; https://www.atriumroute.eu/ (acesso a
01.02.2022).
1791
Arthurs, “Fascism as ‘Heritage’ in Contemporary Italy”.
1792
Kynan Gentry, Laurajane Smith, “Critical heritage studies and the legacies of the late-twentieth century
heritage canon”, International Journal of Heritage Studies 25, 11 (2019): 1148-1168.

426
prevalecer o que Laurajane Smith designou como Authorized Heritage Discourse (discurso
patrimonial autorizado): uma narrativa hegemónica de tradição ocidental sobre o património,
associada a uma versão sancionada da história, suportada por especialistas e institucionalizada
pelos governos1793. Conforme expôs Håkan Hökerberg, o impacto dos discursos críticos, que
preconizam uma diversificação do espetro patrimonial e das atitudes de conservação, ainda é
limitado pelas associadas implicações no que respeita a eventuais reinterpretações do passado
nacional e consequente modificação identitária1794.
Por outro lado, a reutilização reveste-se de razões práticas, podendo acarretar a desvalorização
do passado negativo que originou os edifícios, o que por vezes não se coaduna com os debates
académicos. Tal ficou patente numa investigação de Joshua Samuels sobre a permanência e
habitação hodierna de aldeias sicilianas dinamizadas sob Mussolini: o autor concluiu que a
reutilização de edifícios revela atitudes pragmáticas, completamente afastadas de afãs políticos
de superação do passado, visto que as potencialidades de uso suplantam a bagagem histórica,
que é ignorada no quotidiano1795. Assim, para Samuels, não são os locais ou os equipamentos
que são difíceis; o que se revela difícil é a necessidade de lidar com as ambiguidades que o
património material encerra. Propõe, neste sentido, a noção de ambivalent heritage1796.

Saliente-se que um aspeto que tem estado amplamente afastado destes debates acerca de
construções destacadas dos regimes autoritários refere-se às práticas de restauro e de adaptação
encetadas em monumentos e edifícios estatais preexistentes, concretamente no que concerne
às atitudes nos momentos de rutura e à sua perpetuação atual. Os casos de estudo analisados
neste trabalho prestam-se a uma reflexão neste sentido, questionando os matizes da sua
presença contemporânea e testando se este património é passível de ser encarado como difficult
heritage.

1793
Laurajane Smith, Uses of Heritage (Oxon/Nova Iorque: Routledge, 2006), 11-12.
1794
Hökerberg, “The Monument to Victory in Bolzano: desacralisation of a fascist relic”: 769.
1795
Joshua Samuels, “Coming ‘to terms’ with Sicily’s fascist past”, in Heritage Keywords. Rhetoric and
Redescription in Cultural Heritage, ed. Kathryn Lafrenz Samuels, Trinidad Rico (Boulder: University Press of
Colorado, 2015), 111-128.
1796
Ibid., 114.

427
2. A memória do Estado Novo, entre o silenciamento e o debate

O período de transição para a democracia em Portugal revelou-se tumultuoso e marcado por


uma vontade de corte radical com o passado imediato, resultando numa crise política.
Evidenciaram-se facetas idênticas a outros países saídos de regimes autoritários de direita,
nomeadamente a criminalização das elites e dos colaboradores e a dissolução de instituições
políticas e repressivas, aspetos que integravam o programa político dos partidos de oposição
clandestinos1797. Para além da penalização de perpetradores ligados à polícia política,
rapidamente se implementaram saneamentos, que, radicalizando-se, se estenderam à
administração pública e ao setor privado. Em paralelo, impuseram-se expropriações e
nacionalizações. Diversas figuras, enviadas para o exílio ou afastadas dos seus cargos, foram,
no entanto, reintegradas entre 1976 e os inícios da década seguinte.
Desde o golpe revolucionário, ocorreram atos simbólicos assinalando o derrube do regime
estado-novista, do assalto à sede da PIDE/DGS a 26.04.1974, a alterações na toponímia1798 e
em infraestruturas marcantes, nomeadamente a denominação da ponte sobre o Tejo, outrora
oficiosamente Ponte Salazar, como Ponte 25 de abril, e mudanças ao nível dos feriados
nacionais1799. A proposta de um munícipe, em 1975, para alterar o nome da Praça do Comércio
para Praça do Povo não passou, porém, da intenção1800. Note-se, porém, a postura de
preservação de imóveis com claras conotações negativas: por exemplo, o conjunto que serviu
como Escola Técnica de Formação de agentes da PIDE/DGS, em Sete Rios, ocupado por
fuzileiros no rescaldo da revolução, foi proposto para salvaguarda volvidos alguns meses pelo
seu valor histórico-artístico1801. Tanto as purgas políticas e o estabelecimento de movimentos
de denúncia como a Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista, como as práticas
emblemáticas de mudança pública, às quais se aliam posteriormente as tentativas de criação de
memoriais e museus, são mecanismos de gestão e confronto do passado ditatorial que integram

1797
António Costa Pinto, “Authoritarian Legacies, Transitional Justice and State Crisis in Portugal’s
Democratization”, Democratization 13, 2 (2006): 173-204; Idem, “The Legacy of the Authoritarian Past in
Portugal’s Democratisation, 1974-6”, Totalitarian Movements and Political Religions 9, 2 (2008): 265-291.
1798
A Comissão Administrativa Municipal de Lisboa discutiu, na sua primeira reunião pública após a revolução,
uma proposta sobre normas para concretização ordenada de mudanças ao nível da toponímia, um assunto que o
governo previa deixar para resolução ao nível local. Actas da Câmara Municipal de Lisboa, n.º 489, 17.10.1974,
26-31.
1799
Pinto, “Authoritarian Legacies, Transitional Justice and State Crisis in Portugal’s Democratization”, 194-195.
1800
Margarida David Cardoso, “O 25 de Abril também revolucionou os nomes das ruas de Lisboa”, Público,
25.04.2017. Acessível em: https://www.publico.pt/2017/04/25/local/noticia/a-vontade-de-afirmar-abril-tambem-
se-ve-nos-nomes-das-ruas-de-lisboa-1769580 (acesso a 21.04.2021).
1801
Actas da Câmara Municipal de Lisboa, n.º 489, 17.10.1974, 26.

428
a justiça de transição1802. Inserem-se, nesta linha de transformação simbólica, o modo de lidar
com as memórias físicas das altas figuras do regime, como sejam os retratos: mencionem-se,
em 1974, os casos da ocultação da estátua de Salazar no Palácio Foz através de um ato
performativo artístico, e da remoção da estátua de Óscar Carmona, inaugurada em 1970, do
jardim do Campo Grande1803. Apesar da proibição de partidos de ideologia fascista instituída
pela Constituição de 19761804, nenhuma referência ou legislação foi exarada quanto à presença
de símbolos ou obras de arte evocando o regime do Estado Novo.

Após a violência que definiu o período de transição, o discurso do governo eleito em 1976
assumiu a tónica na pacificação da sociedade, não condenando os excessos dos anos pós-
revolução1805. O enaltecimento do 25 de abril enquanto mito fundador da democracia a ser
celebrado implicava repúdio pelo passado ditatorial1806. À semelhança de outros casos
europeus referidos, imperou uma atitude de silenciamento do regime anterior perante a
necessidade de superar o passado. Não obstante, entre 1974 e 1976, houve medidas claras de
denúncia da repressão, também no contexto das guerras coloniais, e de compensação das
vítimas do salazarismo. Segundo Manuel Loff, as elites políticas geraram consenso ao evitar
debates públicos sobre a ditadura, por forma a promover reconciliação e progresso, uma atitude
que se manteve até à década de 1990, tanto por parte de governos de centro-esquerda, como de
direita1807. Particularmente sob o governo conservador e liberal de Cavaco Silva (1985-95),
perante uma significativa crise económica e social, forjou-se uma desvalorização do processo
revolucionário apontando a sua radicalidade e o seu suposto caráter totalitário, que
acompanhou uma tendência de revisionismo histórico e branqueamento do Estado Novo. Os
debates emergentes nos anos 90, contestando essas atitudes de neutralização que influenciaram

1802
Maria Inácia Rezola, “Punir ou perdoar? A difícil gestão do passado ditatorial no Portugal democrático – O
caso dos saneamentos”, Estudos Ibero-Americanos 45, 3 (2019): 24-38.
1803
Helena Elias, Inês Marques, “As últimas encomendas de arte pública do Estado Novo”, On the Waterfront
23 (2012): 5-29. A estátua localiza-se, atualmente, no jardim do Palácio Pimenta, polo do Museu de Lisboa.
1804
Constituição da República Portuguesa, art.º 46.º 4, Diário da República, n.º 86/1976, série I, 10.04.1976.
1805
Raquel da Silva, Ana Sofia Ferreira, “The Post-Dictatorship Memory Politics in Portugal which erased
political violence from the Collective Memory”, Integrative Psychological and Behavioral Science 53, 1 (2019):
24-43.
1806
António Costa Pinto, “Coping with the Double Legacy of Authoritarianism and Revolution in Portuguese
Democracy”, South European Society and Politics 15, 3 (2010): 395–412; Filipa Raimundo, António Costa Pinto,
“From Ruptured Transition to Politics of Silence: the Case of Portugal”, in Transitional Justice and Memory in
Europe (1945-2013), ed. Nico Wouters (Cambridge: Intersentia, 2014), 173-198; Manucci, “The shadow of the
authoritarian past in the Iberian Peninsula [...]”.
1807
Manuel Loff, “Dictatorship and revolution: Socio-political reconstructions of collective memory in post-
authoritarian Portugal”, Culture & History Digital Journal 3, 2 (2014): e017.

429
a opinião pública, tiveram origem nos meios de comunicação e não na academia1808. À imagem
de congéneres europeus, a questionação ganhou corpo em documentários televisivos e peças
de teatro. Para além das controvérsias envolvendo antigos membros da PIDE, refiram-se, como
casos geradores de debate, a vitória de Salazar no programa televisivo da RTP Grandes
Portugueses (2007), e a proposta de criação de uma rota museológica integrando, em Santa
Comba Dão, a casa de Salazar e um centro interpretativo numa antiga escola primária 1809. Em
2019, a cedência ao município de Santa Comba Dão, pela DGPC, de duas peças escultóricas
retratando Salazar provenientes do Palácio Foz e até 2017 armazenadas em Loures, causou
controvérsia pela especulação da sua exibição pública, o que não se veio a concretizar1810.
Filipa Raimundo e António Costa Pinto notaram uma generalizada ausência memorial do
regime em Portugal através da carência de museus e exposições, salientando como exceções a
exposição patrocinada pela Presidência da República por ocasião do 25.º aniversário da
democracia, em 1999, e o Museu do Aljube em Lisboa, aberto na outrora prisão política em
20151811. De facto, não existe um museu nacional dedicado à história do país. O confronto da
repressão, encarando este património difícil, também se plasma na proposta de adaptação da
Fortaleza de Peniche a Museu Nacional Resistência e Liberdade, cujas obras estão em curso
desde fevereiro de 2022, após a contestação deflagrada pela polémica disponibilização do
imóvel pelo governo para requalificação turística no programa REVIVE1812, em 20161813.
Outros edifícios ligados à memória do regime não tiveram o mesmo fim: entre reconversões
em vários pontos do país para fins habitacionais e hoteleiros1814, refira-se a controversa

1808
Manuel Loff, “Coming to terms with the Dictatorial Past in Portugal after 1974. Silence, Remembrance and
Ambiguity”, in Postdiktatorische Geschichtskulturen im Süden und Osten Europas. Bestandsaufnahme und
Forschungsperspektiven, ed. S Stefan Troebst, Susan Baumgartl (Göttingen: Wallstein Verlag), 2010, 55-121;
Luciana Soutelo, “O revisionismo histórico em perspectiva comparada: os casos de Portugal e Espanha”, in
Ditaduras e Revolução. Democracia e Políticas da Memória, coord. Manuel Loff, Luciana Soutelo, Filipe
Piedade, (Coimbra: Almedina, 2015), 263-287.
1809 Seixas, Guaridas del Lobo, 103-10.
1810
Camilo Soldado, “Câmara de Santa Comba não sabe o que fazer a estátuas de Salazar”, Público, 13.12.2019,
p. 10.
1811
Raimundo, Pinto, “From Ruptured Transition to Politics of Silence [...]”, 194.
1812
O programa REVIVE foi implementado em 2016 para apoiar investidores privados na remodelação de imóveis
públicos, adaptando-os a funções turísticas (especialmente hotéis), com o fim de convertê-los num ativo
estratégico na economia nacional. Ver https://revive.turismodeportugal.pt/pt-pt/guiao-tecnico (acesso a
16.02.2021).
1813
A ideia não era nova, pois em 1999 fora equacionada a transformação do forte em pousada. Alexandra Simões
de Abreu, “O que o tempo, a memória e os homens fizeram às prisões do Estado Novo”, Expresso, 23.11.2016.
Acessível em: https://expresso.pt/sociedade/2016-11-23-O-que-o-tempo-a-memoria-e-os-homens-fizeram-as-prisoes-do-
Estado-Novo (acesso 23.02.2021); Vânia Moreira, As Prisões Políticas do Estado Novo no século XXI: uma
perspectiva patrimonial (Dissertação de Mestrado, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, 2018).
1814
Marco Alves, “A vida nova dos prédios emblemáticos do Estado Novo”, Sábado, 21.01.2017. Acessível em:
https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/a-vida-nova-dos-predios-emblematicos-do-estado-novo (acesso
23.02.2021).

430
transformação da antiga sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, em
condomínio de luxo (2005). Não apenas a nível académico, mas também na esfera pública, tem
havido, nos últimos anos, maior abertura para uma discussão estruturada de temas que vinham
sendo evitados, como o colonialismo. A par da construção e da contestação de monumentos
evocativos, particularmente na senda do movimento internacional de derrube de estátuas
despoletado em 2020, e que ganhou peso em repúblicas da antigas U.R.S.S. após a invasão da
Ucrânia pela Federação Russa em 2022, é digna de nota a discussão gerada em torno da opinião
de um deputado socialista advogando a demolição do Padrão dos Descobrimentos, em
Belém1815 – recorde-se que o monumento, símbolo do desígnio imperialista do Estado Novo,
começou a ser recuperado em 1985 e alberga hoje um centro interpretativo, cujo programa de
exposições temporárias tem pugnado pela abordagem contextualizada da memória do
monumento, do lugar e de temáticas afins1816.

O investigador alemão Harald Bodenschatz assinalou recentemente a falta de comunicação


para visitantes e transeuntes na zona da Praça do Império relativamente ao passado autoritário,
notando a inexistência de placas informativas ou de dados nos guias turísticos sobre a ideologia
salazarista associada ao espaço1817. No rescaldo de um projeto de investigação acerca do
urbanismo na Península Ibérica no período dos regimes de Salazar e de Franco, Bodenschatz
constatou, com algum espanto, a utilização continuada de edifícios e de estruturas construídos
ou restaurados pelo Estado Novo, sublinhando a generalizada ausência de contextualização,
seja em habitações ou em marcos ideológicos como castelos restaurados e o parque Portugal
dos Pequenitos1818. De facto, a Universidade de Coimbra, que se mantém em funcionamento,
parece constituir uma exceção neste panorama, dado que as construções e demolições efetuadas
pelo regime foram integradas na classificação de Património Mundial da UNESCO e estão
identificadas no local. Há alguns fatores que tendem a sobrepor-se à carga negativa associada
ao passado ditatorial neste tipo de edifícios, particularmente no caso de imóveis classificados

1815 Rita Dinis, “Deputado do PS defende a demolição do Padrão dos Descobrimentos”, Observador, 19.02.2021.
Acessível em: https://observador.pt/2021/02/19/deputado-do-ps-defende-demolicao-do-padrao-dos-
descobrimentos/ (acesso a 19.02.2021).
1816
Sobre a memória imperial em Belém, ver Elsa Peralta, “A composição de um complexo de memória: O caso
de Belém, Lisboa”, in Cidade e Império. Dinâmicas coloniais e reconfigurações pós-coloniais, ed. Elsa Peralta,
Nuno Domingos (Lisboa: Edições 70, 2013), 361-407.
1817 Harald Bodenschatz, “Urbanism, Architecture, and Dictatorship. Memory in Transition”, in The Routledge

Companion to Italian Fascist Architecture: Reception and Legacy, ed. Kay Bea Jones, Stephanie Pilat, 54-66,
Abingdon: Routledge, 2020.
1818
Bodenschatz, Guerra, Städtebau unter Salazar.

431
ou inseridos em inventários1819 – nos quais se reconhece, portanto, o seu potencial enquanto
património –, nomeadamente justificações estéticas e materiais, de inovação e progresso
tecnológico, de valor histórico, ou o enaltecimento individualizado de arquitetos e engenheiros
e do papel destacado destas áreas profissionais1820. O contexto socio-político tende a ser
neutralizado, ou abordado de forma pouco crítica. Ricardo Agarez esclareceu que a
historiografia da arquitetura portuguesa foi, principalmente, escrita por arquitetos, e que a
geração ativa durante o regime estado-novista estabeleceu um cânone discursivo definindo a
arquitetura oficial desse período como retrógrada e conservadora, que foi sendo perpetuado e
extravasou as fronteiras da academia1821. Trabalhos como os de Ricardo Agarez1822 e de Joana
Brites1823, entre outros, têm contribuído para desmontar esta narrativa. A investigação
académica sobre os legados urbanístico, arquitetónico e artístico do Estado Novo, incluindo a
atividade de restauro, tem sido profícua nas áreas de Arquitetura e de História da Arte, mas a
questionação do impacto da sua permanência e (re)utilização no presente, bem como a sua
patrimonialização, não tem recebido igual atenção nestes domínios científicos.

3. A reminiscência do Estado Novo no património do poder político

Nos primeiros meses de 1975, a DGEMN foi contactada para promover a deslocação de obras
de arte que representassem vultos políticos do regime do Estado Novo localizadas em edifícios
públicos1824. Na sequência da exposição do assunto, o Secretário de Estado das Obras Públicas,
Amadeu Garcia dos Santos, exarou um despacho concordando com a salvaguarda desse tipo
de peças por pertencerem ao património nacional, independentemente da temática

1819
Como, por exemplo, o inventário promovido pelo DOCOMOMO Ibérico, no qual se inserem equipamentos
como estações dos correios, o liceu D. Filipa de Lencastre, a estação marítima de Alcântara e o sanatório Sousa
Martins. Acessível em: https://docomomoiberico.com/edificios/?s=portugal (acesso a 27.06.2022).
1820
Em consonância com os critérios genéricos de apreciação dos bens culturais enunciados nas bases da política
e do regime de proteção e valorização do património cultural. Art.º 17.º da Lei n.º 107/2001, Diário da República,
série I-A, n.º 209/2001, 08.09.2001.
1821
Ricardo Agarez, “A self-conscious architectural historiography: notes from (post)modern Portugal”, The
Journal of Architecture 25, 8 (2020): 1089-1114.
1822
Agarez, Algarve Building.
1823
Brites, O Capital da Arquitectura.
1824
Ofício de Vítor Pavão dos Santos (Direção-Geral dos Assuntos Culturais/Ministério da Educação e Cultura)
para Diretor do MNAC, 26.03.1975. MNAC: Correspondência recebida 1974-1975.
É interessante notar que terá havido intenção, por parte da CML, de realizar uma “exposição de obras típicas do
regime” logo em 1975, cujo desfecho não se conseguiu confirmar. Ofício do arq. João Vasconcelos e Sousa Lino
(Comissão de Equipamentos Colectivos da Secretaria de Estado da Segurança Social) para Secretaria-Geral do
Ministério dos Assuntos Sociais, 11.08.1975. MNAC: Correspondência recebida 1977.

432
representada1825. Num ímpeto contra os atos iconoclastas comuns em momentos de rutura
política ou religiosa, pretendia-se evitar a repetição de casos como o da decapitação da estátua
de Salazar em Santa Comba Dão, em fevereiro de 19751826, ou do desaparecimento de um
retrato de Sidónio Pais de uma câmara municipal no Minho, dando-se nota da emergência de
movimentos contra diversas figuras históricas que poderiam levar à destruição de outras peças.
Na senda da determinação do Ministério da Justiça de eliminar qualquer marca relacionada
com o regime deposto, incluindo retratos, promovendo que fossem guardados até decisão
acerca do seu destino, a Junta Nacional da Educação anuiu à proposta da DGEMN para que as
peças retiradas fossem armazenadas nos depósitos dos museus nacionais que estivessem mais
próximos dos respetivos edifícios públicos de origem. Acrescia o dever de conservação
adequada e de inventário das obras de arte, permitindo o acesso a investigadores
credenciados1827. Considerando a impossibilidade de determinados museus receberem peças
provenientes dos serviços públicos devido à falta de espaço, como sucedia no caso do Museu
Grão Vasco, a 2.ª Subsecção da 2.ª Secção da JNE propôs a constituição de um “garde-meuble
nacional provisório”1828 onde as obras pudessem ficar armazenadas, com conveniente
conservação e inventariação, enquanto se decidia acerca do seu destino permanente.
A 26 de março de 1975, o Museu Nacional de Arte Contemporânea foi contactado para guardar
nos seus depósitos um medalhão e uma pintura a óleo retratando Oliveira Salazar por se tratar
de “obras com valor artístico”, então à guarda da Direção-Geral da Fazenda Pública. O pedido
foi acedido pela diretora do museu, Maria de Lourdes Bártholo1829, e confirmado pelo Diretor-
Geral dos Assuntos Culturais da Secretaria de Estado da Cultura e Educação
Permanente/Ministério da Educação e Cultura, Ruben Andresen Leitão1830. Em outubro desse
ano, a diretora reforçou que o museu tinha possibilidade de receber nas reservas “as peças
escultóricas e pictóricas a retirar de edifícios públicos”1831. A Repartição de Património da

1825
Cópia de parecer da 2.ª Subsecção da 2.ª Secção da JNE, 28.02.1975, p.1. MNAC, Correspondência recebida
1974-1975.
1826
Posteriormente, em 1978, numa conjuntura opondo quem apoiava a recuperação da estátua aos que advogavam
a remoção completa, uma bomba levou à destruição da estátua. Cf. Elias, Marques, “As últimas encomendas de
arte pública do Estado Novo”, 20; João Medina, “A estátua decapitada do ditador”, 01.05.2013. Acessível em:
http://malomil.blogspot.com/2013/05/1-veja-se-onosso-livro-minha-america.html (acesso a 23.04.2021).
1827
Cópia de parecer da 2.ª Subsecção da 2.ª Secção da JNE, 28.02.1975, p.3. MNAC, Correspondência recebida
1974-1975.
1828
Ofício de A. Nunes de Oliveira (Direção Geral do Património Cultural) para Diretora do MNAC, 13.07.1976.
MNAC: Correspondência recebida 1976.
1829
Ofício da Diretora do MNAC para Diretor Geral dos Assuntos Culturais, 02.04.1975. MNAC:
Correspondência expedida 1975-1976-1977.
1830
Ofício do Diretor Geral dos Assuntos Culturais para Diretor do MNAC. 22.07.1975. MNAC: Correspondência
recebida 1974-1975.
1831
Ofício da Diretora do MNAC para Diretor Geral dos Assuntos Culturais, 03.10.1975. MNAC:
Correspondência expedida 1975-1976-1977.

433
DGFP solicitara, já em novembro de 1974, que as obras de arte retiradas dos locais,
constituindo património artístico, fossem conservadas em arrecadação da DGEMN, uma vez
que não detinha local para fazê-lo1832. Detetaram-se referências, nesta altura, à acumulação de
bens culturais e móveis, como que ao abandono, no claustro do Ministério das Finanças, aos
quais convinha dar destino1833. É provável que tenha sido nesta altura que o busto de Salazar,
da autoria de Francisco Franco e cujo paradeiro atual não se identificou1834, foi removido,
considerando um pedido nesse sentido endereçado pela DGFP à DGEMN1835. Hoje, o plinto é
ocupado por um busto da República1836. O retrato do Presidente do Conselho pintado por
Ortigão Burnay, que transitara das antigas instalações na ala ocidental, integrou as coleções do
Palácio Nacional da Ajuda, onde permanece1837.
Uma das questões que assumia premência para a mencionada subsecção da JNE respeitava às
obras de arte integradas nos edifícios, como pinturas murais e painéis de azulejo, cuja remoção
teria de ser estudada por especialistas, com envolvimento do Instituto Dr. José de Figueiredo.
No caso das pinturas murais, genericamente designadas como frescos, o problema agudizava-
se pela dificuldade que envolvia o seu destacamento, pelo que se aconselhava como medida
imediata um exaustivo registo fotográfico e a sua ocultação recorrendo a tapeçarias ou painéis
decorativos. A efetiva aplicação desta sugestão no panorama nacional encontra-se por estudar
de forma sistemática. Refira-se que a solução de ocultar pinturas murais fora adotada em Itália
após a queda do regime fascista, por exemplo na pintura Apoteose do Fascismo, de Luigi
Montanarini, localizada no Foro Italico, em Roma1838. Paralelamente, houve intervenções mais
invasivas envolvendo repinte de símbolos políticos, como sucedeu no painel de Mario Sironi
na Reitoria da Universitá La Sapienza na década de 1950, tendo, há poucos anos, sido

1832
Ofício da Repartição de Património da DGFP para Diretor-Geral da DGEMN, 23.11.1974. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DREL-3320/01, TXT.11797945
1833
Ofício da Repartição de Património da DGFP para Diretor-Geral da DGEMN, 18.10.1974. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DREL-3320/01, TXT.11798001.
1834
Poderá tratar-se de uma das peças da coleção de arte do Estado, a cargo da DGPC, de que se perdeu o rasto.
Maria Miguel Cabo, “Até um busto de Salazar desapareceu da coleção de arte do Estado”, TSF, 06.02.2020.
Acessível em: https://www.tsf.pt/portugal/cultura/ate-um-busto-de-salazar-desapareceu-da-colecao-de-arte-do-
estado-11791060.html (acesso a 10.08.2022).
1835
Ofício do Diretor-geral da DGFP para DGEMN, 23.11.1974. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3320/01,
TXT.11797945.
1836
Em visita ao edifício do Ministério das Finanças, a 20.04.2021, foi nos transmitido pela Dra. Filomena Pedroso
que o busto da República aí se encontra, pelo menos, desde 1976, altura em que iniciou o serviço no edifício.
Existe uma versão em bronze do busto no Museu José Malhoa, n.º inv. Esc32
(http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=41973, acesso a 17.06.2021).
1837
N.º inv. 54008. Acessível em:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=1045925&EntSep=5#gotoPo
sition (acesso a 23.02. 2021).
1838
Carter, Martin “The management and memory of fascist monumental art in postwar and contemporary Italy
[...]”: 348-351.

434
restaurado com opção pela reposição de elementos evidentemente fascistas1839. Dos nossos
casos de estudo, sabe-se que, em meados da década de 1980, a escadaria nobre e o tríptico do
Ministério das Finanças foram alvo de trabalhos de conservação e restauro, para os quais
inclusivamente se contactou o pintor Joaquim Rebocho1840. Não há notícia de o mural alguma
vez ter sido ocultado.

No que respeita aos edifícios que integraram o presente estudo, constatámos que a revolução e
as adjacentes transformações políticas não levaram ao abandono das instalações, quer no
Palácio de São Bento, quer na Praça do Comércio e restantes imóveis na cidade albergando
sedes ministeriais. Ambos os locais foram palco de momentos decisivos no período de
transição: cite-se a ocupação da Praça do Comércio no próprio dia 25 de abril e a fuga dos
ministros e altos funcionários da ala ocidental, ou a definição da nova estrutura política – com
a destituição imediata do Presidente da República e do Presidente de Conselho de Ministros e
extinção da Assembleia Nacional e do Conselho de Estado, passando o poder para a Junta de
Salvação Nacional1841. O Palácio de São Bento acolheu eventos-chave, como as eleições para
a Assembleia Constituinte, cuja sessão inaugural decorreu a 02.06.1975, e perduraria como
sede da Assembleia da República a partir do ano seguinte. Também os ministérios existentes
foram, naturalmente, desmantelados; os novos órgãos mantiveram o funcionamento nos locais
ocupados pelos antecessores. Em 1985, Lawrence S. Graham relatou que tanto edifícios como
gabinetes se mantinham os mesmos que foram utilizados durante o Estado Novo, bem como
continuavam “a ser os mesmos preceitos legais utilizados”1842, embora se observasse uma
mudança ao nível das mentalidades entre os funcionários públicos.
A permanência de novos órgãos do governo em instalações prévias poderá revestir-se de peso
simbólico, assinalando a supressão do anterior regime – à semelhança do que já ocorrera em
1933. Tanto em São Bento como na Praça do Comércio, houve necessidade de empreender
adaptações para dar resposta à nova organização política e burocrática, bem como a solicitações
alegando o estado inadequado e deteriorado dos interiores1843. Tal levou a trabalhos como
inserção de pisos intermédios nos Ministérios da Administração Interna e das Finanças e do

1839
Bodenschatz, “Urbanism, architecture and dictatorship”, 55-57; Bartolini, “Fascism on display [...]”, 24-27.
1840
Troca de correspondência entre a DGEMN, Joaquim Rebocho e o Instituto José de Figueiredo, abril 1984 a
janeiro 1985. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3324/02.
1841
Lei n.º 1/74, Diário do Governo, série I, n.º 97, 1.º suplemento, 25.04.1974.
1842
Graham 1985, 914.
1843
Ofício do Gabinete do Secretário de Estado das Obras Públicas, 08.09.1978, p. 9. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3305/02, TXT.04595827.

435
Plano1844 e no Supremo Tribunal de Justiça1845, substituição de mobiliário antigo1846 e aquisição
de peças considerando a expansão dos partidos políticos na Assembleia da República1847,
divisão de salas e adaptação de arquivos a gabinetes, ou integração de estruturas como
refeitórios e salas para jornalistas ou para equipamentos informáticos. Ocasiões celebrativas
também originaram a realização de obras, como a beneficiação do átrio do Ministério das
Finanças e do Plano por ocasião do 50.º aniversário da DGEMN1848. Apesar de a maioria dos
gabinetes representativos intervencionados durante o Estado Novo manterem a sua fisionomia,
houve alguns usos mais inusitados, como o funcionamento de uma cafetaria para deputados no
Salão Nobre do Palácio de São Bento na década de 19801849. Em 1979, o Secretário de Estado
da Cultura despachou no sentido de não mais serem cedidas obras de arte dos museus estatais
para decoração de gabinetes governamentais e de embaixadas, para evitar a dispersão do
património, alertando que muitas peças cedidas se deterioravam ou desapareciam, sem retornar
aos detentores1850. A transferência de serviços para outros edifícios já dera azo, anteriormente,
à restituição de quadros e esculturas que haviam sido cedidos1851.
Este tipo de intervenções, particularmente a aquisição de mobiliário e a adaptação a novas
realidades tecnológicas, tem sido uma prática corrente na vida destas instituições até aos nossos
dias. Apesar de a classificação dos edifícios acarretar obrigações acrescidas, como o contacto
com a entidade administrativa responsável pelo património cultural – atualmente, a Direção-
Geral do Património Cultural – para preservação da integridade estrutural do imóvel e garantia
de conservação no caso de mudança de usos, o certo é que o estatuto de Monumento Nacional
não se revelou impeditivo de mudanças fisionómicas. Na realidade, certas modificações não
foram unanimes. Cite-se o caso adulteração do patamar de receção dos gabinetes
governamentais no piso nobre do Ministério das Finanças e do Plano através da inclusão de

1844
Correspondência diversa, 1974-1983. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3320/01; PT/DGEMN/DREL-
3324/02; PT/DGEMN/DREL-3325/03; PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037.
1845
Nunes, Espaços e Imagens da Justiça no Estado Novo, 58-59.
1846
Ofício de J. A. Oliveira para DGEMN, 19.02.1981. DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3480/01,
TXT.11927172-TXT.11927171.
1847
Correspondência diversa sobre aquisição de mobiliário para a Assembleia da República e Residência Oficial
do Primeiro-Ministro, 1975-1979. DGPC/SIPA: entre outras, PT/DGEMN/CAM/0271/11;
PT/DGEMN/CAM/0271/12; PT/DGEMN/CAM/0422/09; PT/DGEMN/CAM/0193/01.
1848
Ofício de António Manuel Ribeiro (DSC) para Diretor dos Edifícios de Lisboa, 15.05.1979. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143, TXT.01440670.
1849
Bar dos deputados – obras de beneficiação: projeto de interiores, 1982. DGPC/SIPA:
PT/DGEMN/DREL/2278/05; PT/DGEMN/DREL/3069/01; “Antes e depois | Salão Nobre”, ComunicAR.
Boletim da Assembleia da República, fevereiro 2017. Acessível em:
https://app.parlamento.pt/comunicar/Artigo.aspx?ID=902 (acesso a 20.06.2022).
1850
Despacho do Secretário de Estado da Cultura (Hélder Macedo), 07.12.1979. MNAC: Correspondência
recebida 1980.
1851
Correspondência diversa. MNAC: Correspondência recebida 1977, 1979, 1980.

436
guarda-ventos e divisórias, em 1983, contestada pelo arquiteto assessor. Opondo-se por
considerar que a secção da escadaria nobre deveria “classificada como um dos mais notáveis
exemplos da arquitectura de interiores dos meados deste século, que a nenhum título se deve
desfigurar com alterações ainda que transparentes – ou enxertos de qualquer natureza”1852, não
conseguiu impedir que a ideia fosse executada.

3.1. O Palácio de São Bento

O Palácio de São Bento recebeu, em 1999, um novo edifício adjacente, da traça do arquiteto
Fernando Távora (1923-2005), que permitiu expandir os gabinetes e salas de reunião, e integrar
a residência oficial do Presidente da Assembleia da República. A residência oficial do
Primeiro-Ministro permanece no palacete, que, após as anteriormente aludidas modificações
sob Marcelo Caetano, foi alvo de intervenções para otimização funcional na década de 1980.
No palácio, mantém-se o funcionamento da Assembleia da República, completado pela
Biblioteca e pelo Arquivo Histórico Parlamentar. Não se concretizaram alterações de monta
nos espaços nobres de circulação adaptados durante o Estado Novo, que convivem com os
remanescentes do período monástico e da adaptação iniciada em oitocentos. O hemiciclo
recebe as sessões plenárias do parlamento, reuniões da Comissão Permanente, e algumas
sessões solenes; a Sala do Senado, outrora assento da Câmara Corporativa, serve hoje reuniões
das comissões e dos grupos parlamentares, bem como para sessões solenes e colóquios. Os
gabinetes e salas representativos adaptados durante o Estado Novo, e anexas salas de
secretários e de espera, sofreram beneficiações, como a retirada de tecidos cobrindo as paredes
e redistribuição de elementos decorativos e mobiliário. Uma avaliação concreta in loco deste
assunto revela-se difícil, pela impossibilidade de acesso aos espaços convertidos em gabinetes
de trabalho e salas de reuniões. Porém, a valorização do património do imóvel pelo Museu da
Assembleia da República e sua divulgação através da respetiva plataforma de inventário
disponibilizada on-line, bem como da visita virtual1853, permitem confirmar a preservação de
peças e o seu continuado uso. O gabinete do Presidente da Assembleia da República e adjacente

1852
Ofício de José Almeida de Oliveira (arquiteto assessor) para Chefe da 1.ª Divisão de Obras, 21.04.1983.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DREL-3325/03, TXT.11801901-TXT.11801899
1853
Assembleia da República: visita virtual 360º. Acessível em: https://app.parlamento.pt/visita360/pt/ (acesso a
24.06.2022).

437
sala de visitas1854, por exemplo, incorporam um armário holandês1855 que ocupava o gabinete
do secretário da Assembleia Nacional, e cadeiras estilo Chippendale do gabinete dos
secretários da Câmara Corporativa1856.

Preservam-se, com novas funções, o gabinete do Presidente da Assembleia Nacional, agora


designado como Sala Lisboa1857, e o Salão Nobre1858. Ambas as salas são visitáveis no percurso
das visitas guiadas disponibilizadas e nos dias abertos que ocorrem durante as comemorações
do 25 de abril1859. A Sala Lisboa, transformada em sala de trabalho, preserva o programa de
interiores e as pinturas de Lino António, que se parecem remeter ao seu papel decorativo. O
caráter ideológico das temáticas históricas selecionadas para as pinturas, e o seu peso no
contexto da encomenda, não são discutidos nas fichas de inventário disponibilizadas pelo
museu, apesar das descrições minuciosas com identificação das figuras representadas1860. Este
aspeto também não é sublinhado quando o público tem possibilidade de conhecer os espaços
interiores do palácio no formato de visita livre, uma vez que não consta qualquer tabela ou
folheto informativo. O facto de se tratar de cenas remetendo para episódios glorificados da
história nacional que continuam a ser destacados nos curricula escolares, sem ilustração direta
do Estado Novo a não ser pelas alusões ao trabalho braçal do povo como sustentáculo da
prosperidade do regime, poderá contribuir para explicar a relativa indiferença com que se tem
encarado o programa iconográfico.

1854
Gabinete do Presidente: https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/GabinetePresidente.aspx; sala de
visitas: https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/Sala-visitas-Presidente.aspx (acesso a 24.06.2022).
1855
N.º inv. MAR2817. Acessível em: https://museu.parlamento.pt/DetalhesObra?id=3749&tipo=OBJ (acesso a
24.06.2022).
1856
N.º inv. MAR2827. Acessível em: https://museu.parlamento.pt/DetalhesObra?id=387&tipo=OBJ (acesso a
24.06.2022).
1857
Sala Lisboa. Acessível em: https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/SalaLisboa.aspx (acesso a
24.06.2022).
1858
Salão Nobre. Acessível em: https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/SalaoNobre.aspx (acesso a
24.06.2022).
1859
Retomadas em 2022, após dois anos sem realização devido às restrições impostas pela pandemia de SARS-
COV-2.
1860
N.os inv. MAR2149 a MAR2152, acessíveis a partir da ficha de conjunto da decoração da Sala Lisboa:
https://museu.parlamento.pt/DetalhesConjunto/Index/3944 (acesso a 24.06.2022).

438
Fig. 235. Pinturas da Sala Lisboa ou Sala Lino António da autoria de Lino António: Marquês de Pombal e a
Reconstrução de Lisboa; Infante D. Henrique e os Descobrimentos. 1999.

O polivalente Salão Nobre, servindo para eventos culturais diversos, de conferências a


concertos e exposições, bem como para visitas de Estado e apoio a atividades do parlamento,
como o registo dos deputados no início da legislatura, foi recentemente alvo de algum debate.
Vimos como as pinturas de Sousa Lopes espelham a agenda imperialista do Estado Novo,
enaltecendo pontos-chave da expansão marítima numa perspetiva mitificada. Atualmente, estes
assuntos subsistem arreigados à identidade nacional1861 e estão presentes no discurso político,
embora a tónica tenda a insistir no caráter ecuménico, no progresso científico e no pioneirismo
português, assunções que começaram a desenhar-se aquando da entrada de Portugal na
Comunidade Europeia, em 19861862. A ideia então sublinhada do “encontro de culturas”1863,
que supostamente se reflete no presente e justifica a posição do país no contexto global, parece

1861
José Carlos Almeida, “Portugal, o Atlântico e a Europa. A Identidade Nacional, a (re)imaginação da Nação e
a Construção Europeia”, Nação e Defesa 107 (2004): 147-172; Elsa Peralta, “Cosmopolitismo, Branding Nacional
e Turistificação: (Re)memorialização do Império na Cidade Global”, in Lisboa e a Memória do Império (s.l.: Le
Monde Diplomatique, 2017), 151-176.
1862
Catroga, “Ritualizações da História”.
1863
António Manuel Hespanha, “Comemorar como política pública. A comemoração dos Descobrimentos
Portugueses, ciclo 1997-2000”, Práticas da História 8 (2019): 198-220.

439
perdurar: recorde-se o discurso do Primeiro-Ministro António Costa na Web Summit de 2018,
quando, aludindo às viagens de há 500 anos, afirmou que “conectar pessoas de todo o mundo
está no nosso ADN”1864.

Fig. 236. Salão Nobre do Palácio de São Bento. 2011.

A celeuma em torno das pinturas murais teve origem, em 2019, na publicação de uma selfie de
Joacine Katar Moreira, então deputada eleita pelo Livre, diante do painel da chegada de Vasco
da Gama à Índia, com a legenda “contrariando a lógica colonial e a subalternização exposta e
institucionalizada do colonialismo e da escravatura neste espaço”1865. Nas redes sociais, o
ataque com tom de menosprezo foi imediato, particularmente pelo grupo Nova Portugalidade,
adepto do salazarismo e do Império Colonial1866. As atitudes xenófobas escalaram alguns
meses depois, com o comentário de André Ventura, deputado do Chega!, incitando a que a

1864
Lusa, “Conectar pessoas de todo o mundo está no nosso ADN – António Costa”, 05.11.2018. Acessível em:
https://24.sapo.pt/noticias/nacional/artigo/conectar-pessoas-de-todo-o-mundo-esta-no-nosso-adn-antonio-
costa_25083242.html (acesso a 17.11.2021).
1865
Leonete Botelho, “Joacine Katar Moreira: ‘Sem igualdade não há liberdade nenhuma’”, Público, 30.10.2018.
Acessível em: https://www.publico.pt/2019/10/30/politica/entrevista/joacine-katar-moreira-igualdade-nao-ha-
liberdade-nenhuma-1891835 (acesso a 17.11.2021).
1866
Publicação na página de Facebook da Nova Portugalidade, 31.10.2019:
https://www.facebook.com/novaportugalidade/photos/a.1702907456634281/2459705170954502/?type=3&theat
er (acesso a 17.11.2021).

440
deputada fosse devolvida ao seu país de origem, depois de o Livre ter proposto a inscrição no
Orçamento de Estado da identificação e restituição de património proveniente das antigas
colónias existente nos museus e arquivos nacionais1867.
A atitude generalizada perante a permanência incontestada e descontextualizada das pinturas,
sem terem sido alvo de vandalismo ou de cobertura ao longo do período democrático e sem
possuírem tabelas ou textos explicativos1868, ficou patente num comentário de Guilherme de
Oliveira Martins no programa televisivo Visita Guiada dedicado ao palácio: justificou a
presença pela dimensão histórica, a ser lida com perspetiva crítica, acrescentando que “na casa
da liberdade, nós temos que olhar o futuro para que muitas das coisas que aqui estão ilustradas
não se voltem a repetir”1869. Evadindo a questão, perpassa a defesa de manutenção do espaço
tal como foi originalmente idealizado. Esta postura voltou a ser contestada por Joacine Katar
Moreira em 2021, advogando a importância de lutar contra a trivialização do passado colonial,
através de identificação explicativa junto das pinturas ou de eventual remoção para um
museu1870. Embora as secções de comentários nos jornais on-line continuem a ser pontuados
por comentários racistas e insultuosos, uma percentagem relevante concorda com uma
abordagem crítica do passado. A opinião de três historiadores de arte concorre, no geral, com
a postura de Moreira, apesar dos alertas acerca da dificuldade técnica e da despesa financeira
envolvidas numa remoção; advogam, como alternativa, uma contextualização acompanhada da
abertura do espaço para atividades de envolvimento crítico da comunidade, como convite a
artistas para conceção de peças para o salão1871. Naturalmente, haverá que considerar possíveis
constrangimentos por não se tratar de um típico sítio patrimonial, embora esteja classificado e
promova a vertente de preservação e inventariação museológica dos acervos. Os exemplos dos
E.U.A., onde os debates sobre murais controversos em espaços públicos têm sido frequentes,
poderão servir de apoio à necessária reflexão: foram adotadas múltiplas posturas, desde

1867
Miguel Dantas, “André Ventura propõe que Joacine ‘seja devolvida ao seu país de origem’”. Livre acusa-o
de racismo”, Público, 28.01.2020. Acessível em: https://www.publico.pt/2020/01/28/politica/noticia/andre-
ventura-propoe-joacine-devolvida-pais-origem-livre-acusao-racismo-1902024 (acesso a 17.11.2021).
1868
No entanto, a comunicação on-line da Assembleia da República – sem atualização pelo menos desde 2018 –
refere a integração da sala no gosto estético e na política cultural do regime estado-novista, sem reflexão sobre a
postura das figuras representadas, por exemplo. A análise detalhada da iconografia nas fichas de inventário
também não aborda esta dimensão. N.os inv. MAR2138 – MAR2144. Acessível em:
https://museu.parlamento.pt/Pesquisa?sls=0&txtPesquisa=sousa+lopes (acesso a 24.06.2022).
1869
Programa emitido pela primeira vez a 05.10.2020. Visita Guiada, temporada 10, episódio 12, 35’06’’.
Acessível em: https://www.rtp.pt/play/p7378/e497156/visita-guiada (acesso a 17.11.2021).
1870
Lusa, “Joacine quer retirar painéis do Salão Nobre da AR que prolongam ‘visão do Estado Novo’”, Público,
10.09.2021. Acessível em: https://www.publico.pt/2021/09/10/politica/noticia/joacine-quer-retirar-paineis-salao-
nobre-ar-prolongam-visao-estado-novo-1977083 (acesso a 17.11.2021).
1871
Lucinda Canelas, “O que fazer com estas pinturas que temos na sala de visitas da Assembleia da República?”,
Público, 09.10.2021. Acessível em: https://www.publico.pt/2021/10/09/culturaipsilon/noticia/pinturas-sala-
visitas-assembleia-republica-1980421 (acesso a 17.11.2021).

441
tapar1872, trancar salas1873 e remoção para depósitos1874, à contextualização1875 e diálogo através
de novos murais e de intervenções artísticas1876. Em todo o caso, a manifestação pública do
incómodo causado pelas pinturas do Salão Nobre permite classificar este conjunto de pinturas
como difficult heritage.

3.2. A Praça do Comércio

Se o Palácio de São Bento tem conservado as suas funções parlamentares até à atualidade, nem
todos os edifícios ministeriais – na Praça do Comércio e noutros pontos da cidade – mantiveram
esse uso institucional1877. Como vimos, já na década de 1960 foi sugerida a saída dos
ministérios da praça, e anos antes fora proposto, sem sucesso, um uso mais popular e voltado
para o turismo desta zona da capital. Apesar da gradual transferência de certas pastas, outras
ficariam na praça: por exemplo, em 1980, o Ministério da Economia foi retirado da ala poente
para que aí se voltasse a instalar o Ministério da Agricultura e Pescas 1878. O problema do
estacionamento e do tráfego automóvel não foi, igualmente, resolvido até 1974.
A vocação coletiva da praça ganhou fôlego no final da década de 1980, sob governo de Cavaco
Silva, numa conjuntura de estímulo à modernização e ao progresso económico paralelo à
adesão de Portugal à União Europeia. Advogou-se a fruição pública das arcadas e a gradual
migração dos serviços ministeriais: Victor Reis, vereador do pelouro da cultura da CML,
defendeu que recuperação da Praça do Comércio implicaria a animação e a reconversão das
arcadas e pisos térreos, deixando de ser um local de passagem para se tornar numa zona de
estar. Sendo favorável que tal se realizasse antes das eleições autárquicas de 1989, sugeriu que

1872
George Washington High School: https://eu.usatoday.com/story/news/nation/2019/08/14/george-washington-
mural-san-francisco-high-school-covered/2005838001/; Notre Dame University:
http://www.wbiw.com/2019/11/01/notre-dame-delays-plan-to-cover-columbus-murals-until-2022/ (acesso a
17.11.2021).
1873
Indiana University: https://news.artnet.com/art-world/thomas-hart-benton-mural-indiana-1133765 (acesso a
17.11.2021).
1874
Darthmouth College: https://news.dartmouth.edu/news/2018/09/consultative-process-leads-hovey-murals-
move (acesso a 17.11.2021).
1875
Durham Post Office: https://www.nhpr.org/post/nh-commission-native-american-affairs-not-satisfied-
durham-post-office-mural-fix (acesso a 17.11.2021).
1876
Jefferson County Courthouse: https://news.artnet.com/art-world/controversy-allegedly-racist-alabama-
courthouse-murals-338268; University of Kentucky: https://www.uky.edu/president/memorialhall (acesso a
17.11.2021).
1877
Dos casos que saíram da praça, abordados no capítulo anterior, refira-se que o Ministério do Trabalho,
Solidariedade de Segurança Social funciona no edifício do antecessor na Praça de Londres, e que o Ministério da
Defesa Nacional se localiza no edifício no Restelo, construído para o Ministério do Ultramar.
1878
Ofício de remetente não identificado para Direção-Geral do Património o Ministério das Finanças, 04.02.1980.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-005/125-0701/06, TXT.02915387-TXT.02915386.

442
a DGEMN fosse incumbida de resolução do assunto, planeando-se a saída faseada dos serviços
aí instalados1879. Porém, o conjunto de concursos para exploração cultural e comercial de
determinadas secções térreas da praça, concomitante à vontade de renovação da zona ribeirinha
entre Santos e Santa Apolónia, fracassou por falta de investidores1880.
O desejo de devolver a fruição da praça e do rio à população intensificou-se nos anos 90,
materializando-se na remoção do parqueamento automóvel, sobretudo devido à realização de
eventos culturais de grande envergadura, como Lisboa Capital Europeia da Cultura (1994) e
Expo’98 (1998). Nesta altura, o município apoiou a transformação dos pisos térreos para
funções diversas, de galerias expositivas a restaurantes e hotéis, mantendo os pisos superiores
para os serviços ministeriais. A placa central da praça ganhou vocação pedestre e passou a
servir de palco a eventos vários, sendo remodelada segundo plano dos arquitetos José Adrião
e Pedro Pacheco1881. O plano do então presidente da câmara municipal, João Soares, de
promover a construção de um túnel rodoviário paralelo ao do metropolitano, não teve
concretização1882, num momento em que a Administração do Porto de Lisboa (APL) discutia a
reconversão da frente ribeirinha. Outra comemoração de elevada dimensão, o centenário da I
República (2010), foi mote para um plano urbanístico de modernização da zona ribeirinha1883.
As obras foram adscritas à Frente Tejo, uma sociedade anónima de capitais públicos 1884, e no
que concerne à praça, envolveram a repavimentação da placa central e arranjo do Cais das
Colunas de acordo com projeto do arquiteto Bruno Soares (2009-12), com reorganização e
redução do trânsito, bem como a adaptação dos pisos térreos e o restauro das fachadas pelo

1879
Ofício de Victor Reis para Elias da Costa (Secretário de Estado da Construção e Habitação), 21.12.1987.
DGPC/SIPA: PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143, TXT.01440717.
1880
Refira-se o concurso para a zona ribeirinha lançado pela Associação dos Arquitectos Portugueses (1982), e
posterior contratação dos arquitetos Luís Gravata Filipe, David Colley e Arlindo Chagas para o estudo prévio de
remodelação dessa área, e o concurso de ideias do Ministério das Finanças com apoio da Secretaria de Estado da
Cultura (1989) para remodelação do ângulo nordeste em frente do Martinho da Arcada. Cf. S. M., “Lisboa volta-
se para o Tejo”, Diário Popular, 23.08.1989; Ana Fernandes, “Praça do Comércio vai voltando aos lisboetas”,
Público, 24.03.1990; Anónimo, “Remodelação ribeirinha à espera de investidores”, Diário Popular, 31.10.1990.
Recortes de imprensa disponibilizados na biblioteca digital da OASRS - Biblioteca Francisco Keil do Amaral:
https://oasrs.org/o-que-faz/biblioteca/1/ (acesso a 12.02.2021).
1881
Filipe Borges de Macedo, “Um terreiro dentro da praça. Os projectos de José Adrião e Pedro Pacheco para o
Terreiro do Paço”, trabalho para o curso de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade
Técnica de Lisboa, março 2011. Acessível em:
https://www.academia.edu/525676/Um_terreiro_dentro_da_praca.Os_projectos_de_Jose_Adriao_e_Pedro_Pach
eco_para_o_Terreiro_do_Paco (acesso a 20.01.2021).
1882
Fernanda Ribeiro, “Terreiro do Paço merece mais”, Público, 13.06.1996; Cristina Ferreira, Guilherme Paixão,
“Libertação do Terreiro do Paço antes do ano 2000”, Público, 21.06.1996; C. F., “Túnel do Terreiro do Paço
avança no fim do mês”, Público, 04.09.1996. Recortes de imprensa disponibilizados na biblioteca digital da
OASRS - Biblioteca Francisco Keil do Amaral.
1883
Resolução do Conselho de Ministros n.º 78/2008, Diário da República, série I, n.º 94/2008, 15.05.2008.
1884
Decreto-lei n.º 117/2008, Diário da República, série I, n.º 131/2008, 09.07.2008.

443
Atelier 15 (arqs. Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez)1885. A Frente Tejo foi extinta em
2011, considerando o contexto de crise económica e a imposição de reduzir o “Estado
paralelo”; assim, a gestão dos edifícios públicos da Praça do Comércio passou para a CML por
um período de 50 anos (2011-60), incluída na estratégia de reabilitação da cidade1886. O torreão
poente, por exemplo, foi desafeto do domínio militar1887, encontrando-se presentemente a ser
requalificado pelo município para receber um núcleo do Museu de Lisboa. Neste período,
assinale-se, no entorno, a requalificação do espaço público da Ribeira das Naus (Global,
Arquitectura Paisagista, Lda. e grupo PROAP, 2009-15), do Campo das Cebolas (arq. Carrilho
da Graça, 2015-17) e a reabilitação da estação Sul e Sueste (arq. Ana Costa, 2018-21) e
adjacentes zonas de lazer. Conforme mencionou Nuno Tavares da Costa, a frente ribeirinha,
polo representativo do poder político, constitui um território ideal para exercício de propaganda
governamental1888.

Em termos de valorização patrimonial, vimos que a praça deixou de estar isolada no que
respeita à classificação em 1978, com a categorização da Baixa como Imóvel de Interesse
Público. A estação fluvial Sul e Sueste foi classificada como Monumento de Interesse Público
em 20121889, com zona especial de proteção que incorpora uma parte da ala sul do Ministério
das Finanças e o Cais das Colunas1890. Em 2017, assinala-se uma proposta para inscrição da
Lisboa Pombalina, incluindo a Praça do Comércio, como Património Mundial da UNESCO,
tendo a candidatura sido aceite e inserida na lista indicativa1891.
Apesar da consideração desta área como palimpsesto, valorizando as distintas camadas urbanas
que a constituem, as intervenções do Estado Novo na praça têm sido relativamente
menosprezadas no processo de valorização cultural e turística. Evidentemente, a reconstrução
pós-terramoto assume preponderância, aliando-se a uma narrativa de renovação e superação
dos obstáculos que aparentemente molda o progresso coevo. Este episódio é um dos destacados
no Lisboa Story Centre, aberto desde 2012 na ala nascente, no âmbito da estratégia de

1885 Chaga, Cor e Conservação, 83-84.


1886
Decreto-lei n.º 110/2011, Diário da República, série I, n.º 227/2011, 25.11.2011.
1887
Despacho n.º 10635-A/2016, Diário da República, série II, n.º 162/2016, 1.º suplemento, 24.08.2016.
1888
Nuno Tavares da Costa, “A quem cabem as mais recentes alterações na frente do Tejo?”, Colóquio Aulas
Abertas, ISCTE-IUL, 30.05.2018, 6. Acessível em:
https://www.researchgate.net/publication/332514653_A_quem_cabem_as_mais_recentes_alteracoes_na_frente_
do_Tejo (acesso a 20.01.2021).
1889
Portaria n.º 640/2012, Diário da República, n.º 212, série II, 02.11.2012.
1890
Portaria n.º 109/2014, Diário da República, n.º 30, série II, 12.02.2014.
1891 UNESCO World Heritage: Pombaline Lisbon. Acessível em: https://whc.unesco.org/en/tentativelists/6226/

(acesso a 16.02.2021).

444
desenvolvimento turístico da capital1892. O discurso de António Costa, então presidente do
município, aquando da inauguração deste centro de interpretação interativo, evidencia o foco
na história como fator diferenciador que fundamenta a identidade global da cidade
contemporânea, destacando-se a atmosfera de trocas internacionais e de inclusão iniciada com
as viagens de expansão marítima, integradas no percurso expositivo1893. Perpetuam-se, uma vez
mais, ideias luso-tropicalistas de suposta aptidão portuguesa de conexão pacífica com o mundo.
A última exposição do Museu de Lisboa no torreão poente que antecedeu o início das obras de
remodelação foi dedicada à história do torreão1894. Remontando cronologicamente ao Paço da
Ribeira, saliente-se que um dos núcleos abordou o período de ocupação do torreão durante o
Estado Novo: recriou-se o ambiente de trabalho através de um PBX com presença do retrato
fotográfico de Salazar, habitual elemento dos serviços públicos a par do retrato do Presidente
da República, destacando-se os discursos do Presidente do Conselho na varanda do seu
gabinete na ala ocidental. O núcleo revelou menor dimensão do que outros dedicados a
cronologias anteriores – à semelhança do que também ocorreu com os núcleos seguintes,
versando sobre os episódios durante o 25 de abril e à vivência em democracia –, o que se reflete
no catálogo que acompanhou a exposição1895, e poderá ser explicado pelo facto de o corpus de
investigação sobre estes períodos ser menos significativo.

Atualmente, a par de restaurantes, alojamento hoteleiro e centros de exposição, mantêm-se na


praça, na ala oriental, os Ministérios das Finanças e da Administração Interna1896, a norte o
Ministério da Justiça e o Supremo Tribunal de Justiça, e o Ministério da Agricultura na ala
oriental, para além das instalações adjacentes ocupadas pela Marinha. Refira-se que, no quadro
da Estratégia de Reabilitação Urbana de Lisboa, para o período entre 2011 e 2024 1897, há o
dever por parte proprietários, incluindo o Estado e o município, de zelar pela reabilitação dos

1892
O mais recente núcleo expositivo da praça, o Centro Interpretativo da História do Bacalhau, abriu em 2020
no torreão nascente, mas não se debruça sobre a história do lugar.
1893 CML, Inauguração do Lisboa Story Centre, 12.09.2012. Acessível em:
https://www.youtube.com/watch?v=fZM_GfhMkdM&feature=emb_logo (acesso a 25.02.2021).
1894
Museu de Lisboa: ‘O Lugar do Torreão. Imagem de Lisboa’, exposição comissariada por Nuno Senos, patente
entre 18.05.2019 e 13.10.2019. Cf.: https://www.museudelisboa.pt/pt/acontece/o-lugar-do-torreao-imagem-de-
lisboa (acesso a 23.02.2021).
1895
Joana Sousa Monteiro, Mário Nascimento (ed.), O Lugar do Torreão: imagem de Lisboa / The Place of the
Tower: image of Lisbon (Lisboa: Museu de Lisboa/EGEAC, 2019).
1896
O MAI foi transferido para esta ala em 2009.
1897
Câmara Municipal de Lisboa, Estratégia de reabilitação urbana de Lisboa – 2011/2024. Acessível em:
https://www.lisboa.pt/fileadmin/cidade_temas/urbanismo/reabilitacao_Urbana/documentos/estrategia_reabilitac
ao.pdf (acesso a 14.10.2020).

445
imóveis com tónica na salvaguarda e na dinamização, captando investimento privado, o que
permite compreender as mudanças funcionais observadas na última década na praça.
O edifício do ângulo nordeste, em parte ocupado pelo Café Martinho da Arcada1898, encontra-
se integrado no programa REVIVE1899, após saída do Gabinete de Estratégia e Estudos do
Ministério da Economia e Transição Digital, prevendo-se a sua remodelação em unidade
hoteleira. Recorde-se que este edifício recebeu serviços do Ministério das Comunicações na
década de 1940, e mais tarde serviu o CSOPT. Uma visita permitiu identificar a existência de
algum mobiliário, incluindo candeeiros, que provavelmente terão sido adquiridos durante a
vigência do regime1900.
O edifício oposto, no ângulo noroeste, outrora sede do Ministério do Interior, foi convertido na
luxuosa Pousada de Lisboa, do grupo Pestana, inaugurada em 2015. Nessa altura, foi
publicitada a possibilidade de “dormir no antigo escritório de Oliveira Salazar”, transformado
em suite patrocinada pela marca de champagne Dom Pérignon1901 – na realidade, esse quarto
localizado na esquina do edifício corresponde à zona onde, previamente às intervenções
segundo projetos de Pardal Monteiro e de Costa Martins, reunia o Conselho de Ministros, o
que poderá explicar essa tentativa de ligação da sala ao Presidente do Conselho. O projeto de
adaptação coube ao arquiteto David Sinclair, que, identificando as várias fases construtivas do
edifício desde setecentos, procurou valorizar a estrutura e a volumetria pombalina, sem
descurar alguns elementos distintivos do projeto de Pardal Monteiro de final da década de 1940,
como as escadarias laterais e o vitral de Joaquim Rebocho no topo da escadaria central. No
salão nobre, usado pelo Conselho de Estado e hoje um espaço destinado a diferentes eventos
como reuniões, conservaram-se os motivos decorativos em estuque – recorde-se que Pardal
Monteiro se opusera à sua manutenção na década de 1950. A transformação funcional implicou
adaptações como renovação de divisórias, para albergar os 90 quartos e as estruturas
necessárias a um equipamento desta natureza. O projeto de decoração de interiores é da autoria
de Jaime Morais (Dueto Arquitetos). O conceito inspirado na alusão à história de Portugal terá
partido dos vestígios da muralha fernandina identificada numa escavação feita no local1902.

1898
Cuja área está classificada como Imóvel de Interesse Público. Decreto n.º 45/93, Diário da República, série I-
B, n.º 280, 30.11.1993.
1899
Acessível em: https://revive.turismodeportugal.pt/pt-pt/node/717 (acesso a 24.06.2022).
1900
Visita realizada a 10.03.2021.
1901
Mariana Albuquerque, “Pousada de Lisboa: Dormir no antigo escritório de Oliveira Salazar”, Evasões,
23.02.2016). Acessível em: https://www.evasoes.pt/fim-de-semana/pousada-de-lisboa-dormir-no-antigo-
escritorio-de-oliveira-salazar/5516/ (acesso a 16.02.2021).
1902 Informação prestada pelo arquiteto Jaime Morais via e-mail, 19.04.2021.

446
Fig. 237. Receção da Pousada de Lisboa. 2015.

Pretendeu-se criar uma atmosfera contemplativa e próxima de uma experiência museológica,


provocando emoções no hóspede e evitando a monotonia, o que resultou em áreas de acesso
comum ecléticas, nas quais predomina um ambiente de horror vacui. Gravuras, fotografias
históricas e reproduções de plantas arquitetónicas convivem com mobiliário de épocas diversas
e pinturas de Nadir Afonso alusivas às antigas colónias portuguesas. No teto da receção há uma
montagem com imagens referentes às viagens de expansão marítima, e uma reprodução dos
painéis de S. Vicente foi colocada no saguão transformado que serve o restaurante. Destaca-
se, desta panóplia, o conjunto de modelos de esculturas provenientes das coleções do Museu
de Lisboa. Trata-se sobretudo de peças que serviram de base a esculturas públicas, retratando
personagens históricas e figuras alegóricas, da autoria de artistas sancionadas pelo Estado
Novo, como Leopoldo de Almeida e Raul Xavier. Provavelmente até sem tal intento, esta
decoração espelha algumas ideias que permanecem vinculadas à noção de identidade nacional,
sublinhando aspetos que permearam a ideologia oficial do Estado Novo, como a glorificação
da epopeia marítima e de figuras como o Infante D. Henrique e Nuno Álvares Pereira, ou o
destaque os painéis de S. Vicente, então elevados a cânone da arte oficial. Transmite-se uma
versão impressiva da história, com enaltecimento de efeitos visuais e respostas emotivas,

447
apresentando a estética dominante sob o salazarismo de forma acrítica e, quiçá, apreciativa,
inconscientemente perpetuando um discurso de banalização.

Dos ministérios que permanecem na praça, o das Finanças preserva com maior evidência a
camada do Estado Novo, tendo em conta que constituiu o caso com intervenção mais destacada
na época. Há também vestígios das campanhas de adaptação desse período nos restantes
ministérios – Administração Interna (outrora ocupado pelo MOP e pela DGEMN), Justiça e
Agricultura –, mas o facto de as intervenções da DNISP terem sido mais conservadoras tem
permitido uma recuperação dos espaços na senda do espírito pombalino, com manutenção da
decoração antiga. Denota-se a valorização de determinados espaços com acoplada carga
histórica, como, no Ministério da Agricultura, a Sala do Marquês com azulejos e o brasão de
armas pintado no teto, e a Sala do Tiro, na qual se preserva um espelho estilhaçado relembrando
os confrontos entre monárquicos e republicanos e, também, o regicídio ocorrido nas
imediações. Neste edifício, o salão nobre foi recentemente recuperado para reuniões, mantendo
a decoração em estuque nas paredes e teto e incluindo candeeiros contemporâneos em contraste
com mobiliário antigo. O salão nobre no Ministério da Justiça, por seu turno, preserva o
revestimento integral em madeira e o mobiliário. Nas escadarias laterais e corredores
observam-se os revestimentos em mármore propostos por Pardal Monteiro.
A obstrução do acesso aos gabinetes de Ministros e Secretários de Estado impediu uma
observação direta do seu estado1903. O gabinete ocupado por Salazar enquanto Ministro das
Finanças, na ala ocidental, integra hoje as instalações da pasta da Agricultura e servia, em 2021,
de gabinete ao Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, tendo sido divulgado no
jornal on-line ECO1904. No Ministério da Justiça, foi nos comunicado que o gabinete ministerial
preserva a tapeçaria mural assinada por Guilherme Camarinha, passível de confirmar por
fotografias através de pesquisa por notícias em motores de busca. Noutros gabinetes de trabalho
destes edifícios, menos representativos, observam-se marcas como compartimentações,
identificações obsoletas de salas pintadas nas portas, e incorporação de mobiliário e
equipamento moderno que coabita com peças antigas, que, geralmente, também povoam os
corredores. Nas escadarias de acesso ao primeiro piso, deteta-se geralmente o acrescento de
portas envidraçadas, inclusive automáticas. Nestes edifícios tem-se procurado pugnar pela

1903
O único gabinete ministerial que nos foi permitido visitar foi o do Ministro da Administração Interna, na ala
oriental, numa visita realizada em 05.06.2021.
1904
Hugo Amaral, “Salas do Ministério da Agricultura têm histórias para contar. Mas, aqui, turista não entra”,
Eco – Economia Online, 01.08.2021. Acessível em: https://eco.sapo.pt/especiais/salas-do-ministerio-da-
agricultura-tem-historias-para-contar-mas-aqui-turista-nao-entra/ (acesso a 01.08.2021).

448
manutenção estrutural, havendo, nas recentes intervenções que têm vindo a decorrer,
preocupação pelo respeito pelos materiais e elementos arquitetónicos e decorativos
remanescentes.

Fig. 238. Identificação pintada em sala outrora ocupada pela Direção-Geral da Contabilidade Pública, em
instalações na ala ocidental hoje ocupadas pelo Ministério da Agricultura. 2021.

O Ministério das Finanças, também alvo de adaptações após 1974, particularmente para
otimização espacial e modernização de acordo com as novas funções e equipamentos que foram
sendo integrados, conserva os traços do projeto de Pardal Monteiro. A entrada pela ala sul,
conduzindo à escadaria nobre, permanece idêntica ao original, preservando materiais,
elementos de iluminação e obras de arte integradas – a única diferença reside no busto da
República, sob o tríptico de Joaquim Rebocho, que substituiu a cabeça de Salazar esculpida
por Francisco Franco. Também a área outrora ocupada pela sala das sessões do Tribunal de
Contas, hoje designada salão nobre e prestando-se a conferências de imprensa e reuniões,
mantém a decoração, embora o tapete Beiriz seja já uma cópia do original. A tapeçaria de
Guilherme Camarinha encomendada para o gabinete do ministro decora hoje a sala do
conselho. Nos corredores, pinturas de artistas contemporâneos convivem com mobiliário

449
antigo e plantas em vasos, e apesar das adulterações em zonas de gabinetes de trabalho com
tabiques, a aura de dignidade não se dissipou por completo do edifício. O claustro principal é
mantido como estacionamento privativo, embora se insista no abandono desta prática.
Tal como os restantes ministérios, o edifício das Finanças não se encontra acessível ao público.
Contudo, são feitas visitas guiadas mediante marcação, e a história do edifício está divulgada
através da página on-line da Secretaria-Geral do Ministério das Finanças1905. No entanto, essa
informação foca sobretudo a reconstrução pombalina da zona, dando impressão de que a
intervenção segundo estudos de Pardal Monteiro, cuja inspiração classicizante se atribui a
“modelos arquitetónicos autoritários italianos ou alemães, de cariz triunfal”1906, se cingiu ao
átrio monumental e ao Tribunal de Contas, identificando alguns dos artistas que colaboraram
sem referência ao programa iconográfico. Recentemente, o tríptico foi divulgado no jornal on-
line ECO, como forma de apresentar este património ocultado a um público mais vasto, visto
que no exterior não existe qualquer informação sobre este assunto, permanecendo os visitantes
da praça na ignorância e, provavelmente, erradamente percecionando tratar-se de um edifício
pombalino pelas características externas. Refira-se que, apesar do valor dessa iniciativa de
divulgação, persistem falhas que neutralizam o contexto de conceção da pintura mural,
concretizado na confusa frase “(...) foi nos anos 40, já em plena República, que foi construído
um átrio de acesso e uma imponente escadaria em mármore numa estética inspirada em
modelos arquitetónicos dos regimes autoritários italianos e alemães”1907.
A visita que realizámos ao edifício elucidou-nos acerca da valorização estética e dos artistas
por parte dos funcionários, que realçaram também a atmosfera honrosa nos interiores e o uso
de materiais nobres, sem destaque do regime e do contexto político que lhe deu corpo. Poderá
ser uma estratégia, mesmo que inconsciente, de convivência diária com imagens com tamanho
pendor ideológico. Neste sentido, recupere-se uma reflexão de Laura Castro acerca da “sobre-
exposição” das inúmeras tapeçarias assinadas por Guilherme Camarinha ainda hoje patentes
no espaço público, que corresponde a “uma contemplação espontânea, ocasional,
desinteressada e por detrás desta revelação intensa existe um paradoxo que afecta todas as
formas de arte pública: a indiferença com que o público se aproxima dessas obras” 1908. Essa

1905
Miguel Soromenho, “A sede do Ministério das Finanças: Estética e História”, s.d.. Acessível em:
https://www.sgmf.gov.pt/organiza%C3%A7%C3%A3o/hist%C3%B3ria/ (acesso a 17.02.2021).
1906
Ibid., [p. 3].
1907
Hugo Amaral, “Aqui, turista não entra. A história das Finanças pintada num tríptico”, Eco – Economia Online,
18.07.2021. Acessível em: https://eco.sapo.pt/especiais/aqui-turista-nao-entra-a-historia-das-financas-pintada-
num-triptico/ (acesso a 18.07.2021).
1908
Laura Castro, “A Pintura de Guilherme Camarinha (antes e depois da tapeçaria)”, in Soeiro, Branco,
Guilherme Camarinha. 1912-1994, 13.

450
indiferença resulta do contacto constante, quer seja direto, através de uma passagem pelo
edifício, quer seja pelos meios de comunicação, nos quais as obras de arte e os ambientes
surgem como pano de fundo a eventos vários. A reflexão sobre o ambiente em que se movem
não faz parte do quotidiano dos usuários destes equipamentos.
Cremos que este património é passível de ser categorizado como invisível, tanto pelo facto de
ser inacessível à maioria da população local e aos turistas, como por não se reconhecer a sua
componente ideológica numa base quotidiana.

4. Património difícil ou invisível?

Os casos de estudo que abordámos afastam-se do que tem sido identificado pela investigação
internacional como herança difícil dos regimes ditatoriais novecentistas, visto que não
constituem construções de raiz, mas adaptações em edifícios históricos que previamente já
serviam funções políticas idênticas às que lhes foram atribuídas durante o Estado Novo. Com
a implantação da democracia, verificou-se uma continuidade ao nível dessas funções, com
pontuais alterações decorrentes de estratégias de gestão visando contrapartidas provenientes de
exploração económica e turística. O uso continuado com funções semelhantes terá,
preponderantemente, fundamentos económicos e práticos. Em adição, o facto de anteriormente
os edifícios possuírem esse tipo de atividade política poderá ser um motivo adicional para
manter os usos. Embora a documentação consultada seja omissa, esta atitude poderá também
ilustrar uma mentalidade de sobreposição e erradicação do regime prévio, conforme sucedeu
em Itália após a queda do fascismo. Tal aproxima-se do que Marc Guillaume definiu como o
“paradoxo da política do património”1909: embora o ato de conservação pretenda estabelecer
uma continuidade com o passado, opera, na realidade, um corte radical, perpetuamente
dissimulado, com esse passado.
Nos casos em análise, mais facilmente se apreende o episódio ditatorial enquanto apenas um
dos momentos na sucessão de vivências que definem os espaços ao longo da sua história –
também porque os exteriores, sem características imediatamente remetendo para o Estado
Novo, permitem uma camuflagem desse período. Uma nova realidade política impõe-se como
registo adicional e distinto na vida do património construído, e promove a criação de novas
memórias associadas aos espaços. Tal é mais evidente no caso de reconversões funcionais

1909
Guillaume, A Política do Património, 124.

451
profundas, como sucedeu no caso da adaptação da antiga sede do Ministério da Administração
Interna a pousada de luxo – sendo de notar a tentativa de enaltecer a história nacional nesta
nova camada, que concorre para uma possível banalização do passado autoritário pela mescla
acrítica de obras de arte na decoração.

Considerando as diversas camadas anteriores e posteriores ao regime nestes edifícios, e o facto


de o património constituir uma seleção representativa do presente (e passível de modificação
ao longo do tempo), constata-se que, após atitudes de silenciamento do passado ditatorial,
perdura uma postura de neutralização da carga negativa associada às obras que ilustram esse
período – identificável com um discurso oficial, o aludido authorized heritage discourse –, o
que no extremo pode redundar na sua trivialização. O Palácio de São Bento e os ministérios
não são associados aos atos mais repressivos do Estado Novo, como sucede nas prisões
políticas. Embora estejam ligados à memória de Salazar, que operou em diferentes gabinetes,
e da hierarquia do governo, e tivessem sido cenário para cerimónias oficiais espelhando intuitos
ideológicos, possuem também a carga do quotidiano administrativo e burocrático dos serviços
que aí funcionaram, possivelmente tida como menos incómoda, apesar de espelhar a
organização e a atuação política do regime. O peso deste passado é diminuído por serem
edifícios reutilizados pelo regime, e não construções de raiz como o
Reichsluftfahrtministerium, cuja memória negativa é mais imediata, apesar de também ter sido
sujeito a estratégias de reutilização no presente.
À semelhança de edifícios construídos pelo Estado Novo, as adaptações e os restauros
efetuados pela DGEMN – que, como assinalou Miguel Tomé, constituem também uma marca
histórica, afirmando-se como património1910 – estão hidden in plain sight, isto é, presentes na
paisagem, mas tendencialmente invisíveis, na linha da invisibilidade que Robert Musil
vaticinou aos monumentos1911. Fora do âmbito académico, o assunto não será do interesse
geral. Ademais, a apreensão destas camadas estado-novistas depende, muitas vezes, da posse
de conhecimento especializado. Se o desconforto causado pelos painéis do Palácio de São
Bento representando a expansão marítima tem sido alvo de controvérsia pública, o generalizado
desconhecimento acerca da existência do tríptico alegórico das Finanças ilustrando uma visão
idealizada do Estado Novo será um fator para que não surta discussão alargada, ao qual acresce
o facto de não se tratar de retrato direto de figuras ligadas ao regime, o que tem contribuído

1910
Tomé. “Arquitectura: conservação e restauro no Estado Novo”, 174.
1911
Cit. in Guillaume, A Política do Património, 147.

452
para perpetuar tanto murais como estatuária em vários edifícios públicos sem questionação
evidente. Apesar da relativa abertura de edifícios que albergam serviços públicos para visitas
pontuais da população, quer por iniciativa própria, quer por eventos como o Open House
promovido pela Trienal de Arquitetura de Lisboa, estes equipamentos, cujo valor patrimonial
está ratificado pela classificação, permanecem de acesso restrito e somente abertos aos
funcionários, que haviam sido os principais alvos de doutrinação nestes espaços durante a
ditadura. Da parte dos habitantes destes edifícios, a presença de elementos ilustrativos da
ideologia estado-novista parece ser um dado adquirido, convivendo sem que lhes seja atribuído
ónus no quotidiano contemporâneo. Há barreiras no acesso, justificáveis por necessidades de
segurança, que perpetuam a falta de transparência e a separação entre os cidadãos e o
governo1912. O polo do Museu de Lisboa no torreão poderia ter um papel relevante na
transmissão e discussão das vivências nos edifícios ministeriais da Praça do Comércio ao longo
dos tempos, por exemplo, pese embora a agenda política que enforma a atividade deste
equipamento municipal. Exposições realizadas tanto no torreão poente, como no Palácio
Pimenta, têm já divulgado alguns aspetos deste passado1913.

O património edificado é moldado pelos usos e pelos utilizadores, e os seus significados são
passíveis de alteração. Não se tratando de contentores estanques, tal não implica que a carga
política e o contexto social da construção ou das adaptações não permaneçam acoplados à
memória dos espaços, mesmo que se procure eliminar ou neutralizá-los. O exercício de
equilibrar o peso atribuído às diferentes fases de intervenção é complexo e por vezes ambíguo,
e não possui respostas simples ou passíveis de aplicar de forma indiscriminada. Para o caso
italiano, Flaminia Bartolini constatou que, para além do discurso de branqueamento do
fascismo e dos seus legados materiais, apresentados como vítimas da esquerda, a perceção
pública do papel apolítico e santificado do património contribui para uma condenação da
iconoclastia ocorrida após a queda de Mussolini e para a permanência e recuperação de obras
de arte e edifícios apenas pelo seu cunho artístico1914. A – ainda – relativa proximidade
cronológica com os legados edificados do Estado Novo, e os adjacentes riscos de revisionismo

1912
Não se advoga uma transformação de serviços administrativos em espaços museológicos, mas que os
investigadores não se vejam constrangidos com a observação direta dos espaços ou que, pelo menos, seja facultada
informação crítica aos visitantes, dado que os gabinetes ministeriais e salas de reuniões servem para entrevistas e
comunicados de imprensa e são, em parte, reproduzidos nos meios de comunicação.
1913
Para além da atrás citada exposição no torreão, refira-se a exposição “A Lisboa que teria sido” (Palácio
Pimenta, 26.01-18.06.2017), que integrou os estudos do arquiteto Cristino da Silva para os novos blocos dos
Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações.
1914
Bartolini, “Fascism on display [...]”, 30.

453
ou de contribuir para uma construção identitária enviesada, não deveria permitir que sejam
encarados apenas na sua vertente de documento histórico, como sucede no caso de
monumentos bem mais recuados no tempo que simbolizam o domínio do poder político, ou
que o regime estado-novista se considere meramente como um evento histórico cristalizado no
passado sem repercussões no presente. A emergência e a difusão da extrema-direita no cenário
político nacional verificadas nos últimos anos a isso obrigam.

454
Considerações finais

A instalação dos órgãos de soberania do Estado Novo, concretamente da Assembleia Nacional


e do Governo, foi integrada no ambicioso programa de obras públicas estabelecido na década
de 1930. Analogamente a outros regimes autoritários europeus da primeira metade do século
XX – e em conformidade com uma tendência do poder político transversal a países com
distintas formas de governo –, a estratégia de acomodação destes organismos passou pela
adaptação de edifícios históricos, que anteriormente já serviam propósitos políticos
semelhantes. Esta ação de remodelação, com incorporação de novas camadas nos imóveis,
integrou-se num movimento mais vasto de transformação urbana da capital que, sem
menosprezar o respeito pelo tecido histórico, apostou na supressão de elementos que se
considerava desvalorizarem a encenação pretendida para os edifícios públicos. Apesar do
predomínio da intervenção sobre preexistências, não se afastou a construção de novos edifícios,
embora os complexos monumentais idealizados não tenham passado da intenção.
O restauro de monumentos e a adaptação de edifícios históricos constituiu, durante o Estado
Novo, uma manifestação do poder político e um suporte material da ideologia oficial de
renascimento nacional. O património construído foi investido de um papel fulcral enquanto
veículo de uma almejada identidade nacional coletiva, ancorada no passado selecionado e
projetando-se no futuro. No caso do Palácio de São Bento e dos ministérios integrados na Praça
do Comércio, a carga simbólica associada à manutenção dos edifícios é evidente. Por um lado,
o novo regime assumiu a conclusão de obras a que o regime republicano não conseguira dar
resposta, assim procurando demonstrar que suplantava essa inércia, marcando o fim de um
episódio caótico da vida nacional pela imposição de uma nova realidade política. As obras em
São Bento foram, inclusive, divulgadas como ilustração da capacidade realizadora da máquina
das obras públicas, ao lado de novas e modernas infraestruturas, o que permite elucidar acerca
do sentido de inovação e criação conferido à atividade de intervenção sobre preexistências. A
adaptação de edifícios históricos emblemáticos, com intuitos de apropriação através de
reformulações, deixando marcas do novo momento político para a posteridade, pode ser
entendida como traço de modernidade. Por outro lado, a adaptação de instalações com carga
patrimonial, num dos casos sancionada através de classificação monumental, permitiria
apropriação dos valores históricos que lhes estavam associados para legitimação da nova
ordem. Embora o pragmatismo económico que envolve a conservação de edifícios existentes
tenha constituído uma razão relevante para a preservação, o certo é que a eventual destruição

455
destes imóveis para substituição por novos edifícios de características contemporâneas poderia
ter originado acesos debates. A mera modificação, como nos casos da coloração das fachadas
ou da hipótese de inserção de um piso adicional na Praça do Comércio, revelou a oposição de
opiniões entre especialistas, com debates que se prolongaram para lá do término do regime.
Verifica-se que durante o Estado Novo coexistiram, pelo menos, duas formas para legitimação
política através de espaços históricos com simbolismo associado. O caso dos edifícios dos
órgãos do Governo na capital, ancorado na adaptação e na preservação de preexistências, é
distinto do caso da Cidade Universitária de Coimbra, onde a destruição de partes significativas
da Alta e a apropriação da zona através de novas construções se alicerçou também no caráter
memorial investido no local.

O confronto entre os dois casos de estudo permite uma analogia entre a organização do poder
político e as prioridades de atuação na remodelação dos respetivos imóveis. Com o Palácio de
São Bento, sede da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa, e também da Presidência
do Conselho de Ministros, houve preocupações de rápida execução das obras. Pretendia-se
propagar uma imagem de funcionamento do sistema implementado com a reabertura das
sessões legislativas, transmitindo a aparente representatividade no poder decisório. Em adição,
a inclusão do gabinete de Salazar e da sua residência oficial no recinto influenciaram a primazia
conferida a estas obras. O papel atribuído a este edifício justificou as ações de expropriação em
redor para destaque e remodelação de acessos, contando com a colaboração de um dos
arquitetos mais profícuos no período, Luís Cristino da Silva, para o arranjo urbanístico. Do
conjunto dos ministérios, a pasta das Finanças seria a primeira a receber atenção precisamente
pelo facto de ser ocupada pelo Presidente do Conselho. A falta de esforços concertados para
remodelação das sedes ministeriais até 1948, data de criação da DNISP, pode ser lida como
evidência da menorização das figuras dos ministros face ao predomínio de Salazar, que
concentrava e monitorizava todas as decisões. Porém, observou-se que querelas pessoais entre
o Ministro das Obras Públicas e o arquiteto Pardal Monteiro, por altura da preparação das
comemorações centenárias de 1940, terão tido peso para que os primeiros estudos ficassem
embargados.

A opção pela preservação patenteia, igualmente, o peso do conservadorismo na ideologia


salazarista, que coexistia com a busca por modernidade. É certo que se verifica, sobretudo na
década de 1930, o impulso de deixar uma marca da época a par da reverência pelo património
histórico. Neste período, o regime patrocinou equipamentos cuja linguagem possibilitasse a

456
transmissão de uma imagem que o distinguisse, na linha da organização da sociedade que
procurou implementar – que, na realidade, se revelou como manutenção da ordem social
existente. O caso do Palácio de São Bento é ilustrativo, pois o respeito pelos planos de Ventura
Terra e pela estrutura existente não impediram que se integrassem programas decorativos pela
mão de artistas coevos, e que se acometesse a orientação estética de gabinetes destacados a
arquitetos que simultaneamente assinavam projetos modernos para edifícios públicos. Não
obstante, o ecletismo predominou no recheio desses espaços, conjugando mobiliário novo de
gosto revivalista fabricado por empresas nacionais e peças de épocas remotas adquiridas em
antiquários e cedidas por outros palácios e museus: a integração de obras de arte de valor
incontestado concorria para propagar valores conservadores e uma imagem de estabilidade e
ordenação.
Apenas sob governo de Marcelo Caetano se detetou uma mudança, através da vontade de
organizar gabinetes como locais de trabalho práticos e não de encenação faustosa. Também o
primeiro projeto de Porfírio Pardal Monteiro para o Ministério das Finanças enuncia a vontade
de construir um edifício que espelhasse a contemporaneidade, mantendo um espírito clássico
que não se sobreporia ao conjunto pombalino, e verificámos os constrangimentos que enfrentou
perante as exigências de preservação praticamente integral da estrutura do edifício da
Alfândega. As discussões em torno da manutenção das estruturas setecentistas na Praça do
Comércio, no quadro da remodelação dos ministérios já na década de 1950, demonstram a
ausência de critérios firmados no seio dos organismos responsáveis, embora os técnicos da
DGEMN estivessem inteirados das normas internacionais que se vinham delineando. O caso
da remodelação do Ministério da Justiça, nos inícios da década de 1960, ilustra a falta de
consenso entre técnicos especializados, acompanhando a inexistência de diretrizes definidas
para a intervenção no património edificado – opôs o respeito pelo que remanescia do conjunto
primitivo à sujeição às necessidades programáticas das funções contemporâneas –, num
momento em que a sua valorização no quadro da promoção turística para um público
internacional era uma realidade.
O arquiteto Raul Lino refletiu sobre as novas instalações para os serviços públicos no final dos
anos de 1940, e constatara que a expressão arquitetónica constituía o testemunho mais
duradouro do espírito da sua conceção. Defensor da preservação de edifícios históricos
atendendo à sua vivência integral e avesso ao corte completo para implantação de
equipamentos novos sem atentar nas características do local, advogou respeito perante o
complexo pombalino, o que acabou por se espelhar nas adaptações dos ministérios através da
conservação de estruturas e elementos marcantes, sem que as novas funções obrigassem a

457
alterações excessivas na compartimentação preexistente. O arquiteto entendia o uso continuado
de edifícios históricos como valorização, aproximando-se dos preceitos de funcionalidade
social para preservação desse tipo de imóveis preconizados pelas Cartas de Atenas (1931) e de
Veneza (1964). Tal espírito de manutenção do edificado histórico foi, de resto, transversal a
outras adaptações realizadas pela DGEMN neste período com o intuito de acomodar altas
instâncias governativas ou serviços de elevado destaque, como sucedeu no caso da instalação
do Ministério dos Negócios Estrangeiros no Palácio das Necessidades (arq. Raul Lino, 1939-
50), da remodelação do Palácio Foz para sede do SPN/SNI (arq. Luís Benavente, 1940-53), ou
da beneficiação do corpo da Arrábida no Palácio de Belém como residência do Presidente da
República (arq. Luís Benavente, 1951-52). A dimensão dominante de emulação com a
decoração de outrora, procurando estabelecer um fio condutor com um passado que se
pretendia recuperar, e que adquiriu peso nos gabinetes mais elevados e salas de receção através
do restauro de elementos decorativos e da integração de réplicas de mobiliário de cariz
historicista, não impediu que, para serviços menos representativos, se viesse a incluir
mobiliário de linhas mais simples e atualizadas, fabricado pela indústria nacional.
Depreende-se, portanto, que as soluções adotadas nos casos analisados pretenderam concorrer
para a encenação do regime político. A par da ratificação através da utilização de edifícios
históricos – entendidos como autênticos palácios, que transmitiam uma imagem destacada dos
seus ocupantes –, assinalam-se valores de monumentalidade e de hierarquia, alcançados através
do realce no enquadramento urbano, da expressão plástica e da organização interna que,
sujeitando-se ao existente, foi cuidadosamente planeada. Estes órgãos prestavam-se, por
excelência, como veículos relativamente permanentes de demonstração de um gosto
supostamente oficial, espelho dos ocupantes que compunham os representantes da Nação, mais
duradouros do que os efémeros pavilhões apresentados nas exposições internacionais. As
diretrizes estéticas para os edifícios estudados revelaram-se tácitas: não estando normatizadas
nem constituindo uma cópia cega do que se fazia noutros países, foram modeladas pelos
métodos de seleção dos intervenientes e de decisão sobre as propostas apresentadas. A
determinação superior de programas iconográficos de tom laudatório e com intenções de serem
modelares, refletindo momentos históricos considerados essenciais e integrantes do discurso
oficial – concretamente, a ancestralidade medieval e a gesta imperial iniciada no século XV,
mas também a ação reconstrutiva de Pombal –, bem como incorporando alegorias que, de
forma dissimulada, espelhavam os valores morais sancionados pelo ideário estado-novista, não
se cingiu aos edifícios históricos adaptados, como o novo Ministério das Corporações e
Previdência Social, inaugurado em 1966, evidenciou. Até praticamente ao ocaso do regime

458
manteve-se o simbolismo adscrito às obras de arte patrocinadas oficialmente, conforme atestam
as tapeçarias encomendadas a Guilherme Camarinha para o Palácio de São Bento e para o
Ministério das Obras Públicas. O caráter de doutrinamento é evidente, focando-se na conduta
dos funcionários dos diversos graus hierárquicos que diariamente se movimentavam nos
edifícios. A decoração integrada não servia, portanto, apenas propósitos propagandísticos para
o exterior ou para a inculcação ideológica da população, mas era dirigida a observadores
específicos. Em paralelo, a decoração de gabinetes ministeriais e salas anexas denota a
manutenção de um gosto estético de pendor naturalista e realista, através do pedido de cedência
ou de aquisição de pinturas de artistas como Silva Porto ou Carlos Reis, já no final da década
de 1950, sem lugar para a integração de peças representativas de correntes artísticas
contemporâneas, consideradas subversivas e, portanto, inadequadas.

A análise minudente dos procedimentos de encomenda e de contratação por parte das


delegações e comissões da DGEMN permitiu clarificar razões e preferências que conduziram
aos resultados. Os concursos públicos foram a exceção. De facto, o único concurso aberto à
participação de todos os artistas nacionais, decorrido a partir de 1935 – isto é, no período de
afirmação do regime – teve um desfecho avesso às intenções iniciais: o concurso para
decoração da escadaria nobre do Palácio de São Bento, elegendo Dordio Gomes e Abel Manta
para execução dos trípticos consoante temas superiormente estabelecidos, acabou por redundar
na outorga das pinturas a Jaime Martins Barata, indicado pelo ministro Duarte Pacheco. O
tratamento dos temas pelos dois primeiros pintores, particularmente no que respeita à exaltação
do papel da população coeva na defesa e no progresso do país, teria conferido outro espírito ao
ambiente – iconografia que acabaria por ficar patente no tríptico mural das Finanças, pintado
por Joaquim Rebocho já na década de 1950. A temática da decoração artística não era, de modo
algum, menosprezível, como também o delineamento dos assuntos para a estátuas da escadaria
exterior do Palácio de São Bento demonstrou.
Mais comum revelou-se o convite a grupos restritos de arquitetos ou artistas, por sugestão tanto
dos responsáveis pelas obras como pelo próprio Ministro das Obras Públicas – sobretudo
Duarte Pacheco e José Frederico Ulrich –, assistindo-se também a casos de nomeação direta,
como no trabalho de Porfírio Pardal Monteiro em diversos planos e projetos para a zona da
Praça do Comércio, uma faceta que tem sido pouco sublinhada nos estudos publicados sobre o
arquiteto. De facto, a DNISP preconizou, nos finais da década de 1940, que se privilegiasse o
concurso limitado ao invés da designação direta unipessoal. Após uma aposta na contratação
de arquitetos externos aos serviços do MOP, verificou-se uma gradual assunção das funções

459
de projetista principal pelos técnicos da DGEMN a partir da década de 1950, como destaque
dos arquitetos Manuel Costa Martins e Nuno Beirão. É de assinalar que os concursos limitados
com indicação prévia dos convidados deram azo a que a decoração dos espaços tenha estado a
cargo de um grupo restrito de artistas, o que promoveu uma certa coerência estética no quadro
da aparente diversidade. Destaquem-se os representados em ambos os casos de estudo, que se
coadunaram com os intentos ideológicos das encomendas: Leopoldo de Almeida, Francisco
Franco, Maximiano Alves, Barata Feyo, Joaquim Rebocho, Jaime Martins Barata e Guilherme
Camarinha, trabalhando tanto na década de 1930, como no pós-guerra, numa clara tentativa do
regime de manter a sua imagem no quadro de um novo cenário internacional.
As práticas de seleção condicionavam, à partida, a expressão arquitetónica e estética, ao limitar
os possíveis intervenientes. As etapas de avaliação, acompanhadas pelos responsáveis das
obras nos edifícios e envolvendo a consulta de entidades oficiais como o CSOP, a JNE e a
Comissão de Revisão da DGEMN, influenciaram a obra final – e, por vezes, retardaram
bastante a conclusão, inclusive por protestos como os que José de Figueiredo protagonizou
enquanto representante do CSBA. Acresce o facto de alguns vogais destas instâncias, que
emitiram pareceres, terem laborado tanto no Palácio de São Bento como nas remodelações na
Praça do Comércio, concretamente os arquitetos Raul Lino e Pardal Monteiro. Não
questionando a idoneidade da opinião destas figuras, reconhecidas ao tempo enquanto
especialistas, e considerando o ambiente de acatamento das “regras do jogo”, a sua intervenção
profissional e o seu conhecimento privilegiado acerca dos trabalhos em curso não terá sido
despiciendo nos julgamentos que apresentaram.
O controlo das diversas fases de planeamento e concretização não se cingiu aos organismos de
consulta enunciados, revelando-se o Presidente do Conselho como um atento supervisor,
particularmente nas obras em São Bento, que visitava amiúde e para as quais foi manifestando
necessidades. Se mencionou a Christine Garnier que não selecionara os objetos decorativos da
sua residência, numa tentativa de demonstração da sua simplicidade e de desprendimento desse
tipo de assuntos mundanos, o certo é que todas as decisões passaram pelo seu crivo. O gosto
tradicionalista, pautado por ideias de sobriedade condigna e avesso a incursões de notável
modernidade, era transversal aos ocupantes dos altos cargos, nomeadamente os ministros: a
intromissão destas figuras no processo de decoração dos seus gabinetes de trabalho –
simultaneamente equipados como confortáveis salas de receção – assumiu notoriedade com o
Ministro das Finanças, Águedo de Oliveira, que se sobrepôs ao trabalho conduzido pela DNISP
e ao projeto do arquiteto Pardal Monteiro. A interferência na seleção do mobiliário para o seu
gabinete, acarretando exigências de peças de cariz histórico, preferentemente coetâneas ao

460
período de reconstrução pombalina, reflete-se nas escolhas feitas para outros gabinetes
ministeriais remodelados na praça. Nesses casos, alegaram-se paralelamente critérios
económicos acoplados à reutilização de mobiliário existente, devendo as novas aquisições
coadunar-se estilisticamente. Conclui-se que há uma nítida identificação entre cariz histórico e
legitimidade política, isto é, atribuía-se peso à preservação de atmosferas do passado por
concorrerem para a validação da organização política. Mais do que preocupações patrimoniais,
relevantes no quadro da atuação da DGEMN e dos arquitetos envolvidos nos diversos projetos,
a valorização da estética historicista revela-se enquanto apropriação, capaz de sublinhar a
hierarquia administrativa e justificar a conduta das altas figuras do Governo. Aliás, a ocupação
de edifícios conotados com elevado simbolismo, imprimindo a marca do novo momento
autoritário sem desvirtuar a estrutura histórica e inclusivamente restaurando elementos
decorativos, foi também prática sob Mussolini ao instalar-se no Palazzo Venezia em Roma, por
exemplo. E, embora a sede da nova Chancelaria do Reich, em Berlim, tenha sido construída de
raiz e o seu exterior seja característico do ímpeto de imposição do poder político na paisagem
urbana, o gabinete de Hitler, fruto das suas escolhas, também evidencia uma mescla eclética
de decoração e mobiliário histórico. Portanto, a noção de ancoragem num passado selecionado
como marca ideológica do Estado Novo reflete-se, igualmente, na conceção dos espaços
políticos mais elevados. Seria já sob Marcelo Caetano que a transformação do gabinete do
Ministro de Estado adjunto da Presidência do Conselho, no Palácio de São Bento, assumiu o
caráter obsoleto e inadequado de mobiliário de estilo para uma sala de trabalho, considerado
mais propício para fruição contemplativa em ambiente museológico. Para os funcionários dos
serviços ministeriais concentrados na Baixa, perante a necessidade de mobiliário novo,
predominaram aspetos funcionais e de eficiência, traduzidos em linhas simplificadas e
materiais como metal e madeiras comuns.
Constata-se, à semelhança do que foi observado noutras investigações circunscritas
tipologicamente, como por exemplo o estudo das sedes da CGDCP, que o resultado estético
não terá sido determinado por diretrizes claramente enunciadas pelo poder central, mas pelo
processo de avaliação e pelas intromissões externas às comissões de obras, sendo os critérios
de apreciação aplicados pelas instâncias como a JNE de difícil qualificação e em parte vagos,
de reverência para com o património histórico.

A Praça do Comércio, apesar do intrínseco simbolismo atribuído, é particularmente ilustrativa


da dificuldade de concretização. O planeamento urbano envolveu o confronto entre serviços
do MOP, da AGPL e da CML, por vezes laborando em simultâneo em soluções idênticas,

461
despendendo-se avultadas somas na elaboração e reformulação de estudos que não seriam
transpostos para a realidade – dos planos assinados por Paulo Cunha aos diversos estudos de
que Faria da Costa foi encarregue pela DNISP e pelo município. Fatores económicos e de
morfologia dos terrenos, interesses dos vários organismos e, também, o caráter de monumento
classificado cuja dignidade histórica importava preservar – e ainda, nos planos dos anos de
1960 e 1970, a guerra em África e a revolução de abril – impediram a concretização do arranjo
da orla ribeirinha junto à praça, legando à posteridade a resolução de um conjunto de problemas
relacionados com a ocupação de edifícios e o ordenamento do tráfego. Também os projetos
para novos equipamentos que completariam a praça, conferindo-lhe uma nova feição – em
consonância com as recomendações da Carta de Atenas sobre o urbanismo moderno (1933) –,
como no caso dos blocos monumentais dos Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações, não se materializaram, apesar do estádio avançado em que se encontravam.
Não obstante, certas pastas viram-se obrigadas a solucionar a notória falta de instalações nos
edifícios pombalinos, originando a saída dessa área historicamente associada ao governo pela
aquisição de edifícios projetados para outros fins, como sucedeu para o Ministério das
Corporações e Previdência Social, assim quebrando definitivamente os desejos de
centralização e controlo dos ministérios – que, de resto, nunca fora uma completa realidade,
pelo facto de duas pastas, Educação Nacional e Negócios Estrangeiros, funcionarem desde
inícios do regime noutras zonas da cidade. As propostas de mudança dos gabinetes ministeriais
para outras zonas da cidade não teriam concretização durante o regime, e também não seriam
totalmente alcançadas no período democrático.

Os edifícios abordados mantiveram as suas funções políticas após a revolução de 1974, e uma
parte significativa é ainda atualmente utilizada para esses fins.
À semelhança de outros países europeus, a atitudes de silenciamento do passado ditatorial
seguiram-se posturas de distanciamento que tendencialmente neutralizam a sua carga negativa.
Neste domínio, o caso português no pós-revolução parece assemelhar-se ao que sucedeu em
Itália após a queda do fascismo. Apesar de se ter assistido, em Portugal, à destruição de
determinadas estátuas e à ocupação de certas instituições repressivas, identificámos que cedo
houve intenções de preservar tanto edifícios acoplados a memórias difíceis, como o património
artístico integrado nos edifícios públicos, o que poderá ter sido facilitado pelo uso continuado
dos equipamentos. Não obstante, em Portugal não se assiste a atitudes como as que em anos
recentes se verificam em Itália, conducentes a revisionismo histórico e à reabilitação do
fascismo através de usos conferidos a edifícios.

462
Embora o Palácio de São Bento e os Ministérios tenham sofrido algumas remodelações e
tenham sido eliminadas as referências iconográficas diretas a figuras do regime, com dispersão
de obras de arte por museus nacionais – cujo paradeiro procurámos identificar – associada a
uma tomada de consciência do seu valor documental, a camada do período do Estado Novo
não desapareceu. Porém, e apesar de as intervenções de adaptação e de restauro empreendidas
pela DGEMN serem passíveis de se encarar enquanto património, a valorização dos edifícios
relaciona-se sobretudo com a sua classificação patrimonial e com as componentes histórica e
artística associadas ao contexto de origem, considerando que a ocupação novecentista constitui
somente uma parcela do trajeto.
Paralelamente, a utilização enquanto centros de decisão e de administração estatal, ou
reconvertidos para finalidades turísticas e de lazer, acarreta dinâmicas próprias e afasta estes
edifícios de tradicionais espaços musealizados. O confronto com os legados materiais do
regime salazarista, quer na Assembleia da República, quer nos edifícios da Praça do Comércio,
tem sido relativamente circunscrito, afastando-se dos discursos oficiais sobre património que
enaltecem figuras relevantes e aspetos estéticos sem interpretação da carga simbólica acoplada,
muitas vezes sem associação vincada à sua conjuntura histórica-política. Porém, a dimensão
política do legado do Estado Novo nestes imóveis parece-nos indubitável. A complexidade das
camadas históricas que compõem estes imóveis terá contribuído para menosprezar a marca
estado-novista. Não obstante, o estudo dos contextos de realização (e de não concretização)
das intervenções arquitetónicas e artísticas permitiu comprovar intenções subjacentes,
firmando-as como produto da ideologia do Estado Novo, mesmo que a utilização continuada
ao longo do tempo possibilite a atribuição de novos significados aos espaços. Trata-se de locais
de acesso restrito, cuja interpretação requer algum conhecimento, o que faz com que, mais do
que se manifestar como um legado difícil e desconfortável, como os que têm vindo a ser
debatidos no panorama internacional, se assumam como património invisível, cujas
repercussões no presente importa apreender, sobretudo no que respeita a questões relacionadas
com memória e identidade coletiva.

O presente estudo levantou um conjunto de questões que poderão ser alvo de investigações
futuras, nomeadamente no que concerne à análise dos edifícios que serviram de sedes do poder
local, incluindo um mapeamento de obras de arte integradas, e no que respeita a um estudo
mais aprofundado e sistemático das vivências de equipamentos públicos e seu recheio artístico
no pós-revolução e do entendimento patrimonial que atualmente lhes é outorgado.

463
464
Referências

Fontes

I. Fontes Arquivísticas

Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças (ACMF)


Fundo Direção-Geral da Fazenda Pública
PT/ACMF/DGFP/MOVMB/424
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/015
PT/ACMF/DGFP/RP/LIS/LIS/BARTS/036
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PT/ACMF/DGFP/RT/PES/0412
PT/ACMF/DGFP/RT/PES/0311
Fundo Secretaria-Geral do Ministério das Finanças
Processos 317/04; 323/66; 362/17; 462/13.
Pasta ‘Comissão para Aquisição de Mobiliário’

Arquivo da Família Raul Lino (AFRL)


Armário B, Arquivador de Relatórios, Artigos e Pareceres
2.º vol.: 263; 313.
3.º vol.: 473A; 482; 504; 521; 537; 565.
4.º vol.: 668; 686; 703; 703A; 717; 803.
Armário B, maço Superintendência Artística dos Palácios Nacionais

Arquivo do Instituto Camões (AIC)


PT/MNE/CICL/IC-1/01215/23 - cx. 1215/23, proc. 1360
PT/MNE/CICL/IC-1/01257/02 - proc. 2720
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PT/MNE/CICL/IC-1/01423/02- cx.1432/2, proc. 2776

465
Arquivo Histórico Parlamentar (AHP)
PT-AHP/CR/DGSC/CONT/S12 - Congresso da República, Direcção-Geral da Secretaria do
Conselho, Contabilidade, Processos de obras:
Secção XI-B, cx. 29, pt. 12;
Secção XI-D, cx. 1, pt. 9, 10, 11.

Arquivo Histórico da Secretaria-Geral da Educação e Ciência (AHSGEC)


Fundo JNE
cx. 232, proc. 18; 55
cx. 234, proc. 9; 13
cx. 237, proc.
cx. 249, proc. 52; 60; 74
cx. 251, proc. 78
cx. 288, proc. 2
cx. 323, proc. 44; 106; 132
cx.326, proc.106
Documentação não tratada arquivisticamente
Pasta ‘Processo 35-1-1-: Motivos decorativos – Generalidades’

Arquivo Histórico da Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança


Social (AHSGMTSSS)
Documentação não tratada arquivisticamente
Pasta “Imóvel – 4026 – Praça de Londres, 2”
Pasta “Ed17 - Imóveis – Imóvel da Praça de Londres – Relatório e Contas”

Arquivo Histórico Ultramarino (AHU)


Obras Públicas
OP08111 - A1/Cx100 DSUH
OP08415 - A1/Cx138 DSUH
OP08545 – A1/Cx154 DSUH

Arquivo Municipal de Lisboa (AML)


PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/10/432
PT/AMLSB/CMLSB/UROB-PU/10/291, Pasta 216-A/DMPGU

466
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
Arquivo Salazar
Correspondência Particular:
CP-156, pt. 4.3.7/21; 4.3.8/9
CP-184, pt. 5.2.9/6
Correspondência Oficial / Obras Públicas:
OP-1, cx. 476, pt. 9; 10; 12; 13; 14; 15
Correspondência Oficial / Presidência do Conselho:
PC-64, cx.638, pt. 1
Ministério do Interior
Incorporação de 2003, NT 548 – capilha ‘Liv.41-n.º 25/2; cx. 548’

Biblioteca e Arquivo Histórico da Economia (BAHE) - Acervo Infraestruturas, Transportes e


Comunicações
Arquivo Particular do Ministro Arantes e Oliveira
Correspondência Particular, cx. 59.
Fundo Conselho Superior de Obras Públicas
P1827, P2973, P3810, PI0012
Livro de Actas n.º 91
Processo Individual de Eduardo Rodrigues de Carvalho, PI-Cx 33
CAPOPI, cx. 08

Centre d’Archives d’Architecture Contemporaine (CAAC)


Fond Jacques Carlu
CARJA-D-58-2, Dossier 010 Ifa 304/08.

Direção-Geral do Património Cultural / Sistema de Informação do Património Arquitetónico


(DGPC/SIPA)
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PT/DGEMN/DNISP-001-0043/01/1/1 PT/DGEMN/DNISP-001-0130/02/2/2
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PT/DGEMN/DNISP-001-0119/01/3 PT/DGEMN/DNISP-001-0178/02/01

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PT/DGEMN/DNISP-001-0178/03/1 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3211/01
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PT/DGEMN/DNISP-001-0206/02/9 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3212/15
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PT/DGEMN/DNISP-001-0233/01/1 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3213/02
PT/DGEMN/DREL-3320/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/01
PT/DGEMN/DREL-3324/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/02
PT/DGEMN/DREL-3325/03 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3214/03
PT/DGEMN/DREL-3480/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3215/02
PT/DGEMN/DREL-3514/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3217/01
PT/DGEMN/DSARH-001/125-0143/03 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3217/02
PT/DGEMN/DSARH-002/0312/22 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3218/01
PT/DGEMN/DSARH-005-4716/09 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3219/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0678/11 PT/DGEMN/ DSARH-005/125-3219/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0678/13 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3219/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0701/06 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/04
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0704/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3220/05
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0706/05 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0708/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0710/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/05
PT/DGEMN/DSARH-005/125-0715/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3221/06
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1025/03 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3223/12
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1026/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1199/06 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/04
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1418/10 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/06
PT/DGEMN/DSARH-005/125-1597/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3224/07
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2498/16 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2500/11 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/04
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2506/11 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/08
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2506/28 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3226/09
PT/DGEMN/DSARH-005/125-2509/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/09

469
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3228/13 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3933/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3230/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3944/05
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3230/06 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3230/09 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3952/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3234/15 PT/DGEMN/DSARH-005/125-3979/06
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3237/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4099/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4099/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3238/04 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4099/04
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3239/08 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4116/04
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3255/04 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4126/08
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3257/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4174/24
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3282/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4175/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3304/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4214/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3305/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4221/05
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3320/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3738/11 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4280/08
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3798/06 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3798/14 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3839/05 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4395/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3881/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4396/05
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3882/01 PT/DGEMN/DSARH-125/005-4400/08
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3884/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4424/02
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3886/04 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4424/15
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3888/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4425/08
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/01 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4465/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3889/02 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4465/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/03 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4353/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/12 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4716/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3890/13 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/13
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/06 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4719/14
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/15 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4731/03
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03 PT/DGEMN/DSARH-005/125-4732/01
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3927/17 PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/018
PT/DGEMN/DSARH-005/125-3928/03 PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/019

470
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/032 PT/DGEMN/DSID/001/011-1501
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/034 PT/DGEMN/DSID/001/011-1504
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/037 PT/DGEMN/DSID/001/011-1505
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/040 PT/DGEMN/DSID/001/011-1506/2
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/041 PT/DGEMN/DSMN-001-0095/02/7
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/046 PT/DGEMN/DSMN-001-0096/01/4
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/059 PT/DGEMN/DSMN-0310/07
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/087 PT/DGEMN/DSMN-0347/03
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/088 PT/DGEMN/DSMN-0361/10
PT/DGEMN/DSARH-010/125-0097/143 PT/DGEMN/DSMN-0363/04
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0002/04 PT/DGEMN/DSMN-0367/05
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0015/09 PT/DGEMN/DSMN-0534/07
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0017/01 PT/DGEMN/REE-0025/02
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0026/07 PT/DGEMN/REE-0062/04
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0034/01 PT/DGEMN/REE-0081/06
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0036/02 PT/DGEMN/REE-0088/07
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0041/05 PT/DGEMN/REE-0139/11
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0217/02 PT/DGEMN/REE-0141/05
PT/DGEMN/DSARH-PESSOAL-0571/03 PT/DGEMN/REE-0141/36
PT/DGEMN/DSC-0054/05 PT/DGEMN/REE-0174/01
PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1056 PT/DGEMN/REE-0176/01
PT/DGEMN/DSCSV-001-0168/1057 PT/DGEMN/REE-0180/08
PT/DGEMN/DSID-001/011-1347 PT/DGEMN/REE-0182/03
PT/DGEMN/DSID-001/011-1351 PT/DGEMN/REE-0201/11
PT/DGEMN/DSID-001/011-1352 PT/DGEMN/REE-0207/01
PT/DGEMN/DSID-001/011-1353 PT/DGEMN/REE-0207/02
PT/DGEMN/DSID-001/011-1354 PT/DGEMN/REE-0377/01
PT/DGEMN/DSID/001/011-1500 PT/DGEMN/REOM-0024/02

Fundação Calouste Gulbenkian – Biblioteca de Arte e Arquivos (FCG-BAA)


Espólio Diogo de Macedo
DM 073/55; DM 375/6; DM 375/8; DM 375/26
Espólio Luís Cristino da Silva

471
LCS 43.0.1; LCS 46.2.6; LCS 46.4.20; LCS 46.4.22.1; LCS 46.4.22.2; LCS 73.8.1;
LCSDA 73.29; LCSDA 73.32
Espólio Raul Lino
RLA 351.0; RLA 351.1

Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC)


MNAC, Correspondência expedida: 1975-1976-1977
MNAC, Correspondência recebida: 1974-1975; 1976; 1977; 1979; 1980

II. Legislação
Decreto de 16.06.1910, Diário do Governo, I série, n.º 136, 23.06.1910.
Decreto n.º 11932, Diário do Governo, I série, n.º 158, 22.07.1926.
Decreto n.º 20985, Diário do Governo, I série, n.º 56, 07.03.1932.
Decreto-lei n.º 21454, Diário do Governo, I série, n.º 157, 07.07.1932.
Decreto n.º 21699, Diário do Governo, I série, n.º 230, 30.09.1932.
Decreto n.º 22241, Diário do Governo, I série, nº 43, 22.02.1933.
Decreto-Lei n.º 22466, Diário do Governo, I série, n.º 83, 11.04.1933.
Decreto-lei n.º 22789, Diário do Governo, I série, n.º 145, 30.06.1933.
Decreto-lei n.º 23054, Diário do Governo, I série, n.º 218, 25.09.1933.
Decreto-lei n.º 23398, Diário do Governo, I série, n.º 293, 23.12.1933.
Decreto-lei n.º 24208, Diário do Governo, I série, n.º 171, 23.07.1934.
Lei n.º 1912, Diário do Governo, I série, n.º 117, 23.05.1935.
Lei n.º 1914, Diário do Governo, I série, n.º 118, 24.05.1935.
Lei n.º 1941, Diário do Governo, I série, n.º 84, 11.04.1936.
Decreto-lei n.º 26611, Diário do Governo, I série, n.º 116, 19.05.1936.
Decreto-Lei n.º 27563, Diário do Governo, I série, n.º 60, 13.03.1937.
Decreto-lei n.º 27921, Diário do Governo, I série, n.º 180, 04.08.1937
Decreto-lei n.º 28797, Diário do Governo, I série, n.º 150, 01.07.1938.
Decreto-Lei n.º 30692, Diário do Governo, I série, n.º 199, 1.º suplemento, 27.08.1940.
Decreto-lei n.º 33545, Diário do Governo, I série, n.º 37, 23.02.1944.
Lei n.º 2009, Diário do Governo, I série, n.º 208, 17.09.1945.
Decreto-lei n.º 35716, Diário do Governo, I série, n.º 138, 24.06.1946.
Decreto-Lei n.º 36061, Diário do Governo, série I, n.º 295, 27.12.1946.
Decreto-Lei n.º 36353, Diário do Governo, I série, n.º 137, 17.06.1947.

472
Decreto-lei n.º 36818, Diário do Governo, I série, n.º 78, 05.04.1948.
Decreto-lei n.º 37015, Diário do Governo, I série, n.º 190, 16.08.1948.
Decreto-Lei n.º 37909, Diário do Govenro, I série, n.º 152, 01.08.1950.
Decreto-Lei n.º 38152, Diário do Governo, I série, n.º 12, 17.01.1951.
Decreto-Lei n.º 38300, Diário do Governo, I série, n.º 121, 15.06.1951.
Decreto-Lei n.º 39733, Diário do Governo, I série, n.º 158, 21.07.1954.
Decreto-lei n.º 39847, Diário do Governo, I série, n.º 224, 08.10.1954.
Decreto-Lei n.º 41825, Diário do Governo, I série, n.º 177, 19.08.1958.
Decreto-Lei n.º 43748, I série, n.º 143, 22.06.1961.
Decreto-lei n.º 144/70, Diário do Governo, I série, n.º 83, 09.04.1970.
Decreto-Lei n.º 584/73, Diário do Governo, I série, n.º 259, 1.º suplemento, 06.11.1973.
Decreto-Lei n.º 108/74, Diário do Governo, I série, n.º 63/1974, 15.03.1974.
Lei n.º 1/74, Diário do Governo, série I, n.º 97, 1.º suplemento, 25.04.1974.
Decreto n.º 45/93, Diário da República, série I-B, n.º 280, 30.11.1993.
Decreto n.º 5/2002, Diário da República, série I-B, n.º 42/2002, 19.02.2002.
Resolução do Conselho de Ministros n.º 78/2008, Diário da República, série I, n.º 94/2008,
15.05.2008.
Decreto-lei n.º 117/2008, Diário da República, série I, n.º 131/2008, 09.07.2008.
Decreto-lei n.º 110/2011, Diário da República, série I, n.º 227/2011, 25.11.2011.
Portaria n.º 640/2012, Diário da República, n.º 212, série II, 02.11.2012.
Portaria n.º 109/2014, Diário da República, n.º 30, série II, 12.02.2014.
Despacho n.º 10635-A/2016, Diário da República, série II, n.º 162/2016, 1.º suplemento,
24.08.2016.

III. Hemerografia1915
Arquitectura: 1971
A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação (reunidas): 1936
Binário: 1967
Diário da Manhã: 1957
Diário de Lisboa: 1923, 1924, 1931, 1933, 1935, 1938, 1940, 1947, 1955, 1964, 1967, 1971,
1976

1915
Optou-se pela inclusão, nesta secção, das referências a periódicos contemporâneos (cuja referência online se
indica nas respetivas notas de rodapé) a par dos de cariz histórico. As referências completas encontram-se nas
respetivas notas de rodapé.

473
Diário de Notícias: 1935, 1955
Diário Popular: 1964
Eco – Economia Online: 2021
Evasões: 2016
Expresso: 2016
Ibero-amerikanisches Archiv: 1939, 1942
L’Architecture d’Aujourd’hui: 1939
Les Ailes: jornal hebdomadaire de la locomotion aérienne: 1934
Observador: 2014, 2021
Público: 2017, 2018, 2019, 2020, 2021
Revista Municipal: 1941, 1949
Revista Nacional de Arquitectura: 1941, 1951
Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos: 1938
Sábado: 2017
O Século: 1935, 1938, 1940, 1941

IV. Fontes impressas


XXXIII Aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional, Lisboa: Ministério das Corporações e
Previdência Social, 1966.

Actas da Câmara Corporativa, n.º 1, 02.01.1954.

ARAÚJO, Norberto de. Inventário de Lisboa, fascículo 3. Lisboa: Câmara Municipal de


Lisboa, 1946.

BARATA, Jaime Martins. Exposição das decorações da escadaria nobre do Palácio da


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Corporativa. Abril de 1944. Lisboa: Neogravura, 1944.

_____, Domingos Rebelo. “O Palácio de S. Bento – Assembleia Nacional”. Olisipo. Boletim


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CASTRO, Augusto de. Homens e paisagens que eu conheci. Lisboa: Livraria Clássica Editora,
1941.

Catálogo da exposição de pintura a fresco de Sousa Lopes com prefácio de Afonso Lopes
Vieira e Reynaldo dos Santos, Maio 1934. Lisboa: Imprensa Libânio da Silva, 1934.

474
Catálogo dos quadros, objectos de arte, porcelanas e mobiliário que pertenceram aos 1.os
Condes de Burnay e a cujo leilão de procederá no Palácio da Junqueira em 1934. Lisboa:
Oficina Gráfica, 1934.

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 20, 27.02.1935.

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, suplemento ao n.º 140, 17.02.1945.

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, suplemento ao n.º 144, 28.03.1952

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 89, 02.04.1955.

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 4, 10.12.1965.

Diário das Sessões da Assembleia Nacional, n.º 154, 13.12.1968.

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Discursos pronunciados em 23 de Maio de 1935 e 6 de Maio de 1949, 11-25. Lisboa: Edições
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GARNIER, Christine. Férias com Salazar. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1952.

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505
506
Anexos

507
508
I.
Cronologia: propostas e intervenções durante o Estado Novo

1926
• Transferência dos serviços artísticos, técnicos e administrativos das obras de conclusão do
edifício do Congresso da República para a Administração Geral das Obras e Edifícios
Públicos / MOPC (Decreto n.º 11932, 22.07.1926)

1927
• Estudo de ligação entre a Praça do Duque da Terceira e a Praça do Comércio (arq. Jean-
Claude Forestier)

1933
• Criação da Delegação das Obras do Palácio da Assembleia Nacional / DGEMN – direção:
eng. Teófilo Leal de Faria, colaboração do arq. António Lino
• Plano de obras no gabinete e anexos do Ministro das Obras Públicas e Comunicações, na
Praça do Comércio (arq. Guilherme Rebelo de Andrade)
• Beneficiações nas fachadas dos edifícios da Praça do Comércio (DGEMN)

1934
• Anteprojeto de transformação do largo fronteiriço ao Palácio de São Bento (arq. Luís
Cristino da Silva)
• Estudo das estátuas para decoração da entrada principal do Palácio de São Bento (supervisão
esc. Francisco Franco; execução escs. Barata Feyo, Costa Mota (Sobrinho), António da
Costa, Maximiano Alves, Raul Xavier, Ruy Roque Gameiro)
• Escadaria nobre do Palácio de São Bento (arq. António Lino)
• Convite a vários arquitetos para apresentação de anteprojetos para decoração de gabinetes
do andar nobre do Palácio de São Bento

1935
• Reabertura do Palácio da Assembleia Nacional (11.01.1935)
• Concurso para decoração pictórica dos patamares no topo da escadaria nobre do Palácio de
São Bento (vencedores: Abel Manta, Dordio Gomes, Lino António)
• Pintura Alegoria à Pátria para a Sala das Sessões da Câmara Corporativa, no Palácio de São
Bento (pint. Carlos Reis)

509
• Remodelação dos gabinetes do Presidente do Conselho (arq. Guilherme Rebelo de Andrade),
Presidente da Assembleia Nacional (arq. António Lino), Presidente da Câmara Corporativa
(arq. Carlos Rebelo de Andrade) e sala de reuniões do Conselho de Ministros (arq. Raul
Lino)
• Implementação da Delegação das Obras da Ala Oriental da Praça do Comércio / DGEMN –
direção: eng. Eduardo Rodrigues de Carvalho
• Proposta de ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça do Comércio (arq. Donat-Alfred
Agache)

1936
• Anteprojeto da zona de proteção do Palácio da Assembleia Nacional (arq. Luís Cristino da
Silva) [estudos continuam pela década de 1940]
• Inauguração do busto retratando Salazar na Biblioteca do Palácio de São Bento (esc.
Francisco Franco)
• Anteprojeto do Salão Nobre do Palácio de São Bento (arq. Porfírio Pardal Monteiro)

1937
• Zona de proteção do Palácio da Assembleia Nacional (Decreto-lei n.º 27921, 04.08.1937)
• Início das obras de adaptação do Palacete Sottomayor a Residência Oficial do Presidente do
Conselho
• Grupos escultóricos no topo das portas nos patamares da escadaria nobre do Palácio de São
Bento (esc. Leopoldo de Almeida)
• Aprovação das propostas para pinturas murais no Salão Nobre (pint. Adriano de Sousa
Lopes)
• Ataques bombistas causando estragos nos Ministérios da Guerra e do Interior na Praça do
Comércio
• Projeto para as instalações do Ministério das Finanças, na Praça do Comércio (arq. Porfírio
Pardal Monteiro)

1938
• Assentamento do frontão na fachada do Palácio de São Bento (esc. Simões de Almeida,
Sobrinho)
• Sessão solene de abertura da Assembleia Nacional
• Demolição do Arco de São Bento
• Residência Oficial do Presidente do Conselho: Tanque (arq. Luís Cristino da Silva); estátua
Meditação e golfinhos para outro tanque (esc. Leopoldo de Almeida)

510
1939
---

1940
• Convite a Jaime Martins Barata para execução dos trípticos para a escadaria de honra do
Palácio de São Bento
• Encomenda de retratos de Salazar para o Ministério das Finanças, na ala ocidental da Praça
do Comércio (pint. Luís de Ortigão Burnay, esc. Francisco Franco)

1941
• Colocação das quatro estátuas na entrada principal do Palácio de São Bento (escs. Raul
Xavier, Costa Mota (Sobrinho), Maximiano Alves, Barata Feyo)
• Extinção da Delegação das Obras do Palácio da Assembleia Nacional

1942
• Colocação de duas esculturas representando leões na base da escadaria principal exterior do
Palácio de São Bento (esc. Raul Xavier)
• Estudo para o Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa entre Alcântara e Terreiro do
Paço (arq. Paulo Cunha, eng. Fernando Silva / AGPL)

1943
---

1944
• Inauguração dos trípticos nos patamares da escadaria de honra do Palácio de São Bento (pint.
Jaime Martins Barata)

1945
• Inauguração do Museu Histórico-Bibliográfico da Assembleia Nacional, no Palácio de São
Bento
• Estudo para ligação da Avenida 24 de Julho ao Terreiro do Paço (arq. Porfírio Pardal
Monteiro)

1946

511
• Conclusão das pinturas murais do Salão Nobre do Palácio de São Bento (pints. Domingos
Rebelo e Joaquim Rebocho)
• Estudo da instalação dos serviços públicos na zona do Terreiro do Paço (arq. Porfírio Pardal
Monteiro)
• Projeto das novas instalações do Ministério da Justiça, na Praça do Comércio (arq. Raul
Tojal)

1947
• Proposta de planta da zona de proteção da Praça do Comércio (DSMN)
• Planos para colocação de estátuas nos nichos da Praça do Comércio
• Obras no canto nordeste da Praça do Comércio para alojamento do Ministério das
Comunicações
• Estudo do arranjo do gabinete do Ministro da Economia e propostas para cedência de quadros
para o gabinete do Ministro das Comunicações, na Praça do Comércio (Cayola Zagalo /
PNA)
• Estudo da ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio (arq. Faria da Costa /
DGEMN)

1948
• Inauguração da estátua As mulheres portuguesas gratas a Salazar, junto ao jardim da
Residência Oficial do Presidente do Conselho (esc. Leopoldo de Almeida)
• Criação da Delegação para as Novas Instalações dos Serviços Públicos (DNISP / DGEMN)
– direção: eng. Artur Bonneville Franco
• Plano geral de distribuição dos Ministérios na zona do Terreiro do Paço – Ribeira das Naus
(DNISP)
• Abertura da Avenida Ribeira das Naus
• Anteprojeto de remodelação do Ministério do Interior (arq. Porfírio Pardal Monteiro)
• Hipótese de acrescentamento de um andar secundário nos edifícios do Terreiro do Paço (arq.
Raul Lino / DNISP)

1949
• Beneficiações na Residência Oficial do Presidente do Conselho
• Mobiliário para o Salão Nobre do Palácio de São Bento (arq. Luís Benavente / CAM)
• Proposta para transformação da Praça do Comércio em centro de atração turística (Serviços
de Propaganda e Turismo – AGPL)
• Estudo de candeeiros de iluminação pública para o Terreiro do Paço (arq. Raul Lino / DNISP)

512
• Pintura das fachadas dos edifícios da Praça do Comércio
• Retoma do projeto e construção do Ministério das Finanças (arq. Porfírio Pardal Monteiro /
DNISP)

1950
• Bustos de António Cândido e Hintze Ribeiro para o Palácio de São Bento (esc. Maximiano
Alves)
• Arranjo do gabinete do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros no Palácio de São
Bento (arq. Luís Benavente / CAM)
• Plano de Remodelação da Baixa (arq. Faria da Costa / DSUO-CML)
• Anteprojeto das novas instalações para o Tribunal de Contas, no torreão nascente da Praça
do Comércio (arq. Porfírio Pardal Monteiro)

1951
• Renovação da decoração da Residência Oficial do Presidente do Conselho
• Reformulação do plano geral de distribuição dos Ministérios na zona do Terreiro do Paço –
Ribeira das Naus (DNISP)

1952
• Estudo parcial de urbanização de Lisboa. Remodelação do Bairro Alto e das suas principais
ligações com a cidade. Estudos prévios para a organização futura de um ante-plano (arq. Luís
Cristino da Silva)
• Exposição Histórica do Ministério das Finanças
• Colocação das esculturas e dos baixos-relevos na escadaria nobre do Ministério das Finanças,
na Praça do Comércio (escs. Álvaro de Brée, Leopoldo de Almeida e Barata Feyo)
• Fonte para o claustro do Ministério das Finanças, na Praça do Comércio (arq. Porfírio Pardal
Monteiro, esc. Maximiano Alves)
• Arranjo do gabinete do Ministro das Finanças, na Praça do Comércio (CAM / DNISP)

1953
• Adaptação do gabinete Presidente da Câmara Corporativa a sala de reuniões do Conselho de
Ministros para o Comércio Externo
• Conclusão do tríptico pintado na escadaria nobre do Ministério das Finanças, na Praça do
Comércio (pint. Joaquim Rebocho)
• Anteprojeto para as novas instalações dos Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações, junto da Praça do Comércio (arqs. Cristino da Silva e António Lino)

513
• Anteprojeto para as instalações do Ministério das Corporações e Previdência Social, junto
da Praça do Comércio (arq. Costa Martins / DNISP)

1954
• Aumento das atribuições da DNISP (Decreto-Lei n.º 39733, 21.07.1954)
• Processo de classificação como Imóvel de Interesse Público de parte da Baixa Pombalina
(arq. Paulino Montês / JNE)
• Tapeçaria mural Valorização do Mundo para o gabinete do Ministro das Finanças, na Praça
do Comércio (pint. Guilherme Camarinha / Manufatura de Tapeçarias de Portalegre)
• Projeto de remodelação do Ministério do Interior (arq. Porfírio Pardal Monteiro / DNISP)

1955
• Conclusão das obras do Ministério das Finanças, na Praça do Comércio

1956
• Revisão do Plano de Remodelação da Baixa (arq. Faria da Costa / CML)
• Estudo de decoração e arranjo dos corredores do Tribunal de Contas, no torreão nascente da
Praça do Comércio (arq. Areal e Silva / DSC)
• Projeto definitivo do edifício dos Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações, junto
da Praça do Comércio (arqs. Cristino da Silva e António Lino)

1957
• Planeamento de mobiliário para o Ministério do Interior, na Praça do Comércio (arq. Luís
Benavente, CAM)
• Vitral para a escadaria principal do Ministério do Interior, na Praça do Comércio (pint.
Joaquim Rebocho)
• Conclusão das obras do Ministério do Interior

1958
• Revisão do arranjo da zona marginal entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio (arq. Faria
da Costa, colab. GEU-CML, DNISP, AGPL)
• Entrega de tapeçaria mural para o Tribunal de Contas, no torreão nascente da Praça do
Comércio (pint. Guilherme Camarinha / Manufatura de Tapeçarias de Portalegre)

1959

514
• Estudo de remodelação do gabinete do Presidente do Conselho no Palácio de São Bento (arq.
Nuno Beirão / DSMN)
• Beneficiação do átrio da Presidência do Conselho no Palácio de São Bento (arq. Nuno Beirão
/ DSMN) [remodelação de salas de apoio na década de 1960]
• Projeto de remodelação do Ministério da Justiça, na Praça do Comércio (DNISP)
• Arranjo do gabinete do Ministro das Obras Públicas, na ala oriental da Praça do Comércio
(arq. Vaz Martins / DNISP)

1960
• Estudo para as novas instalações do Ministério da Saúde e Assistência, no Campo Santana
(arq. Costa Martins / DNISP)
• Entrega das pinturas para o Salão Nobre do Tribunal de Contas, no torreão nascente da Praça
do Comércio (pints. Martins Barata, Almada Negreiros, Joaquim Rebocho)
• Inauguração do Salão Nobre do Tribunal de Contas
• Aquisição de edifício na Praça de Londres para os serviços centrais do Ministério das
Corporações e Previdência Social (arq. Sérgio Gomes)
• Projeto do novo edifício para o Ministério do Ultramar, no Restelo (arq. João de Aguiar /
Min. Ultramar)

1961
• Arranjo do gabinete do Ministro de Estado adjunto da Presidência do Conselho, no Palácio
de São Bento (arq. João Vaz Martins / DSMN)

1962
---

1963
---

1964
• Estudo de ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio (arq. Paulo Cunha)
• Proposta de transitar os serviços centrais dos Ministérios para um novo centro administrativo
no norte de Lisboa (eng. Bonneville Franco)

1965
---

515
1966
• Projeto de remodelação do Ministério da Justiça, na Praça do Comércio (arq. Costa Martins,
eng. Anjos Diniz / DNISP)
• Inauguração do edifício do Ministério das Corporações e Previdência Social, na Praça de
Londres, incluindo a decoração integrada (tapeçaria de Renato Torres, mosaicos de António
Lino Pedras e medalhão em bronze de José Farinha)

1967
---

1968
• Obras de beneficiação do Ministério do Interior, na Praça do Comércio (arq. Costa Martins
/ DNISP)

1969
• Remodelação das instalações do Ministro de Estado adjunto da Presidência do Conselho
(gabinete, sala de espera, gabinete dos secretários, sala de reuniões) no Palácio de São Bento
(arq. Nuno Beirão / DSMN)
• Beneficiações na ala ocidental da Praça do Comércio
• Incêndio na Sala do Risco

1970
• Anteprojeto de arranjo da Residência Oficial do Presidente do Conselho (arq. José de
Almeida Segurado / DEL)
• Extinção da DNISP (Decreto-lei n.º 144/70, 09.04.1970)
• Estudo de integração urbana das zonas adjacentes à Praça do Comércio e programa definitivo
do Ministério da Marinha (arq. Formosinho Sanchez, CANON – Centro de Estudos e
Projectos)

1971
• Projeto de remodelação da Residência Oficial do Presidente do Conselho (arq. José de
Almeida Segurado / DEL)

1972

516
• Remodelação da Residência Oficial do Presidente do Conselho: fornecimento de mobiliário
e decoração (arq. Nuno Beirão / CAM)
• Escultura para a entrada do Ministério das Obras Públicas, na ala oriental da Praça do
Comércio (esc. António Duarte)

1973
• Tapeçaria A Pátria para a sala de Conselho de Ministros (pint. Guilherme Camarinha e
Manufatura de Tapeçarias de Portalegre)
• Inquérito sobre as instalações dos serviços públicos (DGEMN)

1974
• Encomenda de tapeçarias para a sala das sessões do Ministério das Obras Públicas, na ala
oriental da Praça do Comércio (pint. Guilherme Camarinha)

517
II.
Intervenientes: notas biográficas1916

AGUIAR, João António de (1906-1974), arquiteto


Ministério do Ultramar: Projetos do edifício e de ampliação
Plano urbanístico da área marginal ocidental de Lisboa
Inicia a carreira ao serviço da CML (1923), onde veio a integra equipas que contactaram
com arquitetos estrangeiros contratados para estudos de urbanização na capital,
nomeadamente Forestier, Agache e De Gröer. Formou-se em Arquitetura na ESBAL (1941),
tendo sido aluno de Luís Cristino da Silva e colega de João Simões, Keil do Amaral ou
António Lino. Veio a integrar os quadros da CML na Direção dos Serviços de Urbanização
e Obras, embora tenha mantido atividade liberal enquanto projetista e consultor de câmaras
municipais, tendo sido responsável por mais de 75 planos de urbanização no território
metropolitano. Integrou o Gabinete de Urbanização Colonial (1945) – onde desenvolveu
vasta atividade no domínio do urbanismo e do planeamento de edifícios, vindo a ascender a
diretor do gabinete e, posteriormente, a Inspetor Superior de Obras Públicas e Comunicações
e a pertencer ao Conselho Superior de Fomento Ultramarino.

ALMADA NEGREIROS, José de (1893-1970), pintor


Ministério das Finanças: Pinturas O Decreto n.º 18962 de 25 de Setembro de 1930 e D.
Maria II recebe do Duque de Ávila o decreto da criação do Tribunal de Contas; cartões para
as tapeçarias O Número e O Contador (Tribunal de Contas)
Sem formação académica na área das artes plásticas, revelou-se um artista polivalente com
profícua produção ao longo da vida. Dedicando-se ao desenho, à escrita de peças de teatro e
de poesia e ao bailado nos primeiros anos da sua carreira, colaborou com periódicos diversos
através de ilustrações e ensaios – com destaque para a revista Orpheu e, mais tarde, o Diário
de Lisboa –, participou nas exposições dos Humoristas Portugueses (1912, 1913, 1915,
1920) e realizou a sua primeira exposição individual em 1913. Nesse período, foi
influenciado pelo movimento futurista, marcando presença assídua na cena cultural lisboeta,
mantendo atividade literária e dedicando-se, em adição, ao desenho de figurinos e de
cartazes. Participou na exposição dos Cinco Independentes (1923), e contactou com artistas

1916
As datas adjacentes à citação de projetos e obras, colocadas entre parêntesis, dizem respeito às datas de
conclusão ou inauguração, com algumas exceções, em que se indicam as datas de início dos estudos.

518
estrangeiros quando esteve em Paris (1919-20) e Madrid (1927-32), cidade onde, para além
de colaborar na ilustração de livros e de revistas, concebeu decorações artísticas de interiores.
Para além desta atividade nas áreas do teatro e da literatura, que se estendeu no tempo, e das
teorizações que desenvolveu, particularmente quanto aos Painéis de S. Vicente, importa
destacar a colaboração na decoração de equipamentos públicos no período do Estado Novo,
após ter realizado alguns cartazes para o SPN nos primeiros anos do regime. Recusou-se a
participar na primeira exposição do SPN – embora mais tarde venha a integrar esses
certames, e a ser premiado pelo Secretariado –, ficando de fora da decoração de pavilhões
nas exposições propagandísticas oficiais. Conseguiu, contudo, realizar peças de distintas
tipologias para edifícios destacados, devido às relações que mantinha com arquitetos: citem-
se os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1938, arq. Pardal Monteiro) e da igreja
do Santo Condestável (1951, arq. Vasco Regaleira), os murais para a estação dos CTT nos
Restauradores (1940) e o edifício do Diário de Notícias (1940, arq. Pardal Monteiro), os
painéis para as gares marítimas de Alcântara (1945, arq. Pardal Monteiro) e da Rocha do
Conde de Óbidos (1949, arq. Pardal Monteiro), os murais para a Escola Patrício Prazeres,
em Lisboa (1956), o cartão para a tapeçaria do Hotel de Santa Luzia, Viana do Castelo (1958,
arq. Jorge Segurado), ou os desenhos incisos na Cidade Universitária de Lisboa (1957-1961,
arq. Pardal Monteiro). Participou, também, no segundo concurso do Monumento ao Infante
D. Henrique, integrando a equipa vencedora (1938). Desenhara o ex-líbris para o Tribunal
de Contas (1947), antes de ser convidado para realizar pinturas para a decoração do seu novo
salão nobre.

ALMEIDA, Leopoldo Neves de (1898-1975), escultor


Palácio de São Bento: grupos alegóricos à Pesca e à Agricultura com brasões (sobreportas
da escadaria nobre); estátua Pensador e esfinges (jardim da residência do Presidente do
Conselho); estátua As Mulheres gratas a Salazar e grupo escultórico A Família (jardins nas
imediações do palácio)
Ministério das Finanças: baixos-relevos D. Manuel I/Casa dos Vinte e Quatro e D. João
I/Casa da Índia (escadaria nobre)
Foi discípulo de Simões de Almeida (sobrinho) na EBAL, onde veio mais tarde a lecionar
Desenho e Escultura, e a ascender a subdiretor. Foi pensionista do Estado em Paris e Roma
(1926-29). Na altura em que recebe as encomendas para o Palácio de São Bento, realizara
em Lisboa, por exemplo, o Monumento a António José de Almeida (1937, arq. Pardal

519
Monteiro), colaborara na decoração da Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1938, arq. Pardal
Monteiro). Participou no primeiro concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique, na
Exposição Internacional de Nova Iorque (1939) com a estátua de Óscar Carmona – tendo
então também concebido uma estátua de Salazar para a sua terra natal –, e na Exposição do
Mundo Português (1940), na qual se destaca o Padrão dos Descobrimentos (colab. arq.
Cottinelli Telmo), passado a pedra em 1960. De profícua atividade ao serviço do Estado, foi
autor de um vasto conjunto de estatuária pública e comemorativa, particularmente
representando figuras históricas – o que enquadra os relevos realizados para o Ministério das
Finanças –, religiosas e alegóricas. Destacam-se, a título de exemplo, o Mausoléu de Alfredo
da Silva, no Barreiro (1943), as estátuas de D. Afonso Henriques e D. João I para a CML
(1950), Oliveira Martins e Feliciano Castilho na Avenida da Liberdade (1952), o grupo
escultórico alusivo á Medicina para a Cidade Universitária de Coimbra (1956), a estátua
equestre de D. Nuno Álvares Pereira, na Batalha (1968), ou a estátua de S. Cristóvão, em
Lisboa (1969).

ALVES, Maximiano (1888-1954), escultor


Palácio de São Bento: Estátua Justiça (escadaria exterior); relevo Putti segurando escudo
(gabinete do presidente da Câmara Corporativa); relevo Noite e Dia para relógio (gabinete
do Presidente do Conselho); bustos de Hintze Ribeiro e António Cândido (corredores)
Ministério das Finanças: fonte (claustro)
Formado em Escultura na Academia de Belas-Artes de Lisboa (1911), tendo sido discípulo
de Simões de Almeida (tio) e colega de, entre outros, Abel Manta e Francisco Franco.
Participou em exposições da SNBA e em concursos para monumentos, como os
homenageando o Marquês de Pombal e Camões (1914-15), os mortos da Grande Guerra
(1925-31, Avenida da Liberdade, Lisboa, colab. arq. Guilherme Rebelo de Andrade) ou
Ferreira do Amaral (1935-40, Macau, colab. arq. Carlos Rebelo de Andrade). Figurou na
Exposição de Sevilha (1929), e realizou várias obras erigidas nas antigas colónias
portuguesas, para além de monumentos em Lisboa. Por altura do trabalho para a estátua da
escadaria do Palácio de São Bento – para onde já realizara, para o Hemiciclo, a estátua
Diplomacia (1921) –, elaborou também um busto de Óscar Carmona para a CML, a estátua
Revolução para a Exposição do Ano X da Revolução Nacional (1936), um baixo-relevo para
a Exposição Histórica da Ocupação (1937), a estátua de Afonso de Albuquerque para a
Exposição do Mundo Português e um busto de Salazar (1940). A colaboração com os

520
arquitetos Rebelo de Andrade, patente, por exemplo, nos enormes aguadeiros para o sifão de
Sacavém (1940) e nas cariátides para a Fonte Monumental na Alameda D. Afonso Henriques
em Lisboa (1938/48), estendeu-se à criação de um relevo em gesso para o gabinete do
Presidente da Câmara Corporativa no Palácio de São Bento. Nos inícios da década de 1950,
quando concretizou os bustos para esse palácio e o obelisco para a fonte do claustro do
Ministério das Finanças, realizou o Monumento a D. João da Câmara (1953, Lisboa).

ANJOS DINIZ, Francisco (?-?), engenheiro


Ministérios (Praça do Comércio): Direção da DNISP
Integrou o quadro permanente da Junta Autónoma dos Portos, no Ministério das
Comunicações, como engenheiro de 3.ª classe (1948), tornando-se engenheiro adjunto da
DNISP, na DGEMN, nessa altura. Assumiu as funções de diretor-delegado da DNISP em
1966, e aquando da extinção da delegação (1970), um ano antes de se aposentar, colocou um
pedido para coordenar empreendimentos de construção de instalação de serviços públicos
em Lisboa.

ANTÓNIO da Conceição, Lino (1898-1974), pintor


Palácio de São Bento: Pinturas Factos culminantes da história pátria (gabinete do Presidente
da Assembleia Nacional)
Formou-se em Pintura na EBAP, sendo discípulo de João Marques de Oliveira. Fixando
residência em Lisboa, participou nos salões da SNBA – com destaque para os salões dos
Independentes (1930, 1931) –, e integrou o grupo de artistas responsável pela decoração do
Bristol Club (1926, arq. Carlos Ramos). Paralelamente, ilustrou revistas e livros. Fez parte
da representação portuguesa nas exposições Ibero-Americana de Sevilha (1929) e Colonial
de Paris (1931), e participou nas I Exposição de Arte Moderna do SPN (1935) e na Exposição
do Mundo Português (1940). Foi, também, professor no ensino técnico, ascendendo à direção
da Escola de Artes Decorativas António Arroio. No que concerne à encomenda pública,
salientem-se as decorações da Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa (1938, arq.
Pardal Monteiro) e da Igreja de Santo Eugénio, no bairro da Encarnação em Lisboa (1951,
arq. Fernando Peres de Guimarães), as pinturas murais para a Câmara Municipal de Vila
Franca de Xira (1949), para o Tribunal das Caldas da Rainha (1959) e para a Biblioteca
Nacional (1966), e os painéis cerâmicos para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil

521
(1952), para a Faculdade de Direito de Lisboa (1957) e para o Instituto de Medicina Tropical
(1958). A sua obra estendeu-se à conceção de vitrais e cartões para tapeçarias.

AREAL E SILVA, Joaquim (1907-?), arquiteto


Ministério das Finanças: remodelação do Tribunal de Contas
Diplomado pela EBAP, tirocinou com o arquiteto Rogério de Azevedo. Candidatando-se a
arquiteto de 3.ª classe na DGEMN, colaborou no restauro de monumentos na Direção de
Edifícios do Norte a partir de 1932, como as Sé do Porto e de Viseu, e outras obras de caráter
cívico, como edifícios escolares. Dirigiu a fiscalização de obras na 1.ª secção da DSMN na
área de Lisboa desde 1936, supervisionando obras nos Castelos de Palmela, Almourol ou
Tavira, na Sé de Silves e na igreja de Jesus em Lisboa, entre diversas outras. Em 1940,
ascendeu à chefia da 2.ª secção da DSMN, com enfoque na reconstrução do Paço dos Duques
de Bragança, em Guimarães, mantendo a supervisão dos restauros num conjunto de igrejas
e castelos na zona norte. Realizou serviço junto da Comissão de Monumentos e Relíquias
Históricas de Moçambique (1945), sendo colocado na Direção de Edifícios do Centro depois
de uma breve passagem pela Direção de Edifícios do Norte. Coordenou estudos de
construção e adaptação de equipamentos como escolas, estações dos CTT, comandos da PSP
e sanatórios, entre outros. Na década de 1950, para além de prestar assistência técnica em
obras no Norte, como o estádio universitário do Porto e os pavilhões da EBAP, integrou a
Direção dos Serviços de Construção – altura em que se dedica ao estudo no Tribunal de
Contas –, colaborando em obras como a ampliação do Instituto Superior de Agronomia,
organização do Instituto de Recuperação de Menores ou adaptação de pousadas como a de
S. Brás de Alportel e de S. Gonçalo do Marão.

BARATA FEYO, Salvador Carvão da Silva de Eça (1899-1990), escultor


Palácio de São Bento: Estátua Temperança (escadaria exterior)
Ministério das Finanças: Baixos-relevos D. Fernando e D. Afonso III (escadaria nobre)
Formado em Escultura em Lisboa, onde também frequentou os cursos de Arquitetura e
Pintura, sendo aluno de Simões de Almeida (sobrinho). Conviveu com figuras como Almada
Negreiros e Jorge Barradas. Após apresentação do pouco convencional Primeiro Cânone na
SNBA (1929), participou nos salões dos Independentes (1930, 1931). Foi bolseiro da JEN
em Itália. Colaborou na decoração do Pavilhão de Portugal da Exposição Internacional de
Paris e da Exposição Histórica da Ocupação (ambas em 1937), da Exposição Internacional

522
de Nova Iorque (1939) e de vários pavilhões na Exposição do Mundo Português (1940),
tendo, também, realizado um busto de Salazar (1939). Posteriormente, participou na
Exposição Internacional de Bruxelas (1958). Recebeu diversos prémios do SPN/SNI. Das
estátuas públicas, refiram-se as peças para a Avenida da Liberdade (1945-46) – Almeida
Garret (que teria também estátua no Porto, 1954), Alexandre Herculano e Antero de
Quental–, as figuras antecedendo a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1951)
e as alegorias para o Palácio da Justiça do Porto (1961); em adição, mencione-se o baixo-
relevo na fachada do Armazém Frigorífico do Bacalhau (arq. João Simões). Paralelamente,
desenvolveu atividade como docente na ESBAP (1948-72), da qual foi diretor, dedicou-se
ao estudo da arte, e foi conservador dos Museus e Palácios Nacionais.

BARRADAS, Jorge Nicholson Moore (1894-1971), ceramista


Ministério das Finanças: motivos decorativos em cerâmica (átrio do salão nobre do Tribunal
de Contas)
Sem terminar o curso na EBAL, iniciou a carreira como ilustrador, estreando-se na
Exposição dos Humoristas (1912), vindo a colaborar com diversos jornais, revistas e livros.
Veio a dedicar-se à pintura, como comprovam a decoração do Bristol Club (1926), as telas
para A Brasileira e a incursão que empreendeu pelas colónias africanas, que se refletiu, por
exemplo, no tríptico para a Exposição Internacional de Paris (1937). Desenvolveu também
intensa atividade no domínio da cerâmica, colaborando, para além do relevo do Infante D.
Henrique para a Exposição Internacional de Nova Iorque (1939), na decoração de edifícios
e equipamentos públicos, como os motivos polícromos na Fonte Monumental na Alameda
D. Afonso Henriques, em Lisboa (1941), as composições para o Banco Português do
Atlântico (1950), a composição relevada na Biblioteca da Universidade de Coimbra (1955),
ou o painéis para a Faculdade de Letras de Lisboa (1956) e para o Instituto de Medicina
Tropical (1958).

BENAVENTE, Luís (1902-1993), arquiteto


Palácio de São Bento: mobiliário para o Salão Nobre; orientação de beneficiações e
remodelação de mobiliário (diversos espaços no palácio e na residência do Presidente do
Conselho)
Ministérios (Praça do Comércio): coordenação de intervenções de mobiliário (diversos
edifícios)

523
Concluiu a formação na EBAP (1930), tendo iniciado o curso na EBAL (1922). Colaborou
nos ateliers de Luís Cristino da Silva e de Porfírio Pardal Monteiro, nomeadamente nas obras
o Liceu de Beja e do IST. Foi contratado pelo MOP (1933) para trabalhar nas obras do
Hospital Universitário de Coimbra e do Manicómio Sena, sendo também encarregue de
estudar o plano urbanização para a Cidade Universitária de Coimbra, com o arquiteto Raul
Lino (1934). Nessa altura, recebeu encomenda para delinear bairros de casas económicas em
Lisboa. Integrou os quadros da DGEMN, colaborando em obras para equipamentos distintos,
como o futuro Hospital Sobral Cid (Coimbra) ou o Mercado de Arroios (Lisboa), sendo
responsável pela adaptação do Palácio Foz a sede do SPN/SNI (1947). Nessa linha, depois
de ter sido colocado na DSMN e na REE, destacam-se as remodelações no Palácio de Belém
para alojamento do Presidente da República (1948-52), os arranjos no edifício selecionado
para a Embaixada de Portugal em Londres (1947-54) e a adaptação do Palácio de Seteais a
hotel (1953), no momento em que integrou a CAM e supervisionou o arranjo de interiores
em diferentes salas no Palácio de São Bento e na residência oficial do Presidente do
Conselho. Ascendeu a diretor do Serviço de Monumentos Nacionais, e fez parte de uma
comissão para estudo de providências a adotar em caso de guerra com vista à proteção de
bens culturais. Colaborou num conjunto vasto de obras no território metropolitano, antes de
passar à salvaguarda de património em colónias africanas ao serviço do Ministério do
Ultramar. Participou na redação da Carta de Veneza, saída do II Congresso Internacional dos
Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos (1964).

BEIRÃO, Nuno de Morais (1924-?), arquiteto


Palácio de São Bento: remodelação dos gabinetes do Presidente do Conselho e do Presidente
da Assembleia Nacional, e zonas anexas; decoração e mobiliário para a residência oficial do
Presidente do Conselho
Integrado na Direção de Edifícios de Lisboa, da DGEMN, como arquiteto de 3.ª classe
(1953), vindo a ascender ao cargo de diretor dos Monumentos de Lisboa (1970-80). Nas
décadas de 1950 e 1960, laborou em obras como a reconstrução da igreja de Palhais e a
adaptação da igreja da Madre de Deus (Lisboa), e estudos para o altar da igreja de S. Jorge
de Aljubarrota. Posteriormente, elaborou o estudo para arranjo da biblioteca do MOP, na
Praça do Comércio. Colaborou com a CAM nos projetos de remodelação de gabinetes que
elaborou para o Palácio de São Bento, onde foi também responsável pelo estudo de instalação
de um ascensor. Foi, ainda, vogal da JNE.

524
BONNEVILLE FRANCO, Artur (1911-1966), engenheiro
Ministérios (Praça do Comércio): Direção da DNISP
Formado em Engenharia Civil pelo IST, tirocinou nas obras da Casa da Moeda. Após
frequência do curso de oficiais milicianos, foi contratado como engenheiro de 3.ª classe para
a Secção de Orientação e Fiscalização de Obras da DGEMN (1935). Durante a década de
1930, prestou sobretudo assistência técnica em obras de reparação e construção em liceus e
nos Hospitais Civis de Lisboa, tendo também estado envolvido nas obras do Observatório
Meteorológico de Angra do Heroísmo e no restauro da igreja matriz de Turcifal. Trabalhou
na REE, e a partir de 1948 dirigiu as obras a cargo da DNISP, como o Laboratório Nacional
de Engenharia Civil (1952), o Instituto de Medicina Tropical (1958), a Biblioteca Nacional
(1969) ou o Museu de Marinha (1964), para além das obras dos ministérios na Praça do
Comércio – no âmbito da qual visitou Espanha e França –, funções que ocupou até ao fim
da vida.

BRÉE, Álvaro João Vella de (1903-1962), escultor


Ministério das Finanças: Estátuas Fomento e Sabedoria (escadaria nobre)
Inscrito na EBAL, não concluiu o curso. Esteve em Paris na década de 1920, como discípulo
de Niclousse, Despiau e Bourdelle, regressando a Lisboa na década seguinte, onde expôs na
SNBA e nas exposições de Arte Moderna do SPN/SNI. Mais tarde, manteve a prática de
viajar pela Europa. Participou na Exposição de Nova Iorque (1939) com a estátua de
Rodrigues Cabrilho (posteriormente oferecida pelo Estado a San Diego, Califórnia), e
também na Exposição do Mundo Português (1940). Para além do Monumento aos Mortos
da Grande Guerra em Oeiras (1940, arq. Veloso Reis Camelo), refira-se, no domínio da
encomenda pública e como ilustração da abrangência temática do seu legado, as estátuas de
quatro navegadores destinadas à Praça do Império (1946), a estátua alegórica da Arquitetura
assinalando o I Congresso Nacional de Arquitetura, no IST (1948) – próxima das alegorias
para o Ministério das Finanças –, a estátua de S. João de Deus (Fátima, 1953) como exemplo
da vertente religiosa da sua obra, as estátuas da Condessa Mumadona (Guimarães, 1955-60),
D. Duarte (Viseu, 1955) e D. Leonor (Beja, 1958), e os relevos para a Escola Eugénio dos
Santos (Lisboa, 1949) e para a Faculdade de Letras de Lisboa (1957). Participou em diversas
exposições internacionais, e deixou também obra enquanto medalhista.

525
CAMARINHA, Guilherme Duarte (1912-1994), pintor
Palácio de São Bento: cartão para tapeçaria A Pátria (sala de reuniões do Conselho de
Ministros)
Ministério das Finanças: cartões para tapeçarias Valorização do Mundo (gabinete do
Ministro) e Atividades (Tribunal de Contas)
Ministério da Justiça: cartão para tapeçaria Valorização do Mundo (gabinete do Ministro)
Ministério das Obras Públicas: cartões para tapeçarias alusivas a Marquês de Pombal e
Fontes Pereira de Melo (não concretizadas)
Formado em Pintura pela ESBAP (1937), foi aluno de Joaquim Lopes, e participou nas
exposições do grupo Mais Além (1929, 1931). Iniciou a sua carreira pela pintura de cavalete,
versando essencialmente sobre temas mitológicos e bíblicos – vindo a ser galardoado pelo
SPN (1936), mas foi a integração pictórica no espaço arquitetónico, e, sobretudo, a tapeçaria
mural, que lhe conferiram notoriedade. No domínio da pintura mural, salientam-se os frescos
alegóricos para o Café Rialto e a série da Via Sacra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição,
ambos no Porto. Iniciou uma longa colaboração com a Manufatura de Tapeçarias de
Portalegre na década de 1950, concebendo cartões para tapeçarias murais destinadas a
decorar espaços nobres em edifícios públicos, de Tribunais e Palácios da Justiça (entre
outros, Coimbra, Porto, Amarante, Santa Comba Dão e Lisboa, num total de 15 edifícios) –
para os quais também elaborou pinturas murais e vitrais –, a Paços do Concelho (Matosinhos,
Famalicão, Porto), Universidades (Faculdade de Letras de Coimbra, Faculdade de Medicina
do Porto, por exemplo), e embaixadas. Esta atividade estendeu-se também a encomendas
para entidades privadas, como a Hidroelétrica do Cávado ou o Hotel Guincho

COSTA MOTA (SOBRINHO), António Augusto da (1877-1956), escultor


Palácio de São Bento: estátuas Fortaleza e Império Colonial (não concretizada) (escadaria
exterior)
Frequentou os cursos de Desenho e Escultura na EBAL, onde foi discípulo de Simões de
Almeida (tio). Foi pensionista em Paris (1904), trabalhando com Jean-Antoine Injalbert.
Dirigiu a Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha. Colaborou com o tio no Monumento a
Afonso de Albuquerque (1902), e concebeu esculturas para o Jardim da Estrela e motivos
decorativos para a Escola Médico-Cirúrgica, em Lisboa. Ao longo da sua carreira, executou
um conjunto vasto de bustos de pendor realista. Participou na decoração do Pavilhão de
Portugal da Exposição Colonial de Paris (1931) e nas capelas da Via-Sacra no Buçaco

526
(1938). Relativamente ao Palácio de São Bento, para além da estátua para a escadaria
exterior, realizou uma estátua da Justiça para o Hemiciclo (1921).

COSTA, António da (1899-1970), escultor


Palácio de São Bento: estátua Estado Corporativo (não concretizada)
Discípulo de Simões de Almeida (Sobrinho) na EBAL, onde conclui o curso especial de
Escultura (1920), e de Bourdelle em Paris. Participou em salões da SNBA, no I Salão dos
Independentes (1930), na Exposição Internacional de Paris (1937) – com uma estátua
retratando Óscar Carmona – e na Exposição do Mundo Português (1940). Submeteu um
pedido de bolsa à Junta de Educação Nacional em 1932 para se deslocar a França, com vista
a aperfeiçoar os seus conhecimentos para realizar bustos de pendor nacionalista, que
versariam sobre os tipos rácicos das oito províncias portuguesas. Para além de retratos,
sobretudo em bustos, concebeu esculturas de figuras históricas para a base do Monumento
Comemorativo à Batalha de Ourique, em Vila Chã (1933), uma estátua representando o
Trabalho destinada a Havana (1926), decoração para o átrio da Caixa Geral de Depósitos do
Porto (1930, arq. Pardal Monteiro), a figura de Nossa Senhora de Fátima colocada na Igreja
de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa (1938, arq. Pardal Monteiro), e um grupo escultórico
para uma das fontes no jardim da Praça Afonso de Albuquerque, na zona de Belém.

COSTA MARTINS, Manuel Ramos (1922-1996), arquiteto


Ministério das Corporações e Previdência Social: anteprojeto de adaptação e construção (não
concretizado)
Ministério das Finanças: acompanhamento do estudo de mobiliário
Ministério do Interior: projeto de melhoramentos
Ministério da Justiça: projeto de remodelação
Ministério da Saúde e Assistência: projeto de edifício (não concretizado)
Frequentou a EBAL e a EBAP, concluindo o curso de Arquitetura em 1956. Prestou serviços
na DNISP desde 1948, enquanto realizava o tirocínio, vindo a ser contratado como arquiteto
de 3.ª classe em 1951. No seio da DGEMN, já no final da década de 1970, integrou e presidiu
à Comissão Administrativa de Obras da Santa Casa da Misericórdia, e colaborou no grupo
de trabalho do mercado abastecedor de Lisboa e Faro. É de assinalar, também, o gosto que
desenvolveu pela fotografia, que o levou a elaborar, com o arquiteto Victor Palla, o livro

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Lisboa, Cidade Triste e Alegre, que reuniu fotografias que haviam exposto da Galeria do
Diário de Notícias (1958).

CRISTINO DA SILVA, Luís (1896-1976), arquiteto


Palácio de São Bento: Zona de proteção do Palácio da Assembleia Nacional, e projetos para
as envolventes (escadaria de acesso, jardim posterior, ângulo sudoeste, jardim da Praça de
São Bento, jardim no lado sul)
Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: Projeto dos edifícios (colab. arq.
António Lino)
Diplomado em Arquitetura pela ESBAL (1919) e aluno de José Luís Monteiro, tendo
continuado a sua formação em Paris – na École de Beaux-Arts, onde trabalhou nos ateliers
de Laloux, Marresquier e Azéma – e em Roma (1920-25). Anteriormente, estagiou na
Repartição de Construções Escolares do Ministério da Instrução Pública, e expôs na SNBA.
De regresso a Lisboa, desenhou o Cineteatro Capitólio (1931) e realizou estudos para o
prolongamento da Avenida da Liberdade (1932-71, não concretizados), marcos das vertentes
que iria desenvolver ao longo da carreira, conjugando projeção de edifícios e planeamento
urbano. Concebeu o Pavilhão de Honra e de Lisboa da Exposição do Mundo Português
(1940) e assinou diversos projetos ao serviço das obras públicas patrocinadas pelo Estado e
também da CML: de equipamentos para a Caixa Geral de Depósitos (Espinho, 1937; Guarda,
1939; Castelo Branco, 1943; entre outros), ao moderno Liceu de Beja (1934) e à imponente
Praça do Areeiro, em Lisboa (1941-56) e diversos edifícios de habitação espalhados pelo
território nacional, passando pela direção das obras da Cidade Universitária de Coimbra em
sucessão a Cottinelli Telmo (desde 1948). Refiram-se, ainda e apenas como exemplo de uma
vasta obra, o Mausoléu de Alfredo da Silva, no Barreiro (1947) – para onde também propôs
moradias e prédios para os bairros de trabalhadores da CUF (1945-51) – e o Monumento a
Duarte Pacheco em Loulé (1953), e os planos não construídos para a zona de Belém, como
o Museu de Arte Contemporânea (1943) e o Palácio do Ultramar (1951-60), cuja urbanização
planeou com o arquiteto Jacques Carlu (1954-61). Destacou-se, igualmente, na área do
planeamento urbanístico, com estudos para diversos pontos do país. Foi professor e diretor
da ESBAL, presidente da ANBA, e integrou o CSOP.

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CUNHA, Paulo de Carvalho (1908-?), arquiteto
Plano de melhoramentos do porto entre Alcântara e Terreiro do Paço (colab. eng. Fernando
Silva); Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa; Plano de expansão do Porto de Lisboa
Formado na ESBAL, estagiou com o arq. Carlos Ramos, tendo viajado pela Europa e pelo
norte de África. Ingressou na Administração Geral do Porto de Lisboa em 1939. Foi adjunto
do arq. Cottinelli Telmo na Exposição do Mundo português (1940). Foi um dos membros
fundadores do ICAT (1946) e foi secretário-geral do I Congresso Nacional de Arquitetura
(1948). Autor de um conjunto de projetos para equipamentos portuários como o aeroporto
marítimo de Lisboa (1940, com eng. Fernando Santos Silva), e, a partir de 1942, de planos
gerais de urbanização para localidades costeiras em diversos pontos do território, como
Viana do Castelo, Vila Real de Santo António ou Barreiro. Trabalhou, também, no
planeamento de habitações em Bissau. Foi, ainda, professor na ESBAL.

DORDIO GOMES, Simão César (1890-1976), pintor


Palácio de São Bento: Estudos para tríptico (escadaria nobre; não concretizado)
Estudou na Academia Real de Belas-Artes de Lisboa, sob Veloso Salgado, bem como na
Académie Julian, em Paris, com Jean-Paul Laurens. Obrigado a regressar antecipadamente
a Portugal, concluiu o curso na EBAL (1915) e expôs na SNBA, particularmente pinturas
cuja temática se dedicava ao Alentejo, sua terra natal. Retomou os estudos em Paris, e
participou na Exposição Internacional do Rio de Janeiro (1922), na Exposição dos 5
Independentes (1923) e no I Salão dos Independentes (1930). Em 1934, fixou-se no Porto
para lecionar Pintura na ESBAP. Neste período, quando participou no concurso para os
trípticos destinados ao Palácio de São Bento, realizou painéis para os Paços do Concelho de
Arraiolos (1927-32), um cartão para um painel de azulejos no Liceu de Beja (1936) e um
painel pintado para a sede da CGD de Portalegre (1939), sendo todas as peças dedicadas a
temáticas da vida e da história alentejanas. Desenvolveu investigação sobre pintura mural,
elaborando um manual e realizando um conjunto de obras, sobretudo no Porto, como os
frescos no Café Rialto (1944), na Livraria Tavares Martins (1949), na ESBAP (1954), nos
Paços do Concelho (1957) ou no Palácio de Justiça (1959-60). Implementou, nesse sentido,
um atelier de fresco na ESBAP (1954). Foi membro da ANBA. Para além de ter sido bolseiro
da JNE para realizar viagens de estudo a Itália, participou, na década de 1950, nas Bienais
de Veneza e de Arte Moderna de São Paulo.

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DUARTE Silva Santos, António (1912-1998), escultor
Ministério das Obras Públicas: escultura (átrio de entrada)
Diplomado em Escultura pela EBAL, foi discípulo de Simões de Almeida (Sobrinho) e de
Veloso Salgado, vindo a lecionar na escola no final da década de 1950. Participou nos salões
dos Independentes (1930, 1931) e do SNBA, e foi premiado na 6.ª Missão Estética de Férias
(1942) e com diversas distinções pelo SPN/SNI. Viria a participar em certames estrangeiros,
tendo realizado viagens de estudo pela Europa e Brasil. Fez parte da equipa de decoradores
de pavilhões na Exposição do Mundo Português (1940), tendo os grupos de cavalos-
marinhos que concebeu para a Praça do Império sido passados a pedra. Para outra magna
obra do regime, a Cidade Universitária de Coimbra, realizou dois grupos escultóricos para a
Biblioteca da Universidade (1951), e realizou esculturas para os nichos exteriores de Santa
Engrácia (1966). Notabilizou-se na estatuária pública através de figuras como Camilo
Castelo Branco (Lisboa, 1947), D. Sancho I (Guarda, 1954) ou Santo António (Lisboa,
1972), sendo premiado por propostas de monumentos homenageando personagens das
viagens de expansão marítima. Colaborou também na decoração de edifícios públicos, como
na Faculdade de Direito de Lisboa (1956) e nos Palácios de Justiça de Guimarães (1959), de
Lisboa (1970) e de Alcobaça (1970). Destacou-se, ainda, no domínio do retrato, com mais
de uma centena de bustos realizados, fixando figuras históricas e seus contemporâneos, bem
como no campo teórico através de comunicações e textos publicados.

ESPINHO, José (1915-1973), ilustrador, designer


Ministério das Obras Públicas: mobiliário para o gabinete do Ministro
Estudou na Escola António Arroio, formando-se como desenhador litógrafo, vindo também
a frequentar o curso de Desenho na SNBA. Desde 1935, trabalhou como ilustrador e
projetista para a Câmara Municipal de Lisboa, participando no grafismo para publicações
diversas, na conceção de exposições, na realização das marchas populares da cidade e na
decoração efémera para eventos como a receção de figuras ilustres estrangeiras. A partir da
década de 1940, e com enfoque nas seguintes, destacou-se no domínio da decoração de
interiores: para hotéis, como o Grande Hotel da Figueira (1953, arq. Inácio Peres Fernandes),
o Hotel Ritz (1959, arq. Pardal Monteiro) ou o Estoril-Sol (1965, arq. Raul Tojal), o
restaurante Montes Claros (1949, arqs. Alberto José Pessoa e Hernâni Gandra), o Cine-teatro
Monumental (1951, arq. Raul Rodrigues Lima) ou a cervejaria Solmar (1956, arqs. Luís
Bevilacqua, Francisco Botelho, Luís Curado), em Lisboa, e ainda habitações privadas. Nesse

530
período, colaborou no atelier do arquiteto Keil do Amaral, nomeadamente na remodelação
do Campo Grande (1945). Teve uma longa colaboração com a fábrica de Móveis Olaio como
projetista e consultor de estética industrial, iniciada na década de 1950, e colaborou também
com a Móveis Sousa Braga. No domínio dos edifícios públicos, colaborou, por exemplo, no
desenho de mobiliário para a Biblioteca Nacional. Participou nas exposições de Design
Português (1972, 1973). A par de outras figuras da sua geração com as quais colaborou,
como Daciano da Costa e António Garcia, contribuiu para uma atualização do gosto no
âmbito do mobiliário e para a institucionalização do design enquanto disciplina em Portugal.

FARIA DA COSTA, João Guilherme (1906-1971), arquiteto-urbanista


Estudos de ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça do Comércio
Formado na ESBAL, estudou Urbanismo no Institut d’Urbanisme de Paris (1935-37).
Integrou, na sequência e até 1948, os quadros da CML como arquiteto-urbanista de 1.ª classe,
concretamente a recém-criada Direção-Geral dos Serviços de Urbanização e Obras
(DGSUO), onde travou conhecimento com figuras como De Gröer e Keil do Amaral.
Delineou planos como o de urbanização da Encosta da Ajuda e do Areeiro (1938) e do bairro
de Alvalade (1945-48), e de remodelação da Baixa (1950, 1956). Elaborou, também,
diversos planos de urbanização no território nacional em colaboração com o MOP: entre
outros, Figueira da Foz, Portalegre, Amadora, e Costa da Caparica. Foi, ainda, autor de
projetos de construção e adaptação de diversos edifícios, particularmente de habitação.

FORMOSINHO SANCHEZ, Sebastião (1922-2004), arquiteto


Estudo de integração urbana das zonas adjacentes à Praça do Comércio
Programa funcional do Ministério da Marinha
Formado em Arquitetura pela EBAL (1949), onde veio posteriormente a lecionar no curso
de Arquitetura. Em Lisboa, destaca-se o conjunto habitacional do Bairro das Estacas (1949-
58) e a Escola do Bairro de S. Miguel (1954), ambos em colaboração com o arquiteto Ruy
Athouguia. Dedicou-se à construção hospitalar, sobre a qual também teorizou e publicou,
assinalando-se, por exemplo, o Centro de Reabilitação de Alcoitão (1959) e o Hospital
Termal das Caldas e Monchique (1960). Ainda no domínio dos equipamentos públicos,
refiram-se o Palácio de Justiça de Rio Maior (1958) e o Tribunal Judicial de Redondo (1965).
Integrou o Movimento de Renovação da Arte Religiosa. Foi um dos fundadores do atelier
CANON (1966).

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FRANCO de Sousa, Francisco (1885-1955), escultor
Palácio de São Bento: direção das esculturas da escadaria exterior; busto de Salazar
(biblioteca)
Ministério das Finanças: busto de Salazar (entrada nobre)
Estudou a Academia Real de Belas-Artes (1902-1909) com Condeixa, Alberto Nunes e
Simões de Almeida (Tio). Esteve em Paris através do Legado Valmor (1909), frequentando
a École des Beaux-Arts, tendo sido aluno de Antonin Mercier. Esta estadia foi interrompida,
vindo a regressar à capital francesa mais tarde, graças a nova pensão concedida em 1919,
período que foi importante para o desenvolvimento da sua linguagem plástica. Faria, ainda,
uma decisiva viagem por Itália (1925), acompanhado por Dordio Gomes. Havia retornado à
Madeira em 1914, onde deu início à carreira de escultor, concebendo um conjunto
diversificado de bustos e monumentos públicos, entre os quais se conta o primeiro busto
monumental de Gonçalves Zarco (1919), indiciando o caminho que seguiria na estátua
encomendada pela Junta-Geral do Distrito do Funchal, concluída em 1928 e inaugurada em
1934. Integrou a exposição dos Cinco Independentes (1923, Lisboa), expôs em Nova Iorque
e no Rio de Janeiro (1925), e em Boston (1927), e participou no I Salão dos Independentes
(1930). Depois do sucesso em Lisboa, uma cópia da figura de Gonçalves Zarco foi exibida
na Exposição Ibero-Americana de Sevilha (1929). Esta peça marcou um modelo a que o
regime do Estado Novo aspirava para a escultura oficial, tornando-se Franco num dos mais
profícuos escultores no âmbito das encomendas públicas. Destacam-se, a título de exemplo,
a estátua do Infante D. Henrique (Exposição Colonial de Paris, 1931), as várias
representações escultóricas de Salazar (1935, SNBA; 1936, CML; 1937, Exposição
Internacional de Paris 1937), as figuras dos Apóstolos para a fachada da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário de Fátima (1938, arq. Pardal Monteiro), o relevo e a estátua de D. João
I (1945) para a Casa da Moeda (arq. Jorge Segurado), as estátuas de monarcas – D. João IV
(1943, Vila Viçosa), D. Dinis (1943) e D. João II (1958) para a Cidade Universitária de
Coimbra, e D. Leonor (1935, Caldas da Rainha), por exemplo –, e o colossal Cristo-Rei
(1959, Almada). Esteve representado nas Exposições Internacionais de Nova Iorque e São
Francisco (1939) e na Exposição do Mundo Português (1940). Foi, também, vogal da ANBA.

GEORGE, Frederico Henrique (1915-1994), pintor e arquiteto


Ministério das Corporações e Previdência Social: mobiliário (gabinete do Ministro)

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Formou-se em Pintura (1936), e mais tarde em Arquitetura (1950), pela ESBAL, onde veio
a ser docente, depois de ser professor no ensino técnico e na Escola de Artes Decorativas
António Arroio. Porém, fora exonerado da docência por motivos políticos em 1949.
Trabalhou no atelier de António Soares. Laborou como pintor na Exposição Histórica da
Ocupação (1937) e na Exposição do Mundo Português (1940). Colaborou em projetos do
arq. Nuno Teotónio Pereira, nomeadamente a Igreja Matriz de Águas, em Penamacor (1957)
e o Bloco das Águas Livres, em Lisboa (1955). Enquanto arquiteto, beneficiou de uma bolsa
de estudo nos E.U.A., integrou o Inquérito à Arquitetura Popular (1955), e foi autor do
Museu de Marinha e do Planetário Gulbenkian (1964), adjacentes ao Mosteiro dos
Jerónimos, de blocos de habitação no bairro de Olivais Sul (1963) e do Hotel Penta (1975),
por exemplo. Em adição, já na década de 1980, refira-se a atividade não só de projetista, mas
também relacionada com estudos urbanísticos e adaptações e restauros de imóveis. Para além
do design de mobiliário, área que ativamente divulgou desde a década de 1960 e onde
colaboraria com figuras como Daciano da Costa, o seu trabalho também passou pela
conceção de exposições, como em diversos núcleos na Exposição Quinze Anos de Obras
Públicas (1948), na Exposição Internacional de Bruxelas (1958), na Exposição
Comemorativa do V Centenário do Infante D. Henrique (1960) ou no Pavilhão de Portugal
para a Exposição de Osaka (1970).

GOMES, Sérgio Botelho de Andrade (1915-2002?), arquiteto


Ministério das Corporações e Previdência Social: projeto do Edifício
Professor no IST, foi autor de diversos projetos de edifícios de habitação de promoção
privada nas zonas de Alvalade e Restelo, em Lisboa, na década de 1950, destacando-se o
conjunto de prédios no cruzamento das Avenidas Estados Unidos da América e de Roma
(1955, colab. arqs. Filipe de Figueiredo e José de Almeida Segurado). Ao nível de
encomendas oficiais, foi responsável, por exemplo, pelo estudo da cadeia comarcã de
Abrantes (1963, não concretizado) e do tribunal de Benavente (proj. anterior a 1974, inaug.
1982).

LEAL DE FARIA, Teófilo (1888-1952), engenheiro


Palácio de São Bento: direção da comissão de obras
Major de engenharia. Nos inícios da década de 1930, a par de delegado das obras para o
Palácio da Assembleia Nacional, foi encarregue da supervisão das obras de conservação e

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restauros nos palácios nacionais, como Queluz, Ajuda, Necessidades ou Belém. Foi também
contratado pela DGEMN para apoio na adaptação do edifício da Alfândega de Lisboa a
Ministério das Finanças, e para estudo e elaboração do anteprojeto do edifício para o Museu
de Arte Contemporânea, a localizar no local do antigo Convento das Francesinhas. Em
adição, integrou a Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário.

LINO da Silva, António de Brito Macieira (1909-1961), arquiteto


Palácio de São Bento: arquiteto da comissão de obras (diversas intervenções)
Ministérios das Obras Públicas e das Comunicações: Projeto dos edifícios (colab. arq.
Cristino da Silva)
Formou-se na ESBAL (1936), tendo recebido a primeira encomenda antes de terminar o
curso: trata-se da Casa da Quinta das Águas Férreas (Belas, 1932-35). Participou nos
concursos para o Monumento ao Infante D. Henrique (1936, 1954), trabalhando em estudos
com o tio, arquiteto Raul Lino, e com o arquiteto Luís Cristino da Silva. Colaborou na
Exposição do Mundo Português com o desenho do restaurante Espelho de Água e adjacente
pavilhão de desportos náuticos (1940). Na década de 1940, concebeu um conjunto de
moradias no Restelo. Foi autor da igreja de São João de Deus, em Lisboa (1953), do
laboratório da Junta de Energia Nuclear (Sacavém, 1957) e do edifício da CGD de Guimarães
(1960), por exemplo.

LINO Pedras, António (1914-1996), pintor


Ministério das Corporações e Previdência Social: painéis de mosaico alusivos às corporações
(átrio de entrada)
Diplomado em Pintura pela ESBAP (1946), onde foi discípulo de Dordio Gomes, enquanto
exercia profissão como professor do magistério primário. Posteriormente, foi professor do
ensino técnico, e docente na ESBAL. Integrou o Grupo dos Independentes, participando nas
exposições que realizaram (1943-50), e passou pelos ateliers do escultor Joaquim Martins
Correia. Foi presença assídua nos certames do SPN/SNI, tendo também exposto em Espanha
(1947, 1950, 1951), Itália (1951, 1956) e na Escandinávia (1957). Na década de 1950,
integrou o Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR). Destacou-se não só na
pintura, mas também na ilustração – dominando diversas técnicas, bem como nas artes
ligadas à decoração mural, incluindo pintura, vitral, tapeçaria e mosaico, que aperfeiçou em
estadias no estrangeiro (Itália, França, Alemanha, Bélgica). Veio a especializar-se na arte do

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mosaico em Veneza (1954-55), por intermédio de uma bolsa do governo italiano acedida
pelo IAC. A sua predileção pelas composições murais de grande dimensão ficou patente num
conjunto numeroso de edifícios públicos: participou na decoração de dez palácios de justiça
entre as décadas de 1950 e 1970, como Guarda (1952), Aveiro (1962) ou Santa Comba Dão
(1963); realizou um cartão para uma tapeçaria encomendada pela CML, intitulada Glória de
Lisboa (1954); elaborou vitrais para o Paço dos Duques, Guimarães (1958); concebeu painéis
de mosaico para o vestíbulo principal da Reitoria da Universidade de Lisboa (1960), que se
aproximam das composições para o Ministério das Corporações e Previdência Social; no
domínio dos edifícios religiosos, refira-se a sua intervenção na Igreja de Águas, Penamacor
(1957, arq. Nuno Teotónio Pereira), na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Bombarral
(1967, arq. Veloso Reis Camelo) e na Basílica da Anunciação, em Israel (1969, arq. Govanni
Muzzio).

LINO, Raul (1879-1974), arquiteto


Palácio de São Bento: estudos para a Sala do Governo e para a Sala do Presidente da Câmara
Corporativa (não concretizado); estudos para guarita dos guardas (entre outros);
acompanhamento das adaptações e decoração de interiores
Ministérios (Praça do Comércio): membro da DNISP; projetos de iluminação da praça,
acrescentamento de um piso nos edifícios, integração de esculturas nos nichos exteriores,
etc.; estudos de decoração no Ministério das Finanças; arranjos e estudos de mobiliário e
decoração no Ministério da Justiça; supervisão geral das intervenções
Estudou em Inglaterra (1890), onde se familiarizou com o movimento Arts & Crafts, e
posteriormente na Alemanha (1893-97), tendo praticado no atelier do arquiteto Albrecht
Haupt. De regresso a Portugal, viajou pelo país, projetando, para além de várias moradias
pelo território, um conjunto de edifícios que se tornaram emblemáticos, como Pavilhão de
Portugal para a Exposição Universal de Paris (1900), a Casa dos Patudos (Alpiarça, 1904),
a casa do Cipreste (Sintra, 1912) ou o Cinema Tivoli (1927), sendo de salientar que não se
cingiu ao desenho arquitetónico, dedicando-se simultaneamente à conceção de mobiliário e
de elementos decorativos, como azulejos. No domínio teórico, salienta-se a redação de livros
como A Nossa Casa (1918), A Casa Portuguesa (1929) e Casas Portuguesas (1933), que
complementou, ao longo da vida, com a publicação de ensaios em periódicos, firmando
também as suas posições em inúmeros pareceres que emitiu ao serviço de instâncias como o
CSBA e a JNE. Em 1934, iniciou uma longa colaboração com a DGEMN, ingressando na

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Secção de Casas Económicas. Nessa altura, foi incumbido de diversos estudos para além dos
bairros de casas económicas, como o ajardinamento do terreno fronteiro do Palácio da Ega
e restauro da Sala de Pompeia (1935), a reconstrução do Palácio da Ajuda (1935-56) e o
estudo do plano de urbanização da Cidade Universitária de Coimbra (1934, colab. arq, Luís
Benavente). Participou, paralelamente, no concurso para o Monumento ao Infante D.
Henrique para Sagres (1933-37), e planeou o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo
Português (1940). Ascendeu a chefe da repartição de Estudos e Obras de Monumentos
(1935/37), integrou a Comissão para a Aquisição de Mobiliário (1941) e foi nomeado
Superintendente Artístico dos Palácios Nacionais (1939). Pouco antes de atingir o limite de
idade, foi designado diretor do Serviço de Monumentos Nacionais (1949). Porém, continuou
a colaborar com a DGEMN até ao final da vida, tendo cooperado também com a Direção dos
Serviços de Construção. Foi responsável pelos projetos de adaptação do Convento das
Necessidades a Ministério dos Negócios Estrangeiros (1940-50) e do Palácio de Seteais a
hotel (1953), e pelo arranjo das legações portuguesas em Berlim (1942), Paris (1945) e Haia
(1946). Ao serviço da DNISP, para além dos trabalhos relacionados com os arranjos da Praça
do Comércio e dos edifícios ministeriais, colaborou no arranjo decorativo da Biblioteca
Nacional (1964-65), do Palácio de Justiça de Lisboa (1967) e do Instituto Superior de
Higiene Dr. Ricardo Jorge (1972). Delineou, também, alguns planos de urbanização. Foi
vogal da JNE e membro do CSOP, e ainda vice-presidente da ANBA.

MANTA, Abel Abrantes (1888-1982), pintor


Palácio de São Bento: estudos para tríptico para a escadaria nobre (não concretizado)
Formado em Pintura na EBAL (1925), foi aluno de Carlos Reis e Ernesto Condeixa, vindo
a tornar-se professor na escola (1934). Residiu em Paris (1919-1925), onde partilhou atelier
com artistas como Dordio Gomes e Francisco Franco. Integrou o I Salão dos Independentes
(1930), e participou nas exposições internacionais de Sevilha (1929) e Paris (1931, 1937),
bem como nos salões de Arte Moderna do SPN e em exposições do SNBA. Por altura do
concurso para os trípticos destinados à escadaria nobre do Palácio de São Bento, Abel Manta
executara cartões para os vitrais do Instituto Nacional de Estatística (1933) e do Mosteiro
dos Jerónimos (1934), e realizara uma viagem por Itália enquanto bolseiro da Junta de
Educação Nacional.

536
MARQUES DA SILVA, Adolfo António (1876-1939), arquiteto
Palácio de São Bento: projetos diversos nas obras de conclusão
Formado em Arquitetura pela EBAL, tirocinou nos serviços de obras públicas sob Ventura
Terra e Luís Caetano Pedro d’Ávila, entrando para o serviço estatal em 1897. Durante o
tirocínio, colaborou no restauro da Escola de Belas-Artes (arq. Pedro d’Ávila) e da Sé de
Lisboa (arq. Domingos Parente da Silva), e nas obras da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa
(arq. José Maria Nepomuceno, 1906) e do Sanatório da Parede (arq. Rosendo Carvalheira)
Esta experiência antecedeu a sua colaboração nas obras do Palácio de São Bento, dirigidas
pelo arq. Ventura Terra, ao qual sucedeu. Nessa altura, participou também nos restauros do
Palácio Nacional de Queluz. Foi, entre outros, autor projetos para moradias, projetou casas
económicas para a Amadora, uma estação de correios para Sintra, o albergue dos Inválidos
do Trabalho e reconstrução dos Paços do Concelho, ambos no Fundão, um laboratório para
o Instituto Superior do Comércio, e para a nova cadeia central de Lisboa. Foi presidente da
Associação dos Arquitetos Portugueses e sócio da SNBA.

MARTINS BARATA, Jaime (1899-1970), pintor


Palácio de São Bento: Trípticos As Cortes de Leiria e Indústria, Agricultura e Comércio
(escadaria nobre)
Ministério das Finanças: Pinturas (salão nobre do Tribunal de Contas)
Formou-se como professor na Escola Normal Superior (1923), vindo a lecionar Desenho no
ensino liceal. Assíduo nas tertúlias da SNBA e próximo de figuras como Leitão de Barros,
colaborou como ilustrador no O Notícias Ilustrado, por exemplo, atividade que se estendeu
à ilustração de publicações várias, como os volumes das Peregrinações em Lisboa (Norberto
de Araújo, 1938-39) e a obra Lisboa, Oito Séculos de História, editada pela CML (Matos
Sequeira, 1947). Realizou viagens para aprofundamento da técnica, especialmente da
heliogravura (1938: França, Inglaterra, Bélgica, Suíça, Alemanha), como bolseiro do IAC,,
mantendo em simultâneo a preocupação pela pedagogia e pela atualização do ensino. Foi
consultor artístico dos CTT (1947-68), tendo desenhado vários selos. Para além da
exploração da aguarela, pela qual foi premiado, destacou-se no campo da pintura de grande
escala – privilegiando, embora sem emprego exclusivo, a técnica afresco –, através de temas
de cariz histórico e alegórico: participou na decoração do Pavilhão de Lisboa da Exposição
do Mundo Português (1940); realizou painéis para a remodelada sede do Conservatório
Nacional de Música (1945); executou o mural para um altar fatimita na Igreja de Santo

537
Eugénio, em Roma (1951) e os painéis para o Instituto Português de Oncologia, em Lisboa
(1952); elaborou um painel para o piso térreo do Banco nacional Ultramarino (1964);
colaborou na decoração mural de vários Palácios da Justiça, entre outros, os de Santarém
(1954), Vila Real (1956), Aveiro (1962), Fronteira (1966) e Castelo Branco (1968), não
tendo conseguido transpor para a parede os estudos delineados para o edifício de Lisboa
(1970).

ORTIGÃO BURNAY, Luís Eduardo de (1884-1951), pintor


Ministério das Finanças: Retrato de António de Oliveira Salazar (gabinete do Ministro)
Diplomou-se em Pintura na EBAL, sendo discípulo de Luciano Freire, tendo prosseguido
estudos em Paris sob Marcel Baschet e Desiré Lucas. Participou em exposições da SNBA.
Foi restaurador no Museu de Arte Antiga, responsável pela secção calcográfica, tendo
publicado alguns estudos sobre esta atividade e sobre pintura e gravura antigas. Notabilizou-
se como retratista, tanto de figuras ilustres – Ramalho Ortigão, D. António Mendes Belo,
Luciano Freire, entre outros – como de desconhecidos do povo, ao que se juntou a prática da
aguarela e da gravura na técnica de água-forte.

PARDAL MONTEIRO, Porfírio (1897-1957), arquiteto


Palácio de São Bento: projeto arquitetónico Salão Nobre
Ministério das Finanças: projeto do edifício
Ministério do Interior: projeto de remodelação
Ministérios (Praça do Comércio): estudo da instalação dos serviços públicos na Praça do
Comércio (não concretizado); estudo para avenida de ligação do Cais do Sodré à Praça do
Comércio (não concretizado)
Formado na EBAL em Arquitetura (1919), foi discípulo de José Luís Monteiro, tendo nesse
período trabalhado no atelier de Ventura Terra. Iniciou a carreira na Repartição de
Construções Escolares, passando rapidamente a arquiteto-chefe da Caixa Geral de Depósitos
(1920-29). Tornou-se professor de Arquitetura no IST (1920), para o qual projetou novas
instalações (desde 1927), por intermédio de Duarte Pacheco, diretor do Instituto e futuro
Ministro das Obras Públicas. Foi, também, professor interino na EBAL. Viajou bastante pelo
estrangeiro; foi correspondente da revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui, e membro
fundador das Réunions Internationales d’Architectes (1930), e mais tarde da União
Internacional dos Arquitetos (1946). Concretizou múltiplos projetos para equipamentos

538
públicos de diversas tipologias, colaborando particularmente para a modernização da cidade
de Lisboa: da estação do Cais do Sodré (1928), stand da Ford Lusitana (1929) e Seminário
dos Olivais (1931), ao Instituto Nacional de Estatística (1935), Igreja de Nossa Senhora do
Rosário de Fátima (1938), sede do Banco de Portugal (1936, não concretizado) e sede do
Diário de Notícias (1940), passando pelas gares marítimas de Alcântara (1945) e Rocha do
Conde de Óbidos (1949) aos projetos para a Cidade Universitária de Lisboa (somente
concretizados no final da década de 1950) e para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(1952). Para a Exposição do Mundo Português (1940) projetou o Pavilhão e a Esfera dos
Descobrimentos, tendo pertencido à Comissão Executiva das Comemorações dos
Centenários. A encomenda privada não ficou de fora do espetro de trabalho do seu atelier,
desenhando moradias e prédios de habitação, e também hotéis, entre os quais se destaca o
Hotel Ritz, concluído postumamente (1959). No quadro das obras públicas, é de salientar a
profícua relação que estabeleceu com alguns artistas plásticos, que habitualmente
colaboraram na decoração dos edifícios, como Almada Negreiros, Leopoldo de Almeida ou
Lino António. Refira-se, também, a sua atividade no quadro de diversas instituições:
presidente do Conselho Diretor do SNA, vogal do CSOP, do CSBA, da JNE e da ANBA,
membro do Conselho de Estética Citadina de Lisboa e da Comissão Municipal de Arte e
Arqueologia, e Conselho Consultivo da DGEMN.

REBELO, Domingos Maria Xavier (1891-1975), pintor


Palácio de São Bento: Pinturas murais (salão nobre: conclusão do trabalho delineado por
Adriano de Sousa Lopes)
Natural dos Açores, estudou na Académie Julian, em Paris (1907-13), onde foi discípulo de
Jean-Paul Laurens, Albert Laurens, Guillnet, Baschet e Naudin, tendo também feito uma
incursão pelo ar-livrismo na Bretanha. Foi professor do Liceu Central de Ponta Delgada, e,
mais tarde, diretor da biblioteca e museu da Escola do Magistério Primário, em Benfica,
depois de se fixar em Lisboa (1942). Expôs em Lisboa e no Rio de Janeiro, sendo premiado
pela SNBA. Solicitou, em 1936, a concessão de uma bolsa ao Instituto para a Alta Cultura
para completar os estudos em Itália e visitar museus europeus, que não foi concedida por
falta de verbas. Somente um novo pedido realizado em 1949 veio a ser atendido, tendo
realizado uma viagem de estudos por Itália para estudar pintura afresco e os mestres
renascentistas. Para além das pinturas de cavalete focando paisagens e temas religiosos,
salienta-se o trabalho de decoração mural que iniciou com a colaboração no término das

539
pinturas do Salão Nobre do Palácio de São Bento, nomeadamente os murais na Igreja de S.
João de Deus, em Lisboa (1953), um fresco na capela batismal da Igreja de S. José, em
Coimbra (1962?), e os cartões para duas tapeçarias murais destinadas à Sala do Conselho da
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (1956).

REBELO DE ANDRADE, Carlos (1887-1971), arquiteto


Palácio de São Bento: Gabinete do Presidente da Câmara Corporativa
Diplomado pela EBAL. Integrou o quadro permanente da Direção de Edifícios Públicos do
Distrito de Lisboa (1917), e após ter estado destacado em Macau (19191-1921), foi colocado
na Administração dos Edifícios e Monumentos Nacionais como arquiteto de 3.ª classe
(1921). Esteve em comissão de serviços na Companhia de Moçambique (1929-32), e de
regresso, contando com 45 anos, regressa à atividade na Direção de Edifícios Nacionais do
Sul. Fez parte da representação portuguesa no Congresso Colonial em Paris (1931), e
realizou uma missão de estudo a Espanha para estudo de edifícios escolares (1933), para os
quais fora destacado na DGEMN. No quadro dos trabalhos na zona da Praça do Comércio,
refira-se o arranjo que supervisionou no Pátio da Galé (1934); nessa altura, foi incumbido,
por exemplo, do projeto de conclusão do Governo Civil e repartições públicas em Beja
(1935), do Matadouro de Lisboa (1937) e da Estação Agronómica de Sacavém (1941). Mais
tarde assinou, por exemplo, a Piscina Municipal no Campo Grande (1953) e a Escola
Primária do Restelo (1953). Participou, com uma comunicação, no III Congresso da
Federación de Urbanismo y de la Vivienda (Madrid, 1944). Colaborou com o irmão,
Guilherme, nos projetos dos pavilhões de Portugal para Feira do Rio de Janeiro (1922) e para
a Exposição Ibero-Americana de Sevilha (1929), da Escola Naval do Alfeite (1938), da
Caixa Geral de Depósitos de Faro (1938), da ampliação do Palácio do Marquês de
Abrantes/Instituto Francês (1937), do Sifão de Sacavém (1943), da Estação de Tratamento
de Agua de Alenquer (1945), da Estação Elevatória dos Olivais (1946), da Fonte
Monumental da Alameda D. Afonso Henriques (1948), das capelas das Caldas de
Monchique (1945) e do Colégio das Escravas do Coração de Jesus (1947), a Embaixada de
Portugal no Rio de Janeiro (1962), e de moradias habitacionais em Lisboa, entre outros.
Participaram, em conjunto, nos concursos para o Monumento ao Infante D. Henrique, para
Sagres (1935). Carlos solicitou licença ilimitada da DGEMN em 1936, para exercer a
profissão em regime liberal, e cerca de vinte anos volvidos pediu a aposentação.

540
REBELO DE ANDRADE, Guilherme (1891-1969), arquiteto
Palácio de São Bento: Gabinete do Presidente do Conselho
Ministérios (Praça do Comércio): Plantas de arrumação de serviços (Ministérios: Finanças,
Interior, Presidência do Ministério, Subsecretariado das Corporações e Previdência Social);
arranjo do gabinete e dependências do Ministro das Obras Públicas
Tirocinou na 3.ª secção da 3.ª Direção de Obras Públicas do Distrito de Lisboa e também no
atelier do arq. João Lino de Carvalho, e prestou serviços na Comissão do Manicómio Miguel
Bombarda. Concorreu como arquiteto de 3.ª classe para o quadro das Obras Públicas em
1921. Venceu o 1.º prémio no concurso para o Palácio da Agricultura (1931, não construído),
e foi autor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, em Lisboa (1931, colab. esc.
Maximiano Alves). Para além dos trabalhos em colaboração com o irmão Carlos*, refiram-
se trabalhos assinados individualmente, como o projeto de ampliação do Museu Nacional de
Arte Antiga (1934), os estudos de adaptação do Palácio das Carrancas a museu (1934), os
restauros do Teatro de S. Carlos (1940) e do Palácio de Queluz (1940, colab. arq. Raul Lino),
e o Bairro de Nossa Senhora da Piedade, na Cova da Piedade (1952).
[*Ver nota biográfica de Carlos Rebelo de Andrade.]

REBOCHO, Joaquim da Costa (1912-2003), pintor e arquiteto


Palácio de São Bento: Pinturas murais (salão nobre: conclusão do trabalho delineado por
Adriano de Sousa Lopes)
Ministério das Finanças: Tríptico alegórico (escadaria nobre); pintura Condessa de Atouguia
(salão nobre do Tribunal de Contas)
Ministério do Interior: Vitral (escadaria principal)
Formado em Pintura (1936) e Arquitetura (1958) pela ESBAL, foi discípulo de Veloso
Salgado e bolseiro do Legado Valmor. Concorreu para uma bolsa de estudo no estrangeiro
ao IAC – desejava especializar-se em França e Itália –, sem sucesso (1938). Abandonou a
4.ª Missão Estética de Férias, em Viana do Castelo (1940), sem prestar justificações,
presumindo-se por incompatibilização com a organização. Nessa altura, colaborou com
Manuel Lima na decoração do Pavilhão dos Descobrimentos da Exposição do Mundo
Português. Desenhou cartões para vitrais destinados à Igreja Matriz de Vila Real de Santo
António, para o Mosteiro dos Jerónimos e para a Sé do Funchal. Em 1947, ganhou um
concurso promovido pela Companhia Colonial de Navegação para decoração artística do
paquete Império. No domínio da pintura mural, destaca-se o painel no átrio da Faculdade de

541
Letras de Coimbra incorporando uma alegoria à Antiguidade Clássica (1951) – para o qual
realizou uma missão de estudo a Itália subsidiada pelo IAC, o mural par ao átrio do anfiteatro
do pavilhão central da Estação Agronómica Nacional, em Oeiras (1966), e as pinturas em
colaboração com Severo Portela Júnior para a Igreja do Santo Condestável, em Lisboa
(1950). Foi professor do ensino técnico, e foi também conservador dos Palácios e
Monumentos Nacionais, tendo sido responsável pelo restauro dos azulejos do Colégio dos
Grilos, na Cidade Universitária de Coimbra (1969-70).

REIS, Carlos António Rodrigues dos (1863-1940), pintor


Palácio de São Bento: Pintura A Pátria (Sala das Sessões da Câmara Corporativa)
Estudou na Academia de Belas-Artes de Lisboa e foi pensionista do Estado em Paris, sendo
discípulo de Silva Porto, Joseph Blanc e Léon Bonnat. Participou nas exposições do Grupo
do Leão (1886, 1887), e expôs nos salões da SNBA. Foi professor da cadeira de Paisagem
na EBAL (1895), e fundou o Grupo Ar Livre (1910) com alunos seus. Dirigiu o Museu
Nacional de Arte Contemporânea (1911-14), vindo a fixar atelier na Lousã (1918),
dedicando-se à pintura de paisagem e de costumes, na linha da tradição naturalista.
Colaborou na decoração parietal de salas no Museu Militar, no Hotel do Buçaco e no salão
nobre da Câmara Municipal da Lousã, e realizou ainda retratos de figuras distintas, como o
Rei D. Carlos e o Presidente da República Manuel Gomes da Costa.

RODRIGUES DE CARVALHO, Eduardo (1891-1970), engenheiro


Ministérios (Praça do Comércio): direção das obras na ala oriental para instalação de
ministérios
Major de engenharia do Ministério da Guerra, foi requisitado em comissão de serviço pelo
MOPC para dirigir as obras do novo corpo Museu de Arte Antiga, das gares marítimas e da
ala oriental da Praça do Comércio para os serviços dos Ministérios (1934), numa altura em
que dirigia as Oficinas Gerais de Material de Engenharia. O seu contrato foi alargado por
forma a incluir também a supervisão das obras no Teatro Nacional de S. Carlos e dos
edifícios da Administração Geral do Porto de Lisboa. Nesse âmbito, realizou viagens de
estudo, na companhia dos arquitetos Guilherme Rebelo de Andrade e Pardal Monteiro, a
Espanha, Holanda e Itália. Em 1935, foi nomeado presidente da Comissão Administrativa
das Obras do Estádio de Lisboa, tornou-se chefe de gabinete do Ministro das Obras Públicas
e Comunicações, e no ano seguinte ascendeu a chefe da Repartição de Estudos de Edifícios

542
da DGEMN, onde se destaca, por exemplo, um projeto para futuras instalações da Biblioteca
Nacional, e a supervisão da remodelação Emissora Nacional. Dirigiu os Serviços de
Urbanização e Obras da CML, e substituiu Duarte Pacheco na presidência do município,
entre 1938 e 1944. Foi Inspetor Superior de Obras Públicas (1943) – vindo a presidir à 2.ª
subsecção da 3.ª secção (1948), e membro do Conselho de Administração da Companhia
Portuguesa de Celulose (1944). Presidiu à Comissão Executiva da Exposição de Obras
Públicas (1948, IST).

ROQUE GAMEIRO, Ruy (1906-1935), escultor


Palácio de São Bento: estudos para a estátua Fortaleza (escadaria exterior; não concretizada)
Nascido no seio de uma família de artistas, estudou Escultura na EBAL (1921-28) com
Simões de Almeida (Tio), tendo sido colega de Barata Feyo. Foi pensionista do Estado, tendo
viajado por diversas capitais europeias para conhecer museus e ateliers (1932). Sócio da
SNBA, participou na Exposição Ibero-Americana de Sevilha (1929), no Salão dos
Independentes (1930) e na Exposição Colonial de Paris (1931), e ainda nas exposições
internacionais de Paris (1937), S. Francisco e Nova Iorque (1939), nas quais foram expostos
relevos submetidos no 1.º concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique (1935).
Concebeu, também, Monumentos homenageando os mortos da Grande Guerra (Abrantes,
Lourenço Marques). A estátua representando D. João II (1931), destinada à Avenida da
Índia, esteve patente no Pavilhão dos Descobrimentos da Exposição do Mundo português
(1940), já após falecimento do escultor.

SEGURADO, José de Almeida (1913-1988), arquiteto


Palácio de São Bento: projeto de remodelação da Residência Oficial do Presidente do
Conselho
Formado na EBAP (1943), trabalhou com o irmão, arq. Jorge Segurado. Participou
ativamente no I Congresso Nacional de Arquitetura (1948), tendo assinado a lista do MUD.
Ingressou definitivamente nos quadros da DGEMN em 1954, tendo anteriormente prestado
serviço na Junta Autónoma de Estradas (1942-45). Passou pela Direção de Edifícios de
Lisboa (1968) e pela Direção dos Serviços de Conservação (desde 1978), aposentando-se em
1981. Foi responsável por alguns planos de urbanização, como Penamacor e Vilar Formoso,
assinou, conjuntamente com o arq. Inácio Peres Fernandes, a Colónia Balnear Infantil de O
Século (1945), os conjuntos de blocos de prédios entre as Avenidas João XXI e de Paris, em

543
Lisboa (1950, colab. arqs. Guilherme Gomes, Joaquim Ferreira, Filipe de Figueiredo) e no
cruzamento das Avenidas Estados Unidos da América e de Roma (1955, colab. arqs. Filipe
de Figueiredo e Sérgio Gomes), projetou algumas moradias para clientes particulares, e foi
autor da remodelação e ampliação do Casino Estoril (1968, colab. arq. Filipe de Figueiredo).

SIMÕES DE ALMEIDA (SOBRINHO), José (1880-1950), escultor


Palácio de São Bento: Alto-relevo (frontão)
Frequentou os cursos de Desenho e de Escultura na EBAL, tendo sido aluno do seu tio,
Simões de Almeida, e de José Luís Monteiro. Veio a ocupar, mais tarde, o lugar de professor
de Escultura na escola, em substituição do tio (1915). Foi pensionista em Paris a expensas
do Legado Valmor (1905-1907), onde estudou com Verlet e Laurens. Expôs gessos e
medalhas na SNBA, tanto retratando figuras ilustres e anónimas, como temas da natureza,
alegóricos e religiosos. Concorreu a um conjunto de concursos para monumentos nas
primeiras décadas de Novecentos, obtendo o primeiro prémio no relativo ao Monumento a
Francisco Barahona (1907, Évora) e no monumento homenageando Gago Coutinho e
Sacadura Cabral, intitulado O Génio da Aviação (1927, Pernambuco), por exemplo. O
Monumento ao Marquês de Pombal, cujo concurso decorreu em 1914, apenas seria iniciado
na década de 1930, no qual colaborou com Leopoldo de Almeida. Foi autor do busto da
República que figurou nos funerais de Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, posteriormente
colocado na Câmara do Senado no Palácio de São Bento, para onde também veio a executar
uma estátua alegórica à Constituição (1923). A sua atividade para o regime republicano
estendeu-se à elaboração do modelo da moeda, do busto oficial da República e de uma lápide
comemorativa para a CML (1911); a composição escultórica para o frontão do Palácio de
São Bento, cujo concurso venceu em 1923, somente veio a ser terminado em 1937.
Permanece em atividade durante o regime do Estado Novo, participando nas exposições da
SNBA e recebendo encomendas para monumentos destinados a vários pontos do território
metropolitano e ultramarino, mantendo o seu estilo característico.

SOARES, António (1894-1978), pintor


Palácio de São Bento: Pinturas (gabinete do Presidente do Conselho; gabinete do Presidente
da Câmara Corporativa)
Autodidata, distinguiu-se como pintor e ilustrador, colaborando com periódicos e
trabalhando também na conceção gráfica de cartazes (para eventos e cinema) e de anúncios

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publicitários, como figurinista e cenógrafo no teatro, e como designer de stands expositivos.
Desenvolveu atividade profícua a par da geração modernista nas décadas de 1910 e 1920,
vindo a ser influenciado pelo gosto Art Déco. Participou nas exposições dos Humoristas
(1913, 1915, 1916), e expôs individualmente em numerosas ocasiões. Nesse período,
partilhou atelier com Jorge Barradas, e colaborou na decoração do Bristol Club e d’A
Brasileira, no Chiado. Foi premiado pela SNBA e pelo SPN/SNI. Colaborou em exposições
oficiais propagandísticas do regime do Estado Novo, como a Exposição do Ano X da
Revolução Nacional (1936), e os Pavilhões de Portugal na Exposição Internacional de Paris
(1937) e na Exposição Internacional de Nova Iorque (1939). No campo da pintura, deixou
um conjunto de retratos, incluindo cenas mundanas, e de paisagens urbanas e rurais.
Realizou, também, murais para a Escola de Alcântara (1918), a Escola Industrial e Comercial
de Abrantes (1958) e a Escola Técnica de Agualva, no Cacém (1964), e um painel para a
igreja do Seminário dos Olivais (1931, arq. Porfírio Pardal Monteiro).

SOUSA LOPES, Adriano de (1879-1944), pintor


Palácio de São Bento: Pinturas murais alusivas à expansão marítima portuguesa (salão
nobre)
Frequentou o curso de Pintura Histórica na EBAL, que não concluiu, tendo sido aluno de
Veloso Salgado e de Luciano Freire. Foi pensionista em Paris através do legado Valmor
(1903-10); estudou na Académie Julian, sob Baschet e Laurens, e na École des Beaux-Arts,
com Cormond. Nesse âmbito, expôs e viajou por várias cidades europeias. Organizou a
secção de Belas-Artes do pavilhão português na Exposição Internacional Panama-Pacific, na
Califórnia (1915), e expôs individualmente na SNBA pela primeira vez em 1917. Esteve ao
serviço do Corpo Expedicionário Português em França, durante a Grande Guerra, incumbido
de registar artisticamente o conflito; na sequência, recebe a encomenda de telas para
decoração de salas no Museu da Artilharia. Fez estadias para pintar no estrangeiro,
nomeadamente em França e na Argélia, dedicando-se também a retratar aspetos da vida e
das paisagens portuguesas, com predileção por zonas marítimas, como a Nazaré. Organizou,
com José de Figueiredo, a exposição L’art portugais de l´époque des grandes découvertes
au XXeme siècle, no Musée Jeu de Paume, a propósito da Exposição Colonial de Paris
(1931); mais tarde, refira-se a organização da exposição dos Primitivos Portugueses, no
MNAA (1940). Foi diretor do Museu de Arte Contemporânea (desde 1929), vogal fundador
da ANBA, e integrou a Comissão Nacional dos Centenários (1938), distinguindo-se na cena

545
cultural nacional. Dedicou-se também à pintura mural, onde se destaca o tríptico Os
Moliceiros (1934), tendo viajado para Itália para aprofundar os seus conhecimentos (1937),
aproveitando para avançar nos painéis para o Palácio de São Bento, que constituiriam a sua
derradeira obra.

TOJAL, Raul Francisco (1900-1969), arquiteto


Ministério da Justiça: Projeto de remodelação (não concretizado)
Formado em Arquitetura na EBAL (1926). Participou na I Exposição dos Independentes
(1930). Assinou um conjunto diversificado de projetos, da piscina do Clube de Algés e
Dafundo (1932) e complexo de piscinas da Praia das Maçãs (1955, colab. arq. Faria da
Costa), várias habitações, remodelações do café Palladium (1932) e do Cinema Condes
(1952), em Lisboa, projeto do Hotel Algarve na Praia da Rocha (1967), e arranjo do Forte
de São Julião da Barra e do Conservatório Nacional de Lisboa, entre outros.

TORRES, Renato Juvêncio da Rocha (1913-1974), pintor


Ministério das Corporações e Previdência Social: cartão para tapeçaria mural para o gabinete
do Ministro
Diplomado pela ESBAP. Foi professor do ensino técnico, e exerceu também como pintor e
desenhador. Participou nas Missões Estéticas de Férias (Alcobaça, 1939; Bragança, 1943;
Tomar, 1958). Concebeu cartões para várias tapeçarias executadas na Manufatura de
Portalegre, como a destinada ao Tribunal da Figueira da Foz (1961), tendo sido um dos
primeiros colaboradores da manufatura.

XAVIER, Raul Maria (1894-1964), escultor


Palácio de São Bento: Estátuas Prudência e leões (escadaria exterior)
Estudou na EBAL sem completar o curso de Escultura, frequentando as aulas de Costa Mota
(Tio), o qual acompanhou posteriormente no atelier. Estagiou em Itália graças a uma bolsa
do Estado. Lecionou na Escola de Arte Aplicada António Arroio e na Casa Pia de Lisboa, e
desenvolveu atividade como ilustrador científico. Colaborou com o escultor Maximiano
Alves. Participou em exposições da SNBA, na Exposição Ibero-Americana de Sevilha
(1929) e na Exposição do Mundo Português (estátua de S. Vicente e alto-relevo alusivo à
Batalha de Aljubarrota, 1940). Autor de vasta obra no domínio dos bustos e dos medalhões,
no que toca a estatuária para decoração de edifícios públicos, para além de diversas estátuas

546
de figuras históricas – incluindo dois bustos retratando Oliveira Salazar – e de personagens
religiosas, citem-se, na linha da estátua do Palácio de São Bento, as figuras alegóricas
Ciência e Arte (Pavilhão dos Desportos, Lisboa, 1945), e Justiça e Lei (Palácio da Justiça de
Beja, 1950).

VAZ MARTINS, João Filipe (1910-1988), arquiteto


Palácio de São Bento: supervisão de obras de beneficiação (a partir da década de 1950);
transformação do gabinete do Ministro de Estado
Ministério da Justiça: mobiliário (CAM)
Ministério das Obras Públicas: arranjo do gabinete do Ministro
Formado na EBAP (1936). Prestou serviço como assalariado na Direção de Monumentos do
Norte, concorrendo para arquiteto de 3.ª classe da DGEMN em 1936, vindo a trabalhar nas
secções de Évora e de Lisboa. Integrou a DSMN, chefiando a Repartição Técnica e vindo a
substituir o arq. Luís Benavente na direção desse serviço (definitivamente em 1961, após um
período de direção interina). Desde 1957, colaborou com a CAPOCUC, tendo projetado o
arranjo do Pátio da Universidade; chegou a consultor, e sucedeu ao arq. Luís Cristino da
Silva como vogal-arquiteto da comissão (19679). Foi vogal da CAM (1959), e tornou-se
Inspetor Superior de Obras Públicas (1968). Participou no II Congresso Internacional dos
Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos (1964).

547
III.
Ficha de caso de estudo: Palácio de São Bento

Intervenientes
Luís Benavente Nuno Beirão
Luís Cristino da Silva Porfírio Pardal Monteiro
Arquitetos Raul Lino José de Almeida Segurado
Carlos Rebelo de Andrade João Vaz Martins
Guilherme Rebelo de Andrade
Leopoldo de Almeida Jaime Martins Barata
Maximiano Alves Domingos Rebelo
Lino António Joaquim Rebocho
Salvador Barata Feyo Carlos Reis
Guilherme Camarinha Ruy Roque Gameiro
Artistas
António Costa Mota (Sobrinho) Simões de Almeida (Sobrinho)
António da Costa António Soares
Dordio Gomes Adriano de Sousa Lopes
Francisco Franco Raul Xavier
Abel Manta

548
Orientação das obras de adaptação
1933-1941: Delegação das Obras do Palácio da Assembleia Nacional / DGEMN
(eng. Teófilo Leal de Faria, arq. António Lino)
1941-1974: Direção dos Serviços de Monumentos Nacionais, Direção dos Edifícios de
Lisboa, Comissão para Aquisição de Mobiliário / DGEMN

Urbanização e transformações da envolvente – plano da zona de proteção


Arq. Luís Cristino da Silva
1934-36: Transformação do largo fronteiriço, aprovada pelo CAA/CML (1934), mas
contestada pelo CSBA (1935)
1936-38: Anteprojeto da zona de proteção e variante do projeto, ambos aprovados pelo
CSOP
1937: Estabelecimento da zona de proteção (Decreto-lei n.º 27921)
1938: Arranjo da zona entre a fachada posterior e o jardim da residência do
Presidente do Conselho; demolição do Arco de São Bento
1939-41: Arranjo do ângulo sudoeste da Praça de S. Bento
1946-47: Projeto do jardim junto da fachada sul do palácio

Exterior: decoração escultórica


1923-38: Frontão, esc. Simões de Almeida (Sobrinho)
1934-41/42: Estátuas para decoração da escadaria principal de acesso ao palácio, sob
supervisão do esc. Francisco Franco: Prudência (Raul Xavier), Justiça
(Maximiano Alves), Fortaleza (Costa Mota, Sobrinho), Temperança (Barata
Feyo) – avaliações por parte do CSBA e da JNE, tendo-se passado de seis
estátuas inicialmente previstas para quatro
1941-42: Estátuas de leões para a base da escadaria (Raul Xavier)

Espaços interiores: decoração artística nos patamares da escadaria nobre


1935-44: Execução de dois trípticos pintados A Defesa da Pátria e A Prosperidade da
Nação – concurso público de 1935 anulado (vencedores: Dordio Gomes e Abel
Manta; pareceres de avaliação emitidos pelo CPAE e pela JNE), seguindo-se a
encomenda direta a Jaime Martins Barata por sugestão do MOP (1940)
1937: Grupos escultóricos nas sobreportas (esc. Leopoldo de Almeida)

549
Espaços interiores: adaptações na zona nobre – gabinetes destacados
1934: Convite a vários arquitetos, por resolução ministerial, para decoração dos
gabinetes Presidente da República, do Corpo Diplomático, e dos Presidentes
da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa
1935-38: Remodelação de gabinetes nobres:
Presidente do Conselho - arq. Guilherme Rebelo de Andrade; pinturas de
António Soares
Presidente da Assembleia Nacional - arq. António Lino; pinturas de Lino
António
Presidente da Câmara Corporativa - arq. Carlos Rebelo de Andrade; pinturas
de António Soares, relevo escultórico de Maximiano Alves
Sala de reuniões do Conselho de Ministros - arq. Raul Lino, pinturas de
Adriano de Sousa Lopes
1936-49: Remodelação do Salão Nobre, avaliada pela JNE: arranjo arquitetónico do arq.
Pardal Monteiro (1937-38); pinturas murais alusivas às viagens de expansão
marítima - sete painéis delineados por Adriano de Sousa Lopes, concluídos por
Domigos Rebelo e Joaquim Rebocho (1943-47); mobiliário do arq. Luís
Benavente (CAM, 1949)
1950: Beneficiações no gabinete do Presidente do Conselho (arq. Luís
Benavente/CAM)
1953: Adaptação do gabinete Presidente da Câmara Corporativa a sala de reuniões do
Conselho de Ministros para o Comércio Externo
1957-60: Estudos para remodelação do gabinete do Presidente do Conselho e
beneficiação do respetivo átrio, pelo arq. Nuno Beirão (DSMN)
1961: Arranjo do gabinete do Ministro de Estado adjunto da Presidência do Conselho,
pelo arq. João Vaz Martins (DSMN)
1964: Arranjo do gabinete do Secretário da Presidência do Conselho e sala de espera
(DEL, CAM)
1969: Remodelação das instalações do Ministro de Estado adjunto da Presidência do
Conselho: gabinete, sala de espera, gabinete dos secretários, sala de reuniões,
segundo estudos do arq. Nuno Beirão (DSMN)
[Entre a década de 1930 e a de 1970, registaram-se diversos arranjos noutras zonas, das salas
de reunião das câmaras à biblioteca e aos corredores internos, com pontual integração de obras
de arte]

550
Residência oficial do Presidente do Conselho
- Delegação das Obras do Palácio da Assembleia Nacional / Arq. António Lino
1937-38: Obras de adaptação do Palacete Sottomayor a Residência Oficial do Presidente
do Conselho, incluindo planos de mobiliário e decoração artística (com
empréstimo de peças provenientes de museus nacionais), e arranjo do jardim
(com tanque assinado pelo arq. Luís Cristino da Silva encimado pela estátua
Meditação do esc. Leopoldo de Almeida, também responsável pelas esculturas
de golfinhos para tanque das traseiras da residência), com aprovações da 1.ª
subsecção da 6.ª secção da JNE
- Repartição de Estudos e Edifícios; Direção de Edifícios de Lisboa; Comissão para Aquisição
de Mobiliário
1949-52: Beneficiações e renovação da decoração na residência; modificações no jardim
1950-52: Renovação do mobiliário, arq. Luís Benavente (CAM) e Cayola Zagalo (PNA)
1955-59: Remodelações no jardim (DSMN)
1970: Anteprojeto de arranjo da residência, arq. José de Almeida Segurado (DEL)
1971: Projeto de remodelação da residência, arq. José de Almeida Segurado (DEL)
1972: Remodelação da residência: fornecimento de mobiliário e decoração, arq. Nuno
Beirão / CAM

551
Ficha de caso de estudo: Praça do Comércio - Ministérios

Intervenientes
João António de Aguiar Sérgio Gomes
Luís Benavente Raul Lino
João Costa Martins Carlos Rebelo de Andrade
Arquitetos Luís Cristino da Silva Guilherme Rebelo de Andrade
Paulo Cunha Porfírio Pardal Monteiro
João Faria da Costa João Vaz Martins
Sebastião Formosinho Sanchez
José de Almada Negreiros António Duarte
Leopoldo de Almeida Francisco Franco
Maximiano Alves Jaime Martins Barata
Artistas
Salvador Barata Feyo António Lino Pedras
Álvaro de Brée Joaquim Rebocho
Guilherme Camarinha Renato Torres

552
Orientação das obras
1933-46: Delegação das Obras da Ala Oriental da Praça do Comércio / DGEMN
(eng. Eduardo Rodrigues de Carvalho)
1948-70: 1970: Delegação para as Novas Instalações dos Serviços Públicos / DGEMN
(engs. Artur Bonneville Franco e Francisco Anjos Diniz, arq. Raul Lino)
1970-74: Direção dos Serviços de Construção / DGEMN

Estudos de urbanização
1927: Estudo de ligação entre a Praça do Duque da Terceira e a Praça do Comércio,
arq. Jean-Claude Forestier
1935: Proposta de ligação entre a Avenida 24 de Julho e a Praça do Comércio, arq.
Donat-Alfred Agache
1942: Estudo para o Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa entre Alcântara e
Terreiro do Paço, arq. Paulo Cunha e eng. Fernando Silva / AGPL
1945: Estudo para ligação da Avenida 24 de Julho ao Terreiro do Paço, arq. Porfírio
Pardal Monteiro
1947: Proposta de planta da zona de proteção da Praça do Comércio (DSMN)
1947: Estudo da ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio, arq. Faria da
Costa / DGEMN
1950: Plano de Remodelação da Baixa, arq. Faria da Costa / DSUO-CML
1956: Revisão do Plano de Remodelação da Baixa, arq. Faria da Costa / CML
1958: Revisão do arranjo da zona marginal entre o Cais do Sodré e a Praça do
Comércio, arq. Faria da Costa (colab. GEU-CML, DNISP, AGPL)
1964: Estudo de ligação da Avenida 24 de Julho à Praça do Comércio, arq. Paulo Cunha
1970: Estudo de integração urbana das zonas adjacentes à Praça do Comércio, arq.
Formosinho Sanchez / CANON – Centro de Estudos e Projectos

Ala oriental
1937: Projeto para as instalações do Ministério das Finanças, no lugar do edifício da
Alfândega, arq. Porfírio Pardal Monteiro (sugerido por Henrique Gomes da Silva
ao Ministro das Obras Públicas e Comunicações)
1949-55: Retoma do projeto e da construção do Ministério das Finanças, arq. Porfírio
Pardal Monteiro

553
1950: Anteprojeto das novas instalações para o Tribunal de Contas, no torreão
nascente, arq. Porfírio Pardal Monteiro
1952: Ministério das Finanças: Decoração escultórica da escadaria nobre – estátuas de
Álvaro de Brée, baixos-relevos de Leopoldo de Almeida e Barata Feyo
(avaliação pela JNE); fonte no claustro, Pardal Monteiro e Maximiano Alves;
arranjo do gabinete do Ministro
1953: Conclusão do tríptico na escadaria nobre do Ministério das Finanças, por
Joaquim Rebocho (à semelhança dos restantes artistas, foi sugerido pelo Ministro
das Obras Públicas Ulrich)
1954: Tapeçaria para o gabinete do Ministro das Finanças, executada na Manufatura
de Tapeçarias de Portalegre segundo cartão de Guilherme Camarinha
1956: Estudo de decoração e arranjo dos corredores do Tribunal de Contas, no torreão
nascente da Praça do Comércio, pelo arq. Areal e Silva / DSC
1958: Entrega de tapeçaria mural para o Tribunal de Contas executada na Manufatura
de Tapeçarias de Portalegre segundo cartão de Guilherme Camarinha
1959: Arranjo do gabinete do Ministro das Obras Públicas, coordenado pelo arq. Vaz
Martins / DNISP, integrando mobiliário desenhado por José Espinho/Olaio
1960: Conclusão das pinturas para o Salão Nobre Tribunal de Contas (Martins Barata,
Almada Negreiros, Joaquim Rebocho); inauguração do Tribunal de Contas
1972: Escultura para a entrada do Ministério das Obras Públicas, da autoria de António
Duarte
1974: Encomenda de tapeçarias para a sala das sessões do Ministério das Obras
Públicas a Guilherme Camarinha [não concretizado]

Ala norte
1946: Projeto das novas instalações do Ministério da Justiça, arq. Raul Tojal (sugerido
por Henrique Gomes da Silva) – avaliado positivamente pela REE e pelo CSOP,
apesar das demolições implicadas [não concretizado]
1947: Obras para instalação do Ministério das Comunicações (canto nordeste); arranjo
decorativo do gabinete do Ministro das Comunicações, Cayola Zagalo (PNA)
1948: Anteprojeto de remodelação do Ministério do Interior, arq. Porfírio Pardal
Monteiro

554
1954: Projeto de remodelação do Ministério do Interior, arq. Porfírio Pardal Monteiro
/ DNISP
1957: Ministério do Interior: conclusão das obras; planeamento de mobiliário, arq. Luís
Benavente / CAM; vitral para a escadaria principal segundo desenho de Joaquim
Rebocho (aprovado pelo arq. Ral Lino)
1959: Projeto de remodelação do Ministério da Justiça (DNISP) – deu origem a
altercações entre o arq. Eugénio Correia (CSOP) e os restantes membros da
DGEMN indigitados para avaliar o estudo; observado pela comissão de revisão
1966: Projeto de remodelação do Ministério da Justiça, arq. Costa Martins e eng. Anjos
Diniz / DNISP
1968: Obras de beneficiação no Ministério do Interior, arq. Costa Martins / DNISP

Ala ocidental
1947: Estudo do arranjo do gabinete do Ministro da Economia, por Cayola Zagalo
(conservador do PNA)
1959: Ministério da Economia: Obras de adaptação nas Secretarias de Estado da
Agricultura, do Comércio, e da Indústria, incluindo decoração artística
1969: Beneficiações na ala ocidental da Praça do Comércio
1970: Programa definitivo do Ministério da Marinha, arq. Formosinho Sanchez /
CANON – Centro de Estudos e Projectos

Novos edifícios ministeriais na Praça do Comércio


1953: Anteprojeto para as novas instalações dos Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações, a poente da ala ocidental, arqs. Cristino da Silva e António Lino
Anteprojeto para as instalações do Ministério das Corporações e Previdência
Social, a poente da ala ocidental, arq. Costa Martins / DNISP [não construído]
1953: Projeto para o Ministério das Corporações e Previdência Social no
prolongamento da ala ocidental da Praça do Comércio, arq. Manuel Costa
Martins / DNISP [não construído]
1956: Projeto definitivo do edifício dos Ministérios das Obras Públicas e das
Comunicações, junto da Praça do Comércio, arqs. Cristino da Silva e António
Lino – aprovado pela JNE e pela Comissão de Revisão da DGEMN (1957-59)
[não construído]

555
Novos edifícios fora da Praça do Comércio
1960-64: Construção e expansão do edifício do Ministério do Ultramar, no Restelo,
segundo projeto do arq. João António de Aguiar
1960: Estudo para as novas instalações do Ministério da Saúde e Assistência, no
Campo Santana, pelo arq. Costa Martins / DNISP [não construído]
1960-66: Aquisição de edifício, na Praça de Londres, e obras de adaptação para instalação
do Ministério das Corporações e Previdência Social, segundo projeto do arq.
Sérgio Gomes

Ideias sem concretização


1947: Decoração escultórica para os nichos das fachadas dos edifícios da Praça do
Comércio (propostas dos arqs. Raul Lino e Baltazar de Castro)
1949: Hipótese de acrescentamento de um piso nos edifícios da Praça do Comércio
(avaliado negativamente pelo arq. Paulino Montês em nome da JNE)

556
IV.
Desenhos de Martins Barata, relativos aos estudos para os trípticos do Palácio de São
Bento, vendidos ao Estado em 19441917

N.º Descrição Localização durante o Estado Novo Localização atual


Estudo, a guache, do Tríptico A
Fevereiro 1946: proposta para decoração do Destruído? (incêndio no
(do lado da Câmara dos
1 gabinete do Presidente do Tribunal da Relação Tribunal da Relação em
Deputados), na escala 1:20
de Lisboa janeiro 1947)
(encaixilhado c/ vidro)
Estudo, a gouache, do Tríptico B
Fevereiro 1946: proposta para decoração do Destruído? (incêndio no
(do lado da Câmara Corporativa),
2 gabinete do Presidente do Tribunal da Relação Tribunal da Relação em
na escala 1:20 (encaixilhado c/
de Lisboa janeiro 1947)
vidro)
Estudo do tríptico A, a negro, na Janeiro 1957: decoração dos gabinetes dos
3 escala 1:10 (encaixilhado c/ chefes de repartição da Direção-Geral de Desconhecida
vidro) Contribuições Impostos [pedido aceite]
Estudo do tríptico B, a negro, na Janeiro 1957: decoração dos gabinetes dos
4 escala 1:10 (encaixilhado c/ chefes de repartição da Direção-Geral de Desconhecida
vidro) Contribuições Impostos [pedido aceite]
Estudo do painel do clero, a óleo
5 emoldurado, escala 1:5 - tríptico Desconhecida Desconhecida
A (encaixilhado e envernizado)
Estudo do painel dos
procuradores do povo, a óleo
6 Desconhecida Desconhecida
emoldurado, escala 1:5 - tríptico
A (encaixilhado e envernizado)
Estudo do painel dos nobres, a
óleo emoldurado, escala 1:5 -
7 Desconhecida Desconhecida
tríptico A (encaixilhado e
envernizado)
Estudo do painel da agricultura, a
óleo emoldurado, escala 1:5 -
8 Desconhecida Ministério da Agricultura
tríptico B (encaixilhado e
envernizado)
Estudo do painel da indústria, a
óleo emoldurado, escala 1:5 -
9 Desconhecida Ministério da Agricultura
tríptico B (encaixilhado e
envernizado)
Estudo do painel do comércio, a
óleo emoldurado, escala 1:5 -
10 Desconhecida Ministério da Agricultura
tríptico B (encaixilhado e
envernizado)
Estudo do painel do clero, a
11 negro, escala 1:5 (encaixilhado c/ Março 1945: proposta para MNAC Desconhecida
vidro)
Homem do pendão, óleo Junho 1945: proposta para Museu Alberto
12 Desconhecida
(encaixilhado e envernizado) Sampaio
Setetembro 1944: cedência para o gabinete do
Mercador, negro a pastel
13 Subsecretário do Ministério da Educação Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Nacional
Homem de perfil (inaproveitada),
14 negro a pastel (encaixilhado entre Maio 1945: proposta para Museu Grão Vasco Desconhecida
2 vidros)

1917
Tabela elaborada com base na documentação constante em ACMF: PT/ACMF/DGFP/RP/MIVJMB/035.

557
Janeiro1949: proposta para sala antecedente ao
gabinete do Diretor-Geral do Registo e
Ganhão semeador, negro a pastel
15 Notariado Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Junho 1956: proposta para gabinete de trabalho
do Inspetor Saúde Naval [cedido por 1 ano]
Nobre de manto azul, negro a Julho 1946: Governo Civil de Braga [dúvida: Museu da Assembleia da
16 pastel (encaixilhado entre 2 referência na lista: n.º 16, nobre do manto República
vidros) amarelo] (Inv. MAR 5191)
Velho (inaproveitada), negro a
Março 1945: proposta para Museu Alberto Palácio Nacional de Queluz
17 pastel (encaixilhado entre 2
Sampaio (Inv. PNQ 3071)
vidros)
Março 1945: proposta para Museu Regional de
Évora
Diácono de hissópe, negro a
1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
18 pastel (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Ajuda
vidros)
Maio 1954: autorização para cedência ao Museu
Regional Abade Baçal, Bragança
Junho 1946: proposta para Palácio da Cidadela
em Cascais
Procurador, de perfil, aguarela 1947: localizado ainda no Palácio Nacional da Palácio Nacional da Ajuda
19
(encaixilhado entre 2 vidros) Ajuda (Inv. PNA 59052)
Junho 1959: aceite para decoração do gabinete
do Presidente da Junta Crédito Público
Junho 1946: proposta para Palácio da Cidadela
em Cascais
Pastor, aguarela (encaixilhado 1947: localizado ainda no Palácio Nacional da Palácio Nacional da Ajuda
20
entre 2 vidros) Ajuda (Inv. PNA 59049)
Junho 1959: aceite para decoração do gabinete
do Presidente da Junta Crédito Público
Procurador, de perfil, negro e
21 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
vidros)
Dominicano, negro e sanguínea Outubro 1945: proposta para Gabinete do
22 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado das Corporações

Bispo de pluvial verde, negro e


Museu Nacional Grão Vasco
23 sanguínea (encaixilhado entre 2 Maio 1945: proposta para Museu Grão Vasco
(Inv. MNGV 1628)
vidros)
Figura não aproveitada, negro e
Outubro 1945: proposta para Gabinete do
24 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Subsecretário de Estado das Corporações
vidros)
Mestre do Templo, negro e
Maio 1945: proposta para Museu João de
25 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Castilho, Tomar
vidros)
Pescador, negro e sanguínea
26 Maio de 1945: proposta para Museu de Aveiro Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Procurador, negro e sanguínea Outubro 1945: proposta para Gabinete do
27 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado das Corporações
Ferreiro, negro e sanguínea Maio1954: autorização para cedência ao Museu
28 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Regional Abade Baçal, Bragança
Procurador (inaproveitada), negro Setembro 1944: cedido para sala do trabalho do
Museu Nacional Grão Vasco
29 e sanguínea (encaixilhado entre 2 Chefe de Gabinete do Ministério da Educação
(Inv. MNGV 1627)
vidros) Nacional
Nobre do manto amarelo, negro e
Outubro 1945: proposta para Gabinete do
30 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Subsecretário de Estado das Corporações
vidros)

558
nobre do manto vermelho, negro e
Junho1945: proposta para Museu Alberto
31 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Sampaio
vidros)
Maio 1945: proposta para Museu Regional D.
Diogo de Sousa [adiado por estar em obras]
Franciscano, negro e sanguínea 1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
32 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Ajuda
Junho 1956: proposta para gabinete de trabalho
do Inspetor Saúde Naval [cedido por 1 ano]
Mesteiral, negro e sanguínea
33 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Pagem, negro e sanguínea Palácio Nacional de Queluz
34 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNQ 3070)
Pagem, negro e sanguínea
35 Março 1945: proposta para Museu Malhoa Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Abril 1946: proposta para gabinete do
Mestre de Aviz, negro e
Subsecretário de Estado da Guerra
36 sanguínea (encaixilhado entre 2 Forte de S. Julião da Barra(?)
1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
vidros)
Ajuda
Nobre, negro e sanguínea
37 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Museu da Assembleia da
Fiandeira, negro e sanguínea Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-
38 República
(encaixilhado entre 2 vidros) Bibliográfico da Assembleia Nacional
(Inv. MAR 208)
Abril 1946: proposta para gabinete do
Mestre de Santiago, negro e
Subsecretário de Estado da Guerra
39 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
vidros)
Ajuda
Museu da Assembleia da
Cisterciense, negro e sanguínea
40 1946: Governo Civil Braga República
(encaixilhado entre 2 vidros)
(Inv. MAR 5193)
Março 1945: proposta para Museu da Mitra,
Lisboa
Pagem da bandeira, negro e 1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
41 sanguínea (encaixilhado entre 2 Ajuda Desconhecida
vidros) Junho 1958: proposta para gabinetes do Diretor
e Adjunto da Polícia Judíciaria (edifício na R.
Gomes Freire)
Março 1945: proposta para Museu Regional de
Évora
1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
Ajuda
Rei, negro e sanguínea Palácio Nacional da Ajuda
42 Dezembro 1958: proposta para gabinete do
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 59055)
Chefe da 8.ª Repartição da Contabilidade
Pública [não aceite]
Junho 1959: gabinete do Presidente da Junta
Crédito Público
Bispo da casula vermelha, negro e Museu da Assembleia da
Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-
43 sanguínea (encaixilhado entre 2 República
Bibliográfico da Assembleia Nacional
vidros) (Inv. MAR 209)
Junho 1946: proposta para gabinete do Diretor-
Homem de armas, negro e
Geral dos Caminhos-de-Ferro e sala de visitas
44 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Novembro 1950: devolução (novo arranjo
vidros)
dessas salas)
Procurador do manto violete,
45 negro e sanguínea (encaixilhado Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)

559
Conde, negro e sanguínea Maio/Agosto 1945: cedência ao Gabinete do
46 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado das Obras Públicas
Homem de armas, negro e
Março 1945: proposta para Museu Condes de
47 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Castro Guimarães
vidros)
Mesteiral, negro e sanguínea Março 1945: proposta para Museu da Figueira
48 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) da Foz
Armeiro, negro e sanguínea Março 1945: proposta para Museu Machado de
49 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Castro
Pagem, negro e sanguínea Maio/Agosto 1945: cedência ao Gabinete do
50 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado das Obras Públicas
Arquitecto, negro e sanguínea Março 1945: proposta para Museu Condes de
51 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Castro Guimarães
Velho nobre, negro e sanguínea Agosto 1950: proposta para gabinete do
52 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado do Tesouro
Sapateiro, negro e sanguínea Junho 1959: gabinete do Presidente de Junta de Palácio Nacional da Ajuda
53
(encaixilhado entre 2 vidros) Crédito Público (Inv. PNA 59056)
Pagem dos cães, negro e Setembro 1944: cedência ao gabinete do
54 sanguínea (encaixilhado entre 2 Subsecretário do Ministério da Educação Desconhecida
vidros) Nacional
Figura não aproveitada, negro e
Março 1945: proposta para Museu Nacional
55 pastel (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Soares dos Reis
vidros)
Bispo da casula amarela, negro Março 1945: proposta para Museu Nacional de
56 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Arte Contemporâena
Janeiro 1949: proposta para sala antecedente ao
gabinete do Diretor-Geral do Registo e
Mesteiral, negro (encaixilhado Notariado
57 Desconhecida
entre 2 vidros) Junho 1958: proposta para gabinetes do Diretor
e Adjunto da Polícia Judíciaria (edifício na R.
Gomes Freire)
Museu da Assembleia da
Mercador sentado, negro Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-
58 República
(encaixilhado entre 2 vidros) Bibliográfico da Assembleia Nacional
(Inv. MAR 210)
Museu da Assembleia da
Nobre, negro (encaixilhado entre
59 1946: Governo Civil de Braga República
2 vidros)
(Inv. MAR 5190)
Janeiro 1949: proposta para sala antecedente ao
gabinete do Diretor-Geral do Registo e
Figura não aproveitada, negro Notariado
60 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Junho 1958: proposta para gabinetes do Diretor
e Adjunto da Polícia Judíciaria (edifício na R.
Gomes Freire)
Nobre da túnica verde, a negro Junho 1945: proposta para Museu Alberto
61 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Sampaio
Escrivão, a negro (encaixilhado Setembro 1944: cedência ao gabinete do
62 Desconhecida
entre 2 vidros) Ministro da Educação Nacional
Procurador do manto branco, a
Setembro 1944: cedência ao gabinete do
63 negro (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Ministro da Educação Nacional
vidros)
Procurador do manto castanho, a Museu da Assembleia da
64 negro (encaixilhado entre 2 1946: Governo Civil de Braga República
vidros) (Inv. MAR 5192)
Procurador do tabardo castanho, a Museu da Assembleia da
Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-
65 negro (encaixilhado entre 2 República
Bibliográfico da Assembleia Nacional
vidros) (Inv. MAR 211)

560
Dezembro 1958: proposta para gabinete do
Procurador, a negro (encaixilhado
66 Chefe da 8.ª Repartição da Contabilidade Desconhecida
entre 2 vidros)
Pública
Procurador, a negro (encaixilhado
67 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)
Figura não aproveitada, a negro Junho 1945: proposta para Museu Alberto
68 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Sampaio
Junho 1946: proposta para gabinete do Diretor-
Procurador, a negro (encaixilhado Geral dos Caminhos-de-Ferro e sala de visitas
69 Desconhecida
entre 2 vidros) Novembro 1950: devolução (novo arranjo
dessas salas)
Setembro 1945: proposta para Liceu Pedro
Nunes [negado]
Escrivão, a negro (encaixilhado Maio 1947: proposta para gabinetes do
70 Desconhecida
entre 2 vidros) Secretário-geral e ante-câmara no Ministério das
Comunicações
1949: retirado para Palácio Nacional da Ajuda
Homem da cúria régia, a negro
71 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Alferes menor, a negro Março de 1945: proposta para Museu Nacional
72 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) de Arte Contemporânea
Setembro 1945: proposta para Liceu Pedro
Nunes [negado]
Homem da cúria régia, a negro Maio 1947: proposta para gabinetes do
73 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Secretário-geral e ante-câmara no Ministério das
Comunicações
1949: retirado para Palácio Nacional da Ajuda
Figura não aproveitada, a negro Março 1945: proposta para Museu Nacional
74 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Soares dos Reis
Ganhão da enxada, a negro
75 Maio 1945: proposta para Museu de Faro Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Setembro 1945: proposta para Liceu Pedro
Nunes [negado]
Maio 1947: proposta para gabinetes do
Homem do pendão, a negro Secretário-geral e ante-câmara no Ministério das
76 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Comunicações
1949: retirado para Palácio Nacional da Ajuda
Dez.1958: proposta para gabinete do Chefe da
8.ª Repartição da Contabilidade Pública
Nobre, a negro (encaixilhado
77 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)
Setembro 1945: proposta para Liceu Pedro
Nunes [negado]
Escudeiro real, a negro Maio 1947: proposta para gabinetes do
78 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Secretário-geral e ante-câmara no Ministério das
Comunicações
1949: retirado para Palácio Nacional da Ajuda
Junho 1946: proposta para gabinete do Diretor-
Homem de armas, a negro Geral dos Caminhos-de-Ferro e sala de visitas
79 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Novembro 1950: devolução (novo arranjo
dessas salas)
Imaginário, negro e sanguínea Março 1945: proposta para Museu Nacional de
80 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Arte Contemporânea
Procurador, negro e sanguínea Março 1945: proposta para Museu Machado de
81 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Castro
Mesteiral, negro e sanguínea Agosto 1950: proposta para gabinete do
82 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Subsecretário de Estado do Tesouro

561
Setetembro 1944: cedência para o gabinete do
Falcoeiro, negro e sanguínea
83 Subsecretário do Ministério da Educação Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Nacional
Pastor, negro (encaixilhado entre Jun.1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
84
2 vidros) Crédito Público (Inv. PNA 59048)
Estudo de nú do pastor, negro e
Palácio Nacional da Ajuda
85 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 54076)
vidros)
Pagem dos cães, negro e
Palácio Nacional de Queluz
86 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNQ 3261)
vidros)
Estudo de nú do pagem dos cães,
Jun.1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
87 negro (encaixilhado entre 2
Crédito Público (Inv. PNA 59058)
vidros)
Rei, negro e sanguínea Palácio Nacional de Queluz
88 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNQ 3262)

Estudo de nú do Rei, negro Palácio Nacional da Ajuda


89 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54075)
Franciscano, negro e sanguínea Jun.1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
90
(encaixilhado entre 2 vidros) Crédito Público (Inv. PNA 59053)
Estudo de nú do franciscano,
Palácio Nacional da Ajuda
91 negro e sanguíneo (encaixilhado Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 54077)
entre 2 vidros)
Pagem da bandeira, negro e Fevereiro 1960: proposta para salas do
92 sanguínea (encaixilhado entre 2 Conselho Administrativo e de espera da Cadeia Desconhecida
vidros) Central de Lisboa
Estudo de nú do pagem da
Palácio Nacional da Ajuda
93 bandeira, sanguínea (encaixilhado Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 66661)
entre 2 vidros
Homem de armas, negro e
94 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
vidros)
Mercador, de pé, negro e Fevereiro 1960: proposta para salas do
95 sanguínea (encaixilhado entre 2 Conselho Administrativo e de espera da Cadeia Desconhecida
vidros) Central de Lisboa
Fiandeira, negro e sanguínea
96 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Homem do pendão, negro e
Julho 1959: cedência ao gabinete do Inspetor
97 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Geral do Crédito e Seguros
vidros)
Homem de armas, negro e
Julho 1959: cedência ao gabinete do Inspetor
98 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
Geral do Crédito e Seguros
vidros)
Escrivão, negro (encaixilhado
99 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)
Museu da Assembleia da
Letrado, negro (encaixilhado Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-
100 República
entre 2 vidros) Bibliográfico da Assembleia Nacional
(Inv. MAR 212)
armeiro, negro e sanguínea Julho 1959: cedência ao gabinete do Inspetor
101 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Geral do Crédito e Seguros
nobre do manto azul, negro e
Palácio Nacional de Queluz
102 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNQ 3260)
vidros)
nobre do manto amarelo, negro Palácio Nacional de Queluz
103 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNQ 3269)

562
Mercador sentado, negro e
104 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
vidros)
Ganhão do arado, negro Junho 1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
105
(encaixilhado entre 2 vidros) Crédito Público (Inv. PNA 59054)

Semeador, negro e sanguínea Maio/Junho 1945: depósito no Museu Histórico-


106 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) Bibliográfico da Assembleia Nacional
Procurador do manto branco,
Junho 1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
107 negro e sanguínea (encaixilhado
Crédito Público (Inv. PNA 59050)
entre 2 vidros)
Carregador, negro (encaixilhado Palácio Nacional de Queluz
108 Desconhecida [DGFP]
entre 2 vidros) (Inv. PNQ 3072)

Nobre de manto vermelho, negro Palácio Nacional de Queluz


109 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNQ 3073)
Arquitecto, negro e sanguínea
110 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Dois procuradores, negro e Fevereiro 1960: proposta para salas do
111 sanguínea (encaixilhado entre 2 Conselho Administrativo e de espera da Cadeia Desconhecida
vidros) Central de Lisboa
Procurador do tabardo castanho,
Junho 1959: gabinete do Presidente da Junta de Palácio Nacional da Ajuda
112 negro e sanguínea (encaixilhado
Crédito Público (Inv. PNA 590501
entre 2 vidros)
Junho 1945: proposta para Museu Alberto
Ferreiro, negro e sanguínea Sampaio Pal. Nac. Ajuda (Inv. PNA
113
(encaixilhado entre 2 vidros) Junho 1959: gabinete do Presidente da Junta de 59057)
Crédito Público
Procurador do manto castanho, Fevereiro 1960: proposta para salas do
114 negro e sanguínea (encaixilhado Conselho Administrativo e de espera da Cadeia Desconhecida
entre 2 vidros) Central de Lisboa
Ganhão de arado, aguarela
115 Março 1945: proposta para Museu Malhoa Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Pescador, aguarela (encaixilhado Julho/Agosto 1945: proposta para Museu Museu Marítimo de Ílhavo
116
entre 2 vidros) Marítimo de Ílhavo (Inv. MMI.0005.Pin)

Mãos do painel dos procuradores, Palácio Nacional da Ajuda


117 Desconhecida [DGFP]
óleo (encaixilhado e envernizado) (Inv. PNA 54078)
Mãos do carregador, a negro Palácio Nacional da Ajuda
118 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54081)
Mãos, do ferreiro e do pescador,
Palácio Nacional da Ajuda
119 negro e sanguínea (encaixilhado Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 54080)
entre 2 vidros)
Mãos do painel do clero, negro e
120 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
vidros)
Mãos do painel do clero, negro e
121 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
vidros)
Mãos do semeador, a negro Palácio Nacional da Ajuda
122 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54082)
Mãos do pagem dos cães, a negro Palácio Nacional da Ajuda
123 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54083)
mãos da fiandeira, negro e
124 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP] Desconhecida
vidros)

563
Mãos do painel dos nobres, negro
Palácio Nacional da Ajuda
125 e sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 54084)
vidros)
Mãos do pastor e dum nobre, a Palácio Nacional da Ajuda
126 negro (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP] (Inv. PNA 54079; PNA
vidros) 54079-A)
Bota do ferreiro, a negro Palácio Nacional da Ajuda
127 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54086)
Dota do ferreiro, a negro Palácio Nacional da Ajuda
128 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54089)
Bota do mercador sentado, a
Palácio Nacional da Ajuda
129 negro (encaixilhado entre 2 Desconhecida [DGFP]
(Inv. PNA 54090)
vidros)
Sapatos de procuradores, a negro Palácio Nacional da Ajuda
130 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54087)
Sapatos de procuradores, a negro Palácio Nacional da Ajuda
131 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54091)
Sapatos de fiandeira, a negro Palácio Nacional da Ajuda
132 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54088)
Pés do pescador, a negro Palácio Nacional da Ajuda
133 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54085)
Touro (cabeça), aguarela
134 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Cabra, aguarela (encaixilhado
135 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)
Falcão, aguarela (encaixilhado
136 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
entre 2 vidros)
Cães, aguarela (encaixilhado entre
137 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
2 vidros)
Cães (não aproveitado), aguarela
138 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Cão (não aproveitado), aguarela
139 Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros)
Junho 1946: proposta para Palácio da Cidadela,
Frutos e peixes, aguarela Cascais
140 Desconhecida
(encaixilhado entre 2 vidros) 1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
Ajuda
141 Naus, a negro Desconhecida [DGFP?] Desconhecida
Março 1945: proposta para Museu da Mitra,
Imagens de Santos, negro e
Lisboa
142 sanguínea (encaixilhado entre 2 Desconhecida
1947: localizado ainda no Palácio Nacional da
vidros)
Ajuda
Golas do clero, a negro Palácio Nacional da Ajuda
143 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54092)
Bolsa do mercador, a negro Palácio Nacional da Ajuda
144 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54093)
Barrete do mercador Palácio Nacional da Ajuda
145 Desconhecida [DGFP]
(encaixilhado entre 2 vidros) (Inv. PNA 54094)

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