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NOTAS PRELIMINARES
1. INTRODUÇÃO
Por que Direito Penal, e não Direito Criminal?
O Brasil, desde que se tornou independente, só se utilizou da expressão Direito Criminal uma
única vez: em seu Código Criminal do Império, de 1830. Em todos os outros Códigos passou a adotar a
expressão Direito Penal.
Conceito de Código Penal – é o conjunto de normas, condensadas num único diploma legal, que
visam tanto a definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça de sanção para os
imputáveis e medida de segurança para os inimputáveis, como também a criar normas de aplicação
geral, dirigidas não só aos tipos incriminadores nele previstos, como a toda legislação penal
extravagante, desde que esta não disponha expressamente de modo contrário.
TEORIAS CRIMINOLÓGICAS
Direito Penal I 2
1. Criminologia Tradicional - procura identificar as causas do crime e como é possível prevenir a
sua ocorrência. Dentro dessa linha, as teorias mais comuns são as que se seguem:
1.1. Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social (Escola de Chicago) – 1920/1940: Segundo
esta teoria, a ordem social, estabilidade e integração contribuem para o controle social e a
conformidade com as leis, enquanto a desordem e a má integração conduzem ao crime e à
delinqüência. Tal teoria propõe ainda que quanto menor a coesão e o sentimento de solidariedade entre
o grupo, a comunidade ou a sociedade, maiores serão os índices de criminalidade.
1.2. Teorias da Subcultura Delinqüente - Desenvolvida por Wolfgang e Ferracuti (1967), esta
teoria defende a existência de uma subcultura da violência, que faz com que alguns grupos passem a
aceitar a violência como um modo normal de resolver os conflitos sociais. Mais que isso, sustenta que
algumas subculturas, na verdade, valorizam a violência, e, assim como a sociedade dominante impõe
sanções àqueles que deixam de cumprir as leis, a subcultura violenta pune com o ostracismo, o desdém
ou a indiferença os indivíduos que não se adaptam aos padrões do grupo.
1.3. Teoria da Anomia - Uma das mais tradicionais explicações de cunho sociológico acerca da
criminalidade é a teoria da Anomia, de Merton (1938). Segundo essa abordagem, a motivação para a
delinqüência decorreria da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele, como
sucesso econômico ou status social.
2. Criminologia Crítica - Ao indagar as causas do crime, a Criminologia Crítica pesquisa a reação
social, ampliando, assim, o campo de investigação para abranger as instâncias formais de controle
como fator criminógeno (as leis, a Polícia, o Ministério Público e os Tribunais). Buscando a resposta sob
o ângulo de uma problemática maior, defende que não há outra solução para o problema criminal senão
a construção de uma nova sociedade, mais justa, igualitária e fraterna; menos consumista e menos
sujeita às vicissitudes dos poderosos.
Principais teorias da Criminologia Crítica:
2.1. Teoria da Rotulação ou Labeling Approach (surge na década de 1960) - Esta teoria
considera que as questões centrais da teoria e da prática criminológicas não se relacionam ao crime e
ao delinqüente, mas, particularmente, ao sistema de controle adotado pelo Estado no campo preventivo,
no campo normativo e na seleção dos meios de reação à criminalidade. No lugar de se indagar os
motivos pelos quais as pessoas se tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos
pelos quais determinadas pessoas são estigmatizadas como delinqüentes, qual a fonte da legitimidade
e as conseqüências da punição imposta a essas pessoas. São os critérios ou mecanismos de seleção
das instâncias de controle que importam, e não dar primazia aos motivos da delinqüência. A teoria
do labelling approach dispõe-se a estudar, dentre outros aspectos do sistema punitivo, os
mecanismos de reação social ao delito e a influência destes na reprodução da criminalidade.
2.2. Criminologia Radical ou Criminologia Marxista (surge na década de 70) - Baseia-se na análise
marxista da ordem social. Critica a Teoria da Rotulação e a Etnometodologia, pois, fundamentalmente,
não se diferenciariam da Criminologia Tradicional, funcionando para a conservação da ordem social
opressiva. Considera o problema criminal insolúvel em uma sociedade capitalista, sendo necessária a
transformação da própria sociedade.
2.3. Criminologia Abolicionista (Anos 90) - apresenta a proposta de acabar com as prisões e
abolir o próprio Direito Penal, substituindo ambos por uma profilaxia de remédios para as situações—
problemas com base no diálogo, na concórdia e na solidariedade dos grupos sociais, para que sejam
decididas as questões das diferenças, choques e desigualdades, mediante o uso de instrumentos que
podem conduzir à privatização dos conflitos, transformando o juiz penal em um juiz civil.
2.4. Criminologia Minimalista (Anos 90) – sustenta que é preciso limitar o Direito Penal, que está a
serviço de grupos minoritários, tornando-o mínimo, porque a pena, representada em sua manifestação
mais drástica pelo Sistema Penitenciário, é uma violência institucional que limita direitos e reprime
Direito Penal I 3
necessidades fundamentais das pessoas, mediante a ação legal ou ilegal de servidores do poder,
legítima ou ilegitimamente investidos na função.
2.5. Criminologia Neo-realista (Anos 90) - Esta teoria admite que as frágeis condições
econômicas dos pobres na sociedade capitalista fazem com que a pobreza tenha seus reflexos na
criminalidade, reconhecendo, contudo, que essa não é a única causa da atitude criminosa, também
gerada por fatores como: expectativa super-dimensionada, individualismo exagerado, competitividade,
agressividade, ganância, anomalias sexuais, machismo etc. Defende, pois, que só uma política social
ampla pode promover o justo e eficaz controle das zonas de delinqüência, desde que os Governos, com
determinação e vontade, compreendam que carência e inconformidade, somadas à falta de solução
política, geram o cometimento de crimes.
ATENÇÃO: Teoria Da Associação Diferencial: Essa teoria é uma concepção sociológica do
comportamento criminal, mediante um processo no qual o indivíduo se torna criminoso em contato com
outras pessoas do mesmo meio, interpretando a lei de maneira favorável. Essa teoria é chamada
de associação diferencial, pelo fato de que os princípios do processo pelo qual se desenvolve o
comportamento criminoso são os mesmos do processo através do qual se desenvolve o comportamento
legal, sendo uma associação com pessoas que se empenham no comportamento criminoso sistemático,
tudo num processo de aprendizagem (learning process) onde a conduta criminal é algo que se aprende.
IMPORTANTE: "Teoria da Janela Quebrada" ou “Teoria do Vidro Quebrado” é apenas uma
extensão do que tínhamos o hábito de chamar a “teoria dos testículos despedaçados” (breaking balls
teory). Originária da sabedoria policial comum, que estipula que se os policiais perseguirem com
insistência um criminoso notório por pequenos crimes, ele acabará, vencido pelo cansaço, por
abandonar o bairro para ir cometer seus delitos em outro lugar. No mais, diz respeito ao
enfrentamento da criminalidade como um todo, atacando desde os pequenos delitos até os
grandes crimes, tendo por premissa que a quantidade elevada de pequenos delitos
necessariamente conduz às práticas reiteradas de crimes mais gravosos. Esta é uma teoria
americana, inclusive o nome real é "broken windows theory". Nova York, quando instituiu a Tolerância
Zero, utilizou dela como embasamento para punir a todos, do mais relés batedor de carteira ou
perturbador da ordem, até o maior ladrão de bancos ou homicida.
É uma Teoria de Criminologia realizada nos EUA, portanto, com forte apelo utilitário e
pragmático. Dois carros foram deixados em locais completamente distintos daquele país, por um certo
período de tempo. Um em uma região pobre, qual seja, Bronx/NY e outro em uma região rica, Palo
Alto/CA. Embora os dois carros estivessem lacrados, o que fora deixado em NY fora totalmente
destruído e dilapidado, enquanto o de Palo Alto ainda se encontrasse em perfeito estado. A mesmo
experiência foi realizada pouco depois, só que agora com um pouco do vidro aberto, facilitando a ação
de bandidos. Resultado: ambos os carros foram encontrados igualmente depredados. A teoria busca
provar que o aumento a taxa de criminalidade é, muitas das vezes, fomentada pela "facilidade"
de se cometer crimes adicionada a ausência do Estado em punir os fatos criminosos.
A Constituição é a lei maior, a lei suprema que não pode ser mitigada pela legislação inferior. Ela
nos garante uma série de direitos, tidos por fundamentais, que não podem ser maculados. Assim, o
legislador não poderá proibir ou impor determinados comportamentos, sob a ameaça de uma sanção
penal, se o fundamento de validade de todas as leis, que é a Constituição, não nos impedir de praticar o
ato ou não nos compelir a fazer aquilo que o legislador nos está impondo.
Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da
vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de mais nada, o guardião de nossos direitos fundamentais.
1) nulla poena sine crimine – somente será possível a aplicação de pena quando
houver, efetivamente, a prática de determinada infração penal;
2) nullum crimen sine lege – a infração penal deverá sempre estar expressamente
prevista na lei penal;
3) nulla lex (poenalis) sine necessitate - a lei penal somente poderá proibir ou
impor determinados comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta
necessidade de proteger determinados bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em
sociedade, (direito penal mínimo);
4) nulla necessitas sine injuria – as condutas tipificadas na lei penal devem,
obrigatoriamente, ultrapassar a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera
pessoa, à sua intimidade, ou ao seu particular modo de ser, somente havendo possibilidade
de proibição de comportamentos quando estes vierem a atingir bens de terceiros;
5) nulla injuria sine actione – as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas
mediante a ação do agente, ou omissão, quando previsto em lei;
6) nulla actio sine culpa – somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
7) nulla culpa sine judicio – é necessário adoção de um sistema nitidamente
acusatório, com a presença de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
8) nullum judicium sine accusatione – o juiz que julga não pode ser responsável
pela acusação;
9) nulla accusatio sine probatione – fica a cargo do acusador todo o ônus
probatório, que não poderá ser transferido para o acusado da prática de determinada
infração penal;
10) nulla accusatio sine defensione – deve ser assegurada ao acusado a ampla
defesa, com todos os recursos a ela inerentes.
1.1) Aspecto Formal/Estático – Sob o aspecto formal, direito penal é um conjunto de normas
que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e
fixa as sanções as lhe serem aplicadas.
Observação: O Direito Penal é um dos ramos do direito, mas é o ramo com a consequência
jurídica mais drástica. Isto é o que justifica o princípio da intervenção mínima. Direito penal é a última
ratio, é o “soldado de reserva” e, nas palavras do douto Paulo José da Costa Junior, o Direito Penal é
considerado a derradeira trincheira.
Obs: Se, de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade,
de outro lado, é necessário também limitar o seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva
(evitando a hipertrofia da punição).
“Art. 5º, C.P. - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.”
3- Quanto ao TEMPO: O direito de punir não é eterno (a maior prova dessa afirmação é a prescrição
– limite temporal do direito de punir). No mais, consiste em uma garantia ao cidadão contra a eternização do
direito de punir do Estado.
A justiça privada pode caracterizar o crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345
C.P.).
“Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite”.
CUIDADO (Pergunta de Concurso) ! Há um caso que o Estado tolera a punição privada paralela à
punição estatal: ESTATUTO DO ÍNDIO (art. 57 da lei nº 6001/73).
“Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de
sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou
infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.”
Atenção! Essa permissão de punição não afasta a própria punição do Estado. E mais, é
importante notar que essa tolerância não configura bis in idem, pois são punições de naturezas
diferentes.
Direito Penal Substantivo – Sinônimo de Direito Penal Objetivo. Ademais, corresponde ao Direito
Penal material (crime/pena).
3.3) Direito Penal de Emergência x Direito Penal Promocional x Direito Penal Simbólico:
Direito Penal de Emergência – É o Direito Penal utilizado pelo Estado para controlar a alta
criminalidade. O Estado faz isso reduzindo direitos e garantias penais e processuais penais.
(Limita-se ou derroga-se garantias penais e processuais penais em busca do controle da alta
criminalidade).
Ex. Lei das Palmadas (cria-se o tipo penal com pena desproporcional).
Direito Penal Promocional/Político/Demagogo - É o Estado utilizando o direito penal para
promover suas próprias políticas; o Estado utiliza as leis penais para a consecução de suas
finalidades políticas, podendo violar o princípio da intervenção mínima.
5º VELOCIDADE: Direito Penal de Risco, uma nova configuração do Direito Penal, que visa
proteger e responsabilizar as condutas ditas como acidente e tragédias das cidades, antes
consideradas como “falha técnica”, mas que, na verdade, têm, também, condutas humanas envolvidas.
Os organismos policiais serão revalorizados e procurados para maior controle social, por todos os
grupos sociais, independentemente da ideológica ou menção política.
No mais, a fonte indica o lugar de onde vem e como se revela a norma penal.
Lugar de onde vem = Fonte Material
Como se revela = Fonte Formal
(Art.22, CF - Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho).
Direito Penal I 11
Atenção! Lei complementar pode autorizar o Estado a legislar sobre Direito Penal
incriminador no seu âmbito. Cuidado com o artigo 22, parágrafo único, CF, que diz que “LC poderá
autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que nos
permite entender que é, inclusive, o Direito Penal.
Exemplo citado pela doutrina sobre esse artigo – “Um Estado possui uma vegetação específica,
que só existe nesta localidade, e, por isso, Lei Complementar autoriza a edição de lei estadual punindo
crimes ambientais para proteger essa vegetação específica, na forma do art.22, p.ú., CF”.
Esse artigo, na realidade não tem muita aplicação prática. Parte da doutrina diz que esse
dispositivo não contempla o direito penal. Mas a maioria da doutrina entende que abrange o direito
penal sim.
1ª Corrente – admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal
não mais contraria o interesse social;
Ex. Para esta corrente, o jogo do bicho não é mais contravenção penal.
2ª Corrente – diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado
pela sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. (Corrente importante para a Defensoria Pública).
Ex: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece formalmente típico, porém não aplicável, sem
eficácia social (não tem tipicidade material).
3ª Corrente – entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada por
outra lei, a norma tem plena eficácia. ESTA 3ª CORRENTE É A QUE PREVALECE E ESTÁ DE
ACORDO COM A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (inclusive pela
jurisprudência*).
Ex. Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal, sendo aplicável no caso concreto.
*Obs: O STJ discutiu esse assunto com relação ao crime de manter casa de prostituição, e por 3
votos a 2, ficou decidido que prevalece o crime, adotando-se a terceira corrente.
Então, se o costume não cria crime, nem revoga, para que ele serve? Para aqueles que não
adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do costume segundo a lei (costume
interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra, de um texto.
Ex. antiga “mulher honesta” (A mulher honesta era aquela que não rompia o mínimo de decência
entendido pela sociedade. Hoje, esse conceito de mulher honesta não existe mais – esta expressão foi
abolida do código penal – não mais deve ser utilizada).
Hoje, o exemplo a ser utilizado na prova é o termo “repouso noturno” (o período de repouso
noturno é diferente a depender da localidade).
1. Lei – É a único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção
penal (única fonte formal imediata incriminadora).
2. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena,
nem medida de segurança).
IMPORTANTE: Pergunta (fase oral MP/SP) – Se a lei pode criar crimes e cominar penas, porque
a CF, que é uma norma superior à lei, não pode fazer isso (afinal, quem pode o mais pode o menos)?
Em razão de seu processo moroso de alteração. Ademais, a CF não pode criar crime e nem alterar
pena, pois o seu processo de alteração é super rígido e incompatível com as necessidades do
direito penal. Mas, CUIDADO! A Constituição Federal, porém, fixa alguns patamares abaixo dos quais
a intervenção penal não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de
criminalização” (patamares mínimos).
Art.5º, XLI, CF – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais.
Art. 5º, XLII, CF – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei. (Observe que o constituinte disse que quem vai criar o crime de racismo
é a lei, mas quando esse crime for criado, a lei deve puni-lo com, no mínimo, reclusão, qualquer que
seja a pena).
3. Tratados Internacionais de Direitos Humanos – Não criam crime, não cominam pena para
o direito interno;
b) se o TIDH for recepcionado com quórum comum, terá status infraconstitucional, porém
supralegal.
ATENÇÃO: Os T.I.D.H. (com status constitucional ou supralegal) não podem criar infrações
penais ou cominar sanções para o Direito Interno – mas apenas para o Direito Internacional
Penal (julgado no TPI).
Caso prático importante – Um casal de igreja evangélica foi denunciado pela prática de lavagem
de dinheiro. O crime de lavagem pressupõe um crime antecedente, crime este elencado na Lei 9.613/98
(ex. Tráfico, crime contra a administração pública, organização criminosa, etc). O problema é que o
Brasil não define o crime de organização criminosa. Esta conduta está definida na Convenção de
Palermo. Então, o MP denunciou um casal pela lavagem, praticada após o crime de organização
criminosa, definindo este crime a partir da Convenção de Palermo. Ocorre que a Convenção de
Palermo, por ser tratado internacional, não pode criar crime para o direito interno! Então, o caso foi
parar no STF, que já trancou a ação penal, com dois votos no sentido de que a Convenção de Palermo,
por ser tratado internacional, somente pode orientar o legislador interno, não podendo criar crime para o
direito interno.
4. Jurisprudência – Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a
jurisprudência cria o direito penal. Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter
vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime continuado, em que a jurisprudência define o que
são condições de tempo e lugar para fim de definição da continuidade delitiva. A condição de
tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar também é definida pela
jurisprudência.
Art. 71, CP – Quando o agente, mediante uma ação e omissão, pratica 2 ou mais crimes da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes,
devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos
crimes, aumentada de 1/6 a 2/3.
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5. Princípios Gerais do Direito – Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os
julgados absolvendo ou reduzindo pena com base em princípios. Ex: Princípio da Insignificância –
causa de atipicidade.
DA NORMA PENAL
1. INTRODUÇÃO
O princípio da reserva legal, no plano penal, diz que não há crime sem lei anterior que o defina
nem pena sem prévia cominação legal. Daí podemos concluir que na vida social o particular está livre
para fazer tudo o que quiser, desde que sua conduta não seja prevista na legislação como infração
penal.
Embora a conduta do agente possa ser até socialmente reprovável, se não houver tipo penal
incriminador proibindo-a, não poderá sofrer qualquer sanção ao praticá-la. Pode haver até uma sanção
da própria sociedade, uma sanção moral, mas não é isso que nos importa.
O princípio da intervenção mínima, que limita as atividades do LEGISLADOR, proíbe que o Direito
Penal interfira nas relações, protegendo bens que não sejam vitais e necessários à manutenção da
sociedade.
Para BOBBIO, normas penais são aquelas “cuja execução é garantida por uma sanção externa e
institucionalizada”.
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2. TEORIA DE BINDING
Ao analisarmos os artigos da parte especial do Código Penal, percebemos que o legislador usa
um meio interessante para proibir determinadas condutas. Ao invés de estabelecer proibições,
descreveu condutas que, se praticadas, nos levará a uma condenação correspondente à pena prevista
para aquela infração penal.
Ex.: art. 121 – o legislador não dispôs “é proibido matar”, mas descreveu a conduta: “matar
alguém”.
Luiz Regis Prado diz que a lei penal modernamente não contém ordem direta, mas sim vedação
indireta, abstraída da norma descritiva do comportamento humano pressuposto da conseqüência
jurídica.
Partindo dessa observação, BINDING concluiu que, na verdade, quando o criminoso praticava a
conduta descrita no núcleo do tipo (verbo), a rigor não infringia a lei. Seu comportamento se amoldava
perfeitamente ao tipo penal incriminador. O que ele infringia era a NORMA PENAL implicitamente
contida na lei. Para o autor, a lei teria caráter descritivo da conduta proibida ou imposta, tendo a norma,
por sua vez, caráter proibitivo.
Elas podem ser, portanto, PERMISSIVAS (tornam lícitas determinadas condutas – permissivas
justificantes e excupantes), EXPLICATIVAS (esclarecem conceitos) e COMPLEMENTARES (fornecem
princípios gerais para aplicação da lei).
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
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Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
§ 4º. A expressão "casa'' compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
COMPLEMENTARES – fornecem princípios gerais para a aplicação da lei penal. Ex.: art. 59, do
CP.
Excesso punível
Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.
Estado de necessidade
Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º. Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
§ 2º. Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito quando ameaçado, a pena
poderá ser reduzida de um a dois terços.
Legítima defesa
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
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Art. 28. § 1º. É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de
caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
São aquelas em que há uma necessidade de complementação para que se possa compreender o
âmbito de aplicação de seu preceito primário. Embora haja uma descrição da conduta proibida, essa
descrição requer, obrigatoriamente, um complemento extraído de outro diploma, uma vez que, sem o
complemento, torna-se impossível sua aplicação.
Se dividem em 2 grupos:
São aquelas que para se saber a sanção imposta pela transgressão de seu preceito primário o
legislador nos remete a outro texto de lei. Pela leitura do tipo penal incriminador, verifica-se o conteúdo
da proibição ou do mandamento, mas para saber a conseqüência jurídica é preciso se deslocar para
outro tipo penal.
Enquanto a norma penal em branco é formalmente deficiente em seu preceito primário, a norma
penal incompleta ou imperfeita é deficiente em seu preceito secundário.
Ex.: O artigo 304 do CP, que é ao mesmo tempo norma penal em branco (em seu preceito
primário) e norma penal incompleta (em seu preceito secundário):
Art. 304. Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os
artigos 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
4. ANOMIA E ANTINOMIA
Ocorre quando para um mesmo fato aparentemente existem duas ou mais normas que poderão
sobre ele incidir. Diz-se aparentemente, pois o conflito só ocorre a princípio, antes de uma análise mais
detida do problema, tendo em vista que o próprio ordenamento esclarece quais os métodos a serem
usados para esclarecer a questão.
No âmbito penal, o conflito ocorre quando uma mesma conduta delituosa pode enquadrar-se em
diversas disposições da lei penal.
A) Princípio da Especialidade
Norma especial afasta a aplicação da norma geral. Lex specialis derrogat generali.
Na norma especial há um plus, ou seja, um detalhe a mais que sutilmente a distingue da norma
geral. Ex.: Homicídio e Infanticídio.
B) Princípio da Subsidiariedade
A norma subsidiária é considerada um “soldado de reserva” (NELSON HUNGRIA), ou seja, na
ausência ou impossibilidade de aplicação da norma principal mais grave, aplica-se a norma subsidiária
menos grave. Lex primaria derrogat legi subsidiariae.
Princípio da Consunção
Pode-se aplicar o princípio da consunção:
ANTEFATO IMPUNÍVEL (não punível): situação antecedente praticada pelo agente a fim de
conseguir levar a efeito o crime por ele pretendido inicialmente e que, sem aquele, não seria possível.
Ex: para praticar estelionato com um cheque que o sujeito ativo encontrou na rua é necessário que
cometa um delito de falso, ou seja: que o preencha e o assine.
Súmula 17 STJ
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade ofensiva, é por este
absorvido.
PÓS-FATO IMPUNÍVEL (não punível): é um exaurimento do crime principal praticado pelo agente
e, portanto, por ele não pode ser punido. Ex.: a venda pelo ladrão de coisa furtada como própria não
constitui estelionato. Se o agente falsifica moeda e depois a introduz em circulação pratica apenas o
crime de moeda falsa.
C) Princípio da Alternatividade
Se o sujeito pratica três verbos diferentes, não responde por concurso material, mas sim uma
única vez, sem que se possa falar em concurso de infrações penais. O princípio da alternatividade diz
que o agente só pode ser punido por uma das modalidades inscritas no tipo penal, ainda que possa
praticar duas ou mais condutas.
O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo,
chega a um resultado. São três as formas de interpretação da lei penal: quanto ao sujeito que a
interpreta; quanto ao modo de interpretação; e quanto ao resultado. Vejamos:
I.a - Interpretação autêntica ou legislativa → é a interpretação dada pela própria lei. É a lei
interpretando-se a si mesma.
Ex. Art.327, CP, que fala em conceito de funcionário público para fins penais.
I.c – interpretação jurisprudencial → é a interpretação fruto das decisões reiteradas dos tribunais.
Hoje, essa interpretação pode ter caráter vinculante.
Ex. Súmula Vinculante.
II.a – Interpretação gramatical ou filológica – leva em conta o sentido literal das palavras;
II.b – Interpretação teleológica – indaga-se a vontade/intenção objetivada na lei (Para o STF,
nessa interpretação, abrange os acessórios);
II.c – Interpretação histórica – procura-se a origem da lei;
II.d – Interpretação sistemática – a lei é interpretada com o conjunto da legislação, inclusive
com os princípios gerais de direito.
II.e – Interpretação progressiva (também chamada de adaptativa ou evolutiva) – interpretar de
acordo com a realidade e o avanço da ciência em geral (ex. Ciência médica, ciência informática).
III.b – Interpretação restritiva → reduz o alcance das palavras para que corresponda à vontade
do texto.
III.c – Interpretação extensiva → amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda
à vontade do texto.
2ª Corrente (Luiz Flávio Gomes / Defensoria Pública): Socorrendo-se do Princípio do “in dubio pro
reo”, não admite interpretação extensiva contra o réu (na dúvida, o juiz de interpretar em seu benefício) –
Aplicando-se o princípio do “in dubio pro reo”, só cabe interpretação extensiva em normas não
incriminadoras. Essa segunda corrente ganhou um reforço, conforme substanciado no artigo 22, §2º, do
Estatuto de Roma, que criou o TPI.
“Estatuto de Roma - Artigo 22.2- A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será
permitido o recurso à analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito,
acusada ou condenada.”
Exemplo: Roubo
Direito Penal I 23
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
(...) § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
Para a 2ª Corrente – Não faz interpretação extensiva, mas sim restritiva. Aplica o princípio do in
dubio pro reo. Para ela, arma é somente o instrumento fabricado com finalidade bélica.
Homicídio qualificado
Art.121, § 2°, CP - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
(encerramento genérico);
(O legislador, nesse caso, deu 2 exemplos de motivo torpe. Ocorre que, como o legislador não
consegue prever todos os casos de torpeza, ele deixa um encerramento genérico, com cláusula
genérica ou aberta). O mesmo ocorre nos incisos III e IV, do art.121, §2º, CP
Art.121, §2º:
(...)
III - com emprego de veneno, fogo(encerramento genérico);
, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum;
Direito Penal I 24
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossivel a defesa do ofendido; (encerramento genérico);
Outro exemplo de interpretação analógica – art.306, do CTB:
Art. 306, Lei 9.503/97 - Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de
álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra
substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705/08)
ATENÇÃO: Apenas para douto Paulo Queiroz, Interpretação Analógica, em ultima instância,
consiste numa Analogia in malam partem autorizada pelo ordenamento jurídico pátrio.
ATENÇÃO (Analogia):
-Não é forma de interpretação, mas de integração.
- Pressupõe lacuna.
- Parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo qual é
preciso socorrer-se de previsão legal empregada à outra situação similar.
Exemplo1: Art. 181, I C.P. – (o legislador não lembrou da união estável – possível analogia “in
bonam partem”). O artigo fala em “cônjuge”. Empresta-se a este artigo a expressão “companheiro”,
numa hipótese de isenção de pena (favorável ao réu, portanto). Realiza-se, então, a analogia.
Exemplo2: Art. 155 § 2º C.P. – Furto Privilegiado (não é aplicável ao roubo, uma vez que a
intenção voluntária do legislador é não privilegiar esse tipo de crime).
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e
o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança.
Tortura, tráfico e terrorismo são crimes equiparados aos hediondos. A associação ao tráfico é
equiparada à hediondo ou só o tráfico?
Obs: De acordo com o STJ, o crime de associação para o tráfico (art.35, Lei 11.343/06) não
integra a listagem legal de crimes equiparados a hediondos. Impossível analogia “in malam partem”
com o fim de considerá-lo crime dessa natureza (HC 177.220, RJ). Além disso, a omissão do legislador
nesse caso não é involuntária, mas sim voluntária.
REVISÃO:
Interpretação Interpretação Analogia (não é interpretação)
Extensiva Analógica
Há lei prévia criada Há lei prévia criada p/o Não há lei para o caso.
p/o caso. caso.
Ampliação de um Depois de exemplos, a É modo de integração do direito,
conceito legal, não lei encerra o texto de forma e não interpretação. É a criação de
importando no surgimento genérica, permitindo uma nova norma, a partir de outra
de nova norma. alcançar outras hipóteses. norma aplicável para casos
semelhantes.
Ex. Expressão “arma”, Ex. art.121, §2º, Ex. art.181, I, CP – que fala em
prevista no art.157, do CP. Essa incisos I, III e IV, CP. cônjuge. Empresta-se este artigo à
expressão recebe interpretação expressão “companheiro”, numa
extensiva, abrangendo arma hipótese de isenção de pena (favorável
própria e imprópria. ao réu, portanto).
ATENÇÃO! A doutrina cita, ainda, duas espécies de interpretação:
Se subdivide em:
O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes
(Roxin). Ademais, é função do direito penal proteger bens jurídicos, sendo estes todos os dados que
são pressupostos de um convívio pacífico entre os homens. Então, nenhuma criminalização é legítima
se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem juridicamente determinado. Ele impede que
o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.
Ex. Determinada religião ou orientação sexual não pode ser protegia pelo direito penal, pois o
Direito zela pela liberdade de crença e pela liberdade sexual, de modo que religião e orientação sexual
específicas não são imprescindíveis à convivência harmônica entre os homens.
Por esse princípio, o direito penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário (fatos
humanos indesejados pelo meio social), mantendo-se subsidiário (a sua intervenção fica
condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito) e fragmentário (observa somente os casos de
relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado).
Ex. Furto – comportamento humano que não pode ser combatido com outros ramos do direito. Ele
precisa ser subsidiário.
c) Princípio da Insignificância:
No mais, Paulo Queiroz entende que esses requisitos dizem a mesma coisa – insignificante lesão
ao bem jurídico tutelado.
R: Os tribunais superiores ainda não consolidaram a questão, havendo decisões nos 02 sentidos.
Mas, segundo Rogério Sanches, do ponto de vista técnico, o princípio da insignificância também
se aplica para reincidente, senão, estaríamos aplicando direito penal do autor.
3- Prevalece no STF e no STJ não ser possível o princípio da insignificância no furto qualificado
(falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento).
4- STF e STJ não admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais
precisamente moeda falsa (STF-HC105.829).
R: STF e STJ não aplicam. Tratando-se de delito contra a fé pública, é inviável a afirmação do
desinteresse estatal na sua repressão, mesmo que a moeda falsificada seja de pequeno valor.
5- STF admite o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração Pública praticados
por funcionário público. STJ não admite. No entanto, STF e STJ admitem o princípio da insignificância
nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares.
6- Prevalece que STF e STJ não admitem o princípio da insignificância no porte de drogas para
uso próprio.
9 – Para a aplicação do Princípio da Insignificância nos crimes militares tem exigido que, além dos
requisitos “prol”, o fato não coloque em risco a hierarquia e a disciplina militar.
Significa que o Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). No mais,
ninguém pode ser castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
Esse princípio busca impedir o direito penal do autor.
Ex: “Art. 2º CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. ”
Todavia, o nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal do fato, mas que
considera circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena. Ex: art. 59 do
CP; Reincidência.
Esse princípio serviu para o nosso legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido) – era Direito Penal do
autor.
Pergunta de Concurso: (MP/GO – 2005) – “O Direito Penal não serve para a tutela da moral ou
para a realização de pretensões pedagógicas”. Essa afirmação está intimamente ligada a qual princípio
constitucional penal?
R: Princípio da exclusiva proteção de bem jurídico e princípio da exteriorização ou materialização
do fato.
Esse princípio diz que para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de
lesão ao bem jurídico tutelado.
Em razão desses princípios, passa a ser questionada a existência dos chamados “delitos de
perigo abstrato”.
- Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional. Presumir prévia e
abstratamente o perigo significa, em última análise, que o perigo não existe.
- Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a criação
de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas proteção
eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para
configurar o crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).
Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual – crime de perigo abstrato – demanda
efetiva proteção do Estado.
Pergunta de Concurso: Os delitos de perigo abstrato violam a CF?
R: Há divergência na jurisprudência.
1ª Corrente: Não violam a CF. Trata-se de opção política que visa a antecipar a
proteção ao bem jurídico tutelado.
2ª Corrente: Violam a CF, punindo-se alguém sem prova de lesão ou efetiva lesão
ao bem jurídico.
Proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem. Não existe responsabilidade penal coletiva,
devendo ela ser sempre individualizada, considerando-se o fato e seu agente.
DESDOBRAMENTOS:
Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, não podendo o agente ser
responsabilizado sem o fato ter sido querido, assumido ou previsível. Não há responsabilidade penal
sem dolo ou culpa.
Em síntese, está proibida a responsabilidade penal objetiva. Mas esse princípio comporta
exceções.
ATENÇÃO: Concurso de delegado da polícia civil / DF – 2ª fase - Temos doutrina anunciando dois
casos de responsabilidade penal objetiva (autorizadas por lei) :
1- Embriaguez voluntária
Como rebater a tese da responsabilidade objetiva? Crítica: A teoria da “actio libera in causa” exige
não somente uma análise pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do
agente.
2- Rixa Qualificada
Como rebater a tese da responsabilidade objetiva? Crítica: Só responde pelo resultado agravador
quem atuou frente à ele com dolo ou culpa, evitando-se responsabilidade objetiva.
c) Princípio da culpabilidade:
Postulado limitador do direito de punir.
- Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele
exigível conduta diversa (podendo agir de outra forma).
“Art. 5º, ‘caput’ CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Em suma, todos são iguais perante a lei. Mas, atenção!!! Essa igualdade é material, e não
formal, sendo possíveis distinções justificadas.
Ex. Redução de pena em razão da idade;
Artigo 8º, CADH - Garantias judiciais (...) Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se
presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda
pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
Concurso da Defensoria Pública: não trabalha com o princípio da presunção de não culpa
(só com o princípio da presunção de inocência).
Demais concursos: trabalham com os princípios como sinônimos (presunção de
inocência ou não culpa).
3ª) A condenação deve derivar da certeza do julgador (caso contrário, in dubio pro reo);
Ademais, o princípio do “in dubio pro reo” é um desdobramento da presunção de inocência.
Ex: Súmula vinculante 11- “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.”
Introdução
Art. 5º , II, C.F. – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;”
Art. 5º, XXXIX, C.F. – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;”
Art. 1º, C.P. - “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação
legal.”
ATENÇÃO: O art.1º consagra sim o princípio da legalidade. Esse princípio (como está no art.1º)
nasce da soma de 2 princípios: Princípio da reserva legal (“...não há crime sem lei...”) e princípio da
anterioridade (“...sem lei anterior...”).
2. O presente artigo não invalidará a sentença ou a pena de uma pessoa culpada de uma ação ou
de uma omissão que, no momento em que foi cometida, constituía crime segundo os princípios gerais
de direito reconhecidos pelas nações civilizadas.
Conceito de Princípio da Legalidade – Constitui uma real limitação ao poder estatal, de interferir
na esfera de liberdades individuais. Destarte, por isso ocorre a inclusão do princípio retrocitado no artigo
5º da Constituição Federal, bem como nos Tratados Internacionais de Direitos Humanos.
ATENÇÃO: Legalidade = reserva legal + anterioridade.
3º – Fundamento jurídico – uma lei prévia e clara produz um importante efeito intimidativo.
Atenção!!! Este princípio é uma conquista do indivíduo contra o poder de polícia do Estado,
valendo também para as contravenções penais e (de acordo com a maioria) medidas de segurança.
Obs1) O princípio da legalidade diz que “não há crime ou pena sem lei”. Nesse caso “LEI”
quer dizer lei ordinária e, excepcionalmente, lei complementar. Direito penal combina com lei ordinária.
Conclusão: Não há infração penal (crime + contravenção) ou sanção penal (pena + medida de
segurança) sem lei anterior.
IMPORTANTE: Art. 3º Código Penal Militar: “As medidas de segurança regem-se pela lei
vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da
execução.” (No artigo retromencionado foi observado o Princípio da Reserva Legal, todavia foi ignorado
o Princípio da Anterioridade. No mais, o artigo não foi recepcionado pela Constituição Federal).
Não sendo lei, mas ato do Poder Executivo com força normativa, a Medida Provisória não cria
crime e não comina pena. O princípio da legalidade exige lei na criação de crime. Medida provisória não
é lei, mas ato do executivo com força normativa. Logo, não pode versar sobre direito penal incriminador.
# É possível Medida Provisória versando sobre Direito Penal Não Incriminador? Medida Provisória
pode extinguir a punibilidade?
Lembrando: o Art. 62, § 1º, I, “b” C.F. proíbe Medida Provisória versando sobre Direito Penal
(matéria incluída pela EC 32/01). “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional.
A doutrina diverge:
1ª Corrente: Com o advento da EC 32/01, ficou claro que Medida Provisória não pode versar
sobre Direito Penal (incriminador ou não incriminador). - Prevalece entre os constitucionalistas.
2ª Corrente: A CF/88, ao proibir Medida Provisória versar sobre direito penal, alcança
apenas o direito penal incriminador, e não o direito penal não-incriminador (ex. MP legislando
sobre extinção da punibilidade). -Entendimento entre os penalistas (STF).
Posição do STF:
Por isso, a doutrina penal moderna, em duas oportunidades distintas, aplicou Medida Provisória a
favor do réu.
b) O princípio da legalidade diz que “não há crime ou pena sem lei ANTERIOR”.
Aqui está consagrado o princípio da anterioridade, que proíbe a retroatividade maléfica da lei
penal. A retroatividade benéfica é uma garantia constitucional do cidadão.
c) O princípio da legalidade diz que não há crime ou pena sem lei ESCRITA.
1ªC: Admite- se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casos em que a infração penal não
mais contraria o interesse social deixando de repercutir negativamente na sociedade.
- Conclusão: Para esta corrente, jogo do bicho não mais deve ser punido, pois a contravenção foi
formal e materialmente revogada pelo costume.
2ªC: Não é possível o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato já não é mais indesejado pelo
meio social, a lei não deve ser aplicada pelo magistrado.
- Conclusão: Jogo do bicho, apesar de ser formalmente contravenção, não serve para punir o
autor da conduta, pois materialmente abolida.
3ªC (Prevalece): Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista.
- Conclusão: jogo do bicho permanece infração penal, servindo a lei para punir os contraventores
enquanto não revogada por outra lei (formalmente e materialmente típico).
ATENÇÃO! STF/STJ adotaram a 3ªC e decidiram que o crime de violação de direitos autorais (art.
184 ,§ 2º, C.P.) permanece vigente (formal e materialmente).
d) O princípio da legalidade diz que não há crime ou pena sem lei ESTRITA.
Artigo 155, §3º, CP: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(...)
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
e) O princípio da legalidade diz que não há crime ou pena sem lei CERTA – princípio da
taxatividade (determinação) ou mandado de certeza.
Exige-se clareza dos tipos penais. O legislador não deve deixar margens à dúvida.
EX2: Doutrina entende que o art. 288-A C.P. viola o princípio da taxatividade.
“Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
(Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012)”
f) O princípio da legalidade diz que não há crime ou pena sem lei NECESSÁRIA –
desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima.
1) Lei penal Completa – Dispensa complemento normativo (dado por outra norma) ou valorativo
(dado pelo juiz). É uma lei autossuficiente. Ex. Art.121, CP.
2) Lei penal Incompleta – Depende de complemento normativo (dado por outra norma – Norma
Penal em Branco) ou valorativo (dado pelo juiz – Tipo Aberto).
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
TIPO ABERTO
2.1) Norma penal em branco - Depende de complemento normativo (dado por outra norma).
Ex. Norma A sendo complementada pela norma B.
O complemento normativo não emana do legislador, mas sim fonte normativa diversa,
por exemplo, uma portaria.
Ex. Lei A complementada por uma espécie normativa diferente da lei.
Ex. Lei de drogas – Lei 11.343/06, no que diz respeito à expressão drogas, é
complementada por uma “portaria”.
→Pergunta de Concurso: (MP/DF) Norma penal em branco própria ou em sentido estrito viola
o princípio da legalidade?
R: Existem 2 correntes:
A lei penal em branco inversa é aquela em que o preceito primário é completo, mas o
secundário reclama complementação. Exemplo: Genocídio
ATENÇÃO!! O complemento só pode ser dado por uma lei em sentido estrito, sob pena de
violação do princípio da reserva legal.
2.2) Tipo Aberto – Espécie de lei penal incompleta; Depende de complemento valorativo
(dado pelo juiz na análise do caso concreto).
Ex: Crimes culposos – o juiz que analisa a negligência, imprudência, imperícia no caso concreto.
ATENÇÃO: Para não ofender o princípio da legalidade, a redação típica no tipo aberto
deve trazer o mínimo de determinação.
INTRODUÇÃO
Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo
da realização do fato criminoso (“Tempus Regit Actum”). Excepcionalmente, no entanto, será
permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde que benéfica ao réu. É
possível que a lei penal se movimente no tempo (Extra-atividade da Lei Penal).
1.1) Teoria da atividade – por esta teoria, considera-se praticado o crime no momento da
conduta (no momento da ação ou da omissão).
1.2) Teoria do resultado (ou Teoria do Evento) – considera-se praticado o crime no momento do
resultado.
Tempo do crime
Art. 4º, CP - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado.
O artigo 4º, do CP tem inteira aplicação não somente na fixação da lei que vai reger o caso, mas
também para fixar a imputabilidade do agente, por exemplo.
OBS.1: PRINCÍPIO DA COINCIDÊNCIA /CONGRUÊNCIA / SIMULTANEIDADE: todos os
elementos do crime (fato típico, ilicitude e culpabilidade), devem estar presentes no momento da
conduta.
Pergunta de Concurso: Aplica-se o ECA ou o CP nesse caso? O artigo 4º, CP diz que o
crime considera-se praticado no momento da conduta. Então, não importa a idade do agente no
momento do resultado. Logo, aplica-se o ECA.
Obs.3: O momento do crime é também o marco inicial para saber a lei que, em regra, vai reger o
caso concreto (Sucessão de Leis Penais no Tempo).
A regra geral é a irretroatividade da lei penal, excetuada somente quando lei posterior for mais
benéfica (retroatividade).
IRRETROATIVIDADE (ART.
1 FATO FATO 1º, CP)
ATÍPICO TÍPICO
1ª Situação:
Lei Posterior torna o fato Típico Essa lei posterior NÃO RETROAGE.
Fato Atípico Só alcança os fatos futuros.
É irretroativa. Art.1º, do CP.
(“Novatio Legis”
Incriminadora)
Exemplo: Crime de Cola Eletrônica, nos termos
da
Lei 12.550/2011 (Neocriminalização)
2ª Situação:
Lei Posterior Torna a pena Essa lei posterior NÃO RETROAGE.
Fato Típico
mais rigorosa Só alcança os fatos futuros.
É irretroativa. Art.1º, do CP.
(“Novatio Legis In Pejus”/ “Lex
Gravior”)
Então, há ultratividade da lei mais benéfica.
Exemplo: Lei 12.234/2010 (aumento do prazo
prescricional p/ 03 anos).
3ª Situação: Lei Posterior torna o fato Essa lei posterior RETROAGE., alcançando fatos
Atípico
Fato Típico passados.
É RETROATIVA. Art.2º, CAPUT, CP.
(“Abolitio Criminis”)
Supressão da figura criminosa, ou seja, é a
revogação de um tipo penal pela superveniência de lei
descriminalizadora.
Exemplo: Lei 11.106/2005 (crime de adultério).
Art. 2º, CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
O artigo 2º, caput, CP estabelece a abolitio criminis, ou seja, a supressão da figura criminosa;
abolir do ordenamento a figura de um tipo penal incriminador.
Mas, prevalece a primeira corrente, que parece, inclusive, ter sido adotada pelo CP, conforme
art.107, III, CP:
Extinção da punibilidade
Art. 107, CP - Extingue-se a punibilidade:
(…)
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
Obs1: Quando o art.2º, CP diz “Cessando em virtude dela a execução penal”, isso significa que
lei abolicionista não respeita coisa julgada. Ela extingue a punibilidade, mesmo que estejamos na
fase de execução.
Pergunta de Concurso: O artigo 2º, CP não viola o art.5º, XXXVI, CF, que diz que a lei não
prejudicará direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada?
R: Ele não viola, pois o artigo 5º é uma garantia do cidadão contra o Estado. Quem não pode
prejudicar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada é o Estado. Mas o artigo 2º, do CP
está freando o Estado. Então, não há violação ao mandamento constitucional, pois o artigo 5º, CF tutela
a garantia individual e não o direito de punir do Estado.
Obs2: Quando o art.2º, CP diz “Cessando em virtude dela os efeitos penais da sentença
condenatória” – faz cessar somente os efeitos penais, isso significa que os efeitos extrapenais
permanecem.
Ex. Abolitio criminis impede que a pessoa seja considerada reincidente, mas não impede que
essa condenação sirva como título executivo judicial.
R: Na abolitio criminis há supressão da figura criminosa, pois a intenção do legislador é não mais
considerar o fato criminoso. Já no princípio da continuidade normativo-típica há a migração do
conteúdo criminoso para outro tipo penal incriminador, pois a intenção é manter a natureza
criminosa do fato.
Exemplo:
Art.2º, Parágrafo único, CP - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
Essa é a chamada “lex mitior”, ou seja, lei posterior que de qualquer modo favorece o réu.
Obs: Ela também não respeita coisa julgada.
Pergunta de Concurso: Depois do trânsito em julgado, quem aplica a lei mais benéfica?
Pergunta de Concurso: Lei posterior mais benéfica pode retroagir quando ainda na
vacatio legis?
2ª Corrente) Lei na vacatio não possui eficácia jurídica ou social, não podendo
ser aplicada. Esta segunda corrente é a que prevalece.(Damásio, Frederico Marques,
Nucci e Rogério Sanches).
Ex. agente pratica 05 furtos, nas mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução.
Suponha-se que quando começou a cadeia criminosa, o furto era punido pela lei “A”, com pena de 1 a 4
anos. No meio da cadeia criminosa, veio a lei “B”, que previa a pena de 1 a 5 anos.
No crime continuado, por uma ficção jurídica trabalha-se como se houvesse um crime só. Qual
lei deve ser aplicada?
R: No exemplo, é a lei B, mesmo que mais gravosa, pois é a última vigente (Súmula 711, STF).
Aplica-se sempre a última lei vigente, mesmo que mais grave.
Súmula 711, STF – “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
Obs: Combinação de leis penais: É possível a combinação de leis para favorecer o réu?
(Lex Tertia)
Ex. Tempo da Conduta → o crime X tem uma pena de 1 a 4 anos e 100 dias multa. Lei posterior
muda a pena e diz que o crime X deve ter uma pena de 2 a 8 anos e 10 dias multa.
Momento da Sentença → O crime X já está regulado pela lei posterior, tendo uma pena de 2 a 8
anos e 10 dias multa. O juiz pode trabalhar com a pena de 1 a 4 anos e a multa de 10 dias-multa,
combinando o que as duas leis têm de melhor para o réu?
Resposta:
1ª Corrente: Não é possível, pois o juiz, assim agindo, transforma-se em legislador, criando
uma terceira lei. (Nelson Hungria).
2ª Corrente: Se o juiz pode aplicar o “todo” de uma lei ou de outra para favorecer o agente, ele
pode escolher “parte” de uma e de outra para o mesmo fim. (Basileu Garcia, seguido pela maioria dos
doutrinadores).
O STF ainda não consolidou essa questão. A tendência do STF é a primeira corrente, mas
temos nos dois Tribunais Superiores divergência jurisprudencial. Exemplo: STF (a favor da
combinação de leis: RE 596152; contra a combinação de leis: HC103833); STJ (a favor da
combinação de leis: HC111306; contra a combinação de leis: HC179915).
IMPORTANTE: Como proceder em caso de dúvida sobre qual a lei mais benéfica? Para
Nelson Hungria, defesa deve ser consultada!!!!
Art. 3º, CP - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência (ultra
– atividade).
Para se entender esse artigo, é necessário saber o que é lei temporária e o que é lei excepcional.
Conceito de Lei Temporária (ou Temporária em sentido estrito): É aquela que tem prefixado no
seu texto o tempo de sua vigência (prazo determinado).
Ex. Lei A com vigência do dia 1º de janeiro de 2012 até o dia 1º de junho de 2012.
Conceito de Lei excepcional (ou temporária em sentido amplo): É a que atende a transitórias
necessidades estatais, tais como guerra, epidemias, calamidades, etc. Perdura por todo o tempo
excepcional (edita em função de algum evento transitório, sendo que perdura enquanto persistir o
estado de emergência).
Ex. Lei A que vai do dia 1º de janeiro de 2012 até o fim da epidemia.
Segundo o art.3º, do CP, os fatos praticados durante a vigência da lei temporária e da lei
excepcional continuam sendo punidos mesmo após a perda da sua vigência. Então, estas são leis
ultrativas, pois são leis de curtíssima duração. Se elas não fossem ultrativas, os fatos praticados
durante sua vigência estariam fadados à impunidade.
Em outras palavras, as leis temporárias e excepcionais são ultrativas, pois se assim não fossem,
haveria uma ineficácia preventiva em relação aos fatos cometidos na iminência do seu vencimento.
(ninguém iria obedecer esse tipo de lei).
CARACTERÍSTICAS:
- Ultra-atividade: são leis ultrativas, ou seja, os fatos praticados durante sua vigência continuam
sendo punidos ainda que revogadas as leis temporária ou excepcional.
ATENÇÃO! Trata-se de hipótese excepcional de ultra-atividade maléfica! Ex.: Lei 12.663/12 (Lei da
Copa): traz um rol de crimes que a FIFA exigiu tipificação durante a Copa do Mundo no Brasil (Arts. 30
ao 36). “Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de
2014.” Em 01/01/2015, os tipos penais desta lei estarão revogados - mas os fatos praticados durante a
sua vigência serão regidos por ela.
Obs1: A doutrina observa que, por serem de curta duração, se não fossem ultrativas, não
teriam força intimidativa;
Obs2: Estas leis (temporária/excepcional) não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis,
salvo se lei posterior for expressa nesse sentido.
Pergunta de Concurso: O artigo 3º, do CP foi recepcionado pela CF/88? (Obs: Lembrando-se
que o art.3º, do CP prevê hipótese excepcional de ultratividade maléfica).
Obs: Frederico Marques leciona que a lei temporária não é ultrativa; e sim que ela continua em
vigor, embora não seja aplicável.
4ª Corrente: Diz que na NPB homogênea (lei complementada por lei) a alteração mais
benéfica retroage. Mas a NPB heterogênea só vai retroagir se ela (norma complementar) não
ocorrer em estado excepcional ou de emergência, pois nestes casos, há ultratividade. Essa
corrente é adotada por Alberto Silva Franco e STF. Então, para este doutrinador, a alteração de um
complemento de uma norma penal em branco homogênea (lei complementada por lei), se benéfica,
retroage. Quando se tratar de norma penal em branco heterogênea e seu complemento não se
revestir de excepcionalidade, retroage quando mais benéfica.
Vejamos alguns exemplos, com as respectivas soluções apontadas pela doutrina:
OUTUBRO 2001
ANTES DEPOIS
RETROAGE?
Obs1: A CF/88 menciona, apenas, a retroatividade da lei, bem como código penal somente
disciplina a retroatividade da lei penal.
Obs2: Posicionamento de Defensoria Pública, para Paulo Queiroz deve ser proibida a
retroatividade maléfica da jurisprudência e aplicada a retroatividade benéfica.
No mais, essa questão tem muito interesse em país que adota o sistema de precedentes judiciais.
No Brasil, a doutrina vem admitindo a retroatividade de jurisprudência mais benéfica em casos
de súmula vinculante e controle concentrado de constitucionalidade.
Introdução:
O mesmo fato pode percorrer territórios de países distintos. O que buscamos saber aqui é quais
as fronteiras da lei penal brasileira.
Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de dois ou mais Estados
igualmente soberanos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual é o âmbito territorial de
aplicação da lei penal brasileira, bem como de que forma o Brasil se relaciona com outros países em
matéria penal.
Busca-se saber as fronteiras de atuação da lei penal brasileira. Quando um fato punível atinge
dois ou mais interesses de dois ou mais estados igualmente soberanos, incidem alguns princípios para
resolver o possível conflito (são seis princípios).
2.1) Princípio da Territorialidade: Por esse princípio, aplica-se a lei penal do local do crime,
não importando a nacionalidade do agente ou da vítima.
2.2) Princípio da Nacionalidade Ativa ou da Personalidade Ativa: Por ele, aplica-se a lei
penal da nacionalidade do agente, não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do
bem jurídico.
2.4) Princípio da Defesa (ou Real): Por esse princípio, aplica-se a lei da nacionalidade do bem
jurídico lesado, não importando a nacionalidade dos envolvidos ou o local do crime.
2.5) Princípio da Justiça Penal Universal ou Cosmopolita: O agente fica sujeito à lei penal do
país onde for encontrado, não importando a nacionalidade dos envolvidos, do bem jurídico ou o local
do crime.
DICA: Esse princípio acaba norteando os crimes que países se obrigam a reprimir em Tratados
Internacionais de Cooperação de (repressão de determinados delitos de alcance transnacional).
O Brasil adotou o princípio da territorialidade como regra, e os demais princípios aplicados nas
hipóteses de extraterritorialidade da lei penal nacional.
Territorialidade
Art. 5º, CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.
** Crime
Crime
Lei
Lei
Lei
* Crime
Obs*
Exemplos: Imunidade diplomática
Tribunal Penal
Internacional**
** Pergunta de concurso: O TPI viola o monopólio do direito de punir do Estado? Para
responder essa questão, devemos lembrar do art.1º do Estatuto de Roma.
Art.1º, Estatuto de Roma - É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional
("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente
Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do
Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.
O art.1º do Estatuto de Roma consagrou o princípio da complementariedade, isto é, o TPI não
pode intervir indevidamente nos sistemas judiciais nacionais, que continuam tendo a responsabilidade
de investigar e processar os crimes cometidos no seu território, salvo nos casos em que os Estados
se mostrem incapazes ou não demonstrem efetiva vontade de punir os seus criminosos.
R: Território nacional é o espaço físico (geográfico) e o espaço jurídico (espaço por ficção ou
equiparação ou extensão), sendo este previsto no art.5º, §§1º e 2º, do CP.
Art.5º, §1º CP - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes
ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar.
Art.5º, §2º CP - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional
ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil (Princípio da
Reciprocidade).
ATENÇÃO! Se o Brasil está dizendo para o mundo que sua aeronave ou embarcação é pública,
e, que, portanto são consideradas como extensão do território nacional onde quer que se encontrem, é
claro que ele tem que respeitar as embarcações e aeronaves de outro Estado em nosso país. Esse é o
Princípio da Reciprocidade.
Obs: O conceito de liberdade em alto-mar está no art.87, da Convenção das Nações Unidas
sobre o direito do mar (1982).
a) Liberdade de navegação;
b) Liberdade de sobrevoo;
c) Liberdade de colocar cabos e ductos submarinos nos termos da parte VI;
d) Liberdade de construir ilhas artificiais e outras instalações permitidas pelo direito internacional,
nos termos da parte VI;
e) Liberdade de pesca nos termos das condições enunciadas na secção 2;
f) Liberdade de investigação científica, nos termos das partes VI e XIII.
2 - Tais liberdades devem ser exercidas por todos os Estados, tendo em devida conta os
interesses de outros Estados no seu exercício da liberdade do alto mar, bem como os direitos relativos
às actividades na área previstos na presente Convenção.
3ª Conclusão: Quanto navios e aeronaves aos estrangeiros em território brasileiro, desde que
públicos, não serão considerados partes do nosso território (princípio da reciprocidade). No mais,
quando estrangeiros, em território brasileiro, desde que privados, são considerados parte de
nosso território.
R: O CP não abre as embaixadas, bem como CF/88. O STF já decidiu essa questão. O art.5º, CP
não fala em embaixada. Quanto à territorialidade das embaixadas, mesmo havendo divergências
entre alguns doutrinadores, prevalece que não fazem parte do território do país que
representam, apesar de invioláveis.
Ex. Um crime ocorrido na embaixada brasileira em Portugal, em regra, é cometido em Portugal.
Mas a embaixada é inviolável. Para Portugal entrar e investigar este crime, ele tem que vencer
obstáculos impostos pelos Tratados de Direito Internacional.
Ex. crime cometido em embaixada Chilena no Brasil; considera-se ocorrido em território brasileiro.
Mas, para ser investigado pelo Brasil, tem que se vencer obstáculos impostos por tratados
internacionais.
1º Problema: Ex. Há uma embarcação privada brasileira em alto-mar e ela naufraga. Sobre os
destroços desta embarcação, um italiano mata um holandês. Qual lei se aplica?
a) Brasileira → é a lei brasileira – os destroços continuam ostentando a bandeira.
b) Italiana
c) Holandesa
2º Problema: Ex. Há duas embarcações em alto-mar: uma privada, brasileira; e uma privada,
portuguesa. Elas colidem. Dois sobreviventes constroem uma jangada, com destroços dos 2 navios. Um
norte-americano mata um argentino na jangada. Qual lei se aplica no caso?
a) Brasileira
b) Portuguesa
c) Norte-americana → O CP não explica essa situação, pois foram misturados territórios.
Então, na dúvida, deve-se aplicar a lei da nacionalidade do agente (Aplicação da Lei da
Nacionalidade Ativa para não surpreender o agente).
d) Argentina
4º Problema: Ex. Navio privado holandês pratica abortos fora do mar territorial brasileiro. Uma
brasileira sai do território, vai ao navio, pratica o aborto e volta. A brasileira não pode ser
responsabilizada, pois em alto-mar prevalece a lei da bandeira (no caso, a holandesa).
Territorialidade
Art. 5º, CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.
Então, nos termos do art.5º, CP aplica-se a lei brasileira quando um crime é praticado no território
nacional. Mas quando um crime é praticado no território nacional? É necessário verificar quando, em
concreto, se pode afirmar que um crime foi realizado no território brasileiro. Existem 03 teorias na
discussão do assunto.
1ª) Teoria da Atividade – Considera-se o lugar do crime aquele em que houve a conduta.
3ª) Teoria da Ubiquidade ou Mista – Considera-se o lugar do crime aquele em que ocorreu a
conduta, bem como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado.
Lugar do crime
Art. 6º, CP - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
LEMBRETE (LUTA):
Então:
Se a conduta ocorrer no Brasil e o resultado fora → crime praticado no Brasil
Se a conduta ocorrer fora do Brasil e o resultado no Brasil→ crime praticado no Brasil
Se a conduta ocorrer fora do Brasil e o resultado deveria ocorrer no Brasil (o destino era o
Brasil) → crime praticado no Brasil
Obs1: Sobre o direito de passagem e a Lei 8.617/93 (Dispõe sobre o mar territorial, a zona
contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências):
Suponha-se que um navio privado de Portugal saia deste país com destino ao Uruguai. Porém, quando
este navio está de passagem no mar territorial brasileiro, ocorre um homicídio. Aplica-se a lei brasileira
nesse caso?
Art.5º, §2º CP - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional
ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
De acordo com o art.5º, §2º, do CP, aplica-se a lei brasileira, pois este navio está no mar territorial
brasileiro. PORÉM, ESSA REDAÇÃO É DE 1984. A LEI 8.617/93 MUDOU ESSE ENTENDIMENTO,
criando o direito de passagem, prevendo hipóteses que excepcionam o artigo 5º, §2º, CP. Segundo o
art.3º desta lei:
Art. 3º, Lei 8.617/93 - É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de
passagem inocente no mar territorial brasileiro.
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa
ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em
que tais procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de
força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em
perigo ou em dificuldade grave.
§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos
estabelecidos pelo Governo brasileiro.
Ex.: Navio sai de Portugal com destino ao Uruguai, quando está passando pelo mar territorial
brasileiro, um holandês mata um chinês.
Resposta:
# O direito de passagem inocente é só para embarcação ou também abrange aeronaves? Apesar de não
haver previsão expressa, a doutrina entende abranger as aeronaves, pois não há motivo justo para restringir.
Quadro esquemático
CRIME À DISTÂNCIA (espaço CRIME EM TRÂNSITO CRIME
máximo) PLURILOCAL
O delito percorre territórios de O crime percorre O delito percorre
DOIS países soberanos. Ex: Brasil e territórios de MAIS DE DOIS territórios do mesmo país
Argentina. países soberanos. Ex: Brasil, (UM SÓ país).
Argentina e Uruguai. Ex: SP, BH e RJ
Gera conflito internacional de Gera conflito internacional Gera um conflito
jurisdição. de jurisdição. interno de competência.
Esse conflito é resolvido no Brasil Esse conflito é resolvido Esse conflito é
pelo art.6º, do CP (teoria da no Brasil pelo art.6º, do CP resolvido no Brasil pelo
ubiquidade – se a execução ou (teoria da ubiquidade – se a art.70, do CPP
resultado foi no Brasil, aplica a lei execução ou resultado foi no (competência do juiz do
brasileira). Brasil, aplica a lei brasileira). local da consumação ou
no caso de tentativa no
último ato de execução).
4) Princípio da Extraterritorialidade (art.7º, CP):
I - os crimes:
II - os crimes:
(SÃO HIPÓTESES DE EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA – para a nossa lei alcançar
esse fato, a lei exige algumas condições).
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Princípio da Justiça Universal)
b) praticados por brasileiro; (Princípio da Nacionalidade Ativa)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Princípio da Representação)
§1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
§2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional (não precisa permanecer no território brasileiro);
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (Aqui, duas correntes divergem. A
primeira corrente entende que é o princípio da Nacionalidade passiva. A segunda entendendo que é o
princípio da defesa).
(SÃO HIPÓTESES DE EXTRATERRITORIALIDADE HIPERCONDICIONADA – para a nossa lei
alcançar esse fato, a lei exige outras condições além das condições previstas no §2º).
Ex. Situação que mais cai em concurso – Crimes praticados por brasileiro no estrangeiro. Trata-se
de contrapartida necessária à vedação de extradição do cidadão brasileiro. Caso não existisse essa
hipótese de extraterritorialidade, o cidadão que cometesse delito no estrangeiro e regressasse ao
território nacional, teria sacramentada a sua impunidade. (Por isso existe essa punição e isso cai muito
em concurso).
Exemplo prático nº 01: Brasileiro em Portugal mata dolosamente cidadão português. O agente
foge e retorna ao território brasileiro antes do fim das investigações. A lei brasileira alcança este fato?
(esse é o caso do art.7º, II, “b”, c/c §2º, letra “a”, CP).
→ Perguntas de Concurso:
(Pergunta 1) É caso de extraterritorialidade da lei penal brasileira? R: Sim. Art.7º, II, “d”, do CP.
(Pergunta 2) Qual espécie de extraterritorialidade? R: Extraterritorialidade condicionada, pois têm
que estar presentes as condições do art.7º, §2º, CP. Não basta uma condição! Todas as condições
devem estar presentes.
Quais são as condições cumulativas? Vejamos o parágrafo 2º:
art.7º, §2º, CP - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso
das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
Obs1) Atenção! Entrar não significa permanecer. Então, mesmo que a pessoa entra e saia
imediatamente do território nacional, estará preenchida essa condição.
Obs2) Prevalece que território nacional abrange o território jurídico (art.5º, §1º, CP).
Obs3) O fato também deve ser crime no estrangeiro, senão a lei brasileira não alcançará esse
fato. No caso, homicídio também é punido no estrangeiro.
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
Obs4) Os crimes que o Brasil autoriza extradição de estrangeiro são os mesmos crimes que o
Brasil vai alcançar quando praticados por brasileiros fora do Brasil.
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
R: É a capital do Estado em que o agente mora ou morou no Brasil. Se ele nunca morou no
Brasil, é a capital da República (Justiça do DF). A resposta está no art.88, do CPP, que diz:
Art. 88, CPP - No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o
juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
Exemplo prático nº 02: Brasileiro atropelou um uruguaio no Uruguai, matando-o, e voltou para o
Brasil. O problema é que o Uruguai mandou os autos de investigação para a cidade do rapaz, e não
para a capital do estado em que ele reside. Esse foi o erro. Deve-se enviar os autos para a capital do
estado, e não para a cidade em que a pessoa reside.
Art.7º, §1º, CP - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
Isso significa que a pessoa pode sofrer um processo no Brasil e no estrangeiro pelo
mesmo fato, podendo ser condenado nos dois países pelo mesmo fato.
Isso significa, também, que ele pode cumprir pena no Brasil e no estrangeiro pelo mesmo
fato.
Mas, pergunta-se: isso não é uma hipótese de bis in idem? Para responder essa questão, deve-se
observar o artigo 8º, do CP.
Francisco de Assis Toledo diz que esse artigo impede o bis in idem. Mas, na realidade esse artigo
apenas atenua o bis in idem. É uma hipótese excepcional em que se admite o bis in idem. Então,
apesar de Assis Toledo ensinar que o art.8º, do CP impede a dupla punição (bis in idem), prevalece que
apenas atenua (compensação de penas). Trata-se de hipótese excepcional, em que o bis in idem serve
para reforçar a soberania do nosso país.
Logo, conclui-se que a vedação do bis in idem admite exceções. Isso é dito no próprio Estatuto de
Roma.
1) Introdução:
Art. 5º, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
Privilégio Prerrogativa
É uma exceção da lei comum deduzida da situação de É o conjunto de precauções que
superioridade das pessoas que a desfrutam. O privilégio rodeiam a função. Servem para o
trabalha com a ideia de que há pessoas superiores a outras. exercício da função.
É subjetivo e anterior à lei. É objetiva e deriva da lei.
Tem uma essência pessoal. É um anexo à qualidade do
órgão.
É poder frente à lei. É conduto para que a lei se
cumpra.
É próprio da aristocracia das ordens sociais (nobreza, É próprio das aristocracias das
clero). instituições governamentais.
Por isso, não se pode falar em “foro privilegiado”. Deve-se falar em “foro por prerrogativa de
função”.
2) Imunidades Diplomáticas:
R: Existem duas correntes discutindo esse assunto. Para uma primeira corrente, esta seria uma
causa pessoal de isenção de pena. Mas, para uma segunda corrente, esta seria uma causa
impeditiva de punibilidade. Prevalece a primeira corrente.
Obs: O diplomata pode renunciar à sua imunidade? Não, pois se o agente pudesse abrir mão da
imunidade, ele estaria agindo como se ela fosse um privilégio, e não uma prerrogativa. A imunidade
diplomática não pode ser renunciada pelo diplomata, pois é uma prerrogativa do cargo.
Mas, atenção! O país de origem pode renunciar a imunidade do seu diplomata (ex. caso nos
EUA em que um diplomata da Georgia dirigindo embriagado atropelou a brasileira. O país renunciou a
imunidade do diplomata e ele respondeu de acordo com uma lei americana).
3) Imunidades Parlamentares:
Art. 53, caput, CF - Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer
de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela ECnº 35, de 2001)
De acordo com o STF, a inviolabilidade exime o seu titular de qualquer tipo de
responsabilidade (criminal, civil, administrativa e política). (Atenção porque essa não é a letra da
lei).
No concurso, perguntou-se qual, dentre as opções, não correspondia a nenhuma corrente com
apoio na doutrina ou jurisprudência.
Obs: Sabendo que a punição do partícipe pressupõe fato principal (fato praticado pelo autor)
típico e ilícito, adotada a sexta corrente (atipicidade), o partícipe também não poderá ser punido.
Ex. Senador e seu assessor praticaram uma calúnia em relação a outro senador. Ocorre que o
senador não pode ser punido, pois, segundo a sexta corrente, o fato é atípico. Por conseguinte, no
exemplo, o assessor também não poderá ser punido pela calúnia, pois o fato praticado pelo autor não
era típico e ilícito (era atípico).
Logo, os deputados e senadores não são imunes somente nas dependências do parlamento. São
imunes dentro e fora do parlamento. Ocorre que, dentro do parlamento, o nexo causal entre a prática do
delito e o exercício da função é presumido (facilitando a incidência da imunidade) e fora do parlamento,
esse nexo deve ser comprovado.
Obs: Voto do Ministro Marco Aurélio de Melo explicando o nexo causal – Segundo esse Ministro,
aplicar essa imunidade a fatos estranhos à função é criar uma blindagem totalmente absurda
confundindo prerrogativa com privilégio. Segundo Marco Aurélio, o instituto da imunidade parlamentar
absoluta não permite ações estranhas ao mandato, sem que haja consequências. A não se entender
assim, estarão os parlamentares acima do bem e do mal, blindados, como se o mandato fosse um
escuso polivalente (STF, INQ 2.813).
O foro natural para julgar Deputados e Senadores é o STF. Mas, cuidado! O foro especial é
somente para ações penais. Não abrange ações extrapenais, nem mesmo as de improbidade
administrativa.
O termo inicial do foro especial é a expedição do diploma, que ocorre antes da posse.
Houve um caso em que um deputado estava sendo processado no STF e quando seu processo
foi para pauta de julgamento, ele renunciou ao mandato, para que o processo fosse para o primeiro
grau e ocorresse prescrição do fato. Nesse caso, o STF não devolveu o processo para o primeiro grau e
julgou o caso, pois entendeu que o parlamentar estaria utilizando da sua prerrogativa de foro para burlar
a lei e o judiciário.
Então, o STF, no julgamento da ação penal 396 decidiu que a renúncia do parlamentar para evitar
decisão da Corte de processo colocado em pauta, constitui manobra, inaceitável fraude processual,
permanecendo o STF competente para a análise do mérito.
Obs: O Ministro Marco Aurélio discordou da maioria, entendendo a renúncia dentro do direito de
ampla defesa do réu.
Prisão Pena
Prisão Provisória Prisão em flagrante Por crime
inafiançável
Por crime afiançável
(Obs: Com a lei 12.403/11 questiona-se se a prisão em
flagrante é espécie de prisão provisória).
Prisão Temporária
Prisão Preventiva
Pergunta de Concurso: Parlamentar que, fora da função, ofende terceiro, fazendo referências a
sua cor, pode ser preso em flagrante?
R: Cuidado! Nesse caso, deve-se distinguir:
Então, na pergunta do concurso, o parlamentar não podia ser preso, pois ele praticou crime de
injúria racial, e não racismo. O crime de injúria qualificada pelo preconceito é afiançável.
Art.53, CF –
(...)
§3º - Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento
da ação. (Redação pela EC nº 35, de 2001)
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de
quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. (Redação pela EC nº 35, de 2001)
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. (Redação pela
EC nº 35, de 2001)
Diplomação
Crime antes da Diplomação Crime após a diplomação
Tem foro especial no STF Tem foro especial no STF
Além disso, o processo pode ser
suspenso
A garantia funcional consiste no fato de a Casa Legislativa respectiva (Câmara ou Senado) poder
sustar o andamento do processo, suspendendo também a prescrição.
Os deputados e senadores, quando arrolados, são obrigados a servir como testemunha. Eles
prestam o compromisso de dizer a verdade. Contudo, não estão obrigados a testemunhar sobre as
informações recebidas ou prestadas em razão do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram
ou deles receberam as informações.
Os Congressistas serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz,
nos termos do art.221, do CPP.
Obs1: O parlamentar indiciado (sujeito à investigação policial) não tem a prerrogativa a que se
refere o artigo 221, do CPP. Essa prerrogativa é apenas para testemunha.
Obs2: O STF, na AP 421, retirou do parlamentar a prerrogativa do art.221, do CPP, pois utilizada
para procrastinar intencionalmente o regular andamento e desfecho do processo (o parlamentar ficou
marcando e desmarcando o horário e data da inquirição. Então, o juiz designou dia e horário e
determinou a inquirição no dia e horário e local determinados pelo juiz).
DECISÃO HC 95.485: (...) Em princípio, não se justificaria a competência dos “Juízes de Direito
Integrantes da 17ª Vara Criminal da Capital” de Alagoas para o decreto de prisão temporária de Deputado Estadual,
tendo em vista o disposto no §4º do art. 74 da Constituição daquele Estado, que assim dispõe: Art. 74. (...). §4º. Os
Deputados Estaduais serão submetidos a julgamento perante o Tribunal de Justiça. O dispositivo transcrito guarda
total simetria com a Constituição Federal, que, em seu art. 53, §1º, estabelece: Art. 53. (...). §1º Os Deputados e
Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Nessa mesma linha, tenho que o eventual afastamento do cargo por determinação do Tribunal de Justiça não
suspende o foro por prerrogativa de função, que, no caso, permanecerá no Tribunal de Justiça local até o término do
mandato ou até que, no caso, seja decretada a perda do cargo por decisão transitada em julgado. Embora tratando
da matéria sob o enfoque do afastamento do parlamentar para assumir outro cargo permitido pelo Constituição
Federal, porém indicando a extensão que merece a prerrogativa de foro, já decidiu o Plenário do STF: EMENTA: I.
STF: competência originária para o processo penal contra membros do Congresso Nacional firmada com a
diplomação, ocorrida no caso quando pendia de decisão do Superior Tribunal de Justiça recurso especial contra a
rejeição de denúncia pelo Tribunal local: conseqüente transferência para o STF da competência para julgar o
recurso especial, anulado - mediante habeas corpus de ofício - o acórdão do STJ que o provera, após a
investidura parlamentar do acusado. II. Imunidade parlamentar formal e foro por prerrogativa de função: o
afastamento do Deputado ou Senador do exercício do mandato, para investir-se nos cargos permitidos pela
Constituição (art. 56, I) suspende-lhes a imunidade formal (cf. Inq. 104, 26.08.81, RTJ 99/477, que cancelou a
Súmula 4), mas não o foro por prerrogativa de função (Inq. 780, 02.09.93, RTJ 153/503). (Inq-QO 1070/TO, REl.
Min. Sepúlveda Pertence, DJ 11.10.2001).
Por isso, a Súmula 4 do STF foi cancelada, pois dizia que “Não perde a imunidade parlamentar o
congressista nomeado Ministro” (CANCELADA).
Art. 27, §1º, da CF: Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes
as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda
de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
Obs: No caso de prerrogativa de foro, os deputados estaduais são julgados no TJ, ou TRF ou
TRE, dependendo se o crime é estadual, federal ou eleitoral. Os deputados federais são sempre
julgados no STF.
Eles só possuem imunidade material, mesmo assim limitada aos atos praticados no exercício do
mandato, dentro da circunscrição do município. Então, essa é uma imunidade material limitada.
Pergunta de Concurso: Em caso de crime doloso contra a vida qual o foro competente?
R: Deve-se lembrar que a competência para o processo e julgamento de crime doloso contra a
vida é do Júri, contando com previsão constitucional. Mas, o foro por prerrogativa de função também
tem competência constitucional em alguns casos. Vejamos:
Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma norma penal
incriminadora, sob ameaça de pena.
O conceito analítico leva em consideração os elementos estruturais que compõem infração penal,
prevalecendo fato típico, ilícito e culpável.
No mais, infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito) e contravenção
penal.
Obs1: O Brasil adotou o sistema dualista ou binário, ou seja, divide a infração penal em duas
espécies: crime (delito) e contravenção penal (crime anão/delito liliputiano/crime vagabundo).
Obs2: Essas espécies de infração penal não guardam entre si distinções de natureza ontológica
(ser). A diferença é, apenas, axiológica (valor).
Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente,
quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples (cumprida sem rigor penitenciário, nos termos do art. 6º da LCP) ou de multa,
ou ambas alternativa ou cumulativamente.
Contravenção Penal: ação penal pública incondicionada, nos termos do Art. 17 da LCP: “A ação
penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício”.
Obs: Para doutrina, a contravenção penal das vias de fato não pode ser por ação penal pública
incondicionada!
Contravenção Penal: não é punível a tentativa, nos termos do a Art. 4º. LCP: “Não é punível a
tentativa de contravenção”.
Contravenção Penal: não se admite extraterritorialidade, nos termos do Art. 2º da LCP: “A lei
brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional”.
Contravenção Penal: somente competência da justiça estadual, vide Art. 109, CF/88: “Aos juízes
federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral”.
ATENÇÃO: Quando o contraventor detém foro de prerrogativa de função federal, que julga essa
contravenção é o Tribunal Federal.
Contravenção Penal: nos termos: a duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum,
ser superior a 05 anos (artigo 10 da LCP).
Sujeito ativo do crime: é a pessoa que pratica a infração penal. No mais, qualquer pessoa física e
capaz e com 18 anos completos pode ser sujeito ativo de crime.
A CF/88, no art. 225, § 3º, anuncia: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados” (grifos aditados).
Seguindo o mandado constitucional de criminalização, nasceu a Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes
Ambientais). Reza seu art. 3º, caput: “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil
e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua
entidade”.
1ª corrente: a pessoa jurídica não pode praticar crimes, nem ser responsabilizada penalmente. A
empresa é uma ficção jurídica, um ente virtual, desprovido de consciência e vontade. A intenção do
Constituinte não foi criar a responsabilidade penal da pessoa jurídica. O texto do § 3º do art. 225, da CF
apenas reafirma que as pessoas naturais estão sujeitas a sanções de natureza penal, e que as pessoas
jurídicas estão sujeitas a sanções de natureza jurídica.
Conclusão: A pessoa física pode ser responsabilizada administrativa, civil e penalmente; A pessoa
jurídica administrativa e civilmente, jamais penalmente.
2ª corrente: apenas pessoa física pratica crime. Entretanto, nos crimes ambientais, havendo
relação objetiva entre o autor do fato típico e ilícito e a empresa (infração cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade),
admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Conclusão: A pessoa física pode ser responsabilizada administrativa, civil e penalmente; A pessoa
jurídica também (apesar de não praticar crime).
3ª corrente (prevalece atualmente): a pessoa jurídica é um ente autônomo e distinto dos seus
membros, dotado de vontade própria. Pode cometer crimes ambientais e sofrer pena. A CF/88 autorizou
a responsabilidade penal do ente coletivo, objetiva ou não. Deve haver adaptação do juízo de
culpabilidade para adequá-lo às características da pessoa jurídica criminosa. O fato de a teoria
tradicional do delito não se amoldar à pessoa jurídica, não significa negar sua responsabilização penal,
demandando novos critérios normativos. É certo, porém, que sua responsabilização está associada à
atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio (dolo ou culpa).
Conclusão: Tanto pessoa física quanto a pessoa jurídica praticam crimes ambientais, podendo ser
responsabilizadas administrativa, civil e penalmente. No mais, para o STJ, a denúncia deve imputar o fato
criminoso à pessoa física para também abranger a pessoa jurídica criminosa. Já para o STF (1º Turma), a
denúncia pode imputar o fato criminoso, somente, a pessoa jurídica, principalmente nos casos em que não é
possível identificar a pessoa física autora do comportamento indesejado ao meio ambiente (2º Fase MP/MG).
A) Comum: o tipo penal não exige qualidade ou condição especial, sendo que
admite coautoria e participação. Exemplo: Homicídio.
B) Próprio: o tipo penal exige qualidade ou condição especial, sendo que admite
coautoria e participação, mesmo de pessoas que não possuem predicados estabelecidos pelo
tipo. Exemplo: Peculato.
C) Mão Própria: o tipo penal exige qualidade ou condição especial, sendo que não
admite coautoria, apenas a participação (chamado de crime de conduta infungível – incompatível
com Teoria do Domínio do Fato). Exemplo: Falso testemunho.
O sujeito passivo: é pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Destarte, pode figurar no
sujeito passivo qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente indeterminado (destituído de personalidade
jurídica – exemplo: a coletividade, a família, nesses caso crime é chamado de crime vago).
Obs: Sujeito Ativo Comum e Sujeito Passivo Comum – Crime Bicomum: Ex – Homicídio.
Resposta: São crimes que tem obrigatoriamente pluralidade de vítimas. Ex: crime de violação de
correspondência (artigo 151 do CP).
Morto pode ser vítima de crime?
E os animais?
Resposta: Não são vítimas de crime, embora possam figuram como objeto material do delito.
Resposta: Em regra, não. Entretanto, para Rogério Greco há uma exceção no crime de rixa, nos termos do
artigo 137 do Código Penal.
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. No mais, nem sempre
o objeto material coincide com o sujeito passivo do crime (exemplo, no crime de homicídios são iguais,
já no crime de roubo são distintos) .
Resposta: Nem todo crime tem objeto material. Nesse ínterim, crimes de mera conduta não tem objeto
material, bem como os crimes omissivos puros não tem objeto material. Já para os crimes formais podem ou não ter
objeto material (por exemplo, no crime de falso testemunho não tem objeto material).
Agora, atenção, crimes materiais todos têm objeto material, porque resultado deve necessariamente
produzisse sobre uma pessoa ou coisa.
Resposta: A ausência ou impropriedade absoluta do objeto material faz surgir a figura do crime
impossível, nos termos do artigo 17 do CP. Ex: Disparar contra cadáver.
Objeto jurídico do delito revela o interesse tutelado pela norma, o bem jurídico protegido pelo tipo
penal.
Obs1: Crimes pluriofensivos – protegem mais de um interesse jurídico, por exemplo o crime de
roubo (incolumidade pessoal mais patrimônio da vítima);
Obs2: Não existe crime sem objeto jurídico, visto que a missão fundamental do direito penal é
proteger os bens jurídicos tutelados relevantes.
SUBTRATOS DO CRIME
Os fatos humanos, por sua vez, podem ser sociais e anti-sociais. O direito penal somente se
interessa pelos fatos humanos anti-sociais. O Direito Penal é orientado pelo Princípio da Intervenção
Mínima, ou seja, só intervém quando há uma conduta humana anti-social, que se ajusta a um tipo
penal.
O fato típico é o primeiro substrato do crime: é aquele fato humano que se subsume a um tipo
penal. O crime depende, ainda, de ilicitude e culpabilidade.
Havendo um crime, a conseqüência jurídica é a punibilidade (portanto, punibilidade não integra o
crime, é apenas seu resultado).
1) O Fato Típico:
1.1) Conceito:
Fato típico é o primeiro substrato (requisito) do crime (de acordo com Bettiol). Trata-se de um fato
humano, anti-social, indesejado, consistente numa conduta produtora de um resultado, com ajuste
formal e material a um tipo penal.
1.2) Elementos (Requisitos) do Fato Típico:
O fato típico possui 4 elementos: (1) Conduta; (2) Resultado; (3) Nexo causal e (4) Tipicidade.
Obs1: NÃO CONFUNDIR TIPICIDADE COM TIPO PENAL. A distinção existente entre esses dois
conceitos é que a tipicidade é a adequação, operação de ajuste à norma penal incriminadora
(operação de ajuste fato e norma); é o que liga o fato ao tipo penal. Já o tipo penal é modelo de
conduta proibida.
1. Elementos subjetivos – Indicam a finalidade especial que anima o agente, para além do dolo.
Ex.: art. 299, do CP – “Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante”. – A parte em destaque corresponde ao elemento subjetivo.
Podem ser positivos (quando os elementos estão indicando a finalidade que deve animar o
agente, por exemplo artigo 33, §3º da Lei 11.343/2006 – “para juntos consumirem” – finalidade que deve
existir) ou negativos (quando os elementos estão indicando a finalidade que não deve animar o agente,
por exemplo artigo 33, §3º da Lei 11.343/2006 – “sem objetivo de lucro” – finalidade que não deve
existir, sob pena de se transformar em tráfico de drogas).
2. Elementos objetivos – São aqueles que dizem respeito ao fato em si mesmo, e se dividem
em:
2.b) Elementos objetivos normativos – São os elementos que exigem juízo de valor (não são
perspectiveis pelos sentidos);
Ex: art. 154, do CP – “Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem”.
(a expressão “sem justa causa” é um elemento objetivo normativo; pois a justiça da causa deve
ser valorada).
Pergunta de concurso: Defina “elemento científico do tipo penal”:
R: O elemento científico transcende o mero elemento normativo. Nele, não há um juízo de valor
a ser concretizado, mas, apenas, a necessidade de se recorrer ao significado unívoco do termo de
determinada ciência natural.
Ex.: artigos 24 a 27 da Lei 11.105/05 (lei de biossegurança):
Art. 24, Lei 11.105/05 - Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o desta Lei:
Art. 25, Lei 11.105/05 - Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou
embrião humano:
Art. 26, Lei 11.105/05 - Realizar clonagem humana:
Art. 27, Lei 11.105/05 - Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacordo com as normas
estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização:
Nestes tipos penais, as definições de embrião, célula germinal, clonagem e OGM dispensam juízo
de valor; a ciência já os define.
1.2.1) Conduta: Não há crime sem conduta (“nullum crimen sine conducta”).
Obs1: Temos doutrina negando a possibilidade da pessoa jurídica praticar crime, exatamente
porque pessoa jurídica não tem conduta (mas é conduzida).
Obs2: Não se confunde conduta com ato reflexo. No mias, a conduta é movimento voluntário, já o
ato reflexo é movimento involuntário.
Obs: A Teoria Causalista só reconhece como normal o tipo penal que apenas contém elementos
objetivos descritivos. Para os causalistas, um tipo normal seria o art. 121, do CP, que não exige nada
mais nada menos do que a percepção dos sentidos.
- Ao conceituar conduta como “movimento humano”, esta teoria não explica de maneira adequada
os crimes omissivos (inação / sem movimento).
- Não há como negar a presença de elementos normativos e subjetivos do tipo. Não admitem
como tipo normal aquele que contém elementos objetivos normativos e subjetivos (no CP, o que mais
tem são esses elementos).
- Ao fazer a análise do dolo e da culpa somente no momento da culpabilidade, não há como
distinguir, apenas pelos sentidos, a lesão corporal da tentativa de homicídio, por exemplo.
- É inadmissível imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade.
- Partindo de premissas causalistas, ficou contraditória quando reconheceu como “normal” os tipos
que continham elementos subjetivos e normativos. Destarte, analisando dolo e culpa somente na
culpabilidade, ficou contraditória ao reconhecer como normal elementos normativos e subjetivos do tipo.
- Dolo e culpa na culpabilidade, embora tenha tido o avanço de abranger os crimes omissivos, que
o causalismo não abrangia.
Dica: Supera-se a cegueira (não enxerga a finalidade do agente na conduta) do causalismo como
um finalismo vidente (enxerga a finalidade do agente na conduta).
Obs: A finalidade está na conduta, ou seja, dolo e culpa migram da culpabilidade para o fato
típico.
- Foi superada. Num primeiro momento, a teoria finalista conceituou conduta como
“comportamento voluntário psiquicamente dirigido a um fim ilícito” (exigindo uma finalidade ilícita, não
explicava os crimes culposos). O conceito foi corrigido excluindo-se a expressão “ilícita”.
Obs: Dolo e culpa integram o fato típico (resquícios da teoria finalista), mas são novamente
analisados no momento da culpabilidade (resquícios da teoria clássica e neoclássica).
Em resumo:
Atenção! As quatro teorias aqui estudadas, explicam o crime com base em estruturas jurídicas,
isto é, analisam a conduta sem atentar para a real missão do direito penal. Existem outras teorias,
chamadas de funcionalistas, que, antes de explicarem o crime, definem a missão do Direito Penal com
base em estruturas sociológicas.
OBSERVAÇÃO: As Teorias Funcionalistas:
Conceito de Crime para essa teoria: Para Roxin, crime é fato típico, ilicitude e reprovabilidade.
A reprovabilidade é constituída por imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, potencial
consciência da ilicitude e necessidade da pena (se o agente era imputável, era exigível conduta
diversa, havia potencial consciência da ilicitude, mas a pena não é necessária, então, não haverá
reprovabilidade. Se não há reprovabilidade, não haverá crime).
Ex.: Casal que se reconcilia após oferecida denúncia por crime previsto na Lei Maria da Penha.
Obs: Para Roxin, culpabilidade é igual a limite da pena (é a chamada culpabilidade funcional =
juiz deve levar em conta a culpabilidade ao impor a pena).
Conceito de conduta para essa teoria: A conduta está no fato típico. Para Roxin, conduta é
comportamento humano, voluntário, causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado (o conceito de conduta de Roxin é totalmente submisso à missão do Direito
Penal, pois funcionalismo é submeter a dogmática à missão).
- Jakobs exumou o Direito Penal do inimigo (e não o inventou), inspirando-se nestes pensadores.
- Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e
de seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei
12.850/2013).
Em resumo:
CUIDADO: O Código Penal Militar é causalista (analisa dolo e culpa na culpabilidade), por
exemplo no art. 33 do CPM
Cumpre destacar que, o projeto do Código Penal, que está atualmente em trâmite no Senado
(2013), está sendo objeto de críticas, justamente não definiu, ainda, qual teoria adotada (ora finalista,
ora funcionalista).
2- Exteriorização da vontade
Atenção!!! Da teoria causalista até a teoria funcionalista, as várias definições de conduta têm um
denominador comum, qual seja, comportamento humano voluntário.
Portanto, conclui-se que se o comportamento humano não for voluntário, ou seja, dominado pela
vontade, não haverá conduta.
Desse modo, não haverá conduta nos seguintes casos:
1- Caso fortuito ou força maior
Maria Helena Diniz:
-Força maior: fato da natureza ocasionando o acontecimento (ex.: raio que provoca incêndio).
-Caso fortuito: o evento tem origem em causa desconhecida (ex.: cabo elétrico que sem motivo
aparente se rompe provocando incêndio).
Em resumo: Nos dois casos estamos diante de fatos imprevisíveis ou inevitáveis (não há
comportamento voluntário).
2- Involuntariedade
CUIDADO!
EXCLUI INEXIGIBILIDADE DE
CONDUTA CONDUTA DIVERSA
(DESAPARECE O (DESAPARECE
FATO TÍPICO) CULPABILIDADE)
a.1) Previsão legal: art.18, I, CP (quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo).
a.2) Conceito de dolo: Dolo é a vontade consciente, dirigida a realizar (ou aceitar realizar) a
conduta prevista no tipo penal incriminador. De acordo com a maioria da doutrina, o dolo é um
elemento subjetivo implícito da conduta.
Atenção! Não raras vezes percebemos doutrina conceituando dolo como sendo vontade + livre +
consciente. A liberdade da vontade não é elemento do dolo, mas sim circunstância a ser analisada na
culpabilidade. Em suma, a liberdade da vontade não é tema de dolo, mas sim da culpabilidade. A
vontade não livre não deixa de ser dolosa; o que ela pode não ser é culpável, podendo excluir a
culpabilidade.
Veja:
R: Dolo não se confunde com desejo. No dolo, o agente quer o resultado delitivo, como
consequência de sua própria conduta (consciência e vontade). No desejo, o agente espera o
resultado, como consequência de um fato ou uma conduta para a qual não concorreu de
qualquer modo. Desejo não é crime; o desejo não é punível. Punir o desejo é direito penal do autor, e o
nosso direito penal é do fato.
a.4) Teorias do dolo:
Qual dessas teorias o Brasil adotou? O Brasil adotou a primeira e a terceira teorias. O Brasil
adotou a TEORIA DA VONTADE para explicar o DOLO DIRETO e adotou a
TEORIA DO CONSENTIMENTO para explicar o DOLO EVENTUAL.
Em resumo:
b) Dolo Direto/ Determinado/ Imediato/ Incondicionado:
Configura-se quando o agente prevê um determinado resultado, dirigindo sua conduta na busca
de realizá-lo.
Art.129,
CP Art.129, CP
Configura-se quando o agente, com a sua conduta, não busca resultado certo e determinado.
Esse dolo possui duas formas:
c.1 – Dolo Alternativo: O agente prevê uma pluralidade de resultados. Mas, no dolo
alternativo, o agente quer UM OU OUTRO, tanto fazendo (tem a mesma intensidade de vontade
de realizar os resultados previstos).
Art.129, CP
ou Art.121, Art.129, CP ou Art.121, CP
CP
-Dolo alternativo objetivo: ocorre quando a vontade indeterminada estiver relacionada com o
resultado em face da mesma vítima (ex: disparo contra a vítima Fulano para ferir ou matar, tanto faz) –
resultados diferentes, mesma vítima;
-Dolo alternativo subjetivo: ocorre quando a vontade indeterminada envolver vítimas diferentes
de um mesmo resultado (ex: disparo contra grupo de pessoas para matar qualquer delas) – mesmo
resultado, vítimas diferentes.
c.2 – Dolo Eventual: O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta
para realizar um deles, assumindo o risco de realizar o outro.
- A intensidade da vontade em relação aos resultados previstos é diferente.
Exemplo: O agente prevê uma pluralidade de resultados. Mas, aqui, o agente quer um
resultado lesão, aceitando (assume o risco) de matar.
Art.129, CP
ou Art.121, Art.129, CP ou Art.121, CP
CP (mas aceita produzir o art.121, CP).
CUIDADO!
DOLO DOLO
ALTERNATIVO EVENTUAL
OS RESULTADOS
PREVISTOS SÃO OS RESULTADOS
IGUALMENTE QUERIDOS PREVISTOS NÃO SÃO
TODOS QUERIDOS
EX: HOMÍCIDIO (QUER) EX: LESÃO (QUER)
OU LESÃO (QUER)
HOMÍCIDIO
(ASSUME O RISCO)
d) Dolo cumulativo:
Ex. suponha que uma pessoa dirija causando perigo para uma pessoa que está andando na
calçada (quase atropela um pedestre). Se o MP conseguir provar que o dolo era de dano, a denúncia
falará em homicídio tentado. Por seu turno, se a defesa conseguir provar que o dolo era de perigo, o
agente estará praticando o crime do art.132, do CP.
i) Dolo de propósito: O dolo de propósito, nada mais é do que o dolo refletido, isto é, a vontade é
refletida, pensada.
Ex. pessoas que são levadas pela multidão possuem um dolo repentino, e por isso merecem
atenuação da pena.
Obs: Inimputável tem dolo? De acordo com a doutrina finalista, o inimputável tem dolo,
consciência e vontade, ainda que dentro do seu precário mundo valorativo.
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia
(princípio da excepcionalidade).
b.2) Conceito de crime culposo:
Consiste numa conduta voluntária, que realiza um fato ilícito não querido pelo agente, mas
que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa inconsciente), e que podia
ser evitado, se o agente atuasse com o devido cuidado.
Culpabilidade
De acordo com a maioria, trata-se de elemento normativo (psicológico) da conduta nos crimes
culposos.
DOLO CULPA
É A VONTADE DIRIGIDA A
REALIZAÇÃO DE UM RESULTADO É VONTADE DIRIGIDA A REALIZAÇÃO
ILÍCITO DE UM RESULTADO LÍCITO (DIVERSO
DAQUELE QUE EFETIVAMENTE SE PRODUZ)
Resposta: De acordo com maioria, o operador deve analisar as circunstâncias do caso concreto
pesquisando ser uma pessoa de inteligência mediana evitaria o perigo. Ademais, se evitável caracteriza
violação do dever de diligência, se inevitável não caracteriza violação.
Quais são as formas/espécies de violação do dever de cuidado objetivo (negligência latu sensu):
a) Imprudência – precipitação, afoiteza (forma positiva da culpa – ação).
Ex: Condutor troca o penal do freio pelo pedal da embreagem, não conseguindo para o
automóvel.
Essas são as modalidades de culpa, ou seja, as formas de violação do dever de cuidado objetivo
(vale destacar que elas são coexistentes entre si). No caso de dúvida entre a tipificação da forma de
violação do dever de cuidado, utiliza-se o gênero, ou seja, negligência em sentido amplo (latu sensu)
ATENÇÃO! O promotor, quando oferece uma denúncia por crime culposo, deve apontar qual a
modalidade de culpa e, também, no que consistiu a imprudência, negligência ou imperícia. Ex: “Fulano,
dirigindo em alta velocidade em dia de chuva, nisso, aliás, consistiu sua imprudência, matou Beltrano”.
Pergunta de concurso: MP denuncia Fulano por crime culposo, indicando ter havido
imprudência. Durante a instrução, comprova-se a culpa, porém decorrente de negligência. O juiz
pode condenar Fulano ou deve enviar os autos para o MP aditar a inicial?
Para não violar o princípio da ampla defesa o MP deve aditar a inicial, nos termos do artigo 384 do
CPP, pois o réu se defendeu de imprudência, não de negligência. Então, o caso era de mutatio libelli.
3. Resultado involuntário – não querido ou aceito pelo agente. Em regra, o crime culposo é
material, ou seja, possui resultado naturalístico.
R: Excepcionalmente, o crime do art. 38, da Lei de drogas é um exemplo de crime culposo sem
resultado naturalístico. O crime na modalidade “prescrever” se consuma com a entrega da receita
ao paciente, mesmo que o paciente não use a droga.
Atenção! Ainda que previsto o perigo, não se descarta a culpa, desde que o agente acredite poder
evitar o resultado previsto (culpa consciente).
-Crime culposo com previsibilidade = culpa inconsciente;
-Crime culposo com previsão = culpa consciente.
Art.18, parágrafo único, CP - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
a) Culpa consciente (com previsão/ex lascivia): o agente prevê o resultado, mas espera
que ele não ocorra, supondo poder evitá-lo com suas habilidades ou com a sorte. Trata-se de uma
culpa com previsão.
Obs: O agente mais do que previsibilidade, tem previsão, porém o resultado continua involuntário.
b) Culpa inconsciente (sem previsão/ex ignorantia): o agente não prevê o resultado, que,
entretanto, era previsível. (culpa com previsibilidade e não com previsão). Essas duas espécies de
culpa são chamadas de culpa própria.
c) Culpa própria (propriamente dita): é aquela em que o agente não quer e não assume o
risco de produzir o resultado, mas acaba lhe dando causa por imprudência, negligencia ou imperícia.
Obs: Culpa própria (gênero): a) culpa consciente (espécie); b) culpa inconsciente (espécie).
Culpa imprópria = conduta voluntária + resultado voluntário (punido a título de culpa por razões de
política criminal).
Obs1: a estrutura do crime é dolosa, mas o agente é punido a título de culpa (razões de política
criminal).
Obs2: sendo a estrutura do crime dolosa, é a única culpa que admite tentativa.
Ex. o Câmera odeia o Rogério e, à noite, andando na rua, se depara com ele. Rogério vê o
Câmera colocando a mão no bolso e, supondo que o Câmera ia pegar uma arma, se antecipa, pega a
sua própria arma e mata o câmera. Após, verifica que o Câmera estava tirando um batom do bolso.
Descriminantes putativas
Art.20, §1º, CP - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando
o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo (culpa imprópria).
Na culpa imprópria, a pessoa age com dolo, mas supondo estar diante de uma causa excludente
da ilicitude. A ESTRUTURA DO CRIME É DOLOSA, PORÉM ELE É PUNIDO COMO SE CULPOSO
FOSSE. Por isso, nessa espécie de culpa, admite-se a tentativa, pois a estrutura do crime é dolosa.
Em resumo:
CONDUTA CONDUTA
VOLUNTÁRIA VOLUNTÁRIA
RESULTADO
INVOLUNTÁRIO RESULTADO
VOLUNTÁRIO
ATENÇÃO! Com a reforma do CP, a culpa não se presume devendo ser comprovada.
Consciência Vontade
Dolo direto Previsão Quer o resultado
Dolo eventual Previsão Aceita o resultado (foda-se)
Culpa Previsão O agente supõe poder
Consciente evitar o resultado (fudeu)
Culpa Previsibilidade – Não há previsão, Não tem vontade quanto ao
inconsciente mas o resultado era previsível. resultado
Obs: De acordo com o STF, racha é dolo eventual. De outro lado, embriaguez ao volante é
culpa consciente. (depende). Para Rogério Sanches, é necessário, a priori, analisar as circunstâncias
do caso concreto.
Agravação pelo resultado: Art. 19, CP - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só
responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.
b) Crime culposo agravado/qualificado pela culpa (ex.: incêndio culposo qualificado pela morte
culposa);
c) Crime culposo agravado/qualificado pelo dolo (ex.: homicídio culposo qualificado pela
omissão de socorro);
d) Crime doloso agravado/qualificado pela culpa (ex.: Lesão corporal seguida de morte) –
CRIME PRETERDOLOSO – é o dolo no antecedente e a culpa no consequente.
IMPORTANTE!
Atenção! O resultado deve ser culposo – Se o resultado mais grave advém de caso fortuito ou
força maior, não pode ser imputado ao agente (sob pena de responsabilidade objetiva).
1.2.1.3 – Parte II – Erro de tipo:
1) Erro de Tipo:
Erro de tipo é o erro do agente que recai sobre os requisitos constitutivos do tipo penal. Ele
está previsto no art. 20 do CP. Atenção! No erro de tipo o agente não tem consciência ou não tem
plena consciência da sua conduta. Ele não sabe ou não sabe exatamente o que faz.
Em resumo:
Ex1: Um sujeito se deparou com um ferro velho e, imaginando ser coisa abandonada, apoderou-
se da coisa e a levou para casa. Ele foi denunciado por furto e alegou erro de tipo, entendendo que a
coisa não era alheia. Então, quem subtrai ferro velho supondo ser sucata abandonada (coisa que não
pertence a ninguém) não comete o crime de furto, pois está equivocado quanto à elementar coisa
“alheia” móvel.
Ex2: Suponha que uma pessoa fornece cola de sapateiro para alguém que ele imaginava ser
maior de 18 anos. Então, quem vende a um adolescente “cola de sapateiro” pensando, em face de sua
aparência física, que se trata de pessoa maior de 18 anos, não responderá pelo crime do art.243, do
ECA, pois não tinha consciência de que a vítima era menor de 18 anos.
Pergunta de Concurso: (MP/GO) Qual é a diferença entre erro de tipo e erro de fato?
Ex1: O agente, pensando que a coisa era abandonada, dela se apodera (o agente não sabe o que
faz, isto é, não sabe que se apodera de coisa alheia – Erro de Tipo).
Ex2: O agente, percebendo coisa perdida, dela se apodera, desconhecendo a ilicitude do seu
comportamento (o agente sabe o que faz, isto é, sabe que se apodera de coisa perdida, mas ignora que
seja crime – Erro de Proibição).
Ex. suponha-se que Rogério vai caçar um Ex. Rogério queria subtrair açúcar, mas
animal, vê um arbusto se mexendo, atira acabou subtraindo sal. O erro é de tipo. Mas, ser
pensando que é um animal e escuta Renato gritar. sal é um dado irrelevante, pois ser sal ou ser
Rogério não sabia que era o Renato que estava açúcar não fazia diferença para a configuração do
atrás do arbusto. Esse é um erro de tipo. Esse crime.
erro recaiu sobre o “alguém”, que é um dado
relevante do tipo. Se Rogério fosse avisado, ele O erro de tipo acidental se divide entre:
não atiraria em Renato.
a) Erro de tipo acidental sobre o
O erro de tipo essencial se divide entre: objeto;
a) Erro de tipo essencial evitável; b) Erro de tipo acidental sobre a
pessoa;
b) Erro de tipo essencial inevitável;
c) Erro na execução;
Art. 20, caput, CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Ex.: caso em que Rogério vai caçar um animal, vê um arbusto se mexendo, atira pensando que é
um animal e escuta Renato gritar. Rogério não sabia que era o Renato que estava atrás do arbusto.
Exclui o dolo – pois o agente não tem Exclui o dolo – o agente continua não tendo
consciência do que faz (a consciência é um dos consciência.
elementos do dolo; sem consciência não há dolo).
Pune a culpa, se prevista em lei. Isto porque o
Exclui Culpa – pois o resultado é imprevisível resultado era previsível, caso em que se pode punir a
(a previsibilidade é elemento da culpa). culpa.
1ª Corrente: Uma primeira corrente diz que a diferença pode ser aferida com base no homem
médio. Se o homem médio pudesse evitar, o erro era evitável; se o homem médio não pudesse evitar,
é porque o erro era inevitável. Mas, a crítica é: quem é o homem médio? Diz-se que o homem médio é
o homem de diligência mediana.
Ex. um cidadão que não terminou o segundo grau, falava mal a língua portuguesa, não domina
língua alienígena, é torneiro mecânico, até perdeu um dedo. Esse cidadão é o homem médio? Mas
esse homem virou o presidente da república. Muitos disseram que o Lula não poderia ser o homem
médio, mas ele virou Presidente. Então, como definir o homem médio?
Quando avisado do erro, o agente corrige os caminhos ou sentido da conduta para continuar a
agir de forma ilícita.
Ex. “A” quer subtrair um relógio. Subtrai o relógio da vítima imaginando ser de ouro. Na verdade, o
relógio era bijuteria
Consequências deste erro: Não exclui o dolo, nem a culpa. Não isenta o agente de pena. O
agente responde pelo crime, considerando o objeto efetivamente atacado. No exemplo, o agente
responderá pelo furto do objeto que ele realmente subtraiu (uma bijuteria) – Teoria da Concretização
(considerando – se o objeto efetivamente atingindo). Isso faz diferença, pois, no exemplo, o agente
poderia ser beneficiado pelo princípio da insignificância (e se o relógio fosse realmente de ouro, não
caberia o princípio da insignificância).
Atenção! Zaffaroni conclui diferente. Para este autor, como não há previsão legal, o juiz
considerará o objeto mais favorável ao réu, independentemente se foi o objeto efetivamente atacado ou
o aquele que o agente pensava. Então, Zaffaroni resolve o impasse aplicando o princípio do in dubio
pro reo, ou seja, considera-se o objeto que gerar consequências mais favoráveis para o réu.
Art.20, §3º, CP - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.
Conceito: No erro sobre a pessoa, o agente representa equivocadamente a pessoa que busca
atacar com a conduta criminosa. Destarte, equivocada representação do objeto material (pessoa
visada) pelo agente. Em decorrência do erro, o agente acaba atingindo pessoa diversa.
Obs2: No erro sobre a pessoa não há erro na execução, mas apenas na representação da
pessoa!!! (Não há falha de pontaria; a pessoa representou errado a vítima – confusão).
Ex. “A” espera seu pai abrir a porta para matá-lo. Pensando ser seu pai entrando em casa, “A”
atira, porém percebe que quem entrava era seu tio, irmão gêmeo do pai (confusão mental).
Consequências do erro sobre a pessoa: Não exclui o dolo, não exclui culpa e não isenta o
agente de pena. O agente responde pelo crime, considerando as qualidades da vítima pretendida. (No
exemplo, o agente responde pelo homicídio do pai, apesar de seu pai estar vivo!) – Teoria da
Equivalência.
Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de
atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o
crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser
também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste
Código.
Conceito de erro na execução: O agente, por acidente ou erro nos meios de execução, atinge
pessoa diversa da pretendida. Não há erro de representação (a representação é correta), mas de
execução!!
Ex. “A”, errando a pontaria, querendo matar seu pai, acaba matando um amigo que estava ao lado
da vítima pretendida.
a) Não exclui dolo, nem a culpa. Não isenta o agente de pena. O agente responde
pelo crime considerando as qualidades da vítima pretendida. (No exemplo, o agente
responde pelo homicídio do pai, apesar de seu pai estar vivo!).
b) “Aberratio ictus” com resultado único: o agente atinge somente a pessoa diversa
da pretendida, sendo que será punido considerando-se as qualidades da vítima virtual (Teoria
da Equivalência);
c) “Aberratio ictus” com resultado duplo (ou unidade complexa): o agente também
atinge a pessoa pretendida. Nesse caso, o agente responde pelos crimes aplicando-se a regra
do concurso formal, nos termos do artigo 70 do CP.
Obs1: Quando o erro na execução envolve “coisa”, é tratado como erro sobre objeto.
Obs2: O erro na execução também envolve dois personagens: a) vítima virtual; b) vítima real.
Obs3: A vítima foi corretamente representada, o crime que foi mal executado.
CUIDADO!
ERRO SOBRE A ERRO NA EXECUÇÃO
PESSOA
ERRO NA REPRESENTA-SE
REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA CORRETAMENTE A VÍTIMA
PRETENDIDA PRETENDIDA
A EXECUÇÃO DO A EXECUÇÃO DO
CRIME É CORRETA – NÃO HÁ CRIME É ERRADA – EXISTE
FALHA OPERACIONAL FALHA OPERACIONAL
A PESSOA VISADA
NÃO CORRE PERIGO A PESSOA VISADA
(PORQUE FOI CONFUNDIDA CORRE PERIGO
COM OUTRA)
2ª Situação) Quero matar A, porém, por erro na execução, acabo matando TAMBÉM B.
R: Homicídio doloso de A + homicídio culposo de B = em concurso formal.
3ª Situação) Quero matar A. Em razão dos disparos, causei ferimentos em A e acabei matando B,
pessoa sentada ao lado de A.
R: Tentativa de homicídio de A + homicídio culposo de B = em concurso formal.
A aberratio ictus possui espécies. É o que se pode extrair do art.73, CP. Há um erro na execução
por acidente e o erro na execução por erro nos usos dos instrumentos de execução. Assim:
C.1) Aberratio ictus (erro na execução) por acidente:
C.2) Aberratio ictus (erro na execução) por erro nos usos dos instrumentos de execução:
CUIDADO!
# PROBLEMA: Fulano, querendo matar seu pai, atira, mas por erro, apesar de ferir a vítima
visada, acaba matando o vizinho.
1ª Corrente: o atirador responde, em concurso formal, por homicídio doloso do pai + lesão culposa
do vizinho (Damásio).
2ª Corrente: O atirador deve responder por tentativa de homicídio do pai em concurso formal do
homicídio culposo do vizinho (Fragoso – prevalece).
Pergunta de Concurso: O agente quer matar o policial federal Antônio. Por erro na execução,
acaba matando o policial civil Paulo, que estava ao lado de Antônio. Qual o crime praticado? Qual a
jurisdição competente – federal ou estadual?
Conceito: O agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, provoca lesão jurídica
em bem jurídico diverso do pretendido. (O resultado diverso do pretendido é uma espécie de erro na
execução).
Obs: Se ocorre também o resultado pretendido (duplo), aplica-se a regra do concurso formal.
Ex. O agente atira uma pedra para danificar o veículo (coisa) de A. Por falha na pontaria, acaba
acertando o motorista (pessoa), que vem a falecer. Análise do exemplo:
Resultado pretendido – dano no veículo.
Resultado produzido – morte do motorista.
Consequência – responde por homicídio culposo do motorista.
Então, segundo Zaffaroni, não se aplica o art.74, do CP, se o resultado produzido é menos
grave (bem jurídico menos valioso) que o resultado pretendido, sob pena de prevalecer à
impunidade. Nesse caso, o agente responde pela tentativa do resultado pretendido e não
alcançado.
Ex. O agente atira uma pedra para matar o motorista. Por falha na pontaria, acaba acertando o
carro, produzindo dano. Análise do exemplo:
Resultado pretendido – morte do motorista.
Resultado produzido – dano no veículo.
Consequência – se fossemos aplicar o artigo 74, CP à risca nesse caso, o agente não
responderia por crime algum, pois não existe dano culposo (fato atípico). Neste caso, responde
por tentativa de homicídio (não aplica artigo 74 do CP).
Atenção! Não se pode confundir o erro na execução do art.73, do CP, com o erro na execução
previsto no art.74, CP!
Previsão Legal: Não há previsão legal (é criação da doutrina).o resultado desejado, mas com
nexo causal diverso do pretendido.
Conceito: o agente produz o resultado desejado, mas com nexo causal diverso do pretendido.
O erro sobre o nexo causal possui duas espécies, quais sejam o erro sobre o nexo causal em
sentido estrito e o dolo geral. Assim:
Conceito: O agente, mediante UM SÓ ATO, provoca o resultado pretendido, porém com outro
nexo de causalidade.
Ex. “A” empurra “B” de um penhasco para que morra afogado (nexo visado). “B”, na queda, bate a
cabeça numa rocha e morre em razão de traumatismo craniano (nexo causal). No exemplo, note-se que
há um só ato (empurrar a vítima), conseguiu resultado visado, mas com outro nexo causal.
Consequências: Não exclui dolo, nem culpa. Não isenta o agente de pena. O agente responde
pelo resultado produzido (considerando o nexo real – princípio unitário, responde por um só crime). O
agente responde por homicídio doloso (nexo: traumatismo craniano)
Ex. Depois de atirar contra a vítima e imaginá-la morta, o agente joga o corpo dela no mar e esta
morre afogada.
Por isso, o dolo geral é também chamado de “erro sucessivo”.
Ex. “A” dispara (nexo visado) contra “B” (1º ato). Imaginando que “B” está morto, joga seu corpo
no mar (2º ato). “B” morre afogado (nexo real). Ademais, conseguiu o resultado pretendido, porém com
outro nexo causal.
Consequências: Não exclui dolo, nem culpa. Não isenta o agente de pena. O agente responde
pelo resultado produzido (considerando o nexo real – princípio unitário, responde por um só crime). O
agente responde por homicídio doloso (nexo: afogamento).
CUIDADO! Qual o nexo causal a ser considerado? Por qual nexo o agente responde? Sobre esse
tema, divergem 03 correntes:
Ex. Médico quer matar o paciente. Trocando a ampola, induz a enfermeira a erro, acabando ela
ministrando a substância letal na vítima. A vítima morre.
IMPORTANTE!
F) Erro de Subsunção:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
(...)
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os
livros mercantis e o testamento particular.
Ex. agente desconhece que jurado é funcionário público para fins penais.
Consequências do erro de subsunção: Não exclui dolo; não exclui culpa; não isenta o agente
de pena; pode caracterizar somente uma atenuante (alegando ignorância da lei).
Atenção! Tem doutrina entendendo que o erro de subsunção é espécie de erro de proibição,
irrelevante por cuidar de erro que afeta tão somente a punibilidade da conduta.
Pergunta de Concurso: Diferencie erro de tipo essencial de delito putativo por erro de tipo.
O Direito Penal também protege bens jurídicos proibindo a inação de condutas valiosas. No
mais, a conduta omissiva, o agente viola um tipo mandamental, não fazendo o que a lei determina.
Conclusão: O crime omissivo é a não realização (omissão) pelo agente de conduta valiosa, a que
o agente estava juridicamente obrigado e que lhe era possível (não fazer que a norma determina
almejando proteger determinado bem jurídico).
Omissão que viola um tipo mandamental.
A norma mandamental que determina a ação valiosa pode decorrer:
a) Do próprio Tipo Penal (Crime Omissivo Puro ou Próprio) – A omissão está descrita no tipo
penal incriminador (tipos compostos de elementos: “Deixar de...). Então, se a norma mandamental está
no próprio tipo penal, há a omissão própria ou pura. Para sua caracterização basta a não realização
da conduta valiosa descrita no tipo.
b) De Cláusula Geral (Crime Omissivo Impuro ou Impróprio) – art.13, §2º, do CP, que trata da
omissão penalmente relevante. Ademais, o dever agir e evitar o resultado está descrito numa norma
geral (artigo 13, § 2º do CP). Sendo assim, agente vai responder por tipo comissivo, mas praticado por
omissão. O dever de agir está acrescido no dever de evitar o resultado.
Ex. a mãe que não amamenta o filho responde por homicídio (a título de dolo ou culpa).
A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem:
Ex: Bombeiro que omite socorro, morrendo a vítima em perigo (responde homicídio doloso ou
culposo, depende apenas do animus do agente).
Ex: Salva vidas de um clube omite o dever de socorrer banhista em perigo, que vem a falecer
(responde homicídio doloso ou culposo, depende apenas do animus do agente).
Ex. pessoa que empurra outra que não sabe nadar na piscina (responde homicídio doloso ou
culposo, depende apenas do animus do agente).
Ex: Banda que solta fogos de artifício dentro de boate (responde homicídio doloso ou culposo,
depende apenas do animus do agente).
IMPORTANTE! Se a norma mandamental está na cláusula geral, há a omissão imprópria. A
omissão é imprópria, pois o tipo penal aqui é comissivo. A omissão está numa cláusula geral. O agente
então responde por tipo comissivo.
O agente responde por crime omissivo. Presente o dever jurídico de agir e evitar o
resultado, o omitente responde por crime
comissivo por omissão.
Omitente = garante/garantidor.
Ex. A, percebendo que B agoniza, nada faz, Ex. A, percebendo que B agoniza, nada faz,
vindo B a falecer. Qual o crime praticado por A? vindo B a falecer. Qual o crime praticado por A?
Se A for uma pessoa qualquer, ele vai responder Se A se enquadra no art.13, §2º, vai responder
por omissão de socorro qualificada pela morte. por homicídio, doloso ou culposo.
R: No erro mandamental, o agente desconhece que há uma norma mandando-o agir. Então, é o
erro do agente que recai sobre uma norma mandamental, ou seja, o agente ignora norma que
manda agir. A doutrina diverge se é espécie de erro de tipo (Luiz Flávio Gomes) ou de erro de
proibição (para maioria da doutrina).
Então, temos:
CRIME COMISSIVO (AÇÃO)
CRIME OMISSIVO (OMISSÃO)
A) OMISSIVO PURO
B) OMISSIVO IMPURO (COMISSIVO POR OMISSÃO)
R: Tipo incriminador composto de ação seguida de omissão. Trata-se de delito que possui
conduta antecedente por ação e conduta subsequente por omissão (é ação seguida de omissão).
Ex. art.169, parágrafo único, II, CP.
1.3.2.2) Resultado:
Resultado é elemento do fato típico.
São espécies de resultado:
a) Resultado Naturalístico (material) – Da conduta resulta alteração física no mundo
exterior. Destarte, modificação no mundo exterior (perceptível pelos sentidos) provocada pelo
comportamento do agente.
CUIDADO! Não são todos os crimes que possuem resultado naturalístico!
Crime de Dano (ou lesão): A consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: Homicídio.
ATENÇÃO! Todos crimes de dano ou de perigo dependem de resultado normativo (não existe
crime sem resultado normativo).
Art. 13, CP - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
O art.13, caput, CP adotou a causalidade simples, generalizando as condições, ou seja, todas
as causas concorrentes se põem no mesmo nível de importância, equivalendo-se em seu valor (Teoria
da Equivalência das Condições ou Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais ou Teoria
da Condição Simples ou Teoria da Condição Generalizada ou Teoria da “conditio sine qua non”).
Obs: Para o art. 13, “caput”, todo fato sem o qual o resultado não teria ocorrido é considerado
causa.
Adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais (é causa, toda ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido).
# Como saber se o fato foi determinante para o resultado? Pela aplicação da Teoria da
Eliminação Hipotética dos Antecedentes Causais.
Configura em método empregado no campo mental da suposição ou da cogitação, através do
qual causa é todo fato que, suprimido mentalmente, o resultado não teria ocorrido como ocorreu ou no
momento em que ocorreu.
IMPORTANTE: Para verificar a relação de causalidade é indispensável à realização de duas
perguntas: a) O que é causa? R= toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido; b)
Como saber qual conduta foi determinante para o resultado? R= através do método da eliminação
hipotética.
Causa (objetiva) = Teoria da Equivalência + Teoria da Eliminação Hipotética.
Essa fórmula é criticada, pois do ponto de vista objetivo acaba gerando regresso ao infinito. A
Teoria da Equivalência é muito extensa, permitindo o regresso ao infinito na investigação do que seja
causa. Numa morte por envenenamento, por exemplo, o fabricante do veneno pode ser considerado
causa; os pais do homicida podem ser considerados causa; Adão e Eva podem ser considerados
causa.
Para evitar a responsabilidade de certas condutas antecedentes que contribuíram para o
resultado, a doutrina clássica analisa o dolo e a culpa como limites de responsabilidade.
A imputação do crime, no entanto, não regressa ao infinito, pois é indispensável a
CAUSALIDADE PSÍQUICA (se o agente agiu com dolo ou culpa) – evitando responsabilidade penal
objetiva.
Imputação do Crime = Causalidade Objetiva + Causalidade Psíquica
Nesse ínterim, a Teoria da Imputação Objetiva busca corrigir o regresso ao infinito da causalidade
objetiva.
1.2.3.1) Concausas:
Concaus
a Exemplos
Absolutamente
Independente
Ex1: Fulano ministra veneno em Beltrano. Antes do psicotrópico “fazer efeito”, Beltrano,
enquanto descansava, viu o lustre cair na sua cabeça. Beltrano morre em razão de
traumatismo craniano.
Preexiste Causa efetiva: veneno;
nte Causa concorrente: disparo;
Concaus
a Exemplos
Relativamente
Independente
Ex.: Fulano, portador de hemofilia é vítima de um golpe de faca executado por Beltrano.
O ataque para matar produziu lesão leve, mas em razão da doença preexistente acabou
sendo suficiente para matar a vítima.
- Causa efetiva: doença;
- Causa concorrente: golpe de faca;
Preexiste
nte A doença (e sua consequência) se originou do golpe de faca (relativa independência);
A doença é causa preexistente;
A morte deve ser atribuída às consequências da doença;
De acordo com causalidade simples, nos termos do artigo 13 caput, o resultado deve
ser imputado a fulano, respondendo por homicídio doloso consumado.
Ex.: Fulano dispara contra Beltrano. Este, ao perceber a ação do agente tem um
colapso cardíaco e morre.
Concomit Causa efetiva: colapso cardíaco;
ante Causa concorrente: disparo de arma de fogo.
Ex1: “Que por si só produziu o resultado” – disparo seguido do teto do hospital (causa
efetiva – não está na linha de desdobramento de um tiro), neste caso o atirador responde por
homicídio tentado.
Superven Ex2: “Que não por si só produziu o resultado” – disparo seguido de erro médico ou
iente infecção hospitalar (causa efetiva – o atirador reponde por homicídio doloso consumado, o
médico responde homicídio culposo).
Resultado
Conduta concorrente -------------------------- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2ª espécie) C.R.I.S. que, não por si só, produz o resultado – O resultado está na linha de
desdobramento causal normal da conduta concorrente. Trata-se de um evento previsível para a
conduta concorrente. A conduta concorrente é idônea, adequada.
Busca delimitar a imputação, sob o aspecto objetivo, evitando regresso ao infinito gerado pela
teoria da causalidade.
A solução para evitar o regresso ao infinito da causalidade simples foi acrescentar ao estudo da
causalidade o nexo normativo.
A teoria da imputação objetiva se insurge contra o risco de “regresso ao infinito” que ocorria na
teoria da equivalência.
Insurgindo-se contra o regresso ao infinito da causalidade simples, a teoria da imputação objetiva
enriquece a causalidade, acrescentando o nexo normativo composto de:
Exemplos:
Um fabricante de automóvel produz um automóvel que se envolve em um acidente de trânsito. O
fabricante do automóvel responde pelo resultado? Ele é causa? Depende:
- Para teoria da equivalência o fabricante é causa; mas ele só não responderá porque
não há dolo/culpa;
- Para a teoria da imputação objetiva Deve-se analisar o nexo normativo.
Fabricar automóvel é um risco criado e permitido pela sociedade. Então não houve criação
nem incremento de risco não permitido. Logo, não há causa para a imputação objetiva.
A teoria da imputação objetiva busca evitar a banalização da causa e da imputação objetiva. Por
isso alguns falam que essa teoria deveria se chamar “teoria da não imputação objetiva”.
Pessoa mata outra dando veneno para ela. Ela comprou um veneno em uma loja que vende
venenos. O fabricante do veneno responde pelo crime?
- Para teoria da equivalência o vendedor de veneno é causa; mas ele só não responderá
porque não há dolo/culpa;
- Para a teoria da imputação objetiva Deve-se analisar o nexo normativo.
Fabricar veneno para os fins cabíveis é um risco criado e permitido pela sociedade. Então
não houve criação nem incremento de risco não permitido. Logo, não há causa para a imputação
objetiva.
Ex. Fulano, percebendo que Beltrano vai ser atropelado, empurra o amigo que cai e fratura o
braço.
Obs: Risco não realizado no resultado – O resultado deve estar na linha de desdobramento
causal normal da conduta. No mais, o resultado não é atribuído ao autor como realização do risco de
lesão ao bem jurídico nos casos de substituição de um risco por outro e em algumas hipóteses de
contribuição da vítima para o resultado.
Ex. Fulano dispara contra Beltrano visando matá-lo. Beltrano, gravemente ferido, é levado até o
hospital. Beltrano morre em razão de erro médico.
- Para teoria da equivalência (causalidade) fulano é causa adequada da morte (o erro médico
é concausa relativamente independente superveniente que não por si só causou o resultado). Então,
fulano responde por homicídio doloso e o médico responde por homicídio culposo.
Ex. Fulano percebe Beltrano em perigo e não socorre. Isso é um crime de omissão de socorro
(artigo 135 do CP), crime este que não tem resultado naturalístico.
b) Nexo no crime omissivo impróprio: Como se pode dizer que a omissão causou o resultado
se na omissão há um “nada” e “do nada, nada surge”? Então, não se pode falar em “nexo” causal, mas
pode-se falar em “nexo de não impedimento” ou “nexo de não evitação”. Há um nexo jurídico, e não
físico. No crime omissivo impróprio, o dever de agir é para evitar o resultado concreto. Estamos
diante de um crime de resultado material, exigindo, consequentemente, um nexo entre a omissão
e o resultado. Esse nexo, no entanto, não é naturalístico (“do nada, nada surge”). Na verdade, o
vínculo é jurídico (“nexo de não impedimento” ou “não evitação”). No exemplo, a mãe responde por
homicídio porque ela é equiparada à causadora do resultado.
Ex. Fulana (garantidora), dolosamente, deixa de alimentar a filha de tenra idade, que vem a
falecer. Aqui, há uma omissão e um resultado naturalístico.
Então, em síntese:
1.2.4) Tipicidade:
Para analisar a tipicidade conglobante, deve-se analisar a conduta, resultado, nexo causal e
tipicidade conglobante. Para a tipicidade conglobante, a tipicidade penal é a tipicidade formal + a
tipicidade conglobante. Esta, por sua vez, é formada pela tipicidade material + atos antinormativos.
Ainda, os atos antinormativos são atos não determinados ou não incentivados por lei. Então, se o ato
que a pessoa praticou foi um ato determinado por lei, mesmo que esse ato corresponda a um tipo penal
ou lesione o bem jurídico, não há crime.
Ex. Juiz determina que o funcionário faça a busca e apreensão de um bem, contra a vontade do
proprietário. O funcionário, apesar de ter subtraído coisa alheia móvel, agiu em estrito cumprimento do
dever legal, pois o processo civil determina a prática desse ato.
Ex.: De acordo com Zaffaroni, o oficial de justiça no cumprimento de uma ordem, executa a
penhora e o sequestro de um quadro, de propriedade de um devedor, apesar de presentes a tipicidade
formal e a tipicidade material, não existe tipicidade penal, pois o ato do oficial não é antinormativo, mas
normativo, determinado por lei. NÃO SE PODE ADMITIR QUE NA ORDEM NORMATIVA UMA
NORMA (C.P.C.) ORDENE O QUE OUTRA PROÍBE (C.P.).
Atenção! Porque a legítima defesa e o estado de necessidade continuam na ilicitude? Pois não
são atos determinados ou incentivados por lei, mas somente permitidos. A legítima defesa e o estado
de necessidade, não migram para a tipicidade, pois não são determinados ou incentivados por lei, mas
apenas permitidos/tolerados (continuam sendo atos antinormativos).
Art.14, II, do CP – norma de extensão temporal, pois amplia o tipo para alcançar fatos
incompletos.
Art.29, do CP – norma de extensão pessoal, pois amplia o tipo para alcançar partícipes.
Art.13, §2º, do CP – norma de extensão causal, pois amplia o tipo para alcançar garantidores.
2) Ilicitude ou Antijuricidade:
2.1) Nomenclatura:
Entende-se por ilicitude a relação de contrariedade entre o fato típico penal e o ordenamento
jurídico como um todo, inexistindo qualquer exceção determinando, incentivando* ou permitindo a
conduta típica. Então, se há algum comportamento que é determinado, incentivado ou permitido pelo
ordenamento, esse comportamento não é ilícito.
*Obs: Para quem adota a teoria da tipicidade conglobante, o conceito de ilicitude muda, pois, por
esta teoria, as condutas determinadas ou incentivadas pelo ordenamento nem são típicas (são
atípicas – não são excludentes da ilicitude, mas da tipicidade). Então, o conceito de ilicitude é diferente
para os adeptos da tipicidade conglobante, entendendo-se a relação entre o fato típico e o ordenamento
jurídico como um todo, inexistindo qualquer exceção permitindo a conduta típica. Se existe exceção
determinando ou incentivando a conduta, ela sequer é típica.
Passado Presente
Antijuridicidade Ilicitude
Formal
Antijuridicidade Tipicidade
Material material
3ª Teoria – Teoria da Absoluta Dependência ou Ratio Essendi – Essa teoria cria o conceito de
“tipo total do injusto” e diz que a ilicitude é a essência da tipicidade, de modo que, não havendo ilicitude,
não há fato típico. É adepto dessa teoria Mezger (1930). Excluída a ilicitude, exclui-se o fato típico
(tipo total do injusto). Ex: Fulano mata Beltrano, comprovada a legítima defesa, o fato deixa de ser
ilícito e típico, pois a ilicitude é a essência da tipicidade. Assim:
4ª Teoria – Teoria dos Elementos Negativos do Tipo – Chega no mesmo resultado da 3ª teoria,
mas por outro caminho. De acordo com essa teoria, o tipo penal é composto de elementos
positivos (explícitos) e elementos negativos (implícitos). Para que o fato seja típico, exige a
presença dos elementos positivos e ausência dos elementos negativos.
Em suma, essa teoria diz que todo tipo penal possui elementares que devem ocorrer para que o
fato seja típico. E diz que, entretanto, o tipo também tem fatos negativos, implícitos, que não podem
ocorrer para que o fato seja típico. Então, o tipo penal possui elementos positivos, que são explícitos e
devem estar presentes para que o fato seja típico; e possui, também, elementos negativos, implícitos,
que não podem estar presentes para que o fato seja típico.
Ex. art.121, CP. Os elementos que devem estar presentes são “matar” e “alguém”. Mas esses são
elementos explícitos. Faltam os elementos implícitos, que não podem estar presentes para que o fato
seja típico. Esses elementos negativos são o estado de necessidade, a legítima defesa, o exercício
regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal. Esses são elementos implícitos de todo e
qualquer tipo penal. O adepto desta corrente é Merkel.
De acordo com a maioria da doutrina, prevalece que o Brasil seguiu a teoria da Indiciariedade ou
ratio cognoscendi, isto é, provada a tipicidade, presume-se relativamente à ilicitude, provocando a
inversão do ônus da prova quanto à existência da descriminante.
Essas causas podem ser legais (previstas em lei) ou supralegal (não prevista em lei).
As causas legais de exclusão da ilicitude estão na parte geral do Código Penal, mais
especificamente no art. 23, do CP.
Exclusão de ilicitude
Há, também, causas de exclusão da ilicitude previstas na parte especial do CP, como, por
exemplo, artigo 128, do CP.
Art. 128, CP - Não se pune o aborto praticado por médico: (embora o artigo fale em “não se pune”,
a causa é de exclusão da ilicitude).
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; (isso é uma forma especial de estado de
necessidade).
Ainda, existem causas de exclusão da ilicitude previstas na legislação especial, como, por
exemplo, na lei dos crimes ambientais. Ex:Lei 9.605/98.
E, por fim, apesar de divergente, há doutrina ensinando que a imunidade parlamentar, prevista na
Constituição Federal, exclui a ilicitude, embora isso não prevaleça (prevalece que exclui a tipicidade).
Estado de necessidade
Art. 24, CP - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida
de um a dois terços.
O estado de necessidade depende de requisitos objetivos (artigo 24 CP) e subjetivos (não está
expresso, mas decorre do finalismo).
Requisitos Objetivos:
a) Perigo atual: É o risco presente causado por conduta humana (ex.: carro
desgovernado), por comportamento de animal (ex.: ataque de cachorro) ou por fato da natureza (ex.:
desmoronamento).
1ª Corrente – Em que pese o silêncio na lei, a expressão “perigo atual” abrange o perigo iminente
(perigo próximo). O fundamento é o de que ninguém é obrigado esperar o perigo atual para salvar o
bem jurídico.
2ª Corrente – Diante do silêncio da lei, não abrange o perigo iminente (perigo iminente é o
perigo do perigo, algo muito distante para autorizar alguém a sacrificar bens jurídicos alheios).
Essa segunda corrente é a que prevalece hoje.
IMPORTANTE: O perigo pode decorrer de: (1) conduta humana; (b) comportamento de animal; (c)
fatos da natureza, desde que não haja destinatário certo (essa é uma grande diferença entre o
estado de necessidade e a legítima defesa – o perigo não é contra pessoa certa e determinada).
b) Estado de necessidade putativo: a situação de perigo não existe, é imaginária (não exclui a
ilicitude). Se o perigo não existe (é imaginário), o agente está diante de uma discriminante putativa
(estado de necessidade putativo). Isso é importante porque o estado de necessidade putativo não
exclui ilicitude.
b) A situação de perigo não pode ter sido causada voluntariamente pelo agente.
Se o agente é o causador voluntário do perigo, não pode alegar estado de necessidade. O que
isso significa? Isso significa que se o agente causou dolosamente o perigo, ele não pode alegar estado
de necessidade. Mas, se o agente causou o perigo culposamente, ele pode invocar estado de
necessidade?
Se o agente tem o dever legal de enfrentar o perigo, não pode alegar estado de necessidade
enquanto o perigo comportar enfrentamento. Então, não pode alegar estado de necessidade quem
tinha o dever legal de enfrentar o perigo. Então, por exemplo, num incêndio, o bombeiro deve enfrentar
o perigo. Ele não pode sair correndo e matar as outras pessoas para se salvar. Assim, enquanto o
perigo comportar enfrentamento, o bombeiro tem que enfrentá-lo.
Pergunta de Concurso: A pessoa contrata um segurança particular e, num caso de perigo, o
segurança, ao invés de enfrentar o perigo, mata a vítima para se salvar. O segurança pode alegar
estado de necessidade?
1ª Corrente – Entende que tem dever legal o garantidor do mandamento legal do art.13, §2º, “a”,
do CP (“tenha por lei obrigação de cuidado proteção ou vigilância”. Ex. pais, tutores, curadores,
bombeiros, policiais, etc.), não abrangendo o dever contratual do segurança particular, que está na
alínea “b”. Deste modo, para esta corrente, o segurança pode invocar estado de necessidade, pois ele
não tem o dever legal de afastas o perigo, mas sim contratual.
2ª Corrente - Entende que tem dever legal o garantidor do art.13, §2º, alíneas “a”, “b” e “c”, do
CP, de modo que o segurança não pode alegar estado de necessidade. Esta corrente está prevista na
exposição de motivos do CP (prevalece).
Relevância da omissão
Art.13, §2º, CP - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Pergunta de Concurso: Um bombeiro num incêndio tem que salvar duas pessoas, mas
ele só pode salvar uma delas – uma criança e um idoso. Qual delas o bombeiro deve salvar?
R: Qualquer uma delas, pois ambas são vidas.
O único meio para salvar direito próprio ou de terceiro é o cometimento de fato lesivo,
sacrificando-se bem jurídico alheio (não pode ser o meio mais cômodo). Se a fuga for suficiente para
salvar o interesse ameaçado, deve ser a alternativa seguida pelo agente. É o chamado commodus
discessus (“obrigação de procurar uma cômoda fuga do local”). Então, se para salvar o bem jurídico, a
pessoa tem as opções de fugir ou de sacrificar outro bem jurídico, ela deve optar por fugir. Ademais, no
estado de necessidade, a fuga, se possível, é o caminho preferencial.
ATENÇÃO: Se ao invés de fugir do perigo, resolver sacrificar bem jurídico alheio, não vai poder
alegar o estado de necessidade, porque o sacrifício de bem jurídico alheio não era o único meio capaz
de resguardar direito, eis que a fuga é caminho preferencial. Ex: Cachorro ataca A, para se salvar pode
fugir ou abater o animal, se decidir por abater animal, quando a fuga era possível, não é possível alegar
estado de necessidade, devendo responder, no caso em tela, por dano ao patrimônio alheio.
Por este requisito, deve-se analisar a proporcionalidade entre o bem jurídico protegido e o bem
sacrificado. Aqui, existem duas teorias:
Teoria Unitária – Não diferencia os estados de necessidades. Para ela só existe o estado de
necessidade justificante, que exclui a ilicitude, e é aplicado nos casos em que o bem protegido vale
mais ou igual ao bem sacrificado. Para essa teoria, quando o bem protegido vale menos do que o bem
sacrificado, temos uma causa de diminuição de pena. O Código Penal adotou esta Teoria.
Art.24, §2º, CP - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado (pois o bem
jurídico protegido vale menos do que o bem sacrificado), a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços.
Requisito Subjetivo:
Ex. Rogério percebe que um bem jurídico de Jordan está em perigo. Há um meio de salvar
Jordan: matando Adrian. Ele aproveita que não gosta de Adrian e mata este último. Nesse caso,
Rogério não poderá invocar o Estado de Necessidade, pois não estava com vontade de salvamento,
mas si aproveitou que não gostava de Adrian para matá-lo.
Ex.1. traficante alega estado de necessidade dizendo que precisava traficar para salvar a sua
família. Tráfico é crime permanente, incompatível com estado de necessidade, inevitabilidade do
comportamento lesivo;
Ex.2: Mãe que acorrenta filho em casa para ele não consumir drogas (Crime de sequestro, pode
configurar, no caso em tela, inexigibilidade de conduta diversa, excluindo a culpabilidade, mas não
estado de necessidade);
Ex.3: Estudante de medicina que evita epidemia (crime de Exercício Ilegal da medicina pode
configurar, no caso em tela, inexigibilidade de conduta diversa, excluindo a culpabilidade, mas não
estado de necessidade).
2.4.2.2) Conceito: Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem ( art.25, do CP).
Requisitos Objetivos:
a) Agressão injusta:
É a conduta humana que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos de alguém. A agressão
injusta pode ser uma ação ou uma omissão. Ex. de omissão injusta que gera uma legítima defesa.
Agente penitenciário que, diante do alvará de soltura, nega-se a soltar o preso. Se o preso agarrar o
agente penitenciário e agredi-lo para pegar o alvará de soltura, ele estará agindo em legítima defesa
diante de uma omissão injusta.
Obs1: A agressão deve ser injusta, mas injusta para quem? Para quem é agredido? Para
quem agride? Para ambos?
A agressão deve ser injusta, independente da consciência disso por parte do agressor. Quem se
defende de agressão atual e injusta praticada por inimputável, age em legítima defesa.
Mas, atenção!! Para Roxin, não se concede a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face
à agressão de um inimputável, de modo que a excludente não se aplica a todas as situações.
Ex. criança de 3 anos agride um adulto – não se pode matar a criança alegando legítima defesa.
Alguns autores resolvem o impasse aplicando, no caso de agressões de inimputáveis, o requisito
da “obrigação de procurar uma cômoda fuga”. Alegam que, em regra, a legítima defesa não tem esse
requisito, mas que, no caso de inimputável, haverá a obrigação de procurar a fuga.
2ª C: A agressão deve ser dirigida com destinatário certo, pressupondo dolo; Conclusão: a) Não é
possível legítima defesa de agressão culposa; b) A agressão culposa é “perigo atual”, autorizando
estado de necessidade.
Atenção: Uma vez constatada a injusta agressão, o agredido pode rebatê-la, não se lhe exigindo
a fuga do local.
Para Roxin, não se deve conceder a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face à
agressão de um inimputável, de modo que a excludente não se aplica a todas as situações, mas
apenas naquelas em que a reação, o combate mostra-se inevitável.
b) Legítima defesa putativa: o ataque é imaginário (não havendo efetivamente agressão injusta,
não exclui a ilicitude, mas configura descriminante putativa).
R: Depende. Se o ataque for espontâneo do animal, esse ataque configurará “perigo atual” e
ensejará estado de necessidade. Mas, se o ataque do animal for provocado pelo dono, esse ataque
será uma “agressão injusta”, pois o animal será um instrumento na mão do dono (legítima defesa). O
interesse prático dessa distinção é que se o ataque é espontâneo, o agente deve preferir fugir do
animal (há o dever de referência pela fuga, típico do estado de necessidade). Mas, se o ataque é
provocado, não há obrigação da fuga e o agente pode matar o animal (legítima defesa).
b) Atual ou Iminente:
A agressão injusta deve ser atual (está ocorrendo) ou iminente (prestes a ocorrer). Se a agressão
for passada, a reação será igual à vingança, e não à legítima defesa. Se a agressão for futura, haverá
mera suposição do agente. Assim, a agressão necessária para configurar legítima defesa deve ser
presente, atual e iminente, prestes a acontecer.
Ex. Fernandinho Beira-mar, preso, ameaça promotor de justiça de morte. Uma semana depois, ele
é solto e compra munição com as iniciais do promotor. O promotor não tem dúvidas de que irá morrer e
se antecipa. Neste caso, a antecipação da repulsa pelo promotor caracteriza legítima defesa
antecipada. A legítima defesa antecipada é uma hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, e
exclui, portanto, a culpabilidade, e não a ilicitude.
c) Reação moderada, usando dos meios necessários:
Para haver legítima defesa, a agressão deve ser atual ou iminente, usando dos meios
necessários. “Meio necessário”: meio menos lesivo à disposição do agredido no momento da
agressão, porém, capazes de repelir o ataque com eficiência.
Encontrado o meio necessário, deve ser utilizado de forma moderada. Meio necessário não é o
meio menos lesivo à disposição do agente.
Ex. Carlos vai agredir Rogério com uma espada. Rogério tem à sua disposição, para repelir essa
injusta agressão, uma metralhadora, um revólver, uma faca e suas habilidades físicas. Qual é o meio
necessário? Deve ser o meio menos lesivo, dentre os capazes de repelir a injusta agressão. No
exemplo, o meio menos lesivo está nas habilidades físicas de Rogério. Mas elas não são capazes de
repelir a injusta a agressão. A faca também não é apta a repelir a injusta a agressão. Então, o meio
necessário é o revólver, pois, embora é o meio menos lesivo entre os capazes de repelir a injusta
agressão.
Assim, por meio necessário, entende-se o menos lesivo dentre os meios à disposição do agente e
capaz de repelir a injusta agressão.
Atenção! A partir do momento em que se encontrou o meio menos lesivo, deve-se usá-lo
moderadamente, sob pena de excesso.
Para salvar direito próprio configura legítima defesa própria (ou in persona);
para salvar direito alheio configura legítima defesa de terceiro ( ou ex persona).
O agente deve saber que age em legítima defesa, deve conhecer a situação fática justificante.
ATENÇÃO!
Legítima defesa simultânea: pressupondo agressão injusta, não é possível duas pessoas,
simultaneamente, uma contra a outra, agindo em legítima defesa.
Legítima defesa sucessiva: nada impede legítima defesa sucessiva, que é a reação contra o
excesso do agredido.
Legítima defesa putativa (ato injusto) x legítima defesa putativa (ato injusto): nenhum dos
dois pode alegar excludente de ilicitude.
2ª Corrente: Aníbal Bruno – Caracteriza estado de necessidade, porque, nesse caso, a repulsa
não atingiu o agressor.
a) Legítima defesa sucessiva: Ocorre na repulsa contra o excesso abusivo do agente que agia em
legítima defesa (temos duas legítimas defesas, uma depois da outra).
c) Legítima defesa subjetiva: Logo depois de cessada a agressão que justificou a reação, o
agente, por erro plenamente justificável, supõe persistir a agressão inicial e, por isso, acaba excedendo-
se em sua reação.
Obs: Não é possível legítima defesa de estado de necessidade, pois quem age em estado
de necessidade não pratica injusta agressão. Aquilo que se poderia pensar ser legítima defesa
contra estado de necessidade, é, na realidade, estado de necessidade contra estado de necessidade.
Os agentes públicos, no desempenho de suas atividades, muitas vezes, devem agir interferindo
na esfera privada dos cidadãos, exatamente para assegurar o cumprimento da lei (lei em sentido
amplo). Essa intervenção redunda em agressão a bens jurídicos como a liberdade, a integridade física
e, até mesmo, a própria vida. Ocorre que, dentro dos limites aceitáveis, tal intervenção é justificada pelo
estrito cumprimento do dever legal.
Ex. art.301, do CPP - Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Prisão em flagrante (na
modalidade de flagrante compulsório ou obrigatório). A autoridade não responderá por constrangimento
ilegal, nem mesmo lesão corporal.
Art. 142, III do CP – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou
informação que preste no cumprimento de dever do ofício (estrito cumprimento do dever legal).
Em suma, O agente público, no desempenho de suas atividades, não raras vezes é obrigado,
por lei (em sentido amplo), a violar um bem jurídico. Essa intervenção lesiva, dentro de limites
aceitáveis, é justificada pelo estrito cumprimento de um dever legal.
Ex.1: Policial que emprega violência necessária para executar prisão em flagrante de perigoso
bandido (art. 301 do CPP).
Ex.2: Juiz, na sentença, emite conceito desfavorável quando se reporta ao sentenciado (art. 142,
III do CP).
No estrito cumprimento do dever legal, a expressão lei deve ser tomada em seu sentido amplo
(abrangendo todas as espécies normativas, nos termos do art. 59 CRFB/88. Vale ressaltar que
para Francisco de Assis Toledo, posicionamento minoritário, que a expressão abrange, também,
dever imposto pelos costumes). Isso significa que para haja incidência dessa discriminante, deve
haver uma lei (norma) determinando um comportamento do agente público.
Trata-se, assim, de descriminante penal em branco, que precisa ser complementada com outra
norma; em que o conteúdo da norma permissiva se deduz de outra norma jurídica (fenômeno que se
assemelha à norma penal em branco), por exemplo, artigo 301 do CPP.
Atenção!! Para que haja a excludente da ilicitude, o agente público deve conhecer a situação
fática descriminante. Ou seja, o agente deve saber que age diante de um dever imposto pela lei.
Obs: Não ocorre estrito cumprimento do dever legal na hipótese de policial matar
criminoso em fuga. De acordo com o STJ, a lei proíbe a autoridade, seus agentes ou quem quer
que seja, desfechar tiros contra pessoas em fuga (REsp 402.419/RO). Se esta fuga, contudo,
estiver acoplada a uma agressão injusta, contudo, poderá a atuação do agente configurar
legítima defesa.
EMENTA RESP 402.419: RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE.
DESCLASSIFICAÇÃO. HOMICÍDIO CULPOSO. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. ARTIGO 284 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NORMA DE EXCEÇÃO. PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
1. O artigo 284 do CPP é norma de exceção, enquanto permissiva de emprego de força contra preso, que não admite,
por força de sua natureza, interpretação extensiva, somente se permitindo, à luz do direito vigente, o emprego de força, no caso
de resistência à prisão ou de tentativa de fuga do preso, hipótese esta que em nada se identifica com aqueloutra de quem, sem
haver sido alcançado pela autoridade ou seu agente, põe-se a fugir.
2. Não há falar em estrito cumprimento do dever legal, precisamente porque a lei proíbe à autoridade, aos seus agentes e
a quem quer que seja desfechar tiros de revólver ou pistola contra pessoas em fuga, mais ainda contra quem, devida ou
indevidamente, sequer havia sido preso efetivamente.
3. O resultado morte, transcendendo embora o animus laedendi do agente, era plenamente previsível, pela natureza da
arma, pelo local do corpo da vítima alvejado e pelas circunstâncias do fato, havendo o recorrido, em boa verdade, tangenciado
o dolo eventual.
4. Ao direito penal se comete a função de preservar a existência mesma da sociedade, indispensável à realização do
homem como pessoa, seu valor supremo. Há de ser mínimo e subsidiário (...). Qualquer do povo pode prender em flagrante. É
dever de toda e qualquer autoridade comunicar o crime de que tenha ciência no exercício de suas funções (...).
5. Em figurando autoridade policial ou seu agente como sujeito ativo do delito, levado a cabo a pretexto de
cumprimento de dever legal, é óbvia a legitimidade do Ministério Público, na dupla perspectiva da proteção dos direitos
fundamentais e da satisfação do interesse social, que mais se potencializam à luz do seu dever-poder de "exercer o controle
externo da atividade policial" (Constituição da República, artigo 129, inciso VII).
6. Recurso especial provido.
1ªC: Para Mirabete, é exclusiva de agentes públicos, abrangendo o particular, somente quando no
exercício de função pública (exemplo: mesário).
2ªC: Para maioria da doutrina, particular também pode invocar esta descriminante (exemplo:
advogado que se recusa a depor em juízo, em razão do dever de sigilo profissional).
Art. 23, III, 2ª parte do CP - Não há crime quando o agente pratica o fato:
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
DICA:
Estrito Cumprimento de Exercício Regular de Direito
Dever Legal
Agente público (em regra)
Obs: A maioria da doutrina
entende que o particular também Cidadão comum
pode invocar a descriminante.
Ex.2: Luta de boxe (A violência empregada nesse esporte também caracteriza exercício regular
de direito).
- A Lei Pelé (Lei 9.615/98) incentiva pratica esportiva, ainda que o esporte seja violento.
Ex.3: Possuidor de boa-fé que retém coisa alheia para ressarcir-se das benfeitorias
necessárias e úteis não pagas (Art. 1.219 C.C).
a) Exercício regular de direito pro magistrato: Trata-se de situação em que o Estado não pode
estar presente para evitar lesão a um bem jurídico ou recompor a ordem pública. Por isso, o Estado
incentiva o particular a agir em exercício regular do direito, com o próprio cidadão evitando a lesão,
ou recompondo a ordem pública.
Ex1. art.301, do CPP - Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Flagrante facultativo ou permitido
ao particular.
Ex2. Pessoa está querendo sair do hotel sem pagar suas despesas. O hotel pode reter a
bagagem dessa pessoa. Então a retenção de bagagem é um exercício regular de direito.
Ex3. Desforço imediato.
Para se saber se a pessoa agiu em exercício regular do direito, deve haver alguma lei conferindo
aquele direito à pessoa. Trata-se, mais uma vez, de descriminante em branco, em que o conteúdo da
norma permissiva pode ser deduzido de outra norma jurídica (fenômeno que se assemelha à norma
penal em branco).
Por fim, adotada a tipicidade conglobante, o exercício regular do direito deixa de excluir a ilicitude
para excluir a própria tipicidade, já que é um comportamento incentivado pelo Direito.
2.5) Ofendículos:
R: Existem 04 correntes:
1ª Corrente: Entende que a natureza jurídica é de exercício regular do direito.
2ª Corrente: Entende que a natureza jurídica é de legítima defesa (preordenada).
3ª Corrente: Esta corrente diferencia duas situações: enquanto não acionados, os ofendículos
configuram exercício regular do direito. Mas, quando acionados para repelir injusta agressão, os
ofendículos deixam de ser exercício regular do direito e passam a ser legítima defesa. É o
entendimento que prevalece.
4ª Corrente: Esta corrente diferencia o ofendículo de defesa mecânica predisposta. O ofendículo é
um aparato visível, sendo, assim, um caso de exercício regular do direito. Já a defesa mecânica
predisposta é um aparato oculto, sendo que o acionamento dessa defesa mecânica predisposta
configura legítima defesa.
Assim, o ofendículo, enquanto não acionado, configura exercício regular de direito. Quando
acionado, configura legítima defesa.
Para a tipicidade conglobante, enquanto não acionados, os ofendículos são fato atípico
(pois é incentivado pelo direito – exclui a tipicidade).
Para a teoria da imputação objetiva, os ofendículos não criam riscos proibidos, mas sim
permitidos. Então, também configuram fato atípico.
É uma causa supralegal de exclusão da ilicitude, que não tem previsão legal. Mas, o
consentimento do ofendido só serve como causa de exclusão da ilicitude quando presentes alguns
requisitos. Então, haverá exclusão da ilicitude pelo consentimento do ofendido desde que:
Exemplo:
Artigo 213 do CP Artigo 163 do CP
(Estupro) (Dano)
O não O não
consentimento do consentimento do
ofendido é elementar do ofendido não é elementar
tipo do tipo.
Conclusão: se o Conclusão: se o
ofendido consente o fato ofendido consente o fato
deixa de ser típico. típico deixa de ser ilícito.
Excesso punível - Art.23, parágrafo único, CP - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,
responderá pelo excesso doloso ou culposo.
c) Excesso exculpante: É o excesso que deriva da perturbação de ânimo, medo ou susto. Aqui,
o agente não responde pelo excesso. Entende-se que é uma hipótese de inexigibilidade de conduta
diversa.
d) Excesso extensivo: É o excesso que ocorre quando a reação persiste mesmo depois de
cessada injusta agressão. Nesse caso, pode haver um excesso voluntário ou um excesso involuntário.
Por conseguinte, aplicam-se as consequências de cada modalidade de excesso (voluntário e
involuntário – evitável ou inevitável).
e) Excesso intensivo: É o excesso que ocorre durante a injusta agressão. A agressão ainda não
cessou. Esse excesso também pode ser voluntário (doloso) ou involuntário (evitável; inevitável).
a) O agente supõe agir sob o manto de uma justificante em razão de erro quanto à sua
existência ou seus limites.
Ex.: Fulano, depois de ser agredido com um tapa no rosto, acredita estar autorizado a revidar com
um disparo de arma de fogo.
Atenção: Fulano erra quanto aos limites da legítima defesa.
Conclusão: Erro de Proibição (indireto – recai sobre descriminantes).
Ex.: Fulano, professor, acredita estar autorizado a castigar fisicamente seus alunos rebeldes.
Ex.: Fulano quer manter conjunção carnal com sua esposa, mas ela nega.
Esta espécie de discriminante putativa deve ser tratada como erro de proibição. É o chamado
erro de proibição indireto ou erro de permissão.
Atenção!! Nesta espécie de discriminante putativa, o agente conhecia a situação de fato. Ele
não erra quanto à situação de fato, mas quanto à situação de direito.
Supõe estar diante de uma situação de fato que, na realidade, não existe (“fantasia a injusta
agressão”).
Prevista no art. 20, § 1º, CP – o agente erra sobre a situação de fato.
Ex. Fulano, imaginando iminente agressão por parte de Beltrano, atira contra o desafeto,
percebendo, depois, que Beltrano, na verdade, trazia consigo um celular.
Pergunta de Concurso: O erro, nesta espécie de discriminante, deve ser tratado como
sendo de tipo ou de proibição?
R: Existem três correntes:
1ª Corrente (Prevalece na doutrina/ prevista na exposição de motivos Código Penal/ artigo 20,
§1º, do CP): Para a teoria Limitada da Culpabilidade, deve ser tratado como Erro de Tipo. Leia-se:
se erro de tipo inevitável, exclui dolo e culpa; se evitável, exclui o dolo, punindo-se a forma culposa
(quando prevista em lei). Para essa teoria, que equipara a discriminante putativa ao erro de tipo, temos
o que se chama de erro de tipo permissivo.
2ª Corrente: Para a teoria Extremada da Culpabilidade, o caso deve ser tratado como Erro de
Proibição. Isto é, se inevitável, isenta o agente de pena e, se evitável, diminui a pena.
3ª Corrente: Para a Teoria Extremada “Sui Generis” da Culpabilidade, o artigo 20, §1º, do CP,
adotou a Teoria Extremada “sui generis”, equiparando-se a discriminante putativa a erro de proibição.
Isto é, se inevitável, isenta o agente de pena e, se evitável, exclui o dolo, punindo-se a forma culposa
(quando prevista em lei), por razões de política criminal.
Qual teoria o CP adotou? Para isso, deve-se ler o artigo 20, §1º, do CP:
Descriminantes putativas
Art.20, §1º, CP - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o
erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
Considerando a redação do art.20, §1º, do CP, existem duas correntes quanto à posição adotada
pelo CP:
(2) A discriminante putativa sobre situação de fato está prevista no parágrafo 1º do art. 20,
artigo este que trata do erro de tipo. Se o caput trata de erro de tipo, os parágrafos também devem
tratar do erro de tipo;
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO CÓDIGO PENAL: 17. (...) Definiu-se a evitabilidade do erro em função
da consciência potencial da ilicitude (parágrafo único do art. 21), mantendo-se no tocante às descriminantes
putativas a tradição brasileira, que admite a forma culposa, em sintonia com a denominada “teoria limitada da
culpabilidade”.
2ª Corrente: Há doutrina minoritária ensinando que o Código Penal adotou uma teoria extremada
“sui generis” (pois quando o erro é evitável, o CP prefere não diminuir a pena, mas punir a modalidade
culposa). Essa corrente não prevalece.
Obs: As teorias limitada e extremada da culpabilidade têm bases finalistas. Dentro da teoria
normativa pura, as teorias limitada e extremada da culpabilidade discutem a natureza jurídica das
descriminantes putativas sobre pressupostos fáticos (prevalecendo a teoria limitada).
3.3.1) Imputabilidade:
3.3.1.1) Conceito:
Obs: Não importa, para esse critério, o desenvolvimento mental do agente. Por este sistema, “não
é necessário ser louco para ser inimputável”.
Inimputáveis
Art. 26, CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado (critério biológico), era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (critério
biopsicológico).
Obs: Mesmo quando comprovado que o agente é inimputável e mesmo sendo esta uma causa de
exclusão do crime, haverá recebimento da denúncia, porque o inimputável é absolvido impropriamente,
sendo-lhe imposta medida de segurança. A medida de segurança é espécie de sanção penal,
pressupondo devido processo legal para ser aplicada.
A absolvição imprópria não interrompe a prescrição nem serve como título judicial.
Cuidado! O art. 26, p.ú., CP, não traz hipótese de inimputabilidade. Esse artigo é caso de
responsabilidade penal diminuída (semi-imputável). No caso do semi-imputável (fronteiriço), há inquérito
policial, denúncia, processo e condenação (em que o juiz decide se reduz a pena ou substitui a pena
por medida de segurança). Essa condenação interrompe a prescrição e serve como título executivo.
Isso deixa claro que o artigo 26, p.ú., não traz hipótese de inimputabilidade.
Redução de pena
Art. 26, Parágrafo único, CP - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
IMPORTANTE! Qual prazo mínimo e máximo (limite) de uma medida de segurança? Com
fundamento na periculosidade, o Código Penal prevê prazo mínimo de 01 a 03 anos (a partir do qual o
sujeito começar a ser submetido a novas avaliações psiquiátricas). Para o prazo máximo, mesmo não
havendo previsão legal, de acordo STF, são vedadas penas de caráter perpetuo, sendo que o limite,
aplicando pela analogia, é o estipulado pelo artigo 75 do CP (30 anos); Para o STJ (posicionamento do
Cespe), o limite da medida de segurança é o limite máximo da pena que seria aplicada aquele fato.
Pergunta de Concurso: O menor de 18 anos pode ser processado e julgado perante o TPI?
R: Não. Artigo 26, do Estatuto de Roma.
Artigo 26.º, Estatuto de Roma - Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 anos
O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime, não tenham
ainda completado 18 anos de idade.
Art. 28, §1º, CP - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso
fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Embriaguez:
Classificação Legal e Doutrinária da Embriaguez
Espécie de Origem Espécies Consequência Jurídica Penal
Embriaguez
Acidental Caso Fortuito Completa* Exclui a imputabilidade
Força maior Incompleta Reduz a Pena
(não quer ou é obrigado a se embriagar)
Voluntária Completa** Não exclui a imputabilidade
Não (O agente quer se embriagar) ou nem reduz a pena
Acidental Incompleta
Culposa Completa ou Não exclui a imputabilidade
(O agente se embriaga negligentemente) Incompleta nem reduz a pena
Patológica É uma doença Completa Art. 26, caput, CP
Incompleta Art. 26, p.ú., CP
Preordenada O agente se embriaga Completa ou Agravante de pena
para praticar o crime Incompleta Art. 61, II, “l”, CP
* A única hipótese de embriaguez que isenta o agente de pena é a embriaguez acidental completa, que exclui a
imputabilidade do agente pela falta de capacidade de entendimento e autodeterminação (critério biopsicológico).
** Nesse caso, incide a Teoria da “actio libera in causa”, pela qual o ato transitório revestido de inconsciência decorre
de ato antecedente que foi livre na vontade, transferindo-se para esse momento anterior a constatação da imputabilidade
e vontade. (Por isso, quando há embriaguez completa voluntária, mesmo que o agente esteja inconsciente – o que levaria
à inimputabilidade – ele será punido, pois, ao se embriagar, ele agiu livre na causa).
Emoção e paixão
Art. 28, CP - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão;
Emoção Paixão
É um estado súbito e passageiro É um sentimento crônico e duradouro
Apesar de a emoção não excluir a Já a paixão, dependendo do grau, pode ser
imputabilidade, ela pode interferir na pena, considerada doença e, aí, ser tratada como
sendo uma atenuante ou privilégio. doença, nos termos do art. 26, caput, do CP.
ATENÇÃO: Com o CP(1984) ocorreu a abolição do Sistema Duplo Binário (aplicação da pena e
medida de segurança – cumulativamente), passando a adotar o Sistema Vicariante (aplicação da pena
ou medida de segurança), sendo que para imputável (pena), para inimputável (medida de segurança) e
para semi-imputável (causa de diminuição de pena, podendo ser convertida em medida de segurança).
AUSÊNCIA
CONSCIÊNCIA DA POTENCIAL CONSCIÊNCIA
ILICITUDE DA ILICITUDE
ATENUANTE (ART. 65 DO
CP – DESCONHECIMENTO DA ERRO DE PROIBIÇÃO
ILICITUDE DA CONDUTA) INEVITÁVEL
A única causa de exclusão da potencial consciência da ilicitude (o agente está impedido de saber
que age no campo do injusto) trata-se do erro de proibição, previsto no art. 21, do CP.
Previsão legal: art. 21, CP.
Diz-se profano aquele não conhecedor da ciência do Direito, cujas concepções do que seja legal e
ilegal são diretamente influenciadas pela classe social, pelos valores morais e culturais, pela crença
religiosa etc. Tal indivíduo desconhece a ilicitude de alguns tipos normativos, podendo vir a praticar fato
típico, ilícito, mas não culpável. A esse comportamento denominamos de valoração paralela na esfera
do profano.
O nosso ordenamento adotou a teoria limitada da culpabilidade, assim, a falta da potencial
consciência da ilicitude é conhecida como erro de proibição, isto é, uma suposição equivocada de que
um dado comportamento é lícito.
O próprio mestre Reale categoriza que o que leva o indivíduo a cumprir a norma jurídica são os
valores espirituais, morais, financeiros, culturais etc., em face dos quais ele foi moldado. (...) A cátedra
de Immanuel Kant, a propósito, disseca haver uma diferença ontológica entre as coisas como elas são
vistas (phenomena) e as coisas como de fato elas são (noumena). (BARBOSA, Clóvis. As núpcias da
princesa cigana, o julgamento de Frinéia e a valoração paralela na esfera do profano. Disponível em
http://www.nenoticias.com.br/lery.php?var=1197963002. Acesso em 15/02/2008).
O Professor Luiz Flávio Gomes assim resume o que vem a ser valoração paralela na esfera do
profano:
Na teoria do delito, várias foram as repercussões do finalismo de Welzel: o dolo e a culpa, como
dados integrantes da ação, passaram a fazer parte do tipo (leia-se: do fato típico). Deixaram de integrar
a culpabilidade, que se transformou em puro juízo de censura, de reprovação. Eliminados os requisitos
subjetivos da culpabilidade, nela somente restaram requisitos normativos:
a) imputabilidade;
b) potencial consciência da ilicitude e
c) exigibilidade de conduta diversa.
Todos esses requisitos são normativos porque devem ser aferidos pelo juiz. Nem a imputabilidade
nem a consciência da ilicitude, que se acham na cabeça do agente, devem ser enfocados desde essa
perspectiva. Cabe ao juiz examinar em cada caso concreto se o agente tinha capacidade de entender
ou de querer e, ademais, se tinha possibilidade de ter consciência da ilicitude, ainda que seja nos limites
de sua capacidade de compreensão do injusto - numa "valoração paralela na esfera do profano"
(Mezger, Tratado de derecho penal, trad. de 1955), isto é, valoração do injusto levada a cabo pelo leigo,
de acordo com sua capacidade de compreensão.
3.3.3) Exigibilidade de Conduta Diversa:
3.3.3.1) Conceito:
Não é suficiente que o sujeito seja imputável e tenha cometido o fato com possibilidade de lhe
conhecer o caráter ilícito para que surja a culpabilidade. Além dos dois primeiros elementos, exige-se
que, nas circunstâncias de fato, o agente tivesse possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com
o ordenamento jurídico.
a) Coação Irresistível:
Requisitos:
Deve haver uma coação moral irresistível. Cuidado! A coação física exclui a conduta e o fato
típico.
A coação moral deve ser irresistível. Se a coação moral for resistível, pode caracterizar uma
atenuante de pena.
Pergunta de Concurso: Marcos pratica coação moral irresistível em face de Vinícius, obrigando
o coagido a matar André. Qual crime pratica Vinícius e qual crime pratica Marcos?
R: Vinícius (coagido) não é culpável, por inexigibilidade de conduta diversa. Marcos (coator)
praticou homicídio (autor mediato – art.121, CP) e tortura (art. 121, I, “b”, Lei 9.455/97), em concurso
material.
b) Obediência Hierárquica:
Requisitos:
Deve haver uma ordem do superior hierárquico., ou seja, a manifestação de vontade do titular de
uma função pública, a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta
positiva ou negativa.
Só se cogita a obediência hierárquica na relação pública (não há subordinação na relação
eclesiástica, privada, doméstica, familiar, por exemplo).
Ademais, essa ordem será uma ordem não manifestamente ilegal. Atenção! Deve ser entendida
a ordem não manifestamente ilegal segundo as circunstâncias do fato e as condições de inteligência e
cultura do subordinado.
Ordem Responsabilidade
Ilegal Superior e subordinado serão responsabilizados penalmente.
Legal Superior e subordinado estão no estrito cumprimento do dever legal.
Não claramente Superior Pratica crime, na condição de autor mediato.
Ilegal Subordinado É isento de pena.
São aquelas que, embora não estejam previstas expressamente em algum texto legal, são
aplicadas em virtude dos princípios informadores do ordenamento jurídico.
Embora alguns doutrinadores alemães, baseados na legislação alemã, que proíbe a sustentação
de causas supralegais de exclusão da culpabilidade, dissertem serem essas causas fatores perigosos à
segurança jurídica, não discordam que, nalgumas situações, sua utilização pode prevenir a ocorrência
de aberrações jurídicas, de injustiças gritantes.
Assim, não haveria qualquer impedimento em nosso ordenamento jurídico para a aplicação da
causa exculpante supralegal da inexigibilidade de conduta diversa.
Ex.1: Cláusula (ou Fato) de Consciência: Nos termos da cláusula de consciência, é isento de
pena aquele que, por motivo de consciência ou crença, pratica um injusto penal, desde que não
ofenda direitos fundamentais. Houve um caso em que uma pessoa foi ser ouvida como testemunha e
viu na sala do juiz um crucifixo na parede. Essa testemunha se recusou a depor naquela sala, mesmo
tendo o juiz dito que a pessoa deveria depor, e não calar a verdade. A testemunha saiu da sala de
audiência e o MP a denunciou, ainda, pelos crimes de falso testemunho e desacato. O tribunal trancou
a ação penal porque entendeu que a pessoa agiu por motivo de crença.
Ex.2: Desobediência Civil: É um fato que objetiva, em última instância, mudar o ordenamento,
sendo, no final das contas, mais inovador que destruidor. Tem como requisitos:
(a) proteção de direitos fundamentais;
(b) que o dano causado não seja relevante.
Ex. Invasões do MST. Tem-se entendido que são atos destinados a mudar o ordenamento,
buscando a proteção de direitos fundamentais, tendo mais caráter inovador do que destruidor. Mas,
para isso, a invasão do MST não pode causar dano relevante. Se, por exemplo, a invasão do MST for
armada, com depredação de propriedade, não caberá alegar a inexigibilidade de conduta diversa.
Ex.3: Caso de uma mãe que deixa seu filho pequeno sozinho em casa porque precisa ir trabalhar.
É evidente que ela age com imprudência, porém não se poderia exigir dela que adotasse outra conduta,
já que não poderia abandonar o seu emprego, única fonte de renda da família.
Ex4: O caso de aborto de feto anencefálico, situação que vem sendo admitida pela jurisprudência.
Não se poderia exigir da mãe que suportasse as consequências da gravidez quando sabe que o filho
não terá condições biológicas de sobreviver quando nascer.
Entretanto, não se pode utilizar esta dirimente supralegal sem a observância de alguns
pontos importantes e relevantes. Deve ser a conduta adequada àquela que qualquer pessoa mediana
tomaria nas circunstâncias de fato, na qual somente resta uma alternativa. Se contrário fosse, poderia
se exigir que o sujeito adotasse outra forma de conduta.
Também, somente é aplicada esta causa de exclusão da culpabilidade quando não caberia
no caso concreto qualquer outra excludente de culpabilidade, evitando, assim, que o agente seja punido
injustamente por um ato completamente admissível.
É certo que na aplicação deste princípio o melhor critério para se apurar a existência de
inexigibilidade de conduta diversa é a analise do magistrado, que deve ser sensível à situação concreta.
Além disso, deve levar em conta que modernamente, a culpabilidade não se resume somente à
possibilidade de agir de outra forma, devendo ser aplicada a pena atendendo - se a necessidades
preventivas.
PUNIBILIDADE
1) Conceito:
É a consequência jurídica do fato típico, ilícito e culposo. É o direito que tem o Estado de aplicar a
pena cominada no preceito incriminador contra quem praticou a conduta criminosa causando dano ou
perigo de dano ao bem jurídico tutelado.
Atenção! A punibilidade não é requisito do crime, mas sua consequência jurídica.
Extinção da punibilidade
Art. 107, CP - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
2.1) Prescrição:
2.1.1) Conceito:
Mas, atenção! Excepcionalmente, a CF traz duas hipóteses de imprescritibilidade. São elas: art.
5º, XLII, CF (racismo) e art. 5º, XLIV, CF (ações de grupos armados contra a ordem constitucional
e o Estado Democrático).
Art. 5º, XLII, CF - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
Art. 5º, XLIV, CF - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
CUIDADO! A tortura é prescritível! Então a tortura, de acordo com CRFB/88, prescreve; Vale
salientar que a tortura aparece como crime imprescritível em Tratados Internacionais ratificados pelo
Brasil, por exemplo Estatuto de Roma. A doutrina começa a discutir se em razão desses tratados a
tortura deve ou não ser imprescritível. Não há decisões nos tribunais superiores reconhecendo a
imprescritibilidade da tortura na seara penal. Já na seara cível, temos decisões, eis que o STJ entendeu
que as torturas praticadas no regime militar são imprescritíveis (reparação dos danos).
Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinquente, deve anunciar até quando essa
punição lhe interessa.
Sendo incerto o “quantum” da pena que será fixada na sentença, o prazo prescricional é resultado
da combinação da pena máxima prevista abstratamente no tipo e a escala do art. 109 CP.
Art. 109, CP - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no §
1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a
dois;
VI - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº
12.234, de 2010).
O Estado tem a tarefa de buscar o delinquente. A prescrição é uma garantia do indivíduo contra o
Estado. Assim, tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do agente, deve dizer quando essa punição
já não mais o interessa. Eis a finalidade do art.109, do CP.
Sendo incerta a pena que será fixada pelo juiz na sentença, o prazo prescricional é resultado da
pena máxima prevista abstratamente no tipo e observa a escala do art.109, do CP.
Obs: Mudança trazida pela lei 12.234/10 na tabela do art. 109, CP:
Antes da Lei Depois da Lei
12.234/10 12.234/10
Prazo Máximo – Prazo Máximo – 20
20 anos anos
. .
. .
. .
Prazo mínimo – 2 Prazo mínimo – 3
anos anos
Trata-se de uma lei irretroativa, pois prejudica o réu. Então, os crimes praticados antes da Lei
12.234/10 continuam com o prazo prescricional de 2 anos. Essa alteração não atingiu o artigo 28 da Lei
de Drogas (porte de droga para uso próprio), sendo assim continua prescrevendo em 02 anos (porque
tem norma especial – artigo 30 da lei 11.343/2006).
A prescrição da pretensão punitiva propriamente dita leva em conta a pena máxima cominada
abstratamente no tipo penal.
Art. 119, CP - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente.
Esta espécie de prescrição leva em conta a pena máxima abstratamente prevista pelo delito. Por
isso, fala-se em prescrição em abstrato: a pena em definitivo ainda não foi fixada, podendo variar entre
o mínimo e o máximo. Logo, deve-se trabalhar com a pior das hipóteses.
Consequências:
(1) Desaparece para o Estado o seu direito de punir, inviabilizando qualquer análise de mérito.
Obs: Se o Estado reconhece a prescrição, ele não pode analisar o mérito; ele simplesmente
declara extinta a punibilidade; não há condenação nem absolvição (decisão é declaratória extintiva da
punibilidade, não é absolutória). Contudo, no caso do art. 397, do CPP, é possível absolvição com
fundamento na extinção da punibilidade, como, por exemplo, na prescrição.
Art. 397, CPP - Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Aqui houve um erro gravíssimo do legislador (falta de técnica legislativa). A extinção da
punibilidade jamais deveria estar aqui! Então, CUIDADO!!! Nos termos do art. 397, IV, CPP, o juiz
absolve sumariamente o réu quando presente causa de extinção da punibilidade.
(2) Eventual sentença condenatória provisória (antes de transitar em julgado) é rescindida, não se
operando qualquer efeito (penal ou extrapenal);
Então, se houver uma condenação de penal em grau de recurso, essa condenação não gera
qualquer efeito.
Atenção:
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (No caso da tentativa,
começa a prescrição a correr desde o último ato executório).
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou
em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse
tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012)
Nesse inciso, o legislador preocupou-se com a situação das vítimas dos crimes contra a dignidade
sexual, que normalmente são praticados em ambiente doméstico e familiar.
Antes dessa lei, quando a criança vítima crescia e ficava maior, tornando-se apta para denunciar o
abuso contra ela praticado, muitas vezes o crime já estava prescrito.
Então, para solucionar esse problema recorrente, nos crimes contra a dignidade sexual de
menores – crimes estes previstos no CP ou não –, a prescrição começará a correr da data em que a
vítima completar 18 anos, salvo se, a esse tempo, já houver sido intentada a ação penal (caso em que o
crime não mais estará oculto e não mais será necessário impedir o início da fruição do prazo
prescricional. E, nesse caso, a prescrição começará a correr).
O fundamento constitucional para dessa regra está no art. 227, §4º, da CF, que diz:
Art. 227, §4º, CF - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança
e do adolescente.
Pergunta de concurso: O que se entende por “salvo se proposta a ação penal”? Ação penal
proposta é a oferecida ou a recebida?
R: Existem duas correntes (não há definição ainda, porque a jurisprudência ainda não maturou o
assunto).
1ª Corrente) Uma primeira corrente diz que “ação penal proposta” é a ação penal oferecida. Essa
corrente faz uma interpretação literal do dispositivo, dizendo, ainda, que com o oferecimento da
denúncia, o crime deixa de estar oculto, de modo que já existe um Estado punitivo.
2ª Corrente) Mas, uma segunda corrente entende que “ação penal proposta” é a ação penal
recebida. Essa corrente faz uma interpretação sistemática do art. 111, V, CP com o artigo 117, I, do CP,
que diz que o recebimento da denúncia interrompe a prescrição (Art. 117, CP – “O curso da prescrição
interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;”), de modo que seria o recebimento da
denúncia o ato interessante para a prescrição. Essa corrente, inclusive, faz uma interpretação
teleológica do dispositivo, dizendo que a finalidade da lei é não admitir prescrição extraprocessual
(posicionamento de Rogério Sanches).
Atenção! Não esquecer que no concurso de crimes, considera-se cada crime isoladamente!
Então, cada crime prescreve isoladamente, tanto no concurso formal, material, crime continuado, etc.
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
Cuidado! O art. 117, do CP traz causas interruptivas da prescrição, que ZERAM a contagem do
seu prazo. Os quatro primeiros incisos do art. 117, do CP são causas interruptivas da Prescrição da
Pretensão Punitiva e os dois últimos da Prescrição da Pretensão Executória.
II - pela pronúncia;
Reconhecendo haver prova da materialidade e indícios de autoria de crime doloso contra a vida,
submete-se o caso a julgamento popular.
Atenção: “Súmula 191 STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal
do Júri venha a desclassificar o crime.”
Atenção! Da combinação dos artigos 111, do CP e 117, incisos I a IV, do CP, extraímos os
períodos prescricionais.
Termo
Inicial 1 Ø 2 Ø 3 Ø
Termo
Inicial 1 Ø 2 Ø 3 Ø 4 Ø 5 Ø
= Períodos Prescricionais
Ø Pergunta dePrescrição
Interrupção da Concurso: E se os jurados desclassificarem o crime para outro que não doloso
contra a vida (ex. homicídio desclassificado para lesão corporal seguida de morte)? A pronúncia
continua tendo força interruptiva da prescrição?
R: Súmula 191, do STJ - A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o
Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.
Art. 110, §1o, CP - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para
a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em
nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada
pela Lei nº 12.234, de 2010).
Depois do momento em que a sentença transitou em julgado para a acusação, havendo recurso
exclusivo da defesa, a pena aplicada não poderá ser piorada. Então, com o trânsito em julgado para a
acusação, já se sabe qual a pena máxima possível para o caso: é a pena concreta aplicada na
sentença.
Assim, para o cálculo da prescrição, a partir desse momento, volta-se nos períodos prescricionais
anteriores (retroatividade) e analisa-se se houve prescrição, sob o ponto de vista da pena imposta na
sentença (pena esta que passou a ser a máxima para o caso).
Percebe-se que antes da sentença recorrível, não se sabe a quantidade da pena a ser fixada pelo
juiz, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena máxima prevista em lei (“teoria da pior
das hipóteses”). Contudo, fixada a pena, ainda que provisoriamente, transitando esta em julgado
para a acusação (ou sendo o seu recurso improvido), não mais existe razão para se levar em
conta a pena máxima, já que, mesmo diante do recurso da defesa, é proibida a reformatio in
pejus. Surge, então, um novo norte para o cálculo da prescrição (pena recorrível efetivamente
aplicada). Essa prescrição, portanto, leva em conta a pena aplicada na sentença.
Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa:
Recebimento da Publicação da
Art. 111, CP Denúncia Condenação
Ø Interrupção da Prescrição
Características da PPP Retroativa:
Caso Prático: Maria abandona recém-nascido para ocultar desonra própria (artigo 134 CP –
pena de 06 meses a 02 anos).
Qual o prazo da P.P.P.A.? Combinar a pena máxima (02 anos) com o artigo 109 do CP,
conclusão artigo 109, V CP (04 anos prazo prescrional para punir Maria).
Quanto tempo Estado tem para investigar o crime? 04 anos (entre a data do fato e recebimento da
inicial);
Quanto tempo o Estado tem para processar Maria? 04 anos (para a sentença condenatória);
Sentença condenatória com pena de 06 meses e Ministério Público não recorreu – Recalculo da
Prescrição (P.P.P.R): 06 meses combinado com artigo 109 do CP (prazo 03 anos).
OBSERVAÇÕES FINAIS:
OBS.1: Com o advento da lei nº 12.234/10, não mais se considera a P.P.P.R. entre o recebimento
da inicial e a data do fato.
OBS.2: A lei nº 12.234/10 é prejudicial para o réu, portanto, irretroativa (fatos praticados antes
admitem a P.P.P.R. entre o recebimento da inicial e a data do crime).
OBS.4: Discute-se se esta espécie de prescrição pode ser reconhecida em 1º grau (ou só pelo
Tribunal). Temos duas correntes:
1ªC: Com a sentença o juiz de 1º grau esgotou a sua jurisdição, não podendo reconhecer a P.P.R
(só o Tribunal);
2ªC (prevalece): Tratando-se de matéria de ordem pública, o juiz de 1º grau pode reconhecer a
P.P.P.R de ofício ou provocada.
a.3) Prescrição da Pretensão Punitiva Superveniente ou Intercorrente (art. 110, §1º, CP):
Art. 110, §1o, CP - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para
a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em
nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.
Essa prática não tem previsão legal e, além disso, não é admitida pelos Tribunais superiores.
Ex: Furto simples, com pena de 1 a 4 anos. A PPPA é de 8 anos e o réu é primário e de bons
antecedentes. Suponha-se que já se passaram 5 anos sem que tenha havido a sentença de
condenação. Ao se perguntar qual seria a possível pena para o acusado, pode-se perceber que sua
pena será a mínima, ou seja, de 1 ano. Então, nesse caso, a PPPR seria de 4 anos. Por já terem se
passado 5 anos, para que continuar com esse processo? Para evitar uma futura prescrição retroativa, já
se reconhece a prescrição virtual. O fundamento é o de que haveria falta de interesse de prosseguir no
feito.
Obs1: Do mesmo modo que a PPP em abstrato, a PPP retroativa e a PPP superveniente, a
prescrição executória, havendo concurso de crimes, incide sobre cada delito isoladamente (art. 119, do
CP).
Art. 119, CP - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente.
Obs2: A PPE extingue a pena aplicada, sem rescindir a sentença condenatória (que continua
produzindo efeitos penais e extrapenais).
Termo Inicial:
Publicação da Trânsito em
Recebimento da Trânsito em Julgado p/ defesa
Art. 111, CP Denúncia Condenação julgado p/ o MP e acusação
Cuidado! Há uma decisão da 5ª turma do STJ entendendo que o início do prazo da PPE se dá
com o trânsito em julgado para as duas partes. Mas não é isso que o CP diz! A PPE apenas pressupõe
o trânsito para as duas partes, mas tem como termo inicial o trânsito em julgado para a acusação.
Após o trânsito em julgado para a acusação, o Estado tem que correr para prender o acusado e
fazê-lo iniciar a cumprir a pena, senão ocorrerá a prescrição da pretensão executória.
No momento em que se começa a cumprir a pena, há uma interrupção da prescrição (ex. captura
e início/reinício de cumprimento de pena).
Há interrupção da prescrição, também, se o condenado comete novo crime, pois neste caso ele
passa a ser reincidente (lembrando que a reincidência ocorre com a prática de novo crime, por aquele
que carrega contra si condenação definitiva). Vale lembrar, ainda, que, (somente) com relação ao
novo crime, quando for analisado o cumprimento de pena deste, haverá o aumento de 1/3 do
prazo prescricional.
Exercício: Publicação de sentença com condenação à pena de 1 ano. Tal pena transita em
julgado para o MP. Em seguida, transita em julgado para a defesa, o que autoriza se falar em PPE.
Pergunta a) Quanto tempo o Estado tem para exigir o cumprimento da pena? R: 4 anos.
Pergunta b) Imagine-se que, depois de 2 anos do trânsito em julgado da sentença condenatória, o
condenado é preso (interrompe-se a prescrição). Ainda não ocorreu PPE. Depois de 3 meses que ele
está preso, o condenado foge. Quanto tempo o Estado tem para recapturá-lo? Considera-se, para efeito
de contagem de prazo prescricional, a pena aplicada na sentença ou o restante da pena a ser
cumprida? Considera-se a pena de 1 ano (o que dará um prazo prescricional 4 anos) ou considera-se o
prazo de 9 meses (que é o quantum de pena que resta a cumprir - o que dará um prazo prescricional de
3 anos)? R: O art. 113, do CP diz que, no caso de fuga, a prescrição regula-se pelo restante da pena a
cumprir: 9 meses portanto, o que dará um prazo prescricional de 3 anos (para a recaptura).
Prescrição no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento condicional
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre
durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (causa suspensiva da prescrição
executória).
Atenção! A que mais cai em concurso é a causa suspensiva do art. 116, I, do CP.
As causas suspensivas previstas no CP são exemplificativas. Existem outras hipóteses de
suspensão da prescrição previstas na CF e no CPP, como, por exemplo:
Art. 366, CPP - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
Art. 368, CPP - Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante
carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Art. 114, CP - A prescrição da pena de multa ocorrerá: I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a
única cominada ou aplicada;
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa
for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.
Redução dos prazos de prescrição
“Art. 115 C.P. - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao
tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.”
OBS. 2 - Ambos os benefícios permanecem vigentes, sem alteração, mesmo com o advento do
Código Civil de 2002 (que alterou a maioridade civil para 18 anos) e do Estatuto do Idoso (assim
considerando todo aquele com idade igual ou superior a 60 anos). Seria necessária revogação expressa
dos dispositivos penais, já que qualquer interpretação que contrarie a norma configuraria afronta à
vedação da analogia maléfica.
OBS. 3 - O artigo 115 se aplica a todos os prazos prescricionais, inclusive aqueles previstos na
legislação especial e incide sobre todas as modalidades de prescrição (punitiva e executória).
# OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
De acordo com a súmula 338 STJ, é aplicável o instituto da prescrição aos atos infracionais.
“Súmula 338 STJ: A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas.”
“ITER CRIMINIS”
1) Conceito:
Iter criminis é o caminho percorrido pelo crime. É o conjunto de fases que se sucedem
cronologicamente no desenvolvimento do delito (doloso). Esse conjunto de fases é dividido pela
doutrina em duas macrofases: fase interna e fase externa.
1ª) Cogitação – É a ideação do crime. Simples ideia do crime, que (cuidado!) não implica
necessariamente em premeditação. Atenção, por força do principio da materialização do fato, a mera
cogitação é impunível (vivemos um direito penal do fato, que impede que se puna alguém por cogitar
um delito, pois essa é uma manifestação de direito penal do autor).
2ª) Atos preparatórios (ou conatus remotus) – O agente procura criar condições para a
realização da conduta delituosa.
Obs: Bittencourt ensina que os atos preparatórios estão na macrofase externa. Para ele, a
macrofase interna só é composta pela cogitação.
Atenção! Em regra, os atos preparatórios são impuníveis. Contudo, aqui existem exceções, ou
seja, hipóteses de atos preparatórios puníveis. Essas hipóteses excepcionais são:
a) Associação criminosa (art. 288, do CP);
b) petrechos para falsificação de moeda (art. 291, do CP).
c) Formação ou constituição de organização criminosa (art. 2º da Lei 12.850/13).
Associação Criminosa
Art. 288, CP - Associarem-se três pessoas, ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes.
Existe doutrina que nega a possibilidade de punição de atos preparatórios. Segundo essa
doutrina, a associação criminosa não é a punição de atos preparatórios, mas a punição do próprio crime
de associação criminosa (punição da execução do crime associação criminosa), que, coincidentemente,
por sua vez, configuram atos preparatórios de outros delitos. Contudo, isso já é outra coisa. Mas essa
corrente é minoritária, e não deve ser adotada em provas objetivas.
A punição de atos preparatórios configura manifestação de direito penal do inimigo.
Contudo, lá a punição de atos preparatórios é a regra. No CPB essa punição é excepcional.
Essa macrofase é inaugurada por atos executórios, traduzindo a maneira pela qual o agente
atua exteriormente para realizar o núcleo do tipo (crime realizado e preparado).
Esses atos inauguram a possibilidade de punição. Em regra, a punição pressupõe atos
executórios.
Ex.: Fulano quer subtrair objetos do interior de um imóvel. Aguarda, na esquina, o dono do
imóvel deixar a residência. Depois que o dono sai, Fulano pula o muro e toma a intimidade da casa.
Fulano apodera-se do aparelho visado.
1ª Teoria: Teoria da hostilidade ao bem jurídico ou critério material: Atos executórios são
aqueles que atacam o bem jurídico, criando-lhe uma situação concreta de perigo (Nelson Hungria).
Esse risco ao bem jurídico será analisado no caso concreto. Então, essa teoria, ao analisar o ato do
agente que está analisando o imóvel para furtar objetos, já enquadra essa situação como ato
executório. No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 1 (já existe início da
execução – podendo ser preso por tentativa de furto). A crítica a essa teoria é que ela acaba
enquadrando como atos executórios atos muito distantes da consumação.
2ª Teoria: Teoria Objetiva-formal: Ato executório é o que inicia a realização do núcleo do tipo
(Frederico Marques). Por essa teoria, no delito de furto, os atos executórios só começam quando o
agente começa a subtrair. No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 3 (o início da
execução ocorre com o apoderamento do bem). A crítica a essa teoria é que ela só chama de ato
executório aquilo que está muito próximo da consumação.
3ª Teoria: Teoria Objetivo-individual: Atos executórios são aqueles que, de acordo com o plano
do agente, realizam-se no período imediatamente anterior ao começo da realização do núcleo típico
(Zaffaroni). No exemplo anterior, essa teoria corresponde ao momento 2 (o início da execução
ocorre no momento em que o agente pula o muro e toma a intimidade do imóvel). Essa terceira
corrente é a que prevalece na doutrina moderna. (CESPE)
Mas Flávio Monteiro de Barros, por exemplo, diz que nenhuma dessas três teorias sozinha
satisfaz: o juiz não deve desconsiderar qualquer das teorias.
A macrofase externa se encerra com a consumação, que assinala o instante da composição plena
do fato criminoso.
4) Consumação
É o instante da composição plena do fato criminoso.
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Súmula 610, STF – Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.
Súmula 610 STF x art. 14, I, CP – O art. 14, I, CP diz que o crime se consuma quando o crime
reúne TODOS os elementos da definição legal. A súmula 610, do STF considera o latrocínio
consumado mesmo que a subtração não se realize. Por isso, Rogério Greco critica essa súmula,
dizendo que ela desconsidera o conceito legal de crime consumado.
- Exaurimento:
#Pode servir como circunstância judicial desfavorável (majora a pena base, nos termos do
artigo 59 do CP);
Resistência
Art. 329 C.P. - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
Corrupção passiva
Art. 317 C.P. - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
Atenção - Súmula 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
Crime O tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico, sendo esse resultado naturalístico
Material indispensável para a consumação.
Ex. Homicídio.
Crime O tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico, porém, a consumação se dá com
Formal, de a conduta. O resultado naturalístico é dispensável. Nesse crime, (tendo em vista que a
Consumação consumação ocorre no momento da conduta), o resultado naturalístico é mero exaurimento do
Antecipada ou crime.
delito de Ex. Extorsão (súmula 96, do STJ - O crime de extorsão consuma-se independen-temente
resultado da obtenção da vantagem indevida.).
cortado
Crime O tipo penal descreve conduta e não descreve resultado naturalístico (por isso, crime de
de mera “mera conduta”).
conduta Ex. Omissão de socorro, violação de domicílio.
Crime A consumação exige reiteração da conduta típica. Ex: artigo 284 (curandeirismo).
Habitual Se agente realiza 01 ato, o fato atípico; praticando atos reiterados, o fato típico.
5) Crime Tentado:
Crime tentado é o previsto no art. 14, II, do CP. É o crime que, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
R: O correto é falar “tentativa de crime”. Se se fala “crime de tentativa”, parece que a tentativa é
um crime autônomo, sui generis, com pena autônoma, quando, na realidade, a tentativa é apenas a
forma incompleta de se praticar determinado delito. A tentativa, então, não constitui crime “sui generis”,
com pena autônoma. É ela violação incompleta da mesma norma de que o crime consumado
representa violação plena. Portanto, não há “crime de tentativa”, mas “tentativa de crime”.
Trata-se de norma de extensão temporal, ampliando a proibição contida nas normas penais
incriminadoras (com ela, ocorre adequação típica de subordinação mediata).
Em regra, os tipos penais descrevem comportamentos humanos completos. O comportamento
humano incompleto não está descrito no tipo penal. Então, graças ao art.14, do CP, é possível se fazer
o ajuste. O art. 14, II, CP amplia o alcance do tipo penal, possibilitando que se alcance uma maior
quantidade de comportamentos.
a) Início da execução;
b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente (diferencia da desistência
voluntária e do arrependimento eficaz);
c) Dolo de consumação (isso explica a razão de o crime culposo não admitir tentativa);
d) Resultado possível (marco diferencial do crime impossível).
O Código Penal Brasileiro, conforme art. 14, parágrafo único, adotou o sistema objetivo
como regra e o subjetivo em casos excepcionais previstos em lei.
Pena de tentativa
Art. 14, parágrafo único, CP - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
Então, pelo critério objetivo adotado pelo CP, a pena será diminuída de 1/3 a 2/3.
Pergunta de Concurso: Qual o critério utilizado para variar a redução de 1/3 a 2/3?
R: No sistema objetivo, a tentativa possui uma linha subjetiva completa e uma linha objetiva
incompleta. Então, a tentativa tem uma perna menor que a outra. Então, “tipo-manco” é sinônimo de
crime tentado.
R: Trata-se de crime cuja forma tentada é punida com a mesma pena da forma consumada,
sem redução (nele, aplica-se o sistema subjetivo de punição).
Ex. Art. 352, do CP (evadir-se ou tentar evadir-se é punido com a mesma pena); artigo 309 do
Código Eleitoral. Este é um crime de atentado ou de empreendimento.
Art. 11, da Lei 7.170/83 – Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país
independente. (Só se pune a tentativa de desmembrar parte do território nacional, pois se a pessoa
consegue desmembrar e formar um país independente, acabou, não havendo que se falar em punição;
haverá um país soberano).
Art. 17, da Lei 7.170/83 – Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o
regime vigente ou o Estado de Direito.
a.2) Tentativa perfeita ou acabada – O agente, apesar de esgotar todos os atos executórios à
sua disposição, não consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade (ele pratica
todos os atos que pretendia, mas o crime não se consuma).
Ex. Pessoa possui um revólver com capacidade para 5 tiros. Ela estava disposta a dar os 5 tiros.
Se esse agente dá um tiro só e é contido por terceiros, a tentativa é imperfeita. Mas, se ele dá os 5 tiros,
mas a vítima é socorrida, há tentativa perfeita.
Pergunta de Concurso: O que é “crime-falho”?
b.1) Tentativa não cruenta (ou tentativa branca): O golpe desferido não atinge o corpo da
vítima.
b.2) Tentativa cruenta (tentativa vermelha): O golpe atinge o corpo da vítima.
b) Crime preterdoloso: No crime preterdoloso, o resultado mais gravoso não tem dolo de
consumação.
Cuidado! O preterdolo é um misto de dolo e de culpa. Cuidado! Se a parte dolosa ficar
frustrada e a culposa concretizar-se, admite-se a tentativa.
Ex. Aborto qualificado pela morte culposa da gestante. Nesse caso, há o aborto e a morte
da gestante. O aborto é querido pelo agente a título de dolo. A morte da gestante advém a título
de culpa. Se o aborto não ocorre, mas a morte da gestante ocorre, há uma tentativa de aborto,
qualificada pela morte da gestante e, por conseguinte, tentativa de crime preterdoloso (pois a
parte frustrada foi a parte dolosa).
O que a doutrina não admite é que a parte culposa fique frustrada, pois na parte culposa, não há
dolo de consumação.
c) Contravenções Penais:
Cuidado! O art. 4º, da LCP diz que não se PUNE a tentativa, e não que a tentativa não é
possível.
d) Crime habitual:
Tipificando a lei reiteração de atos, não ocorrendo essa reiteração, o fato será atípicos. Ex: artigo
284 do CP.
e) Crime de atentado:
f) Crime unissubsistente:
Art. 122, CP - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos,
se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave (crime material, plurissubsistente;
não admite tentativa).
Ex: Fulano induz Beltrano a se matar. Beltrano ingere substância letal: a) se Beltrano morre,
Fulano responde pelo artigo 122 consumado, a pena de 2 a 6 anos; b) Se Beltrano sofre lesão grave,
Fulano responde pelo artigo 122 consumado, com pena de 1 a 3 anos; c) Se Beltrano se quer sofre
lesão grave, o fato é atípico.
Existe minoria não admitindo tentativa no dolo eventual, pois o resultado paralelo possível é
apenas aceito pelo agente, não fazendo parte da vontade imediata.
Cuidado! De acordo com a maioria da doutrina, dolo eventual admite tentativa, justamente
porque se trata de crime doloso. A não consumação do crime, mesmo no dolo eventual deriva do acaso
ou de circunstâncias exteriores à vontade do agente. “Quem assume o risco quer” (Nelson Hungria).
Atenção:
A tentativa simples atua como NORMA DE EXTENSÃO, em regra reduzindo a pena.
Ex.1: Fulano quer subtrair veículo de Beltrano. Pula o muro da casa, rompe o vidro do carro e, no
momento em que ia ligar o motor, desiste e abandona o local.
Consequência: Desistência Voluntária – extingue a punibilidade da tentativa de furto; Fulano
responde por violação de domicílio + dano.
Ex.2: Fulano quer matar Beltrano. Dispara contra a vítima e ao vê-la pedindo socorro se
arrepende e a conduz até um hospital onde é salva, mas sofre lesões graves.
Consequência: Arrependimento Eficaz – extingue a punibilidade da tentativa de homicídio;
Fulano responde por lesão corporal grave.
6.1.1) Conceito: O sujeito ativo abandona a execução do crime, quando ainda lhe sobra, do ponto
de vista objetivo, uma margem de ação.
Tentativa Simples (art. 14, II, CP) Desistência Voluntária (art. 15, 1ª
parte, CP)
Início da execução; Início da execução;
Não consumação por circunstâncias Não consumação por circunstâncias
alheias à vontade do agente; inerentes à vontade do agente.
Dolo de consumação. Abandona-se o dolo da consumação
(por isso, “tentativa abandonada”).
O agente quer prosseguir, mas não O agente pode prosseguir, mas não
pode. quer.
Cuidado! A desistência deve ser voluntária, não precisando necessariamente ser espontânea. Isso
significa que admite-se interferência subjetiva externa. No mais, a desistência voluntária é sugerida ao
agente, e ele assimila prontamente esta sugestão (influência externa de outra pessoa).
Vale salientar, que não configura a desistência voluntária a influência voluntária objetiva externa
(tudo que não parte de uma pessoa).
Pergunta de Concurso: A pessoa está furtando um veículo. O alarme dispara. A pessoa vai
embora. Isso é tentativa ou desistência voluntária?
Tentativa Comum (art. 14, II, Desistência Voluntária (art. 15, 1ª parte, CP)
CP)
Regra: Pena da Consumação O agente responde pelos atos até então praticados.
reduzida de 1/3 a 2/3.
Ex. Rogério começa a subtrair Ex. Rogério, pretendendo subtrair o carro da vítima,
o carro da vítima, consegue abrir a destruiu a fechadura do carro, abre a porta, mas em seguida,
porta e é surpreendido pela polícia. desiste do crime. Fecha a porta do carro e vai embora. Rogério
Responde pela pena do furto, responde pelos atos até então praticados, ou seja, dano ao
reduzida de 1/3 a 2/3. patrimônio. Se Rogério, por exemplo, houvesse pulado o muro
da casa da vítima para subtrair o veículo, ele responderia por
violação de domicílio e dano, (não responderia pelo furto).
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Execução Consumação
Execução Consumação
Já no arrependimento eficaz o agente Na desistência voluntária, o agente
abandona o intento depois de esgotados os atos desiste enquanto ainda haviam atos
executórios e passa a agir de forma diversa executórios a serem praticados.
(inversa). É a chamada ponte de ouro, de Von Litz.
Obs3: O arrependimento deve ser eficaz (O arrependimento ineficaz não exclui o crime, mas pode
configurar atenuante).
Há divergência na doutrina:
7) Arrependimento Posterior:
Arrependimento posterior
Art. 16, CP - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano
ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços.
A violência culposa não impede o benefício (crimes culposos, mesmo que violentos admitem o
benefício).
De acordo com a maioria, a violência imprópria (qualquer meio diferente da violência ou
grave ameaça capaz de impossibilitar a resistência da vítima) também não impede o benefício.
Somente a violência própria. Se adotada essa corrente, seria possível arrependimento posterior no
roubo (art. 157, caput, parte final, CP). A violência imprópria seria outro meio (que não violência ou
grave ameaça) que reduza a impossibilidade de resistência da vítima (como, por exemplo, “boa noite
cinderela”, psicotrópicos).
Violência contra a coisa não impede o benefício.
Art. 157, CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.
Deve ser uma restituição/reparação integral. Mas, cuidado! Se a vítima concorda com a
restituição ou reparação parcial, de acordo com o STF, não impede a minorante.
Configurado arrependimento posterior, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3. Para essa diminuição, o
juiz se baseia na rapidez da restituição ou reparação.
R: O artigo 16 do CP, não elencou como requisito a aceitação da vítima. Havendo voluntariedade
na reparação, deve ser reconhecido o benefício. O infrator deverá restituir o bem a autoridade policial
ou depositar em juízo.
b) estelionato mediante emissão de cheque sem fundos (art. 171, §2º, VI, CP + Súmula 554
STF).
Obs: O estelionato na modalidade de emissão de cheques sem fundos, não observa o art.16, do
CP, pois é objeto de súmula mais favorável (súmula 554, STF), que não apenas diminui, mas extingue a
pena. Isso também ocorre com a reparação do dano na sonegação fiscal.
Súmula 554, STF - O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
“Não se pune a tentativa quando, por ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime”.
a) Teoria Sintomática: Com a sua conduta, o agente demonstra ser perigoso, razão pela qual
deve ser punido, ainda que o crime se mostre impossível de ser consumado. Pune-se a pessoa não
pelo que ela fez, mas pelo que ela representa. Logo, essa teoria tem resquícios de direito penal do autor
(por ter fundamento a periculosidade do agente).
c) Teoria Objetiva: crime é conduta e resultado. Este configura dano ou perigo de dano ao bem
jurídico. A execução deve ser idônea, ou seja, trazer a potencialidade do evento. Caso inidônea, temos
configurado o crime impossível. A teoria objetiva subdivide-se::
c.1) Teoria objetiva pura: Não há tentativa, mesmo que a inidoneidade da execução seja
relativa.
Crime impossível
Art. 17, CP - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
a) Início da execução;
b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
c) Dolo de consumação;
d) Resultado absolutamente impossível de ser alcançado, por ineficácia/ inidoneidade do meio
ou inidoneidade/ impropriedade do objeto material.
CONCURSO DE PESSOAS
1) Conceito:
É um número plural de pessoas concorrendo para um mesmo evento criminoso, agindo todos com
identidade de propósitos.
Ex.: “A” e “B” combinam um furto. Durante a execução, “C” propõe ajudar os furtadores. Depois de
subtraída a coisa, “D” admite ocultar o bem em benefício dos agentes. No caso em tela, A, B e C
praticaram furto qualificado pelo concurso de agentes (art. 155, §4º, III do CP). Já o D aderiu sua
vontade depois da consumação do furto, dessa forma D praticou o crime de favorecimento real (artigo
349 do CP).
2.a) Crime de Concurso eventual ou monossubjetivo: Pode ser cometido por uma ou mais
pessoas associadas. É a regra no CP. Ex. homicídio, roubo, estupro, etc.
b) Teoria Extensiva: não distingue autor do partícipe, mas permite o estabelecimento de graus
diversos de autoria.
Conclusão: Todo aquele de alguma forma contribui para a produção do resultado é autor, mas
admite distinção dos autores em graus de participação.
c) Teoria Objetiva / Dualista: estabelece clara distinção entre autor e partícipe. Esta teoria divide-
se em:
ATENÇÃO! Exposição de motivos do Código Penal – item 25 adotou a Teoria Objetivo Formal!
“25. Ao reformular o Título IV, adotou-se a denominação “Do Concurso de Pessoas” decerto mais
abrangente, já que a co-autoria não esgota as hipóteses do concursus delinquentium. O Código de
1940 rompeu a tradição originária do Código Criminal do Império, e adotou neste particular a teoria
unitária ou monástica do Código italiano, como corolário da teoria da equivalência das causas
(Exposição de Motivos do Ministro Francisco Campos, item 22). Sem completo retorno à experiência
passada, curva-se, contudo, o Projeto aos críticos dessa teoria, ao optar, na parte final do art. 29, e em
seus dois parágrafos, por regras precisas que distinguem a autoria da participação. Distinção, aliás,
reclamada com eloqüência pela doutrina, em face de decisões reconhecidamente injustas.”
d) Teoria do Domínio do Fato: a doutrina moderna (STF – “mensalão”) trabalha com a teoria do
domínio do fato. Tem predicados finalistas. Surgiu para diferenciar, com clareza, o autor do executor do
crime, conciliando as teorias objetiva e subjetiva.
#Autor: é quem tem o domínio final sobre o fato, quem tem o poder de decisão: a sua palavra
começa a infração penal e também pode encerrá-la. É quem controla finalisticamente o fato, ou seja,
quem decide a sua forma de execução, seu início, cessação e demais condições (não precisa realizar o
núcleo do tipo). Essa teoria só tem aplicação nos delitos dolosos. Exemplo: José Dirceu no caso
“Mensalão”.
# Partícipe: será aquele que, embora colabore dolosamente para o alcance do resultado, não
exerce domínio sobre a ação.
Obs: Coautoria – É a própria autoria delineada por vários indivíduos (plural de autores).
Atenção: também varia conforme a teoria.
*Ex. A, advogado, induz a testemunha B a mentir em juízo. Qual o crime pratica A e qual crime
pratica B. B responde por falso testemunho e A seria partícipe do falso testemunho de B. Contudo,
cuidado! Nesse caso, o STJ e o STF têm decidido que o advogado é coautor do falso testemunho.
Então, aqui, admitiu-se coautoria em crime de mão própria. O STF e o STJ assim decidiram
adotando a teoria do domínio do fato.
Entende-se por partícipe o coadjuvante do crime, sendo este um fato determinado, praticado por
autor conhecido e individualizado. O conceito varia conforme a teoria da autoria.
Obs.1: A participação só é possível até a consumação, após pode configurar crime autônomo.
Obs.2: A participação é conduta acessória (depende para ter relevância da conduta principal).
Atenção! Se cotejada a atuação do partícipe com o tipo legal violado, para efeito de verificação da
tipicidade, será manifesta a falta de adequação, pois o partícipe não realiza o ato nuclear. A
ADEQUAÇÃO SERÁ POSSÍVEL GRAÇAS À NORMA DE EXTENSÃO PESSOAL DO ART. 29, DO CP.
A conduta do partícipe é acessória. Então, em que medida se deve punir essa conduta?
b) Teoria da Acessoriedade Média ou Limitada – Para essa teoria, para se punir o partícipe,
a conduta principal deve ser típica e ilícita. Essa teoria corrigiu a injustiça da primeira.
Ex. No exemplo acima, Rogério não será punido, pois Luciana agiu em legítima defesa. Contudo,
a doutrina alerta com relação ao seguinte caso: Rogério quer matar o Alan. Então, ele cria uma situação
para que Alan agrida Luciana e ele possa instigar Luciana a matar Alan.
Então, se o agente (suposto partícipe) cria uma situação discriminante para atingir o resultado
criminoso (objetivando não ser punido), nesta hipótese, ele será um autor mediato, sendo os demais
participantes seus instrumentos. Essa é a corrente que prevalece.
c) Teoria da Acessoriedade Máxima – para se punir o partícipe, a conduta principal deve ser
típica, ilícita e culpável.
d) Teoria da Hiperacessoriedade – Para se punir o partícipe, a conduta principal deve ser típica,
ilícita, culpável e punível.
R: Ocorre quando alguém induz outrem a induzir, instigar ou auxiliar terceira pessoa a praticar um
crime. Exemplo: “A” convence “B” a convencer “C” a matar “D”. Nesse ínterim, “A” e “B” participação em
cadeia; “C” é o autor imediato do crime.
R: O mesmo agente é instigado, induzido ou auxiliado por duas ou mais pessoas, sem que estas
conheçam a participação uma da outra. Exemplo: “A” induzido por “B” (sem o conhecimento de C) e “C”
(sem conhecimento de B) a matar “D”.
Atenção: Não há participação, mas simples contemplação do crime. Exemplo: Fulano percebe que
a casa do vizinho está sendo furtada. Fulano nada faz. Fulano não é garantidor, então sua omissão é
um indiferente penal.
1ª Corrente: Não responde pelo crime, pois não há dolo (não pode punir os partícipes do agente
infiltrado);
2ª Corrente: Não responde pelo crime, pois está no estrito cumprimento do dever legal (não pode
punir os partícipes do agente infiltrado);
3ª Corrente (adotada na legislação): Não responde pelo crime, pois dele é inexigível
conduta diversa (adotada pela Lei 12.850/13), mas é possível punir os partícipes.
3.2) Autoria Mediata:
Considera-se autor mediato (intraneus) aquele que, tem controle final do fato, sem realizar
diretamente a conduta prevista no tipo, comete o fato punível por meio de outra pessoa (extraneus),
usada como seu instrumento.
Ex. Fulano convence o inimputável Beltrano a furtar um carro. Fulano, sem realizar o núcleo, é
autor mediato do feito (valendo-se do inimputável como seu instrumento).
Ex. Caio, mediante coação moral irresistível, obriga Tício a matar Mévio. Caio é autor de
homicídio? Não, pois ele não realizou o núcleo do tipo. Caio é partícipe de homicídio? Não, pois a sua
conduta não é meramente acessória. Caio é autor mediato do delito. É autor sem realizar o núcleo do
tipo.
Atenção! A autoria mediata aproxima-se do conceito de partícipe, mas com ele não se confunde,
pois não se trata de conduta acessória.
O CP, sem definir autoria mediata, anuncia as hipóteses em que o instituto é aplicável:
-Coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte, CP) – O coator (coage) é autor mediato. O coagido
(coato) é o seu instrumento.
“Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.”
- Erro de tipo escusável provocado por terceiro (art. 20, § 2º, CP)
“Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.”
2ª Corrente: Uma segunda corrente diz que é possível, desde que o autor mediato
(intraneus) reúna as qualidades especiais exigidas pelo tipo penal. Então, por exemplo, se o tipo
penal exige do autor imediato a qualidade “X”, o autor mediato só pode ser aquele que possui a
qualidade “X”. Essa segunda corrente prevalece na doutrina moderna.
Ex1: Ex.: Fulano, particular, hipnotiza um servidor público, fazendo com que este pratique
peculato (art. 312 CP – crime próprio – “funcionário público”).
R.: Fulano, não sendo servidor público, não é autor mediato de peculato.
Pergunta de Concurso: É possível autoria mediata em crimes de mão própria?
R: Por se tratar de crime de conduta pessoal ou infungível, não se admite autoria mediata.
Porém, cuidado! Rogério Greco enxerga uma exceção, no caso da testemunha que sofre coação moral
irresistível para mentir em juízo. Para Rogério Greco, quem coagiu é autor mediato.
Ex2.: Fulano, réu, hipnotiza a testemunha para mentir em juízo (art. 342 CP – crime de mão
própria).
R.: A autoria mediata, leia-se: atuação impessoal e indireta, é incompatível com falso testemunho,
crime de atuação pessoal e indireta. Logo, Fulano não é autor mediato de falso testemunho.
# Como responsabilizar Fulano nos EX1 e EX2, já que os crimes praticados não admitem
autoria mediata?
Para Zaffaroni, Fulano é “AUTOR POR DETERMINAÇÃO”. Se, nos termos do art. 29 CP, pune-
se quem, de qualquer modo concorre para o crime, não há razão para deixar impune o autor de
determinação que, dotado de plena eficácia causal, é levado a efeito por quem atua, por exemplo, sem
conduta (sob efeito de hipnose). O agente não é autor do crime, mas responde pela determinação
para o crime por exercer, sobre o fato, domínio equiparado à autoria.
Para facilitar: O autor por determinação é um “autor mediato” nos casos em que não se admite
autoria mediata.
R: É o caso do agente que emite a ordem para que outro indivíduo, igualmente culpável, pratique
o fato criminoso. Trata-se de espécie particular de autoria mediata, comumente identificada no
âmbito de ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS, em que certo indivíduo, exercendo funções de comando,
determina o cometimento de crimes por agentes que se encontram em posições subalternas.
Os “subalternos” não podem ser considerados meros instrumentos nas mãos de quem exerce
funções de comando (não há obediência hierárquica no ramo privado).
R: O instituto é incompatível com os crimes culposos (como autor mediato tem que dominar
finalisticamente a ação criminosa, não existe domínio finalístico nos crimes culposos).
Obs3: Quando há pluralidade de agentes que atuam sem liame subjetivo entre si, não há
concurso de pessoas.
Ex. Caio e Tício disparam para matar Mévio, mas entre Caio e Tício não há liame subjetivo. Nesse
caso, pode haver autoria colateral ou autoria incerta.
Obs3.1: Autoria Colateral: Dois ou mais agentes, embora convergindo suas condutas para
a prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo liame subjetivo.
Atenção! Na autoria colateral, o agente responsável pelo resultado responde por
crime consumado; o outro, pela tentativa.
Ex.: Fulano e Beltrano, um ignorando a presença do outro, escondem-se esperando Sicrano
para matá-lo. Surgindo a vítima, os dois disparam, atingindo Sicrano. Sicrano morre em razão do
disparo de Fulano.
Solução: Fulano vai responder por homicídio consumado; Beltrano vai responder por
tentativa de homicídio.
Obs3.2: Autoria Incerta: Nada mais é do que espécie de autoria colateral, mas em que não
se consegue determinar qual dos comportamentos causou o resultado. Destarte, dois ou mais
agentes, sem liame subjetivo, concorrem para o mesmo resultado, porém não há como identificar
o real causador.
Atenção! Na dúvida, os dois concorrentes respondem por tentativa (in dúbio pro reo).
#Pergunta: Um tiro atingiu a vítima com vida. Outro tiro atingiu a vítima já sem vida. Não é
possível saber de qual arma veio o tiro de Beltrano ou Fulano quando a vítima estava morta.
Qual a solução?
Solução: Fulano e Beltrano não praticaram nenhum crime, configura crime impossível (In dubio
pro reo).
Observação: Esse requisito é colocado por alguns doutrinadores. Mas, a doutrina moderna trata
a identidade de infração penal como consequência regra do concurso de agentes e não como requisito.
b) Teoria Dualista: Os autores respondem por infrações penais distintas dos partícipes. Tem-se
um crime para os executores do núcleo e outro aos que não realizam o verbo nuclear, mas concorrem
de qualquer modo. Divide a responsabilidade dos autores e dos partícipes.
c) Teoria Pluralista: Os vários concorrentes respondem por infrações diversas. Não há identidade
de infrações. A cada um dos agentes se atribui conduta, razão pela qual cada um responde por delito
autônomo (haverá tantos crimes quanto sejam os agentes).
O CP adotou como regra para infração penal a TEORIA MONISTA, nos termos do art. 29, do
CP:
Art. 29, CP - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas (teoria
monista quanto ao injusto/infração penal) a este cominadas, na medida de sua culpabilidade (teoria
pluralista quanto à pena) .
Art. 29, §1º, CP - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um
sexto a um terço.
Art. 29, §2º, CP - Se algum dos concorrentes (coautor e partícipe) quis participar de crime menos
grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter
sido previsível o resultado mais grave.
Atenção:
a) Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste;
Ex1. Caio e Tício combinam furtar objetos da residência de Mévio. Enquanto Caio vigiava, do lado
de fora, a aproximação de estranhos, Tício entrou no imóvel para subtrair os pertences. Contudo, Mévio
estava em casa. Tício, surpreso, depara-se com Mévio empregando violência para subtrair os objetos
desejados. O crime combinado foi o de furto, mas se transformou em roubo, a partir do momento em
que Tício empregou violência.
Tício praticou roubo. Mas, qual crime pratica Caio? Com relação a Caio, devem ser divididas 3
situações:
Ex2: Fulano e Beltrano combinam um roubo. Fulano fica do lado de fora enquanto Beltrano entra
na casa. Beltrano, durante o assalto, resolve estuprar a moradora.
-Beltrano: art. 157, §2º, II CP + art. 213 CP;
-Fulano: a) se o estupro não era previsível – responde apenas pelo roubo (art. 157, §2º, II do CP).
b) se o estupro era previsível – responde pelo roubo (art. 157, §2º, II do CP) + ½ (pena
aumentada até metade).
c) se o estupro foi previsto e aceito – art. 157, §2º, II CP + art. 213 CP;
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.
Existem duas correntes sobre isso. A primeira corrente diz que são hipóteses de “atipicidade da
tentativa”. Uma segunda corrente diz que são hipóteses de “extinção da punibilidade da tentativa”
(prevalece).
Para a primeira corrente (são hipóteses de atipicidade da tentativa), se se trata de uma hipótese
de atipicidade, de acordo com a teoria da acessoriedade limitada, o partícipe deverá ser beneficiado. Se
o fato principal não é típico, também não se pode punir o partícipe.
Mas, se se adota a segunda corrente (são hipóteses de extinção da punibilidade da tentativa), o
fato é típico, ilícito e culpável, só não sendo punível. Então, de acordo com a teoria da acessoriedade
limitada, os efeitos da desistência voluntária e arrependimento eficaz não alcançam o partícipe, pois o
fato principal é típico e ilícito e é o que basta para punir o partícipe por tentativa. Prevalece a segunda
corrente.
Cuidado! Se o omitente não tinha o dever de agir, nem prometeu sua omissão ao agente, há
mera conivência impunível (chamada de “participação negativa”).
Obs2: A doutrina diverge quanto à possibilidade de coautoria em crime omissivo próprio. Uma
primeira corrente (Juarez Tavares) não admite, lecionando que cada omitente é autor do crime omissivo
isoladamente. Uma segunda corrente (Bitencourt) admite a coautoria.
R: A maioria da doutrina admite coautoria, mas não participação em crime culposo. O crime
culposo é, normalmente, definido por um tipo aberto, e nele se encaixa (como imprudência, negligência
ou imperícia) todo e qualquer comportamento que viola o dever de cuidado objetivo. Em suma, de
acordo com a maioria, admite coautoria, mas não participação. A inobservância do dever de
cuidado é o substrato da coautoria (qualquer ato de que possa derivar o resultado involuntário é
considerado ato de autor). Conclusão: Toda forma de negligência é autoria (várias pessoas
concorrendo de formas negligentes são coautores).
Ex.1: Dois operadores de obra que lançam uma tábua na rua atingindo e matando pedestre.
Ex.2: Passageiro instiga o motorista a acelerar o veículo.
Nos exemplos, tanto os operadores de obra, quanto o passageiro e o motorista são autores/
coautores, pois todos violam o dever de cuidado objetivo.
Logo, a ação culposa da violação de dever de cuidado objetivo importa sempre em autoria.
Casos de impunibilidade
Art. 31, do CP - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.