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Problemas Urbanos
Contributos da geografia escolar para o desenvolvimento de
aprendizagens significativas
2017
Universidade de Lisboa
Problemas Urbanos
Contributos da geografia escolar para o desenvolvimento de
aprendizagens significativas
2017
ii
Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida,
Pelos valores que me transmitiram e incutiram
Pelo apoio incondicional que manifestaram
Pelo que sou.
À minha mãe,
a quem devo tudo.
iii
AGRADECIMENTOS
A realização do presente relatório não teria sido possível sem o apoio e alento
incondicionais de todos os que estiveram ao meu lado. Por isso, estes agradecimentos são
a expressão do meu enorme reconhecimento.
À Inês, que disponibilizou muito do seu tempo para me apoiar, pela sólida amizade
de longa data, presença constante e palavras de encorajamento em todos os momentos. No
fundo, muito obrigada por crescermos juntas.
iv
RESUMO
v
ABSTRACT
The stated report describes the experiences developed in the scope of the
supervised practice, inserted in the context of the curricular unit of Initiation to the
Professional Practice III, of the Master Degree in History and Geography Teaching.
Therefore, the present document delineates and analyses the work developed, in the subject
of Geography A, with the students of the 11th grade of the Secondary School Maria Amália
Vaz de Carvalho, that had as main purpose to answer the following question: Which
problems affect today the neighbourhoods of the city of Lisbon and what measures can be
proposed for its resolution, in order to improve the quality of life of the population?.
Framed in the theme The spaces organised by the population, the practice involved
the conception and implementation of a tutored approached centred on the active teaching-
learning methodology designated Problem-Based Learning. In this sense, derived from the
concerns pointed by the students during the gathering of the respective previous ideas, was
intended that, by the concretisation of different activities during the didactic unit, the
students learned to identify and to reflect about the urban problems of certain areas of study,
debated and understand the impact of those problems in the quality of life of the resident
population, acquired skills related with the observation, collection and treatment of the
crucial information about the urban space, and also, developed critical thinking relatively
to the suggestions of the presented resolutions. The developed work culminated in a final
assignment that consisted in a public presentation by the students, of a proposal of
resolution for the urban problems identified they identified.
The analyse of the achieved results had an essentially descriptive and qualitative
span, revealing, that the obtained results demonstrate the importance of fulfilling
significative learning skills, concerning the subject of Geography A, to which have been
associated an increase in the motivation of the students and a positive and active attitude
of these when faced with new challenges. Hence, is believed that the implications of the
elaborated work, apart from being determinant in the context of the school environment of
these students, have revealed itself important in the improvement and furtherance of the
students as conscious and intervenient citizens.
vi
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
vii
3.1.4. A comunidade escolar ................................................................................ 52
3.2. Caraterização da Turma ............................................................................................. 53
3.3. O espaço de sala de aula ............................................................................................ 54
3.4. A importância da observação de aulas ....................................................................... 55
3.5. As atividades não letivas desenvolvidas .................................................................... 55
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
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ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Contributo do método de ensino para a aquisição de competências de trabalho de grupo 102
Gráfico 2 Relevância da apresentação oral dos trabalhos e dos respetivos resultados 104
Gráfico 3 Relevância da situação-problema para o desenvolvimento do trabalho colaborativo 106
Gráfico 4 Aplicabilidade prática das questões discutidas em aula 107
Gráfico 5 Contributo das aulas e do método de ensino para a descoberta, reflexão crítica e debate 108
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ÍNDICE DE QUADROS
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ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 Exemplos dos planos de aula elaborados para a intervenção pedagógica 132
Anexo 2 Ficha de recolha das ideias prévias (individual) 135
Anexo 3 Ficha de recolha das ideias prévias (grupo) 137
Anexo 4 Notícias recolhidas para utilizar como estratégia de motivação 139
Anexo 5 O jogo Perdidos na Lua 146
Anexo 6 Classificações obtidas pelos alunos no jogo Perdidos na Lua 149
Anexo 7 A situação-problema e o cenário apresentados à turma 152
Anexo 8 Exemplo de um inquérito apresentado aos alunos 156
Anexo 9 Fichas de orientação para observação do espaço e problemas urbanos 158
Anexo 10 Ficha de orientação para constituição da Associação de Moradores 165
Anexo 11 Ficheiro de apresentação oral do Grupo A 166
Anexo 12 Ficheiro de apresentação oral do Grupo B 172
Anexo 13 Ficheiro de apresentação oral do Grupo C 179
Anexo 14 Ficheiro de apresentação oral do Grupo D 185
Anexo 15 Ficheiro de apresentação oral do Grupo E 189
Anexo 16 Exemplos de atas realizadas pelos alunos 193
Anexo 17 Exemplo de um contrato de trabalho redigido pelos alunos 197
Anexo 18 Descrição da turma sobre a cidade de Lisboa 198
Anexo 19 Descrição da turma sobre os principais problemas da cidade de Lisboa 199
Anexo 20 Descrição da turma sobre as soluções para a resolução dos problemas 200
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
INTRODUÇÃO
com o de progresso urbano, na medida em que a aposta na melhoria das condições de vida dos
cidadãos fomenta nestes últimos a repercussão de boas práticas urbanas. Todavia, a qualidade
de vida é avaliada, por um lado, por via de necessidades materiais relativamente à habitação,
emprego, rendimento, saúde e educação, mas, de igual modo, por via de aspetos mais abstratos,
como sejam a integração social ou a qualidade ambiental.
Neste contexto, dado que as questões mencionadas são absolutamente fundamentais
para um desenvolvimento pleno e satisfatório da vida humana, e já que a maioria da população
reside, ou residirá futuramente, em cidades, é impossível não trazer à discussão a questão da
equidade e dos problemas urbanos como obstáculos à prosperidade urbana. Na verdade, uma
cidade é compreendida como sendo justa e equitativa quando possibilita que os seus cidadãos,
sem qualquer espécie de distinção, tenham acesso a um conjunto de serviços e infraestruturas
que se afiguram essenciais e prementes para a consecução de uma vida melhor. Porém, desde
o advento da Revolução Industrial que o crescimento proeminente e excecional dos grandes
centros urbanos não acompanhou, pari passu, o incremento das instalações e equipamentos à
disposição dos residentes, situação que acabou por levar à conclusão que as sociedades atuais
são profundamente desiguais e parciais, no sentido em que alguns cidadãos têm, em detrimento
de outros, mais ou melhor acesso a determinados bens essenciais que se afiguram básicos para
o seu bem-estar individual. Face ao exposto, existe, atualmente, um número significativo de
espaços urbanos que perante a incapacidade de resposta face às indigências da população, tem
enfrentado uma profusão de problemas, de índole multidimensional, decorrente dos padrões
de crescimento urbano. Com efeito, o modelo de desenvolvimento urbano hodierno não se tem
mostrado sustentável, facto que se atribui, mormente, à dificuldade de resolução das ameaças
urbanas persistentes, ou seja, aquelas que, de alguma forma, se têm manifestado constantes e
de difícil solução, como sejam a proliferação contínua dos bairros de lata ou a saturação dos
serviços e das infraestruturas urbanas. Mas, talvez os problemas mais destacados sejam os de
caráter emergente, i.e., os que se associam, fundamentalmente, às más políticas de governação,
e que se relacionam com o aumento da pobreza, da exclusão e da desigualdade social, com o
aumento da migração involuntária, com o incremento da insegurança e risco urbanos e, ainda,
com as alterações climáticas e decorrente degradação ambiental.
É este o contexto que justifica o surgimento deste relatório que discorre a respeito da
conceção e implementação de uma intervenção pedagógica, no âmbito da unidade curricular
de Geografia A, desenvolvida com os discentes de uma turma do 11.º ano da Escola Secundária
Maria Amália Vaz de Carvalho, centrada na subunidade didática dos Problemas Urbanos.
Esta intervenção teve como objetivo avaliar o contributo da geografia escolar para o
desenvolvimento de aprendizagens significativas, num contexto em que se atribui ao aluno um
papel ativo e de destaque na construção da sua aprendizagem e desenvolvimento das respetivas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
competências, tendo por base os seus conhecimentos prévios. Partindo da realização de várias
atividades centradas na recolha de informação por via do trabalho de campo, pretendeu-se que
os discentes aprendessem a identificar e a refletir sobre os problemas urbanos com expressão
territorial, que debatessem e compreendessem o impacte dos mesmos na qualidade de vida da
população residente, adquirissem competências de observação, recolha e tratamento de dados
de base geográfica alusivos ao espaço urbano, e desenvolvessem o pensamento crítico no que
respeita às sugestões de resolução apresentadas. De igual forma, tendo em conta os objetivos
gerais e as competências do programa da disciplina de Geografia A, bem como as finalidades
e as sugestões metodológicas gerais do mesmo, a intervenção pedagógica teve como objetivo
dar resposta a uma questão: “Como promover aprendizagens significativas sobre os problemas
urbanos?”. Nesta perspetiva, definiram-se os seguintes objetivos específicos:
(i) recolher as representações dos alunos a respeito dos problemas urbanos;
(ii) identificar os fatores que, de acordo com os alunos, estão na origem dos
problemas urbanos que identificaram;
(iii) diagnosticar as perceções dos alunos alusivas ao impacte dos problemas
urbanos na qualidade de vida da população urbana;
(iv) diagnosticar as perceções dos alunos em relação às soluções para os
problemas apresentados;
(v) contribuir para que os alunos desenvolvam o conhecimento do espaço urbano
e da sua envolvente;
(vi) sensibilizar os alunos para a identificação dos problemas locais com expressão
territorial;
(vii) estimular os alunos a elaborar e a propor medidas de resolução ou mitigação
dos problemas urbanos, de intervenção local;
(viii) estimular, nos alunos, a vontade de participar crítica e ativamente, enquanto
cidadãos responsáveis e intervenientes, na tomada de decisão dos processos
governativos da cidade de Lisboa;
(ix) desenvolver o pensamento crítico e reflexivo sobre o trabalho desenvolvido.
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
CAPÍTULO I
ENQUADRAMENTO CIENTÍFICO
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
cerca de 40% e 48% respetivamente da sua população a residir em áreas urbanas (UN,
2014:10), os padrões de crescimento e distribuição não são comuns a todas as regiões. Na
verdade, as taxas de crescimento urbano foram mais acentuadas em algumas regiões.
Genericamente, nos países desenvolvidos, a taxa de crescimento da população urbana tem
vindo a abrandar, tendência que deverá estabilizar-se, prevendo-se inclusive a ocorrência de
um declínio populacional em mais de metade das cidades europeias até 2050, nomeadamente
em países como a Bulgária, Croácia, Hungria, Lituânia, Roménia, Sérvia, entre outros (UN,
2015a:4). Na génese desta diminuição está o facto de a fertilidade, na maioria dos países
europeus, estar abaixo do nível necessário para a substituição total da população, dado que «as
countries urbanize, they gain in wealth; and as such, work and educational opportunities for
women tend to increase, leading to later marriages, and fewer children, higher rates of
urbanization along with growth in gross domestic product lead to lower fertility rates around
the world» (UN-HABITAT, 2016:9).
Num claro contraste, projeções recentes indicam que a taxa de crescimento mais
elevada e significativa, durante o período compreendido entre 1995-2005, teve origem nas
regiões menos desenvolvidas do mundo (UN-HABITAT, 2016:7), sendo o continente
Africano o exemplo mais paradigmático, onde se espera que países como Angola, Burundi,
Somália, Uganda e outros, venham a aumentar, pelo menos, até cinco vezes mais, as respetivas
populações (Angel, Parent, Civco, Blei & Potere, 2011:58). Este crescimento radica,
fundamentalmente, num acentuado crescimento natural, uma vez que «the relationship
between urbanization and fertility shows that the relatively poor and less urbanized countries
have high levels of fertility» (UN-HABITAT, 2016:7). Cabe lugar, ainda neste contexto, uma
alusão à ocorrência de conflitos e a uma migração rural-urbana considerável, às quais não se
deverá atribuir um papel subsidiário, uma vez que, historicamente, sempre tiveram um
contributo determinante para o rápido crescimento das cidades. Face ao que foi explanado, é
expectável que mais de metade do crescimento populacional a nível mundial ocorra em África,
razão que a torna na região com o crescimento mais significativo. Seguir-se-ão, por ordem de
importância, a Ásia, a América do Norte, a América Latina, o Caribe e a Oceânia como os
demais territórios que, futuramente, terão um contributo considerável para o crescimento
populacional global. Este último, será praticamente inevitável, ainda que o declínio da
fertilidade possa vir a aumentar, pelo que se estima que a população mundial alcance os 8,5
mil milhões em 2030, 9,7 mil milhões em 2050 e 11,2 mil milhões em 2100 (Quadro 1).
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Fonte: Adaptado de UN, Population Division (2015). World Population Prospects: The 2015 Revision.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
de empregos» (Silva et al., 2014:5). Ao invés, o desenvolvimento dos países pobres ocorreu
de forma tão célere que proliferaram os ambientes problemáticos, com profundas
desigualdades sociais, decorrentes do facto deste crescimento não ser acompanhado, de igual
forma, pelo incremento das infraestruturas e dos serviços, consequência, em grande medida,
da urbanização tardia de que foram alvo.
No que concerne, ainda, aos padrões de crescimento urbano, os núcleos que, por
excelência, se afiguram como os mais representativos, experienciando o maior e mais
destacado desenvolvimento populacional são as cidades de pequena e média dimensão, que
englobam 59% da população urbana mundial (UN-HABITAT, 2016:9). À medida que aquelas
se expandem e fundem, novas configurações espaciais têm lugar, pelo que, um pouco por todo
o mundo, se tem assistido a um aumento nas dimensões vertical e horizontal das áreas urbanas.
Tal como sucede com os grupos populacionais, que se relacionam entre si, também as cidades
de pequena e média dimensão viabilizam a formação de corredores urbanos e megacidades,
cujas novas configurações, além de espacialmente conectadas e funcionalmente adaptadas do
ponto de vista socioeconómico, político e ambiental, atuam «as nodes where global and
regional flows of people, capital goods, research and science, services and information
combine» (UN-HABITAT, 2016:36). Neste sentido, a provisão adequada de oportunidades e
infraestruturas nas pequenas e médias cidades pode auxiliar a urbanização rural e, ainda, ajudar
numa distribuição mais equilibrada da população a nível mundial (UN-HABITAT, 2016:36).
Porém, o papel secundário que se lhes atribui, em detrimento das grandes áreas metropolitanas,
impede que cumpram o seu verdadeiro desígnio enquanto potenciais amenizadoras das
disparidades urbanas.
Por outro lado, os mais significativos desafios demográficos que o século XXI
enfrenta, situam-se nos espaços urbanos emergentes, onde ocorre grande parte do processo de
urbanização global, isto é, nas grandes cidades e nas megacidades. Por definição, as primeiras
acolhem entre 5 a 10 milhões de habitantes e as segundas apresentam-se como áreas urbanas
que albergam um número igual ou superior a 10 milhões de indivíduos (UN, 2015b:16). Nas
últimas décadas, o considerável aumento, destas aglomerações testemunha a respetiva
importância, com especial destaque para as regiões da China, Índia, América Latina e o
Sudeste Asiático (Figura 1), o que se interpreta como sendo um indicador de transferência do
centro de gravidade do mundo urbano dos países em desenvolvimento em direção ao Sudeste
Asiático (UN-HABITAT, 2016:9).
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Ainda que com determinadas exceções, as megacidades incluem algumas das cidades
mais ricas do mundo, dado que mesmo as mais pobres são tidas como modelos no que diz
respeito à capacidade de inovação e aos altos níveis de eficiência de recursos (Kennedy et al.,
2015:5985). Certo é que a maioria das megacidades se encontra localizada nas regiões do
mundo em desenvolvimento, tendência que se refletirá à medida que as numerosas grandes
cidades da Ásia, América Latina e África se transformem em megacidades, o que se calcula
que venha a ocorrer até meados de 2030. Devido à sua dimensão, estas áreas são palco de
novas dinâmicas e interações sociais, além da multiplicidade de fenómenos que encerram do
ponto de vista físico, económico, político e ambiental, por isso, ao desenvolverem-se,
habitualmente, de forma acelerada, nem sempre contemplam o dimensionamento das
respetivas infraestruturas, pelo que a sua expansão produz entraves múltiplos ao bom
funcionamento da vida urbana.
Outro aspeto que importa ressalvar, no que respeita à dimensão demográfica da
urbanização, tem que ver com a existência de uma geração atual de jovens que é a maior de
sempre na história da humanidade. Atualmente, numa população total de 7,3 mil milhões de
pessoas, 1,8 mil milhões são jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 24 anos,
constatação que não se afiguraria tão gravosa se os países com a proporção mais significativa
desta população não se encontrassem entre os mais necessitados a nível mundial (UNFPA,
2014:2). Esta realidade está acrescida de sentido se se atender ao desemprego juvenil, duas a
três vezes superior quando comparado com o desemprego da população adulta (UN-
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
gerais, como locais populosos e mais densamente povoados que as áreas rurais, as cidades
constituem «uma aglomeração de gente, de capital e de outras forças de produção num espaço
limitado, um lugar na paisagem dotado de caraterísticas peculiares» (Barata-Salgueiro,
2005:176). No entanto, não são somente os aspetos tangíveis do modo de vida urbano que as
tornam lugares de significativo potencial. Este potencial resulta, igualmente, da existência de
uma esfera, impulsionadora de relações sociais, por via das quais os cidadãos geram um capital
intelectual capaz de sustentar uma identidade partilhada por todos, permitindo concluir que
«além da dimensão material e da social, as cidades possuem [também] uma dimensão
simbólica, são depósito de um conjunto de valores e de símbolos» (Barata-Salgueiro,
2005:176). Concomitantemente, os centros urbanos são caraterizados pela massificação da
respetiva capacidade produtiva, pelas indústrias e serviços que acomodam, pela diversidade
dos grupos sociais, étnicos e culturais que a ocupam e modelam, bem como pelo mosaico de
potencial humano que albergam. Em virtude de tal dinamismo e complexidade de processos,
por desempenharem um papel de relevo na vida de muitos cidadãos, é perentória a defesa das
cidades como lugares, por excelência, onde a população tem uma oportunidade acrescida de
poder desenvolver e realizar as suas ambições e aspirações pessoais (UN-HABITAT, 2013:4).
Na verdade, durante séculos, as áreas urbanas ofereceram padrões de vida mais elevados do
que as áreas rurais (Cadena, Dobbs & Remes, 2012:2), já que nas primeiras, desde que há
memória, se concentra a grande maioria dos trabalhadores, consumidores, atividades
económicas e riqueza. Ainda que prevaleça uma conceção que circunscreve a prosperidade a
uma interpretação marcadamente económica, o conceito está relacionado «to a sense of
general and individual socioeconomic security for the immediate and foreseeable future, which
comes with the fulfilment of other, nonmaterial needs and aspirations» (UN-HABITAT,
2013:9). Desta feita, se, por um lado, a noção de prosperidade inclui dimensões imateriais, por
outro, contempla medidas vitais, como a produtividade, as infraestruturas disponíveis, a
qualidade de vida, a equidade e inclusão social, bem como a sustentabilidade ambiental
(Quadro 2).
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Fonte: Adaptado de UN-HABITAT, 2012: State of The World’s Cities 2012/2013: Prosperiy of Cities.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
recursos humanos, prestam serviços essenciais para o bom funcionamento da sociedade, como
redes de distribuição de água, gás, eletricidade e transporte, condições de saneamento básico,
limpeza e manutenção dos espaços públicos, recolha e tratamento de resíduos sólidos, entre
outros. Quando se trata da existência e disponibilidade de serviços finais, como sejam as
escolas, as instituições de ensino superior, os hospitais e os serviços médicos de ordem
superior (Satterthwaite, 2007:32), as cidades assumem, indubitavelmente, um lugar de
destaque, já que a população urbana tem mais e melhores facilidades de acesso à educação e
a cuidados de saúde, variáveis em estreita articulação dado que uma formação superior ou um
rendimento elevado têm um impacte positivo direto na promoção da saúde (WHO, 2014:2).
No que respeita às infraestruturas essenciais na manutenção de uma boa saúde, nas cidades, a
oferta do sistema é, além de variada, mais recente e monitorizada (Montgomery, 2009:2).
Ademais, é economicamente mais viável e simples fornecer infraestruturas e serviços públicos
às cidades do que aos espaços rurais (UN-HABITAT, 2016:32). Por isso, as primeiras estão
mais aptas a oferecer uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes.
A terceira base de apoio da prosperidade urbana remete para qualidade de vida que
acaba por representar, em síntese, as dimensões da prosperidade urbana, uma vez que a
funcionalidade dos espaços urbanos é por ela sustentada. Ainda que uma definição precisa do
conceito continue por desvendar, a qualidade de vida encontra-se em estreita articulação com
o progresso e êxito de qualquer cidade ou região, assim, quanto maior o compromisso de uma
cidade para com a promoção do respetivo ambiente urbano e melhoria da qualidade de vida
dos seus cidadãos, mais significativas serão as oportunidades de estes repercutirem boas
práticas, cientes do seu contributo para o bem-estar da sociedade.
A expressão qualidade de vida designa «a broad ranging concept affected in a complex
way by the person's physical health, psychological state, level of independence, social
relationships, personal beliefs and their relationship to salient features of their environment»
(WHOQOL, 1997:1). Portanto, ainda que se reconheça, claramente, a importância dos
recursos económicos para o bem-estar da maioria dos indivíduos, estes são manifestamente
insuficientes por si só, primeiramente, porque os recursos não estão acessíveis, de igual forma,
a todos os cidadãos e, depois, porque têm a capacidade de gerar bem-estar de uma forma que
difere de sujeito para sujeito (Stiglitz, Sen & Fitoussi, 2009:144). Logo, existe uma clara
alusão ao facto de o bem-estar-humano, na sua plenitude, só ser passível de ser alcançado
tendo em consideração um conjunto de atributos de cariz multidimensional, sendo a qualidade
de vida um conceito holístico, cujo alcance abarca vários indicadores mensuráveis, que
adquirem «diferentes traduções, consoante a estrutura socioeconómica da população» (Santos
& Martins, 2002:4). Neste sentido, atente-se, também, que a sociedade e respetivos contextos
sociais, políticos e culturais, influenciam, de forma substancial, as necessidades de vida dos
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
cidadãos, por isso, não detêm um caráter perene, havendo sim «uma variação significativa
dessas mesmas necessidades, ao longo do tempo» (idem,ibidem), em função das circunstâncias
societais.
Ainda que surjam, com frequência, no campo da interpretação da qualidade de vida,
representações dicotómicas que admitem uma relação material/imaterial, objetivo/subjetivo e
individual/social (idem,ibidem), o fator que aparenta ser consensual enfatiza a subjetividade e
a multidimensionalidade como sendo os dois aspetos mais relevantes deste conceito (Seidl &
Zannon, 2004:582). Não raras vezes, a qualidade de vida é avaliada por via de noções
subjetivas, relacionadas com o bem-estar humano, as quais, grosso modo, dizem respeito à
existência de atividade profissional decente, habitação condigna, acesso à educação e
formação, serviços de saúde, presença de infraestruturas, segurança e qualidade ambiental.
Julga-se, então, que estas são as caraterísticas que constituem as preocupações mais comuns e
relevantes que atribuem à vida o seu devido valor (UN-HABITAT, 2013:93). Na verdade, as
caraterísticas acima mencionadas têm uma forte ligação com o que é designado por nível de
vida e dizem respeito às necessidades humanas primárias, ou seja, às necessidades materiais
em termos de habitação, emprego ou trabalho, rendimento, saúde, educação e aspetos de
natureza infraestrutural (UE, 1999:14). Por seu turno, as condições de vida que remetem para
aspetos imateriais, aqueles que dizem respeito às relações humanas, à integração social, à
qualidade ambiental e outras, cabem à esfera da qualidade de vida. Mais do que a ausência de
mal-estar físico ou psicológico (WHOQOL, 1997:3), a qualidade de vida está articulada com
aspetos de índole comportamental, social, ambiental e cultural, que são também importantes
para o desenvolvimento da vida humana na sua plenitude. Apesar da complexidade implícita,
é usualmente aceite uma aceção do conceito como sendo, basicamente, a «satisfação das
necessidades de uma população a nível económico, social, psicológico, espiritual e ambiental,
proporcionando tranquilidade, segurança e esperança de um futuro melhor» (Valente, 2006:2).
A qualidade de vida é, portanto, influenciada pelas transformações da sociedade, pela
existência de certos recursos, respetiva acessibilidade e facilidade de utilização (Santos &
Martins, 2002:6), bem como pelas diversas dimensões que integram o bem-estar humano,
desenvolvendo-se, entre estas, uma relação de complementaridade e dependência mútua.
A presença de uma linha de investigação independente sobre a qualidade de vida
urbana radicou no facto de as cidades acolherem grande parte da população mundial e
representarem locais de enorme potencial económico. Ademais, depois da Segunda Guerra
Mundial, a manifestação de acentuadas preocupações devido à urgente necessidade de
reconstrução das cidades e à perda do bem-estar dos que nela habitavam, fortaleceu a
pertinência do termo e a sua proliferação (Meeberg, 1993, citado por Almeida, 2013:21). Hoje
em dia, a crescente focalização no conceito é completamente justificada pela urgência de
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Fonte: UN-HABITAT, 2012: State of The World’s Cities 2012/2013: Prosperity of Cities.
Figura 2 – A Roda da Prosperidade.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
de atuar como instrumento eficaz em prol da mudança urbana sustentável, contribuindo para
o bem-estar humano e ambiental, tem originado sérios problemas (UN-HABITAT, 2009:3).
Assim, uma vez reconhecida a necessidade premente de converter as cidades em lugares
prósperos, aprazíveis, com elevados níveis de conforto e forte capacidade atrativa, os
problemas urbanos estão a tornar-se nos principais focos de preocupação das entidades
governativas, pelo que urge adaptar o planeamento urbano a uma nova abordagem com
técnicas e métodos eficazes que estejam à altura dos desafios colocados pela expansão e
desenvolvimento urbanos (WHO & UN-HABITAT, 2010:6), cuja adequação passa,
inevitavelmente, por refletir as necessidades das populações que serve (UN-HABITAT,
2016:134), bem como pela leitura das dinâmicas socioculturais e possibilidade de participação
efetivamente ativa por parte das comunidades.
O alojamento constitui um dos principais problemas urbanos, uma vez que a carência
habitacional contribui para a segregação socioespacial de determinados grupos sociais que
habitam os espaços urbanos. A pressão demográfica exponencial que se exerceu sobre as
cidades, despoletada pelo processo de industrialização, impossibilitou que a estrutura física
destas últimas resistisse ao fluxo crescente de indivíduos, oriundos, sobretudo, de territórios
rurais, que nela vinha a manifestar-se. Face à incapacidade do tecido urbano em garantir uma
estrutura residencial que desse resposta à procura da população, e devido à ausência de
planeamento, os espaços urbanos continuaram a expandir-se e a desenvolver-se sob os
desígnios dos novos ocupantes, levando à disseminação de habitações de índole clandestina,
isto é, de residências que não têm em consideração as normas legais de urbanização e cujas
infraestruturas não estão preparadas para suportar as elevadas densidades populacionais aí
existentes. Regra geral, os bairros de génese ilegal apresentam-se idênticos, em termos de
tipologia e qualidade dos materiais, aos de construção lícita (Barata-Salgueiro, 2005:325), não
constituindo, forçosamente, bairros degradados.
Por outro lado, o crescimento horizontal das cidades está relacionado com a expansão
dos bairros de lata, situação que se traduz numa autêntica urbanização da pobreza, ou seja,
numa mudança dos fenómenos de pobreza das áreas rurais para os espaços urbanos (UN-
HABITAT, 2003:26). A construção destes bairros ocorreu, particularmente, em virtude da
falta de habitação social, da procura de alojamentos a preços acessíveis (Barata-Salgueiro,
2005:323), do crescimento e progresso das infraestruturas de transporte e dos transportes
público e privado (Antunes, 2011:4). Quando se deslocam para um novo território, os
migrantes tendem a fixar-se em áreas onde as comunidades partilham de raízes étnicas e
culturais idênticas, de forma a facilitar a sua integração. Contudo, estas aglomerações são
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
constituídas, por norma, por indivíduos com fraca capacidade económica, o que origina a
existência de bairros de lata, também designados por bairros de barracas (Barata-Salgueiro,
2005:325), isto é, formas marginais de implantação urbana, densamente povoadas,
caraterizadas por uma elevada concentração de pobreza, geralmente segregadas,
estigmatizadas e geograficamente isoladas, cuja população residente, na maioria dos casos,
apresenta baixos níveis de escolaridade, formação e qualificação profissional (Barata-
Salgueiro, 2005:326), e se encontra desempregada, circunstâncias que a posiciona numa
reconhecida desvantagem social, ao dificultar-lhe a participação e integração na comunidade
(UN-HABITAT, 2003:32; UN-HABITAT, 2016:51).
A qualidade do edificado, por seu turno, não se afigura alheia a esta realidade, já que
nestes contextos degradados, prevalecem condições de habitabilidade e conforto mínimas, a
reduzida dimensão das habitações, deficiências de construção e precariedade dos materiais
utilizados, questões às quais se junta a ausência de instalações sanitárias, de infraestruturas
básicas de saneamento e de condições de higiene e salubridade mínimas (Cardoso & Perista,
1994:105; Tomé, 2014:72). Estes territórios caraterizam-se, ainda, por englobarem uma
mistura dos usos do solo, pelo que, com frequência, se encontram próximos de fontes
poluentes e de depósitos de lixo (Barata-Salgueiro, 2005:326). Logo, havendo uma relação
entre a insuficiência de condições de habitabilidade dos bairros de lata e os diversos problemas
de saúde dos que neles habitam (UN-HABITAT, 2003:32), parece inútil qualquer tentativa de
solucionar os problemas ambientais sem antes perspetivar a resolução dos desafios subjacentes
à pobreza e à desigualdade social (WCED, 1987:12), sobre as quais radica, fundamentalmente,
a formação e proliferação da habitação precária.
Embora a proporção de população urbana residente, atualmente, em bairros de
barracas seja inferior do que há duas décadas, o número absoluto de habitantes destes bairros
continua a aumentar, sendo que a grande maioria destes se localiza nas cidades dos países em
desenvolvimento (Figura 3), dado que estas são as que apresentam um crescimento mais rápido
e, por isso mesmo, englobam uma maior concentração deste tipo de assentamento informal,
demonstrando, ao mesmo tempo, a incapacidade das cidades em acompanhar o próprio
crescimento.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
população urbana com acesso aos serviços básicos tende a aumentar à medida que os
respetivos países sejam capazes de melhorar os seus níveis económicos (Figura 4).
No entanto, ainda que a gestão pública domine, por excelência, a aposta em termos da
prestação de serviços básicos e do fornecimento das infraestruturas (UN-HABITAT, 2016:15),
tem-se verificado uma privação crónica do ponto de vista dos recursos humanos e respetivas
capacidades técnicas, bem como no que concerne ao capital financeiro, o que revela uma certa
incapacidade governativa. O «Estado é o principal responsável por alargar os serviços sociais
a toda a população, num contrato social básico entre o povo e o seu Estado» (PNUD, 2014:86),
pelo que é de notar que a ausência, rutura ou esgotamento dos serviços tenha uma influência
direta na produtividade dos seus utilizadores. A complexidade subjacente a esta realidade
advém, essencialmente, do avultado investimento de capital, nem sempre suportável por parte
das nações mais desfavorecidas, e da dificuldade de recuperação do capital investido numa
primeira fase (UN-HABITAT, 2013:113), situação que, além de pôr em causa a cobertura
universal dos serviços sociais básicos e o respetivo acesso aos mesmos, conduz ao
aprovisionamento direcionado, fortemente segmentado e estigmatizado para todos aqueles que
recorrem a estes serviços (PNUD, 2014:85).
Outra tendência preocupante respeitante à oferta de serviços urbanos remete para o
facto de os serviços públicos coletivos serem, também, bastante deficitários e insuficientes.
Desde a inexistência de recolha de resíduos, falta de mobiliário urbano, ausência de instalações
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
com rede de distribuição de água, passando pela arduidade de acesso à educação pública
financiada ou aos serviços de saúde básicos, referindo as dificuldades de acesso ou mobilidade
referentes aos transportes, e mencionando, ainda, a carência de espaços públicos de recreação,
a população urbana dos países em desenvolvimento é quem, maioritariamente, se depara com
estes entraves (UN-HABITAT, 2016:15), o que enfatiza a diferença existente entre o nível de
provisão de serviços, claramente mais elevada nas nações desenvolvidas que têm, em média,
trinta e duas vezes mais capital por pessoa para investir em infraestruturas e serviços urbanos
(UN-HABITAT, 2003:61).
A exclusão social pode ser interpretada à luz de uma rutura com a sociedade instigada
pela carência de recursos básicos que afeta, especialmente, populações fragilizadas, e como
consequência de mecanismos de estigmatização que afetam sobretudo as minorias étnicas
(Rodrigues, 2000, citado por Martins, 2014:40). Face à sua natureza multidimensional, o
conceito «ultrapassa a dimensão material da pobreza» (Ribeiro, 2014:19), tendo subjacente
outras dimensões, além da social. A exclusão surge sempre que há uma desarticulação ao nível
das relações sociais que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade, agravando-se com a
agudização das desigualdades «entre aqueles que efetivamente mobilizam os seus recursos no
sentido de uma participação social plena e aqueles que, por falta desses mesmos recursos, se
encontram incapacitados para o fazer» (Rodrigues, Samagaio, Ferreira, Mendes & Januário,
1999:64). Assim, todos aqueles que não adotam ou participam do conjunto de valores ou
universo simbólico de representações sociais dominantes, não integram a sociedade ou vêem-
se afastados e privados do pleno envolvimento nesta (Fernandes, 1995, citado por Rodrigues
et al., 1999:65). Por conseguinte, a exclusão social implica, forçosamente, exclusão do sistema
social e, naturalmente, negação da participação na vida comunitária.
A par da exclusão social, intensifica-se o fenómeno de pobreza, tido como a dimensão
mais visível da exclusão social, que remete para uma situação de privação provocada pela
carência de recursos fundamentais para satisfazer as necessidades mínimas de um sujeito
(Bruto da Costa, 2007, citado por Simões, 2010:10). Assim, a pobreza é uma forma de
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
exclusão social, mas esta última não inclui obrigatoriamente formas de pobreza, dado que a
pobreza enfatiza o aspeto distributivo do fenómeno e o conceito de exclusão social frisa as
questões relacionais (Pereirinha, 1992, citado por Rodrigues et al., 1999:66). À semelhança
do que acontece com a exclusão social, que conserva uma natureza cumulativa, também a
pobreza se afigura persistentemente cíclica e duradoura, evoluindo e reproduzindo-se por via
de transmissão geracional (Rodrigues et al., 1999:65; Simões, 2010:13). De resto, a pobreza
é, ela própria, um exemplo de desigualdade, na medida em que permite a distinção entre «quem
tenha mais do que precisa, e quem não tenha o mínimo necessário» (Sabença, 2012:11).
A análise em torno dos conceitos de pobreza urbana e pobreza suburbana adquire, neste
contexto, maior ênfase, já que, enquanto dimensões do fenómeno em causa, traduzem formas
de pobreza espacial que prejudicam, especificamente, a população residente nos espaços
urbanos. Quando considerados os quatro domínios de ação da pobreza, como sejam as
condições de habitação, de saúde, educação e emprego (Almeida et al., 1992, citado por
Simões, 2010:10), e no que alude, especificamente às áreas urbanas, verifica-se uma evidente
ameaça aos direitos e à própria condição de cidadania devido à impossibilidade de satisfação
de determinadas necessidades e inacessibilidade a bens, serviços ou recursos, situações que,
no limite, conduzem à diferenciação social.
A progressiva desigualdade social integra, também, a esfera das ameaças ao progresso
humano, já que nela radicam as principais causas dos desequilíbrios de poder, riqueza, acesso
a serviços e equipamentos básicos, condições ambientais e, ainda, rendimento (PNUD,
2011:6). A desigualdade surge quando um determinado grupo se depara, de forma recorrente,
com situações de desfavorecimento, havendo, uma oposição entre este, que não consegue
alcançar uma total participação societal devido à falta de recursos, e todos os que não estão
impedidos de o fazer (Rodrigues, 1999, citado por Martins, 2014:40). Num evidente contraste,
os países mais desiguais são também aqueles que evidenciam maiores níveis de pobreza
(Figura 5), situação que reflete uma profunda diferença de oportunidades e «prejudica o
crescimento, a redução da pobreza e a qualidade da participação social e política» (PNUD,
2014:21). Esta realidade faz emergir sentimentos de injustiça e desagrado generalizados que,
quando ultrapassado o ponto de rutura além do qual a deterioração societal é fatal, pode
conduzir à alienação, agitação e vulnerabilidade social (idem, p.27).
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Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Fonte: Rodrigues et al., 2016. Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal: as consequências sociais do
programa de ajustamento.
Figura 5 – Desigualdade versus Taxa de Pobreza, 2013.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
da verdade, não existe quem seja refugiado por gosto ou opção, e sê-lo «significa mais do que
ser estrangeiro. Significa viver no exílio e depender de outros para satisfazer necessidades
básicas como sejam a alimentação, o vestuário e a habitação» (ACNUDH, 2002:3). Os
refugiados acabam, assim, alojados em campos com a mesma designação, em situações
precárias e de insegurança, ou em periferias urbanas paupérrimas e destituídas de condições
sanitárias e higiene adequadas. No presente momento, estima-se que do cômputo dos 14,4
milhões de refugiados e dos 38 milhões de deslocados, 60% e 80% respetivamente residam
em áreas urbanas (UN-HABITAT, 2015:2), facto que coloca sérios entraves a estes espaços
que não têm conseguido garantir e proporcionar condições de vida adequadas e sustentáveis
concordantes com as dimensões da prosperidade urbana.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
mortalidade (idem, p.5). Ainda neste contexto, quando se discute a violência urbana, a sua
definição engloba três dimensões que importa referir, e que ajudam a compreender o conceito,
sendo estas a violência económica, a violência social e a violência política. A violência
económica refere-se aos crimes que têm lugar no espaço urbano quando se aliam a pobreza e
o acesso desigual às oportunidades económicas, como sejam os assaltos, o uso de
estupefacientes ou o sequestro, isto é, constitui um tipo de violência que resulta de uma
economia informal onde os mais necessitados encontram formas de sustento ao prestarem
serviços informais (IFRC, 2010:72). Em contrapartida, a violência social manifesta-se através
da vontade de exercício do poder e conservação do controlo social sobre os outros indivíduos
ou ao nível da comunidade, de que é exemplo a segregação espacial dos espaços urbanos
(idem, ibidem). A violência política, no que lhe concerne, é estimulada pela vontade que certas
elites manifestam em ganhar ou deter o poder político, como é o caso do abandono de
determinadas áreas urbanas controladas por grupos criminosos associados aos cartéis de droga
(idem, ibidem).
A insegurança urbana assume perímetros bastante diluídos que englobam
toxicodependência, exclusão, pobreza, marginalidade, delinquência, furtos e mesmo
incivilidades (Fernandes & Carvalho, 2000, citados por Augusto, 2014:20), no âmago dos
quais se geram cisões sociais profundas que revolvem e reformam as cidades (Barata-
Salgueiro, 2005:277). Ademais, os testemunhos associados à perturbação da ordem pública, a
delinquência juvenil, bem como o confronto do poder estatal compõem, indubitavelmente,
feitos urbanos que se associam ao agravamento do sentimento de insegurança (Lourenço,
2010:3). Os gangs – «grupos de jovens de origem social baixa, oriundos de bairros degradados
e/ou periféricos e cuja identidade pode ser fundada na pertença étnica, ou racial ou religiosa e
no sentimento de discriminação» (idem, p.6) – são, na verdade, os principais responsáveis pela
insegurança urbana, devido à associação entre estes e a prática de ações delinquentes e ilegais.
Nos dias que correm, existe um tipo de riscos urbanos que se designam por
omnipresentes visto que estão associados ao terrorismo, à urbanização dos conflitos e à
propagação de doenças e vagas epidemiológicas (UN-HABITAT, 2016:22). Com efeito, a
centralidade política, social e económica dos espaços urbanos coloca-os na esfera da
visibilidade mundial, pelo que, cada vez mais, são alvos preferenciais de ataques terroristas.
A forte concentração populacional e de infraestruturas permite que as cidades estejam
desprotegidas face a ataques devastadores e a interrupções de serviços vitais (idem, p.23).
Ainda no contexto urbano, é muito difícil e dispendioso garantir a vigilância e a fiscalização
da população dadas as instalações públicas de grande dimensão, como sejam centros
comerciais, escolas, instituições financeiras, hospitais, entre outros, que nele se encontram
(idem, ibidem). Por outro lado, as cidades são locais de eleição no que concerne à germinação
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
de conflitos políticos e ideológicos, pelo que se tem assistido ao aumento do número de mortes
resultantes de guerras civis (idem, ibidem).
Por último, mas não menos relevante, cabe afirmar que o advento da era tecnológica
facilitou o surgimento de um, igualmente novo, risco urbano que é o da insegurança
cibernética, que supera os limites das fronteiras físicas e se estabelece ao nível do universo
digital, logo, muito difícil de combater (idem, p.24).
Fonte: PNUD, 2007. Combater as alterações climáticas: Solidariedade humana num mundo dividido.
Figura 6 – Registo da variação global de emissões de CO2.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
ambientais estão cada vez menos resilientes (PNUD, 2007:2; PNUD, 2014:22) e a sua
disseminação não se circunscreve às fronteiras geopolíticas (Ferreira, Aguiar, Cortese, Kniess,
Quaresma & Filho, 2015:5).
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
CAPÍTULO II
ENQUADRAMENTO PEDAGÓGICO
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
último parecer. É precisamente nesta corrente vidaliana que o geógrafo português Orlando
Ribeiro se inseriu, pelo que facilmente se compreende que «a diversidade de textos produzidos
bem como a multiplicidade de temáticas abordadas [pelo autor] tenham quase todos eles uma
forte componente regionalista, especificamente integrada no campo da Geografia Rural, da
Geografia Física, mas também da História da Geografia (portuguesas), da Geografia
Histórica» (Cabral, 2012:198). Após a conclusão da sua licenciatura, no ano letivo de 1932-
1933, em Ciências Histórico-Geográficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
rapidamente deu continuidade aos seus estudos com a dissertação de doutoramento que viria,
anos mais tarde, a ser publicada como obra Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico (1945). A
ele se deve, igualmente, a existência do Centro de Estudos Geográficos (1943) e a criação da
revista Finisterra, dois dos veículos mais importantes de disseminação do conhecimento
geográfico português.
No que concerne às principais escolas e correntes do pensamento geográfico, surgem
os nomes de Alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859), como duas das
figuras centrais da Geografia do século XIX, principais responsáveis pela difusão do
conhecimento geográfico, especialmente na Alemanha. Ao contrário da Escola Francófona, a
Escola Anglo-Saxónica defende o predomínio das escalas mundial/global e local. Logo,
Humboldt, geógrafo e naturalista alemão, dedicou-se ao estudo da Geografia Física,
nomeadamente ao estudo da geologia, da climatologia, da botânica, entre outros. Assumiu-se
sempre como um naturalista descendente da Geografia do século XVIII, ou seja, de uma
Geografia Geral, a herança iluminista do século XVIII vai ser a linha da Geografia Geral do
século XIX, preocupada com o mundo e com a exploração, observação e conhecimento de
outros continentes e territórios, fortemente associada, por isso, a uma preocupação de índole
colonial. Ritter, por seu turno, preocupava-se, essencialmente, em explorar as relações de
causalidade entre os grupos humanos e a natureza e a influência desta última sobre o ser-
humano, tendo sido, por isso, um percursor da Geografia Regional ao lançar a pedra-toque da
Corrente Determinista, formulada no século XIX, desenvolvida depois por Friedrich Ratzel,
de acordo com a qual a natureza e as respetivas características naturais determinavam a ação
e o comportamento humano, não obstante, o Homem seria, ele próprio, produto da natureza.
O debate em torno da Geografia Escolar tem sido cada vez mais constante e intenso,
ocupando uma posição de destaque no que respeita à respetiva discussão científica e
pedagógica. A oposição entre o reconhecimento efetivo do valor formativo da Geografia e a
incapacidade da sua afirmação radica na «dificuldade em definir um projeto educativo»
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
(Claudino, 2011:13). Diante dos desafios dos sistemas de ensino-aprendizagem do século XXI,
a Geografia, mais do que informar sobre o espaço e apresentar as sociedades humanas à luz
desta variável, carece de um corpo docente que reflita, de forma significativa, sobre os
procedimentos didáticos, por forma a fazer face às recentes instâncias. Não obstante, até à
data, esta reorientação não se tem articulado de forma sustentável (Cachinho, 2000:75),
subsistindo um número notável de docentes que, além de não refletirem sobre a respetiva
prática educativa, não ponderam, tão pouco, uma possível reformulação da mesma, deixando
transparecer a evidente desarticulação entre os conteúdos e os métodos de ensino-
aprendizagem.
Mas, neste contexto, é como se só metade da tarefa estivesse cumprida, falta a outra,
a mais difícil e, certamente, a mais desafiante: guiar os alunos e levá-los a refletir sobre as
questões, a problematizá-las e aplicá-las a situações concretas da vida que passa todos os dias,
e à qual uns dão, somente, um sentido pouco prático. É cada vez mais urgente deixar o ensino
«da geografia universitária, enciclopédica e com os conhecimentos organizados por gavetas»
(Cachinho, 2000:74), para que se adotem novas estratégias e formas de atuar. Dever-se-á,
então, ter em consideração uma geografia recentrada, isto é, uma geografia que trate o
essencial e deixe o acessório, que parta do geral para o particular e que proporcione «a
competência de saber pensar o espaço» (idem, p.75) para que os alunos sejam capazes de atuar
no mesmo. Deve-se, também, «privilegiar o desenvolvimento de problemáticas reais, sociais,
espaciais, dinâmicas e suscetíveis de aplicação» (idem, p.76), uma vez que qualquer indivíduo
conseguirá tanto melhor aplicar os conhecimentos teóricos quanto melhor conhecer a realidade
que o rodeia e na qual se insere. Este indivíduo é, simultaneamente, produtor e resultado do
meio social, logo, atuando neste tenderá a obter resultados na mesma proporção. A realidade
próxima é, em quase todos os aspetos, uma vantagem de que a Geografia, enquanto ciência,
pode beneficiar, tendo a possibilidade de confrontar o aluno com o contexto sobre o qual este
interage, conhece, reflete e atua. A par desta ideia, merece atenção também o cuidado que se
deve inculcar nos alunos no que concerne à decomposição dos sistemas/problemas de forma a
torná-los percetíveis, atendendo, portanto, às «estruturas e atores que intervêm na sua
configuração» (idem, p.77), já que no «confronto dos problemas a várias escalas, reside a
originalidade do raciocínio geográfico» (idem, p.78). Importa, claro está, que os alunos sejam
os principais interessados, uma vez que a motivação constitui uma das condições fundamentais
à aprendizagem, levando-a a um tremendo fracasso ou a um admirável sucesso. Cabe ainda
lugar uma referência ao triângulo da aprendizagem que compreende três elementos: os alunos,
o saber e os professores (Mérenne-Schoumaker,1999:99), o que equivale a dizer que a
ausência plena de um destes compromete, de forma decisiva, todo o processo. Cada professor
deverá atender ao seu próprio percurso e formação para que, fazendo uso destes e aliando-os
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
Problemas urbanos
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
Desde o século XIX que o manual, ou compêndio, era tido como o guia prático que
recolhia conselhos ou regras, designava obras de autores e o ensino tradicional. Mas, no século
passado, há uma reinterpretação do manual, passando a ser definido como «obra didática que
apresenta, sob uma forma manejável, as noções essenciais de uma ciência e os conhecimentos
exigidos pelos programas», (Serrano, 2008:250). A este respeito, o Decreto-Lei n.º 369/90,
ainda em vigor, defende o manual escolar como «o instrumento de trabalho impresso,
estruturado e dirigido ao aluno, que visa contribuir para o desenvolvimento de capacidades,
mudança de atitudes e aquisição dos conhecimentos propostos nos programas em vigor,
apresentando a informação básica correspondente às rubricas programáticas, podendo ainda
conter elementos para o desenvolvimento de atividades de aplicação e avaliação da
aprendizagem efetuada» (Moreira, Ponte, Pires & Teixeira, 2006:2). Na atualidade, é prática
corrente o uso do livro escolar enquanto «dispositivo pedagógico central do processo
tradicional de escolarização» (Magalhães, 1999, citado por Pinto, 2003:1), uma vez que
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
suporta as práticas letivas, os conteúdos a adquirir e a forma como os mesmos podem ser
transmitidos. De resto, é ainda um veículo de disseminação dos valores, princípios e
comportamentos que se pretendem criar, colaborando nos processos de socialização e
aculturação do público a quem se dirige (idem, ibidem). Em alternativa, o manual escolar
também facilita a comunicação e o trabalho do docente e do aluno. Para o primeiro, o manual
possibilita o desenvolvimento eficaz das respetivas funções no processo de ensino-
aprendizagem e na renovação pedagógica dos seus métodos de ensino, difunde o
conhecimento científico, contribui para a sua formação contínua, e, finalmente, é o
instrumento auxiliador na consecução de tarefas e preparação de aulas (Pereira, 2010:191).
Por sua vez, para os discentes, os manuais devem tratar questões como a aprendizagem e o
progresso das suas competências, a utilização, a apresentação e a educação social e cultural
(idem, ibidem).
Apesar da emergência de outros inúmeros recursos, que surgem no âmago das novas
tecnologias de informação e comunicação (TIC), o manual continua a ser considerado como
um dos primeiros suportes e recursos de trabalho ao possibilitar, entre outras funções, a
transmissão de saberes, o desenvolvimento de capacidades e competências, a consolidação de
aquisições e respetiva avaliação (Barbosa, 2004, citado por Gonçalves, 2011:32). Aliás,
«desde há muito tempo que o manual escolar, suporte tradicional de conteúdos educativos,
assim como de um conjunto de saberes considerado útil por parte da sociedade e de necessária
assimilação» (Serrano, 2008:249), integra o percurso escolar do aluno. Todavia, ainda que,
com frequência, seja o manual escolar a nortear a prática docente, dado que os professores
trabalham mais diretamente com este do que com os programas, este instrumento não pode
sobrepor-se os programas em vigor, e os docentes, por seu turno, devem reparar se as
reinterpretações que o manual faz do currículo efetivam, ou não, as orientações curriculares
centrais (Leite, 2008, citado por Gonçalves, 2011:34).
Enquanto componente do Programa Nacional de Geografia A, o tema dos problemas
urbanos surge, naturalmente, nos manuais escolares selecionados pelos estabelecimentos de
ensino público, o que permite uma análise deste no que respeita à forma como a subunidade
didática é apresentada e desenvolvida. Neste contexto, o manual intitulado Geografia A, da
autoria de Manuel Gonçalves Além e Pedro Tildes Gomes, adotado na ESMAVC durante o
ano letivo 2014/2015, começa por introduzir a subunidade didática dos Problemas Urbanos
recorrendo a uma página dupla onde consta uma imagem referente à cidade de Lisboa, que faz
alusão à concentração de população e construções, e um texto que incide sobre o processo de
crescimento urbano em Portugal, o fenómeno da urbanização e o papel das cidades na
organização do território. Ademais, é ainda apresentado um núcleo conceptual, que auxilia na
sintetização das ideias principais da subunidade, e questões orientadoras – O que são áreas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
urbanas? Como se organizam? Como têm evoluído em Portugal? Que problemas as afetam?
Como intervir na sua (re)organização – que servem, simultaneamente, de apoio à
aprendizagem do aluno e à planificação do professor.
Verifica-se, ainda, no que respeita à apresentação geral do manual, a existência de um
conjunto de conceitos e noções básicas, cuja definição surge para consulta no glossário, bem
como esquemas organizadores de conteúdos, que possibilitam uma visão global e integrada
dos conteúdos. Outro aspeto de relevo está relacionado com a existência de atividades que o
aluno deve realizar, para verificar o que aprendeu, que são apresentadas após a exposição dos
conteúdos. O manual apresenta, ainda, páginas com sínteses esquemáticas que põem em
evidência os aspetos essenciais da unidade e as suas inter-relações e, ainda, propostas de
atividades que estão em concordância com o estímulo ao trabalho autónomo por parte dos
discentes. Depois, o cuidado em articular a informação textual sobre os conteúdos com
imagens ilustrativas sobre estes é incessante, aspeto evidenciado pelas múltiplas e apelativas
figuras utilizadas para exemplificar, essencialmente, a saturação das infraestruturas, o impacto
ambiental, o aumento da pobreza e da exclusão social, a degradação das habitações e da
paisagem urbana. Assim, cabe ressaltar, ainda, os mapas utilizados para compreensão dos
fenómenos, em relação aos quais se destaca a presença de elementos básicos, nomeadamente,
título, escala, orientação, legenda e fonte. No que respeita aos gráficos, por seu turno, estes
apresentam título, identificação de variáveis representadas e unidade das mesmas, ano a que
se reportam os dados utilizados e a fonte da informação. Relativamente à abordagem da
subunidade didática, importa referir que a informação textual citada parece, ocasionalmente,
demasiado extensa, sem que, no entanto, lhe falte imagens, esquemas e documentos que a
complementem.
Tendo como pano de fundo a noção de que é cada vez mais exigida a adoção de
práticas pedagógicas aptas a beneficiar a ação do aluno durante a construção do processo de
ensino-aprendizagem, o Estudo de Caso é um dos métodos através do qual se celebra uma
«oportunidade efetiva de introduzir o conhecimento da realidade no trabalho em Geografia»
(ME-DES, 2001:57), dado que a metodologia de Estudo de Caso se apresenta como uma
variante da Aprendizagem Baseada em Problemas (Sá, Francisco & Queiroz, 2007:731). Neste
sentido, as abstrações e generalizações relativas ao estudo geográfico, tão habituais devido à
dimensão temporal e espacial dos fenómenos estudados, cedem lugar à exploração e
investigação de determinado episódio, contexto da vida real ou circunstância humana nos seus
ambientes naturais (Dooley, 2002, citada por Meirinhos & Osório, 2010:52), razão pela qual
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
a sua aplicação num «estudo detalhado de um assunto relacionado com qualquer dos temas do
programa» (ME-DES, 2001:57). Por conseguinte, dado o reconhecimento desta metodologia
como uma oportunidade efetiva de autonomizar o aluno na estruturação da própria
aprendizagem, proporcionando-lhe, por via deste método, «um espaço de liberdade» (Ferreira
& Naves, 2013:1), pretende-se que os discentes adquiram, e sobretudo desenvolvam, um
conjunto de competências que têm como objetivo (i) interpretar, analisar e problematizar casos
concretos que evidenciem as inter-relações entre fenómenos naturais e humanos; (ii) analisar
casos concretos de gestão do território que mostrem a importância da preservação e
conservação do património natural e cultural; (iii) analisar criticamente problemas que afetam
a região onde vive, refletindo sobre soluções possíveis para os problemas detetados; (iv)
utilizar técnicas e instrumentos adequados de pesquisa em trabalho de campo; (v) selecionar,
sistematizar e interpretar dados estatísticos, rentabilizando o uso de técnicas de expressão
gráfica e cartográfica (ME-DES, 2001:57).
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografia escolar para o d esenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
CAPÍTULO III
CONTEXTO ESCOLAR E REALIDADE EDUCATIVA
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justificada a sua premente necessidade de reparação, ainda que muitas sejam as obras de
modernização e remodelação levadas a cabo, sobretudo, por parte das atividades do sector
terciário.
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A Escola D. Maria Pia, como inicialmente se intitulava o Liceu Maria Amália Vaz de
Carvalho em homenagem à rainha D. Maria Pia de Sabóia, foi fundada no século XIX, por
iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, tendo fixado primeira moradia em Alfama. À sua
construção presidiu uma função eminentemente social relacionada com a autonomização
feminina, por meio da alfabetização, capacitando-a para auferir os respetivos meios de
subsistência, pelo que, durante os primeiros anos de existência enquanto primeiro liceu
feminino a nível nacional (1906), os cursos ministrados eram Telegrafia, Tipografia, Lavores
e Escrituração Comercial. Mais tarde, o aumento da sua frequência obrigá-lo-ia a fixar nova
morada no Palácio de Valadares (1911). Contudo, devido à necessidade de melhores condições
e de um espaço mais amplo, o Liceu vê-se obrigado, em 1933-1934, a mudar-se para as novas
instalações na rua Rodrigo da Fonseca. Perante as alterações decorrentes do próprio processo
evolutivo do país, com especial destaque para o movimento do 25 de Abril de 1974, o Liceu
passou a integrar turmas mistas, deixando de ser exclusivamente feminino, alteração que se
estendeu ao nível dos quadros do pessoal docente, administrativo e auxiliar. Passou, à
semelhança do que acontecia com outros liceus do país, a incluir o Ensino Secundário.
Presentemente, a ESMAVC tem o nome da figura adotada como patrona – a escritora e poetisa
portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho. Nascida em 1847, num contexto de profundas
alterações políticas e sociais, o papel que desempenhou no seio da sociedade portuguesa do
seu tempo, sobretudo no que respeita à condição da mulher, foi, em muitos aspetos, inovador.
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Quadro 3 – Número de docentes por categoria e evolução do número destes por idade (2007-2011)
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A sala de aula é, por excelência, o espaço pedagógico privilegiado pela maioria dos
professores. É dentro deste espaço físico delimitado que decorre a troca de experiências e se
estabelece a relação professor-aluno, daí seja tão importante a dinâmica que se gera dentro
deste espaço. Contudo, não é só por se constituir como o principal espaço pedagógico que a
sala de aula adquire uma especial relevância no cerne dos processos de ensino-aprendizagem,
mas, também, porque se apresenta como o local onde os alunos estabelecem interações uns
com os outros, através daquilo que escutam, observam e refletem (Teixeira & Reis, 2012:162).
Para se refletir sobre as práticas pedagógicas que se querem implementar é necessário, de igual
forma, refletir sobre o espaço e o contexto em que estas têm lugar, já que a organização do
espaço tem uma influência direta na predisposição dos discentes para aprender. Ademais, «o
espaço poderá favorecer ou dificultar a aquisição de aprendizagens, revelando-se estimulante
ou limitador em função do nível de coerência entre os objetivos e a dinâmica proposta para as
atividades a realizar, ou em relação aos métodos de ensino e de aprendizagem caracterizadores
do nosso modo de trabalhar» (Zabalza, 2001, citado por Teixeira & Reis, 2012:168).
Naturalmente, considerou-se esta breve abordagem em relação ao espaço de sala de
aula uma vez que, no decorrer da prática pedagógica, ao aplicar-se uma metodologia ativa de
ensino-aprendizagem teve que se ter em atenção os espaços que a escola tinha à disposição
para trabalhar. Neste sentido, de uma forma bastante assídua, os alunos trabalharam reunidos
em grupo e recorreram à utilização dos computadores para realizarem as tarefas propostas, o
que permite concluir que as salas de aula reuniam as condições necessárias à implementação
da metodologia selecionada e permitiam uma dinâmica de trabalho em grupo. A este propósito,
recorde-se, pois, que as «tarefas e atividades inovadoras exigem contextos físicos adequados
que não costumam ser herdados, pois no meio físico de que se dispõe só cabem determinadas
metodologias» (Sacristán & Pérez-Gómez, 1998, citados por Teixeira & Reis, 2012:169). Face
ao que foi exposto, utilizou-se a sala de aula habitual, também designada Sala de Geografia.
Esta sala está localizada junto do Gabinete de Geografia, podendo definir-se, em termos de
organização do espaço, como uma sala de aula tradicional, uma vez que existe uma disposição
das mesas e das cadeiras em filas e estas encontram-se voltadas para o quadro e para a mesa
do professor, o que pressupõe estar em concordância com um ensino em que a atenção está
centrada neste último. Não obstante, esta sala encontra-se igualmente equipada com material
diverso que possibilita e auxilia o estudo da disciplina, como sejam os mapas, globos terrestres,
computadores com ligação à internet, quadro interativo e, também, quadro de giz tradicional.
Cabe ainda referir que se teve a oportunidade de ocupar as salas de aula de informática
sempre que a sala de Geografia estava ocupada ou requisitada por outros docentes, sendo que
aquelas dispõem do material que permite desenvolver estratégias de ensino que envolvam as
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TIC. Considera-se pertinente salientar, por último, que todo o mobiliário se encontra em bom
estado de conservação, existe em número suficiente para todos os alunos, e que a sala se
encontra sempre limpa e arrumada, pois em todos os intervalos as auxiliares despejam os
caixotes do lixo, limpam os quadros de giz e organizam mesas e cadeiras.
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CAPÍTULO IV
A APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS
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à data, uma terminologia apropriada disponível, o referido currículo teria sido caraterizado
como construtivista, impulsionador de aprendizagens contextuais e colaborativas e promotor
da autorregulação (Schmidt, 2012:22). Todavia, a aplicação de problemas reais e de discussões
em grupo não constituíram verdadeiras inovações no domínio da educação, considerando que
a Universidade de Harvard adotara estes métodos décadas antes. A par desta instituição como
fonte precursora da ABP, também a Universidade de Chicago foi pioneira na defesa de que a
aprendizagem dos alunos seria tanto mais aliciante, quanto mais ativamente estes se
encontrassem envolvidos nesse processo. Menos comum, no entanto, era a defesa de que o
aluno adquiria os conhecimentos necessários para resolver o problema somente após ter dado
início à sua resolução (Spaulding, 1991:39, citado por Schmidt, 2012:22), acreditando-se,
desta forma, que era necessariamente mais importante «to acquire skills on how to learn than
to learn subject matter» (Schmidt, 2012:32).
Hoje em dia, por se considerar, cada vez mais, a existência de alternativas educativas
capazes de envolver os alunos na construção do próprio conhecimento, que ficam, desta forma,
preparados e melhor adaptados às necessidades da atual sociedade de informação (Costa,
2014:15), tem-se presenciado um entusiasmo notável no que concerne à adoção da ABP em
contexto escolar, considerada um exemplo pioneiro no que respeita a ambientes de
aprendizagem construtivistas (Savery & Duffy, 1995:1). Na verdade, o suporte teórico desta
metodologia apoia-se tanto nos pressupostos dos paradigmas construtivistas (Savery & Duffy,
1995:1; Pederson & Liu, 2003:59; Arends, 2008:385, Davies, Graaff & Kolmos, 2012:18), os
quais destacam a interação com o contexto envolvente, o conflito cognitivo como estímulo
para a aprendizagem e a evolução do conhecimento por intermédio de forças sociais (Savery
& Duffy, 1995:1), como, também, nas questões decorrentes da psicologia cognitiva, a qual
coloca a ênfase na forma como os alunos pensam, e não tanto nos seus aspetos
comportamentais (Arends, 2008:384).
O construtivismo tem como grande linha de orientação a defesa da construção
interpretativa dos saberes pelos alunos, não sendo a transmissão o processo mais adequado
para a aprendizagem, já que o processo de ensino-aprendizagem, no seu cômputo geral, vai
além da simples aquisição de conhecimentos (Costa, 2014:15). As teorias construtivistas
postulam que o conhecimento não é passivamente aceite, mas sim, reconstruído pelos
indivíduos em função dos seus contextos experienciais e mediado social e culturalmente
(Yilmaz, 2008:162). Assume-se, então, que cada sujeito produz o seu próprio conhecimento
com base na interação entre as ideias existentes e as novas experiências, dotando de sentido o
conhecimento previamente construído. Em traços gerais, os métodos de ensino que têm por
base a conceção construtivista preconizam uma incrementação do papel do aluno como agente
ativo no processo de ensino-aprendizagem (Costa, 2014:15), encarando-o como sujeito
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intelectual-mente capaz, apto a colocar questões e resolver problemas. Neste sentido, a ABP,
enquanto metodologia centrada no aluno, fundamentou-se nos trabalhos desenvolvidos por
John Dewey (1916, 1918), Jean Piaget (1954,1963), Jerome Bruner (1960), David Ausubel
(1963, 1968) e Lev Vygotsky (1978, 1994), cujos contributos foram verdadeiramente
profícuos na construção da sua base teórica.
A ABP tem origem na filosofia educativa de Dewey, cuja obra Democracy and
Education (1916) é tida como a base intelectual que permitiu o desenvolvimento da referida
metodologia (Schmidt, 2012:25). Com base na convicção de que as salas de aula deveriam
constituir autênticos laboratórios, orientados para a resolução de problemas reais, onde os
alunos desenvolvessem uma aprendizagem intencional, sustentada pela vontade inata de
procurarem situações do seu interesse (Arends, 2008:385), Dewey propôs uma abordagem
pedagógica que conferia importância a uma educação focalizada na experiência e no processo
de indagação. Enquanto processo eminentemente social, a educação deveria confrontar o
estudante com situações problemáticas que fossem importantes para a participação na vida em
comunidade (Sousa, 2010:242). Já que as abordagens não escolares são as que mais estimulam
o pensamento, o professor deveria partir de um assunto de natureza não formal, concebendo,
desta forma, a educação como uma preparação para a vida futura. Para Dewey, o interesse e a
vontade intrínsecos são condições obrigatórias sem as quais nenhuma aprendizagem
significativa pode ter lugar na vida do sujeito (Schmidt, 2012:25), logo, os alunos aprenderiam
mais eficazmente se realizassem tarefas associadas aos conteúdos. A defesa do aluno como
construtor do próprio conhecimento, caraterística das teorias cognitivo-construtivistas da
aprendizagem, foi uma visão igualmente partilhada por Piaget, ao confirmar que as crianças
têm uma curiosidade inata para entenderem o ambiente que as rodeia, o que, naturalmente, as
estimula a construírem representações mentais que as ajudam a interpretar e explicar esse
mesmo meio (Arends, 2008:385). Consequentemente, os novos conhecimentos alicerçam-se
nas suas ideias prévias, bem como nas operações que conseguem realizar em função do estádio
de desenvolvimento onde se encontram.
Para David Ausubel, o fator mais importante que influencia a aprendizagem é a sua
estrutura cognitiva (Ausubel, 1968:78). Proveniente da psicologia cognitiva e da
epistemologia construtivista, a Teoria da Aprendizagem Significativa explica a organização
do conhecimento e a estruturação dos processos mentais relativos à aprendizagem (Arends,
2008:258). Ao desenvolver a respetiva teoria, que radica na obtenção do conhecimento de uma
forma lógica, não arbitrária ou aleatória (Ausubel, 2003:1), o psicólogo educacional pressupõe
que todos os sujeitos são detentores, à partida, de um conhecimento sobre determinada
temática, uma vez que as suas mentes não constituem recetáculos inteiramente vazios. Pelo
contrário, por intermédio das interações que criam com a realidade circundante, têm já
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decisão, devido à necessidade de se delinear uma estratégia para encontrar uma solução,
desenvolvendo, de forma natural, competências de ordem cognitiva superior (Watts, 1991;
Neto, 1998; Martínez et al., 1999, citados por Leite & Esteves, 2005:1753).
Na ABP, a aprendizagem realizada pelo discente é proporcional à qualidade do cenário
problemático apresentado, por isso, o cuidado requerido na elaboração e seleção do mesmo
tem sido enfatizado por diversos autores (Boud & Feletti, 1997, Lambros, 2004, Savin-Baden
& Major, 2004, citados por Palma & Leite, 2006:2). Uma vez que «os cenários e os triggers
estão para a ABP como os conteúdos para a lição clássica» (Cachinho, 2011:247), o problema
determina o que é aprendido pelo aluno, sendo um dos motivos de sucesso dessa mesma
aprendizagem (Dahlgren, 1998; Lambros, 2002; Hmelo-Silver, 2004; Pepper, 2008, citados
por Morgado, Leite, Dourado, Fernandes & Silva, 2016:4). Neste sentido, a formulação do
problema deve ter na sua génese um atributo de liminaridade, ou, por outras palavras, deve
permitir que o aluno estabeleça a ligação entre as formas de pensamento já instituídas e as
novas formas de pensar (Cachinho, 2011:248). Assim, é de extrema importância que o cenário
seja atrativo e a sua resolução se revele pertinente, em termos pessoais e sociais (Vasconcelos,
Amador & Pinto, 2012:710), pois perante problemas aliciantes, os alunos ampliam a sua
aptidão para investigar e desenvolvem «um vasto conjunto de competências instrumentais,
interpessoais e sistémicas» (Cachinho, 2010:4).
Apresentando numerosas particularidades, os problemas podem manifestar-se sob a
forma de um desafio estimulante, um incidente que requeira uma solução, um acontecimento
inesperado ou um resultado intrigante (Yew & O’Grady, 2012:4). Ainda neste sentido, a noção
de problema pode remeter também para um cenário, uma história, um dilema ou um trigger,
isto é, algo que serve como estímulo ou incita uma reação ou aprendizagem (Barrett et al.,
2011:19), e adotar diversos formatos, como, por exemplo, o de texto impresso, vídeo,
fotografia, diálogo, banda desenhada ou reportagem jornalística (Davis & Harden, 1998:11).
A sua formulação pode partir do professor, ou, menos comummente, dos alunos, todavia,
deverá ter em conta os objetivos programáticos da unidade curricular, já que a relação entre o
cenário e o programa da disciplina possibilita consistência entre os objetivos de aprendizagem
e a aprendizagem efetivamente realizada pelos discentes (Davis & Harden, 1998:6; Barell,
2007:185), tornando, assim, o cenário apropriado. A presença, por sua vez, de um título
interessante, capaz de captar a atenção do aluno e de identificar o tema em estudo, é,
similarmente, motivo de valorização na composição do cenário. Outras condições de caráter
formal remetem para uma redação clara, pouco extensa, com vocabulário acessível e
adequado, recorrendo ao uso de frases simples e curtas, sintetizada ao tema principal da
investigação (Barell, 2007:183; Carvalho, 2009:45; Souza & Dourado, 2015:192). Assim, uma
contextualização sólida e envolvente do problema permite a respetiva compreensão, resolução
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e o, não menos importante, envolvimento emocional do aluno (Lopes, 1994, citado por
Oliveira, 2008:25).
Uma das premissas relativamente aos contextos problemáticos é que sejam autênticos
e possuam relevância para o educando, partindo de situações reais do quotidiano ou que
estabeleçam, de alguma forma, uma forte ligação com a sua vida prática futura, já que a
realidade constitui o principal meio de conhecimento do aluno e o seu quadro de referência
(Lambros, 2004:2). Assim, a existência de um cenário verosímil e atrativo, garante que a
aprendizagem do tema investigado é, de facto, um objetivo suscetível de ser alcançado (Souza
& Dourado, 2015:191). Os estudantes devem, tanto quanto possível, enfrentar e vivenciar os
problemas como sendo seus, encarando com estímulo todas as atividades desenvolvidas (Leite,
Costa & Esteves, 2008:3), prosseguindo, assim, com a investigação. Nesta metodologia, tal
como na vida diária, os problemas surgem antes de o sujeito estar devidamente preparado ou
na posse das competências e conhecimentos substantivos, processuais e procedimentais que
visam a sua resolução (Leite et al., 2008:2), em consequência, é o meio envolvente quem
fornece fontes de informação de natureza diversa «que lhe permitem aprender e aprender a
aprender» (Morgado & Leite, 2012:512). Quando uma situação-problema emerge de uma
situação diária ou se encontra, de certa forma, vinculada a esta, o aluno aumenta a sua
motivação porque o contexto que lhe é apresentado institui uma ligação com a compreensão
que este formulou previamente, sendo, por conseguinte, significativa para a sua aprendizagem
e aquisição de novos conhecimentos. Logo, os cenários são funcionais quando têm em
consideração o nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, facto que ajuda a eliminar a
questão habitualmente colocada por estes «why do we need to know this?» (Lambros, 2004:6),
ideia que parece estar em concordância com a defesa de que a ausência de interesse inato
inviabiliza uma aprendizagem significativa, efetivamente incorporada e empregue ao longo da
vida (Dewey, 1929, citado por Schmidt, 2012:25).
No que respeita à formulação da questão orientadora, deve ter-se especial atenção ao
facto de esta, além de surgir dos contextos ou dilemas da vida real e ser instigante, permitir,
necessariamente, várias respostas, devendo, por isso, ser aberta, isto é, além de não admitir
respostas de “sim” ou “não”, «exige múltiplas atividades e a síntese de diversos tipos de
informação» (Markham et al., 2008:51). As questões abertas apelam ao pensamento de nível
superior, ainda assim, não devem relegar para segundo plano o tempo e os recursos de que os
alunos dispõem. Em suma, o cenário deve encontrar-se num ponto de equilíbrio entre uma
complexidade que viabilize a apreensão dos conceitos-chave, ideias centrais de uma disciplina
relevantes para a aprendizagem efetiva dos alunos (Cachinho, 2011:248), e,
concomitantemente, uma simplicidade que não impeça ou dificulte a discussão, reflexão e
investigação do que deve ser aprendido (Souza & Dourado, 2015:192).
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Ainda que, durante um longo período de tempo, tenha ficado confinada à área da
Medicina, atualmente, não restam dúvidas quanto à inovação pedagógica que a ABP
representa, sendo uma metodologia aplicada ao nível do ensino superior e das mais diversas
áreas, das quais se destacam a Engenharia, Economia, a Arquitetura, a Biologia, a Psicologia
e o Direito, entre outras (Camp, 1996:1; Schmidt, 2012:22; Amado, 2015:710). Porém, a sua
adoção no ensino básico e secundário não é assim tão significativa (Ertmer & Simons, 2006,
citados por Fartura, 2014:128). Na verdade, um dos desafios mais significativos da ABP
remete para a inversão de papéis, nem sempre aceite ou facilmente compreendida, exigida a
professores e alunos. A dificuldade de adaptação inerente a este método de ensino prende-se,
sobretudo, com o facto de o professor ter, forçosamente, que moderar e diminuir a sua atuação
e controlo, sob pena de interferir na aprendizagem do aluno (Leite et al., 2008:5), e o aluno,
por sua vez, ter que construir uma nova identidade, atuando como principal interveniente e
resolvedor de problemas (Esteves, 2006:2; Leite et al., 2008:1).
Com relativa frequência, a postura do discente perante um ensino baseado na ABP
revela alguma resistência ou dificuldade de adaptação, uma vez que lhe é exigido que assuma
um papel ativo e de destaque, ao desenvolver todo um trabalho que requer investigação,
recolha de informação e a resolução da situação-problema, tornando-o, desta forma,
responsável pela própria aprendizagem (Hmelo-Silver, 2004:242; Leibovitz, Leite & Nunes,
2013:4525), ao invés de desempenhar o papel de recetor passivo. Na ABP, «os modelos
curriculares são largamente construtivistas na sua natureza» (Carvalho, 2009:35), pois é
facultada ao aluno a possibilidade de delinear as suas ações, identificar e determinar as
necessidades de aprendizagem, o uso dos recursos educativos e da nova informação com vista
à tentativa de resolução da situação-problema (Lambros, 2004:1). A aplicação de um ensino
orientado pela ABP requer que o aluno aprenda a aprender, uma vez que este detém o papel
de protagonista na sua aprendizagem, facto que lhe pode causar constrangimento e, por vezes,
desorientação, perante a autonomia exigida face às atividades desenvolvidas. Neste sentido, a
adoção de uma postura adulta, proativa e até autodidata por parte do aluno (Berbel, 1998,
citado por Carvalho, 2013:39), cria condições favoráveis à aprendizagem ao longo da vida, e
permite-lhe, por outro lado, o aperfeiçoamento da sua visão crítica e argumentativa, não
havendo lugar ao fosso entre o conhecimento diretamente proporcionado pelas vivências e o
conhecimento académico, já que há uma compreensão efetiva dos conteúdos e dos princípios
científicos subjacentes ao problema, ao invés da simples memorização destes.
Contrariamente ao que sucede na prática pedagógica tradicional, na ABP, o professor
não centraliza o saber e a sua atuação não acompanha as linhas de ensino tradicional. A
implementação desta metodologia advoga que o professor deixe de se afirmar como principal
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detentor e transmissor do saber, para assumir uma postura menos familiar, de tutor, facilitador
e «organizador de situações de aprendizagem» (Morgado et al., 2016:3), tornando-se numa
figura que assiste o aluno no respetivo processo de construção do conhecimento. Neste
contexto, o comportamento adotado pelo docente, além de orientar o aluno na resolução do
problema, comunicando-lhe, de forma clara, os objetivos principais de cada aula, deve pautar-
se pela assistência constante à investigação, quer esta seja realizada de forma autónoma ou em
grupo, culminando, no final de todo este processo, em atividades que o ajudem a analisar e
avaliar as competências que desenvolveu (Arends, 2008:395). Todavia, ainda que possa
parecer que desempenha um papel algo subsidiário, o professor detém um papel essencial na
criação e preparação de ambientes e situações de aprendizagem enriquecedores, na elaboração
e monotorização dos grupos tutoriais de trabalho, transmitindo-lhes feedback permanente e
incentivando, ao máximo, a discussão e a formulação de questões, criando as condições
necessárias à autodeterminação do aluno na sua aprendizagem pessoal (Lambros, 2004:1).
Perante a exigente tarefa de «guiar sem conduzir e de apoiar sem dirigir» (Delisle,
2000:22), o professor serve de mediador entre o aluno e o conhecimento, orientando-o e
fornecendo-lhe indicações sempre que se justificar. No âmago de uma ABP bem-sucedida
«está a capacidade de dar apoio e orientação aos alunos» (Markham et al., 2008:22), porém,
quanto menor for o nível etário dos alunos que experienciam esta metodologia, mais
preponderante e interveniente deve ser a atuação do professor-tutor (Delgado, 2013:82).
Todavia, verifica-se, frequentemente, que os professores tendem a orientar o educando para o
que julgam ser necessário que este aprenda sem ter, à partida, conhecimento do que ele
efetivamente sabe, ou julga saber, sobre determinado assunto (Lambros, 2004:4). Não raras
vezes, na ABP, o docente considera a respetiva intervenção didática reduzida, sentindo-se
inseguro em relação à condução do processo de aprendizagem (Morgado, 2013:106). Logo,
ao duvidar que o aluno seja capaz de aprender por si próprio, é difícil que o professor não ser
torne demasiado diretivo e acabe por fornecer a informação necessária à resolução do
problema (Morgado et al., 2016:3). O conhecimento sólido em relação aos conteúdos
programáticos e a existência de uma relação de proximidade com os grupos tutoriais no
decurso de resolução do problema são como que alicerces que sustentam o professor no
desempenho do seu papel de facilitador da aprendizagem (Hmelo-Silver & Barrows, 2006,
citados por Fartura, 2014:130).
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resolução dos mesmos. Todavia, este processo é suscetível de rutura quando se atende a uma
transmissão de conteúdos normalizados, ao invés de se investir numa aprendizagem efetiva.
Por conseguinte, a avaliação de desempenho é a que melhor se adequa à ABP, pois «testa o
conhecimento procedimental por oposição ao conhecimento declarativo» (Arends, 2008:235),
logo, está mais apta a medir competências e processos intelectuais do que a aquisição de
conhecimentos. Ainda que as listas de verificação para avaliação de determinados
desempenhos, bem como as escalas de cotação, sejam métodos válidos e fiáveis que permitem
avaliar as aprendizagens dos alunos na ABP (Arends, 2008:402), a necessidade de
procedimentos de avaliação alternativos pode ser encarada como um possível entrave à
aplicação desta metodologia.
O número de horas dedicadas à conceção de um cenário-problema que possa ser
aplicado a determinado conteúdo programático é, também, encarado como uma dificuldade
inerente a esta metodologia, «demorando um professor entre 120 a 160 horas a analisar,
planificar e desenvolver uma unidade que apenas irá envolver os alunos durante uma a duas
semanas» (Delgado, 2013:88). A questão do tempo que a ABP requer constitui uma objeção a
partir do momento em que existe uma consciencialização de que, efetivamente, os projetos
necessitam de algum tempo útil para serem pensados e para crescerem e se desenvolverem,
podendo abranger, somente, parte dos conteúdos programáticos, relegando, para segundo
plano, outras aprendizagens. Não raras vezes, os alunos pouco familiarizados com a
metodologia podem considerar «a possível superficialidade dos temas estudados» (Filho &
Ribeiro, 2006:28. Consequentemente, o investimento em termos humanos é, de igual forma,
um obstáculo, devido, em grande parte, à elevada disponibilidade de tempo exigida ao corpo
docente no acompanhamento dos grupos (Borges, 2014:306) e aos alunos que veem, assim,
aumentado o tempo de investimento numa determinada unidade curricular. Ainda no que
concerne a este contexto, a existência de recursos educacionais materiais não se afigura
subsidiária, já que, por via destes, os alunos alcançam a própria autonomia na busca pelo
conhecimento.
Nas últimas décadas, no entanto, tem-se proliferado uma defesa consensual sobre as
vantagens da ABP enquanto metodologia promotora de uma base de conhecimentos, de tal
forma sustentada, que o respetivo emprego se encontra muito para lá do contexto da vida
escolar ou académica. Na verdade, a essência desta metodologia está fortemente associada ao
desenvolvimento de competências multidisciplinares. Assim, ao invés do conhecimento
fragmentado, há lugar a uma visão holística e a experiências que privilegiam uma
aprendizagem contextual e significativa, por via de uma mudança concetual que ocorre devido
ao conflito cognitivo. Desta feita, a ABP «tem, ainda, uma outra finalidade que consiste na
aquisição de conhecimentos, de competências transversais» (Abreu & Loureiro, 2007:9), cuja
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CAPÍTULO V
A UNIDADE DIDÁTICA: CONCEÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO
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elemento estático, imune à mudança ou aos fatores extrínsecos, pelo que trespassar do plano
teórico (planificação) para o plano prático (aula) nem sempre corresponde às expetativas dos
docentes, portanto, a planificação deve prever ajustamentos e alterações pontuais.
Relativamente à tipologia da planificação, é importante ter presente que a planificação
a longo prazo, médio prazo e curto prazo (plano de aula) apresenta uma organização diferente
e, regra geral, é o plano de aula que é mais detalhado, pois diz respeito a uma aula e não a um
ano letivo ou a um período/unidade, como sucede respetivamente com as planificações a longo
e a médio prazo. A planificação a longo prazo é, por assim dizer, a mais genérica e diz respeito
a um percurso a desenvolver. A planificação a médio prazo, por seu turno, é um processo
intermédio e é realizada com base na planificação a longo prazo, servindo, essencialmente,
para sequenciar o que será lecionado num determinado período. A planificação a curto prazo,
por sua vez, é a mais detalhada, estando relacionada com os objetivos, conteúdos, estratégias
e recursos a serem mobilizados pelo professor durante uma aula.
A planificação de aulas de ABP, «tal como a de outras abordagens de ensino
interativas e centrados no aluno, exige tanto ou mais esforço de planificação» (Arends,
2008:387). No âmbito da planificação de aulas orientadas para esta metodologia, o docente
deve considerar, essencialmente, três aspetos, como sejam a definição dos objetivos
específicos de cada aula, a conceção de situações-problema adequadas e a organização de
recursos. No que toca à primeira vertente, o professor deve estabelecer um ou dois objetivos
específicos para cada aula, pois «é importante decidir previamente quais são os objetivos para
que estes possam ser comunicados aos alunos de forma clara» (idem, p.390). Tendo em
consideração que «a ABP foi concebida para apoiar a alcançar determinados objetivos, tais
como as competências intelectuais e de pesquisa, a compreensão dos papéis de adulto, e ajudar
os alunos a tornarem-se aprendentes autónomos» (idem, p.389), cada sessão não enfatiza mais
do que um ou dois objetivos. Posteriormente, dever-se-á garantir que, uma vez que a ABP
parte da apresentação aos discentes de problemas autênticos, valorizando o seu conhecimento
prévio e fornecendo-lhes, por esta via, um contexto significativo para a sua aprendizagem, as
situações apresentadas devem obedecer a alguns critérios como: (i) ser real, isto é, deve estar
em articulação com as experiências reais dos alunos; (ii) possuir um sentido de mistério que
estimule o diálogo entre os alunos; (iii) ser significativo e adequado ao seu nível de
desenvolvimento; (iv) permitir aos docentes o alcance dos objetivos definidos e possibilitar
que as aulas sejam exequíveis e (v) beneficiar o esforço do grupo (idem, p.390). Em
contrapartida, a organização de recursos, ou seja, a planificação logística, não se afigura
subsidiária, visto que nem todos aqueles se encontram disponíveis na sala de aula. Nesta
metodologia, devem ser os professores «os responsáveis pelo fornecimento adequado de
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PROBLEMAS URBANOS
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À explicação do que era pretendido com a referida ficha, antecedeu a apresentação formal
daquela última e a do supervisor pedagógico, no contexto da qual se informou que se estava a
desenvolver a prática de ensino supervisionada e, como tal, se iria desenvolver com a turma
uma experiência baseada numa metodologia designada por Aprendizagem Baseada em
Problemas, ao longo de algumas aulas. Neste sentido, o supervisor pedagógico apresentou, em
traços gerais, a metodologia à turma, informando-os das principais caraterísticas desta e da
forma como teriam que trabalhar. Realizadas as devidas explicações, procedeu-se, então, ao
levantamento efetivo das ideias prévias, informando-se os alunos, de forma clara e explícita,
que seria distribuída uma ficha, a qual devia ser respondida por escrito, de forma individual.
Nela, além do breve núcleo concetual da subunidade didática, constavam quatro questões que
deviam ser respondidas pelos alunos, tais como: 1) Apresente a sua cidade; 2) Apresente os
problemas que existem na sua cidade. Justifique a sua resposta. 3) Identifique as causas que
estão na origem dos problemas que identificou e 4) Apresente soluções viáveis para cada um
dos problemas que identificou.
Num primeiro momento, com vista a colocar em evidência a forma como os alunos
pensam e veem a cidade onde vivem, sendo aliciante, para o devido efeito, conhecer os aspetos,
positivos ou negativos, que podiam, ou não, ser apontados aos seus olhos, que caraterísticas
colocariam em evidência ou a que estratégias recorreriam para a representar (Figura 9), apenas
foi distribuída a primeira parte da ficha, onde constava, somente, a primeira pergunta.
Fonte: Wordle.
Figura 9 – Aspetos evidenciados pelos alunos sobre a cidade de Lisboa.
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Uma das premissas da ABP está fortemente relacionada com a suplantação dos aspetos
formais do ensino, na medida em que o professor deve, tanto quanto possível, «transformar as
suas turmas em comunidades de aprendizagem» (Arends, 2008:134), definidas, neste sentido,
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PROBLEMAS URBANOS
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como sendo um ambiente no cerne do qual os respetivos elementos integrantes do grupo têm
uma relação de proximidade, com vista à consecução de objetivos comuns (Quadro 4).
Na ABP, sendo a aprendizagem em grupo uma das formas de discência mais comum,
o fomento da interdependência grupal é fundamental do ponto de vista do desenvolvimento de
estruturas de objetivos cooperativas, as quais advogam que para um aluno ser bem-sucedido
na conquista dos seus objetivos, os colegas de grupo com quem trabalha também têm que
conseguir alcançar os seus. Na verdade, a natureza humana é eminentemente social, portanto,
dado que há uma necessidade premente, em qualquer contexto ou altura de vida, de pertença
a um determinado grupo, «é razoável assumir que a chave do sucesso do desenho do grupo
seja a interdependência entre os seus membros. Aliás, a interdependência é considerada como
a condição para a existência de um grupo e a razão pela qual os grupos são formados»
(Rodrigues, 2004:60). Posto que os grupos tutoriais constituem a base de trabalho mais ampla
da metodologia ABP, no contexto de sala de aula é fundamental que os alunos se sintam parte
integrante do quadro de aprendizagem, já que «para terem a coragem de cometer os erros
naturais do processo de aprendizagem precisam de sentir que estão num ambiente seguro»
(Arends, 2008:162). Mas, só é passível de ser considerado um grupo o conjunto de pessoas
que partilhem uma consciência coletiva, que tenham metas, normas e valores comuns, que se
aceitem, relacionem e ajudem mutuamente, desenvolvendo, assim, múltiplas interações entre
si (Ferreira, Neves, Abreu & Caetano, 1996, citados por Rodrigues, 2004:46).
Assim, aquando da formação dos grupos tutoriais com vista à operacionalização desta
experiência, apesar da dificuldade que é discernir as relações de amizade das incumbências
profissionais (Cachinho, 2011:247), respeitou-se a organização efetuada pelos discentes, ainda
no decorrer do 1.º período letivo, relacionada com outros trabalhos, dado que «se a diversidade
for importante, os professores devem selecionar os elementos do grupo. Noutras ocasiões, o
professor pode decidir organizar os alunos de acordo com interesses comuns ou permitir que
os grupos se formem de acordo com padrões de amizade» (Arends, 2008:395). No entanto,
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PROBLEMAS URBANOS
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deve ter-se presente que nesta metodologia, tendencialmente, a formação de grupos não deve
ser realizada de acordo com padrões de amizade, pois, como se tratam de grupos de trabalho
e não de amigos, quanto menos se conhecerem os membros ou mais fracos forem os laços
afetivos existentes entre estes, mais racionalidade colocam nos atos e nas ações, respeitando
as regras que definiram nos contratos de trabalho. Não obstante, atendeu-se ao princípio do
número de elementos, em cada equipa de trabalho, não ultrapassar, em muito, os cinco
membros, possibilitando uma participação equilibrada por parte de todos (Lambros, 2002:15),
apesar de «a vantagem de optar por uma solução de haver mais grupos, com menos alunos por
grupo, é a criação de condições favoráveis para a coesão interna dos próprios grupos e
necessariamente, fomentam-se condições favoráveis para que todos os elementos tenham uma
participação ativa no trabalho em grupo» (Pato, 1995, citado por Saraiva, 1997:84). A este
respeito, cabe ressalvar que, regra geral, um bom grupo de trabalho tem seis elementos, já que
o número par é importante para se evitarem as decisões por maioria. O problema maior nos
grupos mais pequenos é que a diversidade diminui e a aprendizagem na ABP é maior quando
há confronto de ideias e necessitam de discutir para chegarem a consenso. Assim, tendo em
consideração o número total de alunos da turma, foram formados cinco grupos de trabalho:
quatro grupos com cinco elementos e um grupo com seis1.
Com a finalidade de se apurarem algumas das caraterísticas dos grupos de trabalho,
na segunda sessão assegurada pela professora-estagiária, procedeu-se à realização de um jogo,
vulgarmente conhecido por Perdidos na Lua (Anexo 5). Enquanto atividade didática, este jogo
pretende colocar em evidência a importância das tomadas de decisão em grupo, demonstrando
que, geralmente, os resultados coletivos são quase sempre melhores que os alcançados de
forma individual. Esta dinâmica, que permite aferir os resultados finais obtidos em função de
uma decisão individual ou grupal, possibilita o desenvolvimento das relações interpessoais,
por via do trabalho em equipa, da comunicação verbal e da tomada de decisões, dando lugar
ao envolvimento e compromisso dos intervenientes, num contexto onde «são colocados em
situação, perante o problema, e agem em função das diversas exigências, assumindo papéis
que não os que desempenham normalmente na vida diária» (Mérenne-Schoumaker, 1999:177).
Em alternativa, esta técnica, ao conceder aos alunos uma oportunidade para se expressarem,
para se envolverem nos discursos e para tentarem validar os seus argumentos, possibilita que
os discentes se vejam impelidos a «analisar os seus próprios processos de pensamento e a
adquirir importantes competências de comunicação, tais como apresentar ideias de forma
clara, saber ouvir os outros, responder aos outros de forma apropriada e a fazer boas perguntas»
1 Para melhor compreensão do leitor e por forma a respeitar a identidade de todos os alunos participantes, a cada
grupo de trabalho corresponderá uma letra do alfabeto (A, B, C, D e E) e, dentro daquele, cada aluno será
identificado com um algarismo (A1, A2… B1, B2).
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afastaram do principal objetivo desta atividade. Além de que, os conhecimentos do aluno A5,
que obteve a melhor classificação individual da equipa, isto é, o valor mais baixo, não foram
devidamente considerados pelo seu grupo de trabalho. Tal facto pode ter-se devido, talvez, à
timidez e introspeção daquele aluno, pois, do que foi possível conhecer sobre ele, sempre se
manifestou discreto, sossegado, observador, tentando não chamar a atenção para a sua pessoa.
Apesar do seu bom comportamento, de revelar ser um aluno esforçado e cumpridor das tarefas,
não conseguiu fazer-se ouvir, de forma eficaz, pelos restantes membros, ou estes, por sua vez,
também não tiveram a capacidade de escutar as respetivas propostas. Estes resultados também
podem evidenciar que o grupo era demasiado homogéneo nas formas de pensar e que o aluno
que individualmente teve a melhor pontuação não apresentou argumentos suficientemente
válidos que levasse os seus colegas a mudar de opinião.
Quando as pontuações individuais são melhores face às coletivas pode significar que
aquele elemento não teve sucesso ao impor a sua opinião dentro do grupo, convencendo os
restantes elementos da sua importância, o que indica ausência de poder de argumentação e de
capacidade de sustentar as suas posições, deixando-se influenciar pela opinião dos outros
colegas. Outras vezes, por medo, timidez ou falta de confiança, alguns alunos reprimem a
expressão dos seus pontos de vista, dando espaço para o estabelecimento e afirmação do
pensamento coletivo sem que este tenha tido em consideração, no entanto, as sugestões ou
alternativas daqueles que não se conseguem fazer ouvir. Depois, partindo do «reconhecimento
do conflito como fenómeno inerente a todas as interações humanas» (Dimas & Lourenço,
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3 Da constituição do Grupo D, faziam parte seis alunos, dos quais apenas três estiveram presentes na sessão de
realização do jogo Perdidos na Lua. Ainda que dos três alunos presentes, dois tivessem melhorado, de forma
significativa, os resultados obtidos aquando da realização coletiva do exercício, a ausência dos restantes membros,
e, por conseguinte, dos respetivos resultados, impossibilitou uma análise mais detalhada da dinâmica do grupo.
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Posto isto, apelando à qualidade de vida na cidade de Lisboa como uma preocupação
constante para os seus habitantes, uma vez identificado, através de um questionário realizado
junto da população residente, o conjunto de preocupações relativas aos principais problemas
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existentes na cidade – i.e., nada mais, nada menos, que as questões apontadas pelos discentes
aquando da realização da ficha do levantamento das ideias prévias – o cenário problemático
solicitava aos estudantes que, enquanto membros da Associação de Moradores das Freguesias
de Lisboa, interessados em participar ativamente na resolução das questões da rua, bairro ou
espaço da sua comunidade, elaborassem uma proposta para o Orçamento Participativo (OP).
Nesta, deveriam constar a identificação clara dos desafios locais, bem como as respetivas
propostas de resolução, devidamente argumentadas e, sempre que possível, exemplificadas.
Após a indicação das melhorias e intervenções que considerassem prioritárias e que
desejassem ver implementadas na freguesia, bairro, rua ou em qualquer outro espaço da sua
comunidade, cada Associação de Moradores deveria enquadrar a respetiva proposta numa das
seguintes áreas temáticas4: (i) Ação Social e Habitação; (ii) Cultura, Educação e Juventude;
(iii) Desporto; (iv) Espaço Público e Espaço Verde; (v); Infraestruturas viárias, Trânsito e
Mobilidade; (vi) Modernização Administrativa; (vii) Proteção Ambiental e Energia; (viii)
Urbanismo, Reabilitação e Requalificação Urbana; (ix) Saneamento e Higiene Urbana; (x)
Segurança e Proteção Civil e (xi) Turismo, Comércio e Promoção Económica.
Em seguida, de forma a ser possível a elaboração e recomendação de sugestões para o
Orçamento Participativo, os grupos de trabalho deviam incluir nas suas propostas uma breve
análise geográfica da freguesia que gostassem de ver intervencionada. Por conseguinte, era
importante que elaborassem o perfil morfológico da área em estudo – recolhendo, para o efeito,
informação alusiva aos elementos morfológicos, à malha urbana, às construções, ao uso do
solo – tal como o perfil sociodemográfico – traçando o perfil da população residente, tendo
em atenção a homogeneidade e heterogeneidade de comportamentos e as suas dinâmicas de
mudança – e, por último, o perfil funcional – considerando as funções dominantes, raras ou
banais e a distribuição destas no espaço alvo de estudo.
Por último, o cenário sugeria algumas orientações em relação à proposta concreta a
realizar, alertando para o facto de esta ter que ser apresentada sob a forma de uma memória
descritiva, com determinadas especificações, cuja estrutura tivesse que respeitar a presença
dos seguintes aspetos: (i) Introdução, (ii) Objetivos, (iii) Metodologia, (iv) Desenvolvimento,
(v) Conclusão e (vi) Referências bibliográficas. Chamando, ainda, a atenção para o facto de as
propostas não poderem ser demasiado genéricas ou abrangentes e de difícil concretização, mas
antes, necessárias e concordantes com os desafios prementes da vida e comunidade locais,
estas deveriam ser apresentadas publicamente, por parte das Associações de Moradores.
4 Estas áreas temáticas dizem respeito aos domínios dos problemas identificados pelos discentes aquando do
levantamento das suas ideias prévias. Além disso, constituem, grosso modo, as áreas-chave de intervenção dos
orçamentos participativos.
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A introdução ao tema realizou-se através da recolha das ideias prévias, o que permitiu
principiar a abordagem à subunidade didática equacionando os principais problemas urbanos,
um dos objetivos específicos de aprendizagem que, no final do estudo da temática, os alunos
deviam alcançar, de forma a identificar as causas que estão na raiz da degradação da qualidade
de vida urbana. Porém, a subunidade didática dos Problemas Urbanos desenvolve-se, por um
lado, em torno da diminuição da qualidade de vida nas cidades portuguesas, e, por outro,
colocando a tónica em torno de uma política de planeamento urbano que se mostra incapaz de
direcionar o crescimento e o povoamento intensos a que se tem vindo a assistir, sobretudo, nos
últimos cinquenta anos. Por conseguinte, o decorrer desta intervenção teve em especial atenção
a orientação dos alunos para a associação da importância do ordenamento do território como
uma ação onde radica, por excelência, o desenvolvimento equilibrado das regiões, e cuja
atuação considera as carências mais urgentes da população. Neste sentido, é expectável que os
alunos compreendam que o planeamento urbano surge como um processo, desencadeado por
uma entidade pública, que visa a resolução dos problemas nas áreas urbanas e, também, a
respetiva prevenção, no sentido em que gere mudanças que permitam a melhoria das condições
existentes nas cidades. Assim, espera-se que na abordagem à resolução do problema enunciado
no cenário, os discentes tenham em conta o Plano Diretor Municipal, o Plano de Urbanização
e/ou o Plano Pormenor, de acordo com a finalidade a que se destinam, enquanto instrumentos
de planeamento cujos objetivos visam, não somente a melhoria da qualidade de vida dos
habitantes que residem e/ou trabalham nas áreas urbanas, mas também ao desenvolvimento
dos municípios. Por fim, no âmago das intervenções que se considerem prioritárias para o
espaço público, é perentório que os alunos reflitam acerca do potencial das medidas de
requalificação urbana, quer estas substituam as estruturas existentes (renovação urbana) ou
as salvaguardem (reabilitação urbana).
Desta feita, uma vez orientados para o problema, as sessões que se seguiram tinham
como principal objetivo motivar e envolver os alunos nas atividades de pesquisa, para que,
posteriormente, lhes fosse possível refletir sobre os processos e as investigações levadas a cabo
(Quadro 5). Logo, como será possível constatar, tratando-se da aplicação da metodologia ABP,
a docente-estagiária, enquanto mediadora e facilitadora das atividades, tentou sempre exercer
um papel direcionado para a tutoria e o acompanhamento, transferindo para os discentes, por
sua vez, a adoção de uma postura de maior responsabilidade face à respetiva aprendizagem,
estando neles centrado o compromisso de adquirirem o conhecimento substantivo e processual
necessário à resolução dos problemas que tinham em mãos, bem como as competências
instrumentais, interpessoais e sistémicas necessárias à sua formação.
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Orientar os alunos para o problema logísticos importantes e motiva os alunos para se envolverem na
1
atividade de pesquisa.
O professor ajuda os alunos a definir e a organizar as tarefas de estudo
FASE
e exposições
os a partilhar o seu trabalho com os outros.
Analisar e avaliar o processo de O professor ajuda os alunos a refletir sobre as suas investigações e os
FASE
5
Ainda que existisse um plano de aula, tratando-se de uma metodologia que, pelas suas
caraterísticas, se centra nos alunos, a concretização daquele nem sempre foi acatada, no sentido
em que existiram ocasionalmente, como seria de esperar, ocorrências que deviam, antes de
mais, ser solucionadas pelos próprios alunos. Neste sentido, a cada aula decorrida, tendo em
consideração a resposta dos alunos face aos objetivos inicialmente propostos para a mesma,
adequaram-se ou redefiniram-se as estratégias e os propósitos a alcançar. Contudo, existiu
sempre o cuidado, por parte da docente-estagiária, em fornecer materiais de apoio ao
desenvolvimento do trabalho, já que «os professores de ABP são quase sempre os responsáveis
pelo fornecimento adequado de materiais e outros recursos necessários às equipas» (Arends,
2008:393). No entanto, ainda que os alunos tenham maior responsabilidade na ABP, quando
comparado com outros métodos mais convencionais de ensino, a professora-estagiária não foi
meramente uma observadora passiva, tendo, pelo contrário, desempenhado um papel diretivo
e ativo de forma a garantir que os discentes não se desviavam dos objetivos de aprendizagem
definidos. Por outro lado, tratou de garantir que a lecionação da subunidade didática não se
afigurava subsidiária face às restantes, tendo sido realizado um esforço no sentido de tornar o
conhecimento interdisciplinar e multidisciplinar, i.e., perspetivando a resolução do problema
de uma forma complementar e não desconexa ou fragmentada.
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PROBLEMAS URBANOS
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e análise da mesma. À semelhança do que sucedeu na aula em que foi apresentado o cenário,
analisou-se o referido documento, parágrafo a parágrafo, através da leitura em voz alta por
parte dos alunos, tendo a professora-estagiária respondido às pontuais dúvidas levantadas. A
análise da ficha teve por base, em primeiro lugar, uma breve explicação da importância da
realização de um diagnóstico às áreas em estudo, chamando a atenção dos alunos para o facto
de a cidade ser o resultado de um processo evolutivo e interativo entre os elementos que a
constituem e das relações que estes mantêm entre si. No âmbito dos problemas urbanos e da
elaboração de propostas de intervenção local com vista à respetiva resolução, é fundamental,
portanto, a realização de um estudo que inclua a identificação, caraterização e aprofundamento
dos desafios que se querem ver solucionados.
Neste contexto, através desta pesquisa é possível, além de um conhecimento completo
a respeito do espaço urbano e da respetiva envolvente, identificar as necessidades evidentes
da comunidade local. Portanto, explicou-se aos alunos em que consistia a elaboração do perfil
morfológico, clarificando que a rede viária, o património imobiliário e os aspetos funcionais
expressam a organização e a estrutura das paisagens urbanas, sendo considerados verdadeiros
elementos fundamentais do ponto de vista organizacional e dinamizador das cidades. Logo,
aquando da realização desta etapa, os grupos deviam ter em consideração alguns elementos
morfológicos, como sejam: a malha urbana; a rede viária; os espaços livres; as construções e
edificações. Por seu turno, no que respeita à análise funcional, salientou-se que esta constitui
um vetor fundamental no estudo aprofundado das áreas urbanas, uma vez que possibilita uma
melhor compreensão do uso e da ocupação do solo e dos tipos de atividade que nele se fixam
e desenvolvem. O levantamento funcional permite que se tenha conhecimento da importância
de cada setor num espaço e a forma como este se distribui nesse mesmo espaço, alertando as
equipas de trabalho para o facto de a realização desta etapa obrigar à realização de uma visita
in situ à rua objeto de estudo. Quanto ao perfil sociodemográfico, informou-se que este deveria
ser traçado tendo em conta um conjunto de variáveis, como a população residente, a taxa de
variação da população residente, a estrutura etária e/ou a idade média da população residente,
o número de população ativa e desempregada, e que estas variáveis, bem como outras, estavam
disponibilizadas no endereço eletrónico do Instituto Nacional de Estatística, pois permitem
conhecer as caraterísticas da população das freguesias estudadas.
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para a equipa coordenadora do Projeto Nós Propomos!, impôs aos alunos o preenchimento de
uma ficha, reflexo de uma avaliação intermédia dos trabalhos a decorrer, a qual seria
posteriormente submetida através do endereço eletrónico do Projeto, em relação à qual os
discentes teriam que indicar a constituição do seu grupo de trabalho, o problema a ser
investigado, a pesquisa já realizada e o trabalho ainda por concretizar.
Após conclusão do preenchimento da ficha sobre o ponto de situação dos trabalhos, o
segundo momento da aula foi marcado pela concretização de uma atividade proposta pela
professora-estagiária, de acordo com a qual cada grupo teria que proceder à elaboração do
documento identificativo da freguesia em estudo. Por outras palavras, o propósito era que,
fazendo apelo à condição de filiados da associação de moradores, os discentes apresentassem
a sua freguesia, produzindo no momento, para o efeito, um documento no qual constasse uma
breve contextualização histórica da mesma. A par desta, requeria-se que fosse realizada uma
resumida caraterização social da freguesia, apontando, sempre que possível, dados alusivos ao
perfil dos seus moradores, bem como os principais direitos e deveres da respetiva associação.
Os alunos podiam, também, mencionar outras informações ou notícias de caráter pertinente
para complemento ao conhecimento da área em estudo. Desta forma, as equipas, no papel de
representantes de um bairro da cidade de Lisboa, além de terem que possuir conhecimento
face ao território em questão, deviam estar a par dos problemas de natureza pluridimensional
que assolam ou inquietam a respetiva comunidade, levando o debate em torno destes até às
entidades oficiais responsáveis, por forma a garantir a adoção de medidas resolutórias. Desta
feita, há uma constatação nítida da importância de uma associação, como seja, neste caso, a
de moradores, habilitada a simbolizar e salvaguardar os interesses, em particular, da população
residente, e, em geral, da sociedade civil, em prol do aumento da qualidade de vida dos seus
cidadãos. Esta representação de papéis, ou o também designado role-playing, constitui uma
técnica pedagógica capaz de possibilitar, no discente, a vivência de um determinado papel,
diferente daquele que é exercido habitualmente no quotidiano. Nesta aula, em particular, era
essencial que os discentes tivessem empatia pela posição e sentimento enquanto membros de
uma associação de moradores, sendo, desta forma, impelidos a agir em conformidade com a
função por eles desempenhada. É neste contexto que se justificam as estratégias adotadas na
oitava e nona aulas asseguradas pela docente-estagiária, já que também nestas se incentivou a
tomada de decisões face ao trabalho a realizar, com base na representação de papéis.
Na verdade, partindo da ideia que os alunos deveriam imaginar-se enquanto efetivos
habitantes das freguesias por ele estudadas, pois só desta forma poderiam experienciar e sentir
os problemas urbanos identificados como sendo reais entraves à sua qualidade de vida, a oitava
aula, tendo sido iniciada com a verificação, por parte da professora-estagiária, do cumprimento
das etapas até então realizadas, destinou-se à exploração, em conjunto, da importância de uma
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PROBLEMAS URBANOS
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Desta feita, estava então concluída a etapa referente ao conhecimento das caraterísticas
territoriais e sociais da área em estudo, tão pertinente para uma adequada identificação dos
problemas existentes.
A nona aula, por sua vez, pressupunha a identificação e análise dos problemas urbanos
das freguesias estudadas por cada grupo, tendo como referência a noção de que, ao falar-se
das condições de vida urbana, é possível apontar, além das questões urbanísticas e ambientais,
os aspetos socioeconómicos. Ainda que as primeiras, resultantes da concentração da população
em grandes aglomerações urbanas, sejam aquelas que mais têm agravado, progressivamente,
as condições de vida nas cidades, importa referir um conjunto de fenómenos emergentes nas
sociedades urbanas atuais, como sejam o desemprego, a marginalidade, a mendicidade, a
toxicodependência, a insegurança e a exclusão social, que se refletem na vida das cidades e da
população, ao provocar uma diminuição da qualidade de vida e bem-estar dos seus habitantes.
Logo, era solicitado a cada grupo, i.e., a cada Associação de Moradores, que identificasse os
problemas que mais afetavam a vida dos habitantes dos respetivos bairros, e cuja resolução ou
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PROBLEMAS URBANOS
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PROBLEMAS URBANOS
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aula não tivesse sido projetada aquando da planificação da intervenção pedagógica, a docente-
estagiária soube reconhecer a pertinência da mesma para o êxito dos trabalhos dos discentes.
O termo produto é utilizado para designar a produção intelectual dos alunos resultante
da resolução de uma situação-problema (Deslile, 2000:43). Portanto, em seguida, apresentam-
se, sucintamente, os trabalhos de cada grupo, com a referência aos problemas e às propostas
de resolução dos mesmos.
5.2.2.1. Grupo A
5.2.2.2. Grupo B
O grupo B, por seu turno, optou por tratar os problemas urbanos da freguesia de Santa
Maria Maior alusivos aos incêndios habituais em Lisboa, em especial na Rua dos Sapateiros
(Anexo 12). A escolha do referido tema relacionou-se com a ocorrência destes eventos, não
só noutras épocas, como o incêndio que completou o cenário de destruição causado pelo
grande Terramoto de 1755 ou o violento incêndio que deflagrou no Chiado, em 1988, e que
destruiu a Baixa de Lisboa, mas, também, no recente episódio ocorrido a 31/01/2015 na rua
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PROBLEMAS URBANOS
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5.2.2.3. Grupo C
5.2.2.4. Grupo D
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edifícios abandonados, em relação aos quais o grupo pretende atribuir uma nova função
passando os mesmos a formar, desta feita, um espaço verde com um parque infantil dentro do
qual conste um espaço de diversão para a população residente mais jovem. Por outro lado, na
nova área de lazer, além dos equipamentos já mencionados, deviam constar trilhos de longas
caminhadas e equipamentos de exercício direcionados para as necessidades da população mais
adulta e idosa. Desta feita, o grupo pretendia a conciliação e o convívio, num único espaço, de
todos os moradores, bem como a preconização de uma utilização sustentável do espaço verde.
Na génese da elaboração das propostas apresentadas, estiveram as preocupações manifestadas
pela população residente aquando da realização de inquéritos por parte do grupo. Ademais, o
grupo também identificou outros problemas, relacionados com a degradação de equipamentos
urbanos e comunitários, como sejam o desgaste dos meios de recolha de resíduos (ecopontos/
lixeiras), a deterioração de pavimentos pedonais ou, também, o perecimento dos canteiros por
falta de manutenção e corrosão natural, cujos impactos têm efeitos no dia-a-dia dos residentes.
5.2.2.5. Grupo E
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Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
obtidos por aula era 5, i.e., tantos quantos fossem os aspetos observados, daí que os alunos
tenham sido avaliados tendo por base uma escala que variava entre 0 e 5 pontos.
Por último, ainda no que respeita às técnicas de recolha de dados, a docente-estagiária
recorreu ao inquérito, sob a forma de um questionário de autoavaliação sobre o desempenho
dos alunos relativamente a vários aspetos do trabalho desenvolvido nas aulas práticas, que foi
administrado no final da intervenção pedagógica, na última aula prática assegurada. Através
da técnica de autopreenchimento por parte dos participantes, foi possível medir o grau de
concordância ou discordância destes em relação às afirmações apresentadas.
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
as atas apresentaram descrições básicas alusivas ao trabalho realizado pelos alunos, fazendo
referência aos pontos estruturantes de cada aula decorrida e expressando, na maioria das vezes,
os pontos de vista dos respetivos autores face à importância de cada etapa e seu cumprimento.
Reconhecendo que na ABP o desenvolvimento de conhecimento factual em relação a
um assunto configura uma questão subsidiária, em virtude da «compreensão aprofundada dos
problemas e do mundo que rodeiam os alunos» (Arends, 2008:402), a ênfase no que respeita
à avaliação desta experiência esteve ao nível da manifestação e observância de competências
transversais, uma vez que, à luz desta metodologia, o itinerário percorrido até ao produto final
adquire tanta importância quanto a que está associada a este último (Lambros, 2004; Woods,
2000, citados por Leite & Esteves, 2006:2). Ainda que, com frequência, o encadeamento do
processo de ABP resulte numa atividade que traduz as conceções ou as aprendizagens dos
alunos (Duch & Groh, 2001, citados por Leite & Esteves, 2006:2), a contemplação de outros
fatores, como os que estão associados à esfera das competências sistémicas, interpessoais e
instrumentais, não pode ser tido em conta como auxiliares.
Em torno do conceito de competência pairou, desde sempre, a dificuldade da respetiva
definição devido às múltiplas conceções existentes. Não obstante, a sua noção relaciona-se,
numa definição simplista e abrangente, com a capacidade de mobilizar e ativar conhecimentos
adquiridos que possam ser aplicados eficazmente perante situações variadas. Ademais, pode
ter-se em consideração o conceito como uma manifestação de conhecimentos, habilidades ou
capacidades (Ulrich, Brockbank, Yeung & Lake, 1995, citados por Gonçalves, 2015:7). Logo,
o conceito de competência está em concordância com a «capacidade de mobilizar, integrar e
transferir conhecimentos, capacidades e recursos para alcançar o desempenho esperado numa
determinada função» (Takey & Carvalho, 2014, citados por Correia, 2015:9), no sentido em
que se torna mais significativo e relevante pôr em prática os conhecimentos do que somente
possuí-los. Tendo por base uma ótica eminentemente comportamental, uma competência só
pode ser considerada efetivamente como tal quando é observável e avaliável no contexto em
que ocorre (Cascão, 2004; Ceitil, 2010, citados por André, 2013:19). Porém, as competências
não são suscetíveis de serem ensinadas, apenas se podem projetar as circunstâncias necessárias
à sua formação e progresso, quer isto dizer que «dar uma excelente aula não cria competências,
mas transmite saberes. O ato de apresentar exercícios bem-feitos apenas faz com que os alunos
trabalhem algumas capacidades. Para desenvolver competências é necessário colocar o aluno
em situações complexas, que exigem e treinam a mobilização dos seus conhecimentos: um
enigma a elucidar, um problema a resolver, uma decisão a tomar, um projeto a conceber e
desenvolver» (Perrenoud, 2003:23). No domínio das competências, adquire especial interesse
as que se designam transversais, ou seja aquelas que podem classificar-se como competências-
chave ou elementares, dada a sua relação ao nível dos conhecimentos de cultura-geral. A sua
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
«Após algum tempo de discussão sobre futuros objetivos e futuras perspetivas para
o trabalho, foi escolhido um porta-voz (…) que apresentou os problemas identificados e suas
respetivas causas e soluções à turma e aos professores». (Excerto da primeira ata – Grupo E)
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
50% 48%
40%
33%
30%
20%
15%
10%
4%
0%
«Após uma breve abordagem aos vários constituintes da memória descritiva pela
professora Sofia Pereira, o grupo dividiu-se em três funções: ocuparem-se do
desenvolvimento da apresentação em PowerPoint, do levantamento morfológico e
enquadramento geográfico da freguesia e, ainda, a caraterização socioeconómica da
mesma». (Excerto da nona ata – Grupo B)
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
«Com base no briefing fornecido pela professora, o grupo deslocou-se à Rua dos
Sapateiros, onde inquiriu diferentes pessoas, servindo-se de uma ficha elaborada
previamente com base nas questões estabelecidas em aula». (Excerto da quinta ata – Grupo
B)
«Realizou-se uma reunião com todos os alunos na qual realizámos uma ficha que
pretendia perceber em que patamar cada grupo se situa na elaboração do trabalho, sendo
que o nosso grupo continuou com a elaboração da memória descritiva e do PowerPoint.»
(Excerto da décima ata – Grupo A)
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
Concordo plenamente
4%
11% Concordo em geral
Concordo relativamente
Discordo em geral
Discordo de todo
85%
Por seu turno, a evidência desta capacidade é, de certa forma, o pronúncio da literacia
científica, tendo em conta que esta compreende, entre outros aspetos, a compreensão da
terminologia e conceitos, i.e., dos conteúdos científicos (Miller, 1983, citado por Azevedo &
Sardinha, 2009:182), tal como a aplicação efetiva daqueles últimos. Por isso, as tomadas de
decisão que radicam em questões devidamente justificadas, constituem o reflexo da formação
de cidadãos competentes e intervenientes na sociedade. Por outro lado, as comunicações e as
apresentações, em público integram, também, as competências instrumentais. Neste sentido,
dado que a implementação desta metodologia requereu a apresentação oral de um trabalho
final, foi oportuno obter dados no domínio da comunicação, tendo-se definido um conjunto de
critérios em função dos quais cada grupo de trabalho foi avaliado (Quadro 6).
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
Por fim, acresce ainda uma observação relativamente às competências sistémicas ou,
noutro sentido, às capacidades «que combinam a compreensão, sensibilidade e conhecimento»
(André, 2013:23), mas que estão sujeitas de precedência face às competências instrumentais e
interpessoais, ou seja, solicitam a aquisição antecipada destas últimas. Na verdade, cada sujeito
é, em si mesmo, um sistema que necessita de interagir com os outros sistemas existentes, por
isso, dado que estas habilidades são concernentes «à interação com os sistemas como um todo»
(Gonçalves, 2015:9), facilmente se depreende que à medida que se vai criando e estabelecendo
uma base de proficiências já desenvolvidas se vão, concomitantemente, incorporando novos
níveis de conhecimento. Assim, por via de uma aprendizagem holística, capaz de integrar e
reforçar as operações intelectuais, as práticas e os conhecimentos, viabiliza-se uma efetiva
compreensão global do processo educativo. Com efeito, o desenvolvimento de competências
solicita, desde logo, um ensino orientado para o trabalho colaborativo e as atividades práticas,
cuja avaliação deve considerar a aplicação do conhecimento. Todavia, «se piensa que no toma
suficientemente en consideración que la adquisición y aplicación del saber requiere de lectura,
análisis y reflexión individual, lo que requiere mayor tiempo para la enseñanza» (Marí, 2013,
citada por Villarroel & Bruna, 2013:24). A este propósito, questionaram-se os alunos
relativamente à relevância da situação-problema apresentada para o desenvolvimento do
trabalho colaborativo (Gráfico 3), tendo mais de metade dos inquiridos (52%) concordado
plenamente e outra parte significativa (30%) ter concordado em geral, o que leva a crer que há
um reconhecimento, por parte dos discentes, de que as interações necessárias à realização das
tarefas tiveram um contributo direto na melhoria das aprendizagens, na capacidade de aceitar
os pontos de vista dos outros e de desenvolver a capacidade de pensamento crítico, com vista
ao alcance e prossecução dos objetivos do grupo que integraram.
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Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
7%
11%
Concordo plenamente
Concordo em geral
Concordo relativamente
Discordo de todo
É neste contexto que cabe evidenciar a resposta das instituições de ensino superior
europeias perante a premência e o dever de «organizarem os cursos de formação de modo a
promover-se a transição do sistema de ensino baseado na transmissão de conhecimentos, para
um sistema orientado para a aquisição de competências pelos alunos» (Cachinho, 2011:13),
visto que «la educación superior estaba en crisis: el mundo académico no establecía una
adecuada vinculación con la sociedad y la realidade laboral. En general, los empleadores
criticaban la calidad de los recién egresados, ya que éstos analizaban los problemas laborales
desde una perspectiva excesivamente teórica, mostraban una negativa actitud al trabajo y
mantenían expectativas irreales frente al mundo laboral. Desde la perspectiva de los
estudiantes, la educación superior presentaba excesiva burocracia, los programas académicos
eran obsoletos y no preparaban para el trabajo real» (Alonso, Fernández & Nyssen, 2009,
citados por Villarroel & Bruna, 2013:24).
Por conseguinte, ainda que se tenha em consideração a existência de um conjunto de
competências sistémicas comuns ao mercado de trabalho, como sejam a aplicação dos
conhecimentos adquiridos, a capacidade de investigação, o respeito por outras culturas ou a
iniciativa/espírito empreendedor (Baños & Pérez, 2005:42), é perentório o reconhecimento da
adaptação a novas situações, a criatividade, a autonomia, bem como a capacidade de gestão
do próprio conhecimento (Allen & Van der Velden, 2007, citados por André, 2013:25)
enquanto as principais habilidades sistémicas incitadas à luz da intervenção pedagógica
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50%
41%
40%
33%
30% 26%
20%
10%
0%
Com efeito, a aplicação de uma metodologia orientada para a ABP impôs, desde logo,
a ativação da capacidade de adaptação a novas situações por parte dos discentes, quanto mais
não fosse pela inversão de papéis que lhes cabe adotar juntamente com o docente. Tendo tido
conhecimento das orientações relativas à metodologia em causa, a postura recetiva com que
os alunos enfrentaram os desafios lançados pela professora-estagiária evidenciou uma resposta
positiva face à aquisição e desenvolvimento da competência de adaptabilidade. A capacidade
de resposta dos alunos perante os reptos que lhes são colocados determina, não raras vezes, o
potencial da respetiva aprendizagem.
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PROBLEMAS URBANOS
Contributos da geografi a escol ar para o desenvolvi mento de aprendiz agens signifi cati vas
Concordo plenamente
26%
Concordo em geral
Discordo em geral
Gráfico 5 – Contributo das aulas e do método de ensino para a descoberta, reflexão crítica e debate.
Fonte: Resultado do questionário de autoavaliação aos alunos.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluído o percurso investigativo, cabe agora refletir em torno das questões que
nortearam este trabalho, referindo as conclusões, os contributos e as limitações do mesmo.
Na primeira parte deste relatório procede-se ao enquadramento científico do tema
dos problemas urbanos, o que permite realizar um ponto de situação relativamente às linhas
de discussão desta matéria, nomeadamente as que se referem às atuais tendências urbanas
e à existência de um conjunto de problemas, de carácter perene ou em desenvolvimento,
que constituem autênticos obstáculos à prosperidade das cidades e cuja análise tornou
evidente a pertinência da respetiva abordagem pelas numerosas e crescentes reflexões a
que tem dado origem, o que demonstra a importância que lhe é conferida. Efetivamente, o
tema dos problemas urbanos constitui um dos que mais interesse e preocupações desperta
junto dos estudantes, devido ao facto de a sociedade hodierna ser essencialmente urbana.
De acordo com o Programa de Geografia A, o estudo dos problemas urbanos advém da
análise das dinâmicas internas das áreas urbanas, e esta, por seu turno, está inserida num
dos três eixos em torno dos quais se abordam os conteúdos alusivos aos espaços
organizados pela população, devendo o nível de abordagem atentar à saturação das
infraestruturas urbanas, aos efeitos ambientais adversos e refletir sobre os aspetos
socioeconómicos.
Assim sendo, a intervenção pedagógica realizada no âmbito da Iniciação à Prática
Profissional III, apresentada neste relatório, foi desenvolvida de forma a responder a três
questões: 1) Qual o contributo da geografia escolar para o desenvolvimento de
aprendizagens significativas?; 2) Como promover aprendizagens significativas sobre os
problemas urbanos?; e 3) Que problemas afetam hoje os bairros da cidade de Lisboa e que
medidas se podem propor para a sua resolução, tendo em vista a melhoria da qualidade de
vida da população?.
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
Por conseguinte, existindo, por um lado, a consciência clara de que a escola deve
pautar-se por uma ação concordante com as dinâmicas de transformação da sociedade e
estar a par da realidade societal, e por outro lado, tendo a pretensão de encetar um percurso
educativo que esteja em harmonia com o desenvolvimento de competências associadas ao
contexto profissional, i.e., em consonância com o desenvolvimento de competências
transversais, úteis à formação dos indivíduos-cidadãos, optámos por adotar a metodologia
de ABP na nossa prática de ensino supervisionada. Com efeito, o destaque em relação aos
aspetos mais conseguidos no âmbito desta intervenção relaciona-se com o interesse que a
metodologia despertou nos discentes, já que, uma vez definidos os grupos de trabalho e o
papel de cada elemento no seio da equipa, os alunos envolveram-se determinantemente na
consecução das tarefas propostas. Ainda que a referida metodologia tenha sido inovadora
para os alunos e para a candidata a professora, o protagonismo esteve centrado nos
primeiros, quer pela responsabilidade face ao cumprimento das tarefas atribuídas, quer pela
procura do próprio conhecimento e da resolução da situação-problema. Por conseguinte,
considera-se que a principal mudança preconizada por esta opção metodológica está
relacionada com a valorização de uma aprendizagem realizada por via da descoberta e da
iniciativa do aluno, sustentada pelo conhecimento prévio deste, tendo a candidata a
professora assumido uma posição menos destacada, mas, ainda assim, de alguma
importância se se atender ao facto de que é aquela que define as linhas orientadoras do
processo de aprendizagem. Logo, as estratégias de aprendizagem empregues no âmbito da
aplicação da ABP conferiram aos alunos a adoção de uma posição destacada na construção
do seu conhecimento, uma vez que foram os discentes que recolheram, trataram e
analisaram toda a informação de base geográfica que sustentou as respetivas propostas de
trabalho.
Os dados respeitantes às aprendizagens evidenciadas pelos alunos foram recolhidos
através da análise de conteúdo das atas produzidas por estes, bem como da avaliação das
respostas facultadas ao inquérito por questionário, concernente à autoavaliação dos alunos
acerca do trabalho desenvolvido. Desta feita, as atas, além de terem funcionado como que
diários de aula, onde os estudantes descreveram as ideias relativas aos conteúdos e trabalho
desenvolvido por eles, concedendo a hipótese de conhecer as suas reflexões e pontos de
vista, permitiram, sempre que necessário, a reorientação dos objetivos das aulas.
Relativamente às aprendizagens que os discentes expressam ter desenvolvido com
a aplicação da ABP, destaca-se, desde logo, o progresso associado à capacidade de trabalho
em grupo. Na verdade, através desta metodologia, fomentaram-se as relações interpessoais
por via do reconhecimento que o objetivo do grupo só é alcançável quando, de igual forma,
as metas individuais de cada elemento são atingidas. A capacidade de comunicação, quer
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
seja escrita, através da realização das atas e da memória descritiva dos trabalhos, quer seja
oral, mediante o debate estabelecido dentro do grupo ou da apresentação oral à turma,
verificou-se, não só pela exposição das ideias dos estudantes, mas também pela defesa
destas de forma assertiva, o que denota, ainda, o desenvolvimento das capacidades de
negociação e argumentação. Ademais, ao desenvolverem a capacidade de trabalhar em
grupo, os alunos ficam mais suscetíveis à aceitação de críticas e pontos de vista díspares
dos seus, portanto, a ABP contribui diretamente para o fomento das habilidades
concernentes à negociação e à persuasão sempre que se verificam argumentações
consistentes das perspetivas de cada estudante. Depois, o cumprimento das tarefas e dos
prazos referentes às mesmas viabilizam a capacidade de autonomia e de trabalho
autodirigido.
Porém, é importante observar como uma das limitações mais sentidas pela docente-
estagiária o tempo considerável requerido na conceção da situação-problema e construção
dos materiais de apoio necessários à implementação das atividades propostas. Posto isto,
por vezes, conceber um cenário problemático estimulante pode ser um processo bastante
moroso e desafiante para os docentes em início de carreira que tenham tido pouco contacto
com esta metodologia. Por seu turno, alguns alunos reconheceram, também como aspeto
menos positivo, o tempo que tiveram que despender para a disciplina fora do horário letivo.
Do mesmo modo, atente-se que, no que respeita à recolha de informação
geográfica, a candidata a professora verificou, por parte de determinados elementos, a
necessidade de serem orientados relativamente à informação que seria útil ou pertinente
para os respetivos trabalhos, havendo a perceção de que os estudantes estavam a sentir-se
algo desorientados.
Cabe ainda destacar que nenhum discente manifestou desagrado face ao perfil da
professora-estagiária, antes pelo contrário. No que toca à clareza na exposição das ideias,
à segurança nos conhecimentos e ao empenho nas aulas, grande parte dos discentes esteve
em concordância quanto ao bom desempenho daquela nestes domínios. Por outro lado, por
via dos dados obtidos através do inquérito por questionário aos estudantes, foi percetível
que, na generalidade, em relação ao grau de satisfação face ao trabalho desenvolvido pela
candidata a professora, os discentes mostraram-se bastante satisfeitos ou relativamente
satisfeitos, o que se considera ser um aspeto conseguido a salientar. Para mais, também os
materiais de apoio facultados foram adequados e pertinentes à consecução das tarefas, pelo
que se considera que foram potenciadores de aprendizagens significativas, pois orientaram
o aluno ao longo da sua aprendizagem e na construção do seu conhecimento, já que a
produção de propostas de resolução dos problemas identificados evidencia, desde logo, a
eficiente assimilação e compreensão da informação. Logo, as estratégias empregues pela
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PROBLEMAS URBANOS
Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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PROBLEMAS URBANOS
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Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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Contribu tos da geograf ia escol ar para o desenvolvimento de aprendizagens significativas
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