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O REAL E O INTANGÍVEL

Do conhecimento interior, da ciência da mente sobre alma, surge a força da razão... Neste momento nascem
também as experiências que dão significado à lógica e ao raciocínio..... Será que as barreiras que nos
protegem, será que os muros de contenção, será que os mundos interiores também se originam aí? E se
conhecermos profundamente a obra do intelecto, o mundo irreal porém coeso, permeado por tamanha
perfeição, e ao mesmo tempo por tão grande fracasso, será possível o escape, a fuga, a libertação?

Não ouso dizer que seja totalmente inóspito, pois neste lugar possuo o necessário para a sobrevivência.
Porém não encontro nele luxos, comodidades ou prazeres. Sua matéria prima é a dor e o sofrimento, suas
estradas, o medo e a incerteza, suas paisagens, angústia e negação, Suas construções, cimentadas com
lágrimas e noites insones, sua vida, extraída da auto-punição e da morte. Nele, a água que sacia a sede é
urina fétida e o alimento, ervas amargas e excrementos secos ao sol. Aqui a aridez é uma constante, e
chuvas somente através de descrições e imagens. Meu corpo recoberto por marcas e cicatrizes anseia por
bálsamos nunca provados, enquanto mutilações me impedem de prosseguir sem ajuda. A frustração enxágua
meu corpo enquanto o lamento me enxuga a alma. A morte se mistura à vida, e meu desejo de viver é
permeado pela vontade de morte. Morte, não para que tudo acabe, mas para que apenas o ciclo se
interrompa, porém, não sendo isto possível, então..... De repente, se o sol se apagasse, ao menos para mim,
quem sabe? Se a luz da lua invadisse minha mente e escurecesse meus pensamentos, quem sabe?

Por vezes, no entanto, parece que acordo em outro mundo, real, seguro e estável. Posso até sentir o perfume
das flores, o vento no rosto, a água nos pés, olhar com simpatia para as pessoas, perceber o amor e o carinho
de todos. Nestas vezes parece que meus mundos se fundem num único momento, onde o real passou a ser
sonho e as visões se tornaram tangíveis. Porém, estas divagações acabam rápido, e o que era real e presente
acaba deixando um gosto amargo de frustração, ódio, inveja, medo, insegurança, fragilidade, baixa auto-
estima, vergonha, vingança e autodestruição....

Estou de volta ao meu lugar, de onde nunca deveria ter saído... Me perguntam então, imagino eu, porque
vivo aqui, porque criei isto tudo? Por segurança apenas, para evitar o pior, talvez... O pior? O que é o pior?
Eis aí o impasse, o que é o pior? Para mim ou para os outros? Estar apenas vivo, mas neste lugar e nesta
forma seria o melhor, ou então o pior? Acabar tudo, sacrificar o ser que agoniza, que estrebucha, sem
esperança de melhora, isto seria o melhor, ou o inverso? Não sei!

O que considerar, como considerar? Como decidir, como suprimir, como manter? Como evitar, como
sinalizar? O que procurar, o que evitar? Onde buscar, onde encontrar? Como parar, como conter, como
deter? Como viver, como morrer.........

Vida, cansaço...

Alegria, esquecida...

Sorrisos, aparência....

Satisfação, resquícios....

Interior, convulsões...

Emocional, fragilidade....

Sentido, nenhum....

Amor, platônico...

Desejo, morte!

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