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Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnologia

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás

Departamento das Áreas Acadêmicas

Prática de Ensino / Estudos Integradores: Estudos Culturais

Seminários: Estudos Culturais

Tema: Estudos Culturais e as Contribuições de Raymond Henry Williams

Professora Responsável: Prof. Drª. Waléria Batista da Silva Vaz Mendes

Dissentes:

Talita da Luz Neto

Nayany dos Santos Pinheiro

Maria Cristina Emerique da Silva

José Antônio Lobo Filho

Robson Lourenço

APARECIDA DE GOIÂNIA/2021
RESUMO

RAYMOND HENRY WILLIAMS O PENSADOR DA CULTURA

INTRODUÇÃO

• Trajetória

Acadêmico, sociólogo, pesquisador, crítico e escritor galês Raymond Williams nasceu no dia
31 de agosto de 1921, no pequeno vilarejo de Llanfihangel Crucorney, no País de Gales, localizado
no Reino Unido.

Este galês se tornaria um dos principais estudiosos e criadores dos estudos culturais, e
despontaria como um nome significativo nesta esfera na Nova Esquerda inglesa, no período que se
seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial. Ele elaborou estudos sobre literatura, teatro e televisão,
sempre procurando compreender estes veículos tanto do ponto de vista da cultura erudita, quanto da
cultura popular, sem deixar de lado a famosa indústria cultural.

Em 1946, o acadêmico defendeu seu mestrado no Trinity College, iniciando a partir de então
uma experiência pioneira na educação de adultos, em classes noturnas direcionadas para as classes
trabalhadoras. Sua vivência pedagógica foi registrada em seu célebre estudo Cultura e Sociedade,
lançado em 1958. Ele repetiu o mesmo sucesso obtido por esta obra com o livro A Longa Revolução,
de 1961. Entre seus vários livros, ele escreveu igualmente Television: Technology and Cultural Form.

VISÃO E PENSAMENTOS SOBRE A CULTURA

Williams em seu livro ele se propunha a realizar uma ampla revisão dos fatos relativos à história cultural,
tomando como palavra-chave o conceito de cultura na sua interligação com a vida social. Sua intenção foi
“a de descrever e analisar o complexo desses traços, dando ideia de seu desenvolvimento histórico”. Desse
modo, o autor percebeu que não poderia restringir-se ao conceito de cultura, pois, na história da palavra, na
estrutura de seus significados, o que ele via era “um movimento amplo e geral de ideias e sentimentos”
(WILLIAMS, 1969, p. 19).

A obra de Raymond Williams (1921-1988) reafirma a atualidade do diálogo entre a história e os


Estudos Culturais, a partir da tradição britânica de crítica cultural materialista, que articula a produção
artística às condições materiais da sociedade. Ao mesmo tempo em que transita entre a crítica e a
produção literária, ele se preocupa com uma crítica cultural que analise e intervenha na realidade
social. Desse modo, seu projeto intelectual proporciona uma leitura instigante da “crise da cultura
contemporânea”, especialmente por polemizar com os estudos de cultura, especialmente durante os
anos 1990, que abdicaram de uma crítica engajada da cultura.

Para compreendê-lo, é necessário observar duas dimensões de Williams: a trajetória pessoal e o


movimento intelectual ligado à New Left britânica.
Desde os anos 1940, havia a percepção de que o estudo sobre a cultura possibilitava entender
o funcionamento da sociedade numa perspectiva crítica, visando transformá-la. Nesse sentido, a
educação para adultos foi parte importante da atuação institucional da New Left, destacando a
participação ativa de R. Williams e E. P. Thompson na Worker’s Education Association, um projeto de
instrução universitária para adultos.

• FASES DA PRODUÇÂO INTELECTUAL DE WILLIAMS

O caráter formador de sua origem operária é um dos diferenciais que marcam o pensamento
de Williams, como fica claro no prefácio ao livro Marxismo e Literatura, em que lembra que os
argumentos culturais e literários eram, na realidade, uma extensão da aplicação política e econômica
do seu “crescimento numa família de classe operária”, ou uma forma de filiação dela (WILLIAMS, 1979,
p. 8).

Podemos identificar três fases da produção intelectual de Raymond Williams expressos em


suas obras.

O primeiro período está centrado na categoria de experiência para a análise literária e


dramática, em obras como Reading and Criticism (1950), Drama from Ibsen to Eliot (1952), Preface to
filme (1954) e Drama in Performance (1954).

O segundo momento é aquele em que o autor desenvolve uma análise geral da cultura dentro
da estrutura literária, dialogando com a herança de F. R. Leavis e a tradição cultural materialista
britânica. As obras representativas deste período são Cultura e Sociedade (1958) e Long Revolution
(1961).

Já na década de 1970 e 1980, Williams concentrar-se-á seus esforços na construção de uma


teoria materialista da cultura, forjada nos livros Marxismo e Literatura (1977) e Cultura (1981).

• MATERIALISMO CULTURAL, MODERNISMO E A COMUNICAÇÃO

Williams concebe o materialismo cultural como alternativa à metáfora base/superestrutura,


pensando a “cultura como produto e produção de um modo de vida determinado, e não como reflexo
de uma base socioeconômica” (CEVASCO, 2001, p. 138).

O importante no seu trabalho é sua preocupação em enfocar conceitos não como codificações
fechadas, mas como movimentos históricos, que levam às vezes a formulações conflitantes, em torno
do problema central da teoria marxista da cultura: os modos de sua determinação social e econômica.

Williams já propunha uma leitura da cultura como modo de vida, na qual criticava a fórmula
marxista de base e superestrutura, propondo uma ideia mais ativa de um campo de forças que se
determinam mutuamente, mas também de forma desigual.
Além de estudar as formas expressas nas obras de arte, temos de articulá-las também a
formas e relações da vida social mais geral.

Em Quando foi o Modernismo? Williams acentua essa posição crítica diante do pós-
modernismo, ao sugerir que a única maneira de romper com a fixidez não-histórica do pós-modernismo
é retomar o rumo da tradição moderna e antiburguesa.

Para tanto, é necessário determinar o processo que fixou o momento do modernismo,


identificando o mecanismo da tradição seletiva. Segundo ele, depois que o modernismo foi canonizado
os artistas marginais ou rejeitados tornam-se clássicos do ensino organizado e de exposições
itinerantes nas grandes galerias das cidades metropolitanas.

o modernismo “é confinado a este campo altamente seletivo, sendo-lhe negado tudo o mais,
num ato de pura ideologia, cuja primeira e inconsciente ironia é que, absurdamente, para a história,
mata-a. Sendo o modernismo o término, tudo o que vem depois não é levado em conta de
desenvolvimento. É depois, enterrado no passado” (WILLIAMS, 2007, p. 34-35).

Comunicação para Williams, está no coração da história do homem. Ele nos faz a seguinte
pergunta: quem consegue imaginar o mundo sem a fala ou mesmo sem a escrita? A língua foi uma
das coisas que distinguiu o homo sapiens emergente dos seus primos macacos que vagavam na África
na pré-história. Então, o inicio da escrita está intimamente ligado com o aparecimento das cidades no
crescente fértil do mediterrâneo oriental. Mais tarde, dimensões completamente novas capacidades de
nos comunicarmos foram fornecidas pela invenção de sistemas para reproduzir milhões de impressão
deu forma à cultura ocidental que herdamos; e, desde então, rádio, cinema, televisão e tantos outros
meios de comunicação são o centro de qualquer debate. E, provavelmente, continuarão sendo.

O uso de comunicações no plural aparece também na sua obra communications (1966), cuja
primeira edição, de 1962, influenciou núcleos de estudo que começavam a estudar a comunicação no Reino
Unido, especialmente o Pilkington Report – comissão que se reuniu entre 1960 e 1962 para discutir o futuro
da radiodifusão na Inglaterra.

Raymond Williams acredita que podemos distinguir quatro tipos principais cuja descrição e
comparação desses tipos permitirem um pensamento mais realístico sobre controle e liberdade. Estes
tipos são: Autoritário, paternal, comercial e democrático.

• CONCEITOS DE CULTURA NA VISÃO DE WILLIAMS E OUTROS AUTORES

Nova teoria geral da cultura na visão Williams: “Por vivermos uma cultura em expansão,
dependemos muito de nossa energia lamentando esse fato, em vez de buscar compreender lhe e
natureza e as condições. Creio que uma ampla revisão de fatos relativos à nossa história cultural torna-
se necessária e urgente, em matérias tais como alfabetização, níveis educacionais e impressa.”
(WILLIAMS, 1969, p.12).”

Pensamento social inglês de Coleridge :“produziram, assim [...] uma filosofia da sociedade, na
única forma até agora possível, a de uma filosofia da história, declaram-nos não uma defesa de
particularidades doutrinais éticas ou religiosas, mas uma contribuição, a maior que até agora
recebemos de qualquer desses pensadores, para a filosofia da cultura humana [...] A cultura do ser
humano havia atingido alturas extraordinárias e a natureza humana já havia exibido muitas de suas
manifestações mais nobres não apenas em países cristãos, mas no mundo antigo, em Atenas, Esparta,
Roma; não só isso, mas os próprios bárbaros, como os germanos ou selvagens ainda mais atrasados,
como os índios ou ainda os chineses, egípcios, ou árabes, todos tinham tido seu próprio sistema de
educação, sua própria cultura; uma cultura que, qualquer que haja sido sua tendência em seu todo,
teve êxito sob este ou aquele aspecto.[...] Em tal sentido a descrição e os conceitos sobre vários
elementos da cultura humana e as causas que influem sua sobre a formação do caráter nacional
apresentados nos escritos da escola Germano-coleridgiana, colocam na sombra tudo o que fez antes
de tudo quando tentou simultaneamente qualquer outra escola.( COLERIDGE apud WILLIAMS, 1969,
p. 80).

Arnold define a cultura como: “forma de nos salvarmos das dificuldades atuais; considerando
a cultura a busca de nossa perfeição mais completa, a ser conseguida por meio de esforço por saber,
em todas as questões que mais nos interessam, o que de melhor for pensado e dito no mundo; desse
conhecimento fluirá uma corrente de pensamento novo e livre por sobre a massa de noções e hábitos
comuns que observamos zelosa porém mecanicamente, em vão imaginado que há, em segui-los,
zelosamente, virtude que nos compensa dos danos de segui-los de maneira mecânica (ARNOLD apud
WILLIAMS, 1969, p.131).”

Na obra de The Mind in Chains a ideia geral acerca de cultura é razoável de Lewis: “o processo
da palavra cultura depende do progresso das condições materiais para o seu desenvolvimento; e em
particular, a organização social de qualquer período da história põem limites às possibilidades culturais
desse período. Há ao longo da história, entretanto, uma constante interação entre cultura e
organização social. A cultura não é dada, em verdade, ir além do possível; mas organização social
pode atrasar-se, e na realidade a atrasar-se em relação ao que seria do ponto de vista da cultura,
possível e desejável. Há certa continuidade entre as várias formas de organização social e as várias
formas de cultura; mas a continuidade da cultura é mais assinalável, por dois motivos principais:
primeiro, porque é mais fácil vislumbrar possibilidades do que pô-las em prática; segundo, porque as
mudanças e os progressos na sociedade, sofrem resistências da parte daqueles a quem qualquer
mudança parece prejudicial, já que se encontram, no momento, no topo da escala social. Nas ocasiões
em que a mudança social se impõe, a cultura entra em conflito com as os padrões estabelecidos da
sociedade, padrões que, por sinal, foram adotados e apropriadamente sustentados pela cultura no
passado, mas que se revelam agora ainda inadequados e desestimulantes para um novo avanço, para
o futuro (LEWIS, 1937, p.19-22, apud WILLIAMS, 1969, p.281).”

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