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Introdução ao Direito 
UAL ­ 2015 
1º semestre 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nuno Ramos 
20040121 

 
 
 
Introdução ao Direito
 

Noção de Direito e suas características 
A palavra Direito tem vários significados. Sendo uma palavra polissémica, para encontrarmos os significados 
de Direito, que nos são pertinentes, começamos por considerar duas dimensões: Direito Subjectivo e Direito 
Objectivo. 
1. Quando nos referimos ao Direito Civil português, referimo­nos ao conjunto de comandos, regras ou 
normas, ao ordenamento jurídico­civil nacional no seu conjunto ­ isto é o sentido objectivo do Direito 
2. Quando, por outro lado, afirmamos que possuímos o direito de propriedade sobre a nossa casa, 
referimo­nos a um poder sobre ela que nos é especialmente conferido, o qual contém várias 
“faculdades” e “poderes” ­ isto é o sentido subjectivo do Direito. 
 
Para efeitos presentes será o Direito Objectivo o objecto do nosso estudo. 
 
Como surge o Direito? 
O direito nasce da gregariedade do ser humano. O homem desde sempre se revelou incapaz de, por si 
próprio, realizar a plenitude das suas necessidades. É na vida social que alcança esta satisfação.  
Sendo esta existência em sociedade que determina a existência do Direito. Como afirmaram os romanos “Ubi 
Societas Ibis Jus” ­ Onde existe sociedade existe direito”. 
Mas porque é que a existência da sociedade determina a existência de Direito? 
Pois o Direito pretende evitar o caos e o poder tirânico. 
 É que na vida social não há somente relações de solidariedade, comunhão de interesses e harmonia entre os 
homens. Se o homem constrói sociedades para alcançar a satisfação das suas necessidades, então é fácil que 
perceber que no desencontro entre as necessidades ilimitadas e crescentes e a escassez de recursos para as 
satisfazer, nasce o conflito. Basta dois homens terem interesse pelo mesmo bem, para que surja um conflito de 
interesses. 
Assim, o Direito existe para solucionar estes conflitos, indicando o interesse que deve prevalecer, e o modo de 
o tutelar ­ definindo e impondo regras de conduta. Mas o Direito não é uma ordem qualquer, é uma ordem justa 
(ou pretende­se que assim seja), não é uma regra de xadrez, mas um sistema de normas em cuja criação 
participam os seus destinatários, que são homens, e não simples peças de uma engrenagem. 
 
Podemos avançar com um primeira definição de Direito: 
 

O Direito traduz­se em normas de conduta social, que regulam com carácter de generalidade, a convivência 
dos homens em sociedade, mediante a imposição de acções e abstenções 
 
O Direito diz o que se deve fazer e o que não se deve fazer por forma a que a cada membro da sociedade 
possa ser atribuído o que é seu. Em suma, garantir justiça, a segurança, e os Direitos humanos. Mais ainda, o 

 
Nuno Soromenho Ramos 1 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito efectiva­se pela força quando necessário e quando possível. Este recurso à força justifica­se pela 
importância das exigências a que o Direito responde. 
Não se confunda esta força com sujeição física, várias sentenças passam por outras formas de coerção ou 
constrangimento que não a força física.   
Chegamos a uma definição mais abrangente: 

Definição de Direito 
Sistema de regras de conduta social, obrigatórias para todos os membros de uma certa comunidade, a fim 
de garantir no seu seio, a Justiça, a Segurança, a Liberdade e os Direitos Humanos, sob a ameaça de 
sanções estabelecidas para quem violar tais regras 

Leis normativas e leis físicas 
Já sabemos que o Direito é um conjunto de Leis. Mas todos ouvimos falar de Leis que nada têm a haver com o 
Direito, a Lei da Gravidade por exemplo. O que distingue as leis do Direito ­ Leis Normativas ­  das leis do 
mundo material ­ Leis Físicas. 
 

Leis Físicas  Leis Normativas 

● Exprimem as relações necessárias entre as  ● Visam esclarecer a inteligência e orientar a 
coisas  vontade 
● Aplicam­se de forma invariável e constante  ● São regras de conduta, que indicam o que 
● Não dependem da vontade do homem  deve e o que não deve fazer, propondo fins 
● Ninguém as crias, são dadas como forma  e meios para os atingir 
de conservação da Natureza  ● Pertencem ao mundo espiritual 
● São explicativas  ● Formam a Religião, a Moral, o Direito 
● São regras de causalidade  ● São essencialmente violáveis 
● Dizem o que é  ● São imperativas 
● Dizem o que deve ser 
● São dotadas de coercibilidade 
 
Lei Normativa, é um princípio, uma norma, criada para estabelecer as regras que devem ser seguidas. Do 
Latim "lex" que significa "lei" ­ uma obrigação imposta. 
Numa sociedade, a função das leis é controlar os comportamentos e ações dos indivíduos de acordo com os 
princípios daquela sociedade. 
No âmbito do Direito, a lei é uma regra tornada obrigatória pela força coercitiva do poder legislativo ou de 
autoridade legítima, que constitui os direitos e deveres numa comunidade. 
No âmbito constitucional, as leis são as normas produzidas pelo Estado. São emanadas do Poder Legislativo e 
promulgadas pelo Presidente da República. 
O Direito pertence ao mundo normativo tal como a Religião e a Moral, pelo que é necessário descobrir o que 
distingue estas regras de condutas. 

 
Nuno Soromenho Ramos 2 
 
 
Introdução ao Direito
 

Distinção entre a ordem jurídica e outras ordens 
normativas: ordem religiosa, moral e de trato social 
Nem todo o comportamento humano é regrado pelo direito. Existem várias outras normas de origem moral, 
ética e religiosa, entre outras.O Direito não é a única organização normativa. Temos outros exemplos: 
● Ética ​
­ vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao "bom costume", "costume superior", ou 
"portador de caráter". Princípios universais, ações, em que acreditamos e não mudam 
independentemente do lugar, ou sociedade, onde estamos. 
Diferencia­se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos 
recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão. 
O desrespeito pelas normas éticas não implica uma sanção, a menos que haja uma sobreposição com 
uma norma legal. 
● Moral ​
­ usualmente derivas da norma religiosa, da espiritualidade. Distingue­se da Ética (individuo) 
privilegiando o sentido comunitário da atitude valorativa.  
● Religião 
 
O Direito é uma reprodução dos valores Morais, Éticos e Religiosos da sociedade num dado momento. 
Podemos afirmar que é maior a influência das ordens normativas sobre o Direito que vice­versa. 
 

Diferença entre Direito e Religião 
Na Antiguidade, a Religião e o Direito confundiam­se. O poder do Rei era legitimado por ser o representante 
do Poder Divino. Grande parte da história da Civilização Ocidental se fez nesta dialética o Espiritual e o 
Temporal. Entre diversas combinações e preponderâncias do poder da Igreja e do Estado. 
Na actualidade, no que toca ao Cristianismo, aceita­se a separação entre a Igreja e o Estado, ou seja entre a 
Religião por um lado e por outro a Política e o Direito. 
 

Religião  Direito 

Fonte: Divina  Fonte: Humana 

Conteúdo: normas relativas ao respeito pela palavra  Conteúdo: normas relativas à regulação e disciplina 
de Deus e pelas exigências do culto que lhe deva  da vida dos homens em sociedade, assegurando o 
ser prestado  respeito pela justiça, segurança, liberdade e direitos 
do homem 

Eficácia: só obrigam os crentes e só são dotadas de  Eficácia: obrigam a todos os cidadãos de 
sanções espirituais  determinada comunidade, sob a ameaça de 
sanções temporais 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 3 
 
 
Introdução ao Direito
 

Em Portugal, existe liberdade religiosa e separação entre as Igrejas e o Estado (CRP Art. 14º). A Religião não 
prevalece sobre o Direito, nem o Direito prevalece sobre a Religião. 
Podemos referenciar quer normas jurídicas de origem religiosa (ex: dia de descanso ao domingo, Natal e 
Páscoa como feriados), quer normas jurídicas que se opõem à Religião (ex: casamento civil, divórcio para os 
casamentos católicos). 
 

Diferença entre Direito e Moral 
Existem diferenças, da anterior, nesta distinção pois embora todas as religiões tenham uma moral, nem todas 
as morais têm religião (estoicismo, epicurismo, hedonismo, etc..) 
 
Em comum, o Direito e a Moral são sistemas normativos. Se a moral individual pouco tem a ver com o Direito, 
já a moral social ou moral colectiva cobre, em larga medida, o campo de aplicação do Direito. 
Antes de partir para a diferenciação entre o Direito e a Moral temos que identificar o conceito de moral que nos 
interessa: 
● Concepção Dualista​
 ­ Considera o Direito e a Moral ordens normativas, separadas, distintas e 
independentes entre si. Sem que alguma tenha supremacia sobre a outra. 
● Concepção Monista​
 ­ Considera que a Moral é a única ordem normativa dos comportamentos 
humanos em sociedade, sendo o Direito uma parte da Moral. 
Consideramos posição dualista a mais correcta uma vez que o Direito, pese embora incorpore normas morais, 
pode impor normas jurídicas contrárias à Moral, ou a uma certa moral tradicional da sociedade. 
O Monismo erra ao considerar o Direito sua pequena parte, pois o Direito não pode estar subordinado a uma 
moral. O Direito, nomeadamente o Estadual, é único para todos os cidadãos. Ao passo que a Moral é uma 
matéria de opção individual, resultante da liberdade de consciência, direito fundamental garantido pela CRP 
Art. 41º, nº 1. 
 

Moral  Direito 

Fundamento: resulta da opção livre da consciência  Fundamento: resulta da vontade colectiva de uma 
individual de cada pessoa  certa comunidade humana 

Fins: visa conduzir cada indivíduo à prática do bem  Fins: visa a regulação e disciplina da vida dos 
e à recusa do mal, cumprindo os deveres que a sua  homens em sociedade, assegurando o respeito pela 
moral lhe impuser  justiça, segurança, liberdade e direitos do homem 

Meios: Sanções internas de consciência (culpa,  Meios: Sanção físicas ou materiais (multas, privação 
remorso..), ou externa por reprovaçao social (corte  de direitos, perda de bens, etc..) 
de relações, ostracização…) 
 
O Direito e a Moral são sistemas normativos distintos que ora se aproximam ora se afastam, existindo normas 
morais integradas nas jurídicas, normas morais recusadas pela esfera jurídica, normas jurídicas sem qualquer 
valoração moral, etc. 

 
Nuno Soromenho Ramos 4 
 
 
Introdução ao Direito
 

Qualquer cidadão pode, individualmente, adoptar a moral que desejar, mesmo que diferente da que o sistema 
de Direito do seu país inspira. Mas não pode desobedecer à lei alegando o carácter imoral da norma jurídica 
(CC Art. 8º, nº 2) 
 

Diferença entre Direito e Tratos Sociais 
Por tratos sociais entendemos as práticas habitualmente seguidas pelo Homem na vida em sociedade, por 
tradição, cortesia ou simples conveniência, mas que não têm, em regra, obrigatoriedade jurídica. 
● Exemplos de tradição: feiras de mercadores ambulantes 
● Exemplos de cortesia: oferta de presentes no aniversário 
● Exemplos de simples conveniência: férias de empresa em Agosto. 
Se na generalidade os usos sociais não são relevantes para o Direito, outros há que importam ao Direito. 
Como distingui­los? Disso trata o CC Art. 3, nº 1, que elabora dois preceitos: 
1. Que a Lei mande atender aos usos em determinadas matérias 
2. Que o conteúdo desses usos não seja contrário aos princípios de boa fé 

Direito objectivo e Direito subjectivo 
Direito ­ Esta palavra tem vários significados. É uma palavra polissémica ­ que tem vários sentidos. 
Para encontrarmos os significados de Direito, que nos são pertinentes, começamos por considerar duas 
dimensões: Direito Subjectivo e Direito Objectivo 
1. Direito Subjectivo ​
Direito titulados pelo sujeito. Direitos que nos assistem como seres jurídicos. Tais 
como casar, votar ou constituir sociedades. Por seres jurídicos entendemos pessoas e pessoas 
colectivas. Estes Direitos existem porque existe uma realidade prévia que os organiza, estrutura e 
tutela ­ o Direito Objectivo. 
cada indivíduo goza de uma zona delimitada de poder (garantias individuais) na qual lhe é 
legítimo mover­se segundo os seus próprios critérios. Estas prerrogativas são os direitos 
subjetivos. É subjetivo o que pertence à essência (atributo) do sujeito, o que lhe é inerente. 
Um exemplo de Direito Subjectivo retirado do Código Civil será: Art. 72º ­ Direito ao Nome 
 
2. Direito Objectivo ​
Trata­se do enquadramento onde nascem, se consagram e são protegidos os 
Direitos Subjectivos que existem aos seres jurídicos. 
o direito manifesta­se como um conjunto de normas ou preceitos imperativo­atributivos destinados 
a organizar a vida social. A este corpus iuris, como algo que é posto diante (objectum) dos 
indivíduos, atribui­se a denominação de direito objetivo. 

 
Nuno Soromenho Ramos 5 
 
 
Introdução ao Direito
 

Fundamentos e fins do Direito 
A necessidade do Direito 
Temos as seguintes relações que consideramos profundamente dependentes uma da outra  
1. A relação entre o Homem e a sociedade, o Homem precisa da sociedade 
Por outras palavras: 
● O ser humano é um ser social. 
● Aristóteles, no quarto século antes de Cristo: O homem é um animal político, visto que político 
provém de pólis, cidade. O homem tem pois necessariamente de se congregar em 
comunidades, para assegurar a sua subsistência e a realização dos seus fins. 
● A natureza social do Homem: “Ubi homo, ibi societas” (onde existe o Homem, existe 
sociedade). 
● O homem é de uma natureza eminentemente social (tem a tendência para se agrupar com o 
seu semelhante), e somente através da interacção com outros homens e da conjunção dos 
seus esforços, baseada na solidariedade, é que será possível ao Homem atingir a sua plena 
realização.  
2. A relação entre a sociedade e o direito. A sociedade precisa o direito. 
Por outras palavras:  
● Direito e sociedade são realidades inseparáveis. 
● A filiação social do Direito: “Ubi societas, ibi jus” (onde há sociedade, há Direito). 
Caso contrário, isso é, na ausência de regras jurídicas, seriamos levados ao caos, à lei do mais forte e ao 
despotismo. Então já começamos a falar das funções do direito, 
1.  O direito é uma ordem constituída por normas, cuja principal função é disciplinar as condutas 
humanas.  
2. Segundo Hans Kelsen (“Teoria Pura do Direito”, 1960): o “Direito” é o direito positivo, isto é, 
exclusivamente as normas escritas e emanadas pelo órgão estadual competente  
3. Segundo José de Oliveira Ascensão (“O Direito – Introdução e Teoria Geral”, 2008): “Direito” é muito 
mais do que as normas escritas e emanadas pelos órgãos estaduais competentes, o direito, antes de 
mais, inclui o costume, as instituições, contratos etc. 
4. Segundo Germano Marques da Silva (Introdução ao Estudo do Direito p. 29) o Direito é o sistema de 
normas coercivas destinado a reger as relações humanas no interior de um determinado sistema 
geopolítico. 
O autor define o “sistema” como conjunto de normas correlacionadas entre si, formando uma ordem 
jurídica. “Normas”: regras de comportamento humano que se impõem aos destinatários, 
estabelecendo o que deve ser. “Coercivas”: as regras podem ser impostas pela força. 
A convivência em sociedade traduz­se na entre­ajuda, na solidariedade, na divisão do trabalho; e tudo isto só é 
possível havendo padrões estabelecidos de conduta, regras que assegurem a harmonização das actividades 

 
Nuno Soromenho Ramos 6 
 
 
Introdução ao Direito
 

entre si. Assim, torna­se essencial a resolução de conflitos que a vida social, inevitavelmente, suscita, surgindo 
o Direito, que procura promover a solidariedade de interesses, e resolver os conflitos de interesses. 
Direito é, então, o sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva (imposta pelo Estado). 
Destas definições do Direito vamos extrair algumas características: 
● Social​
 ­ Por o Direito só se verificar em sociedade, o fenómeno social aparece­nos desde logo como 
condicionante do fenómeno jurídico. 
● Relacional ​
­ O Direito é um fenómeno humano e social, sendo social, é relacional. 
● Indispensável ­ ​
O Direito é indispensável, tendo em conta que o Direito pretende ordenar a conduta 
humana, e nós consideramos isso indispensável para uma convivência em sociedade. Há quem 
defenda que no passado já existiram sociedades sem ordem jurídica, e em relação ao futuro, existe o 
marxismo, e segundo a principal interpretação de Karl Marx deixaria de haver necessidade dum Direito 
após a eliminação das classes económicas. 
● Subsidiário ­ ​
O direito é subsidiário, porque não interfere em todos os aspectos da nossa vida. 
● Coercível​
 ­ O Direito é assistido pela coercibilidade, isso é, a ordem jurídica pode recorrer à força 
para impor o seu cumprimento. 
 

Objectivos do Direito 
Os juristas clássicos consideravam o que o fim principal, se não único, do Direito é a Justiça. No entanto não 
podemos aceitar esta visão limitativa. Historicamente, os fins do Direito relacionam­se com o regime 
constitucional em vigor ­ a liberdade para o liberalismo, a autoridade para a ditadura. 
Actualmente, em Portugal, consideramos 4 objectivos: 
1. Justiça 
2. Segurança 
3. Liberdade 
4. Protecção dos Direitos Humanos 

1) Justiça 
O primeiro e principal fim do Direito é, sem dúvida, assegurar a justiça. 
Só assim se realiza. E da busca deste objectivo fundamental decorrem todas as outras manifestações. 
A justiça torna­se fundamental porque só esta garante a tutela da dignidade do ser humano na sua vivência 
social. A força desta convicção vem da Antiguidade Clássica e é consagrada na nossa Constituição, no Art. 1º 
­ “Portugal (...) empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. 
A Constituição impõe deveres de justiça ao Estado (CRP Art.º9 d), Art. 266º nº2, Art. 205, nº1) 
Assim, as leis devem ser justas, as decisões administrativas devem ser justas, as sentenças judiciais devem 
ser justas, ou seja, o Estado de Direito é antes de mais um Estado de Justiça 
Mas a Justiça por si não justifica o Direito. 
 

2) Segurança 
Só com segurança a justiça não será atropelada. Havendo segurança podemos, com limitações, perspectivar 
a administração da Justiça. 

 
Nuno Soromenho Ramos 7 
 
 
Introdução ao Direito
 

Sem Segurança a Justiça fica comprometida. E são 5 as principais dimensões de segurança do Direito: 
1. Segurança Internacional 
2. Segurança Pública Interna 
3. Segurança Individual 
4. Segurança Económica­Social 
5. Segurança Jurídica 
Embora a convivência entre Justiça e Segurança seja fácil de conseguir, por vezes a Segurança parece 
imperar sobre a Justiça. Veja­se o caso da previsão preventiva de um suspeito que se venha a revelar 
inocente. 
Cabe então ao legislador, usar de prudência e sabedoria, para limitar ao mínimo necessário a prevalência da 
Segurança sobre a Justiça, regulando pela forma menos gravosa para a Justiça 
 

3) Liberdade 
A liberdade é um direito fundamental procurado pelo Direito. 
Nas palavras de Rousseau, “a minha liberdade termina onde começa a do outro”. Burilando esta afirmação, a 
minha liberdade existe em harmonia com as dos outros, sendo exercida com responsabilidade. 
 

4) Protecção dos Direitos Humanos 
A doutrina dos Direitos Humanos ­ direitos individuais, inerentes à condição humana e por isso mesmo 
anteriores ao próprio Estado ­ foi proclamada pela primeira vez num grande texto internacional, em 1776, a 
“Declaração de Independência dos EUA”. 
Existem duas visões quanto à legitimação dos Direitos Humanos. 
A escola do positivismo estatizante, só reconhece a existência daqueles direitos subjectivos que sejam criados 
e outorgados pelo Direito Objectivo. Desta forma as Declarações de Direitos tem carácter constitutivo, criando 
o que não existia. 
A escola do Jusnaturalismo, considera que os direitos fundamentais são inerentes à dignidade da pessoa 
humana, não são produto do legislador nem oferta do Estado, e este tem o dever de os reconhecer e proteger. 
Desta forma as Declarações de Direitos tem carácter declarativo, reconhecem o que já existia. 
Em nossa opinião a visão jusnaturalista é correcta pois: 
1. A existência do Homem, com a sua dignidade de pessoa, é anterior à existência do Estado 
2. Os direitos subjectivos existem independentemente da lei. O direito à vida existe independentemente 
de uma lei que o declare. 
3. Se os Direitos fundamentais fossem uma oferta do Estado, então também poderia ser retirados por 
ele. O que não faz sentido nenhuma quando consideramos o direito à vida. 
 
Em resumo, na fase histórica que nos encontramos, os fins do Direito são a Justiça, a Segurança, a Liberdade, 
e a protecção dos Direitos Humanos ­ fins que devem ser conciliados pelo Direito, por forma a que nenhum 
deles reduza excessivamente ou elimine qualquer dos outros. Todos devem ser perseguidos em simultâneo, e 
portanto harmonizados na lei e na prática. 

 
Nuno Soromenho Ramos 8 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito e Coerção 
O Direito existe para ser aplicado aos homens, garantido que as suas relações se pautam pela Justiça, 
Segurança e protecção dos Direitos Humanos. 
O Direito não cumpriria essa sua função, se os homens pudessem individualmente decidir se respeitavam ou 
não as suas normas. O Direito tem que ser, portanto, obrigatório para todos sem excepção. 
Tão obrigatório, que ninguém pode alegar o seu desconhecimento para se desculpabilizar ­ como refere o Art. 
6º do CC. 
O Direito para ser eficaz e cumprir a sua missão cívica, tem de ser obrigatório para todos os membros da 
sociedade humana a que respeita ­ seja ela Supra­Estadual, Estadual ou Infra­Estadual ­ nisto se distingue da 
Moral, Religião e Usos Sociais. 
Para assegurar que o Direito é respeitado e acatado, recorre­se à previsão de sanções para quem o violar. 

Sanção é a imposição de uma medida jurídica desfavorável a quem violar uma regra de Direito 
 
A Sanção cumpre duas funções: 
1. Função Preventiva​
 ­  a simples existência tem efeito dissuasor para os potenciais infratores 
2. Função Repressiva ­ ​
constitui um elemento punitivo a quem tiver violado e reparador do mal 
realizado a quem o sofreu. 
A existência da sanção é um elemento essencial em todo o Direito: onde uma regra que não contenha a 
previsão da sanção aplicável a quem a violar é um regra juridicamente incompleta. 
O Direito para ser eficaz tem de ser obrigatório, e para o ser tem que definir imperativamente, não só as 
condutas permitidas e proibidas, mas também as consequências negativas que a respectiva violação acarreta. 
Sem sanção não há Direito. 

 
Soft Law 
Os anglo­saxónicos chama soft­law a todas as modalidades de normas reguladoras da conduta em sociedade, 
que não sejam dotadas de qualquer sanção para o respectivo incumprimento. Por exemplo: 
● Propostas, opiniões e conselhos; 
● Resoluções não vinculativas como as da ONU; 
● Normas técnicas sem sanção; 
● Códigos de Conduta profissionais, também sem sanção; 
● etc… 
Não consideramos soft­law como verdadeiro Direito, pois não se tratam de normas jurídicas mas de 
recomendações jurídicas. 
O seu valor prático resulta somente em que, se tais recomendações forem ignoradas, o infrator pode ser 
considerado negligente, sofrendo consequência por tal. Assim apesar da violação da soft­law não implicar uma 
sanção directa pode ter efeitos indirectos negativos para quem o fizer. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 9 
 
 
Introdução ao Direito
 

A Sanção e o uso da força 
Os tipos de sanções jurídicas existentes nem sempre envolvem o uso de força pública. Por exemplo: 
● As decisões tomadas por autoridade competente que produzem por si só, os efeitos pretendidos 
(suspensão da carta) 
● As que pela sua natureza não pode ser impostas pela força (a excomunhão Religiosa) 
A questão que se coloca, é saber se o uso da força, ou pelo menos a sua possibilidade, para efectivar a 
aplicação das sanções jurídicas, é ou não uma nota essencial do conceito de Direito 
 

O Problema da coercibilidade do Direito 
 Se tivermos uma concepção estadista do Direito, em que este é visto apenas como direito estadual, diremos 
que a coerção é essencial. 
Distinga­se coerção de coacção: 
● Coacção ­ aplicação concreta da força 
● Coerção ­ possibilidade de aplicação da força 
Entenda­se que não se defende aqui que o Direito seja sempre imposto pela força, mas que só pertencem ao 
Direito as normas de conduta possíveis de ser impostas pela força. 
Como o Estado tem o monopólio do uso legítimo da força, e visto que sem esta as normas de conduta social 
podem não ser respeitadas, conclui­se que a coercibilidade é um elemento essencial do conceito de Direito. 
Somente o Direito Estadual, aquele que existe dentro de cada Estado/País, é coercivo. 
 
Para uma concepção pluralista do Direito, não existe apenas o Direito Estadual mas vários outros, quer 
Supra­Estaduais quer Infra­Estaduais. 

Direito Supra­Estadual 
Dimensão na qual se enquadra o Direito Internacional Público. As suas regras têm as características das do 
direito interno, excepto a coercibilidade. Falamos de Tratados entre Estados, por exemplo. Estes tratados são 
vinculativos, até serem denunciados por algum Estado.  
Uma vez que os tribunais internacionais não têm a mesma força estrutural que os tribunais estaduais, quando 
surge alguma violação de um Tratado as ferramentas usadas são normalmente os boicotes, a expulsão ou 
diminuição de regalias na Organização tutelada. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 10 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito Infra­Estadual 
Dimensão na qual se enquadra os Regulamentos de Associações, Pactos Sociais, etc. Estas regras, apesar de 
subtraídas de coercibilidade, têm valor organizativo e imperativo.  
A quebra das regras remete sempre para os Tribunais Estaduais, pois as suas normas respondem sempre a 
um princípio de conformidade ao Direito Estadual. 
 
E contudo o Direito Supra­Estadual e Infra­Estadual também é Direito. 
 
A conclusão a que chegamos é esta: a coercibilidade é um elemento essencial do conceito de Direito Estadual, 
mas não o é do conceito genérico de Direito. 
Nas palavras de S. Tomás de Aquino, “todo o direito está dotado de força directiva, mas só o Direito estadual 
dispõe, alem dessa, também de força coactiva. 
 
No entanto, também há quem considere que a coercibilidade não é essencial ao Direito Estadual. Afirmando a 
existência de normas sem imperatividade ­ normas permissivas, normas supletivas, etc.. 
Diremos que não há razão nesta visão, pois apesar destas normas não imporem um dever que possa ser 
sancionado por via coactiva, a verdade é que se essas normas forem contestadas ou ignoradas por quem as 
deva respeitar, existirá sempre forma de obter sentenças e meios executivos em tribunal, e aqui surge a 
coercibilidade. 
 
Ou seja, admitimos facilmente que a coercibilidade não é elemento essencial de todas e cada uma das normas 
jurídicas, mas é elemento essencial do Direito Estadual, no seu conjunto, porque há sempre uma forma de 
obter em tribunal uma sentença susceptível de execução forçada. 
 

COERÇÃO e COACÇÃO 
 
Podemos definir coerção como ameaça. 
Algumas normas éticas buscam concretizar seu "dever ser" por meio da ameaça da aplicação da sanção 
negativa. 
Podemos definir coação como o uso concreto da força, a materialização da ameaça. 
Quando a norma ética recorre à sanção e impõe uma pena a seu destinatário, constatamos que houve a 
coacção. 
A coação é a força legitimada, onde a intervenção da força ocorre para os fins do direito e nos limites 
estabelecidos pelo mesmo direito. 
Assim, podemos afirmar que uma norma é coerciva enquanto ameaça e se torna coativa quando concretiza 
a ameaça. 

 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 11 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito Natural e Direito Positivo 
O Direito justifica­se a si próprio ou necessita de legitimação? 
 
Resumo do Texto de Apoio 

 
A Validade e a Legitimação do Direito 
Colocação do Problema do Direito Natural 
É uma questão ancestral qual a justificação e legitimação do Direito Positivo (DP). Sendo DP aquele que é 
emanado de um Estado soberano e vigora por força dos seus mecanismos de autoridade. 
Há então que saber se o Direito Positivo se justifica e se legitima por si, ou se necessita da existência de um 
Direito Natural (DN) que o antecede, que lhe é superior e condiciona, e por tal afere a sua legitimidade e 
validade. 
A busca do DN pretende identificar as normas e princípios que regulam o comportamento social humano, e 
que resistem ao arbítrio e autoritarismo. Esta busca permite distinguir entre direito e não direito, aferir o papel 
da justiça como critério valorativo. 

Resumo Histórico 
Parece inquestionável que, nos sucessivos períodos históricos, existe concordância quanto ao que o DN será: 
● Imutável e Universalmente válido ­ valendo em todos os tempos e para todos os homens 
● Identificável através da razão 
● Um critério para o DP, impondo­se quando este o contradissesse. 
Na Antiguidade Clássica assistimos ao desenvolvimento progressivo do jusnaturalismo, dominado pela 
oposição entre natureza (dado empírico) e norma humana. 
Esta abordagem foi evoluindo progressivamente: 
● Visão mitológica ­ inspirada no misticismo  
● Visão cosmológica ­ época pré socrática  
● Visão antropológica ­ iniciada com os Sofistas  
Este é um percurso de fundamentação do Direito na razão ­ passando do mito ao logos e por fim ao nomos. 
 
A Idade Média desenvolveu o jusnaturalismo teológico que evoluiu em 2 perspectivas: 
● A contraposição entre direito divino (lex aeterna) e direito secular (lex humana) 
● Uma segunda vertente que à anterior dialética acrescenta o direito natural (lex naturalis) como 
elemento de contato entre a realidade divina e a humana. 
Esta época ficou marcada pela doutrina cristã do direito natural,  sob a influência de Sto Agostinho (patrística), 
e posteriormente na Alta Idade Média por São Tomás de Aquino (escolástica). 
Em ambas as doutrinas era aceite que uma lei injusta não seria vinculativa, uma vez que não seriam leis. 

 
Nuno Soromenho Ramos 12 
 
 
Introdução ao Direito
 

Para resolver o problema de como se chegaria da lei natural à lei humana, São Tomás de Aquino propôs um 
método dedutivo, com 2 abordagens: a) conclusões derivadas de princípios; b) criação a partir de certos 
princípios. 
Para saber se a lex aeterna provinha da razão ou da vontade de Deus, São Tomás de Aquino, propõe uma 
interpretação intelectualista, na qual o mal é atribuído ao entendimento feito mas não à vontade. 
Este período, dominado pela patrística e escolástica, manteve o carácter sagrado do direito secular, pela sua 
participação na lex aeterna. 
 
No Século XIV, Guilherme de Occam, reforçando a ideia nominalista do individual com recusa do geral, 
eliminou a base de sustentação de um direito natural geral, tornando­o um simples produto da teoria. Logo 
incapaz de se impor ao DP, ou servir de base de aferição da sua legitimidade. A doutrina nominalista é a dileta 
precursora e companheira do positivismo. 
Surge a Reforma (luterana e calvinista), tendo o Direito secularizado­se definitivamente e entregue ao Estado. 
 
Com os Descobrimentos, actualizam­se os pensamentos de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. 
Procurou­se um ponto de equilíbrio entre as duas bases do Jusnaturalismo Teológico medieval. A 
harmonização da fé e do racionalismo, e a fixação na vontade Divina. A lei natural é Razão e Vontade Divina. 
Razão porque indica o que é mal e o que é bem, Vontade Divina porque ordena o bem e proíbe o mal. 
 
Na Modernidade a dialética seria entre a ordem da razão e ordem de coação, criando jusnaturalismo 
racionalista. 
O DN da Modernidade abandona os vínculos teológicos e defende a natureza das coisas, a natureza humana, 
a razão humana,  a lei natural  ou o processo histórico. 
Mas o grande traço do DN moderno é pensamento científico racionalista, em que a razão é meio de 
conhecimento, sendo na razão humana e no conhecimento humano que se pode fundar a Lei natural. 
 
O Racionalismo do Século XIX apagou a influência do jusnaturalismo, com eventos como a Rev. Francesa, o 
liberalismo inglês ou o nacionalismo alemão. Estes eventos fazem nascer um direito natural absolutista, próprio 
de Estados autoritários onde o Direito não se discute, por assim dizer. 
A Escola Histórica do Direito preparou o enquadramento teórico do positivismo jurídico, tentando transformar o 
DN em lei positiva ­ uma vez que o direito era reflexo da vontade social. 
Estava aberto o caminho  ao positivismo e ao Estado de Direito. 
 

O Direito Natural na segunda metade do Século XX 
No final da 2ºGM o mundo acordou para um pesadelo de dimensões catastróficas. Na alemanha o pós­guerra 
foi aproveitado para fazer germinar uma nova sensibilização para as questões do Direito Natural. A nível 
mundial, surgiu a noção de que era necessário conjugar esforços para garantir uma tutela eficaz da dignidade 
humana e da paz entre as nações. A nível de política internacional isto foi concretizado com a Carta das 

 
Nuno Soromenho Ramos 13 
 
 
Introdução ao Direito
 

Nações Unidas, e a um nível mais específico com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos do 
Homem. 
 

O Direito Positivamente firmado deve ou não prevalecer sobre o Direito Natural? 
Para ilustrar este debate usa­se frequentemente o caso da Denuciante Nazi. 
Resumidamente, reza a história que uma mulher alemã, sobre a vigência do Regime Nazi denunciou o seu 
marido às autoridades. O marido, soldado, falaria com mal do regime e do Fuhrer. O marido foi preso e 
condenado à morte. Mas por necessidades do esforço de guerra foi enviado para a frente Russa. No 
entanto sobreviveu e voltou para a Alemanha, com o final da guerra. De volta, processou a mulher. 
Ela argumentou que tinha obedecido à lei, e que um tribunal que tinha condenado o marido. Como tal ela 
não tinha cometido crime. 
Apesar deste argumento, foi condenada ao abrigo de uma lei que se tinha mantido no período Nazi, e que 
afirmava que era ilegal privar outra pessoa da sua liberdade. Consolidou, o tribunal, afirmando que as leis 
Nazis era “contrárias à sã consciência e sentido de justiça de todos os seres humano decentes”. 
 
Herbert L.A. Hart 
Não concorda com a decisão do tribunal. 
O Regime Nazi defendia que as suas decisões reflectiam a moral da sociedade. Como tal podia descriminar 
e ainda afirmar que tratar os casos de iguais como iguais. 
Hart afirma que a questão do que é Lei deve ser separada da questão do que é moral ou justo. Não se 
podem aceitar juízos de valor sobre a Lei. Uma Lei enquanto é Lei deve ser cumprida, seja injusta a nível 
filosófico ou político. 
 
Lon Fuller 
Opõe­se à visão de Hart. Como Naturalista, afirma que a Lei e a Moralidade não podem ser totalmente 
separadas.  A Lei não se justifica a si, mas somente em função da Moralidade intrinseca. A Lei vigora num 
seio social e é em função desse seio que se valida. 
 
Para mais informação sobre esta discussão ver: 
http://www.ukessays.com/essays/philosophy/positivism­fuller­morality.php 

 
 

Fórmula de Radbruch 
Embora ao longo da sua vida tenha mantido o princípio da prevalência do direito sobre a moral, publicou um 
manifesto intitulado ​
Cinco Minutos de Filosofia do Direito 
 
Primeiro Minuto ­ Contesta a ideia que qualquer lei, independentemente do seu conteúdo é 
obrigatoriamente aplicável e recusa a equivalência entre direito e força. 

 
Nuno Soromenho Ramos 14 
 
 
Introdução ao Direito
 

Para Radbruch, “ordens são ordens, é a lei do soldado”. Além do que, continua, “a lei é a lei, diz o jurista”. 
Concluiu esse primeiro minuto culpando o positivismo pelo pesadelo nazista, do ponto de vista jurídico: 
“Esta concepção de lei e sua validade, a que chamamos Positivismo, foi a que deixou sem defesa o povo e os 
juristas contra as leis mais arbitrárias, mais cruéis e mais criminosas. Torna equivalentes, em última análise, o 
direito e a força, levando a crer que só onde estiver a segunda estará também o primeiro”. 
Segundo Minuto ­ Nega que o direito seja explicado como sendo o que é útil para o povo, antes só o 
que for direito é que será útil e proveitoso para o povo. 
Critica a ideia de que o direito deveria se identificar com uma imaginária utilidade popular. E assim: 
“Direito é tudo aquilo que for útil ao povo. Isto quer dizer: arbítrio, violação de tratados, ilegalidade serão direito 
desde que sejam vantajosos para o povo. Ou melhor, praticamente: aquilo que os detentores do poder do 
Estado julgarem conveniente para o bem comum, o capricho do déspota”. Não, não deve dizer­se: tudo o que 
for útil ao povo é direito; mas, ao invés: só o que for direito será útil e proveitoso para o povo” 
Terceiro Minuto ­ O Direito só é direito se procurar a Justiça, e todo o Direito que não procure 
Justiça deve ser recusado 
“Direito quer dizer o mesmo que vontade e desejo de justiça. Justiça, porém, significa: julgar sem consideração 
de pessoas; medir a todos pelo mesmo metro. Quanto as leis conscientemente desmentem essa vontade e 
desejo de justiça, como quando arbitrariamente concedem ou negam a certos homens os direitos naturais da 
pessoa humana, então carecerão tais leis de qualquer validade, o povo não lhes deverá obediência, e os 
juristas deverão ser os primeiros a recusar­lhes o caráter de jurídicas”. 
Quarto Minuto ­ O Direito deve também procurar o bem comum e segurança jurídica, e as leis 
injustas só poderão ser consideradas se defenderem a segurança do Direito, desde que não o façam 
a um extremo de injustiça e nocividade para o bem comum 
“Certamente, ao lado da justiça o bem comum é também um dos fins do direito. Certamente, a lei, mesmo 
quando má, conserva ainda um valor: o valor de garantir a segurança do direito perante situações duvidosas. 
Certamente, a imperfeição humana não consente que sempre e em todos os casos se combinem 
harmoniosamente nas leis os três valores que todo o direito deve servir: o bem comum, a segurança jurídica e 
a justiça. 
Quinto Minuto ­ Afirma o jus­naturalismo pela consagração dos direitos do homem que se sobrepõe 
a todo e qualquer preceito jurídico positivo, de tal modo que as leis que os contrariem não serão 
válidas. 
“Há também princípios fundamentais de direito que são mais fortes do que todo e qualquer preceito jurídico 
positivo, de tal modo que toda a lei que os contrarie não poderá deixar de ser privada de validade. Há quem 
lhes chame direto natural e quem lhes chame direito racional. Contudo o esforço de séculos conseguiu extrair 
deles um núcleo seguro e fixo, que reuniu nas chamadas declarações dos direitos do homem e do cidadão, e 
fê­lo com um consentimento de tal modo universal que, com relação a muitos deles, só um sistemático 
cepticismo poderá ainda levantar quaisquer dúvidas.” 
 
Ao tentar resolver o conflito entre a segurança jurídica (que deriva da aplicação do DP) e a justiça (que está 
num plano supralegal, jusnaturalista) cria a célebre ​
Fórmula de Radbruch: 

 
Nuno Soromenho Ramos 15 
 
 
Introdução ao Direito
 

● O Direito Positivo, estatuído e assegurado pelo poder, tem prioridade, ainda quando o seu 
conteúdo seja injusto e inconveniente, a menos que o conflito da lei positiva com a justiça 
alcance uma medida tão insuportável que a lei, enquanto “direito injusto”, deva ceder o seu 
lugar à justiça. 
 
Esta abordagem deixou um legado importante como se pode constatar na Teoria do Umbral da Injustiça de 
Alexy. 
 

Teoria do Umbral da Injustiça 
Analisando a questão de saber se a violação de algum critério moral, em caso de ultrapassagem desse 
umbral, retira o carácter jurídico de normas isoladas ou do próprio sistema. Ou seja, existirá uma separação 
entre Direito e Moral, ou aquele está vinculado a esta? 
Para o observador, a tese positivista da separação é essencialmente correcta, só limitada no extremo de um 
sistema normativo que não procure a correcção (anarquia por exemplo. 
Mas para o participante, um juiz por exemplo, não pode ser ignorada a necessidade de vinculação com 3 
argumentos: o da correcção, o da injustiça e o dos princípios. 
 
A partir desta ideia Alexy cria a definição de Direito como um sistema de normas que: 
● formula uma pretensão de correcção 
● consiste na totalidade de normas constantes na Constituição e também nas normas criadas 
de acordo com esta, que tenham eficácia ou probabilidade de eficácia social e que não sejam 
extremamente injustas 
● inclui os princípios e normas procedimentais do direito que visam satisfazer a pretensão de 
correcção  
 
Ganham papel preponderante as Leis Fundamentais nas Ordens Juridico­Constituicionais europeias do 
pós­guerra: criando um catálogo de direitos fundamentais a ser directamente aplicável ­ alcançando ideal 
iluminista de positivar o DN. 
Esta positivação do DN é reforçada e complementada pelas Declarações de Direitos de várias organizações 
internacionais que afirmam o respeito pela dignidade humana. 
 

Manifestações no Direito Internacional 
A segunda metade do Século XX fica marcada por dois eventos importantes nesta matéria: 
● Carta das Nações Unidas ­ 1945 ­​
 que afirma vários valores fundamentais de igualdade, 
dignidade, garantia de justiça, liberdade e progresso social. 
● Assembleia Geral das Nações Unidas ­ ​
 que adopta e proclama a Declaração Universal 
dos Direitos dos Homens, que afirma no seu artigo 1º: Todos os seres humanos nascem livres 
e iguais em dignidade e em direitos. Dotados da razão e de consciência devem agir uns para 
com os outros em espírito de fraternidade. 

 
Nuno Soromenho Ramos 16 
 
 
Introdução ao Direito
 

Vários outras iniciativas têm apoiado este espirito, e especificado direitos, como é exemplo a Declaração dos 
Direitos da Criança. 
Ainda assim a reiteração da fórmula inspiradora da Revolução Francesa, parece não traduzir mais que a 
consolidação global de um quadro de valores que pode constituir o núcleo central do que deva ser entendido 
por DN na actualidade. 
 

Conclusão 
A racionalidade do ser humano impõe que a sua conduta se paute por valores, nomeadamente de moralidade, 
dos quais nenhuma vertente se pode alhear. Por isto, mal se entenderia que o Direito deixasse de o fazer. 
O Direito busca a regulação das relações sociais, fundando essa regulação nas ideias de justiça, segurança, 
liberdade e tutela dos direitos humanos.  A justiça constitui o pilar central das relações sociais, nas suas 
diversas manifestações, que assenta no tripé da segurança, da liberdade e da tutela dos direitos humanos, 
como suas decorrências lógicas.  
A cedência em alguma destas vertentes, para as outras, só pode ser excepcionalmente justificada quando daí 
resulte um objectivo benefício para o bem comum ou este justificadamente o exija. 
 
A liberdade e igualdade, em dignidade e direitos dos seres humanos, realizadas em espírito de fraternidade, 
seguramente deverão continuar a aferir a legitimidade da positivação do Direito, na perspectiva que o Direito 
existe em função das pessoas, e não o inverso. 
 
O dinamismo jurídico não se opõe à imutabilidade destes valores. Destes valores vem a  evidência do ser 
humano não se compreender somente como destinatário e titular de direitos, mas autenticamente como o 
sujeito do próprio direito e assim não apenas beneficiário dele, mas comprometido com ele ­  o direito não 
reivindicado no cálculo e sim assumido na existência. 
 
E se a positivação do DN (por via da Constituição, das Declarações de Direitos, dos Códigos, etc) constitui, 
agora, um dado inegável, tal não deve bastar para deixarmos de procurar a identificação e a tutela dos valores 
centrais do Direito, enquanto instrumento ao serviço do ser humano. 
 

O Direito justifica­se em função dos valores pelos quais se orienta e pelo que proporciona aos seus alvos 
 

Diferenças entre o direito natural e o positivo: 
 
● O direito positivo é posto pelo Estado; o natural, pressuposto, é superior ao Estado. 
● O direito positivo é válido por determinado tempo (tem vigência temporal) e base territorial. O 
natural possui validade universal e imutável (é válido em todos os tempos). 
● O direito positivo tem como fundamento a estabilidade e a ordem da sociedade. O natural liga­se a 
princípios fundamentais, de ordem abstrata; corresponde à idéia de Justiça, Segurança e Dignidade 
Humana 
 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 17 
 
 
Introdução ao Direito
 

O problema do Direito Natural  
(segundo Diogo Freitas do Amaral) 
 
Desde a Antiguidade até aos nossos dias, juristas e filósofos, colocam a questão: 
Será que acima do Direito Positivo (aquele que é posto em vigor pelas autoridades oficiais, ou pela 
vontade colectiva de uma comunidade), haverá um Direito Natural, superior ao primeiro, de onde este 
retira o fundamento da sua validade, e que permite aos cidadãos aferir a legitimidade ou ilegitimidade 
do direito positivo e, portanto, decidirem se lhe obedecem ou não? 
Se dissermos que o direito se auto legitima, afirmamos que qualquer lei é válida. Um exemplo do que pode 
significar tal pressuposto, no limite, será a Alemanha Nazi. 
Duas respostas antagónicas têm sido dadas: 
● Sim, o Direito Natural existe e é superior ao direito positivo, condicionando­o. É a corrente 
Jusnaturalista 
● Não, o Direito Natural não existe, ou não é verdadeiro Direito, pelo que em nada interfere com o direito 
positivo, e não o condiciona, sendo que somente o direito positivo é verdadeiro Direito: é a corrente 
Positivista 

 
Origem do problema: Antígona e Sócrates 
No Seculo V a.C., Sófocles escreve a sua obra­prima Antígona. Nessa peça, Antígona desobedece a uma lei 
do seu Rei Creonte. Apesar de condenada à morte afirma “ … eu nunca pensei que as tuas (do Rei) proibições 
fossem tão poderosas que pudessem permitir a um simples mortal violar outras leis, as leis não escritas e 
invioláveis dos deuses.” 
Eis aqui a primeira defesa, conhecida, do jusnaturalismo: as leis naturais, provenientes dos deuses, são 
eternas e invioláveis; as leis positivas, emanadas pelos homens, se ofenderem as primeiras não são 
obrigatórias. Antígona preferiu obedecer ao Direito Natural 
 
Apenas 40 anos mais tarde surge o Positivismo, defendido por um dos maiores nomes da Filosofia ­ Sócrates.  
Condenado à morte, por oposição ao regime Ateniense, Sócrates é instigado pelos seus amigos a fugir mas 
recusa. Entre as razões para não o fazer surge o principal argumento do Positivismo ­ é melhor para o país 
que a Lei seja cumprida e obedecida por todos, mesmo que alguém a considere injusta ou imoral, do que 
reconhecer a cada cidadão o direito à desobediência. 
Eis como Sócrates defende o positivismo ­ é maior e mais perigoso o dano colectivo da desobediência às leis, 
por alguns cidadãos que se sentem lesados, do que o dano individual suportado por aqueles que de facto 
forem lesados por uma lei injusta ou por uma sentença injusta: por outro lado, quem, sendo maior de idade, 
vive há décadas num país e não se muda para outro é porque aceita as leis desse país e, logo, não tem o 
direito de lhes desobedecer (a base do contrato social). 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 18 
 
 
Introdução ao Direito
 

As fases do Jusnaturalismo 
Na Roma clássica Cícero, refina a distinção entre lei positiva e lei natural, formulando a concepção clássica, 
greco­romana, pré­cristã, do Direito Natural:: 
“...existe uma ordem natural, que foi criada por Deus, essa ordem natural é descoberta pela razão 
humana; dela resulta um Direito Natural… os principais imperativos decorrentes do Direito Natural são 
universais, eternos e invariáveis; o direito positivo, o Estado, os governos, não podem alterar essa lei 
nem podem dispensar ninguém da obediência aos seus preceitos.” 
Isto contraria a crítica positivista de que o Direito Natural seria uma criação da Igreja Católica Medieval. 
 
Na Idade Média, o Cristianismo vem reforçar a ideia de Direito Natural por 3 razões: 
1. Reforça a noção de Deus ao substituir o politeísmo pelo monoteísmo 
2. Sendo Deus o Criador é também o Supremo Legislador 
3. Proclama a superioridade da Lei divina sobre a Lei humana, esta subordinada à ordem natural criada 
por Deus. 
Apesar disto, São Tomás de Aquino confere um conteúdo muito restrito ao Direito Natural (fazer o bem e evitar 
o mal) e um conteúdo muito mais amplo ao direito positivo. Em todo o caso, S. Tomás de Aquino, subordina 
este último à Lei Divina, uma vez que se tratava da palavra revelada de Deus, 
 
Surge o Renascimento, e à grande religiosidade típica da Idade Média sucede o humanismo, centrado no culto 
do Homem.  
A razão humana emancipa­se da tutela religiosa, e dá origem ao racionalismo individualista. Afirma­se a “razão 
de Estado” contra a religião e a moral. No entanto, estas transformações não foram ao ponto de negar o Direito 
Natural, antes dividiram­no em duas correntes: 
1. Jusnaturalismo Religioso​
 ­ o tradicional com fundamento religioso 
2. Jusnaturalismo Racionalista ­ ​
o novo de carácter filosófico com fundamento humano 
O seu principal representante foi Hugo Grócio. Sendo um homem religioso, conseguiu desligar o fundamento 
do Direito Natural da fonte ou autoria divina que todos lhe davam até aí, deslocando­o para a pura razão 
humana. Afirmou: 
“...o direito natural é imutável, mesmo para Deus, e sempre existiria, mesmo que Deus não existisse.” 
Portanto o Direito Natural é um produto da razão humana e não da vontade divina. 
 
O Jusnaturalismo racionalista nasce e desenvolve­se na Escola Racionalista do Direito Natural. Os seus 
principais mentores serão Hobbes, Locke e Rousseau. Antes deles o direito natural (DN) era encarado como 
superior ​
um direito ​ anterior​
ao direito positivo estadual, a partir das suas obras a concepção altera­se para ​ . O 
estado natureza​
DN nasce e afirma­se antes do Estado antes da política, na situação de ​ . Para além disto, 
estes filósofos, falam não apenas num DN objectivo mas também em DN subjectivos, pertencentes a todos os 
seres humanos ­ aquilo que hoje chamamos de direitos fundamentais. 
Podem­se considerar três como principais contributos da Escola Racionalista para o DN: 

 
Nuno Soromenho Ramos 19 
 
 
Introdução ao Direito
 

1. A afirmação da existência de leis naturais no Estado de Natureza, o DN é agora proclamado como 
anterior, e não só superior, ao Estado. 
2. contracto social​
A passagem do estado natureza ao estado de sociedade, efectua­se pelo ​ , que coloca 
o fundamento do poder político no povo soberano. Do jusnaturalismo religioso passamos para a 
democracia de origem humana. 
3. O Jusnaturalismo racionalista acredita nos direitos e liberdades individuais de cada cidadão, que são 
anteriores e superiores ao próprio Estado, e que por consequência este os deve respeitar e 
defender.Aqui está a origem da moderna doutrina dos “direitos fundamentais” 
Agora, o DN já não é apenas um conjunto objectivo de regras superiores que validam ou invalidam o o direito 
positivo. É também uma fonte de direitos subjectivos do indivíduo, que este pode exigir ao Estado que sejam 
respeitados e salvaguardados. 
 

A contestação positivista 
O jusnaturalismo fez um percursos seguro do Séc.5 ao Séc.16, mas no Séc 17 surgem vários movimentos de 
libertinos​
oposição, nomeadamente em França. O movimento dos ​ , aponta o ponto fraco do DN ­ como pode 
ser eterno e universal? a variedade de opiniões humanas sobre o que é bom e justo prova que nada o é por 
natureza. Blaise Pascal reforça esta descrença afirmando que “se fosse possível conhecer a justiça pela razão 
natural, a todos os povos ela se teria imposto”. E como prova viva desta incongruência apontam a escravatura 
presente em todas as sociedades mesmo que jusnaturalistas. 
 
No entanto, a maior contestação chegaria nos Séculos 19 e 20, com o movimento filosófico do positivismo a 
influenciar o positivismo jurídico. Sem desenvolver em pormenor, estes serão os principais tópicos de oposição 
ao DN como direito: 
1. O DN não pode ter origem divina porque Deus não existe, e não pode ser mera dedução da razão 
humana pois ela varia de pessoa para pessoa; 
2. O DN não é direito porque não é proclamado por nenhuma autoridade legitimada socialmente para o 
efeito 
3. O DN não pode ser anterior nem superior ao Estado pois este é o supremo legislador e e juiz 
4. O DN não é direito porque o seu conteúdo é desconhecido e sem consenso sobre qual é 
5. O DN não é uma lei universal e eterna, válida e imutável em todos os lugares e épocas pois as normas 
de conduta sempre variaram, até o não matarás não foi sempre unânime ­ a pena de morte outro 
exemplo 
6. O DN não é direito porque a violação das suas normas não acarreta qualquer sanção 
7. O DN não é direito porque não tem vigência efectiva, aplicada pelas autoridades 
8. O DN sempre que invocado em oposição ao direito positivo, perde ­ veja se Antígona 
9. A purificação do Direito exige o afastamento dos elementos extra­jurídicos como a moral, a religião, a 
política, e o DN que é um desses 
10. O DN não passa de um conjunto de aspirações filosóficas que, tendo todo o mérito, não são normas 
jurídicas  

 
Nuno Soromenho Ramos 20 
 
 
Introdução ao Direito
 

O debate Fuller­Hart no séc. XX 
Reportar ao caso anteriormente descrito da “denunciante alemã”. 
Considerando que Fuller é jusnaturalista e Hart, positivista,em resumo podemos dizer que: 
● Ambos reconhecem a existência de valores e critérios supra­legais, que devem servir para ajudar o 
cidadão comum, tal como o juiz ou outra autoridade, a decidir se devem obedecer a uma lei iníqua, 
correndo os riscos de o não fazer. 
No entanto, discordam na forma de desobediência se essa for a decisão: 
● Fuller​
 ­ porque acredita no DN, baseia­se neste para aferir a invalidade jurídica da lei moral ou injusta, 
e dessa invalidade extrai o direito dos cidadãos e autoridades á desobediência da mesma. 
● Hart​
­ como positivista considera toda e qualquer norma como juridicamente válida, desde que 
obedeça ao critério legislativo em vigor. Assim se o conteúdo de uma lei se apresentar imoral ou 
injusta para o individuo, este está perante um problema moral ou político. E é nesse campo que deve 
contrapor a lei, mas sabendo que se a desobedecer sofrerá as sanções previstas. 
Em resumo, os jusnaturalistas acreditam que o problema da desobediência, a uma lei imoral ou injusta, pode 
ser resolvido pelo sistema jurídico, se necessário em Tribunal. Para os positivistas tal é impossível, e a luta 
contra uma lei imoral ou injusta não passa pela sua desobediência, mas pela sua oposição política. E se nesse 
campo a lutar for vitoriosa, os opositores ficam juridicamente absolvidos das sanções que incorreriam por 
violação do direito positivo. 
 

Apontamento Final 
Como vemos desde sempre se discutiu se a par das leis feitas pelos homens, existiriam leis superiores que 
orientam todos os homens. 
Esta questão só faz sentido se questionarmos a legitimidade da própria lei, e admitirmos que apesar de a 
mesma provir de uma autoridade competente tal não é suficiente para garantir a sua conformidade aos valores 
pelos quais se rege a comunidade que a ela se submete. Porque, como defendia Aristóteles, só essa 
conformidade torna a lei justa. 
 
Em finais do Séc. 19, o positivismo fez furor que ainda hoje prevalece por fornecer aos juristas uma forma de 
purificar o direito. Algo que Kelsen levou ao extremo na sua “Teoria Pura do Direito”. 
Os juristas eram frequentemente criticados pelo carácter pouco científico do seu método. Assim havia que 
eliminar tudo o que pudesse ser campo de considerações místicas como a religião ou abstrata moral. O Juíz 
devia ser um fiel e objectivo intérprete da Lei ­ tudo isto potenciou a abordagem positivista. 
Hoje são poucos os que contestam a permeabilidade do direito às ciências sociais, pelo que se admite a 
existência de outros pensares pertinentes para o legislador. Também a oposição se esbateu porque as ordens 
juridico­constitucionais do pós­guerra, ao definirem os seus catálogos de direitos fundamentais deram 
seguimento ao desejo iluminista de positivar o Direito Natural ­ tornando a Constituição uma norma normarum, 
a que a própria lei ordinária passa a dever obediência. 
Mas DN enquanto conjunto de axiomas que fundam a convivência social não pode ser esquecido, para que 
não se repitam os horrores totalitários 

 
Nuno Soromenho Ramos 21 
 
 
Introdução ao Direito
 

Ramos do Direito 
É necessário, pela sua vastidão, dividir o Direito em especialidades. Uma vez que o Direito aborda as relações 
do Homem em Sociedade, essas especialidades reflectem os grupos fundamentais destas relações.  
Iremos analisar algumas divisões como Direito Interno e Internacional, Público e Privado, etc 
 

Direito 
Direito 
Comunitário  Direito Nacional 
Internacional 
Europeu 

    Direito Público  Direito Privado 

    ● Direito Constitucional  ● Direito Civil 
● Direito Administrativo  ● Direito Comercial 
● Direito Penal  ● Direito do Trabalho 
● Direito de Mera Ordenação  ● Direito Internacional Privado 
Social  ● Direito Comércio 
● Direito Financeiro  Internacional 
● Direito Fiscal  ● Ramos menores 
● Direito Público da Economia 
● Direito Judiciário 
● Direitos Processuais 
● Ramos menores 

    Direito Misto 
● Direito Bancário 
● Direito dos Seguros 
● Direito do Desporto 
 

Direito Interno e Direito Internacional 
Esta será a primeira lente aplicada. A que olha para o Estado e para dentro do Estado. 
 

Direito Internacional 
Ramo do Direito constituído pelo sistema de normas jurídicas que se aplicam a todos os membros da 
comunidade internacional, para regular os assuntos específicos desta, a fim de garantir os fins próprios da 
referida Comunidade nas matérias que regula. 

 
 O Direito Supra Estadual, ao qual carece a capacidade de coerção. Ao invés da coerção temos a comunhão 
de vontades, que torna o Direito Internacional tão imperativo como o interno. 

 
Nuno Soromenho Ramos 22 
 
 
Introdução ao Direito
 

Discute­se o seu carácter de verdadeiro Direito, porque falta aqui a efectiva obrigatoriedade coerciva que se 
encontra, pelo menos em princípio nas normas do Direito positivo interno de cada Estado. Talvez se caminhe 
para lá. 
É disso sinal a intervenção, comum, de forças da ONU, e ainda, consertadamente, de outros países para 
repressão de perturbações da ordem pública internacional. 
No direito Internacional existe já a tendencia para a coacção. Tem se consciência de que as normas 
internacionais devem ser acompanhadas de repressão. Isto sem prejuízo de, em regra, ser preferível recorrer 
a soluções pacíficas como a via diplomática. 
 

Sujeitos do Direito Internacional 
● O Estado, nas suas múltiplas variantes; 
● As entidades para­estaduais e inter­estaduais ­ organizações internacionais, Santa Sé... 
● As colectividades não estaduais 
● A pessoa humana 

 
Fonte do Direito Internacional 
● Convenções/ tratados e costumes internacionais 
● Princípios gerais de Direito ­ serão antes regras ou directivas com força vinculativa. 
● “…decisões judiciais e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, 
como meio auxiliar para a determinação das regras de Direito” (Artigo 38.º do Estatuto do 
Tribunal Internacional de Justiça)
 

Direito Internacional em Portugal ­ Artigo 8º da CRP 
A incorporação das regras do Direito Internacional em Portugal, faz­se pelo Artigo 8º, nº 1 e 2 da CRP. 
1. O nº 1 faz a recepção incondicionada das normas e princípios consuetudinários do Direito das Gentes. 
Compreende as normas que assentam na normal convivência dos Estados ­ Tratado de Viena, etc. 
2. O nº 2 recepciona as normas decorrentes de Tratados ou Acordos Internacionais de que Portugal faça 
parte. A aceitação não é automática. Depende da ratificação constitucional e publicação em Diário da 
República. Só vinculam o Estado Português enquanto o mesmo fizer parte do Tratado ou Acordo, e 
aquele existir. 
3. O nº3 difere do 2º porque refere normas de Organizações Internacionais. 
4. O nº 4 é a disposição que faz com que as normas da UE sejam directamente aplicadas em Portugal. 
Nota: A referência às Directivas da UE é feita pelo número do Decreto­Lei que transpõe. 
 
 
 
 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 23 
 
 
Introdução ao Direito
 

Diferença entre Direito Internacional e Direito Interno 

Âmbito de Aplicação:  É gerado e aplicado na comunidade  É gerado e aplicado, 


internacional  fundamentalmente dentro de cada 
comunidade nacional 

Finalidade específica  Visa garantir a paz e a segurança  garantir a justiça, a segurança e o 


internacional, limitar e humanizar a  respeito dos direitos humanos no seio 
guerra, e promover o desenvolvimento  de uma dada comunidade nacional 
dos países menos favorecidos 

Fontes  Costumes e Tratados Internacionais  Evoluiu dos costumes para a Lei como 


comando imperativo do Estado 

Eficácia  Dispõe de vis directiva e vis coactiva  Dispõe de vis directiva e vis coactiva 


menos eficaz  com mais eficácia que o D. 
Internacional 

Efectivação  A protecção é garantida pelos Tribunais  é garantida pelos tribunais nacionais de 


jurisdicional  Internacionais (Tribunal de Haia para a  cada Estado 
ONU, Tribunal de Luxemburgo para a 
UE...) 
 

Direito da União Europeia ou Comunitário Europeu 
Sistema de normas jurídicas que regulam a organização e funcionamento da UE, bem como os direitos 
fundamentais dos cidadãos europeus, a fim de prosseguir a gradual integração política, económica e 
monetária dos seus países membros, os quais convencionam, para o efeito, o exercício comum dos 
poderes necessários à construção da unidade europeia. 
 
O Direito da União Europeia tem 2 vertentes: 
1. Direito Primário ou Dos Tratados​
 ­ Resulta dos Tratados Constituintes e dos que 
sucessivamente introduzirem alterações àqueles como o Tratado de Lisboa. ­ vertente de 
Direito Internacional Público  
Estes tratados entram automaticamente em vigor em Portugal 
2. Direito Derivado​
 ­ Resulta dos regulamentos e das directivas emanadas da UE: 
a. Regulamentos ­  Estes tornam­se Direito Interno 
b. Directivas ­ Diplomas Legais que só se tornam aplicáveis no Estado membro depois 
de estes procederem à sua transposição para o Ordenamento Jurídico interno de 
cada país. 
As Directivas fixam um prazo para que se realize a transposição. Ao acto de 
transposição é permitida alguma flexibilidade ­ o Estado pode implementar legislação 
própria. 
Em Portugal, as directivas que emanam da UE tornam­se lei. Trata­se aqui de uma 
vertente de Direito Interno. 
A Comunidade Europeia tem 4 órgãos principais: 
● Parlamento​
 ­  com funções deliberativas e de controlo, constituído por deputados de cada 
Estado­membro 

 
Nuno Soromenho Ramos 24 
 
 
Introdução ao Direito
 

● Conselho​
 ­ com funções de coordenação de acções, exercidas pelo respectivo Ministro de cada 
Estado­membro 
● Comissão​
 ­  com funções executivas, constituídas por cidadãos vários 
● Tribunal de Justiça​
 ­  a quem cabe a consolidação, interpretação e aplicação do D. Comunitário. 

 
Direito Interno 
Será o que funciona no espaço do território do Estado. E onde o Estado pode impôr a obrigatoriedade das leis. 
Só o Estado tem condições para impor a obrigatoriedade das normas de Direito e só ele pode coagir o 
cumprimento das normas. 

Direito Público, Direito Privado e Direito Misto (Bancário…) 
A segunda grande divisão que vamos analisar será a que o romano Ulpiano fez: 
O Direito público é o que protege os interesses públicos do Estado, o direito privado é o que disciplina os 
interesses privados dos particulares. 
Mas fica a questão, como os distinguir? Existem alguns critérios que têm sido usados 

Diferença entre Direito Público e Direito Privado 

Critério do Interesse ­ qual o interesse protegido pela norma jurídica 

Direito Público​
: conjunto das normas que tutelam  Direito Privado​
: conjunto das normas que tutelam 
os interesses da colectividade (ex.: urbanismo)  os interesses particulares (ex.: normas que regulam 
os interesses dos senhorios) 

Crítica​
: na verdade, todas as normas jurídicas, mesmo as de Direito Privado, são elaboradas tendo em 
conta interesses públicos. Por outro lado, as normas de Direito Público visam salvaguardar os interesses 
públicos, mas também tutelam interesses privados como impostos sobre rendimento. 

Critério do Sujeito ­ qual o sujeito regulado pela norma jurídica 

Direito Público​
: conjunto das normas que regulam  Direito Privado​
: conjunto de normas que regulam 
as relações em que intervenha o Estado ou qualquer  as relações entre sujeitos privados 
ente público geral 

Crítica​
: o Estado e demais entes públicos podem actuar nos mesmos termos que qualquer particular. É o 
caso das compras ou vendas em que o Estado também se regra pelo Código Civil 

Critério combinado do Interesse e do Sujeito 

Direito Público​
: conjunto das normas jurídicas que  Direito Privado​
: conjunto das normas jurídicas que, 
procurando um interesse colectivo conferem a um  visando regular a vida privada, não conferem a 

 
Nuno Soromenho Ramos 25 
 
 
Introdução ao Direito
 

dos sujeitos da relação poderes de Autoridade (Ius  nenhum dos entes da relação poderes de autoridade 
Imperium) sobre o outro. (ex.: Direito fiscal, penal)  mesmo quando se pretende proteger um interesse 
público relevante. 

Crítica​
: este critério é que se mostra mais adequado referente as técnicas legislativas modernas. 

 
 

Princípios Orientadores 
Principio da Dignidade Humana é superior aos conceitos de D. Publico ou Privado 

Direito Público  Direito Privado 

Princípio da Legalidade​  ­  A autoridade é  Princípio da Liberdade​


 ­ Só não posso fazer o que 
conferida por Lei e não depende do livre arbítrio.  a Lei proibir 
Mas a autoridade não pode extravasar o âmbito da 
Lei.  
A qualificação de um dado facto e a consequência 
da sua ocorrência dependem da previsão legal 
Art. 3º e 13º ­ Fixam o primado da lei, e a igualdade 
dos cidadãos perante a lei, justiça como valor 
fundamental,confiança e meios de garantia dos 
direitos, juridicidade e legitimidade democrática. 

Princípio da Tipicidade​  ­  Dada situação é prevista  Princípio da Autonomia Privada ou a Vontade ​­ 


pela Lei e só pode ser concretizada nos próprios  Salvo Raras excepções, as pessoas podem 
termos que a Lei enuncie e o sujeito só pode invocar  conformar as suas relações como entenderem, 
o que e Lei expressamente permitir que se faça.  desde que respeitem as normas dos Direitos 
É proibida a analogia do crime, pois pressupunha a  Fundamentais 
equivalência da situação  Art. 405 CC 

Princípio ­ ​
Não há crime sem lei que o preveja.  Princípio da Boa Fé​  ­ agir de boa fé significa agir 
  sem ofender os direitos de outrem ou, pelo menos, 
que a ofensa ocorra sem o ofensor tenha a 
consciência que o está a fazer.  
Ver Art. 1260º ­ posse de boa fé 
 
Boa Fé Objectiva 
Define o comportamento dos sujeitos de acordo com 
os princípios morais, éticos e jurídicos partilhados 
pela sociedade. 
 
Boa Fé Subjectiva 
Espírito que imbui o sujeito quando age de boa fé 
objectiva, em posição negocial. 

Princípio ­ ​
Não pode haver punição sem lei que a  Princípio da Propriedade Privada 
preveja 

Princípio Democrático  Princípio da Responsabilidade Civil 
Art. 2º e 3º CRP  Art. 500º 
Estabelecem a legitimidade dos actos praticados  Com base nele é que se verifica no CC que alguém 
pelo Estado e seus Órgãos.  apesar de não ter qualquer culpa no dano ocorrido 
possa ser chamado a indemnizar 

Princípio da Unidade do Estado   

 
Nuno Soromenho Ramos 26 
 
 
Introdução ao Direito
 

Art. 6º CRP 
Apesar das suas divisões ­ Regiões Autónomas, a 
legitimidade é una. 

Princípio da Integração do Direito Internacional   
e Direito UE 
Art. 8º CRP 
São integrados no ordenamento nacional e 
produzem efeitos plenos 

Princípio do Processo e do Procedimento na   
actuação dos órgãos públicos 
Sendo fixado por lei, permite aos cidadãos verificar 
se o procedimento cumpriu a lei. 

Princípio da Competência   
Os órgãos públicos só podem exercer as 
competências atribuídas por lei. 
Falamos de uma situação poder­dever. Ou seja, os 
órgãos públicos no exercício das suas funções não 
só podem executar os actos que estão mandatados 
mas como devem. 

Princípio da Publicidade   
Art. 119º CRP 
Os actos devem ser públicos sob pena de não 
serem eficazes 

Princípio da Responsabilidade   
Art. 22º CRP 
A actividade pública é responsável pelos danos que 
possam causar, independentemente de agir com 
dolo ou responsabilidade objectiva 
 

 
Ramos do Direito Público 
Conjunto das normas jurídicas que procurando um interesse colectivo conferem a um dos sujeitos da relação 
poderes de Autoridade (Ius Imperium) sobre o outro. (ex.: Direito fiscal, penal) 
 

Direito Constitucional 
Regula: 
1. A organização e o funcionamento dos órgãos de soberania 
2. A protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos 
3. A actuação do Tribunal Constitucional e do restante poder judiciário 
4. Define as tarefas essenciais do Estado 
5. Define os grandes objectivos nas diferentes áreas de governação pública 

 
 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 27 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito Administrativo 
Regula: 
1. A organização e o funcionamento da Administração Pública 
2. A protecção reciproca dos direitos na relação entre os particulares e a Administração Pública  
3. O regime legal da actuação da Adm. Pública 
4. O regime jurídico dos procedimentos administrativos 
5. O regime jurídico das garantias administrativas e da responsabilidade civil  
 

Direito Penal 
Regula: 
1. A qualificação dos factos ilícitos de maior gravidade social, como crimes 
2. A definição das penas adequadas 
3. Escolha do tipo de pena aplicável 
 

Direito de Mera Ordenação Social 
Regula: 
1. A qualificação de factos ilícitos de menor gravidade social como contra­ordenações 
2. Definição de sanções menos graves que as penas 
3. Ocupa­se das infracções administrativas e suas penas 
4. Há quem considera um sub­ramo especial do Direito Penal. 
 

Direito Financeiro 
Regula: 
1. Tem como conteúdos as despesas, as receitas, a dívida, os orçamentos e a contabilidade 
pública. 
2. Há quem considera um sub­ramo especial do Direito Administrativo. 
 

Direito Fiscal 
Regula: 
1. Define, regula e operacionaliza os impostos. 
2. Assegura os direitos dos contribuintes perante a Administração tributária e vive­versa. 
 

Direito Público da Economia 
Regula: 
1. Visa disciplinar a intervenção do Estado na economia de mercado, por forma a torná­la mais 
eficiente economicamente e mais justa socialmente 

 
Nuno Soromenho Ramos 28 
 
 
Introdução ao Direito
 

2. Tem como principais sub­ramos o Direito da Agricultura, do Comércio, do Turismo, da 
Indústria, da Energia, dos Transportes, das Telecomunicações, dos Mercados e Bolsas, da 
Banca e dos Seguros, das Nacionalizações e Privatizações, do Investimento Estrangeiro, etc. 
 

Direito Judiciário  
Regula: 
1. A organização, a competência e o funcionamento dos tribunais e outras entidades que 
colaboram permanentemente com o poder judicial 
 

Direitos Processuais 
Regulam: 
1. Os procedimentos jurídicos a seguir em tribunal, nos processos que visem obter do Poder 
Judicial a administração de justiça. 

 
Outros ramos: 
a. Direito da Nacionalidade; Direito Parlamentar, Direito Regional, Direito Militar, Direito 
Policial, Direito Escolar, Direito da Saúde, Direito da Informação, Direito do Ambiente, 
Direito do Ordenamento do Território. 
 

Direito Privado 
No Direito Privado também existe intervenção do Estado como podemos constatar, por exemplo,que quando 
alguém deseja celebrar um contrato de compra e venda necessita de realizar uma escritura pública. 
O Estado impõe soluções a várias áreas do Direito Privado. 
No entanto, a característica essencial do Direito Privado é o facto das relações se regerem pela vontade dos 
indivíduos, na maioria das situações. O Estado não interfere na vontade das partes mas tão somente na 
formalização desta vontade. 

Artigo 405.º 
(Liberdade contratual) 
1. Dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar 
contratos diferentes dos previstos neste código ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver.  
2. As partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, total ou parcialmente 
regulados na lei. 
 
A liberdade contratual tem 3 vertentes: 
1. A liberdade de celebrar ou não 
2. A liberdade de negociar o estipulado 
3. a liberdade de negociar a contraparte 
 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 29 
 
 
Introdução ao Direito
 

Ramos do Direito Privado 
 
Podemos definir 2 grandes divisões: 
1. Direito Privado Comum 
a. Direito Civil 
2. Direito Privado Especial 
a. Direito Comercial 
b. Direito Trabalho 
 

Direito Civil 
É o ramo do direito privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a generalidade dos actos 
e actividades em que se desenvolve a vida privada dos particulares, tanto na sua esfera pessoal como 
patrimonial. 
Direito Civil  é constituído por um conjunto de legislação que se agrupam no Código Civil. 
O Código Civil é constituído por: 
● Corpo do Código Civil (ou Partes Gerais) 
● Direito das Obrigações 
● Direitos Reais (ou das Coisas) 
● Direito da Família 
● Direito das Sucessões 
 
O Código Civil, em Portugal, não contém toda a legislação civil, como é exemplo o Dec.Lei 446/82 de 25/10 
(pág. 699). A estrutura do nosso Código Civil inspira­se na alemã. 
 

Direito Privado Especial 
Encontramos nesta divisão: 
● Direito Comercial 
● Direito do Trabalho 
Os comerciantes são sujeitos privados, e as suas relações são de igualdade. No entanto, a dinâmica da sua 
actividade exige soluções específicas. 
Exemplo, a necessidade de cuidados específicos está bem patente no Direito do Trabalho. Como à priori a 
posição negocial do trabalhador era inferior à do Empregador, os contratos que eram do foro privado 
apresentavam dimensões de Direito Público. 
 
Nos ramos do Direito Privado Especial, determina­se que na falta de regulação especial usa­se o existente no 
Código Civil. Isto sustenta a integração destes Direitos no Direito Privado. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 30 
 
 
Introdução ao Direito
 

Direito Comercial 
Ramo do Direito privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam o estatuto dos comerciantes 
e o regime dos actos e actividades de comércio. 
Existem 2 vertentes nesta definição: 
● Subjectiva ou Estatutária ​
­ normas que definem o estatuto jurídico de comerciante 
● Objectiva ou negocial ­ ​
normas que estabelecem o regime jurídico dos actos e actividades 
do comércio 
Cronologicamente o Direito Comercial surgiu na Idade Média, com o surto de crescimento das cidades, e as 
trocas comerciais entre regiões, bem como o surgimento dos empréstimos a juros.Nesta fase tinha as 
seguintes características: 
● Profissional 
● Corporativo 
● Independente 
● Consuetudinário 
● Universal 
Com o progresso perdeu as restantes características tendo­se mantida um direito: 
● Profissional 
Com a Revolução Francesa foi estruturado e assim: 
● Deixou de ser o Direito do Comerciante e passou a ser o Direito Comercial. 

 
Direito do Trabalho 
Ramo do Direito privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam as relações individuais de 
trabalho subordinado, bem como fenómenos colectivos relacionados. 
 
 

Direito Internacional Privado 
Ramo do Direito Privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que, na ausência de regulação directa 
das relações privadas internacionais, designam as leis competentes (nacionais ou estrangeiras) para a sua 
regulação. 
 
Dizemos que se trata de Direito Interno porque aborda situações civilísticas, juridico­privadas. 
 
Algumas escolas de pensamento consideram que, uma vez que as relações internacionais não se reduzem às 
relações entre estados, existem 2 ramos no Direito Internacional, o Público e o Privado. 
Mas tal não fará sentido, pois este último integra­se no ordenamento interno e versa sobre situações jurídicas 
privadas. 
Resultando da existência de diferentes Direitos Internos, e na necessidade de saber perante casos que 
coloquem em contacto ou mesmo confronto diferentes leis, qual a lei a aplicar. As regras destinadas a orientar 
qual a lei interna a observar designam­se Normas de Conflito e são o núcleo do DIP. 

 
Nuno Soromenho Ramos 31 
 
 
Introdução ao Direito
 

Podemos encontrar a regulação portuguesa das Normas de Conflito que constam do Código Civil (Artº 14 ­ 
Condição Jurídica dos Estrangeiros e seguintes). 
 

Direito Privado Misto 
A sua natureza depende do contexto que regulam especificamente. São exemplos o Direito dos Seguros e o 
Direito Bancário. Distinguem­se por terem 2 vertentes: 
1. Institucional ​
­ Respeita às entidades, à regulação da constituição e exercício da actividade. 
Define as normas e princípios da actividade e atribui poderes à entidade reguladora. Tal como 
nos princípios orientadores do Direito Público: 
a. Só exerce a actividade quem é admitido a tal; 
b. O exercício é regulado e fiscalizado por um entidade com autoridade 
c. Entidade reguladora com ius imperium 
2. Material​
 ­ Respeita às operações. Aos empréstimos, contratação de produtos, etc. Tal como o 
Direito Privado esta área rege­se pelo princípios da Liberdade e da Autonomia de Vontade 
 
Tem sido entendimento doutrinal que não faz sentido separar estas 2 vertentes criando, por exemplo, um 
Direito Bancário Público e outro Direito Bancário Privado. 
 

Norma Jurídica 
O Direito é conjunto de normas e princípios destinados a determinado agregado social, visando garantir a 
justiça, a segurança e a dignidade, imperativas e revestidas de coercibilidade. É neste enquadramento que 
surge a norma jurídica, encarada como comando geral e abstracto, regulador da conduta humana e cuja 
violação suscita, tendencialmente, uma sanção. A norma jurídica traduz, pois, a expressão formal do direito, 
como disciplina de conduta social, dispondo a associação de uma determinada consequência. jurídica à 
verificação de certos factos. 
  

A Norma Jurídica é um enunciado orientador da conduta humana​

hipotético​
Toda a norma jurídica, com efeito, apresenta­se com carácter ​ , no sentido de que determina a 
hipótese​
produção de certos efeitos jurídicos para a ​  de se verificar algo que prevê. 

 
A norma jurídica não é um artigo de lei, nem norma sancionatória que é apenas uma das suas espécies. 
Artigo de lei é a expressão escrita de uma norma legal ou de parte de uma norma legal. 
A Norma Jurídica também não é uma Norma Sancionatória ­  todas as normas sancionatórias são normas 
jurídicas, mas nem todas as normas jurídicas são sancionatórias ­ de acordo com o Artigo 1445º, as normas 
seguintes só são imperativas por falta de título constitutivo de usufruto. 
As normas não imperativas são supletivas. 

 
Nuno Soromenho Ramos 32 
 
 
Introdução ao Direito
 

A Norma Jurídica será cada uma das normas que integra o conjunto generalizado de normas que constituem o 
Direito. 

 
Norma Jurídica e Princípio Geral de Direito 
De facto, a norma jurídica resulta das fontes mediante processos interpretativos; traduz comandos, 
imediatamente perceptíveis; e não pode contradizer outras normas jurídicas, sob pena de uma delas (ou 
ambas) desaparecerem, em caso de contradição insanável. 
Já o princípio geral de Direito resulta do labor juscientífico de construção e sistematização, que toma por 
fundamento as fontes e as normas; define uma lógica de ordenamento, interferindo nas fontes e na 
interpretação; e pode entrar em oposição com outros princípios, caso em que haverá que ponderar, no caso 
concreto, qual deles deva prevalecer. 

 
Análise da Norma Jurídica 
A análise da norma jurídica pode ser proveitosamente desdobrada em três vertentes: 
● Elementos da Norma Jurídica ­ ​
a análise dos elementos que permitem distinguir as normas jurídicas 
de outras normas de conduta social (entre as quais avultam as normas da Moral, por serem as que 
maior parentesco apresentam com o Direito) e, assim, auxiliar o preenchimento do respectivo 
conceito. Relevam aqui a estrutura que as mesmas apresentam e as características específicas de 
que se revestem. 
● Organização da Norma Jurídica ­ ​
Por outro lado, a análise da referenciação dos diversos critérios 
de arrumação a que se podem sujeitar as normas jurídicas, cabendo enunciar algumas das diversas 
classificações em que tais normas se podem agrupar. 
● Codificação e Técnicas Legislativas ­ ​
Finalmente, a análise das metodologias de utilização de que 
as normas são passíveis, referindo­se a codificação e as diversas técnicas normalmente utilizadas no 
processo legislativo. 
 

Elementos da Norma Jurídica 
Excepto os casos em que as normas se integrem em Diplomas que …, as normas têm: 
● Previsão​
 ­ Enunciado do Facto 
(previsão = antecedente = hipótese legal = tipo legal = facti­species) 
● Estatuição​
 ­ Consequência jurídica caso se verifique o facto 
 

Previsão 
O substantivo feminino previsão reveste­se de natureza polissémica (acto de prever, conjectura, suposição, 
antecipação, prevenção), mas sustenta­se, sempre, numa ideia de antevisão ou presciência, em resultado da 
sua base etimológica. 

 
Nuno Soromenho Ramos 33 
 
 
Introdução ao Direito
 

Do ponto de vista jurídico, a previsão de uma norma constitui o enunciado de um facto, cuja 
verificação determinará uma certa consequência jurídica. 
Ou seja, antevendo a possível verificação de uma dada situação de facto, a norma jurídica consagra a 
consequência que resultará da efectiva verificação do/s facto/s considerado/s. Enuncia uma hipótese através 
da descrição de uma situação de factos referidos ao direito, assim revelando uma leitura ou versão jurídica da 
realidade: a previsão descreve a realidade já percepcionada e marcada pelo direito. 

 
Estatuição 
O substantivo feminino estatuição, por seu turno, também se reveste de natureza polissémica (acto de estatuir, 
determinação, deliberação) e refere­se a um ideia de colocação em vigor ou fixação. 
Do ponto de vista jurídico, a estatuição de uma norma constitui o enunciado da consequência 
jurídica resultante da verificação do facto previsto. 
Ou seja, em face da efectiva verificação do/s facto/s considerado/s, a norma jurídica determina a consequência 
que resultará dessa verificação. 
 
Exemplo com: 
Artigo 411º (Promessa unilateral) 
● Previsão ­ ​
prevê a ocorrência de uma situação de facto que se traduza em o 
contrato­promessa vincular apenas uma das partes e não se fixar prazo dentro qual o vínculo 
é eficaz 
● Estatuição ­ ​
em face do que estatui poder o tribunal, a requerimento do promitente, fixar à 
outra parte um prazo para o exercício do direito, findo o qual este caducará. 
Nº 1 do artigo 419º (Pluralidade de titulares) 
● Previsão ­ ​
prevê a ocorrência de uma situação de facto que se traduza em o direito de 
preferência pertencer simultaneamente a vários titulares e, também, o facto de o direito se 
extinguir em relação a algum deles, ou algum declarar que não o quer exercer. 
● Estatuição ­ ​
Em face da primeira previsão (o direito de preferência pertencer 
simultaneamente a vários titulares), a norma estatui que tal direito só pode ser exercido por 
todos os titulares em conjunto; e quanto à segunda previsão (o direito se extinguir em relação 
a algum deles, ou algum declarar que não o quer exercer), determina o acréscimo do seu 
direito aos restantes titulares. 
 
Note­se que a ordenação sistemática da previsão e da estatuição reveste­se de natureza arbitrária, podendo 
cada um desses elementos integrar a parte inicial ou a parte final da norma jurídica. 
Artigo 66º n.º 1 (Começo da personalidade) 
● Previsão ­ ​
Nascimento completo e com vida 
● Estatuição ­​
 Aquisição da Personalidade Jurídica 
Neste caso, a previsão tem a ver com o momento do nascimento completo e com vida, de cuja verificação 
resulta a consequência jurídica da aquisição da personalidade. 

 
Nuno Soromenho Ramos 34 
 
 
Introdução ao Direito
 

Finalmente, note­se que a previsão da norma pode ser apenas intuída em função do enunciado expresso da 
estatuição. É o que se verifica, por exemplo: 
Artigo 1322.º ­ (Enxames de abelhas) 
1. O proprietário de enxame de abelhas tem o direito de o perseguir e capturar em prédio alheio, mas é 
responsável pelos danos que causar. 
● Previsão ­ ​
Fuga das Abelhas 
● Estatuição ­​
 direito de o perseguir … 
Naturalmente, este direito apenas pode ser exercido em face da fuga do enxame de abelhas para prédio 
alheio, situação fáctica que não está expressa na norma mas dela constitui pressuposto essencial. 
Outro exemplo pode ser colhido no artigo 1353º CC, permitindo ao proprietário obrigar os donos dos prédios 
confinantes a concorrerem para a demarcação das estremas entre o seu prédio e os deles, o que 
necessariamente implica a sua própria iniciativa no sentido dessa demarcação. 
Artigo 749º ­ (Privilégio geral e direitos de terceiro) 
1 ­ O privilégio geral não vale contra terceiros, titulares de direitos que, recaindo sobre as coisas abrangidas 
pelo privilégio, sejam oponíveis ao exequente.  
● Previsão ­ ​
Não são abrangidos pelo Privilégio Geral 
● Estatuição ­​
 Terceiros, titulares de direitos que... 
Artigo 1813.º ­ (Improcedência da acção oficiosa) 
A improcedência da acção oficiosa não obsta a que seja intentada nova acção de investigação de 
maternidade, ainda que fundada nos mesmos factos. 
● Previsão ­ ​
Sempre que haja uma improcedência de acção de investigação 
● Estatuição ­​
 Não obsta a que seja intentada nova acção 
Artigo 202/204º 
São exemplos de disposições legais que são normas de definição ou classificação. 
Artigo 266 
Previsão: 
Estatuição: os actos não são oponíveis 
Artigo 675 
Previsão: quem puder dispôr dos rendimentos 
Estatuição: tem legitimidade para constituir consignação  
Artigo 650 
Previsão: fiador, ter subfiador 
Estatuição: o subfiador não responde…. 
Artigo 263 
Previsão: sempre que o procurador tenha que realizar um negócio  
Estatuição: basta ter capacidade de entender e querer exigida pela natureza do negócio 
Nota: a previsão não pode ser uma conceptualização tem que ser concreta, nomeadamente um facto 
jurídico 
Artigo 122 
Previsão: quem não tiver ainda completado, dezoito anos de idade 

 
Nuno Soromenho Ramos 35 
 
 
Introdução ao Direito
 

Estatuição: é menor 
Artigo 214 
Previsão: quem colher prematuramente frutos naturais... 
Estatuição: é obrigado a restituí­los  
Artigo 227.º (Culpa na formação dos contratos) 
1. Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação 
dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à 
outra parte.  
Previsão: Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na 
formação dele. 
Estatuição: proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente 
causar à outra parte.  
 

Sanção 
A definição de sanção mais recorrente, embora de carácter negativo, afirma que esta é a consequência 
desfavorável que recai sobre quem infringiu a norma, em resultado da coercibilidade que essencialmente 
caracteriza o direito 

 
A questão de saber se a sanção é, ou não, um elemento da norma jurídica tem suscitado uma viva discussão, 
nomeadamente confrontando a opinião dos que sustentam ser a sanção um elemento imprescindível da 
norma, com a opinião dos que a entendem como uma decorrência do próprio ordenamento, não 
necessariamente presente em todas as normas e, de todo o modo, sempre consumida na respectiva 
estatuição, quando de tal natureza a mesma se revista. 
Para uma opção final sobre este, temos que considerar que contexto sistémico do ordenamento jurídico, 
existem normas 
1. cuja estatuição não implica qualquer sanção; 
2. cuja sanção se consome na respectiva estatuição; e  
3. onde a sanção do respectivo incumprimento apenas resulta da articulação sistémica das 
diversas disposições em que a norma eventualmente se desdobre. 
Para cada uma destas situações temos exemplos: 
1. Artigo 66º, n.º 1 CC e, genericamente, toda a categoria das denominadas normas permissivas, 
que disponibilizam ao sujeito a adopção de determinados comportamentos, sem ordenar ou 
proibir mas, especificamente, concedendo­lhe poderes ou faculdades. 
2. Existem vários exemplos do segundo caso na área do Direito Penal, onde a estrutura das 
normas incriminadoras em sentido lato compreende, genericamente, dois preceitos: o preceito 
primário, onde se define o crime; e o preceito secundário ou sanção, que comina a pena. A 
título de exemplo, refira­se o artigo 131º do Código Penal, que prevê e pune o crime de 
homicídio: 

 
Nuno Soromenho Ramos 36 
 
 
Introdução ao Direito
 

a. Quem matar outra pessoa [preceito primário] é punido com pena de prisão de 8 a 16 
anos [preceito secundário ou sanção]. 
No entanto, este quadro estrutural genérico pode apresentar variantes, por exemplo quando 
algumas disposições legais sejam privadas de preceito secundário, sendo este determinado 
indirectamente por referência a outros preceitos penais (artigo 23º, n.º 2 do Código Penal) ou 
indicado conjuntamente para várias infracções (artigos 210º e 211º do Regime Geral das 
Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras) 
Mas também no campo do Direito Civil, comum ou especial, se encontram normas jurídicas 
onde a estatuição contém a sanção, não sendo necessário o recurso a outra. Por exemplo, 
artigos 892º (nulidade da venda de bens alheios), 1628º (inexistência jurídica do casamento, 
quando se verifique alguma das situações enunciadas nas diversas alíneas, como seja o 
casamento urgente não homologado) e 2169º (redução das liberalidades inoficiosas, a 
requerimento dos herdeiros legitimários ou dos seus sucessores, em tanto quanto for 
necessário para que a legítima seja preenchida), entre tantos outros. 
3. Do terceiro caso são frequentes os exemplos no Direito Civil, em cujo âmbito se verifica a 
situação inversa da descrita para o Direito Penal. Ou seja, a regra é agora a da conjugação 
sistemática de preceitos, com vista à determinação plena da consequência desfavorável que 
recai sobre quem infringiu a norma, não sendo tão frequentes os exemplos contrários. 
 
Em resumo, deve concluir­se que a sanção constitui, neste sentido mais restrito que vimos, a reacção 
desfavorável do ordenamento à violação de uma norma jurídica, cuja presença na própria norma não constitui 
elemento essencial da respectiva juridicidade: as normas são jurídicas por fazerem parte do sistema e este é 
jurídico por comportar meios de coacção. 
 
O Direito estadual exige a coercibilidade. A Sanção comporta a componente coerciva do Direito Estadual. Mas 
esta capacidade de exigir o cumprimento das normas deve ser olhada como tendencia e não obrigatoriedade. 
 

Ineficácia do negócio jurídico ­ invalidade e ineficácia em sentido restrito 
Considere­se o seguinte caso, como pano de fundo de reflexão: 
Duas pessoas celebram, verbalmente, um contrato de compra e venda de bem imóvel. 
 
O comportamento descrito deve ser analisado em função da norma legal que sujeita a validade de tais 
contratos à observância da forma de escritura pública ou de documento particular autenticado, cominando 
determinadas consequências para a não observância do comando em causa. 
 
Analisando a estruturação dessa norma, verifica­se que esta começa por ser concretizada no artigo 875º 
CC, que faz depender a validade do contrato de compra e venda de bens imóveis da respectiva celebração 
por escritura pública ou por documento particular autenticado (sem prejuízo do disposto em lei especial). 
 
Ou, em raciocínio a contrario sensu, o contrato de compra e venda de bens imóveis é inválido, quando não 
seja celebrado por escritura pública ou por documento particular autenticado. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 37 
 
 
Introdução ao Direito
 

Contudo, a solução do caso não se pode bastar com estes elementos, uma vez que, aqui chegados, 
deparamos com a necessidade de determinar rigorosamente em que deva traduzir­se a invalidade 
legalmente prescrita. 
 
Somos, então, remetidos para a matéria da ineficácia do negócio jurídico, cujo sentido amplo traduz a não 
produção, total ou parcial, dos efeitos a que o acto se dirige. 
 
Esta ineficácia desdobra­se em duas modalidades, a saber: 
● na invalidade: resulta da presença, no negócio celebrado, de vícios ou desconformidades com a 
ordem jurídica 
● na ineficácia em sentido restrito: resulta da incidência, sobre um negócio sem vícios, de factores 
externos que impedem a produção dos respectivos efeitos. 
 
Mas a invalidade, por sua vez, ainda se decompõe numa dupla manifestação, por ordem decrescente de 
gravidade: 
● a nulidade 
● a anulabilidade. 
 
É necessário, portanto, determinar concretamente a espécie de invalidade referenciada no artigo 875º CC, 
para o que deve ser chamado a intervir o artigo 220º CC, que considera nula a declaração negocial que 
careça da forma legalmente prescrita [quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei].  

 
 

Características da Norma Jurídica 
Normas jurídicas possuem as seguintes características: 
● Imperatividade​
: a norma, para ser cumprida e observada por todos, deverá ser imperativa, ou seja, 
impor aos destinatários a obrigação de obedecer. Não depende da vontade dos indivíduos, pois a 
norma não é conselho, mas ordem a ser seguida. 
Esta imperatividade só pode ceder perante verificação de situações que a própria Lei admite não a 
impôr. 
Decerto, a concepção imperativista da norma jurídica deve ser adequada ao facto de certas normas 
não ordenarem ou proibirem condutas (será o caso das normas atributivas ou das proposições 
jurídicas concessivas). 
Neste sentido, tanto é imperativa a norma que sujeita a validade da compra e venda de imóveis à 
forma de escritura pública ou documento particular autenticado (artigo 875º CC), como a norma que 
dispõe ser coisa (em sentido civilístico) o que pode ser objecto de relações jurídicas (artigo 202º, n.º 1 
CC)29, ou como a norma que manda observar certas disposições legais, no caso de faltar ou ser 
insuficiente a regulação, pelo título constitutivo do usufruto, dos direitos e obrigações do usufrutuário 
(artigo 1445º CC). 
● Generalidade​
:  Entende­se que a norma jurídica não individualiza ou determina os respectivos 
destinatários, antes dirige­se a um conjunto indiferenciado e indeterminado de destinatários. A norma 
preconiza o comportamento a adoptar por quem quer que se encaixe na respectiva previsão. A 
Generalidade garante o tratamento igualitário e imparcial das pessoas e constitui, afinal de contas, 
uma decorrência lógica do princípio da legalidade, que determina a submissão dos órgãos do Estado à 

 
Nuno Soromenho Ramos 38 
 
 
Introdução ao Direito
 

lei constituída. Foi, assim, recuperada a ideia que já o direito romano afirmava com ULPIANO: os 
direitos são estabelecidos em termos genéricos e não em função de pessoas determinadas. 
Duas observações se justificam, a este propósito: 
1. A indiferenciação ou indeterminação pode ser mais ou menos ampla, como facilmente se 
demonstra por recurso a dois exemplos simples: o artigo 130º CC, declara que, quem quer 
que perfaça dezoito anos de idade, adquire a maioridade e, assim, fica habilitado a reger a 
sua pessoa e a dispor dos seus bens (ressalvados os casos de interdição ou inabilitação). Já 
o artigo 36º NRAU31, a lei restringe a sua aplicação apenas aos arrendatários com idade igual 
ou superior a 65 anos ou com deficiência com um grau de incapacidade superior a 60%. Em 
ambos os casos, a indiferenciação ou indeterminação das normas é evidente, não sendo 
levadas em consideração quaisquer circunstâncias individualizadoras mas, apenas, 
referências de identidade ou de categoria (ser pessoa singular, ser arrendatário e reunir certos 
requisitos).   
2. A observação de que a indiferenciação ou indeterminação da norma jurídica ainda se mantém, 
mesmo nos casos em que o respectivo destinatário seja, em certo momento, uma pessoa 
concreta: é o que se verifica, por exemplo, na CRP 1976, onde os artigos 133º e seguintes 
definem as competências do Presidente da República e o artigo 186º, n.º 1 determina o início 
e a cessação de funções do Primeiro Ministro ­ quem quer que titule os referidos cargos, 
independentemente da pessoa concreta considerada.  
● Abstração:​
 entende­se que a norma jurídica regula categorias mais ou menos amplas de situações, 
não visando casos determinados, concretos ou particulares. Para este efeito, é indiferente que as 
situações abrangidas se tenham já, ou não, concretizado ou realizado. 
Por exemplo nos termos do artigo 1360º, n.º 1 CC, o proprietário que no seu prédio levantar edifício ou 
outra construção não pode abrir nela janelas ou portas, que deitem directamente sobre o prédio 
vizinho, sem deixar entre este e cada uma das obras o intervalo de metro e meio. 
Podemos encontrar excepções em normas de natureza administrativa, como o caso da que legislou a 
nacionalização do Banco de Portugal ­ que se referia somente e em concreto a este banco. 
Note­se, contudo, que as normas que qualificam condutas como lícitas ou ilícitas fogem, por razões 
óbvias, a este enunciado geral, uma vez que, em tais casos, só podem ser visados factos futuros, 
ainda não realizados, por força do imperativo derivado do princípio da legalidade, na sua vertente de 
nullum crimen sine lege ­  não há crime sem lei 
● Coercibilidade: ​
A coercibilidade significa a legitimidade de fazer valer o Direito pela força, em caso 
da respectiva inobservância, constituindo, em termos práticos, o elemento que permite distinguir o 
Direito (positivo) de outras normas de conduta social. 
Não é consensual a importância da coerção como característica, destacando­se as seguintes críticas: 
1. Com o primeiro argumento pretende­se realçar a espontaneidade que, 
genericamente, está na base do cumprimento do Direito. Não sendo importante o do 
uso da força. Com efeito, a generalidade dos cidadãos obedece, por exemplo, à 
ordem de paragem da circulação, emanada de um sinal luminoso vermelho, por ter a 
consciência de tal ser o único comportamento capaz de garantir a segurança e fluidez 

 
Nuno Soromenho Ramos 39 
 
 
Introdução ao Direito
 

do trânsito rodoviário, sem ter presente o receio das medida coactivas que possam 
advir do não cumprimento da referida regra.  
Mas esta constatação não é suficiente para atribuir um carácter residual à coacção. 
Na verdade, a aplicação da coacção não é tão excepcional, no mundo agressivo, 
conturbado e egoísta em que vivemos. E, por outro lado, o aspecto mais relevante da 
questão tem a ver com a susceptibilidade de o Direito ser imposto por medidas 
coercitivas (e não com a sua efectiva imposição), desempenhando, sempre, um 
(ainda que abstracto) útil efeito dissuasor. 
2. O segundo argumento invoca o exemplo do Direito Internacional Público (soft law), 
que é Direito apesar da incoercibilidade de que se reveste, dada a ausência de um 
aparelho coercível próprio. Apesar deste ramo de Direito ainda não possuir um 
aparelho coercível devidamente estruturado e consolidado, surgem órgãos (tais como 
o Tribunal Permanente de Justiça Internacional e a Organização das Nações Unidas) 
que mostram uma tendência nesse sentido, embora ainda numa modalidade 
embrionária de coercibilidade tendencial.  
 

Soft Law 
Conceito do Direito Internacional Público que implica normas flexíveis cujo cumprimento é meramente 
recomendado aos Estados, que podem não cumpri­las, sem que haja sanções aplicáveis.  
● Actos concertados não­obrigatórios, produzidos pelos Estados ou pelos órgãos das Organizações 
Internacionais, sob diversas formas 
● Instrumentos produzidos com a finalidade de estabelecer princípios orientadores do comportamento 
dos Estados e outros entes, e tendentes ao estabelecimento de novas normas jurídicas 
●  Há quem defenda que a soft law pertenceria ao campo da moral, porque o consentimento dos 
Estados acerca do conteúdo da norma exclui obrigações jurídicas específicas e sancionadoras. 
● Normas que prevêem mecanismos de conciliação, mediação ou outros, em caso de litígio ou 
não­cumprimento, mas que excluem o recurso à adjudicação. 

Classificação das Normas 
A multiplicidade de normas que integram o conjunto sistematizado do ordenamento jurídico permite perceber a 
necessidade do seu agrupamento, segundo os propósitos a que se destinam cada uma das norrmas. 

 
Normas Perceptivas, Proibitivas e Permissivas 
De acordo com um critério baseado no conteúdo da estatuição normativa (tipo de conduta exigido ou 
disponibilizado ao sujeito jurídico), podemos distinguir as normas jurídicas em preceptivas, proibitivas e 
permissivas 
● Normas Preceptivas ­ ​
Impõe a prática de actos. Serão as normas que dizem “tu deves”. 
Como por exemplo o pagamento de impostos. 

 
Nuno Soromenho Ramos 40 
 
 
Introdução ao Direito
 

● Normas Proibitivas ­ ​
Vedam ao sujeito determinada conduta, obrigando­o a não executar 
certos comportamentos ­  “tu não deves”.  Por exemplo, as normas que tutelam os bens 
pessoais (vida, integridade física, honra, liberdade, etc.) proibindo os comportamentos 
susceptíveis de os ofender.   
● Normas Permissivas​
 ­ Disponibilizam a adopção de determinados comportamentos. Não 
obrigam nem proíbem, mas concedem poderes ou faculdades ­ “tu podes”. Tais normas 
apresentam uma especial incidência no âmbito do Direito Civil, enquanto direito privado 
comum – a título de exemplo, refiram­se os casos dos artigos 114º, n.º 1 (verificados certos 
requisitos, as pessoas que a lei admite podem requerer a declaração de morte presumida do 
ausente). 
Pode­se afirmar que a imperatividade das normas permissivas resulta, indirectamente, do 
sistema jurídico, na medida em que é o Direito, como um todo, que impõe a solução que 
passa pela disponibilização, aos sujeitos, de certos comportamentos. Afasta­se, assim, a 
visão redutora do Direito como simples conjugação de ordenações/proibições, integrando a 
permissão na esfera de influência da regulação da vida social. Uma vez mais, note­se, 
recuperando as raízes históricas de uma distinção que já remonta ao direito romano. 
MODESTINO enunciava imperare e permittere, em paralelo e com igual eficácia decorrente da 
lei ­ a força da lei é esta: comandar, proibir, permitir ou punir. 

 
Normas Injuntivas, Dispositivas e Supletivas 
Critério da relação da norma com a vontade dos sujeitos, em que medida afecta a autonomia privada dos 
sujeitos. Esta classificação articula­se directamente com a classificação anterior, complementando­a.  
● Normas Injuntivas​
 ­ Impõe pela positiva ou negativa, são injutivas as normas: 
○ Normas Perceptivas 
○ Normas Proibitivas 
● Normas Dispositivas​
 ­ Permitem dispôr da autonomia de vontade. Incluem as normas: 
○ Normas Permissivas 
○ Normas Interpretativas ​
­  permitem determinar rigorosamente o alcance e o sentido 
assumido por expressões legais, ou por certas condutas declarativas, ou por actos 
das partes que se relacionam. 
Note­se que estas normas não se confundem com as leis interpretativas, as quais se 
destinam a interpretar leis anteriores 
Tomem­se os exemplos: do artigo 16º, n.º 2 CRP1976 onde, a propósito do âmbito e 
sentido dos direitos fundamentais, se dispõe que devem ser interpretados e 
integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem; ou, no 
Código Civil, dos artigos 2262º e 2263º, esclarecendo o que deva ser englobado no 
legado da totalidade dos créditos e no legado do recheio de uma casa, 
respectivamente, efectuados pelo testador. Outros exemplos de normas 
interpretativas podem ser colhidos nas definições legais (artigos 202º, 452º, 712º, 

 
Nuno Soromenho Ramos 41 
 
 
Introdução ao Direito
 

831º, 1251º, etc.) e nas categorizações legais (artigos 203º, 703º, 1258º, etc.), 
consagradas no Código Civil.   
Estas normas não impõe um comportamento mas influenciam a autonomia individual. 
○ Normas Supletivas ​
­ destinam­se a suprir a falta ou deficiência de regulação, 
fundada na autonomia da vontade das partes, de aspectos negociais que dela 
careçam, colmatando, portanto, essa lacuna de regulação.  
Os exemplos são abundantes no Código Civil, particularmente na área 
privilegiadamente dominada pelo princípio da autonomia contratual, como é o Direito 
das Obrigações: o artigo 1027º “Se do contrato e respectivas circunstâncias não 
resultar o fim a que a coisa locada se destina, é permitido ao locatário aplicá­la a 
quaisquer fins lícitos, dentro da função normal das coisas de igual natureza”. 
A função das normas supletivas é importante pois: 
1. Perante a omissão ou insuficiência de declaração da vontade das 
partes, relativamente a questões onde o ordenamento jurídico não 
interviu imperativamente, definem regimes que correspondem àquela 
que seria a vontade conjectural das partes, caso se tivessem 
pronunciado sobre a matéria; 
2. Asseguram níveis adequados de equidade e de justiça na regulação 
do tipo de situações em causa, prevenindo abusos e tutelando 
eventuais fragilidades.  

 
Normas Universais, Regionais e Locais 
De acordo com um critério de validade territorial interna, as normas jurídicas podem ser agrupadas em normas 
universais, regionais e locais, onde é levada em linha de conta a organização político­administrativa do Estado 
português.  
● Normas Universais​
 ­ as que se aplicam em todo o território nacional. Exemplo, as normas 
constitucionais ou as integrantes dos códigos e de diversos outros diplomas.  
● Normas Regionais ​
­ as que se aplicam a uma determinada região, produzidas pelos órgãos 
constitucionalmente habilitados para o efeito. É o caso das normas produzidas pelos 
Governos e pelas Assembleias Legislativas Regionais, nas Regiões Autónomas dos Açores e 
da Madeira, no uso do poder e da autonomia legislativa que lhes é conferida pelos artigos 
227º e 228º da CRP1976. 
● Normas Locais ​
­ as que são aplicadas apenas no território das designadas autarquias locais. 
Constituem exemplo desta categoria de normas as que integram as posturas municipais, 
produzidas pelas autarquias no uso do poder regulamentar que lhes é conferido pelo artigo 
241º da CRP1976 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 42 
 
 
Introdução ao Direito
 

Normas Gerais e Excepcionais 
De acordo com um critério de relacionamento entre si, as normas jurídicas podem ser agrupadas em normas 
gerais e excepcionais, numa perspectiva da oposição entre os regimes estabelecidos numas e noutras.  
● Normas Gerais ​
­ as que definem um regime regra, relativamente a uma determinada área de 
factos ou de relações jurídicas.  
Por exemplo, a regra é definida pelo artigo 219º CC, de acordo com a qual a validade da 
declaração negocial não depende da observância de forma especial, salvo quando a lei a 
exigir. Ou o artigo 2194º como norma geral, e o artigo 2195º que define a excepção. 
● Normas Excepcionais​
 ­  as que definem um regime oposto ao regime regra, mas a um 
sector mais restrito daquela mesma área de relacionamento.  
Estas não admitem integração por analogia mas sim por extensão 
Por exemplo, a excepção é definida no artigo 875º CC, que faz depender a validade do 
contrato de compra e venda de imóveis da respectiva celebração por escritura pública ou 
documento particular autenticado, sem prejuízo do disposto em lei especial 
 
 

Normas Comuns e Especiais 
Critério que classifica a relação entre Normas Jurídicas pela novidade do regime que estabelecem 
Vimos isto a propósito do Direito Privado Comum e Especial 
● Normas Comuns ​
­ as que consagram um regime generalista para uma determinada área de 
pessoas, coisas ou relações. Por exemplo as normas do Código Civil 
● Normas Especiais ­ ​
as que definem um regime novo, para círculos mais restritos de 
pessoas, coisas ou relações, diferente do (mas não oposto ao) regime consagrado 
genericamente. Por exemplo normas constantes da legislação do trabalho. 
Assim se justifica, obviamente, a contraposição entre o Direito Civil, como direito privado comum e o Direito 
Comercial ou o Direito do Trabalho, entre outros, como ramos de direito privado especial 

 
Normas autónomas, não autónomas e disposições normativas incompletas 
Critério de acordo com a eficácia própria 
● Normas Autónomas ​
­ aquelas que apresentam um sentido completo, por esgotarem, em si 
mesmas, a previsão e a estatuição.  
Por exemplo o artigo 66º ou 886º. 
● Normas não autónomas ­  ​
falta uma eficácia plena, por só alcançarem a totalidade da 
previsão e da estatuição através de remissões para outras normas. Como exemplo 
elucidativo, pode referir­se o artigo 875º, n.º 1 ou  o 220º do CC. 
● Disposições Normativas incompletas​
 ­  São exemplos as definições (Art. 202º) ou as 
classificações legais (Art. 203º), em si mesmas não são consideradas normas jurídicas. A sua 
juridicidade provem de estarem integradas em decretos leis. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 43 
 
 
Introdução ao Direito
 

Normas mais que perfeitas, perfeitas, menos que perfeitas e imperfeitas   
Critério da natureza e complementaridade da sanção prevista para determinado comportamento 
● Normas Mais que Perfeitas ​
­ a violação determina nulidade do acto e sanção penal. 
Ex: Negócio de transacção de substancias ilícitas o negócio é nulo (artº 280 nº 1), e punido 
por lei (artigo 21º, n.º 1 do DL n.º 15/93, de 22 de Janeiro) 
● Normas Perfeitas ​
­ A violação determina a nulidade do acto sem qualquer sanção. 
Por exemplo, os negócios contrários à ordem pública, ou ofensivos dos bons costumes nulos 
por força do disposto no artigo 280º, n.º 2, ou o caso do Artº 694. 
● Normas Menos que Perfeitas ­ ​
a violação determina apenas a aplicação de uma sanção 
mas não a nulidade do acto 
É o caso, por exemplo, da condução de um veículo automóvel a 220 km/h, numa autoestrada 
● Normas Imperfeitas​
 ­  a violação não determina a aplicação de qualquer sanção.  
Ex: Normas constitucionais programáticas, que consagram atribuições ao Estado (art. 9 CRP). 
 
Características das Normas Constitucionais Programáticas: 
1. explicitam comandos valores de aplicação diferida; 
2. têm como destinatário privilegiado o legislador, a quem cabe a ponderação discricionária 
sobre o tempo e os meios em que tais normas venham a ser revestidas de plena eficácia; 
3. não permitem a respectiva invocação imediata por parte dos cidadãos, pedindo aos tribunais o 
seu cumprimento só por si; 
4. revestem­se de uma natureza jurídica mais aproximada das expectativas do que dos 
verdadeiros direitos subjectivos. Os cidadãos gozam da expectativa de que o Estado faça o 
melhor, mas não têm o direito de o exigir; e 
5.  aparecem, frequentemente, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente 
indeterminados 
Mas nada disto as reduz a “simples programas” ou “sentenças políticas”, juridicamente desprovidas de 
qualquer vinculatividade, antes sendo­lhes hoje genericamente reconhecido um valor constitucionalmente 
idêntico ao dos restantes preceitos constitucionais apenas com um diferente grau de realização ou efectividade 

 
Normas de direito interno, de Direito Internacional Público e de Direito da União 
Europeia 
Critério do Âmbito de Aplicação, Finalidade Específica, Fonte e Eficácia 
● Normas de Direito Interno​
 ­ São geradas e aplicadas, fundamentalmente, dentro de cada 
Estado. Visam garantir a justiça, segurança e a tutela dos direitos humanos em determinado 
espaço nacional. 
Têm a Lei como fonte privilegiada e dispõem de força coactiva plena. 
Estas normas aplicam­se no estrito limite das fronteiras de cada Estado, salvo quando o 
próprio ordenamento admita a regulação por uma lei estrangeira. Casos das normas de 

 
Nuno Soromenho Ramos 44 
 
 
Introdução ao Direito
 

conflitos, previstas nos artigos 25º e seguintes CC, para efeitos de determinação da lei 
aplicável. 
●  ​
Normas de Direito Internacional Público​
 ­ São geradas e aplicadas no âmbito da 
comunidade internacional. Visam garantir a paz e segurança internacionais, com especial 
intervenção ao nível da limitação e humanização da guerra, da promoção do desenvolvimento 
sustentado dos povos e países mais desfavorecidos.  
Derivam essencialmente dos costumes e tratados internacionais. 
Não dispões de meios próprios de aplicação contra os estados que as violam. 
Caso do artigo 8º CRP1976, sob a epígrafe Direito internacional. 
● Normas de Direito da União Europeia​
 ­ são geradas e aplicadas na União Europeia, 
através dos órgãos próprios definidos nos Tratados. 
Visam criar uma ordem jurídica que permita a realização dos objetivos fixados nos Tratados. 
Têm fontes de direito autónomas (o direito primário, constituído pelos Tratados, pelos 
princípios gerais do direito e pelos tratados internacionais celebrados pela União; e o direito 
derivado, que decorre, nomeadamente, dos Regulamentos e das Directivas). 
Dispõem de meios próprios de aplicação contra os Estados­membros que as violem. 
No que respeita ao direito derivado, uma referência específica ao facto de os Regulamentos 
terem carácter geral e serem obrigatórios em todos os seus elementos, portanto directa e 
imediatamente aplicáveis a partir da data da respectiva entrada em vigor. 
No caso das Directivas cada Estado­membro deva proceder à sua transposição para o direito 
interno, de modo a torná­las aplicáveis nos respectivos ordenamentos jurídicos. Também a 
este respeito, dispõe o n.º 4 do artigo 8º CRP 
 

Resumo Classificação das Normas 
Normas Perceptivas, Proibitivas e Permissivas 
De acordo com tipo de conduta exigido ou disponibilizado ao sujeito jurídico 
1. Normas Preceptivas­ tu deves 
2. Normas Proibitivas ­ tu não deves 
3. Normas Permissivas ­ tu podes 
Normas Injuntivas, Dispositivas, Imperativas e Supletivas 
Relação da norma com a vontade dos sujeitos.  
1. Normas Injuntivas ­ Impõe pela positiva ou negativa, são injutivas as normas: 
a. Normas Perceptivas 
b. Normas Proibitivas 
2. Normas Dispositivas ­ Permitem dispôr da autonomia de vontade. Incluem as normas: 
a. Normas Permissivas 
3. Normas Interpretativas ­  determinam o alcance e o sentido assumido por expressões legais, ou por 
certas condutas declarativas, ou por actos das partes que se relacionam 
4. Normas Supletivas ­ destinam­se a suprir a falta ou deficiência de regulação 

 
Nuno Soromenho Ramos 45 
 
 
Introdução ao Direito
 

Normas Universais, Regionais e Locais 
De acordo aplicação territorial interna 
1. Normas Universais ­ em todo o território nacional. 
2. Normas Regionais ­ uma determinada região 
3. Normas Locais ­ autarquias locais 
Normas Gerais e Excepcionais 
De acordo com relacionamento entre si.  
1. Normas Gerais ­ as que definem um regime regra. 
2. Normas Excepcionais ­  as que definem um regime oposto ao regime regra 
Normas Comuns e Especiais 
Critério que classifica a relação entre Normas Jurídicas pela novidade do regime que estabelecem 
1. Normas Comuns ­ definem um regime generalista para uma determinada área de pessoas, coisas ou 
relações. 
2. Normas Especiais ­ as que definem um regime novo, para círculos mais restritos de pessoas, coisas 
ou relações. 
Normas autónomas, não autónomas e disposições normativas incompletas 
Critério de acordo com a eficácia própria 
1. Normas Autónomas ­ aquelas que apresentam um sentido completo ­ a previsão e  estatuição.  
2. Normas não autónomas ­  falta uma eficácia plena, por remissões para outras normas 
3. Disposições Normativas incompletas ­  não são consideradas normas jurídicas. 
Normas mais que perfeitas, perfeitas, menos que perfeitas e imperfeitas   
Critério da natureza e complementaridade da sanção prevista para determinado comportamento 
1. Normas Mais que Perfeitas ­ a violação determina nulidade do acto e sanção penal. 
Normas Perfeitas ­ A violação determina a nulidade do acto sem qualquer sanção. 
2. Normas Menos que Perfeitas ­ a violação determina aplicação de uma sanção mas não a nulidade do 
acto 
3. Normas Imperfeitas ­  a violação não determina a aplicação de qualquer sanção. 
Normas de direito interno, de Direito Internacional Público e de Direito da União Europeia 
Critério do Âmbito de Aplicação, Finalidade Específica, Fonte e Eficácia 
1. Normas de Direito Interno ­ São geradas e aplicadas, fundamentalmente, dentro de cada Estado. 
2.  Normas de Direito Internacional Público ­ São geradas e aplicadas no âmbito da comunidade 
internacional. 
3. Normas de Direito da União Europeia ­ são geradas e aplicadas na União Europeia 
 

Codificação e técnicas legislativas 
O Direito, pode ser entendido como um sistema de agregação de normas de conduta social, com 
características e fins determinados. 

 
Nuno Soromenho Ramos 46 
 
 
Introdução ao Direito
 

Um sistema implica regras de sistematização: 
1. Ordenação e unidade ­  de acordo com Canaris, no caso do Direito, se traduzem nas ideias da 
adequação valorativa e unidade interior; 
2. Coerência ­ que para Bobbio, será a garantia de que as diversas normas do sistema se relacionam 
harmoniosamente entre si e com o todo que integram. 
Na família romano­germânica do Direito, a ordenação e unidade coerente são apoiadas por mecanismos 
legislativos, nomeadamente a codificação e as técnicas legislativas.  
 

Codificação 
Trata­se de um processo de agregação normativo, em função das bases genéricas comuns de regulação que 
obedecem a um princípio unitário. Assenta no direito escrito o que permite ao legislador flexibilizar e ordenar 
soluções. 
Como simples compilação, o processo codificador surge na Antiguidade. Exemplo da Lei das 12 Tábuas, 
Código Hamurabi, ou Corpus Iuris Civilis de Justiniano. 
Em Portugal destacamos as Ordenações Afonsinas (1446), Manuelinas (1512) e Filipinas (1603). Estas 
mantiveram­se em vigor até ao Código Civil de 1867. 
Mais recentemente, no final do Séc 18, temos o Codex Maximilianeus Bavaricus Civilis (1756) ou o Código 
Galiciano Ocidental (1797). 
No entanto, estes diferem do conceito moderno porque se limitavam a compilar legislação sem critério 
ordenador. Pretendiam somente facilitar o acesso aos textos legais. 
 
O movimento codificador europeu moderno caracterizou­se pela tendência de agregar em lei toda uma área do 
direito, segundo critérios sistemático­científicos. Consagrava­se o pensamento racionalista dos três S 
1. Sintético 
2. Científico 
3. Sistemático 
Este movimento visou a uniformidade, a simplificação e a segurança legislativas, garantindo que: as mesmas 
leis fossem aplicadas de forma uniforme a todos os indivíduos. Não voltaria a ser necessário analisar a inteira 
dispersão das fontes para ter acesso ao direito; e todas as pessoas teriam conhecimento antecipado de todas 
as normas que regem a sociedade e o modo como devam ser aplicadas. 
 
Segundo Guilherme Moreira (1907), os códigos são compilações sistemáticas de todas as normas jurídicas 
respeitantes a um determinado ramo de Direito feitas pelo poder legislativo, ou pelo executivo no exercício da 
função legislativa. 
 
O Code Civil des Français, de Napoleão, em 1804 é considerado o primeiro código legislativo moderno. Este 
movimento codificador abrangeu várias áreas jurídicas, tendo o título original integrado 6 partes e sendo 
produzidos mais 4 outros códigos.  

 
Nuno Soromenho Ramos 47 
 
 
Introdução ao Direito
 

A grande novidade deste processo foi a de unificar as partes do direito abrangidas por cada processo, 
tornando lei todas as matérias pertinentes, colocando­as de forma orgânica e sistemática com um fio condutor 
de princípios gerais comuns 

 
Polémica da Codificação 
Apesar da imensa influência, pela Europa, do movimento codificador francês a sua adopção não foi 
consensual. E na Alemanha do Séc 19, surgiu um intenso debate sobre a eventual necessidade de 
sistematizar o direito civil alemão. 
 

A Favor  ­ Thibaut  Contra ­ Savigny 

A simplicidade e a uniformidade da Lei permitiria ao  A codificação seria um processo falso e arbitrário, 
Direito desempenhar a sua principal função ­ corrigir  pois o principio de sistematização não respeita a 
o comportamento dos agregados sociais, pela  evolução histórica. E como tal impediria o progresso 
influencia que venceria os hábitos e inclinações  da ciência jurídica, prendendo o espírito do 
humanas.  jurisconsulto, e eliminando a melhoria do direito por 
falta de liberdade de interpretação da Lei. 
 
O argumento a favor da codificação venceu e o Código Civil alemão acabou ser organizado. De forma 
diferente e mais impregnado de direito romano que o o francês. Foi também melhor elaborado do ponto de 
vista técnico­científico, e constituiu inspiração para diversos diplomas similares em outros países.  
 

A Codificação e as Famílias Jurídicas 
A codificação ajuda­nos a identificar as diferenças entre as duas grandes famílias jurídicas. 
1. Tipo Europeu Continental​
 ­  ou sob sua influência, de inspiração romano­germânica: 
a. Grupo Francês: ​
Bélgica, Brasil, Espanha, Holanda 
b. Grupo Alemão​
 ­ Grécia, Japão, Portugal, Suiça e Holanda 
2. Tipo Common Law​
 ­ inspirado no direito comum e direito consuetudinário 

 
Pequena cronologia Portuguesa 
1867 
O Código de Seabra de 1867, é o primeiro Código Civil moderno a vigorar em Portugal. Foi influenciado pelo 
código de Napoleão. 
1888 
Em 1888, surge novo Código comercial de Veiga Beirão, e que ainda hoje tem cerca de 20 artigos em vigor.  
1966 
É criado o novo Código Civil que entra em vigor a 1 de Dezembro de 1967. De inspiração alemã.  
 

 
Nuno Soromenho Ramos 48 
 
 
Introdução ao Direito
 

Funções da Codificação 
1. Consolidação​
 ­  Método que integra na Lei as soluções de jurisprudência e permite reunir com a 
ordem lógica e sequencial dos textos de uma mesma matéria. 
2. Unificação ­ ​
Método que conjuga as regras antigas e novas, de forma unitária para que respondam 
aos princípios gerais da sociedade. 
3. Ordenação ­ ​
Obtém­se a repartição das matérias e a sua compilação nos respectivos códigos, e 
posteriormente organiza­se metodicamente cada um deles. 
 

Tipos de Formulação Legal 
Larenz propõe a seguinte classificação de métodos de formulação legal 
1. Estilo Casuístico ​
­  Método que assenta na abrangência e plenitude. Assim, o maior número possível 
de situações reais são descritos, e exaustivamente regulados. 
Ex: Compilação Legislativa Prussiana 1792 
2. Estilo abstracto­generalizador​
 ­  Mais aberto que o anterior, pois tem consciência da 
impossibilidade de prever todos os factos da vida que necessitem de regulação. Define grupos de 
situações, com o recurso a conceitos gerais e abstractos claramente determinados. Atribui ao juiz um 
carácter activo e valorativo na apreciação dos casos concretos em função dos conceitos enunciados. 
Ex: Código Civil Português 1967 
3. Estilo Linhas de Orientação​
 ­ Ainda mais aberto que o anterior, somente enuncia linhas de 
orientação, que o juiz aplicará. Recorre a conceitos indeterminados e clausulas gerais muito flexíveis. 
Ex: Código Civil Suiço 1907 
 

Conclusão 
O moderno movimento de codificação, ao definir os quadros jurídico­normativos de regulação social, tornou­se 
um exito da Escola do Direito Natural 
 

Vantagens da Codificação  Desvantagens da Codificação 

● permitiu reduzir a dispersão legislativa  ● rigidez dos códigos e a sua menor 
● assegurar a exposição metódica do direito  predisposição a alterações 
que convinha à sociedade moderna e que  ● ter aberto o caminho a uma atitude de 
devia ser aplicado pelos tribunais.   positivismo jurídico. Para os juristas, o 
● contribuiu para anular a fragmentação do  direito passou a ser sinónimo do seu direito 
direito e a multiplicidade dos costumes, que  nacional, esquecendo a essência 
constituíam obstáculo à aplicação do  supranacional do direito, enquanto conjunto 
Direito.   de normas de conduta social 
 

Técnicas legislativas  
Utilização de técnicas que visam criar segurança na aplicação da lei. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 49 
 
 
Introdução ao Direito
 

Partes Gerais 
Podemos ver exemplo no Código Civil, Livro I, Parte Geral. 
Existe divergência de pensamento quanto à necessidade de agrupar algumas disposições numa parte geral.  
São três os tópicos de discussão: 

Vertente Didática  Vertente Científico­Sistemática  Vertente Legislativa 

A abstracção e a  A Parte Geral de um código civil e  Na vertente legislativa 


heterogeneidade da Parte Geral  o estudo dos fundamentos gerais  descobrimos a importância das 
podem dificultar a aprendizagem  do Direito Civil são entidades  Partes Gerais. 
de uma adequada visão  distintas. Assim a Parte Geral,  Respondendo às necessidades 
homogénea do conjunto dos  enquanto divisão de uma  de generalidade e abstracção dos 
conceitos abrangidos.  codificação, não representa a  regimes a consagrar, as Partes 
Contudo, a facilitação do ensino  parte geral do Direito Civil.  Gerais centram­se em quatro 
do Direito Privado não constitui,  pilares fundamentais, definindo: 
decerto, a função principal das  1. os sujeitos de direito 
Partes Gerais  2. a esfera juridicamente 
protegida dos respectivos 
direitos subjectivos 
3. os objectos de direito 
4. os mecanismos de 
criação e transmissão 
desses direitos 
subjectivos, por via da 
abordagem de um 
conceito amplo de 
negócio jurídico.  
Mas a existência de uma parte geral tem uma função didáctica e de organização, pois o legislador arruma um 
conjunto de disposições que desta forma não têm que ser repetidos ao longo do Código.  
Por exemplo, ao definir o que é um Menor, na Parte Geral, pode a partir de então usar a palavra em outras 
normas sem risco de entendimento errado ou difuso. 
Nas Partes Gerais são agrupadas, de facto, as regras pertinentes a todos os demais livros da codificação e, 
em boa verdade, aplicáveis a todo o edifício jurídicoprivatístico, aí continuando a residirem os aspectos mais 
positivos do respectivo desempenho, enquanto instrumentos de regulação. Isto assume especial relevo na 
parte geral do código civil, pois tem aplicação transversal a todo o Ordenamento Jurídico. 
 

Definições 
Definição traduz o acto de delimitação exacta ou estabelecimento de limites, visando a significação precisa ou 
a indicação do verdadeiro sentido de algo [uma palavra, um conceito, ...] 
Também há duvidas quanto à utilidade e pertinência das definições. Dizem os seus opositores que a função da 
Lei não é definir mas legislar. Que é absolutamente impossível definir por completo, a inesgotável diversidade 
das relações da vida, em constante mutação. 
Esta crítica parece exagerada, pois as definições têm a vantagem de permitir ao legislador concretizar um 
conceito, evitando equívocos no seu uso futuro. O desenvolvimento exige a utilização de enquadramentos 
rigorosos, que permitam estabelecer o âmbito de aplicação de certos regimes jurídicos – é o caso, por 
exemplo, da noção de coisa, constante do artigo 202º CC.   

 
Nuno Soromenho Ramos 50 
 
 
Introdução ao Direito
 

A utilização de definições visa, por outro lado, identificar os elementos que integram o conteúdo típico do 
conceito em causa.A utilidade dessas definições deve­se à necessidade de se fixarem conceitos em áreas 
científicas muito flexíveis e sujeitas, por força do respectivo impacto social e económico, a variações 
acentuadas. Pode­se ver o seu sucesso, em diversas áreas, nomeadamente nas regulações de outros 
sectores da actividade financeira 
As definições sempre foram muito usadas no Direito português, como exemplifica o Direito das Obrigações. 
Mas esta técnica legislativa sofre um impulso com a transposição do conteúdo das Directivas da União 
Europeia, diplomas onde é vulgar o recurso a tal técnica legislativa, por força da influência do direito 
anglo­saxónico 
No limite não podemos ignorar a vantagem pedagógica das normas explicativas, não só para o jurista como 
para o cidadão comum. 

 
Ficções 
Trata­se de considerar que um facto não previsto por Lei é idêntico ou similar a outro previsto e regulado na 
Lei. 
Não são interpretações extensivas da Lei nem analógicas. 
Ao integrar realidades factualmente distintas no mesmo regime jurídico, o Legislador consegue abarcar mais 
comportamentos humanos numa conduta ética de boa fé. 
Alguns exemplos eloquentes podem ser encontrados no Código Civil: Assim, o n.º 2 do artigo 224º determina 
ser também considerada eficaz a declaração que só por culpa do destinatário não foi por ele oportunamente 
recebida. 
O n.º 2 do artigo 275º determina que a condição tem­se por verificada, se a sua verificação for impedida, 
contra as regras da boa fé, por aquele a quem prejudica; ou, inversamente, considera­se como não verificada, 
se for provocada, nos mesmos termos, por aquele a quem aproveita. 
Ainda, a alínea c) do n.º 2 do artigo 805º considera haver mora do devedor, independentemente de 
interpelação, se o próprio devedor impedir a interpelação, considerando­se interpelado, neste caso, na data em 
que normalmente o teria sido. 
 

Presunções 
De acordo com o disposto no artigo 349º CC, presunções são as ilações que a lei ou o julgador tira de um 
facto conhecido, para firmar um facto desconhecido, daqui resultando existirem presunções legais e 
presunções judiciais.   
A título de exemplo, citem­se os casos dos artigos 1260º, n.º 2 (a posse titulada presume­se de boa fé, e a não 
titulada, de má fé); e 1268º, n.º 1 (presume que o possuidor é titular do direito excepto se existir, a favor de 
outrem, presunção fundada em registo anterior ao início da posse). 
1. Presunções Legais ­ ​
as enunciadas por lei 
a. Presunções Ilidíveis ou Juris Tantum ­ ​
a presunção pode ser afastada por prova 
em contrário (Art. 1260º nº 2) 

 
Nuno Soromenho Ramos 51 
 
 
Introdução ao Direito
 

b. Presunções Inilídiveis ou Juris et de Jure ­ ​
a presunção não pode ser afastada 
por prova em contrário (Art. 1260º nº 3). 
Neste caso a lei não admite a hipótese de que haja boa fé com recurso a violência. 
2. Presunções Judiciais ­ ​
 as que são emitidas pelos tribunais. Os juízes podem emitir 
presunções. Embora só possa recorrer às ilidíveis. De acordo com o disposto no artigo 351º, 
só são admitidas nos casos e termos em que é admitida a prova testemunhal, donde resulta 
poderem as mesmas ser sempre afastadas por prova em contrário 
 
No código uma presunção ilidível nunca terá um termo que impossibilite a sua discussão, por oposição a 
norma inilídivel terá um termo que impossibilita a prova em contrário. 
As presunções juris tantum são mais comuns, pois legislador consegue alcançar os objectivos da certeza e da 
segurança jurídicas, que também são apanágio do Direito, sem, contudo, fechar a porta à demonstração 
efectiva da realidade dos factos em presença 
Só muito excepcionalmente a Lei recorrerá a presunção inilidível para declarar presunção. Em tais casos, o 
legislador valoriza o facto conhecido de tal forma que a ilação dele retirada assegura o facto desconhecido, de 
modo pleno e irreversível.   
Distinguindo , entre as presunções inilidíveis e as ficções legais: nas presunções inilidíveis, a lei afirma a 
verificação de um facto que é presumido, sem possibilidade de refutação; nas ficções legais, submete­se um 
facto, que a lei sabe e declara não ter ocorrido, ao regime jurídico de outro. 

 
Remissão 
Técnica legislativa, através da qual uma norma (a norma remissiva) determina que se aplique a determinada 
situação ou problema a solução de outra norma. Assim, a norma remissiva abstém­se de regular a situação ou 
problema em causa, cometendo tal tarefa a outra ou outras normas.  
Embora seja comum, nem todas as normas estão identificadas na sua epígrafe como remissivas. 
As remissões, quanto à estrutura da norma, podem:  
1. Verificar a estatuição de uma ou mais normas 
Podem citar­se os artigos 665º, 678º e 753º CC (mandando aplicar, respectivamente à 
consignação de rendimentos, ao penhor e aos privilégios creditórios, com as necessárias 
adaptações, certas disposições relativas à hipoteca), ou o artigo 1794º CC (que manda aplicar 
à separação judicial de pessoas e bens, sem prejuízo dos preceitos da secção respectiva e 
com as necessárias adaptações, o disposto quanto ao divórcio).  
2. Integrar uma previsão normativa. 
Pode citar­se o artigo 974º CC, caracterizando a ingratidão do donatário, enquanto 
fundamento de revogação da doação, por recurso aos fundamentos da indignidade sucessória 
e da deserdação. 
 
As remissões, quanto ao sistema jurídico, podem ser: 

 
Nuno Soromenho Ramos 52 
 
 
Introdução ao Direito
 

a. intra­sistemáticas ­ ​
se as normas remissivas em causa mandem aplicar uma ou mais 
normas do mesmo sistema  
b. extrasistemáticas ​
­ se mandarem aplicar normas de um outro sistema 
As normas de conflitos (que, no Código Civil português, constam dos artigos 25º a 65º) 
constituem um exemplo de normas remissivas extra­sistemáticas, uma vez que não resolvem 
directamente o conflito em presença, mas apenas se limitam a indicar a lei material adequada 
à solução desse conflito, podendo essa lei ser estranha ao sistema jurídico nacional. 
 

Conceitos Indeterminados e Cláusulas Gerais 
O Iluminismo considerava possível as normas jurídicas serem de tal forma claras e seguras, e que, prevendo 
todas as situações a legislar, a aplicação do Direito seria una e inequívoca. Desta forma o Juíz, segundo 
Montesquieu, seria simplesmente a boca que pronunciava a lei. 
Cedo se percebeu que esta exactidão de aplicação era impossível, por duas razões: a) como elaborar leis tão 
rigorosas e precisas; b) como garantir a interpretação exacta e absolutamente abrangente. 
Perante esta impossibilidade houve que encontrar formas de autonomizar o Juiz na aplicação da Lei. Formas 
que o permitissem, perante a multiplicidade e imprevisibilidade da vida real e concreta, avaliar autonomamente 
as situações e decidir em conformidade com o espírito do sistema. 
Podemos constatar esta autonomização das autoridades jurisdicionais no Art. 203º da CRP1976. 
Para dar resposta a esta necessidade, o pensamento jurídico, passou a ser configurado num equilíbrio entre o 
direito equitativo (ius aequum) e o direito estrito (ius strictum), permitindo a autonomização dos órgãos 
aplicadores da lei. 
Nestes processos ganham relevos os Conceitos Jurídicos Indeterminados e as Cláusulas Gerais 

 
Conceitos Jurídicos Indeterminados  
São aqueles que não permitem a apreensão clara do respectivo conteúdo. 
Opõem­se aos, mais raros, conceitos determinados, que serão todos os que contêm uma componente 
numérica, de medida ou valor monetário ­ como o de maioridade. 
 
A indeterminação do conteúdo pode advir de 5 razões: 
1. Polissemia ​
quando o conceito apresente vários sentidos possíveis (na primeira parte do n.º 1 
estimadas​
do artigo 1451º CC, a palavra ​ , reporta­se ao cálculo do valor aproximado e não ao 
uso com cuidado)  
2. Vaguidade ​
quando dele resulte uma informação de extensão larga e compreensão escassa 
(a lei injusta a que se refere o artigo 8º, n.º 2) 
3. Ambiguidade​
 quando se apresente impreciso e pouco rigoroso (a referência a sociedade 
conjugal, no artigo 1772º) 
4. Porosidade ​
quando o sentido do termo deva ser encontrado em todo um percurso de 
evolução semântica (no artigo 1302º, referem­se como objecto do direito de propriedade as 
coisas corpóreas, sendo certo que o actual entendimento da expressão engloba não apenas 

 
Nuno Soromenho Ramos 53 
 
 
Introdução ao Direito
 

as coisas que ocupam um lugar no espaço mas, também, outras realidades que se revelam 
aos sentidos humanos, como a electricidade) 
5. Esvaziamento ​
quando lhe falte qualquer sentido útil (será o caso do conceito de base do 
negócio, constante do artigo 252º, n.º 2 CC97 , traduzindo uma fórmula doutrinária que perdeu 
sentido útil, em face da variedade de posições que se lhe acolheram).  
 
Tipos de Conceitos Indeterminados 
1. Conceitos de Preenchimento Valorativo​
 ­ aqueles que o conceito tem que ser avaliado numa base 
casuística. Havendo que decidir se a valoração é feita subjectivamente pelo aplicador do Direito, ou 
tendo em conta conceitos preexistentes no agregado social considerado. 
Exemplos: boa fé (artigos 227º, n.º 1, 334º, 762º, n.º 2), bons costumes (artigos 280º, n.º 2, 334º), 
ordem pública (artigo 280º, n.º 2), actividade perigosa (artigo 493º, n.º 2), força maior (artigo 321º) ou 
inovações (artigos 1425º e 1426º).  
a. Conceitos Gradativos ​
­ aqueles que a aplicação exige que o julgador proceda a uma 
gradação. 
 artigos 334º (ilegitimidade do exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente 
os limites impostos pela boa fé, ...), 494º (limitação da indemnização quando a 
responsabilidade se funde em mera culpa) ou 1324º (aquisição da propriedade, por ocupação, 
de coisa móvel de algum valor) 
Classificação de Conceitos Indeterminados 
1. Conceitos Descritivos​
 ­ de natureza comum reportam­se a factos jurídicos 
Exemplo: defeitos da obra (artigos 1218º a 1226º)  
2. Conceitos Normativos ­ ​
de natureza técnico­jurídica reportam­se a factos normativos e exigindo 
maior valoração. 
Exemplo: culpa (no caso do artigo 487º, a propósito da respectiva prova, por parte do lesado, para 
efeitos de responsabilidade civil por factos ilícitos). 
 
1. Conceitos Preceptivos ​
­ visam orientar condutas, de modo imediato. 
Exemplo: qualificação da posse de boa­fé (artigo 1260º, n.º 1). 
2. Conceitos Neutros ­ ​
recorrem a outras disposições para regular a conduta. 
Exemplo: boa­fé subjectiva, em si mesma um conceito neutro. 
 
Em conclusão, devemos referir a importância dos Conceitos Indeterminados ao manter ordenamento jurídico 
evolutivo e ajustado à realidade dinâmica da vida. 
A este propósito, os autores doutrinários inventaram designações com que os ilustram: 
● conceitos­válvulas (Ventilbegriffe), quais dispositivos de segurança do mecanismo legislativo 
● órgãos respiratórios da legislação, permitindo que a lei absorva a atmosfera social que a envolve 
Não se deve confundir o uso dos Conceitos Indeterminados com arbitrariedade. O processo de definição dos 
sues conceitos, está orientado por indícios de quais as variáveis de análise a considerar e quais as suas 
importâncias relativas. 

 
Nuno Soromenho Ramos 54 
 
 
Introdução ao Direito
 

Cláusulas Gerais 
Recuperam a característica da generalidade da normas, sendo  formulações da hipótese legal que, de forma 
generalista, abarcam todo um domínio de casos e aplicam­lhe o mesmo tratamento jurídico. 
A regulação casuística ou tipificada apresenta deficiências, por ser absolutamente impossível captar e incluir 
completamente a inesgotável diversidade de relações da vida. E dela podem decorrer 2 riscos: 
1. lacuna de regulação ­​
 quando sejam deixadas fora da hipótese legal situações da vida que carecem 
do [e justificam o] mesmo tratamento. 
2. lacuna de excepção ​
­ quando se englobem na hipótese legal formulada situações que justificariam e 
reclamariam um tratamento diferenciado. 
 
Exemplificando as Cláusulas Gerais temos: 
● O artigo 351º do Código do Trabalho, ao tratar da justa causa de despedimento, cuidou de enunciar, 
no seu n.º 1: o comportamento culposo do trabalhador ..., por sua vez os exemplos enunciados no n.º 
2 do mesmo artigo, proporcionam auxiliares de valoração, que permitem densificar as hipóteses de 
concretização da cláusula geral.  
● O artigo 483º, n.º 1 do Código Civil enuncia o princípio geral da responsabilidade por factos ilícitos.A 
generalidade da cláusula detecta­se, nomeada e especialmente, por via do seu confronto com a 
tipificação rígida da responsabilidade penal. 
 
A articulação das Cláusulas Gerais com os Conceitos Indeterminados não é obrigatória. As Cláusulas Gerais 
podem associar­se a conceitos determinados, como o caso do Art. 358º, nº 1 CT ­ o conceito de justa causa é 
determinado. Outro exemplo, o conceito de boa­fé, conceito indeterminado, não está associado a clausulas 
gerais. 
 

Fontes do Direito 
Com referência ao artigo 1º do CC: 
 Artigo 1.º 
(Fontes imediatas) 
1. São fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas.  
2. Consideram­se leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes; 
são normas corporativas as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias 
morais, culturais, económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como os 
respectivos estatutos e regulamentos internos.  
3. As normas corporativas não podem contrariar as disposições legais de carácter imperativo. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 55 
 
 
Introdução ao Direito
 

A referência às Leis e Normas Corporativas tem uma justificação histórica. À época existia a Câmara 
Corporativa que emitia normas relativas aos exercício de determinadas profissão (corporação: associação de 
trabalhadores de determinada área). Actualmente esta referência perdeu sentido, pois não tem qualquer força 
imperativa geral, tratando­se de meras normas de conduta. Se forem profissões de interesse público, são 
reguladas como normas jurídicas integradas em Diploma Legal. 
 

Sentidos extra­jurídicos de “Fontes do Direito” 
Estes são os sentidos que não sendo elaborados pela ciência do Direito, interessam pelo sentido explicativo ou 
complementar. 
● Sentido Cultural​
 ­ O Direito é um fenómeno cultural,ligado a cada civilização. Pelo que falamos de 
direito ocidental ou islâmico, por exemplo. Sendo assim a civilização ­ com os seus elementos 
históricos, étnicos, religiosos, intelectuais, etc ­  é fonte do respectivo Direito: é a sua origem, a sua 
raiz, a sua procedência. 
● Sentido Histórico​
 ­ A história é, em sentido análogo, uma fonte de Direito. Veja­se, por exemplo, a 
associação entre os momentos históricos e o Direito ­ Direito Medieval. O Direito evolui tanto como a 
própria História, e ao sabor dela: a História é, pois, no sentido de causa, raiz ou influência, uma 
importantíssima fonte do Direito. 
● Sentido Económico­Social​
 ­ Mesmo que não se advogue a teoria Marxista, segundo a qual o Direito 
é uma emanação directa de causas económicas e, em especial do modo de produção vigente em 
cada tipo de sociedade, seria fechar os olhos à realidade negar que muitas normas jurídicas têm como 
causa, remota ou próxima, factores de ordem económica ­ veja­se a norma que restringe o 
funcionamento das grandes superfícies comerciais aos Domingos e Feriados. 
● Sentido Político​
 ­ A longo prazo as transformações políticas acarretam transformações jurídicas, por 
exemplo a transição do Estado Absoluto para o Estado Democrático. Mas, no curto prazo, a criação, 
modificação ou extinção de normas jurídicas pode resultar directamente de causas ou influências 
políticas ­ veja­se o caso do rendimento mínimo garantido pelo PS em 1995. 
 
Estas são as fontes extra­judiciais, que são essenciais à interpretação das leis, pois só com o seu 
conhecimento é possível identificar: 
● As circunstâncias em que a lei foi elaborada (ocasio legis) 
● As condições específicas do tempo em que é aplicada (conjuntura da aplicação) 
● A sua razão de ser, os fins que a norma pretende alcançar (ratio legis) 

 
Sentidos jurídicos de “Fontes do Direito” 
1. Sentido Consuetudinário​
 ­ Os costumes, os usos, as praxes influenciam o legislador, que no todo 
ou em parte os converte em lei, os tribunais que se inspiram neles para decidir, ou a Doutrina que 
afirma “sempre se entendeu assim”. De uma forma ou de outra influenciam as fontes produtoras de 
Direito 

 
Nuno Soromenho Ramos 56 
 
 
Introdução ao Direito
 

2. Sentido Legislativo Externo​
 ­ É frequente as normas de um país reproduzirem as de outro, ou no 
mínimo serem influenciadas. Caso das Constituições dos PALOP´s. 
3. Sentido Legislativo Interno​
 ­ Também a nível interno há influência entre códigos anteriores e novos, 
entre diversos ramos do Direito. 
4. Sentido Orgânico­Institucional​
 ­  Ordenamento jurídico considera como actos legislativos e 
respectivas fontes orgânico­constitucional: 
a. Lei ­ Assembleia da República 
b. Decreto­Lei ­ Governo  
c. Decreto Legislativo Regional ­  Assembleia Legislativa Regional 
5. Sentido Orgânico­Individual​
 ­  Sendo difícil, e até desinteressante, a descoberta do autor individual 
de determinada norma jurídica, no que concerne a decretos­leis ou a tratados internacionais é até 
usual identificar o autor que tomou a iniciativa ou responsabilidade de tão importante diploma. Assim 
se fala do Código de Napoleão, ou do Código de Seabra. 
6. Sentido Autoral​
 ­ Referimo­nos aos autores concretos dos grandes códigos. Exemplo do Código 
Administrativo de 1936­40 do Prof. Marcello Caetano. Neste casos os autores dos projectos são fontes 
de Direito, uma vez que transcrevem a sua influencia pessoal para os textos normativos. 
7. Sentido Doutrinal ​
­ A doutrina jurídica composta pelos escritos teóricos e teórico­práticos dos 
docentes, investigadores e especialistas do direito, exerce por vezes uma influência decisiva no 
legislador que elabora e aprova normas jurídicas. Por exemplo, o CC de 1966 foi um produto da 
Doutrina ensinada nas Faculdades de Direito de Coimbra e Lisboa. 
8. Sentido Jurisprudencial ­ ​
 A jurisprudência, enquanto conjunto de orientações uniformes que 
surgem das sentenças dos tribunais, também influencia o legislador, embora menos frequente. 
9. Sentido Jurídico Textual ­ ​
Os tratados internacionais, as constituições ou os códigos não são 
normas jurídicas, são textos ou diplomas que contêm no seu âmago normas jurídicas ­ são, portanto, 
fontes de Direito. 
10. Sentido Jurídico­Formal​
 ­  Este será o sentido a que iremos dedicar o nosso estudo. Existem duas 
modalidades de fontes do Direito: 
a. Fontes Criadoras​
 ­  os factos normativos que estabelecem Direito novo, ou seja, que criam, 
modificam ou extinguem normas jurídicas (é o exemplo de um costume inovador ou de uma 
Lei que altera parcialmente outra, etc.). Estes factos têm natureza constitutiva, inovam, e 
juris essendi ​
correspondem aos que os romanos chamavam fontes ​ (fontes de existência do 
Direito) 
b. Fontes Reveladoras​
 ­  os factos normativos que dão a conhecer pela primeira vez Direito 
pré­existente, ou seja, mostram à comunidade o conteúdo de normas jurídicas já em vigor, 
mas cujo conteúdo é ignorado pelo público. Não inovam mas complementam a fonte criadora. 
juris cognoscendi (​
e correspondem aos que os romanos chamavam fontes ​ fontes de 
conhecimento do Direito). 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 57 
 
 
Introdução ao Direito
 

Classificação de Fontes 
Segundo a teoria clássica e 
xistem  
1. Fontes Imediatas ou Fontes Criadoras​
 ­  Lei e costume ­ Fontes das quais resultam o direito.  
2. Fontes Mediatas ou Fontes Reveladoras ­ ​
 Doutrina e Jurisprudência ­ Explicam o sentido, a razão 
de ser do direito e por isso permitem a correcta aplicação do direito. Incluímos aqui os tribunais que 
privilegiadamente aplicam o direito.  
 
Já existiu um tempo em que a jurisprudência podia criar lei. Tal era permitido pelo artigo 2º do CC ­  assentos. 
Quando um caso, após vários recursos, chegava à apreciação do Supremo Tribunal Justiça, era proferida uma 
decisão final que se constituía no designado assento. O assento tinha força obrigatória. 
No entanto, os assentos eram anticonstitucionais pois violavam a separação de poderes. De acordo com o 
sistema português, cabe ao parlamento legislar e aos tribunais aplicar o poder judicial. O Supremo Tribunal de 
Justiça estava, desta forma, a legislar contra o que era sua competência. 
O instituto dos assentos foi substituído pelos acórdãos uniformizadores de jurisprudência, que não violam a 
separação de poderes, pois só se aplicam ao caso em análise, não tendo força obrigatória geral. 
 

Acórdão Uniformizador da Lei 
Instrumento importante pois fixa a tendência da jurisprudência para uma determinada matéria, não têm 
carácter obrigatório geral. 
 
O costume é considerado como lei pelo que vem referido no Art. 3º. Embora exista diferença entre uso e 
costumes, os usos antigos de prática reiterada e com sentido de obrigatoriedade, podem tornar­se lei desde 
que não sejam contrários ao espírito da lei portuguesa, e a lei lhes possa consagrar juridicidade. Conforme 
indica o Artigo 3, nº1: 
 Artigo 3.º 
(Valor jurídico dos usos) 
1. Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis quando a 
lei o determine.  
Ora se atendermos à definição de uso de prática reiterada e com convicção de obrigatoriedade, notamos que é 
a mesma que a do costume. Assim o costume pode ser considerado fonte. 
A sua não referencia em concreto terá uma explicação simples. O Código Civil foi feito num contexto social que 
olhava a lei como fonte privilegiada do Direito. Algo que é comum à Europa Continental de direito 
romano­germânico por oposição aos países da Common Law. 
 
1. Fontes Imediatas ou Fontes Criadoras 
a. Lei 
b. Costume ​
­ embora criadora é secundária, relativamente à Lei, a qual lhe confere juridicidade.  
 

 
Nuno Soromenho Ramos 58 
 
 
Introdução ao Direito
 

 
2. Fontes Mediatas ou Fontes Reveladoras  
a. Doutrina ​
­ Embora reveladora é descomprometida pois apenas sugere ou discute os 
entendimentos ou sentidos que devem ser retirados do direito sem qualquer vinculação. 
Sendo a maior crítica a variedade de opiniões distintas, e cada uma devidamente 
fundamentada de razão. Pese embora possa haver uma vitória por argumentação. 
b. Jurisprudência ​
­ É fonte pois uma realidade não basta existir para produzir efeito, têm que 
ser aplicada e determinada. Ao contrário da Doutrina, não se limita a opinar, decide e vincula 
no caso concreto, tornando­se a mão da imperatividade do Direito. 
Existe uma articulação entre estas duas fontes, sendo ambas interessadas na descoberta do 
sentido do Direito. Pelo que, frequentemente, a Jurisprudência apoia­se na Doutrina. 
 

Lei 
A sua importância resulta de duas facetas: 
1. Uma decorre de imediato do articulado do Artigo 1º, nº1 do CC: 
 Artigo 1.º (Fontes imediatas) 
1. São fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas.​
  
De forma autoritária, o Estado, proclama a Lei como forma principal do ordenamento. 
Necessariamente o Estado e Autoridade são realidades indissociáveis. A lei afinal de contas é a 
manifestação da autoridade do Estado. 
2. Outra decorre do Artigo 1º, nº2 do CC, onde encontramos a primeira definição de lei: 
2. Consideram­se leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais 
competentes; são normas corporativas as regras ditadas pelos organismos representativos 
das diferentes categorias morais, culturais, económicas ou profissionais, no domínio das 
suas atribuições, bem como os respectivos estatutos e regulamentos internos.  
Temos então 2 sentidos para Lei: 
● Material ​
­ Existem várias nomenclaturas, decreto­lei, portaria, etc… A estas chamamos lei no 
sentido material ­  cumprem com a abstração e vêm de órgão competente. 
● Formal ­ ​
no sentido formal, Lei é o que provem da Assembleia da República. Já o Decreto­Lei 
provem do Governo, que pode legislar também sobre outras formas, como a Portaria (texto 
com carácter menos genérico). 
A Portaria, em princípio tem que se inserir num decreto­lei ou outra formalização superior. 
Como vemos Lei é uma palavra polissémica nos seus dois sentidos: formal e material. Por um lado, 
materialmente é lei que a maioridade se atinge aos 18 anos, por outro lado, formalmente, é um 
Decreto­lei que o estipula. 
De notar que os assentos foram eliminados como fonte de lei, uma vez que ao emitirem­nos os 
Tribunais se tornavam um órgão legislador, o que lhes está vedado pela Constituição Portuguesa. 

 
Nuno Soromenho Ramos 59 
 
 
Introdução ao Direito
 

Quando é que uma lei entra em vigor? 
As regras encontram­se no Artigo 5º do CC: 
Artigo 5.º (Começo da vigência da lei) 
1. A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial.  
2. Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar ou, na falta de 
fixação, o que for determinado em legislação especial. 
 
Só após a publicação no Diário da República, respeitando o Princípio da Publicidade. Do número 2 decorre 
que a publicação não determina obrigatoriamente a entrada em vigor, a lei pode definir um prazo para a sua 
entrada em vigor. Se esse prazo não for definido, somos remetidos para a Lei nº 74/98 
 Artigo 2.º (Vigência) 
1 ­ Os atos legislativos e os outros atos de conteúdo genérico entram em vigor no dia neles fixado, não 
podendo, em caso algum, o início da vigência verificar­se no próprio dia da publicação.  
2 ­ Na falta de fixação do dia, os diplomas referidos no número anterior entram em vigor, em todo o 
território nacional e no estrangeiro, no quinto dia após a publicação.  
4 ­ O prazo referido no n.º 2 conta­se a partir do dia imediato ao da sua disponibilização no sítio da 
Internet gerido pela Imprensa Nacional­Casa da Moeda, S. A. 
Assim, por defeito a data de entrada em vigor seria: 
1. No dia que a lei definir 
2. Caso a Lei não indique, serão 5 dias após a publicação 
E nunca no dia em que é publicada. 

 
Quando cessa a lei? 
Em referência ao Artigo 7º 
Artigo 7.º 
(Cessação da vigência da lei) 
1. Quando se não destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra 
lei.  
2. A revogação pode resultar de declaração expressa, da incompatibilidade entre as novas 
disposições e as regras precedentes ou da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei 
anterior.  
3. A lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a intenção inequívoca do legislador.  
4. A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara. 
Ou seja: 
1. Por revogação por outra lei 
2. Se for formulada com vigência temporária, decorrido o prazo estipulado 
3. Se o regime consagrado, se a matéria deixar de existir. 

 
Nuno Soromenho Ramos 60 
 
 
Introdução ao Direito
 

Por exemplo o Decreto­Lei 30.698/1940, referia as medidas para as instituições financeiras e, 
caso as medidas não resultassem, definia o processo de insolvência. Posteriormente o 
Decreto­Lei 298/92, vem regular parte da mesma matéria e,embora não houvesse declaração 
nesse sentido, aceita­se que faz a revogação da anterior. 
Usa­se esta metodologia para evitar a existência de múltipla legislação sobre a mesma 
matéria. 
Para resolver casos em que haja legislação múltipla, existem 3 princípios de resolução: 
1. Um diploma superior prevalece sobre o outro 
2. Um diploma novo prevalece sobre o outro 
3. …. 
 

Hierarquia das Leis 
A hierarquia das leis é importante para se conseguir resolver eventuais conflitos de sobreposição. 
1. Constituição​
 ­ Consideramos a Lei suprema que não pode ser contrariada por outra qualquer. Assim 
todas lhe devem conformidade. 
2. Leis Constitucionais​
 ­ são as que operam alteração de preceitos da CRP. 
3. Legislação Ordinária​
 ­ Leis e Decretos­leis ambos têm o mesmo valor hierárquico, pelo que convém 
haver reserva de matérias em cada caso para que não haja conflito. 
Incluem­se também leis orgânicas, leis estatutárias, entre outras. 
4. Regiões Autónomas​
 ­ produção legislativa das Assembleias e Governos Regionais 
5. Decretos regulamentares, Portarias… ​
­ São normas produzidas por diploma que podendo ser 
considerados Leis em sentido material, agem sob matérias muito específicas. Podemos citar o 
exemplo dos avisos do Banco de Portugal. 
 

Decreto­Lei pode revogar uma Lei? 
Tecnicamente sim, mas somente em matéria que a Assembleia tenha delegado no Governo a legislação. 

 
Costume 
O costume relevante para o Direito é o que se manifesta de prática reiterada e remota no tempo, sem origens 
temporais identificáveis, caracterizando­se pelo carácter de obrigatoriedade. 
Tem dois elementos: 
1. Elemento Factual ­ ​
Tempo prolongado 
2. Elemento Normativo​
 ­ As pessoas que o adoptam estão convencidas do carácter obrigatório do 
mesmo 
De acordo com Freitas do Amaral tem 3 elementos 
1. Corpus​
 ­ a prática habitualmente seguida 

 
Nuno Soromenho Ramos 61 
 
 
Introdução ao Direito
 

2. Duração​
 ­ o período de tempo necessário para que o Costume seja fonte de Direito. O requisito actual 
é o de que o costume, para ser fonte do Direito, tem de durar desde tempos imemoriais ­ os vivos não 
recordam quando começou. 
3. Animus ­ ​
é a convicção, por parte de quem conhece e adopta um costume, de que essa práica 
habitualmente seguida é imposta ou permitida pelo Direito. 
 
O problema é que o Código Civil não refere claramente o Costume, antes refere os Usos no artigo 3º, nº 1. 
 Artigo 3.º (Valor jurídico dos usos) 
1. Os usos que não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis quando a 
lei o determine.  
A grande diferença entre o Costume e o Uso é que este não tem um sentido de prática obrigatória. Mas a 
expressão “juridicamente atendíveis” equipara­os, pois dá­lhes a regulação de matérias em que a Lei não 
intervenha. 
 

Tipos de costume 
De acordo com a sua relação com a Lei: 
● Secundum Legem​
 ­  se o Costume é de acordo com a Lei, então não faz sentido invocar o costume, 
porque já existe Lei. Com algum exagero, podemos dizer que o Costume segundo a Lei é ínutil. 
● Praeter Legem​
 ­ Costume quer vai para além da Lei. Que incide sobre uma área da vida social não 
coberta pela Lei. Ou seja, colmata a Lei pelo que pode ter relevância enquanto fonte de Direito. 
● Contra Legem​
 ­ Costume que viola a Lei, Pelo que não tem validade como fonte de Direito. 
 
Como exemplo de integração e sobreposição ao Costume, na Lei temos os exemplos dos Artigos 1400º e 
1401º. 
 Artigo 1400.º (Costumes na divisão de águas) 
1. As águas fruídas em comum que, por costume seguido há mais de vinte anos, estiverem divididas 
ou subordinadas a um regime estável e normal de distribuição continuam a ser aproveitadas por essa 
forma, sem nova divisão.  
2. A obrigatoriedade do costume impõe­se também ao co­utentes que não sejam donos da água, sem 
prejuízo dos direitos do proprietário, que pode a todo o tempo desviá­la ou reivindicá­la, se estiver a 
ser aproveitada por quem não tem nem adquiriu direito a ela. 
Estipula o artigo que existindo costume no modo de usufruto, hà mais de 20 anos, este mantém­se inclusivé 
para novos cidadãos. Ou seja, a Lei deixa a descoberto esta situação. 
 
No Artigo 1401º, a Lei legisla contra o Costume abusivo. 
Artigo 1401.º (Costumes abolidos) 
1. Consideram­se abolidos no aproveitamento das águas o costume de as utilizar pelo sistema de 
torna­torna ou outros semelhantes, mediante os quais a água pertença ao primeiro ocupante, sem 

 
Nuno Soromenho Ramos 62 
 
 
Introdução ao Direito
 

outra norma de distribuição que não seja o arbítrio; as águas que assim tenham sido utilizadas 
consideram­se indivisas para todos os efeitos.  
2. Consideram­se igualmente abolidos os costumes de romper ou esvaziar os açudes e diques 
construídos superiormente, distraindo deles água para ser utilizada em prédios ou engenhos 
inferiormente situados que não têm direito ao aproveitamento; se existir direito ao aproveitamento, 
consideram­se as águas indivisas. 
 
 

Doutrina e Jurisprudência 
Não criam Lei, mas permitem que esta alcance a sua melhor existência. 
 

Interpretação e Integração das lacunas da Lei 
A aplicação do Direito, enquanto consequência da violação de normas ou por conflito de interesses, apresenta 
um desafio: perante uma situação concreta e individual, como identificar e interpretar no conjunto de normas, 
gerais e abstractas, as que sejam aplicáveis à situação para efeitos de resolução? 
 
No âmbito que nos é pertinente, interpretação jurídica, pode ter dois significados: 
1. Em perspectiva ampla e descritiva​
 ­ determinação do sentido normativo de uma qualquer fonte 
jurídica ­ um costume, um tratado internacional, uma norma legal, entre outros 
2.  ​
Em perspectiva estrita e própria ​
­  acto metodológico de determinação do sentido 
jurídico­normativo (intenção da legislação) de uma fonte jurídica, para encontrar o sentido jurídico da 
sua aplicação a problemas concretos. 
 
Em Portugal, como nos países que integram a tradição romano­germânica, a interpretação da lei ganhou 
especial relevo a partir do momento que o positivismo jurídico se tornou abordagem dominante ­ o direito 
passou a ser o direito posto nas leis e estas se identificaram com o próprio texto. 
Esta importância, da componente textual, está bem patente no Código Civil pelo artigo 9º, nº 2 e pelo artigo 
238º, nº 2. 
O ponto de partida, para a interpretação jurídica, é a interpretação do texto das disposições normativas, 
obedecendo às mesmas regras de interpretação de qualquer texto ­ no entanto é importante ressalvar aqui o 
grau de exigência é elevadíssimo, em função dos interesses que são salvaguardados com as conclusões. 
Naturalmente a interpretação da Lei não pode ficar ao sabor da vontade dos indivíduos. A sua importância 
prende­se com a determinação do sentido da lei, mas não qualquer sentido e sim o sentido que valha para 
todas as pessoas e para todos os casos, o sentido que garanta um mínimo de uniformidade de soluções. Esta 
é a busca pelo sentido que melhor se adequa à finalidade que a lei pretende  desempenhar na sociedade em 
que vigora. 

 
Nuno Soromenho Ramos 63 
 
 
Introdução ao Direito
 

De acordo com Castanheira Neves, o objecto da interpretação jurídica deve ser a norma enquanto norma, não 
o seu texto enquanto expressão da norma ­ não o objecto expressivamente significativo, mas o objecto 
intencionalmente normativo­jurídico. 
In claris non fit interpretatio (​
Não faz portanto sentido afirmar ​ no que é claro não há lugar à interpretação). 
Como sei se uma lei é tão clara que não necessite de interpretação? Só o acto de o determinar é em si um 
acto interpretativo. No entanto, o nº 2 do artigo 9, parece recuperar esta ideia medieval. 
Se o sentido encontrado não assegura homogeneidade nas situações que visa regular, esse sentido não é o 
óptimo ­ Como é que cada caso é subsumido à lei de forma homogénea e coerente (subsumir os factos à 
norma, é ver como os factos se integram na previsão). 
Para garantir a certeza e a segurança jurídica, evitando interpretações casuísticas, definiu­se a metodologia da 
interpretação ou hermenêutica jurídica. 
 

Metodologia da Interpretação da Lei ou Hermenêutica Judicial 
Como se interpreta a Lei? Vamos identificar 4 tipos de questões: 
1. Identificar os tipos de interpretação jurídica 
2. Identificar os objectivos perseguidos pela interpretação jurídica 
3. Quais os elementos de suporte à interpretação jurídica 
4. Que resultados são obtidos através da interpretação jurídica 
 

1 ­ Interpretação Jurídica 

Interpretação legal, doutrinal e jurisdicional 
Interpretação legal 
A interpretação legal é feita através das leis interpretativas. O que é então uma Lei Interpretativa? 
É uma lei que interpreta lei anterior. Ou seja, em face de dúvidas suscitadas o órgão que emitiu a lei, pode 
emitir uma nova lei que fixa o sentido com que deve valer a lei anterior. Daqui, a razão de tal interpretação ser 
designada como interpretação autêntica, por ser o autor que a si mesmo se interpreta. 
Formalmente têm o mesmo valor, a lei interpretativa e a lei interpretada. 
 
Constituem elemento interpretativo as: 
● Leis interpretativas​
 ­ No Artigo 13º podemos ler: 
 Artigo 13.º (Aplicação das leis no tempo. Leis interpretativas) 
1. A lei interpretativa integra­se na lei interpretada, ficando salvos, porém, os efeitos já 
produzidos pelo cumprimento da obrigação, por sentença passada em julgado, por 
transacção, ainda que não homologada, ou por actos de análoga natureza.  
2. A desistência e a confissão não homologadas pelo tribunal podem ser revogadas pelo 
desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for favorável. 
Embora se refira a aplicação temporal, define as leis interpretativas. 

 
Nuno Soromenho Ramos 64 
 
 
Introdução ao Direito
 

 
É necessário distinguir Leis interpretativas de leis inovadoras.​
 As primeiras como já vimos vêm afirmar o 
sentido da lei optando por uma solução em debate. 
As leis inovadoras resolvem problemas jurídicos em termos diferentes dos que eram certos em face da 
legislação anterior ou da prática jurisprudencial, adoptando uma solução diversa das alternativas em confronto 
no debate. Temos um exemplo de lei inovadora no aditamo ao nº 3 do artigo 916º, efectuado pelo artigo 3º do 
DL nº 267/94 de 25 de Outubro. 
 
As Leis Interpretativas podem dividir­se em: 
1. Leis interpretativas por determinação do legislador ­ ​
 Relativamente às quais o legislador declara 
que a lei tem essa natureza 
2. Leis interpretativas por natureza ­ ​
Aquelas em que a lei toma posição sobre um dúvida relativa a 
uma matéria, em que haja confronto jurisprudencial ou doutrinário. 
Por exemplo a que resulta na introdução do nº4 no artigo 5 do Registo Predial. Antes existia a dúvida 
de qual o conceito de terceiro para efeitos de Registo. 
Artigo 5.º 
Oponibilidade a terceiros 
4 ­ Terceiros, para efeitos de registo, são aqueles que tenham adquirido de um autor comum 
direitos incompatíveis entre si. 
Uma terceira via pela qual, uma lei que não preencha os condicionalismos para tal, se pode tornar 
interpretativa vem por força de o legislador querer lhe associar uma cláusula de retroactividade (ao abrigo do 
Art. 13º, nº 1) ­ mais por força de objectivos políticos do que metodológicos. 
 
A grande diferença desta forma de interpretação para as restantes, é a sua natureza obrigatória ou vinculativa. 
Disto resulta a necessidade de se considerarem como interpretações autênticas quaisquer interpretações 
vinculantes, independentemente de provirem, ou não, do autor da norma interpretada. 
Por fim, note­se que a lei interpretativa não deixa de estar sujeita a interpretação. 

Interpretação Jurisdicional e Doutrinal  
Estas duas formas não têm força vinculativa genérica, ao contrário da anterior. 
A Jurisdicional só vincula a situação que foi submetida à sua análise. A Doutrinal não tem qualquer força 
vinculativa, e resulta do trabalho dos que se dedicam ao estudo do Direito.  
● Interpretação Jurisdicional​
 ­ Pode ser definida como a interpretação jurídica feita pelos tribunais, na 
sua tarefa de resolução de problemas concretos e em função específica desses mesmos problemas. 
● Interpretação Doutrinal​
 ­ considera o problema jurídico concreto numa perspectiva sistemática, 
analisando­o no contexto do sistema social e das respectivas interacções. Não lhe compete resolver 
casos concretos, mas propôr soluções para o direito. 
 
Pelo facto de estar em contacto directo, em tribunal, com as situações controversas, a interpretação 
jurisdicional tem sido valorizada nesta tarefa de procura do sentido ideal da norma.  

 
Nuno Soromenho Ramos 65 
 
 
Introdução ao Direito
 

No entanto, é claro que a complementaridade de ambas é essencial para a interpretação jurisprudencial, pois o 
seu trabalho é um elemento de apoio quer da interpretação jurisprudencial quer da actividade legislativa. 
 

Interpretação jurídica restrita, ampla e global 
Quanto ao critério do âmbito de actividade temos 3 tipos de interpretação 

Sentido Restrita 
Herdeira do juspositivismo, do Século 19, que confundia interpretação da lei com interpretação do Direito. Isto 
porque o pensamento racionalista identificava o Direito com a Lei ­ Lei é Direito. A interpretação em sentido 
restrito considera que a Lei não tinha lacunas, logo não havia lugar a integração de lacunas 
 

Sentido Amplo 
Nesta abordagem a integração de lacunas é integrada na tarefa de interpretação,pois a interpretação pode 
descobrir matérias que deviam ser reguladas. E nesse momento o interpretador deve propor as revisões 
necessárias. Esta interpretação extende­se para a integração das lacunas quer por interpretação extensiva 
quer por analogia. 
Esta metodologia surge com a queda da abordagem restrita pois, ao contrário do que aquela advogava, não 
era possível que a lei tudo preveja e tudo regule. 

Sentido Global 
Segundo a interpretação em sentido global, a interpretação da Lei continua na aplicação do Direito. A 
aplicação da lei pela jurisprudência vai para além do plano originário da lei, mas em consonância com os 
princípios directivos da ordem jurídica no seu conjunto ­ sendo este processo, frequentemente, motivado pelo 
propósito de fazer valer esses princípios em maior escala que a inclusa na própria lei. 
Relativamente a cada situação, da vida concreta, pode ser necessário recorrer ao sistema como um todo para 
encontrar a melhor solução. É nesta perspectiva de globalidade que se entende a ideia de a cada caos se 
“aplicar” todo o sistema. Salienta Stammler, que quando se aplica um parágrafo de um código, não só se 
aplica todo o código como se faz intervir todo o pensamento do Direito em si. Assim se exprime uma 
concepção coerente de justiça e equidade. 
A este propósito J. Batista Machado afirma que na interpretação da lei não está em causa o funcionamento da 
norma em concreto, mas da norma no conjunto do ordenamento jurídico. A norma é um elo que não pode ser 
desligado dos restantes. 
 
Estes três métodos ilustram a evolução do pensamento jurídico deste o Juspositivismo à actualidade. 

2 ­ Objectivo da Interpretação 
Dada a importância da interpretação, não é de estranhar que a definição de qual o objectivo a alcançar, quela 
a finalidade da interpretação, tenha suscitado divergências.  
A discussão iniciada na Alemanha, alastrou a toda a Europa, e opunha duas visões: 

 
Nuno Soromenho Ramos 66 
 
 
Introdução ao Direito
 

1. Subjectivismo ­ Conhecimento do Legislador ​
 se a Lei foi escrita por alguém, então a melhor 
forma de conhecer a Lei era conhecer a vontade ou intenção do legislador (mens legislatoris) 
 ­ ​
2. Objectivismo​ Conhecimento da Lei ­  ​
­ esta corrente contrapõe dizendo que  as leis resultam de 
esforços conjuntos, e até de compromissos entre vontades opostas, pelo que há que conhecer o 
espírito da Lei e não do Legislador (mens legis) 

Outra dicotomia nesta discussão prende­se com a integração no tempo: 
1. Historicismo ­ ​
analisando o momento em que foi concebida, defende a imutabilidade do sentido da 
lei 
2. Actualismo​
­  analisando o momento em que foi aplicada, defende que a lei evolui com as alterações 
inerentes à vida social 
No entanto esta análise só se faz em função da anterior, pelo que será somente um complemento. 
 
Actualmente o debate orbita em torno de 2 outras abordagens: 
1. Interpretação Dogmática​
 ­ procura o sentido lei, redutível ao pressuposto sistema jurídico dogmático 
onde se insere  
2. Interpretação Teleológica​
 ­ procura o sentido lei, em função dos fins práticos a que propõe alcançar. 

 
Subjectivismo 
Para esta corrente interpretativa, a sua actividade deve dirigir­se à descoberta do pensamento e da 
vontade do legislador (mens legislatoris). É dada a primazia ao sentido legal subjectivo (a intenção 
de quem legisla), isto é, desvendar, apreender e reconstruir um certo conteúdo psicológico real e 
efectivo. 
Para melhor percepção são necessárias duas notas de enquadramento histórico: 
1. Escola da Exegese 
2. Proibição de criação de Direito pelos juízes  
 
Escola da Exegese 
Nascida em França, no Século 19, a Escola da Exegese defendia que o Direito extinguia­se nos textos legais 
que se sistematizavam em códigos ­ como o Code Civil de Napoleão.  
A Escola tinha 3 postulados 
1. O direito manifesta­se exclusivamente nas leis 
2. A Lei é o único critério jurídico 
3. A Lei é suficiente para resolver todos os casos jurídicos 
 
O culto da Lei sobrepunha­se ao culto do Direito, pelo que só se procurava o sentido da vontade do legislador 
histórico, recorrendo­se aos trabalhos preparatórios para o captar­ vivia­se o máximo do Positivismo Legal. 

 
Nuno Soromenho Ramos 67 
 
 
Introdução ao Direito
 

O Positivismo, como já vimos, reconhecia como vinculativo mesmo o direito legal mais abjecto, desde que 
produzido de um modo formalmente correcto; tal direito devia ser revogado tão cedo quanto possível, mas 
enquanto fosse lei, devia continuar a ser respeitado. 
 
Proibição da criação de Direito pelos juízes 
Este era o entendimento subjectivista, que foi progressivamente contestado pela existência de lacunas na lei e 
pela necessidade do intérprete ter que dispôr da lei na sua tarefa 
 
Jurisprudência dos Conceitos e Jurisprudência dos interesses 
A fundamentação teórica do subjectivismo foi entregue à 
● jurisprudência dos conceitos​
 ­ que consistia na dedução de princípios jurídicos a partir de conceitos 
simples. Por exemplo, do conceito de pessoa jurídica concluímos que a pessoa pode ser ofendida ou 
incriminada. 
Esta teoria quis provar que a lei se bastava a si mesma sem necessitar de recorrer a situações da vida. Com 
base nela, Puchta, criou a piramide conceptual, encimada por um conceito supremo a partir do qual se 
deduzem outros conceitos, e assim sucessivamente. 
No século 20, surge a oposição pela escola de Tubinga (Alemanha), nomeadamente por Philipp Heck, com a 
“Jurisprudência dos Interesses”. Defendia a “Jurisprudência dos Conceitos” que as soluções deviam ser 
determinadas em conceitos simples, enquanto a 
● Jurisprudência dos Interesses​
 ­ o interprete devia procurar os interesses sociais subjacentes à lei. 
Alguns filósofos do subjectivismo 

Autor  Corrente  Ideias base 

Windscheid  Positivismo Legal  A interpretação da lei devia determinar o sentido que 


o legislador ligou às palavras que usou. Tendo em 
consideração, quer as circunstâncias jurídicas que 
foram presentes no seu espírito quando ditou a lei, 
quer os fins pretendidos pelo legislador. 
Busca­se mais que a vontade empírica, a vontade 
racional do legislador. 

Bierling  Teoria Psicológica do Direito  A interpretação da lei tinha por missão apenas 


transmitir a vontade real do legislador, expressa nas 
palavras que utilizou.  
Isto obtinha­se conhecendo a história da formação da 
lei. Donde o sentido da Lei seria aquele que os 
indivíduos e as maiorias políticas que nela intervieram 
concordassem em atribuir às palavras legais, e a sua 
integração no conjunto legal. 
Desta forma recusa­se em absoluto a interpretação 
actualista. 
A melhor interpretação seria a que corresponde ao 
propósito da lei, no conjunto das interpretações 
possíveis. 

Heck  Jurisprudência dos  A interpretação deve procura encontrar os interesses 


Interesses  que forma causa da lei, uma vez que o legislador é 
um simples interprete destes interesses. 

 
Nuno Soromenho Ramos 68 
 
 
Introdução ao Direito
 

A interpretação é, então, uma explicação de causas, 
pelo que a investigação deve ocupar­se da história 
dos interesses. Sendo os interesses as causas do 
preceito legal, eles possibilitam entender os efeitos 
pretendidos com a lei. 
 
Embora a interpretação, em Portugal, fosse matéria pouco discutida, Guilherme Moreira transpôs para 
Portugal, esta abordagem germânica, com o seguinte texto de orientação subjectivista: 
“a lei, expressão da vontade do legislador, deve ser aplicada pelo juiz aos casos particulares no 
sentido que o legislador lhe pretendeu dar, em harmonia com o fim que ele se propôs conseguir.” 
 

Objectivismo 
Esta abordagem interpretativa, afirma que se deve buscar o sentido da norma objectivado no texto 
em causa (mens legis), isolando esse sentido da vontade do legislador, sendo o sentido da lei um 
dado objectivo, com o qual se descobre a solução mais razoável. 
Contestava, principalmente, dois defeitos do subjectivismo: 
1. Indefinição ­  ​
Porque não é possível identificar a vontade do legislador, na interpretação da lei, 
porque esta resulta não de uma pessoa mas de um conjunto de pessoas e fontes 
2. Estatismo ­ ​
A Lei é sempre criada num contexto histórico­sociológico mas deve acompanhar a 
evolução, pelo que não faz sentido ir buscar atrás o sentido quando a lei é aplicada aqui e agora. 
 
Alguns filósofos do Objectivismo 

Autores  Ideias base 

Wach  A finalidade da interpretação consiste em retirar da Lex Scripta, das palavras escritas, 
o sentido que corresponda o mais possível ao seu fim manifesto e às necessidades da 
justiça. 

Kohler  A finalidade da interpretação é realçar os princípios jurídicos gerais contidos na lei, os 
quais asseguram a unidade interna da ordem jurídica. 
Criou o método teleológico para: 
1. Possibilitar à interpretação não se prender com os eventuais defeitos da lei, 
pelo recurso ao desenvolvimento da sua incompletude ou defeitos com o 
recurso aos seus princípios; 
2. Orientar a interpretação pela procura do fim contido na lei, que apresenta a 
melhor e mais actualizada solução proposta 
 
O Objectivismo teve grande apoio em Portugal, pela mão de juristas como Cunha Gonçalves, Alberto dos Reis, 
Cabral de Moncada ou Manuel de Andrade. Nas palavras de Cunha Gonçalves: 
“não há que investigar a vontade do legislador, mas somente a vontade da lei, isto é, não o que o 
legislador quis, mas sim o que na lei se mostra objectivamente querido”, “a ratio legis deve ser actual 
ou actualizada e não aquela que existia ao tempo em que a lei foi promulgada”  
 

 
Nuno Soromenho Ramos 69 
 
 
Introdução ao Direito
 

Savigny ­  Os Institutos jurídicos e Norma particular 
Savigny merece uma referência especial pela sua posição autónoma, nesta dualidade subjectivismo/ 
positivismo. Define interpretar como colocar­se em pensamento no ponto de vista do legislador, e recapitular 
mentalmente a sua actividade.  
Por esta definição diríamos que Savigny adere à corrente subjectivista. No entanto pode ser uma conclusão 
precipitada. Senão vejamos outras passagens do autor sobre a interpretação. 
Numa fase inicial, o autor, assume a interpretação dos métodos histórico e sistemático ­ o primeiro atende à 
formação de cada lei dentro de uma certa situação histórica, o segundo tenta compreender a lei inclusa na 
totalidade das normas e dos institutos jurídicos subjacentes. Por instituto jurídico definimos a relação da vida 
juridicamente ordenada. 
No entanto o seu conceito de sistema jurídico evoluiu notoriamente, de um sistema de regras jurídicas para um 
nexo orgânico entre os institutos jurídicos que vivem na consciência comum. 
Uma vez que as regras particulares derivam de abstrações dos institutos jurídicos, então estes devem 
enquadrar o pensamento do intérprete para que compreenda com justeza o sentido da norma particular. 
Savigny também evolui de uma leitura estrita da letra da lei para a procura do objectivo da lei e da ligação dos 
significados fornecidos pela análise dos instituto. 
Ao intérprete apenas teria que reproduzir a actividade do legislador, para chegar ao resultado que este 
pretendia. 
Assim se conclui que quer a vertente psicológica da teoria subjectivista, quer a racionalização da lei da teoria 
objectivista são estranhas a Savigny. A unilateralidade destas perspectivas não alcançam a unidade interna, 
que Savigny procura, entre Direito e Instituto Jurídico, entre vontade do legislador e razão objectiva. 

 
Posições Intermédias ao subjectivismo e objectivismo 
Vários autores afirmaram a impossibilidade de aceitar tacitamente uma ou outra teoria, uma vez que cada uma 
delas tem contributos importantes. 
 

Autor  Corrente  Ideias base 

Schreier  Teoria da Unidade ou Fusão  A interpretação deve procurar um sentido conforme à 


vontade do legislador, a que chama o ​sentido da vontade​, 
e à vontade da lei, a que chama o ​sentido da expressão​

Pois a validade da lei assenta nestas duas vontades. 

Sauer    A interpretação consiste na explanação mais concreta da 
norma, de modo a clarificar o seu verdadeiro conteúdo e 
alcançar mais seguramente os seus fins, que são a 
realização do Direito. 
A origem da Lei encontra­se na vontade do legislador, 
sendo este o primeiro passo interpretativo. Mas uma vez 
que a lei deve acompanhar as mudanças, será decisiva a 
vontade da lei, no sentido objectivo ao tempo que o juízo se 
formule. 
Sauer acaba por dar mais relevo ao objectivismo 

 
Nuno Soromenho Ramos 70 
 
 
Introdução ao Direito
 

Larenz    A favor da corrente subjectivista, aponta o facto de a lei 
jurídica ser feita por seres humanos para seres humanos. 
A favor do objectivismo, aponta o facto de a lei ser 
chamada a intervir numa tão grande diversidade de 
situações reais, que o alcance seria impossível de prever 
pelo legislador. Assim a lei ganha vida própria e afasta­se 
do pensamento dos seus autores 
 
Concluímos que esta querela se reduz a pouco, como salienta Manuel de Andrade, a apurar o valor 
interpretativo que deva ser dado aos trabalhos preparatórios e materiais legislativos diversos, que nos podem 
apontar a vontade do legislador. Mas não convém esquecer que não se lhes deve dar um valor decisório, 
somente se tratam de uma possibilidade interpretativa a ser avaliada pela hermenêutica. 
 

Interpretação Dogmática e Interpretação Teleológica 
 
Já no século 20 surgem formulações alternativas a esta questão, qual deverá ser o objectivo o finalidade da 
interpretação 
1. Interpretação Dogmática​
 ­ a interpretação jurídica deve encarar o direito como uma ordem que em si 
subsiste, e daí retira a interpretação como uma explicitação dessa ordem. 
2. Interpretação Teleológica​
 ­ a interpretação jurídica deve determinar um sentido à fonte 
interpretanda, sobretudo pelos fins práticos que com ela se visam alcançar, o tal sentido 
teleologicamente funcional, que olha para o Direito essencialmente pelos seus resultados. 
 
Estas abordagens também se extremaram de forma inaceitável. Parece evidente que a orientação 
interpretativa só pode ser aquela em que as exigências de sistema e dos pressupostos fundamentos 
dogmáticos não se fechem numa auto­suficiência, antes se abram a uma intencionalidade materialmente 
normativa. A interpretação devendo orientar­se pelas mediações dogmáticas deve, em simultâneo dar­lhes a 
forma de problema que revele a sua experiência de concretização.  
 

Interpretação de acordo com o Artigo 9º 
Na actualidade, os preâmbulos das Leis e Decretos­lei, frequentemente transmitem a intenção,o objectivo da 
legislação, o que apoia a visão subjectivista de se procurar a intenção do legislador. No entanto, também é 
corrente procurar­se o “pensamento” do sistema jurídico, que por sua vez apoia o positivismo. 
No final o importante é encontrar o sentido mais conforme à defesa da Justiça, Segurança e Direitos Humanos, 
algo que pode ser fornecido por ambas as visões. 
 
O Artigo 9º procurou essa situação de compromisso: 
Artigo 9.º (Interpretação da lei) 
1. A interpretação não deve cingir­se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o 
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as 

 
Nuno Soromenho Ramos 71 
 
 
Introdução ao Direito
 

circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é 
aplicada.  
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha 
na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.  
3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as 
soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados. 
 
Apesar do esforço, esta disposição continua a não reunir a unanimidade, quanto ao tipo de interpretação 
adoptado. Vejamos: 
 
 
 

Autor  Objectivo da interpretação 

Germano Marques  Adopta uma orientação subjectivista actualista.  
da Silva  Será o legislador que dá o conteúdo à Lei, é a autoridade normativa que dá validade à 
lei. Mas para determinar a vontade do legislador há que conjugar o contexto da sua 
criação com a respectiva actualização, respeitando um mínimo da letra da lei 

Oliveira Ascensão  Adopta uma orientação objectivista actualista.  
A Lei só vale quando integrada na ordem social, e para tal é necessário apagar a 
vontade do legislador 

Castro Mendes  Adopta uma orientação objectivista actualista.  
Entende que o artigo 9º, nº1, afirma a interpretação actualista quando refere “as 
condições específicas do tempo em que é aplicada” 
 
A posição intermédia, combinando as abordagens subjectivistas e objectivistas com a actualização que 
mantém a lei útil e eficaz, parece colher mais adeptos. 
A intenção essencial do Art. 9º não foi tomar partido na abordagem do objectivo interpretativo. Pretendeu sim, 
segundo Antunes Varela, coligir os princípios de interpretação jurídica de base sólida. Princípios que 
pudessem orientar o intérprete no seu trabalho  ­ de encontrar o mais justo e seguro sentido da lei. 
Se observarmos a construção do artigo 9º reparamos que assente em dois pressupostos: 
1. Letra da Lei ­ abordagem subjectivista 
2. Pensamento Legislativo ­ abordagem objectivista 
Os quais complementa e agiliza com 3 filtros: 
1. Unidade do Sistema Jurídico 
2. Circunstâncias em que a lei foi elaborada 
3. Circunstâncias em que a lei é aplicada 
 
Letra da Lei 
É o ponto de partida, de acordo com a positivação normativa dos modernos ordenamentos jurídicos. Este 
elemento permite, em conjunto com a análise do relatório do diploma e dos trabalhos preparatórios da lei, 
descobrir a clara e real vontade dos seus autores. 

 
Nuno Soromenho Ramos 72 
 
 
Introdução ao Direito
 

A abordagem subjectivista do Artigo 9º, é sublinhada pelos seguintes pontos: 
● “A interpretação não deve cingir­se à letra da lei” (nº 1) ­ o que pressupõe que a letra da lei é o início 
● A intérprete o não pode afirmar um “pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo 
de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso” 
● “Na fixação do sentido e alcance da lei” o intérprete deve presumir que o legislador soube encontrar as 
“soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados. 
Pensamento Legislativo 
O pensamento legislativo procura autonomizar a lei do seu criador. Para tal procura reconstruir a lei tendo em 
conta: 
● A unidade do sistema jurídico 
● As circunstâncias em que a lei foi elaborada (componente histórica) 
● As condições específicas do tempo em que é aplicada (componente actualista)  
A abordagem objectivista é reforçada com a exigência de que o intérprete considere que o legislador 
consagrou as “soluções mais acertadas” 
 
Por fim é importante recordar que a articulação entre estas abordagens ­ Lei e Pensamento Legislativo ­ em 
caso de conflito privilegia esta última. Assim se justificam as modalidades de interpretação correctiva 
(extensiva, restritiva e ab­rogatória). 
 
Duas notas finais sobre o artigo 9º: 
● Natureza​
 ­ Coloca­se a questão. Será que o método de interpretação é uma questão de direito? Com 
que sentido surge no Código Civil como norma? A resposta parece evidente no sentido de orientar a 
tarefa interpretativa para a razoabilidade. Evitando o surgimento de soluções inadmissíveis e 
autoritárias, não fundadas na razão. 
● Âmbito​
 ­ Não há dúvidas quanto à sua transversalidade a todo o ordenamento jurídico. 
 

3 ­ Elementos de Interpretação 
Segundo Savigny existem 4 elementos que colaboram para o sucesso da interpretação: 
1. Elemento gramatical 
2. Elemento lógico 
3. Elemento histórico 
4. Elemento sistemático 
Com o evoluir do estudo a divisão passou a fazer entre: 
● Elemento Gramatical 
● Elemento Lógico: 
○ Elemento Histórico 
○ Elemento Sistemático 
○ Elemento Teleológico 

 
Nuno Soromenho Ramos 73 
 
 
Introdução ao Direito
 

 
Elemento Gramatical 
Este é, por inerência, o ponto de partida. Os leis são textos, e é como tal que devem ser analisados. 
O texto tem duas funções: 
1. Função negativa: ​
 o texto delimita a interpretação possível. Só podem ser admitidos sentidos da lei 
que forem possíveis segundo o respectivo texto. 
2. Função positiva ou selectiva: ​
entre os vários sentidos possíveis, há que seleccionar o que melhor 
corresponde ao texto. 
A análise gramatical da lei só apurar um sentido, mesmo assim há que compará­lo com outras normas, para 
constatar se a redacção não traiu o espirito legislativo ­ intervindo os mecanismos correctivos apropriados. 
 

Elemento Lógico 
O sentido literal da lei é testado pelo elemento lógico, que lhe afere a razoabilidade. 
O elemento lógico tem 3 dimensões. 
1. Componente Histórica 
2. Componente Sistemática 
3. Componente Teleológica 
 

Componente Histórica 
O elemento histórico da análise jurídica considera os dados, circunstâncias e antecedentes que rodearam o 
surgimento da Lei. Assim considera vários aspectos: 
1. Evolução histórica do instituto ou regime jurídico em estudo 
2. Os precedentes normativos pertinentes (regulações anteriores, a sua interpretação, críticas, etc.) 
3. As fontes identificáveis (por exemplo, doutrina ou legislação estrangeira que tenha inspirado a solução 
em estudo) 
4. Os trabalhos preparatórios (por exemplo, projectos, relatórios, propostas de alteração, etc.) 
 

Componente Sistemática 
Como sabemos o Direito é um conjunto sistematizado de normas. Onde cada norma é um elo desta cadeia 
geral que é o sistema. Assim, a sua interpretação tem que considerar esta contextualização. Deve­se, então, 
considerar os dois papéis da norma: 
● o intrínseco: a norma per si 
● o extrínseco: a norma no sistema em que se integra 
 
linhagem jurídica da norma​
Para descobrir esta ​  consideram­se: 
1. Contexto da Lei ­ ​
O conjunto das restantes normas sobre a mesma matéria 
2. Lugares paralelos​
 ­ As normas que regulam matérias equivalentes ou afins 

 
Nuno Soromenho Ramos 74 
 
 
Introdução ao Direito
 

3. Lugar sistemático​
 ­ a localização da norma no ordenamento global e a sua consonância intrínseca 
com os demais elementos normativos 
 
Esta procura pela genealogia da norma traz algumas vantagens: 
1. Evitam­se contradições e antagonismos entre as diversas normas 
2. Obtém­se um precioso contributo para a identificação do sentido legal. 
 

Componente Teleológica 
Componente teleológica ou racional procura saber a razão de ser da lei, o ratio legis. Este é o lemento que liga 
a lei à vida real, dando­lhe a adaptabilidade necessária para: 
1. Disciplinar novas situações, colocando­as sob a sua alçada e aplicando­lhe o mesmo conteúdo. 
2. Assumir sentidos novos e produzir novos conteúdos que se adaptem a novas necessidades e ideais 
de justiça. 
O estudo teleológico também aborda o contexto em que a lei foi criada: 
● Occasio legis​
 ­ momento da produção da norma e as respectivas circunstâncias políticas, sociais, 
económicas e outras que enquadraram e justificaram a elaboração da lei. 
 

Resumo dos elementos 
A interpretação jurídica é num trabalho complexo, na conjugação dos seus diversos elementos. A conjugação 
dos elementos é feita em pé de igualdade, sendo que não existem regras de prioridades ou hierarquia na sua 
aplicação. 
Caso surjam soluções “alternativas”, o intérprete deve avaliar os resultados obtidos por cada um dos 
elementos interpretativos, garantindo que a solução final faz sentido por si e no respectivo sistema. 
Considere­se o seguinte exemplo: 
Imaginando que a interpretação de uma norma não suscita dúvidas que a idade mínima de admissibilidade de 
casamento sem consentimento é 21 anos. Esta interpretação tinha que ser confrontada com a regra 
sistemática do Artigo 130º: 
 Artigo 130.º 
(Efeitos da maioridade) 
Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando 
habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens 

4 ­ Resultados Interpretativos 
A obtenção do verdadeiro e decisivo significado da lei pode ser obtido por um dos seguintes modos 
interpretativos: 
1. Interpretação Declarativa 
1.1. Em modo lato e em modo restrito 
2. Interpretação Correctiva 

 
Nuno Soromenho Ramos 75 
 
 
Introdução ao Direito
 

2.1. Em modo extensivo 
2.2. Em modo restritivo 
2.3. Em modo revogatório ou ab­rogante 
3. Interpretação Enunciativa 
 

1 ­ Interpretação Declarativa 
A interpretação declarativa permite obter o sentido directo e claramente apresentado pela lei, por tal 
representar o pensamento legislativo. Ou seja, há congruência entre o elemento gramatical e lógico da 
interpretação. 
 
Segundo o artigo 132º, ficamos sem dúvidas que o menor, por via do casamento é emancipado.  
E esta conclusão não é desmentida se estudarmos os efeitos da emancipação (Art. 133º) e os requisitos do 
casamento de menores (Artigos 1601º e 1604). 
 

1.1 ­ Em modo lato e em modo restrito 
Na generalidade, a palavra homem é usada no sentido ser humano, incluindo homem e mulher (por exemplo: 
Artigos 362º, 1326º, 1563º e 1570º). Trata­se de uma interpretação declarativa lata. 
No antigo Artigo 1817, alínea c), que versava sobre a impugnação de paternidade, a palavra homem referia­se 
exclusivamente ao género masculino. Trata­se de uma interpretação declarativa restrita. 
 

2 ­ Interpretação Correctiva 
O intérprete pode confrontar­se com incongruências inadmissíveis entre a letra e o espírito da lei, forçando­o a 
corrigir a posição jurídica quer conferindo­lhe elasticidade quer suprimindo­a. 
Depreendemos que a interpretação correctiva altera o âmbito de aplicação da norma podendo, no limite, 
concluir que é impossível manter a sua vigência. No entanto é necessário atender a 3 aspectos da 
interpretação correctiva: 
1. Só se pretende corrigir a letra da lei tornando­a congruente com o espírito da lei. Não se incluindo a 
capacidade do intérprete afastar normas supostamente inadequadas. 
2. Não se dever confundir a) Interpretação Declarativa lata ou restrita com b) Interpretação Correctiva 
extensiva ou restritiva. 
a. Na primeira não existe incompatibilidade entre a letra e o espírito da lei, escolhendo o 
intérprete o sentido que melhor serve o Direito 
b. Na segunda a incompatibilidade entre a letra e o espírito obriga a correcção do elemento 
literal por extensão ou restrição. 
3. A possibilidade da interpretação correctiva coloca em causa dois famosos provérbios: 
a. Onde a lei não distingue não devemos nós distinguir ­ tal não faz sentido pois uma formulação 
genérica pode omitir uma distinção exigida pela ratio da norma 

 
Nuno Soromenho Ramos 76 
 
 
Introdução ao Direito
 

b. Onde a lei quis disse, onde não quis calou ­ tal como a anterior esta ideia não acolhe a 
interpretação extensiva. 
A conformação entre a letra e o espírito da lei pode ser alcançada por um dos 3 modos: Extensivo, Restritivo 
ou Revogatório. 
 

2.1 ­ Modo extensivo 
Este modo pode ser aplicado quando se concluir que o legislador disse menos do que aquilo que queria ­ as 
hipóteses contempladas pelas palavras da lei, estão aquém das que logicamente podem ser consideradas. 
Por exemplo: 
1. Artigo 877º, nº 1 ­ ​
Proíbe a venda de pais e avós a filhos ou netos, se os outros filhos ou netos não 
consentirem na venda. A ratio da norma pretende evitar uma simulação em prejuízo da legítima dos 
descendentes. Por isso, e apesar de não o explicitar, a norma pode ser alargada a bisavós e bisnetos 
2. Artigo 1462º, nº 1​
 ­ Imputa ao usufrutuário de uma universalidade de animais a obrigação de 
substituir com as crias novas as cabeças que, por qualquer motivo, vierem a faltar. Por isso, e apesar 
de não o explicitar, a norma pode pressupor que havendo falta, e não havendo crias novas, a 
substituição deve ser feita por outras cabeças. 
 
A interpretação extensiva é admitida em: 
● Matéria de Legislação Penal​
 ­  Por forçado disposto no Art. 1º, nº3 do Código Penal, que apenas 
afasta o recurso à analogia para: a) qualificar um facto como crime; b) definir um estado de 
perigosidade; c) determinar a pena ou medida de segurança que lhe corresponda. 
● Matéria de Normas Excepcionais​
 ­ Conforme o disposto no Art. 11º do Código Civil, não são 
permitidas aplicações analógicas mas admitem interpretação extensiva 
 
 
A justificação para esta solução é comum a ambas as situações: 
● O recurso à analogia usa­se quando exista uma lacuna da lei, quando uma situação não está 
representada nem na letra nem no espírito da lei. 
● Na interpretação extensiva o texto legal existe, somente é necessário estender o alcance das suas 
palavras para considerar aquela situação 
 
Como podemos concluir, a natureza típica e excepcional das normas penais e excepcionais, não considere a 
integração de lacunas (pela natureza do seu regime) mas aceita a extensão do texto legal. 
 

2.2 ­ Modo restritivo 
Este modo pode ser aplicado quando se concluir que o legislador disse mais do que aquilo que queria ­ as 
hipóteses contempladas pelas palavras da lei, ultrapassam o âmbito da ratio normativa, aplicando­se o 
principio , cessando a razão de ser da lei cessa o seu alcance. 
Por exemplo: 

 
Nuno Soromenho Ramos 77 
 
 
Introdução ao Direito
 

1. Artigo 125º ­ ​
A anulação de negócios celebrados por menores, só é válida para menores não 
emancipados, por força da articulação com o artigo 133º que por força da emancipação atribui ao 
menor plena capacidade de direitos. 
2. Artigo 282º, nº 1​
 ­ estatui a anulabilidade, por usura, do negócio jurídico quando for explorado, entre 
outros, o estado mental de outrem para obter benefícios excessivos ou injustificados. Aqui estado 
mental tem que ser forçosamente lido como significando incapacidade para decidir correctamente. 

 
2.3 ­ Modo revogatório ou ab­rogante 
Este modo pode ser aplicado apenas quando se detecte uma contradição insanável entre normas jurídicas, 
havendo que negar o valor a uma delas. 
Este modo, quase só usado academicamente, pode acontecer em situações limite: 
● De teor mais académico: quando a regra seja total e absolutamente incompreensível 
● De teor mais viável: quando existam dois artigos contraditórios da mesma lei, ou de leis do mesmo 
valor, ou ainda da mesma data de entrada em vigor: 
○ A hipótese da data diferente foi salvaguardada pelo Artigo 7º, nº 2. ­ caso que aconteceu a 
propósito das medidas de saneamento de instituições financeiras em dificuldades. 
 
Se o esforço de resolução da contradição não permite um resultado útil e adequado, haverá que sacrificar 
norma menos integrada no sistema jurídico. 
 

3 ­ Interpretação Enunciativa 
Pela interpretação obtemos o sentido estático da norma ­ o que ela quer dizer. Mas a norma também inclui 
significações dinâmicas, as quais permitem que dela se extraiam soluções novas, pelo raciocínio e intuição. 
 
Para realizar esta interpretação recorrem­se às regras lógicas de dedução: 
1. Relação entre mais e menos 
2. Relação entre meios e fins 
3. Dedução a contrario sensu 
 

Relação entre mais e menos 
Nesta relação utilizam­se os argumentos: 
1. A lei que permite o mais, permite o menos ­ quem pode vender algo que é seu, pode também onerá­la 
2. A lei que proíbe o menos, proíbe o mais ­ quem não pode usar uma coisa, não pode igualmente 
consumi­la (Art. 1189º) 

Relação entre meios e fins 
Nesta relação olha­se para a permissão ou proibição de um dos binómios. 
● Se se proíbe ou permite o fim, também se proíbe ou permite o meio que a ele conduz. 
● Se se proíbe ou permite o meio, também se proíbe ou permite o fim obtido. 

 
Nuno Soromenho Ramos 78 
 
 
Introdução ao Direito
 

Dedução a contrario sensu 
Aborda a correlação entre a disciplina excepcional e o princípio­regra de um certo caso. 
Ou seja, quando algo for permitido a título de excepção, será proibido a título de regra. E inversamente, o que 
a excepção proibir, a regra permite. 
É necessário especial cuidado na utilização do contrario sensu, pois a consideração de um caso como 
excepção implica a certeza da previsão como excepcional. A interpretação enunciativa a contrario sensu só 
pode ser feita se a norma em causa afirmar explicitamente o seu carácter excepcional: 
 
Exemplo: 
● Sendo incapazes os menores (Art. 123º), os interditos (Art. 139º) e os inabilitados (Art. 152º e 156º), 
deduz­se a contrário sensu que as outras pessoas são juridicamente capazes 
● O artigo 875º estabelece a excepção para a Liberdade Contratual, artigo 219º 
 

Resumo 
1 ­ Interpretação Jurídica 
Interpretação legal, doutrinal e jurisdicional 
Interpretação legal 
Leis interpretativas 
Leis interpretativas por determinação do legislador 
Leis interpretativas por natureza  
Interpretação Jurisdicional e Doutrinal  
Interpretação jurídica restrita, ampla e global 
Sentido Restrita 
Sentido Amplo 
Sentido Global 
2 ­ Objectivo da Interpretação 
Subjectivismo 
Escola da Exegese 
Proibição da criação de Direito pelos juízes 
Jurisprudência dos Conceitos e Jurisprudência dos interesses 
Objectivismo 
Savigny ­  Os Institutos jurídicos e Norma particular 
Posições Intermédias ao subjectivismo e objectivismo 
Interpretação Dogmática e Interpretação Teleológica 
Interpretação de acordo com o Artigo 9º 
Letra da Lei 
Pensamento Legislativo 
3 ­ Elementos de Interpretação 
Elemento Gramatical 
Função negativa 
Função positiva ou selectiva 
Elemento Lógico: 
Elemento Histórico 
Elemento Sistemático 
Contexto da Lei 
Lugares paralelos  
Lugar sistemático 
Elemento Teleológico 
 
Nuno Soromenho Ramos 79 
 
 
Introdução ao Direito
 

Occasio legis 
4 ­ Resultados Interpretativos 
Interpretação Declarativa 
Em modo lato e em modo restrito 
Interpretação Correctiva 
Em modo extensivo 
Em modo restritivo 
Em modo revogatório ou ab­rogante 
Interpretação Enunciativa 
Relação entre mais e menos 
Relação entre meios e fins 
Dedução a contrario sensu 
 

Integração de lacunas 
É evidente a impossibilidade da lei prever todas as situações que se verificam na vida social. Se a esta noção 
juntarmos a obrigatoriedade julgar, consagrada pelo artigo 8º, nº 1, não podendo o juíz invocar falta, 
obscuridade, ou dúvida insanável sobre os factos em litígio (non liquet). Assim é necessário que existam 
mecanismos que possa resolver eventuais ausências de legislação, preocupação já constatada pelos 
Romanos. Estas ausências obrigam o julgador a aplicar o Direito praeter legem para alcançar a justiça. 
Convém então saber como identificar o que são ausências legislativas e como podem ser colmatadas. 

Noção e Espécies de Lacunas da Lei 
Costumam­se designar os “espaços em branco” da lei por lacunas de lei, referindo o carácter incompleto de 
uma regulação que pretenderia cobrir uma determinada área da vida social. 
 
Mas lacuna é diferente de silêncio da lei. Existem “silêncios eloquentes” da lei que afirmam uma vontade de 
não se pronunciar sobre uma determinada matéria, seja por a melhor abordagem da situação ser não regular 
normativamente; seja por se tratar de um “espaço livre de Direito” conforme doutrina alemã.  
Na primeira situação pode ainda não existir uma solução de regulação socialmente consagrada, como pode 
ser entendido que a vida social se auto­regulará. Na segunda situação, poderá a matéria pertencer a outra 
norma social que não o Direito. 

Lacuna de Lei: a lei, dentro dos limites de uma interpretação ainda possível, e o direito consuetudinário não 
contêm a resposta a uma questão jurídica 
 
Lacuna de Lei e Lacuna de Direito distinguem­se pela forma da sua integração. as primeiras por recurso a 
outra norma que regula caso análogo, as segundas por princípio obtido a partir de várias normas singulares do 
sistema. 

 
Nuno Soromenho Ramos 80 
 
 
Introdução ao Direito
 

Tipos de Lacunas 
● Lacuna Patente: quando não existe nenhuma regra legal para um grupo de casos, e a teleologia do 
sistema o exigisse. 
● Lacunas Ocultas ­ quando a regra aplicável a determinada matéria não abrange determinados casos 
específicos. Oculta pois aparentemente existiria solução legal para todos os casos 
● Lacuna inicial ou subsequente: separam­se pelo critério temporal 
○ Lacuna Inicial conhecida ou desconhecida do legislador  ­ no primeiro caso o legislador deixa 
a solução à jurisprudência e à doutrina, num evidente silencio eloquente da lei. 

Processo Integrativo 
O código civil pelo artigo 10º, aborda a integração de lacunas de lei: 
Artigo 10.º (Integração das lacunas da lei) 
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos.  
2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da regulamentação do 
caso previsto na lei.  
3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, 
se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema. 
Assim, segundo o código civil existem 2 processos de integrar lacunas: 
1. A Analogia 
2. A Criação de norma dentro do espírito do sistema 
 

Analogia 
O processo de analogia, determina que os casos não previstos por lei são regulados por norma aplicável a 
casos análogos, sendo que esta norma oferece o parâmetros de aferição de analogia. Existirá analogia quando 
o caso omisso tenha a mesma origem do regulado. Considerando a diversidade e a semelhança entre o caso 
omisso e o regulado, deverão as semelhanças ser mais fortes que as diferenças (cnforme defende Oliveira 
Ascensão). 
Assim a analogia alarga o campo de incidência da regulação, tomando o princípio romano de “onde há a 
mesma razão de lei, aí deve haver a mesma disposição”. 
A própria lei pode indicar as soluções analógicas: Artigos 157º, 274º nº2, 289º nº3 e 295º 
Importa distinguir agora entre os dois modos a) argumento a contrário sensu; b) interpretação extensiva. 
 
Exemplo Romano: Danos causados por animais bípedes têm o mesmo de quadrúpedes? Os romanos tinham 
que decidir entre: 
1. Argumento analógico: aquilo que valia para quadrúpedes, pela semelhança, devia valer para animais 
bípedes igualmente perigosos; 
2. Argumento a contrario: o prescrito para quadrúpedes não podia valer para outros animais 
Optaram pelo argumento analógico 

 
Nuno Soromenho Ramos 81 
 
 
Introdução ao Direito
 

 
Exemplo nasciturno: ver folhas do professor. A solução encontrada não segue os nº 2 e 3 do artigo 9º ou seja:  
● A definição de nasciturno, por interpretação extensiva, no conceito de um ser nascido completamente 
e com vida parece impossível, por a tal se opor o sentido literal. 
● Peca por afirmar que a personalidade do ser humano está fora do alcance da lei, pois o que está em 
questão são duas dimensões distintas: a) personalidade jurídica; b) personalidade biológica. há então 
que harmonizar estes dois conceitos. 
Assim, recolocando esta questão nos devidos parâmetros de análise, haveria que decidir entre: 
1. Argumento analógico: Aquilo que vale para seres humanos nascidos completamente e com vida deve 
valer também, em virtude da semelhança, para nasciturnos 
2. Argumento a contrario: Aquilo que vale para seres humanos nascidos completamente e com vida não 
pode valer para nasciturnos. 
Deveria optar­se pela analogia, em virtude dos progressos científicos que consideram o nasciturno um ser 
biologicamente vivo. 
Podemos retirar algumas conclusões: 
1. A interpretação extensiva alarga a letra da lei, a interpretação analógica alarga o espírito de lei 
2. A escolha entre o argumento analógico e “a contrario”, deve considerar a intenção e o fim que o 
legislador teve em vista com a lei 
 

Criação de Normas 
Caso a Analogia não encontre solução, de acordo com o artigo 10º, nº 3, “a situação é resolvida segundo a 
norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema”. O “espírito do 
sistema” impõe uma limitação importante pois retira ao julgador a hipótese de se atribuir poder legislativo. 
 

 
Nuno Soromenho Ramos 82 

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