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Reconstrução histórica da Saúde Pública no Brasil

Resumo

Tendo a compreensão da história da saúde pública no Brasil, este artigo busca


realizar uma pesquisa de revisão da literatura, com o objetivo de resgatar a
história das políticas de saúde no Brasil, destacando os períodos históricos. A
saúde pública em cada período da história do nosso país, foi se adequando
aos movimentos econômicos, políticos e sociais. Com isso ela foi
acompanhando as necessidades da sociedade e se organizando nas
circunstâncias específicas. Podemos falar que a saúde do Brasil começou
quando os portugueses descobriram o nosso país. Porém os índios já sofriam
com algumas enfermidades, que se agravaram ainda mais com a chegada dos
colonizadores. Houve grandes imigrações, a economia começou a se elevar,
pois se iniciou as exportações do pau-brasil e café. Havia um grande perigo
das doenças endêmicas como a peste entre outras, se espalhar. Além do que
os navios poderiam ser proibidos de atracar em outros países, devido às
doenças. Conclui-se que, o cidadão tem seu papel de soldado nessa guerra,
devendo como tal manter-se atento. Muito já foi feito pela saúde pública
brasileira, porém, ainda há muito a ser feito. Entretanto, não se pode esperar
apenas iniciativas e programas do governo, é preciso conscientização da
população.

Palavras-chave: Saúde Pública; Políticas Públicas; Epidemiologia; Mudanças;


Brasil

Abstract

Having an understanding of the history of public health in Brazil, this article


seeks to carry out a literature review research, with the aim of recovering the
history of health policies in Brazil, highlighting the historical periods. Public
health in each period of our country's history has been adapting to economic,
political and social movements. With that, she was following the needs of
society and organizing herself in specific circumstances. We can say that the
health of Brazil began when the Portuguese discovered our country. However,
the Indians already suffered from some illnesses, which worsened even more
with the arrival of the colonizers. There were large immigrations, the economy
began to rise, as exports of brazilwood and coffee began. There was a great
danger that endemic diseases such as plague and others would spread. In
addition, ships could be banned from docking in other countries due to illness. It
is concluded that the citizen has his role as a soldier in this war, and as such
must remain attentive. A lot has already been done by Brazilian public health,
however, there is still a lot to be done. However, one cannot just expect
government initiatives and programs, it is necessary to raise awareness among
the population.

Keywords: Public Health; Public policy; Epidemiology; Changes; Brazil

Introdução

A saúde pública é o esforço organizado da população, através de suas


instituições de caráter público, para melhorar, promover e proteger a saúde dos
indivíduos por meio de atuações de alcance coletivo. E se percebe como a
saúde pública tem um papel fundamental dentro da sociedade, onde ela tem
como objetivo minimizar as enfermidades, e dar assistência para todos, sem
excluir ninguém, e assim produzir um mínimo de igualdade em um país tão
desigual (OPAS, 2002).

A saúde pública no Brasil possui uma rica história desde o descobrimento


do nosso país, ou seja, desde o período colonial, onde se tinha o interesse em
manter saudável a mão-de-obra disponível à época, seguindo o período de
grandes mudanças com a industrialização e a criação de fundos de
aposentadoria e pensões (GAGLIARDO, 2013).

A história da saúde pública no Brasil tem papel importante para


compreensão da atual situação do sistema de saúde, bem como para
reorientar suas práticas, principalmente em planejamento a longo prazo. A crise
deste sistema está relacionada ao desinteresse dos governantes pela questão,
atuando neste campo com ênfase somente se a saúde da população
representasse um perigo à economia (GONÇALVES et al, 2017).

Buscando a compreensão histórica da saúde pública no Brasil, foi


realizada esta revisão da literatura, fazendo um resgate da história das políticas
de saúde nacionais, destacando os períodos históricos e relacionando ao
contexto econômico e político de cada momento, destacando algumas
dificuldades.

A Saúde Pública no período Colonial (1500 a 1822)

No período colonial a economia se baseava na exploração de metais


preciosos e na extração do pau-brasil. Para realizar essas atividades, os
portugueses davam aos índios objetos como: espelhos, colares, entre outros.

Portugal adotou uma medida para estabelecer o processo de colonização


do Brasil: as Capitanias Hereditárias, essa estratégia consistiu na divisão do
país, em faixas de terras que abrangia o litoral brasileiro. Esse mesmo sistema
não foi bem executado, e logo em seguida Portugal criou um governo-geral,
que reduziu o poder dos donatários e assim formou um comando geral na
colônia, estabelecendo a comunicação entre outras capitanias brasileiras
(FRAGOSO, 2014).

As condições de saúde da população eram deploráveis, os escravos


africanos e indígenas exerciam várias atividades. Prestavam serviço na terra,
trabalhavam quase sem descanso, em geral, mal alimentados. Desde o início
da colonização do Brasil, os portugueses e os demais povos que vieram para
os trópicos trouxeram consigo muitas doenças transmissíveis, como por
exemplo: sarampo, gonorreia, tuberculose e sífilis, que eram desconhecidas
dos nativos da região. (GAGLIARDO, 2013).

Não foram só as doenças que os colonizadores trouxeram, mas também


guerras, escravidão, que foram indicadores agravantes. Os portugueses se
depararam com a cultura indígena, estranha aos seus costumes. Na cultura
dos nativos as doenças eram consideradas castigos ou provações pois, não
havia um conhecimento científico sobre as doenças. Neste contexto os pajés
desempenhavam um papel muito importante de cura das enfermidades,
utilizando rituais e plantas.

O curandeirismo que estava dentro dos rituais de cura, e se enquadra


como medicina prática, era baseada em um conhecimento empírico, bastante
utilizado pelos nativos, e os seus praticantes tinham total respeito pela
população. Segundo Rouquayrol (2013), “tais práticas eram proibidas por lei,
mas a realidade se sobrepunha, uma vez que não havia médicos em
quantidade suficiente”, existindo.

Na época físicos que se assemelhavam aos médicos atualmente, e


separadamente dos médicos temos os cirurgiões – barbeiros que era
responsável por realizar as pequenas cirurgias, como o tratamento de um
ferimento, uma retirada de uma unha, sangrias. Porém, o acesso a esses
profissionais era exclusivo aos colonizadores.

Com a chegada dos padres jesuítas (1539), responsáveis por dar


assistência aos doentes, de realizar catequese, e de manipular os
medicamentos nas boticas (laboratórios), eles tornaram responsáveis por
cuidar dos nativos e dos escravos. Entretanto, o descaso permanecia muito
grande, não havia hospitais, com exceção das Santas Casas de Misericórdia,
que os jesuítas gerenciaram. A primeira foi construída em Olinda, depois em
Santos (1543), Vitória (1543), Salvador (1549), São Paulo (1560), Rio de
Janeiro (1582), João Pessoa (1602), Belém (1619) e por último temos a de São
Luís (1657). (FARIA et al, 2017).

A Saúde Pública no período Imperial (1822 a 1889)

Este período foi marcado pela produção de café e uma organização


política baseada em um regime de governo unitário e centralizador, ou seja,
todo o poder estava em um único governo sobre todo o território, sem
quaisquer limitações impostas por outra fonte de poder (POLIGNANO, 2001).
Com a chegada da Coroa Portuguesa aqui no Brasil, fugindo de Napoleão
Bonaparte, foi essencial para o desenvolvimento das práticas médicas na
época. Como Portugal não autorizava a abertura de faculdades em suas
colônias, isso gerava um atraso na medicina no Brasil.

Os médicos não eram formados no território, e nem vinham em


quantidade suficiente de Portugal para a colônia. Com a chegada de Dom João
VI em 18 de fevereiro de 1808, o imperador inaugurou a primeira faculdade, a
Escola de Cirurgia da Bahia. No dia 5 de novembro do mesmo ano, o
Imperador criou a segunda faculdade de medicina, no Rio de Janeiro, a Escola
de Anatomia, Cirurgia e Medicina (ROUQUAYROL, 2013).

O Rio de Janeiro, que era a capital, passou por várias mudanças


sanitárias. Foi criada a Junta Vacínica da Corte, e logo em seguida foi ampliado
o uso de vacina antivariólica. No ano de 1820, a vacinação se expandiu para
outras cidades, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Na
década de 1829, aconteceram várias mudanças, como a formação da Junta de
Hygiene Pública, e também a criação da Academia Nacional de Medicina
(ROUQUAYROL, 2013).

A Junta de Hygiene Pública, tinha por finalidade fiscalizar os navios e os


portos, e a Academia Nacional de Medicina, era responsável por informar sobre
as doenças que acometiam a população do Brasil, e alguns anos depois a
mesma passou a fazer seminários de saúde pública.

A Capital do Brasil foi acometida por várias epidemias de sarampo e febre


tifóide, entre outras. Em 1849, uma epidemia de febre amarela matou mais de
quatro mil pessoas no Rio de Janeiro. Com isso foi o auge, para que se
iniciasse uma modificação na saúde pública no país, no ano seguinte o
governo solicitou à Academia de Medicina uma estratégia para amenizar a
epidemia de febre amarela (ROUQUAYROL, 2013).

A primeira estratégia elaborada foi a criação da Comissão Central de


Saúde Pública para controlar as ações da saúde, e a Junta de Hygiene Pública,
teve seu nome modificado para Junta Central de Saúde pública e passou a
controlar as Práticas de medicina, fiscalizar a vacinação, os alimentos, as
farmácias e os açougues.

Em 1885, era ainda enfatizada a mesma situação sanitária precária do


Rio de Janeiro. Foi preciso fazer uma reforma nos Serviços Sanitários, que
foram divididos em Serviços Sanitários Marítimos e Terrestres, e também foi
criado um Conselho Superior de Saúde Pública, que tinha a função normativa
sobre as questões de higiene e condições em geral (GALVÃO, 2017).

A Saúde Pública na primeira República ou República Velha (1889 a


1930)

Com a queda do Império, e a instalação da República no país, elaboraram


vários projetos modernos para alavancar o Brasil. Neste contexto surgiram
projetos para a saúde pública, entretanto estes projetos eram voltados para as
doenças pestilenciais, a fim de proteger os imigrantes que vinham substituir a
mão de obra escrava, já que a Abolição da Escravatura já tinha ocorrido.

O governo federal recrutou Oswaldo Cruz e Emílio Ribas para combater


os casos de febre amarela em São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras
localidades, ambos tiveram resultados positivos, e conseguiram combater não
só os casos de febre amarela, mas também de varíola, febre tifóide, entre
outras (ROUQUAYROL, 2013).

Porém, as doenças consideradas não pestilenciais, não tiveram tanta


atenção do governo e acabaram sendo negligenciadas. Uma delas foi a
tuberculose que matou várias pessoas em São Paulo, matando mais do que
todas as doenças anteriores juntas. As ações do governo federal estavam
voltadas aos interesses econômicos, pois essas doenças afetam as lavouras
cafeeiras e a nascente indústria paulista.

A luta contra a tuberculose iniciou-se em São Paulo, com a criação da liga


Paulistana contra a tuberculose, por Clemente Ferreira. Em 1900 foi criada no
Rio de Janeiro a Liga Brasileira contra a Tuberculose; em 19 de julho a Liga
Pernambucana por Octávio de Freitas; em 4 de setembro a Liga Mineira por
Eduardo de Menezes; em 22 de julho a Liga Baiana por Ramiro de Azevedo; e
a Liga Campista por Manoel Rodrigues Peixoto. (ROUQUAYROL, 2013).

Restou aos médicos se reunirem e iniciar a luta contra a tuberculose, por


meio de associações filantrópicas. E o melhor de tudo, foi que a interação
dessas ligas com o Estado, mostrou as causas sociais que eram os
determinantes da doença, mostrando que a tuberculose só seria combatida
com ajuda do governo central.

Em 1900 foi criada as duas principais instituições de saúde pública do


Brasil: o Instituto Soroterápico Federal, que foi renomeado a Instituto Oswaldo
Cruz e o Instituto Butantã. (BERTOLOZZI et al, 1996). Essas mesmas tiveram
uma grande importância, pois influenciadas pela medicina na França e na
Alemanha, formaram médicos com novas perspectivas sobre as doenças
infecciosas.

Oswaldo Cruz era o presidente do Instituto Soroterápico, o mesmo fez um


trabalho tão fantástico que transformou a instituição em um dos melhores
laboratórios do mundo. Oswaldo Cruz junto com o presidente Rodrigues Alves
iniciaram um trabalho para erradicar a febre amarela no Rio de Janeiro, foram a
rua mil e quinhentas pessoas participaram do combate ao mosquito
(ROUQUAYROL, 2013).

Porém, essa movimentação não agradou a população, pois o governo


federal colocou a obrigatoriedade da vacina contra varíola no país. Esse ato
gerou a famosa Revolta da Vacina, onde as pessoas se movimentaram contra
a obrigatoriedade da vacina.

No Rio de Janeiro, houve luta entre a polícia e os revoltosos, e nesse


conflito um dos revoltados foi morto. Então, a população começou a tombar e a
incendiar bondes. O presidente Rodrigues Alves e Oswaldo Cruz foram
responsabilizados pela revolta da população, e terminou com a prisão dos
líderes do movimento e com a retirada da lei, deixando a vacinação opcional
(FARIA et al, 2017).
Carlos Chagas substituiu Oswaldo Cruz na direção da Diretoria Geral de
Saúde Pública, órgão ligado ao governo, que passou a se chamar
Departamento Nacional de Saúde Pública, ligado ao Ministério da Justiça e de
Negócios Exteriores. Ele permaneceu no cargo até o fim do mandato do
presidente Arthur Bernardes (BAPTISTA, 2005).

Após assumir o cargo, por nomeação do presidente Epitácio Pessoa,


realizou importantes mudanças neste órgão, uma delas foi reformular a forma
de atuação da instituição, que era policial fiscalista para um modelo educativo e
informativo.

Como conseguiram controlar as epidemias nas cidades, o governo


passou a combater no meio rural. A SUCAM (Superintendência de
Campanhas), teve uma grande penetrância no campo, não tinha localidade que
não fossem visitados pelos agentes da SUCAM, onde tiveram grandes
resultados em todo Estado brasileiro. E passou a ser herdeira do modelo de
gestão de saúde pública brasileiro, denominado sanitarismo campanhista
(FARIA et al, 2017).

A Saúde Pública no Governo de Getúlio Vargas ou Era Vargas (1930


a 1945)

A crise de 1929 afetou as exportações, ocasionando uma enorme queda


nos preços do café, com a revolução de 1930 foi o fim da hegemonia política
da classe dominante ligada à exportação do café (CEFOR, s.d.). Getúlio
Vargas ficou no poder de 1930 a 1945, e de 1951 a 1954 (ROUQUAYROL,
2013).

Durante o mandato de Getúlio Vargas, foi implementada uma nova


Constituição, de imediato ele tentou tirar o Estado do poder político das
oligarquias regionais. Com isso, ele fez reformas políticas, administrativas e
dos serviços sanitários do país.

O Departamento Nacional de Saúde foi reestruturado, articulado e


centralizando as atividades sanitárias de todo o País. Só em 1942 é criado o
Serviço Especial de Saúde Pública - SESP (GAGLIARDO, 2013). Em relação
às ações de saúde coletiva, esta é a época do auge do sanitarismo
campanhista e o SESP, tinha atuação voltada para as áreas não cobertas
pelos serviços tradicionais.

Com a criação dos institutos de seguridade social (Institutos de


Aposentadorias e Pensões - IAPs), foram organizados por categorias
profissionais. Os institutos foram criados por Getúlio Vargas ao longo dos anos
30, favorecendo as camadas de trabalhadores urbanos que estavam ligados
aos seus sindicatos e também aqueles que estavam ligados à economia
agroexportadora até então dominante (LUZ,1991).

Os profissionais que estavam sendo favorecidos pela criação dos


Institutos, foram os: ferroviários, empregados do comércio, bancários,
marítimos, estivadores e funcionários públicos, e todas constituíam ligações
com o mundo urbano-industrial em ascensão na economia e na sociedade
brasileira.

De acordo com (FARIA et al, 2017), “a Constituição de 1934 concedeu


garantias importantes na área da saúde aos operários. Após a criação de
várias instituições que garantiam a previdência social aos trabalhadores por
Vargas”. O que a Constituição garantia? Ela deu assistência médica, licença
remunerada à gestante, jornada de trabalho de oito horas e salário mínimo.

No mesmo ano foi estabelecida a Consolidação das Leis Trabalhistas, a


CLT. Graças a Vargas expandiu-se o atendimento aos operários enfermos e
seus dependentes. Em 1953, em seu segundo período como presidente,
desmembrou o Ministério da Educação e Saúde Pública, criando,
independentemente, o Ministério da Saúde (FARIA et al, 2017).

A Saúde Pública na Era Pós – Getúlio Vargas ou período da


Redemocratização (1945 a 2018)

No campo da saúde pública vários órgãos foram criados. Destacando a


atuação do Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, criado no período
anterior, em 1945, em decorrência do acordo com os Estados Unidos da
América - EUA (ASSIS, s.d). Lembrando que, o SESP visava, principalmente,
a assistência médica dos trabalhadores recrutados para auxiliar na produção
da borracha na Amazônia e que estavam sujeitos à malária. A produção de
borracha era necessária ao esforço dos aliados na 2ª guerra.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a mesma repercutiu muito


aqui no país. A população fez manifestações contra a ditadura militar e em
outubro de 1945, à disposição de Getúlio Vargas, e em 1946, elaboraram uma
Constituição Democrática no estilo liberal (ASSIS, s.d). As ações na área de
saúde pública se ampliaram a ponto de exigir uma estrutura administrativa
própria, com isso criou-se o Ministério da Saúde, em 1953.

No ano de 1964, o país estava no período de redemocratização, com


eleições diretas para os cargos políticos, a liberdade da imprensa, o
pluripartidarismo e as agremiações dos sindicatos e políticos (ASSIS, s.d).

Para (CEFOR, s.d.), “Neste período, os sanitaristas discutiam sobre


política de saúde, refletindo o debate que acontecia sobre economia”. De um
lado se tinha os sanitaristas que defendiam as técnicas e metodologias,
utilizadas em outros países, para melhorar as condições de saúde no Brasil, o
SESP era um exemplo deste grupo, pois, no início, a estrutura dos serviços era
sofisticada e cara, semelhante à estrutura nos Estados Unidos. De outro lado
haviam os sanitaristas que buscavam uma prática articulada com a realidade
nacional. Mas por muitos anos, as ideias do primeiro grupo influenciaram a
prática do governo.

No dia 31 de março de 1964, foi realizado um golpe de Estado liderado


pelos chefes das Forças Armadas, que colocou fim à agonizante democracia
populista. Com esse golpe militar, vinham vários efeitos negativos para a saúde
dos brasileiros, pois o governo cortou parte do dinheiro destinado à saúde
pública, e isso perdurou até o fim da ditadura militar (ROUQUAYROL, 2013).

De acordo com (BERTOLLI FILHO, 1996), “Apesar da pregação oficial de


que a saúde constituía um fator de produtividade, de desenvolvimento e de
investimento econômico”. Mas o Ministério da Saúde privilegiava a saúde como
elemento individual e não como fenômeno coletivo, e com isso alterou
profundamente sua linha de atuação.

Entre 1968 a 1975, houve uma alta demanda social por consultas
médicas como resposta às graves condições de saúde (ASSIS, s.d). Se teve a
retomada dos programas de saúde e saneamento, estabelecidos no II Plano
Nacional de Desenvolvimento, porém, não houve melhoria na situação da
saúde do brasileiro, implicando no aumento de doenças como dengue, malária
e meningite.

No ano de 1983, o governo criou as AIS (Ações Integradas de Saúde). A


previdência social passou a comprar e a pagar por serviços do estado,
município e hospitais públicos, universitários e filantrópicos. Só em 1988 foi
aprovada a nova Constituição Brasileira, tendo uma seção só sobre saúde.
Onde a Constituição adotou uma reforma sanitária e a criação do SUS
(Sistema Único de Saúde). No ano de 1990, foram acrescentadas as Leis
Orgânicas da Saúde, que regulamenta o SUS (FARIA et al, 2017). As AIS era
um projeto que englobava, previdência, educação e saúde, o principal objetivo
desse projeto era as práticas preventivas, educativas e curativas ao mesmo
tempo.

De acordo com (FARIA et al, 2017), “em 1991, o presidente Fernando


Collor de Melo implementou uma política neoliberal privatizante, a qual foi
continuada por Fernando Henrique Cardoso”. A crise do setor de saúde se
agravou, então, a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira) foi criada para ser aplicada à saúde. Apesar do imposto, a crise
continuou.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da


Silva, houve melhorias nas condições gerais da população brasileira. No ano
de 2007, quase todos os municípios tinham água encanada e serviço de
esgoto. A mortalidade infantil diminuiu, houve a elaboração de programas na
área da saúde, como o PSF (Programa de Saúde da Família)., o PST
(Programa de Saúde do Trabalhador, o Programa de Controle da HIV/AIDS, o
Programa de Controle do Tabagismo e outros Fatores do Câncer
(ROUQUAYROL, 2013).

No ano de 2013, foi criado pelo Governo Federal o PMM (Programa Mais
Médicos), com o objetivo de suprir a carência desses profissionais em
pequenas cidades do interior e nas periferias das grandes cidades (LIMA et al,
2019). Esses médicos são trazidos de Cuba para atuar em Unidades Básicas
de Saúde, no setor de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde brasileiro.

No ano de 2019 inicia-se, com inúmeros desafios para a política de saúde


e o SUS. Pode-se destacar, o de garantir a reposição de mais de oito mil
médicos que começaram a sair do país em novembro de 2018, devido ao fim
do acordo entre Cuba e Brasil (LIMA et al, 2019). Com a saída dos médicos
cubanos, colocou em risco a assistência em municípios que se destacam por
elevados indicadores de pobreza, necessidades e dificuldades de acesso a
serviços de atenção primária à saúde.

Segundo (LIMA et al, 2019), “Para suprir a carência desses profissionais,


o Ministério da Saúde abriu um processo seletivo visando à ocupação das
vagas por médicos brasileiros, nos municípios contemplados pelo programa”.
No entanto, até o início de dezembro de 2018, informações divulgadas pelo
Ministério da Saúde apontam que dos 34.653 médicos inscritos, apenas 3.276
tinham iniciado as atividades, sendo o número de desistentes bastante
significativo.

Considerações finais

É importante estudarmos a história da saúde pública, para podermos


entender o Sistema Nacional da Saúde do Brasil. O presente artigo mostrou os
conflitos, perdas, dificuldades, ganhos e avanços, que a nossa saúde pública
brasileira teve e tem até os dias atuais.

No Brasil, raras vezes aconteceu uma integração harmônica e efetiva


entre Estado e população. E sempre se deparamos com o desperdício e desvio
de recursos financeiros destinados à saúde pública, e também nos gastos na
elaboração de programas ineficientes, e na burocracia do SUS, profissionais
mal qualificados, entre outros fatores. Por conta disso as pessoas, muitas
vezes não tem uma orientação e são descrentes, não se presta ao cuidado de
ir em busca do serviço social necessário.

Quando estudamos as origens da Saúde Pública no Brasil, nos


deparamos com inúmeras situações, que se parecem com momentos vividos
por nós em épocas atuais, e percebemos como a nossa saúde pública continua
direcionada para aqueles problemas que possam vir prejudicar e ameaçar as
elites dominantes.

O cidadão tem seu papel de soldado nessa guerra, devendo como tal
manter-se atento. Muito já foi feito pela saúde pública brasileira, porém, ainda
há muito a ser feito. Entretanto, não se pode esperar apenas iniciativas e
programas do governo, é preciso conscientização da população.
Referências

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chegamos ao Sistema Único de Saúde e o que esperamos dele. In: Textos de
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