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Fenômeno e coisa em si na Estética Transcendental

Alice Aparecida Cornélio1

RESUMO

O presente artigo busca compreender o porquê de Kant afirmar ser possível


apenas a representação do fenômeno e não da coisa em si na Estética
Transcendental. Para tanto, foi realizado a revisão bibliográfica da obra Crítica
da Razão Pura com maior destaque à sua primeira seção – Estética
Transcendental – bem como demais comentadores e estudiosos da referida
obra, tais como Gilles Deleuze. Assim, o artigo incialmente procura apresentar a
compreensão de Kant a respeito de espaço e tempo, abordando em seguida o
modo que se dá o conhecimento humano, bem como o que vem a ser fenômeno
e a coisa em si. Conclui-se que devido a condição subjetiva da sensibilidade
humana que pressupõem a existência de intuição a priori do conhecimento, isto
é, o tempo e espaço, o humano possui sua capacidade de apreensão do mundo
limitada, sendo assim possível apenas representar os fenômenos aparentes e
nunca ter acesso a coisa em si.

Palavras-chave: Fenômeno, Coisa em si, Estética Transcendental, Crítica da


Razão Pura.

Introdução

Influenciado por seu tempo, Immanuel Kant revolucionou o modo de


compreender o ser humano. Herdeiro da filosofia platônica, redimensionado pela
gnose neoplatônica e pela compreensão metafísica racionalista de Wolff, Kant é
resultado de 250 anos de trabalho árduo de tais correntes filosóficas e afetado
pela geopolítica da época.
A atmosfera a qual o filósofo prussiano estava inserido era de grande
efervescência crítica e de atitude cética em relação a tradição dogmática, bem

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Graduanda em Filosofia pelo UNISAL/Lorena. Artigo orientado pelo professor Mestre Padre
Sergio Augusto Baldin Junior

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como de intenso esforço filosófico para compreender como se dava o
conhecimento humano.
Desse modo, Kant procura em seus trabalhos, sobretudo nas três críticas,
responder a três perguntas: o que se pode conhecer; o que se deve fazer; e o
que é lícito esperar. Destarte, ele diz sim à ciência e inaugura o desprendimento
das novas ciências humanas e sociais da filosofia, instaurando a epistemologia
moderna.
Como referência primaria deste artigo a obra Crítica da Razão Pura
procura criticar o modo racionalista de fazer metafísica de Wolff, o qual produzia
apenas juízos analíticos, bem como corroborar com a maioridade humana, isto
é, com a ousadia do conhecimento, da emancipação e da autonomia, além de
fixar os limites do conhecimento possível do mundo e decidir sobre legitimidade
das investigações metafísicas sobre Deus, a alma e o mundo.
Tendo como recorte a primeira seção da referida obra, o presente artigo
tem por objetivo tratar sobre a seguinte questão: por que, na Estética
Transcendental, Kant afirma ser possível apenas o acesso aos fenômenos e não
a coisa em si?
Para tanto, foi realizado a revisão bibliográfica da obra Crítica da Razão Pura,
dando mais destaque à Estética Transcendental, bem como a consulta de
comentadores como Deleuze.
A primeira parte do artigo é dedicada a explanação dos conceitos de
tempo e espaço. A segunda parte apresenta o modo que Kant compreende o
conhecimento humano, bem como o que vem a ser fenômeno e coisa em si
abordadas pelo filósofo dentro da Estética Transcendental.
Por fim, considera-se que devido a condição subjetiva da sensibilidade
humana que pressupõem a existência de intuição a priori do conhecimento, isto
é, o tempo e espaço, o humano possui sua capacidade de apreensão do mundo
limitada, sendo assim possível apenas representar os fenômenos aparentes e
nunca ter acesso a coisa em si.

1. O conceito de tempo e espaço

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Na estética transcendental da Crítica da Razão Pura (CrV), Kant tem por
objetivo apresentar as duas formas puras de intuição sensível como princípio do
conhecimento a priori, isto é, o espaço e o tempo. Ao longo do capítulo, o filósofo
deixa claro que espaço e tempo são representações a priori e não conceitos. No
que diz respeito a intuição a priori espaço, ele afirma que:

O espaço é uma representação necessária a priori que


fundamenta todas as intuições externas. Não se pode nunca ter
uma representação de que não haja espaço, embora se possa
perfeitamente pensar que não haja objectos alguns no espaço.
Consideramos, por conseguinte, o espaço a condição de
possibilidade dos fenómenos, não uma determinação que
dependa deles; é uma representação a priori, que fundamenta
necessariamente todos os fenómenos externos. (KANT, 2001,
CrV, A 24 - B 39, p. 64-65)

O espaço é a condição subjetiva da sensibilidade que permite a intuição


externa. É o espaço que possibilita o aparecimento do fenômeno. Assim como a
sensibilidade precede a intuição, o espaço precede e possibilita o fenômeno.
Não é possível intuir qualquer fenômeno fora do espaço, entretanto, é possível
se pensar um espaço sem fenômeno. Assim, “(...) o espaço abrange todas as
coisas que nos possam aparecer exteriormente (...) todas as coisas, enquanto
fenómenos externos, estão justapostas no espaço (...)” (KANT, 2001, CrV, A 27,
B 43, p. 68).
Kant ratifica que nada que é intuído no espaço é uma coisa em si, visto
que nada em si pode ser conhecido. No espaço apenas os fenômenos, isto é, os
objetos exteriores são intuídos por meio da capacidade representativa da
sensibilidade. Isto é possível justamente porque “Tais propriedades, que
pertencem às coisas em si, nunca nos podem ser dadas através do sentidos”
(KANT, 2001, CrV, A 36, p. 74).
Quanto ao tempo, Kant afirma que:

O tempo é uma representação necessária que constitui o


fundamento de todas as intuições. Não se pode suprimir o
próprio tempo em relação aos fenómenos em geral, embora se
possam perfeitamente abstrair os fenómenos do tempo. O
tempo é, pois, dado a priori. Somente nele é possível toda a
realidade dos fenómenos. De todos estes se pode prescindir,
mas o tempo (enquanto a condição geral da sua possibilidade)
não pode ser suprimido (KANT, 2001, CrV, A 31, p. 70-71)

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Assim, o tempo é a forma do sentido interno, da intuição do estado interior
do humano, isto é, aquilo que “(...) determina a relação das representações no
nosso estado interno” (KANT, 2001, CrV, B 50, p. 73). Além disso, ele “(...) é a
condição formal a priori de todos os fenômenos em geral” (KANT, 2001, CrV, A
34, p. 73), visto que ele é (...) “uma condição subjectiva da nossa (humana)
intuição (porque é sempre sensível, isto é, na medida em que somos afectados
pelos objectos) e não é nada em si, fora do sujeito” ( KANT, 2001, CrV, A 35, p.
74).
É no tempo e por causa do tempo que as determinações contraditórias
podem se encontrar numa coisa. Kant deixa claro a sucessão do tempo na
seguinte passagem: “O tempo tem apenas uma dimensão; tempos diferentes
não são simultâneos, mas sucessivos (tal como espaços diferentes não são
sucessivos, mas simultâneos)” (KANT, 2001, CrV, B 47, p 71).
O tempo, assim como o espaço, não são inerentes aos próprios objetos,
mas ao sujeito que os intui, ou seja, são simples condições de sensibilidade. Por
serem simples condições de sensibilidade possuem um limite: conhecer apenas
os fenômenos. Sobre isto, Kant explica da seguinte maneira:

O tempo e o espaço são portanto duas fontes de conhecimento


das quais se podem extrair a priori diversos conhecimentos
sintéticos, do que nos dá brilhante exemplo, sobretudo, a
matemática pura, no que se refere ao conhecimento do espaço
e das suas relações. (...) Mas estas fontes de conhecimento a
priori determinam os seus limites precisamente por isso (por
serem simples condições de sensibilidade); é que eles dirigem-
se somente aos objectos enquanto são considerados como
fenómenos, mas não representam coisas em si. (KANT, 2001,
CrV, A 39, B 56, p. 76 - 77)

Espaço e tempo são condições subjetivas da intuição humana. Em


relação a tal intuição, todos os objetos são simples fenômenos. O acesso a coisa
em si e ao seu fundamento não é possível ao homem, visto que toda intuição
perpassa pela condição subjetiva do tempo e do espaço. Nas palavras do filósofo
prussiano:

É, pois, indubitavelmente certo e não apenas possível ou


verosímil, que o espaço e o tempo, enquanto condições
necessárias de toda a experiência (externa e interna), são

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apenas condições meramente subjectivas da nossa intuição;
relativamente a essas condições, portanto, todos os objectos
são simples fenómenos e não coisas dadas por si desta maneira.
Consequentemente, muito se pode dizer a priori acerca da forma
desses fenómenos, mas nem o mínimo se poderá dizer da coisa
em si que possa constituir o seu fundamento. (KANT, 2001, CrV,
A 49,p .83)

Desta forma, verifica-se que tempo e o espaço enquanto condição


subjetiva da sensibilidade pertencem apenas ao homem, isto é, dizem respeito
ao modo como o humano captura e se relaciona com o mundo, o modo pelo qual
ele é afetado pelos fenômenos. Assim, faz-se necessário compreender como se
dá o conhecimento e o que vem a ser fenômeno e coisa em coisa em si para
Kant.

2. Conhecimento, fenômeno e coisa em si

Fenômeno e coisa em si – também denominada noumeno – são


apresentados por Kant ao longo da Estética Transcendental. Sendo um dos
conceitos imprescindíveis para a compreensão da lógica da Crítica da Razão
Pura, cabe a esta seção tratar sobre as principais definições dadas pelo filósofo
sobre tais conceitos. Entretanto, faz-se necessário uma breve exposição de
como se dá o conhecimento humano para Kant.
Segundo Deleuze (1963), o conhecimento é síntese de representação. Tal
síntese apresenta-se de duas formas: a posteriori (dependente da experiência);
e a priori (independente da experiência – caráter universal e necessário). É esta
última que se designa a faculdade de conhecer superior. Entretanto, a síntese a
priori se aplica aos objetos da experiência, mesmo sendo independente da
experiência. Desta forma, o interesse especulativo da razão incide sobre os
fenômenos.
Nas palavras de Deleuze sobre o a priori:

(...)Os critérios do a priori são o necessário e o universal. O a


priori define-se como independente da experiência, mas
precisamente porque a experiência nunca nos «dá» nada que
seja universal e necessário. As palavras «todos», «sempre»,
«necessariamente» ou mesmo «amanhã» não remetem para
coisa alguma na experiência: não derivam da experiência, ainda
que a ela se apliquem (1963, p. 19)

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Assim, vê-se que o fato do conhecimento é a representação a priori, sejam
elas pelas apresentações que se dá no espaço e no tempo, isto é, nas formas
puras da intuição e que por isto se distinguem das apresentações empíricas – a
posteriori - ou sejam as representações tais como: substância, causa, etc. Além
disso, o conhecimento é composto por: intuição, conceito e ideia. Há uma
diferença entre representação e o que se apresenta. Este último se refere ao
fenômeno, isto é, aquilo que aparece na intuição a posteriori. O fenômeno
aparece no espaço e no tempo – nas formas puras da intuição. (Deleuze, 1963).

De uma maneira mais precisa, devemos distinguir a


representação e o que se apresenta. O que se nos apresenta é,
em primeiro lugar, o objeto tal como ele aparece (...). O que se
nos apresenta ou o que aparece na intuição é, antes de tudo, o
fenômeno enquanto diversidade sensível empírica (a posteriori).
Vemos que, em Kant, fenômeno não quer dizer aparência, mas
aparição (Deleuze,1963, p. 15).

A representação por sua vez é uma retomada ativa daquilo que se


apresenta. Assim, o conhecimento é a reapresentação, isto é, a síntese do que
se apresenta. Além disso, há três atividades ativas que intervém na síntese,
sendo elas: a imaginação, o entendimento e a razão.

(...) O que conta na representação é o prefixo: re-presentação


implica uma retomada ativa daquilo que se apresenta, portanto,
uma atividade e uma unidade que se distinguem da passividade
e da diversidade inerentes à sensibilidade como tal. Deste ponto
de vista, já não temos necessidade de definir o conhecimento
como uma síntese de representações. É a própria
reapresentação que se define como conhecimento, isto é, como
a síntese do que se apresenta (Deleuze,1963, p. 16).

Posto isto, o que diz respeito ao fenômeno Kant afirma que: “(...) o objecto
indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenômeno” (KANT, 2001, CrV,
B 34 p. 61) e diferencia sua matéria e forma afirmando que o que corresponde a
sensação é a matéria do fenômeno e aquilo que possibilita o diverso ser
ordenado segundo determinadas relações é sua forma. Afirma ainda que a

(...) matéria de todos os fenómenos nos é dada somente a


posteriori, a sua forma deve encontrar-se a priori no espírito,
pronta a aplicar-se a ela e portanto tem que poder ser

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considerada independentemente de qualquer sensação. (KANT,
2001, CrV, B 34, p. 62)

Visto que o homem para Kant é sujeito do conhecimento, a realidade que


se lhe apresenta pode ser cognoscível apenas por meio dos fenômenos, posto
que a intuição humana depende e perpassa pela condição subjetiva de
sensibilidade do espaço e do tempo. Assim, cabe a afirmação de Kant que diz:
(...) como fenômeno, não podem existir em si, mas unicamente em nós. (KANT,
2001, CrV, A 72, p. 79).
Quanto a coisa em si – noumeno – o filósofo prussiano afirma: “Tais
propriedades, que pertencem às coisas em si, nunca nos podem ser dadas
através do sentidos” (KANT, 2001, CrV, A 36, p. 74). Apesar de toda receptividade
e sensibilidade humana, para Kant não é possível se ter acesso a coisa em si,
visto que o homem só pode conhecer e perceber a seu modo o que pode, e
possivelmente é, diferente de todos os demais seres. Sobre o limite da intuição
ele afirma:

As formas referidas são absoluta e necessariamente inerentes à


nossa sensibilidade, seja qual for a espécie das nossas
sensações, que podem ser muito diversas. Mesmo que
pudéssemos elevar esta nossa intuição ao mais alto grau de
clareza, nem por isso nos aproximaríamos mais da natureza dos
objectos em si. (KANT, 2001, CrV, A 43, p 79)
E ainda:

Porque, de qualquer modo, só conheceríamos perfeitamente o


nosso modo de intuição, ou seja, a nossa sensibilidade, e esta
sempre submetida às condições do espaço e do tempo,
originariamente inerentes ao sujeito; nem o mais claro
conhecimento dos fenómenos, único que nos é dado, nos
proporcionaria o conhecimento do que os objectos podem ser
em si mesmos. (KANT, 2001, CrV, A 43, p 79)

Segundo Oliveira (2018), Kant procura deixar claro que o conceito de


aparência é mais abrangente do que o de ilusão. Por meio da manifestação de
algo dado, isto é, de sua aparência, a percepção é possível por causa do sujeito
que percebe. O fenômeno, por sua vez, não é mera construção subjetiva de algo
que não existe, ou seja, não é mero produto da mente, pelo contrário: fenômeno
é aquilo que aparece e é passível de verificação real. Desta forma, pode-se

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afirmar que o fenômeno existe enquanto coisa separada e independente do
homem. O modo como este o percebe que depende de suas capacidades
cognitivas e da sensibilidade que é própria do humano. Por conseguinte a coisa
em si encontra-se “fora da capacidade cognitiva de seres finitos racionais e, por
esse motivo, não pode ser confundido com um mero produto da razão ou simples
ilusão” (OLIVEIRA, p. 48)

Considerações finais

A partir da revisão bibliográfica da obra Crítica da Razão Pura, bem como


as demais obras de alguns de seus comentadores, pode-se considerar que é
imprescindível compreender a lógica que sustenta a concepção do
conhecimento humano de Kant para então compreender o porquê dele afirmar
que o humano só tem acesso ao fenômeno e não a coisa em si dentro da primeira
seção da Crítica a Razão Pura, isto é, da Estética Transcendental.
Para Kant o conhecimento é síntese de representação, isto é, o
conhecimento pode ser a posteriori - dependente da experiência - ou a priori -
independente da experiência. Aqui percebe-se a síntese feita por Kant de duas
teorias filosóficas distintas: o empirismo e o racionalismo. O a posteriori de Kant
diz respeito ao empirismo, visto que tal filosofia compreende a experiência como
condição primeira para a obtenção do conhecimento. Já o a priori diz respeito ao
racionalismo, dado que esta corrente filosófica parte do pressuposto que existem
ideias inatas que possibilitam o conhecimento.
Na Estética Transcendental é a intuição sensível do conhecimento a priori
que possibilita a percepção dos fenômenos a posteriori. Em outras palavras, é a
priori a intuição sensível do conhecimento e é a posteriori os fenômenos
percebidos.
O espaço e o tempo são duas formas puras de intuição sensível do
conhecimento a priori. A primeira é aquela intuição que fundamenta todas as
intuições externas. Todas as representações estão no espaço e portanto só
existem nele. Desta forma, pode-se dizer que a existência e percepção do
fenômeno só é possível graças ao espaço. Vê-se, assim, que tal intuição cumpre
uma função importantíssima na teoria do conhecimento de Kant, justamente

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porque é ela – a intuição a priori espaço – a condição da subjetividade humana,
isto é, a forma que o humano percebe exteriormente o mundo.
Por sua vez, o tempo corresponde ao dado a priori de todas as
representações que constitui o fundamento de todas as intuições. Só no tempo
é possível a sucessão dos fatos, ao passo que no espaço é possível a
simultaneidade. Desta forma, pode-se dizer que tempo e espaço estão no
sujeito, isto é, são simples condições da sensibilidade humana. Por assim serem
possuem limite que diz respeito ao conhecimento único possível do fenômeno.
Sendo, portanto, o conhecimento a síntese de representação do
fenômeno, cabe recordar que para Kant o fenômeno é tudo aquilo que é
percebido pela sensibilidade humana, ou seja, tudo aquilo que aparece e é
representado pela intuição. A matéria do fenômeno corresponde a sensação por
ela afetada e sua forma é todo o diverso ordenado segundo as relações. Em
outras palavras: a matéria do fenômeno é a posteriori, é aquilo que o humano
percebe; e sua forma é a priori, isto é, encontra-se no espírito e é independente
de qualquer sensação.
Sendo o homem sujeito do conhecimento, a realidade que se lhe
apresenta só é cognoscível graças aos fenômenos que a compõem e a condição
subjetiva da sensibilidade humana, isto é, o tempo e o espaço. Desta forma,
compreende-se a afirmação de Kant que diz que o fenômeno não existe em si,
mas unicamente no humano. Tal afirmação é possível e verídica segundo a
filosofia transcendental de Kant porque o homem só tem acesso aos fenômenos
que por ele são representados por meio da condição subjetiva da intuição tempo
e espaço.
Por mais refinada que seja a sensibilidade humana, ainda assim ela não
é capaz de captar a coisa em si. A coisa em si, segundo Kant, não é passível de
ser percebida por meio dos sentidos e por isto não pode ser considerada, como
os fenômeno, a posteriori. A coisa em si jamais será conhecida pelo homem,
visto que esta coisa pode ter diversos atributos que a sensibilidade humana é
incapaz de perceber.
Por fim, cabe ressaltar que o conceito de aparência é mais abrangente
que o de ilusão. A manifestação do fenômeno, sua aparência, só pode ser
percebida pelo sujeito que percebe. Entretanto, tal percepção não é mera
construção da mente humana, mas é aquilo que aparece de forma real no

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mundo. O fenômeno existe na realidade objetiva do mundo. O modo que ele é
percebido pelo humano que possui limitação, ou seja, a limitação da condição
da sensibilidade do homem que diz respeito ao tempo e ao espaço. Em outras
palavras: o modo que o fenômeno é percebido é e sempre será condicionado,
contornado, limitado pelo tempo e pelo espaço. Isto não significa que o fenômeno
percebido seja inventado, mas unicamente limitado. Já a coisa em si, como dito
acima, não pode ser percebida pelo homem. Entretanto, isto não quer dizer que
ela não exista, mas sim que sua totalidade ultrapassa os limites da sensibilidade
dos seres finitos racionais.

Referências

DELEUZE, GILLES. Filosofia Crítica de Kant. Lisboa: Edições 70, 1963. (O


saber da filosofia).

FERNANDO, MINER DE OLIVEIRA, D. Espaço, intuição e fenômeno na


Estética transcendental. Kant e-Prints, [S. l.], p. 28–49, 2018. Disponível em:
https://www.cle.unicamp.br/eprints/index.php/kant-e-prints/article/view/1234.
Acesso em: 6 maio. 2021.

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. 9ª Edição. Trad.: Manuela Pinto e.


Alexandre Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

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