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Tribunal de Justiça
Comarca de Cabo Frio
Cartório do Juizado Especial Adjunto Criminal
Av. Ministro Gama Filho, s/n CEP: 28908-080 - Braga - Cabo Frio - RJ e-mail: cfrjecri@tjrj.jus.br
Fls.
Processo: 0006751-82.2011.8.19.0011
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Em 25/10/2017
Sentença
Trata-se de Ação Penal Pública promovida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO - MPERJ em face de JOAQUIM LEAL LUCAS imputando-lhe a prática do crime
tipificado no artigo 129, §9º do Código Penal, observado o disposto no artigo 7º da Lei
11.343/2006, conforme fato descrito na denúncia às fls. 2A- 2C.
No dia dezessete de março de dois mil e onze, cerca das vinte horas e trinta minutos, no interior
da residência do casal, situada na Rua Avenida América Central, nº.: 1270, no bairro Praia do
Siqueira, nesta comarca, o denunciado, com vontade livre e consciente direcionada ao
cometimento do injusto penal, sem qualquer motivo plausível, agrediu fisicamente a sua
ex-companheira Débora Cláudia Baptista Gomes Lucas, desferindo-lhe socos, tapas e pontapés,
causando-lhe "equimoses em ambos os braços, face anterior, coloração violácea e medindo cerca
de cinco centímetros de diâmetro cada; apresenta equimose na face lateral do braço esquerdo,
coloração violácea; apresenta escoriação linear na face anterior da coxa direita, com cerca de seis
centímetros de comprimento; apresenta equimose violácea com cerca de três centímetros de
diâmetro, localizada na face medial da coxa direita", conforme noticia o laudo pericial de lesões
corporais acostado às fls. 27 e 31, cuja peça técnica evidencia a materialidade da violência
doméstica.
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Manifestação do Ministério Público à fl. 72-verso, arguindo litispendência entre o presente feito e o
feito em apenso (0004234-07.2011.8.19.0011).
Termo de oitiva da vítima DÉBORA CLÁUDIA BAPTISTA GOMES LUCAS à fl. 107.
Termo de oitiva da informante NIEVES LEAL LUCAS à fl. 62 dos autos do processo em apenso
(0004234-07.2011.8.19.0011).
Termo de oitiva da informante IASMIN BAPTISTA GOMES LUCAS à fl. 72 dos autos do processo
em apenso (0004234-07.2011.8.19.0011).
Conforme relatado foi imputado ao acusado a conduta descrita no artigo 129, §9º do Código
Penal, pois no dia 17/03/2011 o réu empurrou a vítima para fora da casa da mãe dele e
apertou-lhe os braços, causando as lesões constantes no AECD à fl. 27.
Inicialmente é importante consignar que incide na espécie todos os preceitos contidos na Lei
11.340/06, porquanto a denúncia descreveu a prática da conduta delituosa no contexto da
violência doméstica e familiar, vez que a vítima era companheira do réu.
A prescrição é matéria de ordem pública, que deve ser decretada de ofício em qualquer fase do
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A materialidade delitiva encontra-se comprovada pelo AECD à fl. 27, que consta equimoses em
ambos os braços, face anterior, coloração violácea e medindo cerca de cinco centímetros de
diâmetro cada; equimose na face lateral do braço esquerdo, coloração violácea; escoriação linear
na face anterior da coxa direita, com cerca de seis centímetros de comprimento; equimose
violácea com cerca de três centímetros de diâmetro, localizada na face medial da coxa direita.
A autoria do crime na pessoa do acusado foi demonstrada pelo depoimento da vítima, ouvida em
Juízo sob o crivo dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Nas declarações prestadas pela vítima, em sede judicial nos autos do processo em apenso nº.:
0004234-07.2011-8.19.0011, que referem-se aos mesmos fatos, ela afirmou que não sabe se as
lesões descritas no AECD de fl. 27 foram causadas pelo aperto em seus braços e empurrão
realizados pelo acusado, posto que costuma sofrer hematomas ("ficar roxa") com muita facilidade.
Disse ainda que o acusado não bateu nela naquela oportunidade. Atualmente a vítima e o
acusado tem um bom relacionamento e cada um tem constituiu nova família.
A informante NIEVES LEAL LUCAS, mãe do acusado, prestou declarações nos autos do processo
em apenso (nº.: 0004234-07.2011.8.19.0011), relatando que presenciou os fatos, narrando que no
referido dia, a vítima, já separada do acusado, foi a sua casa para buscar a filha dela, porém, esta
se recusou a ir, momento em que o réu sugeriu que a criança dormisse lá. Aduziu que a vítima,
sendo uma pessoa muito "desbocada" (sic), começou a discutir com o acusado, chegando a
arranhá-lo. A todo momento, a informante pedia para que a vítima parasse de agir daquela forma,
e orientava seu filho (acusado) a não agredir a vítima. Relatou, por fim, que o acusado não agrediu
a vítima, apenas tentou retirá-la de sua casa, sendo certo que foi ela quem o agrediu com
arranhões.
A informante IASMIN BAPTISTA GOMES LUCAS, filha do ex-casal, também prestou depoimento
em Juízo, nos autos do processo em apenso (nº.: 0004234-07.2011.8.19.0011), contando que, na
data dos fatos, estava na casa de sua avó paterna, deitada na cama, momento em que sua mãe
(vítima), chegou ao local e pediu para que a mesma saísse de lá, porém, recusou-se a sair. Diante
desta negativa, informou que sua mãe (vítima) iniciou uma discussão com seu pai (acusado),
porém, não se recorda se houve agressão por parte de seu genitor ou vice-versa.
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genitora dele, para buscar a filha do casal, porém, esta recusou-se a ir. Ato contínuo, sugeriu que
a criança dormisse no local, sendo certo que neste momento, a ofendida exaltou-se e passou a
discutir com ele, ofendendo-o e arranhando-o, bem como ofendendo a genitora dele, que tentava
apaziguar a discussão. Aduziu que, em momento algum, agrediu sua ex-companheira, apenas
pediu que ela saísse da casa, conduzindo-a para fora. Ademais, afirma que a vítima não caiu no
chão, bem como não quebrou a porta e estante da residência dela, mas apenas a janela.
É de se notar pelas provas orais produzidas em Juízo que não houve por parte do acusado o
intuito de ofender a integridade física da vítima, mas denota-se que houve uma acalorada
discussão na qual o réu tentava retirar a ofendida da residência da genitora dele, tendo em vista
que ela encontrava-se exaltada e ofendia o réu e a mãe dele.
Pelo Laudo de Exame de Corpo de Delito confirma-se as narrativas acima, equimoses violáceas
em ambos os braços, face anterior, equimose na face lateral do braço esquerdo, são marcas
decorrentes da pressão nos braços da vítima no momento da discussão a fim de evitar eventual
agressão por parte dela.
Os relatos das informantes NIEVES (mãe do acusado) e IASMIN (filha do casal), inclusive, da
própria vítima realçam a tese de que o acusado não praticou a conduta com a intenção de agredir
fisicamente a vítima, mas apenas contê-la e retirá-la da casa da genitora dela, já que ela estava
descontrolada emocionalmente e ofendia seu ex-companheiro e genitora dele.
Ademais, as informantes NIEVES e IASMIN declararam em Juízo que o acusado não agrediu a
vítima, sendo certo que a própria ofendida afirmou que ele apenas a empurrou e apertou-lhe os
braços, para expulsá-la da casa, porém, não soube informar se as lesões foram decorrentes
destas condutas.
Neste mesmo sentido foi consignada a versão apresentada pelo acusado, afirmando, como dito
alhures, que apenas segurou a vítima pelos braços para expulsá-la da casa da genitora dela,
tendo em vista o descontrole emocional desta, mas, em momento algum, teve a intenção de
agredi-la fisicamente.
Assim, é incontroversa a existência de um empurrão e aperto nos braços da vítima para retirá-la
do recinto, o que não quer dizer necessariamente que a conduta caracterizou o crime de lesão
corporal dolosa, sendo necessária a intenção do réu para tanto.
Afinal, não há qualquer elemento de convicção que deixe clara a intenção do agente em prejudicar
a integridade física da vítima, sendo o leve empurrão e aperto nos braços dela resultado da
acalorada discussão entre os envolvidos.
Destarte, considerando que não foi comprovado o dolo do acusado em ofender a integridade física
da vítima, sendo certo que a própria ofendida afirmou que não foi agredida pelo acusado, mas
apenas empurrada por ele, tendo seus braços apertados, porém, incerta de que as lesões
constantes no AECD de fl. 27 foram decorrentes destas condutas, e nem de que ele teve a
intenção de lesioná-la, entendo que os elementos coligidos nos autos, sob o crivo do contraditório
e da ampla defesa, não são suficientes para que se profira um decreto condenatório, aplicando-se
o princípio do in dubio pro reo.
Este entendimento é chancelado pela jurisprudência, consoante ementa abaixo transcrita "in
verbis":
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Destarte, tendo em vista tudo acima esposado, a absolvição é medida que se impõe.
DISPOSITIVO:
Sem custas.
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