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poDe

DI REVOLUÇÃO DE 30 10 GOLPE DE 37:


a DEPURIÇiio OIS ELITES

Dulce Chaves Pandolfi


Mário Grynszpan

FUNDação GETULIO VaRGDS


CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAçAO DE
--
HISTORIA CONTEMPORANEA DO BRASIL

Rio de Janeiro, 1987


Supervisão editoraI: Crist ina Mary Paes da Cunha

Revisão de texto: Leda Maria Marques Soares

Datilografia: Diva Léa Ribeiro Sylvio

Nota:

Para a e laboração deste artigo u t i l i zamos os dados obti


dos pelo grupo de E l i t e s po l í ticas do Cpdoc em sua pesquisa SQ

bre o Golpe de 3 7 , pe squ i sa esta que resul tou no livro O go lpe


s i l encioso: mi l i tare s , poder ci vi l e crise da democracia (1934-
1 9 3 7) , a s e r editado em breve . Coordenada por Aspá sia Camargo ,
a pesquisa , a l ém dos dois autore s , contou com a pa rticipação
de Eduardo Gomes e Maria C e l i na D'Araú j o . A eles agradecemos
também pelas importantes suge stõe s , ressa lvando , porem, que a
,

respon sabi l idade f i n a l pe l o texto é inte iramente nossa .

Ficha cata lográ fica

P 1 89d

PANDOLFI , Dulce Chave s .


Da revo lução de 3 0 ao golpe de 3 7 : a depg
ração das e l ites/ Du lce Chaves Pando l f i , Mário
Gryn s zpan . Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa
e Documentação de Hi stória Contemporânea do Bra
sil , 1987 .
48p .
1 . Bra s i l - Hi s tória-Revolução , 1 9 32.
2 . Bra si 1 . A s s emb l é i a Nac iona l Con stituinte ( 1 9 3 4 )
3 . Bra s i l -História-Estado Novo , 1 9 3 7 - 1 945 . I . Gry�
zpan , Mári o . 11·. Centro de Pesqui sa e Documenta
cão de História Contemporânea do Bra s i l . 111 . ti
tulo .
CDU 9 8 1 . 0 8 2 . 1
CDD 9 8 1 . 0621
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SUMÁRIO

A ambigüidade da Aliança Libera l / 4

Tenenti smo e o l igarquia: a disputa pelo pod e r / 7

A revolução de 3 2 : a derrota d o tenentismo/ l l

O confronto na Constituinte / l 5

O s l imites d o l ibera l i smo/ 22

O rea l inhamento das e l i te s/ 26

Vargas e o s militares: a articulação de um novo pro j eto/ 3 l

O j ogo da suces são e a e l iminação d e antigos a l iado s / 3 4

A consolidação d o go lpe/ 4 3

Remontando o quebra-cabeç a / 4 5
Para os ideólogos do Estado Novo , o golpe de 19 3 7 foi

o des fecho natur a l e. n e c e s sário de um processo que teve seu

ponto de partida na Revo lução de 1 9 3 0 . No d iscurso apo l ogéti

co dos vitoriosos à nova ordem , 1 9 3 0 teria s ido a inve stid a

i n i c i a l contra a expe r i ên c ia l iberal d a primeira Repúbl ica ,

experiência e s ta que havia conduz ido o país à de sagrega ção e


1
à anarquia . Argumentavam , como r e s s a l t a Ângela Gome s , que a

de sordem grassava em todos o s campos da rea l idade bra s i l eira ,

tornando patente a perda das reais trad iç õ e s da nação , que t�

ria , a s s im , obstruído seu caminho evolutivo norma l . Ao romper

com o passado l ibera l , a Revo lução de 1 9 3 0 , na versa o e s tadQ

novista , havia rea tivado a s tendências naturais mais profundas

do homem bra s i l e iro . Ta l proc e s s o , todavia , nao transcorrera

de forma linea r , sendo marcado por desvios l ibera i s , como a

Con s t i tuição de 1 9 3 4 . Em conseqüência d e s s e s desvios , e s tab�

l ecera - s e um novo quadro de d e s agregação e de sordem .

Tornava-se n e c e s s ário , portanto , colocar o país em

seus devidos t r i l ho s , impondo ordem ao cao s , o que só poderia

ser feito através de uma intervenção pOlítica saneadora . O

1
GOMES , Âng e l a Maria de Castro . O rede scobrimento do Brasil .
In: OLIVE I RA , Lúcia Lippi; VELLOS O , Môn ica Pimenta; GOMES ,
Ângela Maria de Castro . Estado Novo:id eologia e poder . Rio
de Janeiro , Zahar , 1982. p . 114.
2

golpe de 1 9 3 7 , sob a lid e rança de Getúlio Varga s , teria po s s i


2
bilitado a real substituição do regime . Desta forma , a in§.

tauração do Estado Novo , no discurso de seus ideó logo s , foi a

pa�s
,
concretização de um des tino inevitáve l , o reencontro do

com sua própria natureza e sua vocação histórica }

Este mito de origem do Estado Novo tem - s e reve lado de


,
grande peso nas análises históricas e l aboradas sobre o per�o

do . Parte d e s s a s interpretações tende a incorporar vários de

seus e l emento s , particularmente seu sentido te leo lógico . Me§.

mo alguns dos mais detalhados estudos e recon stituiç ões da con

juntura que antecedeu o golpe en focam o episódio como um dado ,

construindo sua · argumentação com base na existência de uma ve�

tente autoritária que , ora in f l ando o fantasma do comunismo ,

ora utilizando-se dos serviç o s do integra lismo , avançou de fo�

ma implacáve l sobre uma sociedade desarticulada e uma e lite

impotente , ou até conivente .

Dispostos a r e l a tivizar e s s e tipo de abordagem, propo

mo-nos a discutir o per iodo que se e s tendeu da Revolução de

1 9 3 0 ao golpe de 1 9 3 7 , tendo como o b j e ti·vo

ensão da dinâmica de um processo que conduziu a um a l i j amento

de importantes segmentos das e lite s civis e militares . Uma

forte evidência d e s s e proc e s s o de depuração e o fato de que ,

quando da in stalação do Estado Novo , parc e l a expr e s s iva dos

·atore s vitoriosos em 3 0 e que haviam a s s umido de imediato

postos de comando encontrava - s e margin a l izada do poder . Longe

2
Ibid . p . 118.
3
Ibid. p . 1 1 5- 6 .
3

de ser a l eatória , no entan t o , e s ta rotat ividade s e deu em fun

ção da própria h i e rarquização dos ob j e tivos programá t icos do

novo regime .

Mesmo concordando com a tese de que a Revolução de 30

nao provocou a l t e rações substantivas em termos d e e s trutura de


4
classes , pode - s e a f irmar que são v i s í v e i s as trans formações

operadas a partir de então no pa í s . A inex i s tência de deslo

camentos traumáticos de c l a s s e s e a manutenção dos segmentos

in feriores da sociedade dentro de r íg idos l imites garantiram

o apoio s ign i f icativo das o l igarquias ao pro j eto de moderni

zaçao que pas sou a ser adotado . Supor , entretanto , que a im

plantação de tal pro j e to se deu naturalmente , i s to e, sem con

f l itos , e negar a complex idade de um processo regido pe l a ambi


,

çao que t inham o s d iversos segmentos d a soc iedade de as segg

rar para s i o contro l e da nova máquina de Estado que se montª

va . Supor , por i s s o me smo , que a insta lação do Estado Novo

ocorreu de forma consensual é aceitar e incorporar o d iscur

so dos atores vitoriosos em 1 9 3 7 . A fraca reaçao ao golpe

deve ser vista , na verdade , nao apenas como anuência ou cump l i

c idade , mas também como resultado de um bem-urdido esquema

de desarticul ação dos focos de r e s i stência , esquema este que ,

de forma a l guma , avançou sem interrupçõ e s ou contratempo s .

A fase que inaugurou com a Revolução de 3 0 foi marcada

por profundos entrechoques entre grupos portadores de d i scu�

4
Ve r MARTINS , Luc iano . A Revol ução de 1 9 3 0 e seu s ignificado
pO l ít ico . I n : A Revo lução de 3 0 . Seminário real izado pe lo
.Centro de Pesquisa e Documen tação de História Contemporân ea
do Bra s i l (Cpdoc) da Fundação Getú l i o Varga s . Rio de Janei
ro , set . 1 9 8 0 . Bra s í l ia , Editora Un ivers idade de Bra s í l ia�
1983 . p . 669-89 .
4

sos e pro j e tos d iverso s . Recon st ituir e s te proc e s s o implica

r e s s a l ta r a d i vers idade de n o s s a s e l ites e apontar para a

ex istência de propostas a l ternativas que , apesar de derrotª

das em 1 9 3 7 , tentaram, no decorrer dos s ete anos precedente s ,

conquistar um espaço pO l ít ico.

A AMBIGtiIDADE DA ALIANÇA LIBERAL

A instab i l idade po l í tica re inante n o período que ante


'
cedeu o Estado Novo foi conseqüênc i a diret a da Revolução de

30, que reun iu força s sociais d i s t intas . Já no pré- 3 0 , essas

mesmas forças s e aglut inaram e m torno da Al iança Liber a l , que

tinha como ob j e t ivo maior romper com o que con s iderava os v).
,

c ios da antiga Repúb l ica através de uma vitória e l e itora l .

A campanha opo s ic ionista a r t iculada em torno da chapa

Getú l io Vargas - João Pessoa foi l iderada inic ia lmente ,por 'hQ

men s de marcada atuação na Repúb l ica Ve lha , muitos d e l e s reprg

sentantes das o l igarqu i a s d i s s ident e s , que pouco ou nada ti

nham de revolucion á r io s . Eram ex-pr e s identes da Repúb l ica ,

como Artur Bernardes , Epi tácio Pe s soa e Ven c e s lau Brás; gove.!:

nadore s ou ex-governadore s , como Antônio Carlo s , Olegário Ma

c ie l , João Pes soa e Getú l i o Varg a s ; chefes de importantes a

gremiações partidárias , como Borges de Medeiro s , do Partido

Repub l icano Rio -Granden s e , Afonso Pena Jún i o r , do Partido Re

pub l icano Mineiro , A s s i s Bras i l , do Partido Liberal Gaúcho , e

Franc isco Morato , do Partido Democrático Pau l i sta; e outros

p o l í t ico s , como João Neves da Fontoura , Ba tista Luzardo , Antu


5

n e s Mac i e l , Lind o l f o Col lor , Osvaldo Aranha , Flores da Cunha ,

João Daudt de O l ive ira , Francisco Campos , Od i lon Braga e Ca�


5
l o s e D j a lma pinheiro Chagas .

A crítica dos a l iancistas nao s e d i r igia aos prl..nc],.


. ,

pios l iberais adotados na Con s t i tuição de 189 1 , ma s aos po l í

ticos que , a seu v e r , monopo l i z a vam o poder e desvirtuavam as

inst itu içõe s . Centravam s eu d i scurso , portanto , na hipertrQ

f i a do poder Execut ivo , na fraude e l e itora l e na impos ição ,

pe l o então pre s idente da Repúbl ica , Washington Luí s , do nome

de seu sucessor . Tais man i f e s tações evidenciavam segundo

e l e s , um descumprimento da Con s t i tuição e um abuso do poder

pre s idencial .

co e a naçao . D i an t e d i s s o , sua propo s t a , como nos l embra L�


6
c i a Lippi O l ive ira , era promover mudanças nos mecanismos e l e i

tora i s re spon sáveis por t a i s desvio s , implementando medidas

que pudes sem garan t i r a verdade e l e itoral - como a obrigatQ

riedade de voto e a c r i ação de uma j u s tiça e l e itoral autônQ

ma - , a t ravés da atuação de homens rea lmente compromet idos com

os intere s s e s do país . ° s i s tema e l e itoral encerrava , portan

to, a chave para a renovação e f e t iva dos quadros d i r igente s .

Ao lado d e s s e s pO l í t icos vamos encontrar , entretanto ,

também na Al iança , o s rebe ldes " t enente s " - como Juarez TávQ

ra , S ique i ra Campo s , João Alberto , Osva ldo Cordeiro de Farias

e Miguel Costa - que , de sde o início da década de 20 , tentª

5
Ver CAMARGO , Aspá s i a . A revolução das e l i tes: conflitos r�
giona i s e centralização pO l í t ic a . In: A Revol ucão de 30.
Op . c i t o p . 8 - 4 6 .
6
OLIVE I RA , Lúc ia Lippi . As idéias fora do tempo . I n : S impó -'
sio sobre a Revol ução de 3 0 . Porto A l egre , out . 1 9 8 0 . Porto
Al egre , ERUS , 19 8 3 . p . 425- 3 7 .
6

vam, através da luta armad a , modificar a ordem vigente.. Na

oposiçio desde 1 9 22 , os "tenentes" se de fin iam como antio l i

gárquicos e insistiam na neces sidade de reforma s pol itico-

admin istrativas. Além da mora l idade das in s tituiçõ e s , propu

,nham , entre outras medidas , a educaçio púb lica obrigatória,

a adoçio do voto secreto e o redimen sionamento do papel do �

xército na sociedade .

A partir fundamenta lmente de maio de 1930, com a del:.

rota nas urnas da chapa a l iancista , a propo sta mais radica l

d e conspiraçio ganhou vulto , col ocando- s e os o l igarcas di§.

sidentes a reboque dos "tenen t e s " . Con forme re ssa l ta Aspá s ia


7
camargo , na passagem da frente liberal para a frente armada

operou- s e uma primeira triagem no s e io das e l ites pOliticas.

A propo s ta de luta a rmada entusiasmou um grande numero de 1!


,

liancistas mais a f inados com a s posições tenentista s , que fi

c a ram identificados como "t enentes civis " , des tacando-se nesse

novo contexto po l i ticos como Osva ldo Aranha , José Américo , Vil:.

gilio de Melo Franco , Carlos de Lima Cavalcanti e Pedro Erne§.

to. A a l iança que se concretizou entre as diversas tendênci

as e o s desdobramentos que d e l a adiviriam foram c l a ramente

expre s s o s por Juarez Távora em c a rta endereçada a Joaquim Mon

t e iro:

"A a l iança entre os radicais do E


xército 'e o s e l ementos mais moços
e extremados da Aliança Libera l '
prenuncia com c e rte z a , o con fronto
fata l , uma vez a revoluçio in§.
taurada , entre o s o l igarcas e os
revolucionário s , pois , evident�

7
CAMARGO , Aspásia. Op . cit o p.3 0.
7

mente , 'não podíamos então , nem


' . .
podemos agora , e sperar que e s te ª-
'
jun tamento pO l í tico se re so lva ,
depo i s de vencedora a revoluçã o ,
a trocar pelo nosso o seu progra
8
ma ' . "

TENENTISMO E OLIGARQUIA: A DISPUTA PELO PODER

Com a v i tória da revolução , acirrou- s e o enfrentamen

to entre as d i f e rentes facções que a promoveram . A l ém da d i .§.

puta e m torno d a ocupação de c a rgos n a adminis tração púb l i

ca , man i fes taram- s e profunda s d i vergências em re lação à condu

çao do próprio processo revoluc ionário . o que e stava em jogo ,

n a verdade , era a d i retriz que orientaria a organização do Es

tado bras i l e iro . O s tenentes e seus a l iados propugnavam por

uma l inha centra l izadora , autoritária e re formista , que

s i b i l i t a s s e a implementação de uma reforma agrária , a cen trª

l i z ação do s i s tema tributário , o fortalec imento das forças a.r.

madas nac iona i s , a criação de uma legis lação traba lhista , a f�

dera l ização d a s mil ícias e s tadua i s e a modern i z ação da i n f ra -

estrutura d o país. Criticando a "po l i t icagem" reinante n o pe

ríodo anterio r , sustentavam a neces sidade de um regime forte

e apartid á rio , contrapondo , em c e rto sentid o , a democracia

pO l í t ica . Para e l e s , portanto , a partic ipação do povo nos de.§.

tinos da nação s ó deveria ocorrer após uma maior conscienti

8.
Carta de Juarez Távora a Joaqujm Monteiro. Apud . CAMARGO
Aspá s i a . Op. c i to p . 3 4 .
8

z a çao , que s e r i a , por sua vez , uma decorrência das reformas

sociais promovidas pelos governantes. Já a s correntes contrá

rias ao tenen t i smo , principalmente o s agrupamentos o l igárqui

cos do Centro Sul , lutavam pela implantação dos princípios li

bera i s , por maior autonomia dos e s tados e pela l imitação dos

poderes da União . Diver samente ao tenenti smo , porem, os grg


.

pos o l igárquicos , a l é m de representa rem d i f erentes intere s s e s

econômicos e regiona i s , n a o possu íam uma proposta r e formista

c l ara .

Após a tomada do poder , o novo governo , para l e lamente

à d i s s o l ução do Congresso Nac ion a l e dos l e g i s l a t ivos e s tadu

a i s e mun icipa i s , implementou outras reivind icações dos s e to

res tenen t i s t a s como a c r iação de uma l e g i s l a ção traba lhi.§C

ta , a ' subord inação dos s indicatos à tute la do E stado e a ela

boração d o s códigos de M i n a s e d e Água s , ambos de orientação

nac ional - e s tat i sta . T�mbém de inspi ração tenen t i s ta foi

o S i stema de I n t e rv�nt�rias adotado pelo governo . Considerado

um dos principa i s meca n i smos de centralização , este s i s tema

viria a con s t i tuir um importante ins trumen to de contro l e e

uma cunha do poder central na pO l ít ic a loc a l . Ao contrário

do que �corria na Repúbl ica Ve lha , quando o pre s idente do est�

do vinculava - se à s c l a s s e s dominantes loca i s , na nova s itua

çao o interventor subord inava - se dire tamente ao governo fed�


9
ral . As normas de subordinação foram e s tabe l ec idas pelo Códi

go dos I n terventores que , entre outras medidas , l imitou a área

9
SOUZA , Mar i a do Carmo Campe l lo de . E s tados e partidos po l í ­
ticos n o Bras i l . são Pau l o , A l f a Ômega , 1 97 6 .
9

de. ação dos e stados , que f icaram proibidos de contrair empré§

t imos externos sem autoriz ação do poder centra l , de gastar

ma i s de 10% da despesa ordinária com serviços da POlícia Mi

li tar , de dotar as pO l íc i a s e s tadua i s de a r t i lharia e viaçã o ,


- . ' . o . 10
ou d e arma-
' 1a s em proporçao super10r ao E xerc 1t

De modo gera l , nos e s tados do Norte e do Nordeste a

e scolha dos interventores recaiu sobre o s e l ementos tenenti§

tas , podendo-se a f i rmar que , n o s primeiros anos do proc e s s o

revolucionário , ocorreu o fen8meno de " mi l i tariz ação das


,
terventor i a s " . N o ano de 1 9 3 1 , por exemplo , a exceçao de Pe�
.;
n ambuco e da Para 1ba , todos o s chefes dos
,
e s tados da região

ll
eram or iundos do s e tor m i l i ta r . Também no Centro- Sul do
, ,
pa 1s , a grosso modo , a esc olha dos interventores se fez a ma�

gem das trad icionais máqu inas par t idár ia s . E s t a rel ação entre

o s "elementos vindos de fora " e a s forças po l í ticas l oc a i s

gerou de sconten tamentos e c r i s e s po l ític as , o que e demonstr�

do pela rotatividade dos interventores nos prime iros anos do


. ' 12
proc e s s o revo 1UC10nar1. 0 .

Press ionado tanto pelos " t enentes" quanto pelas oli

garquias e s tadua i s , i n s a t i s f e i t a s nos seus re spec t ivos e s tados

com seus governan te s , o Governo Prov isório promoveu diversas

10
FAUSTO , Bori s . Peguenos ensaios de h i stória da Repúbl ica:
(188 9 /l 9 4 5) . são Paulo , Caderno CEBRAP , n2lO , s/d . p . 52 .
11
Sobre a i n f luên c i a do tenentismo na região No rte-Nord e s t e
do pa í s ver PANDOLF I , Dulce Chave s . A trajetór ia do Norte:
uma tentat iva de a scenso pO l í t ico . In: Regiona l i smo e cen­
tra l i z ação pO l í tica . Coord . Ângela Maria de Castro Gome s . Ri
o de Janeiro , Nova Fronte ira , 19 8 0 . p . 3 3 9 - 4 9 l .
12
Ver LEVINE , Robert . ° regime de Varga s,19 3 4 - l 9 3 8 : os anos
c r í t icos . R io de Jan e iro , Nova Fronteira , 19 8 0 . Segundo o a!!
tor , entre 19 3 0 e 19 3 5 os 20 e s tados da federação e o Di§
t r i to Federal foram governados por 9 4 interventores .
10

substituiçõ e s , o r a concil iando com a s o l igarquia s , ora com as

facções tenentista s . Em são Paulo, por exemplo , ao nomear

interventor federa l , em novembro de 1 9 3 0 , o tenente João A�

berto , Vargas tornou evidente sua intenção de d iminuir o poder

po l í t ico da e l ite econômica ma i s forte do país . As crises

se sucederam a pa rtir de então , levando a que, num período de

menos de d o i s ano s , fossem e fetuadas cinco substituições na

interventor ia paul ista. Rotatividade semelhante ocorreu em

d iversos estados da federação. O s ún icos interventores nome�

dos em 1 9 3 0 que permaneceram no cargo durante os dois pr imei

ros anos do período d i s cric ionário foram Punaro Bley (Espí

r i to Santo) , Pedro Ludovico (Go i á s ) , Ol egário Mac i e l (Minas �

Gerais), Joaquim Magalhã e s Barata (Pará), C a r l o s d e Lima Cava�

canti (Pernambuco) e F l o r e s da Cunha (Rio Grande do Sul) .

Diante da ofens iva dos setores vinculados ao tenen

t i smo , que cons eguiram exercer , n e s ta pr ime i ra. fase do proce�

s o , uma forte inf luência no apare lho do Estado, as o l igarqui

a s preteridas d e ram o seu grito de guerra exigindo o fim do

Governo Prov i s ó r io e a implantação de um regime constituciQ

nal . Muitos " revolucionário s " passaram a acusar o governo de

ter abandonado o programa da A l iança Libera l , e tornaram a �

cenar com sua plata forma de e s tabe l e c imento do e s tado de di

reito , d o s i s tema de representação baseado na verdade e le itQ

r a l e do equ i l íbrio entre o s poderes Execut i vo , Legi s l ativo e


· 13
Jud �c�ar�o .
. o ' .

13
Ver OLIVE I R A , Lúc ia Lippi . Op . c i t o
11

A REVOLUÇÃO DE 32: A DERROTA D O TENENTISMO

O tema da constituciona l i z ação do país po lari zou de sde

o início o debate entre as forças d i stintas que haviam pa rti

c ipado decis ivamente da Revolução de 3 0 . A . proposta de . con.§.

titucion a l ização , caso vitor iosa , levaria à r e a l ização de e l e i

çoes e à reat ivação dos partidos pO l ítico s . Para os agrup-ª

mentos des a l o j ados do poder , t a l perspectiva era alentadora .

A ebulição e l e itoral deveria acarretar vantagens para as oli

garqu i a s tradicion a i s , j á que e s tas exerc iam forte controle no

ma j oritário e l e i torado rural . Não foi por outra razao que e.§.

ta bandeira funcionou como um pó lo aglutinador dos e l ementos

ma is d íspare s , mob i l izando não apenas as facções expl icita

mente contrá r ia s à Revolução de 3 0 , como também a l guns s egmen

tos n i t idamente "revo lucionário s " e até mesmo partidários do

governo Vargas que , temerosos com o avanço do tenentismo , abr-ª

çaram a causa con st ituciona l i sta . Entre o s ú l t imos incluíram-

se o Partido Democrát ico de são Paulo , a seçao do Partido R�

pub l icano Rio -Grandense e o Partido Libertador gaúcho .

Para o s "ten ente s " , entretanto , o retorno a ordeIl\


,

legal const ituía uma s é r ia ameaça de verem frustradas suas

perspec tivas re formistas e de se rem d e s a l o j ados das d i spo s i

ções d e mando . Ag lutinados principa lmente no C lube 3 de Ou


14
tubro , espécie de comitê central d o grupo , d e f endiam abe!".

tamente, a manutenção do regime d itatorial como condição s ine

14
SAE S , Décio . Cla s s e média e pO l í tica no Bra s i l . 1930�1964 .
I n : O Bra s i l republ icano . Org. Boris Fausto . são Paulo , D i
f e l , 1981 . v . 3 , p . 4 8 9 . (História geral da c i v i l i zação bra
sile ira , l O) .
12

gua non para a con s o l idação da obra revoluc ionária apenas in.i

i::i ada.

o acirramento d e s s e debate l evou à radic a l i z ação das

posições e à ec l osão , em ju lho de 19 3 2 , da Revolução Consti t .!!

c ional ista em são Paulo. As d iv i s õ e s internas entre as prin

c ipais facçõ e s regiona i s o l igárquicas e a u t i l ização , pe lo GQ

verno Provi sório , de todo s o s recursos do poder , e s t imulando

as c i sões com v i s t as ao isolamento dos paul i s ta s , garantiram

a vitória l eg a l i s t a sobre o movimento.

Embora derrotada m i l itarmente , a Revolução Con s t i t.!!

c i on a l i sta con seguiu impor seus obj e t ivos po l í t ico s , mas teve

corno ônus o a f a s t amento de vários e l ementos que nela se enga

j aram e que em 1 9 3 0 também e s t iveram presentes. A s s im , corno


' . 15
ob serva Aspa s 1a Camargo , o movimento pau l i s ta con s t i tuiu-

se num novo marco depurador das antigas e l i te s . Próceres os

ma i s des tacados e que em.1 9 3 0 d e s encade aram o processo revol .!!

c ionário , corno A s s i s Bra s i l , Artur Bernard e s , Borges de Mede.i

ros e Epitácio Pessoa , em 1 9 3 2 vão e s tar praticamente exclui

dos da l iderança p o l í t i c a do país . Alguns retornarão po s t�

riormente e afirmarão sua l inha de opo s i ção a Varga s .

Quanto aos tenente s , que haviam obtido importantes g-ª.

nhos no per � odo d i s c r ic ionário , com a acel eração do pro c e s so

de const ituc iona l iz a ção do pa í s , sofreram derrotas pO l í ticas

que contribuíram para sua de sagregação enquanto grupo .

. Diante do novo panorama po l í t i co , os adeptos do teneg

t i smo se d ividiram em quatro po s i çõ e s ; no grupo mais numerQ

so , compo s to sobretudo pelo intervento�es , i�1c1u:r.rarn- se . aqug

15
CAMARGO , Aspá s i a. Op. c i t o p.3 8.
13

l e s que encamparam a t e s e da cons tituc ional ização , embora con

s iderando-a uma proposta prematura , e que adotaram na prática

as med idas impo stas pela conjuntura po l í t ic a , partindo com vi

gor para a rearticulação das agremiações partidár i a s e para o

a l i s tamento e l e itora l . são representativas deste tipo de

pos ição figuras como Jurac i Maga lhães (interventor da Bahia),

Carlos de Lima Cava lcanti (interventor de Pernambuco) e Ju"ª,

r e z Távora. Outro grupo as sumiu uma postura de neutral idade

e d i stanc iamento d i ante d a nova real idade , nele de stacando-

s e o interventor do Ceará Carneiro de Mendonça. Alguns po l í

t icos como o ex- interventor do Rio Grande d o Norte Herculino

Cascardo , comp l e tamente d e s i lud ido s com o que cons ideravam

os desvirtuamentos da Revolução de 3 0 , decid iram se a fastar

do governo . F ina lmente , outro s , como o general Manuel Rabe l o ,

rad i c a l izaram suas posiç õ e s , in s i s tindo em de fender a implan

. l 1tar
' , 16
taçao
- d e uma d'1ta dura m1 no pa1s .

A Revolução de 1 9 3 2 cons tituiu de fato um importante

marco n o processo de depuração das e l ite s . As mudanças dela

decorrentes f i z eram - s e sentir inclus ive no inter ior do


17
prio Exército. Como a f i rma José Mur i l o de carva lho , o movi

mento de 19 3 0 , ao mesmo tempo em que projetou o Exérc i to , de

man e ira decis iva do que na primeira Repúb l ica, no centro de

poder nacion a l , expôs também uma organ ização marcada por ny

meros a s c l ivagen s . Foi d i f e renc iada a participação de d ive�

16
Ver PANDOLF I , Dulce Chave s . Op . c it . p.358 .
17
CARVALHO , J o s é Mur i lo de. Forç a s armadas e política . . 1 9 3 0 -
1 9 4 5 I n : A Revolução de 30 . Op . c i t . p . l l O .
14

90S esc?lões h i e rárquicos no movimento: a ma ioria da

l idade não ade r i u , e a minoria que aderiu era composta predomi

nantemente de segmentos inferiores da o ficial idade .

Diante d e s te quad ro , tornava - s e preemente a compo sição

de uma cúpula militar a f inada que pud e s s e fornecer o respaldo

necessário ao regime que se instaurou no pó s - 3 D . Para tanto ,

foram rapidamente promovidos vários dos o f ic i a i s suba lternos

que apoiavam a revolução, entre o s qua i s o próprio Góis Montei

ro , que teria uma importante pa rtic ipação no golpe de 37 . O

pa sso seguinte foi a e l iminação dos genera i s nomeados pe los

antigos governos , o que se con st ituiu numa tarefa bastante

d i f í c i l , mas que se tornou em parte po s s í v e l graças a pa rtici


,

18
paçao de vários d e l e s no movimento de 19 3 2 .

Se até 1 9 3 2 predominaram o s generais anteriores a

1930, como João Gome s , Andrade Neves, Tasso Fragoso e Va ldomi

ro Lima , a par t i r de 19 3 3 houve uma combinação entre estes

e novos generai s , como Góis Monteiro , Eurico Dutra , Pargas

Rodrigue s , Guedes da Fontoura , Panta leão Pessoas e José PessQ

a , ocupando Góis e Dutra importantes po s i ções no Ministério


19
da Guerra e no C lube Mi l i tar. Tais modi f icações , no entan

to , não seriam suficientes para a s segurar a harmonia dentro

do Exército .

18
Ibid . p . 1 3 0 - 1 .
19
Ibid . p . 13 2 .
15

o CONFRONTO NA CONSTITUINTE

Com a neutr a l i zação temporária , após a Revolução de

19 3 2 , de várias das ma i s expr e s s ivas l ideranças po l í ticas trª

d i c ion a i s , o governo empreendeu no período anterior à Consti

tuinte , um enorme e s foço n o sen tido de formar e consolidar

ba ses de apoio regional que lh,e v i e s sem a garantir a hegemQ

n i a no proce s s o de regulamentação e de e laboração dos prig

c ípios que rege r i am a nova ordem . A const ituc iona l ização do

país constituía uma impo sição tanto das forças " contra -revo l !!

cionárias" como de a lguns setores "revo lucioná r io s " insati§.

f e itos com o s rumos da Revolução de 3 0 , e o governo tentava

absorver a derrota de 3 2 , procurando tirar dela os ma iores

bene f í c io s . Seu suce s so dependeria da capacidade de colocar


20
so b seu contro 1 e o processo d e organ�zaçao
' - po 1"
�t�ca .

As e l e iç õ e s para a Assembl é ia Nacional Constituinte ,

marcadas para 3 de ma io de 19 3 3 , l evaram não apenas as forças

vitoriosas como também as derrotadas a buscar ma ior a r t iculª

çao . Aos interventores foi atribuído o 'importante papel de

unifi car as forças pOlíticas e s taduais através de partidos e

integr á - l a s em n í v e l nacion a l , tendo - se des tacado nesta targ

fa Flores da Cunha (RS) , Juraci Magalhães (BA) e Carlos de

Lima Cava lcanti (PE) . Com a proximidade do pleito, o Gove�

no Provi s ór io engajou - s e tota lmente no processo e le itoral , tor

nando-se a l vo de forte condenação dos setores opo s ic ionistas

que reuniam tanto derrotados em 1930 quanto facções vitorio

20
GOMES , Ângela Maria de Castro. Confronto e comprom isso no
proce sso de constituc ion a l ização (19 3 0 - 19 3 5) .In: O Bra s i l
repub l ica no . Org . Bor i s Fausto . são Paul o , Dife l,19 8 1 . v.3 ,
p . 20 . (His tória geral da c ivi lização bra s i l e i ra , l O) .
16

s a s mas descontentes com o regime . o ministro da Justiça, An

tun e s Mácie l , a s sumiu o papel de articulado r nacional dos grg

pos situacionistas .

Na grande maioria dos e s tado s da federação, o result�

do e l eitoral revelou-se nitidamente favorável as agremiações

situacionista s . No Rio Grande d o Sul, dos 16 parlamentares

e l eitos, 1 3 eram vincu l ados ao Pa rtido Republicano Liber a l ,

chefiado pelo interventor Flores da Cunha. Em Minas Gerais, o

Partido Progres sista de O l egário Maciel fez 31 deputados corr

tra sei's do Partido Republicano Min e iro . Nos e s tados do Norte

do país a proporção foi semelhant.e: na Bahia, por exemplo , o

Partido Social Democrático, liderado pe l o in te rventor, e l egeu

20 deputados numa bancada de 22; e em Pernambuco, as forç a s

pró-Lima Cava l canti, articu l adas também n o Partido Social D�

mocrático, e l egeram 15 numa bancada de 1 7 pa r l ame ntares. Em

são Paulo, porem - palco da guerra civil, onde conseqüente

mente a situação era bem mais comp lexa - a Chapa tlnica, form�

da pelas duas agremiações que desencadearam a Revolução Con�

titucionalista, - Partido Democrá tico e Partido Republicano

Paulista -, e l egeu 1 7 dos 22 deputado s . Diante deste resulta

do, Vargas sentiu ser necessária uma compo s iç ã o com a e lite

paulista, o que determinou a e s co lha, em j ulho de 1933, de AK

mando de S a l e s O l iveira, um dos seus legítimos representantes,

para ocupar a in terven toria do e s tado .

A As semb l é ia Nacional Constituinte foi in stalada no

dia 15 de novembro de 19 3 3 , congregando representantes das

diversas tendências que desde 19 3 0 vinham- s e debatendo no. cen�


.

rio pOl ítico .


17

A grande que stão que organizou o debate con st ituinte

foi o confronto entre region a l i smo e central ização po lít ica .

Me smo havendo um certo con s en s o em torno da necessidade de um

federa l i smo a l iado a um intervencionismo estata l , a pO l êmi

ca fixou- se no grau de centra l i z ação e de intervenção possi

veis . Para o s e s tados do Norte , pO l í t i ca e economicamente

ma i s fracos e com ma iores l igações com o s e l ementos tenerr

t i s ta s , a d e f e s a do federa l i smo não poderia impl icar o en frª

quecimento do poder central e , con seqüentemente , o desequili

br i o da d i stribuição de ben e f ícios em detr imento das regiões

ma i s d e penden tes . Para o s e s tados ma is poderoso s , por outro

l ado , era a maior autonomia em re lação ao poder central que

poderia trazer d i videndos pO l ít icos e econômicos ma i s s ig n i fi

cativos . Neste particular , a s bancadas do Norte e Nordeste


,
do pa 1s se contrapunham a s do Centro-Su l , principalmente as
. - 21
de M1nas e Sao Paul o .

A l ém da e laboração de uma nova carta constitucional ,

a As semb l é i a Nacional Con s t ituinte deveria aprovar o s atos do

Governo Provisório e e l eger o novo pre s idente da Repúb l i ca .

Ape sar de Vargas apresenta r - s e naturalmente como o candidato

m a i s forte , sua e l e ição não e s tava totalmente a s s egurada . Com

v i s ta s a a fastar qualquer po s s ib i l idade de derrota , as forç a s

vargui sta s , decidiram ace lerar o processo e l e itora l , propondo

uma inversão na ordem dos traba lhos . o Governo Provisó r i o ,

21
Ver Regional ismo e centralização pO l í t i ca . Coord . Ângela
Maria de Castro Gomes. Rio de Janeiro, Nova Fron t e ira , 1980 .
18

através d o deputado ba iano Medeiros Neto , l íder da maioria ,

press ionou o s interventores para que a s respectivas bancadas

aceitassem e l eger o presidente da Repúbl ica antes de promu�

gar a Const ituição. Capitaneada pelo Rio Grande do Sul , e apoi

ada pelos interventores de Pernambuco , Bahia e Minas Gera i s

a proposta suscitou fortes reaçõ e s , obrigando o governo a recg

ar em seu intento . A e l e iç ã o real izou- se' em 17 de j u lho de

1 9 3 4 , um dia após a aprovação da nova Constituição .

Ape sar das d i ficuldades , Vargas obteve 1 7 5 votos cog

tra 7 1 dados aos demais candidato s , a s s im d i s t ribuídos: BOK

ges Medeiros 59 , Góis Mon teiro 4 , Protógenes Guimarães 2, Rª

uI Fernandes 1 , .Artur Bernardes ·l , Afrânio de Melo Franco 1,


22
Oscar We inschenck 1 , Paim Fi lho 1 e Levi Carn e i ro 1 . Se o

�rocesso d a e le i ç ã o de Vargas , por um lado , foi expressa0 de

sua forç a , por outro , como r e s s a l t a Ângela Gome s , denotou tam

bém sua fraqueza. A l ém de não haver uma unanimidade em torno

de seu nome , o processo e l e itoral foi conturbado por ameaças

de golpes e conspirações m i l itares: por trás de a l gumas d e s s a s

conspirações e s tava o próprio mini stro d a Guerra , G ó i s Mon tei

ro, insatisfeito com o proc e s s o de l iberalização que vinha

ocorrendo. " Não s e tratava , portan to , de um processo suce.§.

s ó r io tranqü i l o , certificado da autor idade e legit imidade do


- 23
entao chefe de Estado . "

Um indicador evidente d o quadro d e insat i s fação rei

nante f o i o resul tado da aprovação dos atos do Governo ProvisQ

22
GOMES , Âng e l a Maria de Ca stro . Op . c i t . p . 56 .
23
Ibid . p . 3 5 .
19

r i o ; d o s 220 deputados presentes n o plenário , apenas 1 3 5 votª

ram a favor. Outras dua s questões rel ativas à votação das d i spQ

s ições tran s i tórias gera ram fortes pO lêmicas: a transforma

çao da Constituinte em A s s emb l é ia ordinária e a e l egibi l idade

dos interventores ao cargo de governadores con stitucionais.

Após longos debate s , f icou e s tabe l ecido que haveria e l e iç õ e s

para o Poder Leg i s l a tivo , e a As semb l é i a Constituinte funciona

ria com suas atribu ições ordinár i a s apena s até a po s s e do novo

Congre sso . Por outro lado , o s interventores poderiam se ca!!

d idatar ao cargo de governado r , e l e ito de forma indireta pelas

r e spec tivas con s t i tuintes e s tadua i s .

O que se tentou de fato com a Con s t i tuição de 1934

foi estabe lecer uma ordem "l ibera l " e "moderna" que nao se

chocasse com o forta l e c imento do E s tado e com seu a t ivo papel

na órbita dos a s suntos econômicos e socia i s . Entretanto , ess :;l


forta l e c imento do Estado , de sua �ficiência e representati

vidade , não deveria ser con fundido com o poder intervencioni2

t a do Executivo feder a l . Esta era a que stão fundamental para

aque l e s que haviam des encadeado a Revolução de 3 2. Para evi

tar os vícios d a Velha Repúbl ic a , os l ibera i s representados

na Constituinte preocuparam- se em a s s egurar o predomínio do

Leg i s l a tivo no s i s tema pO l í tico nac iona l , tornando-o a base

da vida governamental e o meio de contro lar e deter o avanço


24
d o E xecut:LVO .
.

Sign i f icat ivamen te , Vargas foi obrigado a conc i l ia r

com uma s é r i e de propostas com a s qua i s n ã o s e ident i f icava ,

a f im de garantir sua própria e l e ição . A s s im , mesmo tendo si

24
Ibid. p . 6 5-70 .
20

do po s s í v e l ao Governo Provi sório contro l a r o processo

d ico-po l í tico da con s ti tuc ional ização, o resultado desse prQ

c e s s o c r iou profundo de sagrado. Não foi por oútra razao que

em seu primeiro d i scurso como pres idente constituc ion a l VaK

ga� expr e s sou todo o seu de sacordo em r e l ação a Carta


,

25
d a. Paradoxalmente também , conforme será vi sto adiante, o

próprio Leg i s l a tivo , num segundo momento, aceita r i a esvaz iar o

s e u poder em favor do Executivo , fornecendo-lhe instrumento s

excepc ionais ba s tante drástico s . Ou se j a , s e os constituintes

de 34 procuraram sa lvaguardar os poderes do Leg i s l a tivo l imi

tando o s do Executivo , a s mesmas s a l vaguardas começaram a

ruir a partir de 19 3 5 , a ta l ponto que, j á em meados do ano s�

guinte, a inic iativa pO l í tica e s ta r ia nas maos do Executivo,

ficando o Le g i s lativo a reboque .

o r e s ul tado das e l e iç õ e s real izadas em outubro "de

1934 po s s ib i l i tou a permanênc ia no Congresso de muitos dos

con s tituintes e l e itos em 1 9 3 3 , e garantiu para o governo a

maioria parlamenta r . Também em cada e s tado ocorreram e l ei

çõe s para as assemblé ias legis lativas , que deveriam e laborar

as constituições e s taduais e e l eger indiretamente os respe�

tivos governado re s , além de exercer ordinar iamente as funções

parlamentares .

Mais uma vez Vargas procurou atuar n e s te novo proce�

BO e l e itor a l de forma a r e forçar seus núc leos de apoio regiQ

25
Arquivo Getú l io Vargas, Rio de Jan e i ro - FGV/Cpdoc .
GV 34.07. 15/12
21

nal. I nteres sava ao governo federa l promover mudanças em al.

guns e s tado s , d e s l ocando grupos que ocupavam o poder . A inte.r.

ferência de Vargas provocou r e s i s tências por parte de antigos

interventore s , que nao e s tavam d i s postos a abrir mão dos s eus

cargos , tendo ocorrido con f l itos no Pará , Maranhão , Rio Grande

do Norte , Santa· Catarina e e s tado do Rio de Janeiro.

Este foi outro momento· fundamental de rotatividade

das e l ites: em apenas nove dos 20 e stados da federação os in

terventores foram reconduzidos ao pode r , encontrand o - s e s em


.
dúvida , entre o s c inco governadores po l it icamente ma i s for

t e s : Armando de S a l e s O l iveira (SP), F lores da Cunha (RS),

Benedito Valadar· e s (MG) , Juraci Magalhães (BA) e Carlos de

Lima Cava l c anti (PE ) . Permaneceram ainda na chefia do Executi

vo e stadual Manuel Riba s (PR) , Punaro B l e y (ES), Pedro Ludovi

co (GO) e Osman Loureiro de Farias (AL) .

D i f e rentemente do período discric ioná r i o , em que as

subs tituições de interventores s e sucediam com bastante fr�

qüênc ia , no período const ituc ional os governantes adquiriram

maior estab i l idade , embora nem sempre s e ·representas sem dóce is

às diretrizes do governo federa l . Na fase ante r i o r , as nomea

ções e subs tituições se faz iam mediante decretos expedidos p�

l o pre s idente da Repúbl ica; na fase constituciona l , porem,

uma vez e l e ito s , os governadores só podiam ser substituídos

por decisão das as sembl é i a s estadua i s .

Esta e s tabil idad e não se deveu , contudo , apenas aos

procedimentos de ordem l e g a l . Sem dúvida , a a ç ã o de Vargas n o

sentido de garantir bases de sustentação region a l teve suce�

so. Não foi por outra razão que a ma ioria dos governadores
22

e l e itos em 1935 permaneceu nos seus cargos mesmo


.
apos a
.
plantação do Estado Novo . No entanto , embora o numero de gQ

vernadores a l i jados em 19 3 7 seja reduzido , ele foi s ignif icª

tivo po is inc lui e s tados po l i ticamente important es- como Rio

Grande do Sul , Bahia e Pernambuco "- que haviam dado , durante o

período revolucioná rio , forte sustentação a Vargas e ao gove�

no federa l .

OS LIMITES DO LIBERALISMO

o proc e s s o pO l ít ico bra s i l e iro rad ical izou - s e com a

implantação do governo con s t ituc ion a l . O movimento soc ial

passou a demon strar ma ior vigor , consequenc ia , em parte , da

própria e f ervescência e l e i tora l . O nac iona l i smo , a defesa

das l iberdadesdemocrát icas e a luta contra o f a s c i smo consti

tuíram o s grandes temas mob i l izadores do debate nac ional do

período . Também a Ação Integra l i sta Bra s i l e ira , c r iada em

1932 com profundo caráter antil iberal , trans formou - s e numa o�

ganização de ma s s a s enraizadas em diversas regiões


,
do pal.s .

Parte fundamental deste proc e s s o foi a criação da Al iança Nª

c ional Libertadora (ANL) , em março de 19 3 5 , sob a l iderança

das esquerdas . Seu programa se d i r igia contra o l a t i fúndio ,

contra o imper i a l i smo , contra o f a s c i smo , e em favor da demQ

crac ia. Pregando a formação de um governo popular-nac iona l -

revolucion á r i o , a ANL conseguiu atrair rapidamente s impatia a


26
de amplos setores da população , principalmente na c l a s s e mé dia .

26
Ver RODR IGUE S , Leôncio Martins.O PCB: os d irigentes e a or
ganização . In: O Bra s i l repub l icano . Op.c i t . p . 3 6 l - 4 4 3 .
23

Importantes "tenente s " civis e mil itares , como Miguel Costa ,

Herculino Casc ardo , Ag i ldo Ba rata , João Cabana s , Silo Meir�

l e s e Roberto S i s son , que haviam atuado de maneira de stacada

na l inha de frente da Revolução de 30 e ocupado po stos-chaves

n o processo revolucionário , ingr e s s a ram na organ ização , rompen

do d e forma radical com os rumos da po l í tica governamen ta l .

Se a proposta l iber a l venceu em 19 3 4 , numa demon.ê.

tração do peso que os grandes e s tados e as o l igarquias e s tady

a i s mantinham ao n í v e l da pO l ítica nac iona l , este l ibera l i smo

s er i a rapidamente redimensionado. No momento em que o movi

mento popu l a r começou a dar demon stração de força e autono

mia , o Poder Leg i s l a tivo passou gradat ivamente a abrir mão de

suas prerroga tivas em favor de um Executivo cada vez ma i s

forte .

° temor dos l ibera i s d iante da organ ização do movimen

to popular mo strou- se evidente quando , em abril de 1 9 35, logo

após a criação da ANL e sob o impacto d a s várias greves que

vinham ocorrendo , o CongresRo aprovou a Lei de Segurança Nac i Q

nal. Outros passos ma i s comprometedores ocorrer iam apos o l�


,

vante comun ista d e f l agrado em novembro do mesmo ano em Nata l ,

.
. f e e R10 27
R eC1 d e Jane1ro .. A partir de então , o comuni smo tor

nou - s e não apenas um i n imigo do governo , ma s um perigo a sQ


,

ciedade corno um todo , cabendo a e s ta engaja r - s e em s eu combate


. 28
a açao repr e S S 1va .

27
Ver D'ARAÚJO , Maria C e l ina Soa res . M i l itare s.repressão e o
d i scurso anticomun ista no oo lpe de 19 3 7 . Rio de Jane iro ,
FGV/Cpdoc , 19 84 (mimeo ) .
28
Ibid .
24

Em novembro de 1 9 3 5 , portanto, o Legis lat ivo aprovou

a_ adotação de várias med idas de repre s são que i r iam influir

d iretamente n o c e rceamento do próprio poder parlamentar. o e§.

tado de s í t i o foi decre tado em todo o país por trinta dias ,

sendo renovado poster iormente por mais noventa . Quando i s to

ocorreu o Congr e s s o aprovou a inda três emendas a Constitui


-
ç a o que ter iam sérios desdobramentos pO l í ticos no período subs�

qüen te ; a prime ira d e l a s previa a po s s ib i l idade de o pre s iden

te d a Repúb l ic a , com autor ização da Câmara dos Deputados e do

Senado Federal, dec larar a comoção intestina grave, com f inª

l idade subvers iva das instituições po l í ticas e soc i a i s , equipª

rada ao e s tado de guerra em qualquer parte do território naciQ

n a l ; pela segunda a patente e o posto, po,r

Executivo, sem p r e j u í z o de ou tras pen a l idades, o oficial que

prat icasse ato ou participa s s e de movimento subve rs ivo, quer

fosse da at iva, da reserva ou reformado; a terce ira emenda

previa o mesmo que a anterior, so que para o caso dos funciQ

nários civis, at ivos ou inativo s .

Ao mesmo tempo em que int e n s i f i cava os mecan ismos de

repress sao e de contro l e da soc iedade, Vargas obtinha o apoio

nece s s á r io para sua implantação. De fato, o governo faria um

intenso uso do " per igo comun i s t a ", não somente no sentido de

legitimar sua ação perante a população, e l iminando e lementos

divergentes, mas também no sentido de mais faci lmente a lcançar

seus objet ivos pO l ític o s .


'
A pr

ros meses de 19 3 6 e a apreensao de importantes documentos em

seu poder, os qua i s , segundo as autoridade s , demonstravam ser


25

o movimento comunista ma i s extenso do que se supunha , fornec�

ram a just i f icat iva para a decretação do e s tado de guerra em

março do mesmo ano , e que vigoraria até meados de 1937. Con

f erindo ao governo pod eres de repre ssão praticamente i l imita

dos , a medida , aprovada pe lo própr io Poder Leg i s la t ivo , dife

rentemente d o que ocorrera com o estado de s ítio , tornava

vulneráve i s até mesmo os parlamentare s , v i s ando fundamenta.l

mente e s fa c e l a r a pequena e aguerrida oposição no Congresso ,

sobre cuja cabeça começou a pairar como uma e s pada de DâmQ


29
cles. Na prática , o s par l amentares foram o s primeiros atin

gido s ; transcorridos apen as do i s d i a s d a decretação do estado

de guerr a , quatro deputados , Otávio S i l v e ira , Domingos Ve la-ª.

co, Abguar Bastos e João Mangabe ira , e um senador , Abel Che.r.

mont , foram presos sob a acusação de envo lvimento com o comu

n i smo.

Mas nao só os par lamen tares ser iam a t ingidos por e s s e

d ispo s i t ivo excepciona l . Numero s í s s ima s pris5e s de e l ementos

c i v i s e m i l itares , acusados de d e senvolvimento com o levante

c omunista , foram f e i t a s à sua sombra , entre e l a s , a do prefei

to do D i s tr i to Federa l , Pedro Erne sto . E l iminava - s e a s s im , do

jogo po l ítico , aqu e l e ant igo "tenente " c i v i l e partic ipante da

Revolução de 3 0.

A r e pr e s s ã o ao l evante comun ista de 1 9 3 5 promoveu de-ª.

t a forma , o expurgo de a l gumas expr e s s ivas l id e ranças de 1 9 3 0.

A ANL e o próprio Partido Comun ista do Bras i l já haviam abso.r.

vido e l ementos atuantes que , d e s i ludidos com o s rumos da revQ

29
GRYNSZPAN , Mário. Acordos e desacordos na po l í t ica nac io­
n a l . As tentativas de conc i l iação no ano de 1 9 36. Rio de
Janeiro. FGV/Cpdoc , 1 9 8 3 . p. 9 8 {mimeo}.
26

lução e impacientes quanto à r e a l i z a ç ão das pretendidas

tormas , as sumiram postura de forte contestação ao regime.

o REALJNH�ENTO DAS �LITES

A conjuntura pO l ítica de 19 3 6 e 19 3 7 g i rou em torno

de três questões centra i s : o combate ao comun ismo , a suce�

��o presidencial e a de sarticulação do governador Flores da

Cunha . Movimentaram- s e em torno d e s s e s temas os pr inc ipa i s

centros n evr6lgiços da pOlítica - Congre sso , governo federa l ,

�ov�rno� e �tª Q uª i� e �xército . Nesse movimento a l ternaram-

§e §u�e��ivQ� alijamentos e r e a l inhamentos , de tal forma que ,

00 tinêl de 1937, �Qnsolidou- s e um núc leo em torno de Varga s ,

Gói§ e Outra, fechado com a n ec e s s idade de um golpe de Estado ,

eentropondo-�e ª forças debil itada s , dividida s , e já sem condi

De oQordo eom a Const ituição aprovada em 19 34 , as

elei;5e� diretê� Pêra pre s idente d a Repúb l ica , Câmara e Sena


,
do federal e � têv a m prev i s t a s para jan e iro de 19 38 . Logo apos

• po •• e do� eleitos feriam e s c o l h ido s , também pelo voto d ir�

to, o. 90vernadore. de e s tado . Descort inava - s e , por conseguin

te, U� nOVO momento priv i l egiado para a red e f inição do jogo

político, e nªo foi por acaso que a que stão suc e s sória sensi
,
bilizou de maneira mui to forte a s e l ites do pa � s . Segundo a

1@9iOlftçie em v1ger, VarSas não poderia ser reconduzido ao PQ

der, tornftnde-�e le9almente po s s ível a prorrogação de seu mag

dAto A�@nª8 mediAnte Uma re forma const ituc iona l , para a qua l
27

s e r ia n e ce s s á r i o o apoio de d o i s terços do Congr e s s o Naciona l .

Em meados de 19 3 6 , através do minis tro do Traba;tho

Agamenon Maga lhães , Varga s , real izou urna sondagem junto a gQ

vernadores sobre t a l po s s ibi l idade . Os governadores do Rio

Grande do Sul , Flores da Cunha , de são Paulo , Armando Sales ,

da Bahia , Juraci Maga lhãe s , e d e Pernambuco , Car l o s de Lima

Cava l can ti , mostraram- se contrários. Entretanto , diver samen

te do que havia ocorrido em 19 3 4 , quando os estados ma is im

portantes pre s ente s n a Constituinte garantiram sua eleição ,

e s s e s mesmos estado s , tendo qua s e todos à sua frente figuras

de ponta na Revolução de 3 0 , mostraram- s e agora favoráve i s a

que um outro nome ocupa s s e a che f i a do pa í s , mantendo , desta

forma , o princípio da a l t e rnância do poder . O principal resu�


,
tado d a sondagem deixou claro , portan to , que o apoio nece ss2

r i o para a re forma da Constituição d i f i ci lmente seria cons egui

do , f i cando pra t i camente vedada a po s s ibi l idade da permanen


A

cia de Vargas no poder pe l a via legal. Este foi um momento de

fundament a l importância para a d e f i n i ç ã o do pro j e to golpista .


"

Assunto con stante nos ba stidores pO l í ticos desde

1935 , a suce s sao pr es idencia l a s sumiu a cena em 19 3 6 , ganhan

do as pá ginas dos jorna i s. As a r t i cu lações que se vinham re2

l i zando representavam todavia uma ameaça à unidade do bloco

s i tuacion i s ta , que nã o conseguira chegar a um consenso sobre

a questão . F lores da Cunha trabalhava a candidatura do minei

ro Antônio C a r l o s Ribeiro de Andrade , pre sidente da Câmara ;


"
o governador Juraci Maga lhã e s de fendia a do senador Medeiros

Neto ; Armando de Sa l e s , por seu turn o , a l imentava esperanças


28

de ver seu próprio nome lançado.

A e stratégia de Vargas s e r ia adiar o debate suc e s s o

rio ao máx imo numa tentat iva de garantir a coe são de s e u b l o

c o no Congr esso e , cons eqaenteme n te , a aprovação de medidas

que fac i l itas sem a imp l ementaç ão d'o projeto continuí sta . O

chefe da nação argument ava que , d iante da persist ência da ameª

ç a comun i s ta , o momento p O l í t ico apre sentava- s e extremamente

d e l icado , podendo qualquer d i sputa ma i s acirrada dar novo a l eg

to a e s t e i n imigo comum. Tornava - s e preement e a união de tQ.

das a s forças p o l ít icas nac iona i s , com a e l iminaç ão dos pog

tos de atrito e x i stente s , ou pelo menos o adiament o de seu de

bate . Como um destes pontos era a própria sucessao , e nao hª

v i a constituciona lmente uma forma de e l iminá - l o da pauta po

l ít ica , deve r - s e - i a tentar a d i á - l a . Se a s forças s ituac ioni.§.

t a s concordaram com o adiamento , o mesmo nao aconteceu com a

minoria parlamentar opos icionista , que obrigou o governo a n�

gociar.

Vár ia s propo stas de acordo foram feitas durante o ano

de 1 9 3 6 , tendo o governo como int e r l ocutor a Frente Ú n ica Gag

cha - col igação opo s i c ioni sta formada pelo Partido Republ icª

no Rio-Grandense e o Partido Libertad or , e l íder do bloco da

minoria . A intrans igênc ia de parte a parte , contudo , imped iu

a efetivação de um pacto. Diante deste quad ro , o debate r�

crudes ceu , e com e l e a convicção d e que somente uma candidatg

r a ún ica , de consen so , que não d e s emboc a s s e num perigoso eg

frentamento entre os diversos pa rtido s , poderia garantir a

rea l i zação da suc e s são.

Acreditando ma i s uma vez poder intervir de forma deci

s iva neste proce s s o , e a pa r t i r de uma série de entendimentos


29

com Varg a s , a Frente Onica e l aborou uma fórmula de oito pontos,

com a qua l o pre s idente, pelo menos aparentemente, manifest-ª

v a - s e de acordo . A proposta previa a formação de uma comi�

sao mista compo sta pela opo sição e a s i tuação, comi ssão e s ta

que e l aboraria o programa de governo do próximo pre s idente.

Apenas após a e l abo ração do programa, e em data nao f ixada

previamente o suc e s s o r de Vargas seria e sc o l h ido .

A fórmula foi recusada por d e s tacádos l íderes oposi

cioni stas, como Artur Bernardes, do Partido Repub l icano

neiro, Roberto Moreira, do Partido Repub l icano Paulista, e Otsi

vio Mangabe ira, da Concentração Autonomista da Bahia . Esses

p O l í t i c o s arguméntavam que, ao ace itar a proposta, Vargas ti

n ha em mente fazer render a d i scussão em torno do programa , e


30
com isso adiar a decisão acerca do candidato. Vendo fraca�

sado o único meio que, em sua opinião, seria capaz de re so�

v e r o problema sucessório sem enf rentamentos, a Frente Onica se

d e s l igou do bloco oposicion ista, s endo seguida por represen

tantes de Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Paraná e

Rio Grande do Norte .

Ao mesmo tempo em que s e d i scutia a sucessao pre s iden

c ia l dava - s e iníc io à implementação de um plano e laborado por

Góis Mon teiro para a desarticulação de F lores da Cunha .

do pelo próprio Vargas que, a partir de 1 9 3 0 , necess itou fOK

mar fortes pó los de apoio region a l , Flores adquirira um gran

30
Sobre a s tenta tivas de · acordo n a pO l í t ica nac iona l ver
GRYNSZ PAN, Mário . Op . c i t o
30

de pe so na pOlítica nac iona l , tornando - s e a principal base d e

&ffitentação do pres idente . Seu partid o , o Republicano Libe ral,

des empenhou um importante pape l na Const ituinte , abrindo cami

nho para as propostas governamenta i s . Dotado a inda de uma

bem armada brigada e de numerosos corpos provi sório s , que con�

t ituíam um verdadeiro exército particular , o governador gag

cho repre sen tava uma cons iderável força mil itar . Muito cedo ,

contudo , Flores extrapolaria sua função de força aux i l iar do

governo , tentando influir sobre os rumos da po l ítica naciona l .

Foi marcante sua intervenção nos processos sucesSórios e s ta

dua i s durante o ano de 19 3 5 , buscando a e l e ição de seus ali�

dos . Também marcante revelou-se sua intromissão nos a s sun

tos m i l itare s , explorando e alimentando c i s õ e s no seio das fOL

ç a s armadas. Foi e l e , a inda , um dos principais re spon sáveis

pel a demissão do general Góis Monteiro do Mini stério da Guerra

em maio de 19 3 5 , substituído pelo general João Gome s .

A atuação po l ít ica de Flores terminou por gerar ar�

a s de atrito com o governo e o Exérc i to , de onde partiram as

i n i c ia t ivas para a s u a neutra l i z a ção . D i ante d is s o , o goveL

nador a s sumiu um comportamento cada vez mais agress ivo com o

governo fed eral e o Exérc ito , re forçando para l e l amente suas

próprias forç a s militare s .

O f in a l do ano de 1936 foi marcado , portanto , por i�

portantes mudanças tanto nos meios polít icos quanto nos mili

tares. Na pol ític a , as forças se r e a l inharam e trocaram de PQ

s ição de acordo com suas o r i entações e e s tratégica s , prepara!!

d o - s e para o emba te da suce ssao que se avizinhava . Já " pud�

mos ver a sa ída da Frente Única dOa s opos içõ e s , jun tamente com
31

outros e l ementos . Por outro lado , o governador pau l i sta AK

mando Sale s , até então a l i ado do governo federa l , d e s incompª

tibil izou - s e em dez embro de 19 3 6 , consol idando . uma candidatg

ra que aglutinaria a s forças contrár ias a Varga s . o Partido

Republ icano Paulista , também opo s ição aos governos e s tadual e

federa l , reagiu a esta candidatura e se a l inhou com o bloco

s ituac ioni sta ; e Flores da Cunha , por seu turno , as sumiu expli

c itamente uma postura oposic ion i s ta . Ao mesmo tempo , antigos

e f i é i s a l iados de Vargas , como Juraci Magalhães e Carlos de

Lima Cavalcant i , demonstraram s i n a i s de rebeld ia , nao conci

l iando com soluções continuístas .

Com relação aos meios mil itare s , d ive rsas substitui

ç o e s foram f e i ta s nos comandos do Sul vi sando a uma maior e fi

cácia na ação contra F l ores. Passo impo rtante neste sentido 'foi

dado com a substituição do min i s tro da Guerra João Gomes ,. re

ticente à intervenção no Sul , pelo general Eurico Gaspar Dg

tra , l igado a Góis Monte iro .

VARGAS E OS MILITARE S : A ARTICULAÇÃO DE UM NOVO PROJETO

�n�c�o a paK
. , .
Se a articulação da via golpista teve

tir de meados de 19 3 6 , um passo cruc ial n e s t e s entido foi dª

do com a reaproximação entre Vargas e o general Góis Mon te iro.

Nesse momento conf luíram d o i s pro j e t o s que , até então , corri

am para l e los: um d e l e s , v isando a cons trução de um Exército

forte , pro f i s s ional e nac iona l , e outro , apontando para a con2


. , .. '.. 3 1
e autor�tar�a
trução de uma nova ordem , ma i s central izada

31
D'ARAÓJO , Maria C e l ina Soares . Op . c it . p. 4 4.
32

Em meio às graves crises e con f l itos em que o Exé�

cito se viu envo l v ido a partir de 1 9 3 0 , conformou- se em seu

interior um mod e l o regulador de suas relações com a po l í ti

ca , d i s tinto dos que até então predominaram - o " neutra l i s ta " e

o " reformista " . Tais mode l o s haviam-se mostrado impraticáve i s

diante d a s circunstâncias pO l í t i ca s e a l tamente prejud iciais

à con s o l idação d a organ ização militar; enquanto a corrente

" re formista " , na sua vertente de e squerda , a l imentara clivª

gens vertica i s , pondo em xeque a hie rarquia , o que terminou

desembocando nas revo l t a s de 19 3 5 , a " neutra l i s t a " que t inha

como um dos seus representantes o general João Gome s , de fen

dera um total a i heamento da po l ít ica , po s s ib i l itando que se

f i z e s s e pre s ente a i n f luência de sagregadora de e l ementos eÃ

ternos n o seio d a instituição .

Para a nova visão que se conformava , e que tinha em

Góis Mon teiro seu principal e l aborador , a maneira de con s o l i

d a r a organização m i l itar s e r i a a sua " impermeabi l i z ação" em

relação à pO l ít i ca. Tal impermeab i l ização seria obtida eli

minando-se a pO l í tica d o meio socia l . Assim, este projeto po

l ítico intervencion i s ta - controlador , na acepção de José Muri

lo de Carva lho , não s e referia apenas aos a spectos internos da

e s trutura d a organização m i l i ta r , ma s também , e indisso luve.l

mente , ao próprio Estado e à sociedade como um tod o , apontan

do para a n e ce s s idade de uma ordem centra l i z ada , autor itária


. . - , . 32
e sem part 1c1paçao po11t1ca.

32
Sobre e sta questão ver CARVALHO , José Mur i l o de . Op.cit.
33

A hegemonia deste pro j e t o foi afirmada em meio a uma

dup l a batalha travada pelo Exérc ito : contra o comuni smo e


33
contra F l ores da Cunha . ° l evante comun ista serviu de base

para uma violenta inve stida no sentido da e l iminação d as prQ


,

postas altern ativas, mai s ide n t i f i c adas com a vertente " r e fo!:

m i s t a" de e squerd a . Por outro l ado, n a autên tica operaç ao de

guerra que foi movida contra F l o res d a Cunha, o grupo " n eutr§.

l i sta" acabou cedendo terreno para a corrente lid erada por

Góis Monte iro .

A nova visão de Exército e de sociedade encontrou

eco em Vargas, e no grupo que em torno dele se formava, tendo

à frente Agamenon Magalhães e Francisco C ampos . Para e ste gr!,!

po , o l iberali smo excludente defendido p e l as o l igarquias tor

nara- s e inviável diante do aumento das man i f e s t aç õ e s e das

pre s s õ e s r e al i z adas pelos diversos setores da sociedade. Era

prec i s o incorporar e s s e s novos autores, e sv az i ando o contéudo

pO l ít ico de suas re ivind i c ações, bem como e l iminar suas org§.

n i z aç õ e s mais rad i c ai s , de forma a manter em marcha, sem ab§.

l o s e sobr e s s altos, o processo de modern i z aç ã o . Para tanto,

consideravam necessário con s o l id ar um Executivo forte, com am

pIos poderes para intervir no sentido de corrigir rumos e qu�

brar r e s i s tê n c i as ; um Executivo au tônomo, e nao, tal como pr�

viéto pe l a Constituição de 1934, l imitado e contro l ado pelo

Leg i s l ativo . Este e r a v i s to d e forma bastante depre c i ativa,

compo sto por partidos incon s i s tentes, que lutav am por. int�

33
D ' ARAÚJO, Mar i a C e l i n a Soar e s . Op . c it . p . 9 .
34

r e s s e s pessoa i s , entravando o de senvol vimento da naç a o . Não

havia porque f icar s u j e i to a e l e s e nem mesmo porque mantê-

los.

o JOGO DA SUCESSÃO E A ELIMINAÇÃO DE ANTIGOS ALIADOS

A partir de meados de 1 9 3 6 , tornou - s e patente um movi

mento por parte de Góis e de Vargas no sentido de remover ob�


·
táculo s , tanto no Exército quanto na pO l ítica , v i s ando a cOQ

sol idação de um quadro favorável ao d e s fecho golpista . Evi

denciou- s e , neste proce s s o , a grande hab i l idade de Varga s ,

bem como seu conhec imento do s i stema o l igárquico , do qual

beria aprove itar - se aprofundando c i s õ e s e d ivergên cias regiQ

nais e explorando receios e antigas lea ldad e s , de forma a cOQ

s o l idar sua posição e minar a s que lhe eram oposta s . Fortal�

cer a l guma s l ideranças e e l iminar outra s tornou-se um ponto

fundamental para a r e a l ização daqu e l e pro j e t o . A l ém do Rio

Grande , as atenções de Vargas e de seus a l iados c ivis e mili

t a r e s se volta ram para Min as , s ã o Pau l o , Bahia e Pernambuc o , os

e stados p O l i t icamente ma i s impor tan tes no contexto .

A de sarticulação , a inda no seu nasc edouro , da candi

datura Antônio Ca r l o s , que vinha sendo impu l s ionada pelo gQ

yernador Flores da Cunha , foi bastante repre sentat iva desse ti

po d e ação do governo federa l . Varga s , em c o l aboração com o

governador mineiro Benedito Val adare s , promoveu em Minas uma

aproximação entre f.orç a s s i tuacion istas e setores da oposi

ção: de um lado o Partido Progressista - chef iado pelo gover


35

nador , e d o qua l Antônio Carlos era l íder n a Câmara Federal-

e de outro , e l ementos do Partido Republ icano Mineiro , como

Cri st iano Machad o , Bias Fort e s , Virgí l i o e Afrânio de Melo

Franco , D j a lma e Paulo pinh e i ro Chaga s e Pol icarpo Viotti.

Como resul tado desta aproximação , Antônio Car l o s , que

nao havia s ido con sul tado sobre o a s sunto , renunciou à l ide ran

ç a do partido na Câmara. o golpe de misericórdia foi dado

em 1 9 3 7 , quando .. por uma e s tre ita margem de voto s , Antônio

Carlos perdeu a presidência da Câmara para o também mineiro

Pedro A l e ixo , fortemente apoiado pelo governo federal. Com

e sta ação , Vargas con seguiu matar vários coelhos de uma so

ca jadada ; des f e r iu um v i o l ento golpe contra o l íder mineiro ,

s o lapando suas ba s e s estaduais e comprome tendo sua candidatg

r a que , pe l o trân s i to que obtivera em nível nacional ao s igni

f icar uma con tinuidade com 19 3 0 , e pela própria antecedên

cia com que vinha sendo trabalhada, poderia representar uma

ameaça ao pro j e t o continu í s ta , con st ituindo- s e num perigoso

pólo aglut inador de d i f erentes vertentes po l íticas; consoli

dou a po s ição de Benedito Valadares em Mina s , garantindo a s s im

um po s s í v e l apoio ao pro j e to em curso por parte daquele e s tª

do , peça fundamental n o j ogo de forças po l í t i ca s naciona i s ;

dividiu o Partido Republ i cano Mineiro e enfraqueceu a facção

l iderada por Artur Bernardes, que fora con trário a


,
. aprox imª

ç ã o com o Partido Progr e s s i s ta e , juntamente com a opo s iç ã o

baiana e parte d o Partido Repub l i cano Pau l ista , recusara - s e a


34
qualquer acordo com o governo federa l .

34
A respe ito do acordo mineiro ver GRYNSZPAN , Mário. Op . cit o
p. 6 1 - 5.
36

·Outro r e a l inhamento po l í t ico importante teve lugar em

são Paulo. Quando , em d e z embro de 19 3 6 , o governador pau l i�

ta s e des incompatibi l i zou do cargo , col ocando sua candidatura

à presidência da Repúb l ica na mesa de negoc iaçõe s , ocorreu um

duplo movimento por parte da cúpula pa lac iana ; por um lado ,

o governo federal tentou aproxima r - s e dos setores opo s ic io

n istas vinculados ao Partido Repub l icano Paulista e contrá rios

à candidatura do l íder do Partido Constituc iona l i sta Armando


35
Sa l e s , e por outro , buscou d e s e s tabi l i z a r aque l a candidatg

ra , e até mesmo impedir que · para e la converg isse uma per igQ

s a con junção de força s .

o min i s tro Agamenon Maga lhães e o governador Benedi

to Va ladares foram os e s c o lh idos por Vargas para executar esta

tarefa . o objetivo ma ior era neutra l iz a r o s governadores dos

dois e stados mais importantes do Norte , Jurac i Magalhãe s , da

Bah i a , e C a r l o s de Lima Cava lcanti , de Pernambuco . Na ve rdE

de , pouco tinham e s t e s governadores contra Armando· Sales que

j á demon strara à frente do e s tado de são Paulo ser um admini�

trador e fic iente. Acontec e , porém , que acreditavam que somen

te o consenso em torno de um nome que não contasse com a desª

provação de Vargas s e ria capaz de criar uma corrente irresi�

tível que garant i s s e a suc e s sao. E e ste nome não poderia ser

o de Armando S a l e s , em relação ao qua l o pre sidente emitia

claros s in a i s de r e j e iç ã o . Ac reditavam ainda ser pos s íve l ,

35
BRAND I , Paulo . Varga s da vida para a história . Rio de Ja­
mação de Va�
neiro , Zahar , 19 8 3 . p . 112 . Um exempl o da aproxi
ª
gas com o PRP é a nom � ação de Fernan do Costa para o Depart
mento Nac ion a l do Cafe .
37

naquele momento , que o Norte unido pud e s s e impor um nome r�


. . - . 36
presentat 1vo n a reg1ao

Revelaram- se , portanto , d o i s importantes e l ementos

que seriam explorados por Vargas para manter de sunidas as fOK

ças pO l í t ic a s : os fortes laços de lea ldade e de dependência

que uniam os estados nortistas ao governo federa l e as anti

gas rival idades entre Norte e Su l . A r e j e ição da candidatg

ra S a l e s por· Vargas e , em con s eqüência , o e s forço de seu car!i

ter opo s i c i on i sta , c o l ocavam sérios obstáculos para aqu e l e s

e stados do Norte , pO l í tica e economicamente ma i s fráge i s , e

que por i s s o mesmo procuravam ampliar suas prerrogativa s ,

buscando melhores po s ições sob a s a s a s do poder centra l . Ao

a l imentar a s e spe ranças d e lançar um nome nort ista , a c irr-ª.

ram- s e antigos r e s s entimentos regiona i s , inviabi l i zando de�

ta forma o apoio àqu e l a que era apontada como a candidatura

s u l i sta , antitrinta , e que repre sentaria ma i s uma vez a e s cra

vização do Norte ao Sul do país .

A part ir de j an e iro d e 1 9 3 7 de sencadeou - s e uma inte!!

sa movimentação das forças s ituac ion i stas no sentido de org-ª.

n izar uma grande convençao nacional que apontaria o verdadei

ro candidato de unidade à sucessao de Varga s . Tendo como

principal animador o governador Benedito Valadares , essas

facções procuravam ainda levar o pre s idente a um enga j amento

. deci s ivo no proce sso de sua sucessão . Este , contudo , t inha

outros planos e tentaria intervir no processo de forma a e !!

36
PANDOLF I , Dulce Chave s . O go lpe de 37 e a suces são pr e s i­
denc i a l : a candidat ura de Jose Amé rico de Almeida . Rio de
Janeiro , FGV/Cpdo c , 1 9 8 3 . p . 54 .
38

fraquec ê - l o e retardá- l o , procurando ganhar tempo .

o nome que vinha sendo articulado por Benedito Valª

dares como de unidade , e que terminaria sendo aceito , era o

do paraibano José Américo de Almeida . Baseava - s e tal opçao

no argumento de que , como " tenen t e " c ivi l , ele havia partic1,

pado ativamente da Revolução de 3 0 , a l ém de ser um represen

tante do Norte e ter boa pa s s agem junto à cúpula pa laciana .

Na verdade esta candidatura en frentaria a lgumas d i ficuldades ,

poi s José Américo encontrav a - s e a f a stado da pOl í tica havia

algum tempo e não tinha seu nome encabeçando a s l i stas de pr�

ferênc i a s dos principa i s governadores do Norte , como L ima

Cavalcanti - que por e l e nutria antigos ressentimentos - e J�

r a c i Magalhães - que priorizava o nome do s enador baiano Me

de iros Neto . o grau d e s s a s d i ficuldades pode ser auferido

pelo fato de que somente às vésperas da convenç ã o , realizado

a fi n a l em mai o de 1 9 37 , a candidatura de José Américo ficaria


. 37
acertad a , ape sa r dos intensos e s forços do governo para que

e l a não chega s s e a ocorrer .

Concomitantemente à s articulações pOl ít icas d e sencade

adas com vistas à suc e s s ã o pre s idenc ia l , Vargas vinha apertan

do o cerco em torno de a l guns focos regionais de r e s i s tên

cia ao continuísmo . Em Pernambuc o , o governador Lima Cava�

canti f o i acusado pub l i c amente de envo l v imento com o comuni2

mo , abr indo - s e em seu partido uma d i s s idência l iderada pe l o

min istro Agamenon Magalhãe s , com quem d i sputava a l iderança

no estado . Na Bahia começavam a c ircular boatos de que h av�

ria a l i uma intervenção federa l . No Rio Grande do Su l , o ge

37
Ibid . p . 4 7 .
39

neral Góis Monteiro preparava - s e para derrubar mili tarmente

o governador F l o r e s da Cunh a .

S e t a i s fatos reve l a ram- s e , por um lado , representª

tivos da esca lada do govern o , em estreita a l iança com o s seto

res mil itares , no sentido de e l iminar po sições que lhe eram

divergente s , ate staram também, por outro l ad o , sua fraqueza

pOl ítica e progr e s s iva des legitimação . Dentre as po sições

e l iminadas e stavam a l gumas que faz iam parte do bloco s itua


. ,
c ionista , ou pelo menos haviam feito . O pro j e to cont�nu�.§.

ta não contava com o apoio de expr e s s ivas força s pO líticas ,

avançando à custa da sua neutr a l ização ou de sua e l iminação .

O governo via desagregar-se lentamente sua f o lgada e obed iente

maioria . Na verdade , o Congre s s o já s e encaminhava para uma

açao mai s r e f l exiva e mesmo que stionadora , embora não chega.§.

se a negar a r e a l n e c e s s idade e a e ficácia das medidas propo.§.


38
tas pe l o governo . Diante de um t a l quadro , acirrado pe l a

questão d a intervenção n o R i o Grande , Getúlio foi obrigado a

um breve recuo .

A intervenção mil itar no Rio Grande do Sul foi marcª

da para maio de 1 9 37 . A execução do e s tado de guerra naquele

e s tad o , que até então coubera ao governador , foi tran s feri

da em abr i l para o comandante da 3 D Região M i l itar , general

Lúcio Esteve s . Forta l ec ido com a execução da medida , o gene

ral promoveu a desarticulação d e a lguns corpos provisório s ,

procurando enfraquecer o d i s po s itivo mil itar d o governo e stª

dua l . Para aux i l i a r na intervenç ão , em virtude da dimensão

dos contingentes controlados por Flores em r e l ação às força s

38
D ' ARA6JO , Maria C e l ina Soares . Op . c it . p . 5 5 - 8 .
40

federais loca l i z adas no e s tad o , bem como da quantidade e da

qua l idade d o material b é l ico d e que d i s punh a , Lúcio Esteves

requisitou a Brigada M i l itar de Minas Gera i s . Por três rª

z oe s , no entanto , o pl ano terminou não s e e fetivando . A pri

meira d e l a s foi a recusa de Benedito em ceder a sua brigad a ;

t a l recusa relac ionava - s e com a questão suc e ssória , pe l a qual

o governador vinha de fato trabalhando , mas em relação à qual

temia - s e não haver um rea l intento do governador em levar adi

ante . Portanto , a l ém de negar - se a ceder a brigada , o governª

dor , sentindo-se forta lecido , começou a conclamar as forç a s

pol íticas para que participa s s em d a convenção naciona l , con fi�

mando sua r e a l i zação para 25 d e maio . Sem a brigada mineira ,

a intervenção no Sul tornava - s e uma perigosa aventura , a inda

mai s tendo em vista o fato de que - e e sta e a segunda razao


,

para o fraca s s o do plano - o próprio comandante da 31 RM , em

bora vie s s e neutra l i zando a s forças mil itares de Flores da

Cunha mostrava - s e reticente quanto à ação d ireta contra o gQ

vernador . Segundo o general Lúc io E s teve s , o Rio Grande nao

representaria uma ameaça se contra e le o governo central nao

atentasse e se fosse mantido o c a l endário e l e itora l com a


39
d ecorrente pos s e do s e I e1to
· s. A terceira razao foi o vazª

mento de informações sobre os planos de intervenç ã o , informª

ções e stas que foram amplamente divulgadas na Câmara dos Depy

. tados pelo gaúcho Ascânio TUbino , representante do Partido R�

pub l icano Libera l , gerando fortes repercussoes .

39
Ibid .
41

Diante d i s s o , o governo federal v i u - s e obrigado a recu

a r· não somente em seus intentos intervenc ionistas no Sul , mas

também na proposta de adiamento da convenção naciona l , e a

promover uma abertura no ambiente pO l í tico .

Entre abri l e ma i o de 1 9 3 7 o processo suc e s sório se a

f i rmou , sendo lançado o f i c i a lmente três nomes a sucessao de


,

Varga s ; Armando de Sales O l iveira , indicado em convençao do

Partido Constitucion a l i s ta , recebeu o apoio do Partido Republi

cano Libera l , che f i ado pelo governador F lores da Cunh a , e de

diversos agrupamentos e s tadua i s opo s ic ionista s , destacando-


I
s e entre e l e s a Conc entração Autonomista da Bahia , l idérada

por Otávio Mangabeira , tendo obtido ainda a adesão de uma pa�

te minoritária do Partido Repub l icano Pau l i sta , r e s i s tente a

uma aproximação com Varga s ; José Américo de Almeida , a c l amado

na convenção naciona l , à s exceções de são Paulo e Rio Grand e ,

conseguiu praticamente o apoio o f i c i a l d e todos os partidos

pOl íticos s ituacioni sta s ; e P l ín i o Sa lgado , chefe do movimento

integral ista , c u j a candidatura f o i c o n f i rmada em plebi scito

rea l i zado pela Ação Integr a l i sta Bra s i l e i ra ; de perfil ideo lQ

gico n i t idamente de finido , e s ta cand idatura nao recebeu a ad�

são de n enhuma outra agremiação partidár ia .

A candidatura José Américo de Almeida , apesar de iden

t ificada com a s forç a s a l inhad a s ao governo federa l , em nenhum

momento obteve o apoio de Vargas que , ao contrário , fez o po�

s ível para e sv a z iá - l a , conf igurando um quadro pOl ítico ambí

guo . Em certo sentido , a s candidaturas de Armando de Sa l e s e

d e José Américo revest iram- se de um caráter opos ic ionista , uma

vez que ambas , ao aspirarem suceder Getú l i o na pre s idênc i a ,


42

representavam a negaça o de seu pro j eto continuísta . Quan

to à candidatura P l ín i o Salgado , a s ituação era bem d i ferente ;

sua pregação anticomun i s ta fac i l itou a ação do . chefe do gove];:

no . Consultado previamente sobre o golpe , P l ínio nao so con


,

cordou , como chegou a di scutir a inserção da AIB no novo regi


.
me que ser1a .
1mp 1 anta d o . 4 0

Pouco tempo após o lançamento das candidaturas , o pag

l ista José Carlos de Macedo Soares f o i convocado para ocupar

a pasta da Justiça , que vinha sendo acumulada pelo mini stro

do Trabalho Agamenon Magalhães . A frente do ministé�io , Macg

do Soares recebeu carta branca para suspender o e stado de

guerra , medida que vigorava no país desde 1 9 3 6 , nao


enviando
,
ao Congresso novo pedido de renovaç ao . Nesse rastro foram so�

tos d i versos presos po l íticos , entre os qua i s parlamentare s .

Obrigado a recuar , reforçando o seu lado d i stens ivo , o gove];:

no decidiu abandonar o pro j eto golpista .

Em meio ao momentâneo c l ima de abertura pol ítica , a

campanha e l e itoral avançou , observando - s e ao mesmo tempo . um

e svaziamento do proce s s o e l e itora l . A própria candidatura

s i tuacion i s ta foi perdendo gradativamente sua con s i s tênc ia .

Na d i s puta pelo e l e itorado , José Amé r ico , procurando marcar

sua d i ferença em relação a Armando S a l e s , que se apresentava

como opo s iç ã o , pa s s ou a sustentar um d i s curso ma i s rad ical

que seu concorrente e com um forte apelo popu l ar , fruto de sua

herança tenen t i s t a . Além d e s s e a specto , sua exc e s siva preQ

cupaçao com o Norte levou a um des locamento progr e s s ivo das

forças que o apoiavam . O próprio Benedito Valadare s , que. havi

a garantido o lançamento do candidato e a rea l i z ação da conven

40
Ibid . p . 87- 8 .
43

çao naciona l , tornou- se , a partir d e fins d e s e tembro , um d�

fensor da idéia d a r e t i rada das candidaturas e da neces s ida

de de uma re forma con s t i tucional visando a prorrogaçao dos


41
mandatos .

A CONSOLIDAÇÃO DO GOLPE

Importantes mudanças foram e f e tuadas nos comandos mi

l itares a partir de j unho de 1 9 3 7 , neut r a l i zando d e forma e fi

caz o s ú l t imos focos de res i s tência à intervenção no Sul e ao

golpe . O general José Pessoa que , j untamente com Valdomiro

L ima , mostrara - s e contrário ao pro j eto intervenc ionista , foi

substituído n o cargo d e inspetor do comando do Di strito da A r

t i l haria de Costa . Valdomiro Lima f o i preterido na chefia do

Estado-Maior do Exérc i to em favor d e Góis Monteiro . o gen�

r a l Lúc io Esteves , por sua vez , foi substituído pe lo genera l


42
Daltro F i lho n o comando da 3 a Região M i l i ta r .

N o mês de setembro d o mesmo ano , inexplicável mas s ig

n i ficat ivamente , o governo r e a l i z ou antec ipadamente as cer imQ

n i a s r e l a t ivas à intentona comun i sta . Alguns dias depo i s , o

Min i stério da Guerra d i vu lgou o famoso " Plano Cohen - documeg

to for j ado que r e l atava a preparação d e uma nova ofens iva CQ

mun i s t a , com ba s e no qua l o governo pediu ao Congresso o reto�

41
PANDOLFI , Dulce Chave s . Op . c i t o p . 9 0- l .
42
D ' ARAÚJO , Maria C e l ina Soare s . Op . c it . p . 7 8 - 9 .
44

no ao e s tado de guerra .

O novo pedido de decretação do estado de guerra foi

fortemente bombardeado pelos setores oposicion ista s , que eram

minoria no Congr e s s o . E s s e s setores conte stavam as evidên

c ia s de que r e a lmente houv e s s e uma ameaça subve rs iva , associan

do o novo pedido a uma tentativa do governo de imped ir a r e a l i

z a ç a o das e l e i ç õe s . Ape sar da expre ssividade das forç as po l í

ticas de opo s i ç ã o , ident i f icadas com a candidatura Armando de

Sa l e s , e ape sar de , mesmo entre o s setores cons iderados situª

cioni sta s , haver um grande número de e l ementos contrários ao

continuísmo e ao golpp. , o pedido foi aprovado . Não foi o temor

ao comun ismo que motivou e s s e comportamento , e sim o temor ao

mil itarismo ; pairavam sobre o Congre s s o pe sadas ameaças de

que , caso a medida não fosse aprovad a , o Exército o fecharia .

Insta lou- s e , portanto , um processo em que as força s

contrárias ao continuísmo , cedendo constantemente para evitar

o pior - primeiramente o comunismo e depo i s a intervenção

m i l i tar - f a c i l itaram a ação de Varga s , açao e sta que terminª

ria por se voltar contra aque l a s mesmas forç a s . Dessa forma ,

até fins de outubro não se man i f e staram sérias r e s i stências

ao pro j eto golpista . De acordo com instruções de Benedito Va

ladare s , o deputado mine i ro Negrão de Lima saiu em missão

pe l o s estados do Norte e Nordeste , à s exceções de Bahia e Pe�

nambuco , para comun icar o que e stava para acontecer e pedir ª

peio . Nos e s tados po l i t icamente ma i s fracos , o suc e s s o da mi�

são foi tota l .

Bahia e Pernambuco encont ravam- s e acuados d iante de

uma ameaça d e intervenç ão . Em são Paulo , enquanto as forças


45

anMn d i s t a s protestavam, o governador Cardoso de Melo Neto , que

vinha adotando uma pO l í t ica de gradativo a l inhamento com o gQ

verno federa l , terminou concordando com a propo sta de mudança

do regime . No Rio Grande , Flores renunciou ao governo depo i s

de s e ver cercado e perde r o controle sobre a Brigada Militar

gaúcha . N a real idade , dos e s tados ma i s for te s , apenas Minas

Gera i s partic ipou d i retamente das articulações golpistas .

Em 1 0 de novembro de 19 3 7 , o Congre s s o foi cercado por

tropas da POlícia M i l ita r . No mesmo d i a , Vargas anunciou à nª

ção o início de uma nova era e apresentou a nova Constituição

e laborada por Franc isco Campos .

REMONTANDO O QUEBRA-CABEÇA

Se a açao de Vargas ao longo d e s t e proc e s s o foi no sen

tido de desarticular os obstáculos que se int erpunham em seu

caminho , quer f o s s em oriundos da opo s i ç ã o , quer da própria s i

tuação , é importante lembrar que ta l ação nao se desenvolveu

de forma contínua . Durante seu percurso , a r e s i s tência foi

sign i f ica t iva , forçando Getúl io por vezes a paradas e mesmo re

cuo s .

Concordar com a adoção de mescan i smos intervencioni2

tas , repress ivos e autoritários não s ignif icou necessariamen


. ,
te ace�tar o pro J e t o golp� s t a , ou mesmo o cont�nu� smo de Var
. . '

g a s por via lega l . O governo jama i s conseguiu o apoio e s sen

c i a l de d o i s terços do Congresso para reformar a Cons t i tuição

e prorrogar o mandato pres idenc ia l .


46

Entre o s membros d a s e l ites pO l í ticas contrárias à SQ

lução continuísta , dois tipos de comportamento permeavam tanto

a s ituação quanto a opo s ição : um ma i s conc i l iador , que acr�

ditava poder comprome ter o pres idente com o processo e l e itoral

e outro ma i s contestatório . Entretan to , a ausência de uma prQ

posta democrática e de um pro j e t o l iberal ma i s cons istentes

entre o s vários segmentos das e l i te s , quer fossem representan

tes das facções tenenti sta s , das o l igarquias dis s identes ou

dos setores derrotados em 3 0 , contribuiu para o fechamento do

regime , apesar das d i ferentes táticas por e le s adotada s . I s so

pôde ser percebido ao longo dos d iversos momentos do período

pós 3 0 . Logo em seguida à revoluç ã o , man i fe stou- se uma forte

tendência para s e manter o regime d i s c r ic ionário como cond ição

e s senc i a l para a consol idação das re formas pO l íticas e soci

ais . Na fase con s t i tuc ion ã l , quando o movimento popular ganhou

maior expressão , parc e l a s igni ficativa da c la s s e pol í tica ,

temerosa , de fendeu med idas repre s s ivas e de smob i l i zadora s . Na

campanha presidenc i a l de 3 7 , e s s e s l imites também se tornaram

bastante evidente s . Desde o s primeiros instantes em que se


,
candidatura un l.ts.
. .

insta lou o debate suces sório , a propo sta de

ria foi co locada como cond ição e s senc i a l para a real ização d a s

e le içõe s , com b a s e n a j u s t i f icativa d e que o Bra s i l , face aos

constant es con f l itos interno s , não poderia suportar uma acir

rada d i sputa e le itora l .

Cabe a inda ressa ltar que , s e o golpe de 10 de novembro

de 1 9 3 7 se v o l tou contra os setores extremistas e contra

o s agrupamentos opo s ic ionista s , e l e também a t ingiu aque l a s

e l ites s ituac ionistas que , sem que s t ionar a proposta venc edQ
47

ra e m 1 9 3 0 , apenas s e contrapuseram a o continuí smo de Vargas

como a única s o lução para superar os impa s s e s vividos pela nª

ção . Na verdad e , o golpe repres entou ma i s um importante momen

to do proc e s s o de depuração d a s e l ites que se tornou perceQ

tível a partir de 3 0 .

o confronto entre " t enente s " e o l igarquia s , por s i s ó ,

foi respon sável por d iversos a l i j amentos nos instantes que se

seguiram à revolução . Já na d i s puta pe l o s cargos ,


, .
varl.OS e l�

mentos foram expe l idos . Este processo se aprofundaria nos con

f l itos desencadeados pelo debate em torno da manutenção do r�

gime d i scric ionário ou da cons tituc ional ização do pa l. s .


,

s im , com a Revolução de 1 9 3 2 , novos rearran j o s ocorreram , tan

to nas e l ites c i v i s quanto nas m i l itare s . Os derrotados ,

entre o s qua i s a lguns setores revoluc ioná rios de 3D, foram

momentaneamente a fas tado s , ao mesmo tempo que abr iu-se no ExéI

c ito a oportunidade para uma renovaçao na cúpula que po s s ibi

l itou a e l iminação de antigos o f i c i a i s a a scensao de novo s .

Para expr e s s ivos segmentos tenentista s , a cons titucional ização

do país. representou a própria fa lência dos idea i s revolucioná

rios . Não foi por outra razão que vários d e l e s abandonaram a

pOl í t ica ou partiram para formas radica i s de contestação ao re

gime . Também a s suc e s sões e s taduais representaram um momento

privi leg iado para a rotatividade das e l ites .

Com o levante comun i sta de 1 9 3 5 , ao mesmo tempo em que

antigos revoluc ionários foram marg ina l izados por adotar uma

postura radica l , Vargas conseguiu o apoio de parc e l a s igni f i

cativa d a c l a s s e po l í t ica para a implementação de medidas · ma i s


.
centra l i zadora s e autoritárias . Concomitantemente a adoção
48

d e s s a s medidas insta lou- se o debate suc e s s ório , provocando nQ

vos real inhamentos e o a l i j amento de outros atore s . Finalmen

te , a intervenção no Rio Grande do Sul apro fundou a depuração ,

e l iminando importantes segmentos c i v i s e m i l itare s .

Ao término d e s s e proce sso , vários dos antigos e fiéis

a l iados d e 3 0 ficaram margin a l izados po l i t icamente . Entre

e l e s vamos encontrar nomes como o s de F lores da Cunha , Juraci

Magalhãe s , Carlos de Lima Cava l c anti , Antônio Carlos Ribeiro

de Andrada , Raul P i l l a , Lindo l f o C o l l o r , Antunes Mac ie l ,

José Américo de Alme ida , Artur Bernarde s , Juarez Távora , Migue l

Costa e Pedro Ernesto . As articulações gOlpistas foram coman

dada s , a l ém de Varga s , por Góis Monteiro , Eurico Dutra , Francis

co Campo s , Agamenon Magalhã e s , Benedito Va lada re s , Fi l into Mü�

l e r e Negrão de Lima . A l inha de frente do golpe nao foi a

mesma da Revolução de 30 .

Deve-se r e s s a l tar , f ina lmente , que este traj eto nao

foi percorrido de forma l inear . A f im de s e manter a frente


,

do processo pOlí tico , Vargas teve que redefinir constantemen

te seus e squemas de a l ianç a . Os suc e s s ivos a l i j amentos e reª

l inhamentos não decorreram todavia de um plano previamente

e s tabe lec ido , mas s im das necessidades que se apresentaram a

cada con j untura em função da lenta maturação da pauta de

prioridades do regime .

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