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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE

CURSO DE PRODUÇÃO CULTURAL

Vitor Cividanis Patueli Corrêa Lima

Resenha crítica sobre os textos: Falando em línguas; Maria e Morta pelo


marido em parceria com o Estado.

Rio das Ostras, novembro de 2020


Os textos, já no primeiro momento, se apresentam carregados de um
trauma social. Suas abordagens, embora diferentes, se complementam na
temática. A constante repressão sofrida por mulheres negras na sociedade
preconceituosa, machista, sendo retratada sem abordagens imagéticas, é o que
torna tudo mais impactante. Estes, são carregados das experiências cotidianas
de traumas e lutas dentro de uma sociedade intolerante.

Em ‘’Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do


terceiro mundo’’, a aproximação com o leitor se dá a partir das vivências da
escritora, e a necessidade da mesma, de demonstrar empatia e
comprometimento com a realidade de outras escritoras do mesmo universo.
Durante todo o corpo textual, Gloria Anzaldúa descreve as incessantes
opressões e violências vivenciadas rotineiramente, e como isso influencia em
sua literatura. É ressaltado em todo momento que escrever é importante, pois
transformar os sentimentos em palavras, é um ato de força e coragem,
provocando assim um choque e transformação à sua volta. A mesma, demonstra
isso no trecho:

‘’Escrever é perigoso porque temos medo do que a


escrita revela: os medos, as raivas, a força de uma mulher
sob uma opressão tripla ou quádrupla. Porém neste ato
reside nossa sobrevivência, porque uma mulher que
escreve tem poder. E uma mulher com poder é temida.’’
(1981, p. 171-172).

‘’Maria’’ já possui uma abordagem diferente. A história é contada a partir


de um narrador em terceira pessoa, demonstrando o cotidiano da personagem.
Inicialmente, parece ser um texto brando, apresentando traços da humilde vida
de Maria. Seu trabalho, família, relacionamentos. No entanto, a situação muda
drasticamente para um cenário conturbado e o contexto torna-se impactante
para o leitor.

A personagem encontra seu ex-marido no ônibus, e senta junto com o


mesmo. Conversam sobre o passado e suas situações atuais. Então, ao finalizar
a conversa, o sujeito, junto com outros indivíduos, realizam um assalto roubando
todos naquele espaço. Entretanto, Maria é a única que sai ilesa daquela
situação. Percebendo essa cena, todos ali presentes começam a questioná-la e
acusa-la de participação indireta com o ocorrido. O motorista tenta defende-la,
alegando que a mesma pega o transporte todos os dias naquela mesma hora.
Entretanto, já era tarde demais. Os passageiros já tinham agredido Maria, que
nessa hora, já teria dado seu último suspiro.

‘’Morta pelo marido em parceria com o Estado’’ possui uma abordagem


semelhante à ‘’Maria’’. O texto retrata sobre uma situação infelizmente
recorrente, a banalização ou omissão por parte Estatal sobre situações de
violência contra a mulher. Isso fica explícito, pois, os vizinhos, ao perceberem
que uma mulher estava sendo agredida pelo marido em sua casa, telefonam à
polícia para resolverem tal situação. As ligações se fundem umas as outras,
totalizando um número expressivo. Entretanto, a reação da agência policial foi
imparcial e desumana. Dessa forma, resultando mais um caso de homicídio
noticiado.

Em suma, apesar das abordagens serem distintas, os textos possuem


uma expressiva compatibilidade. Suas temáticas são chocantes, mas também
necessárias. Buscando a todo momento demonstrar a realidade social em que
as mulheres estão inseridas. A reflexão a partir da leitura dos mesmos se faz
necessária, internalizando essas situações que, na maioria das vezes, não
possuem a atenção necessária. Dessa forma, por serem produções realísticas,
retratando experiências diárias, a leitura torna-se impactante e transformadora.
REFERÊNCIAS
ANZALDÚA, G. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do
terceiro mundo. This bridge called my back: writings by radical women of
color. Nova Iorque: Kitchen Table, p. 165-174. 1981.
EVARISTO, C. Maria. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação
Biblioteca Nacional, p. 39-42. 2016.
MELO, P. Morta pelo marido em parceria com o Estado. Mulheres empilhadas.
São Paulo: LeYa, p. 136-137. 2019.

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