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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE

CURSO DE PRODUÇÃO CULTURAL

Vitor Cividanis Patueli Corrêa Lima

Conflitos de Direitos Autorais na produção de conteúdo audiovisual na Internet

Rio das Ostras, novembro de 2020

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Vitor Cividanis Patueli Corrêa Lima

Conflitos de Direitos Autorais na produção de conteúdo audiovisual na Internet

Projeto de pesquisa científica apresentado ao


Programa de Graduação em Produção Cultural na
Universidade Federal Fluminense de Rio das Ostras.

Rio das Ostras, novembro de 2020


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Sumário

1. Resumo..................................................................................................................04

2.Justificativa..............................................................................................................04

3. Objetivos

3.1. Geral..............................................................................................................04

3.2. Específicos....................................................................................................04

6. Referencial Teórico................................................................................................05

7. Referências ...........................................................................................................11

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1. Resumo

Esse texto possui o objetivo de explorar as confusas temáticas relacionadas aos


embates no campo dos Direitos Autorais na produção de conteúdo audiovisual para a
Internet. O principal enfoque da pesquisa, é trazer reflexões sobre os desafios
enfrentados pelos produtores quanto ao uso de materiais de terceiros como
ferramenta de apoio em suas produções.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Autoral. Produtores de Conteúdo. Audiovisual. Internet.

2. Justificativa
O avanço tecnológico possibilitou a exploração do campo digital, complexificando
ainda mais os conflitos relacionados aos direitos de propriedade intelectual das
produções digitais. Diariamente, são noticiados conflitos envolvendo grandes
plataformas como Youtube, Twitch e suas políticas de Direitos Autorais para criadores
de conteúdo. E apesar da grande evolução computacional e legislativa, ainda existem
lacunas que precisam ser exploradas e solucionadas. Portanto, a escolha do tema
torna-se justificada, haja visto a amplitude da problemática.

3. Objetivos
3.1 Geral
A pesquisa possui o objetivo de proporcionar reflexões sobre os principais conflitos no
campo dos Direitos Autorais na produção de conteúdo audiovisual para a Internet. A
abordagem substancial está pautada na constante questão que, no século XXI, ainda
permanece indefinida: as políticas de Direitos Autorais, referindo-se às grandes
plataformas, para produtores de conteúdo audiovisual quanto a utilização de materiais
de terceiros como instrumento de apoio. Ademais, a pesquisa também visa
demonstrar algumas resoluções, ainda em implementação, para que esses conflitos
possam ser reduzidos e solucionados.

3.2 Específicos

São objetivos específicos deste projeto de pesquisa:


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• Explicitar a construção e importância dos Direitos Autorais na lógica de
propriedade privada e intelectual.
• Analisar a aplicabilidade das leis de Direitos Autorais na Internet, e como elas
influenciam no campo abordado.
• Explicar os conflitos existentes na temática produtores de conteúdo x
plataformas.
• Apresentar legislações internacionais emergentes, relacionando-as com o
cenário nacional.
• Demonstrar futuros caminhos e implementações no cenário de produção
audiovisual no meio digital.

4. Referencial Teórico
O referencial teórico dessa pesquisa baseia-se em autores que abordam temáticas
cruciais para compreender a problemática. Desde os princípios da construção
legislativa dos Direitos Autorais, até as projeções futuras que estão inseridas nesse
campo. Autores como Plínio Martins, Alexandre Tavares, Paloma Mendes, norteiam o
desenvolvimento do texto. Seus respectivos campos de pesquisa se conectam,
apesar de serem metodologicamente diferentes. Retratar as mudanças do campo dos
Direitos Autorais com o advento da Internet, a chamada era informacional, é um fator
amplamente debatido pelos mesmos. Dessa forma, essas questões tornam-se de
suma importância para a concretização desse projeto de pesquisa.

Introduzindo a temática, Martins possui análises substanciais. Visto que, o autor


explica toda a base para o surgimento das leis de Direitos Autorais, trazendo o
contexto histórico e social para embasar o conteúdo. Até em torno dos meados do
século 18, as produções artísticas eram vistas como material complementar da
existência humana, e a comercialização das mesmas, considerado um absurdo,
insensatez. A relação entre autor e editor, por exemplo, se dava por maneira
aficionada, uma relação de favores. Progressivamente, essa mentalidade foi se
transformando, até atingir ao gral de profissionalização. A partir desse ponto, visou-se
garantir os direitos sobre as produções intelectuais. Dessa forma, implantava-se, na
Inglaterra, o primeiro projeto de leis de Direitos Autorais, o Copyright Act, em 1790.

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Que garantia, por 21 anos, a intocabilidade em cópias impressas de livros e matérias
produzidos.

No Brasil, foi somente em 1993, que a lei de direito autoral foi regularizada (Lei 5 988).
Sendo a versão, atualmente vigente, empregada em 1998. Garantindo direitos
autorais também na Internet, inclusive, para softwares -programas de computador-.
Atualizando a legislação anterior, a Lei 9 610 discorre em seu Art. 1º ‘’Esta Lei regula
os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os
que lhes são conexos.’’ Regulamentando também, no Art. 5º, a definição de tópicos
essenciais para a construção desse projeto legislativo. Nesse aspecto, foram
abordados: ‘’transmissão ou emissão, retransmissão, distribuição, comunicação ao
público, reprodução, contrafação, obra (em co-autoria, anônima, pseudônima, inédita,
póstuma, originária, derivada, coletiva, audiovisual), fonograma, editor, produtor,
radiodifusão, artistas intérpretes ou executantes’’.

Com o advento da Internet, demasiadamente a partir dos anos 2000, novos caminhos
e mercados passaram a ser explorados. Dessa forma, acarretando desconhecidos
desafios. O principal deles, encontrar uma forma precisa de identificação de cópias e
reproduções não autorizadas, e como solucioná-las legalmente. A amplitude do meio
digital, vasta quantidade de sites e informações, provoca a intensificação dos conflitos.
Na maioria dos casos, a legislação ainda é inconsistente, dificultando o controle das
reproduções de materiais de terceiros. Toda essa problemática, seria resolvida caso
existisse um intermédio entre autor e editor/ consumidor. Para que isso aconteça, a
elaboração de um canal sólido para requerimento de autorizações, é um rumo
pautável.

Todavia, apesar de toda divergência, é necessário pontuar que as leis de Direitos


Autorais na Internet funcionam da mesma forma que no mundo físico. Garantindo
todos os direitos ao autor sobre a obra produzida. Cabe ao mesmo, a autorização de
reprodução, física ou digital. Seja qual for a natureza da obra original, será protegida
de usos indevidos. Isso não quer dizer, que a partir dessa colocação, as infrações são
interrompidas. Inúmeras alternativas são criadas para fugir do controle legal. Criação
de novas plataformas para reprodução ilegal de obras com Copyright, programas
utilizados para manipulação de imagem, áudio, vídeo ou até mesmo, a reprodução
direta, por insuficiência de informação e/ou descaso à legislação vigente.

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Problematizando a temática, Tavares e Mendes trazem outro tipo de debate. As leis
de Direitos Autorais na produção de conteúdo para a Internet. Aqui, eles abordam
tópicos como o recente desenvolvimento da cibercultura, e como a legislação age
sobre tal meio. Demonstrando todos os conflitos existentes entre o direito de
propriedade intelectual e os criadores de conteúdo. Nesse interim, os autores citam
episódios importantes para embasar o estudo:

‘’Com essa ampla possibilidade de comunicações, a internet


permite que cada um lance suas opiniões, expresse suas opções
artísticas, obtenha informações de seu interesse e crie algo.
Justamente nessa última possibilidade, a de criar algo que esteja
afim, é que podem residir problemas com limitações impostas
pelo próprio sistema.’’ (2017, p. 34).

O ramo de criação de conteúdo para a Internet, possui um tipo de liberdade que


poucas áreas igualitariamente também possuem, entretanto, encontra limitações
quanto a essa mesma liberdade. Nesse meio digital, qualquer tipo de expressão é
válida -desconsiderando feitios de irracionalidade, propagação de ódio, preconceito e
violação de regras básicas-. Por causa desse canal de expressão amplo e
democrático -desconsiderando a abordagem política sobre tal adjetivo-, uma
demasiada quantidade de indivíduos, atualmente se sustenta a partir da Internet.
Plataformas de vídeos e streaming como Youtube, Twitch, Tik Tok, Facebook Gaming,
abriram novas possiblidades no mercado de trabalho. De tal maneira, que influenciou
até mesmo empresas e ou/ pessoas físicas, a migrarem integralmente ou expandirem
seus negócios para o meio digital.

Durante um período relativamente grande, esses sites/ aplicativos nunca deram a


devida importância às leis de Direitos Autorais. Entretanto, por volta de 2015, quando,
primordialmente, renomadas gravadoras e emissoras de TV fizeram pressão nessas
mesmas plataformas quanto a utilização sem permissão de seus materiais, suas
políticas de Copyright foram radicalmente modificadas. A partir desse ponto, criadores
de conteúdo foram restringidos de diversas formas. O exemplo mais brando, é a
restrição de gerar receita -monetizar- os minutos em que utilizou material de terceiros
ou até mesmo o vídeo na íntegra. Entretanto, chegando aos níveis mais radicais,
acrescentam-se os conhecidos strikes, ou a exclusão do canal ou conta de usuário.

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Para quem produz material para a Internet, o conceito de strike está bem definido. No
entanto, para a população geral, ainda restam dúvidas de sua definição e implicação
quanto aos Direitos Autorais. O strike é um aviso de direito autoral, utilizado pela
plataforma, como um caminho de penalizar o produtor que utiliza material de terceiros
sem possuir os direitos de reprodução. Nestes sites, e primordialmente no Youtube,
com o acúmulo destes avisos, caso haja interesse do detentor daqueles direitos, a
exclusão do canal/ conta é pautada. Dessa forma, demonstrando a falta de
sensibilidade por parte das políticas de comunidade da plataforma. A ausência de
ferramentas que possibilitem o requerimento de autorização, sejam eles pagos ou
não, é um fator determinante para a amplificação dos conflitos.

Existem alguns exemplos concretos que podem ser usados como material de apoio
para embasar este tópico. Um dos mais impactantes e recentes embates sobre
direitos autorais no Youtube, é o caso do youtuber Douglas Mesquita ‘’Rato
Borrachudo’’. O criador de conteúdo, que possui mais de 3.5 milhões de inscritos e
trabalha há mais de 10 anos na plataforma, revelou que o canal poderia ser excluído
por motivos de strike. Segundo uma matéria realizada pela SBT, em 2020, ele explica
que as acusações foram direcionadas à utilização de um vídeo de poucos segundos,
inclusive, de outro youtuber, em uma produção própria. Entretanto, o mesmo alega
que o dono dos direitos autorais utilizou dessa ferramenta para aplicar não só 1, mas
4 strikes, concluindo em um possível banimento do canal. Dessa forma, Douglas foi
se manifestar nas Redes Sociais e pedir ajuda e mobilização do seu público.

Neste interim, graças à ajuda popular e acatamento à indenização monetária ao


detentor dos direitos sobre o material reproduzido, os strikes foram extinguidos.
Apesar disso, pode-se analisar as políticas de comunidade da plataforma como
maléfico a curto e longo prazo. É indiscutível se a lei de Direitos Autorais é correta ou
não, porque esta já foi definida como necessária para proteção da propriedade
intelectual. Entretanto, a forma de aplicabilidade da mesma por parte dessas
plataformas, é o atual problema. Analisando mais profundamente, o Youtube perderia
um canal com mais de 3,5 milhões de inscritos, que gera lucros mensais exorbitantes,
pelo simples fato de sua ferramenta entregar esse poder de strike direto, sem algum
tipo de monitoramento.

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Por consequência desses conflitos vigentes, novos projetos ou tentativas para
mudança desse cenário estão sendo pautados. Destaca-se, nesse sentido, o Artigo
13, aprovado em 2019 pelo parlamento Europeu. A definição mais concreta, está
pautada em um conjunto de medidas visando fornecer maior controle sobre as leis de
direitos autorais para a criação de conteúdo na Internet. O objetivo do mesmo, não é
criar legislações inéditas, e sim aperfeiçoar as já existentes, como forma de garantir
sua perpetuação. A princípio, este artigo tem como objetivo garantir as propriedades
intelectuais. Entretanto, na íntegra, o texto oficial provocou um choque nos
consumidores médios, produtores de conteúdo e plataformas de vídeo e streaming.
Segundo a pesquisa realizada em 2019 pelo G1, ‘’Usuários e empresas de tecnologia
afirmam que a medida vai tolher a liberdade na rede‘’.

O principal argumento defendido, é que o novo ‘’filtro de upload’’ corta qualquer tipo
de manifestação, mesmo as que não possuem intuito de ganhos, monetização. O
quesito mais problemático, é que estas medidas ‘’jogam a responsabilidade sobre
violações de direitos autorais para as plataformas, como o Youtube’’. Dessa forma,
cada site de vídeos estaria responsável por filtrar os conteúdos postados, para assim
garantir que as violações de direitos autorais sejam inexistentes. Ação que, já é
implantada por estas plataformas e que já havia demonstrado falhas, por suas
respectivas condutas e políticas de comunidade caóticas.

A problemática é impactante, haja visto a importância da mesma. A relação com o


Brasil ainda permanece indefinida, mas pode-se concluir duas possíveis rotas. A
primeira, é relacionada à censura de vídeos nacionais no cenário Europeu. Conteúdos
considerados contraventores em relação às políticas de direitos autorais na União
Europeia, serão bloqueados naquela localidade. Esta é uma ação impactante, porém
branda e possível de reversão. Entretanto, a segunda rota é a mais meticulosa, pois
está relacionada com a adaptação de leis internacionais à perspectiva nacional. O
Brasil já utilizou outras leis da Europa para embasar legislações locais, como citado
pelo G1. E até que ponto isso vai ser benéfico ou não, é um questionamento plausível.
Apesar de não existir garantias concretas de implementação, há possibilidades para
tal. E isso, inicialmente, pode causar um estranhamento e/ou temor.

Ainda que o Artigo 13 seja conflituoso e aceito parcialmente, ele representa uma
tentativa de renovação da legislação atual. É de suma importância reconhecer o valor

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simbólico dessas medidas. São problemáticas inéditas, e para garantir leis justas no
futuro, é necessário encontrar ferramentas também inéditas. A legislação de direitos
autorais para produtores de conteúdo na Internet só terá permanência, quando os
órgãos públicos e as plataformas encontrarem um equilíbrio. Dessa forma, conclui-se
que, independente da repercussão momentânea, são válidas quaisquer medidas que
apresentem, como pauta, a manutenção das leis vigentes pensando a partir da
perspectiva digital. Só assim, pode-se garantir um futuro sólido e justo frente aos
conflitos de direitos autorais na criação de conteúdo audiovisual para a Internet.

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REFERÊNCIAS
MARTINS, P. Direitos autorais na Internet. Revista: Ciência da Informação, Brasília,
v. 27, n. 2, p. 183-188. 1998.
TAVARES, A.; MENDES, P. Direitos Autorais, liberdade de expressão e cultura
de participação na Internet. Revista: Direitos Culturais, Santo Ângelo, v.12, n.27, p.
33-46. 2017
KLANG, H. Cultura digital e Direitos Autorais: O Estado como mediador do
conflito. Revista: Políticas Culturais em Revista, Salvador, p. 21-37. 2012
GANDELMAN, H. De Gutenberg à Internet: direitos autorais na era digital. Rio de
Janeiro: Record, 1997.
Youtuber famoso alega injustiça e se emociona ao falar sobre possibilidade de
perder canal. SBT, São Paulo: 24 setembro 2020. Disponível
em:<https://www.sbt.com.br/variedades/sbt-games/fiquepordentro/149992-youtuber-
famoso-alega-injustica-e-se-emociona-ao-falar-sobre-possibilidade-de-perder-
canal>. Acesso em: 01 dezembro 2020.
Artigo 13 e diretriz de direitos autorais na internet aprovados na Europa: o que
isso significa?. G1 Globo, Rio de Janeiro: 27 março 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2019/03/27/artigo-13-e-diretriz-de-
direitos-autorais-na-internet-aprovados-na-europa-o-que-isso-significa.ghtml>.
Acesso em: 01 dezembro 2020.
União Europeia. Art. 13. Copyright in the Digital Single Market: Parlamento
Europeu, 2019. Disponível em:<https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/TA-
8-2019-0231_EN.pdf?redirect>. Acesso em: 01 dezembro 2020.
República Federativa do Brasil. Lei nº 9.610. Presidência da República, Casa Civil -
Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1998. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm#:~:text=Art.,tratados%20em%20
vigor%20no%20Brasil.>. Acesso em: 01 dezembro 2020.

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