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OS CURUMINS QUE SE TORNARAM ESTRELAS

Era uma vez sete orfãozinhos.

Quando ficaram sem os pais, foram viver com a avó, índia tão velhinha que mal
podia cuidar de si mesma. No entanto, repartia de bom coração, e com amor,
as suas pobres coisas entre os sete netos.

Mas não demorou e a boa velha morreu também.


Os curumins ficaram sem parente com quem morar.
Passavam o dia com fome e a noite com frio.

O maiorzinho saía à procura de alimentos, trazendo, às vezes, frutas, mel e


raízes. Mas era pequeno demais para subir às árvores e fraco para tentar a
caça. Com isso todos sofriam, pois raramente tinham alimento suficiente.

Uma noite, deitados, bem apertadinhos para aquecerem uns aos outros,
ouviram chegar o vento.

Nas paredes de palha da cabana antiga, o vozeirão do vento cantava assim:


— Uh!... Uh!... Uh!...

O mais velho dos irmãos lembrou:

- O vento vem do céu e está quase sempre contente! Não é um grande


brincalhão? Ele encrespa as águas, despetala as flores, derruba os frutos,
revolve os galhos. O lugar onde ele mora deve ser o país da alegria! Vamos
todos para o céu?! Lá, certamente, não hão de faltar peles para nos cobrir,
frutos e mel para nos alimentar, brinquedos para nos divertir e mãos amigas
para nos acariciar!

Todos concordaram e se aprontaram para subir ao céu. O resto da noite


ficaram imaginando como seria a vida lá em cima.

Ao amanhecer, o vento que vinha de regresso, depois de percorrer toda a


Terra, ouvindo o desejo dos pequenos e sentindo pena deles, começou a
soprar, devagar, devagar...

Levados pelo vento, os curumins foram subindo, subindo, passaram pelas


nuvens, mais alto, sempre mais alto... Quando anoiteceu, estavam quase no
céu. Mas já era tarde, e o vento devia voltar a soprar pelas terras de todos os
homens, pois essa é a sua obrigação, noite após noite. Deixou os meninos ali,
um pouco abaixo do céu, um pouco acima das nuvens!

Tupã, vendo os pobrezinhos naquela posição incômoda, nem na terra, nem no


céu, transformou-os em estrelas. Formaram a constelação que os índios
chamam “Sete-Estrelo” — e os civilizados, “Plêiades” —, em homenagem aos
irmãozinhos que, depois de muito sofrer na Terra, receberam no céu luminosa
recompensa!

DONATO, Hernâne. Contos dos meninos índios. São Paulo: Editora


Melhoramentos, 2006.

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