Você está na página 1de 38

Introdução ao Direito Penal

Prof. Márcio Eduardo Morais


Introdução ao Direito Penal

Conceito de Direito Penal: ramo do direito público, que


se encarrega de selecionar as condutas atentatórias aos
mais importantes bens jurídicos do indivíduo, cominando
penas criminais ou medidas de segurança.
Introdução ao Direito Penal

! Situa-se no ramo do Direito Público.

! O Estado é o sujeito passivo constante nas relações jurídico-


penais.

! Nomenclatura: Direito Penal e Direito Criminal.


Terminologia adotada pelo Decreto-Lei n.º 2.848 de 7 de
dezembro de 1940. Em que pese parecer mais completa a
expressão Direito Criminal, conforme ressalta Basileu
Garcia.
Aspectos do Direito Penal

! Aspecto formal ou estático: o Direito Penal é um conjunto


de normas que qualifica certos comportamentos humanos
como infrações penais (crime ou contravenção), define os
seus agentes e fixa as penas a serem-lhes aplicadas.
! Aspecto material: o Direito Penal refere-se a
comportamentos altamente reprováveis ou danosos.
! Aspecto sociológico ou dinâmico: o Direito Penal é mais
um instrumento de controle social de comportamentos
desviados, visando assegurar a necessária disciplina social.
Características do Direito Penal

Ciência cultural: compõe-se de normas e regras sistematizadas por


princípios, de acordo com Magalhães Noronha.

Ciência cultural: pertence à classe das ciências do dever ser.

Ciência normativa: tem como objeto o estudo da lei penal.

Ciência valorativa: estabelece escala própria de valores.

Ciência finalista: se preocupa com a proteção de bens jurídicos


fundamentais.
Criminalização

Criminalização primária: é o ato e o efeito de sancionar de uma lei


primária material.

Criminalização secundária: é a ação punitiva exercida sobre


pessoas concretas. De acordo com Eugenio Raúl Zaffaroni, é
seletiva e vulnerável.
Relações do Direito Penal com outros ramos do Direito

Direito
Processual
Penal

Direito Direito
Tributário Constitucional

Relações
do Direito
Penal

Direito Direito
Internacional Administrativo

Direito Civil
Enciclopédia de ciências penais

Dogmática penal: disciplina que se preocupa com a interpretação,


sistematização e desenvolvimento dos dispositivos legais.

Criminologia: ciência interdisciplinar que busca uma explicação


causal do delito.

Política criminal: medidas a serem tomadas no combate à


criminalidade.
Enciclopédia de ciências penais (resumo)

Ciências penais
Direito Penal Criminologia Política criminal
Finalidade Analisando fatos Ciência empírica que Trabalha as
humanos estuda o crime, a estratégias e meios
indesejados, define pessoa do criminoso, de controle social
quais devem ser da vítima e o da criminalidade.
rotulados como comportamento da
infrações penais, sociedade.
anunciando as
respectivas sanções.
Objeto O crime enquanto O crime enquanto O crime enquanto
norma fato valor
Dogmática penal

Funções da dogmática de acordo com Robert Alexy: 1) análise


lógica dos conceitos jurídicos; 2) a recondução desta análise a um
sistema; e 3) a aplicação dos resultados desta análise na
fundamentação das decisões jurídicas. (ALEXY, Robert. Teoria da
argumentação jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. P.
249).
Funcionalismo penal

Funcionalismo teleológico (moderado)


• Tem como expoente Claus Roxin, para quem a função do
Direito Penal é assegurar bens jurídicos, assim considerados
valores indispensáveis à convivência harmônica em
sociedade.

Funcionalismo sistêmico (radical)


• Tem como expoente Gunther Jakobs, para quem a função do
Direito Penal é assegurar o império da norma, mostrando que
o direito posto existe e não pode ser violado.
Teoria das velocidades do Direito Penal

Deve-se ao Prof. Jesús-María Silva Sánchez o modelo


dualista de sistema penal, denominado de “Direito Penal de
duas velocidades”.

Por sua vez, o Direito Penal de


segunda velocidade visa à proteção
dos novos e grandes riscos da
sociedade, “com a possibilidade de
flexibilização de garantias penais e
processuais penais (Direito Penal
Ao Direito Penal de primeira periférico).
velocidade são assegurados todos os
critérios clássicos de imputação e os
princípios penais e processuais penais
tradicionais, permitindo a pena de
prisão.
Teoria das velocidades do Direito Penal

O direito penal de terceira velocidade caracteriza-se pela


imposição da pena de prisão sem as garantias penais e processuais.
Se o inimigo não respeita o Estado, não há por que o Estado
respeitá-lo, essa seria a lógica. Deste modo, o Direito Penal de
terceira velocidade é caracterizado pela relativização de garantias
político-criminais, regras de imputação e critérios processuais.

Exemplo: a Teoria do Direito Penal do Inimigo de Günther Jakobs


(Escola de Bohn). (funcionalismo radical, monista ou sistêmico)
Características da teoria do Direito Penal do Inimigo

Processo mais célere objetivando a


Penas desproporcionalmente altas.
aplicação da pena.

Supressão e/ou relativização das O inimigo perde sua qualidade de


garantias processuais. cidadão.

O inimigo é identificado por sua


periculosidade, de sorte que o Direito
Penal deve punir a pessoa pelo que
ela representa (Direito Penal
prospectivo ou Direito Penal do autor.
Teoria das velocidades do Direito Penal

Utilizando-se da doutrina de Daniel Pastor (2005)


interesse destacar o Direito Penal de quarta velocidade
ou neopunitivismo. Para Pastor (2005) o Direito Penal
de quarta velocidade seria o modelo de sistema penal
utilizado pelo Tribunal Penal Internacional, que restringe
ou suprime garantias penais e processuais penais de réus
que no passado ostentavam a condição de chefes de
Estado, violando gravemente os tratados internacionais
de direitos humanos.
Funções do Direito Penal
Proteção de
bens jurídicos

Instrumento de
controle social

Garantia

Função ético-
social
Funções do
Direito Penal
Função
simbólica

Função
motivadora

Função de
redução da
violência estatal

Função
promocional
Divisões do Direito Penal

Direito penal fundamental ou primário: engloba o


conjunto de normas e princípios gerais.

Direito penal complementar ou secundário: engloba o


acervo da legislação penal extravagante.
Código Penal e as leis penais especiais
Lei Maria
da Penha

Código Lei de
Eleitoral Tóxicos

Código
Penal
Código de
Lei de Abuso
Defesa do
Consumidor de Autoridade

Lei dos
Crimes
Hediondos
Divisões do Direito Penal

Direito penal comum: aplicado a todas as pessoas.

Direito penal especial: aplicado a certas pessoas que


preencham certas condições.
Divisões do Direito Penal

Direito penal geral: aplicado em todo o território


nacional. (CF, artigo 22, inciso I).

Direito penal local: aplicado em parte delimitada do


território nacional (CF, artigo 22, parágrafo único).
Divisões do Direito Penal

Direito penal objetivo: conjunto de leis em vigor.

Direito penal subjetivo: é o direito de punir, jus


puniendi.
Divisões do Direito Penal

Direito penal material: é o Direito Penal propriamente


dito, também denominado substantivo.

Direito penal formal: é o Direito Processual Penal,


também denominado adjetivo.
Fontes do Direito Penal

Fonte material ou substancial (de produção): Estado,


conforme artigo 22, inciso I da CRFB/88.

Fonte formal primária (imediata): lei.

Fonte formal secundária (mediata): costumes e princípios


gerais de direito.
Fontes do Direito Penal

União (art. 22, I, da CF)


e, excepcionalmente os
Material
Estados (CF, art. 22,
parágrafo único)

Fontes do Direito
Penal
Imediata Lei

Formal
Costumes, princípios
Mediata gerais do Direito, atos
administrativos
Teoria do Garantismo Penal

- De acordo com Amilton Bueno de Carvalho e Salo de


Carvalho (2002):

A teoria do garantismo penal, antes de mais nada, propõe-se a


estabelecer critérios de racionalidade e civilidade à intervenção
penal, deslegitimando qualquer modelo de controle social
maniqueísta que coloca a “defesa social” acima dos direitos e
garantias individuais. (CARVALHO; CARVALHO, 2002, p. 19).
Direito de Intervenção

- Winfried Hassemer (membro da Escola de Frankfurt)

Parte da premissa de que o Direito Penal não deve ser alargado,


mas utilizado apenas na proteção de bens jurídicos individuais
(vida, integridade física, liberdade individual, honra, propriedade
etc) e daquelas que causem perigo concreto. As infrações de
índole difusa (ou coletiva) e causadoras de perigo abstrato seriam
tuteladas pela Administração Pública, por meio de um sistema
jurídico de garantias materiais e processuais mais flexíveis, sem
risco da privação de liberdade do infrator. Situado entre o direito
penal e o direito administrativo nasce o Direito de Intervenção.
(CUNHA, 2018, p. 40).
Direito Penal como Proteção de contextos da vida
em sociedade

- Gunther Stratenwerth

Esta perspectiva do Direito Penal se opõe ao que pretende Winfried


Hassemer. Para Stratenwerth, deve-se relegar ao segundo plano a
proteção dos interesses estritamente individuais, dando-se
enfoque máximo à proteção dos interesses difusos, da
coletividade, protegendo-se as futuras gerações. A noção de bem
jurídico é superada pela tutela direta de relações ou contextos de
vida. Converte-se, com isso, o Direito Penal (que, em regra, reage
a posteriori, contra um fato lesivo individualmente delimitado) a
um direito de gestão punitiva de riscos gerais. (CUNHA, 2018, p.
40).
Outros conceitos de Direito Penal

Direito Penal de Emergência: cria normas de repressão, afastando-se,


não raras vezes, do seu caráter subsidiário, assumindo função
punitivista, ignorando as garantias do cidadão.

Direito Penal Simbólico: o legislador atuando de acordo com a


opinião pública, cria tipos penais tentando devolver para a sociedade
a ilusória sensação de tranquilidade.

Direito Penal Promocional (político ou demagogo): ocorre quando o


Estado, almejando concretizar seus objetivos políticos, emprega as
leis penais como instrumento, promovendo seus interesses,
afastando-se do mandamento de intervenção mínima.
Evolução do conceito de bem jurídico-penal

Período
iluminista
Separação • Violação de um
entre Estado direito subjetivo
Período pré- e Igreja alheio
iluminista
• O crime passou
• O crime era a ser um dano
visto como contra a nação
pecado
Bem jurídico-penal constitucional

Com a necessidade de se identificar qual bem jurídico merece tutela,


surgem teorias que identificam a Constituição como parâmetro de
legitimidade.

Teorias O legislador pode proteger bens jurídicos


não acolhidos pela Constituição, desde
amplas que não afronte princípios ou valores.

Teorias
O legislador somente pode proteger bens
restritas jurídicos acolhidos pela Constituição.
Teoria do Garantismo Penal

Axiomas (implicações deônticas)

• Nulla poena sine crimine (princípio da retributividade)


• Nullum crimen sine lege (princípio da legalidade)
• Nulla lex (poenalis) sine necessitate (princípio da necessidade ou da
economia do direito penal)
• Nulla necessitas sine injuria (princípio da lesividade)
• Nulla injuria sine actione (princípio da materialidade)
• Nulla actio sine culpa (princípio da culpabilidade)
• Nulla culpa sine iudicio (princípio da jurisdicionariedade)
• Nullum iudicium sine accusatione (princípio acusatório)
• Nulla accusatio sine probatione (princípio do ônus da prova ou da
verificação)
• Nulla probatio sine defensione (princípio do contraditório)
Modelos de política criminal

Abolicionismo penal (política criminal


verde
• Defende a extinção do sistema penal, já que seus
efeitos são mais funestos que benéficos.

Abolicionismo moderado ou
minimalismo penal
• O Direito Penal deve ter uma intervenção mínima.
A pena é um mal necessário, mas deve-se
prestigiar sanções alternativas ou substitutivas à
pena de prisão.
Modelos de política criminal

Direito Penal máximo


• Defende a utilização do Direito Penal como
instrumento eficaz para o combate da violência,
buscando-se a máxima efetividade do controle
social com a utilização do Direito Penal. “Trata-se
de um modelo antigarantista”. (AZEVEDO;
SALIM, 2014, p. 48).
Abolicionismo penal (política criminal verde)

Thomas
• Defende a resolução Mathiesen • Defende a extinção de
dos conflitos sociais qualquer tipo de pena
por meios alternativos, • Defende a extinção capaz de infringir dor
como a reparação e a apenas da pena de ou sofrimento pessoal.
conciliação. prisão e não do sistema
penal.

Louk
Nils Christie
Hulsman
Questões de fixação

(FCC – Defensoria Pública – SP – 2009)


O recurso à pena no Direito Penal garantista está condicionado ao
princípio da máxima intervenção, máximas garantias:

a) Certo.
b) Errado.

Resposta correta: b) Errado.


Questões de fixação

(FCC – Defensoria Pública – SP – 2009)


Cabe ao Direito Penal limitar a violência da intervenção punitiva do
Estado:

a)Certo.
b)Errado.

Resposta correta: a) Certo.


Questões de fixação

(MPE – MG– 2008 – Promotor de Justiça)


Modernamente, o chamado Direito Penal do Inimigo pode ser entendido
com um Direito Penal de:

a) Primeira velocidade.
b) Segunda Velocidade.
c) Terceira Velocidade.
d) Quarta Velocidade.

Resposta correta: c) Terceira Velocidade.

Você também pode gostar