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N- Estudo 03
Entre os séculos XIV e XVIII a Igreja Católica (I.C.A.R) exercia o papel de Estado e todas as
formas e expressões religiosas contrárias ao catolicismo eram consideradas inimigas. Nesse
momento histórico temos a ação direta de uma corrente denominada “Santa Inquisição”. Não
vamos nos aprofundar nas ações que ocorreram nesse período, haja vista que todos os
estudantes devem ter uma compreensão mínima acerca desse assunto, mas é nesse exato
momento que a sandice dos homens envoltos nesse movimento alcançou notoriedade através
dos livros denominados ‘Grimoriuns’ ou ‘Livros de Encantamentos’.
Esses livros fundamentavam a supremacia de Deus, Cristo e dos Santos sobre todas as outras
formas espirituais. Nelas destacavam-se as diversas formas de evocar e banir espíritos
demoníacos, bem como compreender suas supostas naturezas. Até determinados atos de
magia cerimonial eram tolerados pelo clero católico quando envolviam o domínio de Deus sob
todas as demais formas.
“Toda essa carga literária aportou nas terras brasileiras em meados do século XVI. Vindos
através dos padres catequizadores e senhores da alta classe Portuguesa (e Espanhola), tais
“livros inquisitórios” foram instrumentos de catequização e punição. Os povos nativos, os
negros escravizados e os colonizadores receberam até o fim do século XVIII a educação
religiosa que abordava as facetas do “Diabo Cristão e suas Hostes” provindas de tais obras
de demonologia. Dessa forma, ficou assentado no consciente coletivo (através das piores
maneiras) tais informações, além das já enraizadas como a luxúria, maldade, danação e
sexo.” (Onirê, Igbé. O Outro Lado da Quimbanda, 2014-SP).
Lúcifer foi correlacionado com “Exu Lúcifer”, Beelzebuth (Beelzebub) com “Exu Mor” e
Astaroth com “Exu Rei das Sete Encruzilhadas”. A partir dessa tríade os outros Exus foram
associados segundo a demonologia.
“Diabo Maioral, ou Exu Sombra, que só raramente se manifesta no transe ritual. Ele tem
como generais:
Exu Marabô ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira ou diabo Agalieraps, Exu-Mor ou diabo
Belzebu, Exu Rei das Sete Encruzilhadas ou diabo Astaroth, Exu Tranca Rua ou diabo
Tarchimache, Exu Veludo ou diabo Sagathana, Exu Tiriri ou diabo Fleuruty, Exu dos Rios ou
diabo Nesbiros e Exu Calunga ou diabo Syrach. Sob as ordens destes e comandando outros
mais estão: Exu Ventania ou diabo Baechard, Exu Quebra Galho ou diabo Frismost, Exu das
Sete Cruzes ou diabo Merifild, Exu Tronqueira ou diabo Clistheret, Exu das Sete Poeiras ou
diabo Silcharde, Exu Gira Mundo ou diabo Segal, Exu das Matas ou diabo Hicpacth, Exu das
Pedras ou diabo Humots, Exu dos Cemitérios ou diabo Frucissière, Exu Morcego ou diabo
Guland, Exu das Sete Portas ou diabo Sugat, Exu da Pedra Negra ou diabo Claunech, Exu da
Capa Preta ou diabo Musigin, Exu Marabá ou diabo Huictogaras, e Exu-Mulher, Exu
Pombagira, simplesmente Pombagira ou diabo Klepoth. Mas há também os exus que
trabalham sob as ordens do orixá Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus ajudantes Exu
Caveira ou diabo Sergulath e Exu da Meia-Noite ou diabo Hael, cujos nomes mais conhecidos
são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu Brasa (Haristum) Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba
(Brulefer) e Exu Pagão ou diabo Bucons.” (Exú, Aloísio Fontennelle, editora espiritualista,
1952.)
Aqui vemos Maioral como Exu Sombra. Lamentavelmente, durante anos as pessoas foram
submetidas ao erro umbandista e por isso a Quimbanda é vista de forma jocosa por muitos
magistas, até porque, os tradicionalistas procuraram inventar as mais insanas teorias que
justifiquem essa tabela, mas aos olhos do verdadeiro ‘Povo de Exu’ essas explicações não
figuram a VERDADE alguma.
Antes de qualquer coisa devemos entender que a palavra ‘Maioral’ significa: Comandante,
supremo, a inteligência, o maior, o ‘cabeça’, aquele a quem se delegou maior autoridade para
guardar um rebanho. Todas as definições estão corretas, porém, se destaca a ultima: ‘Aquele a
quem se delegou maior autoridade... ’.
A partir desse ponto começaremos traçar alguns caminhos para que os adeptos comecem
compreender o mistério que reside nessa palavra. O primeiro ponto que citaremos é:
- Maioral é Satanás.
Apesar de a Bíblia ser o livro mais controverso que a humanidade teve acesso, usaremos um
versículo para traçarmos nosso pensamento:
“O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que
engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Apocalipse 12:9”
O primeiro ponto que gostaríamos de estabelecer é que mesmo sendo uma fonte duvidosa,
essa passagem deve ser levada em consideração sob alguns aspectos. Satanás é uma forma
Draconiana, ou seja, um Grande Dragão que, segundo os escritos bíblicos, foi enviado para a
Terra e caiu nela como um raio. A natureza do Dragão é destrutiva e contraditória, uma força
de embate constante às estruturas limitadas que existem no Cosmos. Satanás é uma forma
nominal que usamos para ressaltar qualidades importantes, muito diferente da concepção
estática que as religiões costumam adotar. A essência de Satanás é transcendente e jamais
poderá ser nomeada, porém, a mente humana é limitada e ao usarmos palavras e símbolos
captamos determinadas situações com mais facilidade.
Nossa Tradição entende que a força que nomeamos como Satanás representa o primogênito
filho da Luz Negra e a força que concede aos homens o caminho para a auto-divindade através
do despertar da fagulha interior, separando os eleitos das massas inertes compostas de
homens de barro (estáticos, inertes). É o grande opositor, o inimigo do ‘Falso-Deus’. Pensando
dessa forma entendemos que Satanás é um Grande Dragão que representa o maior de todos
os Filhos, ou seja, o Maioral. Satanás representa o Primeiro Trono (Sul) e a essência espiritual
do Fogo.
Como sempre é dito pelo nosso grupo, nossa gnose é particular. Se entendemos Satanás como
expressão máxima da palavra Maioral, como comparar o Exu Sobra com tais atributos? Ou
como comparar qualquer Exu com tais atributos? Seria no mínimo uma comparação vazia e
feita por aqueles que jamais tiveram contato com essa força.
Antes da Quimbanda vir a existir como religião já existia o embate entre as forças libertadoras
(regidas por Satanás e outros Seres) e forças aprisionadoras (regidas pelo Falso-Deus). Que
Satanás é a expressão máxima de Maioral é incontestável, porém, esse substantivo também é
usado para nomear o Imperador da Quimbanda.
Portanto fica claro que Maioral na Quimbanda é um Imperador, ou seja, um Ser que comanda
todas as áreas, chamadas por nós de “Sete Reinos”. Ele está acima de todos os Reis e Rainhas e
governa todo espaço astral destinado à Quimbanda.
Satanás não é uma força estática e dizemos que também não está inserida na totalidade do
Cosmos. Essa força emana incessantemente para dentro da Criação Causal a fim de gerar as
mudanças e programar as rupturas que causarão a falência e a destruição do Sistema vigente.
É como um poderoso vórtice energético que direciona o fogo no aspecto destruidor e no
aspecto edificador. Entendemos que o aspecto libertador e direcionador denomine-se Lúcifer.
Essa concepção pode confundir os adeptos que ainda não tiveram contato com nossa gnose,
pois entendemos que Satanás e Lúcifer tratem-se da mesma energia,ou seja, são dois nomes
que correspondem dois aspectos da mesma força. Sobre esse assunto ainda nos
aprofundaremos em estudos posteriores.
Se atentarmos em outro aspecto bíblico, veremos que não existiu ‘queda’ de anjo algum e sim
o lançamento de forças.
O profeta do Falso Deus não viu queda alguma, apenas teve uma visão de como as forças
‘Além-Cosmos’ estavam se infiltrando na Criação Material. O raio simboliza a chama de
Satanás conduzindo as fagulhas energéticas para a Terra a fim de despertar e gerar os Seres
que promoveriam o embate nos campos astrais.
O Imperador Maioral da Quimbanda foi um desses seres. O raio de Satanás não trazia apenas a
força do fogo. Junto com o fogo veio a fagulha do ar de Beelzebuth, da água de Leviathan e da
terra de Belial. Esse conjunto de forças supremas, somados às forças elementais puras e
desprovidas de manipulação caíram na Terra, imantaram o veneno e formaram os
Imperadores. Esses seres são perturbadores da ordem cósmica, pois possuem toda gnose
revelada. São guerreiros estrategistas capazes de erguer entraves, se infiltrarem,
corromperem, libertarem ou escravizarem em prol da Grande Causa.
O primeiro grimórium que trouxe esse nome foi o ‘Livro de São Cipriano –Capa Preta’ (hoje
largamente difundido) que possui a citação desse nome.
“...Assim como Caifás, Satanás, Ferrabrás e o Maioral do Inferno, que fazem todos dominar,
fazei (Nome do Fulano(a) desejado) se dominar, para me trazer cordeiro, preso debaixo do
meu pé esquerdo...”( Oração da Cabra Preta)
Existem cultos de Quimbanda que louvam Maioral referindo-se a Lúcifer, mas a grande massa
não compreende que Lúcifer e Satanás representam Deuses/Poderes que possuem a mesma
essência. Enquanto Lúcifer representa o despertar e a evolução dos adeptos que estão em
harmonia com a busca pela Sabedoria Obscura, Satanás é a ação e reação contra as raízes do
‘Falso-Deus’. Ambos são adversários do ordenamento, combatentes da mentira e antíteses do
‘Falso Deus’.
Nesse símbolo temos alguns elementos que explicam a formação e a ação do Imperador.
Os garfos representam as fagulhas vindas dos quatro Grandes Deuses Negros. Além
disso, demonstram o poder agir de forma dinâmica e receptiva. São símbolos de força,
domínio, conquista.
O círculo que está na ponta do símbolo demonstra que Maioral é Divindade e que está
em constante estado de evolução e movimento. Isso demonstra que os Reis e Rainhas
da Quimbanda devem manter e expandir os Reinos e domínios.
As raízes indicam: Infiltração;
Conquista;
Morte;
A Lua Crescente demonstra o contínuo estado de crescimento e evolução. Demonstra
também que os adeptos devem atentar não apenas para a teoria, mas para a parte
prática. Essa prática é a mudança de comportamento interno e externo que deve estar
sintonizado com as emanações.
Essa é a primeira parte em que retratamos Maioral. Gostaríamos de propor aos adeptos que
acompanham os estudos o desenvolvimento de símbolos que retratem a força de Maioral.
Explique de maneira simples a montagem do símbolo e a importância de cada elemento.