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LONGO DA HISTÓRIA
* Jaquelini Scalzer
Resumo:
Abstract
Through History, power has taken over several kinds of representation. Since
the religious character of ancient times to the current state bureaucracy, many have been
the mechanisms used by a minority to control people. By assuming that to have power
is, in some way, to control the popular mass, one concludes that people are the real
detainers of power and the conscience that derives from it has been progressively
developed along History. However, power and representation of power have been
falsely regarded as synonymous in order to intimidate the masses and to establish the
idea that the only possible relation between people and power is through subordination.
Keywords:
Embora Letorf ao ser citado por Cardoso (2000, p. 234), afirme “ser impossível
dissociar o poder de sua representação, uma vez que é esta que confere ao poder seu
estatuto simbólico” (1), o que este artigo propõe é buscar, através de uma análise
histórica, responder quem é (ou são) o verdadeiro detentor do poder?
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DEFINIÇÃO DE PODER
Se esta foi “condicionada”, só pode ter sido por quem temia a verdadeira
história, os quais, segundo Aquino (1980, p. 02), “são aqueles que, agarrando-se a
privilégios econômicos e políticos, pretendem manter o poder de decisão sobre a vida da
maioria das pessoas, as quais, desse modo, permaneceriam desumanizadas, oprimidas.”
Conceituar a expressão poder não é tarefa fácil, pois, citando Falcon (1998, p.
61), “fazê-la sem reconhecer os condicionamentos da produção historiográfica seria
negar o fato de que o conhecimento histórico, em sua íntima relação com o poder,
converte-se freqüentemente de agente instrumentalizador em objeto da oficina da
história”. Ou seja, a história, como “filha de seus tempo”, produziu diversos conceitos
de poder.
Mas, filosoficamente, o poder pode ser definido como influência que se exerce
sobre outrem de forma individual ou coletiva, dando a este(s) o controle sobre o que
deseja. Os mecanismos utilizados para se obter tal controle, nada mais são do que uma
representação momentânea do poder, estreitamente ligada ao contexto histórico do
momento em questão.
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Ainda na Idade Média não podemos deixar de salientar o papel da Igreja como
representação do poder. Nas palavras de Duby (2001, p. 98) “além de ser a maior
proprietária de terras da época, ela foi a única instituição medieval capaz de sobrepor-
se ao particularismo feudal e dar uma nova unidade ao período – a unidade cultural” .
Sendo assim, a Igreja dispunha de dois grandes instrumentos de controle sobre o homem
medieval: a propriedade de terras e a exclusividade ideológica.
O PODER NO CONTEMPORÂNEO
Assim, neste mundo globalizado em que vivemos, o que vemos é que a esfera
do poder deixou de ser estatal e tornou-se mundial. Hoje, a representação do poder é,
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mais uma vez, a força econômica aliada ao poder bélico. Mas tudo isso disfarçado com
a máscara da democracia e legitimado pelo Estado Constitucional.
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OS DETENTORES DO PODER
Depois desta caminhada histórica proposta por este artigo, o que percebemos é
que para (de)ter o poder, foi e é preciso, de alguma forma, controlar o povo, mantendo
em equilíbrio a ambição da elite e os anseios das classes populares, já que esta última, por
constituir a maior parcela representativa de qualquer nação, é quem dá legitimidade ao
poder, quer por meio da submissão quer por meio do sufrágio.
Sendo assim, podemos concluir que o real detentor do poder é o povo. Este é
quem determina as permanências e/ou transformações à medida que aceita ou resiste aos
mecanismos de representação do poder.
A idéia de que governo e poder são sinônimos é errônea. Para tanto cito
novamente Dietrich (2002, p. 83) que diz que “o poder está disseminado na sociedade e
se ramifica de diversas formas, nos campos econômico, político, social, ideológico,
religioso e cultural” . E todas estas esferas representativas de poder estão intimamente
ligadas a ação do povo.
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Se o povo é o verdadeiro detentor do poder, por que então ele tem se deixado
explorar pelo mesmo ao longo da história?
Esta visão do poder encontrou terreno fértil entre os cristãos que, em virtude da
rígida hierarquia dentro da Igreja Católica, desconfiam do poder bem como de quem o
detém. Ambos são quase sempre vistos como malignos, perigosos, pervertores. Chegar
ao poder ou perto dele, nessa lógica, significa estar prestes a ser corrompido. Sendo
assim, o melhor é afastar-se dele, entregando-o nas mãos da elite e esperar que esta,
num lampejo de consciência, retribua a “generosidade” fazendo algo em benefício das
classes populares.
Ou, sabedor de sua relevância, o povo assume seu papel de detentor do poder
de forma consciente; constrói redes de relações individuais e coletivas que não
permitam ao poder exercer sua sedução e construa uma nova representação do poder.
Um poder popular em que não se anula nem o Estado, nem a sociedade, nem o cidadão.
Redefine-se o papel do Estado, que se torna servidor do povo e por ele é controlado e
fiscalizado.
Esta é a proposta deste artigo, e a história prova que estamos caminhando para
sua realização. A passos lentos, é verdade, mas o ritmo das grandes mudanças,
sobretudo as estruturais, nem sempre têm o dinamismo ansiado pela humanidade.
Provavelmente nossa maior barreira para percebermos o quanto avançamos neste
sentido, é a dificuldade de analisar os fatos históricos de longa duração, como propõem
os annales. Mas, do povo egípcio que submetia-se ao faraó reconhecendo-o como o
próprio deus, ao povo que hoje promove impeachment, o grau de consciência de que o
verdadeiro detentor do poder não é outro senão o povo, elevou-se consideravelmente.
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REFERÊNCIAS
AQUINO, Rubim S. Leão de; FRANCO, Denize de Azevedo; LOPES, Oscar G. Pahl
Campos. História das sociedades – das comunidades primitivas às sociedades
medievais. Rio de Janeiro: Ed. Ao Livro Técnico, 1986.
DIETRICH, Luiz José (Org.). Ser é poder . São Paulo: Paulus, 2002.
REMOND, René (Org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1996.