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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

O Surgimento da Geografia como Ciência

Paulina António Bernardo


708222611

Curso: Licenciatura em ensino de Geografia


Disciplina: Evolução do Pensamento
Geográfico
Ano de frequência: 1º
Docenteː Dr. Abel Carlos Abel

Quelimane, Junho, 2022


Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância

O Surgimento da Geografia como Ciência

Paulina António Bernardo


708222611

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira de


Técnica de Expressão em Língua Portuguesa,
a ser entregue no Instituto de Educação à
Distância da Universidade Católica de
Moçambique. Leccionado pelo Docente:
Dr. Abel Carlos Abel

Quelimane, Junho, 2022


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problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico
Conteúdo 2.0
(expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica
discussão
nacional e
internacionais 2.
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos
2.0
dados
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
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 Rigor e coerência das
Referências edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia
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Sumário
1.Introdução ............................................................................... Erro! Marcador não definido.

1.1.Objectivos ............................................................................ Erro! Marcador não definido.

1.2. Metodologia ........................................................................ Erro! Marcador não definido.

2.O surgimento da Geografia como ciência .............................. Erro! Marcador não definido.

2.1. Conceito de Geografia ........................................................ Erro! Marcador não definido.

2.2. O surgimento da Geografia como ciência .......................... Erro! Marcador não definido.

2.2.1.Geografa na Antiguidade (dos gregos até ao séc V) ........ Erro! Marcador não definido.

2.2.2.Geografa na Idade Média (do séc. V ao XIV) .................. Erro! Marcador não definido.

2.2.3.Geografa na Idade Moderna ate a Idade Contemporânea. Erro! Marcador não definido.

2.3. Objecto de estudo da Geografia.......................................... Erro! Marcador não definido.

3.Métodos usados em Geografia ............................................... Erro! Marcador não definido.

3.1.Método de Observação ........................................................ Erro! Marcador não definido.

3.2.Método de Descrição ........................................................... Erro! Marcador não definido.

3.3.Método Comparativo ........................................................... Erro! Marcador não definido.

3.4.Método Cartográfico............................................................ Erro! Marcador não definido.

3.5.Método de Balanços ............................................................ Erro! Marcador não definido.

3.6.Método Matemático ............................................................. Erro! Marcador não definido.

3.7.Método Estatístico ............................................................... Erro! Marcador não definido.

3.8.Método de Inquérito ............................................................ Erro! Marcador não definido.

3.9.Método Experimental .......................................................... Erro! Marcador não definido.

3.10. Método Dedutivo .............................................................. Erro! Marcador não definido.

3.11.Método Indutivo ................................................................ Erro! Marcador não definido.

5.Principais princípios orientadores da Geografia ..................... Erro! Marcador não definido.

6.Conclusão ............................................................................... Erro! Marcador não definido.


7.Referências Bibliográficas ...................................................... Erro! Marcador não definido.
1. Introdução

Para se compreender a Geografa hoje como ciência é preciso saber um pouco de sua
história, desde o início da ocupação humana na Terra. É fato que a ciência geográfica data do
final do século XIX, porém antes da institucionalização da ciência existia (e sempre existiu) o
conhecimento geográfico, dotado de métodos e princípios que à caracterizam como ciência.
Foram justamente esses conhecimentos geográficos acumulados por séculos que permitiram o
surgimento da nossa ciência. Se admitirmos que a Geografa estuda as diversas relações existentes
entre o homem e a natureza, e que, desde os primórdios os homens sempre se relacionaram com a
natureza, somos obrigados a reconhecer que a Geografa existe desde a Antiguidade.

Estruturalmente o trabalho está dividido em três partes, nomeadamente: Introdução,


desenvolvimento e conclusão.
1.1.Objectivos

Geral

 Explicar o surgimento da Geografia como Ciência

Específicos

 Falar da Geografia como Ciência e do seu objecto de estudo;


 Descrever os principais princípios orientadores da Geografia;
 Apontar e explicar os métodos usados em Geografia;

1.2. Metodologia

Para a elaboração do trabalho foi possível usando o método de Pesquisa Bibliográfica. Na


qual baseou-se na consulta de obras relacionados com o tema em estudo, cujo as mesmas estão
mencionadas na referência bibliográfica deste trabalho. Para além disso usou-se a internet para
aperfeiçoar algumas partes do trabalho.
2.O surgimento da Geografia como ciência

Antes de tudo importa clarificar o significado do conceito geografia, por ser subjacente a
esse mesmo estudo.

Etimologicamente a palavra geografia vem do grego, onde: Geo (Terra) + grafia (descrição).
Portanto, geografia significa descrição da Terra.

2.1. Conceito de Geografia

São varos os conceitos de geografa, porem nas linhas abaixo estão descritos alguns de
acordo com alguns autores.

Segundo GOVE, (s/d, p.19) a geografia pode ser definida como sendo a ciência que
localiza, distribui, interpreta, analisa e correlaciona factos e fenómenos físico-naturais e humanos
que ocorrem à superfície da Terra, atendendo as relações causa-efeito ligadas a interacção
natureza-sociedade

A geografia é uma ciência social dinâmica que busca conhecer o nível social, político e
econômico a que o espaço se encontra submetido. É uma ciência que busca explicar o espaço
como resultado da dinâmica socia (CÁTIA, 2016, p.4).

Para Emmanuel de Martonne a geografia representa a ciência que estuda a distribuição


dos fenômenos físicos, biológicos e humanos pela superfície da Terra com suas causas e relações
locais.

Na perspectiva de Marrero a geografia é uma ciência que estuda as diferentes paisagens


da Terra e as modificações desta pelo ser humano, localizando-as, explicando e comparando-as
entre si.

Tomando como base os conceitos apresentados, pode se afirmar que a geografa é uma
ciência que estuda o espaço físico-natural e sua relação com o homem.

2.2. O surgimento da Geografia como ciência

A Geografia nasce com os gregos, mesmo dispersa e não se constituindo ainda como uma
ciência e um saber sistematizado. A Geografia que irá se desenvolver será através de estudos
dispersos, relatos de lugares e elaboração de mapas pouco precisos. Estará ligada a Cartografia e
a Astronomia (RODRIGUES, JESUS e SILVA, 2010, p.2).

Segundo os autores supracitados, os gregos foram os primeiros a registar e sistematizar os


conhecimentos geográficos.

A Geografia, como todo o conhecimento científico, evoluiu acompanhando a evolução da


própria sociedade.:

2.2.1. Geografa na Antiguidade (dos gregos até ao séc V)

A Geografia, na Antiguidade, estava condicionada à concepção que os antigos tinham do


mundo em que viviam, ao grau de desenvolvimento social atingido. Muito dos conhecimentos
geográficos estavam dispersos ou misturados ou, ainda, subordinados a outros campos de
conhecimentos (RODRIGUES et all, 2010, p.3). Nesta época, não havia uma Ciência Geográfica.
Havia filósofos, historiadores, cientistas e outros que se denominavam de geógrafos. Os gregos
foram os que mais contribuíram para os estudos de questões ligada a geografia.

Com a navegação dos gregos e romanos ao longo da costa com o objectivo de procurar
produtos e matérias-primas ou para estabelecerem trocas comerciais com outros povos, ampliam-
se os conhecimentos geográficos.

Os Périplos desenhados por navegantes foram um instrumento valioso na orientação dos


navegadores e comerciantes da época. Destacam-se os Périplos de Hannon que descrevia a Costa
Africana até ao Senegal e de Himilcão que explorava a costa Ocidental da Europa até a Bretanha.

Portanto, a civilização grega com uma incomparável riqueza de pensamento filosófico e


científico procurou condensar e sistematizar o conjunto de anotações denominadas geográficas.
Desde então, surgem e desenvolvem-se no seio dos gregos duas vias quanto ao modo de “pensar
e fazer Geografia”:

Via descritiva e regional: que incidia nas características da paisagem, nas


particularidades dos habitantes e respectivas civilizações. Destacaram-se Heródoto, Alexandre da
Macedónia e Estrabão;
Via matemática: conduzindo a localização exacta dos lugares, a elaboração de cartas,
medições terrestres, a astronomia. Destacaram-se Aristóteles, Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu.

Heródoto (482 – 425 a.n.e.) –é considerado “pai da História”. A ele se deve a autoria do
primeiro ensaio de Geografia descritiva do mundo conhecido na época.

Aristóteles (384-322 a.n.e) –considerava que a terra estava situada no centro do mundo –
Teoria Geocêntrica, e reconhecia a esferacidade da terra, ao observar durante os eclipses da lua
que a terra projectava sobre a lua uma sombra que tinha a forma de uma curva.

Alexandre Da Macedónia (334-223 a.n.e) – Imperador e discípulo de Aristóteles, ficou


conhecido através dos documentos que conseguiu reunir, em Alexandria, sobre as suas
expedições ao Turquestão e a Índia. Mandou fazer o cadastro do seu império.

Eratóstenes (276-194) – Além de poeta, matemático e geómetra, pode considerar-se


também o primeiro verdadeiro geógrafo da antiguidade.

Escreveu dois grandes livros:

1. Memórias geográficas – onde faz a descrição da terra com um mapa incluído e,


2. Medidas da terra – onde se encontra a descrição da forma e o cálculo da medida do arco
do meridiano terrestre com grande aproximação ao real (42 000km e o real é de 40
000km).

Hiparco (190-125 a.n.e.) – Como o maior astrónomo da Antiguidade, sucessor de


Eratóstenes, deu um contributo excelente ao desenvolvimento da Geografia – inventou os
primeiros elementos da Geometria da esfera, descobriu a resolução de triângulos esféricos pela
trigonometria, que também inventou, imaginando para as cartas um sistema de projecção,
chamada actualmente “projecção estereográfica” e inventou uma rede de coordenada terrestres
com meridianos e paralelos.

2.2.2. Geografa na Idade Média (do séc. V ao XIV)

Conforme RODRIGUES et all, (2010, p.3), esta época foi marcada sob o Modo de
Produção Feudal, com pouco desenvolvimento da geografia, e grande parte de seus estudos
estavam influenciados sob o domínio da Igreja católica.
O modo de produção feudal que surge na Idade Média tinha por base a economia agrária,
de escassa circulação monetária, autossuficiente. A propriedade feudal pertencia a uma camada
privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja (o clero).

Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder da época. Os estudos e as respostas às


questões colocadas passam a ser dadas a partir de interpretações bíblicas: referências
cosmológicas e geográficas. (RODRIGUES et all, 2010, p.4). Entre os Romanos que mais se
destacaram no estudo da geografia são: Estrabão (64 a.n.e – 21 n.e.) e Ptolomeu (cerca de 90 a
160 n.e.).

Segundo FERREIRA e SIMÕES (1994, p. 45), o fato de ser a Igreja a dar as respostas que
antes eram encontradas através da ciência deve-se não só ao poder que a religião detinha, mas
também ao fato de o imobilismo populacional ter provocado o desaparecimento das viagens e,
com isto, o desconhecimento do mundo real.

De acordo com (RODRIGUES et all, 2010, p.4) adoção dos conhecimentos geográficos
bíblicos tornou-se evidente na cartografia. Utilizam-se mapas circulares romanos, nos quais se
introduziram caracteres teológicos, e não geográficos. Jerusalém, a Cidade Santa, ocupava o
centro do mapa. Também foi esquecido que a terra era esférica e reapareceu o conceito de Terra
plana.

Os Romanos compilaram e desenvolveram o conhecimento dos Gregos. Elaboraram


itinerários, espécies de cartas sem escala, onde dum modo arbitrário surgiam as terras que
constituíam o Império, obedecendo a exigências militares e comerciais, por exemplo, a Tábua de
Peutinger.

Por outro lado, nesta mesma época enquanto a ciência decaía no mundo ocidental, no
mundo árabe, com o estabelecimento do Império Muçulmano, depois do ano 800 d.C., passou a
verificar um desenvolvimento científico, decorrentes de estudos e viagens que eram feitas pelos
árabes, segundo avançam (FERREIRA; SIMÕES, 1994, p. 47).

Segundo FERREIRA E SIMÕES (1994, p. 49) os muçulmanos promoveram as ciências e


as artes. Traduziram para o árabe a obra de Ptolomeu. Desenvolveram a geografia, a astronomia,
a astrologia e a matemática. Mas, apesar disso, o conhecimento e as descrições geográficas
produzidas foram muito imprecisas e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes não se serviam
da latitude e da longitude para localizar os lugares à superfície da terra e elaborar mapas. Surge,
assim, no mundo árabe uma separação entre geógrafos e astrônomos que não existia na
antiguidade.

A partir do século XI, há um renascimento do comércio e um aumento da circulação


monetária, o que valoriza a importância social das cidades. E, com as cruzadas realizadas pelo
Ocidente, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo.

A partir do século XI, há um renascimento do comércio e um aumento da circulação


monetária, o que valoriza a importância social das cidades. E, com as cruzadas realizadas pelo
Ocidente, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo.
(RODRIGUES et all, 2010, p.4).

Este facto, conforme RODRIGUES (et all, 2010, p.4) permitiu com que nos finais da
Idade Média, as cruzadas, as peregrinações aos lugares santos e o renascimento do comércio entre
a Europa e o Oriente surge-se a curiosidade pelo mundo desconhecido e, portanto, a uma nova
etapa no desenvolvimento da geografia.

Segundo FERREIRA e SIMÕES (1994, p. 51), nos finais da Idade Média, reapareceram
os itinerários de viagens, as obras que descreviam as terras visitadas. De acordo com os autores é
importante destacar nessa fase o papel de Marco Polo, que efetuou uma longa viagem pelo
interior da Ásia até à China, tendo escrito um relato, O Livro das Maravilhas. Porem,
FERREIRA e SIMÕES (1994, p. 51) advertem que não se considerar a sua obra de Marco Polo
como de caráter geográfico, pois nela são descritos muitos pormenores colhidos sobre as regiões
visitadas (lendas, por exemplo). No entanto, no seu livro existe descrições de interesse
geográfico.

Segundo ANDRADE (1987, p. 36), com a destruição do Império Romano do Ocidente,


surgem novas estruturas e inicia-se um intercâmbio com os árabes, permitindo com que os
estudos realizados na antiguidade e na idade media voltassem a ser desenvolvidos, quer pelo
enriquecimento de informações e de descobertas, quer pela retomada dos ensinamentos dos
sábios gregos – Aristóteles, Ptolomeu, Estrabão, Heródoto etc. – e por sua atualização. Assim,
vários dos temas discutidos no período medieval foram retomados do período grego e romano, e
uma das maiores contribuições a esta retomada foi dada pelos padres Alberto Magno e Tomás de
Aquino, quando renovaram e puseram na ordem do dia as ideias de aristotélicas. Daí retorna a
crença na esfericidade da Terra.

2.2.3. Geografa na Idade Moderna ate a Idade Contemporânea

RODRIGUES (et all, 2010, p.4) apontam as mudanças das condições sociais, políticas,
econômicas e culturais na Europa do século XV como factores que definiram para a marcação da
idade moderna.

É nesta idade onde foi sistematizada a geografia como ciência. Segundo MORAES (1987,
p. 34), a Geografia como conhecimento autônomo, particular, demandava certo número de
condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas. Estas
condições, ou melhor, pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-se no
processo do avanço e domínio das relações capitalistas de produção.

O autor apresenta, quatro conjuntos importantes de pressupostos que contribuíram para o


processo de sistematização da Geografia: o conhecimento efetivo da extensão real do planeta; a
existência de um repositório de informações; o aprimoramento das técnicas cartográficas e as
mudanças filosóficas e científicas:

a) o conhecimento efectivo da extensão real do planeta

Era necessário que a terra toda fosse conhecida para que fosse pensada de forma unitária
em seu estudo. O conhecimento da dimensão e da forma real dos continentes era base para a ideia
de conjunto terrestre, concepção importante para a reflexão geográfica (MORAES, 1987, p. 34).

b) existência de um repositório de informações

Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de


informações, sobre variados lugares da Terra, isto é, que os dados referentes aos pontos mais
diversificados da superfície terrestre já estivessem levantados e agrupados em alguns grandes
arquivos (MORAES, 1987, p. 35).

c) aprimoramento das técnicas cartográficas


Para o surgimento de uma Geografia unitária, residia o aprimoramento das técnicas
cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade de
representação dos fenômenos observados, e da localização dos territórios (MORAES, 1987, p.
36).

d) mudanças filosóficas e científicas

Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão da Filosofia. As


correntes filosóficas do século XVIII vão propor explicações abrangentes do mundo; formulam
sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do real. A finalidade geral de todas
as escolas, neste período, será a afirmação das possibilidades de a razão humana explicar a
realidade. Esta postura progressista insere-se no movimento de refutação dos resquícios da ordem
feudal, pois esta se apoiava numa explicação teológica do mundo. Propor a explicação racional
do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo a ordem social por ela legitimada
(MORAES, 1987, p. 37-38).

A partir desse contexto, segundo MORAES (1987, p.42) surgiu a Geografia como ciência
no século XIX, na Alemanha com os alemães Alexandre Von Humboldt (1769 – 1859) e Karl
Ritter (1779 – 1859). De acordo com MORAES (1987, p.42) é da Alemanha que aparecem os
primeiros institutos e as primeiras cátedras dedicadas a esta disciplina; é de lá que vêm as
primeiras propostas metodológicas e as primeiras correntes de pensamento na Geografia.

A partir de Humboldt e Ritter ficou estabelecida a metodologia da geografia descritiva,


empírica, observação, indutiva e de síntese. A influência de ambos foi, portanto, decisiva para
conferir à Geografia o seu verdadeiro caráter científico. Segundo MORAES (1987, p. 48-49) a
obra destes dois autores compõe a base da Geografia Moderna Tradicional. Todos os trabalhos
posteriores vão se remeter às formulações de Humboldt e Ritter. A Geografia de Ritter é regional
e antropocêntrica, enquanto de Humboldt busca abarcar todo o Globo sem privilegiar
o homem.

A Geografia Tradicional deixou uma ciência elaborada, um corpo de conhecimento


sistematizado; possibilitou a formação de uma ciência autônoma; elaborou um rico acervo
empírico. Finalmente, a Geografia Tradicional elaborou alguns conceitos como: território, região,
habitat, paisagem, área etc., (MORAES, 1987, p. 91-92).

Segundo MORES (1987) há uma grande influência do Positivismo na Geografia


Tradicional. A Escola Alemã de Geografia notou-se por seu caráter Determinista, cujo principal
nome é Friedrich Ratzel. Em oposição ao determinismo alemão surgiu, na França, o Possibilismo,
corrente que teve em Vidal de La Blache seu maior expoente, consolidando a Escola Francesa de
Geografia. Foram essas duas escolas que exerceram a maior influência no decorrer da Geografia
Tradicional.

Já a Geografia Crítica ou Radical, que se iniciou na década de 1970, advém de uma


postura crítica frente, principalmente, à Geografia Tradicional e a Geografia Teórico
Quantitativa. São os geógrafos que se posicionam por uma transformação da realidade social,
pensando o saber como uma arma de luta e transformadora. São os geógrafos, pesquisadores e
professores, que assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma
Geografia Crítica militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que utilizam a análise
geográfica como um instrumento de libertação do homem (MORAES, 1987, p. 112).

2.3. Objecto de estudo da Geografia

Segundo Milton Santos (2002) durante muito tempo, essa ciência era vista como não
possuidora de um objeto de estudo, mas como responsável por sínteses que englobariam
conceitos e objetos de inúmeras outras ciências. Com isso, o desenvolvimento epistemológico da
Geografia encontrou múltiplos obstáculos, devido à pretensão de se fazer sínteses de vários
conceitos e objetos científicos, sem remeter-se aos seus próprios conceitos e ao seu próprio objeto
de estudo.

Mas, com os estudos da Geografia Crítica, que passaram a atentar com maior intensidade
para a relação sociedade-natureza, essa ciência passou a possuir um objeto de estudo definido.
Para MÍLTON SANTOS (2002) e outros autores ou estudiosos da geografa, asseveram que o
espaço geográfico é o objecto de estudo da geografa.

Portanto, a geografia actualmente é considerada uma ciência que estuda o espaço


geográfico. Segundo RODRIGUES (et all, 2010, p.10) dentro do espaço geográfico são
trabalhadas categorias, como: paisagem, lugar, região, território, fundamentais para a análise
geográfica. Todavia, o espaço é a categoria mais abrangente da Geografia. Esse espaço
geográfico é estudado no contexto da relação sociedade-natureza.

O espaço geográfico é uma categoria e objeto essencial e balizador para discussão ou


estudo geográfico. E, conforme SANTOS (1985) citado em RODRIGUES (et all, 2010, p.10) o
espaço deve ser analisado por meio de quatro categorias em conjunto: a forma, a função, a
estrutura e o processo.

Segundo GOVE (s/d, p.17), o espaço deve ser entendido como espaço social, vivido, em
estreita correlação com a prática social, portanto, não deve ser visto como espaço, absoluto, nem
como um produto da sociedade. Conforme avança LEFÉBVRE (1976, p. 30) o espaço não é nem
ponto de partida (espaço absoluto), nem o ponto de chegada (espaço como produto social).
LEFÉBVRE acrescenta que, o espaço também não é um instrumento político, um campo de
acções de um indivíduo ou grupo, ligado ao processo de reprodução da força de trabalho através
do consumo. Para ele, o espaço, é o locus da reprodução das relações sociais de produção.

Similarmente MÍLTON SANTOS (2002) diz que o espaço é produzido pela sociedade
através da relação com a natureza, mas nesse processo de produção, ela é sujeito e produto, pois
enquanto constrói o espaço ela própria se reconstrói.

3.Métodos usados em Geografia

No século XIX, do surgimento da Geografia como ciência, fez-se necessária a fixação de


princípios metodológicos, que lhe conferem o devido caráter científico.

Método é um instrumento organizado que procura atingir resultados estando diretamente


ligado a teoria que o fundamenta, conforme o JAPIASSÚ e MARCONDES (1990) é um conjunto
de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um objetivo determinado.
Conforme LALANDE (1999, p.678) o método é “o caminho pelo qual se chegou a determinado
resultado”.
Assim sendo, os métodos Geográficos são um conjunto de processos, vias ou caminhos
levados a cabo para atingir um determinado resultado ou finalidade, conhecer uma determinada
realidade para a obtenção de conhecimentos.

A Geografia no seu estudo ou investigação usa vários métodos, sendo os mais destacados
os seguintes:

3.1. Método de Observação

É a verificação cuidadosa de um facto ou fenómeno. A observação pode ser directa (in


loco) e indirecta (ausente).

Na observação direta, o observador está presente no local da observação e, por isso,


consegue ter informações detalhadas do local a ser observado. Na observação indireta, o
observador não precisa estar fisicamente no local da observação, pelo que há necessidade de se
apoiar em determinados registos, como por exemplo: mapas, livros, filmes, fotografas, base de
dados, internet, etc (CLAUDINO, 2019, p.13)

3.2. Método de Descrição

Este método surge com a própria Geografia e adquire um carácter dominante durante
longos anos. Essa descrição era simples e pura, actualmente continua a ter grande importância,
mas o seu carácter mudou qualitativamente já que não se trata simplesmente de constatar factos
isolados, a descrição conduz a interligação que existe entre os diversos fenómenos e factos,
causa-efeitos desses mesmos fenómenos. (CLAUDINO, 2019, p.13-14)

3.3. Método Comparativo

Com base neste método buscam-se as analogias, verificam-se as semelhanças e diferenças


dos fenómenos ou aspectos que ocorrem num lugar em relação ao outro ou no mesmo lugar mas
em tempos diferentes. (CLAUDINO, 2019, p.14)

Portanto, a comparação pode ser feita a nível espacial e temporal.


3.4. Método Cartográfico

Este método ocupa um lugar especial na ciência geográfica, pois, permite a localização,
distribuição dos fenómenos e aspectos geográficos. Consiste na representação dos resultados da
investigação geográfica ou em realizar o estudo geográfico mediante mapas, esquemas,
diagramas, etc. O mapa é um elemento indispensável em Geografia, pois é através dele que se
expressam as particularidades na distribuição territorial dos factos. (CLAUDINO, 2019, p.15)

3.5. Método de Balanços

Consiste na pesagem, avaliação, análise dos aspectos positivos e negativos, vantagens e


desvantagens, prejuízos e benefícios duma determinada situação em estudo, tirar uma conclusão
final e tecer algumas recomendações. Este método é importante para obtenção duma informação
adequada para uma óptima localização de empresas por exemplo. Mediante este método é
possível obter balanços da produção e consumo dos principais produtos; para localizar uma
empresa tomam-se em conta as exigências que se lhe colocam em matérias-primas, energia, água,
mão-de –obra, etc. (CLAUDINO, 2019, p.17)

3.6. Método Matemático

Os cálculos matemáticos (complexos e exactos) possibilitam uma compreensão mais


profunda dos problemas e fortalecem o aspecto teórico da Geografia. A Matemática fortalece as
possibilidades de estudos extensos e ao mesmo tempo exactos. Importante referir que a utilização
matemática na Geografia terá sempre limitações porque a formulação matemática é incapaz de
tratar de modo tão conveniente o ambiente tão variado da Geografia que inclui todas as
combinações únicas de elementos nos seus complexos territoriais. (CLAUDINO, 2019, p.18)

3.7. Método Estatístico

É um método utlizado pela Geografia. Os princípios da estatística podem fornecer um


sistema lógico de raciocínio, ou seja, uma maneira particular de conceber e formular certas
relações. As técnicas estatísticas são de grande importância para a interpretação de resultados
experimentais, bem como para a investigação e formulação de previsões. Pode-se dizer que a
estatística é a base indispensável para o estabelecimento de leis gerais. (CLAUDINO, 2019,
p.20).
São fases do método estatístico:

 Observação ou recolha de dados;


 Apuramento ou tratamento dos dados onde se insere o agrupamento e contagem dos
dados;
 Obtenção dos resultados e a sua representação.

3.8. Método de Inquérito

Pode ser escrito ou oral. Obtêm-se informações mediante as respostas ao inquérito


formulado. Os inquéritos podem ser feitos junto da população, de empresas comerciais e
industriais, de agricultores e de organismos públicos (CLAUDINO, 2019, p.20-21). O inquérito
tendo em conta a ser inquirido pode ser:

 Inquérito exaustivo – dirigido a todos os elementos do conjunto estatístico;


 Inquérito parcial – quando se dirige apenas a uma fracção ou amostra do conjunto
estatístico. Por exemplo, sondagem a opinião pública com objectivo de se lançar um novo
produto no mercado.

Os resultados dos inquéritos podem ser transformados em números ou símbolos e


apresentados em quadros, gráficos, tabelas ou mapas. Esses dados são trabalhados pela
estatística.

3.9. Método Experimental

Visa a busca e revelação da verdade científica através da experiência. Permite a aplicação


da teoria à prática.

3.10. Método Dedutivo

Consiste em explicar um facto ou fenómeno partindo do geral (pré-estabelecido) para o


particular que se pretende estudar. Isto significa a aceitação e aplicação de leis já definidas.
(CLAUDINO, 2019, p.21)
3.11. Método Indutivo

Consiste em explicar um fenómeno ou facto partindo do particular para o geral.


Compreende quatro fases. Observação, hipótese, experiência e generalização dos resultados da
experiência.

5. Principais princípios orientadores da Geografia

Segundo GOVE (s/d, p.17) os princípios formulados são os seguintes:

 Princípio da extensão- foi enunciado por Friedrich Ratzel (1844-1904), segundo o qual,
ao estudar um dos fatores geográficos ou uma área, deve-se inicialmente procurar
localizá-la e estabelecer seus limites, usando mapas disponíveis e o conhecimento direto
da área.
 Princípio da analogia ou Geral- enunciado por Karl Ritter (1779-1859) e Paul Vidal de
La Blache (1845-1918), segundo a qual é preciso comparar o facto ou área estudada com
outros factos ou áreas da superfície terrestre, em busca de semelhanças e diferenças
existentes.
 Princípio da causalidade- formulado por Alexander von Humboldt (1769-1859), que diz
respeito à necessidade de explicar o porquê dos factos, ou seja, observados os fatos, se
deverá procurar as causas que os determinaram, estabelecendo relações de causa e efeito.
 Princípio da conexidade ou interacção - enunciado por Jean Brunhes (1869-1930), por
meio do qual ele chamava a atenção para o fato de que os fatores físicos e humanos, ao
elaborarem as paisagens, não agiram separada e independentemente, havendo uma
interpenetração na ação dos vários fatores físicos entre si, e ainda dos dois grandes
grupos de fatores. Na elaboração das paisagens, nenhum dos fatores físicos ou humanos
age isoladamente; a ação é sempre feita de forma integrada com outros fatores.
 Princípio da actividade- também enunciado por Jean Brunhes, no qual o mestre francês
assinala o caráter dinâmico do fato geográfico, uma vez que o espaço está em constante
reorganização, em constante transformação, graças à ação ininterrupta dos vários fatores.
6. Conclusão

Conclui-se que a geografia enquanto ciência no sentido Moderno surge somente no século
XIX.

Na Antiguidade a Geografia desenvolve-se com os gregos, dispersa e não se constituindo


ainda como uma ciência. No Feudalismo ocorrerá pouco desenvolvimento e grande parte de seus
estudos estarão influenciados pelo conhecimento Teológico. Na Idade Moderna, com o
surgimento do capitalismo, a Geografia se constitui Ciência, em embates das “Escolas” alemã e
francesa. A Geografia abrange, hoje, grande complexidade de aspectos em decorrência do
desenvolvimento do meio-técnico-científico-informacional.

A Geografia, como os outros campos de conhecimentos, é uma ciência dinâmica e suas


categorias fundantes são, também, dinâmicas: paisagem, lugar, região, território e espaço.
7. Referências Bibliográficas

ANDRADE, M. C (1987). Geografia, Ciência da Sociedade: uma introdução à análise do


pensamento geográfico. São Paulo: Atlas,

CÁTIA, Ana (2006). Geografia. Portugal. Disponível em: concursos.com

CLAUDINO, Guilherme Dos Santos (2019). Método e Geografia. Brasil. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/336254233

GOVE, Sérgio Arnaldo (s/d). Modulo: Evolução do Pensamento Geográfico. UCM,


Moçambique, Beira

JAPIASSÚ, H. & MARCONDES, D (1990). Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar.

LALANDE, A (1999). Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 3.ed. São Paulo: Martins
Fontes.

MORAES, A. C. R (1987). Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São Paulo: Hucitec.
SANTOS, Milton (2002). Espaço e método. São Paulo

RODRIGUES, A. J.; JESUS, A. S.; SILVA, J. A. B (2010). Uma breve história da formação da
ciência geográfica. (UNIT), Brasil.
1.0. Introdução

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