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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA APLICADA


Professores: Fernanda Faria & Francisca Diana Ferreira Viana

RESENHA TEMÁTICA
Disciplina: EA021 - Tópicos Especiais em Economia Aplicada - Economia dos
Recursos Naturais

Aluno: Gabriel Magalhães M. e Souza

Ouro Preto
2021
Tema: Curse and Blessing and Dutch Disease
Textos Discutidos: Manning(2004); Frankel (2010); Smith (2014); Lashitew,
Ross & Werker (2020).

As relações entre desenvolvimento econômico e a posse de recursos naturais é um


tema de importante discussão entre economistas. Um grande número de pesquisas
empíricas apontam para a existência de uma correlação negativa entre crescimento
econômico e a abundância de recursos naturais em países em desenvolvimento nos últimos
30 anos (Stevens, 2003). Esse efeito é usualmente chamado de maldição dos recursos
naturais.
Os efeitos desta dita “maldição” são considerados os culpados por criar
perturbações no sistema econômico de países em desenvolvimento. Estes abalos por sua
vez minam a capacidade de performance econômica desses países (Manning, 2004).
A exploração sobre como a presença de recursos naturais afeta a economia de um
país é feita a partir de estudos empíricos. Afinal, a dotação de recursos difere entre os
países em desenvolvimento - basta pensar aqui no caso dos países do Golfo Pérsico, ricos
em fontes de petróleo, e outros como Haiti ou Bangladesh, que são pobres em terras férteis
e minerais (Todaro & Smith, 2003).
Estudos até então realizados já encontraram efeitos positivos e negativos
relacionados à detenção de recursos naturais. Considerando-se a hipótese de que haja
realmente uma maldição sobre esses ativos, podemos considerar os seguintes efeitos da
sua existência: declínio do comércio a longo-prazo, volatilidade da receita proveniente da
exportação de produtos primários, ”Doença Holandesa”, efeito crowding-out, falhas de
governança, corrupção, baixos níveis de capital humano, etc. (Manning, 2004)
Antes que se possa compreender os efeitos da maldição dos recursos é necessário
introduzir a discussão sobre a existência da mesma. Os autores Sachs & Warner (1995,
1999, 2000) abordaram em diversos estudos econométricos as relações entre a
dependência de recursos naturais - sejam eles relacionados à agricultura, mineração ou
combustíveis - e o crescimento econômico. Já na pesquisa de 1995 os autores encontraram
uma clara relação negativa entre exportações baseadas em recursos naturais e crescimento
do PIB (Manning, 2004). Posteriormente, Sachs & Warner (1999), assim como Gylfason
(2001), estimaram que um crescimento de 10%, em termos de emprego, no setor primário
indicavam uma redução de 1% na taxa de crescimento do PIB per capita de um país
(Gylfason, 2001).
Existem críticas com relação a forma como a riqueza de recursos é abordada nestas
estimativas que confirmam a existência de um mal sobre sobre os recursos. Estas se
pautam na ideia de que existem formas distintas de riqueza em recursos. Se
considerarmos, por exemplo, a porção de terra arável per capita de um país como uma
proxy para a riqueza em recursos. Um país produtor de petróleo com um território pequeno,
poderia ser considerado como pobre em recursos, ainda que rico em petróleo. Fazendo
com que surjam dúvidas sobre base teórica que sustenta a hipótese da maldição dos
recursos (Manning, 2004). Ainda assim, a extensa literatura existente afirma que a maldição
dos recursos existe em numerosos setores primários (Auty, 2001).
Ao menos pode-se confirmar, independente da posição da pesquisa sobre a
existência ou não de uma doença dos custos, que existe uma relação entre recursos
naturais e desenvolvimento econômico. Alguns países - como, por exemplo, Canadá,
Austrália e os Estados Unidos da América - foram capazes de desenvolver suas economias
a partir da exploração de recursos naturais (Stevens, 2003). Outros países, como
Botswana, Chile, Indonésia e Malásia, ainda em desenvolvimento, mais recentemente,
foram capazes de driblar a maldição através da adoção de políticas públicas(Manning,
2004).
A literatura existente sobre a maldição dos recursos aponta mecanismos de
transmissão como a ponte entre a abundância em recursos e o crescimento econômico
(Manning, 2004). Segundo Gylfason (2001), estes mecanismos podem incluir a doença
holandesa, o pensamento rentista, falhas de governança e baixos níveis de capital humano.
Consequentemente, não é a mera existência de recursos naturais a responsável pela
estagnação econômica. Mas esta é capaz de gerar desequilíbrios que, por sua vez, servem
como mecanismos de transmissão capazes de afetar a economia.
Um dos principais fatores relacionados à maldição é o nível de capital humano das
economias dotadas de recursos. Uma economia dotada de abundantes fontes de recursos
naturais e terras agricultáveis, sofre perturbações nos níveis de salário e emprego do setor
manufatureiro com relação ao setor primário. Estes desequilíbrios por sua vez podem afetar
os níveis educacionais e o desenvolvimento como um todo do capital humano deste país.
Entretanto, outros fatores como, por exemplo, a pobreza podem atuar também sobre essa
balança enviesando a afirmativa de que a abundância de recursos seria a grande
responsável.
O fortalecimento de setores produtivos primários faz com que os países se
especializem na produção daqueles ativos nos quais mostram vantagens comparativas. Em
consequência desta especialização os níveis de diversificação da economia são afetados.
Assim, a variação dos preços de exportação do ativo em que se especializou se torna
altamente impactante para economia, resultando nos efeitos crowding-out e na doença
holandesa.
Os efeitos da especialização e variação nos preços de commodities podem afetar de
diferentes formas os setores da economia. Em Lashitew, Ross & Werker (2020), os
resultados da pesquisa apontam que o setor manufatureiro, nos países produtores de
petróleo, foi positivamente afetado pelo boom nos preços do petróleo dos anos 70. Em
contrapartida, a exportação de commodities da agricultura foi negativamente afetada no
mesmo período. Os autores apontam que este efeito negativo pode ser resultado de uma
doença holandesa na agricultura naquele período devido à variação positiva nos preços do
petróleo.
Finalmente, pode-se afirmar que a questão dos recursos naturais e a sua relação
com o desenvolvimento econômico deve ser avaliada casa a caso. Sendo de importante
compreensão para os países detentores de recursos por afetar a forma como estes irão
formular suas políticas públicas.

Perguntas:
- Qual a relação entre a maldição dos recursos e o momento histórico da
descoberta dos mesmos?
- Como as políticas públicas que podem ser capazes de impedir a ocorrência de
uma maldição dos recursos são afetadas pela difusão do liberalismo?

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