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LICENCIATURA EM HISTÓRIA

LEANDRO GABRIEL BRANCO ALVES

PRODUÇÃO TEXTUAL

Jaraguá do Sul
2020
LEANDRO GABRIEL BRANCO

PRODUÇÃO TEXTUAL

Trabalho apresentado à Unopar, como requisito parcial à


aprovação no¨6º semestre do curso de Licenciatura em
História.

Jaraguá do Sul
2020
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................3
DESENVOLVIMENTO..................................................................................................4
1. O PROCESSO DE ESCRAVDÃO E SEU REFLEXO NA
SOCIEDADE..................4
2. ORIGEM E PROBLEMATIZAÇÃO DA
ABOLIÇÃO.................................................7
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................10
REFERÊNCIAS.......................................................................................................11
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INTRODUÇÃO

Este trabalho acadêmico na forma de produção textual, busca desenvolver a


compreensão a respeito do processo que ficou conhecido como Movimento
Abolicionista e seus desdobramentos.
Percebe-se que, através de grandes discussões envolvendo as mais diversas
pautas que abordam o movimento negro, desde a descida do primeiro escravizado a
chegar no Brasil, pode-se construir uma alternativa á narrativa dominante, esta
muitas vezes, encoberta pelo racismo estrutural velado ou não.
O ponto decisivo da questão, pode ser a dificuldade que estes
questionamentos podem provocar nos cidadãos brancos, no que tange aos seus
privilégios. É naturalmente incômodo tocar em assuntos que perturbam o conforto
social vigente, de modo que, ao analisar os novos documentos que hoje nos cercam,
talvez não consigamos disfarçar mais, a indignação que nos toma ao estudar os
relatos, documentos, e demais fontes históricas que nos trazem o tamanho da
injustiça histórica e, ao mesmo tempo, o tamanho da luta interminável que se segue
para quem sabe, num dia próximo, uma reparação e transformação social e
estrutural seja reivindicada.
Este estudo conta com a fundamentação técnica embasada em autores
especialistas os quais, com suas contribuições, trazem luz as nossas reflexões.
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DESENVOLVIMENTO

1 O PROCESSO DE ESCRAVIDÃO E SEU REFLEXO NA SOCIEDADE

O homem trilhou um longo caminho para chegar aos dias de hoje, fez grandes
descobertas essenciais para sua evolução, o fogo, a roda, meios de transportes,
agricultura, industrialização (...), contudo, provavelmente ainda não descobriu um
meio de combater a sua própria ignorância. Pode-se considerar, porém não deveria
devido a essa questão da evolução humana, que a miscigenação, em pleno século
XXI, fosse um dos principais motivos causadores de tal ignorância.
O Brasil, considerado um dos Países mais miscigenado do planeta, pois para
cá, desde que foi descoberto, vieram todo tipo de gente e misturaram-se, deste
modo, é contraditório algum pensamento, esboço ou manifestação discriminatória
quanto a raça, ou cor, partindo da ideia de que seus ancestrais podem ser de origem
índio, negro, branco, europeu, africano, chinês (...).
De acordo com Benedict Anderson (1992 apud Guimarães, 2005, p. 47-48)

Como uma comunidade de indivíduos dissimilares em termos étnicos,


que chegavam de todas as partes do mundo mormente da Europa. No
Brasil, a nação foi formada por um amálgama de crioulos, cuja origem étnica
e racial foi “esquecida” pela nacionalidade brasileira. A Nação permitiu que
uma penumbra cúmplice encobrisse ancestralidades desconfortáveis.

Conforme Nina Rodrigues (1933/1945) e Oliveira Viana (1932/1959) apud


Camino et al (2001, p. 20) “consideraram que a influência dos negros na civilização
brasileira, verificada através dos altos índices de mestiçagem, seria negativa por
eles serem membros de uma raça biologicamente inferior”.
Nesse contexto, a cor da pele tornou-se uma característica que evidencia o
indivíduo, a primeira vista, indica sua origem, por exemplo a origem africana
destaca-se pela cor negra a europeia predomina a cor branca e esta, parece ser
considerada, a nível hierárquico, a mais elevada e respeitada, assim pode-se dizer.
Segundo Guimarães (2005, p. 48) “Com a substituição da ordem escravocrata
por outra ordem hierárquica, a “cor” passou a ser uma marca de origem, um código
cifrado para a “raça”.
Tenta-se entender o racismo hoje em dia, a partir de uma análise do conjunto
estrutural formado ao longo da história do desenvolvimento dos povos, como a
cultura, a economia entre outros.
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[...] Para entender o racismo atual devemos, portanto, analisar o


contexto contemporâneo onde desenvolvem-se as novas formas dos
processos de exclusão social. E este contexto é dominado pela
globalização, que deve ser entendida como um conjunto de processos
que se estrutura em níveis diferentes (cultural, econômico, social, etc.) e
independentes entre si, embora fortemente inter-relacionados (CAMINO
et al, 2001, p. 16-17)

A discriminação que afeta os negros no Brasil pode ser atribuída a um passado


cruel da história desse povo, o tempo da escravidão e após a abolição o preconceito
ainda impera.

[...] A herança escravista continua mediando nossas relações


sociais quando estabelece distinções hierárquica entre trabalho manual
e intelectual, quando determina habilidades específicas para o negro
(samba, alguns esportes, mulatas) e mesmo quando alimenta o
preconceito e a discriminação racial [...] (PINSKY, 2011, p. 7)

Neste sentido, o negro, ainda hoje, dificilmente alcança cargos importantes e a


ele é associado alguns elementos próprios de sua cultura, religião, samba, esportes,
entre outros específicos, devido a importância e enorme presença de
afrodescendentes no Brasil, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2020), demonstrada na tabela 1:

Tabela 1: População brasileira, por cor ou raça

Fonte: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6403#resultado, 2020.

Diante disso, a postura contra o racismo, que pode vir na forma de


investimentos na rede pública de educação, promovendo campanhas e assistência
pública em comunidades, aplicação efetiva da lei contra o racismo, ou até mesmo
abrindo espaço para o protagonismo da cultura e religiosidade de matriz africana no
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país, talvez sejam pequenos passos á frente a serem dados, num início de gradativa
reparação histórica e do racismo estrutural acentuado na sociedade capitalista.
Freire (2000, p. 367) “Desrespeitando os fracos, enganando os incautos,
ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher,
não estarei ajudando meus filhos a serem sérios, justos, e amorosos da vida e dos
outros”.
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2 ORIGENS E PROBLEMATIZAÇÃO DA ABOLIÇÃO

O movimento abolicionista, segundo Neves (2020), se tornou notável a partir


da década de 1870, e nessa fase uma série de ramificações pró
abolicionismo surgiu em várias partes do país. A atividade desses grupos era vasta,
e o crescimento da discussão abolicionista alcançou a esfera da política, ressaltando
a grande resistência existente contra a abolição e suas consequências, de plano
principalmente econômico e social.
Conforme explica Neves (2020) entre 1878 e 1885 surgiram 227 sociedades
abolicionistas. Esses grupos, organizavam-se entre si no intuito de promover
atividades relacionadas a um desenvolvimento de uma consciência política para com
a sociedade, que consistia em entrega de panfletos e até comícios. A intenção era
que a discussão ganhasse força e respaldo na opinião pública de modo a pressionar
o regime político, inclusive incluindo atividades jurídicas, para que a situação das
pessoas escravizadas apresentasse uma melhora, mesmo que mínima.
As mobilizações nem sempre se davam de forma pacífica, e as vezes, eram
ilegais mesmo:

Já as ações ilegais são aquelas enxergadas como criminosas do ponto


de vista da lei da época e incluíam ações de desobediência civil. Os
abolicionistas incentivavam a fuga de escravos e davam abrigo para os que
haviam fugido. Uma ação comum foi o transporte de escravos fugidos para
o Ceará — estado que aboliu a escravidão em 1884. (Neves, 2020)

Como muitas passagens históricas na humanidade, a abolição da escravatura


no país acabou enfrentando períodos de incorfomidade com a ordem vigente. A
condição que levou ao tráfico de pessoas do continente africano até o Brasil, era
sobretudo, econômica, e provavelmente por este fator, por alvoroçar tantos
privilégios e interesses, levou tantos anos e processos para ser concretizada uma
mudança mais efetiva.
Conforma Reis (1999) o enfraquecimento da escravidão no Brasil, resultado
do esforço do movimento abolicionista, é claramente identificado por meio da
população de escravos que foi diminuindo consideravelmente ao longo do século
XIX:
 1818: 1.930.000
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 1864: 1.715.000
 1874: 1.540.829
 1884: 1.240.806
 1887: 723.419

Segundo aponta Neves (2020), no final da década de 1880, a continuação da


escravidão era já inviável, pois, ao mesmo tempo que afetava a imagem
internacional do Brasil (o último país da América a ainda utilizar trabalhadores
escravos), ocasionava a desordem interna do país, já que o Império não conseguia
mais controlar as fugas que eram frequentes.
Através da rebeldia e da resistência dos movimentos abolicionistas, a
efervescência das mobilizações populares, fazendo com que a própria elite pudesse
temer as revoltas causadas pelos abolicionistas, esta situação acabou, segundo
Neves (2020), causando mudanças nas leis, no sentido de uma possível pacificação
social, mas que de forma alguma ainda faria uma mudança estrutural:

Duas leis foram importantes nessa transição: a Lei do Ventre Livre, de


1871, e a Lei dos Sexagenários, de 1885. Essas decretavam o seguinte:
Lei do Ventre Livre: decretava que os filhos de escravos nascidos no
Brasil a partir de 1871 seriam livres. Os senhores de escravos poderiam
aproveitar da mão de obra desses até os 21 anos e então deveriam
conceder sua liberdade sem nenhuma indenização. Se preferissem,
poderiam conceder a liberdade desses aos oito anos, e por isso receberiam
600 mil-réis de indenização.
Lei dos Sexagenários: decretava que todo escravo com mais de 60
anos seria alforriado depois de trabalhar por mais três anos como
indenização de sua alforria. (Neves,2020)

A conquista da tão almejada abolição da escravatura acabou se tornando, ao


que parece, inevitável. Conforme sugere Neves (2020), a conhecida Lei Áurea, foi
aprovada no Senado e depois foi encaminhada para que a princesa regente, a
princesa Isabel, assinasse-a. Segundo Neves (2020), a Lei Áurea garantiu a
liberdade para os escravos de maneira imediata, e os proprietários de escravos não
receberam nenhum tipo de indenização ou reembolso
Observa-se que o que se seguiu após a abolição, não foi exatamente o que
podemos chamar de liberdade. Tudo que conhecemos a partir deste período é
amplamente documentado e de conhecimento público, mesmo muitas vezes
ocultado ou velado pela manipulação das informações vinculadas na grande mídia,
como uma espécie de véu que cobre os fatos. Neste contexto, fica a mensagem que
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já era conhecida na época e que pode ter eco nos dias de hoje: “os libertos agora
poderiam ser livres para buscarem uma vida melhor, porém a vida dos escravos
pós-abolição não foi fácil, principalmente pelo fato de que o preconceito na
sociedade era evidente” (NEVES, 2020)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou contribuir para a continuidade da discussão acerca


da abolição da escravidão no Brasil, procurando ressaltar os movimentos
abolicionistas e o reflexo da abolição na sociedade.
Diante de questões tão importantes como as origens do racismo estrutural e
sua apropriação pelo capitalismo, é de enorme relevância todos os elementos que
permeiam de forma séria a pauta da luta dos movimentos negros e seus desenlaces.
Temos uma sociedade que não privilegia a cultura e a religiosidade de matriz
africana, não reverencia a beleza negra, e pior, pratica o genocídio do povo de cor
preta a cada minuto, de forma explicita e até referendada pelo Estado.
A cada caso de violência contra o povo negro no Brasil, pode-se dizer que há
uma contribuição do comércio de pessoas escravizadas trazidas á força pra
trabalhar no país, afastados de suas famílias, sem nunca sonhar em ser donos dos
seus destinos. Este capítulo hediondo, teve a participação e o consentimento se
vários setores da sociedade, como pudemos ver neste exposto, bem como, a luta e
a resistência também sempre estiveram presentes.
Nesse contexto, tem-se a clareza de que, somente a leitura dos estudos
históricos, da divulgação dos ideiais anti-racistas abraçados atualmente por diversos
movimentos sociais, e a pressão das mobilizações populares, podem fazer ecoar a
luta dos movimentos abolicionistas de outrora que, através de sofrimento, batalhas e
inúmeras mortes, fizeram a resistência da existência e dignidade do povo negro.
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REFERÊNCIAS

CAMINO, Leoncio Camino; SILVA, Patrícia; MACHADO, Aline; PEREIRA, Cícero. A


Face Oculta do Racismo no Brasil: Uma Análise Psicossociológica.Revista
Psicologia Política. São Paulo, v. 1, n. 1, p. 13 - 36, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.


São Paulo: Unesp, 2000.

GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo.O racismo no paraíso racial. Racismo e anti-


racismo no Brasil. 2ª edição. Editora 34: São Paulo, 2005. p. 47-51.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional por


amostra de domicílios contínuas trimestral. 2020.Disponível em:
https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6403. Acesso em: 03 dez. 2020.

SILVA, Daniel Neves. "Movimento abolicionista"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/historiab/movimento-abolicionista.htm. Acesso em 10
de novembro de 2020.

PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 21 ed. São Paulo; Contexto, 2011.

REIS, João José. Nos achamos em campo a tratar da liberdade: a resistência negra
no Brasil oitocentista. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Viagem incompleta: a
experiência brasileira. São Paulo: Senac, 1999. p. 245.

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