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PALAVRAS CHAVES:
Parceria Público-Privada, Responsabilidade Social, Mobilidade Sustentável
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jurídico da função social da propriedade até para que se possam atender os princípios do
Direito Ambiental e à já referida estrutura tripartite do desenvolvimento auto-sustentável.
ESTADO CAPITAL
Políticas Valor
Públicas do Solo
LOCALIZAÇÃO E TRANSPORTE
modalidade rodoviária com ênfase para o automóvel, imprimindo valor de uso à cadeia de
produção deste bem, isto é: desde a produção de combustíveis aos edifícios com garagem.
A principal questão colocada para a nossa realidade urbana, baseada em profunda
segregação espacial com impactos sociais e ambientais é: "Como é possível promover
qualidade ambiental urbana para todos, desconcentrando atividades urbanas geradoras de
oportunidades de emprego e viagens, redistribuindo-as nos espaços urbano e regional e
melhorando os indicadores de mobilidade urbana para todos, sem contrariar a condição sine
qua non ao processo de desenvolvimento urbano de se ter economias de localização e
aglomeração restritas a localizações privilegiadas?".
Ao tentar responder essa questão central, este trabalho pretende apresentar ao
administrador público uma proposta desenvolvida na UFRJ pelo Grupo de Pesquisa Mobile,
apoiado pelo CNPq, aplicada em estudo encomendado pelo BNDES, no qual foi verificada
sua viabilidade técnico-econômica, de modo a servir como orientação metodológica ou
modelo de desenvolvimento urbano sustentável que pode ser implantado.
assumir responsabilidades que não fazem parte originalmente do seu plano de negócios. As
empresas, tanto as nacionais quanto as multinacionais, vêm implantando ações e programas
sociais e ambientais que têm prestado um serviço bastante relevante para determinados
grupos, evitando a degradação ambiental e a extinção de recursos naturais.
Halal, 2000 apud Pinto, 2003 e Hillman et al., 2001, interpretam este comportamento
engajado como uma possibilidade de lucro e de responsabilidade social. A incorporação das
atividades/agentes da própria cadeia de produção da empresa, os stakeholders, vem sendo
tratada como estratégia que agrega valores econômicos e competitivos. Os stakeholders dos
quais a empresa não poderia existir sem a sua participação são os acionistas, os empregados,
os clientes, os fornecedores, a comunidade e o meio ambiente.
No Brasil, já são identificados diferentes graus de gestão social empresarial e de
incorporação do stakeholder na cadeia de produção. No caso das cidades brasileiras, nas
empresas que têm a sua produção vinculada aos aspectos urbanos (como terreno, unidades
residenciais e transporte) verifica-se que a gestão social tratada no âmbito empresarial ainda
se restringe ao ambiente de trabalho e às ações assistencialistas externas, pouco incorporando
os stakeholders na cadeia produtiva. Pfeiffer, 2001, identificou um período de administração
municipal em que houve o estímulo à colaboração dos empresários para a solução de
problemas do Rio de Janeiro. Das ações implantadas, não se teve nenhum tipo de avaliação
efetiva da contribuição ou grau que atingiram objetivos, satisfação dos contemplados,
mudanças observadas sobre a situação-problema e a sustentabilidade das ações. Ou seja, na
prática o conceito de Responsabilidade Social ainda é interpretado como um estímulo a “fazer
o bem”, um valor moral, ético e responsável. Ainda, está distante o reconhecimento de que
aproximar-se de outros stakeholders, além do Poder Público, possa agregar valores
econômicos e competitivos à empresa.
Legenda:
Serviço de transporte aquaviário (macro-acessibilidade) – integra diversas
comunidades por atalhos aquaviários.
Acqua Centro – terminal multimodal integrado a complexo de atividades
urbanas (comércio, serviço e lazer) de sua comunidade ou área de influência.
Zona Ambiental – Área de influência de um Acqua Centro de até 2 km,
servida por transporte alimentadores e/ou não motorizado (caminhos de
pedestres e ciclovias).
Núcleos Estruturadores de Tráfego (NET): grandes edificações que
substituem parte das vagas de garagem por assentos do serviço alimentador
ou comunitário, deixando de impactar a qualidade de circulação.
Anéis logísticos (micro-acessibilidade) - Serviços de transporte alimentador
ou comunitário (micro-acessibilidade) que integram atividades urbanas e
PGT de uma zona ambiental ou comunidade com o Acqua Centro.
Estatuto da Cidade, o operador dos Acqua Centros poderia transferir parte do potencial
construtivo outorgado para empreendimentos de sua área de influência.
Enfim, a sustentabilidade do sistema proposto está não apenas na oferta de lugares em
modalidades coletivas para o cliente-cidadão, mas, sobretudo, na oferta de acessibilidade que
justifique adensamento urbano sem prejuízo da qualidade ambiental com implantação de
empreendimentos imobiliários de diversos tipos de uso nas áreas de influência (zonas
ambientais) dos Acqua Centros.
do preço de venda, como tradicionalmente é feito no mercado. Já para a res separata, foi
adotada neste estudo aquela mesma praticada no mercado na administração de
empreendimentos do tipo shopping center, isto é, 60%.
Assim, para a definição dos valores de aluguel e res separata foram adotados os
seguintes procedimentos: o empreendimento teria como preço de venda de referência no
mercado o custo de implantação acrescido da remuneração do incorporador de 20%; e
considerou-se, baseando-se na experiência da UFRJ1, o índice de produtividade mensal por
m2 de referência para estabelecimentos destinados às classes A e B, projetando-se os demais
índices para estabelecimentos destinados as outras classes, com a mesma proporção observada
entre as despesas médias mensais familiares para diferentes classes dadas pelo IBGE2.
O Acqua Centros é a estratégia que viabiliza 17 de 30 serviços de transporte,
principalmente linhas de interesse social. Ressalte-se que sem a vinculação de potencial
construtivo não se poderia ter viabilizado para os segmentos sociais mais pobres inovação
tecnológica das embarcações (catamarãs com velocidades de 15 a 25 nós). A Tabela 2 mostra
o total de área útil a ser construída por metrópole nos diversos Acqua Centros e outros
indicadores (preços de julho/2001). Todos os critérios de viabilidade foram aprovados para
todos os casos, com tempo de retorno do investimento entre 7 a 9 anos.
São muitos os impactos positivos que se projeta nas indústrias naval, de veículos de
transporte coletivo (ônibus) e da construção civil dado o caráter sinérgico entre esses três
setores que o conceito adotado no estudo do BNDES promove. Esses impactos podem ser
classificados em indiretos e diretos.
Os impactos indiretos são o aumento da geração de empregos, da produtividade
urbana e da geração de impostos, ao se converter parte das vagas de estacionamento por
serviços de transporte para pólos geradores de tráfego instalarem-se na área de influência de
terminais de transporte. Considerando-se que os municípios permitam a conversão de até um
terço das vagas de estacionamento, previstas na legislação urbanística por assentos
equivalentes (proporção 1:12) nos serviços comunitários ou alimentadores propostos,
aumenta-se em até quase 20% a área útil de estabelecimentos comerciais sem acréscimo na
área total construída, gerando proporcionalmente aumento das receitas totais dos
empreendimentos beneficiados e todos aqueles benefícios sociais decorrentes.
Os impactos sociais diretos podem ser traduzidos pelo número de pessoas beneficiadas
pelos serviços propostos e o número de empregos diretos na produção, administração e
operação das indústrias naval e da construção civil, em função da adoção da tecnologia
proposta tanto para as embarcações quanto para os Acqua Centros. Quase 300.000 pessoas
beneficiar-se-iam diretamente dos serviços, que passariam a ser alternativa de transporte
preferencialmente escolhida, por maximizarem suas funções de utilidade (Tabela 3).
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este trabalho pretendeu apresentar ao administrador público uma proposta
desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Mobile/UFRJ, apoiada pelo CNPq e aplicada em estudo
encomendado pelo BNDES, no qual foi verificada sua viabilidade técnico-econômica, de
modo a servir como orientação metodológica ou modelo de desenvolvimento urbano
sustentável que pode ser implantado.
Conclui-se que ao se substituir a produção de um terço do estoque de vagas de
garagem por logística urbana (serviços da cadeia de atividades diárias do cidadão) por espaço
útil comercial, aumenta-se em até quase 20% a área útil de estabelecimentos comerciais sem
acréscimo na área total construída, o que resulta em maior produtividade do solo, com uso
alterado, e em geração de empregos.
Os Governos Federal, Estaduais e Municipais têm fundamental papel para induzir o
aumento da produtividade urbana já que o poder público é o maior proprietário de solo nos
centros metropolitanos que está sem uso ou sendo usado como estacionamento (no Rio de
Janeiro chega a mais de 50% do espaço livre existente).
A aplicação do conceito na exploração dos serviços aquaviários e dos terminais
propostos prevê que quase 300.000 pessoas beneficiar-se-iam diretamente dos serviços
propostos, que passariam a ser alternativa de transporte preferencialmente escolhida em suas
localidades. Ao todo, incluindo os empregos indiretos, estimam-se 5.400 empregos gerados
pela administração, execução e operação das embarcações, sendo 1.351 empregos diretos;
97.416 empregos gerados pela administração, execução e operação dos terminais propostos,
sendo 24.354 empregos diretos, sendo que em todos os casos o tempo de retorno do
investimento para a iniciativa privada varia de 7 a 9 anos.
Os empreendedores urbanos do Rio de Janeiro, que já mostraram disposição em
dobrar o investimento em políticas de responsabilidade social poderiam ter a opção de
implantar empreendimentos responsáveis que atendessem aos seus critérios de decisão e
minimizassem os problemas que eles próprios identificaram. Considerando que o serviço de
transporte custeado pelos pólos geradores de tráfego seja oferecido com exclusividade à sua
comunidade (vizinhança, clientes e funcionários), até mesmo no que se refere à segurança
urbana a proposta da UFRJ mostra-se eficaz e efetiva.
Recomenda-se ao administrador público municipal a breve regulamentação dos
institutos urbanísticos definidos no Estatuto da Cidade (principalmente o Relatório de
Impacto de Vizinhança e a Transferência do Direito de Construir), assim como ao governo
federal, através do Ministério das Cidades, implementar laboratórios de Gestão da Mobilidade
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5. BIBLIOGRAFIA
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NOTAS
1
Assistência Técnica ao Ministério Público do Rio de Janeiro, patrocinado por Brascan Imobiliária.
2
Pesquisa de Orçamentos Familiares, IBGE, 1996: Despesa Média Mensal Familiar efetuada em 1996 atualizada
a preços de julho de 2001. Base de dados amostrais as seguintes regiões metropolitanas: Rio de Janeiro, Porto
Alegre, São Paulo, Belém e Salvador.