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SUB-BACIA MARIANA: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-

QUÍMICA DO SOLO DA ÁREA CILIAR E


LEVANTAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO PARA FINS
DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

MAIRO FABIO CAMARGO

Dissertação apresentada à Universidade do Estado


de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
MAIRO FABIO CAMARGO

SUB-BACIA MARIANA: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA


DO SOLO DA ÁREA CILIAR E LEVANTAMENTO DO USO E
OCUPAÇÃO PARA FINS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Dissertação apresentada à Universidade do Estado


de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais
para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Cassiano Garcia Roque

Co-Orientadores: Profa. Drª. Maria Aparecida Pereira


Pierangeli
Prof. Dr. Aumeri Carlos Bampi

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
MAIRO FABIO CAMARGO

SUB-BACIA MARIANA: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA


DO SOLO DA ÁREA CILIAR E LEVANTAMENTO DO USO E
OCUPAÇÃO PARA FINS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Essa dissertação foi julgada e aprovada como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais.

Cáceres-MT, 17 de dezembro de 2009.

Banca Examinadora

________________________________________
Prof. Dr. Marco Antônio Camillo de Carvalho
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT

_______________________________
Prof. Dr. Morel de Passos e Carvalho
Universidade do Estado de São Paulo - UNESP

________________________________________
Prof. Dr. Cassiano Garcia Roque
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS
Colaborador do Programa de Ciências Ambientais
(Orientador)

CÁCERES
MATO GROSSO, BRASIL
2009
AGRADECIMENTOS

A todos os colegas da turma 2008 do Programa de Mestrado em


Ciências Ambientais da UNEMAT;
Aos professores que estiveram nos auxiliando e nos guiando pelos
caminhos do conhecimento;
Ao Professor Dr. Cassiano Garcia Roque, pela amizade e orientação;
Ao amigo Professor Dr. Ricardo K. Umetsu (Japa) pelo auxílio e amizade
durante esta caminhada, além é claro das boas gargalhadas nas viagens ao
campo;
Aos Graduandos em Engenharia Florestal, Thiago Rodrigo Cardoso e
João Paulo Batist pela ajuda nas coletas e realização das análises
laboratoriais;
À minha esposa Aline que com muito amor e compreensão esteve
presente nesta jornada.
Ao meu filho Daniel que foi o grande incentivador desta jornada.
A todos, que direta ou indiretamente participaram de mais esta fase da
minha vida.
“Um raciocínio lógico leva você de
A a B. A Imaginação leva você a
qualquer lugar”.

Albert Einstein
ÍNDICE

Lista de tabelas ................................................................................................ 8

Lista de figuras ................................................................................................. 9

Resumo ............................................................................................................ 11

Abstract ............................................................................................................ 13

Introdução geral ............................................................................................... 15

Capítulo 1 ......................................................................................................... 18

Contextualização da ocupação de bacias hidrográficas e sua influência nos


atributos do solo ............................................................................................... 18

1. Solo - uso, ocupação e degradação ambiental em bacias hidrográficas...... 19

2. Uso e ocupação dos solos no Brasil ............................................................ 20

3. Uso e ocupação do solo na região da Amazônia Mato-grossense............... 21

4. Uso e ocupação dos solos em bacias hidrográficas..................................... 23

5. Uso e ocupação do solo na sub-bacia hidrográfica Mariana ........................ 24

6. Parâmetros da qualidade dos solos ............................................................. 25

6.1 Fertilidade natural dos solos ................................................................. 25

6.2 Parâmetros Físicos dos Solos .............................................................. 27

7. Referências Bibliográficas ............................................................................ 29

Capítulo 2 ......................................................................................................... 32

Avaliação das características físicas do solo da área ciliar da sub-bacia


hidrográfica Mariana, para fins de conservação ambiental .............................. 32

1. Introdução .................................................................................................... 34

2. Material e métodos....................................................................................... 35

2.1 Área de estudo ................................................................................... 36

2.2 Parcelas e delineamento experimental .............................................. 37

2.3 Amostragem e análise do solo ........................................................... 38


2.4 Análise estatística .............................................................................. 39

3. Resultados e discussão................................................................................ 39

3.1 Variabilidade dos atributos físicos em relação ao curso da sub-bacia


Mariana .................................................................................................... 40

3.2 Variabilidade dos atributos físicos do solo em função da profundidade


do perfil .................................................................................................... 42

3.3 Resistência mecânica do solo a penetração vertical (RSP) ....................... 45

4. Conclusões................................................................................................... 46

6. Referências Bibliográficas ............................................................................ 47

Capítulo 3 ......................................................................................................... 50

Análise da fertilidade natural do solo da área ciliar da sub-bacia hidrográfica


Mariana, para fins de conservação ambiental .................................................. 50

1. Introdução .................................................................................................... 52

2. Material e Métodos....................................................................................... 53

2.1 Área de estudo ................................................................................... 53

2.2 Parcelas e delineamento experimental .............................................. 54

2.3 Amostragem do solo .......................................................................... 55

2.4 Análises do solo ................................................................................. 55

2.5 Análise estatística .............................................................................. 55

3. Resultados e discussão................................................................................ 56

3.1 Granulometria............................................................................................. 56

3.2 Avaliação da fertilidade do solo na sub-bacia hidrográfica Mariana........... 57

4. Conclusões................................................................................................... 68

5. Referências Bibliográficas ............................................................................ 69

Capítulo 4 ......................................................................................................... 72

Uso-ocupação do solo e perfil sócio-econômico da população inserida na sub-


bacia hidrográfica Mariana ............................................................................... 72

1. Introdução .................................................................................................... 74
2. Materiais e métodos ..................................................................................... 76

2.1 Área de estudo ................................................................................... 76

2.2 Delimitação da sub-bacia hidrográfica Mariana e análise visual


temporal da atividade antrópica no município de Alta Floresta-MT.......... 77

2.3 Caracterização do perfil sócio-econômico da população rural inserida


na bacia hidrográfica Mariana .................................................................. 78

3. Resultados e discussão..................................................................................78

3.1 Perfil das famílias residentes na sub-bacia hidrográfica Mariana....... 78

3.2 Cenário atual da utilização do solo na sub-bacia Mariana...................83

4. Conclusões................................................................................................... 91

6. Referências Bibliográficas ............................................................................ 92

Considerações finais ........................................................................................ 94

Apêndice .......................................................................................................... 95
LISTA DE TABELAS

Capítulo 1
Tabela 1: Granulometria média do solo das parcelas amostrais e classe textural
nas profundidades de 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m, em g.kg-1 ............... 39
Tabela 2: Análise da variância dos dados referentes à umidade gravimétrica,
densidade do solo, porosidade total, em relação ao curso da sub-
bacia, profundidade do perfil de coleta e desdobramento................ 40
Tabela 3: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do solo
(Ds) e porosidade total do solo (Pt) em função do Alto e Médio curso
da sub-bacia Mariana....................................................................... 42
Tabela 4: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do solo
(Ds) e porosidade total do solo (Pt) nas profundidades estudadas.. 43
Tabela 5: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do solo
(Ds) e porosidade total do solo (Pt) para a interação de profundidade
dentro de curso................................................................................ 44

Capítulo 2
Tabela 1: Granulometria média do solo das parcelas amostrais e classe textural
nas profundidades de 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m, em g.kg-1 ............... 56
Tabela 2: Análise de variância dos dados referentes aos atributos químicos do
solo em relação ao alto e médio curso, profundidade de coleta e
desdobramento (parcelas * profundidade) da sub-bacia hidrográfica
Mariana. ........................................................................................... 59
Tabela 3: Média dos atributos químicos do solo para Alto e Médio curso da sub-
bacia hidrográfica Mariana, região de Alta Floresta-MT................... 67
Tabela 4. Média dos atributos químicos do solo das parcelas em função da
profundidade de coleta na sub-bacia hidrográfica Mariana.............. 67
Tabela 5: Médias das variáveis: Soma de Bases (SB) e Cálcio (Ca) para a
interação de profundidade dentro de curso.......................................68

Capítulo 4:
Tabela 1: Formas de uso e ocupação da sub-bacia hidrográfica Mariana,
expresso em hectares e percentuais................................................ 86
LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1: Mapa de vegetação e uso das terras do estado de Mato Grosso. .... 23

Capítulo 2

Figura 1: Localização da Sub-bacia hidrográfica Mariana................................ 36

Figura 2: Mapa hidrográfico da sub-bacia Mariana, e localização das parcelas


amostrais.......................................................................................... 37

Figura 3: Resistência do solo a penetração (RPS) em um Latossolo Vermelho-


Amarelo distrófico, avaliado em cinco profundidades e em nove
parcelas da sub-bacia hidrográfica Mariana..................................... 45

Capítulo 3

Figura 1: Localização da área de estudo, sub-bacia Mariana, extremo norte do


Estado de Mato Grosso.................................................................... 54

Figura 2. Relação da capacidade de troca de cátions potencial em função dos


teores de argila. Ajustaram-se os dados através do método dos
quadrados perfeitos.......................................................................... 63

Figura 3. Relação do pH em CaCl2 em função da capacidade de troca de


cátions potencial............................................................................... 63

Figura 4: Relação entre pH em CaCl2 e a capacidade de troca de cátions


efetiva............................................................................................... 64

Figura 5: Relação entre pH em CaCl2 e soma de bases (SB) do solo............. 65

Capítulo 4

Figura 1: Ilustração da Vegetação da área de estudo. Fotografias


demonstrando a Floresta Ombrófila aberta submontana com cipós. 77

Figura 2: Estado de origem dos habitantes da sub-bacia hidrográfica Mariana,


expresso em percentuais ................................................................. 80

Figura 3: Percentual de distribuição do tamanho das propriedades rurais da


área da sub-bacia hidrográfica Mariana. .......................................... 81
Figura 4: Variação percentual da renda (R$) das propriedades da área da sub-
bacia hidrográfica Mariana ............................................................... 82

Figura 5: Delimitação da sub-bacia hidrográfica Mariana e uso e ocupação do


solo................................................................................................... 84

Figura 6: Delimitação do município de Alta Floresta, e análise visual temporal


da atividade antrópica nos últimos 15 anos. .................................... 85

Figura 7: Ilustração de áreas de APPs degradadas. Fotografias demonstrando


o acesso a dessedentação do gado................................................. 87

Figura 8: Ilustração de nascentes desprovidas de vegetação ciliar. Fotografias


demonstrando os processos de agressão ao solo e ao corpo d`água.
......................................................................................................... 88

Figura 9: Ilustração de tentativas de reflorestamento. Fotografias demonstrando


os processos de recuperação de áreas de preservação permanente.
......................................................................................................... 89

Figura 10: Ilustração de área de nascentes em degradação elevada.


Fotografias demonstrando processos de degradação que
compromete a qualidade e quantidade de água. ............................. 90

Figura 11: Ilustração de áreas com processos erosivos. Fotografias


demonstrando processos erosivos devido à remoção da cobertura
florestal............................................................................................. 91
RESUMO

CAMARGO, Mairo Fabio. SUB-BACIA MARIANA: CARACTERIZAÇÃO


FÍSICO-QUÍMICA DO SOLO DA ÁREA CILIAR E LEVANTAMENTO DO USO
E OCUPAÇÃO PARA FINS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL. Cáceres:
UNEMAT, 2009, 96p. (Dissertação - Mestrado em Ciências Ambientais)1.

A sub-bacia hidrográfica Mariana localizada no município de Alta


Floresta-MT, através de suas nascentes e córregos forma o ribeirão
Taxidermista, corpo d´àgua de onde realiza-se a captação da água fornecida
aos habitantes do núcleo urbano do município de Alta Floresta-MT. Os
objetivos do trabalho foram promover a caracterização físico-química dos solos
da área ciliar e realizar o levantamento do uso e ocupação da área da sub-
bacia hidrográfica Mariana, a fim de promover informações capazes de
contribuir com a conservação e recuperação ambiental da região. Selecionou-
se na área delimitada pela sub-bacia nove parcelas, distribuídas da seguinte
forma: seis na área compreendida pelo Alto curso da sub-bacia e três na área
do Médio curso, demarcadas de forma não contígua e aleatórias, dispostas
paralelamente ao curso d´àgua de forma a representar as maiores variações
possíveis. Cada parcela possuía 20 x 50 m, totalizando 0,9 ha. Foram
amostradas todas as áreas que possuíam tamanho suficiente de área com
vegetação e acesso terrestre permitido. Em cada parcela foram realizadas
cinco amostragens, em duas profundidades (0,0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m), sendo
realizadas 30 repetições no Alto curso e 15 no Médio curso, totalizando 90
amostragens. As análises físicas realizadas foram: densidade do solo, umidade
gravimétrica, e porosidade total (método do anel volumétrico de Kopek),
granulometria (método de boyoucus) e resistência mecânica do solo à
penetração (métodos de Stolf). Os atributos químicos analisados foram: pH em
CaCl2; matéria orgânica (método de Walkley e Black); alumínio, cálcio,
magnésio (método titulométrico) e potássio trocável (método de
espectrofotometria de chama); fósforo disponível (espectrofotometria UV-VIS) e
acidez potencial (método titulométrico). A CTC potencial, CTC efetiva, soma de
bases, saturação por bases e saturação por alumínio foram calculadas a partir
dos dados analíticos. O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado. O levantamento do uso e ocupação foi realizado através de visitas
ao campo, entrevistas (questionário semi-estruturado) e análise de imagens
orbitais de satélites. Os resultados mostram que a densidade do solo
apresenta-se alta, quando comparada a sistemas de floresta nativa, podendo
inclusive restringir o desenvolvimento das raízes das árvores. Verificou-se que
a umidade gravimétrica foi igual nos cursos e nas profundidades estudadas. Os
valores de porosidade do solo apresentam-se adequados para áreas de mata
ciliar nativa, ocorrendo sua diminuição com a profundidade. A resistência do
solo a penetração foi classificada como média, tanto no Alto quanto no Médio
curso, para a profundidade de até 0,2 m. Classificou-se o solo da sub-bacia,
quanto a granulometria em textura franco-arenosa. Os teores dos atributos

1
Comitê Orientador: Prof. Dr. Cassiano Garcia Roque, UFMS-Chapadão do Sul – Orientador, Prof. Dr.
Aumeri Carlos Bampi, UNEMAT, Profª. Drª. Maria Aparecida Pereira Pierangeli, UNEMAT
químicos dos solos foram classificados como baixos e médios, a maioria das
parcelas apresentam problemas de acidez e baixa saturação por bases, não
registrando-se toxidade por alumínio, os teores de matéria orgânica foram
classificados como baixos, podendo indicar degradação da área do estudo ou
baixa velocidade de decomposição. A atividade de uso do solo predominante é
o monocultivo de pastagem artificial (Brachiaria brizantha), a principal matriz
econômica é a criação de gado leiteiro (propriedades < 25 ha) e gado de corte,
cria e recria (propriedades > 25 ha). O uso e ocupação do solo foi realizado
sem planejamento e acompanhamento técnico, as áreas de preservação
permanente não foram respeitadas, a ação antrópica desencadeou diversas
modificações no ecossistema e a proposição de políticas públicas que visem a
gestão e a educação ambiental são urgentes.

Palavras-chave: física do solo, fertilidade do solo, gestão ambiental, educação


ambiental, degradação do solo.
ABSTRACT

CAMARGO, Mairo Fabio. MARIANA SUB-BASIN:


CHARACTERIZATION PHYSICS-CHEMISTRY THE SOIL OF CILIAR AREA
AND USE OCCUPATION FOR AMBIENT CONSERVATION. Cáceres:
UNEMAT, 2009, 96p. (Dissertation - Master in Environment Science)2

The hidrografic Mariana sub-basin, located at Alta Floresta-MT form the


Taxidermista river, body water of where becomes fullfilled it captation of the
water supplied to the inhabitants of the urban nucleus of the Alta Floresta-MT
city. This work objectived to promote the soil physicis-chemistry characterization
to use and occupation in the sub-basin area, by selected nine parcels,
distributed of the following form: six in the area understood for the High course
of sub-basin and three in the area of the Average course, demarcated of not
contiguous form and random, made parallel to the course of water to represent
the biggest possible variations. Each parcel size 20 x 50 m, totalizing 0,9 ha.
The areas had been analised to all that so great sufficient of area with
vegetation and allowed terrestrial access. In each parcel five samplings had
been carried through, in two depths (0,0 the 0.1 the 0,2 m and 0.1 m), being
carried through 30 repetitions in the High course and 15 in the Average course,
totalizing 90 samplings. The soil physical analyses had been: soil density,
gravimetrical humidity, and total porosity, size particle distribution and soil
mechanical resistance to penetration. The chemical attributes analyzed had
been: pH in CaCl2; organic matter; aluminum, calcium, magnesium, potassium,
available match and potential acidity. The CTC, bases addition, bases
saturation and the aluminum saturation has been calculated from the analytical
data. The experiment was installed in a completely randomized design. The soil
use and occupation had been carried out visits the field, interviews (half-
structuralized questionnaire) and analysis of satellites orbital images. The
results demonstrate that the density of the soil is high, when comparative the
systems of native forest, also being able to restrict the development of the roots
the trees. It was verified that the gravimetrical humidity was equal in the courses
and the studied depths. The values of porosity the soil are adequate for areas of
native ciliar, occurring its reduction with the depth. The soil mechanical
resistance was classified as average, as much in the High one how much in the
Average course, for the depth of up to 0,2 m. The soil granulemetrics classified
in Franc-arenaceous texture. The chemical attributes been classified as low, the
majority of the parcels present acidity problems and low saturation for bases,
not registering aluminum toxicity, the organic matter had been classified as low,
being able to indicate degradation of the area of the study or low decomposition
speed. The activity of the use predominant is the monoculture of artificial
pasture (Brachiaria brizantha), the economic matrix of the area is the creation of
milk cattle (properties < 25 ha) and cattle of cut, create and recreate (properties
> 25 ha). The soil use and occupation were carried out without planning and

2
Guidance Committee: Teacher Aumeri Carlos Bampi, UNEMAT-Sinop; Teacher Maria Aparecida
Pereira Pierangeli, UNEMAT-Pontes e Lacerda; Major Teacher: Cassiano Garcia Roque, UFMS-
Chapadão do Sul-MS.
accompaniment technician, the areas of permanent preservation had not been
respected, the antropic action unchained diverse modifications in the ecosystem
and the proposal of public politics at the management and the ambient
education is urgent.

Key Words: soil physics, soil fertility, ambient management, ambient education,
soil degradation.
15

INTRODUÇÃO GERAL

A sub-bacia hidrográfica Mariana está localizada no extremo norte do


estado de Mato Grosso, no município de Alta Floresta, distante cerca de 830
km da capital Cuiabá, sob as coordenadas geográficas 56°8`0``W, 56°,5`0``W
e 9°56`30`` S, 9°59`30``S (BRASIL, 1980).
Os trabalhos científicos realizados na região da sub-bacia são escassos,
sendo constituídos basicamente de um trabalho de especialização e algumas
teses de conclusão de curso de graduação.
Estudos que promovam conhecimentos a respeito da recuperação de
áreas degradadas se constituem condição indispensável para a manutenção e
recuperação do ecossistema da região e o conhecimento dos atributos físicos e
da fertilidade do solo são fatores fundamentais para a proposição de ações
conservacionistas que visem à gestão ambiental das propriedades e a
educação ambiental da população que necessita dos benefícios das áreas
ciliares, sendo elas direta ou indiretamente dependentes.
A sub-bacia hidrográfica Mariana é um recurso de vital importância para
a população da área urbana do município, pois suas nascentes formam o
ribeirão Taxidermista, córrego de onde a empresa de saneamento faz a
captação da água distribuída ao núcleo urbano do município.
O objetivo geral do estudo foi produzir informações capazes de contribuir
para o processo de produção, conservação e recuperação da área, a fim de
minimizar as perturbações de origem antrópica desencadeadas no
ecossistema.
A fim de atender os objetivos propostos, o trabalho traz em seu capítulo
inicial a contextualização da ocupação de bacias hidrográficas e sua influência
nos atributos do solo.
O capítulo 2 trata da avaliação das características físicas do solo das
parcelas estudadas na área ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana.
O terceiro capítulo aborda a avaliação das características químicas,
realizando-se a classificação da fertilidade do solo da área ciliar nas parcelas
estudadas.
16

Finalmente, o capítulo 4 demonstra o uso e ocupação do solo, assim


como faz uma avaliação sócio-econômica das famílias residentes na área
delimitada pela sub-bacia.
17

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério das Minas e Energia, Secretaria Geral, Projeto RADAM


Brasil. Folha SC-21 Juruena: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e
uso potencial da terra, Rio de Janeiro, 1980.
18

Capítulo 1

Contextualização da ocupação de bacias hidrográficas e sua influência


nos atributos do solo

Resumo

A crescente demanda pelo uso dos recursos naturais foi acompanhada nos
últimos anos pela preocupação com a quantidade e a qualidade desses
recursos. O estudo do uso e ocupação de bacias hidrográficas, assim como
dos atributos físicos e químicos do solo são essenciais para o planejamento de
ações e tomadas de decisões que visem à gestão do ambiente. Neste trabalho
realizou-se uma revisão bibliográfica que permite conhecer os diversos
componentes e processos que ocorrem nestes ambientes.

Palavras-Chave: Ocupação de bacias hidrográficas, fertilidade do solo, uso e


ocupação da região amazônica.

Abstract

The crescent demand by the use of natural resources has been accompanied in
recent years by preoccupation about the quantity and quality of these
resources. Use and occupation studies of basins, as the soil physical and
chemical properties are essential for the action planning and decision making
aimed at environmental management. In this work was done a literature review
to provide information about the various components and processes that occur
in these environments.

Key-words: Hydrographic basin, soil fertility, use and occupation of amazonic


region.
19

1. Solo - uso, ocupação e degradação ambiental em bacias hidrográficas

O uso e manejo do solo sem a preocupação com uma adequada


avaliação prévia de suas potencialidades e limitações têm ocasionado
inúmeros distúrbios nos ecossistemas, devido à degradação dos recursos
naturais indispensáveis para a sobrevivência dos seres vivos, como o solo e a
água (BERTONI e LOMBARDI NETO, 1999).
Os solos, do ponto de vista pedológico são definidos como coleção de
corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas,
tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos, que
ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do
nosso planeta, contém matéria orgânica viva e podem ser vegetados na
natureza onde ocorrem. Ocasionalmente podem ter sido modificados por
atividades humanas (EMBRAPA, 1999).
Segundo Tilman (1999), a produção de alimentos dobrou nos últimos 35
anos, acompanhada de um acréscimo de 6,87 e 3,48 vezes, respectivamente,
a taxa de acréscimo de adubação nitrogenada e fosfatada. Este aumento
implicou ainda na duplicação de terras irrigadas e um aumento de cerca de
10% das terras cultivadas.
A agricultura, além da produção de alimentos, também proporciona a
perda do solo e a erosão, que como conseqüências levam a perda gradativa do
potencial produtivo do solo e a degradação dos recursos hídricos através do
carreamento de partículas para os mananciais (Ibid,1999).
Chaves (1999) cita algumas causas que levam à erosão: o mau uso e
manejo inadequado do solo, o desmatamento, as queimadas, o uso incorreto
de equipamentos agrícolas, os inadequados projetos hidrológicos das estradas,
e a inadequação das práticas conservacionistas. Segundo o autor, o
assoreamento é um dos últimos estágios dos problemas de degradação de
bacias hidrográficas no nosso país, sendo um problema que merece atenção,
pois os sedimentos transportados durante o processo erosivo podem carrear,
adsorvidos aos colóides dos solos, íons e moléculas oriundos de fertilizantes e
agrotóxicos que ao se depositarem nos corpos d´água podem levar ao
20

assoreamento, eutrofização e ou contaminação dos corpos hídricos,


ocasionando diminuição da qualidade e quantidade de água disponível.
A partir destas observações, se faz importante citar Dumanski e Pieri
(2000), que afirmam que pela primeira vez nos deparamos com uma situação
em que o manejo sustentável dos recursos naturais é mais importante que o
suprimento de produtos para o desenvolvimento, uma vez que a manutenção
da vida, na forma como conhecemos hoje, está intimamente dependente dos
recursos naturais.

2. Uso e ocupação dos solos no Brasil

O Brasil está situado na região tropical do globo terrestre, ou seja,


situado entre as latitudes dos trópicos. Esta particularidade garante solos
distintos de outras regiões do globo. Segundo Lathwell e Grove (1986), nos
trópicos são comuns solos altamente intemperizados devido à estabilidade
geológica da paisagem após longos períodos e também devido às altas
precipitações e temperaturas elevadas.
O Brasil é um país de extensões continentais, ocupando grande parte da
superfície terrestre. Devido sua grande dimensão a classificação dos solos,
além de suas propriedades físicas, químicas mineralógicos e morfológicos se
torna de vital importância para a descrição de suas potencialidade e limitações
(PRADO, 1998).
O processo de ocupação e uso do solo brasileiro foi iniciado com o
desmatamento predatório no final do século XVIII para a implantação de
canaviais e posteriormente de imensas fazendas de café, os quais foram
responsáveis pela eliminação de milhares de hectares de áreas de floresta
(PICOLI, 2004).
O modelo histórico de ocupação implantado no Brasil tem reflexos muito
aparentes até hoje. A forma como inúmeras áreas continuam sendo
derrubadas para a implantação da agropecuária não param de crescer. De
acordo com estudos do IBGE (2006) o Brasil possuí 8.518.415 km2, destes 550
milhões de hectares são potencialmente agrícolas e 240 milhões de hectares
21

estão sendo utilizados anualmente. Do quantitativo utilizado, 25% são culturas


diversificadas e 75% ocupadas por pastagem.
Das culturas diversificadas, as que mais se destacam são soja, cana,
milho, arroz e algodão, que juntas, correspondem a 81,5% da área plantada e o
restante (19,5%), representadas por café, amendoim, trigo, feijão e outras de
menor importância econômica (IBGE, 2006).
Assim, observa-se que o modelo de produção e ocupação
historicamente adotado no Brasil e as ações desenvolvidas pelos atores do
processo estão intimamente relacionados, pois distúrbios causados nos solos
ocasionaram alterações qualitativas e quantitativas que levaram à diminuição
da fertilidade (MARTINS, 2007).

3. Uso e ocupação do solo na região da Amazônia Mato-grossense

A região da Amazônia Mato-grossense manteve-se até a década de


1960 à margem do processo de expansão ocupacional brasileiro, situação esta
que foi gradativamente invertida com a construção da Capital Federal no
Planalto Central e, à medida que foram implantados os programas de
incentivos regionais coordenados pela SUDAM E SUDECO e, construídas as
grandes rodovias (HIGA, 2001).
O uso e ocupação da Amazônia Mato-grossense intensificou-se durante
o final da década de 1960 e início da década de 1970, durante o processo
histórico conhecido como “Revolução Verde”. Inicialmente os migrantes
ocuparam as áreas do cerrado e posteriormente, através de incentivos
governamentais, para a região de domínio amazônico (PICOLI, 2004).
Assim, durante a década de 1970, se iniciou a implantação dos
primeiros grandes projetos de colonização da Amazônia Mato-grossense, e que
foram intensificados após a divisão do Estado de 1978. O sucesso destes
projetos foi e ainda é evidente devido ao surgimento de inúmeras vilas e
cidades (HIGA, 2001).
Diversos programas e organismos de desenvolvimento regional foram
implantados pelo Governo Federal para promover a ocupação da região,
priorizando, sobretudo os projetos agropecuários, uma vez que a região do
22

cerrado ainda não se apresentava propícia para a agricultura. Dentre os


programas implantados na época estão o PROTERRA, POLAMAZÔNIA,
POLOCENTRO e o POLONOROESTE (MORENO, 1999).
O PROTERRA tinha como foco central financiar a implantação de
projetos particulares de colonização, o POLAMAZÔNIA criou quinze pólos de
desenvolvimento, o POLOCENTRO forneceu recursos para a instalação de
obras de infra-estrutura e o POLONOROESTE foi concebido para promover o
desenvolvimento regional nas áreas cortadas pela BR-364, além da
regularização fundiária do Estado. O rápido crescimento ocupacional se deu a
um elevado custo para o ambiente, pois milhares de hectares de florestas
foram e ainda continuam sendo derrubados, deixando cabeceiras de rios
desprotegidos o que compromete a biodiversidade regional (Ibid, 1999).
Segundo Zart (1998) as famílias que vieram para Matogrosso eram
constituídas de pessoas marginalizadas através do processo histórico de
exclusão social. Estas famílias não receberam nenhuma orientação sobre a
dinâmica e interação da natureza frente à atividade de produção a ser
empregada na região e diante desta nova realidade a forma de ocupação
adotada e uso do solo, hoje se apresenta como um enorme erro de perspectiva
(RESENDE, 2002). Como conseqüências dessas atividades, autores como
Corrêa (1985) e Marques, (2004) enfatizam que é comum nas florestas
tropicais a produção agrícola decrescer drasticamente em poucos anos após o
desmatamento da floresta primária.
Nesta perspectiva, levantamentos do IBGE (2007) demonstram que no
estado de Mato Grosso, excluído-se as áreas urbanas, 14,2% do total é
ocupado por lavouras, com destaques para a produção de soja e algodão,
47,1% por pastagens e apenas 38,7% de mata nativa. A Figura 1 demonstra a
vegetação, uso e ocupação do solo do estado de Mato Grosso.
Diante dessas informações, pode-se concordar com Pierangeli (2005)
que descreveu o atual modelo de produção agrícola adotado no Brasil e
implantado na região da Amazônia Mato-grossense, como insustentável sob o
ponto de vista social, econômico e ambiental, enfatizando que a forma de uso
do solo está levando de maneira acelerada a perda de nutrientes através da
lixiviação, uma vez que o solo amazônico é bastante pobre.
23

Figura 1: Mapa de vegetação e uso das terras no Estado do Mato Grosso.


disponível em: http://www.qmdmt.cnpm. embrapa.br/715.htm

4. Uso e ocupação dos solos em bacias hidrográficas

As sub-bacias hidrográficas, segundo Zakia (1998), oferecem condições


ideais para o desenvolvimento de estudos que relacionem estudos ecológicos
relacionados com a estrutura e a dinâmica do ecossistema florestal, visando à
simulação de manejo e conservação.
Historicamente vem sendo demonstrado que as áreas as margens de
ribeirões, riachos e cabeceiras, onde ainda existem a presença da vegetação
ciliar constituem condição básica e fundamental para garantir a continuidade
dos processos hidrológicos e ecológicos.
A manutenção das condições ideais das áreas das zonas ripárias
tornou-se algo extremamente utópico, pois, os textos que descrevem os
processos históricos de ocupação do Brasil relatam os cursos hídricos como o
marco inicial do povoamento de uma região. A ocupação dessas áreas, via de
regra, leva a alterações na paisagem natural (MARTINS, 2007).
24

A função hidrológica da mata ciliar das zonas ripárias influencia


diretamente uma série de fatores que contribuem para a manutenção da
estabilidade da sub-bacia, tais como: processo de escoamento direto das
águas das chuvas, atenuação do pico das cheias, equilíbrio térmico das águas,
ciclagem de nutrientes, controle de sedimentação, influenciando diretamente a
qualidade e quantidade de água disponível anualmente (Ibid, 2007).
Apesar da importância das matas ciliares, estas vem sendo alvo de
grandes pressões antrópicas, justamente pela proximidade com os cursos
hídricos, e o resultado dessas pressões é a diminuição gradual e contínua da
vegetação nestas localidades.
Em geral, a vegetação ciliar é bastante diversificada, possuindo um
numero considerável de espécies nativas, e o estudo das áreas remanescente
pode proporcionar instrumentos de gestão ambiental que visem criar condições
para a recuperação das áreas ciliares degradadas (CORRÊA, 1989).
Dessa forma, a sub-bacia hidrográfica não é necessariamente um
espaço único e acabado, pois as diversidades natural e cultural podem ser
identificadas até mesmo em suas configurações internas e os processos
naturais e antrópicos estão continuamente alterando a paisagem (Ibid, 1989).

5. Uso e ocupação do solo na sub-bacia hidrográfica Mariana

O uso e ocupação da sub-bacia hidrográfica Mariana iniciou-se no final


da década de 1960 e início de 1970, através dos projetos governamentais que
visavam à colonização do norte Mato-grossense.
Segundo a população que ocupa atualmente a região, o desmatamento
das áreas antes florestadas, seguido da venda das espécies madeireiras de
valor comercial e posterior queima dos restos sem valor monetário marcaram o
início das atividades na região da sub-bacia Mariana, assim como também o
início das primeiras pressões antrópicas sobre a biodiversidade, sobre o solo e
como conseqüência sobre os recursos hídricos na região.
A rigor, as principais atividades econômicas desenvolvidas na região do
estudo, e na maior parte da Amazônia mato-grossense, são representadas pela
pecuária de corte e a exploração madeireira. Essas atividades não são
25

desenvolvidas com o propósito de favorecer e melhorar o nível de vida da


população local, mas sim, como meio de favorecer o acúmulo do capital em
outras áreas do país e mesmo a grupos estrangeiros (HIGA, 2001).
Neste contexto, em que a pressão antrópica sobre a natureza local tem
origem em interesses regionais longínquos, a defesa da preservação do meio
depende de uma legislação que imponha regras disciplinadoras para regular as
áreas ocupadas e as técnicas de manejo adequadas (Ibid, 2001).
Dessa maneira, as modificações ocorridas na sub-bacia hidrográfica
Mariana consistem em respostas aos interesses econômicos do mercado.
Atualmente o Ministério Público está realizando o diagnóstico ambiental das
propriedades e promovendo ações de recuperação das APP’s degradadas em
parceria com os produtores locais, propiciando a minimização dos impactos
sofridos pelo ecossistema da sub-bacia, desde a década de 1970.

6. Parâmetros da qualidade dos solos

6.1 Fertilidade natural dos solos

A qualidade dos solos está intimamente influenciada pela fertilidade. A


fertilidade dos solos é a capacidade que o mesmo possuí de fornecer
nutrientes necessários ao desenvolvimento das plantas (RAIJ, 1991).
Existem vários parâmetros a serem analisados para avaliar a fertilidade
natural dos solos, dentre eles podem-se citar pH, Capacidade de troca
catiônica (CTC), Soma de Bases (SB), Alumínio (Al+3), Fósforo (P), Matéria
Orgânica (MO), Cálcio (Ca+2), Magnésio (Mg+2) e Acidez Potencial (H+ + Al+3).
O pH indica condições de acidez ou alcalinidade, o que afeta
diretamente a solubilidade de alguns compostos e a disponibilidade de
nutrientes. Pode-se usar como exemplo o fósforo que apresenta solubilidade
máxima nos solos com pH entre 6,0 e 7,0.
Quando a acidez é elevada (pH < 5,0) o íon fosfato pode ser fortemente
fixado por óxidos hidratados, assim, o pH exerce importante influência sobre a
fertilidade dos solos, induzindo a absorção de nutrientes pelas plantas (RAIJ,
1991). Ainda de acordo com o autor, a acidez é representada através da acidez
26

potencial e da acidez ativa, na qual a primeira subdivide-se em acidez trocável


e não trocável.
Os parâmetros capacidade de troca de cátions (CTC), Soma de Bases
(SB) e saturação por bases (V%) indicam o grau de fertilidade dos solos.
A CTC representa a quantidade de cargas negativas existentes na
fração coloidal do solo, medida a pH 7,0. Estas cargas poderão estar
disponíveis para a retenção de cátions, através das partículas de argila, fração
coloidal da matéria orgânica ou dos óxidos hidratados de ferro. Esta
capacidade varia em função do pH e também da fração de argila e do húmus
da matéria orgânica. A CTC mantém os nutrientes em condições de
disponibilidade para a vegetação (Ibid, 1991).
A SB é a soma dos teores de cátions básicos (Ca+2, Mg+2, K+ e Na+),
expressa em mmolc.dm-3. A saturação por base (V%) indica quanto da
capacidade de troca de cátions é ocupada, em termos porcentuais por cátions
básicos como cálcio magnésio e potássio. Valores de V% baixo podem indicar
que há pequena quantidade de cátions nos colóides do solo e que a maioria
das cargas estão sendo neutralizadas por Al+3 e H+ (MELLO et al., 1989).
O alumínio trocável é praticamente o único responsável pela acidez
trocável, pois a quantidade de H+ trocável em solos parece ser relativamente
pequena, sendo que grandes quantidades de Al3+ fazem com que as plantas
tenham um crescimento inibido (NOLLA, 2006).
Em condições de elevado teor de Al3+ e baixo pH, podem ocorrer
também teores solúveis de outros metais, como manganês e ferro, tóxicos para
as plantas se absorvidos em quantidades excessivas (RAIJ, 1991).
O Fósforo (P) é elemento essencial tanto para o crescimento das plantas
quanto para a assimilação de outros nutrientes como o nitrogênio. No entanto,
este elemento apresenta baixa solubilidade e mobilidade no solo, sendo
relativamente imóvel em formas disponíveis. De maneira geral, os solos
brasileiros apresentam problema de deficiência de P disponível às plantas, o
que implica o uso de grandes quantidades de fertilizantes fosfatados nas áreas
agrícolas (MELLO et al., 1989).
A matéria orgânica do solo é constituída de organismos vivos, de restos
vegetais e animais, em diferentes estados de decomposição, e de húmus, que
27

é o produto da decomposição biológica desses restos (RAIJ, 1991). A presença


de matéria orgânica favorece a estrutura e aeração do solo, respondendo
também pelo aumento da retenção de água. Do ponto de vista químico, a
matéria orgânica incorpora nutrientes como carbono, nitrogênio, fósforo,
enxofre e outros. O húmus apresenta elevada CTC, o que contribui para o
aumento do poder tampão do solo (RAIJ, 1991; MELLO et al., 1989).
Segundo Raij (1991), os solos que apresentam grupamentos florestais,
são classificados, em relação à fertilidade, conforme a Tabela 1.

Tabela 1: Classes de fertilidade do solo para grupamentos florestais,


descrição dos elementos essenciais.

Classe P Al K Ca Mg pH V% M. O
M. Baixo 0 -2 0–5 0,0 – 0,7 Até 4,3 0 – 25
Baixo 3-5 6 – 12 0,8 – 1,5 0 – 3 0 – 4 4,4 – 5,0 26 – 50 < 15
Médio 6 – 10 13 – 30 1,6 – 3,0 4 – 7 5 – 8 5,1 – 5,5 51 – 70 15-25
Alto 20 – 20 31 – 60 3,1 – 6,0 > 7 > 8 5,6 – 6,0 71 – 90 > 25
M. Alto > 20 > 60 > 6,0 > 6,0 > 90
-3 -3 -3
P – Fósforo (mg.dm ); Al – Alumínio (mmol.dm ); K – Potássio (mmol.dm ); Ca – Cálcio
3 -3
(Cmol.dm ); Mg – Magnésio (Cmol.dm ); V% - Saturação por bases (%) e M.O – Matéria
-3
Orgânica (g. dm ).
De acordo com levantamentos do projeto RadamBrasil, os solos da
região do extremo norte mato-grossense, quanto à fertilidade, foram
classificados como baixo e médios (BRASIL, 1980).

6.2 Parâmetros Físicos dos Solos

Os indicadores físicos da qualidade dos solos são obtidos através das


análises de densidade, porosidade, umidade gravimétrica, textura e
compactação dos solos. A densidade do solo é afetada por vários fatores,
como sistemas de manejo, tipo de cobertura vegetal, quantidade de resíduos à
superfície e teor de matéria orgânica do solo. Incrementos na densidade do
solo podem estar relacionados à compactação pelo tráfego de máquinas ou
atividade antrópicas negativas. Com relação à porosidade, áreas com intensa
atividade degradadora levam a redução do volume de macroporos abaixo da
camada superficial (BERTONI e LOMBARDI NETO, 1999).
28

A textura é responsável por controlar primariamente os parâmetros


físicos e químicos dos solos, o que influencia diretamente o desenvolvimento
da vegetação. A textura expressa à distribuição percentual das classes de
tamanho das partículas primárias sendo determinada pela análise
granulométrica (CAMARGO,1986).
A estrutura do solo é condicionada principalmente pela textura do solo,
sendo um parâmetro fundamental na inferência do potencial de compactação,
disponibilidade de água, aeração, condutividade do solo ao ar, à água e ao
calor, infiltração e da redistribuição de água (BERTONI e LOMBARDI NETO,
1999).
A compactação é um dos mais sérios danos causados ao solo devido à
exploração excessiva do mesmo. A compactação pode ser definida como
sendo a ação mecânica por meio da qual se impõe, ao solo, uma redução em
seu índice de vazios, que é a relação entre o volume de vazios e o volume de
sólidos. São várias as formas de uso que podem levar os solos agrícolas a
compactação, dentre eles destaca-se animais em pastejo, efeitos da
mecanização, ocasionados pelo tráfego de máquinas usadas no manejo das
culturas (CUNHA, 2002). Além desses fatores as características físicas, o teor
de água e a presença de resíduos culturais são importantes fatores
condicionantes ao entendimento do processo de compactação.
Alguns autores consideram que, de modo geral, o solo mantido em
estado natural, sob vegetação nativa, apresenta características físicas
adequadas ao desenvolvimento normal das plantas (ANDREOLA, 2000).
Nessas condições, o volume de solo explorado pelas raízes é relativamente
grande. À medida que o solo vai sendo submetido ao uso agrícola, as
propriedades físicas sofrem alterações, geralmente desfavoráveis ao
desenvolvimento vegetal (SPERA, 2004). A comparação entre um solo sob
vegetação nativa com um mesmo solo sob uso agrícola, de modo geral,
demonstrará melhores condições físicas no solo sob vegetação nativa, o qual
geralmente é tido como referência. Porém, mesmo em solos sob vegetação
nativa pode haver condições físicas limitantes ao desenvolvimento vegetal.
Todavia, por sua condição natural, a vegetação que ali se desenvolve está
adaptada a essas restrições.
29

Autores como Imhoff et al. (2000) e Stone et al. (2002) atribuem ao


parâmetro resistência à penetração o melhor atributo para indicar a
compactação do solo, uma vez que possuí relação direta com o crescimento
das plantas e por apresentar maior eficiência na identificação de estados de
compactação comparada à densidade do solo.
De acordo com Arshad et al. (1996) valores de resistência a penetração
em torno de 2,0 MPa são considerados limitantes ao crescimento radicular das
plantas. Rosolem et al. (1999) descrevem que solos em que a resistência a
penetração é da ordem de 1,3 MPa reduz o crescimento das raízes seminais
adventícias do milho pela metade.
Dessa forma, observa-se que os atributos do solo regem as
características das culturas, sejam elas artificiais ou naturais e o conhecimento
destas tornam-se fator primordial à época do planejamento de ações de
recuperação de áreas degradadas, ou ainda, para a manutenção do
ecossistema e a exploração racional do recurso.

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32

Capítulo 2

Avaliação das características físicas do solo da área ciliar da sub-bacia


hidrográfica Mariana, para fins de conservação ambiental

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo realizar a análise das características


físicas do solo da área ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana. Os atributos
físicos avaliados foram: densidade do solo, umidade gravimétrica, porosidade
do solo e resistência mecânica do solo à penetração. O experimento foi
realizado no município de Alta Floresta-MT. Foram instaladas nove parcelas de
20 x 50 m, distribuídas no Alto e Médio curso de forma a representar toda a
extensão da sub-bacia. O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado. Os resultados mostram que a densidade do solo apresenta-se
alta, quando comparada a sistemas de floresta nativa, podendo inclusive
restringir o desenvolvimento das raízes das árvores. Verifica-se que a umidade
é igual, tanto em relação aos cursos quanto nas profundidades estudadas. Os
valores de porosidade do solo apresentaram-se adequados para áreas com
presença de vegetação ciliar nativa. A resistência do solo à penetração foi
classificada como moderada no médio e alto curso, para a profundidade de até
0,25 m.

Palavras-Chave: densidade, porosidade, resistência do solo a penetração,


impactos ambientais, compactação.
33

Abstract

The present work had as objective to carry out the soil physical characterization
of the ciliar area of the hidrografic Mariana sub-basin. The evaluated physical
attributes had been soil density, gravimetrical humidity, soil porosity and soil
mechanical resistance to penetration. The experiment was carried out at Alta
Floresta-MT. Had installed nine parcels of 20 x 50 m, distributed to represent all
the sub-basin extension. The experiment was installed in a completely
randomized design. The results demonstrate that the density of the soil is high,
when comparative the systems of native forest, also being able to restrict the
development of the roots the trees. It was verified that the gravimetrical humidity
was equal in the courses and the studied depths. The values of porosity the soil
are adequate for areas of native ciliar, occurring its reduction with the depth.
The soil mechanical resistance to was classified as average, in the High and
Average course, for the depth of up to 0,25 m.

Key words: soil density, soil porosity, soil mechanical resistance to penetration,
environmental impacts, soil compacting.
34

1. Introdução

A colonização da região norte do Estado de Mato Grosso se iniciou na


década de 60, promovida pelo Governo Federal, dando início ao povoamento
mais extensivo do território (SEPLAN, 2002).
O inicio da colonização marca também o inicio das modificações nos
ecossistemas, fragmentando-os e afetando seu equilíbrio. A fragmentação das
áreas antes florestadas foi essencial para o desenvolvimento e implantação
das atividades agropecuárias. As substituições da floresta por culturas
agrícolas e/ou mesmo operações pecuárias causaram inúmeras mudanças nos
atributos do solo que, em muitos casos, conduziram a algum tipo de
degradação (FERNANDES, 1997).
A atividade agropecuária, a derrubada da floresta com posterior queima,
aliada a extração seletiva da madeira são as grandes responsáveis pelas áreas
alteradas e abandonadas na Amazônia (Ibid, 1997).
Estudos realizados na Amazônia demonstram que a pecuária ocupa
cerca de 77% das áreas desmatadas e convertidas em uso econômico na
região, correspondendo a aproximadamente 45 milhões de hectares (MELADO,
2002). Por meio de imagens de satélite percebe-se a retirada da vegetação e
inspeções de campo revelam variados graus de degradação como: solo
exposto, área de preservação permanente desflorestada, processos erosivos e
corpos hídricos assoreados.
O estudo dos atributos do solo decorrentes da ação diferenciada dos
processos de manejo adquirem grande importância na análise do
comportamento das plantas. Do ponto de vista prático é de grande interesse
econômico o estudo dessas alterações, pois assumem relevantes importâncias
na recuperação ou manutenção do seu potencial (MARQUES, 2004).
Entre as variáveis físicas que condicionam o crescimento e
desenvolvimento de plantas evidencia-se um conjunto de fatores que estão
relacionados com a resistência do solo à penetração de raízes, o espaço
poroso de trocas gasosas e a quantidade de água disponível para as plantas
(TORMENA et al., 2002).
35

Os valores de máxima densidade quando se deseja sustentabilidade,


para solos argilosos devem estar entre 0,9 e 1,1 g.cm-3 (CAMARGO e
ALLEONI, 1997) e para solos arenosos entre 1,25 e 1,48 g.cm-3. Araújo (2004)
encontrou valores de densidade em mata nativa que oscilam em torno de 1,40
g.cm-3. Os valores de resistência a penetração não devem ultrapassar a faixa
entre 1,10 e 1,49 MPa (CAMARGO e ALLEONI, 1997; ALVARENGA, 1996).
Valores semelhantes são descritos por Roque (2003) em Latossolo Vermelho
coberto por mata nativa (1,18 MPa). A porosidade do solo é considerada com
níveis normais quando apresenta valores em torno de 60% (CARVALHO,
2004), em solos arenosos, o que esta de acordo com o encontrado por
Marques (2004) em Latossolo Amarelo no Amazonas.
A caracterização física do solo da sub-bacia hidrográfica Mariana é de
grande importância para o desenvolvimento de ações futuras de recuperação
das áreas ciliares degradadas, para a manutenção da qualidade e quantidade
de água disponível para a população da cidade de Alta Floresta-MT, pois suas
nascentes formam o ribeirão Taxidermista, corpo d'àgua do qual a companhia
de abastecimento de águas e tratamento de esgotos da cidade de Alta
Floresta-MT se utiliza para fornecer água para a população.
Dessa forma, objetivou-se neste estudo realizar a análise das
características físicas do solo da área ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana,
a fim de produzir informações que contribuam para a gestão ambiental da
região.

2. Material e métodos

2.1 Área de estudo

A área de estudo localiza-se no extremo norte do Estado de Mato


Grosso, no município de Alta Floresta-MT, sob as coordenadas geográficas
56°8`0``W, 56°,5`0``W e 9°56`30`` S, 9°59`30``S (Figura 1).
36

Figura 1: Localização da sub-bacia hidrográfica Mariana

Conforme levantamentos realizados a partir de imagens de satélite, a


sub-bacia hidrográfica Mariana possui uma área total de 5.785 ha. Deste total,
apenas 957,44 ha são áreas onde ainda existem vegetação ciliar.
A malha hídrica total da qual a sub-bacia hidrográfica Mariana faz parte
é representada por 83,39 km. Destes 37,5 km correspondem a riachos de 1ª
ordem, 15 km riachos de 2ª ordem, 9,5 km riachos de 3ª ordem e 11,5 km
riacho de 4ª ordem, sendo esta a ordem final até sua foz no Rio Teles Pires,
além de 9,8 km de represas e lagos.

2.2 Parcelas e delineamento experimental

Para abranger toda a sub-bacia hidrográfica Mariana e aumentar a


representatividade do estudo foram selecionadas nove parcelas (Figura 2). O
delineamento experimental foi inteiramente casualizado, num esquema fatorial
2 x 2, sendo que as parcelas foram distribuídas da seguinte forma: seis na área
do alto curso da sub-bacia (A, B, C, D, E e F) e três na área do médio curso da
37

sub-bacia (G, H e I), demarcadas de forma não contígua e aleatórias, alinhadas


em transeções, dispostas paralelamente à maior inclinação do terreno e
perpendicular aos cursos d`água para representar as maiores variações
possíveis (apêndice A). Cada parcela foi constituída de 20 x 50 m, totalizando
0,9 ha de área total. Foram amostradas todas as áreas que possuíam tamanho
suficiente de área ciliar e acesso terrestre permitido. Para a instalação das
parcelas, foi utilizada trena para medir as distâncias horizontais e nível de
precisão para orientar o alinhamento do contorno das parcelas.

Figura 2: Mapa hidrográfico da sub-bacia Mariana, e localização das parcelas


amostrais.
38

2.3 Amostragem e análise do solo

Foram coletadas amostras indeformadas de solo em cada área, entre os


meses de novembro e dezembro de 2008. As amostras foram coletadas nas
seguintes camadas: 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m com auxílio de anéis volumétricos,
tais anéis foram cravados no solo de forma vertical ao plano do terreno, com
auxílio de trado Ulhand. As repetições realizadas foram as seguintes: 30 no alto
curso e 15 no médio curso, para cada profundidade, totalizando 90
amostragens. Os anéis foram levados ao laboratório de solos da Universidade
do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), campus universitário de Alta Floresta,
onde foram determinadas: densidade do solo, umidade gravimétrica e
porosidade total do solo, conforme metodologia descrita pela EMBRAPA
(1997). A resistência mecânica do solo à penetração vertical foi avaliada
através do método proposto por Stolf et al. (1991), onde o procedimento
experimental está embasado na avaliação direta do estado de compactação.
Como forma de reduzir as possibilidades de erro ao citar as classes de
resistência à penetração, foi utilizada a proposta por Soil Survey Staff (1999).
Segundo este, a resistência mecânica do solo a penetração está dividida em
sete classes, conforme descrito a seguir: extremamente baixa (<0,01 MPa);
muito baixa (0,01-0,1 MPa); baixa (0,1-1,0 MPa); moderada (1,0-2,0 MPa); alta
(2,0-4,0 MPa); muito alta (4,0-8,0 MPa) e extremamente alta (>8,0 MPa).
Na tabela 1 estão os valores da granulometria das parcelas amostradas,
seguidas das respectivas classes texturais, para as profundidades de 0 a 0,10
m e 0,10 a 0,20m.
39

Tabela 1: Granulometria média do solo das parcelas amostrais e classe


textural nas profundidades de 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m, em g.kg-1

Parce Areia Silte Argila Classe Areia Silte Argila Classe


las total total
Profundidade 0,0 a 0,10 m Profundidade 0,10 a 0,20 m
A 698,1 109,7 192,2 Franco 630,8 194,9 174,3 Franco
arenosa arenosa
B 708,2 101,3 190,6 Franco 646,8 154,7 198,4 Franco
arenosa arenosa
C 720,3 66,2 213,4 Franco 654,9 139,6 205,5 Franco
argilo argilo
arenosa arenosa
D 674,6 143,2 182,2 Franco 685,5 145,1 169,4 Franco
arenosa arenosa
E 676,2 301,8 197,3 Franco 491,3 273,9 233,9 Franca
arenosa
F 678,0 164,7 133,8 Franco 623,6 256,8 119,6 Franco
arenosa arenosa
G 678,2 211,0 158,0 Franco 560,0 262,8 177,2 Franca
arenosa
H 579,9 244,8 175,3 Franca 459,8 344,9 195,3 Franca
I 315,4 416,9 266,6 Franco 312,6 405,8 281,7 Franco
siltosa siltosa

2.4 Análise estatística

Os resultados das análises de solo foram submetidas à análise de


variância (teste F) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade, utilizando-se o programa SISVAR 4.0 (FERREIRA, 1999).

3. Resultados e discussão

Na Tabela 2 está ilustrado o resultado da análise de variância para a


densidade do solo, umidade gravimétrica e porosidade do solo em relação ao
curso (alto/médio), profundidade da camada de coleta e o desdobramento de
curso e profundidade.
Pelos resultados observou-se que os atributos físicos dos solos da área
ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana apresentam diferença significativa para
os atributos físicos densidade (Ds) e porosidade do solo (Pt), variando em
alguns casos entre curso, e em outros em função da profundidade de coleta e
40

desdobramento. O parâmetro umidade gravimétrica (Ug) não variou


significativamente (p<0,05).

Tabela 2: Análise de variância dos dados referentes à umidade gravimétrica


(Ug), densidade do solo (Ds), porosidade total (Pt), em relação ao curso da
sub-bacia, profundidade do perfil de coleta e desdobramento.

Fontes de variação GL Ug Ds Pt
Quadrados médios
Curso 1 106,72ns 0,133* 12,74ns
ns ns
Profundidade 1 0,658 0,016 359,20*
ns *
Curso*Profundidade 1 79,46 0,144 413,74*
Erro 86 106,72 0,026 53,85
Total Corrigido 89 Valores de F
Curso 0,320 0,026 0,627
Profundidade 0,937 0,437 0,011
Curso*Profundidade 0,390 0,0214 0,006
CV (%) 32,03 9,67 16,96
Média Geral 27,89 1,67 43,26
ns - Não significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F
* - Significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F

3.1 Variabilidade dos atributos físicos em relação ao curso da sub-bacia


Mariana

Na Tabela 3 são apresentadas às médias de umidade gravimétrica,


densidade do solo e porosidade total do solo em relação às parcelas
estudadas.
A Ug ocorre em percentuais menores do que aqueles descritos por
Nobre (2008) e Marques (2004) em solo sob floresta (40,55%) e (54%),
respectivamente. Estes resultados podem ser reflexo das baixas concentrações
de matéria orgânica ou ainda devido às parcelas amostrais estarem imersas
em áreas de pastagem artificial, as quais provavelmente ocasionam efeitos de
borda, alterando o micro-clima e conseqüentemente os percentuais de
umidade, pois Nobre (2008) descreveu resultados semelhantes (25%) em
áreas de pastagem artificial.
O médio curso da sub-bacia Mariana apresenta melhores condições de
compactação em relação ao alto curso. Nobre (2008) comparando as
propriedades físicas do solo em área de floresta, pastagem e cultivo agrícola,
41

na bacia do rio Carapá, município de Colíder-MT, encontrou resultados


semelhantes aos descritos neste estudo para o médio curso. Os resultados
encontrados no alto curso da sub-bacia Mariana podem indicar a compactação
dos solos daquela localidade, uma vez que citado autor encontrou resultados
semelhantes em área de pastagem artificial (1,82 g.cm-3).
A variabilidade da Ds entre os cursos estudados pode estar relacionada
com o tráfego de animais, uma vez que os maiores valores de densidade
encontram-se nas áreas que não possuem cerca protegendo a área ciliar. O
incremento dos valores da Ds indica aumento da compactação devido à
diminuição do quantitativo de vazios.
Estudos da densidade do solo em variados tipos de pastagem no Estado
do Pará apresentaram densidade, na profundidade de 0 a 0,2 m, que variam
entre 1,64 e 1,78 g.cm-3 (MULLER, 2001). Estes valores, apesar de inferiores
àqueles encontrados por Nobre (2008) na região de Colider-MT podem indicar
que o uso destas áreas está sendo incorreto e começam refletir a pressão à
que os solos estão expostos.
Reforçando a teoria que as localidades às quais apresentaram
densidade do solo maior que 1,59 g.cm-3 podem estar expostas a fortes
pressões antrópicas, Dedecek (2005) descreveu densidades na ordem de 1,70
g.cm-3 em solos classificados como arenosos e que foram expostos ao tráfego
de máquinas.
Os valores de Ds encontrados podem estar restringindo o
desenvolvimento radicular da vegetação, apesar de Carvalho et. al (2004)
relatar que é muito difícil determinar-se um nível crítico para a densidade
gravimétrica do solo, uma vez que este atributo varia de acordo com o tipo de
solo e que ainda não existe consenso sobre um valor específico.
Os percentuais de Pt encontrados são condizentes com aqueles
relatados na bibliografia para áreas com cobertura de vegetação nativa de
floresta ciliar. O alto e médio curso apresentam valores de porosidade total
estaticamente iguais. Nobre (2008) e Marques (2004) encontraram em área de
floresta nativa da região amazônica resultados semelhantes (40,2% e 56%,
respectivamente).
42

A vegetação ciliar está intimamente relacionada com a Pt. A porosidade


influencia diretamente a difusão de oxigênio para as raízes e
conseqüentemente determinando a aeração e as trocas gasosas que o solo
realiza com a atmosfera. Áreas que estão expostas à intensa atividade
degradadora sofrem considerável redução do volume de poros abaixo da
camada superficial, ocasionando a piora dos atributos físicos do solo (RIBEIRO
et al., 2007).

Tabela 3: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do


solo (Ds) e porosidade total do solo (Pt) em função do Alto e Médio curso da
sub-bacia Mariana.

Ug Ds Pt
Curso
(%) (g.dm-3) (%)
Alto 27,12ª 1,70b 42,99ª
a
Médio 29,43 1,62a 43,79ª
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.

3.2 Variabilidade dos atributos físicos do solo em função da profundidade


do perfil

A Tabela 4 apresenta as médias de Ug, Ds e Pt em função da


profundidade de coleta.
A Ug nas profundidades amostradas não foi estatisticamente diferente.
Roque (2003) descreve percentuais de umidade em torno de 20% em
Latossolo Vermelho sob mata nativa. Nobre (2008) relata ter observado
percentuais de umidade semelhantes em áreas de pastagem (29,5%).
Estes resultados podem ter sofrido influencia do processo de secagem e
umedecimento do solo (GONZÁLEZ e ALVEZ, 2005) associado à incorporação
da matéria orgânica até a camada de 0,2 m (NOBRE, 2008) ou estar
relacionada com a textura do solo das parcelas, que em média também foram
iguais (Tabela 1), pois segundo Junior (2005) a umidade pode ser diretamente
influenciada pela adsorção das partículas.
A Ds nas camadas amostradas foi estatisticamente igual. Este resultado
provavelmente se deve a baixa concentração de matéria orgânica, pois em
43

níveis adequados esta promove o aumento do numero de vazios da camada


superficial e em conseqüência menor densidade em relação às camadas mais
profundas. Marques (2004) relata não ter encontrado variações de densidade
até a profundidade de 0,45 m.
Outra hipótese a ser considerada foi descrita por González e Alvez
(2005) onde a diferença entre a densidade pode ser dependente do tipo de
material (mineral ou orgânico) que se encontra em profundidade e como o
estudo foi conduzido apenas até 0,2 m este pode não estar refletindo tais
diferenças.
O ambiente quanto menos perturbado tende a apresentar menores
valores de Ds, por conseqüência, o incremento dos teores de matéria orgânica
proveniente do material em decomposição melhora significativamente a
estrutura do solo (SILVA, 2006).

Tabela 4: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do solo


(Ds) e porosidade total do solo (Pt) nas profundidades estudadas.

Profundidade do Ug Ds Pt
perfil (m) (%) (g.dm-3) (%)
0,0 a 0,10 27,81a 1,66a 45,26b
0,10 a 0,20 27,98a 1,69a 41,26a
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.

O desdobramento de profundidade para Ds (tabela 5) mostra ocorrer


diferença estatística no alto curso da sub-bacia Mariana. Em contrapartida, os
valores de densidade nas profundidades estudadas são iguais no médio curso.
Este resultado pode estar refletindo o fato das áreas onde foram instaladas as
parcelas no médio curso estarem protegidas contra o pisoteio do gado. A
interação de profundidades dentro de curso demonstra ocorrer diferença entre
médio e alto curso apenas para a profundidade de 0,1 a 0,2 m. Pode-se
explicar este resultado em função da ocorrência da diminuição dos teores de
matéria orgânica com a profundidade do perfil (MARTINS, 2006).
44

Quando comparada à Pt do solo em relação à profundidade amostrada,


ocorreram diferenças significativas (P>0,05). Os maiores valores foram
encontrados para a camada de 0 a 0,1 m. Apesar do teor de matéria orgânica
ser classificado como baixo, este pode estar influenciando as características do
solo, pois o húmus proveniente dos processos de oxidação melhora as
condições físicas do mesmo (CONCEIÇÃO, 2005).

Tabela 5: Médias das variáveis umidade gravimétrica (Ug), densidade do solo


(Ds) e porosidade total do solo (Pt) para a interação de profundidade dentro de
curso.

Ug (%) Alto curso Médio curso

0 a 0,1 m 27,87aA 28,19aA

0,1 a 0,2 m 26,37aA 30,61aA

Ds (g.dm-3) Alto curso Médio curso

0 a 0,1 m 1,66aA 1,66aA

0,1 a 0,2 m 1,74bB 1,68aA

Pt (%) Alto curso Médio curso

0 a 0,1 m 42,51aA 48,82bB

0,1 a 0,2 m 43,48aA 38,76aA

Médias seguidas pela mesma letra minúscula, na coluna, ou maiúscula, na linha, não
diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O desdobramento de profundidade para Pt foi significativo apenas para o


médio curso da sub-bacia. Este resultado reafirma a importância da contenção
do acesso do gado às áreas ciliares, uma vez que o constante pisoteio dos
animais pode provocar o desnudamento da superfície do solo e como
conseqüência a diminuição dos teores de matéria orgânica (SCHENEIDER,
1978; ALVARENGA, 1987). Para a interação de profundidade dentro de curso
ocorre diferença apenas na camada de 0 a 0,1 m.
45

3.3 Resistência mecânica do solo a penetração vertical (RSP)

Os resultados de resistência mecânica do solo a penetração (RSP)


estão ilustrados na Figura 3.
Ao analisar a RSP em relação à profundidade das camadas do solo da
sub-bacia hidrográfica Mariana evidenciam-se valores que vão de 1,15 MPa
até 2,5 MPa na camada superficial de 0,0 a 0,05 m. Roque (2003) encontrou
resultados semelhantes (1,62 MPa) em Latossolo Vermelho, de textura media,
sob mata nativa.
Ao se aprofundar no perfil observa-se que a RSP aumenta
consideravelmente. Para a camada de 0,35 a 0,45 m os resultados oscilam
entre 1,21 MPa e 6,10 MPa. O aumento da RSP pode estar relacionado à
diminuição de macroporos que ocorre com o aumento da profundidade, o que
reduz a taxa de infiltração e conseqüentemente aumento da compactação
(CARVALHO 2004; NOBRE, 2008).

RSP (MPa)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5
0
)

10
Parcela A
Parcela B
15
Parcela C
Parcela D
20
Parcela E
Profundidade (cm)

25 Parcela F
Parcela G
30 Parcela H
Parcela I
35

40

45

50

Figura 3: Resistência do solo a penetração (RPS) em um Latossolo Vermelho-


Amarelo distrófico, avaliado em cinco profundidades e em nove parcelas da
sub-bacia hidrográfica Mariana.
46

Observando a Figura 3 evidencia-se de forma geral que tanto o alto


quanto o médio curso da sub-bacia Mariana apresentam menor resistência à
penetração nas camadas superficiais, em relação àquelas mais profundas.
Autores como Carvalho et. al (2004), Nobre (2008) e González e Alvez (2005)
destacam que esta tendência se deve aos efeitos da incorporação da matéria
orgânica ao solo.
As áreas estudadas, quando considerada a profundidade de 0,0 a 0,25
m, podem ser classificadas quanto a RSP em moderadas, conforme proposta
de Soil Survey Staff (1999). Segundo Arshad et al. (1996), para solo que não
ocorre revolvimento anual, são toleráveis valores de resistência de até 4 MPa,
devido à permanência e continuidade de poros, atividade biológica mais ativa e
maior estabilidade de agregados. Assim, pode-se inferir que até o maior valor
encontrado (2,5 MPa) na profundidade de 0,25 m não deve ocorrer prejuízos
ao crescimento da vegetação.
Observa-se através de visitas aos locais onde foram instaladas as
parcelas amostrais que as áreas ciliares da sub-bacia hidrográfica Mariana
encontram-se atualmente sob forte pressão antrópica, promovida
principalmente pela atividade agropecuária da região, o que certamente em
curto intervalo de tempo estará pondo em risco a manutenção da quantidade e
qualidade da água das nascentes que formam o ribeirão Taxidermista.
Finalmente, é certo que a atividade agropecuária, sobretudo a pecuária
extensiva da região da sub-bacia hidrográfica Mariana tem sido realizada sem
acompanhamento técnico que considere as potencialidades do uso do solo.

4. Conclusões

A sub-bacia hidrográfica Mariana encontra-se sob forte pressão


antrópica, uma vez que as parcelas do estudo podem representar o estado
atual da área da sub-bacia e as áreas ciliares apresentam valores de
densidade e compactação que refletem a ocupação da região.
A umidade percentual do solo entre as profundidades estudadas e no
alto e médio curso da sub-bacia hidrográfica Mariana são iguais;
47

A densidade do solo do médio curso é menor, indicando menor


compactação do solo;
A porosidade total é igual em todo o curso da sub-bacia Mariana,
apresentando-se maior na camada superficial;
A resistência do solo a penetração, tanto no alto, quanto no médio curso,
até 0,25 m de profundidade não deve estar restringindo o desenvolvimento
radicular da vegetação.
Mais estudos sobre uso e ocupação se fazem necessários, a fim de se
propor políticas que incorporem a produção local da região à conservação das
nascentes da sub-bacia.

6. Referências Bibliográficas

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50

Capítulo 3

Análise da fertilidade natural do solo da área ciliar da sub-bacia


hidrográfica Mariana, para fins de conservação ambiental

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo realizar a caracterização química e


granulométrica do solo da área ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana. Os
atributos químicos avaliados foram: pH (CaCl2), MO, K+, P, Ca+2, Mg+2, H++Al+3,
Al+3, v%, m%, SB, CTC pH 7,0 e CTCefetiva, além da granulometria. O
experimento foi implantado e realizado no município de Alta Floresta-MT.
Foram instaladas nove parcelas de 20 × 50 m, distribuídas de forma a
representar toda a extensão da sub-bacia. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado. As análises foram realizadas seguindo metodologia
descrita pela Embrapa para análises de rotina e avaliação da fertilidade do
solo. Foram formadas cinco amostras compostas de cinco sub-amostras em
cada parcela, nas profundidades de 0,0 a 0,1 e 0,1 a 0,2 m. Os resultados
foram submetidos à análise de variância e as médias testadas a 5% pelo teste
de Tukey. Foram realizadas correlações, pelo método de correlação simples e
comparadas pelo teste t. Os resultados demonstram que a textura
predominante na região do estudo é franco arenosa. Os valores dos atributos
que integram a fertilidade foram, de forma geral, classificados como baixos.

Palavras chave: textura; fertilidade do solo; Amazônia Legal.


51

Abstract

The present work objectived to carry out the soil chemical characterization and
textural class the riparian area of the hidrografic Mariana sub-basin. The
evaluated chemical attributes had been: pH (CaCl2), MO, K+, P, Ca+2, Mg+2, H+,
Al+3, V%, m%, SB, CTCpotencial, CTCefetiva. The experiment was implanted at
region of Alta Floresta-MT and had been installed nine parcels of 20 x 50 m,
distributed to represent all the sub-basin extension. The experiment was
installed in a completely randomized design. Five composed samples of five
sub-samples in each parcel had been formed, in the depths of 0,0-0,1 m and
0,1-0,2 m. The gotten values had been submitted to the variance analysis and
the tested averages and correlations 5% for the test of Tukey and linear
regression, respectively. The results demonstrate that the predominant texture
in the region of the study is franc arenaceous. The values of the attributes that
integrate the fertility had been, of general form, classified as low.

Key words: soil texture; soil fertility; legal Amazonia.


52

1. Introdução

Na maioria dos municípios do Estado de Mato Grosso a degradação das


áreas ciliares foi e ainda é fruto da expansão desordenada das fronteiras
agrícolas. O fogo e outras atividades como a exploração florestal, o garimpo, a
construção de reservatórios, a expansão de áreas urbanas e a poluição
industrial tiveram e tem grande contribuição na destruição de formações ciliares
(ROTTA, 2004).
Operações agropecuárias que envolvem a mobilização dos solos
alteram substancialmente as condições físicas e químicas do solo. Através dos
ciclos de umedecimento e secagem e com tráfego sobre o solo, o processo de
reconsolidação ocorre e o solo volta à sua condição original ou pode, na
maioria das vezes, atingir estados de pior qualidade do que o inicial
(FERREIRA et al., 2003).
O desenvolvimento de estudos referentes à qualidade dos solos de
matas ciliares em estágio de recuperação ou na sua forma natural se torna um
instrumento auxiliar na tomada de decisões e na orientação para melhor
condução dos processos de recuperação ou ainda de conservação desses
solos (ZAKIA, 1998).
Atualmente, na região do município de Alta Floresta-MT existe grande
carência de informações a respeito da classificação e uso das terras. Os
trabalhos disponíveis encontram-se desatualizados, como é o caso do Projeto
RadamBrasil (BRASIL, 1980) e estudos que visem contribuir com informações
sobre as condições naturais do solo auxiliarão na tomada de decisões à época
da realização de ações de conservação e recuperação de áreas degradadas.
Nos últimos 40 anos a região do extremo norte mato-grossense, e a
região da floresta Amazônica como um todo, tem sido alvo de extensa
degradação. As principais causas são as atividades de exploração agrícola que
foram implantadas sem o conhecimento técnico necessário dos atributos dos
solos e das reações que o meio ambiente sofreria com estas atividades, além
da utilização de gramíneas ou sistema de manejo inapropriado das pastagens
(DEMATTÊ e DEMATTÊ, 1993). A fertilidade do solo pode ser entendida como
a capacidade de fornecer nutrientes às plantas. Isso serve como indicativo da
53

potencialidade agrícola do terreno. A presença de maior ou menor quantidade


de substâncias ou elementos tóxicos é influenciada fortemente por variáveis
como plantas cultivadas e práticas de manejo (MELLO, et al., 1989).
O presente estudo teve por objetivo avaliar as condições químicas e
descrever a classe textural dos solos da área ciliar da sub-bacia hidrográfica
Mariana, para que seja possível caracterizar as condições atuais, com intuito
de gerar informações capazes de promover passos importantes na restauração
das áreas degradadas nesta região, contribuindo significativamente para a
manutenção do volume e qualidade da água ofertada à população da cidade de
Alta Floresta-MT.

2. Material e Métodos

2.1 Área de estudo

A área do estudo compreende parte da sub-bacia hidrográfica Mariana,


no município de Alta Floresta-MT, distante cerca de 830 km da capital, Cuiabá
(Figura 1).
O clima da região, segundo a classificação de Köppen (1948), é chuvoso
com nítida estação seca, tipo Awi, com temperaturas entre 20 e 40 ºC. A
precipitação média anual é de 2.300 mm (BRASIL, 1980).
O relevo da região do município de Alta Floresta-MT pode ser dividido
em quatro unidades geomorfológicas: depressão interplanáltica da Amazônia
meridional, planaltos dos Apiacás-Sucunrudi, planalto dissecado da Amazônia
e os planaltos residuais do norte de Mato Grosso. O material originário do solo
provém de rochas cristalinas do complexo Xingu pré-cambriano, o relevo é
suave ondulado, apresentando topos de elevação com 2% de declive e erosão
nula (Ibid, 1980).
54

56°10’ 56°5’

9°53’

9°59’

Figura 1: Localização da área de estudo, sub-bacia Mariana, extremo norte do


Estado de Mato Grosso.

2.2 Parcelas e delineamento experimental

Selecionaram-se na sub-bacia hidrográfica Mariana nove parcelas. O


delineamento experimental foi inteiramente casualizado, num esquema fatorial
2 x 2. As parcelas foram distribuídas ao longo da área da sub-bacia (5.785 ha),
da seguinte forma: seis na área do alto curso da sub-bacia (A, B, C, D, E e F) e
três na área do médio curso da sub-bacia (G, H e I), demarcadas de forma não
contígua e aleatórias, alinhadas em transeções e perpendicular aos cursos
d`água para representar as maiores variações possíveis. Cada parcela foi
constituída de 20 x 50 m, totalizando 0,9 ha de área total. Foram amostradas
todas as áreas que possuíam tamanho suficiente de área ciliar e acesso
terrestre permitido. Para a instalação das parcelas, foi utilizada trena para
55

medir as distâncias horizontais e nível de precisão para orientar o alinhamento


do contorno das parcelas.

2.3 Amostragem do solo

Foram coletadas cinco amostras compostas do solo em cada parcela,


nas profundidades 0,0 a 0,1 e 0,1 a 0,2 m, com auxilio de trado holandês. As
repetições realizadas foram as seguintes: 30 no alto curso e 15 no médio
curso, para cada profundidade, totalizando 90 amostragens. Cada amostra
composta foi constituída de cinco sub-amostras coletadas em linha e
perpendicular ao curso d`água, distantes 4 m uma da outra. As amostras de
solo foram acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e encaminhadas
ao laboratório de solos da UNEMAT, campus de Alta Floresta-MT.

2.4 Análises do solo

Os atributos químicos foram analisados de acordo com a metodologia


descrita pela Embrapa (1997) para: pH em CaCl2; matéria orgânica (método via
úmida); alumínio, cálcio, magnésio e potássio trocáveis; fósforo disponível e
acidez potencial (H+ + Al+3). A CTC potencial, CTC efetiva, soma de bases (S),
saturação por bases (V) e a saturação por alumínio (m) foram calculadas a
partir dos dados analíticos.
Determinou-se a granulometria pelo método do densímetro após
agitação lenta por 16 h, conforme proposto por CAMARGO et al. (1986), em
cinco pontos de cada uma das parcelas, a cada 10 m de distância a partir do
ponto mais úmido.
Os solos foram classificados de acordo com o Sistema Brasileiro de
Classificação dos Solos (EMBRAPA, 2006).

2.5 Análise estatística

Os dados foram submetidos à análise de variância (teste F) e teste de


média (Tukey, P<0,05). O software estatístico utilizado foi Sisvar 4.0
(FERREIRA, 2000). Realizaram-se ainda correlações pelo método de
56

correlação simples, utilizando-se o Microsoft Excell (2003), sendo a correlação


dada pelo teste t.

3. Resultados e discussão

3.1 Granulometria

Na Tabela 1 são apresentados os resultados da granulometria dos solos


e a classificação textural, para as profundidades de 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m. A
classificação foi realizada de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos (EMBRAPA, 2006). De modo geral, existe predomínio da textura
franco arenosa.

Tabela 1: Granulometria média do solo das parcelas amostrais e classe


textural nas profundidades de 0 a 0,1 m e 0,1 a 0,2 m, em g.kg-1.

Par Areia Silte Argila Classe Areia Silte Argila Classe


celas total total
Profundidade 0,0 a 0,10 m Profundidade 0,10 a 0,20 m
A 698,1 109,7 192,2 Franco 630,8 194,9 174,3 Franco
arenosa arenos
a
B 708,2 101,3 190,6 Franco 646,8 154,7 198,4 Franco
arenosa arenos
a
C 720,3 66,2 213,4 Franco 654,9 139,6 205,5 Franco
argilo argilo
arenosa arenos
a
D 674,6 143,2 182,2 Franco 685,5 145,1 169,4 Franco
arenosa arenos
a
E 676,2 301,8 197,3 Franco 491,3 273,9 233,9 Franca
arenosa
F 678,0 164,7 133,8 Franco 623,6 256,8 119,6 Franco
arenosa arenos
a
G 678,2 211,0 158,0 Franco 560,0 262,8 177,2 Franca
arenosa
H 579,9 244,8 175,3 Franca 459,8 344,9 195,3 Franca
I 315,4 416,9 266,6 Franco 312,6 405,8 281,7 Franco
siltosa siltosa
57

Na profundidade de 0 a 0,1 m, 11,1 % das parcelas apresentaram


textura franco argilo-arenosa, 11,1 % franca, 11,1 % franco-siltosa e 66,6 %
franco-arenosa.
Na profundidade de 0,1 a 0,2 m, 11,1 % apresentou textura franco argilo-
arenosa, 11,1% franco-siltosa, 33,3% franca e 44,4% franco-arenosa. Ferreira
(2007) estudando a associação entre solos e remanescentes de vegetação em
Campinas-SP descreveu áreas de mata situadas em Latossolo Vermelho-
Amarelo que apresentaram no horizonte A textura predominantemente franco
arenosa.
Os elevados teores de areia total podem ser explicados, tanto pela
classe de solo, classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico,
quanto pela declividade das áreas, aproximadamente 2%.
Filho et. al. (2007) estudando as classes pedológicas em sub-bacias na
Amazônia Meridional descreveram a ocorrência de pouco acúmulo de argila no
horizonte superficial, ainda segundo estes autores, nas sub-bacias do extremo
norte do Estado de Mato grosso há predominância de Latossolos, uma vez que
o relevo e o material de origem influenciaram mais a formação das classes de
solo do que o clima os organismos e o tempo.

3.2 Avaliação da fertilidade do solo na sub-bacia hidrográfica Mariana

Na Tabela 2 é apresentado o resultado da análise de variância para as


características químicas do solo no alto e médio curso da sub-bacia
hidrográfica Mariana, em duas profundidades e o desdobramento de
profundidade em função de curso (Alto/Médio).
Pelos resultados da análise estatística verificam-se características
diferenciadas entre os cursos estudados, assim como ocorrem variações da
média dos atributos entre a profundidade da camada de coleta e a interação de
curso em função de profundidade.
O desdobramento entre parcelas e profundidade demonstrou haver
diferença significativa (p<0,05) apenas para os teores de cálcio e soma de
bases.
58

As áreas do estudo não apresentam diferenças significativas para os


parâmetros potássio, acidez potencial e matéria orgânica, em relação aos
cursos estudados na sub-bacia.
Em relação às profundidades avaliadas, não houve diferença estatística
para: magnésio, acidez potencial, CTC efetiva, saturação de bases e saturação
de alumínio.
59

Tabela 2: Análise de variância dos dados referentes aos atributos químicos do solo em relação ao alto e médio curso,
profundidade de coleta e desdobramento (parcelas * profundidade) da sub-bacia hidrográfica Mariana.

Fonte de Variação GL pH CaCl2 M.O P K Ca Mg H+Al Al SB CTC CTC V% m%


potencial Efetiva
Quadrados médios
Curso 1 6,335* 15,706 ns 83,300* 4917,979ns 22,169* 6,589* 1,643ns 2,572* 55,600* 147,678* 139,955* 7263,130* 0,000*
Profundidade 1 0,739ns 137,890* 13,572* 6228,684* 0,975* 0,2139ns 4,134ns 0,741* 2,724* 18,387* 1,933ns 3,09 ns 0,750*
Parcela * 1 0,000ns 0,559ns 0,588ns 305,319ns 1,288* 0,151ns 0,752ns 0,305ns 2,204* 10,224ns 8,337ns 73,47ns 1,314ns
Profundidade
Erro 86 0,206 16,627 0,859 1482,087 0,233 0,102 1,886 0,096 0,562 4,168 2,742 137,49 1,314
Total corrigido 89
Valores de F
Curso 0,000 0,333 0,000 0,072 0,000 0,000 0,353 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Profundidade 0,061 0,005 0,001 0,043 0,043 0,153 0,142 0,006 0,030 0,038 0,403 0,881 0,007
Parcela * 0,964 0,855 0,410 0,651 0,021 0,228 0,529 0,078 0,05 0,121 0,08 0,466 0,452
Profundidade
CV (%) 10,47 34,93 33,01 28,27 32,98 31,70 27,71 31,56 28,09 25,57 26,82 32,58 28,98
Média Geral 4,34 11,67 2,15 0,37 1,46 0,77 4,95 0,50 2,58 7,98 3,54 35,98 3,95
M.O = Matéria Orgânica; P = Fósforo; K = Potássio;; Ca = Cálcio; Mg = Magnésio; H+Al = Acidez Potencial; Al = Alumínio;; SB = Soma de bases; CTC
potencial = Capacidade de troca catiônica potencial; CTC efetiva = Capacidade de troca catiônica efetiva; V% = Saturação por bases (dados ajustados
através do método dos quadrados perfeitos); m% = Saturação por alumínio (dados ajustados através do método dos quadrados perfeitos), .
ns - Não significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F
* - Significativo ao nível de 5 de probabilidade pelo teste F
60

Os resultados das Tabelas 3 e 4 mostram que o solo da área estudada


apresenta fertilidade que varia entre baixa e média, além de baixa toxidez por
alumínio, conforme classes de interpretação de fertilidade do solo, proposto por
Raij (1991).
Segundo os valores descritos por este Raij (1991), o pH do solo, na
profundidade 0,0 a 0,1 m, é considerado baixo (pH entre 4,4 - 5,0) e entre 0,1 a
0,2 m muito baixo (< 4,3), não havendo diferença estatística entre as
profundidades estudadas (Tabela 4). O Alto curso da sub-bacia foi classificado
como muito baixo e o Médio curso como baixo (Tabela 3). Seguindo estes
critérios, constata-se que todas as parcelas amostradas apresentam problemas
com relação à acidez.
Resultados semelhantes foram encontrados por Demattê e Demattê
(1993) na região Amazônica. Estes autores enfatizam que os valores de pH em
CaCl2 no solo da região de floresta, quase em sua totalidade, oscilam entre 3,5
e 4,5. Valores dessa magnitude se devem ao fato da fração argila dos solos da
região estarem dominados por caulinita, cujo ponto de carga zero esta na faixa
de pH 4,0 (JUO, 1980)
Semelhante aos resultados do pH, a acidez potencial (H++Al+3)
apresenta-se igual, tanto no Alto e Médio curso, quanto nas profundidades
estudadas. A acidez potencial está diretamente relacionada com a matéria
orgânica e pode estar sendo influenciada pelas pequenas taxas encontradas.
Resultados semelhantes são demonstrados por Demattê e Demattê (1993) e
Conceição et al. (2005).
Ao realizar-se a correlação entre pH e acidez potencial encontram-se
resultados não significativos. Esta relação pode ter sido influenciada pela baixa
disponibilidade de matéria orgânica na região, uma vez que este atributo está
diretamente relacionado a tal correlação.
O solo da área ciliar do Alto e Médio curso apresentam maior saturação
por base (V%) e menor saturação por alumínio (m%), revelando que
possivelmente não ocorrem problemas de toxidade por alumínio (Tabela 3).
Toda a área estudada na sub-bacia possuí saturação por alumínio (m%)
menor que 50% e saturação por bases acima de 20%. Estes resultados
corroboram com aqueles descritos por Ferreira (2007) em Latossolo Vermelho-
61

Amarelo sob remanescentes de floresta semi-decídua. De acordo com os


padrões propostos por Raij (1991) a saturação por bases e alumínio no Alto e
Médio curso são classificadas como baixa (26 a 50%).
Com relação aos teores de Alumínio, ocorre elevação dos teores com a
profundidade (Tabela 4). Correia (1995) afirma que quanto maior a
incorporação de resíduos orgânicos ao solo, menor os teores de Al+3. Os
valores encontrados para Al+3 trocável em todas as áreas amostradas foram
classificados como baixos (0,0 à 5,0 cmolc.dm-3).
Os teores de matéria orgânica foram maiores na profundidade de 0,0 a
0,1 m em relação a 0,1 a 0,2 m (12,90 e 10,43 g.kg-1, respectivamente) (Tabela
4). Conforme Conceição et. al. (2005) ocorre uma diminuição considerável da
matéria orgânica com a profundidade do perfil. Os autores relatam que a
camada de 0,0 a 0,05 m possui quantidades de matéria orgânica cerca de três
vezes maiores que o perfil de 0,1 a 0,2 m. De acordo com as classes de
interpretação da fertilidade do solo, tanto o Alto como o Médio curso da sub-
bacia Mariana (Tabela 3) apresentam teores de matéria orgânica classificados
como baixo (<15 g.kg-1).
Resultados semelhantes foram relatados por Marques (2004) em
Latossolos do Amazonas. Segundo este autor, a manutenção dos teores de
matéria orgânica é um fator essencial para a conservação das propriedades
físicas, químicas e produção de plantas em solos tropicais.
O teor de potássio (K+) diminui com o incremento da profundidade
(Tabela 4). Os dois cursos (Alto/Médio) em estudo apresentam concentrações
classificadas como muito bom (> 0,30 Cmolc.dm-3). Os altos teores de K+
encontrados podem ser explicados devido à formação natural do solo, pois
estudos demonstraram a ocorrência de rochas ricas em feldspato potássico na
região (FERNANDES, et. al. 2005). Além disso, os maiores níveis de matéria
orgânica presentes em superfície podem contribuir com a concentração deste
elemento, assim como a pluviosidade, pois nos meses chuvosos a
disponibilidade de K+ é maior devido à facilidade de difusão do elemento no
solo (PEREIRA et. al., 2000).
A concentração de P diminuiu com o aumento da profundidade da
camada de coleta (Tabela 4), fato explicado ao observar-se que a matéria
62

orgânica seguiu o mesmo comportamento. A disponibilidade do P é aumentada


pela matéria orgânica, uma vez que certos compostos orgânicos formam
complexos com ferro e alumínio evitando assim a formação de agregados
insolúveis (PEREIRA et. al., 2000).
O Médio curso apresenta teores de fósforo cerca de duas vezes maiores
que o Alto curso. Este resultado pode estar associado à mobilidade do
elemento no solo, que pode ocorrer através da erosão superficial,
principalmente em solos arenosos (FARIA, 1993). Segundo Neto (2004), com o
aumento do intemperismo, principalmente em regiões tropicais, os solos
tornam-se mais eletropositivos, podendo funcionar como dreno do elemento.
De acordo com Raij (1991), os solos do Alto curso apresentam
concentrações de fósforo classificadas como muito baixa e o Médio curso como
baixa.
Os resultados concordam com o teor médio de P do solo brasileiro, uma
vez que Raij (1996) descreve teores para o solo brasileiro classificados como
baixo.
A CTC potencial diminuiu com a profundidade (Tabela 4). Este resultado
pode estar relacionado com os teores de matéria orgânica, argila e pH, pois
Vieira (2007) relata que em solos tropicais a CTC é altamente dependente
destes parâmetros. O solo do Alto curso da sub-bacia foi classificado como
bom e o Médio curso com teor muito bom, conforme RIBEIRO (1999).
A correlação entre CTC potencial com matéria orgânica e CTC potencial
com argila revelou que as bases do solo estão relacionadas à fração mineral do
solo e não à fração orgânica, uma vez que a correlação entre CTC potencial e
matéria orgânica não foi significativa (Figura 2). Explica-se este resultado pelo
fato do teor de matéria orgânica ser baixo nas áreas estudadas, o que é típico
da região da floresta amazônica (DEMATTÊ, 1993).
63

4,5 y = 2,1783e0,0048x
R2 = 0,924

7,0
4,0

CTC potencial 3,5

3,0

2,5

2,0

1,5
0 25 50 75 100 125
Argila (g.kg-1)

Figura 2. Relação da capacidade de troca de cátions potencial em função dos


teores de argila.

A correlação entre CTC potencial com pH demonstra a ocorrência da


diminuição da acidez do solo com o aumento da disponibilidade de cargas
(Figura 3).

5,5 y = 3,6312e0,0032x
R2 = 0,9866
xxH

5,0

4,5
pH

4,0

3,5

3,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
CTC potencial

Figura 3. Relação do pH em CaCl2 em função da capacidade de troca de


cátions potencial.
64

A CTC efetiva não apresentou diferença significativa em relação às


profundidades estudadas. O Alto curso foi classificado como bom e o Médio
curso com teor muito bom, conforme classes proposta por Ribeiro (1999).
Existe correlação entre CTC efetiva e pH (Figura 4). Resultados
semelhantes foram descritos por Nicolodi (2008), que ressalta que a CTC
efetiva aumenta consideravelmente quando se realiza a correção da acidez do
solo.

3,5 y = 0,6744x - 1,1056


R2 = 0,5755
Raiz

3,3
3,0
2,8
CTC efetiva

2,5
2,3
2,0
1,8
1,5
1,3
1,0
3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
pH

Figura 4: Relação entre pH em CaCl2 e a capacidade de troca de cátions


efetiva.

A Soma de bases talvez esteja refletindo a melhor fertilidade do Médio


curso em relação ao Alto curso (Tabela 3), uma vez que foram obtidos os
valores pelos dados analíticos de Ca+2, Mg+2 e K+. A camada de 0,0 a 0,1 m
apresenta maior concentração de íons em relação à camada 0,1 a 0,2 m
(Tabela 4).
O desdobramento (Tabela 5) para soma de bases evidencia-se que nas
profundidades estudadas o Médio curso possuí maior concentração de cátions
em relação ao Alto curso (4,09; 2,09 e 3,30; 1,96 Cmolc.dm-3, respectivamente).
A interação dos cursos com as profundidades revelou a ocorrência de diferença
apenas no Médio curso, estando a maior concentração de íons presente na
profundidade de 0,0 a 0,1 m (4,04 e 3,30 Cmolc.dm-3, respectivamente).
65

O solo do Alto e Médio curso podem ser classificados, quanto à soma de


bases em teores médios. A análise da correlação entre SB e pH foi significativa
(Figura 5), demonstrando que o incremento das bases do solo favorece a
diminuição da acidez.

y = 0,3436x + 3,4519
6,0
R2 = 0,5173
x xxx

5,5

5,0

4,5
pH

4,0

3,5

3,0
1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Soma de Bases (SB)

Figura 5: Relação entre pH em CaCl2 e soma de bases (SB) do solo.

Em relação ao Ca+2, ocorrem maiores concentrações no Médio curso,


quando comparado ao Alto curso. Esta constatação pode ser devida à
lixiviação do elemento através das águas de deflúvio, uma vez que as áreas
estão localizadas em região de alta pluviosidade.
Há decréscimo da concentração de cálcio à medida que se aprofunda a
camada de coleta (Tabela 4). Ferreira (2006) relata que esta tendência é
natural e devida aos processos de ciclagem de nutrientes ocorrerem
predominantemente nas camadas mais superficiais do solo.
O desdobramento (Tabela 5) de profundidade dentro de curso apresenta
concentrações para as camadas de 0,0 a 0,1 e 0,1 a 0,2 m de 2,44 e 1,13
Cmolc.dm-3 para o Médio curso e 1,89 e 1,09 Cmolc.dm-3 para o Alto curso. A
interação de cursos dentro de profundidades foi significativa apenas para o
Médio curso, com concentrações de 2,44 e 1,89 Cmolc.dm-3, nas camadas 0,0
a 0,1 e 0,1 a 0,2 m, respectivamente.
66

O Mg+2 não apresenta diferença significativa em relação à profundidade,


esta ocorrência pode estar relacionada ao período de coleta, pois com o
aumento da pluviosidade ocorre a lixiviação desse elemento e
conseqüentemente a diminuição da abundancia do mesmo (Ibid, 2006). Tanto
o cálcio quanto o magnésio, em relação aos cursos (Alto/Médio) possuem
concentrações classificadas como baixa (Tabela 3).
A baixa concentração de cálcio e magnésio pode estar relacionada ao
baixo nível de matéria orgânica, pois, Pereira (2000) relata que quanto maior a
quantidade de matéria orgânica no solo maior a quantidade de Ca+2 e Mg+2,
devido a retenção dos elementos nos complexos formados.
Assim, nos remanescentes de floresta ocorrem fortes interações entre
solo e vegetação, através da ciclagem de nutrientes, sendo o acúmulo de
serrapileira o maior responsável pelo ciclo biogeoquímico de transferência de
nutrientes. O acúmulo de matéria orgânica advinda da decomposição da
serrapileira rege a disponibilidade e liberação de nutrientes para o ambiente,
uma vez que este é o principal sítio de adsorção em solos com elevados teores
de areia (SCHENATO, 2007). Neste trabalho verificaram-se baixos teores de
matéria orgânica o que pode ser devido à baixa velocidade de decomposição
da serrapileira ou indicativo de degradação da área de estudo.
Dessa forma, a fertilidade natural do solo da área ciliar da sub bacia
hidrográfica Mariana, assim como a continuidade dos ciclos biogeoquímicos que
regem a vida do ecossistema local dependem diretamente da manutenção e
recuperação da vegetação.
67

Tabela 3: Média dos atributos químicos do solo para Alto e Médio curso da sub-bacia hidrográfica Mariana, região de Alta
Floresta-MT.

Curso pH CaCl2 M.O P K Ca Mg H+Al Al SB CTCpotencial CTCEfetiva V m%

Alto 4,15a 11,97b 1,47a 0,33a 1,11a 0,58a 5,04a 0,62b 2,03a 7,08a 2,65a 29,63a 4,71b
Médio 4,71b 11,08a 3,51b 0,37a 2,16b 1,15b 4,76a 0,26a 3,69b 9,79b 5,30b 48,69b 2,43a
-1 -3 -3 -3 -3
M.O = Matéria Orgânica (g.Kg ); P = Fósforo mg.dm ); K = Potássio (Cmolc.dm ); Ca = Cálcio (Cmolc.dm ); Mg = Magnésio (Cmolc.dm ); H+Al =
-3 -3 -3 -3
Acidez Potencial (Cmolc.dm ); Al = Alumínio (Cmolc.dm ); H = Hidrogênio (Cmolc.dm ); SB = Soma de bases (Cmolc.dm ); CTC pH 7,0 =
-3 -3
Capacidade de troca catiônica potencia (Cmolc.dm )l; CTC efetiva = Capacidade de troca catiônica efetiva (Cmolc.dm ); V = Saturação por bases
(%); m% = Saturação por alumínio (%). Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Tabela 4. Média dos atributos químicos do solo em função da profundidade de coleta na sub-bacia hidrográfica Mariana.

Profundidade do perfil pH M.O P K Ca Mg H+Al Al SB CTC CTC V m%


CaCl2 potencial Efetiva
0,0 a 0,10 4,25ª 12,90b 2,54b0,37b 1,56ª 0,82a 5,16a 0,42a 2,76b 8,43b 3,68a 36,17a 3,62a
0,10 a 0,20 4,43a 10,43a 1,76a 0,32 1,36b 0,72a 4,73a 0,60b 2,41a 7,53a 3,39ª 35,80a 4,28b
a
-1 -3 -3 -3 -3
M.O = Matéria Orgânica (g.Kg ); P = Fósforo mg.dm ); K = Potássio (Cmolc.dm ); Ca = Cálcio (Cmolc.dm ); Mg = Magnésio (Cmolc.dm ); H+Al =
-3 -3 -3 -3
Acidez Potencial (Cmolc.dm ); Al = Alumínio (Cmolc.dm ); H = Hidrogênio (Cmolc.dm ); SB = Soma de bases (Cmolc.dm ); CTC pH 7,0 =
-3 -3
Capacidade de troca catiônica potencia (Cmolc.dm )l; CTC efetiva = Capacidade de troca catiônica efetiva (Cmolc.dm ); V = Saturação por bases
(%); m% = Saturação por alumínio (%). Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
68

Tabela 5: Médias das variáveis: Soma de Bases (SB) e Cálcio (Ca) para a
interação de profundidade dentro de curso.

Atributo avaliado: SB Alto curso Médio curso


(Cmolc.dm-3)
0 a 0,1 m 2,09aA 4,09bB
0,1 a 0,2 m 1,96aA 3,30bB
Atributo avaliado: Ca ( Alto curso Médio curso
-3
Cmolc.dm )

0 a 0,1 m 1,13aA 2,44bB

0,1 a 0,2 m 1,09aA 1,89aB

Médias seguidas pela mesma letra minúscula, na coluna, ou maiúscula, na linha, não
diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

4. Conclusões

O Alto e Médio curso da sub-bacia hidrográfica Mariana apresentam baixa


fertilidade natural;
O Médio curso, quando comparado ao Alto, apresenta melhores condições
de fertilidade;
As concentrações de alumínio nas áreas estudadas não devem ocasionar
problemas relativos à toxidez deste elemento e estão relacionadas com os teores
de matéria orgânica;
A matéria orgânica influencia diretamente a disponibilidade de P, Ca+2,
Mg+2, e K;
Os cátions do solo possuem origem da fração mineral e não na fração
orgânica do solo;
A adoção de práticas conservacionistas que levem em conta as limitações
do solo da sub-bacia hidrográfica Mariana podem auxiliar na promoção da
sustentabilidade das atividades econômicas da região.
69

5. Referências Bibliográficas

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72

Capítulo 4

Uso-ocupação do solo e perfil sócio-econômico da população inserida na


sub-bacia hidrográfica Mariana

Resumo

O trabalho objetivou conhecer o perfil sócio-econômico, as principais formas de


uso e ocupação do solo, além das alterações no ambiente natural, para tanto,
realizaram-se visitas in loco e aplicação de questionário semi-estruturado.
Foram entrevistadas 50 famílias ao longo da sub-bacia hidrográfica. Para a
delimitação da área de abrangência foram utilizadas informações geodésicas a
partir de imagens de satélite (Landsat5 e Aster), que refletem a situação da
cobertura do solo, bem como a interferência antrópica sobre o sistema natural
da sub-bacia hidrográfica e do município de Alta Floresta-MT. Os resultados
mostram que a região encontra-se bastante degradada, com a ausência da
floresta, das APPs e reserva legal. O solo encontra-se exposto a diferentes
tipos de agentes de degradação. As entrevistas revelaram que a maior parte
das famílias são oriundas dos estados do sul e sudeste do país, em sua
maioria do Paraná, e, que ocupam a região desde a década de 70. A bacia
hidrográfica encontra-se pouco povoada. A matriz econômica é a pecuária de
corte, cria e recria, onde a monocultura de pastagem é a principal forma de uso
do solo. Em seguida aparece a pecuária leiteira e a produção de guaraná e
café. Faz-se necessário o planejamento de ações que visem promover a
gestão e a educação ambiental, integrando gestão pública e população,
centrada em estudos técnicos que visem à produção sustentável para a
manutenção da quantidade e qualidade da água que será ofertada ao
município.

Palavras chave: Amazônia; utilização de sub-bacia hidrográfica; degradação;


Área de preservação permanente.
73

Abstract

The work objectified to know the profile partner-economic, the main forms of soil
use and occupationd, beyond the natural environment alterations, for in such a
way, visits had been become fullfilled in lease and application of half-
structuralized questionnaire. In the hidrografic sub-basin Mariana, 50 families
throughout had been interviewed. For the delimitation of the abrangenci area
geodesic information from satellite images had been used (Landsat5 and
Aster), that they reflect the situation of the soil covering, as well as the antropic
interference on the natural system of the sub-basin and at Alta Floresta-MT.
The results show that the region meets degraded sufficiently, with the forest
absence, of the APPs and legal reserve. The soil meets displayed the different
degradation agents. The interviews had disclosed that most of the families is
deriving of the states of the country Southeastern south, in its majority of the
Paraná, and, that they occupy the region since the decade of 70. The sub-basin
meets populated little. The economic matrix is the cattle one of cut, creates and
recria, where the pasture cultivation is the main form of soil use. After that she
appears the cattle milkmaid and the production of guarana and coffee. The
planning of action becomes necessary that they to promote the management
and the ambient education, integrating public administration and population,
centered in studies technician that at the sustainable production for the
maintenance of the amount and quality of the water that will be offered to the
city.

Key words: Amazonia; sub-basin hidrografic; degradation; Area of permanent


preservation.
74

1. Introdução

A colonização da região norte do Estado de Mato Grosso se iniciou na


década de 60, dando início ao povoamento mais extensivo do território.
Entretanto, foi apenas a partir das décadas de 70 e 80, em função das políticas
de integração nacional, implementadas pelo Governo Federal, com objetivo de
anexar os grandes vazios demográficos ao processo produtivo brasileiro que
ocorrem a ampliação e a incorporação das terras às atividades produtivas
(SEPLAN-MT, 2003).
A ocupação da Amazônia Legal se iniciou pela utopia dos migrantes das
mais variadas regiões do país em encontrar seu pedaço de terra e estes,
enfrentaram inúmeras adversidades, além de se submeter a variados regimes
de ocupação e distribuição das terras (ROSA, 2003).
O modelo de produção e exploração intensivo empregado no uso do
solo no domínio da Amazônia brasileira teve início com a abertura da rodovia
Transamazônica em 1970 (Ibid, 2003).
Na região norte mato-grossense, a colonização se intensificou com a
abertura da BR 163, conhecida também como rodovia Cuiabá-Santarém, em
1973. De acordo com Ribas (2006), a rodovia representava para o governo
militar da época um grande avanço econômico devido à integração entre os
Estados do norte e do sul do país o que levou à expansão das atividades
econômicas para uma região até então desabitada. Junto à abertura da BR
163, instalaram-se frentes de colonização e de ocupação econômica que
promoveram migrações desordenadas, desflorestamento e exploração
predatória de recursos naturais (NOBRE, 2007).
O desenvolvimento do município de Alta Floresta-MT, assim como da
maioria dos centros urbanos levou a modificações nos ecossistemas. Os
fragmentos florestais e urbanos, assim como a vegetação ciliar ganham
importância, pois afetam diretamente a vida da população da região, exercendo
profunda contribuição paisagística, microclimática e auxiliando na qualidade e
manutenção do fornecimento de água (BACCI, 2008).
Considerando a fragilidade dos solos de domínios amazônicos, estudos
constataram que há uma queda da fertilidade agrícola poucos anos após o
75

desmatamento, pois estes apresentam baixas reservas de nutrientes e, são


propensos à redução da porosidade total e da infiltração de água em um prazo
muito curto, além de ter sua estrutura degradada em um espaço de tempo
muito rápido (MULLER, et al., 2001).
O conhecimento da vegetação nativa remanescente de uma região e de
suas relações com o solo que a suporta podem auxiliar na manutenção e
aproveitamento da biodiversidade de ecossistemas, sendo um grande desafio
para a ciência da atualidade a preservação destes ambientes naturais, os quais
vêm sofrendo pressões antrópicas que resultam na sua fragmentação e
alteração (FERREIRA, 2007).
A floresta tropical é um dos ambientes naturais mais complexos da
Terra, sendo sua composição e estrutura determinadas, principalmente, pelo
clima, solo, estado sucessional da vegetação e a história natural de cada sítio.
A proporção de importância de cada fator torna-se difícil de ser avaliada,
porque é praticamente impossível isolar todos os fatores da intrincada malha
de interações (LIMA, 2002).
Além disso, é impossível a tomada de decisões a respeito das
interações ambientais sem levar em consideração as pessoas presentes
nessas regiões, pois cada indivíduo percebe, responde e reage diferentemente
às ações sobre o ambiente em que vive (CAMARGO e UMETSU, 2009).
Nos últimos anos, a preocupação com a conservação e a utilização dos
recursos naturais vem sendo cada dia maior, principalmente no que diz
respeito aos solos e aos cursos d`água, devendo estes ter uma exploração
adequada e que vise manter os recursos disponíveis para novas gerações,
além de diminuir as alterações e impactos ambientais causados por ações
antrópicas negativas (Ibid, 2009).
Atualmente, a área do município de Alta floresta, assim como a área
ciliar da sub-bacia hidrográfica Mariana, encontram-se degradadas, situação
esta causada principalmente pelo avanço das áreas de exploração
agropecuária e pela forma de ocupação histórica implantada na região norte do
estado de Mato Grosso.
Considerando as pressões antrópicas e a necessidade de proteger as
nascentes que formam o ribeirão Taxidermista, corpo d`água do qual a
76

população da cidade de Alta Floresta-MT utiliza como fonte de água, além da


necessidade de se direcionar futuros trabalhos e projetos de reflorestamento na
região, realizou-se este estudo com o objetivo de conhecer o uso e ocupação
do solo, além do perfil sócio-econômico da população que vive naquela região.

2. Materiais e métodos

2.1 Área de estudo

A área do estudo compreende parte da sub-bacia hidrográfica Mariana,


no município de Alta Floresta-MT, distante cerca de 830 Km da capital Cuiabá,
localizada sob as coordenadas geográficas 56º 90’; 56º 40’ W e 9º 53’; 9º 59’S
ocupando 5.785,00 ha da área do município.
O clima, segundo a classificação de Köeppen (1948), é chuvoso com
nítida estação seca (Tipo Awi), com temperaturas entre 20 a 40 ºC com
precipitação média anual de 2.264 mm (BRASIL, 1980).
A vegetação é basicamente constituída por floresta ombrófila aberta
densa, floresta estacional e savana. A floresta ombrófila aberta submontana
com cipós representa uma das subunidades da floresta ombrófila aberta. Esta
vegetação ocupa grande parte do município e cobre a depressão Interplanáltica
da Amazônia Meridional, apresenta uma fisionomia bem típica, caracterizada
pelo envolvimento das árvores por lianas lenhosas e solo adaptado por um
emaranhado de lianas herbáceas (Ibid, 1980).
Os solos predominantes na área do estudo foram classificados como
Latossolo Vermelho Amarelo distrófico, possuindo argila de atividade baixa a
moderada. A textura varia de franco-arenoso a franco-argilo-arenoso. O
material originário provém de rochas cristalinas do Complexo Xingu Pré-
Cambriano, o relevo é suavemente ondulado (Ibid, 1980).
77

Figura 1: Ilustração da Vegetação da área de estudo. Fotografias


demonstrando a Floresta Ombrófila aberta submontana com cipós.

2.2 Delimitação da sub-bacia hidrográfica Mariana e análise visual


temporal da atividade antrópica no município de Alta Floresta-MT

Para a delimitação da sub-bacia hidrográfica Mariana, foram utilizadas


informações obtidas de imagens do satélite Aster.
Para a elaboração do mapa que possibilita a análise visual temporal da
atividade antrópica sobre o município de Alta Floresta, foram utilizadas
informações obtidas de imagens do satélite Landsat 5, sendo composta pelas
bandas 5, 4 e 3.
As imagens de satélite utilizadas foram imagens orbitais digitais, datadas
de Junho de 1984, e Julho de 2009 (Landsat) e maio de 2008 (Aster). As
imagens do satélite Landsat foram utilizadas apenas para mostrar o avanço
das atividades antrópicas no município de Alta Floresta nos últimos 15 anos e
foram obtidas no site do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE).
As imagens do satélite Aster serviram como base para produção do
mapa temático que retrata o uso e ocupação da sub-bacia e foram obtidas pelo
sensor CCD (área coberta de 113 x 113 km) e foram cedidas pela Prefeitura
78

Municipal de Alta Floresta-MT, Agenda 21, sendo composta pelas bandas Pan
(0,51 - 0,73 µm (pancromática)), banda 1 (0,45 - 0,52 µm (azul)), banda 2 (0,52
- 0,59 µm (verde)), banda 3 (0,63 - 0,69 µm (vermelho)) e banda 4 (0,77 - 0,89
µm (infravermelho próximo), com baixa cobertura de nuvens, apresentando,
cada banda, resolução espacial de 15 metros.

2.3 Caracterização do perfil sócio-econômico da população rural inserida


na bacia hidrográfica Mariana

Para obter as informações sobre o perfil sócio-econômico dos


proprietários rurais da bacia hidrográfica Mariana, em relação às mudanças
observadas no solo, com reflexos nos recursos hídricos e no potencial
econômico das propriedades, bem como, a concepção destes sobre a dinâmica
do desmatamento na área de estudo com interferências sobre a qualidade e
suporte de uso do solo foram feitas visitas locais às propriedades,
conversações e, em seguida a aplicação de um questionário (Apêndice B) de
caráter semi-estruturado.
Foram entrevistadas aproximadamente 45% das famílias que ocupam a
área da sub-bacia, considerando os moradores mais antigos, totalizando 50
famílias.

3. Resultados e discussão

3.1 Perfil das famílias residentes na sub-bacia hidrográfica Mariana

A maioria da população ocupante da sub-bacia hidrográfica é oriunda do


processo de colonização da Amazônia mato-grossense iniciado na década de
70. São migrantes dos Estados da região Sul e Sudeste do país,
principalmente da região oeste do Estado do Paraná. A figura 2 demonstra
percentualmente a origem dos entrevistados.
Nota-se que as concentrações populacionais que estão distribuídas na
bacia hidrográfica possuem origem em localidades específicas, em especial na
região do município de Toledo-PR. Segundo os entrevistados, esse fator pode
ser explicado pela presença de “gerentes” de grandes propriedades rurais da
79

região, que eram oriundos dessas localidades e começaram a “buscar” grandes


volumes de pessoas para trabalhar como braçais nessas propriedades e estas,
acabaram por se estabelecer em pequenas propriedades que à época eram
oferecidas por colonizadoras privadas, o que incentivou a migração de outras
famílias da mesma região, em busca de áreas de terras no norte do estado de
Mato Grosso.
Os migrantes chegaram à região em busca de novos horizontes
econômicos e optaram implantar atividades de retorno financeiro rápido,
iniciando a implantação da atividade agropastoril. Sem conhecimento da
realidade e dos recursos naturais locais e na maioria das vezes, sem liberdade
para implantar outros processos produtivos, foram levados por estratégias
governamentais a desenvolverem as atividades voltadas à pecuária, por
acreditarem ser a mais adequada para a região (NOBRE, 1998).
Os moradores do meio rural, inseridos na sub-bacia hidrográfica, são em
geral famílias de pequenos agricultores que vieram em busca de terras,
considerando que o processo de exclusão sócio-econômico não proporcionaria
essa “conquista” em suas localidades originais.
Em média, as famílias residentes na área de estudo ocupam a região há
aproximadamente 30 anos e o fluxo migratório praticamente cessou nos
últimos 20 anos, talvez devido às poucas oportunidades de trabalho ofertadas
na região.
80

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
PR SP Outros

Estado de origem dos entrevistados

Figura 2: Estado de origem dos habitantes da sub-bacia hidrográfica Mariana,


expresso em percentuais

De maneira geral, constatou-se que a área de abrangência da sub-bacia


hidrográfica encontra-se atualmente pouco povoada. Durante as visitas às
propriedades, e diante do relato de moradores entrevistados, foi possível
verificar que na maioria das propriedades apenas os componentes mais velhos
das famílias ainda resistem no lote de terra, pois os jovens, visando melhorias
na qualidade de vida, acesso a melhores condições de saúde e educação,
aumento da renda, entre outros objetivos, migraram para o centro urbano das
cidades próximas. A Figura 3 mostra o perfil, em porcentagem, do tamanho das
propriedades alocadas na área do estudo.
81

50,0

45,0

40,0

35,0

30,0

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
< 25 ha 25 - 125 ha > 125 ha

Tamanho das propriedades (ha)

Figura 3: Percentual de distribuição do tamanho das propriedades rurais da


área da sub-bacia hidrográfica Mariana.

Observa-se que nas áreas de até 25 ha, que representam 45% das
áreas visitadas na sub-bacia, as famílias são constituídas por casais de
aposentados que cultivam produtos destinados à subsistência, além da
produção de café, guaraná e gado de leite. Nas áreas maiores ocorre
exclusivamente o cultivo da monocultura de pastagem que serve de base à
criação de gado de corte, cria e recria, atividades que não demandam de muita
mão-de-obra e ocupam 55% do total das áreas pesquisadas. Percebe-se que a
ocupação populacional é ainda menor com relação às propriedades maiores.
No inicio da colonização da região, todas as propriedades possuíam 100
ha. Com o passar dos anos, o modelo de colonização implantado na região
permitiu que os proprietários detentores do melhor poder aquisitivo fossem
adquirindo pequenos lotes próximos às suas terras e constituindo pequenas
fazendas.
A comercialização dos lotes ou parte dos lotes de terra vem sendo
praticada devido à precária situação econômica enfrentada pelos migrantes,
que se intensificou com a crise atual. Esta realidade pode ser observada
quando comparamos os dados ilustrados na Figura 3 com o tamanho original
dos lotes (100 ha).
82

A Figura 4 ilustra a renda média que as propriedades proporcionam às


famílias. Ao analisarmos tal Figura, observa-se que aproximadamente 45% das
propriedades possuem renda inferior a R$ 500, 00 (quinhentos reais), 30 %
entre R$ 500,00 e R$ 1.500,00 (Hum mil e quinhentos reais) e 25% acima de
R$ 1.500,00.
Baseado nesses levantamentos pode-se comprovar que as pequenas
propriedades (<25 ha) praticamente não fornecem renda a seus proprietários
que se vêem obrigados a garantir sua existência a partir da aposentadoria
proporcionada pelo Estado e pelo cultivo de produtos de subsistência.
Os proprietários dos lotes maiores possuem renda proporcionada pela
propriedade, que garantem tanto a manutenção das atividades, quanto o
sustento das famílias. Ao passo que as áreas de terra aumentam, linearmente
aumentam os rendimentos e seguindo um caminho inversamente proporcional,
segue o número de pessoas que habitam a localidade, pois a lida com o gado,
criado extensivamente, requer pouca mão de obra e praticamente nenhuma
tecnologia.

50,0

45,0

40,0

35,0

30,0

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
< 500 500 - 1500 > 1500

Renda média das propriedades (R$)

Figura 4: Variação percentual da renda (R$) das propriedades da área da sub-


bacia hidrográfica Mariana.
83

3.2 Cenário atual da utilização do solo na bacia hidrográfica Mariana

A ocupação antrópica do ambiente natural ao longo do processo


histórico de ocupação da região do município de Alta Floresta, e
conseqüentemente da sub-bacia hidrográfica Mariana, alteraram
significativamente a paisagem natural, como pode ser observado na Figura 6. A
verificação das alterações na paisagem natural ao longo de toda a área de
abrangência da sub-bacia hidrográfica desde a década de 80, até a atualidade,
acarretou modificações tanto na cobertura vegetal como nas propriedades
físicas do solo.
A análise da imagem que retrata o uso e ocupação do solo (Figura 5)
revela a imensa área que possuí solo exposto ou pastagem degradada,
totalizando 1.755,17 ha. Pela analise da Tabela 1 verifica-se que a área de
pastagem não degradada e ou agricultura, corresponde a 1.380,64 ha.
Vegetação secundária, aberta, sem árvores, 975,7 ha. As áreas que possuem
vegetação primária com árvores são pequenas 792,04 ha e, por fim, regiões
em que se encontram as áreas úmidas, em geral ocupadas por vegetação
secundária com árvores, representam 899,45 ha.
84

Figura 5: Delimitação da sub-bacia hidrográfica Mariana e uso e ocupação do


solo.
85

Figura 6: Delimitação do município de Alta Floresta, e análise visual temporal da atividade antrópica nos últimos 15 anos.
86

Tabela 1: Formas de uso e ocupação da sub-bacia hidrográfica Mariana, expresso


em hectares e percentuais.

Forma do Uso e Ocupação Área (ha) Percentual


Solo exposto ou pastagem degradada 1.755,17 30,34%
Agricultura ou pastagem não degradada 1.380,64 23,86%
Vegetação secundária aberta 957, 70 16,55%
Vegetação primária 792,04 13,69%
Áreas úmidas 899,45 15,54%
Total 5.785,00 100%

A análise da Figura 5 demonstra que os maiores impactos foram sobre a


vegetação natural, destruída quase em sua totalidade pela prática do
desmatamento, com posterior monocultivo de pastagem artificial, com
predominância da gramínea Brachiaria brizantha.
Na Figura 6 observa-se a antropização a qual o município esteve
submetido. Estatísticas elaboradas pelo método de classificação não
supervisionada, utilizando-se o programa ENVI, evidencia-se que nos últimos 15
anos houve um aumento da área antropizada no município de Alta Floresta-MT
em aproximadamente 48%. Estes impactos demonstram a degradação sofrida
pelo ambiente e que reflete o inicio das atividades agropecuárias na região.
Ao iniciarem suas atividades na região, as famílias, visando garantir a
integração e posses das propriedades, realizaram incessantes derrubadas sem
nenhuma orientação, e na tentativa de reproduzir as áreas de onde migraram, não
se preocuparam em destinar uma parcela de terras de seus lotes para a
manutenção da floresta (Figura 5). Foi relatado por todos os entrevistados que
desde a época em que se instalaram na região, até os dias atuais nunca houve,
por parte da administração pública do município, Estado ou União, nenhuma
orientação sobre as formas legais de exploração da propriedade, respeitando-se a
biodiversidade e o ecossistema.
87

A exposição dos recursos naturais (solo e água), visível na bacia


hidrográfica e na região do município de Alta Floresta-MT (Figura 6) é resultado do
desmatamento indiscriminado, iniciado na década de 70 e intensificado na década
de 80, seguido do manejo inadequado do uso do solo no âmbito de toda extensão
da área de estudo. Observa-se que as Áreas de Preservação Permanente (APPs),
foram esquecidas, reproduzindo o ambiente paranaense, e utilizadas como acesso
a dessedentação do gado (Figura 7).

Figura 7: Ilustração de áreas de APPs degradadas. Fotografias demonstrando o


acesso a dessedentação do gado.

A explosão ocupacional da região de Alta Floresta foi tal, que segundo


Rosa (2003) o crescimento era tanto que os colonizadores chegaram a afirmar
que “dá pra se fazer aqui dois nortes do Paraná e um novo Estado de São Paulo”.
Essa afirmação apresenta a idéia dos migrantes que aqui chegaram (reproduzir o
88

ambiente dos estados de origem) aliado ao lema imposto pelo governo da época
“Integrar para não entregar”.
O desmatamento, visando aperfeiçoar o uso das terras, chegou ao extremo,
deixando as margens das nascentes, em grande parte das áreas, desprovidas de
vegetação ciliar e conseqüentemente expostas a diversos tipos de agentes físicos
agressores, além de processos erosivos do solo. A Figura 8 ilustra algumas
nascentes degradadas na área.

Figura 8: Ilustração de nascentes desprovidas de vegetação ciliar. Fotografias


demonstrando os processos de agressão ao solo e ao corpo d`água.

Atualmente, parte dos proprietários dos lotes de terra da sub-bacia Mariana


vêm movendo esforços no sentido de iniciar a recuperação das áreas degradadas
de suas propriedades (erguendo cercas para proteger as nascentes e
reflorestando as APP’s), novamente sem orientação, até o presente momento,
devido à necessidade que vêm encontrando em manter “vivo” os manancias que
cortam suas terras e também amenizar os problemas com órgãos ambientais que
89

num futuro próximo, segundo os entrevistados, estarão cobrando tal atitude


dessas famílias. A Figura 9 ilustra algumas das tentativas de recuperação pelo
isolamento das nascentes e plantio de mudas de espécies florestais.

Figura 9: Ilustração de tentativas de reflorestamento. Fotografias demonstrando


os processos de recuperação de áreas de preservação permanente.

O desmatamento desordenado desencadeado pelo uso e ocupação do solo


da área em estudo tem contribuído com a devastação do meio ambiente natural e
a população da área urbana do município de Alta Floresta começa a sentir os
reflexos da degradação, uma vez que a quantidade de água disponibilizada à
população vem diminuindo a cada ano (INFORMAÇÃO PESSOAL – EMPRESA
ÁGUAS DE ALTA FLORESTA LTDA, 2009). Esse fato pode ser observado na
Figura 10 onde demonstra-se uma série de nascentes que encontram-se em
estado de degradação elevada.
90

Figura 10: Ilustração de área de nascentes em degradação elevada.


Fotografias demonstrando processos de degradação que compromete a
qualidade e quantidade de água.

Nesse sentido, Philippi e Pelicioni (2005) relatam que no Brasil a remoção


da floresta e outras formas de cobertura vegetal natural alteram significativamente
a estrutura física do solo e fendas se formam fazendo com que a água que deveria
infiltrar escorra superficialmente, diminuindo a reserva de água no aqüífero
subterrâneo, alem de carrear nutrientes dissolvidos. Os autores ressaltaram ainda
que os solos se degradam em virtude da falta de controle de erosão, pelo
excessivo pastoreio que leva a compactação e desestruturação, sem contar a
poluição do solo e da água. A Figura 11 mostra alguns processos de erosão que
estão afetando a sub-bacia Mariana.
91

Figura 11: Ilustração de áreas com processos erosivos. Fotografias


demonstrando processos erosivos devido à remoção da cobertura florestal.

Finalmente, ações por parte de todas as esferas do governo, no sentido de


auxiliar os proprietários rurais da área de abrangência da sub-bacia hidrográfica
Mariana para a conservação e recuperação das áreas marginais aos corpos
d`água e nascentes são urgentes e merecem grande atenção, pois a ação
antrópica à qual a região foi submetida afetou e continua desencadeando
mudanças nos fatores físicos, químicos e biológicos dos componentes da
paisagem a qual está diretamente ligada à vida e economia de todas as famílias
inseridas, tanto na área rural, quanto na área urbana da região do estudo.

4. Conclusões

A atividade de uso do solo predominante na sub-bacia hidrográfica Mariana


é o monocultivo de pastagem artificial, em especial a gramínea Brachiaria
brizantha;
92

Em geral, a principal matriz econômica das pequenas propriedades (<25


ha) é a criação de gado de leite, nas demais propriedades é o gado de corte, cria
e recria.
O uso e ocupação do solo foram realizados sem planejamento e
acompanhamento técnico;
As áreas de preservação permanente (APPs) não foram respeitadas;
A ação antrópica desencadeada na região alterou significativamente o
ecossistema;
A incorporação e o incentivo da diversificação de culturas, aliadas a
atividades sustentáveis contribuirá para o aumento da renda dos pequenos e
médios proprietários;
É urgente a proposição de políticas públicas para promover a gestão e
educação ambiental, num movimento que integre os proprietários rurais, os
gestores públicos e a sociedade local;
Somente a soma de esforços entre gestores públicos e população, aliadas
as soluções técnicas que visem à produção sustentável, que respeite o meio
ambiente, garantirão a água em quantidade e qualidade suficientes para as atuais
e futuras gerações da área urbana do município de Alta Floresta-MT;
A sub-bacia hidrográfica Mariana encontra-se degradada;
Políticas públicas que promovam a recuperação das áreas degradadas são
urgentes e essenciais à manutenção do ecossistema.

6. Referências Bibliográficas

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(63), p. 211-227, 2008.
BRASIL, Ministério das Minas e Energia, Secretaria Geral, Projeto RADAM
Brasil. Folha SC-21 Juruena: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e
uso potencial da terra, Rio de Janeiro, 1980.
CAMARGO, M.F e UMETSU, R. K. A Contribuição da Universidade para as
Ciências Ambientais. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Cuiabá, n.04,
p. 194-198, 2009.
93

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nativa em Campinas-SP. Dissertação (Mestrado em Agricultura tropical e Sub-
tropical). Instituto Agronômica de Campinas. IAC/Campinas. 2007.
BRASIL- Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Números da Amazônia.
2008. Disponível em: <http://www.sivam.gov.br/AMAZONIA/ numeros1.htm>
Acesso: 16 Jan.2009.
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KOEPPEN, W, Climatologia con un estudio de los climas de Ia Tierra, México,
Fondo de Cultura Econômica, 1948.
LIMA, W.P. 1989. Função hidrológica da mata ciliar. Pp. 25-42. In: L.M. Barbosa
(coord.). Anais do I Simpósio sobre Mata Ciliar. Campinas, Fundação Cargil.
NOBRE , N. A. de O. Avaliação dos atributos físicos do solo em três sistemas de
uso e seus impactos na bacia hidrográfica do rio Carapá, em Colider/MT. 2008.
111p. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais). Universidade do Estado
de Mato Grosso, Cáceres, 2008.
MULLER, M. M. L., GUIMARÃES, M. de F., DESJARDINS, T., MARTINS, P.F. da
S. Degradação de Pastagens na Região Amazônica: propriedades físicas do solo
e crescimento das raízes. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
v.36.P.1409-1418, 2001.
PHILIPPI Jr. A.; PELICIONI, M. C. F. Educaçao Ambiental e Sustentabilidade.
Barueri, SP: Manole, 2005. 1045p.
RIBAS, Elton. BR 163: Muitos personagens e a mesma história. FORMAD –
Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Cuiabá, 2006.
ROSA, R. D. A função da escola-igreja no processo de colonização de Alta
Floresta-MT, Educar, Curitiba, n. 21, p. 243-260, 2003.
SEPLAN-MT. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral.
Zoneamento Sócio Econômico Ecológico do Estado de Mato Grosso, 2002.
Disponível em: <http://www.zsee.seplan.mt.gov.br/servidordemapas/Run.asp>
Acesso em: 10 jan. 2009.
94

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A densidade do solo apresenta-se alta, podendo restringir o


desenvolvimento das raízes das árvores;
A umidade gravimétrica é igual no Alto e Médio curso, e também nas
profundidades estudadas;
Os valores de porosidade do solo apresentaram-se adequados para áreas
de vegetação ciliar nativa;
Os teores dos elementos que determinam a fertilidade do solo podem ser
classificados entre baixos;
Ocorre problemas de acidez, assim como existe baixa saturação por bases;
Não há toxidade por alumínio nas áreas estudadas;
A matéria orgânica influencia os teores de P, Ca+2, K+, Mg+2 e CTC efetiva;
Os íons do solo estão mais relacionados a fração mineral do que a fração
orgânica, devido esta ultima ser baixa;
Os solos são frágeis e a maior parte das áreas não possui cerca que
evitaria uma série de problemas relacionados ao pisoteio do gado;
A atividade de uso do solo predominante é o monocultivo de pastagem
artificial;
A principal matriz econômica da região é a criação de gado de leite, corte,
cria e recria;
O uso e ocupação do solo foram realizados sem planejamento e
acompanhamento técnico;
As áreas de preservação permanente (APPs) foram derrubadas;
É urgente a proposição de políticas públicas que promovam a gestão e
educação ambiental a fim de garantir a sustentabilidade da sub-bacia;
Por fim, a sub-bacia hidrográfica Mariana encontra-se degrada, colocando
em risco a manutenção do ecossistema, assim como o fornecimento de água ao
núcleo urbano do município de Alta Floresta-MT.
95

APÊNDICES

Apêndice A: Esquema ilustrando a instalação das parcelas e os pontos


de coletas.

Pontos vermelhos – locais de coleta de anéis para análises físicas

Pontos pretos – locais de coleta de amostras para análises químicas


96

Apêndice B: Modelo de entrevista semi-estruturada

DADOS DO ENTREVISTADO

Data:
Nome:
Idade:
N° de Filhos:

ENTREVISTA

1 – Quanto tempo reside no lote de terra?


2 – De onde veio, estado, cidade?
3 – Qual o tamanho da propriedade?
4 – Qual a renda média da propriedade?
5 – Quantas pessoas contribuem com esta renda?
6 – Qual a principal atividade econômica desenvolvida na propriedade?
7 – Faz algum tipo de plantação, comercial ou subsistência?
8 – Alguma vez teve acompanhamento técnico oferecido pelo governo, para
ensinar como lidar com a terra, ou como poderia fazer o desmatamento das áreas.
O desmatamento das nascentes foi realizado por que motivo?
9 – Esta desenvolvendo algum tipo de reflorestamento, ou outra forma de
conservar as nascentes, alguém esta dando suporte técnico?
10 – Você acha que devemos conservar as áreas próximas aos córregos e
nascentes, porque?
11 – O que você pensa sobre a sustentabilidade dessas áreas, se continuarmos
explorando da forma como fazemos hoje?

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