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TRADIÇÃO ORAL
adriano.mendes@ifpb.edu.br
Abstract: The musical transcription has been the subject of many controversies since
the beginning of its development in Western civilization to the present day. Questions have
been raised about how the best way to represent the complexity of musical and interpretative
phenomena were responsible for a revolution that enabled the writing to record and
immortalize great works from the Renaissance to today. In this article, we discuss the
importance of why and for who transcribe songs from oral tradition by ethnomusicologist.
Also a study of case by computer analysis, forms of representation and transcription with the
software’s aid to analyze a melody from Aboio’s song collected in São Gonçalo, Sousa’s
district in Paraíba – Brazil. It’s suggests a procedure for the purpose of minimize the
subjectivity of human perception of researcher.
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Professor de música no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba- IFPB,
Especialista em Educação à distância pela UNB e Mestre em Etnomusicologia na UFPB.
1. INTRODUÇÃO: Somos todos (Etno) musicólogos
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...the possibility of computational approaches to the study of music arose just as the idea of comparing large
bodies of musical data – the kind of work to which computers are ideally suited – became intellectually
unfashionable. As a result, computational methods have up to now played a more or less marginal role in the
development of discipline” (Cook, 2004 p.103)
marcados pelo interesse na teoria e metodologia da transcrição. Porém, a partir dos anos 1990
o interesse pela transcrição nas publicações tem caído notavelmente. (Netll, 2004, p.81)
Com o desenvolvimento das tecnologias de gravação em campo, evidentemente o
objetivo da notação de preservar as manifestações musicais deixa de ser indispensável, uma
vez que qualquer gravação e/ou filmagem, independente da mídia e do processo utilizado, é
mais fiel à realidade do objeto de estudo do que uma transcrição eivada de elementos
subjetivos tais como signos e símbolos. As transcrições passaram a desempenhar um caráter
mais ilustrativo, secundário: o de anexos para acompanhar as gravações feitas em campo. Do
mesmo modo, a partir do desenvolvimento de ferramentas para transcrições como o
melógrafo de Seeger, a transcrição das músicas de tradição oral passou por uma resignificação
importante: Surge a dualidade entre transcrição prescritiva e descritiva. (ver Ellingson, 1992,
p.151 e Netll, 2004, p.89).
A multiplicidade de enfoques epistemológicos da Etnomusicologia moderna, a
dificuldade em encontrar uma representação simbólica precisa para os fenômenos musicais e
que seja satisfatória em resolver os clássicos problemas de notação, a tênue linha que
distingue notação prescritiva da descritiva, podem ser motivos para um menor interesse por
parte dos etnomusicólogos, nas publicações com enfoque nas transcrições e análises
musicológicas das músicas de tradição oral. Netll afirma que possivelmente o receio de ser
mal compreendido nas suas escolhas sobre como representar o objeto de estudo em função
destes impasses sobre o que seria a forma “correta”, ainda longe de serem resolvidos pela
disciplina, tenha desencorajado os pesquisadores a se defrontarem com este desafio.
Essa lacuna existente sobre questões inerentes à representação simbólica tem sido
pouco exploradas pelos pesquisadores da área desde o projeto cantométrico de Alan Lomax
1978. Nas palavras de Ellingson “o estudo dos sistemas de notação, num sentido amplo de
sistemas de representação e comunicação musical, é uma das áreas menos desenvolvidas da
pesquisa etnomusicológica” (Ellingson, 1992. p.153).4 Apesar das dificuldades e imperfeições
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To accuse someone of incorrect transcription is still tantamount to denying competence in ethnomusicology as
a whole. Possibly it’s for this reason that examination of transcriptions in publications or reviews has usually
been avoided. (Netll, 2004 p.84)
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The study of notation systems, in the broad sense of systems of musical representation and communication, is
one of the last-developed areas of ethnomusicological research. (Ellingson, 1992. p.153)
de quaisquer que sejam os sistemas de representação, o etnomusicólogo não deve se eximir da
responsabilidade de transcrever e analisar o fenômeno musical para não correr o risco de
afastar-se demasiadamente da musicologia no sentido estrito da palavra.
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The distinction between prescriptive and descriptive notation was Seeger’s terminology for music for
performance and analysis. (Netll, 2004 p.78)
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Musical notation, the representation of music through means other than the sound of music, is central to two
major areas of ethnomusicology: for transcription and for study, in a wider context, of musical cultural symbolic
and communication systems. (Ellingson, 1992. p.153)
através de símbolos com as mãos para comunicar tonalidades em cima do palco, manosolfa
para fins didáticos dentre outros.
É muito frágil e tênue a linha que separa a classificação das notações transcritivas em
prescritivas ou descritivas de Seeger, uma vez que o que de fato define a função de uma ou
outra representação é o objetivo a que a mesma se propõe. Qualquer notação é uma
representação e, assim sendo, será um recorte do objeto de estudo que para fazer sentido
necessita de uma série de convenções e significados aprendidos e retransmitidos
culturalmente. Desse modo, uma notação, ainda que tenha uma intenção prescritiva, ou seja,
objetive comunicar como a música deverá soar, poderá ser utilizada para fins descritivos a
partir do momento em que um pesquisador intencione analisar o discurso musical e/ou
elementos quaisquer que caracterizem a obra. Numa via de mão dupla, a notação que possua
uma intenção primária de descrever, ou seja, evidenciar características num sentido analítico,
poderá ser reproduzida de maneira a almejar a execução mais fidedigna possível à realidade
da obra. Desde que seja interpretada por um pesquisador munido de conhecimento prévio
sobre estas convenções e simbolismos.
Se levarmos em consideração que as possibilidades que o conhecimento sobre os
elementos sonoros que caracterizam as manifestações culturais e estimulam a percepção dos
ouvintes poderá também estimular o imaginário de compositores “outsiders”, a análise
musicológica destas formas de fazer música serve também para a obtenção de material
composicional para fusão de estilos e sincretismos culturais. Vimos isso acontecer
demasiadamente durante o período nacionalista em fins do Século XVIII e início do Século
XIX. Além do mais, “embora se suponha que a transcrição seja uma notação descritiva, no
entanto, no canto da mente do pesquisador, é potencialmente prescritiva.” (Netll, 2004. p.87)7.
Netll (p.81) também nos chama atenção para ainda outra importante forma de
transcrição descritiva: o que a cultura em questão considera como performance ideal. Ou seja,
que elementos sonoros são de fato importantes para determinado tipo de manifestação cultural
e que merecem uma atenção especial do pesquisador.
Diante do acima exposto, podemos concluir que a notação deve ser escolhida a partir
da finalidade prática a que se propõe e não ser a finalidade em si.
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Although transcription is supposed to be descriptive notation, it nevertheless, in the corner of scholar's mind, is
potentially prescriptive. (Netll, 2004.p.87)
3. O PAPEL DO COMPUTADOR NA ANÁLISE E TRANSCRIÇÃO DAS
MÚSICAS DE TRADIÇÃO ORAL.
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An important contribution of the melograph, then, is to help us to hear objectively. having had certain things
pointed out by inspection of a melographic notation, the scholar can then go on the trust the ear. it almost seems
that ethonumisologists are the victims of an analogue of the whorfian hypothesis, according to which thought is
regulated by the structure of language; musical hearing and cognition on the part of musicologists may be
profoundly affected by the characteristics of western notation. it may be a major role of the melograph to liberate
us from this constraint. (Netll, 2004. p.88)
Além de serem poupadores de trabalho e mais precisos e eficientes que o
ouvido, eles de modo geral permitiram expor menos o viés ocidental e assim
serem mais condutores tanto para a eliminação do etnocentrismo como o
desenvolvimento do método comparativo. (Netll, 2004. p.87. Tradução
minha)9
Fig.
1
Na parte inferior da tela temos a representação em formas de onda na cor verde e no
canto superior direito está o tempo marcado em milissegundos e a variação de dB (decibéis).
Com esta representação é possível demonstrar a variação de dinâmica em função do tempo na
forma de cantar aboio. Os bruscos declives no gráfico mostram o momento exato em que o
executante deixa de emitir o som para tomar novo fôlego.
Fig. 2
Para a análise e identificação das notas musicais que compõem a melodia foi utilizado
o seguinte procedimento: A partir do espectrograma, foi aplicado o pluggin Salience
Function: Colour 3D Plot desenvolvido pelo Music Technology Group- universitat Pompeu
Fabra, para termos um contorno melódico desenvolvido a partir das frequências sonoras.
Depois foi adicionado um layer (camada) chamado MIDI note, ou seja, uma nova camada de
visualização para sobrepor ao espectrograma com contornos melódicos mais definidos que
permitiram marcar em protocolo MIDI as frequências medidas em Hertz das notas cantadas
para as notas temperadas predefinidas. Somando a percepção auditiva à visual, foram
marcadas as notas, uma a uma. Para isso, foi utilizado um recurso do programa que permite
diminuir a velocidade da reprodução sem alterar as frequências. Dessa forma, foi possível
marcar sílaba a sílaba dos versos as notas cantadas, observando a frequência das mesmas.
Fig.4
Observando esta representação, percebemos que existe uma nota alvo (ver a linha que
marca A# = 469.168Hz) de entrada e saída no canto que polariza as demais.
4.3 - Transcrição
Depois de demarcarmos a notas do aboio em protocolo MIDI, exportamos para o
®Finale para elaborarmos a transcrição. Como a rítmica do aboio “tradicional” está vinculada
aos versos da poesia e ao tempo de raciocínio do aboiador, optamos por registrar apenas as
alturas na partitura sobre as sílabas do verso. Assim, a transcrição respeita a execução livre de
“pulso” do cantor.
Fig. 6
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
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