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A CONSTRUÇÃO DE UMA POÉTICA CLOWNESCA

NAS “NOITES DE CABÍRIA”

The construction of a clown poetic at the "Cabiria nights"

Eliana Rosa Correia1


Senac – São Paulo

Resumo: Em todas as sociedades, há o registro de tipos cômicos que


apresentam diversas funções sociais e atuam como questionadores da ordem
estabelecida. Os palhaços e clowns, construíram ao longo da história, uma
proposição de leitura crítica do social que inspira a construção do riso. Este
artigo, objetiva estabelecer ligações entre a singularidade clownesca da
personagem “Cabíria” no filme “Noites de Cabíria” e a relação cômico-crítico
que permeia o universo dos clowns.

Palavras-chave: Clown; Crítica; Cinema; Fellini.

Abstract: In all societies, there is the register of comic types that present
various social functions and act as questioners of the established order.
Clowns and clowns, built throughout history, a critical social reading
proposition that inspires the construction of laughter. This article aims to
establish links between the clownish singularity of the character "Cabíria" in
the film "Nights of Cabíria" and the comic-critical relationship that permeates
the universe of clowns.

Keywords: Clown; Critical; Movie; Fellini.

1Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora na Área de
Comunicação e Artes do Senac Lapa Scipião – São Paulo.

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Eliana Rosa Correia

Um olhar sobre Fellini caracterizou o cinema italiano pós-


guerra até, pelo menos, os anos 1950,
renovando aspectos formais e
Na obra cinematográfica de Fellini, narrativos que contribuíram para a
encontramos referências significativas modernização da linguagem do
sobre o cômico clownesco e seu universo cinema, é um divisor de água na
imagético. Ele levou o picadeiro para o história da sétima arte. (MENDES,
2013, p. 35)
cinema em diversos filmes e não hesitava
em transformar sequências inteiras em um Fellini construiu uma trajetória de sucesso
verdadeiro circo de imagens. Desde no cinema, e deixou vinte e quatro obras,
pequeno, era fascinado pelo mundo dos inclusive alguns filmes autobiográficos. Nas
artistas itinerantes e, aos sete anos de telas, criou um universo singular e rico,
idade, fugiu da escola para juntar-se a um imprimindo em seus filmes um estilo bem
circo que passava pela cidade, voltando particular, que se transformou no adjetivo
dias depois para casa. “felliniano”, caracterizando qualquer
trabalho que remeta às peculiaridades
A alegoria, as relações de comunicação e estéticas e narrativas de seus filmes.
ação cinematográfica propostas por Fellini,
em especial no filme “Noites de Cabíria”, A sua consagração internacional veio com
mostram como este diretor de cinema “A Estrada da Vida” (1954), com o qual
constrói, de modo alegórico, ligações alcançou grande sucesso de público e
diretas com o universo cômico e o olhar crítica. Além do Leão de Ouro, em Veneza,
crítico dos clowns. A estreia de Fellini no e mais a indicação ao Oscar de Melhor
cinema se deu através da divisão do roteiro Roteiro, o filme foi premiado com o Oscar
de “Roma, Cidade Aberta” (Itália, 1940) e de Melhor Filme Estrangeiro, em 1955.
“Paisà” (Itália, 1946) com Roberto Após esse sucesso, dirigiu, em 1957,
Rosselini. Ele participou do neorrealismo “Noites de Cabíria”, obra também exaltada
italiano para depois estrear na direção com pela crítica. Esta produção repetiu o
o filme “Mulheres e Luzes” (Itália, 1950), sucesso do filme anterior, ganhando o
instalando, a partir daí sua reflexividade Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e deu a
sobre o espetáculo cinematográfico. Giulietta Massina o prêmio de Melhor Atriz
no Festival de Cannes.
De acordo com Mendes (2013), o caráter
histórico relacionado à emergência da Para Scamparini (2011), Federico Fellini
dinâmica neorrealista como movimento de tem um lugar na equivalente ao de
resistência à ocupação nazifascista na escritores e pintores consagrados na
Itália, é como uma variante do realismo. O cultura italiana. A sensibilidade artistica, o
neorrealismo foi uma revolução ético- grande senso de humor, as experiências
estética e um novo olhar sobre a realidade com o cinema de Rossellini e a sua
e o imaginário cinematográfico. vivência nas mudanças do século XX,
geraram o seu modo de fazer cinema e de
O surgimento, na Itália dos anos 1940,
de uma dinâmica cultural que olhar o mundo. “Sua poética,

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A construção de uma poética clownesca nas “Noites de Cabíria”

inegavelmente onírica, é a cristalização de que ele insistiu em apresentar o


seus olhos perante o mundo: as imagens espetáculo como objeto crítico,
compondo um cinema inverossímil,
que via dormindo, que criava sonhando, que habita a província da alma e que
têm a mesma importância das cenas dialoga com os engodos do real. Sua
construídas em seus sets” (SCAMPARINI, temática revelou a condição ilusionista
2011, p. 5). da câmera, e deflagrou um olhar que
evidência que a ilusão e o real
configuram, ambos, no cinema, uma
Não obstante, Fellini não deixa de forma de representação, cuja
abordar em seus filmes aspectos legalidade alimenta a crítica e os
sociológicos, academicamente pouco teóricos. (SOUZA, 2003, p. 20)
estudados como parte de seu rol
temático, mas tão importantes na
trama de suas histórias. Assume-se
Para a autora, Fellini imprimiu a memória
que a carência de observação imagética de um século devastado pelo
científica sobre o emaranhado de excesso, e com delicadeza e sem explícitos
significações nos filmes de Fellini seja engajamentos políticos, optou pela ironia e
reflexo de sua poética, cujo onirismo é,
a nosso ver, um dos aspectos que pela comicidade da arte. Ele afirmava
distinguem seu cinema e que (1986) que um filme é como uma viagem,
localizam mensagens em um nível ela poderia ser planejada, mas os lugares
subjacente da comunicação. só são descobertos no decorrer da jornada.
(SCAMPARINI, 2011, p. 5)
Também acreditava que o ser humano é
dotado de fantasia, que acaba se tornando
De acordo com Souza (2003), o cinema de
um dado real. Para ele, ninguém é mais
Fellini e o “primeiro cinema” encontram-se
realista que o visionário, “ele dá um
na sua relação com o popularesco e na
testemunho de si mesmo mais rico e mais
maneira de consagrar o real
complexo do que aquele que retém uma
cinematográfico, convertendo a obra em
impressão sensorial da realidade que esta
arte reflexiva. Para a autora, a obra
observando”. (FELLINI,1986, p.157).
felliniana surgiu para reconduzir os
caminhos das imagens, ele seria o herdeiro
As noites poéticas e clownescas de
que veio legitimar o cinema das
Cabíria
variedades, aquela legítima atração de
feira, do vaudeville. O consolo dos
A comicidade é mais do que uma
miseráveis e o temor da burguesia. Na
característica do ser humano, é um
obra, os fragmentos reunidos sobre uma
diferencial, um elemento desmistificador.
nova lei, sugerem a possibilidade de
Paralelamente aos cultos sérios e
experiências perceptivas e libertárias.
reverenciais, às formas tradicionais de
Assim, vislumbra uma nova leitura da
captura da subjetividade, sempre houve,
história e o espectador experimenta uma
em todas as épocas, paródias que
nova leitura do cotidiano.
convertiam as divindades em objetos de
[...] imperou um visionário burla e blasfêmia. Os Tipos cômicos da
enquadramento sobre o mundo, em baixa comédia grega e romana, os bufões

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e os bobos da Idade Média, os algo similar. Ser um clown significa ter


personagens da Commedia Dell’arte vivenciado um processo particular,
também difícil e doloroso que imprime-
italiana e os clowns, todos possuem a lhe uma identidade e que o faz sentir-
mesma qualidade: expor a estupidez do ser se como membro de uma mesma
humano e de suas relações (BURNIER, família. Um clown, quando olha nos
2001). olhos do outro, encontra algo que
também lhe pertence, que os une, que
constitui uma cultura comum entre
Para falar do cômico, elegemos o clown eles e que somente outro clown sabe
como um representante da criticidade. Ao o que é. Neste sentido podemos falar
explorar o grotesco e o ridículo, permite de uma família de clowns. (BURNIER,
2001, p. 209)
revelar por meio de seu corpo e sua
máscara, o lado patético e torpe das Para Bakhtin (1987),
pessoas e assim, ele sugere uma
diversidade maior para uma transformação A máscara traduz a alegria das
social e moral e inspira o riso por meio de alternâncias e das reencarnações, a
alegre relatividade, a alegre negação
uma linguagem própria, conseguindo da identidade e do sentido único, a
disponibilizar uma ampliação da construção negação da coincidência estípida
de significados cômicos. Quando falamos consigo mesmo; a máscara é a
na máscara do clown, relacionamos à sua expressão das transferências, das
metamorfoses, das violações das
maquiagem, ao nariz vermelho e ao fronteiras naturais, da ridicularização,
figurino. Luís Otávio Burnier, em sua tese, dos apelidos; a máscara encarna o
expõe a relação entre o clown e a máscara: principio de jogo da vida, esta baseada
numa peculiar inter-relação da
realidade e da imagem, característica
A origem do uso de máscaras pelo
das formas mais antigas dos ritos e
homem é ligada a cultos sagrados e
espetáculos. O complexo simbolismo
rituais religiosos. Não é senão mais
das máscaras é inesgotável. Basta
tarde, com a introdução de elementos
lembrar que manifestações como a
sociais e satíricos que ele sai do
paródia, a caricatura, a careta, as
contexto sagrado para o profano.
contorções e as “macaquices” são
Ainda hoje em Bali, na Tailândia e na
derivadas da máscara. É a mascara
Índia, por exemplo, a utilização de
que se revela com clareza a essência
máscaras, mesmo no contexto de
profunda do grotesco. (BAKHTIN,
seus espetáculos de teatro-dança,
19987, p. 35)
mantém um forte vínculo religioso. O
uso de máscaras, neste caso, requer
um processo iniciático. Assim como os Ao escolher sua maquiagem e figurino, o
processos iniciáticos encontrados em clown procura ampliar os significados
povos indígenas, como, por exemplo, cômicos, e desse modo, marcar a
nos ritos de passagem da singularidade de sua personagem. A
adolescência para a vida adulta (onde
o jovem se submete a uma série de máscara (maquiagem, figurino ou nariz)
provas penosas, difíceis e dolorosas), revela sua subjetividade, pois é construída
ou o de adesão às sociedades de acordo com a personalidade do ator.
secretas como a maçonaria, o clown, Segundo Machado (2005), diferente de um
por também ter uma máscara (o nariz,
a maquiagem e o figurino), passa por personagem construído por meio de uma

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A construção de uma poética clownesca nas “Noites de Cabíria”

dramaturgia teatral convencional, o clown e romana”, mostrando ao público a Roma


sua máscara conferem ao corpo do ator, das prostitutas.
antes de tudo, uma fisicalidade que
expressa as características e o modo de Formulado ao longo de praticamente
estar no mundo. O clown se desenvolve a uma década, a história de Cabíria foi
um tremendo sucesso. André Bazin
partir dos desafios a que o ator se (1991, p.299) louva o trabalho de
submete, com sua exposição do corpo ao Fellini, ressaltando que, primeira vez o
ridículo, ao jogo com os outros corpos, à riminense “soube amarrar um roteiro
sua capacidade de comunicação. com as mãos de mestre, uma ação
sem falhas, sem lengalenga e sem
lacunas”. Certamente o êxito do filme,
O processo de criação do clown que inspirou o musical Sweet Charity,
particulariza-se por enfocar o corpo do dirigido por Bobo Fosse em 1969, nos
ator. As habilidades perceptivas Estados Unidos) deve-se também ao
consistem em o ator perceber as carisma de Giulietta na pele de
mudanças físicas que o uso da Cabíria. A atriz recebeu o prêmio de
máscara traz. Essas mudanças melhor interpretação feminina no
transformam, por sua vez, os hábitos festival de Cannes, e a fita, o Oscar de
de percepção, permitindo ao ator melhor filme estrangeiro (o segundo
experimentar um outro modo de estar consecutivo de Fellini). (MENDES,
no mundo, percebe-lo e interagir com 2013, p. 186)
ele. A fisicalidade demarcada pela
máscara implica evidenciar a
imediaticidade da reação física diante
O título que faz referência às noites, traz
de qualquer fenômeno que apareça. uma vaga ideia sobre a trama do filme,
(MACHADO, 2005, p. 10) uma vez que, por ser uma prostituta,
Cabíria trabalhava e vivia nas noites de
O filme “Noites de Cabíria” (1957) é Roma. No filme, podemos observar que os
considerado por alguns críticos como o dias e as noites de Cabíria são narrados de
último filme “neorrealista” do italiano forma diferente. Enquanto as noites são
Federico Fellini. Cabíria, interpretada por alegres e divertidas, os dias são marcados
Giulietta Masina, é uma prostituta que pelas desilusões e conflitos de existência.
sonha em casar e constituir uma família; “Noites de Cabíria” oscila entre o cômico e
porém, sempre sofria desilusões amorosas. o dramático, e sua divisão se dá entre as
Apesar de viver nos perigos da noite na noites e os dias.
prostituição, Cabíria é uma mulher ingênua,
que se deixa levar pelas ilusões da vida. O tom subjetivo informado já no título
do longa-metragem é um convite a
O projeto de filmar o “submundo romano”, conhecer e entender o sentido das
noites em que Cabíria vive
com olhos de uma prostituta terna e intensamente, que são as noites da
engraçada, gerou muita polêmica periferia, das prostitutas, dos gigolôs,
envolvendo a Igreja Católica e o Estado. dos boêmios, dos caridosos e dos
Fellini foi criticado por adotar uma atitude miseráveis. A expressão e os gestos
de Cabíria configuram o meio pelo
neorrealista e “mexer na roupa suja qual a empatia da personagem abre a
superação de preconceitos por parte

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de quem vê (o espectador). Ora No cinema neorrealista italiano, segundo


Cabíria lembra uma personagem de Mascarello (2006) é característico com
história em quadrinhos (meio
expressivo com que Fellini trabalhava filmagem em cenários reais, assim como, a
desde a adolescência), ora ela parece simplicidade dos diálogos e a filmagem de
reencarnar a aura chapliniana2. cenas sem gravação, com sincronização
(MENDES, 2013, p. 195) realizada posteriormente, o que tornava
possível uma maior liberdade de atuação.
Para Mendes (2013) o ar engraçado de
“Noites de Cabíria” narra a vida de uma
Cabíria, nos faz ver o mundo em uma
pessoa comum, sobretudo com cenas do
reorganização poética. No filme, a
subúrbio de Roma, incluindo ainda um
realidade e o sonho estão em perene
olhar reflexivo e fiel à sociedade da época,
conflito. Os clichês, as mazelas e as
uma Itália pós-guerra, que mantinha o
ambiguidades sociais ecoam a todo tempo
subdesenvolvimento na periferia das suas
e podem ser identificadas nas cenas onde
grandes cidades e em localidades rurais.
as mulheres são exploradas e também na
periferia, onde famílias inteiras vivem
Giulietta Masina confere à personagem
miseravelmente.
Cabíria, uma interpretação clownesca. Ela
assim como os clowns, vive à margem da
Há em “Noites de Cabíria” não apenas
o resgate de uma ferida social que sociedade. Sua exposição ao ridículo e sua
separa inextricavelmente ricos e profunda ingenuidade nos permite verificar
pobres, mas também o de uma fratura o que Bergson (1980) identifica como um
moral que impede Cabíria de deixar o
reconhecimento de gestos sociais que
trabalho a que não condena e dedicar-
se ao casamento e à formação de uma rompem com uma conduta ideal. Para ele,
família. Há, no filme, momentos óticos esse desvio é expresso no comportamento
e sonoros puros que mostram os dos seres que são objeto de uma narrativa
personagens em sua transparência
avassaladora. Quando Oscar e Cabíria
em que o cômico é provocado pela não
passeiam por um bosque no fim de adaptação desses sujeitos a determinadas
tarde, uma sequencia quase silenciosa regras sociais.
e com iluminação marcadamente
expressionista revelam o verdadeiro
caráter dos personagens (a canalhice
Fellini acreditava na autenticidade e na
de Oscar e a ingenuidade de Cabíria). particularidade do cômico clownesco, e os
(MENDES, 2013, p. 195) colocava em seus filmes porque, para ele,
o clown é o espelho da sociedade. Ele
acreditava que o clown é a caricatura do
1
Sobre as comparações entre Charles Chaplin e homem em seus aspectos de animal e de
Giulietta Masina, diz Bazin (ibid, p. 306): “Muitas
vezes se evocou Chaplin a propósito de A Estrada criança, é um espelho no qual o homem se
da Vida, mas nunca fiquei muito convencido com a vê de maneira grotesca, disforme e bufa.
comparação, forçosamente enfadonha, de Gelsomina
e de Carlitos. A primeira imagem, não apenas digna
de Chaplin, mas igual a seus achados mais belos, é a O tipo de ator que sempre me
última de Noites de Cabíria, quando Giulietta Masina se encantou e fascinou, e pelo qual
volta para a câmera e seu olhar encontra o nosso. Só
Chaplin, acredito, na história do cinema, soube fazer uso
tenho, a cada vez, um sentimento de
sistemático desse gesto que todas as gramáticas do obscura e excitante predileção, é o
cinema condenam” (MENDES, 2013, p.195). ator-palhaço. Considero-o a expressão

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mais aristocrática e autêntica de um submissão, de apaziguamento das


temperamento. O clown encarna as dores e dos constrangimentos, enfim,
naturezas da criatura fantástica, que um momento de suspensão da
exprime o aspecto irracional do reificação dominante”. (BOLOGNESI,
homem, o componente do instinto, 2003, p. 172)
aquela porção de rebeldia e de
contestação contra a ordem superior Patrice Pavis (1999) descreve o cômico
que existe em cada um de nós. como um fenômeno antropológico, que
(FELLINI, 1986, p. 156)
responde ao gosto do ser humano pela
Os clowns em suas andanças ocuparam brincadeira e pelo riso. Ele o representa
diversos espaços como as ruas, as praças, como uma arma social que fornece ao
as feiras, os picadeiros e os palcos e no irônico, condições para criticar o seu meio,
início do século XX, encontraram o espaço mascarar sua oposição por um traço
do Cinema como um novo lugar para espirituoso ou de farsa grotesca. O autor
continuar revelando seu lado patético e relata que como gênero dramático, a
ridículo. Nomes como Max Linder, Charles comicidade centra a ação em conflitos e
Chaplin, Hardy e Laurel, Buster Keaton, peripécias que demonstram a inventividade
Harold Lloyd, Jerry Lewis, Mazzaropi, e otimismo humanos perante a
Oscarito, Grande Otelo e Giulietta Masina, adversidade. Para ele, a mensagem
criaram para o cinema tipos originais e cômica e o público que ri estão unidos num
únicos. processo de comunicação:

O mundo fictício e cômico só se revela


Para Bolognesi (2003), os clowns resistem
como tal graças à perspectiva usual do
até nossos dias porque possuem uma espectador que é ferido e frustrado
lógica específica e constroem um pela cena. Havendo sido frustrada a
movimento contrário ao controle social. expectativa do público, este se afasta
do acontecimento cômico, coloca-se à
Sendo assim, mesmo que existam
distância e passa a zombar, fortalecido
processos para estabelecer o em seu sentimento de superioridade.
funcionamento das estruturas, eles sempre Ao contrário, diante da tragédia, o
tentarão preservar a existência de sua caráter exemplar e sobre-humano dos
conflitos impede-o de substituir a ação
liberdade, utilizando a sua linguagem e seu
por sua perspectiva pessoal: ele se
corpo cômico, como mecanismo de identifica com o herói e renuncia a
adaptação e transformação. Ele descreve qualquer crítica. A comédia tende
que o clown brinca com as instituições e “naturalmente” à representação
realista do meio social: na verdade, ela
valores oficiais e seu descomprometimento
faz constantes alusões a fatos atuais
e ingenuidade, lhe confere certo poder para ou de civilização e desmascara
ridicularizar. práticas sociais ridículas: nela o
distanciamento é como que natural. A
tragédia ao contrário, mitifica a
Cabem-lhes a tarefa de ridicularizar as
estruturas sociais e familiares, as existência, visa não a um grupo social,
mas a uma camada universal e
autoridades, hierarquias e ordens
profunda do homem, cristaliza as
diversas, em uma espécie de
compensação revigoradora da relações humanas. O trágico necessita

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de aceitação, por protagonistas e cheia de trejeitos e caretas, como se


espectadores, de uma ordem tivesse um grande público a observá-la.
transcendente e imutável. O cômico,
ao contrário, indica claramente que os
valores e normas sociais não passam Fellini, ao mesmo tempo que nos mostra o
de convenções humanas, úteis à vida cotidiano excludente e marginalizante de
em comum, mas dos quais uma prostituta nos subúrbios de Roma,
poderíamos substituir por outras
convenções. (PAVIS, 1999, p. 61) também oculta esta realidade com as
noites divertidas e sem compromisso.
A sociedade conservou os cômicos e Cabíria é vítima de muitas trapaças e vive
clowns porque necessita dessa dentro de uma realidade dura, tosca e
comunicação para satirizar as suas ações. marginal, porém, Fellini nos mostra seus
Cabíria, assim como os clowns, representa aspectos românticos, ternos, emotivos e
um universo próprio e um modo muito engraçados.
particular de olhar o mundo. A personagem
clownesca de Cabíria, por oscilar entre o A aplicação de recursos de
comicidade, geralmente através da
cômico e o dramático, nos coloca, ao longo caricatura e do escárnio são, assim
do filme, em situações de distanciamento e como o emprego da estética onírica,
de reconhecimento. maneiras de enunciar de modo menos
direto e mais subjacente. O exagero, o
grotesco, o onírico, e os recursos que
Mesmo sendo sucessivamente enganada, fazem rir fazem também evadir, e o
ela não desiste de seus sonhos e encara a espectador mais uma vez precisará
vida de modo muito particular. Constrói, atentar a uma camada de significação
por vezes, seu próprio universo e inventa que se localiza além do mais sedutor
para captar discursos sobre a
novos significados para contornar as sociedade, seu país, a política.
adversidades. O clown, assim como (SCAMPARINI, 2011, p. 11)
Cabíria, sugere mobilidades para uma
transformação social, e inspira o riso por Para Souza (2003), Fellini opera uma
meio de uma linguagem própria. Cabíria mágica com a câmera que coloca a seu
não inspira desejos, mas comicidade e dispor os inúmeros personagens em uma
afeto. dança que tem seus precedentes nas
paradas circenses. Ele não fragmenta em
Em uma cena, aparece numa rua excesso para poder retrabalhar a imagem
remexendo os quadris, para e olha uma e torná-la sutil, esta é uma marca dos
pequena janela de um grande hotel. filmes de Fellini, e que até hoje
Abaixa-se para ver o que há lá dentro e, de surpreende. Seu cinema era composto de
costas para a rua, começa a dançar, uma intensidade imagética que
rebolando os quadris. Poderia ser um ultrapassava as molduras do enredo e da
gesto de eroticidade, porém, com Cabíria, própria narrativa.
torna-se cômico, ridículo e grotesco, torna-
se clownesco. Ela sai dançando e rindo, Cabíria, ao final do filme, depois de sofrer
com passos cadenciados, desengonçados, seu último golpe e cumprir seu destino, é

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A construção de uma poética clownesca nas “Noites de Cabíria”

abordada no meio de uma estrada por Para Fellini esses tipos clássicos de
jovens que cantam e dançam. Ela caminha clowns, representam cabalmente a
com eles, encara a câmera e sorri. Para sociedade, e isso acaba provocando a
Souza (2003, p. 53), Fellini quebra, nesse identificação do público com o menos
momento, a representação de uma regra favorecido, no caso o clown Augusto.
clássica do cinema, “o olhar do
personagem para a câmera, inviabilizando [...] O augusto, que é a criança que faz
sujeira em cima, se revolta ante tanta
a moldura melodramática, sua fissura ao
perfeição, se embebeda, rola no chão
final parece reforçar toda farsa da vida de e na alma, numa rebeldia perpétua.
Cabíria, parece reinseri-la no palco e Essa é a luta entre o orgulhoso culto
revelá-la personagem”. da razão, onde o estético é proposto
de forma despótica, e o instinto, a
liberdade do instinto. [...] com efeito,
“Noites de Cabíria” apresenta em seu
quanto mais procures obrigar o
leito fílmico a teleologia de uma mulher
augusto a tocar violino, mais ele dará
visionária ao seu próprio inferno, dado
soprinhos com o trombone. O clown
que ela é refém da desventura, e à
branco ainda pretenderá que o
sua salvação, motivada
augusto seja elegante. Mas quanto
essencialmente pelo gesto final
mais autoritária seja essa intenção,
emocionado de tirar o espectador da
mais o outro se mostrará desajeitado.
sua posição de voyeur e o inserir na
É o apólogo de uma educação que
fábula como o olho do espírito que vê
procura pôr a vida em termos ideais e
o reflexo de si mesmo no outro (nesse
abstratos. [...] podia-se falar de Hegel
aspecto, o filme é uma lição de
e da dialética, acrescentar que os
alteridade). (MENDES, 2013, p. 194)
augustos são, mais justamente, uma
imagem subproletária do pátio dos
O clown é a exposição do ridículo e das milagres, com desnutridos, disformes,
fraquezas de cada um, assim, ele é um tipo marginais, capazes talvez de revoltas,
pessoal e único. Um ator pode ter não de revoluções. É provável que o
povo sempre os tenha tratado com
tendências para o clown Branco ou o clown
confiança por causa de sua condição
Augusto, dependendo de sua miserável, sentindo-se familiar ao
personalidade. Segundo Burnier (2001), o abismo. (FELLINI, 1986 p. 201)
Branco e o Augusto são os dois tipos
clássicos de clowns, sendo o clown Para Pantano (2007), o clown Augusto
Branco, a encarnação do patrão, o representa o expoente do andarilho, do
intelectual, a pessoal cerebral e o clown marginal, é aquele que não se ajustou, não
Augusto é o bobo, o eterno perdedor, o se integrou as regras da sociedade. Seu
ingênuo de boa-fé, o emocional. figurino, maquiagem e gestos demonstram
certa despreocupação com relação a
A construção da personagem Cabíria se normas ou padrões vigentes.
assemelha ao clown Augusto e sua
característica tipológica e suas ações, Se partirmos do contexto histórico,
perceberemos que o surgimento do
obedecem a um determinado perfil Augusto acontece em um momento
individual, que se apoia nas características em que a sociedade industrial
corporais da atriz e em sua subjetividade. procurava padronizar o indivíduo,

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Eliana Rosa Correia

criando mecanismos que o força de sua produção. O palhaço,


adequassem a uma sociedade assim, sintetiza ou mesmo enfatiza a
tecnicista, pois a marginalidade nessa agressão dos movimentos repetitivos
sociedade não cabia mais. Dessa que procura equiparar o corpo do
forma, o Augusto revela-se como o homem à grandiosa virtude das
homem que não se encaixou nessa máquinas. Diante de um mundo
sociedade. Marginal por excelência, utilitário, revestido de valores de uso e
ele está a mercê de qualquer conduta troca, o corpo grotesco do clown pode
preestabelecida. Com seu ar bobalhão perfeitamente explorar o sem sentido,
e o nariz vermelho, o Augusto como a dizer que há uma inquietação
demonstra ser incapaz de realizar as a ser analisada. (BOLOGNESI, 2003,
tarefas mais comuns. Aliás, esse é um p. 199)
dos motivos do riso ocasionado por
ele, pois tudo o que faz, o faz de forma O clown não tem um olhar cartesiano,
disforme. Seu descompromisso, sua lógico ou matemático, e sim o olhar da
forma de vestir-se e comportar-se
revelam seu desapego a qualquer imperfeição e do erro. A sua atuação é
padrão e/ou conduta estabelecidos reveladora porque que traz à cena o que é
pela sociedade. (PANTANO, 2007, p. ridículo. Para Machado (2005), o corpo do
45) clown é construído por outros modos de
sentir, agir e pensar e esses processos são
A personagem de Cabíria se assemelha ao
atravessados por uma política particular de
clown Augusto, pela conquista de poder
relação com a alteridade, que pressupõe
expor o corpo desajustado. Suas ações
uma abertura para o outro. Essa abertura
físicas têm no grotesco uma liberdade ideal
parte da troca e da captura pela
e expõem, com sua presença, a miséria
imprevisibilidade, pois para o clown, deixar-
que a sociedade desejava esconder.
se atravessar pelos imprevistos, é também
Cabíria, assim como o Augusto,
saber operar na imprevisibilidade, é saber
representam o marginal, aquele que não se
arriscar.
ajusta e não se integra às normas sociais.
Seu figurino, adereços e maquiagem, O clown caracteriza-se pelo seu modo
assim como, seus gestos ridículos e ingênuo (estado de curiosidade em
grotescos, constroem um corpo disforme, que os acontecimentos parecem ser
que demonstra um certo descaso ou sempre novos e inusitados); pelo seu
modo frágil (estado de abertura,
despreocupação para se ajustar as regras disponibilidade e vulnerabilidade para
e condutas sociais. interação com os acontecimentos
externos e internos na relação com o
O palhaço enfatizou as grandes ambiente) e por um estado quase
hordas de deserdados desse processo permanente de alegria e prazer. A
civilizatório, ao explorar a inaptidão ingenuidade, a fragilidade e a alegria
para a nova realidade produtivista. Ele, são seu modo de estar no mundo.
principalmente, explorou a coisificação Essas qualidades repercutem, por sua
do corpo na sociedade de classes. Ao vez, no seu modo de agir,
explorar o grotesco, ele procurou caracterizado pela ação espontânea e
ressaltar os aspectos de uma pela reação física e afetiva na
dominação subliminar, não interação com o ambiente. O clown
necessariamente discursiva, que exige manifesta a interação entre os modos
do homem e seu corpo unicamente a de estar (ingenuidade, fragilidade e

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A construção de uma poética clownesca nas “Noites de Cabíria”

alegria) e de se relacionar (jogo e ação com o ambiente, disponibilizando trocas de


espontânea) com o ambiente-mundo. informações entre corpo e ambiente.
(MACHADO, 2005, p. 22)

Para Katz (2010), devemos pensar o corpo


O clown é um personagem que pode estar
a partir da sua característica processual,
em qualquer lugar, seja nas ruas, praças,
enquanto mídia de si mesmo, como um
palcos ou no cinema, onde ele estiver,
sistema vivo e em trânsito continuo de
consegue transformar o espaço, pois
trocas de informações com o ambiente.
evidencia outros sentidos e significados
das relações que ali existem. Ele evidencia
(...) as mudanças passam a fazer
os aspectos grotesco e ridículo do seu parte do corpo e do ambiente, e como
corpo, escapando aos padrões vigentes e não se estancam, não param de
explora seu potencial cômico, construindo transformar a coleção de informações
comicidade no ambiente. Segundo que constituem cada corpo, uma
coleção, portanto sempre transitória.
Machado, um dos modos possíveis de Assim, um corpo está sempre
explicar tal constituição, implica na comunicando quais as informações
possibilidade de compreender que a que o constituem em cada momento.
característica cômica do clown se encontra Ele não é um veículo ou um canal ou
um meio pelo qual alguns conteúdos
num estado particular de comunicação e internos, de vez em quando, podem
interação com o espaço. ser expressos. O corpo é sempre
mídia de si mesmo (da coleção de
O clown e o ambiente em que ele está informações que o forma a cada
dispõem-se mutuamente a um jogo de momento) e não um corpo que
receber, trocar e devolver estímulos. depende de uma ação voluntária para
Essas questões estão relacionadas de expressar-se. Por isso, todo corpo é
modo mais amplo à habilidade e um corpomídia. (KATZ, 2010, p. 21)
aptidão do corpo para permanecer no
tempo e no espaço. O corpo incorpora Deste modo, o corpo cômico do clown
imagens, sensações e pensamentos sugere uma diversidade para
de movimento e os produz na medida
que incorpora um jogo contínuo da
transformações sociais e por intermédio da
relação corpo/ambiente. (MACHADO, sua linguagem própria, consegue ampliar a
2005, p. 12) construção de significados cômicos,
favorecendo o surgimento do riso. Sendo
Nesse sentido, o clown por meio de seu mídia de si mesmo o clown procura
corpo cômico e sua lógica específica, tem estabelecer conexões com o ambiente e
a capacidade de potencializar adaptações realizando trocas, consegue ressaltar por
e transformações no meio em que o cerca. meio de seu corpo grotesco, os aspectos
Atuando na contramão, ele fixa suas ações de uma dominação social subliminar e
à margem das regras e assim constrói uma muitas vezes não discursiva. Trocando
modulação contrária para estabelecer uma informações constantes com o ambiente,
relação diferente em torno da disciplina e ele se resvale do ridículo como resposta há
do controle social. Seu corpo cômico atua uma inquietação que deseja explorar.

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Eliana Rosa Correia

Os clowns sempre terão um lugar e nos diz: O show tem que continuar! E vai
garantido na sociedade porque abrigam a caminhando novamente para a multidão.
lógica da complexidade. Possuindo ideias
que parecem incoerentes ou absurdas, Recebido em: 24/01/2018
eles assumem seus erros e sua Aceito em: 01/06/2018
irracionalidade, e assim, alojados à
Referências Bibliográficas
margem da sociedade, continuam
questionando as estruturas da ordem BAKHTIN, Mikhail M. A Cultura Popular
social. Cabíria, assim como os clowns, não na Idade Média e no Renascimento, o
tem um olhar lógico e sua crítica social contexto de François Rabelais. São
acontece quando ela nos revela que Paulo: Hucitec, 1987.
acredita na vida e, mesmo com todos os
tropeços e desilusões, continua BERGSON, Henri. O Riso: ensaio sobre a
sobrevivendo. significação do cômico. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1980.
Cabíria e a simultaneidade temporal BOLOGNESI, Mário Fernando. Palhaços.
que ela incorpora na sequência da sua São Paulo: Editora Unesp, 2003.
partida criam um cristal de tempo que
congrega a reorganização poética de BURNIER, L. O. A arte de ator: da técnica
um mundo em reconstrução e as à representação. Campinas: Editora da
cicatrizes da miséria, da violência e da
guerra. Essa evidência justifica a Unicamp, 2001.
inclusão de “Noites de Cabíria” no rol FELLINI, Federico. Fellini por Fellini. 3.ed.
das obras-primas neorrealistas, pois o
filme e seu realizador herdaram do Porto Alegre: L&PM, 1986.
movimento cultural italiano do pós- FO, Dário. Manual mínimo do ator. São
Guerra o magma da forma estética e
da atitude ética a representar o mundo Paulo: SENAC, 1999.
com os tons imortais da realidade. KATZ, Helena. Corpomídia não tem
(MENDES, 2013, p. 197)
interface: o exemplo do corpo bomba. In:
Falar sobre o cinema de Fellini e mais RENGEL, Lenira; THARALLANO, Karin
precisamente sobre Cabíria, nos coloca (Orgs.). Coleção Corpo em Cena Volume
num universo alegórico, lúdico e poético. É 1. São Paulo: Editora Anadarco, 2010. pp.
ir de encontro com a harmonia da sua 9-23.
essência pictórica, fotográfica, literária, LECOQ, Jaques. O corpo poético. São
teatral e clownesca. Ela revela por meio da Paulo: Senac, 2010.
sua poética, um espetáculo por vezes
MACHADO, Maria Ângela de Ambrosis
cômico e dramático. Nele, sua máscara
Pinheiro. Uma nova mídia em cena: corpo
não esconde, ela nos revela. É a atração
comunicação e clown. 2005. 120 f. Tese
principal de um show que sempre
(Doutorado em Comunicação e Semiótica).
continuará, porque na sociedade sempre
Pontifícia Universidade Católica de São
existirá algo a ser revelado, sempre haverá
Paulo, São Paulo.
luzes e trevas. Cabíria nos olha nos olhos

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A construção de uma poética clownesca nas “Noites de Cabíria”

MASCARELLO, Fernando. História do


cinema mundial. Campinas: Papirus,
2006.
MENDES, Euclides Santos. Cristais de
tempo: o neorrealismo Italiano e Fellini.
2013. 228 f. Tese (Doutorado em
Multimeios). Instituto de Artes,
Universidade Estadual de Campinas, 2013.
MINOIS, Georges. História do riso e do
escárnio. São Paulo: Unesp, 2003.
PANTANO, Andreia Aparecida. A
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PROPP, Vladimir. Comicidade e Riso.
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