Você está na página 1de 17

Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do

desenvolvimento sustentável
Political Ecology of the building of the Global Environmental Crisis and on the
Sustainable Development Model
Ecología política de la construcción de la crise ambiental y el modelo de desarollo
sostenibel
Écologie politique de la construction de la crise ambiental global ; développement soutenable.

Lemuel Dourado Guerra *


Deolinda de Sousa Ramalho*
Jairo Bezerra Silva**
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos***
Recebido em 28/7/2006; revisado e aprovado em 31/10/2006; aceito em 26/1/2007.

Resumo: Neste trabalho discutimos o debate sobre a crise ambiental e o modelo do desenvolvimento sustentável como
campo de lutas no qual se articulam interesses políticos e econômicos. Defendemos a idéia de que as direções tomadas
pela discussão sobre as questões ambientais em nível mundial apontam para o apagamento das variáveis clássicas da
interpretação sociológica dos fenômenos sociais, tais como as de ideologia, dominação e conflito, apresentando uma
proposta de redirecionamento da discussão mencionada, a ser feita em termos da teoria da ecologia política. No final
indicamos algumas sugestões específicas para a pesquisa sobre a denominada crise hídrica mundial.
Palavras-chave: Ecologia; crise ambiental global; desenvolvimento sustentável.
Abstract: In this work we discuss the debate on the environmental crisis and on the sustainable development model as a field of
fights in which are articulated political and economic interests. We argue here that the discussion on those themes indicate the
suppression of classic sociological categories as those of ideology, domination and conflict, presenting afterwards a purpose of
reshaping of the mentioned discussion, which must be done in terms of the Political Ecology Theory. We finalize the article
indicating some points to a research agenda on the global water resources crisis.
Key words: Ecology; global environmental crisis; sustainable development.
Résumé: Em ce travail nous discutons le debat sûr la crise ambiental et le modele de développement soutenabel
comment plaine de luttes dans lequel s´articulent intérêts plitiques e t économiques. Nous défendons l´idée de que
les directions prises por la discution sûr les questions ambientaux en niveau mondial indiquent pour l´extinction
des variales clássiques de l´interprétation socilogique des phénoménes sociaux tels comment les d´ideologie,
domination et conflit, avec la présentation d´une propose de reprise de la discution menttionée, pour éter fait em
termes de la théorie de l´écologie politique. Au final nous avons indique quelques suggestions specífiques por la
recheche sur la nommée crise hydrique mondiale.
Mots-clé: Écologie; crise ambiental; développement soutenable.
Resumen: Defendemos la idea de que las decisiónes tomadas por la dscusíon sobre las cuestiónes ambientales em
nível mundial apuntan para el apagamineto de las variábles clásicas de la interpretación sociológica de los fenômenos
sociales. como los que están relacionados à la ideología, dominación y conflicto, presentando uma propuesta de
redireccionamineto de la discusión mencionada a ser hecha em termos de la teoria de la ecología política. Em el final
indicamos algunas sugeréncias específcas para la búsqueda sonre la denominada crise hídrica mundial.
Palabras clave: Ecología; crise ambiental global; desarrollo sotenible.

Introdução riadas. Há pelo menos três décadas atrás, a


relação dos homens com a natureza, no que
O processo pelo qual o meio ambiente se referia à exploração dos recursos naturais,
emerge como uma preocupação relevante era um tema incapaz de gerar polêmica.
em muitas sociedades contemporâneas é o Naquele momento, eram centrais as questões
resultado da conjunção de vários elementos referentes às formas de organização social
e da ação de instituições sociais e forças va- da produção, existindo como pólos opostos

*
Professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande-PB.
(lenksguerra@yahoo.com.br).
**
Professor do CESAC (Centro de Ensino Superior de Santa Cruz do Capibaribe-PE) e bolsista do CEDRUS (Curso
de Especialização em Desenvolvimento Rural Sustentável), com trabalhos publicados na área da Sociologia dos
recursos hídricos. (jairrobezerra@bol.com.br ou nel.nunsiilva@bol.com.br).
***
Professor do Departamento de Ciências Básicas e Sociais, da Universidade Federal da Paraíba, na área de Gestão Ambiental.

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 09-25, Mar. 2007.
10 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

dominando o debate, de um lado, as pro- vai do final da II Guerra Mundial até mea-
postas socialistas/comunistas e, do outro, o dos da década de 70 do século passado –,
modelo capitalista. Com a crise da maioria com o fim de experiências de socialismo real
das experiências de socialismo na Europa, a no Leste europeu e a derrocada a União So-
hegemonização do capitalismo em quase viética, o discurso e a prática de “ajuda” aos
todas as economias mundiais, a polarização países do Terceiro Mundo, os quais tinham
mencionada deixa de existir, abrindo-se es- como um dos principais objetivos implícitos
paço para que novos eixos de preocupação a luta ideológica contra um possível opositor
sócio-político-cultural emirjam. ao sistema econômico dominante, perdem a
É nessa conjuntura que assistimos, des- força. É justamente na década de 80, que é
de o último quartel do século passado, a uma formulada a proposição do “ajuste estrutu-
significativa hipertrofia do debate sobre vi- ral”, já um reflexo da perda de espaço da
sões de iminentes catástrofes ecológicas, que discussão sobre o “desenvolvimento” para
colocariam em risco a vida do homem no a temática da globalização, que passa a ser
planeta. É nesse contexto que surgem as pro- o mote para uma série de articulações no
postas de salvação da Terra, as quais inclu- sentido do estabelecimento definitivo de uma
em, entre outros pontos, a necessidade de economia mundial de rede, agora com to-
implementar, mundialmente, um modelo de das as condições objetivas a ela necessárias,
Desenvolvimento Sustentável. em termos de tecnologia da informação.
Sem pretender fazer uma abordagem Todavia, a história do “desenvolvimen-
aprofundada do conceito mais geral de desen- to”, intimamente ligada ao desenrolar do sis-
volvimento, defendemos neste artigo: (1) a tema capitalista ocidental, não seria tão facil-
idéia de que o modelo de Desenvolvimento mente descartada. Depois de passar por um
Sustentável, de certa maneira, é um retorno período de “esquecimento”, a temática da
de práticas “desenvolvimentistas” semelhan- ecologia, anteriormente lateral, cria as condi-
tes ao que na sociologia do desenvolvimento ções objetivas para a volta da reflexão a res-
ficou conhecido como o “terceiro-mundis- peito das questões ligadas ao desenvolvimen-
mo”, um modelo assumido por países do capi- to. A ligação dos problemas ecológicos com
talismo central, basicamente, pelos Estados os níveis de pobreza dos países do Sul, con-
Unidos, que consistia no oferecimento de duziu rapidamente ao reconhecimento de
“ajuda” aos países subdesenvolvidos e “em que, apesar das políticas desenvolvimentistas
desenvolvimento”, na direção da promoção baseadas na “ajuda” dos países capitalistas
das condições necessárias à chegada dos paí- centrais, especialmente aquela fornecida pe-
ses do Sul ao modelo dos países industrializa- los Estados Unidos – e mesmo em decorrên-
dos do Norte; (2) a necessidade da construção cia delas – os problemas enfrentados por pa-
de uma abordagem propriamente sociológi- íses desta área tinham crescido e piorado. Era
ca das questões ambientais, informada pelos necessário, por conseguinte, e agora possível,
autores da corrente denominada de Ecologia que o “desenvolvimento” retornasse firme
Política, de forma a interpretar a construção através da moda ocidental da ecologia.
social dos fenômenos relativos aos moldes de A retomada começou na década de 80,
apropriação humana dos recursos naturais com a realização de conferências mundiais
do planeta e das propostas apresentadas sobre o tema do Meio Ambiente, e teve como
como alternativas à Crise Ambiental, à luz de momento marcante o ano de 1983, quando a
categorias clássicas da análise sociológica, tais Assembléia Geral das Nações Unidas pediu ao
como poder, ideologia, exploração, sistemas seu secretário geral que indicasse uma “Co-
de hierarquia e outras dessa natureza. missão Mundial do Meio Ambiente e do De-
senvolvimento” para realizar um relatório a
Desenvolvimento Sustentável ou respeito do desenvolvimento e do Meio Ambi-
crescimento sem fronteiras? ente, em termos mundiais, cuja presidência foi
confiada à senhora Gro Harlem Brundtland,
Depois do período em que o “desenvol- então Primeira Ministra da Noruega.
vimento” se constituiu num tema de grande As condições eram bastante favoráveis
importância no cenário internacional – que para a realização de um relatório original e

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 11
desenvolvimento sustentável

bem informado, já que havia uma previsão governos, o que se encontra é um texto sin-
de consulta internacional aos grupos gularmente dúbio em seu conteúdo. Sem
ambientalistas e ONGs envolvidas com o pretender fazer uma análise completa, men-
tema, no sentido de construir uma visão o cionaremos alguns aspectos críticos essenci-
mais abrangente possível e, acima de tudo, ais a respeito da passagem da página 29 da
antenada com as expectativas dos países do versão espanhola e na página 8 da versão
Norte e do Sul. O trabalho foi concluído em em inglês, que, por questão de espaço não
março de 1987, e foi publicado no ano se- citamos na íntegra:
guinte, sob o título de Nosso Futuro Comum, a) No texto há uma pressuposição implíci-
contendo, entre outras coisas, uma exaustiva ta da existência de um sujeito coletivo (a
lista de ameaças ao equilíbrio do meio ambi- humanidade) dotado de reflexão e de
ente planetário: o desflorestamento; a erosão vontade1, que não pode, todavia, ser cla-
do solo; o efeito-estufa; o buraco na camada ramente definido. Como colocado, o De-
de ozônio; a questão da demografia; a cadeia senvolvimento Sustentável depende de
alimentar; os recursos hídricos; a energia; todos, o que pode significar que não de-
aspectos ligados aos processos de urbaniza- pende de ninguém;
ção; a extinção de espécies animais; o arma- b) O relatório também defende que é preci-
zenamento de armas; a proteção dos oceanos so atender as necessidades presentes sem
e do espaço. Em vistas do apresentado, os prejudicar o atendimento das necessida-
governos não poderiam mais ignorar os mui- des das gerações futuras. A questão que
tos perigos ecológicos que deveriam ser, se não se coloca é a respeito da maneira pela
eliminados, pelo menos controlados, através qual as necessidades serão identificadas
de uma legislação ambiental rigorosa. e quem estabelece quais são “básicas” e
Uma diferença básica no que se refere quais são “supérfluas”. Outra dificulda-
à discussão ambiental anterior e o tema a ser de é aquela ligada à impossibilidade con-
enfrentado pela Comissão Brundtland, foi o creta de definir as necessidades corren-
fato de que esta teve que considerar de ma- tes da humanidade, e muito mais aque-
neira conjunta o Meio Ambiente e o “desen- las das gerações futuras2;
volvimento”. Esse foi uma ponto crucial, c) A “atividade humana”, que, obviamente,
porque produziu uma ênfase nas maneiras tem efeitos sobre a biosfera, é citada, mas
pelas quais tanto as sociedades ricas quanto os prejuízos decorrentes do modelo in-
as pobres destruíram o meio ambiente, claro dustrial – ue são mostrados como sendo
que considerando sua diferentes razões. Isso o principal problema na maior seção do
também significou a reconciliação de dois relatório – não recebe nenhuma menção
conceitos opostos: de um lado, estava preci- neste ponto, como se a presença huma-
samente a atividade humana – especialmente na na terra não fosse condicionada pe-
aquela baseada no modo de produção indus- los modos de produção adotados.
trial, sinônimo de “desenvolvimento” – que d) Na visão da Comissão, “a pobreza não é
estava por trás da deterioração do meio am- mais inevitável”. Uma abordagem mais
biente; do outro lado, a concepção de que interessante seria uma que considerasse
era impossível não pensar na necessidade de os mecanismos pelas quais a pobreza tem
acelerar o desenvolvimento de povos que não sido socialmente construída nas últimas
tinham tido ainda acesso a condições decen- décadas no nível internacional. Sem dú-
tes de vida. vida isto levaria a denunciar os mecanis-
Para dar uma resposta que integrasse mos de exclusão praticados pelos moldes
esses dois pólos da questão, a Comissão pro- do crescimento econômico adotados;
pôs o modelo do Desenvolvimento Susten- e) “A Pobreza é um mal em si mesmo”. Em
tável. Embora parecesse ser um dos pontos um quadro de referência baseado em
centrais do relatório, sobre o qual se espera- uma dicotomia moral, o desenvolvimen-
va que fossem apresentadas propostas de to é visto como um bem nele mesmo.
operacionalização capazes de funcionar Outras leituras têm conduzido a conclu-
como um guia o mais claro possível para as sões diametralmente opostas, segundo as
políticas a serem adotadas pelos diversos quais, do ponto de vista da proteção do

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
12 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

meio ambiente, o desenvolvimento é que ecocêntrica – o que vai se refletir no modelo


é o “mal” nele mesmo. de Desenvolvimento Sustentável que ela su-
Outra objeção importante em relação gere – a tarefa da Comissão Brundtland de
aos resultados do Relatório é aquela referente redefinir a relação entre meio ambiente e
ao valor de denunciar o fato de que “ a eco- “desenvolvimento” e propor “um programa
nomia e a ecologia podem interagir de ma- global de mudança” ficou comprometida.
neira destrutiva e irem para o desastre”, se Para a produção de uma análise mais con-
ao mesmo tempo é reafirmado que “o que é seqüente, pelo menos três pontos de partida
preciso agora é uma nova era de crescimento deveriam ser adotados. O primeiro deles, a
econômico – crescimento que seja vigoroso e compreensão das formas pelas quais as pes-
ao mesmo tempo socialmente e ambiental- soas e as sociedades realmente se relacionam
mente sustentável”. Mesmo considerando a com seu meio ambiente, de forma a estabe-
justeza dessa aspiração, o problema é que o lecer, de maneira mais razoável, a respon-
Relatório não diz muito a respeito de ‘como’ sabilidade diferenciada pela produção da
atingi-la3; crise ecológica mundial e as tarefas corres-
Ainda outra fragilidade do Relatório pondentes necessárias a sua solução; o se-
em sua tarefa de propor uma contribuição gundo, a adoção de uma visão desafiadora
para a construção de modelos de desenvol- dos modelos simplistas de análise das rela-
vimento sustentável é que há uma confusão ções entre meio ambiente e a esfera econô-
implícita entre a perspectiva referente aos mica, inclusive considerando a contradição
recursos naturais não-renováveis e os recur- interna à proposta de adequação do ritmo
sos naturais renováveis, o que conduz a pen- do crescimento que o modelo capitalista-in-
sar dinâmicas de sociedades com diversos dustrial implica ao ritmo do ecossistema; e o
níveis de industrialização e com diversas terceiro, a localização histórico-cultural do
bases econômicas sejam consideradas como conceito de desenvolvimento, o que conduz
equivalentes. Ao ignorar essa diferença bá- ao reconhecimento do seu caráter ocidental
sica dos potenciais e estilos de crescimento e dos mecanismos de enriquecimento e de
nas duas situações, o Relatório Brundtland exclusão que o mesmo historicamente envol-
falha em colocar com clareza a problemática veu. Tendo falhado em considerar esses três
da “sustentabilidade”4. pontos básicos, o Relatório Brundtland po-
Em vistas do apresentado, pode-se por deria somente registrar os desequilíbrios que
em questão a propagada independência da ameaçam a sobrevivência humana, mas não
Comissão. Dado que um dos pontos centrais contribuir para uma solução genuína.
da discussão do Relatório Brundtland era a A opção ecocêntrica do conceito e do
questão do modo de vida dos ricos, tanto no modelo de Desenvolvimento Sustentável, em
Norte quanto no Sul, e embora seja dito que detrimento de uma visão mais sociológica da
“escolhas dolorosas precisariam ser feitas”, questão do desenvolvimento e da crise eco-
a Comissão não propõe que os países indus- lógica, revela uma prática social, embutida
triais façam mudanças básicas em seus mo- na formulação teórica, que tem como des-
delos de consumo. Pelo contrário, as propos- dobramento a utilização de categorias ana-
tas de aplicação de modelos de Desenvolvi- líticas que comprometem, inclusive a própria
mento Sustentável consistem em garantir aplicabilidade das propostas de organização
que, em áreas estratégicas de países do Sul, das novas estratégias de desenvolvimento.
definidas como fundamentais para o “equi- O caráter planetário da crise, o apelo ao nos-
líbrio do planeta”, sejam mantidas as formas so “futuro comum”, todas essas metáforas
“atrasadas” e “tradicionais” de produção, de inclusão de todos na responsabilidade
em outros tempo consideradas obstáculos ao pela crise ambiental e na solução da mesma,
desenvolvimento e, portanto, à erradicação se constroem de forma a diluir as diferenças
da pobreza5. entre nações, povos, classes e grupos étnicos,
Ao optar por fazer uma crítica dos operando com uma idéia de totalidade onde
modelos de desenvolvimento que desconsi- não há lugar para uma reflexão a respeito
derou os seus determinantes sócio-político- das contradições e dos conflitos de interesses
econômicos, privilegiando uma visão envolvidos. Como conseqüências básicas

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 13
desenvolvimento sustentável

dessa orientação dos formuladores do con- Efeitos e interesses da ambigüidade do


ceito e dos modelos de Desenvolvimento conceito de Desenvolvimento
Sustentável, podemos citar: Sustentável
1. A legitimação da prática dos países
hegemônicos no sentido de construir po- O conceito de Desenvolvimento Sus-
líticas ambientais referentes a espaços tentável tem originado pelo menos dois con-
geográficos para além de suas fronteiras, juntos de interpretações principais, sendo
já que os “interesses do planeta” depen- essa sua abertura enquanto significante,
dem de uma ação em áreas escolhidas além das condições sociais e políticas que
como alvos da intervenção internacional; atravessamos, um dos fatores mais responsá-
2. A definição de instituições supranacio- veis pelo seu sucesso. Os ecologistas o en-
nais vinculadas aos países do capitalis- tendem como uma proposta de limitação do
mo central como gerenciadoras da polí- desenvolvimento ao ritmo que o ecossistema
tica ambiental global, tais como a ONU, pode suportar, o que pode, por conseguinte,
o Grupo dos 7, o Banco Mundial e a garantir sua manutenção a longo prazo. De
NASA. Da ação conjunta dessas institui- acordo com essa compreensão, o modelo de
ções emergiram os principais diagnósti- Desenvolvimento Sustentável implica no re-
cos mundiais e os contornos da política conhecimento de que a capacidade de repro-
ambiental para os países do Sul. A Con- dução dos recursos determina o volume da
ferência do Rio e a formulação da Agen- produção, e de que a “sustentabilidade” sig-
da 21 Global são exemplos da sua nifica que o processo pode ser mantido uni-
potencialidade de mobilização interna- camente sob certas condições dadas, tanto
cional; em referência aos padrões de produção e
3. A execução de políticas interventivas, consumo das sociedades humanas, quanto
traduzidas em projetos realizados em no que diz respeito ao ritmo de reposição dos
pequenas comunidades, cuja formulação recursos naturais renováveis e do ritmo de
contempla, prioritariamente os interesses exploração dos não-renováveis.
dos financiadores internacionais, de um A outra interpretação que prevalece é
corpo de especialistas locais e, como vere- a dos defensores do desenvolvimentismo, que
mos a seguir, a garantia da manutenção entendem o Desenvolvimento Sustentável
dos ritmos de crescimento dos países de- como uma estratégia para manter o “desen-
senvolvidos e dos privilégios de determi- volvimento”, isto é, o ritmo do crescimento
nados grupos sociais das camadas abas- econômico. De acordo com essa visão, o “de-
tadas da população. senvolvimento” é universal e inexorável,
Esses aspectos problemáticos do con- devendo ser prolongado tanto quanto for
ceito de Desenvolvimento Sustentável acima possível. Em outras palavras, já que o “de-
apresentados justificam o questionamento a senvolvimento” é visto como naturalmente
respeito do porquê de sua tão ampla aceita- positivo, deve-se evitar que ele seja asfixia-
ção, no Brasil e fora dele, demonstrada tanto do. O Desenvolvimento Sustentável, então,
em termos do volume de literatura que tem significa que o “desenvolvimento deve avan-
originado, quanto pelo número de grupos de çar num ritmo o mais “sustentável” possível
estudos, inclusão em programas de pós-gra- até que ele se torne irreversível.
duação como linha de pesquisa e, finalmen- De acordo com os defensores do De-
te, pelo privilegia mento por parte dos senvolvimento Sustentável como uma estra-
financiadores, de projetos que o tenham tégia para garantir um alargamento da
como objeto. De acordo com Sachs (1992) e sobrevida do modelo de crescimento econô-
Rist(1997), é graças ao caráter ambíguo de mico iniciado com a Revolução Industrial, o
sua formulação que o conceito de Desenvol- problema com os países do sul é que eles es-
vimento Sustentável tem conseguido mobi- tariam realizando um “desenvolvimento
lizar um público de tamanha envergadura. não-sustentável”, marcado por avanços e
recuos desenvolvimentistas, constantemente
determinados ao sabor da implementação de
políticas efêmeras de crescimento. Para os

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
14 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

partidários dessa interpretação, então, a buscando sempre o controle de novas áreas


“sustentabilidade” é entendida no sentido e de novas oportunidades de negócios, além
trivial de “durabilidade’: não é a sobrevivên- de proteger de qualquer possibilidade de al-
cia do ecossistema que coloca os limites para teração o modelo de produção e consumo
o “desenvolvimento, mas o “desenvolvimen- dominante.
to” que determina a sobrevivência das socie- Neste texto temos o objetivo de sugerir
dades. Como o desenvolvimento é ao mesmo pontos para uma análise sociológica da crise
tempo uma necessidade e uma oportunida- ecológica e de algumas das propostas para
de, a conclusão é perfeitamente óbvia – que o seu equacionamento, mais especificamente,
seja tão longo quanto possa durar! a do modelo de Desenvolvimento Sustentá-
Essas duas interpretações são tanto le- vel. No caso deste, dois pontos nos desper-
gítimas quanto contraditórias, já que os dois tam a curiosidade e a necessidade de proble-
significados antinômicos correspondem ao matização sociológica: o primeiro, a extre-
mesmo significante. A interpretação dos eco- mamente rápida aceitação e disseminação
logistas, aparentemente superior em termos do conceito e das propostas de intervenções
de ética, já que defende o respeito à nature- concretas na Amazônia brasileira e em ou-
za, a preservação da “saúde do planeta”, tras áreas do país, delas resultantes, tanto
mascara, na verdade, uma posição tão con- por parte da tecnocracia governamental,
servadora quanto a dos capitalistas “sem quanto por parte dos intelectuais, ONGs e
coração”, prontos a defender seus interes- outras entidades da sociedade civil; o segun-
ses imediatos contra qualquer coisa, já que do, o fantasma da ineficácia que ronda os
sua abordagem freqüentemente opera com projetos que têm sido anunciados como des-
a secundarização das variáveis referentes às tinados à construção do novo tipo de desen-
relações humanas, em seus efeitos sobre as volvimento proposto.
formas de apropriação da natureza, preo- A sua capacidade de se estabelecer
cupando-se em garantir o equilíbrio do rapidamente enquanto um discurso consen-
ecossistema, em detrimento da consideração sual, quase único, nos estimula a concentrar
dos efeitos das ações interventivas com vis- esforços de reflexão de caráter sociológico a
tas à produção da sustentabilidade ecológi- respeito dos aspectos ideológicos do discur-
ca sobre a vida dos indivíduos envolvidos. so eco-ambientalista, e do modelo de Desen-
O conceito e os modelos de Desenvol- volvimento Sustentável, ambos capazes de
vimento Sustentável implicam numa dupla articular símbolos, significados e conceitos,
ênfase que contém elementos contraditóri- de forma a favorecer interesses de algumas
os: por um lado seus defensores investem nos forças e de secundarizar os de outras. Para
avisos a respeito dos limites do meio ambi- a construção de uma abordagem sociológica
ente e acerca dos perigos de não respeitá- da temática e do modelo mencionados, par-
los, e, por outro, enfatizam as exortações ao timos de um levantamento das condições
avanço determinado em direção da “nova históricas em que surge o discurso ecológi-
era de crescimento econômico”. O Relatório co, constrói-se a plausibilidade da idéia de
Brundtland não opta por nenhuma dessas crise ecológica mundial e em que se dissemi-
direções. Ele é um texto que pertence ao que na a proposta de um Desenvolvimento Sus-
alguns chamam de “diplomacia pela termi- tentável.
nologia”, na medida em que não significa Esse inventário do contemporâneo,
colocar em cheque nem a posição dos ecolo- configura-se como uma tarefa de enorme
gistas, nem a posição dos que defendem a amplitude. Nos deparamos com uma área
inalterabilidade dos modelos de produção, de produção intelectual extremamente farta,
de consumo e do ritmo de crescimento eco- em que novos trabalhos, tanto no que se re-
nômico. Esse seu caráter dúbio favorece sua fere aos livros, bem como aos artigos, relató-
utilização no sentido de encobrir práticas rios e publicações especiais, aparecem em
questionáveis, oferecendo, sob a aparência ritmo notavelmente veloz. Isto, aliado ao re-
de uma política de preservação do meio am- conhecimento dos inúmeros fatores envol-
biente, o álibi de que necessitam as opera- vidos, logo evidenciou que não seria possível
ções interessadas de agentes econômicos, dar conta de todas as variáveis e aspectos

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 15
desenvolvimento sustentável

envolvidos na “invenção” da preocupação embates econômico-políticos do capitalismo


ecológica., sendo nosso propósito aqui levan- com experiências significativas de socialis-
tar pontos significativos relativos aos contor- mo, que a sociedade capitalista industrial
nos do debate da temática e do modelo tem condições de construir a problemática
citados. ecológica, à medida em que se livra da preo-
cupação com um eventual enfrentamento
O cenário em que emergem a crise com outro modelo econômico, e que se
ecológica global e o modelo do mundializa o escopo em que é considerado
Desenvolvimento Sustentável o campo de sua ação e de sua influência.
Dois desdobramentos desse cenário
Um dos principais componentes desse associam-se mais diretamente com a emer-
cenário em que emerge o debate a respeito gência da questão ecológica no cenário mun-
da crise ecológica, de suas conseqüências e dial: o primeiro, o fato de que o capitalismo
da alternativa do modelo de Desenvolvimen- triunfante não pode deixar de tomar medi-
to Sustentável, é a derrota estrondosa de das para que sejam mantidas e expandidas
uma determinada ideologia, que competiu as taxas de lucro; o segundo, a expansão do
quase duzentos anos com o modo dominante campo em que as ações econômicas e políti-
de organizar as relações econômicas e sociais cas passam a ser pensadas e operacionali-
nas sociedades ocidentais. É na esteira do fim zadas.
de experiências de socialismo real como os Isso se relaciona com a emergência do
existentes tanto na antiga União Soviética, ambientalismo e com a formulação e propo-
quanto na Alemanha Oriental, só para citar sição do modelo de Desenvolvimento Susten-
dois exemplos, que toma corpo a preocupa- tável pelo fato de que, se, no passado, a busca
ção ecológica (cf. LATOUR, 1994). de taxas crescentes de lucro, traduzida na
O prevalecimento do capitalismo so- valorização das vantagens comparativas,
bre a alternativa socialista evoluiu no senti- guiou o movimento de capitais no sentido
do da constituição de uma rede econômica da periferia do modelo, atraído pelos bene-
internacional, com o suporte tecnológico da fícios advindos da maior proximidade da
revolução da informática, possibilitando um matéria prima e dos salários baixos regionais,
fluxo crescentemente veloz de informações, uma das questões agora colocadas ao siste-
capaz de criar condições para que se execu- ma dominante de apropriação e transforma-
tem operações financeiras à distância, con- ção da natureza, é, justamente, a garantia
figurando uma conjuntura de atividades de uma acessibilidade máxima aos recursos
econômicas gradualmente exercidas no cam- naturais, renováveis e não renováveis. Se,
po da virtualidade. Devido ao consenso em antes, o âmbito em que competiam as forças
torno do modo de produção dominante, e, econômicas pelo acesso e disponibilização
ao menos aparentemente, triunfante, o tem- desses recursos eram as fronteiras nacionais,
po presente se caracteriza por um imaginário a mundialização dos mercados coloca agora
e espaço social concreto nos quais avançam como novidade inescapável a ampliação do
os elementos e mecanismos da lógica do espaço no qual se enfrentam essas forças pelo
mercado. controle do “capital natural”, configurando-
Esse cenário, cujos contornos foram se um momento em que a idéia de crise eco-
anunciados acima, é facilmente observado lógica planetária e a proposta do Desenvol-
no mundo real, podendo ser, alternativa- vimento Sustentável, poderiam se transfor-
mente, lido positivamente ou negativamente. mar em estratégias funcionalizadas no sen-
Pode-se falar mesmo da constituição pro- tido de criar condições para uma gestão in-
gressiva de um debate internacional referente ternacionalizada dos recursos naturais, pen-
a conceitos como globalização, economia sada de forma a favorecer os interesses das
virtual, neoliberalismo, todos esses termos forças político-econômicas dominantes.
ligados ao reconhecimento da falência do so- Com o objetivo de possibilitar a essas
cialismo e da inexorabilidade do capitalismo. forças o acesso e a disponibilização imedia-
É nesse contexto, caracterizado pela ta ou futura dos estoques de recursos natu-
globalização da economia e pelo fim dos rais de áreas consideradas nichos ecológicos

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
16 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

planetários, começou a emergir o debate so- ligadas à consideração dos aspectos da rela-
bre a crise ecológica mundial e um conjunto ções sociais tradicionalmente associados à
de políticas ambientais internacionalizadas, atividade de análise da interação social hu-
no âmbito das quais se destaca o modelo de mana7. Como dissemos, é como se a ascen-
Desenvolvimento Sustentável. são da importância de satisfazer as deman-
Para entender a plausibilização da dis- das do mercado em termos de produção in-
cussão ecológica como um problema mun- telectual produzisse o silêncio da teoria a
dial, com seus tons ao mesmo tempo catas- respeito de uma realidade sócio-econômica
tróficos e utópico-românticos, bem como das que demanda, talvez mais urgentemente do
propostas para o seu enfrentamento, é pre- que nunca, uma atividade capaz de desven-
ciso adicionar à descrição do cenário econô- dar os mecanismos de funcionamento e de
mico e político alguns dados referentes à estruturação dos arranjos sociais nos quais
prática dos cientistas. Lyotard (1982) já men- se inscrevem as relações sociais.
ciona, em seu relatório sobre o estado do Num momento histórico como esse, em
conhecimento científico no mundo, elabora- que as sociedades são marcadas pela
do no final da década de 70 do século pas- reflexividade8, a construção da idéia de uma
sado, o aprofundamento das relações entre situação limite do ecossistema mundial so-
a ciência e as demandas do mercado. É em mente tem sido possível graças ao forneci-
referência a essa descrição que podemos en- mento de uma base de caráter científico. A
tender como são mobilizados conceitos, teo- plausibilização da catástrofe ecológica imi-
rias e discursos de intelectuais no sentido de nente, mediatizada pelo aporte dos relatóri-
dar suporte a uma preocupação coletiva a os “científicos”, portanto, dá suporte à for-
respeito do meio ambiente, bem como à disse- mulação de duas estratégias, diferentes, mas
minação, em termos de mídia de massa, mas interrelacionadas, no sentido do enfrenta-
também no nível acadêmico, da alternativa mento da crise ambiental planetária: uma, a
do Desenvolvimento Sustentável. Divisão Ecológica Internacional9, que prevê,
Em termos da contribuição da ciência inclusive, um mapeamento mundial, em ter-
para a emergência da questão ecológica, cabe mos de recursos naturais, e uma conseqüen-
ressaltar uma marca fundamental, a saber, te atribuição de responsabilidades, no que
o resgate, no nível teórico/metodológico, dos se refere a uma divisão do “trabalho ecoló-
pressupostos do paradigma sistêmico. Estes gico” necessário ao equilíbrio do ecossistema
compõem a matriz principal da formulação da Terra entre as diversas áreas geo-políti-
do debate sobre a crise ecológica, desdobran- cas do planeta; a outra, o modelo de Desen-
do-se na noção de interdisciplinaridade, ser- volvimento Sustentável, que traz, como prin-
vindo de fundamento para a mobilização de cipal trunfo teórico, a proposta de que cres-
várias metáforas inclusivistas, utilizadas cimento econômico e a preservação dos
para a formulação de uma mística do pla- ecossistemas podem existir simultaneamente.
neta, descrito como, por exemplo, a “nave A Divisão Ecológica Internacional
Terra”. O sistemismo também fundamenta apresenta uma série de contradições, e inte-
a “invenção” de uma responsabilidade “de resses não confessados, que uma análise so-
todos” pelo enfrentamento dos problemas ciológica conseqüente pode facilmente detec-
atuais do ecossistema planetário e dos pre- tar. Essa proposta de divisão internacional
vistos para um futuro próximo, se não forem do “trabalho ecológico”, associa uma maior
tomadas as providências propostas e acorda- responsabilidade, na atuação no sentido da
das nos pactos ambientalistas internacionais. resolução da crise ambiental global, às áreas
Em termos de prática científica, parti- e países que consomem volumes menores e
cularmente no que se refere às ciências soci- também poluem menos do que aqueles que
ais, a intensificação das ligações entre pro- são os maiores consumidores de capital na-
dução intelectual e as demandas do merca- tural e mais poluentes10. O que observamos
do se reflete, basicamente, na redução é que essa Divisão Ecológica Internacional
progressiva do espaço da reflexão crítica, que (DEI) prevê, na prática, a manutenção dos
dá lugar à hipertrofia das categorias padrões de produção e de consumo
“limpas”6, nas quais se apagam as variáveis exercidos nos países capitalistas desenvolvi-

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 17
desenvolvimento sustentável

dos, enquanto propõe, aos países pobres e da eficiência econômica, não sendo as
em Desenvolvimento, o modelo de Desen- mesmas avaliadas em termos das conse-
volvimento Sustentável, que implica, em qüências que têm sobre a vida de milhões
grande medida, na revisão dos modelos de de pessoas para as quais o meio ambien-
produção e de consumo de recursos naturais te é menos uma questão de qualidade de
nas áreas definidas como nichos ecológicos vida, do que de sobrevivência. Para as
mundiais11. populações pobres, as noções de conser-
Sendo a proposta da Divisão Ecológi- vação e proteção ambiental, completa-
ca Internacional uma formulação originada mente aceitáveis em países desenvolvi-
nos países do Norte, e estando o modelo de dos, são altamente contestáveis. Nossa
Desenvolvimento Sustentável a ela associa- análise da literatura sobre sustentabili-
do, não admira que seja construído no sen- dade e crise ecológica, mesmo a produ-
tido de garantir o privilegiamento dos inte- zida pelos cientistas sociais, tem revela-
resses desses países, em detrimento dos da- do que enquanto a pobreza e a degrada-
queles incluídos nas áreas das quais se exi- ção ambiental são amplamente relacio-
gem modificações mais significativas, no que nadas, o papel das políticas ambientalis-
se refere às estratégias e ritmos de apropria- tas para a construção do Desenvolvimen-
ção dos recursos naturais, necessários à ma- to Sustentável na diminuição do acesso
nutenção dos padrões de produção e consu- das populações pobres aos recursos na-
mo neles existentes. turais é muito raramente discutido.;
Essa proposta de Divisão Ecológica • O privilegiamento dos aspectos ligados ao
Internacional articula-se com o modelo de ecossistema, corresponde a dois elemen-
Desenvolvimento Sustentável, na medida em tos presentes na formulação original do
que este tem destinatários específicos, a sa- modelo e também recorrentes em grande
ber as áreas geográficas consideradas como parte da produção a respeito da crise eco-
reservatórios de biodiversidade e de recur- lógica mundial, a saber: o primeiro deles,
sos naturais não-renováveis, localizáveis a o biocentrismo, que produz o apagamen-
partir da nova cartografia mundial, formu- to das relações sociais e das preocupações
lada através dos critérios da distribuição dos a elas referentes; o segundo, a intenção
“trabalhos ecológicos” a serem desempenha- de formular, na verdade, uma política
dos no sentido de evitar – de acordo com os racional de gestão de recursos naturais em
formuladores das políticas ambientais inter- áreas consideradas ecologicamente privi-
nacionais – a exaustão iminente do ecossis- legiadas, visando, inclusive sua disponi-
tema do planeta. bilização para uso internacional, possibi-
Nossa análise da Divisão Ecológica litado, por sua vez, pela disponibilização
Internacional, bem como de muitas das ex- de estoques biogenéticos e de recursos não-
periências anunciadas como de construção renováveis para a compra e venda no
do Desenvolvimento Sustentável, apresenta- mercado de capitais naturais.
das, inclusive como exemplos para repli- Argumentamos, com Banerjee (2001),
cação, indicou algumas pontos principais que, a despeito de ser anunciado como uma
para eventuais questionamentos, que podem mudança de paradigma, o modelo do Desen-
ser, sinteticamente, assim apresentados: volvimento Sustentável baseia-se efetiva-
• Os eixos nos quais se baseia o conceito mente numa racionalidade econômica e não
de Desenvolvimento Sustentável não são ecológica. O discurso do Desenvolvimento
igualmente enfatizados nas experiênci- Sustentável reforça uma visão da natureza
as de implementação do modelo em vá- como apresentada pelo pensamento econô-
rias áreas do Brasil e especificamente na mico moderno, sendo uma das suas conse-
Amazônia brasileira. O que observamos qüências a transformação da “natureza” em
na análise de várias propostas atuais de “meio ambiente”, o que tem importantes im-
políticas ambientalistas, é a hipertrofia plicações sobre as noções de como o desen-
dos aspectos ligados à preservação volvimento deve ser promovido e realizado.
ambiental e a secundarização daqueles A gestão “racional” dos recursos, em-
ligados à produção da eqüidade social e butida nos documentos em que o discurso

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
18 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

sobre a sustentabilidade é construído, é fun- implícito daquele é “desenvolver uma eco-


damental para a economia ocidental e sua nomia global sustentável: uma economia que
imposição para países “em desenvolvimen- o planeta possa suportar indefinidamente”.
to” é problemática, sendo necessário discu- Também nessa direção, para Beder (1994),
tir as implicações desse “regime de verda- os objetivos não anunciados do Desenvolvi-
de” aos países do III Mundo, em referência, mento Sustentável seriam os de encontrar
particularmente à biotecnologia, à biodiver- novas tecnologias e expandir o papel do
sidade e aos direitos de propriedade intelec- mercado na alocação de recursos naturais,
tual12. Todos esses aspectos envolvidos na escudados no pressuposto de que a única
disseminação impositiva do modelo de De- maneira de proteger o meio ambiente natu-
senvolvimento Sustentável precisam ser vis- ral seria colocar preço nele, tornando sua
tos como ameaças de neocolonização de es- degradação menos rentável.
paços ecologicamente privilegiados, localiza- Assim, ao invés de transformar o mer-
dos no Sul, que devem ser agora tornados cado e os processos de produção, com o ob-
“eficientes”, graças à capitalização da na- jetivo de torná-los adequados à lógica do
tureza13. ecossistema, o modelo do Desenvolvimento
Embora nas várias definições de De- Sustentável usa a lógica do capital e da acu-
senvolvimento Sustentável seja possível iden- mulação capitalista para determinar o futu-
tificar muitos temas tais como os referentes: ro da natureza e, por conseguinte, das pos-
(1) ao desenvolvimento humano; (2) à sibilidades de acesso e uso dos recursos na-
integração ecológica, econômica, política, turais das várias populações ao redor do
tecnológica e de sistemas sociais; (3) à cone- mundo (cf. SHIVA, 1991).
xão entre objetivos sócio-políticos, econômi- Sobre esse aspecto pouco crítico do
cos e ambientais; (4) à eqüidade, como uma modelo de Desenvolvimento Sustentável, em
distribuição justa de recursos e da proprie- relação ao tipo de apropriação da natureza
dade dos direitos sobre os recursos naturais; praticado há mais ou menos dois séculos
(5)à prudência ecológica; e (6) à segurança, pelas sociedade ocidentais, Banerjee (1998)
traduzida em níveis seguros de saúde e de e Visvanathan (1991), afirmam que não é
qualidade de vida14, a linguagem do capital possível encontrar naquele um desafio con-
é que prevalece na fundamentação das es- seqüente à noção moderno-industrial de pro-
tratégias de produção e efetivação de políti- gresso, observando-se que a racionalidade
cas ambientais para o atingimento do De- econômica implícita no modelo menciona-
senvolvimento Sustentável. do continua a privilegiar o consumismo, re-
A ênfase na “constância do estoque de afirmando-se a necessidade de crescimento
capital natural” como condição necessária econômico, à qual apenas se adicionam ter-
à sustentabilidade, defendida por Pearce et mos tais como “prevenção da poluição”,
al. (1989), é um exemplo disso. De acordo “reciclagem”, gestão ambiental, dentre ou-
com esse autor, as mudanças no estoque tros.
mencionado deveriam ser “não-negativas”, A análise de várias das experiências
e o capital criado pelo homem (produtos e apresentadas como sendo capazes de pro-
serviços, como definidos pela economia e duzir o Desenvolvimento Sustentável, pela
contabilidade tradicionais), não deveria se possibilidade de harmonização do cresci-
expandir às expensas do capital natural. mento econômico com as medidas na dire-
Assim, termos como “custos sustentáveis”, ção da melhoria da qualidade de vida para
“capital natural”, “capital sustentável”, as comunidades envolvidas e a preservação
“produção sustentável”, indicam que o tra- ambiental, demonstra uma realidade onde
dicional léxico do capital, da renda e do cres- é possível observar um distanciamento sig-
cimento continuam a informar esse “novo” nificativo do que é oficialmente enunciado.
paradigma do Desenvolvimento Sustentável. Essas experiências são realmente eficazes é
A relação da proposição do modelo de na adoção de restrições ao uso dos recursos
Desenvolvimento Sustentável com a lógica naturais pelas populações locais e na sua
de expansão do capital é também mostrada funcionalização enquanto mobilizadoras de
por Hart (1997, p.67), para quem o desafio uma fala única, livre de resistências e

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 19
desenvolvimento sustentável

questionamento, a respeito da gestão do ca- estilo e o ritmo de apropriação da natureza,


pital natural das diversas regiões15. bem como as estratégias mais gerais de or-
Essa eficácia é demonstrada pela ganização da produção econômica, objeti-
abrangência das estruturas governamentais vando o crescimento econômico efetivo.
geradas pela ingerência do capital externo A vantagem de reconhecer no modelo
nas regiões definidas como nichos ecológicos, de Desenvolvimento Sustentável não um efe-
materializada pelo estilo de financiamento tivo novo estilo de desenvolvimento, mas
internacional de projetos, que tem exigido, uma articulação teórico e prática no sentido
como contrapartida estatal, a montagem de de, inclusive, abrir as fronteiras das regiões
instituições para gerir a política ambiental classificadas como nichos ecológicos mundiais
destinadas a instalar os mecanismos de ges- – como por exemplo, a Amazônia –, à inge-
tão racional dos recursos naturais nas áreas- rência internacional, através da capacidade
alvos. Outro indicativo do sucesso dessas de impulsionar uma política de gestão dos
experiências como catalisadoras de uma recursos naturais para as mesmas, é a possi-
mentalidade e discursos unificados em de- bilidade que isso abre no sentido da análise
fesa da natureza16 é a montagem de redes de como são beneficiadas as forças envol-
de projetos em regiões ricas em biodiversi- vidas.
dade e recursos naturais, como a Amazônia, A partir do dado de que o financia-
e em outras áreas-alvos, definidas como ni- mento externo das experiência anunciadas
chos ecológicos mundiais, capazes de, atra- como produtoras de Desenvolvimento Sus-
vés da articulação de ONGs, Sindicatos Ru- tentável não tem, efetivamente, a intenção
rais, Cooperativas e outros tipos de entida- de promover o desenvolvimento sócio-eco-
des, minar, nestas, a antiga tarefa de funcio- nômico da região, mas o de fornecer proto-
nar como mediadores da interlocução com colos oficiais de acesso a uma região defini-
o Estado, no que se refere à reivindicação de da como possuidora de estoques de capital
políticas públicas capazes de solucionar os natural incomensuráveis, é possível suspei-
problemas sociais e, por conseguinte, influ- tar dos interesses dos “doadores” envolvidos.
enciar os níveis de degradação ambiental Instala-se, assim, uma outra lógica de análi-
associados às populações pobres da região. se, impossível de ser adotada se o pressupos-
O discurso ecológico, e sua operacio- to de que as ações interventivas realizadas
nalização em termos da formulação implíci- na área produziriam um desenvolvimento
ta de uma Política Racional de Gestão dos capaz de harmonizar a eficiência econômi-
Recursos Naturais Internacionalizada, apre- ca, a preservação ecológica e a eqüidade so-
sentada como uma proposta de Desenvolvi- cial, sendo respeitados os interesses das co-
mento Sustentável e disseminada graças ao munidades locais e alcançadas as metas do
oferecimento da “ajuda” internacional em desenvolvimento regional.
temos de financiamento das ações localiza- O desvendamento do funcionamento
das, têm transformado as pautas dos movi- ideológico do discurso ecológico, bem como
mentos sociais, das instituições públicas de dos interesses efetivos implícitos na propos-
pesquisa, de maneira a produzir o apaga- ta de Desenvolvimento Sustentável abre as
mento dos conteúdos ligados ao questiona- portas para uma análise sociológica que con-
mento do Estado e de suas políticas sociais. sidere, diferentemente do que vem sendo
Assim, gradualmente as entidades da realizado tendencialmente na atualidade, as
sociedade civil se direcionam à reflexão e questões ligadas às formas pelas quais se
conscientização a respeito da necessidade de darão o acesso e a disponibilização do capi-
preservar o meio ambiente, definido da ma- tal natural da região, o que envolve uma
neira mais prejudicial possível à luta pela postura crítica de propostas em discussão tais
melhoria de condições de vida das camadas como, por exemplo, as referentes aos trata-
pobres da população urbana e rural das re- dos de biodiversidade e a da internaciona-
giões eleitas como alvos da intervenção em lização da região amazônica. Isso poderá
busca da “sustentabilidade”: como se trazer de volta ao debate as categorias
estivesse desligado do arranjo das relações sociológicas tradicionais ligadas à discussão
sociais sob o qual se definem, inclusive, o das relações de forças, dos conflitos de

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
20 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

interesses e a abordagem que coloca sob serviços na área de classificação de terras,


questão os arranjos sociais sob os quais vi- no levantamento de impactos sociais de im-
vem os homens, tanto os do Norte, quanto plantação de novas tecnologias em áreas
os Sul, chamados tantas vezes de “povos sem subdesenvolvidas, no levantamento de da-
história”, sem que esbocemos, enquanto ci- dos e organização de informações em cadas-
entistas sociais, ações capazes de transfor- tros de comunidades, atividades que envol-
mar essa classificação apenas numa versão vem uma ação mais técnica, tanto em ter-
equivocada, etnocêntrica da nossa realida- mos de trabalho científico de equaciona-
de. Na próxima seção apresentamos algu- mento de problemas e de formulação de ques-
mas reflexões a respeito das tendências prin- tões, quanto em referência à elaboração de
cipais da abordagem da questão ecológica propostas de intervenções e na efetivação
feita por cientistas sociais no Brasil, propon- das mesmas.
do finalmente alguns eixos de uma propos- Enquanto como protagonistas das
ta de reformulação sociologizadora do debate. ações interventivas, os cientistas da área das
chamadas ‘ciências exatas’, capazes de medir
O papel dos cientistas sociais na as condições biofísicas das áreas escolhidas
discussão sobre a crise ambiental global como objeto de intervenção, atuam elaboran-
e sobre o modelo do Desenvolvimento do modelos matemáticos com o objetivo de
Sustentável “prever para prevenir”, os cientistas da cul-
tura terminam por executar apenas o traba-
Com o objetivo de levantar alguns as- lho de mobilizar as populações para a “par-
pectos da contribuição dos cientistas sociais ticipação” nos processos de implantação das
para o estabelecimento dos contornos do transformações na direção da construção da
debate a respeito da questão ambiental con- “sustentabilidade”, na maioria das vezes
temporânea, especialmente em seu aspecto fornecendo um discurso legitimador da ên-
de globalismo ecológico, para finalmente fase na lógica preservacionista – freqüen-
apresentar uma proposta de questões a en- temente privilegiada, em detrimento das pre-
frentar para uma abordagem mais estrita- ocupações com a construção da eqüidade
mente “sociológica”, apresentamos, inicial- social e do desenvolvimento econômico –,
mente, uma breve caracterização dos eixos que subjaz aos projetos de “desenvolvimen-
temáticos principais adotados, que têm sido to sustentável” financiados pelo capital in-
marcados pelo prevalecimento de uma ori- ternacional.
entação para a “despolitização” da discus- Esse papel que tem cabido aos cientis-
são, o que pode contribuir para o agrava- tas sociais é fruto da maneira pela qual o
mento das situações de pobreza, de depen- próprio debate a respeito da crise ambiental
dência e exploração às quais amplos setores se constitui, tendo como pressuposto explí-
da população nacional estão submetidos já cito a necessidade de uma abordagem
há tão grande período de tempo. sistêmica. Essa abordagem, por sua vez, im-
A tendência hegemônica, em termos plicaria na imposição da interdisciplinari-
da maneira pela qual a maioria dos traba- dade como maneira privilegiada de produ-
lhos na área das ciências sociais tem focali- zir conhecimento e orientar processos inter-
zado o debate sobre a crise ecológica mun- ventivos na direção do enfrentamento da
dial, tem sido a adoção de estratégias de abor- crise ambiental planetária.
dagens que dificultam a construção de uma No caso específico do objeto da crise
visão propriamente sociológica da questão. ambiental, os cientistas sociais que têm sido
Freqüentemente a atuação dos profissionais seduzidos pelas propostas de estratégias de
das ciências sociais tem se reduzido ao pa- cooperação interdisciplinar não têm conse-
pel de meros classificadores de áreas e de guido evitar a hegemonização das ciências
mapeadores de identidades culturais em pro- bio-físico-químicas nas experiências realiza-
cessos avaliativos dos impactos ambientais das, tanto na formulação de projetos, quan-
de projetos de intervenção localizada17. to nas experiências de sua implementação,
Na maioria dos casos, os sociólogos e que se desdobra no apagamento da contri-
antropólogos têm sido convidados a prestar buição das ciências sociais em geral, e, espe-

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 21
desenvolvimento sustentável

cificamente, da sociologia, que vai, então, as- vendo e disseminando o(s) modelo(s) de
sumindo um papel periférico nos processos. Desenvolvimento Sustentável, que passa a
O privilegiamento das variáveis ligadas ser tanto hiper-citado quanto transformado
ao mundo bio-químico-físico é, ele mesmo, um numa linha de pesquisa “quente”, principal-
resultado da maneira pela qual o debate sobre mente em termos de capacidade de capta-
a crise ambiental emerge historicamente. ção de recursos financeiros.
Como veremos posteriormente, as linhas ge- Uma outra tendência observada na
rais da discussão a respeito da problemática produção dos cientistas sociais sobre a ques-
ambiental são marcadas pela luta de interes- tão ambiental e especificamente sobre o De-
ses e pela intenção de proteger privilégios e senvolvimento Sustentável é o enfoque
determinadas maneiras de estruturação das micro-localizado. Muitas coletâneas lança-
relações de poder ao nível internacional, o que, das no Brasil, referentes ao estudo do mode-
ao nível da teoria, tem se traduzido na secun- lo de desenvolvimento acima citado e das
darização da reflexão a respeito das relações alternativas de enfrentamento da crise
sociais e dos modelos de sociedade nas quais ambiental, dedicam-se à apresentação de
as mesmas se estabelecem. É significativo o resultados de ações interventivas implemen-
abandono de categorias sociológicas clássicas tadas em pequenas comunidades rurais,
usadas pelo menos até o fim do terceiro quar- secundarizando a perspectiva macrossocial
tel do século XX. – o que resulta na desatenção dada a pro-
O problema aqui é justamente o assen- blemas que somente um visão mais
timento de antropólogos e sociólogos em totalizadora permite–, em favor da demons-
participar desses processos dessa maneira, tração dos resultados dos projetos locais es-
aceitando o papel de figuração no cenário pecíficos, em tentativas desesperadas de pro-
da discussão teórica e da implementação de var a efetividade da proposta, em termos da
propostas visando ao equacionamento do produção dos três eixos do conceito, quais
que se tem definido como o problema da sejam: o da eqüidade social; o do preserva-
exaustão dos recursos naturais no planeta, cionismo e o da eficiência econômica.
o que tem significado a perda do status das Vistas essas tendências do debate a
ciências sociais enquanto aquela que dá sen- respeito do Meio Ambiente em geral, e da
tido à história, a partir de uma prática ca- sustentabilidade especificamente, realizado
racterizada pelo seu caráter crítico. O que no âmbito das ciências sociais no Brasil, pro-
podemos encontrar como tendência da pro- pomos na próxima seção um conjunto de
dução dos cientistas sociais a respeito da crise pontos a serem considerados num projeto de
ambiental em geral e do Desenvolvimento construção de uma abordagem mais ade-
Sustentável é a aceitação acrítica do concei- quada às ciências da sociedade a respeito da
to – que tem, inclusive, criado as condições temática da Crise Ecológica em suas relações
para seu estabelecimento como um discurso com a questão do desenvolvimento.
único –, corroborada por toda uma política
de financiamentos executada pelos organis- Pontos sugeridos para uma agenda de
mos internacionais e ratificada na prolifera- pesquisa da sociologia e da ecologia
ção reflexiva de institutos, grupos de pesqui- política de questões ambientais
sa, cursos de pós-graduação e de órgãos go-
vernamentais dedicados ao estudo dessa No sentido da construção de uma
temática. abordagem mais genuinamente sociológica
Isso aponta para o surgimento e esta- da crise ambiental e do Desenvolvimento
belecimento de um conjunto de especialistas Sustentável, sugerimos algumas estratégias
no assunto, que vão, gradualmente, aban- fundamentais que precisam ser adotadas na
donando as questões ligadas aos conflitos de análise das temáticas mencionadas, e cujo
terra, à análise dos problemas causados pela negligenciamento tem determinado, inclusi-
estrutura agrária nacional, marcada pelas ve, uma contribuição tímida e pouco
distorções da preponderância de minifúndios preocupada com os aspectos estritamente
e latifúndios, dentre outros temas tradicio- sociológicos, a saber:
nais em termos de sociologia rural, promo- (1) Encarar o modelo do Desenvolvimento

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
22 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

como um discurso com funções ideológi- mente respaldada num discurso científi-
cas, capaz de articular conceitos e sím- co de avaliação da iminente exaustão dos
bolos com o objetivo de mascarar o privi- recursos naturais e dos níveis de polui-
legiamento de interesses particulares a ção produzidos pelos modelos de produ-
partir de uma retórica marcada pelas ção e de consumo praticados mais inten-
metáforas da inclusão de todos; samente por países desenvolvidos capi-
(2) Analisar o modelo de Desenvolvimento talistas, estabelece uma relação inversa
Sustentável como uma proposta de ges- entre a responsabilização pela produção
tão racional dos recursos hídricos, que da crise e a responsabilidade de pagar
implica numa abordagem que permita a por ela, contribuindo para sua solução;
visualização clara dos grupos em favor (8) Discutir a intocabilidade dos modelos de
dos quais um determinado modelo de produção e de consumo praticados nos
acessibilidade e de uso dos mesmos re- países do Norte, aliada à proposta de in-
cursos funciona; tervenção e de conservadorismo, feita às
(3) Focalizar as contradições dos modelos de regiões eleitas como significativas para a
“participação” propostos nos projetos de preservação do planeta.
intervenção localizada com o objetivo da
produção da sustentabilidade; Especificamente em relação à ecologia
(4) Estudar a articulação entre os interesses política dos Recursos Hídricos
locais e os dos países e grupos financia-
dores dos projetos, que inclui, inclusive A reflexão inspirada nas contribuições
a necessidade de analisar a constituição teóricas da análise sociológica e da Ecologia
de uma rede de projetos e de ações que Política sobre as questões ambientais referi-
desmobilizam uma fala da comunidade das especificamente ao campo dos recursos
local – inclusive através de ONGs apa- hídricos precisa focalizar o que chamarei
rentemente “populares” –, dificultando aqui do irresistível encanto das micro-ações e
a articulação e a interlocução da socie- da participação popular. Assim como em ou-
dade civil com o Estado, dificultando o tros setores, os discursos de sustentabilidade
levantamento da discussão dos proble- ambiental hídrica mobilizam símbolos e ima-
mas sociais e a adoção de estratégias po- ginários referidos ao micro-espaço, sendo de
líticas de defesa dos interesses das popu- fundamental importância pesquisar as trans-
lações locais; formações no cenários, nos atores, nas ações
(5) Abordar os eventuais efeitos do discurso relativas ao enfrentamento de problemas
que defende o globalismo ecológico, ou relativos ao acesso e uso de água nas socie-
da constituição da crise ambiental en- dades contemporâneas.
quanto um fenômeno planetário, em ter- Questões importantes a serem enfren-
mos da construção da licença política tadas podem ser, dentre outras, as que apon-
para a intervenção de países capitalistas tamos a seguir:
desenvolvidos em áreas internas de paí- • Como é possível a atual configuração das
ses subdesenvolvidos e “em desenvolvi- políticas para o enfrentamento de questões
mento”, desde que classificadas como ligadas ao abastecimento de água?
patrimônio mundial, devido à atribuição • Quais os significados ideológicos da Pro-
que lhes é feita de uma papel significati- posta de Gestão Racional de Recursos
vo na “salvação do planeta”; Hídricos, atualmente em discussão em
(6) Focalizar a questão dos interesses relacio- muitos países?
nados com a biodiversidade de áreas • Como se dá a evolução das políticas públi-
como a da Amazônia, que envolve a ava- cas, da ação coletiva e dos atores envolvi-
liação dos interesses econômicos interna- dos nas ações de enfrentamento das ques-
cionais embutidos no discurso da tões relativas à escassez de água?
“ecologização” da região; • De que maneira elementos relacionados à
(7) Trabalhar para tornar explícita a in- construção histórica das políticas públicas
coerência de uma Divisão Ecológica e da ação coletiva relacionadas com o
Internacional 18 que, embora aparente- enfrentamento da escassez de água – tais

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 23
desenvolvimento sustentável

como o clientelismo, a utilização política, No caso, trata-se de examinar um


o privilegiamento de elites – se transfor- novo modelo de desenvolvimento, e algumas
mam com a passagem do paradigma do propostas de construção da sustentabilidade
Estado Forte para o Estado Neoliberal? ecológica em várias áreas, originadas a par-
• Em que medida e como as mudanças do tir de lugares específicos de poder e de privi-
paradigma da Modernidade para o légios, com conseqüências de amplo alcance
Paradigma da Sustentabilidade se refletem social. Da nossa capacidade de desvendar
sobre a evolução das políticas públicas e os interesses implícitos nesse processo e de
da ação coletiva relacionadas ao enfren- produzir dele um entendimento o mais cla-
tamento dos problemas de abastecimento ro possível, depende a construção da nossa
de água nas sociedades contemporâneas? própria significância enquanto cientistas da
• Quais as implicações da crescente merca- sociedade. Nesse sentido, chamamos a aten-
dorização da água, em termos de disponi- ção dos estudiosos da questão ambiental para
bilização e acesso ao recurso por parte dos as condições sócio-históricas em que emerge
diversos estratos sociais? esse debate sobre o Desenvolvimento Susten-
• Que conflitos emergem nos processos de tável e sobre as condições necessárias a sua
participação popular previstos nos Comi- consolidação enquanto perspectiva orien-
tês de Bacias? tadora das políticas para o meio ambiente.
• Como se dão as lutas de interesses entre Vale a pena relembrar o significado
corporações, governos e grupos popula- legitimador atribuído ao modelo de desen-
cionais pelo controle das águas em nível volvimento aqui focalizado por centros, ins-
mundial? titutos, grupos e programas de pesquisa das
universidades brasileiras sobre a temática,
Conclusão bem como pela constituição de um corpo de
especialistas no tema, absorvendo-o e o rea-
Não pretendemos fechar posição em firmando como um novo projeto social, ge-
torno de uma crítica inteiramente negativa ralmente de maneira acrítica, curiosamente
do conceito e do(s) modelo(s) de Desenvol- eliminando das análises produzidas justa-
vimento Sustentável e das propostas dele mente o que é inaceitável eliminar: as ques-
resultantes em várias áreas que emergem tões relativas aos jogos de poder e de inte-
como objetos da preocupação ambientalista. resses, que determinam significativamente as
Nosso objetivo é o de contribuir para provo- práticas efetivas no mundo real.
car um debate a respeito das abordagens que Enquanto se alega que a teoria e o
as ciências sociais têm construído a respeito modelo de Desenvolvimento Sustentável,
da crise ambiental e das propostas elabora- bem como as alternativas de enfrentamento
das para o seu enfrentamento. Nossa pers- das questões ambientais deles decorrentes
pectiva representa a constituição de uma estão em construção19, as estratégias e políti-
possibilidade de quebra do consenso que cir- cas apresentadas como desdobramentos da
cunda os discursos construídos em torno da reflexão que eles provocam vêm manifestan-
questão ambiental e das estratégias de do um alto poder de concretização sobre rea-
enfrentamento dos problemas ecológicos lidades sociais, sem que se alcancem modifi-
detectados, que representa, na maioria dos cações efetivas nos níveis de desenvolvimen-
casos, o distanciamento da construção de to econômico, social ou humano. O argumen-
uma reflexão científica mais produtiva, ca- to da provisoriedade e da inconclusão teóri-
paz de fornecer à sociedade como um todo, co-conceitual do paradigma da sustentabi-
e não apenas aos grupos dominantes, res- lidade oculta tanto a fragilidade teórica e
postas às questões cruciais tais como a da conceptual dessa noção quanto suas fortes
pobreza em que vivem amplos setores da implicações políticas. Com essa observação,
população mundial, a do subdesenvolvimen- afirma-se sua ênfase normativa e interven-
to, a do acesso a níveis dignos de qualidade cionista e sua capacidade de alavancar pro-
de vida, todas referidas à coletividade do cessos, o que coloca mais um ponto a ser
planeta, mas incapazes de mobilizar os es- analisado por aqueles cientistas sociais
forços coletivos para seu enfrentamento. interessados em desvendar os meandros do

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
24 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;
Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

debate acima mencionado, a saber, o âmbi- 9


Conceito desenvolvido por Fernandes (2000).
10
to das autoridades responsáveis pelas deci- Essa DEI é um exemplo de como embora os proble-
mas ambientais, tais como o da poluição, não respei-
sões supra-nacionais, nacionais, subnacio- tem fronteiras nacionais ou regionais, as soluções
nais e globais e sua força de atuação sobre “globais”, defendidas pelos países desenvolvidos,
pessoas, grupos e instituições, sobre os quais perpetuam as relações colonialistas de dependência.
tomam decisões, canalizando e interiorizan- As imagens das cidades poluídas do Terceiro Mundo –
se raciocinarmos em termos de países –, abundam na
do o modelo e estratégias formuladas sob o
mídia, sem que se propague e reconheça a responsa-
rótulo do Desenvolvimento Sustentável20. bilidade dos países do Primeiro Mundo, que conso-
mem 80% do alumínio, do papel do ferro e do aço do
Notas mundo; 75% da energia mundial; 75% dos peixes;
1
61% da carne mundialmente produzida, além de se-
Por exemplo: “está nas mãos da humanidade fazer rem responsáveis por 70% da destruição da camada
com que o desenvolvimento seja sustentável” de ozônio através de CFCs (cf. RENNER, 1997). Em-
(Nuestro Futuro Común, 1987, p.29, tradução nossa). bora estejamos analisando o nível de comparação
2
A própria idéia de “necessidades presentes” é difícil entre países, o raciocínio é o mesmo, quando são pro-
de precisar, já que estas variam de acordo com a re- pagadas imagens da periferia das cidades em termos
gião, com a classe social, só para mencionar algumas de populações distribuídas espacialmente em termos
das possíveis variáveis influenciadoras neste ponto. de poder aquisitivo, nas campanhas de “educação
3
Conforme Rist (1997): “As sugestões são limitadas a ambiental”, em argumentações a respeito da relação
uma série de esperanças (por exemplo, de uma maior entre a degradação ambiental e a pobreza, e nos dis-
assistência internacional para projetos de preserva- cursos ideológicos destinados a produzir a adesão
ção do Meio Ambiente, ou mais recursos para orga- dos indivíduos a campanhas de racionamento do uso
nizações que tratam com problemas ecológicos), ou de recursos naturais, a exemplo da água, por exemplo,
a apelos solenes por um gerenciamento mais eficiente onde os sacrifícios são apresentados como sendo se-
dos recursos disponíveis. A despeito de suas afirma- melhantes para todos.
ções de que os problemas precisam ser atacados em 11
Chega a ser irônica a proposição de que os países
sua raiz, a Comissão faz pouco mais do que distribuir pobres (ou os indivíduos pobres) do mundo preci-
recomendações para todos: agências internacionais, sem ser “austeros” em seu uso dos recursos naturais,
governos, ONGs e indivíduos. Todos seus membros enquanto as nações ricas (e os indivíduos ricos) con-
estão indubitavelmente preocupados com os proble- tinuem a desfrutar de altos padrões de vida, inclusive
mas, e eles repetem que algo precisa ser feito, mas o somente possibilitados pelas austeridade das nações
que eles sugerem são medidas mais paliativas (reci- pobres (ou dos indivíduos pobres).
clagem e racionalização) do que mudanças radicais”. 12
Embora não possamos discutir neste trabalho esses
4
Nas sociedades cuja base econômica é industrial, o três elementos e sua relação com as tendências
desenvolvimento torna possível aumentar a produção neocolonizadoras presentes em muito das políticas
pelo uso das reservas num ritmo que não depende ambientais mundiais atualmente em processo de
do tempo necessário para sua reposição, mas do esta- implementação, recomendamos o excelente artigo
do de desenvolvimento tecnológico. Naquelas onde de Banerjee (2001), intitulado Who Sustains Whose
a economia é baseada, principalmente, nas florestas, Development? Sustainable Development and the Reivention
nas plantas e nos animais, as coisas são completa- of Nature, sobre o tema.
mente diferentes. Para estas, a produção somente é 13
Nesse sentido, Mies & Shiva (1993) comentam os
incrementada se for respeitado o ritmo de sua recu- riscos de que o ambientalismo tenha efeitos simila-
peração, havendo pouca ou nenhuma possibilidade res aos do “desenvolvimentismo”: ao invés de forta-
de armazenamento. lecer as populações camponesas, indígenas, geral-
5
Como bem colocou Rist (1997): “A principal contra- mente parcelas pobres da população em todo o mun-
dição do Relatório de Brundtland, portanto, é que a do, as políticas ambientais conservacionistas transfe-
política de crescimento proposta como uma forma rem o controle dos direitos e dos recursos para insti-
de reduzir a pobreza e estabilizar o ecossistema difi- tuições nacionais e internacionais de financiamento.
cilmente difere da política que historicamente abriu 14
Conforme Gladwin et al. (1995), apud Banerjee (2001,
o hiato entre ricos e pobres e que colocou o meio p.7)
ambiente em perigo (por causa dos diferentes ritmos 15
É possível encontrar projetos dos mais variados tipos,
de crescimento que podem ser atingidos, dependendo anunciados como sendo “de Desenvolvimento Sus-
do uso de recursos renováveis ou não renováveis)”. tentável”. Desde um Projeto de Beneficiamento de
6
Conforme Fernandes (2001). Babaçu – atingindo 14 famílias, num total de 300 resi-
7
Essa tendência é particularmente observada no que dentes na comunidade atingida –, passando por outro
se refere à análise da maior parte da produção dos de Alfabetização de Adultos, bem como um de cons-
cientistas sociais a respeito da questão ecológica e do trução de 1 milhão de cisternas em estados do Nordes-
modelo de Desenvolvimento Sustentável. te do Brasil. Para uma análise perspicaz de como qua-
8
De acordo com Giddens (1991), a reflexividade como se tudo pode ser incluído como projeto de Desenvol-
mecanismo estruturante da sociedade determinaria vimento Sustentável, sem que se observe efetivamente
que a mesma seria crescentemente moldada pela os sinais do que é definido como desenvolvimento no
possibilidade de circulação de informações através âmbito desse conceito, ver a tese de Fernandes (2001),
da totalidade do tecido social. que teve como corpus de estudo empírico uma signifi-

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.
Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do 25
desenvolvimento sustentável

cativa área da Amazônia Brasileira. COMISSION MUNDIAL DEL MEDIO AMBIENTE Y


16
Como se a realidade nessa área não fosse também DEL DESAROLLO. Nuestro Futuro Común. Madrid:
determinada pelos fatores econômicos, políticos e Espanha, 1987.
sociais, que mereceriam atenção, pelo menos, equi- FERNANDES, M. Implicações teóricas e práticas do
valente, e eram objeto de mobilização popular nos Desenvolvimento Sustentável: um estudo do projeto
períodos anteriores à emergência avassaladora da piloto para a proteção das florestas tropicais - PPG7.
preocupação ambiental na região. Tese de Doutorado - PPGS/UFPE, 2001.
17
Redclift (1995) já menciona uma certa forma de GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo:
integração dos cientistas sociais nos projetos de avalia- Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991.
ção e gestão ambiental muito próxima da atividade
GIDDENS, A. A vida em uma sociedade pós-tradicional.
dos assistentes sociais, que, embora não deva ser des-
In: GIDDENS, A. et al. Modernização Reflexiva: política,
valorizada, significa uma redução da abrangência do
tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo:
papel a ser desempenhado pelos cientistas sociais no Editora da Universidade Estadual Paulista, 1998. p. 73-133.
enfrentamento das questões envolvidas na relação
entre sociedade e meio ambiente. GLADWIN, T. N.; KENNELY, J. J. & KRAUSE, T. Shifting
18
Conforme FERNANDES (2001). paradigm for sustainable development: implications
19 for management theory and research. In: Academy of
Isso sempre que é objeto de quaisquer críticas.
20 Management Review, 20/4, 1995. p. 874-907.
Dois exemplos disso seriam, em primeiro lugar, a
transferência do Tratado de Cooperação Amazônica, HART, S. L. Beyond greening: strategies for a
de Manaus para Brasília, dentro da proposta de forta- sustainable world. In: Harvard Business Review, p. 7-76,
lecimento institucional do PPG7; em segundo, o re- January/February, 1997.
conhecimento do fato de que agências supra-nacio- LATOUR, B. Jamais fomos modernos.Tradução de Carlos
nais operam e formulam programas de cooperação e Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.
de formação, sob o rótulo do Desenvolvimento Sus- LYOTARD, J.-F. A Condição pós-moderna. Tradução de
tentável, utilizando como critério de aprovação dos Ricardo Corrêa Barbosa. 3.ed. Rio de Janeiro, José
projetos o compromisso e a relação discursiva com Olympio Editora, 1988.
este modelo.
MIES, M. & SHIVA, V. Ecofeminism. Melbourne: Spinifex
Press, 1993.
Referências PEARCE, D., MARKANDIA, A. & BARBIER, E.B.
Blueprint for a green economy. London: Earthscan, 1989.
BANDYOPADHYAY, J. & SHIVA, V. Political Economy REDCLIFT, M. Sustainable Development: Exploring the
of Ecologic Movements. In: Dossier IFDA, n. 71, maio/ Contradictions. Londres: Methuen, 1987.
junho de 1989.
RENNER, M. Fighting for survival: environmental
BANERJEE, S. B. Who Sustains Whose Development? decline, social conflict and the new age of insecurity.
Sustainable Developmente and the Reivention of London; Earthscan Publications, 1997.
Nature. Cópia digitada, 2001.
RIST, G. The History of Development: from Western
BANERJEE, S. B. Globalisation, Sustainable Origins to Global Faith. New York: Zed Books, 1997.
Development and ecology: a critical examination. In: SACHS, W. (Ed.) Dicionário do Desenvolvimento.
C.P. RAO (ed.). Globalization, privatization and the market Petrópolis: Vozes, 2000.
economy. Connecticut: Quorum Books, 1998.
SHIVA, V. Biodiversity: Social and Ecological
BEDER, S. Revoltin developments: the politics of Perspectives. London: Zed Books,1991.
sustainable Development. In: Arena Magazine. [s.l.],
VISVANATHAN, S. Mrs Brundtland’s disenchanted
June-July, 37-39, 1994.
cosmos. Alternatives, 16/3, p. 377-384, 1991.

INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

Você também pode gostar