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Por ter sido reconhecida como a marca da resistência no período de luta contra o
poder colonizador em Angola, a literatura desenvolveu um importantíssimo papel na
construção de uma identidade angolana. No romance Luandino Vieira conta a história o
protagonista Domingos Xavier que era um tractorista morador de um musseque, que assim
como qualquer outro angolano da época, convivia com o iminente risco de ser sequestrado e
morto pelos agentes da PIDE (Polícia internacional de defesa do estado) caso fizesse
oposição às forças do domínio colonizador.
Do mesmo modo a obra é pautada na representação de fatos que exprimem o
silenciamento do povo angolano. No romance, a forma com que os personagens discutem
sobre o sumiço de um conhecido no começo do texto, trazem à tona a insatisfação dos
personagens com administração branca e colonizadora, evidenciando na narrativa a
necessidade da valorização da vida e dos costumes angolanos.
Eu sei você conheces bem Silvestre. Esse engenheiro te dá muita confiança,
eu te posso contar. Onde ele vai, eu vou também. Onde ele vai, arranja
sempre lugar para mim. Ele diz eu sou bom tractorista. Cheguei nesta hora,
me puseram logo no turno da noite. Um mês o turno não andou para mim, os
brancos só que faziam turno de dia, eu e o Carlitos, nada! (VIEIRA, 1979, 23
e 24)
Por outro lado, o personagem Domingos Xavier tinha como companheiro o
engenheiro Silvestre, que, apesar de branco e possuir maior posição hierárquica, também era
Angolano. A forma com que Domingos descreve o engenheiro, explicita um sentimento de
afeição ao companheiro, desta forma, percebe-se que o protagonista só admirava Silvestre
porque ele não compartilhava dos hábitos de seus semelhantes brancos. A fala do personagem
confirma esta percepção.
Não é daqueles brancos que te faz bem para você gostar dele, para ficar
satisfeito porque o coração dele manda. Não! Esses eu conheço bem
mano Sousa! Esses eu conheço muito bem... Se você conhece um dia
nao comprimenta de tirar o chapéu, dizem logo és um ingrato, todos os
negros são assim, acabam te mandando no porto. Este não! Amigo
Sousa! Este, quem manda é a cabeça dele...(Vieira, 1979, -.22)
Logo depois que foi violentamente capturado e morto, Domingos Xavier se torna
símbolo da luta contra as forças colonizadoras, pois todos de Angola acreditam que a
liberdade vem através da resistência. No romance “A vida verdadeira de Domingos Xavier”
Luandino Vieira descreve uma situação que poderia acontecer a qualquer cidadão Angolano
daquela época que se opusesse ao regime colonizador. Na obra a presença das escolas e
clubes também servem como objetos de afirmação da identidade, propondo ao angolano
novas formas de lutar contra o sistema colonial, e a cultivar suas manifestações culturais e
preservar suas tradições.
Junto ao fato de que toda revolução precisa de um herói, é importante ressaltar que, a
forma com que Luandino usa de elementos da natureza para ilustrar o sofrimento de
Domingos que estava em cárcere, intensifica a presença da necessidade do estabelecimento
de uma identidade nacional angolana, uma vez que associa os sentimentos do personagem as
águas do Kwanza. No trecho abaixo podemos ver essa associação.
Mas o sono era como o KWANZA, nada lhe resistia. Deitado, se
deixou boiar no seu rio de criança, do planalto, que lhe tinha visto
nascer.(VIEIRA, 1979, -28)