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Cetoacidose diabética em crianças e adolescentes
Cetoacidose diabética em crianças e adolescentes

1. DEFINIÇÃO

A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação grave do diabetes mellitus (DM), resultante da
combinação de deficiência absoluta ou relativa de insulina associada ao aumento de hormônios
contrarreguladores (catecolaminas, glucagon, cortisol, GH) levando a estado de catabolismo acelerado.
Este mecanismo resulta em:

 Liberação de glicose pelo fígado, diminuição da utilização periférica de glicose causando


hiperglicemia e hiperosmolaridade;

 Aumento da lipólise e cetogênese, causando hipercetonemia e acidose metabólica;

 Diurese osmótica, desidratação e perda de eletrólitos (compartimentos intra e extracelular,


principalmente de potássio e fósforo).

É a primeira causa de mortalidade em crianças com DM1, podendo raramente ocorrer em crianças
portadores de DM2.

Define-se cetoacidose diabética através dos achados de

 Glicemia >200mg/dL;
 Acidose metabólica (pH<7,3 ou Bicarbonato<15);
 Cetonúria ou cetonemia moderada a alta.

2. DIAGNÓSTICO

As manifestações clínicas da CAD incluem:

 Poliúria, polidipsia e desidratação;


 Perda de peso;
 Dor abdominal, vômitos;
 Hiperpnéia ou taquipnéia;
 Hálito cetônico;
 Rubor facial;
 Desidratação, taquicardia e sinais de má perfusão;

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PRATICA MEDICA ASSISTENCIAL MEDICO Aprovado
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DI.ASS.60.2 2 25/11/2014 23/08/2017
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Elda Maria Stafuzza Elda Maria Stafuzza Jose Leao de 23/08/2017
Gonçalves Pires Gonçalves Pires Souza Junior |
Mauro Dirlando
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 Sonolência, letargia ou coma;
 Déficits neurológicos específicos (que podem indicar edema cerebral).

A suspeita diagnóstica de CAD deve incluir, além de crianças sabidamente portadoras de DM,
também crianças sem este diagnóstico prévio, já que pode manifestar-se como a primo descompensação
do paciente.

É também importante definir a causa da descompensação, sendo os principais fatores de


descompensação:

 Controle inadequado;
 Perda de doses de insulina (principalmente em adolescentes);
 Estresse (infeccioso ou por outras causas);
 Medicações (corticosteróides, antipsicóticos, diazóxido, tiazídicos).

Para o diagnóstico e manejo adequados, são necessários os seguintes exames complementares:

 Glicemia;
 Eletrólitos (Na, K, Cai, P, Mg);
 Gasometria (arterial se necessário);
 Função renal;
 Osmolaridade;
 Hb/Ht ou HMG;
 Cetonemia ou cetonúria;
 Culturas se sinais de infecção;
 ECG se demora para dosagem de K+.

3. ESCORE DE GRAVIDADE

A intensidade das manifestações clínicas depende do grau de hiperosmolaridade, hipovolemia e


acidose apresentados.

Pode-se definir a gravidade da cetoacidose através do valor de pH sérico:

pH=7,2 a 7,3 – leve

pH=7,1 a 7,2 – moderada

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pH<7,1 – grave

4. TRATAMENTO

O tratamento da CAD visa:

 Reposição volêmica;
 Correção da hiperglicemia;
 Correção da acidose;
 Correção de distúrbios de potássio e fósforo;
 Monitorização e prevenção de complicações.

O uso da insulina é essencial para a correção da cetoacidose. A abordagem inicial inclui:

 Pesar o paciente;
 Avaliar grau de desidratação e nível de consciência;
 Assegurar vias aéreas;
 Acesso venoso periférico;
 Monitorização;
 O2 se sinais de choque;
 Identificar causada descompensação/ pesquisar infecção;
 Se febre, antibiótico após coleta de culturas;
 SVD (sondagem vesical de demora) se rebaixamento da consciência ou dificuldade de
controle da diurese.

O primeiro objetivo é a reposição volêmica, que deve ser feita quando possível de forma lenta, para
evitar a queda abrupta da glicemia e, consequentemente, da osmolaridade sérica. Deve-se manter a
vigilância para sinais de edema cerebral. Inicia-se, portanto, a correção volêmica utilizando-se soro
fisiológico IV da seguinte forma:

 10 a 20 mL/Kg/hora nas 2 primeiras horas;


 Reavaliação a cada hora e repetir de necessário;
 20 mL/Kg rápido se choque descompensado

A partir da segunda hora de tratamento, inicia-se a administração de insulina:

 Insulina regular 0,1 U/Kg/hora IV contínua;

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OU Insulina rápida (Lispro ou Aspart) 0,15U/Kg SC ou IM a cada 2 horas;

A insulina deve ser mantida até resolução da cetoacidose. Quando glicemia entre 200 e 250mg/dL
associar glicose a 5% (ou se queda da glicemia capilar superior a 90mg/dL/hora). Deve-se diminuir
insulina para 0,05U/Kg/hora se hipoglicemia (porém assegurar correção da cetoacidose).

O conteúdo corpóreo total de potássio é sempre depletado na ocorrência de CAD e o potássio sérico
irá sempre diminuir com a instituição do tratamento. Para controle do potássio sérico, utilizamos:

 Aguardar dosagem para indicar correção;


 Se hipopotassemia, iniciar reposição de K na primeira expansão (20mEq/L);
 Se K+ normal a aumentado, iniciar junto com a insulina e após documentar diurese (40mEq/L);
 Máximo de 0,5 mEq/Kg/hora.

De forma similar, também os níveis de fósforo deverão diminuir, porém a correção é necessária
apenas em caso de hipofosfatemia grave (P<1mg/dL) e pode ser feita acrescentando-se fosfato de
potássio, 10 a 20mEq/L, meio a meio com o cloreto de potássio.

Em relação à acidose, esta será corrigida com a correção da cetoacidose, através do uso da insulina.
Somente é necessária administração de bicarbonato de sódio em situações de gravidade mais extrema:

 Se pH<6,9, sinais de choque com falência miocárdica, hiperpotassemia grave;


 1 a 2 mEq/Kg em 60 min.

A partir da terceira hora de tratamento, inicia-se a fase de manutenção da volemia com reposição
das perdas. Neste momento, mantem-se a reposição da volemia utilizando-se soro fisiológico por um
mínimo de 4 a 6 horas, segundo a taxa de infusão descrita na Tabela 1.
a
Tabela 1: Taxa de infusão de SF à partir da 3 hora
Peso (Kg) Taxa de infusão (ml/Kg/hora)
4-9 6
10-19 5
20-39 4
40-59 3,5
60-80 3

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Após 6 horas, realiza-se a manutenção com soro com tonicidade mínima de 0,45%, com glicose a
5% e potássio, em velocidade de manutenção basal ou segundo a tabela acima, mantendo-se por 2 dias
e diminuindo-se conforme a aceitação de dieta oral.

Complicações

Possíveis complicações da CAD, a que se deve manter atenção, incluem:

 Edema cerebral;
 Fenômenos trombóticos (secundários a hemoconcentração);
 Arritmias cardíacas (secundárias a distúrbios eletrolíticos);
 Hipoglicemia.

O edema cerebral é uma complicação grave que incide em 0,5 a 1% dos casos de CAD e resulta em
mortalidade ou lesão permanente em até 30% dos casos. Sua etiologia não é completamente esclarecida
e relaciona-se principalmente à gravidade e ao tempo de evolução da CAD até o início do tratamento.
Para o diagnóstico clínico do edema cerebral, consideramos o escore de Muir (Quadro 1).

Quadro 1: Escore de sintomas (Muir) ao lado do leito


Para se configurar diagnóstico de edema cerebral pelo escore, devem ser encontrados critérios
definitivos ou dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores.

Critérios de Diagnóstico de edema cerebral:


- Presença de postura de descerebração ou decorticação
- Paralisia de nervos cranianos (especialmente III, IV e VI)
- Resposta motora ou verbal anormal à dor
- Padrão respiratório alterado (gasping ou respiração de Cheyne - Stokes)

Critérios Major
- Alteração do estado mental/ flutuação do nível de consciência
- Desaceleração da frequência cardíaca (declínio de mais do que 20 batimentos por minuto) não
atribuíveis a melhora do volume intravascular e ao sono
- Incontinência inapropriada para a idade

Critérios Minor
- Vômitos
- Cefaleia
- Letargia ou dificuldade de ser despertado do sono
- Pressão diastólica > 90 mmHg
- Idade < 5anos

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O tratamento do edema cerebral na CAD inclui:

 Diminuir taxa de infusão de fluidos em 1 terço;


 Manitol 0,1 a 1g/Kg em 20 minutos, repetir se não melhora em 30 min a 2 horas;
 OU NaCl 3% 5ml/Kg em 30 minutos;
 Elevação da cabeceira;
 IOT;
 Tomografia de crânio (afastar trombose/ hemorragia se má resposta).

6. TABELA PARA ORIENTAÇÃO DE TRATAMENTO

HORA Hidratação Insulina Potássio Fósforo Bicarbonato Exames


1 SF 10 a 20 Não 20mEq/L se Se pH<6,9, Exames iniciais
ml/Kg/hora; hipopotassemi choque com
20 ml/kg aberto a falência
se choque miocárdica ou
descompensado, hiperpotassem
reavaliar e ia grave, 1 a 2
repetir se mEq/Kg em 1
necessário hora
2 SF 10 a 20 Regular IV Se K+ normal Se Dextro,
ml/Kg/hora contínua a aumentado, P<1mg/dL, gasometria,
0,1U/Kg/hora 40 mEq/L, Fosfato de eletrólitos,
OU Lispro ou iniciar quando potássio 10 cetonemia ou
Aspart 0,15 documentada a 20 mEq/L cetonúria
3a6 SF conforme U/Kg IM ou diurese ao meio Dextro,
Tabela 1 SC 2/2 hs, com o KCl gasometria,
manter até eletrólitos,
resolução da cetonemia ou
CAD (pH>7,3 cetonúria de 2
e Bic>15), em 2 horas
6 a 48 Manutenção pode ser Dextro,
com soro modificado se gasometria,
isotônico com queda eletrólitos,
glicose 5% e K+, abrupta da cetonemia ou
diminuindo glicemia cetonúria a cada
conforme 3 a 6 horas
aceitação
alimentar

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Consensus Statement - International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes – ISPAD –
2007.
2. Muir A, Rosenbloom A et al. Cerebral edema in childhood diabetic ketoacidosis: natural history,
radiographic findings and early identification. Diabetes Care 2004: 27: 1541–1546.

8. ELABORAÇÃO DESTE DOCUMENTO

Autora: Cristina Quagio Grassiotto.

RESUMO

Descrição em forma de resumo para acesso em meios alternativos de conectividade como tablets ou
celulares

ANEXOS

DOCUMENTOS RELACIONADOS

DESCRIÇÃO RESUMIDA DA REVISÃO

00

Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires (25/11/2014 10:15:12 AM) - Diretriz de atendimento da cetoacidose
nas UPAs e UTI Pediátrica.

Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires (21/08/2017 09:11:39 AM) - Diretriz atualizada.

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