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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
FÍSICA LICENCIATURA

JOÃO PAULO DA SILVA

CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA

ARAPIRACA
2018
JOÃO PAULO DA SILVA

CAMPOS ELÉTRICOS NA MATÉRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresen-


tado ao Corpo docente do curso de Física
Licenciatura da Universidade Federal de
Alagoas - UFAL, campus Arapiraca.

Orientador: Prof. Dr. Samuel Silva de Al-


buquerque

ARAPIRACA
2018
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter me auxiliado nos momentos de mais dificul-
dades em minha vida.
À minha família, em especial à minha mãe Maria Salete, às minhas irmãs Ana Paula,
Vanila e Carol que sempre estiveram presentes nos meus momentos de dificuldades e me
apoiaram em tudo.
Ao meu orientador Prof. Dr. Samuel Silva de Albuquerque, com o qual aprendi muito
dos conceitos que domino hoje.
Aos professores Me. Wagner de Oliveira Costa Filho e Dra . Maria Lidiane Omena
da Silva Leão, os quais pertenceram à minha banca examinadora, ótimos mestres com
quem tive a oportunidade de ser discente de algumas disciplinas ministradas por eles e
aprimorar meu conhecimento.
Ao Prof. Dr. André de Lima Moura um grande mestre, o qual também foi meu
professor em algumas disciplinas e com quem aprendi muito do que sei hoje.
Aos meu amigos, aos quais tenho grande estima e consideração.
A todos vocês, o meu muito obrigado!
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo abordar os processos de eletrização relacionados


a um corpo qualquer, bem como da relação entre a força elétrica e os campos elétricos na
eletrostática. Além de analisar os processos de criação desses campos e sua correlação com
outras grandezas físicas de natureza elétrica, como potencial elétrico e assim por diante.
Este estudo também mencionará a ação dos mesmos na matéria, visando a aplicação desses
campos em meios dielétricos lineares e moléculas polares. Dessa forma, observaremos que
um dos principais efeitos dessa ação será o efeito de polarização da matéria, ao contrário
do vácuo que não pode sofrer esse processo. E assim, será visto que a matéria constituinte
de qualquer outro meio que não seja o vácuo, pode ser polarizada, gerando dipolos elétricos
em sua estrutura atômica e molecular a partir da ação de um campo elétrico externo.

Palavras-chave: Eletrização. Campos elétricos. Matéria.


ABSTRACT

The present work has as objective to approach the processes of electrizaction related to
any body, as well as the relation between electric force and electric fields in electrostatics.
In addition to analyzing the process of creating these fields and their correlation with
other physical quantities of an electric nature, such as electrical potential and so on. This
study will also mention the action of the same in the matter, aiming the application of
these fields in linear dielectric means and polar molecules. In this way, we will observe
that one of the main effects of this action will be the polarization effect of matter, unlike
the vacuum that can not undergo this process. And so, it will be seen that the constituent
matter of any medium other than the vacuum, can be polarized, generating electric dipoles
in its atomic and molecular structure from the action of an external electric field.

Keywords: Electrizaction. Electric fields. Matter.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Charles François de Cisternay du Fay (1698-1736) 12


Figura 2 - Benjamim Franklin (1706-1790) 13
Figura 3 - Robert A. Millikan (1868-1953) 14
Figura 4 - Eletrização por atrito entre um pano de seda e uma barra de vidro 15
Figura 5 - Processo de eletrização por contato entre corpo positivo e corpo neutro 17
Figura 6 - Interação à distância entre indutor e induzido 17
Figura 7 - Eletrização por indução e aterramento do corpo induzido 18
Figura 8 - Eletrização por indução concluída 18
Figura 9 - Força elétrica entre partícula de carga fonte q e partícula com carga de prova Q 21
Figura 10 - Interação entre cargas elétricas de sinais opostos e iguais 22
Figura 11 - Força elétrica devido à superposição de cargas fontes discretas 23
Figura 12 - Linhas de campo elétrico geradas por cargas pontuais 24
Figura 13 - Campo elétrico devido à superposição de cargas fontes discretas 25
Figura 14 - Campo elétrico devido à uma distribuição contínua de carga 26
Figura 15 - Campo elétrico devido a um disco uniformemente carregado de densidade
superficial de cargas σ 27
Figura 16 - Gráfico do módulo do campo elétrico devido a um disco carregado 30
Figura 17 - Gráfico do módulo do campo elétrico devido a uma carga pontual 32
Figura 18 - Dipolo elétrico formado por uma carga positiva q+ e outra negativa q− ambas
separadas por uma distância d 33
Figura 19 - Átomo neutro antes da ação de um campo elétrico externo 35
Figura 20 - Polarização de um átomo 35
Figura 21 - Material dielétrico de natureza polar isento de campo elétrico externo 37
Figura 22 - Material dielétrico polarizado devido a presença de um campo elétrico externo 37
Figura 23 - Molécula de água H2O e seu momento de dipolo 38
Figura 24 - Molécula de dióxido de carbono CO2 38
Figura 25 - Torque de um dipolo devido a um campo elétrico externo 39
Figura 26 - Indução de campos elétricos em um dielétrico 42
Figura 27 - Dipolo elétrico formado por cargas pontuais 49
Figura 28 - Representação vetorial em espaço tridimensional 53
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Série triboelétrica de alguns materiais 16


Quadro 2 - Polarizabilidade atômica de alguns elementos medidas em unidades de
(10−30C2m/N) 36
Quadro 3 - Alguns materiais e suas constantes dielétricas à pressão de 1atm e temperatura de
200 C 46
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10
2 CARGAS ELÉTRICAS E ELETRIZAÇÃO 12
2.1 Cargas elétricas 12
2.2 Eletrização 14
2.2.1 Eletrização por atrito 15
2.2.2 Eletrização por contato 16
2.2.3 Eletrização por indução 17
2.3 Materiais condutores e isolantes 19
2.3.1 Condutores 19
2.3.2 Isolantes 19
2.3.3 Diferenças entre condutores e isolantes 19
3 FORÇAS E CAMPOS ELETROSTÁTICOS NO VÁCUO 21
3.1 Lei de Coulomb (força eletrostática) 21
3.2 Campos eletrostáticos 23
3.2.1 Linhas de campo 24
3.2.2 Distribuições discretas de carga 24
3.2.3 Distribuições contínuas de carga 25
3.2.3.1 Campo elétrico devido a um disco uniformemente carregado 27
3.3 Obtenção do campo elétrico pelo potencial 31
3.3.1 Campo elétrico de uma carga pontual obtido pelo gradiente do potencial elétrico 32
4 AÇÃO DE CAMPOS ELÉTRICOS EM MEIOS MATERIAIS 33
4.1 Polarização 33
4.1.1 Dipolos elétricos 33
4.1.2 Campo elétrico de um dipolo 34
4.1.3 Dipolos induzidos 34
4.2 Materiais dielétricos 36
4.2.1 Ação do campo elétrico externo a um dielétrico 36
4.3 Ação de campos elétricos em moléculas polares e apolares 37
4.3.1 Torque de um dipolo elétrico em uma molécula polar devido a um campo elétrico
externo 39
4.4 Polarização em materiais dielétricos 40
4.4.1 Densidade das cargas de polarização em materiais dielétricos 41
4.5 Campo induzido no interior dos dielétricos 42
4.5.1 Lei de Gauss na presença dielétricos 43
4.5.2 Comparação entre o campo elétrico e o deslocamento elétrico 44
4.6 Dielétricos lineares isotrópicos 44
4.6.1 Permissividade do meio e suscetibilidade elétrica 45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 47
REFERÊNCIAS 48
APÊNDICE A - POTENCIAL DE UM DIPOLO ELÉTRICO 49
1
APÊNDICE B - SOLUÇÃO ANALÍTICA DO GRADIENTE ⃗ ∇' ()
r
53

APÊNDICE C - DEDUÇÃO ANALÍTICA DO ROTACIONAL DO CAMPO


ELÉTRICO NA ELETROSTÁTICA 56
10

1 INTRODUÇÃO

Os fenômenos elétricos são muito comuns na natureza, associados a eles, temos gran-
dezas físicas que medem a intensidade dos mesmos. Assim, como a força elétrica dada
pela lei de Coulomb, que possui associação com a interação entre as cargas elétricas de
uma determinada distribuição qualquer. Outra grandeza presente nessa conjectura, é o
campo elétrico; os campos elétricos são quantidades físicas de características vetoriais,
assim como a força elétrica, que também possui características vetoriais. Tais campos são
criados pelas cargas elétricas presentes em um corpo qualquer, podendo esse corpo ser
uma partícula (um corpo de dimensões desprezíveis) ou um corpo extenso.
Com relação às cargas e aos campos elétricos, temos a criação de linhas referentes à
própria natureza das mesmas, originadas a partir das cargas fontes em questão de uma
partícula ou corpo extenso eletrizado.
Diante disso, temos que a intensidade do campo elétrico decai; onde isso ocorre com o
inverso do quadrado da distância de um ponto qualquer fora da origem, que é justamente
um ponto de referência; o qual descreve a localização de uma carga fonte. A partir desse
ponto de referência, as linhas de campo elétrico são geradas e passam a se distribuir
pelo espaço distanciando-se umas das outras, reduzindo a concentração das mesmas pelo
espaço (HALLIDAY; RESNICK, 2008). Diminuindo, com isso, a intensidade do campo
elétrico.
Naturalmente, os campos elétricos estão associados à força eletrostática, sendo o
campo elétrico a região na qual a carga fonte sente a presença da carga de prova. Podendo
essa outra carga ser uma partícula com intensidade muito pequena de forma a não causar
distorções nestas linhas; com isso, o campo elétrico por sua vez não se torna dependente
dessa, mas somente da carga fonte de onde as linhas de campo são geradas e emitidas
(HALLIDAY; RESNICK, 2008).
Dessa forma, temos que os campos elétricos são essenciais para que uma partícula
carregada sinta a presença de outra no espaço que as cerca, onde a mesma pode estar
tanto no vácuo ou em algum meio material. E, no que se refere a atuação desses campos
na matéria, os átomos e corpos neutros sofrem redistribuições de carga em suas estruturas
atômicas e moleculares a partir da ação de um campo elétrico externo, formando, assim
dipolos elétricos e também campos induzidos de natureza elétrica nesses meios materiais
(GRIFFITHS, 2011).
Neste trabalho, o primeiro capítulo focará o estudo das cargas elétricas e dos processos
de eletrização, tanto de materiais condutores como de isolantes. Em relação ao segundo
capítulo, no mesmo será abordada a força eletrostática de interação entre as cargas de
uma distribuição qualquer, da criação e atuação de campos eletrostáticos no vácuo, bem
como da associação de tais campos com outras grandezas de natureza elétrica, assim como:
o fluxo, o potencial elétrico e etc. Com relação ao terceiro capítulo, neste analisaremos
11

os efeitos da polarização em átomos, moléculas e meios dielétricos lineares isotrópicos,


bem como do estudo dos dipolos elétricos e induzidos; sendo o segundo, respectivamente,
causado pela ação de campos elétricos externos nos meios em questão.
12

2 CARGAS ELÉTRICAS E ELETRIZAÇÃO

2.1 Cargas elétricas

Carga elétrica é algo que naturalmente já existe em toda matéria, ou seja, é uma pro-
priedade inerente à própria existência da mesma. E relacionado a isso, a carga apresenta
os seguintes valores para suas polaridades, sendo esses negativo ou positivo. Diante disso,
vemos que a diferença dos corpos neutros em relação aos carregados está na carga líquida
dos mesmos (HALLIDAY; RESNICK, 2008).
Onde nos corpos neutros, as cargas tanto positivas quanto negativas possuem a mesma
quantidade. Cargas essas, às quais denominamos de elétrons (cargas negativas), prótons
(cargas positivas) (HALLIDAY; RESNICK, 2008). O fato de existirem dois tipos dife-
rentes de cargas, aconteceu devido às descobertas de Charles François du Fay no ano de
1733 (NUSSENZVEIG, 1997).

Figura 1 - Charles François de Cisternay du Fay (1698-1736).

1
Fonte: Domínio público (2017).

Quando ele mostrou que duas amostras do mesmo material, neste caso, ele utilizou
âmbar, ao serem eletrizadas por atrito com um tecido e quando colocadas em contato
repeliam-se. No entanto, ele observou que uma amostra de vidro eletrizado atraia o
âmbar, assim o tipo de carga que chamou de “vítrea”, tempos depois foi denominada por
Benjamin Franklin de positiva, e a “resinosa” denominou de negativa (NUSSENZVEIG,
1997).
1
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Du_Fay. Acesso em: 13 ago. 2017.
13

Figura 2 - Benjamim Franklin (1706-1790).

2
Fonte: Domínio público (2017).

A partir dessas descobertas, Franklin percebeu que o processo de eletrização não cria
cargas, apenas as transfere de um objeto a outro, tendo essas cargas cada uma, um
determinado sinal. Observou que, o corpo que cede ficaria com uma carga de mesmo
valor absoluto, porém, de sinal contrário à que foi cedida. Com base nesta hipótese, foi
formulado um dos princípios fundamentais da física, que é a lei de Conservação da Carga
Elétrica (MACHADO, 2000). A qual é expressa por:

QTinicial = QTf inal . (1)

Onde QT , a carga total do sistema é dada por:

QT = q1 + q2 . (2)

E, como foi visto, QT não sofre alterações nem antes e muito menos depois do processo
de eletrização. Com relação as ideias de Franklin, ele acreditava que era a carga positiva
que era transferida de um objeto para o outro como um fluido. Porém, hoje já sabe-se,
que no processo de eletrização são as cargas negativas que são cedidas de um objeto a
outro, ou seja, são os elétrons que são transferidos.
Devido à continuação destes estudos, por pesquisadores voltados a essa área, foi com-
provado no final do século XIX que a carga elétrica é quantizada. Significando, assim,
que ela sempre é expressa em múltiplos inteiros de uma carga elementar e. Onde o valor
da mesma, tanto para o próton quanto para o elétron possui a mesma magnitude; porém
2
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Franklin. Acesso em: 13 ago. 2017.
14

com sinais contrários. Sua medição foi feita por Robert Andrews Millikan, no ano de
1909, em seu experimento com gotas de óleo (TIPLER; LLEWELLYN, 2001).

Figura 3 - Robert A. Millikan (1868-1953).

3
Fonte: Domínio público (2017).

E o valor encontrado para esta carga elementar, o qual é medido em coulombs(C),


vemos a seguir:

e = 1, 602177 × 10−19 C. (3)

Dessa forma, temos que a carga líquida Q de qualquer corpo será expressa sempre em
múltiplos inteiros da carga elementar e (TIPLER; MOSCA, 2006).

Q = ne. (4)

2.2 Eletrização

O átomo, em seu estado natural, têm cargas positivas (prótons) e negativas (elétrons) e,
devido ao fato de possuir em sua estrutura atômica o mesmo número de prótons e elétrons,
o átomo é eletricamente neutro. Para modificar essa determinada situação em um corpo
com átomos neutros, é necessário eletrizá-lo. Dizemos que um corpo está eletrizado ou
carregado quando a quantidade de prótons difere do número de elétrons (HALLIDAY;
RESNICK, 2008).
O nível de dificuldade encontrado em movimentar os elétrons dentro de um material,
podendo ser maior ou menor, por consequência; determina se o mesmo é isolante ou um
3
Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Andrews_Millikan. Acesso em: 28 dez.
2017.
15

condutor. Quanto ao processo de eletrização, temos vários tipos, os quais podem ocorrer
por: atrito, contato ou indução (HALLIDAY; RESNICK, 2008).

2.2.1 Eletrização por atrito

Neste tipo de eletrização, ao se friccionar um objeto ao outro, ambos inicialmente neu-


tros; o primeiro cede elétrons ao segundo, realizando assim, uma redistribuição de cargas
nos dois objetos e, consequentemente, gerando uma predominância de cargas positivas
em um objeto e deixando o outro com excesso de cargas negativas. Exemplo disso, temos
ao se friccionar uma barra de vidro em um pano de seda, o que causa uma transferên-
cia de elétrons do primeiro objeto (vidro) para o segundo (seda), deixando o primeiro
positivamente carregado e o segundo negativamente carregado (MACHADO, 2000).

Figura 4 - Eletrização por atrito entre um pano de seda e uma barra de vidro.

Fonte:Teoria do Eletromagnetismo, Machado, v. 1, 2000, p. 127.

Com relação ao sinal da carga adquirido por um objeto no processo de eletrização


por atrito. Esse fator, depende da substância com que é feito o outro objeto; a partir do
qual, o primeiro é atritado. Relacionado a esse tipo de eletrização, temos também a série
triboelétrica que define, sequencialmente, quais materiais perdem ou ganham elétrons ao
se realizar esse processo de eletrização.
Onde na sequência em que se encontram de cima para baixo, indica que o material de
baixo sempre recebe elétrons do que se encontra acima dele, ou seja, se fricciona-se (pele
de coelho) com (vidro), o (vidro) é que ficará com excesso de cargas negativas e assim
sucessivamente. Como pode-se observar abaixo:
16

Quadro 1 - Série triboelétrica de alguns materiais.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

2.2.2 Eletrização por contato

Esse processo de eletrização é muito comum ocorrer em materiais condutores, pois os


mesmos têm elétrons livres que podem migrar de um condutor para outro com grande
facilidade. Para esse processo ocorrer, temos que colocar em contato dois objetos; desse
modo, colocando-se em contato dois condutores: o primeiro eletrizado e o segundo neutro;
verifica-se que o segundo se eletriza com carga de sinal igual ao do primeiro condutor.
Assim, para os dois condutores: o primeiro e o segundo, esse processo de eletrização segue
o princípio da conservação das cargas elétricas. Onde antes e após o contato, a carga total
do sistema deve ser a mesma (MACHADO, 2000).
17

Figura 5 - Processo de eletrização por contato entre corpo positivo e corpo neutro.

Fonte:Teoria do Eletromagnetismo, Machado, v. 1, 2000, p. 130.

2.2.3 Eletrização por indução

Esse tipo de eletrização é a única que pode ocorrer sem que um objeto precise entrar
em contato com outro e, nesse processo de eletrização, temos que os corpos em questão
que induz a eletrização e o que é eletrizado, são respectivamente chamados de indutor e
induzido. Dessa forma, quando um corpo carregado é colocado próximo de um condutor
sem tocá-lo, essa ação induz uma distribuição de cargas no mesmo (MACHADO, 2000).

Figura 6 - Interação à distância entre indutor e induzido.

Fonte:Teoria do Eletromagnetismo, Machado, v. 1, 2000, p. 131.


18

Assim, por exemplo, se o corpo carregado possui carga positiva, a parte do induzido
mais próximo do indutor ficará com carga negativa, enquanto que a parte mais distante
irá ficar positivamente carregada. Se em seguida, o induzido for conectado a um outro
condutor tipo a Terra, que é um grande condutor, e essa conexão à mesma for por um
fio. Dessa forma, haverá um deslocamento de cargas negativas da Terra para o primeiro
condutor, o que nesse caso, é o corpo induzido; ocorrendo isso, através do contato entre
os dois condutores (MACHADO, 2000).

Figura 7 - Eletrização por indução e aterramento do corpo induzido.

Fonte:Teoria do Eletromagnetismo, Machado, v. 1, 2000, p. 131.

Porém, se o corpo carregado for afastado enquanto os dois condutores estiverem em


contato; então o induzido e o segundo condutor que, em questão, é a Terra voltam a ficar
neutros, mas se mesmo com a presença do corpo carregado, os dois condutores perderem
o contato. Diante disso, os mesmos adquirirão cargas permanentes, pois não haverá mais
como as cargas negativas passarem da Terra para o induzido.
Com isso, o primeiro condutor, que porventura é o corpo induzido, ficará com carga
negativa permanente; pois ele estava recebendo elétrons do segundo condutor, o qual era
a Terra (MACHADO, 2000).

Figura 8 - Eletrização por indução concluída.

Fonte:Teoria do Eletromagnetismo, Machado, v. 1, 2000, p. 131.


19

Caso, o corpo carregado possuísse carga negativa, o processo seria o mesmo, mas
com eletrização de sinal contrário para o corpo induzido. Como visto, esse processo
de eletrização é mais comum em condutores, pois eles possuem uma boa mobilidade de
cargas elétricas em sua superfície; diferentemente dos isolantes que não possuem uma boa
mobilidade de cargas em sua estrutura.

2.3 Materiais condutores e isolantes

Pode-se classificar os materiais de acordo com a facilidade com que as cargas elétricas
se movem no interior dos mesmos; nesse caso, as cargas elétricas seriam as de sinal negativo
(os elétrons), pois as cargas de sinal positivo (os prótons) não se movem nem no material
e nem mesmo nos átomos que compõem o material, assim temos:

2.3.1 Condutores

São materiais nos quais as cargas elétricas se movem facilmente em seu interior, neste
caso, as cargas estão livres em todo o material, podendo assim, realizar esse processo.
Como exemplo, desses tipos de materiais, temos: os metais, a água com sais minerais, o
corpo humano e etc. (HALLIDAY; RESNICK, 2008).

2.3.2 Isolantes

Diferentemente dos condutores, nos isolantes as cargas elétricas não se movem com
facilidade em seu interior, ou seja, as cargas estão presas aos átomos que compõem o
material; materiais esses, os quais são: plástico, borracha, vidro e etc. (HALLIDAY;
RESNICK, 2008).

2.3.3 Diferenças entre condutores e isolantes

As propriedades dos condutores e não-condutores se devem à estrutura e a natureza


elétrica dos átomos. Os mesmos, são formados por três tipos de partículas: os prótons, que
possuem carga elétrica positiva, os elétrons de carga negativa e os nêutrons que possuem
carga elétrica nula. Os prótons e os nêutrons ocupam a região central do átomo, conhecida
como núcleo.
Tanto a carga de um próton quanto a de um elétron isolados, ambas têm o mesmo
valor absoluto e sinais opostos; assim um átomo eletricamente neutro contém o mesmo
número de prótons e elétrons. Os elétrons são mantidos nas proximidades do núcleo porque
possuem uma carga elétrica oposta à dos prótons do núcleo e, portanto são atraídos para
o núcleo (HALLIDAY; RESNICK, 2008).
Quando os átomos de um material condutor como o cobre se unem para formar um
sólido, alguns dos elétrons mais afastados do núcleo que devido a localização no átomo são
atraídos por uma força menor, se tornam livres para vagar pelo material, deixando para
20

trás átomos positivamente carregados (íons positivos). Esses elétrons móveis recebem o
nome de (elétrons de condução). Os materiais não-condutores possuem um número muito
pequeno, ou mesmo nulo de elétrons de condução (HALLIDAY; RESNICK, 2008).
21

3 FORÇAS E CAMPOS ELETROSTÁTICOS NO VÁCUO

3.1 Lei de Coulomb (força eletrostática)

A força de interação elétrica entre dois corpos quaisquer carregados, fundamenta-se


na lei de Coulomb. Onde esses corpos podem ser extensos ou partículas.

Figura 9 - Força elétrica entre partícula de carga fonte q e partícula com carga de prova
Q.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Considerando-se, a seguinte soma vetorial:

r~00 = ~r + r~0 (5)

Adiante, obtemos as seguintes expressões matemáticas para ~r e seu versor r̂:

~r = r~00 − r~0 ; (6)

r~00 − r~0
r̂ = . (7)
|r~00 − r~0 |
22

Dessa forma, a lei de Coulomb é dada por:

1 |q||Q| ~00 ~0
F~ = (r − r ). (8)
4πo |r~00 − r~0 |3
Quando temos corpos carregados, eles sofrem interações entre eles próprios, onde será
repulsiva se as cargas possuírem sinais idênticos e atrativa se tiverem sinais opostos (TI-
PLER; MOSCA, 2006).

Figura 10 - Interação entre cargas elétricas de sinais opostos e iguais.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Como o meio em questão, no qual as cargas inseridas estão é o vácuo. Assim, para a
permissividade do vácuo o , a mesma apresenta o seguinte valor (HALLIDAY; RESNICK,
2008):

o = 8, 85 × 10−12 C 2 /N m2 . (9)

Se tivermos diversas cargas pontuais e escolhermos uma como carga de prova e as


demais como cargas fontes; teremos uma superposição das mesmas.
23

Figura 11 - Força elétrica devido à superposição de cargas fontes discretas.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Com isso, é notado que a força total F~ que agirá sobre a carga de prova, devido as
demais cargas; será dada a partir do princípio da superposição, logo:
n
1 X qi Q
F~ = F~1 + F~2 + F~3 + · · · + F~n = r̂i . (10)
4πo i=1 ri2

3.2 Campos eletrostáticos

Os campos elétricos, na eletrostática, são grandezas vetoriais relacionadas às cargas


elétricas de um determinado sistema. Sendo estacionárias, as mesmas e responsáveis pela
criação dos mesmos. Onde o campo elétrico, por sua vez, é medido em um ponto de
referência; no qual pode ou não conter uma carga de prova, podendo essa última, ser ou
não estática (GRIFFITHS, 2011).
24

3.2.1 Linhas de campo

As linhas de campo são responsáveis pela atuação dos campos elétricos no espaço. É
a partir delas que uma carga interage com a outra eletricamente.
Figura 12 - Linhas de campo elétrico geradas por cargas pontuais.

4
Fonte: Domínio público (2018).

Na figura acima, vimos o comportamento das linhas de campo elétrico no espaço


que cerca as cargas. Com isso, notamos o comportamento de repulsão e atração entre
as cargas de sinais iguais e opostos, respectivamente. Assim, como também vemos, o
campo elétrico é sempre tangente às linhas de campo, provenientes das cargas elétricas
(HALLIDAY; RESNICK, 2008).

3.2.2 Distribuições discretas de carga

Considerando a atuação de um campo elétrico, devido a uma carga fonte discreta, em


qualquer ponto do espaço, que circunda a mesma. Se uma segunda carga estiver presente
em algum ponto desse espaço e a mesma não causa perturbação no sistema em questão.
Então, além dessa segunda carga ser discreta, seu valor também será muito pequeno e,
tal carga com essas descrições, é chamada carga de prova. Diante disso, sabemos que a
carga fonte exerce uma força eletrostática sobre a carga de prova e vice-versa.

~
~ = lim F .
E (11)
Q→0 Q

Para uma configuração de cagas discretas, vemos a seguinte representação, na qual o


campo elétrico atua:
4
Disponível em: https://campoeletrico.wordpress.com/2014/02/14/linhas-de-campo/. Acesso
em: 14 jan. 2018.
25

Figura 13 - Campo elétrico devido à superposição de cargas fontes discretas.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

~ não depende da carga de prova


Desse modo, vemos que, o campo elétrico resultante E,
Q, mas somente da carga fonte qi e da distância que separa esta carga fonte de um ponto
qualquer fora da origem. E que o mesmo, assim, como a força elétrica segue o princípio
da superposição (GRIFFITHS, 2011).
n
~ = 1 X qi
E r̂i . (12)
4πo i=1 ri2

3.2.3 Distribuições contínuas de carga

Para distribuições contínuas de carga, o campo elétrico estará associado ao elemento


infinitesimal de carga dq, presente na estrutura de um corpo qualquer e também ao ele-
mento de volume infinitesimal dτ do mesmo. Diante disso, o campo elétrico total em um
ponto qualquer do espaço, será dado pela contribuição de todos os elementos infinitesimais
de carga presentes no corpo em questão (GRIFFITHS, 2011).
26

Figura 14 - Campo elétrico devido à uma distribuição contínua de carga.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

~ devido a esse elemento de carga dq; será expresso por:


Com isso, o campo elétrico dE

~ = 1 dq
dE r̂i . (13)
4π0 |~ri |2
Sendo o elemento de carga dq, associado à distribuição contínua de carga, dado por:

dq = ρ(r~0 )dτ. (14)

Sabendo que:

~ri = r~00 − r~0 . (15)

E para o versor r̂i , temos:


~ri (r~0 − r~00 )
r̂i = = 0 . (16)
|~ri | |r~ − r~00 |
Onde integrando-se dE~ a partir da equação (13), obtemos o campo elétrico para uma
distribuição contínua de carga sobre todo o espaço.
27

ρ(r~0 )(r~00 − r~0 )


Z
~ = 1
E dτ. (17)
4π0 τ |r~00 − r~0 |3

3.2.4 Campo elétrico devido a um disco uniformemente carregado

Como foi mencionando anteriormente, as cargas elétricas podem se encontrar distribuí-


das por um corpo independentemente de sua forma. Assim, para corpos bidimensionais,
como um disco, sua distribuição de cargas pelo mesmo será do tipo superficial. Como
podemos ver através da seguinte figura:

Figura 15 - Campo elétrico devido a um disco uniformemente carregado de densidade


superficial de cargas σ.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Onde o campo elétrico dE, ~ devido ao elemento de carga dq, associado a uma distri-
buição contínua de carga, é deduzido por:

~ = 1 dq
dE r̂. (18)
4π0 |~r|2
Onde a partir da seguinte soma vetorial:

~r = r~00 + r~0 . (19)


28

E para o módulo |~r|, e seu versor r̂, temos:

|~r| = |r~00 + r~0 |; (20)

~r (r~00 + r~0 )
r̂ = = 00 . (21)
|~r| |r~ + r~0 |
Para dq, associado ao elemento de área dS, temos:

dq = σ(r~0 )dS. (22)

Com base nisso, seguimos com:

~ = 1 σ(r~0 )dS (r~00 + r~0 )


dE . (23)
4π0 |r~00 + r~0 |2 |r~00 + r~0 |
~ a partir da equação (23), obtemos a seguinte integral
Fazendo-se a integração de dE
de superfície:

(r~00 + r~0 )σ(r~0 )


Z
~ = 1
E dS. (24)
4π0 S |r~00 + r~0 |3

Sendo a densidade superficial de carga σ(r~0 ) uniforme ao longo do disco, dessa forma
σ(r~0 ) = σ; sendo o elemento de área dS e o vetor r~0 em coordenadas polares, dados por:

0 0
dS = r dr dϕ; (25)

0 0
r~0 = r cosϕî + r senϕĵ. (26)

Adiante, seguimos com:

r~00 = z k̂; (27)

0 3
|r~00 + r~0 |3 = (z 2 + r 2 ) 2 . (28)
0
Tendo-se, os seguintes intervalos para as coordenadas r e ϕ:

0
0 ≤ r ≤ b; (29)

0 ≤ ϕ ≤ 2π. (30)
29

Assim, temos:
Z 2πZ b " 0 0 0
#
~ = σ zr k̂ + r 2 cosϕî + r 2 senϕĵ 0
E 3 dr dϕ. (31)
4π0 0 0 (z 2 +r ) 02
2

Para as seguintes integrais adiante:


Z 2πZ b 0 0 2π b 0 0
r 2 cosϕdr dϕ r 2 dr
Z Z
I2 = 3 = cosϕdϕ 3 = 0; (32)
0 0 (z 2 + r0 2 ) 2 0 0 (z 2 + r0 2 ) 2
Z 2πZ b 0 0 2π b 0 0
r 2 senϕdr dϕ r 2 dr
Z Z
I3 = 3 = senϕdϕ 3 = 0. (33)
0 0 (z 2 + r0 2 ) 2 0 0 (z 2 + r0 2 ) 2
Seguindo-se, vemos:
00 Z 2πZ b 0 0 Z 2π Z b 0 0

~ = σr
E
r dr dϕ
k̂ =
σz

r dr
k̂. (34)
02 3 3
4π0 0 0
2
(z + r ) 2 4π0 0 0 (z 2 + r0 2 ) 2
Aplicando-se, o teorema de Pitágoras.

0
r2 = z 2 + r 2 . (35)
0
E diferenciando-se a equação (35) em relação à variável r , temos:

0 0
rdr = r dr . (36)

Sabendo-se que r varia no seguinte intervalo:



z≤r≤ z 2 + b2 . (37)

Pois, a partir dos seguintes limites:

lim r = z; (38)
r0 →0


lim
0
r= z 2 + b2 . (39)
r →b

E para a seguinte integral:


√ √
Z 2π Z z 2 +b2 Z z 2 +b2
r r
I1 = dϕ 3 dr = 2π dr =⇒
0 z (r2 ) 2 z (r3 )

Z √
z 2 +b2  (−2+1) √z2 +b2  
1 r 1 1
=⇒ I1 = 2π dr = 2π = −2π √ −
z r2 −2 + 1 z z 2 + b2 z
.
30

Sabendo que:

1 1
>√ . (40)
z z + b2
2

Então, temos que:


 
1 1
I1 = 2π −√ . (41)
z z 2 + b2
Assim, a partir da equação (41) e sua aplicação em (34), obtemos o campo elétrico de
um disco.
 
~ = σ z
E 1− √ k̂. (42)
20 z 2 + b2
0
Chamando-se, a constante k de:

0 σ
k = . (43)
20
Com o esboço da curva do módulo do campo elétrico, vemos como o mesmo se com-
porta com variações ao longo do eixo z.

Figura 16 - Gráfico do módulo do campo elétrico devido a um disco carregado.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Diante disso, vemos como o campo elétrico decai à medida que a distância aumenta
ao longo do eixo z.
31

3.3 Obtenção do campo elétrico pelo potencial

Na eletrostática, onde os fenômenos elétricos ocorrem no vácuo e, que a partir deste


meio, temos um sistema do tipo conservativo para a ocorrência destes fenômenos. O
potencial elétrico V = V (x, y, z), se torna uma função dependente apenas das coordenadas
espaciais do sistema em questão.

∂V ∂V ∂V
dV = dx + dy + dz. (44)
∂x ∂y ∂z
Onde o gradiente do potencial V será:
 
~ = ∂V ∂V ∂V
∇V î + ĵ + k̂ . (45)
∂x ∂y ∂z
E, para o seguinte deslocamento infinitesimal d~l, temos:

d~l = dxî + dy ĵ + dz k̂. (46)

Seguindo-se;
 
∂V ∂V ∂V
dV = î + ĵ + k̂ · (dxî + dy ĵ + dz k̂). (47)
∂x ∂y ∂z
Adiante, obtemos:
~ · d~l.
dV = ∇V (48)

Assim, integrando-se dV a partir da equação (48), chegamos na seguinte integral de


linha:
Z
V = ~ · d~l.
∇V (49)
C

Desse modo, para a associação entre potencial e campo, temos:


Z
V =− ~ · d~l.
E (50)
C

Comparando-se, as duas expressões para o potencial elétrico.


Z Z
− ~ · d~l =
E ~ · d~l.
∇V (51)
C C

Portanto, em virtude disso, podemos escrever o campo elétrico da seguinte forma:

~ = −∇V.
E ~ (52)

Assim, para sistemas conservativos, o campo elétrico é descrito como o negativo do


gradiente do potencial elétrico.
32

3.3.1 Campo elétrico de uma carga pontual obtido pelo gradiente do potencial
elétrico

A partir do potencial elétrico devido a uma carga pontual.

1 q
V = . (53)
4π0 r
E utilizando a equação (52), com o uso da regra da potência para derivação, temos:
   
~ = −∇V
~ =⇒ E
~ =− d 1 q q d 1
E r̂ = − r̂ =⇒
dr 4π0 r 4π0 dr r

~ = − q d r−1 r̂ = q r−2 r̂
   
=⇒ E
4π0 dr 4π0
.
Assim, obtemos o campo elétrico de Coulomb para uma carga pontual.

~ = 1 q
E r̂. (54)
4π0 r2

A partir do esboço da curva do módulo do campo elétrico devido a uma carga pontual,
vemos como o mesmo se comporta em relação às variações ao longo da distância r.

Figura 17 - Gráfico do módulo do campo elétrico devido a uma carga pontual.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Assim, pode-se notar que o módulo do campo elétrico, tende a cair à medida que a
distância aumenta.
33

4 AÇÃO DE CAMPOS ELÉTRICOS EM MEIOS MATERIAIS

A ação dos campos elétricos em um meio qualquer, diferente do vácuo, pode desenca-
dear o processo de polarização do mesmo. Diante disso, o meio em questão apresentará
dipolos em sua estrutura, independentemente, do que seja constituído tal meio; desde que
esses campos não sejam muito intensos, pois podem ionizá-lo (GRIFFITHS, 2011). Porém,
para alguns meios materiais a existência de dipolos não é determinada pela polarização
dos mesmos, devido ao fato das moléculas constituintes de suas estruturas apresentarem
dipolos intrínsecos.

4.1 Polarização

Polarização na eletrostática, é um fenômeno responsável pela formação de dipolos elé-


tricos em corpos ou átomos inicialmente neutros. Com isso, no corpo ou átomo em questão,
as cargas presentes se reorganizam, formando dessa maneira dipolos nas estruturas dos
mesmos. Assim, podendo gerar campos elétricos provenientes desse efeito (GRIFFITHS,
2011).

4.1.1 Dipolos elétricos

Um dipolo elétrico é um sistema composto por duas cargas que possuem mesma mag-
nitude e sinais contrários; formando, desse modo, um sistema com carga total nula.

Figura 18 - Dipolo elétrico formado por uma carga positiva q+ e outra negativa q− ambas
separadas por uma distância d.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


34

Cujo potencial elétrico V (~r) é expresso por (Ver APÊNDICE A):

1 p~ · r̂
V (~r) = . (55)
4π0 r2

4.1.2 Campo elétrico de um dipolo

Para o campo elétrico de um dipolo, o mesmo é obtido através de:

~ dip = −∇V
E ~ dip . (56)

Onde no sistema de coordenadas esféricas, o operador gradiente é dado por:

~ = êr ∂ + êθ 1 ∂ + êϕ 1




. (57)
∂r r ∂θ rsenθ ∂ϕ
E, dessa forma, para as componentes do campo elétrico, temos:

∂V 1 2pcosθ
Er = − = ; (58)
∂r 4π0 r3

1 ∂V 1 psenθ
Eθ = − = ; (59)
r ∂θ 4π0 r3

1 ∂V
Eϕ = − = 0. (60)
rsenθ ∂ϕ
Assim, o campo elétrico de um dipolo pode ser reescrito em função das variáveis r e
θ, como pode-se ver a seguir:

~ dip (r, θ) = p
E (2cosθ êr + senθ êθ ). (61)
4π0 r3

4.1.3 Dipolos induzidos

Os dipolos induzidos ocorrem sempre devido à ação de um campo externo sobre um


material em questão que não apresenta dipolos intrínsecos em sua estrutura. Desse modo,
estando inicialmente um átomo em condição de neutralidade.
35

Figura 19 - Átomo neutro antes da ação de um campo elétrico externo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

~ não muito forte, externo a esse átomo;


Em seguida, aplica-se um campo elétrico E,
assim, o mesmo reagirá a essa ação do campo elétrico incidente, com uma redistribuição
de cargas em sua estrutura. Essa nova reorganização de cargas, por sua vez, formará
dipolos na estrutura deste átomo (GRIFFITHS, 2011). Como pode ser visto na figura
abaixo:

Figura 20 - Polarização de um átomo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Pois, o campo elétrico atrairá os elétrons que rodeiam o núcleo do átomo, por possuí-
rem carga negativa, e repelirá os prótons devido ao fato de apresentarem carga positiva.
Ocorrendo, assim, na mesma direção e sentido do campo aplicado (GRIFFITHS, 2011).
Devido a isso, o átomo apresentará um momento de dipolo p~, que estará alinhado com o
campo elétrico E~ (GRIFFITHS, 2011).

~
p~ = αE. (62)
36

Sendo a constante de proporcionalidade α entre o momento de dipolo p~ e o campo


~ chamada de polarizabilidade atômica; tendo sua magnitude determinada pela
elétrico E
estrutura atômica do elemento, tido como objeto de estudo (GRIFFITHS, 2011).

Quadro 2 - Polarizabilidade atômica de alguns elementos medidas em unidades de


(10−30 C 2 m/N ).

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

4.2 Materiais dielétricos

A partir de uma visão microscópica, um dielétrico (isolante) sob a ação de um campo


externo está sujeito a ação de dois fatores: os momentos de dipolo intrínsecos dos cons-
tituintes do dielétrico podem ser orientados na direção do campo externo, ou então, se o
material não tem dipolos intrínsecos, o campo externo pode provocar o aparecimento de
dipolos elétricos induzidos (MACHADO, 2000).

4.2.1 Ação do campo elétrico externo a um dielétrico

Uma importante característica dos materiais dielétricos é a propriedade de se polariza-


rem sob a ação de um campo elétrico. O processo de polarização de um material dielétrico,
frente a aplicação de um campo elétrico externo, corresponde a um processo de interação
entre as cargas elétricas presentes no meio dielétrico e o campo aplicado (GENTILINI,
2012).
37

Figura 21 - Material dielétrico de natureza polar isento de campo elétrico externo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

~ sobre o material dielétrico, vemos


Diante da aplicação de um campo elétrico externo E
~
como ocorre o processo de alinhamento dos dipolos na direção de E.

Figura 22 - Material dielétrico polarizado devido a presença de um campo elétrico externo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Isso ocorre para todos os dielétricos, tanto os de natureza polar como apolar, a dife-
rença apenas é que para os dielétricos polares os dipolos apenas se alinham na direção
do campo externo, enquanto que para os apolares dipolos induzidos são formados e em
seguida se alinham na direção do campo.

4.3 Ação de campos elétricos em moléculas polares e apolares

Moléculas polares são moléculas que possuem, naturalmente, momentos de dipolo p~


em sua estrutura (GRIFFITHS, 2011). Representando isso, temos a molécula de água
38

H2 O; onde os elétrons apresentam sempre a tendência de se aglomerarem em torno do


átomo de oxigênio, deixando os átomos de hidrogênio positivamente carregados.

Figura 23 - Molécula de água H2 O e seu momento de dipolo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Para esses tipos de moléculas, os momentos de dipolo intrínsecos p~ orientam-se na


direção do campo externo quando o mesmo é aplicado. Outras moléculas, como as de
Fosgênio COCl2 e a Amônia N H3 , também são exemplos de moléculas polares (GENTI-
LINI, 2012).
No caso de moléculas apolares, ao se incindir um campo elétrico sobre as mesmas, as
moléculas podem ter diferentes polarizações por direção (GRIFFITHS, 2011). Como um
exemplo disso, temos a molécula de dióxido de carbono CO2 :

Figura 24 - Molécula de dióxido de carbono CO2 .

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).


39

A qual apresenta uma polarizabilidade atômica de 4, 5 × 10−40 C 2 m/N , ao longo de


seu eixo, quando um campo elétrico age nessa direção e uma polarizabilidade atômica de
2, 0 × 10−40 C 2 m/N , quando campos elétricos são aplicados nas direções perpendiculares
ao seu eixo (GRIFFITHS, 2011).

4.3.1 Torque de um dipolo elétrico em uma molécula polar devido a um campo


elétrico externo

No caso de incidir sobre uma molécula polar um campo elétrico externo E, ~ sendo
esse campo uniforme, a força que atuará na extremidade positiva do dipolo da molécula
se cancelará com a força atuante na extremidade negativa do mesmo. Contudo, ainda
assim, haverá torque (GRIFFITHS, 2011).

Figura 25 - Torque de um dipolo devido a um campo elétrico externo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Assim, com base nisso; para a força resultante, temos:

F~ = F~(+) + F~(−) . (63)

Adiante, seguindo-se com:

F~(+) = q E;
~ (64)

F~(−) = −q E.
~ (65)

Assim, segue-se que:

F~ = q E
~ + (−q E)
~ = 0. (66)
40

~ do dipolo, observamos que:


E, para o torque N

~ = [~r(+) × F~(+) ] + [~r(−) × F~(−) ].


N (67)

Assim, seguindo-se, temos:

" ! # " ! # " ! #


~ = d~ 
~
 d~ 
~

~ =2 d~  
~ ~ ×E
~
N × qE + − × −q E =⇒ N × qE = (q d)
2 2 2

Desse modo, chegamos em:

~ = p~ × E.
N ~ (68)

E esse torque, tende a fazer o alinhamento do dipolo na direção do campo elétrico,


mesmo a molécula polar tendo livre rotação devido à sua natureza. No entanto, quando
o campo não é uniforme, deduzimos que:

F~ = q(E
~ (+) − E
~ (−) ) = q∆E.
~ (69)

E o torque, nesse caso será:

~ = (~p × E)
N ~ + (~r × F~ ). (70)

Assim, percebe-se que, além do torque em questão, ainda há uma força atuando nos
dipolos.

4.4 Polarização em materiais dielétricos

Como já foi discutido anteriormente, o processo de polarização devido à ação de cam-


pos elétricos externos cria dipolos induzidos no átomo ou molécula em questão, que se
alinham na direção do campo. No caso do efeito da polarização dos materiais dielétricos
(isolantes), o processo é o mesmo. Devido a isso, há uma grandeza física que mede com
mais conveniência esse processo de alinhamento de dipolos induzidos nos dielétricos com
o campo aplicado (GRIFFITHS, 2011).

∆~p d~p
P~ = lim = (71)
∆τ →0 ∆τ dτ
Grandeza essa, a qual é denominada de polarização P~ , que é dada pela distribuição
do momento de dipolo do material pela estrutura do mesmo.
41

4.4.1 Densidades das cargas de polarização em materiais dielétricos

Para o momento de dipolo associado à polarização, temos:


Z
p~ = P~ (r~0 )dτ. (72)
τ

E, assim, o potencial de um dipolo, dado pela equação (55), é reescrito como:

P~ (r~0 ) · r̂ 0
Z
1
V (~r) = dτ . (73)
4π0 τ
0 r2
E também, sabemos que (Ver APÊNDICE B):
 
~0 1 r̂
∇ = 2. (74)
r r
Seguindo-se, vemos que:
Z  
1 ~0 1 0
V (~r) = P~ (r~0 ) · ∇ dτ . (75)
4π0 τ0 r
Onde também, temos que:
!
P~
 
~ 0 1 1 ~0 ~ ~0
∇ + (∇= P~ · ∇
· P ) =⇒
r r r
!
0
 
1 0 P~ 1 ~0 ~
=⇒ P~ · ∇
~ ~ ·
=∇ − (∇ · P ). (76)
r r r

Assim, seguindo-se:
"Z ! #
P~
Z
1 ~ · 0 0 1 ~0 ~ 0
V (~r) = ∇ dτ − (∇ · P ) dτ . (77)
4π0 τ 0 r τ0 r

Onde aplicando-se o teorema de Gauss, temos:


!
P~
Z I
~ · 0 0 1 ~ ~0
∇ dτ = P · dS . (78)
τ0 r S0 r

Desse modo, seguimos com:


I Z 
1 1 ~ ~0 1 ~0 ~ 0
V (~r) = P · dS − (∇ · P ) dτ . (79)
4π0 S
0 r τ0 r
Assim, chegamos na densidade superficial de carga:

σp = P~ · n̂. (80)
42

Adiante, obtemos a densidade volumétrica de carga:

~ 0 · P~ .
ρ p = −∇ (81)

Com isso, o potencial elétrico é reescrito como:


I Z 
1 σρ 0 ρρ 0
V (~r) = dS + dτ . (82)
4π0 S0 r τ0 r
Desse modo, temos que o potencial e também o campo de um corpo que sofreu ação de
polarização, dependem das contribuições somadas das densidades de carga volumétricas e
superficiais (GRIFFITHS, 2011). Com relação ao fato da densidade de carga volumétrica
ligada ρp ser negativa. Isso ocorre, porque no material dielétrico que sofreu polarização, o
acúmulo de cargas negativas passa a se concentrar no interior desses materiais. Enquanto
que o acúmulo de cargas positivas referentes à densidade superficial de carga ligada σp
passa a se concentrar na superfície do mesmo (GRIFFITHS, 2011).

4.5 Campo induzido no interior dos dielétricos

Devido à ação de um campo elétrico externo E, ~ formam-se dipolos nos dielétricos,


que por sua vez, se orientam na direção do campo aplicado. Essa orientação dos dipolos,
faz com que um campo elétrico E ~ d , gerado pelos dipolos, atue na mesma direção que E, ~
porém com sentido oposto. O que produz um campo elétrico interno E ~ int no dielétrico
(MACHADO, 2000).

Figura 26 - Indução de campos elétricos em um dielétrico.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Onde o campo E ~ int atua na mesma direção e sentido que E,


~ sendo o mesmo dado pelas
~ eE
contribuições de E ~ d:
43

~ int = E
E ~ +E
~ d. (83)

Sabendo que E~ d é proveniente da contribuição de todos os dipolos presente no dielétrico


~ dip (campo de um dipolo), assim, temos:
eE
n
X
~d =
E ~ (dip)
E (84)
i
i=1

~ int , como:
E, dessa forma, podemos reescrever E
n
X
~ int = E
E ~+ ~ (dip)
E (85)
i
i=1

~ int no interior do material dielé-


Obtendo-se, desse modo, o campo elétrico induzido E
trico.

4.5.1 Lei de Gauss na presença de dielétricos

No processo de polarização, acúmulos de cargas ligadas são criados dentro do dielétrico


(GRIFFITHS, 2011). No entanto, para que a aplicação da lei de Gauss possa valer no caso
dos dielétricos, não consideramos apenas essa carga devido à polarização, mas também as
cargas livres desse sistema; cargas essas, as quais podem ser elétrons, em um condutor, ou
qualquer outro tipo de carga, que não seja de polarização (GRIFFITHS, 2011). Assim,
a densidade total de carga ρ, será dada pelas duas contribuições de carga (GRIFFITHS,
2011).

ρ = ρp + ρl . (86)

Onde ρp é a densidade de carga ligada e ρl a densidade de carga livre. Referindo-se


essa carga livre, à carga de íons acoplados ao material de estrutura dielétrica. Dessa
forma, fazendo-se uso da lei de Gauss em sua forma diferencial, temos:

~ · E.
ρ = 0 ∇ ~ (87)

E sabendo que, a densidade de carga ligada ρp , é expressa por:

~ · P~ .
ρ p = −∇ (88)
~ também se refere às duas contribuições de carga. Seguimos então
Onde o campo E
com:

~ ·E
0 ∇ ~ = −∇
~ · P~ + ρl =⇒
44

~ · (0 E
=⇒ ρl = ∇ ~ + P~ ). (89)
~
Adiante, obtemos o deslocamento elétrico D:

~ = 0 E
D ~ + P~ . (90)

Assim, a lei de Gauss em suas duas versões, tanto a diferencial quanto a integral para
os materiais dielétricos serão:

~ ·D
∇ ~ = ρl ; (91)

I
~ · dS
D ~ = Qlenc . (92)
s

Onde vemos que a lei de Gauss, no caso dos dielétricos, depende apenas das cargas
livres. Contudo, devido à ação das mesmas gerando campos externos, isso já provoca a
criação de cargas ligadas no material dielétrico devido à polarização do mesmo.

4.5.2 Comparações entre o campo elétrico e o deslocamento elétrico

Como foi notado nas demonstrações anteriores, tanto o campo elétrico quanto o deslo-
camento elétrico possuem similaridades, no que se refere a aplicação da lei de Gauss para
materiais dielétricos. Porém, o deslocamento elétrico não é exatamente a versão do campo
elétrico para os materiais dielétricos. Pois, não há lei de Coulomb para o deslocamento
elétrico (GRIFFITHS, 2011).
Z
~ 6= 1
D
r̂ ~0 0
ρ(r ) dτ . (93)
4π r 2
τ

Outra comparação muito importante é a do rotacional, que para o campo elétrico na


eletrostática é sempre nulo (Ver APÊNDICE C).

~ ×E
∇ ~ = 0. (94)

Diferentemente do rotacional referente ao deslocamento elétrico, que pode não ser


nulo, pois:

~ ×D
∇ ~ =∇
~ × (0 E
~ + P~ ) = 0 ∇
~ ×E
~ +∇
~ × P~ =⇒

~ ×D
=⇒ ∇ ~ =∇
~ × P~ . (95)

4.6 Dielétricos lineares isotrópicos

Os meios dielétricos lineares isotrópicos são meios, que possuem as mesmas propri-
edades em todas as direções. Assim, como a suscetibilidade elétrica χe (GRIFFITHS,
45

2011).

4.6.1 Permissividade do meio e suscetibilidade elétrica

Para muitas substâncias, a polarização é proporcional ao campo, desde que o mesmo


não seja muito forte (GRIFFITHS, 2011). Desse modo, temos:

P~ = 0 χe E.
~ (96)

Onde χe é dependente da estrutura microscópica do meio em questão e também de


condições externas, como temperatura (GRIFFITHS, 2011). Os materiais, que seguem
a equação (96), são chamados de materiais dielétricos lineares isotrópicos (GRIFFITHS,
2011).
E o campo descrito E,~ é o campo total do sistema; sendo esse campo devido às cargas
livres e às de polarização (GRIFFITHS, 2011). Assim, a partir das equações (90) e (96),
o deslocamento elétrico D ~ pode ser reescrito como:

~ = 0 (1 + χe )E.
D ~ (97)

E, desse modo:

 = 0 (1 + χe ). (98)

Diante disso, vemos também que o deslocamento elétrico é proporcional ao campo


elétrico, através da permissividade do meio (GRIFFITHS, 2011):

~ = E.
D ~ (99)

Onde  é denominada de permissividade do material. E também considerando-se o


fato de que a razão entre  e 0 , gera a permissividade relativa do meio r : chamada
também de constante dielétrica do meio (GRIFFITHS, 2011). A partir da equação (98),
temos:


r = ; (100)
0

r = (1 + χe ). (101)
46

Adiante, temos alguns meios materiais e os valores de suas constantes dielétricas:

Quadro 3 - Alguns materiais e suas constantes dielétricas à pressão de 1atm e temperatura


de 200 C.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Acima, vimos que no caso do vácuo a constante dielétrica é r = 1; isso se deve ao fato
de  = 0 . Caracterizando ausência de suscetibilidade elétrica χe ; indicando, dessa forma,
que no vácuo não há nenhum tipo de matéria para se polarizar, o que não é o caso dos
outros meios materiais.
47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi visto, esse trabalho centrou-se no entendimento da atuação das cargas elé-
tricas nos corpos, da descoberta do valor da carga elementar do elétron que conhecemos
hoje e a quantização da mesma; assim como dos processos de eletrização em um corpo
qualquer. Foi analisada a associação entre forças elétricas e campos elétricos na eletros-
tática e como os mesmos atuam em corpos imersos no vácuo, bem como da associação
entre estes campos e o potencial elétrico. Estudamos a atuação dos campos elétricos em
meios diferentes do vácuo, como os meios dielétricos, tratando principalmente dos meios
dielétricos lineares de natureza isotrópica. Onde como foi notado, a ação de tais campos
proporcionava a polarização desses meios e a criação de campos elétricos induzidos neles.
48

REFERÊNCIAS

ARFKEN, G. B.; WEBER, H. J. Mathematical Methods for Physicists. 6. ed. [S.l.]:


Academic Press, 2005.

GENTILINI, J. C. O comportamento de dielétricos na presença de campos elétricos e a


sua descrição em termos da função resposta dielétrica. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Elétrica) — Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2012. Disponível em:
http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/411/1/PB_PPGEE_M_Gentilini%2C%20Jean
%20Carlos_2012.pdf. Acesso em: 12 jan. 2018.

GRIFFITHS, D. J. Eletrodinâmica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2011.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de física. v. 3: eletromagnetismo. 8. ed. Rio


de Janeiro: LTC, 2008.

MACHADO, K. D. Teoria do eletromagnetismo. v. 1. Ponta Grossa: UEPG, 2000.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica. v. 3: eletromagnetismo. São Paulo:


Edgard Blücher, 1997.

REITZ JOHN R.; MILFORD, F. J.; CHRISTY, R. W. Fundamentos da teoria eletromag-


nética. 3. ed. [S.l.]: Campus, 1982.

TIPLER, P. A.; LLEWELLYN, R. A. Física Moderna. 3. ed. [S.l.]: LTC, 2001.

TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. v. 2: eletricidade e


magnetismo, óptica. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
49

APÊNDICE A - POTENCIAL DE UM DIPOLO ELÉTRICO

O potencial de um dipolo elétrico é a soma de cada contribuição do potencial indivi-


dual devido à todas as cargas presente no dipolo. A partir da seguinte figura, temos a
representação de um dipolo elétrico; o qual é composto, somente, por duas cargas pontu-
ais:
Figura 27 - Dipolo elétrico formado por cargas pontuais.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Para o potencial do dipolo elétrico em questão, temos:

V = V(+) + V(−) . (102)

Assim, segue-se:
 
1 q q
V = − . (103)
4π0 r(+) r(−)
Seguindo-se a partir das seguintes somas vetoriais, notamos que:
!
d~
~r = ~r(+) + ; (104)
2
!
d~
~r(−) = ~r + . (105)
2

Onde para ~r(+) , temos:


!
~
d
r(+) = ~r − . (106)
2
50

E para os seguintes módulos |~r(−) | e |~r(+) |, temos:


v !! !!
d~ d~
u
u
|~r(−) | = t ~r + · ~r + ; (107)
2 2
v !! !!
d~ d~
u
u
|~r(+) | = t ~r − · ~r − . (108)
2 2

Onde para o seguintes produtos escalares:


!! !! ! 2
d~ d~ d~ d~
~r + · ~r + = |~r|2 + 2~r · + ; (109)

2 2 2 2
!! !! ! 2
d~ d~ d~ d~
~r − · ~r − = |~r|2 − 2~r · + ; (110)

2 2 2 2
! !
d~ d~ d
~r · = |~r| cosθ = r cosθ. (111)

2 2 2

E sabendo que |~r(+) | = r(+) e |~r(−) | = r(−) , do mesmo modo, para os demais módulos
dos outros vetores:
s  2
d
r(+) = r2 + − rdcosθ; (112)
2
s  2
d
r(−) = r2 + + rdcosθ. (113)
2
Assim, temos a lei dos cossenos expressa por duas formas:
 2  2 !
2 d d dcosθ
r(+) = r2 + − rdcosθ = r2 1 + − ; (114)
2 2r r
 2  2 !
2 d d dcosθ
r(−) = r2 + + rdcosθ = r2 1 + + . (115)
2 2r r

Assim, chamando-se:
 2
d dcosθ
z(+) = − ; (116)
2r r
 2
d dcosθ
z(−) = + . (117)
2r r
E também, temos:
51

1
1 1 (1 + z(+) )− 2
= 1 = ; (118)
r(+) r(1 + z(+) ) 2 r
1
1 1 (1 + z(−) )− 2
= 1 = . (119)
r(−) r(1 + z(−) ) 2 r
Fazendo-se as seguintes expansões binomiais:
 1  1  1
− 21 −2 0 −2 1 −2 n
(1 + z(+) ) = z(+) + z(+) + . . . + z(+) ; (120)
0 1 n
 1  1  1
− 12 −2 0 −2 1 −2 n
(1 + z(−) ) = z(−) + z(−) + . . . + z(−) . (121)
0 1 n
Considerando-se apenas os dois primeiros termos de cada expansão:
 2 !
− 12 1 1 d dcosθ
(1 + z(+) ) ≈ 1 − z(+) = 1 − − ; (122)
2 2 2r r
 2 !
− 12 1 1 d dcosθ
(1 + z(−) ) ≈ 1 − z(−) = 1 − + . (123)
2 2 2r r

Desse modo, segue-se:

  "  2 !# "  2 !#
1 1 1 1 d dcosθ 1 1 d dcosθ
− = − − − − + . (124)
r(+) r(−) r 2r 2r r r 2 2r r

E assim, temos:
 
1 1 dcosθ
− = . (125)
r(+) r(−) r2
E o potencial de um dipolo será:

1 qdcosθ 1 pcosθ
V = 2
= . (126)
4π0 r 4π0 r2
E sabendo que:

p~ · r̂ = pcosθ. (127)
52

Dessa forma, o potencial elétrico de um dipolo pode ser reescrito como:

1 p~ · r̂
V (~r) = . (128)
4π0 r2
53

~0 1

APÊNDICE B - SOLUÇÃO ANALÍTICA DO GRADIENTE ∇ r

Com a seguinte representação vetorial no espaço tridimensional, vista na figura abaixo:

Figura 28 - Representação vetorial em espaço tridimensional.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

E partindo-se da seguinte soma de vetores:

r~00 = ~r + r~0 . (129)

A partir disso, temos:

~r = r~00 − r~0 . (130)

Onde para tais vetores, notamos que:

00 00 00
r~00 = x î + y ĵ + z k̂; (131)

0 0 0
r~0 = x î + y ĵ + z k̂. (132)

Dessa forma, seguimos com:

00 0 00 0 00 0
~r = (x − x )î + (y − y )ĵ + (z − z )k̂. (133)

E para o módulo do seguinte vetor, temos:


54

p 00
|~r| = (x − x0 )2 + (y 00 − y 0 )2 + (z 00 − z 0 )2 = r. (134)
~ 0 , sua expressão matemática em coordena-
Onde para o seguinte operador gradiente ∇
das cartesianas é dada por:

~ 0 = î ∂ 0 + ĵ ∂ 0 + k̂ ∂ 0 .
∇ (135)
∂x ∂y ∂z
Seguindo-se, temos:
       
~0 1 ∂ 1 ∂ 1 ∂ 1
∇ = î 0 + ĵ 0 + k̂ 0 . (136)
r ∂x r ∂y r ∂z r
Onde chamando-se:

00 0
X = (x − x )2 ; (137)

00 0
u=x −x; (138)

00 0
Y = (y − y )2 ; (139)

00 0
v =y −y ; (140)

00 0
Z = (z − z )2 ; (141)

00 0
w =z −z . (142)

E também, temos:


r= X + Y + Z. (143)

Aplicando-se a regra da cadeia, temos:

∂(r−1 ) ∂X ∂u
 
∂ 1
= ; (144)
∂x0 r ∂X ∂u ∂x0

∂(r−1 ) ∂Y ∂v
 
∂ 1
= ; (145)
∂y 0 r ∂Y ∂v ∂y 0

∂(r−1 ) ∂Z ∂w
 
∂ 1
= . (146)
∂z 0 r ∂Z ∂w ∂z 0
Assim, dessa forma, seguindo-se, teremos:
55

  00 0
∂ 1 (x − x )
= 3 ; (147)
∂x0 r ((x00 − x0 )2 + (y 00 − y 0 )2 + (z 00 − z 0 )2 ) 2
  00 0
∂ 1 (y − y )
= 3 ; (148)
∂y 0 r ((x00 − x0 )2 + (y 00 − y 0 )2 + (z 00 − z 0 )2 ) 2
  00 0
∂ 1 (z − z )
= 3 . (149)
∂z 0 r ((x00 − x0 )2 + (y 00 − y 0 )2 + (z 00 − z 0 )2 ) 2
Sabendo que:

1 1
3
= 3 . (150)
r ((x − x ) + (y − y 0 )2 + (z 00 − z 0 )2 ) 2
00 0 2 00

Assim, temos que:


  00 0 00 0 00 0

~0 1 (x − x )î + (y − y )ĵ + (z − z )k̂ ~r


∇ = 0 2 3
= 3. (151)
r 00 0 2 00 0 2 00
((x − x ) + (y − y ) + (z − z ) ) 2 r
Considerando-se o seguinte versor:
 
~r
r̂ = . (152)
r
Logo, obtemos:
 
~0 1 r̂
∇ = 2. (153)
r r
56

APÊNDICE C - DEDUÇÃO ANALÍTICA DO ROTACIONAL DO CAMPO


ELÉTRICO NA ELETROSTÁTICA

Na eletrostática, sabemos que o campo elétrico E ~ é uma grandeza conservativa e, que


o mesmo, é dependente apenas das coordenadas espaciais do sistema em questão. O qual
possui através dessa condição, a seguinte associação com o potencial elétrico V .

~ = −∇V.
E ~ (154)
~ × E,
Diante disso, para o seguinte rotacional ∇ ~ temos:

   !
~ × (∇V
~ )] =
X ∂ ∂V X X ∂ ∂V
[∇ ijk êi = ijk êi . (155)
ijk
∂xj ∂xk i jk
∂xj ∂xk

Sendo ijk (métrica de Levi-Civita) e para o mesmo:





 1, se cíclico

ijk = 0, se quaisquer índices i, j e k forem iguais


−1, se anticíclico

Assim, para a seguinte componente:


 
~ × (∇V
~ )]i =
X ∂ ∂V
[∇ ijk . (156)
jk
∂xj ∂xk

Onde para i = 1, temos:


   
~ )]1 = 123 ∂
~ × (∇V
[∇
∂V
+ 132
∂ ∂V
∂x2 ∂x3 ∂x3 ∂x2
.
Seguindo-se em relação a 123 = 1 e 132 = −1, notamos que:
   
~ )]1 = ∂
~ × (∇V
[∇
∂V

∂ ∂V
∂x2 ∂x3 ∂x3 ∂x2
.
Para i = 2, observamos que:
   
~ )]2 = 213 ∂
~ × (∇V
[∇
∂V
+ 231
∂ ∂V
∂x1 ∂x3 ∂x3 ∂x1
.
Onde 213 = −1 e 231 = 1, então temos:
   
~ )]2 = ∂
~ × (∇V
[∇
∂V

∂ ∂V
∂x3 ∂x1 ∂x1 ∂x3
57

.
Em relação à i = 3, temos:
   
~ )]3 = 312 ∂
~ × (∇V
[∇
∂V
+ 321
∂ ∂V
∂x1 ∂x2 ∂x2 ∂x1
.
Sendo 312 = 1 e 321 = −1, obtemos:
   
~ )]3 = ∂
~ × (∇V
[∇
∂V

∂ ∂V
∂x1 ∂x2 ∂x2 ∂x1
.
Pelo teorema de Clairaut:
   
∂ ∂f (xi , xj ) ∂ ∂f (xi , xj )
= . (157)
∂xi ∂xj ∂xj ∂xi

A partir disso:
    
~ × (∇V
~ )]1 = ∂ ∂V ∂ ∂V
[∇ − = 0; (158)
∂x2 ∂x3 ∂x2 ∂x3
    
~ × (∇V
~ )]2 = ∂ ∂V ∂ ∂V
[∇ − = 0; (159)
∂x1 ∂x3 ∂x1 ∂x3
    
~ × (∇V
~ )]3 = ∂ ∂V ∂ ∂V
[∇ − = 0. (160)
∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x2
Logo, o rotacional do campo elétrico na eletrostática será nulo.

~ ×E
∇ ~ = 0. (161)

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