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Lição 5

A IGREJA E UMA VIVÊNCIA DE FÉ PODEROSA


Tiago 2:14-26
Introdução
O que você acha de um torcedor do flamengo que não conhece os jogadores do time? Não sabe quem é o
técnico? Quantos e quais títulos ganhou? Podemos dizer que esta pessoa é realmente um flamenguista?
E sobre um eletricista que não sabe trocar uma lâmpada sequer? Um piloto de corrida que não consegue
estacionar um carro?
Todos estes exemplos mostram pessoas que afirmam algo, mas que não praticam o que afirmam. Não
inspiram confiança e credibilidade. Da mesma forma, um cristão que professa fé em Cristo, mas que não vive
a fé que professa, que não vive a vida cristã que ele conhece muito é algo contraditório e incoerente.
A Bíblia mostra que a fé é essencial e imprescindível para se relacionar com Deus e para viver a vida cristã. O
pecador é salvo pela fé (Ef 2:8, 9), e o cristão deve viver pela fé (2 Co 5:7). Sem fé é impossível agradar a Deus
(Hb 11:6), e tudo o que fazemos sem fé é pecado (Rm 14:23).
Tiago nesta seção vai mostrar o poder de uma fé ativa, os tipos de fé no meio cristão, a relação correta entre
fé e obras e que não há contradição entre o ensino de Paulo sobre fé e obras e o de Tiago.
I. A FÉ MORTA (v.14-17)
A. O problema do nominalismo cristão – Nominalismo é o termo que se usa para descrever
alguém que professa uma fé sem, contudo, ser praticante. Tiago está tratando desta problemática
em seus dias. Alguém que afirma crer em um só Deus, mas que não demonstra esta fé de forma
prática. Este trecho continua a argumentação anterior do ouvinte não praticante da Palavra de Deus
(Tg 1:22-25) e da não discriminação ao pobre (2:1-7) e do amor ao próximo (2:8-12). A argumentação
é semelhante: É incoerente um cristão que ouve a palavra de Deus e não a pratica. Alguém que tem
fé em Cristo e pratica a discriminação. Um crente que tem fé, mas não pratica essa fé.
B. As perguntas confrontadoras (v.14-15) – O problema é ressaltado por Tiago através
de uma série de perguntas confrontadoras e reflexívas:
1. Qual o proveito de uma fé nominal? - “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que
tem fé, se não tem obras?”. A palavra “proveito” (ARA), “vantagem” (A21), no texto em grego tem
o sentido de “utilidade”, “ter valor”. A pergunta de Tiago é: “para que serve uma fé sem obras?”,
“Qual seu valor?”, “Qual sua utilidade?”. A resposta implícita: “nenhum!”
2. Será que fé inoperante pode salvar? – “Acaso a fé pode salvá-lo?” Note bem que Tiago não
está dizendo que esta pessoa não possui fé (ele menciona a fé dele na pergunta), mas a questão era
que a fé dele era apenas de palavra, não de atitude. Era teórica e não experiencial. É uma fé
intelectual. A grande questão que Tiago suscita é: “Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”. A resposta
implícita é: “Não!”. Uma fé morta não produz vida eterna!
C. A ilustração prática (v.15-17) – Tiago agora usa uma ilustração prática para reforçar seu
argumento, como ele fez na seção anterior do capítulo 2 (v.2-4) que tratava da discriminação.
Esta ilustração da falsa fé tem um paralelo com a ilustração do amor falso usada por João em sua
carta (1Jo 3:17). João desafia seus leitores a por em prática o amor; Tiago conclama seus leitores a
por em prática a fé. A ilustração pinta o quadro de irmãos necessitados de roupa e alimento e sendo
tratados com indiferença em relação a suas necessidades. Note bem que Tiago não está falando de
alguém que quer um carro novo ou uma casa melhor, mas alguém que precisa comer e se vestir!
E qual a resposta da pessoa de fé falsa? Apenas palavras bonitas, vazias e evasivas! Mas não faz nada
para ajudá-lo! Tiago confronta: De que adianta? Qual o proveito disso? A resposta: nenhum!
D. O diagnóstico:Uma Fé morta! - Três vezes neste trecho Tiago repete esta verdade
(2:17,20,26). O ponto central de Tiago é este: A Fé se mostra pelas obras! Qualquer declaração de fé
que não resulte em uma vida transformada e boas obras é uma falsa declaração. É uma fé morta!
Fé morta é uma fé falsa e ilude a pessoa com uma falsa confiança de vida eterna.

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II. A FÉ DEMONIACA (v.18-19)
A. Uma discussão divisiva (v.18) – Tiago avança em sua argumentação, mas agora ele faz uso
da diatribé grega (diálogo com um oponente imaginário) para responder a possíveis questionamentos
que seus ensinos estavam recebendo. Esta discussão imagináia que Tiago apresenta na
argumentação mostra a tentativa que algumas pessoas fazem para tentar separar a fé das obras.
Uma pessoa declara ter fé, mas não têm obras, e uma outra que insiste que tem obras, mas não têm
fé. Tiago está mostrando que fé e obras são inseparáveis. A fé genuína não pode existir sem as obras.
Ao dizer para o opositor, mostra-me essa tua fé sem as obras, Tiago não está simplesmente
desafiando-o a mostrar evidências de sua fé — ele está declarando que a fé que o opositor diz possuir
não é fé de modo algum.
B. Uma ilustração demoníaca (v.19) – Possivelmente muitos dos leitores de Tiago acreditavam
que a fé era tudo o que necessitavam para serem salvos e aceitos por Deus. Talvez por conta de sua
herança judaica de povo escolhido por Deus e da Aliança que faziam parte. Um traço marcante desta
fé hebraica e da Aliança de Yavé com os hebreus era a confissão e convicção de que Yavé era o único
Deus (Dt 6:4; Mc 12:29). O Shemá, como era conhecida esta confissão monosteísta de fé era a base
central da fé judaica. Os judeus poderiam pensar: Crer nisso é o bastante! Ter a Fé certa (Ortodoxia)
era o essencial para a salvação. Tiago choca seus leitores ao afirma que esta fé, até os demônios
possuíam, e nem por isso eram salvos! Os demônios criam e tremiam! Tiago diz que crer e tremer não
é suficiente. Nos evangelhos vemos a fé ortodoxa dos demônios:
 Eles criam na Palavra de Deus (Lc 4:10-11)
 Eles criam na divindade de Jesus (Mc 3:11-12)
 Eles criam que Jesus era o juiz (Mt 8:28-29)
❑ Resumindo: Tiago está ensinando que esta espécie de fé demoníaca é o simples
reconhecimento de uma verdade. A fé salvadora vai além do intelecto, pois afeta a
nossa vontade e nossas ações.
III. A FÉ APERFEIÇOADA (v.20-26)
A. Ilustrações piedosas – Após usar a ilustração dos demônios para exemplificar o tipo de fé
insuficiente para receber a aprovação de Deus, agora Tiago usa dois exemplos de fé obediente do
Antigo Testamento: Abraão e Raabe. Eles são exemplos de uma fé madura, uma fé aperfeiçoada pelas
obras.
1. O Contraste de Fiéis - Dois exemplos de fé de duas pessoas muito diferentes:
 Abraão foi o pai dos judeus; Raabe era uma gentia!
 Abraão era um homem piedoso; Raabe era uma mulher pecadora, uma prostituta!
 Abraão era amigo de Deus; Raabe havia pertencido aos inimigos de Deus!
2. A semelhança da Fé - O que eles têm em comum? Ambos exerceram fé salvadora em Deus!
 Abraão demonstrou sua fé salvadora dispondo-se a sacrificar Isaque (Tg 2:20-24)
 Raabe demonstrou sua fé salvadora escondendo os dois espiões (Tg 2:25-26)
B. Histórias de Fé e de obras – Tanto Abraão como Raabe são citados por Tiago porque são
exemplos de pessoas que apresentam o tipo de fé que ele advoga. A fé evidenciada e aperfeiçoada
pelas obras.
1. Abraão, O pai da Fé- Interessante que Abraão é o exemplo usado por Paulo para falar de
justificação pela fé e não por obras, e o exemplo de Tiago para evidenciar a justificação por obras com
fé. Contradição? Não! Complemento! Quando Paulo fala de Abraão, ele menciona Gênesis 15.1-6,
onde Deus fez a promessa e Abraão “creu no Senhor, e isso lhe foi imputado (“creditado” – NVI) para
justiça” (Gn 15.6). Quando Tiago cita Abraão como parte do seu argumento, ele menciona o homem
que está sendo provado por Deus em Gênesis 22 e conclui. “Vês como a fé operava juntamente com
as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou” (Tg 2.22). Os dois escritores do Novo
Testamento citam o mesmo Abraão, mas Paulo está em Gênesis 15, na promessa; enquanto Tiago
está em Gênesis 22, quando Isaque já é um cumprimento vivo e palpável. Em outras palavras, quando
Abraão ofereceu seu filho Isaque, mostrou com esta obra a sua fé aperfeiçoada.
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2. Raabe - A história de Raabe é descrita em Josué 2.1-21, e é citada em Hebreus 11.31. Ela havia se
convencido de que “o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (Js 2.11).
Baseada nesta “fé”, ela “acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho” (Tg 2.25). O autor
de Hebreus enfatiza a fé de Raabe, enquanto Tiago assinala as obras de Raabe.
❑ Alguém disse que ter fé não é "crer apesar das evidências, mas sim obedecer
apesar das conseqüências".
C. Ensinamento sobre Fé e Obras – O que aprendemos sobre estes dois componentes
fundamentais de nossa vida cristã? Qual o papel bíblico de cada uma delas?
1. A Fé produz obras, e as obras confirmam a fé.
2. O contraste de Tiago é entre a fé sem as obras e as obras sem a fé, e não entre fé e obras.
3. A questão não é uma opção entre fé e obras; mas sim entre a fé viva e a fé morta.
4. Não existe contradição entre o ensino de Paulo e Tiago sobre fé e obras, mas complementaridade.

Paulo Tiago
1. O que Paulo rejeita são obras sem fé 1. O que Tiago rejeita é a fé sem obras
2. Paulo nega a eficácia das obras para a 2. Tiago apela à necessidade das obras depois
salvação. da conversão.
3. Paulo declara como alguém é justificado 3. Tiago enfatiza como alguém deve viver depois
de justificado.
4. Paulo confirma a declaração por Deus da 4. Tiago fala da demonstração de nossa retidão
nossa retidão.
5. Abraão foi justificado porque creu em Deus 5. Abraão foi justificado porque obedeceu a
Deus.

CONCLUSÃO
Toda esta epístola de Tiago mostra que o problema fundamental dos leitores da carta, e creio
eu, de muitos de nós hoje, não era a ortodoxia (doutrina correta), mas era ortopraxia (prática
correta). Eles não tinham problemas com o “crer”, mas com o “fazer.” Tiago mostra a
necessidade essencial das duas coisas funcionando em harmonia. A fé e as obras de obediência
constituem o tipo de espiritualidade e fidelidade que agrada a Cristo e que nos garantem a
salvação.
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas
apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me
dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu
nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu
lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que
praticam o mal!” (Mateus 7:21-23 - NVI)

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