Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

DIREITO COMERCIAL

8. Os Comerciantes

Comerciante e empresário

Tipologia dos comerciantes:

Pessoas semelhantes a comerciantes

Estudamos em aulas anteriores, o principal objecto (ou se preferirmos, o


primário) da nossa disciplina (os actos de comércio).

Em face do já explanado, estamos, pelo menos para já, em condições de


conhecer a natureza dos actos de comércio (que se reputa de grande
importância, na medida em que permite-nos concluir que toda e qualquer
conduta praticada no âmbito da actividade mercantil, nos permite concluir
que se consubstancia em actos de comércio), a classificação dos mesmos
(doutrinária e legal), os elementos que o compõem (gerais – objectivos e
subjectivos – e específicos), para efeitos de aferição da sua validade ou
não, e consequente eficácia jurídica ou não.

Assim, é necessário agora proceder ao estudo das pessoas que praticam


actos de comércio, isto é, que os materializam. E relativamente a elas
(comerciantes), importa realçar os pressupostos e requisitos que devem
estar verificados, para que se possua essa qualidade.

Pois, se recordarmo-nos que, em primeira instância, que os actos de


comércios subjectivos só o são, por serem praticados por comerciantes,
releva-se de tamanha importância saber, como se mostra possível que
determinado negócio jurídico-mercantil só é acto de comércio, porque
quem o está a praticar é comerciante, sendo certo que se for qualquer outro
sujeito de direitos e obrigações a pratica-lo, não materializa o negócio em
acto de comércio.

Por outro, é certo que toda a pessoa civilmente capaz de se obrigar nos
termos da lei civil, pode praticar actos de comércio. Mas ainda assim, nem
todas as pessoas que praticam actos de comércio, são comerciantes. É
necessário reunirem-se outros requisitos que, mais adiantes procederemos
ao seu estudo.

8.1. Comerciante e empresário

A expressão comerciante, que engloba também o industrial, era a fórmula


técnica correcta para designar o sujeito que actua no âmbito do Direito
Comercial, com os atributos do artigo 13.º do C.Com.

Nos dias de hoje, o comerciante é o chamado empresário. Em alguns casos,


o comerciante adopta também a designação de estalajadeiro (empresário do
ramo hoteleiro) ou merceeiro (empresário do ramo industrial alimentar).

Nada impede que estás expressões sejam actualmente introduzidas em


diplomas recentes.

Para a generalidade, o empresário é aparentemente, o detentor de duma


empresa; parte-se deste pressuposto, porque só as pessoas singulares
possuem empresas.

Porém, tal conceito, não tem rigor jurídico. Tanto é empresário o


comerciante ou industrial proprietário directo duma empresa, como
também, o accionista de uma sociedade, desde que exerça funções de
administrador.

Por outro, o comerciante pode necessariamente não deter uma empresa.

Face ao exposto podemos concluir que a principal distinção entre uma e


outra figura, assenta essencialmente no facto de que aos comerciantes são
impostas certas obrigações e deveres especiais (que mais adiante nos
debruçaremos sobre eles), que aos empresários não são exigidos.

Pelo que claramente se denota que os comerciantes integram uma classe


mais formal, porquanto estes efectivamente possuem requisitos para
aquisição dessa qualidade que, não são determinados para os empresários.

Esclarecidos os aspectos descritos, cumpre dar a noção legal e doutrinária


de comerciante.

Nos termos do disposto no artigo 13.º do C.Com., são comerciantes:


1º As pessoas que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
destes, profissão;

2º As sociedades comerciais;

3º Sujeitos dotados de personalidade jurídica, quando exercerem uma


actividade mercantil.

Aos comerciantes sociedades comercias, dedicaremos um estudo especial


mais adiante. Mas importa para já adiantar que tal pretensão deve-se ao
facto de estas serem constituídas por via de um negócio jurídico-mercantil,
ou seja, por via de um contrato, tomando como distintos os critérios para
aquisição da qualidade dos §s 1.º e 2.º, do preceito citado.

No momento, importa proceder ao estudo dos comerciantes pessoas


singulares, consagradas no § 1º do citado preceito, pelo que, passamos de
imediato a fazê-lo.

Refere aquele, que as pessoas com capacidade para praticar actos de


comércio, deverão fazer dos mesmos, uma profissão.

Revela-se indispensável perceber em que se consubstancia fazer da pratica


de actos de comércio uma profissão. E pretendendo esmiuçar o descrito,
dever-se-ão ter em consideração quatro (4) aspectos para considerarem-se
tais actos, como profissão:

a) Prática reiterada ou habitual;


b) Prática lucrativa;
c) Prática juridicamente autónoma;
d) Prática tendencialmente exclusiva.

Será considerada prática reiterada ou habitual, os actos praticados de forma


repetida e articulada ou em cadeia, e não isoladamente ou ocasionalmente,
ou seja, deverão os actos praticados serem múltiplos e sucessivos.

Por outro, a prática lucrativa dos actos, deverá transmitir a ideia de uma
contrapartida, ou seja, deverão ser retirados dos actos praticados, um
proveito ou rendimento que possa garantir o sustento quer da actividade,
quer do comerciante que nela investe.
A prática juridicamente autónoma, consiste no facto do comerciante dever
actuar em nome próprio e por sua livre conta. Se se tratar de um
trabalhador subordinado, cai no regime do Direito do Trabalho.

Por seu turno, a prática dos actos tendencialmente exclusiva, não pretende
impedir que o comerciante se dedique à outra actividade diversa da
mercantil. Contudo, porque não se podem praticar actos em cadeia de
vários sectores, deve em princípio serem os actos de comércio praticados,
tendencialmente exclusivos, resultando daí, uma dedicação especial.

Reunidos “cumulativamente” os pressupostos descritos, considerar-se-á


determinada pessoa singular, comerciante. Realce-se aqui, que devem tais
requisitos estarem conjuntamente verificados, sob pena de não possuir o
sujeito, a referida qualidade de comerciante.

8.2. Tipologia dos comerciantes: o comerciante em nome individual e


em nome colectivo

O comerciante em nome individual e em nome colectivo são as tipologias


de comerciantes, isto é, são os tipos de comerciantes dispostos legalmente.

São comerciantes em nome individual, as pessoas singulares que


preenchem outros requisitos legais, designadamente fazerem da pratica de
actos de comércio uma profissão, nos moldes já referidos. E são
comerciantes em nome colectivo, as sociedades comerciais que, como já se
referiu, se lhes dedicará uma análise oportunamente.

As pessoas singulares podem ser comerciantes: bastam que tenham


capacidade para praticar actos de comércio nos termos dos artigos 66.º e
67.º do C.C. e 7.º do C.Com.

Os incapazes (menores, interditos e inabilitados), obrigam-se pelos seus


representantes. O mesmo sucede com os comerciantes em nome colectivo,
que apesar de serem capazes (em virtude de possuírem personalidade a
capacidade jurídica), ainda assim são representadas para agir.

Note-se que nos casos de incapazes, são estes os comerciantes, e não quem
pratica os actos em representação.

Os representantes legais, apenas possuem poderes para agir em nome do


incapaz, mas é o nome deste último que prática actos.
No que toca aos comerciantes em nome colectivo (sociedades comerciais),
estas, adquirem personalidade jurídica e consequentemente capacidade
jurídica, no momento do registo definitivo do acto constitutivo (artigos. 5.º
e 6.º da Lei das Sociedades Comerciais).

8.3. Pessoas semelhantes a comerciantes

Como referimos, os comerciantes em nome individual, são as pessoas que


preenchem os requisitos do § 1.º do artigo 13.º do C.Com.

Existem porém, outras pessoas, que dada a actividade que exercem se


confundem com os comerciantes, mas que não são.

Dentre estas, destacam-se os empregados de comércio (que são os gerentes,


auxiliares e caixeiros), os comissários, os membros dos órgãos de
administração das sociedades comerciais, os mediadores, os agentes
comerciais, os concessionários, os corretores de bolsa e os profissionais
liberais.

Os empregados de comércio possuem capacidade para praticar actos de


comércio. Porém, apesar de os praticarem de forma reiterada, não o fazem
de forma lucrativa para si, autónoma e tendencialmente exclusiva.

Eles agem com vista a alcançar lucros para outrem, e nome de outra pessoa
(no caso, o verdadeiro comerciante).

Podemos assim compreender, que os gerentes, os caixeiros e os auxiliares


agem por conta de uma entidade patronal (comerciante) e recebem pela
prestação das suas actividades, uma remuneração, não podendo assim,
concluírem-se como sendo comerciantes.

Os comissários são mandatários comerciais sem representação; ou seja


actuam em nome próprio, mas em representação dos comerciantes.

Em regra, são investidos de poderes através do contrato de comissão,


previsto no disposto no art. 266.º do C.Com.

Determinado sector da doutrina defende que estes são comerciantes, na


medida em que agem em nome próprio. É nossa opinião que o fazem,
porque lhes foi atribuída essa prerrogativa (contrato de comissão); portanto
não podem ser considerados comerciantes.
Também os membros dos conselhos de administração das sociedades
comerciais não são comerciantes, na medida em que agem em
representação daquelas; ou seja, não agem por conta própria, mas antes por
conta dos interesses da respectiva sociedade comercial que, efectivamente é
o verdadeiro comerciante (em nome colectivo).

Os mediadores, agem investidos dos poderes do contrato de mediação, no


qual o mediador se obriga a prestar certa actividade de intervenção em
negociações, mediante uma contraprestação.

Percebe-se que eles apenas são contratados para intervir em nome do


comerciante.

Os Agentes comerciais têm o seu regime disposto na Lei n.º 18/03 de 12 de


Agosto, sobre os contratos de agência, de concessão e franchising. Em
tempo oportuno nos pronunciaremos sobre eles.

Os corretores de bolsa praticam actos de comércio através da


intermediação. Ou seja, eles são intermediários de operações de bolsa.

Os profissionais liberais também não comerciantes. Diferente destes


últimos que praticam actos de comércios, aqueles prestam serviços.

O Docente,

Dra. Dárjia Nathaly de Sá Nogueira

Você também pode gostar