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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

DIREITO COMERCIAL

7. Os Actos de Comércio

a) Elementos gerais e específicos dos actos de comércio


b) A formação do acto de comércio
c) Validade e invalidade dos actos de comércio
d) A eficácia do acto de comércio

Tal como nos demais ramos de direito, obviamente que, também em sede do
direito comercial nascem relações jurídicas (comerciais), com vista ao normal
exercício da actividade mercantil. E do mesmo modo, também a relação jurídico-
comercial possui elementos caracterizadores e susceptíveis de identifica-la.

Identificada que está a amplitude e consequente natureza jurídica dos actos de


comércio, as suas classificações legal e doutrinária, estamos assim em condições
de abordar os elementos que o compõem.

Pretende-se agora saber, qual a estrutura dos actos de comércio, ou se


preferirmos e pudermos fazer uma semelhança, qual o esqueleto que suporta a
sua existência.

Genericamente os actos de comércio são negócios jurídicos preferencialmente


plurilaterais e para que os mesmos sejam válidos, é necessário que contenham
determinados elementos gerais e/ou específicos.

7.3. Elementos gerais e específicos dos actos de comércio

São elementos gerais os factos estruturantes que dizem respeito a todos os actos
de comércio, ou seja, possíveis de serem identificados em qualquer acto
mercantil. Ao inverso, são elementos específicos, aqueles que para além dos
gerais, os factos estruturantes que devem existir em cada negócio específico para
que o acto seja válido, isto é, pretende-se que o acto mercantil possua elementos
estruturantes comuns a todos eles (gerais) e individualizadores de cada um do
mesmo.

A análise dos elementos específicos dos actos de comércio não se revela possível
de estudo pelo menos para já, porquanto, somente aquando da análise concreta de
cada acto mercantil, poder-se-ão individualizar os factores estruturantes próprios
de cada um deles.

Em sede dos elementos gerais poder-se-á inserir os pressupostos objectivos (que


dizem respeito a estrutura externa do acto) e os pressupostos subjectivos (que
dizem respeito a estrutura interna do acto).

Dito de outro modo, são pressupostos objectivos aqueles elementos visíveis e ao


alcance visual de quem pratica o acto de comércio, bem como de qualquer
terceiro que dele se aperceba. Por seu lado, são pressupostos subjectivos, os
elementos não perceptíveis a quem não pratique o acto mercantil.

São pressupostos objectivos os seguintes elementos gerais: as partes; o objecto; o


conteúdo e a forma.

As partes, isto é, os sujeitos participantes do acto mercantil ou que, dito de outro


modo, irão contratar ou praticar o negócio jurídico consubstanciado em acto de
comércio.

São as partes que irão exercer a sua vontade de acção, manifestando-a por por via
de uma declaração verbal e/ou escrita e executa-la com a finalidade de produzir
os efeitos jurídicos pretendidos por elas.

Obvio é, de que revela-se indispensável, que as partes devem, nos termos das
disposições combinadas dos arts. 7º do Cód. Com. e 66º e 67º do C.C. possuir
personalidade e capacidade jurídica.

O objecto, é a coisa sobre a qual incide o acto de comércio. Na verdade, o


objecto constitui a essência de todo e qualquer negócio jurídico e
consequentemente do acto mercantil, pois, representa a individualização do que
as partes contratantes desejam. No contrato comercial de empréstimo de quantia
certa, o dinheiro é a coisa ou objecto. No contrato de arrendamento comercial, o
imóvel é a coisa ou objecto. No contrato de compra e venda comercial é o artigo
vendido, o objecto ou coisa.

Não obstante o objecto constituir um pressuposto objectivo e portanto um


elemento geral do acto de comércio, facto é que a individualização de cada
objecto em função de cada acto mercantil, consubstancia-se também num
elemento específico. Mas, importa referir que não é o objecto que constitui um
elemento geral, mas a coisa concreta em função de cada acto mercantil.

Os pressupostos das partes e do objecto revelam-se de extrema importância para


existência de um acto mercantil. No entanto, embora o conteúdo e forma também
integrem os pressupostos objectivos, facto é que os mesmos não se revelam
obrigatórios, podendo estarem presentes ou não na relação jurídico-mercantil.

O conteúdo representa o modo como as partes vão se relacionar com o objecto,


sendo certo que as mesmas selecionam o teor do que pretendem, os mecanismos
de negociação (e-mails, cartas, propostas, embora presentemente revelam-se de
igual modo aceitáveis outros mecanismos como telefones e recurso às redes
sociais).

A forma consiste na exteriorização do conteúdo negociado pelas partes, ou seja,


de como a relação ou o acto é estabelecido, podendo se efectivar simplesmente
por via verbal, ou por da celebração de um documento sinalagmático (contrato).

Como referiu-se, poder-se-á considerar igualmente como elementos gerais dos


actos de comércio, dois pressupostos subjectivos, tendo-os como interiores (não
visíveis) aos olhos de quem actua nesse âmbito.

São pressupostos subjectivos, os seguintes elementos gerais: a motivação; e o


fim.

A motivação consiste nas circunstâncias que determinam a vontade de


celebrarem o negócio jurídico, ou seja, na razão que motiva a celebração do acto.

O fim é o que se pretende com a realização do acto ou negócio jurídico, ou seja,


será o resultado pretendido pelas partes na vigência da relação jurídico-mercantil.

Dissemos já, que paralelamente aos elementos gerais dos actos de comércio,
verificamos também os elementos específicos, sendo para aqui chamados, todos
os factores individualizadores de cada relação jurídico-mercantil.

No entanto, para uma melhor compreensão, basta pensarmos que se olharmos


para um acto de comércio concreto v.g. o contrato de “sociedade” ou de “compra
e venda comercial”, poder-se-á verificar que são elementos gerais a ambos, a
existência de sujeitos contratantes e elemento específico de cada um deles, o tipo
de sociedade (por quota, anónima ou outra) ou, a coisa vendida, respectivamente.

Nestes moldes, é certo aferir que as situações não descritas em sede de uma
relação jurídico-comercial poderão ser resolvidas por via de recurso à
interpretação e aplicação de normas jurídicas não previstas nas mesmas. Quer
isto dizer que para os elementos gerais, sempre revelar-se necessário interpretar
determinada situação, far-se-á recurso às normas gerais do Código Civil. Mas,
para os elementos específicos, far-se-ão recurso às normas do Código Comercial
ou qualquer outro diploma legal comercial, e só subsidiariamente as normas de
contratos estabelecidos no Código Civil

7.4. A formação do acto de comércio

A realização de um acto de comércio é o resultado de um processo, resultante de


uma sequência de actos.

Tal como como os demais negócios jurídicos, também os actos mercantis


observam vários momentos. Embora não se mostrem uniformes ao nível da
doutrina, poder-se-á concluir como mais importantes, as seguintes fases:

1ª Fase das negociações ou dos preliminares, preenchida fundamentalmente pelo


elemento geral subjectivo da motivação.

2ª Fase da formação propriamente dita, em que se conclui o negócio. Nesta as


partes chegam a conclusão que querem celebrar o negócio, dando-se assim o
encontro de vontades.

Claramente nesta fase se evidenciam os demais pressupostos gerais objectivos,


pondendo já perceber-se a existência de partes, de um objecto, de um conteúdo e
forma.

3ª Fase da execução, em que se executa acto ou negócio formado e celebrado,


devendo cada uma das partes cumprirem com as suas obrigações e, alcançando o
fim pretendido, revelando-se clara a verificação deste último pressuposto geral
subjectivo.

Ora verificadas as fases de formação do acto mercantil, chega o momento de


constatar a validade do mesmo, para efectiva produção de efeitos jurídicos.

7.5. Validade e invalidade dos actos de comércio

Referimos que os actos de comércio são negócios jurídicos e portanto podem ser
válidos ou inválidos, tal como sucede noutros negócios jurídicos.

Após a formação do acto mercantil, este deve mostrar-se válido, apto e conforme
ao estabelecido legalmente (em respeito às normas jurídicas sobre a matéria).

Para que o acto de comércio seja válido, não pode estar ferido de qualquer vício
que o torne invalido.
Quer isto dizer, que não pode a vontade das partes ser obtida por meio de coação,
ou em momento acidental. Também a sua exteriorização (forma) tem de estar em
conformidade com a lei. As próprias partes devem possuir capacidade jurídica
para concluir o negócio jurídico. O objecto tem de mostrar-se lícito e possível.

Verificando-se que todos os elementos gerais e específicos do acto de comércio


estão conformes, o mesmo é válido, ou seja, o acto mercantil é válido, quando
reúne todos os requisitos e/ou elementos gerais e específicos que o compõem
(partes, objecto, conteúdo e forma) e estes estejam presentes sem vícios
(motivação e fim).

Em situação inversa, isto é, caso faltem quaisquer um dos elementos ou


contenham o acto de comércio algum vício, então ele é inválido.

Em homenagem à subsidiariedade do direito civil em relação ao direito


comercial, os regimes da validade e invalidade dos actos de comércio devem ser
aferidos de acordo com o estabelecido no Código Civil, em virtude de ser aquele
ramo de direito privado comum, subsidiário a todos os outros ramos de direito
privado especial.

Consequentemente, o regime da invalidade desdobra-se em:

a) Nulidade, que tem como causa geral a violação de uma norma de carácter
imperativo ou ainda a ilicitude ou impossibilidade do seu objecto (vide
artigos 286.º e 294.º do C.C.).

Serve de exemplo a falta de capacidade de uma das partes (artigos 7.º do C.Com.,
66.º e 67.º do C.C.), de objecto e conteúdo (artigo 280.º doC.C.), bem como de
forma (artigo 280.º do C.C.).

b) Anulabilidade, que tem causa geral a violação de norma de carácter


relativo, podendo tal irregularidade ser suprida (vide artigos 281.º e 287º
do C.C.).

Serve de exemplo a motivação do acto ou negócio quando viciada por medo, erro
ou incapacidade acidental ou, a conclusão do acto não se efectivar conforme
vontade das partes.

7.6. A eficácia do acto de comércio

Por eficácia jurídica entende-se a produção de efeitos jurídicos na ordem


jurídico-individual de cada sujeito ou parte contratante duma relação mercantil,
de modo a garantir tutela jurídica (protecção) das mesmas.
O acto de comércio é eficaz quando é válido e portanto reúne os elementos gerais
e específicos, ou seja, o acto mercantil válido não deve suscitar vícios.

Eficaz que é o acto de comércio, o mesmo reflete efeitos jurídicos na esfera


jurídica das partes contratantes.

Essencialmente, a eficácia jurídica é a tutela que o direito confere ao conteúdo do


negócio jurídico e esta pode ser real ou obrigacional, consoante o acto mercantil
tenha como objecto a constituição, modificação e extinção de direitos reais
(relativos a imóveis e conexos) ou creditícios (respeitantes créditos),
respectivamente.

Sendo certo que, se o negócio jurídico possuir eficácia real, será regulado pelas
normas jurídicas do livro das coisas (direitos reais) constante do Livro III do
C.C., ao passo que se tiver eficácia obrigacional, já são aplicáveis as disposições
legais constantes do Código Comercial e subsidiariamente pelo direito das
obrigações contidas no Livro II do C.C.

Paralelamente aos direitos reais e obrigacionais, resultantes da eficácia real ou


obrigacional dos actos de comércio, coloca-se ainda a questão da eficácia dos
chamados direitos sociais resultantes de obrigações respeitantes ao contrato de
sociedade. São os direitos dos sócios, dos órgãos das sociedades comerciais,
sendo estes, regulados pelas normas contidas na Lei das Sociedades Comerciais.
Existem por outro lado, outros direitos que se prendem com os direitos de autor,
de propriedade industrial, todos eles, conexos às relações jurídico-mercantis e
susceptíveis de gerarem eficácia dos actos de comércio praticados nesse âmbito.

Por seu turno, o acto mercantil inválido será ineficaz, porquanto a sua invalidade
não permite a produção de efeitos na esfera jurídica dos contratantes.

O Docente,

Dra. Dárjia Nathaly de Sá Nogueira

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