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Mendonça Manoel Andion - 2020
Mendonça Manoel Andion - 2020
XLIV ENCONTRO
Evento on-line - 14 a DA ANPAD
16 de outubro - EnANPAD
de 2020 - 2177-2576 versão2020
online
Evento on-line - 14 a 16 de outubro de 2020
2177-2576 versão online
Autoria
Cíntia Moura Mendonça - cintiamouramendonca@gmail.com
Autônoma/Autônoma
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPESC e ao CNPQ pelo financiamento à pesquisa e a UDESC
pelas bolsas atribuídas aos pesquisadores que realizaram esse estudo.
Resumo
Este trabalho busca compreender a experiência do Fórum de Políticas Públicas de
Florianópolis (FPPF) enquanto lócus de ?experimentação democrática? para entender os
processos de participação e de aprendizagem coletiva produzidos e sua e incidência junto as
políticas públicas no município. Para tanto, o enfoque teórico analítico utilizado baseia-se
nos debates contemporâneos sobre a ação coletiva da sociedade civil, especialmente nos
campos da sociologia dos problemas públicos e da sociologia das transformações. Do ponto
de vista científico o trabalho pretendeu avançar na discussão sobre os desafios da
experimentação democrática e da participação no âmbito das políticas públicas municipais.
Já em termos práticos e empíricos, o trabalho permitiu retraçar a rede do FPPF e sua
trajetória, gerando reflexões e aprendizagens junto e com os atores que dele fazem parte, o
que também pode inspirar outras experiências no Brasil no mesmo formato.
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Este trabalho busca compreender a experiência do Fórum de Políticas Públicas de Florianópolis (FPPF) enquanto
lócus de “experimentação democrática” para entender os processos de participação e de aprendizagem coletiva
produzidos e sua e incidência junto as políticas públicas no município. Para tanto, o enfoque teórico analítico
utilizado baseia-se nos debates contemporâneos sobre a ação coletiva da sociedade civil, especialmente nos
campos da sociologia dos problemas públicos e da sociologia das transformações. Do ponto de vista científico o
trabalho pretendeu avançar na discussão sobre os desafios da experimentação democrática e da participação no
âmbito das políticas públicas municipais. Já em termos práticos e empíricos, o trabalho permitiu retraçar a rede do
FPPF e sua trajetória, gerando reflexões e aprendizagens junto e com os atores que dele fazem parte, o que também
pode inspirar outras experiências no Brasil no mesmo formato.
INTRODUÇÃO
No Brasil, o processo de participação da sociedade civil junto às políticas e às esferas
públicas materializada pela sua influência nos processos decisórios junto ao Estado, não se dá
de forma linear, mas sim, permeada por avanços e retrocessos (DAGNINO, 2002). Essas
relações entre sociedade civil e Estado – enquanto meio de fortalecimento da democracia em
suas diferentes formas – desperta interesse entre estudiosos a partir da década de 1980, com a
redemocratização, resultando em uma série de estudos sobre Estado, Sociedade Civil,
Participação e Democracia (DAGNINO, 2002 e 2004; AVRITZER, 2002; NOGUEIRA, 2004).
Passados 21 anos de supressão das liberdades democráticas pela ditadura civil-militar,
a vitória da Aliança Democrática abre possibilidades de novas formas de relação entre Estado
e sociedade civil (NOGUEIRA, 2004), sendo considerado o grande marco do período o
processo da Assembleia Nacional Constituinte e promulgação da nova constituição, a “cidadã”
(AVRITZER, 2012). Como consequência da grande mobilização, a Constituição Cidadã,
estabelece novas escalas e dispositivos de participação no processo decisório das políticas
públicas brasileiras. Com referência à participação direta, destacam-se o referendo, o plebiscito
e a iniciativa popular. Já no tocante à democracia participativa, são criados os Conselhos e
Conferências nos níveis municipal, estadual e federal, com representação do Estado e da
sociedade civil, indicando que a gestão das políticas públicas a exemplo da saúde, da seguridade
social e da garantia dos direitos da criança e do adolescente deveriam ter caráter democrático e
descentralizado (ROCHA, 2008).
Desde então houve grande ampliação e multiplicação de experiências de participação
cidadã na administração pública. Isso se deu tanto em escopo, com a inserção de novas questões
tratadas de maneira participativa, quanto em número e variedade de modalidades. Pela
experiência da constituinte e seus desdobramentos, o Brasil chegou a ser visto
internacionalmente como um celeiro de experiências participativas e uma referência na
produção de conhecimento a respeito (VENTURA, 2016).
No caso brasileiro, destaca-se a multiplicação dos conselhos de políticas públicas, das
de conferências setoriais, dos orçamentos participativos, de uma série de outros arranjos
(MORONI, 2006), a criação de diversos dispositivos que visavam dar maior segurança jurídica
e suporte legal à participação e às parcerias entre Estado e sociedade civil como a Política
Nacional de Participação Social (BRASIL, 2014a) e o Marco Regulatório das Organizações da
Sociedade Civil (BRASIL, 2014b), a criação de organismos como a Secretaria Nacional de
Articulação Social (FARIA, 2010) e, apesar da ausência de um projeto centralizado de
institucionalização das políticas participativas, um aumento da presença governamental nos
espaços de concertação (ABERS; SERAFIM; TATAGIBA, 2014). É evidente, que nos 30 anos
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a que se refere essa multiplicação, a trajetória não foi linear e ascendente, tendo diversas
nuances, avanços e retrocessos.
A partir do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, entretanto, instalou-se no país
uma grave crise econômica, política, das instituições e da democracia. A crise se agrava com
uma intensa polarização política que resulta na eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2018.
Como seu primeiro ato de governo, o presidente publica a medida provisória nº 870, que dá ao
secretário de governo poderes de monitorar e supervisionar as ações de organizações não
governamentais (BRASIL, 2019a). Na sequência, publica o decreto nº 9.759 de 2019, que
extingue e limita os conselhos e colegiados da administração federal (BRASIL, 2019b) e o
Decreto nº 9.096 de 2019 que institui o Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado
(BRASIL, 2019c). Tais medidas, somadas aos discursos de criminalização e deslegitimação da
sociedade civil, preocupam quanto aos rumos da participação e da democracia no país, dando
sinais que a participação nas políticas públicas e a incidência da sociedade civil na tomada de
decisão política tomarão outros rumos neste governo.
Esses aspectos se aprofundam num cenário atual de crise das democracias em todo
mundo. Com isso, pode-se afirmar que a criação dos dispositivos institucionais acima citados
não foi capaz por si só de garantir a participação e a gestão democrática das políticas públicas.
Nesse sentido, amplia-se a relevância e necessidade de se (re) discutir a participação e sua
importância para a democracia. Todos os desafios levantados nos permitem afirmar que a
questão hoje passa não apenas pela existência ou não da participação; mas de qual participação
estamos falando. Trata-se de problematizar o fenômeno da participação, sua emergência e suas
formas concretas de expressão, bem como evidenciar os dispositivos que a possibilitam e
levantar pistas para sua efetiva legitimação. Enfim, o que se busca é compreender as condições
em que a participação ocorre (ou não) e especialmente os efeitos que ela produz (ou não) para
o fortalecimento democrático.
Para tanto, faz-se necessária uma abordagem teórico-metodológica que permita olhar a
participação para além de uma perspectiva normativa ou “romântica” (FUNG, 2006). Em vista
disso, este trabalho foi construído a partir de uma abordagem pragmatista da ação coletiva da
sociedade civil em que “a ação coletiva advém da inovação e da experimentação, elementos
essenciais de uma dinâmica aberta de inclusão e de incorporação de pontos de vista capazes de
promover a transformação” (ALEXANDRE, 2018, p. 110)
Nessa toada, propõe-se a ampliação da noção de democracia, não como uma forma de
governo com um desenho institucional preestabelecido, mas como resultado da realização de u
espaço comum, no qual os indivíduos possam compartilhar interesses, experiências, signos e
símbolos (DEWEY, 1927). Por consequência, a participação é aqui compreendida, como um
processo de “experimentação democrática” (SABEL; 2012; FUNG 2006; 2015; ANSELL,
2011; 2012; FREGA, 2019), que pode dar lugar a dinâmicas de identificação, interpretação,
responsabilização e ação essenciais para que os diferentes públicos (em diálogo e interação
como os governantes) co-construam soluções para as problemáticas que enfrentam. Trata-se de
compreender os processos de “investigação pública” promovidos a partir da experiência da
participação.
É nessa perspectiva que será analisada neste artigo uma experiência de experimentação
democrática que é o Fórum de Políticas Públicas de Florianópolis (FPPF). O Fórum foi criado
no ano de 2006, a partir da iniciativa de um grupo de organizações e conselheiros representantes
da sociedade civil ligados às políticas de defesa de direitos das crianças e dos adolescentes, da
assistência social e da educação infantil. Os atores da sociedade civil envolvidos com essas
políticas identificaram três principais demandas em comum: (i) garantir o funcionamento dos
conselhos municipais em Florianópolis; (ii) promover a intersetorialidade das políticas públicas
(PPs) e (iii) fortalecer as próprias políticas, visando promover a ampliação dos debates e de
ações efetivas para sua implementação e controle, conforme diretrizes nacionais (FPPF, 2004).
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temporariamente o tripé conhecimento, princípios e valores e volta a nossa atenção para a ação
e suas consequências. A incerteza inerente na solução dos problemas conclama a uma ação
criativa e sujeita o tripé a uma revisão constante. A segunda condição é a reflexividade: a
suspensão temporária promovida pelos problemas permite que o sistemático exercício da
dúvida a respeito do próprio senso comum e dos hábitos seja levado adiante. Aqui vale a pena
salientar que os pragmatistas acreditam que os atores ordinários não só possuem essa
capacidade reflexiva, como também a utilizam cotidianamente quando defrontados com
situações problemáticas. Por fim, a deliberação: esta condição diz respeito à base comunitária
da democracia deweyana. Aqui se enfatiza primeiro a inclusão de todos em um processo amplo
e aberto de investigação em que diversas perspectivas diferentes a respeito da situação se
encontram, de maneira conflituosa e cooperativa; em segundo lugar, se coloca a centralidade
da comunicação para se produzir conhecimento e significado intersubjetivo (ANSELL, 2011;
FREGA, 2019).
Nessa toada, o experimentalismo democrático pode ser caracterizado como um processo
provisório, probatório, criativo e construído coletivamente, o que permite reconhecer e lidar
melhor com a natureza incerta e ambígua inerente aos problemas que as coletividades hoje
enfrentam (ANSELL, 2011). Assim, é possível reconciliar através da participação cidadã sob a
perspectiva da experimentação duas questões que são muitas vezes dicotomizadas: a
legitimidade e eficácia das instituições públicas. Tratada geralmente como elemento
legitimador das decisões públicas, a participação aqui amplia e qualifica a visão a respeito do
problema, as possibilidades vislumbradas de soluções e, consequentemente, as perspectivas de
sucesso e eficácia das ações. Dessa forma, reforçando a noção pragmatista de que as instituições
políticas servem para resolver problemas compartilhados pela coletividade, ao melhorar sua
capacidade instrumental de resolução de problemas essas ganham em legitimidade (FREGA,
2019). Por isso, o experimentalismo democrático proporciona uma base para a reconstrução da
autoridade democrática (ANSELL, 2012), tarefa urgente em meio à crise social da democracia
que se enfrenta hoje.
Mas como fazer com que a riqueza de aprendizados e produção de conhecimento gerada
pelos processos de investigação pública chegue também à institucionalidade? A resposta do
experimentalismo democrático vem em dois gestos convergentes, um social e outro
organizacional. O gesto social consiste em fortalecer e ampliar os processos de investigação
pública já existentes, expandindo as capacidades individuais e coletivas de aprendizagem e
consolidando o hábito da reflexividade, ou seja, do exercício da dúvida sistemática e coletiva a
respeito dos hábitos e instituições. O movimento organizacional, por sua vez, diz respeito à
necessidade de se projetar organizações, com ênfase ao Estado, que sejam abertas à
participação, de forma que o caldo da aprendizagem social chegue até elas. Além disso, esse
movimento exige repensar as organizações, institucionalizando também nelas o exercício da
reflexividade, possibilitando que se reinventem constantemente em relação ao conhecimento
que vem dos públicos e sejam, enfim, democráticas (FREGA, 2019; ANSELL, 2011).
O gesto social requer a compreensão da dinâmica social que se dá a partir da emergência
dos problemas públicos e do consequente processo investigativo. Ao redor das situações
problemáticas cotidianas, a partir dos diversos públicos e problemas que emergem em um
ambiente determinado, manifesta-se uma arena pública. Por meio da experiência coletiva,
surgem campos de experiência, com seus repertórios de ação e institucionalidades próprios, que
com o tempo contribuem na redefinição desses problemas públicos e na institucionalização da
forma de administrá-los. Assim, a arena pública constitui-se como “um conjunto organizado de
acomodamentos e competições, de negociações e arranjos, de protestos e consentimentos, de
promessas e engajamentos, de contratos e convenções, de concessões e compromissos, de
tensões e acordos mais ou menos simbolizados e ritualizados” (p. 208). Quando esse conjunto
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de elementos são arranjados em vista de alcançar um bem público ou impedir um mal público
se está diante de arenas públicas (CEFAÏ, 2017a).
O gesto organizacional, por sua vez, diz respeito à um aprofundamento democrático no
Estado e em sua gestão. Primeiro, em tornar as instituições políticas de unívocas a abertas e
porosas, realizar o seu caráter democrático (DEWEY, 1927), pois é pela participação que se
pode fazer o conhecimento, experiência e anseios dos públicos chegar à tomada de decisão
(STOUT; LOVE, 2017; MORE, 2006). Isso requer o fortalecimento e ampliação das ações da
sociedade civil que promove um exercício descentralizado de investigação pública, não só sob
a forma de debate, como em algumas abordagens deliberativas, mas pela exploração de formas
inovadoras de resolução dos problemas (FREGA, 2019).
Por outro lado, é preciso reconhecer e afirmar a importância democrática de inovação
institucional. É por meio da institucionalização do exercício sistemático da dúvida, ou seja, da
reflexividade, a respeito dos hábitos, processos e estruturas dentro da organização que se pode
evitar o perigo de engessamento, que tem consequências na resolução de problemas e, como
efeito, na eficácia e legitimidade das organizações. Isso requer uma conjugação de
descentralização e coordenação. Por um lado, conceder autonomia às unidades para
experimentarem soluções, já que conhecem o problema em profundidade; por outro promover
a coordenação das experiências locais a fim de gerar aprendizados mais amplos e permitir o
avanço da ação pública (FREGA, 2019). Essa é a discussão que se tem construído em torno das
chamadas organizações pragmatistas, uma teoria das organizações que dê conta do fenômeno
da inovação, fundamentalmente dada a sua importância democrática (ANSELL, 2011; SABEL,
2012).
Assim, pode-se afirmar que perspectiva da experimentação democrática pode
contribuir para focalizar as atividades práticas de participação em situação, pois visa
acompanhar in vivo a experiência processual de múltiplos atores em diferentes escalas
temporais e espaciais e em diferentes situações vivenciadas. Além de levar em conta os efeitos
(consequências) das ações coletivas que abrem (ou não) novas oportunidades de ação e/ou
resolução dos problemas públicos (CHATEAURAYNAUD, 2011a e 2011b; CEFAI, TERZI,
2012). Trata-se de uma abordagem que prioriza a descrição da vida política cotidiana dos atores
que compartilham temas comuns, permitindo interpretar como as práticas e as experiências
individuais e coletivas reconfiguram os problemas públicos e encontram respostas e meios para
solucioná-los (CEFAÏ, 2011; 2012). Neste processo, os atores buscam conciliar suas diferentes
visões de mundo para articular respostas efetivas ao problema em comum. Além disso,
diferentes fatores resultam na redefinição do problema ao longo do tempo e ainda na medida
em que respostas vão sendo encontradas surgem novas situações problemáticas (CEFAI, 2012).
Mas como acessar as dinâmicas de experimentação democrática que acontecem no
cotidiano das cidades e sues desafios? A fim de compreender a experiência de experimentação
democrática do FPPF, o trabalho foi construído em dois momentos. O primeiro buscou esboçar
a configuração do Fórum no momento da pesquisa, reconstituindo e analisando a rede de
participantes que o compõe e as formas de participação. Em um segundo momento, dada a
importância da trajetória da ação pública ao longo do tempo para a configuração dos campos
de experiência, foi reconstituída a trajetória do FPPF, tratando-se de remontar as suas cenas
públicas, a compreensão do processo de investigação pública gerado e seus desdobramentos,
desde a sua origem até os dias atuais. Isso permitiu compreender a construção de uma forma
experimental de participação, assim como seus alcances, desafios e dilemas enfrentados. A
A perspectiva metodológica que foi escolhida para esse estudo foi a etnografia, aqui
entendida como uma postura de pesquisa, em que se busca compreender os significados
atribuídos pelos sujeitos às suas experiências, levando em conta a imersão nos contextos de
prática (ANDION; SERVA, 2006). A pesquisa teve a particularidade de uma das autoras ter
ocupado a coordenação da organização pesquisada de 2017 a 2019, evidenciando-se, assim, o
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Legenda:
Status Símbolo Descrição da Classificação
CEMAS). Nesse sentido, outras categorias que tem voz e voto, como OSCs inscritas em outros
conselhos de políticas públicas, representantes de usuários, organizações de usuários e
movimentos sociais têm uma participação pontual nas AGOs, sendo aqui considerados
“satélites” da rede , por atuarem mais como interlocutores em momentos específicos, do que
como participantes regulares. Ainda outros possíveis participantes sem voz e voto como aqueles
de categorias profissionais, da câmara municipal, do Ministério Público, dos Conselhos
Tutelares, de Universidades e espaços de controle social também estão inseridos entre esses
participantes satélites (tendo participado de pelo menos uma das AGOs dos últimos três anos).
Somado a isso, contata-se que - apesar de haver um aumento de participação nas AGOs
de 2016 (em 61% das OSCs) - essa ampliação se reduziu nos últimos dois anos. Apenas 17
OSCs aumentaram sua participação em 2017 e 4 em 2018. Além disso, mais da metade das
OSCs (27) diminuíram sua participação nas AGOs em 2017 e 2018. Todos esses dados
indicam uma desmobilização na rede do FPPF nos últimos dois anos de OSCs que têm
uma efetiva atuação junto as PPs municipais, as quais foram citadas anteriormente. Tal
constatação nos leva à pergunta do porquê que isso está ocorrendo, indagação central para qual
alguns elementos de resposta poderão ser elencados na próxima sessão que discute a trajetória
do FPPF. Além disso, percebe-se claramente a necessidade de maior mobilização “chamando
mais para junto” na rede tanto as 38 OSCs que constituem as protagonistas passadas, as ativas,
as esporádicas e as notáveis, quanto também, aqueles representantes e instituições que se
colocam no grupo dos “satélites” e que os mesmos já mantém uma interlocução com o FPPF,
como descrito.
também na trajetória do FPPF (quatro delas com participação nas mobilizações para sua
criação) e a maioria delas (8) participaram da composição do colegiado do FPPF, o que
confirma a posição de liderança das mesmas junto a esse espaço de articulação e na sociedade
civil do município.
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representatividade, como a denúncia relatada acima. Tudo isso estimulou reflexões e debates
coletivos que geraram reenquadramentos na sua forma de atuação, o que se materializa nas
contínuas atualizações de sua Carta de Princípios em três anos (2011, 2013 e 2016).
Analisando o debate e a ação pública nessa cena, percebe-se que as temáticas e a forma
de interlocução junto ao poder público se diversificaram, bem como sua atuação. Permanece
uma preocupação com a sustentabilidade da política pública, incluindo a questão da
organização dos conselhos e a mobilização de recursos para a política e para as OSCs, como as
mobilizações para a contratação de concursados e as discussão intensas a respeito do FIA.
Também consolida nessa cena, sua atuação não apenas na mediação para garantia de direitos,
por meio de denúncias, formações, debates e construção de opinião pública, mas também na
deliberação no âmbito das políticas públicas de DCA e de AS.
A partir dessa cena, o FPPF passa a ser um ator que, por meio de sua incidência,
influencia nas decisões e na criação de dispositivos que regulamentam políticas públicas
municipais. Em certa medida, o conhecimento construído ao longo do tempo, parece tornar essa
ação mais efetiva, porém, esse aprendizado não é linear, nem se move apenas por consensos,
como discutido anteriormente. Dessa forma persistem dilemas quanto a atuação do FPPF e
também sobre as formas de participação: em alguns momentos e para algumas organizações, o
mais importante é a garantia da sustentabilidade da política e sobretudo, das OSCs, buscando
defender as pautas mais específicas, a partir de uma lógica de barganha, (FUNG, 2006). Em
outros momentos e para outros atores, o mais relevante é levantar pautas coletivas relacionadas
com a garantia de direitos, visando avançar na efetividade das políticas públicas. Essas
reflexões podem agregar para fortalecer o processo de formação dos participantes no FPPF,
ampliando a compreensão sobre o que significa fazer parte dele, bem como sobre a pluralidade
de lógicas e regimes de ação que permeiam esse espaço de articulação.
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administração. Administração: ensino e pesquisa, [s.l.], v. 16, n. 2, p. 241-273, abr./jun. 2015.
i
Essas atividades estão listadas em XXXXXX (2019) e incluem assembleias ordinárias e extraordinárias, reuniões de comissões de trabalho,
mobilizações, audiências, elaboração de diagnósticos, relatórios, ofícios, entre outras
ii
Consiste no projeto de pesquisa e extensão mais amplo no qual esse estudo se insere que se materializa por uma plataforma online
colaborativa que auxilia no mapeamento e compreensão do Ecossistema de Inovação Social (EIS) no município. Para mais informações
conferir em XXXXX.
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