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REVISTA DO SERVI O
DO PATRIMONIO
HISTORICO E ARTISTICO
NACIONAL
N. 3
1939
RIO DE JANEIRO
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REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO
E ARTISTICO NACIONAL
ORGAO DO
SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO
NACIONAL
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAUDE)
REVISTA DO SERVI�O
DO PATRIMONIO
HISTORICO E ARTISTICO
NACIONAL
N. 3
1939
RIO DE JANEIRO
REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTóRICO E
AR1"1STJCO NACIONAL
Págs,
A Cerân1ica de Santare,11 ............... . 7
Antigas de Minas . . . .. . . . . .. .. . . . . .
A Pint11ra Dccorati11a e,11 Alg11111as lgreias
Luiz Jardin1 ....... . 63
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UM DESENHO PREPARATORIO PARA A ''LIBER-
TAÇÃO DE SÃO PEDRO", OBRA DA ESCOLA DE
RAFAEL, N A RIBLIOTECA N ACIONAL
DO RIO DE JANEIRO
papel é cinzento escuro e foi colado, en1 tempos mais recentes, so
bre outra folha para melhor conservação .
Pode-se deduzir a sua proveniência de alguma coleção parti
cular flamenga ou holandesa de uma longa inscrição no idioma da
queles países. em que seu proprietário o atribue sem hesitação a
Rafael, com a clássica imprudência dos amadores de todas as épo
cas. A letra parece ser do século passado .
Ignoro a data em que dett entrada este cimélio no Gabinete
de Estampas da nossa Biblioteca Nacional, em todo caso já nele
se encontrava antes de 1 885, pois acha-se mencionada brevemente
no volumoso Catálogo da Exposição permanente, impresso naque
le ano, com o nome do suposto autor - Rafael - faltando qual
quer outra indicação a respeito ( 4 ) .
As variantes que distingttem este esboço da sua execução de
finitiva na parede da célebre sala vaticana, são notaveis, sobre
tudo nos grupos laterais dos soldados e na parte arquitetônica .
Mostram elas o esforço do pintor em dar à sua composição um
equilíbrio de massas mais estavel e uma harmonia mais sólida e
plena, infundindo à representação artística do episódio e vangélico
uma extraordinária vivacidade narrativa .
E' desnecessário analisar mais amiude estas variantes do nosso
desenho, que não trazem 11enhum contributo novo aos estudos, pois
já são bem conhecidos pelo desenho autógrafo de Rafael conser
vado no Museu dos Uffizi de Florença ( 5 ) .
Deste deriva estreitamente a peça de que estamos a tratar, não
só no seu aspecto geral corno tambem na técnica - pena, aguarela
e toques a gouache - e nas medidas : 26 cm. por 42,5.
Nos pormenores o desenho do Rio de Janeiro apresenta um
carater mais acabado e menos sumário do que o seu protótipo fio-
•
( 4 ) Cfr . o (_'atálo_qo cit . ( nota 1 ) i1 púg . 565.
( 5 ) O desenho do<, Uffizi é tido por alquns con10 obra da Escold de Rafa c l . O .
Fi.schel. o rnelhor tonhcccdor do Me;,tre. o considera trabé!lho originé!l ( comunicaçílo epistolar ) ,
•
•, 6 ) Ap .. VII!. 2-6.
•
, quasi nada se conhece dos seus autores e da época em que eles vi
veram ; excetuando a pintura do teto da igreja de São Pedro dos
Clérigos, em Recife, obra de João de Deus Sepulveda, que na
mesma trabalhou entre os anos de 1 764 e 1 768 e a que está no
forro do coro da mesma igreja, de autoria de Luiz Alves Pinto, tudo
o mais é desconhecido,
Essa falta, em grande parte motivada pela ausência quasi
absoluta de pesquisadores desse assunto, fica ainda agravada pelas
dificuldades provenientes da necessidade de consultar numerosos
documentos que, atualmente, se acham nos arq11ivos das irmanda
des ou em poder das comunidades dos conventos,
Enquanto não é possível proceder a cuidadosa investigação nos
papéis acima referidos, o que requer paciência e tempo, poderemos,
pelo resultado exclusivo de um exame de fatura e composição
chegar a algumas conclusões de ordem geral, podendo orientar o
curso de fu luras pesquisas mais minuciosas,
Façamos portanto essa ligeira análise sobre aqueles quadros
em que se torne mais facil exercê-la,
No número das obras mais susceti,,eis dessa observação con
vem incluir, alem das duas já citadas, os quadros da Sé de Olinda,
os da Ordem Terceira de São Francisco, em Recife, as pinturas do
Convento de São Bento, da Igreja da Conceição e da Igreja do
Amparo, em Olinda, os quadros da Igreja de Nossa Senhora dos
Prazeres e mais alguns outros ,
Sobre eles já se tem feito uma larga documentação fotográ
fica, aliás em boa hora iniciada por José Maria C, de Alb11querque,
diretor do Museu de Recife,
A pintura colonial em Pernambuco apresenta, como as suas
congêneres nos países latino-americanos, relações muito vivas com
as tendências pitóricas da mesma época do estrangeiro,
Em muitos desses quadros pressente-se a técnica dos pintores
flamengos dos séculos 1 6 e 1 7, em outros encontra-se uma viva
influência da pintura espanhola, com processos de claro-escuro
riberiano ( • ) ou com o modelado mais flúido de Murilo, outros
(* ) No recolhimento da Glória de RC'cife exi�te tnn quadro no 1ndis puro estilo de
Ribera ou Zurbaran : "A Sc1grc1da Fa1nília. coin São Joaguitn e Sant:1�,1·· .
En1..ontro de Jc�ú.) ..om a Virgem. Quadro c.\:1�tcnr.: na Se dl Olincia.
R.etábt1lo de Santa Quitéria
P111rura e/o Jorro Úa /,l/rLJd e/, S . Pl�cJrl• cio� (·1cr,yu:,
João d,. Deu., :,t•p11/ t'l'<.ÍJ
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admirador do grande artista sevilhano e talvez mesmo um seu
discípulo ; não é absurda esta lembrança considerando que Murilo
executou vários trabalhos no Convento de São Francisco, em Se
vilha, o que vem, de certo modo. j ustificar a presença de quadros
que são verdadeiras imitações da sua técnica, em várias comuni
dades franciscanas, na América, como os do Convento de Gua
dalajara, atualmente no Museu Nacional do México.
Ainda nas paredes laterais, a meia altura e na parte superior,
estão muitos outros quadros. destacando-se os oito maiores repre
sentando : " Santa Humiliana'', ''São Pedro de Podia'', "Santa
Adriana'', " São Luiz Rei de França'', " Santa Joana da Cruz'', " São
Torrelo'', " Santa Margarida de Cortona'', " São H enrique R, de
Dedássio'' : todas essas estão compostas procurando realizar ''pin
tura fechada'' com motivos arquitetõnicos, anjos, festões de
rosas, etc.
As pinturas do teto obedecem a uma fatura diversa das duas
primeiras. menos acadêmica, menos rígida ; dão a impressão de
uma concepção pitórica complexa, realista e original.
Todas elas apresentam sinais visíveis de retoques nem sempre
felizes e no dizer do Sr. Fernando Pio foram executadas de 1 699
a 1 702.
O teto da Igreja de São Pedro dos Clérigos representa o
"Triunfo de São Pedro''. em grande escorço. mostrando uma opu
lenta arquitetura, porem medíocre no desenho das figuras e no co
lorido ; mais valiosa é a pintura do forro do coro representando tam
bem São Pedro, trabalho executado pelo pintor já mencionado,
em 1 805 .
Pela segurança com que foi feita esta obra, pode-se atribuir
" Luiz Alves Pinto qualidades apreciaveis de colorista, com uma
firme conciência de seu ofício, e supor a sua atividade artística es
tend 'da à composição de outras obras que bem podem ser iden
tificadas.
. . .
62 RE\/1S1' 1\ no SER\·1c,:<) DO P:\TRL\l(JNIO I I IS1"0Rll'O E AR'flS'J'lCO N,\{:JON1\L
JOAQUI�l Ci\l<DOSO
A PINTURA DECORATIV A EM ALGUMAS
IGREJAS ANTIGAS DE MINAS
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clL· mt>cl�·/o para pintura� e.'\.·1.st('rJf<•:-. t:m al11un1n� ,µrl'/il.S di: AI inw;
63
vestígios - e. portanto. todo apelo aos sentidos por meio de pompas
e ornamentações grandiosas, com finalidades místicas, não teria
nenhuma intenção contra-revolucionária. Quando se transplantou
da metrópole para a colônia o gosto pelas decorações amplas, já
foi em forma de tradição artística. de uso geral e comum, e de todo
perdido o seu valor de ação social : religiosa e. de alguma maneira,
política. E esta, se tivesse necessidade de magnificências e de
grandezas como demonstração de poderio, admitindo-se que o ab
solutismo fosse aqui representado a princípio pelos donatários e
depois pelos governadores gerais e vice-reis. não acharia melhor
símbolo do que o próprio ouro . Mas o Estado era Lisboa . E é
s:gnificativo que de Minas tivessem saido as duzentas e tantas mil
arroubas desse metal - riqueza régia - conquanto as igrejas,
sob esse aspecto, sejam pobres relativamente às do Rio, Baía e
Pernambuco . Se o governo e o particular - político ou homem
de posses - não se interessaram pela pintura ( salvo numa ou nou
tra casa onde ainda perduram arabescos coloridos ) , seria a Igreja
que lhe daria acolhida e meios de expressão . Na própria igreja
- o templo com os seus adornos, suas imagens. suas cores. vinhe
tas e estampas de missais antigos, o artista acharia inspiração
e modelo . Só ela, à falta de palácios. representaria de modo mais
perfeito o ideal de decoração barroca. tomada no seu sentido
amplo : arquitetura, escultura e pintura . E é realmente na igreja
que está toda a grande história da arte barroca no Brasil .
O que se verifica, porem, é que a decoração em geral e a
pintura em particular nem sempre se concluiam obedecendo a um
plano preestabelecido . Faziam-se muitas vezes ao sabor das cir
cunstâncias . Igrejas que levaram um século para construir-se de
finitivamente, como a de S . Francisco e a das Mercês, em Dia
mantina, ostentam ainda hoje pinturas parciais . E ainda outras,
como a de Santo Antônio, em Santa Bárbara, tiveram a unidade
decorativa perturbada pelos acréscimos periódicos. influenciados
consequentemente pelo gosto de cada época .
Tudo afinal dependia das irmandades . Irmandades bran
cas, pretas e mulatas. as quais. pela própria condição econômica e
social, desvirtuavam-se no seu sentido originário e transformavam-
•
-
Retábulo els Igreja do Bon1 Jcsús de Msto;;inhos. no Serro. pars a qual scr11iu de mcxlclo a
esfarripa do n1issal antigo .
A P!Nl'URA DEC:ORATl\,'A EM ALGUr-.1:AS l(iREJAS AN T'IG/\S DE MINAS 71
( 1 ) Foi o escritor Áires da Mata Machado Filho quc1n primeiro encontrou o ajuste d a
pintura da Capela Mor, em 1 766, com o Guarda-Mor José Soares de Araujo . Posterior-_
mente, pela consulta dos livros da V . Ordem 3." de N . S . do Carmo, consegui apurar
que em 1 77 8 o mesmo artista ajustolt a pintura do teto do corpo da igrej a . E' de sua
autoria, tambem, a pi11tura da Capela-Mor da igreja do Rosário, da qual foi tesoureiro
durante muitos anos, e da Capela-Mor da de S . Francisco. esta retocada depois, entre
1 878 e 1890, pelo pintor Agostinho Luiz de Miranda, conforme os documentos que en
contrei e dos quais tem cópia o SPHAN . E' possível que ainda tenha sido feita por
ele, a concluir pela semelhança, a da Capela-Mor d a igreja do Bonfim . Dessa igreja,
infelizmente, resta apenas um livro de registro de batismo .
Do " Livro dos acentamentos dos irmãos falecidos e sepultados nesta Capella'' ( Ordem •
Detalhe do rL·tab11lo ,id 1.tfrLJa cio Bu,11 /c:;u� ele l'v1ütu=tr1ho�. no Serro. c:op1a ,/e umiJ
cstampl1 do mis�al antigo
.-\ PINT U R A DEf�ORATIVA EM .i\LGU r-.1AS IGREJAS .-\N'J'IGAS DE .r-.f J :'( ,.\ S 7 ')
Pllrtc ela /Jtnrur:i d,, ft'ft, c/ci i.:.orpo dü ͵rc1a do Car,110. c111 D 1amantir1a. {.:,ta .:m 177\' pelo
G11arda-!vlor )v�é Soarc� ele Araujo.
Parte da pintura da Célpcla-Mor da lyreja do Car-n10. cm Dian1antina. feita cn, 1766 pelo
Guarda -!vlor To�ê- Soares dt• Araujo.
A, PINl' lIRA DECORAl.!\'A El\1 .-\LGUl\1.1\ S J<�Hf:_J ,'\S :\ NTIG)-\S !)E \11.t\.\S �5
não se ter afastado das leis barrocas que estabelecem a curva como
linha fundamental . De fato. o pintor não transigiu com esse
princípio. As próprias linhas retas do 2ntablamento de toda a
nave e capela-mor. pintado de azul claro, como que se interrom
pem pelo "faiscado'' azul escuro, raiado de outro ainda mais
forte . Na vastidão da nave os espaços brancos figuram como
formas decorativas assimétricas, pela posição dos dois altares
fronteiriços, irregulares na disposição e no feitio : o do Santíssi
mo, à esquerda, e o de N . Senhora do Carmo, à direita . A ba
laustrada do coro. saliente em curvaturas, contrabalança a sime
tria das duas portas laterais, e, no meio da nave, o arredondado
dos púlpitos opõe-se aos retângulos das janelas .
Se se nota, pela predominância de linhas curvas. de arre
dondados, e pela tendência pictórica de todos os elementos ali
reunidos, cromâticos ou não. muita conformidade com as leis bar
rocas, de outra parte verifica-se certa desharmonia decorativa do
conjunto, resultado da falta de obediência a um plano preestabe
lecido e executado sem interrupções . Com efeito. essa igreja,
como tantas outras, foi sendo reconstruida lentamente, à mercê
não só do gosto e orientação de cada mestre, como principalmente
das influências de cada época. Em todo caso, essa pintura pare
ce-nos uma das mais típicas da última fase do barroco. e o indefini
damente complexo e tortuoso, quer seja sob o aspecto formal. quer
quanto ao sentido místico, que constitue o "pathos ' ' desse estilo, ela
o conseguiu em grande parte.
Apresentando-se perpendicularmente ao observador, e por
efeito da perspectiva, o conjunto suspenso pelas colunas talvez
lembre 11m enorme doce], em cujo fundo, com a forma de cruz. está
pintada a cena da ascenção do Senhor. As dimensões limitadas
do teto não permitem grandes desdobramentos de ornamentações,
já utilizadas na pintura da nave, de modo q11e o interesse da deco
ração se concentra na cena representativa . Surpreende o patético
ou místico das fisionomias. as atitudes de êx tase, a sensibilidade re
ligiosa das figuras . Panejamentos, dobras. pregas dos mantos e
vestes movimentam-se. completando a idéia de ascenção . As nu
vens. esbatidas ao fundo. SU\J erem a mobilidade lenta de J esí1s que
86 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍS"flCO �ACIONAL
Rt pr du窺 parcial dn r11nr11ra cio reto da (�.iptla�Alor 'ld rgrCJJ n1,1tr1z de Anriinro
t:m S.1nra Barl>,1ra, fc,ta por Alanoc/ dd ( osta Ata,dc.
Copra cfc Lu,s Jardim)
Estan,pa elo mi!isc1l ant,yo. na qual parece :;e ter tn:sptrado o artista 11,1n11el d;, C osta Ataíde
•
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A PINTURA DECORATIVA Er-.{ ALGUMAS IGREJAS AN'f!GAS DE MIN;\ S 9�,
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A PINTURA DECORATIVA EM ALGUMAS IGREJAS ANTIGAS DE MINAS 101
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102 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL
LUIZ JARDIM
( 1 ) Dos poucos documentos que a inda restam na igrej a do Ca rmo, em Saba rá, e
que foram por nós consultados, não consta nenhumn indicação segura pela qual nos tivesse
sido possivel apu rar a autoria da pintura decorativa dess a velha ig reja, reproduzida par
cialmente à pág. 99.
( * ) Imp rimia-se este artigo, sem nenhumn referência , port a nto, à autori a daquela
obra, quando o Se rviço do Pat rimônio Histó rico e Artístico Nacional recebeu valiosa comu
nicação do Dr . Zoroastro Pa ssos, ba se ada em re-ccntes pesquisas por este re alizad a s e se
gundo a qua l a referida pintura foi executada por Joaquim Gonça lves dn Rocha .
•
'
( Notas bibliográficas )
BIBLIOGRAFIA
MANUEL DE ARAUJO PORTO ALEGRE ,....., "Memória sobre a antiga escola flu,...
minense de pintura" - ln Revista do Instituto Histórico e Geográ
fico Brasileiro - Volume 3 •- pág. 5 5 1 - Rio, 1 84 1 .
GCJNZAGA ÜUQUE ESTRADA - " A Arte Brasileira" - pág. 33, 34, 35, Rio .
1 888 .
Luiz EDMUNDO _. "O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis" - Págs. 91,
262, 275, 276 - Imprensa Nacional - Rio, 1932 .
PAULO THEDIN BARRETO ,........, "O Mosteiro de São Bento" - Inédito _, Ar
quivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
Rio, 1939 .
BIBLIOGRAFIA
MANUEI. DE ARAUJO PoRTO ALEGRE - " Memória sobre a antiga escola flu
minense de pintura" - ln Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro - Volume 3 - pag . 55 I - Rio, 1 8 4 1 .
GONZAGA DUQUE EsTRAD., - '"A Arte Brasileira" - pág . 35, Rio, 1 888 .
BIBLIOGRAFIA
JOAO DE SOUSA
BIBLIOGRAFIA
MANUEL DA CUNHA
BIBLIOGRAFIA
MANUEL DE ARAUJO PoRTO ALEGRE -- "Memória sobre a antiga escola fl1.1-
minense de pintura" - ln Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro - Volume 3 - pág . 555, Rio, 1 8 4 1 .
LEANDRO JOAQUIM
BIBLIOGRAFIA
1 3 1 - Rio, 1924 .
Luiz EDMUNDO - "O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis" - Pâg·. 338.
374, 384, - Imprensa Nacional - Rio, 1932 .
BIBLIOGRAFIA
MANUEL DE ARAUJO PoRTo ALEGRE - " Memória sobre a antiga escola flu
minense de pintura" - ln Revista do Instituto Histórico e Geogrâfico
Brasileiro - Volume 3 - pág . 554 - Rio, 1 84 l .
•
Natural da cidade de Macacú, no Estado do Rio. Filho de
Jorge Antônio C osta Mendonça. Seu nome de batismo era Fran•
cisco José Ben jam'm. lgnora-se a data do seu nascimento. tendo
falecido, provavelmente, em 1 81 4. Foi designado pelo vice-rei Luiz
de Vasconcelos para acompanhar Frei Mariano da Conceição Ve
loso em sua viagem através do Brasil, ilustrando nessa ocasião
quasi toda a famosa obra '' A Flora Fluminense'' de autoria da
quele ilustre botânico .
•
1 16 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
BIBLIOGRAFIA
Luiz EDMUNDO - "O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis" - Pág . 128
- Imprensa Nacional - Rio, 1 932 .
•
PINTORES DO RIO DE JANEIRO COLONIAL 1 17
. '
ANIBAL MATOS - "Arte Colonial Brasileira" - pagina 46 - Biblioteca
Mineira de Cultura - Belo Horizonte, 1936 .
BIBLIOGRAFIA
Rio, 1 877 .
• • •
1 18 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRlMONlO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL
MANUEL DE ARAUJO PoRTO ALEGRE - " Memória sobre a antiga escola flu
minense de pintura" ,....., ln Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro - Tomo 3 - pág . 555 - Rio. 1 841' .
PINíORES DO RIO DE JANElRO r.OLONIAL 1 19
Rio, 1 877.
FREI INÁCIO, MARTINHO DE BRITO, MANUEL DA CosTA e FRANCISCO DE CAR-
VALHO, citados por :
'
DOMICIANO PEREIRA BARRETO
Rio, 1 877.
ANTôNIO ALVES
NAIR BATISTA
.'
•
/'23
ARMAND J-ULJEN
-
PALLIERE E LUIZ ALEIXO BOULANGER
• • •
1 24 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO E :\hTISTICO NACIONAL
Descente de croix.
Montation de la croix.
• •
Apothéose de la Reine de Portugal tableau qut n est
point encare terminé. •
,,
grandeurs et dessins faits en ltalie d'aprés les grands
� '
ma,tres.
(1) Encontrava�se no Rio de Janeiro. Dai, talvez, a vinda do artista para o Brasil ?
•
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Quadro a óleo de Armand Ju/íen Pall,érc (seu filho to"1ando banho, na varanda
da casa do avó, Grandjean de Montigny. na GáL,cc:1) _
Pertence ao Dr ]a,mc Sloan Chermont.
l "2. '5'
••
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•
•
•
( 1 ) Relação/ dos públicos festejos/ que/ tiverão / lugar/ do dia 1 de Abril até
9./ pelo feliz regresso/ de/ SS. MM. II . , e A. 1./ voltando da Baía/ à Corte Imperial/
do Rio de Janeiro./ seguida do Sermão/ pregado em ação de graças/ na/ Igreja de S .
Francisco de Paula./ e de várias peças de poesia etc. / Feita por ordem do Conselheiro/
Intendente Geral de Polícia/ para eterna memória de tão grand !!S dias/ nos fastos Brasi�
!eiras . / - /Rio de Janeiro./ na Imperial Tipog rafia de Plancher. / 1826.
1 36 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E . .\RTÍSTICO NACIONAL
• • •
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1 44 REVIS1'A DO SERVIÇO DO PATRIMONIO l l !S1'0RIC:O E ..\RTISl ICO NACIONAL
Pézérat.
Pézérat não datou stta lacônica missiva. Boulanger, porém,
meticuloso, apôs-lhe a data do recebimento: 27 de Abril de J 830.
*
( 1 ) E1n 1925, na capitéll paulista. passando pela rua Barào de Itapetininga. tive�
n1os a atenção voltadcl para uma loja de quadros. livros e gravuras brasil.e-iras. Era a
Livraria Blanchon. Lá adquirimos documentos do arquivo de Luiz Aleixo Boulanger,
trazidos de Paris e pertencentes a Mme. Castro. filha daquele artista, segundo nos disse
o Sr . Blanchon, um francês esbelto e 3tencioso .
Interessaran1-nos : um Hvro contendo desenhos de Don1 Pedro II e suas irmãs ;
exercicios Célligráficos : normas de cartas escritc1s por Boulanger ; ditas do Marquês de
Itanhaém, de Dona Carlota de Verna Magalhãies, da I1npetatriz Amélia, todas para que os
principezinhos brasileiros, copiando-as, as enviassem a personagens europeus. Cartas de
Dona Amélia aos príncipes ; uma cartinha da princesa Teodolinda (irmã de Dona Amélia)
à Princesa }élnuária, Outro grande livro, com primorosa capa. contendo exercicios de
caligrafia de Boulanger, desenhos do Imperador menino, desenhos de m6vei:ii para o Paço
d a Boa Vista, escritos em miniatura, etc. etc. Um modelo de Armorial Brasiliense, que
Boulanger fizera de encon1enda para pessoas cujos autógrafos estão consignados. No fim
desse livro estavam colados desenhos que Boulanger fizera em França, de 1 8 1 5 a 1824-, em
La Fére, Reims e Paris, acompanhados das respectivas litografias.
•
...
r 1; A :-t f, , •,
, 1
•
Charles Napolcon
Lit. de L . A . Boulanger. R.is�o & Cia Rio de Janeiro
( Coleção da Seção de Esrampas da Bibl,orl!cil Nacional)
DOIS ARTISTAS FRANCESES NO RIO DE JANEIRO 147
•
•
(l) Este artigo foi escrito à guisa de introdução para um album com fotografias
de moveís brasileiros, que não chegou a ser impresso, destinado à ·Feira Internacional de
Nova York,
1 50
• • •
REVISTA DO SERVIÇO DO PA1'RIMONJO HlSTORIC:O E ARTlSTICO NACIONAL
Fig . 1
boretes, mesas e ainda arcas. Arcas e baús para ter onde meter
a tralha toda. Essa sobriedade mobiliária dos primeiros colonos
se manteve depois como uma das características da casa brasi
leira. Mesmo porque, como já se lembrou muito a propósito, o
clima o m<1is das vezes quente da colônia, o uso das redes em
certas regiões e o costume tão generalizado de sentar-se sobre
esteiras, no chão, não estimulavam o aconchego dos interiores nem
os arranjos supérfluos ou de aparato. Quanto menos coisa, melhor,
para não atravancar inutilmente os aposentos. Mas, se a arru
mação era despretenciosa e sem sombra de encenação preconce
bida - embora ainda existam portadas e tetos decorados de as
pecto verdadeiramente nobre, principalmente na Baía -, as peças
em si eram bem trabalhadas e bonitas ; não só porque a tradição
do ofício era fazê-las assim, como tambem porque os oficiais e
ajudantes deles eram muitas vezes gente da casa, escravos cujos
dotes naturais, em boa hora revelados, a conveniência do senhor
havia sabido aproveitar. Trabalhando sem pressa, nem possibi
lidades de lucro, o ''prazer de fazer bem feito'' era tudo o que im
portava : isto ao menos era deles. - o dono não podia tirar.
O movei brasileiro, ou mais precisamente o movei português
feito no Brasil, acompanhou, portanto, como o da metrópole, a
evolução normal do mobiliário de todos os países europeus, ou de
procedência européia, depois do renascimento, quando, partindo
da Itália, o novo gosto se foi espraiando pelos demais países e pe
netrando o velho fundo gótico-românico e nacional de cada um.
Portugal, onde, alem da tradição românica tão marcada , • a
ct1ltura mosárabe t,nha raízes profundas e o gótico tardiamente
se combinara com as influências do oriente, desenvolvendo-se com
força e exub1trância imprevistas, - foi · dos que mais lentamente
se deixaram absorver.
Com o prestígio, porem, cada vez maior da monarquia fran
cesa, as atenções se foram voltando para Versalhes, porquanto a
França, assimilada a lição de Roma, criara por sua vez vocabulá
rio próprio, tornando-se assim o novo centro de irradiação, cuja
influência, na orientação do gosto das demais cortes européias, se
foi dilatando juntamente com o poder de Luiz XIV e se manteve
•
152
• •
REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL
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158 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTlSTICO NACIONAL
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F;g. 14 ·
Lúcio CosTA
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O MOBILIARIO DOS INCONFIDENTES
( 1 ) Lindley, citado por Alcântara Machado, assinala a carência quasi conipleta, ob
servada em São Paulo nos princípios do se<::. XIX, de pratos e talheres, pentes e escovas,
copos e tesouras, "mesmo nos solares mais ricos". Entretanto, o mesmo não se pode dizer
quanto ao fornecimento da casa mineira em fins do sec. XVIII. Com efeito, só no seques w
tro do Vigário Carlos Correia de Toledo, encontramos : 3 dúzias de pratos finoo da lndia,
12 copos de vidro, 1 dúzia de chicaras e pires de louça da fndia, 3 bules da mesma louça,
2 terrinas de louça de Lisboa, etc.. No de José de Alvarenga Peixoto : "dúzia e meia de
facas, outras tantas colheres, outros tantos garfos, 2 colheres grandes de tirar sopa, 12 colhe
res pequenas de aparelhos de chá, e 1 tenaz e 1 escumadeira, tudo de prata" .
(2) Tambem em São Paulo era .irrisório o valor da propriedade imovel, comparado
com o de quaisquer objetos manufaturados . Assim, "em 1642 um lanço de casas na rua
Direita que vai para São Bento não alcança mais que 16$CXXl enquanto que na mesma época
da.o 6$000 por 1 colchão de lã com seu enxergão e travesseíro" .
167
•
O MOBll-lARIO DOS lNCONFlDENTES
( 1 ) Em São Paulo a quantidade de livros era ínfima : "quinze, por junto, os espó
lios em que se descrevem livros. 55, apenas, os livros de ler, de letra redonda, que veem
arrolados . A maioria se compõe de devociondrios e produções de literatura religiosa". Ao
passo que em Minas havia bibliotecas grandes, compostas de obras d_e Virgílio, Séneca, Cí
cero, Suetônio, Bossuet, Voltaire, M . Tissot, etc.
• •
1 70
•
REVISTA DO SERVIÇO DO PATRil\.lONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL
•
1 71
- ,
E-VOLUÇ;AO 00 MOBILIARIO LUSO BRASJLEIRO
HÉLCIA DIAS
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•
1 74: REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
•
O PRIM EIRO DEPOIME'.NTO ESTRANGEIRO SOBRE O ALEIJADINHO 1 75
uebrigens sind die schoenen Anlagen des Menschen, der sic.h ganz
selbst gebildet und nichts gesehen hat, nicht zu verkennen."
Em português :
" Congonhas está situada a uma légua de Redondo, e um
bom caminho conduz para lá, Primeiro chega-se à igreja de N .
S: de Matozinhos ( sic ) , colocada num alto sobre Congonhas, lar
gamente célebre pela sua milagrosa imagem de Maria ( sic ) . * Esta
igreja é opulenta pelas muitas doações, presentes e esmolas que
para lá correm e, assim, grandes somas se consomem na sua orna
mentação. Ela é simples e limpa; a escada para a entrada princi
pal está profusamente ocupada por estátuas de santos, esculpidas
em pedra e em tamanho natural; ( a igreja) é cercada por uma
plataforma calçada com pedra de cantaria, e, na parte posterior,
encontra-se um gracioso jardim, igualmente provido de estátuas,
repuxos e altas euforbiáceas. Tem-se, ainda, o plano de represen
tar a paixão de Cristo, sucessivamente, em figuras de tamanho
natural, em pequenas capelas especiais, que começam nos pés da
montanha, e o tr;ibalho já foi iniciado .
Ao lado da igreja existe um longo edifício, destinado aos
romeiros que aqui se reunem aos pés de Nossa Senhora ; nesses
dias oferecem os dirigentes da igreja um grande banquete .
As estátuas são todas esculpidas em pedra-sabão, que se en
contra em grandes jazidas, nas proximidades .
O principal escultor, que ;iquí se salientou, é um homem alei
jado, com as mãos paralíticas, ele se faz amarrar o cinzel e executa
desta maneira os mais artísticos trabalhos, somente as suas roupa
gens e figuras, são, por vezes, sem gosto e desproporcionadas;
de resto não se deve desconhecer os belos dotes do homem, que
se formou por si mesmo, e que nunca viu nada."
O primeiro viajante estrangeiro que escreveu sobre as Mina,
foi, como é sabido, o inglês Mawe. Não foi, como ele pretende,
notas para o "Jornal'' são tomadas apenas três anos antes da mor
te do Aleijadinho, enquanto, por outro lado, se afirma que o corte
dos dedos começou a partir da moléstia, que o atingiu antes dos
cincoenta anos .
Saint-Hilaire, ao inverso, já se faz arauto da fábula que se
forma, quando, três anos depois de morto o artista, recolhe a tra
dição de que ele fez uso de uma beberagem que excitou as suas
faculdades intelectuais, mas que lhe paralizou as mãos. Convem
acentuar que o francês tão pouco alude a mãos mutiladas, mas,
apenas, a mãos paralíticas, ( ''il perdit l'usage de ses extremités",
escreve ) o que vem ainda mais confirmar a impressão de que Lis
boa nunca teve os dedos decepados .
Outras observações interessantes se podem, ainda, tirar das
notas de Eschwege, completadas pelas de Saint-Hilaire.
Em primeiro lugar se vê que, atrás da igreja de Congonhas,
havia um jardim bastante enfeitado, que hoje desapareceu. Em
seguida observamos como foi desastrada a demolição da velha
casa dos romeiros, ( Saint-Hilaire chama-a '' casa dos milagres'' e
alude ao extraordinário número de ex-votos que nela se encontra
va ) , desastre ainda agravado pela aparição do edifício mais ou
menos indigno que , do mesmo lado, construiram agora .
Mas o que interessa é verificar como as capelas. onde se
encontram as cenas da via-crucis, e às quais nós, em Minas, cha
mamos simplesmente os Passos de Congonhas, são posteriores à
execução das estátuas de madeira, que nelas se encontram e, até.
mesmo, à morte de Antônio Francisco .
Eschwege diz que, no seu tempo, tinha-se o plano de repre
sentar a paixão de Cristo por meio de estátuas colocadas em ca
pelas particulares que começavam nas faldas do monte. Saint
Hilaire ajunta que '' três dessas capelas já se achavam construi
das ; são quadradas f?. terminam por uma pequena c ú pula cercada
por uma balaustrada''. Diz, ainda, que, ' ' no começo de 1 8 1 8 uma
somente estava terminada no interior, e aí se via a Ceia, represen
tada por estátuas de madeira, pintadas e em tamanho natural'',
'
•
- . .
1 78 REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO HISTDRICO E ARTISTICO NACIONAL
'
•
( 1 ) "Dona Maria por graça de Deos Raynha de Portugal e dos Algarves daquem
e dalem mar em Africa Senhora de Guiné etc . Faço saber a vos Governador e Capitão
General da Capitania de Minas Geraes que Eu sou servida Ordenarvos que pelos ouvidores
das Comarcas dessa capitania façaes praticar o arbítrio de se fazerem effectivamente todos
os annos humas memorias annuaes dos novos Estabelecimentos, factos e cazos mais notaveis
e dignos de historia, que tiverem succedido desde a fundação dessa capitania e forem
succedendo ; sendo estas escriptas pelo vereacjor segundo ( attendido o impedimento que
pode ter o primeiro servindo de j uiz ) , o qual no fim de cada hum anno as aprezentará em
camara, aonde lidas e examinadas se farão registrar em hum Livro destinado para este fim,
dando fé todo o corpo dos Vereadores por escripto serem aquelles factos e successos na
verdade ; recomendando outrosim aos mesmos ouvidores em correição tenhão huma par
ticular inspecção em tão interessante ma teria . A Raynha Nossa Senhora o mandou pelos
conselheiros do seu conselho Ultramarino abaixo assignados se passou por duas via s . An
tonio Ferreira de Azevedo a fez Lisboa vinte de Julho de mil sete centos e oitenta e dous .
O Secretario Joaquim Miguel Lopes de Lavre a fez escrever . Miguel Serrão Oiniz - João
Baptista Vaz Pereira . Segunda via . Por despacho do conselho Ultramarino de vinte hum
de Mayo de mil setecentos e oitenta e hum . O Secretario do Governo Jozé Antonio de
Matto . - Cumpra-se e registe-se . Doutor Gonzag a - Não continha mais a mencionada
copia da ordem régia a que me reporto em poder do abaixo assignado a quem a tornei entre
gar, a qual aqui bem e fielmente fiz registar, por mim subscripto, conferido e assignado
nesta Villa Rica do ouro preto aos vinte e hum dias do mes de Novembro de mil setecentos
e oitenta e quatro annos . E eu José Veríssimo da Fonceca escrivão da ouvidoria o subscrevi
assignev e conferi . José Veríssimo da Fonseca " . - Revista do Arquivo Público Mineiro,
Ano VII. 1902, pg . 437 .
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11 •
Primeira pây,na do manus<.:rrto original do trabalho de Rodrigo /osé Ferreira Bretas sobre o
Aleijadinho. publicado em l '-15� no "'Correio Oficial de Minas"'
181
APONTA MENTOS PARA A BIBLIOGRAFIA 1 83
(J}
A primeira tradução portuguesa de Vinnola, feita por José Calhelros d e Maga
lhães e Andrade, natural de Braga, é de 1787 .
(2) R,cvista do Arquivo Pü.blico f.lfineiro, Ouro Preto, 1 896, vol . 1. pgs. 169/171 ,
•
•
•
- . .
1 86 REVIS'fA DO SERVIÇO DO PA.J'RIMONIO IIIS'fORICO E ARTISTICO NACIONAL
•
APONTAMENTOS PA.RA .l\ BIB LIO(iRAPIA 1 87
• Paris, l 839 :
Breve referência ao Aleijadinho, interessante de ser aqui
transcrita, pelo desconhecimento que o A. demonstra da biografia
do artista : . . . " Ceei donna lieu à l'apparition de plusieurs artisres,
parmi lesquels nous citerons Antônio José da Silva. surnommé ''o
Aleijadinho''. né à Sabará vers 1 750, auteur de douze statues gi
gantesques en stéatite, représentant des prophétes à l'église du
pélerinage d e Mattozinhos prés de Congonhas do Campo et dont
Luccock, A. de Saint-Hilaire et sir Richard Burton parlent avec
admiration. Silva mourut à Rio de Jane;ro, aprés avoir fait d'autres
ouvrages pottr les églises de S. João d'El Rei et d'autres villes''.
Este trabalho foi reproduzido em :
a ) Coletâneas. São Paulo'. 1 904. pg. 24.
l O ) BARBOSA, Antônio da Cunha, - Aspeto da Arte Bra
sileira Colonial, in Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, vol. 6 1 , 1 898, pgs. 89 a 1 54 :
Breve referência ao Aleiiadinho que, como Eduardo Prado,
o A. diz chamar-se Antônio José da Silva . •
•
•
204
• • •
REVISTA DO SERVIÇO DO PATRIMONIO H ISTORIC:O E ,\RTISTICO NACIONAi.
JUDITE MARTINS
,
O ADRO DO SANTUARIO DE CONGONHAS
continua subindo e atinge o seu nivel na parte dos fundos. E' uma
construção de muros espessos de alvenaria, rebocados e caiados,
que um chapim retangular de pedra sabão arremata, constituindo os
peitoris. Desde baixo da ladeira avista-se a grande massa estendi
da, de ond,e repontam, contrariando a linha horizontal dominante,
os blocos verticais de pedra dos profetas. Com a aproximação, co
meçam-se a distinguir os contornos variados das esculturas, mais
precisos os das que ficam nos ângulos extremos, que aparecem
como que recortados no espaço .
213
Vistas parcia,s do adro do Santuário
217
•
O .l'\.ORO 00 SANTlll\RIO DE C:C)NGC)NII.i'\ S
(1) Vide, ils paginas seguintes, a planta da frente do adro com a localizaçao das
estátuas. acompanhada do texto das respetivas inscrições.
(2) Durante o ano de 1938, próximo passado, o Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional tomou a iniciativa de fazer executar as primeiras moldagens das doze es
tátuas dos profetas. Esse trabalho, de que foi incumbido o profis;sional Eduardo Tecles, fi
cou concluído nos primeiros meses do corrente ano. Os modelos de gesso obtidos se des
tinam, com outros, de várias obras de arte do país, em cuja execução o SPHAN se vem
empenhando, à constituição do futuro Museu Nacional de Moldagens, que o Ministério da
Educação e Saude se propôs organizar, por intermédio desta repartlç�o. Essa iniciativa
tornarâ possivel o conhecimento em mais larga escala do nosso patrimônio de escultura e bem
assim proporcionarâ meios mais acessiveis para o seu estudo objetivo.
224
• •
REV!S1·,,x DO SERVlÇO DO PATRlMOl\ilO IllSTORICO E ARTlSTICO NACIONAL
7 5 6 8
!saia: Cap. 6
Jeremias Cap . 35
Baru Cap , 1
Esechiel Cap , 1
Daniel Ca p, 6
Osee Cap , 1
lonas Cap , 2 - VR 1
loel Cap . 1 - VR 4
Amos Cap. - V R .
Nahum Cap. 1
Abidias C 1
Habacuc Cap . 1
•
,
232 � ,
REV1s·r1\ DO SER\'IÇO DO PATl<IMONIO HISTOl�ICO E ARTISTICO NACIONi\L
Aspl�to ela cl,acarD. 11cndo-sc ao lado 11m dos pomhai� que c.,trernam o seu muro.
S I\
. LOMi\O DE VASCO'l CELOS
O ALP ENl1RE N AS CAPELAS B itASILEiltAS
•
O ALPENDRE NAS (:APELAS BRASJLEI Rt\S 237
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238 REV!S1' ..\ DO SERVIÇO DO PAT RIMONIO HISTORICO E AR'l'ISTICO NACIONAL
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O ALPEr-.:DRE NAS CAPELAS BRASILEIRAS 243
nho que vem no "Nordeste'' não traga indicação mais precisa. Po
de-se supor, por isso, seja a mesma apenas invenção do desenhista,
o que aliás não seria de maneira nenhuma falsear, pois que é per
feitamente passivei atribuir-se a esse desenho a intenção de esque
matizar um aspecto típico da cultura assucareira . Os exemplos
baianos devo ao meu amigo Dr. Rômulo de Almeida ; são eles : a
capela de Genipapo ( Revista do S. P. H. A, N., n.º 2 ) , a de Con
ceição do Nazaré ( fig. VI ) , a de Santo Antônio do Mar Grande,
na Ilha de ltaparica, e mais a de Camamú, cujo alpendre foi de
molido há uns 20 anos. A fachada conserva. no entanto, os ves
tígios deste copiar, visíveis mesmo em fotografia. Do Estado do
Rio de Janeiro, devo o exemplo da de Angra dos Reis ao Dr. Pau
lo Barreto ( fig, VII ) . No Estado de S. Paulo, conheço a de
S. Miguel. Em Guatapará, Rômulo de Almeida viu uma que não
conheço. N o município de S. Roque, no atual sítio de Santo An
tônio, que pertenceu outrora ao bandeirante Pais de Barros, a ca
pela teve certamente um alpendre. Com efeito, diante da capela,
que está disposta n11ma plata forma, se estende um pequeno páteo
em cujos cantos surgem vestígios de pilares que sustentariam a
cobertura do alpendre. A fachada do edifício é toda de madeira e,
nos esteios, tambem de madeira, que fronteiam as paredes laterais
da construção, restam dois orifícios e dois chanfros que seriam
elementos de samblagem das peças da armadura do telhado do
alpendre. Pela disposição dos elementos indicados, pode-se con
cluir que a cobertura deste alpendre teria uma só água e o piso
seria alteado. com alguns degraus de acesso. O guarda corpo
devia ser cheio, pois não encontrei indício algum de samblagem
no contraforte, à altura do lugar onde se deveria endentar o pei
toril ( Revista do S. P. H. A. N., n,º 1 ) .
Procurando classificar estes alpendres relativamente à solução
dada à cobertura, pilares de sustentação, guarda-corpo e piso, ve
rifica-se o seguinte :
a ) o piso é sempre alteado, excessão feita dos exemplos citados
de capelas romeiras ;
•
244
• •
REVISTA DO SERVIÇO DO P1\TRIMONIO H!STORI(:O E AR·r1s1·1co NACIONAL
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> DO P1\TR!J\.1ÔNIO
> l l!STÓRICO E _l\ RT ÍSTJCO !'J .A..(:10:S:,\L
Luiz SA1A
BIBLIOGRAFIA
(1) O presente trabalho, que constitue relatório apresentado, desde 1937, ao Secviço
do Património Histórico e Artístico Nacional. jã. estava composto para o 3.º número desta
R_evista, quando foi publicado. sob o titulo de "História da Casa _da Torre", a obra que o
Sr. Pedro Calmon consagra ao n1esmo assunto .
252 REY'IS"fA DO SERY'IÇO DO PA'J'H.lMÔNIO H I S1'ÓH.ICO E AR"J'ÍS'f!CO N A..
. CJON .A..L
11} ·· Assin1. p;:i rece-nos fora dC' qualquer dúvida que o capitalista da grandiosa
empresa de conquista no nordeste foi o CoronC'l Francisco Dias d' Ávila. senhor do maior
1,itifundio que já existiu em terras do Brasil . . . ' ' (Vd. Basílio de Magalhães - E.Ypansão
(lco.qrfi fica elo Brasil Colonial - Pág. 342 � 2ª Edição - Editora Nacional. 1 915) .
(2} " . . . O gado foi tomando o sertão todo. f�evando-o. o home.n1 sr- trc1nspor-
tava . Sempre adiante . .A c1gricultura é de si me :3:n1a restritivc1 : o pastoreio é expc1n
sivo. . . I Vd. Pedro C,ilmon - Espirita da Sociedade (:olonia-l - Pág. 1 91 - Editor;i
Nacional. 1 935) .
253
•
:\ TORRE E O CASTELO DE G,\RCIA D A\'IL ..\
I
259
'
.:\ TORRE E O CASTELO DE GARCIA D AVILA
\l) " . . . A 24 \ dl' Novembro} chego11 à torre de Garcia d' Ávila, onde reci?beu
ordem do Governador Geral para se deter " . ( V d . Capistrano de Abreu - Capítulos de
História Colonial - Pág . 98 - R!o. l 934.
260 - . .
RE\1 !5"1'.l\ DO SER\1 1ÇO DO P.t\1' Rl '.\1 0NIO J-il S'f O R l(:(J E .<\R'l'IS'f !CO NA(JON _:.._ 1 .
2 /e; j
'
.t\ TORRE E O CAS'I'ELO DE GAR<: J ,\ D AVIL ..\ 263
po do Rio Real sita nas terras que o suplicante possue como admi
nistrador do Morgado ou Capela que instituiu Belchior Dias Mo-
''
reya, seu parente . . .
Informando a El-Rei sobre o citado protesto de Garcia d'
Ávila, o Arcebispo dizia, textualmente : - " E' muito para reparar
que dando-lhe V . Magestade tantas léguas de terras que se con
tam aos centos ( pois é fama constante que neste Arcebispado e no
de Pernaml1L1co passam de trezentas ) duvida o Suplicante largar
aos Ministros de Deus umas poucas braças de terras. A esta cruel
avareza dos donatários . . . ( Vd. Li,,ro 15." de Ordens Régia., -
Arquivo Público do Estado) .
Tambem interessa11tc, em 1 724, a reclamação judicial feita
pelo aludido Garcia contra os que .. intentam abrir nova estrada e
passagem no dito rio S . Francisco, onde chamam o Pontal para
. daí marcharem pela beira do dito rio abaixo em distância de 80
léguas até a Tapera de Paulo Afonso. tudo por fazendas próprias
do Suplicante �m número de 40. com perda sca por se afug enta-
rem o gado . . . ''
Garcia d'Ávila Pereira foi casado com D . lnácia de Araujo
Pereira. Acha-se enterrado na Igreja do Convento de S. Fran
cisco da Baía, em sepultura fronteira ao altar de Nossa Senhora
da Conceição .
•
2 1, 5
•
A - r ORRF, E O (:ASTELO DE c;,\Rf:11\ D A VILA 267
Garcia d'Á ,,ila Pereira de Ara gão, o 4.º Garcia d'Ã uila ,
casou-se com Ana Teresa Cavalcanti de Albuquerque, filha do
Alcaide-mor da Baía, Salvador Pires de Carvalho. Foi Mestre
de Campo do Terço de ln fanteria Auxiliar da Torre, composto
de 1 2 Companhias, ao todo,.,1 065 homens. Reconstruiu o Forte
de Tatuapara .
Falecendo em 1 805. sem descendentes, extinguiu-se com ele
o ramo varonil dos Ávilas, em linha direta. O Morgado da Torre
passava aos Pires de Carvalho e Albuquerque, na pessoa de D .
Ana Maria de S . José e Aragão, filha do Mestre de Campo José
Pires de Carvalho e de stta mulher Leonor Pereira Marinho, irmã
do dito Garcia d 'Ãvila Pereira d e Aragão .
A nova Senhora da Torre foi casada com o Capitão-mor José
Pires de Carvalho e Albuquerque. Sucedeu-lhe, no Morgado,
seu filho mais velho, Antônio Joaq11im Pires de Carvalho e Albu
querque. Barão e depois Visconde da Torre de Garcia d'Ãvila .
Este fidalgo, o primeiro titular brasileiro feito por D. Pedro I. no
dia de sua coroação ( 1 ." de Dezembro de 1 822 ) , deu vida nova ao
Castelo da Torre, fnzendo dele ativo centro de onde se irradiou
à luta peia nossa Independência ( 1 ) . Os exércitos da Torre ti
veram grande responsabilidade na libertação definitiva do Brasil.
Antônio Joaquim Pires d e Carvalho e Albuquerque foi o úl
timo Senhor da famigerada Casa. A Lei de 6 de Outubro de
1 835 extinguira os Morgados. E o Castelo iria conhecer, a final,
as longas horas da solidão e do abandono .
Morto o gênio guerreiro de seus bandeirantes, a Torre des
cansaria. O seu destino estava cumprido. O melhor e o maior:
repelir os índios, vencer ::is flamengos, expulsar os portu gueses .
Criara uma pátria e a fizera livre .
Pena que essa Pátriéi não soubesse conservar e venerar as
paredes ciclôpicas, onde. em horas de aflição e perigo. tantas ve
zes se aninhou a sua alma .
(!) Inolvida vt'1� dias viveu a 'forre. l.'1ll 1 8 2 3 . o�
seus hatalhõis l q lld'>i dois
terços do Exército Libertador) cobrira1n-st' d e glór:as . Co1nandou-os o dito C e l . Antônio
Jo,1q11i1n Pire,;; dP C,1r\·c1lho C' AlbuquProue. que estah<"L·ct•u O u z-1rtel- lll'!ll'r;il no C,1.st(•\o.
268
• • •
l�EV'!S'fA DO SEHVIÇO 0() PA'fRil\10�!() I I I STC)RIC() E ,\R"J'JS'l'l(:O N 1\CIC)N1\L
II
{ 1 ) I-<: xistiran1 vcirios. hoje ohstruidos : u1n. con1 �,1;da parc1 o n1;i1· : outros,
dé!ndo par;, as n1ata.s do Nor t e .
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ca�tc-lo clfl TorrL· ( Ba,a) . Fdchada /ac.::r;i/ 1 ,,ortc l .
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( 1 ) U1na C:artu Pat.:-ntc- de 1641 concedeu d Garcia d' Ávila o posto de Capitão
de Ordenanças, pelos serviços prestados por seu pai, na luta contra os flamengos. Bagnuolo
levou da Torre quasi mil homens equipados. alen1 de gado e rnantin1entos .
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Castelo da Tarre I Baia)
For. N." 6
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..\ ·roRRE E o CAS'l'ELO DE GAR(:JA D A \/!LA 281
damente. copiosa e origJnal documentação. por ele colhida nos riquíssin10s livros de nosso
Arquivo Público. O seu paciente trabéllho serviu-nos a célda passo, e muito <1judará os
,__.studiosos do assunto .
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GooOFREDO FrLr-ro
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(1) Perdida a indicação inicial do Diârio da Jornada, não foi possível localizar o Mss.
na biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa e obter a reprodução fotográfica nece:ss3�
ria . Meses depois, encontrada a referência exata foi feita, pelo Snr. Rolim de Macedo a cópía
que agora se divulga, graças à preciosa int,ervenção do Dr. Ernesto Enne s .
( 2) Car,1alho, T . F . � Emcnt!lrio da História Mineira, Belo Horizonte s. d. ps .
134 , 237.
( 3) Atns da C;âmara Municipal de S . Paulo. 170 l -17 l 9. vol. VIII. S. Paulo. 1916,
ps. 395 e seguintes .
( 4- ) Revista do Arquivo PlÍb[ico Mineiro, vol. XXV. 2." parte. p . 50 .
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( 1) Santa Marla. frri Agostinho - Santuário Maríano. e história das imagens mila
grosa:; de Nossa Senhora, e das mill'lgrosamente aparecidas, que se veneram em todo o bispa-
do do Rio de- Janeiro, [1 Minas, & em todas as ilhas do oceano . Li.<.boa. 1723 .
DO RIO DE JANEIRO A VILA RIC,\. 291
( 1 ) Cf. sobr<' esta livraria particular. cuja sessão de Mss deve interessar aos estudio
sos da história do Brasil : Andrade, E . C . - o Palâcia do.s Marqueses da f<ronteira e os
ttus manuscritas, in Revista de História. ano XII. 1923. ps. 241 ,/268 .
DO RIO DE JANEIRO A VILA. RICA 293
(1) Esta cópic1 foi feita por Rollin de Macedo, do Arquivo Histórico Colonial, de
Lisboa .
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de Lisboa, que neste anno lhe tinha vindo sua mulher por hauer
sahido no passado no Auto da fee. A forma que nos tinhão dado
da mizeria deste homem condice com o que experimentamos ; por-
que não foi capaz de offerecer nenhuma pouca de farinha de pao
com bastante sendimento, ou para milhar dizer com bem fome des
cansamos duas horas partindo despois não com menor mortefica-
ção, não tanto por chouer toda a tarde, como pelos muitos lamas
seiros, que hauia no caminho, que erão tais, que deficultozamente
se tirauão os cauallos delles. Jâ quazi de noute nos apareceo hum
clerigo, e nos leuou athe a sua casa, que era hun famozo emgenho,
tratandonos com muito aseyo. e grandeza ; chamasse este Padre
Francisco Dias Duarte natural de Guimarais .
26 Ouvimos Missa, e partindo despois, chegamos pelo meyo
dia a huma fazenda dos Padres da Companhia do Rio de Janeiro,
chamada santa crux. Nella asiste hum superior com o seu compa
nheiro, e tem debayxo de sua jurisdição athe trezentos e sincoenta
cazais de negros, a cujos filhos sustentão athe ter idade capas de
poderem trabalhar, cada hum no officio que lhe fazem aprender,
de sorte que asim para a fabrica da fazenda como para tudo o mais
necessario, ten nestes negros quanto hã de mister : entre elles vi
mos hum de idade de cento, e secenta annos, que todos os dias hia
a o mato a trazer sua carga de lenha. A fazenda he grandiosa, pois
tem nella os Padres noue mil cabeças de gado mayor, muitas ove
lhas e carneiros e não menos egoas, e caualos em que fazem conci
derauel lucro. Os Padres trataramnos bem parcam.te porque; não
qu:zerão consentir, que o cuzinheiro nosso entrasse na cuzinha, e
os seus, que erão negros não fazião outra couza senão guizados de
frades, e com esta morte ficaçem bem contra nossa vontade, nos
detiuemos athe o dia vinte sete, por não ter chegado ao Porto as
canoas de lourenço carualho, nem as lanchas, que conduzião o
fato, e algumas couzas comestiuas.
28 Tiuemos noticia de hauer chegado ao Porto chamado da
pesqueria hua das duas lanchas, e lourenço carvalho Genro de
Francisco do Amaral com as su�s canoas. Partimos logo com este
avizo, e em hua planície, que quazi avista do Porto emcontramos
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que por ser tão aspera nao podem subir cauallos carregados, e lhes
he precizo aos viandantes valerse desse meyo par poder seguir
a sua viagem, para as Minas.
31 Nos detiuemos na mesma villa1 que poderâ ter sincoenta
cazas terreas, por não ter ainda chegado huma das lanchas, que
conduzião o nosso fato .
Agosto 1 Chegou a lancha, que esperauamos, mas por vir
muy tarde, nao podemos fazer viagem .
2 Ainda nos detiuemos a rogos de lourenço Carualho .
3 Estiuemos Baldiando as arcas e fazendoas de duas arobas
para as cargas dos negros, apartando as que deuião ficar para hir
pela serra, das que hauiamos de leuar para a vila de santos, o que
não deixou de dar algum emfado .
4 Nos embarcamos em huma canoa, e o fato em hila lancha,
e despediuse a outra, porque não era necessaria. Sua Ex.ª se em
barcou em outra canoa com lourenço Carvalho, e as honze horas
da noite chegamos a hiia fazenda sua, na qual tem hila pesqueria,
que lhe rende cada anno sinco para seis mil cruzados, e a feitoria
hum Irmão seu. Aqut estiuemos esperando quazi athe meya noute
por hum Batelam carregado com a Matalutagem, que nos tinha fei
to Lourenço Carualho, quando nos chegou noticia de que se tinha
alagado. Ficamos com este avizo, como se pode conciderar de
quem não tinha outra couza de que valerse athe a villa de santos
para seu sustento, nem parte aonde o comprar ; finalmente reme
diasse a cea com humas empadas, que fes o cozinheiro.
5 Partimos logo depois de cear, e sua Ex.' ficou para hir por
· terra couza de hila legoa, por escuzar de passar hua paragem cha
mada o Cayreju, que he hum tanto perigoza ; porem nos a passa
mos com falecidade por estar bonanca o mar, e fomos anchorar a
hila praya aonde tínhamos ordem de esperar por sua Ex.'. Aqui
comessamos jâ a experimentar a falta do Batelão alagado ; porque
se quizemos comer foi precizo fazermonos pescadores, e ainda ti
vemos a furtuna de tirar hum pouco de peixe, que comemos cozido
com agoa, sem azeyte, nem vinagre, porque o não hauia, e se algu
ma couza tiuemos em abundancia foi laranjas da China excelen-
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