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N ILD O VIANA

IURI ANDRÉAS REBLIN


(Organizadores)

SUPER-HERÓIS,
CULTURA E SOCIEDADE
Aproximações multidisciplinares
sobre o mundo dos quadrinhos

EDITORA
JÊIDÉIAS&
%LETRAS
D ir e t o r E d it o r ia l : R e v is ã o :

M arcelo C . A raújo Paola G oussain de S. Lim a SUMÁRIO


C o o rd e n a ç ã o E d ito ria l: D ia g r a m a ç ã o :

A n a Lúcia de C astro Leite Juliano de Sousa Cervelin

C o p id e s q u e : C a pa : Apresentação ............................................................................................... 7
L eila C ristina D inis Fernandes Alfredo Castillo
Iuri Andréas Reblin

Prefácio.................................................................................................. 11
Todos os direitos reservados à E ditora Idéias & Letras, 2011. Nildo Viana

1. Breve história dos super-heróis........................................................... 15


Nildo Viana
EDITORA
IDÉIAS
€ LETRAS 2. Os super-heróis e a jornada humana:
Rua Padre Claro Monteiro, 342 — Centro
uma incursão pela cultura e pela religião........................................... 55
12570-000 — Aparecida-SP
Tel. (12) 3104-2000 — Fax. (12) 3104-2036 Iuri Andréas Reblin
Televendas: 0800 16 00 04
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www.ideiaseletras.com.br

3. Super-heróis: ficção e realidade........................................................... 93


Edmilson Marques

D ad os Internacionais de Catalogação na Publicação (C IP )


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
4. Super-heróis na construção da personalidade................................ 121
Denise DAurea Tardeli
Super-heróis, cultura e sociedade: aproxim ações m ultidisciplinares sobre o m undo dos quadrinhos / Nildo
Viana, Iuri A ndréas Reblin, (organizadores). - A parecida, SP: Idéias 8c Letras, 2011.

Bibliografia 5. Super-heróis e cultura americana......................................................143


ISB N 978-85-7698-113-8
Waldomiro Vergueiro
1. C u ltu ra 2. Psicologia 3. Religião 4. Super-heróis - A spectos m orais e éticos 5. Super-heróis —
Aspectos sociais 6. Super-heróis - H istórias em quadrinhos 7. S uper-heróis na literatura 1. Viana, Nildo. II.
Reblin, Iuri Andréas. 6. Ética e heroísmo: uma reflexão a partir
11-07224 C D D 306 das histórias em quadrinhos.............................................................. 171
ín d ices para catálogo sistem ático:
Valério Guilherme Schaper

1. Super-heróis nas histórias em quadrinhos:


Sociologia da cultura 306
APRESENTAÇÃO

á aquele ditado popular do qual você provavelmente já ouviu


H falar em algum momento (se você não ouviu, não se preocupe,
pois você verá novamente uma menção a ele mais adiante no decor­
rer da leitura) e que assevera que “todo ponto de vista é a vista de um
determinado ponto”. É uma afirmação simples, mas ela serve de alerta
principalmente no mundo das especialidades em que habitamos hoje.
M esmo que o debate tenha se direcionado para a questão da interdis-
ciplinaridade ou da transdisciplinaridade, a especialidade ainda ocupa
um papel de destaque nas maneiras de estruturarmos nosso conheci­
mento, de pensarmos sobre nós mesmos e sobre nossa ação no mundo,
tornando possível indagar seriamente quando e se esse destaque será
(não suprimido, mas ao menos) atenuado no futuro próximo. A espe­
cialidade treina nossos olhos a enxergar uma parte de um todo maior
e faz, muitas vezes, com que o restante passe despercebido ou se torne,
inclusive, significativamente reduzido. Felizmente, esse não é o caso
deste livro.
O livro que você está segurando em suas mãos é uma coletânea
singular de leituras especializadas e apaixonadas, compiladas com o
propósito despretensioso e não planejado de quebrar o paradigma do
provérbio popular referido. Se todo ponto de vista é a vista de um de­
terminado ponto, nada melhor que reunir em um só livro pontos de
vistas diferentes ou, como sugere o título do livro, de perspectivas di­
ferentes, a fim de que o todo seja visto com pouco mais de clareza ou,
antes, com toda a sua potencialidade e riqueza. O universo dos super-
-heróis é expressão da pluralidade complexa da vida humana: socieda­
de, valores, religião, cultura, comportamento, crenças, aspirações; tudo
8 Iu ri Andréas Reblin
Apresentação 9

é encontrável nas histórias dos super-heróis em dimensões distintas e


gênero da superaventura o reflexo cultural das transformações sociais
variáveis pela finalidade da narrativa. Logo, a intenção interdisciplinar
pelas quais os estadunidenses passaram, agora, sob o ângulo da arte
que permeia esta compilação enseja seus leitores e leitoras a um olhar
e da comunicação. Por fim, todo herói possui sua jornada, e você não
ao todo desse universo fantástico e contemporâneo, que é o gênero da
poderia terminar de ler o livro sem se voltar àquilo que movimenta o
superaventura, como definiu terminologicamente nosso amigo Nildo
universo dos super-heróis em suas raízes: o sentido do heroísmo e os
Viana. Para que essa intenção se tornasse realidade, um verdadeiro time
valores atinentes à ética e ao dever. N um a perspectiva filosófica, você
de super-heróis foi convocado e desafiado a redigir ensaios que estabe­
perceberá que a jornada do herói é o que caracteriza o próprio herói em
lecessem diálogos entre seus conhecimentos específicos e suas paixões
relação a suas atitudes e em relação a seu lugar no mundo; jornada esta
afins. O resultado disso é um livro agradável de ler, rico em conteúdo
que percorre os caminhos da tragédia e da antitragédia.
e sagaz em sua narrativa, conduzindo leitores e leitoras dentro de uma Enfim, está em suas mãos um projeto simultaneamente ambicioso
ampla faixa etária (transcendendo as barreiras entre fãs confessos ou e despretensioso, movido por paixão, por conhecimento e, sobretudo,
não do gênero e acadêmicos curiosos) a uma nova maneira de se debru­ por aquilo que define cada super-herói e super-heroína deste mundo
çar ou de se apreciar o universo fantástico dos super-heróis. afora e desta presente coletânea: os desafios e os prazeres da jornada.
Neste livro, você encontrará uma leitura singular e pormenorizada Vire a página e comece já a sua. Tenha uma boa leitura!
da trajetória dos super-heróis, desde sua constituição e sua consolida­
ção enquanto gênero narrativo, enfocando e traçando paralelos com as Iuri Andréas Reblin
transformações sociais concomitantes à elaboração das histórias, par­
tindo da periodização dos regimes de acumulação. Além disso, você
viajará por uma abordagem interdisciplinar que acentuará a narrativa
da superaventura enquanto “janela da realidade” e que analisará o uni­
verso dos super-heróis, especialmente o universo da Família Marvel,
na perspectiva da teologia sobre a cultura e a religião transposta nas
histórias do Capitão Marvel e do M ago Shazam. Em seguida, você
perceberá os paralelos interessantíssimos entre a ficção e a realidade
que poderão ser delineados sob uma perspectiva histórica e política
acerca do gênero da superaventura.
Ao retornar dessa incursão entre o real e a ficção, você mergulhará
na psicologia e na construção do comportamento humano. Você en­
tenderá como as histórias dos super-heróis contribuem na construção
da personalidade, na modelação e na escolha de papéis sociais de crian­
ças e adolescentes. Um a vez feito isso, chega o momento de trilhar pela
cultura estadunidense e de encontrar nas inúmeras histórias e sagas do
PREFÁCIO

OS SUPER-HERÓIS E NÓS

ode causar estranheza um livro sobre super-heróis que não é vol­


P tado para os adoradores dos quadrinhos e do gênero da supera-
ventura, e sim para uma obra que tematiza questões culturais e sociais,
bem como históricas, psíquicas, entre outras, no sentido de explicar
este mundo fantástico. Neste sentido, é um livro que abre novas pers­
pectivas na análise dos quadrinhos e, mais especificamente, do gênero
da superaventura. Para tanto, basta perceber que as abordagens perpas­
sam várias ciências humanas (história, sociologia, psicologia, entre ou­
tras) e analisam os super-heróis sob vários aspectos. N a verdade, aqui
temos a relação entre nós, os autores dos vários textos que compõem
esta coletânea, e eles, os super-heróis.
Um texto, assim como um livro de textos, é manifestação de uma
relação social. Os seres sociais e conscientes que o escrevem fazem de
uma determinada formam, portando determinadas concepções, valo­
res, sentimentos, juntam ente com determinada relação com o tema que
abordam. O livro presente não é diferente. Há, aqui, uma relação entre
seres sociais tematizando temas que são, no fundo, sociais. Disto re­
sultam contribuições com focos, abordagens, métodos, diferenciados.
Assim, um texto remete ao outro, no sentido de que é possível confron­
tar determinadas análises, percepções, e assim o leitor ganha, ao poder
perceber que o universo dos super-heróis é amplo, rico, complexo e,
ao mesmo tempo, pode ser percebido sob formas diferentes, comple­
mentares, opostas, semelhantes, com ênfases diferenciadas e assim por
12 N ildo Viana Prefácio 13

diante. Aqui há uma dupla revelação: do mundo dos super-heróis e de o labirinto das mentes que produziram seres fantásticos, que realizam
alguns dos reveladores desse mundo na perspectiva analítica que busca aventuras fantásticas, que bem poderiam ser nossas aventuras, se pu­
relacioná-los com a cultura e a sociedade. déssemos trocar o cotidiano repetitivo, burocrático e mercantil que vi­
O texto que apresenta uma “Breve história dos super-heróis”, de vemos por um mundo de ações heróicas e significativas. A tentação
minha autoria, abre a coletânea e focaliza o desenvolvimento histórico de sonhar ser o que se gostaria de ser é apenas outra face da recusa do
do gênero superaventura, partindo do pressuposto de que sua histori­ que somos, do que nos faz ser o que somos, ou seja, de nossa sociedade.
cidade não é autônoma e independente, e sim dependente da histori­ Os super-heróis não são meras fantasias para crianças, e sim um pro­
cidade da sociedade que lhe engendrou. É uma pequena contribuição fundo revelador de nosso inconsciente e, ao mesmo tempo, produção
para a história social dos super-heróis. Iuri Reblin traz uma discussão social e histórica que mostra, cabal e principalmente em determinados
interessante sobre super-heróis, relacionando-os com a teologia, sendo momentos históricos, o exercício do poder através da axiologia, dos
mais uma contribuição sua neste aspecto, já iniciada em outras publica­ ideologemas, de sentimentos negativos.
ções de sua autoria. Ele acaba focalizando um aspecto da cultura e sua O bem e o mal em um romance astral, como já dizia Raul Seixas.
relação com o mundo da superaventura. O texto de Edmilson Marques M as as categorias metafísicas de bem e mal só são eficazes no mundo
já aborda as conexões entre ficção e realidade, focalizando o processo do fictício dos super-heróis, pois, em nosso caso, o que temos são pessoas
real por detrás do imaginário e destacando o processo de mercantiliza- de carne e osso, com grandezas e pequenezas, com capacidade criativa
ção e burocratização dos quadrinhos. Uma ampla e reveladora análise e destrutiva, que não são naturais, e sim produtos da sociedade que as
sobre os quadrinhos é apresentada, mostrando conexões nem sempre produzem. O desejo do ser humano de ser livre significa a vontade de
claras entre a ficção e a realidade. Já Denise Tardeli aborda o potencial superar sua pequenez produzida socialmente, e o super-herói encarna
dos super-heróis para a formação moral e da identidade de crianças e inconscientemente esse projeto, bem como encarna seu contrário, a pe­
adolescentes, relacionando a superaventura com a construção da iden­ quenez, quando olhamos para sua face consciente e visível. Nós, escri­
tidade e da personalidade. O texto de Waldomiro Vergueiro relaciona tores, analistas e leitores, temos de superar a pequenez e torcer para os
a história dos super-heróis com a história dos Estados Unidos, com a super-heróis fazerem o mesmo, inclusive lutar contra nós mesmos para
cultura norte-americana. Os processos sociais e culturais dos EU A são não nos cegarmos diante da pequenez dos super-heróis, por admirá-los
relacionados com as mutações do universo dos super-heróis. Valério por sua grandeza. Neste jogo há uma constante luta e, nesta luta, seus
Schaper discute os super-heróis a partir de uma análise do problema produtos e, entre seus produtos, o presente livro, que interfere nela.
moral, focalizando o Surfista Prateado, personagem no qual se pode ver A complexidade dessa situação revela a problemática do mundo
o dilema moral de forma cristalina. Enfim, um conjunto de textos que dos super-heróis, e o presente livro ajuda a refletir sobre o irrefletido,
cercam os super-heróis sob diversos ângulos e mostram como nós nos e isto, em si, já é uma grande contribuição. Então resta aos leitores
relacionamos com eles. prepararem-se para uma aventura intelectual sobre as fantásticas aven­
Assim, o presente livro pode ser considerado uma viagem. M as não turas sociais, históricas, culturais e psíquicas dos super-heróis.
uma viagem comum, e sim uma viagem por mundos diferentes, distan­
tes, partindo dos labirintos das mentes que pilotam a nave para revelar Nildo Viana
BREVE HISTÓRIA DOS SUPER-HERÓIS
Nildo Viana

s super-heróis são produtos históricos e sociais como qualquer


O outra produção cultural. Este caráter social e histórico dos super-
-heróis é pouco abordado nos estudos sobre quadrinhos e sobre esses
personagens, mais especificamente. Nosso objetivo aqui é fazer um
breve apanhado da evolução dos super-heróis, destacando sua relação
com as mudanças culturais, o que, inevitavelmente, nos faz abordar as
mudanças sociais em geral. Em síntese, apresentaremos uma breve his­
tória dos super-heróis, desde sua origem até aos dias atuais.
Para realizar este objetivo, iremos periodizar a história dos super-he­
róis, visando compreender as principais mutações que ocorreram no gêne­
ro da superaventura.1 Essas mutações são provocadas por transformações
sociais e culturais, que, aliadas ao desenvolvimento endógeno da tradição
fictícia, promovem alterações no mundo fictício dos super-heróis.
A periodização é um processo útil e necessário para se compreender
a evolução dos super-heróis. Através dela, podemos observar as grandes
mudanças no universo ficcional dos super-heróis e, desta forma, entender

* Nildo Viana é sociólogo, filósofo e professor da U F G - Universidade Federal de


Goiás. A utor de vários livros, entre os quais Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Qua­
drinhos-, A Esfera Artística', Os Valores na Sociedade Moderna-, entre outros. E-mail: nil-
doviana@ terra.com.br
1 O gênero da superaventura é aquele marcado pela existência de um universo ficcio­
nal povoado por seres superpoderosos, os super-heróis e os supervilões, sendo que o
super-herói é aquele que possui qualidades sobre-humanas (cf. V i a n a , 2005).
16 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 17

o que provocou tais mudanças. Obviamente a historicidade do gênero su- a) a época do nascimento, que vai da criação do Superman até o
peraventura é uma historicidade dependente da historicidade da sociedade final da Segunda Guerra Mundial;
e, portanto, a periodização da história da superaventura está intimamente b) a época da crise, que vai de 1945 até o final da década de 1950;
relacionada com a historicidade da sociedade moderna (V iana , 2007a). c) a época da retomada e renovação, que ocorre a partir do final da
Porém, como se trata de uma totalidade no interior de outra totalidade década de 1950 até o final dos anos 1960;
mais ampla, a história do gênero da superaventura possui períodos que d) a época do “envelhecimento” dos super-heróis, que vai do final
estão ligados a aspectos mais específicos da sociedade moderna e, por isso, da década de 1960 até 1980;
pode ter períodos que não são da mesma quantidade que os daquela. e) a época da reorganização e inovação, que vai de 1980 até os dias
Assim, a história da sociedade moderna pode ser periodizada a de hoje.
partir da sucessão de regimes de acumulação, e estes foram o extensivo
(a partir da Revolução Industrial até a segunda metade do século 19); Esta periodização, sem dúvida, entra em conflito com a periodi­
o intensivo (que vai da segunda metade do século 19 até o final da zação tradicional realizada pelos próprios agentes da produção dos
Segunda Guerra Mundial); o intensivo-extensivo (que abarca o perí­ quadrinhos, que distinguem em idade de ouro, prata, bronze, pois os
odo do término da Segunda Guerra M undial até a década de 1970), critérios para tal são pouco convincentes e, muitas vezes, marcados por
e o integral (que se inicia na década de 1980 e permanece até os dias determinados valores e concepções que são prejudiciais a uma real per­
atuais). Esses regimes de acumulação expressam determinada forma cepção da história dos super-heróis.4
de organização da acumulação capitalista, através de uma cristalização Assim, há mudança na superaventura no final dos anos 1950, o
da luta de classes em determinada forma de organização do trabalho que não ocorre no regime de acumulação. A explicação disso se deve
(processo de valorização), de formação estatal e relações internacionais, ao fato de que ocorrem mudanças nos regimes de acumulação (uma
o que não poderemos desenvolver mais detalhadamente aqui.2 coisa é a mudança de regime de acumulação, ou seja, a passagem de um
O que é importante ressaltar aqui é que esses regimes de acumu­ regime para outro; outra coisa é a mudança no interior de um regime
lação marcam a história da sociedade moderna e determinam as m u­ de acumulação, ou seja, a mudança em seu interior) e de que, em países
danças culturais, atingindo também o gênero da superaventura. Porém diferentes, estas evoluem sob formas diferentes, entre outras determi­
a periodização da superaventura é um pouco diferenciada. Nós perio­ nações, que mostram que o concreto é o resultado de suas múltiplas
dizamos a superaventura, com base na superaventura produzida nos determinações.
EUA,3 da seguinte forma: Antes de iniciarmos, porém, é necessário esclarecer que nosso
ponto de partida é orientado pelo método dialético, que busca desco­
brir as determinações do fenômeno e, em especial, sua determinação
fundamental. Buscaremos reconstituir as múltiplas determinações do
2 Para um a discussão sobre os regimes de acumulação e seu detalhamento, cf. V ia n a ,
2 0 0 3 ,2 0 0 9 .
3 Por questão de espaço e tempo, não abordaremos aqui os super-heróis surgidos em
outros países, a não ser em raras exceções e relacionados com os norte-americanos,
tal como os brasileiros e japoneses. 4 O caráter valorativo (e axiológico) dos termos ouro, prata e bronze é, por si só, evidente.
18 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 19

fenômeno da mudança no mundo dos quadrinhos e, assim, não ape­ daí vêm seus poderes, pois é filho de uma humana e um atlante. O To­
nas descrever, mas explicar tais mudanças. Neste sentido, começaremos cha Original foi criação de um cientista, Phineas H orton, que buscava
com a determinação fundamental e passaremos para a determinação criar um ser humano sintético; conseguiu, embora com o problema de
formal, e - sendo possível - abordaremos ainda outras determinações que ele se transformava numa imensa tocha, devido ao contato com o
do fenômeno, sendo que a determinação fundamental tem sua base oxigênio. A origem dos super-heróis, por conseguinte, estava relacio­
no processo social marcado pela luta de classes, cristalizada em um nada com experiências científicas ou alienígenas.
determinado regime de acumulação e que se manifesta além dessa base Sem dúvida, a existência dos heróis e, mais ainda, dos heróis dos
estabilizada com as rupturas e os processos extraordinários que irrom­ quadrinhos era uma das principais condições de possibilidade de sur­
pem e desestabilizam a sociedade. gimento dos super-heróis. Estes foram os verdadeiros precursores dos
super-heróis. O individualismo da sociedade moderna abre espaço
para a valoração do herói real e também do herói fictício. Os heróis dos
O nascimento dos super-heróis quadrinhos realizavam ações fantásticas, como Tarzan, Flash Gordon,
Buck Rogers, entre outros, e alguns já possuíam poderes incríveis. Este
Alguns buscam encontrar a origem dos super-heróis na mitologia é o caso de Fantasma e M andrake. Estes dois podem ser considerados
grega ou nórdica. Sem dúvida, os deuses da mitologia grega inspira­ os precursores mais diretos dos super-heróis, pois o realismo foi aban­
ram a criação de alguns super-heróis. Shazam foi criado a partir dessa donado, principalmente no caso do último, com seus poderes mágicos.
inspiração, o que se percebe a partir da origem de seus superpoderes No entanto os heróis fornecem apenas alguns elementos para a cria­
e de seu próprio nome, cujas iniciais reproduzem os nomes de figuras ção dos super-heróis; seria necessário complementar com outros ele­
mitológicas, a saber: Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e M ercú­ mentos, só possíveis com o desenvolvimento histórico. Os super-heróis,
rio. A Marvel Comics produziu super-heróis (e supervilões) inspirados tal como os conhecemos e com suas características definidoras, são pro­
na mitologia nórdica (Thor e Loki são os mais expressivos ao lado de dutos da sociedade moderna. Os deuses antigos são superpoderosos, mas
toda a população de Asgard: O din, Sif, Balder etc.) e na mitologia gre­ são vistos como verdadeiros por seus produtores e reprodutores até serem
ga (Hércules, Zeus etc.). Porém isso não serve para explicar a origem transportados para o mundo da ficção, enquanto que os super-heróis são
dos super-heróis, mesmo porque os primeiros super-heróis não foram reconhecidos como produtos fictícios, tanto por seus produtores quanto
inspirados na mitologia. por seus leitores. Os heróis - tanto os fictícios quantos os reais - são seres
Vejamos o caso dos primeiros super-heróis. O Superman é um habilidosos, corajosos, excepcionais, mas sem superpoderes.
alienígena e, por isso, possui superpoderes. O caso do Capitão América A formação dos super-heróis só foi possível através da conjugação
já é um pouco diferente. Ele recebe um soro que lhe fornece sua força de diversas determinações, entre as quais estão os avanços tecnológicos,
sobre-humana e um escudo que se torna uma das armas mais podero­ o individualismo, a necessidade de homens fortes em períodos de crises
sas; aliados a suas habilidades próprias, eles o tornam um super-herói, etc. Os precursores mais próximos dos super-heróis são os próprios
sem grandes poderes, sem dúvida, mas muito mais poderoso do que um heróis dos quadrinhos. Os heróis dos quadrinhos se diferem dos super-
ser humano comum. N am or é oriundo de outra civilização, Atlântida, e -heróis, porque estes últimos possuem superpoderes, e não apenas qua­
20 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 21

lidades humanas excepcionais, e vivem num mundo povoado por seres letivo ( V i a n a , 2005). O Superman, assim, pode ser considerado expressão
superpoderosos (V ia na , 2005). A emergência de heróis como Tarzan, do dilema do indivíduo norte-americano de sua época, mas que permane­
Flash Gordon, Jim das Selvas, Brick Bradford, DickTracy, entre ou­ ce existindo em muitos aspectos até os dias de hoje.5 Isto é observável, por
tros, abre caminho para o herói fantástico, um avanço rumo ao super- exemplo, em sua dupla identidade, a de homem comum, preso nas malhas
-herói, tal como no caso de M andrake, com seus poderes mágicos, mas burocráticas e oprimido, e a de Superman, invencível e imbatível, que de­
que não vive num mundo com outros seres superpoderosos. Eles são a safia as leis da natureza e supera todos os limites humanos. A recepção
condição de possibilidade para o surgimento dos super-heróis. do Superman foi resultado das tendências da época e das necessidades
A emergência dos super-heróis está ligada ao processo de crise do inconscientes dos indivíduos presos no mundo burocrático e mercantil.
regime de acumulação intensivo, que se prolonga desde a década de 1920 O Capitão América nasce um pouco depois, mas no mesmo contex­
até o final da década de 1930. A guerra assumiu um papel fundamental to de crise e guerra. Porém sua relação com a guerra é mais direta, bem
nesse processo, pois, além da crise e da necessidade de heróis de carne como com as questões políticas, ideológicas envolvidas. O Super-Sol-
e osso para o combate e para suportar as situações adversas de uma so­ dado criado ganhou um escudo poderoso, e através de um soro, ganhou
ciedade em crise, também se tornou necessário pensar em seres sobre- força e habilidade física descomunal, além de ser um ser humano com
-humanos e ter esperança na vitória e satisfação imaginária substituta. capacidade de liderança e grande inteligência, segundo o que é expresso
No reino da ficção, a vitória é garantida e reconfortante; os justos sempre em suas histórias. Ele devia combater em guerra, junto com Namor e o
vencem, pois todos os lados em uma guerra se consideram justos. Tocha Hum ana Original, os nazistas e seus supervilões, especialmente
O Superman é produto de sua época. Era a resposta americana ao Barão Nemo e Caveira Vermelha. O Capitão América cumpre o mesmo
nazismo e a sua ideologia da “raça superior”, e, ao mesmo tempo, um apelo papel que o Superman e outros super-heróis criados. Nos momentos de
ao homem comum para que seja forte e suporte todas as situações desfa­ maior conflito entre as potências imperialistas, eles criam os seus repre­
voráveis (a crise da época), bem como um grito de liberdade inconsciente. sentantes fictícios. Capitão América e seus companheiros representam
A criação do Superman cumpria uma função parecida com a de um herói os Estados Unidos; Caveira e os supervilões representam os nazistas e
forte e que suporta as dores e pressões de um mundo em guerra, já que, tal fascistas; e Guardião Vermelho representava a Rússia e, por isso, era um
como o filósofo alemão Nietzsche (assimilado pelo nazismo) pregava, era aliado visto com desconfiança. A aparência horrível do Caveira Vermelha
o protótipo do homem-forte, que suportava as misérias do mundo. Aliás, (um rosto de caveira na cor vermelha) e do Barão Nemo (uma máscara
o Superman foi um nome apontado por Nietzsche, mas em outro sentido, que tampa todo o resto devido à fealdade do mesmo) é apenas uma for­
embora havendo semelhanças. Também era a resposta fictícia dos ame­ ma de representar o inimigo como alguém do mal e, tal como é comum
ricanos ao nazismo: precisamos de soldados, heróis de carne e osso, e os na cultura ocidental, unir fealdade e maldade. O Guardião Vermelho foi
heróis fictícios são exemplos a ser seguidos, são inspiradores e amados pelo
público. Mas têm também um lado não intencional, que revela, para utili­
zar a linguagem psicanalítica, o desejo inconsciente de liberdade, de ultra­ 5 Superman é o modelo exemplar de super-herói, papel que ganhou por ter sido o
primeiro da longa linhagem de super-heróis que existem e nascem até hoje. Também
passar os limites de uma sociedade burocrática, mercantil, sem aventuras,
é o modelo físico do super-herói, que expressa o indivíduo norte-am ericano do sexo
uma cotidianidade vazia e sem sentido, manifestação do inconsciente co­ masculino ( R e b l i n , 2008).
22 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 23

suportado por haver um inimigo mais importante a ser combatido. O -heróis, o fim da crise gera o fim dos super-heróis. A partir de 1945, há
conflito EUA-URSS e a Guerra Fria ocorrerão no período posterior, e a um visível retrocesso no consumo e na produção de histórias em quadri­
grande ameaça para o primeiro era a expansão do Eixo nazi-fascista, que nhos e, mais ainda, de super-heróis. O gênero da superaventura sofrerá
já havia dominado grande parte da Europa e tinha o Japão, no oriente, os golpes mais fortes dessa crise. A razão principal disso já foi exposta,
buscando avançar no espaço imperialista nessa região. pois os seres superpoderosos que surgem para fazer os homens comuns
Desta forma, o nascimento dos super-heróis foi produto da crise e da suportarem a crise e a guerra, os soldados lutarem e o heroísmo ser um
guerra, que criaram uma situação de desemprego, angústia, necessidade de ponto de apoio para a investida bélica, tornam-se supérfluos em um pe­
soldados, de homens fortes. Isto ligado ao desenvolvimento tecnológico ríodo de paz entre as nações imperialistas e a reconstrução europeia. Os
e ao individualismo da sociedade moderna, além da existência de heróis super-heróis são de origem norte-americana e isto também fez com que
dos quadrinhos e alguns excepcionais, como Fantasma e Mandrake, bem não fossem requisitados em outras partes do mundo.
como a expansão da ficção científica na literatura, no cinema e nos qua­ Após a Segunda Guerra M undial, um novo regime de acumula­
drinhos, especialmente Flash Gordon, temos, assim, os ingredientes ne­ ção é instaurado, paulatinamente marcado pelo Estado Integracionis-
cessários para a produção dos super-heróis. A determinação fundamental ta (“de Bem -Estar Social”), pelo Fordismo e pela expansão do capital
foi, sem dúvida, a crise do capitalismo e os conflitos derivados, e as demais transnacional. A mensagem guerreira teria de ser substituída por algo
determinações (heróis de quadrinhos, individualismo, desenvolvimento mais ameno. O Capitão América era muito bélico para ser mensagei­
tecnológico, ficção científica, entre outras) ajudam a compor este novo ro do domínio do capital transnacional, bem como o Super-Hom em
tipo de ficção, mais fantástico e complexo do que as histórias do gênero seria muito pretensioso para representar a nova forma de exploração
aventura. Os super-heróis são filhos de sua época e, por isso, tal como o internacional. Ambos tornariam visível o que deveria ser ocultado. A
Capitão América, são manifestações da axiologia, dos valores dominantes, estratégia não era mais a do herói colonizador, como Tarzan, Fantasma,
vinculados às necessidades da classe dominante na época (Viana , 2005). nem a de super-heróis militares, a serviço de estados beligerantes.

A crise dos super-heróis

reprodução de revistas em quadrinhos não constitui uma crise em si. Também o fato
A crise e a guerra fizeram emergir os super-heróis e, uma vez supera­
de que, nesse período, os heróis tenham “entrado na guerra” e os super-heróis tenham
da essa situação, os super-heróis perdem espaço.6 Se a crise gera os super- sido criados para guerrear não significa um a crise, a não ser partindo de um a pers­
pectiva apologética e conservadora dos quadrinhos. Para essa perspectiva, a entrada
na guerra de heróis e super-heróis consiste numa crise por ter significado o fim de
um a suposta e inexistente neutralidade e inocência dos quadrinhos, enquanto que, na
6 Alguns autores ( B i b e - L u y t e n , 1987; G u b e m , 1979) afirmam que a crise dos qua­ verdade, apenas revela o que estava oculto, tornando visível o que antes estava invi­
drinhos ocorre a partir de 1939. Segundo essa periodização, a “idade de ouro” dos sível, ou seja, o caráter social, histórico, político, axiológico dos quadrinhos ( V i a n a ,
quadrinhos seria o período em que o gênero aventura foi hegemônico, isto é, do 2005), pois a guerra apenas mostra a visibilidade do significado social dos heróis e
final da década de 1920 até o final da década seguinte. O período de emergência dos super-heróis, como dos quadrinhos em geral. N a verdade, o apogeu dos super-heróis
super-heróis seria a época da crise dos quadrinhos. Porém este procedimento analí­ foi justam ente neste período e, após a Segunda G uerra M undial, ocorre seu recuo,
tico é bastante questionável. O fato de haver um a crise do papel e isto ter atingido a sendo, pois, um a crise do gênero superaventura, que só se recuperará nos anos 1960.
24 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 25

Ao lado disso, novos personagens de quadrinhos foram criados e/ marchartismo, e na esfera dos quadrinhos, com o lançamento do livro
ou passaram a ganhar cada vez mais espaço, tal como a família Disney, A Sedução do Inocente (1954), de Fredric W ertham. Foi realizada toda
com o Pato Donald, o T io Patinhas e outros, bem como o rato que uma campanha contra os quadrinhos. W ertham conseguiu apoio e in­
anda com os patos, Mickey Mouse. Também, no período que vai de fluenciar parte da população. Isto provocou “uma onda de protestos”
1945 a 1965, temos o que Renard (1981) chamou de “idade de ouro” dos representantes dos pais, professores, família etc. (M oya, 1972) e
dos quadrinhos franco-belgas, marcada por uma produção quantita­ contou com o apoio de “certos meios pedagógicos” (G ubem , 1979). No
tiva de personagens bastante elevada e com alguns grandes sucessos caso específico dos super-heróis, W ertham denunciou uma suposta ho­
internacionais, tal como T in tin e os engraçadíssimos Lucky Luke e mossexualidade de Batman e Robin (M oya, 1972), cuja comprovação
Asterix. O protecionismo francês, a partir de 1947, também faz parte não era mais do que os delírios de W ertham. O resultado disso tudo foi
desse contexto (Baron -C arvais, 1989). Os quadrinhos ingleses, assim a criação de um código de autorização para os quadrinhos:
como os de outros países, também produziram novos e interessantes
A parte industrial, financeira e editorial dos comia fraquejou diante
personagens, que conseguiram um relativo sucesso além das frontei­
de tam anha campanha e chegaram as partes a um m eio-term o: um có­
ras da ilha onde foram produzidos, tal como os personagens Bristow, digo. Tal como aquele que fora feito havia muito tempo em Hollywood
considerado por alguns como um “antiburocrata”, e Andy Capp (Zé do e debilitara o cinema americano diante da agressividade realista do ci­
Boné, no Brasil), ambos tematizando o cotidiano e a monotonia que nema europeu. Com a concorrência da T V americana e do cinema da
Europa, já caía o código Hayes no cinema. M as com os comics, sem
lhes acompanham, estando, portanto, muito longe do mundo extraor­
concorrência, sucedeu uma queda diante da T V e da onda moralista
dinário dos super-heróis. ( M o y a , 1972, p. 72).
O intervencionismo estatal foi outra determinação na crise da su-
peraventura. O protecionismo francês apenas revela os interesses co­ Os alvos principais desse ataque eram os quadrinhos de horror e
merciais de um país que afetou os super-heróis norte-americanos, mas de heróis (G ubem , 1979), mas os super-heróis, mesmo enfraquecidos,
a censura política cumpriu um papel igualmente poderoso para o recuo não foram poupados, tal como colocamos anteriormente no caso de
da superaventura. O fim da Segunda Guerra M undial transformou os Batman. Este foi um período de recuo para o mundo dos super-heróis,
Estados Unidos na grande potência mundial, bem mais forte do que já tanto no que se refere à produção quanto no que se refere ao consumo.
era antes disso. Porém outra grande potência emergiu, a URSS, e esta A produção diminuiu quantitativamente, encontrava concorrentes nos
passou a ser o inimigo a ser combatido, pois já dominava suas repú­ quadrinhos de humor, na família Disney, em Pogo, Peanuts e outros, e
blicas e ainda passou a dominar o Leste Europeu, e a exercer grande também não conseguiu apresentar uma renovação criativa, sendo que
influência em diversos países pelo mundo, através dos partidos comu­ a maior reação do período foi o fato de Batman e Superman lutarem
nistas satelizados por Moscou. A Guerra Fria entre o capitalismo pri­ juntos. No caso da Marvel, houve apenas o triste episódio do Capitão
vado comandado pelos EUA e o capitalismo estatal capitaneado pela América lutando contra os agentes “comunistas” da União Soviética,
URSS passa a atingir a produção cultural nos Estados Unidos e a in­ expressando uma manifestação ideologêmica na superaventura, no
fluenciar outros países, de uma forma ou de outra. O intervencionismo contexto da Guerra Fria. Os super-heróis, e seus criadores, estavam
estatal vai manifestar-se na esfera da produção cinematográfica, com o
26 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 27

preparados apenas para a guerra. Isto, obviamente, atingiu o consumo, poderes, mas que enfrentam feiticeiros, e depois de maneira mais clara
que já havia diminuído seu interesse pela superaventura por causa da com a retomada de Flash, por Carmine Infantino, em 1959. Em 1960,
era criada uma “Justice League o f America” para agrupar diversos su­
concorrência de outros gêneros, personagens etc., o que era ainda mais
per-heróis, tal como acontecera com a antiga “Justice Society o f A m e­
forte na Europa, devido ao que colocamos anteriormente. A supera­ rica”, nos anos 40. Foram assim ressuscitados G reen Lantern (1960),
ventura só poderia recuperar seu espaço através de algumas mudanças por Gil Kane, Sid Green e depois Neal Adams; The A tom por Gil
que só ocorrerão a partir do final dos anos 1950. Kane sobre textos de G ardner Fox; Hawkm an (1964), pelo desenhador
M urphy Anderson sobre argumento de G ardner Fox; Batman (1966)
por Bob Kane, D ick Giordano, Neal Adams e outros; finalmente, The
Spectre (1967), por M urphy Anderson e depois Neal Adams. Os anos
A retomada e a renovação dos super-heróis 1966-1967 conheceram um a corrente de “Batmania”, que deu origem
à produção intensa de distintivos deste super-herói, de batmobiles em
brinquedos m iniatura etc. ( R e n a r d , 1981, p. 98).
O capitalismo oligopolista transnacional que emerge a partir da
supremacia do regime de acumulação intensivo-extensivo não é es­
tático. A guerra m undial produziu um a ampla destruição das forças Mas, além de ressuscitar super-heróis, a D C também produziu

produtivas, principalm ente na Europa, e a reconstrução europeia novos super-heróis: Adam Strange (1960), Deadm an (1967), Captain

mobilizou e possibilitou um a retom ada da acumulação capitalista Action (1968). A Charlton Comics entrou em cena e produziu através
em grande escala. A partir de 1945, a reconstrução da Europa marca de Steve D itko uma safra de super-heróis composta por Captain Atom

um processo ascendente e que foi acom panhado por um processo (1965) e The Question (1968), além de retomar Blue Beetle (1967), tal

de m aior intervenção estatal em todas as instâncias da vida social, como coloca Renard (1981). Porém, a fábrica de super-heróis de maior

bem como pela expansão do capital transnacional e do fordismo, e produção e destaque foi a Marvel Comics:

tudo que lhe acom panha (uso da tecnologia para aum ento da pro­
Sob o impulso do argumentista Stan Lee, que é um dos mais fe­
dutividade, ou seja, extração de mais valor relativo, produção em cundos e imaginativos criadores de super-heróis, foram criados nume­
série, sistema de crédito etc.). Este processo vai gerar, nos países rosos personagens, não apenas retomados ou modernizados. As criatu­
im perialistas, especialmente EU A e Europa, um aum ento conside­ ras de Stan Lee diferem bastante dos super-heróis tradicionais. É certo
que também possuem um vestuário ou um aspecto original, um corpo
rável do poder aquisitivo e do mercado consumidor, bem como o
de atleta, uma identidade dupla, assim como poderes maravilhosos, mas
crescimento de determ inados setores de consumo. estes são simultaneamente mais extraordinários e especializados; Su-
H á, neste contexto, uma retomada da produção de quadrinhos do perman e Batman são de certo modo polivalentes, enquanto que The
gênero superaventura. Por um lado, temos uma retomada por parte da Human-Torch já é um especialista em incêndios; a Invisible Girl só pode
contar com sua invisibilidade; e M edusa apenas pode recorrer a seu cabe­
D C Comics.
lo para agarrar pessoas ou objetos. Por outro lado, os super-heróis de Stan
Lee, contrariamente aos anteriores à guerra, possuem uma personalidade
A D C Comics lançou o movimento a partir de 1957, prim eira­ quase neurótica, mesmo quando se apresentam como super-heróis; têm
m ente de maneira tím ida com a série de Jack Kirby, Challengers o f the os defeitos e complexos dos homens normais, conhecem o ódio, o amor,
Unknown, pondo em cena um a equipe de heróis atléticos, sem super- o egoísmo. Alguns deles são mesmo antigos “supermaus”, como Sub-
28 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 29

M ariner ou Silver Surfer. Finalmente, e muito mais do que os primeiros qualificou-a com mais precisão de “sociedade burocrática de consumo
super-heróis, os dos anos 60 têm muito a ver com a Energia ou as ener­ dirigido” (L efeb v re, 1 9 9 1 ). O utro elemento que acompanha este pro­
gias: fogo, água, terra e ar, e ainda a eletricidade, o átomo, o raio laser, a
cesso é a consolidação da juventude como grupo social (V ia n a , 2 0 0 4 )
antimatéria e energia Psi etc. ( R e n a r d , 1 9 8 1 , p. 9 8 - 9 9 ) .
e seu crescimento quantitativo na Europa, com o rejuvenescimento da
população a partir do final dos anos 1950, bem como o seu potencial
Stan Lee, ao lado de grandes desenhistas e colaboradores como
de consumo.
Jack Kirby, Steve Ditko e vários outros, fez reaparecer Nam or e C a­
pitão América e criou toda uma nova safra de super-heróis: Quarteto Nos países que tom aram parte da Segunda G uerra M undial,
Fantástico, H om em -Aranha, Hulk, X -M en. Estes novos super-heróis foram sacrificadas principalm ente as gerações jovens. A Europa fi­
conquistaram um grande espaço no interior do capital comunicacional cou convertida em um continente de hom ens e mulheres velhos e de
crianças. A “G uerra Fria” foi acima de tudo assuntos desses “velhos”,
e passaram a expressar uma nova fase do mundo dos super-heróis, ago­
conforme se pode verificar a idade dos políticos da época. N a verdade,
ra marcada pela retomada e renovação, com a concomitante ampliação as crianças daqueles anos se transform aram em hom ens por volta do
da produção, da qualidade, da diversidade e do consumo. fim dos anos 50, década que, por outro lado, assistia ao desapareci­
Como explicar esse processo? Sem dúvida, a iniciativa de retomar m ento dos anciãos, que até então dirigiam as nações. Isto fez com
os super-heróis por parte da D C Comics e Charlton Comics foi im­ que, de súbito, se registrasse o crescimento da problem ática juvenil
como um fenôm eno característico. Porém, esta juventude não tinha
portante e, principalmente, a produção da Marvel Comics. A hege­ muito a ver com o passado bélico que havia oposto e destruído os
monia da D C Comics no primeiro período dos super-heróis, graças seus ascendentes. Portanto, o salto que surgiu entre a sensibilidade do
ao Superman e ao Batman, foi suplantada pela hegemonia da Marvel passado e a do presente não podia ser maior, na falta de um a geração
Comics com uma grande diversidade de super-heróis, com destaque interm ediária que agisse como ponte. A população que saudou a che­
gada dos anos de 1960 era fundam entalm ente jovem. A diminuição
para o H om em -Aranha, mas também com Hulk, Quarteto Fantástico,
da m ortalidade infantil, cada vez mais notória nos países desenvolvi­
Demolidor, Namor, Capitão América, Thor, H om em de Ferro, entre dos, contribuiu notavelmente para este rejuvenescimento tão visível
inúmeros outros. Porém esses novos produtos culturais não surgem do ( C a r a n d e l l i , 1979, p. 35-37).

nada. Eles nascem do processo social e, por isso, é preciso compreender


as mudanças sociais e culturais do período para entender este novo Assim, a partir dos anos 1960, a população juvenil, principalmente
fôlego da superaventura. na Europa (mas também, em menor grau, em diversos outros países),
A determinação fundamental desse processo é a estabilização do teve um crescimento proporcional muito grande. Ao lado disso, o po­
capitalismo oligopolista transnacional na Europa e nos EUA. O au­ der aquisitivo maior da população e o consumismo que acompanha
mento do poder aquisitivo da população, a política de integração da o capitalismo oligopolista transnacional (V iana, 2009) foram acom­
população realizada pelo Estado Integracionista, o sistema de crédito panhados por uma crescente mutação valorativa, na qual a poupan­
possibilitaram o aumento do consumo e uma ampliação do consumo ça perde espaço e prestígio e, em seu lugar, devido às estratégias das
cultural. Porém, nesta nova fase, temos a emergência do que alguns grandes empresas oligopolistas como a publicidade e a fabricação de
sociólogos chamaram “Sociedade do Consumo”, e H enri Lefebvre necessidades artificiais, o consumo passou a ser valorado e prestigiado.
30 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 31

A população juvenil também passou a ter um crescimento em seu po­ que foi provocado por viagem espacial;7 o H ulk surge graças à exposi­
der aquisitivo, tornando-se um nicho de mercado visado pelo capital ção do cientista Bruce Banner aos raios gama; grande parte dos super-
comunicacional (“indústria cultural”) e explorado pela produção cine­ -heróis e dos supervilões são alienígenas que aterrizam no planeta Ter­
matográfica, musical etc., e por outras frações do capital que podiam ra: Galactus, Surfista Prateado etc.
usufruir dessa nova faixa do mercado consumidor. Stan Lee cumpre um papel fundamental nesse processo, pois ele
A nova safra de super-heróis da Marvel Comics é produto des­ buscava reunir a ficção e o extraordinário com a racionalidade. Isto
sas mudanças históricas e outras relacionadas. Uma delas é a da força pode ser exemplificado numa entrevista na qual comparou os super-
do arsenal nuclear que veio à luz com a Segunda Guerra M undial, e -heróis da M arvel com os da D C Comics e afirmou não compreender
Hiroshim a foi o grande exemplo. A corrida armamentista da Guerra como o Superman podia voar. Namor, dizia ele, possuía pequenas asas
Fria e a corrida espacial que lhe acompanhou promoveram uma nova nos pés; Thor era guiado por seu martelo de Uru (posteriormente ba­
onda de interesse por ficção científica, bem como o “equilíbrio do ter­ tizado no Brasil de Mjolnir); o H om em de Ferro tinha os jatos de sua
ror” entre as duas superpotências, e proporcionaram uma percepção da armadura e assim por diante. Claro que as asas dos pés de Nam or são
ciência e da tecnologia marcada pelo temor. O efeito do temor social desproporcionais em relação ao corpo do super-herói e jamais conse­
dos produtos científico-tecnológicos estará presente na literatura de guiriam fazer alguém voar, mas isto não vem ao caso. A explicação é
ficção científica, no cinema e nos quadrinhos. Porém, o temor social problemática, mas existe. Assim, Stan Lee vai ter um papel importante
irá, num primeiro momento, provocar um recuo da ficção científica e, na renovação e no papel concedido para a ficção científica nesse pro­
num segundo momento, promover o interesse baseado no “retorno do cesso. Obviamente que tal contribuição está ligada ao contexto e renas­
reprimido”. É por isso que a ficção científica no cinema será bastante cimento da ficção científica em geral, bem como ao público juvenil que
reduzida até 1949 e somente após 1955 irá ampliar sua produção. “Ve­ se formava nessa época.
rifica-se de 1945 a 1949 um afrouxamento da produção de filmes de E neste contexto que podemos entender o surgimento da nova safra
ficção científica na América” (S iclier e L abarthe , [s.d.]: 70). A partir de super-heróis e suas características. Alguns exemplos poderão escla­
de 1950, há uma retomada da ficção científica, que vai consolidar-se no recer isso. O surgimento do H om em -A ranha está intimamente ligado
final dessa década e nos anos 1960. a esse processo de mudanças sociais. Em primeiro lugar, a origem dos
Isto não será diferente com o mundo dos super-heróis. A supera- superpoderes desse personagem está em uma aranha contaminada por
ventura passa a ter no efeito do temor social dos produtos científico-
-tecnológicos um dos seus principais leitmotiv. Se a retomada da supe-
raventura por parte da D C e da Charlton Comics não forneceu tanta 7 O objetivo da viagem espacial seria “científico”, mas, no entanto, fazia parte da com ­
ênfase a esse efeito de tem or social, a renovação da Marvel Comics, petição com a URSS, que havia lançado Yuri G agarin ao espaço. A nave foi lançada pre­
m aturam ente, devido ao cancelamento do financiamento pelo Governo. H á uma frase
graças principalmente a Stan Lee, teve nele sua grande inspiração. O reveladora da M ulher-Invisível (Sue Storm) para convencer Ben G rim m (O Coisa) a
H om em -A ranha é um jovem comum que ganha seus poderes devido pilotar a nave: “Ben, nós temos que tentar! A não ser que você queira que os comunistas cheguem,
na fren te”, e é por isso que os números seguintes da revista serão marcados por inimigos
à picada de uma aranha contaminada por radioatividade; o Quarteto “comunistas”. O Q uarteto Fantástico surge, assim, no contexto da G uerra Fria e fazendo
Fantástico tem sua origem através do contato com raios cósmicos, o parte dela.
32 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 33

radioatividade, o que permitiu a transmissão de algumas de suas carac­ qual a escolarização assume papel fundamental, e a condição ambí­
terísticas para Peter Parker. A ficção científica mostra-se presente na gua do jovem, integrado parcialmente na sociedade e trazendo em si
explicação da origem de seus superpoderes, bem como no uso do fluido a recusa do futuro papel de adulto, simultaneamente com o desejo das
que ele produz para produzir suas teias e o mecanismo para lançá-las. vantagens desse papel, é similar ao dilema do H om em -Aranha, entre
O personagem Peter Parker era um jovem colegial, o que torna mais ser herói ou ser uma pessoa descomprometida com tal dever. Parker
fácil a identificação com ele por parte do público juvenil. N a capa do precisa ganhar dinheiro para sustentar sua tia viúva que o criou e cuja
número 01 da revista do H om em -A ranha, ele aparece carregando uma viuvez era responsabilidade que ele atribuía a si mesmo.
pessoa pelo ar, segurando sua teia e afirmando: “Embora o mundo pos­ Ele era um colegial, tal como milhares de leitores do Hom em -
sa zombar de Peter Parker, o jovem tímido, logo se maravilhará diante -Aranha, em constantes atribulações com as garotas e com as amizades.
do poder do H om em -A ranha”. Desta forma, o H om em -A ranha é a Além disso, o H om em -A ranha satisfazia as novas demandas imaginá­
realização imaginária de um desejo inconsciente da juventude, o jovem rias da época e da juventude: era um individuo comum, pacato, com
real e o jovem ideal, Peter Parker e o H om em -A ranha. O texto da capa os problemas de qualquer outro jovem; mas, vestindo uma fantasia,
mostra justamente isso, o que o jovem é e o que ele quer ser. tornava-se um super-herói, aquele que não precisa ter dúvidas quan­
Os super-heróis como Capitão América, Batman e Superman to ao que deve fazer, que pode ironizar, lutar pela liberdade e exercê-
eram relativamente sem personalidade, um tanto quanto vazios, além -la parcialmente. Os diálogos do H om em -A ranha nos combates com
do sentido de dever, do bom-mocismo e do moralismo. A juventude seus inimigos são recheados de ironia, hum or e irreverência, mostrando
emergente exige uma maior complexidade dos personagens; e a irreve­ uma transgressão imaginária, um desejo de liberdade que acompanha
rência, a ironia, a ambiguidade, marcada pela situação da juventude na o inconsciente coletivo e especialmente a juventude (V iana , 2005).
sociedade moderna (V ia na , 2004), provocam uma composição mais Ele é uma reprodução dos dilemas juvenis, e os conflitos interiores
complexa dos personagens. É por isso que Renard (1981) irá afirmar do personagem refletem isso, tornando-o um personagem que agrada
que os super-heróis da Marvel são mais humanos, possuem defeitos e a juventude. Assim, o público jovem precisa do herói ou super-herói
sentimentos. para realizar na fantasia o que não pode ser feito na realidade, devido
O jovem Peter Parker não queria ser um super-herói. Ele vestiu a ao processo de opressão e ressocialização a que está submetido. É esta
fantasia de H om em -A ranha para lutar no ringue e ganhar dinheiro. situação do jovem que o predispõe para se inspirar e cultuar os heróis
Sua opção por ser um super-herói foi provocada pela morte de seu tio e super-heróis. É por isso que alguns, tal como Sidney H ook (1962),
e pelo sentimento de culpa, pois antes ele havia se encontrado com o naturalizam “o culto juvenil do herói”, não percebendo que se trata de
assaltante e não impediu sua fuga por não considerar problema dele. um fenômeno social.
Neste contexto, o H om em -A ranha era o “tipo ideal”, pois ele mesmo Outro personagem juvenil da época é o Tocha Humana. A origem
era jovem e assumia a identidade juvenil com suas irreverências e iro­ do Tocha Humana, tal como a de todo o Q uarteto Fantástico, são os
nias, abrindo caminho para a popularidade na faixa da população que raios cósmicos. O Tocha H um ana também é jovem, suas aparições são
mais consumia quadrinhos na época. A juventude não é algo dado pela bem-humoradas, tal como em suas contendas com o Coisa, bem como
idade ou pela biologia; ela é sim um produto social ( V i a n a , 2004), no mostra outros interesses juvenis, como o namoro, inclusive sua aproxi-
34 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 35

mação com Cristal (posteriormente batizada de Cristalis),8 integrante viram os desenhos das primeiras histórias de H ulk e os filmes citados,
do grupo Os Inumanos, raça de superseres comandados por Raio N e­ poderão observar a semelhança na aparência dos dois monstros. D a
gro e de origem alienígena (esse grupo foi criado em 1964 e sempre mesma forma que M ister H ide, H ulk não se controla e, quanto mais
aparecia nas histórias do Q uarteto Fantástico). perde o controle, mais forte fica. A origem do H ulk e sua aparência
O período histórico de 1949 a 1955 não foi uma época de muitos dem onstram a mesma crítica dos produtos científico-tecnológicos
monstros. Após o crescimento espetacular dos monstros no cinema, que já se encontra em O Médico e o Monstro. Este é o caso também do
nos anos 1930, através da Universal Pictures (Drácula, Frankenstein, Coisa, tam bém de aparência horrível, seu principal dilema. A viagem
Homem-Invisível, M úmia, Lobisomem), houve uma diminuição na espacial e o contato com raios cósmicos - só possível com uso de
produção cinematográfica e um novo crescimento começa paulatina­ naves e aparelhos tecnológicos - transform am -no em um monstro,
mente a partir de 1955. Os super-heróis anteriores nunca foram apre­ de forma involuntária e apenas na aparência, pois ele controla suas
sentados como monstros, pois esse papel cabia aos supervilões. Porém, ações. Sua origem, portanto, está intim am ente ligada aos produtos
o Incrível H ulk e o Coisa são super-heróis. Esses dois super-heróis não científico-tecnológicos que possibilitam sua mutação/deformação, o
são da linha do sobrenatural, tal como Drácula, Lobisomem e outros, que se revela em sua aparência física.
ou como supervilões deformados como alguns inimigos de Batman, O utros super-heróis da M arvel Comics estão intim am ente li­
Pinguim, por exemplo, ou inimigos do Capitão América, tal como o gados com o desenvolvimento tecnológico e científico, como os X-
Caveira Vermelha. Eles estão mais próximos da criação humana, tal M en, Inumanos, H om em de Ferro etc. Porém existiam exceções. Os
como Frankenstein e M ister H ide (Dr. Jekill). Eles compõem a “via seres superpoderosos ganham seus poderes ou nascem com eles. G e­
B”de construção de monstros, segundo terminologia de Lenne (1974), ralmente, são os alienígenas e deuses que nascem com superpoderes.
que não se fundam enta no sobrenatural, que seria a “via A”, e sim no No caso da M arvel, a mitologia nórdica forneceu a base para o surgi­
próprio ser humano. Frankenstein é produto de um cientista e Dr. Jekill mento de Thor, o Deus do Trovão, e todos os deuses de Asgard (Odin,
é um médico que se transforma em monstro. A inspiração para a cria­ Balder, Sif, Karnak, Voolstag, H eidall etc.), inclusive os maus, como
ção do Hulk, segundo Stan Lee, foi justam ente O Médico e o Monstro, Loki, m eio-irm ão de Thor e seu grande inimigo, além de inúmeros
ou seja, a história de Dr. Jekill e Mr. H ide, que, além do livro, já pos­ seres (os Krolls, por exemplo) e monstros poderosos, como Ragnarok.
suía, nessa época, duas versões cinematográficas (1939 e 1943). Assim, Zeus e Hércules são outros deuses que, inspirados na mitologia grega,
H ulk não apenas recorda Dr. Jekill, como coloca Renard (1981), mas é convivem, neste mundo fantástico, no mesmo universo fictício que a
inspirado diretamente nele. população de Asgard.
O cientista Bruce Banner foi exposto aos raios gama e se transfor­ Essas exceções não anulam o processo fundamental da influên­
ma num a figura gigantesca, poderosa e horrível. Para aqueles que já cia do desenvolvimento científico-tecnológico e da ficção científica
na produção dos super-heróis da M arvel Comics. Os Deuses e seres
mágicos (como D outor Estranho) não possuem seus poderes por se­
8 O s nomes dos super-heróis sofreram alterações dependendo da época e editora res­
rem alienígenas (Superman), por usarem aparato tecnológico (Batman,
ponsável no Brasil, e não apenas seus nomes, mas outros elementos, tal como o M ar­
telo de Thor, que de U ru passou a ser de Mjolnir. H om em de Ferro), por terem sido afetados por radioatividade ou qual­
36 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 37

quer outra experiência científica (Q uarteto Fantástico, Hulk, Tubarão, tórias em quadrinhos mudam neste contexto, pois o processo de ascen­
Demolidor, X -M en) ou por pertencerem a outra raça (Namor e os são das lutas sociais promove o recuo da intervenção estatal e da classe
Atlantes, e os Inumanos). A fonte de seus superpoderes é misteriosa e dominante em determinadas esferas. Isto se manifesta especialmente
esta é a diferença. Q uando a supervilã Feiticeira lança um feitiço sobre no plano cultural, realizando o que Marcuse (1971) denominou con-
uma moça louca e a transforma em Valquíria (integrante do grupo Os trarrevolução preventiva. Sendo assim, a partir de 1970, ocorrem m u­
Defensores, junto com D outor Estranho, Hulk, Namor, Gavião, Sur- danças sociais e, nos quadrinhos, elas atingem diretamente o mundo
fista Prateado, entre outros), descobre-se como esta última se tornou dos super-heróis. Além do que já foi colocado anteriormente, é neste
uma super-heroína, ao se libertar do domínio da outra, mas o super- período que ocorre a liberalização do código e afrouxamento da cen­
poder da outra, origem do dela, permanece um mistério. Não existe sura sobre os quadrinhos, como parte do processo de contrarrevolução
nenhum apelo místico ou religioso em tais super-heróis e supervilões. preventiva: “Em janeiro de 1971 os quadrinhos podem por fim abor­
Eles são como qualquer outro super-herói, tendo virtudes e defeitos, dar determinados temas tabus, como a sedução e a droga, e também
bondade e maldade. E vivem num mundo fictício lógico e organizado mostrar certa simpatia pelos criminosos, e até duvidar das autoridades
racionalmente. Thor é um Deus que luta com seres humanos superpo- oficiais” (Baron -C arvais, 1989, p. 30). Embora ainda com restrições,
derosos (Os Vingadores) ou contra eles (supervilões, Os Defensores). no caso dos EUA, a censura é abrandada.
Isto mostra o quanto os deuses do mundo Marvel foram secularizados, O público juvenil dos períodos anteriores torna-se adulto, e par­
e seu único diferencial é a origem misteriosa de seus superpoderes, o te continua lendo super-heróis, o que também reforça a tendência de
que, no entanto, é semelhante à origem dos superpoderes dos alieníge­ reformulação do mundo dos super-heróis. Isto é reforçado por uma
nas e raças diferentes, já que nascem com tais superpoderes. maior politização da juventude nesse período. Os personagens devem
tornar-se mais complexos, os temas mais sérios e assim por diante. No
início dos anos 1960, o Batman com sua batfamília (Batwoman, Batgirl,
O envelhecimento dos super-heróis Batmirim, Batcão...), que fornecia um ar conservador e familiar para
resistir a críticas como a de W ertham, significou a infantilização desse
O mundo dos super-heróis foi abalado pelas mudanças sociais super-herói em grande escala, o que foi reforçado pela série da T V nos
ocorridas a partir da segunda metade dos anos 1965, principalmente anos 1960, tal como Superman também tinha sua família; e, a partir do
a partir de 1968. O mundo inteiro foi abalado e a ficção também. Já a final dos anos 1960, com Neal Adams, que passa a ser um super-herói
partir dos anos 1965, há uma mudança provocada pelas transformações mais complexo.
sociais, como a contracultura, a ascensão de alguns movimentos sociais O envelhecimento do público também provoca o envelhecimento
(direitos civis, negro, feminista e estudantil), as lutas sociais que co­ dos super-heróis da Marvel Comics. Esse processo gerou no mundo
meçam a retomar certa radicalidade, entre outros fenômenos. É neste dos quadrinhos novos temas, personagens, acontecimentos. No caso do
contexto que o mundo dos quadrinhos passa a ter uma forte expansão Homem-Aranha, ocorreu a morte de Gwen Stacy, sua namorada, e foi
dos quadrinhos eróticos (Barbarella, Saga de Xam etc.) e de horror resultado do dilema entre matar a personagem ou promover seu casa­
(Kriminal, Diabolik, Satanik). Isto continua até os anos 1970. As his­ mento com Peter Parker. A opção foi a primeira, mas sua existência já
38 N i/do Viana Breve história dos super-heróis 39

revelava que Peter Parker estava entrando no mundo adulto e a solução da década de 1960, como Ms. Marvel, criada em 1968 e que ganhou
foi apenas um adiamento em um dos aspectos da vida adulta, tal como revista própria nos anos 1970; M ulher-Aranha (1977); a Gata (1972),
muitos indivíduos o fazem. A decisão foi prorrogar a transição desse entre outras. Apesar da falta de criatividade na criação de personagens
personagem para a vida adulta e que só foi concluída em 1987, quando femininos, o que continua até hoje, visto que são geralmente versões fe­
ocorreu seu casamento, com outra personagem. Assim, o Hom em-Ara- mininas de super-heróis masculinos, tal como M ulher-Aranha, M ulher-
nha dos anos 1970 é um meio-adulto, que passa a viver questões mais -Hulk, Shanna (era versão feminina de Tarzan para a Marvel e depois
complexas e profundas que no período anterior. Harry Osborn se mostra se tornou esposa de Ka-Zar, outra cópia do mesmo personagem, só que
novamente envolvido com LSD, o que é sugestivo e expressão da época. inserido no mundo Marvel), Ms. Marvel etc., que até os uniformes são
A Marvel Comics lança novos personagens, entre eles Luke Cage semelhantes aos de seus predecessores masculinos (Homem-Aranha,
e Falcão, ambos personagens negros. A criação de personagens negros, Hulk, Tarzan, Capitão Marvel, respectivamente). Raras foram as exce­
que já existiam na Marvel, tal como Pantera Negra (1966) e Falcão ções, como Tempestade, do grupo X-M en. Também os sucessos da cul­
(1969), que passa de criminoso para ajudante do Capitão América. tura mercantil e cinematográfica terão grande impacto na Marvel, e isso
A origem, na ficção, de Luke Cage e Falcão é o Harlem, bairro negro justifica a criação de A Tumba de Drácula e Blade, o Caçador de Vampi­
norte-americano, e ambos são, inicialmente, criminosos. Já o Pantera ros, e os diversos personagens ligados ao Kung-Fu, na era de Bruce Lee e
Negra, é um príncipe de um fictício país africano. Porém é a partir dos filmes do gênero: Shang-Chi, o Mestre do Kung-Fu, foi o principal,
de 1970 que Luke Cage (1972) aparece e o Pantera Negra passa a ao lado de Punhos de Aço (ou Punhos de Ferro, dependendo da versão)
ter aventuras próprias. Em 1975, surge Tempestade, integrante dos X- e diversos outros (G uedes , 2008). A mudança formal também ocorre
-M en, e Golias Negro (1976). A D C Comics também cria diversos su- com os desenhos ganhando maior qualidade e precisão e substituindo
per-heróis negros: Vikin, o Negro (1971); Núbia, a irmã negra da M u- os traços menos realistas ou mais caricatos que ainda existiam. Os traços
lher-M aravilha (1973); o Lanterna Verde reserva que era negro, John se tornam mais precisos, e isto não é gratuito, ou seja, reflete o processo
Steward; Black Ligthtning —Raio Negro (não confundir com o outro axiológico por detrás dos super-heróis (R eblin , 2008).9
Raio Negro da Marvel Comics, líder dos Inumanos, e, muito menos,
com o super-herói brasileiro homônimo), entre outros. A emergência
de super-heróis negros está ligada ao processo de fortalecimento do
9 “No corpo dos super-heróis, encontram -se os modelos e padrões da cultura dom i­
movimento negro nos anos 1960, ao uso dessa temática como novo nante. Por um lado, é um corpo axiológico, mas tam bém contextuai, pois ele mantém
filão de mercado e como parte da contrarrevolução preventiva. Os ne­ as características de uma época específica, que m udam com o tempo, como pode
ser verificado num a comparação entre os corpos do Super-H om em e do H om em -
gros passam a ocupar um lugar no mundo do capital comunicacional
-Aranha, bem como do próprio H om em -A ranha, em seu ano de concepção e o perí­
e nos meios tecnológicos de comunicação como resultado das lutas odo atual” ( R e b l i n , 2008, p. 61 ). A axiologia se manifesta diferentem ente em épocas
diferentes, já que ela é “uma determ inada configuração do padrão dom inante de va­
sociais e de seus efeitos posteriores, e isto irá atingir o capital editorial.
lores” ( V i a n a , 2007b) e por isso o super-herói vai possuir aparência física distinta em
Mas o capital editorial não se limitará a abordar a questão das dro­ épocas distintas, sendo, portanto, manifestações axiológicas de cada época histórica.
gas, a criar personagens negros, pois irá também expandir o número de M as existem outras determinações na produção da aparência física do super-herói e,
por isso, seu caráter axiológico depende de um estudo concreto (determinado super-
personagens femininas que expressam a ascensão do feminismo no final -herói em determ inada época, por exemplo).
40 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 41

Na D C Comics, os super-heróis também começam a ganhar mais Se, em 1954, foi criada uma versão jovem do Superman, o Superboy,
complexidade. As histórias simples e ingênuas de Batman e Superman isto se devia ao fato de que a D C Comics não produziu novos super-
já não agradavam a totalidade do público. E, por isso, a D C teve de, atra­ -heróis adequados à época, como fez a M arvel Comics, e apenas bus­
vés dos responsáveis por sua produção, complexificar os personagens. Neal cou adaptá-los, sem o mesmo êxito e qualidade.
Adams e Dennis O ’Neil foram os responsáveis pela remodelação do A r­ A D C Comics também buscou criar novos personagens adequados
queiro Verde. O Arqueiro Verde, ao lado do Lanterna Verde, envolvia-se à época, mas sem o mesmo brilho que a Marvel. Assim, a M ulher-
em debates mais sérios e politizados com o Lanterna, opondo-se a seu -Maravilha ganhou mais destaque por ser uma personagem feminina,
conservadorismo. Além disso, ele perdeu sua fortuna e passou a se pre­ e outras super-heroínas foram criadas, como Orquídea Negra. Tam ­
ocupar com questões sociais e a se aproximar das classes exploradas. Ele bém o Kung-Fu ganhou espaço, com Karatê Kid e Dragão do Kung
também ganhou uma “personalidade própria”, tornando-se mais tempera­ Fu, publicado na revista Kung Fu Fighter, não por coincidência nome
mental. Em uma das histórias, aparece o tema do vício em heroína de seu semelhante ao do grande sucesso musical da época: Kung Fu Fighting.
ajudante Ricardito, exemplo de sua aproximação com a realidade social. Esse processo todo teve como determinação fundamental as trans­
Batman ficou mais complexo também, remontando suas origens. formações sociais ocorridas a partir da segunda metade da década de
Robin passou a ser um estudante universitário, e as histórias do H o- 1960, o que fez surgirem novas temáticas e super-heróis, bem como foi
mem-M orcego deixaram de ser em dupla e passaram a ser ambienta­ reforçado pelo público adulto leitor de quadrinhos, e uma maior poli-
das no período noturno. O Superman também ficou mais complexo e o tização da juventude, criando um mercado consumidor que reforçava
tema da morte também aparece, tal como quando foi infectado por um essa renovação temática. A crise do regime de acumulação intensivo-
vírus alienígena consciente e, devido a isso, quase morreu. A criação, -extensivo a partir do final dos anos 1960 e o processo de lutas sociais
em 1960, da ideia de uma “Terra 2”, um planeta Terra paralelo, onde forçam a concessões, novas temáticas, novos personagens, que estão liga­
os super-heróis das origens de 1940 ainda existiam e envelheciam, só dos ao processo de contrarrevolução preventiva, que permeará a cultura
foi amplamente utilizada a partir dos anos 1970. Em 1966, surge o dos anos 1970. Porém, se os anos 1970 foram marcados por uma con­
Superman da Terra 2. Mas é a partir de 1971 que se busca reformular o trarrevolução cultural preventiva e pela tentativa de resolver a crise do re­
Superman e, por isso, Dennis O ’Neil é chamado para realizar a trans­ gime de acumulação intensivo-extensivo, sem alterá-lo, a partir de 1980,
formação desse personagem, tal como havia feito com Batman. temos a emergência de um novo regime de acumulação, o que provocará
Assim, as histórias do Superman mudam através do Superman da vários efeitos sobre os quadrinhos e o mundo dos super-heróis.
Terra 2, que envelhece, abandona o jornal Planeta Diário e passa a ser
apresentador de telejornalismo na rede W G BS, que adquiriu o refe­
rido jornal. Ele perde parte de seus superpoderes para uma duplicata, A reorganização e a inovação no mundo dos super-heróis
através de uma experiência de laboratório, que também destrói toda
kryptonita existente no planeta Terra. A mudança mais significativa e A emergência do capitalismo neoliberal, marcado pelo regime de
que demonstra sua entrada definitiva na vida adulta é seu casamento acumulação integral, provoca várias mudanças no mundo dos super-
com Lois Lane. Porém o Superman era diferente do Hom em -Aranha. -heróis. O novo regime de acumulação foi formando-se paulatinamen-
42 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 43

te a partir da reestruturação produtiva do neoliberalismo e do neoim- permitiu solucionar algumas contradições do Superman, mas criando
perialismo, sendo que avança mais rápido em alguns países, apesar de outra enorme confusão, principalmente na cabeça dos leitores. Ao con­
suas especificidades. Os anos 1980 são marcados pela emergência desse trário da Marvel Comics, na qual a coerência era mantida, a D C tinha
novo regime de acumulação, sendo que, no final da década de 1980, já é histórias de Superboy e histórias em que o Superman só existe a partir
hegemônico e se consolida nos anos 1990.10 O que ocorre é que as his­ da idade adulta, o que as diversas “Terras” solucionavam, colocando um
tórias em quadrinhos passam a reproduzir, intencionalmente ou não, em uma Terra e outro em outra. Superman torna-se menos poderoso
características desse período. Como resultado do novo regime de acu­ e seu alterego, Clark Kent, deixa de ser uma figura exageradamente
mulação, temos o aumento da exploração dos trabalhadores, aumento simplória. Também deixa de ser o herói sem dilemas e até passa a ter o
do desemprego, intensificação da criminalidade, violência e pobreza, papel de joguete nas mãos de um governo, que, nos bastidores, é con­
em todo o mundo. Já a partir do final dos anos 1990, há uma ascensão trolado por Lex Luthor, tal como em O Cavaleiro das Trevas II, história
das lutas sociais, o que abre espaço para novas mudanças no mundo dos de Batman, sem falar em crises de consciência e de identidade. A morte
quadrinhos, tal como mostraremos adiante. da Supermoça é outro elemento das mudanças da superaventura, sendo
Esse processo de mudanças começa a atingir o mundo dos super- assim a morte tematizada e concretizada no mundo dos super-heróis.
-heróis. A principal mudança formal manifesta-se nos desenhos de O próprio Superman morre em 1993, para depois ressurgir das cinzas,
grande parte do mundo dos super-heróis: super-heroínas formosas e o que promoveu uma grande vendagem de sua revista que não andava
traços realistas e coloridos, alguns com maestria, tal como nos super- muito lucrativa.
heróis da Image Comics. A Mulher-Maravilha, por exemplo, passa a ter Batman, por sua vez, torna-se mais sombrio, voltando às origens e
uma representação de seu corpo semelhante às super-heroínas da Image indo além dela, pois ganha em violência e em dilemas existenciais. A
Comics, ganhando em sensualidade. O desenvolvimento tecnológico e a partir dos anos 1980, Batman passa a ser um herói que reflete a reali­
nova era dos super-heróis promovem um aprimoramento formal. Porém dade de crescente violência e desesperança. Em O Cavaleiro das Trevas
as grandes mudanças ocorrem na instância do conteúdo das histórias. (1986), está num futuro sombrio, com mais de 50 anos, vivendo uma
A partir de 1986, John Byrne começa a modificar o Superman. crise de identidade e mostrando-se violento. Em Piada Mortal (1988),
Isto ocorre após a série “Crise nas Infinitas Terras”, na qual se busca há a repetição do problema existencial: Batman procura o Coringa
solucionar o confuso processo de existência de diversas “Terras”, o que para evitar que um mate o outro, além da violência também presente,
que atinge um grau elevado quando o Coringa tortura o comissário
Gordon ou então quando deixa Bárbara Gordon, a Batgirl, aleijada.
10 É comum chamar o período de 1970 a 1986 de “era de bronze dos super-heróis” (veja,
Em Cavaleiro das Trevas II, isso acaba repetindo-se, pois num futuro
por exemplo, G u e d e s , 2008). Porém consideramos a terminologia “era de bronze” abs­ sombrio e fascista comandado por Lex Luthor, Batman também se
trata e pouco esclarecedora e a nova fase surge um pouco antes, no final da década
de 1960, sendo que alguns elementos vão desenvolvendo-se e completando-se com o
revela sombrio e enfrenta Superman, fiel serviçal do poder.
passar dos anos, e o ano de 1986 para término do período já possui mais elementos a O mundo Marvel também sofrerá mudanças. A partir da década
seu favor, tal como o lançamento de Crise nas Infinitas Terras e Cavaleiro das Trevas, mas
de 1980, os personagens passam a ter novidades. O H om em -A ranha
deixa de lado o lançamento de Guerras Secretas, que lhe é anterior, 1984, e outras peque­
nas mudanças que vão culminar com tais séries e outros desdobramentos posteriores. finalmente chega à idade adulta, com seu casamento com M ary Jane,
44 N ildo Viana Breve história dos super-heróis 45

em 1987, assim como outros super-heróis passam a ter modificações. A A busca de mercado consumidor fez ressuscitar os chamados cros-
partir da série “Guerras Secretas” (1984), há uma alteração importante sovers, embates entre super-heróis que tiveram grande sucesso, quando
no mundo Marvel. Este processo vai sendo ampliado e um super-herói foi lançado em 1976 a luta entre Superman e H om em -Aranha, e os
acaba destacando-se no mundo Marvel como símbolo da época: W ol­ leitores puderam ver Batman versus Hulk, bem como X -M en versus
verine. Um super-herói mais violento e agressivo, mas também mais Novos Titãs (grupo da D C Comics que teve vários personagens acusa­
decidido. Este integrante do grupo X -M en terá uma ascensão e se tor­ dos de serem plágios dos mutantes da Marvel: Ravena de Tempestade;
nará no capitalismo neoliberal um dos principais super-heróis Marvel. Ciborg de Colossus etc.), entre outros. Porém a grande estratégia foi
O utra modificação no mundo dos super-heróis deste período re­ o lançamento das séries e minisséries. Foi devido a isso que surgiram
side na adequação ao admirável mundo neoliberal em seu processo de as séries Crise nas Infinitas Terras e Cavaleiro das Trevas (I e II), en­
hipermercantilização, gerada pela necessidade de reprodução ampliada tre outras, da D C Comics, e Guerras Secretas (1984), Guerras Secretas
do consumo num mundo já consumista e de nível elevado de consu­ I I (1986), até chegar às mais recentes, tal como Guerra Civil (2006-
mo (por determinados setores da população e com maior índice em 2007), pela Marvel Comics.
determinados países, que fique claro). As modas e os produtos cultu­ O utra estratégia foi o lançamento das Graphic Novels,u que, no
rais passam a ser cada vez mais efêmeros, e a renovação deve ocorrer mundo dos quadrinhos dos anos 1980 até hoje, foram a forma para se
mais rápido. Isto significa, para o capital editorial dos quadrinhos, a referir às publicações encadernadas, com preço mais elevado e histó­
necessidade de ampliar o mercado consumidor, criar novos nichos de rias mais longas, geralmente para o público adulto. Entre as principais
mercado, renovar mais rapidamente a produção, entre outras estraté­ Graphic Novels lançadas, temos Cavaleiro das Trevas (a minissérie enca­
gias. Neste contexto, também há um acirramento da competição entre dernada) e A Morte do Capitão Marvel. Foi a partir dos anos 1980 que a
os oligopólios do capital editorial dos quadrinhos (especialmente D C Marvel lançaria a M arvel Graphic Novels, publicando mais de 35 obras.
Comics e Marvel Comics)11 e entre os demais concorrentes menores.12 A intenção das Graphic Novels é atrair os setores mais intelectualizados
e daí a maior complexidade das histórias, acompanhadas por questões
éticas, existenciais, políticas, entre outras. Se, na década anterior, bus­
cou-se atrair o público adulto, na nova década, o público que se busca
agregar (além de nichos de mercado específicos, como mostraremos
11 A história em quadrinhos com certeza não é a galinha dos ovos de ouro que foi na
década de 70. A concorrência é brutal” ( Q u e l l a - G u y o t , 1994, p. 98). adiante) é principalmente o público formado pelos setores intelectua-
12 Existiram outras grandes produtoras de super-heróis, tal como C harlton Comics,
Atlas Comics, First Comics etc. Focalizamos aqui a M arvel Comics e a D C C o ­
mics por serem as duas maiores e mais significativas fábricas de super-heróis. São as
que produziram a maior quantidade e qualidade de super-heróis (embora houvesse 13 “Romances Gráficos”, em tradução portuguesa aproximada, cuja definição é polêmica
produções de qualidade semelhante ou, em certos aspectos, até superior a da D C e remete a certa confusão entre a ideia de usar os quadrinhos para trabalhar narrativas
Comics, mas sem conseguir vencer a competição capitalista no mercado editorial), longas e elaboradas, como M aus (Arnoul Spielgeman) e Contrato com Deus (escrito
e tam bém o maior sucesso de público e comercial. A D C Comics só conseguiu isso por W ill Eisner, criador de Spirit), com os usos das grandes produtoras de quadrinhos
porque Superman e Batm an tornaram -se grandes sucessos, devido a um a série de fa­ de aventura e super-heróis, tal como Sandman, W atchmen, entre outros. U m a term i­
tores, o que foi suficiente para essa empresa conseguir m anter-se e buscar renovar-se nologia mais adequada seria tratar os primeiros como “romance em quadrinhos” e os
em outras estratégias que perm itiram um lugar ao sol. últimos como “Quadrinhos épicos”. Desenvolveremos isto em outra obra.
46 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 47

lizados, ou seja, adultos mais exigentes e com maior poder aquisitivo. A busca do mercado consumidor também ganha espaço no ape­
Segundo Quella-Guyot: lo para emoções mais fortes e mudanças mais bruscas. A morte da
Supermoça é apenas um dos elementos desse processo. Em Crise nas
O álbum se impõe, enquanto as revistas se resumem às pré-publi- Infinitas Terras, vários super-heróis da D C Comics morrem, embora
cações publicitárias, o que faz delas apenas catálogos de editores, sem
a maioria sem grande importância. O lançamento de A Morte de Su-
alma e, em consequência, sem público. Por outro lado, os álbuns apare­
cem antes do fim da pré-publicação, o que em nada estimula os leitores perman provocou uma grande vendagem. Logo seria lançado O Retor­
a continuar a sê-lo. Em 1 9 8 9 , 2 8 8 das 540 publicações novas foram ál­ no de Superman. M uitos outros morreram e ressuscitaram a partir de
buns “diretos” (ou seja, 53,3%), quer dizer, obras nunca pré-publicadas, 1980, embora alguns não tenham tido essa sorte. Os grandes confron­
o que reduz muito a remuneração dos autores, que antes se beneficia­
tos apocalípticos também atraíram o público, tal como Guerras Secretas
vam de direitos de cada aparecimento ( Q u e l l a - G u y o t , 1 9 9 4 , p. 9 7 ) .
e Guerra Civil, da Marvel, além das Crises da D C (Crise nas Infinitas
Terras, Crise de Identidade, Crise Infinita e Crise Final). Além disso, a
Com exceção do preço, o álbum (tanto o que é chamado Graphic
crise de identidade e os processos psíquicos ganham relevância, o herói
Novels, os quadrinhos épicos, quanto as séries e minisséries que são
já não é mais tão herói assim, bem como suas certezas se transformam
posteriormente encadernadas) traz para o leitor várias vantagens:
em incertezas. É isso que irá provocar o descontentamento dos leitores
O gosto pela obra completa, acessível a uma única leitura e que se mais antigos, acostumados a um mundo onde a linha entre o bem e o
pode organizar por autores à feição de outros livros, está na origem da mal é claramente delimitada.
alarmante rejeição das revistas, produto de aparência menos sólida e mais
perecível. De apresentação cada vez mais resistente (capa dura e edições Afinal, depois do bronze veio a ferrugem. Ferrugem nos sorrisos,
de luxo), os álbuns são o sinal evidente do sucesso do autor e marca de corações e mentes. E os nossos heróis, que sobreviveram bravamente
propriedade do leitor, que pode a todo momento reler “seu” livro. Esse a guerras secretas, invasões alienígenas e desafios infinitos, pereceram
público “ado-adulto” gosta de encontrar uma narrativa completa, se bem tristem ente na pior das armadilhas: o pântano dos burocratas que nun­
que agora assistamos à publicação de quatro ou cinco títulos que dão uma ca, sequer, leram um gibi na vida ( B a r a l d i , 2 0 0 8 , p. 7 ) .
volta ao mundo. A revista apresentava o inconveniente essencial de apre­
sentar tiras pouco apreciadas pelo leitor, que tinha de admitir em “sua”
revista autores de que não gostava. A compra de álbuns só oferece, dessa A época anterior é apresentada como sendo de emoção e inteligência,
perspectiva, vantagens (afora o custo) ( Q u e l l a - G u y o t , 1 9 9 4 , p. 9 7 ) . 14 época na qual “artistas talentosos trabalhavam em uníssono em animadas
redações e estúdios, afinados e orquestrados por um maestro genial que tinha
moléculas de HQ_em cada célula do sangue”. Período em que a produção
14 Sem dúvida, não é possível concordar com a totalidade das afirmações de Q uella-
era diferente “do processo de criação isolado, firio e impessoal de hoje”.
-G uyot, mas, no geral, ele expõe algumas tendências e dados estatísticos sobre o m er­
cado dos quadrinhos. Para muitos, os nostálgicos e leitores antigos, bem como para Uma época na qual o Bem era realmente o Bem e o M al realmente o
os de baixo poder aquisitivo, as revistas ainda são as grandes opções, convivendo ou
Mal. M uito diferentemente das crises nas infinitas cabeças vazias que asso­
não com a tolerância ou o consumo dos álbuns. O utro inconveniente das revistas é a
laram o mercado de hoje, embaralhando valores e varrendo noções de mo­
necessidade de estar sempre indo às bancas para comprá-las, para não se perder nú­
meros de séries. D e qualquer forma, houve um crescimento da produção e consumo ral e ética para alguma dimensão tão distante que nem o passivo e afetado
de álbuns e isto acabou influenciando a produção fictícia dos quadrinhos. personagem conhecido como O Vigia tem acesso... ( B a r a l d i , 2 0 0 8 , p. 7 ) .
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Esse posicionamento nostálgico parte de uma concepção que é a sido resolvido com a manutenção dos super-heróis, tal como existiam,
que predominou no mundo dos super-heróis na maior parte de sua e a criação de novos, adequados às novas exigências.
história: o moralismo e a defesa da ordem. Também não percebe que D e qualquer forma, houve uma mudança no mundo dos super-
a burocracia está mais presente nas redações e estúdios com um “ma­ -heróis da D C e da Marvel, expressão da ascensão do regime de acu­
estro” (burocrata) comandando a “orquestra”. O que houve foi apenas mulação integral e, consequentemente, das mudanças sociais e cultu­
uma mudança na organização burocrática devido à necessidade mer­ rais que ocorrem em decorrência dele. No entanto o mercado editorial
cantil do capital editorial. Q uando se coloca em questão isso, quando viu o nascimento de novas safras de super-heróis e não seria possível
o super-herói não é mais tão puro e honesto quanto se pensava, então esquecê-las em nome da hegemonia e do tradicionalismo da Marvel e
aquilo que ele simboliza também cai por terra. O Batman de Piada da D C Comics. Os super-heróis produzidos pela Image Comics e o
Mortal acaba rindo com o Coringa, e a história mostrou a pobreza, o exótico Authority merecem um espaço em qualquer análise do mundo
desemprego, o envolvimento com a criminalidade, a perda do filho e da dos super-heróis.
esposa e a perseguição por Batman, que o faz cair em um contêiner de A Image Comics surgiu a partir da saída de desenhistas e rotei­
produto químico e tornar-se um supervilão, ou seja, mostra a produção ristas da M arvel Comics em 1992, por motivos relacionados à ques­
social do criminoso. Claro que o substituto do super-herói conservador tão financeira e aos direitos autorais. Entre os super-heróis criados
não foi um super-herói melhor, e sim ambíguo, refletindo o relativismo pela Image, o maior sucesso foi Spawn, o Soldado do Inferno, mas
reinante no mundo contemporâneo. M as não é a volta ao mundo idíli­ Dragon, Angela, W itchblade e os grupos W ildC .a.t.s. e Gen, entre
co dos antigos super-heróis que é o desejável. outros, tam bém tiveram algum sucesso. A Image Comics produziu
A era das incertezas é a era do capitalismo neoliberal, marcado um conjunto de super-heróis conservadores e violentos. O conserva­
pela ascensão da ideologia pós-estruturalista e pós-vanguardista, pela dorismo revela-se no fato de que grande parte deles trabalha para o
violência, pelo relativismo, pela falta de utopia. Neste contexto, as his­ sistema policial ou serviço secreto norte-am ericano, além de rótulos
tórias de Superman e Batman, por exemplo, não expressam nenhuma constantem ente utilizados como “comunas” (em um período no qual
crise como o chamando “fandom”15 e alguns especialistas a afirmam. a G uerra Fria já havia acabado). Usando linguagem torpe e desenhos
N a verdade, o que ocorreu foi um processo no qual os antigos e desa­ belos, incluindo as super-heroínas em trajes e formas atraentes, além
tualizados super-heróis já não se adequavam mais ao mundo contem­ da novidade e outros atrativos, a Image Comics conseguiu ultrapas­
porâneo, no caso do público adulto e intelectualizado, bem como para sar a D C Comics, ficando em segundo lugar durante parte dos anos
o público juvenil mais politizado e/ou intelectualizado. Sem dúvida, a 1990, e teve um novo impulso com o lançamento do filme Spawn e
estratégia comercial foi problemática, pois desprivilegiou uma parte do seu sucesso, bem como, em m enor grau, com o seriado de T V Witch­
público (crianças e pessoas menos intelectualizadas), o que poderia ter blade. O forte da Image Comics foi justam ente a “imagem”, isto é, os
desenhos, pois as histórias não tinham nem a riqueza, nem a com­
plexidade da M arvel Comics, e mesmo da D C Comics em seus m e­
15 Fandom é o conjunto de fãs de um determ inado produto artístico ou cultural, ou de
lhores momentos. A crise do capital editorial dos anos 1990 atingiu
seus realizadores, tal como quadrinhos (ou algum gênero em seu interior, ou, ainda,
personagem etc.), programa da televisão, artista etc. a Image, uma das responsáveis pela mesma e ligada à especulação dos
50 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 51

quadrinhos nesse período, no qual se investia em revistas esperando detoná-los ou fazer menções irônicas ou cômicas. Assim, a politiza-
que, posteriorm ente, estas pudessem ser vendidas a preço de ouro, o ção acaba transform ando o A uthority em um grupo que defende a
que acabou revelando-se um a fantasia. democracia e não a transformação social, tal como os policiais norte-
O utro grupo de super-heróis criado foi o The Authority, que sur­ -americanos muitas vezes passam por cima da lei e dos superiores
ge em 1999 após a crise do mercado editorial, cujos criadores saem para fazer justiça com as próprias mãos, o que não altera nada nas
da Image Comics, e acaba sendo publicado pela D C Comics (sem relações sociais.
participar do mundo de super-heróis da D C Comics). The A uthority D esta forma, o surgimento dos super-heróis conservadores da
é um grupo de super-heróis que combatem não apenas supervilões e Image Comics ocorre justam ente na época em que o neoliberalismo
seres alienígenas poderosos, mas ditadores, governos e até Deus, que se torna o “pensamento único” e é instaurado em países que ainda
eles destruíram em um combate. Os super-heróis do A uthority são resistiam em aderir ao novo mundo político institucional. Já o The
mais politizados e querem “um m undo m elhor”. Por isso interferem A uthority é produto da ascensão das lutas sociais do final da década
na invasão russa na Chechênia, criticam os grandes capitalistas e o de 1990, incluindo o chamado “movimento antiglobalização”, com
governo dos Estados Unidos e possuem personagens homossexuais, suas diversas tendências, ambiguidades e sua influência do pós-estru-
que são os super-heróis Apoio e M eia-N oite, além de bissexuais. O turalismo, anarquismo e marxismo, revelando as mesmas indefinições
casamento de Apoio e M eia-N oite, que segundo alguns seriam ins­ desse movimento e as demandas de grupos ascendentes (ideologia
pirados em Superman e Batman, é o coroamento dessa aparição de do gênero, por isso há uma personagem feminista e homossexuais,
relações homossexuais no m undo dos super-heróis. que não só conseguem uma grande mobilização como se tornam um
Porém as histórias do The A uthority são um tanto quanto lim i­ novo nicho de mercado consumidor). A semelhança com o referido
tadas em m atéria de complexidade e profundidade. É uma equipe movimento tam bém é visível nas críticas e referências ao G 7 e outras
de super-heróis que mora em um a balsa e que viaja por espaços in- passagens. Assim, The A uthority pode ser considerado contestador,
terdimensionais, e que possui outros super-heróis de outros lugares, mas não revolucionário.
mas que são coadjuvantes. Os supervilões aparecem e são derrotados, Seu relativo sucesso desde seu surgimento em 1999 vai até 2001,
não possuindo nenhum a tram a mais duradoura ou complexidade no quando a censura e o atentado ao W orld Trade Center, em 11 de se­
decorrer da narrativa. A linguagem torpe parece ter sido copiada dos tem bro de 2001, acabam corroendo suas bases e a D C Comics acaba
super-heróis da Image Comics, bem como o desenho das persona­ cancelando sua publicação. Ele retorna nos EUA, segundo alguns de
gens femininas, embora sem o mesmo resultado neste caso. O maior seus leitores, em versões mais moderadas e comuns. N a série Re-
saldo seria o aspecto político, mas, no entanto, se o grupo condena volution, o grupo assume o Governo dos EU A (o que não é nada
governos, ditadores, empresas (“você suporta Choco-Cola?” aparece “anarquista”, tal como alguns julgavam esse grupo) e acaba desilu­
em um anúncio, bem como quando o grupo é derrotado e substituí­ dindo-se e separando-se, para depois se reunir novamente em outras
do por fantoches a mando do governo norte-am ericano, estes prepa­ sequências do grupo. Em Transferência de Poder, um quadro que tinha
ram um novo Deus pop para ser adorado, Religimon... referências à George Bush observando a situação dram ática de um personagem do
Coca-C ola e D igim on), não apresenta nenhum a alternativa além de grupo foi censurado e substituído por outro personagem.
52 Nildo Viana Breve história dos super-heróis 53

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Nosso objetivo aqui foi demonstrar que os super-heróis são pro­ M o y a , Álvaro (org.). Shazaml São Paulo: Perspectiva, 1972.
dutos históricos e sociais e reconstituir brevemente sua história a partir Q u ella- G uyot, Didier. A História em Quadrinhos. São Paulo:
dessa percepção, mostrando a criação e a renovação dos super-heróis, Unimarco, 1994.
bem como as temáticas, os valores, as concepções, repassadas em suas R e b l in , Iuri Andréas. Para o Alto e Avante. Uma Análise do U ni­
histórias. N a verdade, esta tarefa requer um processo de aprofunda­ verso Criativo dos Super-Heróis. Porto Alegre: Asterisco, 2008.
mento e ampliação e aqui apenas esboçamos um caminho a ser tri­ R e n a r d , Jean-Bruno.yf Banda Desenhada. Lisboa: Presença, 1981.
lhado em outra obra mais densa e detalhada, realizando análises mais S ic l ie r , J. e L abharte, A. S. Cinema e Ficção Científica. Lisboa:
amplas e profundas. De qualquer forma, o caráter histórico e social Aster, [s.d.],
do mundo dos super-heróis e sua evolução foram apresentados e de­ V ia n a , Nildo. A Consciência da História —Ensaios Sobre o M ate­
monstram o ponto de partida para qualquer história não descritiva do rialismo Histórico-Dialético. 2a ed. Rio de Janeiro: Achiamé, 2007a.
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