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RELATO DE CASO

Uso de prótese ocular expansora em criança


com perda de globo ocular – caso clínico
Use of expander eye prosthesis in children with eye loss – clinical case

RESUMO Patricia Tiemy Hirono Hotta*


Introdução: a perda ocular apresenta etiologia congênita ou Luis Pablo Herrera Tinajero*
adquirida, devido a traumas ou patologias. A prevenção e/ou Cleusa Aparecida Campanini
intervenção precoce minimiza seqüelas e os distúrbios de Geraldini**
crescimento orbital. A reabilitação, na instalação de uma prótese Neide Pena Coto**
ocular, visa favorecer o desenvolvimento harmonioso da região. Reinaldo Brito e Dias***
grande incidência das perdas do globo ocular em crianças de 0 a 11
anos é por trauma.
Relato do caso: em alguns casos, onde o intervalo entre a cirurgia e a
reabilitação protética é prolongada a cavidade orbital apresenta-se
atrésica, não permitindo a reabilitação imediata através de prótese
* CD, Pós Graduando do Departamento de
ocular individualizada. Nestes casos é indicada uma prótese Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo
expansora a fim de devolver o volume necessário para uma perfeita Faciais, Faculdade de Odontologia,
reabilitação. Este trabalho apresenta tal técnica através de um caso Universidade de São Paulo.
clínico. ** CD, Me, Dr, Professora, Departamento
Conclusão: é importante frisar que a boa condução do caso clínico de Cirurgia, Prótese e Traumatologia
Maxilo Faciais, Faculdade de Odontologia,
permite crescimento e desenvolvimento normal dos pacientes
Universidade de São Paulo.
acometidos.
*** CD, Me, Dr, Professor Titular,
Palavras-chave: Olho Artificial; Reabilitação; Dispositivos para Departamento de Cirurgia, Prótese e
Expansão de Tecidos. Traumatologia Maxilo Faciais, Faculdade
de Odontologia, Universidade de São
Paulo.
ABSTRACT
Introduction: the eye loss has congenital or acquired etiology due to
trauma or diseases. The prevention or early intervention minimizes
sequelae and disturbances in orbital growth. Rehabilitation in the
installation of an ocular prosthesis intends to promote the
harmonious development of the region, the higher incidence of eye
losses in children from 0 to 11 years is due to trauma.
Case report: in some cases, where the interval between surgery and
prosthetic rehabilitation is prolonged orbital cavity becomes atresic, Endereço de correspondência:
not allowing immediate rehabilitation through individualized Neide Pena Coto
prosthesis. In these cases a prosthetic expander is recommended in Av. Lineu Prestes, 2227 – Cidade
Universitária – São Paulo / Brazil
order to obtain the volume needed for a full rehabilitation.
CEP: 05508 000
Conclusion: this paper presents such technique on a clinical case. It is Phone/Fax : 55 113091 7878
important to highlight that a proper conduction of the clinical case E-mails: npcoto@usp.br / rbdias@usp.br
allows normal growth and development of affected patients.
Enviado: 20/02/2010
Keywords: Eye, Artificial; Rehabilitation; Tissue Expansion Devices. Aceito: 22/09/2010

Odonto 2011; 19 (37): 73-77 73


Hotta et al.

INTRODUÇÃO

Os olhos são peças fundamentais para compor uma face uniforme e


equilibrada, há quem diga que eles são a janela da alma. A perda pode desencadear
problemas familiares, psíquicos e sociais 1.
A perda ocular apresenta etiologia congênita ou adquirida, devido a traumas ou
patologias. A prevenção e/ou intervenção precoce minimiza seqüelas e os distúrbios de
crescimento orbital2,3. A reabilitação, na instalação de uma prótese ocular, visa
favorecer o desenvolvimento harmonioso da região4.
A grande incidência das perdas do globo ocular em crianças de 0 a 11 anos é
por trauma5,6. Em alguns casos especiais, a cavidade remanescente apresenta-se
atrófica, sendo indicado o uso de prótese expansora, que promove a distensão dos
tecidos para posterior reabilitação, além da criança passar por uma importante fase de
adaptação à prótese.
Neste trabalho é apresentado um caso clínico de perda do globo ocular onde foi
indicado o uso de prótese expansora no intuito de promover o aumento gradativo e
proteção da cavidade orbicular para posterior uso de prótese ocular individualizada.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino, 8 anos de idade, apresenta perda do globo ocular


lado direito com etiologia adquirida, por trauma (Fig. 1). Foi encaminhado ao
Ambulatório de Prótese Buco Maxilo Facial da Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo (FOUSP) para reabilitação por meio do uso de prótese
ocular. Após o estudo do caso, notou-se que a cavidade apresentava-se atrésica (Fig. 2)
necessitando aumento gradativo da mesma, neste caso, com o uso de prótese ocular
expansora.

Figura 1. Perda ocular lado direito. Figura 2. Cavidade atrésica.

Descrição da técnica

A moldagem da cavidade foi realizada com hidrocolóide irreversível e seringa


plástica, obtendo-se um molde (Fig. 3). O molde foi incluído em mufla para posterior
ceroplastia (Fig. 4). No modelo em cera a superfície anterior foi modelada e após a sua
prova, a acrilização em resina incolor termo polimerizável foi realizada. Os desgastes
de usinagem foram realizados e a peça polida (Fig. 5).

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Figura 3. Apresentação dos materiais e seqüência dos passos da moldagem da


cavidade.

Figura 4. Obtenção do molde e ceroplastia.

Figura 5. Apresentação da peça protética acrilizada.

A prótese inicial possuía o mesmo volume e tamanho da cavidade (Fig. 6),


movimentos de adução e abdução foram avaliados. Após 2 semanas, o paciente
retornou apresentando uma cavidade mais elástica permitindo acréscimo ao volume
da prótese. Prosseguiu-se o reembasamento com cera rosa 71 recobrindo toda a área
anterior da prótese para promover um aumento uniforme de toda cavidade
favorecendo maior abertura vertical e horizontal das pálpebras (Fig. 7). Após o
segundo reembasamento, a prótese expansora foi instalada sem relato de dor ou
incomodo (Fig. 8).

Figura 6. Prótese expansora instalada.

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Figura 7. Demonstração do aumento de Figura 8. Instalação da segunda prótese


volume entre a primeira peça e a expansora.
segunda.

A prótese continuará sendo reembasada em resina incolor até alcançar o


volume favorável à instalação da prótese ocular reparadora propriamente dita.

DISCUSSÃO

Dependendo do tempo decorrente entre cirurgia e instalação de prótese ocular,


a cavidade pode apresentar-se cada vez mais atrésica. Este problema, no momento da
confecção da prótese ocular, pode impedir que esta seja instalada corretamente e que
suas funções sejam cumpridas integralmente7. Para que isso não ocorra foi sugerida a
técnica expansora que consiste em reduzir os tecidos comprometidos às dimensões
normais com o volume ocupado anteriormente pelo globo ocular, proporcionando o
máximo de dissimulação da deficiência e corroborando para que a prótese ocular
cumpra todos os seus requisitos, isto é, proteção da cavidade, recuperação do tônus da
musculatura comprometida, favorecimento do direcionamento lacrimal, devolução da
estética e por fim proporcionar conforto psicossocial ao paciente reabilitado. As
vantagens do uso dessa técnica incluem melhor adaptação dos tecidos subjacentes,
aumento da mobilidade da prótese e melhor contorno facial8.
Para o desenvolvimento correto da técnica apresentada, critérios para uma
impressão aceitável devem ser seguidos apresentando registro exato da parede
posterior da cavidade, da posição das pálpebras em relação à parede posterior, e na
medida dos fórnices superior e inferior da pálpebra9 bem como a inserção de cera e sua
inclusão para a obtenção da peça expansora10.
No caso clínico aqui apresentado deve-se avaliar o fato do paciente ser criança,
isto é, em fase de crescimento facial onde fica explícita a necessidade de uma
intervenção precoce, pois caso contrário, pode-se comprometer a simetria da face desta
criança no decorrer de seu desenvolvimento. A prótese ocular permite que o
crescimento do lado comprometido acompanhe o crescimento do lado sadio. Cuidados

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no momento do estudo do caso como observação do paciente e análise das condições


da cavidade fazem toda a diferença no resultado final da reabilitação.

CONCLUSÃO

 Não somente a estética é restaurada, mas também a auto-estima,


autoconfiança e conforto psicossocial. O profissional necessita além do conhecimento
na área, a consciência de que seu trabalho é um fator importante para o bom
crescimento e desenvolvimento dos pacientes acometidos.

REFERÊNCIAS

1. Brito e Dias R, Rezende JR, Carvalho JC. Light-weight ocular prosthesis. Braz
Dent J 1994; 5(2):105-8.
2. Mattos BS, Montagna MC, Fernandes Cda S, Saboia AC. The pediatric patient at a
maxillofacial service: Eye prosthesis. Braz Oral Res 2006 Jul-Sep; 20(3):247-51.
3. Coas VR, Neves AC, Rode Sde M. Evaluation of the etiology of ocular globe
atrophy or loss. Braz Dent J 2005; 16(3):243-6.
4. Goiato MC, Demathe A, Suzuki T, dos Santos DM, Dekon SF. Management of
orbital reconstruction. J Craniofac Surg 2010 Nov; 21(6):1834-6.
5. Hemady RK. Ocular injuries from violence treated at an inner-city hospital. J
Trauma 1994 Jul; 37(1):5-8.
6. Zagelbaum BM, Tostanoski JR, Kerner DJ, Hersh PS. Urban eye trauma. A one-
year prospective study. Ophthalmology 1993 Jun; 100(6):851-6.
7. Sykes L. Custom made ocular prostheses: A clinical report. J Prosthet Dent 1996;
75:1-3.
8. Rode R, Rode S. [Eye prosthesis as an individualized shell bandage]. Rev Assoc
Paul Cir Dent 1980 May-Jun; 34(3):204-10.
9. Schneider R. Modified ocular prosthesis impression technique. J Prosthet Dent;
1986 55:482-5.
10. Brown K. Fabrication of an ocular prosthesis. J Prosthet Dent 1970; 24:225-35.

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