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GEOLOGIA DA BAHIA
Pesquisa e Atualização
Governador
Jaques Wagner
Secretário
James Silva Santos Correia
Diretor Presidente
Hari Alexandre Brust
Diretor Técnico
Rafael Avena Neto
Reitora
Dora Leal Rosa
Vice-Reitor
Luiz Rogério Bastos Leal
Coordenação Geral
Volume 2
Coordenação Geral
Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa
Editores
Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa
Juracy de Freitas Mascarenhas
Luiz César Corrêa Gomes
José Maria Landim Dominguez
Jailma Santos de Souza
Editoração Gráfica
Gabriela Machado
Letícia Nunes de Almeida Gouveia
Marcela Matthews Soares
Rafael Gordilho Barbosa
Tarcio Cândido Roseira Viana
Revisão Ortográfica
Enock Dias de Cerqueira
Francisco Baptista Duarte
Revisão Geral
Augusto J. Pedreira da Silva
G345 Geologia da Bahia : pesquisa e atualização / coordenação geral Johildo Salomão Figueirêdo
Barbosa. – Salvador : CBPM, 2012.
2 v. : il. color. – (Série publicações especiais ; 13).
Convênio CBPM-UFBA.
ISBN 978-85-85680-48-0 (v. 2)
CDD 558.142
CDU 551(813.8)
A Bahia, um dos estados brasileiros com notável apelo nacional e internacional pela geodiversidade de seu ter-
ritório, destaca-se, por exemplo, em possuir rochas dentre as mais antigas da história da Terra, com idades de
3,4-3,5 bilhões de anos. A antiguidade e a boa preservação de algumas sequências estratigráficas do Arqueano
e do Paleoproterozoico são completadas por importantes registros do Fanerozoico e que nos tem possibilitado,
gradativamente, traçar o desenvolvimento crustal e litosférico do embasamento do cráton e de suas faixas móveis
Brasilianas circunjacentes.
Diante dessa importância surgiu a idéia de reunir todos os dados geológicos existentes no Estado, da carta de
Pero Vaz de Caminha aos tempos atuais, e assim publicar este livro “Geologia da Bahia. Pesquisa e Atualização”.
Desta forma, no final de 2008 foi celebrado um convênio entre a CBPM-Companhia Baiana de Pesquisa Mineral
e a UFBA-Universidade Federal da Bahia, essa ultima através do NGB-Núcleo de Geologia Básica-Mapeamento
Geológico e Metalogênese do IGEO-Instituto de Geociências, visando a elaboração desta valiosa obra.
Seus autores, de comum acordo, decidiram contar a história geológica da Bahia por Eras, desde o Paleoarquea-
no até o final do Neógeno. Diante da grande quantidade de informações, a obra foi dividida em dois volumes. O
primeiro dedica-se à história da geologia da Bahia, às contribuições da geofísica e principalmente às rochas do
embasamento precambriano (Capítulos I ao VII) enquanto o segundo, às rochas de cobertura (Capítulos VIII ao
XIX). O Capítulo XX é de conclusão e está reservado à evolução tectônica e metalogenética do estado.
A criação, fundamentos e forma final deste livro têm contribuições de muitas e muitas fontes, entre as quais
algumas inéditas. Tentamos render homenagem a todos estes contribuidores, tentando fazer um referencial bi-
bliográfico o mais rico e impessoal possível.
A CBPM, sempre comprometida com o desenvolvimento mineral do Estado e prestes a completar 40 anos de
ações centradas no esforço de gerar produtos objetivando a geração de informações básicas sobre a geologia do
nosso território, publica este importante trabalho. Com o cuidado extremo dispensado pelos autores, revisores
e organizadores, esta obra visa contribuir com o avanço do conhecimento da geologia da Bahia. Com os mapas
geológicos ao milionésimo devidamente revisados, e as modificações inseridas ao longo do texto, ela será útil,
não somente à nova geração de geocientistas e profissionais da área, mas também a empresas que lidam com
as Ciências da Terra. Estamos, portanto, felizes com mais esta realização, e convictos de que este livro será um
referencial de destaque, um marco notável e notório nos tempos atuais e naqueles que advirem.
In Memoriam
Hermes Augusto Verner Inda
Capítulo I
Histórico da Geologia da Bahia
Benjamim Bley de Brito Neves (USP), Augusto Jose Pedreira (CBPM) & Juracy de Freitas Mascarenhas (CBPM)
1 Introdução... 33
2 Periodização... 36
2.1 Período colonial (1500-1808)...37
2.2 Na Trilha da Liberdade (1808 – 1907)...41
2.2.1 Primeira Fase (1808- 1839)...41
2.2.2 Segunda Fase (1839-1870)...42
2.2.3 Terceira Fase (1870-1907)...43
3 Pós 1907-processos de urbanização e industrialização mais período desenvolvimentista... 46
3.1 Pré anos 60...46
3.2 Anos 60...49
4 Pós-década de “60”/Sob o signo do desenvolvimentismo... 50
4.1 Os anos pós-60. As pedras angulares da evolução do conhecimento geológico da Bahia...50
4.1.1 PETROBRAS - Petróleo Brasileiro S/A...51
4.1.2 SBG - Sociedade Brasileira de Geologia...52
4.1.3 CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais–Serviço Geológico do Brasil...53
4.1.4 CBPM - Companhia Baiana de Pesquisa Mineral...56
4.1.5 O papel das Universidades...56
4.1.6 Projeto RADAMBRASIL...59
5 Síntese... 59
Capítulo II
Estudos Geofísicos. Evolução e Estágio Atual do Conhecimento
Edson Emanoel Starteri Sampaio (UFBA) & Raymundo Wilson Santos Silva (CBPM)
1 Introdução... 63
2 Aplicações da geofísica...64
3 Levantamentos geofísicos... 65
3.1 Gravimetria...65
3.2 GDS...68
G eo lo g i a d a Ba h ia • 9
Capítulo III
Terrenos Metamórficos do Embasamento
Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa (UFBA), Simone Pereira Cruz (UFBA) & Jailma Santos de Souza (UFBA)
1 Introdução... 101
2 Unidades Litoestratigráficas... 102
2.1 Localização das rochas arqueanas e paleoproterozoicas do embasamento...102
2.2 Principais Litologias do Bloco Gavião (Parte Norte)...107
MESOARQUEANO
2.2.1 Gnaisses e migmatitos...108
2.2.2 Greenstone Belt Mundo Novo...109
2.2.3 Complexo Mairi...109
NEOARQUEANO
2.2.4 Greenstone Belt Lagoa do Alegre...114
2.2.5 Greenstone Belt Salitre-Sobradinho...114
2.2.6 Complexo Barreiro...114
PALEOPROTEROZOICO
2.2.7 Grupo Colomi...115
2.2.8 Complexo Serra da Boa Esperança...115
2.2.9 Complexo Carbonatítico Angico dos Dias...115
2.2.10 Complexo Máfico-Ultramáfico do Peixe...116
2.2.11 Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Alegre de Lourdes...117
2.2.12 Complexo Saúde...117
2.2.13 Grupo Jacobina ...117
2.2.14 Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso...118
2.2.15 Granitoides...119
2.3 Principais Litologias do Bloco Gavião (Partes Oeste, Central e Sul)...119
PALEOARQUEANO
2.3.1 Rochas Tonalíticas, Trondhjemíticas, Granodioríticas (TTGs)...120
MESOARQUEANO
2.3.2 Complexo Gnáissico Migmatítico...122
10 • G e olog i a da B a hi a
G eo lo g i a d a Ba h ia • 11
12 • G eolog i a da B a hi a
Capítulo IV
Greenstone Belts e Sequências Similares
José Carlos Cunha (CBPM), Johildo S. F. Barbosa (UFBA) & Juracy de F. Mascarenhas (CBPM)
1 Introdução...203
2 Greenstone Belts na Bahia...207
2.1 Principais Greenstone Belts e Sequências Similares...207
2.2 Ocorrências de Komatiitos na Bahia...210
2.3 O Caso Contendas Mirante...213
3 Greenstone Belts do Bloco Gavião (Parte Norte)...216
PALEOARQUEANO-MESOARQUEANO
3.1 Greenstone Belt Mundo Novo...218
3.1.1 Embasamento...220
3.1.2 Sequência Inferior...220
3.1.3 Sequência Média...222
3.1.4 Sequência Superior...222
3.1.5 Estruturas e Metamorfismo...224
3.1.6 Intrusivas Pós-Tectônicas...226
3.1.7 Dados Litogeoquímicos...226
3.1.8 Dados Geocronológicos...226
3.1.9 Recursos Minerais...227
NEOARQUEANO
3.2 Greenstone Belt Lagoa do Alegre...228
3.2.1 Sequência Inferior...229
3.2.2 Sequência Superior...231
3.2.3 Dados geocronológicos...231
3.2.4 Recursos Minerais...232
3.3 Greenstone Belt Salitre-Sobradinho...232
3.3.1 Sequência Inferior...233
3.3.2 Sequência Superior...235
3.3.3 Estruturas e Metamorfismo...237
G eo lo g i a d a Ba h ia • 13
14 • G e olog i a da B a hi a
G eo lo g i a d a Ba h ia • 15
Capítulo V
Granitoides
Johildo S.F. Barbosa (UFBA), Marilda Santos-Pinto (UEFS), Simone C. P. Cruz (UFBA)
& Jailma Santos de Souza (UFBA)
1 Introdução...327
2 Granitoides do Bloco Gavião (Parte Norte)...328
PALEOPROTEROZOICO
2.1 Granitoide Campo Formoso...328
2.2 Granitoide Carnaíba...330
2.3 Granitoide Cachoeira Grande...336
2.4 Granitoide Flamengo...336
2.5 Granitoide Jaguarari...336
2.6 Granitoide Serra do Meio...337
2.7 Síntese dos Dados Litogeoquímicos e Geocronológicos ...337
3 Granitoides do Bloco Gavião (Partes Central, Sul e Oeste...339
PALEOARQUEANO
3.1 Granitoide Sete Voltas...339
3.2 Granitoide Boa Vista/Mata Verde...339
3.3 Granitoide Bernarda...342
3.4 Granitoide Aracatu...343
3.5 Granitoide Mariana...343
MESOARQUEANO
3.6 Granitoide Sete Voltas...344
3.7 Granitoide Lagoa do Morro...344
3.8 Granitoide Serra do Eixo...345
3.9 Granitoide Lagoa da Macambira...346
16 • G eolog i a da B a hi a
G eo lo g i a d a Ba h ia • 17
18 • G e olog i a da B a hi a
PALEOPROTEROZOICO
9.2 Granitoides Salvador...394
Capítulo VI
Serra de Jacobina e Contendas-Mirante
Carlson de Matos Maia Leite (UFBA/Petrobras) & Moacyr Moura Marinho (UFBA)
1 Introdução...397
2 Região da Serra de Jacobina...398
PALEOARQUEANO-MESOARQUEANO
2.1 Greenstone Belt de Mundo Novo...398
2.1.1 Domínio Máfico–Ultramáfico...398
2.1.2 Domínio Vulcânico Máfico...401
2.1.3 Domínio Vulcânico Félsico-Sedimentar...401
2.1.4 Domínio Metassedimentar...402
2.2 Complexo Saúde...402
PALEOPROTEROZOICO
2.3 Grupo Jacobina...403
2.3.1 Formação Bananeira...404
2.3.2 Formação Serra do Córrego...404
2.3.3 Formação Rio do Ouro...404
2.3.4 Formação Cruz das Almas...405
2.3.5 Rochas Magmáticas...405
2.4 Tectônica...407
2.4.1 Estruturas Dúcteis...407
2.4.2 Estruturas Rúpteis-Dúcteis e Rúpteis...410
2.5 Metamorfismo...410
2.6 Síntese e Evolução Geotectônica do Grupo Jacobina...414
3 Região de Contendas-Mirante...418
ARQUEANO
3.1 Unidade Inferior...421
3.1.1 Formação Jurema-Travessão...421
3.1.2 Formação Barreiro d’Anta...425
3.1.3 Subvulcânicas de Barra da Estiva...426
3.2 Unidade Média...426
3.2.1 Formações Rio Gavião e Mirante...426
3.2.2 Metavulcânicas Calcialcalinas...427
PALEOPROTEROZOICO
G eo lo g i a d a Ba h ia • 19
Capítulo VII
Corpos Máficos-Ultramáficos
Angela Beatriz de Menezes Leal (IGEO/UFBA), Johildo Salomão Figueiredo Barbosa (IGEO/UFBA)
& Luiz César Corrêa-Gomes (IGEO/UFBA)
1 Introdução...443
2 Corpos Máfico-Ultramáficos do Bloco Gavião (Parte Norte)...444
PALEOPROTEROZOICO
2.1 Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Alegre de Lourdes...444
2.2. Complexo Máfico-Ultramáfico do Peixe...449
2.3. Complexo Máfico-Ultramáfico de Campo Formoso...450
3 Corpos Máfico-Ultramáficos do Bloco Gavião (Parte Sul)...454
NEOARQUEANO
3.1. Sill do Rio Jacaré...454
4 Corpos Máfico-Ultramáficos do Bloco Serrinha...457
MESOARQUEANO
4.1. Complexo Máfico-Ultramáfico de Pedras Pretas (Peridotito Cromitífero de Santa Luz)...457
5 Corpos Máfico-Ultramáficos do Bloco Uauá...459
MESOARQUEANO
5.1. Complexo Anortosítico-Leucogabroico de Lagoa da Vaca...459
6 Corpos Máfico-Ultramáficos do Bloco Jequié...462
PALEOPROTEROZOICO
6.1. Maciço do Rio Piau...462
6.2. Maciço de Samaritana/Carapussê...465
7 Corpos Máfico-Ultramáficos do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Parte Norte)...468
MESOARQUEANO
7.1. Rochas Máfica-Ultramáficas do Vale do Curaçá...468
7.2. Suíte São José do Jacuípe...475
7.3. Rochas Máfica-Ultramáficas do Vale do Jacurici...475
8 Corpos Máfico-Ultramáficos do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Parte Sul)...478
PALEOPROTEROZOICO
8.1 Maciço de Mirabela...478
8.2. Maciço de Palestina...481
9 Síntese...481
20 • G eolog i a da B a hi a
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Capítulo VIII
Supergrupos Espinhaço e São Francisco
José Torres Guimarães (CPRM-SUREG/SA), Fernando Flecha Alkmim (UFOP)
& Simone Cerqueira Pereira Cruz (UFBA)
1 Introdução...33
2 Evolução do Conhecimento dos Supergrupos Espinhaço e São Francisco...37
3 Supergrupo Espinhaço na Região da Chapada Diamantina...41
MESOPROTEROZOICO
3.1 Formação Serra da Gameleira...42
3.2 Grupo Rio dos Remédios...45
3.3 Grupo Paraguaçu...48
3.4 Grupo Chapada Diamantina...50
3.5 Formação Morro do Chapéu...54
4 Supergrupo Espinhaço na Região do Espinhaço Setentrional...55
4.1 Formação Algodão...56
4.2 Grupo Oliveira dos Brejinhos...57
4.3 Grupo São Marcos...61
4.4 Grupo Santo Onofre...63
5 Supergrupo Espinhaço na Região Ocidental da Bahia...67
NEOPROTEROZOICO
6 Supergrupo São Francisco...68
6.1 O Supergrupo São Francisco na Chapada Diamantina...68
6.1.1 Formação Bebedouro...68
6.1.2 Formação Salitre...72
7 Supergrupo São Francisco na Região Ocidental da Bahia...74
7.1 Formação Jequitaí (Grupo Macaúbas)...74
7.2 Grupo Bambuí...74
8 Estilos Deformacionais do Supergrupo São Francisco...76
8.1 Corredor de Deformação do Paramirim...79
8.1.1 O Cinturão de Falhamentos e Dobramentos da Chapada Diamantina...79
8.1.2 Cinturão de Falhamentos e Dobramentos do Espinhaço Setentrional...81
8.2 deformação das Coberturas da Região Ocidental...82
9 Síntese e Evolução Tectônica...83
G eo lo g i a d a Ba h ia • 21
1 Introdução...87
2 Faixa Rio Preto...89
2.1 Evolução dos Conhecimentos...89
2.2 Estratigrafia...91
ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO
2.2.1 Embasamento...91
MESOPROTEROZOICO-NEOPROTEROZOICO
2.2.2 Grupo Rio Preto. Formação Formosa...93
NEOPROTEROZOICO
2.2.3 Grupo Santo Onofre...94
2.2.4 Formação Canabravinha...94
2.2.5 Grupo Bambui...95
CRETÁCEO
2.2.6 Grupo Urucuia...96
CENOZOICO
2.2.7 Coberturas Paleógenas-Neógenas...96
2.3 Sedimentologia e Modelo Deposicional...96
2.4 Geologia Estrutural e Tectônica...103
2.5 Metamorfismo e Geocronologia...110
3 Faixa Riacho do Pontal...112
3.1 Evolução dos Conhecimentos...112
3.2 Estratigrafia...113
ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO
3.2.1 Embasamento...114
MESOPROTEROZOICO
3.2.2 Rochas Metassedimentares da Chapada Diamantina...114
NEOPROTEROZOICO
3.2.3 Suíte Afeição...114
3.2.4 Grupo Casa Nova...114
3.2.5 Complexo Brejo Seco...117
3.2.6 Rochas Plutônicas...117
PALEOZOICO-MESOZOICO
3.2.7 Coberturas Fanerozoicas...120
3.3 Sedimentologia e Modelo Deposicional...120
3.4 Geologia Estrutural e Tectônica...120
Capítulo X
Orógeno Araçuaí
Simone Cerqueira Pereira Cruz (UFBA), Fernando Flecha Alkmim (UFOP), Augusto José Pedreira da Silva
(CBPM), Leo Rodrigues Teixeira (CPRM), Antônio Carlos Pedrosa Soares (UFMG), Luiz César Corrêa Gomes
(UFBA), Jailma Santos de Souza (UFBA) & Ângela Beatriz de Menezes Leal (UFBA)
1 Introdução...131
1.1 Orógeno Araçuaí...131
1.2 Evolução do Conhecimento sobre o Orógeno Araçuaí na Bahia...132
2 Faixa Araçuaí...139
2.1 Estratigrafia...139
ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO-MESOPROTEROZOICO
2.1.1 Embasamento...139
NEOPROTEROZOICO
2.1.2 Suíte Salto da Divisa...140
2.1.3 Grupo Macaúbas...142
2.1.4 Grupo Rio Pardo...143
2.1.5 Grupo Una...145
2.1.6 Complexo Gabro-Anortosítico Rio Pardo...145
2.1.7 Província Alcalina do Sul da Bahia...149
2.2 Arcabouço Estrutural e Metamorfismo...152
2.2.1. Zona de Interferência Orógeno Araçuaí e Aulacógeno do Paramirim...152
2.2.2 Saliência do Rio Pardo...160
2.2.3 Zonas de cisalhamento Itabuna-Itaju do Colônia e Itapebi-Potiraguá...161
2.2.4 Bacia do Rio Pardo...164
3 Núcleo Orogênico de Alto Grau...165
3.1. Estratigrafia...167
3.1.1 Complexo Jequitinhonha...167
3.1.2 Supersuítes Plutônicas...168
3.2 Arcabouço Estrutural e Metamorfismo...172
3.2.1 Principais Traços Estruturais...172
3.2.2 Metamorfismo...172
4 Síntese e Evolução Tectônica...172
4.1 Bacia Precursora Macaúbas...173
4.2 Fechamento Inicial da Bacia Macaúbas...173
G eo lo g i a d a Ba h ia • 23
Capítulo XI
Faixa Sergipana
Elson Paiva de Oliveira (Unicamp)
1 Introdução...179
2 Faixa Sergipana no Estado da Bahia...184
2.1. Domínios Tectônicos...184
ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO
2.1.1 Embasamento Arqueano-Proterozoico...184
NEOPROTEROZOICO
2.1.2 Domínio Estância...184
2.1.3 Domínio Vaza Barris...189
2.1.4 Domínio Macururé...191
2.1.5 Domínio Marancó...191
2.1.6 Domínios Poço Redondo e Canindé...195
2.2. Síntese e Modelo Tectônico Regional...196
Capítulo XII
Diques Máficos
Angela Beatriz de Menezes Leal (UFBA), Luiz César Corrêa-Gomes (UFBA) & José Torres Guimarães (CPRM)
1 Introdução...199
ARQUEANO-PALEOPROTEROZOICO
2 Províncias de Diques Máficos...200
2.1 Província Uauá-Caratacá...200
2.1.1. Aspectos de Campo e Estruturais...200
2.1.2. Dados Petrográficos...204
2.1.3. Dados Litogeoquímicos...204
2.1.4 Dados Geocronológicos e Tectônicos...205
2.2 Província Salvador...206
2.2.1 Aspectos de Campo e Estruturais...206
2.2.2 Dados Petrográficos...207
2.2.3 Dados Litogeoquímicos...207
2.2.4 Dados Geocronológicos e Tectônicos...208
3 Ocorrência de Diques Máficos...208
24 • G eolog i a da B a hi a
Capítulo XIII
Bacias Paleozoicas e Mesozoicas
Antonio Sérgio Teixeira Netto (Consultor)
1 Introdução...233
PALEOZOICO
2 Borda sul da Bacia do Parnaíba...234
3 Ocorrências Paleozoicas no nordeste e seus registros em subsuperfície por sob o rift-valley
Mesozoico...235
MESOZOICO
4 Bacia Sedimentar Jurássica da Depressão Afro-Brasileira...238
G eo lo g i a d a Ba h ia • 25
Capítulo XIV
Tectônica das Bacias Paleozoicas e Mesozoicas
Luiz César Corrêa-Gomes (UFBA) & Nivaldo Destro (PETROBRAS)
1 Introdução...255
PALEOZOICO-MESOZOICO
2 Bacias Paleozoica-Mesozoicas...259
2.1 Depósitos sedimentares da região de Paulo Afonso e Santa Brígida...259
2.2 Bacia do Parnaíba...259
2.3 Bacia do Urucuia...260
MESOZOICO
3 Bacias Mesozoicas...263
3.1 Bacias Tipo Rift...264
3.1.1 Modelos de formação de Bacias Tipo Rift...265
3.2 Bacias Tipo Rift. Quebra de supercontinentes e anomalias termais...266
4 Evolução Tectônica da Borda Atlântica da Bahia...269
5 Herança Estrutural do Embasamento nas BaciasTipo Rift...272
6 Relevo Associado as Bacias Tipo Rift...282
7 Modos de Falhamento e Bacias Tipo Rift...285
8 Visão Geral do Sistema de Bacias do Recôncavo-Tucano-Jatobá (SBRTJ)...288
8.1 Planos de Falhas.Visão Geral...292
8.1.1 Planos de falha com cinemática deduzida...292
8.2 Orientações dos Campos de Tensão...295
8.2.1 Orientações dos campos de tensão por subáreas...298
9 Sistemas de Falhas, Estágios Evolutivos e Orientações de Campos de Tensão em Bacias do Tipo Rift ...302
9.1 Grande Rift Este Africano...302
9.2 Evolução Tectônica Polifásica do Rift Recôncavo-Tucano-Jatobá...303
9.3. Falhas Transversais em Bacias tipo Rift. Falhas de Transferência e de Alívio...304
9.4 Magnitudes Relativas dos Tensores Principais e os Sistemas de Falha em Bacias Tipo Rift...306
9.5 Falhas Translacionais versus Rotacionais...308
10 Sistemas de Falhas no Terreno. O Complexo Quadro de Campos de Tensão do SBRTJ...309
10.1 Falhas Longitudinais...310
10.2 Falhas Transversais...311
11. Considerações Finais...313
26 • G e olog i a da B a hi a
Capítulo XV
Geologia das Bacias Sedimentares da Margem Continental
do Estado da Bahia
Webster Mohriak (PETROBRAS)
1 Introdução...327
1.2 Base de Dados...328
2 Evolução Tectônica da Região Leste Brasileira...329
2.1 Evolução Estrutural e Estratigráfica das Bacias da Margem Continental...331
2.1.1 Megassequência Pré-Rift...332
2.1.2 Megassequência Sin-rift...335
2.1.3 Megassequência Transicional...336
2.1.4 Megassequência Pós-Rift...336
2.2 Modelos Evolutivos Conceituais...338
2.3 Principais Feições Morfoestruturais da Região Oceânica...339
2.3.1 Interpretação Geológica e Geofísica de Feições Crustais...345
3 Características Estruturais das Bacias...350
3.1 Margem Nordeste (Segmento Transversal)...350
3.1.1 Bacia de Jacuípe...350
3.2 Margem Leste (Segmento Divergente)...351
3.2.1 Bacia de Camamu...351
3.2.2 Bacia do Almada...352
3.2.3 Bacia do Jequitinhonha...353
3.2.4 Bacia de Cumuruxatiba...354
3.2.5 Bacia de Mucuri...356
3.3 Vulcanismo pós-rift...359
4 Geologia de Petróleo...361
5 Síntese...363
G eo lo g i a d a Ba h ia • 27
1 Introdução...365
2 Distribuição Geográfica e Contexto Geológico...366
3 Estudos Prévios sobre a Formação Barreiras...368
4 Caracterização de Associações Faciólogicas...369
4.1 Associação de Fácies CF...371
4.2 Associação de Fácies PI...371
4.3 Associação de Fácies BD...371
4.4 Associação de Fácies PD...373
4.5 Associação de Fácies CD...373
4.6 Associação de Fácies BE/DM...376
4.7 Associação de Fácies P...376
4.8 Associação de Fácies AP...376
4.9 Associação de Fácies CM...377
4.10 Associação de Fácies PM...384
5 Paleoambientes de Deposição...384
6 Distribuição Espacial...388
7 Considerações sobre a Tectônica...389
8 Síntese...391
Capítulo XVII
Zona Costeira do Estado da Bahia
José Maria Landim Dominguez (UFBA) & Abilio Carlos da Silva Pinto Bittencourt (UFBA)
1 Introdução...395
2 Origem da Zona Costeira...395
2.1 Principais Controles...396
2.1.1 Geologia Pré-Quaternária...396
2.1.2 Cráton do São Francisco...396
2.1.3 Faixa de Dobramentos Araçuaí...396
2.1.4 Bacias Sedimentares Mesozoicas...396
2.1.5 Tabuleiros Costeiros...397
2.2 Suprimento de Sedimentos...397
2.3 Variações do Nível do Mar...397
2.3.1 Clima e Fatores Oceanográficos...399
3 Compartimentação da Zona Costeira Baiana...399
3.1 Costa do Litoral Norte...399
28 • G eolog i a da B a hi a
Capítulo XVIII
Plataforma Continental
José Maria Landim Dominguez (UFBA), Alina Sá Nunes (UFBA-UNIME), Renata Cardia Rebouças (UFBA),
Rian Pereira da Silva (UFBA), Antonio Fernando Menezes Freire (CENPES-PETROBRAS) & Carolina de Almeida
Poggio (UFBA)
1 Introdução...427
2 Arcabouço Geológico...428
3 Aspectos Oceanográficos...430
3.1 Ondas...430
3.2 Correntes de Maré...430
3.3 Correntes Geradas pelo Vento...430
3.4 Correntes Geostróficas...432
4 Suprimento de Sedimentos...432
5 Batimetria...438
G eo lo g i a d a Ba h ia • 29
Capítulo XIX
Neotectônica
Luiz C. Corrêa-Gomes (UFBA), Jose Martin Ucha (CG-DCA-IFBA) & Idney Cavalcanti da Silva (UFBA)
1 Introdução...497
1.1 Padrões de Orientação de Planos de Falhas e dos Campos de Tensão...499
2 Fatores de Influência na Orientação Local de Campos de Tensão...503
3 Mecanismos de Geração dos Campos de Tensão...507
4 Idades dos Campos de Tensão da Formação Barreiras...510
5 Motores de Geração dos Campos de Tensão...510
6 Implicações Regionais...514
7 Síntese...514
Capítulo XX
Evolução Tectônica e Metalogenética
Johildo S. F. Barbosa (UFBA), Juracy de F. Mascarenhas (CBPM), José Maria Landim Dominguez (UFBA)
& Antônio Sergio Teixeira Netto (Consultor)
1 Introdução...517
2 Arqueano...519
2.1 Bloco Gavião (Parte Norte)...519
2.2 Bloco Gavião (Partes Oeste, Central e Sul)...520
30 • G eolog i a da B a hi a
Referências...567
G eo lo g i a d a Ba h ia • 31
1 Introdução
Quando examinado no panorama geotectônico do Brasil, o território do Estado da Bahia fica constituído pelas
seguintes unidades (Fig.VIII.1): (i) a margem continental leste brasileira e o rift mesozoico Recôncavo-Tucano; (ii)
as faixas de dobramento neoproterozoicas Araçuaí, Rio Preto-Riacho do Pontal e Sergipana; e (iii) a porção norte
do Cráton do São Francisco. O rift Recôncavo-Tucano e as faixas de dobramento neoproterozoicas ocupam cerca
de 18% da área do Estado, fato que torna o território baiano essencialmente cratônico.
No âmbito do Cráton do São Francisco, desde a sua definição por Almeida (1967, 1977, 1981) distinguem-se duas
grandes assembleias estratigráficas: o embasamento e as coberturas. As unidades mais velhas que 1,8Ga são
consideradas como embasamento e as mais jovens, como cobertura.
Este capítulo trata das coberturas cratônicas precambrianas da porção baiana do Cráton do São Francisco; des-
creve os seus conteúdos; analisa as suas correlações; apresenta os seus estilos deformacionais e discute os seus
significados tectônicos. As faixas de dobramentos neoproterozoicas são abordadas nos capítulos IX, X e XI, através
da descrição das unidades estratigráficas e estruturas maiores nelas envolvidas.
As unidades que constituem as coberturas precambrianas do Cráton do São Francisco na Bahia ocorrem nas
regiões da Chapada Diamantina, da Serra do Espinhaço Setentrional e, entre as cidades de Wanderley e Palmas
de Monte Alto, na bacia hidrográfica do São Francisco (Fig.VIII.2). Essas rochas são tradicionalmente inseridas
em unidades estratigráficas maiores representadas pelos Supergrupos Espinhaço e São Francisco. O Supergrupo
Espinhaço inclui rochas metassedimentares e metavulcânicas de idade paleo a mesoproterozoica. O Supergrupo
São Francisco, por seu turno, engloba as coberturas dominantemente carbonáticas neoproterozoicas, presen-
34 • G eolog i a da B a hi a
36 • G eolog i a da B a hi a
Quadro VIII.1 - Propostas de colunas estratigráficas para o Supergrupo Espinhaço, na Chapada Diamantina.
Quadro VIII.2 - Propostas de colunas estratigráficas para o Supergrupo Espinhaço, no Espinhaço Setentrional.
38 • G eolog i a da B a hi a
A partir da década de 1950 são criadas as primeiras cam: mapeamento geológico das regiões de Upa-
escolas de geologia do país, as quais se fizeram acom- mirim e Morro do Chapéu (Neves 1967); cartografia
panhar de organismos e empresas estatais e privadas. geológica entre Itaetê e Seabra (Mascarenhas 1969);
A criação dessas instituições resultou no incremento mapeamento da Chapada Diamantina ocidental en-
das pesquisas geológicas no Estado, com a execução tre Ibitiara e Ipupiara (Schobbenhaus & Kaul 1971);
de inúmeros levantamentos geológicos regionais sis- geologia da Chapada Diamantina–Projeto Bahia (Pe-
temáticos e de trabalhos acadêmicos (monografias, dreira et al. 1975); Projeto Leste do Tocantins/Oeste do
dissertações de mestrado e teses de doutorado) volta- Rio São Francisco - LETOS (Costa et al. 1975); e geolo-
dos para o entendimento dos aspectos lito e cronoes- gia e prospecção geoquímica no sudeste da Chapada
tratigráficos, tectônicos, petrográficos, metalogenéti- Diamantina–Projeto Rochas Efusivas (Barreto et al.
cos, hidrogeológicos e até geoturísticos das rochas da 1975). Nessa mesma fase, são publicados os traba-
região. São desse período que se prolonga até o final lhos de Winge (1968) e Beurlen (1970) que tratam da
da década de 1970, os seguintes trabalhos se desta- geologia das Serras do Estreito, Boqueirão e Muquém,
40 • G e olog i a da B a hi a
(iv) Grupo Chapada Diamantina, constituído pelas (iii) Associação superior, composta por metaquartzo-
Formações Tombador e Caboclo; arenito bimodal fino a médio, bem selecionado, com
estratificação cruzada dos tipos acanalada e em cunha
(v) Formação Morro do Chapéu de grande a muito grande porte (Fig.VIII.5), com níveis
de metabrecha, metagrauvaca e metarcóseo.
42 • G eolog i a da B a hi a
44 • G e olog i a da B a hi a
A Formação Ouricuri do Ouro representa a unida- Figura VIII.8 - Metarenito e metapelito metassomatizados
(hornfels), com estratificação ondulada. Exposição em pedreira
de superior do Grupo Rio dos Remédios, exposta na
próxima à cidade de Ipupiara.
metade ocidental da Chapada Diamantina, entre as
cidades de Ipupiara e Rio de Contas e de forma lo-
calizada sobre gnaisses do Complexo Paramirim (CA-
46 • G eolog i a da B a hi a
48 • G e olog i a da B a hi a
dimentação das rochas desse grupo ocorreu em uma péu, bem como na existência de uma superfície erosiva
bacia ampla e rasa, regulada por subsidência passiva, na base desta formação, descrita originalmente por
sem atividade tectônica importante, influenciada pela Dominguez & Rocha (1991) e Dominguez (1993).
eustasia e pelo recrudescimento das condições de ari-
dez do ambiente, que passa de semiárido, à época da As rochas do Grupo Chapada Diamantina, submeti-
deposição da Formação Ouricuri do Ouro, para árido, das a diagênese avançada e/ou anquimetamorfismo,
desértico, durante a acumulação do Grupo Paragua- caracterizam-se por um relevo de serras e planaltos
çu. Os mesmos autores enfatizam ainda a pequena com altitudes que variam de 1.000 a 1.350 metros.
variação lateral e vertical das litofácies e a ampla dis- Essas rochas afloram de forma contínua por toda a
tribuição espacial desses depósitos, se comparados à parte central da região da Chapada Diamantina e, de
sedimentação do conjunto inferior. forma isolada, nos seus extremos norte e su-sudoes-
te, assentadas em discordância erosiva sobre as uni-
dades do embasamento pré-Espinhaço e dos Grupos
3.4 Grupo Chapada Diamantina Rios dos Remédios e Paraguaçu e recobertas em dis-
(Leal & Brito Neves 1968) cordância, pelas litofácies das Formações Morro do
Chapéu, Bebedouro, Salitre e por formações superfi-
O Grupo Chapada Diamantina é aqui subdividido da ciais cenozoicas (Figs.VIII.2, VIII.13).
base para o topo, nas Formações Tombador e Caboclo
(Quadro VIII.3), dele retirando-se a Formação Morro do A Formação Tombador, com espessuras variáveis, de
Chapéu. A retirada da Formação Morro do Chapéu des- leste para oeste e de norte para sul, entre um máximo
te grupo foi proposta inicialmente por Schobbenhaus de 620 metros e um mínimo de 180, representa o mais
(1993; 1996) e, posteriormente, por Guimarães et al. importante e contínuo marcador estratigráfico do Su-
(2005) e Loureiro et al. (2008). Os últimos autores fun- pergrupo Espinhaço no Estado da Bahia, presente de
damentam sua proposta na ocorrência de diques bá- norte a sul (de Sobradinho a Ituaçu) e de leste a oes-
sicos de caráter anorogênico, que cortam as unidades te (de Lençóis a Rio de Contas) da região da Chapada
do grupo, mas não atingem a Formação Morro do Cha- Diamantina (Figs.VIII.2, VIII.13). A formação compre-
50 • G eolog i a da B a hi a
52 • G eolog i a da B a hi a
b b
Figura VIII.14 - (a) e (b) Camadas de metaconglomerado polimítico Figura VIII.15 - (a) Metaquartzoarenito com estratificação cruzada
que gradam no sentido do topo para metarenito. Afloramento tangencial à base de grande porte; (b) Metaquartzoarenito com
localizado no povoado de Santo Inácio, a sul de Xique-Xique. bimodalidade. Afloramentos situados a sul de Xique-Xique,
região de Santo Inácio.
(iv) Associação de litofácies formada de metaquart- As Formações Tombador e Caboclo, do Grupo Chapa-
zoarenito fino com estratificações plano-paralela, da Diamantina, representam um ciclo de sedimen-
ondulada, lenticular e cruzadas de baixo ângulo, tan- tação maior, correlacionado por Guimarães et al.
gencial à base e acanalada. (2005) e Loureiro et al. (2008) a uma supersequência
acumulada em uma bacia intracratônica calimiana
A Formação Caboclo depositou-se, segundo Silveira ampla e rasa, cortada por corpos intrusivos máficos
et al. (1989), em uma plataforma marinha rasa domi- com idades em torno de 1,5Ga (Babinski et al. 1999,
nada por tempestades. Guimarães et al. 2005, Loureiro et al. 2008).
54 • G eolog i a da B a hi a
4 Supergrupo Espinhaço
na Região do Espinhaço
Setentrional
Compreende uma pilha de rochas metassedimenta-
res e metavulcânicas continentais e marinhas, com
Figura VIII.19 - Camadas de metarenito feldspático. Notar camada espessura máxima preservada da ordem de 8.000
bastante fluidizada com feições de convolução. Afloramento no metros, acumuladas entre 1,75 e 1,0Ga, em três bacias
km 294 da BA-052. Trecho Morro do Chapéu - Irecê.
intracratônicas superpostas que representam as con-
(iv) Grupo Santo Onofre, constituído pelas Formações (iii) Associação de litofácies formada de metarenito
Fazendinha, Serra da Vereda, Serra da Garapa e Bo- feldspático com estratificação cruzada tangencial de
queirão; grande porte e níveis de metaconglomerado.
56 • G eolog i a da B a hi a
A Formação Algodão é aqui interpretada como uma O posicionamento estratigráfico das rochas metavul-
sequência deposicional representativa de uma fase cânicas da Formação São Simão, aqui relacionadas à
que precede a instalação de uma bacia rift no paleo- base do Grupo Oliveira dos Brejinhos, conforme Gui-
continente São Francisco, no período Estateriano, por marães (2008) e Loureiro et al. (2008), ainda é con-
volta de 1,75Ga. De forma idêntica à Formação Serra troverso entre os pesquisadores que estudaram essas
da Gameleira, sua contraparte oriental na Chapada rochas. Por exemplo: Costa & Silva (1980) e Barbosa
Diamantina, sugere-se o intervalo de tempo compre- & Dominguez (1996) incluem as metavulcânicas na
endido entre 1,8 e 1,75Ga, como o período de deposição Unidade/Formação Rio dos Remédios, conjunto lito-
dessas rochas em uma bacia flexural intracratônica. estratigráfico definido na região da Chapada Diaman-
tina; Schobbenhaus (1996) as coloca na Formação
Pajeú; e Danderfer Filho (2000) utiliza pela primeira
4.2 Grupo Oliveira dos Brejinhos vez o termo “Sintema São Simão” para designá-las
(Schobbenhaus 1993) (Quadros VIII.2 e VIII.3). O ponto de concórdia entre
esses pesquisadores é o posicionamento da Formação
Subdividido da base para o topo nas Formações São Si- São Simão na parte inferior da coluna estratigráfica
mão, Pajeú e Sapiranga (Quadro VIII.3), aflora na par- do Espinhaço Setentrional.
te leste do Espinhaço Setentrional e em paleográbens
encaixados nas rochas arqueano-paleoproterozoicas As datações geocronológicas feitas por Danderfer
do Complexo Paramirim, (CAPÍTULO III)nas Serras Filho et al. (2009) em metarriolito da Formação São
do Carrapato e Guariba, localizadas imediatamente a Simão, revelaram uma idade de 1.731±5Ma (U/Pb–zir-
leste da cadeia do Espinhaço (Figs.VIII.2, VIII.20a, b). cão-SHRIMP) para essas rochas, valor este bastante
As formações do Grupo Oliveira dos Brejinhos estão próximo das idades de 1.748±4Ma (U/Pb em zircão)
separadas das unidades inferiores do embasamento (Babinski et al. 1994) e 1.752±4Ma (U/Pb em zircão)
pré-Espinhaço e da Formação Algodão, e das superio- (Schobbenhaus et al. 1994), obtidas nas rochas me-
res do Grupo São Marcos, por discordâncias erosivas. tavulcânicas da Formação Novo Horizonte (Grupo Rio
dos Remédios) na Chapada Diamantina. Idades K-Ar,
A Formação São Simão (Danderfer Filho 2000), cor- entre 580 e 520Ma, obtidas dessas rochas vulcânicas
responde ao pacote de rochas metavulcânicas, com por Távora et al. (1967), mostram a atuação do evento
espessura estimada de 250 metros, que aflora em orogenético brasiliano na área.
serrotes isolados, alinhados na direção NNW-SSE,
no extremo sudeste do Espinhaço Setentrional. De- A Formação Pajeú (Guimarães 2008, Loureiro et al.
formação intensa afeta essas rochas no contato com 2008) ocorre em uma faixa longa e estreita de dire-
as unidades do embasamento cristalino, marcada por ção NNW, que se projeta do sul da cidade de Macaú-
uma xistosidade penetrativa e bem desenvolvida de bas até a região a norte de Oliveira dos Brejinhos, na
caráter milonítico. Essa deformação se dissipa, à me- borda leste da Serra do Espinhaço Setentrional. Com
dida que se caminha para oeste, na direção do contato espessura estimada de 260 metros na parte norte da
com as unidades superiores do Grupo São Marcos. área de exposição, as suas rochas compõem um re-
58 • G e olog i a da B a hi a
Figura VIII.21 - Metaconglomerado polimítico sustentado por Figura VIII.22 - (a) Metarritmito de metapelito e metassiltito/
clastos, com lentes de metarenito lítico associadas. Afloramento metarenito fino com estratificações ondulada, lenticular e
localizado na Serra do Barro Vermelho, NE de Ibotirama. cavalgante; (b) Camadas centi-decimétricas de metapelito
amarronzado e metarenito fino cinza-claro, com laminação
paralela e ondulada. Afloramentos nas proximidades de Ipupiara.
O posicionamento estratigráfico das rochas da Forma- tal, acumulados em uma época de instabilidade tec-
ção Sapiranga ainda é controverso entre os pesquisado- tônica, em uma bacia do tipo rift. Essa sedimentação,
res que a estudaram. Por exemplo: Costa & Silva (1980), que se seguiu ao vulcanismo da Formação São Simão,
Barbosa & Dominguez (1996), Schobbenhaus (1996) in- apresenta um padrão de empilhamento geral grano-
cluem essas rochas, de forma indiferenciada, na Unida- crescente no sentido do topo da pilha sedimentar (Fig.
de/Formação Pajeú e Danderfer Filho (2000) cartografa VIII.20b). As suas principais características são a gran-
pela primeira vez essas rochas e as denomina “Sintema de presença de conglomerados gerados por fluxos gra-
Sapiranga” considerando-o uma sequência distinta e vitacionais, a interdigitação ao longo do perfil vertical
relativamente mais antiga que a Unidade Pajeú. das duas formações e alta entropia faciológica.
60 • G eolog i a da B a hi a
(ii) Associação intermediária, constituída de metare- (i) Associação inferior composta de metaquartzoa-
nito feldspático com estratificação cruzada tangencial renito, metarenito feldspático e metapelito, às vezes
à base de grande porte a gigante, metapelito com es- com composição carbonosa (ou grafitosa), interes-
truturas flaser e lenticular e níveis de metaquartzoa- tratificados, de aspecto rítmico. Os metarenitos apre-
renito com estratificação cruzada sigmoidal; sentam estratificações paralela, cruzadas planar de
muito baixo ângulo e do tipo hummocky, enquanto o
(iii) Associação superior, formada de metaquartzoa- metapelito desenvolve uma laminação horizontal;
renito e metarenito feldspático maciços e com estra-
tificações paralela, ondulada, cruzadas acanalada e (ii) Associação intermediária formada de metaquart-
de baixo ângulo, além de gradação normal e marcas zoarenito, metarenito feldspático e metapelito com
de onda. Presença de níveis de metaquartzoareni- estratificações/laminações paralela, ondulada, cruza-
tos com estratificações cruzadas sigmoidal, do tipo das planar, tangencial à base, dos tipos hummocky e
hummocky, cavalgante e planar e metapelito com es- cavalgante, sigmoidal, além de estruturas convolutas;
truturas flaser e lenticular.
(iii) Associação superior constituída de metaquart-
Segundo Danderfer Filho (2000) a Formação Riacho zoarenito maciço e com estratificação cruzada de-
do Bento registra a atuação de sistemas deposicio- formada por convoluções e feições do tipo ball-and-
62 • G e olog i a da B a hi a
64 • G eolog i a da B a hi a
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68 • G eolog i a da B a hi a
(i) Associação de litofácies A, compreende diamictitos (v) Associação de litofácies E, corresponde a uma capa
polimíticos maciços e estratificados, clasto e matriz- carbonática com poucos metros de espessura, assen-
-sustentados (clastos, muitos com faces polidas e tada nas unidades anteriores, constituída de calcare-
planas, angulosos, arredondados e fragmentários, nito e dolarenito impuros, rosa e acinzentados, com
tamanho grânulo a matacão de granitoide, xisto, fi- níveis de intraclastos associados. Esta camada se
lito, rochas básicas, ultrabásicas, vulcânicas e calcis- caracteriza por uma assinatura isotópica de δ13C for-
silicáticas, quartzo, quartzitos, metarenitos, metape- temente negativa (-5.1‰ VPDB) (Misi & Veizer 1998),
litos, metacarbonato e chert) e níveis de arenitos de que diverge dos valores positivos encontrados pelos
composição diversificada (subarcóseo lítico, arcóseo, autores no conjunto carbonático imediatamente su-
grauvaca, quartzoarenito) com estratificações plano- perior a essa capa.
-paralelas, cruzadas tangenciais na base e do tipo
hummocky, além de marcas de ondulação simétricas Inicialmente, as litofácies da Formação Bebedouro fo-
de pequeno a grande porte e estruturas de defor- ram interpretadas como um depósito glacial acumu-
mação do tipo marca de sobrecarga. Os diamictitos lado em águas mansas e fundas num mar extenso, no
apresentam matriz muito mal selecionada, imatura qual vagavam montanhas de gelo (icebergs), que tra-
textural e mineralogicamente, de composição variada ziam de alhures os blocos que, à medida que o gelo
(grauvaca, arenito lítico, arcóseo, pelito), semelhante, derretia iam caindo e enterrando-se na massa lodosa
muitas vezes, à dos clastos, sugerindo cominuição dos do fundo (Williams 1930). Posteriormente essas rochas
mesmos (Figs.VIII.28, VIII.29). As estruturas sedimen- foram relacionadas a uma sedimentação glacioconti-
tares, quando presentes, são estratificações plano- nental, constituída de tilitos, contendo eventualmente
-paralelas, cruzadas sigmoidais, tangenciais à base e clastos estriados e facetados e de varvitos (Montes, A.
do tipo hummocky, além de gradação normal e inver- 1977, Karfunkel & Hoppe 1988). Pavimentos estriados,
sa e estruturas de escorregamento; feldspatos frescos e marcas de percussão (chatter ma-
rks), também são descritos por esses autores.
(ii) Associação de litofácies B, composta de pelitos cin-
za-esverdeados, vermelho-ocre, arroxeados, maciços Mais recentemente, Guimarães (1996) e Guimarães et
ou com laminações plano-paralela e ondulada, com al. (no prelo) interpretaram a Formação Bebedouro
70 • G e olog i a da B a hi a
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b b
Figura VIII.32 - (a) Estromatólito colunar da forma Irregularia Figura VIII.33 - (a) Calcarenito cinza-escuro e calcilutito cinza-
Krylov associado a laminito algal; (b) Bioconstrução claro (laminito algal), com estratificação ondulada e lenticular;
(estromatólito colunar) da Fazenda Arrecife. O afloramento da foto (b) Calcarenito com estratificação do tipo hummocky.
(a) localiza-se na BA-052, Centro Educacional da Igreja Universal, Afloramentos localizados nas imediações do povoado de Achado
próximo a Irecê. –BA-052, leste de Irecê.
se depositaram em uma bacia intracratônica gerada Estudos quimioestratigráficos realizados por Misi &
e preenchida no final do Criogeniano (650 a 850Ma) Veizer (1998) nas rochas carbonáticas da Formação
(Tab.III.1), em um ambiente marinho raso a platafor- Salitre, mostram crescimento no valor da assinatura
ma do tipo rampa caracterizada por declives suaves e de δ13C, de 0‰ VPDB até +9.4‰ VPDB, da base para o
ausência de um talude pronunciado. Nesse modelo, topo da coluna estratigráfica da formação. Esses va-
os calcarenitos e dolomitos ocorrem predominante- lores são bastante diferentes daqueles encontrados
mente em zona litorânea afetada por ondas de tem- nos carbonatos imediatamente inferiores do topo da
pestade, onde cresciam estromatólitos colunares e Formação Bebedouro (associação de litofácies E), que
biohermas, e os calcilutitos nas lagunas, protegidas apresentam assinatura de δ13C fortemente negativa,
do mar aberto por ilhas barreiras. Costa afora, em característica de sucessões carbonáticas acumuladas
ambiente plataformal, se acumularam as litofácies imediatamente acima de depósitos glacigênicos/gla-
de calcarenito, marga e arenitos interestratificados. ciclásticos em várias partes do mundo.
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Atravessa toda a porção baiana do Cráton do São Fran- 8.1.1 Cinturão de Falhamentos e Dobramentos
cisco e é constituído por dois cinturões de falhamentos da Chapada Diamantina
e dobramentos de vergências opostas: os cinturões da
Chapada Diamantina e da Serra do Espinhaço Seten- Compreende quatro domínios caracterizados por di-
trional, localizados respectivamente, a leste e a oeste ferentes estilos e intensidades de deformação: oci-
do corredor. Nas suas terminações a norte e a sul, o dental, oriental, setentrional e meridional. Os dois
Corredor de Deformação do Paramirim interage com primeiros domínios são limitados pela zona de cisa-
as faixas marginais Rio Preto e Araçuaí, o que dá ori- lhamento Barra do Mendes-João Correia, o domínio
gem a domínios de grande complexidade estrutural. setentrional abrange as “sub-bacias” de Irecê e Cam-
Devido a essas interações e à variação da intensidade pinas, e o domínio meridional, a “sub-bacia” de Ituaçu
de deformação, esta em função da distância das faixas (Figs.VIII.2, VIII.27, VIII.34, VIII.35).
marginais, separam-se no Corredor de Deformação do
Paramirim, na região da Chapada Diamantina, quatro O domínio ocidental caracteriza-se por apresentar
domínios tectônicos limitados por descontinuidades uma deformação endodérmica que afetou rochas do
estruturais: ocidental, oriental, setentrional e meri- Supergrupo Espinhaço e do embasamento (Dander-
dional, e na Serra do Espinhaço, três segmentos: se- fer Filho 1990, Cruz et al. 1998, Bento 2001, Cruz et
tentrional, central e meridional. Nesse último caso, o al. 2007), materializada por falhas inversas e de em-
segmento setentrional abrange a região de interação purrão e por dobras de orientação preferencial NNW
com a faixa Rio Preto, com limite sul na cidade de com vergência dirigida para ENE (Figs.VIII.34 e VIII.36)
Ibotirama, o segmento meridional abarca a zona de As magnitudes de deformação neste domínio crescem
interação com a Faixa Araçuaí (Cruz 2004, Cruz & Alk- em direção a sudoeste e são acompanhadas pelo in-
mim 2006, Pedrosa-Soares et al. 2007, Alkmim et al. cremento do metamorfismo, com formação de uma
2007), com limite norte na cidade de Macaúbas (CA- paragênese constituída por mica branca, cloritoide
PÍTULO X), ao passo que o segmento central, locali- e quartzo. Nele, predominam dobras assimétricas,
zado geograficamente entre as cidades de Ibotirama e fechadas, reviradas, com proeminente foliação de
Macaúbas, compreende a porção onde se verificam as plano axial e estruturas intra e interestratais (zonas
menores intensidades de deformação e onde podem de cisalhamento, tension gashes, S/C, duplex, leques
ser encontradas estruturas do rift Espinhaço ainda imbricados) (Figs.VIII.4, VIII.5, VIII.6) de meso e micro-
preservadas nas suas condições originais (Danderfer escala, com lineação de estiramento mineral de alta
Filho 2000) (Fig.VIII.34). obliquidade (Fig.VIII.6). Essas estruturas envolvem o
acamadamento primário e marcam o desacoplamen-
Como se pode deduzir da leitura das seções anteriores, to do embasamento e da cobertura através de uma
a região onde se instalou o Corredor do Paramirim cor- superfície de descolamento. Zonas de cisalhamen-
responde à zona das calhas principais e do alto interno to inversas a oblíquas, de alto ângulo, envolvendo o
do rift precursor das bacias sucessoras receptoras das embasamento truncam as dobras e estruturas intra
rochas dos Supergrupos Espinhaço e São Francisco. e interestratais anteriormente mencionadas. Nas
A sua inversão em regime compressional, foi levada cercanias da cidade de Paramirim (Fig.VIII.34) e na
a efeito através da reativação das falhas normais que anticlinal de Jussiape essas zonas de cisalhamen-
condicionaram o rift estateriano (Costa & Inda 1982, to provocam inversões estratigráficas nas unidades
O domínio oriental coincide com a região em que o Figura VIII. 36 - Zona de cisalhamento que coloca o embasamento
sobre as unidades do Supergrupo Espinhaço na região de
embasamento mais antigo que 1.8Ga não está envol-
Paramirim.
vido na deformação da cobertura proterozoica. Nesse
domínio, o arcabouço tectônico é dominado por dobras
abertas (Fig.VIII.16), muitas vezes desarmônicas, com
orientação geral NNW-SSE a N-S, e por estruturas re-
lacionadas com deformações intraestratais (Fig.VIII.34).
80 • G e olog i a da B a hi a
8.1.2 Cinturão de Falhamentos e Dobramentos A Falha do Muquém se caracteriza como uma estrutu-
do Espinhaço Setentrional ra de alto ângulo, de caráter reverso sinistral e vergên-
cia para oeste (Danderfer Filho 2000). Limita, a leste,
Esse cinturão, subdividido nos segmentos setentrio- um conjunto de estruturas homoclinais observadas,
nal, central e meridional, é caracterizado pela asso- sobretudo, acima do paralelo 12º45’S. Até o paralelo
ciação entre dobras abertas e fechadas e zonas de 13º45’S, essa falha interfaceia as unidades do Super-
cisalhamento dúctil-rúpteis (Costa & Inda 1982, Lou- grupo Espinhaço e do embasamento. Esse conjunto de
reiro et al. 2008, 2009) (Figs.VIII 34, VIII.35). estruturas foi denominado por Loureiro et al. (2008,
2009) como “Sistema de Falhas de Ibotirama”.
O segmento setentrional, cujo limite sul é a cidade
de Ibotirama, apresenta duas famílias de estruturas: A Falha de Santo Onofre, no segmento central do cintu-
uma composta por falhas de empurrão e dobras de rão, apresenta mergulhos elevados para ENE e indica-
orientação geral WSW-ENE, geradas a partir de mo- dores cinemáticos que atestam movimentos reversos a
vimento de massa dirigido de norte para sul, com foco reversos sinistrais. Essa falha é responsável por colocar
na Faixa de Dobramentos Rio Preto-Riacho do Pon- os sedimentos do Supergrupo Espinhaço sobre o em-
tal, outra família de estruturas com orientação NW- basamento. Além disso, nas proximidades da falha, os
-SE, cujo representante principal é a Falha de Santo sedimentos desse supergrupo encontram-se fortemen-
Onofre, que possui uma história deformacional mar- te dobrados (Fig.VIII.38) com proeminente foliação pla-
cada por sucessivas reativações tectônicas. Esta falha no axial. Essa relação indica claramente que a falha de
estende-se por cerca de 500km, desde a região de Santo Onofre é uma falha normal invertida. De acordo
Barra, a norte, até a região da Licínio de Almeida, a com Loureiro et al. (2008, 2009), nesse setor essa estru-
sul. No segmento setentrional do Espinhaço a falha tura representa um sistema de falhas ou uma zona de
de Santo Onofre funcionou como uma rampa lateral cisalhamento rúptil-dúctil, subvertical, transcorrente-
82 • G eolog i a da B a hi a
84 • G e olog i a da B a hi a
Figura VIII.39 - Proposta de modelo evolutivo dos Supergrupos Espinhaço e São Francisco do estateriano ao ediacarano. (a) Formação do
sistema de rifts Espinhaço, no estateriano; (b) Formação das sinéclises intracratônicas Chapada Diamantina/São Marcos, no calimiano,
Morro do Chapéu/Santo Onofre, no ectasiano/esteniano e São Francisco, no criogeniano/ediacarano; (c) Inversão das bacias com
envolvimento do embasamento, no ediacarano (Orogênese Brasiliana).
1 Introdução
A compartimentação geotectônica do território brasileiro é em grande parte herdada da Orogênese Brasiliana/
Pan-Africana, evento tectono-termal responsável pela amalgamação do paleocontinente Gondwana, cujas ma-
nifestações datam do final do Proterozoico ao início do Paleozoico (Almeida 1967, 1977, Trompette 1994). Esse
evento está registrado nas faixas de dobramentos e empurrões brasilianas que circundam os crátons, regiões
relativamente poupadas da deformação neoproterozoica, representantes dos fragmentos continentais envolvidos
na colagem do supercontinente.
O Cráton do São Francisco (Almeida 1977) (Fig.IX.1) engloba os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Tocantins,
apresentando uma contraparte africana conhecida como Cráton do Congo. Almeida (1977) optou convencional-
mente por delimitar o Cráton do São Francisco nas falhas de empurrão mais externas das faixas de dobramentos
que o circundam: Sergipana (CAPÍTULO XI), Riacho do Pontal e Rio Preto, na margem norte; Brasília, nas mar-
gens oeste e sul; e Araçuaí, na margem sudeste (CAPÍTULO X). Trabalhos posteriores sugeriram algumas rede-
limitações nos limites originais do Cráton (Egydio-Silva 1987, Alkmim et al. 1993, Alkmim 2004). Uma proposta
diferente foi apresentada por Trompette et al. (1992) que, baseados na deformação brasiliana do Supergrupo
Espinhaço nos estados de Minas Gerais e Bahia (Uhlein 1991), sugeriram a existência de dois crátons, separados
pelo Bloco ou Faixa Paramirim.
Figura IX.1 - Mapa geológico simplificado da porção norte do Cráton do São Francisco e das faixas dobradas neoproterozoicas,
com a localização das faixas Rio Preto e Riacho do Pontal. Modificado de Schobbenhaus et al. (1995).
88 • G e olog i a da B a hi a
mento principais: Velhas, com o desenvolvimento de Jardim de Sá & Hackspacher (1980) realizaram um
ampla sedimentação paleógena/neógena sobre as reconhecimento estrutural na borda noroeste do Crá-
rochas metassedimentares da Faixa Rio Preto, e Pa- ton do São Francisco, identificando quatro fases de
raguaçu, no Neógeno, com erosão desses sedimentos deformação. Esses autores posicionaram o Grupo Rio
junto às rochas mais antigas e deposição às margens Preto no Paleoproterozoico, por correlação com as ro-
do Rio São Francisco, mais a leste. chas supracrustais da Faixa Riacho do Pontal, que, na
época, eram consideradas como mais antigas do que
O trabalho pioneiro que abrange a geologia da Faixa o Grupo Chapada Diamantina.
Rio Preto é atribuído a Moraes Rego (1926), que exe-
cutou um mapeamento na escala 1:1.000.000 da par- Barbosa (1982) efetuou dissertação de mestrado so-
te ocidental da Bahia, seguido por Domingues (1947), bre os depósitos de manganês do oeste da Bahia. Este
em um estudo regional do centro-oeste do Estado. autor interpreta uma idade neoproterozoica para o
Grupo Rio Preto, com deposição aproximadamente
Moutinho da Costa et al. (1971) realizaram importante contemporânea ao Grupo Bambuí.
mapeamento básico na escala 1:250.000, definindo os
principais ambientes geológicos e tectônicos na re- Egydio-Silva (1987), em sua tese de doutorado, efe-
gião noroeste da Bahia. tuou um importante trabalho na região da Faixa Rio
Preto e na cobertura cratônica do Grupo Bambuí, de-
Santos et al. (1977) realizaram mapeamento geológi- lineando os principais aspectos litoestratigráficos, es-
co regional na Folha Rio São Francisco, englobando truturais e tectônicos do noroeste da Bahia. Este autor
as rochas metassedimentares do noroeste baiano sob relocou grande parte do Grupo Rio Preto na base do
a denominação de Grupo Rio Preto e situando-o, es- Grupo Bambuí (Formação Canabravinha), conside-
tratigraficamente, acima do Grupo Chapada Diaman- rando o restante do Grupo Rio Preto como correlato
tina, do Mesoproterozoico, e abaixo do Grupo Bambuí, ao Grupo Chapada Diamantina, do Mesoproterozoico
do Neoproterozoico. (Egydio-Silva et al. 1989). Tal interpretação foi utili-
zada no Programa de Levantamentos Geológicos Bá-
Inda & Barbosa (1978) confeccionaram o Mapa Ge- sicos da CPRM - Companhia de Pesquisa e Recursos
ológico do Estado da Bahia, na escala 1:1.000.000, e Minerais e no mapeamento das folhas Formosa do
estenderam a estratigrafia da Serra do Ramalho para Rio Preto, Santa Rita de Cássia, Curimatá, Corrente
todo o Grupo Bambuí aflorante no oeste baiano e e Xique-Xique (Andrade Filho et al. 1994, Arcanjo &
efetuaram um perfil regional no noroeste da Bahia, Braz Filho 1999).
definindo as zonas cratônica, pericratônica e geossin-
clinal, esta última denominada como região de do- Egydio-Silva (1987) apresentou uma compartimen-
bramentos Rio Preto. tação em cinco domínios estruturais para o noroeste
90 • G eolog i a da B a hi a
92 • G e olog i a da B a hi a
a b
Figura IX.4 - Amostra de anfibolito da Fazenda Angico, próximo a Formosa do Rio Preto (BA). Aspecto macro (a) e microscópico (b).
Notar o bandamento ígneo mimetizado por camadas centimétricas ricas em anfibólio intercaladas a camadas ricas em plagioclásio; em
lâmina podem ser observadas proporções aproximadamente iguais de hornblenda e pseudomorfos de plagioclásio, formados por cristais
micrométricos de clinozoisita sobre oligoclásio. A seta branca em a) indica agregado centimétrico de granada almandina. Caxito (2010).
94 • G e olog i a da B a hi a
A partir da cidade de Barreiras em direção a Riachão A figura IX.5 apresenta uma correlação espacial entre
das Neves, ocorre o aumento gradativo da granulo- colunas estratigráficas esquemáticas levantadas nas
metria dos sedimentos e esses passam a apresentar Formações Canabravinha e Formosa, ao longo da Fai-
grandes quantidades de feldspatos e fragmentos líti- xa Rio Preto (Sanglard et al. 2008, Caxito 2010, Caxito
cos em sua composição, caracterizando assim os me- et al. no prelo). As colunas A, B e C representam se-
tarcóseos e metagrauvacas da Formação Riachão das ções da Formação Canabravinha na Chapada Boa Vis-
Neves, de espessura estimada em 4.000m (Fig.IX.3). ta, Córrego Canabravinha e BR-135 entre Formosa do
Egydio-Silva (1987) caracterizou os clastos dessas Rio Preto e Malhadinha, respectivamente (Fig.IX.3);
rochas, de granulometria predominante areia mé- a coluna da Formação Formosa é esquemática e re-
dia (0,25 a 0,5mm), como grãos de quartzo, feldspato presenta as relações estratigráficas entre os litotipos
(principalmente plagioclásio), carbonatos e sericita, e aflorantes. Uma discordância erosiva é inferida entre
como principais acessórios, zircão, titanita, turmalina as duas unidades; o contato atual é tectônico (zona de
e clorita. Fragmentos líticos de quartzito e sericita- cisalhamento de Malhadinha / Rio Preto).
-xisto também podem ocorrer. A ilita e a vermiculita
são os principais minerais argilosos da matriz, que A coluna A (Fig.IX.5) foi levantada nas escarpas da
eventualmente pode atingir cerca de 10%. Chapada Boa Vista, próximo da falha inversa que li-
mita o contato entre as Formações Canabravinha e
Serra da Mamona. Observa-se uma sequência domi-
CRETÁCEO nada por litofácies de granulometria grossa, psamo-
-psefítica. O metadiamictito basal dessa coluna aflora
2.2.6 Grupo Urucuia na rodovia BR-135 (Fig.IX.6a). Na porção intermediá-
ria ocorrem sequências granodecrescentes de meta-
Sobre as unidades neoproterozoicas da região, re- brecha arenosa a grânulo e seixo, quartzito imaturo
pousa em discordância erosiva e angular o Grupo com estratificação gradacional de grosso a fino (Fig.
Urucuia, constituído por arenitos e conglomerados IX.7c) e metarritmito areno-pelítico com estratifica-
fluviais e eólicos de idade cretácea. (CAPÍTULO XIII) ção plano-paralela. No topo da escarpa ocorre nova-
mente um metadiamictito a bloco, caracterizando a
ciclicidade dos processos sedimentares.
96 • G eolog i a da B a hi a
• 97
Notar mudança de escala entre as colunas das Formações Canabravinha e Formosa.
02/10/12 22:37
a c
b d
Figura IX.6 - Diamictitos da Formação Canabravinha (Colunas A e B). (a) Metadiamictito com clastos estirados, próximo ao contato tectônico
por falha de empurrão entre as Formações Canabravinha e Serra da Mamona, na BR-135. (b) Camada decimétrica de metadiamictito
intercalado a metapelito carbonático. Córrego Canabravinha. (c) Detalhe de matacão de granitoide em camada de metadiamictito, Córrego
Canabravinha. (d) Detalhe de matacão de quartzito, idem C.
A Coluna B foi levantada ao longo da drenagem do tos e filossilicatos (mica branca) orientados e quartzo
Córrego Canabravinha, próximo a Monte Alegre dos estirado segundo a foliação principal. As camadas de
Cardosos. É uma sequência semelhante a da Coluna metadiamictito encontram-se intercaladas a cama-
A, embora aqui as camadas de metadiamictitos sejam das de metapelito e quartzitos, que não apresentam
menos espessas, de ordem decimétrica, e os meta- clastos isolados. A proporção de carbonato torna-se,
pelitos e quartzitos mais frequentes e espessos. Nas por vezes, bastante expressiva, constituindo camadas
camadas de metadiamictito predominam amplamen- de metamarga.
te clastos de carbonato, gnaisse, quartzo e quartzito,
sendo comuns também os clastos de granito (sensu Os quartzitos podem apresentar estratificação plana,
lato). A geometria original desses clastos encontra- gradacional, ou cruzada de porte centimétrico (Fig.
-se por vezes bem preservada, não apresentando um IX.7b, c). Análises microscópicas (Fig.IX.7a) indicam
padrão dominante, com variação, mais comumente, que os quartzitos são formados por quartzo, muscovi-
de tipos subangulosos a subarredondados (Figs.IX.6b, ta, plagioclásio, carbonato, gnaisse, feldspato potás-
c, d). A matriz é formada principalmente por carbona- sico, granito, limonita e opacos, e dessa forma podem
98 • G e olog i a da B a hi a
a b
Figura IX.8 - Metaturbiditos de baixa densidade da Formação Canabravinha (Coluna C). (a) camadas centimétricas arenosas, de cor creme,
intercalam-se a camadas pelíticas cinzas. (b) Detalhe de a, mostrando estratificação gradacional (Ta) no quartzito.
a b
Figura IX.9 - Litotipos da Formação Formosa. (a) Metachert ferro-manganesífero bandado; camadas escuras ricas em óxidos de ferro e
manganês alternam-se a camadas claras de quartzo grosso. (b) Aspecto microscópico sob nicóis cruzados de xisto verde da região do
vilarejo Arroz (Coluna E), formado por actinolita (A), clorita (C), epidoto e plagioclásio (P); a titanita é o principal acessório.
100 • G eolog i a da B a hi a
Decantação e precipitação
M Marga B
química
Figura IX.10 - Relações estratigráficas no paleocontinente São Francisco (Gr. Bambuí) e no rift neoproterozoico Rio Preto (Formação
Canabravinha) em uma seção S - N. Segundo Uhlein et al. 2008, Caxito 2010, Caxito et al. no prelo.
102 • G eolog i a da B a hi a
a b
Figura IX.11. - Estruturas do Grupo Bambuí na cobertura cratônica deformada junto a Faixa Rio Preto.
(a) Dobra simétrica, de eixo N 70 E, na região de São Desidério (BA). (b) Relação acamamento (So) e xistosidade (S1)
em metassiltito da Formação Serra da Mamona, na região de Barreiras (BA).
104 • G eolog i a da B a hi a
Assim, na Faixa Rio Preto, pode-se identificar três Os compartimentos sul e norte apresentam direção
superfícies penetrativas ou xistosidades, designadas geral dos lineamentos NE-SW, enquanto o compar-
como (S1), (S2) e (S3) (Fig.IX.12a, b). timento central apresenta orientação ENE-WSW. Os
máximos modais para (S2) e (L2) para cada compar-
A superfície (S2), estrutura principal da Faixa Rio Preto, timento (sul: N64oE;29oNW e N160oE;30oNW; cen-
é uma foliação de crenulação apertada que ocorre de tral: N80oE;72oSE e N90;20-40oE; norte: N49oE;15oSE
forma proeminente em toda a área. (S2) ocorre como e N90oE;15-20NE, respectivamente) caracterizam a
106 • G e olog i a da B a hi a
• 107
(S2) e da lineação mineral e de estiramento (L2) associada, para cada um dos compartimentos. O máximo modal de (S2) e (L2) (em itálico) são indicados (Caxito 2010).
02/10/12 22:38
-SSE (Egydio-Silva 1987, Arcanjo & Braz Filho 1999). antiga, oblíqua aos dobramentos principais. Arcanjo
Entretanto, esta feição tectônica maior é ainda pouco & Braz Filho (1999) descrevem também transporte de
compreendida. Egydio-Silva (1987) mapeou o contato massa de NNW para SSE, entre as Serras do Estreito e
entre os Grupos Rio Preto e Santo Onofre como uma do Boqueirão. Essa movimentação pode ser sincrôni-
falha inversa que coloca o primeiro sobre o segundo ca ao cavalgamento para oeste dos micaxistos sobre
(Fig.IX.3), caracterizando então a superposição das os granitoides de Mansidão, devido ao afunilamento
estruturas da Faixa Rio Preto (SW-NE) sobre as estru- de espaço entre as duas serras, que se comportaram
turas brasilianas do Corredor do Paramirim (NNW- como rampas laterais.
-SSE) (CAPÍTULO X).
O limite cratônico na região noroeste da Bahia é ca-
Três fases de deformação podem ser observadas no racterizado pela sua geometria irregular, configu-
Grupo Santo Onofre na região da Faixa Rio Preto rando pares sintaxe-antitaxe, na região da Faixa Rio
(Egydio-Silva 1987, Arcanjo & Braz Filho 1999). A fase Preto (Arcanjo & Braz Filho 1999, Caxito 2010) (Fig.
(D1) gerou planos de xistosidade (S1) com direção geral IX.1, IX.14). A situação estrutural encontrada entre
N20-10E;40-60NW. A direção geral da Serra do Bo- as Serras do Estreito e do Boqueirão provavelmente
queirão está relacionada à fase (D2), que gerou a folia- pode ser comparada, grosso modo, àquela encon-
ção de crenulação (S2), de atitude geral N160;40SW e trada na Bacia de Irecê, na região norte da Chapada
uma lineação de interseção S15W;35. A superfície (S3) Diamantina (Fig.IX.1) onde a cobertura é deformada
é uma foliação de crenulação tardia, que mostra ati- plasticamente sobre o embasamento, descolando-
tude geral N60-70E;50-70SE, com direção semelhan- -se e fluindo em direção ao identante rígido cratôni-
te à foliação (S2) na Formação Formosa, no compar- co (Danderfer Filho et al. 1993, Arcanjo & Braz Filho
timento norte, gerando uma lineação de interseção 1999). Dessa forma um modelo estrutural para a área
com atitudes em torno de S50W/30. Segundo Arcanjo deve levar em consideração o contraste de competên-
& Braz Filho (1999), a foliação de crenulação (S2) no cia entre o Grupo Santo Onofre e a Formação Formosa
Grupo Santo Onofre teria sido gerada durante a inver- e entre estes e o embasamento. Porém, a região ainda
são do “Aulacógeno Espinhaço”, que originou dobras é pouco conhecida e necessita de estudos mais deta-
com eixos orientados NW-SE e N-S. A foliação (S3) lhados, sobretudo no campo da geologia estrutural.
foi gerada durante a inversão da bacia marginal Rio
Preto, desenvolvendo dobramentos, redobramentos Um modelo de evolução geotectônica para a Faixa Rio
e cavalgamentos com trend NE-SW e vergência para Preto envolve estiramento crustal durante o neopro-
NW, além de transcorrências nos limites das Serras terozoico (~850-600Ma), com deposição da Formação
do Boqueirão e do Estreito. Esses autores atribuem Canabravinha em uma bacia do tipo graben instalada
essa fase de deformação ao Ciclo Brasiliano. sobre o embasamento arqueano-paleoproterozoico
da região (Egydio-Silva 1987). Posteriormente, essa
Entre as Serras do Estreito e do Boqueirão, a Forma- bacia foi invertida durante a Orogênese Brasiliana
ção Formosa encontra-se complexamente deforma- (~600-540Ma), com o desenvolvimento de três fases
da. Arcanjo & Braz Filho (1999) descrevem cavalga- de deformação progressivas. A fase de deformação
mentos com vergência para oeste na região do povo- principal, (D1), gerou uma estrutura em leque assimé-
ado Gato, entre Buritirama e Mansidão, onde ocorrem trico divergente bastante peculiar.
micaxistos grafitosos com porfiroblastos de granada
de até 1cm de diâmetro. Segundo os referidos auto- Vários modelos foram propostos teoricamente e ex-
res, esses cavalgamentos relacionam-se a uma fo- perimentalmente para explicar o desenvolvimento de
liação de crenulação que trunca uma foliação mais estruturas em leque divergente. Alguns autores (Syl-
108 • G eolog i a da B a hi a
Figura IX.14 - Modelo digital de terreno da região noroeste da Bahia, com destaque para o limite do Cráton do São Francisco (SE) com a
Faixa Rio Preto (WNW). Observar os traços da foliação neoproterozoica na região da faixa dobrada e estruturas semicirculares (dolinas?)
na cobertura cratônica (Grupo Bambuí capeado por sedimentos terciários). Segundo Caxito (2010). Localidades: C – Cariparé; MAC – Monte
Alegre dos Cardosos; MA – Malhadinha; FRP – Formosa do Rio Preto; CP – Cristalândia do Piauí; SRC – Santa Rita de Cássia; M – Mansidão.
110 • G eolog i a da B a hi a
2.146±149Ma, Rb/Sr em
rocha total (gnaisse) 1.961±11Ma, U-Pb em zircão
Idade de Cristalização
de anfibolito
TDM = 2,6-2,8Ga
A Tabela IX.2 resume os dados geocronológicos levan- firmada por Almeida (1977). A faixa ocorre no limite
tados na região da Faixa Rio Preto. Uma análise das dos estados da Bahia, Piauí e Pernambuco, estenden-
idades K-Ar dispostas nessa tabela indica o resfria- do-se desde Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) ao sul, até
mento progressivo da região orogênica, de sua porção São Raimundo Nonato (PI), a oeste, e Paulistana (PI),
externa para a interna, que permaneceu aquecida por a norte (Figs.IX.1, IX.15). A faixa é parcialmente enco-
mais tempo, atravessando a isoterma de 350°C em berta, a noroeste, pela Bacia do Parnaíba e limitada
aproximadamente 540Ma, na transição Ediacarano/ ao norte pelo Lineamento Pernambuco, uma zona
Cambriano. Outros estudos geocronológicos são ain- de cisalhamento transcorrente destrógira (Fig.IX.15).
da necessários para se obter idades mais confiáveis A leste limita-se, de forma descontínua, com a Faixa
do metamorfismo brasiliano, embora os dados indi- Sergipana e o Maciço Pernambuco-Alagoas.
quem que o pico metamórfico deve ter ocorrido entre
600 e 540Ma. Trabalhos em andamento (Caxito 2010, No Projeto Colomi, executado pela CPRM (Souza et
Caxito et al. 2011a e b, em preparação) apresentarão al. 1979), o conjunto de supracrustais (mica-xistos,
novos dados isotópicos dos sistemas Sm-Nd em rocha quartzitos) da Faixa Riacho do Pontal foi designado
total e agregados minerais e também U-Pb em zircão como Complexo Casa Nova, em substituição aos ter-
detrítico (LA-ICPMS) de rochas da Faixa Rio Preto. mos Grupo Salgueiro e Cachoeirinha. Esta designa-
ção de Complexo Casa Nova foi amplamente utiliza-
da, posteriormente, em trabalhos executados pela
CPRM/DNPM dentro do PLGB-Programa de Levan-
3 Faixa Riacho do Pontal tamentos Geológicos Básicos, na escala 1:100.000
(Angelim 1988, Santos & Silva Filho 1990, Gomes &
Vasconcelos 1991). Estes trabalhos permitiram um
3.1 Evolução do Conhecimento grande avanço no conhecimento da geologia da Faixa
Riacho do Pontal.
A ocorrência de uma faixa dobrada brasiliana na
margem norte do Cráton do São Francisco foi caracte- O conceito original de uma faixa marginal brasiliana
rizada pela primeira vez por Brito Neves (1975) e con- na região, conforme proposição de Brito Neves (1975),
112 • G e olog i a da B a hi a
Destaca-se, ainda, a síntese de Angelim (2001), no A Faixa Riacho do Pontal compreende um embasamen-
contexto da Folha Aracajú–Mapa Geológico ao Milio- to arqueano/paleoproterozoico, constituído por gnais-
nésimo, dentro do PLGB-Programa de Levantamentos ses migmatíticos, e uma unidade de rochas supracrus-
Geológicos do Brasil, de responsabilidade da CPRM. tais designada Complexo ou Grupo Casa Nova, formado
Neste trabalho, as rochas metavulcanossedimentares por micaxistos, quartzitos, metagrauvacas, metacalcá-
da porção norte da Faixa Riacho do Pontal foram indi- rios ou mármores, gnaisses e rochas metavulcânicas.
vidualizadas nos Complexos Paulistana, Monte Orebe Granitoides intrusivos, às vezes gnaissificados, são fre-
e Santa Filomena, considerados como mesoprotero- quentes, com geometria estratoide (sills) ou como plú-
zoicos (1,2Ga). Segundo Angelim (2001) estas rochas tons subverticais (Fig.IX.15). Ocorre ainda o complexo
3.2.1 Embasamento
NEOPROTEROZOICO
O embasamento predomina ao sul, constituindo a
infraestrutura do Cráton do São Francisco, próximo 3.2.3 Suíte Afeição
de Petrolina e Juazeiro, recebendo o nome de Bloco
Gavião (Barbosa & Sabaté 2002), na sua parte se- A Suíte Afeição (Fig.IX.15) aflora nos arredores da ci-
tentrional (CAPÍTULO III). Ocorre também ao norte, dade de Paulistana, na parte norte da Faixa Riacho
nas proximidades do Lineamento de Pernambuco, do Pontal, sendo composta por granada-biotita au-
nos arredores de Paulistana, onde confunde-se com gen gnaisse de coloração cinza a rósea, de composi-
gnaisses supracrustais do Grupo Casa Nova, intensa- ção monzogranítica, granítica a granodiorítica e qui-
mente deformado. Ainda mais ao norte, trancisiona mismo calcialcalino. Jardim de Sá et al. (1992), Van
para o Maciço Pernambuco-Alagoas, constituindo Schmus et al. (1995), Angelim (2001) e Santos et al.
parte da Província Borborema. No embasamento, de (2010) apresentaram dados geocronológicos para
modo geral, predominam ortognaisses do tipo TTG, essas rochas, com idades U-Pb (TIMS) entre 960 e
em parte migmatizados, com bandas tonalíticas/gra- 970 Ma, idade-modelo TDM de 1,46Ga e εNd(0,97) = +0,1.
nodioríticas e corpos leucograníticos. Bandas ou ca- Segundo Santos et al. (2010) estas idades indicam a
madas de quartzitos, gnaisses calcissilicáticos, diques impressão do ciclo orogênico Cariris Velhos no emba-
de anfibolitos, assim como granitoides (dioritos, sieni- samento da porção norte da Faixa Riacho do Pontal.
tos, anortositos) podem ocorrer. As idades disponíveis Este ponto é ainda pouco elucidado, e merece atenção
indicam evolução arqueano-paleoproterozoica (Bar- em estudos futuros.
bosa & Dominguez 1996, Barbosa et al. 2003, Dantas
et al. 2010) (CAPÍTULO III). Ao sul, o embasamento 3.2.4 Grupo Casa Nova
constitui o Cráton do São Francisco e não apresenta
retrabalhamento neoproterozoico significativo. Ao O Grupo Casa Nova reúne as rochas supracrustais da
norte, na região de Paulistana, no Piauí, o embasa- Faixa de Dobramentos Riacho do Pontal, e é formado
mento foi intensamente retrabalhado pela Orogêne- principalmente por metapelitos (micaxistos, filitos),
se Brasiliana, durante o Neoproterozoico, tendo sido que compreendem biotita xistos, muscovita-biotita
envolvido na tectônica tangencial e transcorrente da xistos e muscovita xistos, com variáveis proporções
Faixa Riacho do Pontal. de plagioclásio, quartzo e porfiroblastos de granada,
apresentando, ainda, opacos, grafita e turmalina. Lo-
calmente, também podem ocorrer cianita e estauroli-
MESOPROTEROZOICO ta, nódulos de cordierita e cristais alongados de silli-
manita, especialmente na região norte, entre Afrânio,
3.2.2 Rochas metassedimentares da Chapada Paulistana e Santa Filomena (Angelim 1988, Gomes
Diamantina & Vasconcelos 1991). Granitoides intrusivos, às vezes
gnaissificados, são frequentes, com geometria estra-
Afloram sedimentos pertencentes ao Grupo Chapada toide (sills) ou como plútons subverticais associados
Diamantina, em especial a Formação Tombador (me- às rochas metassedimentares.
114 • G eolog i a da B a hi a
116 • G e olog i a da B a hi a
118 • G eolog i a da B a hi a
b
3.3 Sedimentologia e Modelo
Deposicional
120 • G e olog i a da B a hi a
122 • G e olog i a da B a hi a
Figura IX.22 - Seção geológica da Faixa Riacho do Pontal e porção norte do Cráton do São Francisco, com indicação dos domínios externo e
interno da faixa dobrada. Veja figura IX.15 para localização de seção geológica.
3.5 Metamorfismo
124 • G e olog i a da B a hi a
isócrona Rb-Sr de idade 634±8Ma (DNPM/CPRM in 3.7 Reflexo Tectônico da Faixa Riacho do
Jardim de Sá et al. 1992). Este dado apresenta-se in- Pontal no Antepais
congruente com os outros valores encontrados para
as intrusões sin e tardi-colisionais (668 e 555Ma, res- A Faixa Riacho do Pontal ocorre predominantemente
pectivamente). Dessa forma, são necessários estudos nos estados de Pernambuco e Piauí, estendendo-se
geocronológicos mais aprofundados para melhor na direção E-W, junto à divisa com o Estado da Bahia.
caracterizar as fases magmáticas na Faixa Riacho do
Pontal. Na região norte da Bahia, junto a Represa do Sobra-
dinho, afloram rochas da parte sul da Faixa Riacho
Os dados geocronológicos disponíveis indicam se- do Pontal. Pode-se reconhecer o embasamento,
dimentação e vulcanismo em torno de 740Ma e de- constituído por ortognaisses do tipo TTG, com estru-
formação ao redor de 550Ma para a Faixa Riacho do tura bandada, em parte migmatizados, com níveis ou
Pontal. Entretanto, a região é ainda pouco estudada e bandas de cor cinza, composição tonalítica/granodio-
carece de maiores dados sobre as condições de me- rítica, alternadas com bandas de cor rosada ou cinza-
tamorfismo e dados geocronológicos. A tabela IX.3 -esbranquiçada, de composição leucogranítica.
resume os dados geocronológicos disponíveis para a
Faixa Riacho do Pontal. A região situada a leste da Represa do Sobradinho
constitui a parte norte do Orógeno Itabuna-Salvador-
Recentemente, Van Schmus et al. (1995), Angelim -Curaçá (Barbosa et al. 2003, CAPÍTULO III), com to-
(2001) e Santos et al. (2010) têm apresentado dados nalitos/trondhjemitos, charnockitos, monzodioritos e
geocronológicos de ortognaisses próximos de Paulis- rochas supracrustais, com evolução arqueana e paleo-
tana, com idades U-Pb entre 960 e 970Ma. Segundo proterozoica.
Santos et al. (2010) estas idades indicam a possível pre-
sença de rochas envolvidas no evento orogênico Cariris Rochas vulcanossedimentares aparecem inclusas
Velhos na porção norte da Faixa Riacho do Pontal. nos ortognaisses do embasamento e recebem deno-
minações diversas, como os Greenstone Belts Lagoa
do Alegre, Salitre-Sobradinho e Barreiro-Colomi.
126 • G eolog i a da B a hi a
Figura IX.24 - (a) Mica-xisto do Grupo Casa Nova nos arredores da Represa do Sobradinho, município de Casa Nova.
(b) Granada-biotita xisto do Grupo Casa Nova com níveis quartzosos dobrados em estilo apertado a isoclinal, com foliação plano-axial.
BR-235, 30km a leste de Casa Nova-BA.
(CAPÍTULO III, IV), que ocorrem nos arredores da Re- truturalmente, a porção sul do Grupo Casa Nova mos-
presa do Sobradinho. Constituem associações de ro- tra deformação tangencial, com transporte para o sul.
chas metavulcânicas máficas, ultramáficas, e ácidas, Cavalgamentos e nappes definem o limite da Faixa
formações ferríferas bandadas, quartzitos, paragnais- Riacho do Pontal em relação ao Cráton do São Francis-
ses e mica-xistos, metamorfizadas na fácies anfibolito co, na forma de traços curvos, mostrando concavidade
e considradas de idade arqueana-paleoproterozoica para o norte. Foliações com direção aproximadamen-
(Angelim 1988, Angelim & Silva Filho 1993, Barbosa te E-W, com suave mergulho para o norte, lineações
& Dominguez 1996). de estiramento mineral na direção N170;20ºNW, com
baixo mergulho e superfícies S/C, indicando transpor-
O Grupo Casa Nova compreende as supracrustais da te para o Cráton do São Francisco. Rampas frontais e
Faixa Riacho do Pontal e aflora, na Bahia, nos arredo- também laterais, com movimentos oblíquos, são co-
res do Lago do Sobradinho, nas proximidades da ci- muns. Esses empurrões suborizontais alcançam a re-
dade de Casa Nova (Fig.IX.24). É representado por um gião sul da Barragem do Sobradinho e representam
pacote de litologias metassedimentares, como mica- um descolamento suborizontal das rochas do Grupo
xistos, clorita-muscovita xistos, granada-mica xistos, Casa Nova sobre o embasamento. Na região centro-
metagrauvacas e xistos feldspáticos, quartzitos e már- -leste, destaca-se a klippe de Barra Bonita (Gomes
mores (Souza et al. 1979, Figueirôa & Silva Filho 1990, 1990, Jardim de Sá et al. 1992), uma ocorrência isola-
Angelim & Silva Filho 1993, Barbosa & Dominguez da dos metassedimentos do Grupo Casa Nova, situada
1996). Aflora predominantemernte na base, a Forma- entre as duas margens do Rio São Francisco. Dobras
ção Barra Bonita (granada-mica xistos, metacalcários, tardias, de eixos N-S, são descritas ao sul da Represa
quartzitos) e, para o norte, a Formação Mandacaru do Sobradinho (Angelim 1997), deformando o contato
(micaxistos granatíferos, localmente com cordierita e milonítico basal do Grupo Casa Nova.
estaurolita, com intercalações de camadas pouco es-
pessas de metagrauvacas), conforme Angelim (1997). Estruturalmente, o embasamento no extremo norte
O metamorfismo do Grupo Casa Nova na Bahia é de da Bahia apresenta dobramentos apertados a isocli-
grau médio, variando de xisto verde a anfibolito. Es- nais, planos axiais verticalizados, com eixos em tor-
no da direção norte-sul e foliação com alto ângulo brasiliana teve um caráter pouco penetrativo (mais
de mergulho. Os lineamentos estruturais no Bloco superficial e espaçada) no embasamento arquea-
Gavião são dominantemente orientados segundo a no da região, atingindo somente os níveis crustais
direção N-S (Fig.IX.25). Nas supracrustais da Faixa mais elevados. Acredita-se que a cobertura metas-
Riacho do Pontal os lineamentos estruturais mos- sedimentar do Grupo Casa Nova se descolou sobre o
tram orientação aproximada E-W, com baixo ângulo embasamento, sem retrabalhamento profundo. En-
de mergulho (Fig.IX.25). Isto sugere que a deformação tretanto, em Pernambuco, na zona interna da faixa, o
128 • G e olog i a da B a hi a
130 • G e olog i a da B a hi a
1 Introdução
Envolvendo a denominada Faixa de Dobramentos Araçuaí (Almeida 1977) o Orógeno Araçuaí, tal como definido
por Pedrosa-Soares et al. (2001), juntamente com a sua contraparte africana, a Faixa Congo Ocidental, formam
um singular edifício orogênico, de natureza confinada, que se desenvolveu entre os Crátons do São Francisco e
do Congo durante a amalgamação do Gondwana Ocidental, ao final da Era Neoproterozoica (Fig.X.1). Caracte-
rizações e modelos evolutivos sobre o Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental são encontrados em Pedrosa-Soares
et al. (1992a, b; 1998, 2001, 2007, 2008, 2011), Trompette 1994, Pedrosa-Soares & Wiedemann-Leonardos (2000),
Alkmim et al. (2006, 2007).
O Orógeno Araçuaí é limitado a oeste e a norte pelo Cráton do São Francisco, a leste pela margem continental
brasileira e passa, a sul, ao Orógeno Ribeira (Fig.X.1). Além de rochas arqueanas, paleoproterozoicas e mesopro-
terozoicas, que constituem unidades infracrustais e supracrustais do embasamento, o Orógeno Araçuaí envolve
uma suíte plutônica anorogênica (Suíte Salto da Divisa) e sucessões sedimentares das fases rift e de margem
passiva da bacia precursora (Grupo Macaúbas, Complexo Jequitinhonha, Grupo Rio Doce, Complexo Nova Venécia
e parte do Grupo Rio Pardo), e supersuítes graníticas orogênicas (Figs.X.2, X.3).
Do ponto de vista tectônico (Fig.X.4), o Orógeno Ara- 1.2 Evolução do Conhecimento sobre o
çuaí em território baiano engloba partes da Faixa de Orógeno Araçuaí na Bahia
Dobramentos Araçuaí, marginal ao Cráton do São
Francisco (Almeida et al. 1977), e do núcleo do oróge- Em seu clássico artigo sobre a “Plataforma Brasilei-
no onde estão expostas rochas de alto grau metamór- ra”, Almeida (1967) esboça o limite leste da “Platafor-
fico do Complexo Jequitinhonha e suítes graníticas ma do São Francisco” como parte de uma extensa fai-
orogênicas (Pedrosa Soares et al. 2001, 2008, 2011, xa de deformação “baikaliana” (i.e, brasiliana), desig-
Alkmim et al. 2006). nada Paraíba, que se estenderia na direção nordeste
desde o Rio Grande do Sul, passando pelo extremo sul
Na Bahia se situa a porção setentrional Faixa Araçuaí da Bahia, até a altura da cidade de Ilhéus.
com, o Arco ou Saliência do Rio Pardo (a grande cur-
va descrita pela faixa ao longo da margem sudeste Entretanto, a fronteira setentrional do setor afetado
do Cráton do São Francisco), a zona de Cisalhamento pela Orogenia Brasiliana no extremo sul da Bahia foi
de Itapebi-Potiraguá e seu prolongamento até a mar- mais precisamente delineada por Cordani (1973) que,
gem atlântica (Fig.X.4). por meio de datações K-Ar, descreveu a existência de
132 • G eolog i a da B a hi a
134 • G e olog i a da B a hi a
136 • G e olog i a da B a hi a
138 • G e olog i a da B a hi a
Supergrupo Espinhaço
-Curaçá (CAPÍTULO III). Afloram nos vales do Pa- Intrusivas Básicas Mesoproterozoicas
ramirim, Gavião, São Francisco e Rio Pardo, e com-
preendem ortognaisses, granulitos, migmatitos e Na região da Chapada Diamantina e na Serra do Es-
granitos, além de sequências vulcanossedimentares pinhaço Setentrional, as rochas do Supergrupo Es-
(CAPÍTULO III), cujas idades são maiores que 1,8Ga. pinhaço são cortadas por diques de orientação geral
Em parte, essas unidades foram retrabalhadas pelo NNW-SSE e sills gabroicos de natureza toleiítica con-
evento brasiliano na zona de interação do Aulacógeno tinental (Brito 2008, Guimarães et al. 2008, Loureiro
do Paramirim com a Faixa Araçuaí (Fig.X.7). et al. 2009, Teixeira 2005).
140 • G eolog i a da B a hi a
Figura X.10 - (a) Diagrama R1-R2 modificado de De La Roche et al. (1980), mostrando o trend próximo ao subalcalino dos granitoides tipo
A da Suíte Granítica Salto da Divisa. (b) Diagrama de Pearce et al. (1996) mostrando o caráter anorogênico da Suíte. Triângulo vermelho –
Serra das Araras, Quadrado Verde – Itarantim, Boja azul – Salto da Divisa.
142 • G e olog i a da B a hi a
144 • G eolog i a da B a hi a
146 • G e olog i a da B a hi a
maciço distingue-se dos demais corpos do lineamen- de monzosienitos, segregações de sienito pegmatoide,
to por sua situação geológica peculiar em relação às sienitos finos e com fenocristais gigantes de feldspato
suas encaixantes. A sua colocação é controlada, a alcalino (até 10cm) reforçam a hipótese de que os dois
oeste, por um sistema de falhas submeridianas que grupos de rochas foram contemporâneos.
separa terrenos gnáissicos na fácies anfibolito, e a
leste pelos terrenos granulíticos (Bordini et al. 1999, Essa unidade é formada, principalmente, por anorto-
2002, 2003), tendo registrado um evento deformacio- sitos e, subordinadamente, por leucogabros, troctoli-
nal suplementar. tos e um conjunto de diques gabroicos. Este enxame
de diques de granulação fina acompanha a estrutura
As rochas anortosíticas ocorrem com frequência nas do corpo. As rochas anortosíticas deste maciço são de
cotas mais baixas da área, em contraste marcante colorações cinza-escuro a preta e apresentam textu-
com a topografia alta das intrusões alcalinas (Bordini ra grossa, predominantemente do tipo adcumulato, e
2003). A contemporaneidade entre anortositos e sie- estas texturas magmáticas acumulativas encontram-
nitos é sugerida pela observação de uma estreita zona -se preservadas (Bordini 2003).
de rochas transicionais entre eles. Além disso, a pre-
sença de porções de anortositos (~1,0 m) com formas Além do plagioclásio, os minerais primários das ro-
irregulares imersos numa massa mais leucocrática chas anortosíticas do Maciço de Potiraguá são olivina,
148 • G eolog i a da B a hi a
150 • G e olog i a da B a hi a
Idades U-Pb, Rb-Sr, Ar-Ar e K-Ar de rochas da PASE- O Aulacógeno do Paramirim (sensu Pedrosa-Soares
BA, obtidas por diversos autores, são reproduzidas na et al. 2001) é a feição tectônica que abarca as co-
tabela.X.3. Dois picos de magmatismo podem ser des- berturas precambrianas do Cráton do São Francisco
tacados, quais sejam: (i) 730-650Ma para a colocação expostas na Serra do Espinhaço Setentrional e Cha-
de corpos sieníticos e a primeira geração de diques pada Diamantina. Originariamente designado como
alcalinos; (ii) 550-480Ma para a segunda geração de Aulacógeno do Espinhaço por Costa & Inda (1982),
diques alcalinos (Cordani et al. 1974, Lima et al. 1981, corresponde a uma bacia intracratônica parcialmente
Teixeira et al. 1997, Corrêa-Gomes 2000) (Tab.X.3). invertida. Originada como um dos ramos do sistema
Figura X.20 - (a) Diagrama R1-R2 modificado de De La Roche et al. (1980), mostrando o trend subsaturado dos nefelina sienitos de Itarantim
(círculos azuis) (os diques com sodalita) e o trend saturado dos nefelina sienitos/granitos da Serra das Araras. (b) Diagrama de Pearce et al.
(1996) mostrando o caráter anorogênico da Suíte.
152 • G e olog i a da B a hi a
Diversos modelos foram aventados para explicar a Trompette et al. (1992) e Trompette (1994) sugerem a
inversão do aulacógeno. A partir de dados geocrono- existência de uma Faixa Brasiliana que se estenderia
lógicos apresentados por Távora et al. (1967), Cordani do Quadrilátero Ferrífero até o norte do cráton, pas-
(1973) individualizou a Província Geocronológica do sando pelo vale do Paramirim, gerada pelo fecha-
Paramirim como uma faixa móvel de idade neopro- mento de um rift intracratônico. Esta faixa separaria
terozoica, que separaria o Cráton do São Francisco, a os crátons de Salvador e Paramirim, tal como propos-
oeste e o Cráton de Salvador, a leste. Da mesma for- to por Cordani (1973).
154 • G e olog i a da B a hi a
156 • G e olog i a da B a hi a
Figura X.24 - Albitito mineralizado em urânio na zona de Figura X.25 - Zona de cisalhamento Malhada de Pedras reativada
cisalhamento de São Timóteo em Maniaçu hospedada no Complexo no Neoproterozoico e hospedada em ortognaisses próximos à
Lagoa Real. Afloramento na Mina Cachoeira, em Maniaçu. cidade de Brumado.
158 • G eolog i a da B a hi a
Figura X.30 - Fotomicrografia mostrando a substituição do Originalmente denominada Arco do Rio Pardo por
plagioclásio (Pl) por calcita (Ca)em albitito mineralizado em Almeida (1977), a grande curva descrita pela Faixa
urânio da Mina Cachoeira, Maniaçu. Nicóis cruzados.
Base da foto= 2mm Araçuaí na região compreendida entre Montezuma
e Maiquinique foi interpretada por Cruz & Alkmim
(2006) como uma típica saliência (sensu Macedo &
um evento orogenético no Mesoproterozoico. Os prin- Marshak 1999), isto é, uma culminação antitaxial com
cipais argumentos em favor desta hipótese baseiam-se a convexidade voltada para a zona cratônica (Fig.X.33)
em dados geocronológicos Rb/Sr obtidos, por exemplo, e o produto da interação entre um Aulacógeno e um
por Cordani et al. (1992) em rochas da Suíte Intrusiva Orógeno.
Lagoa Real que sofreram intensa albitização. Esses da-
dos podem ser explicados pela perturbação do sistema Principais traços estruturais
isotópico Rb/Sr durante o evento hidrotermal neopro-
terozoico de 960Ma, datado por Pimentel et al. (1994). Na Saliência do Rio Pardo, o arcabouço estrutural
Turpin et al. (1988) haviam obtido uma idade U/Pb para dominante desenvolve-se nas rochas do Complexo
a mineralização de urânio nas rochas da Suíte Lagoa Itapetinga e nas rochas metassedimentares do Gru-
160 • G e olog i a da B a hi a
162 • G eolog i a da B a hi a
Albititos na zona de cisalhamento Lagoa Real, 961±21Ma
Pimentel et al. (1994) na Mina de Cachoeira, em Maniaçu. 487Ma
(intercepto inferior, Ti)
02/10/12 22:40
Figura X.32 - Mapa geológico simplificado da Saliência do Rio Pardo. O mapa apresentado é baseado em Schobbenhaus et al. (1981),
Almeida (1977), Barbosa & Dominguez (1996) e em dados de campo. MG- Minas Gerais, BA- Bahia.
(2000) (Figs.X.2, X.36). Os planos de falhas e fratu- A Zona de Cisalhamento de Itapebi-Potiraguá marca
ras apresentam mergulhos superiores a 70º e estrias o contato entre a Faixa Araçuaí os granulitos da parte
com caimentos para SW inferiores a 30º. A sua histó- sul do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá do Paleo-
ria evolutiva é marcada por uma tectônica rúptil, que proteozoico (Fig.X.2). Apresenta orientação preferen-
se inicia com transpressão sinistral (Corrêa-Gomes cial segundo N50ºW (Corrêa-Gomes 2000) e em sua
et al. 1998a, b, Corrêa-Gomes 2000), em resposta à maior expressão representa parte de um corredor de
tensão principal máxima posicionada na direção N-S cisalhamento dextral.
(Corrêa-Gomes et al. 1998a,b, Corrêa-Gomes 2000).
Evolui em seguida para transcorrência dextral (Ar- Corrêa-Gomes (2000) sugere que o registro compres-
canjo 1993, Corrêa-Gomes et al. 1998b, Corrêa-Gomes sional mais antigo dessa última zona de cisalhamen-
2000), quando a tensão principal máxima passa a se to é de natureza dúctil e está associado com foliações
posicionar na direção E-W. Seus elementos truncam que se orientam segundo N90º-50ºW, com fraco mer-
diques félsicos datados entre 730 e 650Ma, o que per- gulho para SSW e lineação de estiramento posiciona-
mite lhes atribuir uma idade máxima de 650Ma (Cor- da no rumo do mergulho, com leve componente dire-
rêa-Gomes 2000). cional dextral. Posteriormente, o sistema dúctil teria
164 • G e olog i a da B a hi a
Metamorfismo
Figura X.34 - Foliação S0//S1 em quartzitos do Grupo Rio Pardo. As rochas da Bacia do Rio Pardo exibem paragêne-
ses compatíveis com um incremento metamórfico
de norte para sul. A sul da falha do Rio Pardo-Água
Preta, o metamorfismo é de fácies xisto verde baixo,
com a presença de talco em metacalcários e metado-
lomitos das Formações Serra do Paraíso e Água Pre-
ta. Além disso, clinocloro, quartzo, zoizita, clinozoizi-
ta, moscovita são também encontrados. O principal
evento metamórfico acompanhou o desenrolar das
três fases de deformação anteriormente mencionadas
(Karmann 1987).
3 Núcleo Orogênico de
Figura X.35 - Laminitos algais da Formação Serra do Paraíso
Alto Grau
dobrados assimetricamente. Fazenda Serra do Paraíso, município Pequena parte do núcleo orogênico de alto grau do
de Potiraguá.
Orógeno Araçuaí ocorre no extremo sul da Bahia,
entre Itagimirim e Medeiros Neto (Fig.X.36), a sul da
zona de cisalhamento de Itapebi-Potiraguá.
166 • G eolog i a da B a hi a
168 • G e olog i a da B a hi a
mais bem preservadas, enquanto nos corpos maiores, No diagrama R1-R2 (modificado De la Roche et al.
como Buranhém, que ocorrem associados a granitoi- 1980) (Fig.X.41a), as amostras ficam posicionadas
des do tipo I, suas composições sugerem a presença junto ao trend evolutivo subalcalino, equivalente
marcante de mistura, a ponto de ficar difícil definir à série calcialcalina de alto K e a shoshonítica. Sua
qual o tipo presente. localização, um pouco acima da linha de diferencia-
ção, típica da série, sugere o efeito de uma mistura
Os granitoides tipo I da supersuíte G5 apresentam um entre um magma mantélico (provavelmente alcalino)
amplo leque composicional, que vai desde 57 até 72 % com líquidos produzidos por fusão crustal. Este me-
de SiO2 Os teores de CaO variam desde 5,5%, em uma canismo é comum nas séries calcialcalinas de alto K
amostra com 55% de SiO2, até 1%, em amostras com e caracterizam os granitoides gerados em ambientes
mais de 70% de SiO2. O caráter potássico do conjunto de soerguimento pós-colisional na conceituação de
é evidenciado pelos conteúdos de K2O em torno de 5% Batchelor & Bowden (1985).
e razões K2O/Na2O em torno de 2. As rochas são me-
taluminosas a fortemente peraluminosas nos termos Em diagrama multielementar normalizado pelo
mais diferenciados. A norma (CIPW) mostra a pre- manto os espectros exibem fortes anomalias negati-
sença de coríndon (indicativo de excesso de alumina) vas de Nb e Ti, além de empobrecimento notável de
nas amostras com pouco mais de 65% de SiO2. Este Y e Yb, típicos de magmas formados sob a influência
enriquecimento muito precoce deve ser atribuído, ou de um manto metassomatizado. Os espectros de ETR
à composição original da fonte do magma, ou, o que mostram forte fracionamento e altos teores de ETR
é mais provável, à assimilação de material enriqueci- leves (média superior a 700 maior do que o condrito
do em Al2O3. No diagrama AFM, os pontos represen- no granitoide cinza de Guaratinga), anomalias nega-
tativos das amostras desses granitos se colocam ao tivas de Eu pouco acentuadas e baixos teores de ETR
longo de um trend retilíneo contínuo desde os termos pesados (em torno de 3 vezes maior do que o condrito
intermediários até os mais diferenciados da linhagem de Yb) sugerem a possível presença de magmas alca-
calcialcalina. linos em sua gênese.
170 • G e olog i a da B a hi a
De acordo com Teixeira (2002), a origem dos granitos Figura X.42 - Diagrama R1-R2 modificado de De La Roche et al.
(1980), mostrando o desvio composicional do trend retilíneo ígneo
considerados como do tipo I da supersuite G5 deve
em direção às composições dos granitos “S” em função da mistura
estar ligada a um magma mantélico alcalino, que ao entre os dois magmas. As amostras I (círculos) são de Guaratinga
ascender se misturou com líquidos produzidos pela e São Paulinho, as S (pentágonos) são de Buranhém.
172 • G eolog i a da B a hi a
174 • G eolog i a da B a hi a
176 • G eolog i a da B a hi a
NNW-SSE lá dominantes (Danderfer Filho 1990, 2000, et al. 2001, 2008, 2011, Campos et al. 2004, Marshak et
Cruz 2004, Guimarães et al. 2008, Cruz & Alkmim 2006). al. 2006, Alkmim et al. 2007). As estruturas distensio-
Além disso, foram reativadas as zonas de cisalhamento nais que marcam essa fase encontram-se expostas na
de Potiraguá-Itapebi, que adquiriram movimentações região da Chapada Acauã, em Minas Gerais (Marshak
reversas a dextral e sinistral normal respectivamente et al. 2001, 2002), assim como na Chapada Diaman-
(Corrêa-Gomes 2000, Sampaio et al. 2004). tina, na Serra do Espinhaço Setentrional e na Bacia
do Rio Pardo. Trata-se de zonas de cisalhamento nor-
mais que reativam as estruturas pré-existentes.
4.4 Colapso Pós-Colisional
A evolução magmática do orógeno foi concluída com
No estágio pós-colisional, que se estende entre 530 a injeção dos inúmeros corpos graníticos das suítes
e 480Ma, do final do período ediacarano ao início do G4 e G5 (Pedrosa-Soares et al. 2001, Pedrosa Soares
período ordoviciano, ocorreram no Orógeno Araçuaí et al. 2008, Pedrosa Soares et al. 2011). Na Bahia, os
processos deformacionais e plutonismo relacionados corpos G5 ocorrem no extremo sul do estado e mar-
à sua entrada em colapso gravitacional (Pedrosa-So- cam a fase mais tardia do magmatismo do Orogeno
ares & Wiedemann-Leonardos 2000, Pedrosa-Soares Araçuaí.
1 Introdução
A Faixa Sergipana é uma das mais importantes faixas orogênicas precambrianas do Nordeste do Brasil, não so-
mente porque cinquenta anos atrás ela foi utilizada como evidência para ajudar a consolidar a teoria da deriva
continental (Allard & Hurst 1969) mas também porque ela contém vários domínios litoestruturais que possibili-
tam que seja comparada com faixas orogênicas neoproterozoicas, no contexto da tectônica global.
A Faixa Sergipana já foi interpretada como um geossinclinal típico (Humphrey & Allard 1968, Silva Filho & Brito
Neves 1979), uma colagem de domínios litoestratigráficos (Davison & Santos 1989, Silva Filho 1998) e como uma
faixa de dobras e empurrões produzida pela inversão de uma margem passiva localizada na borda nordeste da
antiga placa São Francisco (D’el-Rey Silva 1999).
Atualmente admite-se que a Faixa Sergipana foi formada pela colisão continental entre o Cráton São Francisco, a
sul, e o Domínio Pernambuco-Alagoas (PEAL) da Província Borborema, a norte, durante a orogênese Brasiliana,
no neoproterozoico (Brito Neves et al. 1977, Van Schmus et al. 2008, Bueno et al. 2009, Oliveira et al. 2010). Duran-
te esta convergência, o domínio (PEAL) atuou como um bloco crustal, comprimindo unidades da Faixa Sergipana
entre ele e o Cráton São Fancisco e empurrando muitas unidades da faixa para o sul, sobre o cráton.
De acordo com Santos & Souza (1988), Davison & Santos (1989) e Silva Filho (1998), a Faixa Sergipana consiste
em seis domínios litoestratigráficos. De norte para sul são eles: Canindé, Poço Redondo, Marancó, Macururé,
Vaza Barris e Estância, cada um deles separado do outro por zonas de cisalhamento regionais (Fig.XI.1). Os três
últimos são constituídos principalmente por rochas metassedimentares, com grau metamórfico aumentando de
pouco ou não-metamórfico no Domínio Estância, para xisto verde no Domínio Vaza Barris até fácies anfibolito
no Domínio Macururé. Granitos neoproterozoicos ocorrem em todas as regiões ao norte da Falha São Miguel do
Aleixo (Fig.XI.1) e são ausentes nos domínios mais meridionais, isto é, Vaza Barris e Estância. Essas duas últi-
mas áreas têm como embasamento rochas paleoproterozoicas e arqueanas correlacionáveis ou pertencentes ao
Cráton São Francisco. Silva Filho & Torres (2002) e Silva Filho et al. (2003) sugeriram dois domínios adicionais
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Figura XI.1 - A Faixa Sergipana, os domínios litoestratigráficos e as zonas de cisalhamento regionais (ZCM - Macururé;
ZCBMJ - Belo Monte-Jeremoabo; ZCSMA - São Miguel do Aleixo; ZCI - Itaporanga).
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Figura XI.4 - Seções geológicas esquemáticas da Faixa Sergipana, com indicação dos domínios litoestratigráficos, principais zonas de
cisalhamento e as fábricas das fases de deformação (adaptado de Oliveira et al. 2010c). Localização dos perfis na figura XI.3. Abreviações
das zonas de cisalhamento como na figura XI.3. Granitos não ilustrados nessa figura.
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c d
e f
Figura XI.7 - Relações de campo em unidades autóctones do Domínio Estância, a noroeste de Euclides da Cunha, Bahia. (a) Contato erosional
entre milonito vertical do embasamento e diamictito Juetê; (b) histograma de idades U-Pb SHRIMP em zircões detríticos do diamictito Juetê
(dados inéditos de Oliveira 2008); (c) Calcário laminado Acauã sobreposto ao diamictito Juetê, mostrando pequenas dobras abertas e falha
inversa (seta); (d) Estrutura primária teepee (seta) no calcário, indicando exposição subaérea; (e) Calcário Acauã pisolítico com seção basal de
estromatólito esferóide (setas); (f) mesmo afloramento com estromatólito hemiesferóide ligado lateralmente (seta). Figuras (a) a (d) na estrada
para Fazenda São Gonçalo (E489563; N8851834) e (e) e (f) em pedreira de extração de pedra ornamental, mais ao norte (E485374; N8859720).
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b d
Figura XI.8 - Relações de campo em unidades alóctones ou para-autóctones do Domínio Estância. (a) Vista regional das nappes associadas
a D1 ‘’ e D1’’’; (b) Perfil na serra do Coiqui (E478459; N8908446) com intercalações de calcioarenitos (mais claro) e brechas calcárias (mais
escuro) com acamadamento caindo para leste; (c) Detalhe de um nível de brecha calcária com entelhamento de clastos para sul, no
afloramento anterior; (d) Testemunho de sondagem mostrando nível basal de milonito na sola de nappe de dolomito Estância ao sul da
cidade de Curaçá (localização na figura XI.5).
Lagarto é constituída principalmente por arenitos, formação também pode ter sido depositada em ba-
siltitos e argilitos, com várias estruturas sedimen- cia de antepaís. A figura XI.9 mostra a distribuição de
tares preservadas, enquanto a Formação Palmares idades de zircões detríticos para esta formação, com
contém os mesmos tipos de rochas anteriores além principais populações de idades ao redor de 570Ma,
de conglomerados. A Formação Palmares, há mui- 634Ma e 958Ma. Algumas idades paleoproterozoicas
to, é interpretada como molassa relacionada à fase ou mais antigas, cujas fontes podem estar no Cráton
orogênica da Faixa Sergipana (p.e. Silva Filho et al. São Francisco, foram reconhecidas mas são minori-
1978, Sá et al. 1986), com deposição em ambiente de tárias. As principais populações de grãos encontram
leques costeiros e intensa subsidência da bacia (Saes áreas-fonte na Província Borborema e na Faixa Ser-
& Vilas Boas 1989). Datações U-Pb em zircões detrí- gipana. Portanto, é possível que estudos semelhan-
ticos de arenito da Formação Lagarto revela que esta tes a serem realizados no Domínio Estância na Bahia
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Figura XI.10 - Relações de campo em unidades do Domínio Vaza Barris. (a) Dobras em calcários intercalados com filitos Vaza Barris na
estrada Bendegó-Macururé (E482193, N8903174); (b) Diamictito em leito de riacho junto ao povoado Rosário, ao sul de Canudos (E497016;
N8885776); (c) Sill de diabásio deformado por D1’’ intercalado em micaxisto Vaza Barris, ao norte de Bendegó (E484535; N8914092); (d)
Crista de veios de quartzo em zona de falha de empurrão (ZCSMA- Zona de Cisalhamento São Miguel do Aleixo) limitante dos domínios
Macururé e Vaza Barris.Vista para o norte no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS em Canudos.
Figura XI.11 - Histograma de idades U-Pb SHRIMP em zircões detríticos do Domínio Vaza Barris. (a) metagrauvaca da Formação Frei Paulo
(Oliveira et al. 2006); (b) diamictito da Formação Palestina (dados inéditos de Oliveira, 2008). As amostras estão com a sigla FS.
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b d
Figura XI.12 - Relações de campo em rochas do Domínio Macururé. (a) Micaxisto com S0//S1’ dobrado em D1’’ e com veios de quartzo e falha
inversa de alto ângulo associados a D1’’’, estrada Bendegó-Macururé (E487472; N8926142); (b) desenho esquemático de (a); (c) Micaxisto com
S0//S1’ dobrado em zona de cisalhamento associada à D1’’; estrada Bendegó-Macururé (E485129, N8919106); (d) Micaxisto com foliação S1’’ e
folhas de granitos sin-D1’’ concordantes (setas); estrada Bendegó-Macururé (E485129, N8919106).
a b
Figura XI.13 - Relações de campo para o Granodiorito Coronel João Sá. (a) Aspecto dominante no batólito, sem deformação e com estruturas
de fluxo e enclaves preservados (E:610874; N8862588); (b) Contato norte com micaxistos Macururé, mostrando deformação no granito
paralela à S1’’ na encaixante (E621484; N8862788).
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e f
Figura XI.14 - Relações de campo em rochas do Domínio Marancó. (a) Dacito pórfiro encaixado em filito cinza da unidade Monte Azul
(E579294; N8889432); (b) Fotomicrografia representativa do dacito mostrado na foto (a); (c) Quartzito conglomerático da unidade Belém
(E588671; N8894876); (d) Histograma de idades U-Pb SHRIMP em zircões detríticos de quartzito da unidade Belém mostrado na foto (c)
(dados inéditos de Carvalho, 2005); (e) metabasalto epidotizado da unidade Minuim (E602038; N8913230); (f) Augen Gnaisse Serra Negra
(E596759; N894466).
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Figura XI.18 - Proposta de evolução tectônica para a Faixa Sergipana do final do Mesoproterozoico (ca. 1.000 Ma) até o Neoproterozoico (ca. 570
Ma). As principais zonas de cisalhamento são indicadas (ZCM - Zona de Cisalhamento Marancó; ZCBMJ - Zona de Cisalhamento Belo Monte/
Jeremoabo; ZCSMA - Zona de cisalhamento São Miguel do Aleixo; ZCI - Zona de Cisalhamento Itaporanga). Adaptado de Oliveira et al. (2010a).
198 • G eolog i a da B a hi a
1 Introdução
Neste capítulo serão caracterizadas as principais ocorrências de diques máficos no Estado da Bahia, denomina-
das de províncias filonianas. O termo província se aplica a qualquer conjunto de rochas filonianas que apresente
peculiaridades em termos de localização e abrangência geográfica, posição cronoestratigráfica e, principalmen-
te, relação com um determinado evento de tafrogênese (Shaw 1980, Halls 1982, Windley 1984, Halls & Fahrig
1987, Condie 1984, Oliveira 1989, Halls 1991, Teixeira 1993, Corrêa-Gomes et al. 1996). Desse modo, procurou-se
sintetizar no texto as informações dos principais trabalhos desenvolvidos nestes conjuntos de rochas, sobretudo
do ponto de vista se suas características de campo, estruturais, petrográficas, litogeoquímicas e geocronológicas,
objetivando a atualização de dados referentes ao tema proposto. Estas ocorrências de diques serão descritas em
função das suas idades de colocação e/ou posicionamento temporal no embasamento arqueano-paleoprotero-
zoico, nas coberturas cratônicas precambrianas (Supergrupo Espinhaço) e nas faixas de dobramentos neoprote-
rozoicas (Sergipana e Araçuaí) e/ou nos seus embasamentos.
Os diques máficos são importantes de serem estudados, visto que são sensíveis indicadores de processos geo-
lógicos fundamentais no contexto geodinâmico da Terra. Eles fornecem informações substanciais para a com-
preensão de processos de extensões crustais (tafrogêneses), sobre as fontes magmáticas, rifteamento inicial ou
incipiente e para estudo da evolução dinâmica da litosfera e do manto.
A importância do estudo de diques máficos vem sendo cada vez mais destacada em diversos trabalhos científicos
na forma de artigos-síntese e livros, do início da década de 80 para os tempos atuais (Shaw 1980, Halls 1982,
Windley 1984, Halls & Fahrig 1987, Condie 1984, Oliveira 1989, Halls 1991, Teixeira 1993, Corrêa-Gomes et al. 1996,
dentre outros). Dentre as várias características pode-se destacar que os corpos filonianos: (i) preenchem fraturas
que revelam condições extensivas na crosta; (ii) fornecem indicações das condições reológicas tanto do magma
intrusivo quanto das rochas encaixantes; (iii) são alimentadores e condutores de ascensão magmática do manto
para a crosta; (iv) permitem estabelecer as condições que operavam em ambientes intraplaca ou nas margens de
placas continentais, muitas vezes determinando eventos de rifteamento e presença de junções tríplices, e esta-
Di q u es M á ficos • 199
200 • G e olog i a da B a hi a
Di q u es M á f icos • 201
Figura XII.2 - Província Uauá-Caratacá. (a). À esquerda imagem do Google Earth destacando os lineamentos da província onde as linhas
escuras com duas bolas nas extremidades correspondem aos corpos filonianos. (b) À direita, representação esquemática dos diques da PUC,
que se encontram concentrados dentro de uma megalente de formato sigmoidal (Modificado de Andritsky 1968, 1969, 1971).
Tanto em imagens de satélite (Fig.XII.2) quanto em em fotointerpretação, foi produzido pela Missão Ale-
campo, os diques máficos dessa província apresen- mã (Andritsky 1969), que revelou a distribuição geo-
tam um bom contraste com as rochas encaixantes métrica atualmente conhecida e sugeriu a existência
do Complexo Uauá (CAPÍTULO III). Ocorrem bastante de duas gerações de filões máficos. Foram identifica-
expressivos, aflorando na forma de corpos tabulares dos nada menos que 323 segmentos de filões máficos.
aparecendo alinhados, sob a forma de blocos e como Posteriormente, Bastos Leal (1992) e Menezes (1992)
lajedos identificados em cortes de estradas e cami- detalharam, ainda mais, este enxame, separando duas
nhos carroçáveis. Exibem, de modo geral, coloração gerações de diques por aspectos de campo, caracterís-
cinza a cinza-esverdeado, granulação fina a média, ticas petrográficas e datações geocronológicas.
isotrópicos e maciços (Fig.XII.3). Possuem espes-
suras que variam de poucos centímetros a dezenas A primeira geração de diques máficos datado em
de metros, com predomínio em torno de 2 a 5 me- 2,38Ga, pelo método Rb-Sr (Bastos Leal 1992) é re-
tros e extensões bastante variáveis de até 10km. As presentada por diques anfibolíticos, ocorrendo de
principais orientações dos corpos estão em torno de forma pouca expressiva na província e situados a sul
N50°-40° (conjunto de formato sigmoidal) e N150°- da cidade de Caratacá. A segunda geração de diques
140° (conjunto subparalelo ao comprimento maior da datado em 2,1Ga, também pelo método Rb-Sr (Bas-
megalente) (Fig.XII.2). tos Leal 1992) é mais expressiva geograficamente, re-
presentada por diques máficos e diques metabásicos
Este sistema de diques foi inicialmente estudado por que afloram em torno das cidades de Uauá e Carata-
Andritsky (1968, 1969, 1971), Barbosa (1970), Winge & cá (Menezes 1992, Menezes Leal et al. 1995). Oliveira
Danni (1980), Winge (1981, 1984) e Gava et al. (1983). (2010a, b) engloba esses últimos diques na geração
Um levantamento da geometria dos diques, baseado mais antiga, incluindo os diques anfibolíticos e diques
202 • G e olog i a da B a hi a
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Figura XII.3 - Aspectos de campo e forma de ocorrência dos diques máficos da Província Uauá-Caratacá. (a) Dique máfico milimétrico
intrusivo no Complexo Uauá; (b) Dique máfico aflorante em corte de estrada; (c) Dique máfico no leito do Rio Caratacá; (d) Dique máfico em
contato com rochas gnaíssico-migmatíticas do Complexo Uauá; (e) Blocos de rochas dos diques maficos; (f) Detalhe da ocorrência de diques
máficos no leito do Rio Caratacá. (Fotos de (a) a (d): Menezes 1992; Fotos (d) e (e) cedidas por João Batista).
Di q u es M á ficos • 203
204 • G e olog i a da B a hi a
Idades TDM maiores que 3,0Ga. foram encontradas Tomando como base as formas dos corpos tabulares
para os diques noríticos da primeira geração, en- existentes na Província Uauá-Caratacá, quatro famí-
quanto que uma isócrona de referência Sm-Nd obtida lias podem ser separadas: (i) sigmoidal com encur-
em 10 amostras dos diques toleiíticos da segunda ge- vamento abrupto; (ii) sigmoidal com encurvamento
ração produziu idade de 2.589±8.6Ma, com idades TDM suave; (iii) retilínea ocupando fraturas do tipo T (pa-
entre 2,52 a 2,83Ma (Oliveira 2010). ralelas aos planos s1 x s2) e (iv) retilínea paralela à
zona principal de cisalhamento.
D’Agrella Filho (1992) através de estudos paleomagné-
ticos indicou que os diques máficos da Província Uauá- Comentando somente os diques sigmoidais das duas
-Caratacá possuem direção N-NE e que a magnetiza- primeiras famílias, naqueles de direção N50°-40°,
ção foi adquirida há cerca de 1,9Ga, durante os estágios existe a possibilidade de que os filões das partes mais
finais (resfriamento) do evento paleoproterozoico. centrais terem idades um pouco maiores que as dos
filões posicionados mais externamente. No caso dos
Uma interpretação tectônica destas informações se- diques de direção N150°-140°, os seus paralelismos
ria a de que inicialmente, na primeira fase, a taxa de com a maior extensão do conjunto, além do fato de
distensão crustal na lente de cisalhamento foi muito que os mesmos não apresentam encurvamento e si-
baixa, implicando uma reduzida quantidade de ma- nais de rotação, parece indicar que estes corpos pos-
terial magmático introduzido. Na segunda fase, foi sam ter idades mais recentes.
Di q u es M á ficos • 205
206 • G eolog i a da B a hi a
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Figura XII.6 - Esquema (a) e fotografia (b) do afloramento-tipo das rochas tabulares da Província Salvador. As fotografias (c) e (d) mostram
a relação de contato entre os magmas monzo-sienograníticos e basáltico (modificado de Corrêa Gomes et al. 1996). A seta indica o sentido
de visada N285o. Os corpos tabulares estão orientados próximos à E-W.
Vermelho, pode ser vista a íntima relação entre uma andesitos basálticos a andesitos e são compostos por
metamáfica filoniana e um granitoide róseo anatético plagioclásio e fenoblastos de diopsídio, quartzo e tita-
tabular, atestando a co-temporalidade de formação nita (2-10%). Apatita e zircão são acessórios. Biotita
entre os dois litotipos. Pode ser notado que: (i) tanto o e hornblenda são secundárias, produto do metamor-
granito engloba porções do dique metamáfico quanto fismo sincolocação dos diques e provenientes da al-
este engloba porções do granito; (ii) os contatos entre teração do diopsídio e opacos. Diminutos cristais de
ambos os litotipos variam de retilíneos a festonados plagioclásio e quartzo também são considerados me-
e, (iii) localmente podem ser observadas feições que tamórficos.
lembram mistura mecânica entre o magma granítico
e o basáltico (Fig.XII.6). 2.2.3 Dados Litogeoquímicos
Di q u es M á ficos • 207
Figura XII.7 - Diagrama A (Na2O + K2O), F (FeOt), M (MgO), segundo O significado tectônico preciso destes corpos félsicos
Irvine & Baragar (1971), para diques máficos metamorfizados e máficos é ainda indefinido, principalmente devido à
da Província Salvador (DM1). A linha cheia representa a suíte
toleiítica do Hawaii, segundo MacDonald & Katsura (1964). Dados pequena expressão geográfica das manifestações fi-
químicos de Moraes Brito (1992), Mestrinho et al. (1982, 1988) e lonianas. Especula-se a respeito da possibilidade de
Barbosa et al. (2005).
que a massa basáltica teria fornecido o calor suficien-
te para a fusão da crosta continental, resultando na
produção dos granitoides róseos (Moraes Brito 1992).
K2O em torno de 8% (Moraes Brito 1992, Barbosa et
al. 2005).
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No que se refere à geometria de distribuição, a maio- No que diz respeito à colocação dos filões dessa pro-
ria dos filões está concentrada na porção SSW da víncia, o caráter discordante destes corpos evoluiu
(PCDP), em grande parte posicionada segundo uma desde as litologias mais antigas, com maior frequên-
faixa N160°-140°, porém orientações situadas em tor- cia nos Grupos Rio dos Remédios e Paraguaçu, mas
no de N90° e N40°-20° podem aparecer. A disposição podem atingir até a Formação Caboclo do Grupo
espacial dos corpos sugere a existência de centros lo- Chapada Diamantina (CAPÍTULO VIII). A partir daí
calizados de propagação radial que materializam for- o magma basáltico tende a se comportar de modo
matos em grandes “Y”, encontrados nas proximidades concordante, formando soleiras (Bomfim & Pedreira
de Paramirim, Ibitiara, Lençóis e Rio de Contas, SSE 1990, Guimarães & Pedreira 1990, Pedreira & Marga-
da Chapada. Com relação aos diques de direção N90°, lho 1990), aparentemente não cortando as formações
da região de Mucugê, segundo Pedreira & Margalho mais novas da Chapada Diamantina. Isto poderia ser
(1990), estes se colocaram segundo planos s1 x s2 (fra- um indício de que houve uma perda no poder de pene-
turas tipo T), de um cisalhamento sinistral de direção tração do magma com o afastamento da fonte, soma-
mais ampla N120°. Esta situação resultaria na forma- da a uma variação na resposta mecânica das rochas
ção de uma bacia transtensiva rômbica local. encaixantes com a mudança de nível crustal. A pas-
sagem progressiva de filões para soleiras em rochas
Tomando como base a distribuição geral dos diques sedimentares não é um fato raro de se encontrar (e.g.
máficos dessa província, é possível se supor que, no Pollard et al. 1975, Quadros 1976, Pollard & Holzhau-
a b
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Figura XII.11- Fotografias dos diques máficos da Província Chapada Diamantina-Paramirim (PCDP) mostrando aspectos de campo e formas
de ocorrências. (a) Aspecto geral dos diques máficos sob a forma de blocos e matacões. (b) Afloramento mostrando alinhamento dos diques
máficos ao sul de Paramirim das Crioulas. (c) Aspecto geral dos diques máficos, mostrando coloração cinza escura e granulação fina.
(d) Diques máficos sob a forma de blocos em Lagoa do Dionísio. (e) Detalhe do dique máfico mostrando plagioclásio (porção mais
esbranquiçada) em meio a uma massa de coloração escura. (f) Afloramento de dique máfico mostrando exfoliação esferoidal.
(g) Afloramento de dique máfico sob a forma de lajedo, apresentando bloco maciço ao sul de Paramirim das Crioulas. (h) Aspecto geral
do dique máfico associado a tonalitos-granodioritos, aflorando na margem do riacho Mocambo. (Brito 2008, Damasceno 2009,
Pereira Varjão 2011).
Di q u es M á f icos • 213
sen 1979, Kano 1989, Conceição & Zalán 1990). Além vez, na Serra de Jacobina as indicações geométricas
disto, esta evolução poderia indicar certa contempo- no campo apontam para uma propagação para leste.
raneidade entre a colocação do magma e os proces-
sos sedimentares/diagenéticos. As rochas em fase de 4.1.2 Dados Petrográficos
litificação se constituiriam em verdadeiras barreiras
mecânicas à propagação das fraturas-conduto (e por Brito (2005, 2008) identificou através da caracterização
consequência à penetração do magma), que seriam petrográfica, três grupos de diques: diques básicos, di-
assim, refratadas e direcionadas para as interfaces ques metabásicos 1 e diques metabásicos 2 encaixa-
dos estratos. Este fenômeno também foi reportado por dos nos metassedimentos do Supergrupo Espinhaço.
Motoki et al. (1988) em filões do Arraial do Cabo no O primeiro grupo corresponde ao conjunto de diques
Rio de Janeiro. Neste trabalho, corpos discordantes mais preservados, com plagioclásio e piroxênios, pre-
passaram, paulatinamente, a concordantes devido a dominantes e contendo texturas reliquiares (ofítica,
variações nas orientações do campo de tensão local. subofítica e intergranular). O segundo conjunto é con-
siderado uma fase de transição entre o primeiro e o
A propagação dos diques e suas geometrias nesta último e o terceiro grupo apresenta abundância em
província sugerem um sentido principalmente para minerais de alteração (clorita, sericita, hornblenda,
NW, na porção sul da Chapada Diamantina. Por sua moscovita e epidoto), com raras texturas reliquiares.
214 • G e olog i a da B a hi a
Os diques máficos da Província Chapada Diamantina- Figura XII.13 - Diagrama A (Na2O + K2O), F (FeOt), M (MgO),
segundo Irvine & Baragar (1971), para diques máficos da (PCDP).
-Paramirim são subalcalinos, de natureza toleiítica
A linha cheia representa a suíte toleiítica do Hawaii, segundo
(Fig.XII.13). Em geral, possuem comportamento geo- MacDonald & Katsura (1964). Símbologia: campo azul = 1º grupo;
químico para elementos maiores, traços e Elemen- campo verde =2º grupo e campo vermelho = 3º grupo; linha
tracejada = diques máficos intrusivos no Bloco Gavião. Dados
tos Terras Raras bastante similares, independentes
químicos de Menezes Leal et al. (2002); Brito (2008); Damasceno
da unidade intrusiva. Os padrões de distribuição dos (2009) e Pereira Varjão (2011).
Elementos Terras Raras apresentam padrão levemen-
te enriquecido em Elementos Terras Raras leves em
relação aos Elementos Terras Raras pesados, embora tencerem a uma mesma província, ocupam posições
aqueles diques do terceiro grupo apresentam-se mais geográficas e geológicas distintas. Constataram que
enriquecidos em relação ao primeiro e segundo gru- são muito semelhantes em relação aos dados de cam-
pos. O padrão de distribuição dos Elementos Terras po, petrográficos e geoquímicos. No entanto, os diques
Raras (ETR) normalizados para condrito aproxima-se e sills máficos da Chapada Diamantina mostraram-se
dos valores entre E-MORB e OIB. O Zr versus elemen- menos evoluídos (mg#maiores) e com padrões de ETR
tos incompatíveis indica fonte relativamente homo- menos diferenciados que aqueles encaixados nas ro-
gênea. Os padrões dos elementos incompatíveis dos chas metamórficas do Bloco Gavião (Fig.XII.13).
diques do primeiro grupo são mais empobrecidos em
relação aos outros, porém guardam o mesmo com- 4.1.4 Dados Geocronológicos e Tectônicos
portamento, apresentando, de maneira geral, anoma-
lias negativas de Nd e Sm e positivas de Sr, Eu, Ti e Nb. Dados geocronológicos existentes indicam a presença
Observa-se, ainda, que todos os conjuntos apresentam de três gerações distintas, datadas através do méto-
enriquecimento de Rb, Ba e Nb e Elementos Terras Ra- do Rb-Sr, formadas nos intervalos de 1,3 a 1,2Ga, 1,1
ras leves (La e Ce) em relação aos outros elementos a 0,9Ga e 0,7 a 0,5Ga (Couto et al. 1983, Boukili 1984,
(Brito 2008, Damasceno 2009, Pereira Varjão 2011). Lopes & Souza 1985). Isto reflete a atuação de gran-
des eventos distensivos distintos no tempo. O evento
Bandeira (2010) e Pereira Varjão (2011) fizeram uma 1,1-0,9Ga teria afetado também a Serra de Jacobina,
comparação entre os diques máficos intrusivos nos situada à ENE da Chapada, a julgar pela idade de
metassedimentos do Supergrupo Espinhaço e no Blo- 1,060Ma obtida por Boukili (1984), para um dique
co Gavião, uma vez que os filões máficos apesar de per- máfico toleiítico, orientado E-W e que corta aquela
Di q u es M á ficos • 215
216 • G eolog i a da B a hi a
d e f
Figura XII.15 - (a) Dique metamórfico associado com metamonzo-sienogranito deformado na zona central, com bordas indeformadas.
(b) Parte indeformada do conjunto metamorfizado mostrando mistura heterogênea de magma basáltico e granítico. (c) Dique metamórfico
e metamonzo-sienogranito deformados. (d) Dique metamórfico vertical cortando rochas granulíticas com foliação/bandamento
subhorizontal. (e) Dique não metamórfico, vertical. (f) Monzo-sienogranito preenchendo fratura vertical, N40º (Barbosa et al. 2005).
dância NNE-NE, E-W, raras N-S e NNW-NW com ques máficos (Figs.XII.16c, e, f), embora algumas vezes
mergulhos verticais a subverticais, além de espessu- esses contatos não sejam facilmente reconhecíveis,
ras que variam de 0,3 a 50m, com maior frequência devido a espessa cobertura de solo. Outra característi-
no intervalo de 1 a 2m. São intrusivos em rochas do ca comum aos filões máficos de Camacan é a presen-
embasamento cristalino, caracterizado por metamor- ça de matacões apresentando capas concêntricas em
fitos de fácies granulito. torno de um núcleo mais duro da rocha, lembrando
escamas de uma cebola, denominado de escamação
Os diques máficos da província litorânea situada em ou exfoliação esferoidal. As principais áreas de ocor-
Camacan apresentam coloração cinza a preta, granu- rência dos diques máficos de Camacan situam-se em
lometria variando de muito fina a grossa e são isotró- cortes de estrada principalmente dispostos entre as
picos e maciços (Figs.XII.16a, b). A forma dos diques cidades de Camacan e Santa Luzia e entre Santa Luzia
máficos varia de reta (Figs.XII.16c, d) a levemente si- e Arataca.
nuosos (Fig.XII.16e) a angulosos (Fig.XII.16f). Preen-
chem fraturas distensivas nas rochas granulíticas da 4.2.2 Dados Petrográficos
região em variadas direções, como N10°, N25°, mas
predominam direções entre N60° e N80°. Possuem es- Os diques de Salvador não metamorfizados apresen-
pessuras que variam de poucos centímetros a dezenas tam grande variação textural em função da espessura
de metros, mas predominam os menos espessos (de 5 e profundidade de resfriamento. Os de menor espes-
a 31cm) (Figs.XII.16c, f). É comum observar, em campo, sura são afaníticos e os mais espessos possuem na
o contato entre a rocha encaixante granulítica e os di- porção central textura fanerítica, como no dique de
Di q u es M á f icos • 217
c d
e f
Figura XII.16 - Imagem de diques máficos de Camacan mostrando aspectos de campo e principais formas de ocorrência. (a) Diques máficos
de granulometria fina, isotrópicos e maciços. (b) Dique máfico de granulometria grossa. (c) Dique máfico reto com 5cm de espessura. (d)
Dique máfico reto espesso. (e) Dique máfico com forma sinuosa. (f) Dique máfico com forma angulosa.
(Santos 2010).
218 • G e olog i a da B a hi a
Di q u es M á ficos • 219
220 • G e olog i a da B a hi a
Di q u es M á f icos • 221
Olivença a existência de quatro gerações filonianas idades dos diques máficos, materializa-se um padrão
separadas em intervalos de vinte milhões de anos radial com terminações transcorrentes, geradas pro-
cada. Isto foi interpretado tomando-se como base as vavelmente devido à perda do poder de penetração do
idades obtidas, além das orientações e polaridades magma e às oscilações nas orientações dos tensores
dos eixos magnéticos de minerais dos diques máficos. devido ao afastamento da área-fonte, ou áreas-fonte
Nestes intervalos de tempo, relativamente amplos, (Figs.XII.20, XII21). Esta estruturação estaria associada
não é difícil se imaginar as possibilidades de modifi- a um domeamento litosférico, de eixo maior orienta-
cações localizadas: (i) na ambiência tectônica; (ii) no do N-S, que teria ocorrido há aproximadamente 0,9Ga
posicionamento da fonte magmática (Choudhuri et al. (Fig.XII.22) (Corrêa-Gomes 1992, Corrêa-Gomes &
1991); e, até mesmo (iii) nos fenômenos de derivação Oliveira 2000). Este arranjo dômico é reforçado pela
do magma, que poderiam conduzir a importantes va- distribuição radial dos filões, tendo em vista que uma
riações nas assinaturas químicas do sistema. subsidência, em condições tectônicas semelhantes,
conduziria a um padrão anelar (Komuro 1987). Apesar
Confrontando as informações obtidas, que levaram de serem encontrados diques máficos basálticos alca-
em consideração: distribuição geométrico-geográfica, linos dentro da área de influência da Província Litorâ-
formas, marcas de fluxo, fraturas de resfriamento e nea, a grande maioria apresenta tendência toleiítica.
222 • G e olog i a da B a hi a
Os primeiros trabalhos geológicos de cunho regional gional característico do setor nordeste do Cráton do
da área investigada trouxeram informações superfi- São Francisco. Falhamentos de direção N-S e NW-SE
ciais acerca do enxame de diques máficos do vale do são responsáveis por pequenos deslocamentos pós-
Rio Curaçá, sendo que Delgado & Dalton de Souza -colocação dos diques. Todavia, os diques preservam
(1975), no projeto Cobre-Curaçá, mapearam e descre- suas feições de corpos intrusivos retilíneos, sem qual-
veram as principais feições de campo e petrográficas quer deformação, demonstrando que a sua colocação
destes diques. Posteriormente, Gava et al. (1983) e se deu em época posterior ao metamorfismo regional
Seixas et al. (1985) sugeriram a contemporaneidade do Complexo Caraíba (Bastos Leal 1992, Bastos Leal
entre os enxames de diques de Curaçá e Uauá (este et al. 1995). Em geral, possuem larguras variando de
último situado a leste do primeiro), com base em alguns centímetros até dezenas de metros, chegando
estudos petrográficos e de campo. Gava et al. (1983) a um máximo de 25 metros, com extensões da ordem
agruparam ambos os enxames sob a denominação de alguns quilômetros. Podem apresentar variação
de “Vulcanismo Caratacá’’. Por outro lado, Oliveira granulométrica da borda para o centro, além de xe-
& Tarney (1990) e Oliveira (1991), com base na assi- nólitos das rochas encaixantes no seu interior (Bas-
natura geoquímica dos diques de Curaçá, propuse- tos Leal 1992, Bastos Leal et al. 1995). Via de regra, os
ram uma associação tectônica deste enxame com a diques encontram-se intemperizados, intemperismo
implantação do “sistema” Espinhaço, admitindo uma este que pode estar ligado à presença do fraturamen-
idade mesoproterozoica para os mesmos. Os diques to superimposto.
do Curaçá apresentam direções NE-SW e estão es-
truturados segundo um padrão de fraturamento re-
Di q u es M á ficos • 223
224 • G e olog i a da B a hi a
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226 • G eolog i a da B a hi a
Figura XII.26 - Provável situação tectônica (a) contemporânea à geração dos condutos tabulares que viriam a alojar o magma alcalino
da (PIIC). Segundo um amplo cisalhamento sinistral com produção de fraturas secundárias de diferentes famílias (T, C, R e R’), com um
posicionamento específico dentro da Zona de Cisalhamento de Itabuna-Itaju do Colônia, (ZCIIC). Em (b), rosácea de direção correspondente
às direções dos lineamentos estruturais rúpteis da (ZCIIC). Em (c) rosácea de direção correspondente às direções dos diques alcalinos. Pode-
se constatar que a maioria dos diques parece ocupar posições T, R e C do modelo sugerido (modificado de Corrêa-Gomes et al. 1996). Para
comparação as linhas grossas cinza em (b) e (c) reproduzem a orientação da (ZCIIC).
Di q u es M á ficos • 227
c d
e f
Figura XII.27 - Diques máficos da Província Itabuna-Itaju do Colônia mostrando aspectos de campo e principais formas de ocorrência.
Em (a) e (b) afloramento de diques no Rio Colônia. (c) Detalhe de afloramento de dique no Rio Colônia.
(d) Direção Geral dos diques atravessando o leito do Rio Colônia. (c) e (f) Relaçoes de contato entre os diques e os granulitos
encaixantes do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Pinheiro 2009).
228 • G e olog i a da B a hi a
Os diques máficos que ocorrem nas proximidades da A história tectônica regional começou com uma com-
cidade de Itaju do Colônia são toleiíticos mostrando pressão cujo sigma 1 do campo de tensão remoto es-
enriquecimento em FeOt em relação ao MgO e baixas teve orientado N-S e posteriormente passou para E-W.
razões sílica/álcalis características de suítes toleiíticas Procura-se aqui correlacionar a frequência direcio-
(Machado no prelo). Por outro lado, aqueles que ocor- nal e as espessuras destes corpos, a fim de observar
rem em torno da localidade de Itapé possuem carac- relações estruturais entre a existência dos diques al-
terísticas alcalinas (Pinheiro 2012) (Fig.XII.28). Através calinos e as diferentes fases tectônicas que atuaram
do comportamento geoquímico dos elementos maio- nas zonas de cisalhamento citadas anteriormente e
res e traços foi constatada a importância das fases mi- estabelecer as idades relativas destes diques, a par-
nerais plagioclásio e clinopiroxênio no fracionamento tir de informações de campo e dos dados estatísticos.
magmático. Os padrões de distribuição dos Elementos Com essa finalidade foram estudados 786 diques (607
Terras Raras mostram enriquecimento dos ETR leves máficos e 179 félsicos), e elaborados diagramas de fre-
em relação aos ETR pesados, apresentando padrões quência direcional e de espessuras. Notou-se através
medianamente fracionados para os diques de Itaju do da associação dos dados, que: (i) os diques félsicos são
Colônia, enquanto que para os diques de Itapé esses mais antigos e ocupam preferencialmente fraturas
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230 • G eolog i a da B a hi a
Di q u es M á f icos • 231
02/10/12 22:47
Bacias Paleozoicas
Capítulo xiii e Mesozoicas
Antonio Sérgio Teixeira Netto (Consultor)
1 Introdução
O registro Paleozoico no Estado da Bahia é pouco expressivo e fronteiriço, porque ocupa menos de 1% da área
do Estado com espessura máxima de poucas centenas de metros, e porque aparece no Mapa Geológico da Bahia
como ‘orelhas’ nas fronteiras noroeste e nordeste (Fig.XIII.1). Apesar de pouco expressivo, ele tem enorme signi-
ficado geo-histórico porque registra a sedimentação do Iapetus, o oceano raso que inundou a crosta continental
e dominou a fisiografia da parte norte do que hoje é o continente sulamericano, cujos registros glaciais no Alto
Amazonas (Caputo 1984) permitiram a hipótese da snow-ball earth. Na Bahia, tais rochas paleozoicas são mine-
radas para sal na Ilha de Matarandiba, Bacia de Camamu, a uma profundidade de 1.100m, e agora em 2010 todo
o entorno da ocorrência está requerido ao DNPM à procura do sal paleozoico do Iapetus.
O registro mesozoico, por outro lado, constitui a unidade cronoestratigráfica mais expressiva no Mapa Geológico
da Bahia ao milionésimo (Inda & Barbosa 1978), dominando inteiramente a borda oeste, hoje um polo de agricul-
tura intensiva, a borda leste emersa, se adentrando pela plataforma continental e pelo talude. O rift-valley cre-
táceo que contém as bacias sedimentares petrolíferas mesozoicas de leste já produziu mais de 1 bilhão de barris
de petróleo e se apresenta como o intervalo cronoestratigráfico mais bem estudado do país.
Para efeito de registro neste livro, a geologia do paleozoico e do mesozoico na Bahia está apresentada na seguinte
sequência:
(iv) O rift-valley cretáceo (que atravessa todo o Estado pelo lado leste).
234 • G eolog i a da B a hi a
das bacias de Tucano Norte e Jatobá. O poço 2-IMst- p.63). A área de terrenos paleozoicos aflorantes no
1-Pe, na Bacia de Jatobá, perfurou no intervalo 2.540 canto nordeste do Estado da Bahia é de 900km2, da
à profundidade final, 2.861m, uma seção correlacio- mesma ordem de grandeza da ocorrência de noroes-
nável com o Grupo Canindé da Bacia do Parnaíba, te. Mas aqui a ocorrência paleozoica se estende em
conforme referida na figura 5.3 de Góes & Feijó (1994, subsuperfície por baixo das bacias mesozoicas, e até
Luanda
236 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIII.3 - Bio, crono e litoestratigrafia do registro Mesozoico no Recôncavo (Conforme Netto 1978, com modificações de Barroso 1984).
Os contatos das unidades litoestratrigráficas transectam as linhas de tempo.
Deformações estruturais no Grupo Brotas são fre- A figura XIII.4c mostra o efeito desta compartimenta-
quentes em toda a área estudada, mas são monoto- ção: no sul, o Alto de Olivença (15ºS), um nariz estru-
namente falhas normais que configuram uma tectô- tural que projeta para leste os metassedimentos do
nica de distensão. Os falhamentos, na maior parte, Grupo Rio Pardo (quartzitos, calcários e filitos do Pa-
foram reativados e afetam a seção mais nova, dos leoproterozoico), está implantado desde o Brasiliano
Andares Rio da Serra, Aratu e Buracica. A subsidência e limita a ocorrência meridional dos sedimentos do
diferencial no Grupo Brotas controlou a distribuição Andar Dom João. Especula-se aqui que este “nariz es-
faciológica, promovendo com a evolução do Andar trutural” na linguagem dos geólogos do fanerozoico,
Dom João uma sucessão transicional de sistemas de- seja a projeção para dentro do mar da Faixa de Dobra-
posicionais. mento Araçuaí (Inda & Barbosa 1978), (CAPÍTULO X) e
que esta faixa brasiliana contorne a Depressão Afro-
O registro do Andar, no geral, reflete deposição suba- -Brasileira pelo leste indo se juntar com a sua con-
érea, com uma diferenciação paleoclimática que, por temporânea em Alagoas (Fig.XIII.2). A Bacia de Alma-
ironia, é o inverso do que ocorre atualmente: Camamu da somente registra sedimentos da parte superior do
e Recôncavo experimentaram clima árido no jurássico, Andar, estando a fácies mediano da Formação Sergi
atestado por retrabalhamento eólico e paleossolos de sobreposto discordantemente sobre o embasamento
caliche, enquanto que Tucano e Jatobá sustentavam (Fig.XIII.5).
condições climáticas mais amenas, atestadas por ves-
tígios de uma floresta de coníferas (Dadoxylon benderi, A Bacia de Camamu (14ºS) registra uma seção do
conforme Brito & Campos 1982). Nestas bacias subaé- Grupo Brotas que só não está completa porque a
reas, as áreas menos subsidentes registram sedimen- parte superior foi erodida junto à borda da bacia (Fig.
tos mais distais. As áreas mais subsidentes são preen- XIII.4a). Existe uma notável continuidade desde a Ba-
chidas com arenitos conglomeráticos. cia de Camamu até a Bacia de Tucano Sul, Recôncavo
238 • G eolog i a da B a hi a
+ + +
FLORESTA
+ + +
PERNAMBUCO + E
+ 248
IA D +
+ + BAC BÁ +
JATO ALTO DO SÃO
FRANCISCO
9º + + +
+ + ALAGOAS +
+ + +
PAULO
+ + AFONSO +
+ + + BACIA DE + + +
TUCANO NORTE
Rio ALTO DO VAZA
Vaz
a Bar BARRIS
ris
10º SERGIPE
+ + +
+ + JEREMOABO +
+ BACIA DE + +
+ + +
300
TUCANO CENTRAL
BAIXO DO SITIO
DO QUINTO
TUCANO
+ + +
11º Rio
20
+ + +
0
TOBIAS
Ita
BACIA DE
pi
BARRETO
cu
TUCANO SUL
ru
CALHA
+ + CENTRAL +
00 + +
+ 4
+ + + + ALTO DE + +
0 BAHIA APORÁ
50
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12º 0
ALAGOINHAS
0
+ + +
20
MA
+ + +
ALT -CATU
500
TA
BACIA DO
OD
700
RECÔNCAVO
E
800 50m 50m 50m
E
900
OJIP
+ 1000 +
ARAG
1100
+ + +
DE M
1200
+ + FALHA DA
BARRA
MORRO DE
SÃO PAULO
ico
ico
ico
+ + BACIA DE CAMAMU +
t
tlânt
tlânt
Atlân
no A
no A
0
90
14º
no
CAMAMU
Ocea
Ocea
Ocea
+ + +
0 BACIA DE ALMADA
10
+ + ILHÉUS
+
15º o 0 50 0 50 ALTO DE 0 50
OLIVENÇA
+ km + km + km
Figura XIII.4 - O registro do Grupo Brotas na Depressão Afro-Brasileira. (a) isópacas em metros; o ponto afastado ao norte, com isópaca
248m, é o poço 2-IMst-1-PE, que penetrou abaixo do Grupo Brotas 341m de sedimentos paleozoicos. (b) a compartimentação da bacia
jurássica em sete segmentos exploratórios no Cretáceo. (c) efeitos estruturais configurados no cretáceo. Adaptado de Netto et al. (1982).
BAS-64
BAS-36
BAS-19
SDST-1
RAST-1
RCST-1
IMST-1
MIST-1
OST-1
MC-1
QE-3
TM-1
BA-1
DS-1
CC-1
I-22
0 XI XI XII XI
XII XIII XII X
X
IX
IX
VIII VIII
X
VI
V
V
+
VI +
9º +
+
V +
+ +
III 10º
+
+
1000 II +
+
FÁCIES SEDIMENTARES +
I 11º
+
Sergi Proximal
+
XII + +
ntico
+
o Atlâ
V Arenitos Médios com Feldspato Corroídos 14º
Ocean
IV Arenitos Lenticulares +
I Arenitos Basais + km
Mapa de Localização
da seção
Figura XIII.5 - Seção estratigráfica longitudinal mostrando a continuidade do Grupo Brotas, com datum no topo do Andar Dom João,
evidenciando as relações espaciais entre as sete bacias individualizadas com o rifteamento. Modificado de Netto et al. (1982). Os números
em romano representam as facies sedimentares.
W E
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. .. . 1. Altos estruturais no
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2. Roll-over nas sequências
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.. . . .... .... . . . . . . . . . . . .
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deltaicas do rift.
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1 3. Pinch-out em turbiditos
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. .. . na base do rift.
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+ 4. Truncamentos por diápiros.
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+ . .. .
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5. Fechamento estrutural em
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+
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. .. 3 . .. .
+ bloco baixo.
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+ 6. Truncamento de reservatórios
+ . .. . . . .
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. . 8. .. .
por cânions preenchidos com lama.
. .. . . . . . . .. .
+
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. .. . .. +
. . .. . 7. Fluxo turbiditos com
. .. .
fechamento estratigráfico.
+ . .. . .
.. .
. .. . . . . . . . .. . . .. .
+
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..
.
. .. . . . . 8. Reservatórios fraturados na
+ + frente dos conglomerados de borda.
+
Figura XIII.6 - Seção transversal no Recôncavo mostrando os tipos de fechamento das jazidas de petróleo. Conforme Netto (1984).
240 • G e olog i a da B a hi a
242 • G eolog i a da B a hi a
idade Aratu, que se estende para nordeste e implan- ca e Jiquiá, passa a ser o representante da fase rift, a
ta o Rift II com mais 2km de sedimentos lacustres da geradora de petróleo ao longo das bacias da margem
Formação Rio de Contas durante as idades Aratu, Bu- continental brasileira, com exceção de Camamu onde
racica e Jiquiá, equivalente temporal aos sedimentos o Rift I, a Formação Morro do Barro, tem maior espes-
fluviais da Formação São Sebastião no Recôncavo. sura e está na janela de geração.
A separação estrutural entre o Recôncavo e Camamu A transição Jiquiá-Alagoas tem datação absoluta de
é ilustrada na seção longitudinal BB’, controlada com 120Ma, o que equivale ao registro inferior do Albiano
sísmica de reflexão e com poços. A feição denominada na coluna marinha. Nesta época, a Bacia de Pelotas
“Alto de Salvador” aflora a leste, no Farol da Barra, e já registra a abertura do Atlântico Sul, o qual evolui
conforme vista em sísmica (seção 34-RL130, da ANP, de sul para norte, inicialmente com uma circula-
1970) mergulha para sul, com uma componente de 7º ção restrita que deixou depósitos evaporíticos, bem
para oeste conforme registro de testemunho em poço desenvolvidos na Bacia de Santos, onde capeou as
na Ilha de Itaparica. comentadas jazidas petrolíferas do “pré-sal”. O pro-
cesso inicial de abertura do Atlântico Sul durou todo
A segunda linha de charneira que define o Rift II se o espectro do Andar Alagoas, pouco mais que 10Ma,
estende pela plataforma continental do Estado para extinguindo a fauna de ostracodes no registro sedi-
norte e para sul de Salvador, bem próxima à linha de mentar. Do Andar Alagoas para cima a bioestratigra-
costa, de forma que o Rift II, de idade Aratu, Buraci- fia é baseada em foraminíferos marinhos, sendo que a
CENOZOICO
Fm. Barreiras Terrígeno marinho raso
Leques aluviais Fm. Caravelas
DRIFT
de clima úmido Cc
Plataforma carbonática
Kbd Fm. Urucutuca
Kuc
NIANO
SENO
Depósito de talude
CENOMANIANO
Fm. Algodões
ALBO-
Jab Kal
Calcário marinho
MARINHO RASO
Ag
5
APTIANO
Fm. Marizal Fm. Taipus Mirim
Kmz
Leques aluviais Marinho restrito;
B B’ km evaporitos
0
Crd
BARREMIANO
RIFT II
Kssa Krc Fm. Rio de Contas
Krc
Sistema Fluvial
Kbd Kmb Kss São Sebastião
RIFT I
Kmf Leques Rasos do Marfim Fm. Morro do Barro
Jab Kmb Fan delta da ilha
NEOCOMIANO
Ksa Kitc Cânion de Taquipe Itaparica
Ag Turbiditos de
Jab Kbd Bom Despacho
Kssa Flanglomerado Salvador
5
PROTO
Ksa
RIFT
Fm. Santo Amaro - planície aluvial e lago raso
C C’ km
0
PRÉ-RIFT
Ksa
JURÁSSICO
Depressão Afro-Brasileira - Fm. Aliança e Sergi
Jab Kuc
Jab Folhelhos vermelhos e arenitos, clima árido, subaéreo
Kal
EMBASA
MENTO
ARQUEANO
Ag Ag Gnaisses, granulitos
Kmb
Krc
Jab
39°00’W 38°30’ W
12°30’ S São Sebastião 12°30’ S
Santo Amaro
A BA
Kss
026
Ksa
Kitc Kmz
Cachoeira
Kpd
Mataripe . .. .
Itapema .. . .
. . .. .
. . .. .
. . .. . . .
.. . ..
Jab . . ..
...
Simões Filho
Maragojipe
Ag
Ksa A’
Kbd
Kssa
50
Itaparica m
. Crd
. B Monte
Serrat
.
. Itapuã
.
.
.
.
Kmb
Salvador
50 m
. . .
. .
.
. .
13°00’S . Barra
13°00’S
.
Nazaré . .
. Ksa
BA
Crd
001
C C’
Figura XIII.8 - Seções
geológicas e arcabouço
estrutural nas imediações
100
m
da cidade do Salvador. Vide
legenda na primeira parte
m
B’ 00
10 da figura. Adaptada de Netto
(2000).
Crd
39°00’W 38°30’ W
244 • G e olog i a da B a hi a
246 • G eolog i a da B a hi a
+ +
+ +
fronteira com Sergipe, até a saída do Rio Jequitinho-
+
nha, em Belmonte, pouco a norte de 16ºS, é dominada +
4000
largura de 50 a mais de 200km. 16ºS é o limite sul da
Bacia de Jequitinhonha; no norte desta bacia, na foz Canavieiras
Belmonte
do Rio Corurupe (14º52’8’’S, 39º01’4’’W) os sedimentos
Banco Royal Charlotte
da Formação Taipus Mirim são intrudidos por diabásio 1200
40
100
00
1205
Caraíva
infere como implantada na transição Cretáceo/Terciá- 100
50
rio. Parte da atividade magmática é intrusiva, confor- Cumuruxatiba
300
50 0
2000
me documentado em sísmica de reflexão (Netto 1992).
Recife das Timbebas
Entre o arco de Royal Charlotte e o arco vulcânico de 1312
1000
1310
Conceição da Barra 50 70 km
GPS Map Detail
248 • G e olog i a da B a hi a
Vale registrar que a Agência Nacional do Petróleo já re- Posse, fácies eólico com paleocorrente para oeste, e
alizou duas rodadas de licitações na Bacia do São Fran- Serra das Araras, fluvial.
cisco, onde o alvo exploratório é a sequência neopro-
terozoica do Grupo Bambuí, com indícios de petróleo Na coluna de Campos & Dardenne (1997b) o Grupo
no Estado de Minas Gerais (Lima & Petersohn 2008), Urucuia está datado como senoniano, posterior à
e sotoposta como embasamento da Bacia Sanfran- Formação Marizal do Tucano/Recôncavo, contempo-
ciscana de Campos & Dardenne (1997a). Foram arre- râneo com a Formação Urucutuca da fase regressiva
matados 42 blocos, o que gera a expectativa que nos da deriva continental, quando já havia oceano aberto
próximos três anos o conhecimento geológico da área no leste da Bahia. Aceitando esta datação, o vulca-
vá suplantar tudo que se levantou até hoje. nismo alcalino ultramáfico do Grupo Mata da Corda
(Fig.XIII.13), diamantífero em Minas Gerais, pode es-
Com referência ao mapeamento recente, os diagra- tar relacionado com o vulcanismo do Banco Royal
mas de fraturas de Lopes & Lima (2007) associados Charlotte na plataforma continental. Mas Campos &
à interpretação da geomorfologia, permitiram-lhes Dardenne (1997b) não registram o critério da datação
diagnosticar que o marcante padrão de drenagem do Urucuia, citam a tese de doutoramento de Cam-
local (Fig.XIII.1) tem um controle tectônico. Um poço pos (1996), que criou a coluna original sem tampou-
para água no município de Luiz Eduardo Magalhães co registrar o suporte à posição de senoniano para o
identificou uma formação que não havia sido reco- Urucuia. Inda & Barbosa (1978) posicionam o Urucuia
nhecida em superfície, e agora Lopes & Lima dividem como cretáceo inferior pós-rift, por correlação com a
o Grupo Urucuia em três formações: Geribá, uma fá- Formação Marizal, a qual na coluna de Caixeta et al.
cies mais argiloso com base no perfil de raios gama; (1994) é posicionada no Andar Alagoas (Albo-Aptia-
250 • G eolog i a da B a hi a
-1E-007
-5.1E-006
-3.1E-006
-2.1E-006
-4.1E-006
-1.1E-006
4E-007
1.4E-006
2.4E-006
4.4E-006
3.4E-006
8360000
TO-010
BA-460
Barreiras
Muquém de São Francisco
242
020 BA-161
Tocantins
Paratinga
TO-110
ia
Bah
TO-050 Macaúbas
iás
Go
GO-118
Bom Jesus da Lapa
Correntina
Santa Maria da Vitória
020
Serra do Ramalho
Riacho de Sant
BA-349
BA-430
co
is
ranc
ão F
Posse
Rio S
Guanambi
Bahia Carinhanha Ba50 km
Minas Gerais
GO-112 GPS Map Detail
Figura XIII.15 - Em carmim, o roteiro do reconhecimento feito para este Capítulo XIII.
folhelhos e lamitos até o km 664 da BR-242 na alti- rada a alta , submetidos a intensa lixiviação na zona
tude de 800m. vadosa e com bioturbação recente, o que imprime um
caráter maciço ao grupo aflorante como um todo. Na
No km 671 da BR-242 (Muquém do São Francisco cuesta da Serra Geral de Goiás para oeste, na zona
na Fig.XIII.15), próximo à longitude 44ºW, começa o de fronteira estadual, quando a topografia baixa para
planalto arenoso na cota 850, que continua subindo o entorno de 800 metros, são descritos afloramentos
para sudoeste até um máximo de 985m, 300km em com estratificações cruzadas de grande porte, que
linha reta a sudoeste, próximo ao entroncamento da ensejaram a Lopes & Lima (2007) uma interpretação
BR-020 com BA-349 (Fig.XIII.15). Nesta região do pla- eólica para os 10.000km3 de arenito que recobrem o
nalto reconhecida como Serra Geral de Goiás, a vege- oeste da Bahia. Admitindo conservadoramente uma
tação primária é de cerrado, e aí está implantado um porosidade média de 15%, este aquífero contém
polo agrícola de porte, para produção de soja, milho e 1.500km3 de água doce. Para uma área de infiltração
algodão, com unidades de beneficiamento que agre- de 50.000km2, se a lavoura permitir a recarga do aquí-
gam valor ao produto. A atividade está promovendo fero de metade da precipitação anual, pode-se contar
rápido desenvolvimento econômico e social e seu com a renovação anual de 30km3 de água, ou seja,
consequente impacto ambiental, como soe acontecer tem-se a disponibilidade possível de 6*105m3/km2/
com monoculturas extensivas. ano, algo da ordem de 1.600m3/km2/dia! Enquanto
não existem dados confiáveis e um monitoramento
Os afloramentos do Urucuia são monotonamente de dos aquíferos, a SRH - Secretaria de Recursos Hídri-
arenito fino, boa seleção, maturidade textural mode- cos da Bahia, está autorizando a perfuração de um
252 • G eolog i a da B a hi a
254 • G eolog i a da B a hi a
1 Introdução
Em termos tectônicos as bacias sedimentares paleozoicas e mesozoicas baianas podem ser classificadas como
dos tipos flexural e rift. Algumas dessas bacias têm histórias tectônicas unicamente paleozoicas, outras começam
no Paleozoico e avançam até o Mesozoico e ainda outras apresentam história restrita ao Mesozoico. Classicamen-
te as evoluções dessas bacias estão inseridas em vários estágios termomecânicos, que aconteceram de modo dia-
crônico, com relação ao megaevento que levou à ruptura do supercontinente Pangea entre 150-140Ma. São dois
os estágios principais nos quais inúmeras dessas bacias baianas foram formadas: (i) sinéclise, entre o Carbonífero
e o Permiano e (ii) rift, no início do Cretáceo.
Para se ter uma ideia da temporalidade dos eventos geradores, o diacronismo dos diferentes estágios de evolução
das bacias sedimentares das fases sinéclise e rift pode ser visto na figura XIV.1 (Souza-Lima & Hamsi Jr. 2003).
Assim não é de todo estranho que entre as principais bacias tectônicas se encontrem as bacias do tipo rift, assim
como o fato de que as depressões das bacias flexurais tenham sido posteriormente reaproveitadas em eventos
de rifteamento, como é o caso de várias bacias paleozoicas reativadas no Mesozoico. Isso se deve ao fato de que o
afinamento crustal que antecedeu o rifteamento prepara e facilita os processos mais drásticos de “rasgamento”
da crosta que acontecerão posteriormente na formação dos rifts. Portanto, a taxa de extensão litosférica é de
fundamental importância no desenvolvimento tipológico das bacias tectônicas (Fig.XIV.2).
Porém, além da taxa de extensão, diversos outros fatores podem influenciar na formação e evolução das bacias
tectônicas, tais como (Allen & Allen 2005, Kearey et al. 2009): fluxo térmico local, mecanismos de cisalhamento
relacionados à abertura da bacia, mecanismos de formação de falhamentos múltiplos, composição mineralo-
15/10/12 23:40
Parnaíba, no NNW do estado e as coberturas sedi-
mentares de Paulo Afonso e Santa Brígida, no NNE;
a Bacia do Urucuia, no W, e as porções emersas das
bacias tipo rift (Bacias do Almada, Camamu e sistema
de Bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá), localizadas na
borda E do Estado.
258 • G e olog i a da B a hi a
260 • G eolog i a da B a hi a
c d
Figura XIV.5 - (a) Mapa de anomalia Bouguer da região de influência da Bacia do Parnaíba. Cores azuis indicam anomalias negativas
(≤50mGal) e cores vermelhas anomalias positivas (≥50mGal) (Petershon 2009), (b) Mapa de anomalia magnética da região de influência da
Bacia do Parnaíba. Cores azuis indicam anomalias positivas (<30 nT) e cores vermelhas anomalias positivas e negativas (>30nT)( Petershon
2009). (c) Arcabouço geológico simplificado da Bacia do Parnaíba. Linha tracejada indica a localização da seção geológica da figura (d).
Notar o perfeito ajuste entre as estruturas indicadas nos mapas (a) e (b) com as estruturas maiores da bacia (Milani & Zalan 1999).
(d) Secção geológica da Bacia do Parnaíba (modificado de Góes et al. 1990, Góes & Feijó 1994).
262 • G e olog i a da B a hi a
264 • G eolog i a da B a hi a
a b
c d
e f g
Figura XIV.9 - Causas da gênese e localização dos rifts (adaptado de Van der Pluijm & Marshak, 1997). (a) Rifteamento sobre uma
pluma termal; (b) Rift desenvolvido no arco externo da flexura de uma placa oceânica em uma zona de subducção; (c) Rifteamento devido
ao estiramento de uma litosfera continental contendo uma zona de fraqueza (orógeno antigo); (d) Colapso gravitacional de
litosfera espessada em um orógeno; (e) Bacia pull-apart formada em zona de deflexão de uma falha transcorrente; (f) Extensão
em domínio de retroarco associada a uma zona de convergência e (g) Rifteamento na região de antepaís de um orógeno devido à
colisão de margens continentais irregulares.
266 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV.10 - Principias modelos de extensão litosferica: (a) o simétrico de McKenzie, (b) o assimétrico de Wernicke
e (c) o assimétrico com delaminação de Lister (Kearey et al. 2009).
(Zhao 2004, Maruyama et al. 2007). Nessas imagens, à compressão causada pelas orogenias laterais do
zonas mais e menos rígidas apresentam, respectiva- supercontinente. Neste momento, bacias flexurais,
mente, maiores e menores velocidades das ondas sís- intracratônicas e rifts passivos podem ser produzi-
micas P e S. dos, principalmente em zonas onde a litosfera esti-
ver mais fragilizada (mas não necessariamente onde
Inicialmente, a subducção dos slabs (Fig.XIV.12a) pro- estiver mais afinada). A contínua convergência dos
voca uma extensão litosférica passiva em resposta slabs frios para a descontinuidade D” causa o tampo-
namento térmico e composicional do limite Manto- Entre os principais resultados da presença dessas
-Núcleo da Terra (Fig.XIV.12b). plumas mantélicas estão as Grandes Províncias Íg-
neas (Large Igneous Provinces-LIP), cujas concentra-
Esse “cemitério” (graveyard) de slabs bloqueia e con- ções temporais entre 150-0Ma têm sido reportadas
centra a subida do material aquecido da base do man- por Ernst & Buchan (2001), a exemplo das Províncias
to, fazendo com que, após algum tempo de “digestão”, Magmáticas do Atlântico Central (Central Atlantic
uma quantidade apreciável de material armadilhado Magmatic Province-CAMP, May 1971) e Paraná-Eten-
e superaquecido suba na forma de jorros (as super- deka (Erlank et al. 1984, Bellieni et al. 1984). Essas
plumas quentes) (Fig.XIV.12c). Quando as cabeças de superplumas poderiam ser, portanto, o gatilho da
plumas (plume heads) alcançam a litosfera do super- quebra dos supercontinentes.
continente, os processos de rifteamento ativo se ins-
talam a partir de domeamentos litosféricos, com pos- Como a subida do material aquecido nem sempre
sibilidade de ampla produção de magmas dos tipos é constante, por vezes podem existir diferenças nos
alcalino, carbonatítico, tholeiítico e mesmo riolítico, tempos de chegada das cabeças de pluma na base da
a exemplo do que ocorre hoje no Grande Rift do Leste litosfera. Com isto pode haver modificações de forma,
Africano. de taxas de extensão, de fluxo térmico e de continui-
268 • G eolog i a da B a hi a
4 Evolução Tectônica da
Borda Atlântica da Bahia
Outro forte elemento controlador da formação das
bacias tipo rift seriam as estruturas herdadas do em-
basamento cristalino. Essa influência pode ser me-
lhor entendida quando a história evolutiva da mar-
gem atlântica do Estado da Bahia for contada (Fig.
XIV.14). Do Paleoproterozoico ao Mesoproterozoico,
Neoproterozoico e Fanerozoico, a evolução tectôni-
270 • G eolog i a da B a hi a
272 • G e olog i a da B a hi a
(b) (d)
Figura XIV.15 - Esquema tridimensional e fotografias de campo mostrando as relações espaciais dip-slip (a e b) e strike-slip (c e d) entre
as foliações principais (SP) e as lineações minerais (LX), das estruturas impressas pelas fases tectônicas que afetaram o Orógeno Itabuna-
Salvador-Curaçá. Notar em (b) as fraturas ortogonais às (LX). No esquema 3-D aparece a indicação da orientação das superfícies e lineações
mineral, em rede estereográfica igual-área, Schmidt-Lambert, no hemisfério inferior. As setas nos grandes círculos indicam a cinemática de
cada fase, ou subfase, tectônica (modificado de Corrêa-Gomes et al. 2005a, 2011).
Versfelt & Rosendahl 1989, Ring 1994, Delvaux et al. Valeriano et al. 2004, Corrêa-Gomes et al. 2005a, b,
1999, Modisi 2000, Modisi et al. 2000, McKenzie et al. Kosin 2009, Ferreira et al. 2009, Silva 2009, Corrêa-
2004). Outros autores consideram que esse controle -Gomes et al. 2011) que destacaram, entre outros as-
é menos importante e restrito a situações mais loca- pectos, o paralelismo entre as falhas de borda das
lizadas (Atekwana 1996, Versfelt & Rosendahl 1989, bacias e as orientações das foliações dos metamorfi-
Morley 1999, a,b). tos e lineações minerais do embasamento proximal.
Essa influência pode ser notada nas escalas regional
No caso das bacias do tipo rift baianas, a importân- e local.
cia de estruturas antigas nas suas construções e evo-
luções tem sido mencionada e discutida há algum Como reforço ao que foi anteriormente comentado,
tempo por vários autores (e.g. Milani & Davison 1988, em termos de análise em escala regional, Rodar-
Magnavita 1993, Rodarte & Coutinho 1999, Corrêa- te & Coutinho (1999) (Fig.XIV.16) mostram que, de
-Gomes 2000, Destro 2002, Destro et al. 2003a, b, Salvador até as proximidades da fronteira entre os
274 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV. 18 - Plotagem dos planos de falhas e fraturas – como grandes círculos e em campos de isodensidade de frequência em rede
estereográfica igual-área, hemisfério inferior, e em rosáceas de direções, intervalos de 10o . Os dados são para o embasamentos distal
(incluído (a) e retirando (b) os lineamentos orientados N40o-50o). (c) Embasamento proximal e pacotes sedimentares da Bacia do Almada
(Corrêa-Gomes et al. 2005a).
No caso das Bacias de Camamu (BC) e do Recôncavo Para as estruturas dúcteis (SP e LX) (Fig.XIV.22) uma
(BR), cujos limites oeste são orientados N00o, a in- notável concentração direcional pode ser observada
fluência das estruturas dúcteis, na forma da foliação próxima a NNE-SSW, sendo que para as (SP) os mer-
principal (SP) e lineação mineral (LX), do embasa- gulhos subverticais são quase igualmente distribuídos
276 • G e olog i a da B a hi a
para E e W, com uma pequena concentração sub-hori- verticais para suborizontais. O mesmo tipo de influ-
zontal; para as LX as orientações direcionais são para- ência pode ser notado para a parte sul da borda W do
lelas às (SP) com caimentos predominantes para NNE. Sistema de Bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá.
As principais conclusões tiradas dessa análise foram Também foi sugerida uma sequência temporal de
(Corrêa-Gomes et al. 2005a, Corrêa-Gomes et al. 2011): eventos para explicar a geração de diferentes siste-
mas de falhas pré- e sin-formação da Bacia de Cama-
(i) existe um notável paralelismo entre as estruturas mu (Fig.XIV.24):
planares dúcteis e rúpteis;
(1) para ter havido a exposição de litotipos da fácies
(ii) três tipos de padrões de fraturamento foram ob- granulito, uma camada de crosta de 20-30km deve
servados no embasamento, todos controlados pela ter sido removida; essa remoção pode ter ocorrido
trama/fábrica mineral das rochas, ortorrômbico, mo- lentamente e/ou ter sido acelerada pela presença de
noclínico e triclínico (Fig.XIV.23); anomalias termais, implicando um considerável re-
laxamento litosférico, cujo efeito sobre as rochas foi
(iii) não somente as foliações principais, principal- o de expandir descontinuidades mecânicas pré-exis-
mente as subverticais, mas também as lineações mi- tentes impressas nas tramas minerais dúcteis e nos
nerais, principalmente suborizontais, exerceram im- sistemas antigos de falhas,
portante papel na estruturação da bacia, e
(2 e 3) com (σ1) vertical, durante os eventos tectônicos
(iv) no concernente às lineações minerais, a sua im- cedo- a sinrifteamento, aconteceram duas fases de
portância no controle estrutural da bacia aumenta extensão ortorrômbica 3-D, com magnitudes de σ2≅σ3;
principalmente quando as foliações passam de sub- a primeira incentivando a produção e/ou reaprovei-
tamento de falhas, com cinemáticas normais pre- orientação do campo de tensão regional, com exten-
dominantemente, N-S e E-W e a segunda NNE-SSW sões regionais (σ3) acontecendo segundo orientações
e ESE-WNW – respectivamente paralelas a subpa- NW-SE, reativando falhas WNW-ESE, e NE-SW, reati-
ralelas e perpendiculares a subperpendiculares ao vando falhas NNE-SSW.
comprimento maior da (BC), com reativação-forma-
ção de falhas normais ortogonais às respectivas ex- As principais famílias de falhas do embasamen-
tensões, e to e das bordas da Bacia de Camamu são paralelas
a subparalelas à foliação principal (SP), subvertical
(4 e 5) com (σ1) horizontal, durante as fases mais do embasamento, N00°, e diagonais a esta, N45o e
avançadas de rifteamento, houve uma mudança na N120°. O fato de os mergulhos da (SP) serem subver-
278 • G eolog i a da B a hi a
ticais, tanto para E quanto para W, deve ter facilitado Quanto às tramas de fraturamento foram observadas:
a abertura da Bacia de Camamu. Uma combinação (i) a monoclínica e a triclínica, a mais frequente, que
entre a presença de falhas antigas, das orientações aparecem onde as relações entre superfícies S-C são
das extensões regionais E-W, NW-SE e NE-SW, e das menos estreitadas ou houve sobreposição de fases
tramas minerais do embasamento, deve ter facilita- de deformação, e (ii) a ortorrômbica que aparece em
do a geração de falhas N00o, N30o, N90o e N120o. Não zonas de cisalhamento de deformação muito intensa
somente as (SP) mas também as (LX) (principalmen- onde as (SP) e as (LX) tendem a se tornar paralelas.
te quando as (SP) são suborizontais) tiveram papel Foram geradas tanto estruturas planares paralelas,
importante na geração das falhas de borda da (BC). quanto ortogonais às (SP) e (LX).
b e
c f
Figura XIV.23 - (a), (b) e (c) Afloramentos da borda da Bacia de Camamu com tramas de simetria mineral (pseudo)ortorrômbica,
monoclínica e triclínicas, suas correspondentes tramas de simetria de fraturamento reais e os modelos idealizados 3-D de blocos fraturados
(d), (e) e (f). Nas fotografias e nos blocos idealizados, notar as relações espaciais entre as foliações principais – (SP) (representadas
no campo pelas superfícies C), as lineações de estiramento mineral - (LX) (indicadas pelas setas) e as famílias de falhas e fraturas
produzidas. As tramas de fraturamento tendem a acompanhar (SP) quando a mesma for vertical e as (LX) quando as (SP) são
horizontais(Corrêa-Gomes et al. 2011).
280 • G e olog i a da B a hi a
a b
Figura XIV. 25 - (a) Configuração geométrica dos principais domínios geológicos e embasamentos cristalinos das bacias tipo rift (modificado de
Destro, 2002). (b) Síntese das orientações dos principais lineamentos estruturais dúcteis e rúpteis do embasamento cristalino, e suas relações
geométricas com as bacias do tipo rift emersas do Estado da Bahia, destacadas em verde (modificado de Corrêa-Gomes, 2007).
282 • G eolog i a da B a hi a
formação com preenchimento de soluções ricas em mento crustal em bacias sedimentares, em decorrên-
sílica que sustentam o relevo (Fig.XIV.28). cia do aumento local do gradiente geotérmico (Fig.
XIV.27d) ou modelo de Lister et al. (1989). Nas situa-
Os três primeiros tipos de influência (i, ii e iii) têm ca- ções de bacias formadas tanto por cisalhamento puro
racterísticas crustais mais rasas e podem acabar se quanto por cisalhamento simples o afinamento crus-
associando entre si, quando a erosão dos blocos fa- tal pode estar ligado a superfícies de descolamento/
lhados acontece. Já os mais complexos envolvem a li- destacamento que afinam a crosta e facilitam a fusão
tosfera, o manto astenosférico e interações de placas parcial localizada, que pode conduzir a uma estoca-
tectônicas, com afinamento litosférico, estocagem de gem de magma (underplating) que induz a subida da
magma e um complexo jogo de distribuição de ten- crosta por empuxo.
sões, como nos casos:
(vi) descolamento do limite crosta-litosfera induzido
(v) da delaminação por fatiamento litosférico com por convecção do manto astenosférico (Fig.XIV.27e),
aquecimento e soerguimento relacionado ao afina- ou modelo de Edge Driven Convection de King & An-
c d
e f
Figura XIV.27 - Alguns dos fatores de influência na formação de relevos em bacias sedimentares (e mesmo em outros ambientes
tectônicos). (a) Erosão diferencial de pacotes sedimentares, (b) Ressalto elástico ligado à liberação de energia em blocos de falha. (c) Carga
de sedimentos e subsidência flexural, seta para baixo. (d) Soerguimento termal ligado a um aumento no fluxo térmico sublitosférico, seta
para cima, e underplating, (e) Descolamento crosta-manto devido à convecção astenosférica, com estocagem de magma. (f) Distribuição de
tensão intraplaca, com geração de zonas locais elevadas ou afundadas (maiores detalhes ver no texto).
derson (1998). Nas margens continentais existe uma ser acompanhado por magmatismo; posteriormente,
brutal diferença de espessura entre a litosfera con- com o arrefecimento termal a bacia pode passar por
tinental (mais espessa) e a litosfera oceânica (mais uma subsidência térmica e localmente afundar.
fina) nas proximidades da plataforma continental. As
correntes de convecção do manto astenosférico po- (vii) da distribuição de tensões intraplacas relacio-
dem causar o descolamento de parte da litosfera con- nada ao jogo de tensões regionais dentro de placas
tinental que tem como consequência a fusão parcial tectônicas bordejadas por outras placas (Fig.XIV.27f).
da cunha do manto, geração e estocagem de magma Este é o caso de placas continentais bordejadas por
sob a crosta continental (underplating). A diferença zonas de subducção ou em situações combinadas de
de densidade resultante gera um intumescimento limites convergentes e divergentes em diferentes po-
local, com consequente elevação do relevo que pode sições de uma placa continental. Esses tipos de influ-
284 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV. 29 - Quatro tipos principais de modos de falhamento/ No segundo aspecto, padrões geométricos de sistemas
fraturamento. O Modo I está relacionado às falhas-fraturas múltiplos das falhas são também quatro os modos de
extensionais; o Antimodo I, está ligado à juntas estilolíticas e
à dissolução por pressão, o Modo II é relativo à falhas-fraturas falhamento (Nieto-Samaniego 1999) (Fig.XIV.30):
de cisalhamento por deslizamento e o Modo III está ligado as
falhas-fraturas de cisalhamento com propagação em tesoura.
(i) padrão de falhas isoladas (Fig.XIV.30a), por produ-
Setas pretas = σ1, setas brancas = σ 3 e setas vermelhas = vetor de
propagação da fratura (modificado de Twiss & Moores 2007). ção de falhas ou reativação de falhas pré-existentes,
conforme o modelo de Bott (1959), sendo geradas por
deformações rotacionais bidimensionais ou tridimen-
de extensão (tipo T) e alivio (tipo A), às quais, quan- sionais e geração de slickenlines convergentes para
do preenchidas por carbonatos e quartzo, recebem o as interseções das falhas, isto é no sentido do σ2; e
nome de tension gashes. Se não há rotação, as falhas
produzidas são ortogonais ao tensor mínimo princi- (ii) padrão Coulomb ou conjugado (Fig.XIV.30b), no
pal (σ3); qual dois sets conjugados de falhas são produzidos
por deformação não-rotacional bidimensional, e um
- Antimodo I (anti-opening mode I), acontece por dis- dos planos de falha compensando o outro lateral-
solução por pressão (pressure solution) com a propa- mente, com geração de estrias convergentes para a
gação acontecendo ortogonalmente à compressão e interseção das falhas e também no sentido do σ2.
gerando estilólitos. Se não há rotação as falhas produ-
zidas são ortogonais ao tensor máximo principal (σ1). No entanto, padrões mais complexos podem ocorrer,
como os dos tipos:
Geralmente os Modo e Antimodo I podem acontecer
de maneira associada, tendo em vista que o material (iii) padrão ortorrômbico-romboédrico (Fig.XIV.30c),
que é dissolvido em um modo, pode se depositar em no qual se formam quatro sets de falhas com simetria
286 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIV. 30 - Ilustrações dos diferentes sistemas de fraturamento múltiplos (adaptado de Nieto-Samaniego 1999 e Corrêa Gomes et al. 2005a).
288 • G e olog i a da B a hi a
290 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV.34 - Plotagem em diagramas de rosetas de direção e mergulho e isodensidade de frequência polar-hemisfério inferior da rede
estereográfica igual-área de Schmidt-Lambert, das atitudes dos 33.635 planos de falhas do (SBRTJ) e do embasamento proximal.
Os valores percentuais equivalem ao número de medições por intervalo direcional de 10º em 10º .
292 • G eolog i a da B a hi a
294 • G eolog i a da B a hi a
mergulhando para N e NE. Por outro lado, não foram 8.2 Orientações dos Campos de Tensão
observadas falhas transcorrentes sub-horizontais
em quantidade apreciável, reforçando a ideia de que A partir do estudo dos marcadores cinemáticos dos
a maioria dessas falhas tem cinemática normal com planos de falha e utilizando métodos de inversão
alto rake. (programa FaultkinWin®, Almendinger 2001), um to-
tal de 358 medidções de orientação 3-D dos tensores
Os seguintes detalhes podem ser destacados para os principais dos campos de tensão foram obtidos para
sistemas de falhas do (SBRTJ) com relação às falhas o (SBRTJ).
totais, às falhas de cinemáticas normal e transcor-
rente. Em termos totais, as principais falhas se orien- A distribuição geográfica das orientações dos ten-
tam próximas aos eixos longitudinais das bacias, do- sores máximos principais por afloramento pode ser
minando aquelas orientadas NNE-SSW, NE-SW, E-W vista na figura XIV.39. Para o (σ1), as principais orien-
e ESE-WNW. Com relação aos mergulhos existe uma tações (Fig.XIV.40) ficaram próximas à N-S, NE-SW,
tendência majoritária para E e alternâncias de mer- E-W e NW-SW, ou seja, duas orientações são respecti-
gulho para SE, NW e NE. Com relação às inclinações vamente paralela e ortogonal ao comprimento maior
dos mergulhos existe um predomínio das falhas de da bacia e duas orientações são diagonais à mesma.
alto ângulo, porém algumas falhas de mergulho sua- Além disso, nota-se a presença de três grupos com
ve também podem ser percebidas. diferentes ângulos de caimento; um mais vertical, e
outro subvertical (espalhado ao redor do eixo verti-
Esse quadro aparece ligeiramente modificado quan- cal), ambos podendo estar associados a uma tectô-
do são separadas as falhas por cinemática. Para as nica gravitacional, e o terceiro mais horizontal, que
falhas normais, se destacam as orientadas N-S, NE- pode estar relacionado a uma tectônica transcorren-
-SW, E-W e ESE-WNW, com mergulhos de alto ângulo te. Uma análise mais apurada desses caimentos indi-
para E e SE, porém falhas sub-horizontais podem ser ca que as concentrações mais verticais estão em NE,
destacadas. Para as falhas de cinemática transcor- SE e NW, enquanto que as concentrações com menor
rente, as orientações principais têm um leve giro para caimento estão em N-S e NNE-SSW.
NNE-SSW, mantendo as orientações NE-SW, E-W e
ESE-WNW, com mergulhos verticalizados com cai- A distribuição geográfica das orientações dos tenso-
mento para E e SE, e menos frequentemente para N, res intermediários principais por afloramento pode
NE, SW e NW. É portanto notável a presença de falhas ser vista na figura XIV.41. Para o σ2 (Fig.XIV.42) foram
transcorrentes paralelas ao comprimento maior das notadas orientações próximas a N-S, NE-SW e NW-
bacias, quando o esperado seria o da presença predo- -SE. Normalmente, as orientações do σ2 são parale-
minante de falhas normais. las à linha de interseção dos planos conjugados de
296 • G e olog i a da B a hi a
298 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIV.46 - Diagramas de rosetas de direção e de isodensidade de frequência de caimento, hemisfério inferior da rede estereográfica
igual-área Schmidt-Lambert, para as 46 medições dos tensores máximos e mínimos principais (σ1) e (σ3) da subárea 2, porções sul e central
da Bacia de Tucano, do (SBRTJ) e do embasamento proximal.
Figura XIV. 47- Diagramas de rosetas de direção e de isodensidade de frequência de caimento, hemisfério inferior da rede estereográfica
igual-área Schmidt-Lambert, para as 87 medições dos tensores máximos e mínimos principais (σ1 e σ3) da subárea 3, porções central e
norte da Bacia de Tucano, do (SBRTJ) e do embasamento proximal.
300 • G e olog i a da B a hi a
Para a Bacia de Jatobá, subárea 4, com 130 medições -SE, cujas orientações podem estar ligadas à geração
(Fig.XIV.48), as principais orientações do (σ1) são NW- de falhas transcorrentes-transferentes.
-SE, NE-SW e N-S, com caimentos verticais, subver-
ticais, ao redor do eixo vertical, e horizontal (notada- Quanto às situações de variação nas orientações es-
mente aqueles oientados N-S e WNW-ESE). Os tenso- paciais dos tensores (σ1) e (σ3), e nos seus caimentos,
res mínimos ficam orientados NNW-SSE (ortogonais algumas dessas podem ser vistas na figura XIV.49: (i)
à orientação da bacia) e dispersos secundariamente combinação de orientações de tensores de falhas nor-
em orientações N-S, NE-SW, E-W e NW-SE, com cai- mais coevas com falhas transcorrentes-transferentes
mentos horizontais e sub-horizontais. (transfer faults); (ii) presença de falhas-mestras nor-
mais produzindo falhas gravitacionais de alívio (rea-
Em síntese, como já havia sido antecipado nos dados lese faults Destro, 2002; Destro et al. 2003a, b) e até
gerais de tensores do (SBRTJ), os seguintes aspectos mesmo reversas; (iii) mudança no ambiente tectônico,
podem ser destacados no que diz respeito às orien- de gravitacional para transcorrente; (iv) rotação e im-
tações e caimentos dos tensores máximo e mínimo bricação de blocos de falhas no avanço da extensão
principais nas diferentes subáreas. Quatro orienta- da bacia, e (v) posição diferente do nível de erosão de
ções podem ser separadas em relação ao compri- blocos de falha relacionados à falhas lístricas mes-
mento maior das subáreas estudadas: (i) uma pa- tras.
ralela e outra ortogonal, fortemente indicando uma
extensão ortorrômbica 3-D, ligada possivelmente a Os sistemas de falhas longitudinais e transversais (fa-
sistemas de falhas ortogonais normais, cujos strikes lhas de transferência e de alívio) e suas relações com
são paralelos ao comprimento maior da bacia (falhas os campos de tensão operantes na formação das ba-
longitudinais) e ortogonais à bacia (falhas transver- cias serão itens mais profundamente discutidos mais
sais), e (ii) duas diagonais, orientadas NE-SW e NW- adiante no texto.
302 • G e olog i a da B a hi a
304 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV.53- Orientações e cinemáticas das falhas transferentes (a) e de alívio (b) em relação às falhas mestras geradoras
assim como o posicionamento espacial dos tensores principais em cada situação, as falhas mestras e as transversais não necessariamente
são ortogonais. c) Bloco diagrama ilustrando as relações espaciais entre a falha mestra, as falhas de alívio, as orientações dos pacotes
sedimentares e os tensores principais (Destro 2002, Destro et al. 2003a, b). Notar que até mesmo falhas reversas podem ser produzidas
nesse tipo de situação (D).
306 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIV.54 - (a) Complexas possibilidades de: sistemas, arranjos espaciais, cinemáticas de falhas e orientações de extensões regionais
e locais dentro de uma bacia tipo rift. (b) Orientações espaciais, em rede estereográfica igual área, dos tensores principais máximo (σ1),
intermediário (σ2) e mínimo (σ3) para os diferentes tipos de falhas observados na situação (a). (c) Magnitudes relativas dos tensores e
enquadramento nos domínios de falhas transferentes e de alívio.
Figura XIV.55 - (a) Plano de falha transversal, posição das estrias para falhas transferentes (cinemática strike-slip), híbridas e de alívio
(cinemática dip-slip). b) Disposição espacial para as falhas longitudinais em situação de σ1 = σ2>σ3. (c) Disposição espacial de falhas
longitudinais e transferentes em situação de σ1> σ2> σ3. (d) Disposição de falhas longitudinais e de alívio em situação de σ1> σ2 = σ3.
308 • G e olog i a da B a hi a
310 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV.59 - (a) Falha longitudinal N10o do Morro de São Paulo, afetando a Formação Sergi. Em destaque, o formato curvo do plano
de falha, a escala representada pela pessoa aponta para norte. (b) O caráter polifásico da falha é marcado pela sobreposição de estrias e
degraus com alternância de cinemáticas dextral-normal (DN, fase mais antiga) e sinistral-normal (SN, fase mais recente).
312 • G eolog i a da B a hi a
11 Considerações Finais
Dentro do que foi exposto nos ítens anteriores, pode-
-se concluir que as histórias evolutivas das bacias pa-
b
leozoicas e mesozoicas do Estado da Bahia apresen-
tam uma gama variável de quantidade e qualidade de
dados interpretativos. Isto se deve, principalmente, ao
interesse econômico sobre as mesmas e às suas pro-
ximidades maiores ou menores dos centros mais den-
samente povoados. Seja como for, existe um par-e-
-passo nessas histórias que começam no Paleozoico,
na Bacia do São Francisco, e nos rudimentos iniciais
da formação da Grande Depressão Afro-Brasileira, no
que seria o protótipo das bacias paleozoicas e do tipo
rift mesozoicas.
Figura XIV.61 - Sistema de falhas transversais N120o/80oNE
afetando o embasamento proximal da Bacia de Camamu, próximo
da cidade de Valença (a). Acima à esquerda, visão geral do
afloramento com aproximação do plano de falha e estrutura em 11.1 Início do Afinamento Litosférico
colher (b) indicando cinemática mais antiga normal-sinistral
(NS), com sobreposição (c) de degraus e estrias indicativos de
Lembrando do supercontinente Pangea, rodeado por
cinemática sinistral, ligeiramente reversa (S).
inúmeras zonas de subducção (Fig.XIV.63), a ideia de
uma extensão reflexa passiva intraplaca deve ter mar-
cado os primórdios de formação de bacias intraplaca
em locais onde a crosta se encontrava mais fragilizada.
A enorme quantidade de slabs, afundando sob o super-
continente pode ter propiciado a deposição dos mes-
mos, no limite Manto-Núcleo, causando um tampona-
mento térmico nas proximidades da descontinuidade
D”, com acúmulo e represamento anormal de material
quente (Zhao 2004, Maruyama et al. 2007). A quebra
de um supercontinente não é uma tarefa fácil, necessi-
tando de alguma mudança enérgica nas condições di-
Figura XIV.62 - Plano de falha polifásica transversal N40o/80oNW, nâmicas da Terra. Possíveis candidatas a responsáveis
em afloramento da Formação Sergi fluvial anterior à ponte do por estas mudanças seriam grandes anomalias ter-
Funil, Ilha de Itaparica, com estrias e degraus relacionados à
cinemática normal-sinistral, parcialmente obliteradas por estrias mais (superplumas?) que acelerariam as velocidades
e degraus relacionados à cinemática dextral-normal. de convecção mantélica, e por consequência possibi-
litariam a ruptura supercontinental. As profundidades hen (1985), Szatmari et al. (1985, 1987), Ussami et al.
de formação e as características físico-químicas dessas (1986), Castro Jr. (1987), Milani (1987), Milani & Davi-
avaliações são ainda motivo de discussão (Anderson son (1988), Bedregal (1991), Chang et al. (1992), Mag-
2007, Yuan et al. 2007, Foulger 2010). Os modelos de navita (1992), Matos (1992), Françolin et al. (1994),
anomalias termais coevos a, e como causa de ruptura, Aragão (1994, 1995, 1999), Aragão & Peraro (1994),
continental e de processos de rifteamento são clara- Magnavita et al. (1994), Destro (1995, 2002), Destro
mente visíveis no Grande Rift Este Africano. et al. (2003 a, b), Vasconcellos (2003), Silva (2009),
Corrêa-Gomes et al. (2005a, b, 2011).
11.2 Modelos de Formação de Bacias Tipo Dentre estes autores, os principais modelos tectôni-
Rift cos propostos para explicar um rift clásico (tal como
o Rift Recôncavo-Tucano-Jatobá) são: (i) o modelo de
Por outro lado o modo como a litosfera sofreu exten- descolamento (Ussami et al. 1986), (ii) o modelo de
são e evoluiu para a formação das bacias do tipo rift descolamento duplo (Castro Jr. 1987), (iii) o modelo
permanece em debate. de cantilever flexural (Magnavita et al. 1994), (iv) o
modelo da microplaca (Szatmari et al. 1985, Milani
Vários autores destacaram os aspectos tectônicos as- 1987, Milani & Davison 1988), (v) o modelo do mega-
sociados à formação e à evolução das bacias do tipo -cisalhamento (Cohen 1985), e (vi) o modelo de riftea-
rift baianas, entre eles, Asmus & Guazelli (1981), Co- mento duplo (Magnavita 1992).
314 • G e olog i a da B a hi a
Os modelos de Ussami et al. (1986) e Castro Jr. (1987) epicentros de terremotos como observado na porção
(Figs.XIV.64, XIV.65) reforçaram a possibilidade da NE do Grande Rift Este Africano (Kearey et al. 2009)
existência de superfícies simples ou múltiplas de des- (Fig.XIV.66).
colamento-destacamento (decollement-detachment)
na base dos sistemas de rift Recôncavo-Tucano-Jato- Magnavita et al. (1994) propuseram a geração dos
bá e litorâneo, com afinamento litosférico local e su- rifts do Recôncavo e de Tucano Norte por mecanismo
bida do manto astenosférico. Esses modelos tentam de cisalhamento puro usando o modelo de cantilever
explicar também o porquê da forma assimétrica dos flexural (Fig.XIV.67), no qual a assimetria das bacias
rifts, tendo em vista que estes teriam sido produzidos se deveria ao rejeito diferencial, com provável parti-
por um mecanismo de cisalhamento simples com cipação da carga de sedimentos, entre as falhas que
alguma contribuição de delaminação. É importante contornam as mesmas. Nesse modelo não foi men-
sublinhar que superfícies de destacamento podem cionada a possibilidade da existência de superfícies de
ser denunciadas pela localização e concentração de destacamento associadas à extensão da bacia.
316 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIV.66 - Padrões de sismicidade associados à extremidade NNE do Grande Rift Este Africano. (a) Distribuição dos epicentros
dos terremotos e localização da seção A-A’. (b) Seção com os hipocentros dos terremotos alinhados segundo superfícies sub-horizontais
(Kearey et al. 2009).
Nos modelos de Cohen (1985), Szatmari et al. (1985), cias quanto esse descompasso rotacional teriam sido
Milani (1987), Milani &Davison (1988), a geometria do fortemente influenciados por anisotropias mecânicas
sistema de rift é influenciada pela interação de micro- pretéritas do embasamento das bacias sedimentares.
placas e polos de rotação de placas tectônicas e gera-
ção e/ou reativação de megazonas de cisalhamento Por sua vez o modelo de rifteamento duplo (Magnavi-
simples e conjugadas, devido ao descompasso de ro- ta 1992) propõe que o Rift Recôncavo-Tucano-Jatobá
tação entre as placas sulamericana e a africana, du- se abriu segundo dois estágios principais de extensão,
rante a abertura do Atlântico Sul (com efeitos já dis- o primeiro E-W e o segundo WNW-ESE, também se
cutidos no item anterior). Tanto a geometria das ba- subordinando aos ajustes nas taxas de extensão e de
318 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIV.68 - Mapas geológicos simplificados com os três principais compartimentos temporais das bacias tipo rift baianas
(pré-, sin- e pós-rift), com as orientações das extensões E-W (a) e N-S (b). O (σ1) é vertical.
(SBRTJ). Esse detalhe tornou possível supor que asso- dinais quanto as transversais, começam com estrias
ciada às extensões transversais do rift poderia ter ha- de alto rake, ao passo que nas reativações, os rakes
vido também uma extensão longitudinal de tal mon- são de menor inclinação. Nota-se que posteriormente
ta que permitiria uma dilatação ortorrômbica local, mesmo as falhas longitudinais passam a ter cinemá-
contemplando com cinemática dip-slip, tanto para as tica transcorrente dominante.
falhas mestras longitudinais quanto para as de alívio
transversais. A julgar pela quantidade de falhas de Estes dados devem ser cruzados com aqueles de uma
alívio identificadas é provável que esta extensão lon- situação mais típica de falhas em bacias tipo rift.
gitudinal seja mais importante do que o previamente Nesta situação o quadro seria de falhas longitudinais
suposto para bacias tipo rift. normais, com estrias de alto rake, e falhas transver-
sais transcorrentes, com estrias de baixo rake. A iden-
Agora é importante que sejam retomadas as observa- tificação de falhas de alívio permitiu incorporar a este
ções de campo sobre as cinemáticas das falhas com- quadro falhas transversais normais com estrias de
ponentes do (SBRTJ). O que se nota é que, nos casos alto rake. Portanto falhas longitudinais normais e fa-
de reativação de planos de falhas tanto as longitu- lhas transversais transcorrentes e normais estão bem
320 • G eolog i a da B a hi a
inseridas neste contexto. Mas qual o significado das Tendo em vista: (i) a distribuição geográfica das orien-
falhas longitudinais transcorrentes? Uma explicação tações dos tensores principais (máximo e mínimo)
poderia estar no tipo de modo de falhamento com- nas Bacias de Camamu, Recôncavo, Tucano e Jatobá,
plexo de Nieto Samaniego & Alaniz-Alvarez (1997) (ii) Separação das formações classicamente em su-
para falhas reativadas cujos deslizamentos (e conse- persequências pré-, sin- e pós-rift e (iii) a história de
quentemente as estrias) acompanhariam as interse- abertura da Bacia de Jatobá é um pouco diferente das
ções sub-horizontais dos planos de falha produzidos outras. As duas primeiras (Figs.XIV.68, XIV.69) mos-
pela tectônica gravitacional. Sendo assim, os blocos tram as orientações dos (σ3) (extensões) horizontais
de falha, ao serem reativados durante a extensão das para situações de (σ1) vertical a subvertical (tectôni-
bacias deslizariam e se acomodariam segundo linhas ca gravitacional). Na figura XIV.70, são mostradas as
de baixo caimento, causando as estrias strike-slip em orientações com (σ1) e (σ3) horizontais a sub-horizon-
falhas longitudinais e transversais. A outra é que te- tais (tectônica transcorrente). Pode-se notar que não
ria havido uma tectônica transcorrente importante no há uma separação ideal de orientações dos tensores
final, ou mesmo após, o rifteamento. máximo e mínimo nas formações de diferentes ida-
322 • G eolog i a da B a hi a
c d
Figura XIV.71 - (a) Mapa de anomalia Bouguer para a região nordeste do Brasil, com destaque para os baixos gravimétricos que contornam
os Sistemas de Bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá, e Potiguar-Araripe (em azul)(Oliveira, 2008). (b) Disposição espacial dos alinhamentos
estruturais das bacias tipo rift do NE do Brasil. (c)Simplificação dos alinhamentos estruturais na forma das linhas pretas.
(d)Possível interpretação tectônica para as geometrias dos dois sistemas de bacias. A linha amarela marca o limite sugerido, crosta
continental-crosta oceânica. A conformação dos dois sistemas de bacias sugere que ambos podem ter-se comportado como uma
combinação entre bacias sigmoidais pull-apart e um par paralelo concorrente de propagação. Sua geometria final assimétrica,
se deveu a um cisalhamento regional, que impôs cinemáticas sinistrais à planos orientados E-W, e dextrais à planos orientados N-S.
Setas pretas = vetor máximo de tensão horizontal (SHMAX), setas brancas= vetor mínimo de tensão horizontal (SHMIN).
(SBRTJ)=Sistema de Bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá, SBPA=Sistema de Bacias Potiguar-Araripe.
324 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIV.72 - Representação esquemática em blocos- diagramas, do quadro evolutivo tectônico para o (SBTRJ). (a)Tectônica gravitacional
com extensão ortorrômbica N-S/E-W. (b) Tectônica gravitacional com extensão ortorrômbica NW-SE/NE-SW. (c)Tectônica transextensiva
com compressões NW-SE/NE-SW. São ressaltadas as superfícies de destacamento, a geometria assimétrica das bacias, as posições de
possíveis fontes magmáticas, o magmatismo fissural, as variações de posição dos depocentros e as orientações dos tensores principais
máximos (σ1= setas pretas) e mínimos (σ3= setas brancas) de cada fase tectônica. Os prolongamentos das falhas transversais são
exagerados para melhor visualização das suas posições espaciais.
1 Introdução
A Bahia é um estado com uma das maiores extensões da margem continental brasileira, englobando diversos
segmentos associados a bacias sedimentares com características geológicas distintas e com diferentes graus de
conhecimento do potencial exploratório (p.e. Asmus 1984, Mohriak 2003). As bacias sedimentares ocorrem em
segmentos da margem com diferentes extensões litorâneas (Fig.XV.1): (i) extensão litorânea de cerca de 100km a
NE de Salvador (Bacia de Jacuípe, situada a sul da Bacia de Sergipe); (ii) 70km a SW de Salvador (Bacia de Cama-
mu); iii) 120km de plataforma estreita na direção NE (Bacia do Almada); (iv) mais 170km na direção NW-SE até o
alto vulcânico de Royal Charlotte (Bacia de Jequitinhonha); e (v) cerca de 100km na reentrância batimétrica entre
Royal Charlotte e a Plataforma de Abrolhos (Bacia de Cumuruxatiba). A Plataforma de Abrolhos estende-se por
230km entre a Bahia e Espírito Santo, estando caracterizada na parte norte pela Bacia de Mucuri, em território
baiano. Nesta bacia destaca-se a Ilha de Santa Bárbara, situada no Arquipélago de Abrolhos, onde foi perfurado
o primeiro poço estratigráfico na plataforma continental baiana, em 1958 (Fig.XV.1). Na região de crosta oceânica
destacam-se vários montes submarinos, como Sulphur, Hotspur e os montes submarinos da Bahia alinhados na
direção NW.
O principal objetivo deste trabalho é sintetizar e discutir algumas dessas feições à luz de novos conceitos geo-
lógicos, advindos da interpretação da região de águas profundas e ultraprofundas, apresentando-se dados ge-
ológicos e geofísicos em mapas regionais obtidos através de informações de domínio público, integradas com
resultados da perfuração de poços exploratórios pela Petrobras e outras companhias de petróleo. Também
são abordados alguns aspectos da geologia de petróleo da região submersa do Estado da Bahia, destacando-
-se os vários dados geoquímicos obtidos durante as atividades exploratórias e que constam do banco de dados
disponibilizado publicamente pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Vários blocos nas bacias da margem
continental baiana têm sido ofertados em diversos leilões da ANP, sendo aqui resumidos os principais resultados
desse esforço exploratório pela Petrobras e outras companhias até o ano de 2009.
M a rg em Co n t i n ental • 327
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M a rg em Co n t i n e ntal • 329
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M a rg em Co n t i n e ntal • 337
O preenchimento das bacias sedimentares da mar- A evolução sequencial do Atlântico Sul, em sua mar-
gem continental sul da Bahia (Mucuri, Cumuruxa- gem divergente, é marcada por cinco fases principais,
tiba e Jequitinhonha) é bastante semelhante entre com diferentes padrões de tectônica e sedimentação
si, caracterizando-se por um estilo retrogradacional (Cainelli & Mohriak 1998, Cainelli & Mohriak 1999b).
durante o Neocretáceo, com ambiente de deposição A primeira fase (Fig.XV.5a) é marcada pelo início de
marinho profundo, seguido por uma progradação processos extensionais, que subsequentemente leva-
geral no Terciário, com feições de offlap nas sequên- ram à separação entre os continentes sulamericano e
cias sismo-estratigráficas, e vários cortes de cânions africano. O modelo conceitual para esta fase admite
(Cainelli & Mohriak 1998). No início da sedimentação um pequeno soerguimento astenosférico, e um afi-
marinha ocorrem silissiclásticos e carbonatos neríti- namento litosférico regionalmente distribuído, com
cos do Grupo Barra Nova (respectivamente Formação falhas incipientes na crosta superior controlando
São Mateus e Formação Regência), depositados entre o depocentros locais associados a uma deposição sedi-
Albiano e o Cenomaniano (Santos et al. 1994, França et mentar ampla e pouco espessa
al. 2007, Rangel et al. 2007, Rodovalho et al. 2007). No
Cretáceo Superior e no Terciário Inferior ocorrem de- O início da fase seguinte, que se caracteriza por um
pósitos transgressivos de talude e bacia, representados aumento do estiramento litosférico, coincide com a
por pelitos e arenitos finos da Formação Urucutuca. A extrusão de lavas basálticas, logo seguida por gran-
partir do Eoceno, instala-se na bacia uma fase marinha des falhas afetando a crosta continental, e resultando
regressiva, com fácies litorâneas e plataformais pro- na formação de semigrabens (Fig.XV.5b), preenchidos
gradantes associadas a um sistema de leques aluviais por sedimentos continentais lacustrinos (Neocomia-
(Formação Rio Doce) e carbonatos de plataforma (For- no-Barremiano). Ao final do episódio de rifteamento,
mação Caravelas) que gradam para folhelhos batiais há um novo aumento da extensão litosférica, mar-
338 • G e olog i a da B a hi a
M a rg em Co n t i n ental • 339
340 • G e olog i a da B a hi a
O mapa de anomalia magnética do campo total (Fig. O Complexo Vulcânico de Royal Charlotte constitui o
XV.9) indica massas magnéticas próximas do limi- limite entre as Bacias de Cumuruxatiba e Jequitinho-
te crustal na região da junção tríplice de Salvador nha. Na região nordeste brasileira destacam-se ainda
(Blaich et al. 2008). Observa-se também que ocorrem vários lineamentos E-W e NW-SE ao largo das Bacias
marcantes anomalias magnéticas de direção leste- da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco-Paraíba.
-oeste a sul de Salvador. Essas feições estão associadas a montes submarinos
M a rg em Co n t i n e ntal • 341
Figura XV.6 - (a) Mapa topobatimétrico com imagem de satélite da margem continental do Estado da Bahia. (b) Mapa de relevo com
localização do limite crustal na margem continental .
342 • G eolog i a da B a hi a
M a rg em Co n t i n e ntal • 343
Figura XV.10 - Interpretação de mapas regionais de topobatimetria e anomalia gravimétrica na margem continental do Estado da Bahia.
344 • G e olog i a da B a hi a
e cones vulcânicos, cuja datação radiométrica posi- de métodos potenciais (Bassetto et al. 1996, Mohriak
ciona o magmatismo no neocretáceo (Cherkis et al. et al. 2000, Blaich et al. 2008).
1989).
Os dados de anomalia ar-livre mostram uma faixa de
Algumas das feições mencionadas são analisadas em anomalias gravimétricas positivas (até 80mGal) na
linhas sísmicas regionais representativas das Bacias região da quebra da plataforma continental da mar-
de Jacuípe, Camamu, Almada, Jequitinhonha, Cumu- gem leste, bem como um acentuado decréscimo da
ruxatiba e Mucuri (Fig.XV.11). anomalia gravimétrica até o limite distal dos blocos
de rift e transição para a crosta oceânica (Karner &
2.3.1 Interpretação Geológica e Geofísica de Driscol 1999, Blaich et al. 2008). Essa variação coin-
Feições Crustais cide com a ocorrência de feições antiformais na base
da crosta, provavelmente relacionadas ao acentuado
A anomalia gravimétrica na região do sistema de rifts afinamento litosférico e consequente subida do man-
intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá é for- to, ou ao aprisionamento de material ultrabásico na
temente negativa, indicando uma ausência de com- crosta inferior (underplating), constituindo um corpo
pensação mantélica para o depocentro sedimentar de velocidade sísmica anômala (Furlong & Fountain
(Ussami et al. 1986, Milani 1991). Nesse caso, não se 1986, Mohriak et al. 1990).
observa uma subida da Moho (descontinuidade sís-
mica na base da crosta) que é marcante na região das Em algumas bacias a subida da descontinuidade de
bacias marginais do nordeste brasileiro, onde o afina- Mohorovicic coincide com a falha de borda dos rifts
mento crustal é bem calibrado por dados sísmicos e marginais (Mohriak et al. 1990, Meisling et al. 2001),
M a rg em Co n t i n ental • 345
346 • G eolog i a da B a hi a
Figura XV.12 - Linhas sísmica com resolução profunda 239-341 (Bacia de Jacuípe, próximo da divisa com Bacia de Sergipe), com modelo
gravimétrico e perfil de anomalia Bouguer superposta. Observar notáveis feições de refletores mergulhantes para o mar e descontinuidade
de Moho em torno de 9s de tempo de trânsito duplo, abaixo da cunha de SDR. Modificado de Mohriak et al. (1998).
M a rg em Co n t i n ental • 347
Figura XV.13 - Seção sísmica interpretada 232-141 (Bacia de Jacuípe) com anomalias Bouguer e magnética (campo total) superpostas.
Observar provável intrusão ígnea associada à falha transformante de direção aproximada leste-oeste. A transição entre crosta continental
e oceânica é marcada por feições compressionais, com notável arqueamento do embasamento e da sequência sedimentar, provavelmente
associado a underplating e intrusões ígneas. Mohriak (1998).
348 • G e olog i a da B a hi a
dual para o manto superior, com as falhas descolando ção de crosta oceânica (Mohriak et al. 1995, Mohriak
próximo da descontinuidade Moho, e com material íg- et al. 2000). Na direção da crosta oceânica também
neo acrescido na base da crosta (underplating). ocorrem refletores com mergulho na direção do con-
tinente, provavelmente relacionados a focos magmá-
Alternativamente, esses fortes refletores sísmicos ticos que afetam a parte superior do embasamento
na crosta transicional poderiam estar relacionados vulcânico, notadamente ao longo de zonas de fraturas
com contrastes de impedância entre tipos litológicos (Mohriak & Rosendahl 2003).
distintos, com uma transição para gabros e outras
rochas de crosta inferior, ou para peridotitos ser- Refletores sísmicos profundos, bastante proeminen-
pentinizados do manto superior (Mohriak et al. 1990, tes, são observados na parte inferior de uma seção
Meissner 2000). Conforme sugerido por Mohriak et al. sísmica processada recentemente em profundida-
(1995) para a Bacia de Sergipe-Alagoas, o sistema de de na Bacia de Camamu (Fig.XV.15). Esses refletores
refletores sísmicos na base da crosta atinge entre 9s a profundos, atribuídos por alguns autores à desconti-
10s (tempo de trânsito duplo) na região da plataforma nuidade intracrustal de Conrad (Caixeta et al. 2009,
e talude, e alcança cerca de 8 a 9s (tempo de trânsi- Zalán et al. 2009) aparentemente marcariam a tran-
to duplo) na região de águas profundas, onde ocorre sição de uma crosta média a inferior, composta por
amalgamento com refletores da descontinuidade de rochas granulíticas do embasamento précambria-
Mohorovicic em crosta oceânica. Localmente obser- no, com assinatura sísmica mais transparente, para
va-se também uma zona de transição marcada por uma crosta inferior mais refletiva, com topo entre 10
refletores mergulhantes para o mar, interpretados e 13km, e exumação do manto na direção da crosta
como rochas vulcânicas formadas durante a incep- oceânica, com a descontinuidade de Moho subindo de
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350 • G eolog i a da B a hi a
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Figura XV.15 - Seção sísmica interpretada com modelo geodinâmico de exumação do manto proposto para a Bacia de Camamu.
Modificado de Caixeta et al. (2009).
352 • G eolog i a da B a hi a
Figura XV.16 - Seção sísmica interpretada na Bacia do Almada, mostrando estruturação halocinética em águas profundas. Um poço
exploratório além da quebra da plataforma constatou uma espessa sequência de rochas siliciclásticas do Aptiano Superior, com niveis de
evaporitos (halita) intercalados na porção basal. Mohriak (2003).
M a rg em Co n t i n ental • 353
A região de águas profundas apresenta notáveis fei- Segmentos da margem continental caracterizados
ções compressionais associadas à tectônica gravita- por reentrâncias ou concavidades na bacia evapo-
cional envolvendo sal (Mohriak & Nascimento 2000, rítica apresentam um fluxo convergente de sal, na
Davison 2005). direção do centro do arco, sendo comuns estruturas
compressionais, como empurrões e gotas de sal (Co-
A tectônica salífera, particularmente na região de bbold & Szatmari 1991). Nas bacias da margem leste,
diápiros e muralhas de sal, resultou em depressões particularmente em Cumuruxatiba e Jequitinhonha,
acentuadas, formando calhas de subsidência, grábens destacam-se notáveis feições compressionais, repre-
de evacuação e mini-bacias, nas quais se empilharam sentadas por falhas de empurrão com vergência para
sucessivamente diversos sistemas turbidíticos. Estes o mar (Mohriak & Nascimento 2000, Caixeta et al.
depósitos de águas profundas amalgamaram-se ver- 2008, Menezes & Milhomem 2008).
ticalmente e coalesceram lateralmente, em função do
fluxo do sal, resultando em cunhas espessas que, por 3.2.4 Bacia de Cumuruxatiba
vezes, apresentam inversão de depocentros, numa
estrutura associada ao chamado efeito gangorra, A Bacia de Cumuruxatiba localiza-se em porções
causado por movimentação halocinética entre diápi- emersas e submersas da margem leste brasileira,
ros adjacentes (Mohriak & Szatmari 2008). no extremo sul do Estado da Bahia, abrangendo uma
área total de 21.000km2 . Sua porção emersa estende-
A movimentação do sal iniciou-se no Neoaptiano/Eo- -se ao longo do litoral, entre as cidades de Alcobaça
albiano, dando origem a uma série de falhas lístricas e Porto Seguro, compreendendo uma área de aproxi-
que se propagam para a seção sedimentar mais nova. madamente 7.000km2, onde ocorrem apenas rochas
A estruturação resultante da halocinese é complexa, sedimentares terciárias, dispostas sobre o embasa-
com desenvolvimento de almofadas de sal, cascos mento precambriano (Santos et al. 1994, Menezes &
de tartaruga, diápiros de sal, muralhas de sal, falhas Milhomem 2008). A parte submersa possui uma área
extensionais e compressionais (Fig.XV.18). A tectônica de 9.000km2, até a lâmina d’água de 400m. A parte
de sal, associada com sobrecarga diferencial devido de águas profundas, com lâmina d’água entre 400 e
à progradação sedimentar, também controla a for- 2.500m, possui área aproximada de 5.000km2. A Bacia
mação de depocentros sedimentares em calhas re- de Cumuruxatiba encontra-se circundada pelos ban-
354 • G eolog i a da B a hi a
Figura XV.18 - Seção sísmica interpretada na Bacia de Jequitinhonha, alcançando o limite do sal em águas profundas. Mohriak (2003).
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Figura XV.20 - Seção geológica regional esquemática na Bacia de Cumuruxatiba. Modificado de Menezes & Milhomem (2008)
(consoante Rodovalho et al. 2003).
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Figura XV.22 - Seção sísmica regional na região do Complexo Vulcânico de Abrolhos (Bacia de Mucuri) mostrando feições compressionais
e canal aprofundado próximo do banco submarino Besnard. Modificado de Mohriak (2003).
358 • G e olog i a da B a hi a
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a b
Figura XV.24 - (a) Vista geral do Arquipélago de Abrolhos, com a ilha de Santa Bárbara alongada na direção leste-oeste e as ilhas Redonda
(esquerda, inferior), Siriba (centro, a sul da Ilha Redonda) e Sueste (extremo direito da foto). (b) Afloramento da Ilha de Santa Bárbara,
cujo topo é capeado por basaltos de idade eoterciária. Observa-se, nesta ilha, uma espessa sequência de arenitos maciços, com geometria
externa lobada, intercalados com camadas de ritmitos (siltitos). Localmente registram-se prováveis depósitos de fluxos hiperpicnais e cortes
de canais submarinos preenchidos por conglomerados e arenitos de granulometria grossa.
360 • G e olog i a da B a hi a
Figura XV.25 - Imagem de satélite da Bacia de Camamu com mapa de localização do campo de gás de Manati. Fonte: ANP 2009.
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Figura XV.26 - Seção geológica esquemática entre o campo de Manati e um poço em águas profundas.
Modificado de Menezes & Milhomem (2008) consoante Chiossi et al. (2003)
362 • G eolog i a da B a hi a
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364 • G e olog i a da B a hi a
1 Introdução
No litoral do Estado da Bahia, de modo quase contínuo, ocorrem depósitos relacionados à Formação Barreiras,
que são bem expostos ao longo de inúmeras falésias e cortes de estrada (Fig.XVI.1). Estes depósitos têm impor-
tância histórica por se constituírem no primeiro relato de uma unidade geológica em território brasileiro, feito por
Pero Vaz de Caminha em carta ao rei de Portugal, em 1500. A extensa área de ocorrência da Formação Barreiras
ao longo da costa brasileira, desde o Rio de Janeiro até o Amapá, faz deste o registro sedimentar exposto mais
importante do Mioceno no Brasil. Seu estudo é, portanto, de grande interesse para a reconstituição de eventos
geológicos miocênicos do continente sulamericano.
Dada sua extensa faixa de ocorrência, o uso do termo “Barreiras” tem sido utilizado de forma diversificada na
literatura. Em suas primeiras citações geológicas, esses depósitos foram referenciados como “Série Barreiras”
(Oliveira & Leonardos 1943) e “Formação Barreiras” (Oliveira & Ramos 1956). Posteriormente, sugeriu-se o termo
“Grupo Barreiras” (Bigarella & Andrade 1964, Mabesoone et al. 1972, Bigarella 1975), procedimento adotado por
vários autores em estudos mais recentes (p.e. Leite et al. 1997, Vilas Bôas et al. 2001, Brito-Neves 2009). Neste tra-
balho, será empregado o termo litoestratigráfico “Formação Barreiras”, uma vez que não há, ainda, detalhamento
estratigráfico adequado, tampouco consensual, sobre a complexidade interna desta unidade em suas diferentes
áreas de ocorrência que justifique sua inserção na categoria de grupo.
Apesar da referência remota, a análise faciológica da Formação Barreiras é, ainda, insuficiente para permitir o
completo entendimento de processos e ambientes de sedimentação, bem como de fatores que tiveram maior
relevância em sua evolução ao longo do tempo geológico. Tanto para o Estado da Bahia, como em todo o litoral
nordeste do Brasil, esta formação tem sido vista como decorrente de sedimentação tipicamente continental,
consistindo principalmente em coalescência de leques aluviais e em sistemas fluviais entrelaçados desenvolvi-
dos sob condições climáticas quentes e secas (p.e. Mabesoone et al. 1972, Bigarella 1975, Góes 1981, Vilas Bôas
et al. 2001, Lima et al. 2006). Em geral, esta interpretação tem sido fornecida com base, principalmente, na
constituição arenosa a conglomerática e na abundância de depósitos com geometria de canais. Entretanto, com
366 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVI.1 - Mapa geológico, indicando ocorrências da Formação Barreiras no Estado da Bahia.
(Modificado do Mapa Geológico-DNPM/1995).
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Figura XVI.6 - Associação de fácies de barra de desembocadura (BD) e prodelta (PD) no ponto 19 (ver figura XVI.1 para localização). A) Vista
geral e B) desenho sobre fotografia ilustrando várias barras de desembocadura amalgamadas. Notar que as barras gradam para baixo a
argilitos de prodelta. Notar, ainda, que estes depósitos bruscamente revestem o conjunto arenoso amalgamado representativo das barras.
C) Lobo arenoso com estratificação inclinada de grande porte, formando clinaformas progradacionais
374 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVI.7 - Complexo contendo associação de fácies de barra de desembocadura, prodelta e canais distributários no ponto 37 (ver
figura XVI.1 para localização). A) Vista geral e B) desenho sobre fotomosaico (amarelo=complexo de barras de desembocadura e canais
distributários; entorno não ressaltado=prodelta, localmente com pequenos lobos arenosos distais; quadrado interno localiza a figura C). C e
D) Detalhe de dois lobos deltaicos sobrepostos (ver localização na figura A)
Esta associação de fácies é similar à associação CF no Inclui litologias arenosas tipicamente finas a médias e
que diz respeito aos aspectos geométricos, litológicos, muito bem selecionadas, em geral de cor branca a le-
estruturais. Entretanto, feição comum nesta associa- vemente amarelada, que forma pacotes lateralmen-
ção, e que não ocorre naquela, são abundantes su- te contínuos de 2 a 3m de espessura, caracterizando
perfícies de reativação separando pacotes de foresets. geometria tabular. Internamente, estes estratos são
Além disto, embora ainda ocorram litologias grossas a tipicamente bem estratificados, sendo dominados por
conglomeráticas, existe um aumento relativo na pro- estratificações plano-paralelas e estratificações cru-
porção de arenitos finos a médios. Adicionalmente, es- zadas de muito baixo ângulo, suavemente ondulante
tes depósitos podem apresentar icnofósseis dispersos e truncante. Minerais pesados são frequentes, con-
similares aos encontrados na associação de fácies BD, centrando-se ao longo de planos de acamadamento
com a qual está geneticamente intergradada. e superfícies de reativação e tubos de Ophiomorpha,
Thalassinoides, Skolithos e Planolites são localmente
dispersos. A associação de fácies P é geneticamen-
4.6 Associação de Fácies BE/DM te relacionada à associação de fácies AP, podendo
(bacia estuarina/delta de maré; Figs. sobrepor-se a esta de forma gradacional, compondo
sucessões granocrescentes ascendentes.
XVI.8A-C, XVI.9A-C)
Esta se constitui na associação de fácies mais fina da
área de estudo, sendo representada dominantemen- 4.8 Associação de Fácies AP
te por argilito negro ou cinza-esverdeado, e depósitos (antepraia; Figs.XVI.10A-G, XVI.11A-C)
heterolíticos de cores variadas. Localmente, estes de-
pósitos podem chegar até 10m de espessura. Sua base Consiste em arenitos finos a médios, bem selecio-
pode ser planar ou suavemente côncava (Fig.XVI.8a), nados, e pelitos, que são arranjados em camadas
formando amplas depressões suaves. Os argilitos ne- lateralmente contínuas de 2 a 3m de espessura,
gros são ricos em restos vegetais (Fig.XVI.8b-c), tendo configurando corpos de geometria tabular planar a
sido encontrado folhas, galhos e fragmentos de tron- suavemente ondulante (Fig.XVI.10a). De cor branca a
cos (Fig.XVI.9c) carbonizados de até 30cm de compri- amarelo-esbranquiçada, localmente com mancha-
mento; estes ocorrem juntamente com finas camadas mentos avermelhados, os arenitos apresentam uma
de enxofre. Depósitos argilosos e heterolíticos dos ti- variedade de estruturas internas, incluindo estratifi-
pos lenticular e, secundariamente wavy, podem com- cações cruzadas de pequeno e médio porte dos tipos
por inteiramente a associação de fácies BE/DM, ou es- acanalada e, mais raramente, tabular. Adicionalmen-
tes estratos gradam para lentes de areia fina a média, te, verificam-se estratificações cruzadas swaley e
bem selecionada, que se assemelham às formas loba- hummocky (Fig.XVI.10b) de até médio porte (espes-
das sigmoidais descritas para a associação de fácies suras médias de 0,5cm e amplitudes de 2 a 3m) que
BD (Fig.XVI.9a-b). Neste caso, lobos individuais, que gradam a laminações quase-planares truncantes.
podem ocorrer em sucessões laterais progradacionais, Estes estratos estão geralmente intergradados com
possuem cerca de 1,5 a 3m de espessura. É interessan- as associações de fácies P e PM (Fig.XVI.10c). Arenitos
te mencionar a presença de barita nesta associação de muito finos e pelitos formam estratos interacamada-
fácies, que ocorre principalmente sob forma concre- dos lenticulares internamente contendo laminações
cionária ou preenchendo tubos de icnofósseis. cruzadas suavemente ondulantes e truncantes. Estes
376 • G eolog i a da B a hi a
b c
Figura XVI.8 - Associação de fácies de laguna/delta de maré (L/DM) no ponto 11 (ver figura XVI.1 para localização). A) Argilito negro e
depósitos heterolíticos lenticulares em pacote com geometria côncava, relacionado à deposição em canais de baixa energia formados em
áreas de trás de barreira, em associação a depósitos lagunares. B) Detalhe do argilito negro ilustrado em A, o qual contém lentes de enxofre
(S). C) Folha fóssil encontrada em abundância no argilito negro
depósitos finos podem, ainda, ser totalmente maci- 4.9 Associação de Fácies CM
ços, devido à intensa bioturbação. Icnofósseis tam- (canal de maré; Figs.XVI.9A e G,
bém são abundantes de forma dispersa (Figs.XVI.10e-
XVI.12A-C, XVI.13A-J)
-g, XVI.11a-c), tendo sido reconhecidos Ophiomorpha,
Thalassinoides, Skolithos, Rhizocorallium, Teichich- Similarmente à associação BD, esta se constitui em
nus, Diplocraterion e Planolites. uma das associações de fácies mais frequentemente
d e
f g
Figura XVI.9 - Associação de fácies de laguna/delta de maré (L/DM), e depósitos geneticamente relacionados, no ponto 13 (ver figura XVI.1
para localização). A) Perfil litoestratigráfico ilustrando depósitos de laguna/delta de maré em sua porção intermediária, formando sucessão
geneticamente relacionada com depósitos de canais de maré, praia, antepraia e barras de desembocadura. B) Detalhe dos depósitos de
laguna, contendo dois lobos arenosos superpostos, atribuídos a delta de maré. C) Detalhe de tronco carbonizado presente no argilito negro.
D, E) Arenito tabular com estratificação plano-paralela, formado em ambiente de praia. F) Detalhe de estratificação plano-paralela a
cruzada truncante de baixo ângulo de depósitos de praia, cujos planos são marcados por minerais pesados. G) Base brusca de arenito com
estratificação cruzada de médio porte, formado em ambiente de canal de maré. H) Legenda do perfil litoestratigráfico da figura A
378 • G e olog i a da B a hi a
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Figura XVI.10 - Associação de fácies de praia (P) e antepraia (AP). A) Vista geral da exposição no ponto 12 (ver figura XVI.1 para localização),
ilustrando pacote tabular, suavemente ondulado, relacionado com ambientes de antepraia, que capeiam arenitos e depósitos heterolíticos
de planície de maré (PM) (quadros localizam as figuras B, à direita, e C, à esquerda). B) Detalhe do pacote arenoso ondulado formado em
ambiente de antepraia (ver localização na figura A). Notar laminações internas de baixo ângulo, revestidas por laminações ondulantes
convexas para cima, caracterizando estratificação cruzada hummocky (setas). C) Arenito com estratificação plano-paralela a suavemente
ondulante relacionada com face de praia, que grada para cima a depósitos heterolíticos, possivelmente representativos de planície de maré.
A estes se sobrepõem depósitos de antepraia. D) Detalhe de arenito com estratificação plano-paralela, suavemente ondulante e truncante.
As setas indicam estratos suavemente convexos para cima, configurando estratificação cruzada hummocky de pequena escala. E-G) Tipos
de icnofósseis comuns nos estratos de antepraia e praia, ilustrando Skolithos (E, vista em planta) e Ophiomorpha (F e G, vistas em perfil)
Figura XVI.11 - Icnofósseis comuns nas associações de fácies de praia, antepraia, e canais de maré.
A) Ophiomorpha e Rhizocorallium. B) Diplocraterion e Teichichnus. C) Skolithos
380 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVI.12 - Associação de fácies de canal de maré (CM), ilustrando sua característica geométrica côncava nos pontos 42 (A, B) e 23 (C).
Em ambos os casos, os depósitos de canais interceptam erosionalmente argilitos e depósitos heterolíticos. O quadro em A localiza a figura
B. Notar em C uma sucessão de três depósitos de canais sobrepostos (círculo em todas as figuras indica pessoa para escala)
encontradas na Formação Barreiras ao longo do lito- (Figs.XVI.13a, b), localmente com orientações bidire-
ral do Estado da Bahia. Como as associações CF e CD, cionais. Feição típica desses arenitos é a abundância
os depósitos caracterizam-se por geometria côncava de superfícies de reativação marcadas por filmes de
(Fig.XVI.12a-c), topo planar ou suavemente ondu- argilito, que delineiam limite de sets e pacotes de
lante, espessuras geralmente inferiores a 3 ou 4m e foresets em geral a cada 5 ou 10cm (Fig.XVI.13a-f).
comprimentos de várias dezenas de metros. Como no Estes podem estar organizados em bandamentos al-
caso daquelas associações, vários canais sobrepostos ternadamente mais finos e mais delgados, formando
acham-se presentes (Figs.XVI.9a, XVI.9g). Entretan- sucessões laterais rítmicas (Fig.XVI.13e-f). Além disto,
to, a composição litológica destes depósitos é mais os estratos cruzados, que podem conter abundantes
variável, incluindo arenitos de granulações diversas, intraclastos de argila localmente retrabalhados dos
depósitos heterolíticos e argilitos. Os arenitos são filmes argilosos, internamente contêm bioturbação
bem estratificados, sendo dominados por estratifica- abundante (Fig.XVI.13g-j). Onde reconhecíveis, os icg-
ções cruzadas tabulares e acanaladas de médio porte nofósseis são similares aos descritos nas associações
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Figura XVI.13 - Características sedimentares da associação de fácies de canal de maré (CM). A) Estratificações cruzadas tabular e acanalada
de médio porte, cujos limites de sets e superfícies de reativação que delimitam pacotes de foresets são salientados por filmes de argila
(linhas brancas). B) Detalhe dos sets e superfícies de reativação salientados por filmes de argila (martelo de escala em A e B ~35cm de
comprimento). C) Dois ciclos de arenitos com estratos cruzados, mostrando adelgaçamento de camadas e aumento de argilosidade para
cima. Notar a presença de icnofósseis dispersos nestes estratos. D) Detalhe de superfícies de reativação salientadas por filmes de argila
(setas) em estratos cruzados, contendo icnofósseis dispersos (círculos). E, F) Detalhes de estratos cruzados contendo pacotes de foresets
limitados por filmes de argila duplos (setas maiores de cada par indica marés dominantes e setas menores, marés subordinadas). G-I)
Traços de Ophiomorpha (quadro em H localiza figura I). J) Arenitos com estratificação primária quase que totalmente obliterada por
abundante atividade de organismos
382 • G eolog i a da B a hi a
e f
Figura XVI.14 - Associação de fácies de planície de maré (PM) no ponto 5 (ver figura XVI.1 para localização). A) Perfil litoestratigráfico
ilustrando sucessões granodecrescentes ascendentes, resultantes da superposição de fácies de inframaré para intermaré e supramaré,
tipificando costa com natureza progradacional. B,C) Detalhes de depósitos de intermaré (Itm) a supramaré (Spm) (ver localização da figura
B em A, e da figura C em B). Notar que os estratos, dominantemente heterolíticos, wavy e lenticular na base e topo respectivamente, são
fortemente bioturbados. D) Detalhe da base de ciclo com granodecrescência ascendente, representativo de depósitos de inframaré (Ifm)
(ver localização na figura A), que se sobrepõem bruscamente a depósitos de supramaré (Spm). E) Gretas de ressecamento encontradas em
associação a depósitos de supramaré. F) Legenda da figura A
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Fig. XVI.16 - Estilos de deslocamentos de camadas presentes na Formação Barreiras. A,B) Falhas normais de internas à unidade, deslocando
arenito (Ar) e conglomerado (Cg) no ponto 7 (A) e arenito interacamadado com depósito heterolítico no ponto 8 (B). C) Falha normal no
topo da Formação Barreiras, que resultou no posicionamente lateral desta uniadade com os Sedimentos Pós-Barreiras sobrejacentes. D)
Sucessão de blocos de falha em depósitos subjacentes (provavelmente cretáceos) à Formação Barreiras no ponto 26. Notar que a Formação
Barreiras foi depositada sobre a paleotopografia formada pelo deslocamento de blocos. E) Deslocamento de estratos relacionados com
deslizamentos gravitacionais ao longo de encostas abruptas no ponto 31. F) Falha preenchida por arenito na base da Formação Barreiras
próximo ao contato com o embasamento cristalino no ponto 12 (vista em planta). G) Detalhe de fratura preenchida por arenito (vista em
planta) do ponto anterior. Notar que esta foi deslocada lateralmente por outra fratura formada subsequentemente à primeira. H) Argilito
cinza (Ac) em contato brusco lateral com argilitos e pelitos mosqueados (Am), também observados no ponto 12, que provavelmente resulta
do deslocamento de estratos por falha (vista em planta). (Setas em todas as fotos indicam sentido de deslocamento dos estratos ao longo
das falhas; martelo para escala em F-H~35 cm de comprimento)
390 • G e olog i a da B a hi a
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Associação de Interpretação
Descrição
Fácies Paleoambiental
Arenitos médios e grossos a conglomeráticos e conglomerados sob forma de lençóis tabulares
lateralmente contínuos, ou, mais comumente, como corpos de base côncava e topo planar.
CF Canal fluvial
Internamente maciços ou com estratificações cruzadas acanalada e tabular, e sucessões de
granodecrescência ascendente.
Argilosos e siltitos maciços e, raramente com laminação plano-paralela, com marcas de raízes Planície de
PI
e/ou gretas de contração, que intergradam à associação CF. inundação
Arenitos fino a médio, moderadamente selecionado e arenito grosso a conglomerático,
moderadamente a mal selecionado, que ocorre sob forma de lobos sigmoidais ou corpos
de base planar a ondulada e topo convexo com disposição horizontal ou, mais comumente, Barra de
BD
suavemente inclinada. Internamente organizados em ciclos granocrescentes ascendentes, com desembocadura
estruturação maciça ou estratificações cruzadas tabulares e acanaladas, estratificação plano-
paralela, em geral suavemente inclinada, e estratificação convoluta.
Argilitos, siltitos e arenitos muito finos, maciços ou intergradados a argilitos laminados e
depósitos heterolíticos dos tipos streaky, lenticular e wavy. Gradação para a associação CD,
PD Prodelta
compondo ciclos granocrescentes ascendentes. Localmente com abundância de icnofósseis
indeterminados.
Arenitos com características geométricas similares à associação CF, porém com
CD granulometrias relativamente mais finas que aquela. São abundantes superfícies de reativação Canal distributário
separando pacotes de foresets dos estratos cruzados tabulares e acanalados.
Arenitos finos a médios, bem selecionados e pelitos, sob forma de corpos tabulares planares
a suavemente ondulante, e contendo uma variedade de estruturas internas, incluindo
estratificações cruzadas de pequeno e médio porte dos tipos acanalada e, mais raramente,
AP Antepraia
tabular. Adicionalmente, ocorrem estratificações cruzadas swaley e hummocky e laminações
quase-planares truncantes. Icnofósseis incluem Ophiomorpha, Thallassinoides, Skolithos,
Rhizocoralium, Teichichnus, Diplocraterion e Planolites.
Areias finas a médias e muito bem selecionadas, sob forma de estratos contínuos lateralmente
e contendo estratificações plano-paralelas e estratificações cruzadas de muito baixo ângulo,
P suavemente ondulante e truncante, que gradam para a associação AP. Minerais pesados Praia
ressaltam planos de acamamento e icnofósseis são comuns, principalmente Ophiomorpha,
Thallassinoides, Skolithos e Planolites.
Características geométricas similar às associações CF e CD, porém com composição litológica
mais variável, incluindo arenitos de granulações diversas, depósitos heterolíticos e argilitos.
CM Arenitos estratificados com orientações bidirecionais e abundantes superfícies de reativação Canal de maré
marcadas por filmes de argilito, localmente formando bandamentos de maré. Biorturbações
similares às associações AP e P são abundantes nestes estratos.
Arenitos finos a médios intercalados a depósitos heterolíticos e argilitos maciços, sob forma
de pacotes tabulares, arranjados em sucessões granodecrescentes ascendentes). Gretas de
PM Planície de maré
ressecamento e marcas de raízes estão presentes. Observados, com freqüência, juntamente
com a associação CM.
Argilito negro ou cinza-esverdeado, e depósitos heterolíticos de cores variadas, com base
planar ou suavemente côncava, ricos em restos vegetais carbonizados associados com
lâminas de enxôfre. Depósitos argilosos e heterolíticos dos tipos lenticular e, secundariamente Bacia estuarina/delta
BE/DM
wavy, ou lentes de areia fina a média, sob forma de lobos sigmoidais formando sucessões de maré
progradacionais de dimensões bem menores do que as observadas na associação BD.
1 Introdução
A zona costeira é uma região de interface entre o continente e o oceano. Seus limites são normalmente definidos
da seguinte maneira: na região continental o limite interno corresponde à penetração máxima da influência das
marés; na região marinha este limite corresponde à profundidade média de interação das ondas com o fundo
marinho (Fig.XVII.1). Esta zona de interação, entretanto, não permaneceu fixa no tempo e no espaço, por causa
das variações eustáticas do nível do mar, particularmente ao longo do Quaternário. Desta forma alguns autores
propõem que a plataforma continental também seja incluída na zona costeira (Masselink & Hughes 2003). Neste
texto considera-se a zona costeira em sua definição mais restrita, principalmente porque um capítulo específico
sobre a plataforma continental também integra esta obra (CAPÍTULO XVIII).
De outro lado, do ponto de vista da gestão costeira, os municípios costeiros, mesmo naquelas porções do territó-
rio onde não apresentam qualquer interação com o oceano, são integralmente incluídos na zona costeira, visto
que constituem a unidade básica administrativa do País. Nos dias atuais, a zona costeira se reveste de particular
importância, devido ao fato de mais de 50% da população mundial se concentrar em uma faixa com largura de
menos de 60km bordejando a linha de costa (Charlier & Bologa 2003) o que gera uma série de demandas pelos
seus recursos múltiplos e problemas ambientais decorrentes da explotação destes recursos.
Este capítulo objetiva, assim, oferecer uma síntese sobre a geologia da zona costeira baiana, sua compartimen-
tação, suas principais unidades geológicas e história evolutiva. O conjunto de informações apresentado, além do
interesse geológico, contribui também para subsidiar a gestão da zona costeira.
Zo n a Co steira • 395
Afloram ao longo da zona costeira do Estado da Bahia 2.1.3 Faixa de Dobramentos Araçuaí
as seguintes unidades geológicas pré-quaternárias:
(i) Cráton do São Francisco, (ii) Faixa de Dobramentos As unidades dessa faixa, embora não aflorem ao longo
Araçuaí, (iii) Bacias Sedimentares Mesozoicas, e (iv) da linha de costa, determinam o relevo da parte mais
Tabuleiros Costeiros (Fig.XVII.2). interna da zona costeira no sul do Estado (CAPÍTULO III).
O Cráton do São Francisco constitui a principal unida- As unidades mesozoicas são representadas pelas bacias
de geotectônica da zona costeira baiana, estendendo- do Almada, Camamu e Recôncavo, que interceptam a
396 • G e olog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 397
398 • G eolog i a da B a hi a
3 Compartimentação da
Figura XVII.4b - Razão isotópica 18O/16O em foraminiferos Zona Costeira
bentônicos para os últimos 1,2milhão de anos (modificado de
Lisiecki & Raymo 2005) Com base nas suas caraterísticas fisiográficas, fruto
da interação entre a herança geológica, variações do
c
nível do mar, clima e suprimento de sedimentos, a
zona costeira baiana pode ser subdividida em quatro
compartimentos principais (Figs.XVII.2, XVII.6, XVII.7,
XVII.8, XVII.9).
Zo n a Co steira • 399
400 • G eolog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 401
402 • G eolog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 403
404 • G eolog i a da B a hi a
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406 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVII.10a - Aspectos morfológicos das unidades QPla – Figura XVII.11a - Aspectos morfológicos dos depósitos QPl–
Depósitos de Leques Aluviais Pleistocênicos, QPl–Depósitos de Depósitos de Areias Litorâneas Regressivas Pleistocênicas e QHl–
Areias Litorâneas Regressivas Pleistocênicas e QHl–Depósitos de Depósitos de Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas. Observar
Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas. Costa do Litoral Norte a diferença na largura dos cordões litorâneos. Planície costeira de
próximo à localidade de Praia do Forte (visada para norte) Caravelas, Compartimento Costa Faminta do Sul da Bahia
b b
Figura XVII.10b - Aspectos morfológicos das unidades QPla– Figura XVII.11b - Vista de sobrevoo da mesma área
Depósitos de Leques Aluviais Pleistocênicos, QPl–Depósitos de apresentada na figura 11a
Areias Litorâneas Regressivas Pleistocênicas e QHl–Depósitos de
Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas. Costa do Litoral Norte
próximo à localidade de Praia do Forte (visada para sul). Observar
face de deslizamento na porção mais interna dos depósitos QPla c
Zo n a Co steira • 407
408 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVII.12a - Cordões litorâneos na superfície da unidade QHl– Figura XVII.13a - Unidade QHpm–Depósitos Argilo-Orgânicos
Depósitos de Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas de Planícies de Maré. Localidade de Maragogipe. Costa dos Rift
Mesozoicos
b b
Figura XVII.12b - Afloramento da unidade QHl–Depósitos de Figura XVII.13b - Unidade QHpm–Depósitos Argilo-Orgânicos de
Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas. Observar a laminação Planícies de Maré. Porção sul da planície costeira de Caravelas.
plano-paralela com mergulho suave para o mar (direita) Costa Faminta do Sul da Bahia
característica da face praial
c c
Figura XVII.12c - Traço fóssil de Ophiomorpha sp. na unidade QHl– Figura XVII.13c - Detalhe da Unidade QHpm–Depósitos Argilo-
Depósitos de Areias Litorâneas Regressivas Holocênicas Orgânicos de Planícies de Maré
Zo n a Co steira • 409
Figura XVII.14a - Trecho em erosão severa entra a Ponta do Figura XVII.15a - Unidade QHtu–Depósitos Argilo-Orgânicos de
Catoeiro e a Barra do Tomba (ao fundo), na porção sul da planície “Terras Úmidas”. Costa do Litoral Norte
costeira de Caravelas, Costa Faminta do Sul da Bahia
b b
Figura XVII.14b - Detalhe do trecho em erosão severa mostrado Figura XVII.15b - Detalhe da Unidade QHtu–Depósitos Argilo-
na figura XVII.14a Orgânicos de “Terras Úmidas”
410 • G eolog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 411
412 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVII.18d - Lagoa do Abaeté, uma paleodrenagem Figura XVII.19a - Dunas da unidade QHe–Depósitos Eólicos
implantada nos depósitos da unidade QPla (Depósitos de Leques Holocênicos na localidade de Mangue Seco (Costa do Litoral
Aluviais Pleistocênicos) represada posteriormente pelas dunas da Norte), que muito provavelmente teve sua origem a partir de um
unidade QPe (Depósitos Eólicos Pleistocênicos) blow-out
b
Além destes blow-outs, acumulações eólicas bem
mais antigas recobrem a superfície dos Depósitos de
Leques Aluviais Pleistocênicos (QPla). Devido à sua
antiguidade, estes depósitos já foram muito alterados
pelos processos intempéricos não sendo possível re-
conhecer a morfologia das dunas que os originaram.
Apenas faces de deslizamento bem proeminentes po-
dem ser observadas nas porções mais interiorizadas
destes depósitos, junto ao contato com a Formação
Barreiras (Fig.XVII.10b).
Figura XVII.19b - Duna Frontal da unidade QHe, bordejando a
linha de costa na região de Arembepe (Costa do Litoral Norte do
Estado da Bahia)
4.8 Depósitos Eólicos Holocênicos (QHe)
c
Estes depósitos estão associados a dunas ativas e es-
tão restritos ao trecho entre a desembocadura do Rio
Itapicuru e a localidade de Mangue Seco. O tipo de
duna dominante é também o blow-out (Fig.XVII.19a).
Além disso, a linha de costa em praticamente todo o
Estado é bordejada por dunais frontais, principalmen-
te na Costa do Litoral Norte, onde chegam a alcançar
até 6m de altura (Figs.XVII.19b, c). Este tipo de duna é
formado in situ, como resultado do trapeamento, pela
vegetação pioneira do pós-praia, das areias sopradas
da face da praia pelo vento. Figura XVII.19c - Vista de campo de uma duna frontal
da unidade QHe, na região de Sauípe (Costa do Litoral Norte
do Estado da Bahia)
Zo n a Co steira • 413
414 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVII.21a - Exemplo de recife costeiro adjacente à costa: Figura XVII.21d - Exemplo de recife costeiro afastado da costa:
Banco Recifal. Localidade de Praia do Forte Banco Recifal. Ponta do Corumbaú (Costa Faminta do Sul da
(Costa do Litoral Norte) Bahia)
b
5 e 40m. Em função de sua morfologia e dimensões,
estes recifes podem ser classificados como: (a) Cômo-
ro Coralino – com dimensões horizontais e verticais
máximas de 2-3m e profundidades inferiores a 5m;
(b) Canteiro Recifal – com dimensões laterais de deze-
nas de metros sempre maiores que a altura, paredes
laterais com declividades abruptas de cerca de 5m,
distribuindo-se de modo esparso em amplas áreas da
plataforma continental interna, principalmente em
águas mais rasas que 10m; (c) Banco Recifal – apre-
senta dimensões horizontais que variam de cerca de
Figura XVII.21b - Exemplo de recife costeiro adjacente à costa: 50m a poucas dezenas de quilômetros. Suas laterais
Recife Franjante. Ilha de Itaparica (Costa dos Rifts Mesozoicos) acima do fundo marinho variam de cerca de 10 a mais
de 20m (Figs.XVII.21d, XVII.22a, b, c, d), (d) Colunas Re-
c
cifais - podem apresentar alturas de 5 a 25m e diâme-
tro do topo entre cerca de 5 e 50m (Fig.XVII.23).
Zo n a Co steira • 415
416 • G e olog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 417
b
5 Evolução Paleogeográfica
Tendo em vista o caráter extremamente dinâmico
da sedimentação quaternária costeira, resultado das
acentuadas variações do nível eustático do mar, é co-
locada a seguir uma tentativa de construção de um
modelo conceitual para a sedimentação quaternária
costeira do Estado da Bahia com base na integração
de variados estudos já desenvolvidos nesta região
(Martin et al. 1980, Dominguez 1983, 1987, Andrade et
al. 2003, Almeida 2006).
Figura XVII.25b - Unidade QHrp (Rochas de Praia Holocênicas) –
Arembepe (Costa do Litoral Norte).
418 • G eolog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 419
alto é conhecido no Estado da Bahia como a Penúlti- 5.5 Estágio 5 – Último Máximo Glacial
ma Transgressão (Martin et al. 1980). Nas dezenas de (Fig.XVII.31)
milhares de anos que antecederam o MIS 5e, a po-
sição do nível médio do mar se situou entre 30-40m Após o MIS5e o nível eustático do mar desceu pro-
abaixo do atual, o que, considerando o posição da gressivamente, não de modo uniforme, mas oscilan-
quebra da nossa plataforma continental (CAPÍTULO te (Fig.XVII.4c). Inicialmente nas regiões com baixo
XVIII), favoreceu o aparecimento de numerosos vales aporte de sedimentos, como é o caso da Costa Famin-
incisos que se estendiam da zona costeira até a bor- ta do Sul da Bahia, e posteriormente ao longo de todo
da da plataforma continental. Com a subida do nível o litoral, a deposição de sedimentos não conseguiu
do mar após o MIS6 (130.000 anos AP), estes vales e acompanhar este movimento de descida do nível do
zonas topográficas rebaixadas foram inundados pelo mar, resultando em uma regressão forçada, quando
mar originando estuários, baías e ilhas, estas últi- a linha de costa é obrigada a regredir independen-
mas muitas vezes nos interflúvios que escaparam à temente do suprimento de sedimento Catuneanu
inundação marinha. Ao mesmo tempo, as ondas ati- (2006). Breves períodos de “estabilização” do nível do
vamente esculpiram e fizeram recuar linhas de falé- mar, como, por exemplo, entre 80-100.000 cal anos
sias nos interfúvios, onde unidades menos resistentes AP e entre 30-60.000 cal anos AP podem ter permi-
confrontavam o mar aberto, como é o caso dos ta- tido localmente o aparecimento de praias arenosas
buleiros costeiros. Algumas destas linhas de falésias associadas a pontais recurvos, reminiscentes do que
ainda estão hoje muito bem preservadas nas porções aconteceu nos últimos 10.000 anos nas costas do nor-
mais internas das planícies costeiras quaternárias, te canadense e da Escandinávia, onde o ressalto isos-
como, por exemplo, na porção sul do delta do Jequiti- tático, resultante do alívio da carga de gelo, originou
nhonha. Este episódio transgressivo culminou em um uma série de depósitos arenosos isolados e descontí-
nível de mar alto por volta de 123.000 anos AP, quan- nuos na zona costeira emersa (Fig.XVII.31). No máxi-
do o mesmo se posicionou a 8+2m acima do nível atu- mo glacial de 19-22.000 cal anos AP quando o nível
al (Martin et al. 1980) e que se estendeu por cerca de do mar encontrava-se cerca de 120m abaixo do atual,
10.000 anos (Fig.XVII.4c). A estabilização do nível do toda a plataforma continental estava exposta a con-
mar, por volta desta época, favoreceu a recuperação dições subaéreas e os cursos d’água, mesmo aqueles
dos sistemas fluviais, os quais, em associação com os pequenos, reativaram incisões na plataforma exposta
sedimentos transportados ao longo da linha de cos- que se originaram nos episódios anteriores de nível
ta, preencheram os estuários e reentrâncias aí exis- de mar baixo (Fig.XVII.32). Mesmo os terraços mari-
420 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVII.30b - Áreas inundadas da cidade do Salvador durante o nível de mar alto do MIS5e
Zo n a Co steira • 421
422 • G e olog i a da B a hi a
Zo n a Co steira • 423
teríticos da Formação Barreiras (Costa Faminta do Sul Atualmente, a principal jazida do Estado encontra-se
da Bahia - Cumuruxatiba, Ponta do Corumbaú), altos na planície quaternária do Pratigi, na Costa dos Rifts
do embasamento e arenitos de praia (Costa do Litoral Mesozoicos, onde os trabalhos de prospecção realiza-
Norte - Guarajuba e Praia do Forte ) e recifes pleisto- dos pela CBPM e CPRM, mostraram que existem nes-
cênicos e rochas vulcânicas (Costa Faminta do Sul da ta planície cerca de 266 milhões de toneladas de mi-
Bahia - Abrolhos) (Leão et al. 2003). O abaixamento do nério com teores médios de 3,09% (Dominguez 2009)
nível relativo do mar durante os últimos 5.700 anos,
em associação com a progradação da linha de costa, As acumulações de minerais pesados da planície
impactou significativamente estes recifes costeiros, ao do Pratigi não estão associadas a campos de dunas
provocar a exposição e truncamento dos seus topos transgressivas, como é o caso das ocorrências em
pela ação das ondas e ao aproximá-los da linha de cos- Bojuru (RS) e Mataraca (PB) as quais se formam em
ta, onde, em alguns casos, esta progadação resultou zonas costeiras que experimentam tendências de re-
em seu soterramento parcial ou total (Leão et al. 2003). cuo da linha de costa de longo prazo (Dillenburg et
al. 2004).
424 • G e olog i a da B a hi a
7 Síntese
A zona costeira do Estado da Bahia é uma das mais
diversificadas do Brasil. Isto decorre da sua grande
extensão (quase 1.000km) o que permite diferentes
controles ambientais se manifestarem, tais como (i)
o suprimento de sedimentos, (ii) a erosão diferencial
entre as rochas sedimentares das bacias mesozoicas
e do embasamento cristalino, (iii) a disponibilidade de
substratos e condicionamentos oceanográficos ade-
quados ao desenvolvimento de recifes de corais e (iv)
os condicionamentos climáticos no desenvolvimento
de dunas costeiras. Desta forma, o Estado da Bahia
reúne uma grande variedade de exemplares de paisa-
Figura XVII.36 - Teores de minerais pesados na Planície do Pratigi gens costeiras não rivalizados pelos demais estados
(Costa dos Rifts Mesozoicos)
brasileiros, incluindo recifes de corais, dunas, falésias,
planícies arenosas, deltas, baías, estuários, mangue-
zais e terras úmidas. Estas paisagens são o resultado
principalmente da atuação das variações eustáticas
no nível do mar durante o Quaternário, atuando sobre
um mosaico de diferentes tipos de substratos geoló-
gicos que incluem o embasamento cristalino, rift me-
sozoicos e os tabuleiros costeiros. Assim a arquitetura
geológica da zona costeira baiana, é o resultado final
dos processos, contingências e condicionantes geoló-
gicas descritos neste capítulo.
Zo n a Co steira • 425
1 Introdução
A plataforma continental é uma região aproximadamente plana de baixa declividade que bordeja o continente
(Friedman et al 1992). Pode-se considerar que a mesma é normalmente limitada por duas rampas íngremes:
(i) a face litorânea (shoreface) representa o limite interno da plataforma. Trata-se de uma superfície côncava,
relativamente íngreme, esculpida pelas ondas, que constitui a transição entre o sistema praial e a plataforma
continental e (ii) o talude que constitui o limite externo, modelado essencialmente pela ação da gravidade e cujo
contato com a plataforma é brusco e representado pela quebra da plataforma (Fig.XVIII.1).
Do mesmo modo que a zona costeira, a fisiografia da plataforma continental baiana foi fortemente influenciada
pela herança geológica e pelas variações do nível do mar durante o Quaternário. Em realidade se for considerada
que a quebra da plataforma no Estado da Bahia situa-se entre 45 e 60 metros, durante a maior parte do Qua-
ternário, a plataforma baiana esteve exposta a condições subaéreas, fazendo efetivamente parte do continente.
Durante este período os rios escavaram canais na plataforma exposta (vales incisos), que durante períodos de
subida do nível do mar foram inundados, formando estuários e baías.
Além destes aspectos, as características da plataforma continental, principalmente seus diferentes tipos de subs-
trato expressam a atuação de vários outros fatores como a herança geológica, o aporte de sedimentos siliciclás-
ticos oriundos do continente, os sedimentos resultantes do acúmulo de fragmentos esqueletais de organismos
marinhos, as construções recifais, e a ação de ondas, correntes e tempestades. Este capítulo apresenta uma
síntese do conhecimento da plataforma continental baiana.
428 • G e olog i a da B a hi a
430 • G e olog i a da B a hi a
432 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.4a - Diagrama de refração construído para a região de Caravelas, sul da Bahia, mostrando o efeito
das construções recifais no comportamento das ondas. Ondas de NE
Figura XVIII.4b - Diagrama de refração construído para a região de Caravelas, sul da Bahia, mostrando o efeito
das construções recifais no comportamento das ondas. Ondas de E
434 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.4c - Diagrama de refração construído para a região de Caravelas, sul da Bahia, mostrando o efeito
das construções recifais no comportamento das ondas. Ondas de SE
Figura XVIII.4d - Diagrama de refração construído para a região de Caravelas, sul da Bahia, mostrando o efeito
das construções recifais no comportamento das ondas. Ondas de SSE
436 • G e olog i a da B a hi a
438 • G e olog i a da B a hi a
440 • G eolog i a da B a hi a
b
Figura XVIII.8b -
Perfil interpretado
de um registro
de perfilador
de subfundo.
Para localização
consultar a figura
XVIII.8a
442 • G e olog i a da B a hi a
444 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII. 12a - Vale inciso do Rio Almada, separado do cânion do Almada por uma ravina estreita. A linha vermelha indica a posição do
perfil sísmico mostrado na figura XVIII.23
Figura XVIII.12b - Registro de sonar de varredura lateral mostrando ravinas presentes na quebra da plataforma que se prolongam talude
abaixo em vales e cânions submarinos
446 • G e olog i a da B a hi a
448 • G eolog i a da B a hi a
450 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.17b - Distribuição espacial dos teores de areia no Figura XVIII.17c - Distribuição espacial dos teores de lama no
sedimento superficial de fundo do Compartimento Norte da sedimento superficial de fundo do Compartimento Norte da
plataforma continental baiana plataforma continental baiana
452 • G e olog i a da B a hi a
P l ata fo r m a Co n t i n ental
Figura XVIII.18a - Distribuição espacial da mediana (d50) do sedimento superficial de fundo em frente a Salvador. As linhas vermelhas indicam a
posição dos perfis sísmicos mostrados nas figuras XVIII.20 (longitudinal) e XVIII.37a (transversal)
• 453
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b
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Figura XVIII.18b - Distribuição do teor de quartzo na fração grossa (Areia+Cascalho) no sedimento superficial de fundo em frente a Salvador
02/10/12 23:14
Capitulo 18.indd 455
c
P l ata fo r m a Co n t i n ental
Figura XVIII.18c - Distribuição do teor de bioclastos na fração grossa (Areia+Cascalho) no sedimento superficial de fundo em frente a Salvador
• 455
02/10/12 23:14
a
Figura XVIII.19a - Teores de cascalho no sedimento superficial de fundo em frente ao município do Conde
456 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.19b - Teores de bioclastos no sedimento superficial de fundo em frente ao município do Conde
Figura XVIII.19c - Teores de alga coralina no sedimento superficial de fundo em frente ao município do Conde
458 • G eolog i a da B a hi a
média da ordem de 5m, com tendência a aumentar ta de 30 metros (Fig.XVIII.21a). Estes sedimentos cas-
no sentido da linha de costa, foi determinada para calhosos são de natureza bioclástica (Fig.XVIII.22a) e
estes sedimentos areno-lamosos a partir dos regis- constituídos predominantemente por algas coralinas
tros sísmicos (Pereira 2008) (Fig.XVIII.20). Em frente incrustantes (Fig.XVIII.22b), seguidos em importância
aos Rios Itapicuru e Itariri, espessuras da ordem de pelos foraminíferos (Fig.XVIII.22c), e moluscos (Fig.
15m foram determinadas. Os teores de matéria orgâ- XVIII.22d) e briozoários. Sedimentos siliciclásticos
nica nas lamas do Baixo da Boca do Rio apresentam (quartzo) predominam em uma faixa estreita borde-
valores máximos de 2,5% na porção mais central do jando a linha de costa (Fig.XVIII.22e). Apenas em fren-
Baixo, próxima à linha de costa (Pereira 2008). Teo- te às Baías de Camamu e Todos os Santos, ocorrem
res de carbonato de cálcio da ordem de 40-50% são significativas acumulações de areias siliciclásticas
reportados para os sedimentos finos do Baixo da Boca associadas aos deltas de maré vazante presentes em
do Rio (Pereira 2008) suas embocaduras.
Figura XVIII.21a - Distribuição espacial dos teores de cascalho Figura XVIII.21b - Distribuição espacial dos teores de areia no
no sedimento superficial de fundo do Compartimento Central da sedimento superficial de fundo do Compartimento Central da
plataforma continental baiana plataforma continental baiana
460 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.22b - Distribuição espacial dos teores de fragmentos Figura XVIII.22c - Distribuição espacial do teor de foraminíferos
de alga coralina na fração grossa do sedimento (cascalho+areia) na fração grossa do sedimento (cascalho+areia) no trecho entre os
no trecho entre os cânions de Salvador e Canavieiras cânions de Salvador e Canavieiras
462 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.22d - Distribuição espacial dos teores de fragmentos Figura XVIII.22e - Distribuição espacial dos teores de grãos de
de molusco na fração grossa do sedimento (cascalho+areia) no quartzo na fração grossa do sedimento (cascalho+areia) no trecho
trecho entre os cânions de Salvador e Canavieiras entre os cânions de Salvador e Canavieiras
médios de 2-3% para esta matéria orgânica e uma O reduzido aporte de sedimentos continentais asso-
origem continental para a mesma, assim como a re- ciado às águas rasas que predominam nos Bancos
duzida disponibilidade de nutrientes (Carvalho 2008). Royal Charlotte e de Abrolhos favorece uma sedimen-
tação essencialmente carbonática incluindo as prin-
Neste compartimento ocorrem as duas principais ba- cipais construções coralinas do Oceano Atlântico Sul
ías do Estado da Bahia, Todos os Santos e Camamu. A Ocidental, os recifes de Abrolhos (Leão, 1982), os quais
cobertura sedimentar do fundo destas baías é deta- estão caracterizados em Leão et al. (2003) e no capí-
lhada na seção 7. tulo XVII. A textura do sedimento superficial neste
compartimento segue de modo geral o observado nos
outros compartimentos, com sedimentos arenosos
6.3 Compartimento Sul (Figs.XVIII.24a, distribuídos ao longo de toda a plataforma, porém
XVIII.24b e XVIII.24c) com teores mais elevados junto à linha de costa (Fig.
XVIII.24b), enquanto sedimentos cascalhosos são mais
Como já mencionado, as informações disponíveis para comuns na plataforma externa (Fig.XVIII.24a).
este compartimento, sobre os sedimentos superficiais
de fundo, são ainda muito limitadas e restritas essen- A fração lama está concentrada principalmente nas
cialmente aos trabalhos do Remac, Leão (1982), Leão vizinhanças dos recifes de corais, entre os mesmos
et al. (2005), Dutra (2003) e dados disponibilizados ou em áreas abrigadas pelos mesmos, aspecto este
pelo BNDO (Banco Nacional de Dados Oceanográfi- observado em Leão at al. (2005) (Fig.XVIII.24c). Estes
cos – Marinha do Brasil). Este é o trecho onde a pla- autores determinaram a composição do sedimento
taforma continental é a mais larga em todo o Estado nas vizinhanças imediatas dos recifes de corais en-
da Bahia (mínimo de 50km e máximo de 200km) e tre a Ponta do Corumbaú e Abrolhos e constataram
confrontante ao segmento da Zona Costeira classifi- que este sedimento é de caráter areno-cascalhoso,
cado como a Costa Faminta do Sul da Bahia (CAPÍ- constituído predominantemente de bioclastos, sen-
TULO XVII). As figuras XVIII.24a, XVIII.24b e XVIII.24c do a alga coralina o componente dominante, teores
mostram, respectivamente, mapas com a distribuição acima de 50%, na maioria das amostras examinadas.
espacial dos teores de cascalho, areia e lama constru- Os rodolitos são um componente comum nos sedi-
ídos com base em dados disponibilizados pelo BNDO. mentos mais cascalhosos (Leão et al. 2005). Outros
componentes encontrados incluem moluscos, Hali-
meda, foraminíferos e briozoários. Grãos de quartzo
464 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.24a - Distribuição espacial dos teores de cascalho no sedimento superficial de fundo
do Compartimento Sul da plataforma continental baiana
466 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.24b - Distribuição espacial dos teores de areia no sedimento superficial de fundo
do Compartimento Sul da plataforma continental baiana
Figura XVIII.24c - Distribuição espacial dos teores de lama no sedimento superficial de fundo
do Compartimento Sul da plataforma continental baiana
468 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.25a - Distribuição espacial dos teores de cascalho no sedimento superficial de fundo da Baía de Todos os Santos
Figura XVIII.25b - Distribuição espacial dos teores de areia no sedimento superficial de fundo da Baía de Todos os Santos
470 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.25c - Distribuição espacial dos teores de lama no sedimento superficial de fundo da Baía de Todos os Santos
Figura XVIII.26a - Distribuição espacial dos teores de grãos silicilásticos na fração grossa do sedimento
(cascalho+areia) na Baía de Todos os Santos
472 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.26b - Distribuição espacial dos teores de grãos bioclásticos na fração grossa do sedimento
(cascalho+areia) na Baía de Todos os Santos
Figura XVIII.26c - Distribuição espacial dos teores de moluscos na fração grossa do sedimento
(cascalho+areia) na Baía de Todos os Santos
474 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.26d - Distribuição espacial dos teores de grãos de Halimeda na fração grossa do sedimento
(cascalho+areia) de fundo da Baía de Todos os Santos
476 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.27a - Distribuição espacial dos teores de cascalho no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu
Figura XVIII.27b - Distribuição espacial dos teores de areia no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu
478 • G e olog i a da B a hi a
Figura XVIII.27c - Distribuição espacial dos teores de lama no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu
Figura XVIII.28a - Distribuição espacial dos teores de bioclastos (excluindo pelota fecais) no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu.
480 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.28b - Distribuição espacial dos teores de grãos de pelotas fecais no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu
Figura XVIII.28c - Distribuição espacial dos teores de grãos de quartzo no sedimento superficial de fundo da Baía de Camamu
482 • G e olog i a da B a hi a
484 • G eolog i a da B a hi a
Figura XVIII.31a - Paleogeografia do vale inciso do rio Almada durante o Último Máximo Glacial.
Neste cenário os rios desaguavam algumas dezenas de vam a plataforma continental, originando em alguns
metros abaixo da quebra da plataforma, diretamente casos estuários que se estendiam do talude até qua-
no talude superior (Figs.XVIII.30, XVIII.32). No compar- se a zona costeira atual (Fig.XVIII.33) . No compar-
timento sul a depressão de Abrolhos coletava a drena- timento sul, um testemunho coletado por Vicalvi et
gem oriunda dos rios que deságuam atualmente entre al. (1978) a uma profundidade de aproximadamente
Caravelas e o delta do Rio Doce (Fig.XVIII.30). 60m no meio da “Depressão” de Abrolhos, teve uma
amostra datada, a 22cm da sequência terrígena basal,
e forneceu uma idade de 10.620+300 anos AP (idade
8.2 Subida do Nível Eustático após o não calibrada); nesta época o nível do mar estava po-
Último Máximo Glacial sicionado em torno de -50m.
O derretimento dos lençóis de gelo após o Último Somente após esta época o nível do mar ultrapassou
Máximo Glacial resultou em uma subida do nível do a quebra da plataforma iniciando sua inundação (Fig.
mar extremamente rápida. Em cerca de 12.000 anos o XVIII.34). Esta inundação foi extremamente rápida e
nível eustático subiu cerca de 120 metros. Até 10.500- em apenas 3.000 anos toda a plataforma continental
11.000 anos AP, esta subida do nível do mar se fez estava inundada. Por volta de 7.000-8.000 anos atrás
sentir essencialmente nos vales incisos que recorta- o degelo cessou. Esta época corresponde ao máximo
Figura XVIII.31b - Paleogeografia do vale inciso do Rio Itapicuru durante o Último Máximo Glacial.
486 • G e olog i a da B a hi a
S N
Figura XVIII. 32 - Desembocaduras dos Rios Itapicuru e Almada, durante o Último Máximo Glacial
da inundação da plataforma continental e zona cos- exposição subaérea (Fig.XVIII.37). A espessura alcan-
teira adjacente (Fig.XVIII.35). çada por estes prismas costeiros é função do espaço
de acomodação disponível. Com exceção dos princi-
pais vales incisos, este espaço de acomodação é mui-
8.3 Nível do Mar Alto Atual to reduzido, com as planícies quaternárias repousan-
do diretamente sobre uma plataforma rochosa rasa,
A partir de 7-8.000 anos atrás, com a estabilização como é muito comum no Compartimento Central.
do nível do mar, os sedimentos aportados pelos rios
e transportados ao longo da linha de costa foram Na plataforma externa, principalmente à partir da
inicialmente utilizados para preencher as pequenas isóbata de 20 metros, desde então, predominou uma
baias e estuários menores. Os excedentes foram pou- sedimentação essencialmente biogênica, dominada
co a pouco utilizados para fazer a linha de costa e o por algas coralinas incrustantes, seguidas em impor-
prisma costeiro avançarem, como por exemplo, nas tância por foraminíferos, moluscos e briozoários. Fa-
regiões confrontantes às principais planícies quater- tores que podem ter favorecido este desenvolvimento
nárias (Figs.XVIII.36, XVIII.37). Hoje a sedimentação predominante de algas coralinas incluem a disponi-
siliciclástica se estende na maior parte da plataforma bilidade de substratos consolidados na plataforma
baiana até no máximo a isóbata de 20m, e soterra externa em associação com condições meso-oligofó-
progressivamente o paleorelevo formado durante a ticas (Fig.XVIII.38).
488 • G eolog i a da B a hi a
490 • G e olog i a da B a hi a
Naqueles trechos onde substratos consolidados es- das baías predominou a acumulação de sedimentos
tavam disponíveis em águas suficientemente rasas lamosos (Fig.XVIII.38).
(eufóticas) (<10m) afastadas de desembocaduras flu-
viais, após 7.000 anos AP, recifes de coral se implan- As entradas das duas grandes baías que ainda não
taram e iniciaram seu desenvolvimento holocênico, foram preenchidas, Camamu e Todos os Santos, fun-
como ocorreu principalmente no Compartimento Sul, cionam como armadilhas, trapeando um grande vo-
e em trechos localizados dos Compartimentos Cen- lume de sedimentos arenosos transportados ao longo
tral (Ilhas de Tinharé e Boipeba, península de Maraú da linha de costa.
e ilha de Itaparica) e Norte (Localidades de Guarajuba
e praia do Forte). Leão (1982) realizou uma sonda-
gem na Ilha da Coroa Vermelha, no arco interno de
Abrolhos, tendo alcançado o substrato pleistocêni- 9 Recursos Minerais
co dos recifes atuais a uma profundidade de aproxi-
madamente 11m abaixo do nível atual. A datação de Os principais recursos minerais nas regiões platafor-
fragmentos de Siderastrea sp. coletados ligeiramen- mais são os granulados (siliciclásticos e bioclásticos)
te acima desta discordância, forneceu uma idade de e os depósitos de placer (ouro, diamante, minerais pe-
6660+110 anos AP (não corrigida). Considerando-se sados, etc.) (CAPÍTULO XX).
que no local onde foi feita a sondagem o substrato
pleistocênico começou a ser inundado por volta de Depósitos de minerais pesados têm sido explotados
8.000-9.000 anos AP, ocorreu um atraso de pelo me- principalmente na área emersa da zona costeira (Do-
nos 2.000 anos entre a inundação e o início da cons- minguez 2010, CAPÍTULO XVII). É possível que na pla-
trução dos recifes. taforma continental contígua a estas acumulações,
depósitos economicamente exploráveis destes mine-
Nas regiões topograficamente rebaixadas da plata- rais estejam presentes, porém até hoje nenhuma ava-
forma associadas às cabeçeiras de cânions e vales liação econômica dos mesmos foi feita. De qualquer
incisos ou protegidas da ação de ondas pela presença maneira, como já visto, sedimentos siliciclásticos têm
de recifes de corais, assim como nas desembocaduras sua distribuição restrita às vizinhanças imediatas da
dos principais rios e nas regiões mais interiorizadas linha de costa.
492 • G eolog i a da B a hi a
Granulados litoclásticos marinhos são as areias e A França, apesar da pequena extensão relativa de sua
cascalhos, originados do continente, depositados na plataforma continental, é o maior produtor de granu-
plataforma continental e retrabalhados pela ação con- lados bioclásticos e litoclásticos para uso industrial.
junta das ondas e correntes marinhas. Constituem im-
portantes insumos minerais para uso industrial e para Na plataforma continental do Estado da Bahia, a fra-
obras de engenharia costeira. A explotação destes bens ção cascalho do sedimento superficial de fundo, cons-
minerais tem experimentado um aumento significativo tituída predominantemente por algas coralinas, ocor-
nas últimas décadas, em associação com o decréscimo re principalmente na plataforma externa, em profun-
das reservas no continente (Silva et al. 2001). didades superiores a 30m e, portanto, inacessíveis às
dragas atuais . Apenas em trechos muito localizados,
Na costa da Bahia, as principais acumulações de como por exemplo nos municípios de Camaçari e
areias litoclásticas encontram-se na plataforma in- Conde (Compartimento Norte), acumulações de algas
terna até as isóbatas de 10-20m. As maiores reservas calcárias ocorrem nas plataformas média e interna,
estão associadas aos deltas de maré vazante locali- em profundidades inferiores a 30m.
zados em frente às embocaduras de canais de maré
e baías. Estas reservas podem vir a ter importância Na plataforma baiana existem basicamente três áreas
em cenários a médio e longo prazos, para abastecer com processos para esta substância junto ao DNPM:
projetos de regeneração de praias, uma vez que tre- (i) em frente à foz do Rio Jequitinhonha, (ii) a norte de
chos da zona costeira apresentam tendência para re- ilhéus, (iii) na entrada da Baía de Todos os Santos. No
cuo erosivo da linha de costa e existem perspectivas entorno da Baía de Todos os Santos existem também
de subida do nível do mar nas próximas décadas em vários processos, junto ao DNPM relativos a diversas
decorrência do aquecimento global. Verifica-se que modalidades de granulados bioclásticos, neste caso
apenas na região de Ilhéus existem processos no constituídos basicamente por conchas e fragmentos
DNPM relativos a esta substância. de corais.
Os granulados bioclásticos marinhos são formados Finalmente na foz do Rio Jequitinhonha e vizinhanças
principalmente por algas calcárias. Apenas as formas existem áreas requeridas para pesquisa de diamante,
livres free-living das algas calcárias, tais como ro- tendo em vista a ocorrência deste mineral nos aluvi-
dolitos, nódulos, e seus fragmentos, são viáveis para ões do Rio Jequitinhonha, principalmente no Estado
a exploração econômica, pois constituem depósitos de Minas, e nos aluviões do Rio Pardo, que cortam as
sedimentares inconsolidados, facilmente coletados ocorrências de diamante da Formação Salobro, na
através de dragagens (Dias 2001). Bacia Metassedimentar do Rio Pardo (CAPÍTULO X).
As algas calcárias são compostas, basicamente, por Os recursos energéticos (óleo e gás) não serão aqui
carbonato de cálcio e magnésio contendo ainda mais discutidos haja vista estarem concentrados em sua
de 20 oligoelementos, presentes em quantidades va- maior parte na região do talude onde se verificam as
riáveis, tais como Fe, Mn, B, Ni, Cu, Zn, Mo, Se e Sr. O maiores espessuras de sedimentos (Fig.XVIII.39).
494 • G eolog i a da B a hi a
496 • G e olog i a da B a hi a
1 Introdução
O termo “Neotectônica” não representa uma unanimidade no meio cientifico geológico. Em locais de tectônica
ativa (p.e. Andes, Falha de San Andreas ou Japão) representa o resultado da atuação de campo de tensão atual na
geração de estruturas geológicas. Já em margens continentais passivas o seu significado temporal pode recuar
muito mais no passado. Para a margem continental passiva brasileira pode-se considerar como neotectônica
eventos ligados à abertura do Oceano Atlântico e posteriores retrabalhamentos ou ainda se considerar os pro-
cessos acontecidos após a abertura do Oceano Atlântico a partir do Mioceno ou Oligo-Mioceno (Hasui 1990). Esse
período de tempo se encaixa perfeitamente na constituição e evolução da Formação Barreiras (20-4Ma) (CAPÍTU-
LO XVI), tornando o estudo das estruturas geradas nos seus pacotes sedimentares um estudo sobre neotectônica.
Apesar de se estender por ampla área em todo contorno costeiro do Brasil, do Amapá até o Rio de Janeiro, muito
pouco tem sido feito em termos de entendimento tectônico e do controle estrutural da Formação Barreiras. Ela
tem sua gênese intimamente associada com a evolução da plataforma continental brasileira. Na porção SSE do
Estado da Bahia apresenta uma das suas maiores exposições contínuas, desde a cidade de Ilhéus até a frontei-
ra com o estado do Espírito Santo em mais de 600km de comprimento alcançando até 200km de largura (Fig.
XIX.1). Muito embora tenha sido descrito como um conjunto de pacotes sedimentares depositados em ambiente
continental a transicional, atualmente tem sido encontradas evidências de contribuição marinha (Araí 2006, Araí
& Novais 2006) (CAPÍTULO XVI). Entre as principais dificuldades encontradas no estudo estrutural-tectônico da
Formação Barreiras na Bahia estão: (i) o baixo grau de litificação dos seus depósitos sedimentares e (ii) o alto índi-
ce pluviométrico nas áreas de ocorrência dessa Formação. Esses fatores dificultam enormemente a preservação
de estruturas deformacionais confiáveis.
498 • G eolog i a da B a hi a
16/10/12 00:24
Figura XIX.3 - Mapa geológico simplificado das principais unidades tectônicas observadas na área de influencia da Formação Barreiras no
SSE da Bahia (modificado de Barbosa & Dominguez 1996, Barbosa & Corrêa-Gomes 2003, Corrêa-Gomes et al. 2005a). No inset superior
esquerdo aparece a localização da área em relação ao Cráton do São Francisco. ZCIIC = Zona de Cisalhamento Itabuna-Itaju do Colônia,
ZCIP = Zona de Cisalhamento de Itapebi-Potiraguá.
502 • G e olog i a da B a hi a
Para os tensores mínimos principais (s3) as maio- (ii) as orientações dos tensores máximos principais
res concentrações ocorreram em N160º-N170º, com são também paralelas àquelas das orientações dos
18 medidas (11,8%), N040º-N050º, com 14 medidas lineamentos regionais, o que pode ser um indício que
(9,2%) e N050º-N060º com 13 medidas (8,5%). Os as estruturas mais antigas regionais condicionam lo-
caimentos foram também sub-horizontais para NNW, calmente a orientação dos campos de tensão.
NE e SSE, com máximo em N048º/00º.
c d
e f
Figura XIX.5 - Fotografias de campo de planos de falhas com estrias preservadas de baixo rake (a), (b), (c), (d) e (e) correspondentes às setas
brancas orientadas paralelamente às canetas e lapiseiras. Em (f) observação em planta do sistema principal de falhas gerando sistema
secundário com rotação no sentido horário do σ1 local (setas pretas).
504 • G e olog i a da B a hi a
exemplo, nos Andes podem ocorrer faixas onde pre- Segundo Zoback (1992) as principias forças de 1ª e 2ª
domina a extensão ortogonal ao eixo maior da cordi- ordens compreendem:
lheira (Assumpção 1992, Richardson & Coblentz 1994).
(i) 1a ordem (mundiais e regionais): forças de empur-
As forças resultantes da movimentação de placas tec- rão da dorsal, força de arrasto do manto, de direcio-
tônicas (plate driving forces) dominam a configura- namento de migração da placa, de puxão da placa
ção dos campos maiores de tensão (de 1a ordem), en- subduzida, de arrasto da placa subduzida, de resis-
quanto as idades, e a densidade dos litotipos ígneos e tência das falhas transformantes, de resistência da
metamórficos, a espessura dos pacotes sedimentares placa subduzida e de sucção da trincheira e,
(buoyancy forces) e a resistência mecânica diferencial
são alguns dos fatores de influência na orientação dos (ii) 2a ordem (regionais e locais): tensão local flexural
campos de tensão regionais e locais (de 2a ordem). (carga de sedimentos e/ou carga glacial); contraste
506 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIX.8 - Forças resultantes da sobreposição entre um campo de tensão regional e outro local (Zoback 1992). SHMAX e SHMAX’’,
correspondem, respectivamente, às tensões máximas horizontais regionais e locais, e Shmin e Shmin’’, correspondem às mínimas horizontais
regionais e locais. Ângulos abertos no sentido horário são considerados positivos e os abertos no sentido anti-horário são negativos.
O σL é o campo de tensão local.
508 • G e olog i a da B a hi a
(iii) a seguir, a relação passa a ser SHmax > Sv > Shmin, 2003a, b, Corrêa-Gomes et al. 2005a, b), com exten-
com transcorrência dominante (estágio 3) e estrias sões E-W evoluindo para ESE-WNW, acompanhando
strike-slip predominam e se sobrepõem as dip-slip; a evolução de propagação do oceano Atlântico Sul no
Mesozoico (CAPÍTULO XIII). O que se observa no Grupo
(iv) pode evoluir para SHmax >> Shmin » Sv (estágio 4) Barreiras é que aparentemente a margem continen-
com transcorrências associadas a empurrões e, tal passiva no SSE do Estado da Bahia está passando
para o estagio 3 da evolução anteriormente descrito,
(v) pode passar para SHmax > Shmin > Sv (estágio 5) típico com clara dominância de falhas transcorrentes, com
de zonas de empurrões. estrias strike-slip nos planos de falha, sobre falhas
normais, com estrias dip-slip.
Os estágios 1 e 2 já foram alcançados na geração das
bacias do tipo rift baianas (ver por exemplo Magnavita
1992, Magnavita et al. 2005, Destro 2002, Destro et al.
510 • G e olog i a da B a hi a
d
c
Figura XIX.10 - Estruturas encontradas nos horizontes argilosos de solos na desembocadura do Rio Jequitinhonha (coordenadas de
localização em (e)). Em (a) sistema conjugado de fraturas, com fraturas T (extensionais) paralelas ao s1 (setas pretas), em (b) e (c) pares
paralelos e concorrentes de fraturas, em (d) fraturas de Riedel e em (e) quadro-síntese com as principais estruturas rúpteis observadas
no campo e dedução da orientação do tensor máximo principal (s1) responsável pela geração dessas estruturas
(a orientação local mais adequada é a N140º).
512 • G eolog i a da B a hi a
Figura XIX.12 - Movimentos absolutos de placas tectônicas baseados em dados GPS do GFZ Potsdam, Alemanha para o período entre
1993-2000 (setas vermelhas), comparados com direções antigas preditas pelo modelo NUVEL 1A (setas pretas) e astronômico (setas azuis).
Notar que nas estações braz e fort existe uma boa aproximação entre os três métodos com setas indicando movimentos para
N330º-N320º(Fairhead & Wilson 2004).
514 • G e olog i a da B a hi a
Figura XIX.13 - Orientações dos tensores SHmax (setas vermelhas) e suas relações com os motores tectônicos geradores , na região SSE
do Estado da Bahia, atuando sobre a Formação terciária Barreiras e as e as coberturas sedimentares mais recentes. Em (a) o motor é a
compressão E-W da dorsal oceânica (ridge push), atuando em pulsos e em (b) o motor é o vetor de migração da placa sulamericana, N140º,
também atuando em pulsos (imagens extraídas do Google Earth 2010TM)
1 Introdução
A Bahia é um dos estados do Brasil mais bem estudados do ponto de vista geológico. Essa frase é válida, con-
quanto ela careça ainda de mais dados de terreno, petrológicos, litogeoquimicos e isotópicos-geocronológicos
que permitam interpretar com mais segurança sua evolução tectônica e metalogenética.
À luz dos conhecimentos atuais da geologia da Bahia, esse CAPÍTULO XX foi elaborado a partir da extração das
principais interpretações dos autores responsáveis pelos outros capítulos. Com isso foi feita uma tentativa de
elaborar modelos evolutivos da geologia do Estado, desde o Arqueano até o Quaternário, compatibilizando a
evolução tectônica com seus principais depósitos e jazidas minerais, sendo excluídas as pedreiras de rochas or-
namentais, minerais industriais e de materiais para construção civil. Ilustram esses modelos tectônicos e meta-
logenéticos, seções geológicas esquemáticas, sequenciadas, correspondentes a cada Era com a interpretação da
gênese das rochas mostrando a ordenação das litologias, das mais velhas até as mais novas.
No Arqueano, um dos entraves em se identificar e coletar dados geológicos significativos das suas rochas é que
os seus processos orogenéticos foram camuflados ou apagados pelos processos orogenéticos mais novos. Esses
promoveram reciclagens, às vezes com metamorfismo e migmatização associados, chegando a diferenciar, de
forma intracrustal, a crosta continental. Em decorrência disso é difícil reconstruir a geologia arqueana do emba-
samento do Cráton do São Francisco (CSF) na Bahia, registrada nos diferentes blocos crustais (Gavião, Serrinha,
Jequié e Itabuna-Salvador-Curaçá) devido à forte presença, praticamente generalizada, da orogenia paleoprote-
rozoica, sempre acompanhada de granitogenêse sin e pós-tectônica. No Bloco Gavião, por exemplo, pesquisado-
res que atualmente estudam a região afirmam que as deformações e o metamorfismo-migmatização paleoprote-
518 • G e olog i a da B a hi a
O Cenozoico, sem considerar as áreas espalhadas por O Paleo-Mesoarqueano da parte norte do Bloco
todo o Estado, as descrições geológicas de seus sedi- Gavião (CAPITULO III) está representado tanto por
mentos costeiros fazem parte dos CAPÍTULOS XV, XVI, gnaisses e migmatitos (TTG de idades variando entre
XVII e XVIII, embora estejam resumidamente descri- 3,44Ga e 3,40Ga) nas proximidades da Serra de Jaco-
tas no final desse capítulo. bina, como por ortognaisses e migmatitos na região
de Juazeiro e Petrolina. Nessa última região cinco
amostras de zircão registraram idades em torno de
3,5Ga e idades modelo Sm-Nd com valores variando
2 Arqueano de 3,7 a 3,0Ga, todas indicando fonte dominantemente
arqueana. Ainda nessa parte do Bloco Gavião, os Gre-
As pesquisas até agora desenvolvidas no embasa- enstone Belts Lagoa do Alegre, Salitre-Sobradinho
mento do Cráton do São Francisco na Bahia, sobre- e o Complexo Barreiro ou Greenstone Belt Barreiro-
tudo nas rochas arqueanas, estão permitindo separar -Colomi (CAPÍTULO IV), embora sem datações, quan-
seis segmentos crustais com características próprias, do relacionados com as outras rochas adjacentes,
ou sejam: (i) o Bloco Gavião onde predominam ter- permitem interpretá-los como de idade neoarquea-
renos gnáissicos e migmatíticos da fácies anfibolito na. Como destacado no CAPÍTULO III, não somente
entremeados de greenstone belts (GB) e sequências a falta de estudos geocronológicos e isotópicos, mas
metavulcanos- sedimentares, além de granitoides também a falta de informações, tornam inconsisten-
diversos; (ii) o Bloco Serrinha, onde também predo- tes as interpretações geológicas e consequentemente
minam migmatitos da fácies anfibolito; (iii) o Bloco o estabelecimento de modelos tectônicos.
Uauá onde no Mesoarqueano foi gerado o Comple-
xo anortosítico Lagoa da Vaca cujas encaixantes são Na parte norte do Bloco Gavião o Greenstone Belt
migmatitos semelhantes aos do bloco anterior; (iv) Mundo Novo é o mais conhecido devido à realização
o Bloco Jequié formado na sua quase totalidade por de mapeamentos de semidetalhe visando a prospec-
rochas equilibradas na fácies granulito; (v) o Cinturão ção mineral. Entretanto, como mostrado no CAPÍTU-
Itabuna-Salvador-Curaçá constituído por rochas para LO IV, os dados geológicos não permitem ainda inter-
e sobretudo ortometamórficas intensamente defor- pretar com clareza a evolução e ambiente tectônico
madas e na sua maioria equilibradas na fácies granu- que deu origem às suas rochas. Também o seu em-
lito e (vi) o Cinturão Salvador-Esplanada cujas rochas basamento não é bem conhecido, em que pese a se
estão gnaissificadas, embora em alguns locais sejam ter ciência das Sequências Inferior, Média e Superior
conhecidos migmatitos da fácies anfibolito, além de desse greenstone, apesar de estarem deformadas e
concentrações de granulitos como no caso de Salva- metamorfizadas na fácies xisto-verde/anfibolito. Des-
dor e sua periferia (CAPÍTULO III). tacam-se nesse greenstone belt as metavulcânicas
félsicas (dacitos) com idade U-Pb SHRIMP em zircão
de 3305±9Ma, interpretada como representando um
estágio magmático juvenil. Este dado isocrônico defi-
ne em termos de idade esse greenstone, visto que esse
valor encontrado nos dacitos é assumido também
Em termos de metalogênese, vale mensionar que A evolução tectônica arqueana da parte norte do Blo-
no Greenstone Belt Mundo Novo, a 300m de profun- co Gavião, envolvendo o Greenstone Belt Mundo Novo,
didade, através furos de sondagem, foi encontrada o Complexo Saúde e o Complexo Máfico-Ultramáfico
lente (8m de espessura por 400m de comprimento) de Campo Formoso, incluindo suas mineralisações,
de SULFETOS MACIÇOS (~6,0% de Zn, 0,7% de Pb, está sugerida na figura XX.1.
~500ppm de Cu, 35g/t de Ag) (CAPÍTULO IV). Esses
depósitos são arqueanos e considerados como forma-
dos a partir de fluidos exalativos, cujas emanações 2.2 Bloco Gavião (Partes Oeste, Central e
podem ter sido difusas ou concentradas. Atualmente Sul) (Fig.XX.2)
esse alvo metalogenético continua sendo intensa-
mente pesquisado. Nos dias atuais, mapeamento de campo e pesquisas
laboratoriais vêm sendo desenvolvidas nas partes sul,
Ainda na parte norte do Bloco Gavião, encontra-se central e oeste do Bloco Gavião centrando esforços
também o denominado Complexo Ultramáfico de Cam- nos mapeamentos geológicos e estruturais na esca-
po Formoso (40km de extensão versus 100-1000m de la 1:60.000, nos estudos petrológicos, litogeoquími-
largura) com importantes mineralizações de CROMITA cos e geocronológicos, incluindo geofísica e química
(CAPÍTULO VII). Ele é intrusivo nos gnaisses e migmati- mineral. Essas pesquisas vêm sendo executadas por
tos situados ao lado oeste da Serra de Jacobina. As re- pesquisadores e professores da UFBA-Universidade
lações de campo, sobretudo a presença de cromita de- Federal da Bahia e financiadas: (i) pela CPRM-Com-
trítica nos metassedimentos basais paleoproterozoicos panhia de Pesquisa de Recursos Minerais através do
do Grupo Jacobina (CAPÍTULO VI), sugerem que esse PRONAGEO-Programa Nacional de Geologia; (ii) pela
complexo deve ter uma idade no mínimo neoarquea- CBPM-Companhia Baiana de Pesquisa Mineral; (iii)
na, embora não esteja descartada a possibilidade de ele pelo CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento
ser paleoproterozoico (CAPÍTULO VII). As rochas desse Científico e Tecnológico e, (iv) pelo Acordo CAPES-
complexo encontram-se fortemente alteradas pelo au- -COFECUB. Esse último é um programa de colabo-
tohidrotermalismo, entretanto, algumas características ração cientifica entre pesquisadores do NGB-Núcleo
preservadas, tais como o bandamento rítmico das ca- de Geologia Básica-Mapeamento Geológico e Metalo-
madas com continuidade lateral, além da presença de gênese da UFBA e pesquisadores franceses das Uni-
rochas piroxeníticas sotopostas aos serpentinitos, per- versidades de Clermont-Ferrand, Rennes e Franche-
mitem compará-lo com outros complexos estratifor- -Compté, que dão apoio laboratorial às pesquisas nos
mes mundiais portadores de cromita (CAPÍTULO VII). domínios do metamorfismo, da geologia isotópica e
A FERBASA-Ferro Ligas da Bahia é detentora das jazi- geocronologia.
das e especializada em metalurgia, com a maior pro-
dução de ferro-cromo das Américas, desde os anos Nessas pesquisas, apesar de intensas, continuam sen-
sessentas do século passado. Apesar dessa performan- do encontradas dificuldades nas interpretações, visto
ce, o Distrito de Campo Formoso, com nove minas, es- que, como assinalado antes, se trata de uma região,
sencialmente plutônicas, cumuláticas, tem ainda vida onde terrenos paleo-mesoarqueanos foram superpos-
útil de 5,5 anos. Ele produz atualmente cerca de 10.000 tos por eventos geológicos mais novos, de idades va-
toneladas de cromo/mês que são transformadas em li- riando entre 2,7Ga, 2,0Ga e 570Ma. Vale destacar que,
gas de Fe-Cr, alto e baixo carbono, Fe-Si-Cr, Fe-Si além para complicar mais ainda, nesses terrenos do Bloco
520 • G e olog i a da B a hi a
Gavião, verifica-se que os dois primeiros eventos (2,7- terrenos paleoarqueanos da penetração de corpos
2,0Ga) tiveram atuação e ficaram registrados no mes- plutônicos calcialcalinos, a exemplo dos ortognaisses
mo nível crustal, fato que reforça as dificuldades nas Riacho da Faca (2726±30Ma) e Jurema (2627±9Ma),
interpretações geológicas ao longo do tempo: as para- indicando que nessa época deve ter havido recicla-
gêneses ígneas e metamórficas de ambos os eventos gem e diferenciação intracrustal de crosta TTG com
são similares, a grande maioria da fácies anfibolito. a produção de crosta mais nova granodiorítico-gra-
nítica, à semelhança do que ocorre na parte central
Na parte sul do Bloco Gavião, nas regiões de Caculé, desse bloco, nas proximidades do Contendas-Mirante
Ibiassucê, Ibitira e Ubiraçaba, essas pesquisas recentes (CAPÍTULOS VI, III, V). Como procuram mostrar as
estão mostrando que nos seus terrenos ortognáisico- figuras XX.2a e XX.2b, inseridas mais adiante, esses
-migmatíticos paleoarqueanos, ocorrem rochas TTG corpos granitoides surgem onde a crosta TTG mais
ou similares com magmas originais de 3406±65Ma e antiga foi reciclada por processos mais novos.
3141±27Ma, os quais podem ter-se originado da fusão
parcial de metabasaltos toleiíticos de fundo oceânico. Nos terrenos da parte central do Bloco Gavião (CA-
Apesar de não se ter ainda datação radiométrica, os PÍTULO III) os trabalhos evidenciam a existência de
anfibolitos (basaltos), intercalados com metaultra- três grupos de granitoides, paleo e mesoarqueanos
mafitos (komatiitos) subordinados, que ocorrem na (CAPÍTULO V).
base do Greenstone Belt Ibitira-Ubiraçaba, podem ter
sido a fonte das rochas TTG. Esses estão em conta- O primeiro grupo, que contém uma das rochas mais
to tectônico com os anfibolitos e metaultramáficas antigas da Bahia, são do tipo TTG (tendência predo-
do GB Ibitira-Ubiraçaba. Existem evidências nesses minante trondhjemítica) com idades que variam entre
522 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.2 – (a) Evolução tectônico-metalogenética das partes central e sul do Bloco do Gavião entre 3,4-3,1Ga. Na etapa inicial,
parcialmente extensional, houve a formação de granitoides TTG (primeiro grupo 3,4-3,2,Ga) através do consumo de crostas oceânicas
toleiíticas precoces. Contemporaneamente, formação de bacias inter-intracratônicas associadas a arcos e back-arc vulcânicos, como o (GB)
Umburanas com komatiitos na base e zircões detríticos (3,3-3,1Ga) nas formações siliciclásticas. Ainda na etapa extensional, formaram-
se BIFs e depósitos de Pb-Zn no (GB) Boquira, e de magnesita no (GB) Brumado. Está indicado também o aparecimento dos granitóides
do segundo (3,4-3,3Ga) e terceiro (3,2-3,1Ga) grupos. Não estão representadas as Seqüências Metavulcanossedimentares Caetité-Licínio
de Almeida e Urandi (parte oeste do Bloco Gavião referida adiante) com suas formações ferriferas e manganesíferas, consideradas como
geradas na transição Arqueano-Paleoproterozoico. (b) Esboço ampliado sugerindo a evolução tectônico-metalogenética das partes central
e sul do Bloco do Gavião entre 2,9-2,5Ga. Na etapa extensional ocorreu oceanização local e início da individualização dos Blocos Jequié e
Gavião. Penetração do Sill Rio Jacaré-Fazenda Gulçari e do Granitoide Pé de Serra, ambos em torno de 2,6Ga. Na etapa colisional precoce
ocorreu a reciclagem e diferenciação intracrustal dos TTG produzindo granitoides em torno de 2,7-2,6Ga, a exemplo dos granitoides
Riacho da Faca (2726±30Ma) e Jurema (2627±9Ma). Nessa etapa, no Contendas-Mirante surgiram vulcânicas cálcio-alcalinas (~2,5Ga)
de arco, intercaladas nos metapelitos da Formação Mirante. A Formação Areião, não indicada na figura, superpôs toda a Sequência
Metavulcanossedimentar Contendas-Mirante (Esboços geológicos com base nos CAPITULOS III, IV e V).
a partir de piroxenitos e gabro-noritos. Considerada gap de idades leva a considerar que essa formação
como aquela de maior teor de vanádio conhecido no não fazia parte do empilhamento das supracrustais
mundo (1,44 de V2O5), está sendo atualmente desen- do (GB) Contendas-Mirante ou Sequência Metavulca-
volvida pela Largo Mineração do Brasil Ltda, com sua nossedimentar Contendas-Mirante (CAPÍTULOS IV e
explotação prevista para começar em 2012-2013. VII). Com relação ao (GB) Umburanas, em meta-an-
desito da sua unidade intermediária, foram encontra-
Após essas intrusões houve a sedimentação siliciclás- dos zircões com 2744±15Ma considerados como rela-
tica da Formação Areião que possui idade bem mais cionados à idade da cristalização magmática desses
nova que as rochas anteriores (CAPÍTULO III). Esse vulcanitos (CAPÍTULO IV) (Fig.XX.2b).
524 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.3 – Seção geológica simplificada no Bloco Jequié mostrando as rochas da fácies anfibolito.
Em preto e verde as rochas supracrustais (possíveis Greenstone Belts?) e em vermelho os granitos, granodioritos e tonalitos,
que depois da colisão paleoproterozoica, mostrada adiante, foram transformados em granulitos enderbíticos-charnoenderbíticos
e charnockiticos (Modificado de Barbosa et al.2005).
526 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.4 – Esboço geológico mesoarqueano na parte norte do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, mostrando o aparecimento do Complexo
Caraíba (Oliveira et al. 2010). A oeste é indicado o Bloco Gavião com o Greenstone Belt Mundo Novo, conforme a figura XX.1. Estão
assinaladas também as rochas máfico-ultramáficas onde se situa a Mina de cobre Caraíba (Modificado de Barbosa et al. 2005)
Figura XX.5 – Seção geológica na parte sul do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá sugerindo a presença de arcos-de-ilhas com a presença
de rochas vulcânicas e plutônicas cálcio-alcalinas, ao lado de basaltos de fundo oceânico. Estas foram superpostas por sedimentos,
incluindo formações manganesíferas e “camadas” de baritina que passaram a constituir depósitos de manganês e barita. As formações
ferríferas formadas nessa época estão também sendo pesquisadas para exploração do ferro (Modificado de Barbosa et al. 2005)..
528 • G e olog i a da B a hi a
Como descrito no CAPÍTULO VI, a bacia Jacobina Seja qual for sua origem, seguramente, a Serra de
formou-se no paleoproterozoico sobre rochas meta- Jacobina é o remanescente de uma bacia paleopro-
mórficas de médio grau e sobre o Complexo saúde e terozoica situada na margem leste do Bloco Gavião
Greenstone Belt Mundo Novo, ambos possivelmente (Fig.XX.6). Depois de deformada e sub-verticalizada,
deformados e metamorfizados como suas rochas vi- ela veio a formar um relevo montanhoso de cristas
Figura XX.6. Seção esquemática da parte norte do Bloco Gavião mostrando a situação precoce da Bacia Jacobina no Paleoproterozoico. Seu
embasamento foram as rochas deformadas do Complexo Saúde e do Greesntone Belt Mundo Novo, além de suas rochas encaixantes orto e
paraderivadas, arqueanas (Modificado de Barbosa et al. 2005)..
530 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.7 – Esboço geológico de parte do Bloco Gavião mostrando as Formações Areião/Mirante (metarenitos, metagrauvacas, folhelhos)
sobre o Greenstone Belt ou Sequencia Metavulcanossedimentar Contendas-Mirante. São indicados também paragnaisses da suposta bacia
referida no texto e que possuem zircões detríticos paleoproterozoicos (em amarelo com pontos pretos) além da diferenciação intracrustal
com manifestações de granitoides de 2,7Ga e 2,0Ga (em bege com traços amarelos). A Sequência Metavulcanossedimentar Caetité-Licínio
de Almeida está indicada na parte oeste (Inspirado nas informações dos CAPITULOS III, IV e V).
532 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.8 – Seções esquemáticas W-E na parte norte do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá mostrando a formação do Greenstone Belt
Serrinha-Rio Itapicuru em um contexto pré-colisional ao Orógeno. (a) Microcontinente Santa Luz e a formação de um arco-de-ilha. (b)
Cratonização precoce com a colisão do microcontinete Santa Luz com o Serrinha-Rio Itapicuru e formação de vulcanicas calcialcalnas. (c)
Colisão final anterior à formação do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Notar a presença do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá posicionado a
oeste, antes da colisão paleoproterozoica. (Esboços geológicos inspirados em Silva 2001, Oliveira et al. 2010, Donatti Filho & Oliveira 2007).
534 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.9 – Esboço geológico esquemático W-E na parte norte do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, mostrando os blocos arqueanos Gavião
(Fig.XX.6), Itabuna-Salvador-Curaçá (Fig.XX.4) e Serrinha (Fig.XX.8), antes da colisão paleoproterozoica (Modificado de Barbosa et al. 2005).
536 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.10 (a) (b)- Esboço esquemático W-E na parte norte do Orogeno Itabuna-Salvador-Curaçá mostrando as situações sin-colisionais
dos Blocos Gavião, Itabuna-Salvador-Curaçá e Serrinha (Modificado de Barbosa & Sabaté 2002, 2004, Barbosa et al. 2005). Note a indicação
do “mergulho” para leste do Bloco Gavião com a produção de foliações suborizontais. FG-fácies granulitio. FA-fácies anfibolito. FXV-fácies
xisto- verde (Modificado de Barbosa et al. 2005)
te para sul, com ângulos de 20-30o. Os corpos máfico- nitoides estão intensamente deformados semelhante-
-ultramáficos do Vale do Jacurici (CAPÍTULO III, VI), mente às suas encaixantes granulíticas. Eles penetra-
re-equilibrados na facies granulito, possuem idades ram quando as rochas granulíticas estavam em posi-
de cristalização de 2085±5Ma (U-Pb SHRIMP em zir- ção mais superficial na crosta, levadas pela “expulsão”
cão) próximas à idade do metamorfismo granulítico das rochas na fase final da colisão (CAPÍTULO III).
(2083±4Ma) (CAPÍTULO III).
3.6.3 Situação Pós-Colisão –Atual (Fig.XX.11)
Deve-se destacar também que na parte norte do oró-
geno, no seio das rochas granulíticas são identificados Situações pós-colisionais são encontradas na par-
granitoides alcalinos, sieníticos, paleoproterozóicos te norte do orógeno que materialisam-se sobretudo
sincolisionais, da fácies anfibolito. Entre eles desta- através de granitoides e corpos máfico ultramáficos,
cam-se os sienitos Itiúba e Santanápolis. Esses gra- pós-tectônicos (Fig.XX.11).
538 • G eolog i a da B a hi a
fibolito. Na fácies granulito, dentro da parte norte do forem considerados os terrenos do Gabão, África. No
Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá, ocorrem também continente africano as rochas deformadas no Paleo-
granitoides. Entretanto, diferentemente das suas en- proterozoico vergem para leste. Nesse caso, compa-
caixantes, possuem paragêneses da fácies anfibolito, tibilizando a situação no sul da Bahia com o oeste do
semelhantemente ao Morro do Afonso, Cansanção, Gabão, pode-se então prolongar o eixo do Orógeno
Agulhas-Bananas e Itareru. Com essas característi- Itabuna-Salvador-Curaçá para esse país africano.
cas, os mais estudados foram os Granitoides Bravo, Fica assim também caracterizada a “flor positiva” na
Pedra Solta, Gavião-Morro do Juá e o Pé de Serra- parte sul do orógeno, similarmente à sua parte norte.
-Camará (CAPÍTULO V).
3.7.1 Situação Pré-Colisão (Fig.XX.12)
Caetité-Licínio de Almeida e Urandi se formaram an- lito Riacho da Onça (citado antes), essa suíte (TT1)
tes da colisão paleoproterozoica. Com efeito, sobretu- penetrou de forma sintectônica, na continuação sul
do nos greenstones, estão sendo encontradas idades desse orógeno, durante o Paleoproterozoico, no pico
paleoproterozoicas nos granitoides pós-tectônicos do metamorfismo regional.
que as atravessam. (CAPÍTULO III).
Exemplificando a situação sincolisional destacam-
Como descrito anteriormente, na parte sul do Cintu- -se os granulitos monzoníticos e monzodioríticos
rão Itabuna-Salvador-Curaçá, mais próximo da costa que ocorrem também na parte sul do orógeno, sob
atlântica predominam granulitos tonalítico-trondhje- a forma de megacorpos plutônicos, com extensões
míticos, cujas idades de cristalização são arqueanas. quilométricas (100-150km) dispondo-se na direção
Esses metaplutonitos, denominados no CAPÍTULO III N10oE e, com larguras variando de 5 a 10km, sempre
de (TT2) e (TT5) foram fortemente deformados e re- deformados e re-equilibrados pelo metamorfismo
cristalizados na fácies granulito durante o Paleopro- granulítico. Nas regiões de Valença e Ubaitaba, es-
terozoico, A figura XX.12 mostra como era o cenário ses corpos não têm ainda denominação, entretanto,
dessa porção do orógeno no Arqueano. na região de Uruçuca eles foram batizados com os
nomes Água Sumida, Rio Paraíso e São Geraldo. Nas
3.7.2 Situação Sincolisão (Fig.XX.13) regiões de Camacã e Potiraguá essas rochas foram
agrupadas na chamada Suíte Pau Brasil (granulitos
Durante a colisão paleoproterozoica na parte sul do tonalíticos, granulitos quartzo-monzoníticos, granu-
orógeno intrudiram sintectonicamente corpos de to- litos monzoníticos e granulitos charnockíticos). Dados
nalitos trondhjemíticos (TT1) com zircões magmáti- de evaporação Pb-Pb em seus zircões foram obtidos
cos exibindo idades U-Pb (SHRIMP) de 2131±5Ma e nos seus protolitos exibindo idades de cristalização
2191±10Ma com TDM=2,5Ga (εNd=-1,6 para 2,2Ga). Es- variando no intervalo de 2090 a 2080Ma. Igualmente
sas idades magmáticas dos zircões são relativamente nessas rochas foram obtidas idades em zircões plu-
próximas àquelas do pico do metamorfismo de alto tônicos de 2075±16Ma e 2089±2Ma (ambas ID-TIMS),
grau que atingiu essas rochas. Efetivamente, nas pe- com TDM=2,5 (εNd=-1,7 para 2,2Ga) (Fig.XX.13).
riferias dos zircões desses mesmos granulitos (TT1)
são registradas idades U-Pb (SHRIMP) de 2069±19Ma Como referido no CAPÍTULO III, comparando as ida-
e 2109±17Ma. Essas idades permitem considerar que, des de cristalização dos granulitos da parte sul do
semelhantemente ao corpo plutônico Augen Granu- orógeno com a idade do metamorfismo, pode-se
540 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.13 (a) (b). Seção esquemática W-E na parte sul do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá mostrando as situações
sincolisionais dos Blocos Gavião, Jequié e Itabuna-Salvador-Curaçá FG-facies granulito; FA- fácies anfibolito;
FXV- fácies xisto-verde (Modificado de Barbosa 2005).
Figura XX.14 – Seção esquemática W-E na parte sul do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá mostrando as situações pós-colisionais dos
Blocos Gavião, Jequié e Itabuna-Salvador-Curaçá (Modificado de Barbosa 2005).
542 • G eolog i a da B a hi a
Vale destacar também as possantes estruturas dômi- Com relação à metalogênese, na Suíte Lagoa Real são
cas pós-tectônicas encontradas na parte sul do oró- conhecidos um ou mais níveis de albititos minerali-
geno, mas somente na porção setentrional do Bloco zados em URÂNIO (uraninita ou pechblenda). Esse
Jequié. A mais importante se chama Domo de Brejões minério é explotado atualmente pela estatal INB-In-
cujos charnockitos têm idade paleoproterozoica (CA- dústrias Nucleares do Brasil, na mina da Fazenda Ca-
PÍTULO III). choeira, situada a cerca de 38km a norte da cidade de
Caetité. Quanto à sua gênese, existem controvérsias,
tanto com relação aos processos que originaram a
3.8 Suíte Lagoa Real e Vulcânicas Rio dos mineralização, quanto com relação à idade e as defor-
Remédios mações dúcteis ali presentes. Sabe-se que o Granitoi-
de São Timóteo foi a rocha plutônica original formada
Desde o Estateriano (Paleoproterozoico) até o Edia- a cerca de 1,7Ga e que a deformação que o ortognais-
carano (Neoproterozoico), o Cráton do São Francisco sificou foi de idade neoproterozoica, ligada à inversão
na Bahia experimentou uma sucessão de eventos de do Aulacógeno do Paramirim explicitada na figura
subsidência, alternados com períodos de soergui- XX.18b e no CAPITULO X. As rochas ortognaissifica-
mento. Durante as subsidências, formaram-se as ba- das, com fortes foliações penetrativas na Suíte Lagoa
cias receptoras das unidades de cobertura, que hoje Real, somadas às suas relações texturais, sugerem
se encontram superpostas (Fig.XX.15) e parcialmente que os albititos mineralizados em urânio surgiram
invertidas (Fig.XX.18b) (CAPÍTULO VIII). do metassomatismo sódico que transformou os fel-
dspatos alcalinos em albita. A principal dúvida reside
Como mostra o CAPÍTULO II, no final do Paleoprote- na idade desse metassomatismo: (i) se está associada
rozoico, na região do atual vale do Paramirim, a cros- aos fluidos finais da cristalização do São Timóteo; (ii)
544 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.15 (a)(b)(c) – Seções geológicas esquemáticas sequenciadas, mostrando a formação do Aulacógeno Paramirim, a introdução da
Suíte Lagoa Real, a sedimentação mesoproterozoica representada pelos principais grupos e formações além da indicação dos diques e sills
máficos e kimberlitos diamantíferos (inspirado no CAPITULO VIII e em Costa & Inda 1982).
546 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.16 – Invasão do mar Bambuí sobre o Cráton do São Francisco. Indicação na região de Barreiras de ocorrências de manganês
portadoras de tálio, cobalto e escândio. Na região de Irecê ocorrem depósitos de fosfato. Como uma ilustração, note que a Serra de Jacobina
deve ter ficado como uma ilha no mar Bambuí (Esboço geológico com base no CAPITULO VIII e em Costa & Inda 1982).
548 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.17. (a) - Seção esquemática Guaratinga-Itagimirim-Camacã. Formação da Bacia Macaúbas na região da Bacia do Rio Pardo
(Fm. Panelinha). (b) Seção esquemática na região de Piripá-Tremedal no sudoeste da Bahia. Formação da Bacia Macaúbas e sedimentos
da Serra do Espinhaço Setentrional. (c) Fechamento da Bacia Macaúbas na região da Bacia do Rio Pardo. Tectônica neoproterozoica com
vergência para SW contrastando com a tectônica paleoproterozoica com vergência para NE. Metamorfismo neoproterozoico com xistos
grafitosos e granitos do tipo “S” no Complexo Jequitinhonha. Construção da antefossa (bacia de foreland) com a Formação Salobro sobre
a Formação Panelinha (Bacia do Rio Pardo). A tectônica neoproterozoica da região de Piripá-Tremedal está ilustrada na figura XX.18a
(Esboços geológicos inspirados nos CAPITULOS III e X).
550 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.18. (a) Seção esquemática na região da Saliência do Rio Pardo (Piripá-Tremedal) mostrando os traços das deformações
neoproterozoicas com fluxo de material de sul para norte. Na Serra do Espinhaço Setentrional, o fluxo de material foi de NNE para SSW. (b)
Inversão do Aulacógeno do Paramirim na região do Espinhaço Setentrional, Boquira, Bloco do Paramirim e Chapada Diamantina, passando
pelo Sinclinal de Água Quente e Bacia de Irecê (Esboços geológicos com base no CAPITULO X e Batista et al. 2005).
552 • G eolog i a da B a hi a
Figura XX.19- (a) Seção esquemática sugerindo a formação da Bacia Rio Preto na parte baiana. Estão destacados os pelitos com o
protominério de manganês e os calcários do Grupo Bambuí. (b) Inversão da bacia com a formação da Faixa Rio Preto e com o
aumento das deformações e do grau metamórfico em direção à fronteira com o Piauí. Na região do CSF o protominério de manganês foi
enriquescido pela supergênese constituindo depósitos econômicos ricos no elemento raro tálio
(Esboços geológicos inspirados no CAPÍTULO IX e em Barbosa 1982).
Figura XX.19 (c) Deposição de sedimentos do Grupo Casa Nova na fronteira Bahia-Pernambuco em uma margem passiva neoproterozoica.
(d) Situação atual da Faixa de Dobramentos Riacho do Pontal. Deformação do Grupo Casa Nova com o aumento do grau metamórfico de sul
para norte, associado à tectônica tangencial neoproterozoica que formou zonas de cisalhamento estreitas e localizadas no CSF. Sugestão
de isógradas metamórficas Mu e Mu+Bi (fácies xisto-verde) e Bi+Gt (fácies anfibolito). Mu-muscovita. Bi-biotita. Gt-granada (Esboços
geológicos com base no CAPíTULO IX)..
554 • G eolog i a da B a hi a
556 • G eolog i a da B a hi a
558 • G e olog i a da B a hi a
560 • G e olog i a da B a hi a
Figura XX.22 (a)-Seção geral W-E mostrando a deposição da Formação Barreiras na borda costeira atlântica quando o nível do mar estava
alto no Mioceno médio-inferior. (b)- Detalhe da figura anterior mostrando a deposição de (QPla), (QP1) e (Qhl) sobre a Formação Barreiras e
avançando.mar adentro. A abreviatura MIS significa Marine Isotope Stage (CAPITULO XVII)
562 • G eolog i a da B a hi a
16/10/12 00:36
embora muito antigos, tiveram suas concentrações lativa quietude da crosta, esses corpos demonstram
econômicas, em oxidos secundários do tipo pirolu- marcantes processos de diferenciação magmática
sita e psilomelana, através de processos superge- por gravidade, com a deposição de metais economi-
néticos muito mais recentes, da Era cenozóica. De camente importantes, entre as assembléias minerais
maneira semelhante, o protominério de manganês plutônicas. Com essas características destacam-se
neoproterozoico do Distrito Manganesífero do Oeste os depósitos de Fe-Ti-V de Maracás, Campo Alegre
da Bahia, teve supergênese mais ativa no Mesozoico, de Lourdes e Rio Piau, de cromo de Campo Formoso
concentrando, nos óxidos de manganês secundários, e do Vale do Jacurici, de cobre de Caraíba e de níquel
elementos raros principalmente o tálio, e, subordina- e platina de Mirabela. Com essa mesma assinatura
damente o escâdio e o vanádio. Via de regra, também plutônica aparecem também, em termos de impor-
de origem sedimentar e associado ao manganês, im- tância econômica, o depósitos de cromo de Santa Luz
portantes jazidas de ferro se configuram atualmente de idade ainda indefinida e situado na periferia oeste
como econômicas, como por exemplo os depósitos do Bloco Serrinha. Os importantes depósitos de urânio
sedimentares metamorfizados de itabirito de Caetité- de Caetité e de fosfato de Angico dos Dias têm também
-Licínio de Almeida (Bloco Gavião) e inúmeras outras ligações direta com o plutonismo. Também ligadas ao
ocorrências de ferro que estão sendo atualmente plutonismo, ocorrem as mineralisações de esmeralda
pesquisadas dentro dos granulitos dos Blocos Jequié de Campo Formoso que foram produto da interação do
e Itabuna-Salvador-Curaçá. As ocorrências arquea- plutonismo pós-tectônico granítico-pegmatítico com
no-paleoproterozoicas de baritina de Itapura e Piraí os corpos máfico-ultramáficos da região.
do Norte, sempre associadas ao manganês, também
podem ter sido de origem sedimentar. Com o mesmo Depósitos de origem HIDROTERMAL, quando clara-
tipo de origem, entretanto ligadas a bordas de con- mente identificados, demonstram a necessidade da
tinentes, em ambientes sedimentares de águas ra- influência de uma fonte térmica extra, suplementar
sas, marinhos a marinhos restritos e clima desértico, as temperaturas do metamorfismo regional das fácies
destacam-se os importantes depósitos arqueanos ou xisto-verde e anfibolito. As minas de ouro de Jacobi-
paleoproterozoicos de magnesita da Serra das Éguas na (Bloco Gavião), da Fazenda Brasileiro e Maria Preta
na região de Brumado. No Mesozoico são importan- (Bloco Serrinha), além das ocorrências desse metal na
tes, não somente as rochas portadoras de petróleo Chapada Diamantina, são exemplos importantes. Con-
mas também, os depósitos sedimentares de baritina sidera-se que o ouro nesses dois últimos casos tiveram
e gipsita de Camamu, embora os primeiros tenham origem nas rochas máficas que foram hidrotermaliza-
tido uma certa influência hidrotermal. Nesse caso, das por fluidos que ali circularam trazendo o ouro, jun-
considera-se que níveis originais de anidrita foram tamente com soluções silicosas, para se concentrarem
substituídos hidrotermalmente por barita. em zonas de cisalhamento ou zonas de falhas. A barita
de Contendas do Sincorá e o talco associado à magnesi-
Explorando ainda mais a figura XX.23, nota-se que ta de Brumado, também tiveram influência de proces-
os depósitos mais econômicos, a maioria alcançan- sos hidrotermais. Vale chamar a atenção para parte da
do a categoria de mina, são de origem PLUTÔNICA. Mina Caraiba que pode tambem ter sofrido influência
Tratam-se em geral de corpos máficos-ultramáficos hidrotermal. Com efeito, quando da subida de blocos
arqueanos e sobretudo paleoproterozoicos, re-equili- granulíticos para partes mais superficiais da crosta,
brados em situação subsolidus nos ambientes meta- para o ambiente da fácies anfibolito, fluidos provenien-
mórficos onde se alojaram. Parece que penetraram tes de intrusões félsicas vizinhas, contemporâneas ao
no pico do metamorfismo quando as deformações retrometamorfismo, podem ter reconcentrado o cobre,
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