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Tecnologias de gestão

o AdARKETING DE
RELACION~ENTO: O NOVO
MARKETING DA NOVA ERA
COMPETI'IVA

Paulo Eduardo Sallby


E-mall: psallby@lbm.nef

o NOVO CONTEXTO temente negligenciam o diálôgo quadro atual do mundo dos negócios.
EMPRESARIAL com o cliente; Agora, uma pessoa pode, através da
• mídias tradicionais ampliam o ní- internet, consultar inúmeros preços de
o ambiente empresarial mundial vel de ruído e falham em comunicar produtos/serviços de várias empresas
vem sendo palco de transformações claramente as mensagens. A confu- em tempo real e a um custo muito bai-
cada vez mais rápidas, bruscas e ex- são reina; xo. Portanto, o cliente está melhor in-
pressivas na forma de se fazer negócios. • o ambiente de negócios e o cenário formado e quer comprar simplesmen-
Em um momento como esse, as em- futuro da competitividade são te o que há de melhor no mercado.
presas devem, como medida de sobre- imprevisíveis; O mercado, por sua vez, está cada
vivência, aumentar sua produtividade • previsões de pesquisas de mercado vez com menos fronteiras, cada vez
e competitividade. não fornecem um rumo claro para mais globalizado. Esse fato aumenta
A nova era competitiva foi assim as ações. ainda mais a concorrência e exige das
caracterizada por Regis McKenna: I O que é fundamental que os empre- empresas uma postura muito compe-
• crescente diversidade de produtos sários compreendam é que os clientes titiva, para que possam fazer frente a
e serviços; estão se tornando cada vez mais exi- concorrentes do mundo inteiro e satis-
• crescente concorrência global; gentes e, diferentemente dos clientes fazer clientes do mundo inteiro.
• segmentação de mercados, tecno- de dez anos atrás, eles querem cada O aumento da competição e os
logias e soluções; vez mais qualidade e menos preço. O avanços tecnológicos geraram mudan-
• mudanças organizacionais e estru- aumento das exigências, por parte dos ças radicais na estrutura das empre-
turais nas empresas, buscando no- clientes, pode ser facilmente explica- sas, que está cada vez mais horizontal
vas maneiras de administrar os ne- do pela crescente diversidade e quan- e enxuta. A palavra de ordem tem sido
gócios; tidade de produtos e serviços ofertados flexibilidade. As empresas e seus em-
• canais de distribuição que estão e pela crescente concorrência global. pregados tiveram que aprender a con-
em constante movimento. Ainda Os grandes avanços ocorridos na viver com as mudanças e com a
que estar próximo do cliente seja tecnologia da informação também co- imprevisibilidade do amanhã, o que
preponderante, os canais freqüen- laboraram muito para a formação do não tem sido fácil, tanto que muitas

6 RAE Lighf' v.4 • n.3 • p.6-12


o MARKETlNG DE RElACIONAMENTO

empresas fecharam as suas portas e muitas ting para a nova era competitiva. Seu concei-
ainda irão fechar. to está ligado à idéia de que irão prosperar,
A sociedade. está passando por uma alte- no novo ambiente empresarial, as empresas
ração significativa em seus valores, cabendo que tiverem a capacidade de satisfazer os seus
aos homens de negócio entender essas mu- clientes e conquistar a fidelidade destes. Mas,
danças e evoluir a maneira de se administear para tanto, é necessário que as empresas co-
os empreendimentos, nheçam e estejam profundamente conectadas
Stan Rapp' identificou, em seu livroS"ge- com o mercado e com os seus clientes.
ração do marketing: maximarketing Il, sete Na abordagem do marketing de relacio-
fatores causadores de lIÍ\ldança no ambiente namento, os clientes deixam de ser apenas
empresarial. São eles: tlúmeros ou marketshare e passam a ser par-
1. Demografia e estilos de vida mJltantes: te/integrante da organização. Seu conceito
os consumidores não estão mais alinhados como está ligado à idéia de "trazer o cliente" para
grandes grupos-alvo, simples e previsíveis. dentro da organização, de maneira que ele
2. As exigências do tempo pessoab.os participe do desenvolvimento de novos pro-
consumidores estão reconhecendo o valor do dutos/serviços e crie vínculos com a organi-
tempo, mudando os hábitos de consume, os zação. Dessa forma, com o suporte da tecno-
valores e suas necessidades. logia de informação, é possível testar idéias
3. Excesso de novos produtos, servi- de novos produtos/serviços diretamente com
ços e lojas, saturando o consumidor com os clientes e em tempo real.
uma proliferação atordoante de opções São os clientes que alimentam a empre-
de produto: há uma saturação de lojas po- sa, que pagam indiretamente os salários de
pulares, ao mesmo tempo em que ocorre um todos os funcionários da empresa e o re-
aumento na precisão de alvo das lojas torno dos acionistas. Portanto, é muito na-
especializadas. tutal a idéia de integrar os clientes à organi-
4. O enfraquecimento da mágica da zaç.ão.,de forma que todos os funcionários
propaganda de televisão: existe um declínio q~organização conheçam muito bem os seus
do domínio das redes de TV no cenário da cRentes, que compreendam suas necessida-
propaganda, enquanto que as tarifas conti- des e 'que saibam que são eles que pagam
nuam subindo e os consumidores mentalmen- os seusssalãrios e não a tesouraria da em-
te se desligam dos comerciais. presa.
5. O declínio da lealdade à marca: as Porém, para "trazer" os clientes para
promoções e descontos, além da falta de di- dentro da organização, é necessário possuir
ferenciação aos olhos dos clientes, estão meios de comunicação dinâmicos e eficazes,
levando à compra por oferta. que sejam capazes de estimular a
6. Desperdício, morte e bagunça na pro- interatividade entre o cliente e a empresa e
paganda: há um desafio para a propaganda: en- permitir o profundo conhecimento do cliente.
contrar novas soluções criativas e de mídia para É fundamental, portanto, que sejam
atingir os prospects e obter a resposta desejada. despendidos muita atenção e recursos nas
7. Alimentando o monstro da promoção interações com os clientes.
de desconto: o excesso de promoções, descon- O marketing de relacionamento permite,
tos e cupons desgasta a lealdade à marca e leva a portanto, que a empresa desenvolva uma ha-
uma subida temporária e dispendiosa das ven- bilidade no que se refere a compreender o mer-
das; consumidorescompram pelo desconto e não cado e a saber aprender do mercado. A partir
pela marca. disso, a organização precisa disseminar esses
conhecimentos por toda a sua extensão e pla-
nejar, criar, inovar e atuar em sintonia com
o MARKETING DE RELACIONAMENTO um mercado que é cada vez mais dinâmico e
competitivo.
Conceituação Esse tipo de marketing pode ser inter-
pretado como um investimento feito pela em-
o marketing de relacionamento surge, por- presa em seus clientes, visando como retor-
tanto, como uma nova abordagem de marke- no atingir a satisfação e a fidelidade destes

FGV, São Paulo, Brasil. 7


Tecnologiasd.gestão

e, por conseqüência, prosperidade e lu.cros Databasemarketing refere-se ao marke-


altos para a organização. ting que é feito com base em banco de dados e
Segundo Bretzke,' o marketing de re~f1,ªo~ foi deste termo que<.se derivou o marketing
namento é: "Uma filosofia de administração de relacionamento, que seria um estágio
empresarial, baseada na aceitação da ori- ãvançadíssimo.daquele, Para que o marke-
entação para o cliente e para o lucro por ': ting com ação apo~ada no uso de banco de
parte de toda a empresa e no reconhecimen- dados seja essencialmente de relacionamento,
to de que se deve buscar novas formas de ~ preciso que sua atlfação seja integradora, no
comunicação para estabelecer um relacio- sentido de ligar intimamente todas as áreas
namento profundo e duradouro com os cli- fu~cionais daol'ganização aos desejos e ne-
entes, prospects, fornecedores e todos os in- cessidades dos clientes.
termediários, como forma de obter uma van- Quanto àabl'angênciay.do database mar-
tagem competitiva sustentável." keting, Stac~Ys afirma: "Database marketing
Portanto, esse conceito não se refere ape- deve ser usado como umaIerramenta ge-
nas ao relacionamento com os clientes, mas rencial, como se ztsa. uma calculadora. (. ..)
sim com todos aqueles que possam influen- É a representaçãot!letrõnica do universo do
ciar na satisfação dos clientes, tais como: seu marketing. (. ..). É verdade que database
revendedores, distribuidores, fabricantes de marketing não é o Santo Graal. Mas o que
periféricos etc. ocorre é que ele éa mais nova e eficaz fer-
Segundo Mckenna," a prática desse tipo ramenta de marketing disponível."
de marketing deve se apoiar no conhecimento Stan Rapp" situou da seguinte forma o
e na experimentação: "O marketing baseado database marketing: "Para empresas
no conhecimento exige da empresa uma es- engajadas no marketing direto e vendas
cala de conhecimento: da tecnologia perti- pessoais, o surgimento dodatabase de com-
nente; da concorrência; de seus clientes; das pradores tem sido mais uma evolução do que
novas fontes de tecnologia que podem alte- uma revolução (. .. ) anteriormente era co-
rar O ambiente competitivo; e de sua pró- nhecida como a lista df#. compradores
pria organização, recursos, planos e formas (. .. ) mas o que transformotea lista de com-
de fazer negócios". pradores num databasefoi a habilidade ex-
O marketing baseado na experiência clusiva do computador de armazenar, ou
enfatiza a interatividade, conectividade e encontrar, outros bits de informações so-
criatividade. Com esta abordagem as empre- bre os compradores, além de seus nomes e
sasdedicam-se aos seus clientes, monitoram endereços (. .. ) um database de comprado-
constantemente seus concorrentes e desenvol- res é a força mais potente do marketing,
vem um sistema de análise de feedback que desde o surgimento da televisão."
transforma essa informação sobre o mercado Portanto, enquanto o database marketing
e a concorrência em uma nova e importante possui um caráter mais evolucionário, o mar-
informação sobre o produto. keting de relacionamento apresenta um cará-
ter mais revolucionário.
Schell? relacionou esses dois tipos de
OATABASE MARKETlNG marketing da seguinte forma: "( ... ) a dé-
cada de 90 será a década do cliente ou a
O termo database marketing é freqt,ten- década da satisfação e serviço do clien-
temente confundido com marketing de l'.ela- te. Desde que o database marketing colo-
cionamento, porém a distinção é clara e fácil cou a ênfase no ciclo de vida do cliente e
de ser feita. O database marketing é uma fer- na sua fidelização, como contrário a ser-
ramenta, uma técnica à disposição do admi- viços de atendimento para clientes anô-
nistrador de marketing, enquanto que o mar- nimos e desconhecidos, o melhor termo
keting de relacionamento é uma filosofia, uma para database marketing é provavelmen-
nova maneira de fazer negócios. Ele compre- te marketing de relacionamento, que tem
ende o database marketing, porém esse não se tornado mais e mais popular. ..
esgota de forma alguma o conteúdo do rico Segundo Ribeiro," as características da
conceito de marketing de relacionamento. prática do database marketing são:

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o MARKETlNG DE RElACIONAMENTO

1. Permite o diálogo com o cliente atra- 4. Pesquisar respeitosamente.


vés dos meios que se utilizam,par.a o 5. Descobrir a força da propaganda de res-
feedback, tais>como: a análise dos padtges posta direta.
defeedbacke dos históricos de compras, aná- Segundo Bretzke,'? os programas de re-
lise das cartas dosc'ientes, pesquisas etc., lacionamento geralmente utilizam as formas
2. Viabiliza o aprofundamento na baSe abaixo relacionadas:
de clientes. Programas de continuidadeç'de 1. Clubes de clientes.
afinidade, de aumente. de volume de v~ndas 2. Seminários de clientes.
tais como: venda cruzada ou intensificação 3. Patrocínio de usuários.
do volume, valor ou freq.pência da compra. 4. Publicações dirigidas aos clientes:
3. Permite trabalhar nichos de:Dlerca- • Newsletters
do com eficiência e lucro. Através das in.. • Revistas
formações do banco de dados é ~ssível en- • Vídeos
contrar nichos de mercado e viabilizar a atu- • Áudios
ação nesses nichos vencendo a barreirª,>dO • Disquetes
tamanho do mercado e perda de economia de 5. Cartões de crédito e/ou condições espe-
escala. ciais de crédito.
4. Oferece maior controle sobre o ca- 6. Privilégios adicionais a empresas.
nal de distribuição. Oferecendo melhoresda- 7. Atendimento telefônico de pedidos 24 ho-
formações sobre o público-alvo e permitin- ras.
do melhor adequação da oferta. 8. Atendimento telefônico de assistência 24 ho-
5. O marketing é mais contabilizado. ras.
Trata-se da capacidade de mensurabilidade do 9. Descontos especiais.
sistema e da capacidade do controle das va- 10~Garantia de preços mais baixos.
riáveis que influenciam as respostas.

.,UCABILlDADE DO MARKETlNG DE
PROGRAMAS DE FIDELlZAÇÃO ÁÍLACIONAMENTO

Dentro da filosofia do marketing de rela- Implàntar um modelo de marketing de


cionamento e considerando-se as característi- relacionamento na organização não é reco-
cas da nova era competitiva, os programas de mendável. É um caminho que compensa nos
fidelização de clientes devem estar no centro casos em que os clientes têm alto valor para
da gestão empresarial contemporânea. a empresa ao longo de toda a vida. A Boeing
Vale ressaltar que compras repetidas, ba- Aircraft, por exemplo, deve adotar o mar-
seadas em descontos e ofertas, não represen- keting de relacionamento porque só pode
tam o conceito de fidelização, Estimular a vender seus aviões para um número muito
repetição da compra através de um círcu- limitado de pessoas. A General Foods, ao
lo vicioso de desconto e promoções faz com contrário, que vende mercadorias como café
que os consumidores comprem o produto ou para milhões de consumidores com uma
serviço por razões alheias à qualidade do margem pequena em cada transação, não po-
produto/serviço. deria partir para esse tipo de marketing.
Para construir a fidelização é essencial en- É altamente recomendável sua aplicação
tender as necessidades, desejos e valores dos nas empresas business-to-business e na
clientes, para depois traçar uma estratégia maioria das empresas de serviços.
adequada de fidelização de clientes. Nas empresas de médio e pequeno porte, o
As regras básicas, segundo Stan Rapp,? marketing de relacionamento pode compensar a
para a fidelização de clientes são: falta de economia de escala, na medida em que a
1. Desenvolver um ciclo de comunicação empresapodeoferecerprodutos/serviçosmaisper-
com o cliente. sonalizados' que justifiquem um preço maior e
2. Fazer coisas juntos (por exemplo, clube possibilitem às médias e pequenas empresas tra-
de afinidades). balhar com margens maiores do que as das gran-
3. Ouvir cuidadosamente. des empresas.

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Tecnologias d~.gestão

Muito tem sido pesquisado a seu respeito Segundo Leonard T. Berry," a maturidade
nas organizações de serviços. Serão aborda- que vem sendo alcançada pelo marketing de
dos alguns desses estudos no próximoí~~m. serviços, tanto nó que diz respeito à prática
quanto à pesquisa, vem levando a um só ca-
minho: ao marketing de relacionamento. A
o MARKETING DE RELACIONAMENTO busca pela qualidade na prestação de serviços
NAS EMPRESAS DE SERViÇOS vem se orientando pela satisfação do cliente e
pela conquista da.lealdade do mesmo.
Christian Grõnroos II prega que a natureza Seu desenvolvimento é capaz de trazer inú-
dos negócios de serviço é baseada no relacio- mefos benefícios para a empresa. V árias pes-
namento. Um serviço é um processo ou quisas demonstram quemeiborias na qualida-
performance que envolve o cliente por perío- de do serviço prestado ao}.eliente como, por
dos de tempo variáveis (longo, médio ou cur- exemplo, di.nuição da taxa de erro nos servi-
to) e, em alguns casos, por um único encon- ços prestados,aumentam em muito o lucro ob-
tro, algumas vezes por um longo período de tido pelas empresas.
tempo, algumas vezes por um período de tem- Inúmeros benefícios para os clientes tam-
po médio, algumas vezes por um curto perío- bém são trazidos pelo desenvolvimento do
do de tempo, e outras vezes por um único en- marketing de relacionamento. Já que as suas
contro. Sempre há um contato direto entre o necessidades passam a ser mais atendidas,lhes
cliente e a empresa provedora do serviço e esse é destinada maior atenção e os serviços ficam
contato é o que possibilita que a lealdade do mais personalizados e de maior qualidade.
cliente seja conquistada. Os avanços tecnológicos, sobretudo na tec-
Apesar do relacionamento ser da nature- nologia das informações, tornaram mais viá-
za dos negócios de serviço, há casos em que vel e mais eficiente o seud.esenvolvimento.
nenhum relacionamento pode ser estabeleci- Esse avanço permitiu registrar os padrões
do. Como, por exemplo, um viajante que teve de comportamento dos clientes, aumentar os
problemas em seu carro no meio da noite e canais de comunicação com clientes e for-
resolve passar a noite em um hotel de estra- necedores, personalizar ostserviços presta-
da em que nunca esteve antes e ao qual nun- dos e minimizar a probabilidade de erros.
ca espera voltar. Nesse caso não é lucrativa Muitas perspectivas novas e interessan-
uma aproximação de relacionamento, sendo tes vêm sendo pesquisadas acerca do marke-
mais indicada a estratégia do marketing tran- ting de relacionamento, dentre elas destacan-
sacional tradicional, que visa fazer com que do-se três:
o viajante escolha o hotel em questão.
Pode-se definir como o objetivo do mar- 1. A busca por clientes lucrativos:
keting transacional conseguir novos clientes, Alguns clientes proporcionam um ganho
enquanto que o objetivo do marketing de re- maior para a empresa do que outros; alguns
lacionamento pode ser sintetizado como man- clientes são tipicamente mais fiéis, enquanto
ter os clientes. O foco na manutenção dos cli- outros não vacilam em passar a comprar ser-
entes vem ganhando mais força ultimamente, viços de outra empresa devido apenas a uma
porque se percebeu que é muito mais barato pequena vantagem.
fazer com que um cliente antigo passe a cem- O marketing de relacionamento deve agir
prar mais do que conseguir um cliente novo. no sentido de atrair, manter e solidificar o re-
Ainda segundo Grônroos," a melhor s0'lu- lacionamento com os clientes. Isso exige in-
ção para as empresas é adotar, como estràté- vestimento, portanto, passa a ser fundamen-
gia, um mix desses dois tipos de marketing, tal a questão da escolha dos clientes certos
dando um peso relativo para cada um deles para investir.
que seja coerente com a natureza dos contatos Para descobrir os clientes certos, ou seja,
com os clientes. De forma que, quanto maior os mais aptos a criarem laços fortes com a em-
o relacionamento com o cliente, permitido pela presa, devem ser feitas pesquisas para desco-
natureza e circunstância do serviço, mais a es- brir as características dos clientes mais fiéis
tratégia deve tender para o marketing de rela- que fi empresa possui, descobrir que tipo de
cionamento. profissão têm, onde moram, quais as suas ca-

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o MARKETlNG DE RElACIONAMENTO

racterísticas familiares, etc. Após essa pesqui- ses dois fatos, por sua vez, comprometem a
sa, a empresa já sabe em que tipo de cliente performance dos funcionários na prestação
ela deve investir. do serviço. Tem sido argumentado também
que os funcionários que já estão há mais
2. Vários níveis de marketing de re- tempo na empresa são os mais aptos a ser-
lacionamento: vir bem ao cliente, pois eles conhecem mais
Este tipo de marketing pode ser pratica- o negócio e possuem uma maior confiança
do em diversos níveis. de profundidade, Vá- depositada pelos clientes em relação aos
rios tipos de profundidade podem ser identi- funcionários mais novos.
ficados. Para simplificar, divididos em três
níveis, temos: 4) A confiança como uma ferramenta
a) Nível 1: nesse nível apenas.s~o utili- poderosa:
zados incentivos de preço para m~"'ter os cli- A confiança vem sendo apontada em mui-
entes. Essa estratégia é muito limitada, pois tos estudos como uma das ferramentas mais
incentivos de preço são facilmente copiados poderosas de marketing de relacionamento
pelas empresas rivais e, além do mais .•.Cion- que as empresas possuem a seu dispor. A
sumidores que compram serviços de uma empresa deve se mostrar confiável para os cli-
empresa por vantagens de preço facilmente entes.Para tanto ela deve:
irão comprar de uma outra empresa caso seja a) possuir canais de comunicação abertos e
vantajoso financeiramente. transparentes com os clientes;
b) Nível 2: nesse nível as empresas tra- b) oferecer garantias da qualidade do serviço;
balham com a personalização do relaciona- c) demonstrar uma conduta correta e ética.
mento como, por exemplo, chamar o cliente Segundo Bitner," relacionamentos de lon-
pelo nome durante o atendimento, fazer com gaduração com empresas de serviços podem
que os clientes sejam atendidos sempre pelo trazer maior bem-estar e qualidade de vida
mesmo funcionário, comunicar-se com os cli- para os clientes, pois podem diminuir o stress
entes através de variados meios, organizar ~stes na medida em que já é sabido o que se
eventos etc. PQdeesperar da prestação do serviço. Isso é
c) Nível 3: nesse nível a solução do pro- particularmente verdade em serviços comple-
blema do cliente é criada dentro do sistema xos (legais, médicos, educação), serviços que
da empresa, ao invés do relacionamento com envolvem o ego dos clientes (programas de
o cliente depender exclusivamente dos conhe- perda de peso, limpeza de pele, corte de ca-
cimentos do funcionário, que pode vir a dei- belo) e em serviços financeiros.
xar a empresa. Dessa forma o relacionamento Depois de um certo período de tempo, os
com o cliente é todo registrado em memória consumidores sentem-se mais confortáveis,
eletrônica, de forma que os padrões de com- no que diz respeito ao relacionamento com a
portamento e as preferências dos clientes se- empresa provedora, e mais confiantes na
jam sempre do conhecimento da empresa. empresa. Isso é um grande benefício, já que
simplifica a vida dos clientes, diminuindo o
3. Marketing de relacionamento interno: número de decisões importantes a serem to-
O marketing interno tem sido enfatizado madas e, por conseguinte, diminuindo a pos-
na literatura sobre marketing de serviços, de- sibilidade de arrependimento e de frustração.
vido ao fato de que a prestação de um serviço Parasuraman, Zeithml e Berry, 15 desenvol-
é um ato cujos atores são os funcionários da veram um modelo no qual definem cinco hi-
empresa. Portanto é fundamental que estes es- atos da qualidade na prestação do serviço.
tejam motivados e envolvidos com a satisfa- Esse modelo realça a importância da admi-
ção do cliente. nistração das expectativas do cliente quanto
Muitos trabalhos apontam a retenção dos à qualidade do serviço e, conseqüentemente,
funcionários como um pré-requisito para a quanto à lealdade do cliente. Os hiatos são
retenção dos clientes. Visto que uma eleva- os seguintes:
da rotatividade desencor~ja os administra- Gap 1: Falha na comparação entre a ex-
dores a investirem em treinamento e com- pectativa do consumidor e a percepção ge-
promete a motivação dós funcionários, es- rencial. Nesse caso a gerência especifica

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Tecnologias d·I!,lé$tão

ações diferentes daquelas esperadas


jadas pelos clientes. Notas:
Gap 2: Falha entre a percepção gerel!li:ll~l 1. McKENNA, Regis. Relationship marketing: successful
e a especificação da qualidade do strategies for the age of the customer. 1 ed. New York:
Aquilo que a<gerência percebe como Addison-Wesley Publishing Company, novo 1991.

tante não é traduzido em onerações """'''\.I'"a- 2. RAPP, Stan, COLLlNS, Tom L. 5' geração do marke-
das do ponto de vista do cliente. ting: maximarketing 11.São Paulo: McGraw Hill, 1991.
Gap 3: Falha na comparação entre a es- 3. BRETZKE, Miriam. O marketing de relacionamento:
pecificação e a prestação do serviço. integração entre informática e marketing na busca da van-
Gap 4: Falha na comparação entre a pres- tagem competitiva. Dissertação apresentada ao curso de
tação do serviço e a comunicação externa com pós-graduação da FGV/EAESP, São Paulo, 1992.

o cliente. 4. McKENNA, Regis. Marketing de relacionamento: estra-


Gap ,5: Falha na comparação entre a ex- tégias bem sucedidas para a era do cliente. Rio de Janei-
pectativâdo cliente e a percepção do cliente. ro: Campus, 1993.

Parasuraman 16 sugere também que, para 5. STACEY, Robert T. Database Marketing: Fact or Fact?
conquistar a lealdade do cliente, a organiza- The Saga Continues. Direct Marketing, V. 53 (4), ago. 1990.
ção deve: (1) assegurar que as promessas quan- 6. RAPP, Stan, COLLlNS, Tom L. Op. clt,
to ao serviço a ser prestado reflitam a realida-
7. SCHELL, Ernest H. Liletime value 01 a customer.
de; (2) valorizar a confiabilidade prestando o
Dataline: DMA, v. 6, jan. 1991.
melhor serviço da primeira vez; (3) tornar-se
excelente no processo de prestação do serviço 8. RIBEIRO, Áurea H. P. Marketing de relacionamento como
sistema contínuo de aprendizado organizacional. São Pau-
aproveitando todas as oportunidades para su-
lo: s.n., 1995.
perar as expectativas dos clientes; (4) recupe-
rar a confiança perdida fazendo o melhor ser- 9. RAPP, Stan & COLLlNS, Tom L. Op. cit,

viço em uma segunda oportunidade e comuni- 10. BRETZKE, Miriam. Op. clt,
car-se-com os clientes.
11. GRÕNROOS, Christian. Relationship marketing: the
strategy continuum. Journal of the Academy of Marketing
Science, v. 23, n. 4, 1995.
CONCLUSÃO
12. Idem, ibidem.

Podemos concluir que o marketing de re- 13. BERRY, Leonard T. Relationship marketing 01
services: growing interest, emerging perspectives. Journal
lacionamento surge como uma nova manei-
of the Academy of Marketing Science, v. 23, n. 4, 1995.
ra de se fazer negócios, como uma nova fi-
losofiªempresarial, como uma nova forma 14. BITNER, Mary Jo. Building service relationships: it's
ali about promises. Journal of the Academy of Marketing
de se praticar marketing e como um impor-
Science, V. 23, n. 4,1995.
tante elemento da gestão empresarial na nova
era.çompetitiva global. 15. PARASURAMAN, L. B. BERRY, L. L. Serviços de mar-

As empresas que não incorporarem a es- keting. competindo através da qualidade. São Paulo:
Maltese-Norma, 1992.
sas novas idéias, sobretudo as empresas do
business-to-business e as do setor de servi- 16. PARASURAMAN, L. B. ZEITHML, V. A., BERRY, L. L. A

ços"não conseguirão prosperar no novo a~- conceptual model 01 service quality and its implications lor
future research. Journal of marketing, V. 49, pp. 41-50, 1985.
biente econômico .
.Nomercado de serviços, muito já tem~~do
pesquisado e praticado no que diz respei~iao
marketing de relacionamento. Porém, no mer- Paulo Eduardo Saliby é aluno do curso de
cado business-to-business, há poucos estu<h;>s graduação em Administração de
acerca desse tipo de marketing, destacando- Empresas da EAESPIFGV.
seo.artigo The relationship marketing Este texto foi um dos vencedores do r
process: a conceptualization and application, .mio Empresa Júnior- EAESPIFGV-
escrito por Joel R. Evans e Richard L. Laskin, Rio-Sul de Gestão Empresarial, cujo
que apresenta uma aplicação prática de um mo-
·~..prêmio foi sua publicação na RAE-
delo de marketing de relacionamento no setor ..Revista de Administração de Empresas.
industrial. O

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