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PM e Ansiedade
PM e Ansiedade
e Relaxação em Psiquiatria
Janete Maximiano*
crescimento. Assim que nascemos, tudo é corpo e A consciência do sentir e percepcionar o corpo é
faz parte de um só – o bebé – que vai construindo indispensável para a construção securizante do seu
a sua linguagem através do toque, do contacto, do funcionamento e para a identidade pessoal.
imprescindível diálogo tónico-emocional, que lhe Wallon5, referiu que as emoções orientam todo o
sustenta e coordena a estabilidade da sua estrutura desenvolvimento, e são desencadeadas por cada
psico-afectiva. experiência nova, através das variações tónico-pos-
Nesta fase, a criança tem enervações sensório-per- turais e sensações correspondentes. As emoções
ceptivas, mas não faz associações, uma vez que as são atenuadas pela repetição do gesto, expressão
áreas associativas não estão completamente mieli- do movimento e imitação, deixando espaço para a
nizadas. Assim sendo, depende inteiramente do actividade representativa.
outro para organizar e integrar a sua resposta e Para Wallon a emoção representa um comporta-
mapa corporal. Esta relação simbiótica permite ao mento social e uma comunicação não verbal. Desde
indivíduo desejar através do seu corpo, da sua lin- o momento do nascimento, e até mesmo durante a
guagem corporal 2. gestação, o corpo da criança está envolvido pelas
emoções que o mesmo produz. Estas constituem o
"Para que a criança diferencie o "eu" do "não-eu", primeiro sistema de comunicação, expressando a
o dentro do fora, o continente do conteúdo, o inter- qualidade das relações estabelecidas com o am-
no do externo, tem que se originar uma transfor- biente, os objectos e as pessoas, através da capaci-
mação através da qual o sujeito irá assumir uma dade sensorial e tónica6. Se nas primeiras fases da
imagem como sua." 2 vida do indivíduo a partilha de afectos, gestos,
expressões e diálogo tónico for inadequada, pode
O sentido de existência não depende do pensamen- comprometer negativamente os processos de iden-
to, mas pode depender do conjunto de emoções, tificação e individuação, reflectindo-se mais tarde
impulsos e desejos que nos fazem orientar num na insegurança e organização de mecanismos de
determinado espaço e tempo. E desta forma, o defesa do comportamento e atitudes do indivíduo7.
movimento ganha amplitude pela acção, que com-
porta atitudes e posturas interdependentes da sub- PSICOMOTRICIDADE E RELAXAÇÃO
jectividade das características e história pessoal do – UM PROCESSO (PSICO)TERAPÊUTICO
indivíduo3. A Psicomotricidade é uma terapia de mediação cor-
Segundo Damásio4, independentemente das vivên- poral, que estuda o conjunto de fenómenos
cias sócio-culturais, todos temos emoções e parti- inscritos no corpo, avaliando e observando as ca-
lhamos e estamos atentos às emoções dos outros. O racterísticas do movimento, das atitudes, das pos-
corpo sente sob uma influência constante de turas e da mímica. Analisa a expressão de um corpo
emoções, e esses sentimentos gerados podem ou como constructo da sua unidade biopsicossocial,
não ser conscientes para o próprio indivíduo. dirigindo a sua intervenção para o investimento no
"eu corporal", através da promoção de um conjun- reflexos, que estão desprovidos de significado, e os
to de vivências corporais. Estas podem permitir ao gestos, que se encontram sempre associados a uma
indivíduo ajustar ou reajustar a sua personalidade intenção.
às condições do envolvimento, construindo uma Segundo Husserl, a expressão é um signo dotado
maior capacidade adaptativa. de significação e responde segundo uma exterio-
A especificidade da Psicomotricidade reside no rização voluntária. Possui assim uma função de
foco que dirige em relação às manifestações cor- comunicação3.
porais e suas significações. A intervenção é flexível O tónus é o canal de comunicação enfatizado em
e adaptável às características de cada sujeito, man- Psicomotricidade. Para além da manutenção e
tendo contudo o objectivo base de mediar a procu- adaptação da "atitude" muscular, o tónus esta-
ra da mudança de atitude do sujeito consigo belece diálogo. O diálogo tónico está inerente à
próprio e consequentemente com os diferentes expressão dos contactos corporais, à voz (tonali-
contextos onde interactua3. dade, projecção, fluência), à respiração e ao
A comunicação é um dos factores preponderantes ritmo pessoal que influencia a estruturação tem-
no decorrer da intervenção. É pela comunicação poral das interacções.
de um gesto, de um comportamento, da respi- As vivências corporais proporcionadas em
ração, da máscara facial (rubor, palidez, riso, Psicomotricidade e relaxação, poderão ser me-
choro, rugas de expressão, etc.) das modulações diadas a partir do simples toque corpo a corpo,
tónicas, que se gere o diálogo corporal e a por objectos (bolas, lenços, cordas e bastões),
proxémia na relação terapêutica em que acarretam por vezes uma função transitiva, ou
Psicomotricidade. até mesmo pela auto-massagem, menos invasiva,
A importância da palavra na intervenção psico- mais securizante e reguladora das tensões
motora em saúde mental, visa permitir a ansiosas e expectantes das primeiras fases de
atribuição de significado e associação simbólica intervenção.
às sensações obtidas pelo diálogo corporal, no O olhar, a primeira experiência relacional, pri-
decorrer da sessão. mariamente relacionado com as etapas de vincu-
Ao nível fisiológico, o movimento e o gesto neces- lação, encontra-se sempre subjacente no decorrer
sitam de uma selecção de unidades motoras e de da intervenção em Psicomotricidade. O seu pos-
uma dada frequência. É a intencionalidade que sível evitamento ou fuga, as consequentes
distingue os dois termos. Um gesto está carrega- expressões de tensão do ser-se observado, a pro-
do de sentido, é um movimento significativo. O gressiva entrega de confiança ao olhar do outro, e
acto que marca a intenção é a etapa intermediária por conseguinte a crescente aceitação da passivi-
entre a mobilidade e o gesto8. dade e vulnerabilidade perante esse olhar, per-
Existem duas categorias de movimentos: as mitem ao psicomotricista avaliar as dificuldades
mudanças de posição involuntárias, tais como os relacionais e mediar este confronto promovendo
situações à partida pouco expositivas, que ofe- A relação terapêutica é uma relação de interde-
reçam a aquisição de um espaço seguro e con- pendências e de partilhas, onde o terapeuta obser-
fiante, aumentando a noção de pertença e identifi- va e mede as flutuações tónicas do indivíduo, por
cação9. meio da palavra, por mobilizações corpo a corpo
Deixar-se olhar pelo outro, permite um meio de ou por objectos, transmitindo sempre um ambiente
reconhecimento dos próprios limites, ao mesmo calmo, tranquilo, securizante e descontraído7. Para
tempo que possibilita a contenção da expansão além de se sugerir o acesso à passividade e entrega
impulsiva e desregulada dos mesmos. Este olhar em confiança, o indivíduo não deve impor a si
contentor irá também favorecer a interiorização do mesmo qualquer sugestão. Deve ser ele próprio nas
olhar de si próprio, ou seja, favorece a reo-rien- suas vontades e desejos, os quais são fundamentais
tação de um olhar externo, que possui expectativas para as opções terapêuticas.
exteriores e que procura respostas do meio, para O corpo do terapeuta não é meramente o instru-
um olhar interno, que percepciona o conteúdo, a mento operatório para a resolução da problemáti-
essência das emoções e as interliga à expressão da ca, é o espelho cúmplice que confirma a existência
sua corporeidade. Estamos assim, a falar da do outro. Estabelecem-se processos de transferên-
obtenção de uma maior tomada de cons-ciência de cia das vivências reais para o espaço e relação com
si próprio, no que diz respeito às ca-racterísticas o terapeuta. A tradução simbólica e representativa
expressivas individuais, possibilitando-se reestrutu- das vivências reais deve afirmar-se consoante as
rar os pré-requisitos de uma acção flexível, equili- várias formas de expressão e comunicação dese-
brada e adaptada nos diferentes contextos inter- jadas, dentro das quais a verbalização tem um papel
actuantes do indivíduo 9. preponderante para a tomada de consciência pro-
Passamos então de um corpo meramente funcional gressiva dos conflitos intra-psíquicos promotores
que age mediante os seus impulsos e regras morais de mal-estar10.
e sociais, para um corpo com capacidade de aced- O terapeuta de Psicomotricidade orienta a modi-
er ao simbólico. ficação vivida do tónus, facilitando também o
Favorecendo-se a capacidade perceptiva e tomada acesso a um estado de maior descontracção, pela
de consciência do corpo no espaço e no tempo, sugestão e palavra. A palavra é importante na pre-
oferece-se uma maior amplitude na capacidade cipitação de fenómenos tónicos, para nomear e
representativa e associativa, permitindo ao sujeito qualificar os segmentos corporais, para a
um olhar atento aos diversos níveis de expressão expressão de um ambiente securizante e indutor
metafórica da corporeidade 8. de uma relação terapêutica tranquilizadora7.
O terapeuta deve promover um aporte de confiança
e segurança ao sujeito, para que este possa vivenciar MODELO DE INTERVENÇÃO DA
os seus estados emocionais sem quaisquer li-mites PSICOMOTRICIDADE EM PSIQUIATRIA
ou obstáculos, sentindo que se encontra num espaço A Psicomotricidade utiliza um conjunto de técnicas
que pode ser seu e utilizado da forma como deseja. psicomotoras expressivas e de relaxação, conjunto
este que não é visto como receita única e infalível, mas se acham gordos ou magros, ou seja, focalizam o
sim como base de intervenção susceptível de mudança corpo como um instrumento funcional e de per-
e adaptação às características de cada indivíduo. formance, assim como analisam apenas (geral-
Após uma primeira avaliação, é estabelecido o mente) a fisicalidade, aquilo que é observável. É
plano terapêutico, onde se delineiam os objectivos raro, à partida, visualizarem o corpo como subs-
gerais e específicos, como também as estratégias e tracto expressivo das emoções, e como continente e
formas de intervenção. conteúdo das vivências e experiências emocionais
A avaliação é baseada em observações iniciais e subse- de prazer e de angústia. O corpo é visto como algo
quentes, que vão acrescentando novos dados e infor- que o pensamento possui, e por onde actua, daí ser
mações ao plano terapêutico. Nestas observações são entendido apenas como um instrumento funcional.
avaliados os seguintes aspectos: A avaliação da tonicidade e paratonias, é realizada
- Tonicidade / Rigidez postural; a partir de técnicas de mobilizações passivas dos
- Paratonias; segmentos articulares, que poderão ser executadas
- Sincinésias (bocais, contralaterais, tiques); em posição sentada ou em decúbito dorsal, con-
- Discurso verbal (ritmo, tonalidade, segurança, fluên- soante a vontade e segurança do indivíduo.
cia); Geralmente, numa primeira abordagem, os indiví-
- Controlo do olhar (evitamento, fugas ou confronto); duos optam pela posição sentada, uma vez que lhes
- Expressão facial; confere maior segurança e menor vulnerabilidade
- Consciência corporal e imagem corporal através ao olhar do outro (terapeuta).
do desenho do corpo (projecção da imagem cor- A realização do desenho do corpo, permite-
poral na folha e caracterização escrita de três -nos uma observação superficial do controlo grafo-
aspectos positivos e negativos em relação a si motor, no que diz respeito à preensão, rigidez do
próprio); traço e velocidade, como também, e principal-
- Escalas de caracterização adequadas do perfil mente, permite avaliar a representação do corpo e
psicopatológico e sintomatologia somática. a maturidade dessa mesma representação 12.
As técnicas utilizadas ao longo da intervenção va-
Na primeira sessão de psicomotricidade é realiza- riam consoante as características individuais de
da uma entrevista informal ao indivíduo, onde se cada sujeito, tendo em conta o plano terapêutico e
poderão recolher dados observáveis relativos ao objectivos estabelecidos.
discurso, ao olhar, à postura e mímica, assim como Não faz sentido numa intervenção em
dados relativos à sua história pessoal e familiar. São Psicomotricidade utilizar uma única técnica de
colocadas ao longo da entrevista questões relativas relaxação ou expressiva, quando o objectivo não é
ao corpo e como é que este é percebido pelo meramente descontrair, nem aprender a relaxar.
sujeito. Na maioria das vezes, os indivíduos respon- As técnicas são dirigidas com o cuidado intuitivo
dem dizendo se praticam ou não exercício físico, se de avaliar as contribuições positivas para a
obtenção de uma melhor percepção corporal, ou individualmente, dependendo dos objectivos te-
assim como o estabelecimento da relação entre rapêuticos e do próprio sujeito.
emoções e corpo.
Em seguida, encontra-se um quadro resumido de Um caso clínico
algumas técnicas de relaxação utilizadas e seus F. tem 38 anos, é empregado de balcão e foi refe-
objectivos inerentes em Psicomotricidade renciado para as sessões de Psicomotricidade com
(Quadro 1). o diagnóstico de Agorafobia e Ataques de Pânico.
Estas técnicas são incluídas ao longo das sessões de
Psicomotricidade dependendo das características História Clínica:
do indivíduo, não sendo no entanto utilizadas de F. manifestou o primeiro episódio de pânico aos 21
forma pragmatizada e rígida, ou seja, em anos, tendo feito psicoterapia (em consultório pri-
Psicomotricidade o que interessa não é utilizar uma vado) com recuperação total durante aproximada-
técnica única em tempo indeterminado, mas sim mente dez anos. Associa este facto ao acidente de
combinar conceitos inerentes de cada técnica em viação que teve durante o cumprimento do serviço
consonância com os objectivos terapêuticos esta- militar.
belecidos para cada indivíduo.
Em 2000, sofre um episódio convulsivo secundário,
Ao longo da intervenção todas as técnicas e exercí-
na sequência de uma gripe grave, que o manteve de
cios utilizados e criados assentam numa base
convalescença por tempo prolongado. Iniciou
expressiva, dramática e simbólica.
então queixas de ansiedade generalizada e posteri-
No final de cada sessão dá-se lugar à reflexão sobre
ormente agorafobia com ataques de pânico.
as vivências corporais sucedidas, a qual poderá ser
feita através da expressão verbal ou plástica (mo- Valoriza os sinais físicos ou ambientais (calor ou
delação em plasticina ou desenho), deixando frio), conotando-os como causa do despoletar do
espaço terapêutico, apenas para a auto-interpre- pânico.
tação em função significação atribuída à vivência Iniciou acompanhamento psiquiátrico há aproxi-
tónico-emocional das sensações. Para alguns, colo- madamente 2 anos, fazendo terapêutica psicofar-
car em palavras o que sentiu é tarefa difícil. Por macológica, na equipa da Amadora, do Serviço de
isso, a expressão plástica permite a utilização de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca. Há um
um suporte exterior para expressar o que foi senti- ano e meio deixou de ter ataques de pânico, man-
do e vivido quinestesicamente. Exteriorizar facilita a tendo a ansiedade com forte tradução somática.
tomada de consciência e a expressão verbal do con-
teúdo sensorial e emocional da experiência12. A 23 da Maio de 2003 começou a ser seguido em
A intervenção Psicomotora em Psiquiatria (dirigida Psicomotricidade e Relaxação Terapêutica, com
a adultos), tem uma periodicidade semanal, uma uma periodicidade semanal (1 vez por semana/ 1h
hora por semana. Poderá ser realizada em grupo por sessão).
História Familiar:
O seu pai abandonou a família, tendo F. 8 anos de idade. Casou aos 37 anos e aos 38 teve o seu primeiro
Até aos 21 anos viveu com a mãe e irmão em casa dos filho.
avós, não tendo recebido mais notícias do seu pai. Refere grande dificuldade em lidar com a compet-
Aos 21 anos tomou a opção de morar sozinho itividade laboral, manifestando grande desejo de
numa casa alugada em Lisboa. Contudo, manteve sair do frenesim da cidade e regressar à terra de
sempre grande proximidade com a mãe e o irmão. origem.
- Valorização corporal e consequente acréscimo da ra e que provoca um som estridente, que reage às
auto-estima, permitindo a análise prática e clara ameaças externas (ex.: toque).
das capacidades e limites corporais; A cabeça sente-se grande, não se consegue abstrair
- Reflexão sobre a sessão, atribuindo significado – está pesada, está desconfortável, sente uma
simbólico às sensações obtidas: ameaça eminente (sic)."
• Representação gráfica de carácter simbólico ou
não simbólico; A boa capacidade de insight que F. tem, permitiu
• Representação pictórica; consciencializar e simbolizar de forma adequada as
• Selecção de uma ou mais cores para classificar a sensações obtidas. Essa tomada de consciência pos-
sensação obtida; sibilitou uma maior capacidade de mudança da ati-
• Modelação de plasticina ou barro; tude corporal rígida que possuía.
• Narração verbal das sensações; No início F. sentia-se um "boneco articulado", com
- Expressão rítmica e/ou corporal das sensações um coração acelerado e desordenado – "debaixo
dos meus pés o chão onduleia, brinca... e eu sinto-
Nas primeiras sessões de Psicomotricidade F. me pinóquio, à procura do fio certo (sic)."
demonstrava inquietude e estranheza, não aceitan- O tempo final das sessões dedicado à exploração
do bem o contacto proximal. Assim sendo, teve de espontânea de diferentes formas de representação
se gerir a proximidade, promovendo actividades de das sensações obtidas, possibilitava também
carácter mais autónomo, em que o sujeito actua no momentos de exploração verbal, onde se puderam
espaço por explorações individuais (ex.: exercícios clarificar dúvidas e diferenciar os conceitos de
de associação do ritmo respiratório ao movimento firmeza/ rigidez; equilíbrio/ estabilidade.
ou à música, contacto com objectos, relaxação F. foi se tornando um indivíduo mais espontâneo,
auto-induzida). Toda a estranheza que sentia no demonstrando uma maior expressividade. A sua
final conseguia verbalizar, associando-a à progres- presença nas sessões foi sendo cada vez mais intros-
siva descoberta do seu estado tónico ("eu pensava pectiva e concentrada, deixando-se progressiva-
que era uma pessoa descontraída, e afinal sinto o mente aceder com maior tranquilidade e disponi-
meu corpo completamento eriçado, tenso... é tudo bilidade a situações de passividade e entrega de
muito estranho (sic.)"). confiança. O toque deixou de ser invasivo e intrusi-
Afirmava que era bastante difícil para si não con- vo, tendo-se construído um espaço terapêutico
trolar o seu corpo ou deixá-lo ao cuidado do outro, securizante, tranquilizador e ao mesmo tempo
ao controlo externo. No final de uma das sessões impulsionador da percepção e consequente
representou o seu corpo como uma guitarra com mudança de atitude.
uma corda de cor vermelha, simbolizando o som e Verificou-se uma redução quase total das parato-
a sensação estridente e tensionada. nias, não apresentando actualmente contracturas
involuntárias ao nível cervical, demonstrando-se
"Existe no corpo uma corda que atravessa a guitar- menos defensivo, mais atento, e sem necessidade
movimento11. Para tal é necessário que o indivíduo 4. Damásio, A.; Sentimento de Si; Lisboa; 2000.
disponibilize o seu corpo num estado de passivi-
dade e entrega de confiança, para que o possa 5. Wallon cit in Boscaini, F.; Cuerpo y emoción.
representar sem expressão motora e meramente Primer espacio de comunicación y de representación;
Psicomotricidad, Revista de Estudios y Experiencias; ano:
pelas sensações proprioceptivas que permitem
1998; nº 60; pp. 67-90.
reelaborar experiências traumáticas registradas
na memória tónica6. 6. Boscaini, F.; Cuerpo y emoción. Primer espacio
Possibilita então a percepção tónica em todos os de comunicación y de representación; Psicomotricidad,
seus aspectos relacionais, e principalmente coloca Revista de Estudios y Experiencias; ano: 1998; nº 60; pp.
a pessoa em comunicação consigo própria, fazen- 67-90.
do-a sentir o seu corpo como receptor de ritmos
ao contacto, à voz, ao olhar do outro que medeia 7. Martins, R.; A Relaxação Psicoterapêutica no con-
esta relação terapêutica, num espaço de cons- texto da saúde mental – o corpo como ponte entre a
trução da identidade, do simbólico e das repre- emoção e a razão in V. Da Fonseca & R. Martins,
Progressos em Psicomotricidade; Lisboa: Edições FMH;
sentações.
pp. 95-108; 2001.
A postura terapêutica, a gestão da proximidade, o
tipo de mediação corporal em relação ao sujeito, 8. Gobbi, G.; La Psicomotricidad y la relajación
são os meios essenciais pelos quais se torna possí- como mediadores en la comunicação e interacção
vel a progressiva tomada de consciência das expe- humana; Psicomotricidad, Revista de Estudios y
riências vividas e do seu reflexo nas unidades Experiencias; ano: 2002; nº 70-72; vol. I-III; pp. 55-60.
psíquicas e corporais indissociáveis1 0. Deste
modo, as estratégias e a forma como se estabelece 9. Martins, R.; La Psicomotricidad y la relajación
a relação terapêutica são a base fundamental de como mediadores en la comunicação. e interacção
humana; Psicomotricidad, Revista de Estudios y
trabalho da psicomotricidade e relaxação.
Experiencias; ano: 2002; nº 70-72; vol. I-III; pp. 61-63.