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1. ÉTICA

1.1. ÉTICA

Pode-se dizer que, no cotidiano, a


ética aparece por meio de nossas ações e
atitudes, as quais são classificadas como
“boas” ou “ruins” pela sociedade. Isto é,
nossas atitudes são aprovadas ou
reprovadas socialmente, uma vez que
são reconhecidas como adequadas ou
não aos valores morais que norteiam a
coletividade.

É preciso observar, no entanto, que há valores morais próprios de outras sociedades e que,
muitas vezes, são diferentes dos nossos. A intolerância de um povo em relação aos valores de outros
povos, frequentemente, acaba em luta, briga, ou guerra. Se olharmos à nossa volta e se
conversarmos com familiares, com pessoas de gerações passadas e de diferentes classes sociais,
vamos perceber que os valores e as regras do bem agir variam de lugar para lugar e se modificam ao
longo do tempo.

Um exemplo bastante conhecido de mudanças de valores através do tempo diz respeito às


relações conjugais. Há 30 ou 40 anos, viver “como casada”, sem estar casada, era motivo de
discriminação social para as mulheres brasileiras. Hoje, relacionamentos assim são tão comuns e
frequentes, que dificilmente causam espanto. Os hábitos e os valores morais, nesse caso,
modificaram-se tanto, que exigiram uma reforma no Código Civil. Hoje os direitos da companheira
são os mesmos da mulher casada oficialmente.

É interessante observar que as leis são pensadas, escritas e entram em vigor sempre depois
que uma determinada situação já se estabeleceu socialmente. Os valores morais se modificam no
tempo, e o que poderia ser visto como uma atitude inadequada – o mal agir – ontem pode ser hoje
interpretada como perfeitamente aceitável e de acordo com o bem agir. Há situações em que fica
fácil reconhecermos a falta de ética. Algumas são tão evidentes que existe uma unanimidade em
condená-las socialmente.

A nossa conduta ética está relacionada às proibições e às permissões dos grupos corporativos
aos quais pertencemos enquanto categoria profissional. Nesse caso estamos falando da ética das
profissões, que podemos definir como sendo um conjunto de regras que regem a conduta do
trabalho profissional. A ética de um grupo corporativo busca também a humanização do trabalho
organizado e se coloca a serviço da promoção social humana. Não está, portanto, relacionada
apenas a um conjunto de normas.

Os conselhos de classe, por exemplo, agrupam as pessoas de uma mesma profissão e definem
os limites de atuação profissional e as normas éticas para o exercício da profissão. É o caso dos
Conselhos de Enfermagem, Medicina, Engenharia, Serviço Social, Nutrição, dentre outros. É claro

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que existem temas muito polêmicos, que acabam por misturar, no calor da discussão, valores
morais, com valores religiosos e culturais, sem que se estabeleça com clareza uma distinção entre
eles. Para exemplificar, basta lembrar-se de debates realizados em torno do aborto. Existem
situações que se repetem tanto em nossa vida profissional, que viram “lugar comum”. Tornam-se
situações “normais” e vão estar relacionadas com os conceitos ou (pré) conceitos que “moram” em
nós e na sociedade em que vivemos. Por exemplo: é comum considerar que as mães das crianças
atendidas por profissionais de saúde, ou as pessoas que acompanham os pacientes “só servem para
atrapalhar”, porque “perguntam demais”, ou “são nervosas demais”. Às vezes, nem se consegue
perceber que essas pessoas podem ser grandes aliadas na recuperação dos doentes e nas ações de
saúde que estão sendo realizadas ou propostas.

Acontecem também situações, em que parece


ser melhor propor uma determinada conduta para o
paciente, mesmo sabendo que não é a mais
indicada, porque profissionalmente julgamos ser a
mais “fácil” para a compreensão daquela pessoa.
Para exemplificar um comportamento que parte de
um “preconceito” sobre os pacientes, basta
verificar que, entre os profissionais de saúde, é
comum e muito difundido o hábito de não sugerir
outros métodos contraceptivos para as mulheres,
que não seja a pílula ou a ligadura de trompas,
supondo que “elas não vão entender” (como é o caso do método da tabela e outros métodos
naturais), ou ainda, “elas não têm bons hábitos de higiene” (para o uso do diafragma, por exemplo).
Preconceitos como esses, somados à ideia de que “pobre não deve ter muitos filhos”, colocam o
Brasil como “campeão” em ligaduras de trompas, e o que é pior, em cesarianas indicadas por razões
discutíveis.

Outro padrão de comportamento bem familiar a todos nós, é a forma de tratamento empregada
no trato dos pacientes. Numa tentativa de conseguir uma relação próxima e carinhosa, muitas vezes,
são usados termos de parentesco ou diminutivos no lugar do nome próprio. É frequente chamar os
idosos de vovó ou de vovô, assim como, na pediatria, surgem as “mãezinhas”. Embora similar
situação bastante agressiva consiste no emprego de expressões depreciativas como “pé inchado”,
“pé sujo”, usadas nos serviços públicos de saúde como referência a pessoas das classes mais baixas.
Outro exemplo de descaracterização do paciente ocorre quando o profissional se refere a ele pela
sua patologia (o paciente da pneumonia, o da cirurgia de vesícula, etc.) ou pelo leito e/ou
enfermaria em que se encontra (o paciente do 3, paciente do leito 7, etc.). É preciso atenção. Pré-
conceitos podem interferir em nossa prática profissional ou orientá-la, muitas vezes magoando e
fazendo sofrer aqueles que esperam de nós o alívio para suas dores, ou as respostas para suas
necessidades e expectativas.

Às vezes também confundimos, na discussão sobre ética, questões relacionadas com as leis,
com o Direito. Podemos pensar nas leis que protegem determinados grupos na sociedade, como as
crianças. Existe uma legislação que pune com a prisão os homens que não pagam a pensão

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alimentícia de seus filhos, estipulada depois de uma separação. Essa lei existe porque em nossa
sociedade há um acordo moral, isto é, ético, para garantir às crianças, filhos de pais que se
separaram a possibilidade de, pelo menos, ter o que comer, quando o homem (que é geralmente
quem contribui com o maior montante para o sustento da família) sai de casa. Então, acaba sendo
natural fazer certa confusão entre ética e Direito, visto que ao longo da história, a ética colaborou
muito para o desenvolvimento do Direito.

Assim, quando ouvimos falar, lemos ou discutimos sobre direitos humanos, estamos unindo
duas noções que andam muito próximas: a noção de ética e a noção do Direito. Estamos colocando
em prática, através de acordos - de leis - mundialmente estabelecidos, as ações que a sociedade
admite ou não admite como aceitáveis para uma vida digna dos seres humanos que vivem no
planeta. Alguns desses acordos, universalmente aceitos, condenam qualquer tipo de discriminação
de indivíduos, de grupos, ou de países, por motivos religiosos ou raciais. Outros também condenam
as discriminações pelo sexo, isto é, pelo fato de alguém ser mulher ou homem e também, aquelas
questões que dizem respeito à escolha sexual de cada um, como a opção pelo homossexualismo.

“A discriminação entre seres humanos com base em raça, cor ou origem


étnica é uma ofensa à dignidade humana e será condenada como uma negação
dos princípios da Carta das Nações Unidas, como uma violação dos direitos
fundamentais proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
como um obstáculo para relações amigáveis e pacíficas entre as nações, e como
um fato capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos”.

Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da


Organização das Nações Unidas – ONU, 1963.

Como se vê, não devemos pensar na ética apenas em função de regulamentações e de leis. É
preciso pensá-la a partir da reflexão moral, reconhecendo sua função crítica e seu vínculo com as
emoções. Refletir sobre a ética é contribuir para aumentar a reflexão sobre a ação humana,
tornando-nos mais sensíveis e mais sensatos, porque ela nos aproxima da realidade e nos torna mais
conscientes das ações que praticamos em qualquer espaço da nossa vida. Somos responsáveis por
nossas escolhas.

1.2. VALORES

Para cada indivíduo, existe o que se acredita ser permitido, assim como existe o que se
acredita não ser permitido. O fazer e o não fazer determinadas coisas dependem de uma
“permissão” intrínseca, ou seja, que vem de dentro de nós. Depende da “permissão” que nós nos
damos ou não. Ou seja, nossas ações estão relacionadas com algo que nos foi transmitido desde
muito cedo, ainda na infância, pela família e pela sociedade em que vivemos. Essa permissão (ou
não) é resultado de valores morais que “moram” dentro de nós e que “aprovam” ou “reprovam”
nossas ações e nossas condutas. Assim, permitimo-nos (ou não) agir de uma determinada maneira.

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1.3. (PRÉ) CONCEITOS

Os Profissionais de Saúde convivem com pessoas que têm valores morais diferentes dos seus, isto é,
pensam e agem de forma diferente da nossa; no entanto, isso não pode nem deve definir nossa
forma de atendimento às pessoas. Estamos nos serviços com o propósito de realizar ações de saúde
em benefício de quem nos procura e, portanto,
não nos cabe (nem a ninguém) julgar seus atos.
Agindo de acordo com os princípios éticos da
profissão, portanto, com responsabilidade,
sabemos que não nos é permitido criticar
atitudes ou gestos de quem chega até nós. Temos
obrigação de não permitir que ninguém o faça.

Não cabe a nós, por exemplo, condenar ou


dar a entender que reprovamos uma mulher que
tenha procurado assistência com complicações
resultantes de um aborto, ou fazer insinuações, e
até perguntas sobre fatos que nada auxiliam na ação que vamos realizar. Obviamente, não nos cabe
abandoná-la, ou deixá-la esperando sem tomar atitudes que lhe propiciem algum alívio. É sempre
bom lembrar que, sejam lá quais forem os motivos que levaram uma mulher a provocar um aborto,
essa decisão nunca é tomada sem conflitos e é um momento de muito sofrimento para a mulher e,
por vezes, para quem a acompanha (quando ela
está acompanhada).

Outra situação bastante comum se refere à


reprovação de adolescentes que estão grávidas.
E, novamente, não nos cabe repreendê-las ou
tratá-las como se fossem nossas filhas ou
sobrinhas. Elas não o são. E talvez esperem de
nós a compreensão que dos seus familiares não
tiveram. Melhor seria alargar nossa escuta,
estimular sua autoestima e o cuidado consigo
mesma durante o período de gravidez. Outra situação em que o preconceito não pode estar presente
ocorre quando do atendimento a um assassino que acabou de ser baleado. Não nos cabe definir se
ele merece ou não ser atendido, pois nos serviços de saúde todos devem ser atendidos. Todos os
pacientes são iguais, mas com patologias diferentes.

Nós temos um compromisso com a confidencialidade. Todos os dias vemos e ouvimos coisas
que traduzem os sofrimentos e os conflitos mais íntimos das pessoas. Não temos o direito de revelar
o que vemos e ouvimos a quem quer que seja, nem dar ouvidos a boatos que podem prejudicar a
vida das pessoas, sejam elas famosas ou não.

Ao longo dos últimos 15 anos, com o aparecimento da AIDS, temos sido levados a refletir
sobre nossa capacidade de discutir sobre situações que mobilizam os tabus mais antigos da
humanidade e enfrentá-las. A existência da AIDS impôs novos desafios a toda à sociedade,

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colocando em evidência toda a incapacidade dos serviços de saúde para lidar principalmente com
questões relacionadas à sexualidade. E é claro que isso tinha que acontecer. Pense bem. Os serviços
de saúde fazem parte de uma sociedade que encontra muitas dificuldades em lidar com tabus e
preconceitos relacionados à sexualidade. Ora, esses serviços têm profissionais que pertencem à
coletividade. Sendo assim, somos obrigados a enfrentar questões que, por vezes, eram ignoradas, ou
nunca admitimos que existisse como o homossexualismo, as diversas práticas sexuais, que eram e
continuam sendo, para muitos, problemas dos outros.

É necessário lutar contra a rejeição ao doente de AIDS


e o medo da contaminação. Finalmente começamos a exigir
de nós o respeito às normas universais - elementares - de
segurança para acidentes com material biológico. Tem sido
necessário aprender a situar nosso sentimento diante de
pacientes contaminados. Piedade ou desprezo? Amor ou
ódio? Afastamento ou aproximação?

A prática do autoritarismo está tão presente nos


serviços de saúde, que poucos se questionam, por que, em quase todos os hospitais, ambulatórios e
postos de saúde, o primeiro profissional com quem o usuário entra em contato é um “guarda”, um
“segurança”, um policial. Seja por falta de pessoal para recepcionar os clientes, seja por
“necessidade” de transmitir uma ideia de ordem e autoridade aos serviços de saúde, invariavelmente
não proporcionamos uma entrada confortável aos usuários. Delegamos aos agentes da ordem
pública um trabalho que cabia aos agentes de ações de saúde.

Ultrapassada a porta de entrada, vamos nos deter no


interior dos serviços. Seria ingênuo e mesmo cruel imaginar
que alguém sente prazer em estar dentro de hospitais e
consultórios, seja porque está doente, seja porque acompanha
alguém. De uma maneira geral, o cliente ou o acompanhante
está triste, tenso e com medo. Temos também aqueles que vão
às unidades básicas de saúde (postos ou centros de saúde), sem
parecer doentes, mas que estão à procura de alguma coisa:
uma palavra, atenção, orientação ou acolhimento. E é possível
que, por puro preconceito (que muitas vezes nem percebemos), essas pessoas sejam recebidas como
se fossem menos importantes, como se o motivo que as levou a procurar o posto não fosse
importante porque muitas vezes se acredita que ela esteja “tirando a
vaga de quem está doente e precisa”.

O que podemos fazemos para que elas se sintam acolhidas?


Quantas vezes, durante nossa jornada de trabalho, olhamos nos
olhos daqueles de quem cuidamos? Quantas vezes sorrimos e
paramos para escutar o que têm a nos dizer ou a perguntar? O que
você pensa do profissional que, ao ser perguntado sobre os níveis
tensionais que acabou de verificar num paciente, não responde nada
ou diz : “está bom”, ou “não posso falar”. O que você pensa ao ver

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uma mulher que sofreu uma cesariana, levantar-se sozinha, sem ajuda de um profissional, para ir ao
banheiro ou para tomar o bebê nos braços, seja para amamentar, ou para acalmá-lo? O que você
pensa de ter que esperar horas a fio numa sala de espera, aguardando por informações sobre a saúde
de um ente querido, principalmente nas antessalas das UTI?

É desejável e primordial que os técnicos/auxiliares de enfermagem possam discutir sobre a


falta de estrutura e organização dos serviços e percebam que isso os penaliza porque são esses
profissionais que mantêm um contato mais estreito e direto com a clientela, e enfrentam de perto,
seu sofrimento e suas reais necessidades. Sabemos que é o técnico/auxiliar de enfermagem que
responde de imediato pela falta de medicamentos; de materiais e equipamentos; pela ausência de
vagas para internação e/ou atendimento e, por isso, são alvo do descontentamento, percebem as
angústias e os sofrimentos dos que procuram os serviços de saúde.

É preciso desenvolver as discussões e trocar ideias com


nossos colegas. Se pudermos discutir em nossos espaços de
trabalho, ótimo! Se não, vamos tentar criar condições para que
seja possível no futuro. Podemos nos reunir nos sindicatos e em
outros espaços corporativos. Será também proveitoso contar com
o apoio das pessoas que atendemos. E isso é possível se, ao
mesmo tempo em que lutamos pela melhoria das condições de
trabalho, de remuneração e pela maior participação na definição
dos recursos, prestamos mais atenção na forma de receber e de
nos relacionar com a clientela. Os frutos de uma mudança de
atitude frente à clientela seriam o reconhecimento e a
valorização de nosso trabalho.

É preciso responder a algumas perguntas que ficam no ar: se o trabalho que realizamos foi
uma escolha, quem ou o que nos obriga a cuidar dos outros? Existem vários trabalhos que não
requerem tanta proximidade com as pessoas. É importante que fiquemos atentos para a alegada
“falta de tempo para pensar nessas coisas”. A falta de reflexão deixa nosso trabalho muito
mecânico, automático. Acaba sendo, ao mesmo tempo, causa e consequência de um sentimento de
desvalorização do nosso trabalho, por nós mesmos.

Por fim, é preciso chamar sua atenção para o fato de que, se o profissional reconhece que
atende mal, expõe seus preconceitos com relação à clientela e está revelando o seu descompromisso
e descaso com Passividade - Quietude, ato de ficar passivo, quieto, não fazer nada em relação
àqueles a quem deveria dedicar sua atenção. Revela seu desprezo e desvalorização pelo outro. Ao
mesmo tempo, quando espera que a população obedeça, admite uma relação de autoritarismo e de
infantilização dos clientes. Ora, não temos que esperar a obediência de ninguém. As pessoas que
chegam até nós, devem ser bem informadas e entender o que falamos, para avaliar se concordam
com as ações que propomos ou se discordam delas.

É possível que você nunca tenha parado para pensar nisso. No entanto, há princípios básicos
de cidadania que precisam ser respeitados. As pessoas têm autonomia, isto é, têm independência,
têm liberdade para decidir o que querem para si, e têm o direito de serem bem informadas,

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inclusive, para dizer não ao que está sendo proposto. Quando são privadas dessa autonomia, em
geral, terão um acompanhante para assumir as decisões (pais, filhos, irmãos, cônjuges). Então, não
há motivos para ficarmos aborrecidos pelo fato de nossos clientes fazerem perguntas. Uma
explicação que só use termos técnicos em nada ajuda. O seu questionamento sobre o medicamento
que lhe é oferecido, a necessidade de urinar na comadre, e não no vaso sanitário, o seu pedido de
informações sobre a realização ou o resultado de exames, etc.

É sempre bom ter em mente que o corpo com que estamos lidando ou sobre o qual estamos
falando, não nos pertence. Quando achamos que a clientela precisa se submeter a nossas ações
estamos, novamente, diante dos ingredientes básicos da violência: poder, arrogância e
autoritarismo.

1.4. ÉTICA NA ENFERMAGEM

Ética e moral em enfermagem tem ao longo dos tempos assumido significados diferentes. A
moral – enquanto normas que regulam as relações entre os indivíduos foi considerada da maior
importância na prática e formação dos profissionais de enfermagem, e a ética enquanto
fundamentação do agir, tendo em conta os princípios para a ação. A enfermagem, contudo, foi em
tempos vista predominantemente como uma ocupação da mulher: cuidados com o corpo,
alimentação, ajuda no parto, cuidados à criança, ajuda aos idosos e
cuidados aos doentes. Traduzir-se-ia de alguma forma numa
obrigação moral da mulher no seio das famílias e comunidades.
Este sentido de obrigação moral ou dever de serviço tem
acompanhado a história da enfermagem.

“A ética de enfermagem estuda as razões dos


comportamentos na prática da profissão, os princípios que regulam
essas condutas, as motivações, os valores do exercício profissional,
as alterações e as transformações através do tempo”. Pedrero, 1998.

A partir de 1950, surgem códigos para enfermeiras, da autoria de organizações de


enfermagem, nacionais e internacionais, que marcam o inicio de uma abordagem sistemática da
ética em enfermagem, quer na sua prática quer na sua formação. No entanto já em 1899, com a
criação do Conselho Internacional de Enfermeiras (ICN) inicia-se a discussão de aspectos jurídicos
e éticos e, em 1921, a Canadian Nurse Association (CNA) publica o seu primeiro código de ética de
enfermagem. Desde então muitos outros documentos sobre o que deve ser o comportamento moral
e ético dos profissionais de enfermagem foram publicados, a registrar a publicação em 1948 da
declaração dos direitos humanos, que fornece um enorme incremento às preocupações morais e
éticas no seio da enfermagem.

Outro passo importante foi a criação do Código de Deontologia da Enfermagem, este já bem
mais recente em 1998, mas não menos importante, pois mais do que um documento normativo,
situa o vértice da excelência no relacionamento pessoa a pessoa. Este pressupõe e exige a integração
de todos os saberes e competências próprias da enfermagem numa atenção pessoal e única a quem
precisa de cuidados de saúde, o qual se subdivide em quatro áreas temáticas: - Princípios e deveres

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gerais; - Deveres com a comunidade; - Deveres com os clientes; - Deveres com o exercício
profissional.

A evolução nos diversos códigos, sendo embora importante, não será suficiente para
responder aos desafios de complexidade de situações com que os enfermeiros se defrontam no seu
dia a dia de trabalho. Existem assim dilemas diários, relacionados com o cuidar que exigem
tomadas de decisão constantes e frequentemente difíceis, embora por vezes não se dê conta que se
trata de questões éticas.

Sendo a enfermagem uma profissão que centra a sua atividade nas pessoas, deve basear-se
num discurso ético que encaminha a sua atividade para a sociedade como um bem para a mesma.
Em cada ato profissional, tem que se fazer escolhas, tomar decisões tendo em conta sempre a pessoa
a quem é dirigida a ação.

“O discurso ético do Enfermeiro e demais Profissionais de Enfermagem


deve iniciar-se na própria profissão, de forma consciente, metodológica, clara e
objetiva”. Surribas, 1995.

O estudo da ética pode ajudar a configurar a


profissão de enfermagem de uma forma mais humana,
obrigando a refletir sobre a realidade da prática dos
cuidados em situações específicas. A prestação de cuidados
centra-se na relação entre o ser enfermo e o ser
enfermagem, em que o profissional contribui com os seus
conhecimentos e experiência, e o doente com as suas
vivências, necessidades e recursos. Ambos são sujeitos
ativos no processo de cuidar.

“Cuidar é ter em conta os dois parceiros dos


cuidados”. Collière, 1999.

Embora esta seja a orientação ética que melhor se


enquadra na perspectiva do cuidar, nem sempre é assim, pois em algumas situações o profissional
de enfermagem adota uma orientação claramente paternalista, em que o profissional é um sujeito
ativo que faz coisas sobre e para o usuário, e este é um sujeito passivo que recebe a ajuda que os
profissionais decidiram como sendo o melhor para ele. Nesta orientação, a ação de cuidar em
enfermagem é autônoma em relação ao paciente, pois este aceita os cuidados que na perspectiva do
enfermeiro são os melhores, os que mais se adéquam à situação e que supostamente são um
benefício para a pessoa cuidada.

Concluindo, a profissão de enfermagem fundamenta a sua prática em torno de um bem fazer,


de um bem estar e de um bem ser. Isto quer dizer que quer o caráter cientifico, quer o caráter ético
da profissão se centra em encontrar a melhor forma de desenvolver a sua atividade.

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1.5. BIOÉTICA

Bioética é a identificação, análise e resolução de problemas ou dilemas morais que surgem no


cuidado individual de pacientes. Bioética é um neologismo construído a partir das palavras
gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética). Por ser a Bioética um campo disciplinar
compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e
dos animais não humanos, seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca deixaram de
estar em pauta na história da humanidade. Dentre as questões que assumem maior relevância no
âmbito da saúde estão:

 Preservação de informações (privacidade);

 Caracterização do início da vida de uma pessoa;

 Utilização de tecnologias reprodutivas;

 Aborto;

 Alocação de recursos escassos;

 Transfusão de sangue em grupos religiosos específicos;

 Transplante e doação de órgãos;

 Estabelecimento de critérios de morte;

 Caracterização e manejo de pacientes terminais;

 Eutanásia e suicídio assistido.

O objetivo de solucionar problemas morais, segundo Morrein, não é identificar um ideal


moral, mas buscar achar a melhor solução disponível nas circunstâncias reais. Algumas vezes as
circunstâncias podem ser alteradas, em outras não.

1.5.1. CONFIDENCIALIDADE E PRIVACIDADE

As informações que os pacientes fornecem, quando de seu atendimento em um hospital, posto


de saúde ou consultório privado, assim como os resultados de exames e procedimentos realizados
com finalidade diagnóstica ou terapêutica, são de sua propriedade. Em um hospital de médio ou
grande porte, durante o período de uma internação, pelo menos 75 diferentes pessoas podem lidar
com o prontuário do paciente. Os médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde e
administrativos que entram em contato com as informações têm apenas autorização para ter acesso
às mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não têm o direito de usá-las livremente.

A garantia da preservação das informações, além de uma obrigação legal contida no Código
Penal, no Código Civil e na maioria dos Códigos de Ética Profissional, é um dever de todos os

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profissionais e também das instituições. A preservação da informação pode ser abordada tanto pela
questão da privacidade quanto pela da confidencialidade.

 A privacidade é a limitação do acesso às informações de uma dada pessoa, ao acesso à


própria pessoa, à sua intimidade, é a garantia à preservação do seu anonimato, do seu resguardo,
afastamento ou solidão. É a liberdade que o paciente tem de não ser observado sem autorização.
 A confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas pessoalmente em
confiança e a proteção contra a sua revelação não autorizada. O Juramento de Hipócrates já
afirmava: "qualquer coisa que eu veja ou ouça, profissional ou privadamente, que deva não ser
divulgada, eu conservarei em segredo e contarei a ninguém".

Podemos distinguir três diferentes formas de romper com a


preservação das informações: as exceções à preservação, a quebra
de privacidade e a quebra de confidencialidade. As quebras de
confidencialidade ou de privacidade, conforme o caso, podem
ocorrer em situações muito comuns entre os profissionais de
saúde, quando realizam comentários sobre pacientes em
elevadores, corredores, em cantinas ou refeitórios. Todo cuidado
deve ser tomado para se evitar que pessoas que não necessitam
saber, venham a ter informações sobre os pacientes que estão em atendimento. Outra situação de
risco é a utilização destes dados para exemplificar situações clínicas ou administrativas. Esta
utilização, que pode ser necessária para o ensino, por exemplo, deve ter o cuidado de
descaracterizar plenamente a identificação do paciente, preservando, assim, a sua pessoa.

Podem existir, considerando-se como justa causa e com amparo na legislação vigente,
exceções legais à preservação da privacidade. No Brasil estas situações dizem respeito à
comunicação à autoridade competente, a ocorrência de doença de informação compulsória ou de
suspeita de maus-tratos em crianças, velhos ou adolescentes. Vale relembrar que em ambas as
situações a autoridade a ser comunicada tem igual dever de preservar estas informações que os
profissionais que as comunicam. Esta comunicação não deve ser confundida com uma denúncia,
pois visa instruir uma autoridade, vinculada a outra esfera de atividades, para que possa tomar
decisões com base nestas informações visando sempre proteger
pessoas em risco.

A situação de testemunhar em corte judicial, pela legislação


brasileira atual, não constitui uma justa causa para revelação de
informações obtidas profissionalmente. Caso o profissional revele
estas informações de forma espontânea ou por constrangimento,
esta situação pode ser caracterizada como sendo uma violação de
segredo profissional. Existem países que exigem que o profissional
testemunhe e comunique fatos e informações em juízo.

A quebra de confidencialidade somente é eticamente admitida quando os seguintes quatro


critérios estiverem presentes:

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• um sério dano físico a uma pessoa identificável e específica tiver alta probabilidade de
ocorrência;

• um benefício real resultar desta quebra de confidencialidade;

• for o último recurso, após ter sido utilizada persuasão ou outras abordagens;

• e, por último, este procedimento deve ser generalizável, sendo novamente utilizado em outra
situação com as mesmas características, independentemente de quem seja a pessoa envolvida.

Um fato novo na realidade brasileira foi trazido pela Síndrome da


Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS). Nesta situação cabe ao médico
se assegurar que o cônjuge ou companheiro comunique seu parceiro de
seu diagnóstico. É esta uma obrigação tanto moral como deontológica,
assim definida pelo Conselho Federal de Medicina - CFM. O risco de
morte associada à transmissão sexual da doença torna a sua comunicação
prioritária em comparação com a preservação da confidencialidade da informação. Esta obrigação
não se estende aos demais membros da família. Mesmo quando os quatro critérios estejam
contemplados, seria melhor, quando possível, apresentar o caso a um Comitê de Bioética,
esclarecendo adequadamente os fatos e a situação.

Vale lembrar que, tanto nas exceções legais quanto na quebra de confidencialidade eticamente
admitida, a justa causa utilizada como justificativa para o não cumprimento do dever foi a
preservação da vida ou a proteção de outras pessoas.

É fundamental que todos os profissionais já formados ou em formação compreendam a


importância da preservação de todas as informações dos pacientes e o desenvolvimento de
estratégias de como lidar com as mesmas de forma eticamente adequada.

1.5.2. COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

Muitas vezes um profissional de saúde fica com um conflito interno entre contar ou não uma
má notícia para o seu paciente ou seus familiares. Na realidade, salvo algumas pouquíssimas
exceções, a questão que deve ser colocada é "qual a melhor
maneira de contar esta má notícia?" ou ainda "como vou
dividir estas informações?".

Os pacientes ou seus familiares normalmente passam


pelos mesmos estágios quando recebem uma má notícia.
Estes estágios foram classificados pela Dra. Kübler-Ross
para pacientes que estavam morrendo. Inúmeras outras
situações presentes na prática dos profissionais de saúde
podem fazer com que as pessoas passem por estágios semelhantes. Os estágios são os seguintes:

• Choque inicial;

• Negação e isolamento;
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• Raiva;

• Barganha;

• Depressão;

• Aceitação.

O sentimento de esperança também pode estar presente, paralelamente, a partir do estágio da


"Raiva". A compreensão deste processo pode auxiliar o profissional de saúde a entender estes
sentimentos e a auxiliar estas pessoas de uma forma mais adequada a esta situação de crise. Muitas
pessoas abordam as situações de crise apenas pelo seu lado ameaçador, pelo risco envolvido.
Porém, desde os antigos chineses, a palavra crise também comporta uma interpretação de
oportunidade, de uma chance de crescimento. Desta forma, uma má notícia pode ser também ser
geradora de crescimento pessoal, às vezes associado a muito sofrimento, mas que pode ser
suportado desde que entendido e elaborado adequadamente.

1.5.3. MORTE E MORRER

O atendimento a pacientes terminais, ou melhor, a pessoas perto do final de suas vidas, pode
representar uma situação de extrema dificuldade para os médicos, apesar do fato da morte ser um
evento inexorável para os seres vivos.

A par de problemas clínicos relacionados ao bom atendimento do paciente, no sentido de


evitar ao máximo os desconfortos e sofrimentos que são próprios das doenças que provocam direta
ou indiretamente a morte dos pacientes, uma série de questões morais significativas também surgem
neste contexto de terminalidade de vida.

O que o paciente sabe de seus diagnóstico e prognóstico? Esta primeira pergunta já nos
encaminha para uma questão básica que é a do exercício da autonomia neste momento. Só pode se
autodeterminar, de maneira adequada, aquela pessoa que tiver pleno conhecimento dos fatos
médicos ligados à sua doença. Para tanto, o acesso à verdade é essencial. Mas, o direito à verdade
cria uma obrigação para os médicos de sempre dizer a verdade para os pacientes? O profissional
prudente avaliará cada caso tentando pesar os prós e contras das duas alternativas: dizer a verdade
ou mentir para o paciente. Em seu julgamento, ele deverá levar em conta que somente um fato
moral muito relevante, em termos de beneficência, poderá justificar uma ação paternalística de
ignorar o direito do paciente à verdade e, consequentemente, de que o paciente defina os limites de
seu tratamento.

Devemos utilizar medidas ordinárias ou extraordinárias para manter o paciente vivo? O que
são medidas fúteis nestas circunstâncias? Medidas ordinárias são, geralmente, aquelas de baixo
custo, pouco invasivas, convencionais e tecnologicamente simples. As extraordinárias costumam
ser caras, invasivas, heróicas e de tecnologia complexa. Estas definições certamente simplificam
uma questão muito complexa. Por exemplo: a alimentação enteral por sonda na maioria das vezes é
uma medida ordinária, mas quando utilizada num paciente em estado vegetativo persistente
irreversível ela não passa a ser uma medida extraordinária para mantê-lo vivo? Neste sentido,

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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alternativamente, devemos pensar em que medida uma ação médica pode ser considerada
moralmente prescindível.

Medidas fúteis são aquelas com baixíssima chance de serem eficazes, não importando o
número de vezes em que são utilizadas. A obstinação terapêutica é condenada, inclusive por várias
correntes religiosas, que a caracterizam como
prolongamento indevido do sofrimento natural.

O que é morte? É este um conceito eminentemente


médico ou deve ser contextualizado dentro de variáveis
socioculturais? O Papa Pio XII, em 1957, afirmou que a
caracterização da morte é um ato médico. O número
grande de definições de morte que surgiram como
consequência do desenvolvimento tecnológico já deixa bem claro que não é esta uma definição
puramente médica e, por consequência, implicações morais e legais são inevitáveis e da maior
relevância.

Pode, ou deve o profissional ajudar o paciente a morrer? Esta pergunta nos remete
imediatamente para o conceito de eutanásia. Com exceção da situação vigente no Uruguai, na
Holanda, Suíça e na Bélgica, a prática da eutanásia ativa não é aceita internacionalmente, nem pelos
médicos nem pela Igreja Católica.

As províncias do norte da Austrália também tiveram uma legislação neste sentido, mas foi
revogada. A eutanásia passiva ou indireta, assim como a eutanásia por duplo efeito, são moralmente
aceitas pela maioria das sociedades médicas e correntes religiosas dentro do princípio da “morte
com dignidade”.

É o suicídio assistido uma prática moralmente aceitável? É uma questão atual e controversa.
Representa claramente uma questão do limite operacional do princípio da autonomia e do direito do
paciente de dispor do seu corpo. Representa aquela ação na qual o profissional da saúde oferece os
meios para o paciente consumar a sua morte.

A maioria das sociedades médicas questiona a validade moral desta prática. A palavra
eutanásia tem sido utilizada de maneira confusa e ambígua, pois tem assumido diferentes
significados conforme o tempo e o autor que a utiliza. Várias novas palavras, como distanásia,
ortotanásia, mistanásia, têm sido criadas para evitar esta situação. Contudo, esta proliferação
vocabular, ao invés de auxiliar, tem gerado alguns problemas conceituais.

O termo eutanásia vem do grego, podendo ser traduzido como "boa morte” ou "morte
apropriada". O termo foi proposto por Francis Bacon, em 1623, em sua obra "Historia vitae et
mortis", como sendo o "tratamento adequado às doenças incuráveis". De maneira geral, entende-se
por eutanásia quando uma pessoa causa deliberadamente a morte de outra que está mais fraca,
debilitada ou em sofrimento. Neste último caso, a eutanásia seria justificada como uma forma de
evitar um sofrimento acarretado por um longo período de doença.

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Tem sido utilizado, de forma equivocada, o termo


Ortotanásia para indicar este tipo de eutanásia. Esta palavra
deve ser utilizada no seu real sentido de utilizar os meios
adequados para tratar uma pessoa que está morrendo.

O termo eutanásia é muito amplo e pode ter diferentes


interpretações. Um exemplo de utilização diferente da que
hoje é utilizada foi a proposta no século XIX, os teólogos
Larrag e Claret, em seu livro Prontuários de Teologia
Moral, publicado em 1866. Eles utilizavam eutanásia para caracterizar a "morte em estado de
graça".

É fundamental que sejam definidos os conceitos pois que “eutanásia” significa, do ponto de
vista etimológico, uma “boa morte”.

 Eutanásia ativa ou direta: quando o profissional da saúde age diretamente visando


provocar a morte do paciente por motivos misericordiosos.
 Eutanásia passiva ou indireta: quando não se inicia ou se interrompe uma ação médica
e a consequência é a morte do paciente. Por exemplo: paciente com câncer e múltiplas metástases
cerebrais que não responde mais a tratamento clínico, desenvolve insuficiência respiratória e
decide-se por não ser encaminhado para UTI para suporte respiratório invasivo. Neste momento
decide-se, igualmente, interromper os antibióticos que estava utilizando para uma infecção
respiratória.
 Eutanásia de duplo efeito: quando se inicia um tratamento que visa aliviar o
sofrimento do paciente, mas dele advém um aceleramento do processo de morte. Por exemplo:
pacientes com câncer em fase final, com muita dor e ansiedade. Ao sedarmos a dor com
analgésicos opióides e a ansiedade com ansiolíticos estamos dificultando a eliminação de
secreções da árvore respiratória, favorecendo o desenvolvimento de infecção respiratória.O
importante neste conceito é que a morte não é o objetivo primário da intervenção e sim o alívio
dos desconfortos do paciente, mas a morte é um efeito secundário e inevitável de tal ação.
 Eutanásia voluntária: a que é solicitada pelo paciente.
 Eutanásia involuntária: quando não desejada pelo paciente.
 Eutanásia não voluntária: quando não se conhece a vontade do paciente.

Existem dois elementos básicos na caracterização da eutanásia: a intenção e o efeito da ação.


A intenção de realizar a eutanásia pode gerar uma ação (eutanásia ativa) ou uma omissão, isto é, a
não realização de uma ação que teria indicação terapêutica naquela circunstância (eutanásia
passiva). Desde o ponto de vista da ética, ou seja, da justificativa da ação, não há diferença entre
ambas.

Da mesma forma, a eutanásia, assim como o suicídio assistido, são claramente diferentes das
decisões de retirar ou de não implantar um tratamento, que não tenha eficácia ou que gere sérios
desconfortos, unicamente para prolongar a vida de um paciente. Ao contrário da eutanásia e do
suicídio assistido, esta retirada ou não implantação de medidas consideradas fúteis não agrega outra
causa que possa conduzir à morte do paciente.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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A tradição hipocrática tem acarretado que os médicos e outros profissionais de saúde se


dediquem a proteger e preservar a vida. Se a eutanásia for aceita como um ato médico, os médicos e
outros profissionais terão também a tarefa de causar a morte. A participação na eutanásia não
somente alterará o objetivo da atenção à saúde, como poderá
influenciar, negativamente, a confiança para com o profissional,
por parte dos pacientes.

Distanásia: Morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento.


Alguns autores assumem a distanásia como sendo o antônimo de
eutanásia. Novamente surge a possibilidade de confusão e
ambiguidade. A qual eutanásia estão se referindo? Se for tomado
apenas o significado literal das palavras quanto a sua origem grega,
certamente são antônimos. Se o significado de distanásia for
entendido como prolongar o sofrimento ele se opõe ao de eutanásia
que é utilizado para abreviar esta
situação. Porém se for assumido o seu
conteúdo moral, ambas convergem. Tanto a eutanásia quanto a
distanásia são tidas como sendo eticamente inadequadas.

Ortotanásia: é a atuação correta frente à morte. É a abordagem


adequada diante de um paciente que está morrendo. A ortotanásia pode
desta forma, ser confundida com o significado inicialmente atribuído à palavra eutanásia. A
ortotanásia poderia ser associada, caso fosse um termo amplamente adotado, aos cuidados paliativos
adequados prestados aos pacientes nos momentos finais de suas vidas.

Mistanásia: também chamada de eutanásia social. Leonard Martin sugeriu o termo mistanásia
para denominar a morte miserável, fora e antes da hora. Segundo este autor,

"Dentro da grande categoria de mistanásia quero focalizar três situações:


primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos,
sociais e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar
efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que
conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar vítimas de erro médico e,
terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas de má prática por motivos
econômicos, científicos ou sociopolíticos. A mistanásia é uma categoria que nos
permite levar a sério o fenômeno da maldade humana".

1.5.4. BIOÉTICA E AVANÇOS TECNOLÓGICOS

Os avanços da tecnologia têm propiciado o desenvolvimento de equipamentos


progressivamente mais desenvolvidos que têm trazido, na sua maioria, inequívocos benefícios para
os pacientes.

Frequentemente, no entanto, o avanço tecnológico traz consigo questões éticas. Isto é


facilmente detectado ao observarmos os problemas morais que os avanços das técnicas de

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fertilização in vitro, da manipulação genética e do uso de células-tronco estão provocando nos dias
atuais.

Se aceita a prática médica como sendo “as intervenções planejadas visando somente o bem-
estar do paciente ou cliente individual e que
apresenta uma razoável expectativa de sucesso”.

É-nos vedado que empreguemos em nossos


pacientes novas tecnologias médicas, que não
tenham sido prévia e formalmente pesquisadas e que,
por conseguinte, não possam ser rotuladas de práticas
médicas validadas. Qualquer tecnologia radicalmente
inovadora deverá ser considerada investigativa e, por
conseguinte, ser submetida ao ritual previsto nas
normas éticas brasileiras de pesquisa em seres
humanos.

Seguidamente novas tecnologias são testadas em outros centros e nos são oferecidas para
serem incorporadas na nossa atividade profissional. Neste momento deveremos questionar se o
novo procedimento seguro? É eficaz? Representa uma melhora real em relação ao “tradicional”?
Qual sua utilidade (relação custo/benefício)? É Seguro?

Podemos detectar que a introdução e a adoção de novas tecnologias trazem um problema que
exige uma abordagem ao mesmo tempo crítica e de busca de soluções criativas: existe uma
necessidade crescente de profissionais da saúde que sejam simultaneamente competentes do ponto
de vista científico, tecnológico e ético.

O século XXI cria a necessidade de um novo paradigma: os profissionais da saúde devem


dispor da mesma competência e devem ter a habilidade de exercer sua especialidade em diferentes
realidades sociais. A nossa sociedade está cada vez mais atenta a este desafio e, consequentemente,
cabe aos responsáveis pela educação na área da saúde esforçarem-se para colocar em prática este
conceito, para que a prática clínica dos profissionais seja competente do ponto de vista científico,
tecnológico e ético.

2. HISTÓRIA DA ENFERMAGEM

2.1. UM BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

O “cuidar de pessoas enfermas” tem sido a


essência da profissão de enfermagem. Mas as formas
como esse cuidado foi exercido através dos séculos
tem estreita relação com a história da civilização.
Cada povo, seja no Egito, China, Índia, Grécia ou
Roma, desenvolveu sua arte de tratar os doentes,
com base em seus conhecimentos, suas crenças e

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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costumes locais.

No período antes de Cristo, a doença era considerada como castigo dos deuses ou efeito do
poder dos demônios; por isso recorriam a sacerdotes que acumulavam funções espirituais e
temporais, de médicos e enfermeiros. O tratamento consistia em afastar os maus espíritos através de
banhos, massagens, rituais religiosos, etc. No Egito praticava-se o hipnotismo. Na Assíria a
medicina era praticada através da magia.

Na Grécia foi onde a medicina surgiu de fato. O grego chamado Hipócrates é considerado por
muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado "pai da
medicina", apesar de ter desenvolvido tal ciência muito depois de Imhotep, do Egito antigo.
Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara
os cuidados em saúde. Hipócrates conhecia os sedativos, fortificantes, ossos, circulação e fazia
ataduras.

Se a doença acompanha o ser humano desde seus primórdios, a necessidade do cuidado ao ser
doente seguiu o mesmo trajeto. Assim, todas as cidades em todas as épocas, mobilizaram-se para
responder a essa necessidade. Templos, conventos e mosteiros já se prestaram a esse fim, recebendo
os doentes e providenciando-lhes atenções especiais, cujo intuito era, não apenas o cuidado com o
corpo, mas também com a alma do enfermo. Tal situação se mostrou particularmente presente
durante toda a Idade Média, quando se partilhava a convicção de que a assistência espiritual era o
remédio mais indicado em casos de doenças e de
outros infortúnios.

Até o século XVIII, o hospital era


essencialmente uma instituição de assistência aos
pobres. Instituição de assistência, como também de
separação e exclusão. O pobre como pobre tem
necessidade de assistência e, como doente, portador
de doença e possível contágio, é perigoso. Por estas
razões, o hospital deve estar presente tanto para
recolhê-lo, quanto para proteger os outros do perigo
que ele encarna. As atividades desenvolvidas dentro
dessa instituição cabiam a religiosos ou leigos, geralmente mulheres, que as executavam com vistas
ao salvamento de suas almas mediante ações de caridade. A construção dos hospitais se dava
sempre fora da zona urbana visto sua característica de segregação social.

No Período Renascentista, o hospital aos poucos se desliga da influência religiosa para então
caracterizar-se como instituição social sob responsabilidade do Estado. Como fruto de diversas
transformações ocorridas, sobretudo no século XVIII, acreditou-se que os hospitais pudessem vir a
exercer uma ação terapêutica efetiva e potencialmente eficaz sobre os doentes internados caso
superassem suas condições insalubres, pois a sujeira, a promiscuidade e a mistura dos corpos em
camas coletivas, favoreciam toda ordem de contágios.

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Até esse momento, o hospital e a medicina seguiram


campos independentes, visto que o cuidado aos doentes
dentro da instituição hospitalar se baseava em cuidados
com as feridas, preparo de chás e alimentação, cuidados
estes exercidos por leigos. É no fim do século XVIII que o
saber médico passa a ocupar espaço no hospital e introduz
mecanismos disciplinares vindos da organização militar, a
fim de anular os seus efeitos negativos. Porém, a situação
de insalubridade dentro dos hospitais vai persistir até a metade do século XIX, quando essa situação
começa a se modificar com o estabelecimento da bacteriologia por Pasteur e os conceitos de
assepsia de Lister. Nesta época também surge a personagem mais importante da história da
enfermagem moderna, Florence Nightingale trazendo novas perspectivas para essa profissão e para
o próprio cuidado à saúde.

Assim, o hospital começa a transformar-se em local de cura, onde o médico exercerá seu
trabalho sobre o doente e a doença, buscando produzir a cura, e as práticas médicas e de
enfermagem, antes independentes, encontram-se a partir daí no mesmo espaço. Também se torna
inadiável a necessidade de anular os efeitos negativos da instituição hospitalar, para que a cura seja
favorecida. Dentro dessa perspectiva, o hospital sofre sérias e profundas mudanças, que ampliam
enormemente sua complexidade, até chegar neste hospital atual, onde a meta primordial é os
cuidados médicos, cuja provisão é norteada por normas científico-tecnológicas e por requisitos de
racionalidade e economia organizacional.

2.2. SURGIMENTO DA ENFERMAGEM

A enfermagem é uma atividade tão antiga quanto o ser humano, tendo nascido de suas
necessidades de cuidados com a saúde e a doença. Assim, nas comunidades primitivas, o cuidado de
enfermagem aparece intimamente relacionado à magia e ao sobrenatural, visto que as doenças eram
atribuídas aos deuses. Dentro dessa perspectiva, a enfermagem consistia na arte de manipular as
forças da natureza e das divindades para a saúde do homem e das comunidades. Nas civilizações
antigas ainda permanece o enfoque místico tanto para a doença como para o seu cuidado. À mulher,
por dar à luz, cuidar de sua prole, lidar com a agricultura e conhecer o segredo das plantas, cabia
assegurar a manutenção da vida e, consequentemente, cuidar dos doentes, idosos e moribundos.

A partir de Hipócrates, os misticismos e superstições são substituídos pelo diagnóstico e


tratamento médico, onde a cura visa propiciar condições ao ser humano para readquirir seu
equilíbrio. Porém, esse processo de cura é permeado de atividades de cuidado ao ser doente, e estas
ficam a cargo das mulheres.

Durante todo período cristão e medieval, o cuidado ao ser doente toma uma conotação de
atividade caritativa, com vistas ao salvamento da alma do doente e de quem dele cuidava. Assim,
juntamente com outros elementos das ordens religiosas, surgem as diaconisas, as quais eram
ordenadas para o serviço, o qual consistia em atender as necessidades de sobrevivência das pessoas
carentes e doentes.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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Na idade moderna, a enfermagem assume dois rumos, ou seja, em um deles permanece ligada
à luz da caridade cristã e da vocação religiosa e em outro, pouco a pouco vai evoluindo para a
profissionalização, embora ambas se mantenham ainda dentro de bases empíricas, que persistirão
até a primeira metade do século XIX.

A partir da segunda metade do século XIX, com Florence Nightingale, a enfermagem se


transforma radicalmente, buscando racionalizar sua prática, através de um trabalho calcado em
bases mais científicas, que vão lhe dar a configuração profissional necessária. Florence Nightingale
encontrou o hospital com condições precárias para a promoção da cura devido a pouca higiene e
grande promiscuidade aí presente, o que favoreceu a entrada da enfermagem em cena, numa forma
de buscar a normalização e a regulamentação, bem como a organização do espaço terapêutico do
doente.

Os hospitais passam a ser considerados como espaço terapêutico para a cura, onde se
privilegia, principalmente, a relação médico-paciente, sendo que as demais profissões passam a ser
vistas como as que fornecem suporte infraestrutural para que o trabalho médico e,
consequentemente a cura, se deem. Assim, duas dicotomias importantes se fazem sentir nesse
momento: a separação entre cura (do médico) e cuidado (da enfermagem) e entre o administrar e o
cuidar, ambas com repercussões sérias para o futuro da enfermagem.

Para tanto, Florence legitima uma hierarquia institucional, preparando enfermeiras para
ocuparem posições de chefia em enfermarias e superintendência, bem como treinando aprendizes
para o cuidado propriamente dito, as primeiras sendo denominadas lady nurses por possuírem alta
posição social, e as que prestavam o cuidado direto as nurses, de nível social inferior.

2.3. FLORENCE NIGHTINGALE E A MODERNIZAÇÃO DA ENFERMAGEM

A grande figura da enfermagem mundial é, sem dúvida,


Florence Nightingale, que nasceu em 1820 em Florença, na Itália.
Filha de uma família de ingleses, nobre e aristocrática, pôde
estudar e ser bem educada, o que lhe abriu caminho para
posteriormente organizar o trabalho da enfermagem e fazer da
atividade uma profissão científica e de respeito. A data de seu
nascimento, 12 de maio, é mundialmente comemorada como o Dia
Internacional do Enfermeiro. Florence viveu 90 anos, falecendo em
13 de agosto de 1910, em Londres. A Inglaterra ainda a cultua
como uma das grandes heroínas inglesas, construindo em sua
homenagem estátuas em praças públicas e um museu com seu
nome.

Desde a infância, Florence gostava de cuidar de animais e crianças doentes, e na adolescência


demonstrou à sua família não estar conformada com o destino reservado às mulheres: casar e ter
filhos. Ela queria ter a liberdade para escolher o que fazer de sua vida, pois percebia como a
sociedade tratava de maneira desigual os homens e as mulheres, bem como o quanto a vida dos

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ricos era diferente da dos pobres. Aos 24 anos quis trabalhar em um hospital, mas na época as
condições dos hospitais ingleses não eram recomendáveis, pois as pessoas que prestavam algum
tipo de cuidado ou assistência de enfermagem eram religiosas católicas ou anglicanas e, em muito
maior número, mulheres sem preparo nem princípios morais, que viviam embriagadas e, portanto,
eram mal vistas pela sociedade. Somente aos 31 anos conseguiu autorização dos pais para fazer
estágios na Alemanha, numa instituição de diaconisas, sob orientação do Pastor Fliedner, para
aprender a cuidar de doentes pobres. Por falar diversas línguas, pôde aproveitar-se não apenas dessa
viagem como também de uma estada no hospital Hôtel-Dieu, em Paris, na França, onde conheceu,
aprendeu e acompanhou por vários meses o tipo de trabalho assistencial e administrativo realizado
pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. Com elas aprendeu a importância de regras, sua
forma de cuidar dos doentes, de fazer anotações, gráficos e
listas das atividades desenvolvidas.

Em 1854, teve início a Guerra da Criméia, que durou


dois anos, tendo a França e a Inglaterra como aliadas contra
a Rússia, que queria aumentar seus domínios naquela parte
do mundo. Enquanto os feridos franceses eram bem cuidados
pelas irmãs de caridade, 40% dos feridos ingleses morriam
abandonados. Florence ofereceu seus serviços e partiu com
outras 38 voluntárias de diferentes hospitais.

Ao chegar a Scutari deparou-se com condições


como 4.000 soldados feridos em imensos galpões,
deitados no chão bruto, rodeados por insetos e ratos e
operações sendo efetuadas em condições anti-higiênicas,
com doenças como cólera e tifo sendo algo comum nos
hospitais. Isso significava que soldados ingleses tinha 7
vezes mais chances de morrer de uma doença hospitalar
do que nos campos de batalha.

Enquanto esteve na Turquia ela coletou dados e


organizou um sistema de anotação de registros que
utilizou como uma ferramenta para melhorar as condições dos
hospitais civis e militares. Seu conhecimento matemático foi útil para
se valer das informações coletadas para o cálculo das taxas de
mortalidade nos hospitais. Esses cálculos mostravam que uma
melhoria nas condições sanitárias resultaria num decréscimo no
número de mortes.

Com todas as medias tomadas por Lady Florence (como


estabelecimento do suprimento de água fresca, utilização de fundos
próprios para comprar comida e equipamentos hospitalares e a
separação dos soldados de acordo com a sua patologia) a taxa de

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mortalidade caiu de 42% para 2%.

Como à noite percorria os alojamentos e corredores do hospital improvisado com uma


lamparina para poder ver os pacientes, passou a ser conhecida como a “Dama da Lâmpada” –
motivo pelo qual, até hoje, a Enfermagem é representada pela lâmpada, símbolo da sentinela, da
vigília constante e do cuidado contínuo do profissional que trabalha junto aos doentes.

Lady Florence utilizou os dados estatísticos que coletara para montar o diagrama de área polar, o
coxcombs (cristas) como ela o chamava.

Eles eram utilizados para representar


graficamente as mortes durante a Guerra
da Criméia (1854-1856).

A área de cada fatia colorida


medida do centro como um ponto
comum, está na proporção da estatística
que ela representa. A fatia externa azul
representa as mortes por doenças
contagiosas, tais como cólera e tifo. A
parte central vermelha mostra as mortes
por ferimentos. As partes interiores pretas
representam mortes por outras causas.

As condições anti sanitárias, no


entanto, não estavam limitadas aos
hospitais de campo. No retorno a
Londres, em agosto de 1856, 4 meses
após a assinatura do tratado de paz, Lady
Florence descobriu que os soldados, em
tempos de paz, com idades variando de 20 a 35 anos, tinham uma taxa de mortalidade que era o
dobro da dos civis. Utilizando essas estatísticas,
ela mostrou a necessidade de uma reforma nas
condições sanitárias de todos os hospitais
militares.

Com a divulgação do caso, ela ganhou a


atenção da rainha Vitória. Seu desejo por uma
investigação formal foi atendido em maio de 1857
e levou ao estabelecimento da Comissão Real
Sobre a Saúde nas Forças Armadas. Em 1858, por
suas contribuições para as forças armadas e para a
estatística hospitalar, Florence Nightingale tornou-
se a primeira mulher a ser eleita membro da

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Sociedade Estatística Real.

Após a Guerra da Criméia, Florence publicou dois livros: Notas sobre Hospitais, em 1858, e
Notas sobre Enfermagem, em 1859. Devido ao sucesso de sua missão, recebeu homenagens do
povo e do governo, além de um prêmio em dinheiro, utilizado para a organização da primeira
Escola de Enfermagem dos tempos modernos, no Hospital São Tomas, em Londres. Em 9 de julho
de 1860, matricularam-se as primeiras quinze alunas na escola recém-fundada por Florence, que
pretendia reformar a enfermagem, não apenas na Inglaterra, mas no mundo inteiro, selecionando as
candidatas ao curso apenas entre jovens educadas e de elevada posição social. Esse rigoroso critério
de seleção tinha a intenção de eliminar o baixo nível social das mulheres que, então, prestavam
assistência aos pacientes em hospitais. Mas os primeiros anos foram de grande luta, porque eram
poucos os que compreendiam a necessidade de enfermeiras cultas e com elevados dotes morais,
além disso, não se acreditava que fossem necessários estudos e especial preparação para cuidar de
doentes.

Provavelmente, a experiência na França, com as regras das Irmãs de


Caridade de São Vicente de Paulo e a convivência com a rígida disciplina
militar e sua hierarquia influenciaram Florence na concepção de um
modelo “militarizado” de organização das atividades e serviços de
enfermagem. Algumas das enfermeiras diplomadas pela Escola do
Hospital São Tomas trabalharam na Europa e outras se dirigiram ao
Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, divulgando o sistema
Nightingale em todo o mundo. Dadas as condições precárias de sua saúde,
ela não conseguiu dirigir pessoalmente a escola, mas manteve-se sempre
em contato. Quando morreu, aos 90 anos, sua reforma, conhecida como
sistema Nightingale, já havia atingido o Novo Mundo e espalhava-se por
todos os continentes, chegando inclusive ao Brasil.

O sistema Nightingale tinha dois pontos centrais: em primeiro lugar, enfermeiras deveriam
assumir a direção das escolas de enfermagem assim como serem os principais responsáveis pelo
ensino metódico da profissão; em segundo, critérios de conduta moral, intelectual assim como de
aptidão deveriam ser usados na seleção de candidatas.

2.4. A HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO BRASIL

A organização da enfermagem na sociedade brasileira


começa no período colonial e vai até o final do século XIX.
A profissão surge como uma simples prestação de cuidados
aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua
maioria, por escravos que naquela época trabalhavam nos
domicílios. Desde o princípio da colonização, foi incluída a
abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em
Portugal.

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A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos,


em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de
Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde, Porto Alegre e Curitiba,
esta inaugurada em 1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza
Cristina.

No que diz respeita à saúde do povo brasileiro, merece destaque o


trabalho do Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de
ciências e catequeses. Foi além. Atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e
enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primeiros
habitantes, clima e as doenças mais comuns.

A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais, minuciosamente descritas. Supõe-se


que os jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles. Não
há registro a respeito.

Outra figura de destaque é Frei Fabiano Cristo que, durante 40 anos exerceu atividades de
enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro.

Os escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os


religiosos nos cuidados aos doentes. Em 1738, Romão de
Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos
Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras
medidas de proteção à maternidade que se conhecem na
legislação mundial, graças à atuação de José Bonifacio
Andrada e Silva. A primeira sala de partos funcionava na
Casa dos Expostos. Em 1832, organizou-se o ensino médico e
foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A
escola de parteiras da
Faculdade de
Medicina diplomou
no ano seguinte a
célebre Madame
Durocher, francesa, a
primeira parteira formada no Brasil.

No começo do século XX, grande número de teses


médicas forma apresentadas sobre higiene infantil e
escolar, demonstrando os resultados e abrindo horizontes e
novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto,
não teve influência imediata sobre a enfermagem.

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2.5. ANA NERI E A GUERRA DO PARAGUAI

Ana Justina Ferreira Néri nasceu em 13 de dezembro de 1814 e morreu em 20 de maio de


1880. Natural da cidade de Cachoeira, na Província da Bahia, casou-se com Isidoro Antonio Néri,
capitão de fragata, enviuvando aos 30 anos e com 3 filhos para educar. E foi o que ela fez,
formando Justiniano e Antônio Pedro em medicina enquanto Antônio Néri Filho tornou-se militar.

A partir de então, Ana passou a se dedicar às ações sociais e, ao eclodir a Guerra do Paraguai
(1864-1870), seus dois filhos mais velhos se incorporam como voluntário às fileiras do exército, o
mesmo acontecendo mais tarde com seu herdeiro mais moço.

Diante da partida dos 3 filhos, Ana Néri escreveu em 8 de agosto de 1865 ao governador,
Manuel Pinto de Sousa Dantas, oferecendo-se para ajudar em qualquer hospital do Rio Grande do
Sul. Dois dias depois o governador deu ordens ao Comandante das Armas para que Ana Néri fosse
contratada para trabalhar na Guerra do Paraguai, o que a tornou a primeira enfermeira voluntária do
Brasil e precursora da Cruz Vermelha Brasileira

Ela seguiu imediatamente para o Rio Grande do Sul, aprendendo noções de enfermagem e
entregando-se com dedicação à tarefa de cuidar dos feridos de guerra, apesar das grandes
dificuldades que enfrentava para desempenhar suas atividades, tais como, a falta de condições de
trabalho, de higiene e de materiais, além do grande número de soldados necessitados de
atendimento médico.

Apesar de tudo ela se destacou como


enfermeira carinhosa, prestativa e cuidadosa por
todos os lugares por onde passou, como
Corrientes, Humaitá, Assunção (então sitiada
pelo Exército brasileiro, onde Ana Néri montou
uma enfermaria-modelo, utilizando para isso
recursos pessoais herdados da família) e outras
regiões de batalha, tendo sua abnegação
aumentada ao receber a notícia da morte em
combate do filho Justiniano. Ao invés de ficar
revoltada com o infortúnio, abençoou seu
primogênito pelo idealismo e pelo dever
cumprido, e por tudo isso, quando o Exército
brasileiro finalmente conquistou a capital
paraguaia ela foi ali recebida triunfalmente pelos
militares, que a chamavam de “Mãe dos
Brasileiros”.

Ao final da guerra, Ana Néri retorna ao


Brasil, onde é acolhida com carinho e louvor pela população. Recebe do imperador D. Pedro II a
Medalha Humanitária e a Medalha da Campanha do Paraguai, além de pensão vitalícia de um conto

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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e duzentos mil réis anuais. Pelos relevantes serviços prestados aos soldados brasileiros, Ana recebeu
uma coroa de ouro cravejada de diamantes, onde se lia: “À heroína da caridade, as baianas
agradecidas”. Essa coroa encontra-se hoje no Museu do Estado da Bahia. Ana também ganhou um
álbum com a seguinte dedicatória: “Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas”. E
Victor Meireles pintou seu retrato em tamanho natural, o qual se encontra exposto na Sede da Cruz
Vermelha Brasileira. No dia 5 de julho de 1870, Ana chegou à Bahia, indo ocupar um lugar de
honra na Câmara Municipal de Salvador.

A República, em 1826, também


demonstrou seu reconhecimento, dando à
primeira escola oficial de enfermagem de
alto padrão no Brasil, fundada por Carlos
Chagas em 1923, o nome de Ana Néri. Em
1938, o presidente Getúlio Vargas assinou o
decreto nº 2.956, que instituiu o dia 12 de
maio como Dia do Enfermeiro, data em que
todos os hospitais e escolas municipais do
país devem prestar homenagens especiais à
memória de Ana Néri.

Atualmente no Brasil, comemora-se a Semana de Enfermagem de 12 a 20 de maio, pois as


datas comemoram, respectivamente, o nascimento de Florence Nightingale e a morte de Ana Néri.

2.6. PRIMEIRAS ESCOLAS DE ENFERMAGEM NO BRASIL

2.6.1. ESCOLA DE ENFERMAGEM “ALFREDO PINTO”

Essa escola é a mais antiga do Brasil, data de 1890, foi reformada por Decreto de 23 de maio
de 1939. O curso passou há 3 anos de duração e era dirigida por enfermeiras diplomadas. Foi
reorganizada por Maria Pamphiro, uma das pioneiras da Escola Ana Néri.

2.6.2. ESCOLA DA CRUZ VERMELHA NO RIO DE JANEIRO

Começou em 1916 com um curso de socorrista, para atender às necessidades prementes da 1ª


Guerra Mundial. Logo foi evidenciada a necessidade de formar profissionais (o que ocorreu
somente após a fundação da Escola Ana Néri) e voluntários. Os diplomas expedidos pela escola
eram registrados inicialmente no Ministério da Guerra e considerados oficiais. Essa escola encerrou
suas atividades.

2.6.3. ESCOLA ANA NERI

A primeira diretora foi Miss Clara Louise Kienninger, senhora de grande capacidade e
virtude, que soube ganhar o coração das primeiras alunas. Com habilidade fora do comum, adaptou-
se aos costumes brasileiros. Os cursos tiveram início em 19 de fevereiro de 1923, com 14 alunas.
Instalou-se pequeno internato próximo ao Hospital São Francisco de Assis, onde seriam os

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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primeiros estágios. Em 1923, durante um surto de varíola, enfermeiras e alunas dedicaram-se ao


combate à doença. Enquanto nas epidemias anteriores o índice de mortalidade atingia 50% dessa
vez baixou para 15%. A primeira turma de enfermeiras diplomou-se em 19 de julho de 1925.

2.6.4. ESCOLA DE ENFERMAGEM CARLOS CHAGAS

Por decreto nº 10.925, de 7(sete) de junho de 1933 e iniciativa de Dr. Ernani Agrícola, diretor
de Saúde Pública de Minas Gerais, foi criada pelo Estado a Escola de Enfermagem “Carlos
Chagas”, a primeira a funcionar fora da capital da República. A organização e direção dessa escola
coube à Laís Netto dos Reys, sendo inaugurada em 19 de julhos do mesmo ano. A escola além de
pioneira entre as escolas estaduais foi a primeira a diplomar religiosas no Brasil.

2.6.5. ESCOLA PAULISTA DE ENFERMAGEM

Fundada em 1939 pelas Franciscanas Missionárias de Maria, foi a pioneira da renovação da


Enfermagem na capital paulista, acolhendo religiosas de outras congregações. Uma das importantes
contribuições da escola foi o início dos cursos de Pós-graduação em Enfermagem Obstétrica. Esse
curso que deu origem a tantos outros é atualmente ministrado em várias escolas do país.

2.6.6. ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP

Fundada com a colaboração da Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP) em 1944, faz
parte da Universidade de São Paulo. Sua primeira diretora foi Edith Franckel, que também prestou
serviços como superintendente do Serviço de Enfermeiras do Departamento de Saúde. A primeira
turma diplomou-se em 1946.

2.7. SIMBOLOGIA DA ENFERMAGEM

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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O significado da simbologia aplicada à Enfermagem é:

 Lâmpada: Símbolo da sentinela, da vigília constante e do cuidado contínuo do profissional


que trabalha junto aos doentes.

 Seringa: Símbolo da técnica que é aplicada durante o tratamento do doente.

 Cor verde: Tranquilidade, cura, relativo à saúde.

 Pedra símbolo da Enfermagem: Esmeralda.

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ANEXOS

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PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES EM ENFERMAGEM

LEI Nº 5.905, DE 12 DE JULHO DE 1973 – DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO


DOS CONSELHOS FEDERAL E REGIONAIS DE ENFERMAGEM E DÁ
OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

O Presidente da República

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º. São criados o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os Conselhos Regionais de
Enfermagem (COREN), constituindo em seu conjunto uma autarquia, vinculada ao Ministério do
Trabalho e Previdência Social.

Art. 2º. O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são órgãos disciplinadores do exercício da
profissão de enfermeiro e das demais profissões compreendidas nos serviços de Enfermagem.

Art. 3º. O Conselho Federal, ao qual ficam subordinados os Conselhos Regionais, terá jurisdição em
todo o território nacional e sede na Capital da República.

Art. 4º. Haverá um Conselho Regional em cada Estado e Território, com sede na respectiva capital,
e no Distrito Federal.

Parágrafo único. O Conselho Federal poderá, quando o número de profissionais habilitados na


unidade da federação for interior a cinquenta, determinar a formação de regiões, compreendendo
mais de uma unidade.

Art. 5º. O Conselho Federal terá nove membros efetivos e igual número de suplentes, de
nacionalidade brasileira, e portadores de diploma de curso de Enfermagem de nível superior.

Art. 6º. Os membros do Conselho Federal e respectivos suplentes serão eleitos por maioria de votos,
em escrutínio secreto, na Assembleia dos Delegados Regionais.

Art. 7º. O Conselho Federal elegerá dentre seus membros, em sua primeira reunião, o Presidente, o
Vice-presidente, o Primeiro e o Segundo Secretários e o Primeiro e o Segundo Tesoureiros.

Art. 8º. Compete ao Conselho Federal:

I - aprovar seu regimento interno e os dos Conselhos Regionais;

II - instalar os Conselhos Regionais;

III - elaborar o Código de Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando necessário, ouvidos os


Conselhos Regionais;

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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IV - baixar provimentos e expedir instruções, para uniformidade de procedimento e bom


funcionamento dos Conselhos Regionais;

V - dirimir as dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais;

VI - apreciar, em grau de recursos, as decisões dos Conselhos Regionais;

VII - instituir o modelo das carteiras profissionais de identidade e as insígnias da profissão;

VIII - homologar, suprir ou anular atos dos Conselhos Regionais;

IX - aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária da autarquia, remetendo-as aos órgãos


competentes;

X - promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional;

XI - publicar relatórios anuais de seus trabalhos;

XII - convocar e realizar as eleições para sua diretoria;

XIII - exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei.

Art. 9º - O mandato dos membros do Conselho Federal será honorífico e terá a duração de três anos,
admitida uma reeleição.

Art. 10 - A receita do Conselho Federal de Enfermagem será constituída de:

I - um quarto da taxa de expedição das carteiras profissionais;

II - um quarto das multas aplicadas pelos Conselhos Regionais;

III - um quarto das anuidades recebidas pelos Conselhos Regionais;

IV - doações e legados;

V - subvenções oficiais;

VI - rendas eventuais.

Parágrafo único. Na organização dos quadros distintos para inscrição de profissionais o Conselho
Federal de Enfermagem adotará como critério, no que couber, o disposto na Lei nº 2.604, de 17 de
setembro 1955.

Art. 11. Os Conselhos Regionais serão instalados em suas respectivas sedes, com cinco a vinte e um
membros e outros tantos suplentes, todos de nacionalidade brasileira, na proporção de três quintos
de Enfermeiros e dois quintos de profissionais das demais categorias do pessoal de Enfermagem
reguladas em lei.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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Parágrafo único. O número de membros dos Conselhos Regionais será sempre ímpar, e a sua
fixação será feita pelo Conselho Federal, em proporção ao número de profissionais inscritos.

Art. 12. Os membros dos Conselhos Regionais e respectivos suplentes serão eleitos por voto
pessoal, secreto e obrigatório, em época determinada pelo Conselho Federal, em Assembléia Geral
especialmente convocada para esse fim.

§ 1º. Para a eleição referida neste artigo serão organizadas chapas separadas, uma para enfermeiros
e outra para os demais profissionais de Enfermagem, podendo votar, em cada chapa,
respectivamente, os profissionais referidos no artigo 11.

§ 2º. Ao eleitor que, sem causa justa, deixar de votar nas eleições referidas neste artigo, será
aplicada pelo Conselho

Regional multa em importância correspondente ao valor da anuidade.

Art. 13. Cada Conselho Regional elegerá seu Presidente, Secretário e Tesoureiro, admitida a criação
de cargos de Vice-presidente,

Segundo-secretário e Segundo- tesoureiro, para os Conselhos com mais de doze membros.

Art. 14. O mandato dos membros dos Conselhos Regionais será honorífico e terá duração de três
anos, admitida uma reeleição.

Art. 15. Compete aos Conselhos Regionais;

I- deliberar sobre inscrição no Conselho e seu cancelamento;

II - disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do Conselho


Federal;

III - fazer executar as instruções e provimentos do Conselho Federal;

IV - manter o registro dos profissionais com exercício na respectiva jurisdição;

V - conhecer e decidir os assuntos atinentes à ética profissional, impondo as penalidades cabíveis;

VI - elaborar a sua proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento interno e submetê-los
à aprovação do Conselho Federal;

VII - expedir a carteira profissional indispensável ao exercício da profissão, a qual terá fé pública
em todo o território nacional e servirá de documento de identidade;

VIII -zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam;

IX - publicar relatórios anuais de seus trabalhos e relação dos profissionais registrados;

X - propor ao Conselho Federal medidas visando à melhoria do exercício profissional;

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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XI - fixar o valor da anuidade;

XII - apresentar sua prestação de contas ao Conselho Federal, até o dia 28 de fevereiro de cada ano;

XIII - eleger sua diretoria e seus delegados eleitores ao Conselho Federal;

XIV - exercer as demais atribuições que lhes forem conferidas por esta Lei ou pelo Conselho
Federal.

Art. 16. A renda dos Conselhos Regionais será constituída de:

I - três quartos da taxa de expedição das carteiras profissionais;

II - três quartos das multas aplicadas;

III - três quartos das anuidades;

IV - doações e legados;

V - subvenções oficiais, de empresas ou entidades particulares;

VI - rendas eventuais.

Art. 17. O Conselho Federal e os Conselhos Regionais deverão reunir-se, pelo menos, uma vez
mensalmente.

Parágrafo único. O Conselheiro que faltar, durante o ano, sem licença prévia do respectivo
Conselho, a cinco reuniões perderá o mandato.

Art. 18. Aos infratores do Código de Deontologia de Enfermagem poderão ser aplicadas as
seguintes penas:

I - advertência verbal;

II - multa;

III - censura;

IV - suspensão do exercício profissional;

V - cassação do direito ao exercício profissional.

§ 1º. As penas referidas nos incisos I, II, III e IV deste artigo são da alçada dos Conselhos Regionais
e a referida no

inciso V, do Conselho Federal, ouvido o Conselho Regional interessado.

§ 2º. O valor das multas, bem como as infrações que implicam nas diferentes penalidades, serão
disciplinados no regimento do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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Art. 19. O Conselho Federal e os Conselhos Regionais terão tabela própria de pessoal, cujo regime
será o da Consolidação das Leis do Trabalho.

Art. 20. A responsabilidade pela gestão administrativa e financeira dos Conselhos caberá aos
respectivos diretores.

Art. 21. A composição do primeiro Conselho Federal de Enfermagem, com mandato de um ano,
será feito por ato do Ministro do Trabalho e Previdência Social, mediante indicação, em lista
tríplice, da Associação Brasileira de Enfermagem.

Parágrafo único. Ao Conselho Federal assim constituído caberá, além das atribuições previstas
nesta Lei:

a) promover as primeiras eleições para composição dos Conselhos Regionais e instalá-los;

b) promover as primeiras eleições para composição do Conselho Federal, até noventa dias antes do
termino do seu mandato.

Art. 22. Durante o período de organização do Conselho Federal de Enfermagem, o Ministério do


Trabalho e Previdência Social lhe facilitará a utilização de seu próprio pessoal, material e local de
trabalho.

Art. 23. Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 12 de julho de 1973.

Brasília, 12 de julho de 1973; 152° da Independência e 85º da República.

EMILIO G. MÉDICI

Júlio Barata

LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986 - DISPÕE SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO


EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

O presidente da República.

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - É livre o exercício da Enfermagem em todo o território nacional, observadas as disposições


desta Lei.

Art. 2º - A Enfermagem e suas atividades Auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas
legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área
onde ocorre o exercício.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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Parágrafo único - A Enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de


Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus de
habilitação.

Art. 3º - O planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem planejamento


e programação de Enfermagem.

Art. 4º - A programação de Enfermagem inclui a prescrição da assistência de Enfermagem.

Art. 5º - (vetado)

§ 1º - (vetado)

§ 2º - (vetado)

Art. 6º - São enfermeiros:

I - o titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei;

II - o titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, conferidos nos


termos da lei;

III - o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de


Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as
leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como
diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;

IV - aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiverem título de Enfermeiro conforme
o disposto na alínea “d” do Art. 3º. do Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961.

Art. 7º. São técnicos de Enfermagem:

I - o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a


legislação e registrado pelo órgão competente;

II - o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso estrangeiro,


registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de
Técnico de Enfermagem.

Art. 8º - São Auxiliares de Enfermagem:

I - o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino, nos


termos da Lei e registrado no órgão competente;

II - o titular do diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de 1956;

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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III - o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso

III do Art. 2º. da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº
4.024, de 20 de dezembro de 1961;

IV - o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido até 1964


pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por
órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos termos do Decreto- lei nº
23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei
nº3.640, de 10 de outubro de 1959;

V - o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº 299, de 28


de fevereiro de 1967;

VI - o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do
país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como
certificado de Auxiliar de Enfermagem.

Art. 9º - São Parteiras:

I - a titular de certificado previsto no Art. 1º do Decreto lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1964,


observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

II - a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equivalente, conferido por escola ou curso


estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no
Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta Lei, como certificado de Parteira.

Art. 10 - (vetado)

Art. 11 - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe:

I - privativamente:

a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública


ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem;

b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas
empresas prestadoras desses serviços;

c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de


Enfermagem;

d) - (vetado)

e) - (vetado)

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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f) - (vetado)

g) - (vetado)

h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

i) consulta de Enfermagem;

j) prescrição da assistência de Enfermagem;

l) cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

m) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base


científica e capacidade de tomar decisões imediatas;

II - como integrante da equipe de saúde:

a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde;

c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada


pela Instituição de saúde;

d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação;

e) prevenção e controle sistemática de infecção hospitalar

e de doenças transmissíveis em geral;

f) prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a
assistência de Enfermagem;

g) assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;

h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

i) execução do parto sem distócia;

j) educação visando à melhoria de saúde da população;

Parágrafo único - às profissionais referidas no inciso II do Art. 6º desta Lei incumbe, ainda:

a) assistência à parturiente e ao parto normal;

b) identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico;

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando necessária.

Art. 12 - O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e


acompanhamento do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da
assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente:

a) participar da programação da assistência de Enfermagem;

b) executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o


disposto no Parágrafo único do Art. 11 desta Lei;

c) participar da orientação e supervisão do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar;

d) participar da equipe de saúde.

Art. 13 - O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva,


envolvendo serviços auxiliares de Enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível
de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe especialmente:

a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;

b) executar ações de tratamento simples;

c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente;

d) participar da equipe de saúde.

Art. 14 - (vetado)

Art. 15 - As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta Lei, quando exercidas em instituições de
saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob
orientação e supervisão de Enfermeiro.

Art. 16 - (vetado)

Art. 17 - (vetado)

Art. 18 - (vetado)

Parágrafo único - (vetado)

Art. 19 - (vetado)

Art. 20 - Os órgãos de pessoal da administração pública direta e indireta, federal, estadual,


municipal, do Distrito Federal e dos Territórios observarão, no provimento de cargos e funções e na
contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, os preceitos desta Lei.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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Parágrafo único - Os órgãos a que se refere este artigo promoverão as medidas necessárias à
harmonização das situações já existentes com as diposições desta Lei, respeitados os direitos
adquiridos quanto a vencimentos e salários.

Art. 21 - (vetado)

Art. 22 - (vetado)

Art. 23 - O pessoal que se encontra executando tarefas de Enfermagem, em virtude de carência de


recursos humanos de nível médio nesta área, sem possuir formação específica regulada em lei, será
autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer atividades elementares de
Enfermagem, observado o disposto no Art. 15 desta Lei.

Parágrafo único - A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos critérios baixados pelo
Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser concedida durante o prazo de 10 (dez) anos,
a contar da promulgação desta Lei.

Art. 24 - (vetado)

Parágrafo único - (vetado)

Art. 25 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias a contar da
data de sua publicação.

Art. 26 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 27 - Revogam-se (vetado) as demais disposições em contrário.

Brasília, em 25 de junho de 1986, 165º da Independência e 98º da República

JOSÉ SARNEY

Almir Pazzianotto Pinto.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM (CEPE)

PREÂMBULO

A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e técnicos,


construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo
ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade,
no seu contexto e circunstâncias de vida.

O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de


uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional configurado pela
responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e político.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 58

A Enfermagem Brasileira, face às transformações sócio-culturais, científicas e legais, entendeu ter


chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE).

A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a participação


dos Conselhos Regionais de Enfermagem, inclui discussões com a categoria de Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por assunto e inclui princípios,
direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos profissionais de
Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o direito


de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização.
Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de Enfermagem
estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda
população.

O presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos Direitos do
Homem, promulgada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção
de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de
Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975). Teve
como referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de
Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas
Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração Helsinque (1964),
revista em Tóquio (1975) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde
(1996)].

CAPÍTULO I

Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º - A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da


coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas,
respeitando os preceitos éticos e legais.

Art. 2º - O profissional de Enfermagem participa, como integrante da sociedade, das ações que
visem satisfazer às necessidades de saúde da população.

Art. 3º - O profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos da pessoa humana,


em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 4º - O profissional de Enfermagem exerce suas atividades com justiça, competência,


responsabilidade e honestidade.

Art. 5º - O profissional de Enfermagem presta assistência a saúde visando a promoção do ser


humano como um todo.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 59

Art. 6º - O profissional de Enfermagem exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos


legais da Enfermagem.

CAPÍTULO II

Dos Direitos

Art. 7º - Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência legal.

Art. 8º - Ser informado sobre o diagnóstico provisório ou definitivo de todos os clientes que estejam
sob sua assistência.

Art. 9º - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir o presente


Código e a Lei do Exercício Profissional.

Art. 10 - Participar de movimentos reivindicatórios por melhores condições de assistência, de


trabalho e remuneração.

Art. 11 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou


privada para a qual trabalhe não oferecer condições mínimas para o exercício profissional,
ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente sua decisão
ao Conselho Regional de Enfermagem.

Parágrafo único - Ao cliente sob sua responsabilidade, deve ser garantida a continuidade da
assistência de Enfermagem.

Art. 12 - Receber salários ou honorários pelo seu trabalho que deverá corresponder, no mínimo, ao
fixado por legislação específica.

Art. 13 - Associar-se, exercer cargos e participar das atividades de entidades de classe.

Art. 14 - Atualizar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais.

Art. 15 - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional, cultural e a defesa dos
legítimos interesses de classe.

CAPÍTULO III

Das Responsabilidades

Art. 16 - Assegurar ao cliente uma assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de


imperícia, negligência ou imprudência.

Art. 17 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos ou
atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para a clientela.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 60

Art. 18 - Manter-se atualizado ampliando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, em


benefício da clientela, coletividade e do desenvolvimento da profissão.

Art. 19 - Promover e/ou facilitar o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural do pessoal sob sua
orientação e supervisão.

Art. 20 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de


ter sido praticada individualmente ou em equipe.

CAPÍTULO IV

Dos Deveres

Art. 21 - Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 22 - Exercer a enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade.

Art. 23 - Prestar assistência de Enfermagem à clientela, sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 24 - Prestar à clientela uma assistência de Enfermagem livre dos riscos decorrentes de
imperícia, negligência e imprudência. Ética Profissional.

Art. 25 - Garantir a continuidade da assistência de Enfermagem.

Art. 26 - Prestar adequadas informações ao cliente e família a respeito da assistência de


Enfermagem, possíveis benefícios, riscos e consequências que possam ocorrer.

Art. 27 - Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e
seu bem-estar.

Art. 28 - Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.

Art. 29 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade
profissional, exceto nos casos previstos em Lei.

Art. 30 - Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento do cliente e família sobre o seu estado
de saúde e tratamento, possíveis benefícios, riscos e consequências que possam ocorrer.

Art. 31 - Colaborar com a equipe de saúde na orientação do cliente ou responsável, sobre os riscos
dos exames ou de outros procedimentos aos quais se submeterá.

Art. 32 - Respeitar o ser humano na situação de morte e pós-morte.

Art. 33 - Proteger o cliente contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por
parte de qualquer membro da equipe de saúde.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 61

Art. 34 - Colocar seus serviços profissionais à disposição da comunidade em casos de emergência,


epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 35 - Solicitar consentimento do cliente ou do seu representante legal, de preferência por escrito,
para realizar ou participar de pesquisa ou atividade de ensino em Enfermagem, mediante
apresentação da informação completa dos objetivos, riscos e benefícios, da garantia do anonimato e
sigilo, do respeito a privacidade e intimidade e a sua liberdade de participar ou declinar de sua
participação no momento que desejar.

Art. 36 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo a vida e a integridade da pessoa


humana.

Art. 37 - Ser honesto no relatório dos resultados da pesquisa.

Art. 38 - Tratar os colegas e outros profissionais com respeito e consideração.

Art. 39 - Alertar o profissional, quando diante de falta cometida por imperícia, imprudência e
negligência.

Art. 40 - Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que infrinjam preceitos do


presente Código e da Lei do Exercício Profissional.

Art. 41 - Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que envolvam recusa
ou demissão de cargo, função ou emprego, motivados pela necessidade do profissional em preservar
os postulados éticos e legais da profissão.

CAPÍTULO V

Das Proibições

Art. 42 - Negar assistência de Enfermagem em caso de urgência ou emergência.

Art. 43 - Abandonar o cliente em meio a tratamento sem garantia de continuidade da assistência.

Art. 44 - Participar de tratamento sem consentimento do cliente ou representante legal, exceto em


iminente risco de vida.

Art. 45 - Provocar aborto ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação.

Parágrafo único - Nos casos previstos em Lei, o profissional deverá decidir, de acordo com a sua
consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo.

Art. 46 - Promover a eutanásia ou cooperar em prática destinada a antecipar a morte do cliente.

Art. 47 - Ministrar medicamentos sem certificar-se da natureza das drogas que o compõem e da
existência de risco para o cliente.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 62

Art. 48 - Prescrever medicamentos ou praticar ato cirúrgico, exceto os previstos na legislação


vigente e em caso de emergência.

Art. 49 - Executar a assistência de Enfermagem sem o consentimento do cliente ou seu


representante legal, exceto em iminente risco de vida.

Art. 50 - Executar prescrições terapêuticas quando contrárias à segurança do cliente.

Art. 51 - Prestar ao cliente serviços que por sua natureza incumbem a outro profissional, exceto em
caso de emergência.

Art. 52 - Provocar, cooperar ou ser conivente com maus-tratos.

Art. 53 - Realizar ou participar de pesquisa ou atividade de ensino, em que o direito inalienável do


homem seja desrespeitado ou acarrete perigo de vida ou dano à sua saúde.

Parágrafo único - A participação do profissional de Enfermagem nas pesquisas experimentais, deve


ser precedida de consentimento, por escrito, do cliente ou do seu representante legal.

Art. 54 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o cliente, sem sua autorização. Ética
Profissional

Art. 55 - Publicar, em seu nome, trabalho científico do qual não tenha participação ou omitir em
publicações, nomes de colaboradores e/ou orientadores.

Art. 56 - Utilizar-se, sem referência ao autor ou sem autorização expressa, de dados, informações ou
opiniões ainda não publicados.

Art. 57 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa humana.

Art. 58 - Determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e demais legislações que
regulamentam o exercício profissional da Enfermagem.

Art. 59 - Trabalhar e/ou colaborar com pessoas físicas e/ou jurídicas que desrespeitem princípios
éticos de Enfermagem.

Art. 60 - Acumpliciar-se com pessoas ou instituições que exerçam ilegalmente atividades de


Enfermagem.

Art. 61 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de concorrência
desleal.

Art. 62 - Aceitar, sem anuência do Conselho Regional de Enfermagem, cargo, função ou emprego
vago em decorrência do previsto no Art. 41.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 63

Art. 63 - Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde, unidade
sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congênere sem nele
exercer as funções de Enfermagem pressupostas.

Art. 64 - Assinar as ações de Enfermagem que não executou, bem como permitir que outro
profissional assine as que executou.

Art. 65 - Receber vantagens de instituição, empresa ou de cliente, além do que lhe é devido, como
forma de garantir assistência de

Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem.

Art. 66 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no descumprimento


da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização ou fecundação artificial.

Art. 67 - Usar de quaisquer mecanismos de pressão e/ou suborno com pessoas físicas e/ou jurídicas
para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 68 - Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para impor ordens,
opiniões, inferiorizar as pessoas e/ou dificultar o exercício profissional.

Art. 69 - Ser conivente com crime, contravenção penal ou ato praticado por membro da equipe de
trabalho que infrinja postulado ético profissional.

Art. 70 - Denegrir a imagem do colega e/ou de outro membro da equipe de saúde, de entidade de
classe e/ou de instituição onde trabalha.

CAPÍTULO VI

Dos Deveres Disciplinares

Art. 71 - Cumprir as normas dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem.

Art. 72 - Atender às convocações dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, no prazo


determinado.

Art. 73 - Facilitar a fiscalização do exercício profissional.

Art. 74 - Manter-se regularizado com suas obrigações financeiras com o Conselho Regional de
Enfermagem.

Art. 75 - Apor o número de inscrição do Conselho Regional de Enfermagem em sua assinatura,


quando no exercício profissional.

Art. 76 - Facilitar a participação dos profissionais de Enfermagem no desempenho de atividades nos


órgãos de classe.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 64

Art. 77 - Facilitar o desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa, devidamente aprovadas.

Art. 78 - Não apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer bem imóvel público ou particular de que
tenha posse, em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem.

Capítulo VII

Das Infrações e Penalidades

Art. 79 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas


penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispositivos
legais.

Art. 80 - Considera-se infração ética a ação, omissão ou conivência que implique em desobediência
e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.

Art. 81 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos Federal e
Regionais de Enfermagem.

Art. 82 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela obtiver
benefício, quando cometida por outrem.

Art. 83 - A gravidade da infração é caracterizada através da análise dos fatos e causas do dano, suas
consequências e dos antecedentes do infrator.

Art. 84 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos deste Código.

Art. 85 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem,


conforme o que determina o Art. 18, da Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, são as seguintes:

I - Advertência verbal.

II - Multa.

III - Censura.

IV - Suspensão do exercício profissional.

V - Cassação do direito ao exercício profissional.

Parágrafo primeiro - A advertência verbal consiste numa admoestação ao infrator, de forma


reservada, que será registrada no prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

Parágrafo segundo - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (um) a 10 (dez) vezes


o valor da anuidade da categoria profissional a qual pertence o infrator, em vigor no ato do
pagamento.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 65

Parágrafo terceiro - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais
dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem.

Parágrafo quarto - A suspensão consiste na proibição do exercício da Enfermagem por um período


não superior a 29 (vinte e nove) dias e será divulgada nas publicações oficiais dos Conselhos
Federal e Regionais de Enfermagem.

Parágrafo quinto - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da Enfermagem e será


divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e em jornais de
grande circulação.

Art. 86 - As penalidades de advertência verbal, multa, censura e suspensão do exercício Profissional


são da alçada dos Conselhos Regionais de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício
Profissional é de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no Art.
18, parágrafo primeiro, da Lei nº 5.905/73.

Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal de Enfermagem,
terá como instância superior a Assembleia dos Delegados Regionais.

Art. 87 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração.

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração.

III - O dano causado e suas consequências.

IV - Os antecedentes do infrator.

Art. 88 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, conforme a natureza do ato
e a circunstância de cada caso.

Parágrafo primeiro - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental
ou moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade.

Parágrafo segundo - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida,
debilidade temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa.

Parágrafo terceiro - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade
permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral irremediável
em qualquer pessoa.

Art. 89 - São consideradas circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com eficiência,
evitar ou minorar as consequências do seu ato.
MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM
ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 66

II - Ter bons antecedentes profissionais.

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação.

IV - Realizar atos sob emprego real de força física.

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.

Art. 90 - São consideradas circunstâncias agravantes:

I - Ser reincidente.

II - Causar danos irreparáveis.

III - Cometer infração dolosamente.

IV - Cometer infração por motivo fútil ou torpe.

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra infração.

VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima.

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou
função.

VIII - Ter mais antecedentes pessoais e/ou profissionais.

Capítulo VIII

Da Aplicação das Penalidades

Art. 91 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas, cumulativamente,
quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 92 - A pena de Advertência Verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido
nos artigos: 16 a 26; 28 a 35; 37 a 44; 47 a 50; 52; 54; 56; 58 a 62 e 64 a 78 deste Código.

Art. 93 - A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 16
a 75 e 77 a 79, deste Código.

Art. 94 - A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos:
16; 17; 21 a 29; 32; 35 a 37; 42; 43; 45 a 53; 55 a 75 e 77 a 79, deste Código.

Art. 95 - A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao que
está estabelecido nos artigos: 16; 17; 21 a 25; 29; 32; 36; 42; 43; 45 a 48; 50 a 53; 57 a 60; 63; 66;
67; 70 a 72; 75 e 79, deste Código.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 67

Art. 96 - A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações
ao que está estabelecido nos artigos: 16; 24; 36; 42; 45; 46; 51 a 53; 57; 60; 70 e 79, deste Código.

CAPÍTULO IX

Das Disposições Gerais

Art. 97 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Art. 98 - Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por iniciativa
própria e/ou mediante proposta de Conselhos Regionais.

Parágrafo único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a categoria.

Art. 99 - O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação, revogando as demais
disposições em contrário.

RESOLUÇÃO COFEN 278/2003 – DISPÕE SOBRE A SUTURA EFETUADA POR


PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

O Plenário do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso das suas atribuições legais e
regimentais,

CONSIDERANDO a Lei n° 5.905/73, o artigo 8º, IV e V;

CONSIDERANDO a Lei nº 7.498/86 e seu Decreto Regulamentador nº 94.406/87;

CONSIDERANDO o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, aprovado pela Resolução


COFEN nº 240/2000, em seu artigo 51;

CONSIDERANDO o deliberado na Reunião Ordinária do Plenário nº 311;

RESOLVE:

Art. 1º - É vedado ao Profissional de Enfermagem a realização de suturas.

Parágrafo único: Não se aplica ao disposto no caput deste artigo as situações de urgência, na qual,
efetivamente haja iminente e grave risco de vida, não podendo tal exceção aplicar-se a situações
previsíveis e rotineiras.

Art. 2º - Ocorrendo o previsto no parágrafo único do artigo 1º, obrigatoriamente deverá ser
elaborado Relatório circunstanciado e minucioso, onde devem constar todos os aspectos que
envolverem a situação de urgência, que levou a ser praticado o ato, vedado pelo artigo 1º.

Art. 3º - é ato de Enfermagem, quando praticado por Enfermeiro Obstetra, a Episiorrafia.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 68

Art. 4 – Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se disposições em
contrário.

Rio de Janeiro, 16 de junho de 2003.

Gilberto Linhares Teixeira


COREN-RJ 2.380
Presidente
Carmem de Almeida da Silva
COREN-SP 2.254
Primeira Secretária

RESOLUÇÃO COFEN 294/2004 – INSTITUI O DIA NACIONAL DO TÉCNICO E AUXILIAR


DE ENFERMAGEM

O Plenário do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso das suas atribuições legais e
regimentais,

CONSIDERANDO a Lei n° 5.905/73, o artigo 8º, I, IV e VIII;

CONSIDERANDO a RESOLUÇÃO COFEN nº 242/2000, que aprova o Regimento Interno da


Autarquia, publicado no DOU nº 68, de 10/04/2002, especialmente em seu art. 13, incisos IV, V,
XIV, XVII, XLVIII e XLIX;

CONSIDERANDO a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, em seu artigo 2º, parágrafo único, c.c. o
Decreto 94.406/87, art. 1º;

CONSIDERANDO o Decreto nº 2.956, de 10 de agosto de 1938, que institui o Dia do Enfermeiro a


ser celebrado anualmente em 12 de Maio;

CONSIDERANDO o Decreto nº 48.202, de 12 de maio de 1960, que institui a Semana de


Enfermagem celebrada anualmente de 12 a 20 de Maio, datas em que ocorreram, respectivamente,
em 1820 e 1880, o nascimento de Florence Nightingale e o falecimento de Ana Néri;

CONSIDERANDO o resultado final dos Seminários ocorridos no ano de 2004, nas cinco regiões do
País, com a finalidade de definir data específica para a celebração do Dia Nacional dos Técnicos e
Auxiliares de Enfermagem;

CONSIDERANDO que os citados Seminários contaram com a participação dos vários segmentos
representativos das categorias profissionais in comento;

CONSIDERANDO inexistir Legislação Federal contemplando a matéria sob enfoque;

CONSIDERANDO as diversas solicitações de Entidades Representativas e Profissionais, pleiteando


estudo sobre o tema;

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 69

CONSIDERANDO deliberação do Plenário em sua 323ª Reunião Ordinária, bem como, tudo que
mais consta do PAD-COFEN nº 035/2000;

RESOLVE:

Art. 1º - Instituir o Dia 20 de Maio, como data consagrada nacionalmente a celebração do “Dia
Nacional dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem”.

Art. 2º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação na Imprensa Oficial.

Fortaleza- CE, 15 de outubro de 2004.

Gilberto Linhares Teixeira


COREN-RJ 2.380
Presidente
Carmem de Almeida da Silva
COREN-SP 2.254
Primeira Secretária

CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA SAÚDE

CONSIDERANDO o art. 196 da Constituição Federal, que garante o acesso universal e igualitário a
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.

CONSIDERANDO a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes.

CONSIDERANDO a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação da


comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

CONSIDERANDO a necessidade de promover mudanças de atitude em todas as práticas de atenção


e gestão que fortaleçam a autonomia e o direito do cidadão.

O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão Intergestora Tripartite


apresentam a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profissionais
de saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para que promovam o respeito
destes direitos e assegurem seu reconhecimento efetivo e sua aplicação.

O PRIMEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o acesso ordenado e organizado aos sistemas de


saúde, visando a um atendimento mais justo e eficaz. Todos os cidadãos têm direito ao acesso às
ações e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo Sistema Único
de Saúde:

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 70

I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da Atenção Básica próximos ao local
de moradia.

II. Nas situações de urgência/emergência, o atendimento se dará de forma incondicional, em


qualquer unidade do sistema.

III. Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegurada a remoção do usuário em
condições seguras, que não implique maiores danos, para um estabelecimento de saúde com
capacidade para recebê-lo.

IV. O encaminhamento à Atenção Especializada e Hospitalar será estabelecido em função da


necessidade de saúde e indicação clínica, levando-se em conta critérios de vulnerabilidade e risco
com apoio de centrais de regulação ou outros mecanismos que facilitem o acesso a serviços de
retaguarda.

V. Quando houver limitação circunstancial na capacidade de atendimento do serviço de saúde, fica


sob responsabilidade do gestor local a pronta resolução das condições para o acolhimento e devido
encaminhamento do usuário do SUS, devendo ser prestadas informações claras ao usuário sobre os
critérios de priorização do acesso na localidade por ora indisponível. A prioridade deve ser baseada
em critérios de vulnerabilidade clínica e social, sem qualquer tipo de discriminação ou privilégio.

VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo critérios de acesso, endereços, telefones,
horários de funcionamento, nome e horário de trabalho dos profissionais das equipes assistenciais
devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assistência é prestada e nos espaços de
controle social.

VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e prevenção relativas a riscos e
agravos à saúde e ao meio ambiente, as devidas informações relativas às ações de vigilância
sanitária e epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva.

VIII. A garantia à acessibilidade implica o fim das barreiras arquitetônicas e de comunicabilidade,


oferecendo condições de atendimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com
deficiências, idosos e gestantes.

O SEGUNDO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o tratamento adequado e efetivo para seu problema,
visando à melhoria da qualidade dos serviços prestados. É direito dos cidadãos ter atendimento
resolutivo com qualidade, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade da
atenção, sempre que necessário, tendo garantidos:

I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condições de trabalho adequadas para os


profissionais da saúde.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 71

II. Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos seus familiares e/ou acompanhantes, de
maneira clara, objetiva, respeitosa, compreensível e adaptada à condição cultural, respeitados os
limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre outras:

a) hipóteses diagnósticas;
b) diagnósticos confirmados;
c) exames solicitados;
d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou terapêuticos;
e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas;
f) duração prevista do tratamento proposto;
g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos ou cirúrgicos, a necessidade ou
não de anestesia e seu tipo e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental a
ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indesejáveis, duração prevista dos
procedimentos e tempo de recuperação;
h) finalidade dos materiais coletados para exames;
i) evolução provável do problema de saúde;
j) informações sobre o custo das intervenções das quais se beneficiou o usuário.
III. Registro em seu prontuário, entre outras, das seguintes informações, de modo legível e
atualizado:

a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observação clínica, evolução clínica, prescrição
terapêutica, avaliações da equipe multiprofissional, procedimentos e cuidados de enfermagem e,
quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, odontológicos, resultados de exames
complementares laboratoriais e radiológicos;
b) registro da quantidade de sangue recebida e dados que permitam identificar sua origem,
sorologias efetuadas e prazo de validade;
c) identificação do responsável pelas anotações.

IV. O acesso à anestesia em todas as situações em que for indicada, bem como a medicações e
procedimentos que possam aliviar a dor e o sofrimento.

V. O recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, que devem conter:

a) o nome genérico das substâncias prescritas;


b) clara indicação da posologia e dosagem;
c) escrita impressa, datilografadas ou digitadas, ou em caligrafia legível;
d) textos sem códigos ou abreviaturas;
e) o nome legível do profissional e seu número de registro no órgão de controle
e regulamentação da profissão;
f) a assinatura do profissional e data.

VI. O acesso à continuidade da atenção com o apoio domiciliar, quando pertinente, treinamento em
autocuidado que maximize sua autonomia ou acompanhamento em centros de reabilitação
psicossocial ou em serviços de menor ou maior complexidade assistencial.

MÓDULO I – CAP. 1 – ÉTICA E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM


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VII. Encaminhamentos para outras unidades de saúde, observando:

a) caligrafia legível ou datilografados/digitados ou por meio eletrônico;


b) resumo da história clínica, hipóteses diagnósticas, tratamento realizado, evolução e o motivo do
encaminhamento;
c) a não utilização de códigos ou abreviaturas;
d) nome legível do profissional e seu número de registro no órgão de controle e regulamentação da
profissão, assinado e datado;
e) identificação da unidade de referência e da unidade referenciada.

O TERCEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento acolhedor e livre de discriminação,


visando à igualdade de tratamento e a uma relação mais pessoal e saudável. É direito dos cidadãos
atendimento acolhedor na rede de serviços de saúde de forma humanizada, livre de qualquer
discriminação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia, orientação sexual,
identidade de gênero, características genéticas, condições econômicas ou sociais, estado de saúde,
ser portador de patologia ou pessoa vivendo com deficiência, garantindo-lhes:

I. A identificação pelo nome e sobrenome, devendo existir em todo documento de identificação


do usuário um campo para se registrar o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente
do registro civil, não podendo ser tratado por número, nome da doença, códigos, de modo genérico,
desrespeitoso ou preconceituoso.

II. Profissionais que se responsabilizem por sua atenção, identificados por meio de crachás visíveis,
legíveis ou por outras formas de identificação de fácil percepção.

III. Nas consultas, procedimentos diagnósticos, preventivos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o


respeito a:

a) integridade física;
b) privacidade e conforto;
c) individualidade;
d) seus valores éticos, culturais e religiosos;
e) confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;
f) segurança do procedimento;
g) bem-estar psíquico e emocional.

IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre escolha nas consultas, exames e
internações, no momento do pré-parto, parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei
(criança, adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso). Nas demais situações, ter direito
a acompanhante e/ou visita diária, não inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as
situações técnicas não indicadas.

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V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, continuidade das atividades escolares, bem


como desfrutar de alguma forma de recreação.

VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades terapêuticas de acordo com sua condição
clínica, considerando as evidências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de
tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha.

VII. A opção pelo local de morte.

VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de sua referência, que não pertença
àquela unidade hospitalar, sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário.

O QUARTO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento que respeite os valores e direitos do


paciente, visando a preservar sua cidadania durante o tratamento. O respeito à cidadania no Sistema
de Saúde deve ainda observar os seguintes direitos:

I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de acordo com as exigências mínimas
constantes na legislação, e ter sido informado pela operadora da existência e disponibilidade do
plano referência.

II. O sigilo e a confidencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo
quando houver expressa autorização do usuário ou em caso de imposição legal, como situações de
risco à saúde pública.

III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por ele autorizado, a seu prontuário e aos
dados nele registrados, bem como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de
saúde, em caso de transferência.

IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar.

V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e esclarecida, depois de adequada


informação, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso
acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa dados anteriormente poderão ser
revogados a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções
morais, administrativas ou legais.

VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento e consentimento, nos locais de trabalho
(pré-admissionais ou periódicos), nos estabelecimentos prisionais e de ensino, públicos ou privados.

VII. A indicação de um representante legal de sua livre escolha, a quem confiará a tomada de
decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exercer sua autonomia.

VIII. Receber ou recusar assistência religiosa, psicológica e social.

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IX. Ter liberdade de procurar segunda opinião ou parecer de outro profissional ou serviço sobre seu
estado de saúde ou sobre procedimentos recomendados, em qualquer fase do tratamento.

X. Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento proposto for experimental ou fizer
parte de pesquisa, decidindo de forma livre e esclarecida, sobre sua participação.

XI. Saber o nome dos profissionais que trabalham nas unidades de saúde, bem como dos gerentes
e/ou diretores e gestor responsável pelo serviço.

XII. Ter acesso aos mecanismos de escuta para apresentar sugestões, reclamações e denúncias aos
gestores e às gerências das unidades prestadoras de serviços de saúde e às ouvidorias, sendo
respeitada a privacidade, o sigilo e a confidencialidade.

XIII. Participar dos processos de indicação e/ou eleição de seus representantes nas conferências, nos
conselhos nacional, estadual, do Distrito Federal, municipal e regional ou distrital de saúde e
conselhos gestores de serviços.

O QUINTO PRINCÍPIO assegura as responsabilidades que o cidadão também deve ter para que seu
tratamento aconteça de forma adequada. Todo cidadão deve se comprometer a:

I. Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas consultas e nas internações sobre queixas,
enfermidades e hospitalizações anteriores, história de uso de medicamentos e/ou drogas, reações
alérgicas e demais indicadores de sua situação de saúde.

II. Manifestar a compreensão sobre as informações e/ou orientações recebidas e, caso subsistam
dúvidas, solicitar esclarecimentos sobre elas.

III. Seguir o plano de tratamento recomendado pelo profissional e pela equipe de saúde responsável
pelo seu cuidado, se compreendido e aceito, participando ativamente do projeto terapêutico.

IV. Informar ao profissional de saúde e/ou à equipe responsável sobre qualquer mudança inesperada
de sua condição de saúde.

V. Assumir responsabilidades pela recusa a procedimentos ou tratamentos recomendados e pela


inobservância das orientações fornecidas pela equipe de saúde.

VI. Contribuir para o bem-estar de todos que circulam no ambiente de saúde, evitando
principalmente ruídos, uso de fumo, derivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a
limpeza do ambiente.

VII. Adotar comportamento respeitoso e cordial com os demais usuários e trabalhadores da saúde.

VIII. Ter sempre disponíveis para apresentação seus documentos e resultados de exames que
permanecem em seu poder.

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IX. Observar e cumprir o estatuto, o regimento geral ou outros regulamentos do espaço de saúde,
desde que estejam em consonância com esta carta.

X. Atentar para situações da sua vida cotidiana em que sua saúde esteja em risco e as possibilidades
de redução da vulnerabilidade ao adoecimento.

XI. Comunicar aos serviços de saúde ou à vigilância sanitária irregularidades relacionadas ao uso e
à oferta de produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e privados.

XII. Participar de eventos de promoção de saúde e desenvolver hábitos e atitudes saudáveis que
melhorem a qualidade de vida.

O SEXTO PRINCÍPIO assegura o comprometimento dos gestores para que os princípios anteriores
sejam cumpridos. Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para observância desses
princípios, se comprometem a:

I. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e deveres com a adoção de medidas


progressivas para sua efetivação.

II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação desta carta, inserindo em suas
ações as diretrizes relativas aos direitos e deveres dos usuários, ora formalizada.

III. Incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instâncias e
nos órgãos de controle social do SUS.

IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde,
adequando-os a esta carta.

V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e normatizações do sistema de saúde.

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REFERÊNCIAS

FONTINELE JUNIOR, K. Ética e Bioetica em Enfermagem. AB. 3ª Ed. São Paulo, 2007.

OGUISSO, T.; CAMPOS, P. F. S.; FREITAS, G. F. Pesquisa em História da Enfermagem.


Manole. 2ª Ed. São Paulo, 2011.

OGUISSO, Z. Ética e Bioetica: Desafios para a Enfermagem e a Saúde. Manole. 1ª Ed. São
Paulo, 2006.

PADILHA, M. I.; BORESTEIN, M. S.; SANTOS, I. Enfermagem: História de uma Profissão.


Difusão. 1ª Ed. Rio de Janeiro, 2011.

PINTO, L. H. S.; SILVA, A. Código de Ética (Deontologia) dos Profissionais de Enfermagem.


Atheneu Rio. 1ª Ed. Rio de Janeiro, 2008.

SANTOS, E. F. et. al. Legislação em Enfermagem. Atheneu Rio. 1ª Ed. Rio de Janeiro, 2010.

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ANOTAÇÕES

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