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Instituto de Estudos para o

Desenvolvimento Industrial

INDÚSTRIA E DESENVOLVIMENTO
Uma Análise dos Anos 90 e Uma Agenda de Política de
Desenvolvimento Industrial Para a Nova Década

POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO


E NOVAS TECNOLOGIAS

Novembro de 2000
Conselho do IEDI

Abraham Kasinski Max Feffer


Amarílio Proença de Macêdo Miguel Abuhab
Andrea Matarazzo Newton Chiaparini
Antonio Marcos Moraes Barros Olavo Monteiro de Carvalho
Carlos Antônio Tilkian Paulo Diederichsen Villares
Carlos Mariani Bittencourt Paulo Francini
Carlos Pires Oliveira Dias Diretor Geral

Claudio Bardella Paulo Guilherme Aguiar Cunha


Eugênio Emílio Staub Paulo Setubal Neto
Presidente do Conselho Pedro Eberhardt
Flávio Gurgel Rocha Pedro Franco Piva
Francisco Amaury Olsen Rinaldo Campos Soares
Guilherme Peirão Leal Robert Max Mangels
Hugo Miguel Etchenique Roberto Caiuby Vidigal
Ivoncy Brochmann Ioschpe Roberto de Rezende Barbosa
Jacks Rabinovich Roberto Kaminitz
Jorge Gerdau Johannpeter Rogério Pinto Coelho Amato
José de Freitas Mascarenhas Salo Davi Seibel
José Ermírio de Moraes Filho Sérgio Haberfeld
José Roberto Ermírio de Moraes Sylvio Tuma Salomão
Josué Christiano Gomes da Silva Thomas Bier Herrmann
Luiz Alberto Garcia Thomas Michael Lanz
Maria Silvia Bastos Marques Victorio Carlos De Marchi
Mário Milani
Apresentação
O presente trabalho é uma contribuição do IEDI ao tema do desenvolvimento
econômico brasileiro. O estudo parte de um detido retrospecto da economia e do desempenho
industrial nos anos 90 com os objetivos de identificar problemas, lacunas e restrições ao
desenvolvimento industrial e fundamentar as várias recomendações apresentadas para
políticas e ações públicas e privadas voltadas à transformação e ao crescimento industrial em
uma perspectiva de longo prazo.

É entendimento do IEDI que o País não pode reproduzir na década que se inicia o
baixo crescimento e a estagnação do seu desenvolvimento que caracterizaram os últimos 20
anos. Entende também que o crescimento deva, desta feita, vir acompanhado de uma melhor
qualidade desse processo, o que significa dizer que ao crescimento deve corresponder mais
empregos para a população, melhores salários, produção de bens com produtividade,
qualidade e preços capazes de assegurar o amplo consumo interno e a competitividade
internacional. Em outras palavras, trata-se do crescimento de uma economia moderna,
competitiva e que distribui de forma eqüitativa os frutos de seu dinamismo.

É ainda opinião do IEDI que um crescimento acompanhado das características


assinaladas, requer um vigoroso impulso e transformação da indústria, um setor que conserva
decisivo papel na geração de inovações, na criação de empregos e no estímulo aos demais
segmentos da economia.

O presente trabalho segue a sistemática que o IEDI tradicionalmente adota. Partindo


de estudos sobre temas selecionados, elaborados por profissionais de seu próprio quadro e por
reconhecidos especialistas do País, as conclusões e as sugestões apresentadas são amplamente
debatidas entre os empresários, membros do Conselho do IEDI, chegando-se a um resultado
que pretende reunir a análise especializada e a experiência empresarial.

Participaram dos estudos preliminares, os seguintes professores doutores, a quem o


IEDI agradece: Julio Sergio Gomes de Almeida, Jorge Nogueira de Paiva Britto, José
Eduardo Cassiolato, Eli Roque Diniz, Arthur Oscar Guimarães, Helena Maria Lastres, José
Carlos Miranda, Marcio Pochmann, Fernando Sarti, Rogério Studart, Roberto Vermulm e
Clésio Lourenço Xavier. Colaboraram ainda os economistas: Cristina Ribeiro Lemos,
Emerson Fernandes Marçal, Lício da Costa Raimundo e Alexander de Luca Weiss. No apoio
administrativo e de processamento de dados e suporte de informática, participaram: Luzia
Maziero Fernandes, Leo Steinmann, Daniel Keller de Almeida, Alessandra Martins Formiga,
Victor Emílio Troster e Solange Mantins Formiga.

A coordenaçao dos trabalhos e a redação final coube a Julio Sergio Gomes de


Almeida.

Os oito capítulos do trabalho completo são apresentados individualmente, segundo a


seguinte seqüência:

• Política Macroeconômica, Indústria e o Novo Modelo de Desenvolvimento


• Indústria, Organização do Estado e Parceria Público-Privado
• Política Industrial, Empresa Nacional e Mercado Interno
• O Financiamento do Investimento Industrial
• Política Industrial, Comércio Exterior e Política de Exportação
• Política de Importação e o Sistema de Defesa Comercial
• Política de Desenvolvimento Tecnológico
• Política Industrial, Regionalização e Capilaridade
POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E NOVAS TECNOLOGIAS............................ 5
INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................ 5
I. A POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO INDUSTRIAL ................................................... 8
I.1. O Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria – PACTI............................................... 8
I.2. A Política de Informática ........................................................................................................................ 11
I.3. Desempenho das Políticas ...................................................................................................................... 12
I.4. Avaliação da Política Nacional de Desenvolvimento Tecnológico Industrial ........................................ 15
I.5. Sugestões e Ações Complementares........................................................................................................ 18
II. INCENTIVOS E APOIO FINANCEIRO AO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO................................................... 22
II.1. Descrição dos Instrumentos de Apoio Financeiro e Desenvolvimento Tecnológico ............................. 23
II.2. Avaliação dos Instrumentos de Incentivo e Apoio Financeiro............................................................... 32
CRITÉRIOS DE QUALIFICAÇÃO (PARA AS TRÊS LINHAS):.......................................................................................... 36
II.3. Análise dos Instrumentos Selecionados ................................................................................................. 41
II.4. Sugestões e Ações Complementares ...................................................................................................... 48
III. POLÍTICAS DESCENTRALIZADAS DE INOVAÇÃO E DIFUSÃO .......................................................................... 51
III.1. Os Dados da Evolução Recente............................................................................................................ 51
III.2. O Arcabouço Institucional das Políticas Estaduais de Inovação e Difusão ........................................ 52
III.3. Instituições e Arranjos Locais Indutores do Processo de Inovação e Difusão..................................... 61
III.4. Sugestões e Ações Complementares ..................................................................................................... 70
SUMÁRIO DE SIGLAS .......................................................................................................................................... 74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................................... 75

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 4


POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
E NOVAS TECNOLOGIAS

INTRODUÇÃO

Ao longo do processo de industrialização brasileira, o desenvolvimento tecnológico


não mereceu a prioridade devida. No modelo de industrialização por substituição de
importações, a variável estratégica de dinamismo era o investimento no setor industrial
destinado a substituir as importações e produzir, basicamente, para o mercado interno.

Assim, os instrumentos de política econômica e industrial estiveram voltados à criação


de capacidade produtiva, com a internalização de novos segmentos industriais. A avaliação
dos projetos de investimento não levava em consideração a análise tecnológica. Da parte do
setor privado, o licenciamento de tecnologias era a estratégia seguida no âmbito das políticas
do processo de substituição de importações.

Em termos governamentais, as primeiras ações no campo da ciência e tecnologia


datam do início dos anos 50, com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas – CNPq, em
1951. Grosso modo, a atuação do CNPq esteve alicerçada sobre a concessão de bolsas de
estudo e auxílios à pesquisa; ao longo do tempo, foram também sendo criados institutos de
pesquisa vinculados ao CNPq, parte significativa deles dedicada à pesquisa básica e aplicada.
De qualquer maneira, o que se deseja ressaltar é que as primeiras iniciativas governamentais
sobre a área de ciência e tecnologia diziam respeito muito mais ao campo da ciência do que ao
da tecnologia. Sob o ponto de vista da tecnologia, as políticas implícitas foram mais fortes,
sinalizando para a importação de tecnologias.

Dessa forma, o aparelho produtivo brasileiro não se caracterizou por um forte


dinamismo no desenvolvimento tecnológico, que não fosse pela incorporação de novos
setores industriais. A adaptação foi uma atividade muito vinculada à própria operação das
unidades produtivas, o que significa que não houve a formalização de significativas estruturas
profissionalizadas de P&D propriamente ditas. Apesar disto, o Brasil conquistou capacitação
com a sua engenharia voltada à operação de unidades industriais e à adaptação de produtos e
de processos.

Entre as instituições que mais contribuíram para o desenvolvimento tecnológico


nacional destacam-se as empresas estatais, que até utilizaram do seu poder de compra para
fomentar o desenvolvimento tecnológico privado.

Na década de 70, a política científica e tecnológica foi realmente implementada e


nesse momento prevaleceu a estruturação do que poderia ser considerado um setor de “oferta”
de tecnologia. Isto é, o governo brasileiro investiu recursos financeiros de monta na formação
de recursos humanos qualificados – pós-graduação – e na infra-estrutura científica e
tecnológica.

Apesar desses investimentos, os resultados práticos para o desenvolvimento


tecnológico foram tímidos, basicamente por duas razões. Em primeiro lugar, ainda
continuou prevalecendo o investimento na área científica e não tecnológica. Em segundo
lugar, esta concepção de fortalecer a “oferta” de conhecimentos é equivocada para o
desenvolvimento tecnológico, na medida em que, nesta área, “oferta” e “demanda” são

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 5


indissociáveis. Em outras palavras, a geração de conhecimento técnico está, desde o seu
início, vinculada à atividade produtiva. Nesses termos, de pouco vale investir na “oferta”
de conhecimentos se esse investimento não estiver articulado às necessidades e estratégias
do setor privado.

Na década de 80, o fator institucional mais marcante nesta área foi a criação do
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, em 1985. A ele coube a formulação e
implementação da política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico. Após
alguma instabilidade institucional, o MCT se firmou como órgão formulador dessa política,
embora a sua implementação exija a contribuição de vários ministérios do governo federal e
mesmo de instâncias estaduais e, em alguns casos, municipais.

Sob o ponto de vista do desenvolvimento tecnológico industrial, a política –


implícita e explícita – do governo não gerou resultados muito animadores. Mesmo
reconhecendo que o desenvolvimento tecnológico é concentrado em poucos setores
industriais e em poucos países, o Brasil poderia ter obtido resultados melhores se houvesse
buscado ampliar o desenvolvimento tecnológico local. O número de patentes, que é
normalmente considerado como um indicador de resultado da atividade inovadora, aponta
para essas questões. Por exemplo, segundo os registros de patentes registradas na Europa, os
Estados Unidos detinham, em 1996, cerca de 28% das patentes; a Alemanha 21%; o Japão
23%; a França 7%; e o Reino Unido 5%. Todos os demais países detinham participações
inferiores no total de patentes registradas, porém a Coréia do Sul tem apresentado a maior
taxa de crescimento anual das patentes registradas na Europa, cerca de 26% entre 1990 e
1996. Isto demonstra o resultado do esforço de desenvolvimento tecnológico da Coréia nos
anos recentes.

A tabela que se segue apresenta alguns dados de patentes, demonstrando a elevada


concentração em patentes registradas por não residentes nos respectivos países

Origem de Patentes Registradas

Países Percentual de Patentes Percentual de cada País no Total


Registradas nos Respectivos de Patentes Registradas nos
Países por Não Residentes (%) EUA (%)
1996 1 1998 2

México 98,7 0,058


Espanha 96,5 0,168
Itália 91,0 0,952
França 86,1 2,160
Reino Unido 82,7 2,514
Alemanha 64,9 5,713
Estados Unidos 51,0 55,740
Coréia 40,0 2,243
Japão 15,1 * 18,621
Brasil nd 0,068

1
Fontes: OCDE.
2
USPTO / United States Patente and Trademark Office.
*
Notas: Subestimado.
nd = não disponível.

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No caso do Brasil, das patentes depositadas no INPI, cerca de 50% são de não
residentes. Evidentemente, apesar da não disponibilidade da informação, das patentes
expedidas o percentual detido por não residentes é bem superior. A situação do Brasil estaria
entre a do México e a da Espanha. Quando se toma as patentes registradas nos Estados
Unidos, maior mercado mundial, a presença brasileira é irrelevante, tal como a do México, e
bem distante da situação da Coréia do Sul (2,2%) e de Taiwan (3,1%).

Melhorar esse desempenho brasileiro na geração de inovações torna-se prioritário no


mundo moderno com a intensificação da concorrência. A incorporação de progresso técnico é,
na atualidade, um dos principais fatores que define a competição entre as empresas. Dadas as
mudanças de paradigmas tecnológicos a economia global tem se transformado com rapidez na
medida em que os novos paradigmas abrem e ampliam as oportunidades tecnológicas.

Desta forma, no início do próximo século, a tendência é de que o ritmo de


incorporação de progresso técnico pelas empresas industriais mantenha-se acelerado; há
perspectiva de que sejam definidas novas gerações de produtos, novos produtos e sejam
reestruturados os processos de produção, com impactos nas relações comerciais entre
empresas e até entre as Nações. A economia global tende, então, a readequar as suas
instituições, as leis que regulam as relações econômicas internacionais deverão ser adaptadas
a esta nova realidade, as relações de trabalho também deverão ser alteradas e o modo de vida
receberá o impacto dessa nova revolução tecnológica.

Por conseqüência, não ficar defasado em relação às inovações tecnológicas definidoras


dos novos paradigmas é um dos maiores desafios para o Brasil no próximo século. Não se
trata apenas de estimular as empresas industriais a acompanhar o progresso técnico para
melhorar sua competitividade privada, mas sim identificar algumas janelas de oportunidade
para o Brasil, melhorar a eficiência econômica nacional e, assim, contribuir para o aumento
dos níveis de renda da sociedade brasileira.

Os objetivos da política tecnológica não se esgotam nesses pontos; o desafio a


enfrentar nos próximos anos é maior ainda. Além de procurar não ampliar a defasagem
tecnológica da indústria brasileira, diante das novas tecnologias, também é fundamental que
se aumente o padrão tecnológico médio da indústria, através de programas de difusão de
tecnologias. Essa estratégia exigirá a mobilização de diferentes e complexos instrumentos de
política tecnológica e a concepção da política tecnológica como um dos elementos
estratégicos da política industrial brasileira.

O presente texto objetiva contribuir para essa discussão ao tratar de alguns dos
principais elementos da política tecnológica. Para efeito das observações a seguir, serão
analisadas as ações sob responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia. O primeiro
item apresenta as principais ações governamentais no campo da tecnologia industrial. O
segundo, o desempenho dessa política nos últimos anos. O item seguinte apresenta uma
avaliação crítica dessa política. Por fim, são propostas algumas recomendações com o
objetivo de promover o desenvolvimento tecnológico industrial. Outras dimensões da política
tecnológica – financiamento, incentivos e políticas descentralizadas – serão analisadas nos
próximos itens.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 7


I. A POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO INDUSTRIAL

Este item trata dos principais elementos da política tecnológica industrial brasileira,
limitando-se às ações do MCT. Entre elas, serão destacadas as seguintes: o Programa de
Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria – PACTI e a Política de Informática.

I.1. O PROGRAMA DE APOIO À CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA DA INDÚSTRIA – PACTI

Em 1993, o governo brasileiro instituiu a Comissão Nacional de Capacitação


Tecnológica da Indústria, no âmbito do MCT, com a atribuição de orientar e coordenar as
ações do Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria. Segundo o decreto de
constituição dessa Comissão, a sua competência foi assim definida:

“I – estabelecer a orientação estratégica do PACTI;


II – orientar o planejamento do Programa, bem como o seu detalhamento operacional;
III – acompanhar a execução do Programa, orientando a correção de eventuais distorções das
ações planejadas;
IV – promover a avaliação periódica dos resultados alcançados e sua ampla divulgação.”
(Decreto de 27/04/93).

A Comissão Nacional é constituída pelas seguintes subcomissões: Linhas de


Financiamento; Poder de Compra; Incentivos Fiscais; Mobilização Tecnológica; Tecnologia,
Emprego e Educação; Gestão Tecnológica; Infra-Estrutura Tecnológica; Informação
Tecnológica; Articulação Setorial; e Estudos da Competitividade da Indústria Brasileira. No
Ministério da Ciência e Tecnologia, a sua Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico –
SETEC – detém a coordenação do Programa.

Poder de Compra

Um dos objetivos do PACTI, através da Subcomissão do Poder de Compra, é


“promover de forma contínua o uso do Poder de Compra como indutor da qualidade,
produtividade e da capacitação tecnológica, fomentando capacitação setorial,
desenvolvimento de fornecedores e prospectando interessados em projetos cooperativos”.
Normalmente, as ações do PACTI nesse campo são de difusão da importância do instrumento
que é o poder de compra, pela realização de seminários regionais e setoriais, pela divulgação
de casos de sucesso, pelo apoio a pesquisas sobre o tema e pela articulação institucional que
favoreça o uso do poder de compra por parte de instituições públicas.

Mobilização Tecnológica

Outra subcomissão do PACTI é a de Mobilização Tecnológica, envolvendo os


seguintes tópicos:

“- incentivo à projetos de pesquisa cooperativa;


- apoio à pólos, parques e Programa Nacional de Apoio a Incubadoras Tecnológicas – PNI;
- apoio à inovação tecnológica nas micro e pequenas indústrias;
- apoio à implementação de programas mobilizadores;
- apoio à transferência e à absorção de tecnologia pelas indústrias;
- estímulo ao uso de prospecção tecnológica industrial.”

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 8


O incentivo à pesquisa cooperativa é realizado através de financiamento não-
reembolsável de até 50% dos custos de projetos cooperativos, até um limite de financiamento
de R$ 200.000,00.

Considera-se como projeto cooperativo aquele de desenvolvimento de novos produtos


ou processos em fase pré-competitiva que envolva, pelo menos, duas empresas e instituições
de pesquisa (centro de pesquisa, universidade ou institutos tecnológicos públicos ou
privados). A liderança do projeto cabe às instituições de pesquisa. Os recursos restantes
deverão ser arcados pelas empresas participantes do projeto, num prazo máximo de 24 meses.
Este aporte de recursos das empresas poderá ser financiado pela FINEP, em processo
simplificado. Este estímulo à pesquisa cooperativa é denominado de Projeto Ômega.

Outra forma de estimular a realização de pesquisa cooperativa é a oferta de um curso


de gestão de pesquisa cooperativa. Através desse curso, os participantes entenderão melhor o
significado da pesquisa cooperativa e como montar e gerir uma pesquisa cooperativa. “Esses
cursos são promovidos sob demanda das instituições interessadas, com recursos da Secretaria
de Desenvolvimento Tecnológico do MCT. São oferecidas vagas, sem ônus, às instituições
locais ou instaladas na região onde são realizados os cursos.”

Em relação aos pólos, parques e incubadoras tecnológicas, a principal ação do governo


federal é o apoio às incubadoras tecnológicas, estejam estas implantadas ou não. O
instrumento para tal é o Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas – PNI, tanto
para as incubadoras de empresas de base tecnológica como para as incubadoras de empresas
tradicionais. Em todos os casos, o Programa busca apoiar as incubadoras e as empresas
incubadas em atividades de capacitação e assistência técnica especializada.

O PNI foi lançado no final do ano de 1998, todavia o seu orçamento deverá ser
definido anualmente, sem maiores parâmetros, e não está claro de que forma essas atividades
serão apoiadas pelo Programa.

O apoio às micro e pequenas empresas é realizado através do Projeto Alfa, concebido


para apoiar financeiramente, até o limite de R$ 20.000,00, não-reembolsáveis, estudos de
viabilidade técnica e econômica de projetos de desenvolvimento de inovações tecnológicas.
As fases posteriores podem ser avaliadas pela FINEP, com possibilidade de aval concedido
pelo SEBRAE. Considera-se como micro e pequenas empresas industriais aquelas que
possuem até 100 empregados.

Quanto aos programas mobilizadores, este são conjuntos articulados de “projetos


de pesquisa aplicada e/ou de engenharia, com objetivo de desenvolver um novo produto
ou processo de produção. Para o desenvolvimento dos projetos são mobilizados os
recursos humanos e materiais da empresa líder do programa e de outras instituições, tais
como empresas de engenharia, institutos tecnológicos, universidades e outras empresas,
através de vínculos contratuais”. Um exemplo de programa mobilizador é o Programa de
Capacitação em Águas Profundas, da Petrobrás.

Com relação à transferência de tecnologia, o objetivo é estimular a transferência de


tecnologia dos centros de pesquisa para as empresas industriais. Isto pode ser obtido através
da realização de projetos cooperativos, da realização de seminários e de estágios cruzados
entre empresas e instituições de pesquisa.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 9


Na prospecção tecnológica, a Subcomissão de Mobilização Tecnológica ressalta a
importância do tema e reconhece a pouca experiência brasileira nesse campo, citando como
exemplos o setor de máquinas e equipamentos e o de vitivinicultura.

Os tópicos acima mencionados, se referem à Subcomissão de Mobilização


Tecnológica. Os trabalhos das demais subcomissões do PACTI são mencionados na
seqüência.

Tecnologia, Emprego e Educação

O objetivo deste segmento é “elaborar propostas que contribuam para a


articulação entre o desenvolvimento tecnológico, a geração de empregos e a melhoria
do nível educacional do trabalhador.” As ações previstas procuram realizar estudos
sobre o tema, sistematizar o conhecimento já existente, realizar seminários etc.,
visando a elaboração de propostas sobre desenvolvimento tecnológico, emprego e
educação.

Gestão Tecnológica

Na realidade, o PACTI pouco esclarece em relação a este tema, que dispõe de


maior espaço no PADCT. Portanto, além da realização de seminários sobre o tema da
Gestão Tecnológica para a capacitação, as ações do MCT parecem estar alicerçadas no
PADCT.

Infra-Estrutura Tecnológica

O objetivo aqui é divulgar e estimular a utilização da infra-estrutura tecnológica


existente no Brasil. Para tanto, procura identificar a demanda e a capacitação existente nas
instituições tecnológicas. As ações encetadas foram: montagem de uma base de dados sobre
serviços técnicos laboratoriais; apoio à constituição de entidades tecnológicas setoriais; e
serviços de apoio ao empresário, tais como Disque Tecnologia.

O MCT apoiou com recursos financeiros, não-reembolsáveis, a elaboração de


projetos de viabilidade de entidades tecnológicas setoriais e está acompanhando a
implementação dessas instituições. De resto, as ações estão concentradas no campo da
disseminação de capacitação tecnológica já existente no Brasil, mas não
necessariamente plenamente utilizadas pelo setor produtivo. A seguir estão
relacionadas as propostas selecionadas para implantação de entidades tecnológicas
setoriais:

• Associação Brasileira de Cerâmica


• Associação de Ensaios Não Destrutivos
• Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
• Associação Brasileira das Indústrias Químicas
• Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais
• Associação Brasileira de Polímeros
• Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão
• Instituto Nacional de Plásticos
• Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de MG
• Sindicato das Empresas de Mármore e Granito do Estado do CE

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 10


Informação Tecnológica

As atividades desenvolvidas dizem respeito à realização de estudos de demanda por


informação tecnológica em setores industriais e à disseminação de informação tecnológica.
Fundamentalmente, são ações de articulação institucional e divulgação de sistemas de
informação tecnológica.

Articulação Setorial

“A Subcomissão de Articulação Setorial tem por objetivo implementar ações


que busquem, permanentemente, adequar os instrumentos e mecanismos de apoio do
PACTI às demandas dos setores industrial e agropecuário, mediante o estabelecimento
de parcerias com entidades envolvidas com as questões de desenvolvimento
tecnológico, em nível setorial e regional, bem como promover a divulgação do
Programa em geral.”

I.2. A POLÍTICA DE INFORMÁTICA

A Política de Informática foi instituída pela Lei 8.248/91, estabelecendo os seguintes


benefícios para as empresas produtoras de bens e serviços de informática, com vigência
prevista para até 29 de outubro de 1999 (este prazo tem sido prorrogado, mensalmente, por
medida provisória):

• Dedução até o limite de 50% do imposto de renda devido, das despesas realizadas no País
em atividades de pesquisa e desenvolvimento. Este incentivo fiscal vigorou até 31 de
dezembro de 1997.
• As pessoas jurídicas poderiam deduzir, até 1% do imposto de renda devido, apurado no
período de 1992 a 1997, as importâncias investidas em ações novas de empresas
produtoras de bens e serviços de informática.
• Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI incidente sobre bens de
informática. Este incentivo vigorou até 29 de outubro de 1999 e, a partir daí, tem sido
prorrogado por medidas provisórias.
• Política de compras governamentais que diferencia a compra de bens e serviços de
informática produzidos no Brasil.

As empresas produtoras de bens e serviços de informática para terem direito a esses


incentivos precisam conceder contrapartidas. São três as exigências a serem cumpridas:
obtenção de certificação ISO 9000 dos Sistemas de Qualidade das Empresas; cumprimento do
Processo Produtivo Básico para aqueles produtos incentivados; e investimentos de pelo
menos 5% do faturamento bruto (no mercado interno) em atividades de P&D, sendo 2% em
parceria com instituições de pesquisa.

Os programas prioritários do MCT para a informática são também uma alternativa de


investimento para as empresas beneficiadas pelos incentivos especificados acima, com a
vantagem da facilidade de comprovação dos investimentos. Os programas prioritários do
MCT no setor de informática são os seguintes: Rede Nacional de Pesquisas (RNP); Programa
Multiinstitucional em Ciência da Computação (PROTEM-CC); e Sociedade Brasileira para
Promoção da Exportação de Software (SOFTEX 2000).

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 11


I.3. DESEMPENHO DAS POLÍTICAS

A análise do desempenho da política tecnológica do MCT deve ser segmentada,


segundo a natureza e a abrangência de suas ações. Um bloco de ações, constituído pelos
incentivos fiscais genéricos à realização de P&D, e a concessão de financiamento,
principalmente através da FINEP, será objeto de análise à parte. Ações relativas ao PACTI e à
lei de informática serão analisadas abaixo.

No que diz respeito ao PACTI, a maior parte de suas ações pode ser resumida na
palavra mobilização. Vários de seus segmentos, na realidade, procuram articular agentes e
disseminar informações sobre o tema do desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, são
realizadas reuniões técnicas, seminários, estudos, divulgação de informações, publicações de
metodologias, publicações de casos de sucesso etc.

Entre as ações do PACTI, algumas merecem destaque, pela importância excepcional


dos temas tratados. Em primeiro lugar está o apoio financeiro à realização de projetos
cooperativos. Independentemente das análises que possam ser feitas a partir do desempenho
da FINEP, o PADCT também lançou edital estimulando propostas de projetos cooperativos
com a seguinte organização: Projetos Cooperativos de Desenvolvimento Tecnológico
Regional, Projetos Cooperativos de Desenvolvimento Tecnológico Setorial, Projetos
Cooperativos Específicos Pré-Competitivos (ÔMEGA), Projetos Cooperativos Específicos e
Projetos de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas.

Uma segunda linha de ação a ser destacada é o apoio à constituição de Entidades


Tecnológicas Setoriais, que podem se constituir em instituições mais adequadas para a
realização de difusão de tecnologias para o setor privado.

Finalmente, cabe o destaque para o Projeto ALFA, atuando através da concessão de


financiamento não-reembolsável para estudos de viabilidade técnica e econômica de projetos
de desenvolvimento de inovações tecnológicas por parte das empresas de menor porte, em
articulação com a estrutura estadualizada do SEBRAE e com as fundações estaduais de
amparo à pesquisa.

Em relação à Política Nacional de Informática – PNI, Lei 8.248/91, regulamentada


pelo Decreto 792, de abril de 1993, no período de 1993 a 1998, foram aprovados 1.121 pleitos
de incentivos. Como se pode observar nos dados abaixo, sem dúvida, o incentivo fiscal mais
relevante foi a concessão de isenção de IPI para os produtos de informática (que também
abrange o setor de produtos de telecomunicações).

Política Nacional de Informática


Pleitos Aprovados

Ano/ Tipos IPI IR Capitalização Total

1993 293 46 32 371


1994 163 22 7 192
1995 117 8 4 129
1996 139 11 0 150
1997 140 20 0 160
1998 119 - - -
Total 971 107 43 1.121

Fonte: MCT.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 12


Desta forma, o fim dos incentivos fiscais do imposto de renda para os gastos com
P&D em informática e os incentivos de capitalização de empresas novas do setor, que, por lei,
terminaram em 1997, não devem ter afetado significativamente as estratégias tecnológicas das
empresas do setor de informática. O incentivo de capitalização foi o menos utilizado,
provavelmente pela natureza da estrutura empresarial existente na indústria brasileira de
informática, com o claro predomínio de empresas com capital multinacional. Assim, 87% dos
pleitos de incentivos fiscais eram referentes à isenção do IPI.

O MCT reconhece entretanto, a necessidade de complementação e adequação da PNI


para outros segmentos da indústria eletrônica: “A partir de 1993, com os incentivos fiscais
instituídos pela Lei nº 8.248/91, verificou-se uma crescente ampliação do parque produtivo do
setor de informática e telecomunicações, com exceção dos fabricantes de periféricos,
componentes semicondutores, automação industrial e instrumentação digital que diminuíram
suas atividades industriais, o que indica a necessidade de criação de novos mecanismos e
instrumentos de fortalecimento destas indústrias”.

Quanto ao número de empresas que se beneficiaram da PNI, desde 1993 até 1998, o
total somou 272 empresas, novamente, destacando-se a solicitação de isenção do IPI: cerca de
57% solicitaram apenas este incentivo fiscal e cerca de 88% solicitaram este e pelo menos
mais um outro tipo de incentivo da Lei de Informática.

Política Nacional de Informática


N° de Empresas Incentivadas

Incentivo N° de Empresas

IPI 156
IR 15
Capitalização 15
IPI/IR/Capitalização 13
IR/Capitalização 3
IPI/Capitalização 7
IPI/IR 63
Total 272

Fonte: MCT.

Neste ponto é interessante ressaltar esses números. Se, para ter direito ao incentivo de
IPI as empresas são obrigadas a investir pelo menos 5% do seu faturamento em P&D, por que
apenas 63 empresas solicitaram além desse incentivo, a redução do imposto de renda devido
com as despesas em P&D, e a grande maioria, de 156 empresas somente solicitaram a isenção
do IPI? Algumas hipóteses podem ser levantadas. A primeira é de que as empresas do setor de
informática poderiam não estar obtendo lucros que justificassem a utilização do incentivo
para reduzir o efetivo pagamento. Se isto for verdadeiro, é preocupante pois esta indústria tem
apresentado uma das taxas de expansão mais elevadas, demonstrando estar passando por
período de sensível crescimento no Brasil, assim como de suas importações.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 13


Uma segunda alternativa remete a questão para o campo dos procedimentos
processuais e da fiscalização tributária dos dois incentivos fiscais: isenção do IPI e
redução do imposto de renda devido. De qualquer forma, analisar todos os aspectos
envolvidos com esta concessão de incentivos é necessária para um posicionamento mais
definitivo sobre a adequação da política de informática.

Os dados mostram o esforço crescente na realização de P&D pelas empresas do setor


de informática apoiadas pela Política Nacional de Informática. A estimativa é de que entre
1993 e 1998 tenham sido investidos cerca de R$ 2,1 bilhões em P&D. Também merece
destaque o investimento realizado pelas empresas em cooperação com instituições de
pesquisa. Não resta dúvida de que a Política Nacional de Informática tem contribuído para a
maior capacitação tecnológica em tecnologias da informação.

Segundo o MCT, “as aplicações em pesquisa e desenvolvimento mais significativas


(84%) foram efetuadas em projetos de desenvolvimento de sistemas (27%), desenvolvimento
de software (21%), desenvolvimento de hardware (15%), treinamento (8%), sistemas da
qualidade (8%) e em programas prioritários do MCT (5%)”. Destas informações dois pontos
devem ser ressaltados. Em primeiro lugar, em se tratando de um segmento industrial, seria de
se esperar um percentual mais elevado de investimentos em tecnologias de produtos –
hardware. Em segundo lugar, é relativamente elevado o percentual de investimentos em
treinamento e sistemas da qualidade (16%), o que poderia ser questionado como
investimentos efetivos em P&D, embora plenamente com o que estabelece a legislação
brasileira sobre a política para o setor de informática. Um terceiro ponto, que não decorre do
exposto até agora, é a elevada concentração das atividades em P&D em um número muito
restrito das empresas beneficiadas pela lei de informática. Ainda segundo o MCT, “do volume
total aplicado em P&D, no período analisado, verifica-se um grau de concentração acentuado,
sendo 30 empresas responsáveis por 90% do volume aplicado.”

Política Nacional de Informática


Aplicações em P&D pelas Empresas Beneficiadas
(em Milhões de Reais)

Proj. Priorit. Cooper. Inst. P&D Total


MCT de Pesq. Própria

1993 12 95 107
1994 4 67 224 295
1995 9 117 216 342
1996 28 130 231 389
1997 19 135 281 435
1998* 17 145 342 504
Total 77 606 1.389 2.072

Fonte: MCT.
Nota: * Estimativa.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 14


I.4. AVALIAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO INDUSTRIAL

PACTI

Em relação ao PACTI, no geral, sua concepção é de privilegiar instrumentos tais como


reuniões de informação, seminários, articulação e coordenação de agentes e de esforços.
Poucos são os instrumentos alternativos do PACTI, que além desses mencionados, utiliza-se
dos programas da FINEP e do PADCT – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico, para efetivar suas políticas. Mesmo nesses casos, os recursos disponíveis são
muito limitados. Considera-se que estas ações sejam necessárias, porém claramente
insuficientes para a promoção do desenvolvimento tecnológico nacional, uma vez que as
restrições enfrentadas pela indústria brasileira são de caráter mais profundo, estruturais, e que
ocorre, em termos internacionais, uma verdadeira revolução tecnológica.

É reconhecido que o desenvolvimento tecnológico industrial é resultado de um


processo coletivo de trabalho, não apenas no nível da empresa, mas também no sentido de que
é resultado da ação de um conjunto de instituições com funções distintas, porém articuladas
entre si, constituindo-se o que se considera ser um Sistema Nacional de Inovação. Todavia, o
sistema será tanto mais poderoso e virtuoso quanto mais intensas e fortes forem as relações
entre os agentes. Isto significa afirmar que a articulação institucional se estabelece a partir de
ações significativas compartilhadas entre instituições.

É nesse sentido que não bastam ações do tipo seminários e reuniões para a efetiva
organização sistêmica dos agentes, ainda mais no caso brasileiro, que não tem se mostrado
muito dinâmico na geração e incorporação do progresso técnico. Em outros termos, equivale
dizer que há necessidade de uma atuação mais direta e explícita do Estado brasileiro na
organização do Sistema Nacional de Inovação no Brasil, assim como já o fazem outras nações
do mundo.

Tendo isto em mente, a seguir são feitos alguns comentários sobre três ações
consideradas entre as mais importantes do PACTI: projetos cooperativos; entidades
tecnológicas setoriais; e micro e pequenas empresas.

Os projetos cooperativos pressupõem que os dois pólos tenham interesses semelhantes


e que estejam dispostos a cooperar em um projeto específico. Nesse sentido, é necessário que
as empresas sejam mais dinâmicas sob o ponto de vista da promoção do desenvolvimento
tecnológico e que as instituições de pesquisa estejam mais abertas para o trabalho de pesquisa
aplicada e de difusão de tecnologias.

Num primeiro momento, deve merecer prioridade a difusão de tecnologias, para a


criação de laços mais fortes entre a infra-estrutura de pesquisa e o setor privado. Nesse
sentido, ao invés de programas gerais de cooperação deveriam ser instituídos programas
setoriais, procurando respeitar o estágio de desenvolvimento dos setores industriais e, ao
mesmo tempo, especificando melhor as ações cabíveis para projetos em cooperação. Este tipo
de iniciativa pode assumir uma feição mais regional naqueles segmentos industriais com
maior grau de concentração espacial. Uma vez conquistada a confiança entre os agentes, a
cooperação poderia ser estabelecida em projetos mais ambiciosos.

No fundo, deve-se reconhecer o estágio de desenvolvimento tecnológico brasileiro e


das instituições envolvidas para a promoção de um efetivo e robusto sistema de inovação. A

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 15


cooperação vista da perspectiva do setor privado é muito mais de ações imediatas e de
projetos de curto prazo do que projetos ambiciosos de pesquisa, de longo prazo, o que parece
ser o interesse da universidade e de alguns institutos de pesquisa. Dado que a pesquisa básica
e pré-competitiva é quase inexistente no Brasil, a realização de projetos cooperativos deve ser
mais focalizada setorialmente e menos genérica como atualmente é definida.

Outro comentário é de que independente de sua natureza setorial, a pesquisa


cooperativa deve privilegiar as ações verticais, isto é, entre fornecedor e usuário e não as
horizontais estabelecidas entre empresas concorrentes num mesmo mercado. A justificativa é
de que a cooperação é mais comum entre elos da cadeia produtiva, dada a necessidade de
especificação de produtos e seus componentes. Esta observação consta de recente relatório de
Baptista e Ribeiro (1999), ao analisarem o tema de projetos cooperativos no âmbito da
indústria de componentes elétricos e eletrônicos. Explicando o índice de realização de
projetos cooperativos entre empresas privadas e institutos de pesquisa, o relatório afirma o
seguinte (Baptista e Ribeiro, 1999; Sumário Executivo):

“Nesta pesquisa, foram identificados seis fatores principais que explicam esta baixa
incidência de projetos cooperativos. Os três primeiros (de natureza estrutural) são o perfil
maduro e tecnologicamente pouco exigente dos segmentos nos quais a indústria está
concentrada, o padrão de inserção das subsidiárias das empresas estrangeiras aqui instaladas
nas redes globais destes grupos transnacionais e a dependência tecnológica da indústria frente
a fornecedores externos de tecnologia. Os três outros fatores (internos às empresas) são os
seguintes: a falta de informação existente sobre parceiros potenciais de projetos cooperativos,
a visão de falta de eficiência de projetos cooperativos e das instituições de pesquisa
(universidades e institutos) como parceiros adequados e a ausência de estruturas internas
formalizadas de P&D.”

Esta pesquisa confirma a importância da dimensão setorial do êxito de projetos


cooperativos e a importância da difusão de informações para os agentes envolvidos.

O mesmo relatório também mostra que algumas iniciativas de cooperação não deram
certo em função das dificuldades de financiamento das instituições públicas de pesquisa.
Mais do que isto, exemplifica o que são críticas realizadas pelo setor produtivo de que os
esquemas de financiamento estão mais voltados para o campo científico e que as rotinas e
critérios considerados na análise não valorizam a pesquisa de interesse das empresas. As
críticas empresariais inclusive alcançam aspectos operacionais, como, por exemplo, o fato
de que as avaliações das instituições de fomento ocorrem apenas uma ou duas vezes durante
o ano. Para o setor privado esta dimensão temporal assume uma perspectiva completamente
inadequada.

Quanto às entidades tecnológicas setoriais, estas são uma concepção muito


interessante que respeita um elemento fundamental para a geração e difusão de tecnologias
que é a sua dimensão setorial. Adicionalmente, convoca o setor privado, mais especificamente
suas entidades de representação, a assumirem a função de entidades promotoras da difusão de
tecnologia entre seus associados. A princípio, todavia, pela relação de projetos aprovados de
entidades tecnológicas setoriais para receber apoio do governo federal, constam instituições
que não respeitam esse princípio da setorialização. De outra parte, existe ainda uma
preocupação de que a implementação pelo PACTI teria permitido grande atomização das
instituições, inclusive acolhendo entidades municipais. A crítica que se faz, parte do
pressuposto de que há necessidade de um mínimo de massa crítica que justifique os

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 16


investimentos em sistemas de difusão e para a circulação e troca de informações técnicas
entre empresas.

Uma segunda observação é de que o PACTI deveria ser mais incisivo no seu apoio à
estruturação de entidades tecnológicas setoriais. É de se avaliar a idéia de que as associações
empresariais industriais institucionalizem empresas de sua propriedade com o objetivo de
promoverem a difusão de tecnologias em seus respectivos setores de atuação. Esta é uma
forma de transformar as associações em entidades de apoio técnico que, ao mesmo tempo,
estaria constituindo-se numa fonte de receita para seu autofinanciamento. Há entendimento de
que assim como o governo deve adequar suas instituições e modernizar a forma de fazer e
implementar políticas públicas, o setor privado também deverá ser mais dinâmico sob o ponto
de vista da incorporação do progresso técnico para enfrentar a nova revolução industrial que
tende a se acelerar no próximo século.

A principal observação quanto aos programas de apoio ao desenvolvimento


tecnológico das micro e pequenas empresas é também que devem estar concebidos
setorialmente e de acordo com o objetivo da difusão de tecnologias. Ademais, nunca é
redundante lembrar que o problema tecnológico é apenas uma das deficiências das empresas
de menor porte, além dos problemas de inadequada estrutura de financiamento, falta de escala
para acessar mercados mais poderosos, falta de capacitação gerencial etc. Portanto, as ações
de desenvolvimento tecnológico deveriam estar articuladas a outras e, principalmente, aos
programas setoriais de difusão de tecnologias.

Política Nacional de Informática

A respeito da Política Nacional de Informática, algumas observações são feitas a


seguir. Em primeiro lugar, uma de ordem conceitual, pois a Lei 8.248 define como P&D,
além da pesquisa e do desenvolvimento, as seguintes atividades:

• “Treinamento em Ciência e Tecnologia – É voltado para o desenvolvimento de


profissionais de níveis médio e superior, podendo alcançar a especialização,
aperfeiçoamento e pós-graduação de nível superior.
• “Serviço Científico e Tecnológico – Abrange as atividades de assessoria e consultoria,
estudos prospectivos, ensaios, normalização, metrologia, qualidade, informação e
documentação.
• “Sistemas de Qualidade – Deve estar integrado pelos Programas de Capacitação e
Certificação que tenham como objetivo a implementação de Programas de Gestão e
Garantia de Qualidade.”

Várias das atividades acima não fazem parte da P&D propriamente dita e sim podem,
no máximo, serem consideradas como atividades tecnológicas, embora algumas delas não
sejam enquadráveis nem nessa categoria mais ampla, tal como treinamento de recursos
humanos de nível médio, assessoria e consultoria e qualidade. Portanto, a contrapartida das
empresas para o benefício dos incentivos fiscais, de investimento de pelo menos 5% do seu
faturamento bruto em P&D deve ser relativizado pelo conceito amplo de P&D que é aceito
pela legislação pertinente.

As outras observações dizem respeito a aspectos de fiscalização por parte do Estado.


Fiscalização no que diz respeito ao investimento de 2% do faturamento em projetos
cooperativos, pois a lei deixa margem a que efetivamente esse quesito não seja respeitado tal

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 17


como idealizado. Isto ocorre tanto porque é amplo o conceito de P&D quanto as empresas
podem estabelecer acordos com instituições de pesquisa que incluam gastos não tipicamente
enquadráveis como investimentos em projetos cooperativos. Uma outra questão quanto à
fiscalização diz respeito à fiscalização de cumprimento dos PPBs definidos como
contrapartidas das empresas. É de conhecimento geral de que o Estado brasileiro não dispõe
de estrutura competente para esta fiscalização em todo o território nacional. Assim, é possível
que esta obrigatoriedade não esteja sendo respeitada na sua integridade.

Se estas observações tiverem sentido real, o esforço de P&D em informática tem sido
inferior ao seu potencial. Como um dos segmentos que se colocam na base das novas
tecnologias que estão transformando a base material da produção, a informática e sua
integração com outras tecnologias e setores industriais deve ampliar significativamente o
esforço em P&D, requerendo aperfeiçoamento da política de informática e maior abrangência
no contexto de uma política industrial setorial.

I.5. SUGESTÕES E AÇÕES COMPLEMENTARES

Sem a preocupação de ordenar as propostas segundo a relevância e prioridade das


ações, a seguir são apresentadas algumas propostas a respeito da política de desenvolvimento
tecnológico industrial:

1) Da forma como se encontra estruturado o PACTI, seus resultados são pouco efetivos.
Não que a articulação institucional seja desnecessária; pelo contrário, o processo de
inovação é resultado de um processo coletivo de trabalho, envolvendo distintas
instituições. Portanto, o trabalho de articulação e coordenação entre instituições deve
permanecer, cabendo porém, duas observações a respeito. Em primeiro lugar, é
recomendável que seja privilegiada a dimensão setorial do conjunto de ações
coordenadas. Em segundo lugar, não é desejável que o PACTI se resuma a este tipo de
ação. Os desafios da política tecnológia no próximo século exigirão maior participação do
governo federal e maior importância para a política tecnológica no contexto da política
industrial.

2) É necessário que o PACTI tenha maior volume de recursos para essas atividades de
coordenação e promoção do desenvolvimento tecnológico industrial.

3) Recomenda-se que outras ações de apoio ao desenvolvimento tecnológico industrial, que


envolvam a concessão de financiamento, sejam centralizadas na FINEP e tratadas
operacionalmente segundo prazos, especificações e adequação ao setor privado. Nesse
sentido, tanto as ações de projetos cooperativos quanto de apoio à constituição de ETS,
que atualmente fazem parte do PACTI, seriam melhor tratadas no âmbito da FINEP e
esses programas merecem ser adequados e aperfeiçoados. Espera-se que a FINEP avance
no sentido da sua maior articulação com o meio empresarial e que consiga melhores
resultados enquanto instituição que procura incentivar a cooperação entre os agentes do
sistema científico e tecnológico. Os recém criados fundos setoriais podem representar
uma boa oportunidade não apenas para garantir recursos ao sistema, mas também por
inovar na forma de gestão dos recursos financeiros.

4) Sendo assim, o financiamento a projetos cooperativos deve privilegiar a cooperação entre


os elos das cadeias produtivas, o que não necessariamente implica em projetos setoriais.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 18


Neste caso, é recomendável que o financiamento possua maior percentual de cobertura e
as condições de financiamento sejam mais favoráveis do que em outros programas de
financiamento. Em casos em que envolva instituições públicas de pesquisa, o
financiamento concedido a projetos cooperativos deve financiar tanto a parcela relativa à
contribuição das instituições de pesquisa, como as empresas privadas engajadas em
projetos cooperativos. A parcela das instituições deveria ser não-reembolsável e a parcela
de financiamento das empresas privadas é mais efetiva se envolver programas de
financiamento a longo prazo.

5) A proposição de entidades tecnológicas setoriais merece ser melhor explorada por duas
razões. Em primeiro lugar, porque apesar da velocidade de maturação das novas
tecnologias, no Brasil ainda é muito grande a heterogeneidade tecnológica, na medida em
que ainda há muito espaço para o avanço da difusão de tecnologias relativamente
maduras ou que não sejam de última geração. Além da importância do tema da difusão de
tecnologia, a proposição de ETS pressupõe que as ações sejam setorializadas. Nesse
sentido, o MCT poderia ser mais ativo no estímulo à constituição de ETS. Isto pode
significar divulgação da idéia, treinamento de recursos humanos para a ETS etc., mas,
principalmente, o MCT pode contribuir com o investimento para a estruturação das ETS,
em parceria com os governos estaduais. Adicionalmente, através da infra-estrutura
científica e tecnológica pública, as diferentes esferas de governo podem auxiliar na
estruturação dessas entidades, com baixos custos operacionais. Uma idéia a se investigar
é de que as associações empresariais setoriais constituam entidades tecnológicas setoriais,
o que daria nova configuração para as entidades do meio empresarial.

6) Ainda no campo da difusão de tecnologias, devem ser estruturados programas de


difusão tecnológica também com o recorte setorial. Entende-se por programa um
conjunto de distintas ações integradas e organizadas para um mesmo objetivo.
Assim, um programa de difusão além de difundir tecnologias e conhecimento
técnico, deve estar atrelado a financiamento (quando for necessário para o
investimento em capital fixo para modernização tecnológica), a capacitação
gerencial, a maior esforço de P&D por parte do setor privado, a condições mais
favoráveis para exportação etc. A função do MCT seria, em conjunto com outros
órgãos do governo federal e com representantes do setor privado, organizar esses
programas e envolver as distintas instituições que atuam e dispõem de instrumentos
para a difusão de tecnologia. Segundo os setores contemplados e as regiões do país,
os instrumentos a serem mobilizados podem ser de distinta natureza: informação
técnica e econômica, prestação de serviços tecnológicos básicos, assistência técnica
e consultoria, treinamento de recursos humanos, projetos cooperativos, suporte
financeiro, cooperação entre empresas (principalmente entre fornecedores e
usuários), facilidades para a transferência de tecnologia e medidas para “cluster”
setorial ou regional (Shapira, 1996). A implementação de programas de difusão é
fundamental para melhorar a competitividade estrutural da indústria brasileira,
principalmente em um cenário internacional de grandes transformações.

7) Assim como é importante a ação governamental na promoção da difusão de


tecnologias, também o é no apoio a processos de inovação tecnológica. Atuando por
setores, ou por tecnologias, dependendo de uma maior reflexão sobre este tema, o
governo poderia, em parceria com o setor privado, criar programas ou instituições
especializadas no tema da prospecção tecnológica e na identificação de janelas de
oportunidades para o desenvolvimento tecnológico nacional. Empresas engajadas

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 19


nesses programas ou instituições poderiam ter benefícios fiscais correspondentes aos
seus investimentos nessas iniciativas. Evidentemente que esta proposta está voltada
para as novas tecnologias ou para tecnologias relevantes para a estruturação da
capacitação tecnológica nacional.

8) Numa perspectiva mais geral, seria interessante a constituição de um grupo de


personalidades e pesquisadores com o objetivo de estudar as perspectivas futuras de
tecnologias e de comportamento de setores industriais. Inicialmente, poderia ser
constituído um grupo de funcionários do governo, empresários de renome e cientistas e
pesquisadores para trocarem informações e análises sobre o futuro da indústria mundial
e a inserção da indústria brasileira nesse contexto geral. Nesse momento inicial, o
trabalho pode estar num programa de ação, sem necessidade de maiores investimentos
em instalações. Se a idéia evoluir positivamente, pode-se pensar num instituto de
estudos do futuro. A revolução tecnológica em curso, ao mesmo tempo em que amplia
as janelas de oportunidade, transforma processos e até setores de atividade então
existentes. Nesse contexto é fundamental a percepção das tendências globais da
tecnologia e da indústria.

9) No que diz respeito à política de informática, são três sugestões:

9.1) Os componentes eletrônicos devem ser abrangidos pela Lei de Informática.

9.2) Dos 5% a serem investidos em P&D como contrapartida das empresas beneficiadas
por incentivos fiscais, 2,3% devem ser investidos em projetos cooperativos, sendo,
pelo menos, 0,5% em um fundo específico para o financiamento de pesquisas em
informática (a ser administrado pela FINEP, mas subordinado a um comitê gestor
constituído por representantes do setor público e do setor privado). Esta proposta
faz parte do projeto que ainda se encontra em tramitação no Poder Legislativo e
está de acordo com a orientação recente do governo federal de criação de fundos
setoriais de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico.

9.3) O prazo de vigência da nova Lei de Informática deve ser até 2009, prevendo-se
reduções anuais de incentivos e de contrapartidas das empresas.

10) Assim como está acontecendo com a informática, no aspecto da constituição de um fundo
específico, já existe um fundo setorial para gás e petróleo, o CTPetro. O FUNTTEL,
criado pela Lei de Telecomunicações, também pode exercer o mesmo papel. Ou seja, em
algumas áreas relevantes do ponto de vista da capacitação e da geração de novas
tecnologias, o Brasil passaria a contar com fundos específicos, administrados por comitês
que tenham a participação de diferentes atores (governo, empresários, comunidade
científica e tecnológica etc.). É muito importante que esses fundos sejam implantados o
mais rápido possível, devendo ainda serem ampliados para outros segmentos, tais como
aqueles definidos pelo governo federal, propostos através de projetos de lei e aprovados
pelo Congresso Nacional. Os setores até o momento contemplados são os de energia
elétrica, recursos hídricos, mineração, espacial, transportes, infra-estrutura de C&T e
interação universidade-empresa. Ainda estão sendo estudados: saúde, aeronáutico e
agronegócios.

11) Por fim, é necessário que o governo assuma o apoio a setores industriais geradores e
transmissores de progresso técnico também como elemento de política tecnológica
setorial. Por exemplo, conceder prioridade para investimentos na indústria de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 20


componentes eletrônicos e promover a consolidação e modernização da indústria
brasileira de bens de capital, devem ser interpretadas como ações fundamentais para o
desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira. Objetivar o desenvolvimento
tecnológico de ponta pressupõe a existência de uma estrutura industrial que incorpore os
segmentos geradores e transmissores de progresso técnico.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 21


II. INCENTIVOS E APOIO FINANCEIRO AO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

A seguir é feita uma descrição de cada um dos instrumentos fiscais e financeiros


considerados de maior relevância para o desenvolvimento tecnológico no cenário atual,
indicando-se seus objetivos, condições de operação, procedimentos para acesso aos
benefícios, bem como a explicitação da entidade responsável por sua gestão. Apresenta-se,
também, uma avaliação crítica dos instrumentos selecionados. Na seção final apresentam-se
as principais recomendações para o aperfeiçoamento dos instrumentos analisados, dentro da
perspectiva de desenvolver instrumentos adequados ao financiamento do desenvolvimento
tecnológico na próxima década, dadas as lacunas existentes – que são expressivas – e a
ineficácia dos instrumentos atuais.

Optou-se por analisar os instrumentos operados pela FINEP, BNDES e MCT, embora
existam instrumentos voltados ao desenvolvimento tecnológico de responsabilidade do BB –
Banco do Brasil, BNB – Banco do Nordeste e do BASA – Banco da Amazônia, por exemplo.
Há uma breve referência à FAPESP por esta contar com dois programas de concepção nova
para a capacitação tecnológica.

A Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP é uma empresa pública de direito


privado, fundada em 1967, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que tem como
missão financiar universidades, institutos de pesquisa e empresas que executam projetos de
P&D. As áreas de atuação da FINEP são: competitividade, infra-estrutura de C&T,
tecnologias portadoras de futuro, tecnologia da informação, meio ambiente, energia e
transporte e desenvolvimento regional e social.

Para realização dos financiamentos (investimentos em atividades ligadas à ciência e


tecnologia) a empresa se utiliza de recursos de diversas fontes, aplicados segundo dois
mecanismos básicos:

• Financiamento com retorno, em condições especiais de crédito, para as empresas. Nestas


operações a finep participa em até 90% do valor total possível de financiamento.
• Apoio sem retorno, para a pesquisa básica aplicada e desenvolvimento experimental em
instituições sem fins lucrativos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, empresa


pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC,
é o principal provedor de financiamentos de longo prazo no País. O BNDES dispõe de
programas específicos para apoio do desenvolvimento tecnológico.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP foi criada pelo
Decreto n.º 40.132, de 23 de maio de 1962 e tem por finalidade promover a atividade de C&T
no Estado de São Paulo, competindo-lhe:

• Custear, total ou parcialmente, projetos de pesquisas, individuais ou institucionais, oficiais


ou particulares, julgados aconselháveis por seus órgãos competentes.
• Custear parcialmente a instalação de novas unidades de pesquisa, oficiais ou particulares.
• Fiscalizar a aplicação dos auxílios, podendo suspendê-los nos casos de inobservância dos
projetos aprovados.
• Manter um cadastro das unidades de pesquisa existentes dentro do estado e seu pessoal e
instalações.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 22


• Manter um cadastro das pesquisas sob seu amparo e das demais do estado.
• Promover periodicamente estudos sobre o estado geral da pesquisa em são paulo e no
brasil, identificando os campos que devam receber prioridade de fomento.
• Promover o intercâmbio de pesquisadores nacionais e estrangeiros, através da concessão
ou complementação de bolsas de estudos ou pesquisas, no país ou no exterior.
• Promover ou subvencionar a publicação dos resultados das pesquisas.

II.1. DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE APOIO FINANCEIRO E DESENVOLVIMENTO


TECNOLÓGICO

Do universo de programas e ações voltados ao desenvolvimento tecnológico no Brasil,


é possível selecionar os principais instrumentos de apoio financeiro e incentivo fiscal às
empresas.

De início, cumpre destacar que, em boa medida, existem importantes pontos comuns
entre os instrumentos aqui considerados, quais sejam:

• Objetivam o financiamento à pesquisa e desenvolvimento tecnológico.


• Financiam projetos de inovação tecnológica no setor produtivo.
• Buscam ampliar a competitividade dos bens e serviços produzidos no país.

Todavia, é nas especificidades de cada um desses instrumentos que se encontra o


leque de alternativas colocadas à disposição das empresas para financiamento dos projetos
voltados à sua capacitação tecnológica e conseqüente ampliação das oportunidades de
mercado.

Os quadros a seguir dão as informações sobre instrumentos de apoio financeiro (e de


incentivo fiscal) ao desenvolvimento tecnológico, contendo uma breve descrição, seu(s)
objetivo(s) e sua operacionalização, bem como o público alvo ao qual se destina.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 23


INSTRUMENTOS DE APOIO FINANCEIRO AO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO


PIPE – INOVAÇÃO Programa com três Incentivar pequenas A FAPESP receberá as Dispensando
TECNOLÓGICA EM fases que oferece a empresas de base solicitações, duas contrapartida e, por
PEQUENAS oportunidade de propor tecnológica a vezes por ano, em 30 isso, dirigido
EMPRESAS e desenvolver idéias desenvolverem, de junho e 30 de exclusivamente a
(FAPESP) inovadoras: 1ª fase associadas a novembro e analisará pequenas empresas, o
viabilidade técnica – 6 pesquisadores do as solicitações em 120 programa é
meses (R$50 mil); ambiente acadêmico, dias. complementar ao de
2ª fase: desenvolv. 24 projetos de inovação Qualifica-se como financiamento de
meses (R$200 mil); tecnológica. pequena empresa projetos de pesquisa
3ª fase: desenvolv. de aquela com até 100 em parceria entre a
novos produtos empregados. universidade e
comerciais (sem apoio empresa.
financeiro).*
PITE – PARCERIA Iniciado em fins de Financiar projetos de A FAPESP financia, a MODALIDADE 1:
PARA INOVAÇÃO 1994, o programa inovação tecnológica fundo perdido, a parte desenvolv. de inovação
TECNOLÓGICA financia, a fundo no setor produtivo, do projeto sob cuja fase exploratória
(FAPESP) perdido, a parte do desenvolvidos em responsabilidade da esteja praticamente
projeto sob responsab. parceria por instituição de pesquisa, completada;
da instituição de pesq, instituições de e a empresa entra com MODALIDADE 2:
e a empresa entra com pesquisa e empresas uma contrapartida de desenvolv. de inovação
uma contrapartida de instaladas no Estado recursos próprios ou de associada a baixos
recursos próprios ou de de São Paulo. terceiros. riscos tecnológicos e
terceiros. O Programa Financiamento de de comercialização; e
envolve 3 modalidades: até 70% do custo do MODALIDADE 3:
1. até 20% do custo do projeto, devendo a desenvolv. de inovação
projeto; 2. até 50% do empresa envolvida associada a altos
custo do projeto; e aportar o restante dos riscos tecnológ. e
3. até 70%. recursos. baixos riscos de comer.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.
(*) A FAPESP não dá apoio financeiro de qualquer natureza a projetos na 3ª fase, mas pode colaborar na obtenção de apoio de
outras fontes caso os resultados da pesquisa comprovem a viabilidade técnica das idéias, bem como o seu potencial de retorno
comercial ou social.

cont.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 24


INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
CONTEC – É um programa Evitar que empresas A capitalização de No contexto de uma
CONDOMÍNIO DE destinado à subscrição de base tecnológica** empresas verifica-se visão inovadora, a
CAPITALIZAÇÃO DE de valores mobiliários que se encontram nos em duas categorias: BNDESPAR criou o
EMPRESAS DE BASE de EBTs – Empresas estágios de concepção, - direta (sem limite) CONTEC, através do
TECNOLÓGICA de base tecnológica start-up e expansão e linha de financiam.: qual divide os riscos
(BNDES) em fase de implant., desenvolvimento Subscrição de valores com pequenas e
expansão e desenvolv. iniciais não consigam, mobiliários; médias empresas que
(a operação é realizada pelo risco que - indireta (até R$ 40 mi desenvolvam
pela BNDESPAR*). significam, recursos por fundo) tecnologias. A
O valor do primeiro para seus linha de financiam.: participação é de até
aporte pode alcançar investimentos. O risco Fundos fechados de 100% do investimento,
até R$ 2 milhões. máximo por empresa é investimento. limitada a 40% do
de até R$ 6 milhões. capital total da
empresa.
DESENVOLVIMENTO
O instrumento se Financiar a pesquisa Duas categorias: Inclui comercialização
TECNOLÓGICO
(FINEP)
enquadra na básica e aplicada, • Com retorno (a pioneira, compra e
modalidade de infra-estrutura de P&D, participação da FINEP absorção de tecnologia
operação de aperfeiçoamento e é de até 90% do valor nacional ou
APLICAÇÕES COM desenvolvimento de passível de financiam); estrangeira,
RETORNO, sendo a novos processos, • Participação*** desenvolvimento de
participação da FINEP produtos e serviços. Spread/TJLP + de 2% protótipos e cabeças
de até 90% do valor a 6% a.a. de série em órgãos
financiável. Carência: até 3 anos; públicos e empresas
Amortiz: até 7 anos. brasileiras.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.
(*) A BNDESPAR/BNDES Participações S/A tem por filosofia alienar sua participação acionária na empresa, uma vez alcançada a
maturidade do projeto através da colocação pulverizada de suas ações no mercado secundário de títulos, democratizando o
controle do capital e fortalecendo o mercado de capitais, por meio de block-trades na bolsa de valores.
(**) EBT – Empresa de Base Tecnológica é aquela que fundamenta sua atividade produtiva no desenvolvimento de novos produtos
ou processos baseados na aplicação sistemática de conhecimentos científicos e tecnológicos e na utilização de técnicas
consideradas inovadoras ou pioneiras.
(***) O retorno do investimento da FINEP é negociado em função de um percentual da receita operacional líquida da empresa ou da
receita obtida com os resultados do projeto apoiado.

cont.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 25


INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
Modalidades da
ADTEN (FINEP) Apoiar o desenvolv. Encargos: TJLP (Taxa Órgãos públicos e
Operação:
tecnol. de empresas, de Juros de LP) empresas brasileiras
• Com retorno
capacitando-as a Spread públicas e privadas.
A operação financeira
produzir, utilizar e/ou INOVAÇÃO Condições de
com retorno obriga o
adaptar novas TECNOLÓGICA: até Financiamento:
mutuário a constituir
tecnologias em seu 4% a.a.; invest. em Carência – até 3 anos
garantias reais de, no
processo produtivo. infra-estrutura de P&D: AMORTIZAÇÃO – até
mínimo, 120% do valor
OBJETO DE FINANC.: até 6% a.a.; desenv de 7 anos para projetos
do financiamento.
a) P&D ou aperfeiç. de produto ou processo relativos a infra-
• Participação
novos produtos e estrutura de P&D e
(melhoria ou aperf.):
Nesta modalidade, o
processos; inovação tecnológica
até 5% a.a; comerc.
retorno do investimento
b) Adaptação de - até 5 anos para
pioneira: até 8% a.a.
da FINEP será
produtos, processos ou projetos relacionados
Encargos Adicionais
negociado em função
tecnol. importadas às com melhoria ou
Cobrança de taxa de
da receita operacional
condições brasileiras; aperfeiçoamento de
serviços de acomp. e
líquida da empresa
c) Compra no país ou produto ou processo e
avaliação, descontada
financiada ou da
no exterior, de pacotes comercialização
previamente, no valor
receita obtida com os
de tecnol. de produtos, pioneira
de 1% do financiament,
resultados do projeto
processos e serviços; durante a liberação das
apoiado, ou, ainda,
d) Fortalecimento de parcelas. As despesas
através da participação
equipes dedicadas ao com a avaliação das
acionária.desenvolvimento e/ou garantias, de acordo
adaptações de com as Normas da
tecnologia ou processo ABNT, serão de
na empresa ou para a responsabilidade da
empresa; e empresa solicitante do
e) Implantação de financiamento.
centros de pesquisa
tecnol. em empresas.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 26


cont.
INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
AUSC (FINEP) Instrumento para Promover estudos e Condições de Planos diretores e
financiamento de: projetos de pré- Financiamento estudos setoriais;
a) Pessoal do projeto investimento de Prazos Estudos de viabilidade
(equipe própria) interesse econômico Carência: 2 anos técnica, econômica e
b) Gastos com a e/ou social. Amortização: 3 anos ambiental; Levant. de
utilização de Encargos dados para planej.
serviços de Spread: 6% a.a. hidrográfico,
consultoria acrescidos da variação hidrológico, geológico,
c) Viagens e diárias da TJLP (Taxa de topográfico,
d) Outras despesas Juros de Longo Prazo) aerofotogramétrico,
(custos referentes a Participação sócio-econômico etc.;
acesso a banco de Limitada até 80% dos Projetos básicos e
dados, locação de itens financiáveis executivos realizados
equipamentos/ aprovados no projeto no País; Estudos de
instrumentos de Taxa de Supervisão e Impacto Ambiental
escritório e de Inspeção (EIA) e Relatórios de
campo, impressão e 1% (um por cento) Impacto sobre o Meio-
encadernação, descontados por Ambiente (RIMA);
serviços gráficos, ocasião da liberação Estudos e projetos
etc.) das parcelas do visando a moderniz.
financiamento. e/ou ampliação de
capacidade técnica,
administrativo-
produtiva ou
operacional; Estudos e
projetos para otimiz. do
consumo de energia
e/ou redução de
impacto ambiental nos
setores industrial,
hospitalar e outros.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 27


cont.
INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
GESTÃO DA Gestão Empresarial • Com retorno Inclui Gestão da Saúde
QUALIDADE incluindo Gestão da Spread (TJLP + e Segurança do
Qualidade (ISO 9000), 5,5% a.a.) Trabalho e outros
(FINEP)
Gestão Tecnológica, • Prazos projetos de
Gestão Estratégica do Carência: até 2 transformação
Conhecimento anos; empresarial.
Amortização*: até 4
anos.
PRÉ-INVESTIMENTO Levantamentos, • Com retorno
estudos para o Spread (TJLP + 6%
(FINEP)
planejamento, estudos a.a.)
de viabilidade e • Prazos
anteprojeto, projeto Carência: até 2
básico e detalhamento. anos;
Amortização*: até 3
anos.
EDUCAÇÃO PARA A Programas de • Com retorno/ Inclui projetos de
COMPETITIVIDADE empresas voltados Sem retorno avaliação do ensino
para a educação Spread (TJLP + básico,
(FINEP)
básica de seus 2,5% a.a.) desenvolvimento de
empregados. • Prazos currículos e materiais
Carência: até 3 didáticos.
anos;
Amortização*: até 7
anos.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração própria
* O prazo de amortização é contado a partir do término da carência.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 28


cont.
INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
• Com retorno
FEIRAS E EVENTOS Apoio à participação de
Spread (TJLP + 6%
TECNOLÓGICOS empresas em feiras e
a.a.)
eventos tecnológicos
(FINEP)
no país e no exterior. • Prazos
Carência: até 3
meses;
Amortização**: até
9 meses.
ENGETEC* (FINEP) Projetos de • Com retorno
regularização de fluxo Spread (curto prazo:
financeiro em curto e Prefixada pela FINEP;
médio prazos. Médio Prazo: TJLP +
12% a.a.)
Carência (curto prazo:
4 meses; médio prazo:
6 meses);
Amortização (curto
prazo: parcela única;
médio prazo: 18 meses
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.
* ENGETEC – Apoio às Empresas de Setores Estratégicos e de Base Tecnológica.
** O prazo de amortização é contado a partir do término da carência.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 29


cont.
INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO
• Com retorno
AMPEG* (FINEP) Desenvolvimento Instrumento (produto)
Spread (TJLP + 3%
tecnológico, gestão da da FINEP voltado para
a.a.)
qualidade ambiental, as micro e pequenas
pré-investimento • Prazos empresas.
Carência: até 2
anos;
Amortização*: até 3
anos.
PATME (FINEP) Consultoria de Centros • Sem retorno Instrumento (produto)
Tecnológicos para o da FINEP voltado para
desenvolvimento e as micro e pequenas
melhoria de produtos e empresas.
processos produtivos, Complementa
garantia de qualidade e garantias necessárias
capacitação de ao projeto.
recursos humanos.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.
* Apoio às Micro e Pequenas Empresas com Fundo de Garantia de Crédito

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 30


INSTRUMENTOS DE INCENTIVO FISCAL AO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO (QUADRO 2)

INSTRUMENTOS DESCRIÇÃO OBJETIVO OPERACIONALIZAÇÃO OBERVAÇÃO


PDTI – Os PDTIs são Estimular Principais Incentivos Áreas atendidas:
PROGRAMA DE programas de investimentos Fiscais Envolvidos 1. Complexo das
DESENVOLVIMENTO capacitação tecnológ. empresariais em • Dedução de até 8% Indústrias Metalúrgicas
TECNOLÓGICO executados por uma pesquisa e do IR devido. e de Mineração
INDUSTRIAL (MCT) empresa ou por ela desenvolvimento • Isenção do IPI 2. Complexo das
incidente sobre os equip.
contratados junto a tecnológico, visando o e instrumentos destinados
Indústrias
instituições de P&D e aumento do grau de às atividades de P&D Mecânicas/Materiais de
se compõem de um competitividade das tecnológico. Transporte
conjunto articulado de empresas industriais • Depreciação acel. 3. Complexo das
linhas de pesquisa e brasileiras, mediante desses equip. e instrum. Indústrias
desenvolvimento uma estrutura • Amortiz. acelerada Eletroeletrônicas
tecnológico, visando a permanente de gestão dos dispêndios relativos à 4. Complexo das
geração de novos tecnológica. aquisição de bens Indústrias Químicas
produtos ou processos intangíveis, vinculados 5. Complexo das
ou o evidente exclusiv. às atividades de Agroindústrias
P&D tecnológico.
aprimoramento de suas 6. Complexo das
• Crédito de 50% do IR
características. na fonte e redução de Indústrias da
A legislação estabelece 50% do IOF quando da Construção
que os PDTIs podem remessa ao exterior de 7. Complexo das
ser propostos e valores resultantes de Indústrias de Bens de
executados por contratos de transf. de Consumo
empresa isolada, por tecnologia. 9. Complexo das
associações entre Dedução como despesa Indústrias de Celulose
empresas ou por operacional dos e Papel
associações entre pagamentos de royalties, 10. Desenvolvimento
empresas e instituições assistência técnica ou de Circuitos Integrados
de P&D. científica, até o limite de 11. Outros
O prazo de execução 10% da receita líquida
de um PDTI não das vendas dos bens
produzidos com essa
poderá ser superior a 5
tecnologia.
(cinco) anos.
FONTE: FAPESP; BNDES; MCT e FINEP. Elaboração Própria.
.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 31


II.2. AVALIAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE INCENTIVO E APOIO FINANCEIRO

Os anos 90 marcam um período de inflexão na política de desenvolvimento


tecnológico brasileiro. Não por acaso, parte significativa dos instrumentos de apoio foram
criados nesta década e vários dos instrumentos mais tradicionais de financiamento às
empresas, notadamente os da FINEP, experimentam um demorado processo de revisão e
reorientação.

Na base dessas mudanças estão: a percepção de que a geração de riqueza e o bem estar
social dependem cada vez mais do conhecimento; a idéia de que são as empresas os agentes
capazes de transformar ciência em riqueza; e o caráter de bem público da tecnologia,
justificando a natureza estratégica do apoio do Estado ao desenvolvimento tecnológico.

A capacitação tecnológica passa a ser vista como um elemento-chave para a


competitividade das empresas, num ambiente de rápida abertura e crescente integração da
economia brasileira à economia internacional. O desafio seria estimular a concorrência,
eliminando os fatores de proteção que haviam inibido o esforço tecnológico das empresas.
Paralelamente, seriam ampliados os recursos governamentais destinados à capacitação
tecnológica em contrapartida ao aumento mais que proporcional dos gastos privados. Esse é,
muito resumidamente, o enfoque da Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE) que,
direta ou indiretamente, tem inspirado as iniciativas das agências públicas de fomento.

Se as empresas brasileiras revelam, em sua maioria, uma limitada capacitação


tecnológica e demandam pouco da base técnico-científica nacional, esta, por sua vez
caracteriza-se pelo viés fortemente acadêmico. Evidência disso é o fato de que a quase
totalidade da atividade de pesquisa está concentrada em universidades e institutos de pesquisa
governamentais. Em decorrência, o bem sucedido esforço de criação de uma sólida base
científica, com reconhecidos núcleos de excelência, não criou, salvo em raras ocasiões,
sinergias com o sistema produtivo nacional.

Nesse quadro, compreende-se porque há um esforço não apenas para a criação e o


redesenho dos instrumentos mais tradicionais de desenvolvimento tecnológico – muitas vezes,
a partir da experiência internacional – mas para estabelecer novos conceitos e identificar as
oportunidades de atuação institucional junto às empresas ou através de parcerias envolvendo
além dessas, as universidades e os institutos de pesquisa. Note-se que esses esforços
envolvem não apenas os agentes especificamente voltados para o desenvolvimento
tecnológico – FINEP – como também agentes financeiros públicos – como o BNDES, Banco
do Brasil, BNB e BASA, entre outros – que passam a promover programas ou linhas de
financiamento com essa finalidade em seus espaços de atuação.

A falta de foco da política tecnológica e dos seus instrumentos de apoio não está,
contudo, superada. O objetivo geral de capacitação tecnológica não é capaz isoladamente de
gerar estratégias de fomento adequadas aos distintos ambientes competitivos e tecnológicos
em que as empresas se situam. Corre-se o risco de reduzir a política tecnológica a premiar os
esforços de empresas mais dinâmicas tecnologicamente, sem nenhuma capacidade de produzir
estímulos mais diretos sobre as diversas cadeias produtivas.

A partir dessas breves considerações gerais, serão avaliados os principais


instrumentos, tomando por base as informações disponíveis sobre o perfil das aplicações e os

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 32


seus resultados, além de entrevistas realizadas com dirigentes das agências envolvidas.
Inevitavelmente, o caráter mais ou menos recente de parte significativa dos instrumentos
selecionados e o horizonte de longo prazo dos investimentos nessa área limitam o esforço de
avaliação.

Apoio Financeiro – FINEP

A FINEP passa por um importante processo de mudanças desde o início dos anos 90.
Como recordam seus dirigentes, a empresa sai de uma situação de grande esvaziamento e falta
de identidade na virada da década para um papel razoavelmente ampliado nos anos seguintes,
com a PICE e o destaque conferido à capacitação tecnológica das empresas. O patrimônio
líquido salta de um patamar de cerca de US$ 27 milhões em 1992 para alcançar o nível de
US$ 403 milhões em 1997. É um crescimento expressivo em curto período de tempo. Em
conseqüência a FINEP conseguiu aumentar significativamente a sua escala de operações.

Não obstante esse período de crescimento acelerado, a FINEP não foi capaz de
reorientar a sua atuação para objetivos mais claros ou de identificar oportunidades novas –
inclusive lançando mão de parcerias com outras instituições de fomento. Persistiu a sua
tradicional atuação de balcão, com o agravante da abertura excessiva do seu leque de atuação
e conseqüente diluição dos seus objetivos.

De acordo com a visão dos atuais dirigentes da empresa, a a orientação a ser seguida é
trabalhar com os conceitos de desenvolvimento tecnológico/inovação e de aperfeiçoamento. O
foco passa a ser a empresa, ainda que em esforços associados às universidades e aos institutos
de pesquisa. O desafio é transformar a FINEP numa agência de governo indutora de
transformação nas empresas, atuando de uma maneira menos padronizada e mais adaptada ao
perfil do cliente.

Do ponto de vista do IEDI, o objetivo de dinamizar o desenvolvimento tecnológico do


País na primeira década do novo século pressupõe a redinamização da FINEP, bem como as
reorientações acima sumariadas na sua atuação.

Evidentemente, o novo enfoque requer uma ação mais ativa por parte da instituição,
ou seja, buscar os clientes com maiores potencialidades. Para esse fim, a FINEP pretende
utilizar os seus representantes em todas as Federações de Indústria e/ou no IEL – Instituto
Euvaldo Lodi, de cada estado. São os denominados Promotores, que têm um importante papel
prospectivo a realizar. Isso daria à FINEP uma vantagem comparativa sobre o BNDES. Dessa
forma seria possível a apresentação de uma política mais clara, induzindo determinados
aspectos, por meio da divulgação para as empresas.

Não parece, contudo, possível atuar com o foco pretendido sem clareza dos problemas
e formas de atuação setorial. Os dirigentes julgam necessário antes elaborar um diagnóstico
para extrair as grandes sinalizações ou prioridades. A rede de informações seria fundamental
dentro desse enfoque. A FINEP propõe-se a fazer uma “aposta” na identificação de empresas
de diversos setores com uma visão de fato inovadora para a promoção de um apoio mais
integral à expansão da empresa.

Nesse sentido, a FINEP nas Políticas Operacionais que definiu em agosto de 1999,
conceituou os “clientes base FINEP”, como os clientes de interesse central para a instituição.
Seriam empreendedores e empresas com as seguintes características alternativas: dedicadas às

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 33


tecnologias novas, emergentes de base tecnológica, instaladas em parques tecnológicos e
incubadas de base tecnológica. Para esses “clientes base FINEP” foi definida uma linha de
ação “integral”, envolvendo o apoio a praticamente todo o conjunto de atividades ou etapas do
processo de desenvolvimento empresarial:

• Realização de planos de negócios e investimentos em gestão empresarial, tecnológica,


ambiental e de qualidade.
• Apoio a investimento para implantação e ampliação de unidades produtoras.
• Apoio ao aperfeiçoamento e desenvolvimento de processos, produtos e mercados,
incluindo participação em feiras e eventos tecnológicos no país e no exterior.
• Apoio à infra-estrutura de P&D.

A concepção de “cliente base FINEP” é inovadora porque ajuda a focalizar a sua


atuação e porque introduz uma modalidade nova de pareceria público – privado.

Uma outra iniciativa inovadora está na nova relação com microempresas. A novidade
do enfoque é a atuação da FINEP a partir da identificação dos sistemas locais de inovação. O
investimento deverá ocorrer na cadeia produtiva, sempre associado ao aspecto da tecnologia,
sob o ponto de vista da inovação.

Uma atuação mais destacada da FINEP no apoio ao desenvolvimento tecnológico


brasileiro supõe a ampliação da escala de operações da empresa. Em primeiro lugar, os
dirigentes da empresa chamam atenção para os ativos, da ordem de R$ 1,4 bilhão, que
representam receitas suficientes para uma independência em relação ao Tesouro. A FINEP
deverá procurar recursos de empréstimos, por exemplo oriundos do FND e BNDES. A
parceria entre FINEP e BNDES é vista como uma grande oportunidade para alargar a base de
recursos e o alcance dos programas. Nesse caso, a atuação dar-se-ia com base numa política
de desenvolvimento tecnológico, mas com os instrumentos da FINEP.

A revisão da atuação de fomento da FINEP ainda não ultrapassou um nível mais


conceitual, embora a sintonia dos instrumentos com as novas orientações seja fundamental
para atingir os objetivos fixados. Já existem algumas idéias preliminares, por exemplo,
conceder pacotes integrados de instrumentos aos clientes mais promissores e integrar os
instrumentos voltados para a melhoria da qualidade aos objetivos da política tecnológica.

Desta forma, a partir de 1999, pode-se afirmar que a FINEP passou a operar de forma
diferente. De acordo com a atual configuração, são as seguintes as suas principais linhas de ação:

• Apoio Integral a Clientes-Base FINEP


• FINEP Tecnologia
• FINEP Pré-investimento
• FINEP Social

Há, ainda, linhas acessórias destinadas a atender a necessidades suplementares dos


clientes da FINEP, decorrentes de suas estratégias de inovação e desenvolvimento
tecnológico. Essas linhas são, preferencialmente, associadas às linhas FINEP Integral e
FINEP Tecnologia. São elas: FINEP Gestão e FINEP Educação.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 34


A seguir, detalham-se as características das principais linhas de financiamento da
FINEP voltadas à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

LINHAS DE
CONDIÇÕES DE
FINANCIAMENTO OBJETIVO ITENS FINANCIÁVEIS
FINANCIAMENTO
Apoio Integral a Apoiar a viabilização de - projeto de engenharia - Financiamento
Clientes Base- empreendimentos de base - obras civis convencional
FINEP tecnológica, abrangendo o - máquinas, equipamentos e - Financiamento de
financiamento de: instrumentos retorno variável
- planos de negócios e - montagem - Aporte de capital
investimentos em gestão - instalações - Apoio financeiro
empresarial, tecnológica, - patenteamento não-reembolsável
ambiental e da qualidade - licenciamento - Concessão de Fiança
- investimentos para a - compra de tecnologia ou Aval
implantação e ampliação de - equipes envolvidas com o
unidades produtoras de bens e projeto Cada projeto tem uma
serviços - matéria-prima condição específica,
- aperfeiçoamento e - treinamento no País e no sendo resultado do
desenvolvimento de processos, exterior uso múltiplo das
produtos e mercados (inclui o - diárias e passagens no País e possibilidades acima
apoio a participação dessas exterior
empresas em feiras e eventos - assistência técnica e serviços
tecnológicos no País e no de consultoria
exterior) - aluguel de estande, material
- infra-estrutura de P&D promocional e outros itens
necessários à participação em
feiras e eventos tecnológicos
- capital de giro inicial e
adicional associado
Apoiar projetos de P&D de - patenteamento - Financiamento
FINEP Tecnologia empresas e organizações gov e - licenciamento convencional
não governamentais de caráter - compra de tecnologia - Financiamento de
científico ou tecnológico, - equipes envolvidas com o retorno variável
visando o financiamento de: projeto - Aporte de capital
pesquisas básica e aplicada, - equipamentos e instrumentos - Apoio financeiro
desenvolvimento exp, serviços - matérias-primas não-reembolsável
científicos e tecnológicos e - treinamento no País e no - Concessão de Fiança
documentação téc e científica; exterior ou Aval
serviços de consultoria das - diárias e passagens no País e
universidades e centros de exterior Cada projeto tem uma
pesquisa para PMEs - assistência técnica e serviços condição específica,
enquadráveis pela FINEP; de consultoria sendo resultado do
aperfeiçoamento e desenv de - obras civis diretamente uso múltiplo das
processos e produtos e associadas ao projeto possibilidades acima
comercialização pioneira; - aluguel de estande, material
adaptação de produtos, promocional e outros itens
processos ou tecnologia necessários à participação em
importada às condições locais; feiras e eventos tecnológicos
compra no País ou no exterior
de tecnologias de produtos,
processos e serviços;
fortalecimento de equipes
dedicadas ao desenv e/ou à
adaptação de tecnologias;
implantação, expansão e
equipamentos de centros de
pesquisa tecnológica

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 35


CONDIÇÕES DE
LINHAS DE OBJETIVO ITENS FINANCIÁVEIS
FINANCIAMENTO
FINANCIAMENTO
Apoiar os usuários de serviços - serviços de engenharia - Financiamento
FINEP Pré- de engenharia consultiva, consultiva convencional
Investimento
visando o financiamento de: - equipe técnica própria - Financiamento de
- planos diretores e estudos associada ao projeto retorno variável
setoriais - diárias e passagens no País e - Aporte de capital
- estudos de viabilidade téc, exterior - Apoio financeiro
econômica e ambiental - outras despesas, tais como não-reembolsável
levantamento de dados para os locação de equipamentos e - Concessão de Fiança
projetos básico e executivo instrumentos de escritório e de ou Aval
- estudos e projetos visando a campo, serviços gráficos,
modernização e/ou – acesso a banco de dados etc. Cada projeto tem uma
ampliação de capacidade condição específica,
técnica, administrativo- sendo resultado do
produtiva ou operacional uso múltiplo das
- estudos e projetos para possibilidades acima
otimização de consumo de
energia
- estudos e projetos de gestão
ambiental
- projetos de certificação de
qualidade e certificação
ambiental

CRITÉRIOS DE QUALIFICAÇÃO (PARA AS TRÊS LINHAS):

Na análise de operações com as empresas, a concessão dos financiamentos leva em


consideração os seguintes critérios:

- Grau de incremento tecnológico associado


- Impacto na competitividade global da empresa
- Relação risco/rentabilidade
- Impacto em sistemas locais de inovação e/ou cadeias produtivas relevantes
- Impacto social e ambiental
- Articulação com instituições nacionais de pesquisa.

Na análise de operações com as universidades e centros de pesquisa, as prioridades da FINEP


atendem aos critérios de:

- Vinculação com demandas tecnológicas de clientes base FINEP


- Relevância econômica do conhecimento gerado
- Importância estratégica do conhecimento gerado
- Impacto em sistemas locais de inovação e/ou cadeias produtivas relevantes
- Articulação com outras instituições nacionais de pesquisa, com o setor produtivo e
com outros agentes sociais

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 36


Capital de Risco – BNDES/CONTEC

Por se tratar de um instrumento relativamente novo, o BNDES ainda não fez uma
avaliação sistemática do CONTEC (Condomínio de Capitalização de Empresas de Base
Tecnológica). Pela natureza da atividade de capital de risco, os empreendimentos deste tipo de
operação apresentam risco superior à média e uma expectativa de elevado retorno sobre os
investimentos. A mortandade de empresas é alta: apenas 10 a 20% dos investimentos
alcançam a rentabilidade esperada; cerca de 50% têm retorno pouco expressivo; 20 a 30%
resultam em perda total.

Evidentemente, é necessário procurar formas de operação novas, radicalmente


distintas dos financiamentos tradicionais, destacando-se: i) a identificação das empresas com
potencial de sucesso por meio de uma certa expertise técnica; ii) a diluição dos riscos através
da composição de carteiras, nas quais poucos investimentos de sucesso asseguram
remuneração satisfatória para toda a carteira; iii) o acompanhamento e assessoramento não-
financeiro das empresas, principalmente as mais jovens.

Essa abordagem operacional exige uma postura pró-ativa por parte do investidor,
incompatível com o tradicional apoio “de balcão”, no qual o agente financeiro limita-se a
analisar as propostas recebidas. O Banco confirma essa preocupação, quando insiste na sua
atuação de fomento na identificação de empresas com potencial de investimento. Trata-se de
uma atuação de criação de competências.

A identificação de oportunidades nesse campo requer a construção de amplas parcerias


de longo prazo com empreendedores, tecnólogos e outros agentes de fomento ao
desenvolvimento tecnológico com a finalidade de troca permanente de informações, culturas e
experiências e para o amadurecimento das formas de apoio. Para os especialistas em capital
de risco, freqüentemente o apoio do investidor representa um “selo de aprovação” para as
novas empresas que precisam estabelecer relações com fornecedores, instituições financeiras
e outras empresas.

O problema da liquidez e adequada remuneração dos recursos investidos nessa


modalidade é um dos grandes desafios para a consolidação do capital de risco no País. A
possibilidade de realização de ganhos de capital é fundamental não apenas para compensar os
riscos do investidor, mas também para permitir o crescimento da atividade de risco,
garantindo a sua sustentação no longo prazo. O restrito mercado de capitais brasileiro
representa um fator de desestímulo para a atividade, oferecendo enormes dificuldades para a
negociação de ações de empresas de segunda linha.

A excepcionalidade do aporte de recursos não exigíveis do CONTEC, dentro desse


quadro adverso, deriva da sua vinculação a um banco de desenvolvimento estatal e da
disponibilidade de recursos de longo prazo com custos compatíveis às suas aplicações. Não
obstante, o BNDES tem introduzido modificações na engenharia financeira das operações,
procurando formas alternativas de assegurar a liquidez e a remuneração dos seus
investimentos, respeitadas as particularidades das operações de risco. É esse o sentido da
crescente substituição, ao longo do tempo, dos investimentos de participação acionária pelas

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 37


debêntures conversíveis.1 Adicionalmente, para contornar a incompatibilidade entre a
remuneração fixa e os riscos assumidos, passou-se a estipular um prêmio com base nos lucros
a serem auferidos, com o objetivo de garantir uma remuneração mais satisfatória em caso de
sucesso da empresa.

Quando foi observado o tema do financiamento do investimento industrial observamos


que a experiência internacional mostra também a importância dos mecanismos regulatórios e
fiscais para o desenvolvimento da atividade de capital de risco. O estabelecimento dos
chamados mercados de acesso, à semelhança da Nasdaq americana, a constituição de fundos
de empresas emergentes, a atração dos investidores institucionais para essas aplicações, e a
redução dos impostos sobre os ganhos de capital para estes investimentos são exemplos de
medidas de estímulo ao capital de risco no Brasil. Só muito recentemente, algumas dessas
iniciativas foram introduzidas no País.

Em função dos riscos associados ao investimento em empresas em estágio de


concepção e start up, o BNDES tem concentrado as suas operações no estágio
intermediário. Deixa-se, com isso, de atender aos requisitos de financiamento das
iniciativas menos maduras e de maiores potencialidades de retorno. As necessidades muito
peculiares dessas empresas amplia os requerimentos de conhecimentos técnicos
especializados e cria oportunidades para a especialização de outros investidores de risco
nesse segmento, que operem numa escala distinta do BNDES e reunam uma capacitação
técnica específica.

Em síntese, a atividade de capital de risco ainda é muito incipiente no Brasil. Não


apenas o CONTEC atinge um número limitado de empresas com perspectivas de dinamismo
tecnológico, como não atende a todo o espectro de PMEs de base tecnológica.

Incentivos Fiscais

Analogamente ao investimento de risco, os programas de incentivos fiscais para a


capacitação tecnológica da indústria são muito recentes. Uma vez que o prazo de concessão
dos benefícios vai de quatro a cinco anos, e, ainda, que a maioria dos PDTIs (Programas de
Desenvolvimento Tecnológico Industrial) foram iniciados depois de 1996, apenas no início
desta década os seus resultados devem ser mais visíveis.2

A lei que regula a concessão de incentivos fiscais ao desenvolvimento tecnológico é a


Lei n.º 8.661, de 2 de junho de 1993, que define em seu artigo 4º:

Às empresas industriais e agropecuárias que executarem PDTI ou PDTA poderão ser


concedidos os seguintes incentivos fiscais, nas condições fixadas em regulamento:

I – dedução, até o limite de oito por cento do Imposto de Renda devido, de valor
equivalente à aplicação de alíquota cabível do Imposto sobre a Renda à soma dos dispêndios,
1
Essas debêntures têm, em geral, carência de dois anos e resgates progressivos ao longo de quatro anos,
podendo, nesse período, ser convertidas em ações da empresa em qualquer momento. As suas vantagens são:
permitir melhor visibilidade do investimento, prazo maior para decisão sobre a conversão e oferecer uma
alternativa adicional de liquidez para os investimentos.
2
Os PDTIs se inserem nas ações do PACTI – Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria,
programa gerido pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico do MCT, que tem por objetivo apoiar,
orientar e articular as ações relativas à capacitação tecnológica da indústria, visando aumentar a competitividade
dos bens e serviços produzidos no País.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 38


em atividades de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico, industrial e agropecuário,
incorridos no período-base, classificáveis como despesa pela legislação desse tributo ou como
pagamento a terceiros, na forma prevista no parágrafo único do art. 3º, podendo o eventual
excesso ser aproveitado nos dois períodos-base subseqüentes;

II – redução de cinqüenta por cento da alíquota do Imposto sobre Produtos


Industrializados, prevista na Tabela de Incidência do IPI –TIPI, incidente sobre equipamentos,
máquinas, aparelhos e instrumentos, bem assim sobre os acessórios sobressalentes e
ferramentas que acompanhem esses bens, destinados à pesquisa e ao desenvolvimento
tecnológico;

III – depreciação acelerada, calculada pela aplicação da taxa de depreciação


usualmente admitida, multiplicada por dois, sem prejuízo da depreciação normal das
máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos novos, destinados à utilização nas
atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico industrial e agropecuário, para efeitos
de apuração do Imposto de Renda;

IV – amortização acelerada, mediante dedução como custo ou despesa operacional, no


exercício em que forem efetuados, dos dispêndios relativos à aquisição de bens intangíveis,
vinculados exclusivamente às atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico industrial
e agropecuário, classificáveis no ativo diferido do beneficiário, para efeito de apuração do
Imposto de Renda;

V – crédito de cinqüenta por cento do Imposto de Renda retido na fonte e redução de


cinqüenta por cento do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativos a
Títulos e Valores Mobiliários, incidentes sobre os valores pagos, remetidos ou creditados a
beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, a título de “royalties”, de assistência
técnica ou científica e de serviços especializados, previstos em contratos de transferência de
tecnologia averbados nos termos do Código da Propriedade Industrial;

VI – dedução, pelas empresas industriais e/ou agropecuárias de tecnologia de ponta ou


de bens de capital não seriados, como despesa operacional, da soma dos pagamentos em
moeda nacional ou estrangeira, a título de “royalties”, de assistência técnica ou científica, até
o limite de dez por cento da receita líquida das vendas dos bens produzidos com a aplicação
da tecnologia objeto desses pagamentos, desde que o PDTI ou o PDTA esteja vinculado à
averbação de contrato de transferência de tecnologia, nos termos do Código da Propriedade
Industrial.

O desempenho dos PDTIs esta sendo fortemente afetado por uma outra lei aprovada
em dezembro de 1997, como uma das medidas de contenção de gastos do “pacote” para
enfrentar a crise nos países asiáticos. O principal benefício concedido às empresas em
contrapartida ao seu esforço de capacitação tecnológica foi reduzido pela metade. A dedução
do IR devido em contrapartida dos investimentos em P&D das empresas caiu de 8% para 4%.
Porém, como esta dedução deve ser somada ao abatimento previsto na Lei do Programa de
Alimentação do Trabalhador, que também tem o teto máximo de 4%, na prática, o novo limite
comprometeu seriamente o benefício para a área tecnológica. Note-se que antes mesmo das
novas restrições, o total dos incentivos concedidos pelo MCT, ano a ano, ficava abaixo dos
montantes aprovados no orçamento de renúncia fiscal da União, indicando que as empresas já
não conseguem usufruir dos benefícios da Lei n.º 8.661/93, face às restrições impostas por
seus próprios mecanismos.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 39


Os impactos mais recentes causados pela mudança da legislação já foram sentidos no
ano de 1998, em termos da reduzida demanda por informações sobre a legislação (junto ao
MCT e às Agências Credenciadas) e no número menor de propostas apresentadas ao MCT. O
valor dos investimentos aprovados em 1998 só foi superior ao ano anterior, porque previa
elevados dispêndios de duas grandes empresas da área de energia (Petrobrás e COPEL), no
montante de R$ 547 milhões.

O grau de utilização dos incentivos fiscais voltados ao desenvolvimento tecnológico


ainda é muito baixo, seja pelo desconhecimento das empresas, seja porque o nível dos
incentivos não é compatível com o exigido para os investimentos em P&D. Um estudo de
1995 mostra como as empresas que investem relativamente menos em P&D e pertencem a
setores tecnologicamente mais maduros são as mais beneficiadas pelos incentivos, em
detrimento das mais dinâmicas tecnologicamente. Isso ocorre porque o principal incentivo
previsto na Lei , a dedução do IR, estava limitado a 8% do lucro tributável (hoje 4%). Assim,
o impacto dos incentivos cresce com a rentabilidade das empresas, principalmente se
investirem pouco em P&D.

Essa avaliação é corroborada pela utilização dos dispositivos de renúncia fiscal: a


dedução do IR é pleiteada por 67% dos programas aprovados; a depreciação acelerada
vem em seguida (18%); o crédito do IR na fonte (9%); e a isenção do IPI (6%). A
amortização acelerada teria sido utilizada em menos de 1% dos programas e a dedução de
tecnologia de ponta ou de bens de capital não-seriados como despesa operacional nunca
foi pleiteada.

A concentração dos incentivos concedidos na Lei na dedução do imposto de renda


também reduz o seu alcance junto às empresas de menor porte. Em geral, essas empresas têm
pouco IR a receber em restituição. Por essa razão, os PDTIs são inequivocamente viesados
para as empresas de grande porte.

A experiência internacional mostra que as chances de sucesso dos incentivos fiscais e


creditícios para o desenvolvimento tecnológico crescem significativamente com a sua
aplicação articulada a outros instrumentos. Dessa forma, as políticas de desenvolvimento
tecnológico são integradas com a política industrial geral, com os programas estratégicos e
com setores específicos da indústria. No Brasil, a Lei de incentivos aparece como um
instrumento isolado, desvinculado de outras políticas e instrumentos. A sua concessão atende
à demanda espontânea das empresas, sem alcançar especificamente as empresas mais
dinâmicas tecnologicamente ou com maiores potencialidades inovadoras. A revisão dos
incentivos ao setor coloca-se como uma decisiva e preliminar providência para a alavancagem
do desenvolvimento tecnológico na próxima década.

PITE/PIPE – FAPESP

Com os dois Programas da FAPESP já mencionados, a FAPESP procura


redimensionar a sua atuação, aproximando-se das empresas e utilizando a sólida base técnico-
científica disponível no Estado.

Um aspecto central define os dois Programas. Esses não foram desenhados de forma a
trazer a demanda das empresas para dentro das universidades e dos institutos de pesquisa.
Procuram estimular o desenvolvimento de esforços por parte das empresas, aproveitando o

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 40


conhecimento próprio acumulado, além de seus recursos humanos qualificados e a infra-
estrutura de pesquisa.

O programa prevê uma contrapartida de recursos das empresas aos gastos realizados
pela Fundação nas universidades e centros de pesquisa. Os gastos empresariais representam
um compromisso mais efetivo das empresas com o desenvolvimento dos projetos aprovados.

Aqui, mais uma vez, deve-se chamar atenção para o reduzido tempo de operação dos
instrumentos para avaliações mais abrangentes. Os dois Programas parecem, no entanto,
adequados à experiência acumulada pelo agente de fomento e são particularmente favorecidos
pelo fato de que em São Paulo concentra-se parcela expressiva da base técnico-científica e
industrial.

II.3. ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS SELECIONADOS

Instrumentos de Financiamento

Como as novas políticas operacionais da FINEP são muito recentes, ainda não se
dispõe de informações mais precisas sobre os resultados alcançados. Dessa forma, a avaliação
que se segue mantém a antiga estruturação da FINEP, conforme apresentado em item anterior.

A FINEP possui um leque bastante extenso de instrumentos de apoio ao


desenvolvimento tecnológico. O principal deles é o ADTEN, uma espécie de programa
“guarda-chuva” para distintas atividades operacionalizadas pela empresa. O ADTEN
respondeu por apenas 75 das 792 (menos de 10%) contratações realizadas em 1998, contudo,
o valor dessas contratações correspondeu a R$ 181,2 milhões, cerca de 44% do total.

O segundo instrumento é o AGQ – Apoio à Gestão da Qualidade – responsável por 49


contratações e 18% do total de contratações. Observe-se que, não obstante a importância das
operações do AGQ na carteira da FINEP, o instrumento não se enquadra numa definição mais
precisa de instrumento de desenvolvimento tecnológico, principalmente na forma isolada
como é tradicionalmente operado.

Somados, o ADTEN e o AGQ representaram, em 1998, 62% das contratações da


FINEP, em termos de valor. Os 38% restantes foram distribuídos entre todos os demais
instrumentos.

Os retornos de financiamentos e os empréstimos correspondem a uma fração crescente


das fontes da FINEP, em comparação aos recursos do Tesouro. De acordo com dados da
empresa, foram liberados para investimento no período 1991-98 recursos da ordem de R$ 1,8
bilhão, sendo que os retornos de financiamentos, no mesmo período, atingiram o nível de
R$ 1,1 bilhão.

A relação dos projetos da carteira de aplicações da FINEP indica uma atuação bastante
difusa e pouco focada nas empresas. Não estão disponíveis informações mais sistematizadas
sobre esses projetos apoiados, de forma a possibilitar traçar um perfil regional e setorial das
aplicações e, mais importante, ter uma noção mais clara dos seus resultados.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 41


FINEP - Quadro de Contratações por Instrumento
Quantidade e Valor em R$ / 1998

Instrumentos Quant. Valor

ADTEN 75 181.176.154,12
AGQ – Apoio à Gestão da Qualidade 49 74.817.999,60
PROEDUC – Programa de Educação para a Competitividade 4 3.858.719,00
AUSC – Apoio aos Usuários de Serviços de Consultoria 7 12.260.507,98
FINEP-VERDE 3 8.909.019,80

ENGETEC (Curto Prazo) 4 364.699,20


ENGETEC (Longo Prazo) 4 11.768.000,00

AMPEG – Apoio à Micro e Pequena Empresa 173 23.562.246,42


PATME - Programa de Apoio Tecnológico à Pequena e Micro Empresa 1 5.000.000,00
FETEC – Feira e Eventos Tecnológicos 6 729.500,00

FNDCT (com retorno) 2 108.337,00


Linha de Crédito 2 4.050.568,00
ADCT/PADCT 27 6.327.014,04
ASE/FNDCT – Apoio a Seminários e Eventos 145 3.287.492,40
MINC (com retorno) 25 1.922.018,83
PPG7 – Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais 54 5.829.006,00
PRÓOZON – Proteção à Camada de Ozônio 4 303.493,45

Agente Financeiro 1 2 22.000.000,00


TOTAL 792 411.773.371,28

Fonte: FINEP – Uma década de Inovação. Dezembro 1998.


1
Nota: Refere-se a convênio/contrato global para beneficiar diversas empresas.

A perspectiva é que com as novas políticas operacionais da FINEP a ênfase nos


conceitos de desenvolvimento tecnológico/inovação, o foco passando a ser a empresa ou o
“cliente base”, o enfoque prioritário da ótica da demanda tecnológica, possam contribuir para
que a FINEP assuma nos próximos anos um papel mais ativo e indutor do desenvolvimento
tecnológico para a transformação das empresas.

Finalmente, o comentário muito importante sobre o custo financeiro dos projetos


apoiados pela FINEP. O custo, que em geral é composto da TJLP mais um spread, é, por
qualquer critério, incompatível com projetos desse tipo, um fato que é de pleno conhecimento
dos administradores da instituição, assim como dos técnicos e responsáveis em geral por
programas de apoio ao desenvolvimento tecnológico em todo o País.

No que diz respeito ao spread, a FINEP anunciou uma redução, o que colabora para
reduzir o custo dos recursos para o tomador. Mesmo assim, o custo final continuará alto já
que a captação – sobre a qual incide a TJLP – é cara. A questão não está no diagnóstico, mas
sim nas ações possíveis para solução do problema. Já que não há fonte alternativa de recursos
para essa atividade no sistema financeiro doméstico, e nem sequer é possível atinar com a
possibilidade de acesso a fontes privadas externas para esse fim, a solução necessariamente
passa pela ação do setor público. Uma alternativa seria através de uma espécie de equalização
de taxas com recursos do orçamento fiscal, de modo a que, à semelhança do PROEX, a taxa

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 42


final pudesse se situar a um nível compatível com o investimento em desenvolvimento
tecnológico, como 6% reais a.a. O problema seria transferido, nesse caso, para o orçamento
fiscal com as limitações conhecidas do atual momento pelo qual passam as contas públicas. A
outra alternativa seria flexibilizar o custo dos recursos obtidos pela FINEP junto ao BNDES e
ao FAT, de modo a que seja possível a mobilização de recursos com custo inferior à TJLP,
uma outra solução que tampouco é trivial. Todavia, com os recém propostos fundos setoriais
pode haver um melhor encaminhamento deste problema.

Capital de Risco

A análise do desempenho dos mecanismos de capital de risco, tanto no que diz


respeito aos resultados econômicos, como aos seus impactos sobre as empresas apoiadas,
ainda é muito limitada, tendo em vista que as iniciativas nesse campo são relativamente
recentes no País e as operações têm um largo horizonte. Recorde-se que o principal programa
dessa natureza, o CONTEC, data de 1991. A própria institucionalização das sociedades de
capital de risco com tratamento fiscal diferenciado é de 1986.

Note-se, ainda, que até meados de 1994, o ambiente macroeconômico brasileiro foi
marcado pela forte instabilidade associada às elevadas taxas de inflação, às altas taxas de
juros e, de forma geral, às grandes incertezas que dificultavam as decisões de investimento de
mais longo prazo. Esse quadro desestimulou particularmente a ampliação dos mecanismos de
capital de risco como modalidade de apoio financeiro, face às alternativas de elevado retorno
em aplicações de baixo risco.

Distribuição Setorial da Carteira do CONTEC


por Número de Empresas e por Valor Investido – % do total

33 33

30

14 14

10 10 10 10
9
8

5 5
4 4
3

Informática Telecom. Microeletron. Software Biotecnol. Prod. Reciclados Química Prod. Ecol.

No. de Empresas Valor Investido

Fonte: Gorgulho (1997).

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 43


Traçando um breve perfil do programa CONTEC, pode-se dizer, em primeiro lugar,
que a distribuição espacial das suas operações confirma o forte fator de atração dos pólos
tecnológicos para o surgimento de empresas de base tecnológica. Em muitos casos, essas
empresas foram resultado de spin-offs de universidades (Altus, Embrabio, Asga, Light-
Infocon) ou de grandes empresas (Autel, Nutec). Em alguns, as empresas foram formadas em
incubadoras: Bematech e Quiral.

Em segundo lugar, os critérios de enquadramento para as empresas apoiadas –


definição de empresa de base tecnológica – explicam a distribuição setorial da carteira,
apresentada no quadro abaixo. É nítida a concentração das empresas em setores
tecnologicamente avançados, que estimulam o estabelecimento e o desenvolvimento de
pequenas e médias empresas de base tecnológica. Esses setores são: informática, software e
equipamentos e sistemas para telecomunicações.

Por fim, no que diz respeito ao estágio de desenvolvimento, observa-se uma


concentração dos investimentos nos estágios intermediários de desenvolvimento das
empresas, com destaque para os investimentos de terceira fase, com 42% do número de
operações e 53% do valor investido. O investimento é muito inferior em empresas no estágio
de start up (25% das empresas e 16% do valor) e inexistente nos muito embrionários (seed
money). Também não aparecem investimentos em estágios avançados, em grande parte, pela
limitação de porte das empresas.

Distribuição das Empresas da Carteira do CONTEC


por Número de Operações e por Valor Investido

53

42

25 25

21

16

4 4
3

Start-up 1a. Fase 2a. Fase 3a. Fase Mezzanino

No. De Operações Valor Investido

Fonte: Gorgulho (1997).

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 44


De forma geral, a atuação do CONTEC volta-se para empresas com certo grau de
maturidade, que apresentam melhores condições de eficiência (capacidade empresarial,
econômica, tecnológica e de gestão) e perspectivas de retorno do investimento mais
adequadas aos riscos do empreendimento. Em conseqüência, as PME de base tecnológica em
estágios menos maduros (concepção e desenvolvimento inicial) são menos contempladas,
pelo risco que oferecem.

Embora os impactos do CONTEC ainda sejam pequenos, o programa revela as


potencialidades da utilização do capital de risco para o desenvolvimento tecnológico. No seu
caso específico, a disponibilidade de recursos de longo prazo e custo baixo, dentro do modelo
mais geral do BNDES, resulta em vantagens específicas para o programa.

As empresas que compõem a carteira respondem, em conjunto, por mais de US$ 130
milhões de faturamento e por cerca de 1.700 empregos diretos. Outro aspecto importante
refere-se aos diversos produtos desenvolvidos por essas empresas, que constituem inovações
significativas, até mesmo em nível mundial. Destacam-se os exemplos da Bio Fill e da
Relastomer.

Outros produtos refletem os esforços de adaptação de tecnologias já desenvolvidas


para uso em condições específicas no País, com os evidentes benefícios não apenas para a
empresa envolvida, mas também para a mão-de-obra treinada e para o rejuvenescimento da
estrutura industrial.

Do lado das empresas apoiadas, não há levantamentos sistematizados, mas há


estimativas de que os investimentos realizados com o concurso do capital de risco elevaram
significativamente o seu faturamento.

O que é inegável é que os recursos do CONTEC representaram uma alternativa única para
a maior parte das empresas da carteira, seja porque os agentes financeiros não têm demonstrado
interesse em financiá-las, seja porque elas não teriam como apresentar garantias reais.

Incentivos Fiscais

O início da utilização dos incentivos fiscais como instrumento de promoção ao


desenvolvimento tecnológico do setor produtivo brasileiro é o ano de 1988, dentro do quadro
da chamada “Nova Política Industrial”, embora possam ser identificadas algumas iniciativas
anteriores, porém desarticuladas. Menos de dois anos depois, o Governo Collor de Mello
extinguiria todos os incentivos e subsídios em vigor.

Os atuais incentivos fiscais foram aprovados em 1993 e só no ano seguinte começaram


a ser aprovados os Programas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial – PDTI. Entre a
versão de 1988 e a atual, observa-se uma diferença importante quanto ao conceito de
capacitação tecnológica, que passa a compreender não apenas os esforços de desenvolvimento
próprios, mas também a seleção, o licenciamento, a absorção, a adaptação, o aperfeiçoamento
e a difusão de tecnologias nacionais ou importadas. O novo enfoque decorre da maior ênfase
ao processo de abertura da economia brasileira dentro da estratégia de aprofundar a sua
inserção na economia internacional, de acordo com o desenho da “Política Industrial e de
Comércio Exterior” de 1991.

Os 89 PDTIs aprovados até o final de 1998, com investimentos previstos até o ano de
2003, somam, em todo o período, mais de R$ 2,7 bilhões de gastos das empresas e cerca de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 45


R$ 869 milhões de incentivos fiscais. Em termos agregados, para cada Real de renúncia fiscal
prevê-se R$ 3,18 de investimentos, embora haja variações importantes entre os setores
contemplados. Em termos do perfil dos Programas aprovados, pode-se observar a seguinte
distribuição setorial.

Distribuição Setorial dos Programas Aprovados para o Período 1994-2003

Setores Programas Investimento Incentivos Investimentos/


(Quantidade) (R$ Milhões) (R$ Milhões) Incentivos

Metalúrgico 10 285,70 92,30 3,10


Mecânico 21 695,90 168,90 4,12
Eletroeletrônico 16 741,40 149,20 4,97
Químico 26 745,10 374,50 1,99
Papel e Celulose 2 24,10 6,80 3,54
Agroindustrial 4 71,90 28,90 2,49
Bens de Consumo 7 178,40 44,40 4,02
Ind. Construção 2 8,60 2,10 4,10
Outros 1 11,40 2,40 4,75
Total 89 2.762,50 869,50 3,18

Fonte: MCT; dados até o final de 1998.

Juntos, os setores metalúrgico, mecânico, eletroeletrônico e químico representam 82%


do número de programas aprovados, 89% dos investimentos previstos e 90% dos benefícios
fiscais associados.

Há uma forte concentração de Programas e das empresas participantes na região


Sudeste do País, uma vez que o parque industrial brasileiro concentra-se nessa região, assim
como as empresas de maior porte.

Considerando os investimentos efetivamente realizados e os incentivos fiscais


usufruídos, no período de 1994 a setembro de 1998, nota-se a seguinte distribuição.

Investimentos Realizados e Incentivos Usufruídos no Período de 1994 a Setembro de 1998

Setores Programas Investimentos Incentivos Investimentos/


(Quantidade) (R$ Milhões) (R$ Milhões) Incentivos

Metalúrgico 10 86,37 13,88 6,22


Mecânico 21 168,14 23,94 7,02
Eletroeletrônico 16 148,29 8,13 18,24
Químico 26 98,69 5,64 17,50
Papel e Celulose 2 7,41 1,08 6,86
Agroindustrial 4 18,21 2,09 8,71
Bens de Consumo 7 55,60 6,9 8,06
Ind. Construção 2 0,77 0,07 11,00
Outros 1 1,06 0,01 106,00
Total 89 584,54 61,74 9,47

Fonte: MCT; dados até o final de 1998.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 46


Note-se que a relação entre os investimentos efetivamente realizados pelas empresas e
os benefícios fiscais de que usufruíram, no período acima, alcança o nível de 9,47, muito
superior à previsão média de R$ 3,18 de investimento para cada Real de renúncia fiscal. Essa
diferença estaria refletindo as dificuldades que as empresas enfrentam para utilizar
integralmente os benefícios concedidos.

Outra constatação importante refere-se à predominância das empresas de médio e


grande porte na solicitação dos benefícios fiscais dos PDTIs. Isso se deve ao fato de os
incentivos concedidos estarem muito concentrados na dedução do Imposto de Renda,
reduzindo as possibilidades de acesso das micro e pequenas empresas que, em geral, têm
pouco imposto de renda a receber.

Em pesquisa relativamente recente junto a uma amostra das empresas beneficiadas


(Fundação Dom Cabral, 1998), todas declararam desenvolver atividades de P&D e programas de
qualidade e produtividade, possuir certificação segundo as normas internacionais ISO-9000 e
investir em treinamento de pessoal. Os gastos correntes e de capital em P&D como proporção do
faturamento das empresas da amostra atingiram, em média, 0,93%, no período 1994-96. Esse
percentual não seria muito diferente da média brasileira, estimada em 0,7%, mas apresenta uma
tendência ascendente.

De acordo com o mesmo estudo, os gastos em P&D cresceram 40% entre 1994 e 1995 e
34%, entre 1995 e 1996, possibilitando a geração de novos produtos e processos. Isso explicaria
os aumentos expressivos no faturamento declarado pela maioria das empresas, entre 30 e 50%.

Finalmente, tendo em vista que os programas têm prazos que variam de um a cinco
anos – com a média situada em torno de quatro anos – e que os investimentos têm sido
maiores entre o período intermediário e o prazo final, as expectativas dos gestores dos
programas são de que os resultados mais significativos e abrangentes apareçam somente a
partir de 1999.

PITE/PIPE

Desde 1995, a FAPESP vem se preocupando em criar mecanismos para intensificar a


disseminação do conhecimento, tornando-os mais acessíveis às empresas.

Extremamente recente (iniciado em 1997), o PIPE é o primeiro programa da FAPESP


que apoia a pesquisa para inovação tecnológica diretamente na empresa, por meio do
financiamento ao pesquisador vinculado ou associado à empresa.

Da sua implantação até hoje, o PIPE já contratou 102 projetos, somando-se as duas
fases do programa (ver tabela abaixo). A FAPESP está investindo R$ 7 milhões nestes
projetos. Importante destacar que existe uma concentração das empresas com projetos
aprovados, cuja localização se dá em torno de Universidades, salientando o papel da
universidade como formadora de pessoal.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 47


Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas - PIPE

Fases N.º de % Projeto Valor % Valor


Projetos Aprovado 1

Valor Total
Fase I - 1°, 2°, 3° e 4° Editais 76 74,5 3.078.458,76 42,9
Fase II – 1º e 2º 26 25,5 4.102.910,01 57,1
Total 102 100,0 7.181.368,77 100,0

Fonte: FAPESP.
1
Nota: Valor Aprovado = total em R$+US$ (R$ 1 = US$ 1).

Em relação ao PITE os resultados, da mesma maneira, são muito favoráveis.


Considerando-se a contratação de 45 projetos até esta data, merece destaque a participação
das empresas: num total superior a R$ 16 milhões investidos, a contrapartida das empresas é
de 60,5%.

II.4. SUGESTÕES E AÇÕES COMPLEMENTARES

Inicialmente, cabem algumas observações de caráter geral:

• Os instrumentos de apoio ao desenvolvimento tecnológico no Brasil são bastante


limitados e, em sua maioria, as instituições de fomento ainda operam de forma passiva
(“atuação de balcão”).
• A escala dos recursos para o desenvolvimento tecnológico é muito reduzida.
• O custo financeiro dos projetos apoiados pela FINEP, que em geral é composto da TJLP
mais um spread, é, por qualquer critério, incompatível com projetos de investimento em
desenvolvimento tecnológico.
• Os benefícios fiscais não são atraentes para um amplo leque de empresas, o que torna o
seu alcance limitado.
• As empresas gastam pouco em atividades de pesquisa e desenvolvimento.
• É limitada a especialização dos instrumentos para segmentos específicos das empresas.
• A ausência de políticas setoriais limita a identificação das oportunidades de apoio
tecnológico e dificulta a integração dos vários instrumentos (pacotes setoriais).

O grande desafio atual está em integrar os instrumentos de apoio financeiro e os


benefícios fiscais e creditícios para o desenvolvimento tecnológico, estimulando as empresas
a gastar mais em atividades criativas ou de aprendizagem e, dessa maneira, elevando o
patamar dos dispêndios nacionais em P&D.

As distintas especializações dos agentes de fomento e as particularidades dos seus


clientes e espaços de atuação criam oportunidades de parcerias institucionais, na perspectiva
de integração dos instrumentos.

Nesse quadro, algumas sugestões podem ser apresentadas para a melhor


operacionalização dos instrumentos de apoio:

1) Os incentivos fiscais deveriam ser ampliados para tornar mais atraentes os gastos de P&D
das empresas. Nesse sentido, a proposta é de que o equivalente a 80% dos gastos

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 48


empresariais com P&D sejam considerados créditos no cálculo do IPI devido pela
empresa. Dessa forma, o alcance do incentivo fiscal seria ampliado, incluindo a sua
utilização por parte de pequenas empresas, sujeitas ao regime tributário simplificado.
Deve ser lembrado que os incentivos fiscais previstos na lei 8.661/93 representaram, em
1998, de acordo com a Secretaria da Receita Federal, uma renúncia fiscal da ordem de
R$ 165,9 milhões, aproximadamente 0,96% do total de benefícios concedidos, no valor
de R$ 17,2 bilhões. O peso relativamente pequeno da renúncia fiscal com essa finalidade,
aliado às potencialidades dos investimentos em capacitação tecnológica justificam a
proposta ora realizada. Adicionalmente, os incentivos deveriam compor pacotes de apoio
ao desenvolvimento tecnológico de setores selecionados, tornando mais eficazes os
gastos das empresas e dispensando as pesadas exigências de acompanhamento em troca
do alcance de resultados.

2) Os mecanismos de capital de risco deveriam ser fortemente estimulados com medidas


como:

• Estabelecimento de um aparato regulatório favorável ao capital de risco, contemplando: o


fim da proibição sobre as aplicações de recursos dos fundos de pensão em
empreendimentos de risco; a adequação da regulamentação dos Fundos de Empresas
Emergentes da CVM3; a ampliação dos mercados de acesso (balcão organizado) para a
negociação de ações de empresas de menor porte (custos menores e exigências menores
de regulamentação).
• A redução do imposto sobre ganhos de capital em investimentos de capital de risco.
• Estímulo ao modelo de fundos de capital de risco, que permite mobilizar maiores volumes
de recursos que as tradicionais companhias de capital de risco.
• A exploração das oportunidades de novos arranjos financeiros para dar mais liquidez e
elevar a rentabilidade das operações, tais como: a modalidade quase capital, que prevê a
remuneração dos recursos não exigíveis por meio da participação no faturamento da
empresa, à semelhança dos royalties; recebimento de um percentual do faturamento sobre
a venda de tecnologia, produtos etc..
• Desenvolvimento dos conceitos de redes: horizontais (formadas dentro de segmentos
específicos) e verticais (entre clientes e fornecedores).
• A garantia do atendimento à faixa de empresas no estágio de seed-money, atualmente fora
do espaço de atuação do CONTEC, por novos investidores, em particular, instituições
públicas de fomento. Esse segmento de investimento de risco parece adequado à
especialização técnica da FINEP e à escala das suas operações.

3) As linhas de financiamento deveriam ser fortalecidas:

• Pela captação de novas fontes: por exemplo os fundos setoriais que foram recentemente
criados pelo governo federal, com a aprovação do Congresso Nacional.
• Pela sua integração aos demais instrumentos de apoio ao desenvolvimento tecnológico.
• Pela maior ênfase na capacitação tecnológica das empresas nas linhas de financiamento
tradicionais dos agentes financeiros, notadamente o BNDES.

4) A atuação da FINEP com focalização no desenvolvimento tecnológico das empresas. Em


seu conjunto, as recentes mudanças anunciadas na atuação FINEP vão na direção acima e

3
Os limites fixados de R$ 60 milhões para o faturamento e de R$ 120 milhões para o patrimônio estimula a
concentração dos investimentos dos fundos em empresas com faturamento mais elevado, deixando desatendidas
as de menor porte.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 49


devem contar com total apoio; particularmente são inovadoras como modalidades de
relação público-privado na área de desenvolvimento tecnológico, a conceituação de
“cliente base FINEP” e a definição de uma linha de ação de apoio financeiro integral a
esses clientes. O objetivo, que, a nosso ver, é plenamente justificável e correto, consiste
em pautar a análise do apoio financeiro da instituição segundo as “estratégias das
empresas e não mais no projeto isolado, onde a variável desenvolvimento
tecnológico/inovação será fundamental para a concessão do apoio.”

5) Finalmente, com relação ao custo dos recursos, como para projetos de desenvolvimento
tecnológico, não há fonte alternativa de recursos no sistema financeiro doméstico ou em
instituições privadas externas, a solução necessariamente passa pela ação do setor
público. Nenhuma das alternativas para a solução do problema é trivial: uma alternativa
de equalização de taxas para investimentos em tecnologia com recursos do orçamento
fiscal, à semelhança do PROEX, esbarra nas limitações atuais do orçamento fiscal; uma
outra seria flexibilizar o custo dos recursos obtidos pela FINEP junto ao BNDES e ao
FAT, de modo a que seja possível a mobilização de recursos com custo inferior à TJLP,
também uma solução difícil. De qualquer modo, o que é decisivo é encontrar uma
fórmula que permita uma taxa final para o tomador em compatível com o investimento
em desenvolvimento tecnológico, como 6% reais a.a.. As formas alternativas de
constituição dos fundos setoriais podem implicar em redução de custos para os tomadores
de recursos desses fundos. Nesse sentido, é grande a expectativa pela rápida
implementação desses novos instrumentos de apoio ao desenvolvimento tecnológico.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 50


III. POLÍTICAS DESCENTRALIZADAS DE INOVAÇÃO E DIFUSÃO

Os avanços científicos, tecnológicos e industriais que vêm ocorrendo com intensidade


em todo o mundo, apresentam uma tendência de concentração do ponto de vista espacial e
setorial, o que tem conduzido ao aprofundamento de distorções inter-regionais do processo de
desenvolvimento com impactos importantes na marginalização de determinadas regiões e da
concentração de investimentos naquelas que já dispõem de uma infra-estrutura científico e
tecnológica consolidada.

Tais fatos, aliados ao crescente reconhecimento da importância da inovação para a


competitividade de empresas e países e do caráter localizado dos processos inovativos, têm
levado as instâncias descentralizadas a estabelecerem e implementarem mecanismos de
política tecnológica. Assim, tem correspondido às unidades descentralizadas de governo uma
maior responsabilidade no fortalecimento da infra-estrutura científico-tecnológica local e em
estimular uma maior articulação com a base produtiva da região, de modo a viabilizar a
introdução-difusão de inovações com maior potencial de geração de efeitos spill-over para o
conjunto da economia da região.

Simultaneamente, a integração das regiões extremamente diferenciadas em termos do


processo de desenvolvimento científico e tecnológico num mesmo espaço nacional requer a
implementação de ações formatadas em função de especificidades locais.

A seguir, são apresentadas as principais características das políticas descentralizadas


de inovação e difusão no Brasil, correlacionado-as às experiências dos diversos estados da
federação no período recente.

III.1. OS DADOS DA EVOLUÇÃO RECENTE

Os dados abaixo apresentam a distribuição dos dispêndios nacionais em Ciência e


Tecnologia para o ano de 1997, segundo estimativa do MCT. Apesar dos diversos problemas
metodológicos encontrados na elaboração do MCT, as estimativas indicam que os governos
estaduais e municipais respondiam por parcela relativamente pequena dos dispêndios
realizados no País (17,2% do total), correspondendo a 1/3 dos dispêndios realizados na esfera
federal.

Do total dos dispêndios de estados e municípios, 43% correspondiam a gastos de


universidades estaduais e 57% a gastos de instituições de fomento e apoio, dentre as quais
destacam-se as fundações estaduais de apoio à pesquisa.

Outra característica evidenciada pelos dados é que os gastos estão concentrados em


poucas Unidades da Federação, destacando-se o Estado de São Paulo em função da maior
tradição de suas agências de fomento, como a FAPESP, e da importância das universidades
estaduais paulistas.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 51


Dispêndios Nacionais em C&T - R$ Milhões de 1997

Setor Valor %

1. Governo 6.926,9 64,3


1.1. Federal 5.079,2 47,2
1.1.1. MCT 1.557,7 14,5
1.1.2. Outros Ministérios 1.602,9 14,9
1.1.3. Universidades Federais 1.340,5 12,4
1.1.4. Renúncia Fiscal 578,0 5,4
1.2. Estadual e Municipal 1.847,7 17,2
1.2.1. Fomento e Apoio 1.040,7 9,7
1.2.2. Universidades Estaduais 806,9 7,5
2. Setor Empresarial 3.398,2 31,6
2.1. Estatais 759,1 7,1
2.2. Privadas 2.191,0 20,3
2.3. FINEP (reembolsável) 448,1 4,2
3. Instituições Privadas de Ensino 442,5 4,1
TOTAL 10.767,6 100,0

Fonte: MCT.

As informações disponíveis sobre o dispêndio interno bruto em C&T por setores de


financiamento e execução para o ano de 1996, mostram que os esforços de C&T dos governos
estaduais parecem fortemente comprometidos com instituições acadêmicas de nível superior,
praticamente se limitando à infra-estrutura local de C&T.

A despesa em C&T realizada pelos diversos estados da federação apresentou grande


instabilidade no período entre 1990 e 1996, o que tem sido uma característica marcante da
evolução dos dispêndios estaduais em C&T ao longo das últimas décadas. A importância dos
estados mais ricos da federação localizados nas regiões Sul e Sudeste no total de gastos em
C&T é evidenciada pelo fato dessas regiões serem responsáveis, em conjunto, por 87% dos
gastos das diversas unidades da federação em 1996. Por outro lado, as evidências demonstram
que o processo de desconcentração espacial é ainda limitado. As informações evidenciam
também a importância dos gastos realizados pelo governo de São Paulo, correspondentes a
33% do total do País, uma participação que vem declinando: em 1990, o peso do estado era de
42%.

III.2. O ARCABOUÇO INSTITUCIONAL DAS POLÍTICAS ESTADUAIS DE INOVAÇÃO E DIFUSÃO

Esta seção analisa o arcabouço institucional formal adotado pelos estados da federação
na formulação e implementação de políticas de inovação e difusão. Com esse intuito,
procurou-se coletar e sistematizar os instrumentos que os diferentes governos estaduais têm
utilizado para estimular o aprofundamento dos esforços tecnológicos realizados em escala
local. Serão abordados os seguintes tópicos: (i) a coordenação geral dos esforços no âmbito
das políticas de C&T; (ii) a montagem de programas amplos de apoio ao desenvolvimento
científico e tecnológico; (iii) a priorização de áreas estratégicas no âmbito desses programas;
(iv) a utilização de fundações estaduais de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico;
(v) a vinculação constitucional de recursos dos orçamentos estaduais com atividades de C&T;
(vi) a concessão, pelos governos estaduais, de estímulos à realização de atividades de P&D
pelo setor empresarial.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 52


A Coordenação Geral de Esforços no Âmbito das Políticas de C&T Estaduais

A promoção do desenvolvimento das atividades de C&T no nível estadual, é


geralmente função de Secretarias de Ciência e Tecnologia; em alguns estados, esta tarefa é da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico ou outros órgãos mais afeitos à política industrial
e de desenvolvimento regional.

Diversos estados vêm criando Conselhos Estaduais de Ciência e Tecnologia, que


contam com a representação de diferentes segmentos da comunidade cientifica e empresarial,
membros do Governo e representantes de outras associações de classe. Neste caso, tais
estados têm seguido o modelo institucional aplicado em praticamente toda a América Latina
nos anos 70 e que privilegia uma “função” de ciência e tecnologia que percorre as atividades
governamentais.

Obviamente, a complexidade institucional da estruturação das atividades de C&T nos


diversos estados varia em função da própria complexidade dos sistemas de C&T estaduais.
No Estado de São Paulo, por exemplo, a existência de diversas organizações responsáveis
pelas atividades de C&T de responsabilidade do governo estadual se traduz numa complexa
estrutura institucional. A SCTDE – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento
Econômico do Governo do Estado de São Paulo – é responsável pela formulação dos
objetivos estratégicos para políticas industrial e de ciência e tecnologia de âmbito regional. Os
diversos organismos estaduais voltados para o apoio à geração de inovações são coordenados
por esta secretaria. Alguns de tais órgãos – como a FAPESP, as três universidades públicas
estaduais, USP, UNICAMP e UNESP e o IPT – apresentam um alto grau de autonomia,
tornando mais complexa a tarefa de coordenação.

Alguns estados que ainda não possuem uma infra-estrutura científico-tecnológica mais
consolidada vêm realizando esforços para reforçar institucionalmente os organismos com a
função de coordenação das políticas de C&T. Nesse sentido, a experiência nordestina é
bastante ilustrativa. Em estados como Alagoas, Sergipe, Paraíba e Piauí, a política de C&T
estadual é uma das funções assumidas por outras secretarias, como as de Indústria, Comércio,
Turismo ou, alternativamente, de Planejamento ou Fazenda.

Alguns estados maiores, porém, já avançaram no sentido do fortalecimento institucional


da gestão da política de C&T no plano estadual. Na Bahia, por exemplo, as atividades de C&T
são coordenadas pela Secretaria de Ciência e Tecnologia, através do CADCT – Centro de Apoio
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Este estado conta também com um Conselho
Estadual de Ciência e Tecnologia (CONSECT) para a formulação da política de C&T.

No Ceará integram a estrutura do Poder Executivo do Estado, a Secretaria de Ciência e


Tecnologia do Ceará – SECITECE e o Conselho Estadual de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, que coordenam as atividades de três universidades estaduais. Nesse estado,
destaca-se também o papel desempenhado pelo IPLACE na realização de estudos e
levantamentos que subsidiam a implementação da política estadual de C&T.

Em Pernambuco as atividades de ciência e tecnologia no Estado são coordenadas pela


Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, que conta com a FACEPE – Fundação de
Amparo e Coordenação da Pesquisa do Estado de Pernambuco. O sistema conta também com o
ITEP (Instituto de Tecnologia do Estado de Pernambuco) e com uma Universidade Estadual
(FESP), além de várias instituições atuantes no âmbito operacional nas áreas relacionadas como

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 53


Saúde e Agricultura, destacando-se a Fundação Joaquim Nabuco e a Escola Técnica Federal –
ETF/Pe.

Deve-se também destacar a existência de um fórum nacional de secretários estaduais de


C&T que funciona como mecanismo de articulação entre os secretários estaduais e de
negociação conjunta com o governo federal. De uma maneira geral, os esforços de
institucionalização e coordenação das atividades de C&T a nível estadual podem ser
considerados como um importante passo para organizar e consolidar tais atividades. Porém, as
tarefas de organização institucional têm sido suplantadas pelo esforço de sobrevivência das
instituições científico/tecnológicas tendo em vista as dificuldades orçamentárias que vêm
enfrentando.

Programas Amplos de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Mesmo diante dessas dificuldades, várias experiências inovadoras vêm sendo tentadas
com o objetivo de aumentar o grau de efetividade das políticas estaduais de C&T e aproximá-
las das realidades locais. Talvez o aspecto mais interessante de tais programas seja a sua
diversidade, o que reflete, por seu turno, a enorme variedade social, cultural e institucional
brasileira.

O governo do Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, estruturou, através da


Secretaria da Ciência e Tecnologia, o Programa de Apoio aos Pólos de Modernização
Tecnológica – PAPMT. Concebido em 1989, originalmente buscava aproximar as
universidades e os diversos agentes econômicos localizados na sua região de atuação. Visava
utilizar esta nova capacitação no apoio a projetos considerados prioritários para o
desenvolvimento econômico de cada região. Cabe lembrar que naquele estado existem
diversas universidades locais que, em função de sua institucionalização histórica, apresentam
fortes vínculos com as respectivas realidades.

Com a criação de “Conselhos Regionais de Desenvolvimento” (CRDs), no período


92/93, o Programa assumiu uma nova formatação. Os projetos em andamento foram
agregados em Pólos de Modernização Tecnológica (PMT) com as universidades assumindo o
papel de Gestoras dos Pólos. O Programa de Apoio aos Pólos de Modernização Tecnológica
estabelece um modelo institucional capaz de valorizar a autonomia dos agentes regionais no
sentido de buscarem suas próprias trajetórias de desenvolvimento a partir da interação entre
universidades, poder público municipal, governo estadual e setor produtivo. Quanto à
participação financeira do Estado, o apoio é realizado de forma parcial com relação às
necessidades demandadas pelos projetos. Em todos os casos, o Estado atua como principal
parceiro, exigindo que os demais agentes apresentem como contrapartida, no mínimo 20% do
valor total dos projetos. Além disso, o Estado concede prioridade aos projetos elaborados de
forma cooperativa entre UE de dois ou mais PMTs.

Em uma concepção parecida, o Estado de Santa Catarina, através de sua política


científica e tecnológica (PROMOTEC), procura criar condições de estímulo à capacitação
tecnológica e difusão de novas tecnologias no nível das empresas e das cadeias setoriais
locais. Este estado também procura estimular a estruturação de Pólos de Modernização
Tecnológica, através da elaboração de diagnóstico e de um plano estratégico para a
capacitação tecnológica, ambos articulados com as características dos setores econômicos
predominantes na região.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 54


Esses pólos são constituídos por empresas, por um centro de tecnologia, pela
universidade local, por incubadora de empresas de base tecnológica e por outras instituições
de apoio. Baseando-se em um programa de investimentos para três anos, o PROMOTEC
propõe o desenvolvimento de uma ação política ordenada, através de uma ação executiva,
descentralizada, criando uma rede de pólos regionais de modernização tecnológica.

No Espírito Santo, a tentativa de formalizar a política de C&T estadual está associada


à elaboração do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (PADTES), que
objetiva apoiar a formação de recursos humanos, a criação de centros de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico e a viabilização de projetos orientados ao aprimoramento
tecnológico do setor produtivo estadual. Direcionado para as micro, pequenas e médias
empresas dos principais segmentos da atividade produtiva local (principalmente mármore e
granito; vestuário; e alimentos, no setor industrial; e de atividades pioneiras no setor agrícola)
o PADTES conta com os seguintes subprogramas, organizados de acordo com a natureza dos
projetos a serem apoiados: (i) subprograma de aperfeiçoamento tecnológico das micro e
pequenas empresas; (ii) subprograma de apoio às empresas tecnológicas; (iii) subprograma de
apoio aos centros tecnológicos setoriais; (iv) subprograma de formação de recursos humanos.

No caso de Minas Gerais, recentemente foi elaborado um Plano Mineiro de


Desenvolvimento Integrado (PMDI) que procura suprir a ausência de uma estrutura matricial
nas instituições de C&T do estado e facilite a definição de prioridades. Este Plano procura
oferecer um tratamento especial a determinadas atividades tecnológicas consideradas
prioritárias, a partir das quais são definidos programas estruturantes que têm como núcleo
central a definição de missões tecnológicas.

O Plano procura também definir ações a serem implementadas no campo da ampliação


e divulgação do conhecimento científico e tecnológico, do desenvolvimento das pesquisas
básica e aplicada, do reaparelhamento de instituições, da revisão das missões institucionais de
várias delas, e da realização de esforços no campo da difusão e extensão tecnológica. O
programa estruturante de ciência e tecnologia em apoio ao desenvolvimento sustentado de
Minas Gerais, buscará estabelecer prioridades focalizadas em problemas/oportunidades,
regiões e mercados e promoverá ações em resposta às demandas identificadas, que deverão
constituir verdadeiras missões tecnológicas.

O que se procura modificar, em substância, quando comparado com as práticas


anteriores, é o enfoque tradicional calcado na oferta de ciência e tecnologia, de tal modo que
as prioridades de ação, definidas tradicionalmente a partir da predominância do pessoal
vinculado às organizações executoras de atividades científicas e tecnológicas, passem a ser
derivadas de diálogos amplos com a sociedade estadual e o setor empresarial sobre
necessidades e oportunidades. Além disso, considera-se que as questões regionais de Minas
Gerais oferecem campo fértil para o estabelecimento das missões tecnológicas que incluem
problemas e oportunidades locais. Nesse sentido, considera-se que as missões tecnológicas
devem ser implementadas de forma flexível, por um conjunto variado de instrumentos
institucionais e financeiros, existentes, a serem alavancados ou criados, os quais adquirirão
contornos precisos através do processo de diálogos que definirão as missões.

A Priorização de Áreas Estratégicas no Âmbito das Políticas de C&T Estaduais

Dada a limitação de recursos disponíveis, a operacionalização de políticas de C&T no


nível dos diversos estados da federação requer a delimitação de áreas estratégicas em relação

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 55


às quais os esforços possam ser concentrados. A questão que se coloca, nesse caso, é atinente
aos critérios gerais que devem presidir a identificação dessas áreas.

Por um lado, algumas políticas estaduais de C&T têm buscado privilegiar áreas,
atividades ou setores tecnologicamente mais dinâmicos, cuja consolidação poderia permitir
um upgrade tecnológico das economias e da infra-estrutura científico-tecnológica locais. No
plano da operacionalização das políticas orientadas à dinamização dessas áreas, é possível
também diferenciar três tipos de ações qualitativamente distintas: (i) a criação de estímulos à
capacitação de grupos de pesquisadores locais especializados nas respectivas áreas; (ii) o
estímulo à difusão ampla de tecnologias consideradas estratégicas pelos agentes locais; (iii) o
apoio ao processo de transferência de tecnologias estratégicas geradas no meio acadêmico
para o setor empresarial local.

Por outro lado, a definição de áreas estratégicas a serem priorizadas pode também,
pautar-se por outros critérios, que não aqueles estritos de relevância científico-tecnológica.
Neste sentido, destacam-se tentativas de estimular vocações locais definidas em função de
uma capacitação pré-existente, que podem ter o seu potencial de geração de benefícios
ampliado para a economia local.

A experiência de diversos estados da federação aponta no sentido da multiplicidade de


critérios que têm conduzido à definição de áreas estratégicas a serem priorizadas pelas
políticas estaduais de C&T.

No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, o Programa Gaúcho de Apoio


Tecnológico ao Desenvolvimento do Estado, instituído em 1995, definiu como objetivo
principal a concentração de investimentos nas áreas de biotecnologia, química e informática,
buscando a excelência através de projetos mobilizadores específicos e com forte potencial de
impacto na competitividade de setores econômicos gaúchos. A definição dessas três áreas
prioritárias teve como pressupostos a forte base econômica instalada no Estado, os impactos
previstos no PIB estadual, o efeito multiplicador sobre o conjunto da economia, a importância
dessas áreas no âmbito do MERCOSUL e o fato das mesmas estarem em consonância com
prioridades em nível nacional.

Outra experiência estadual que se destaca pela definição de “missões tecnológicas”


associadas a tecnologias de ponta é a de Minas Gerais na área de biotecnologia. A partir de
uma realização de estudos e seminários que remonta a 1986, foram definidas diferentes
subáreas da biotecnologia para que nelas se concentrasse o esforço do Estado na execução e
suporte de pesquisas científicas e tecnológicas. Em decorrência dessa priorização de esforços,
Belo Horizonte conta hoje com uma incubadora de empresas constituída através de parcerias
estabelecidas entre órgãos da administração pública federal, estadual e municipal, além da
iniciativa privada. Também como resultado, várias empresas nesta área, têm sido criadas e
estão sendo consolidadas em diferentes regiões do Estado.

Outros estados têm também procurado atuar no sentido da difusão de inovações


consideradas estratégicas pela indústria e a sociedade. Quanto a este aspecto, destacam-se
políticas de estímulo à difusão horizontal de inovações tecnológicas relacionadas às áreas de
informação e telecomunicação.

No caso do Rio de janeiro, por exemplo, destacam-se estímulos do governo à


consolidação da Rede Rio de computadores, inaugurada em 1992, baseada na ligação de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 56


diversas instituições de C&T instaladas no estado à INTERNET. A FAPERJ coordena a rede
e custeia o pagamento do canal internacional, o investimento em infra-estrutura e os bolsistas
responsáveis pela manutenção da rede. Esta rede já conta com 80 (oitenta) instituições
conectadas através de roteadores instalados na PUC/RJ, UFRJ e LNCC, e com um acesso a
canal internacional (Califórnia) pela UFRJ.

A montagem de arranjos com esse formato não se restringe ao Rio de Janeiro. A Rede
Minas, por exemplo, foi montada no intuito de disponibilizar uma estrutura capaz de
centralizar e difundir informações científicas e tecnológicas por diversas instituições de C&T
do Estado de Minas Gerais.

É também comum que na definição de prioridades estratégicas ou de “missões


tecnológicas” de natureza estruturante, os diversos estados procurem avaliar as suas
capacitações pré-existentes, de maneira a selecionar áreas a serem priorizadas com maiores
possibilidades de gerar efeitos positivos de dinamização de economias locais.

A experiência de alguns estados ilustra esse processo. No caso de Santa Catarina, por
exemplo, a formulação da política de C&T, claramente, procura articular um conjunto de
recursos já existentes de forma a proporcionar uma infra-estrutura de apoio às atividades
tecnológicas, em todas as principais aglomerações industriais do espaço geográfico do Estado.
Em função dessa orientação geral, foram selecionadas como prioritárias as áreas de
informática, metal-mecânica, mobiliário, têxtil, vestuário e calçados, química e cerâmica,
alimentos e papel e celulose.

Dentro dessa concepção, destaca-se a montagem de centros tecnológicos temáticos,


como o caso do Centro de Tecnologia de Cerâmica (CTC), em Criciúma, e o Centro de
Tecnologia em Automação e Informática (CTAI), em Florianópolis. Dois novos centros deste
nível estão programados para Joinville (centro de tecnologia na área de eletro-metal-
mecânica, que deverá ter também uma incubadora de empresas) e para Blumenau (centro de
tecnologia na área de vestuário).

Em estados que têm uma capacitação já consolidada em determinadas áreas de maior


conteúdo tecnológico também é possível observar esforços das políticas de C&T estaduais
para reforçar essas vocações. Como exemplo, é possível citar o apoio do governo do Estado
do Rio de janeiro à consolidação da RIOSOFT, um dos 14 núcleos do Programa Nacional de
Software para Exportação (SOFTEX –2000). Nesse caso, destaca-se o papel cidade do Rio de
Janeiro, como sede da maior concentração de empresas de software do país, o que lhe confere
um papel extremamente relevante para a viabilização desse programa, para o que também
contribui a presença de serviços de informática para telecomunicações instalados no estado.

Tais experiências têm demonstrado incapacidade no envolvimento de agentes privados


tanto na sua concepção quanto na sua implementação. Assim, são, na prática, políticas que se
concentram na infra-estrutura científico e tecnológica.

A Importância da Presença de Fundações Estaduais

Do ponto de vista da operacionalização de ações orientadas à criação de estímulos à


introdução e difusão de inovações, é importante que os estados contem com organismos
suficientemente ágeis e flexíveis e com capacidade de definir políticas de estímulos e
incentivos menos sujeitas a injunções políticas e à morosidade do processo de tomada de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 57


decisões que caracteriza a estrutura burocrática formal dos governos. Visando contornar estes
problemas, as fundações vêm crescentemente assumindo a tarefa de organizar o repasse dos
recursos públicos para a área de C&T.

Dentre as diversas fundações estaduais de amparo à pesquisa, a Fundação de Amparo


à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) se destaca pelo seu pioneirismo e sua
importância. Quando diversos estados começaram a realizar esforços para dinamização de
seus sistemas de C&T em meados da década de 80, São Paulo há muito já dispunha de uma
fundação de amparo à pesquisa com recursos fixados em sua Constituição. A FAPESP
destina-se ao incentivo à pesquisa científica e tecnológica realizada pelo setor produtivo
privado e às universidades e institutos de pesquisa. Dado o grau de sofisticação da infra-
estrutura científico-tecnológica do estado, a atuação da FAPESP tem também se dado de
forma extremamente diversificada, ainda mais face à progressiva diminuição dos recursos das
agências de fomento federais. Mais recentemente, a atuação da FAPESP tem se pautado
também pelo estímulo à formação de laços cooperativos entre empresas e instituições de
pesquisa, destacando-se dois programas de apoio às empresas privadas com esse intuito.

O primeiro é um programa de apoio à capacitação tecnológica de universidades e


instituições de pesquisa voltado ao desenvolvimento de empresas privadas, que visa financiar
projetos de inovação tecnológica no setor produtivo desenvolvidos em parceria com
instituições de pesquisa e empresas instaladas no Estado de São Paulo. O segundo é um
programa de incentivo à inovação tecnológica em pequenas empresas, em especial aquelas
com maior potencial tecnológico.

Outros estados têm se espelhado na experiência da FAPESP para também criar


agências estaduais de fomento à pesquisa, o que, conforme já mencionado, é muitas vezes
problemático, devido à limitação dos recursos disponíveis, à indefinição quanto às linhas
prioritárias de investigação a serem apoiadas e em função de um eventual descolamento entre
o suporte oferecido e as possibilidades concretas de modernização das economias locais. Estes
problemas estão presentes principalmente na experiência de alguns estados nordestinos, que
avançaram no sentido da criação de fundações estaduais de amparo à pesquisa sem avaliar
previamente as prioridades que deveriam orientar a atuação das mesmas, de modo a
maximizar os impactos positivos sobre as economias locais. Apesar disso, algumas
experiências de fortalecimento dessas fundações têm sido importantes, merecendo uma
descrição mais pormenorizada.

No caso do Estado Rio de Janeiro, a Fundação de Amparo à Pesquisa (FAPERJ) vem


direcionando sua atuação segundo quatro grandes linhas. A primeira delas compreende uma
atividade de “balcão” de fomento à pesquisa, que atende à demanda dos pesquisadores por
recursos. Esse tipo de atuação vem assumindo crescente importância para os pesquisadores do
estado, devido à crescente retração das linhas de fomento federais. Em segundo lugar,
destaca-se a atuação através de projetos induzidos e de ação direta, que contribuam para gerar
benefícios econômicos e sociais ao estado, o que envolve o apoio científico e tecnológico em
áreas estratégicas. Em terceiro lugar, destaca-se o suporte ao processo de desenvolvimento
científico e tecnológico que se processa na UERJ, na UENF, no CECIERJ, no PESAGRO e
demais entidades de pesquisa mantidas pelo Estado. Por fim, esta fundação vem procurando
captar recursos de fontes complementares com o objetivo de realizar projetos de pesquisa e
desenvolvimento no estado, como, por exemplo, aqueles provenientes de royalties do
petróleo. Cabe ressaltar, contudo, que, apesar dos esforços recentes do governo estadual para
fortalecer a FAPERJ, esse órgão vem sendo historicamente afetado por injunções políticas,

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 58


observando-se uma grande instabilidade quanto ao valor dos recursos alocados com esse
intuito, em razão da maior ou menor prioridade atribuída pelos governos estaduais às
atividades de C&T.

No caso de Minas Gerais, também destaca-se o papel desempenhado pela Fundação de


Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), cujo papel no sistema de inovação do
Estado é relativamente recente. Montada com base no modelo FAPESP, seus recursos
financeiros são orçamentários, provenientes de uma proporção fixa da arrecadação estadual,
estando por isto mesmo vulnerável à crise fiscal do estado. Nos anos noventa, a FAPEMIG
tem obtido uma maior estabilidade orçamentária, o que tem resultado num crescente
financiamento à pesquisa básica e aplicada nas universidades e institutos. Mais recentemente,
a FAPEMIG vem diversificando sua atuação para financiar empreendimentos conjuntos de
departamentos científicos e empresas, voltados diretamente para o desenvolvimento
tecnológico. Este tipo de arranjo envolve pequenas e médias empresas, instituições de
pesquisa, a agência de fomento e o agente financeiro, o Banco de Desenvolvimento do
Estado, BDMG. É importante destacar, também, que a atual administração do Estado assumiu
o compromisso de repassar regularmente recursos à FAPEMIG e elevá-los ao montante de
R$ 150 milhões ao final de 1999.

O Rio Grande do Sul também tem recorrido a fundações para operacionalizar a


política de C&T do governo. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do
Sul (FAPERGS) tem a atribuição de fomentar projetos de pesquisa, individuais e
institucionais, em órgãos públicos ou particulares. Dentre os seus programas principais estão a
concessão de bolsas para formação de recursos humanos, visando complementar recursos dos
órgãos federais como CNPq e CAPES e o estímulo à Interação Universidade-Empresa,
através do apoio a projetos de pesquisa aplicada em parceria com o setor produtivo. Além dos
programas acima, a FAPERGS passou, a partir de 1992, a lançar editais específicos em áreas
estabelecidas como prioritárias pelo governo do estado.

A Utilização de Fundos Vinculados Constitucionalmente

A possibilidade de implementação de uma política de C&T efetiva ao nível dos


diversos estados da federação depende, obviamente, da disponibilidade de recursos com que
contam os governos estaduais para financiamentos das ações. Neste sentido, um problema que
tradicionalmente havia obstaculizado essas ações era a ausência de um compromisso efetivo
dos governos estaduais com as atividades de C&T, resultando na destinação para outros fins,
muitas vezes em função de pressões políticas, dos recursos da área. Esta situação se
modificou com a Constituição de 1988 e a posterior adequação das constituições estaduais,
que vinculou receitas estaduais ao financiamento de fundos estaduais de apoio a atividades de
C&T, expandindo uma prática já consolidada no Estado de São Paulo. Na medida em que
diversos estados avançaram na regulamentação dessa vinculação, as condições de
financiamento das atividades de C&T foram aperfeiçoadas, passando a depender menos de
condições políticas circunstanciais.

A experiência de diversos estados mostra a importância da vinculação desses recursos.


No caso de estados mais pobres, como alguns localizados na região Nordeste, a vinculação
garante recursos para financiamento das atividades de C&T que dificilmente seriam
destinados a este fim a partir de um processo tradicional de disputa política. Nesta região,
alguns estados têm regulamentado o apoio à C&T através da definição de um determinado
percentual da receita tributária a ser direcionado para financiamento do setor, caso do Ceará

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 59


(2% da receita tributária), Bahia (1,5%), Pernambuco (1,0%) e Sergipe (0,5%). Outros estados
da região têm optado por uma vinculação da receita orçamentária, caso da Paraíba (2,5% da
receita orçamentária) e Piauí (1%). Finalmente, estados em situação financeira mais
complicada têm procurado vincular este suporte à receita líquida do estado, de que é exemplo
Alagoas (2% da receita líquida).

Estados das regiões Sul e Sudeste adotaram prática semelhante. No Espírito Santo, o
FUNCITEC foi criado a partir da vinculação de 0,5% do total de ICMS disponível. O
município de Vitória também constituiu, a partir de 1991, o seu sistema municipal de ciência
e tecnologia, estruturado a partir da instituição do Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia no
Município de Vitória (FACITEC), capitalizado por uma dotação mensal de recursos
equivalente à 6,0% dos recursos transferidos pelo Governo do Estado do Espírito Santo a
título de quota-parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Cabe a
ressalva de que a regulamentação, por si só, pode não assegurar os recursos.

No caso de Santa Catarina, a reforma da Constituição Estadual, incorporou a criação


de fundos rotativos de Fomento à Pesquisa Científica (FUNCITEC) e de Fomento à Pesquisa
Agropecuária (FEPA), geridos desde 1991 pelo Conselho Estadual de Política Científica e
Tecnológica (CONCITEC), com recursos orçamentários correspondentes a 2% das receitas
correntes do governo estadual.

No caso do Paraná, foi incorporado no texto da Constituição Estadual a aplicação de


2% das receitas tributárias nas atividades de C&T, geridas por um arranjo institucional que
incluía as comunidades científica, tecnológica, empresarial, universitária, além do próprio
estado, a ser regulamentada por lei. Entretanto, até o presente momento, por múltiplas razões,
não foi possível regulamentar este dispositivo.

No Rio de Janeiro, o novo governo tem procurado complementar a regulamentação


relativa à vinculação de recursos para atividades de C&T – em relação a qual a experiência de
outros governos demonstra que a mesma dificilmente tem sido cumprida – através de um
cronograma programado de desembolsos. O Fluxo de Caixa Programado da FAPERJ procura
garantir àquela instituição um volume expressivo de recursos, de forma regular e estável,
potencializando seus investimentos. O cronograma proposto é de um fluxo de caixa
programado crescente ao longo dos próximos 4 anos: R$ 48 milhões em 1999, R$ 72 milhões
em 2.000, R$ 96 milhões em 2.001 e R$ 120 milhões em 2.002. Além disso, o governo
pretende retornar à FAPERJ a gestão do Fundo de Apoio Tecnológico (FATEC), o que lhe
garantiria um importante instrumento de fomento voltado para projetos de inovação
tecnológica na pequena e média empresa fluminense.

Estímulos das Políticas de C&T Estaduais à Realização de Esforços de P&D no Setor


Empresarial

Uma das principais características do “sistema nacional de inovação” brasileiro é o


pequeno envolvimento do setor privado nas atividades de pesquisa e desenvolvimento. Isso
pode ser explicado em função de particularidades do processo de estruturação desse sistema
que teve lugar no País e da maneira como o processo foi afetado pelas políticas industriais
implementadas.

De fato, a estrutura industrial não privilegiou a constituição de setores de “ponta” em


termos tecnológicos que estivessem sob a liderança das firmas nacionais, gerando uma

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 60


debilidade tecnológica das empresas nacionais que retirou da dinâmica de construção do
sistema de C&T um componente decisivo, qual seja o seu papel estratégico na ligação e nos
vários feedbacks entre a ciência e a tecnologia. A essa debilidade estrutural se soma a
concorrência externa limitada e a proteção que vigoraram por longo período e que inibiram a
capacitação tecnológica das empresas.

Mais recentemente, alguns estados têm procurado estimular a realização de esforços


de P&D pelo setor empresarial que estejam, de alguma forma, ligados à política industrial
implementada, principalmente no que se refere aos estímulos à atração de investimentos ou ao
fortalecimento de pequenas e médias empresas.

Nesse sentido, a experiência de alguns estados é ilustrativa. No caso do Paraná, o


estabelecimento industrial que realizar gastos em P&D contratados com instituições estaduais
poderá deduzir esses gastos, à razão de 1/12 (um doze avos) ao mês, do saldo do ICMS
apurado para pagamento com 48 meses de carência. Esse benefício não exclui a possibilidade,
simultaneamente, do estabelecimento deduzir do saldo devedor, o ICMS incremental
enquadrado no programa.

Em São Paulo, o Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,


gerido pela FAPESP, financia atividades tecnológicas no setor empresarial, definindo seis
linhas básicas de fomento: capacitação tecnológica geral; qualidade ambiental e conservação
de energia; modernização da gestão empresarial e automação; capacitação física e
laboratorial; empresas de base tecnológica; contratação de instituições de pesquisa. Utiliza-se
dos seguintes instrumentos de apoio: (i) limites de financiamento entre 70 e 90% do valor dos
projetos (privilegiando PMEs); (ii) taxas de juros ente 2% e 8% a.a.; (iii) carência máxima de
3 anos nos financiamentos.
Além disso, destaca-se o PITE (Programa de Parceria para a Inovação Tecnológica),
que procura estimular a parceria entre institutos de pesquisa e empresas. Através desse
programa, a FAPESP financia, a fundo perdido, a parte da pesquisa sob responsabilidade da
instituição parceira do projeto proposto, enquanto, no que se refere às empresas, é possível
financiar entre 20% e 70% do custo total do projeto, em função do grau de “inovatividade” do
mesmo. Cabe mencionar também o PIPE (Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas
Empresas), que procura incentivar pesquisas com alto potencial de retorno econômico e social
em empresas com até 100 empregados, baseado em financiamentos a fundo perdido às fases
pré-competitivas de projetos inovadores (até R$ 50 mil numa primeira fase e até R$ 200 mil
na segunda).

III.3. INSTITUIÇÕES E ARRANJOS LOCAIS INDUTORES DO PROCESSO DE INOVAÇÃO E


DIFUSÃO

A preocupação com o descompasso existente entre a infra-estrutura de C&T


(basicamente universidades e instituições públicas de pesquisa) e o aproveitamento
tecnológico por parte das empresas, tem levado diversos estados a reformulações de seus
arranjos institucionais na área. Esta seção propõe-se a discutir este aspecto, articulando a
caracterização formal daqueles arranjos a algumas evidências ilustrativas da utilização dos
mesmos como instrumento de dinamização e articulação das atividades científicas e
tecnológicas em escala local. Especificamente, os seguintes tópicos são contemplados nessa
discussão: (i) a transformação dos institutos de pesquisa tecnológica estaduais em centros de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 61


“transferência de tecnologia”; (ii) a presença de organismos não governamentais de integração
e mediação entre as esferas científica e tecnológica em escala local; (iii) o papel da montagem
de parques e pólos tecnológicos na criação de estímulos ao processo de transferência de
tecnologia; (iv) a importância da montagem de incubadoras de empresas na viabilização de
processos inovativos em escala local.

Os Institutos de Pesquisa Tecnológica Estaduais

De maneira análoga ao que ocorreu em muitos países em desenvolvimento, uma das


características fundamentais da infra-estrutura científico/tecnológica brasileira, em nível
estadual, foi a montagem de centros de pesquisa tecnológica com a função principal de
aproximar a pesquisa acadêmica do setor empresarial, através, fundamentalmente, da
realização de pesquisa com um peso menos acadêmico e supostamente mais vinculado às
necessidades produtivas.

O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), uma fundação de direito público


vinculada à SCTDE, é o exemplo mais ilustrativo de tal modelo. O IPT paulista tem como
principal função a realização de pesquisas e ensaios laboratoriais e a prestação de serviços às
empresas na área de tecnologia, com atuação em três linhas básicas: (i) provisão de apoio
tecnológico ao setor produtivo industrial; (ii) suporte à implantação de políticas públicas nas
áreas de informática, energia, transporte, saneamento, meio ambiente, defesa civil, habitação e
outras; (iii) manutenção e aprimoramento de acervo na área de tecnologia laboratorial e
normas e especificações técnicas. O IPT conta com várias unidades espalhadas no Estado de
São Paulo, tanto na capital como no interior, subdivididas em 11 centros ou divisões
especializados em setores específicos: informação tecnológica, informática e
telecomunicações; couros e calçados; de engenharia civil, economia e engenharia de sistemas,
geologia, mecânica e eletricidade; metalurgia; produtos florestais; química e tecnologia de
transportes.

A experiência do IPT foi replicada nos anos 60 e 70 em diversos estados brasileiros


(CIENTEC, no Rio Grande do Sul, TECPAR no Paraná, Fundação João Pinheiro em Minas
Gerais, CEPED na Bahia etc.). No Espírito Santo, por exemplo, atua o ITUFES (Instituto
Tecnológico da UFES), criado com o objetivo de auxiliar o controle de qualidade de produtos
e processos através de testes e ensaios em seus laboratórios. O ITUFES basicamente
desenvolve pesquisas tecnológicas, realiza estudos de impacto ambiental, além de estudos
laboratoriais, ensaios, testes, vistorias, relatórios de inspeção e consultoria em diversas áreas
de atuação. No Rio Grande do Sul, a Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC) tem a
atribuição de fornecer apoio técnico ao setor industrial do Estado, através não apenas da
realização de testes, ensaios e análises em máquinas e equipamentos com aplicação industrial,
como também de atividades relacionadas à otimização de processos. Os laboratórios dessa
fundação atuam nas seguintes áreas: alimentos, construção civil, eletroeletrônica, metal-
mecânica, processos industriais, recursos minerais e química industrial. O CIENTEC realiza
também projetos de pesquisa em conjunto com o setor privado e, além disso, atividades de
prestação de serviços e desenvolvimento de produtos e processos industriais. A Fundação
Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), possui como objetivo básico a transferência
de tecnologia, e realiza suas atividades através de 17 estações de pesquisa experimental
localizadas em regiões estratégicas do Estado. As principais linhas de pesquisa são:
melhoramento genético vegetal em grãos; recursos naturais renováveis; olerículas, raízes e
tubérculos; plantas ornamentais, medicinais, aromáticas e condimentares; e programa de
sanidade animal.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 62


Na região Nordeste, destacam-se os seguintes institutos estaduais: ITPS – Instituto de
Pesquisa de Sergipe; CEPED – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento; ITEP – Instituto
Tecnológico de Pernambuco; NUTEC – Fundação Núcleo de Tecnologia do Ceará;
FUNCETI – Fundação Centro de Tecnologia Industrial da Paraíba. Tais centros têm passado
nos últimos anos por diversas dificuldades. Inicialmente, a crise nas finanças públicas colocou
em dificuldades um modelo que por duas décadas dependeu quase que inteiramente do Estado
– federal e local – para o seu funcionamento. Por outro, a constatação de que a sua função
precípua não se materializava, tem levado a uma profunda rediscussão sobre o papel e
formato organizacional que deve assumir.

No caso de Santa Catarina, destaca-se o esforço do governo estadual em viabilizar o


projeto “Redes de Centros Tecnológicos Catarinenses”, que objetiva desenvolver e consolidar
os centros tecnológicos já existentes nas diversas regiões do estado. Os centros tecnológicos
do estado passaram por uma ampla reformulação tomando como modelo o caso alemão onde
Estado e setor produtivo contribuem cada um com um terço dos recursos dos institutos,
cabendo a este gerar o restante necessário.

Outras mudanças representam, ainda, apenas uma intenção, sendo difícil qualquer
avaliação. Assim, o CEPED baiano promoveu recentemente uma grande mudança nos seus
quadros e nas suas atividades, procurando expandi-las para atender outras demandas de
serviços e de P&D (além daquelas do pólo petroquímico) que sejam compatíveis com suas
competências (na área de transformação de plásticos, por exemplo). O NUTEC do Ceará
também tem realizado esforços de mudança com apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia
e do Governo do Estado. A FAPEPE (antiga FUNCETI) da Paraíba, por sua vez, foi
concebida de forma a atuar no agenciamento dos processos de difusão de tecnologia, sem
infra-estrutura própria para realização de atividades de P&D ou para prestação de serviços
técnico-científicos, concebendo e negociando projetos demandados pelas empresas,
implementando-os por meio da mobilização do pessoal e da infra-estrutura existente nas
instituições de pesquisa e prestação de serviços técnico-científicos, sobretudo da UFPB e
EMEPA. Na dinamização do papel desempenhado por estes institutos, é importante destacar
também o REVITE – Programa de Revitalização dos Institutos Tecnológicos Estaduais,
iniciado com apoio do PCDT e do PADCT do MCT.

Um segundo modelo de estruturação desses centros privilegia a exploração de “janelas


de oportunidade” tecnologicamente dinâmicas que possam apresentar um impacto importante
em termos da paulatina sofisticação da base industrial do estado. Neste caso, as áreas de
informática têm sido prioritárias. No caso do Espírito Santo, por exemplo, destaca-se a
criação do CTSOFT, em 1993, como parte do Programa Nacional de Informática – SOFTEX
2000. O Centro assumiu a responsabilidade pelo desenvolvimento de pesquisas e pela
viabilização de uma parceria com a universidade, o SEBRAE/ES, a TECVITÓRIA e a
Associação das Empresas de Software do Espírito Santo, de modo a permitir a
operacionalização do Projeto Gênesis no Estado.

A montagem de centros de transferência de tecnologia em setores tecnologicamente


dinâmicos é vista também por diversos governos estaduais como fator indutor da
consolidação de empresas de base tecnológica.

Em Minas Gerais, o governo tem estimulado a montagem de parcerias dessas


empresas com centros de pesquisa e universidades, principalmente em sua fase embrionária.
Nesse sentido, esses centros são vistos como estruturas viabilizadoras da criação de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 63


incubadoras de empresas de base tecnológica (ponto discutido a seguir), principalmente nas
áreas de informática, microeletrônica, biotecnologia, química fina e novos materiais. O
mesmo tipo de perspectiva orienta, por exemplo, a atuação da Fundação Parque Tecnológico
da Paraíba, que abriga empresas nascentes de base tecnológica no estado.

Sem dúvida, um fator crucial de sucesso dos centros de alta tecnologia é a capacidade
dos seus gestores de articular os agentes do sistema local de inovação, de maneira a promover
a realização de projetos cooperativos envolvendo a infra-estrutura científico-tecnológica
existente e as empresas já atuantes no estado. Nesse sentido, é possível caracterizar um
terceiro modelo de estruturação de centros tecnológicos estaduais que privilegia a articulação
dos mesmos a setores industriais em relação aos quais é possível identificar uma determinada
“vocação” empresarial no estado.

A experiência do Estado do Espírito Santo ilustra a montagem desse tipo de


instituição. Nesse estado o CETECON (Centro Tecnológico das Indústrias de Confecção do
Espírito Santo) está voltado para a identificação de carências tecnológicas e busca de suas
superações no setor de confecções (basicamente vestuário) capixaba, formado por um grande
número de pequenas empresas, quase todas de gestão familiar. Dentre os trabalhos realizados
pelo CETECON, a maioria refere-se à difusão de inovações gerenciais. Apenas os serviços
prestados com equipamento CAD de 1986 podem ser considerados como difusão de inovação
tecnológica. O CETEMAG (Centro Tecnológico do Mármore e Granito), por sua vez, centra
suas atividades basicamente na mobilização de instituições voltadas para treinamento de
pessoal. Por fim, o CDMEC (Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal Mecânico) tem
centrado sua atuação na mobilização política do setor, de forma a ter maior participação de
empresas locais no fornecimento aos grandes projetos industriais.

Organismos não Governamentais de Integração e Mediação

Além das ações dos diversos centros de pesquisa estaduais, é possível destacar
também o papel desempenhado por organismos não governamentais de integração e mediação
entre a esfera acadêmica e o setor empresarial. Estes organismos desempenham um
importante papel na viabilização da transferência de tecnologias entre estas instâncias,
contribuindo para a aceleração do ritmo de difusão de inovações pelo tecido industrial. O
dinamismo destes novos atores do desenvolvimento tecnológico não se encontra cerceado
pelas tradicionais restrições que afetam as agências públicas, principalmente no que se refere
à gestão de recursos humanos e nas relações com o exterior, ambas variáveis cruciais para
eficácia dos programas em tecnologia. Desse modo, estas entidades podem funcionar como
mecanismos privilegiados de interface/articulação intra setor público, intra setor privado, bem
como nas relações entre ambos, sobretudo quando da execução de projetos específicos.

Talvez o sistema mais inovador implementado nos últimos anos se relacione à


dinamização da rede de instituições vinculadas à CNI – os Institutos Euvaldo Lodi – que se
direcionam à integração universidade-indústria. Tais institutos vinculados à organização do
setor empresarial têm sido capazes de iniciar um processo de articulação de tais relações a
partir das necessidades empresariais.

Outros casos incluem, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro, a Rede de


Tecnologia do Rio de Janeiro e em São Paulo a Fundação UNIEMP, criadas como
mecanismos de cooperação entre várias universidades, instituições de pesquisa tecnológica,
empresas públicas e privadas, agências de fomento, e os governos estadual e municipal, com o

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 64


objetivo de estabelecer um elo entre o setor produtivo e a infra-estrutura de C&T (no caso da
UNIEMP, as universidades paulistas).

No Paraná, a grande novidade nos últimos dez anos, ao nível das instituições de
desenvolvimento, coordenação e fomento ao desenvolvimento tecnológico, tem sido a criação
e consolidação de inúmeras entidades civis, sem fins lucrativos, de âmbito local ou setorial,
com a característica primordial de serem constituídas em regime de consórcios institucionais
privados com participação do setor público, em caráter subsidiário. Neste estado, destaca-se a
atuação do CITPAR (Centro de Integração de Tecnologia do Paraná), criado há mais de dez
anos para desempenhar uma função mobilizadora e catalisadora de esforços das mais
diferentes entidades em torno de concretas aplicações de desenvolvimento tecnológico nas
empresas e mesmo em entidades do setor público. As atividades desse centro compreendem
desde programas orientados à transferência de tecnologias do exterior e das instituições de
pesquisa do Paraná, até a gestão de acordos de cooperação técnica, administração e
intermediação de programas e incentivos públicos à tecnologia para as empresas privadas,
coordenação de convênios internacionais, e outras atividades de apoio à modernização das
empresas e demais instituições no estado.

O Papel dos Parques e Pólos Tecnológicos

O processo de aglomeração espacial de empresas tecnologicamente dinâmicas tem


sido recorrentemente mencionado como fator de aumento da eficácia dos sistemas locais de
inovação, na medida em que facilita a interação entre os agentes (através da qual é gerado um
intercâmbio de competências e conhecimentos que induz a um maior ritmo de inovação e
difusão), estimulando provisão de serviços tecnológicos especializados em escala local. Além
disso, estes arranjos criam externalidades positivas para o desenvolvimento de pequenas
empresas de base tecnológica e para o próprio fortalecimento da infra-estrutura científico-
tecnológica.

A literatura que trata desses arranjos costuma estabelecer uma distinção entre parques
e pólos tecnológicos. Os primeiros referem-se a arranjos caracterizados pela presença das
seguintes características: (i) existência de relações formais envolvendo alguma universidade
ou instituto de P&D; (ii) presença de atividades produtivas dependentes do aporte contínuo de
conhecimentos técnico-científicos; (iii) presença de estruturas de gestão engajadas na
transferência de tecnologia e em atividades de capacitação tecnológica.

Já os pólos tecnológicos compreendem empreendimentos em áreas físicas mais


sofisticadas (envolvendo a construção de tecnópolis), estando associados à produção em larga
escala. As Instituições Administradoras de Parques e Pólos Tecnológicos têm a função básica
de coordenar o funcionamento orgânico dos parques ou pólos através de uma gerência
administrativa, de prover serviços básicos de uso comum das empresas participantes e de
tornar disponível e administrar as áreas reservadas à instalação de empresas. Algumas dessas
entidades administram também incubadoras empresariais.

No que se refere à experiência dos diversos estados brasileiros quanto à montagem de


parques tecnológicos, é possível identificar algumas tendências gerais.

Em primeiro lugar, observa-se que diversos parques tecnológicos têm sido


estruturados no intuito de explorar vocações já consolidadas em determinadas regiões. No
caso do Paraná, por exemplo, o Parque Tecnológico Agroindustrial do Oeste, inaugurado no

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 65


final de 1996 na cidade de Cascavel, comporta um conjunto de infra-estruturas, serviços e
facilidades tecnológicas, tais como laboratórios, centro de treinamento etc., visando atrair
empresas nas suas áreas industriais disponíveis, prestando serviços e promovendo a difusão
tecnológica para as empresas já localizadas na região. Ainda em fase de mobilização e de
planejamento, estão sendo concebidos o Parque Tecnológico de Londrina e o Parque
Tecnológico de Pato Branco, este último tendo como entidades tecnológicas âncoras o
CEFET-PR – PB e a COPEL – Cia Paranaense de Energia. Em Londrina o projeto do Parque
vem sendo desenvolvido em conjunto pela UEL – Universidade Estadual de Londrina, e a
ADETEC – Assoc. de Des. Tecnológico de Londrina, entidade civil sem fins lucrativos,
instituída há três anos pelo poder público municipal, pela Universidade Estadual de Londrina,
o IAPAR, entidades empresariais locais e outros.

No caso de Minas Gerais também é possível identificar uma experiência de


surgimento espontâneo de um pólo de informática na região de Santa Rita do Sapucaí. Outras
áreas desse estado apresentam um padrão de especialização produtiva e uma disponibilidade
de infra-estrutura científico-tecnológica que apontam para a viabilidade da implantação de
parques tecnológicos, como o Triângulo Mineiro, o eixo Belo Horizonte/Ouro Preto, as
vizinhanças de Viçosa e a Região Metropolitana de Juiz de Fora. Do mesmo modo, em Santa
Catarina, é possível identificar, além dos pólos já consolidados de cerâmica na região de
Criciúma e de automação em Florianópolis, diversas regiões onde o padrão de especialização
local aponta no sentido da viabilidade da constituição desses arranjos, tais como: (i) região
Nordeste (Joinville, Jaraguá do Sul e São Bento do Sul) especializada nas áreas de
informática, metal-mecânica, mecânica de precisão, materiais, mobiliário e biotecnologia de
fermentação; (ii) região do Vale do Itajai (Blumenau, Brusque e Rio do Sul) especializada em
informática, indústria têxtil, química e cerâmica; (iii) região Sul (Criciúma, Tubarão,
Araranguá) especializada nas áreas de carvão, vestuário, calçados, química e cerâmica; (iv)
região do Planalto (Lages, Curitibanos, Caçador, Canoinhas) especializada nas áreas de
madeira, mobiliário, papel e celulose, e biologia vegetal; (v) região Oeste (Chapecó, Joaçaba,
Concórdia, Videira, São Miguel do Oeste e Xanxerê) especializada em agroindústria,
alimentos e mecânica.

Em estados com uma estrutura industrial mais sofisticada e uma infra-estrutura


científico-tecnológica mais consolidada, como São Paulo, é possível identificar diversos
pólos tecnológicos espontâneos, surgidos em função da acumulação de massa crítica em
determinadas regiões. Neste estado, é possível destacar a consolidação de “parques
tecnológicos” nas regiões de Campinas, com especialidade em novas tecnologias na área de
telecomunicações, São José dos Campos, voltado aos setores de aeronáutica e material
bélico, e São Carlos, fortemente associado a tecnologias relativas a novos materiais. O
governo estadual tem particular importância na montagem destes arranjos, na medida em
que os mesmos foram favorecidos pela massa crítica existente em instituições de C&T
estaduais, como a USP e o IPT.

O Parque de Alta Tecnologia de São Carlos, embora formalizado em 1984 com a


criação da Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos, tem sua origem real na década
de 70 com a criação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e com a oficialização
do campus São Carlos da USP. Sua característica formal é dada pela mencionada Fundação
que desenvolve as seguintes atividades: incubação de empresas nascentes, apoio
administrativo às empresas, assessoria gerencial, criação de um consórcio de software para
fortalecer as empresas de informática, organização de cursos, seminários e palestras de

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 66


interesse das empresas, promoção de feiras, intermediação entre as empresas, instituições de
ensino e pesquisa e órgão do governo (especialmente os de financiamento).

Além da Fundação destaca-se a atuação do CEDIN (Centro de Desenvolvimento


para Indústrias Nascentes) instalado em 1986 pela Secretaria de Ciência e Tecnologia de
São Paulo, além de um Centro de Alta Tecnologia (CEAT) para abrigar empresas de base
tecnológica e de uma escola para formação de mão-de-obra técnica para atendimento das
empresas de base tecnológica. O pólo baseia-se na estruturação de um CTI de caráter
multisetorial, no interior do qual destacam-se atividades relacionadas à área de
telecomunicações. Este pólo se utiliza da massa crítica acumulada na UNICAMP, em
especial no que se refere à pesquisa aplicada nos campos da física do estado sólido e no
estudo dos materiais, o que levou ao estabelecimento do convênio entre a TELEBRAS e a
UNICAMP, orientado a um programa de comunicações óticas que resultou na criação do
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da TELEBRAS (CPqD), a partir do qual
estruturou-se o pólo.

Outros pólos têm surgido em diversos estados a partir de uma atuação de natureza
mais nitidamente “estruturante” realizada por diferentes instâncias de governo, estando
geralmente direcionadas para áreas de alta tecnologia com potencial de dinamização das
economias locais.

O Parque de Software de Curitiba, por exemplo, inaugurado no final de 1996, foi


totalmente custeado pelo poder municipal, comportando lotes negociados com empresas de
software, além de uma infra-estrutura específica (telecomunicações, laboratórios, área de
treinamento, provedor de internet etc.) gerenciada por uma entidade civil sem fins lucrativos,
o CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software.

O Rio de Janeiro também se destaca pela constituição do Bio-Rio (Pólo de


Biotecnologia do Rio de Janeiro), um arranjo bastante próximo da definição strictu-sensu de
parque tecnológico, montado a partir do apoio direto de organismos de diferentes instâncias
de governo. A concepção do Pólo Bio-Rio previa a mobilização dos seguintes agentes: (i)
uma entidade gestora, a Fundação Bio-Rio; (ii) uma área urbanizada para implantação de
empresas ativas em biotecnologia e atividades produtivas afins, localizadas no “campus” do
Fundão; (iii) uma rede de entidades científicas associadas, tendo como núcleo inicial a UFRJ
e a FIOCRUZ e estendendo-se progressivamente a outras instituições do estado; (iv) uma
unidade central de facilidades compartilhadas, que abriga a administração da Fundação, a
“Incubadeira de Empresas” e um conjunto de laboratórios especializados de suporte aos
trabalhos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento realizados por instituições científicas e
empresas; (v) uma empresa de capital de risco orientada à capitalização de novos
empreendimentos nascentes no pólo. Apesar dessa estrutura formal, na prática os resultados
obtidos através desse arranjo ficaram muito aquém do inicialmente pretendido, pouco
avançando-se além da montagem de uma infra-estrutura mínima e de uma incubadeira de ação
ainda limitada.

Mesmo estados com menores recursos têm procurado avançar a montagem de parques
ou pólos tecnológicos.

Nesse sentido, a experiência de alguns estados nordestinos é bastante ilustrativa. A


Paraíba, por exemplo, foi um dos estados pioneiros na montagem deste tipo de arranjo
tecnológico no país, com a criação do PaqTecPb em 1983, envolvendo a participação da

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 67


Prefeitura de Campina Grande, do Governo do Estado e da Universidade Federal. Entretanto,
além da baixa dinâmica econômica do estado, este arranjo tem mostrado limitações comuns a
outras experiências desenvolvidas no Brasil, com relação à capacidade deste tipo de organização
para viabilizar inovações tecnológicas. No Parque de Campina Grande, destacam-se o setor de
informática, as aplicações das técnicas de geoprocessamento e a modernização das atividades
produtivas tradicionais. No setor de informática, as empresas do pólo têm-se dedicado
principalmente ao desenvolvimento de softwares, com apoio do SOFTEX e, sobretudo, à
formação e treinamento de recursos humanos. No caso do Ceará, o exemplo é o da atuação do
governo do estado em viabilizar um pólo tecnológico em Maracanaú (na Região
Metropolitana de Fortaleza), envolvendo investimentos de R$ 24 milhões na montagem da
infra-estrutura necessária ao funcionamento de empresas voltadas para as áreas de
informática, microeletrônica e telecomunicações. Na Bahia, destaca-se a criação do pólo de
informática eletroeletrônica e telecomunicações, localizado no Distrito Industrial de Ilhéus, o
qual, com três anos de funcionamento, já atraiu 20 empresas e investimentos de R$ 84
milhões. Ali já são produzidos 286,4 mil microcomputadores, o equivalente a 10% dos
computadores pessoais consumidos no País.

Apesar da importância dessas experiências, o padrão geral de estruturação de parques


ou pólos tecnológicos induzida por estímulos das políticas de C&T de esferas
descentralizadas de governo demonstra que os resultados efetivamente obtidos são muito
inferiores aos esperados. A experiência demonstra que existem quatro condições básicas para
o sucesso dessas iniciativas: (i) a proximidade (efetiva e não apenas física) de universidades e
centros de pesquisa de qualidade; (ii) capacidade de geração de pequenas empresas intensivas
em conhecimento; (iii) disponibilidade de capital para investimentos de risco; (iv) existência
de uma estrutura econômica minimamente estruturada que garanta uma demanda tecnológica
imprescindível ao fortalecimento do arranjo.

Além disso, no plano da criação de estímulos à montagem desses arranjos, cabe


destacar a importância da realização de um esforço de prospecção para definir tecnologias-
chaves para a dinamização das economias das diversas regiões, mantendo-se um processo
permanente de monitoramento que permita identificar novas oportunidades e os principais
requisitos de capacitação tecnológica. Cabe sublinhar também a importância da adequação
dos instrumentos de crédito e incentivos existentes para capacitação tecnológica e do estímulo
à intensificação dos investimentos de risco.

Com relação a esses fatores, a experiência de estruturação de pólos e parques


tecnológicos em alguns estados brasileiros permite identificar alguns problemas frequentes
que entravam a consolidação desses arranjos: (i) a fraca conectividade entre os agentes dos
sistemas locais de inovação (instituições financeiras, autoridades locais, empresas, institutos e
universidades); (ii) a baixa capacidade de realização de investimentos de risco; (iii) a baixa
densidade de agentes com espírito empreendedor para associarem-se à infra-estrutura
científico-tecnológica em empreendimentos de caráter mais inovador; (iv) a ausência de
grandes empresas de alta tecnologia que funcionem como âncoras de determinados arranjos;
(v) a não utilização do poder de compra do Estado; (vi) limitações de quantidade, qualidade e
perfil da infra-estrutura técnico-científica; (vii) a precária capacidade de gestão de
determinados empreendimentos.

Estes problemas fazem com que muitas vezes a estruturação dos arranjos limite-se à
montagem de incubadoras de empresas, com impactos limitados sobre a economia local.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 68


Apesar disso, algumas experiências importantes nos seus resultados podem ser mencionadas,
aspecto abordado na próxima seção.

A Importância da Montagem de Incubadoras de Empresas

As incubadoras de empresas se destinam a propiciar o surgimento de novas empresas


de base tecnológica, freqüentemente oriundas de projetos de P&D e organizadas em geral por
pesquisadores associados ou não a outros empresários. O objetivo principal das incubadoras é
permitir a transformação em atividade produtiva de idéias (corporificadas em produtos ou
processos), prescindindo de imobilização significativa de capital e de grande necessidade de
capital de giro, uma vez que os serviços e instalações básicas para o início das atividades
produtivas são cedidas pelas incubadoras.

Dentre os serviços que estes empreendimentos costumam oferecer às empresas


incubadas destacam-se: orientação empresarial e jurídica; apoio às atividades de marketing e
comercialização; informação e gestão tecnológica; apoio para realização de registro e
legalização comercial; compra conjunta de materiais e utilização de equipamentos
compartilhados.

As firmas incubadas são geralmente liberadas (graduadas) quando o desenvolvimento


dos seus projetos permite a produção e comercialização no mercado, o que implica na sua
saída da incubadora e ingresso em parques tecnológicos, que consistem de espaços
empresariais (industriais) próximos de universidades e centros de pesquisa. A principal
distinção dos parques em relação às incubadoras é que nos primeiros a ocupação pode ser
definitiva e as atividades produtivas são permitidas. Na prática, porém, o limite é mais tênue,
pois muitas vezes a produção pode ser viabilizada em condições satisfatórias através da escala
laboratorial de empresas incubadas (como ocorre em determinados campos da biotecnologia
que trabalham com produtos de volume reduzido e de alto valor unitário).

Diversos estados têm avançado na montagem de incubadoras de empresas. No Rio


Grande do Sul, por exemplo, existem seis incubadoras instaladas no Estado, onde encontram-
se incubadas cerca de 30 empresas. A Incubadora Empresarial Tecnológica (IETEC) de Porto
Alegre foi criada no final dos anos oitenta pela Prefeitura, atuando nas áreas de
informática/software, eletrônica e mecânica, tendo, até o ano de 1997, incubado 12 empresas
de base tecnológica, envolvendo 27 empresários gaúchos. A taxa de mortalidade das empresas
situa-se abaixo dos 20%, assegurando à IETEC ser uma das cinco principais incubadoras
brasileiras. A Incubadora Tecnológica Alfredo Fockink (ITAF) de Panambi foi criada no final
de 1995, através de iniciativa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul – UNIJUÍ, Prefeitura Municipal, Associação Comercial e Industrial e Colégio
Evangélico, todos de Panambi, SEBRAE e SENAI. Até meados de 1997, a incubadora
tecnológica já possuía cinco empresas incubadas e sua principal linha de atuação estava
direcionada para as áreas de metal-mecânica, software e eletrônica. A Incubadora Empresarial
de Passo Fundo começou suas atividades em 1995, tendo, até meados de 1997, uma empresa
incubada atuante no segmento de microprocessadores com ênfase em engenharia biomédica,
envolvendo no empreendimento cerca de 20 pessoas.

Outros estados têm avançado na mesma direção. Em Santa Catarina destaca-se o


projeto “Rede de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica”, que objetiva ampliar a
experiência do Centro Empresarial para Laboração de Empreendimentos de Tecnologias
Avançadas (CELTA), de Florianópolis, criando uma incubadora em cada um dos pólos

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 69


regionais de modernização da indústria do estado, envolvendo o sistema universitário
catarinense, os governos municipais e as associações empresariais.

No Rio de Janeiro também é possível identificar a presença de cinco incubadoras


instaladas e uma em instalação: Incubadora da COPPE/UFRJ; Incubadora do BIORIO;
Incubadora do CEFET-RJ; Incubadora da UERJ-Instituto Politécnico; Incubadora da PUC e
projeto Gênesis; Parque Tecnológico da Ilha do Fundão/UFRJ. Em Minas Gerais, é possível
destacar a criação de uma incubadora de empresas na área de biotecnologia em Belo
Horizonte, constituída através de parcerias estabelecidas entre órgãos da administração
pública federal, estadual e municipal, além da iniciativa privada.

Mesmo em estados com uma infra-estrutura científico-tecnológica menos estruturada,


a montagem de incubadoras de empresas vem sendo crescentemente utilizada como
instrumento de dinamização das economias locais. Na Bahia, por exemplo, a recente
reestruturação do CEPED contemplou a criação de uma incubadora de empresas, a partir de
um esforço de identificação da demanda regional e do re-direcionamento das atividades
daquele centro para a prestação de serviços técnico-científicos. Os empreendimentos de base
tecnológica que participam desta incubadora (denominada INCUBATEC) contam com o
apoio contínuo de um centro de pesquisas e desenvolvimento e toda sua infra-estrutura, de
espaço físico exclusivo e da promoção de facilidades que viabilizem a consolidação dessas
empresas. As áreas contempladas são, prioritariamente, as de química/petroquímica, novos
materiais, biotecnologia, mecânica de precisão, mínero-metalurgia e agro-indústria/alimentos.
A integração de um empreendimento à INCUBATEC obedece a um processo que tem por
objetivo orientar o interessado, desde o princípio, no planejamento de suas atividades.

III.4. SUGESTÕES E AÇÕES COMPLEMENTARES

O papel da inovação enquanto fator fundamental de competitividade no quadro atual


da globalização e a crescente importância das interações técnicas e econômicas como
mecanismos de realizar os processos de inovação e difusão de tecnologias impõem uma
percepção altamente local da política de C&T. Nesse contexto, tanto as agências de
desenvolvimento regional, como os sistemas estaduais de C&T têm importantes papéis a
desempenhar em uma perspectiva de médio e longo prazo.

No que se refere às políticas descentralizadas de inovação e difusão tecnológica, estas


ações devem contemplar tanto a realização de pesquisas de caráter estratégico para o
desenvolvimento de uma determinada região, que dificilmente seriam assumidas sem o
suporte de instituições ou incentivos do setor público federal, como ações que visam reduzir
as incertezas do processo inovativo e minimizar seu custo, através do financiamento das
atividades de pesquisa, desenvolvimento e engenharia (PD&E) e da montagem de arranjos
institucionais capazes de efetivamente articular as estratégias e necessidades do setor
produtivo com as capacitações e vocações da infra-estrutura de C&T. Em ambos os casos, a
experiência demonstra que a participação de instâncias descentralizadas de governo pode ser
de grande importância para aumentar a eficácia das ações, ampliando a possibilidade de
geração de benefícios relevantes para as economias locais.

A experiência brasileira demonstra que, simultaneamente ao processo de crescente


descentralização de responsabilidades quanto às atividades de C&T, observa-se um
enfraquecimento do aparelho estatal federal de suporte à realização destas atividades.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 70


Originou-se, assim, um processo no qual o governo federal procura se desobrigar de uma série
de funções importantes em termos da política de C&T, sem que as instituições que
conformam os sistemas estaduais de C&T estejam consolidadas.

Em função das pressões resultantes desse quadro, são criadas dificuldades para a
viabilização de um processo mais equilibrado de aprendizado por parte dos formuladores das
políticas locais, que permita aproximar e integrar os esforços realizados na esfera científica e
no setor empresarial dos diversos estados, o que seria imprescindível para permitir a
introdução e difusão de inovações com maior impacto em termos da dinamização das
economias locais.

Outro aspecto importante refere-se à necessidade de compatibilização das ações


relativas às políticas de C&T implementadas nas esferas federal e estadual. Quanto a esse
aspecto, cabe ressaltar, de início, que existe muitas vezes uma superposição de instituições
pertencentes às instâncias federais e estaduais nos âmbitos operacionais das políticas de C&T.
Esta situação impõe um grande esforço de coordenação. Este problema tende a agravar-se na
medida em que os propósitos e prioridades das políticas definidas nas diversas instâncias de
governo possuem uma autonomia relativa, podendo diferir entre si, e até mesmo conflitarem
em termos de forma e conteúdo. Como exemplo, é possível mencionar a possibilidade de
conflito entre políticas federais que procuram privilegiar centros de excelência consolidados,
com amplo potencial de geração de inovações, e a preocupação das políticas estaduais em
estimular núcleos de competência ainda embrionários, cuja consolidação poderia fortalecer a
infra-estrutura científico-tecnológica local, atraindo investimentos, gerando efeitos “spin-offs”
(via criação de empresas de base tecnológica) e possibilitando uma paulatina sofisticação da
base produtiva local ou regional. Apesar de representar importante arranjo institucional, o
fórum de secretários estaduais de C& T ainda não foi capaz de resolver tais problemas.

Além disso, há uma diversidade da conformação institucional dos sistemas estaduais


de C&T nos diversos estados da federação. Se por um lado tal diversidade é positiva, na
medida em que exprime diferenças regionais, por outro cria um quadro de extrema
desigualdade, particularmente, no que se refere à alocação efetiva de recursos. Tal
variabilidade nos recursos efetivamente mobilizados pelos sistemas estaduais ocorre não só
entre diferentes estados, mas também no mesmo estado ao longo do tempo, em função de uma
maior ou menor “valorização” das atividades de C&T, a qual é fortemente afetada por
injunções políticas. Caberia ao governo federal tentar harmonizar tal situação.

Como as diferentes regiões do País não são homogêneas, cada estado apresenta
especificidades que precisam ser consideradas para a implementação de políticas de C&T
adequadas às suas condições particulares. No entanto, apesar da diversidade das ações das
políticas de C&T implementadas ao nível das diferentes unidades da federação, é possível
identificar algumas tendências gerais relativas à conformação institucional dos sistemas
estaduais de C&T.

Na maioria dos estados, observa-se a utilização do modelo FAPESP na criação de


organizações de suporte à implementação de políticas descentralizadas de C&T, o que tem se
mostrado problemático em função das diferenças das realidades locais em relação à situação
de São Paulo. Isto tem gerado distorções na organização institucional dos sistemas de C&T
estaduais. Como conseqüência, os critérios, mecanismos e instrumentos de fomento utilizados
geralmente guardam semelhanças com os utilizados pelo CNPq, pela própria FAPESP e por

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 71


outras agências públicas mais centralizadas. O resultado costuma ser uma duplicação de
esforços quanto ao suporte oferecido às atividades científico-tecnológicas que costuma
neglicenciar as necessidades específicas de captação de recursos dos agentes locais.

Desse modo, a maioria dos estados tem apenas substituído recursos e assumido as
despesas antes realizadas pelo sistema federal, sem procurar definir prioridades adaptadas às
particularidades do sistema de C&T e da própria base produtiva local. Este padrão reforça a
ameaça de desconexão entre os incentivos oferecidos pela política de C&T e as necessidades
locais, ocasionando uma tendência ao não comprometimento efetivo dos governos estaduais
com investimentos em C&T, uma vez que estes governos encontrem, em função de situações
circunstanciais, outras destinações para os recursos que ofereçam um maior retorno político.

De maneira a contornar estes problemas, alguns requisitos para uma operacionalização


eficaz das políticas de C&T estaduais, que permitiriam ampliar a possibilidade de geração e
difusão de inovações pelo tecido industrial local, podem ser mencionados.

1) É necessário estabelecer critérios para definição das prioridades destas políticas em


função dos impactos previstos sobre as economias locais. Isso não implica, contudo, na
concepção de programas com caráter assistencialista ou compensatórios. Pelo contrário, é
importante que estes programas sejam definidos em função do potencial efetivo de
dinamização da base produtiva local, numa perspectiva de reforço da competitividade
alicerçada na melhoria da qualidade e nível tecnológico dos produtos e processos, que
tenha como referências as best pratices tecnológicas setoriais. O processo de definição de
prioridades para as políticas de C&T estaduais deve também ter como marco de
referência o padrão de crescimento econômico que se pretende viabilizar em determinada
região e os incentivos e instrumentos da política de infra-estrutura e da política industrial
à disposição dos governos estaduais para induzir uma eventual re-configuração da
estrutura industrial local. A ligação entre as políticas de infra-estrutura, industrial e de
C&T estadual é fundamental.

2) É importante identificar e explorar “janelas de oportunidade” potencialmente importantes


para a dinamização das economias locais, a partir da construção de visões de longo prazo
para as políticas de C&T estaduais. Isso requer a implementação de programas
organizados de forma a fortalecer iniciativas potencialmente portadoras de futuro,
identificadas nas diferentes localidades e regiões. Em outras palavras, é fundamental o
desenvolvimento de uma capacidade de monitoramento das atividades científicas e
tecnológicas realizadas ao nível local, de modo a identificar-se aquelas com potencial de
geração de resultados passíveis de serem incorporados pelo setor produtivo.

3) Supõe-se, ademais, que em determinadas áreas técnico-científicas de importância


estratégica é importante criar condições para o fortalecimento de grupos de agentes locais
que estejam em condições de manter um diálogo com seus pares dos centros nacionais e
internacionais mais avançados. O paulatino fortalecimento desses grupos atuantes em
áreas estratégicas, definidas em função da fronteira científico-tecnológica mundial, pode
funcionar com uma importante “antena”, colocando a região no “fluxo de informações”
relevantes para a paulatina capacitação naquele campo. A obtenção de uma maior
capacidade para compreender o curso dos debates da fronteira é muito importante (apesar
de ser um avanço qualitativo de pequena extensão quantitativa) e pode ser decisiva para o
fortalecimento das economias locais numa perspectiva de mais longo prazo.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 72


4) É importante a montagem de arranjos produtivos e tecnológicos em escala local que
favoreçam a realização efetiva do processo inovativo localmente, não à partir da antiga e
ultrapassada idéia de uma “transferência de conhecimentos e tecnologias gerados no meio
acadêmico para o setor industrial” mas sim através de efetivamente buscar implementar
mecanismos de interação entre as capacitações empresariais e as localizadas na infra-
estrutura científico-tecnológica.

5) Neste sentido, é útil considerar o exemplo de algumas experiências realizadas nos países
da OCDE, particularmente nos países nórdicos, onde, financiadas conjuntamente pelo
estado e pela iniciativa privada, são implementadas “plantas de demonstração”, nas quais
tecnologias e inovações são conjuntamente desenvolvidas por pesquisadores de
instituições públicas de C&T e técnicos de empresas produtivas. Evidentemente, para
organizar os agentes envolvidos no processo de inovação e difusão tecnológica em torno
de propósitos comuns, é necessário que as instâncias de governo reconheçam as
especificidades dos valores, interesses e estratégias dos agentes envolvidos no processo,
montando arranjos institucionais que favoreçam a aproximação e interação entre estas
instâncias.

6) As políticas de C&T devem ser capazes de mobilizar instrumentos mais sofisticados,


condizentes com os objetivos que pretendem alcançar e com as especificidades do
processo inovativo numa economia como a brasileira, onde o setor financeiro não tem
sido capaz de prover o financiamento de tais atividades. Em particular, a disposição para
enfrentar riscos, ainda exige uma atuação mais ativa por parte do estado, o que é mais
importante ainda num contexto de redução da capacidade de financiamento do setor
público e de ameaça de retração do volume de recursos governamentais destinados à
ciência e tecnologia, em função das dificuldades financeiras enfrentadas por instâncias
descentralizadas de governo. Este problema pode se agravar na medida em que, ao
assumirem uma atitude mais pró-ativa em termos de políticas de C&T, os governos
estaduais provavelmente acabarão se defrontando com projetos de maior significado, já
que existe uma forte correlação entre o risco e o potencial de impacto desses projetos.

7) Neste sentido, é importante que as instituições de fomento científico-tecnológico


estaduais estruturem-se de modo a apoiar adequadamente atividades de risco,
desenvolvendo experimentos controlados que complementem seus processos regulares e
mais conservadores de seleção. Simultaneamente, torna-se importante a participação das
instâncias de governo na diminuição do risco tecnológico de empreendimentos de maior
vulto, inclusive através de formas alternativas de financiamento de risco, tais como
créditos com risco compartilhado, baseados em empréstimos que só são integralmente
pagos em caso de sucesso comercial.

8) Ao lado dessa disposição de mobilizar fontes alternativas de financiamento, a


dinamização das políticas de C&T estaduais envolve também a exigência de maior rigor
na alocação dos escassos recursos governamentais. Essa exigência pode implicar,
principalmente para estados que se encontram em pior situação do ponto de vista
econômico-financeiro, na concentração dos esforços e incentivos em um conjunto mais
restrito de prioridades, selecionadas a partir de critérios mais rigorosos de avaliação do
seu impacto sobre as economias locais.

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 73


SUMÁRIO DE SIGLAS

BASA Banco da Amazônia


BB Banco do Brasil
BNB Banco do Nordeste do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNDESPAR BNDES Participações S/A
CONTEC Programa de Capitalização de Empresas de Base Tecnológica do
COPEL Companhia Paranaense de Energia
CVM Comissão de Valores Mobiliários
EBT Empresa de Base Tecnológica
FAT Fundo de Apoio ao Trabalhador
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP
FCVS Fundo de Compensação de Variações Salariais
FINAME Subsidiária do BNDES – Financiamento de Máquinas e Equipamentos
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
IEL Instituto Euvaldo Lodi
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
MCT Ministério da Ciência e Tecnologia
PACTI Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria
PDTA Programa de Desenvolvimento Tecnológico Agropecuário
PDTI Programa de Desenvolvimento Tecnológico Industrial
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PETROBRAS Petróleo Brasileiro S/A
PIPE Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas
PITE Parceria para Inovação Tecnológica
SETEC Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico do MCT
SRF Secretaria da Receita Federal

Política de Desenvolvimento Tecnológico e Novas Tecnologias 74


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