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Abstract: The present paper intends to focus on the concept of the hermeneutic
circle and the way it was and continues to be equally transposed to the social sciences.
An expository approach is sought that identifies some contributions and limitations, but
above all underlines how the two spheres under analysis are brought together.
Keywords: Hermeneutics; Hermeneutic Circle; Social Sciences.
1
1 Efetivo na Polícia Marítima. Economista pela Ordem dos Economistas. Mestre em Economia pela
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Mestrando de Filosofia na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Estudo realizado no âmbito do seminário de Ética e Filosofia Política. E-mail:
decortesao@gmail.com
Cumprimento das normas de publicações no âmbito da edição de filosofia da Revista da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto:
https://ojs.letras.up.pt/index.php/filosofia/about/submissions#authorGuidelines
2
Alves, Leonardo M., O Círculo Hermenêutico para leituras críticas, Ensaios e Notas, 2014; Disponível
em: https://ensaiosenotas.com/2014/11/20/o-circulo-hermeneutico-para-leituras-criticas/, p. 1
3
Idem, ibidem
4
Idem, ibidem
5
Silva, Maria Luísa P. F., «Círculo Hermenêutico…», op. cit., p. 1
6
Taylor (1985) apud Mantzavinos, Chrysostomos, «O círculo hermenêutico: que problema é este?»,
Tempo Social, 26(2), 2014, pp.57-69, p. 57
7
Alves, Leonardo M., «O Círculo Hermenêutico…», op. cit., p. 1
8
Idem, ibidem, p. 3
9
Idem, ibidem, p. 2
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confiar nas interpretações possíveis»10. Maria Silva acrescenta, referindo Heidegger, a
propósito da direção aqui apontada:
Ultimando Maria Silva que «uma consciência hermenêuticamente formada não pode
entregar-se, de facto, desde o início, ao acaso das suas próprias opiniões prévias sobre o
assunto, deve, pelo contrário, estar disposta a que o texto lhe diga algo de novo»11.
Na relação que se adensa entre o objetivo da hermenêutica «pensada e
desenvolvida como método para compreender a alteridade»12 e o empenho da ferramenta
do círculo hermenêutico que «não deve ser reduzido ao nível de um círculo vicioso ou
mesmo de um círculo tolerado»13, vem sugerir deste modo que o exercício interpretativo
resultante se inicia não «num grau zero mas, pelo contrário, de uma pré-compreensão que
envolve a nossa própria relação com o todo do texto, embora apenas se torne compreensão
explícita quando, por sua vez, as partes que se definem a partir do todo, definem este
mesmo todo»14.
10
Idem, ibidem, p. 3
11
Silva, Maria Luísa P. F., Círculo Hermenêutico, E-Dicionário de Termos Literários, 2009, Disponível
em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/circulo-hermeneutico/, p. 3
12
Alves, Paulo C.; Rabelo, Míriam C.; Souza, Iara M., «Hermenêutica-fenomenológica e compreensão nas
ciências sociais», Sociedade e Estado, 29(1), 2014, pp. 181-198, p .191
13
Heidegger (1962) apud Mantzavinos, Chrysostomos, «O círculo hermenêutico: que…», op. cit.,
p. 58
14
Silva, Maria Luísa P. F., ibidem, p. 1
15
Dilthey (1981) apud Jahnke, Hans-Richard, O Conceito da Compreensão na Sociologia de Max Weber,
Universidade de Coimbra, Coimbra, 2013, p. 55
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surgimento veio permitir um novo olhar sobre a sociedade, imprimindo uma nova ordem
social que «desenhou mapas para a construção de instituições e culturas; providenciou
legitimações para um estado central burocratizado e para as suas aspirações de
reordenamento da ordem social»16.
Os avanços nas novas formas de conhecimento, também como resposta à
hegemonia analítica das ciências naturais, contribuem para o crescimento e autonomia
das ciências sociais que tomam como seu objeto os «seres humanos, agentes socialmente
competentes, que interpretam o mundo que os rodeia para melhor agirem nele e sobre
ele»17 importando daqui esclarecer:
As ciências sociais não são «ciências», se este termo for usado com o mesmo sentido
que tem nas ciências naturais; mas se, ao contrário, por ele se entender uma forma
sistemática de abordagem da realidade que visa obter conhecimentos dotados de um
suficiente grau de rigor e verificados pelos factos com o uso de um método adequado
(1985: 100).18
16
Tralhão, Regina, «O Sujeito no Pensamento Social: A Hermenêutica e as Ciências Sociais e Humanas»,
Interações: Sociedade e As Novas Modernidades, 9(16), 2009, pp. 7-51, pp. 9-10
17
Santos, Boaventura de Sousa, «Introdução a uma ciência pós-moderna», Graal, Rio de Janeiro, 1989, pp.
51-77, p. 63
18
Idem, ibidem, p. 65
19
Silva, Rui S., «O Círculo Hermenêutico e a Distinção Entre Ciências Humanas E Ciências Naturais»,
Ekstasis: revista de fenomenologia e hermenêutica, 1(2), 2013, pp. 54-72, p. 60
20
Cfr. Taylor apud Idem, ibidem, p. 61
21
Santos, Boaventura de Sousa, «Introdução a uma ciência…», op. cit., p. 75
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padrão para aqueles que querem sustentar a autonomia das ciências [sociais e]
humanas»22.
O crescimento e desenvolvimento das ciências sociais beneficiou em parte da
influência do Iluminismo que procurava sujeitar «a tradição aos critérios universais da
razão e, contra as restrições e os preconceitos impostos pela tradição, prega a liberdade
da razão»23, e do Romantismo que «reage ao movimento devastador da razão iluminista,
pregando o retorno à tradição, a verdade do mythos em oposição à verdade do logos»24.
Concorre para tal os principais contributos da tensão que resulta entre estes dois
movimentos, desdobrando-se numa série de «oposições entre razão e emoção, liberdade
da razão e autoridade da tradição que repercutem nas ciências sociais e se traduzem em
diversas polaridades»25 designada e resumidamente, em traços gerais, no «universalismo
versus singularismo, holismo versus individualismo»26. Neste equilíbrio de forças,
importa refletidamente considerar que:
Existe, pois, um vetor diretor que conduz a uma interseção entre as dimensões envolvidas,
refletindo-se nas ciências sociais, conforme Gadamer ao insistir:
(…) esta relação, entre a parte e o todo, não pode ser pensada em termos do universal
e particular: a experiência enquanto parte não é simplesmente a instância singular,
uma versão empobrecida do todo e que nada diz além do que nele já está dado. A
relação entre experiência e vida, ação e mundo, é antes de tudo orgânica. Isso quer
dizer que a experiência continuamente redescobre o sentido do todo da vida.28
22
Mantzavinos, Chrysostomos, «O círculo hermenêutico: que…», op. cit., p. 57
23
Alves, Paulo C.; Rabelo, Míriam C.; Souza, Iara M., «Hermenêutica-fenomenológica…», op. cit., p. 191
24
Idem, ibidem
25
Idem, ibidem, p. 190
26
Idem, ibidem
27
Idem, ibidem, p. 192
28
Cfr. Gadamer apud Idem, ibidem, p. 194
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metodológica que permita lançar sobre a realidade aquilo que Merleau-Ponty (1994)
chama de “olhar de sobrevoo”»29.
3. Considerações finais
Pode, deste modo, resultar um problema empírico nas análises que venham a ser
desenvolvidas, Gadamer refere a este propósito:
A pessoa que tenta compreender um texto está sempre projetando. Ela projeta um
significado para o texto como um todo tão logo algum significado inicial emerja no
texto. O significado inicial só emerge porque a pessoa lê o texto com expectativas
29
Idem, ibidem, p. 195
30
Tralhão, Regina, «O Sujeito no Pensamento Social: A Hermenêutica…», op. cit., p. 13
31
Idem, ibidem, p. 15
32
Idem, ibidem, p. 25
33
Dilthey (1964) apud Jahnke, Hans-Richard, «O Conceito da Compreensão…», op. cit., p. 70
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particulares em relação a um certo significado. A elaboração dessa projeção, que é
constantemente revista conforme o que emerge ao se penetrar no significado, é a
compreensão do texto.34
Problemática recorrente que se instala sobre o método das ciências sociais à luz do círculo
hermenêutico, contudo, o percurso interpretativo não se constrói univocamente, importa
destacar:
Se as ciências sociais podem revelar algo que não está contido nas autointerpretações
dos agentes não é porque desvendam sentidos ocultos, mas porque o entendimento
que produzem envolve o encontro de dois horizontes distintos; é guiado por uma
interpelação e se processa no jogo de pergunta e resposta, reconhecimento e
descoberta.35
34
Gadamer (2003) apud Mantzavinos, Chrysostomos, «O círculo hermenêutico: que…», op. cit., p. 62
35
Alves, Paulo C.; Rabelo, Míriam C.; Souza, Iara M., «Hermenêutica-fenomenológica…», op. cit., p. 196
36
Tralhão, Regina, «O Sujeito no Pensamento Social: A Hermenêutica…», op. cit., p. 13
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4. Referências bibliográficas
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