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ROYALTIES INCIDENTES SOBRE RECURSOS

NATURAIS: HÍDRICOS E MINERAIS.

ALEXANDRE JOSÉ FRANÇA CARVALHO1

Resumo: A presente tese analisa a competência comum do estado do Pará em legislar e fiscalizar a
cobrança de Royalties Incidentes sobre Recursos Naturais e como melhor utilizar esses recursos
financeiros para amenizar os conflitos sócio-ambientais provenientes da atividade hídrica e mineraria no
Estado.

1.Introdução

O Cenário da Amazônia, em especial do Estado do Pará, ainda é marcado pela


desenfreada exploração de seus recursos naturais, que no século XVII já foi a das
drogas do sertão e ao fim do século XIX deu-se pelo “ciclo da Borracha”. Atualmente,
observam-se novas “vias” de exploração econômica, pois a Amazônia, inserida no
contexto da economia globalizada, é observada pelos novos “colonizadores do século
XXI” como uma região que possui a maior reserva florestal do planeta, riquíssima em
biodiversidade e em especial com extensas bacias hidrográficas e um potencial de
riquezas em seu subsolo.
No entanto, essa diversidade de riquezas não foi utilizada para o
desenvolvimento da região. O Pará é um dos estados pioneiros da região na exploração
dos recursos hídricos e minerais, mediante a implementação de grandes projetos que
dinamizou a economia do Estado2. No entanto, estes valores econômicos não trouxeram
o desenvolvimento esperado ao Estado, e esses “grandes projetos” se tornaram
verdadeiros enclaves na economia local, o que é comprovado pelos baixos indicadores
sociais do Pará, com uma evidente violência no campo e uma cada vez maior exclusão
social e econômica de parte da população.
Ao passo desses dados, já no ano de 2004, segundo palavras do então
governador do Estado do Pará, somente a exploração mineraria, no Estado do Pará,
contribuiu com mais de 10% do saldo da Balança Comercial do País. No entanto, o IDH
do estado continua abaixo da média nacional, patamar não diferente dos municípios em
torno de grandes projetos hídricos e minerais 3. Isso faz com que se agravem a desiguale
regional, pois no estado do Pará, em vez de desenvolvimento, multiplicam-se conflitos
sócio-ambientais.
Com o objetivo de amenizar os conflitos ora citados e o impacto ambiental que
os grandes projetos hídricos e minerais causam ao meio ambiente é que a cobrança de
royalties sobre recursos naturais e outros mecanismos de compensação financeira, como
o ICMS ecológico devem ser utilizados. Entretanto muito pouco se sabe como esses
recursos financeiros, atualmente administrados pela União, são aplicados na melhoria
da qualidade de vida da população e na preservação e conservação de áreas ambientais.
1
Acadêmico de Direito, da Universidade da Amazônia – UNAMA.
2
Segundo dados da Secretaria Executiva de Estado Planejamento, Orçamento e Finanças - SEPOF, a
atividade extrativa Mineral, no ano de 2003, representou 19,23% do PIB do estado do Pará, que foi de R$
29,215 Bilhões. In PIB paraense mantém a trajetória de crescimento maior do que a do Brasil. Disponível
em: <http://www.sepof.pa.gov.br/estatistica/ipc_cesta_basica/pib.pdf > acesso em: 11 de agosto de 2006.
3
O IDH do Brasil no ano 2000 foi de 0,766. O que coloca num patamar inferior de muitos dos países da
América Latina. No mesmo período o estado do Pará o mesmo índice foi de 0,723. Municípios em torno
de grandes projetos hídricos e minerais, demonstram valores também abaixo da média nacional, como
Tucuruí (IDH 0,755) e Marabá (IDH 0,714). In Atlas do Desenvolvimento Humano. Disponível em
<http://www.pnud.org.br/atlas> acesso em 11 de Agosto de 2006.
2. GRANDES PROJETOS HÍDRICOS E MINERAIS NO PARÁ.
A Amazônia, que até pouco tempo atrás não detinha qualquer significado no
panorama nacional de energia. Hoje, responde por 15 % da energia firme do país e é a
segunda das regiões de exportação4 . Contexto que se pretende alterar com UHE –
USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE, em que pretende ser acrescidos a
produção energética nacional algo em torno de 11 mil megawatts de energia, tornando o
Estado do Pará nos próximos anos na maior província energética brasileira5. Assim,
com esse retrato são constituídos os grandes projetos hídricos no Estado.
No entanto esse potencial hidrelétrico não objetiva um dos princípios
fundamentais da República Federativa do Brasil, assim disposto no art. 3, III, da Carta
Federal de 1988:
“III-erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais”
Até porque projetos como o de Belomonte, assim como o de Tucuruí não visam
o interesse público, num país em que se encontram milhões de pessoas sem acesso a
energia elétrica, grande parte do consumo de eletricidade é destinado para as indústrias
eletrointensivas - ligadas à indústria de cimento, à produção siderúrgica e à produção de
alumínio6. Ao estado do Pará sobram os custos sociais e ambientais.
Não muito diferente observa-se a exploração dos recursos minerais no Estado.
Para citar como exemplo, a maior companhia de mineração em atuação no estado, a
Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, no último ano apresentou recorde de
faturamento7, mas ao passo de todo esse dividendo que representa o extrativismo
mineral no Estado, atividades correlatas à mineração, como o garimpo, indústria de
ferro gusa etc. causam sérios danos ao meio ambiente, pois alteraram de forma
significativa degradação da paisagem natural, poluição e assoreamento dos cursos
d’água, esterilização de grandes áreas.
No mais, observa-se na área de abrangência do Programa Grande Carajás, no
Estado do Pará, um enorme impacto sócio-econômico e a formação de núcleos
populacionais com graves problemas sociais, pois elevados fluxos migratórios trouxe
um contingente populacional muito elevado para diversos municípios, que não possui
infra-estrutura urbana para absorver um grande contingente populacional. Esta
população se desloca para a região em busca de emprego e uma melhor qualidade de
vida, mas que sem qualificação profissional, ficam sobrevivendo em verdadeiros
“bolsões” de miséria, que se tornam estas cidades.
Paralelo a este quadro, empresas de mineração e energia, que atuam no Estado,
buscam amenizar o impacto de suas atividades no meio natural investindo em projetos
ambientais. No entanto, tais projetos não são eficazes, do ponto de vista da Justiça
ambiental, pois os danos indiretos a essas atividades não são controlados.
Com isso “A população envolvida nas obras de infra-estrutura, atraída pela
implantação de tais pólos de desenvolvimento, concentra-se ao redor de projetos e lá
4
PINTO. Lúcio Flávio. Hidrelétricas na Amazônia: Predestinação, Fatalidade ou Engodo?. Edição Jornal
Pessoal. Belém – 2002. P. 46.
5
PINTO. Lúcio Flávio. Hidrelétricas na Amazônia: Predestinação, Fatalidade ou Engodo?. Edição Jornal
Pessoal. Belém – 2002. P. 46.
6
Na infra-estrutura para a operação da ALBRAS, a energia elétrica é gerada pela ELETRONORTE sob
contrato de longo prazo, cuja demanda é de 700 MW, valor responsável por 15% da geração da usina de
Tucuruí. Disponível em: <http://www.albras.net/infraestrutura.htm> acesso em 11 de Agosto de 2006.
7
PINTO. Lúcio Flávio. Jornal Pessoal n.º366. P. 1 “... No ano passado, foi responsável por 14% do
superávit – recorde de todos os tempos – da balança comercial do Brasil, repassando para o tesouro
nacional, até o final do exercício, US$ 6,3 bilhões líquidos (de um total de US$ 7 bilhões que a empresa
exportou )”..
permanecem sem assistência e organização urbana, sem empregos e enfim dedicada a
atividades agrícolas com ausência de assistência e sem usufruto dos benefícios do
investidor maior”.8
Correlato a esses fatos, o capital transnacional importa para o interior da
Amazônia um quadro de injustiça ambiental para com as comunidades locais e
tradicionais que habitam áreas em que são implantados grandes projetos de infra-
estrutura, pois alteraram a paisagem natural, e deste modo modificam seu modo de vida
e cultura, pois o ambiente foi modificado, retirando-os seu modo de viver tradicional. É
assim que essas Comunidades pagam o ônus de um progresso econômico voraz, sem
limites, que não respeita os princípios da solidariedade e da austeridade, pois este
crescimento econômico, não ver, não considera e não respeita as comunidades que há
tempos o interior da Amazônia, principalmente no Estado do Pará.
3. PANORAMA JURÍDICO
3.1 DIREITO AMBIENTAL E A CONSTITUIÇÃO

Com o advento da constituição federal de 1988, o meio ambiente pela primeira


vez no Brasil teve proteção constitucional. Assim no “caput” do art. 225, foi garantido à
todos o meio ambiente ecologicamente equilibrado, de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida.
Essa importância do Direito ambiental na constituição brasileira foi muito
influenciada pela Declaração do Meio Ambiente, adotada na Conferência das Nações
Unidas, em Estocolmo, em 1972. Essa Conferência, praticamente, consolida os direitos
humanos de terceira geração, que dispõem especificamente sobre direitos difusos. Que
nas palavras de FACIN assim explica:
“... entende como direitos humanos de Terceira Geração, os direitos de solidariedade, a
proteção do patrimônio histórico, cultural e ambiental, com a intenção de repreender os
danos ambientais, e assegurar uma vida digna, para as gerações presentes e futuras.”9
É por este entendimento, que o Direito ambiental constitui-se no mais novo
direito fundamental e que as palavras do Professor José Afonso da Silva assim colabora:
“A proteção ambiental, abrangendo a preservação da Natureza em todos os seus
elementos essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio ecológico, visa a
tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de vida, como uma forma
de direito fundamental da pessoa humana.” 10

3.2. FEDERALISMO E REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS


O Federalismo, como forma de estado, se faz presente em vários países do
mundo, como Argentina, Austrália, Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Índia, Rússia e
Estados Unidos. Na qual se faz uma divisão de competências entre entes federados, que
no Brasil são a União, os Estados e Municípios; no qual que visa o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar no âmbito nacional (art.23, parágrafo único, C.F/88).
Nas palavras do professor Raimundo Ney Sardinha “o texto original da
Constituição Brasileira de 1988 expressou um caráter profundamente federativo, ao
tentar resgatar a autonomia dos Estados praticamente aniquilada na carta anterior”. 11
8
LEVY, Dan Rodrigues. “Atuação do movimento de Justiça ambiental frente ao Poder Judiciário no
estado do Pará”. In Congresso de Direito Ambiental - 2005. Paisagem, natureza e direito / organizador
Antonio Herman Benjamin. – São Paulo: Instituto O Direito por um planeta verde. Vol. 1. P. 662.
9
FACIN, Andréia Minussi. Meio ambiente e direitos humanos. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60,
nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3463>. Acesso em: 12 jul. 2006.
10
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, P. 58.
11
OLIVEIRA, Raimundo Ney Sardinha de. Intervenção Federal nos Estados, na Constituição Brasileira
de 1988: Certezas e Indagações. In Ensaios de direito constitucional: Estudos em homenagem ao
professor Orlando Bitar / Sandro Alex de Souza Simões; Bárbara Lou da Costa Veloso dias
Esse modelo federalista deu-se num período histórico em que o país
experimentava a redemocratização e o pluralismo político, na qual intitulou uma nova
democracia no País. Nesse contexto, foi constituído um modelo federativo de
cooperação.
A argumentação de SABOIA assim reforça:
“(...) nesse ambiente que se constituiu um modelo federativo de cooperação,
superpondo-se competências federais e estaduais, mas com um pé na intenção
descentralizadora, que da sustentação ao federalismo solidário ou intergovernamental,
estimulando a ação conjunta entre União e Estado-menbros, que devem atuar como
parceiros na solução de problemas sociais e econômicos.” 12 .
Entretanto a implantação deste modelo federalista não se mostrou adequada para
uma eficaz política ambiental na região. Isto em virtude que desde a metade do século
XX as políticas de fomento, concentram-se na União, e não se voltam para efetiva
integração regional, mas exclusivamente para uma abertura de uma nova frente de
exploração de recursos naturais abundantes, cuja realização final vem ocorrendo,
sistematicamente, fora da Amazônia. Tornando a região uma típica fronteira econômica
Capitalista.
No Aspecto do federalismo brasileiro, o desequilíbrio ora mostrado,
caracterizado pela forte presença da União e de suas instituições na região inibem, ou
simplesmente afastaram, o desenvolvimento das outras esferas do governo, como
Estados, especialmente nas questões ambientais. As mudanças nesse quadro começaram
a ocorrer com a redemocratização e a promulgação da constituição de 1988 que trouxe
um incremento na competência de estados e municípios em relação à política ambiental,
que se mostra como sendo uma verdadeira missão a ser promovida pelo Estado
brasileiro. No entanto, estes entes federativos ainda não dispõem de suficiente
capacidade de governo para o desempenho de suas tarefas constitucionais. Assim
faz necessária urgência em ser criar na região as condições essenciais para a
implementação da missão institucional do Estado brasileiro e para sua inserção
equilibrada, destes outros entes na Federação.

4. ROYALTIES SOBRE RECURSOS NATURAIS


4.1. COMPETÊNCIA COMUM PARA FISCALIZAR
Royalties Incidentes sobre Recursos Naturais caracterizam-se neste trabalho
como sendo a compensação financeira oriunda de receitas não tributárias, em vista da
exploração de recursos hídricos e minerais. Estes recursos são assegurados
constitucionalmente como sendo de competência comum para o estado fiscalizar, como
ser ver no art.23, XI, da carta Magda:
Art.23 – É competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direito de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.
Assim o Estado do Pará, nos atributos de sua competência editou a Lei estadual
N. º 6710/2005.
4.2 A CFEM COMO RECEITA ORIGINÁRIA DE CADA ENTE FEDERATIVO
Fundamentalmente em razão dos recursos minerais, que em nossa carta
política constituiu em bens da união (art.20, IX, C.F.), foi introduzido no

(organizadores). Belém: Editora CESUPA, 2003. P. 195.


12
MELO NETO. Antônio Saboia de. Federalismo e Direitos Sociais: Reflexões sobre a possibilidade de
conciliação. Revista da Procuradoria Geral do Estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial do Estado do
Pará, 2005 Edição Comemorativa. P. 136.
ordenamento jurídico brasileiro a Compensação Financeira sobre a Exploração
Mineral – CFEM, como assevera o art. 20, §1º, da nossa Carta Magna, in verbis :
§1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União,
participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por
essa exploração".
Mas como também evidência o texto constitucional, esta compensação
financeira, estende-se aos recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica,
que no contexto do estado do Pará, está umbilicalmente ligada à exploração
mineraria.
Assim a CFEM, constitui-se em uma receita não-tributária, originária do
estado, que difere da noção de receita tributária, que assim é definida pelo mestre
Celso Ribeiro de Bastos, citado por Marques:
"Receitas que o Estado obtém mediante o recurso ao seu poder de autoridade,
impondo aos particulares um sacrifício patrimonial que não por finalidade puni-los
nem resulta de qualquer contrato com eles estabelecido, mas tem como fundamento
assegurar a co-participação dos cidadãos na cobertura dos encargos públicos ou
prosseguir outros fins públicos."13
Deste modo receitas tributárias dividem-se em: impostos, taxas, contribuição
de melhoria e contribuição social, para alguns autores.
É importante ressaltar que o art. 20, §1º, C.F/88 é regulamentado por outras
normas infraconstitucionais, que merecem destaque:

LEI N.º7.990/89:

Art. 6º A compensação financeira pela exploração de recursos minerais, para


fins de aproveitamento econômico, será de até 3% (três por cento) sobre o
valor do faturamento líquido resultante da venda do produto mineral, obtido
após a última etapa do processo de beneficiamento adotado e antes de sua
transformação industrial.

LEI N.º.001/90:

Art. 2º - Para efeito do cálculo de compensação financeira de que trata o art.


6º da Lei N.º 7.990, de 28 de dezembro de 1989, entende-se por faturamento
líquido o total das receitas de vendas, excluídos os tributos incidentes sobre a
comercialização do produto mineral, as despesas de transporte e as de
seguros.

13
MARQUES, Raphael Peixoto de Paula. Compensação Financeira por Exploração Mineral: não inclusão
na base de cálculo do art. 29-a da CF/88. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 57, jul. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2978>. Acesso em: 07 jul. 2006.
Também se ressalta que é a compensação financeira é receita originária de cunho
indenizatório, como ressaltam as procuradoras do Estado do Pará Anete Pinho e
Lilian Haber:
“... do mal-estar que a exploração hídrica e mineraria causa no espaço dos demais entes,
pois certamente a topografia geoeconômica e social é afetada deste antes do início
de determinadas atividades, onde somente a expectativa criada na população é
suficiente para que seja dado início a intensos fluxos migratórios de pessoas
atraídas pela possibilidade de melhorar de vida...”.14
Demostra-se ainda a constitucionalidade da cobrança direta pelo estado desta
receita originária, pois há competência concorrente entre União, Estados e Distrito
Federal de legislar sobre direito financeiro, como elucida o art. 24, da C.F:

Art. 24 – Compete à União, aos estados e ao Distrito federal legislar


concorrentemente sobre:
I- Direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da união limitar-se-á


a estabelecer normas gerais.
§2ºA competência da União para legislar sobre as normas gerais não exclui a
competência suplementar dos estados.
§3ºInexistindo lei federal sobre as normas gerais, os estado exercerão a
competência legislativa plena, para atender suas peculiaridades.
§4ºA superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o advento de novas tecnologias, a Amazônia a partir do século passado
passou a estar presente em todos os cálculos econômicos do futuro, ”sobretudo para os
setores de ponta: a biotecnologia, a engenharia genética, a tecnologia de novos
materiais, o controle da poluição e, naturalmente, refúgios da vida selvagem, cada vez
mais vitais para sobrevivência da humanidade...”15
Assim ao passo de uma sociedade técnico-científico-informacional, a Amazônia
foi vista como um passivo econômico, em que as descobertas científicas e as novas
tecnologias, oriundas da exploração da natureza sempre tiveram como justificativa o
preceito constitucional desenvolvimento nacional, que para consolidá-lo, a legislação
nacional agiu dos mais diferentes modos, criando novos arcabouços jurídicos, inserindo
no contexto amazônico, royalties, contratos de transferência de tecnologia, registros de
marcas e patentes.
No entanto todo esse arcabouço jurídico foi utilizado de maneira indevida, pois
exclusivamente se fez para garantir a propriedade privada, não utilizada para dirimir o
desenvolvimento e a desigualdade regional, e assim o homem da Amazônia, em vez do
progresso amargou conflitos sócio-ambientais, assim caracterizados pelo desmatamento
14
PINHO. Anete Penna de Carvalho e HABER. Lilian Mendes. Royalties Incidentes sobre Recursos
Hídricos e Minerais: Possibilidade de arrecadação pelos estados da federação – Aspectos constitucionais
comuns da fiscalização Comum. In As Perspectivas da advocacia Pública e a Nova Ordem Econômica /
Organizadores: Zênio Ventura, Paulo Roney Ávila Fagúndez – Florianópolis: OAB/SC Editora 2006.
P.1093 – 1094.
15
PINTO. Lúcio Flávio. Internacionalização da Amazônia (sete reflexões e alguns apontamentos
inconvenientes). Edição Jornal Pessoal. Belém, 2002.
de sua floresta, poluição de seu rio e a apropriação de seu modo de vida e saber
tradicional.
Neste trabalho, não se propõe um arcabouço jurídico novo, nem uma formula
mágica, mas sim repensar o uso e a aplicação das receitas não tributárias no Estado do
Pará. No ano de 1994, foi editada a Lei complementar N.º 018/94, que já estabelecia
normas para utilização do resultado da Exploração dos Minerais do Estado, entretanto
esta lei foi editada num período histórico anterior as privatizações do setor mineral, na
qual grande parte dos recursos eram utilizados na aplicação do capital financeiro, como
treinamento e formação de pessoal para o setor mineral e assistência técnica à empresas
mineradoras, dentre outros.
Mas em virtude dos conflitos sócio-ambientais, fruto dos projetos hídricos e
minerais no Estado, deve-se priorizar os investimento dessa receita não tributária
somente no elencado no art. 4º, VIII, IX, X, da Lei complementar N.º18/94, assim
disposto:
VII - treinamento das comunidades atingidas por projeto minerais de
atividades
alternativas para produção na própria área;
VIII - levantamento das necessidades infra-estruturais e sociais nas áreas de
influência dos projetos minerais e priorização do atendimento em conjunto
com
organismos Estaduais das demandas elencadas;
IX - recuperação de áreas degradadas por garimpeiros e a orientação dos
mesmos com transferência de tecnologia para evitar poluição ambiental.

É importante ressaltar que o Desenvolvimento com sustentabilidade foi à idéia


que surgiu na conferência mundial de Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, que
influenciou inúmeras outras conferências cujo enfoque foi o Meio Ambiente. Assim “A
Declaração da ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento) contém em princípio n.º 4 ‘Para se alcançar o desenvolvimento
sustentável, a proteção do meio ambiente deve construir parte integrante do processo de
desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele’”.16
Com essa legislação, garante ao Estado do Pará a fiscalização e o controle sobre
Royalties Incidentes Sobre Recursos Naturais. No entanto, para o homem Amazônida, o
impacto das atuais e futuras tecnologias na região só será eficaz se tiver como objetivo
compatibilizar desenvolvimento econômico, com o fim das desigualdades.
Para se alcançar tal objetivo, o Estado democrático de Direito, deve promover
políticas públicas, voltadas para garantir um ambiente saudável e equilibrado, adequado,
assim, para proporcionar a vida digna de seus cidadãos. É nesse intuito que se devem
utilizar os recursos financeiros provenientes dos Royalties incidentes sobre recursos
naturais.
Assim seguimos o ensinamento de IHERING: “O direito deve procurar conciliar
os interesses individuais e sociais, mas, em caso de conflito, deve inclinar-se para o bem
social”.

6.Conclusões articuladas;

16
SILVA, Raquel Gomes. “A ÁGUA NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA NACIONAL: a escassez de
água no mundo, a abundância do elemento hídrico na Amazônia e a globalização são fatores de
relativização das fronteiras nacionais”? Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro
Universitário do Pará (CESUPA), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito,
orientado pela professora MSC Krishina Day Ribeiro. 2005.
1. No Estado do Pará os “Grandes Projetos” hídricos e minerais causam uma
elevada injustiça ambiental, visto que alteram o meio ambiente e o modo de vida
das populações tradicionais, que ocupavam o espaço geográfico hoje ocupado o
empresas transnacionais.

2. É competência comum dos Estados Legislarem sobre Direito Financeiro, como


prevê a Constituição Federal.

3. Royalties Incidentes sobre Recursos Naturais e uma forma de compensação


financeira, para amenizar o impacto ambiental e os conflitos sociais gerados pela
atividade econômica que degredam o meio ambiente.

4. Para amenizar as questões sócio-ambientais e assim promover um meio


ambiente saudável e equilibrado, o Estado Democrático de Direito deve
proporcionar políticas públicas que garantam uma vida digna para todos os seus
cidadãos.

7. BIBLIOGRAFIA
1. ALBRAS on-line. Disponível em: <http://www.albras.net/infraestrutura.htm>

acesso em 11 de Agosto de 2006.

2. ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO. Disponível em

<http://www.pnud.org.br/atlas> acesso em 11 de Agosto de 2006.

3. BENJAMIN, Antonio Herman (organizador/editor). Congresso de Direito

Ambiental - 2005. Paisagem, natureza e direito – São Paulo: Instituto O Direito por

um planeta verde.

4. CLEMES, Sérgio. É devido o pagamento da Compensação Financeira por

Exploração de Recursos Minerais (CFEM), prevista na Lei nº 7.990, de 1989? . Jus

Navigandi, Teresina, ano 6, n. 57, jul. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2935>. Acesso em: 07 jul. 2006.

5. FACIN, Andréia Minussi. Meio ambiente e direitos humanos. Jus Navigandi,

Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3463>. Acesso em: 12 jul. 2006.

6. FARIA, José Eduardo. O Direito na Economia Globalizada. Malheiros editora. São

Paulo, 1999.

7. IHERING. Rudolf Von. A Luta Pelo Direito. São Paulo: Martin Claret, 2003.

8. JATENE, Simão. No Fio da Navalha. O Liberal, Cidades, p.5, Publicado em: 06 de

Fevereiro de 2005.

9. LOVATO, Luiz Gustavo. Federalismo e federalismo fiscal: controvérsias sobre o

sistema brasileiro de desenvolvimento regional. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n.

1003, 31 mar. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?

id=8179>. Acesso em: 18 jul. 2006.

10. MACHADO. Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiros editora.

10ª ed. São Paulo, 2002.


11. MARQUES, Raphael Peixoto de Paula. Compensação Financeira por Exploração

Mineral: não inclusão na base de cálculo do art. 29-a da CF/88. Jus Navigandi,

Teresina, ano 6, n. 57, jul. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2978>. Acesso em: 07 jul. 2006.

12. MARTINS, Dayse Braga. Direito constitucional ambiental. Jus Navigandi, Teresina,

ano 5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?

id=2116>. Acesso em: 12 jul. 2006.

13. PIB paraense mantém a trajetória de crescimento maior do que a do Brasil.

Disponível em:<http://www.sepof.pa.gov.br/estatistica/ipc_cesta_basica/pib.pdf>

Acesso em:11 agot. 2006.

14. PINTO. Lúcio Flávio. Mineração é Progresso? Disponível em:

http://www.amazonia.org.br/opiniao/artigo_detail.cfm?id=14856. Acesso em 17 de

Julho de 2006.

15. __________________. Hidrelétricas Na Amazônia: Predestinação, Fatalidade ou

Engodo ?. Edição Jornal Pessoal, 2002.

16. __________________. Internacionalização da Amazônia (sete reflexões e alguns

apontamentos inconvenientes). Edição Jornal Pessoal, 2002.

17. Revista da Procuradoria Geral do Estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial do

Estado do Pará, 2005. Edição Comemorativa.

18. SILVA. José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. Malheiros Editora. 5ª ed.

São Paulo, 2004.

19. SILVA, Raquel Gomes. “A ÁGUA NA AMAZÔNIA E A SOBERANIA

NACIONAL: a escassez de água no mundo, a abundância do elemento hídrico na

Amazônia e a globalização são fatores de relativização das fronteiras nacionais”?

Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro Universitário do Pará


(CESUPA), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito, orientado

pela professora MSC Krishina Day Ribeiro. 2005.

20. SIMÕES. Sandro Alex de Souza; Bárbara Lou da Costa Veloso Dias

(organizadores). Ensaios Sobre Direito Constitucional: Estudos em Homenagem ao

Professor Orlando Bitar. Belém: Editora CESUPA, 2003.

21. VENTURA. Zênio; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (organizadores). As

Perspectivas da Advocacia Pública e a Nova Ordem Econômica. Florianópolis:

OAB/SC Editora, 2006.

22. WIMMERS, Frederico Jorge Calixto; VITALE, Luciene Garcia. Natureza da

Compensação Financeira sobre a Exploração Mineral . Jus Navigandi, Teresina, ano

8, n. 360, 2 jul. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?

id=5413>. Acesso em: 07 jul. 2006.

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