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IPOG
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PERÍCIA CRIMINAL E
CIÊNCIAS FORENSES
CRIMINALÍSTICA
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 98
FONTES BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................102
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INTRODUÇÃO
A informação científica
Tão antigo quanto o homem, tem sido o seu desejo de conhecer, utilizar ou prevenir-se
dos progressos técnicos e científicos dos aliados ou adversários, ou mesmo em relação à
natureza. A informação transformou-se em um diferencial competitivo entre as nações.
As nações exerciam seu domínio sobre outras se baseando na tecnologia e na
informação disponível como ferramenta de conquista e domínio.
A obtenção embora desorganizada desses conhecimentos foi o embrião da Informação
Científica, sendo um conhecimento inicialmente denominado de vulgar.
Vários fatores na história do homem destacando entre eles o religioso, especialmente
ao Período da Idade Média, impediram durante séculos, o acesso as grandes conquistas da
técnica e dos conhecimentos científicos então protegidos pelo tabu dos mistérios divinos.
Destacando-se também o fato que após a Idade Média, surge o renascimento com um notável
progresso científico e humano para a humanidade, sob o controle da Igreja.
A aliança da ciência a magia, desestimulava a pesquisa de certas conquistas
tecnológicas obtidas de modo empírico e experimental. No entanto não deve ser esquecida a
grande contribuição de Leonardo da Vinci, no século XV que projetou inúmeros
equipamentos e soluções que somente foram implantadas depois de centenas de anos. Tendo
Leonardo da Vinci aplicado na arte os conhecimentos matemáticos e científicos.
Leonardo da Vinci insistia que a arte ou habilidade, da pintura deveria estar apoiada
pela ciência, ou teoria com conhecimentos sólidos sobre as formas da vida, por meio do
entendimento intelectual de sua natureza e dos princípios subjacentes (CAPRA, 2008).
Inicialmente, o endurecimento superficial do aço foi obtido, no Oriente próximo,
mergulhando uma lâmina em brasa no corpo de um prisioneiro. Este era um típico processo
mágico: tratava-se de transferir para a lâmina, as qualidades guerreiras do adversário. Esta
prática foi divulgada no Ocidente pelos Cruzados, que tinham verificado que, o aço de
Damasco era mais rijo que o aço da Europa.
Fizeram – se experiências: mergulhou-se o aço em água sobre a qual flutuavam peles
de animais. Obteve-se o mesmo resultado. No século XIX, descobriu-se que esses resultados
eram devidos ao azoto orgânico. No século XX, quando foi aperfeiçoada a liquefação dos
gases, aperfeiçoou-se o processo, mergulhando o aço em azoto liquido à baixa temperatura.
Sob esta forma, a nitruração atualmente faz parte da nossa tecnologia.
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Informação
Informação pode ser definida como resultado de dado ou fato que foi selecionado,
avaliado, interpretado, integrado e finalmente expresso de forma que possa evidenciar sua
importância na solução de determinado problema atual ou futuro (PLATT, 1974).
A informação como atividade especializada em benefício do poder estatal ou
empresarial, não é uma criação moderna. Desde o início da história, nenhuma política de
diplomacia ou militar, vale mais do que as informações obtidas e os fatos que são baseados
nas mesmas. A história das informações retroage aos escritos bíblicos quando Josué antes de
iniciar a guerra de conquista de Canaã pede que espias façam um levantamento minucioso de
informações sobre os povos cananeus que habitavam a região.
“Do acampamento do vale das Acácias, Josué mandou secretamente dois espiões com a
seguinte ordem:
-Examinem bem a terra, especialmente a cidade de Jericó. Então eles foram, entraram na casa
de uma prostituta chamada Raabe e se hospedaram ali”. (JOSUÉ 2 : 01)
Até o fim do século XIX, as informações limitavam-se praticamente, aos aspectos
militares, isto é, desvendar manobras de preparação bélica ou desvendar planos do inimigo de
desenvolvimento da batalha. As informações econômicas eram praticamente desconhecidas
antes da Primeira Guerra Mundial. Somente após as primeiras batalhas desta guerra foi que
ocorreu a compreensão do valor das informações sobre a capacidade industrial do adversário.
Na época a França resumiu os aspectos do potencial industrial da Alemanha que deviam ser
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Drucker (1988) definiu informação como dados que possuem relevância e propósito.
Quem poderá transferir propósito? Naturalmente o ser humano. As pessoas transformam
dados em informação através da análise.
Somente após a II guerra mundial foi que o Poder de uma Nação passou a ser
considerado de forma integrada, abrangendo todas as disponibilidades vitais, desde o mundo
físico até o psicológico, social, econômico, político e militar.
A informação científica era, até então, uma atividade restrita quase que somente ao
campo militar. No século XIX, o processo Dreyfuss originou-se do fornecimento aos alemães
de informes eminentemente técnicos , sobre um novo mecanismo de recuo e recuperação dos
canhões.
No inicio da II Guerra Mundial, desenvolveu-se intensa atividade na busca de
informações técnicas e científicas nos mais variados campos do saber humano especialmente
os associados a melhor forma de vencer o conflito. Após a II Guerra Mundial, todo o saber
acumulado foi aplicado aos mais variados campos de atuação do homem. Informação está
relacionada com inteligência porque a inteligência é a melhor aplicação da informação.
O principal conhecimento, que proporcionou a vitória dos aliados na II Guerra
Mundial foi a aplicação da inteligência. Inteligência que após este período foi aplicada não
somente aos interesses militares mas aos econômicos, políticos e de competição. No âmbito
da segurança institucional e enfrentamento a criminalidade houve um notável
desenvolvimento, que é primordial para o entendimento de como deve atuar uma polícia
científica.
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que está ocorrendo ao seu redor. A motivação possui importante papel na condução do
processo de inteligência estratégica. Para perguntar devemos estar conscientes do que
não sabemos. Às vezes formulamos conclusões precipitadas baseadas em perguntas
equivocadas. Caso cometamos um erro de tomada de decisão de quais as perguntas
que merecem resposta, porque atuamos com medidas restritivas de recursos como
tempo e custos, o efeito sobre o processo poderá ser catastrófico;
Somos mais flexíveis quando perguntamos mais e melhor – as perguntas nos auxiliam
na direção especialmente quando estamos sem objetivos claros e com poucas ou
nenhuma informação. A base do aprendizado está sustentada em uma relação íntima e
pessoal, onde o questionamento é fundamental.
3. Busca de informações – estamos em um momento histórico de excesso de informações.
Vive-se em uma infotoxicação. No entanto muitas pessoas continuam desinformadas ou pior
que isto armazena e aplicam informação errada. As informações devem possuir significado.
Na criação de significado da informação, uma necessidade básica é aumentar subjetivamente
a clareza e a qualidade da informação em situações ambíguas. Infelizmente com raridade a
informação surge diretamente do cenário. Normalmente ela chega através de rotas indiretas
que circula por canais intermediários, distorcendo sua mensagem verdadeira. O acesso rápido
e preciso a boas informações é fator crítico de sucesso;
7. Uso das informações – assim como a informação deve ser disseminado, o uso da mesma é a
finalidade de todo o processo. Não faz sentido e sim alto custo, se após tamanho investimento
de recursos as informações resultantes do processo terminem em um arquivo de computador
ou dentro de gavetas. As informações devem ser aplicadas em tomadas de decisão e ações.
Tendo que existir também a pesquisa com os usuários da informação se a mesma está sendo
útil para a tomada de decisão. Este fato é raro de ocorrer entre os fornecedores de informação.
Daí que deve ser levado em consideração o usuário da informação para que a mesma chegue
de forma a ser informação útil.
A figura abaixo exemplifica que somos processadores ativos do mundo que nos cerca
através de nossos esquemas cognitivos, percepções ambientais e informações que são
adicionadas de forma a ajustarmos nossos esquemas de pensamento.
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Quando as provas matérias não possuem confiabilidade ou não são suficientes para o
esclarecimento criminal a análise psicológica do comportamento pode, sem dúvida, utilizar-se
dos princípios da Psicologia, tanto em relação aos seus conceitos quanto aos seus métodos
(GARRIDO;SOBRAL, 2008).
Lembrando-se que o ser humano não processa informações como uma máquina de
pensamento, mas quer queira ou não, informações inconscientes e emocionais estarão
inseridas em sua tomada de decisões (JESUS, 2011).
Assim procura-se apenas estudar métodos, processos de trabalho e formas de
apresentação do mesmo.
Não existe uma solução matemática ou positivista para a grande maioria dos casos
em que se procura fazer previsões sobre o comportamento do homem, isolado ou em grupo,
em face de situações jamais iguais, embora às vezes, semelhantes.
Quando pretende-se obter a possibilidade de acerto sobre um acontecimento ou
situação futura, nos afigura a priori um aspecto altamente ponderável: a proximidade ou
afastamento do futuro a se considerar. Quanto mais distante maior a probabilidade de risco de
erro nas estimativas. O fato da análise de futuro deve levar em consideração o horizonte
temporal (JESUS, 2011).
Estabelecida esta premissa, o nosso processo mental lógico irá desenvolver-se
baseado em dois fatores permanentes: os fatos e a previsão, os quais, porém, variam na sua
relação quantitativa, à medida que o futuro se vai tornando distante. Assim, teoricamente,
encontraremos três quadros: um, em que a parcela dos fatos é superior à previsão; outro, nos
quais duas se igualam e uma terceira, em que a parte subjetiva, a previsão, prepondera sobre
os fatos.
Os dois primeiros estão compreendidos numa faixa a que chamamos de
perspectiva; o último é o terreno da sua prospectiva.
Sendo a informação, em última análise, um conhecimento produzido com a
finalidade de servir à tomada de decisão, fica evidente que os princípios de objetividade,
prudência e eficiência devem reger todo o esforço para a sua produção.
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O perito deve estar atento para o caso de ocorrência de suspeição. De acordo com
o Código de Processo Penal :
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto
sobre suspeição dos juízes.
Criminalística
Pode-se entender a Criminalística em dois sentidos:
1º) No sentido amplo, é o conjunto dos procedimentos científicos aplicáveis à
investigação e ao estudo de materiais do crime (materialidade), para conseguir produzir
provas científicas dentro de uma fundamentação de legalidade.
Neste caso, devem-se distinguir os seguintes procedimentos:
1. Procedimentos policiais utilizados para desenvolver um inquérito, incluindo a
obtenção de provas do crime;
2. Procedimentos científicos , utilizados para a demonstração dessas provas do crime
perante a justiça, enquadrando e codificando a administração das provas - nas formas
jurídicas, seja recolhendo-as ou demonstrando-as.
pois o tempo de reação poderá ser lento demais para a solução do problema. Acrescentando-se
ainda que a visão de eventos é ocasionalmente fragmentada, impondo as pessoas uma visão
parcial da realidade. Impedindo assim um entendimento mais amplo das consequências das
ações.
Os eventos que ocorrem são o resultado das variações dos padrões de comportamento
mais profundos. Para ultrapassar o nível dos eventos necessário se faz analisar as tendências
de longo prazo e avaliar suas implicações. Neste nível são avaliados os padrões de
comportamento do passado para buscarem-se evidências que possam predizer o
comportamento futuro ou desejado, que pode estar explícito nas normas e na lei.
presentes no ambiente. Estes vestígios geralmente são imperceptíveis mas possíveis de serem
identificáveis e processados em prova material.
Baseando-nos nesta premissa é que poderíamos sustentar em última análise, que se
possuirmos todos os vestígios de um crime, seria possível reconstruir-lhe todas as suas fases e
chegar até ao seu autor. Na realidade, trata-se simplesmente de procurar a prova de uma
culpabilidade, baseando-se em indícios aos quais se aplicarão todos os métodos de
investigação científicos necessários a solução do crime.
Roxin (2008) diz que a imputação objetiva depende não somente de variáveis
objetivas mas também de subjetivas. O conhecimento subjetivo existente para a execução de
uma determinada ação estará ligado diretamente ao resultado esperado desta ação, impondo
assim uma assunção de risco.
A consciência do autor exerce importância sobre sua ação no que diz respeito ao
controle de seus impulsos, como também ao juízo de perigo ou de responsabilidade que o
mesmo possui em relação a participação e distribuição das responsabilidades na ocorrência do
fato. A consciência de cada um em relação a participação na ocorrência do fato estará ligada a
avaliação das condutas e de personalidades em relação ao resultado alcançado. Como diz
claramente Roxin (2008, p.122): “ações humanas, e também ações típicas, consistem sempre
em um entrelaçamento de momentos objetivos e subjetivos.”
1
Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.03.94
Redação anterior: I – se possivel e conveniente, dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o
estado e conservação das coisas, enquanto necessário;
Vide Lei nº 5.970, de 11.05.73
2
Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.03.94
Redação anterior: II – apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato;
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Sabe-se então que todo o processo criminalístico inicia-se com o vestígio. O vestígio
possui uma importância primordial para Criminalística. Primeiramente porque o eminente
Criminalista Edmond Locard formulou um dos princípios fundamentais de que todo contato
deixa um vestígio, que se constitui um dos pilares da Criminalística (LOCARD, 2010). Sendo
assim necessita-se de aprofundar o estudo do vestígio, que pode ser classificado em vestígio
verdadeiro, ilusório e forjado.
1. Vestígio verdadeiro – são aqueles produzidos diretamente pelos autores e vítimas
da ocorrência criminal. Os vestígios verdadeiros estão relacionados com a
dinâmica dos fatos constatada durante os estudos realizados pela perícia. O
comportamento das pessoas no local de crime produzirá vestígios que se forem
verdadeiros estarão diretamente relacionados com os agentes causadores;
2. Vestígio ilusório - é todo aquele vestígio que encontrado no local de crime que não
possui ligação com o fato ou os autores do delito e desde que sua ocorrência não
seja de maneira intencional. Em razão de inúmeras dificuldades no processamento
de local de crime, tais como: ausência de isolamento adequado, interferência ou
contaminação do local por pessoas diversas, dificuldades de relevo, luminosidade,
falta de experiência ou percepção adequada da perícia, pode ocorrer o
recolhimento e estudo de determinado vestígio com a melhor das intenções de
investigação e não está ligado aos autores ou a cena de crime;
3. Vestígio forjado – são os vestígios que foram produzidos objetivamente pelos
autores do delito com a intenção de modificar o estado verdadeiro de um local ou
cena de crime. A forma e o tipo de vestígio forjado podem ser úteis no
processamento do local de crime, e revelar informações importantes dos seus
autores. Esclarece-se que às vezes policiais, agentes de segurança ou pessoas
indiretamente interessadas na intenção de manter o local em seu estado, que
pensam que seja normal, inserem vestígios que se tornam forjados.
O vestígio liga-se a produção de prova que estão no centro do triângulo entre a cena do
crime, o autor e a vítima.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
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Não se deve esquecer que o local ou cena do crime é inviolável. Ainda o Código de
Processo Penal esclarece de forma contundente:
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se
altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir
seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Pode-se dizer que a prova situa-se nos limites entre o científico e o jurídico, mas isso é
o resultado de uma longa evolução do sistema probatório, pois o problema do gerenciamento
da prova sempre dominou as legislações de todas as épocas, de todos os países. Somente nos
últimos anos, em razão do crescimento da criminalidade e do incômodo social, foi que os
legisladores e a justiça passaram a considerar sua importância especialmente nos países de
filosofia jurídica positivista, tais como Brasil e países da América Latina.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.3
3
Redação dada pela Lei nº 11.690, de 09.06.08
Redação anterior: Art. 155. No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas as
restrições à prova estabelecidas na lei civil.
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Historicamente nas sociedades primitivas, a prova era mais ou menos mágica em que,
na ausência de flagrante delito, as impressões pessoais ou mesmo a interpretação de sinais
eram os únicos elementos que permitiam a opinião, a apreciação. Um pouco acima dessa base,
está a prova mística, em que intervêm as provações, as ordálias, os duelos judiciários, os
juízos de Deus (ligado a cultura do povo). Mais um degrau e é a prova legal, em que a lei
controla e fixa não apenas os meios de prova, como a categoria de cada um desses meios e em
que a confissão é considerada como a “rainha das provas”. Em consequência, sucedem-se – o
fato do juiz apreciar livremente a prova segundo a sua convicção íntima - e, depois, o período
científico atual - que, sem dúvida nenhuma, é o do futuro - em que a prova é fornecida pela
perícia, que procura demonstrar, através de dados de experiência ou de observação, racionais
ou racionalizados, isto é, científicos.
É um fato que a ciência está, cada vez mais, a auxiliar o Direito; mas, evidentemente,
isso não se dá por ela pretender substituir os julgamentos por avaliações ou constatações de
peritos, mas simplesmente para que os peritos esclareçam os tomadores de decisão e juízes,
reduzindo ao mínimo as variáveis subjetivas, de incerteza, de emoção; mas, seja qual for o
procedimento - inquisitório ou adversarial -, essa prova não é unicamente um estudo de
laboratório é muito mais que isso.
A despeito de saber-se que a convicção íntima acabe sempre por servir de critério final
para a livre apreciação das provas, atualmente já não pode dispensar um sistema de pesquisa e
de controle da verdade, assim como o critério da evidência não pode dispensar o cientista do
seu rigor técnico: não se trata apenas de encontrar, também é necessário provar!
Pode-se dizer que o tratamento de dados é um ato de soberania, seja qual for o
mandatário. Deverá ser elaborado com credibilidade e aplicabilidade porque é desenvolvido
para tomadas de decisão seja na área econômica, seja na judicial, seja na comercial. Os
usuários dos dados deverão saber utilizá-lo de forma adequada. Muitas vezes a falha está na
distância entre o resultado do tratamento dos dados e a autoridade que os solicitou. Isso é
válido tanto para a área pública quanto para a privada.
Segundo Jesus (2014) o tratamento de dados consiste em dar sentido a fatos e indícios.
Ele busca iluminar um pouco o presente e o futuro para que se possam tomar decisões com
maior segurança. Os dados são tratados de forma consciente ou inconsciente. Quando se
planeja uma viagem, buscam-se dados e informações necessários para maximizar nossa
satisfação, ao mesmo tempo em que surgem situações, variáveis de restrição nesse tratamento,
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como tempo, dinheiro, custo de oportunidade etc. Como também ocorre a decisão sem dar-se
conta de como se chegou a ela.
Assim a necessidade de informação para a tomada de decisão surge para suprir uma
lacuna do conhecimento. A pessoa que conhece tudo e sabe tudo não terá necessidade de
informação, mas sabe-se que atualmente esta pessoa não existe. A grande diferença é que uma
tomada de decisão sobre a liberdade de um acusado implica em acessar o maior bem jurídico
que é a liberdade individual.
A análise tem como objetivo centralizar todas as perguntas e as respostas que estão
circulando nas artérias da memória e das redes. A centralização é indispensável para a
validação de forma otimizada do ciclo de informação. Cabe à análise a competência de
permanentemente investigar as necessidades e transformá-las em objetivos (JESUS, 2014).
A prova é produzida com objetivo de verdade e certeza, que se ligam à realidade e aos
fatos, todas voltadas, entretanto, à convicção do tomador de decisão. O universo no qual estão
inseridos tais juízos do espírito ou valorações sensíveis da mente humana precisa ser
analisado tal como ele pode ser e não como efetivamente é (NUCCI, 2013).
Segundo Marinoni e Arenhart (2011) a prova é todo meio retórico, regulado pela lei, e
estabelecida dentro dos parâmetros legais e de critérios racionais, destinada a convencer o
Estado-Juiz da validade das proposições, objeto de impugnação feitas dentro de um processo.
A convicção que determina a decisão deve, por conseguinte, ser a intervenção lógica
de uma apreciação racional dos fatos e de uma apreciação crítica dos elementos de prova:
assim, passa-se da convicção subjetiva ao conhecimento verdadeiro, objetivo, imparcial,
controlável - de empírico, passa a ser racional mas, contrariamente à verdade científica que,
em si mesma, exige a certeza, a verdade jurídica contenta-se com a verossimilhança. Embora
saibamos que a total isenção em uma tomada de decisão não ser possível.
A prova jurídica e a prova científica não se confundem, efetivamente - apenas se
sobrepõem, e isso, num determinado domínio: será sob esses ângulos limitadores que se
começará por encarar a natureza e o valor das provas.
Do ponto de vista legal, há uma regulamentação das provas: é arbitrária, e não poderia
ser de outra maneira.
Desta maneira a força da prova legal absoluta está relacionada com as declarações dos
agentes da segurança pública.
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Baseando-nos nestes dois princípios é que devem ser interpretadas as regras legais
subsistentes.
Do ponto de vista lógico, pode-se chegar a uma convicção de três maneiras diferentes:
na primeira, a prova material, por constatação pura e simples (nesse caso, uma
simples prova) e a prova experimental, através da reconstituição a partir dos
elementos conhecidos;
na segunda, a prova circunstancial, através de uma demonstração na maior
parte das vezes complexa em que intervêm procedimentos discursivos (por
dedução--indução) ou procedimentos intuitivos, baseados em circunstâncias;
na terceira, a prova testemunhal, em relação a um terceiro, podendo este ser o
próprio acusado (quando ele confessa, por exemplo). Ocorrendo nestes casos
maior probabilidade de erros judiciários.
A prova processual está ligada a estas duas últimas categorias, pois, ao fim, para o
juiz, o perito não passa de uma testemunha (embora selecionada), colocada na situação de
observador servindo-se dos seus meios de laboratório e que, além disso, apresenta uma
opinião motivada.
Realmente todas essas provas se inter-relacionam mais ou menos e, por fim, resultam
na dedução - para deduzir as conseqüências de uma proposição conhecida e a indução -para
generalizar. Os resultados obtidos de certos dados estabelecidos; e isto, embora a conclusão
não seja uma aplicação pura da lógica. Na realidade, intervêm demasiados fatores que lhe
reduzem a confiança e certeza: como base, temos o risco de omissão de uma das causas ou de
uma das suas conseqüências; por fim, a possibilidade de outras explicações para o fato que
serve de base.
Resumidamente, a prova não se pode reduzir a um simples processo de lógica, a lógica
aqui é mais um meio de controle do processo de raciocínio do que de averiguação.
A prova é o resultado do valor das provas elementares que entram como componentes
do raciocínio, e cada um desses modos de prova (circunstancial, testemunhal) desempenham
então o seu papel na criminalística para a correta tomada de decisão na justiça.
Sendo assim a tomada de decisão do juiz é soberana mas deverá ser fundamentada.
Conforme o Código de Processo Penal:
CAPÍTULO I
HISTÓRICO E DOUTRINA CRIMINALÍSTICA
5) Uma das primeiras publicações na Europa, acerca do estudo das impressões digitais
datilares surgiu na Inglaterra en 1684, realizado por el Doctor Nehemiah Grew, pertencente ao
Colégio de Físicos e Cirurgiões da Real Sociedade de Londres.
6) Em 1753, na França, Boucher realizava estudos sobre balística, disciplina que mais
tarde se chamaria Balística Forense, também precursora da Criminalística.
7) Em 1805, na Áustria, teve início o ensino da Medicina Legal; na Escócia, ocorreu
em 1807 e na Alemanha, em 1820; por essa época também se verificou na França e na Itália;
8) Em 1809, a polícia francesa permitiu a inclusão de Eugene François Vidocq, um
celebre delinqüente dessa época, originando, para alguns, o maior equívoco para a
investigação policial mas, para outros, a transformação para uma das melhores polícias do
mundo, já que muitos de seus sistemas de investigação foram difundidos a muitos países; em
1811, Vidocq fundou a Suretê (Polícia de Segurança Francesa);
9) Em 1823, Johannes Evangelist Purkinje, num elevado acontecimento da história da
datiloscopia, apresentou um tratado como um ensaio de sua tese para obter a graduação de
Doutor em Medicina, na Universidade de Breslau, na Alemanha; em seus escritos, discorreu
sobre os desenhos digitais, agrupando-os em nove tipos, assinalando a presença do delta e
admitindo a possibilidade deste nove tipos serem reduzidos a quatro;
10) No mesmo ano de 1823, Huschk descreveu os relevos triangulares (deltas) dos
desenhos papilares dos dedos.
11) Em 1829, na Inglaterra, Sir Robert Peel fundou a Scotland Yard (este nome é
originário do fato de a polícia de Londres estar ocupando uma edificação, que antes havia
servido de residência aos príncipes escoceses quando visitavam Londres);
12) Em 1840, o italiano Orfila, criou a Toxicologia e Ogier aprofundou os estudos em
1872; esta ciência auxiliava os juízes a esclarecer certos tipos de delitos, principalmente
naqueles em que os venenos eram usados com freqüência; esta ciência, ou disciplina, também
é considerada como precursora da Criminalística;
13) Em 1844, uma bula de Inocêncio VIII recomendava a intervenção dos médicos nos
assuntos criminais;
14) Em 1858, William James Herschel, Delegado do Governo inglês na Índia
(Bengala) iniciou seus estudos sobre as impressões digitais, concluindo pela sua
imutabilidade; nessa mesma época, o Dr. Henry Faulds, médico inglês, que trabalhava em um
hospital de Tóquio, observou impressões digitais em peças de cerâmica pré-histórica
japonesa, iniciando, desse modo, seus estudos sobre impressões digitais, apresentando,
finalmente, as seguintes sugestões: que as impressões digitais fossem tomadas com tinta preta,
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de imprensa; que fossem examinadas com lente; que existe certa semelhança entre as
impressões digitais dos homens e dos macacos;
15) Em 1864, Lombroso propôs o Sistema Antropométrico como processo de
identificação; (na Itália), sendo o primeiro registro de estudo criminológico com método ;
16) Em 1866, Allan Pinkerton.em Chicago, nos EUA, colocava em prática a fotografia
criminal para reconhecimento de delinqüentes, disciplina que, posteriormente, seria chamada
Fotografia Judicial e atualmente se conhece como Fotografia Forense;
17) Em 1882, Alfonso Bertillón criava, em Paris, o Serviço de Identificação Judicial,
onde ensaiava seu método antropométrico, outra das disciplinas que se incorporaria à
Criminalística geral; nessa mesma época, Bertillón publicava tese sobre o Retrato Falado,
outra das precursoras disciplinas Criminalísticas, constituindo-se na descrição minuciosa de
certos característicos cromáticos e morfológicos do indivíduo;
18) En 1888, o ingles Henri Faulds em Tóquio fez enorme contribuições em relação à
datiloscopia tornando precisas as identificações dos tipos: arco, presilha y verticilo nos
desenhos papilares.
19) Em 1888, na Inglaterra, Sir Francis Galton foi convidado pelo Real Instituto de
Londres para opinar sobre o melhor sistema de identificação; deveria proceder a estudos
comparativos entre os sistemas de Bertillón (Antropométrico) e o das impressões digitais.
Galton concluiu pela superioridade deste último e esboçou um sistema de classificação
datiloscópico, adotando três tipos, denominados “arcos”, “presilhas”, “verticilos”, publicado
na revista “Nature”,
20) Na Argentina, em 01/09/1891, Juan Vucetich, Encarregado da Oficina de
Identificação de La Plata, apresentou um sistema de identificação, denominado
Icnofalangometria (combinação dos sistema de Bertillón com as impressões digitais);
21) Em 1892, em Graz, Áustria, o mais ilustre e distinguido Criminalista de todos os
tempos, o Doutor em Direito, Hans Gross publicou sua obra: Manual do Juiz de Instrução -
todos os Sistemas de Criminalística; em 1893 foi impressa na mesma cidade austríaca, a
segunda edição de sua obra, e a terceira em 1898. Do conteúdo científico desta obra se
depreende que o Doutor Hans Gross, em sua época, constituiu a Criminalística com as
seguintes matérias: Antropometria, Contabilidade, Criptografia, Desenho Forense,
Documentoscopia, Explosivos,. Fotografia, Grafologia, Acidentes de Trânsito Ferroviário,
Hematologia. Incêndios, Medicina Legal, Química Legal e Interrogatório; Avaliação e
Reparação de Danos; Exames de Armas de Fogo; Exames de Armas Brancas; Datiloscopia;
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2. Doutrina Criminalística:
A perícia científica visa definir como o fato ocorreu (teoria), através de uma criteriosa
coleta de dados (vestígios e indícios), que permitem que sejam estabelecidas hipóteses
sobre como se desenvolveu o fato. É esse o método científico que baseiam as condutas
periciais, que permitem estabelecer-se, às vezes no próprio local dos exames, uma
teoria completa sobre o fenômeno, ou, em outras oportunidades, dependendo de
exames complementares. Daí a importância de conhecermos os princípios do método
científico mais aplicável ao caso em estudo.
CAPÍTULO II
NOÇÕES E PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA BRASILEIRA
Nesse triângulo, o juízo buscará manter-se sempre equidistante dos disputantes. Sua
causa é a própria lei Jurídica. Ele não a defende, mas representa a própria interpretação e
aplicação da Lei Jurídica. Através dos tempos, milênios após milênios, juristas de todas as
civilizações procuraram meios para montar essa equação, de forma que ela fosse uma
constante em qualquer circunstância, aspecto ou tempo. Isso foi conseguido.
Observou-se através dos tempos que o contraditório judicial é sensível a algumas
perturbações, quando em certas circunstâncias. Os povos através dos milênios reconheceram
isso. Coube ao Papa Inocêncio III o primeiro ato oficial para a tentativa de dirimir tais
perturbações. Sugeriu então que haveria necessidade de se provar, primeiro, a existência de
um crime, para logo em seguida proceder ao julgamento. A partir deste princípio, elaborou-se
as primeiras diretrizes para um chamado exame de corpo de delito. É necessário que antes
seja discutido a materialidade da existência do crime. Não obstante atualmente isso nos pareça
um ato de bom senso universal, sua instituição demorou mais do que a descoberta do zero dos
números naturais.
O exame do corpo de delito foi absorvido pelo contraditório judicial, dando-lhe
melhor consistência, diminuindo as chamadas perturbações. Contudo, os juristas há séculos
sabem que ainda estão diante de um paliativo. Todos aqueles que tentaram reequacionar o
exame do corpo de delito, para colocá-lo no citado triângulo, chegaram ao mesmo
denominador comum. Todos os povos civilizados até a data de hoje, não obstante saberem
tratar-se de um paliativo, não tiveram outros meios se não o de aceitarem como foi
estabelecido há séculos. Assim sendo, o exame de Corpo de Delito foi assimilado pelo
triângulo da seguinte forma: os litigantes nomeiam um profissional técnico, empresa ou
instituto oficial para suas causas; o juízo igualmente procede da mesma maneira, com a única
diferença, que o perito nomeado pelo juízo tem a palavra final do desempate, caso seja a
situação.
39
Uma pesquisa sobre qual o sistema que traria maior satisfação ao cidadão foi realizada
por Thibaut e Walker e Lind, Thibaut e Walker, em uma análise comparativa dos sistemas
inquisitoriais e de adversários em diversos países (Estados Unidos, Inglaterra, França e
Alemanha Ocidental), constataram que, em todos os casos, independentemente dos costumes
judiciais dos países, os indivíduos estavam mais satisfeitos com o sistema de confrontação,
em razão de terem sido ouvidos adequadamente e terem tido a oportunidade de apresentar sua
versão dos fatos. Os trabalhos puderam apontar que o mais relevante para as pessoas
implicadas no processo judicial é ter a oportunidade de fazer uma exposição completa dos
seus argumentos, sendo aceito diferentes procedimentos alternativos para a solução de
conflitos.
40
a) Sistema inquisitorial
b) Sistema de confrontação
Papéis e funções
Variáveis políticas
O sistema inquisitorial se encontra bem de acordo com uma ordem política autocrática,
pois, como vimos anteriormente, o juiz possui um papel muito mais ativo, sendo o valor da
confrontação muito menor.
Dessa forma, transparece que o Direito não possui uma certeza, ou que os seus
intérpretes são ineficientes, caindo no esquecimento de que existe um pano de fundo político
onde o Direito é chamado a operar, pois não opera dentro de um contexto político-cultural
homogêneo e de situações sociais estáveis . Como exemplo poderíamos citar a dependência
existente do poder judicial com respeito ao poder executivo na Argentina e que se repete
também em outros países .
Enfim, o juiz como o protagonista da tomada de decisão judicial deve estar consciente
dos vários processos psicológicos de influência, que é submetido durante um processo
judicial.
científico. Dogmas religiosos, inclusive, não escaparam de tais exigências sociais ou mania
coletiva.
A idéia de se criar a polícia científica foi recebida e aceita de pronto pelo mundo da
época. Nasceram os primeiros laboratórios de polícia. Os estudos de criminologia sustentaram
suas existências. Aos poucos, através de estudos próprios, tais laboratórios de polícia
passaram a desenvolver outra metodologia, a que denominaram de criminalística. Centros
europeus, tais como Lyon, Madri, Berlim, Roma, Lauzanne, Londres e outros, transformaram-
se em exportadores de conhecimentos criminalísticos. O Brasil, como os demais países, via
com simpatia os novos avanços da polícia cientifica, desta forma foram copiadas e traduzidas
muitas obras estrangeiras a respeito do assunto.
ramo criminal procurou conduzir todos os exames de Corpo de Delito para essa nova
instituição, sem levar em conta se a Criminalística contava ou não com profissionais
especializados, em todas as áreas da Ciência.
Ambos os mundos existentes somente não lhe seriam antagônicos se ele, o Perito
Criminal, como representante máximo do mundo Natural, conseguisse manter-se em
eqüidistância constante entre aqueles e, principalmente, diante dos litigantes. Observe-se que
a Polícia indiretamente poderia estar localizada entre os litigantes, na parte da acusação.
Logo, ser ele representante da Polícia Científica ali, naquele instante, seria, além de absurdo,
muito perigoso.
A partir deste instante, a Polícia Científica já era um mito para o nosso Perito. Uma
utopia que gerava “status” fora dos tribunais. Porém, quando diante do contraditório judicial,
o seu papel era o de defender os ministérios da Lei Natural, sob pena de responsabilidade
civil, criminal e administrativa. Para receber tais punições, bastar-lhe-ia defender a causa da
Polícia. Em outras palavras: aproximar-se dos litigantes. Como a Polícia era a que mais lhe
estava próximo, cabia-lhe a necessidade de não reconhecer a causa da polícia como causa sua.
Sua causa seria sempre a da Lei Natural ou do mundo das Leis Naturais.
No Brasil, a estrutura da polícia difere da de outros povos. Ela chega quase a gerar um
poder próprio. Uma de suas qualidades é a de chegar como máximo de imparcialidade nas
suas causas. Isso possibilitou ao nosso técnico de laboratório exercitar a sua imparcialidade
diante da própria causa da Polícia. Não há notícia de que a polícia tenha de alguma forma
pressionado, mesmo porque isso não seria possível, pois diante do contraditório judicial, o
técnico pericial não era conhecido como representante da polícia, e, sim, como um Perito
Oficial do Instituto do Corpo de Delito. A soberania e independência do técnico pericial
perduravam não só em seção do Tribunal, como também fora destes. O seu ministério era o de
estar juramentado para exercer os exames de Corpo de Delito.
O princípio básico da nossa Criminalística passou a ter por base a causa da Lei
Natural, com independência e soberania, mantendo eqüidistância constante e absoluta para
com o juízo e para com os disputantes. Por eqüidistância se entende o afastamento de
qualquer interferência, seja a que propósito ou circunstância for, com a lei jurídica ou a lei da
consciência.
Por interferência na Lei Jurídica subentende-se fazer citações, interpretar, utilizar
termos, induzir, fazer ilações próprias do mundo reservado às leis jurídicas.
Por interferência na Lei da Consciência entende-se inferir, deduzir, fazer ilações
segundo os valores pessoais, isto é, opiniões próprias emanadas da sua consciência de
Técnico. Pois o contraditório judicial, esses mundos já tinham os seus titulares e
representantes. Quaisquer que fossem os desvios desse princípio, o técnico, além de estar
46
ela nos impõe que nem sempre uma verdade científica comum, equivale, ou reúne elementos
necessários para atingir, à verdade científica exigida pela Ciência do Direito. Examine-se essa
mesma questão sobre outro ângulo.
No passado, determinado Diretor de um órgão técnico-criminalístico (não obstante ser
estranho à carreira de Perito Criminal), procurou implantar uma série de métodos por ele
observados na Polícia Científica americana. Esse Diretor, apesar de muito estudioso e
imbuído da melhor das intenções e espírito público, não só não conseguiu implantar qualquer
uma das suas idéias, como acabou criando um clima tenso.
No Brasil, o ato americano, acima referido, somente seria possível se o nosso órgão
criminalístico celebrasse um convênio científico, do qual participaria necessariamente, como
“conditio sine qua non”, uma equipe de Peritos Criminais. Dessa forma o resultado do estudo
criminalístico, seria aceito pacificamente entre todos os peritos.
Esse exemplo ajuda a demonstrar que existem Princípios, e Postulados estruturando a
nossa instituição de Criminalística, independentemente do desejo ou interesse dos indivíduos,
fenômenos estes encontrados a nível cultural e não administrativos. Enfim a Criminalística
Brasileira é tão conservadora quanto o sistema jurídico nacional.
48
CAPÍTULO III
O RACIOCÍNIO DA INVESTIGAÇÃO CRIMINALÍSTICA
O raciocínio tem sua origem na lógica e nas teorias sobre a linguagem, ocupando as
representações proporcionais um papel de destaque. As linguagens de programação são as
mais empregadas, conforme o seu ponto de vista, sendo as linguagens lógicas adaptadas à
comprovação de teoremas no cálculo de predicados.
Os diferentes tipos de raciocínio fazem com que haja uma certa confusão, ao
procurarmos uma definição precisa. Muitas das vezes o raciocínio é confundido com o
processo de dedução, sendo omitido o processo de indução, que também é uma forma de
raciocínio.
A idéia mais clássica existente sobre os tipos de raciocínio diz respeito ao indutivo e ao
dedutivo. A psicologia do raciocínio pode ser definida em três partes: a primeira se refere aos
problemas que possuem ou não uma estrutura especial; a segunda versa sobre se o processo
utilizado é mais concreto ou abstrato; e a terceira, se a inferência supõe uma cadeia discreta de
etapas.
49
A forma de raciocínio das pessoas passou a ser estudada mais a fundo através de
determinadas tarefas específicas, constatando-se que as pessoas não utilizam apenas os
processos tradicionais vistos anteriormente, mas outros processos que estão além da
inferência, que se denominou de metainferência. Por meio dessa, tem-se conseguido avançar
mais no conhecimento das estratégias e das distorções que são produzidas no raciocínio.
Ainda estamos nas etapas iniciais de compreensão do pensamento e raciocínio humano.
2.2.1. Indução
Os juízos intuitivos (heurísticos) ocorrem quando sujeitos, diante de uma tarefa que não
conseguem sistematizar, utilizam determinados caminhos para simplificá-la. Em situações de
incerteza este tipo de raciocínio é extremamente útil.
A indução é uma habilidade, podendo ser treinada como as outras habilidades humanas,
tais como nadar, correr, jogar tênis etc. Pode-se calibrar nosso raciocínio indutivo.
2.2.2. Dedução
Existem três grupos de tarefas dedutivas em torno das quais foram concentrados os
estudos da dedução: a inferência transitiva, o silogismo categórico e o raciocínio
proposicional. Falaremos um pouco sobre cada um.
Inferência transitiva
Inicialmente, foram utilizadas séries lineares de três termos do tipo A>B>C. Foram
posteriormente transformadas em A>B; B>C, logo A>C, sendo então denominados
silogismos lineares. Posteriormente, foram acrescentados mais elementos às premissas, tendo
recebido outras denominações, tais como ordenamentos lineares ou problemas relacionais.
Silogismo categórico
É uma forma de raciocínio que consiste em três posições categóricas que contêm três
termos e somente três, dois de proposições, que são as premissas, e um terceiro, que é a
conclusão. A primeira premissa é denominada maior e contém o predicado da conclusão; a
segunda, denominada menor, contém o sujeito da conclusão. O link que une as premissas
com a conclusão é denominado de conseqüência (logo, portanto, então). O termo que se
repete nas premissas e não aparece na conclusão é denominado de termo médio. Como
exemplo, temos:
Axiomas de quantidade:
Axiomas de qualidade:
Como causa de erros no raciocínio silogístico pode ocorrer o efeito atmosfera, que
ocorre no sujeito que, ao elaborar uma conclusão, o faz com base na atmosfera global
produzida pelas premissas. Dessa forma, sua conclusão seria derivada unicamente do modo
como as premissas estão formuladas. É um enfoque não lógico do raciocínio, que defende a
idéia de que os sujeitos não se ajustam à lógica, sendo influenciados por fatores extralógicos.
Estes fatores extralógica podem estar relacionados com: estresse, velocidade da resposta,
dificuldade no processamento de informações etc.
Raciocínio proposicional
As conectivas lógicas são definidas através das tabelas de verdade, nas quais consta o
valor de verdade resultante da conectiva para cada uma das possíveis combinações de valores
de verdade das proposições que intervêm.
com que possam, dentro de uma lógica correta, oferecer vários tipos de interpretações
diferentes.
Existem duas inferências válidas, conforme as premissas, que podem ser feitas
envolvendo os condicionais: o modus ponens e o modus tollens. Como exemplo temos :
Validade:Modus ponens
Premissas: Se está chovendo, então Lorena se molha.
Se P, então Q
Está chovendo. P
Conclusão:
Portanto, Lorena se molha Então, Q
Essa é a regra mais simples, conduzindo sempre a uma conclusão válida. É bom lembrar
que a validade lógica é meramente de forma, não sendo afetada se as proposições são
verdadeiras; logo, poderíamos ter conclusões ridículas com validade lógica.
54
O modus ponens e o modus tollens são duas inferências válidas que obteríamos com
argumentos condicionais simples. Porém, existem duas outras inferências que poderiam ser
submetidas a inferência, apesar de serem inválidas, sendo chamadas de afirmação do
conseqüente e negação do antecedente .
2.2.3. Metainferência
EF47
A tarefa era dizer qual ou quais dos cartões seria(m) necessário(s) mover para
comprovar a verdade ou a falsidade do seguinte enunciado condicional:
56
“Se em um cartão existe uma vogal em uma face, então haverá um número par na
outra.”
A lógica natural de Braine e Rumain e as provas mentais de Rips estão estruturadas para
o raciocínio, a partir de enunciados verbais, tendo as supracitadas teorias surgidas para
explicar o raciocínio proposicional e também outros tipos de dedução, possuindo mecanismos
para explicar também os efeitos da pragmática e da semântica dentro de suas teorias
fundamentalmente sintáticas.
b) Modelos mentais
Uma crítica ao referido modelo é feita por Garcia Madruga, que não considera a
influência de variáveis de natureza sintática sobre o raciocínio dos sujeitos, como o conhecido
efeito das distorções de emparelhamento, que está empiricamente provado .
Outro erro que poderia ser detectado é o do efeito da distorção cognitiva de crenças, ou
seja, os sujeitos têm a tendência de aceitar conclusões com que estejam de acordo, estando
desatentos para a conclusão lógica. Dessa forma, se a conclusão é mais aceita pelas crenças,
58
Inicialmente Minsk definiu um marco como uma estrutura de dados que representa uma
situação estereotipada. Porém, mais tarde, Minsk disse que, para darmos uma representação
exata a um determinado objeto, necessitaríamos conectar outras estruturas mais completas,
preenchendo espaços em branco. Existem marcos pictóricos, com o objetivo de representar
espacialmente, e os trans-marcos, que se refletem entre um ponto de origem e um de destino.
Os roteiros foram criados com o objetivo de fazer com que os computadores pudessem
ter capacidade de entender estórias, descrever uma seqüência padrão de acontecimentos que
fazem parte de um determinado contexto .
• Bases de condição prévia. Por exemplo: “Carlos foi ao restaurante”: como condição
prévia, Carlos tinha fome. Um melhor exemplo seria “Carlos queria um
cheeseburger”: ele não iria encontrá-lo em um restaurante; teria de ir a uma
lanchonete;
• bases instrumentais. Servem para inter-relacionar os roteiros. Por exemplo: “Carlos
foi de metrô à lanchonete”;
• bases de lugar. Referem-se a um lugar concreto onde se desenvolve a ação. Por
exemplo: “Carlos foi à lanchonete Comilão”;
59
Schank definiu uma cena como sendo o agrupamento de ações com uma meta comum
em uma estrutura de memória, proporcionando uma seqüência de ações gerais. As cenas
armazenam as recordações específicas, as quais são indexadas no que diz respeito à forma
como são diferenciadas da ação geral da cena.
• os modelos mentais dinâmicos poderiam surgir através das estruturas compostas pelo
conjunto de regras, de modo que seriam previsíveis as possíveis mudanças na
retroalimentação, caso emergissem determinadas condições. Esse tipo de arquitetura
é muito útil em uma retroalimentação mutativa.
Tversky e Kahneman defendem um raciocínio com o uso de heurísticos, que são regras
alógicas que o sujeito constrói a partir de sua experiência e relação diária com o meio,
ativando sua memória para a elaboração de inferência.
Os heurísticos são medidas psicológicas ótimas na medida em que são obtidas respostas
corretas da vida cotidiana. Porém, o heurístico da acessibilidade, que consiste em prever e
avaliar a possibilidade de um evento em função da facilidade de evocar mnemonicamente
exemplos parecidos com o acontecimento, traz a possibilidade de tendência cognitiva
conforme a ordem em que as informações estão armazenadas em nossa memória.
processada, e uma fase analítica, na qual o sujeito elabora as inferências com a informação
codificada anteriormente.
• Um objetivo claro ou a descrição do que iremos aceitar como uma solução para o
problema;
• objetos, materiais ou outros recursos que poderiam ser utilizados no esclarecimento
do objetivo;
• o estabelecimento de uma série de operações e ações que devem ser tomadas;
• uma série de regras que não podem ser violadas durante a resolução dos problemas.
Um problema bem definido e o objetivo a ser atingido bem clarificado significam um
caminho importante para conseguirmos atingir a meta . Muitas vezes, em um problema,
necessitamos escrever esquemas ou gráficos para conseguirmos a solução. Como exemplo,
temos o problema famoso dos missionários e dos canibais:
62
Três missionários e três canibais estão na margem esquerda de um rio. Eles possuem um
barco para levar somente duas pessoas. Se o número de canibais superar o número de
missionários, na outra margem do rio (margem direita), os canibais comerão os missionários.
Como nós os transportaremos para a outra margem do rio?
Simon defende a idéia de que um problema bem estruturado é uma ilusão, porém
defende também que o processo de associação de pensamento com os chamados problemas
bem estruturados é similar ao uso das soluções aplicadas àqueles problemas que são mal
estruturados.
Poderíamos dizer, resumidamente, que os princípios mais importantes para uma solução
de problema seriam os seguintes :
(Decisão entre uma solução simples ou uma combinação entre as várias soluções
encontradas)
5. Prática da solução e verificação
A. Aplicação da solução encontrada
(Caso não se encontre a solução, devido aos obstáculos encontrados no processo, deve-
se voltar às etapas anteriores, em busca de uma solução alternativa, ou tentar eliminar os
obstáculos existentes)
B. Registro dos passos na solução de problemas
(Deve-se auto-observar e medir o desempenho individual na solução de problemas e
resultados alcançados)
C. Auto-avaliação
(Utilizar critérios de auto-avaliação tais como: bem-estar emocional com a solução
encontrada, quantidade de tempo e nível de esforço empregado – custo/benefício)
D. Utilizar feedback
(Retornar, sempre que necessário, aos passos anteriores para constatar se as correções
realizadas ajudaram a encontrar uma solução mais eficaz)
Sabe-se que o esquema apresentando anteriormente, não é uma panacéia, mas poderá
auxiliar em muitas situações de enfrentamento de problemas complexos de investigação
pericial.
CAPÍTULO IV
LÓGICA E TOMADA
DE DECISÃO PERICIAL
Szilard disse que o cientista criador possui muitos pontos em comum com o artista e o
poeta. O pensamento lógico e a capacidade analítica são atributos indispensáveis a um
cientista, porém não são suficientes para o trabalho criativo. Os insights (soluções repentinas)
dentro da ciência que podem conduzir a grandes avanços tecnológicos não foram logicamente
derivados de conhecimento preexistente: os processos criativos em que é baseado o progresso
da ciência atuam em nível inconsciente.
Salk diz que a criatividade científica encontra-se em uma fusão de intuição e razão.
Dessa maneira, a compreensão do processo de pensamento utilizado na solução de problemas
e na tomada de decisão levará a uma otimização deles.
Dessa maneira, não podemos pensar como alguns colegas peritos, os quais acreditam
que a atividade de Perícia é uma rotina constante de um laudo/trabalho quase igual ao outro,
parecendo existir pouca diferença entre vários deles. Porém, muitas das vezes necessitamos da
intuição e da lógica para reforçarmos nossas conclusões. E isso é corroborado pela Doutrina
67
Do ponto de vista lógico, pode-se chegar a uma convicção de três maneiras diferentes:
Aludimos anteriormente à intuição, o que poderá parecer estranho para alguns leitores.
Porém, a intuição é originada de um raciocínio indutivo, sendo desse modo a extração da
conclusão através das premissas, de maneira que se retiram delas mais conclusões do que as
que realmente estão contidas, partindo do particular para o geral, o que faz com que esse
conhecimento adquirido não seja necessariamente verdadeiro, mas provavelmente verdadeiro
. Ocorre que o perito, em seu trabalho, tem de se valer desse recurso da lógica, quando não
possui informações suficientes para que possa utilizar-se de um raciocínio dedutivo, que é
necessariamente verdadeiro.
Ainda dentro desse raciocínio, Hessen nos diz que, no âmbito teórico, a intuição não
pode querer ser um meio de conhecimento autônomo, com os mesmos direitos do
conhecimento racional-discursivo. O racionalismo está mais apto para contribuir, pois toda
intuição tem de legitimar-se perante o tribunal da razão. Quando os adversários do
intuicionismo exigem isto, estão em seu pleno direito. Porém, a questão é muito diferente na
esfera prática, pois a intuição tem, nesse caso, um significado autônomo. Para nós seres
humanos, que elaboramos em nosso cérebro a realidade, sentindo e querendo, a intuição é um
meio de conhecimento.
Quando temos um problema bem definido e o objetivo a ser atingido bem clarificado,
isso significa que possuímos um caminho importante para alcançarmos a meta . Porém esse
68
mesmo autor defende que um problema totalmente estruturado é uma ilusão, embora diga que
o processo de associação do pensamento com os chamados problemas bem estruturados é
similar ao uso de soluções aplicadas àqueles problemas que são mal estruturados. Isto é, ao
resolvermos um problema bem estruturado, utilizando as técnicas adequadas, teremos um
resultado otimizado, o que não aconteceria, caso ocorresse o contrário.
1. Informação: é obtida tanto para os pontos positivos quanto para os negativos, com o
objetivo de delimitar o campo.
Intuição: ela não é considerada confiável, a menos que as decisões sejam repetitivas,
nas quais a experiência repetitiva tornou-se automática, tendo-se em vista a pequena energia
utilizada. No entanto, quando não existe tempo suficiente, torna-se primordial pelo menos
estruturar a decisão.
Regras: elas exigem um pouco mais de esforço, mas obtêm maior qualidade, sendo
fácil a sua explicação, e podem ser úteis em uma futura justificação. Caso o problema seja
diferenciado, fora da rotina de trabalho, e não se ajuste aos casos freqüentes, tornar-se-á difícil
encontrar uma decisão aceitável.
Ponderação de decisões: ela necessita de esforço inicial porém pode ser útil logo após
esse início. Conduz a decisões de alta qualidade e de muita transparência, porém, quando o
volume de informações é alto e o tempo reduzido, podem surgir dificuldades.
Análise de valor: ela fornece as decisões de maior qualidade, exige um nível máximo
de esforço, podendo ser de difícil explicação e utilização. A decisão final será transparente em
termos de dados utilizados, de hipóteses formuladas e de valores e pesos atribuídos.
Enfim, o tomador de decisão deverá escolher a ferramenta mais simples que puder, sem
o sacrifício da confiabilidade. Ele deve estar atento a que o uso de diferentes métodos pode
levar a conclusões diferentes.
Dessa forma, é necessário que o perito possua uma boa calibração em suas decisões,
para que diminua a incidência de erros que ele teria, caso não atentasse para essa necessidade.
Como foi dito anteriormente, o perito deverá ter um desempenho profissional superior
ao dos leigos, devido à própria essência de seu trabalho; porém, podemos observar que isso às
vezes não ocorre. Não sabemos quais são todas as variáveis que atuam nesse impedimento,
mas sabemos da falta de atualização, da falta de treinamento e investimento na atividade
pericial, que impossibilitariam ao perito acompanhar novas tecnologias.
a) Adaptabilidade
b) Responsabilidade
c) Criatividade
71
d) Comunicação
e) Conhecimento da área
É exigido dos peritos um conhecimento sólido de sua área específica, devendo eles
esforçarem-se para aprimorá-lo, desenvolvê-lo e utilizá-lo.
f) Capacidade de decisão
g) Energia
h) Experiência
O perito usa a sua experiência para tomar decisões mais rápidas ou mais lentas,
dependendo de cada caso. É claro que sua experiência produzirá decisões sem a necessidade
de tanto esforço.
i) Espírito inquisitivo
O perito deve ser inquisitivo para resolver situações problemáticas, tendo como
pressuposto uma tendência para trabalhar não apenas por curiosidade.
Os peritos devem saber quando uma situação é especial e quando não é; não devem
prender-se a um único meio de resolver um problema.
l) Metodologia
72
m) Percepção
Um perito deve ser capaz de extrair de uma situação informações que outros não
conseguiriam perceber. A sua forma de decidir deverá ser superior, devido a sua capacidade
de reconhecimento e avaliação de situações difíceis e confusas.
n) Aperfeiçoamento
Um perito deve procurar desenvolver suas habilidades, para que possa utilizar todas as
estratégias com o objetivo de obter a melhor solução para o problema.
o) Aparência pessoal
O perito deve cuidar de sua aparência pessoal, de forma a transmitir a imagem de que é
um bom profissional na execução de suas tarefas periciais.
p) Solução de problemas
O perito deve saber quais problemas devem ser resolvidos inicialmente e quais devem
ser deixados para depois.
q) Simplificação
r) Auto-confiança
O perito deve ter e fazer transparecer conhecimentos sólidos de sua área de atuação,
transmitindo confiança em suas decisões.
s) Tolerância ao estresse
O perito deve ser capaz de tomar boas decisões, mesmo sob condições de estresse, e
mais que isso, deve ser capaz de prosseguir, ainda que as condições de estresse aumentem,
para o que deve estar treinado em estratégias de superação.
t) Bom-humor e simpatia
Johnson-Laird nos diz que esses modelos são construídos a partir de nossa experiência e
que funcionam de modo semelhante a como seria feito em um modelo computacional de um
fenômeno físico. Por exemplo, se alguém nos diz: “Naquela turma da Faculdade, os
estudantes são inteligentes”, formaremos uma imagem representativa de alunos inteligentes e
não de alunos com dificuldade de aprendizagem. O conteúdo dessa representação afetará a
integração do significado de qualquer informação posterior que faça referência ao mesmo
contexto e determinará as inferências posteriores que possamos fazer.
Porém perguntarão: Em que isso se relaciona com a atividade pericial? Sabemos que,
com o desenvolvimento de nossas atividades periciais, vamos acumulando uma quantidade de
conhecimentos que nos auxiliarão no desenvolvimento de nossas tarefas cotidianas. No
entanto, determinadas tarefas requisitarão de nós uma maior reflexão sobre como iremos
trabalhar ou como não deveremos trabalhar. E nesse momento, necessitamos ter a
conscientização de integrarmos novas informações e de sabermos quais as informações em
nosso arquivo de memória não serão utilizadas.
Peter Senge no seu livro A Quinta Disciplina nos diz que é importante compreender que
os modelos mentais são ativos, moldando a nossa forma de agir. Caso tenhamos a crença de
que não se pode confiar nas pessoas, teríamos um comportamento diferente se pensássemos
que as pessoas são dignas de confiança. Se eu possuir a crença de que não possuo os
conhecimentos suficientes para realizar a tarefa que me foi atribuída, por mais que tenha tido
o treinamento adequado e tenha obtido um resultado bom, não conseguirei atingir os objetivos
pretendidos.
74
c) No que pode e o que não pode representar-se em forma de modelo mental – é regido
pelo princípio de predicabilidade: um predicado pode aplicar-se a todos os termos aos que são
aplicados em outro, sem que os seus graus de aplicação sejam os mesmos. Por exemplo: As
palavras vida e humanidade se aplicam a algumas referências comuns, pois todos as coisas
que são consideradas seres humanos são seres vivos, mas nem todos os seres vivos são seres
humanos.
d) Na sua estrutura – podemos dizer que todos os modelos mentais são estruturalmente
idênticos aos estados de coisas que representam.
Embora não existam muitas pesquisas sobre os modelos mentais, existem propriedades
importantes que são comumente aceitas, tais como as representações. Primeiramente, um
modelo mental se constrói linearmente e guia o processamento da informação de entrada.
Segundo, incorpora a informação da situação e da memória, isto é, integra informação nova e
antiga. Terceiro, os modelos mentais são representações que contêm representações
75
CAPÍTULO V
MÉTODOS DE CRIMINALÍSTICA
Na justiça, cada vez ocorre a tendência para substituição das provas testemunhais, ou
provas circunstanciais, pela prova material, a prova dos próprios fatos, que, em si, é mais
precisa, mais exata. A razão disto é porque, realmente, embora sejam os homens que cometem
os crimes, fazem-no sempre por ou com coisas consideradas como intermediárias
(ferramentas do crime): são essas coisas (que, assim, passam a ser indícios) que então
constituem a tal prova dos fatos a que dizem respeito.
Às vezes, os indícios são evidentes, mas essa evidência exige sempre um controle; na
maior parte dos casos, é preciso procurá-los: a busca ou controle são possíveis sobretudo
pelos meios do laboratório ou equipamentos.
O conhecimento para ser reconhecido como ciência tem que ser submetido a um
método. Daí a importância do método ou dos métodos criminalísticos.
Sistema de Criminalística
Podemos dizer que não há sistemas fora de um meio específico (ambiente). Os sistemas
existem sempre em um meio e por esse meio são condicionados para a sua funcionalidade.
Na área de estrutura de sistemas, seria desejável contar com filtros que permitissem a
entrada de todos os insumos válidos e de valor, rejeitando automaticamente os que não são
válidos ou que não têm valor. Desta forma, estaríamos criando a possibilidade de termos uma
otimização de valor agregado ao sistema (Laudon & Laudon).
Como ilustração para essa breve exposição sobre o processo de análise de sistemas,
reproduziremos um exemplo de esquema analítico que leva do problema à solução,
considerando-se, preponderante, a possibilidade ou não de tratá-lo de forma total ou parcial.
1. Explicação Científica
a) Objetivo da Ciência: ter contato com certos fenômenos e explicar como e porque
acontecem para poder prever sua ocorrência.
Trabalha com probabilidade, racionalmente tanto na análise quantitativa quanto na análise
EXPLICANS (teoria)
CONCLUSÃO
HIPÓTESES
DEDUÇÃO INDUÇÃO
de observação
EXPLICANDUM (fatos)
“A profundidade de uma teoria científica parece estar mais estreitamente relacionada
com sua simplicidade e, assim, com a riqueza de seu conteúdo. ”(Popper)
O objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias que será dificilmente
compreendida se for realista. A explicação satisfatória é ampla e bem entendida,
necessitando possuir um entendimento mais profundo e principalmente de forma crítica.
Nada assegura o tempo em que a explicação poderás continuar sendo satisfatória para o
problema.
c) Formas de Explicação
- Nomotética (genérico) – normas – básico – maior grau
de previsão – análise quantitativa.
1) Nível Preditivo - Idiográfica (específico) – caso – aplicada – análise
geralmente qualitativa.
2) Formas de explicação
- ambientalistas
Variáveis do Sistema - organicistas
- interativas
83
3) Conhecimento Objetivo
Popper
Divisão de mundo
a) mundo 1 – mundo material – estados materiais (positivismo).
Mediação b) mundo 2 – mundo mental – estados mentais (subjetividade).
c) mundo 3 – mundo dos inteligíveis – teorias, idéias no sentido obje-
tivo (pensamentos possíveis).
MODELO DE POPPER
PROCESSO METODOLÓGICO
1. Condições da Hipótese:
- atributiva - um sujeito.
- simples - relacional - vários sujeitos (sujeitos em relação
sujeitos; variáveis em relação a variáveis).
- singular – um indivíduo.
- particular – amostra.
d) Generalidade - universal limitada – toda uma população.
- universal estrita – sem limites.
- principais - substantiva
Exame da literatura existente (teoria). Nada mais prático do que uma boa teoria;
Discussão em grupo;
Entrevista com pessoas interessadas no tema;
Entrevista com fontes primárias.
Todas estas causas, por mais previsíveis que sejam no seu conjunto, são imprevisíveis
em pormenor e dão origem a vários gêneros de enganos, que é necessário avaliar, seja pelo
cálculo algébrico ou pelo cálculo estatístico.
Comparação - estas dificuldades, variadas e flutuantes, poderiam tornar estéril a
averiguação melhor conduzida; mas, a maioria dos problemas podem ser resolvidos por um
estudo comparativo, desde que se adquira a convicção de que são comparáveis, tanto mais
que, quando as peças ou os fatos a comparar não são fornecidos pelo inquérito.
87
1- Métodos ópticos
É, sobretudo neste último caso que a fotografia recorre a diversos modos operatórios,
mais ou menos especiais, tais como os que passamos a descrever.
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A estas observações é possível adaptar vários modos de utilização que, além disso, se
podem combinar entre si; por exemplo:
2 - Métodos biológicos
Devem ser tomadas todas as precauções para garantir a rigorosa especificidade dos
produtos-testes utilizados e, evidentemente, garantir também a não-intervenção do suporte nas
reações constatadas, o que é verificado por controlos, simultaneamente tratados.
A enzimologia também tem várias aplicações em criminalística, tais enzimas sendo
especialmente abundantes em certos meios biológicos que, desse modo, ajudam a detectar -
por exemplo, entre as hidrólises, a amilase ajuda a detectar a presença da saliva e a fosfotase
cida a presença do esperma; entre as desmolases, a peroxidase permite detectar a presença do
sangue: tudo isso são reações de orientação ou de probabilidade, não de certeza intrínseca e
absoluta, ou cuja certeza só é extrínseca e relativa às circunstâncias de fato.
A microbiologia abrange todos os organismos microscópicos vivos, saprófitos ou
parasitas, presentes em toda a parte e, por conseguinte, criminalisticamente exploráveis -
fungos, bactérias, algas, musgos (pelos seus esporos); do mesmo modo que, entre os parasitas
do homem, os protozoários (ou os respectivos quistos) e muitos metazoários (pelos seus ovos,
pelos seus embriões ou pelas suas larvas).
3 - Métodos químicos
Isto posto, é claro, não diminui, de modo nenhum, o valor intrínseco dos métodos.
constitutivos de uma matéria. Esses elementos são conduzidos para uma coluna cheia ou de
um adsorvente geral ou específico (cromatografia de adsorção/gás-sólido/gás-líquido), ou
para um suporte inerte, mas na superfície do qual foi espalhado um líquido não volátil
(cromatografia de separação/gás-líquido): um dispositivo apropriado registra, uns atrás dos
outros, os gases ou líquidos assim introduzidos, separados em função das suas afinidades com
a substância de enchimento que se escolheu. O interesse deste método comparativo de análise,
simultaneamente qualitativa e quantitativa, encontra-se na sua extrema sensibilidade que
permite utilizar apenas amostras para experiência ínfimas.
Uma identificação absoluta das substâncias assim - e tão finamente - separadas, pode
subsequentemente obter-se pela espectrometria de massa que utiliza ou a ionização (para os
derivados orgânicos) ou a cintilação (para os compostos minerais) seguida de uma separação
num campo magnético potente (analisador).
Outras técnicas (absorção atômica ou emissão de chama) são também correntemente
utilizadas.
Quanto aos métodos electroquímicos, embora muito variados, são pouco utilizados em
criminalística - electrólise, electroforese, polarografia, condutometria...
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CONCLUSÃO
a. o fato de não passar de uma prova que reside na inferência que induzirá do fato
conhecido ao fato a conhecer - isso é uma necessidade ao fazer-se um
procedimento indireto: é raciocinada, em vez de ser constatada, como é o
método criminalístico;
b. o fato de não ser mais do que uma prova mediata, pois baseia-se em dados de
outras provas pelas quais o fato inquisitório pôde ser conhecido (constatações,
testemunhos): é complexa em vez de ser simples;
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c. o fato de não ser mais do que uma prova parcial, pois só se refere a um
elemento do problema - valerá muito menos pelo significado de cada indício
em especial do que pelo do conjunto das provas: é fragmentária em vez de ser
geral.
Não há dúvida que, acima de tudo, ela apresenta a vantagem de ser objetiva e
imparcial baseada em fatos e ciência. Sim, é verdade; mas só será objetiva se não for
interpretada: as conclusões que dela se podem tirar já não dependem unicamente dos dados,
mas também do espírito, e esse espírito não julga unicamente de modo discursivo, mas
também de modo intuitivo; e só se pode considerar imparcial enquanto não for influenciada
por considerações que não sejam fundamentalmente científicas.
Além da prova processual, não há nenhuma outra prova tão multiforme - qualquer fato
relacionado com outro pode ser o indício deste...
Antigamente, faziam-se estas distinções:
Como valor absoluto, o indício poderá, em certos casos, dar uma probabilidade de erro
nula? Evidentemente que não, para os métodos que apresentam uma resposta negativa:
nenhuma certeza é possível nesse caso porque o elemento que se procura pode ter estado
ausente por acaso, por omissão ou por incapacidade. Em contrapartida, isso é possível para os
métodos que procuram uma resposta positiva: apresentam sempre alguma certeza, mas da
ordem das probabilidades de errar em relação às probabilidades de serem justas, essa
proporção tende para o infinito à medida que vão tendendo para zero as probabilidades de
errar, mas (e é próprio da certeza científica) os limites absolutos nunca são atingidos, pois
trata-se de uma certeza indutiva, material, e não de uma certeza dedutiva, essencial, como o é
a matemática.
Em valor absoluto, o indício, como prova de existência, não pode, portanto, atingir a
certeza total de identidade - no mínimo, podemo-la calcular sob probabilidade.
Como valor relativo, o indício ainda é mais difícil de apreciar, A finalidade da prova
que ele apresenta é chegar à equação alternativa:
Por exemplo, uma impressão digital num objeto encontrado no local de um crime,
idêntica à impressão digital de um suspeito, prova que o homem em questão tocou nesse
objeto, com uma probabilidade que se aproxima do infinito, mas não pode estabelecer nem
que o objeto estava no local do crime no momento em que recebeu essa impressão digital nem
que a presença do indivíduo no local do crime determina a sua culpabilidade. Neste caso, o
indício tem realmente um valor absoluto máximo de existência, mas um valor relativo mínimo
de participação.
Nesse caso, a passagem da prova indiciária à demonstração de culpabilidade só pode
ser garantida pela interferência com ela das provas testemunhais e das provas circunstanciais
recolhidas de outra forma.
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Depois desta crítica do seu valor absoluto e do seu valor relativo, quererá isto dizer
que se deva rejeitar o indício, porque ele não pode constituir uma prova válida? De forma
nenhuma.
Um resultado é sempre função de um conjunto, e os números só podem adquirir um
valor real através do seu conjunto, da sua repetição e da sua integração no inquérito: ora, o
crime não se poderia reduzir a algarismos, forma um todo; os resultados científicos só podem
referir-se a um aspecto, a um momento ou a um local, nunca fornecerão mais do que pontos
de referência num esquema de conjunto.
Inversamente, também não nos devemos deixar impressionar pelos números - embora
em toda a parte reine o falso mas não há lugar onde isso seja mais perigoso do que na
criminalística! No entanto grande tem sido a contribuição da aplicação da Estatística no
raciocínio criminalístico, de forma a buscar melhor controle nas margens de erro aceitáveis.
Cada vez mais a Criminalística tem que se valer de formulação de hipóteses, para
serem testadas em razão da complexidade de cometimento de crimes e pela própria difusão da
informação criminal nos meios de comunicação.
Trata-se unicamente de situar no seu devido lugar e no seu justo valor esse indício que
não pode pretender ser uma prova em e por si mesmo, mas que, integrando-se no conjunto dos
testemunhos e das circunstâncias, tem o seu peso nas presunções que confirmarão a íntima
convicção do juiz ou dos jurados: não se trata de substituir o inquérito pela perícia, porque a
criminalística forma um todo coerente, mas parcelar, cujas informações (embora sejam certos)
só representam um elemento de um conjunto.
A criminalística, ciência que por indefinição, depende, sem dúvida nenhuma, para o
seu progresso, em primeiro lugar, do progresso das suas componentes exatas, isto é, das
próprias ciências, mas por maior que seja o grau de perfeição que atinja, estará sempre
subordinada ao contexto do inquérito (investigação) e, como tal, deve constituir, com este,
uma balança permanente de ganhos e perdas, seguido de controles recíprocos, para atingir o
seu objetivo principal que é a manifestação da verdade para o bem da justiça.
A Criminalística como possuir um princípio sistêmico estará aperfeiçoada em sua
aplicação, à medida que o contraditório produzido em busca da verdade, possa ser de cada
caso com maior qualidade e temporalidade. A aplicação da Criminalística possibilitar redução
de incerteza na tomada de decisão.
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