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IPOG
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PERÍCIA CRIMINAL E
CIÊNCIAS FORENSES

CRIMINALÍSTICA

FERNANDO DE JESUS, Pg. D., MBA, Ph. D.


Curitiba (PR), dezembro de 2014.
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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

CAPÍTULO I - HISTÓRICO E DOUTRINA DA CRIMINALÍSTICA...........................30

CAPÍTULO II - NOÇÕES E PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA..............................36

CAPÍTULO III. O RACIOCÍNIO DA INVESTIGAÇÃO


CRIMINALÍSTICA...............................................................................................................48

CAPÍTULO IV . LÓGICA E TOMADA DE DECISÃO PERICIAL................................66

CAPÍTULO V. MÉTODOS DE CRIMINALÍSTICA........................................................76


I- O MÉTODO ..................................................................................................................... 76
II OS MÉTODOS ................................................................................................................. 85

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 98

FONTES BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................102
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INTRODUÇÃO

A informação científica

Tão antigo quanto o homem, tem sido o seu desejo de conhecer, utilizar ou prevenir-se
dos progressos técnicos e científicos dos aliados ou adversários, ou mesmo em relação à
natureza. A informação transformou-se em um diferencial competitivo entre as nações.
As nações exerciam seu domínio sobre outras se baseando na tecnologia e na
informação disponível como ferramenta de conquista e domínio.
A obtenção embora desorganizada desses conhecimentos foi o embrião da Informação
Científica, sendo um conhecimento inicialmente denominado de vulgar.
Vários fatores na história do homem destacando entre eles o religioso, especialmente
ao Período da Idade Média, impediram durante séculos, o acesso as grandes conquistas da
técnica e dos conhecimentos científicos então protegidos pelo tabu dos mistérios divinos.
Destacando-se também o fato que após a Idade Média, surge o renascimento com um notável
progresso científico e humano para a humanidade, sob o controle da Igreja.
A aliança da ciência a magia, desestimulava a pesquisa de certas conquistas
tecnológicas obtidas de modo empírico e experimental. No entanto não deve ser esquecida a
grande contribuição de Leonardo da Vinci, no século XV que projetou inúmeros
equipamentos e soluções que somente foram implantadas depois de centenas de anos. Tendo
Leonardo da Vinci aplicado na arte os conhecimentos matemáticos e científicos.
Leonardo da Vinci insistia que a arte ou habilidade, da pintura deveria estar apoiada
pela ciência, ou teoria com conhecimentos sólidos sobre as formas da vida, por meio do
entendimento intelectual de sua natureza e dos princípios subjacentes (CAPRA, 2008).
Inicialmente, o endurecimento superficial do aço foi obtido, no Oriente próximo,
mergulhando uma lâmina em brasa no corpo de um prisioneiro. Este era um típico processo
mágico: tratava-se de transferir para a lâmina, as qualidades guerreiras do adversário. Esta
prática foi divulgada no Ocidente pelos Cruzados, que tinham verificado que, o aço de
Damasco era mais rijo que o aço da Europa.
Fizeram – se experiências: mergulhou-se o aço em água sobre a qual flutuavam peles
de animais. Obteve-se o mesmo resultado. No século XIX, descobriu-se que esses resultados
eram devidos ao azoto orgânico. No século XX, quando foi aperfeiçoada a liquefação dos
gases, aperfeiçoou-se o processo, mergulhando o aço em azoto liquido à baixa temperatura.
Sob esta forma, a nitruração atualmente faz parte da nossa tecnologia.
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Os preconceitos sócio-religiosos desestimularam, quando não impediram, a pesquisa e


a divulgação das conquistas da técnica e da ciência. Como também centralizaram o
conhecimento nas mãos da igreja.
Uma bula papal condenou o emprego do tripé destinado a tornar mais firme o arco;
esta máquina, aliada aos poderes normais do arqueiro, tornaria o combate desumano. A bula
foi discutida durante duzentos anos. No ano de 1775, um engenheiro francês, Du Perron,
apresentou ao jovem Luiz XVI uma máquina militar que acionada por uma manivela, lançava
simultaneamente vinte quatro projéteis. Um memorial acompanhava este instrumento,
embrião das modernas metralhadoras.
A máquina pareceu tão mortífera ao rei e aos seus ministros Malesherbes e Turgot,
que foi recusada, e o seu inventor considerado inimigo da humanidade. Os dramas de Galileu,
dos alquimistas, dos anatomistas, são por demais conhecidos pela forma em que morreram.
O quanto a humanidade perdeu sob a poeira dos tempos, mercê do obscurantismo das
mentes, da dificuldade de divulgação, da falta de conjunção de esforços, é incalculável. Pode-
se destacar o conquistador que destruía todo o conhecimento do conquistado, especialmente
quando o do conquistado era superior. Cita-se a destruição do conhecimento do império Inca
pelos espanhóis no século XVI e a destruição da biblioteca de Alexandria.
Se um pequeno livro publicado em 1618, intitulado Histoire naturelle de La Fontaine
qui brule prés de Grenoble de Jean Tardin , tivesse sido considerado com serenidade, o gás de
iluminação poderia ser utilizado desde o principio do século XVII. Perdeu-se, assim, durante
cerca de dois séculos, uma descoberta de enormes contribuições seja para a indústria ou
comércio.
A vacinação está descrita desde a mais remota antiguidade, por um dos Vedas, o
Sactaya Grantham: recolham o fluido das pústulas com a ponta de uma lanceta e introduziam-
na no braço misturado o fluido com o sangue, e a febre surgira: dessa forma a doença será
bastante benigna e não inspirará preocupações. Mas só em 1796, Jenner publicou e foram
aceitas as suas observações sobre a vacina antivariólica.
A respeito dos anestésicos, Denis de Papin em 1681, publicou um livro que ficou no
esquecimento: Le traité dês operations san douleur. Somente em 1884 começaram a ser
aceitas e utilizadas na prática os estudos sobre a anestesia.
Em 1897, Ernest Duchesne, aluno de École de Santé Militaire de Lion, apresentou
uma tese onde relata experiência sobre a ação do” penicilum glaucum” sobre as bactérias.Só
nos últimos anos da 2º guerra mundial, Flemming foi consagrado como descobridor dos
bacteriostáticos (penicilina).
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Mais de cem anos antes da descoberta do ouro na Califórnia, a Gazeta da Holanda, em


1737, não só afirmava que as minas de ouro e prata de Sonora eram exploráveis, como dava a
sua localização exata.
Em 1636, Schwenter, afirmava num trabalho: que dois indivíduos podem comunicar-
se entre si por meio de agulha imantada. Porém só em 1819, (dois séculos depois), é que são
considerados com seriedade dos trabalhos de Oersted sobre os desvios da agulha imantada.
Seria cansativo continuar citando exemplos históricos do desenvolvimento e
destruição do conhecimento científico. O quanto de atraso sofreu o progresso da humanidade
por falta de informação e pesquisa técnica e científica, jamais poderia ser avaliado.
Nos dias atuais pode-se observar o acesso à informação como nunca havia ocorrido
anteriormente na história humana. No entanto, mesmo assim as crenças, ideologias e
estereótipos, educação deficitária, dificultam às pessoas o acesso e processamento das
informações de forma a solucionarem os problemas de forma eficiente e eficaz.

Informação
Informação pode ser definida como resultado de dado ou fato que foi selecionado,
avaliado, interpretado, integrado e finalmente expresso de forma que possa evidenciar sua
importância na solução de determinado problema atual ou futuro (PLATT, 1974).
A informação como atividade especializada em benefício do poder estatal ou
empresarial, não é uma criação moderna. Desde o início da história, nenhuma política de
diplomacia ou militar, vale mais do que as informações obtidas e os fatos que são baseados
nas mesmas. A história das informações retroage aos escritos bíblicos quando Josué antes de
iniciar a guerra de conquista de Canaã pede que espias façam um levantamento minucioso de
informações sobre os povos cananeus que habitavam a região.
“Do acampamento do vale das Acácias, Josué mandou secretamente dois espiões com a
seguinte ordem:
-Examinem bem a terra, especialmente a cidade de Jericó. Então eles foram, entraram na casa
de uma prostituta chamada Raabe e se hospedaram ali”. (JOSUÉ 2 : 01)
Até o fim do século XIX, as informações limitavam-se praticamente, aos aspectos
militares, isto é, desvendar manobras de preparação bélica ou desvendar planos do inimigo de
desenvolvimento da batalha. As informações econômicas eram praticamente desconhecidas
antes da Primeira Guerra Mundial. Somente após as primeiras batalhas desta guerra foi que
ocorreu a compreensão do valor das informações sobre a capacidade industrial do adversário.
Na época a França resumiu os aspectos do potencial industrial da Alemanha que deviam ser
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alvo das informações: a - levantamento abrangente do potencial industrial da Alemanha; b –


expansão da produção e utilização dos mercados; c – aperfeiçoamentos bélicos e invenções. A
competição entre grandes empresas industriais e o constante aperfeiçoamento das técnicas de
produção eram mantidas em sigilo fazendo surgir assim a espionagem industrial.
Distante de ter reduzido sua importância com o desenvolvimento das civilizações, as
informações tornaram-se cada vez mais necessárias, em um mundo onde a competição e os
antagonismos cresceram rapidamente, assim como as tensões sociais e econômicas.
Não há hoje em dia, Estado ou grande empresa que não necessite de informações. O
tomador de decisão – indivíduo, grupo ou órgão governamental – necessita de informações
para que possa pensar em linhas de ações possíveis e tomar uma melhor decisão. A nação que
possui ou acessa melhor as informações conquista ou mantém-se no poder mesmo que seja
por espionagem.
A atividade pericial está intimamente ligada com a busca, coleta, processamento e
apresentação de informações. Esta é a razão pela qual torna-se importante o estudo amplo da
informação e sua relação com a perícia. A perícia reduz a incerteza da tomada de decisão.

O que é informação ? Para quê ?


A antiga distinção entre dados, informação e conhecimento continua com algumas
dificuldades de definição precisa. Durante um grande período do tempo, as pessoas se
referiam a dados como sendo informação. Atualmente, falam de conhecimento quando se
referem à informação, daí o surgimento de gestão do conhecimento. A distinção não é fácil
porém quando consegue-se comparar os conceitos torna-se possível uma compreensão.
Baseando-se em Davenport (1998) propõe-se o seguinte quadro demonstrativo:

Dados Informação Conhecimento


Simples observações sobre Dados dotados de Informação valiosa da
o estado do mundo e o relevância e propósito mente humana
fenômeno Inclui reflexão, síntese,
contexto
Facilmente estruturado Requer unidade de análise De difícil estruturação
Facilmente obtido por Exige consenso em relação De difícil captura em
máquinas ao significado máquinas
Frequentemente Exige necessariamente a Frequentemente de alta
quantificado mediação humana aplicação de inteligência
humana
Facilmente transferível e Transferência de De difícil transferência e
explícito dificuldade mediana – tácito
tácito e explícito
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Drucker (1988) definiu informação como dados que possuem relevância e propósito.
Quem poderá transferir propósito? Naturalmente o ser humano. As pessoas transformam
dados em informação através da análise.

O conhecimento é a informação valiosa com maior dificuldade de gerenciamento.


Torna-se valiosa porque possui um significado, uma interpretação, alguém refletiu sobre a
informação e deu sentido e pertinência, agregando valor intelectual a mesma. O conhecimento
é tácito sendo difícil de explicitar. Este conhecimento tácito que é relevante para a perícia
porque foi agregado valor ao mesmo.

Atualmente, os computadores podem ser auxiliares poderosos no tratamento dos dados


e informações, porém não acrescentam tanto em relação ao conhecimento. O ser humano
encontra-se como protagonista no oferecimento da melhor informação ao tomador de decisão,
que Davenport (1998) chama de ecologia da informação.

Somente após a II guerra mundial foi que o Poder de uma Nação passou a ser
considerado de forma integrada, abrangendo todas as disponibilidades vitais, desde o mundo
físico até o psicológico, social, econômico, político e militar.
A informação científica era, até então, uma atividade restrita quase que somente ao
campo militar. No século XIX, o processo Dreyfuss originou-se do fornecimento aos alemães
de informes eminentemente técnicos , sobre um novo mecanismo de recuo e recuperação dos
canhões.
No inicio da II Guerra Mundial, desenvolveu-se intensa atividade na busca de
informações técnicas e científicas nos mais variados campos do saber humano especialmente
os associados a melhor forma de vencer o conflito. Após a II Guerra Mundial, todo o saber
acumulado foi aplicado aos mais variados campos de atuação do homem. Informação está
relacionada com inteligência porque a inteligência é a melhor aplicação da informação.
O principal conhecimento, que proporcionou a vitória dos aliados na II Guerra
Mundial foi a aplicação da inteligência. Inteligência que após este período foi aplicada não
somente aos interesses militares mas aos econômicos, políticos e de competição. No âmbito
da segurança institucional e enfrentamento a criminalidade houve um notável
desenvolvimento, que é primordial para o entendimento de como deve atuar uma polícia
científica.
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A utilização do processo de inteligência associado à elaboração de informação


científica nas necessidades organizacionais, possibilita uma cadeia de valor relevante para a
otimização da tomada de decisão. Podem-se indicar sete etapas no processo de inteligência
pericial:

1. Percepção ambiental – a correta percepção das mudanças no ambiente/cenário onde a


perícia está atuando é primordial para o início do processo de inteligência estratégica. A
reação demorada da organização frente às mudanças ambientais pode levar a organização
pericial a graves problemas. Toda mudança no ambiente gera sinais e mensagens que a
organização necessita perceber. Alguns serão fracos (difíceis de detectar), outros serão
confusos (difíceis de analisar) e outros serão falsos (não indicam mudança real, são
simulações).
O gerenciamento da percepção é um instrumento que tem sido utilizado como
sinônimo de persuasão. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América define
como as ações realizadas para encobrir ou disfarçar informações seletivas e indicadores que
possam influenciar os usuários através de suas emoções, motivos, crenças e valores, de forma
que se tornam favoráveis aos objetivos estabelecidos. Sob vários aspectos o gerenciamento de
percepção combina com operações de segurança, cobertura e disfarce de informações, e
operações psicológicas.
2. Formulação de perguntas e necessidades - Finlayson (2002) defende o pressuposto de que a
habilidade de formular perguntas é essencial nas atividades do mundo moderno. Para tanto
enumera as seguintes possibilidades que as perguntas podem-nos trazer. Estas perguntas
podem ser entendidas como quesitos a serem respondidos nos laudos:

 As perguntas nos ajudam a encontrarmos o foco, o objetivo dos exames – as perguntas


ajudam a buscar o atendimento das necessidades e a não buscar perguntas que já
possuem resposta em nosso ambiente ou em outros locais. É a forma pela qual filtra-se
as inúmeras informações que recebe-se diariamente. Se as perguntas são elaboradas de
forma significativa também o nosso pensamento acompanhará nossas perguntas. As
perguntas facilitam a etapa da organização objetiva de informações;
 Pergunta-se melhor quando pode-se refletir sobre examinar as nossas decisões –
quando para-se para pensar sobre decisões pode-se obter uma vantagem: analisar as
perguntas que estamos fazendo e qual o seu valor. As pessoas que não estão satisfeitas
e desmotivadas em suas atividades de trabalho não perguntam, não se importam com o
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que está ocorrendo ao seu redor. A motivação possui importante papel na condução do
processo de inteligência estratégica. Para perguntar devemos estar conscientes do que
não sabemos. Às vezes formulamos conclusões precipitadas baseadas em perguntas
equivocadas. Caso cometamos um erro de tomada de decisão de quais as perguntas
que merecem resposta, porque atuamos com medidas restritivas de recursos como
tempo e custos, o efeito sobre o processo poderá ser catastrófico;
 Somos mais flexíveis quando perguntamos mais e melhor – as perguntas nos auxiliam
na direção especialmente quando estamos sem objetivos claros e com poucas ou
nenhuma informação. A base do aprendizado está sustentada em uma relação íntima e
pessoal, onde o questionamento é fundamental.
3. Busca de informações – estamos em um momento histórico de excesso de informações.
Vive-se em uma infotoxicação. No entanto muitas pessoas continuam desinformadas ou pior
que isto armazena e aplicam informação errada. As informações devem possuir significado.
Na criação de significado da informação, uma necessidade básica é aumentar subjetivamente
a clareza e a qualidade da informação em situações ambíguas. Infelizmente com raridade a
informação surge diretamente do cenário. Normalmente ela chega através de rotas indiretas
que circula por canais intermediários, distorcendo sua mensagem verdadeira. O acesso rápido
e preciso a boas informações é fator crítico de sucesso;

4. Organização de informações – existe a necessidade de que as informações sejam


preparadas para o seu processamento. Este processamento dependerá da quantidade e
qualidade das informações. Quanto melhor a organização destas informações for realizada
maior sucesso no processamento das mesmas. A atividade pericial envolve a capacidade de
organização pessoal e organizacional para fazer frente as demandas de solução de problemas e
aplicação da ciência na elucidação criminal.

5. Processamento das informações – os psicólogos cognitivos normalmente adotam como


base de estudos em psicologia cognitiva o processamento de informações. Uma das
peculiaridades do processamento de informação é a de que está de alguma forma limitada pela
capacidade intelectual ou de recursos disponíveis. Os modelos de processamento de
informação no cérebro possuem uma capacidade limitada, considerando as variáveis de
experiência e atividade humana que refletem estas restrições. Os parâmetros da tarefa e as
restrições do sujeito determinarão a quantidade de recursos que deverá ser buscada para o
processamento de determinada quantidade de informações.
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6. Comunicação das informações – as informações produzidas necessitam ser disseminadas na


organização de forma simples e objetiva. Como foi dito anteriormente as informações devem
ser compartilhadas de forma que exista uma política de informação na organização. Caso o
modelo adotado na organização seja meramente funcional as informações irão estar
bloqueadas em algumas pessoas ou setores. É claro que existe o risco de vazamento da
informação, devendo o mesmo estar previsto na política de uso da informação. A competência
escrita e verbal é importante para que comunicação chegue ao usuário da melhor forma e
tempo possível.

7. Uso das informações – assim como a informação deve ser disseminado, o uso da mesma é a
finalidade de todo o processo. Não faz sentido e sim alto custo, se após tamanho investimento
de recursos as informações resultantes do processo terminem em um arquivo de computador
ou dentro de gavetas. As informações devem ser aplicadas em tomadas de decisão e ações.
Tendo que existir também a pesquisa com os usuários da informação se a mesma está sendo
útil para a tomada de decisão. Este fato é raro de ocorrer entre os fornecedores de informação.
Daí que deve ser levado em consideração o usuário da informação para que a mesma chegue
de forma a ser informação útil.

A figura abaixo exemplifica que somos processadores ativos do mundo que nos cerca
através de nossos esquemas cognitivos, percepções ambientais e informações que são
adicionadas de forma a ajustarmos nossos esquemas de pensamento.
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Quando as provas matérias não possuem confiabilidade ou não são suficientes para o
esclarecimento criminal a análise psicológica do comportamento pode, sem dúvida, utilizar-se
dos princípios da Psicologia, tanto em relação aos seus conceitos quanto aos seus métodos
(GARRIDO;SOBRAL, 2008).

A Psicologia Social é útil para serem feitas análises dinâmicas do comportamento e


provas, esclarecendo as perguntas: o quê? e para quê? Em verdade, a Psicologia Social deve
ter como base a necessidade de descobrir e analisar as forças que estão por trás dos processos,
as forças responsáveis pela ação, pela decisão e pelas preferências dos indivíduos em uma
situação de interesse jurídico de elucidação criminal (CANTER;YOUNGS, 2012).

Tomada de decisão pericial

Em princípio, uma tomada de decisão deve se apoiar em bases objetivas e


concretas de informação a fim de que possa apresentar firmeza, coerência, fatores
indispensáveis à obtenção do seu consenso. Essas bases serão quase sempre constituídas de
informações que retratem, tanto quanto possível, uma determinada situação com previsão e
realismo. Embora ser essa a norma desejável para um ato decisório, nem sempre os fatos
puramente concretos estão à disposição dos usuários das informações podem ter que utilizar
de estimativas (JESUS, 2011). Este princípio aplica-se principalmente nos casos periciais
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mais complexos quando as provas materiais são inexistentes ou insuficientes para


fundamentar uma investigação pericial e sua conclusão.

Assim, como nas atividades rotineiras da vida, a maioria de nossas decisões


deveria ser baseada em fatos e outras há que se apóiam em estimativas. No campo específico
das informações encontramos o mesmo quadro de forma semelhante. As decisões não são
apoiadas em evidências e fatos, mas em sentimentos e livre arbítrio, podendo isto levar a
inúmeros erros e problemas de avaliação.
Deve-se sempre evitar as estimativas, dando-se preferência aos fatos. Quando
apesar destes, não se consegue construir um quadro completo, não há outro recurso senão a
utilização da opinião e estimativa. Esta habilidade de construção desta estratégia de estimativa
deve ser a dos especialistas, bem informados sobre os problemas em questão, de elevada
capacidade técnico – profissional e sempre que possível, com experiência no trabalho de
gestão da informação.
Torna-se importante a definição de uma estratégia de investigação pericial para
que em determinados casos possamos obter as provas suficientes para a convicção do
resultado de um laudo pericial. Quando um Perito Criminal avalia um fato criminal deverá
adotar determinadas estratégias a fim de alcançar o objetivo de produção de prova. A perícia
produz prova.
Em razão do exposto, Mintzberg (2008) relaciona a estratégia com a tomada de
decisão. Para tanto apresenta três modelos que podem ser úteis a tomada de decisão
relacionada com estratégia: primeiro pense, primeiro veja e primeiro faça. Estes modelos
estão respectivamente relacionados com análise, ideia e ação. Não são modelos finalistas para
todos os casos, se relacionam de forma direta e simples com o pensamento estratégico.
O quadro abaixo apresenta resumidamente:

FONTE: Mintzberg (2008, p.64).


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As organizações saudáveis e pessoas saudáveis são competentes para adotar os


três modelos de tomada de decisão. Surgirão situações interessantes que são as que estão
relacionadas com os perfis de personalidades e o comportamento. Isto quer dizer que muitas
pessoas possuem dificuldades em lidar com um ou mais dos modelos, porém quando a tarefa
é realizada em grupo, o mesmo está voltado para a solução, podem surgir soluções e ações
inovadoras (JESUS, 2008).
Em resumo pode-se dizer que o seguinte quadro abaixo explica de forma didática
quando empregar cada um dos modelos:

FONTE: Mintzberg (2008, p.64).

Estes modelos são especialmente úteis quando se está em um início de projeto ou


preparação de uma estratégia. Situação esta que requer tomada de decisão de grande impacto
e importância. Principalmente levando-se em consideração o lugar ocupado pela informação.
A informação exerce um papel importante na estratégia. A estratégia neste
contexto pode ser planejada mesmo para um tipo de trabalho pericial. Pode-se falar hoje da
necessidade do Perito Estratégico.
De acordo com McGee e Prusak (1994) existem três perspectivas relativas a
estratégia e informação que são importantes:
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1. Informação e definição da estratégia – a análise do ambiente interno e externo


auxilia aos tomadores de decisão e líderes, a identificar as variáveis mais
importantes para a definição do planejamento de estratégias;
2. Informação e execução da estratégia – o advento da Tecnologia de Informação
possibilita o acesso de enorme quantidade de informação que pode fazer a
diferença. Quanto melhor a qualidade das informações e o alinhamento da
mesma na organização maior a possibilidade de que a execução da estratégia
não ocorra com obstáculos e crises;
3. Informação e integração – o acompanhamento do desempenho da organização
em relação a estratégia planejada e executada é importante para ter-se um
feedback e que ocorra um aprendizado organizacional constante. Este sistema
permite a atualização da estratégia de maneira a que esta esteja em
conformidade com a informação estimada. Existe a necessidade de troca de
informações entre a investigação judiciária e produção de provas pela perícia o
que rotineiramente não acontece. As duas instituições atuam de forma
divergente. Desenvolver estratégia é complexo porque é um processo e se as
instituições envolvidas não estão conectadas mais difícil se torna a tarefa.
Na produção de informação estratégica, não pode o perito ater-se exclusivamente
ao campo da quase certeza, onde todas as afirmações são a expressão de certo número de fatos
concretos. Necessário se faz que o perito muitas vezes ingresse no terreno nebuloso das
probabilidades, a fim de elaborar estimativas, fazer avaliações, de produzir, em suma a
informação estimada, a qual faz parte de um conjunto, com a finalidade de metodizar a
produção da informação necessária ao planejamento estratégico (JESUS, 2011).
Tenta-se contribuir para resolver o mais racionalmente possível, um problema das
informações: a produção de uma estimativa. Esta em última análise, fundamenta-se em uma
tríade de elementos extremamente variáveis: o homem (o perito), os dados disponíveis e o
método de processamento de informações. Embora torna-se por demais difícil a solução ideal
que, acreditando-se que só se possa alcançar, com uma considerável parcela de chance,
qualquer que seja o processo adotado.
A percepção da realidade e sua aplicação na informação estimada é importante
para que sejam produzidos produtos por meio de modelos de gestão de gestão de
conhecimento que serão úteis na modelagem de criação de realidades futuras. Michaud (2006)
na figura abaixo descreve adequadamente este processo:
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Fonte: Michaud (2006, p.221)

Lembrando-se que o ser humano não processa informações como uma máquina de
pensamento, mas quer queira ou não, informações inconscientes e emocionais estarão
inseridas em sua tomada de decisões (JESUS, 2011).
Assim procura-se apenas estudar métodos, processos de trabalho e formas de
apresentação do mesmo.
Não existe uma solução matemática ou positivista para a grande maioria dos casos
em que se procura fazer previsões sobre o comportamento do homem, isolado ou em grupo,
em face de situações jamais iguais, embora às vezes, semelhantes.
Quando pretende-se obter a possibilidade de acerto sobre um acontecimento ou
situação futura, nos afigura a priori um aspecto altamente ponderável: a proximidade ou
afastamento do futuro a se considerar. Quanto mais distante maior a probabilidade de risco de
erro nas estimativas. O fato da análise de futuro deve levar em consideração o horizonte
temporal (JESUS, 2011).
Estabelecida esta premissa, o nosso processo mental lógico irá desenvolver-se
baseado em dois fatores permanentes: os fatos e a previsão, os quais, porém, variam na sua
relação quantitativa, à medida que o futuro se vai tornando distante. Assim, teoricamente,
encontraremos três quadros: um, em que a parcela dos fatos é superior à previsão; outro, nos
quais duas se igualam e uma terceira, em que a parte subjetiva, a previsão, prepondera sobre
os fatos.
Os dois primeiros estão compreendidos numa faixa a que chamamos de
perspectiva; o último é o terreno da sua prospectiva.
Sendo a informação, em última análise, um conhecimento produzido com a
finalidade de servir à tomada de decisão, fica evidente que os princípios de objetividade,
prudência e eficiência devem reger todo o esforço para a sua produção.
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O perito deve estar atento para o caso de ocorrência de suspeição. De acordo com
o Código de Processo Penal :

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto
sobre suspeição dos juízes.

Criminalística
Pode-se entender a Criminalística em dois sentidos:
1º) No sentido amplo, é o conjunto dos procedimentos científicos aplicáveis à
investigação e ao estudo de materiais do crime (materialidade), para conseguir produzir
provas científicas dentro de uma fundamentação de legalidade.
Neste caso, devem-se distinguir os seguintes procedimentos:
1. Procedimentos policiais utilizados para desenvolver um inquérito, incluindo a
obtenção de provas do crime;
2. Procedimentos científicos , utilizados para a demonstração dessas provas do crime
perante a justiça, enquadrando e codificando a administração das provas - nas formas
jurídicas, seja recolhendo-as ou demonstrando-as.

Torna-se importante assim, estar claro que a criminalística é a intersecção entre o


conhecimento científico e o ambiente jurídico. Deve então estar entendido pelos Peritos que
deverão produzir provas dentro do arcabouço jurídico legal.

2º) No sentido restrito, a Criminalística será unicamente uma ciência, absolutamente


separada da medicina, da toxicologia, da psicologia jurídica e psiquiatria legais, cujo assunto
é absolutamente diferente e cujo objetivo há muito que foi consagrado: é, efetivamente, uma
matéria que não incumbe nem ao médico nem ao químico nem ao psiquiatra, pois que a sua
tecnicidade é absolutamente diferente e muito especial, exatamente a da criminalística, tal
como vamos agora descrevê-la, numa primeira aproximação, pois os seus limites não estão
definidos, aproximando-se daqueles que os outros não podem ou não querem atingir. Enfim, a
Criminalística possui um objeto próprio de estudo.
Tanto no sentido amplo como no sentido estrito, a Criminalística relaciona-se com a
Criminologia, que é o estudo doutrinário e aplicado ao estudo do fenômeno chamado “crime”.
Crime aqui considerado no sentido de toda e qualquer agressão dirigida contra valores morais
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ou sociais legalmente definidos e penalmente protegidos, como as pessoas, os costumes e os


bens.
Será apresentado então apenas a Criminalística, no sentido estrito como ciência, que
possui metodologia e aplicada a crimes tomados no sentido amplo do entendimento da
criminalística.
Criminalística seria a ciência ou o conjunto de ciências aplicadas a ocorrência de um
fato criminal, com o objetivo de descrever a causalidade e os efeitos da ocorrência de
variáveis que de forma sistêmica produziram um resultado.
O método sistêmico é um conjunto de passos ordenados e sistematizados que nos leva
a aplicar o pensamento sistêmico de forma organizada, de forma que cada passo seja atingido
resultados que possam auxiliar os passos seguintes. Com o desenvolvimento do processo são
alcançados aprofundamentos de aprendizagem sobre a situação de interesse, como também
alcance dos objetivos estabelecidos (ANDRADE et al, 2006).

Os fatos criminais que necessitam de aplicação da Criminalística são de origem


sistêmica, tanto de sua aplicação, em razão das inúmeras ciências aplicáveis quanto de seu
entendimento aplicado, que é a busca de vestígios ou até de microvestígios que estejam
conectados entre si e com os agentes causadores do resultado ou efeito. Estes microvestígios
normalmente são produzidos pela conduta humana.

Por meio da técnica de narração de histórias, vão sendo ampliadas as percepções da


percepção humana sobre a realidade. De acordo com esta premissa a realidade é composta de
camadas de percepção. Essas camadas possuem informações que vão sendo explicitadas à
medida que se investiga mais profundamente. Uma visão superficial de um fato ou de um
problema somente se observa a ponta do iceberg, que está clara e objetiva sob determinado
aspecto de percepção, à medida que se utiliza técnicas e informações específicas sobre o caso
em estudo vão sendo reveladas as camadas do iceberg, que estão abaixo da superfície.

Segundo Andrade et al (2006) em um primeiro nível que é o mais visível, explícito


encontram-se os eventos que ocorrem e são percebidos pelas pessoas envolvidas. Por meio da
percepção dos eventos as pessoas respondem de forma normalmente reativa ou até
automática. Este funcionamento é bom desde que as mudanças objetivas não sejam demasiado
rápidas. Como também se não são complexas ou inter-relacionadas. No entanto em um mundo
do século XXI altamente dinâmico e interconectado, a ação reativa pode ocasionar problemas,
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pois o tempo de reação poderá ser lento demais para a solução do problema. Acrescentando-se
ainda que a visão de eventos é ocasionalmente fragmentada, impondo as pessoas uma visão
parcial da realidade. Impedindo assim um entendimento mais amplo das consequências das
ações.

Os eventos que ocorrem são o resultado das variações dos padrões de comportamento
mais profundos. Para ultrapassar o nível dos eventos necessário se faz analisar as tendências
de longo prazo e avaliar suas implicações. Neste nível são avaliados os padrões de
comportamento do passado para buscarem-se evidências que possam predizer o
comportamento futuro ou desejado, que pode estar explícito nas normas e na lei.

O terceiro nível refere-se a necessidade da compreensão da estrutura sistêmica da


realidade. Esse nível pode indicar o que causa os padrões de comportamento, buscando-se
uma explicação para os mesmos de forma a terem uma relação de causa e efeito (ANDRADE
et al, 2006).

As explicações estruturais podem levar a compreender as causas e em que nível eles


devem ser alterados para um resultado desejado. A estrutura existente influencia o
comportamento. Necessário se faz antes da preocupação com a mudança individual do
comportamento a mudança na estrutura existente.

As estruturas de base social são mais complexas de mudança em razão de que é


formada por pessoas que possuem suas crenças, valores e condutas e atitudes que se
relacionam com seus modelos mentais. Estes modelos mentais irão estar relacionados com a
forma de ver o mundo e os eventos que ocorrem no mesmo. As condutas individuais estarão
assim relacionadas com o sistema ao qual elas fazem parte.

A criminalística é a ciência ou profissão que lida com o reconhecimento, classificação,


identificação, individualização e interpretação da prova material. O Perito Criminal deverá
incorporar seu conhecimento específico em conjunto com os princípios criminalísticos na
elucidação criminal.
A criminalística baseia-se no pressuposto de que um criminoso (na maior parte das
vezes, sem estar consciente) deixa sempre, no lugar do crime, alguns vestígios; que, por outro
lado, também recolhe, na sua pessoa, na sua roupa e no seu material, outros vestígios
17

presentes no ambiente. Estes vestígios geralmente são imperceptíveis mas possíveis de serem
identificáveis e processados em prova material.
Baseando-nos nesta premissa é que poderíamos sustentar em última análise, que se
possuirmos todos os vestígios de um crime, seria possível reconstruir-lhe todas as suas fases e
chegar até ao seu autor. Na realidade, trata-se simplesmente de procurar a prova de uma
culpabilidade, baseando-se em indícios aos quais se aplicarão todos os métodos de
investigação científicos necessários a solução do crime.

Exame de corpo de delito (ESPÍNDULA, 2005)

Quando ocorre a necessidade de levantamento pericial em um determinado local,


pessoa, coisa etc o Perito necessita de identificar os agentes de sua ação. Esta ação é
identificada como exame de corpo de delito. Desta forma podemos definir corpo de delito
como o exame de qualquer elemento ou material (inclusive pessoas) que estejam interligadas
com a ocorrência de determinado fato criminal.

Roxin (2008) diz que a imputação objetiva depende não somente de variáveis
objetivas mas também de subjetivas. O conhecimento subjetivo existente para a execução de
uma determinada ação estará ligado diretamente ao resultado esperado desta ação, impondo
assim uma assunção de risco.

O conhecimento especial e privado de alguém sobre um determinado fato, de dados


subjetivos, cria assim à existência de um perigo e desta forma a imputação ao tipo objetivo.

Os fatores subjetivos estão relacionados também a um papel primordial no alcance do


tipo. Pode-se dizer que o delito culposo quando inexiste a intenção do resultado, pressuporia a
ocorrência de um tipo subjetivo. Por exemplo: aquele que uma via de tráfego dirige seu
veículo em velocidade superior à permitida legalmente, cria um risco para ocorrência de um
acidente , mesmo que em seu íntimo não queira a ocorrência do mesmo. No entanto caso este
comportamento na direção torne-se frequente em inúmeras reincidências, pode-se verificar a
influência da subjetividade em um comportamento de direção perigosa.
18

Segundo Roxin (2008, p. 122):

A imputação objetiva se chama “objetiva” não porque circunstâncias subjetivas lhe


sejam irrelevantes, mas porque a ação típica constituída pela imputação – o homicídio,
as lesões, o dano etc – é algo objetivo, ao qual só posteriormente, se for o caso, se
acrescenta ao dolo, no tipo subjetivo. Ao tipo subjetivo pertencem somente elementos
subjetivos do tipo, como o dolo e os elementos subjetivos do injusto.

A consciência do autor exerce importância sobre sua ação no que diz respeito ao
controle de seus impulsos, como também ao juízo de perigo ou de responsabilidade que o
mesmo possui em relação a participação e distribuição das responsabilidades na ocorrência do
fato. A consciência de cada um em relação a participação na ocorrência do fato estará ligada a
avaliação das condutas e de personalidades em relação ao resultado alcançado. Como diz
claramente Roxin (2008, p.122): “ações humanas, e também ações típicas, consistem sempre
em um entrelaçamento de momentos objetivos e subjetivos.”

A teoria da imputação objetiva busca então explicitar qual realmente é a realização do


autor. A imputação objetiva integra o conceito de ação sem a ligação com a finalidade
(ROXIN, 2008).
A ocorrência de um possível fato criminal exige da autoridade policial determinadas
providência que estão elencadas no artigo 6º do Código de Processo Penal:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
1
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
2
peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no
Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado
por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;

1
Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.03.94
Redação anterior: I – se possivel e conveniente, dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o
estado e conservação das coisas, enquanto necessário;
Vide Lei nº 5.970, de 11.05.73
2
Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.03.94
Redação anterior: II – apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato;
19

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se


possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,
familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes
e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
A autoridade judiciária (delegado de polícia) terá ainda as obrigações conforme o
Código de Processo Penal:

Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:


I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução
e julgamento dos processos;
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV - representar acerca da prisão preventiva.

Vestígios, evidências e indícios

Na atividade pericial quando os Peritos passam a buscar materiais, objetos, sinais,


manchas, etc que estejam relacionados com um fato criminal investigado denomina-se de
vestígios (dado). A existência do vestígio está relacionada com um agente iniciador, um
suporte que recebeu a ação física, pessoal ou química do agente iniciador. Tudo que em um
local de crime é constatado como possível de ser transformado em prova pode ser considerado
como vestígio.
Antes de produzir-se a prova existe a evidência. Evidência é o vestígio que após ter
sido estudado, processado, analisado, constata-se que está relacionado com o fato que está
sendo periciado e examinado em seu sentido amplo.

Evidência na perspectiva criminalística é todo vestígio que após o devido


processamento pode ser considerado como prova e está relacionado com o processo de
investigação do fato criminal.
Na fase de investigação, o vestígio e a evidência recebem a denominação de indício.
Esclarecemos que quando fala-se de indício está incluso não somente os vestígios e
evidências mas as informações subjetivas (testemunhos etc) que estão relacionados com o
fato. O indício seria uma hipótese para a investigação, isto é pode ser verdade ou não.
Indício é então a palavra que expressa no mundo legal o significado de cada uma das
informações objetivas e subjetivas que estejam relacionadas com a ocorrência do crime.
Nota-se que a imprensa e o leigo de maneira geral utilizam-se dos termos vestígios,
evidências e indícios como se fossem sinônimos, como visto anteriormente são diferentes.
20

Sabe-se então que todo o processo criminalístico inicia-se com o vestígio. O vestígio
possui uma importância primordial para Criminalística. Primeiramente porque o eminente
Criminalista Edmond Locard formulou um dos princípios fundamentais de que todo contato
deixa um vestígio, que se constitui um dos pilares da Criminalística (LOCARD, 2010). Sendo
assim necessita-se de aprofundar o estudo do vestígio, que pode ser classificado em vestígio
verdadeiro, ilusório e forjado.
1. Vestígio verdadeiro – são aqueles produzidos diretamente pelos autores e vítimas
da ocorrência criminal. Os vestígios verdadeiros estão relacionados com a
dinâmica dos fatos constatada durante os estudos realizados pela perícia. O
comportamento das pessoas no local de crime produzirá vestígios que se forem
verdadeiros estarão diretamente relacionados com os agentes causadores;
2. Vestígio ilusório - é todo aquele vestígio que encontrado no local de crime que não
possui ligação com o fato ou os autores do delito e desde que sua ocorrência não
seja de maneira intencional. Em razão de inúmeras dificuldades no processamento
de local de crime, tais como: ausência de isolamento adequado, interferência ou
contaminação do local por pessoas diversas, dificuldades de relevo, luminosidade,
falta de experiência ou percepção adequada da perícia, pode ocorrer o
recolhimento e estudo de determinado vestígio com a melhor das intenções de
investigação e não está ligado aos autores ou a cena de crime;
3. Vestígio forjado – são os vestígios que foram produzidos objetivamente pelos
autores do delito com a intenção de modificar o estado verdadeiro de um local ou
cena de crime. A forma e o tipo de vestígio forjado podem ser úteis no
processamento do local de crime, e revelar informações importantes dos seus
autores. Esclarece-se que às vezes policiais, agentes de segurança ou pessoas
indiretamente interessadas na intenção de manter o local em seu estado, que
pensam que seja normal, inserem vestígios que se tornam forjados.

O vestígio liga-se a produção de prova que estão no centro do triângulo entre a cena do
crime, o autor e a vítima.

O Código de Processo Penal deixa bem claro que:

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
21

Não se deve esquecer que o local ou cena do crime é inviolável. Ainda o Código de
Processo Penal esclarece de forma contundente:

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se
altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir
seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado


das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na
dinâmica dos fatos.

Os indícios são relevantes no decurso do trabalho pericial. Conforme o Código de


Processo Penal:

Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,


que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a
existência de outra ou outras circunstâncias.

O valor interpretativo da evidência


O valor da evidência não é somente baseado na sua presença na cena de crime. A
análise de uma cena de crime demanda do Perito a necessidade de interpretação da evidência
dentro do contexto do fato criminal. A cena de crime é como um quebra-cabeça. Quando o
perito chega a uma cena de crime com vários equipamentos e materiais para serem aplicados
conforme a montagem das peças do quebra-cabeça. Infelizmente muitas vezes o Perito não
possui todas as peças do quebra-cabeça. Às vezes encontrar somente uma peça do quebra-
cabeça fornece a possibilidade de encontrar as demais peças. O grande significado da
evidência está no tempo e na sua relação com o contexto do fato criminal.
O Perito tem que colocar a evidência dentro do contexto do fato criminal. A habilidade
de distinguir a marca de um solado de sapato com tem sido produzido próximo do tempo em
que ocorreu o fato criminal, a localização do mesmo e sua direção é extremamente importante
na montagem de como os fatos ocorreram. Os aspectos do contexto e das evidências de forma
isolada nos possibilitam deduzir com razoável segurança como os fatos se sucederam. Daí a
importância de documentar rigorosamente a cena de crime.
22

Analisando o contexto da evidência, pode-se classificar da seguinte forma


(GARDNER, 2012):
1. Efeitos previsíveis – são aqueles efeitos que ocorrem na cena de crime de forma
regular e em dado ritmo. Baseado nesta regularidade o Perito pode inferir o tempo em
que o fato ocorreu. Clássicos efeitos são encontrados na Entomologia Forense quando
os estágios das atividades dos insetos proporcionam ao entomologista predizer o
tempo em que no caso de homicídio a morte ocorreu. Outro exemplo são os livores
cadavéricos;
2. Efeitos imprevisíveis – ocorrem de forma aleatória sem condições de estimar uma
regularidade. Estes efeitos alteram a cena original e as evidências. Se não forem
reconhecidos de forma objetiva podem prejudicar seriamente a interpretação da cena
de crime. Exemplo clássico do mesmo é quando a entrada da Polícia na cena de crime
modifica todo o ambiente e os responsáveis pelo local não sabem onde os mesmos
estiveram e tocaram. Estes fatos modificativos podem ser catastróficos para a correta
interpretação do fato;
3. Efeitos transitórios – manifestam-se na cena de crime de várias formas. Somente uma
percepção acurada consegue percebe-los e obter informações destas percepções.
Exemplos dos mesmo podem ser : presença de gelo dentro de um copo, odores de
perfume ou substâncias químicas no ambiente. Atualmente com a dificuldade de
preservação ou de outras variáveis tais como: falta de percepção, observação, tempo,
nos estágios iniciais da cena de crime pode resultar em perda de informações;
4. Detalhes relacionados – são aqueles que pertencem a variável de habilidade do Perito
para relacionar as provas físicas presentes na cena de crime. Exemplos: presença da
arma próximo ou distante da vítima, fragmentos de vidros longe do local do fato. Por
meio dos detalhes relacionados o Perito poderá estabelecer a correlação entre vários
objetos. Quando o local é externo as ações do tempo podem modificar a posição
original. Normalmente é difícil para o perito relacionar todos os vestígios encontrados
na cena de crime, mas os que encontrarem podem ser uteis na compreensão da
totalidade do fato ocorrido;
5. Detalhes funcionais – são os que resultam da operacionalidade dos objetos e vestígios
encontrados na cena de crime. Por exemplo: a arma encontra-se eficiente para produzir
disparos? A porta teria condições de resistir a um chute com força equivalente a
situação ocorrida? O disparo de arma de fogo poderia ser ouvido àquela distância e
23

condições? Os detalhes funcionais podem desmanchar teorias e depoimentos que não


condizem com a verdade de como o crime ocorreu.

Procedimentos Operacionais Padrões


Um dos pontos importantes da atividade pericial é manter um nível de qualidade que
possibilite alcançar melhores resultados com menos recursos. Para que se possa buscar este
nível de desempenho é necessário que exista uma padronização das atividades periciais. O
objetivo é a busca de garantir um padrão de qualidade de determinada atividade.
Pode-se dizer que Procedimento Operacional Padrão são as técnicas e procedimentos
empregados em determinada atividade ou área que uma vez descritos e mapeados podem
possibilitar um determinado padrão de qualidade.
O Procedimento Operacional Padrão não pode também servir de uma lei que não pode
ser violada porque as atividades que foram relacionadas são as de rotina e em algumas
situações especiais pode não enquadrar-se nesta rotina.

A prova criminal (CUNHA, 1987)

Pode-se dizer que a prova situa-se nos limites entre o científico e o jurídico, mas isso é
o resultado de uma longa evolução do sistema probatório, pois o problema do gerenciamento
da prova sempre dominou as legislações de todas as épocas, de todos os países. Somente nos
últimos anos, em razão do crescimento da criminalidade e do incômodo social, foi que os
legisladores e a justiça passaram a considerar sua importância especialmente nos países de
filosofia jurídica positivista, tais como Brasil e países da América Latina.

Segundo o Código de Processo Penal:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.3

3
Redação dada pela Lei nº 11.690, de 09.06.08
Redação anterior: Art. 155. No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas as
restrições à prova estabelecidas na lei civil.
24

Historicamente nas sociedades primitivas, a prova era mais ou menos mágica em que,
na ausência de flagrante delito, as impressões pessoais ou mesmo a interpretação de sinais
eram os únicos elementos que permitiam a opinião, a apreciação. Um pouco acima dessa base,
está a prova mística, em que intervêm as provações, as ordálias, os duelos judiciários, os
juízos de Deus (ligado a cultura do povo). Mais um degrau e é a prova legal, em que a lei
controla e fixa não apenas os meios de prova, como a categoria de cada um desses meios e em
que a confissão é considerada como a “rainha das provas”. Em consequência, sucedem-se – o
fato do juiz apreciar livremente a prova segundo a sua convicção íntima - e, depois, o período
científico atual - que, sem dúvida nenhuma, é o do futuro - em que a prova é fornecida pela
perícia, que procura demonstrar, através de dados de experiência ou de observação, racionais
ou racionalizados, isto é, científicos.
É um fato que a ciência está, cada vez mais, a auxiliar o Direito; mas, evidentemente,
isso não se dá por ela pretender substituir os julgamentos por avaliações ou constatações de
peritos, mas simplesmente para que os peritos esclareçam os tomadores de decisão e juízes,
reduzindo ao mínimo as variáveis subjetivas, de incerteza, de emoção; mas, seja qual for o
procedimento - inquisitório ou adversarial -, essa prova não é unicamente um estudo de
laboratório é muito mais que isso.
A despeito de saber-se que a convicção íntima acabe sempre por servir de critério final
para a livre apreciação das provas, atualmente já não pode dispensar um sistema de pesquisa e
de controle da verdade, assim como o critério da evidência não pode dispensar o cientista do
seu rigor técnico: não se trata apenas de encontrar, também é necessário provar!

Pode-se dizer que o tratamento de dados é um ato de soberania, seja qual for o
mandatário. Deverá ser elaborado com credibilidade e aplicabilidade porque é desenvolvido
para tomadas de decisão seja na área econômica, seja na judicial, seja na comercial. Os
usuários dos dados deverão saber utilizá-lo de forma adequada. Muitas vezes a falha está na
distância entre o resultado do tratamento dos dados e a autoridade que os solicitou. Isso é
válido tanto para a área pública quanto para a privada.

Segundo Jesus (2014) o tratamento de dados consiste em dar sentido a fatos e indícios.
Ele busca iluminar um pouco o presente e o futuro para que se possam tomar decisões com
maior segurança. Os dados são tratados de forma consciente ou inconsciente. Quando se
planeja uma viagem, buscam-se dados e informações necessários para maximizar nossa
satisfação, ao mesmo tempo em que surgem situações, variáveis de restrição nesse tratamento,
25

como tempo, dinheiro, custo de oportunidade etc. Como também ocorre a decisão sem dar-se
conta de como se chegou a ela.

Assim a necessidade de informação para a tomada de decisão surge para suprir uma
lacuna do conhecimento. A pessoa que conhece tudo e sabe tudo não terá necessidade de
informação, mas sabe-se que atualmente esta pessoa não existe. A grande diferença é que uma
tomada de decisão sobre a liberdade de um acusado implica em acessar o maior bem jurídico
que é a liberdade individual.

Inicialmente, é necessário quantificar e qualificar qual é a real necessidade da


informação. A correta avaliação da necessidade possibilitará buscarem-se os recursos e os
conhecimentos necessários para satisfazê-la. Logo, a necessidade irá preceder à aquisição do
saber, porque irá fornecer à elaboração da informação o essencial, que é a formulação das
perguntas (JESUS, 2014).

As perguntas ou quesitos auxiliam na direção, especialmente quando se está perdido e


sem um mapa de localização. As pessoas que não possuem uma carreira profissional orientada
e equilibrada conforme suas competências necessitam elaborar perguntas adequadas. A base
do aprendizado está sustentada em uma relação íntima e pessoal, em que o questionamento é
fundamental. Talvez a pergunta mais interessante que uma mãe possa fazer ao seu filho que
está iniciando os estudos colegiais seja: O que você perguntou hoje? Você teve dúvidas? Em
um mundo globalizado e mutante, as perguntas ajudarão a discutir e criticar de forma rápida e
significativa.

A questão fundamental é: qual é a pergunta essencial. Geralmente, ignora-se a


pergunta mais profunda sobre direção e resultados esperados em longo prazo, buscando-se
somente a solução da crise atual. A permanência da negligência em relação à pergunta faz
com que outra crise surja com aspectos diferentes, provocando novamente a reflexão: Qual é a
causa subjacente? Provavelmente, a necessidade não foi satisfeita, isto é, a pergunta não foi
totalmente respondida. Como suspender os preconceitos e crença para analisarmos o
fenômeno de forma isenta? Qual a intencionalidade do agente na ação? Husserl (2005) por
meio do método fenomenológico buscou atender a grande parte destas indagações.
26

A análise tem como objetivo centralizar todas as perguntas e as respostas que estão
circulando nas artérias da memória e das redes. A centralização é indispensável para a
validação de forma otimizada do ciclo de informação. Cabe à análise a competência de
permanentemente investigar as necessidades e transformá-las em objetivos (JESUS, 2014).

Pode-se constatar que se trata de um ciclo de perguntas e respostas que continuamente


busca o aprimoramento do tratamento dos dados e o fornecimento de informações úteis ao
processo de tomada de decisão. Existirá então uma rotação do ciclo de informação que não
deverá ser maior nem menor do que a capacidade da organização em manter a qualidade no
processamento e na aplicação útil das informações geradas.

Conforme Popper (1999), a tarefa da ciência é buscar explicações satisfatórias, que


dificilmente podem ser compreendidas sem o fundo da realidade (observação). A explicação
satisfatória é a que não somente atende a um caso, mas a que pode ser aplicada a outros casos.
Essa explicação deverá ser aprofundada para as camadas mais profundas da explicação, que
quanto mais simples, mais significativas são. Ainda Popper (1999, p. 177) diz: “De fato, é
com as nossas teorias mais ousadas, inclusive as que são errôneas, que mais aprendemos.
Ninguém está isento de cometer enganos; a grande coisa é aprender com eles”.
Observa-se que, pelos fatos conhecidos, podem-se formular hipóteses para responder
às perguntas formuladas. A partir desse ponto, buscam-se informações existentes em banco de
dados, em sistemas de tecnologia de informação, em entrevistas, na mídia etc. Dessa forma,
contrastam-se as hipóteses e a partir daí integrarem-se as informações com um pensamento
dedutivo.
Daí a importância da conceituação de prova para o correto entendimento de sua
validade e da forma como proceder para sua obtenção.

Segundo Nucci (2013, p. 23):


O termo prova origina-se do latim – probatio -, que significa ensaio, verificação,
inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação. Dele deriva o verbo
provar – probare -, significando ensaiar, verificar, examinar, reconhecer por
experiência, aprovar, estar satisfeito com algo, persuadir alguém a alguma coisa ou
demonstrar. Entretanto, no plano jurídico, cuida-se, particularmente, da demonstração
evidente da veracidade ou autenticidade de algo. Vincula-se, por óbvio, à ação de
provar, cujo objetivo é tornar claro e nítido ao juiz a realidade de um fato, de um
acontecimento ou de um episódio.
27

A prova é produzida com objetivo de verdade e certeza, que se ligam à realidade e aos
fatos, todas voltadas, entretanto, à convicção do tomador de decisão. O universo no qual estão
inseridos tais juízos do espírito ou valorações sensíveis da mente humana precisa ser
analisado tal como ele pode ser e não como efetivamente é (NUCCI, 2013).

Segundo Marinoni e Arenhart (2011) a prova é todo meio retórico, regulado pela lei, e
estabelecida dentro dos parâmetros legais e de critérios racionais, destinada a convencer o
Estado-Juiz da validade das proposições, objeto de impugnação feitas dentro de um processo.

Segundo Manzano (2011) o objetivo da prova é examinar sob o prisma da formação de


convicção do julgador, a exatidão das afirmações formuladas pelas partes no processo. A
finalidade é então a de revelar no espírito do julgador a certeza suficiente para a formação do
convencimento necessário de que foi atingida a verdade possível e de legitimar a sentença.

A prova destina-se à formação do convencimento do julgador no que diz respeito à


veracidade de uma afirmação de forma a fundamentar a emissão da sentença; a finalidade do
processo é o retorno à paz social e a justiça, demandando assim dos atores da Justiça a mais
acertada verdade para a motivação da sentença proferida (MANZANO, 2011).

A convicção que determina a decisão deve, por conseguinte, ser a intervenção lógica
de uma apreciação racional dos fatos e de uma apreciação crítica dos elementos de prova:
assim, passa-se da convicção subjetiva ao conhecimento verdadeiro, objetivo, imparcial,
controlável - de empírico, passa a ser racional mas, contrariamente à verdade científica que,
em si mesma, exige a certeza, a verdade jurídica contenta-se com a verossimilhança. Embora
saibamos que a total isenção em uma tomada de decisão não ser possível.
A prova jurídica e a prova científica não se confundem, efetivamente - apenas se
sobrepõem, e isso, num determinado domínio: será sob esses ângulos limitadores que se
começará por encarar a natureza e o valor das provas.
Do ponto de vista legal, há uma regulamentação das provas: é arbitrária, e não poderia
ser de outra maneira.
Desta maneira a força da prova legal absoluta está relacionada com as declarações dos
agentes da segurança pública.
28

Necessita-se distinguir dois aspectos, nos princípios da prova em justiça:

a) o da forma, ao qual são reduzidos com excessiva freqüência - basta recordarmos os


termos jurídicos, ao definir o termo prova: como demonstração da existência de um fato
material ou de um ato jurídico, nas formas admitidas pela lei;
b) o de fundo, que cada vez tem mais tendência para se separar do formalismo,
independente das regras artificiais que, não obstante, é aconselhável respeitar até se
conseguir uma informação mais ampla. Este aspecto possibilita avaliar que o caso em
estudo é único, devendo ser entendido como caso concreto e único. Cada fato relacionado
com o caso em estudo serve como construção da verdade, dentro de um modelo chamado
de botton-up, que é uma construção da base da pirâmide para o topo, isto é a montagem da
informação de baixo para cima.

Baseando-nos nestes dois princípios é que devem ser interpretadas as regras legais
subsistentes.
Do ponto de vista lógico, pode-se chegar a uma convicção de três maneiras diferentes:

1. constatando, por si mesmo, um fato material;


2. raciocinando a partir de fatos conhecidos para chegar a fatos desconhecidos;
3. recebendo o testemunho de outra pessoa: vítima, acusado, perito. Em alguns casos
resta somente a utilização da prova testemunhal, neste caso poderá ser utilizado
conhecimentos relacionados com a obtenção da informação por meio da Psicologia
Criminal.

O primeiro é um conhecimento direto, imediato, obtido por percepção ou dedução,


baseado na evidência, sem ter necessitado do recurso a nenhum procedimento discursivo.
O segundo é um conhecimento mediato, indireto, dedutivo-indutivo, conseguido
através de um procedimento discursivo que vai das premissas a uma conclusão.
O terceiro ainda é um pouco mais indireto, mas é imediato na medida em que o
raciocínio nem sempre é indispensável (ou passa despercebido), pois pode limitar-se a uma
confiança espontânea - só secundariamente (e se houver crítica) é que intervém o raciocínio.
Em conseqüência , já podemos deduzir várias categorias em que se encontram:
29

 na primeira, a prova material, por constatação pura e simples (nesse caso, uma
simples prova) e a prova experimental, através da reconstituição a partir dos
elementos conhecidos;
 na segunda, a prova circunstancial, através de uma demonstração na maior
parte das vezes complexa em que intervêm procedimentos discursivos (por
dedução--indução) ou procedimentos intuitivos, baseados em circunstâncias;
 na terceira, a prova testemunhal, em relação a um terceiro, podendo este ser o
próprio acusado (quando ele confessa, por exemplo). Ocorrendo nestes casos
maior probabilidade de erros judiciários.

A prova processual está ligada a estas duas últimas categorias, pois, ao fim, para o
juiz, o perito não passa de uma testemunha (embora selecionada), colocada na situação de
observador servindo-se dos seus meios de laboratório e que, além disso, apresenta uma
opinião motivada.
Realmente todas essas provas se inter-relacionam mais ou menos e, por fim, resultam
na dedução - para deduzir as conseqüências de uma proposição conhecida e a indução -para
generalizar. Os resultados obtidos de certos dados estabelecidos; e isto, embora a conclusão
não seja uma aplicação pura da lógica. Na realidade, intervêm demasiados fatores que lhe
reduzem a confiança e certeza: como base, temos o risco de omissão de uma das causas ou de
uma das suas conseqüências; por fim, a possibilidade de outras explicações para o fato que
serve de base.
Resumidamente, a prova não se pode reduzir a um simples processo de lógica, a lógica
aqui é mais um meio de controle do processo de raciocínio do que de averiguação.
A prova é o resultado do valor das provas elementares que entram como componentes
do raciocínio, e cada um desses modos de prova (circunstancial, testemunhal) desempenham
então o seu papel na criminalística para a correta tomada de decisão na justiça.

Sendo assim a tomada de decisão do juiz é soberana mas deverá ser fundamentada.
Conforme o Código de Processo Penal:

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou


rejeitá-lo, no todo ou em parte.
30

CAPÍTULO I
HISTÓRICO E DOUTRINA CRIMINALÍSTICA

1. Histórico da Criminalística (DOREA, QUINTELLA e STUMVOLL, 2006)

Na antiga Roma, o Imperador César aplicara o método de exame do local, ou seja,


tendo chegado aos seus ouvidos que um de seus servidores, Plantius Silvanius, tendo jogado
sua mulher, Aprônia, de uma janela. Compareceu ao local e foi examinar o seu quarto de
dormir e nele encontrou sinais certos de violência. Considerando que um dos aspectos mais
importantes da Criminalística é o exame do local do delito, este ato de César foi, talvez a
aplicação primeira do método do exame direto de um local de crime, para a constatação do ali
ocorrido. A Medicina Legal talvez tenha sido a área de Criminalística mais antiga.
Cronologicamente, vamos apresentar como evoluíram a Criminalística e seus
diferentes ramos através de dados colhidos em diversas fontes:
Inicialmente existem informações de que nos anos 650 os chineses utilizavam
impressões datilares em acordos comerciais como também usavam impressões em placas de
madeira que eram como cópias dos contratos comerciais estabelecidos.

1) Em 1560, na França, Ambroise Pare falava sobre os ferimentos produzidos por


arma de fogo. Sendo assim, estes estudos que relacionavam-se com a Medicina Legal foi
considerada a precursora da Criminalística. Este trabalho foi prosseguido por Paolo Sacchias
en 1651.
2) Em 1563, em Portugal, João de Barros, cronista português publicou observações
feitas na China sobre tomadas de impressões digitais, palmares e plantares, nos contratos de
compra e venda entre pessoas;
3) Em 1651, em Roma, Nolo Zachias publicou Questões Médicas, sendo considerado,
assim, o “pai da Medicina Legal”;
4) Em 1665, Marcelo Malpighi, Professor de Anatomia da Universidade de Bolonha,
Itália, observava e estudava os relevos papilares das polpas digitais e das palmas das mãos;
em 1686, novamente Malpighi fazia valiosas contribuições ao estudo das impressões
dactilares, tanto que uma das partes da pele humana leva o nome de capa de Malpighi;
31

5) Uma das primeiras publicações na Europa, acerca do estudo das impressões digitais
datilares surgiu na Inglaterra en 1684, realizado por el Doctor Nehemiah Grew, pertencente ao
Colégio de Físicos e Cirurgiões da Real Sociedade de Londres.
6) Em 1753, na França, Boucher realizava estudos sobre balística, disciplina que mais
tarde se chamaria Balística Forense, também precursora da Criminalística.
7) Em 1805, na Áustria, teve início o ensino da Medicina Legal; na Escócia, ocorreu
em 1807 e na Alemanha, em 1820; por essa época também se verificou na França e na Itália;
8) Em 1809, a polícia francesa permitiu a inclusão de Eugene François Vidocq, um
celebre delinqüente dessa época, originando, para alguns, o maior equívoco para a
investigação policial mas, para outros, a transformação para uma das melhores polícias do
mundo, já que muitos de seus sistemas de investigação foram difundidos a muitos países; em
1811, Vidocq fundou a Suretê (Polícia de Segurança Francesa);
9) Em 1823, Johannes Evangelist Purkinje, num elevado acontecimento da história da
datiloscopia, apresentou um tratado como um ensaio de sua tese para obter a graduação de
Doutor em Medicina, na Universidade de Breslau, na Alemanha; em seus escritos, discorreu
sobre os desenhos digitais, agrupando-os em nove tipos, assinalando a presença do delta e
admitindo a possibilidade deste nove tipos serem reduzidos a quatro;
10) No mesmo ano de 1823, Huschk descreveu os relevos triangulares (deltas) dos
desenhos papilares dos dedos.
11) Em 1829, na Inglaterra, Sir Robert Peel fundou a Scotland Yard (este nome é
originário do fato de a polícia de Londres estar ocupando uma edificação, que antes havia
servido de residência aos príncipes escoceses quando visitavam Londres);
12) Em 1840, o italiano Orfila, criou a Toxicologia e Ogier aprofundou os estudos em
1872; esta ciência auxiliava os juízes a esclarecer certos tipos de delitos, principalmente
naqueles em que os venenos eram usados com freqüência; esta ciência, ou disciplina, também
é considerada como precursora da Criminalística;
13) Em 1844, uma bula de Inocêncio VIII recomendava a intervenção dos médicos nos
assuntos criminais;
14) Em 1858, William James Herschel, Delegado do Governo inglês na Índia
(Bengala) iniciou seus estudos sobre as impressões digitais, concluindo pela sua
imutabilidade; nessa mesma época, o Dr. Henry Faulds, médico inglês, que trabalhava em um
hospital de Tóquio, observou impressões digitais em peças de cerâmica pré-histórica
japonesa, iniciando, desse modo, seus estudos sobre impressões digitais, apresentando,
finalmente, as seguintes sugestões: que as impressões digitais fossem tomadas com tinta preta,
32

de imprensa; que fossem examinadas com lente; que existe certa semelhança entre as
impressões digitais dos homens e dos macacos;
15) Em 1864, Lombroso propôs o Sistema Antropométrico como processo de
identificação; (na Itália), sendo o primeiro registro de estudo criminológico com método ;
16) Em 1866, Allan Pinkerton.em Chicago, nos EUA, colocava em prática a fotografia
criminal para reconhecimento de delinqüentes, disciplina que, posteriormente, seria chamada
Fotografia Judicial e atualmente se conhece como Fotografia Forense;
17) Em 1882, Alfonso Bertillón criava, em Paris, o Serviço de Identificação Judicial,
onde ensaiava seu método antropométrico, outra das disciplinas que se incorporaria à
Criminalística geral; nessa mesma época, Bertillón publicava tese sobre o Retrato Falado,
outra das precursoras disciplinas Criminalísticas, constituindo-se na descrição minuciosa de
certos característicos cromáticos e morfológicos do indivíduo;
18) En 1888, o ingles Henri Faulds em Tóquio fez enorme contribuições em relação à
datiloscopia tornando precisas as identificações dos tipos: arco, presilha y verticilo nos
desenhos papilares.
19) Em 1888, na Inglaterra, Sir Francis Galton foi convidado pelo Real Instituto de
Londres para opinar sobre o melhor sistema de identificação; deveria proceder a estudos
comparativos entre os sistemas de Bertillón (Antropométrico) e o das impressões digitais.
Galton concluiu pela superioridade deste último e esboçou um sistema de classificação
datiloscópico, adotando três tipos, denominados “arcos”, “presilhas”, “verticilos”, publicado
na revista “Nature”,
20) Na Argentina, em 01/09/1891, Juan Vucetich, Encarregado da Oficina de
Identificação de La Plata, apresentou um sistema de identificação, denominado
Icnofalangometria (combinação dos sistema de Bertillón com as impressões digitais);
21) Em 1892, em Graz, Áustria, o mais ilustre e distinguido Criminalista de todos os
tempos, o Doutor em Direito, Hans Gross publicou sua obra: Manual do Juiz de Instrução -
todos os Sistemas de Criminalística; em 1893 foi impressa na mesma cidade austríaca, a
segunda edição de sua obra, e a terceira em 1898. Do conteúdo científico desta obra se
depreende que o Doutor Hans Gross, em sua época, constituiu a Criminalística com as
seguintes matérias: Antropometria, Contabilidade, Criptografia, Desenho Forense,
Documentoscopia, Explosivos,. Fotografia, Grafologia, Acidentes de Trânsito Ferroviário,
Hematologia. Incêndios, Medicina Legal, Química Legal e Interrogatório; Avaliação e
Reparação de Danos; Exames de Armas de Fogo; Exames de Armas Brancas; Datiloscopia;
33

Exame de Pegadas e Impressões; Escritas Cifradas (uso de símbolos para a formação de


frases), etc...Publicou posteriormente a obra Psicologia Criminal.
22) Em 1896, Juan Vucetich (nascido na Croácia, Yugoslávia), consegue que a Polícia
do Rio da Prata, Argentina, deixe de utilizar o método antropométrico de Bertillón; ainda,
reduz a quatro os tipos fundamentais da Datiloscopia, determinados pela presença ou ausência
de delta;
23) Em 1899, na Áustria, Hans Gross criou os Arquivos de Antropologia e
Criminalística;
24) Em 1902, em Portugal, começou a utilização das impressões plantares e palmares
como complemento da identificação datiloscópica;
25) Em 1903, no Rio de Janeiro, Brasil, foi fundado o Gabinete de Identificação, onde
já estava estabelecido o Sistema Datiloscópico de Vucetich;
26) Em 1908, na Espanha, Constancio Bernaldo de Quiroz, reduzia a três as fases da
formação e evolução da Polícia Científica: a) uma primeira fase, equívoca, quando os
policiais, incluindo o Chefe, como Vidocq, eram recrutados entre os próprios delinqüentes
porque eram conhecedores dos criminosos e as artes dos malfeitores; b) uma segunda fase,
empírica, na qual o pessoal, já não recrutado entre os delinqüentes, luta com meios empíricos
e com as faculdades naturais, vulgares ou excepcionais; c) uma terceira fase, a científica, em
que a estas faculdades naturais se unem métodos de investigação técnica fundados na
observação racional e nas experiências químicas, fotográficas, etc...;
27) Em 1909, nos Estados Unidos, Osborn publicou um livro intitulado “Questioned
Documents”;
28) Em 1920, no México, o Prof. Benjamim Martinez fundou o Gabinete de
Identificação e o Laboratório de Criminalística;
29) Em 1933, nos Estados Unidos, foi criado o F.B.I. (Federal Bureau of
Investigation), em Washington, por iniciativa do Procurador Geral da República, Mr. Homer
Cummings, baseando-se na aplicação da criminalística na investigação criminal.
Pode-se observar que a evolução da Criminalística derivou do desenvolvimento da
ciência como um todo. À medida que a ciência progride possibilita a aplicação do
conhecimento científico para a elucidação criminal nas mais diversas áreas. Contudo deve-se
verificar que existe a necessidade de visão interdisciplinar da Criminalística porque a mesma
depende da participação do conhecimento de diversas ciências, para a solução de produção de
provas periciais.
34

2. Doutrina Criminalística:

2.1 Postulados da Criminalística:

A Criminalística em sua aplicação inicial não se deve preocupar se existe ou não um


crime porque esta é a função do Direito. Todavia deve estar envolvida em descrever com a
aplicação do método ou dos métodos científicos, como o fenômeno ocorreu e quais foram
seus agentes causadores. Não se deve confundir o conhecimento jurídico que o Perito deve
possuir em garantir que sua atuação está fundamentada juridicamente, com as discussões de
ocorrência de realmente um crime, sua tipificação etc.
A Criminalística é a disciplina que aplica fundamentalmente os conhecimentos,
métodos e técnicas de investigação das ciências no exame de material significativo e relevante
relacionado com um fato delituoso (GONZALEZ, 2006).
Sabe-se que um postulado não necessita ser demonstrado ou deduzido. Entre os
principais postulados da Criminalística, destacam-se:

1) O conteúdo de um Laudo Pericial Criminal deverá ser invariável, com relação ao


Perito Criminal que o produziu. Os resultados de uma perícia criminalística são
invariavelmente baseados em ciência, com teorias e experiências consagradas, seja qual for o
perito que recorrer a estas leis para analisar um fenômeno criminalístico, o resultado não
poderá depender dele, indivíduo mas do método utilizado. Sendo assim independente de quem
o realiza, pois se for outro Perito deverá encontrar o mesmo resultado que foi encontrando
anteriormente ;
2) As conclusões de uma perícia criminalística são independentes dos meios utilizados
para alcançá-las: utilizando-se os meios adequados para se concluir a respeito da perícia
criminal, esta conclusão, quando forem reproduzidos os exames, deverá ser constante,
independentemente de serem utilizados meios rápidos, precisos, modernos ou não. Nota-se
que o progresso da ciência poderá possibilitar uma perícia criminalística mais acurada que a
anterior mas não a invalida;
3) A Perícia Criminal é independente do tempo: principalmente sabendo-se que a
verdade é imutável em relação ao tempo decorrido. Isto quer dizer que o local de crime
estando preservado poderá a Criminalística ser eficaz porém para alguns tipos de exames em
detrimento de que outros não serão afetados, em razão da ação de agentes internos e externos.
35

3.2 Princípios fundamentais da Perícia Criminal:

Os princípios são a essência da doutrina. Os princípios fundamentais referem-se à


observação, à análise, à interpretação, identificação, à descrição e a documentação da prova,
segundo Edmond Locard (GONZALEZ, 2006; FLETCHER, 2007; LOCARD, 2010).

1) Princípio da Observação: Todo contato deixa um vestígio .

Em locais (cenas) de crime, a investigação e a busca dos vestígios nem sempre é


missão de fácil execução, sabendo-se que, em muitos casos, tais elementos resultantes
da ação delituosa querem originários dos autores, quer originários das vítimas,
somente podem ser detectados através de análises microscópicas, ou mesmo, aparelhos
de altíssima precisão. O que é importante ter-se em mente, é que praticamente
inexistem ações em que não resultem marcas de provas, sabendo-se, ainda, que é
sabida a evolução e pesquisa do instrumental científico capaz de detectar esses
vestígios, ou mesmo, micro-vestígios;

2) Princípio da Análise: A análise pericial deve sempre seguir o método científico.

A perícia científica visa definir como o fato ocorreu (teoria), através de uma criteriosa
coleta de dados (vestígios e indícios), que permitem que sejam estabelecidas hipóteses
sobre como se desenvolveu o fato. É esse o método científico que baseiam as condutas
periciais, que permitem estabelecer-se, às vezes no próprio local dos exames, uma
teoria completa sobre o fenômeno, ou, em outras oportunidades, dependendo de
exames complementares. Daí a importância de conhecermos os princípios do método
científico mais aplicável ao caso em estudo.

3) Princípio da Interpretação: Dois objetos podem ser indistinguíveis, mas nunca


idênticos.

Este princípio, também chamado de Princípio da Individualidade, preconiza que a


identificação deve ser sempre enquadrada em três graus, ou sejam: a identificação
genérica, a específica e a individual, sendo que os exames periciais deverão sempre
alcançar este último grau, que a torna inconfundível e individualizado.
36

4) Princípio da descrição: O resultado de um exame pericial é constante com relação


ao tempo e deve ser exposto em linguagem ética e juridicamente perfeita.

Os resultados dos exames periciais, sempre baseados em princípios científicos, não


podem variar pela passagem do tempo; e, ainda, considerando que qualquer teoria
científica deve gozar da propriedade da refutabilidade ou falseabilidade (Popper), os
resultados da perícia, quando expostos através do Laudo, devem ser de uma forma
bem claras, racionalmente dispostas e fundamentadas. Aplica-se aqui o visum et
repertum isto é, o Perito observa, percebe e descreve o que processou em sua mente do
fato observado e apresentado à perícia.

5) Princípio da documentação: Toda amostra deve ser documentada, desde seu


nascimento no local de crime até sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um
histórico completo e fiel de sua origem.

Este princípio, baseado na Cadeia de Custódia da prova material, visa proteger,


seguramente, a fidelidade da prova material, evitando a consideração de provas
forjadas, incluídas no conjunto das demais, para provocar a incriminação ou a
inocência de alguém. Todo o caminho do vestígio deve ser sempre documentado em
cada passo, com documentos oficiais que o oficializem, de modo a não pairarem
dúvidas sobre tais elementos probatórios. A documentação correspondente a cada
vestígio pode ser realizada por anotação e despacho do próprio perito que o
considerou. Deve existir rastreabilidade da cadeia de custódia, isto é, saber-se em um
dado momento com quem, quando, porque e para que está a prova. A qualidade da
cadeia de custódia estará relacionada diretamente com a confiabilidade da produção da
prova na Justiça. Caso a confiabilidade seja quebrada todos os resultados obtidos
podem ser invalidados.
37

CAPÍTULO II
NOÇÕES E PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA BRASILEIRA

A criminalística brasileira está diretamente ligada ao processo judicial, como peça de


instrução criminal, enquanto a Instituição de Polícia entra no mesmo por via indireta, através
da revisão criminal, na instrução de acusação, com a qual se identifica. A nossa Criminalística
identifica-se com o instituto de imparcialidade, à qual o Juiz de Direito também se subordina.
Os juristas de todas as épocas e lugares não chegaram à solução final de instituição da
imparcialidade absoluta, no que tange aos exames de corpo de delito, cujo teorema ficou
aberto e sendo praticado pela trilogia causa-disputantes-justiça (contraditório judicial). Coube
ao Brasil, por razões socioculturais, chegar a esta solução. No entanto este princípio de
dialética judicial é importante para a apresentação de todas as informações necessárias e
possíveis a tomada de decisão.

2.1- Criminalística (CUNHA, 1987)

O contraditório judicial (CJ) (causa – disputantes - justiça) é a energia que sustenta a


existência da Criminalística. A contradição é o núcleo e força propulsora do movimento
dialético.
A Criminalística entendida como método de discussão e análise da aplicação das
ciências como meio de elucidação criminal, encontra-se plenamente de acordo com os
princípios da dialética e do contraditório. O resultado do contraditório deverá ser a busca da
verdade.
A contradição é algo que todos desde sempre pode-se e deve-se considerar como um
pressuposto indiscutível. Duas proposições contraditoriamente opostas não podem ser
simultaneamente verdadeiras, nem simultaneamente falsas (CIRNE-LIMA, 1993).
Já se disse que a ação judicial é como se fosse uma guerra privada, a qual não se
finaliza em uma só batalha. Os disputantes adiantam-se, pouco a pouco, empregando os
golpes rigorosamente previstos, num determinado contexto, cabendo ao Juízo garantir ao
vencedor da apresentação das informações, os frutos da vitória. Assim, um processo judicial
não deixa de ser um combate entre os chamados litigantes em busca da verdade.
38

O célebre triângulo causa-disputantes-justiça (contraditório judicial) sendo: “causa”,


como o motivo das ações; “justiça” como a autoridade de decisão (não estamos levando em
conta o termo juízo como representação do local da ação); e finalmente os “disputantes” como
as partes em litígio ou em luta, que disputam entre si algo que acreditam lhes pertencer por
Direito. Normalmente os litigantes se dividem em acusação e defesa.

2.2- A Criminalística na justiça

Nesse triângulo, o juízo buscará manter-se sempre equidistante dos disputantes. Sua
causa é a própria lei Jurídica. Ele não a defende, mas representa a própria interpretação e
aplicação da Lei Jurídica. Através dos tempos, milênios após milênios, juristas de todas as
civilizações procuraram meios para montar essa equação, de forma que ela fosse uma
constante em qualquer circunstância, aspecto ou tempo. Isso foi conseguido.
Observou-se através dos tempos que o contraditório judicial é sensível a algumas
perturbações, quando em certas circunstâncias. Os povos através dos milênios reconheceram
isso. Coube ao Papa Inocêncio III o primeiro ato oficial para a tentativa de dirimir tais
perturbações. Sugeriu então que haveria necessidade de se provar, primeiro, a existência de
um crime, para logo em seguida proceder ao julgamento. A partir deste princípio, elaborou-se
as primeiras diretrizes para um chamado exame de corpo de delito. É necessário que antes
seja discutido a materialidade da existência do crime. Não obstante atualmente isso nos pareça
um ato de bom senso universal, sua instituição demorou mais do que a descoberta do zero dos
números naturais.
O exame do corpo de delito foi absorvido pelo contraditório judicial, dando-lhe
melhor consistência, diminuindo as chamadas perturbações. Contudo, os juristas há séculos
sabem que ainda estão diante de um paliativo. Todos aqueles que tentaram reequacionar o
exame do corpo de delito, para colocá-lo no citado triângulo, chegaram ao mesmo
denominador comum. Todos os povos civilizados até a data de hoje, não obstante saberem
tratar-se de um paliativo, não tiveram outros meios se não o de aceitarem como foi
estabelecido há séculos. Assim sendo, o exame de Corpo de Delito foi assimilado pelo
triângulo da seguinte forma: os litigantes nomeiam um profissional técnico, empresa ou
instituto oficial para suas causas; o juízo igualmente procede da mesma maneira, com a única
diferença, que o perito nomeado pelo juízo tem a palavra final do desempate, caso seja a
situação.
39

No Brasil desenvolveu-se uma metodologia, que denominamos de Criminalística: a


sua função precípua é a de equacionar os exames de corpo de delito de uma forma tal que, ao
ser colocado nesse contraditório judicial, o exame de Corpo de Delito passa a influir no
mesmo, sem ser assimilado por ele, permitindo-se um controle constante em qualquer
circunstância, aspecto ou tempo.
Um modelo novo e prático que, se bem estudado, poderá também solucionar
problemas de interesses jurídicos ou administrativos de outros países.
Existe a necessidade de que seja mais cedo ou mais tarde adotado um modelo mais
funcional e prático, independente da nossa vontade, pois na realidade não deixa de ser uma
descoberta nova a ser incluída nos valores universais; a própria ciência dos sistemas, chega
muito perto do que estamos tratando aqui neste trabalho; e a ciência dos sistemas chegou à
mesma conclusão. Porém, não quer dizer que há ou houve qualquer competição, pois os
interesses que disciplinam a ciência dos sistemas, seus objetivos básicos, são totalmente
distintos dos da nossa Criminalística. Apenas que existam pontos em comum, que, se
necessário for, podem atingir os mesmos objetivos. A ciência dos sistemas visa a um campo
mais amplo, e a nossa Criminalística, a um campo muitíssimo mais restrito.

Os sistemas jurídicos (JESUS, 2006, 2014)


O desenvolvimento dos sistemas jurídicos acompanhou as mudanças culturais e sociais
dos países. O sistema de jurados é utilizado de forma generalizada nos Estados Unidos e nos
países de língua anglo-saxônica (modelo de adversários), enquanto que a tradição européia
manteve o uso de juízes profissionais (modelo inquisitório), onde o juiz possui uma maior
participação na investigação dos fatos, na entrevista das testemunhas e na valoração das
provas.

Uma pesquisa sobre qual o sistema que traria maior satisfação ao cidadão foi realizada
por Thibaut e Walker e Lind, Thibaut e Walker, em uma análise comparativa dos sistemas
inquisitoriais e de adversários em diversos países (Estados Unidos, Inglaterra, França e
Alemanha Ocidental), constataram que, em todos os casos, independentemente dos costumes
judiciais dos países, os indivíduos estavam mais satisfeitos com o sistema de confrontação,
em razão de terem sido ouvidos adequadamente e terem tido a oportunidade de apresentar sua
versão dos fatos. Os trabalhos puderam apontar que o mais relevante para as pessoas
implicadas no processo judicial é ter a oportunidade de fazer uma exposição completa dos
seus argumentos, sendo aceito diferentes procedimentos alternativos para a solução de
conflitos.
40

a) Sistema inquisitorial

Esse sistema é também chamado de modelo de juízes, ou procedimento de juízes


profissionais, não existindo a presença de jurado. O mundo europeu possui maior tradição
nesse tipo de modelo, embora existam países que utilizam o método de decisão judicial com
jurados.

Surgiu na Europa continental o modelo escabinado, que é uma mistura de juízes e


jurados, como também existem países que utilizam o modelo de jurado puro.

b) Sistema de confrontação

É conhecido como sistema de contrários, ou procedimento de juízes populares, sendo


comum a presença de jurado. É bem característico do mundo anglo-saxão, como dito
anteriormente. Nesse modelo as partes buscam as evidências ou as provas que sustentam sua
versão, os juízes desempenham um papel passivo e reativo, as testemunhas são selecionadas
pelas partes e são preparadas pelos advogados. É considerado mais imparcial em razão da
participação de jurados leigos uma vez que um sistema equitativo de justiça favorecerá a parte
desfavorecida.

Papéis e funções

Toda decisão judicial constitui-se de um verdadeiro microcosmo, primeiramente por


que está constituída de inúmeras decisões componentes, isto é, são tomadas diversas decisões
prévias antes da decisão final (sentença ou veredicto), e, em segundo lugar, por que é uma
articulação dentro de uma grande corrente de decisões .

No tribunal o juiz ou os jurados estarão como protagonistas judiciais de todo um


sistema de informações. Nesse sistema, os prováveis componentes do tribunal do júri vão
sendo apresentados pelas partes litigantes, assim como também poderão participar como parte
ativa, solicitando informações novas. Nesse contexto, o advogado de defesa e o promotor de
justiça estarão investidos na tarefa de convencê-los e persuadi-los a tomarem a decisão em seu
favor.

No sistema inquisitorial, às vezes não é necessária a vista oral ou a confrontação, por


exemplo, nos juízos penais de menor gravidade, conflitos entre pessoas jurídicas. Possui o
juiz, nesse caso, um papel ativo no processamento de informações e decisões. Dessa forma,
ele apreciará isoladamente os fatos, partindo das documentações juntadas ao processo, como
também das declarações do acusado e das petições apresentadas pelos advogados, ou outros
de informes que julgar necessário.
41

Em uma audiência preliminar, no direito anglo-saxão (common law), o juiz intima a


presença das partes implicadas, podendo decidir que não é necessária a vista oral do juízo,
caso as partes cheguem a um acordo, ou a parte acusada se declare culpada, nesses casos, o
juiz dita diretamente a sentença, sem que seja necessário nenhum outro tipo de procedimento .
Quando se trata de procedimento criminal, normalmente é procedida a vista pública do caso
que exigem declarações, acareações e testemunhos, sendo optativo, dependendo do caso, o
uso de audiência reservada, especialmente quando ele possui características especiais .

No sistema de confrontação, são apresentadas as versões dos fatos através do advogado


de defesa e do promotor de justiça, que informam através de provas e de testemunhos,
possuindo cada um seu rol específico. Utilizarão de toda a persuasão possível para convencer
os jurados das suas respectivas razões alegada, e estes deverão avaliar qual é a interpretação
correta.

No sistema anglo-saxão, o juiz, embora tenha um papel passivo, possui autoridade


máxima, destacando-se sua função de dirigir e controlar a confrontação existente, para que se
cumpram as regras estabelecidas, estando em grande contato com os advogados para
pequenas resoluções, tais como possíveis acordos. Também se encontra ele em contato com
os jurados, fornecendo-lhes instruções para que possam decidir conforme as regras legais
estabelecidas, e quando o veredicto é de culpabilidade, em alguns casos é de sua competência
ditar a sentença.

Variáveis políticas

Os processos emocionais e cognitivos, as inferências, as atribuições causais, a


percepção social, as crenças, que acompanham a integração cognitiva da informação e as
provas apresentadas em juízo, fazem com que seja importante o conhecimento das relações e
das representações sociais, em um processo judicial. Por outro lado, em alguns casos, subjaz
nos processos judiciais uma evidência aceita legalmente, porém de forma inconsciente.
Tornando conscientes essas informações subjacentes, em termos jurídicos, se torna um
fenômeno muito mais complexo para a tomada de decisão .

O sistema inquisitorial se encontra bem de acordo com uma ordem política autocrática,
pois, como vimos anteriormente, o juiz possui um papel muito mais ativo, sendo o valor da
confrontação muito menor.

A promotoria de justiça, neste sistema, fica enfatizada, apesar da existência de


presunção de inocência do réu, sendo claro que a atribuição do poder, os processos
42

psicológicos de percepção, o autoritarismo e a atribuição causal frente às partes litigantes são


o núcleo central do contexto social, no qual as provas e os testemunhos serão avaliados, assim
como se dará a decisão judicial. O sistema inquisitorial está mais de acordo com modelos
políticos conservadores, pois ele entende que o controle de informação e de decisão só pode
ser exercido por profissionais e peritos em leis.

Em ambos os sistemas (inquisitorial/confrontação), muitas vezes as decisões proferidas,


sejam veredictos ou sentenças, são paradoxais, pois não entendemos como se chegou àquela
conclusão, especialmente no sistema inquisitorial em razão do uso inconsciente de modelos
mentais.

Dessa forma, transparece que o Direito não possui uma certeza, ou que os seus
intérpretes são ineficientes, caindo no esquecimento de que existe um pano de fundo político
onde o Direito é chamado a operar, pois não opera dentro de um contexto político-cultural
homogêneo e de situações sociais estáveis . Como exemplo poderíamos citar a dependência
existente do poder judicial com respeito ao poder executivo na Argentina e que se repete
também em outros países .

Ebbesen e Konecni chamam a atenção para a influência das recomendações e das


manipulações dos advogados, tendo-se em conta as variáveis de intervenientes em uma
situação de conflito de interesses. O estudo demonstra que são essas recomendações as causas
das sentenças, deixando o juiz em um papel passivo, quando não possui as informações ou a
experiência necessária para a tomada de decisão, visão que tem sido muito criticada .

Enfim, o juiz como o protagonista da tomada de decisão judicial deve estar consciente
dos vários processos psicológicos de influência, que é submetido durante um processo
judicial.

2.3- A Criminalística no Brasil e no Mundo

Posteriormente aos Iluministas, o estudo da Criminologia tomou nova forma; passou a


haver um interesse de aproximar, o máximo possível, os conhecimentos das demais ciências
com a ciência jurídica. Nas últimas décadas do século XIX, tais estudos chegaram aos seus
maiores ápices; o termo científico tornou-se praticamente uma mania. Todas as iniciativas que
pretendessem um pronto reconhecimento público deveriam levar em seu bojo o termo
43

científico. Dogmas religiosos, inclusive, não escaparam de tais exigências sociais ou mania
coletiva.
A idéia de se criar a polícia científica foi recebida e aceita de pronto pelo mundo da
época. Nasceram os primeiros laboratórios de polícia. Os estudos de criminologia sustentaram
suas existências. Aos poucos, através de estudos próprios, tais laboratórios de polícia
passaram a desenvolver outra metodologia, a que denominaram de criminalística. Centros
europeus, tais como Lyon, Madri, Berlim, Roma, Lauzanne, Londres e outros, transformaram-
se em exportadores de conhecimentos criminalísticos. O Brasil, como os demais países, via
com simpatia os novos avanços da polícia cientifica, desta forma foram copiadas e traduzidas
muitas obras estrangeiras a respeito do assunto.

A adaptação da Criminalística ao nosso contraditório judicial exigiu um somatório de


cuidados. Os exames de Corpo de Delito já eram praticados dentro do contexto universal. Não
sabemos quanto aos outros povos. Mas nós sofríamos dificuldades terríveis para aplicar os
exames de corpo de delito. Era difícil encontrar quem se dispusesse a praticar esse ministério.
Os riscos eram muitos e o medo, uma constante. Dentre todos os ramos do Direito, o ramo
Criminal era o que mais se ressentia da dificuldade de encontrar quem se dispusesse a assumir
o encargo de proceder aos exames de Corpo de Delito.
A formação jurídica do Brasil dispunha do que de mais moderno pudesse existir no
mundo dos conceitos jurídicos. Assim, o triângulo causa-disputantes-justiça, tinha atuação
marcante e dura, onde somente profissionais competentes poderiam ter alguma chance de não
sofrer revezes danosos para si. Existia um grande afastamento entre a Ciência Jurídica e a
recente Criminalística (aplicação das ciências na solução do crime). Ainda hoje se pode
observar que a presença da Criminalística nas Faculdades de Direito ainda é muito reduzida,
não despertando atenção aos estudantes assim como ocorre com a Criminologia.
O Estado criou leis impedindo funcionários públicos de se esquivarem quando
convidados a atuarem como Peritos nos exames de Corpo de Delito. Era permitido às
autoridades policiais ou judiciárias conduzirem coercitivamente os indicados ou os chamados
para esse mister. Observe-se que não era incomum um profissional, (médico, engenheiro,
mecânico, etc), quando indicado para atuar como Perito, contratar um advogado particular
para orientá-lo na realização do seu trabalho, com o fim de evitar, o máximo possível, reveses
jurídicos.
Com o advento da Criminalística, na época chamada de Polícia Científica, dentre
todos os ramos do Direito, o ramo Criminal foi o que mais se beneficiou. Praticamente, o
44

ramo criminal procurou conduzir todos os exames de Corpo de Delito para essa nova
instituição, sem levar em conta se a Criminalística contava ou não com profissionais
especializados, em todas as áreas da Ciência.

2.4- Origem dos Peritos Criminais Brasileiros

Os nossos primeiros técnicos de Laboratório da Polícia Científica, recém-investidos


em suas funções, já perceberam o mito da Polícia Científica. De um momento para o outro
não mais praticavam missões de polícia, porém missões dos Peritos Oficiais previstos pelos
códigos de leis (previstos há muitos séculos, porém não regulamentados), onde toda sorte de
exames técnico-científicos lhes eram requisitados.
A literatura de Polícia Científica existente, além de insuficiente, não poderia ser
aplicada nos tribunais brasileiros, tendo em vista o rigor de atuação deste e a diferença entre
os sistemas jurídicos. A partir do momento que adentrava no contraditório judicial, o técnico
se achava sozinho; não poderia receber proteção da Polícia, do Juízo ou dos Disputantes. Sua
única alternativa era a de manter uma eqüidistância perene e considerar a polícia como parte
integrante da acusação, no bojo dos litigantes. Uma metodologia nova e diferenciada dos
demais povos civilizados começou a ser montada. Uma metodologia não escrita ou teórica,
passada verbalmente e de geração a geração.

2.5- Princípios da Estrutura Criminalística Brasileira

Os nossos primeiros peritos criminais, ao se colocarem diante do contraditório


judicial, reconheciam imediatamente dois mundos com propriedades estranhas e antagônicas
ao seu; um era o Jurídico e o outro era o da consciência. Cada um deles interdependia do
outro e ambos se harmonizavam entre si. O seu mundo era o mundo das leis naturais; cada
mundo trazia em si um representante titular, sendo o Mundo Jurídico representado pelo juízo,
embora num contexto geral estivessem aí incluídos os disputantes, enquanto o mundo da
Consciência era representado pelo Jurado, o qual preenchia todos os hiatos de parcialidades,
escapes e deixados pelo mundo Jurídico. Assim, o Perito Criminal colocava-se como titular e
representante máximo do mundo natural, (observe-se que, nos outros povos, o perito passou a
pertencer ao mundo da Consciência, fenômeno esse não equacionado até hoje -, enquanto que,
no Brasil, essa simples colocação diferenciou-se e chegou-se à nova metodologia aqui
apresentada).
45

Ambos os mundos existentes somente não lhe seriam antagônicos se ele, o Perito
Criminal, como representante máximo do mundo Natural, conseguisse manter-se em
eqüidistância constante entre aqueles e, principalmente, diante dos litigantes. Observe-se que
a Polícia indiretamente poderia estar localizada entre os litigantes, na parte da acusação.
Logo, ser ele representante da Polícia Científica ali, naquele instante, seria, além de absurdo,
muito perigoso.
A partir deste instante, a Polícia Científica já era um mito para o nosso Perito. Uma
utopia que gerava “status” fora dos tribunais. Porém, quando diante do contraditório judicial,
o seu papel era o de defender os ministérios da Lei Natural, sob pena de responsabilidade
civil, criminal e administrativa. Para receber tais punições, bastar-lhe-ia defender a causa da
Polícia. Em outras palavras: aproximar-se dos litigantes. Como a Polícia era a que mais lhe
estava próximo, cabia-lhe a necessidade de não reconhecer a causa da polícia como causa sua.
Sua causa seria sempre a da Lei Natural ou do mundo das Leis Naturais.
No Brasil, a estrutura da polícia difere da de outros povos. Ela chega quase a gerar um
poder próprio. Uma de suas qualidades é a de chegar como máximo de imparcialidade nas
suas causas. Isso possibilitou ao nosso técnico de laboratório exercitar a sua imparcialidade
diante da própria causa da Polícia. Não há notícia de que a polícia tenha de alguma forma
pressionado, mesmo porque isso não seria possível, pois diante do contraditório judicial, o
técnico pericial não era conhecido como representante da polícia, e, sim, como um Perito
Oficial do Instituto do Corpo de Delito. A soberania e independência do técnico pericial
perduravam não só em seção do Tribunal, como também fora destes. O seu ministério era o de
estar juramentado para exercer os exames de Corpo de Delito.
O princípio básico da nossa Criminalística passou a ter por base a causa da Lei
Natural, com independência e soberania, mantendo eqüidistância constante e absoluta para
com o juízo e para com os disputantes. Por eqüidistância se entende o afastamento de
qualquer interferência, seja a que propósito ou circunstância for, com a lei jurídica ou a lei da
consciência.
Por interferência na Lei Jurídica subentende-se fazer citações, interpretar, utilizar
termos, induzir, fazer ilações próprias do mundo reservado às leis jurídicas.
Por interferência na Lei da Consciência entende-se inferir, deduzir, fazer ilações
segundo os valores pessoais, isto é, opiniões próprias emanadas da sua consciência de
Técnico. Pois o contraditório judicial, esses mundos já tinham os seus titulares e
representantes. Quaisquer que fossem os desvios desse princípio, o técnico, além de estar
46

adentrando em mundo estranho, o estaria fazendo sem competência ou atribuição assegurados


em lei.
Uma observação importante é que o técnico do laboratório de Polícia em si era uma
figura nova; porém, o instituto da perícia já era secular no Brasil. Todos os seus passos,
atitudes e comportamentos já estavam previamente regulamentados em lei, devidamente
previstos em código. Na realidade o técnico assumiu uma função secular, sem nenhuma
chance de voltar atrás. Coube a ele adaptar seus conhecimentos e desempenhar o papel da
figura procurada por muitos séculos e por todos os povos civilizados. O mito da Policia
Científica levou a isto. Talvez aí resida uma das razões por que nada foi escrito sobre a
Criminalística do Brasil. Os juristas brasileiros sabem como ninguém como deve se
comportar um Perito Oficial, quais suas atribuições e competências, direitos e deveres. Por
parte do técnico, coube apenas a necessidade de agir conforme os ditames pré-estabelecidos,
de uma forma a não ser surpreendido por reveses jurídicos que lhe acarretariam punições.
A Criminalística Brasileira tomou esse rumo e se diferenciou dos demais povos
civilizados.
Considerando o nosso breve espaço, não serão abordados maiores detalhes;
mostrando, por exemplo, por que outros povos não chegaram a essa mesma fórmula. As
razões disto baseiam-se nos diversos sistemas jurídicos e culturais seguidos. Ao longo deste
trabalho serão citados alguns indicadores que facilitarão a compreensão dos leitores.
Mas vale um exemplo, no sentido de demonstrar diferenças entre nós e outros povos.
No final do século passado o “U. S. Departament of Justice”, encomendou um estudo
criminalístico junto à “The Aerospace Corporation”, da NASA. Posteriormente, os resultados
foram divulgados a nível confidencial (aliás, uma boa parte do conhecimento da
Criminalística é confidencial, daí a preocupação em circunscrever uma Doutrina, sem maiores
referências ao mesmo), mas não secretos, para todos os cientistas em Criminalísticas do
mundo, relacionados com os EUA. Ato este natural e lógico para a cultura americana,
configura-se estranho, senão bizarro, para a nossa cultura. Entre nós, ainda que não ilegal, é
difícil imaginar, seja o nosso Judiciário, ou mesmo a nossa Polícia, encomendando um estudo
criminalístico, como matéria paga; talvez por que estaria havendo um “atropelamento” dos
ditames doutrinários (não escritos), da instituição social da Criminalística, da nossa cultura.
Apesar de não escrita, a sua ação social é viva, e atua a nível de fenômeno social. Todavia,
supunha-se que isso não é real, que recebe-se um estudo criminalístico pronto de um dos
nossos órgãos técnico-científicos, que tivesse sido encomendado pelo Judiciário ou pela
Polícia. Seguramente, o nosso primeiro ato seria o de refazê-lo, segundo a nossa visão, pois
47

ela nos impõe que nem sempre uma verdade científica comum, equivale, ou reúne elementos
necessários para atingir, à verdade científica exigida pela Ciência do Direito. Examine-se essa
mesma questão sobre outro ângulo.
No passado, determinado Diretor de um órgão técnico-criminalístico (não obstante ser
estranho à carreira de Perito Criminal), procurou implantar uma série de métodos por ele
observados na Polícia Científica americana. Esse Diretor, apesar de muito estudioso e
imbuído da melhor das intenções e espírito público, não só não conseguiu implantar qualquer
uma das suas idéias, como acabou criando um clima tenso.
No Brasil, o ato americano, acima referido, somente seria possível se o nosso órgão
criminalístico celebrasse um convênio científico, do qual participaria necessariamente, como
“conditio sine qua non”, uma equipe de Peritos Criminais. Dessa forma o resultado do estudo
criminalístico, seria aceito pacificamente entre todos os peritos.
Esse exemplo ajuda a demonstrar que existem Princípios, e Postulados estruturando a
nossa instituição de Criminalística, independentemente do desejo ou interesse dos indivíduos,
fenômenos estes encontrados a nível cultural e não administrativos. Enfim a Criminalística
Brasileira é tão conservadora quanto o sistema jurídico nacional.
48

CAPÍTULO III
O RACIOCÍNIO DA INVESTIGAÇÃO CRIMINALÍSTICA

1. Formação de juízos (JESUS, 2005)


1.1. Introdução ao raciocínio

O raciocínio sempre ocupou um lugar importante, no que diz respeito ao pensamento,


assim como constitui um de seus processos fundamentais, especialmente no estudo da
Criminalística. O processo de aplicação da Criminalística implica em utilizar em vários
momentos diferentes formas de lógica e raciocínio.

O raciocínio tem sua origem na lógica e nas teorias sobre a linguagem, ocupando as
representações proporcionais um papel de destaque. As linguagens de programação são as
mais empregadas, conforme o seu ponto de vista, sendo as linguagens lógicas adaptadas à
comprovação de teoremas no cálculo de predicados.

A lógica é importante para a elaboração pericial porque é a base do método de análise


qualitativa que usualmente é mais aplicado na área pericial.

O raciocínio é reconhecido como uma forma de pensamento, pois está inserido em


processos como a percepção, a categorização, a compreensão da linguagem, a solução de
problemas, a tomada de decisões, sendo quase um sinônimo de cognição. Podemos definir
como uma das principais capacidades de pensamento, a atitude de raciocinar, pois está
presente a destreza para a avaliação e utilização de argumentos, conforme os princípios da
inferência dedutiva e da indutiva.

Os diferentes tipos de raciocínio fazem com que haja uma certa confusão, ao
procurarmos uma definição precisa. Muitas das vezes o raciocínio é confundido com o
processo de dedução, sendo omitido o processo de indução, que também é uma forma de
raciocínio.

1.2. Tipos de raciocínio

A idéia mais clássica existente sobre os tipos de raciocínio diz respeito ao indutivo e ao
dedutivo. A psicologia do raciocínio pode ser definida em três partes: a primeira se refere aos
problemas que possuem ou não uma estrutura especial; a segunda versa sobre se o processo
utilizado é mais concreto ou abstrato; e a terceira, se a inferência supõe uma cadeia discreta de
etapas.
49

A forma de raciocínio das pessoas passou a ser estudada mais a fundo através de
determinadas tarefas específicas, constatando-se que as pessoas não utilizam apenas os
processos tradicionais vistos anteriormente, mas outros processos que estão além da
inferência, que se denominou de metainferência. Por meio dessa, tem-se conseguido avançar
mais no conhecimento das estratégias e das distorções que são produzidas no raciocínio.
Ainda estamos nas etapas iniciais de compreensão do pensamento e raciocínio humano.

2.2.1. Indução

A definição mais simples de indução é a da extração da conclusão através das


premissas, de forma que se retiram delas mais conclusões do que as que realmente estão
contidas. O fato de partir do particular para o geral faz com que esse conhecimento adquirido
não seja necessariamente verdadeiro, mas apenas provavelmente verdadeiro. É o
conhecimento adquirido em um âmbito de incerteza.

A indução pode ser divida em enumerativa e eliminativa. A primeira é feita através de


recompilação de dados que coincidam com a generalização. Já a segunda é a supressão de
outras possíveis generalizações que concorrem com a conclusão.

Os processos indutivos têm alcançado uma posição de destaque na psicologia do


pensamento, no que diz respeito à categorização, à aprendizagem conceitual e à tomada de
decisões, como também em analogias.

Os juízos intuitivos (heurísticos) ocorrem quando sujeitos, diante de uma tarefa que não
conseguem sistematizar, utilizam determinados caminhos para simplificá-la. Em situações de
incerteza este tipo de raciocínio é extremamente útil.

O pensamento estocástico, também conhecido como inferência estatística ou raciocínio


probabilístico, é constituído de processos de conceitualização, de compreensão e de
processamento de informação, utilizados por sujeitos ao enfrentarem problemas que não estão
muito clarificados. Deve-se conceitualizar inicialmente os termos para depois serem
utilizados, caso isto não ocorra estaremos raciocinado com base em conceitos equivocados.
Este ponto é crucial na Criminalística porque caso o Perito não tenha corretamente o conceito
e entendimento correto dos termos utilizados como aplicá-los na atuação pericial? Ocorrerão
equívocos que não estariam relacionados com a forma de pensar e raciocinar, mas em relação
aos termos utilizados.
50

A indução é uma habilidade, podendo ser treinada como as outras habilidades humanas,
tais como nadar, correr, jogar tênis etc. Pode-se calibrar nosso raciocínio indutivo.

O Perito necessita que temporariamente ocorra uma calibração de sua percepção em


relação a sua área de atuação. À medida que o Perito exerce sua atuação poderá ocorrer
influencias de outras variáveis que poderão contaminar o processo de pensamento e
raciocínio.

2.2.2. Dedução

Nesse tipo de raciocínio, o Perito segue obrigatoriamente as premissas prévias,


implicando-se que, se essas forem verdadeiras, a conclusão extraída será necessariamente
verdadeira. Dessa maneira, ele é conduzido do geral para o particular. A dedução é um
processo de operadores precisos parecidos com os operadores lógicos formais, porém não
iguais.

O raciocínio dedutivo é o que possui maior aplicação o contexto jurídico e de perícia


criminal em razão de que produz maior nível de certeza e diminui possíveis ocorrências de
erros.

A inferência dedutiva é tautológica, ou seja, não traz nenhum novo conhecimento


retirado das premissas, como também nenhuma informação semântica nova. Na dedução são
aplicadas regras de inferência de um sistema lógico, que permitem obter conclusões
estritamente necessárias, tendo-se em vista as premissas prévias e as informações nelas
contidas, guardando-se assim um estreito relacionamento com a lógica e a matemática.

Os processos lingüísticos e não-lingüísticos estão criticamente relacionados com a


inferência dedutiva, pois os sujeitos, ao retirarem as informações contidas nas premissas,
estarão submetidos a um processo cognitivo complexo e interconectado, em que é refletida a
sua maturidade dedutiva. A melhor habilidade linguística poderá oferecer maior velocidade e
qualidade no raciocínio, no entanto deve se atentar para o fato da qualidade do conteúdo e
lógica da expressão verbal.

Existem três grupos de tarefas dedutivas em torno das quais foram concentrados os
estudos da dedução: a inferência transitiva, o silogismo categórico e o raciocínio
proposicional. Falaremos um pouco sobre cada um.

Inferência transitiva

Nessa tarefa é utilizada a propriedade da transitividade, que permite comparar e ordenar


elementos do conjunto em que se aplicam. Podemos dizer que uma relação é transitiva
51

quando, partindo de um elemento A, relacionamo-lo com outro, B, que se relaciona com um


terceiro, C, concluindo-se que A se relaciona com C. São utilizados muito também nas
comparações os símbolos > para comparativo de superioridade e < para comparativo de
inferioridade.

Inicialmente, foram utilizadas séries lineares de três termos do tipo A>B>C. Foram
posteriormente transformadas em A>B; B>C, logo A>C, sendo então denominados
silogismos lineares. Posteriormente, foram acrescentados mais elementos às premissas, tendo
recebido outras denominações, tais como ordenamentos lineares ou problemas relacionais.

Silogismo categórico

É uma forma de raciocínio que consiste em três posições categóricas que contêm três
termos e somente três, dois de proposições, que são as premissas, e um terceiro, que é a
conclusão. A primeira premissa é denominada maior e contém o predicado da conclusão; a
segunda, denominada menor, contém o sujeito da conclusão. O link que une as premissas
com a conclusão é denominado de conseqüência (logo, portanto, então). O termo que se
repete nas premissas e não aparece na conclusão é denominado de termo médio. Como
exemplo, temos:

1.a premissa: Se todos os homens possuem raciocínio.

2.a premissa: Antônio é um homem.


Conclusão: Logo Antônio possui raciocínio.

Destacamos a existência de cinco axiomas característicos dos silogismos:

Axiomas de quantidade:

1. O termo médio deve estar distribuído pelo menos uma vez.


2. Na conclusão não pode aparecer nenhum termo distribuído que não esteja nas
premissas.

Axiomas de qualidade:

1. De duas premissas negativas não se obtém nenhuma conclusão.


2. Se uma premissa é negativa, a conclusão deve ser negativa.
3. Se nenhuma das premissas é negativa, a conclusão deve ser afirmativa.

A utilização de diagramas de Euler ou Venn na investigação psicológica de silogismos


vem sendo muito desenvolvida, facilitando sua interpretação.
52

Como causa de erros no raciocínio silogístico pode ocorrer o efeito atmosfera, que
ocorre no sujeito que, ao elaborar uma conclusão, o faz com base na atmosfera global
produzida pelas premissas. Dessa forma, sua conclusão seria derivada unicamente do modo
como as premissas estão formuladas. É um enfoque não lógico do raciocínio, que defende a
idéia de que os sujeitos não se ajustam à lógica, sendo influenciados por fatores extralógicos.
Estes fatores extralógica podem estar relacionados com: estresse, velocidade da resposta,
dificuldade no processamento de informações etc.

Os sujeitos que não podem resolver um problema utilizam-se de um mecanismo


indutivo de solução. Isso ocorre quando este não permite alcançar uma solução aceitável,
tendo-se em vista, que não basta termos um par de premissas: poderá ocorrer a possibilidade
de não chegarmos a nenhuma conclusão.

Raciocínio proposicional

O cálculo elementar com proposições, atualmente, vem ocupando uma posição


destacada na investigação do raciocínio dedutivo, entendendo-se como proposição a unidade
mínima de significado sujeita a valor de verdade, isto é, que pode ser verdadeira ou falsa.
Logo, qualquer discurso pode ser decomposto até encontrar-se somente uma proposição. Por
exemplo: a caneta é vermelha ou azul, então a caneta pode ser vermelha ou não, ou pode ser
azul ou não, não podendo ser decomposta em unidades mais simples.

As conectivas lógicas são definidas através das tabelas de verdade, nas quais consta o
valor de verdade resultante da conectiva para cada uma das possíveis combinações de valores
de verdade das proposições que intervêm.

O condicional é o mais representativo dos silogismos hipotéticos. Um motivo para isso


é que dessa conectiva derivam as regras lógicas de inferência. O objetivo primordial dessa
modalidade é a análise de como os sujeitos adquirem, compreendem e empregam em sua vida
cotidiana enunciados de natureza condicional.

A interpretação “se… então” é adquirida, sob o ponto de vista evolutivo, em um


período mais tardio. Sendo uma conectiva binária, é possível transformar duas proposições
simples (p, q) em uma de forma mais complexa: se p, então q.

Na vida diária nós utilizamos freqüentemente os enunciados condicionais, como uma


expressão de relação entre eventos, sem uma preocupação lógica em sentido estrito, fazendo
53

com que possam, dentro de uma lógica correta, oferecer vários tipos de interpretações
diferentes.

A implicação material é uma interpretação lógica unicamente da forma se p, então q,


supondo-se que, se ocorre p, necessariamente acontecerá q, podendo este também ocorrer sem
que haja o antecedente p. Dessa maneira, o enunciado condicional só é falso se o seu
antecedente é verdadeiro e o conseqüente é falso.

A interpretação bicondicional ocorre tanto quando o antecedente é verdadeiro e o seu


conseqüente é falso, como também no caso em que o antecedente é falso e o conseqüente é
verdadeiro.

O condicional defectivo destaca que o enunciado condicional tem sentido, mesmo no


caso em que não seja dado o antecedente, considerando-se os sujeitos como sendo irrelevantes
para uma resposta.

No meio da população mais jovem havia uma tendência a reinterpretar um raciocínio


condicional como uma expressão conjuntiva, para facilitar sua compreensão.

O raciocínio modus tollens está presente especialmente nas situações em que o


profissional de segurança pública em uma entrevista, faz comentários sobre o fenômeno sem
possuir ainda as informações confirmatórias, deduzindo a ocorrência baseando-se em
pensamento de senso comum.

Existem duas inferências válidas, conforme as premissas, que podem ser feitas
envolvendo os condicionais: o modus ponens e o modus tollens. Como exemplo temos :

Validade:Modus ponens
Premissas: Se está chovendo, então Lorena se molha.
Se P, então Q
Está chovendo. P
Conclusão:
Portanto, Lorena se molha Então, Q

Essa é a regra mais simples, conduzindo sempre a uma conclusão válida. É bom lembrar
que a validade lógica é meramente de forma, não sendo afetada se as proposições são
verdadeiras; logo, poderíamos ter conclusões ridículas com validade lógica.
54

Validade: Modus tollens


Premissas: Se está chovendo, então Lorena se molha.
Se P, então Q
Lorena não está molhada. Não Q
Conclusão:
Portanto, não está chovendo Portanto, não P

O modus ponens e o modus tollens são duas inferências válidas que obteríamos com
argumentos condicionais simples. Porém, existem duas outras inferências que poderiam ser
submetidas a inferência, apesar de serem inválidas, sendo chamadas de afirmação do
conseqüente e negação do antecedente .

Inválido: afirmação do conseqüente

Premissas: Se está chovendo, então Lorena se molha. Se P, então Q


Lorena está molhada. Q
Conclusão:
Portanto, está chovendo Portanto, P

Inválido: negação do antecedente

Premissas: Se está chovendo, então Lorena se molha. Se P, então Q


Não está chovendo. não P
Conclusão:
Portanto, Lorena não se molha. Então, Q

Apesar dessas inferências capciosas, um número superior a 50% dos sujeitos


normalmente usa negação do antecedente e afirmação do conseqüente . Também alguns
autores consideram essas regras plausíveis, sendo usadas para descrever situações causais ou
temporais, quando as relações simétricas são possíveis. Por exemplo: se executas a tarefa, irás
ao jogo de futebol.
55

Os principais pensamentos teóricos do raciocínio condicional são:

A introdução de tarefas mais difíceis baseadas em silogismos categóricos ou


condicionais em testes de avaliação de inteligência revelam, muitas das vezes, um alto grau de
erros, levando os Psicólogos a buscarem uma explicação. Isso se converte em um dos temas
centrais da Psicologia do Raciocínio, o que implica a busca da resposta na falta de lógica dos
sujeitos e na falta de habilidade para manejar silogismos ou modelos, e assim, passa-se a
questionar a racionalidade do ser humano. Sabendo-se de que o ser humano possui limitações
de racionalidade plena.

Alguns autores centraram-se no efeito atmosfera, enquanto outros no efeito de


conteúdo. No efeito de conteúdo, o sujeito estabelece um efeito de destaque na realização da
tarefa, que deveria ser realizada com independência dele.

As distorções cognitivas encontradas nos sujeitos põem em dúvida a racionalidade da


humanidade, tais como distorções de confirmação e emparelhamento, de efeitos de conteúdo,
ou falácias de negação do antecedente e de afirmação do conseqüente. Sabemos que existem
autores que defendem a racionalidade. Mas a nosso ver os sujeitos raciocinam logicamente,
sendo apenas influenciados, às vezes, pela ambigüidade dos enunciados ou pelas limitadas
capacidades de processamento.

2.2.3. Metainferência

Metainferência é a atividade de ir muito além da simples realização de uma inferência.


Deve o sujeito ser capaz de inferir as regras utilizadas para obter a conclusão e,
conseqüentemente, submetê-las à prova.

Podem ser desenvolvidos raciocínios metalógicos em crianças, como também propõe o


construtivismo dialético, sendo um aferidor interativo entre fatores internos e externos do
desenvolvimento para atingir tal grau de raciocínio.

Como exemplo de tarefa metainferencial, temos a tarefa de seleção de Wason: são


apresentados aos sujeitos quatro cartões, com um número em uma face e uma letra na outra.
Ao se apresentar os cartões expostos sobre a mesa, os sujeitos só poderiam ver uma face de
cada um deles. As que podiam ser vistas eram:

EF47

A tarefa era dizer qual ou quais dos cartões seria(m) necessário(s) mover para
comprovar a verdade ou a falsidade do seguinte enunciado condicional:
56

“Se em um cartão existe uma vogal em uma face, então haverá um número par na
outra.”

Os resultados obtidos demonstraram uma grande dificuldade psicológica para a sua


solução, embora o problema fosse simples. As respostas mais comuns foram p e q (46%,
segundo Wason e Johnson-Laird) ou somente p (33%, conforme a mesma fonte). Foi
observada em alguns casos uma tendência a selecionar os dois cartões, que correspondiam à
afirmação do antecedente e do conseqüente, o que conhecemos como sesgo de
emparelhamento, sem que houvesse o devido uso da negação do conseqüente. A aplicação de
uma negação nos enunciados disjuntivos não reduziria a importância desse sesgo,
observando-se uma diminuição do rendimento dos sujeitos com a negação.

2.2.4. Teorias atuais sobre o raciocínio

a) Regras formais de inferências

O ser humano é racional ?

Baseiam-se no pressuposto da racionalidade humana, que possui uma lógica mental


e/ou natural, manifestando-se por meio da utilização de regras formais de inferência, donde
podemos extrair uma conclusão, partindo unicamente do nível estrutural e sintático das
premissas.

A teoria de Piaget foi pioneira e bem desenvolvida no aspecto evolutivo, partindo da


inferência de regras empregadas pelo sujeito a partir de seus atos. É o primeiro trabalho que
reflete a estrutura das regras de inferência, enquanto enuncia um conjunto determinado de
esquemas, que são atribuídos a um caráter primitivo, explicando o raciocínio dos sujeitos.

A lógica natural de Braine e Rumain e as provas mentais de Rips estão estruturadas para
o raciocínio, a partir de enunciados verbais, tendo as supracitadas teorias surgidas para
explicar o raciocínio proposicional e também outros tipos de dedução, possuindo mecanismos
para explicar também os efeitos da pragmática e da semântica dentro de suas teorias
fundamentalmente sintáticas.

Nesse modelo, os erros ocorreriam conforme a falta de compreensão das premissas, ou a


suposição de uma informação inexistente nelas, mas nunca devido à inexistência de uma
habilidade lógica estrita.
57

b) Modelos mentais

A teoria dos modelos mentais é uma teoria sobre a integração da informação na


memória operativa, isto é, sobre o modo como se vai atualizando a representação que fazemos
de uma determinada situação. O seu objeto de estudo é a compreensão tanto da linguagem
natural como dos problemas de raciocínio, pois operam a partir de significados semânticos, ou
seja, o significado da informação contida nas premissas. Esse modelo não aceita a concepção
racionalista do raciocínio humano conforme a aplicação de uma série de regras formais,
porém a define a partir da construção de modelos mentais .

Uma crítica ao referido modelo é feita por Garcia Madruga, que não considera a
influência de variáveis de natureza sintática sobre o raciocínio dos sujeitos, como o conhecido
efeito das distorções de emparelhamento, que está empiricamente provado .

De maneira resumida, os princípios que orientam e restringem o funcionamento dos


modelos mentais são determinados pelo(a):

1.a - Existência de restrições imediatas, que são determinadas pelos princípios do


processamento de informação, da finitude e do construtivismo;

2.a - processos implicados em sua formação e interpretação;

3.a - possibilidade ou não de representação em forma de modelo mental;

4.a - sua estrutura;

5.a - existência de uma restrição conceitual, pois os modelos mentais subdividem-se em


modelos físicos e conceptuais.

Em suma, a teoria dos modelos mentais seria a possibilidade de serem obtidas


conclusões com a elaboração de modelos mentais, sem a necessidade do emprego de regras,
de esquemas de inferência ou de qualquer outro mecanismo que acarrete um cálculo lógico.

Os sujeitos possuem uma capacidade limitada de armazenamento de informações na


memória operativa, o que acarreta um aumento de modelos mentais em quantidade e em
complexidade, sobrecarregando a memória e dificultando, assim, a elaboração de uma
conclusão válida, como também levando os sujeitos a erros de raciocínio. Esta situação esta
relacionada com a capacidade limitada de processamento de informação.

Outro erro que poderia ser detectado é o do efeito da distorção cognitiva de crenças, ou
seja, os sujeitos têm a tendência de aceitar conclusões com que estejam de acordo, estando
desatentos para a conclusão lógica. Dessa forma, se a conclusão é mais aceita pelas crenças,
58

estariam menos motivados para investigarem rigorosamente através de contraexemplos, que


poderiam invalidar sua conclusão, com a qual já estariam de acordo.

c) Esquemas e regras sensíveis ao contexto

Piaget explicando o processo de pensamento das crianças, e Bartlett , explicando


compreensão e memória em âmbitos sociais, foram os precursores do desenvolvimento de
esquemas. Somente 30 anos mais tarde, com a criação da inteligência artificial, foi que os
norte-americanos descobriram os esquemas, pois reconheceram que dotar os computadores
apenas com habilidades sintáticas e conhecimento léxico é insuficiente; era necessário pô-los
com um conhecimento do mundo e de significados.

Poderíamos exemplificar os esquemas de maneira simples, através da seguinte frase:


“Gosto de morangos”. O receptor dessa mensagem acionará um amplo repertório de
conhecimentos prévios à emissão da mensagem, de forma que o levará a pensar que o emissor
está falando de comer, pois gosta de morangos pelo seu sabor e não por sua aparência.

Inicialmente Minsk definiu um marco como uma estrutura de dados que representa uma
situação estereotipada. Porém, mais tarde, Minsk disse que, para darmos uma representação
exata a um determinado objeto, necessitaríamos conectar outras estruturas mais completas,
preenchendo espaços em branco. Existem marcos pictóricos, com o objetivo de representar
espacialmente, e os trans-marcos, que se refletem entre um ponto de origem e um de destino.

Os roteiros foram criados com o objetivo de fazer com que os computadores pudessem
ter capacidade de entender estórias, descrever uma seqüência padrão de acontecimentos que
fazem parte de um determinado contexto .

Nos roteiros, Schank e Abelson distinguem quatro tipos de bases:

• Bases de condição prévia. Por exemplo: “Carlos foi ao restaurante”: como condição
prévia, Carlos tinha fome. Um melhor exemplo seria “Carlos queria um
cheeseburger”: ele não iria encontrá-lo em um restaurante; teria de ir a uma
lanchonete;
• bases instrumentais. Servem para inter-relacionar os roteiros. Por exemplo: “Carlos
foi de metrô à lanchonete”;
• bases de lugar. Referem-se a um lugar concreto onde se desenvolve a ação. Por
exemplo: “Carlos foi à lanchonete Comilão”;
59

• bases de conceitualização interna. Podem se referir a um roteiro ou não. Por


exemplo: “Carlos saiu com uma garçonete”: poderá ele ativar o roteiro de lanchonete
ou não.

Schank diferenciou quatro tipos de memória:


• Memória de acontecimentos: por um curto período de tempo os acontecimentos
concretos são armazenados tal como ocorreram. Porém, um tempo depois,
encontram-se generalizados com poucos detalhes;

• memória de acontecimentos generalizados: constitui-se em uma abstração das


características comuns de um conjunto de acontecimentos;

• memória de situações: contém dados sobre situações específicas em geral,


diferenciando-se da memória de acontecimentos, pois compreende um campo amplo
de casos específicos;

• memória de intenções: é a mais abstrata, posto que se refere aos objetivos


perseguidos em uma determinada ação e ao modo de obtê-los.
Os sujeitos, a partir da mudança de suas expectativas perante o mundo e do alcance de
níveis mais altos de abstração, organizam suas informações em pacotes de memória, que
Schank chamou de MOPs (Memory Organization Packets). São utilizados para previsão de
acontecimentos futuros, baseando-se na experiência passada. Os usos de MOPs são os
seguintes:

• Ajudam na construção de informações superiores para o processamento;

• orientam a resposta de perguntas;

• possibilitam a recuperação de informações;

• ajudam a obter conclusões e a identificar padrões;

• possibilitam o reconhecimento de situações já vividas anteriormente, disfarçadas de


novas.

Schank definiu uma cena como sendo o agrupamento de ações com uma meta comum
em uma estrutura de memória, proporcionando uma seqüência de ações gerais. As cenas
armazenam as recordações específicas, as quais são indexadas no que diz respeito à forma
como são diferenciadas da ação geral da cena.

David Rumelhart, Donald Norman e colaboradores conceituaram esquemas como sendo


uma teoria do conhecimento, baseada em uma concepção prototípica do significado , e em
60

uma estrutura de informações utilizadas para representar os conceitos genéricos armazenados


na memória.

Holland, Holyoak, Nisbett e Thagard defendem uma posição eclética sobre os


esquemas, baseando-se na existência de modelos mentais formados por regras dependentes do
contexto, semelhantes às do sistema de produção de Newell e Simon , primordialmente
condicionais, por funcionarem em paralelo, pelas seguintes razões:

• A eficácia das regras para especificar os procedimentos que o sistema deverá


executar já está comprovada;

• as regras de condição-ação são modulares, não dependendo de outras regras


próximas, e estão tenuemente modificadas, ao acrescentar ou apagar alguma regra
contínua;

• os modelos mentais dinâmicos poderiam surgir através das estruturas compostas pelo
conjunto de regras, de modo que seriam previsíveis as possíveis mudanças na
retroalimentação, caso emergissem determinadas condições. Esse tipo de arquitetura
é muito útil em uma retroalimentação mutativa.

Existem defensores do funcionamento dos esquemas como estratégias de raciocínio, tais


como os esquemas pragmáticos de raciocínio de Cheng e Holyoak , e a teoria do contrato
social de Cosmides , que trata de uma proposta teleológica, segundo a qual os seres humanos
acumulam, durante o seu desenvolvimento, certos logaritmos específicos de natureza
adaptativa, direcionados à otimização dos intercâmbios sociais.

d) Heurísticos e sesgos (distorções cognitivas)

Tversky e Kahneman defendem um raciocínio com o uso de heurísticos, que são regras
alógicas que o sujeito constrói a partir de sua experiência e relação diária com o meio,
ativando sua memória para a elaboração de inferência.

Os heurísticos são medidas psicológicas ótimas na medida em que são obtidas respostas
corretas da vida cotidiana. Porém, o heurístico da acessibilidade, que consiste em prever e
avaliar a possibilidade de um evento em função da facilidade de evocar mnemonicamente
exemplos parecidos com o acontecimento, traz a possibilidade de tendência cognitiva
conforme a ordem em que as informações estão armazenadas em nossa memória.

Para Evans , a representação seletiva da informação de um problema é relacionada com


a função dos heurísticos, delimitando, assim, duas fases de processo de raciocínio: uma fase
heurística, em que o sujeito seleciona a informação relevante para que seja posteriormente
61

processada, e uma fase analítica, na qual o sujeito elabora as inferências com a informação
codificada anteriormente.

2.3. Solução de problemas

A atividade pericial é desafiadora em muitos aspectos. A complexidade é inerente a


atividade pericial em razão da elevada quantidade de especialidades que estão envolvidas e de
outras variáveis: pressão do tempo, problemas diversos, ausência de recursos, estrutura
deficitária, ausência de estrutura adequada e gestão profissional.

A expressão solução de problemas possui um sentido muito genérico. Em um sentido


estrito, seriam aquelas tarefas que exigem processos de raciocínio mais complexos e não
simplesmente uma atividade rotineira. Normalmente, quando uma pessoa enfrenta um
problema, de início não sabe como resolvê-lo. Existem problemas que são resolvidos em
poucos segundos, embora outros demorem anos para serem resolvidos. A situação torna-se
mais difícil ainda, quando temos um tempo marcado para podermos apresentar a solução de
um determinado problema.

Em nossa sociedade de alta tecnologia, a solução de problemas é constante em nossa


vida diária, exigindo-nos um grau de habilidade elevado para obtermos a solução deles.
Estamos sempre decidindo o que vestir, onde comer, que carro iremos comprar, qual a
profissão que exerceremos etc., que são similares em responsabilidade de solução de
problemas. Quando existe a variável de tempo de decisão, que é comum na atividade pericial,
a situação torna-se mais crítica .

Para podermos resolver problemas de forma adequada, teríamos de atender aos


seguintes componentes básicos :

• Um objetivo claro ou a descrição do que iremos aceitar como uma solução para o
problema;
• objetos, materiais ou outros recursos que poderiam ser utilizados no esclarecimento
do objetivo;
• o estabelecimento de uma série de operações e ações que devem ser tomadas;
• uma série de regras que não podem ser violadas durante a resolução dos problemas.
Um problema bem definido e o objetivo a ser atingido bem clarificado significam um
caminho importante para conseguirmos atingir a meta . Muitas vezes, em um problema,
necessitamos escrever esquemas ou gráficos para conseguirmos a solução. Como exemplo,
temos o problema famoso dos missionários e dos canibais:
62

Três missionários e três canibais estão na margem esquerda de um rio. Eles possuem um
barco para levar somente duas pessoas. Se o número de canibais superar o número de
missionários, na outra margem do rio (margem direita), os canibais comerão os missionários.
Como nós os transportaremos para a outra margem do rio?

Se utilizarmos uma representação gráfica, ficará muito mais fácil resolvermos o


problema, pois buscaremos um caminho da situação em que nos encontramos até o nosso
objetivo final .

Simon defende a idéia de que um problema bem estruturado é uma ilusão, porém
defende também que o processo de associação de pensamento com os chamados problemas
bem estruturados é similar ao uso das soluções aplicadas àqueles problemas que são mal
estruturados.

Muitos problemas, especialmente esses que enfrentamos cotidianamente, possuem


várias soluções, porém algumas soluções provocam conseqüências que são mais graves do
que outras. Por isso devemos possuir um pensamento crítico para as soluções .

Poderíamos dizer, resumidamente, que os princípios mais importantes para uma solução
de problema seriam os seguintes :

• Esforçe-se para obter um entendimento completo, cuidadosamente revisto, do que é


dado e das possibilidades de solução;
• aprenda a utilizar representações externas do problema, usando lápis e papel para
fazer anotações;
• reflita, não seja impulsivo, e aloque parte do tempo de sua solução do problema para
pensar;
• não continue a trabalhar em um problema para o qual não possua os conhecimentos
específicos;
• pesquise em sua experiência passada por informações relevantes, inclusive
informações que você pode descobrir, pensando analogicamente;
• simplifique problemas complexos, criando subproblemas que o conduzirão ao
objetivo;
• quando tentar resolver um problema, monitore seus esforços em uma tentativa de
evitar a confiança em um sucesso previsível, mas já com procedimentos
inapropriados, ou com modos habituais ou familiares de fazer coisas que atrapalham
enxergar as alternativas usadas para o objetivo.
63

O nosso interesse nesses aspectos da Psicologia do Raciocínio está motivado pela


necessidade de instrumentalizarmos os peritos da compreensão da dinâmica do pensamento,
procurando evidenciar as provas materiais, nos trabalhos de Perícia dos mais variados campos
de aplicação.

O treinamento em técnicas de solução de problemas poderia auxiliar o perito na difícil


tarefa, de tatear um ambiente com excesso de informações das mais variadas formas, tendo o
objetivo de encontrar evidências e provas que serão úteis na formação do Laudo Pericial e/ou
Parecer Técnico.

Como esquema geral de solução de problemas que, adaptando às necessidades de


investigação pericial sugerimos o seguinte:

1. Orientação para o problema


A. Percepção do problema
(Necessidade do reconhecimento da existência e classificação da complexidade do
problema. É um problema ou atividade de rotina ?)
B. Atribuições da ocorrência do problema
(Necessidade da busca da explicação do processo de atribuição causal do problema.
Qual a origem do problema?)
C. Avaliação do problema
(Compreensão do significado do problema na tarefa a ser desenvolvida e sua solução.
Qual a importância do mesmo? )
D. Controle pessoal
(O problema deve ser percebido como controlável e o profissional deve ter capacidade
de encontrar sua solução ou de mobilizar recursos para a solução)
E. Aceitação e compromisso de tempo e esforço
(Aceitação da estimativa de tempo necessário à solução e do esforço proporcional à
complexidade do problema a ser resolvido)
2. Definição e formulação do problema
A. Busca de informação
A. 1 – Informação sobre a tarefa a ser desenvolvida
64

(O profissional e a equipe devem estar informados previamente do nível de


complexidade da tarefa a ser desenvolvida, e qual a sua contribuição dentro da solução
do problema)
A. 2 – Informações estratégicas
(Necessidade de obter informações a respeito do perfil das pessoas que irão atuar em
equipe, como também, do ambiente no qual serão realizados os trabalhos)
B. Compreensão do problema
(Organizar e categorizar as informações necessárias à correta compreensão do
problema)
C. Estabelecimentos dos objetivos
(Planejar o alcance de objetivos concretos, conforme a estimativa de tempo de solução)
D. Reavaliação do problema
(O problema, quando se encontra estruturado, necessita que seja reavaliado com
precisão, para que os objetivos sejam redefinidos)
3. Levantamento de alternativas
A. Princípio da quantidade
(Levanta a informação de quantas alternativas estão disponíveis para a solução)
B. Princípio de adiamento do julgamento
(Obtenção da resposta à pergunta: se, no presente momento, estamos preparados de
forma evidente para a solução)
C. Princípio da variedade
(Obtermos informação se esse problema ocorreu anteriormente e se temos a informação
de que alguém já solucionou esse tipo de problema)
4. Tomada de decisão
A. Antecipar os resultados da solução
(Avaliação dos resultados positivos e negativos de sua solução, aplicando o princípio da
refutabilidade)
B. Avaliar e julgar os resultados de cada solução encontrada
(Mensuração do custo/benefício na solução do problema em todas as suas etapas)
C. Preparação para a apresentação da solução
65

(Decisão entre uma solução simples ou uma combinação entre as várias soluções
encontradas)
5. Prática da solução e verificação
A. Aplicação da solução encontrada
(Caso não se encontre a solução, devido aos obstáculos encontrados no processo, deve-
se voltar às etapas anteriores, em busca de uma solução alternativa, ou tentar eliminar os
obstáculos existentes)
B. Registro dos passos na solução de problemas
(Deve-se auto-observar e medir o desempenho individual na solução de problemas e
resultados alcançados)
C. Auto-avaliação
(Utilizar critérios de auto-avaliação tais como: bem-estar emocional com a solução
encontrada, quantidade de tempo e nível de esforço empregado – custo/benefício)
D. Utilizar feedback
(Retornar, sempre que necessário, aos passos anteriores para constatar se as correções
realizadas ajudaram a encontrar uma solução mais eficaz)

Sabe-se que o esquema apresentando anteriormente, não é uma panacéia, mas poderá
auxiliar em muitas situações de enfrentamento de problemas complexos de investigação
pericial.

David Canter, que é um dos maiores pesquisadores mundiais de aplicação da Psicologia


na investigação policial, nos diz que, se pudermos compreender as influências sociais e
organizacionais, no processo complexo e ambíguo de solução de crimes, entenderemos
bastante de decisões de investigação mediante incerteza.

As investigações mediante incerteza são rotineiramente encontradas em nossas


atividades, contudo a ausência de conhecimento e treinamento científico adequado favorece a
dificuldade de sua solução.
66

CAPÍTULO IV
LÓGICA E TOMADA
DE DECISÃO PERICIAL

Szilard disse que o cientista criador possui muitos pontos em comum com o artista e o
poeta. O pensamento lógico e a capacidade analítica são atributos indispensáveis a um
cientista, porém não são suficientes para o trabalho criativo. Os insights (soluções repentinas)
dentro da ciência que podem conduzir a grandes avanços tecnológicos não foram logicamente
derivados de conhecimento preexistente: os processos criativos em que é baseado o progresso
da ciência atuam em nível inconsciente.

Salk diz que a criatividade científica encontra-se em uma fusão de intuição e razão.
Dessa maneira, a compreensão do processo de pensamento utilizado na solução de problemas
e na tomada de decisão levará a uma otimização deles.

Sob o ponto de vista da evolução do homem, o mecanismo mais antigo de tomada de


decisão pertence à regulação biológica básica, inicialmente, no domínio pessoal e social e, o
mais recentemente, num conjunto de operações abstrato-simbólicas em relação com as quais
podemos encontrar o raciocínio artístico e científico, o raciocínio utilitário-construtivo e os
desenvolvimentos lingüístico e matemático.

Milênios de evolução humana e de sistemas neurais dedicados a poderem conferir


independência a cada um de seus módulos de raciocínio e de tomada de decisão comprovam a
necessidade de que estejam interligados.

A importância do raciocínio em Perícia/Auditoria pode ser destacado no trabalho


apresentado por Nancy N. Berthold, do Serviço de Migração e Naturalização dos Estados
Unidos da América, na Conferência Anual da American Society Of Questioned Document
Examiners, em Arlington (Virgínia), no ano de 1989, sob o título de “A lógica dos
documentos questionados mais além de sua confrontação lado a lado”, que enfatiza a
necessidade de o perito ir além do que está evidenciado apenas superficialmente, ou seja pode
extrair informações inovadoras.

Dessa maneira, não podemos pensar como alguns colegas peritos, os quais acreditam
que a atividade de Perícia é uma rotina constante de um laudo/trabalho quase igual ao outro,
parecendo existir pouca diferença entre vários deles. Porém, muitas das vezes necessitamos da
intuição e da lógica para reforçarmos nossas conclusões. E isso é corroborado pela Doutrina
67

Criminalística Brasileira, sustentada no raciocínio lógico para fundamentar suas conclusões , e


ainda pelo que nos diz Ceccaldi :

Do ponto de vista lógico, pode-se chegar a uma convicção de três maneiras diferentes:

• Constatando, por si mesmo, um fato material;


• raciocinando a partir de fatos conhecidos para chegar a fatos desconhecidos;
• recebendo o testemunho de outra pessoa: vítima, acusado, perito.

Aludimos anteriormente à intuição, o que poderá parecer estranho para alguns leitores.
Porém, a intuição é originada de um raciocínio indutivo, sendo desse modo a extração da
conclusão através das premissas, de maneira que se retiram delas mais conclusões do que as
que realmente estão contidas, partindo do particular para o geral, o que faz com que esse
conhecimento adquirido não seja necessariamente verdadeiro, mas provavelmente verdadeiro
. Ocorre que o perito, em seu trabalho, tem de se valer desse recurso da lógica, quando não
possui informações suficientes para que possa utilizar-se de um raciocínio dedutivo, que é
necessariamente verdadeiro.

Ainda dentro desse raciocínio, Hessen nos diz que, no âmbito teórico, a intuição não
pode querer ser um meio de conhecimento autônomo, com os mesmos direitos do
conhecimento racional-discursivo. O racionalismo está mais apto para contribuir, pois toda
intuição tem de legitimar-se perante o tribunal da razão. Quando os adversários do
intuicionismo exigem isto, estão em seu pleno direito. Porém, a questão é muito diferente na
esfera prática, pois a intuição tem, nesse caso, um significado autônomo. Para nós seres
humanos, que elaboramos em nosso cérebro a realidade, sentindo e querendo, a intuição é um
meio de conhecimento.

O raciocínio é reconhecido como uma forma de pensamento, pois está inserido em


processos como a percepção, a categorização, a solução de problemas, a tomada de decisão,
sendo quase um sinônimo de cognição. Assim, quando os sujeitos estão perante uma tarefa
que não conseguem sistematizar, principalmente diante da incerteza, o juízo intuitivo toma
posição de destaque na tomada de decisão, sob essa circunstância mencionada anteriormente .

O estudo de solução de problemas para os peritos é de um profundo interesse no


trabalho pericial/de auditoria cotidiano, pois eles enfrentam normalmente situações
estressantes, que exigem soluções rápidas e acertadas.

Quando temos um problema bem definido e o objetivo a ser atingido bem clarificado,
isso significa que possuímos um caminho importante para alcançarmos a meta . Porém esse
68

mesmo autor defende que um problema totalmente estruturado é uma ilusão, embora diga que
o processo de associação do pensamento com os chamados problemas bem estruturados é
similar ao uso de soluções aplicadas àqueles problemas que são mal estruturados. Isto é, ao
resolvermos um problema bem estruturado, utilizando as técnicas adequadas, teremos um
resultado otimizado, o que não aconteceria, caso ocorresse o contrário.

Nesse momento seria importante definirmos o que é um perito. Conforme Webster , um


perito é alguém que possui uma habilidade especial ou um conhecimento originado de
treinamento ou experiência. Isso está de acordo com nosso ponto de vista: o perito deve ser
capaz de tomar uma decisão muito mais acertada do que outros profissionais da mesma área.
Porém, conforme Kahnemann , esse fato de o perito possuir uma habilidade especial não o
torna imune aos erros de julgamentos e de decisões que afetam as outras pessoas.

A pesquisa comportamental de tomada de decisões foi razão de uma explosão de


pesquisas surgidas no final da década de 1970 a 1980, acompanhada de críticas,
aperfeiçoamentos e extensões na década de 1990. Seus princípios básicos foram aplicados em
finanças, em negociações e no comportamento organizacional. Ainda não é muito
compreendido como o processamento de informações opera no mundo real, que está sempre
em dinamismo constante.

O que ocorre durante um processo de decisão? Segundo Moody , a arte de tomar


decisões está baseada em cinco ingredientes básicos:

1. Informação: é obtida tanto para os pontos positivos quanto para os negativos, com o
objetivo de delimitar o campo.

2. Conhecimentos: se o tomador de decisão tem conhecimento das circunstâncias que


envolvem o problema ou de outra situação similar, isso pode ser um componente facilitador
para se encontrar a solução. Caso não possua os conhecimentos, o tomador de decisão terá
que buscar consultoria para auxiliá-lo. Contratar serviços de consultoria é ainda mais
importante quando se necessita utilizar mais de uma especialidade para a análise dos
múltiplos aspectos de um problema complexo.

3. Experiência: quando um tomador de decisão soluciona um problema com sucesso ou


não, essa experiência proporciona informação para a solução do próximo problema, de forma
similar.

4. Análise: é o momento em que o tomador de decisão utilizará ferramentas que


auxiliem a solução do problema.
69

5. Raciocínio: o raciocínio é necessário para combinar informação, experiência e


análise, com o objetivo de selecionar a ação mais adequada.

Pode-se resumir as seguintes ferramentas a serem utilizadas em tomada de decisão:

Intuição: ela não é considerada confiável, a menos que as decisões sejam repetitivas,
nas quais a experiência repetitiva tornou-se automática, tendo-se em vista a pequena energia
utilizada. No entanto, quando não existe tempo suficiente, torna-se primordial pelo menos
estruturar a decisão.

Regras: elas exigem um pouco mais de esforço, mas obtêm maior qualidade, sendo
fácil a sua explicação, e podem ser úteis em uma futura justificação. Caso o problema seja
diferenciado, fora da rotina de trabalho, e não se ajuste aos casos freqüentes, tornar-se-á difícil
encontrar uma decisão aceitável.

Ponderação de decisões: ela necessita de esforço inicial porém pode ser útil logo após
esse início. Conduz a decisões de alta qualidade e de muita transparência, porém, quando o
volume de informações é alto e o tempo reduzido, podem surgir dificuldades.

Análise de valor: ela fornece as decisões de maior qualidade, exige um nível máximo
de esforço, podendo ser de difícil explicação e utilização. A decisão final será transparente em
termos de dados utilizados, de hipóteses formuladas e de valores e pesos atribuídos.

Enfim, o tomador de decisão deverá escolher a ferramenta mais simples que puder, sem
o sacrifício da confiabilidade. Ele deve estar atento a que o uso de diferentes métodos pode
levar a conclusões diferentes.

Jesus (2006) encontrou, em suas pesquisas sobre tomada de decisão judicial em


condições de incerteza, uma otimização das decisões por meio da utilização de associação
inferencial. Associação inferencial é a combinação de um raciocínio indutivo com um
dedutivo. Os juízes e jurados que conseguiam realizar uma associação inferencial obtinham
informações relevantes para a tomada de decisão.

Dessa forma, é necessário que o perito possua uma boa calibração em suas decisões,
para que diminua a incidência de erros que ele teria, caso não atentasse para essa necessidade.

1. Por que o estudo da atividade pericial?

A primeira reflexão envolve o fato de os peritos terem de obter um resultado melhor do


que as pessoas leigas; a segunda envolve a crescente importância da atividade pericial no
70

mundo moderno; e a terceira é a necessidade do desenvolvimento de habilidades especiais


para a execução da atividade pericial.

Como foi dito anteriormente, o perito deverá ter um desempenho profissional superior
ao dos leigos, devido à própria essência de seu trabalho; porém, podemos observar que isso às
vezes não ocorre. Não sabemos quais são todas as variáveis que atuam nesse impedimento,
mas sabemos da falta de atualização, da falta de treinamento e investimento na atividade
pericial, que impossibilitariam ao perito acompanhar novas tecnologias.

Em segundo lugar, poderíamos dizer, com absoluta certeza, que as crescentes


transformações do mundo moderno e globalizado requerem uma especialização e um alto
grau de conhecimentos interdisciplinares, para que possa atender à demanda de um
pensamento cada dia mais complexo. Como exemplo, podemos citar um artigo publicado na
Folha de São Paulo, 2.° caderno, de 24 de agosto de 1997, sob o título: “Fraude com cartão
chega à excelência”, que diz sobre a crescente sofisticação dos crimes atuais, chegando a falar
do criminoso invisível, e da necessidade de serem criados sistemas mais inteligentes, para
dificultar essas ocorrências. Porém, a Perícia está também evoluindo em treinamento, em
seleção de pessoal e em desenvolvimento de habilidades que possam desvendar esses crimes?
Parece-nos que não; teremos sérios problemas no futuro, sob esse aspecto.

A inteligência artificial e outros sistemas informáticos requerem do perito um


treinamento sofisticado e um apoio multidisciplinar, como uma força-tarefa, tendo como
exemplo vários trabalhos realizados pela Polícia Federal com essa abordagem .

O terceiro e último aspecto, não menos importante, é o desenvolvimento de habilidades


que auxiliarão o perito em seu trabalho diário . Vamos citar as seguintes habilidades:

a) Adaptabilidade

Os peritos deverão ajustar sua estratégia de tomada de decisão para se encaixar na


situação cotidiana. Eles são responsáveis pela mudança de condições, conforme a situação-
problema apresentada.

b) Responsabilidade

Os peritos assumem uma responsabilidade, caso tenham ou não acertado em seus


exames.

c) Criatividade
71

Não devem os peritos ter um único ponto de vista ou solução a respeito de um


problema. Devem ser capazes de criar novas idéias e soluções para os problemas, quantas
vezes forem necessárias.

d) Comunicação

Os peritos devem ser capazes de convencer outros colegas a respeito de seu


conhecimento específico. Devem comunicar efetivamente suas habilidades para que outros,
de posse delas, possam tomar decisões.

e) Conhecimento da área

É exigido dos peritos um conhecimento sólido de sua área específica, devendo eles
esforçarem-se para aprimorá-lo, desenvolvê-lo e utilizá-lo.

f) Capacidade de decisão

Um perito deve ser capaz de tomar decisões rápidas, claras e eficientes.

g) Energia

Devem ser capazes de investir uma quantidade grande de energia na solução de


problemas e procurar ir sempre além do investimento que faria uma pessoa comum.

h) Experiência

O perito usa a sua experiência para tomar decisões mais rápidas ou mais lentas,
dependendo de cada caso. É claro que sua experiência produzirá decisões sem a necessidade
de tanto esforço.

i) Espírito inquisitivo

O perito deve ser inquisitivo para resolver situações problemáticas, tendo como
pressuposto uma tendência para trabalhar não apenas por curiosidade.

j) Conhecimento do que seja relevante

Baseados em sua experiência, os peritos poderão diferenciar o conhecimento relevante


do irrelevante, usando somente o que é relevante e neutralizando o irrelevante.

k) Reconhecimento das exceções

Os peritos devem saber quando uma situação é especial e quando não é; não devem
prender-se a um único meio de resolver um problema.

l) Metodologia
72

A avaliação de um perito sobre um problema deve ser realizada dentro de critérios


metodológicos rigorosos, para que possa ser traçada uma forma de trabalho sistemática,
contribuindo para tomar uma decisão mais acertada.

m) Percepção

Um perito deve ser capaz de extrair de uma situação informações que outros não
conseguiriam perceber. A sua forma de decidir deverá ser superior, devido a sua capacidade
de reconhecimento e avaliação de situações difíceis e confusas.

n) Aperfeiçoamento

Um perito deve procurar desenvolver suas habilidades, para que possa utilizar todas as
estratégias com o objetivo de obter a melhor solução para o problema.

o) Aparência pessoal

O perito deve cuidar de sua aparência pessoal, de forma a transmitir a imagem de que é
um bom profissional na execução de suas tarefas periciais.

p) Solução de problemas

O perito deve saber quais problemas devem ser resolvidos inicialmente e quais devem
ser deixados para depois.

q) Simplificação

O perito deve saber dividir um problema complexo em problemas menores, de maneira


a simplificar algo que seria aparentemente sem solução.

r) Auto-confiança

O perito deve ter e fazer transparecer conhecimentos sólidos de sua área de atuação,
transmitindo confiança em suas decisões.

s) Tolerância ao estresse

O perito deve ser capaz de tomar boas decisões, mesmo sob condições de estresse, e
mais que isso, deve ser capaz de prosseguir, ainda que as condições de estresse aumentem,
para o que deve estar treinado em estratégias de superação.

t) Bom-humor e simpatia

O perito, em algumas atividades, lidará muito com o público, necessitando relacionar-se


bem com as pessoas, transmitindo uma boa imagem de sua atividade.
73

As características relacionadas acima não são somente importantes no desenvolvimento


dessas habilidades, mas principalmente na seleção de recursos humanos que trabalharão como
peritos. E para treinar pessoas que irão executar atividades perigosas e especializadas,
necessitamos de compreender qual ou quais desses aspectos devem ser mais enfatizados.

2. Os modelos mentais e a atividade pericial

Johnson-Laird nos diz que esses modelos são construídos a partir de nossa experiência e
que funcionam de modo semelhante a como seria feito em um modelo computacional de um
fenômeno físico. Por exemplo, se alguém nos diz: “Naquela turma da Faculdade, os
estudantes são inteligentes”, formaremos uma imagem representativa de alunos inteligentes e
não de alunos com dificuldade de aprendizagem. O conteúdo dessa representação afetará a
integração do significado de qualquer informação posterior que faça referência ao mesmo
contexto e determinará as inferências posteriores que possamos fazer.

Porém perguntarão: Em que isso se relaciona com a atividade pericial? Sabemos que,
com o desenvolvimento de nossas atividades periciais, vamos acumulando uma quantidade de
conhecimentos que nos auxiliarão no desenvolvimento de nossas tarefas cotidianas. No
entanto, determinadas tarefas requisitarão de nós uma maior reflexão sobre como iremos
trabalhar ou como não deveremos trabalhar. E nesse momento, necessitamos ter a
conscientização de integrarmos novas informações e de sabermos quais as informações em
nosso arquivo de memória não serão utilizadas.

Através do conhecimento de qual é o nosso modelo mental, poderemos estar


previamente conscientes de qual será o nosso julgamento prévio a respeito de determinados
eventos, como também saberemos qual é efetivamente o nosso repertório de conhecimentos
relacionado com a atividade que iremos desempenhar.

Peter Senge no seu livro A Quinta Disciplina nos diz que é importante compreender que
os modelos mentais são ativos, moldando a nossa forma de agir. Caso tenhamos a crença de
que não se pode confiar nas pessoas, teríamos um comportamento diferente se pensássemos
que as pessoas são dignas de confiança. Se eu possuir a crença de que não possuo os
conhecimentos suficientes para realizar a tarefa que me foi atribuída, por mais que tenha tido
o treinamento adequado e tenha obtido um resultado bom, não conseguirei atingir os objetivos
pretendidos.
74

O problema consiste em termos consciência do que eliminar. O estudo das


características dos modelos mentais poderia fornecer-nos essas respostas, porém achamos que
isso comportaria um outro trabalho mais profundo para discutirmos todas as considerações.
Poderíamos dizer que os modelos mentais se resumem :

a) Nas restrições imediatas de aplicação – essas restrições estão determinadas pelo


princípio de computabilidade: o usuário do sistema cognitivo pode utilizar os modelos que
possam auxiliar a solução de problemas; o princípio de finitude: o modelo mental terá um
tamanho finito não podendo representar um domínio infinito e o princípio do construtivismo:
os modelos mentais são compostos de unidades simples que se combinam para representar
estados de coisas.

b) Nos processos implicados em sua construção e interpretação – é direcionado pelo


princípio da economia: um determinado fenômeno é representado – pelo modelo mais
simplificado, ainda que a descrição fique incompleta. Isso significa que os modelos mentais
possuem capacidade de atualizarem-se acrescentando detalhes à representação originalmente
formulada.

c) No que pode e o que não pode representar-se em forma de modelo mental – é regido
pelo princípio de predicabilidade: um predicado pode aplicar-se a todos os termos aos que são
aplicados em outro, sem que os seus graus de aplicação sejam os mesmos. Por exemplo: As
palavras vida e humanidade se aplicam a algumas referências comuns, pois todos as coisas
que são consideradas seres humanos são seres vivos, mas nem todos os seres vivos são seres
humanos.

d) Na sua estrutura – podemos dizer que todos os modelos mentais são estruturalmente
idênticos aos estados de coisas que representam.

e) Na restrição conceptual – levando-se em consideração que um conjunto se compõe de


outros conjuntos, logo os membros desses últimos deverão estar especificados previamente.

Os modelos mentais podem ser divididos em modelos físicos e abstratos (conceituais).

Embora não existam muitas pesquisas sobre os modelos mentais, existem propriedades
importantes que são comumente aceitas, tais como as representações. Primeiramente, um
modelo mental se constrói linearmente e guia o processamento da informação de entrada.
Segundo, incorpora a informação da situação e da memória, isto é, integra informação nova e
antiga. Terceiro, os modelos mentais são representações que contêm representações
75

particulares de objetos concretos. E quarto, os modelos mentais consolidam relações distintas


entre marcas diferentes contidas na representação, de modo analógico.
76

CAPÍTULO V
MÉTODOS DE CRIMINALÍSTICA

Na justiça, cada vez ocorre a tendência para substituição das provas testemunhais, ou
provas circunstanciais, pela prova material, a prova dos próprios fatos, que, em si, é mais
precisa, mais exata. A razão disto é porque, realmente, embora sejam os homens que cometem
os crimes, fazem-no sempre por ou com coisas consideradas como intermediárias
(ferramentas do crime): são essas coisas (que, assim, passam a ser indícios) que então
constituem a tal prova dos fatos a que dizem respeito.
Às vezes, os indícios são evidentes, mas essa evidência exige sempre um controle; na
maior parte dos casos, é preciso procurá-los: a busca ou controle são possíveis sobretudo
pelos meios do laboratório ou equipamentos.
O conhecimento para ser reconhecido como ciência tem que ser submetido a um
método. Daí a importância do método ou dos métodos criminalísticos.

I. O método criminalístico (GONZALEZ, 2006; KAVALIERIS, 2003, GARDNER, 2012)

O método geral de averiguação científica da prova baseia-se em dois princípios: a


similitude e a probabilidade, visando ambos atingir a identidade e a proximidade da certeza.
A similitude é, sobretudo, de ordem qualitativa; constitui a base essencial de
averiguação: como os efeitos - quando se devem à mesma causa - são semelhantes, é através
de um sistema de comparações, de todos os pormenores significativos nos efeitos, que essa
similitude redunda na identificação da causa comum (por exemplo: os riscos e as estrias dos
projéteis disparados pelo mesmo cano). A avaliação de determinado conteúdo de linguagem
de carta anônima pertencer a determinada pessoa suspeita.
A probabilidade é, sobretudo de ordem quantitativa; domina o problema da passagem
da similitude dos efeitos para a identidade das causas. Apresentam-se numerosas gradações, a
última das quais será a certeza: nela, tudo depende da estatística, isto é de probabilidade.
Logo, deve-se buscar reduzir os riscos aumentando o grau de certeza da investigação. O
pensamento probabilístico possui grande resistência pelos Peritos e operadores do Direito em
razão da falta do entendimento do que seria ciência.
A averiguação quer seja qualitativa ou quantitativa, interessa-se especialmente pelas
singularidades (anomalias, impurezas, resíduos) características.
Quais são os procedimentos desse método?
77

Podemos decompô-los em várias fases:


1º A classificação, trabalho preliminar, permite a seleção e a seriação das operações
consoante os recolhimentos, devidamente inventariados, numa fase simultaneamente anterior
e exterior ao laboratório. Esta atividade inicial é determinante para as outras fases .
2º A observação não é unicamente o fato de olhar e perceber, pois só se vê aquilo para
que se olha e percebe e muitas vezes não se consegue perceber. Por isso, a observação já
subentende uma antecipação em relação à fase seguinte - a hipótese - com a diferença de que
ainda é vaga e ainda não foi interpretada: é descritiva e mais nada, com toda a objetividade e
imparcialidade.
3º Em seguida, a hipótese apela para a imaginação, gerando possibilidades e
probabilidades, com uma imaginação disciplinada, absolutamente adaptada e integrada nos
fatos.
Finalmente resta a fase de verificar essa hipótese e isso já é o trabalho do laboratório
que, por exemplo, vai controlar as possibilidades de sentido, de distância e de incidência de
um esguicho de sangue numa parede ou ainda de um tiro num carro.
A investigação vai começar por analisar claramente os dados da observação e
percepção, enquanto a hipótese se limitará a sintetizá-los, de modo confuso: serão utilizados
todos os métodos especiais para se poder garantir a confiança atribuída aos resultados da
investigação.
Quanto ao raciocínio - durante ou no fim da investigação - não se pode reduzir a um
único e mesmo andamento evolutivo, universal e perpetuamente aplicável; é que,
efetivamente, cada tipo de ciência tem o seu modo de raciocínio.

Sistema de Criminalística

Conceitua-se sistema como o conjunto de partes conectadas ou qualquer entidade,


conceitual ou física, composta de partes inter-relacionadas, interatuantes ou interdependentes
(Von Bertalanffy). Sistema pode ser conceituado também como um conjunto de elementos,
materiais ou não, que dependem reciprocamente uns dos outros, de maneira a formarem um
todo organizado.
78

É por meio da organização que partes de um sistema se influenciam mutuamente


mediante um processo de autocontrole, destinado a manter a existência de outras partes do
sistema como a de si mesmas (Ackoff).

Quando nos dispomos a formar instituições ou organizações, impomos ordem ao caos.


Intervimos em uma situação dinâmica já regulada por leis próprias, de forma que procuramos
desenhar uma arquitetura .

A capacidade de diagnosticar o problema das organizações se fundamenta na


compreensão da interação de sistemas. Necessariamente, em primeiro lugar, temos de
determinar as características operacionais do sistema, obter a compreensão de sua estrutura e
das relações entre os elementos interdependentes. Todos os sistemas estão orientados por
objetivos. A definição de metas e os ajustamentos necessários, para coordenarem os múltiplos
objetivos dos numerosos sistemas e subsistemas de uma organização, tornam penosa e difícil
a tarefa do gestor. Para que ele possa avaliar as novas políticas e procedimentos e testar a
sensibilidade das reações dos sistemas a possíveis mudanças, cabe aplicar, entre outros,
alguns conceitos básicos como os a seguir expostos (Moynihan).

Todo sistema possui três elementos fundamentais:

• a entrada (input), impulso ou insumo;

• o processo, ou mecanismo de processamento; e

• a saída (output), produto ou resultado.

Em uma organização, as entradas são representadas pelas demandas, solicitações,


exigências e necessidades, que constituem o componente estimulador ou iniciador com o qual
o sistema opera. As saídas são os resultados de um processamento de operação, tais como
decisões políticas, diretrizes, bens, mercadorias ou serviços (Laudon & Laudon).

Para caracterizar um sistema, quanto à existência de correlação entre seus componentes,


há um outro parâmetro essencial: feedback ou retroalimentação, que compara a saída com
79

critérios estabelecidos anteriormente; feedforward, que utiliza as informações de forma


proativa.

Além do controle por feedback (retroalimentação), o sistema está sujeito a outras


condições de controle. Assim, o controle é exercido sobre o processo e seus elementos de
entrada e saída. A partir de uma proposição para a qual o sistema foi criado, é exercido um
permanente controle sobre as entradas. As restrições são os meios de limitar a utilização de
recursos na obtenção de resultados (saídas) otimizados, sendo os gargalos nos quais podem
ser criados obstáculos ao desempenho organizacional (Goldratt & Cox).

As funções de controle, em relação ao mecanismo processador, poderão ser internas ou


externas ao próprio processo. No primeiro caso, o controle de entrada permitirá ao
processador sujeitar à operação do sistema qualquer entrada que não esteja adequada. No
segundo caso, o controle tem uma função de monitorar, através de critérios estabelecidos pelo
usuário, como vimos nas restrições.
80

Podemos dizer que não há sistemas fora de um meio específico (ambiente). Os sistemas
existem sempre em um meio e por esse meio são condicionados para a sua funcionalidade.

A primeira condição ambiental é a fronteira, dentro da qual deve operar o sistema.


Define-se o meio (ambiente) como o conjunto de todos os objetivos que, dentro de um limite
específico, se possam conceber como tendo alguma influência sobre a operação do sistema
(Moynihan).

Completamos, assim, a figura, colocando o sistema dentro de um ambiente (ou


contexto).

Finalmente, no módulo diagramático de sistema apresentado abaixo, de forma resumida


e esquemática, identificamos as áreas-chave finais do processo de análise de sistemas: o
problema, os recursos, os objetivos e as informações.
81

A ausência de informação ou de feedback pode impedir a renovação dos


produtos/serviços da organização, criando uma tendência para a sua autodestruição. Esta
tendência chama-se entropia.

O fenômeno oposto à entropia denomina-se homeostase. Através da homeostase


dinâmica, o sistema ajusta-se às modificações do ambiente, o que lhe propicia condições
favoráveis de crescimento e de expansão.

A filtragem de entrada e do feedback é uma conseqüência da ação do meio ambiente.


Assim, o filtro, colocado de forma a cruzar a entrada e o feedback, atua para admitir certos
elementos do sistema no processo, ao mesmo tempo que mantém outros elementos fora.

Na área de estrutura de sistemas, seria desejável contar com filtros que permitissem a
entrada de todos os insumos válidos e de valor, rejeitando automaticamente os que não são
válidos ou que não têm valor. Desta forma, estaríamos criando a possibilidade de termos uma
otimização de valor agregado ao sistema (Laudon & Laudon).

Como ilustração para essa breve exposição sobre o processo de análise de sistemas,
reproduziremos um exemplo de esquema analítico que leva do problema à solução,
considerando-se, preponderante, a possibilidade ou não de tratá-lo de forma total ou parcial.

Outro exemplo ilustrativo na aplicação de processos de análise de sistemas pode ser


visualizado no esquema a seguir, em que se dá ênfase à escolha de alternativas para a solução
de problemas.

Fundamentação científica da criminalística (JESUS, 2007)

1. Explicação Científica

a) Objetivo da Ciência: ter contato com certos fenômenos e explicar como e porque
acontecem para poder prever sua ocorrência.
Trabalha com probabilidade, racionalmente tanto na análise quantitativa quanto na análise

qualitativa. Ocorrerão sempre variáveis que não podem ser medidas.


82

Quantitativa  estatística (instrumento).


Qualitativa  lógica (instrumento).

b) Explicação Científica: é um modelo de conhecimentos teóricos para sustentar uma


teoria ou explicar um fenômeno ou fato presente ou passado.

MÉTODO HIPOTÉTICO – DEDUTIVO (Popper)


EXPLICANS (teoria)
CONCLUSÃO
HIPÓTESES
 DEDUÇÃO INDUÇÃO 
de observação
EXPLICANDUM (fatos)

“A profundidade de uma teoria científica parece estar mais estreitamente relacionada
com sua simplicidade e, assim, com a riqueza de seu conteúdo. ”(Popper)
O objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias que será dificilmente
compreendida se for realista. A explicação satisfatória é ampla e bem entendida,
necessitando possuir um entendimento mais profundo e principalmente de forma crítica.
Nada assegura o tempo em que a explicação poderás continuar sendo satisfatória para o
problema.
c) Formas de Explicação
- Nomotética (genérico) – normas – básico – maior grau
de previsão – análise quantitativa.
1) Nível Preditivo - Idiográfica (específico) – caso – aplicada – análise
geralmente qualitativa.
2) Formas de explicação
- ambientalistas
 Variáveis do Sistema - organicistas
- interativas
83

- dedutivas – teórica, preocupa c/ a predição,


nomotética.
 Esquema de Explicação - indutivas – empirismo, derivada da observação.
- genéricas – desenvolvimento geral.
- funcionais – causas finais (objetivo), estru-
turalista.

* Qual o critério mais importante da Teoria de Popper? – Falseabilidade. O


conhecimento científico tem que ser falseável.

3) Conhecimento Objetivo

Popper
Divisão de mundo
a) mundo 1 – mundo material – estados materiais (positivismo).
Mediação b) mundo 2 – mundo mental – estados mentais (subjetividade).
c) mundo 3 – mundo dos inteligíveis – teorias, idéias no sentido obje-
tivo (pensamentos possíveis).

MODELO DE POPPER

hipótese a ser conservada outro


problema teoria experimental eliminação de erro problema
P1 TT EE P2
outro problema
falseabilidade
84

PROCESSO METODOLÓGICO

1. Condições da Hipótese:

 devem ser claras e compreensíveis;


 os termos devem possuir uma realidade empírica;
 devem ser suscetíveis de uma verificação mediante o emprego de técnicas acessíveis;
 devem ser específicos ou capazes de especificação;
 devem estar de acordo com as teorias precedentes;
 devem ter um alcance genérico;
 devem oferecer uma resposta provável ao problema.

2. Tipo de Hipótese segundo:

- de sentido comum (vulgar).


a) Natureza - de trabalho (referente à uma pesquisa determinada;
tem - científicas objetividade de explicar).
tem um objeto - teóricas (interação entre variáveis – descrever).
de avanço científico
- metafísicas (não tem como contrastar – ex.: espiritual).

- apenas uma variável .


b) Estrutural - associação ou covariância (uma independe da
- de duas variáveis outra; não existe relação; correlação positiva ou
negativa; variam em sentidos opostos).
- dependência (uma hipótese depende da outra)
- multivariável – mais de 2 variáveis.
85

- atributiva - um sujeito.
- simples - relacional - vários sujeitos (sujeitos em relação
sujeitos; variáveis em relação a variáveis).

c) Forma Lógica - copulativa – união de idéias.


Lingüística - composta - alternativa – ou.
(estrutura lingüística) - disjuntiva – idéias separadas.
- condicional – se... então.

- singular – um indivíduo.
- particular – amostra.
d) Generalidade - universal limitada – toda uma população.
- universal estrita – sem limites.
- principais - substantiva

e) Função - subhipóteses - validez (reforçar, corroborar a idéia


auxiliares de principal).
- generalização
3. Dicas para Determinação de Hipótese

 Exame da literatura existente (teoria). Nada mais prático do que uma boa teoria;
 Discussão em grupo;
 Entrevista com pessoas interessadas no tema;
 Entrevista com fontes primárias.

II - Os métodos ( JAMES;NORDBY, 2009; CECCALDI, 1962)

Os métodos especiais de investigação científica da prova tratam-se de métodos que


habitualmente empregam-se nos mais variados domínios científicos, quer se trate das ciências
fundamentais ou das ciências aplicadas - só se adaptam aos casos de espécie - e é nessa
86

faculdade permanente de adaptação, que reside todo o valor de um laboratório de


criminalística.
Exigências - sejam quais forem os métodos utilizados, é necessário tomar em linha de
conta a sua sensibilidade e a sua especificidade; a sua simplicidade e rapidez são apenas
acessórias, pois nada deve ser poupado para a garantia do resultado, conforme também os
recursos disponibilizados, dentro dos limites de recursos disponíveis.
Em todos os casos, há vantagem em utilizar simultaneamente, vários métodos cujos
resultados se compararão ou completarão, de modo a garantir-lhes o controle recíproco e
evitar o engano, esse constante receio do perito em razão da força que possui o laudo pericial
em uma tomada de decisão.
O conhecimento quantitativo, por exemplo, implica medidas para a sua expressão em
valor numérico; ora, comportará sempre uma certa incerteza, pois uma medida é uma
realização humana que nunca poderá atingir a perfeição, pouco compreendida pelos peritos ou
operadores do Direito.
Os enganos que se involuntariamente introduzem-se nas medidas, podem ocorrer
devido a várias causas:
4. a) causas experimentais, devidas ao método, que não pode deixar de negligenciar
vários fatores, desconhecidos ou inevitáveis;
5. b) causas instrumentais, devidas à, forçosa imperfeição dos instrumentos, que têm
falta (seja a que ponto for) de sensibilidade, de especificidade, de fidelidade, em
resumo, de exatidão;
6. c) causas individuais, devidas ao fator humano, cuja habilidade e acuidade, se
encontram inevitavelmente sujeitas a algumas variações - por mais ínfimas que
estas sejam - de origem fisiológica ou psicológica;
7. d) causas acidentais, finalmente, devidas unicamente ao acaso do momento ou do
local, que são denominadas de variáveis latentes.

Todas estas causas, por mais previsíveis que sejam no seu conjunto, são imprevisíveis
em pormenor e dão origem a vários gêneros de enganos, que é necessário avaliar, seja pelo
cálculo algébrico ou pelo cálculo estatístico.
Comparação - estas dificuldades, variadas e flutuantes, poderiam tornar estéril a
averiguação melhor conduzida; mas, a maioria dos problemas podem ser resolvidos por um
estudo comparativo, desde que se adquira a convicção de que são comparáveis, tanto mais
que, quando as peças ou os fatos a comparar não são fornecidos pelo inquérito.
87

Este método de comparação, absolutamente generalizável, permite evitar muitas


dificuldades - permite substituir uma averiguação prolongada e aprofundada (para não dizer
sem esperança, por vezes) pela averiguação sistemática de alguns caracteres comuns,
suficientemente significativos. Por vezes, até, esses caracteres comuns não são nem
cientificamente bem conhecidos nem mesmo conhecíveis; mas, pouco importa, pode bastar
que sejam comuns, para que seja possível estabelecer uma relação qualitativa válida entre os
dois termos de comparação; as dificuldades de aplicação dos métodos quantitativos também
se evitam, deste modo, a comparação substitui quantidades absolutas por quantidades
relativas, com igual valor probatório, por exemplo, para a avaliação de uma distância de tiro
(pela marca de pólvora ou do orifício de entrada de um projétil).
Desta maneira, procedendo por comparação, podem confrontar-se, da melhor maneira
possível, os resultados da peça de presunção com os da peça de comparação, quer esta tenha
sido apresentada pelo inquérito ou obtida pela experiência: similitude e probabilidade têm,
então, todas as possibilidades - na medida do possível, evidentemente - para atingirem a
identidade e a certeza, através do método de comparações estatisticamente significativas.
As vantagens deste procedimento são tais que, em Criminalística, o investigador
procurará sempre reduzir o problema apresentado a um problema de comparação: a
escolha dos métodos é, nesse caso em função das relações que devem ser estabelecidas, o que
não exclui, muito pelo contrário, verificações e complementos por métodos diferentes.
Por fim, ainda se podem atenuar os riscos de enganos, devidamente calculados,
exprimindo os resultados por meio de curvas ou tabelas de médias, de percentagens e de
coeficientes. Estes resultados embora não sejam de alto resultado podem em conjunto com
outros meios de prova contribuir para uma tomada de decisão.
Quais são as condições gerais da criminalística que, eventualmente, permitiriam
estabelecer um julgamento de valor sobre um ou outro desses métodos?
Se se pretender tentar (com quantas dificuldades!) determinar os critérios do melhor
método para resolver um problema criminalístico, é necessário começar por se considerar dois
dos seus aspectos: o teórico e o prático.
1. Teoricamente, um método deve tender, como já demonstrado, para a maior
sensibilidade ao mesmo tempo, que para a maior especificidade; ora, esses dois
objetivos raramente se podem conciliar, porque quanto mais sensível é um método,
mais perturbável ele é do ponto de vista qualitativo e menos específico se torna;
inversamente, quanto mais específico é um método, mais exigente ele pode ser do
ponto de vista quantitativo e menos sensível se torna. É necessário então, um
88

balanceamento para utilizarmos o método que melhor atenda o custo/benefício


para obtenção da prova material.
2. Na prática, é preciso saber transigir ou, de preferência, compor, equilibrando as
reações de forma a obter delas as melhores garantias recíprocas.
Sendo assim, pode-se dizer que os métodos, na investigação em criminalística,
adquirem, no plano técnico, todo o seu valor através da comparação: comparação entre eles e
comparação entre interrogação e controle, que se devem comparar e completar, cada um deles
contribuindo com o seu próprio coeficiente de especificidade e de sensibilidade, em suma, de
segurança: é desse conjunto de resultados (cujo erro sempre se pode controlar) que resultará a
avaliação final da certeza de identidade.

1- Métodos ópticos

A fotografia ou imagem digital é a base de todas as atividades do laboratório de


criminalística. Por meio da fotografia pode-se avaliar criticamente as informações contidas.
Podem ser :

1. sinalética, para a reprodução dos traços dos indivíduos fichados: é feita


segundo rigorosas normas de focagem, de perfil, de frente (e de pé) e de
redução constante;
2. geométrica, para a restituição dos locais de crimes: pode ser mais sofisticada,
no sentido das possibilidades de reconstituição precisa e exata das coordenadas
espaciais de dimensão e de situação, dos objetos ou das pessoas (fotografia
métrica, croquis);
3. documentária, para apresentar no dossiê policial ou judiciário as provas
materiais do crime: serve para fixar o estado em que se encontram quando são
recebidas no laboratório. Destacando-se neste, a cadeia de custódia;
4. comparativa, para a demonstração da identidade ou da comunidade de origem:
deve ser realizada em condições rigorosamente comparáveis de ampliação e de
iluminação.

É, sobretudo neste último caso que a fotografia recorre a diversos modos operatórios,
mais ou menos especiais, tais como os que passamos a descrever.
89

Por reflexão, no domínio do visível e do latente (invisível), é a fotografia, no sentido


mais generalizado: registra-se, numa chapa ou numa película, a imagem de superfícies ou de
volumes sobre os quais se refletiu a luz incidente - na realidade, há diversas técnicas que
permitem melhorar as imagens obtidas e descobrir pormenores imperceptíveis à observação
vulgar, especialmente hoje com a fotografia digital.
Assim, no domínio do visível, o máximo de nitidez e de clareza de pormenores
consegue-se utilizando uma luz monocromática (azul de mercúrio ou amarela de sódio).
A reflexão podem eventualmente, combinar-se a filtragem, a difusão e a polarização
da luz, todos esses métodos podendo, além disso, associar-se de várias maneiras, entre eles.
A filtragem, pela seleção das radiações, pode ser útil para anular certas cores a fim de
aperceber pormenores que elas escondem.
A difusão, por exposição sob luz tangencial (ou, pelo menos, sob um ângulo mínimo),
põe em relevo as mais ínfimas ondulações de uma superfície, através de um jogo de sombras
que, em muitos casos, permite obter um aspecto mais evidente das imperfeições, anomalias ou
particularidades, e revelar pormenores que, de outro modo, nem se poderiam imaginar.
A polarização, utilizando filtros polarizantes, permite anular - no caso de serem
inconvenientes - ou provocar - no caso em que possam ser desejáveis - reflexos devidos às
superfícies ou aos volumes, assim como às iluminações.
No domínio do invisível, também se pode fotografar por reflexão: os raios
ultravioletas e infravermelhos (ambos de natureza ondulatória) .
Por transmissão, explora-se a transparência do objeto - que é função da sua estrutura,
densidade e espessura. Mais ainda que no domínio do visível, é no domínio do invisível
(infravermelho, raios X) que se pode chegar ao grau de penetração desejado: nestes casos,
trata-se mais de uma silhueta que de uma imagem propriamente dita.
Por emissão, no domínio do visível, é preciso citar a fotografia de luminescência -
fluorescência ou fosforescência.
No que se refere à fluorescência (emissão luminosa que cessa com a excitação), o
objeto é “iluminado” por radiações ultravioletas invisíveis; mas, a luz que ele reflete é
bastante visível e não necessita de dispositivos especiais para a sua fotografia, a não ser a
filtração das radiações ultravioletas excitadoras que, em parte, são refletidas, o que iria
perturbar a pureza do fenômeno se fossem registradas ao mesmo tempo. Essa fluorescência,
tanto pode ser espontânea - e nesse caso basta irradiar - ou ter de ser provocada, pelo prévio
revestimento com uma substância fluorescente que se localizará nos mínimos defeitos da
superfície a explorar.
90

Para a fosforescência (emissão luminosa que se mantém depois da excitação), a


técnica é análoga.
No domínio do invisível, a auto-radiografia permite a detecção e a localização de
elementos naturalmente radioativos ou artificialmente radioativados (é o mais interessante,
neste caso), e isso por intermédio da impressão fotográfica devida às radiações , ,  que,
nessa altura, esses elementos emitem.
Geralmente, a fotografia já é uma seleção: comporta, pois, em si, um elemento
intencional ou interpretativo que é contrário à objetividade e à imparcialidade que seríamos
tentados espontaneamente a reconhecer-lhe: a sua própria focagem deixa todo o contexto
ignorado, tanto no espaço como no tempo - por conseguinte é no fotógrafo que residem a
objetividade e a imparcialidade e não na fotografia que pode ser submetida a toda a espécie de
modificações.
Se aos valores (fotografia a preto e branco) se combinarem cores, as possíveis críticas
ainda se agravam: efetivamente, a cor não tem nada de absoluto e, como a composição, a
intensidade e a incidência da iluminação podem transformar-se em artifícios de investigação -
como já vimos -, essas variantes intencionais podem vir a dar consistência a tendências
interpretativas, mais tarde.
Sendo assim, as condições exigíveis para a cor são de exatidão e de precisão, por um
lado, e de inalterabilidade e de reprodutibilidade, por outro: mas, tanto umas como as outras
são difíceis de garantir tecnicamente.
Mas, há escalas, nessas exigências, consoante a representação que se pretende (um
“ambiente” não precisa das mesmas garantias de colorido que um “objeto”, prova material de
culpa cuja cor seria justamente o ponto particular do litígio) e também consoante a utilização
que se pretende fazer da fotografia (constatação policial ).
Todos estes fatos dão origem ao problema da credibilidade e da admissibilidade da
fotografia a cor na qualidade de prova.
A microscopia consiste na observação do infinitamente pequeno através dos
microscópios (do microscópio simples, ou lupa, ao microscópio eletrônico) que permitem
atingir, graças à ampliação que dele dão, o conhecimento de coisas ou fatos que se vêem mal
ou que são invisíveis a olho nu.
O microscópio mais simples, a lupa, permite atingir ampliações de 15 a 40 vezes.
O microscópio composto, ou microscópio vulgar, contém dispositivos ópticos
complexos (para a iluminação e a observação dos objetos microscópicos), apoiados por um
dispositivo mecânico de grande estabilidade e de alta precisão.
91

O poder do microscópio vulgar encontra-se limitado pela existência de fenômenos


paralelos e parasitas (fenômenos de aberrações de esfericidade e de cromicidade, fenômenos
de difração por interferências) cuja correção - por supressão ou compensação - determina a
qualidade do aparelho quanto ao seu poder de resolução (grau de perfeição segundo o qual o
aparelho permite distinguir com nitidez); mas, por maior que seja a perfeição atingida, o
poder do microscópio continua a estar condicionado por imperativos de iluminação, de
refração e de angulação, que fazem que não se consigam ultrapassar utilmente ampliações de
cerca de 1000 diâmetros.
Através deles, podem-se praticar várias espécies de observações:
 por transmissão dos raios luminosos através dos objetos que são
suficientemente transparentes para isso - em caso de necessidade,
previamente ajustados por pressão, cortados por secções ou clarificados por
um tratamento físico ou químico;
 por reflexão dos raios luminosos na superfície dos objetos excessivamente
opacos ou excessivamente espessos para poderem ser atravessados;
 ou por difração dos raios luminosos sobre objetos que assim ficam
indiretamente visíveis (microscópio de iluminação em fundo escuro,
impropriamente designado por “ultra-microscópio”).

A estas observações é possível adaptar vários modos de utilização que, além disso, se
podem combinar entre si; por exemplo:

 a contraste de fases, ou as interferências, permite a observação de objetos


transparentes e incolores, geralmente pouco visíveis;
 a polarização, que, através de um dispositivo polarizador e de um
analisador, permite inúmeras informações sobre os objetos microscópicos
de estrutura molecular orientada;
 a fluorescência, que completa o exame de objetas que fluorescem
naturalmente, ou depois de ações de fluorocromos, sob iluminação
ultravioleta.

Toda esta microscopia, independentemente da sua finalidade essencial que é a


observação, permite aplicações que a completam: micro-comparação (por justaposição ou
sobreposição), micromensuração (em comprimento, em espessura, em angulação),
92

micromanipulação (através de recolhimento de partículas, seleção, etc.) e, finalmente,


microfotografia, a preto e branco ou a cores.
O microscópio eletrônico responde, nas mesmas bases teóricas, a condições técnicas
absolutamente diferentes, utilizando os raios catódicos e as ondas curtas e associadas, para dar
- num écran fluorescente - imagens dos objetos observados - os procedimentos de preparação
são especiais, necessitando, às vezes, do estabelecimento de réplicas, quando esses objetos
não se podem observar diretamente.
Através da fotografia, é normal ultrapassarem-se ampliações especiais da ordem dos
200 000 diâmetros e mais.
A espectrometria consiste no estudo e na medida dos “espectros”, um espectro
representando um conjunto decomposto de radiações elementares que resultam dos caracteres
ou das modificações ópticas de uma luz visível ou de radiações invisíveis, emitidas, detidas
ou reenviadas por uma determinada substância, sob diferentes condições.
Esse espectro, tanto pela sua localização como pela amplitude das suas ondas,
corresponde à expressão simultânea de um grande número de propriedades variadas,
características de uma substância que se pode encontrar, sob diversos estados, em meios
complexos, em diluições extremas, não deixando por isso de conservar a sua individualidade
absoluta.
O habitual respeito pela integridade das substâncias submetidas ao seu exame (e assim
a possibilidade de ulteriores controlas) fazem que os métodos espectrométricos constituam um
sistema analítico de escolha, tanto quantitativamente como qualitativamente, de uma
sensibilidade e de uma especificidade simultaneamente garantidas.
Na base dos vários métodos, encontram-se três fenômenos ópticos: a emissão, a
transmissão e a reflexão - das suas adaptações ou combinações resultam vários tipos de
técnicas utilizando as diversas radiações visíveis ou invisíveis, estando essas radiações, em
cada uma das suas gamas, ou no estado isolado e definido (monocromático), ou no estado
contínuo e ordenado (policromático).
Assim, a espectrometria de emissão recorre:

 ou à incandescência dos corpos, sob a ação da descarga contínua ou


intermitente do arco, ou da descarga disruptiva e instantânea da faísca;
 ou à sua fluorescência secundária a uma irradiação ou a um
bombardeamento (fluorescência X).
93

A espectrometria de transmissão baseia-se na absorção - por uma substância - das


radiações visíveis ou invisíveis (ultravioletas ou infravermelhas) que transmite desigualmente
mas especificamente.
Quanto à espectrometria de reflexão, esta oferece duas possibilidades:

 ou a multirreflexão em direções variáveis: é a difusão, particular (efeito


Tyndall) ou molecular (efeito Raman);
 ou a multirreflexão em direções privilegiadas: é a difração, especialmente
dos raios X e dos electrões.

Dispõe-se, por conseguinte, de uma grande variedade de possibilidades, ficando a


escolha do método dependente da natureza da informação pretendida (análise elementar,
funcional ou estrutural) quanto à substância estudada.

2 - Métodos biológicos

A citologia, ciência da célula, pode ter aplicação em muitos casos na criminalística.


Ora se limita a averiguações unicamente formais, auxiliadas por colorações gerais, por
tinturas que se aproveitam das afinidades desiguais e, por vezes, seletivas, dos constituintes
celulares - ora leva a investigação até ao conhecimento estrutural e composicional dos
constituintes das células, por meio de reações especiais, no respeito do lugar e da forma
desses constituintes (citoquimica, citohistologia).
Qualquer uma destas averiguações visa permitir a identificação das células e, por
conseguinte, a sua proveniência orgânica - como, por exemplo, a de uma mancha ou de um
vestígio: de fato, não se pode fazer esse diagnóstico baseado numa única célula; só é possível
fazê-lo estudando várias células, e em conjunto, pois, para reconhecer um órgão, a
constituição e a disposição dos seus tecidos em células são, pelo menos, tão importantes como
a conformação dessas mesmas células.
É costume, na seqüência normal das investigações, que - depois de ter sido
demonstrado que uma mancha ou um vestígio são de esta ou daquela substância ou
proveniência se procure saber se se trata de um vestígio humano ou animal e (no caso de se
tratar de um vestígio humano) a que grupo pertence.
A imunologia ajuda a resolver esses problemas.
94

A procura da origem, humana ou não, e dos vestígios (manchas ou estilhaços) baseia-


se nas leis da especificidade zoológica - das proteínas (albuminas e globulinas, sobretudo) que
são próprias a uma determinada espécie; neste caso, trata-se, sobretudo de reações antigéneas-
anticorpos entre espécies, mais que de reações entre indivíduos.
Nestas bases, são possíveis vários métodos, entre eles exigindo a intervenção de um
animal especificamente tornado “anti-homem”.
Consoante o tipo dos problemas que se apresentam, utilizar-se-ão: os soros
precipitantes (em tubos ou depositados sobre uma placa), o desvio do complemento, a
inibição da antiglobulina, a hemaglutinação passiva, a imuno-electroforese - de caracteres
muito variados e cuja sensibilidade, especificidade, simplicidade e rapidez têm de ser
consideradas em função do resultado pretendido: de fato, tendo cada uma delas os seus
méritos e os seus defeitos, é sempre de desejar uma “série de testes”.
A procura da origem grupal conduz a resultados que apenas têm um valor relativo a
um grupo de indivíduos e não a um único indivíduo - a não ser que seja negativa em relação a
esse indivíduo, e, nesse caso, tem valor absoluto de exclusão.
O “grupo” é idêntico, no que se refere ao sangue, à saliva, ao esperma, ao suor, ao
leite, etc., no mesmo indivíduo, se ele é “secretor”, o que é o caso de apenas 80% da
humanidade: por conseguinte, o grupo é uma característica, simultaneamente geral e
particular, dos humores ë dos tecidos de um organismo.
Em criminalística, limitamo-nos, geralmente, aos grupos principais, devido às
condições -frequentemente muito desfavoráveis - de apresentação ou de conservação do
sangue e das secreções que se encontram.
A utilização desses grupos baseia-se em duas certezas: conservam-se absolutamente
imutáveis durante toda a existência do indivíduo, desde antes do nascimento até para além da
morte, e têm uma hereditariedade regular, só podendo apresentar-se quando se encontram
presentes num dos pais - isso, segundo heranças independentes, em dominância ou em
recessão, de onde resulta uma infinidade de combinações possíveis (com fenótipos e
genótipos) exploráveis para a identificação grupal de um indivíduo.
A investigação, quer se efetue em tubos ou numa placa, deve interessar-se pelas
aglutininas e pelos aglutinogênios, fundamentos recíprocos dessa identidade.
A averiguação das aglutininas é a mais difícil, devido à sua instabilidade: aglutinação
dos glóbulos-testes de um dado grupo, através de uma maceração do produto examinado. A
investigação dos aglutinogênios é a mais simples e a mais segura: absorção das aglutininas
específicas contidas nas soluções de soros-testes de um determinado grupo.
95

Devem ser tomadas todas as precauções para garantir a rigorosa especificidade dos
produtos-testes utilizados e, evidentemente, garantir também a não-intervenção do suporte nas
reações constatadas, o que é verificado por controlos, simultaneamente tratados.
A enzimologia também tem várias aplicações em criminalística, tais enzimas sendo
especialmente abundantes em certos meios biológicos que, desse modo, ajudam a detectar -
por exemplo, entre as hidrólises, a amilase ajuda a detectar a presença da saliva e a fosfotase
cida a presença do esperma; entre as desmolases, a peroxidase permite detectar a presença do
sangue: tudo isso são reações de orientação ou de probabilidade, não de certeza intrínseca e
absoluta, ou cuja certeza só é extrínseca e relativa às circunstâncias de fato.
A microbiologia abrange todos os organismos microscópicos vivos, saprófitos ou
parasitas, presentes em toda a parte e, por conseguinte, criminalisticamente exploráveis -
fungos, bactérias, algas, musgos (pelos seus esporos); do mesmo modo que, entre os parasitas
do homem, os protozoários (ou os respectivos quistos) e muitos metazoários (pelos seus ovos,
pelos seus embriões ou pelas suas larvas).

3 - Métodos químicos

Os métodos químicos exigem amostras muito difíceis de conseguir ou de garantir,


tanto em quantidade como em qualidade, com os vestígios - geralmente ínfimos e
contaminados - recolhidos nos locais dos crimes. E também porque destroem ou, pelo menos,
alteram as substâncias, provas materiais, que lhes são submetidas. Daí a importância da cadeia
de custódia para a preservação e manutenção do controle de acesso aos vestígios coletados.
Mesmo assim, têm muitas aplicações nos casos em que são insubstituíveis, mas na
qualidade físico-química ou eletroquímica, muito mais do que como química analítica
clássica.
Essas microaplicações são de várias espécies e todas elas absolutamente diferentes
entre si: químicas microscópicas, spot-reações e micro-química propriamente dita - as duas
primeiras apresentam um interesse sobretudo qualitativo e a última um interesse sobretudo
quantitativo.
No conjunto, a precisão e a exatidão dos resultados vão diminuindo à medida que se
trabalha com amostras menores, sobretudo se são complexas, pois há exigências que não
podem ser descuradas:
96

a. qualitativamente, é freqüente haver grandes dificuldades para conseguir uma


amostra média, com uma homogeneidade perfeita e garantida, retirada de uma quantidade
excessivamente pequena;
b. quantitativamente, uma análise deixa de ter qualquer sentido se os erros possíveis
no doseamento se tornam superiores às diferenças prováveis de qualidade, entre as
amostras que se têm de comparar,

Isto posto, é claro, não diminui, de modo nenhum, o valor intrínseco dos métodos.

A química microscópica pratica-se entre a lâmina e a platina e ao microscópio: as


operações consistem em dissoluções, decantações (mecânicas, capilares ou centrífugas),
filtrações e sublimações, e isso depois da adição de reativos concentrados.
As spot-reações ainda são mais simples e de maior rapidez de execução - sobre um
papel-filtro, deixa-se cair uma gota de reagente e, a seguir, um vestígio da substância que se
pretende estudar: uma reação colorida (spot) irá ou não desenvolver-se e a sua cor é indicativa
de uma substância ou de uma molécula ou de um íon ou de determinado grupo.
A microquímica propriamente dita baseia-se nas técnicas já :provadas da
macroquímica clássica, mas transpostas e efetuadas numa aparelhagem miniaturizada
correspondendo a certas exigências particulares, em função, nesta escala, da importância das
forças capilares: essa micro-manipulação exige, evidentemente, uma habilidade e um treino
consideráveis.
A cromatografia em fase líquida, sobre papel, e depois sobre gelatina de sílica ou de
amido, baseia-se nos coeficientes de separação entre dois solventes não miscíveis
(convenientemente escolhidos em função das substâncias que se pretendem estudar),
constituindo duas fases líquidas, uma delas conservada estável num suporte inerte que é o
papel, e a outra deslocando sobre ela (de modo descendente, ascendente ou radial, segundo o
procedimento) as substâncias a estudar, em solução. A frente do solvente móvel arrasta os
componentes dessas substâncias a uma velocidade tal que a distância percorrida por cada um
dos componentes e a distância percorrida pelo solvente durante esse mesmo tempo estão em
constante relação, materializada pela colocação final dos ditos componentes, evidenciados por
uma reação corada, fluorescente, etc.
A cromatografia em fase líquida, a alta ou baixa pressão, em fase gasosa, sobre coluna,
baseia-se no princípio do fracionamento qualitativo e quantitativo dos elementos (voláteis ou
volatizados, quer seja por pressão, aquecimento, combustão ou qualquer outro artifício)
97

constitutivos de uma matéria. Esses elementos são conduzidos para uma coluna cheia ou de
um adsorvente geral ou específico (cromatografia de adsorção/gás-sólido/gás-líquido), ou
para um suporte inerte, mas na superfície do qual foi espalhado um líquido não volátil
(cromatografia de separação/gás-líquido): um dispositivo apropriado registra, uns atrás dos
outros, os gases ou líquidos assim introduzidos, separados em função das suas afinidades com
a substância de enchimento que se escolheu. O interesse deste método comparativo de análise,
simultaneamente qualitativa e quantitativa, encontra-se na sua extrema sensibilidade que
permite utilizar apenas amostras para experiência ínfimas.
Uma identificação absoluta das substâncias assim - e tão finamente - separadas, pode
subsequentemente obter-se pela espectrometria de massa que utiliza ou a ionização (para os
derivados orgânicos) ou a cintilação (para os compostos minerais) seguida de uma separação
num campo magnético potente (analisador).
Outras técnicas (absorção atômica ou emissão de chama) são também correntemente
utilizadas.
Quanto aos métodos electroquímicos, embora muito variados, são pouco utilizados em
criminalística - electrólise, electroforese, polarografia, condutometria...
98

CONCLUSÃO

A prova inquisitorial e processual é então o resultado de uma elaboração científica, na


qual o raciocínio, sob as suas várias formas, intervém para ligar entre si os fatos constatados
de forma a aproximar com a verdade.
Constata-se assim a importância da Perícia na produção de prova para a elucidação da
verdade, utilizando-se dos meios e conhecimentos científicos das ciências forenses.
Muitos destes fatos exigem um exame técnico que recorre às ciências físicas, químicas
ou naturais e exige a intervenção de um perito. Num certo sentido, essa prova é como que a
prova testemunhal num quadro circunstancial; mas, neste caso, o testemunho encontra-se
selecionado e a sua conclusão é científica, a circunstância está delimitada e as suas condições
são materiais.
Por isso, a sua classificação é discutida, alguns a consideram como prova testemunhal
(o perito é uma testemunha especial, possuindo meios técnicos que só servem para prolongar
os seus sentidos) e outros a consideram como uma prova circunstancial (qualquer fato que
esteja em relação com o fato procurado permite inferir a existência ou a modalidade deste
último).
Em ambos os casos, isso significa ignorar a sua importância que reside na sua
cientificidade independente, e utilizá-la apenas para confirmar, ou completar a prova iniciada,
ou para substituir qualquer outra prova.
A prova processual baseia-se em fatos supostamente estabelecidos cuja relação com o
fato procurado se procura estabelecer; ora o fato determinado é uma incógnita a determinar,
uma hipótese a verificar, uma informação a completar.
Contra ela, estão:

a. o fato de não passar de uma prova que reside na inferência que induzirá do fato
conhecido ao fato a conhecer - isso é uma necessidade ao fazer-se um
procedimento indireto: é raciocinada, em vez de ser constatada, como é o
método criminalístico;
b. o fato de não ser mais do que uma prova mediata, pois baseia-se em dados de
outras provas pelas quais o fato inquisitório pôde ser conhecido (constatações,
testemunhos): é complexa em vez de ser simples;
99

c. o fato de não ser mais do que uma prova parcial, pois só se refere a um
elemento do problema - valerá muito menos pelo significado de cada indício
em especial do que pelo do conjunto das provas: é fragmentária em vez de ser
geral.

Não há dúvida que, acima de tudo, ela apresenta a vantagem de ser objetiva e
imparcial baseada em fatos e ciência. Sim, é verdade; mas só será objetiva se não for
interpretada: as conclusões que dela se podem tirar já não dependem unicamente dos dados,
mas também do espírito, e esse espírito não julga unicamente de modo discursivo, mas
também de modo intuitivo; e só se pode considerar imparcial enquanto não for influenciada
por considerações que não sejam fundamentalmente científicas.
Além da prova processual, não há nenhuma outra prova tão multiforme - qualquer fato
relacionado com outro pode ser o indício deste...
Antigamente, faziam-se estas distinções:

a) segundo o seu grau de certeza: os indícios manifestos, os indícios próximos e os


indícios afastados, segundo a sua relação com o fato a estabelecer;
b) segundo o seu grau de extensão: os indícios comuns ou gerais e os indícios
próprios ou especiais, segundo a que pertença - a qualquer espécie de crime ou,
pelo contrário, a um crime especial;
c) segundo o seu grau de sucessão: os indícios antecedentes, os indícios
concomitantes e os indícios subseqüentes, segundo o respectivo momento em
relação ao crime,

O valor probante do indício é extremamente variável: uma circunstância indica melhor


um fato quando não pode indicar outros fatos diferentes - mas várias causas podem explicar o
mesmo fato; por isso, é conveniente situar o valor na qualidade de prova desse indício de que
se tomaram tantas garantias.
Por outro lado, e perante os resultados, tendo-se a confirmação da objetividade (essa
disposição intelectual daquele que vê as coisas como elas são) e da imparcialidade (essa
disposição afetiva daquele que não toma parte nenhuma nas coisas), duas formas da abstração
necessária para a clarividência do investigador, o que representa o indício, como valor
absoluto e como valor relativo de prova?
100

Como valor absoluto, o indício poderá, em certos casos, dar uma probabilidade de erro
nula? Evidentemente que não, para os métodos que apresentam uma resposta negativa:
nenhuma certeza é possível nesse caso porque o elemento que se procura pode ter estado
ausente por acaso, por omissão ou por incapacidade. Em contrapartida, isso é possível para os
métodos que procuram uma resposta positiva: apresentam sempre alguma certeza, mas da
ordem das probabilidades de errar em relação às probabilidades de serem justas, essa
proporção tende para o infinito à medida que vão tendendo para zero as probabilidades de
errar, mas (e é próprio da certeza científica) os limites absolutos nunca são atingidos, pois
trata-se de uma certeza indutiva, material, e não de uma certeza dedutiva, essencial, como o é
a matemática.
Em valor absoluto, o indício, como prova de existência, não pode, portanto, atingir a
certeza total de identidade - no mínimo, podemo-la calcular sob probabilidade.
Como valor relativo, o indício ainda é mais difícil de apreciar, A finalidade da prova
que ele apresenta é chegar à equação alternativa:

acusado = culpado ou inocente,

Isto é, prova de participação ou não no fato.

Ora, o indício só pode provar de maneira:

 indireta - por raciocínio, e não por constatação;


 complexa - através dos métodos e encorajando as suas críticas;
 fragmentária - representando apenas um elemento do problema.

Por exemplo, uma impressão digital num objeto encontrado no local de um crime,
idêntica à impressão digital de um suspeito, prova que o homem em questão tocou nesse
objeto, com uma probabilidade que se aproxima do infinito, mas não pode estabelecer nem
que o objeto estava no local do crime no momento em que recebeu essa impressão digital nem
que a presença do indivíduo no local do crime determina a sua culpabilidade. Neste caso, o
indício tem realmente um valor absoluto máximo de existência, mas um valor relativo mínimo
de participação.
Nesse caso, a passagem da prova indiciária à demonstração de culpabilidade só pode
ser garantida pela interferência com ela das provas testemunhais e das provas circunstanciais
recolhidas de outra forma.
101

Depois desta crítica do seu valor absoluto e do seu valor relativo, quererá isto dizer
que se deva rejeitar o indício, porque ele não pode constituir uma prova válida? De forma
nenhuma.
Um resultado é sempre função de um conjunto, e os números só podem adquirir um
valor real através do seu conjunto, da sua repetição e da sua integração no inquérito: ora, o
crime não se poderia reduzir a algarismos, forma um todo; os resultados científicos só podem
referir-se a um aspecto, a um momento ou a um local, nunca fornecerão mais do que pontos
de referência num esquema de conjunto.
Inversamente, também não nos devemos deixar impressionar pelos números - embora
em toda a parte reine o falso mas não há lugar onde isso seja mais perigoso do que na
criminalística! No entanto grande tem sido a contribuição da aplicação da Estatística no
raciocínio criminalístico, de forma a buscar melhor controle nas margens de erro aceitáveis.
Cada vez mais a Criminalística tem que se valer de formulação de hipóteses, para
serem testadas em razão da complexidade de cometimento de crimes e pela própria difusão da
informação criminal nos meios de comunicação.
Trata-se unicamente de situar no seu devido lugar e no seu justo valor esse indício que
não pode pretender ser uma prova em e por si mesmo, mas que, integrando-se no conjunto dos
testemunhos e das circunstâncias, tem o seu peso nas presunções que confirmarão a íntima
convicção do juiz ou dos jurados: não se trata de substituir o inquérito pela perícia, porque a
criminalística forma um todo coerente, mas parcelar, cujas informações (embora sejam certos)
só representam um elemento de um conjunto.
A criminalística, ciência que por indefinição, depende, sem dúvida nenhuma, para o
seu progresso, em primeiro lugar, do progresso das suas componentes exatas, isto é, das
próprias ciências, mas por maior que seja o grau de perfeição que atinja, estará sempre
subordinada ao contexto do inquérito (investigação) e, como tal, deve constituir, com este,
uma balança permanente de ganhos e perdas, seguido de controles recíprocos, para atingir o
seu objetivo principal que é a manifestação da verdade para o bem da justiça.
A Criminalística como possuir um princípio sistêmico estará aperfeiçoada em sua
aplicação, à medida que o contraditório produzido em busca da verdade, possa ser de cada
caso com maior qualidade e temporalidade. A aplicação da Criminalística possibilitar redução
de incerteza na tomada de decisão.
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