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FÍSICA MATEMÁTICA

TRANSFORMADAS DE LAPLACE

2020
FÍSICA MATEMÁTICA 1

Transformadas de Laplace

1 Introdução
Boa parte das aulas até o momento foram dedicadas ao estudo de métodos para so-
lução de equações diferenciais. Foram estudados o método de expanção em sérires de
potências e em algumas situações, através do método do desenvolvimento de soluções
em séries de Fourier. Mais uma técnica será estudada agora. Trata-se das transforma-
ções de Laplace para solução de equações diferenciais. A formulação da técnica está
baseada em uma propriedae notável envolvendo o operador D = d/dx de uma equação
do tipo (ver Física Matemática, Butkov)

dF (x)
= DF (x) = f (x).
dx

Por exemplo, considerando que


Dxn = nxn−1

D(Axn + Bxm ) = AD(xn ) + BD(xm ), (A, B = constantes)

pode-se calcular a derivada de qualquer polinômio. Foi sugerido por Heaviside que
D pudesse ser considerado, sob muitos aspectos, como números. Considere-se como
exemplo a equação diferencial

y 00 − 3y 0 + 2y = x2

que pode ser entendida como

x2
DDy − 3Dy + 2y = x2 → (D2 − 3D + 2)y = x2 → y= →
D2 − 3D + 2
x2 x2 x2
y= → y= −
(D − 1)(D − 2) D−2 D−1
Mas
1 1
=− = −1 − D − D2 − D3 − ......,
D−1 1−D
1 1 1 1 D D2 D3
=− =− − − − − .....
D−2 2 1 − D/2 2 4 8 16
FÍSICA MATEMÁTICA 2

e portanto

1
x2 = −(1 + D + D2 + D3 + ......, )x2 = −x2 − 2x − 2
D−1
1 1 D D2 D3 x2 x 1
x2 = (− − − − − ....)x2 = − − −
D−2 2 4 8 16 2 2 4
que fornece

x2 x2 x2 x 1 2 x2 3 7
y= − = (− − − ) − (−x − 2x − 2) = + x + !!!!!!!
D−2 D−1 2 2 4 2 2 4

que é exatamente uma solução particular da equação diferencial. Essas liberdades em


manipular o diferencial D forneceram as idéias básicas para a introdução das transfor-
madas de Laplace e suas propriedades, como será visto nas seções subsequentes.

2 A transformada de Laplace
Dada uma função f (t), definida na região 0 ≤ t < ∞, onde f (t) e t são reais, então a
função F (s) definida pela integral
Z ∞
F (s) = e−st f (t)dt
0

é denominada de transformada de Laplace de f (t). A representação simbólica é


feita através de
F (s) = L{f (t)} .

A variável s será adotada como complexa, mesmo que em muitas aplicações ela deva
ser real.
Alguns exemplos:

1.) f (t) = 1 Z ∞
1
F (s) = e−st dt = , <{s} > 0
0 s

2.) f (t) = t ∞

1 ∞ −st
Z Z
−st 1 −st

F (s) = te dt = − te + e dt
0 s 0 s 0
1
F (s) = , <{s} > 0
s2
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3.) f (t) = tn , (com n inteiro). Integre-se por partes e então:


Z ∞
n!
F (s) = tn e−st dt = n+1 , <{s} > 0
0 s

4.) f (t) = tα , com α > −1.


Z ∞
Γ(α)
F (s) = tα e−st dt → F (s) = , <{s} > 0.
0 sα+1
Γ(x) : função gama.

5.) f (t) = eat


Z ∞
1
[F (s) = eat e−st dt → F (s) = , <{s} > 0
0 s−a

6.) f (t) = sen at




a ∞
Z Z
1 −st −st
cos at e−st dt

F (s) = sen at e dt = − sen at e +
0 s 0 s 0

a2 ∞ a2
Z
a a
F (s) = − 2 cos at e−st − 2 sen ate−st dt = 2 − 2 F (s)

s 0 s 0 s s
a2
 
a a
1 + 2 F (s) = 2 → F (s) = 2 , <{s} > 0
s s s + a2
7.) f (t) = cos at
Integrando por partes
Z ∞
s
F (s) = cos at e−st dt → F (s) = , <{s} > 0
0 s 2 + a2

8.) f (t) = senhat


Seguindo os mesmos passos,
Z ∞
a
F (s) = senh at e−st dt = , <{s} > 0
0 s2 − a2

9.) f (t) = cosh at


Z ∞
s
F (s) = cosh at e−st dt = , <{s} > 0
0 s2 − a2

A transformada de Laplace goza de certas propriedades, que a torna simples de


se aplicá-la na prática, o que é bastante conveniente. Essas propriedades podem ser
listadas através de alguns teoremas básicos.
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Teorema 1 A transformação de Laplace é uma operação linear, isto é, para quaisquer


funções f (t) e g(t) cujas transformadas de Laplace existam, e quaisquer constantes a
e b, tem-se que
L{af (t) + bg(t)} = aL{f (t)} + bL{g(t)}

Definição 1: Uma função f (t) é seccionalmente contínua num intervalo finito


a ≤ t ≤ b se f (t) é definida neste intervalo e tal que o intervalo possa ser subdividido
em um número finito de intervalos, em cada um dos quais f (t) é contínua e tem limites
finitos quando t tende para qualquer ponto extremo do intervalo de subdivisão a partir
do interior.
Definição 2: Uma função f (t) definida no intervalo a ≤ t ≤ ∞ é de ordem expo-
nencial σ0 , se
|e−σ0 t f (t)| ≤ M, (σ0 = real

onde M é uma constante real e positiva. Em outras palavras, f (t) não cresce mais
rapidamente do que eα0 t quando t → ∞. Destas definições, pode-se enunciar o terorema
da existência das transformadas de Laplace.

Teorema 2 Seja f (t) uma função que é contínua por pedaços para 0 ≤ t ≤ ∞ e é
exponencial de ordem σ0 , então a integral de Laplace
Z ∞
F (s) = L{f (t)} = e−st f (t)dt
0

converge para <{s} > σ0 . Além disso, a integral é absoluta e uniformemente conver-
gente para <{s} ≥ σ1 (σ1 real), se σ1 ≥ σ0 .

A demonstração do teorema da existência das transformadas de Laplace pode ser


encontrada em qualquer texto sobre o assunto. Ver por exemplo, Física Matemática
de E. Butkov.

3 Transformadas das derivadas e integrais


É possível que a realção entre L{f (t)} e a transformada da derivada f 0 (t), representada
por L{f 0 (t)} seja uma das propriedades mais importantes da transformadas de Laplace.
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Considere a integração por partes


Z ∞ ∞
1 ∞ −st 0 f (0) 1 ∞ −st 0
Z Z
−st 1 −st
e f (t)dt = −f (t) e + e f (t)dt = + e f (t)dt
0 s 0 s 0 s s 0

e claramente se vê que
L{f 0 (t)} = sL{f (t)} − f (0)

que é conhecida como propriedade de derivação.


Se for efetuada a integração por partes mais uma vez, verifica-se rapidamente que
Z ∞ ∞
1 ∞ −st 00
 Z 
−st f (0) 1 0 1 −st
e f (t)dt = + −f (t) e + e f (t)dt
0 s s s 0 s 0

de onde se obtem que

L{f 00 (t)} = s2 L{f (t)} − sf (0) − f 0 (0) .

Se esta operação for realizada suscessivamente, então chega-se a uma fórmula geral
dada por
n
X
(n) n
L{f } = s L{f (t)} − sk−1 f (n−k) (0)
k=1
(m) (m)
onde f é a m−ésima derivada de f e f (0) e seu valor em t = 0.
Considere-se novamente a equação diferencial cuja solução foi desenvolvida consi-
derando o operador D = d/dx e certas liberdades nas operações, apresentada como
tema motivacional logo na introdução do tema transformada de Laplace

y 00 − 3y 0 + 2y = t2

cuja solução obtida foi


t2 3 7
y= + t+ .
2 2 4
Por conveniência, a variável x foi trocada pela vairável t. Essa solução pode ser tentada
agora utilizando a transformada de Laplace: resolva a equação diferencial considerando
as condições iniciais y(0) = 7/4 e y 0 (0) = 3/2.
Procedimento: multiplique todos os termos da equação diferencial por e−st e integre
de 0 a ∞. Assim,
Z ∞ Z ∞ Z ∞ Z ∞
−st 00 −st 0 −st
e y dt − 3 e y dt + 2 e ydt = e−st t2 dt .
0 0 0 0
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Considerando as transformadas das derivadas e a transformada de Laplace de f (t) = t2 ,


um caso particular da transformada de f (t) = tn , já apresentada na tabela de exemplos,
chega-se na equação
2
s2 F (s) − sy(0) − y 0 (0) − 3[sF (s) − y(0)] + 2F (s) =
s3
que rapidamente pode ser colocada na forma
2 1 (s − 3)y(0) y 0 (0)
F (s) = + + .
s3 s2 − 3s + 2 s2 − 3s + 2 s2 − 3s + 2
Por manipulações de decomposição pode-se mostrar que
2 1 1 2 7 3 1
= − + + +
s3 (s2 − 3s + 2) 4 s − 2 s − 1 4s 2s2 s3
e considerando que y 0 (0) = 3/2 e que y(0) = 7/4, então
(s − 3)y(0) y 0 (0) 7(s − 3)/4 + 3/2
+ =
s2 − 3s + 2 s2 − 3s + 2 s2 − 3s + 2
que finalmente resulta em
1 31 71
F (s) = 3
+ 2+ .
s 2s 4s
Mas
1 1 2
L{1} = , L{t} = 2 , L{t2 } = 3
s s s
então
7 3 1 7 3 1
F (s) = L{1} + L{t} + L{t2 } = L{ + t + t2 }.
4 2 2 4 2 2
Como havia sido proposto que

F (s) = L{y(t)}

então por comparação (ou inversão da transformada de Laplace) chega-se a


t2 3 7
y(t) = + t+
2 2 4
que é exatamente a solução particular da equação diferencial.
A transformada de Laplace fornece uma alternativa para a solução da equação di-
ferencial onde se adota uma rota mais fácil para resolvê-la em um espaço paralelo,
(espaço dos s) ao invés do método direto de se resolvê-la no espaço da variável t, inva-
riavelmente o caminho mais difícil. A primeira etapa é escrever a equação diferencial
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no espaço s. Determina-se neste espaço a função F (s). A etapa final é fazer a trans-
formação inversa de f (s) para y(t). O fluxograma da figura ilustra bem os passos do
procedimento que foi utilizado para resolver a equação do exemplo discutido..

Completando a seção, a transformada de uma integral é obtida da transformação


Z t 
1
L f (τ )dτ = L{f (t)}.
0 s
Esta relação pode ser comprovada da seguinte maneira: adotando
Z t
g(t) = f (τ )dτ
0
0
e como f (t) = g (t) segue-se, aproveitando-se da transformada de derivada, que

L{f (t)} = L{g 0 (t)} = sL{g(t)} − g(0) = sL{g(t)}

já que g(0) naturalmente é nula. Assim fica automaticamente demonstrada a relação


para a transformada de Laplace de integrais.

4 Propriedades de deslocamento e amortecimento


Considere-se a função escada definida por

 1 se t ≥ 0
S(t) =
 0 se t < 0
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e considere-se a sua transformada de Laplace


Z ∞
1
F (s) = e−st S(t)dt = .
0 s
Devido à forma integral da transformada de Laplace, a transforamada de S(t) tem a
mesma transformada do que a função f (t) = 1 que é definida para todo o domínio
−∞ ≤ t ≤ ∞. Na realidade, não importa o que há na região t < 0. Esta observação
permite concluir que uma função f1 (t) = f (t) tem a mesma transformada do que
f2 (t) = f (t)S(t).
Para se apresentar uma propriedade das transformadas de Laplace (a de desloca-
mento), a rigor, é mais conveniente considerar que, se F (s) é a transformada de Laplace
de f (t), então F (s) seja na realidade a transformada de Laplace da função f (t)S(t).
Assim, suponha-se que a função f (t)S(t) seja deslocada por uma distância a para a
direita e definida como

 f (t − a) se t ≥ a
f (t − a)S(t − a) =
 0 se t < a
então a transformada de f (t − a)S(t − a) pode ser dada por
Z ∞ Z ∞
−st
L{f (t − a)S(t − a)} = e f (t − a)S(t − a)dt = e−s(τ +a) f (τ )S(τ )dτ
a 0
Z ∞
L{f (t − a)S(t − a)} = e−as e−sτ f (τ )S(τ )dτ
0
e consequentemente

L{f (t − a)S(t − a)} = e−as L{f (t)S(t)}

ou
L{f (t − a)S(t − a)} = e−as L{f (t)}, a > 0.

Esta propriedade é chamada de propriedade de deslocamento. Apenas como uma


observação útil na prática, se f (t) = 1, então
−as e−as
L{S(t − a)} = e L{1} = , a > 0.
s
Uma outra propriedade vem da sugestão de se multiplicar f (t) por e−at e perguntar
pela sua transformada de Laplace. Ou seja
Z ∞ Z ∞
−at −st −at
L{e f (t)} = e e f (t)dt = e−(s+a)t f (t)dt = F (s + a) .
0 0

Este resultado é conhecido como propriedade de amortecimento.


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4.1 Exemplo de aplicação

Determinar a corrente i(t) que percorre o


circuito RC da figura se é aplicada uma
onda quadrada única de tensão dada por

v(t) = V0 [S(t − a) − S(t − b)] .


Solução: A equação para o circuito é dada por

q(t)
Ri(t) + = v(t)
C

onde q(t) é a carga no capacitor, por definicâo dada por


Z t
q(t) = i(τ )dτ.
0

A equação do circuito é então


Z t
1
Ri(t) + i(τ )dτ = v(t) .
C 0

Considerando as transformadas,
Z t 
1
RL{i(t)} + L i(τ )dτ = L{v(t)}.
C 0

Observando que
L{i(t)} = I(s)
Z t 
1
L i(τ )dτ = I(s)
0 s
e−as e−bs
L{v(t)} = V0 [L{S(t − a)} − L{S(t − b)}] = V0 [ − ]
s s
e levando na equação do circuito chega-se a

1 e−as e−bs
RI(s) + I(s) = V0 [ − ]
sC s s

ou
s CV0 e−as e−bs CV0 1 −as
I(s) = [ − ]= 1 [e − e−bs ]
sRC + 1 s s RC s + RC
 −as
e−bs

V0 e
I(s) = 1 − 1
R s + RC s + RC
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Mas
1 1
− RC t
1 = L{e }
s + RC
de modo que
V0 h −as 1
− RC t −bs 1
− RC t
i
I(s) = e L{e } − e L{e }
R
e utilizando a propriedade de deslocamento,
V0 h (t−a)
− RC
(t−b)
− RC
i
I(s) = L{e S(t − a)} − L{e S(t − b)}
R
V0 (t−a) V0 (t−b)
= L{ e− RC S(t − a) − e− RC S(t − b)}
R R
e invertendo,
V0 − (t−a) V0 (t−b)
i(t) = e RC S(t − a) − e− RC S(t − b).
R R

A voltagem e a corrente resultante. Para confeccionar o gráfico, foi considerado que RC = 1, V0 =


R = 1, a = 2 e b = 5
FÍSICA MATEMÁTICA 11

A figura ilustra o comportamento da corrente quando há variação abrupta da tensão.


Seria a situação encontrada quando uma pessoa liga uma bateria de tensão constante
e um intervalo de tempo t = b − a depois desliga. Observe-se que mesmo depois da
bateria ser desligada, pode ainda haver corrente circulando no circuito. Isto se deve à
relaxação imposta pelo resisor combinado com o capacitor.

5 Inversão
Como foi visto no exemplo da solução de uma equação diferencial, talvez a parte mais
difícil no método de solução aplicando a transformada de Laplace é o problema da
inversão, isto é, conhecida a função F (s), como invertê-la para chegar a f (t). A tarefa
pode ser simplificada explorando algumas propriedades, como a linearidade, que já foi
vista, mas relembrando-a na forma

a.) L{af (t)} = aL{f (t)}

b.) L{f1 (t) + f2 (t)} = L{f1 (t)} + L{f2 (t)}

Levando-se isto em consideração, espera-se que se uma transformada pode ser de-
composta em duas partes
F (s) = F1 (s) + F2 (s)

então pode ser invertida termo a termo, escrevendo

f (t) = f1 (t) + f2 (t)

onde
F1 (s) = L{f1 (t)} e F2 (s) = L{f2 (t)} .

Assim,
L−1 {F1 (s) + F2 (s)} = L−1 {F1 (s)} + L−1 {F2 (s)}

onde o operador inverso L−1 transforma F (s) na função correspondente f (t). Da


mesma forma
L−1 {aF (s)} = aL−1 {F (s)} .
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Estabelecidas estas regras advindas da linearidade, alguns procedimentos como o da


decomposição em frações racionais podem ser exploradas para inversão das transfor-
madas de Laplace.

5.1 Inversão por decomposição em frações racionais

Na grande marioria dos casos, a função F (s) é uma função racional de s e este fato
permite manipulações como a decomposição em frações para fazer a inversão de F (s).
Exemplo: Ache f (t) se F (s) = 1/(s2 − 5s + 6).
A fração pode ser reescrita como

1 1 1
= − .
s2 − 5s + 6 s−3 s−2

Um olho bem treinado perceberia essa decomposição rapidamente. Mas se isto não
for o caso, essa decomposição pode ser feita identificando inicialmente as raízes de
s2 − 5s + 6, ou seja r1 = 3 e r2 = 2 . Logo após exigir que

1 A B (A + B)s − (2A + 3B)


= + =
s2 − 5s + 6 s−3 s−2 (s − 3)(s − 2)

para que A e B possam ser identificados. Para tanto

(A + B)s − (2A + 3B) = 1

O valor de s pode ser qualquer, mas não nulo. Logo, uma possibilidade é propor que
A = −B e assim fazendo, automaticamente leva a B = −1. E daí a razão para que

1 1 1
= − .
s2 − 5s + 6 s−3 s−2

Portanto
1 1 1
L−1 { } = L−1 { } − L−1 { }.
s2 − 5s + 6 s−3 s−2
Consultando a tabela de exemplos no início do texto,

1 1
L−1 { } = e3t e L−1 { } = e2t
s−3 s−2

o que leva a
1
L−1 { } = f (t) = e3t − e2t
s2 − 5s + 6
FÍSICA MATEMÁTICA 13

Este exemplo passa a idéia de que, se F (s) puder ser decomposta em frações como
a efetuada no exemplo acima, o procedimento adotado no exemplo é uma boa receita
a ser explorada para inverter transformadas de Laplace.
Considere-se então que F (s) possa ser escrita na forma F (s) = P (s)/Q(s) onde P (s)
e Q(s) são polinômios em s e que Q(s) tem grau maior do que P (s). A decomposição
em frações está baseada nas raízes de Q(s). Se os coeficientes de Q(s) são reais, então
Q(s) pode ser fatorizado em fatores de dois tipos:

a.) (s − r)m , onde r é a raiz de multiplicidade m.

b.) (s2 + as + b)n , para cada par de raízes complexas de s2 + as + b = 0 e de


multiplicidade n.

Para raízes do primeiro tipo, a decomposição de P (s)/Q(s) terá termos to tipo

A1 A2 A3 Am
+ 2
+ 3
+ ..... + + ..., Ak = constante
s − r (s − r) (s − r) (s − r)m

ou seja, termos do tipo


1
Fk (s) =
(s − r)k
para serem invertidos. Lembrando que de F (s) é a transformada de f (t), então pela
propriedade do amortecimento

L{ert f (t)} = F (s − r).

Se
1
f (t) = 1 → L{ert } =
s−r
1
f (t) = t → L{ert t} =
(s − r)2
2
f (t) = t2 → L{ert t2 } =
(s − r)3
..........................................................................................
(k − 1)!
f (t) = t(k−1) → L{ert t(k−1) } =
(s − r)k
e consequentemente
1 t(k−1 ) rt
Fk (s) = = L{ e }
(s − r)k (k − 1)!
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ou ainda
t(k−1 ) rt
L−1 {Fk (s)} = e .
(k − 1)!
Para o segundo tipo de raízes, a decomposição de P (s)/Q(s) terá termos do tipo

B1 s + C1 B2 s + C2 B3 s + C3 Bn s + Cn
2
+ 2 2
+ 2 3
+ .......... + 2
(s + as + b) (s + as + b) (s + as + b) (s + as + b)n

onde {Bi , Ci } são constantes. Pode-se escrever que

s2 + as + b = (s + a/2)2 + b − a2 /4

e fazendo c2 = b − a2 /4
s2 + as + b = (s + a/2)2 + c2 .

Desta forma,

Bs + C (s + a/2) [C − (a/2)B]
=B + .
s2 + as + b 2
(s + a/2) + c 2 (s + a/2)2 + c2

Lembrando da propriedade de amortecimento, se F (s) = L{f (t)} então L{e−γt f (t)} é


dada por
Z ∞ Z ∞
−γt −st −γt
L{e f (t)} = e e f (t)dt = e−(s+γ)t f (t)dt = F (s + γ) .
0 0

Consultando a tabela de exemplos (na introdução de transformadas de Lapalace),


obtem-se as inversas
 
−1 (s + a/2)
L B = Be(−a/2)t cos ct
(s + a/2)2 + c2

e  
−1 [C − (a/2)B] C − (a/2)B −(a/2)t
L = e sen ct .
(s + a/2)2 + c2 c
Inversões para transformadas to tipo

B(s + a/2) + [C − (a/2)B]


, k>1
[(s + a/2)2 + c2 ]k

são menos frequentes. Mas apesar de bastante trabalhoso, vale a pena considerar o
caso k = 2, pois algumas propriedades interessantes das transformadas de Laplace
serão utilizadas para esse fim. Assim, ao invés de encarar a tarefa como enfadonha,
acompanhe ou reproduza as passagens para praticar as transforamdas.
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Considere então

B(s + a/2) + [C − (a/2)B] B(s + a/2) [C − (a/2)B]


F2 (s) = 2 2 2
= 2 2 2
+
[(s + a/2) + c ] [(s + a/2) + c ] [(s + a/2)2 + c2 ]2

ou equivalentemente
 
B ∂ 1 [C − (a/2)B]
F2 (s) = − +
2 ∂s (s + a/2)2 + c2 [(s + a/2)2 + c2 ]2

Parêntesis: Não é difícil mostrar que se pode calcular derivadas de transformadas.


Por exemplo se Z ∞
F (s) = e−st f (t)dt = L{f (t)}
0
0
e se o interêsse é saber F (s), então basta calcular
Z ∞
∂F (s)
=− te−st f (t)dt = −L{tf (t)}.
∂s 0

Utilizando esse resultado obtido, se


 
−1 1 1
L 2 2
= e−(a/2)t sen ct
(s + a/2) + c c

então
    
−1 (s + a/2) 1 ∂ 1 1
L = − L−1 = t e−(a/2)t sen ct .
[(s + a/2)2 + c2 ]2 2 2
∂s (s + a/2) + c 2 2c

A transformada de Laplace correspondente ao primeiro termo de F2 (s) foi invertida.


É necessário agora inverter o segundo termo, ou seja, calcular
 
−1 1
L .
[(s + a/2)2 + c2 ]2

Para isso, explore-se através de integrações por partes:


Z ∞ ∞
1 ∞ d  −(s+a/2)t 
Z
−st
 −(a/2)t  1 −(s+a/2)t

e te cos ct dt = sen ct te
c −c dt
te sen ct dt
0 0 0
.
1 ∞ −(s+a/2)t (s + a/2) ∞ −(s+a/2)t
Z Z
=− e sen ct dt + te sen ct dt
c 0 c 0

Já se sabe por resultados anteriores que

1 ∞ −(s+a/2)t
Z
1
e sen ct dt =
c 0 (s + a/2)2 + c2

1 ∞ −(s+a/2)t
Z
2(s + a/2)
te sen ct dt =
c 0 [(s + a/2)2 + c2 ]2
FÍSICA MATEMÁTICA 16

de modo que
Z ∞
1 2(s + a/2)2
e−st t e−(a/2)t cos ct dt = −
 
+
0 (s + a/2)2 + c2 [(s + a/2)2 + c2 ]2

ou

c2 − (s + a/2)2
Z
e−st t e−(a/2)t cos ct dt = −
 
0 [(s + a/2)2 + c2 ]2
e a forma conveniente
Z ∞
1 2c2
e−st t e−(a/2)t cos ct dt =
 
− .
0 (s + a/2)2 + c2 [(s + a/2)2 + c2 ]2

Portanto
   
−1 1 1 −1 1 1 
− 2 t e−(a/2)t cos ct

L 2 2 2
= 2L 2 2
[(s + a/2) + c ] 2c (s + a/2) + c 2c

ou  
−1 1 1 −(a/2)t 1 
sen ct − 2 t e−(a/2)t cos ct

L = e
[(s + a/2)2 + c2 ]2 2c3 2c
Assim

B −(a/2)t [C − (a/2)B] −(a/2)t


L−1 {F2 (s)} = te sen ct − te cos ct +
2c 2c2
[C − (a/2)B] −(a/2)t
+ e sen ct
2c3

Finalizando, apresenta-se um teorema muito útil, denominado teorema do desen-


volvimento de Heaviside:

Teorema 3 Se todas as raízes ri de Q(s) forem simples, e se o grau de P (s) for menor
do que o grau de Q(s), então
  n
−1 P (s) X P (ri ) ri t
L = e
Q(s) i=1
Q0 (ri )

onde Q0 (ri ) é derivada de Q(s) calculada no ponto s = ri .

Este teorema está baseado no fato de que, se Q(s) tem raízes simples, então Q(s) pode
ser escrita na forma
n
Y
Q(s) = A(s − r1 )(s − r2 )....(s − rn ) = A (s − ri )
i=1
FÍSICA MATEMÁTICA 17

e a derivada em um ponto rj é dada por


n
Y
0
Q (rj ) = A (rj − ri ) .
i6=j

Exemplo: Iverta a transformada de Laplace

s2 − 6s + 7
F (s) =
(s2 − 4s + 5)2

utilizando a decomposição em frações racionais.


Solução:

s2 − 6s + 7 (s2 − 4s + 5) − (2s − 2) 1 2(s − 1)


F (s) = 2 2
= 2 2
= 2 − 2
(s − 4s + 5) (s − 4s + 5) s − 4s + 5 (s − 4s + 5)2

Completando o quadrado no denominador vem

s2 − 4s + 5 = (s − 2)2 + 1

e assim
1 2(s − 1) 1 2(s − 2) + 2
F (s) = 2
− 2 2
= −
(s − 2) + 1 [s − 2) + 1] (s − 2) + 1 [s − 2)2 + 1]2
2

1 2(s − 2) 2
= 2
− 2 2

(s − 2) + 1 [s − 2) + 1] [s − 2)2 + 1]2
Portanto é preciso calcular
 2     
−1 s − 6s + 7 −1 1 −1 2(s − 2)
L = L −L
(s2 − 4s + 5)2 (s − 2)2 + 1 [s − 2)2 + 1]2
 
2
−L−1 .
[s − 2)2 + 1]2

Lembrando das fórmulas utilizadas nas últimas demonstrações,


 
−1 1 1
L 2 2
= e−(a/2)t sen ct
(s + a/2) + c c
 
−1 (s + a/2) 1
L 2 2 2
= t e−(a/2)t sen ct
[(s + a/2) + c ] 2c
 
1 1 1 
L−1 = 3 e−(a/2)t sen ct − 2 t e−(a/2)t cos ct

2
[(s + a/2) + c ] 2 2 2c 2c
e fazendo a = −4 e c = 1, vem

1
L−1 { } = e2t sen t
(s − 2)2 + 1
FÍSICA MATEMÁTICA 18

 
−12(s − 2)
L = t e2t sen t
[s − 2)2 + 1]2
 
−1 2
L = e2t sen t − t e2t cos t
[s − 2)2 + 1]2
que finalmente resulta em

s2 − 6s + 7
 
−1
L = t e2t (cos t − sen t)
(s2 − 4s + 5)2

6 Convolução
Outra propriedade importante das transformadas de Laplace está relacionada a produto
de transformadas. Se as transformadas inversas f (t) de F (s) e g(t) de G(s) forem
conhecidadas, pode-se calcular a partir de f (t) e g(t), a trasformada inversa do produto
F (s)G(s). Essa transformação inversa é tradicionalmente representada por (f ∗ g)(t),
na verdade a notação padrão, e é denominada de convolução de f e g.

Teorema 4 Se f (t) e g(t) forem as transformadas inversas de F (s) e G(s), então a


transformada inversa do produto F (s)G(s) será a convolução de f (t) e g(t) definida
como Z t
(f ∗ g)(t) = f (τ )g(t − τ )dτ.
0

A demonstração do teorema pode ser encontrada nos livros textos de Física Mate-
mática. A despeito do rigor exigido na demonstração usualmente requisitado, é mais
ilustrativo uma aplicação na solução de um problema de Física.
Considere-se como exemplo o problema das oscilações forçadas de um oscilador
harmônico amortecido. A equação de movimento é dada por

ẍ + 2λẋ + ω02 x = f (t)

onde as condições iniciais são x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 . Aplicando o método das trans-
formadas de Laplace, tem-se

L{ẍ} + 2λL{ẋ} + ω02 L{x} = L{f (t)}

s2 X(s) − sx(0) − ẋ(0) + 2λsX(s) − 2λx(0) + ω02 X(x) = F (s)


FÍSICA MATEMÁTICA 19

e isolando X(s) vem


sx0 + v0 + 2λx0 F (s)
X(s) = 2
+ 2 = X1 (s) + X2 (s).
2
s + 2λs + ω0 s + 2λs + ω02
A primeira parte pode ser invertida da seguinte maneira:
x0 (s + λ) + v0 + λx0 (s + λ) v0 + λx0
X1 (S) = 2
= x0 +
2
(s + λ) + (ω0 − λ )2 (s + λ) + (ω0 − λ ) (s + λ)2 + (ω02 − λ2 )
2 2 2

Como  
(s + λ)
q
−1 −λt
L = e cos ω02 − λ2 t
(s + λ)2 + (ω02 − λ2 )
 
1 1
q
−1 −λt
L =p 2 e sen ω02 − λ2 t
(s + λ)2 + (ω02 − λ2 ) ω0 − λ2
então
v0 + λx0 −λt
q q
−λt 2
x1 (t) = x(0)e 2
cos ω0 − λ t + p 2 e sen ω02 − λ2 t
ω0 − λ2
Esta parte da solução corresponde à solução da equação homogênea (quando f (t) =
0), e obedece ao comportamento esperado que deve ser oscilatória e amortecida.
A segunda parte da solução deve ser obtida com a inversão de
F (s) F (s)
X2 (s) = 2
= = F (s)G(s)
s2 + 2λs + ω0 (s + λ)2 + (ω02 − λ2 )
onde foi considerado que
1
G(s) = .
(s + λ)2 + (ω02 − λ2 )
cuja transformada inversa é conhecida e dada por
1
q
g(t) = L−1 {G(s)} = p e−λt sen ω02 − λ2 t .
ω02 − λ2
Agora, a conveniência do teorema da convolução:
Z t
−1 −1
x2 (t) = L {X2 (s)} = L {F (s)G(s)} = (f ∗ g)(t) = f (τ )g(t − τ )dτ.
0

Portanto
t Z
1
q
−λ(t−τ )
x2 (t) = p f (τ )e sen ω02 − λ2 (t − τ ) dτ
ω02 − λ2 0
A solução completa do problema é
v0 + λx0 −λt
q q
−λt 2
x(t) = x0 e cos ω0 − λ t + p 22 e sen ω02 − λ2 t +
ω0 − λ2
Z t
1
q
−λ(t−τ )
+p 2 f (τ )e sen ω02 − λ2 (t − τ ) dτ
ω0 − λ2 0
FÍSICA MATEMÁTICA 20

7 Funções Periódicas
Funções periódicas são muito frequêntes e o cáculo de suas transformadas pode ser
uma ferramenta muito útil. Assi, seja f (t) uma função periódica de período T , ou

f (t + T ) = f (t).

A transforamda de Laplace de uma função destas pode ser calculada através da soma
Z ∞ Z T Z 2T Z 3T
−st −st −st
L{f (t)} = e f (t)dt = e f (t)dt + e f (t)dt + e−st f (t)dt + .....
0 0 T 2T

É importante perceber que f (t) em todas as integrais são exatamente iguais já que

f (t) = f (t + T ) = f (t + 2T )....... = f (t + nT ) = ....

Tendo isto em mente, pode-se substituir t por τ + T na primeira integral, t por τ + 2T


na segunda integral, t por τ + 3T na terceira integral, e assim sucessivamente. Com
isso, obtém-se
Z T Z T Z T
−sτ −s(τ +T )
L{f (t)} = e f (τ )dτ + e f (τ )dτ + e−s(τ +2T ) f (τ )dτ + ...
0 0 0
Z T
−sT −2sT −3sT
L{f (t)} = (1 + e +e +e + ......) e−sτ f (τ )dτ
0

onde a soma entre parêntesis é a série geométrica, e assim


Z T
1
L{f (t)} = e−sτ f (τ )dτ
1 − e−sT 0

8 Aplicações

8.1 Circuito RLC


No circuito RLC em série, ilus-
trado na figura ao lado, o iner-
ruptor S é fechado no instante
t = 0 e aberto no instante
t = T . Deseja-se calcular a
corrente i(t) se q(0) = 0 e
i(0) = 0 no instante t = 0.
FÍSICA MATEMÁTICA 21

Solução: o potencial na fonte pode ser escrita como

V (t) = e0 [S(t) − S(t − T )]

onde S(t) é função escada. O potencial no indutor é Ldi/dt, no resistor é Ri e no


capacitor é q/C. Portanto

di(t) q(t)
L + Ri(t) + = V (t).
dt C

Aplicando a transformada, vem

di(t) 1
LL{ } + RL{i(t)} + L{q(t)} = L{V (t)}.
dt C

Lembrando que Z t
q(t) = i(τ )dτ
0

e se L{i(t)} = I(s), q(0) = 0, i(0) = 0 então

1 q(0) I(s)
L{q(t)} = L{i(t)} − =
s s s
 
di
L = sL{i(t)} − i(0) = sI(s)
dt
1 e−T s
L{V (t)} = e0 [L{S(t)} − L{S(t − T )}] = e0 [ − ]
s s
Portanto
1 e−T s
 
I(s)
LsI(s) + RI(s) + = e0 − →
sC s s
→ LCs2 + RCs + 1 I(s) = e0 C 1 − e−T s →
 

e0 C e0 Ce−T s
→ I(s) = −
LCs2 + RCs + 1 LCs2 + RCs + 1
ou ainda
e0 /L (e0 /L)e−T s
I(s) = − .
s +R
2
L
s+ 1
LC
s2 + RL
1
s + LC
Completando o quadrado do denominador obtem-se:
2 
R2
 
2 R 1 R 1
s + s+ = s+ + − .
L LC 2L LC 4L2

Sejam α = R/L e ω 2 = 1/(LC) − R2 /(4L2 ) para simplificar a notação. Três casos


precisam ser analisados.
FÍSICA MATEMÁTICA 22

Caso oscilatório: w2 > 0


e0 1 e0 e−T s
I(s) = −
L (s + α)2 + ω 2 L (s + α)2 + ω 2
Mas  
−1 1 1
L 2 2
= e−αt sen ωt .
(s + α) + ω ω
−T s
e 1
L−1 { 2 2
} = e−α(t−T ) sen ω(t − T ) S(t − T )
(s + α) + ω ω
de modo que
e0 −αt e0 −α(t−T )
i(t) = e sen ωt − e sen ω(t − T ) S(t − T )
ωL ωL

Caso superamortecido: ω 2 < 0


Neste caso troque ω por iω
e0 −αt e0 −α(t−T )
i(t) = e senh ωt − e senh ω(t − T ) S(t − T )
ωL ωL
FÍSICA MATEMÁTICA 23

Caso criticamente amortecido: ω 2 = 0

e0 1 e0 e−T s
I(s) = −
L (s + α)2 L (s + α)2

Sabe-se que  
−1 1
L = te−αt ,
(s + α)2
 −T s 
−1 e
L = S(t − T )(t − T )e−α(t−T )
(s + α)2
de forma que
e0 −αt e0
i(t) = te − S(t − T )(t − T )e−α(t−T ) .
L L

8.2 Circuitos magnéticos acoplados


Dois circuitos estão acoplados magne-
ticamente conforme mostrado na figura
ao lado. Deseja-se determinar as cor-
rentes que irão circular nos circuitos
após o fechamento do interruptor S.
(Para uma orientação sobre o tema,
ver Correntes que variam lentamente,
Reitz Milford, Fundamentos da Teoria
eletromagnética, ).
Embora envolva um conhecimento de indução eletromagnética, e as definições de
auto-indutância L e indutância mútua M , o objetivo neste exemplo é aprender a aplicar
a transformada de Laplace para resolver um sistema de equações acopladas. A lei
de Kirchhoff aplicada ao circuito da figura levam ao sistema de equações dierenciais
acopladas

di1 (t) di2 (t)


L1 +M + R1 i1 = e0 S(t)
dt dt
di1 (t) di2 (t)
M + L2 + R2 i2 = 0
dt dt

Sejam então
L{i1 (t)} = I1 (s) e L{i2 (t)} = I2 (s)
FÍSICA MATEMÁTICA 24

e consequentemente
 
di1 (t)
L = sL{i1 (t)} − i1 (0) = sI1 (s)
dt
 
di2 (t)
L = sL{i2 (t)} − i2 (0) = sI2 (s)
dt
1
L{S(t)} =
s
onde se tomou i1 (0) = i2 (0) = 0 como condições iniciais.
Portanto

1
L1 sI1 (s) + M sI2 (s) + R1 I1 (s) = e0
s
M sI1 (s) + L2 sI2 (s) + R2 I2 (s) = 0

ou

1
(sL1 + R1 )I1 (s) + sM I2 (s) = e0
s
sM I1 (s) + (sL2 + R2 )I2 (s) = 0.

Para se obter I1 (s) e I2 (s), pode-se utilizar o método de Cramer. Mas, adote-se u
caminho alternatido e isole I2 (s) na segunda equação obtendo

sM
I2 (s) = − I1 (s)
sL2 + R2

e leve na primeira equação :

s2 M 2
 
1
(sL1 + R1 ) − ] I1 (s) = e0
sL2 + R2 s

ou ainda
1 sL2 + R2
I1 (s) = e0 .
s (sL1 + R1 )(sL2 + R2 ) − s2 M 2
Consequentemente, I2 (s) pode ser obtida de

1
I2 (s) = −e0 M .
(sL1 + R1 )(sL2 + R2 ) − s2 M 2

Trabalhando o denominador,

(sL1 + R1 )(sL2 + R2 ) − s2 M 2 = (L1 L2 − M 2 )s2 + (L1 R2 + L2 R1 )s + R1 R2


 
2 2 L1 R2 + L2 R1 R1 R2
= (L1 L2 − M ) s + s+
L1 L2 − M 2 L1 L2 − M 2
FÍSICA MATEMÁTICA 25

que pode ser colocado na forma

(sL1 + R1 )(sL2 + R2 ) − s2 M 2 = (L1 L2 − M 2 )(s − s1 )(s − s2 )

onde s1 e s2 são as raízes de

L1 R2 + L2 R1 R1 R2
s2 + 2
s+ =0
L1 L2 − M L1 L2 − M 2

dadas por s1 = s(+) e s2 = s(−) onde


s 2
(±) 1 L1 R2 + L2 R1 1 L1 R2 + L2 R1 4R1 R2
s =− ± − .
2 L1 L2 − M 2 2 L1 L2 − M 2 L1 L2 − M 2

Assim, I1 (s) e I2 (s) podem ser colocadas nas formas

e0 sL2 + R2
I1 (s) = 2
L1 L2 − M s(s − s1 )(s − s2 )

e0 M 1
I2 (s) = − 2
L1 L2 − M (s − s1 )(s − s2 )

a.) Cálculo de i2 (t): Este é o caso mais simples, já que I2 (s) pode ser reescrita
facilmente como
 
e0 M 1 1 1
I2 (s) = − 2

L1 L2 − M s1 − s2 s − s1 s − s2

e a inversão é simples de ser feita. Logo

e0 M 1
es1 t − es2 t

i2 (t) = − 2
L 1 L 2 − M s1 − s2

Por conveniência, seja


1 L1 R2 + L2 R1
α=
2 L1 L2 − M 2
e s 2
1 L1 R2 + L2 R1 4R1 R2
ω= −
2 L1 L2 − M 2 L1 L2 − M 2
de modo que
s1 = −α + ω e s2 = −α − ω

e portanto rapidamente se chega a

e0 M 1 −αt
i2 = − 2
e senh ωt
L1 L2 − M ω
FÍSICA MATEMÁTICA 26

b.) Cálculo de i1 (t): Neste caso é preciso inverter

e0 sL2 + R2
I1 (s) = 2
L1 L2 − M s(s − s1 )(s − s2 )

Observe-se que neste caso, o denominador tem uma raiz a mais, que é s0 = 0.
Como o denominador possui raízes simples, trata-se de um caso em que se pode
aplicar o teorema de Heaviside. Seja P (s) = sL2 + R2 e Q(s) = s(s − s1 )(s − s2 ).
A derivada de Q(s) é

Q0 (s) = (s − s1 )(s − s2 ) + s(s − s2 ) + s(s − s1 ) .

Pelo teorema   n=3


−1 P (s) X P (si ) si t
L = 0 (s )
e
Q(s) i=1
Q i

de onde a soma resulta em


 
−1 P (s) R2 s1 L2 + R2 s1 t s2 L2 + R2 s2 t
L = + e + e
Q(s) s1 s2 s1 (s1 − s2 ) s2 (s2 − s1 )

de modo que
 
e0 R2 s1 L2 + R2 s1 t s2 L2 + R2 s2 t
i1 (t) = + e + e .
L1 L2 − M 2 s1 s2 s1 (s1 − s2 ) s2 (s2 − s1 )

Utilizando a notação em que s1 = −α + ω e s2 = −α − ω, onde

1 L1 R2 + L2 R1
α=
2 L1 L2 − M 2
s 2
1 L1 R2 + L2 R1 4R1 R2
ω= −
2 L1 L2 − M 2 L1 L2 − M 2
R1 R2
s1 s2 = α 2 − ω 2 =
L1 L2 − M 2
s 2
L1 R2 + L2 R1 4R1 R2
s1 − s2 = 2ω = 2

L1 L2 − M L1 L2 − M 2
então pode-se chegar a,

e0 e0 −αt e0 α −αt e 0 L2 1 −αt


i1 (t) = − e cosh ωt − e senh ωt + 2
e senh ωt .
R1 R1 R1 ω L1 L2 − M ω
FÍSICA MATEMÁTICA 27

A corrente i1 (t) é a que se estabelece no circuito 1 com o chaveamento. Note-se que ela
se mantém constante quando t → ∞. A corrente i2 é induzida devido ao acoplamento
dos indutores. A corrente será não nula enquanto a corrente i1 variar com o tempo.
Mais ainda, ela circula no sentido tal que minimiza o efeito de indução da corrente i1 ,
como estabelecido pela lei de Lenz.

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