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MINISTERIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS


Centro de Educação a Distância
Curso de Licenciatura em Educação do Campo

Práticas Pedagógicas para o Ensino de Matemática nos Anos Iniciais

Antônio Maurício Medeiros Alves1

Esse texto tem como objetivo principal abordar três questões inquietantes que
envolvem o ensino de Matemática nos Anos Iniciais: (1) o quê, (2) o como e (3) para quê
ensinar matemática às crianças?
Sem a menor pretensão de esgotar o assunto, estruturo o texto nessas em
três partes relativas a cada uma das questões apresentadas. Em cada seção serão
apresentadas problematizações e algumas sugestões para esclarecer o professor que
se dedica ao ensino de Matemática nos anos iniciais.

1. O que ensinar em Matemática nos anos iniciais?

Essa pergunta tem sido recorrente na fala dos professores dos anos iniciais,
que muitas vezes não tem clareza sobre quais aspectos da Matemática devem ser
desenvolvidos no início da escolaridade (Ensino Fundamental).
Antes de pensarmos essa questão devemos ter clareza de que os alunos não
vem de suas casas, da comunidade onde estão inseridos, como “folhas em branco”, sem
qualquer conhecimento de Matemática.
Essas crianças ao chegarem na escola, tendo ou não frequentado a
Educação Infantil, apresentam diferentes conhecimentos matemáticos, porém de forma
não estruturada, ou seja, são conhecimentos empíricos, decorrentes de suas vivências
cotidianas, que devem ser reconhecidos ou identificados pelo professor de forma que
possam ser aprofundados e formalizados, na perspectiva escolar desse conhecimento.
Esse, então, deve ser o primeiro passo do educador dos anos iniciais:
identificar os conhecimentos prévios de seus alunos. Realizada essa etapa o professor
irá preocupar-se com o que ensinar. Ora, essa pergunta está largamente respondida nos
documentos oficiais, tanto aqueles produzidos e disponibilizados pelo Ministério da

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Professor Adjunto do Departamento de Matemática e Estatística do Instituto de Física e Matemática da
Universidade Federal de Pelotas. Doutor em Educação pelo PPGE da mesma universidade.

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Educação e Cultura (MEC), quanto àqueles produzidos e disponíveis na própria escola


(Projeto Pedagógico, Planos de Ensino, etc.).
Assim, uma primeira fonte que contribui na construção de uma resposta a
essa questão, são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e, mais recentemente,
os documentos produzidos no âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa (PNAIC) que apresenta uma discussão sobre todas as áreas do conhecimento,
incluindo, a Matemática.
Esses documentos preveem que a Matemática deve ser desenvolvida desde
o início da escolaridade, a partir de quatro grandes blocos de conteúdos: Números e
Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação
(BRASIL, 1997).
Por meio da leitura desses documentos temos uma ideia do que se ensinar
em Matemática nos anos iniciais, dentro de cada um desses blocos. Deve-se destacar e
atentar para o fato de que esses blocos não devem ser trabalhados de forma separada
mas numa proposta que permita explorar conteúdos dos quatro blocos de forma
integrada. Porém para melhor visualização os documentos apresentam esses conteúdos
distintamente.
O primeiro2 bloco de conteúdos, referido nos PCNs é o de “Números e
Operações”. Esse bloco é aquele com que mais evidentemente identificamos a
Matemática escolar, pois ao falar nessa matéria de ensino, o que normalmente nos vem
à mente? números e contas (ou operações).
Esse bloco inclui o ensino das distintas categorias numéricas, ou seja, os
diferentes usos para os números em nosso cotidiano: dinheiro, horas, tempo, contagem,
etc. Também estão contempladas as quatro operações (soma, subtração, multiplicação
e divisão), incluindo sua compreensão e seu significado. Deve ser estimulado o cálculo
via diferentes recursos, sempre iniciando o trabalho pelo concreto e guiando a
aprendizagem rumo ao abstrato.
É importante que os alunos identifiquem as relações entre as operações e
que se contemple uma reflexão sobre o cálculo, que deve ser desenvolvido de forma
exata e aproximada, devendo ser exercitado tanto o cálculo escrito quanto o mental.

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Cabe esclarecer que não existe uma hierarquia ou ordem para o que se deve ensinar em Matemática,
porém para atender ao formato do texto, os blocos são apresentados em determinada ordem. Cabe ao
professor, ao identificar os conhecimentos prévios de seus alunos definir a ordem que irá dispor os
conteúdos em seu planejamento.

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O segundo bloco de conteúdos refere-se ao ensino do “Espaço e Forma”.


Nesse bloco deve ser desenvolvido o pensamento geométrico de modo que o estudante
seja capaz de “compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo
em que vive” (BRASIL, 1997, p. 55).
Já o terceiro bloco, “Grandezas e Medidas”, contribui para a compreensão
dos conceitos explorados nos blocos anteriores, pois “são contextos muito ricos para o
trabalho com os significados dos números e das operações, da ideia de
proporcionalidade e escala” (BRASIL, 1997, p. 56).
Finalmente, temos o quarto bloco, intitulado “Tratamento da Informação”,
que, infelizmente, tem sido pouco considerado na escola. Esse bloco inclui o estudo de
diferentes gráficos, pois as representações gráficas são outras formas de se representar
e compreender os fenômenos do mundo que nos cerca. Da mesma forma contempla-se
nesse bloco o estudo da probabilidade e da estatística em suas formas mais básicas, de
forma que o aluno possa “construir procedimentos para coletar, organizar, comunicar e
interpretar dados, utilizando tabelas, gráficos e representações que aparecem
frequentemente em seu dia-a-dia” (BRASIL, 1997, p.56).
Em relação à combinatória, essa deve contemplar situações problemas nas
quais o aluno seja levado a usar recursos como o principio multiplicativo da contagem.
Já no que se refere à probabilidade, deve ser trabalhada a ideia de que
determinados acontecimentos ocorrem de forma aleatória e que, alguns desses
fenômenos, podem ter seus possíveis resultados previstos antecipadamente.

2. Como ensinar Matemática nos anos iniciais

São muitos os caminhos para se fazer Matemática nos anos iniciais,


entretanto o professor deve estar atento que os conceitos a serem desenvolvidos devem
ser construídos pelos alunos e não apenas apresentados hermeticamente fechados para
serem reproduzidos por meio de exercícios de aplicação.
Esse tipo de prática é que acaba por desenvolver nos alunos um natural, ou
naturalizado, desgosto sobre a Matemática, levando-os desde cedo a terem verdadeira
aversão aos conteúdos dessa matéria de ensino.

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Entre as formas que podem ser utilizadas pelo professor, destaca-se o uso
dos materiais concretos. Assim, para o ensino do sistema de numeração, por exemplo,
vários materiais articulados como o ábaco ou o material dourado podem ser explorados.
Por meio desses materiais o professor propiciará ao aluno que já realiza contagens uma
efetiva construção do número e a compreensão de sua composição por unidades,
dezenas, centenas, etc.
Para o ensino da geometria os blocos lógicos são excelentes auxiliares. Com
esse material podem-se desenvolver nos alunos importantes operações matemáticas
como classificação, seriação e ordenação, fundamentais para a compreensão do
conceito de número e de outros tantos conceitos matemáticos.
Outros materiais, não articulados, como sucatas, por exemplo, devem estar a
disposição do professor e do aluno. Por meio de materiais de contagem como tampinhas
ou pedrinhas, os alunos poderão realizar as quatro operações concretamente para
depois representá-las por escrito.
Sempre a proposta do professor deve partir do concreto tendo em vista a
abstração do conceito desenvolvido. Dessa forma a visualização do aluno do conceito
trabalhado será muito mais efetiva e contribuirá para a verdadeira compreensão do
conceito no abstrato.
Outros recursos a disposição do professor são as histórias infantis. Por meio
da literatura infantil o professor poderá questionar os alunos problematizando questões
referentes aos quatro blocos de conteúdos já apresentados.
Também a História da Matemática deve ser utilizada como elemento
potencializador da aprendizagem dos conceitos junto às crianças. Diferentes estudos
tem demonstrado a importante função desempenhada pela História da Matemática, pois
ela humaniza essa ciência, muitas vezes cercada de uma aura sobre humana, quase
divina, além de mostrar as aplicações e origens do conhecimento matemático trabalhado
na escola.
Finalmente, longe de esgotar os recursos disponíveis para ensinar
Matemática, uma importante ferramenta que os professores devem sempre que possível
lançar mão em suas aulas é a resolução de problemas. A Matemática desenvolveu-se
como ciência a partir das necessidades humanas de resolver problemas. Esse recurso,
além de remeter às origens do conhecimento matemático, permite ao professor discutir
as diferentes compreensões dos alunos sobre determinada questão abordada, bem

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como possibilita a construção de estratégias próprias individuais ou em grupos,


desenvolvendo nos alunos a autonomia e autoconfiança.
Independentemente do recurso a ser utilizado para o ensino de Matemática
nos anos iniciais, é fundamental que o professor reconheça e respeite os diferentes
tempos dos alunos, pois os primeiros contatos formais com a Matemática poderão ser
decisivos para um bom aproveitamento ao longo da escolaridade.

3. Para quê ensinar matemática às crianças?

O ensino de Matemática se justifica inicialmente pela própria presença dessa


matéria de ensino na vida humana. A quase totalidade das relações humanas envolvem,
em alguma medida, os números, que são a base formal do conhecimento matemático.
Porém o ensino de Matemática nos anos iniciais tem muitos outros objetivos,
dentre os quais podemos citar a instrumentalização dos estudantes para a resolução de
problemas numéricos no cotidiano, o preparo e desenvolvimento do raciocínio lógico
(desde que propostas atividades com essa finalidade) que contribuirão para a tomada de
decisão frente a situações reais, a compreensão do espaço para melhor posicionar-se e
atuar sobre os corpos geométricos que fazem parte de seu dia-a-dia, interpretar dados
representados em tabelas e/ou gráficos para saber posicionar-se criticamente frente à
informações que lhes são apresentadas, entre tantos outros motivos.

Esse texto teve como objetivo problematizar as questões propostas


inicialmente, entretanto, como anunciado, não pretende esgotar nenhum desses
assuntos, somente promover uma reflexão em cada futuro professor, mostrando que a
Matemática não pode ser desconsiderada nos anos iniciais, ao contrário, será nessa
etapa da escolaridade que iremos definir alunos com gosto ou não para essa área de
conhecimento, tão fundamental na vida humana.

REFERÊNCIA:
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.

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