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Bergsonismo: da critica ao princípio

associacionista a uma nova Psicologia.

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Luiz Fernando de Oliveira Proença.


Bergsonismo: da critica ao princípio
associacionista a uma nova Psicologia.

RESUMO

Este trabalho pretende acompanhar os problemas da constituição de


uma psicologia conforme é apresentado por Henri Bergson nas suas duas
primeiras obras: Essai sur les données immédiates de la conscience (1888)
e Matiére et Mémoire (1896). Partindo de uma contextualização da
psicologia no séc.XIX, o trabalho procurará acompanhar o movimento
exigido no estabelecimento dessa nova psicologia frente à teoria
associacionista do espírito e das psico-fisiologia e psico-fisica. Através de
uma análise desta teoria e dessas duas ciencias se investigará onde se
fundamentam tais psicologias e como devém a critica bergsoniana destas.
Seguindo aquelas duas obras se obterá uma clareza acerca dos fundamentos
dessa nova psicologia e seu real âmbito de investigação – apresentando,
consequentemente, os « erros » daquelas teorias – .

Palavras-chave : Psicologia ; associacionismo ; Bergson.

1.Introdução.
Este trabalho tem como âmbito de estudo um período bem determinado na
historia da filosofia. Isto é, a virada do séc.XIX para o XX.

Nesta ocasião é comum a filósofos tanto ingleses, alemães ou franceses um


problema geral: a saber, a constituição da psicologia como ciência. Esta questão não é
nova, porém não nos cabe aqui fazer uma historia da psicologia – já que desde
Aristóteles, em seu Da Alma, o tema é largamente estudado, porém com muitas
diferenças do que hoje vem a ser o campo da psicologia.

A herança grega trazida até os dias de hoje sofreu inúmeras transformações e


nem sempre foi tão simples, como pode parecer ao senso comum de hoje, dizer que a
psique, ou alma, era um objeto claro e bem determinado para ser objeto de uma ciência.
Tratar a psicologia como uma ciência entre as demais e, como tal, afirmar de forma tão
decidida e certa pode parecer hoje como uma posição imediatamente tachada como
absurda ou desnecessária: quer dizer, a ciência psicológica tornou-se algo “evidente” –
ainda mais depois dos êxitos práticos da psicologia experimental e da psicanálise com S.
Freud.

No entanto, esta “certeza” e “evidência” têm sob si um solo cuja estabilidade


depende radicalmente de compreensões fundamentais; pois se hoje a crença na
possibilidade de investigação de fenômenos psicológicos se mostra assegurada, isto só
se deu graças a uma fundamentação deste âmbito enquanto passível de uma
investigação científica. Na medida em que esta “evidência” se torna uma segurança que
ignora ou não questiona seus pressupostos, perdem-se de vista os problemas
fundamentais que a própria ciência porta.

Por exemplo, o conceito de alma herdado da metafísica medieval contribuiu


ainda mais para dificuldade do problema que estamos expondo. Pois, por um lado o
espírito positivista do sec.XIX – notadamente A. Comte1 - rejeitou qualquer tipo de
especulação filosófica sobre objetos vagos como o era, por exemplo, a “alma”, devido
ao seu aspecto “introspectivo” e também por lhe conceder o status de uma ciência
metafísica - uma vez que não se trata de fenômenos, mas de uma substância alma -. Foi,
então, umas das principais forças que alimentaram a evolução dessa ciência no séc.XIX,
a de afastar das especulações metafísicas que até então dominavam o terreno da
psicologia – o objeto da psicologias não seria mais a “alma”, enquanto entidade
metafísica, mas o espírito, no sentido de estados ou fenômenos psíquicos. Friedrich
Albert Lange, em seu livro Historia do Materialismo (1866) relata a aparente
dependência da psicologia à noção, cara para este período da historia, de alma:

1
“essa pretensa contemplação direta do espírito por si mesmo é pura ilusão”. Comte, 1830-1842. In
Curso de Filosofia Positiva, pg.15.
Antes de tudo, deve-se mencionar que o conceito de psicologia só pode ser um
conceito fixamente delimitado e inteiramente claro para os escolásticos ou para os
pedantes ignorantes. De fato, alguns abeis e sagazes homens começaram suas supostas
investigações científicas com uma secção ‘A essência da alma’; mas isto é, pois, apenas
uma repercussão da vazia escolástica metafísica, se eles imaginavam que conseguiram
ganhar dessa forma uma base segura para a investigação2
Porém, por outro lado, Kant já no sec.XVIII havia contribuído para a
negatividade da possibilidade de uma psicologia como ciência – para dizer em seus
termos -, na medida que o sujeito psicológico não pode ser dado na intuição sensível
espaço-temporal. Isto é, a crítica kantiana recai em relação à psicologia empírica, que
por investigar os fenômenos do sentido interno, estaria impossibilitada de alcançar
conhecimentos objetivos. Diferente da física, cujos objetos de investigação estão
submetidos às duas dimensões, tempo e espaço, a psicologia investigaria fenômenos
unicamente temporais, o que constituiria a impossibilidade da aplicação matemática em
seu domínio e, consequentemente, sua não cientificidade.

Assim, o kantismo, em geral, a parte das discussões metafísicas, tão pouco


considerava legitimava uma Psicologia racional, teórica. Pois uma psicologia
especulativa não passaria de uma ilusão da razão, pois o eu transcendental, sendo
condição necessária de todo conhecimento – “O eu penso deve acompanhar todas as
minhas representações” (Kant, CRP) - , condição de possibilidade de toda objetividade,
jamais poderia ser objeto de experiência interna. À psicologia cabia, a partir de então,
apenas o estudo do eu empírico, objeto da experiência interna, e não mais a tarefa de
uma teoria do conhecimento. Se, porém, para Kant, isso era motivo para uma redução
do valor da psicologia, para a própria psicologia essa critica foi o impulso necessário
para sua posterior constituição enquanto ciência experimental.

Deste modo, frente a estas críticas decorrentes do contexto histórico, à


psicologia no sec.XIX só restou ser fundada a partir de outras ciências. Quer dizer, se a
ciência positiva negou cientificidade àquilo que se denominava “alma” ou psique, neste
mesmo momento outras ciências nasciam com enorme vigor, por exemplo, a fisiologia e
a química.

Assim é que na Alemanha Johann Friedrich Herbart toma lugar privilegiado na


historia da filosofia e da psicologia alemã. Conforme escreve A. Lange, “ (...) a escola
de Herbart constitui, para a Alemanha, um membro importante da época de transição,
2
Tradução da edição francesa Histoire du materialisme, 468.
embora aqui a ciência esteja somente começando de maneira árdua a se libertar da
metafísica3”. Posteriores a Herbart aparecem W. Wundt que funda a psico-fisiologia
com sua obra Psychologie physiologique e G. Fechner a psico-física, com seu
“Elementos de psicofísica” – o qual foi também um dos pioneiros da psicologia
experimental - . De maneira geral, os dois buscaram quantificar e relacionar o psíquico
com o físico. Ou seja, observar no homem aquilo que se observou na natureza com a
ajuda das ciencias físico-matematica e fisico-quimicas; e, consequentemente, lhe
estender as leis obtidas4.

Demonstraram, pois, leis estabelecendo a relação entre a quantidade de


excitação e a intensidade da sensação, por exemplo; buscaram encontrar um principio
para uma estática e mecânica das representações; procurou-se determinar as leis de
relação entre representações...Estes são todos indicios da prentesão de aplicar o método
das ciencias naturais ao psiquico. Esta psicologia empírica, que se apoia no metodo da
observação, imprime uma separação clara em relação àquela psicologia racional, que
pretendia, pura e simplesmente atraves da reflexao, isto é, sem recorrer à experiencia,
alcançar um conhecimento objetivo da alma.

O aparecimento da uma psicologia científica durante o desenvolvimento das


Naturwissenchaften - ciências da natureza - tem um estímulo principal, ele é certamente
o resultado dos inúmeros estudos de fisiologia que se multiplicavam no período. A
fisiologia, que havia herdado os seus métodos da física, adquiria seu estatuto cientifico
precisamente por manter estes métodos em seu domínio. Na primeira metade do
séc.XIX a fisiologia ganhava força com as investigações do sistema nervoso e a
formulação de leis acerca da variabilidade estrutural e funcional dos nervosos motores e
sensorial (Bell e Magendie), assim como a mensuração dos impulsos nervosos
(Helmholtz). Nomes de grandes fisiologistas como Johannes Müller na Alemanha,
Marshall Hall na Inglaterra e Claude Bernard na França, indicam como esta ciência,
cuja influência fora fundamental no surgimento da psicologia cientifica, havia se
alastrado pela Europa no inicio do século XIX.

Essa importação do conhecimento físico para o corpo humano 5, isto é, seua


combinação com a anatomia, fez com que no centro das investigações estivesse o
3
Lange, 1866, pg.473.
4
Isso significa dizer que ao psíquico se aplicará o mesmo método das ciências naturais – problema
fundamental para a psicologia de Henri Bergson, autor do qual esse projeto se propõe a estudar.
5
Para Helmholtz, por exemplo, a fisiologia não era nada mais do que física aplicada.
problema da sensação, assim como os outros elementos básicos que compõem os
fenômenos mentais. A investigação psicologia ganhava, a partir daí, um caráter físico-
quimico; sua tarefa era a de organizar os últimos elementos da vida psíquica e submetê-
los às leis gerais da associação. Junto à introdução da física (através da fisiologia) na
investigação dos fenômenos psíquicos, importava-se a pretensão de fundamentar a
psicologia sobre a matemática, tornando a ciência psicológica uma ciência exata. De tal
modo reunidas, a psicologia e a física constituíam a ciência psico-fisica, tal como a
conceberam Ernst H. Weber e Gustav Fechner.

A partir de então, as investigações deveriam ser feitas através de experimentos


que permitissem a mensuração dos estímulos e das sensações; partindo da relação com a
grandeza do estimulo físico se alcançaria uma medida para as “grandezas psíquicas”.
Possibilitando o estabelecimento de leis psicologias – psico-fisicas – precisas. A psico-
fisica era, portanto, a tentativa de estabelecer uma relação entre o fenômeno
físico(estimulo) e o fenômeno psíquico(sensação).

Tendo a investigação das sensações no núcleo de seus procedimentos, a


psicologia experimental exigia uma participação direta de um sujeito da experiência. A
tarefa característica da psicologia passava a ser a de investigar “todo o conteúdo da
experiência em suas relações com o sujeito e em referencia às propriedades que este
conteúdo deriva imediatamente do sujeito6(Wundt)”.

O método da psicologia fisiológica (ou experimental) é a introspecção, mas não


mais aquela “pura introspecção” que já havia sido tão censurada devido à sua
arbitrariedade. Suportada pelo método experimental, a “observação interna” podia ser
diligentemente administrada. A união entre os métodos da fisiologia experimental e a
introspecção possibilitava a constituição de uma ciência precisa das experiências
imediatas.

Esse valor atribuído às ciências empíricas em geral traduziam o espírito


positivista que tomava conta da Europa durante o século XIX. Restringida aos dados
reais da experiências(fenômenos), as ciências se apartavam completamente da
metafísica, excluindo de sua investigação a busca das causas ultimas.

6
In Lange, Histoire du materialisme.
Enfim, se há algo que caracteriza a psicologia no sec.XIX, haveria de ser a
trajetória dessa sua missão de, recusando pressupostos que lhe são exteriores
(metafísicos/especulativos), se apropriar de seus próprios contornos. A força com que se
realiza esse surgimento da psicologia cientifica se compreende quando se tem em vista
as grandes e nobres tarefas a que essa ciência estava destinada a desempenhar; aquilo
que aquela antiga psicologia prometia, esta nova e livre ciência poderia, talvez, alcançar.

2.Objetivos.

Este caráter de depêndencia da psicologia, que dava seu fundamento em última


instância a leis físico-químicas que leva outros pensadores a repensar o estatuto
epistemologico dessa nova ciência. Entre eles poderiamos mencionar tanto Franz
Clemens Brentano, na Alemanha, com sua Psychologie du point du vue empirique,
como também S. Mill, na Inglaterra, com seu Sistema de logica dedutiva e também, por
fim, Henri Bergson, na França, com seu Essai sur les donées immédiates de la
conscience (1889) e Matière et Mémoire (1896).

Sobre o primeiro, poderiamos dizer que Brentano cuidará de expor os traços


essenciais que possibilitarão respostas positivas para as questões tais como a
cientificidade e autonomia da psicologia e a negação de pressupostos metafísicos. Ou
seja, Brentano, grosso modo, emprega o método das ciências naturais
(Naturwissenchaften) à psicologia, define a percepção interna7 como oposta à
observação interna, ou “introspecção”, e procura, por fim, determinar o objeto da
Psicologia, que serão os fenômenos psíquicos em geral. Que, por sua vez, distinguem-se
entre físicos e psíquicos, sendo que estes possuem a características necessária de serem
intencionais.

Contudo, é sobre o último que nosso trabalho irá se concentrar. A partir daqueles
dois livros iremos tentar conduzir nossa analise sobre três pontos principais. A saber: a
constituição de uma teoria geral de psicologia, o problema de sua constituição frente à
fisiologia e psico-física e terceiro a analise critica feita tanto no Essai quanto no Matière
et Mémoire do princípio ou lei de associação de idéias – notadamente, ponto principal
onde se concentrará boa parte deste trabalho.

7
Definição que se impôs para se contrapor à introspecção – termo usual entre aqueles se opunham à
constituição da psicologia como ciência, pois esta trata de “observações subjetivas...”
Deste modo, o tema central desta dissertação será a constituição de uma
psicologia à luz daquilo que é essencial a reflexão bergsoniana, a noção que
posteriormente será exposta no decorrer deste trabalho: trata-se do tempo ou melhor da
durée. Como disse Camille Riquier8, “a obra de Bergson é um corpus sobre o tempo”.

Deste ponto de vista, por tanto, analisaremos a fundamentação de uma


psicologia que pensa o todo da realidade psíquica como essencialmente temporal. A
primeira obra, o Essai sur les données immédiates de la consience, consiste em defender
essa tese: o psíquico é por natureza temporal, o que significa que a subjetividade antes
de tudo dura.

Contudo, irá mostrar Bergson que, se essa temporalidade é de direito, porém, de


fato, não o é. Nossa consciência, orientada em função mais do espaço que pelo tempo,
em razão do nosso pensamento e de nossa ação, terminou por perder a natureza
propriamente temporal de nossos estados de consciência. Disto decorreu que grande
parte das teorias psicológicas de seu tempo tinha por princípio as formas ou categorias
através das quais nós lidamos com a natureza do mundo exterior, tal como o físico e o
geômetra prosseguem, e a transferimos para nossa vida subjetiva: “ (...) nous nous
apercevons à travers de formes empruntées ao monde extérieur 9”. É a partir deste tipo
de análise de nosso espírito que o determinismo psicológico se impõe e forma parte
essencial do problema central do Essai, ou seja, sobre a liberdade dos fatos da
consciência.

“Ainsi naît Le déterminisme associationniste, hypothèse à l´appui de laquelle on


invoquera Le témoignage de la conscience, mais qui ne peut encore prétendre a une
rigueur scientifique. Il semble naturel que ce déterminisme en quelque sorte
approximatif, ce déterminisme de la qualité, cherche à s´étayer du même mécanisme qui
soutient les phénomènes de la nature: celui-ci prêterait à celui-là son caractere
géometrique, et l´operation profiterait tout ensemble au déterminisme psychologique,
qui em sortirait plus rigoureux, et au mécanisme physique, qui deviendrait universel10.”

8
Refêrencia ao que pensava Heidegger sobre a filosofia de Bergson. in Imagens da Imanência,
2007,Ed.authentica.
9
Essai sur lês données immédiates de la conscience, pg.102, Ouvres, Presses Universitaires de
France,1959.
10
Idem, pg.99.
É a partir desta crítica da concepção de tempo, que se confunde com o espaço,
que Bergson irá contrapor este tempo espacializado à duração mesma; e,
conseqüentemente, refundar uma psicologia que é legítima ao seu objeto, isto é, a
temporalidade. Ou, dito de outra forma, se fará “recouvrir une oposition profonde entre
deux modes de connaissance, la science objective et la conscience immédiate, et surtout
entre deux domaines de la realité, les choses extérieures et la ‘durée’ psychologique11”

O problema do principio de associação das idéias resultou certamente desta


espacialização do eu através das formas exteriores com as quais nós podemos obrar na
natureza. Resta, então, purificar aquilo que é essencialmente psíquico daquilo que nós
emprestamos de uma necessidade geométrica de se lidar com a natureza. “ Intensité,
durée, détermination vonlontaire, voilà les trois idées qu´il s´agissait d´epurer, en les
débarrassant de tout ce qu´elles doivent à l´instrussion du monde sensible et, pour tout
dire, à l´obsession de l´idée d´espace12”.

A psicologia associacionista, levada por esse impulso espacializante, não fez outra coisa
senão em considerar nossos estados psíquicos como formas atomizadas que se ligam por
três princípios decorrentes de um fundamento que tem suas razões na física e na
matemática: isto é, a justaposição, a sucessão e causalidade. No segundo capítulo, da
multiplicidade dos estados de consciência, Bergson explicita o erro do associacionismo
quando tenta fazer da multiplicidade qualitativa uma multiplicidade simbólica
quantificável: “Mais lorsque nous nousfigurons que les éléments dissociés sont
précisément ceux qui entraient dans la contexture de l'idée concrète, lorsque, substituant
à la pénétration des termes réels la juxtaposition de leurs symboles, nous prétendons
reconstituer de la durée avec de l'espace, nous tombons inévitablement dans les erreurs
de l'associationnisme13”
O percurso do Essai, poderíamos dizer que, grosso modo, se resume a: 1°
considerar os estados psíquicos em particular e, então, levantar a tese que estes estados
são pura qualidade e que sua quantificação – tão largamente mensurada pelas
psicologias fisiologicas e psicofísicas - tinha sua causa situada no espaço. Ou seja,
tomando como reflexo da investigação feita pela física na natureza, aqueles psicólogos
consideraram o objeto da psicologia da mesma forma como se considera os objetos da
física ou matemática. Cito Bergson: “Ou bien donc il y a une formule psychophysique
11
“Introduction à ‘Matière et Mémoire’ ”, pg.4, F.Worms. ed. PUF
12
Essai, pg.99.Ouvres, PUF,1959.
13
Essai,pg.61, cap.II, PUF, 1959.
possible, ou l'intensité d'un état psychique simple est qualité pure 14”. 2° analise dos
estados psicológicos quanto à sua multiplicidade. A psicologia tomando os fatos
psíquicos do mesmo modo como percebemos os objetos materiais em si mesmos no
espaço, confundiu a multiplicidade numérica, justaposta em um meio homogêneo, com
a realidade subjetiva que é indivisível e onde seus elementos se inter-penetram. “C'est
pour ne l'avoir pas fait que les associationnistes sont tombés dans des erreurs parfois
grossières, essayant de reconstituer un état psychique par l'addition entre eux de faits de
conscience distincts, et substituant le symbole du moi au moi lui-même 15”. E, por fim, o
estudo dessa multiplicidade constitui certa determinação dos estados um pelo outro. Por
terem feito aquela dissociação em elementos atomizados na consciência, os psicólogos,
renunciaram à tese da liberdade da consciência. O que leva ao nosso autor a por o
problema da liberdade não sob o principio da espacialidade, mas em função do Tempo.
“De quelque manière, en un mot, qu'on envisage la liberté, on ne la nie qu'à la condition
d'identifier le temps avec l'espace ; on ne la définit qu'à la condition de demander à
l'espace la représentation adéquate du temps ; on ne discute sur elle, dans un sens ou
dans l'autre, qu'à la condition de confondre préalablement succession et simultanéité.
Tout déterminisme sera donc réfuté par l'expérience, mais toute définition de la liberté
donnera raison au déterminisme16”.
Já na segunda obra a ser lida, Matière et Mémoire, a psicologia irá fazer parte de
uma teoria ainda mais geral, quer dizer, decorrerá das conseqüências que uma teoria da
memória acarreta ao problema central da obra: o problema do dualismo entre matéria e
espírito.

“Il est donc nettement dualiste. Mais, d´autre part, Il envisage corps et esprit de
telle manière qui´il espère atténuer beaucoup, sinon supprimer, les difficulties théorique
que le dualism a toujours soulevées et qui font que, suggéré par la conscience
immediate, adopté par le sense commun, il est fort peu en honneur parmi les
philosophes17”

A psicologia será tratada a partir do desenvolvimento das teses apresentadas e


demonstradas dentro do corpo da obra. Quer dizer, diferentemente do desenvolvimento
do Essai, onde a tese da duração psicológica é constantemente referida para se contrapor

14
Idem, ibedem, pg.99, cap.III
15
Idem,ibedem,pg.100
16
Idem,ibedem,pg.101
17
Matière et Mémoire Ouvres, PUF,1959.
à tese do atomismo e determinismo psicológico, teses que são externas ao texto, em
Matière et Mémoire esta nova psicologia surge como decorrência das analises feita por
Bergson do psíquico. É assim que se termina o prólogo à sétima edição francesa: nous
croyons qu'on se retrouvera sans peine si l'on ne lâche pas prise des deux principes qui
nous ont servi à nousmême de fil conducteur dans nos recherches. Le premier est que
l'analyse psychologique doit se repérer sans cesse sur le caractère utilitaire de nos
fonctions mentales, essentiellement tournées vers l'action. Le second est que les
habitudes contractées dans l'action, remontant dans la sphère de la spéculation, y créent
des problèmes factices, et que la métaphysique doit commencer par dissiper ces
obscurités artificielles18”.
Em Matière et Mémoire o “erro” associacionista se funda em um novo ponto de vista.
É dentro do 2º esquema exposto no terceiro capítulo que a crítica se expõe. De acordo
ao movimento que vai dos recordos (em A) à percepção (em D), o associacionismo faz
um corte artificial (M-O) entre esses dois termos fixados. “L'erreur constante de
l'associationnisme est de substituer à cette continuité de devenir(A-D), qui est la réalité
vivante, une multiplicité discontinue d'éléments inertes et juxtaposés19”. “le principe de
l'associationnisme veut que tout état psychologique soit une espèce d'atome, un élément
simple. De là la nécessité de sacrifier, dans chacune des phases qu'on a distinguées,
l'instable au stable, c'est-à-dire le commencement à la fin20”. Na concorrência que o
associacionismo institui entre o estável e o inestavel, a percepção desplaçará sempre ao
recordo-imagem,e o recordo-imagem ao recordo-puro ( portanto, o recordo-puro
desaparece completamente).
Segue-se o esquema:

A duração psicológica que vai de A-D sem distinção precisa


é substituída pelo associacionismo por dois fragmentos nitidamente mensuráveis:
Uma linha que vai de O-D que é a sensação, e uma linha de O-A que é a imagem.

18
Matière et Mémoira, Ouvres,pg.9 PUF,1959.
19
Idem,ibedem,pg.81.
20
Idem,ibedem,pg.81
A vida psicológica se reduz, então, a dois elementos: a sensação e a imagem. A
duração dos estados de consciência – tese central do Essai – é abolida pela psicologia
associacionista na medida em que só se considera os elementos que de fato são mais
importantes para aquele eu social, que está na superfície da consciência e que está
voltado para a ação. Este corte feito pelo associacionismo é fruto do hábito mais que da
natureza mesma da duração psicológica.

O problema central será, então, investigar em que se fundam os princípios ou


leis de associação? O associacionismo é referido no Essai como uma teoria que falsifica
a realidade do espírito, que representa-o eu como um agregado de estados psíquicos,
reduzindo-o, enfim, a uma soma de fatos de consciência, sensações e idéias. O erro do
associacionismo, diz Bergson,

“Le tort de l'associationnisme est d'avoir éliminé d'abord l'élément qualitatif de l'acte à
accomplir, pour n'en conserver que ce qu'il a de géométrique et d'impersonnel : à l'idée
de cet acte, ainsi décolorée, Il a fallu associer alors quelque différence spécifique, pour
la distinguer de beaucoup d'autres. Mais cette association est l’oeuvre du philosophe
associationniste qui étudie mon esprit, bien plutôt que de mon esprit lui-même21”.
4.Metodologia

Analise dos textos de Henri Bergson. Especificamente Essai sur les données
immédiates de la conscience e Matière et Mémoire.

4. Cronograma.

Em dois anos ( 24 meses) se contemplará a pesquisa e estudo do tema e do autor


juntamente com a produção escrita do trabalho.

5.Referência.

Essai sur lês données immédiates de la conscience, Henri Bergson, Ouvres, PUF,1959.
Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, Henri Bergson, trad. João S.
Gama,Lisboa, Ed.70
Matière et Mémoire, Ouvres, Henri Bergson, PUF,1959.
Matéria y Memória, Henri Bergson, trad.Pablo Ires, Ed. Cactus, Buenos Aires, 2006.

21
Essai sur lês données immédiates de la conscience,pg.73 cap.III, Ouvres, Presses Universitaires de
France,1959.
De l´Habitude, Félix Ravaisson, Rivages poche/petit biblioteque, 1997.
Introduction à Matière et Mémoire de Bergson, Frédéric Worms, PUF,1997.

Imagens da imanência, org. Eric Lecerf, Siomara Borba, Walter Kohan, Ed.authentica,
2007.

Intuição e discurso filosofico, Franklin Leopoldo Silva, USP.

Histoire du Materialisme, F.A. Lange, trad. B. Pommerol, Paris, Alfred Costes, 1921.

Psychologie du point de vue empirique, F. Brentano, trad. Maurice de Gandillac,Paris,


Aubier, 1944

Curso de Filosofia Positiva, A. Comte, trad. Jose Gianotti, São Paulo, Ed. Nova
Cultura, 1996.

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