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Correlações entre as características estruturais do capim-massai em diferentes sistemas de cultivo sob

pastejo1

Wanderson Fiares de Carvalho2*, Raniel Lustosa de Moura2, Maurílio Souza dos Santos3, Shirlenne Ferreira
Silva4, Tânia Maria Leal5, Diego Oliveira Torres6, Nayron Bruno do Nascimento Reis6, Wallace de Andrade
Chaves6
1
Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor.
2
Doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – UFPI, Teresina-PI. fiareszootec@outlook.com.br
3
Docente do curso de Zootecnia – UESPI, Corrente-PI, Brasil.
4
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFC, Fortaleza-CE, Brasil.
5
Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte, Teresina-PI, Brasil.
6
Zootecnista IESM, Timon-MA, Brasil.
*Autor apresentador.

Resumo: objetivou-se avaliar as correlações entre as características estruturais do capim-massai em diferentes


sistemas de cultivo sob pastejo. As correlações foram avaliadas em experimento conduzido em delineamento
inteiramente casualizado com três tratamentos, sendo monocultivo de capim-massai, silvipastoril de capim-
massai com cajueiros e o mesmo sistema silvipastoril com cajueiros e estilosantes. Existe associação
características estruturais do capim-massai mesmo em diferentes sistemas de cultivo.

Palavras-chave: cajueiros, estilosantes, morfologia, sistema silvipastoril, sombreamento

Correlations between the structural characteristics of massai grass in different cropping systems under
grazing

Abstract: objective was to evaluate the correlation between the structural characteristics of massai grass in
different cropping systems under grazing. The correlations been evaluated in an experiment conducted in a
completely randomized design with three treatments, and monoculture massai grass, silvipastoral of massai grass
with cashew trees and the same silvopastoral system with cashew and estilosantes. There is an association
structural characteristic of massai grass even in different cropping systems.

Keywords: cashew trees, estilosantes, morphology, shading, silvopastoral system

Introdução
O capim-massai é um híbrido natural resultante do cruzamento entre Panicum maximum e Panicum
infestum que tem mostrado elevado potencial produtivo. Para que seja conhecida a produtividade dessa gramínea
nas mais diversas condições de cultivo, devem ser realizados estudos avaliando sua resposta a diferentes fatores
de produção, especialmente sobre sua ecofisiologia que contribuirão para a predição de melhores estratégias de
manejo para a otimização da produção e utilização dessa forrageira (CARVALHO et al., 2014).
A importância de mensurar as características estruturais do capim-massai em diferentes sistemas de
cultivo sob pastejo também é fundamentada no reconhecimento de que a estrutura do pasto é uma característica
central e determinante tanto da dinâmica de crescimento quanto do comportamento ingestivo dos animais em
pastejo (SANTOS et al., 2009).
Perfilhos podem responder ao ambiente por meio de adaptações genéticas e aclimatação fenotípica que
resultam em alterações nas características estruturais do dossel forrageiro, essas modificações determinam a
capacidade dessa gramínea de ser perene em ambiente sombreados como em sistemas silvipastoris (CAMPOS et
al., 2007). Objetivou-se avaliar as características estruturais do capim massai em sistema silvipastoril e
consorciado com estilosantes Campo Grande sob pastejo.
Material e Métodos
O experimento foi realizado nos meses de março a julho do ano de 2012, em Teresina, PI, no campo
experimental da Embrapa Meio-Norte com coordenadas de 5° 06’ 18’’ S e 42° 48’ 12’’ W. Conforme o sistema
Köppen, a região é classificada como Aw-Tropical chuvoso de Savana, com inverno seco e verão chuvoso. A
precipitação pluviométrica anual média é 1.200 mm e a temperatura anual média 28 ºC. O solo da área
experimental é Latossolo Amarelo, com as características químicas: pH (H 2O) =5,7; Ca=1,0 cmol/dm³; Mg=0,4
cmol/dm³; K=0,18 cmol/dm³ e Al=0,1 cmol/dm³; P disponível=7 mg/dm³; e, matéria orgânica=3,5 mg/kg. A área
experimental foi adubada com 50 kg/ha de P 2O5 e KCl logo após os cortes de uniformização. A adubação
nitrogenada foi parcelada na dose de 100 kg/ha de N por ciclo de pastejo, aplicado na forma de ureia agrícola.
O plantio dos cajueiros foi realizado com espaçamento de 8 m x 8 m e do capim-massai foi realizado em
linhas espaçadas 30 cm entre si, sendo que na pastagem consorciada duas linhas de gramíneas foram intercaladas
com uma de estilosantes cv. Campo Grande. Os cajueiros receberam uma poda de limpeza no mês de março para
maior passagem de luz para o estrato herbáceo favorecendo o crescimento da gramínea. Adotou-se o
delineamento inteiramente casualizado em parcelas subdivididas com três tratamentos: monocultivo de capim-
massai, silvipastoril de capim-massai com cajueiros e silvipastoril de capim-massai com cajueiros e estilosantes
(parcela principal) e dois ciclos de pastejo (subparcelas). Foram avaliados dez perfilhos por piquete em quarto
piquetes sorteados, totalizando quarenta perfilhos por tratamento.
Foi utilizada lotação rotacionada com 3 dias de ocupação e 27 de descanso, em dez piquetes de 170 m2
por tratamento. Este ciclo foi repetido duas vezes nos meses de março a julho de 2012. Para a desfolha da
pastagem foram utilizados ovinos machos, sem padrão racial definido, com peso médio de 20 kg, em taxa de
lotação variável, de modo a obter um resíduo de pós-pastejo de 20 cm de altura. Após o pastejo dos animais, no
período de descanso da pastagem, foram marcados 10 perfilhos ao acaso em duas transectas em cada um dos
quatro piquetes sorteados, totalizando 40 perfilhos por tratamento, sendo estes, identificados com fios coloridos.
As avaliações foram realizadas a cada três dias totalizando nove avaliações por ciclo, onde foram registrados os
dados referentes ao comprimento da lâmina foliar expandida e em expansão, ao número de folhas por perfilho,
ao número de folhas vivas, mortas e em senescência.
A partir dessas informações foram calculadas as variáveis morfológicas conforme Oliveira et al. (2007) o
comprimento final da lâmina foliar (CLF), número de folhas verdes/perfilho (NFVe), Número de Folhas em
Senescência (NFSe), Número de Folhas Mortas (NFMo) e o número total de folhas (NTF). O banco de dados
gerado com essas avaliações foi utilizado para o estudo de correlação lineares de Pearson entre as características
estruturais do capim-massai. Foi utilizado o procedimento estatístico PROC CORR do logiciário estatístico SAS
versão 9.0. Todas as análises estatísticas foram realizadas ao nível de significância de até 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão
Os dados referentes as correlações lineares de Pearson entres as características estruturais do capim-
massai em diferentes sistemas de cultivo (monocultivo de capim-massai, silvipastoril de capim-massai com
cajueiros e silvipastoril de capim-massai com cajueiros e estilosantes) sob pastejo de ovinos estão apresentados
na tabela 1. De acordo com os coeficientes de correlação, algumas características estruturais explicam, em parte,
outras características estruturais (Tabela 1). Foi observada correlação negativa (p<0,01) entre a comprimento
final da lâmina foliar (CLF) e o número total de folhas (NTFo) com coeficiente igual a -0,36.

Tabela 1. Correlações lineares de Pearson entre as características estruturais de perfilhos de capim-


massai em diferentes sistemas de cultivo pastejados por ovinos, coeficientes de correlação na diagonal
superior e valores de significância na diagonal inferior.
Variáveis CLF NFVe NFSe NFMo NTFo
CLF (cm) 1 -0,22 -0,16 -0,23 -0,36*
NFVe (folha/perfilho) 0,0884 1 0,09 -0,33* 0,79*
NFSe (folha/perfilho) 0,2192 0,4782 1 -0,02 0,28**
NFMo (folha/perfilho) 0,0690 0,0089 0,8725 1 0,16
NTFo (folhas/perfilho) 0,0044 <0,0001 0,0275 0,2177 1
Média 34,00 ± 5,15 2,98 ± 0,44 0,08 ± 0,13 0,21 ± 0,29 3,24 ± 0,44
EPM 0,66 0,55 0,01 0,03 0,05
CLF - Comprimento da Lâmina Foliar; NFVe - Número de Folhas Verdes; NFSe - Número de Folhas em Senescência; NFMo -
Número de Folhas Mortas; NTFo - Número Total de Folhas; EPM - Erro Padrão da Média; Coeficiente de Variação; *P<0,01;
**P<0,05.
As características estruturais das gramíneas, assim como sua produtividade, são determinadas pelas
características morfogênicas. Segundo Lamaire e Chapman (1996) os principais fatores determinantes do CLF
são o alongamento e aparecimento de folhas, enquanto que o alongamento está diretamente correlacionada com
o CLF o aparecimento está associada com o menor CLF. A correlação observada entre o NTFo e o CLF
confirma essa teoria, pois quanto maior for o CLF menor será o NTFo. A elevação no comprimento foliar trata-
se de um mecanismo adaptativo ao sombreamento exercido pelos cajueiros, fazendo com que a planta passe por
uma série de modificações morfofisiológicas para compensar a deficiência de luz aumentando o seu
comprimento final (CAMPOS et al., 2007).
O sombreamento do sistema silvipastoril leva ao maior CLF e pseudocolmo o que aumenta a
distância a ser percorrida pela folha até a sua emergência elevando tempo de surgimento de folhas novas
reduzindo, portanto, o aparecimento foliar e o NTFo. Além disso, os menores valores do NTFo dos sistema
silvipastoril também podem ser atribuídos à redução da temperatura sob a copa das árvores, pois a menor
incidência luminosa associada a menor temperatura pode inibir a atividade de gemas e comprometendo a
formação de novas folhas e novos perfilhos (CARVALHO et al., 2014).
Foi observada correlação negativa (p<0,01) entre o número de folhas verdes (NFVe) e o número de folhas
mortas (NFMo) com coeficiente igual a -0,33. Essa correlação negativa entre o NFVe e o NFMo já era esperada
pelo fato de que a planta forrageira emite folhas constantemente da mesma forma que as folhas entram em
senescência e morrem, existindo assim, um equilíbrio genético entre o surgimento e morte das folhas no perfilho.
Dependendo do genótipo, das condições de meio e manejo, a estabilização entre o NFVe e o NFMo por perfilho
constitui-se um índice objetivo para orientar o manejo de forrageiras (OLIVEIRA et al., 2007).
Foi observada forte correlação positiva (p<0,01) entre o NFVe e o NTFo com coeficiente igual a 0,79, a
correlação positiva entre a NFVe e o NTF está relacionado ao fato de que a NFVe é uma constante genotípica da
planta bastante estável independente do manejo aplicado e das condições edafoclimáticas (CARVALHO et al.,
2014). Assim, o NFV é obtido do equilíbrio entre o aparecimento e morte das folhas, conforme a gramínea
produziu mais folhas e não houve influência do ambiente em aumentar a senescência e a morte das folhas, o
NFVe acompanhou a NTFo. Além disso, o NFVe também fazem parte do somatório para compor o NTFo, sendo
assim diretamente proporcionais.
Foi observada correlação positiva (p<0,05) entre o número de folhas senescentes NFSe e o NTFo, essa
correlação ocorreu exatamente pelo fato dessas variáveis serem obtidas uma a partir da outra, o NTFo é obtido
pelo somatório de todas as folhas verdes, senescentes e mortas, assim são variáveis diretamente proporcionais.
Não foram observadas correlações entre o NFMo e o NFSe, o quer refere-se a um comportamento anormal. Isso
provavelmente ocorreu porque o sombreamento do sistema silvipastoril não foi suficiente para acelerar o
processo de senescência e morte das folhas, ou o tempo de avaliação não foi o suficiente para a planta expandir
completamente a lâmina foliar e entrar em processo de senescência. A senescência e morte foram observadas
apenas em casos atípicos de ataque de pragas e doenças que ocorreram em algumas unidades experimentais.

Conclusões
Existe associação características estruturais do capim-massai mesmo em diferentes sistemas de cultivo. O
capim-massai modifica sua estrutura e comporta-se como variedades adaptadas aos ambientes sombreados, o que
possibilita a sua utilização em sistemas silvipastoris.

Referências
CARVALHO W. F. et al. Morfogênese e estrutura de capim-massai em diferentes sistemas de cultivo sob
pastejo. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável, v.4, n.1, p.28-37, 2014.

LEMAIRE, G.; CHAPMAN, D. Tissue flows in grazed plant communities. In: HODGSON, J., ILLIUS, A.W.
The ecology and management of grazing systems. Wallingford: CAB International, p. 33-36, 1996.

OLIVEIRA, A. B. et al. Morfogênese do capim-tanzânia submetido a adubações e intensidades de corte. Revista


Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p.1006-1013, 2007.

CAMPOS, N. R. et al. Características Morfogênicas e Estruturais da Brachiaria decumbens em Sistema


Silvipastoril e Cultivo Exclusivo. Revista Brasileira de Biociências, v. 5, supl. 2, p. 819-821, 2007.

SANTOS, M. E. R. et al. Características estruturais e índice de tombamento de Brachiaria decumbens cv.


Basilisk em pastagens diferidas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.4, p.626-634, 2009.

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