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U C A RF AX U

Monografias da O.T.O.
Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Amor é a lei, amor sob vontade.
A palavra da lei é


Suplemento #03
A Tradição das Sombras
& o Sagrado Dragão Iniciático
Órgão Oficial da Ordo Templi Orientis

SATVRNVS PUBLISHING LTD


JUIZ DE FORA MMV e.v An 101
Sigilo de Seth

2
A Tradição das Sombras
& o Sagrado Dragão
Iniciático

ANTÔNIO VICENTE

SATVRNVS PUBLISHING LTD


JUIZ DE FORA MMV e.v An 101
3
Monografias Carfax, Suplemento #03 – A Tradição das Sombras & o Sagrado
Dragão Iniciático

© Satvrnvs Publishing Ltd, 2005


© Antônio Vicente, 2005

As Monografias Carfax são editadas particularmente por Fernando Liguori.


Publicadas por Satvrnvs Publishing Ltd, caixa postal 666, Juiz de Fora – MG,
36001 970, Brasil.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida
ou transmitida, de nenhuma maneira ou forma, eletrônica, digital ou mecânica,
incluindo fotocópia, sem a devida autorização por escrito da Satvrnvs Publishing
Ltd.

Impresso no Brasil.

Contribuições e comunicações com Antônio Vicente podem ser enviadas para:

O.T.O. – Núcleo de Preceptoria Regional


Caixa Postal 1130 – Belo Horizonte-MG.
30123 970

Pessoas interessadas em contatar a Ordo Templi Orientis podem enviar


correspondência para o mesmo endereço ou para Satvrnvs Publishing Ltd.

4
Conteúdo

Prefácio 06

Apresentação 09

Aspectos históricos da Tradição Draconiana 10

A Metáfora do Dragão 14

Especifidades Draconianas 16

Apêndice 22

Obras Consultadas 24

5
Prefácio

A tentativa de se transmitir ou até mesmo de se traduzir a Tradição


Draconiana em termos simples que pudessem ter uma abrangência maior no
sentido de se passar idéias, para mim, sempre foi uma tarefa difícil. Por mais
que eu tente, muitas vezes me vejo em um universo de idéias que, ao serem
transmitidas, não atingem o resultado que eu esperava por não serem
compreendias em sua totalidade. Em virtude disso, meus leitores muitas
vezes me taxaram como técnico em demasia.
Por outro lado, Antônio Vicente, atual Supervisor Geral do Colégio
Externo da O.T.O., em um de seus ordálios de Segundo Grau sobre a
Tradição Draconiana conseguiu atingir um ponto eficiente ao explanar suas
missivas: tratou nossa Tradição com uma linguagem de fácil assimilação. O
trabalho ficou tão bom que decidimos publicá-lo como uma monografia
oficial da O.T.O. para que servisse de exemplo para aqueles magistas que
galgam os resultados do Segundo Grau de nossa Ordem. Também, essa
publicação servirá de pesquisa aqueles que, ansiosos por compreender nossa
Tradição não possuem em nossa língua mater um material de estudo sério e
abrangente.
A O.T.O. Draconiana manifesta sua Tradição em tempos atuais através
do veículo existencial conhecido como Thelema, uma Filosofia transmitida à
humanidade através de um tantra conhecido como Liber AL vel Legis. O AL
vel Legis transmite diversas vozes ou doutrinas, às vezes distintas, mas mais
freqüentemente equivocas, disputando-se umas com as outras por trás da
máscara do Horus cabeça de falcão.
Horus é um nome que possui tantos significados que antes de tentar
defini-lo nós deveríamos compreender firmemente a sua significação raiz
que é Hor ou Har, significando „a criança‟. Que este conceito não tem o que
quer que seja a haver com qualquer criança física ou histórica, já fora
transparecido nos livros que publiquei. Nas mais antigas tradições, e
passando através de todo tecido fabricado sobre padrões de mitos da
antiguidade, aparece os Gêmeos, as duas crianças que tipificam a luz e a
escuridão, o pubescente e o impubescente, e, nas posteriores fases
escatológicas e teológicas do pensamento, o bem e o mal. Gerald Massey e
outros têm tornado abundantemente claro que os gêmeos representam
duas fases de uma única entidade.
No Liber AL pode-se traçar três mitos idênticos competindo por
expressão, e a voz resultante permanecerá confusa e manchada a não ser
que sua linguagem seja compreendida em relação aos estratos de mitos
específicos de onde ele originou. Eu mostrei em livros anteriores que as
deidades mencionadas no AL – Had, Hadit, Ra-Hoor-Khuit, Hrumachis,
6
Hoor-paar-Kraat, Heru-ra-ha, e etc., – são formas da criança Seth, a
primeira divindade masculina reconhecida e que fora tipificada como a
Estrela-Cão. Embora primeiro como macho, ele era o oitavo no corpo das
deidades estelares representadas pela Deusa das Sete Estrelas. Seth formou
a culminação, o mais elevado ou oitavo em relação à Mãe estelar, Tifon
(posteriormente Nuit) representada pelas sete estrelas da Grande Ursa.
Este simbolismo é primordial e fundamental para todos os ciclos de mitos
conhecidos pelo homem, e não há como fugir do fato que no antigo Egito –
onde o mito original foi preservado, monumentalmente, em sua forma mais
pura – Seth fora o primeiro Deus verdadeiro (distinto da deusa) a ter sido
adorado.
Os cultos de Seth supriam os tipos míticos sobre os quais AL foi
fundado. Crowley, com sua ênfase no aspecto solar deste deus, um aspecto
que emergiu em um período posterior nos ciclos dos mitos da antiguidade,
obscureceu consideravelmente as questões reais levantadas pelo livro.
Montague Summers, um estudioso profundo e perceptivo, fez um
comentário convincente sobre a concepção de Crowley sobre Horus, um
comentário que merece mais atenção do que tem até aqui recebido.
Escrevendo sobre o grimório de Crowley, Magick, Summers observa:

Horus aqui 1 é senão um nome, um nome enganador e ardente. Ele não tem
nada haver com Horus, o filho de Isis, o Senhor da Escada Celestial, o deus-
diurno adorado no antigo Egito. Este „Senhor do Aeon‟, „a Criança Coroada e
Conquistadora‟, o „Irmão Antigo‟, como ele foi temerosamente e
blasfemamente chamado pelos Maniqueus caídos, é o Poder do Mal, Satã. 2

Essas são palavras duras e elas me incendiaram quando as li em minha


juventude com pouca experiência dos pequenos ciúmes que poderiam
provocar a publicação de julgamentos mal considerados. Contudo, a crítica
extravagante fixou-se em minha mente e ela pode ter sido o fator original
de minha incessante busca por uma compreensão mais profunda do AL,
pois digo de início que aceito Aiwass como a fonte do AL, mesmo tendo
Crowley declarado ser a fonte. Entretanto, na forma como AL fora
transmitido, ele reteve fortes traços da mente humana através da qual ele
foi refratado sobre o papel. E aquela mente, apesar de seu brilhantismo,
apesar do rigoroso curso do treinamento mágico e místico que ela se
submeteu, mostrou ser curiosamente completamente despreparada para
receber a marca de Aiwass. Deixe-me, portanto declarar que em um sentido
certo e particular o comentário de Summers não foi totalmente impreciso.
Ele havia sentido, mas obscuramente, a dicotomia que fragmenta o AL, e
que o torna não uma transmissão coerente de uma única fonte, mas um
caldeirão de elementos conflitantes borbulhando com correntes

1 I.e. como mencionado em Magick.


2 Bruxaria & Magia Negra, p. 180.
7
transversais de doutrinas contraditórias que podem ser compreendidas
somente por quem tem compreendido profundamente o esquema do
simbolismo Egípcio e que possui um insight profundo sobre a ciência
Ufológica. Uma compreensão do que aqui foi dito anteriormente pode ser
adquirida pelo estudo dos trabalhos de Gerald Massey; embora exaustivos
como são, eles não vão longe o suficiente, pois Massey era necessariamente
inconsciente em sua época da Gnosis em seu disfarce ufológico. Mesmo
assim, as desavenças no AL devem ser buscadas no aparelho de recepção, a
mente do escriba que, conforme a atitude de Crowley em relação ao AL
eloqüentemente demonstra, estava despreparada para assimilar, muito
menos transmitir, a corrente que o informava. A razão pode ter sido que a
alma mater de Crowley, a Ordem Hermética da Aurora Dourada, possuía
uma concepção errônea do fator tempo envolvido na evolução do
simbolismo mítico e religioso no mundo antigo.
A voz predominante no AL é a voz de Har, o filho da mãe, a deusa
Draconiana das sete estrelas que alcançou no Har sua apoteose ou
elevação; pois como o manifestador dos sete, ele era o oito, ou o mais
elevado, e o „um em oito‟,3 a estrela no sul4 que anunciava os Sete Great
Ones no norte. No simbolismo teológico ele veio para tipificar a deidade
masculina primordial nos céus porque como o deus do sul ele representava
a dianteira do Espaço, assim como Tifon-Nuit, sua mãe, representava a
deusa do norte. Crowley, cuja psicologia o dispôs para aceitar somente este
último, o aspecto solar do culto, estava no início inadequado para o cultivo
de uma doutrina que se relacionava primariamente ao deus pré-
monumental dos Shus-en-Har. Em um sentido estritamente mágico os
Shus-en-Har, ou devotos de Har, eram os “servos da Estrela & da Cobra”,5
i.e. da Corrente Ofidiana em sua fase estelar e pré-solar.
É, contudo evidente, a partir das cartas recebidas por mim que,
apesar do trabalho exaustivo de Gerald Massey, permanecem básicas
opiniões equivocadas em relação ao duplo Horus e o papel da criança
mágica no sistema Thelêmico. Então é a nossa função resgatar o sentido de
originalidade e espiritualidade a fim de promovermos um fiel resgate de
nossa Tradição.
Finalmente, é com felicidade que apresentamos ao leitor este
esclarecido trabalho sobre a Tradição Draconiana. Boa leitura!

Fernando Liguori

3 “Eu sou oito, e um em oito”. (AL II: 15).


4 A Estrela-Cão.
5 AL II: 21.

8
Apresentação

O presente texto chamava-se, inicialmente, Tradição Draconiana: A


Doutrina Secreta de Todas as Eras. Na verdade, foi um dos ordálios que
realizei para o Segundo Grau da Pirâmide de Poder. A pedido de nosso
O.H.O., o reformulei em alguns aspectos para que pudesse ser publicado
em forma de monografia. Ao fazermos isso, acreditamos que estamos
contribuindo duplamente: primeiro, dará uma noção para os futuros
membros de como deve ser um trabalho de pesquisa para a Ordem. Nesta
direção, a O.T.O. Draconiana é uma universidade espiritual através da qual
muito aprendemos a partir das nossas próprias pesquisas, o que evita uma
busca condicionada e sectária. Descubrimos o prazer de aprender a
aprender e de confiar naquilo que fazemos. Segundo, partilharemos nosso
trabalho que, certamente, enriquecerá o leitor.
Inicialmente, temos uma visão panorâmica sobre o ontem e o hoje da
Tradição Draconiana; evocamos o sagrado dragão e meditamos sobre seu
belo simbolismo alquímico e iniciático; analisamos as especificidades do
Caminho das Sombras, assinalando sua importância, força e beleza e
encerramos o texto com a interessante lenda chinesa do Dragão Alado.
A Tradição Draconiana é uma senda de Luz e de Sombras e esse
aparente dualismo gera um espírito de síntese e de completude, fechando
os dois caminhos em um único círculo ou, numa linguagem filosófica,
identificando o ponto de partida no ponto de chegada. Que pela síntese
possamos aprender a despertar o Dragão interior e a sobrevoar pelo círculo
na beatitude da realização da Grande Obra em nosso ser.

Antônio Vicente
Frater Artos Mercurius, 156 U

9
Aspectos Históricos da Tradição Draconiana
O Culto Ofidiano do interior da África foi continuado e desenvolvido no Egito,
onde ele alcançou sua apoteose na Tradição Draconiana ou Tifoniana. 6

Nosso trabalho, no entanto, é historicamente autêntico; a rediscoberta da


Tradição Sumeriana.7

As pesquisas de Lyncoln tem, sem dúvida nenhuma, iluminado certas fases de um


antigo ciclo mítico intimamente associado à Corrente Tifoniana. Elas revelam um
possível relação entre um linhagem histórica: os Merovíngios e a Tradição
Tifoniana.8

A Tradição Draconiana é parte de uma corrente de força mágica


e de conhecimento oculto que retrocede à Suméria, bem como ao Egito
pré-dinástico. Essa poderosa corrente mágica era e é baseada na gnose da
Serpente de Fogo. A Serpente de Fogo, a Kundalini ou, ainda, a
Corrente Ofidiana, é a base de toda a verdadeira iniciação.
Como dizíamos no 1o paragráfo, a Tradição Draconiana é um
substantivo coletivo para designar uma corrente evolutiva que se
encontra ativa no planeta há milênios. Normalmente, alguns autores,
como Blavatsky, atribuem sua manifestação inicial a Época Lemuriana
(cerca de 5 milhões de anos atrás), de lá teria se migrado para o continente
de Atlantis. Sabe-se que outras civilizações já teriam edificado formulações
do conhecimento, contudo, foi na Atlântida que o conhecimento
manifestou-se plenamente. Ainda na esteira de Blavatsky, somos
informados de que os Sábios Atlantes, prevendo seu fim iminente,
prepararam as terras do Egito (há, aproximadamente, 12 mil anos a.C.)
para herdar as tradições de que eram portadores. É a partir daí que a
tradição adquire sua temporalidade e “mudou-se” para a África. O
conhecimento era mantido em rigoroso segredo e estava
reservado à família reinante e às suas relações imediatas.
Posteriormente, à medida que a nação egípcia se desenvolveu, este
conhecimento tomou corpo, sob a forma de Colégios Sagrados,
levando o Egito a tornar-se o centro da Tradição Primordial, com
ramos em todos os países civilizados da época e mantendo relações com os
demais centros que os sábios atlantes haviam criado nas outras partes do
mundo, o que explica as extraordinárias semelhanças entre as antigas
civilizações. A tradição que viera da Atlântida para o Egito e que se
expandiu para os outros países, tinha seu centro em Heliópolis.
Pelas citações em epígrafe, percebemos que existe um fio condutor
desta Tradição desde a Antigüidade até nossos dias. Segundo Frater Aussik

6 Cultos Sombrios (Liguori), Capítulo 3.


7 Magick em Teoria & Prática (Crowley), Capítulo 5.
8 Kenneth Grant.

10
Aiwass 718 U, no terceiro Capítulo de Cultos Sombrios, intitulado O Culto
Draconiano no Antigo Khem, somos informados que a Tradição
Draconiana provém de uma época muito remota e que pode ser rastreada
tanto em aspectos históricos quanto mitológicos. Sua maior evidência pode
ser encontrada no período pré-dinástico ou pré-monumental. Como o
passar do tempo, ela passou a ser perseguida e combatida devido a
divergências conceituais e pragmáticas. A Tradição Draconiana
defendia o culto ao Princípio Feminino e as Tradições
emergentes se voltaram para a adoração ao Princípio Masculino.
Mesmo perdendo boa parte de seu terreno, a chama da Tradição
Draconiana não se apagou, mas refugiou-se no silêncio e
sobreviveu de forma não-pública. Assim, ecos desta Tradição ainda
puderam ser encontrados, ainda que velados, disfarçados e até mesmo
distorcidos até a XXVI Dinastia do Antigo Egito.
As primeiras evidências históricas do surgimento da
Tradição Draconiana, no Antigo Egito, podem ser encontradas quando
Ta-Urt, Tifon para os gregos, a Grande Serpente, era tida como a Mãe de
Seth, o Deus mais do antigo das terras egípcias. Ta-Urt era a
encarnação das Forças Primordiais que exaltavam a criação do
Universo com seus mundos e planetas. Em algumas regiões do Egito
pré-dinástico, principalmente nas regiões ao sul, a Deusa Ta-Urt era a
representação da Grande Mãe Estelar sob a forma de um hipopótamo
grávido, simbolizando um Dragão das Águas. Para os Draconianos, era a
Mãe das Revoluções que foi identificada, ao norte, com a constelação da
Grande Ursa. Seth seu Filho era considerado o Deus do Sul, cuja estrela que
o representava era conhecida como Sírius (ou Sothis, em grego). Seth, uma
divindade do Sidhe (o Outro Mundo), após longas corrupções teve sua
identidade adulterada e foi identificado como um deus do mal, arqui-
inimigo do deus Sol – Horus. Neste particular, cabe esclarecer que Tifon
(forma grega para Ta-Urt) é o aspecto feminino de Seth. Algumas vezes, é
considerada como a mãe de Seth em seu aspecto de Deusa das Sete
Estrelas, da qual Seth é a Oitava. Por sua etimologia, Seth significa
“negro”, o que o associa com o mundo oculto ou sombrio – o Amenta dos
egípcios. Seth, sendo um deus celeste, “caiu” do horizonte e passou a ser
considerado um Deus do Inferno, da Terra Oculta. Em Thelema, este Deus
é de suprema importância, pois, além de representar o espirito criativo
primordial, comporta também a fórmula da magick sexual, conforme
veremos mais adiante.
A Tradição Draconiana nunca deixou de existir. Na verdade, é um
processo de eterno vir a ser que poderá ser resgatado a qualquer momento
por aqueles que vibram em consonância com sua freqüência. Nessa direção,
essa Antiga Tradição percorreu os séculos. Na Idade Média, por exemplo,
ela dá sinais de sua continuidade através da Bruxaria Sabática. Apesar de
serem consideradas héreticas, na verdade, as verdadeiras bruxas da Idade
11
Média tornaram-se repositórias de símbolos de uma tradição pré-cristã.
Sobre isso, nos fala Grant em seu Cults of the Shadow:

Foi sugerido por algumas autoridades que as bruxas originais surgiram de uma
raça de origem mongol da qual os lapões são os sobreviventes atuais. Isto pode ou
não ser verdade, mas estes “mongóis” não eram humanos. Eles eram
sobreviventes degenerados de uma fase pré-humana da história do nosso planeta,
geralmente – embora erradamente – classificados como atlanteanos. A
características que os distinguia de outros da sua raça era a habilidade de projetar
a consciência em formas animais e o poder que possuíam de materializar formas-
pensamento. Os bestiários de todas as raças da terra estão entulhados com os
resultados das suas feitiçarias.

Os símbolos principais do culto original sobreviveram à


passagem do tempo e foram eles, sem dúvidas, herdados das
Tradições Draconianas do Egito pré-dinástico, como o capítulo 3 de O
Renascer da Magia nos informa. Todos eles sugerem o Caminho Invertido,
isto é, o Caminho das Ressurgências Atávicas. O Sabbath sagrado a Sevekh
ou Sebt, o número 07, a lua, o gato, o chacal, a hiena, o porco, a serpente
negra, a dança de costas anti-horária, o beijo anal, o número 13, a bruxa
montada em um cabo de vassoura, o morcego, o sapo e a Rã (sagrado à
Deusa Hécate) foram símbolos comuns às bruxas medievais mas que
originalmente caracterizavam a Tradição Draconiana. Infelizmente, esses
símbolos foram desviados de seu significado e função inicial por pseudo-
bruxas (e a Wicca atual é uma degeneração ainda maior). Assim, os
Mistérios foram profanados (mas não perdidos) e os ritos sagrados
condenados como anti-cristãos.
Nos tempos modernos, a Tradição do Dragão renasce
principalmente pelo esforço do grande mago Aleister Crowley e ao
impulso renovador que lhe foi dado por seu continuador natural, o senhor
Grant. Como se pode constatar, a Tradição Draconiana é uma fonte
poderosa e que se desvela para aqueles que a buscam e que são capazes de
com ela se sintonizar.
Com o advento do Novo Aeon (1904 – recepção de Liber AL),
Aleister Crowley tornou-se um instrumento para que a Antiga
Tradição Draconiana ressurgisse e junto com ela a adoração a Seth-
Tifon em oposição à Trindade Osiriana. A grande diferença entre essas
adorações é de gênero: Seth-Tifon representam o Princípio da Maternidade
(a Virgem Mãe e seu Filho), ao passo que o Culto Osiriano dá enfase ao
Princípio da Paternidade. Encontramos, n‟O Livro da Lei, um grande
depositário dos Mistérios Draconianos que Nele estão velados e as
fórmulas para que a Grande Obra ocorra, a fusão do eu com o tu, o retorno
ao estado hominal ou o Nada.
No contexto desta ressurgência, O Livro da Lei deve ser visto como
uma poderosa transmissão Draconiana e uma nova adoração e
reconhecimento do Princípio Feminino. Na literatura Thelêmica, sabemos
12
que esse Princípio Feminino é chamado de Nuit, o Círculo Infinito.
Entretanto, diferentemente dos tempos aúreos da Tradição Draconiana no
Antigo Egito, o Princípio Masculino também será reconhecido. Ele
é o Ponto Onipresente, conhecido como Hadit. Nota-se que esse equilíbrio
de polaridades evitará preferencialismos e conflitos desnecessários. Parece
que, finalmente, a balança de Maät esteja em equilíbrio. Doravante, a
balança maatiana do fogo criativo deve se combinar harmoniosamente com
as qualidades femininas da delicadeza, sintonizado com sua intuição e
receptividade.
Crowley esforçou-se para publicar suas descobertas e compreensões
iniciáticas em uma forma moderna. Isso criou muito caos, pois perturbava e
assustava as pessoas que estavam adormecidas pelas crenças e superstições
do Velho Aeon. Ele foi “satanizado” e perseguido durante toda a sua vida e
isto porque falava para o eu verdadeiro do indíviduo, adotando
uma linguagem iniciática. Indubitavelmente, seu discurso era
inquietante para os que não estavam preparados. É interessante notar que o
S.A.G. (Sagrado Anjo Guardião) dele era Shaitan Aiwass, uma forma de
Seth como iniciador. Seth é o Senhor da Iniciação e Saturno é o planeta do
karma. A iniciação ocorre pela destruição dos bloqueios indesejáveis ao
nosso progresso. O caos causado pela demolição de tais bloqueios é parte
essencial do processo para que nossa Verdadeira Vontade possa ser
realizada sem restrições.
Como vimos, a trajetória da Tradição Draconiana pode ser
traçada historicamente. Mas o mais importante é ressaltá-la como um
caminho mágico e que se sustenta, sobretudo, pela forma parampara.
Significa dizer que houve e há intercâmbios extra e intraterrestres que
iluminaram e iluminam a consciência humana ao longe de diferentes
estágios. Essas reverberações, quando devidamente canalizadas, atuam
como uma fonte criativa e poderosa de vibrações que, ocultamente,
influenciam as religiões e o desenvolvimento científico da humanidade.
Assim, a Tradição Draconiana pode assumir formas distintas de
expressão. No entanto, seu espírito visionário permanece intacto e se
perpetua.
Antes de encerrarmos este tópico, cabe fazer uma ressalva para os
termos Draconianos e Tifonianos que, às vezes, são considerados sinônimos
mas que, do ponto de vista estritamente histórico, comportam
diferenciações. Sobre isso Frater Aussik Aiwass nos informa no
Informativo Sothis, número 2:

A Tradição Tifoniana foi o Culto Draconiano “sistematizado” no Antigo Egito.


Quando o Culto Draconiano saiu da África Primal, ele atingiu sua apoteose nas
Dinastias pré-monumentais do Antigo Egito, se tornando, ali, a Tradição
Tifoniana. Entretanto, o Culto Draconiano é o substrato primevo de todas as
grandes religiões fálicas e seus traços mais marcantes são encontrados no Vodu,
no Tantra Hindu, no sistema Kahuna e nos Cultos Xamânicos Sul-Americanos e
Asiáticos.
13
A partir desta colocação, percebemos que a Tradição Draconiana é
anterior à Tradição Tifoniana, poderíamos até mesmo falar de uma
Tradição Draco-Tifoniana, pois percebemos em uma, a continuidade
natural da outra, a exemplo de uma nascente que corre, passa pelo rio e
deságua no oceano. Mas, por preferencialismo, usaremos somente o termo
Draconiano que é mais abrangente.

A Metáfora do Dragão
Sou metal – raio, relâmpago e trovão. Sou metal, eu sou o ouro em seu brasão.
Sou metal: me sabe o sopro do dragão. 9

No horóscopo chinês, o Dragão é considerado como sendo o melhor signo


daquele zodíaco. É dito que os que nascem sob o signo do Dragão são
enérgicos, entusiastas, tenazes, intuitivos, inteligentes, perfeccionistas,
perspicazes, influentes, generosos, cativantes, independentes e a sorte está
do lado deles. É, aliás, na Tradição Chinesa e em sua antiga lenda do
Dragão Alado (veja apêndice) que a mais elevada concepção a respeito do
Adepto é encontrada.
Na verdade, a Tradição do Dragão e o seu extenso simbolismo tem
ecos em todos os recantos do mundo, tanto nas civilizações mais adiantadas
e naquelas mais rudimentares. A origem de sua lenda perdeu-se no
tempo e não podemos precisar sua origem. Os dragões eram
considerados, por toda a Antigüidade, símbolo da Imortalidade, Sabedoria,
Eternidade e Conhecimento Oculto. No Egito, na Babilônia e na Índia, os
hierofantes denominavam-se de “Filhos do Dragão” ou de “Filhos da
Serpente”. Este simbolismo também aparece na Caldéia, no México e entre
os sacerdotes Assírios e Druidas, dentre outros. No caso específico dos
Druidas, sabemos que é uma constante nesta tradição e eles consideravam
a serpente e/ou o dragão símbolos de seus mais altos mistérios e ensinos.
Nos textos celtas, se nos referirmos à arqueologia da Serpente Gaulesa, vem
a lembraça a Cocatrix, a fabulosa serpente colocada a serviço do rei Artur
na Guerra. As relações entre Merlin e Artur são cheias de fabulosos
dragões. Também se encontra referência ao dragão nos Mabinogios. A
lenda de Lhud e de Lhevelys nos mostra que o dragão do país estava em
luta com o dragão estrangeiro.
Mas por que os adeptos escolheriam esse ser como representação de
si mesmos?
Como vimos antes, o dragão é uma entidade mitológica que
existiu em todas as eras e culturas. Pode também ser comparado à
serpente alada. Do ponto de vista histórico, a serpente é símbolo da
terra e do submundo. A águia (e pássaros em geral) são símbolos

9 Renato Russo - Metal contra as nuvens.


14
celestes. O dragão une perfeitamente esses dois princípios (Céu –
Terra) que também pode ser traduzido pelo grande axioma: O que está em
cima é como o que está em baixo. Na China, o dragão representa o Tao,
aquilo que está além das palavras e das polaridades (Yin and Yang), mas é
a força por trás de tudo o que existe. Simboliza o desconhecido, a
energia oculta presente na natureza e no ser humano. O termo dragão
vem do grego dragon que significa “ver”. Um „dragão‟ deve ter um
olhar claro que saiba ver as coisas sob um novo ângulo e perspectiva,
procurando enxergar o que as coisas são de fato e não sua mera aparência
exterior. Devido à sua capacidade de ver além dos véus de maya, ele é tido
como símbolo de poder e sabedoria nas lendas. Sua sabedoria é simbolizada
pelos tesouros que guarda. No filme Coração de Dragão, vemos o dragão
guardar toda sua sabedoria e poder no interior de uma caverna. Lá é seu
habitat natural. Para encontrarmos a sabedoria e conhecimento do dragão,
um Draconiano precisa mergulhar em sua própria caverna, isto é, em seu
próprio ser. No Yoga, o dragão é chamado de Serpente de Fogo, a
Kundalini, a força oculta no interior do ser.
Considerando a natureza de um dragão, percebemos que ele
unifica, em si mesmo, todos os Elementos ou Princípios: pode voar
(Ar), cospe fogo (Fogo), habita em cavernas (Terra) e é capaz de nadar
(Água). Assim, um dragão que habita uma caverna e guarda seu ouro, pode
ser visto como uma metáfora para seu papel de guardião e senhor da
energias elementais. Tanto o dragão, quanto à serpente, são
seres cuja pele é totalmente renovada de tempos em tempos,
indicando a capacidade de renovação, renascimento e regeneração do
adepto.
A magia sexual também se encontra no símbolo do dragão,
uma vez que seus chifres são considerados afrodisíacos quando se
tornam pó e também é capaz de curar todos os venenos. E por que será nos
mitos as virgens eram oferecidas em sacrifício aos dragões?
No Egito, o animal compatível com o dragão era o crocodilo,
uma espécie de dragão egípcio. Ele era um símbolo dual, representando céu
e terra, Sol e Lua e tornou-se sagrado a Osíris e Ísis, em função de sua
natureza anfíbia. Os egípcios representavam o Sol em uma barca que era
transportada por um crocodilo, insinuando o movimento do Sol no espaço.
Com a degeneração dos mistérios, o que era alegórico
tornou-se fatual. O nome serpente ou dragão designava aqueles que
eram os Sábios, os Iniciados de todas as épocas. Com o passar do tempo e a
perda cada vez mais crescente do verdadeiro significado dos mistérios, o
símbolo do dragão virou alvo de especulações. O dragão passou a ser
representado astronomica, concreta e abstratamente. Ele se tornou o
Dragão Polar e a Cruz do Sul, a Alfa Draconis da Pirâmide. Tornou-se,
ainda, o temido Dragão Budista que poderia engolir o Sol durante um
eclipse.
15
É curioso o fato dos dragões e das serpentes da antigüidade terem 7
cabeças. Isso representa os 7 princípios que perpassam o homem e a
natureza. O sete que se relaciona com os ciclos da vida e com a idéia do
tempo. Pelas idéias que o número 7 comporta, podemos entender porque os
antigos iniciados eram chamados de “dragões” ou “serpentes” nas dinastias
egípcias.
Em síntese, o dragão é símbolo da Força Primordial que o
Draconiano pode e deve despertar através da iniciação para que possa
realmente manifestar o divino. Aliás, a Iniciação Draconiana visa,
primordialmente, tornar essa Poderosa Força inconsciente em
conhecimento e poder conscientes. Acima de tudo, o Draconiano vê
o Dragão como a face de Tudo Aquilo Que É, desde a mais densa até
a mais sutil das energias: todas são facetas do Dragão que evolui e emerge
em Si mesmo.

Especifidades Draconianas:
O que a diferencia a O.T.O. Draconiana de
outros caminhos iniciáticos
A Tradição Draconiana postula que há níveis diferentes de
realidade, insuspeitados pelos profanos e que o adepto pode explorar.
Essa exploração se dá através da iniciação cuja meta é desvelar o oculto
que está por detrás da aparência de cada fenômeno. Pelas técnicas
iniciáticas penetramos no lado oculto das religiões e dos mitos e obtemos o
conhecimento sobre as verdades neles veladas. Os Ordálios dos dois
primeiros graus tem essa finalidade. A partir deste conhecimento, o adepto
aprende como controlar o mecanismo da existência e pode influenciá-lo de
acordo com sua vontade. O Draconiano aprende a contornar as
limitações da existência e a superar as reações condicionadas
nele pela cultura, família e sociedade, usando sua liberdade e vontade para
poder criar sua realidade.
A O.T.O. Draconiana é única: apresenta um sistema a ser percorrido
com técnicas específicas que levam o postulante do trabalho com o lado
luminoso ao trabalho com as forças caóticas e obscuras. Devido a essa
peculiaridade, esse caminho não é bem visto pelas outras vertentes do
ocultismo e, freqüentemente, é alvo de interpretações equivocadas e
difamações. Sumariamente, é possível estabelecer a existência de três
níveis de conhecimento: o científico (mundano); o esotérico das
escolas da mão direita (Tradição das Luzes) e o esotérico das
escolas da mão esquerda (Tradição das Sombras). A Tradição das
Sombras é mais rara, uma vez que conduz ao reino do caos e
poucos são aqueles que estão aptos ou dispostos a trilhar tal via.
É uma vertente severa, forte, rigorosa, mas que pode conduzir à beleza e ao
16
poder. Enquanto as Tradições das Luzes levam o iniciado a se fundir com
um Deus particular, o Caminho das Sombras levam o adepto ao encontro
da grande Tiamat e dos deuses primais que existem muito antes dos deuses
da luz terem sido criados.
A Tradição Draconiana promove a Lei de Thelema e se volta também
para a exploração das inteligências alienígenas tais como as formas de vida
extraterrenas e os demônios e os aspectos negros da metafísica da
existência. Do ponto de vista psicológico, o trabalho com o lado negro tem
sua razão de ser. Sabemos que usamos apenas uma pequena fração de
nossa capacidade. Experienciamos uma ínfima parte da realidade. A maior
parte esta oculta a nós. A parte oculta do homem pertence a áreas da
psique que não estão desenvolvidas. Mas também podem ser
faculdades utilizadas que pertenceram ao homem primitivo e que hoje estão
latentes na forma de atavismos. Essas energias latentes podem se atualizar
e se tornarem conscientes se com ela entrarmos em contato. Aí então, nós
as confrontaremos com as obscuridades e partes reprimidas do nosso ser
(agressões, medos, instintos...). A esse respeito, Jung afirma: “a iluminação
não é alcançada pela visualização da luz mas pela exploração da escuridão.”
É, ainda, no reino oculto da mente humana que iremos encontrarmos os
chamados siddhis ou poderes psíquicos.
Nesta direção, a escuridão é a luz do Draconiano e ele examina
igualmente os lados luminosos e sombrios das energias em todas as suas
diferentes formas de expressão. A meta é a apotheosis (ou união com o
divino) sempre somando e não subtraindo; isto é, levando-se em
consideração a aparente dualidade própria da criação.
Para percorrer esse caminho uma dedicação focalizada e exclusiva é
necessária. Cinco pontos precisam ser observados para nos integrarmos a
ela e a experienciarmos em plenitude:
1) Dedicação (comprometimento, imersão com sua vivência
Draconiana);
2) Pratica (aplicação dos conhecimentos recebidos);
3) Descondicionar (coragem para ousar e abrir-se a novas
possibilidades);
4) Consciência multidimensional (ser capaz de se comunicar
com outros níveis de consciência);
5) Realizar em si a Grande Obra Alquímica (unir Shiva e Shakti
em seu ser).
A Tradição Draconiana se caracteriza por sua tradição oral, calcada
na relação entre orientador e orientando; na utilização da sexualidade
sagrada como passaporte para expansão de consciência e contatos
interplanetários; advoga uma iniciação espirada, em detrimento das
iniciações verticalizadas do aeon anterior, apostando no Silêncio como
viabilizador de tal iniciação. A culminância desse processo está na

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desvelação paulatina dos véus de Isis (phISIS, geneSIS) e na aquisição da
Sabedoria.
Não é uma escola uniforme, na qual há um única instrução para
todos. Pelo contrário, é um caminho de exclusividade no qual cada
estudante é tratado e instruído de acordo com suas próprias
necessidades. O que a torna uma via muita especial.
É uma via sem dogmas, uma filosofia de vida, na qual a mulher está
em igualdade com o homem. É uma coletânea das práticas mais
significativas do Oriente e do Ocidente, fusionadas de forma que permita a
seus adeptos desenvolver suas potencialidades e a atingirem, mais
completamente, sua missão terrena (o auto-conhecimento). Para tal, possui
uma disciplina, um método e um sistema que engloba o físico, o psicológico
e o espiritual.
A iniciação não é conduzida cerimonialmente ou dramaticamente
como ocorre com outras tradições. Ao contrário, a iniciação deve ocorrer
internamente como retorno do investimento de cada praticante. Tal ocorre
à medida que o iniciado é capaz de sair do nível de reação das condições e
fatos exteriores e passa a governar sua vida de acordo com os ditames de
sua Verdadeira Vontade.
A iniciação Draconiana se dá em 11 níveis ou graus, galgados um
a um. Na verdade, é uma espiral que vai ampliando suas voltas e
elevando-nos cada vez mais alto. Baseada na estrutura da Árvore
Sephirótica, o candidato vai se elevando pela frente da Árvore,
mas não deixa de sofrer também os impactos de seu lado
reverso.
Uma característica muito interessante da Tradição Draconiana é seu
caráter experimental. Ela se caracteriza por um espírito investigativo e
experimental, objetivando ter um sistema esquematizado e científico
de suas praticas. Kenneth Grant, Aleister Crowley, Achad, Fernando
Liguori, dentre outros vem contribuindo para o florescimento de uma
tradição científica no ocultismo, a partir da coleção, análise e comparação
de dados.
Um exemplo deste caráter experimental, por exemplo, pode ser
vislumbrado em relação ao tarot. Desde a primeira publicação do Nightside
of Eden, em 1977, tem havido diversas tentativas em se criar um tarot que
retrata o lado sombrio ou uma espécie de Nightside Tarot como sugerido
pelo livro. Sabemos que vários grupos ligados à corrente Draconiana têm
feito tentativas neste sentido. A meta é revestir o tarot com um novo
simbolismo que seja complementar ao atual, restaurando a gnose
primordial em sua forma mais pura e em consonância com a perspectiva
Draconiana de unidade pela dualidade. O que faz do Draconiano um
não-dualista – ele a reconhece mas não como oposição e sim como
complementaridade: nem bom, nem mal, nada é perfeito ou imperfeito,

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mas todas as coisas estão perfeitas em seu vir a ser, no momento presente
para poderem evoluir para seu próximo nível de ser.
A pratica nuclear desta via é a sublimação, entendida como a
consagração (tornar sagrado) de todos os desejos. Precisamos ter
liberação nos relacionamentos e aprender a olhar para vermos
claramente as coisas sem as nossas projeções, expectativas e frustrações.
Não é fácil desenvolver essa “mente neutra”. Devemos começar pelo amor
personalizado para chegarmos até o amor impessoal, até que o amor
concentrado incondicional seja nosso amor personalizado. Assim, os
relacionamentos ao invés de serem um “obstáculo ao progresso espiritual”
se tornam um caminho de liberação porque eles nos ensinam muito. Esse é
um processo automático quando nos encontramos no estado desperto.
Nesta esfera da sublimação, a sexualidade e o sexo tem um papel
fundamental.
A Corrente Ofidiana (Draconiana) usa a energia sexual
para provocar mudanças internas e externas (ou místicas e
mágicas). Essa alquimia é o ponto central do sistema Draconiano de
iniciação. O objetivo é produzir o Elixir da Vida Eterna (a Pedra Negra ou o
Diamante Negro). Curioso o fato de que a palavra Khem signifique negro e
era o nome do Antigo Egito. Assim, a Magia Draconiana é uma Magia
Negra no sentido de ser uma alquimia. Khem é também o nome do
deus da Alquimia. O deus negro Seth é também ligado à Alquimia e à pedra
negra. Na tradição grega, Khem foi represetnado por Pã e Seth por Tifon.
Assim, a alquimia Draconiana pode ser traçada até o Antigo Egito, bem
como nas tradições hermetistas e gregas cujo objetivo corresponde ao
Caminho da Mão Esquerda. Na O.T.O. Draconiana, o processo de
transmutação alquímica ocorre passo a passo através do processo de
iniciação junto aos graus da Ordem.
A Tradição Draconina nos ensina que os Mistérios Maiores estão
contidos em nosso próprio corpo. Gerald Massey, Aleister Crowley,
Austin Spare, Dion Fortune demonstraram, cada um à sua maneira, as
bases bio-químicas dos Mistérios. O mesmo foi detectado por Wilhelm
Reich em suas pesquisas. Ainda, os „símbolos sensientes‟ e o „alfabeto dos
desejos‟, de Spare, correlatos como são aos marmas do corpo com os
princípios sexuais, anteciparam, de muitas maneiras, o trabalho de Reich,
que descobriu – entre 1936 e 1939 – o veículo da energia psico-sexual, a
qual ele nomeou orgone. A contribuição singular de Reich à psicologia e,
incidentalmente, ao ocultismo ocidental, encontra-se no fato de que ele
isolou com sucesso a libido e demonstrou a sua existência como energia
tangível, biológica. Esta energia, a verdadeira substância dos conceitos
puramente hipotéticos de Freud – libido e id – foi mensurada por Reich,
tirada da categoria de hipótese e reificada. Entretanto, ele estava
equivocado ao supor que o orgone era a energia final. Na verdade, ela é um
dos mais importantes kalas, mas não o Kala Supremo (Mahakala), embora
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possa tornar-se isto pela virtude de um processo que não é desconhecido
aos tântricos do Varma Marga. O próprio Livro da Lei, que é um tantra
moderno, também descreve a utilização sábia das correntes sexuais.
„O melhor sangue é o da lua‟ (AL III: 24); „pois ele é sempre umsol e
ela uma lua. Mas para ele é a alada serpente e para ela a radiante luz
estelar.‟ (AL I: 16).
A substância vermelha da mulher é o primeiro menstruum de
energia mágica. A fórmula do Novo Aeon (418) é a de Cheth, a Carruagem.
É a formula do IR. O homem é branco e a mulher vermelha (Mulher
Escarlate). O homem pode obter a iniciação, mas não pode
manifestar seu poder sem ela. A fórmula e a função da Mulher
Escarlate inicia-se com as zonas ocultas de energia intimamente
relacionadas às redes de nervos e plexos associadas com as glândulas
endócrinas. A Kundalini afeta os chakras no corpo dela e suas vibrações
influenciam a composição química das segreções glandulares.
Tais „fragrâncias‟ são consumidas pelo Sacerdote e transformadas em
energia mágica. Quatorze secreções vaginais são reconhecidas pela ciência
ocidental e, supostamente, há mais duas. Esses Kalas só podem ser
evocados se os chakras envolvidos tiverem sido devidamente preparados.
„Eu sou a secreta serpente enrolado a ponto de pular: em meu enrolar
exist alegeria. Se eu ergo minha cabeça, eu e minha Nuit somos um. Se eu a
abaixo e ejaculo veneno, há a raptura da terra, e eu e ela somos um‟ (AL II:
26).
Consumir os kalas assim carregados e direcionando as correntes
para cima (néctar), transforma a consciência e ela se torna apta a contatar e
a comunicar com entidades transcendentais. Se as correntes são
direcionadas para baixo (veneno), elas são carregadas com vibrações
envenenadas que são utilizadas para trabalhos de materialização e
dissolução.
Para a mulher erguer a Kundalini, ela visualiza a Serpente na forma
fálica em seu Muladara Chakra e se inflama até o ponto de atingir o
orgasmo. Antes do orgasmo, ela deve mover a imagem ao Ajna Chakra e
manter a imagem até que a consumação ocorra. O homem identificar a
Kundalini com Hadit e o centro cerebral com Nuit. A força de Hadit é
ativada e sob pela coluna vertebral até o cérebro. Desta maneira, o homem
é a Palavra e a Mulher é a Ação. A Criança é a Palavra feita carne pela Ação.
A mente se concentra na Criança que é corpo que sustenta o Ato da
Criação Mágica. É a Maquinaria Mágica que cria a imagem. O corpo dá
expressão e projeta a para a esfera material. É um caminho de amor. Lida
com o crescimento do e no amor, a recepção do amor, fazer amor e criar
com amor para unir-se Àquilo que em tudo está presente.
Assim, a postura do Draconiano frente à sexualidade é de sacralidade
por saber do imenso poder que ela é portadora e ele mesmo é desprovido de

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preconceitos quanto a ela e suas formas de expressão. A esse respeito,
Gerald Massey, em The Natural Genesis, escreveu:

[...] este é o segredo da esfinge: ela é masculina na frente e feminina atrás. Assim,
é a imagem de Set-Tifon, um tipo de chifre e rabo, masculino na frente e feminino
atrás. Assim, também eram os faraós que usavam rabos de leão ou vaca, eram
masculinos na frente e femininos atrás.

Já Lise Manniche, em seu livro, A Vida Sexual no Antigo


Egito, nos fala das inclinações bisexuais de Seth. Assim,
percebemos que os antigos Draconianos, assim como os deuses, incluiam a
dualidade do ser em suas vidas. O Draconiano se conscientiza que seu
corpo e sua vida são o grande laboratório alquímico,
principalmente seu corpo é considerado o Templo do Sagrado Espírito.
Um aspecto da Tradição Draconiana é sua Corrente Evolucionária
expressa através da forma do Opositor, o Veículo da Perpétua Revolução
que vai além dos limites impostos ou estabelecidos, e que são transcendidos
pela Verdadeira Vontade. A perspectiva Draconiana é ampliar a consciência
humana para além dos limites conhecidos. Somos limitados por uma
determinada banda freqüencial. Como magistas Draconianos, buscamos a
ampliação desta banda freqüencial e a expansão da consciência para além
daquilo que é previamente considerado como humano. Não se aceita os
limites impostos a nós mesmos e lutamos contra o estado de conformidade
com eles. Como Tradição dinâmica, o Dragão pode destruir as falsas idéias
e perspectivas nos levando a vôos mais elevados na expansão da
consciência.
A filosofia Draconiana se volta para o panteísmo, no qual a
divindade é percebida na natureza, no homem, enfim, em tudo aquilo que
existe; em detrimento da visão monosteísta na qual deus é tido como algo a
parte de sua criação. Respeita e privilegia a individualidade, não
acreditando num modelo pronto e acabado das coisas. Almeja ir além do
estabelecido e das limitações impostas ao homem por diversos meios.
Apesar disso, essa assertiva não pode ser encarado, como normalmente
ocorre, como sendo uma carta branca à licenciosidade e um sim a todos os
instintos. É uma perspectiva therioncêntrica, na qual a besta e o
divino se unem, procurando a síntese e a compreensão de certos conceitos
abstratos em torno do que seja o bem e o mal, o certo e o errado, de uma
perspectiva maior, cósmica e não limitada pelas indulgências sociais ou
externas. É também uma postura crítica diante de certas
intelectualizações que não permitem o ser se expressar livremente. A
razão analítica vê as coisas de forma separada, desconectada. Ao invés de
ver o todo, se contenta com as partes. Perde-se o paradigma holográfica (o
todo está nas parte e vice-versa). Aliado a isso, a sensação de separação das
coisas e o materialismo exacerbado conduzem-nos a um hedonismo sem
fim, onde somente as satisfação imediata é a lei, e a busca pelo divino, pelo
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autêntico, por valores que possam elevar não tem mais espaço. O
Draconiano sai da consciência grupal, coletiva e busca
desenvolver-se integralmente quanto ser humano.
A visão de mundo é cíclica conforme a natureza nos ensina e
também o símbolo da serpente que morde a própria cauda, o Ouroboros
(ilustrando os ciclos do tempo e da natureza).
O caminho da mão esquerda contesta, com inteligência, a
modernidade e o progresso quando não passam pelo crivo da razão e seu
custo – benefício não é devidamente considerado. A filosofia Draconiana
inclui a luz e as sombras, o masculino e o feminino, ao contrário das
filosofias da luz que se baseiam na dualidade de ou luz ou trevas, ou
masculino ou feminino. Em resumo, é o caminho da Vontade no qual
precisamos descobrir o que é mais atrativo para nós na vida, pois isso nos
levará a exploração plena de sua beleza. Ao mesmo tempo, nos dirigimos,
como efeito reverso, ao conhecimento cada vez maior da Deusa que nos
seduz e nos atraí e que está oculta em toda matéria. Mas devido a seu
caráter mutável, veloz e transformador, precisamos estar bem centrados
para não sermos levados pelos redemoinhos de Tifon. Equilíbrio é uma
palavra chave, bem como a pureza da aspiração que conduz e prepara para
o contato com os poderes da consciência. Trabalhando com a alquimia da
Vontade e da Ação, a magia do guerreiro e a união da besta com o deus,
levando a personalidade a se identificar com a individualidade interna, o
“olho do dragão” se abre e se vê com clareza. Desta forma, o adepto é capaz
de ir além e de mergulhar no Universo B, de penetrar no Grande Diamante
Negro e invocar os espíritos esquecidos, os deuses antigos, os seres da
natureza e os ancestrais para reencantar esse mundo com a magia que fora
perdida.

Apêndice
A lenda Chinesa do Dragão Alado
A lenda descreve o Dragão como um animal alado, de grande porte, com o
corpo de serpente, todo coberto por escamas, com patas em forma de garras
e podendo viver tanto na água, sobre a terra ou no ar. Este Dragão vivia no
Rio Amarelo, mas decidiu sair dele e esta saída foi marcada por 06 etapas.
Sobre as escamas de seu corpo, estavam desenhados círculos de cores claras
e escuras e que, ao longo de seu corpo onduloso, suas escamas eram
convertidas em figuras sagradas. Afirma-se que isso foi para o Fo-Hi a
revelação dos trigramas do I Ching, imagem perfeita da natureza que se
desnuda diante do Sábio, ou Iniciado, quando este se torna merecedor
desta desvelação. Podemos inferir que o conhecimento adquirido pelo Fo-
Hi, via os trigramas, lhe foi transmitido por um verdadeiro Adepto,
representado, simbolicamente, pelo Dragão.
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Alegoricamente, as seis etapas da jornada do ser humano até atingir
a maestria pessoal ou o domínio da vida são retratadas por esta lenda. Cada
fase desta iniciação recebe um nome:
O Dragão Oculto: É o Dragão oculto no fundo do rio. Representa o
homem interior oculto na matéria e que ainda não tem o desejo de subir à
superfície, de sair de sua condição atual, de evoluir. Há uma preocupação
exclusiva de satisfazer apenas os desejos de sua natureza terrena.
O Dragão no Arrozal: Nesta fase, o Dragão saiu das águas. Toma
consciência de um outro mundo. Ele está na terra, mas ela é lamacenta e
afunda com seu peso. Representa o primeiro despertar da consciência para
algo que transcende o mundo físico. Mas é um despertar momentâneo e
especulativo, movido pela curiosidade e não tem a força necessária para
elevar o Dragão.
O Dragão Visível: Segundo a lenda, nesta etapa o rio transborda,
elevando o Dragão até a superfície. O Dragão é arrancado da terra pelas
mesmas águas que o tinham preso à terra e ele pode nadar, por um
mometo, em sua superfície em vez de deslisar no fundo. Representa a
consciência que se faz ciente da existência do mundo espiritual, que sabe
que sua existência é necessária e reconhece a Divindade, mas ainda lhe falta
a Vontade para elevar-se até Ela.
O Dragão Saltitante: Nesta 4a fase, o Dragão encontra-se em terra
firme que lhe permite levantar. Sabe que terá que caminhar, mas não
percebeu que é capaz de voar, dá apenas saltos que recaem novamente no
mundo material. A luta que mantém é penosa e feliz é aquele que não a
renuncia, pois a vitória exige continuidade de esforço. É a fase mais crítica
da caminhada, pois surgem duas bifurcações:
A do espírito: após muitas tentativas sem sucesso, o Dragão
percebe repentinamente suas asas, abre-as e consegue voar, libertando-se
de todas as coisas materiais. O espírito truinfa sobre os apegos, prazeres,
esperanças e temores.
A da matéria: cansado de dar saltos, o Dragão não tenta abrir suas
asas, desce para a lama, entra na água em que habitava e renuncia ao
mundo superior. É o momento da dúvida que, se não for vencida, arrasta o
buscador, retirando-lhe a possibilidade de ascensão espiritual. Esta
situação recebeu nomes simbólicos no ocultismo ocidental tais como o
Terror do Umbral e a Noite Sombria da Alma.
O Dragão Volante: O Dragão encontrou o caminho e é capaz de
voar e planar nas alturas celestes. É capaz de transitar entre o divino e o
mundano, e vive em harmonia com os ritmos cósmicos. É um verdadeiro
iniciado.
O Dragão Planador: É o estágio derradeiro. O iniciado venceu
todas as provas e sua missão não é mais no plano físico. Tem plena
consciência de que a multiplicidade é apenas aparente, um reflexo da

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Unidade. Atingiu união completa com a Divindade e vive o nirvana, a Paz
Profunda a cada instante.
O Adepto conhece todos os segredos dos Planos Físico e Espiritual
podendo viver, sem maiores dificuldades, nos Planos Superiores,
Intermediários e Inferiores. Aquele que atingiu tal condição torna-se uno
com o Todo e nada no Universo lhe é estranho ou desconhecido. Ele
conhece todos os níveis e estados de consciência e está apto a ajudar a
humanidade em quaisquer circunstâncias.
Meditemos sobre essa lenda e nos avaliemos quanto à nossa real e
sincera disposição de seguirmos rumo à Grande Obra. Alçar o vôo do
Dragão requer viparita, a reversão não só dos sentidos mas de mudanças
profundas em nossos valores, palavras e atitudes que devem tender para a
compreensão, para idéias e ideais nobres e sentimentos sublimes. Que a
chama do Dragão brilhe eternamente em nossos “cor-ações”.

Obras Consultadas
A Doutrina Secreta, Vol III. Helena Blavatsky.
Typhonian Tradition. Simon Hinton e Michael Staley.
Revista Sothis – números: 1 e 2.
Lectures from Gerald Massey. Gerald Massey.
O Renascer da Magia, Cults of the Shadow. Kenneth Grant.
A Corrente 93 & o Culto do Deus Interno, Cultos Sombrios. Fernando
Liguori.
O Livro dos Prazeres. Austin Osman Spare.
A Vida Sexual no Antigo Egito. Lise Manniche.
Ordo Dragon Rouge – site: http://www.dragonrouge.net/
SFSE: Manuscrito

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